Carta Pastoral 2015/2016 · Carta Pastoral 2015-2016 4 mesmo, da comunidade no seu conjunto....
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CARTA PASTORAL 2015/2016
Caminhar com o Ressuscitado... até às periferias, vivendo e anunciando a Misericórdia.
(Lc 24, 13-35; 10, 1-11)
28 | AGOSTO | 2015 DIOCESE DE VISEU
Carta Pastoral 2015-2016
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Caminhar com o Ressuscitado... até às periferias, vivendo e anunciando a Misericórdia.
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Sínodo que iremos terminar em breve – enquanto
oportunidade de reflexão e definição de caminhos e de ações
pastorais – envia-nos a todos os lugares e a todas as pessoas,
muito concretamente, a todas as periferias existentes na nossa
diocese... Quais e onde são estas que nos desafiam à missão? O
percurso sinodal que fizemos aponta-nos esta interpelante direção a
tomar e este interessante itinerário a percorrer. Nos Documentos do
Vaticano II, encontramos sugestões e indicações desses diversos
“lugares” e reflexões, com os muitos desafios que, apresentados à
Igreja neste tempo, nos chamam ao cumprimento e vivência do
Evangelho como proposta, vocação, conteúdo e missão.
Em cada paróquia e em cada diocese, mesmo as mais
praticantes e com maior percentagem de frequência dominical,
existem faixas de pessoas que, embora batizadas, nada têm de
comum com a prática e as propostas da Igreja institucional. Esta não
pode ser nem deve aparecer como uma “organização” ao lado de
outras... Neste entendimento, seria vista como uma opção de
matrícula associativa, onde os ritos e os preceitos seriam elos
identificativos que pouco marcariam o viver e o proceder nas opções
e decisões concretas – particulares ou públicas – de cada pessoa e,
O
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mesmo, da comunidade no seu conjunto. Porém, a Igreja tem
propostas concretas, sendo as primeiras aquelas que nos
apresentam Jesus Cristo, filho de Deus e os caminhos para O
encontrar. Estes, ainda que múltiplos e
variados, cruzam-se com a proposta da
Igreja que não se limita aos que A
conhecem e n’Ela vivem, mas aponta
outros e dispõe-se a procurá-los com
todos os interessados. Para este desafio,
devemos partir do que é comum – no ser
e no pensar, no viver e no conviver – para,
de seguida e com alegria, se passar ao
dever ser, ainda que diferente... Ser Igreja
e viver como membro desta Comunidade
envolve uma opção clara, fiel e
consequente, por Jesus Cristo – o enviado
do Pai – e pelas Suas propostas, presentes e manifestas na Sua vida,
na Sua Palavra, na Tradição viva, vivida na Igreja e nas inspirações do
Seu Espírito.
Este é um itinerário que se deve fazer em comunhão, nunca
em situação de oposição ou distanciamento, mas de respeito,
acolhimento e atenção à pessoa de ‘cada outro’ e aos valores que, em
verdade e autenticidade, vive e partilha com todos. Na verdade, é
acentuar o tema proposto pelo Papa Francisco, a começar no mesmo
dia dos 50 anos do Concílio Vaticano II e do encerramento do Sínodo
– a Misericórdia1. «Misericórdia» – olhar o outro, qualquer outro,
1 Cf.: Papa Francisco, O rosto da misericórdia. Misericordiae vultus. Bula de proclamação do Jubileu Extraordinário da Misericórdia. Ed. Paulinas 2015
Ser Igreja e viver como membro
desta Comunidade envolve uma
opção clara, fiel e consequente, por
Jesus Cristo.
Caminhar com o Ressuscitado... até às periferias, vivendo e anunciando a Misericórdia.
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olhar o «pobre», com o coração. Propõe-nos e desafia-nos a pensar
nas Obras de Misericórdia – na dimensão corporal e espiritual – e a
procurar concretizar o amor de Deus nas nossas relações com ‘cada
outro’ que, crente ou descrente, cristão ou não, se relacione
connosco ou, simplesmente, viva e aceite caminhar, em conjunto e
em procura.
Vou percorrer este itinerário e propô-lo, apresentando o tema
que foi aceite para este ano 2015-2016, na sequência do que vivemos
no ano anterior, acrescentando-lhe a Misericórdia – a dar cor e sabor,
gosto e verdade, ao ser e ao viver cristão, ao jeito de Jesus e
praticando o Evangelho. Aliás, este tema é acrescentado e alargado
aos desafios pastorais do Papa Francisco e ao convite a que vamos às
periferias da nossa Igreja e da sociedade, na vida eclesial e pastoral,
proporcionando a evangelização sem fronteiras, ainda que menos
sacramentalista e mais evangélica e, sem dúvida, mais inclusiva.
Nesta Carta Pastoral vou, sobretudo, refletir o tema que a
Diocese propõe e desenvolver alguns pensamentos que ajudem a
entender, a alargar e a concretizar o fundamental, na linha do Sínodo
Diocesano e, sempre, em comunhão e na missão com o Papa
Francisco.
1. CAMINHAR COM O RESSUSCITADO...
aminhar com o Ressuscitado’ significa acreditar que Jesus
deu a Sua vida por todas as pessoas, sem exceção nem
aceção, mesmo por aquelas que nunca irão ouvir falar d’Ele ‘CO
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ou não conheçam nem aceitem a Sua oferta. O Ressuscitado está com
todas e vem para todas as pessoas. Não rejeita ninguém. Mais, como
Irmão Mais Velho, está mais próximo e é mais generoso para com os
que O não conhecem, O não aceitam ou, mesmo, O rejeitam. Este
‘caminhar’ traduz a presença do amor universal, em abertura
compreensiva para com todas as situações de pecado e perdão, de
compreensão, de libertação e de justificação.
O ícone dos Discípulos de Emaús (Cf. Lc 24, 13-35) é
elucidativo para traduzir este caminho e este programa. Desde um
primeiro momento em que há a surpresa, incómoda, de uma
companhia inesperada, desconhecida e comprometedora, até
suportar um diálogo de sofrimento inquietante, defensivo e, por
vezes, agressivo ou indiferente. Estes momentos passam, no tempo,
a uma presença evocativa, distrativa e aliviadora, descentrando do
pensar fixamente os problemas e as realidades negativas e
mesquinhas – de “perda”. Vai até ao enriquecimento da
complementaridade e do preenchimento dos vazios, medos,
inquietações ou inseguranças. Passa a ser tranquilizante,
compreensivo e explicativo das dificuldades mais dolorosas – a dor
começa a partilhar-se e a diminuir na luz da sabedoria e do coração.
A ‘misericórdia’ começa a aproximar e a unir os corações, a explicar e
a deixar entrever razões para compreender e aceitar tudo o que
aconteceu...
A partir daqui, o coração começa a aquecer e a transbordar,
esquecendo e mudando o interior, escuro e tenso, sem esperanças
alternativas. Sente-se o conforto da Presença e deseja-se a
companhia ‘eternizada’, no tempo e na história, temendo a recaída
na solidão. Então, mesmo sem avaliar consequências, é lógica a
Caminhar com o Ressuscitado... até às periferias, vivendo e anunciando a Misericórdia.
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proposta feita pedido: «Fica connosco!». As periferias abrem-se e
sentem ter lugar no conjunto da missão e provocam direito de
cidadania no projeto englobante e inclusivo da fraternidade universal.
‘Caminhar com o Ressuscitado’, mesmo
que seja caminhar no escuro, é saber-se
a viver e a encontrar justificadas
respostas para todas as maiores e, antes,
quase insolúveis dúvidas e questões. A
partir daqui, olha-se e acolhe-se o
fundamental – o Outro e os outros – e
anuncia-se o essencial – Jesus Cristo e a
Sua Proposta libertadora com a Sua
Palavra, cheia de Misericórdia para com
todos.
‘Caminhar com o Ressuscitado’ é o
estilo de vida de qualquer cristão, sem o
qual negaria a própria identidade e não
poderia haver nem ‘comunhão’ e, muito
menos, haveria ‘missão’. Seria uma simples caricatura do ser cristão
e do viver de uma comunidade cristã, nada condizente com a
realidade. Não haverá, nas nossas comunidades, situações idênticas
de falta de seguimento do Ressuscitado, falta de alegria no ser e no
viver cristão e falta de testemunho no assumir empenhos e
compromissos no dia-a-dia?
‘Caminhar com o Ressuscitado’ é o estilo de vida de qualquer cristão,
sem o qual negaria a própria identidade e não
poderia haver nem ‘comunhão’ e, muito menos, haveria ‘missão’.
Esta certeza e necessidade devem desafiar-nos a preparar
melhor cada Domingo e a sua celebração em todos os lugares,
mesmo nos mais pequenos e mesmo – e até – nos lugares
“pessoais”, como um Lar de Idosos ou outros.
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2. VIVER COM O RESSUSCITADO...
sta é a riqueza – pessoal, comunitária e eclesial – que nasce da
Eucaristia... E leva os discípulos, de todos ‘os Emaús’, a saltar,
sobretudo quando sentem que não têm Jesus, física e
visivelmente presente. No coração, tornado Sacrário e Sacramento,
Ele é ‘memória’ de todas as realidades que fazem viver e acreditar,
esperar e testemunhar. Então, a noite deixa de impedir a caminhada
e, num instante, vêem-se a tornar a ‘memória’ fonte de
Acontecimento novo que, ‘re-velado’, não pode nem quer deixar de
ser anunciado, vivido e testemunhado, em comunidade e em anúncio
festivo e feliz. Cristo-Sacramento torna-Se o Sol que ilumina e
resplandece para todos. O cristão que vive este Sacramento torna-
se uma espécie de lua que, nas noites da vida humana, reflete a luz
do Sol para iluminar essas ‘noites’ dos homens.
Não somente se caminha mas vive-se com Jesus que é
Presença, Companhia, Alimento, Resposta, Esperança, Futuro... Em
Jerusalém, em Emaús, em Viseu (...) e em todos os lugares onde está
o Ressuscitado, a experiência é a mesma – “vimos o Senhor!” (Jo 20,
25); “Ele está vivo, ressuscitou!” (Cf. Mt 28, 5); “Nós somos
testemunhas deste Facto!” (Act 5, 32); “Já não sou eu que vivo, é
Cristo que vive em mim!” (Gl 2, 20) (...) O anúncio deste Reino –
iniciado pelo Ressuscitado como sendo de justiça, amor, vida, graça,
santidade, verdade e paz... – começa, cresce e deve partilhar-se com
todos. Não há mais dúvidas, inseguranças, oposições ou medos... Há
alegria, prontidão e decisão vocacional, que refaz os tempos menos
claros, revigora as opções mais tímidas e rebate as hesitações mais
infundadas, levando a partilhar com convicção: “Eu sei em Quem pus
a minha fé!” (Cf. 2Tim 1, 12)...
E
Caminhar com o Ressuscitado... até às periferias, vivendo e anunciando a Misericórdia.
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A incidência desta descoberta, tornada Fé acreditada mas,
sobretudo e logo, vivida e testemunhada, deve marcar todas as
opções, no dia-a-dia, em tudo o que somos e fazemos, nas conversas
e relações, dando vida à Palavra escutada
e celebrada cada Domingo. A semana do
cristão deve ser semana ‘eucaristizada’,
evocada e alimentada pela oração, pelo
amor fraterno, pela alegria – vida
tornada esperança, confiança, paciência,
(...) – de acordo com as circunstâncias, as
mais diversas que toma e preenche a
semana, nas múltiplas situações da vida.
Viver com o Ressuscitado e sentir
a força da Sua presença anima a
enfrentar as diversas realidades com a
certeza de que Ele, mesmo quando
parece dormir, está presente e atento a
todas as realidades da vida das pessoas
que ama. (Cf. Mt 8, 23-27). O Evangelho
dá todas as razões para acreditarmos
que, vivendo com a certeza de que Jesus
está na nossa vida, temos todas as
razões para a serena e tranquila
confiança. S. Paulo, na sua experiência de vida, afirma o que pode ser
a base para a confiança dos cristãos. Com alegria, ele invoca a certeza
da sua confiança (Cf. Gal 2, 20) e sente-se feliz a viver (com) o próprio
Jesus Cristo.
Viver com o Ressuscitado e
sentir a força da Sua presença
anima a enfrentar as diversas
realidades com a certeza de que Ele,
mesmo quando parece dormir, está presente e
atento a todas as realidades da vida das pessoas que
ama.
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Importa que as celebrações, sobretudo a Eucaristia do
Domingo, sejam verdadeiras celebrações de Cristo Ressuscitado e
transmitam a Sua presença viva na Palavra e nos Sacramentos.
São tão importantes – Eucaristia, Palavra, Sacramentos – que não
se podem deixar as comunidades sem estes Dons. Não podendo
levá-los a todos os lugares (concretamente a Eucaristia de
Domingo), pelas circunstâncias por todos conhecidas, deveremos
ser criativos a provocar as possibilidades de acesso a todos.
Celebrações da Palavra por Diáconos, Leigos e Religiosos;
celebração da Eucaristia semanal ou quinzenal em todos os
lugares, mesmo na semana e com a solenidade possível;
encontros nas comunidades para tempos de oração, com a
proclamação das leituras dominicais, etc. Promover estas
celebrações nos Lares de Idosos, mesmo nos não paroquiais (onde
seja possível, dialogado e desejado), é atender às ‘periferias’ onde
Jesus está, vive e quer que a Igreja seja presente
sacramentalmente, tornando-se nestes lugares, por excelência,
Igreja de Caridade Missionária.
Ao jeito da experiência de Lucas, feita pelos Discípulos de
Emaús regressados a “casa”, partilhemos, na Unidade Pastoral, no
Arciprestado e nos encontros diversos, as iniciativas que vamos
tomando, nas nossas realidades pastorais. Serão estímulo e
incentivo a novas realidades que devem ser, cada vez mais,
evangélicas e eclesialmente inovadoras.
Caminhar com o Ressuscitado... até às periferias, vivendo e anunciando a Misericórdia.
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3. IR ÀS PERIFERIAS...
e até aqui era o texto de Emaús que nos ensinava a caminhar
com Jesus e a viver com Ele, é o texto do envio dos 72 discípulos
(Cf. Lc 10, 1-11) que nos mostra, agora, a importância das
diversas periferias a interpelar-nos. Mostra-nos que Jesus ama a
todos, está aonde nos envia e a todos quer enviar os Seus discípulos.
O Papa Francisco desafia-nos a conhecer, a amar e a evangelizar a
todos, sejam quais forem as razões pelas quais se tenham afastado
e se mantenham indiferentes.
Neste ponto, a 1ª pergunta a fazer será a lógica:
Quais as periferias que, na minha vida, na minha
paróquia e diocese, nas minhas relações (...), pedem a
minha atenção de amigo, de cristão, de pastor e de
seguidor de Jesus Cristo?
A 2ª é, também, importante:
Que mensagem, que valores, que testemunho, devo
anunciar e mostrar a todos para me identificarem
como cristão e membro da Igreja?
A 3ª não pode deixar de me focar:
Como reagir, perante as pessoas, os ambientes e as
situações tão secularizadas, que rejeitam a Pessoa de
Jesus Cristo, a mensagem e o mensageiro?
A 4ª é evidente, se sou discípulo de Jesus:
Como devo viver e que preciso e devo fazer para ser
seguidor do Mestre e anunciar aos outros a Sua Boa
Nova?
S
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Ir às periferias não nos pode distrair nem levar a esquecer os
compromissos nas comunidades cristãs. Melhor: é importante
envolver todos os cristãos das comunidades a interpretar as causas
do ateísmo e do abandono de tantos
batizados (Cf. GS 19-21). É oportuno
fazer sentir a todos que o regresso dos
que deixaram a Igreja, bem como a
adesão dos que estão fora depende do
estilo e testemunho de vida dos cristãos
e dos que estão inseridos no sentir e no
participar nas estruturas da Igreja.
Então, importa validar e
qualificar o estilo de vida dos cristãos e
das nossas comunidades cristãs. O Papa
João XXIII dava o tom próprio deste estilo de vida – recuperar a
alegria, o entusiasmo e a coragem das ‘origens’ – dando razões para
a convocatória e realização do Concílio Vaticano II. Está aqui um dos
pontos fundamentais para a ‘recuperação’ da identidade ‘ferida’ e
para a vitalidade do seguimento de Jesus pelos membros da Igreja e
das comunidades da nossa diocese.
Ir às periferias não nos pode
distrair nem levar a esquecer os compromissos
nas comunidades cristãs.
Importa, assim, apostar no esforço de recuperação dos
valores e da verdadeira imagem da Igreja de Jesus Cristo,
apostando na formação – verdadeira, exigente, consciente e
crescente – dos batizados; vivendo a alegria e a qualidade das
celebrações; testemunhando a coerência e o entusiasmo de vida
dos cristãos...
Caminhar com o Ressuscitado... até às periferias, vivendo e anunciando a Misericórdia.
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Estas serão, sem dúvida, algumas das conclusões do nosso
Sínodo diocesano, a transformarem-se em programas e em propostas
que, como comunidades e como diocese, nos é pedido que
implementemos e concretizemos na ação pastoral.
A forma de converter as conclusões, tornadas constituições
sinodais, em planificação e programação pastoral, deve motivar-nos
a estar atentos às determinações que irão tomar corpo a partir de
muito em breve. A formação será indispensável, alargada a todos e
a ser procurada por todos. Para sermos capazes de interpelar as
periferias da Igreja de hoje, somos convidados a ser autênticos no
ser e no agir. Somente assim, seremos agentes e anunciadores da
Misericórdia do Pai, revelada e anunciada por Jesus Cristo, nosso
Senhor e Mestre.
4. ANUNCIANDO, VIVENDO E CELEBRANDO A MISERICÓRDIA
sta é a base do tema do Jubileu Extraordinário, proposto pelo
Papa Francisco, a iniciar-se em 8 de Dezembro, levando-nos
até à Solenidade de Jesus Cristo, Rei e Senhor do Universo de
2016. O ‘Rosto da Misericórdia’ deve moldar e visibilizar o rosto, a
ação e a vida da Igreja e dos cristãos, no acolhimento, no diálogo e
nas propostas a apresentar a todos os que querem conhecer e viver
a vida de Jesus, na Igreja. “Jesus Cristo é o rosto da misericórdia do
Pai” – assim começa a «Bula de proclamação do Jubileu
Extraordinário da Misericórdia», de 11 de Abril de 2015. A Eucaristia
do Domingo, os Sacramentos e a dinâmica de acolhimento, de
diálogo e de formação devem privilegiar o valor e o carisma da
Misericórdia que Jesus revela “com a sua palavra, os seus gestos e
toda a sua pessoa” (MV 1).
E
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Definimos Misericórdia com as próprias palavras do Papa:
“Misericórdia: é a lei fundamental que mora no coração de cada
pessoa, quando vê com olhos sinceros o irmão que encontra no
caminho da vida. Misericórdia: é o caminho que une Deus e o homem,
porque nos abre o coração à esperança de sermos amados para
sempre, apesar da limitação do nosso pecado” (MV 2). A intenção do
Papa Francisco está bem clara, quando diz que proclamou este
“Jubileu Extraordinário da Misericórdia como tempo favorável para
a Igreja, a fim de se tornar mais forte e eficaz o testemunho dos
crentes” (MV 3).
A abertura da Porta da Misericórdia – a efetuar na nossa
Catedral no mesmo dia 8 de Dezembro, dia do encerramento do
Sínodo Diocesano – deve traduzir que “qualquer pessoa que entre
poderá experimentar o amor de Deus que consola, perdoa e dá
esperança”. A nós, cristãos – bispo, padres, diáconos, religiosos e
leigos empenhados nas comunidades, nos movimentos, nos grupos
de serviço e de corresponsabilidade – pede-se que este gesto tenha
tradução concreta e prática. O Papa diz qual deve ser a atitude a viver
e a anunciar: “cada Igreja particular estará diretamente envolvida na
Para maior facilidade de recurso de todos os diocesanos a
este meio de graça especial, para os 4 Arciprestados fora do
concelho de Viseu, apresentam-se outros tantos lugares de
peregrinação. Assim, terão esta atribuição, desde 8 de Dezembro à
solenidade de Cristo Rei: Nossa Senhora do Castelo de Vouzela, em
Lafões; Nossa Senhora da Esperança de Mouraz, em Besteiros;
Nossa Senhora do Castelo de Mangualde, na Beira Alta; Senhor dos
Caminhos de Romãs, no Dão. Para os Arciprestados de Viseu,
mantém-se a Catedral, até ao final deste especial Ano Santo.
Caminhar com o Ressuscitado... até às periferias, vivendo e anunciando a Misericórdia.
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vivência deste Ano Santo como um momento extraordinário de graça
e renovação espiritual” (MV 3).
O ano jubilar em Viseu e este especial Ano Santo da
Misericórdia trazem à nossa diocese um acrescento de graça e um
convite e desafio de renovação. Precisamos de viver, com alegria e
gratidão, com muito empenho e sério esforço de renovação e
reconciliação, estas oportunidades que nos são oferecidas, tendo
em conta a vivência das Constituições Sinodais, a aprovar durante
estas datas tão especiais.
Nestes especiais anos de graça, precisamos de valorizar o
recurso às graças da Misericórdia de Deus que podem ser recebidas
por várias fontes. Como direi mais adiante, peço a todos os
sacerdotes e, de forma especial, aos párocos, que, em Unidade
Pastoral, em Paróquia e/ou Arciprestado, organizem tempos
regulares de reconciliação com a administração do Sacramento.
Revejam-se, com solicitude e criatividade pastoral, os dias e as horas
para a sua conveniente celebração, proporcionando uma fácil
oportunidade a todos os que o procuram.
5. ORAÇÃO DO PAI NOSSO E SACRAMENTO DA RECONCILIAÇÃO
omos convidados a privilegiar momentos e formas especiais
que traduzam a larga generosidade e benevolência divina que
Jesus quer distribuir a todos e confiou à Sua Igreja. A Oração S Aprendamos a rezá-lo, com especial solenidade, na
Eucaristia e nos encontros diversos que organizamos, sejam de
festa, de formação ou de convívio.
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especialíssima do Pai Nosso deve ser o acesso fácil, geral e universal
de todos os filhos de Deus à misericórdia do Pai.
A oração do Pai Nosso é ‘momento’ privilegiado de
comunhão – com Deus e com os irmãos – e, ao mesmo tempo, é
grande e especialíssimo momento de reconciliação e de vivência da
fraternidade humana universal. Em tempos de crescimento do
anonimato e da indiferença, da perda do sentido da fraternidade
como vizinhança, espírito de família e de interajuda e do sentido filial
cristão, precisamos de redescobrir melhor o sentido do Pai Nosso e
de encontrar formas fáceis e válidas de o recolocar no centro da fé
cristã.
Neste especial tempo de graça para a diocese de Viseu – ano
jubilar e ano da Misericórdia – somos, também, desafiados a valorizar
Proponho que a catequese e o exercício deste Sacramento
esteja muito presente na preparação e vivência de todas as
peregrinações jubilares. Também deverá revalorizar-se nas
Paróquias, nas Unidades Pastorais e nos Arciprestados. Para além
dos tempos da Quaresma, dos Jubileus, das Festas dos Padroeiros
e da Catequese, convido a que se criem condições de os cristãos
terem acesso a este especialíssimo meio de conversão.
Sugiro que os Sacerdotes se mantenham disponíveis para a
celebração deste Sacramento, sempre que os fiéis o peçam. Porém,
será recomendável que a marcação de datas regulares e
publicamente informadas, estimulem à sua frequência. Através de
celebrações penitenciais ou de outros modos, deveria haver,
mensalmente e na proximidade apontada, espaço, lugar e
oportunidade para estes especiais momentos de graça.
Caminhar com o Ressuscitado... até às periferias, vivendo e anunciando a Misericórdia.
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o Sacramento da Reconciliação como especial meio da Misericórdia
do Pai.
Como afirma o Papa, evocando o que repete Jesus no
Evangelho, “Deus está sempre disponível para o perdão, não se
cansando de o oferecer de maneira sempre nova e inesperada” (MV
22). A misericórdia de Deus “torna-se indulgência do Pai que,
através da Esposa de Cristo, alcança o pecador perdoado e liberta-o
de qualquer resíduo das consequências do pecado, habilitando-o a
agir com caridade, a crescer no amor em vez de recair no pecado”. E
logo a seguir: “Viver a indulgência no Ano Santo significa aproximar-
se da misericórdia do Pai, com a certeza de que o seu perdão cobre
toda a vida do crente” (idem). E para nos explicar o sentido da
indulgência neste ano tão especial, o Papa diz que “é experimentar a
santidade da Igreja que participa em todos os benefícios da redenção
de Cristo, para que o perdão se estenda até às últimas consequências,
aonde chega o amor de Deus”. Termina, fazendo-nos um convite que
é, também, um forte apelo: “Vivamos intensamente o Jubileu,
pedindo ao Pai o perdão dos pecados e a indulgência misericordiosa
em toda a sua extensão” (idem). Quem não fica contente com esta
possibilidade e quem vai deixar de a anunciar e facultar a todos?
Em coerência com tudo isto, o Papa refere e deseja, também,
que “a Quaresma deste Ano Jubilar seja vivida mais intensamente
como tempo forte para celebrar e experimentar a misericórdia de
Deus” (MV 17). Neste mesmo número, convida a que “ponhamos
novamente o sacramento da Reconciliação no centro, porque
permite tocar sensivelmente a grandeza da misericórdia –
acrescentando – não me cansarei jamais de insistir com os
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confessores para que sejam um verdadeiro sinal da misericórdia do
Pai”.
“Este é o momento favorável para mudar de vida! Este é o
tempo de se deixar tocar o coração”. (...) “Que a palavra de perdão
possa chegar a todos e a chamada para experimentar não deixe
ninguém indiferente. O meu convite à conversão dirige-se, com
insistência ainda maior, àquelas pessoas que estão longe da graça de
Deus pela sua conduta de vida”. (...) “Basta acolher o convite à
conversão e submeter-se à justiça, enquanto a Igreja oferece a
misericórdia” (MV 19).
O Papa Francisco, desejando especiais momentos e
oportunidades para esta catequese e seu exercício, introduz os que
chama “missionários da misericórdia”. E explica quem quer nesta
missão: “Serão sacerdotes a quem darei autoridade de perdoar
mesmo os pecados reservados à Sé Apostólica, para que se torne
evidente a amplitude do seu mandato. Serão sobretudo sinal vivo de
como o Pai acolhe a todos aqueles que andam à procura do seu
perdão. Serão missionários da misericórdia porque se farão, junto de
todos, artífices dum encontro cheio de humanidade, fonte de
libertação, rico de responsabilidade para superar os obstáculos e
retomar a vida nova do Batismo” (MV 18). A intenção de Francisco é
clara e todos somos convidados a seguir esta orientação, expressa
claramente, como diz de seguida: “Peço aos irmãos bispos que
convidem e acolham estes missionários, para que sejam antes de
tudo, pregadores convincentes da misericórdia. Organizem-se, nas
dioceses, «missões populares», de modo que estes missionários sejam
anunciadores da alegria do perdão” (MV 18).
Concordando, aceitando e propondo estas orientações do
Papa para toda a nossa diocese, dou um sinal concreto, nomeando
Caminhar com o Ressuscitado... até às periferias, vivendo e anunciando a Misericórdia.
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como ‘sacerdote Penitenciário’, na Catedral e como ‘missionário da
misericórdia’, o Cón. António Jorge dos Santos Almeida, iniciando
esta missão no próximo dia 1 de Outubro deste ano 2015. Peço-lhe,
também – e porque é o Vigário Episcopal para o Clero – que pense
como tornar este pedido do Papa mais conhecido e acessível a todos,
sobretudo aos sacerdotes da nossa diocese.
6. A MISERICÓRDIA E O JUÍZO FINAL
Misericórdia de Deus entende-se como amor pleno e
infinito, capaz de aceitar cada pessoa como é, com os
defeitos e marcas que tem, tantas delas frutos de opções
negativas e contrárias à Sua vontade e ao Seu amor. A expressão
mais correta e clara da vivência da Misericórdia, aplicada às pessoas
concretas, é o texto de Mateus 25, 31-46, conhecido como a descrição
do ‘Juízo Final’. Nele, cada pessoa é vista e avaliada pelo que procurou
fazer aos outros, sobretudo em momentos de dificuldades. A escolha
que faz – positiva ou negativa para com quem precisa – reverte a
favor ou não da avaliação que ‘merece’ a salvação, ou não. A salvação
é sempre dom gratuito de Deus, exigindo, de todos, compromisso e
testemunho, segundo a verdade que, cada pessoa, pode conhecer.
Não há dúvidas do que Deus prefere, evidente desde todo o
Antigo Testamento – Ele que é o Pai da Misericórdia: “Eu quero a
misericórdia e não os sacrifícios” (Os 6, 6) e confirmado no Novo, pois
“a misericórdia revela-se como dimensão fundamental da missão de
Jesus” (MV 20). Não há contradição nas notas privilegiadas na vida e
ação de Jesus, pois, como diz o Papa Francisco, “a misericórdia não é
contrária à justiça, mas exprime o comportamento de Deus para com
A
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o pecador, oferecendo-lhe uma nova possibilidade de se arrepender,
converter e acreditar” (MV 20).
O Juízo final vai-se concretizando no dia-a-dia, nas opções e
decisões que vamos tomando, nas
relações que construímos e vivemos uns
com os outros, pois “sempre que fizestes
isto a um destes meus irmãos mais
pequeninos, a mim mesmo o fizestes” (Mt
25, 40). Então, diz o Papa Francisco:
“neste Ano Santo, poderemos fazer a
experiência de abrir o coração àqueles
que vivem nas mais variadas periferias
existenciais que, muitas vezes, o mundo
contemporâneo cria de forma
dramática... Neste jubileu, a Igreja sentir-
se-á chamada, ainda mais, a cuidar
destas feridas, aliviá-las com o óleo da
consolação, enfaixá-las com a
misericórdia e tratá-las com a
solidariedade e a atenção devidas” (MV 15).
Esta catequese sobre a Misericórdia é muito importante nos
tempos que vivemos. Perante o estilo de vida das pessoas no nosso
tempo, num estilo egoísta, individualista e tão longe dos princípios
da Doutrina Social da Igreja e, ainda mais, do Evangelho, olhar o
outro com olhar de irmão, qualquer outro – a começar pelo mais
pobre, o mais pequeno, o mais idoso, o mais distante – é
fundamental para viver as Obras de Misericórdia. Vivem-se, por um
lado, evangelizando a vida e os seus limites, a morte e o além
(olhando a boa nova que são e transmitem), a partir do amor, da
O Juízo final vai-se concretizando no dia-a-dia, nas
opções e decisões que
vamos tomando, nas relações que
construímos e vivemos uns com
os outros.
Caminhar com o Ressuscitado... até às periferias, vivendo e anunciando a Misericórdia.
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confiança, do perdão, da reconciliação e da vida de Deus e em Deus.
Vivem-se – muito mais e sobretudo – evangelizando a nossa vocação
para vivermos o Batismo como caminho de Ressurreição e de Vida,
vivendo já no Reino de Deus, chamados a dar testemunho de que a
nossa vida é já, desde a Redenção de Cristo, vida de ressuscitados (Cf.
Col 3, 1-4).
É bom que, como cristãos, tenhamos mais proximidade com
tudo o que o Evangelho diz da misericórdia de Deus, vivida nas
relações sociais, familiares e humanas. Na Populorum Progressio,
Paulo VI dizia que a Igreja é “perita em humanidade” e que tem, como
próprio, “uma visão global do homem e da humanidade” (PP 13).
Porém, também é importante que todos os cristãos – membros vivos
e assumidos da Igreja – sejam mais peritos em cristianismo, em vida
crística, em Palavra de Deus.
7. PEREGRINAÇÕES JUBILARES: CATEQUISTAS, FAMÍLIAS,
CRIANÇAS, JOVENS, DOENTES, MOVIMENTOS...
nossa Igreja de Viseu é desafiada, nestes próximos tempos,
a viver um tempo marcado por peregrinações (de 23 de Julho
de 2015 à Solenidade de Cristo Rei de 2016), vivendo o Ano A
A formação permanente, a organizar, a programar e a
sistematizar brevemente na diocese, deverá atender a estas e a
outras necessidades, atuais lacunas na formação da maioria dos
batizados.
Carta Pastoral 2015-2016
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Jubilar da diocese e o Ano Santo da Misericórdia. O Papa Francisco
afirma que “a peregrinação é um sinal peculiar do Ano Santo,
enquanto ícone do caminho que cada pessoa realiza na sua existência.
A vida é uma peregrinação e o ser humano é viator, um peregrino que
percorre uma estrada até à meta desejada”. O Papa diz mesmo que
“cada pessoa deverá fazer, segundo as próprias forças, uma
peregrinação. Esta será sinal de que a própria misericórdia é uma
meta a alcançar que exige empenho e sacrifício” (MV 14).
Dizendo ‘misericórdia’, “deixemo-nos surpreender por Deus.
Ele nunca se cansa de escancarar a porta do Seu coração, para repetir
que nos ama e deseja partilhar connosco a Sua vida. A Igreja sente,
fortemente, a urgência de anunciar a misericórdia de Deus” (MV 25).
E não tenhamos medo de a procurar, pois “o perdão supremo
oferecido a quem O crucificou, mostra-nos até onde pode chegar a
misericórdia de Deus” (MV 24).
Organizadas por paróquia, unidade pastoral, arciprestado,
diocese ou por grupos, movimentos e setores pastorais – como
jovens, famílias, catequese... – as peregrinações à Catedral ou a
um Santuário diocesano são desafios a promover, sempre com
elementos que favoreçam a conversão, a formação, a vivência e
o aprofundamento do Plano Pastoral da diocese.
A peregrinação ‘exemplar’ e com dimensão e empenho
diocesano queremos fazê-la ao Santuário de Fátima. Será no Ano
Santo da Misericórdia, no ano de 2016 e já depois do ano jubilar
que concluirá em 23 de Julho.
Caminhar com o Ressuscitado... até às periferias, vivendo e anunciando a Misericórdia.
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Teremos a oportunidade de agradecer todos os bens
recebidos e louvar o Senhor por toda a experiência sinodal vivida;
queremos pedir a Maria a força para concretizarmos as
Constituições Sinodais a apresentar e, assim, darmos seguimento à
renovação da nossa Igreja diocesana, com a concretização do que o
Sínodo nos proporciona como caminho de transformação. Até lá,
vivamos, com muita alegria e determinação, o que formos
descobrindo e concluindo que é a vontade de Deus para a nossa
Igreja, para nós e para os nossos contemporâneos, nos nossos
tempos. Não esqueçamos, também, todas as diversas periferias que
esperam, de todos nós, um alegre testemunho do seguimento de
Jesus Cristo, Filho de Deus Pai, que vive em unidade com o Espírito
Santo.
8. JOVENS, QUE JUBILEU E QUE ANO SANTO?
e confio esta Carta às bênçãos e proteção maternal de Maria,
entrego-a, em primeiro lugar, aos jovens da nossa diocese. Sois
vós, caríssimos jovens, os que tendes a missão de pôr em
prática e viver as conclusões do nosso Sínodo diocesano,
acreditando e construindo a Igreja que Deus deseja para nós. Sois
vós que, em cada momento, nos ajudais a descobrir a necessidade
de renovação, na Igreja que recebemos. Por nossa culpa, vai-se
deixando ‘envelhecer’, distraindo-se com tantas coisas ‘velhas’,
adaptando-se a tantas outras coisas diferentes da novidade, da
alegria e da vida que lhe veio por Nosso Senhor Jesus Cristo. Como
será bom que vamos sentindo o gosto do que os primeiros cristãos
descobriram, viveram e transmitiram com tanto entusiasmo (Cf. Act
2, 42-47) e que levou o Papa João XXIII a propor como referência para
o Vaticano II!
S
Carta Pastoral 2015-2016
24
Ao longo dos 5 anos que vivemos como experiência sinodal,
pareceu-me, caríssimos jovens, que não vos entusiasmastes muito...
Certamente, por minha culpa e por culpa dos que estamos nos lugares
e tarefas de mais empenho e responsabilidade da Igreja, nas diversas
comunidades da diocese... Temos, todos nós, os mais velhos, que
mudar o ‘chip’ e tenho eu, como vosso bispo e primeiro responsável
da diocese, que pedir desculpa a todos vós, por não ter sido capaz de
vos entusiasmar e interessar durante este percurso.
Porque todos sabemos que é verdade o que o Papa Francisco
diz na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium – “a formação dos
leigos e a evangelização das categorias profissionais e intelectuais
constituem um importante desafio pastoral” (EG 102), muito mais
verdade é o que se refere ao setor dos jovens. Se a pastoral juvenil
“sofreu o impacto das mudanças sociais” (EG 105) e hoje pede à Igreja
Convido a pastoral juvenil e os seus primeiros responsáveis
na diocese – diretor diocesano com os animadores dos grupos e
movimentos de jovens, os religiosos e os padres – a terem os
objetivos da renovação e da mudança, nas estruturas e na vida dos
seus grupos e comunidades.
Para isto, convido os jovens, a que, nas suas comunidades –
pequenas ou grandes – e com a ajuda do pároco, desenvolvam um
pequeno grupo de partilha de preocupações, de convívio e de
oração. Os jovens nos levarão – a todos – a sentir necessidade de
refletir e concretizar o que seja preciso e urgente. É essencial este
esforço de todos, para não cairmos, de novo, na falta de atenção
aos desafios e aspirações que os jovens têm e querem viver.
Caminhar com o Ressuscitado... até às periferias, vivendo e anunciando a Misericórdia.
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outra atuação, digo com o Papa Francisco: “Como é bom que os
jovens sejam «caminheiros da fé», felizes por levarem Jesus Cristo a
cada esquina, a cada praça, a cada canto da Terra!” (EG 106).
Acreditemos todos – pais, professores, sacerdotes e religiosos – “os
jovens chamam-nos a despertar e a aumentar a esperança, porque
trazem consigo as novas tendências da humanidade e abrem-nos ao
futuro, de modo que não fiquemos encalhados na nostalgia de
estruturas e costumes que já não são fonte de vida no mundo atual”
(EG 108).
Sinto o desafio urgente de, na formação permanente a
incentivar, já neste ano pastoral, na nossa diocese, não esquecermos
as (muitas) áreas de interesse dos jovens cristãos.
Peço aos Responsáveis da pastoral juvenil que auscultem as
sugestões dos próprios jovens, grupos e movimentos juvenis e que
se abra uma área concreta e específica, para eles, na Escola Cristã
de Formação Permanente a criar em Viseu, logo que seja possível.
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9. Conclusão
orque, se eu anuncio o Evangelho, não é para mim motivo
de glória, é antes uma obrigação que me foi imposta: Ai
de mim, se eu não evangelizar!” (1 Cor 9, 16) dizia S. Paulo,
fazendo a necessária e permanente avaliação desta missão como
discípulo. Este pensamento é, em mim, passando pelas diversas
comunidades – e desde há muito já o era como pároco e noutras
missões, na Igreja – uma permanente fonte de avaliação e, muito
mais, de inquietação. Deve sê-lo de todos nós, sacerdotes nesta
nossa Igreja de Viseu. Como diz o Papa Francisco, “a evangelização é
dever da Igreja” (EG 111). Diz também que “«não pode haver
verdadeira evangelização sem o anúncio explícito de Jesus como
Senhor» e sem existir uma «primazia do anúncio de Jesus Cristo em
qualquer trabalho de evangelização»” (EG 110).
Perguntemo-nos: a nossa vida, a nossa prática diária, o
exercício da missão que nos está confiada, a nossa capacidade e
vontade de acolhimento a todos os que vêm e a vontade de ir ao
encontro dos que estão fora, o viver inteiramente para o ministério
(...) – são, todos estes, temas e questões para a nossa reflexão e dão-
nos paz, serenidade e alegria? Devem ser, sem dúvida, pontos a
preencher a avaliação diária da nossa consciência, a constituir a
nossa programação e ação pastoral semanal e a motivar a nossa
formação permanente.
Precisa-se que todos nós – bispo, sacerdotes, diáconos,
religiosos, jovens, cristãos em geral – sejamos “evangelizadores com
espírito, quer dizer, evangelizadores que se abrem sem medo à ação
do Espírito Santo. ... Além disso, o Espírito Santo infunde a força para
anunciar a novidade do Evangelho com ousadia (parresia), em voz
“P
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alta e em todo o tempo e lugar, mesmo em contracorrente. (...) Jesus
quer evangelizadores que anunciem a Boa-Nova não só com palavras,
mas sobretudo com uma vida transfigurada pela presença de Deus”
(EG 259).
O Papa apresenta e propõe, de seguida “algumas reflexões
acerca do espírito da nova evangelização” (EG 260) que aparecem
como ‘motivações para um renovado impulso missionário’. Faço
apelo a que nenhum de nós – evangelizadores e missionários no
Reino – se dispense de implementar o essencial e prático, possível e
desejável de concretizar na ação missionária, na nossa Igreja. Isto
para se viver com “uma moção interior que impele, motiva, encoraja
e dá sentido à ação pessoal e comunitária”, dando-se, assim, início a
“uma época evangelizadora mais ardorosa, alegre, generosa,
ousada, cheia de amor até ao fim e feita de vida contagiante!” (EG
261).
Os últimos números da Exortação Apostólica Evangelii
Gaudium (259-282) apresentam-nos as principais motivações que
devem preencher a vida dos pastores e missionários, no hoje da Igreja
e do Mundo. Fazemos bem tê-las em conta, sendo necessário meditá-
las e integrá-las no nosso espírito de evangelizadores, vivendo, com
alegria cristã e com um muito sério empenho pastoral, a nossa
vocação. Daremos, assim, um novo vigor à nossa vocação (Cf. 2 Tim
1, 6-7).
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VISEU, dia de Santo Agostinho, 2015
Ilídio Pinto Leandro,
Bispo de Viseu
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