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CARTA PASTORAL 2015/2016 Caminhar com o Ressuscitado... até às periferias, vivendo e anunciando a Misericórdia. (Lc 24, 13-35; 10, 1-11) 28 | AGOSTO | 2015 DIOCESE DE VISEU

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CARTA PASTORAL 2015/2016

Caminhar com o Ressuscitado... até às periferias, vivendo e anunciando a Misericórdia.

(Lc 24, 13-35; 10, 1-11)

28 | AGOSTO | 2015 DIOCESE DE VISEU

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Caminhar com o Ressuscitado... até às periferias, vivendo e anunciando a Misericórdia.

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Sínodo que iremos terminar em breve – enquanto

oportunidade de reflexão e definição de caminhos e de ações

pastorais – envia-nos a todos os lugares e a todas as pessoas,

muito concretamente, a todas as periferias existentes na nossa

diocese... Quais e onde são estas que nos desafiam à missão? O

percurso sinodal que fizemos aponta-nos esta interpelante direção a

tomar e este interessante itinerário a percorrer. Nos Documentos do

Vaticano II, encontramos sugestões e indicações desses diversos

“lugares” e reflexões, com os muitos desafios que, apresentados à

Igreja neste tempo, nos chamam ao cumprimento e vivência do

Evangelho como proposta, vocação, conteúdo e missão.

Em cada paróquia e em cada diocese, mesmo as mais

praticantes e com maior percentagem de frequência dominical,

existem faixas de pessoas que, embora batizadas, nada têm de

comum com a prática e as propostas da Igreja institucional. Esta não

pode ser nem deve aparecer como uma “organização” ao lado de

outras... Neste entendimento, seria vista como uma opção de

matrícula associativa, onde os ritos e os preceitos seriam elos

identificativos que pouco marcariam o viver e o proceder nas opções

e decisões concretas – particulares ou públicas – de cada pessoa e,

O

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mesmo, da comunidade no seu conjunto. Porém, a Igreja tem

propostas concretas, sendo as primeiras aquelas que nos

apresentam Jesus Cristo, filho de Deus e os caminhos para O

encontrar. Estes, ainda que múltiplos e

variados, cruzam-se com a proposta da

Igreja que não se limita aos que A

conhecem e n’Ela vivem, mas aponta

outros e dispõe-se a procurá-los com

todos os interessados. Para este desafio,

devemos partir do que é comum – no ser

e no pensar, no viver e no conviver – para,

de seguida e com alegria, se passar ao

dever ser, ainda que diferente... Ser Igreja

e viver como membro desta Comunidade

envolve uma opção clara, fiel e

consequente, por Jesus Cristo – o enviado

do Pai – e pelas Suas propostas, presentes e manifestas na Sua vida,

na Sua Palavra, na Tradição viva, vivida na Igreja e nas inspirações do

Seu Espírito.

Este é um itinerário que se deve fazer em comunhão, nunca

em situação de oposição ou distanciamento, mas de respeito,

acolhimento e atenção à pessoa de ‘cada outro’ e aos valores que, em

verdade e autenticidade, vive e partilha com todos. Na verdade, é

acentuar o tema proposto pelo Papa Francisco, a começar no mesmo

dia dos 50 anos do Concílio Vaticano II e do encerramento do Sínodo

– a Misericórdia1. «Misericórdia» – olhar o outro, qualquer outro,

1 Cf.: Papa Francisco, O rosto da misericórdia. Misericordiae vultus. Bula de proclamação do Jubileu Extraordinário da Misericórdia. Ed. Paulinas 2015

Ser Igreja e viver como membro

desta Comunidade envolve uma

opção clara, fiel e consequente, por

Jesus Cristo.

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olhar o «pobre», com o coração. Propõe-nos e desafia-nos a pensar

nas Obras de Misericórdia – na dimensão corporal e espiritual – e a

procurar concretizar o amor de Deus nas nossas relações com ‘cada

outro’ que, crente ou descrente, cristão ou não, se relacione

connosco ou, simplesmente, viva e aceite caminhar, em conjunto e

em procura.

Vou percorrer este itinerário e propô-lo, apresentando o tema

que foi aceite para este ano 2015-2016, na sequência do que vivemos

no ano anterior, acrescentando-lhe a Misericórdia – a dar cor e sabor,

gosto e verdade, ao ser e ao viver cristão, ao jeito de Jesus e

praticando o Evangelho. Aliás, este tema é acrescentado e alargado

aos desafios pastorais do Papa Francisco e ao convite a que vamos às

periferias da nossa Igreja e da sociedade, na vida eclesial e pastoral,

proporcionando a evangelização sem fronteiras, ainda que menos

sacramentalista e mais evangélica e, sem dúvida, mais inclusiva.

Nesta Carta Pastoral vou, sobretudo, refletir o tema que a

Diocese propõe e desenvolver alguns pensamentos que ajudem a

entender, a alargar e a concretizar o fundamental, na linha do Sínodo

Diocesano e, sempre, em comunhão e na missão com o Papa

Francisco.

1. CAMINHAR COM O RESSUSCITADO...

aminhar com o Ressuscitado’ significa acreditar que Jesus

deu a Sua vida por todas as pessoas, sem exceção nem

aceção, mesmo por aquelas que nunca irão ouvir falar d’Ele ‘CO

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ou não conheçam nem aceitem a Sua oferta. O Ressuscitado está com

todas e vem para todas as pessoas. Não rejeita ninguém. Mais, como

Irmão Mais Velho, está mais próximo e é mais generoso para com os

que O não conhecem, O não aceitam ou, mesmo, O rejeitam. Este

‘caminhar’ traduz a presença do amor universal, em abertura

compreensiva para com todas as situações de pecado e perdão, de

compreensão, de libertação e de justificação.

O ícone dos Discípulos de Emaús (Cf. Lc 24, 13-35) é

elucidativo para traduzir este caminho e este programa. Desde um

primeiro momento em que há a surpresa, incómoda, de uma

companhia inesperada, desconhecida e comprometedora, até

suportar um diálogo de sofrimento inquietante, defensivo e, por

vezes, agressivo ou indiferente. Estes momentos passam, no tempo,

a uma presença evocativa, distrativa e aliviadora, descentrando do

pensar fixamente os problemas e as realidades negativas e

mesquinhas – de “perda”. Vai até ao enriquecimento da

complementaridade e do preenchimento dos vazios, medos,

inquietações ou inseguranças. Passa a ser tranquilizante,

compreensivo e explicativo das dificuldades mais dolorosas – a dor

começa a partilhar-se e a diminuir na luz da sabedoria e do coração.

A ‘misericórdia’ começa a aproximar e a unir os corações, a explicar e

a deixar entrever razões para compreender e aceitar tudo o que

aconteceu...

A partir daqui, o coração começa a aquecer e a transbordar,

esquecendo e mudando o interior, escuro e tenso, sem esperanças

alternativas. Sente-se o conforto da Presença e deseja-se a

companhia ‘eternizada’, no tempo e na história, temendo a recaída

na solidão. Então, mesmo sem avaliar consequências, é lógica a

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proposta feita pedido: «Fica connosco!». As periferias abrem-se e

sentem ter lugar no conjunto da missão e provocam direito de

cidadania no projeto englobante e inclusivo da fraternidade universal.

‘Caminhar com o Ressuscitado’, mesmo

que seja caminhar no escuro, é saber-se

a viver e a encontrar justificadas

respostas para todas as maiores e, antes,

quase insolúveis dúvidas e questões. A

partir daqui, olha-se e acolhe-se o

fundamental – o Outro e os outros – e

anuncia-se o essencial – Jesus Cristo e a

Sua Proposta libertadora com a Sua

Palavra, cheia de Misericórdia para com

todos.

‘Caminhar com o Ressuscitado’ é o

estilo de vida de qualquer cristão, sem o

qual negaria a própria identidade e não

poderia haver nem ‘comunhão’ e, muito

menos, haveria ‘missão’. Seria uma simples caricatura do ser cristão

e do viver de uma comunidade cristã, nada condizente com a

realidade. Não haverá, nas nossas comunidades, situações idênticas

de falta de seguimento do Ressuscitado, falta de alegria no ser e no

viver cristão e falta de testemunho no assumir empenhos e

compromissos no dia-a-dia?

‘Caminhar com o Ressuscitado’ é o estilo de vida de qualquer cristão,

sem o qual negaria a própria identidade e não

poderia haver nem ‘comunhão’ e, muito menos, haveria ‘missão’.

Esta certeza e necessidade devem desafiar-nos a preparar

melhor cada Domingo e a sua celebração em todos os lugares,

mesmo nos mais pequenos e mesmo – e até – nos lugares

“pessoais”, como um Lar de Idosos ou outros.

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2. VIVER COM O RESSUSCITADO...

sta é a riqueza – pessoal, comunitária e eclesial – que nasce da

Eucaristia... E leva os discípulos, de todos ‘os Emaús’, a saltar,

sobretudo quando sentem que não têm Jesus, física e

visivelmente presente. No coração, tornado Sacrário e Sacramento,

Ele é ‘memória’ de todas as realidades que fazem viver e acreditar,

esperar e testemunhar. Então, a noite deixa de impedir a caminhada

e, num instante, vêem-se a tornar a ‘memória’ fonte de

Acontecimento novo que, ‘re-velado’, não pode nem quer deixar de

ser anunciado, vivido e testemunhado, em comunidade e em anúncio

festivo e feliz. Cristo-Sacramento torna-Se o Sol que ilumina e

resplandece para todos. O cristão que vive este Sacramento torna-

se uma espécie de lua que, nas noites da vida humana, reflete a luz

do Sol para iluminar essas ‘noites’ dos homens.

Não somente se caminha mas vive-se com Jesus que é

Presença, Companhia, Alimento, Resposta, Esperança, Futuro... Em

Jerusalém, em Emaús, em Viseu (...) e em todos os lugares onde está

o Ressuscitado, a experiência é a mesma – “vimos o Senhor!” (Jo 20,

25); “Ele está vivo, ressuscitou!” (Cf. Mt 28, 5); “Nós somos

testemunhas deste Facto!” (Act 5, 32); “Já não sou eu que vivo, é

Cristo que vive em mim!” (Gl 2, 20) (...) O anúncio deste Reino –

iniciado pelo Ressuscitado como sendo de justiça, amor, vida, graça,

santidade, verdade e paz... – começa, cresce e deve partilhar-se com

todos. Não há mais dúvidas, inseguranças, oposições ou medos... Há

alegria, prontidão e decisão vocacional, que refaz os tempos menos

claros, revigora as opções mais tímidas e rebate as hesitações mais

infundadas, levando a partilhar com convicção: “Eu sei em Quem pus

a minha fé!” (Cf. 2Tim 1, 12)...

E

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A incidência desta descoberta, tornada Fé acreditada mas,

sobretudo e logo, vivida e testemunhada, deve marcar todas as

opções, no dia-a-dia, em tudo o que somos e fazemos, nas conversas

e relações, dando vida à Palavra escutada

e celebrada cada Domingo. A semana do

cristão deve ser semana ‘eucaristizada’,

evocada e alimentada pela oração, pelo

amor fraterno, pela alegria – vida

tornada esperança, confiança, paciência,

(...) – de acordo com as circunstâncias, as

mais diversas que toma e preenche a

semana, nas múltiplas situações da vida.

Viver com o Ressuscitado e sentir

a força da Sua presença anima a

enfrentar as diversas realidades com a

certeza de que Ele, mesmo quando

parece dormir, está presente e atento a

todas as realidades da vida das pessoas

que ama. (Cf. Mt 8, 23-27). O Evangelho

dá todas as razões para acreditarmos

que, vivendo com a certeza de que Jesus

está na nossa vida, temos todas as

razões para a serena e tranquila

confiança. S. Paulo, na sua experiência de vida, afirma o que pode ser

a base para a confiança dos cristãos. Com alegria, ele invoca a certeza

da sua confiança (Cf. Gal 2, 20) e sente-se feliz a viver (com) o próprio

Jesus Cristo.

Viver com o Ressuscitado e

sentir a força da Sua presença

anima a enfrentar as diversas

realidades com a certeza de que Ele,

mesmo quando parece dormir, está presente e

atento a todas as realidades da vida das pessoas que

ama.

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Importa que as celebrações, sobretudo a Eucaristia do

Domingo, sejam verdadeiras celebrações de Cristo Ressuscitado e

transmitam a Sua presença viva na Palavra e nos Sacramentos.

São tão importantes – Eucaristia, Palavra, Sacramentos – que não

se podem deixar as comunidades sem estes Dons. Não podendo

levá-los a todos os lugares (concretamente a Eucaristia de

Domingo), pelas circunstâncias por todos conhecidas, deveremos

ser criativos a provocar as possibilidades de acesso a todos.

Celebrações da Palavra por Diáconos, Leigos e Religiosos;

celebração da Eucaristia semanal ou quinzenal em todos os

lugares, mesmo na semana e com a solenidade possível;

encontros nas comunidades para tempos de oração, com a

proclamação das leituras dominicais, etc. Promover estas

celebrações nos Lares de Idosos, mesmo nos não paroquiais (onde

seja possível, dialogado e desejado), é atender às ‘periferias’ onde

Jesus está, vive e quer que a Igreja seja presente

sacramentalmente, tornando-se nestes lugares, por excelência,

Igreja de Caridade Missionária.

Ao jeito da experiência de Lucas, feita pelos Discípulos de

Emaús regressados a “casa”, partilhemos, na Unidade Pastoral, no

Arciprestado e nos encontros diversos, as iniciativas que vamos

tomando, nas nossas realidades pastorais. Serão estímulo e

incentivo a novas realidades que devem ser, cada vez mais,

evangélicas e eclesialmente inovadoras.

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3. IR ÀS PERIFERIAS...

e até aqui era o texto de Emaús que nos ensinava a caminhar

com Jesus e a viver com Ele, é o texto do envio dos 72 discípulos

(Cf. Lc 10, 1-11) que nos mostra, agora, a importância das

diversas periferias a interpelar-nos. Mostra-nos que Jesus ama a

todos, está aonde nos envia e a todos quer enviar os Seus discípulos.

O Papa Francisco desafia-nos a conhecer, a amar e a evangelizar a

todos, sejam quais forem as razões pelas quais se tenham afastado

e se mantenham indiferentes.

Neste ponto, a 1ª pergunta a fazer será a lógica:

Quais as periferias que, na minha vida, na minha

paróquia e diocese, nas minhas relações (...), pedem a

minha atenção de amigo, de cristão, de pastor e de

seguidor de Jesus Cristo?

A 2ª é, também, importante:

Que mensagem, que valores, que testemunho, devo

anunciar e mostrar a todos para me identificarem

como cristão e membro da Igreja?

A 3ª não pode deixar de me focar:

Como reagir, perante as pessoas, os ambientes e as

situações tão secularizadas, que rejeitam a Pessoa de

Jesus Cristo, a mensagem e o mensageiro?

A 4ª é evidente, se sou discípulo de Jesus:

Como devo viver e que preciso e devo fazer para ser

seguidor do Mestre e anunciar aos outros a Sua Boa

Nova?

S

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Ir às periferias não nos pode distrair nem levar a esquecer os

compromissos nas comunidades cristãs. Melhor: é importante

envolver todos os cristãos das comunidades a interpretar as causas

do ateísmo e do abandono de tantos

batizados (Cf. GS 19-21). É oportuno

fazer sentir a todos que o regresso dos

que deixaram a Igreja, bem como a

adesão dos que estão fora depende do

estilo e testemunho de vida dos cristãos

e dos que estão inseridos no sentir e no

participar nas estruturas da Igreja.

Então, importa validar e

qualificar o estilo de vida dos cristãos e

das nossas comunidades cristãs. O Papa

João XXIII dava o tom próprio deste estilo de vida – recuperar a

alegria, o entusiasmo e a coragem das ‘origens’ – dando razões para

a convocatória e realização do Concílio Vaticano II. Está aqui um dos

pontos fundamentais para a ‘recuperação’ da identidade ‘ferida’ e

para a vitalidade do seguimento de Jesus pelos membros da Igreja e

das comunidades da nossa diocese.

Ir às periferias não nos pode

distrair nem levar a esquecer os compromissos

nas comunidades cristãs.

Importa, assim, apostar no esforço de recuperação dos

valores e da verdadeira imagem da Igreja de Jesus Cristo,

apostando na formação – verdadeira, exigente, consciente e

crescente – dos batizados; vivendo a alegria e a qualidade das

celebrações; testemunhando a coerência e o entusiasmo de vida

dos cristãos...

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Estas serão, sem dúvida, algumas das conclusões do nosso

Sínodo diocesano, a transformarem-se em programas e em propostas

que, como comunidades e como diocese, nos é pedido que

implementemos e concretizemos na ação pastoral.

A forma de converter as conclusões, tornadas constituições

sinodais, em planificação e programação pastoral, deve motivar-nos

a estar atentos às determinações que irão tomar corpo a partir de

muito em breve. A formação será indispensável, alargada a todos e

a ser procurada por todos. Para sermos capazes de interpelar as

periferias da Igreja de hoje, somos convidados a ser autênticos no

ser e no agir. Somente assim, seremos agentes e anunciadores da

Misericórdia do Pai, revelada e anunciada por Jesus Cristo, nosso

Senhor e Mestre.

4. ANUNCIANDO, VIVENDO E CELEBRANDO A MISERICÓRDIA

sta é a base do tema do Jubileu Extraordinário, proposto pelo

Papa Francisco, a iniciar-se em 8 de Dezembro, levando-nos

até à Solenidade de Jesus Cristo, Rei e Senhor do Universo de

2016. O ‘Rosto da Misericórdia’ deve moldar e visibilizar o rosto, a

ação e a vida da Igreja e dos cristãos, no acolhimento, no diálogo e

nas propostas a apresentar a todos os que querem conhecer e viver

a vida de Jesus, na Igreja. “Jesus Cristo é o rosto da misericórdia do

Pai” – assim começa a «Bula de proclamação do Jubileu

Extraordinário da Misericórdia», de 11 de Abril de 2015. A Eucaristia

do Domingo, os Sacramentos e a dinâmica de acolhimento, de

diálogo e de formação devem privilegiar o valor e o carisma da

Misericórdia que Jesus revela “com a sua palavra, os seus gestos e

toda a sua pessoa” (MV 1).

E

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Definimos Misericórdia com as próprias palavras do Papa:

“Misericórdia: é a lei fundamental que mora no coração de cada

pessoa, quando vê com olhos sinceros o irmão que encontra no

caminho da vida. Misericórdia: é o caminho que une Deus e o homem,

porque nos abre o coração à esperança de sermos amados para

sempre, apesar da limitação do nosso pecado” (MV 2). A intenção do

Papa Francisco está bem clara, quando diz que proclamou este

“Jubileu Extraordinário da Misericórdia como tempo favorável para

a Igreja, a fim de se tornar mais forte e eficaz o testemunho dos

crentes” (MV 3).

A abertura da Porta da Misericórdia – a efetuar na nossa

Catedral no mesmo dia 8 de Dezembro, dia do encerramento do

Sínodo Diocesano – deve traduzir que “qualquer pessoa que entre

poderá experimentar o amor de Deus que consola, perdoa e dá

esperança”. A nós, cristãos – bispo, padres, diáconos, religiosos e

leigos empenhados nas comunidades, nos movimentos, nos grupos

de serviço e de corresponsabilidade – pede-se que este gesto tenha

tradução concreta e prática. O Papa diz qual deve ser a atitude a viver

e a anunciar: “cada Igreja particular estará diretamente envolvida na

Para maior facilidade de recurso de todos os diocesanos a

este meio de graça especial, para os 4 Arciprestados fora do

concelho de Viseu, apresentam-se outros tantos lugares de

peregrinação. Assim, terão esta atribuição, desde 8 de Dezembro à

solenidade de Cristo Rei: Nossa Senhora do Castelo de Vouzela, em

Lafões; Nossa Senhora da Esperança de Mouraz, em Besteiros;

Nossa Senhora do Castelo de Mangualde, na Beira Alta; Senhor dos

Caminhos de Romãs, no Dão. Para os Arciprestados de Viseu,

mantém-se a Catedral, até ao final deste especial Ano Santo.

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vivência deste Ano Santo como um momento extraordinário de graça

e renovação espiritual” (MV 3).

O ano jubilar em Viseu e este especial Ano Santo da

Misericórdia trazem à nossa diocese um acrescento de graça e um

convite e desafio de renovação. Precisamos de viver, com alegria e

gratidão, com muito empenho e sério esforço de renovação e

reconciliação, estas oportunidades que nos são oferecidas, tendo

em conta a vivência das Constituições Sinodais, a aprovar durante

estas datas tão especiais.

Nestes especiais anos de graça, precisamos de valorizar o

recurso às graças da Misericórdia de Deus que podem ser recebidas

por várias fontes. Como direi mais adiante, peço a todos os

sacerdotes e, de forma especial, aos párocos, que, em Unidade

Pastoral, em Paróquia e/ou Arciprestado, organizem tempos

regulares de reconciliação com a administração do Sacramento.

Revejam-se, com solicitude e criatividade pastoral, os dias e as horas

para a sua conveniente celebração, proporcionando uma fácil

oportunidade a todos os que o procuram.

5. ORAÇÃO DO PAI NOSSO E SACRAMENTO DA RECONCILIAÇÃO

omos convidados a privilegiar momentos e formas especiais

que traduzam a larga generosidade e benevolência divina que

Jesus quer distribuir a todos e confiou à Sua Igreja. A Oração S Aprendamos a rezá-lo, com especial solenidade, na

Eucaristia e nos encontros diversos que organizamos, sejam de

festa, de formação ou de convívio.

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especialíssima do Pai Nosso deve ser o acesso fácil, geral e universal

de todos os filhos de Deus à misericórdia do Pai.

A oração do Pai Nosso é ‘momento’ privilegiado de

comunhão – com Deus e com os irmãos – e, ao mesmo tempo, é

grande e especialíssimo momento de reconciliação e de vivência da

fraternidade humana universal. Em tempos de crescimento do

anonimato e da indiferença, da perda do sentido da fraternidade

como vizinhança, espírito de família e de interajuda e do sentido filial

cristão, precisamos de redescobrir melhor o sentido do Pai Nosso e

de encontrar formas fáceis e válidas de o recolocar no centro da fé

cristã.

Neste especial tempo de graça para a diocese de Viseu – ano

jubilar e ano da Misericórdia – somos, também, desafiados a valorizar

Proponho que a catequese e o exercício deste Sacramento

esteja muito presente na preparação e vivência de todas as

peregrinações jubilares. Também deverá revalorizar-se nas

Paróquias, nas Unidades Pastorais e nos Arciprestados. Para além

dos tempos da Quaresma, dos Jubileus, das Festas dos Padroeiros

e da Catequese, convido a que se criem condições de os cristãos

terem acesso a este especialíssimo meio de conversão.

Sugiro que os Sacerdotes se mantenham disponíveis para a

celebração deste Sacramento, sempre que os fiéis o peçam. Porém,

será recomendável que a marcação de datas regulares e

publicamente informadas, estimulem à sua frequência. Através de

celebrações penitenciais ou de outros modos, deveria haver,

mensalmente e na proximidade apontada, espaço, lugar e

oportunidade para estes especiais momentos de graça.

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o Sacramento da Reconciliação como especial meio da Misericórdia

do Pai.

Como afirma o Papa, evocando o que repete Jesus no

Evangelho, “Deus está sempre disponível para o perdão, não se

cansando de o oferecer de maneira sempre nova e inesperada” (MV

22). A misericórdia de Deus “torna-se indulgência do Pai que,

através da Esposa de Cristo, alcança o pecador perdoado e liberta-o

de qualquer resíduo das consequências do pecado, habilitando-o a

agir com caridade, a crescer no amor em vez de recair no pecado”. E

logo a seguir: “Viver a indulgência no Ano Santo significa aproximar-

se da misericórdia do Pai, com a certeza de que o seu perdão cobre

toda a vida do crente” (idem). E para nos explicar o sentido da

indulgência neste ano tão especial, o Papa diz que “é experimentar a

santidade da Igreja que participa em todos os benefícios da redenção

de Cristo, para que o perdão se estenda até às últimas consequências,

aonde chega o amor de Deus”. Termina, fazendo-nos um convite que

é, também, um forte apelo: “Vivamos intensamente o Jubileu,

pedindo ao Pai o perdão dos pecados e a indulgência misericordiosa

em toda a sua extensão” (idem). Quem não fica contente com esta

possibilidade e quem vai deixar de a anunciar e facultar a todos?

Em coerência com tudo isto, o Papa refere e deseja, também,

que “a Quaresma deste Ano Jubilar seja vivida mais intensamente

como tempo forte para celebrar e experimentar a misericórdia de

Deus” (MV 17). Neste mesmo número, convida a que “ponhamos

novamente o sacramento da Reconciliação no centro, porque

permite tocar sensivelmente a grandeza da misericórdia –

acrescentando – não me cansarei jamais de insistir com os

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confessores para que sejam um verdadeiro sinal da misericórdia do

Pai”.

“Este é o momento favorável para mudar de vida! Este é o

tempo de se deixar tocar o coração”. (...) “Que a palavra de perdão

possa chegar a todos e a chamada para experimentar não deixe

ninguém indiferente. O meu convite à conversão dirige-se, com

insistência ainda maior, àquelas pessoas que estão longe da graça de

Deus pela sua conduta de vida”. (...) “Basta acolher o convite à

conversão e submeter-se à justiça, enquanto a Igreja oferece a

misericórdia” (MV 19).

O Papa Francisco, desejando especiais momentos e

oportunidades para esta catequese e seu exercício, introduz os que

chama “missionários da misericórdia”. E explica quem quer nesta

missão: “Serão sacerdotes a quem darei autoridade de perdoar

mesmo os pecados reservados à Sé Apostólica, para que se torne

evidente a amplitude do seu mandato. Serão sobretudo sinal vivo de

como o Pai acolhe a todos aqueles que andam à procura do seu

perdão. Serão missionários da misericórdia porque se farão, junto de

todos, artífices dum encontro cheio de humanidade, fonte de

libertação, rico de responsabilidade para superar os obstáculos e

retomar a vida nova do Batismo” (MV 18). A intenção de Francisco é

clara e todos somos convidados a seguir esta orientação, expressa

claramente, como diz de seguida: “Peço aos irmãos bispos que

convidem e acolham estes missionários, para que sejam antes de

tudo, pregadores convincentes da misericórdia. Organizem-se, nas

dioceses, «missões populares», de modo que estes missionários sejam

anunciadores da alegria do perdão” (MV 18).

Concordando, aceitando e propondo estas orientações do

Papa para toda a nossa diocese, dou um sinal concreto, nomeando

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Caminhar com o Ressuscitado... até às periferias, vivendo e anunciando a Misericórdia.

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como ‘sacerdote Penitenciário’, na Catedral e como ‘missionário da

misericórdia’, o Cón. António Jorge dos Santos Almeida, iniciando

esta missão no próximo dia 1 de Outubro deste ano 2015. Peço-lhe,

também – e porque é o Vigário Episcopal para o Clero – que pense

como tornar este pedido do Papa mais conhecido e acessível a todos,

sobretudo aos sacerdotes da nossa diocese.

6. A MISERICÓRDIA E O JUÍZO FINAL

Misericórdia de Deus entende-se como amor pleno e

infinito, capaz de aceitar cada pessoa como é, com os

defeitos e marcas que tem, tantas delas frutos de opções

negativas e contrárias à Sua vontade e ao Seu amor. A expressão

mais correta e clara da vivência da Misericórdia, aplicada às pessoas

concretas, é o texto de Mateus 25, 31-46, conhecido como a descrição

do ‘Juízo Final’. Nele, cada pessoa é vista e avaliada pelo que procurou

fazer aos outros, sobretudo em momentos de dificuldades. A escolha

que faz – positiva ou negativa para com quem precisa – reverte a

favor ou não da avaliação que ‘merece’ a salvação, ou não. A salvação

é sempre dom gratuito de Deus, exigindo, de todos, compromisso e

testemunho, segundo a verdade que, cada pessoa, pode conhecer.

Não há dúvidas do que Deus prefere, evidente desde todo o

Antigo Testamento – Ele que é o Pai da Misericórdia: “Eu quero a

misericórdia e não os sacrifícios” (Os 6, 6) e confirmado no Novo, pois

“a misericórdia revela-se como dimensão fundamental da missão de

Jesus” (MV 20). Não há contradição nas notas privilegiadas na vida e

ação de Jesus, pois, como diz o Papa Francisco, “a misericórdia não é

contrária à justiça, mas exprime o comportamento de Deus para com

A

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o pecador, oferecendo-lhe uma nova possibilidade de se arrepender,

converter e acreditar” (MV 20).

O Juízo final vai-se concretizando no dia-a-dia, nas opções e

decisões que vamos tomando, nas

relações que construímos e vivemos uns

com os outros, pois “sempre que fizestes

isto a um destes meus irmãos mais

pequeninos, a mim mesmo o fizestes” (Mt

25, 40). Então, diz o Papa Francisco:

“neste Ano Santo, poderemos fazer a

experiência de abrir o coração àqueles

que vivem nas mais variadas periferias

existenciais que, muitas vezes, o mundo

contemporâneo cria de forma

dramática... Neste jubileu, a Igreja sentir-

se-á chamada, ainda mais, a cuidar

destas feridas, aliviá-las com o óleo da

consolação, enfaixá-las com a

misericórdia e tratá-las com a

solidariedade e a atenção devidas” (MV 15).

Esta catequese sobre a Misericórdia é muito importante nos

tempos que vivemos. Perante o estilo de vida das pessoas no nosso

tempo, num estilo egoísta, individualista e tão longe dos princípios

da Doutrina Social da Igreja e, ainda mais, do Evangelho, olhar o

outro com olhar de irmão, qualquer outro – a começar pelo mais

pobre, o mais pequeno, o mais idoso, o mais distante – é

fundamental para viver as Obras de Misericórdia. Vivem-se, por um

lado, evangelizando a vida e os seus limites, a morte e o além

(olhando a boa nova que são e transmitem), a partir do amor, da

O Juízo final vai-se concretizando no dia-a-dia, nas

opções e decisões que

vamos tomando, nas relações que

construímos e vivemos uns com

os outros.

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Caminhar com o Ressuscitado... até às periferias, vivendo e anunciando a Misericórdia.

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confiança, do perdão, da reconciliação e da vida de Deus e em Deus.

Vivem-se – muito mais e sobretudo – evangelizando a nossa vocação

para vivermos o Batismo como caminho de Ressurreição e de Vida,

vivendo já no Reino de Deus, chamados a dar testemunho de que a

nossa vida é já, desde a Redenção de Cristo, vida de ressuscitados (Cf.

Col 3, 1-4).

É bom que, como cristãos, tenhamos mais proximidade com

tudo o que o Evangelho diz da misericórdia de Deus, vivida nas

relações sociais, familiares e humanas. Na Populorum Progressio,

Paulo VI dizia que a Igreja é “perita em humanidade” e que tem, como

próprio, “uma visão global do homem e da humanidade” (PP 13).

Porém, também é importante que todos os cristãos – membros vivos

e assumidos da Igreja – sejam mais peritos em cristianismo, em vida

crística, em Palavra de Deus.

7. PEREGRINAÇÕES JUBILARES: CATEQUISTAS, FAMÍLIAS,

CRIANÇAS, JOVENS, DOENTES, MOVIMENTOS...

nossa Igreja de Viseu é desafiada, nestes próximos tempos,

a viver um tempo marcado por peregrinações (de 23 de Julho

de 2015 à Solenidade de Cristo Rei de 2016), vivendo o Ano A

A formação permanente, a organizar, a programar e a

sistematizar brevemente na diocese, deverá atender a estas e a

outras necessidades, atuais lacunas na formação da maioria dos

batizados.

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Jubilar da diocese e o Ano Santo da Misericórdia. O Papa Francisco

afirma que “a peregrinação é um sinal peculiar do Ano Santo,

enquanto ícone do caminho que cada pessoa realiza na sua existência.

A vida é uma peregrinação e o ser humano é viator, um peregrino que

percorre uma estrada até à meta desejada”. O Papa diz mesmo que

“cada pessoa deverá fazer, segundo as próprias forças, uma

peregrinação. Esta será sinal de que a própria misericórdia é uma

meta a alcançar que exige empenho e sacrifício” (MV 14).

Dizendo ‘misericórdia’, “deixemo-nos surpreender por Deus.

Ele nunca se cansa de escancarar a porta do Seu coração, para repetir

que nos ama e deseja partilhar connosco a Sua vida. A Igreja sente,

fortemente, a urgência de anunciar a misericórdia de Deus” (MV 25).

E não tenhamos medo de a procurar, pois “o perdão supremo

oferecido a quem O crucificou, mostra-nos até onde pode chegar a

misericórdia de Deus” (MV 24).

Organizadas por paróquia, unidade pastoral, arciprestado,

diocese ou por grupos, movimentos e setores pastorais – como

jovens, famílias, catequese... – as peregrinações à Catedral ou a

um Santuário diocesano são desafios a promover, sempre com

elementos que favoreçam a conversão, a formação, a vivência e

o aprofundamento do Plano Pastoral da diocese.

A peregrinação ‘exemplar’ e com dimensão e empenho

diocesano queremos fazê-la ao Santuário de Fátima. Será no Ano

Santo da Misericórdia, no ano de 2016 e já depois do ano jubilar

que concluirá em 23 de Julho.

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Caminhar com o Ressuscitado... até às periferias, vivendo e anunciando a Misericórdia.

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Teremos a oportunidade de agradecer todos os bens

recebidos e louvar o Senhor por toda a experiência sinodal vivida;

queremos pedir a Maria a força para concretizarmos as

Constituições Sinodais a apresentar e, assim, darmos seguimento à

renovação da nossa Igreja diocesana, com a concretização do que o

Sínodo nos proporciona como caminho de transformação. Até lá,

vivamos, com muita alegria e determinação, o que formos

descobrindo e concluindo que é a vontade de Deus para a nossa

Igreja, para nós e para os nossos contemporâneos, nos nossos

tempos. Não esqueçamos, também, todas as diversas periferias que

esperam, de todos nós, um alegre testemunho do seguimento de

Jesus Cristo, Filho de Deus Pai, que vive em unidade com o Espírito

Santo.

8. JOVENS, QUE JUBILEU E QUE ANO SANTO?

e confio esta Carta às bênçãos e proteção maternal de Maria,

entrego-a, em primeiro lugar, aos jovens da nossa diocese. Sois

vós, caríssimos jovens, os que tendes a missão de pôr em

prática e viver as conclusões do nosso Sínodo diocesano,

acreditando e construindo a Igreja que Deus deseja para nós. Sois

vós que, em cada momento, nos ajudais a descobrir a necessidade

de renovação, na Igreja que recebemos. Por nossa culpa, vai-se

deixando ‘envelhecer’, distraindo-se com tantas coisas ‘velhas’,

adaptando-se a tantas outras coisas diferentes da novidade, da

alegria e da vida que lhe veio por Nosso Senhor Jesus Cristo. Como

será bom que vamos sentindo o gosto do que os primeiros cristãos

descobriram, viveram e transmitiram com tanto entusiasmo (Cf. Act

2, 42-47) e que levou o Papa João XXIII a propor como referência para

o Vaticano II!

S

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Ao longo dos 5 anos que vivemos como experiência sinodal,

pareceu-me, caríssimos jovens, que não vos entusiasmastes muito...

Certamente, por minha culpa e por culpa dos que estamos nos lugares

e tarefas de mais empenho e responsabilidade da Igreja, nas diversas

comunidades da diocese... Temos, todos nós, os mais velhos, que

mudar o ‘chip’ e tenho eu, como vosso bispo e primeiro responsável

da diocese, que pedir desculpa a todos vós, por não ter sido capaz de

vos entusiasmar e interessar durante este percurso.

Porque todos sabemos que é verdade o que o Papa Francisco

diz na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium – “a formação dos

leigos e a evangelização das categorias profissionais e intelectuais

constituem um importante desafio pastoral” (EG 102), muito mais

verdade é o que se refere ao setor dos jovens. Se a pastoral juvenil

“sofreu o impacto das mudanças sociais” (EG 105) e hoje pede à Igreja

Convido a pastoral juvenil e os seus primeiros responsáveis

na diocese – diretor diocesano com os animadores dos grupos e

movimentos de jovens, os religiosos e os padres – a terem os

objetivos da renovação e da mudança, nas estruturas e na vida dos

seus grupos e comunidades.

Para isto, convido os jovens, a que, nas suas comunidades –

pequenas ou grandes – e com a ajuda do pároco, desenvolvam um

pequeno grupo de partilha de preocupações, de convívio e de

oração. Os jovens nos levarão – a todos – a sentir necessidade de

refletir e concretizar o que seja preciso e urgente. É essencial este

esforço de todos, para não cairmos, de novo, na falta de atenção

aos desafios e aspirações que os jovens têm e querem viver.

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Caminhar com o Ressuscitado... até às periferias, vivendo e anunciando a Misericórdia.

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outra atuação, digo com o Papa Francisco: “Como é bom que os

jovens sejam «caminheiros da fé», felizes por levarem Jesus Cristo a

cada esquina, a cada praça, a cada canto da Terra!” (EG 106).

Acreditemos todos – pais, professores, sacerdotes e religiosos – “os

jovens chamam-nos a despertar e a aumentar a esperança, porque

trazem consigo as novas tendências da humanidade e abrem-nos ao

futuro, de modo que não fiquemos encalhados na nostalgia de

estruturas e costumes que já não são fonte de vida no mundo atual”

(EG 108).

Sinto o desafio urgente de, na formação permanente a

incentivar, já neste ano pastoral, na nossa diocese, não esquecermos

as (muitas) áreas de interesse dos jovens cristãos.

Peço aos Responsáveis da pastoral juvenil que auscultem as

sugestões dos próprios jovens, grupos e movimentos juvenis e que

se abra uma área concreta e específica, para eles, na Escola Cristã

de Formação Permanente a criar em Viseu, logo que seja possível.

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9. Conclusão

orque, se eu anuncio o Evangelho, não é para mim motivo

de glória, é antes uma obrigação que me foi imposta: Ai

de mim, se eu não evangelizar!” (1 Cor 9, 16) dizia S. Paulo,

fazendo a necessária e permanente avaliação desta missão como

discípulo. Este pensamento é, em mim, passando pelas diversas

comunidades – e desde há muito já o era como pároco e noutras

missões, na Igreja – uma permanente fonte de avaliação e, muito

mais, de inquietação. Deve sê-lo de todos nós, sacerdotes nesta

nossa Igreja de Viseu. Como diz o Papa Francisco, “a evangelização é

dever da Igreja” (EG 111). Diz também que “«não pode haver

verdadeira evangelização sem o anúncio explícito de Jesus como

Senhor» e sem existir uma «primazia do anúncio de Jesus Cristo em

qualquer trabalho de evangelização»” (EG 110).

Perguntemo-nos: a nossa vida, a nossa prática diária, o

exercício da missão que nos está confiada, a nossa capacidade e

vontade de acolhimento a todos os que vêm e a vontade de ir ao

encontro dos que estão fora, o viver inteiramente para o ministério

(...) – são, todos estes, temas e questões para a nossa reflexão e dão-

nos paz, serenidade e alegria? Devem ser, sem dúvida, pontos a

preencher a avaliação diária da nossa consciência, a constituir a

nossa programação e ação pastoral semanal e a motivar a nossa

formação permanente.

Precisa-se que todos nós – bispo, sacerdotes, diáconos,

religiosos, jovens, cristãos em geral – sejamos “evangelizadores com

espírito, quer dizer, evangelizadores que se abrem sem medo à ação

do Espírito Santo. ... Além disso, o Espírito Santo infunde a força para

anunciar a novidade do Evangelho com ousadia (parresia), em voz

“P

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alta e em todo o tempo e lugar, mesmo em contracorrente. (...) Jesus

quer evangelizadores que anunciem a Boa-Nova não só com palavras,

mas sobretudo com uma vida transfigurada pela presença de Deus”

(EG 259).

O Papa apresenta e propõe, de seguida “algumas reflexões

acerca do espírito da nova evangelização” (EG 260) que aparecem

como ‘motivações para um renovado impulso missionário’. Faço

apelo a que nenhum de nós – evangelizadores e missionários no

Reino – se dispense de implementar o essencial e prático, possível e

desejável de concretizar na ação missionária, na nossa Igreja. Isto

para se viver com “uma moção interior que impele, motiva, encoraja

e dá sentido à ação pessoal e comunitária”, dando-se, assim, início a

“uma época evangelizadora mais ardorosa, alegre, generosa,

ousada, cheia de amor até ao fim e feita de vida contagiante!” (EG

261).

Os últimos números da Exortação Apostólica Evangelii

Gaudium (259-282) apresentam-nos as principais motivações que

devem preencher a vida dos pastores e missionários, no hoje da Igreja

e do Mundo. Fazemos bem tê-las em conta, sendo necessário meditá-

las e integrá-las no nosso espírito de evangelizadores, vivendo, com

alegria cristã e com um muito sério empenho pastoral, a nossa

vocação. Daremos, assim, um novo vigor à nossa vocação (Cf. 2 Tim

1, 6-7).

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VISEU, dia de Santo Agostinho, 2015

Ilídio Pinto Leandro,

Bispo de Viseu

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