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Carta Final do Simpósio
Abril, 2019
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Sumário
2. Introdução ........................................................................................................................... 3
3. Objetivos ............................................................................................................................. 3
4. O Simpósio: o que brotou .................................................................................................... 3
5. Como tudo começou? PEC e GT Currículo ........................................................................... 9
6. Lançando Luzes como Rede ............................................................................................... 10
7. À guisa de conclusão ......................................................................................................... 14
8. Bibliografia ........................................................................................................................ 15
9. ANEXOS ............................................................................................................................. 16
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1. Introdução
Este documento se dirige a todas as Unidades que compõem a Rede Jesuíta de Educação no
Brasil e pretende ser um elemento norteador das diretrizes a serem construídas pelo Comitê
Permanente sobre Currículo da RJE.
2. Objetivos
Apresentar uma síntese do I Simpósio da RJE intitulado “Currículo e Inovação”, e suas
contribuições para o aprofundamento da reflexão em curso nos colégios da Rede Jesuíta
de Educação - RJE;
Fazer breve memória da trajetória da RJE quanto ao tema considerando as diretrizes do
PEC e as realizações do GT Currículo;
Lançar luzes e alguns direcionamentos para as Unidades da RJE e para o Comitê
Permanente sobre Currículo;
Apresentar, como textos anexos, uma síntese do JESEDU e dos indicadores do
Planejamento Estratégico da RJE.
3. O Simpósio: o que brotou
O primeiro Simpósio da Rede Jesuíta de Educação, ao contemplar o tema “Currículo e
Inovação”, procurou responder à demanda surgida no GT Currículo sobre a necessidade de
ampliação e aprofundamento do conceito de currículo disposto no PEC em seu parágrafo 30, qual
seja, “Nas escolas da RJE, entende-se que o currículo é o “ethos” no qual realizamos a finalidade
que declaramos: excelência na educação de pessoas conscientes, competentes, compassivas e
comprometidas”. Também a necessidade de contínuo estudo, reflexão e proposição de novas
práticas pedagógicas por parte de todas as Unidades da Rede levou à incorporação de questões
urgentes sobre inovação na conceituação sobre currículo.
Como culminância de todo o processo de escuta, estudo e reflexão organizado pelo GT
Currículo é que foi pensado o Simpósio da RJE, momento rico de vivência e apropriação de tópicos
relevantes relacionados aos temas propostos, para posterior irradiação de seus elementos como
diretrizes para o trabalho do Comitê Currículo.
Ao longo dos dois dias do evento, os participantes, educadores das diversas Unidades da Rede,
vivenciaram momentos de oração e partilha, e participaram de palestras, debates e oficinas, que
os levaram a conhecer mais e a refletir sobre os temas apresentados.
No primeiro dia, após o momento de oração e partilha, teve destaque a abordagem do tema
“O Currículo nas referências da Companhia de Jesus”, na perspectiva da educação integral
associada ao pensamento da professora Vilma Reyes, cuja fundamentação residiu numa proposta
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de humanização frente aos desafios do mundo contemporâneo. Nesse sentido, o ser humano, a
pessoa, é o centro da proposta educativa, e tudo o que se realiza aponta para esse processo de
humanização.
Segundo Reyes, a educação jesuíta, por seu caráter eclético, busca dar as melhores respostas
à formação de crianças e jovens dos dias atuais. Sua conceituação e sua intencionalidade residem
no equilíbrio entre a identidade mesma de uma proposta educativa inaciana e as características
do mundo de hoje, ao momento histórico que vivemos em que o público e o privado se misturam
e perdem seu contorno no mundo virtual das redes sociais em que a tecnologia impera. Os jovens
vivem a realidade de outra forma, principalmente frente aos direitos, responsabilidades e a
ordem moral. O consumo, a volatilidade das relações, a relação com o corpo são alguns outros
aspectos a serem analisados e levados em conta ao pensarmos em nossos estudantes.
Ao mesmo tempo, a flexibilidade, a abertura ao novo, a afetividade, a maior capacidade de
transcender a realidade através da arte são características importantes de nossos estudantes.
Diante dessa rica realidade, desse novo sujeito que queremos formar, pergunta-se, que currículo?
A proposição é pensar-se em um currículo humanizado atualizado, flexível e significativo que
expresse a riqueza da tradição educativa da Companhia de Jesus. Somos chamados a formar
pessoas de excelência humana e acadêmica, que sejam conscientes, competentes, compassivas
e comprometidas. Pessoas capazes de utilizar os conhecimentos aprendidos na resolução de
problemas da vida prática em vista da transformação da realidade em que vivem. Pessoas que
tenham na justiça e no amor os princípios norteadores de suas ações, e que se desenvolvam a
partir de uma fecunda fé no amor de Deus que nos baliza e nos alimenta.
Para a palestrante, ao concebermos um currículo de base humanista, uma de suas principais
condições diz respeito à relação professor-aluno, que se mostra primordial. Uma relação cujo
vínculo educativo seja baseado no respeito, no acolhimento e na confiança mútua, uma relação
em que o professor exerce a mediação do processo e o aluno o protagonismo de sua
aprendizagem.
Um currículo que aponta para a construção do projeto de vida dos estudantes e que, dessa
forma, deve estar em consonância com suas necessidades, com o mundo real, e o ajude na
construção de sua identidade.
O currículo que considere o contexto, que coloque o aluno no centro do processo de
aprendizagem, deve convergir para a formação da pessoa, reconhecendo suas singularidades e
potencialidades. Nessa perspectiva, diversas formas de metodologias ativas devem ser
contempladas diante da diversidade dos estudantes
Na abordagem da professora Olga León Miranda, dando seguimento à temática, explicitou-se
que é fundamental conceber o currículo como um sistema integrado, destacando-se a coerência
como um princípio fundamental na interdependência dos elementos que o compõem.
Ressaltou-se que o projeto educativo de uma instituição educativa se constrói em três níveis:
o primeiro é o próprio contexto, no qual aspectos culturais e filosóficos da instituição devem estar
alinhados aos valores, à missão, e à visão. A educação inaciana, desde o Ratio Studiorum, desde
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suas raízes, deixa claras as intenções de formação da pessoa, seu desenvolvimento intelectual,
moral e religioso.
Enfatizou-se também que o projeto educativo institucional deve explicitar o sonho, o ideal
educativo da instituição, sendo importante que estejam expressos seus propósitos, comuns a
todos, expressando o que se espera de cada sujeito escolar. E tudo deve estar escrito e visível
para toda a comunidade, além de coerente com os marcos legais e a filosofia da instituição.
O segundo aspecto relevante disse respeito à relação entre as competências e os
componentes curriculares. As disciplinas acadêmicas são importantes, dotam os estudantes de
conhecimento, mas as competências potencializam as habilidades de pensamento e devem ter
caráter interdisciplinar.
Evidenciou-se ainda, num terceiro nível, como se articulam esses aspectos na prática a partir
da definição das estratégias, da metodologia e das orientações didáticas para se alcançar as
aprendizagens. Uma metodologia ativa, circular, rizomática, interdisciplinar, interativa,
participativa.
Retomando a coerência como princípio na concepção do currículo, se um educador conhece
a visão, a missão e os valores da instituição, assim como as competências e os conteúdos a elas
relacionados, pratica a metodologia com conhecimento das bases psicopedagógicas que a
sustenta, mas, ao final do processo, se a avaliação não representa as mesmas intenções
educativas, a cadeia se rompe, o sistema se mostra falho.
Segundo León, uma das premissas mais aceitadas de como avaliar por competências é a partir
de uma situação problema o mais próximo possível da realidade, e sujeita a uma avaliação. O
currículo por competência considera essa avaliação situada, isto é, vinculada à realidade, já que
aplicada a muitos momentos da vida dos estudantes.
A BNCC e Formação de Professores foi o tema apresentado pelos professores Francisco Soares
e Guiomar Namo de Mello. Na abordagem de Chico Soares, como é mais conhecido, destacou-se
o direito de todo aluno à aprendizagem, direito a ser garantido por todos e por cada um dos
sujeitos escolares. Segundo ele, na perspectiva de rede, a concepção é ampliada e deve ser
articulada para o exercício de um projeto educativo eficiente que responda à garantia de direitos
dos estudantes. Salientou ainda que, na BNCC, encontram-se as definições das aprendizagens e
das habilidades essenciais que todo aluno tem direito a aprender.
A metáfora do relógio foi usada lembrando que seu funcionamento só se dá no conjunto de
suas partes. Nesse sentido, a palavra fundamental ao se falar em competência é mobilização, ou
seja, a integração das partes no todo.
Teve destaque em sua apresentação o trabalho em rede, a construção de um currículo da
rede, como escolas jesuítas, católicas, que, certamente, dará mais consistência e visibilidade ao
projeto educativo já existente, fundamentado em valores. Ele realçou que, a partir da BNCC,
devemos responder que sociedade queremos construir e o que precisamos realizar, de forma
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colaborativa. Essa construção é responsabilidade da rede, que se concretiza e se torna realidade
na vida de cada instituição.
A construção do currículo, além de contemplar a BNCC, deverá levar em conta aspectos
regionais e dados de contexto, ou seja, a parte comum e a diversificada, organizada de modo a
explicitar a intencionalidade da educação que reside na garantia da aprendizagem dos
estudantes.
A professora Guiomar Namo de Mello, por sua vez, nos falou da teoria e prática na formação
dos professores, formação inicial e formação continuada. E destacou a importância da atuação
de estagiários em nossas instituições como espaços de aprendizagem.
Segundo ela, a BNCC é a grande oportunidade de se discutir princípios, desde a LDB, baseados
nos direitos fundamentais à aprendizagem. E as competências são a expressão desses direitos.
Considerando que a BNCC não é currículo, será importante conhecer, entender a Base para a
construção de um currículo. É necessário o conhecimento da psicologia da aprendizagem e suas
diversas teorias e, nesse sentido, segundo ela, a formação inicial é falha.
Há que se dar importância às competências transversais, principalmente à dimensão
socioemocional contemplando as demandas dos dias atuais, inclusive para lidar com as
tecnologias digitais. Chico Soares ressaltou ainda a importância e o valor do conhecimento
organizado, o rigor a ele relativo, o fato de que os alunos têm o direito de se apropriarem dos
conhecimentos associados às competências, e as relações estabelecidas entre professores e
alunos, além do desenvolvimento de competências transformativas na construção de um mundo
melhor, inovador, ético e equilibrado.
A professora Guiomar destacou que a qualidade da escola depende da qualidade do trabalho
do professor. O professor é o elemento determinante no desempenho dos alunos, e a prática é
elemento importante em sua formação.
Para tanto, ele deve apropriar-se dos conhecimentos específicos dos componentes
disciplinares a serem ensinados, mas também do conhecimento pedagógico a eles referente. É o
domínio da sintaxe do conhecimento. O conhecimento que se aprende e o conhecimento que se
ensina.
Ela chama a nossa atenção também para a formação continuada dos professores, já que há
lacunas que vêm da formação inicial. Pensar no exercício epistêmico com o professor em
formação, fazê-lo pensar como alguém que aprende, pensar como aluno.
A BNCC apresenta como riquezas a flexibilidade e a abertura. Ela representa um esforço, um
grande passo na educação brasileira. Seu espírito objetiva formar para o século XXI. A grande
questão, segundo a educadora, reside em como formar o professor para essa tarefa.
Na sequência das apresentações, o tema abordado foi Metodologias Ativas, apresentado
pelos professores Lilian Bacich e José Manoel Moran.
Foi um momento de experiência teórica e prática sobre o tema. Na fala do professor Moran
destacou-se que, para os dias atuais, nos faz falta a ideia de fazer experimentando.
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Os alunos querem fazer, aplicar, experimentar, mesmo sem ter os conhecimentos prévios
desse fazer, e depois analisar. Essa é a base das metodologias ativas. Importante destacar que
não se trata de modismo, de fazer pelo fazer, pois há uma lógica, muita ciência, muito estudo e
pesquisa nesse conhecimento.
Professor Moran apontou a necessidade de ousarmos mais e a integrar as áreas do
conhecimento, experimentando formas diferentes, adotando uma visão pluralista da educação.
É importante sabermos o que é melhor fazer no mundo físico e no mundo digital. Alguns
aspectos do presencial são fundamentais, outros não. E alguns outros podem ser realizados nos
dois. O importante é proporcionar a aprendizagem do aluno. Para tal, há vários exemplos de
metodologias ativas: o ensino híbrido e a aula invertida, em que se redesenham os espaços e os
tempos escolares. A partir de informações e conhecimentos prévios, é possível fazer melhor, criar
atividades diferentes em sala de aula, desenvolvendo competências diferentes. Fazer com que os
alunos façam escolhas, e que compartilhem experiências. Aprendizagens por áreas e por projetos,
aprendizagem ativa através de jogos, games, contação e produção de histórias. Esse é um
currículo vivo! Em que se desenham a disciplina, as áreas, os espaços, o currículo.
A abordagem professora Lilian, após o momento da oficina, chamou atenção para o que
estamos discutindo hoje: currículo, competências e a própria BNCC. E suas competências, que
devem ser intencionais e fazem parte do desenho curricular.
Na vivência, foram apresentadas três estações no fim das quais atingimos diversos objetivos,
conceituais, procedimentais e atitudinais. E trabalhamos noções de espaço, argumentação,
escuta, respeito e empatia, assim como interpretamos texto, transformando-o numa
representação gráfica; realizamos trabalhos em grupo em que emergiram responsabilidade,
autonomia e liderança.
Foram oportunizadas aprendizagens por meio de estratégias diferenciadas em um mesmo
espaço. Vimos que os alunos aprendem de forma diferente, e que o professor é aquele que media,
coordena a ação educativa.
Para que as metodologias ativas sejam aplicadas numa instituição, há que haver gestão,
formação de professor, estrutura e currículo. Segundo os professores, é um mundo que não tem
volta!
Outra importante temática do Simpósio foi “Legislação Brasileira: possibilidade para a
Inovação”, conduzida pelo professor Carlos Roberto Jamil Cury que iniciou sua fala trazendo a
importância dos jesuítas na educação brasileira desde o Ratio Sudiorum e sua metodologia
aplicada à formação dos primeiros jesuítas, ainda presente nos dias atuais, exemplificada na
Revisão Inaciana. Nesse sentido, a inovação está presente na essência da educação da Companhia
de Jesus, e o Brasil é herdeiro dessa tradição.
Segundo o professor Jamil Cury, os jesuítas tiveram presença nas grandes discussões sobre
a educação brasileira, nos anos 30, no surgimento da Escola Nova e dos métodos ativos; no final
dos anos 50, quando se discutia a questão da escola pública e privada; e nos tempos atuais, a
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partir da Constituição de 1988, no capítulo referente à educação em que as discussões incidiam
sobre as escolas particulares. Mereceu destaque a participação do Pe. Agostinho Castejón que
defendeu um modelo de escola pública não estatal, hoje chamada comunitária.
Outro ponto destacado foi quanto à inovação curricular. Currículo é campo de disputa,
não é consenso, nunca foi e nunca será. E isso é bom pois é somente no dissenso que podemos
inovar, avançar. É importante que haja pluralismo, pois não pode haver monopólio metodológico
em relação ao currículo, pois isso seria um engessamento da realidade. Por isso a ciência avança
e ela só avança no pluralismo.
Ele fez um paralelo entre o currículo e a legislação institucionalizada, que o constrange e
o enquadra. Nesse ponto, chama atenção para o conhecimento mínimo dessa legislação para que
a conformidade a ela não se dê de forma pacífica e mecânica. É necessário conhecer. Isso permite,
dentro do dissenso próprio da realidade, propor inovação. E isso faz parte da democracia.
O historial apresentado sobre a importância dos jesuítas e o currículo, discorrendo de
modo comparativo sobre os ensinos fundamental e médio no Brasil, foi enriquecedor, registrando
que as reformas do ensino fundamental não têm trazido maiores dificuldades, residindo o maior
problema no ensino médio.
No sentido de situar a atual reforma do ensino médio, e mesmo a BNCC, Jamil Cury fez um
paralelo entre a LDB 5692/71, de orientação mais impositiva, e a LDB 9394/96.
Já com a Constituição de 1988, o currículo mínimo obrigatório deu lugar aos conteúdos
mínimos obrigatórios, em que se trabalhou com a noção de diretrizes. Nessa perspectiva,
apontou-se o caminho, mas não o jeito de caminhar. Isso passou a depender dos estados, dos
municípios e dos projetos pedagógicos das instituições. Houve, dessa forma, respeito à riqueza
metodológica, ao dissenso.
E com a LDB 9394/96, tivemos pluralidade de concepções em dois grandes eixos:
1. A flexibilidade dos currículos permitiu a possibilidade da inovação. Para Cury, quem “enche
de substância” o esqueleto das diretrizes são os estados e os municípios e os Projetos
Pedagógicos das escolas. Nessa perspectiva, realçou que as escolas, principalmente as
católicas, têm que responder à sua vocação, aos seus valores.
2. No quesito “avaliação”, embora no passado houvesse grande rigor, com a LDB de 96 houve
uma inversão. Flexibilidade na entrada, e dificuldade na saída com o Sistema Nacional do
Rendimento Escolar. E isso vai de encontro ao princípio da autonomia.
Cury indagou o que irá contrariar o princípio da flexibilidade e autonomia da LDB. Segundo
ele, as avaliações governamentais. E, atualmente, o ENEM, que passa a ser o currículo oculto das
instituições nacionais. Nesse sentido, ele o entende como uma inversão, já que o descritor do
ENEM não pode ser o determinador do currículo! Ele destacou que o atual modelo apresenta
flexibilidade na base e rigidez na saída.
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O Plano Nacional de Educação procurou superar essa contradição, proclamando as
diretrizes, trazendo a noção de base nacional comum, mas sem o caráter quase determinante das
avaliações.
E, finalizando, registrou que a legislação brasileira avançou e continua avançando quanto
ao direito à diferença na diversidade: do negro, do índio, da pessoa com deficiência dentre outros.
A educação é direito de todos e não pode haver discriminação ao direito à educação. Deseja-se,
nesse sentido, que nossos alunos saiam de nossos colégios mais cidadãos e mais respeitosos dos
direitos humanos.
4. Como tudo começou? PEC e GT Currículo
O Projeto Educativo Comum – PEC, da Rede Jesuíta de Educação, foi aprovado pelo Padre
João Renato Eidt, SJ, Provincial dos Jesuítas do Brasil, em 28 de março de 2016. O documento foi
lançado em evento realizado nos dias 29, 30 e 31 de agosto, no Centro de Espiritualidade Cristo
Rei - CECREI, em São Leopoldo, RS. O objetivo daquele momento foi o de favorecer sua
apropriação afetiva e efetiva, em seus fundamentos e práticas, tendo em vista a revitalização e
atualização da proposta educativa da Companhia de Jesus no Brasil.
As quatro dimensões do PEC: Curricular; Organização, estrutura e recursos; Clima escolar;
Relação família e comunidade local, passaram a direcionar as reestruturações dos Projetos
Pedagógicos de cada Unidade da RJE, assim como a elaboração de seus projetos estratégicos.
Nessa perspectiva, após o lançamento do PEC, as Direções Acadêmicas, em reunião
realizada no Centro Cultural João XXIII, nos dias 26 e 27 de setembro de 2016, identificaram vários
desafios relacionados à Dimensão Curricular presente no documento.
De forma consensual, deliberou-se pela formação de um Grupo de Trabalho (GT) cujo foco
deveria incidir sobre o tema Currículo, com os seguintes eixos norteadores: a concepção
epistemológica de currículo que sustenta a proposta do PEC e suas consequências práticas; os
elementos “mínimos comuns” do currículo de um colégio da Companhia de Jesus no Brasil; os
componentes curriculares e sua organização; os temas transversais e os conteúdos a serem
contemplados nos segmentos da Educação Básica.
Outros temas correlatos também foram considerados como tópicos de discussão do GT,
formação de professores e acompanhamento dos processos de ensino e aprendizagem.
O trabalho a ser desenvolvido seria fundamentado no PEC em diálogo com o Sistema de
Qualidade na Gestão Escolar - SQGE, da FLACSI, além da realização de um levantamento
bibliográfico e do estado da arte em nível nacional e internacional sobre o tema, sua relação com
as políticas educacionais e outros documentos vigentes.
O objetivo principal do GT Currículo seria o de produzir um documento que oferecesse
diretrizes para os colégios e escolas da Rede, no que se refere ao Currículo.
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Em reunião do GT Currículo realizada em 13 e 14 de março de 2017, houve um rico
momento inicial de leitura, reflexão e partilha. Em síntese, discutiu-se sobre o perfil de nossos
alunos e os modelos curriculares presentes nas Unidades da RJE, seus hábitos de consumo, a
relação dos colégios com as famílias, a concorrência, nossa identidade inaciana católica diante
dos desafios da cultura contemporânea e de um mundo secular.
O aluno que queremos formar esteve sempre no centro do processo. Como elaborar um
projeto formativo em vista da formação integral desse aluno a partir de um ideal de currículo? O
que significa transformarmos nossos centros de ensino em centros de aprendizagem? Para tal,
que gestão e que estrutura?
A partir desses questionamentos, e levando em conta os passos do Paradigma Pedagógico
Inaciano como metodologia de trabalho, outros pontos foram levantados. O contexto interno das
Unidades, seus currículos; e o externo, nossa legislação; a experiência no mapeamento do que
existe hoje nas Unidades; a reflexão no discernimento sobre o que queremos a partir do que
vimos e analisamos, a ação de colocarmos todos os elementos na pauta de trabalho e irmos
avaliando cada etapa do processo.
Considerações importantes foram feitas quanto aos papéis de educadores e estudantes;
aos ritmos de aprendizagem desses; a utilização de diversas ferramentas e recursos, assim como
de outros tempos e espaços; além da qualificação dos docentes.
Importante destacar a clareza do documento a ser elaborado que deverá abordar as
diretrizes comuns das Unidades, respeitando-se a diversidade presente na Rede, já que o
currículo se elabora a partir da escola.
Em outro momento, e para que fosse possível favorecer a participação das Unidades da
RJE, dividiu-se o GT em três grupos, com objetivos e trabalhos específicos, a saber: 1. A elaboração
de um texto que apresentasse os pressupostos e fundamentos do currículo; 2. Um levantamento
das práticas e experiências significativas das Unidades da RJE, para mapear as práticas de currículo
que temos; 3. A elaboração de um instrumento de escuta, envolvendo as comunidades
educativas. Todos os documentos produzidos pelos grupos estão disponibilizados na plataforma
Moodle no curso ‘Currículo: concepção e inovação’.
5. Lançando Luzes como Rede
A responsabilidade de apontar diretrizes que ajudem as Unidades na discussão sobre
Currículo e Inovação, e que possam incidir sobre a elaboração de seus projetos curriculares, nos
leva a rever e considerar as linhas norteadoras sobre a Educação da Companhia de Jesus
presentes nos documentos existentes, das “Características da Educação da Companhia de Jesus”
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e “Pedagogia Inaciana: uma proposta prática”, ao “Projeto Educativo Comum – PEC” da RJE, além
dos diversos textos sobre a educação jesuíta e a pedagogia inaciana1.
Atenta à excelência humana na formação de nossos estudantes, cujo objetivo é o
desenvolvimento mais amplo possível de todas as dimensões da pessoa, baseada em valores e
comprometida com o serviço aos demais, a Pedagogia Inaciana propõe um paradigma
significativo de ensino e aprendizagem que, num processo contínuo, estimula o protagonismo
dos estudantes e uma relação de respeito e confiança mútua entre esses e o professor.
Esses objetivos são reafirmados e atualizados no PEC. Nele assumimos os desafios da
contemporaneidade como campo de missão e, como rede, nos questionamos sobre a efetividade
e a eficácia de nossas propostas e modelos educativos. Nesse sentido, é necessário que, seguindo
a tradição de ecletismo e abertura ao novo, atualizemos e transformemos os currículos,
consequentemente, os planejamentos, os tempos e espaços escolares, assim como os recursos
disponíveis, para que possamos responder ao objetivo primeiro da educação jesuíta, qual seja “o
desenvolvimento global da pessoa, que conduz à ação, ação inspirada pelo Espírito e a presença
de Jesus Cristo, filho de Deus, e ‘Homem para os outros’” (Pe. Kolvenbach)
Nessa perspectiva, faz-se importante considerar, do mesmo modo, o discurso proferido
pelo Superior Geral da Companhia de Jesus, Pe. Arturo Sosa, no Congresso Internacional de
Delegados de Educação da Companhia de Jesus (JESEDU-Rio2017), ocorrido no Rio de Janeiro em
outubro de 2017, intitulado “A Educação da Companhia: uma pedagogia a serviço da formação
de um ser humano reconciliado com seus semelhantes, com a criação e com Deus”. E, nesse
contexto, fazer um paralelo com os acordos finais firmados entre os Delegados de Educação no
mesmo Congresso.
Refletir sobre os pontos principais que emergiram no JESEDU e associá-los aos eixos
estratégicos do Planejamento Estratégico da RJE elaborados pelas equipes diretivas em seu
último encontro em Itaici, em abril de 2018, permitirá que, junto às reflexões vivenciadas no
Simpósio, construamos a base de um Currículo da RJE. Trabalho para todos os educadores que
compõem suas Unidades mediado pelo Comitê Permanente.
Destacam-se, em decorrência, alguns temas importantes e que se apresentam como
elementos norteadores na elaboração de um currículo que responda aos objetivos do apostolado
educativo proposto pela Companhia de Jesus, presentes no discurso de Pe. Sosa e nos acordos
finais do JESEDU. São eles:
a) Tradição e Identidade
Os colégios da Companhia de Jesus poderão enfrentar os desafios do mundo
contemporâneo e do futuro se permanecerem fiéis à sua herança jesuítica, baseada na visão de
Inácio de Loyola, seu fundador. Ela se identifica pelo que Pe. Arrupe denominou “certa
1 www.pedagogiainaciana.org
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‘inacianidade’”, fruto do carisma próprio da Companhia que visa a prestar o serviço que Deus e a
Igreja querem de nós.
Segundo Arrupe, aí reside a potencialidade apostólica de nossos centros educativos. Um
colégio jesuíta é um grande instrumento de apostolado que a Companhia de Jesus confia a um
grupo definido de homens e mulheres numa comunidade educativa. Um instrumento para uma
missão concreta e de natureza espiritual, cujo objetivo prefixado é a extensão do Reino. Nessa
perspectiva, nossa herança inaciana pode ser traduzida em valores éticos e humanos de retidão
moral e solidariedade, tendo Jesus Cristo como modelo de vida.
b) Excelência humana e acadêmica
Na linha da formação integral, a nota comum a todos os centros educativos da Companhia
de Jesus é a excelência, a qualidade. E o que define essa excelência é seu produto, ou seja, os
homens e as mulheres que formam. Essa excelência consiste na formação de homens e mulheres
de princípios retos e bem assimilados, abertos aos sinais dos tempos, em sintonia com a cultura
e os problemas de seu meio, homens e mulheres a serviço aos demais.
Os alunos que queremos formar são pessoas de serviço, “pois é da caridade que a própria
fé e o anseio de justiça recebem sua força.” Homens e mulheres novos, abertos ao seu tempo e
ao futuro, em contínuo crescimento e disposto a sempre aprender. Homens e mulheres
equilibrados, academicamente e evangelicamente. Segundo Arrupe, “Não é ideal de nossos
colégios produzir esses pequenos monstros acadêmicos, desumanizados e introvertidos, nem
mesmo o devoto crente alérgico ao mundo em que vive e incapaz de vibração. O nosso ideal
aproxima-se mais ao insuperado homem grego, em sua versão cristã, equilibrado, sereno e
constante, aberto a tudo aquilo que é humano.”
A educação da Companhia busca e dá testemunho de excelência, aplicada a todas as áreas
da vida escolar. Excelência humana da qual a acadêmica é parte integrante, em busca do magis,
“o desenvolvimento mais pleno possível das capacidades individuais de cada pessoa”, que procura
superar-se em benefício dos demais.
c) Reconciliação e justiça
De acordo com os decretos da 36ª Congregação Geral de 2016, “Remando mar adentro”,
todas as atividades apostólicas e todas as obras da Companhia de Jesus, e as educativas que aí se
encontram, “terão um renovado fervor para servir à reconciliação com Deus, com a humanidade
e com a criação”.
A degradação do meio ambiente fruto do desordenamento e exploração dos recursos
naturais do planeta, e de um modo de vida consumista de alguns privilegiados permeada de
excessos, impede ou dificulta um projeto de vida sustentável para toda a humanidade. O
sofrimento e as injustiças sofridas por tantos e em tantas partes do mundo nos despertam para
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um sentimento de compaixão que deve nos levar a ações concretas, a partir de nossa vida. Diante
do que se apresenta, buscamos forças, alegria e ânimo no amor de Deus na pessoa de Jesus Cristo.
d) “Ecossistema digital”: comunicação e solidariedade
Como parte do nosso modo de proceder nos tempos atuais, diante de um mundo
fragmentado e multicultural, o discernimento, a colaboração e o trabalho em rede são
perspectivas que ajudam na flexibilidade e eficácia do governo da Companhia de Jesus. Nesse
sentido, as tecnologias digitais apresentam-se como instrumentos que propiciam esse trabalho,
rompendo barreiras e construindo pontes de solidariedade.
Para a educação jesuíta, as tecnologias digitais possibilitam o desenvolvimento de relações
em rede, globais, importantes na formação de nossos educadores e estudantes, líderes
competentes, criativos, compassivos e comprometidos com a transformação do mundo.
e) Universalidade, diversidade, multiculturalidade (solidariedade, fraternidade e paz)
A perspectiva universal reside na origem mesma da Companhia de Jesus. O apostolado
educativo da Companhia de Jesus leva a indelével marca inaciana da universalidade, de abertura,
além do objetivo de educar para todos sem distinção.
A 35ª Congregação Geral nos fala do desafio de chegarmos às novas e complexas
fronteiras sociais, culturais e religiosas. O diálogo com as religiões e as culturas torna-se, dessa
forma, um imperativo diante das demandas do mundo moderno, de rupturas e diversidades, e
um serviço à Igreja.
E é no seio deste mundo desabrido, de mudanças velozes, abraçando o diferente de nós e
entre nós, que podemos educar, à luz do Evangelho, para a solidariedade, para a fraternidade e
para a paz.
f) Ecologia: nossa “casa comum”
A educação jesuíta nos impele a refletir e atuar, através do que transmitimos aos nossos
alunos, sobre o cuidado com nossa “casa comum”, a Terra. É necessário que assumamos essa
responsabilidade do cuidado com o meio ambiente. A exploração desenfreada dos recursos
naturais não só deteriora e ameaça nosso planeta, causando sofrimento e morte, especialmente
aos mais pobres, mas afeta nossa relação uns com os outros, com a própria criação e com Deus.
Nesse sentido, segundo o Papa Francisco, “não há duas crises separadas, uma ambiental e outra
social, senão uma só e complexa crise socioambiental”.
g) Trabalho em rede: “corpo universal com uma missão universal”
Diante do contexto global do mundo de hoje, é necessário que atuemos como corpo
universal, no qual dependemos uns dos outros, jesuítas e colaboradores leigos, com uma missão
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universal, o serviço da fé em Jesus Cristo que nos conduz à promoção da justiça do Reino. Num
mundo multicultural e plurirreligioso é necessário que dialoguemos, de forma crítica e criativa,
com outras culturas e tradições para que nossa missão se cumpra. O trabalho em rede reforça
nossa identidade, pois permite que compartilhemos nossas competências em prol do serviço
conjunto a uma missão. Esse é um grande desafio, e uma grande oportunidade apostólica.
h) Cultura de proteção aos mais vulneráveis.
A Igreja e a Companhia de Jesus optam “preferencialmente” pelos pobres, vulneráveis e
marginalizados, economicamente e socialmente. Essa opção deve se refletir na educação e na
formação que oferecemos em nossos centros educativos para que sejam, cada vez mais, locais de
transformação evangélica da sociedade e da cultura.
6. À guisa de conclusão
Dar a conhecer, em nossas ações educativas, a identidade de nossa tradição, de nossa
história, nos ajuda a reafirmar os objetivos de nossa missão na formação de pessoas competentes,
considerando a excelência acadêmica e humana contida no magis inaciano; consciente de si, do
outro, da diversidade cultural, social e religiosa que nos circunda; e compassivos e
comprometidos, buscando na reconciliação e na justiça possibilidades de sermos mais solidários
e fraternos.
As tecnologias digitais possibilitam que, em rede, como corpo universal, essa missão possa
ser realizada, construindo-se uma cultura que leve em conta os mais pobres e vulneráveis, uma
cultura atenta às questões que afetam à nossa “casa comum”, ao meio ambiente, e uma cultura
que nos conduza à paz.
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7. Bibliografia
KLEIN, Luiz Fernando. Educação Jesuíta e Pedagogia Inaciana. SP: Edições Loyola, 2015
(Este livro engloba e analisa outros títulos: “Nossos Colégios hoje e amanhã” de Pe. Pedro
Arrupe, SJ; “Características da Educação da Companhia de Jesus”, “Pedagogia Inaciana:
uma proposta prática”; “Projeto Educativo Comum da Companhia de Jesus na América
Latina”)
Projeto Educativo Comum – PEC. SP: Edições Loyola, 2016.
Plano Apostólico da Província dos Jesuítas do Brasil-BRA. 2015/2020
DECRETOS da 35ª Congregação Geral. SP: Edições Loyola, 2008.
DECRETOS da 36ª Congregação Geral. “Remando mar adentro”. SP: Edições Loyola, 2016.
Visita do Pe. Arturo Sosa ao Brasil: discursos, homilias, conferências, entrevistas e
testemunhos. SP: Edições Loyola, 2018.
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8. ANEXOS
Síntese dos seguintes textos do 1º Congresso Internacional de Delegado para Educação
Secundária da SJ - JESEDU (Discurso do Pe. Geral e Acordos Finais)
Sobre o Discurso do Pe. Geral e do JESEDU, podemos destacar a necessidade de
fortalecimento da visão universal do apostolado educativo da Companhia de Jesus, um
apostolado que contribua para a humanização do mundo através da formação que temos o dever
de oferecer às novas gerações.
Nesse sentido, é importante ressaltar, como dimensão fundamental de uma formação
para a excelência, que a formação humana integral pressupõe e dá sentido último à excelência
acadêmica.
O Pe. Geral nos exortou à verdadeira reconciliação que pede que a justiça se faça presente
em todos os âmbitos de nossas vidas. O diálogo entre os seres humanos, desses com a criação e
com Deus, assim como o diálogo entre as culturas e entre as religiões. Elas estão imbricadas e se
dão ao mesmo tempo.
As relações entre as pessoas, a forma de interagirem, pensarem e se comunicarem se
transformaram nos dias atuais. Trata-se de um novo mundo, de uma gigantesca transformação
cultural, um novo habitat ou ‘ecossistema digital’, segundo suas palavras, principalmente para as
novas gerações, que potencializou a expansão da comunicação e a solidariedade, mas que gerou
divisões.
Pe. Sosa nos falou do ideal de cada povo sentir-se parte da humanidade, consciente de
sua própria cultura. Para tal, uma educação que leve em conta aspectos multi e interculturais se
faz necessária. A universalidade vivida desta forma pode converter-se num impulso à justiça
social, à fraternidade e à paz.
No que concerne especificamente ao trabalho educativo da Companhia de Jesus, a
renovação é tarefa e responsabilidade permanente. Precisamos olhar para o futuro de nossos
jovens, a partir de outros modelos educacionais. E como os primeiros jesuítas, somos chamados
a investir tempo e recursos na criação de novos modelos educativos que respondam aos desafios
do mundo contemporâneo.
Para que esse objetivo possa ser atingido, Pe. Sosa elenca alguns pontos que merecem
destaque: 1. Que nossas instituições sejam espaços de pesquisa pedagógica, verdadeiros
laboratórios de inovação didática, dos quais surjam novos métodos ou modelos formativos. 2.
Que avancemos na oferta educativa numa educação para a justiça, aproximando-nos dos mais
pobres e marginalizados, formando uma consciência crítica e inteligente diante de processos
sociais injustos, centrados no consumo, na acumulação e na exploração do meio ambiente,
buscando soluções. 3. Que trabalhemos no sentido do respeito e cuidado com nossa ‘casa
comum’ na formação de nossos alunos, na dimensão ecológica da reconciliação. 4. Que
contemplemos a cultura de proteção aos mais vulneráveis. 5. Que a oferta de uma formação
religiosa se abra à dimensão transcendental da vida, capaz de transformar a vida pessoal e social.
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Dando destaque ao desafio das instituições educativas de assumir sua identidade jesuíta
e inaciana como forma de proceder, Pe. Sosa chama a atenção para a colaboração e o trabalho
em rede. Segundo ele, “a colaboração com os outros é o único caminho, na verdade
profundamente evangélico, com o qual a Companhia de Jesus pode realizar a sua missão hoje”.
Os acordos finais dos Delegados de Educação da Companhia de Jesus nos trazem
elementos fundamentais para pensarmos nas diretrizes de um currículo da RJE.
Primeiramente a necessidade de apresentarmos aos nossos alunos, a partir de nosso
contexto histórico, nossa herança espiritual, a diversidade religiosa de nossos contextos e do
mundo. Nesse sentido, é importante que as gerações que frequentam nossos colégios conheçam
nossa tradição.
Contudo, consciente dessa riqueza e para servir à missão da Igreja e da Companhia hoje,
devemos refletir sobre e na renovação e inovação em nossas Unidades educativas, buscando,
com criatividade e imaginação, novos modelos pedagógicos, implementando melhores práticas
educativas em vistas da excelência humana para transformar nossos estudantes e nossas
sociedades.
Os Delegados acordaram também promover uma política ambiental e social para os
colégios, na dimensão do cuidado com nossa casa comum, em reconciliação com Deus, com a
humanidade e com a criação, propondo a formação de redes regionais em que a justiça, a fé e o
cuidado do meio ambiente estejam claramente presentes nos Planos de Estudo dos colégios
Na perspectiva de uma educação global, em rede, a 36ª Congregação Geral nos recorda
que “a colaboração leva naturalmente à cooperação em rede. As novas tecnologias da
comunicação criam formas de organização que facilitam a cooperação. Tornam possível que se
mobilizem os recursos humanos e materiais em sustento da missão e ultrapassam as fronteiras
nacionais e os limites de Províncias e Regiões” (Decreto 2, n.8). Para responder a esse chamado,
os nossos colégios e as redes locais e regionais devem comprometer-se a estar numa irmandade
global para que nossas comunidades escolares possam ver-se a si mesmas como parte de um
corpo universal com uma missão universal (35ª C.G., Decreto 2, n.20).
Planejamento Estratégico da RJE
A síntese dos trabalhos desenvolvidos pelas equipes diretivas das Unidades da RJE em
encontro ocorrido em Itaici nos dias 17, 18 e 19 de abril de 2018, coordenado pelo Professor
Gustavo Martins da UNISINOS, resultou na apresentação do Planejamento Estratégico da RJE.
Foram definidas, na ocasião, a missão e a visão da RJE, assim como das Unidades, marcas
de nossa identidade frente a outras redes e instituições.
Missão: Promover educação de excelência, inspirada nos valores cristãos e inacianos,
contribuindo para a formação de cidadãos competentes, conscientes, compassivos, criativos e
comprometidos.
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Visão da RJE: Ser uma rede de centros inovadores de aprendizagem integral que educam para a
cidadania global com uma gestão colaborativa e sustentável.
Visão de cada Unidade: Ser um centro inovador de aprendizagem integral que educa para a
cidadania global com uma gestão colaborativa e sustentável.
Como encaminhamentos objetivos na perspectiva de inovação pedagógica, destacam-se
o redesenho dos currículos e das propostas pedagógicas; a implantação de um sistema de
gestão escolar com indicadores nas dimensões sócio emocionais e espiritual religiosas; a
articulação e o fortalecimento de estratégias de internacionalização; a qualificação do processo
de acompanhamento das ações pedagógicas e controle de resultados de aprendizagem; e a
adequação das estruturas físicas aos novos espaços de aprendizagem.
Os impactos para as Unidades e para a rede serão, principalmente, a reconfiguração dos
espaços e modalidades de aprendizagem, remodelagem das salas de aula tradicionais,
implantação de novas metodologias de aprendizagem; implantação de novas metodologias de
aprendizagem; inclusão de práticas educativas interativas, com experiências de relacionamento
e aprendizagem exigindo novas competências docentes; novos padrões de comunicação;
necessidade de desenvolver produtos e serviços educacionais adequados aos novos perfis dos
sujeitos de aprendizagem; obrigatoriedade de incrementar ações inclusivas; necessidade de
capacitação dos profissionais das instituições; adequação curricular na perspectiva pedagógica
e sócio interativa.
Para que essas mudanças possam resultar na inovação que almejamos, é importante o
trabalho com as famílias que hoje se encontram em nossas instituições, principalmente no
sentido de acolherem pessoas em situação de vulnerabilidade. Da mesma forma, o conhecimento
das legislações educacionais e trabalhistas que possibilitem essa nova realidade se faz necessário.
Quanto à formação dos profissionais que trabalham em nossas Unidades, é importante
fortalecer a formação dos quadros de gestores, desenvolvendo programas de formação
continuada e fomentando a identidade, o carisma e a missão da Companhia de Jesus.
Como rede, devemos também, em comunhão com a CG 36, intensificar e fortificar o
trabalho em rede, “tirando um maior proveito de nossa condição de corpo apostólico
internacional”; formando para a liderança, para o surgimento de vocações, explicitando o
carisma, e acompanhando as áreas do conhecimento que tratam sobre inteligência espiritual.
Nesse sentido, deve-se investir em projetos inovadores que reforcem a proposta de valor
da instituição para a comunidade educativa na qual atua. E promover um trabalho integrado
entre as Unidades educacionais como parte do corpo apostólico com mútua responsabilidade
pelos desafios comuns e contribuir de diferentes formas para a melhoria da educação no país.