CARTA DE SÃO PAULO - ONLINE 5 - NOVA SÉRIE - ANO...

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22/10/2016 www.ebpsp.org.br/index.php?view=article&type=raw&catid=30%3Acarta-de-sao-paulo-online&id=876%3Acarta-de-sao-paulo-online-5-nova-serie-ano-iii&tmpl=component&print=1&layout=default&page=&option=com_conte… http://www.ebpsp.org.br/index.php?view=article&type=raw&catid=30%3Acarta-de-sao-paulo-online&id=876%3Acarta-de-sao-paulo-online-5-nova-serie-ano-iii&tmpl=component&print=1&layout=default&page=&option=com_conten… 1/11 CARTA DE SÃO PAULO - ONLINE 5 - NOVA SÉRIE - ANO III Ter, 05 de Novembro de 2013 17:57 EDITORIAL (Jóquei Clube de São Paulo) A Carta de São Paulo deste mês traz relatos e reflexões das diversas atividades que aconteceram no mês de outubro em nossa Seção, bem como um texto de Niraldo de Oliveira Santos, apresentado em uma atividade de preparação para as Jornadas da EBP-SP 2013, que aconteceram nos dias 8 e 9 de novembro. A partir do artigo “O lugar da psicanálise na medicina”, Niraldo trabalhou questões relacionadas ao trabalho do psicanalista nas instituições de saúde, principalmente no âmbito do hospital geral. A discussão e o debate que sucederam sua fala deram a medida do quanto é necessária, e mesmo imprescindível, a presença do analista nessas instituições. O tema das Jornadas: Lacan. Psicanalista. Brasileiro.O que fazemos no Brasil com o ensino de Jacques Lacan? provocou Rodrigo Camargo, que escreveu um artigo intitulado “O último lacaniano”. Confira o que ele pensa a respeito. Simone Brandão de Carvalho e Silva relata o que foi a 2a. Conversação entre os laboratórios do CIEN, ocorrida na sede da Seção São Paulo em 4 de outubro, momento preparatório para a VI Jornada Internacional do CIEN “Me inclui fora dessa”, que acontecerá em Buenos Aires na semana do VI Enapol. Reflexões sobre o trabalho em cartel estão na conferência proferida por Cinthia Busato, Diretora de Intercâmbio e Cartéis de Santa Catarina, por ocasião da Jornada de Cartéis de 5 de outubro em São Paulo e no texto “Um boneco vivo”, de Maria de Lourdes Mattos. Em 19 de outubro tivemos a oportunidade de ir para a Avenida... Paulista. A Casa das Rosas, em parceria com a EBP-SP, realizou o Sarau "Chama Poética", com o tema Elogio da Loucura, ocasião em que Maria do Carmo Dias Batista e Marco Antonio Guerra discutiram o tema, por nós proposto,Loucos de Paixão, a partir do filme “O império dos sentidos”. Você, leitor, poderá conhecer o que foi discutido através do texto de Maria do Carmo e da resenha feita por Perpétua Medrado Gonçalves. Antes de concluir gostaria de mencionar o entusiasmo que pudemos apreciar nos trabalhos desenvolvidos durante as Jornadas da EBP-SP 2013: as Plenárias colocando em discussão a Ciência, a Educação e a Psicanálise, a prática de cada um mostrada nas Mesas Simultâneas, e o Seminário Psicanálise. Hoje. Brasil. que discutiu pontos importantes da Escola de Lacan e sua perspectiva futura. Os Boletins das Jornadas se encontram em nosso site (www.ebpsp.org.br) e trazem informações sobre os temas discutidos, bem como referências bibliográficas relevantes. Muita coisa para ser lida e apreciada! Informamos que durante os meses de dezembro e janeiro estaremos em férias, não havendo, portanto, atividades na Seção São Paulo. Voltaremos em fevereiro de 2014 com os trabalhos na Seção cuja agenda será oportunamente divulgada. Agradecemos a todos os que estiveram conosco durante o ano de 2013 e desejamos um Feliz 2014! Marizilda Paulino

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CARTA DE SAtildeO PAULO - ONLINE 5 - NOVA SEacuteRIE - ANO IIITer 05 de Novembro de 2013 1757

EDITORIAL

(Joacutequei Clube de Satildeo Paulo)

A Carta de Satildeo Paulo deste mecircs traz relatos e reflexotildees das diversas atividades que aconteceram no mecircs de outubro em nossa Seccedilatildeo bem como umtexto de Niraldo de Oliveira Santos apresentado em uma atividade de preparaccedilatildeo para as Jornadas da EBP-SP 2013 que aconteceram nos dias 8 e 9de novembro

A partir do artigo ldquoO lugar da psicanaacutelise na medicinardquo Niraldo trabalhou questotildees relacionadas ao trabalho do psicanalista nas instituiccedilotildees de sauacutedeprincipalmente no acircmbito do hospital geral A discussatildeo e o debate que sucederam sua fala deram a medida do quanto eacute necessaacuteria e mesmoimprescindiacutevel a presenccedila do analista nessas instituiccedilotildees

O tema das Jornadas Lacan Psicanalista BrasileiroO que fazemos no Brasil com o ensino de Jacques Lacan provocou Rodrigo Camargo queescreveu um artigo intitulado ldquoO uacuteltimo lacanianordquo Confira o que ele pensa a respeito

Simone Brandatildeo de Carvalho e Silva relata o que foi a 2a Conversaccedilatildeo entre os laboratoacuterios do CIEN ocorrida na sede da Seccedilatildeo Satildeo Paulo em 4 deoutubro momento preparatoacuterio para a VI Jornada Internacional do CIEN ldquoMe inclui fora dessardquo que aconteceraacute em Buenos Aires na semana do VIEnapol

Reflexotildees sobre o trabalho em cartel estatildeo na conferecircncia proferida por Cinthia Busato Diretora de Intercacircmbio e Carteacuteis de Santa Catarina porocasiatildeo da Jornada de Carteacuteis de 5 de outubro em Satildeo Paulo e no texto ldquoUm boneco vivordquo de Maria de Lourdes Mattos

Em 19 de outubro tivemos a oportunidade de ir para a Avenida Paulista A Casa das Rosas em parceria com a EBP-SP realizou o Sarau ChamaPoeacutetica com o tema Elogio da Loucura ocasiatildeo em que Maria do Carmo Dias Batista e Marco Antonio Guerra discutiram o tema por noacutespropostoLoucos de Paixatildeo a partir do filme ldquoO impeacuterio dos sentidosrdquo Vocecirc leitor poderaacute conhecer o que foi discutido atraveacutes do texto de Maria doCarmo e da resenha feita por Perpeacutetua Medrado Gonccedilalves

Antes de concluir gostaria de mencionar o entusiasmo que pudemos apreciar nos trabalhos desenvolvidos durante asJornadas da EBP-SP 2013 as Plenaacuterias colocando em discussatildeo a Ciecircncia a Educaccedilatildeo e a Psicanaacutelise a praacutetica de cada ummostrada nas Mesas Simultacircneas e o Seminaacuterio Psicanaacutelise Hoje Brasil que discutiu pontos importantes da Escola de Lacane sua perspectiva futura

Os Boletins das Jornadas se encontram em nosso site (wwwebpsporgbr) e trazem informaccedilotildees sobre os temas discutidosbem como referecircncias bibliograacuteficas relevantes

Muita coisa para ser lida e apreciada

Informamos que durante os meses de dezembro e janeiro estaremos em feacuterias natildeo havendo portanto atividades na Seccedilatildeo Satildeo Paulo Voltaremos emfevereiro de 2014 com os trabalhos na Seccedilatildeo cuja agenda seraacute oportunamente divulgada

Agradecemos a todos os que estiveram conosco durante o ano de 2013 e desejamos um Feliz 2014

Marizilda Paulino

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Diretora Geral da EBP-SP

EBP-SP______________________________________________

DIRETORIA DE BIBLIOTECA

Noite da Biblioteca - EBP-SP

Resenha Elena documentaacuterio de Petra Costa

Cynthia N De Freitas Farias

ldquoVocecirc eacute minha memoacuteria inconsolaacutevel feita de pedra e sombra Eacute daiacute que tudo nasce e danccedilardquo1

Assim Petra Costa finaliza seu documentaacuterio sobre o suiciacutedio de sua irmatilde Elena Um filme autoral no qual demonstra de que maneira pela arteextraiu de uma perda irreparaacutevel um sentimento de vida

Para Maria Josefina Sota Fuentes convidada pela Diretoria da Seccedilatildeo para comentar o filme ldquoo sentimento de vida natildeo bastanascer para tecirc-lo O desejo de viver eacute uma construccedilatildeo no caso dela (Petra) poderiacuteamos pensar que seja um sinthomardquo

ldquoUm filme sobre a vidardquo eacute um dos ensinamentos que Maria Josefina extrai dessa experiecircncia Ao deixarmo-nos ensinar pelofilme segundo a indicaccedilatildeo de Lacan2 pudemos conversar juntamente com Maria Helena Barbosa coordenadora daatividade e com os demais presentes sobre aquilo que esse documentaacuterio fez ressoar em cada um de noacutes

Se num primeiro momento somos tomados pelo impacto de um indiziacutevel que mobiliza a anguacutestia e aponta para um mais aleacutem a beleza das imagens edas palavras vatildeo construindo um aparato um veacuteu Como disse Maria Josefina lembrando Lacan no Seminaacuterio 73 a beleza eacute este ultimo veacuteu diante damorte

Este documentaacuterio permite esclarecer segundo Maria Josefina o essencial da melancolia que aleacutem de uma crise no narcisismo como propocircs Lacan em1938 traz em seu bojo a passagem ao ato suicida um empuxo a se reunir ao outro no real Observa que algo da imagem natildeo se sustenta nessasmulheres e mais declaradamente em Elena que pelo ato suicida tentou reintegrar-se ao Outro O melancoacutelico coloca a ceacuteu aberto o ponto em que oOutro natildeo responde por estruturaPor meio deste filme a autora nos convida a pensar o suiciacutedio do lado das mulheres a partir da inconsistecircncia deum significante e da imagem para sustentar um corpo condiccedilatildeo a qual os sujeitos femininos estariam mais expostos Poreacutem a anguacutestia que o filmesuscita decorre do fato de que apesar de nossas referecircncias faacutelicas mais ou menos consistentes estamos todos sujeitos a esse deixar-se cair do corpo

Maria Helena aproxima as trecircs mulheres dos trecircs registros propostos por Lacan real simboacutelico e imaginaacuterio Elena busca o objeto no realsua matildee noimaginaacuterio repetindo o passado e Petra procura recuperaacute-lo no simboacutelico Trecircs formas de responder ao encontro com o objeto

O pai que se fezfaz presente pela mais profunda ausecircncia o traumatismo (troumatisme) vivido por Petra possivelmente permitindo que ela pudessedesconsistir o Outro e sublimar sua dor pela arte a forma como cada um dos sujeitos tentou se salvar agraves custas do outro foram questotildees evocadas pelaplateia

Elena viveu a morte fora da cena enquanto Petra coloca a morte em cena elaborando o luto dessa perda por meio de sua arte Arte esta que como elamesma diz faz parte da vida das mulheres dessa famiacutelia mas que por si soacute natildeo daria conta de afastaacute-la do lugar nefasto que sua matildee a colocaidentificando-a a Elena na tentativa de reparar sua perda A aposta de sua matildee no imaginaacuterio na intenccedilatildeo de obter uma resposta faz com que empenhesua vida reverberando a pergunta sem resposta sobre a morte prematura da filha Petra por sua vez faz seu apelo aos outros agraves terapias agraves quaissubmeteu-se agrave arte Serve-se desses outros para construir uma resposta singular Sua resposta a palavra que falta o indiziacutevel de sua experiecircnciaevoca-se ldquonas frestas da poesiardquo4

Notas

1Elena (Brasil 2012) Documentaacuterio dirigido por Petra Costa com roteiro de Carolina Ziskind e Petra Costa Produzido por Daniela Santos e Julia BockFotografia de Janice dAvila Miguel Vassy Will Etchebehere

2Lacan J (19652003) Homenagem a Marguerite Duras pelo arrebatamento de Lol V Stein In Outros escritos (pp 198-205) Rio de Janeiro Zahar

3Lacan J (1959-19601988) O seminaacuterio Livro VII a eacutetica da psicanaacutelise

Rio de Janeiro Jorge Zahar

4Elena (Brasil 2012)

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DIRETORIA DE INTERCAcircMBIO E CARTEacuteIS

Cinthia Busato Diretora de Intercacircmbio e Carteacuteis da EBP-SC e convidada para nossa Jornada de Carteacuteisdeste ano aborda em sua conferecircncia a importacircncia do trabalho em cartel para a formaccedilatildeo do analista destacando a questatildeoda ousadia e da coragem inerentes a esse laccedilo de trabalho inventado e proposto por Lacan para sua Escola

Maria de Lourdes Mattos a partir de duas referecircncias extraiacutedas do campo da arte e produzidas emmomentos histoacutericos distintos discute em seu trabalho da Jornada de Carteacuteis da EBP-SP - 2013 questotildees da atualidade dacliacutenica

Boa leitura a todos

Caacutessia Maria Rumenos Guardado

REFLEXOtildeES_________________________________________

BRASIL PSICANAacuteLISE MEDICINA EXTRATERRITORIAL MAIS AINDA

Niraldo de Oliveira Santos

Diretor de Ensino - CLIPP Diretor de Assistecircncia da Divisatildeo de Psicologia do Hospital das Cliacutenicas - SP

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O tema aqui discutido toma como eixo o texto transcrito a partir da participaccedilatildeo de Lacan em 1966numa mesa-redonda a convite de sua supervisionanda Jenny Aubry pediatra e psicanalista que atuava no pavilhatildeopediaacutetrico da Pitieacute-Salpetriegravere em Paris

Como deve ser do conhecimento de todos vocecircs a participaccedilatildeo de Lacan nesta mesa-redonda foi no miacutenimo polecircmica Umaversatildeo editada desta fala foi publicada na Revista Opccedilatildeo Lacaniana nuacutemero 32 de dezembro de 2001 sob o tiacutetulo ldquoO lugar dapsicanaacutelise na medicinardquo

Deste texto extraio trecircs pontos que considero de extremo valor para as questotildees relacionadas ao trabalho do psicanalista nas instituiccedilotildees de sauacutedeprincipalmente no acircmbito do hospital geral a saber a ruptura entre a demanda e o desejo do doente a noccedilatildeo de que o corpo eacute feito de gozo e que ocorpo goza e a condiccedilatildeo extraterritorial da psicanaacutelise em relaccedilatildeo aos demais discursos encontrados no hospital Para percorrer estes trecircs pontospretendo convidaacute-los para uma breve incursatildeo ao que vemosescutamos cotidianamente na instituiccedilatildeo hospitalar

Em uma porta de entrada temos os casos de urgecircnciaemergecircncia Sujeitos atropelados (muitas vezes literalmente) por um real que os convoca aperceber diante do horror a fragilidade da condiccedilatildeo humana amputaccedilatildeo de membros perda de uma funccedilatildeo vital queimaduras autoinfligidasqueimaduras em crianccedilas por negligecircncia ou maus-tratos tentativas de homiciacutedio ou suiciacutedio Acidentes vasculares cerebrais ou tantos outros quepressionam imediatamente o sujeito a lidar com a castraccedilatildeo ndash ou o retorno dela fazendo deste tropeccedilo com o real uma oportunidade uacutenica para oencontro com o psicanalista ainda que muitas vezes o sujeito natildeo encontre facilmente as palavras

Mas tambeacutem vemos por outra porta do hospital pacientes que explicitam de modo obsceno o gozo particular com ainstalaccedilatildeo na condiccedilatildeo de doente Nestes casos o ser diabeacutetico renal crocircnico asmaacutetico anoreacutexico buliacutemico eacute praticamenteindissociado de seu modo de se representar no mundo de tatildeo agarrados que satildeo aos significantes que arranjaram nascontingecircncias do destino

Nestes casos o psicanalista tambeacutem eacute solicitado a intervir pois satildeo pacientes frequentemente poliqueixosos natildeo aderentes aotratamento ndash ou excessivamente aderidos ao hospital e agraves equipes Estes pacientes natildeo raramente denunciam o fracasso dasterapecircuticas convencionais e confrontam os profissionais com a impotecircncia que o gozo e a pulsatildeo de morte sabem fazer tatildeobem

Neste ponto retomo um trecho de Lacan na referida participaccedilatildeo de 1966

Quando o doente eacute enviado ao meacutedico ou quando o aborda natildeo digam que ele espera pura e simplesmente a cura Ele potildee o meacutedico agrave prova de tiraacute-lo desua condiccedilatildeo de doente o que eacute totalmente diferente pois isto pode implicar que ele estaacute totalmente preso agrave ideia de conservaacute-la Ele vem agraves vezes nos pedirpara autenticaacute-lo como doente (Lacan 19662001 p 10)

Quando o meacutedico consegue reconhecer esta distacircncia entre a demanda e o desejo no paciente ele tambeacutem encaminha na melhor das hipoacuteteses opaciente para o psicanalista

Poreacutem tambeacutem eacute possiacutevel aos profissionais da equipe construiacuterem outras hipoacuteteses para o fracasso do tratamento e com isso empreenderem novasestrateacutegias investigativas ou novas terapecircuticas tomando mais ainda o corpo do paciente como uma peccedila a ser atravessada pelas mais modernasestrateacutegias das tecnociecircncias

Diante do paciente tomado de anguacutestia decorrente do encontro com o real ou daqueles outros bem instalados na posiccedilatildeo dedoentes de onde retiram sua quota cotidiana de gozo eacute esperado que o analista se posicione ofereccedila sua escuta e intervenccedilatildeondash o que a rigor em nada se diferencia do cotidiano da praacutetica realizada em seu consultoacuterio

Acontece que no hospital mais notadamente num hospital-escola algumas tensotildees merecem ser pontuadas

bull O empuxo agrave realizaccedilatildeo de protocolos de pesquisa e publicaccedilotildees em perioacutedicos cientiacuteficos indexados e que compartilham umacerta fobia ao meacutetodo psicanaliacutetico

bull A supervalorizaccedilatildeo da utilizaccedilatildeo de escalas testes questionaacuterios padronizados ndash tendo aqui seu aacutepice nos questionaacuterios de qualidade de vida

bull A insistecircncia em eliminar as diferenccedilas discursivas em nome de classificaccedilotildees diagnoacutesticas lipoaspiradas e ldquoateoacutericasrdquo dos manuais de classificaccedilatildeodiagnoacutestica

bull A monotonia das afirmaccedilotildees de eficaacutecia exclusiva das teacutecnicas cognitivo-comportamentais descritas como sendo de baixo custo e desenhadas visandoa educaccedilatildeo da pulsatildeo

Vale neste ponto lembrar a indicaccedilatildeo de Lacan no texto ldquoA direccedilatildeo do tratamento e os princiacutepios de seu poderrdquo de 1958 ldquoA mais aberrante educaccedilatildeonunca teve outro motivo senatildeo o bem do sujeitordquo

Os artigos cientiacuteficos derivados dos protocolos de pesquisa passaram a ser a moeda mais valiosa nos departamentos de um hospital-escola Existemdepartamentos que remuneram ou premiam agrave parte os autores dos artigos cientiacuteficos que contribuem para manter ou elevar a pontuaccedilatildeo da Disciplinajunto agraves agecircncias de fomento

Isto certamente natildeo eacute novidade mas expotildee uma tensatildeo para o psicanalista que pode ser assim resumida espera-seexige-se a construccedilatildeo de projetos depesquisa que incluam instrumentos padronizados ndash que quantifiquem os achados diagnoacutesticos ou estrateacutegias terapecircuticas ndash que facilitem a aceitaccedilatildeo narevista de alto impacto ndash que elevem a pontuaccedilatildeo do Departamento ndash que passa a receber mais recursos para seus projetos etc

No ano passado (todos vocecircs devem ter acompanhado) o Governo de Satildeo Paulo por meio da Secretaria Estadual da Sauacutede (SES) descredenciou oCentro de Referecircncia da Infacircncia e da Adolescecircncia (CRIA) que inclui prioritariamente profissionais psicanalistas e assumiu oficialmente (por meioda abertura de edital para credenciamento institucional) que serviccedilos de orientaccedilatildeo psicanaliacutetica natildeo poderiam se candidatar pois estes natildeo contamcom eficaacutecia comprovada Apoacutes uma seacuterie de manifestos no meio psicanaliacutetico a SES modificou o edital

Fato eacute que este acontecimento somado ao que temos visto no cotidiano da nossa praacutetica nos deixou uma questatildeo e algumas reflexotildees o fato de opsicanalista nas palavras de Lacan trabalhar na extraterritorialidade neste topos atoacutepico natildeo eacute diferente de se colocar num lugar de segregaccedilatildeoAfinal a extraterritorialidade se refere eacute sempre bom lembrar agrave falha epistemos-somaacutetica Trabalhamos com a consequecircncia desta falha e suamanifestaccedilatildeo de gozo e isto natildeo implica em nos privarmos das tensas interlocuccedilotildees com os mestres contemporacircneos

Expor os efeitos de nossa praacutetica e natildeo nos esquivarmos das tensotildees daiacute decorrentes eacute condiccedilatildeo necessaacuteria agrave permanecircncia nas instituiccedilotildees de sauacutedeAcontece que ouso interpretar por algum motivo alguns analistas que atuam em instituiccedilotildees de sauacutede parecem adotar uma certa posiccedilatildeo de inibiccedilatildeode alienaccedilatildeo ou de mortificaccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave poliacutetica implicada em seu ato

Aleacutem da poliacutetica implicada no ato do analista que visa confrontar o sujeito com eacutetica do desejo questiono se este natildeo teria tambeacutem que se posicionarquando seu lugar transferencial permitir diante daquilo que diz respeito ao funcionamento da instituiccedilatildeo de sauacutede

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Temos acompanhado uma certa transformaccedilatildeo nos modelos de gerenciamento das instituiccedilotildees puacuteblicas O enfoque administrativo que imprime amarca empresarial na aacuterea da sauacutede puacuteblica atual tem como consequecircncia assim justificada a reduccedilatildeo de custos e a obtenccedilatildeo de lucro Como efeitoscolaterais temos a contrataccedilatildeo de profissionais despreparados via Organizaccedilotildees Sociais (OS) e salaacuterios cada vez mais defasados entre os funcionaacuteriospuacuteblicos concursados Essa vertente ldquoempresarialrdquo eacute verificada constantemente pelos dispositivos de precircmio de qualidade e anaacutelise de gestatildeo em sauacutedeSabemos que estas medidas trazem impactos na praacutetica assistencial do psicanalista e mais uma vez o convocam a construir estrateacutegias Um dosproblemas que temos enfrentado atualmente diz respeito agraves listas de espera para avaliaccedilatildeo diagnoacutestica e tratamentos ambulatoriais Temos colegascom uma centena de casos aguardando convocaccedilatildeo Por um lado nos perguntamos se isto aponta para a transferecircncia de trabalho endereccedilada aopsicanalista ou como eacute bem provaacutevel que em alguns casos uma dificuldade crescente dos profissionais da sauacutede em lidar com a queixa dos doentes

Nestes anos de trabalho em hospital geral tais impasses longe de nos fazerem recuar nos tecircm permitido convocar a presenccedilade colegas psicanalistas da EBP para a interlocuccedilatildeo no hospital fazendo da aridez da nossa praacutetica algo menos solitaacuterio Estasinterlocuccedilotildees permitiram incluir o Ensino de Lacan em nosso meio natildeo como a verdade mas como um dispositivo capaz defazecirc-la surgir ali mesmo onde tantos outros discursos tentam apagaacute-la em nome de um bem-estar higiecircnico

Lembro um comentaacuterio de Jorge Forbes em uma de suas participaccedilotildees junto agrave nossa equipe quando dizia que a formaccedilatildeo dopsicanalista deveria incluir a experiecircncia da atuaccedilatildeo num hospital geral A fala me remete ao fato de que no hospital temos ador e a deliacutecia de convivermos com os eixos cliacutenico poliacutetico institucional e sobretudo eacutetico do exerciacutecio da psicanaacutelise

Para concluir gostaria de retomar Lacan com um trecho de ldquoA Ciecircncia e a Verdaderdquo de 1965 Neste trecho assim considero vemos que nossos pontosde tensatildeo natildeo satildeo necessariamente com a ciecircncia mas sim com o emprego dela em alguns contextos

Que eacute impensaacutevel por exemplo que a psicanaacutelise como praacutetica que o inconsciente o de Freud como descoberta houvesse tidolugar antes do nascimento da ciecircncia no seacuteculo a que se chama seacuteculo do talento o XVII ndash ciecircncia a ser tomada no sentidoabsoluto no instante indicado sentido este que decerto natildeo apaga o que se instituiacutera antes sob esse mesmo nome poreacutem que emvez de encontrar nisso seu arcaiacutesmo extrai dali seu proacuteprio fio de uma maneira que melhor mostra sua diferenccedila de qualqueroutro () natildeo visamos dizendo isso da psicanaacutelise e da descoberta de Freud ao acidente de ter sido pelo fato de seus pacientesterem ido procuraacute-lo em nome da ciecircncia e do prestiacutegio que ela conferia () que Freud conseguiu fundar a psicanaacutelise descobrindo o inconscienteDizemos que foi esse mesmo cientificismo que conduziu Freud como nos demonstram seus escritos a abrir a via que para sempre levaraacute seu nome(Lacan 1965 p 871)

Referecircncias

LACAN J A direccedilatildeo do tratamento e os princiacutepios do seu poder (1958) In Escritos Jorge Zahar Ed Rio de Janeiro 1998

LACAN J A ciecircncia e a verdade (1965) In Escritos Jorge Zahar Ed Rio de Janeiro 1998

LACAN J O lugar da psicanaacutelise na medicina (1966) Opccedilatildeo Lacaniana Revista Brasileira Internacional de Psicanaacutelise Nuacutemero 32 dezembro de 2001

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O UacuteLTIMO LACANIANO

Rodrigo Camargo (Seccedilatildeo Cliacutenica ndash Clipp)

Lacan veio para esses lados de baixo do Equador uma uacutenica vez Foi no final de sua vida em 1980 num seminaacuterio proferido em Caracas VenezuelaAli ele pronunciou algo que ateacute hoje nos faz eco quando disse ldquoeu sou freudiano se vocecircs quiserem sejam lacanianosrdquo

Marcava-se assim mais-um efeito de retorno isto eacute Lacan retoma Lacan de Funccedilatildeo e Campo texto inaugural de seu ensinoem 1953 Desde ali foi o longo caminho de uma interrogaccedilatildeo Lacan soube como ningueacutem interrogar ininterruptamente aobra freudiana por quase cinco deacutecadas Provocou uma reviravolta na experiecircncia da psicanaacutelise fundando um campoespeciacutefico a saber o campo lacaniano (cf Seminaacuterio 17) Ser lacaniano entatildeo eacute interrogar a obra de Lacan

Quem fez isso com o maacuteximo de rigor e periacutecia foi ningueacutem menos do que Jacques-Alain Miller Precisamente Miller foi seuverdadeiro herdeiro intelectual Logo apoacutes a dissoluccedilatildeo da Eacutecole Freudienne de Paris Lacan tambeacutem disse ao-menos-umque me lecirc seria aqui desnecessaacuterio apontar a quem ele se referia Contudo isso nos coloca no iniacutecio de uma nova seacuterie dequestotildees

Se Lacan foi o ao-menos-um que leu Freud (todo seu ensino se fundamenta nesta loacutegica) Miller por seu turno foi um leitor contumaz de Lacan istoeacute temos assim constituiacuteda uma linha de passe que comeccedila com Freud passa por Lacan e hoje aterriza em Jacques-Alain Miller (nome quecuriosamente em portuguecircs-brasileiro faz homofonia com jaacute que ela eacute mulher)

Como ler hoje Freud sem conceber o inconsciente estruturado como linguagem Natildeo haacute como ir ateacute Freud seriamenteretornar a Freud sem pegar o contorno desenhado por Lacan Da mesma maneira natildeo temos condiccedilotildees de acessar Lacanatualmente sem passar pelo crivo de Jacques-Alain Miller (tanto parao bem quanto para o mal) No Brasil a entrada deLacan se confunde com a chegada de Miller Este eacute o sintoma de um Lacan brasileiro

Todo o esforccedilo o empenho e dedicaccedilatildeo do trabalho de elucidar Lacan faz de Miller o que consideraria ser o uacuteltimolacaniano Certamente ele natildeo foi o primeiro A histoacuteria nos conta isso Poreacutem a tese parece forte colocada assim de modoabrupto Jacques-Alain Miller eacute o uacuteltimo lacaniano simplesmente porque natildeo lemos mais Lacan sem dar mil voltas por eleseja acompanhando as liccedilotildees de seu curso de orientaccedilatildeo seja pegando o sentido oposto sem antes decidir tomaacute-lo comoreferecircncia negativa Depois de Miller natildeo resta mais duacutevida somos agora no miacutenimo lacano-americanos E isso natildeo eacute sem

consequecircncias no Brasil e principalmente aqui em Satildeo Paulo

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CIEN ndash ldquo Frente aos Protocolosrdquo ndash 2ordf Conversaccedilatildeo entre laboratoacuterios

Simone Brandatildeo de Carvalho e Silva

Participaram desta Conversaccedilatildeo que ocorreu em 04102013 dois laboratoacuterios ldquoAs Manifestaccedilotildees do Higienismo na Atualidaderdquo-SP e ldquoaFINARTErdquo-Ribeiratildeo Preto A Coordenadora do CIENndashSP Siglia Cruz de Saacute Leatildeo ressaltou a importacircncia destes encontros como momento preparatoacuterio para aVI Jornada Internacional do CIEN ldquoMe Inclui fora dessardquo ndash a buacutessola que cada um inventa que aconteceraacute na Argentina em novembro proacuteximo

O laboratoacuterio aFINARTE trouxe como vinheta praacutetica o relato de caso do CAPSi de Ribeiratildeo Preto intitulado ldquoUma Histoacuteria de Famiacuteliardquo Trata-se deuma famiacutelia de dependentes pai e quatro filhos usuaacuterios de substacircncias matildee tabagista Os dois filhos mais novos foram encaminhados ao CAPSiacompanhados dos pais e avoacutes Estes adolescentes tinham envolvimento com criminalidade eram usuaacuterios de drogas foram afastados da escola e

22102016 wwwebpsporgbrindexphpview=articleamptype=rawampcatid=303Acarta-de-sao-paulo-onlineampid=8763Acarta-de-sao-paulo-online-5-nova-serie-ano-iiiamptmpl=componentampprint=1amplayout=defaultamppage=ampoption=com_contehellip

httpwwwebpsporgbrindexphpview=articleamptype=rawampcatid=303Acarta-de-sao-paulo-onlineampid=8763Acarta-de-sao-paulo-online-5-nova-serie-ano-iiiamptmpl=componentampprint=1amplayout=defaultamppage=ampoption=com_contenhellip 511

houve o pedido de reinserccedilatildeo escolar via Conselho Tutelar Esta situaccedilatildeo chamou atenccedilatildeo da psicoacuteloga e enfermeira queencontraram muitas dificuldades na conduccedilatildeo deste trabalho Os pacientes satildeo desinteressados faltosos e resistentes agravesatividades propostas rdquoFrente aos Protocolosrdquo tema desta conversaccedilatildeo provocou e convocou as profissionais participantes doCIEN a repensarem o modelo dos atendimentos propostos pela instituiccedilatildeo como o trabalho em grupo Perceberam que oolhar particularizado para cada um dos pacientes ndash irmatildeos ndash eacute o que de fato possibilitou o caminhar do trabalho emandamento

Heloisa Telles Psicanalista membro da EBPAMP foi a animadora da conversaccedilatildeo e ressaltou a complexa e difiacutecil situaccedilatildeoapresentada afirmando que eacute preciso estar atento na proacutepria organizaccedilatildeo do serviccedilo a ldquocomordquo escutar ldquoquemrdquo escutar e ldquooquecircrdquo escutar A situaccedilatildeo relatada exigiu das profissionais uma escuta atenta acarretando mudanccedilas na forma de acolhimento Em regra o que seespera do trabalho no CAPSi eacute a inclusatildeo e a reinserccedilatildeo familiar Ficou explicitado neste relato a necessidade de acolher o ldquosaberrdquo do sujeito sujeitoeste que na maioria das vezes ignora ser ele proacuteprio a sede de seu saber A partir desta orientaccedilatildeo torna-se possiacutevel o sujeito formar laccedilos o que olevaraacute agrave inserccedilatildeo social O escutar cada um esta invenccedilatildeo singular precisa estar do lado dos profissionais e eacute a partir deste ponto que se torna possiacutevelsustentar o trabalho A organizaccedilatildeo da instituiccedilatildeo eacute necessaacuteria e diferente do protocolo O protocolo recai sobre a orientaccedilatildeo quando esta no afatilde douniversal natildeo leva em conta a particularidade de cada situaccedilatildeo apresentada

O laboratoacuterio ldquoAs manifestaccedilotildees do Higienismo na Atualidaderdquo apresentou vinheta praacutetica e articulaccedilotildees teoacutericas sobre estetema vasto e polecircmico As primeiras praacuteticas higienistas e a cura das enfermidades sempre estiveram sob o poder meacutedicoSobre a medicalizaccedilatildeo na infacircncia traz um dito popular ldquoeacute de pequenino que se torce o pepinordquo para justificar amedicalizaccedilatildeo precoce O vivo da praacutetica deste laboratoacuterio nos fala de um menino de seis anos que desde os trecircs mora emcasa de Acolhimento Na 1ordf instituiccedilatildeo que frequentou os cuidadores natildeo se envolviam muito com o caso jaacute na 2ordf para ondefoi transferido junto com o irmatildeo os teacutecnicos eram mais interessados Precocemente teve o diagnoacutestico de TDAH Estaacute emtratamento psiquiaacutetrico e faz uso de Ritalina Passou por psicoterapias e hoje estaacute em tratamento psicanaliacutetico Algumas

mudanccedilas em seu comportamento de hiperatividade jaacute estatildeo sendo percebidas algo que toca seu diagnoacutestico precoce Nas discussotildees relativas a essavinheta tratou-se do abandono por parte da famiacutelia e da falta de apropriaccedilatildeo da crianccedila de sua proacutepria histoacuteria O cuidador eacute sempre visto comoaquele que tem o saber sobre a crianccedila O passado fica sempre perdido as expectativas futuras tambeacutem natildeo satildeo apontadas e a historia eacute o presente apartir do cuidador que natildeo busca o saber na crianccedila

Em todo esse processo como se articula a rede de proteccedilatildeo e qual seria a funccedilatildeo do cuidador O hospitalismo a funccedilatildeo da matildee e a maternagem oabrigo a instituiccedilatildeo de acolhimento foram temas abordados e debatidos E ainda a questatildeo do ldquosaber e segredordquo da crianccedila o diagnoacutestico precoceapontando para um apagamento do sujeito Em relaccedilatildeo aos cuidadores aparece o ldquoanonimatordquo ndash e o que precisa ser transmitido agrave crianccedila eacutejustamente um desejo que natildeo seja anocircnimo A respeito do silecircncio na histoacuteria da crianccedila quanto ao seu passado e futuro o preenchimento desse vaziogeralmente eacute feito pelo adulto que cuida esvaziando a possibilidade de a crianccedila existir diante de seu ldquosaber e seu segredordquo lugar este que estaacute semprepor vir ndash construccedilatildeo particular de cada um ndash precisando ser respeitado Eacute exatamente neste aspecto que as vivecircncias do CIEN contribuem ajudandona visualizaccedilatildeo de que algo natildeo seraacute preenchido e que eacute neste espaccedilo dito ldquovaziordquo que alguns impasses poderatildeo ser transpostos Isso que eacute da estruturado humano do lugar do mal-estar geralmente eacute visto como fracasso e capturado pelo diagnoacutestico pela medicalizaccedilatildeo e outros apagamentos

Aleacutem dos relatos apresentados e comentados pelos laboratoacuterios a praacutetica das conversaccedilotildees entre os laboratoacuterios do CIENmostram-se efetivas Participantes do CIEN e o puacuteblico interrogam-se sobre as vinhetas praacuteticas ldquoo que pensar sobre a casade acolhimento que finalmente fica com a crianccedila quando todas as outras instituiccedilotildees a recusamrdquo Questotildees de ordem eacutetica epoliacutetica satildeo levantadas sobre a funccedilatildeo do CIEN o que o difere das equipes multidisciplinares O que eacute o interdisciplinar queo CIEN propotildee Por que eacute necessaacuterio a presenccedila do analista no CIEN O espaccedilo que hoje se utiliza para conversaccedilatildeo entre oslaboratoacuterios do CIEN marca o desejo dos participantes de que essa praacutetica continue ela nos eacute uacutetil e se faz necessaacuteria

REFLEXOtildeES - TRABALHOS EM CARTEL_______________

A IMPORTAcircNCIA DO TRABALHO EM CARTEL PARA A FORMACcedilAtildeO DO ANALISTA

Cinthia Busato

Comeccedilo agradecendo o gentil convite de Caacutessia para que eu falasse aqui hoje Gentil em vaacuterios aspectos o primeiro que vou abordar eacute o da aposta eudiria inclusive da ousadia de convidar algueacutem que acabou de entrar como membro da EBP e que natildeo tem um percurso tatildeo longo como tantos colegasdentro dessa Escola Fui convidada como Diretora de Carteacuteis da Seccedilatildeo Santa Catarina e me autorizei a aceitar esse convite acreditem natildeo sem receiopara falar de um tema que sempre me causou sempre mobilizou meu percurso dentro da Escola que eacute exatamente o cartel

Desde que comecei a estudar a psicanaacutelise lacaniana faccedilo carteacuteis muitas vezes dois ao mesmo tempo E desde o iniacutecio me apaixonei pela loacutegica quefunda o cartel O ldquopor sua conta e riscordquo sempre me estimulou a valorizar o que tenho de melhor em mim o que ainda natildeo sei Era assim que euchamava o que com Lacan aprendi a chamar de natildeo-todo e achei mais adequado este termo pois ldquoo que ainda natildeo seirdquo pode ser entendido tambeacutemcomo ldquoum dia vou saber tudordquo em que de fato nunca acreditei

Poder estar com pessoas que escolho para conversar debater natildeo saber temas que me interessam e a partir daiacute construir algum saber sobre issosempre me ajudou a construir tanto um saber teoacuterico que me apoia quanto a minha relaccedilatildeo com a Escola

Bem no iniacutecio do meu percurso lacaniano escrevi um texto chamado ldquoQuem ousa errardquo que comeccedila assim ldquoTemos na neurose duas possibilidadesfrente a esta afirmaccedilatildeo o obsessivo natildeo ousa para natildeo errar a histeacuterica finge que ousa para provar que natildeo erra A psicanaacutelise propotildee uma terceira saiacutedaousar sabendo que o erro eacute possiacutevel Mais do que isso aposta no erro como caminho em direccedilatildeo ao fracasso do Ideal este que dita o que eacute errado Para apsicanaacutelise natildeo eacute errando que se aprende portanto acerta mas eacute ousando errar que se escreve o nome proacuteprio nome que aponta na direccedilatildeo do impossiacutevelOusadia natildeo eacute o mesmo que ser afoito ou desafiador Confunde-se hoje pressa afobaccedilatildeo atitude desafiadora com ousadia Erro grave O ousado pode sermuito lento O ousado natildeo baniu o medo resolveu seguir com ele O ousado suporta a falta coisa que o afoito ansioso natildeo tolera O ousado vislumbra oimpossiacutevel coisa que o afoito ansioso natildeo tolera O ousado a-risca imprime marca singular no seu ato Ao desafiador importa mais destruir a marca dooutro Por que este elogio agrave ousadia Porque frente agrave padronizaccedilatildeo ao horror ao erro a sair do padratildeo a ousadia estaacute cada vez mais rara e o que apareceem seu lugar eacute a pressa e a atitude desafiadora por si soacute Estas satildeo impedimentos ao laccedilo social pois promovem um investimento maior em banir a faltafortalecendo a imagem narciacutesica especular do que em criar possibilidades de lidar com as diferenccedilas fundamental para o laccedilo socialrdquo(1)

Vou comeccedilar a pensar daiacute a importacircncia do cartel para a formaccedilatildeo do analista e tambeacutem o dispositivo cartel no seacuteculo XXI Muito me ajudou o textode Vilma Coccoz (2) ldquoO cartel um novo laccedilordquo publicado no Boletim Uno por uno 10 que estaacute na paacutegina da NEL-Meacutexico

No texto ldquoDa psicanaacutelise em suas relaccedilotildees com a realidaderdquo (3) Lacan nos diz que ldquoOs psicanalistas satildeo saacutebios de um saber que natildeo podemcultivarconversardaiacute sua associaccedilatildeo com aqueles que soacute compartilham com ele esse saber por natildeo poder trocaacute-lointercambiaacute-lordquo Uma das vias para serelacionar com essa impossibilidade de comunicaccedilatildeo eacute a proacutepria anaacutelise mas o saber construiacutedo em uma anaacutelise eacute limitado podemos saber dadeterminaccedilatildeo inconsciente sobre o ser falante saber do gozo particular que obtemos com nosso sintoma Mas o sujeito nada pode saber do sentido do

22102016 wwwebpsporgbrindexphpview=articleamptype=rawampcatid=303Acarta-de-sao-paulo-onlineampid=8763Acarta-de-sao-paulo-online-5-nova-serie-ano-iiiamptmpl=componentampprint=1amplayout=defaultamppage=ampoption=com_contehellip

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sintoma do outro da satisfaccedilatildeo que esses sintomas produzem Para poder permitir ao outro o acesso a este saber natildeo basta tecirc-lo conquistado haacute queconsentir com o passe onde algo se pode transmitir mesmo que natildeo seja tudo Entatildeo mesmo que sejam eruditos em um saber sobre a estrutura ospsicanalistas natildeo se reuacutenem como saacutebios para conversar sobre seu saber e ampliar o campo da erudiccedilatildeo mas se associam justamente pelo contraacuteriopor uma impossibilidade de conversar As formas que Lacan propotildee para a organizaccedilatildeo dos analistas seguem a referecircncia da distinccedilatildeo entre o laccedilocoletivo onde a referecircncia eacute o ideal que satura a falta e a loacutegica coletiva que se situa em relaccedilatildeo agrave falta do Outro que indica o furo no saber Tanto opasse quanto o cartel se inserem nessa loacutegica numa tensatildeo entre o que entra no laccedilo social e o que natildeo eacute coletivizaacutevel de cada um

Eacute nesse ponto que o Cartel encontra a especificidade de sua funccedilatildeo ser a dobradiccedila ser a articulaccedilatildeo entre o psicanalista na solidatildeo de seu ato e aEscola onde os analistas trabalham para a transmissatildeo da psicanaacutelise Se pudeacutessemos transmitir tudo o que restaria Eu imagino que teacutedio pois sefosse possiacutevel transmitir tudo a arte natildeo teria funccedilatildeo nem a psicanaacutelise

Entatildeo acho que a psicanaacutelise traz inoculado dentro de seu discurso esse saber que eacute o que faz de mim uma otimista em relaccedilatildeo agrave psicanaacutelise no seacuteculoXXI saber que natildeo sabe tudo saber que estamos marcados no corpo pela palavra e que isso nos coloca como sujeitos divididos entre uma verdade quenos habita e imprime nosso estilo e um saber que vai sendo construiacutedo a partir dela

Essa verdade o Um que marca alguma coisa do real do gozo eacute o que vai orientar o sujeito em sua nomeaccedilatildeo sintomaacutetica seu ldquosintoma como aparelhoindividual para situar o objeto pequeno a essa parte elaboraacutevel do gozordquo(4) O que seria ousado aqui que eacute a proposta da psicanaacutelise eacute suportar o vaziode significado ao inveacutes de tamponaacute-lo Eacute colocar o objeto pequeno a como causa de desejo e natildeo como objeto de mercado atrelado a um mais-de-gozarldquoNa perspectiva do uacuteltimo ensino de Lacan trata-se sobretudo de captar a maneira pela qual o sujeito estaacute articulado ao Outro pelas operaccedilotildees de batismoessenciais de seu sinthoma de um gozo que se esquiva a ser inscrito de uma vez por todas no lugar do Outrordquo (5) Ousar eacute fazer do vazio angustiante eenigmaacutetico uma marca proacutepria

A psicanaacutelise efetuou uma subversatildeo na loacutegica numeacuterica Aqui a sequecircncia deixa de ser 123 para ser 132 jaacute que para sair da loacutegica especular quede 2 faz 1 o sujeito precisa encontrar o 3 o terceiro termo aquele que traz a possibilidade de exclusatildeo imprescindiacutevel para a elaboraccedilatildeo da castraccedilatildeoEacute o que salva o sujeito do paraiacuteso da simbiose da natildeo diferenccedila Eacute ele que possibilita o aparecimento do 2 a manutenccedilatildeo de dois sujeitos que suportama diferenccedila No 2 o paraiacuteso sem garantias o paraiacuteso do desejo de uma inquietude que ousa em direccedilatildeo ao enigma do Outro e natildeo da inquietude quetenta negaacute-lo

O sintoma para a psicanaacutelise tem duas vertentes a vertente do sofrimento (gozo do sintoma) e a vertente do enigma (sentido do sintoma)Normalmente eacute pela vertente do sofrimento que um sujeito chega na anaacutelise mas para que esta se constitua como anaacutelise eacute preciso que seja propiciadoum querer saber do seu sintoma que o desejo de desvendar o enigma proacuteprio seja despertado A demanda terapecircutica pode ser unicamente se livrar deseu sofrimento e muitas terapias estatildeo aiacute para mostrar que isso eacute possiacutevel muitas vezes simplesmente trocando o Ideal ldquoconsertandordquo tapando furosno Ideal manco ou trocando por um novinho em folha O discurso messiacircnico eacute um bom exemplo Nada de marca singular aqui se trata de rebanhosAposta-se sempre no paraiacuteso futuro sem faltas com a garantia de completude e satisfaccedilatildeo Mas como analistas sabemos que o furo eacute de estruturaportanto sempre aparece Esse eacute nosso horror e nossa salvaccedilatildeo

Voltando ao iniacutecio o obsessivo natildeo ousando para natildeo errar se manteacutem mais preso a uma perpeacutetua tentativa de controle A histeacuterica fingindo ousarpara provar que natildeo erra que um dia seraacute ela proacutepria A Mulher natildeo conhece aliacutevio dessa tensatildeo Em ambos o 2 natildeo se estabelece a impotecircncia natildeofoi elaborada pelo saber de sua verdade singular que permite tratar o furo como impossiacutevel

Termino com uma citaccedilatildeo de Ana Luacutecia Lutterbach-Holck ldquoLacan jaacute na eacutepoca do seminaacuterio 1 nos aponta o melhor remeacutedio para enfrentar a ciecircnciada felicidade e suas cifras a coragem A coragem como nos falou Badiou natildeo eacute um momento heroico em que se coloca face ao impossiacutevel mas umavirtude construiacuteda na praacutetica para se sustentar no impossiacutevel A coragem pode ser algo que nos oriente localmente na desorientaccedilatildeo globalrdquo (6)

ldquoTodo caminho da gente eacute resvaloso

Mas tambeacutem cair natildeo prejudica ndash nada demais ndash a gente levanta a gente sobe a gente voltahellip

O correr da vida embrulha tudo a vida eacute assim esquenta e esfria aperta e daiacute

Afrouxa sossega e depois desinquieta

O que ela quer da gente eacute coragemrdquo Guimaratildees Rosa

Referecircncias

1BUSATO Ciacutenthia Quem ousa erra Atas da V Jornada da seccedilatildeo Santa Catarina

2COCCOZ Vilma Em httppequenaleiturablogspotcombr201211el-cartel-un-nuevo-lazo-por-vilma-coccozhtml

3LACAN Jacques Da psicanaacutelise em sua relaccedilatildeo com a realidade in Novos escritos p 358

4MILLER Jacques-Alain ldquoO sintoma como aparelhordquo in O sintoma Charlatatildeo p16 Rio de Janeiro Jorge Zahar Ed 1998 ( Campo Freudiano do Brasil)

5MILLER Jacques-Alain ldquo Nascimento do Sujeito Suposto Saberrdquo In Correio nuacutemero 60 p 19 -Cliacutenica e Pragmaacutetica 2008

6LUTTERBACH-HOLCK Ana Luacutecia ldquoDepressatildeo felicidade e algo maisrdquo in Opccedilatildeo Lacaniana - nordm 51 p 8 - Abril 2008

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UM BONECO VIVO

Maria de Lourdes Mattos

A partir de duas referecircncias extraiacutedas do campo da arte produzidas em momentos histoacutericos distintos pretendo contribuir com questotildees daatualidade da cliacutenica

Inicialmente me pergunto sobre a possibilidade de diaacutelogo entre duas produccedilotildees bem distintas uma extraiacuteda da literaturafantaacutestica do seacuteculo XIX e a outra do cinema do seacuteculo XXI Na primeira haacute a duacutevida se um ser aparentemente animadotem vida e na segunda produccedilatildeo onde essa duacutevida natildeo se apresenta aparece a questatildeo da mudanccedila de sexo um homemcompulsoriamente eacute transformado em mulher Talvez a metaacutefora de um ldquoboneco vivordquo e de um ldquovivo como um bonecordquoaproxima e distancia essas duas produccedilotildees

Trata-se de ldquoO homem de areiardquo escrito por Hoffmann (1) em 1817 e que inspirou Freud (2) com o texto ldquoO estranhordquoelaborado em 1919 e do filme ldquoA pele que habitordquo de Pedro Almodoacutevar realizado em 2011

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Na introduccedilatildeo ao conto Italo Calvino (3) considerou ldquoA descoberta do inconsciente ocorre precisamente aqui na literaturaromacircntica fantaacutestica quase cem anos antes que lhe seja dada uma referecircncia teoacutericardquo

No conto o jovem Natanael identifica o ldquohomem de areiardquo aquele que arrancava o olho das crianccedilas com o advogadoCoppelius amigo do pai cuja morte ocorreu no escritoacuterio por uma explosatildeo apoacutes visita do advogado que desaparece depoisdesse acontecimento O fantasma do homem que arrancava o olho das crianccedilas acompanha a vida de Natanael e reaparece emsua eacutepoca de estudante na figura do oculista Coppola vendedor de barocircmetros que lhe vende um telescoacutepio Com esseinstrumento o jovem observa a casa da frente do professor de fiacutesica Spallanzani espiando a bela filha Oliacutempia silenciosa eimoacutevel Apaixona-se por ela esquecendo-se de sua noiva Mas Oliacutempia eacute um autocircmato um boneco produzido pelo professorcujos olhos foram colocados por Coppola o homem de areia Em dado momento na tentativa de proteger Oliacutempia o joveminvade a casa do professor que discutia ferozmente com o oculista Na disputa entre os dois ldquocientistasrdquo a boneca eacutedespedaccedilada e seus olhos satildeo arremessados no peito de Natanael que nesse momento sucumbe agrave loucura Ao se recuperar ojovem retoma suas atividades e seu relacionamento com a noiva Em um passeio com ela resolvem observar a cidade do altode uma torre Fazendo uso do telescoacutepio ao observar a paisagem avista o professor Coppola o que ocasiona novo ataque deloucura e passagem ao ato Gritando ldquogira bonequinha de pau Bonequinha de pau girardquo tenta arremessar a noiva do altoda torre que eacute salva pelo irmatildeo Continuando seu ataque com os berros ldquolindos olhos lindos olhosrdquo atira-se do alto datorre

De acordo com Freud (4) o estranho algo assustador que remete ao que eacute familiar e deveria permanecer oculto estaacute ligado agrave figura do Homem deAreia aquele que tira os olhos das crianccedilas A duacutevida quanto agrave boneca se eacute um ser vivo ou inanimado eacute irrelevante em termos de estranheza Freudrelaciona o medo de perder os olhos ao complexo de castraccedilatildeo substituindo ldquoo Homem de Areia ao pai temido de cujas matildeos eacute esperada a castraccedilatildeordquoOsinventores da boneca seriam a reencarnaccedilatildeo dos pais de Natanael e Oliacutempia a ldquomaterializaccedilatildeo da atitude feminina de Natanael em relaccedilatildeo ao pai na suainfacircnciardquo O amor que o jovem sente pela boneca seria a expressatildeo da forma do amor narciacutesico

Entre os temas ligados ao estranho Freud destaca o fenocircmeno do duplo e o efeito produzido quando algo da ordem doimaginaacuterio aparece na realidade ou seja quando desaparece a distinccedilatildeo entre o imaginaacuterio e a realidade (5) Lacan (6)enfatiza a importacircncia da localizaccedilatildeo de Freud no texto de Hoffmann do fenocircmeno do estranho para tratar a anguacutestiaQuando algo que deveria permanecer oculto vem agrave luz ldquoa imagem especular transforma-se na imagem do duplordquo Segundo elena histoacuteria de ldquoO homem de areia vemos o sujeito saltar de uma captaccedilatildeo para outra diante da forma de imagem quematerializa A boneca eacute essa imagem iacute(a) na operaccedilatildeo de complementaacute-la com aquilo que na proacutepria forma do conto eacuteabsolutamente distinto dela ou seja o olho O olho de que se trata soacute pode ser o do heroacutei (Natanael)rdquo Considera a preciosidadedo campo da ficccedilatildeo na experiecircncia do estranho (unnheimlich) para localizar o campo da fantasia

O veacuteu da fantasia protege o real Na contemporaneidade com a crise do simboacutelico talvez seja vaacutelido considerar quecarecemos dessa proteccedilatildeo

Em entrevista para a EBP-MG (7) Franccedilois Ansermet considera que os avanccedilos da ciecircncia colocam em crise o simboacutelico ao mesmo tempo que aopretender tratar o real o produz cada vez mais gerando novas questotildees Levando em conta a especificidade de cada abordagem refere que natildeo soacute aciecircncia e a psicanaacutelise tratam o real mas a arte tambeacutem e sua particularidade estaacute em ir direto ao ponto

O filme de Pedro Almodoacutevar eacute um exemplo disso Em ldquoA pele que habitordquo procura-se produzir a coacutepia de uma mulher como se fosse um ldquoclonerdquo apartir do corpo de um homem Eacute o duplo da ciecircncia Para aleacutem da era da maacutequina da produccedilatildeo dos robocircs um dos temas do seacuteculo XXI eacute abiotecnologia de reproduccedilatildeo da mudanccedila de sexo o que segundo Ansermet pode fazer a realidade delirar

Antocircnio Banderas interpreta um cirurgiatildeo plaacutestico o Dr Robert Ledgard que perdeu a mulher queimada num acidente decarro Inventa uma nova pele com a qual poderia salvaacute-la Para fazer uso de seu experimento utiliza o corpo de Vicente (8)que supostamente violentou sexualmente sua filha Norma (9) No seu laboratoacuterio Dr Robert produz a bela mulher no corpode seu prisioneiro Vera (10) eacute o resultado da invenccedilatildeo Mas algo escapa ao poder ilimitado da ciecircncia Vicente continuahabitando o corpo da bela mulher

No Seminaacuterio sobre o Sinthoma(11) Lacan refere que a psicanaacutelise ao considerar o sujeito dividido pela operaccedilatildeo dalinguagem encontra sua difusatildeo ao questionar a ciecircncia que faz de um objeto um sujeito

Ser homem ou mulher vai aleacutem da diferenccedila anatocircmica entre os sexos supotildee uma implicaccedilatildeo subjetiva do sexo A partir das foacutermulas de sexuaccedilatildeo(12) Lacan elucidou que haacute diversas maneiras de o sujeito inscrever seu corpo e seu gozo em relaccedilatildeo ao significante faacutelico

Referecircncias

(1) (HOFFMANN ETA ldquoO homem de areiardquo In Contos fantaacutesticos do seacuteculo XIX o fantaacutestico visionaacuterio e o fantaacutestico cotidianoorg de Italo Calvino ndash SPCompanhia de Letras 2004 p 49-81

(2)FREUD S ldquoO estranhordquo In Obras Completas RJ Imago 1996 p 234-69

(3) HOFFMANN ETA op cit p 49

(4) FREUD S opcit

(5) FREUD S Op cit p 261

(6) LACAN J ldquoO seminaacuterio livro 10 a anguacutestiardquo RJ Zahar 2005 p57-9

(7) Boletim Sinapsy Entrevista de Franccedilois Ansermet para a XVIII Jornada da EBP-MG

(8) Vicente eacute interpretado por Jan Cornet

(9) Norma eacute interpretada por Bianca Suarez

(10) Vera eacute interpretada por Elena Anaya

(11) LACAN J ldquoO seminaacuterio livro 23 o sinthomardquo RJ Zahar 2007 p

(12) LACAN J ldquoO seminaacuterio livro 20 mais aindardquo RJ Zahar

SAtildeO PAULO DE PIRATININGA____________________

22102016 wwwebpsporgbrindexphpview=articleamptype=rawampcatid=303Acarta-de-sao-paulo-onlineampid=8763Acarta-de-sao-paulo-online-5-nova-serie-ano-iiiamptmpl=componentampprint=1amplayout=defaultamppage=ampoption=com_contehellip

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EBP-SP na Casa das Rosas (Avenida Paulista 19102013)

LOUCOS DE PAIXAtildeO

Maria do Carmo Dias Batista

Pensei em trabalhar o tema ldquoLoucos de Paixatildeordquo atraveacutes do cinema desde o momento em que recebi o convite da Diretora da EBP-SP MarizildaPaulino a quem agradeccedilo A Perpeacutetua Medrado Gonccedilalves que haacute vaacuterios anos participa deste evento e assim sustenta uma possibilidade de inserccedilatildeoda EBP-SP na Cidade gostaria de aleacutem de agradecer pelo longo tempo de trabalho conjunto fazer um elogio Um elogio agrave loucura ao deliacuterio de suacrenccedila inquebrantaacutevel na Escola e no trabalho com a doenccedila mental baseando-me na formulaccedilatildeo de Jacques-Alain Miller da generalizaccedilatildeo dodeliacuterio todos os nossos discursos satildeo delirantes satildeo defesas contra o real (1) Agradeccedilo ainda a Cynthia Nunes de Freitas Diretora de Biblioteca deEBP-SP que participa da organizaccedilatildeo deste evento e de muito outros com o objetivo de ampliar a presenccedila do Campo Freudiano

Falar de cinema e psicanaacutelise eacute falar da psicanaacutelise aplicada a uma das manifestaccedilotildees mais importantes da cultura desde suainvenccedilatildeo no seacuteculo XX O cinema se inseriu na sociedade de forma contundente como se houvesse uma sede da ficccedilatildeomostrada em imagens em movimento Produziu uma identificaccedilatildeo maciccedila A literatura a muacutesica a oacutepera natildeo bastavam mais

Aplicar a psicanaacutelise ao cinema natildeo eacute psicanalizar diretores autores atores mas como durante mais de quinze anos meuquerido Marco Antocircnio Guerra e eu colocamos em praacutetica no Seminaacuterio de Cinema e Psicanaacutelise trata-se de sacudir atualizar os conceitos dapsicanaacutelise atraveacutes dos excelentes exemplos oferecidos pelo cinema

O tema ldquoLoucos de Paixatildeordquo nos inspirou a escolher para a conversa de hoje o filme ldquoO Impeacuterio dos Sentidosrdquo como vocecircs acabaram de escutar e saberatraveacutes da bela fala de Marco Esse foi um dos filmes que Lacan viu e aplicou agrave psicanaacutelise (conforme tiacutetulo do livro de Carlos Gustavo Motta Laspeliacuteculas que Lacan vio y aplicoacute al psicoanaacutelisis) (2) A referecircncia estaacute no Seminaacuterio 23 (3) de 1976 mesmo ano de lanccedilamento do filme Lacan conta aseu auditoacuterio que esteve em uma salinha de projeccedilatildeo reservada e escondida em Paris pois o filme estava censurado Convidou algumas pessoas de suaEscola e todos segundo Lacan saiacuteram embasbacados (souffleacutees) assombrados O efeito provocado pelo filme em Lacan deve-se a ter nele localizadoum exemplo surpreendente do erotismo feminino Ele natildeo esperava ver isso em um filme japonecircs e comeccedilou entatildeo a compreender o poder dasjaponesas

No filme o erotismo feminino foi levado ao extremo e esse extremo eacute a fantasia de matar o homem Poreacutem continua Lacan isso natildeo basta Depois detecirc-lo matado vai mais longe Depois a japonesa corta o pecircnis de seu parceiro Por que depois Talvez possamos entender a partir do que disse Marcoela corta o pecircnis depois porque matar o homem foi um ato falho inesperado uma forccedila um pouco maior no garrote que tinha por objetivo obter maisuma ereccedilatildeo Mais uma ereccedilatildeo ainda

O filme se baseia em coisas que de fato aconteceram no Japatildeo em 1936 agraves veacutesperas da invasatildeo da China Errar pelas ruas de Toacutekio por quatro diascarregando apertado junto ao corpo o pecircnis do morto envolto em um lenccedilo de seda vermelho ateacute ser presa indica talvez o ato falho Essa tambeacutem eacute aopiniatildeo de Carlos Gustavo Motta que diz ao voltar do intenso cliacutemax descobre que seu amante morreu (4)

Lacan se pergunta por que ela natildeo o cortou antes independente do que ocorreu na realidade para reafirmar que a fantasiaextrema do erotismo feminino eacute matar o homem e natildeo castraacute-lo Se a fantasia do homem eacute fetichista e ele faz amor com asfantasias de seu inconsciente a fantasia da mulher como nos eacute demonstrado pelo filme eacute alguma coisa que de todo modoimpede o encontro pois natildeo tem limite visa um gozo ilimitado A mulher natildeo eacute [toda] determinada por seu inconsciente

A sexualidade para Freud se inscreve na fantasia inconsciente e esse eacute o campo por excelecircncia do erotismo Atraveacutes daconstruccedilatildeo fantasiacutestica do corpo eroacutegeno o humano se diferencia dos outros animais e das teacutecnicas comportamentaisdefendidas pela sexologia centrada no corpo bioloacutegico

A possibilidade de constituiccedilatildeo do corpo eroacutegeno atraveacutes da relaccedilatildeo com o Outro eacute o avanccedilo em direccedilatildeo agrave vida eroacuteticacriativa onde o velamento excita e incita ao deciframento do enigma que por sua vez nunca se alcanccedila e sempre eacute mantido pela forccedila da pulsatildeo Este eacuteo ponto central da genial descoberta de Freud pois ateacute o seacuteculo XIX a sexualidade era identificada com o registro da reproduccedilatildeo bioloacutegica

Assim parece claro que a mulher ocupe para o homem pelo menos no que se refere ao gozo faacutelico o lugar de fetiche Poreacutem caberia perguntar aindapor que eacute a mulher que deve ocupar esse lugar de falo ou de objeto Segundo Lacan eacute por ter o oacutergatildeo faacutelico que o homem natildeo eacute o falo o que implicaque a mulher possa ser o falo Eacute por natildeo ter o falo que a mulher adquire seu valor

O erotismo feminino mesmo que concebido apenas a partir da funccedilatildeo faacutelica indica um para aleacutem do falo Poreacutem no caso extremo desse erotismolouco e enigmaacutetico dentro da dialeacutetica entre o ter e o ser (o falo) matar o homem pode ser interpretado como a fantasia que tornaria possiacutevel agrave mulherter o falo e isso o filme mostra muito bem Obrigada

Referecircncias

(1) MILLER J-A ldquoClinique ironiquerdquo La Cause freudienne ndash Revue de lrsquoECF Paris ECF n 23 p 7

(2) MOTTA C G Las peliacuteculas que Lacan vio y aplicoacute al psicoanaacutelisis Buenos Aires Paidoacutes 2013

(3) LACAN J O Seminaacuterio ndash livro 23 O sinthoma Rio de Janeiro Zahar 2007 p 122-123 e 199-200

(4) MOTTA C G Op Cit p 157

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A EBPndashSP na Casa das Rosas - Resenha

LOUCOS DE PAIXAtildeO

Perpeacutetua Medrado Gonccedilalves

ldquoA loucura colocada em cena para fazer seu elogio e para dizer todo mundo eacute louco(1)

A Escola Brasileira de Psicanaacutelise - SP foi para a Avenida Paulista na Casa das Rosas participar do Sarau Chama Poeacuteticaconvidada por Fernanda Almeida Prado a quem agradeccedilo a possibilidade dessa parceria

A Loucura elogia a si mesma mostra-se como verdade orgulha-se de dizer que ela eacute a uacutenica capaz de alegrar os deuses e osmortais E dessa forma encanta a todos com o seu saber mesmo satirizando a miseacuteria humana

22102016 wwwebpsporgbrindexphpview=articleamptype=rawampcatid=303Acarta-de-sao-paulo-onlineampid=8763Acarta-de-sao-paulo-online-5-nova-serie-ano-iiiamptmpl=componentampprint=1amplayout=defaultamppage=ampoption=com_contehellip

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ldquoAssim tambeacutem a mulher eacute sempre mulher isto eacute eacute sempre louca seja qual for a maacutescara sob a qual se apresente Natildeo quero todavia acreditar jamaisque o belo sexo seja tolo ao ponto de se aborrecer comigo pelo que eu lhe disse pois tambeacutem sou mulher e sou a Loucurardquo(2)

ldquoElogio da Loucurardquo Tema do Sarau Chama Poeacutetica eacute um texto de 1506 de Erasmo de Rotterdam cuja narradora eacute a Loucura ou seja umamulher Ela mostra as diversas faces de sua sabedoria suas ideias suas paixotildees seus oacutedios e seus temores O texto apresenta uma visatildeo irocircnica quecondena os abusos mas natildeo as instituiccedilotildees

Encontramos vaacuterias citaccedilotildees deste texto nos Escritos de Lacan Lacan transformou a loucura no fio condutor do seu ensino e fez sua entrada napsicanaacutelise pois para ele o louco seria o uacutenico que poderia ser testemunha do Real ldquoE o ser do homem natildeo somente natildeo pode ser compreendido sem aloucura como natildeo seria o ser do homem se natildeo trouxesse em si a loucura como o limite de sua liberdaderdquo (3)

Comeccedilamos nossa atividade com a intervenccedilatildeo de Marizilda Paulino Diretora Geral da EBP-SP que deu as boas vindas e convidou todos para asJornadas da EBP-SP 2013Lacan PsicanalistaBrasileiroO que fazemos no Brasil com o Ensino de Jacques Lacan

Maria do Carmo Dias Batista dividiu a Conversa Loucos de Paixatildeo com Marco Antonio Guerra professor da ECAUSP especialista em cinemaAmbos falaram sobre o filme ldquoO Impeacuterio dos Sentidosrdquo Marco Antonio animou o debate ao trazer suas impressotildees do Japatildeo paiacutes em que morou poralgum tempo

O Impeacuterio dos Sentidos (Ai no Korīda ou 愛のコリーダ) eacute um filme franco-japonecircs de 1976 do gecircnero drama eroacutetico Ofilme foi proibido na sua primeira exibiccedilatildeo no Festival de Nova York

Marco Antonio discorreu sobre o filme que eacute considerado uma obra-prima do erotismo baseada em um fato real ocorrido em1936 um dos mais famosos escacircndalos do Japatildeo Eacute a histoacuteria da jovem Sada ex-prostituta que se envolveu em um obsessivo

caso de amor com o patratildeo na casa onde trabalhava como domeacutestica A relaccedilatildeo que comeccedilou casual atinge niacuteveis em que a paixatildeo natildeo encontra maislimites

ldquoQuereis prova mais evidente de que soacute a loucura constitui o ascendente das mulheres sobre os homens Os homens tudo concedem agraves mulheres por causada voluacutepia e eacute soacute com a loucura que as mulheres agradam aos homensrdquo(4)

O casal passa os dias a fornicar e a beber no bordel onde se refugiam sem se alimentarem nem saiacuterem do quarto exceto quando Sada vai ganharalgum dinheiro para o sustento Esse jogo amoroso culmina com a morte do amante quando Sada o estrangula para garantir o maacuteximo da ereccedilatildeoDepois da morte do amante ela corta seu pecircnis e passeia pelas ruas da cidade com ele preso em seu corpo ateacute ser presa

Maria do Carmo lembra que falar de cinema e psicanaacutelise eacute falar da psicanaacutelise aplicada a uma das manifestaccedilotildees mais importantes da cultura desdesua invenccedilatildeo no seacuteculo XX Comenta tambeacutem que Lacan no Seminaacuterio 23 o sinthoma (1975-1976) diz que saiu desse filme embasbacado ldquoFiqueiembasbacado porque se trata do erotismo femininordquo(5) Para ele no filme o erotismo feminino foi levado ao extremo e esse extremo eacute a fantasia dematar o homem Mas Lacan diz isso natildeo basta Depois de tecirc-lo matado vai-se mais longe Ela corta o pecircnis de seu parceiro Por que depois PerguntaLacan acrescentando ldquoa japonesa em questatildeo que eacute o caso de dizer eacute uma amante mulherrdquo

Maria do Carmo diz a partir do que disse Marco Antonio ldquoela corta o pecircnis depois porque matar o homem foi um ato falho inesperado uma forccedila umpouco maior no garrote que tinha por objetivo obter mais uma ereccedilatildeo Mais uma ereccedilatildeo aindardquo (6)

Andar pelas ruas de Toacutekio por quatro dias carregando junto ao corpo o pecircnis do amante envolto em um lenccedilo de seda vermelho ateacute ser presa indica oato falho segundo Maria do Carmo Ela cita Carlos Gustavo Motta ao voltar do intenso cliacutemax descobre que seu amante morreu(7)

Lacan ao perguntar por que ela natildeo o cortou antes afirma que no filme vemos claramente que a ldquocastraccedilatildeo natildeo eacute a fantasiardquo e reafirma que a fantasiaextrema do erotismo feminino eacute matar o homem e natildeo castraacute-lo ldquoQuanto ao que fantasia a mulher se eacute como nos foi apresentado pelo filme eacute algumacoisa que de todo modo impede o encontrordquo(8)

Assim Maria do Carmo conclui sua fala ldquoo erotismo feminino mesmo que concebido apenas a partir da funccedilatildeo faacutelica indica um para aleacutem do faloPoreacutem no caso extremo desse erotismo louco e enigmaacutetico dentro da dialeacutetica entre o ter e o ser (o falo) matar o homem pode ser interpretado como afantasia que tornaria possiacutevel agrave mulher ter o falo e isso o filme mostra muito bemrdquo(9) Para concluir trago este recorte sobre o filme que encontrei emMulheres de hoje figuras do feminino no discurso analiacutetico - Boletim de 27 de dezembro de 2012 agraves 1754

ldquoEis o extremo do erotismo feminino ou o lado mortiacutefero do gozo feminino A fantasia pode ser um modo do sujeito se virar com a castraccedilatildeo um modoparadoxal de se virar com a exigecircncia pulsional Mas tambeacutem haacute outros modos de se enlaccedilar gozo e desejo Haacute outros modos de se arranjar com o erotismofemininordquo

Referecircncias

(1)MILLER J-A Todo mundo eacute louco Curso Orientaccedilatildeo lacaniana III 10 XVIII liccedilatildeo do Curso Paris 11 de junho de 2008

(2)ROTTERDAM Erasmo Elogio da Loucura Martin Claret Satildeo Paulo 2012 Traduccedilatildeo de Paulo Seacutergio Brandatildeo

(3)Lacan J Formulaccedilotildees sobre a causalidade psiacutequica Escritos Rio de Janeiro Jorge Zahar

(4) ROTTERDAM Erasmo Elogio da Loucura Martin Claret Satildeo Paulo 2012 Traduccedilatildeo de Paulo Seacutergio Brandatildeo

(5) LACAN J Seminaacuterio 23 O sinhtoma Jorge Zahar Rio de Janeiro p 122 123

(6) DIAS BATISTA M C Loucos de Paixatildeo EBP-SP na Casa das Rosas Texto apresentado na Conversa sobre Loucos de paixatildeo em 19102013

(7) MOTTA C G Las peliacuteculas que Lacan vio y aplicoacute al psicoanaacutelisis Buenos Aires Paidoacutes 2013

(8) LACAN J Seminaacuterio 23 O sinthoma Jorge Zahar Rio de Janeiro p 122 123

(9) DIAS BATISTA M C Loucos de Paixatildeo EBP-SP na Casa das Rosas Texto apresentado na Conversa sobre Loucos de paixatildeo em 19102013

TERRA DE SANTA CRUZ_____________________

22102016 wwwebpsporgbrindexphpview=articleamptype=rawampcatid=303Acarta-de-sao-paulo-onlineampid=8763Acarta-de-sao-paulo-online-5-nova-serie-ano-iiiamptmpl=componentampprint=1amplayout=defaultamppage=ampoption=com_contehellip

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BOLETIM HAUN

Leiam o boletim haun nuacutemero

httpwwwebporgbrhaunboletins011asp

ECOS DO MUNDO___________________________

Congresso da AMP ‐ Paris 2014

Boletim de Informaccedilatildeo do IX Congresso da AMP

Todos os Whatrsquos up estatildeo no site do Congresso em 5 idiomas

Franccedilais httpwwwcongresamp2014comfrWhats‐upWhatsUp_006pdf

Espantildeol httpwwwcongresamp2014comesWhats‐upWhatsUp_006pdf

Portugueacutes httpwwwcongresamp2014comptWhats‐upWhatsUp_006pdf

Italiano httpwwwcongresamp2014comitWhats‐upWhatsUp_006pdf

English httpwwwcongresamp2014comenWhats‐upWhatsUp_006pdf

ldquoLacan Cotidianordquo continua a ser veiculado em portuguecircs por nossas miacutedias traduccedilotildees realizadas por psicanalistas brasileiros sob a coordenaccedilatildeo de Maria do Carmo Dias Batista Pode‐se ler em portuguecircs os

artigos publicados acessando wwwebp‐spblogspotcombr

Os mesmos artigos e outros podem ser lidos no original francecircs httpwwwlac anquotidienfrblog

ENSINO DE LACAN__________________________

o psicanalista eacute colocado pelo discurso que o condiciona numa posiccedilatildeo digamos difiacutecil Por pouco que tenha praticado a anaacutelise o psicanalistasabe por experiecircncia proacutepria ter um denominador comum com o que eu digo

JACQUES LACAN O SEMINAacuteRIO - LIVRO 19 ou pior

AGENDA__________________________________

AGENDA- EBP SP

0611 - Seminaacuterio do Conselho - ou pior parte III - O Um Que Ele Natildeo Acesse o Dois cap XIII - Na base da diferenccedila dos sexos Apresentaccedilatildeo PaolaSalinas Coordenaccedilatildeo Luiz Fernando Carrijo da Cunha

08 e 0911 - Jornadas da EBP-SP 2013

Convidado Jorge Forbes - Coordenadora Geral Marizilda Paulino

22102016 wwwebpsporgbrindexphpview=articleamptype=rawampcatid=303Acarta-de-sao-paulo-onlineampid=8763Acarta-de-sao-paulo-online-5-nova-serie-ano-iiiamptmpl=componentampprint=1amplayout=defaultamppage=ampoption=com_contehellip

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1311 - Seminaacuterio do Conselho - ou pior parte III - O Um Que Ele Natildeo Acesse o Dois cap XIV - Teoria das quatro foacutermulas (palestra) ApresentaccedilatildeoMaria Bernadette Pitteri Coordenaccedilatildeo Luiz Fernando Carrijo da Cunha

2011 - Natildeo haveraacute atividade em Satildeo Paulo - Enapol em Buenos Aires

2711 - Natildeo haveraacute atividade em Satildeo Paulo

___________________________________________________________________________________

SECRETARIA DO PASSE - EBP

INFORMACcedilOtildeES Maria Ceciacutelia Galletti Ferretti

(11) 3675-2921 - (11) 99626-6225

___________________________________________________________________________________

Editora Bernadette Pitteri Revisora Daniela Affonso

Diretoria da EBPshy SP

Diretora Geral Marizilda PaulinoDiretora Secretmiddotriashy Tesoureira Maria Helena BarbosaDiretora de Intercsbquombio e CartEgraveis Caacutessia Maria Rumenos GuardadoDiretora de Biblioteca Cynthia Nunes de Freitas Farias

EBPshySP

Rua Jobdquoo Moura 627 cj 193CEP 05412shy001 shy Sbdquoo Paulo shy SP

Telefone 11 3081 8947Fax 11 3063 1626eshymail ebpspebpsporgbr wwwebpsporgbrBlog httpwwwebpspwordpresscom

Page 2: CARTA DE SÃO PAULO - ONLINE 5 - NOVA SÉRIE - ANO IIIebp.org.br/sp/wp-content/uploads/2016/11/ano-III-NS-005.pdf · proposto,Loucos de Paixão, a partir do filme “O império dos

22102016 wwwebpsporgbrindexphpview=articleamptype=rawampcatid=303Acarta-de-sao-paulo-onlineampid=8763Acarta-de-sao-paulo-online-5-nova-serie-ano-iiiamptmpl=componentampprint=1amplayout=defaultamppage=ampoption=com_contehellip

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Diretora Geral da EBP-SP

EBP-SP______________________________________________

DIRETORIA DE BIBLIOTECA

Noite da Biblioteca - EBP-SP

Resenha Elena documentaacuterio de Petra Costa

Cynthia N De Freitas Farias

ldquoVocecirc eacute minha memoacuteria inconsolaacutevel feita de pedra e sombra Eacute daiacute que tudo nasce e danccedilardquo1

Assim Petra Costa finaliza seu documentaacuterio sobre o suiciacutedio de sua irmatilde Elena Um filme autoral no qual demonstra de que maneira pela arteextraiu de uma perda irreparaacutevel um sentimento de vida

Para Maria Josefina Sota Fuentes convidada pela Diretoria da Seccedilatildeo para comentar o filme ldquoo sentimento de vida natildeo bastanascer para tecirc-lo O desejo de viver eacute uma construccedilatildeo no caso dela (Petra) poderiacuteamos pensar que seja um sinthomardquo

ldquoUm filme sobre a vidardquo eacute um dos ensinamentos que Maria Josefina extrai dessa experiecircncia Ao deixarmo-nos ensinar pelofilme segundo a indicaccedilatildeo de Lacan2 pudemos conversar juntamente com Maria Helena Barbosa coordenadora daatividade e com os demais presentes sobre aquilo que esse documentaacuterio fez ressoar em cada um de noacutes

Se num primeiro momento somos tomados pelo impacto de um indiziacutevel que mobiliza a anguacutestia e aponta para um mais aleacutem a beleza das imagens edas palavras vatildeo construindo um aparato um veacuteu Como disse Maria Josefina lembrando Lacan no Seminaacuterio 73 a beleza eacute este ultimo veacuteu diante damorte

Este documentaacuterio permite esclarecer segundo Maria Josefina o essencial da melancolia que aleacutem de uma crise no narcisismo como propocircs Lacan em1938 traz em seu bojo a passagem ao ato suicida um empuxo a se reunir ao outro no real Observa que algo da imagem natildeo se sustenta nessasmulheres e mais declaradamente em Elena que pelo ato suicida tentou reintegrar-se ao Outro O melancoacutelico coloca a ceacuteu aberto o ponto em que oOutro natildeo responde por estruturaPor meio deste filme a autora nos convida a pensar o suiciacutedio do lado das mulheres a partir da inconsistecircncia deum significante e da imagem para sustentar um corpo condiccedilatildeo a qual os sujeitos femininos estariam mais expostos Poreacutem a anguacutestia que o filmesuscita decorre do fato de que apesar de nossas referecircncias faacutelicas mais ou menos consistentes estamos todos sujeitos a esse deixar-se cair do corpo

Maria Helena aproxima as trecircs mulheres dos trecircs registros propostos por Lacan real simboacutelico e imaginaacuterio Elena busca o objeto no realsua matildee noimaginaacuterio repetindo o passado e Petra procura recuperaacute-lo no simboacutelico Trecircs formas de responder ao encontro com o objeto

O pai que se fezfaz presente pela mais profunda ausecircncia o traumatismo (troumatisme) vivido por Petra possivelmente permitindo que ela pudessedesconsistir o Outro e sublimar sua dor pela arte a forma como cada um dos sujeitos tentou se salvar agraves custas do outro foram questotildees evocadas pelaplateia

Elena viveu a morte fora da cena enquanto Petra coloca a morte em cena elaborando o luto dessa perda por meio de sua arte Arte esta que como elamesma diz faz parte da vida das mulheres dessa famiacutelia mas que por si soacute natildeo daria conta de afastaacute-la do lugar nefasto que sua matildee a colocaidentificando-a a Elena na tentativa de reparar sua perda A aposta de sua matildee no imaginaacuterio na intenccedilatildeo de obter uma resposta faz com que empenhesua vida reverberando a pergunta sem resposta sobre a morte prematura da filha Petra por sua vez faz seu apelo aos outros agraves terapias agraves quaissubmeteu-se agrave arte Serve-se desses outros para construir uma resposta singular Sua resposta a palavra que falta o indiziacutevel de sua experiecircnciaevoca-se ldquonas frestas da poesiardquo4

Notas

1Elena (Brasil 2012) Documentaacuterio dirigido por Petra Costa com roteiro de Carolina Ziskind e Petra Costa Produzido por Daniela Santos e Julia BockFotografia de Janice dAvila Miguel Vassy Will Etchebehere

2Lacan J (19652003) Homenagem a Marguerite Duras pelo arrebatamento de Lol V Stein In Outros escritos (pp 198-205) Rio de Janeiro Zahar

3Lacan J (1959-19601988) O seminaacuterio Livro VII a eacutetica da psicanaacutelise

Rio de Janeiro Jorge Zahar

4Elena (Brasil 2012)

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DIRETORIA DE INTERCAcircMBIO E CARTEacuteIS

Cinthia Busato Diretora de Intercacircmbio e Carteacuteis da EBP-SC e convidada para nossa Jornada de Carteacuteisdeste ano aborda em sua conferecircncia a importacircncia do trabalho em cartel para a formaccedilatildeo do analista destacando a questatildeoda ousadia e da coragem inerentes a esse laccedilo de trabalho inventado e proposto por Lacan para sua Escola

Maria de Lourdes Mattos a partir de duas referecircncias extraiacutedas do campo da arte e produzidas emmomentos histoacutericos distintos discute em seu trabalho da Jornada de Carteacuteis da EBP-SP - 2013 questotildees da atualidade dacliacutenica

Boa leitura a todos

Caacutessia Maria Rumenos Guardado

REFLEXOtildeES_________________________________________

BRASIL PSICANAacuteLISE MEDICINA EXTRATERRITORIAL MAIS AINDA

Niraldo de Oliveira Santos

Diretor de Ensino - CLIPP Diretor de Assistecircncia da Divisatildeo de Psicologia do Hospital das Cliacutenicas - SP

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O tema aqui discutido toma como eixo o texto transcrito a partir da participaccedilatildeo de Lacan em 1966numa mesa-redonda a convite de sua supervisionanda Jenny Aubry pediatra e psicanalista que atuava no pavilhatildeopediaacutetrico da Pitieacute-Salpetriegravere em Paris

Como deve ser do conhecimento de todos vocecircs a participaccedilatildeo de Lacan nesta mesa-redonda foi no miacutenimo polecircmica Umaversatildeo editada desta fala foi publicada na Revista Opccedilatildeo Lacaniana nuacutemero 32 de dezembro de 2001 sob o tiacutetulo ldquoO lugar dapsicanaacutelise na medicinardquo

Deste texto extraio trecircs pontos que considero de extremo valor para as questotildees relacionadas ao trabalho do psicanalista nas instituiccedilotildees de sauacutedeprincipalmente no acircmbito do hospital geral a saber a ruptura entre a demanda e o desejo do doente a noccedilatildeo de que o corpo eacute feito de gozo e que ocorpo goza e a condiccedilatildeo extraterritorial da psicanaacutelise em relaccedilatildeo aos demais discursos encontrados no hospital Para percorrer estes trecircs pontospretendo convidaacute-los para uma breve incursatildeo ao que vemosescutamos cotidianamente na instituiccedilatildeo hospitalar

Em uma porta de entrada temos os casos de urgecircnciaemergecircncia Sujeitos atropelados (muitas vezes literalmente) por um real que os convoca aperceber diante do horror a fragilidade da condiccedilatildeo humana amputaccedilatildeo de membros perda de uma funccedilatildeo vital queimaduras autoinfligidasqueimaduras em crianccedilas por negligecircncia ou maus-tratos tentativas de homiciacutedio ou suiciacutedio Acidentes vasculares cerebrais ou tantos outros quepressionam imediatamente o sujeito a lidar com a castraccedilatildeo ndash ou o retorno dela fazendo deste tropeccedilo com o real uma oportunidade uacutenica para oencontro com o psicanalista ainda que muitas vezes o sujeito natildeo encontre facilmente as palavras

Mas tambeacutem vemos por outra porta do hospital pacientes que explicitam de modo obsceno o gozo particular com ainstalaccedilatildeo na condiccedilatildeo de doente Nestes casos o ser diabeacutetico renal crocircnico asmaacutetico anoreacutexico buliacutemico eacute praticamenteindissociado de seu modo de se representar no mundo de tatildeo agarrados que satildeo aos significantes que arranjaram nascontingecircncias do destino

Nestes casos o psicanalista tambeacutem eacute solicitado a intervir pois satildeo pacientes frequentemente poliqueixosos natildeo aderentes aotratamento ndash ou excessivamente aderidos ao hospital e agraves equipes Estes pacientes natildeo raramente denunciam o fracasso dasterapecircuticas convencionais e confrontam os profissionais com a impotecircncia que o gozo e a pulsatildeo de morte sabem fazer tatildeobem

Neste ponto retomo um trecho de Lacan na referida participaccedilatildeo de 1966

Quando o doente eacute enviado ao meacutedico ou quando o aborda natildeo digam que ele espera pura e simplesmente a cura Ele potildee o meacutedico agrave prova de tiraacute-lo desua condiccedilatildeo de doente o que eacute totalmente diferente pois isto pode implicar que ele estaacute totalmente preso agrave ideia de conservaacute-la Ele vem agraves vezes nos pedirpara autenticaacute-lo como doente (Lacan 19662001 p 10)

Quando o meacutedico consegue reconhecer esta distacircncia entre a demanda e o desejo no paciente ele tambeacutem encaminha na melhor das hipoacuteteses opaciente para o psicanalista

Poreacutem tambeacutem eacute possiacutevel aos profissionais da equipe construiacuterem outras hipoacuteteses para o fracasso do tratamento e com isso empreenderem novasestrateacutegias investigativas ou novas terapecircuticas tomando mais ainda o corpo do paciente como uma peccedila a ser atravessada pelas mais modernasestrateacutegias das tecnociecircncias

Diante do paciente tomado de anguacutestia decorrente do encontro com o real ou daqueles outros bem instalados na posiccedilatildeo dedoentes de onde retiram sua quota cotidiana de gozo eacute esperado que o analista se posicione ofereccedila sua escuta e intervenccedilatildeondash o que a rigor em nada se diferencia do cotidiano da praacutetica realizada em seu consultoacuterio

Acontece que no hospital mais notadamente num hospital-escola algumas tensotildees merecem ser pontuadas

bull O empuxo agrave realizaccedilatildeo de protocolos de pesquisa e publicaccedilotildees em perioacutedicos cientiacuteficos indexados e que compartilham umacerta fobia ao meacutetodo psicanaliacutetico

bull A supervalorizaccedilatildeo da utilizaccedilatildeo de escalas testes questionaacuterios padronizados ndash tendo aqui seu aacutepice nos questionaacuterios de qualidade de vida

bull A insistecircncia em eliminar as diferenccedilas discursivas em nome de classificaccedilotildees diagnoacutesticas lipoaspiradas e ldquoateoacutericasrdquo dos manuais de classificaccedilatildeodiagnoacutestica

bull A monotonia das afirmaccedilotildees de eficaacutecia exclusiva das teacutecnicas cognitivo-comportamentais descritas como sendo de baixo custo e desenhadas visandoa educaccedilatildeo da pulsatildeo

Vale neste ponto lembrar a indicaccedilatildeo de Lacan no texto ldquoA direccedilatildeo do tratamento e os princiacutepios de seu poderrdquo de 1958 ldquoA mais aberrante educaccedilatildeonunca teve outro motivo senatildeo o bem do sujeitordquo

Os artigos cientiacuteficos derivados dos protocolos de pesquisa passaram a ser a moeda mais valiosa nos departamentos de um hospital-escola Existemdepartamentos que remuneram ou premiam agrave parte os autores dos artigos cientiacuteficos que contribuem para manter ou elevar a pontuaccedilatildeo da Disciplinajunto agraves agecircncias de fomento

Isto certamente natildeo eacute novidade mas expotildee uma tensatildeo para o psicanalista que pode ser assim resumida espera-seexige-se a construccedilatildeo de projetos depesquisa que incluam instrumentos padronizados ndash que quantifiquem os achados diagnoacutesticos ou estrateacutegias terapecircuticas ndash que facilitem a aceitaccedilatildeo narevista de alto impacto ndash que elevem a pontuaccedilatildeo do Departamento ndash que passa a receber mais recursos para seus projetos etc

No ano passado (todos vocecircs devem ter acompanhado) o Governo de Satildeo Paulo por meio da Secretaria Estadual da Sauacutede (SES) descredenciou oCentro de Referecircncia da Infacircncia e da Adolescecircncia (CRIA) que inclui prioritariamente profissionais psicanalistas e assumiu oficialmente (por meioda abertura de edital para credenciamento institucional) que serviccedilos de orientaccedilatildeo psicanaliacutetica natildeo poderiam se candidatar pois estes natildeo contamcom eficaacutecia comprovada Apoacutes uma seacuterie de manifestos no meio psicanaliacutetico a SES modificou o edital

Fato eacute que este acontecimento somado ao que temos visto no cotidiano da nossa praacutetica nos deixou uma questatildeo e algumas reflexotildees o fato de opsicanalista nas palavras de Lacan trabalhar na extraterritorialidade neste topos atoacutepico natildeo eacute diferente de se colocar num lugar de segregaccedilatildeoAfinal a extraterritorialidade se refere eacute sempre bom lembrar agrave falha epistemos-somaacutetica Trabalhamos com a consequecircncia desta falha e suamanifestaccedilatildeo de gozo e isto natildeo implica em nos privarmos das tensas interlocuccedilotildees com os mestres contemporacircneos

Expor os efeitos de nossa praacutetica e natildeo nos esquivarmos das tensotildees daiacute decorrentes eacute condiccedilatildeo necessaacuteria agrave permanecircncia nas instituiccedilotildees de sauacutedeAcontece que ouso interpretar por algum motivo alguns analistas que atuam em instituiccedilotildees de sauacutede parecem adotar uma certa posiccedilatildeo de inibiccedilatildeode alienaccedilatildeo ou de mortificaccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave poliacutetica implicada em seu ato

Aleacutem da poliacutetica implicada no ato do analista que visa confrontar o sujeito com eacutetica do desejo questiono se este natildeo teria tambeacutem que se posicionarquando seu lugar transferencial permitir diante daquilo que diz respeito ao funcionamento da instituiccedilatildeo de sauacutede

22102016 wwwebpsporgbrindexphpview=articleamptype=rawampcatid=303Acarta-de-sao-paulo-onlineampid=8763Acarta-de-sao-paulo-online-5-nova-serie-ano-iiiamptmpl=componentampprint=1amplayout=defaultamppage=ampoption=com_contehellip

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Temos acompanhado uma certa transformaccedilatildeo nos modelos de gerenciamento das instituiccedilotildees puacuteblicas O enfoque administrativo que imprime amarca empresarial na aacuterea da sauacutede puacuteblica atual tem como consequecircncia assim justificada a reduccedilatildeo de custos e a obtenccedilatildeo de lucro Como efeitoscolaterais temos a contrataccedilatildeo de profissionais despreparados via Organizaccedilotildees Sociais (OS) e salaacuterios cada vez mais defasados entre os funcionaacuteriospuacuteblicos concursados Essa vertente ldquoempresarialrdquo eacute verificada constantemente pelos dispositivos de precircmio de qualidade e anaacutelise de gestatildeo em sauacutedeSabemos que estas medidas trazem impactos na praacutetica assistencial do psicanalista e mais uma vez o convocam a construir estrateacutegias Um dosproblemas que temos enfrentado atualmente diz respeito agraves listas de espera para avaliaccedilatildeo diagnoacutestica e tratamentos ambulatoriais Temos colegascom uma centena de casos aguardando convocaccedilatildeo Por um lado nos perguntamos se isto aponta para a transferecircncia de trabalho endereccedilada aopsicanalista ou como eacute bem provaacutevel que em alguns casos uma dificuldade crescente dos profissionais da sauacutede em lidar com a queixa dos doentes

Nestes anos de trabalho em hospital geral tais impasses longe de nos fazerem recuar nos tecircm permitido convocar a presenccedilade colegas psicanalistas da EBP para a interlocuccedilatildeo no hospital fazendo da aridez da nossa praacutetica algo menos solitaacuterio Estasinterlocuccedilotildees permitiram incluir o Ensino de Lacan em nosso meio natildeo como a verdade mas como um dispositivo capaz defazecirc-la surgir ali mesmo onde tantos outros discursos tentam apagaacute-la em nome de um bem-estar higiecircnico

Lembro um comentaacuterio de Jorge Forbes em uma de suas participaccedilotildees junto agrave nossa equipe quando dizia que a formaccedilatildeo dopsicanalista deveria incluir a experiecircncia da atuaccedilatildeo num hospital geral A fala me remete ao fato de que no hospital temos ador e a deliacutecia de convivermos com os eixos cliacutenico poliacutetico institucional e sobretudo eacutetico do exerciacutecio da psicanaacutelise

Para concluir gostaria de retomar Lacan com um trecho de ldquoA Ciecircncia e a Verdaderdquo de 1965 Neste trecho assim considero vemos que nossos pontosde tensatildeo natildeo satildeo necessariamente com a ciecircncia mas sim com o emprego dela em alguns contextos

Que eacute impensaacutevel por exemplo que a psicanaacutelise como praacutetica que o inconsciente o de Freud como descoberta houvesse tidolugar antes do nascimento da ciecircncia no seacuteculo a que se chama seacuteculo do talento o XVII ndash ciecircncia a ser tomada no sentidoabsoluto no instante indicado sentido este que decerto natildeo apaga o que se instituiacutera antes sob esse mesmo nome poreacutem que emvez de encontrar nisso seu arcaiacutesmo extrai dali seu proacuteprio fio de uma maneira que melhor mostra sua diferenccedila de qualqueroutro () natildeo visamos dizendo isso da psicanaacutelise e da descoberta de Freud ao acidente de ter sido pelo fato de seus pacientesterem ido procuraacute-lo em nome da ciecircncia e do prestiacutegio que ela conferia () que Freud conseguiu fundar a psicanaacutelise descobrindo o inconscienteDizemos que foi esse mesmo cientificismo que conduziu Freud como nos demonstram seus escritos a abrir a via que para sempre levaraacute seu nome(Lacan 1965 p 871)

Referecircncias

LACAN J A direccedilatildeo do tratamento e os princiacutepios do seu poder (1958) In Escritos Jorge Zahar Ed Rio de Janeiro 1998

LACAN J A ciecircncia e a verdade (1965) In Escritos Jorge Zahar Ed Rio de Janeiro 1998

LACAN J O lugar da psicanaacutelise na medicina (1966) Opccedilatildeo Lacaniana Revista Brasileira Internacional de Psicanaacutelise Nuacutemero 32 dezembro de 2001

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O UacuteLTIMO LACANIANO

Rodrigo Camargo (Seccedilatildeo Cliacutenica ndash Clipp)

Lacan veio para esses lados de baixo do Equador uma uacutenica vez Foi no final de sua vida em 1980 num seminaacuterio proferido em Caracas VenezuelaAli ele pronunciou algo que ateacute hoje nos faz eco quando disse ldquoeu sou freudiano se vocecircs quiserem sejam lacanianosrdquo

Marcava-se assim mais-um efeito de retorno isto eacute Lacan retoma Lacan de Funccedilatildeo e Campo texto inaugural de seu ensinoem 1953 Desde ali foi o longo caminho de uma interrogaccedilatildeo Lacan soube como ningueacutem interrogar ininterruptamente aobra freudiana por quase cinco deacutecadas Provocou uma reviravolta na experiecircncia da psicanaacutelise fundando um campoespeciacutefico a saber o campo lacaniano (cf Seminaacuterio 17) Ser lacaniano entatildeo eacute interrogar a obra de Lacan

Quem fez isso com o maacuteximo de rigor e periacutecia foi ningueacutem menos do que Jacques-Alain Miller Precisamente Miller foi seuverdadeiro herdeiro intelectual Logo apoacutes a dissoluccedilatildeo da Eacutecole Freudienne de Paris Lacan tambeacutem disse ao-menos-umque me lecirc seria aqui desnecessaacuterio apontar a quem ele se referia Contudo isso nos coloca no iniacutecio de uma nova seacuterie dequestotildees

Se Lacan foi o ao-menos-um que leu Freud (todo seu ensino se fundamenta nesta loacutegica) Miller por seu turno foi um leitor contumaz de Lacan istoeacute temos assim constituiacuteda uma linha de passe que comeccedila com Freud passa por Lacan e hoje aterriza em Jacques-Alain Miller (nome quecuriosamente em portuguecircs-brasileiro faz homofonia com jaacute que ela eacute mulher)

Como ler hoje Freud sem conceber o inconsciente estruturado como linguagem Natildeo haacute como ir ateacute Freud seriamenteretornar a Freud sem pegar o contorno desenhado por Lacan Da mesma maneira natildeo temos condiccedilotildees de acessar Lacanatualmente sem passar pelo crivo de Jacques-Alain Miller (tanto parao bem quanto para o mal) No Brasil a entrada deLacan se confunde com a chegada de Miller Este eacute o sintoma de um Lacan brasileiro

Todo o esforccedilo o empenho e dedicaccedilatildeo do trabalho de elucidar Lacan faz de Miller o que consideraria ser o uacuteltimolacaniano Certamente ele natildeo foi o primeiro A histoacuteria nos conta isso Poreacutem a tese parece forte colocada assim de modoabrupto Jacques-Alain Miller eacute o uacuteltimo lacaniano simplesmente porque natildeo lemos mais Lacan sem dar mil voltas por eleseja acompanhando as liccedilotildees de seu curso de orientaccedilatildeo seja pegando o sentido oposto sem antes decidir tomaacute-lo comoreferecircncia negativa Depois de Miller natildeo resta mais duacutevida somos agora no miacutenimo lacano-americanos E isso natildeo eacute sem

consequecircncias no Brasil e principalmente aqui em Satildeo Paulo

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CIEN ndash ldquo Frente aos Protocolosrdquo ndash 2ordf Conversaccedilatildeo entre laboratoacuterios

Simone Brandatildeo de Carvalho e Silva

Participaram desta Conversaccedilatildeo que ocorreu em 04102013 dois laboratoacuterios ldquoAs Manifestaccedilotildees do Higienismo na Atualidaderdquo-SP e ldquoaFINARTErdquo-Ribeiratildeo Preto A Coordenadora do CIENndashSP Siglia Cruz de Saacute Leatildeo ressaltou a importacircncia destes encontros como momento preparatoacuterio para aVI Jornada Internacional do CIEN ldquoMe Inclui fora dessardquo ndash a buacutessola que cada um inventa que aconteceraacute na Argentina em novembro proacuteximo

O laboratoacuterio aFINARTE trouxe como vinheta praacutetica o relato de caso do CAPSi de Ribeiratildeo Preto intitulado ldquoUma Histoacuteria de Famiacuteliardquo Trata-se deuma famiacutelia de dependentes pai e quatro filhos usuaacuterios de substacircncias matildee tabagista Os dois filhos mais novos foram encaminhados ao CAPSiacompanhados dos pais e avoacutes Estes adolescentes tinham envolvimento com criminalidade eram usuaacuterios de drogas foram afastados da escola e

22102016 wwwebpsporgbrindexphpview=articleamptype=rawampcatid=303Acarta-de-sao-paulo-onlineampid=8763Acarta-de-sao-paulo-online-5-nova-serie-ano-iiiamptmpl=componentampprint=1amplayout=defaultamppage=ampoption=com_contehellip

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houve o pedido de reinserccedilatildeo escolar via Conselho Tutelar Esta situaccedilatildeo chamou atenccedilatildeo da psicoacuteloga e enfermeira queencontraram muitas dificuldades na conduccedilatildeo deste trabalho Os pacientes satildeo desinteressados faltosos e resistentes agravesatividades propostas rdquoFrente aos Protocolosrdquo tema desta conversaccedilatildeo provocou e convocou as profissionais participantes doCIEN a repensarem o modelo dos atendimentos propostos pela instituiccedilatildeo como o trabalho em grupo Perceberam que oolhar particularizado para cada um dos pacientes ndash irmatildeos ndash eacute o que de fato possibilitou o caminhar do trabalho emandamento

Heloisa Telles Psicanalista membro da EBPAMP foi a animadora da conversaccedilatildeo e ressaltou a complexa e difiacutecil situaccedilatildeoapresentada afirmando que eacute preciso estar atento na proacutepria organizaccedilatildeo do serviccedilo a ldquocomordquo escutar ldquoquemrdquo escutar e ldquooquecircrdquo escutar A situaccedilatildeo relatada exigiu das profissionais uma escuta atenta acarretando mudanccedilas na forma de acolhimento Em regra o que seespera do trabalho no CAPSi eacute a inclusatildeo e a reinserccedilatildeo familiar Ficou explicitado neste relato a necessidade de acolher o ldquosaberrdquo do sujeito sujeitoeste que na maioria das vezes ignora ser ele proacuteprio a sede de seu saber A partir desta orientaccedilatildeo torna-se possiacutevel o sujeito formar laccedilos o que olevaraacute agrave inserccedilatildeo social O escutar cada um esta invenccedilatildeo singular precisa estar do lado dos profissionais e eacute a partir deste ponto que se torna possiacutevelsustentar o trabalho A organizaccedilatildeo da instituiccedilatildeo eacute necessaacuteria e diferente do protocolo O protocolo recai sobre a orientaccedilatildeo quando esta no afatilde douniversal natildeo leva em conta a particularidade de cada situaccedilatildeo apresentada

O laboratoacuterio ldquoAs manifestaccedilotildees do Higienismo na Atualidaderdquo apresentou vinheta praacutetica e articulaccedilotildees teoacutericas sobre estetema vasto e polecircmico As primeiras praacuteticas higienistas e a cura das enfermidades sempre estiveram sob o poder meacutedicoSobre a medicalizaccedilatildeo na infacircncia traz um dito popular ldquoeacute de pequenino que se torce o pepinordquo para justificar amedicalizaccedilatildeo precoce O vivo da praacutetica deste laboratoacuterio nos fala de um menino de seis anos que desde os trecircs mora emcasa de Acolhimento Na 1ordf instituiccedilatildeo que frequentou os cuidadores natildeo se envolviam muito com o caso jaacute na 2ordf para ondefoi transferido junto com o irmatildeo os teacutecnicos eram mais interessados Precocemente teve o diagnoacutestico de TDAH Estaacute emtratamento psiquiaacutetrico e faz uso de Ritalina Passou por psicoterapias e hoje estaacute em tratamento psicanaliacutetico Algumas

mudanccedilas em seu comportamento de hiperatividade jaacute estatildeo sendo percebidas algo que toca seu diagnoacutestico precoce Nas discussotildees relativas a essavinheta tratou-se do abandono por parte da famiacutelia e da falta de apropriaccedilatildeo da crianccedila de sua proacutepria histoacuteria O cuidador eacute sempre visto comoaquele que tem o saber sobre a crianccedila O passado fica sempre perdido as expectativas futuras tambeacutem natildeo satildeo apontadas e a historia eacute o presente apartir do cuidador que natildeo busca o saber na crianccedila

Em todo esse processo como se articula a rede de proteccedilatildeo e qual seria a funccedilatildeo do cuidador O hospitalismo a funccedilatildeo da matildee e a maternagem oabrigo a instituiccedilatildeo de acolhimento foram temas abordados e debatidos E ainda a questatildeo do ldquosaber e segredordquo da crianccedila o diagnoacutestico precoceapontando para um apagamento do sujeito Em relaccedilatildeo aos cuidadores aparece o ldquoanonimatordquo ndash e o que precisa ser transmitido agrave crianccedila eacutejustamente um desejo que natildeo seja anocircnimo A respeito do silecircncio na histoacuteria da crianccedila quanto ao seu passado e futuro o preenchimento desse vaziogeralmente eacute feito pelo adulto que cuida esvaziando a possibilidade de a crianccedila existir diante de seu ldquosaber e seu segredordquo lugar este que estaacute semprepor vir ndash construccedilatildeo particular de cada um ndash precisando ser respeitado Eacute exatamente neste aspecto que as vivecircncias do CIEN contribuem ajudandona visualizaccedilatildeo de que algo natildeo seraacute preenchido e que eacute neste espaccedilo dito ldquovaziordquo que alguns impasses poderatildeo ser transpostos Isso que eacute da estruturado humano do lugar do mal-estar geralmente eacute visto como fracasso e capturado pelo diagnoacutestico pela medicalizaccedilatildeo e outros apagamentos

Aleacutem dos relatos apresentados e comentados pelos laboratoacuterios a praacutetica das conversaccedilotildees entre os laboratoacuterios do CIENmostram-se efetivas Participantes do CIEN e o puacuteblico interrogam-se sobre as vinhetas praacuteticas ldquoo que pensar sobre a casade acolhimento que finalmente fica com a crianccedila quando todas as outras instituiccedilotildees a recusamrdquo Questotildees de ordem eacutetica epoliacutetica satildeo levantadas sobre a funccedilatildeo do CIEN o que o difere das equipes multidisciplinares O que eacute o interdisciplinar queo CIEN propotildee Por que eacute necessaacuterio a presenccedila do analista no CIEN O espaccedilo que hoje se utiliza para conversaccedilatildeo entre oslaboratoacuterios do CIEN marca o desejo dos participantes de que essa praacutetica continue ela nos eacute uacutetil e se faz necessaacuteria

REFLEXOtildeES - TRABALHOS EM CARTEL_______________

A IMPORTAcircNCIA DO TRABALHO EM CARTEL PARA A FORMACcedilAtildeO DO ANALISTA

Cinthia Busato

Comeccedilo agradecendo o gentil convite de Caacutessia para que eu falasse aqui hoje Gentil em vaacuterios aspectos o primeiro que vou abordar eacute o da aposta eudiria inclusive da ousadia de convidar algueacutem que acabou de entrar como membro da EBP e que natildeo tem um percurso tatildeo longo como tantos colegasdentro dessa Escola Fui convidada como Diretora de Carteacuteis da Seccedilatildeo Santa Catarina e me autorizei a aceitar esse convite acreditem natildeo sem receiopara falar de um tema que sempre me causou sempre mobilizou meu percurso dentro da Escola que eacute exatamente o cartel

Desde que comecei a estudar a psicanaacutelise lacaniana faccedilo carteacuteis muitas vezes dois ao mesmo tempo E desde o iniacutecio me apaixonei pela loacutegica quefunda o cartel O ldquopor sua conta e riscordquo sempre me estimulou a valorizar o que tenho de melhor em mim o que ainda natildeo sei Era assim que euchamava o que com Lacan aprendi a chamar de natildeo-todo e achei mais adequado este termo pois ldquoo que ainda natildeo seirdquo pode ser entendido tambeacutemcomo ldquoum dia vou saber tudordquo em que de fato nunca acreditei

Poder estar com pessoas que escolho para conversar debater natildeo saber temas que me interessam e a partir daiacute construir algum saber sobre issosempre me ajudou a construir tanto um saber teoacuterico que me apoia quanto a minha relaccedilatildeo com a Escola

Bem no iniacutecio do meu percurso lacaniano escrevi um texto chamado ldquoQuem ousa errardquo que comeccedila assim ldquoTemos na neurose duas possibilidadesfrente a esta afirmaccedilatildeo o obsessivo natildeo ousa para natildeo errar a histeacuterica finge que ousa para provar que natildeo erra A psicanaacutelise propotildee uma terceira saiacutedaousar sabendo que o erro eacute possiacutevel Mais do que isso aposta no erro como caminho em direccedilatildeo ao fracasso do Ideal este que dita o que eacute errado Para apsicanaacutelise natildeo eacute errando que se aprende portanto acerta mas eacute ousando errar que se escreve o nome proacuteprio nome que aponta na direccedilatildeo do impossiacutevelOusadia natildeo eacute o mesmo que ser afoito ou desafiador Confunde-se hoje pressa afobaccedilatildeo atitude desafiadora com ousadia Erro grave O ousado pode sermuito lento O ousado natildeo baniu o medo resolveu seguir com ele O ousado suporta a falta coisa que o afoito ansioso natildeo tolera O ousado vislumbra oimpossiacutevel coisa que o afoito ansioso natildeo tolera O ousado a-risca imprime marca singular no seu ato Ao desafiador importa mais destruir a marca dooutro Por que este elogio agrave ousadia Porque frente agrave padronizaccedilatildeo ao horror ao erro a sair do padratildeo a ousadia estaacute cada vez mais rara e o que apareceem seu lugar eacute a pressa e a atitude desafiadora por si soacute Estas satildeo impedimentos ao laccedilo social pois promovem um investimento maior em banir a faltafortalecendo a imagem narciacutesica especular do que em criar possibilidades de lidar com as diferenccedilas fundamental para o laccedilo socialrdquo(1)

Vou comeccedilar a pensar daiacute a importacircncia do cartel para a formaccedilatildeo do analista e tambeacutem o dispositivo cartel no seacuteculo XXI Muito me ajudou o textode Vilma Coccoz (2) ldquoO cartel um novo laccedilordquo publicado no Boletim Uno por uno 10 que estaacute na paacutegina da NEL-Meacutexico

No texto ldquoDa psicanaacutelise em suas relaccedilotildees com a realidaderdquo (3) Lacan nos diz que ldquoOs psicanalistas satildeo saacutebios de um saber que natildeo podemcultivarconversardaiacute sua associaccedilatildeo com aqueles que soacute compartilham com ele esse saber por natildeo poder trocaacute-lointercambiaacute-lordquo Uma das vias para serelacionar com essa impossibilidade de comunicaccedilatildeo eacute a proacutepria anaacutelise mas o saber construiacutedo em uma anaacutelise eacute limitado podemos saber dadeterminaccedilatildeo inconsciente sobre o ser falante saber do gozo particular que obtemos com nosso sintoma Mas o sujeito nada pode saber do sentido do

22102016 wwwebpsporgbrindexphpview=articleamptype=rawampcatid=303Acarta-de-sao-paulo-onlineampid=8763Acarta-de-sao-paulo-online-5-nova-serie-ano-iiiamptmpl=componentampprint=1amplayout=defaultamppage=ampoption=com_contehellip

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sintoma do outro da satisfaccedilatildeo que esses sintomas produzem Para poder permitir ao outro o acesso a este saber natildeo basta tecirc-lo conquistado haacute queconsentir com o passe onde algo se pode transmitir mesmo que natildeo seja tudo Entatildeo mesmo que sejam eruditos em um saber sobre a estrutura ospsicanalistas natildeo se reuacutenem como saacutebios para conversar sobre seu saber e ampliar o campo da erudiccedilatildeo mas se associam justamente pelo contraacuteriopor uma impossibilidade de conversar As formas que Lacan propotildee para a organizaccedilatildeo dos analistas seguem a referecircncia da distinccedilatildeo entre o laccedilocoletivo onde a referecircncia eacute o ideal que satura a falta e a loacutegica coletiva que se situa em relaccedilatildeo agrave falta do Outro que indica o furo no saber Tanto opasse quanto o cartel se inserem nessa loacutegica numa tensatildeo entre o que entra no laccedilo social e o que natildeo eacute coletivizaacutevel de cada um

Eacute nesse ponto que o Cartel encontra a especificidade de sua funccedilatildeo ser a dobradiccedila ser a articulaccedilatildeo entre o psicanalista na solidatildeo de seu ato e aEscola onde os analistas trabalham para a transmissatildeo da psicanaacutelise Se pudeacutessemos transmitir tudo o que restaria Eu imagino que teacutedio pois sefosse possiacutevel transmitir tudo a arte natildeo teria funccedilatildeo nem a psicanaacutelise

Entatildeo acho que a psicanaacutelise traz inoculado dentro de seu discurso esse saber que eacute o que faz de mim uma otimista em relaccedilatildeo agrave psicanaacutelise no seacuteculoXXI saber que natildeo sabe tudo saber que estamos marcados no corpo pela palavra e que isso nos coloca como sujeitos divididos entre uma verdade quenos habita e imprime nosso estilo e um saber que vai sendo construiacutedo a partir dela

Essa verdade o Um que marca alguma coisa do real do gozo eacute o que vai orientar o sujeito em sua nomeaccedilatildeo sintomaacutetica seu ldquosintoma como aparelhoindividual para situar o objeto pequeno a essa parte elaboraacutevel do gozordquo(4) O que seria ousado aqui que eacute a proposta da psicanaacutelise eacute suportar o vaziode significado ao inveacutes de tamponaacute-lo Eacute colocar o objeto pequeno a como causa de desejo e natildeo como objeto de mercado atrelado a um mais-de-gozarldquoNa perspectiva do uacuteltimo ensino de Lacan trata-se sobretudo de captar a maneira pela qual o sujeito estaacute articulado ao Outro pelas operaccedilotildees de batismoessenciais de seu sinthoma de um gozo que se esquiva a ser inscrito de uma vez por todas no lugar do Outrordquo (5) Ousar eacute fazer do vazio angustiante eenigmaacutetico uma marca proacutepria

A psicanaacutelise efetuou uma subversatildeo na loacutegica numeacuterica Aqui a sequecircncia deixa de ser 123 para ser 132 jaacute que para sair da loacutegica especular quede 2 faz 1 o sujeito precisa encontrar o 3 o terceiro termo aquele que traz a possibilidade de exclusatildeo imprescindiacutevel para a elaboraccedilatildeo da castraccedilatildeoEacute o que salva o sujeito do paraiacuteso da simbiose da natildeo diferenccedila Eacute ele que possibilita o aparecimento do 2 a manutenccedilatildeo de dois sujeitos que suportama diferenccedila No 2 o paraiacuteso sem garantias o paraiacuteso do desejo de uma inquietude que ousa em direccedilatildeo ao enigma do Outro e natildeo da inquietude quetenta negaacute-lo

O sintoma para a psicanaacutelise tem duas vertentes a vertente do sofrimento (gozo do sintoma) e a vertente do enigma (sentido do sintoma)Normalmente eacute pela vertente do sofrimento que um sujeito chega na anaacutelise mas para que esta se constitua como anaacutelise eacute preciso que seja propiciadoum querer saber do seu sintoma que o desejo de desvendar o enigma proacuteprio seja despertado A demanda terapecircutica pode ser unicamente se livrar deseu sofrimento e muitas terapias estatildeo aiacute para mostrar que isso eacute possiacutevel muitas vezes simplesmente trocando o Ideal ldquoconsertandordquo tapando furosno Ideal manco ou trocando por um novinho em folha O discurso messiacircnico eacute um bom exemplo Nada de marca singular aqui se trata de rebanhosAposta-se sempre no paraiacuteso futuro sem faltas com a garantia de completude e satisfaccedilatildeo Mas como analistas sabemos que o furo eacute de estruturaportanto sempre aparece Esse eacute nosso horror e nossa salvaccedilatildeo

Voltando ao iniacutecio o obsessivo natildeo ousando para natildeo errar se manteacutem mais preso a uma perpeacutetua tentativa de controle A histeacuterica fingindo ousarpara provar que natildeo erra que um dia seraacute ela proacutepria A Mulher natildeo conhece aliacutevio dessa tensatildeo Em ambos o 2 natildeo se estabelece a impotecircncia natildeofoi elaborada pelo saber de sua verdade singular que permite tratar o furo como impossiacutevel

Termino com uma citaccedilatildeo de Ana Luacutecia Lutterbach-Holck ldquoLacan jaacute na eacutepoca do seminaacuterio 1 nos aponta o melhor remeacutedio para enfrentar a ciecircnciada felicidade e suas cifras a coragem A coragem como nos falou Badiou natildeo eacute um momento heroico em que se coloca face ao impossiacutevel mas umavirtude construiacuteda na praacutetica para se sustentar no impossiacutevel A coragem pode ser algo que nos oriente localmente na desorientaccedilatildeo globalrdquo (6)

ldquoTodo caminho da gente eacute resvaloso

Mas tambeacutem cair natildeo prejudica ndash nada demais ndash a gente levanta a gente sobe a gente voltahellip

O correr da vida embrulha tudo a vida eacute assim esquenta e esfria aperta e daiacute

Afrouxa sossega e depois desinquieta

O que ela quer da gente eacute coragemrdquo Guimaratildees Rosa

Referecircncias

1BUSATO Ciacutenthia Quem ousa erra Atas da V Jornada da seccedilatildeo Santa Catarina

2COCCOZ Vilma Em httppequenaleiturablogspotcombr201211el-cartel-un-nuevo-lazo-por-vilma-coccozhtml

3LACAN Jacques Da psicanaacutelise em sua relaccedilatildeo com a realidade in Novos escritos p 358

4MILLER Jacques-Alain ldquoO sintoma como aparelhordquo in O sintoma Charlatatildeo p16 Rio de Janeiro Jorge Zahar Ed 1998 ( Campo Freudiano do Brasil)

5MILLER Jacques-Alain ldquo Nascimento do Sujeito Suposto Saberrdquo In Correio nuacutemero 60 p 19 -Cliacutenica e Pragmaacutetica 2008

6LUTTERBACH-HOLCK Ana Luacutecia ldquoDepressatildeo felicidade e algo maisrdquo in Opccedilatildeo Lacaniana - nordm 51 p 8 - Abril 2008

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UM BONECO VIVO

Maria de Lourdes Mattos

A partir de duas referecircncias extraiacutedas do campo da arte produzidas em momentos histoacutericos distintos pretendo contribuir com questotildees daatualidade da cliacutenica

Inicialmente me pergunto sobre a possibilidade de diaacutelogo entre duas produccedilotildees bem distintas uma extraiacuteda da literaturafantaacutestica do seacuteculo XIX e a outra do cinema do seacuteculo XXI Na primeira haacute a duacutevida se um ser aparentemente animadotem vida e na segunda produccedilatildeo onde essa duacutevida natildeo se apresenta aparece a questatildeo da mudanccedila de sexo um homemcompulsoriamente eacute transformado em mulher Talvez a metaacutefora de um ldquoboneco vivordquo e de um ldquovivo como um bonecordquoaproxima e distancia essas duas produccedilotildees

Trata-se de ldquoO homem de areiardquo escrito por Hoffmann (1) em 1817 e que inspirou Freud (2) com o texto ldquoO estranhordquoelaborado em 1919 e do filme ldquoA pele que habitordquo de Pedro Almodoacutevar realizado em 2011

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Na introduccedilatildeo ao conto Italo Calvino (3) considerou ldquoA descoberta do inconsciente ocorre precisamente aqui na literaturaromacircntica fantaacutestica quase cem anos antes que lhe seja dada uma referecircncia teoacutericardquo

No conto o jovem Natanael identifica o ldquohomem de areiardquo aquele que arrancava o olho das crianccedilas com o advogadoCoppelius amigo do pai cuja morte ocorreu no escritoacuterio por uma explosatildeo apoacutes visita do advogado que desaparece depoisdesse acontecimento O fantasma do homem que arrancava o olho das crianccedilas acompanha a vida de Natanael e reaparece emsua eacutepoca de estudante na figura do oculista Coppola vendedor de barocircmetros que lhe vende um telescoacutepio Com esseinstrumento o jovem observa a casa da frente do professor de fiacutesica Spallanzani espiando a bela filha Oliacutempia silenciosa eimoacutevel Apaixona-se por ela esquecendo-se de sua noiva Mas Oliacutempia eacute um autocircmato um boneco produzido pelo professorcujos olhos foram colocados por Coppola o homem de areia Em dado momento na tentativa de proteger Oliacutempia o joveminvade a casa do professor que discutia ferozmente com o oculista Na disputa entre os dois ldquocientistasrdquo a boneca eacutedespedaccedilada e seus olhos satildeo arremessados no peito de Natanael que nesse momento sucumbe agrave loucura Ao se recuperar ojovem retoma suas atividades e seu relacionamento com a noiva Em um passeio com ela resolvem observar a cidade do altode uma torre Fazendo uso do telescoacutepio ao observar a paisagem avista o professor Coppola o que ocasiona novo ataque deloucura e passagem ao ato Gritando ldquogira bonequinha de pau Bonequinha de pau girardquo tenta arremessar a noiva do altoda torre que eacute salva pelo irmatildeo Continuando seu ataque com os berros ldquolindos olhos lindos olhosrdquo atira-se do alto datorre

De acordo com Freud (4) o estranho algo assustador que remete ao que eacute familiar e deveria permanecer oculto estaacute ligado agrave figura do Homem deAreia aquele que tira os olhos das crianccedilas A duacutevida quanto agrave boneca se eacute um ser vivo ou inanimado eacute irrelevante em termos de estranheza Freudrelaciona o medo de perder os olhos ao complexo de castraccedilatildeo substituindo ldquoo Homem de Areia ao pai temido de cujas matildeos eacute esperada a castraccedilatildeordquoOsinventores da boneca seriam a reencarnaccedilatildeo dos pais de Natanael e Oliacutempia a ldquomaterializaccedilatildeo da atitude feminina de Natanael em relaccedilatildeo ao pai na suainfacircnciardquo O amor que o jovem sente pela boneca seria a expressatildeo da forma do amor narciacutesico

Entre os temas ligados ao estranho Freud destaca o fenocircmeno do duplo e o efeito produzido quando algo da ordem doimaginaacuterio aparece na realidade ou seja quando desaparece a distinccedilatildeo entre o imaginaacuterio e a realidade (5) Lacan (6)enfatiza a importacircncia da localizaccedilatildeo de Freud no texto de Hoffmann do fenocircmeno do estranho para tratar a anguacutestiaQuando algo que deveria permanecer oculto vem agrave luz ldquoa imagem especular transforma-se na imagem do duplordquo Segundo elena histoacuteria de ldquoO homem de areia vemos o sujeito saltar de uma captaccedilatildeo para outra diante da forma de imagem quematerializa A boneca eacute essa imagem iacute(a) na operaccedilatildeo de complementaacute-la com aquilo que na proacutepria forma do conto eacuteabsolutamente distinto dela ou seja o olho O olho de que se trata soacute pode ser o do heroacutei (Natanael)rdquo Considera a preciosidadedo campo da ficccedilatildeo na experiecircncia do estranho (unnheimlich) para localizar o campo da fantasia

O veacuteu da fantasia protege o real Na contemporaneidade com a crise do simboacutelico talvez seja vaacutelido considerar quecarecemos dessa proteccedilatildeo

Em entrevista para a EBP-MG (7) Franccedilois Ansermet considera que os avanccedilos da ciecircncia colocam em crise o simboacutelico ao mesmo tempo que aopretender tratar o real o produz cada vez mais gerando novas questotildees Levando em conta a especificidade de cada abordagem refere que natildeo soacute aciecircncia e a psicanaacutelise tratam o real mas a arte tambeacutem e sua particularidade estaacute em ir direto ao ponto

O filme de Pedro Almodoacutevar eacute um exemplo disso Em ldquoA pele que habitordquo procura-se produzir a coacutepia de uma mulher como se fosse um ldquoclonerdquo apartir do corpo de um homem Eacute o duplo da ciecircncia Para aleacutem da era da maacutequina da produccedilatildeo dos robocircs um dos temas do seacuteculo XXI eacute abiotecnologia de reproduccedilatildeo da mudanccedila de sexo o que segundo Ansermet pode fazer a realidade delirar

Antocircnio Banderas interpreta um cirurgiatildeo plaacutestico o Dr Robert Ledgard que perdeu a mulher queimada num acidente decarro Inventa uma nova pele com a qual poderia salvaacute-la Para fazer uso de seu experimento utiliza o corpo de Vicente (8)que supostamente violentou sexualmente sua filha Norma (9) No seu laboratoacuterio Dr Robert produz a bela mulher no corpode seu prisioneiro Vera (10) eacute o resultado da invenccedilatildeo Mas algo escapa ao poder ilimitado da ciecircncia Vicente continuahabitando o corpo da bela mulher

No Seminaacuterio sobre o Sinthoma(11) Lacan refere que a psicanaacutelise ao considerar o sujeito dividido pela operaccedilatildeo dalinguagem encontra sua difusatildeo ao questionar a ciecircncia que faz de um objeto um sujeito

Ser homem ou mulher vai aleacutem da diferenccedila anatocircmica entre os sexos supotildee uma implicaccedilatildeo subjetiva do sexo A partir das foacutermulas de sexuaccedilatildeo(12) Lacan elucidou que haacute diversas maneiras de o sujeito inscrever seu corpo e seu gozo em relaccedilatildeo ao significante faacutelico

Referecircncias

(1) (HOFFMANN ETA ldquoO homem de areiardquo In Contos fantaacutesticos do seacuteculo XIX o fantaacutestico visionaacuterio e o fantaacutestico cotidianoorg de Italo Calvino ndash SPCompanhia de Letras 2004 p 49-81

(2)FREUD S ldquoO estranhordquo In Obras Completas RJ Imago 1996 p 234-69

(3) HOFFMANN ETA op cit p 49

(4) FREUD S opcit

(5) FREUD S Op cit p 261

(6) LACAN J ldquoO seminaacuterio livro 10 a anguacutestiardquo RJ Zahar 2005 p57-9

(7) Boletim Sinapsy Entrevista de Franccedilois Ansermet para a XVIII Jornada da EBP-MG

(8) Vicente eacute interpretado por Jan Cornet

(9) Norma eacute interpretada por Bianca Suarez

(10) Vera eacute interpretada por Elena Anaya

(11) LACAN J ldquoO seminaacuterio livro 23 o sinthomardquo RJ Zahar 2007 p

(12) LACAN J ldquoO seminaacuterio livro 20 mais aindardquo RJ Zahar

SAtildeO PAULO DE PIRATININGA____________________

22102016 wwwebpsporgbrindexphpview=articleamptype=rawampcatid=303Acarta-de-sao-paulo-onlineampid=8763Acarta-de-sao-paulo-online-5-nova-serie-ano-iiiamptmpl=componentampprint=1amplayout=defaultamppage=ampoption=com_contehellip

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EBP-SP na Casa das Rosas (Avenida Paulista 19102013)

LOUCOS DE PAIXAtildeO

Maria do Carmo Dias Batista

Pensei em trabalhar o tema ldquoLoucos de Paixatildeordquo atraveacutes do cinema desde o momento em que recebi o convite da Diretora da EBP-SP MarizildaPaulino a quem agradeccedilo A Perpeacutetua Medrado Gonccedilalves que haacute vaacuterios anos participa deste evento e assim sustenta uma possibilidade de inserccedilatildeoda EBP-SP na Cidade gostaria de aleacutem de agradecer pelo longo tempo de trabalho conjunto fazer um elogio Um elogio agrave loucura ao deliacuterio de suacrenccedila inquebrantaacutevel na Escola e no trabalho com a doenccedila mental baseando-me na formulaccedilatildeo de Jacques-Alain Miller da generalizaccedilatildeo dodeliacuterio todos os nossos discursos satildeo delirantes satildeo defesas contra o real (1) Agradeccedilo ainda a Cynthia Nunes de Freitas Diretora de Biblioteca deEBP-SP que participa da organizaccedilatildeo deste evento e de muito outros com o objetivo de ampliar a presenccedila do Campo Freudiano

Falar de cinema e psicanaacutelise eacute falar da psicanaacutelise aplicada a uma das manifestaccedilotildees mais importantes da cultura desde suainvenccedilatildeo no seacuteculo XX O cinema se inseriu na sociedade de forma contundente como se houvesse uma sede da ficccedilatildeomostrada em imagens em movimento Produziu uma identificaccedilatildeo maciccedila A literatura a muacutesica a oacutepera natildeo bastavam mais

Aplicar a psicanaacutelise ao cinema natildeo eacute psicanalizar diretores autores atores mas como durante mais de quinze anos meuquerido Marco Antocircnio Guerra e eu colocamos em praacutetica no Seminaacuterio de Cinema e Psicanaacutelise trata-se de sacudir atualizar os conceitos dapsicanaacutelise atraveacutes dos excelentes exemplos oferecidos pelo cinema

O tema ldquoLoucos de Paixatildeordquo nos inspirou a escolher para a conversa de hoje o filme ldquoO Impeacuterio dos Sentidosrdquo como vocecircs acabaram de escutar e saberatraveacutes da bela fala de Marco Esse foi um dos filmes que Lacan viu e aplicou agrave psicanaacutelise (conforme tiacutetulo do livro de Carlos Gustavo Motta Laspeliacuteculas que Lacan vio y aplicoacute al psicoanaacutelisis) (2) A referecircncia estaacute no Seminaacuterio 23 (3) de 1976 mesmo ano de lanccedilamento do filme Lacan conta aseu auditoacuterio que esteve em uma salinha de projeccedilatildeo reservada e escondida em Paris pois o filme estava censurado Convidou algumas pessoas de suaEscola e todos segundo Lacan saiacuteram embasbacados (souffleacutees) assombrados O efeito provocado pelo filme em Lacan deve-se a ter nele localizadoum exemplo surpreendente do erotismo feminino Ele natildeo esperava ver isso em um filme japonecircs e comeccedilou entatildeo a compreender o poder dasjaponesas

No filme o erotismo feminino foi levado ao extremo e esse extremo eacute a fantasia de matar o homem Poreacutem continua Lacan isso natildeo basta Depois detecirc-lo matado vai mais longe Depois a japonesa corta o pecircnis de seu parceiro Por que depois Talvez possamos entender a partir do que disse Marcoela corta o pecircnis depois porque matar o homem foi um ato falho inesperado uma forccedila um pouco maior no garrote que tinha por objetivo obter maisuma ereccedilatildeo Mais uma ereccedilatildeo ainda

O filme se baseia em coisas que de fato aconteceram no Japatildeo em 1936 agraves veacutesperas da invasatildeo da China Errar pelas ruas de Toacutekio por quatro diascarregando apertado junto ao corpo o pecircnis do morto envolto em um lenccedilo de seda vermelho ateacute ser presa indica talvez o ato falho Essa tambeacutem eacute aopiniatildeo de Carlos Gustavo Motta que diz ao voltar do intenso cliacutemax descobre que seu amante morreu (4)

Lacan se pergunta por que ela natildeo o cortou antes independente do que ocorreu na realidade para reafirmar que a fantasiaextrema do erotismo feminino eacute matar o homem e natildeo castraacute-lo Se a fantasia do homem eacute fetichista e ele faz amor com asfantasias de seu inconsciente a fantasia da mulher como nos eacute demonstrado pelo filme eacute alguma coisa que de todo modoimpede o encontro pois natildeo tem limite visa um gozo ilimitado A mulher natildeo eacute [toda] determinada por seu inconsciente

A sexualidade para Freud se inscreve na fantasia inconsciente e esse eacute o campo por excelecircncia do erotismo Atraveacutes daconstruccedilatildeo fantasiacutestica do corpo eroacutegeno o humano se diferencia dos outros animais e das teacutecnicas comportamentaisdefendidas pela sexologia centrada no corpo bioloacutegico

A possibilidade de constituiccedilatildeo do corpo eroacutegeno atraveacutes da relaccedilatildeo com o Outro eacute o avanccedilo em direccedilatildeo agrave vida eroacuteticacriativa onde o velamento excita e incita ao deciframento do enigma que por sua vez nunca se alcanccedila e sempre eacute mantido pela forccedila da pulsatildeo Este eacuteo ponto central da genial descoberta de Freud pois ateacute o seacuteculo XIX a sexualidade era identificada com o registro da reproduccedilatildeo bioloacutegica

Assim parece claro que a mulher ocupe para o homem pelo menos no que se refere ao gozo faacutelico o lugar de fetiche Poreacutem caberia perguntar aindapor que eacute a mulher que deve ocupar esse lugar de falo ou de objeto Segundo Lacan eacute por ter o oacutergatildeo faacutelico que o homem natildeo eacute o falo o que implicaque a mulher possa ser o falo Eacute por natildeo ter o falo que a mulher adquire seu valor

O erotismo feminino mesmo que concebido apenas a partir da funccedilatildeo faacutelica indica um para aleacutem do falo Poreacutem no caso extremo desse erotismolouco e enigmaacutetico dentro da dialeacutetica entre o ter e o ser (o falo) matar o homem pode ser interpretado como a fantasia que tornaria possiacutevel agrave mulherter o falo e isso o filme mostra muito bem Obrigada

Referecircncias

(1) MILLER J-A ldquoClinique ironiquerdquo La Cause freudienne ndash Revue de lrsquoECF Paris ECF n 23 p 7

(2) MOTTA C G Las peliacuteculas que Lacan vio y aplicoacute al psicoanaacutelisis Buenos Aires Paidoacutes 2013

(3) LACAN J O Seminaacuterio ndash livro 23 O sinthoma Rio de Janeiro Zahar 2007 p 122-123 e 199-200

(4) MOTTA C G Op Cit p 157

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A EBPndashSP na Casa das Rosas - Resenha

LOUCOS DE PAIXAtildeO

Perpeacutetua Medrado Gonccedilalves

ldquoA loucura colocada em cena para fazer seu elogio e para dizer todo mundo eacute louco(1)

A Escola Brasileira de Psicanaacutelise - SP foi para a Avenida Paulista na Casa das Rosas participar do Sarau Chama Poeacuteticaconvidada por Fernanda Almeida Prado a quem agradeccedilo a possibilidade dessa parceria

A Loucura elogia a si mesma mostra-se como verdade orgulha-se de dizer que ela eacute a uacutenica capaz de alegrar os deuses e osmortais E dessa forma encanta a todos com o seu saber mesmo satirizando a miseacuteria humana

22102016 wwwebpsporgbrindexphpview=articleamptype=rawampcatid=303Acarta-de-sao-paulo-onlineampid=8763Acarta-de-sao-paulo-online-5-nova-serie-ano-iiiamptmpl=componentampprint=1amplayout=defaultamppage=ampoption=com_contehellip

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ldquoAssim tambeacutem a mulher eacute sempre mulher isto eacute eacute sempre louca seja qual for a maacutescara sob a qual se apresente Natildeo quero todavia acreditar jamaisque o belo sexo seja tolo ao ponto de se aborrecer comigo pelo que eu lhe disse pois tambeacutem sou mulher e sou a Loucurardquo(2)

ldquoElogio da Loucurardquo Tema do Sarau Chama Poeacutetica eacute um texto de 1506 de Erasmo de Rotterdam cuja narradora eacute a Loucura ou seja umamulher Ela mostra as diversas faces de sua sabedoria suas ideias suas paixotildees seus oacutedios e seus temores O texto apresenta uma visatildeo irocircnica quecondena os abusos mas natildeo as instituiccedilotildees

Encontramos vaacuterias citaccedilotildees deste texto nos Escritos de Lacan Lacan transformou a loucura no fio condutor do seu ensino e fez sua entrada napsicanaacutelise pois para ele o louco seria o uacutenico que poderia ser testemunha do Real ldquoE o ser do homem natildeo somente natildeo pode ser compreendido sem aloucura como natildeo seria o ser do homem se natildeo trouxesse em si a loucura como o limite de sua liberdaderdquo (3)

Comeccedilamos nossa atividade com a intervenccedilatildeo de Marizilda Paulino Diretora Geral da EBP-SP que deu as boas vindas e convidou todos para asJornadas da EBP-SP 2013Lacan PsicanalistaBrasileiroO que fazemos no Brasil com o Ensino de Jacques Lacan

Maria do Carmo Dias Batista dividiu a Conversa Loucos de Paixatildeo com Marco Antonio Guerra professor da ECAUSP especialista em cinemaAmbos falaram sobre o filme ldquoO Impeacuterio dos Sentidosrdquo Marco Antonio animou o debate ao trazer suas impressotildees do Japatildeo paiacutes em que morou poralgum tempo

O Impeacuterio dos Sentidos (Ai no Korīda ou 愛のコリーダ) eacute um filme franco-japonecircs de 1976 do gecircnero drama eroacutetico Ofilme foi proibido na sua primeira exibiccedilatildeo no Festival de Nova York

Marco Antonio discorreu sobre o filme que eacute considerado uma obra-prima do erotismo baseada em um fato real ocorrido em1936 um dos mais famosos escacircndalos do Japatildeo Eacute a histoacuteria da jovem Sada ex-prostituta que se envolveu em um obsessivo

caso de amor com o patratildeo na casa onde trabalhava como domeacutestica A relaccedilatildeo que comeccedilou casual atinge niacuteveis em que a paixatildeo natildeo encontra maislimites

ldquoQuereis prova mais evidente de que soacute a loucura constitui o ascendente das mulheres sobre os homens Os homens tudo concedem agraves mulheres por causada voluacutepia e eacute soacute com a loucura que as mulheres agradam aos homensrdquo(4)

O casal passa os dias a fornicar e a beber no bordel onde se refugiam sem se alimentarem nem saiacuterem do quarto exceto quando Sada vai ganharalgum dinheiro para o sustento Esse jogo amoroso culmina com a morte do amante quando Sada o estrangula para garantir o maacuteximo da ereccedilatildeoDepois da morte do amante ela corta seu pecircnis e passeia pelas ruas da cidade com ele preso em seu corpo ateacute ser presa

Maria do Carmo lembra que falar de cinema e psicanaacutelise eacute falar da psicanaacutelise aplicada a uma das manifestaccedilotildees mais importantes da cultura desdesua invenccedilatildeo no seacuteculo XX Comenta tambeacutem que Lacan no Seminaacuterio 23 o sinthoma (1975-1976) diz que saiu desse filme embasbacado ldquoFiqueiembasbacado porque se trata do erotismo femininordquo(5) Para ele no filme o erotismo feminino foi levado ao extremo e esse extremo eacute a fantasia dematar o homem Mas Lacan diz isso natildeo basta Depois de tecirc-lo matado vai-se mais longe Ela corta o pecircnis de seu parceiro Por que depois PerguntaLacan acrescentando ldquoa japonesa em questatildeo que eacute o caso de dizer eacute uma amante mulherrdquo

Maria do Carmo diz a partir do que disse Marco Antonio ldquoela corta o pecircnis depois porque matar o homem foi um ato falho inesperado uma forccedila umpouco maior no garrote que tinha por objetivo obter mais uma ereccedilatildeo Mais uma ereccedilatildeo aindardquo (6)

Andar pelas ruas de Toacutekio por quatro dias carregando junto ao corpo o pecircnis do amante envolto em um lenccedilo de seda vermelho ateacute ser presa indica oato falho segundo Maria do Carmo Ela cita Carlos Gustavo Motta ao voltar do intenso cliacutemax descobre que seu amante morreu(7)

Lacan ao perguntar por que ela natildeo o cortou antes afirma que no filme vemos claramente que a ldquocastraccedilatildeo natildeo eacute a fantasiardquo e reafirma que a fantasiaextrema do erotismo feminino eacute matar o homem e natildeo castraacute-lo ldquoQuanto ao que fantasia a mulher se eacute como nos foi apresentado pelo filme eacute algumacoisa que de todo modo impede o encontrordquo(8)

Assim Maria do Carmo conclui sua fala ldquoo erotismo feminino mesmo que concebido apenas a partir da funccedilatildeo faacutelica indica um para aleacutem do faloPoreacutem no caso extremo desse erotismo louco e enigmaacutetico dentro da dialeacutetica entre o ter e o ser (o falo) matar o homem pode ser interpretado como afantasia que tornaria possiacutevel agrave mulher ter o falo e isso o filme mostra muito bemrdquo(9) Para concluir trago este recorte sobre o filme que encontrei emMulheres de hoje figuras do feminino no discurso analiacutetico - Boletim de 27 de dezembro de 2012 agraves 1754

ldquoEis o extremo do erotismo feminino ou o lado mortiacutefero do gozo feminino A fantasia pode ser um modo do sujeito se virar com a castraccedilatildeo um modoparadoxal de se virar com a exigecircncia pulsional Mas tambeacutem haacute outros modos de se enlaccedilar gozo e desejo Haacute outros modos de se arranjar com o erotismofemininordquo

Referecircncias

(1)MILLER J-A Todo mundo eacute louco Curso Orientaccedilatildeo lacaniana III 10 XVIII liccedilatildeo do Curso Paris 11 de junho de 2008

(2)ROTTERDAM Erasmo Elogio da Loucura Martin Claret Satildeo Paulo 2012 Traduccedilatildeo de Paulo Seacutergio Brandatildeo

(3)Lacan J Formulaccedilotildees sobre a causalidade psiacutequica Escritos Rio de Janeiro Jorge Zahar

(4) ROTTERDAM Erasmo Elogio da Loucura Martin Claret Satildeo Paulo 2012 Traduccedilatildeo de Paulo Seacutergio Brandatildeo

(5) LACAN J Seminaacuterio 23 O sinhtoma Jorge Zahar Rio de Janeiro p 122 123

(6) DIAS BATISTA M C Loucos de Paixatildeo EBP-SP na Casa das Rosas Texto apresentado na Conversa sobre Loucos de paixatildeo em 19102013

(7) MOTTA C G Las peliacuteculas que Lacan vio y aplicoacute al psicoanaacutelisis Buenos Aires Paidoacutes 2013

(8) LACAN J Seminaacuterio 23 O sinthoma Jorge Zahar Rio de Janeiro p 122 123

(9) DIAS BATISTA M C Loucos de Paixatildeo EBP-SP na Casa das Rosas Texto apresentado na Conversa sobre Loucos de paixatildeo em 19102013

TERRA DE SANTA CRUZ_____________________

22102016 wwwebpsporgbrindexphpview=articleamptype=rawampcatid=303Acarta-de-sao-paulo-onlineampid=8763Acarta-de-sao-paulo-online-5-nova-serie-ano-iiiamptmpl=componentampprint=1amplayout=defaultamppage=ampoption=com_contehellip

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BOLETIM HAUN

Leiam o boletim haun nuacutemero

httpwwwebporgbrhaunboletins011asp

ECOS DO MUNDO___________________________

Congresso da AMP ‐ Paris 2014

Boletim de Informaccedilatildeo do IX Congresso da AMP

Todos os Whatrsquos up estatildeo no site do Congresso em 5 idiomas

Franccedilais httpwwwcongresamp2014comfrWhats‐upWhatsUp_006pdf

Espantildeol httpwwwcongresamp2014comesWhats‐upWhatsUp_006pdf

Portugueacutes httpwwwcongresamp2014comptWhats‐upWhatsUp_006pdf

Italiano httpwwwcongresamp2014comitWhats‐upWhatsUp_006pdf

English httpwwwcongresamp2014comenWhats‐upWhatsUp_006pdf

ldquoLacan Cotidianordquo continua a ser veiculado em portuguecircs por nossas miacutedias traduccedilotildees realizadas por psicanalistas brasileiros sob a coordenaccedilatildeo de Maria do Carmo Dias Batista Pode‐se ler em portuguecircs os

artigos publicados acessando wwwebp‐spblogspotcombr

Os mesmos artigos e outros podem ser lidos no original francecircs httpwwwlac anquotidienfrblog

ENSINO DE LACAN__________________________

o psicanalista eacute colocado pelo discurso que o condiciona numa posiccedilatildeo digamos difiacutecil Por pouco que tenha praticado a anaacutelise o psicanalistasabe por experiecircncia proacutepria ter um denominador comum com o que eu digo

JACQUES LACAN O SEMINAacuteRIO - LIVRO 19 ou pior

AGENDA__________________________________

AGENDA- EBP SP

0611 - Seminaacuterio do Conselho - ou pior parte III - O Um Que Ele Natildeo Acesse o Dois cap XIII - Na base da diferenccedila dos sexos Apresentaccedilatildeo PaolaSalinas Coordenaccedilatildeo Luiz Fernando Carrijo da Cunha

08 e 0911 - Jornadas da EBP-SP 2013

Convidado Jorge Forbes - Coordenadora Geral Marizilda Paulino

22102016 wwwebpsporgbrindexphpview=articleamptype=rawampcatid=303Acarta-de-sao-paulo-onlineampid=8763Acarta-de-sao-paulo-online-5-nova-serie-ano-iiiamptmpl=componentampprint=1amplayout=defaultamppage=ampoption=com_contehellip

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1311 - Seminaacuterio do Conselho - ou pior parte III - O Um Que Ele Natildeo Acesse o Dois cap XIV - Teoria das quatro foacutermulas (palestra) ApresentaccedilatildeoMaria Bernadette Pitteri Coordenaccedilatildeo Luiz Fernando Carrijo da Cunha

2011 - Natildeo haveraacute atividade em Satildeo Paulo - Enapol em Buenos Aires

2711 - Natildeo haveraacute atividade em Satildeo Paulo

___________________________________________________________________________________

SECRETARIA DO PASSE - EBP

INFORMACcedilOtildeES Maria Ceciacutelia Galletti Ferretti

(11) 3675-2921 - (11) 99626-6225

___________________________________________________________________________________

Editora Bernadette Pitteri Revisora Daniela Affonso

Diretoria da EBPshy SP

Diretora Geral Marizilda PaulinoDiretora Secretmiddotriashy Tesoureira Maria Helena BarbosaDiretora de Intercsbquombio e CartEgraveis Caacutessia Maria Rumenos GuardadoDiretora de Biblioteca Cynthia Nunes de Freitas Farias

EBPshySP

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Page 3: CARTA DE SÃO PAULO - ONLINE 5 - NOVA SÉRIE - ANO IIIebp.org.br/sp/wp-content/uploads/2016/11/ano-III-NS-005.pdf · proposto,Loucos de Paixão, a partir do filme “O império dos

22102016 wwwebpsporgbrindexphpview=articleamptype=rawampcatid=303Acarta-de-sao-paulo-onlineampid=8763Acarta-de-sao-paulo-online-5-nova-serie-ano-iiiamptmpl=componentampprint=1amplayout=defaultamppage=ampoption=com_contehellip

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O tema aqui discutido toma como eixo o texto transcrito a partir da participaccedilatildeo de Lacan em 1966numa mesa-redonda a convite de sua supervisionanda Jenny Aubry pediatra e psicanalista que atuava no pavilhatildeopediaacutetrico da Pitieacute-Salpetriegravere em Paris

Como deve ser do conhecimento de todos vocecircs a participaccedilatildeo de Lacan nesta mesa-redonda foi no miacutenimo polecircmica Umaversatildeo editada desta fala foi publicada na Revista Opccedilatildeo Lacaniana nuacutemero 32 de dezembro de 2001 sob o tiacutetulo ldquoO lugar dapsicanaacutelise na medicinardquo

Deste texto extraio trecircs pontos que considero de extremo valor para as questotildees relacionadas ao trabalho do psicanalista nas instituiccedilotildees de sauacutedeprincipalmente no acircmbito do hospital geral a saber a ruptura entre a demanda e o desejo do doente a noccedilatildeo de que o corpo eacute feito de gozo e que ocorpo goza e a condiccedilatildeo extraterritorial da psicanaacutelise em relaccedilatildeo aos demais discursos encontrados no hospital Para percorrer estes trecircs pontospretendo convidaacute-los para uma breve incursatildeo ao que vemosescutamos cotidianamente na instituiccedilatildeo hospitalar

Em uma porta de entrada temos os casos de urgecircnciaemergecircncia Sujeitos atropelados (muitas vezes literalmente) por um real que os convoca aperceber diante do horror a fragilidade da condiccedilatildeo humana amputaccedilatildeo de membros perda de uma funccedilatildeo vital queimaduras autoinfligidasqueimaduras em crianccedilas por negligecircncia ou maus-tratos tentativas de homiciacutedio ou suiciacutedio Acidentes vasculares cerebrais ou tantos outros quepressionam imediatamente o sujeito a lidar com a castraccedilatildeo ndash ou o retorno dela fazendo deste tropeccedilo com o real uma oportunidade uacutenica para oencontro com o psicanalista ainda que muitas vezes o sujeito natildeo encontre facilmente as palavras

Mas tambeacutem vemos por outra porta do hospital pacientes que explicitam de modo obsceno o gozo particular com ainstalaccedilatildeo na condiccedilatildeo de doente Nestes casos o ser diabeacutetico renal crocircnico asmaacutetico anoreacutexico buliacutemico eacute praticamenteindissociado de seu modo de se representar no mundo de tatildeo agarrados que satildeo aos significantes que arranjaram nascontingecircncias do destino

Nestes casos o psicanalista tambeacutem eacute solicitado a intervir pois satildeo pacientes frequentemente poliqueixosos natildeo aderentes aotratamento ndash ou excessivamente aderidos ao hospital e agraves equipes Estes pacientes natildeo raramente denunciam o fracasso dasterapecircuticas convencionais e confrontam os profissionais com a impotecircncia que o gozo e a pulsatildeo de morte sabem fazer tatildeobem

Neste ponto retomo um trecho de Lacan na referida participaccedilatildeo de 1966

Quando o doente eacute enviado ao meacutedico ou quando o aborda natildeo digam que ele espera pura e simplesmente a cura Ele potildee o meacutedico agrave prova de tiraacute-lo desua condiccedilatildeo de doente o que eacute totalmente diferente pois isto pode implicar que ele estaacute totalmente preso agrave ideia de conservaacute-la Ele vem agraves vezes nos pedirpara autenticaacute-lo como doente (Lacan 19662001 p 10)

Quando o meacutedico consegue reconhecer esta distacircncia entre a demanda e o desejo no paciente ele tambeacutem encaminha na melhor das hipoacuteteses opaciente para o psicanalista

Poreacutem tambeacutem eacute possiacutevel aos profissionais da equipe construiacuterem outras hipoacuteteses para o fracasso do tratamento e com isso empreenderem novasestrateacutegias investigativas ou novas terapecircuticas tomando mais ainda o corpo do paciente como uma peccedila a ser atravessada pelas mais modernasestrateacutegias das tecnociecircncias

Diante do paciente tomado de anguacutestia decorrente do encontro com o real ou daqueles outros bem instalados na posiccedilatildeo dedoentes de onde retiram sua quota cotidiana de gozo eacute esperado que o analista se posicione ofereccedila sua escuta e intervenccedilatildeondash o que a rigor em nada se diferencia do cotidiano da praacutetica realizada em seu consultoacuterio

Acontece que no hospital mais notadamente num hospital-escola algumas tensotildees merecem ser pontuadas

bull O empuxo agrave realizaccedilatildeo de protocolos de pesquisa e publicaccedilotildees em perioacutedicos cientiacuteficos indexados e que compartilham umacerta fobia ao meacutetodo psicanaliacutetico

bull A supervalorizaccedilatildeo da utilizaccedilatildeo de escalas testes questionaacuterios padronizados ndash tendo aqui seu aacutepice nos questionaacuterios de qualidade de vida

bull A insistecircncia em eliminar as diferenccedilas discursivas em nome de classificaccedilotildees diagnoacutesticas lipoaspiradas e ldquoateoacutericasrdquo dos manuais de classificaccedilatildeodiagnoacutestica

bull A monotonia das afirmaccedilotildees de eficaacutecia exclusiva das teacutecnicas cognitivo-comportamentais descritas como sendo de baixo custo e desenhadas visandoa educaccedilatildeo da pulsatildeo

Vale neste ponto lembrar a indicaccedilatildeo de Lacan no texto ldquoA direccedilatildeo do tratamento e os princiacutepios de seu poderrdquo de 1958 ldquoA mais aberrante educaccedilatildeonunca teve outro motivo senatildeo o bem do sujeitordquo

Os artigos cientiacuteficos derivados dos protocolos de pesquisa passaram a ser a moeda mais valiosa nos departamentos de um hospital-escola Existemdepartamentos que remuneram ou premiam agrave parte os autores dos artigos cientiacuteficos que contribuem para manter ou elevar a pontuaccedilatildeo da Disciplinajunto agraves agecircncias de fomento

Isto certamente natildeo eacute novidade mas expotildee uma tensatildeo para o psicanalista que pode ser assim resumida espera-seexige-se a construccedilatildeo de projetos depesquisa que incluam instrumentos padronizados ndash que quantifiquem os achados diagnoacutesticos ou estrateacutegias terapecircuticas ndash que facilitem a aceitaccedilatildeo narevista de alto impacto ndash que elevem a pontuaccedilatildeo do Departamento ndash que passa a receber mais recursos para seus projetos etc

No ano passado (todos vocecircs devem ter acompanhado) o Governo de Satildeo Paulo por meio da Secretaria Estadual da Sauacutede (SES) descredenciou oCentro de Referecircncia da Infacircncia e da Adolescecircncia (CRIA) que inclui prioritariamente profissionais psicanalistas e assumiu oficialmente (por meioda abertura de edital para credenciamento institucional) que serviccedilos de orientaccedilatildeo psicanaliacutetica natildeo poderiam se candidatar pois estes natildeo contamcom eficaacutecia comprovada Apoacutes uma seacuterie de manifestos no meio psicanaliacutetico a SES modificou o edital

Fato eacute que este acontecimento somado ao que temos visto no cotidiano da nossa praacutetica nos deixou uma questatildeo e algumas reflexotildees o fato de opsicanalista nas palavras de Lacan trabalhar na extraterritorialidade neste topos atoacutepico natildeo eacute diferente de se colocar num lugar de segregaccedilatildeoAfinal a extraterritorialidade se refere eacute sempre bom lembrar agrave falha epistemos-somaacutetica Trabalhamos com a consequecircncia desta falha e suamanifestaccedilatildeo de gozo e isto natildeo implica em nos privarmos das tensas interlocuccedilotildees com os mestres contemporacircneos

Expor os efeitos de nossa praacutetica e natildeo nos esquivarmos das tensotildees daiacute decorrentes eacute condiccedilatildeo necessaacuteria agrave permanecircncia nas instituiccedilotildees de sauacutedeAcontece que ouso interpretar por algum motivo alguns analistas que atuam em instituiccedilotildees de sauacutede parecem adotar uma certa posiccedilatildeo de inibiccedilatildeode alienaccedilatildeo ou de mortificaccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave poliacutetica implicada em seu ato

Aleacutem da poliacutetica implicada no ato do analista que visa confrontar o sujeito com eacutetica do desejo questiono se este natildeo teria tambeacutem que se posicionarquando seu lugar transferencial permitir diante daquilo que diz respeito ao funcionamento da instituiccedilatildeo de sauacutede

22102016 wwwebpsporgbrindexphpview=articleamptype=rawampcatid=303Acarta-de-sao-paulo-onlineampid=8763Acarta-de-sao-paulo-online-5-nova-serie-ano-iiiamptmpl=componentampprint=1amplayout=defaultamppage=ampoption=com_contehellip

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Temos acompanhado uma certa transformaccedilatildeo nos modelos de gerenciamento das instituiccedilotildees puacuteblicas O enfoque administrativo que imprime amarca empresarial na aacuterea da sauacutede puacuteblica atual tem como consequecircncia assim justificada a reduccedilatildeo de custos e a obtenccedilatildeo de lucro Como efeitoscolaterais temos a contrataccedilatildeo de profissionais despreparados via Organizaccedilotildees Sociais (OS) e salaacuterios cada vez mais defasados entre os funcionaacuteriospuacuteblicos concursados Essa vertente ldquoempresarialrdquo eacute verificada constantemente pelos dispositivos de precircmio de qualidade e anaacutelise de gestatildeo em sauacutedeSabemos que estas medidas trazem impactos na praacutetica assistencial do psicanalista e mais uma vez o convocam a construir estrateacutegias Um dosproblemas que temos enfrentado atualmente diz respeito agraves listas de espera para avaliaccedilatildeo diagnoacutestica e tratamentos ambulatoriais Temos colegascom uma centena de casos aguardando convocaccedilatildeo Por um lado nos perguntamos se isto aponta para a transferecircncia de trabalho endereccedilada aopsicanalista ou como eacute bem provaacutevel que em alguns casos uma dificuldade crescente dos profissionais da sauacutede em lidar com a queixa dos doentes

Nestes anos de trabalho em hospital geral tais impasses longe de nos fazerem recuar nos tecircm permitido convocar a presenccedilade colegas psicanalistas da EBP para a interlocuccedilatildeo no hospital fazendo da aridez da nossa praacutetica algo menos solitaacuterio Estasinterlocuccedilotildees permitiram incluir o Ensino de Lacan em nosso meio natildeo como a verdade mas como um dispositivo capaz defazecirc-la surgir ali mesmo onde tantos outros discursos tentam apagaacute-la em nome de um bem-estar higiecircnico

Lembro um comentaacuterio de Jorge Forbes em uma de suas participaccedilotildees junto agrave nossa equipe quando dizia que a formaccedilatildeo dopsicanalista deveria incluir a experiecircncia da atuaccedilatildeo num hospital geral A fala me remete ao fato de que no hospital temos ador e a deliacutecia de convivermos com os eixos cliacutenico poliacutetico institucional e sobretudo eacutetico do exerciacutecio da psicanaacutelise

Para concluir gostaria de retomar Lacan com um trecho de ldquoA Ciecircncia e a Verdaderdquo de 1965 Neste trecho assim considero vemos que nossos pontosde tensatildeo natildeo satildeo necessariamente com a ciecircncia mas sim com o emprego dela em alguns contextos

Que eacute impensaacutevel por exemplo que a psicanaacutelise como praacutetica que o inconsciente o de Freud como descoberta houvesse tidolugar antes do nascimento da ciecircncia no seacuteculo a que se chama seacuteculo do talento o XVII ndash ciecircncia a ser tomada no sentidoabsoluto no instante indicado sentido este que decerto natildeo apaga o que se instituiacutera antes sob esse mesmo nome poreacutem que emvez de encontrar nisso seu arcaiacutesmo extrai dali seu proacuteprio fio de uma maneira que melhor mostra sua diferenccedila de qualqueroutro () natildeo visamos dizendo isso da psicanaacutelise e da descoberta de Freud ao acidente de ter sido pelo fato de seus pacientesterem ido procuraacute-lo em nome da ciecircncia e do prestiacutegio que ela conferia () que Freud conseguiu fundar a psicanaacutelise descobrindo o inconscienteDizemos que foi esse mesmo cientificismo que conduziu Freud como nos demonstram seus escritos a abrir a via que para sempre levaraacute seu nome(Lacan 1965 p 871)

Referecircncias

LACAN J A direccedilatildeo do tratamento e os princiacutepios do seu poder (1958) In Escritos Jorge Zahar Ed Rio de Janeiro 1998

LACAN J A ciecircncia e a verdade (1965) In Escritos Jorge Zahar Ed Rio de Janeiro 1998

LACAN J O lugar da psicanaacutelise na medicina (1966) Opccedilatildeo Lacaniana Revista Brasileira Internacional de Psicanaacutelise Nuacutemero 32 dezembro de 2001

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O UacuteLTIMO LACANIANO

Rodrigo Camargo (Seccedilatildeo Cliacutenica ndash Clipp)

Lacan veio para esses lados de baixo do Equador uma uacutenica vez Foi no final de sua vida em 1980 num seminaacuterio proferido em Caracas VenezuelaAli ele pronunciou algo que ateacute hoje nos faz eco quando disse ldquoeu sou freudiano se vocecircs quiserem sejam lacanianosrdquo

Marcava-se assim mais-um efeito de retorno isto eacute Lacan retoma Lacan de Funccedilatildeo e Campo texto inaugural de seu ensinoem 1953 Desde ali foi o longo caminho de uma interrogaccedilatildeo Lacan soube como ningueacutem interrogar ininterruptamente aobra freudiana por quase cinco deacutecadas Provocou uma reviravolta na experiecircncia da psicanaacutelise fundando um campoespeciacutefico a saber o campo lacaniano (cf Seminaacuterio 17) Ser lacaniano entatildeo eacute interrogar a obra de Lacan

Quem fez isso com o maacuteximo de rigor e periacutecia foi ningueacutem menos do que Jacques-Alain Miller Precisamente Miller foi seuverdadeiro herdeiro intelectual Logo apoacutes a dissoluccedilatildeo da Eacutecole Freudienne de Paris Lacan tambeacutem disse ao-menos-umque me lecirc seria aqui desnecessaacuterio apontar a quem ele se referia Contudo isso nos coloca no iniacutecio de uma nova seacuterie dequestotildees

Se Lacan foi o ao-menos-um que leu Freud (todo seu ensino se fundamenta nesta loacutegica) Miller por seu turno foi um leitor contumaz de Lacan istoeacute temos assim constituiacuteda uma linha de passe que comeccedila com Freud passa por Lacan e hoje aterriza em Jacques-Alain Miller (nome quecuriosamente em portuguecircs-brasileiro faz homofonia com jaacute que ela eacute mulher)

Como ler hoje Freud sem conceber o inconsciente estruturado como linguagem Natildeo haacute como ir ateacute Freud seriamenteretornar a Freud sem pegar o contorno desenhado por Lacan Da mesma maneira natildeo temos condiccedilotildees de acessar Lacanatualmente sem passar pelo crivo de Jacques-Alain Miller (tanto parao bem quanto para o mal) No Brasil a entrada deLacan se confunde com a chegada de Miller Este eacute o sintoma de um Lacan brasileiro

Todo o esforccedilo o empenho e dedicaccedilatildeo do trabalho de elucidar Lacan faz de Miller o que consideraria ser o uacuteltimolacaniano Certamente ele natildeo foi o primeiro A histoacuteria nos conta isso Poreacutem a tese parece forte colocada assim de modoabrupto Jacques-Alain Miller eacute o uacuteltimo lacaniano simplesmente porque natildeo lemos mais Lacan sem dar mil voltas por eleseja acompanhando as liccedilotildees de seu curso de orientaccedilatildeo seja pegando o sentido oposto sem antes decidir tomaacute-lo comoreferecircncia negativa Depois de Miller natildeo resta mais duacutevida somos agora no miacutenimo lacano-americanos E isso natildeo eacute sem

consequecircncias no Brasil e principalmente aqui em Satildeo Paulo

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CIEN ndash ldquo Frente aos Protocolosrdquo ndash 2ordf Conversaccedilatildeo entre laboratoacuterios

Simone Brandatildeo de Carvalho e Silva

Participaram desta Conversaccedilatildeo que ocorreu em 04102013 dois laboratoacuterios ldquoAs Manifestaccedilotildees do Higienismo na Atualidaderdquo-SP e ldquoaFINARTErdquo-Ribeiratildeo Preto A Coordenadora do CIENndashSP Siglia Cruz de Saacute Leatildeo ressaltou a importacircncia destes encontros como momento preparatoacuterio para aVI Jornada Internacional do CIEN ldquoMe Inclui fora dessardquo ndash a buacutessola que cada um inventa que aconteceraacute na Argentina em novembro proacuteximo

O laboratoacuterio aFINARTE trouxe como vinheta praacutetica o relato de caso do CAPSi de Ribeiratildeo Preto intitulado ldquoUma Histoacuteria de Famiacuteliardquo Trata-se deuma famiacutelia de dependentes pai e quatro filhos usuaacuterios de substacircncias matildee tabagista Os dois filhos mais novos foram encaminhados ao CAPSiacompanhados dos pais e avoacutes Estes adolescentes tinham envolvimento com criminalidade eram usuaacuterios de drogas foram afastados da escola e

22102016 wwwebpsporgbrindexphpview=articleamptype=rawampcatid=303Acarta-de-sao-paulo-onlineampid=8763Acarta-de-sao-paulo-online-5-nova-serie-ano-iiiamptmpl=componentampprint=1amplayout=defaultamppage=ampoption=com_contehellip

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houve o pedido de reinserccedilatildeo escolar via Conselho Tutelar Esta situaccedilatildeo chamou atenccedilatildeo da psicoacuteloga e enfermeira queencontraram muitas dificuldades na conduccedilatildeo deste trabalho Os pacientes satildeo desinteressados faltosos e resistentes agravesatividades propostas rdquoFrente aos Protocolosrdquo tema desta conversaccedilatildeo provocou e convocou as profissionais participantes doCIEN a repensarem o modelo dos atendimentos propostos pela instituiccedilatildeo como o trabalho em grupo Perceberam que oolhar particularizado para cada um dos pacientes ndash irmatildeos ndash eacute o que de fato possibilitou o caminhar do trabalho emandamento

Heloisa Telles Psicanalista membro da EBPAMP foi a animadora da conversaccedilatildeo e ressaltou a complexa e difiacutecil situaccedilatildeoapresentada afirmando que eacute preciso estar atento na proacutepria organizaccedilatildeo do serviccedilo a ldquocomordquo escutar ldquoquemrdquo escutar e ldquooquecircrdquo escutar A situaccedilatildeo relatada exigiu das profissionais uma escuta atenta acarretando mudanccedilas na forma de acolhimento Em regra o que seespera do trabalho no CAPSi eacute a inclusatildeo e a reinserccedilatildeo familiar Ficou explicitado neste relato a necessidade de acolher o ldquosaberrdquo do sujeito sujeitoeste que na maioria das vezes ignora ser ele proacuteprio a sede de seu saber A partir desta orientaccedilatildeo torna-se possiacutevel o sujeito formar laccedilos o que olevaraacute agrave inserccedilatildeo social O escutar cada um esta invenccedilatildeo singular precisa estar do lado dos profissionais e eacute a partir deste ponto que se torna possiacutevelsustentar o trabalho A organizaccedilatildeo da instituiccedilatildeo eacute necessaacuteria e diferente do protocolo O protocolo recai sobre a orientaccedilatildeo quando esta no afatilde douniversal natildeo leva em conta a particularidade de cada situaccedilatildeo apresentada

O laboratoacuterio ldquoAs manifestaccedilotildees do Higienismo na Atualidaderdquo apresentou vinheta praacutetica e articulaccedilotildees teoacutericas sobre estetema vasto e polecircmico As primeiras praacuteticas higienistas e a cura das enfermidades sempre estiveram sob o poder meacutedicoSobre a medicalizaccedilatildeo na infacircncia traz um dito popular ldquoeacute de pequenino que se torce o pepinordquo para justificar amedicalizaccedilatildeo precoce O vivo da praacutetica deste laboratoacuterio nos fala de um menino de seis anos que desde os trecircs mora emcasa de Acolhimento Na 1ordf instituiccedilatildeo que frequentou os cuidadores natildeo se envolviam muito com o caso jaacute na 2ordf para ondefoi transferido junto com o irmatildeo os teacutecnicos eram mais interessados Precocemente teve o diagnoacutestico de TDAH Estaacute emtratamento psiquiaacutetrico e faz uso de Ritalina Passou por psicoterapias e hoje estaacute em tratamento psicanaliacutetico Algumas

mudanccedilas em seu comportamento de hiperatividade jaacute estatildeo sendo percebidas algo que toca seu diagnoacutestico precoce Nas discussotildees relativas a essavinheta tratou-se do abandono por parte da famiacutelia e da falta de apropriaccedilatildeo da crianccedila de sua proacutepria histoacuteria O cuidador eacute sempre visto comoaquele que tem o saber sobre a crianccedila O passado fica sempre perdido as expectativas futuras tambeacutem natildeo satildeo apontadas e a historia eacute o presente apartir do cuidador que natildeo busca o saber na crianccedila

Em todo esse processo como se articula a rede de proteccedilatildeo e qual seria a funccedilatildeo do cuidador O hospitalismo a funccedilatildeo da matildee e a maternagem oabrigo a instituiccedilatildeo de acolhimento foram temas abordados e debatidos E ainda a questatildeo do ldquosaber e segredordquo da crianccedila o diagnoacutestico precoceapontando para um apagamento do sujeito Em relaccedilatildeo aos cuidadores aparece o ldquoanonimatordquo ndash e o que precisa ser transmitido agrave crianccedila eacutejustamente um desejo que natildeo seja anocircnimo A respeito do silecircncio na histoacuteria da crianccedila quanto ao seu passado e futuro o preenchimento desse vaziogeralmente eacute feito pelo adulto que cuida esvaziando a possibilidade de a crianccedila existir diante de seu ldquosaber e seu segredordquo lugar este que estaacute semprepor vir ndash construccedilatildeo particular de cada um ndash precisando ser respeitado Eacute exatamente neste aspecto que as vivecircncias do CIEN contribuem ajudandona visualizaccedilatildeo de que algo natildeo seraacute preenchido e que eacute neste espaccedilo dito ldquovaziordquo que alguns impasses poderatildeo ser transpostos Isso que eacute da estruturado humano do lugar do mal-estar geralmente eacute visto como fracasso e capturado pelo diagnoacutestico pela medicalizaccedilatildeo e outros apagamentos

Aleacutem dos relatos apresentados e comentados pelos laboratoacuterios a praacutetica das conversaccedilotildees entre os laboratoacuterios do CIENmostram-se efetivas Participantes do CIEN e o puacuteblico interrogam-se sobre as vinhetas praacuteticas ldquoo que pensar sobre a casade acolhimento que finalmente fica com a crianccedila quando todas as outras instituiccedilotildees a recusamrdquo Questotildees de ordem eacutetica epoliacutetica satildeo levantadas sobre a funccedilatildeo do CIEN o que o difere das equipes multidisciplinares O que eacute o interdisciplinar queo CIEN propotildee Por que eacute necessaacuterio a presenccedila do analista no CIEN O espaccedilo que hoje se utiliza para conversaccedilatildeo entre oslaboratoacuterios do CIEN marca o desejo dos participantes de que essa praacutetica continue ela nos eacute uacutetil e se faz necessaacuteria

REFLEXOtildeES - TRABALHOS EM CARTEL_______________

A IMPORTAcircNCIA DO TRABALHO EM CARTEL PARA A FORMACcedilAtildeO DO ANALISTA

Cinthia Busato

Comeccedilo agradecendo o gentil convite de Caacutessia para que eu falasse aqui hoje Gentil em vaacuterios aspectos o primeiro que vou abordar eacute o da aposta eudiria inclusive da ousadia de convidar algueacutem que acabou de entrar como membro da EBP e que natildeo tem um percurso tatildeo longo como tantos colegasdentro dessa Escola Fui convidada como Diretora de Carteacuteis da Seccedilatildeo Santa Catarina e me autorizei a aceitar esse convite acreditem natildeo sem receiopara falar de um tema que sempre me causou sempre mobilizou meu percurso dentro da Escola que eacute exatamente o cartel

Desde que comecei a estudar a psicanaacutelise lacaniana faccedilo carteacuteis muitas vezes dois ao mesmo tempo E desde o iniacutecio me apaixonei pela loacutegica quefunda o cartel O ldquopor sua conta e riscordquo sempre me estimulou a valorizar o que tenho de melhor em mim o que ainda natildeo sei Era assim que euchamava o que com Lacan aprendi a chamar de natildeo-todo e achei mais adequado este termo pois ldquoo que ainda natildeo seirdquo pode ser entendido tambeacutemcomo ldquoum dia vou saber tudordquo em que de fato nunca acreditei

Poder estar com pessoas que escolho para conversar debater natildeo saber temas que me interessam e a partir daiacute construir algum saber sobre issosempre me ajudou a construir tanto um saber teoacuterico que me apoia quanto a minha relaccedilatildeo com a Escola

Bem no iniacutecio do meu percurso lacaniano escrevi um texto chamado ldquoQuem ousa errardquo que comeccedila assim ldquoTemos na neurose duas possibilidadesfrente a esta afirmaccedilatildeo o obsessivo natildeo ousa para natildeo errar a histeacuterica finge que ousa para provar que natildeo erra A psicanaacutelise propotildee uma terceira saiacutedaousar sabendo que o erro eacute possiacutevel Mais do que isso aposta no erro como caminho em direccedilatildeo ao fracasso do Ideal este que dita o que eacute errado Para apsicanaacutelise natildeo eacute errando que se aprende portanto acerta mas eacute ousando errar que se escreve o nome proacuteprio nome que aponta na direccedilatildeo do impossiacutevelOusadia natildeo eacute o mesmo que ser afoito ou desafiador Confunde-se hoje pressa afobaccedilatildeo atitude desafiadora com ousadia Erro grave O ousado pode sermuito lento O ousado natildeo baniu o medo resolveu seguir com ele O ousado suporta a falta coisa que o afoito ansioso natildeo tolera O ousado vislumbra oimpossiacutevel coisa que o afoito ansioso natildeo tolera O ousado a-risca imprime marca singular no seu ato Ao desafiador importa mais destruir a marca dooutro Por que este elogio agrave ousadia Porque frente agrave padronizaccedilatildeo ao horror ao erro a sair do padratildeo a ousadia estaacute cada vez mais rara e o que apareceem seu lugar eacute a pressa e a atitude desafiadora por si soacute Estas satildeo impedimentos ao laccedilo social pois promovem um investimento maior em banir a faltafortalecendo a imagem narciacutesica especular do que em criar possibilidades de lidar com as diferenccedilas fundamental para o laccedilo socialrdquo(1)

Vou comeccedilar a pensar daiacute a importacircncia do cartel para a formaccedilatildeo do analista e tambeacutem o dispositivo cartel no seacuteculo XXI Muito me ajudou o textode Vilma Coccoz (2) ldquoO cartel um novo laccedilordquo publicado no Boletim Uno por uno 10 que estaacute na paacutegina da NEL-Meacutexico

No texto ldquoDa psicanaacutelise em suas relaccedilotildees com a realidaderdquo (3) Lacan nos diz que ldquoOs psicanalistas satildeo saacutebios de um saber que natildeo podemcultivarconversardaiacute sua associaccedilatildeo com aqueles que soacute compartilham com ele esse saber por natildeo poder trocaacute-lointercambiaacute-lordquo Uma das vias para serelacionar com essa impossibilidade de comunicaccedilatildeo eacute a proacutepria anaacutelise mas o saber construiacutedo em uma anaacutelise eacute limitado podemos saber dadeterminaccedilatildeo inconsciente sobre o ser falante saber do gozo particular que obtemos com nosso sintoma Mas o sujeito nada pode saber do sentido do

22102016 wwwebpsporgbrindexphpview=articleamptype=rawampcatid=303Acarta-de-sao-paulo-onlineampid=8763Acarta-de-sao-paulo-online-5-nova-serie-ano-iiiamptmpl=componentampprint=1amplayout=defaultamppage=ampoption=com_contehellip

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sintoma do outro da satisfaccedilatildeo que esses sintomas produzem Para poder permitir ao outro o acesso a este saber natildeo basta tecirc-lo conquistado haacute queconsentir com o passe onde algo se pode transmitir mesmo que natildeo seja tudo Entatildeo mesmo que sejam eruditos em um saber sobre a estrutura ospsicanalistas natildeo se reuacutenem como saacutebios para conversar sobre seu saber e ampliar o campo da erudiccedilatildeo mas se associam justamente pelo contraacuteriopor uma impossibilidade de conversar As formas que Lacan propotildee para a organizaccedilatildeo dos analistas seguem a referecircncia da distinccedilatildeo entre o laccedilocoletivo onde a referecircncia eacute o ideal que satura a falta e a loacutegica coletiva que se situa em relaccedilatildeo agrave falta do Outro que indica o furo no saber Tanto opasse quanto o cartel se inserem nessa loacutegica numa tensatildeo entre o que entra no laccedilo social e o que natildeo eacute coletivizaacutevel de cada um

Eacute nesse ponto que o Cartel encontra a especificidade de sua funccedilatildeo ser a dobradiccedila ser a articulaccedilatildeo entre o psicanalista na solidatildeo de seu ato e aEscola onde os analistas trabalham para a transmissatildeo da psicanaacutelise Se pudeacutessemos transmitir tudo o que restaria Eu imagino que teacutedio pois sefosse possiacutevel transmitir tudo a arte natildeo teria funccedilatildeo nem a psicanaacutelise

Entatildeo acho que a psicanaacutelise traz inoculado dentro de seu discurso esse saber que eacute o que faz de mim uma otimista em relaccedilatildeo agrave psicanaacutelise no seacuteculoXXI saber que natildeo sabe tudo saber que estamos marcados no corpo pela palavra e que isso nos coloca como sujeitos divididos entre uma verdade quenos habita e imprime nosso estilo e um saber que vai sendo construiacutedo a partir dela

Essa verdade o Um que marca alguma coisa do real do gozo eacute o que vai orientar o sujeito em sua nomeaccedilatildeo sintomaacutetica seu ldquosintoma como aparelhoindividual para situar o objeto pequeno a essa parte elaboraacutevel do gozordquo(4) O que seria ousado aqui que eacute a proposta da psicanaacutelise eacute suportar o vaziode significado ao inveacutes de tamponaacute-lo Eacute colocar o objeto pequeno a como causa de desejo e natildeo como objeto de mercado atrelado a um mais-de-gozarldquoNa perspectiva do uacuteltimo ensino de Lacan trata-se sobretudo de captar a maneira pela qual o sujeito estaacute articulado ao Outro pelas operaccedilotildees de batismoessenciais de seu sinthoma de um gozo que se esquiva a ser inscrito de uma vez por todas no lugar do Outrordquo (5) Ousar eacute fazer do vazio angustiante eenigmaacutetico uma marca proacutepria

A psicanaacutelise efetuou uma subversatildeo na loacutegica numeacuterica Aqui a sequecircncia deixa de ser 123 para ser 132 jaacute que para sair da loacutegica especular quede 2 faz 1 o sujeito precisa encontrar o 3 o terceiro termo aquele que traz a possibilidade de exclusatildeo imprescindiacutevel para a elaboraccedilatildeo da castraccedilatildeoEacute o que salva o sujeito do paraiacuteso da simbiose da natildeo diferenccedila Eacute ele que possibilita o aparecimento do 2 a manutenccedilatildeo de dois sujeitos que suportama diferenccedila No 2 o paraiacuteso sem garantias o paraiacuteso do desejo de uma inquietude que ousa em direccedilatildeo ao enigma do Outro e natildeo da inquietude quetenta negaacute-lo

O sintoma para a psicanaacutelise tem duas vertentes a vertente do sofrimento (gozo do sintoma) e a vertente do enigma (sentido do sintoma)Normalmente eacute pela vertente do sofrimento que um sujeito chega na anaacutelise mas para que esta se constitua como anaacutelise eacute preciso que seja propiciadoum querer saber do seu sintoma que o desejo de desvendar o enigma proacuteprio seja despertado A demanda terapecircutica pode ser unicamente se livrar deseu sofrimento e muitas terapias estatildeo aiacute para mostrar que isso eacute possiacutevel muitas vezes simplesmente trocando o Ideal ldquoconsertandordquo tapando furosno Ideal manco ou trocando por um novinho em folha O discurso messiacircnico eacute um bom exemplo Nada de marca singular aqui se trata de rebanhosAposta-se sempre no paraiacuteso futuro sem faltas com a garantia de completude e satisfaccedilatildeo Mas como analistas sabemos que o furo eacute de estruturaportanto sempre aparece Esse eacute nosso horror e nossa salvaccedilatildeo

Voltando ao iniacutecio o obsessivo natildeo ousando para natildeo errar se manteacutem mais preso a uma perpeacutetua tentativa de controle A histeacuterica fingindo ousarpara provar que natildeo erra que um dia seraacute ela proacutepria A Mulher natildeo conhece aliacutevio dessa tensatildeo Em ambos o 2 natildeo se estabelece a impotecircncia natildeofoi elaborada pelo saber de sua verdade singular que permite tratar o furo como impossiacutevel

Termino com uma citaccedilatildeo de Ana Luacutecia Lutterbach-Holck ldquoLacan jaacute na eacutepoca do seminaacuterio 1 nos aponta o melhor remeacutedio para enfrentar a ciecircnciada felicidade e suas cifras a coragem A coragem como nos falou Badiou natildeo eacute um momento heroico em que se coloca face ao impossiacutevel mas umavirtude construiacuteda na praacutetica para se sustentar no impossiacutevel A coragem pode ser algo que nos oriente localmente na desorientaccedilatildeo globalrdquo (6)

ldquoTodo caminho da gente eacute resvaloso

Mas tambeacutem cair natildeo prejudica ndash nada demais ndash a gente levanta a gente sobe a gente voltahellip

O correr da vida embrulha tudo a vida eacute assim esquenta e esfria aperta e daiacute

Afrouxa sossega e depois desinquieta

O que ela quer da gente eacute coragemrdquo Guimaratildees Rosa

Referecircncias

1BUSATO Ciacutenthia Quem ousa erra Atas da V Jornada da seccedilatildeo Santa Catarina

2COCCOZ Vilma Em httppequenaleiturablogspotcombr201211el-cartel-un-nuevo-lazo-por-vilma-coccozhtml

3LACAN Jacques Da psicanaacutelise em sua relaccedilatildeo com a realidade in Novos escritos p 358

4MILLER Jacques-Alain ldquoO sintoma como aparelhordquo in O sintoma Charlatatildeo p16 Rio de Janeiro Jorge Zahar Ed 1998 ( Campo Freudiano do Brasil)

5MILLER Jacques-Alain ldquo Nascimento do Sujeito Suposto Saberrdquo In Correio nuacutemero 60 p 19 -Cliacutenica e Pragmaacutetica 2008

6LUTTERBACH-HOLCK Ana Luacutecia ldquoDepressatildeo felicidade e algo maisrdquo in Opccedilatildeo Lacaniana - nordm 51 p 8 - Abril 2008

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UM BONECO VIVO

Maria de Lourdes Mattos

A partir de duas referecircncias extraiacutedas do campo da arte produzidas em momentos histoacutericos distintos pretendo contribuir com questotildees daatualidade da cliacutenica

Inicialmente me pergunto sobre a possibilidade de diaacutelogo entre duas produccedilotildees bem distintas uma extraiacuteda da literaturafantaacutestica do seacuteculo XIX e a outra do cinema do seacuteculo XXI Na primeira haacute a duacutevida se um ser aparentemente animadotem vida e na segunda produccedilatildeo onde essa duacutevida natildeo se apresenta aparece a questatildeo da mudanccedila de sexo um homemcompulsoriamente eacute transformado em mulher Talvez a metaacutefora de um ldquoboneco vivordquo e de um ldquovivo como um bonecordquoaproxima e distancia essas duas produccedilotildees

Trata-se de ldquoO homem de areiardquo escrito por Hoffmann (1) em 1817 e que inspirou Freud (2) com o texto ldquoO estranhordquoelaborado em 1919 e do filme ldquoA pele que habitordquo de Pedro Almodoacutevar realizado em 2011

22102016 wwwebpsporgbrindexphpview=articleamptype=rawampcatid=303Acarta-de-sao-paulo-onlineampid=8763Acarta-de-sao-paulo-online-5-nova-serie-ano-iiiamptmpl=componentampprint=1amplayout=defaultamppage=ampoption=com_contehellip

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Na introduccedilatildeo ao conto Italo Calvino (3) considerou ldquoA descoberta do inconsciente ocorre precisamente aqui na literaturaromacircntica fantaacutestica quase cem anos antes que lhe seja dada uma referecircncia teoacutericardquo

No conto o jovem Natanael identifica o ldquohomem de areiardquo aquele que arrancava o olho das crianccedilas com o advogadoCoppelius amigo do pai cuja morte ocorreu no escritoacuterio por uma explosatildeo apoacutes visita do advogado que desaparece depoisdesse acontecimento O fantasma do homem que arrancava o olho das crianccedilas acompanha a vida de Natanael e reaparece emsua eacutepoca de estudante na figura do oculista Coppola vendedor de barocircmetros que lhe vende um telescoacutepio Com esseinstrumento o jovem observa a casa da frente do professor de fiacutesica Spallanzani espiando a bela filha Oliacutempia silenciosa eimoacutevel Apaixona-se por ela esquecendo-se de sua noiva Mas Oliacutempia eacute um autocircmato um boneco produzido pelo professorcujos olhos foram colocados por Coppola o homem de areia Em dado momento na tentativa de proteger Oliacutempia o joveminvade a casa do professor que discutia ferozmente com o oculista Na disputa entre os dois ldquocientistasrdquo a boneca eacutedespedaccedilada e seus olhos satildeo arremessados no peito de Natanael que nesse momento sucumbe agrave loucura Ao se recuperar ojovem retoma suas atividades e seu relacionamento com a noiva Em um passeio com ela resolvem observar a cidade do altode uma torre Fazendo uso do telescoacutepio ao observar a paisagem avista o professor Coppola o que ocasiona novo ataque deloucura e passagem ao ato Gritando ldquogira bonequinha de pau Bonequinha de pau girardquo tenta arremessar a noiva do altoda torre que eacute salva pelo irmatildeo Continuando seu ataque com os berros ldquolindos olhos lindos olhosrdquo atira-se do alto datorre

De acordo com Freud (4) o estranho algo assustador que remete ao que eacute familiar e deveria permanecer oculto estaacute ligado agrave figura do Homem deAreia aquele que tira os olhos das crianccedilas A duacutevida quanto agrave boneca se eacute um ser vivo ou inanimado eacute irrelevante em termos de estranheza Freudrelaciona o medo de perder os olhos ao complexo de castraccedilatildeo substituindo ldquoo Homem de Areia ao pai temido de cujas matildeos eacute esperada a castraccedilatildeordquoOsinventores da boneca seriam a reencarnaccedilatildeo dos pais de Natanael e Oliacutempia a ldquomaterializaccedilatildeo da atitude feminina de Natanael em relaccedilatildeo ao pai na suainfacircnciardquo O amor que o jovem sente pela boneca seria a expressatildeo da forma do amor narciacutesico

Entre os temas ligados ao estranho Freud destaca o fenocircmeno do duplo e o efeito produzido quando algo da ordem doimaginaacuterio aparece na realidade ou seja quando desaparece a distinccedilatildeo entre o imaginaacuterio e a realidade (5) Lacan (6)enfatiza a importacircncia da localizaccedilatildeo de Freud no texto de Hoffmann do fenocircmeno do estranho para tratar a anguacutestiaQuando algo que deveria permanecer oculto vem agrave luz ldquoa imagem especular transforma-se na imagem do duplordquo Segundo elena histoacuteria de ldquoO homem de areia vemos o sujeito saltar de uma captaccedilatildeo para outra diante da forma de imagem quematerializa A boneca eacute essa imagem iacute(a) na operaccedilatildeo de complementaacute-la com aquilo que na proacutepria forma do conto eacuteabsolutamente distinto dela ou seja o olho O olho de que se trata soacute pode ser o do heroacutei (Natanael)rdquo Considera a preciosidadedo campo da ficccedilatildeo na experiecircncia do estranho (unnheimlich) para localizar o campo da fantasia

O veacuteu da fantasia protege o real Na contemporaneidade com a crise do simboacutelico talvez seja vaacutelido considerar quecarecemos dessa proteccedilatildeo

Em entrevista para a EBP-MG (7) Franccedilois Ansermet considera que os avanccedilos da ciecircncia colocam em crise o simboacutelico ao mesmo tempo que aopretender tratar o real o produz cada vez mais gerando novas questotildees Levando em conta a especificidade de cada abordagem refere que natildeo soacute aciecircncia e a psicanaacutelise tratam o real mas a arte tambeacutem e sua particularidade estaacute em ir direto ao ponto

O filme de Pedro Almodoacutevar eacute um exemplo disso Em ldquoA pele que habitordquo procura-se produzir a coacutepia de uma mulher como se fosse um ldquoclonerdquo apartir do corpo de um homem Eacute o duplo da ciecircncia Para aleacutem da era da maacutequina da produccedilatildeo dos robocircs um dos temas do seacuteculo XXI eacute abiotecnologia de reproduccedilatildeo da mudanccedila de sexo o que segundo Ansermet pode fazer a realidade delirar

Antocircnio Banderas interpreta um cirurgiatildeo plaacutestico o Dr Robert Ledgard que perdeu a mulher queimada num acidente decarro Inventa uma nova pele com a qual poderia salvaacute-la Para fazer uso de seu experimento utiliza o corpo de Vicente (8)que supostamente violentou sexualmente sua filha Norma (9) No seu laboratoacuterio Dr Robert produz a bela mulher no corpode seu prisioneiro Vera (10) eacute o resultado da invenccedilatildeo Mas algo escapa ao poder ilimitado da ciecircncia Vicente continuahabitando o corpo da bela mulher

No Seminaacuterio sobre o Sinthoma(11) Lacan refere que a psicanaacutelise ao considerar o sujeito dividido pela operaccedilatildeo dalinguagem encontra sua difusatildeo ao questionar a ciecircncia que faz de um objeto um sujeito

Ser homem ou mulher vai aleacutem da diferenccedila anatocircmica entre os sexos supotildee uma implicaccedilatildeo subjetiva do sexo A partir das foacutermulas de sexuaccedilatildeo(12) Lacan elucidou que haacute diversas maneiras de o sujeito inscrever seu corpo e seu gozo em relaccedilatildeo ao significante faacutelico

Referecircncias

(1) (HOFFMANN ETA ldquoO homem de areiardquo In Contos fantaacutesticos do seacuteculo XIX o fantaacutestico visionaacuterio e o fantaacutestico cotidianoorg de Italo Calvino ndash SPCompanhia de Letras 2004 p 49-81

(2)FREUD S ldquoO estranhordquo In Obras Completas RJ Imago 1996 p 234-69

(3) HOFFMANN ETA op cit p 49

(4) FREUD S opcit

(5) FREUD S Op cit p 261

(6) LACAN J ldquoO seminaacuterio livro 10 a anguacutestiardquo RJ Zahar 2005 p57-9

(7) Boletim Sinapsy Entrevista de Franccedilois Ansermet para a XVIII Jornada da EBP-MG

(8) Vicente eacute interpretado por Jan Cornet

(9) Norma eacute interpretada por Bianca Suarez

(10) Vera eacute interpretada por Elena Anaya

(11) LACAN J ldquoO seminaacuterio livro 23 o sinthomardquo RJ Zahar 2007 p

(12) LACAN J ldquoO seminaacuterio livro 20 mais aindardquo RJ Zahar

SAtildeO PAULO DE PIRATININGA____________________

22102016 wwwebpsporgbrindexphpview=articleamptype=rawampcatid=303Acarta-de-sao-paulo-onlineampid=8763Acarta-de-sao-paulo-online-5-nova-serie-ano-iiiamptmpl=componentampprint=1amplayout=defaultamppage=ampoption=com_contehellip

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EBP-SP na Casa das Rosas (Avenida Paulista 19102013)

LOUCOS DE PAIXAtildeO

Maria do Carmo Dias Batista

Pensei em trabalhar o tema ldquoLoucos de Paixatildeordquo atraveacutes do cinema desde o momento em que recebi o convite da Diretora da EBP-SP MarizildaPaulino a quem agradeccedilo A Perpeacutetua Medrado Gonccedilalves que haacute vaacuterios anos participa deste evento e assim sustenta uma possibilidade de inserccedilatildeoda EBP-SP na Cidade gostaria de aleacutem de agradecer pelo longo tempo de trabalho conjunto fazer um elogio Um elogio agrave loucura ao deliacuterio de suacrenccedila inquebrantaacutevel na Escola e no trabalho com a doenccedila mental baseando-me na formulaccedilatildeo de Jacques-Alain Miller da generalizaccedilatildeo dodeliacuterio todos os nossos discursos satildeo delirantes satildeo defesas contra o real (1) Agradeccedilo ainda a Cynthia Nunes de Freitas Diretora de Biblioteca deEBP-SP que participa da organizaccedilatildeo deste evento e de muito outros com o objetivo de ampliar a presenccedila do Campo Freudiano

Falar de cinema e psicanaacutelise eacute falar da psicanaacutelise aplicada a uma das manifestaccedilotildees mais importantes da cultura desde suainvenccedilatildeo no seacuteculo XX O cinema se inseriu na sociedade de forma contundente como se houvesse uma sede da ficccedilatildeomostrada em imagens em movimento Produziu uma identificaccedilatildeo maciccedila A literatura a muacutesica a oacutepera natildeo bastavam mais

Aplicar a psicanaacutelise ao cinema natildeo eacute psicanalizar diretores autores atores mas como durante mais de quinze anos meuquerido Marco Antocircnio Guerra e eu colocamos em praacutetica no Seminaacuterio de Cinema e Psicanaacutelise trata-se de sacudir atualizar os conceitos dapsicanaacutelise atraveacutes dos excelentes exemplos oferecidos pelo cinema

O tema ldquoLoucos de Paixatildeordquo nos inspirou a escolher para a conversa de hoje o filme ldquoO Impeacuterio dos Sentidosrdquo como vocecircs acabaram de escutar e saberatraveacutes da bela fala de Marco Esse foi um dos filmes que Lacan viu e aplicou agrave psicanaacutelise (conforme tiacutetulo do livro de Carlos Gustavo Motta Laspeliacuteculas que Lacan vio y aplicoacute al psicoanaacutelisis) (2) A referecircncia estaacute no Seminaacuterio 23 (3) de 1976 mesmo ano de lanccedilamento do filme Lacan conta aseu auditoacuterio que esteve em uma salinha de projeccedilatildeo reservada e escondida em Paris pois o filme estava censurado Convidou algumas pessoas de suaEscola e todos segundo Lacan saiacuteram embasbacados (souffleacutees) assombrados O efeito provocado pelo filme em Lacan deve-se a ter nele localizadoum exemplo surpreendente do erotismo feminino Ele natildeo esperava ver isso em um filme japonecircs e comeccedilou entatildeo a compreender o poder dasjaponesas

No filme o erotismo feminino foi levado ao extremo e esse extremo eacute a fantasia de matar o homem Poreacutem continua Lacan isso natildeo basta Depois detecirc-lo matado vai mais longe Depois a japonesa corta o pecircnis de seu parceiro Por que depois Talvez possamos entender a partir do que disse Marcoela corta o pecircnis depois porque matar o homem foi um ato falho inesperado uma forccedila um pouco maior no garrote que tinha por objetivo obter maisuma ereccedilatildeo Mais uma ereccedilatildeo ainda

O filme se baseia em coisas que de fato aconteceram no Japatildeo em 1936 agraves veacutesperas da invasatildeo da China Errar pelas ruas de Toacutekio por quatro diascarregando apertado junto ao corpo o pecircnis do morto envolto em um lenccedilo de seda vermelho ateacute ser presa indica talvez o ato falho Essa tambeacutem eacute aopiniatildeo de Carlos Gustavo Motta que diz ao voltar do intenso cliacutemax descobre que seu amante morreu (4)

Lacan se pergunta por que ela natildeo o cortou antes independente do que ocorreu na realidade para reafirmar que a fantasiaextrema do erotismo feminino eacute matar o homem e natildeo castraacute-lo Se a fantasia do homem eacute fetichista e ele faz amor com asfantasias de seu inconsciente a fantasia da mulher como nos eacute demonstrado pelo filme eacute alguma coisa que de todo modoimpede o encontro pois natildeo tem limite visa um gozo ilimitado A mulher natildeo eacute [toda] determinada por seu inconsciente

A sexualidade para Freud se inscreve na fantasia inconsciente e esse eacute o campo por excelecircncia do erotismo Atraveacutes daconstruccedilatildeo fantasiacutestica do corpo eroacutegeno o humano se diferencia dos outros animais e das teacutecnicas comportamentaisdefendidas pela sexologia centrada no corpo bioloacutegico

A possibilidade de constituiccedilatildeo do corpo eroacutegeno atraveacutes da relaccedilatildeo com o Outro eacute o avanccedilo em direccedilatildeo agrave vida eroacuteticacriativa onde o velamento excita e incita ao deciframento do enigma que por sua vez nunca se alcanccedila e sempre eacute mantido pela forccedila da pulsatildeo Este eacuteo ponto central da genial descoberta de Freud pois ateacute o seacuteculo XIX a sexualidade era identificada com o registro da reproduccedilatildeo bioloacutegica

Assim parece claro que a mulher ocupe para o homem pelo menos no que se refere ao gozo faacutelico o lugar de fetiche Poreacutem caberia perguntar aindapor que eacute a mulher que deve ocupar esse lugar de falo ou de objeto Segundo Lacan eacute por ter o oacutergatildeo faacutelico que o homem natildeo eacute o falo o que implicaque a mulher possa ser o falo Eacute por natildeo ter o falo que a mulher adquire seu valor

O erotismo feminino mesmo que concebido apenas a partir da funccedilatildeo faacutelica indica um para aleacutem do falo Poreacutem no caso extremo desse erotismolouco e enigmaacutetico dentro da dialeacutetica entre o ter e o ser (o falo) matar o homem pode ser interpretado como a fantasia que tornaria possiacutevel agrave mulherter o falo e isso o filme mostra muito bem Obrigada

Referecircncias

(1) MILLER J-A ldquoClinique ironiquerdquo La Cause freudienne ndash Revue de lrsquoECF Paris ECF n 23 p 7

(2) MOTTA C G Las peliacuteculas que Lacan vio y aplicoacute al psicoanaacutelisis Buenos Aires Paidoacutes 2013

(3) LACAN J O Seminaacuterio ndash livro 23 O sinthoma Rio de Janeiro Zahar 2007 p 122-123 e 199-200

(4) MOTTA C G Op Cit p 157

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A EBPndashSP na Casa das Rosas - Resenha

LOUCOS DE PAIXAtildeO

Perpeacutetua Medrado Gonccedilalves

ldquoA loucura colocada em cena para fazer seu elogio e para dizer todo mundo eacute louco(1)

A Escola Brasileira de Psicanaacutelise - SP foi para a Avenida Paulista na Casa das Rosas participar do Sarau Chama Poeacuteticaconvidada por Fernanda Almeida Prado a quem agradeccedilo a possibilidade dessa parceria

A Loucura elogia a si mesma mostra-se como verdade orgulha-se de dizer que ela eacute a uacutenica capaz de alegrar os deuses e osmortais E dessa forma encanta a todos com o seu saber mesmo satirizando a miseacuteria humana

22102016 wwwebpsporgbrindexphpview=articleamptype=rawampcatid=303Acarta-de-sao-paulo-onlineampid=8763Acarta-de-sao-paulo-online-5-nova-serie-ano-iiiamptmpl=componentampprint=1amplayout=defaultamppage=ampoption=com_contehellip

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ldquoAssim tambeacutem a mulher eacute sempre mulher isto eacute eacute sempre louca seja qual for a maacutescara sob a qual se apresente Natildeo quero todavia acreditar jamaisque o belo sexo seja tolo ao ponto de se aborrecer comigo pelo que eu lhe disse pois tambeacutem sou mulher e sou a Loucurardquo(2)

ldquoElogio da Loucurardquo Tema do Sarau Chama Poeacutetica eacute um texto de 1506 de Erasmo de Rotterdam cuja narradora eacute a Loucura ou seja umamulher Ela mostra as diversas faces de sua sabedoria suas ideias suas paixotildees seus oacutedios e seus temores O texto apresenta uma visatildeo irocircnica quecondena os abusos mas natildeo as instituiccedilotildees

Encontramos vaacuterias citaccedilotildees deste texto nos Escritos de Lacan Lacan transformou a loucura no fio condutor do seu ensino e fez sua entrada napsicanaacutelise pois para ele o louco seria o uacutenico que poderia ser testemunha do Real ldquoE o ser do homem natildeo somente natildeo pode ser compreendido sem aloucura como natildeo seria o ser do homem se natildeo trouxesse em si a loucura como o limite de sua liberdaderdquo (3)

Comeccedilamos nossa atividade com a intervenccedilatildeo de Marizilda Paulino Diretora Geral da EBP-SP que deu as boas vindas e convidou todos para asJornadas da EBP-SP 2013Lacan PsicanalistaBrasileiroO que fazemos no Brasil com o Ensino de Jacques Lacan

Maria do Carmo Dias Batista dividiu a Conversa Loucos de Paixatildeo com Marco Antonio Guerra professor da ECAUSP especialista em cinemaAmbos falaram sobre o filme ldquoO Impeacuterio dos Sentidosrdquo Marco Antonio animou o debate ao trazer suas impressotildees do Japatildeo paiacutes em que morou poralgum tempo

O Impeacuterio dos Sentidos (Ai no Korīda ou 愛のコリーダ) eacute um filme franco-japonecircs de 1976 do gecircnero drama eroacutetico Ofilme foi proibido na sua primeira exibiccedilatildeo no Festival de Nova York

Marco Antonio discorreu sobre o filme que eacute considerado uma obra-prima do erotismo baseada em um fato real ocorrido em1936 um dos mais famosos escacircndalos do Japatildeo Eacute a histoacuteria da jovem Sada ex-prostituta que se envolveu em um obsessivo

caso de amor com o patratildeo na casa onde trabalhava como domeacutestica A relaccedilatildeo que comeccedilou casual atinge niacuteveis em que a paixatildeo natildeo encontra maislimites

ldquoQuereis prova mais evidente de que soacute a loucura constitui o ascendente das mulheres sobre os homens Os homens tudo concedem agraves mulheres por causada voluacutepia e eacute soacute com a loucura que as mulheres agradam aos homensrdquo(4)

O casal passa os dias a fornicar e a beber no bordel onde se refugiam sem se alimentarem nem saiacuterem do quarto exceto quando Sada vai ganharalgum dinheiro para o sustento Esse jogo amoroso culmina com a morte do amante quando Sada o estrangula para garantir o maacuteximo da ereccedilatildeoDepois da morte do amante ela corta seu pecircnis e passeia pelas ruas da cidade com ele preso em seu corpo ateacute ser presa

Maria do Carmo lembra que falar de cinema e psicanaacutelise eacute falar da psicanaacutelise aplicada a uma das manifestaccedilotildees mais importantes da cultura desdesua invenccedilatildeo no seacuteculo XX Comenta tambeacutem que Lacan no Seminaacuterio 23 o sinthoma (1975-1976) diz que saiu desse filme embasbacado ldquoFiqueiembasbacado porque se trata do erotismo femininordquo(5) Para ele no filme o erotismo feminino foi levado ao extremo e esse extremo eacute a fantasia dematar o homem Mas Lacan diz isso natildeo basta Depois de tecirc-lo matado vai-se mais longe Ela corta o pecircnis de seu parceiro Por que depois PerguntaLacan acrescentando ldquoa japonesa em questatildeo que eacute o caso de dizer eacute uma amante mulherrdquo

Maria do Carmo diz a partir do que disse Marco Antonio ldquoela corta o pecircnis depois porque matar o homem foi um ato falho inesperado uma forccedila umpouco maior no garrote que tinha por objetivo obter mais uma ereccedilatildeo Mais uma ereccedilatildeo aindardquo (6)

Andar pelas ruas de Toacutekio por quatro dias carregando junto ao corpo o pecircnis do amante envolto em um lenccedilo de seda vermelho ateacute ser presa indica oato falho segundo Maria do Carmo Ela cita Carlos Gustavo Motta ao voltar do intenso cliacutemax descobre que seu amante morreu(7)

Lacan ao perguntar por que ela natildeo o cortou antes afirma que no filme vemos claramente que a ldquocastraccedilatildeo natildeo eacute a fantasiardquo e reafirma que a fantasiaextrema do erotismo feminino eacute matar o homem e natildeo castraacute-lo ldquoQuanto ao que fantasia a mulher se eacute como nos foi apresentado pelo filme eacute algumacoisa que de todo modo impede o encontrordquo(8)

Assim Maria do Carmo conclui sua fala ldquoo erotismo feminino mesmo que concebido apenas a partir da funccedilatildeo faacutelica indica um para aleacutem do faloPoreacutem no caso extremo desse erotismo louco e enigmaacutetico dentro da dialeacutetica entre o ter e o ser (o falo) matar o homem pode ser interpretado como afantasia que tornaria possiacutevel agrave mulher ter o falo e isso o filme mostra muito bemrdquo(9) Para concluir trago este recorte sobre o filme que encontrei emMulheres de hoje figuras do feminino no discurso analiacutetico - Boletim de 27 de dezembro de 2012 agraves 1754

ldquoEis o extremo do erotismo feminino ou o lado mortiacutefero do gozo feminino A fantasia pode ser um modo do sujeito se virar com a castraccedilatildeo um modoparadoxal de se virar com a exigecircncia pulsional Mas tambeacutem haacute outros modos de se enlaccedilar gozo e desejo Haacute outros modos de se arranjar com o erotismofemininordquo

Referecircncias

(1)MILLER J-A Todo mundo eacute louco Curso Orientaccedilatildeo lacaniana III 10 XVIII liccedilatildeo do Curso Paris 11 de junho de 2008

(2)ROTTERDAM Erasmo Elogio da Loucura Martin Claret Satildeo Paulo 2012 Traduccedilatildeo de Paulo Seacutergio Brandatildeo

(3)Lacan J Formulaccedilotildees sobre a causalidade psiacutequica Escritos Rio de Janeiro Jorge Zahar

(4) ROTTERDAM Erasmo Elogio da Loucura Martin Claret Satildeo Paulo 2012 Traduccedilatildeo de Paulo Seacutergio Brandatildeo

(5) LACAN J Seminaacuterio 23 O sinhtoma Jorge Zahar Rio de Janeiro p 122 123

(6) DIAS BATISTA M C Loucos de Paixatildeo EBP-SP na Casa das Rosas Texto apresentado na Conversa sobre Loucos de paixatildeo em 19102013

(7) MOTTA C G Las peliacuteculas que Lacan vio y aplicoacute al psicoanaacutelisis Buenos Aires Paidoacutes 2013

(8) LACAN J Seminaacuterio 23 O sinthoma Jorge Zahar Rio de Janeiro p 122 123

(9) DIAS BATISTA M C Loucos de Paixatildeo EBP-SP na Casa das Rosas Texto apresentado na Conversa sobre Loucos de paixatildeo em 19102013

TERRA DE SANTA CRUZ_____________________

22102016 wwwebpsporgbrindexphpview=articleamptype=rawampcatid=303Acarta-de-sao-paulo-onlineampid=8763Acarta-de-sao-paulo-online-5-nova-serie-ano-iiiamptmpl=componentampprint=1amplayout=defaultamppage=ampoption=com_contehellip

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BOLETIM HAUN

Leiam o boletim haun nuacutemero

httpwwwebporgbrhaunboletins011asp

ECOS DO MUNDO___________________________

Congresso da AMP ‐ Paris 2014

Boletim de Informaccedilatildeo do IX Congresso da AMP

Todos os Whatrsquos up estatildeo no site do Congresso em 5 idiomas

Franccedilais httpwwwcongresamp2014comfrWhats‐upWhatsUp_006pdf

Espantildeol httpwwwcongresamp2014comesWhats‐upWhatsUp_006pdf

Portugueacutes httpwwwcongresamp2014comptWhats‐upWhatsUp_006pdf

Italiano httpwwwcongresamp2014comitWhats‐upWhatsUp_006pdf

English httpwwwcongresamp2014comenWhats‐upWhatsUp_006pdf

ldquoLacan Cotidianordquo continua a ser veiculado em portuguecircs por nossas miacutedias traduccedilotildees realizadas por psicanalistas brasileiros sob a coordenaccedilatildeo de Maria do Carmo Dias Batista Pode‐se ler em portuguecircs os

artigos publicados acessando wwwebp‐spblogspotcombr

Os mesmos artigos e outros podem ser lidos no original francecircs httpwwwlac anquotidienfrblog

ENSINO DE LACAN__________________________

o psicanalista eacute colocado pelo discurso que o condiciona numa posiccedilatildeo digamos difiacutecil Por pouco que tenha praticado a anaacutelise o psicanalistasabe por experiecircncia proacutepria ter um denominador comum com o que eu digo

JACQUES LACAN O SEMINAacuteRIO - LIVRO 19 ou pior

AGENDA__________________________________

AGENDA- EBP SP

0611 - Seminaacuterio do Conselho - ou pior parte III - O Um Que Ele Natildeo Acesse o Dois cap XIII - Na base da diferenccedila dos sexos Apresentaccedilatildeo PaolaSalinas Coordenaccedilatildeo Luiz Fernando Carrijo da Cunha

08 e 0911 - Jornadas da EBP-SP 2013

Convidado Jorge Forbes - Coordenadora Geral Marizilda Paulino

22102016 wwwebpsporgbrindexphpview=articleamptype=rawampcatid=303Acarta-de-sao-paulo-onlineampid=8763Acarta-de-sao-paulo-online-5-nova-serie-ano-iiiamptmpl=componentampprint=1amplayout=defaultamppage=ampoption=com_contehellip

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1311 - Seminaacuterio do Conselho - ou pior parte III - O Um Que Ele Natildeo Acesse o Dois cap XIV - Teoria das quatro foacutermulas (palestra) ApresentaccedilatildeoMaria Bernadette Pitteri Coordenaccedilatildeo Luiz Fernando Carrijo da Cunha

2011 - Natildeo haveraacute atividade em Satildeo Paulo - Enapol em Buenos Aires

2711 - Natildeo haveraacute atividade em Satildeo Paulo

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Temos acompanhado uma certa transformaccedilatildeo nos modelos de gerenciamento das instituiccedilotildees puacuteblicas O enfoque administrativo que imprime amarca empresarial na aacuterea da sauacutede puacuteblica atual tem como consequecircncia assim justificada a reduccedilatildeo de custos e a obtenccedilatildeo de lucro Como efeitoscolaterais temos a contrataccedilatildeo de profissionais despreparados via Organizaccedilotildees Sociais (OS) e salaacuterios cada vez mais defasados entre os funcionaacuteriospuacuteblicos concursados Essa vertente ldquoempresarialrdquo eacute verificada constantemente pelos dispositivos de precircmio de qualidade e anaacutelise de gestatildeo em sauacutedeSabemos que estas medidas trazem impactos na praacutetica assistencial do psicanalista e mais uma vez o convocam a construir estrateacutegias Um dosproblemas que temos enfrentado atualmente diz respeito agraves listas de espera para avaliaccedilatildeo diagnoacutestica e tratamentos ambulatoriais Temos colegascom uma centena de casos aguardando convocaccedilatildeo Por um lado nos perguntamos se isto aponta para a transferecircncia de trabalho endereccedilada aopsicanalista ou como eacute bem provaacutevel que em alguns casos uma dificuldade crescente dos profissionais da sauacutede em lidar com a queixa dos doentes

Nestes anos de trabalho em hospital geral tais impasses longe de nos fazerem recuar nos tecircm permitido convocar a presenccedilade colegas psicanalistas da EBP para a interlocuccedilatildeo no hospital fazendo da aridez da nossa praacutetica algo menos solitaacuterio Estasinterlocuccedilotildees permitiram incluir o Ensino de Lacan em nosso meio natildeo como a verdade mas como um dispositivo capaz defazecirc-la surgir ali mesmo onde tantos outros discursos tentam apagaacute-la em nome de um bem-estar higiecircnico

Lembro um comentaacuterio de Jorge Forbes em uma de suas participaccedilotildees junto agrave nossa equipe quando dizia que a formaccedilatildeo dopsicanalista deveria incluir a experiecircncia da atuaccedilatildeo num hospital geral A fala me remete ao fato de que no hospital temos ador e a deliacutecia de convivermos com os eixos cliacutenico poliacutetico institucional e sobretudo eacutetico do exerciacutecio da psicanaacutelise

Para concluir gostaria de retomar Lacan com um trecho de ldquoA Ciecircncia e a Verdaderdquo de 1965 Neste trecho assim considero vemos que nossos pontosde tensatildeo natildeo satildeo necessariamente com a ciecircncia mas sim com o emprego dela em alguns contextos

Que eacute impensaacutevel por exemplo que a psicanaacutelise como praacutetica que o inconsciente o de Freud como descoberta houvesse tidolugar antes do nascimento da ciecircncia no seacuteculo a que se chama seacuteculo do talento o XVII ndash ciecircncia a ser tomada no sentidoabsoluto no instante indicado sentido este que decerto natildeo apaga o que se instituiacutera antes sob esse mesmo nome poreacutem que emvez de encontrar nisso seu arcaiacutesmo extrai dali seu proacuteprio fio de uma maneira que melhor mostra sua diferenccedila de qualqueroutro () natildeo visamos dizendo isso da psicanaacutelise e da descoberta de Freud ao acidente de ter sido pelo fato de seus pacientesterem ido procuraacute-lo em nome da ciecircncia e do prestiacutegio que ela conferia () que Freud conseguiu fundar a psicanaacutelise descobrindo o inconscienteDizemos que foi esse mesmo cientificismo que conduziu Freud como nos demonstram seus escritos a abrir a via que para sempre levaraacute seu nome(Lacan 1965 p 871)

Referecircncias

LACAN J A direccedilatildeo do tratamento e os princiacutepios do seu poder (1958) In Escritos Jorge Zahar Ed Rio de Janeiro 1998

LACAN J A ciecircncia e a verdade (1965) In Escritos Jorge Zahar Ed Rio de Janeiro 1998

LACAN J O lugar da psicanaacutelise na medicina (1966) Opccedilatildeo Lacaniana Revista Brasileira Internacional de Psicanaacutelise Nuacutemero 32 dezembro de 2001

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O UacuteLTIMO LACANIANO

Rodrigo Camargo (Seccedilatildeo Cliacutenica ndash Clipp)

Lacan veio para esses lados de baixo do Equador uma uacutenica vez Foi no final de sua vida em 1980 num seminaacuterio proferido em Caracas VenezuelaAli ele pronunciou algo que ateacute hoje nos faz eco quando disse ldquoeu sou freudiano se vocecircs quiserem sejam lacanianosrdquo

Marcava-se assim mais-um efeito de retorno isto eacute Lacan retoma Lacan de Funccedilatildeo e Campo texto inaugural de seu ensinoem 1953 Desde ali foi o longo caminho de uma interrogaccedilatildeo Lacan soube como ningueacutem interrogar ininterruptamente aobra freudiana por quase cinco deacutecadas Provocou uma reviravolta na experiecircncia da psicanaacutelise fundando um campoespeciacutefico a saber o campo lacaniano (cf Seminaacuterio 17) Ser lacaniano entatildeo eacute interrogar a obra de Lacan

Quem fez isso com o maacuteximo de rigor e periacutecia foi ningueacutem menos do que Jacques-Alain Miller Precisamente Miller foi seuverdadeiro herdeiro intelectual Logo apoacutes a dissoluccedilatildeo da Eacutecole Freudienne de Paris Lacan tambeacutem disse ao-menos-umque me lecirc seria aqui desnecessaacuterio apontar a quem ele se referia Contudo isso nos coloca no iniacutecio de uma nova seacuterie dequestotildees

Se Lacan foi o ao-menos-um que leu Freud (todo seu ensino se fundamenta nesta loacutegica) Miller por seu turno foi um leitor contumaz de Lacan istoeacute temos assim constituiacuteda uma linha de passe que comeccedila com Freud passa por Lacan e hoje aterriza em Jacques-Alain Miller (nome quecuriosamente em portuguecircs-brasileiro faz homofonia com jaacute que ela eacute mulher)

Como ler hoje Freud sem conceber o inconsciente estruturado como linguagem Natildeo haacute como ir ateacute Freud seriamenteretornar a Freud sem pegar o contorno desenhado por Lacan Da mesma maneira natildeo temos condiccedilotildees de acessar Lacanatualmente sem passar pelo crivo de Jacques-Alain Miller (tanto parao bem quanto para o mal) No Brasil a entrada deLacan se confunde com a chegada de Miller Este eacute o sintoma de um Lacan brasileiro

Todo o esforccedilo o empenho e dedicaccedilatildeo do trabalho de elucidar Lacan faz de Miller o que consideraria ser o uacuteltimolacaniano Certamente ele natildeo foi o primeiro A histoacuteria nos conta isso Poreacutem a tese parece forte colocada assim de modoabrupto Jacques-Alain Miller eacute o uacuteltimo lacaniano simplesmente porque natildeo lemos mais Lacan sem dar mil voltas por eleseja acompanhando as liccedilotildees de seu curso de orientaccedilatildeo seja pegando o sentido oposto sem antes decidir tomaacute-lo comoreferecircncia negativa Depois de Miller natildeo resta mais duacutevida somos agora no miacutenimo lacano-americanos E isso natildeo eacute sem

consequecircncias no Brasil e principalmente aqui em Satildeo Paulo

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CIEN ndash ldquo Frente aos Protocolosrdquo ndash 2ordf Conversaccedilatildeo entre laboratoacuterios

Simone Brandatildeo de Carvalho e Silva

Participaram desta Conversaccedilatildeo que ocorreu em 04102013 dois laboratoacuterios ldquoAs Manifestaccedilotildees do Higienismo na Atualidaderdquo-SP e ldquoaFINARTErdquo-Ribeiratildeo Preto A Coordenadora do CIENndashSP Siglia Cruz de Saacute Leatildeo ressaltou a importacircncia destes encontros como momento preparatoacuterio para aVI Jornada Internacional do CIEN ldquoMe Inclui fora dessardquo ndash a buacutessola que cada um inventa que aconteceraacute na Argentina em novembro proacuteximo

O laboratoacuterio aFINARTE trouxe como vinheta praacutetica o relato de caso do CAPSi de Ribeiratildeo Preto intitulado ldquoUma Histoacuteria de Famiacuteliardquo Trata-se deuma famiacutelia de dependentes pai e quatro filhos usuaacuterios de substacircncias matildee tabagista Os dois filhos mais novos foram encaminhados ao CAPSiacompanhados dos pais e avoacutes Estes adolescentes tinham envolvimento com criminalidade eram usuaacuterios de drogas foram afastados da escola e

22102016 wwwebpsporgbrindexphpview=articleamptype=rawampcatid=303Acarta-de-sao-paulo-onlineampid=8763Acarta-de-sao-paulo-online-5-nova-serie-ano-iiiamptmpl=componentampprint=1amplayout=defaultamppage=ampoption=com_contehellip

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houve o pedido de reinserccedilatildeo escolar via Conselho Tutelar Esta situaccedilatildeo chamou atenccedilatildeo da psicoacuteloga e enfermeira queencontraram muitas dificuldades na conduccedilatildeo deste trabalho Os pacientes satildeo desinteressados faltosos e resistentes agravesatividades propostas rdquoFrente aos Protocolosrdquo tema desta conversaccedilatildeo provocou e convocou as profissionais participantes doCIEN a repensarem o modelo dos atendimentos propostos pela instituiccedilatildeo como o trabalho em grupo Perceberam que oolhar particularizado para cada um dos pacientes ndash irmatildeos ndash eacute o que de fato possibilitou o caminhar do trabalho emandamento

Heloisa Telles Psicanalista membro da EBPAMP foi a animadora da conversaccedilatildeo e ressaltou a complexa e difiacutecil situaccedilatildeoapresentada afirmando que eacute preciso estar atento na proacutepria organizaccedilatildeo do serviccedilo a ldquocomordquo escutar ldquoquemrdquo escutar e ldquooquecircrdquo escutar A situaccedilatildeo relatada exigiu das profissionais uma escuta atenta acarretando mudanccedilas na forma de acolhimento Em regra o que seespera do trabalho no CAPSi eacute a inclusatildeo e a reinserccedilatildeo familiar Ficou explicitado neste relato a necessidade de acolher o ldquosaberrdquo do sujeito sujeitoeste que na maioria das vezes ignora ser ele proacuteprio a sede de seu saber A partir desta orientaccedilatildeo torna-se possiacutevel o sujeito formar laccedilos o que olevaraacute agrave inserccedilatildeo social O escutar cada um esta invenccedilatildeo singular precisa estar do lado dos profissionais e eacute a partir deste ponto que se torna possiacutevelsustentar o trabalho A organizaccedilatildeo da instituiccedilatildeo eacute necessaacuteria e diferente do protocolo O protocolo recai sobre a orientaccedilatildeo quando esta no afatilde douniversal natildeo leva em conta a particularidade de cada situaccedilatildeo apresentada

O laboratoacuterio ldquoAs manifestaccedilotildees do Higienismo na Atualidaderdquo apresentou vinheta praacutetica e articulaccedilotildees teoacutericas sobre estetema vasto e polecircmico As primeiras praacuteticas higienistas e a cura das enfermidades sempre estiveram sob o poder meacutedicoSobre a medicalizaccedilatildeo na infacircncia traz um dito popular ldquoeacute de pequenino que se torce o pepinordquo para justificar amedicalizaccedilatildeo precoce O vivo da praacutetica deste laboratoacuterio nos fala de um menino de seis anos que desde os trecircs mora emcasa de Acolhimento Na 1ordf instituiccedilatildeo que frequentou os cuidadores natildeo se envolviam muito com o caso jaacute na 2ordf para ondefoi transferido junto com o irmatildeo os teacutecnicos eram mais interessados Precocemente teve o diagnoacutestico de TDAH Estaacute emtratamento psiquiaacutetrico e faz uso de Ritalina Passou por psicoterapias e hoje estaacute em tratamento psicanaliacutetico Algumas

mudanccedilas em seu comportamento de hiperatividade jaacute estatildeo sendo percebidas algo que toca seu diagnoacutestico precoce Nas discussotildees relativas a essavinheta tratou-se do abandono por parte da famiacutelia e da falta de apropriaccedilatildeo da crianccedila de sua proacutepria histoacuteria O cuidador eacute sempre visto comoaquele que tem o saber sobre a crianccedila O passado fica sempre perdido as expectativas futuras tambeacutem natildeo satildeo apontadas e a historia eacute o presente apartir do cuidador que natildeo busca o saber na crianccedila

Em todo esse processo como se articula a rede de proteccedilatildeo e qual seria a funccedilatildeo do cuidador O hospitalismo a funccedilatildeo da matildee e a maternagem oabrigo a instituiccedilatildeo de acolhimento foram temas abordados e debatidos E ainda a questatildeo do ldquosaber e segredordquo da crianccedila o diagnoacutestico precoceapontando para um apagamento do sujeito Em relaccedilatildeo aos cuidadores aparece o ldquoanonimatordquo ndash e o que precisa ser transmitido agrave crianccedila eacutejustamente um desejo que natildeo seja anocircnimo A respeito do silecircncio na histoacuteria da crianccedila quanto ao seu passado e futuro o preenchimento desse vaziogeralmente eacute feito pelo adulto que cuida esvaziando a possibilidade de a crianccedila existir diante de seu ldquosaber e seu segredordquo lugar este que estaacute semprepor vir ndash construccedilatildeo particular de cada um ndash precisando ser respeitado Eacute exatamente neste aspecto que as vivecircncias do CIEN contribuem ajudandona visualizaccedilatildeo de que algo natildeo seraacute preenchido e que eacute neste espaccedilo dito ldquovaziordquo que alguns impasses poderatildeo ser transpostos Isso que eacute da estruturado humano do lugar do mal-estar geralmente eacute visto como fracasso e capturado pelo diagnoacutestico pela medicalizaccedilatildeo e outros apagamentos

Aleacutem dos relatos apresentados e comentados pelos laboratoacuterios a praacutetica das conversaccedilotildees entre os laboratoacuterios do CIENmostram-se efetivas Participantes do CIEN e o puacuteblico interrogam-se sobre as vinhetas praacuteticas ldquoo que pensar sobre a casade acolhimento que finalmente fica com a crianccedila quando todas as outras instituiccedilotildees a recusamrdquo Questotildees de ordem eacutetica epoliacutetica satildeo levantadas sobre a funccedilatildeo do CIEN o que o difere das equipes multidisciplinares O que eacute o interdisciplinar queo CIEN propotildee Por que eacute necessaacuterio a presenccedila do analista no CIEN O espaccedilo que hoje se utiliza para conversaccedilatildeo entre oslaboratoacuterios do CIEN marca o desejo dos participantes de que essa praacutetica continue ela nos eacute uacutetil e se faz necessaacuteria

REFLEXOtildeES - TRABALHOS EM CARTEL_______________

A IMPORTAcircNCIA DO TRABALHO EM CARTEL PARA A FORMACcedilAtildeO DO ANALISTA

Cinthia Busato

Comeccedilo agradecendo o gentil convite de Caacutessia para que eu falasse aqui hoje Gentil em vaacuterios aspectos o primeiro que vou abordar eacute o da aposta eudiria inclusive da ousadia de convidar algueacutem que acabou de entrar como membro da EBP e que natildeo tem um percurso tatildeo longo como tantos colegasdentro dessa Escola Fui convidada como Diretora de Carteacuteis da Seccedilatildeo Santa Catarina e me autorizei a aceitar esse convite acreditem natildeo sem receiopara falar de um tema que sempre me causou sempre mobilizou meu percurso dentro da Escola que eacute exatamente o cartel

Desde que comecei a estudar a psicanaacutelise lacaniana faccedilo carteacuteis muitas vezes dois ao mesmo tempo E desde o iniacutecio me apaixonei pela loacutegica quefunda o cartel O ldquopor sua conta e riscordquo sempre me estimulou a valorizar o que tenho de melhor em mim o que ainda natildeo sei Era assim que euchamava o que com Lacan aprendi a chamar de natildeo-todo e achei mais adequado este termo pois ldquoo que ainda natildeo seirdquo pode ser entendido tambeacutemcomo ldquoum dia vou saber tudordquo em que de fato nunca acreditei

Poder estar com pessoas que escolho para conversar debater natildeo saber temas que me interessam e a partir daiacute construir algum saber sobre issosempre me ajudou a construir tanto um saber teoacuterico que me apoia quanto a minha relaccedilatildeo com a Escola

Bem no iniacutecio do meu percurso lacaniano escrevi um texto chamado ldquoQuem ousa errardquo que comeccedila assim ldquoTemos na neurose duas possibilidadesfrente a esta afirmaccedilatildeo o obsessivo natildeo ousa para natildeo errar a histeacuterica finge que ousa para provar que natildeo erra A psicanaacutelise propotildee uma terceira saiacutedaousar sabendo que o erro eacute possiacutevel Mais do que isso aposta no erro como caminho em direccedilatildeo ao fracasso do Ideal este que dita o que eacute errado Para apsicanaacutelise natildeo eacute errando que se aprende portanto acerta mas eacute ousando errar que se escreve o nome proacuteprio nome que aponta na direccedilatildeo do impossiacutevelOusadia natildeo eacute o mesmo que ser afoito ou desafiador Confunde-se hoje pressa afobaccedilatildeo atitude desafiadora com ousadia Erro grave O ousado pode sermuito lento O ousado natildeo baniu o medo resolveu seguir com ele O ousado suporta a falta coisa que o afoito ansioso natildeo tolera O ousado vislumbra oimpossiacutevel coisa que o afoito ansioso natildeo tolera O ousado a-risca imprime marca singular no seu ato Ao desafiador importa mais destruir a marca dooutro Por que este elogio agrave ousadia Porque frente agrave padronizaccedilatildeo ao horror ao erro a sair do padratildeo a ousadia estaacute cada vez mais rara e o que apareceem seu lugar eacute a pressa e a atitude desafiadora por si soacute Estas satildeo impedimentos ao laccedilo social pois promovem um investimento maior em banir a faltafortalecendo a imagem narciacutesica especular do que em criar possibilidades de lidar com as diferenccedilas fundamental para o laccedilo socialrdquo(1)

Vou comeccedilar a pensar daiacute a importacircncia do cartel para a formaccedilatildeo do analista e tambeacutem o dispositivo cartel no seacuteculo XXI Muito me ajudou o textode Vilma Coccoz (2) ldquoO cartel um novo laccedilordquo publicado no Boletim Uno por uno 10 que estaacute na paacutegina da NEL-Meacutexico

No texto ldquoDa psicanaacutelise em suas relaccedilotildees com a realidaderdquo (3) Lacan nos diz que ldquoOs psicanalistas satildeo saacutebios de um saber que natildeo podemcultivarconversardaiacute sua associaccedilatildeo com aqueles que soacute compartilham com ele esse saber por natildeo poder trocaacute-lointercambiaacute-lordquo Uma das vias para serelacionar com essa impossibilidade de comunicaccedilatildeo eacute a proacutepria anaacutelise mas o saber construiacutedo em uma anaacutelise eacute limitado podemos saber dadeterminaccedilatildeo inconsciente sobre o ser falante saber do gozo particular que obtemos com nosso sintoma Mas o sujeito nada pode saber do sentido do

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sintoma do outro da satisfaccedilatildeo que esses sintomas produzem Para poder permitir ao outro o acesso a este saber natildeo basta tecirc-lo conquistado haacute queconsentir com o passe onde algo se pode transmitir mesmo que natildeo seja tudo Entatildeo mesmo que sejam eruditos em um saber sobre a estrutura ospsicanalistas natildeo se reuacutenem como saacutebios para conversar sobre seu saber e ampliar o campo da erudiccedilatildeo mas se associam justamente pelo contraacuteriopor uma impossibilidade de conversar As formas que Lacan propotildee para a organizaccedilatildeo dos analistas seguem a referecircncia da distinccedilatildeo entre o laccedilocoletivo onde a referecircncia eacute o ideal que satura a falta e a loacutegica coletiva que se situa em relaccedilatildeo agrave falta do Outro que indica o furo no saber Tanto opasse quanto o cartel se inserem nessa loacutegica numa tensatildeo entre o que entra no laccedilo social e o que natildeo eacute coletivizaacutevel de cada um

Eacute nesse ponto que o Cartel encontra a especificidade de sua funccedilatildeo ser a dobradiccedila ser a articulaccedilatildeo entre o psicanalista na solidatildeo de seu ato e aEscola onde os analistas trabalham para a transmissatildeo da psicanaacutelise Se pudeacutessemos transmitir tudo o que restaria Eu imagino que teacutedio pois sefosse possiacutevel transmitir tudo a arte natildeo teria funccedilatildeo nem a psicanaacutelise

Entatildeo acho que a psicanaacutelise traz inoculado dentro de seu discurso esse saber que eacute o que faz de mim uma otimista em relaccedilatildeo agrave psicanaacutelise no seacuteculoXXI saber que natildeo sabe tudo saber que estamos marcados no corpo pela palavra e que isso nos coloca como sujeitos divididos entre uma verdade quenos habita e imprime nosso estilo e um saber que vai sendo construiacutedo a partir dela

Essa verdade o Um que marca alguma coisa do real do gozo eacute o que vai orientar o sujeito em sua nomeaccedilatildeo sintomaacutetica seu ldquosintoma como aparelhoindividual para situar o objeto pequeno a essa parte elaboraacutevel do gozordquo(4) O que seria ousado aqui que eacute a proposta da psicanaacutelise eacute suportar o vaziode significado ao inveacutes de tamponaacute-lo Eacute colocar o objeto pequeno a como causa de desejo e natildeo como objeto de mercado atrelado a um mais-de-gozarldquoNa perspectiva do uacuteltimo ensino de Lacan trata-se sobretudo de captar a maneira pela qual o sujeito estaacute articulado ao Outro pelas operaccedilotildees de batismoessenciais de seu sinthoma de um gozo que se esquiva a ser inscrito de uma vez por todas no lugar do Outrordquo (5) Ousar eacute fazer do vazio angustiante eenigmaacutetico uma marca proacutepria

A psicanaacutelise efetuou uma subversatildeo na loacutegica numeacuterica Aqui a sequecircncia deixa de ser 123 para ser 132 jaacute que para sair da loacutegica especular quede 2 faz 1 o sujeito precisa encontrar o 3 o terceiro termo aquele que traz a possibilidade de exclusatildeo imprescindiacutevel para a elaboraccedilatildeo da castraccedilatildeoEacute o que salva o sujeito do paraiacuteso da simbiose da natildeo diferenccedila Eacute ele que possibilita o aparecimento do 2 a manutenccedilatildeo de dois sujeitos que suportama diferenccedila No 2 o paraiacuteso sem garantias o paraiacuteso do desejo de uma inquietude que ousa em direccedilatildeo ao enigma do Outro e natildeo da inquietude quetenta negaacute-lo

O sintoma para a psicanaacutelise tem duas vertentes a vertente do sofrimento (gozo do sintoma) e a vertente do enigma (sentido do sintoma)Normalmente eacute pela vertente do sofrimento que um sujeito chega na anaacutelise mas para que esta se constitua como anaacutelise eacute preciso que seja propiciadoum querer saber do seu sintoma que o desejo de desvendar o enigma proacuteprio seja despertado A demanda terapecircutica pode ser unicamente se livrar deseu sofrimento e muitas terapias estatildeo aiacute para mostrar que isso eacute possiacutevel muitas vezes simplesmente trocando o Ideal ldquoconsertandordquo tapando furosno Ideal manco ou trocando por um novinho em folha O discurso messiacircnico eacute um bom exemplo Nada de marca singular aqui se trata de rebanhosAposta-se sempre no paraiacuteso futuro sem faltas com a garantia de completude e satisfaccedilatildeo Mas como analistas sabemos que o furo eacute de estruturaportanto sempre aparece Esse eacute nosso horror e nossa salvaccedilatildeo

Voltando ao iniacutecio o obsessivo natildeo ousando para natildeo errar se manteacutem mais preso a uma perpeacutetua tentativa de controle A histeacuterica fingindo ousarpara provar que natildeo erra que um dia seraacute ela proacutepria A Mulher natildeo conhece aliacutevio dessa tensatildeo Em ambos o 2 natildeo se estabelece a impotecircncia natildeofoi elaborada pelo saber de sua verdade singular que permite tratar o furo como impossiacutevel

Termino com uma citaccedilatildeo de Ana Luacutecia Lutterbach-Holck ldquoLacan jaacute na eacutepoca do seminaacuterio 1 nos aponta o melhor remeacutedio para enfrentar a ciecircnciada felicidade e suas cifras a coragem A coragem como nos falou Badiou natildeo eacute um momento heroico em que se coloca face ao impossiacutevel mas umavirtude construiacuteda na praacutetica para se sustentar no impossiacutevel A coragem pode ser algo que nos oriente localmente na desorientaccedilatildeo globalrdquo (6)

ldquoTodo caminho da gente eacute resvaloso

Mas tambeacutem cair natildeo prejudica ndash nada demais ndash a gente levanta a gente sobe a gente voltahellip

O correr da vida embrulha tudo a vida eacute assim esquenta e esfria aperta e daiacute

Afrouxa sossega e depois desinquieta

O que ela quer da gente eacute coragemrdquo Guimaratildees Rosa

Referecircncias

1BUSATO Ciacutenthia Quem ousa erra Atas da V Jornada da seccedilatildeo Santa Catarina

2COCCOZ Vilma Em httppequenaleiturablogspotcombr201211el-cartel-un-nuevo-lazo-por-vilma-coccozhtml

3LACAN Jacques Da psicanaacutelise em sua relaccedilatildeo com a realidade in Novos escritos p 358

4MILLER Jacques-Alain ldquoO sintoma como aparelhordquo in O sintoma Charlatatildeo p16 Rio de Janeiro Jorge Zahar Ed 1998 ( Campo Freudiano do Brasil)

5MILLER Jacques-Alain ldquo Nascimento do Sujeito Suposto Saberrdquo In Correio nuacutemero 60 p 19 -Cliacutenica e Pragmaacutetica 2008

6LUTTERBACH-HOLCK Ana Luacutecia ldquoDepressatildeo felicidade e algo maisrdquo in Opccedilatildeo Lacaniana - nordm 51 p 8 - Abril 2008

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UM BONECO VIVO

Maria de Lourdes Mattos

A partir de duas referecircncias extraiacutedas do campo da arte produzidas em momentos histoacutericos distintos pretendo contribuir com questotildees daatualidade da cliacutenica

Inicialmente me pergunto sobre a possibilidade de diaacutelogo entre duas produccedilotildees bem distintas uma extraiacuteda da literaturafantaacutestica do seacuteculo XIX e a outra do cinema do seacuteculo XXI Na primeira haacute a duacutevida se um ser aparentemente animadotem vida e na segunda produccedilatildeo onde essa duacutevida natildeo se apresenta aparece a questatildeo da mudanccedila de sexo um homemcompulsoriamente eacute transformado em mulher Talvez a metaacutefora de um ldquoboneco vivordquo e de um ldquovivo como um bonecordquoaproxima e distancia essas duas produccedilotildees

Trata-se de ldquoO homem de areiardquo escrito por Hoffmann (1) em 1817 e que inspirou Freud (2) com o texto ldquoO estranhordquoelaborado em 1919 e do filme ldquoA pele que habitordquo de Pedro Almodoacutevar realizado em 2011

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Na introduccedilatildeo ao conto Italo Calvino (3) considerou ldquoA descoberta do inconsciente ocorre precisamente aqui na literaturaromacircntica fantaacutestica quase cem anos antes que lhe seja dada uma referecircncia teoacutericardquo

No conto o jovem Natanael identifica o ldquohomem de areiardquo aquele que arrancava o olho das crianccedilas com o advogadoCoppelius amigo do pai cuja morte ocorreu no escritoacuterio por uma explosatildeo apoacutes visita do advogado que desaparece depoisdesse acontecimento O fantasma do homem que arrancava o olho das crianccedilas acompanha a vida de Natanael e reaparece emsua eacutepoca de estudante na figura do oculista Coppola vendedor de barocircmetros que lhe vende um telescoacutepio Com esseinstrumento o jovem observa a casa da frente do professor de fiacutesica Spallanzani espiando a bela filha Oliacutempia silenciosa eimoacutevel Apaixona-se por ela esquecendo-se de sua noiva Mas Oliacutempia eacute um autocircmato um boneco produzido pelo professorcujos olhos foram colocados por Coppola o homem de areia Em dado momento na tentativa de proteger Oliacutempia o joveminvade a casa do professor que discutia ferozmente com o oculista Na disputa entre os dois ldquocientistasrdquo a boneca eacutedespedaccedilada e seus olhos satildeo arremessados no peito de Natanael que nesse momento sucumbe agrave loucura Ao se recuperar ojovem retoma suas atividades e seu relacionamento com a noiva Em um passeio com ela resolvem observar a cidade do altode uma torre Fazendo uso do telescoacutepio ao observar a paisagem avista o professor Coppola o que ocasiona novo ataque deloucura e passagem ao ato Gritando ldquogira bonequinha de pau Bonequinha de pau girardquo tenta arremessar a noiva do altoda torre que eacute salva pelo irmatildeo Continuando seu ataque com os berros ldquolindos olhos lindos olhosrdquo atira-se do alto datorre

De acordo com Freud (4) o estranho algo assustador que remete ao que eacute familiar e deveria permanecer oculto estaacute ligado agrave figura do Homem deAreia aquele que tira os olhos das crianccedilas A duacutevida quanto agrave boneca se eacute um ser vivo ou inanimado eacute irrelevante em termos de estranheza Freudrelaciona o medo de perder os olhos ao complexo de castraccedilatildeo substituindo ldquoo Homem de Areia ao pai temido de cujas matildeos eacute esperada a castraccedilatildeordquoOsinventores da boneca seriam a reencarnaccedilatildeo dos pais de Natanael e Oliacutempia a ldquomaterializaccedilatildeo da atitude feminina de Natanael em relaccedilatildeo ao pai na suainfacircnciardquo O amor que o jovem sente pela boneca seria a expressatildeo da forma do amor narciacutesico

Entre os temas ligados ao estranho Freud destaca o fenocircmeno do duplo e o efeito produzido quando algo da ordem doimaginaacuterio aparece na realidade ou seja quando desaparece a distinccedilatildeo entre o imaginaacuterio e a realidade (5) Lacan (6)enfatiza a importacircncia da localizaccedilatildeo de Freud no texto de Hoffmann do fenocircmeno do estranho para tratar a anguacutestiaQuando algo que deveria permanecer oculto vem agrave luz ldquoa imagem especular transforma-se na imagem do duplordquo Segundo elena histoacuteria de ldquoO homem de areia vemos o sujeito saltar de uma captaccedilatildeo para outra diante da forma de imagem quematerializa A boneca eacute essa imagem iacute(a) na operaccedilatildeo de complementaacute-la com aquilo que na proacutepria forma do conto eacuteabsolutamente distinto dela ou seja o olho O olho de que se trata soacute pode ser o do heroacutei (Natanael)rdquo Considera a preciosidadedo campo da ficccedilatildeo na experiecircncia do estranho (unnheimlich) para localizar o campo da fantasia

O veacuteu da fantasia protege o real Na contemporaneidade com a crise do simboacutelico talvez seja vaacutelido considerar quecarecemos dessa proteccedilatildeo

Em entrevista para a EBP-MG (7) Franccedilois Ansermet considera que os avanccedilos da ciecircncia colocam em crise o simboacutelico ao mesmo tempo que aopretender tratar o real o produz cada vez mais gerando novas questotildees Levando em conta a especificidade de cada abordagem refere que natildeo soacute aciecircncia e a psicanaacutelise tratam o real mas a arte tambeacutem e sua particularidade estaacute em ir direto ao ponto

O filme de Pedro Almodoacutevar eacute um exemplo disso Em ldquoA pele que habitordquo procura-se produzir a coacutepia de uma mulher como se fosse um ldquoclonerdquo apartir do corpo de um homem Eacute o duplo da ciecircncia Para aleacutem da era da maacutequina da produccedilatildeo dos robocircs um dos temas do seacuteculo XXI eacute abiotecnologia de reproduccedilatildeo da mudanccedila de sexo o que segundo Ansermet pode fazer a realidade delirar

Antocircnio Banderas interpreta um cirurgiatildeo plaacutestico o Dr Robert Ledgard que perdeu a mulher queimada num acidente decarro Inventa uma nova pele com a qual poderia salvaacute-la Para fazer uso de seu experimento utiliza o corpo de Vicente (8)que supostamente violentou sexualmente sua filha Norma (9) No seu laboratoacuterio Dr Robert produz a bela mulher no corpode seu prisioneiro Vera (10) eacute o resultado da invenccedilatildeo Mas algo escapa ao poder ilimitado da ciecircncia Vicente continuahabitando o corpo da bela mulher

No Seminaacuterio sobre o Sinthoma(11) Lacan refere que a psicanaacutelise ao considerar o sujeito dividido pela operaccedilatildeo dalinguagem encontra sua difusatildeo ao questionar a ciecircncia que faz de um objeto um sujeito

Ser homem ou mulher vai aleacutem da diferenccedila anatocircmica entre os sexos supotildee uma implicaccedilatildeo subjetiva do sexo A partir das foacutermulas de sexuaccedilatildeo(12) Lacan elucidou que haacute diversas maneiras de o sujeito inscrever seu corpo e seu gozo em relaccedilatildeo ao significante faacutelico

Referecircncias

(1) (HOFFMANN ETA ldquoO homem de areiardquo In Contos fantaacutesticos do seacuteculo XIX o fantaacutestico visionaacuterio e o fantaacutestico cotidianoorg de Italo Calvino ndash SPCompanhia de Letras 2004 p 49-81

(2)FREUD S ldquoO estranhordquo In Obras Completas RJ Imago 1996 p 234-69

(3) HOFFMANN ETA op cit p 49

(4) FREUD S opcit

(5) FREUD S Op cit p 261

(6) LACAN J ldquoO seminaacuterio livro 10 a anguacutestiardquo RJ Zahar 2005 p57-9

(7) Boletim Sinapsy Entrevista de Franccedilois Ansermet para a XVIII Jornada da EBP-MG

(8) Vicente eacute interpretado por Jan Cornet

(9) Norma eacute interpretada por Bianca Suarez

(10) Vera eacute interpretada por Elena Anaya

(11) LACAN J ldquoO seminaacuterio livro 23 o sinthomardquo RJ Zahar 2007 p

(12) LACAN J ldquoO seminaacuterio livro 20 mais aindardquo RJ Zahar

SAtildeO PAULO DE PIRATININGA____________________

22102016 wwwebpsporgbrindexphpview=articleamptype=rawampcatid=303Acarta-de-sao-paulo-onlineampid=8763Acarta-de-sao-paulo-online-5-nova-serie-ano-iiiamptmpl=componentampprint=1amplayout=defaultamppage=ampoption=com_contehellip

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EBP-SP na Casa das Rosas (Avenida Paulista 19102013)

LOUCOS DE PAIXAtildeO

Maria do Carmo Dias Batista

Pensei em trabalhar o tema ldquoLoucos de Paixatildeordquo atraveacutes do cinema desde o momento em que recebi o convite da Diretora da EBP-SP MarizildaPaulino a quem agradeccedilo A Perpeacutetua Medrado Gonccedilalves que haacute vaacuterios anos participa deste evento e assim sustenta uma possibilidade de inserccedilatildeoda EBP-SP na Cidade gostaria de aleacutem de agradecer pelo longo tempo de trabalho conjunto fazer um elogio Um elogio agrave loucura ao deliacuterio de suacrenccedila inquebrantaacutevel na Escola e no trabalho com a doenccedila mental baseando-me na formulaccedilatildeo de Jacques-Alain Miller da generalizaccedilatildeo dodeliacuterio todos os nossos discursos satildeo delirantes satildeo defesas contra o real (1) Agradeccedilo ainda a Cynthia Nunes de Freitas Diretora de Biblioteca deEBP-SP que participa da organizaccedilatildeo deste evento e de muito outros com o objetivo de ampliar a presenccedila do Campo Freudiano

Falar de cinema e psicanaacutelise eacute falar da psicanaacutelise aplicada a uma das manifestaccedilotildees mais importantes da cultura desde suainvenccedilatildeo no seacuteculo XX O cinema se inseriu na sociedade de forma contundente como se houvesse uma sede da ficccedilatildeomostrada em imagens em movimento Produziu uma identificaccedilatildeo maciccedila A literatura a muacutesica a oacutepera natildeo bastavam mais

Aplicar a psicanaacutelise ao cinema natildeo eacute psicanalizar diretores autores atores mas como durante mais de quinze anos meuquerido Marco Antocircnio Guerra e eu colocamos em praacutetica no Seminaacuterio de Cinema e Psicanaacutelise trata-se de sacudir atualizar os conceitos dapsicanaacutelise atraveacutes dos excelentes exemplos oferecidos pelo cinema

O tema ldquoLoucos de Paixatildeordquo nos inspirou a escolher para a conversa de hoje o filme ldquoO Impeacuterio dos Sentidosrdquo como vocecircs acabaram de escutar e saberatraveacutes da bela fala de Marco Esse foi um dos filmes que Lacan viu e aplicou agrave psicanaacutelise (conforme tiacutetulo do livro de Carlos Gustavo Motta Laspeliacuteculas que Lacan vio y aplicoacute al psicoanaacutelisis) (2) A referecircncia estaacute no Seminaacuterio 23 (3) de 1976 mesmo ano de lanccedilamento do filme Lacan conta aseu auditoacuterio que esteve em uma salinha de projeccedilatildeo reservada e escondida em Paris pois o filme estava censurado Convidou algumas pessoas de suaEscola e todos segundo Lacan saiacuteram embasbacados (souffleacutees) assombrados O efeito provocado pelo filme em Lacan deve-se a ter nele localizadoum exemplo surpreendente do erotismo feminino Ele natildeo esperava ver isso em um filme japonecircs e comeccedilou entatildeo a compreender o poder dasjaponesas

No filme o erotismo feminino foi levado ao extremo e esse extremo eacute a fantasia de matar o homem Poreacutem continua Lacan isso natildeo basta Depois detecirc-lo matado vai mais longe Depois a japonesa corta o pecircnis de seu parceiro Por que depois Talvez possamos entender a partir do que disse Marcoela corta o pecircnis depois porque matar o homem foi um ato falho inesperado uma forccedila um pouco maior no garrote que tinha por objetivo obter maisuma ereccedilatildeo Mais uma ereccedilatildeo ainda

O filme se baseia em coisas que de fato aconteceram no Japatildeo em 1936 agraves veacutesperas da invasatildeo da China Errar pelas ruas de Toacutekio por quatro diascarregando apertado junto ao corpo o pecircnis do morto envolto em um lenccedilo de seda vermelho ateacute ser presa indica talvez o ato falho Essa tambeacutem eacute aopiniatildeo de Carlos Gustavo Motta que diz ao voltar do intenso cliacutemax descobre que seu amante morreu (4)

Lacan se pergunta por que ela natildeo o cortou antes independente do que ocorreu na realidade para reafirmar que a fantasiaextrema do erotismo feminino eacute matar o homem e natildeo castraacute-lo Se a fantasia do homem eacute fetichista e ele faz amor com asfantasias de seu inconsciente a fantasia da mulher como nos eacute demonstrado pelo filme eacute alguma coisa que de todo modoimpede o encontro pois natildeo tem limite visa um gozo ilimitado A mulher natildeo eacute [toda] determinada por seu inconsciente

A sexualidade para Freud se inscreve na fantasia inconsciente e esse eacute o campo por excelecircncia do erotismo Atraveacutes daconstruccedilatildeo fantasiacutestica do corpo eroacutegeno o humano se diferencia dos outros animais e das teacutecnicas comportamentaisdefendidas pela sexologia centrada no corpo bioloacutegico

A possibilidade de constituiccedilatildeo do corpo eroacutegeno atraveacutes da relaccedilatildeo com o Outro eacute o avanccedilo em direccedilatildeo agrave vida eroacuteticacriativa onde o velamento excita e incita ao deciframento do enigma que por sua vez nunca se alcanccedila e sempre eacute mantido pela forccedila da pulsatildeo Este eacuteo ponto central da genial descoberta de Freud pois ateacute o seacuteculo XIX a sexualidade era identificada com o registro da reproduccedilatildeo bioloacutegica

Assim parece claro que a mulher ocupe para o homem pelo menos no que se refere ao gozo faacutelico o lugar de fetiche Poreacutem caberia perguntar aindapor que eacute a mulher que deve ocupar esse lugar de falo ou de objeto Segundo Lacan eacute por ter o oacutergatildeo faacutelico que o homem natildeo eacute o falo o que implicaque a mulher possa ser o falo Eacute por natildeo ter o falo que a mulher adquire seu valor

O erotismo feminino mesmo que concebido apenas a partir da funccedilatildeo faacutelica indica um para aleacutem do falo Poreacutem no caso extremo desse erotismolouco e enigmaacutetico dentro da dialeacutetica entre o ter e o ser (o falo) matar o homem pode ser interpretado como a fantasia que tornaria possiacutevel agrave mulherter o falo e isso o filme mostra muito bem Obrigada

Referecircncias

(1) MILLER J-A ldquoClinique ironiquerdquo La Cause freudienne ndash Revue de lrsquoECF Paris ECF n 23 p 7

(2) MOTTA C G Las peliacuteculas que Lacan vio y aplicoacute al psicoanaacutelisis Buenos Aires Paidoacutes 2013

(3) LACAN J O Seminaacuterio ndash livro 23 O sinthoma Rio de Janeiro Zahar 2007 p 122-123 e 199-200

(4) MOTTA C G Op Cit p 157

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A EBPndashSP na Casa das Rosas - Resenha

LOUCOS DE PAIXAtildeO

Perpeacutetua Medrado Gonccedilalves

ldquoA loucura colocada em cena para fazer seu elogio e para dizer todo mundo eacute louco(1)

A Escola Brasileira de Psicanaacutelise - SP foi para a Avenida Paulista na Casa das Rosas participar do Sarau Chama Poeacuteticaconvidada por Fernanda Almeida Prado a quem agradeccedilo a possibilidade dessa parceria

A Loucura elogia a si mesma mostra-se como verdade orgulha-se de dizer que ela eacute a uacutenica capaz de alegrar os deuses e osmortais E dessa forma encanta a todos com o seu saber mesmo satirizando a miseacuteria humana

22102016 wwwebpsporgbrindexphpview=articleamptype=rawampcatid=303Acarta-de-sao-paulo-onlineampid=8763Acarta-de-sao-paulo-online-5-nova-serie-ano-iiiamptmpl=componentampprint=1amplayout=defaultamppage=ampoption=com_contehellip

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ldquoAssim tambeacutem a mulher eacute sempre mulher isto eacute eacute sempre louca seja qual for a maacutescara sob a qual se apresente Natildeo quero todavia acreditar jamaisque o belo sexo seja tolo ao ponto de se aborrecer comigo pelo que eu lhe disse pois tambeacutem sou mulher e sou a Loucurardquo(2)

ldquoElogio da Loucurardquo Tema do Sarau Chama Poeacutetica eacute um texto de 1506 de Erasmo de Rotterdam cuja narradora eacute a Loucura ou seja umamulher Ela mostra as diversas faces de sua sabedoria suas ideias suas paixotildees seus oacutedios e seus temores O texto apresenta uma visatildeo irocircnica quecondena os abusos mas natildeo as instituiccedilotildees

Encontramos vaacuterias citaccedilotildees deste texto nos Escritos de Lacan Lacan transformou a loucura no fio condutor do seu ensino e fez sua entrada napsicanaacutelise pois para ele o louco seria o uacutenico que poderia ser testemunha do Real ldquoE o ser do homem natildeo somente natildeo pode ser compreendido sem aloucura como natildeo seria o ser do homem se natildeo trouxesse em si a loucura como o limite de sua liberdaderdquo (3)

Comeccedilamos nossa atividade com a intervenccedilatildeo de Marizilda Paulino Diretora Geral da EBP-SP que deu as boas vindas e convidou todos para asJornadas da EBP-SP 2013Lacan PsicanalistaBrasileiroO que fazemos no Brasil com o Ensino de Jacques Lacan

Maria do Carmo Dias Batista dividiu a Conversa Loucos de Paixatildeo com Marco Antonio Guerra professor da ECAUSP especialista em cinemaAmbos falaram sobre o filme ldquoO Impeacuterio dos Sentidosrdquo Marco Antonio animou o debate ao trazer suas impressotildees do Japatildeo paiacutes em que morou poralgum tempo

O Impeacuterio dos Sentidos (Ai no Korīda ou 愛のコリーダ) eacute um filme franco-japonecircs de 1976 do gecircnero drama eroacutetico Ofilme foi proibido na sua primeira exibiccedilatildeo no Festival de Nova York

Marco Antonio discorreu sobre o filme que eacute considerado uma obra-prima do erotismo baseada em um fato real ocorrido em1936 um dos mais famosos escacircndalos do Japatildeo Eacute a histoacuteria da jovem Sada ex-prostituta que se envolveu em um obsessivo

caso de amor com o patratildeo na casa onde trabalhava como domeacutestica A relaccedilatildeo que comeccedilou casual atinge niacuteveis em que a paixatildeo natildeo encontra maislimites

ldquoQuereis prova mais evidente de que soacute a loucura constitui o ascendente das mulheres sobre os homens Os homens tudo concedem agraves mulheres por causada voluacutepia e eacute soacute com a loucura que as mulheres agradam aos homensrdquo(4)

O casal passa os dias a fornicar e a beber no bordel onde se refugiam sem se alimentarem nem saiacuterem do quarto exceto quando Sada vai ganharalgum dinheiro para o sustento Esse jogo amoroso culmina com a morte do amante quando Sada o estrangula para garantir o maacuteximo da ereccedilatildeoDepois da morte do amante ela corta seu pecircnis e passeia pelas ruas da cidade com ele preso em seu corpo ateacute ser presa

Maria do Carmo lembra que falar de cinema e psicanaacutelise eacute falar da psicanaacutelise aplicada a uma das manifestaccedilotildees mais importantes da cultura desdesua invenccedilatildeo no seacuteculo XX Comenta tambeacutem que Lacan no Seminaacuterio 23 o sinthoma (1975-1976) diz que saiu desse filme embasbacado ldquoFiqueiembasbacado porque se trata do erotismo femininordquo(5) Para ele no filme o erotismo feminino foi levado ao extremo e esse extremo eacute a fantasia dematar o homem Mas Lacan diz isso natildeo basta Depois de tecirc-lo matado vai-se mais longe Ela corta o pecircnis de seu parceiro Por que depois PerguntaLacan acrescentando ldquoa japonesa em questatildeo que eacute o caso de dizer eacute uma amante mulherrdquo

Maria do Carmo diz a partir do que disse Marco Antonio ldquoela corta o pecircnis depois porque matar o homem foi um ato falho inesperado uma forccedila umpouco maior no garrote que tinha por objetivo obter mais uma ereccedilatildeo Mais uma ereccedilatildeo aindardquo (6)

Andar pelas ruas de Toacutekio por quatro dias carregando junto ao corpo o pecircnis do amante envolto em um lenccedilo de seda vermelho ateacute ser presa indica oato falho segundo Maria do Carmo Ela cita Carlos Gustavo Motta ao voltar do intenso cliacutemax descobre que seu amante morreu(7)

Lacan ao perguntar por que ela natildeo o cortou antes afirma que no filme vemos claramente que a ldquocastraccedilatildeo natildeo eacute a fantasiardquo e reafirma que a fantasiaextrema do erotismo feminino eacute matar o homem e natildeo castraacute-lo ldquoQuanto ao que fantasia a mulher se eacute como nos foi apresentado pelo filme eacute algumacoisa que de todo modo impede o encontrordquo(8)

Assim Maria do Carmo conclui sua fala ldquoo erotismo feminino mesmo que concebido apenas a partir da funccedilatildeo faacutelica indica um para aleacutem do faloPoreacutem no caso extremo desse erotismo louco e enigmaacutetico dentro da dialeacutetica entre o ter e o ser (o falo) matar o homem pode ser interpretado como afantasia que tornaria possiacutevel agrave mulher ter o falo e isso o filme mostra muito bemrdquo(9) Para concluir trago este recorte sobre o filme que encontrei emMulheres de hoje figuras do feminino no discurso analiacutetico - Boletim de 27 de dezembro de 2012 agraves 1754

ldquoEis o extremo do erotismo feminino ou o lado mortiacutefero do gozo feminino A fantasia pode ser um modo do sujeito se virar com a castraccedilatildeo um modoparadoxal de se virar com a exigecircncia pulsional Mas tambeacutem haacute outros modos de se enlaccedilar gozo e desejo Haacute outros modos de se arranjar com o erotismofemininordquo

Referecircncias

(1)MILLER J-A Todo mundo eacute louco Curso Orientaccedilatildeo lacaniana III 10 XVIII liccedilatildeo do Curso Paris 11 de junho de 2008

(2)ROTTERDAM Erasmo Elogio da Loucura Martin Claret Satildeo Paulo 2012 Traduccedilatildeo de Paulo Seacutergio Brandatildeo

(3)Lacan J Formulaccedilotildees sobre a causalidade psiacutequica Escritos Rio de Janeiro Jorge Zahar

(4) ROTTERDAM Erasmo Elogio da Loucura Martin Claret Satildeo Paulo 2012 Traduccedilatildeo de Paulo Seacutergio Brandatildeo

(5) LACAN J Seminaacuterio 23 O sinhtoma Jorge Zahar Rio de Janeiro p 122 123

(6) DIAS BATISTA M C Loucos de Paixatildeo EBP-SP na Casa das Rosas Texto apresentado na Conversa sobre Loucos de paixatildeo em 19102013

(7) MOTTA C G Las peliacuteculas que Lacan vio y aplicoacute al psicoanaacutelisis Buenos Aires Paidoacutes 2013

(8) LACAN J Seminaacuterio 23 O sinthoma Jorge Zahar Rio de Janeiro p 122 123

(9) DIAS BATISTA M C Loucos de Paixatildeo EBP-SP na Casa das Rosas Texto apresentado na Conversa sobre Loucos de paixatildeo em 19102013

TERRA DE SANTA CRUZ_____________________

22102016 wwwebpsporgbrindexphpview=articleamptype=rawampcatid=303Acarta-de-sao-paulo-onlineampid=8763Acarta-de-sao-paulo-online-5-nova-serie-ano-iiiamptmpl=componentampprint=1amplayout=defaultamppage=ampoption=com_contehellip

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BOLETIM HAUN

Leiam o boletim haun nuacutemero

httpwwwebporgbrhaunboletins011asp

ECOS DO MUNDO___________________________

Congresso da AMP ‐ Paris 2014

Boletim de Informaccedilatildeo do IX Congresso da AMP

Todos os Whatrsquos up estatildeo no site do Congresso em 5 idiomas

Franccedilais httpwwwcongresamp2014comfrWhats‐upWhatsUp_006pdf

Espantildeol httpwwwcongresamp2014comesWhats‐upWhatsUp_006pdf

Portugueacutes httpwwwcongresamp2014comptWhats‐upWhatsUp_006pdf

Italiano httpwwwcongresamp2014comitWhats‐upWhatsUp_006pdf

English httpwwwcongresamp2014comenWhats‐upWhatsUp_006pdf

ldquoLacan Cotidianordquo continua a ser veiculado em portuguecircs por nossas miacutedias traduccedilotildees realizadas por psicanalistas brasileiros sob a coordenaccedilatildeo de Maria do Carmo Dias Batista Pode‐se ler em portuguecircs os

artigos publicados acessando wwwebp‐spblogspotcombr

Os mesmos artigos e outros podem ser lidos no original francecircs httpwwwlac anquotidienfrblog

ENSINO DE LACAN__________________________

o psicanalista eacute colocado pelo discurso que o condiciona numa posiccedilatildeo digamos difiacutecil Por pouco que tenha praticado a anaacutelise o psicanalistasabe por experiecircncia proacutepria ter um denominador comum com o que eu digo

JACQUES LACAN O SEMINAacuteRIO - LIVRO 19 ou pior

AGENDA__________________________________

AGENDA- EBP SP

0611 - Seminaacuterio do Conselho - ou pior parte III - O Um Que Ele Natildeo Acesse o Dois cap XIII - Na base da diferenccedila dos sexos Apresentaccedilatildeo PaolaSalinas Coordenaccedilatildeo Luiz Fernando Carrijo da Cunha

08 e 0911 - Jornadas da EBP-SP 2013

Convidado Jorge Forbes - Coordenadora Geral Marizilda Paulino

22102016 wwwebpsporgbrindexphpview=articleamptype=rawampcatid=303Acarta-de-sao-paulo-onlineampid=8763Acarta-de-sao-paulo-online-5-nova-serie-ano-iiiamptmpl=componentampprint=1amplayout=defaultamppage=ampoption=com_contehellip

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1311 - Seminaacuterio do Conselho - ou pior parte III - O Um Que Ele Natildeo Acesse o Dois cap XIV - Teoria das quatro foacutermulas (palestra) ApresentaccedilatildeoMaria Bernadette Pitteri Coordenaccedilatildeo Luiz Fernando Carrijo da Cunha

2011 - Natildeo haveraacute atividade em Satildeo Paulo - Enapol em Buenos Aires

2711 - Natildeo haveraacute atividade em Satildeo Paulo

___________________________________________________________________________________

SECRETARIA DO PASSE - EBP

INFORMACcedilOtildeES Maria Ceciacutelia Galletti Ferretti

(11) 3675-2921 - (11) 99626-6225

___________________________________________________________________________________

Editora Bernadette Pitteri Revisora Daniela Affonso

Diretoria da EBPshy SP

Diretora Geral Marizilda PaulinoDiretora Secretmiddotriashy Tesoureira Maria Helena BarbosaDiretora de Intercsbquombio e CartEgraveis Caacutessia Maria Rumenos GuardadoDiretora de Biblioteca Cynthia Nunes de Freitas Farias

EBPshySP

Rua Jobdquoo Moura 627 cj 193CEP 05412shy001 shy Sbdquoo Paulo shy SP

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Page 5: CARTA DE SÃO PAULO - ONLINE 5 - NOVA SÉRIE - ANO IIIebp.org.br/sp/wp-content/uploads/2016/11/ano-III-NS-005.pdf · proposto,Loucos de Paixão, a partir do filme “O império dos

22102016 wwwebpsporgbrindexphpview=articleamptype=rawampcatid=303Acarta-de-sao-paulo-onlineampid=8763Acarta-de-sao-paulo-online-5-nova-serie-ano-iiiamptmpl=componentampprint=1amplayout=defaultamppage=ampoption=com_contehellip

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houve o pedido de reinserccedilatildeo escolar via Conselho Tutelar Esta situaccedilatildeo chamou atenccedilatildeo da psicoacuteloga e enfermeira queencontraram muitas dificuldades na conduccedilatildeo deste trabalho Os pacientes satildeo desinteressados faltosos e resistentes agravesatividades propostas rdquoFrente aos Protocolosrdquo tema desta conversaccedilatildeo provocou e convocou as profissionais participantes doCIEN a repensarem o modelo dos atendimentos propostos pela instituiccedilatildeo como o trabalho em grupo Perceberam que oolhar particularizado para cada um dos pacientes ndash irmatildeos ndash eacute o que de fato possibilitou o caminhar do trabalho emandamento

Heloisa Telles Psicanalista membro da EBPAMP foi a animadora da conversaccedilatildeo e ressaltou a complexa e difiacutecil situaccedilatildeoapresentada afirmando que eacute preciso estar atento na proacutepria organizaccedilatildeo do serviccedilo a ldquocomordquo escutar ldquoquemrdquo escutar e ldquooquecircrdquo escutar A situaccedilatildeo relatada exigiu das profissionais uma escuta atenta acarretando mudanccedilas na forma de acolhimento Em regra o que seespera do trabalho no CAPSi eacute a inclusatildeo e a reinserccedilatildeo familiar Ficou explicitado neste relato a necessidade de acolher o ldquosaberrdquo do sujeito sujeitoeste que na maioria das vezes ignora ser ele proacuteprio a sede de seu saber A partir desta orientaccedilatildeo torna-se possiacutevel o sujeito formar laccedilos o que olevaraacute agrave inserccedilatildeo social O escutar cada um esta invenccedilatildeo singular precisa estar do lado dos profissionais e eacute a partir deste ponto que se torna possiacutevelsustentar o trabalho A organizaccedilatildeo da instituiccedilatildeo eacute necessaacuteria e diferente do protocolo O protocolo recai sobre a orientaccedilatildeo quando esta no afatilde douniversal natildeo leva em conta a particularidade de cada situaccedilatildeo apresentada

O laboratoacuterio ldquoAs manifestaccedilotildees do Higienismo na Atualidaderdquo apresentou vinheta praacutetica e articulaccedilotildees teoacutericas sobre estetema vasto e polecircmico As primeiras praacuteticas higienistas e a cura das enfermidades sempre estiveram sob o poder meacutedicoSobre a medicalizaccedilatildeo na infacircncia traz um dito popular ldquoeacute de pequenino que se torce o pepinordquo para justificar amedicalizaccedilatildeo precoce O vivo da praacutetica deste laboratoacuterio nos fala de um menino de seis anos que desde os trecircs mora emcasa de Acolhimento Na 1ordf instituiccedilatildeo que frequentou os cuidadores natildeo se envolviam muito com o caso jaacute na 2ordf para ondefoi transferido junto com o irmatildeo os teacutecnicos eram mais interessados Precocemente teve o diagnoacutestico de TDAH Estaacute emtratamento psiquiaacutetrico e faz uso de Ritalina Passou por psicoterapias e hoje estaacute em tratamento psicanaliacutetico Algumas

mudanccedilas em seu comportamento de hiperatividade jaacute estatildeo sendo percebidas algo que toca seu diagnoacutestico precoce Nas discussotildees relativas a essavinheta tratou-se do abandono por parte da famiacutelia e da falta de apropriaccedilatildeo da crianccedila de sua proacutepria histoacuteria O cuidador eacute sempre visto comoaquele que tem o saber sobre a crianccedila O passado fica sempre perdido as expectativas futuras tambeacutem natildeo satildeo apontadas e a historia eacute o presente apartir do cuidador que natildeo busca o saber na crianccedila

Em todo esse processo como se articula a rede de proteccedilatildeo e qual seria a funccedilatildeo do cuidador O hospitalismo a funccedilatildeo da matildee e a maternagem oabrigo a instituiccedilatildeo de acolhimento foram temas abordados e debatidos E ainda a questatildeo do ldquosaber e segredordquo da crianccedila o diagnoacutestico precoceapontando para um apagamento do sujeito Em relaccedilatildeo aos cuidadores aparece o ldquoanonimatordquo ndash e o que precisa ser transmitido agrave crianccedila eacutejustamente um desejo que natildeo seja anocircnimo A respeito do silecircncio na histoacuteria da crianccedila quanto ao seu passado e futuro o preenchimento desse vaziogeralmente eacute feito pelo adulto que cuida esvaziando a possibilidade de a crianccedila existir diante de seu ldquosaber e seu segredordquo lugar este que estaacute semprepor vir ndash construccedilatildeo particular de cada um ndash precisando ser respeitado Eacute exatamente neste aspecto que as vivecircncias do CIEN contribuem ajudandona visualizaccedilatildeo de que algo natildeo seraacute preenchido e que eacute neste espaccedilo dito ldquovaziordquo que alguns impasses poderatildeo ser transpostos Isso que eacute da estruturado humano do lugar do mal-estar geralmente eacute visto como fracasso e capturado pelo diagnoacutestico pela medicalizaccedilatildeo e outros apagamentos

Aleacutem dos relatos apresentados e comentados pelos laboratoacuterios a praacutetica das conversaccedilotildees entre os laboratoacuterios do CIENmostram-se efetivas Participantes do CIEN e o puacuteblico interrogam-se sobre as vinhetas praacuteticas ldquoo que pensar sobre a casade acolhimento que finalmente fica com a crianccedila quando todas as outras instituiccedilotildees a recusamrdquo Questotildees de ordem eacutetica epoliacutetica satildeo levantadas sobre a funccedilatildeo do CIEN o que o difere das equipes multidisciplinares O que eacute o interdisciplinar queo CIEN propotildee Por que eacute necessaacuterio a presenccedila do analista no CIEN O espaccedilo que hoje se utiliza para conversaccedilatildeo entre oslaboratoacuterios do CIEN marca o desejo dos participantes de que essa praacutetica continue ela nos eacute uacutetil e se faz necessaacuteria

REFLEXOtildeES - TRABALHOS EM CARTEL_______________

A IMPORTAcircNCIA DO TRABALHO EM CARTEL PARA A FORMACcedilAtildeO DO ANALISTA

Cinthia Busato

Comeccedilo agradecendo o gentil convite de Caacutessia para que eu falasse aqui hoje Gentil em vaacuterios aspectos o primeiro que vou abordar eacute o da aposta eudiria inclusive da ousadia de convidar algueacutem que acabou de entrar como membro da EBP e que natildeo tem um percurso tatildeo longo como tantos colegasdentro dessa Escola Fui convidada como Diretora de Carteacuteis da Seccedilatildeo Santa Catarina e me autorizei a aceitar esse convite acreditem natildeo sem receiopara falar de um tema que sempre me causou sempre mobilizou meu percurso dentro da Escola que eacute exatamente o cartel

Desde que comecei a estudar a psicanaacutelise lacaniana faccedilo carteacuteis muitas vezes dois ao mesmo tempo E desde o iniacutecio me apaixonei pela loacutegica quefunda o cartel O ldquopor sua conta e riscordquo sempre me estimulou a valorizar o que tenho de melhor em mim o que ainda natildeo sei Era assim que euchamava o que com Lacan aprendi a chamar de natildeo-todo e achei mais adequado este termo pois ldquoo que ainda natildeo seirdquo pode ser entendido tambeacutemcomo ldquoum dia vou saber tudordquo em que de fato nunca acreditei

Poder estar com pessoas que escolho para conversar debater natildeo saber temas que me interessam e a partir daiacute construir algum saber sobre issosempre me ajudou a construir tanto um saber teoacuterico que me apoia quanto a minha relaccedilatildeo com a Escola

Bem no iniacutecio do meu percurso lacaniano escrevi um texto chamado ldquoQuem ousa errardquo que comeccedila assim ldquoTemos na neurose duas possibilidadesfrente a esta afirmaccedilatildeo o obsessivo natildeo ousa para natildeo errar a histeacuterica finge que ousa para provar que natildeo erra A psicanaacutelise propotildee uma terceira saiacutedaousar sabendo que o erro eacute possiacutevel Mais do que isso aposta no erro como caminho em direccedilatildeo ao fracasso do Ideal este que dita o que eacute errado Para apsicanaacutelise natildeo eacute errando que se aprende portanto acerta mas eacute ousando errar que se escreve o nome proacuteprio nome que aponta na direccedilatildeo do impossiacutevelOusadia natildeo eacute o mesmo que ser afoito ou desafiador Confunde-se hoje pressa afobaccedilatildeo atitude desafiadora com ousadia Erro grave O ousado pode sermuito lento O ousado natildeo baniu o medo resolveu seguir com ele O ousado suporta a falta coisa que o afoito ansioso natildeo tolera O ousado vislumbra oimpossiacutevel coisa que o afoito ansioso natildeo tolera O ousado a-risca imprime marca singular no seu ato Ao desafiador importa mais destruir a marca dooutro Por que este elogio agrave ousadia Porque frente agrave padronizaccedilatildeo ao horror ao erro a sair do padratildeo a ousadia estaacute cada vez mais rara e o que apareceem seu lugar eacute a pressa e a atitude desafiadora por si soacute Estas satildeo impedimentos ao laccedilo social pois promovem um investimento maior em banir a faltafortalecendo a imagem narciacutesica especular do que em criar possibilidades de lidar com as diferenccedilas fundamental para o laccedilo socialrdquo(1)

Vou comeccedilar a pensar daiacute a importacircncia do cartel para a formaccedilatildeo do analista e tambeacutem o dispositivo cartel no seacuteculo XXI Muito me ajudou o textode Vilma Coccoz (2) ldquoO cartel um novo laccedilordquo publicado no Boletim Uno por uno 10 que estaacute na paacutegina da NEL-Meacutexico

No texto ldquoDa psicanaacutelise em suas relaccedilotildees com a realidaderdquo (3) Lacan nos diz que ldquoOs psicanalistas satildeo saacutebios de um saber que natildeo podemcultivarconversardaiacute sua associaccedilatildeo com aqueles que soacute compartilham com ele esse saber por natildeo poder trocaacute-lointercambiaacute-lordquo Uma das vias para serelacionar com essa impossibilidade de comunicaccedilatildeo eacute a proacutepria anaacutelise mas o saber construiacutedo em uma anaacutelise eacute limitado podemos saber dadeterminaccedilatildeo inconsciente sobre o ser falante saber do gozo particular que obtemos com nosso sintoma Mas o sujeito nada pode saber do sentido do

22102016 wwwebpsporgbrindexphpview=articleamptype=rawampcatid=303Acarta-de-sao-paulo-onlineampid=8763Acarta-de-sao-paulo-online-5-nova-serie-ano-iiiamptmpl=componentampprint=1amplayout=defaultamppage=ampoption=com_contehellip

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sintoma do outro da satisfaccedilatildeo que esses sintomas produzem Para poder permitir ao outro o acesso a este saber natildeo basta tecirc-lo conquistado haacute queconsentir com o passe onde algo se pode transmitir mesmo que natildeo seja tudo Entatildeo mesmo que sejam eruditos em um saber sobre a estrutura ospsicanalistas natildeo se reuacutenem como saacutebios para conversar sobre seu saber e ampliar o campo da erudiccedilatildeo mas se associam justamente pelo contraacuteriopor uma impossibilidade de conversar As formas que Lacan propotildee para a organizaccedilatildeo dos analistas seguem a referecircncia da distinccedilatildeo entre o laccedilocoletivo onde a referecircncia eacute o ideal que satura a falta e a loacutegica coletiva que se situa em relaccedilatildeo agrave falta do Outro que indica o furo no saber Tanto opasse quanto o cartel se inserem nessa loacutegica numa tensatildeo entre o que entra no laccedilo social e o que natildeo eacute coletivizaacutevel de cada um

Eacute nesse ponto que o Cartel encontra a especificidade de sua funccedilatildeo ser a dobradiccedila ser a articulaccedilatildeo entre o psicanalista na solidatildeo de seu ato e aEscola onde os analistas trabalham para a transmissatildeo da psicanaacutelise Se pudeacutessemos transmitir tudo o que restaria Eu imagino que teacutedio pois sefosse possiacutevel transmitir tudo a arte natildeo teria funccedilatildeo nem a psicanaacutelise

Entatildeo acho que a psicanaacutelise traz inoculado dentro de seu discurso esse saber que eacute o que faz de mim uma otimista em relaccedilatildeo agrave psicanaacutelise no seacuteculoXXI saber que natildeo sabe tudo saber que estamos marcados no corpo pela palavra e que isso nos coloca como sujeitos divididos entre uma verdade quenos habita e imprime nosso estilo e um saber que vai sendo construiacutedo a partir dela

Essa verdade o Um que marca alguma coisa do real do gozo eacute o que vai orientar o sujeito em sua nomeaccedilatildeo sintomaacutetica seu ldquosintoma como aparelhoindividual para situar o objeto pequeno a essa parte elaboraacutevel do gozordquo(4) O que seria ousado aqui que eacute a proposta da psicanaacutelise eacute suportar o vaziode significado ao inveacutes de tamponaacute-lo Eacute colocar o objeto pequeno a como causa de desejo e natildeo como objeto de mercado atrelado a um mais-de-gozarldquoNa perspectiva do uacuteltimo ensino de Lacan trata-se sobretudo de captar a maneira pela qual o sujeito estaacute articulado ao Outro pelas operaccedilotildees de batismoessenciais de seu sinthoma de um gozo que se esquiva a ser inscrito de uma vez por todas no lugar do Outrordquo (5) Ousar eacute fazer do vazio angustiante eenigmaacutetico uma marca proacutepria

A psicanaacutelise efetuou uma subversatildeo na loacutegica numeacuterica Aqui a sequecircncia deixa de ser 123 para ser 132 jaacute que para sair da loacutegica especular quede 2 faz 1 o sujeito precisa encontrar o 3 o terceiro termo aquele que traz a possibilidade de exclusatildeo imprescindiacutevel para a elaboraccedilatildeo da castraccedilatildeoEacute o que salva o sujeito do paraiacuteso da simbiose da natildeo diferenccedila Eacute ele que possibilita o aparecimento do 2 a manutenccedilatildeo de dois sujeitos que suportama diferenccedila No 2 o paraiacuteso sem garantias o paraiacuteso do desejo de uma inquietude que ousa em direccedilatildeo ao enigma do Outro e natildeo da inquietude quetenta negaacute-lo

O sintoma para a psicanaacutelise tem duas vertentes a vertente do sofrimento (gozo do sintoma) e a vertente do enigma (sentido do sintoma)Normalmente eacute pela vertente do sofrimento que um sujeito chega na anaacutelise mas para que esta se constitua como anaacutelise eacute preciso que seja propiciadoum querer saber do seu sintoma que o desejo de desvendar o enigma proacuteprio seja despertado A demanda terapecircutica pode ser unicamente se livrar deseu sofrimento e muitas terapias estatildeo aiacute para mostrar que isso eacute possiacutevel muitas vezes simplesmente trocando o Ideal ldquoconsertandordquo tapando furosno Ideal manco ou trocando por um novinho em folha O discurso messiacircnico eacute um bom exemplo Nada de marca singular aqui se trata de rebanhosAposta-se sempre no paraiacuteso futuro sem faltas com a garantia de completude e satisfaccedilatildeo Mas como analistas sabemos que o furo eacute de estruturaportanto sempre aparece Esse eacute nosso horror e nossa salvaccedilatildeo

Voltando ao iniacutecio o obsessivo natildeo ousando para natildeo errar se manteacutem mais preso a uma perpeacutetua tentativa de controle A histeacuterica fingindo ousarpara provar que natildeo erra que um dia seraacute ela proacutepria A Mulher natildeo conhece aliacutevio dessa tensatildeo Em ambos o 2 natildeo se estabelece a impotecircncia natildeofoi elaborada pelo saber de sua verdade singular que permite tratar o furo como impossiacutevel

Termino com uma citaccedilatildeo de Ana Luacutecia Lutterbach-Holck ldquoLacan jaacute na eacutepoca do seminaacuterio 1 nos aponta o melhor remeacutedio para enfrentar a ciecircnciada felicidade e suas cifras a coragem A coragem como nos falou Badiou natildeo eacute um momento heroico em que se coloca face ao impossiacutevel mas umavirtude construiacuteda na praacutetica para se sustentar no impossiacutevel A coragem pode ser algo que nos oriente localmente na desorientaccedilatildeo globalrdquo (6)

ldquoTodo caminho da gente eacute resvaloso

Mas tambeacutem cair natildeo prejudica ndash nada demais ndash a gente levanta a gente sobe a gente voltahellip

O correr da vida embrulha tudo a vida eacute assim esquenta e esfria aperta e daiacute

Afrouxa sossega e depois desinquieta

O que ela quer da gente eacute coragemrdquo Guimaratildees Rosa

Referecircncias

1BUSATO Ciacutenthia Quem ousa erra Atas da V Jornada da seccedilatildeo Santa Catarina

2COCCOZ Vilma Em httppequenaleiturablogspotcombr201211el-cartel-un-nuevo-lazo-por-vilma-coccozhtml

3LACAN Jacques Da psicanaacutelise em sua relaccedilatildeo com a realidade in Novos escritos p 358

4MILLER Jacques-Alain ldquoO sintoma como aparelhordquo in O sintoma Charlatatildeo p16 Rio de Janeiro Jorge Zahar Ed 1998 ( Campo Freudiano do Brasil)

5MILLER Jacques-Alain ldquo Nascimento do Sujeito Suposto Saberrdquo In Correio nuacutemero 60 p 19 -Cliacutenica e Pragmaacutetica 2008

6LUTTERBACH-HOLCK Ana Luacutecia ldquoDepressatildeo felicidade e algo maisrdquo in Opccedilatildeo Lacaniana - nordm 51 p 8 - Abril 2008

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UM BONECO VIVO

Maria de Lourdes Mattos

A partir de duas referecircncias extraiacutedas do campo da arte produzidas em momentos histoacutericos distintos pretendo contribuir com questotildees daatualidade da cliacutenica

Inicialmente me pergunto sobre a possibilidade de diaacutelogo entre duas produccedilotildees bem distintas uma extraiacuteda da literaturafantaacutestica do seacuteculo XIX e a outra do cinema do seacuteculo XXI Na primeira haacute a duacutevida se um ser aparentemente animadotem vida e na segunda produccedilatildeo onde essa duacutevida natildeo se apresenta aparece a questatildeo da mudanccedila de sexo um homemcompulsoriamente eacute transformado em mulher Talvez a metaacutefora de um ldquoboneco vivordquo e de um ldquovivo como um bonecordquoaproxima e distancia essas duas produccedilotildees

Trata-se de ldquoO homem de areiardquo escrito por Hoffmann (1) em 1817 e que inspirou Freud (2) com o texto ldquoO estranhordquoelaborado em 1919 e do filme ldquoA pele que habitordquo de Pedro Almodoacutevar realizado em 2011

22102016 wwwebpsporgbrindexphpview=articleamptype=rawampcatid=303Acarta-de-sao-paulo-onlineampid=8763Acarta-de-sao-paulo-online-5-nova-serie-ano-iiiamptmpl=componentampprint=1amplayout=defaultamppage=ampoption=com_contehellip

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Na introduccedilatildeo ao conto Italo Calvino (3) considerou ldquoA descoberta do inconsciente ocorre precisamente aqui na literaturaromacircntica fantaacutestica quase cem anos antes que lhe seja dada uma referecircncia teoacutericardquo

No conto o jovem Natanael identifica o ldquohomem de areiardquo aquele que arrancava o olho das crianccedilas com o advogadoCoppelius amigo do pai cuja morte ocorreu no escritoacuterio por uma explosatildeo apoacutes visita do advogado que desaparece depoisdesse acontecimento O fantasma do homem que arrancava o olho das crianccedilas acompanha a vida de Natanael e reaparece emsua eacutepoca de estudante na figura do oculista Coppola vendedor de barocircmetros que lhe vende um telescoacutepio Com esseinstrumento o jovem observa a casa da frente do professor de fiacutesica Spallanzani espiando a bela filha Oliacutempia silenciosa eimoacutevel Apaixona-se por ela esquecendo-se de sua noiva Mas Oliacutempia eacute um autocircmato um boneco produzido pelo professorcujos olhos foram colocados por Coppola o homem de areia Em dado momento na tentativa de proteger Oliacutempia o joveminvade a casa do professor que discutia ferozmente com o oculista Na disputa entre os dois ldquocientistasrdquo a boneca eacutedespedaccedilada e seus olhos satildeo arremessados no peito de Natanael que nesse momento sucumbe agrave loucura Ao se recuperar ojovem retoma suas atividades e seu relacionamento com a noiva Em um passeio com ela resolvem observar a cidade do altode uma torre Fazendo uso do telescoacutepio ao observar a paisagem avista o professor Coppola o que ocasiona novo ataque deloucura e passagem ao ato Gritando ldquogira bonequinha de pau Bonequinha de pau girardquo tenta arremessar a noiva do altoda torre que eacute salva pelo irmatildeo Continuando seu ataque com os berros ldquolindos olhos lindos olhosrdquo atira-se do alto datorre

De acordo com Freud (4) o estranho algo assustador que remete ao que eacute familiar e deveria permanecer oculto estaacute ligado agrave figura do Homem deAreia aquele que tira os olhos das crianccedilas A duacutevida quanto agrave boneca se eacute um ser vivo ou inanimado eacute irrelevante em termos de estranheza Freudrelaciona o medo de perder os olhos ao complexo de castraccedilatildeo substituindo ldquoo Homem de Areia ao pai temido de cujas matildeos eacute esperada a castraccedilatildeordquoOsinventores da boneca seriam a reencarnaccedilatildeo dos pais de Natanael e Oliacutempia a ldquomaterializaccedilatildeo da atitude feminina de Natanael em relaccedilatildeo ao pai na suainfacircnciardquo O amor que o jovem sente pela boneca seria a expressatildeo da forma do amor narciacutesico

Entre os temas ligados ao estranho Freud destaca o fenocircmeno do duplo e o efeito produzido quando algo da ordem doimaginaacuterio aparece na realidade ou seja quando desaparece a distinccedilatildeo entre o imaginaacuterio e a realidade (5) Lacan (6)enfatiza a importacircncia da localizaccedilatildeo de Freud no texto de Hoffmann do fenocircmeno do estranho para tratar a anguacutestiaQuando algo que deveria permanecer oculto vem agrave luz ldquoa imagem especular transforma-se na imagem do duplordquo Segundo elena histoacuteria de ldquoO homem de areia vemos o sujeito saltar de uma captaccedilatildeo para outra diante da forma de imagem quematerializa A boneca eacute essa imagem iacute(a) na operaccedilatildeo de complementaacute-la com aquilo que na proacutepria forma do conto eacuteabsolutamente distinto dela ou seja o olho O olho de que se trata soacute pode ser o do heroacutei (Natanael)rdquo Considera a preciosidadedo campo da ficccedilatildeo na experiecircncia do estranho (unnheimlich) para localizar o campo da fantasia

O veacuteu da fantasia protege o real Na contemporaneidade com a crise do simboacutelico talvez seja vaacutelido considerar quecarecemos dessa proteccedilatildeo

Em entrevista para a EBP-MG (7) Franccedilois Ansermet considera que os avanccedilos da ciecircncia colocam em crise o simboacutelico ao mesmo tempo que aopretender tratar o real o produz cada vez mais gerando novas questotildees Levando em conta a especificidade de cada abordagem refere que natildeo soacute aciecircncia e a psicanaacutelise tratam o real mas a arte tambeacutem e sua particularidade estaacute em ir direto ao ponto

O filme de Pedro Almodoacutevar eacute um exemplo disso Em ldquoA pele que habitordquo procura-se produzir a coacutepia de uma mulher como se fosse um ldquoclonerdquo apartir do corpo de um homem Eacute o duplo da ciecircncia Para aleacutem da era da maacutequina da produccedilatildeo dos robocircs um dos temas do seacuteculo XXI eacute abiotecnologia de reproduccedilatildeo da mudanccedila de sexo o que segundo Ansermet pode fazer a realidade delirar

Antocircnio Banderas interpreta um cirurgiatildeo plaacutestico o Dr Robert Ledgard que perdeu a mulher queimada num acidente decarro Inventa uma nova pele com a qual poderia salvaacute-la Para fazer uso de seu experimento utiliza o corpo de Vicente (8)que supostamente violentou sexualmente sua filha Norma (9) No seu laboratoacuterio Dr Robert produz a bela mulher no corpode seu prisioneiro Vera (10) eacute o resultado da invenccedilatildeo Mas algo escapa ao poder ilimitado da ciecircncia Vicente continuahabitando o corpo da bela mulher

No Seminaacuterio sobre o Sinthoma(11) Lacan refere que a psicanaacutelise ao considerar o sujeito dividido pela operaccedilatildeo dalinguagem encontra sua difusatildeo ao questionar a ciecircncia que faz de um objeto um sujeito

Ser homem ou mulher vai aleacutem da diferenccedila anatocircmica entre os sexos supotildee uma implicaccedilatildeo subjetiva do sexo A partir das foacutermulas de sexuaccedilatildeo(12) Lacan elucidou que haacute diversas maneiras de o sujeito inscrever seu corpo e seu gozo em relaccedilatildeo ao significante faacutelico

Referecircncias

(1) (HOFFMANN ETA ldquoO homem de areiardquo In Contos fantaacutesticos do seacuteculo XIX o fantaacutestico visionaacuterio e o fantaacutestico cotidianoorg de Italo Calvino ndash SPCompanhia de Letras 2004 p 49-81

(2)FREUD S ldquoO estranhordquo In Obras Completas RJ Imago 1996 p 234-69

(3) HOFFMANN ETA op cit p 49

(4) FREUD S opcit

(5) FREUD S Op cit p 261

(6) LACAN J ldquoO seminaacuterio livro 10 a anguacutestiardquo RJ Zahar 2005 p57-9

(7) Boletim Sinapsy Entrevista de Franccedilois Ansermet para a XVIII Jornada da EBP-MG

(8) Vicente eacute interpretado por Jan Cornet

(9) Norma eacute interpretada por Bianca Suarez

(10) Vera eacute interpretada por Elena Anaya

(11) LACAN J ldquoO seminaacuterio livro 23 o sinthomardquo RJ Zahar 2007 p

(12) LACAN J ldquoO seminaacuterio livro 20 mais aindardquo RJ Zahar

SAtildeO PAULO DE PIRATININGA____________________

22102016 wwwebpsporgbrindexphpview=articleamptype=rawampcatid=303Acarta-de-sao-paulo-onlineampid=8763Acarta-de-sao-paulo-online-5-nova-serie-ano-iiiamptmpl=componentampprint=1amplayout=defaultamppage=ampoption=com_contehellip

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EBP-SP na Casa das Rosas (Avenida Paulista 19102013)

LOUCOS DE PAIXAtildeO

Maria do Carmo Dias Batista

Pensei em trabalhar o tema ldquoLoucos de Paixatildeordquo atraveacutes do cinema desde o momento em que recebi o convite da Diretora da EBP-SP MarizildaPaulino a quem agradeccedilo A Perpeacutetua Medrado Gonccedilalves que haacute vaacuterios anos participa deste evento e assim sustenta uma possibilidade de inserccedilatildeoda EBP-SP na Cidade gostaria de aleacutem de agradecer pelo longo tempo de trabalho conjunto fazer um elogio Um elogio agrave loucura ao deliacuterio de suacrenccedila inquebrantaacutevel na Escola e no trabalho com a doenccedila mental baseando-me na formulaccedilatildeo de Jacques-Alain Miller da generalizaccedilatildeo dodeliacuterio todos os nossos discursos satildeo delirantes satildeo defesas contra o real (1) Agradeccedilo ainda a Cynthia Nunes de Freitas Diretora de Biblioteca deEBP-SP que participa da organizaccedilatildeo deste evento e de muito outros com o objetivo de ampliar a presenccedila do Campo Freudiano

Falar de cinema e psicanaacutelise eacute falar da psicanaacutelise aplicada a uma das manifestaccedilotildees mais importantes da cultura desde suainvenccedilatildeo no seacuteculo XX O cinema se inseriu na sociedade de forma contundente como se houvesse uma sede da ficccedilatildeomostrada em imagens em movimento Produziu uma identificaccedilatildeo maciccedila A literatura a muacutesica a oacutepera natildeo bastavam mais

Aplicar a psicanaacutelise ao cinema natildeo eacute psicanalizar diretores autores atores mas como durante mais de quinze anos meuquerido Marco Antocircnio Guerra e eu colocamos em praacutetica no Seminaacuterio de Cinema e Psicanaacutelise trata-se de sacudir atualizar os conceitos dapsicanaacutelise atraveacutes dos excelentes exemplos oferecidos pelo cinema

O tema ldquoLoucos de Paixatildeordquo nos inspirou a escolher para a conversa de hoje o filme ldquoO Impeacuterio dos Sentidosrdquo como vocecircs acabaram de escutar e saberatraveacutes da bela fala de Marco Esse foi um dos filmes que Lacan viu e aplicou agrave psicanaacutelise (conforme tiacutetulo do livro de Carlos Gustavo Motta Laspeliacuteculas que Lacan vio y aplicoacute al psicoanaacutelisis) (2) A referecircncia estaacute no Seminaacuterio 23 (3) de 1976 mesmo ano de lanccedilamento do filme Lacan conta aseu auditoacuterio que esteve em uma salinha de projeccedilatildeo reservada e escondida em Paris pois o filme estava censurado Convidou algumas pessoas de suaEscola e todos segundo Lacan saiacuteram embasbacados (souffleacutees) assombrados O efeito provocado pelo filme em Lacan deve-se a ter nele localizadoum exemplo surpreendente do erotismo feminino Ele natildeo esperava ver isso em um filme japonecircs e comeccedilou entatildeo a compreender o poder dasjaponesas

No filme o erotismo feminino foi levado ao extremo e esse extremo eacute a fantasia de matar o homem Poreacutem continua Lacan isso natildeo basta Depois detecirc-lo matado vai mais longe Depois a japonesa corta o pecircnis de seu parceiro Por que depois Talvez possamos entender a partir do que disse Marcoela corta o pecircnis depois porque matar o homem foi um ato falho inesperado uma forccedila um pouco maior no garrote que tinha por objetivo obter maisuma ereccedilatildeo Mais uma ereccedilatildeo ainda

O filme se baseia em coisas que de fato aconteceram no Japatildeo em 1936 agraves veacutesperas da invasatildeo da China Errar pelas ruas de Toacutekio por quatro diascarregando apertado junto ao corpo o pecircnis do morto envolto em um lenccedilo de seda vermelho ateacute ser presa indica talvez o ato falho Essa tambeacutem eacute aopiniatildeo de Carlos Gustavo Motta que diz ao voltar do intenso cliacutemax descobre que seu amante morreu (4)

Lacan se pergunta por que ela natildeo o cortou antes independente do que ocorreu na realidade para reafirmar que a fantasiaextrema do erotismo feminino eacute matar o homem e natildeo castraacute-lo Se a fantasia do homem eacute fetichista e ele faz amor com asfantasias de seu inconsciente a fantasia da mulher como nos eacute demonstrado pelo filme eacute alguma coisa que de todo modoimpede o encontro pois natildeo tem limite visa um gozo ilimitado A mulher natildeo eacute [toda] determinada por seu inconsciente

A sexualidade para Freud se inscreve na fantasia inconsciente e esse eacute o campo por excelecircncia do erotismo Atraveacutes daconstruccedilatildeo fantasiacutestica do corpo eroacutegeno o humano se diferencia dos outros animais e das teacutecnicas comportamentaisdefendidas pela sexologia centrada no corpo bioloacutegico

A possibilidade de constituiccedilatildeo do corpo eroacutegeno atraveacutes da relaccedilatildeo com o Outro eacute o avanccedilo em direccedilatildeo agrave vida eroacuteticacriativa onde o velamento excita e incita ao deciframento do enigma que por sua vez nunca se alcanccedila e sempre eacute mantido pela forccedila da pulsatildeo Este eacuteo ponto central da genial descoberta de Freud pois ateacute o seacuteculo XIX a sexualidade era identificada com o registro da reproduccedilatildeo bioloacutegica

Assim parece claro que a mulher ocupe para o homem pelo menos no que se refere ao gozo faacutelico o lugar de fetiche Poreacutem caberia perguntar aindapor que eacute a mulher que deve ocupar esse lugar de falo ou de objeto Segundo Lacan eacute por ter o oacutergatildeo faacutelico que o homem natildeo eacute o falo o que implicaque a mulher possa ser o falo Eacute por natildeo ter o falo que a mulher adquire seu valor

O erotismo feminino mesmo que concebido apenas a partir da funccedilatildeo faacutelica indica um para aleacutem do falo Poreacutem no caso extremo desse erotismolouco e enigmaacutetico dentro da dialeacutetica entre o ter e o ser (o falo) matar o homem pode ser interpretado como a fantasia que tornaria possiacutevel agrave mulherter o falo e isso o filme mostra muito bem Obrigada

Referecircncias

(1) MILLER J-A ldquoClinique ironiquerdquo La Cause freudienne ndash Revue de lrsquoECF Paris ECF n 23 p 7

(2) MOTTA C G Las peliacuteculas que Lacan vio y aplicoacute al psicoanaacutelisis Buenos Aires Paidoacutes 2013

(3) LACAN J O Seminaacuterio ndash livro 23 O sinthoma Rio de Janeiro Zahar 2007 p 122-123 e 199-200

(4) MOTTA C G Op Cit p 157

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A EBPndashSP na Casa das Rosas - Resenha

LOUCOS DE PAIXAtildeO

Perpeacutetua Medrado Gonccedilalves

ldquoA loucura colocada em cena para fazer seu elogio e para dizer todo mundo eacute louco(1)

A Escola Brasileira de Psicanaacutelise - SP foi para a Avenida Paulista na Casa das Rosas participar do Sarau Chama Poeacuteticaconvidada por Fernanda Almeida Prado a quem agradeccedilo a possibilidade dessa parceria

A Loucura elogia a si mesma mostra-se como verdade orgulha-se de dizer que ela eacute a uacutenica capaz de alegrar os deuses e osmortais E dessa forma encanta a todos com o seu saber mesmo satirizando a miseacuteria humana

22102016 wwwebpsporgbrindexphpview=articleamptype=rawampcatid=303Acarta-de-sao-paulo-onlineampid=8763Acarta-de-sao-paulo-online-5-nova-serie-ano-iiiamptmpl=componentampprint=1amplayout=defaultamppage=ampoption=com_contehellip

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ldquoAssim tambeacutem a mulher eacute sempre mulher isto eacute eacute sempre louca seja qual for a maacutescara sob a qual se apresente Natildeo quero todavia acreditar jamaisque o belo sexo seja tolo ao ponto de se aborrecer comigo pelo que eu lhe disse pois tambeacutem sou mulher e sou a Loucurardquo(2)

ldquoElogio da Loucurardquo Tema do Sarau Chama Poeacutetica eacute um texto de 1506 de Erasmo de Rotterdam cuja narradora eacute a Loucura ou seja umamulher Ela mostra as diversas faces de sua sabedoria suas ideias suas paixotildees seus oacutedios e seus temores O texto apresenta uma visatildeo irocircnica quecondena os abusos mas natildeo as instituiccedilotildees

Encontramos vaacuterias citaccedilotildees deste texto nos Escritos de Lacan Lacan transformou a loucura no fio condutor do seu ensino e fez sua entrada napsicanaacutelise pois para ele o louco seria o uacutenico que poderia ser testemunha do Real ldquoE o ser do homem natildeo somente natildeo pode ser compreendido sem aloucura como natildeo seria o ser do homem se natildeo trouxesse em si a loucura como o limite de sua liberdaderdquo (3)

Comeccedilamos nossa atividade com a intervenccedilatildeo de Marizilda Paulino Diretora Geral da EBP-SP que deu as boas vindas e convidou todos para asJornadas da EBP-SP 2013Lacan PsicanalistaBrasileiroO que fazemos no Brasil com o Ensino de Jacques Lacan

Maria do Carmo Dias Batista dividiu a Conversa Loucos de Paixatildeo com Marco Antonio Guerra professor da ECAUSP especialista em cinemaAmbos falaram sobre o filme ldquoO Impeacuterio dos Sentidosrdquo Marco Antonio animou o debate ao trazer suas impressotildees do Japatildeo paiacutes em que morou poralgum tempo

O Impeacuterio dos Sentidos (Ai no Korīda ou 愛のコリーダ) eacute um filme franco-japonecircs de 1976 do gecircnero drama eroacutetico Ofilme foi proibido na sua primeira exibiccedilatildeo no Festival de Nova York

Marco Antonio discorreu sobre o filme que eacute considerado uma obra-prima do erotismo baseada em um fato real ocorrido em1936 um dos mais famosos escacircndalos do Japatildeo Eacute a histoacuteria da jovem Sada ex-prostituta que se envolveu em um obsessivo

caso de amor com o patratildeo na casa onde trabalhava como domeacutestica A relaccedilatildeo que comeccedilou casual atinge niacuteveis em que a paixatildeo natildeo encontra maislimites

ldquoQuereis prova mais evidente de que soacute a loucura constitui o ascendente das mulheres sobre os homens Os homens tudo concedem agraves mulheres por causada voluacutepia e eacute soacute com a loucura que as mulheres agradam aos homensrdquo(4)

O casal passa os dias a fornicar e a beber no bordel onde se refugiam sem se alimentarem nem saiacuterem do quarto exceto quando Sada vai ganharalgum dinheiro para o sustento Esse jogo amoroso culmina com a morte do amante quando Sada o estrangula para garantir o maacuteximo da ereccedilatildeoDepois da morte do amante ela corta seu pecircnis e passeia pelas ruas da cidade com ele preso em seu corpo ateacute ser presa

Maria do Carmo lembra que falar de cinema e psicanaacutelise eacute falar da psicanaacutelise aplicada a uma das manifestaccedilotildees mais importantes da cultura desdesua invenccedilatildeo no seacuteculo XX Comenta tambeacutem que Lacan no Seminaacuterio 23 o sinthoma (1975-1976) diz que saiu desse filme embasbacado ldquoFiqueiembasbacado porque se trata do erotismo femininordquo(5) Para ele no filme o erotismo feminino foi levado ao extremo e esse extremo eacute a fantasia dematar o homem Mas Lacan diz isso natildeo basta Depois de tecirc-lo matado vai-se mais longe Ela corta o pecircnis de seu parceiro Por que depois PerguntaLacan acrescentando ldquoa japonesa em questatildeo que eacute o caso de dizer eacute uma amante mulherrdquo

Maria do Carmo diz a partir do que disse Marco Antonio ldquoela corta o pecircnis depois porque matar o homem foi um ato falho inesperado uma forccedila umpouco maior no garrote que tinha por objetivo obter mais uma ereccedilatildeo Mais uma ereccedilatildeo aindardquo (6)

Andar pelas ruas de Toacutekio por quatro dias carregando junto ao corpo o pecircnis do amante envolto em um lenccedilo de seda vermelho ateacute ser presa indica oato falho segundo Maria do Carmo Ela cita Carlos Gustavo Motta ao voltar do intenso cliacutemax descobre que seu amante morreu(7)

Lacan ao perguntar por que ela natildeo o cortou antes afirma que no filme vemos claramente que a ldquocastraccedilatildeo natildeo eacute a fantasiardquo e reafirma que a fantasiaextrema do erotismo feminino eacute matar o homem e natildeo castraacute-lo ldquoQuanto ao que fantasia a mulher se eacute como nos foi apresentado pelo filme eacute algumacoisa que de todo modo impede o encontrordquo(8)

Assim Maria do Carmo conclui sua fala ldquoo erotismo feminino mesmo que concebido apenas a partir da funccedilatildeo faacutelica indica um para aleacutem do faloPoreacutem no caso extremo desse erotismo louco e enigmaacutetico dentro da dialeacutetica entre o ter e o ser (o falo) matar o homem pode ser interpretado como afantasia que tornaria possiacutevel agrave mulher ter o falo e isso o filme mostra muito bemrdquo(9) Para concluir trago este recorte sobre o filme que encontrei emMulheres de hoje figuras do feminino no discurso analiacutetico - Boletim de 27 de dezembro de 2012 agraves 1754

ldquoEis o extremo do erotismo feminino ou o lado mortiacutefero do gozo feminino A fantasia pode ser um modo do sujeito se virar com a castraccedilatildeo um modoparadoxal de se virar com a exigecircncia pulsional Mas tambeacutem haacute outros modos de se enlaccedilar gozo e desejo Haacute outros modos de se arranjar com o erotismofemininordquo

Referecircncias

(1)MILLER J-A Todo mundo eacute louco Curso Orientaccedilatildeo lacaniana III 10 XVIII liccedilatildeo do Curso Paris 11 de junho de 2008

(2)ROTTERDAM Erasmo Elogio da Loucura Martin Claret Satildeo Paulo 2012 Traduccedilatildeo de Paulo Seacutergio Brandatildeo

(3)Lacan J Formulaccedilotildees sobre a causalidade psiacutequica Escritos Rio de Janeiro Jorge Zahar

(4) ROTTERDAM Erasmo Elogio da Loucura Martin Claret Satildeo Paulo 2012 Traduccedilatildeo de Paulo Seacutergio Brandatildeo

(5) LACAN J Seminaacuterio 23 O sinhtoma Jorge Zahar Rio de Janeiro p 122 123

(6) DIAS BATISTA M C Loucos de Paixatildeo EBP-SP na Casa das Rosas Texto apresentado na Conversa sobre Loucos de paixatildeo em 19102013

(7) MOTTA C G Las peliacuteculas que Lacan vio y aplicoacute al psicoanaacutelisis Buenos Aires Paidoacutes 2013

(8) LACAN J Seminaacuterio 23 O sinthoma Jorge Zahar Rio de Janeiro p 122 123

(9) DIAS BATISTA M C Loucos de Paixatildeo EBP-SP na Casa das Rosas Texto apresentado na Conversa sobre Loucos de paixatildeo em 19102013

TERRA DE SANTA CRUZ_____________________

22102016 wwwebpsporgbrindexphpview=articleamptype=rawampcatid=303Acarta-de-sao-paulo-onlineampid=8763Acarta-de-sao-paulo-online-5-nova-serie-ano-iiiamptmpl=componentampprint=1amplayout=defaultamppage=ampoption=com_contehellip

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BOLETIM HAUN

Leiam o boletim haun nuacutemero

httpwwwebporgbrhaunboletins011asp

ECOS DO MUNDO___________________________

Congresso da AMP ‐ Paris 2014

Boletim de Informaccedilatildeo do IX Congresso da AMP

Todos os Whatrsquos up estatildeo no site do Congresso em 5 idiomas

Franccedilais httpwwwcongresamp2014comfrWhats‐upWhatsUp_006pdf

Espantildeol httpwwwcongresamp2014comesWhats‐upWhatsUp_006pdf

Portugueacutes httpwwwcongresamp2014comptWhats‐upWhatsUp_006pdf

Italiano httpwwwcongresamp2014comitWhats‐upWhatsUp_006pdf

English httpwwwcongresamp2014comenWhats‐upWhatsUp_006pdf

ldquoLacan Cotidianordquo continua a ser veiculado em portuguecircs por nossas miacutedias traduccedilotildees realizadas por psicanalistas brasileiros sob a coordenaccedilatildeo de Maria do Carmo Dias Batista Pode‐se ler em portuguecircs os

artigos publicados acessando wwwebp‐spblogspotcombr

Os mesmos artigos e outros podem ser lidos no original francecircs httpwwwlac anquotidienfrblog

ENSINO DE LACAN__________________________

o psicanalista eacute colocado pelo discurso que o condiciona numa posiccedilatildeo digamos difiacutecil Por pouco que tenha praticado a anaacutelise o psicanalistasabe por experiecircncia proacutepria ter um denominador comum com o que eu digo

JACQUES LACAN O SEMINAacuteRIO - LIVRO 19 ou pior

AGENDA__________________________________

AGENDA- EBP SP

0611 - Seminaacuterio do Conselho - ou pior parte III - O Um Que Ele Natildeo Acesse o Dois cap XIII - Na base da diferenccedila dos sexos Apresentaccedilatildeo PaolaSalinas Coordenaccedilatildeo Luiz Fernando Carrijo da Cunha

08 e 0911 - Jornadas da EBP-SP 2013

Convidado Jorge Forbes - Coordenadora Geral Marizilda Paulino

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1311 - Seminaacuterio do Conselho - ou pior parte III - O Um Que Ele Natildeo Acesse o Dois cap XIV - Teoria das quatro foacutermulas (palestra) ApresentaccedilatildeoMaria Bernadette Pitteri Coordenaccedilatildeo Luiz Fernando Carrijo da Cunha

2011 - Natildeo haveraacute atividade em Satildeo Paulo - Enapol em Buenos Aires

2711 - Natildeo haveraacute atividade em Satildeo Paulo

___________________________________________________________________________________

SECRETARIA DO PASSE - EBP

INFORMACcedilOtildeES Maria Ceciacutelia Galletti Ferretti

(11) 3675-2921 - (11) 99626-6225

___________________________________________________________________________________

Editora Bernadette Pitteri Revisora Daniela Affonso

Diretoria da EBPshy SP

Diretora Geral Marizilda PaulinoDiretora Secretmiddotriashy Tesoureira Maria Helena BarbosaDiretora de Intercsbquombio e CartEgraveis Caacutessia Maria Rumenos GuardadoDiretora de Biblioteca Cynthia Nunes de Freitas Farias

EBPshySP

Rua Jobdquoo Moura 627 cj 193CEP 05412shy001 shy Sbdquoo Paulo shy SP

Telefone 11 3081 8947Fax 11 3063 1626eshymail ebpspebpsporgbr wwwebpsporgbrBlog httpwwwebpspwordpresscom

Page 6: CARTA DE SÃO PAULO - ONLINE 5 - NOVA SÉRIE - ANO IIIebp.org.br/sp/wp-content/uploads/2016/11/ano-III-NS-005.pdf · proposto,Loucos de Paixão, a partir do filme “O império dos

22102016 wwwebpsporgbrindexphpview=articleamptype=rawampcatid=303Acarta-de-sao-paulo-onlineampid=8763Acarta-de-sao-paulo-online-5-nova-serie-ano-iiiamptmpl=componentampprint=1amplayout=defaultamppage=ampoption=com_contehellip

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sintoma do outro da satisfaccedilatildeo que esses sintomas produzem Para poder permitir ao outro o acesso a este saber natildeo basta tecirc-lo conquistado haacute queconsentir com o passe onde algo se pode transmitir mesmo que natildeo seja tudo Entatildeo mesmo que sejam eruditos em um saber sobre a estrutura ospsicanalistas natildeo se reuacutenem como saacutebios para conversar sobre seu saber e ampliar o campo da erudiccedilatildeo mas se associam justamente pelo contraacuteriopor uma impossibilidade de conversar As formas que Lacan propotildee para a organizaccedilatildeo dos analistas seguem a referecircncia da distinccedilatildeo entre o laccedilocoletivo onde a referecircncia eacute o ideal que satura a falta e a loacutegica coletiva que se situa em relaccedilatildeo agrave falta do Outro que indica o furo no saber Tanto opasse quanto o cartel se inserem nessa loacutegica numa tensatildeo entre o que entra no laccedilo social e o que natildeo eacute coletivizaacutevel de cada um

Eacute nesse ponto que o Cartel encontra a especificidade de sua funccedilatildeo ser a dobradiccedila ser a articulaccedilatildeo entre o psicanalista na solidatildeo de seu ato e aEscola onde os analistas trabalham para a transmissatildeo da psicanaacutelise Se pudeacutessemos transmitir tudo o que restaria Eu imagino que teacutedio pois sefosse possiacutevel transmitir tudo a arte natildeo teria funccedilatildeo nem a psicanaacutelise

Entatildeo acho que a psicanaacutelise traz inoculado dentro de seu discurso esse saber que eacute o que faz de mim uma otimista em relaccedilatildeo agrave psicanaacutelise no seacuteculoXXI saber que natildeo sabe tudo saber que estamos marcados no corpo pela palavra e que isso nos coloca como sujeitos divididos entre uma verdade quenos habita e imprime nosso estilo e um saber que vai sendo construiacutedo a partir dela

Essa verdade o Um que marca alguma coisa do real do gozo eacute o que vai orientar o sujeito em sua nomeaccedilatildeo sintomaacutetica seu ldquosintoma como aparelhoindividual para situar o objeto pequeno a essa parte elaboraacutevel do gozordquo(4) O que seria ousado aqui que eacute a proposta da psicanaacutelise eacute suportar o vaziode significado ao inveacutes de tamponaacute-lo Eacute colocar o objeto pequeno a como causa de desejo e natildeo como objeto de mercado atrelado a um mais-de-gozarldquoNa perspectiva do uacuteltimo ensino de Lacan trata-se sobretudo de captar a maneira pela qual o sujeito estaacute articulado ao Outro pelas operaccedilotildees de batismoessenciais de seu sinthoma de um gozo que se esquiva a ser inscrito de uma vez por todas no lugar do Outrordquo (5) Ousar eacute fazer do vazio angustiante eenigmaacutetico uma marca proacutepria

A psicanaacutelise efetuou uma subversatildeo na loacutegica numeacuterica Aqui a sequecircncia deixa de ser 123 para ser 132 jaacute que para sair da loacutegica especular quede 2 faz 1 o sujeito precisa encontrar o 3 o terceiro termo aquele que traz a possibilidade de exclusatildeo imprescindiacutevel para a elaboraccedilatildeo da castraccedilatildeoEacute o que salva o sujeito do paraiacuteso da simbiose da natildeo diferenccedila Eacute ele que possibilita o aparecimento do 2 a manutenccedilatildeo de dois sujeitos que suportama diferenccedila No 2 o paraiacuteso sem garantias o paraiacuteso do desejo de uma inquietude que ousa em direccedilatildeo ao enigma do Outro e natildeo da inquietude quetenta negaacute-lo

O sintoma para a psicanaacutelise tem duas vertentes a vertente do sofrimento (gozo do sintoma) e a vertente do enigma (sentido do sintoma)Normalmente eacute pela vertente do sofrimento que um sujeito chega na anaacutelise mas para que esta se constitua como anaacutelise eacute preciso que seja propiciadoum querer saber do seu sintoma que o desejo de desvendar o enigma proacuteprio seja despertado A demanda terapecircutica pode ser unicamente se livrar deseu sofrimento e muitas terapias estatildeo aiacute para mostrar que isso eacute possiacutevel muitas vezes simplesmente trocando o Ideal ldquoconsertandordquo tapando furosno Ideal manco ou trocando por um novinho em folha O discurso messiacircnico eacute um bom exemplo Nada de marca singular aqui se trata de rebanhosAposta-se sempre no paraiacuteso futuro sem faltas com a garantia de completude e satisfaccedilatildeo Mas como analistas sabemos que o furo eacute de estruturaportanto sempre aparece Esse eacute nosso horror e nossa salvaccedilatildeo

Voltando ao iniacutecio o obsessivo natildeo ousando para natildeo errar se manteacutem mais preso a uma perpeacutetua tentativa de controle A histeacuterica fingindo ousarpara provar que natildeo erra que um dia seraacute ela proacutepria A Mulher natildeo conhece aliacutevio dessa tensatildeo Em ambos o 2 natildeo se estabelece a impotecircncia natildeofoi elaborada pelo saber de sua verdade singular que permite tratar o furo como impossiacutevel

Termino com uma citaccedilatildeo de Ana Luacutecia Lutterbach-Holck ldquoLacan jaacute na eacutepoca do seminaacuterio 1 nos aponta o melhor remeacutedio para enfrentar a ciecircnciada felicidade e suas cifras a coragem A coragem como nos falou Badiou natildeo eacute um momento heroico em que se coloca face ao impossiacutevel mas umavirtude construiacuteda na praacutetica para se sustentar no impossiacutevel A coragem pode ser algo que nos oriente localmente na desorientaccedilatildeo globalrdquo (6)

ldquoTodo caminho da gente eacute resvaloso

Mas tambeacutem cair natildeo prejudica ndash nada demais ndash a gente levanta a gente sobe a gente voltahellip

O correr da vida embrulha tudo a vida eacute assim esquenta e esfria aperta e daiacute

Afrouxa sossega e depois desinquieta

O que ela quer da gente eacute coragemrdquo Guimaratildees Rosa

Referecircncias

1BUSATO Ciacutenthia Quem ousa erra Atas da V Jornada da seccedilatildeo Santa Catarina

2COCCOZ Vilma Em httppequenaleiturablogspotcombr201211el-cartel-un-nuevo-lazo-por-vilma-coccozhtml

3LACAN Jacques Da psicanaacutelise em sua relaccedilatildeo com a realidade in Novos escritos p 358

4MILLER Jacques-Alain ldquoO sintoma como aparelhordquo in O sintoma Charlatatildeo p16 Rio de Janeiro Jorge Zahar Ed 1998 ( Campo Freudiano do Brasil)

5MILLER Jacques-Alain ldquo Nascimento do Sujeito Suposto Saberrdquo In Correio nuacutemero 60 p 19 -Cliacutenica e Pragmaacutetica 2008

6LUTTERBACH-HOLCK Ana Luacutecia ldquoDepressatildeo felicidade e algo maisrdquo in Opccedilatildeo Lacaniana - nordm 51 p 8 - Abril 2008

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UM BONECO VIVO

Maria de Lourdes Mattos

A partir de duas referecircncias extraiacutedas do campo da arte produzidas em momentos histoacutericos distintos pretendo contribuir com questotildees daatualidade da cliacutenica

Inicialmente me pergunto sobre a possibilidade de diaacutelogo entre duas produccedilotildees bem distintas uma extraiacuteda da literaturafantaacutestica do seacuteculo XIX e a outra do cinema do seacuteculo XXI Na primeira haacute a duacutevida se um ser aparentemente animadotem vida e na segunda produccedilatildeo onde essa duacutevida natildeo se apresenta aparece a questatildeo da mudanccedila de sexo um homemcompulsoriamente eacute transformado em mulher Talvez a metaacutefora de um ldquoboneco vivordquo e de um ldquovivo como um bonecordquoaproxima e distancia essas duas produccedilotildees

Trata-se de ldquoO homem de areiardquo escrito por Hoffmann (1) em 1817 e que inspirou Freud (2) com o texto ldquoO estranhordquoelaborado em 1919 e do filme ldquoA pele que habitordquo de Pedro Almodoacutevar realizado em 2011

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Na introduccedilatildeo ao conto Italo Calvino (3) considerou ldquoA descoberta do inconsciente ocorre precisamente aqui na literaturaromacircntica fantaacutestica quase cem anos antes que lhe seja dada uma referecircncia teoacutericardquo

No conto o jovem Natanael identifica o ldquohomem de areiardquo aquele que arrancava o olho das crianccedilas com o advogadoCoppelius amigo do pai cuja morte ocorreu no escritoacuterio por uma explosatildeo apoacutes visita do advogado que desaparece depoisdesse acontecimento O fantasma do homem que arrancava o olho das crianccedilas acompanha a vida de Natanael e reaparece emsua eacutepoca de estudante na figura do oculista Coppola vendedor de barocircmetros que lhe vende um telescoacutepio Com esseinstrumento o jovem observa a casa da frente do professor de fiacutesica Spallanzani espiando a bela filha Oliacutempia silenciosa eimoacutevel Apaixona-se por ela esquecendo-se de sua noiva Mas Oliacutempia eacute um autocircmato um boneco produzido pelo professorcujos olhos foram colocados por Coppola o homem de areia Em dado momento na tentativa de proteger Oliacutempia o joveminvade a casa do professor que discutia ferozmente com o oculista Na disputa entre os dois ldquocientistasrdquo a boneca eacutedespedaccedilada e seus olhos satildeo arremessados no peito de Natanael que nesse momento sucumbe agrave loucura Ao se recuperar ojovem retoma suas atividades e seu relacionamento com a noiva Em um passeio com ela resolvem observar a cidade do altode uma torre Fazendo uso do telescoacutepio ao observar a paisagem avista o professor Coppola o que ocasiona novo ataque deloucura e passagem ao ato Gritando ldquogira bonequinha de pau Bonequinha de pau girardquo tenta arremessar a noiva do altoda torre que eacute salva pelo irmatildeo Continuando seu ataque com os berros ldquolindos olhos lindos olhosrdquo atira-se do alto datorre

De acordo com Freud (4) o estranho algo assustador que remete ao que eacute familiar e deveria permanecer oculto estaacute ligado agrave figura do Homem deAreia aquele que tira os olhos das crianccedilas A duacutevida quanto agrave boneca se eacute um ser vivo ou inanimado eacute irrelevante em termos de estranheza Freudrelaciona o medo de perder os olhos ao complexo de castraccedilatildeo substituindo ldquoo Homem de Areia ao pai temido de cujas matildeos eacute esperada a castraccedilatildeordquoOsinventores da boneca seriam a reencarnaccedilatildeo dos pais de Natanael e Oliacutempia a ldquomaterializaccedilatildeo da atitude feminina de Natanael em relaccedilatildeo ao pai na suainfacircnciardquo O amor que o jovem sente pela boneca seria a expressatildeo da forma do amor narciacutesico

Entre os temas ligados ao estranho Freud destaca o fenocircmeno do duplo e o efeito produzido quando algo da ordem doimaginaacuterio aparece na realidade ou seja quando desaparece a distinccedilatildeo entre o imaginaacuterio e a realidade (5) Lacan (6)enfatiza a importacircncia da localizaccedilatildeo de Freud no texto de Hoffmann do fenocircmeno do estranho para tratar a anguacutestiaQuando algo que deveria permanecer oculto vem agrave luz ldquoa imagem especular transforma-se na imagem do duplordquo Segundo elena histoacuteria de ldquoO homem de areia vemos o sujeito saltar de uma captaccedilatildeo para outra diante da forma de imagem quematerializa A boneca eacute essa imagem iacute(a) na operaccedilatildeo de complementaacute-la com aquilo que na proacutepria forma do conto eacuteabsolutamente distinto dela ou seja o olho O olho de que se trata soacute pode ser o do heroacutei (Natanael)rdquo Considera a preciosidadedo campo da ficccedilatildeo na experiecircncia do estranho (unnheimlich) para localizar o campo da fantasia

O veacuteu da fantasia protege o real Na contemporaneidade com a crise do simboacutelico talvez seja vaacutelido considerar quecarecemos dessa proteccedilatildeo

Em entrevista para a EBP-MG (7) Franccedilois Ansermet considera que os avanccedilos da ciecircncia colocam em crise o simboacutelico ao mesmo tempo que aopretender tratar o real o produz cada vez mais gerando novas questotildees Levando em conta a especificidade de cada abordagem refere que natildeo soacute aciecircncia e a psicanaacutelise tratam o real mas a arte tambeacutem e sua particularidade estaacute em ir direto ao ponto

O filme de Pedro Almodoacutevar eacute um exemplo disso Em ldquoA pele que habitordquo procura-se produzir a coacutepia de uma mulher como se fosse um ldquoclonerdquo apartir do corpo de um homem Eacute o duplo da ciecircncia Para aleacutem da era da maacutequina da produccedilatildeo dos robocircs um dos temas do seacuteculo XXI eacute abiotecnologia de reproduccedilatildeo da mudanccedila de sexo o que segundo Ansermet pode fazer a realidade delirar

Antocircnio Banderas interpreta um cirurgiatildeo plaacutestico o Dr Robert Ledgard que perdeu a mulher queimada num acidente decarro Inventa uma nova pele com a qual poderia salvaacute-la Para fazer uso de seu experimento utiliza o corpo de Vicente (8)que supostamente violentou sexualmente sua filha Norma (9) No seu laboratoacuterio Dr Robert produz a bela mulher no corpode seu prisioneiro Vera (10) eacute o resultado da invenccedilatildeo Mas algo escapa ao poder ilimitado da ciecircncia Vicente continuahabitando o corpo da bela mulher

No Seminaacuterio sobre o Sinthoma(11) Lacan refere que a psicanaacutelise ao considerar o sujeito dividido pela operaccedilatildeo dalinguagem encontra sua difusatildeo ao questionar a ciecircncia que faz de um objeto um sujeito

Ser homem ou mulher vai aleacutem da diferenccedila anatocircmica entre os sexos supotildee uma implicaccedilatildeo subjetiva do sexo A partir das foacutermulas de sexuaccedilatildeo(12) Lacan elucidou que haacute diversas maneiras de o sujeito inscrever seu corpo e seu gozo em relaccedilatildeo ao significante faacutelico

Referecircncias

(1) (HOFFMANN ETA ldquoO homem de areiardquo In Contos fantaacutesticos do seacuteculo XIX o fantaacutestico visionaacuterio e o fantaacutestico cotidianoorg de Italo Calvino ndash SPCompanhia de Letras 2004 p 49-81

(2)FREUD S ldquoO estranhordquo In Obras Completas RJ Imago 1996 p 234-69

(3) HOFFMANN ETA op cit p 49

(4) FREUD S opcit

(5) FREUD S Op cit p 261

(6) LACAN J ldquoO seminaacuterio livro 10 a anguacutestiardquo RJ Zahar 2005 p57-9

(7) Boletim Sinapsy Entrevista de Franccedilois Ansermet para a XVIII Jornada da EBP-MG

(8) Vicente eacute interpretado por Jan Cornet

(9) Norma eacute interpretada por Bianca Suarez

(10) Vera eacute interpretada por Elena Anaya

(11) LACAN J ldquoO seminaacuterio livro 23 o sinthomardquo RJ Zahar 2007 p

(12) LACAN J ldquoO seminaacuterio livro 20 mais aindardquo RJ Zahar

SAtildeO PAULO DE PIRATININGA____________________

22102016 wwwebpsporgbrindexphpview=articleamptype=rawampcatid=303Acarta-de-sao-paulo-onlineampid=8763Acarta-de-sao-paulo-online-5-nova-serie-ano-iiiamptmpl=componentampprint=1amplayout=defaultamppage=ampoption=com_contehellip

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EBP-SP na Casa das Rosas (Avenida Paulista 19102013)

LOUCOS DE PAIXAtildeO

Maria do Carmo Dias Batista

Pensei em trabalhar o tema ldquoLoucos de Paixatildeordquo atraveacutes do cinema desde o momento em que recebi o convite da Diretora da EBP-SP MarizildaPaulino a quem agradeccedilo A Perpeacutetua Medrado Gonccedilalves que haacute vaacuterios anos participa deste evento e assim sustenta uma possibilidade de inserccedilatildeoda EBP-SP na Cidade gostaria de aleacutem de agradecer pelo longo tempo de trabalho conjunto fazer um elogio Um elogio agrave loucura ao deliacuterio de suacrenccedila inquebrantaacutevel na Escola e no trabalho com a doenccedila mental baseando-me na formulaccedilatildeo de Jacques-Alain Miller da generalizaccedilatildeo dodeliacuterio todos os nossos discursos satildeo delirantes satildeo defesas contra o real (1) Agradeccedilo ainda a Cynthia Nunes de Freitas Diretora de Biblioteca deEBP-SP que participa da organizaccedilatildeo deste evento e de muito outros com o objetivo de ampliar a presenccedila do Campo Freudiano

Falar de cinema e psicanaacutelise eacute falar da psicanaacutelise aplicada a uma das manifestaccedilotildees mais importantes da cultura desde suainvenccedilatildeo no seacuteculo XX O cinema se inseriu na sociedade de forma contundente como se houvesse uma sede da ficccedilatildeomostrada em imagens em movimento Produziu uma identificaccedilatildeo maciccedila A literatura a muacutesica a oacutepera natildeo bastavam mais

Aplicar a psicanaacutelise ao cinema natildeo eacute psicanalizar diretores autores atores mas como durante mais de quinze anos meuquerido Marco Antocircnio Guerra e eu colocamos em praacutetica no Seminaacuterio de Cinema e Psicanaacutelise trata-se de sacudir atualizar os conceitos dapsicanaacutelise atraveacutes dos excelentes exemplos oferecidos pelo cinema

O tema ldquoLoucos de Paixatildeordquo nos inspirou a escolher para a conversa de hoje o filme ldquoO Impeacuterio dos Sentidosrdquo como vocecircs acabaram de escutar e saberatraveacutes da bela fala de Marco Esse foi um dos filmes que Lacan viu e aplicou agrave psicanaacutelise (conforme tiacutetulo do livro de Carlos Gustavo Motta Laspeliacuteculas que Lacan vio y aplicoacute al psicoanaacutelisis) (2) A referecircncia estaacute no Seminaacuterio 23 (3) de 1976 mesmo ano de lanccedilamento do filme Lacan conta aseu auditoacuterio que esteve em uma salinha de projeccedilatildeo reservada e escondida em Paris pois o filme estava censurado Convidou algumas pessoas de suaEscola e todos segundo Lacan saiacuteram embasbacados (souffleacutees) assombrados O efeito provocado pelo filme em Lacan deve-se a ter nele localizadoum exemplo surpreendente do erotismo feminino Ele natildeo esperava ver isso em um filme japonecircs e comeccedilou entatildeo a compreender o poder dasjaponesas

No filme o erotismo feminino foi levado ao extremo e esse extremo eacute a fantasia de matar o homem Poreacutem continua Lacan isso natildeo basta Depois detecirc-lo matado vai mais longe Depois a japonesa corta o pecircnis de seu parceiro Por que depois Talvez possamos entender a partir do que disse Marcoela corta o pecircnis depois porque matar o homem foi um ato falho inesperado uma forccedila um pouco maior no garrote que tinha por objetivo obter maisuma ereccedilatildeo Mais uma ereccedilatildeo ainda

O filme se baseia em coisas que de fato aconteceram no Japatildeo em 1936 agraves veacutesperas da invasatildeo da China Errar pelas ruas de Toacutekio por quatro diascarregando apertado junto ao corpo o pecircnis do morto envolto em um lenccedilo de seda vermelho ateacute ser presa indica talvez o ato falho Essa tambeacutem eacute aopiniatildeo de Carlos Gustavo Motta que diz ao voltar do intenso cliacutemax descobre que seu amante morreu (4)

Lacan se pergunta por que ela natildeo o cortou antes independente do que ocorreu na realidade para reafirmar que a fantasiaextrema do erotismo feminino eacute matar o homem e natildeo castraacute-lo Se a fantasia do homem eacute fetichista e ele faz amor com asfantasias de seu inconsciente a fantasia da mulher como nos eacute demonstrado pelo filme eacute alguma coisa que de todo modoimpede o encontro pois natildeo tem limite visa um gozo ilimitado A mulher natildeo eacute [toda] determinada por seu inconsciente

A sexualidade para Freud se inscreve na fantasia inconsciente e esse eacute o campo por excelecircncia do erotismo Atraveacutes daconstruccedilatildeo fantasiacutestica do corpo eroacutegeno o humano se diferencia dos outros animais e das teacutecnicas comportamentaisdefendidas pela sexologia centrada no corpo bioloacutegico

A possibilidade de constituiccedilatildeo do corpo eroacutegeno atraveacutes da relaccedilatildeo com o Outro eacute o avanccedilo em direccedilatildeo agrave vida eroacuteticacriativa onde o velamento excita e incita ao deciframento do enigma que por sua vez nunca se alcanccedila e sempre eacute mantido pela forccedila da pulsatildeo Este eacuteo ponto central da genial descoberta de Freud pois ateacute o seacuteculo XIX a sexualidade era identificada com o registro da reproduccedilatildeo bioloacutegica

Assim parece claro que a mulher ocupe para o homem pelo menos no que se refere ao gozo faacutelico o lugar de fetiche Poreacutem caberia perguntar aindapor que eacute a mulher que deve ocupar esse lugar de falo ou de objeto Segundo Lacan eacute por ter o oacutergatildeo faacutelico que o homem natildeo eacute o falo o que implicaque a mulher possa ser o falo Eacute por natildeo ter o falo que a mulher adquire seu valor

O erotismo feminino mesmo que concebido apenas a partir da funccedilatildeo faacutelica indica um para aleacutem do falo Poreacutem no caso extremo desse erotismolouco e enigmaacutetico dentro da dialeacutetica entre o ter e o ser (o falo) matar o homem pode ser interpretado como a fantasia que tornaria possiacutevel agrave mulherter o falo e isso o filme mostra muito bem Obrigada

Referecircncias

(1) MILLER J-A ldquoClinique ironiquerdquo La Cause freudienne ndash Revue de lrsquoECF Paris ECF n 23 p 7

(2) MOTTA C G Las peliacuteculas que Lacan vio y aplicoacute al psicoanaacutelisis Buenos Aires Paidoacutes 2013

(3) LACAN J O Seminaacuterio ndash livro 23 O sinthoma Rio de Janeiro Zahar 2007 p 122-123 e 199-200

(4) MOTTA C G Op Cit p 157

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A EBPndashSP na Casa das Rosas - Resenha

LOUCOS DE PAIXAtildeO

Perpeacutetua Medrado Gonccedilalves

ldquoA loucura colocada em cena para fazer seu elogio e para dizer todo mundo eacute louco(1)

A Escola Brasileira de Psicanaacutelise - SP foi para a Avenida Paulista na Casa das Rosas participar do Sarau Chama Poeacuteticaconvidada por Fernanda Almeida Prado a quem agradeccedilo a possibilidade dessa parceria

A Loucura elogia a si mesma mostra-se como verdade orgulha-se de dizer que ela eacute a uacutenica capaz de alegrar os deuses e osmortais E dessa forma encanta a todos com o seu saber mesmo satirizando a miseacuteria humana

22102016 wwwebpsporgbrindexphpview=articleamptype=rawampcatid=303Acarta-de-sao-paulo-onlineampid=8763Acarta-de-sao-paulo-online-5-nova-serie-ano-iiiamptmpl=componentampprint=1amplayout=defaultamppage=ampoption=com_contehellip

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ldquoAssim tambeacutem a mulher eacute sempre mulher isto eacute eacute sempre louca seja qual for a maacutescara sob a qual se apresente Natildeo quero todavia acreditar jamaisque o belo sexo seja tolo ao ponto de se aborrecer comigo pelo que eu lhe disse pois tambeacutem sou mulher e sou a Loucurardquo(2)

ldquoElogio da Loucurardquo Tema do Sarau Chama Poeacutetica eacute um texto de 1506 de Erasmo de Rotterdam cuja narradora eacute a Loucura ou seja umamulher Ela mostra as diversas faces de sua sabedoria suas ideias suas paixotildees seus oacutedios e seus temores O texto apresenta uma visatildeo irocircnica quecondena os abusos mas natildeo as instituiccedilotildees

Encontramos vaacuterias citaccedilotildees deste texto nos Escritos de Lacan Lacan transformou a loucura no fio condutor do seu ensino e fez sua entrada napsicanaacutelise pois para ele o louco seria o uacutenico que poderia ser testemunha do Real ldquoE o ser do homem natildeo somente natildeo pode ser compreendido sem aloucura como natildeo seria o ser do homem se natildeo trouxesse em si a loucura como o limite de sua liberdaderdquo (3)

Comeccedilamos nossa atividade com a intervenccedilatildeo de Marizilda Paulino Diretora Geral da EBP-SP que deu as boas vindas e convidou todos para asJornadas da EBP-SP 2013Lacan PsicanalistaBrasileiroO que fazemos no Brasil com o Ensino de Jacques Lacan

Maria do Carmo Dias Batista dividiu a Conversa Loucos de Paixatildeo com Marco Antonio Guerra professor da ECAUSP especialista em cinemaAmbos falaram sobre o filme ldquoO Impeacuterio dos Sentidosrdquo Marco Antonio animou o debate ao trazer suas impressotildees do Japatildeo paiacutes em que morou poralgum tempo

O Impeacuterio dos Sentidos (Ai no Korīda ou 愛のコリーダ) eacute um filme franco-japonecircs de 1976 do gecircnero drama eroacutetico Ofilme foi proibido na sua primeira exibiccedilatildeo no Festival de Nova York

Marco Antonio discorreu sobre o filme que eacute considerado uma obra-prima do erotismo baseada em um fato real ocorrido em1936 um dos mais famosos escacircndalos do Japatildeo Eacute a histoacuteria da jovem Sada ex-prostituta que se envolveu em um obsessivo

caso de amor com o patratildeo na casa onde trabalhava como domeacutestica A relaccedilatildeo que comeccedilou casual atinge niacuteveis em que a paixatildeo natildeo encontra maislimites

ldquoQuereis prova mais evidente de que soacute a loucura constitui o ascendente das mulheres sobre os homens Os homens tudo concedem agraves mulheres por causada voluacutepia e eacute soacute com a loucura que as mulheres agradam aos homensrdquo(4)

O casal passa os dias a fornicar e a beber no bordel onde se refugiam sem se alimentarem nem saiacuterem do quarto exceto quando Sada vai ganharalgum dinheiro para o sustento Esse jogo amoroso culmina com a morte do amante quando Sada o estrangula para garantir o maacuteximo da ereccedilatildeoDepois da morte do amante ela corta seu pecircnis e passeia pelas ruas da cidade com ele preso em seu corpo ateacute ser presa

Maria do Carmo lembra que falar de cinema e psicanaacutelise eacute falar da psicanaacutelise aplicada a uma das manifestaccedilotildees mais importantes da cultura desdesua invenccedilatildeo no seacuteculo XX Comenta tambeacutem que Lacan no Seminaacuterio 23 o sinthoma (1975-1976) diz que saiu desse filme embasbacado ldquoFiqueiembasbacado porque se trata do erotismo femininordquo(5) Para ele no filme o erotismo feminino foi levado ao extremo e esse extremo eacute a fantasia dematar o homem Mas Lacan diz isso natildeo basta Depois de tecirc-lo matado vai-se mais longe Ela corta o pecircnis de seu parceiro Por que depois PerguntaLacan acrescentando ldquoa japonesa em questatildeo que eacute o caso de dizer eacute uma amante mulherrdquo

Maria do Carmo diz a partir do que disse Marco Antonio ldquoela corta o pecircnis depois porque matar o homem foi um ato falho inesperado uma forccedila umpouco maior no garrote que tinha por objetivo obter mais uma ereccedilatildeo Mais uma ereccedilatildeo aindardquo (6)

Andar pelas ruas de Toacutekio por quatro dias carregando junto ao corpo o pecircnis do amante envolto em um lenccedilo de seda vermelho ateacute ser presa indica oato falho segundo Maria do Carmo Ela cita Carlos Gustavo Motta ao voltar do intenso cliacutemax descobre que seu amante morreu(7)

Lacan ao perguntar por que ela natildeo o cortou antes afirma que no filme vemos claramente que a ldquocastraccedilatildeo natildeo eacute a fantasiardquo e reafirma que a fantasiaextrema do erotismo feminino eacute matar o homem e natildeo castraacute-lo ldquoQuanto ao que fantasia a mulher se eacute como nos foi apresentado pelo filme eacute algumacoisa que de todo modo impede o encontrordquo(8)

Assim Maria do Carmo conclui sua fala ldquoo erotismo feminino mesmo que concebido apenas a partir da funccedilatildeo faacutelica indica um para aleacutem do faloPoreacutem no caso extremo desse erotismo louco e enigmaacutetico dentro da dialeacutetica entre o ter e o ser (o falo) matar o homem pode ser interpretado como afantasia que tornaria possiacutevel agrave mulher ter o falo e isso o filme mostra muito bemrdquo(9) Para concluir trago este recorte sobre o filme que encontrei emMulheres de hoje figuras do feminino no discurso analiacutetico - Boletim de 27 de dezembro de 2012 agraves 1754

ldquoEis o extremo do erotismo feminino ou o lado mortiacutefero do gozo feminino A fantasia pode ser um modo do sujeito se virar com a castraccedilatildeo um modoparadoxal de se virar com a exigecircncia pulsional Mas tambeacutem haacute outros modos de se enlaccedilar gozo e desejo Haacute outros modos de se arranjar com o erotismofemininordquo

Referecircncias

(1)MILLER J-A Todo mundo eacute louco Curso Orientaccedilatildeo lacaniana III 10 XVIII liccedilatildeo do Curso Paris 11 de junho de 2008

(2)ROTTERDAM Erasmo Elogio da Loucura Martin Claret Satildeo Paulo 2012 Traduccedilatildeo de Paulo Seacutergio Brandatildeo

(3)Lacan J Formulaccedilotildees sobre a causalidade psiacutequica Escritos Rio de Janeiro Jorge Zahar

(4) ROTTERDAM Erasmo Elogio da Loucura Martin Claret Satildeo Paulo 2012 Traduccedilatildeo de Paulo Seacutergio Brandatildeo

(5) LACAN J Seminaacuterio 23 O sinhtoma Jorge Zahar Rio de Janeiro p 122 123

(6) DIAS BATISTA M C Loucos de Paixatildeo EBP-SP na Casa das Rosas Texto apresentado na Conversa sobre Loucos de paixatildeo em 19102013

(7) MOTTA C G Las peliacuteculas que Lacan vio y aplicoacute al psicoanaacutelisis Buenos Aires Paidoacutes 2013

(8) LACAN J Seminaacuterio 23 O sinthoma Jorge Zahar Rio de Janeiro p 122 123

(9) DIAS BATISTA M C Loucos de Paixatildeo EBP-SP na Casa das Rosas Texto apresentado na Conversa sobre Loucos de paixatildeo em 19102013

TERRA DE SANTA CRUZ_____________________

22102016 wwwebpsporgbrindexphpview=articleamptype=rawampcatid=303Acarta-de-sao-paulo-onlineampid=8763Acarta-de-sao-paulo-online-5-nova-serie-ano-iiiamptmpl=componentampprint=1amplayout=defaultamppage=ampoption=com_contehellip

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BOLETIM HAUN

Leiam o boletim haun nuacutemero

httpwwwebporgbrhaunboletins011asp

ECOS DO MUNDO___________________________

Congresso da AMP ‐ Paris 2014

Boletim de Informaccedilatildeo do IX Congresso da AMP

Todos os Whatrsquos up estatildeo no site do Congresso em 5 idiomas

Franccedilais httpwwwcongresamp2014comfrWhats‐upWhatsUp_006pdf

Espantildeol httpwwwcongresamp2014comesWhats‐upWhatsUp_006pdf

Portugueacutes httpwwwcongresamp2014comptWhats‐upWhatsUp_006pdf

Italiano httpwwwcongresamp2014comitWhats‐upWhatsUp_006pdf

English httpwwwcongresamp2014comenWhats‐upWhatsUp_006pdf

ldquoLacan Cotidianordquo continua a ser veiculado em portuguecircs por nossas miacutedias traduccedilotildees realizadas por psicanalistas brasileiros sob a coordenaccedilatildeo de Maria do Carmo Dias Batista Pode‐se ler em portuguecircs os

artigos publicados acessando wwwebp‐spblogspotcombr

Os mesmos artigos e outros podem ser lidos no original francecircs httpwwwlac anquotidienfrblog

ENSINO DE LACAN__________________________

o psicanalista eacute colocado pelo discurso que o condiciona numa posiccedilatildeo digamos difiacutecil Por pouco que tenha praticado a anaacutelise o psicanalistasabe por experiecircncia proacutepria ter um denominador comum com o que eu digo

JACQUES LACAN O SEMINAacuteRIO - LIVRO 19 ou pior

AGENDA__________________________________

AGENDA- EBP SP

0611 - Seminaacuterio do Conselho - ou pior parte III - O Um Que Ele Natildeo Acesse o Dois cap XIII - Na base da diferenccedila dos sexos Apresentaccedilatildeo PaolaSalinas Coordenaccedilatildeo Luiz Fernando Carrijo da Cunha

08 e 0911 - Jornadas da EBP-SP 2013

Convidado Jorge Forbes - Coordenadora Geral Marizilda Paulino

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1311 - Seminaacuterio do Conselho - ou pior parte III - O Um Que Ele Natildeo Acesse o Dois cap XIV - Teoria das quatro foacutermulas (palestra) ApresentaccedilatildeoMaria Bernadette Pitteri Coordenaccedilatildeo Luiz Fernando Carrijo da Cunha

2011 - Natildeo haveraacute atividade em Satildeo Paulo - Enapol em Buenos Aires

2711 - Natildeo haveraacute atividade em Satildeo Paulo

___________________________________________________________________________________

SECRETARIA DO PASSE - EBP

INFORMACcedilOtildeES Maria Ceciacutelia Galletti Ferretti

(11) 3675-2921 - (11) 99626-6225

___________________________________________________________________________________

Editora Bernadette Pitteri Revisora Daniela Affonso

Diretoria da EBPshy SP

Diretora Geral Marizilda PaulinoDiretora Secretmiddotriashy Tesoureira Maria Helena BarbosaDiretora de Intercsbquombio e CartEgraveis Caacutessia Maria Rumenos GuardadoDiretora de Biblioteca Cynthia Nunes de Freitas Farias

EBPshySP

Rua Jobdquoo Moura 627 cj 193CEP 05412shy001 shy Sbdquoo Paulo shy SP

Telefone 11 3081 8947Fax 11 3063 1626eshymail ebpspebpsporgbr wwwebpsporgbrBlog httpwwwebpspwordpresscom

Page 7: CARTA DE SÃO PAULO - ONLINE 5 - NOVA SÉRIE - ANO IIIebp.org.br/sp/wp-content/uploads/2016/11/ano-III-NS-005.pdf · proposto,Loucos de Paixão, a partir do filme “O império dos

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Na introduccedilatildeo ao conto Italo Calvino (3) considerou ldquoA descoberta do inconsciente ocorre precisamente aqui na literaturaromacircntica fantaacutestica quase cem anos antes que lhe seja dada uma referecircncia teoacutericardquo

No conto o jovem Natanael identifica o ldquohomem de areiardquo aquele que arrancava o olho das crianccedilas com o advogadoCoppelius amigo do pai cuja morte ocorreu no escritoacuterio por uma explosatildeo apoacutes visita do advogado que desaparece depoisdesse acontecimento O fantasma do homem que arrancava o olho das crianccedilas acompanha a vida de Natanael e reaparece emsua eacutepoca de estudante na figura do oculista Coppola vendedor de barocircmetros que lhe vende um telescoacutepio Com esseinstrumento o jovem observa a casa da frente do professor de fiacutesica Spallanzani espiando a bela filha Oliacutempia silenciosa eimoacutevel Apaixona-se por ela esquecendo-se de sua noiva Mas Oliacutempia eacute um autocircmato um boneco produzido pelo professorcujos olhos foram colocados por Coppola o homem de areia Em dado momento na tentativa de proteger Oliacutempia o joveminvade a casa do professor que discutia ferozmente com o oculista Na disputa entre os dois ldquocientistasrdquo a boneca eacutedespedaccedilada e seus olhos satildeo arremessados no peito de Natanael que nesse momento sucumbe agrave loucura Ao se recuperar ojovem retoma suas atividades e seu relacionamento com a noiva Em um passeio com ela resolvem observar a cidade do altode uma torre Fazendo uso do telescoacutepio ao observar a paisagem avista o professor Coppola o que ocasiona novo ataque deloucura e passagem ao ato Gritando ldquogira bonequinha de pau Bonequinha de pau girardquo tenta arremessar a noiva do altoda torre que eacute salva pelo irmatildeo Continuando seu ataque com os berros ldquolindos olhos lindos olhosrdquo atira-se do alto datorre

De acordo com Freud (4) o estranho algo assustador que remete ao que eacute familiar e deveria permanecer oculto estaacute ligado agrave figura do Homem deAreia aquele que tira os olhos das crianccedilas A duacutevida quanto agrave boneca se eacute um ser vivo ou inanimado eacute irrelevante em termos de estranheza Freudrelaciona o medo de perder os olhos ao complexo de castraccedilatildeo substituindo ldquoo Homem de Areia ao pai temido de cujas matildeos eacute esperada a castraccedilatildeordquoOsinventores da boneca seriam a reencarnaccedilatildeo dos pais de Natanael e Oliacutempia a ldquomaterializaccedilatildeo da atitude feminina de Natanael em relaccedilatildeo ao pai na suainfacircnciardquo O amor que o jovem sente pela boneca seria a expressatildeo da forma do amor narciacutesico

Entre os temas ligados ao estranho Freud destaca o fenocircmeno do duplo e o efeito produzido quando algo da ordem doimaginaacuterio aparece na realidade ou seja quando desaparece a distinccedilatildeo entre o imaginaacuterio e a realidade (5) Lacan (6)enfatiza a importacircncia da localizaccedilatildeo de Freud no texto de Hoffmann do fenocircmeno do estranho para tratar a anguacutestiaQuando algo que deveria permanecer oculto vem agrave luz ldquoa imagem especular transforma-se na imagem do duplordquo Segundo elena histoacuteria de ldquoO homem de areia vemos o sujeito saltar de uma captaccedilatildeo para outra diante da forma de imagem quematerializa A boneca eacute essa imagem iacute(a) na operaccedilatildeo de complementaacute-la com aquilo que na proacutepria forma do conto eacuteabsolutamente distinto dela ou seja o olho O olho de que se trata soacute pode ser o do heroacutei (Natanael)rdquo Considera a preciosidadedo campo da ficccedilatildeo na experiecircncia do estranho (unnheimlich) para localizar o campo da fantasia

O veacuteu da fantasia protege o real Na contemporaneidade com a crise do simboacutelico talvez seja vaacutelido considerar quecarecemos dessa proteccedilatildeo

Em entrevista para a EBP-MG (7) Franccedilois Ansermet considera que os avanccedilos da ciecircncia colocam em crise o simboacutelico ao mesmo tempo que aopretender tratar o real o produz cada vez mais gerando novas questotildees Levando em conta a especificidade de cada abordagem refere que natildeo soacute aciecircncia e a psicanaacutelise tratam o real mas a arte tambeacutem e sua particularidade estaacute em ir direto ao ponto

O filme de Pedro Almodoacutevar eacute um exemplo disso Em ldquoA pele que habitordquo procura-se produzir a coacutepia de uma mulher como se fosse um ldquoclonerdquo apartir do corpo de um homem Eacute o duplo da ciecircncia Para aleacutem da era da maacutequina da produccedilatildeo dos robocircs um dos temas do seacuteculo XXI eacute abiotecnologia de reproduccedilatildeo da mudanccedila de sexo o que segundo Ansermet pode fazer a realidade delirar

Antocircnio Banderas interpreta um cirurgiatildeo plaacutestico o Dr Robert Ledgard que perdeu a mulher queimada num acidente decarro Inventa uma nova pele com a qual poderia salvaacute-la Para fazer uso de seu experimento utiliza o corpo de Vicente (8)que supostamente violentou sexualmente sua filha Norma (9) No seu laboratoacuterio Dr Robert produz a bela mulher no corpode seu prisioneiro Vera (10) eacute o resultado da invenccedilatildeo Mas algo escapa ao poder ilimitado da ciecircncia Vicente continuahabitando o corpo da bela mulher

No Seminaacuterio sobre o Sinthoma(11) Lacan refere que a psicanaacutelise ao considerar o sujeito dividido pela operaccedilatildeo dalinguagem encontra sua difusatildeo ao questionar a ciecircncia que faz de um objeto um sujeito

Ser homem ou mulher vai aleacutem da diferenccedila anatocircmica entre os sexos supotildee uma implicaccedilatildeo subjetiva do sexo A partir das foacutermulas de sexuaccedilatildeo(12) Lacan elucidou que haacute diversas maneiras de o sujeito inscrever seu corpo e seu gozo em relaccedilatildeo ao significante faacutelico

Referecircncias

(1) (HOFFMANN ETA ldquoO homem de areiardquo In Contos fantaacutesticos do seacuteculo XIX o fantaacutestico visionaacuterio e o fantaacutestico cotidianoorg de Italo Calvino ndash SPCompanhia de Letras 2004 p 49-81

(2)FREUD S ldquoO estranhordquo In Obras Completas RJ Imago 1996 p 234-69

(3) HOFFMANN ETA op cit p 49

(4) FREUD S opcit

(5) FREUD S Op cit p 261

(6) LACAN J ldquoO seminaacuterio livro 10 a anguacutestiardquo RJ Zahar 2005 p57-9

(7) Boletim Sinapsy Entrevista de Franccedilois Ansermet para a XVIII Jornada da EBP-MG

(8) Vicente eacute interpretado por Jan Cornet

(9) Norma eacute interpretada por Bianca Suarez

(10) Vera eacute interpretada por Elena Anaya

(11) LACAN J ldquoO seminaacuterio livro 23 o sinthomardquo RJ Zahar 2007 p

(12) LACAN J ldquoO seminaacuterio livro 20 mais aindardquo RJ Zahar

SAtildeO PAULO DE PIRATININGA____________________

22102016 wwwebpsporgbrindexphpview=articleamptype=rawampcatid=303Acarta-de-sao-paulo-onlineampid=8763Acarta-de-sao-paulo-online-5-nova-serie-ano-iiiamptmpl=componentampprint=1amplayout=defaultamppage=ampoption=com_contehellip

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EBP-SP na Casa das Rosas (Avenida Paulista 19102013)

LOUCOS DE PAIXAtildeO

Maria do Carmo Dias Batista

Pensei em trabalhar o tema ldquoLoucos de Paixatildeordquo atraveacutes do cinema desde o momento em que recebi o convite da Diretora da EBP-SP MarizildaPaulino a quem agradeccedilo A Perpeacutetua Medrado Gonccedilalves que haacute vaacuterios anos participa deste evento e assim sustenta uma possibilidade de inserccedilatildeoda EBP-SP na Cidade gostaria de aleacutem de agradecer pelo longo tempo de trabalho conjunto fazer um elogio Um elogio agrave loucura ao deliacuterio de suacrenccedila inquebrantaacutevel na Escola e no trabalho com a doenccedila mental baseando-me na formulaccedilatildeo de Jacques-Alain Miller da generalizaccedilatildeo dodeliacuterio todos os nossos discursos satildeo delirantes satildeo defesas contra o real (1) Agradeccedilo ainda a Cynthia Nunes de Freitas Diretora de Biblioteca deEBP-SP que participa da organizaccedilatildeo deste evento e de muito outros com o objetivo de ampliar a presenccedila do Campo Freudiano

Falar de cinema e psicanaacutelise eacute falar da psicanaacutelise aplicada a uma das manifestaccedilotildees mais importantes da cultura desde suainvenccedilatildeo no seacuteculo XX O cinema se inseriu na sociedade de forma contundente como se houvesse uma sede da ficccedilatildeomostrada em imagens em movimento Produziu uma identificaccedilatildeo maciccedila A literatura a muacutesica a oacutepera natildeo bastavam mais

Aplicar a psicanaacutelise ao cinema natildeo eacute psicanalizar diretores autores atores mas como durante mais de quinze anos meuquerido Marco Antocircnio Guerra e eu colocamos em praacutetica no Seminaacuterio de Cinema e Psicanaacutelise trata-se de sacudir atualizar os conceitos dapsicanaacutelise atraveacutes dos excelentes exemplos oferecidos pelo cinema

O tema ldquoLoucos de Paixatildeordquo nos inspirou a escolher para a conversa de hoje o filme ldquoO Impeacuterio dos Sentidosrdquo como vocecircs acabaram de escutar e saberatraveacutes da bela fala de Marco Esse foi um dos filmes que Lacan viu e aplicou agrave psicanaacutelise (conforme tiacutetulo do livro de Carlos Gustavo Motta Laspeliacuteculas que Lacan vio y aplicoacute al psicoanaacutelisis) (2) A referecircncia estaacute no Seminaacuterio 23 (3) de 1976 mesmo ano de lanccedilamento do filme Lacan conta aseu auditoacuterio que esteve em uma salinha de projeccedilatildeo reservada e escondida em Paris pois o filme estava censurado Convidou algumas pessoas de suaEscola e todos segundo Lacan saiacuteram embasbacados (souffleacutees) assombrados O efeito provocado pelo filme em Lacan deve-se a ter nele localizadoum exemplo surpreendente do erotismo feminino Ele natildeo esperava ver isso em um filme japonecircs e comeccedilou entatildeo a compreender o poder dasjaponesas

No filme o erotismo feminino foi levado ao extremo e esse extremo eacute a fantasia de matar o homem Poreacutem continua Lacan isso natildeo basta Depois detecirc-lo matado vai mais longe Depois a japonesa corta o pecircnis de seu parceiro Por que depois Talvez possamos entender a partir do que disse Marcoela corta o pecircnis depois porque matar o homem foi um ato falho inesperado uma forccedila um pouco maior no garrote que tinha por objetivo obter maisuma ereccedilatildeo Mais uma ereccedilatildeo ainda

O filme se baseia em coisas que de fato aconteceram no Japatildeo em 1936 agraves veacutesperas da invasatildeo da China Errar pelas ruas de Toacutekio por quatro diascarregando apertado junto ao corpo o pecircnis do morto envolto em um lenccedilo de seda vermelho ateacute ser presa indica talvez o ato falho Essa tambeacutem eacute aopiniatildeo de Carlos Gustavo Motta que diz ao voltar do intenso cliacutemax descobre que seu amante morreu (4)

Lacan se pergunta por que ela natildeo o cortou antes independente do que ocorreu na realidade para reafirmar que a fantasiaextrema do erotismo feminino eacute matar o homem e natildeo castraacute-lo Se a fantasia do homem eacute fetichista e ele faz amor com asfantasias de seu inconsciente a fantasia da mulher como nos eacute demonstrado pelo filme eacute alguma coisa que de todo modoimpede o encontro pois natildeo tem limite visa um gozo ilimitado A mulher natildeo eacute [toda] determinada por seu inconsciente

A sexualidade para Freud se inscreve na fantasia inconsciente e esse eacute o campo por excelecircncia do erotismo Atraveacutes daconstruccedilatildeo fantasiacutestica do corpo eroacutegeno o humano se diferencia dos outros animais e das teacutecnicas comportamentaisdefendidas pela sexologia centrada no corpo bioloacutegico

A possibilidade de constituiccedilatildeo do corpo eroacutegeno atraveacutes da relaccedilatildeo com o Outro eacute o avanccedilo em direccedilatildeo agrave vida eroacuteticacriativa onde o velamento excita e incita ao deciframento do enigma que por sua vez nunca se alcanccedila e sempre eacute mantido pela forccedila da pulsatildeo Este eacuteo ponto central da genial descoberta de Freud pois ateacute o seacuteculo XIX a sexualidade era identificada com o registro da reproduccedilatildeo bioloacutegica

Assim parece claro que a mulher ocupe para o homem pelo menos no que se refere ao gozo faacutelico o lugar de fetiche Poreacutem caberia perguntar aindapor que eacute a mulher que deve ocupar esse lugar de falo ou de objeto Segundo Lacan eacute por ter o oacutergatildeo faacutelico que o homem natildeo eacute o falo o que implicaque a mulher possa ser o falo Eacute por natildeo ter o falo que a mulher adquire seu valor

O erotismo feminino mesmo que concebido apenas a partir da funccedilatildeo faacutelica indica um para aleacutem do falo Poreacutem no caso extremo desse erotismolouco e enigmaacutetico dentro da dialeacutetica entre o ter e o ser (o falo) matar o homem pode ser interpretado como a fantasia que tornaria possiacutevel agrave mulherter o falo e isso o filme mostra muito bem Obrigada

Referecircncias

(1) MILLER J-A ldquoClinique ironiquerdquo La Cause freudienne ndash Revue de lrsquoECF Paris ECF n 23 p 7

(2) MOTTA C G Las peliacuteculas que Lacan vio y aplicoacute al psicoanaacutelisis Buenos Aires Paidoacutes 2013

(3) LACAN J O Seminaacuterio ndash livro 23 O sinthoma Rio de Janeiro Zahar 2007 p 122-123 e 199-200

(4) MOTTA C G Op Cit p 157

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A EBPndashSP na Casa das Rosas - Resenha

LOUCOS DE PAIXAtildeO

Perpeacutetua Medrado Gonccedilalves

ldquoA loucura colocada em cena para fazer seu elogio e para dizer todo mundo eacute louco(1)

A Escola Brasileira de Psicanaacutelise - SP foi para a Avenida Paulista na Casa das Rosas participar do Sarau Chama Poeacuteticaconvidada por Fernanda Almeida Prado a quem agradeccedilo a possibilidade dessa parceria

A Loucura elogia a si mesma mostra-se como verdade orgulha-se de dizer que ela eacute a uacutenica capaz de alegrar os deuses e osmortais E dessa forma encanta a todos com o seu saber mesmo satirizando a miseacuteria humana

22102016 wwwebpsporgbrindexphpview=articleamptype=rawampcatid=303Acarta-de-sao-paulo-onlineampid=8763Acarta-de-sao-paulo-online-5-nova-serie-ano-iiiamptmpl=componentampprint=1amplayout=defaultamppage=ampoption=com_contehellip

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ldquoAssim tambeacutem a mulher eacute sempre mulher isto eacute eacute sempre louca seja qual for a maacutescara sob a qual se apresente Natildeo quero todavia acreditar jamaisque o belo sexo seja tolo ao ponto de se aborrecer comigo pelo que eu lhe disse pois tambeacutem sou mulher e sou a Loucurardquo(2)

ldquoElogio da Loucurardquo Tema do Sarau Chama Poeacutetica eacute um texto de 1506 de Erasmo de Rotterdam cuja narradora eacute a Loucura ou seja umamulher Ela mostra as diversas faces de sua sabedoria suas ideias suas paixotildees seus oacutedios e seus temores O texto apresenta uma visatildeo irocircnica quecondena os abusos mas natildeo as instituiccedilotildees

Encontramos vaacuterias citaccedilotildees deste texto nos Escritos de Lacan Lacan transformou a loucura no fio condutor do seu ensino e fez sua entrada napsicanaacutelise pois para ele o louco seria o uacutenico que poderia ser testemunha do Real ldquoE o ser do homem natildeo somente natildeo pode ser compreendido sem aloucura como natildeo seria o ser do homem se natildeo trouxesse em si a loucura como o limite de sua liberdaderdquo (3)

Comeccedilamos nossa atividade com a intervenccedilatildeo de Marizilda Paulino Diretora Geral da EBP-SP que deu as boas vindas e convidou todos para asJornadas da EBP-SP 2013Lacan PsicanalistaBrasileiroO que fazemos no Brasil com o Ensino de Jacques Lacan

Maria do Carmo Dias Batista dividiu a Conversa Loucos de Paixatildeo com Marco Antonio Guerra professor da ECAUSP especialista em cinemaAmbos falaram sobre o filme ldquoO Impeacuterio dos Sentidosrdquo Marco Antonio animou o debate ao trazer suas impressotildees do Japatildeo paiacutes em que morou poralgum tempo

O Impeacuterio dos Sentidos (Ai no Korīda ou 愛のコリーダ) eacute um filme franco-japonecircs de 1976 do gecircnero drama eroacutetico Ofilme foi proibido na sua primeira exibiccedilatildeo no Festival de Nova York

Marco Antonio discorreu sobre o filme que eacute considerado uma obra-prima do erotismo baseada em um fato real ocorrido em1936 um dos mais famosos escacircndalos do Japatildeo Eacute a histoacuteria da jovem Sada ex-prostituta que se envolveu em um obsessivo

caso de amor com o patratildeo na casa onde trabalhava como domeacutestica A relaccedilatildeo que comeccedilou casual atinge niacuteveis em que a paixatildeo natildeo encontra maislimites

ldquoQuereis prova mais evidente de que soacute a loucura constitui o ascendente das mulheres sobre os homens Os homens tudo concedem agraves mulheres por causada voluacutepia e eacute soacute com a loucura que as mulheres agradam aos homensrdquo(4)

O casal passa os dias a fornicar e a beber no bordel onde se refugiam sem se alimentarem nem saiacuterem do quarto exceto quando Sada vai ganharalgum dinheiro para o sustento Esse jogo amoroso culmina com a morte do amante quando Sada o estrangula para garantir o maacuteximo da ereccedilatildeoDepois da morte do amante ela corta seu pecircnis e passeia pelas ruas da cidade com ele preso em seu corpo ateacute ser presa

Maria do Carmo lembra que falar de cinema e psicanaacutelise eacute falar da psicanaacutelise aplicada a uma das manifestaccedilotildees mais importantes da cultura desdesua invenccedilatildeo no seacuteculo XX Comenta tambeacutem que Lacan no Seminaacuterio 23 o sinthoma (1975-1976) diz que saiu desse filme embasbacado ldquoFiqueiembasbacado porque se trata do erotismo femininordquo(5) Para ele no filme o erotismo feminino foi levado ao extremo e esse extremo eacute a fantasia dematar o homem Mas Lacan diz isso natildeo basta Depois de tecirc-lo matado vai-se mais longe Ela corta o pecircnis de seu parceiro Por que depois PerguntaLacan acrescentando ldquoa japonesa em questatildeo que eacute o caso de dizer eacute uma amante mulherrdquo

Maria do Carmo diz a partir do que disse Marco Antonio ldquoela corta o pecircnis depois porque matar o homem foi um ato falho inesperado uma forccedila umpouco maior no garrote que tinha por objetivo obter mais uma ereccedilatildeo Mais uma ereccedilatildeo aindardquo (6)

Andar pelas ruas de Toacutekio por quatro dias carregando junto ao corpo o pecircnis do amante envolto em um lenccedilo de seda vermelho ateacute ser presa indica oato falho segundo Maria do Carmo Ela cita Carlos Gustavo Motta ao voltar do intenso cliacutemax descobre que seu amante morreu(7)

Lacan ao perguntar por que ela natildeo o cortou antes afirma que no filme vemos claramente que a ldquocastraccedilatildeo natildeo eacute a fantasiardquo e reafirma que a fantasiaextrema do erotismo feminino eacute matar o homem e natildeo castraacute-lo ldquoQuanto ao que fantasia a mulher se eacute como nos foi apresentado pelo filme eacute algumacoisa que de todo modo impede o encontrordquo(8)

Assim Maria do Carmo conclui sua fala ldquoo erotismo feminino mesmo que concebido apenas a partir da funccedilatildeo faacutelica indica um para aleacutem do faloPoreacutem no caso extremo desse erotismo louco e enigmaacutetico dentro da dialeacutetica entre o ter e o ser (o falo) matar o homem pode ser interpretado como afantasia que tornaria possiacutevel agrave mulher ter o falo e isso o filme mostra muito bemrdquo(9) Para concluir trago este recorte sobre o filme que encontrei emMulheres de hoje figuras do feminino no discurso analiacutetico - Boletim de 27 de dezembro de 2012 agraves 1754

ldquoEis o extremo do erotismo feminino ou o lado mortiacutefero do gozo feminino A fantasia pode ser um modo do sujeito se virar com a castraccedilatildeo um modoparadoxal de se virar com a exigecircncia pulsional Mas tambeacutem haacute outros modos de se enlaccedilar gozo e desejo Haacute outros modos de se arranjar com o erotismofemininordquo

Referecircncias

(1)MILLER J-A Todo mundo eacute louco Curso Orientaccedilatildeo lacaniana III 10 XVIII liccedilatildeo do Curso Paris 11 de junho de 2008

(2)ROTTERDAM Erasmo Elogio da Loucura Martin Claret Satildeo Paulo 2012 Traduccedilatildeo de Paulo Seacutergio Brandatildeo

(3)Lacan J Formulaccedilotildees sobre a causalidade psiacutequica Escritos Rio de Janeiro Jorge Zahar

(4) ROTTERDAM Erasmo Elogio da Loucura Martin Claret Satildeo Paulo 2012 Traduccedilatildeo de Paulo Seacutergio Brandatildeo

(5) LACAN J Seminaacuterio 23 O sinhtoma Jorge Zahar Rio de Janeiro p 122 123

(6) DIAS BATISTA M C Loucos de Paixatildeo EBP-SP na Casa das Rosas Texto apresentado na Conversa sobre Loucos de paixatildeo em 19102013

(7) MOTTA C G Las peliacuteculas que Lacan vio y aplicoacute al psicoanaacutelisis Buenos Aires Paidoacutes 2013

(8) LACAN J Seminaacuterio 23 O sinthoma Jorge Zahar Rio de Janeiro p 122 123

(9) DIAS BATISTA M C Loucos de Paixatildeo EBP-SP na Casa das Rosas Texto apresentado na Conversa sobre Loucos de paixatildeo em 19102013

TERRA DE SANTA CRUZ_____________________

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BOLETIM HAUN

Leiam o boletim haun nuacutemero

httpwwwebporgbrhaunboletins011asp

ECOS DO MUNDO___________________________

Congresso da AMP ‐ Paris 2014

Boletim de Informaccedilatildeo do IX Congresso da AMP

Todos os Whatrsquos up estatildeo no site do Congresso em 5 idiomas

Franccedilais httpwwwcongresamp2014comfrWhats‐upWhatsUp_006pdf

Espantildeol httpwwwcongresamp2014comesWhats‐upWhatsUp_006pdf

Portugueacutes httpwwwcongresamp2014comptWhats‐upWhatsUp_006pdf

Italiano httpwwwcongresamp2014comitWhats‐upWhatsUp_006pdf

English httpwwwcongresamp2014comenWhats‐upWhatsUp_006pdf

ldquoLacan Cotidianordquo continua a ser veiculado em portuguecircs por nossas miacutedias traduccedilotildees realizadas por psicanalistas brasileiros sob a coordenaccedilatildeo de Maria do Carmo Dias Batista Pode‐se ler em portuguecircs os

artigos publicados acessando wwwebp‐spblogspotcombr

Os mesmos artigos e outros podem ser lidos no original francecircs httpwwwlac anquotidienfrblog

ENSINO DE LACAN__________________________

o psicanalista eacute colocado pelo discurso que o condiciona numa posiccedilatildeo digamos difiacutecil Por pouco que tenha praticado a anaacutelise o psicanalistasabe por experiecircncia proacutepria ter um denominador comum com o que eu digo

JACQUES LACAN O SEMINAacuteRIO - LIVRO 19 ou pior

AGENDA__________________________________

AGENDA- EBP SP

0611 - Seminaacuterio do Conselho - ou pior parte III - O Um Que Ele Natildeo Acesse o Dois cap XIII - Na base da diferenccedila dos sexos Apresentaccedilatildeo PaolaSalinas Coordenaccedilatildeo Luiz Fernando Carrijo da Cunha

08 e 0911 - Jornadas da EBP-SP 2013

Convidado Jorge Forbes - Coordenadora Geral Marizilda Paulino

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1311 - Seminaacuterio do Conselho - ou pior parte III - O Um Que Ele Natildeo Acesse o Dois cap XIV - Teoria das quatro foacutermulas (palestra) ApresentaccedilatildeoMaria Bernadette Pitteri Coordenaccedilatildeo Luiz Fernando Carrijo da Cunha

2011 - Natildeo haveraacute atividade em Satildeo Paulo - Enapol em Buenos Aires

2711 - Natildeo haveraacute atividade em Satildeo Paulo

___________________________________________________________________________________

SECRETARIA DO PASSE - EBP

INFORMACcedilOtildeES Maria Ceciacutelia Galletti Ferretti

(11) 3675-2921 - (11) 99626-6225

___________________________________________________________________________________

Editora Bernadette Pitteri Revisora Daniela Affonso

Diretoria da EBPshy SP

Diretora Geral Marizilda PaulinoDiretora Secretmiddotriashy Tesoureira Maria Helena BarbosaDiretora de Intercsbquombio e CartEgraveis Caacutessia Maria Rumenos GuardadoDiretora de Biblioteca Cynthia Nunes de Freitas Farias

EBPshySP

Rua Jobdquoo Moura 627 cj 193CEP 05412shy001 shy Sbdquoo Paulo shy SP

Telefone 11 3081 8947Fax 11 3063 1626eshymail ebpspebpsporgbr wwwebpsporgbrBlog httpwwwebpspwordpresscom

Page 8: CARTA DE SÃO PAULO - ONLINE 5 - NOVA SÉRIE - ANO IIIebp.org.br/sp/wp-content/uploads/2016/11/ano-III-NS-005.pdf · proposto,Loucos de Paixão, a partir do filme “O império dos

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EBP-SP na Casa das Rosas (Avenida Paulista 19102013)

LOUCOS DE PAIXAtildeO

Maria do Carmo Dias Batista

Pensei em trabalhar o tema ldquoLoucos de Paixatildeordquo atraveacutes do cinema desde o momento em que recebi o convite da Diretora da EBP-SP MarizildaPaulino a quem agradeccedilo A Perpeacutetua Medrado Gonccedilalves que haacute vaacuterios anos participa deste evento e assim sustenta uma possibilidade de inserccedilatildeoda EBP-SP na Cidade gostaria de aleacutem de agradecer pelo longo tempo de trabalho conjunto fazer um elogio Um elogio agrave loucura ao deliacuterio de suacrenccedila inquebrantaacutevel na Escola e no trabalho com a doenccedila mental baseando-me na formulaccedilatildeo de Jacques-Alain Miller da generalizaccedilatildeo dodeliacuterio todos os nossos discursos satildeo delirantes satildeo defesas contra o real (1) Agradeccedilo ainda a Cynthia Nunes de Freitas Diretora de Biblioteca deEBP-SP que participa da organizaccedilatildeo deste evento e de muito outros com o objetivo de ampliar a presenccedila do Campo Freudiano

Falar de cinema e psicanaacutelise eacute falar da psicanaacutelise aplicada a uma das manifestaccedilotildees mais importantes da cultura desde suainvenccedilatildeo no seacuteculo XX O cinema se inseriu na sociedade de forma contundente como se houvesse uma sede da ficccedilatildeomostrada em imagens em movimento Produziu uma identificaccedilatildeo maciccedila A literatura a muacutesica a oacutepera natildeo bastavam mais

Aplicar a psicanaacutelise ao cinema natildeo eacute psicanalizar diretores autores atores mas como durante mais de quinze anos meuquerido Marco Antocircnio Guerra e eu colocamos em praacutetica no Seminaacuterio de Cinema e Psicanaacutelise trata-se de sacudir atualizar os conceitos dapsicanaacutelise atraveacutes dos excelentes exemplos oferecidos pelo cinema

O tema ldquoLoucos de Paixatildeordquo nos inspirou a escolher para a conversa de hoje o filme ldquoO Impeacuterio dos Sentidosrdquo como vocecircs acabaram de escutar e saberatraveacutes da bela fala de Marco Esse foi um dos filmes que Lacan viu e aplicou agrave psicanaacutelise (conforme tiacutetulo do livro de Carlos Gustavo Motta Laspeliacuteculas que Lacan vio y aplicoacute al psicoanaacutelisis) (2) A referecircncia estaacute no Seminaacuterio 23 (3) de 1976 mesmo ano de lanccedilamento do filme Lacan conta aseu auditoacuterio que esteve em uma salinha de projeccedilatildeo reservada e escondida em Paris pois o filme estava censurado Convidou algumas pessoas de suaEscola e todos segundo Lacan saiacuteram embasbacados (souffleacutees) assombrados O efeito provocado pelo filme em Lacan deve-se a ter nele localizadoum exemplo surpreendente do erotismo feminino Ele natildeo esperava ver isso em um filme japonecircs e comeccedilou entatildeo a compreender o poder dasjaponesas

No filme o erotismo feminino foi levado ao extremo e esse extremo eacute a fantasia de matar o homem Poreacutem continua Lacan isso natildeo basta Depois detecirc-lo matado vai mais longe Depois a japonesa corta o pecircnis de seu parceiro Por que depois Talvez possamos entender a partir do que disse Marcoela corta o pecircnis depois porque matar o homem foi um ato falho inesperado uma forccedila um pouco maior no garrote que tinha por objetivo obter maisuma ereccedilatildeo Mais uma ereccedilatildeo ainda

O filme se baseia em coisas que de fato aconteceram no Japatildeo em 1936 agraves veacutesperas da invasatildeo da China Errar pelas ruas de Toacutekio por quatro diascarregando apertado junto ao corpo o pecircnis do morto envolto em um lenccedilo de seda vermelho ateacute ser presa indica talvez o ato falho Essa tambeacutem eacute aopiniatildeo de Carlos Gustavo Motta que diz ao voltar do intenso cliacutemax descobre que seu amante morreu (4)

Lacan se pergunta por que ela natildeo o cortou antes independente do que ocorreu na realidade para reafirmar que a fantasiaextrema do erotismo feminino eacute matar o homem e natildeo castraacute-lo Se a fantasia do homem eacute fetichista e ele faz amor com asfantasias de seu inconsciente a fantasia da mulher como nos eacute demonstrado pelo filme eacute alguma coisa que de todo modoimpede o encontro pois natildeo tem limite visa um gozo ilimitado A mulher natildeo eacute [toda] determinada por seu inconsciente

A sexualidade para Freud se inscreve na fantasia inconsciente e esse eacute o campo por excelecircncia do erotismo Atraveacutes daconstruccedilatildeo fantasiacutestica do corpo eroacutegeno o humano se diferencia dos outros animais e das teacutecnicas comportamentaisdefendidas pela sexologia centrada no corpo bioloacutegico

A possibilidade de constituiccedilatildeo do corpo eroacutegeno atraveacutes da relaccedilatildeo com o Outro eacute o avanccedilo em direccedilatildeo agrave vida eroacuteticacriativa onde o velamento excita e incita ao deciframento do enigma que por sua vez nunca se alcanccedila e sempre eacute mantido pela forccedila da pulsatildeo Este eacuteo ponto central da genial descoberta de Freud pois ateacute o seacuteculo XIX a sexualidade era identificada com o registro da reproduccedilatildeo bioloacutegica

Assim parece claro que a mulher ocupe para o homem pelo menos no que se refere ao gozo faacutelico o lugar de fetiche Poreacutem caberia perguntar aindapor que eacute a mulher que deve ocupar esse lugar de falo ou de objeto Segundo Lacan eacute por ter o oacutergatildeo faacutelico que o homem natildeo eacute o falo o que implicaque a mulher possa ser o falo Eacute por natildeo ter o falo que a mulher adquire seu valor

O erotismo feminino mesmo que concebido apenas a partir da funccedilatildeo faacutelica indica um para aleacutem do falo Poreacutem no caso extremo desse erotismolouco e enigmaacutetico dentro da dialeacutetica entre o ter e o ser (o falo) matar o homem pode ser interpretado como a fantasia que tornaria possiacutevel agrave mulherter o falo e isso o filme mostra muito bem Obrigada

Referecircncias

(1) MILLER J-A ldquoClinique ironiquerdquo La Cause freudienne ndash Revue de lrsquoECF Paris ECF n 23 p 7

(2) MOTTA C G Las peliacuteculas que Lacan vio y aplicoacute al psicoanaacutelisis Buenos Aires Paidoacutes 2013

(3) LACAN J O Seminaacuterio ndash livro 23 O sinthoma Rio de Janeiro Zahar 2007 p 122-123 e 199-200

(4) MOTTA C G Op Cit p 157

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A EBPndashSP na Casa das Rosas - Resenha

LOUCOS DE PAIXAtildeO

Perpeacutetua Medrado Gonccedilalves

ldquoA loucura colocada em cena para fazer seu elogio e para dizer todo mundo eacute louco(1)

A Escola Brasileira de Psicanaacutelise - SP foi para a Avenida Paulista na Casa das Rosas participar do Sarau Chama Poeacuteticaconvidada por Fernanda Almeida Prado a quem agradeccedilo a possibilidade dessa parceria

A Loucura elogia a si mesma mostra-se como verdade orgulha-se de dizer que ela eacute a uacutenica capaz de alegrar os deuses e osmortais E dessa forma encanta a todos com o seu saber mesmo satirizando a miseacuteria humana

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ldquoAssim tambeacutem a mulher eacute sempre mulher isto eacute eacute sempre louca seja qual for a maacutescara sob a qual se apresente Natildeo quero todavia acreditar jamaisque o belo sexo seja tolo ao ponto de se aborrecer comigo pelo que eu lhe disse pois tambeacutem sou mulher e sou a Loucurardquo(2)

ldquoElogio da Loucurardquo Tema do Sarau Chama Poeacutetica eacute um texto de 1506 de Erasmo de Rotterdam cuja narradora eacute a Loucura ou seja umamulher Ela mostra as diversas faces de sua sabedoria suas ideias suas paixotildees seus oacutedios e seus temores O texto apresenta uma visatildeo irocircnica quecondena os abusos mas natildeo as instituiccedilotildees

Encontramos vaacuterias citaccedilotildees deste texto nos Escritos de Lacan Lacan transformou a loucura no fio condutor do seu ensino e fez sua entrada napsicanaacutelise pois para ele o louco seria o uacutenico que poderia ser testemunha do Real ldquoE o ser do homem natildeo somente natildeo pode ser compreendido sem aloucura como natildeo seria o ser do homem se natildeo trouxesse em si a loucura como o limite de sua liberdaderdquo (3)

Comeccedilamos nossa atividade com a intervenccedilatildeo de Marizilda Paulino Diretora Geral da EBP-SP que deu as boas vindas e convidou todos para asJornadas da EBP-SP 2013Lacan PsicanalistaBrasileiroO que fazemos no Brasil com o Ensino de Jacques Lacan

Maria do Carmo Dias Batista dividiu a Conversa Loucos de Paixatildeo com Marco Antonio Guerra professor da ECAUSP especialista em cinemaAmbos falaram sobre o filme ldquoO Impeacuterio dos Sentidosrdquo Marco Antonio animou o debate ao trazer suas impressotildees do Japatildeo paiacutes em que morou poralgum tempo

O Impeacuterio dos Sentidos (Ai no Korīda ou 愛のコリーダ) eacute um filme franco-japonecircs de 1976 do gecircnero drama eroacutetico Ofilme foi proibido na sua primeira exibiccedilatildeo no Festival de Nova York

Marco Antonio discorreu sobre o filme que eacute considerado uma obra-prima do erotismo baseada em um fato real ocorrido em1936 um dos mais famosos escacircndalos do Japatildeo Eacute a histoacuteria da jovem Sada ex-prostituta que se envolveu em um obsessivo

caso de amor com o patratildeo na casa onde trabalhava como domeacutestica A relaccedilatildeo que comeccedilou casual atinge niacuteveis em que a paixatildeo natildeo encontra maislimites

ldquoQuereis prova mais evidente de que soacute a loucura constitui o ascendente das mulheres sobre os homens Os homens tudo concedem agraves mulheres por causada voluacutepia e eacute soacute com a loucura que as mulheres agradam aos homensrdquo(4)

O casal passa os dias a fornicar e a beber no bordel onde se refugiam sem se alimentarem nem saiacuterem do quarto exceto quando Sada vai ganharalgum dinheiro para o sustento Esse jogo amoroso culmina com a morte do amante quando Sada o estrangula para garantir o maacuteximo da ereccedilatildeoDepois da morte do amante ela corta seu pecircnis e passeia pelas ruas da cidade com ele preso em seu corpo ateacute ser presa

Maria do Carmo lembra que falar de cinema e psicanaacutelise eacute falar da psicanaacutelise aplicada a uma das manifestaccedilotildees mais importantes da cultura desdesua invenccedilatildeo no seacuteculo XX Comenta tambeacutem que Lacan no Seminaacuterio 23 o sinthoma (1975-1976) diz que saiu desse filme embasbacado ldquoFiqueiembasbacado porque se trata do erotismo femininordquo(5) Para ele no filme o erotismo feminino foi levado ao extremo e esse extremo eacute a fantasia dematar o homem Mas Lacan diz isso natildeo basta Depois de tecirc-lo matado vai-se mais longe Ela corta o pecircnis de seu parceiro Por que depois PerguntaLacan acrescentando ldquoa japonesa em questatildeo que eacute o caso de dizer eacute uma amante mulherrdquo

Maria do Carmo diz a partir do que disse Marco Antonio ldquoela corta o pecircnis depois porque matar o homem foi um ato falho inesperado uma forccedila umpouco maior no garrote que tinha por objetivo obter mais uma ereccedilatildeo Mais uma ereccedilatildeo aindardquo (6)

Andar pelas ruas de Toacutekio por quatro dias carregando junto ao corpo o pecircnis do amante envolto em um lenccedilo de seda vermelho ateacute ser presa indica oato falho segundo Maria do Carmo Ela cita Carlos Gustavo Motta ao voltar do intenso cliacutemax descobre que seu amante morreu(7)

Lacan ao perguntar por que ela natildeo o cortou antes afirma que no filme vemos claramente que a ldquocastraccedilatildeo natildeo eacute a fantasiardquo e reafirma que a fantasiaextrema do erotismo feminino eacute matar o homem e natildeo castraacute-lo ldquoQuanto ao que fantasia a mulher se eacute como nos foi apresentado pelo filme eacute algumacoisa que de todo modo impede o encontrordquo(8)

Assim Maria do Carmo conclui sua fala ldquoo erotismo feminino mesmo que concebido apenas a partir da funccedilatildeo faacutelica indica um para aleacutem do faloPoreacutem no caso extremo desse erotismo louco e enigmaacutetico dentro da dialeacutetica entre o ter e o ser (o falo) matar o homem pode ser interpretado como afantasia que tornaria possiacutevel agrave mulher ter o falo e isso o filme mostra muito bemrdquo(9) Para concluir trago este recorte sobre o filme que encontrei emMulheres de hoje figuras do feminino no discurso analiacutetico - Boletim de 27 de dezembro de 2012 agraves 1754

ldquoEis o extremo do erotismo feminino ou o lado mortiacutefero do gozo feminino A fantasia pode ser um modo do sujeito se virar com a castraccedilatildeo um modoparadoxal de se virar com a exigecircncia pulsional Mas tambeacutem haacute outros modos de se enlaccedilar gozo e desejo Haacute outros modos de se arranjar com o erotismofemininordquo

Referecircncias

(1)MILLER J-A Todo mundo eacute louco Curso Orientaccedilatildeo lacaniana III 10 XVIII liccedilatildeo do Curso Paris 11 de junho de 2008

(2)ROTTERDAM Erasmo Elogio da Loucura Martin Claret Satildeo Paulo 2012 Traduccedilatildeo de Paulo Seacutergio Brandatildeo

(3)Lacan J Formulaccedilotildees sobre a causalidade psiacutequica Escritos Rio de Janeiro Jorge Zahar

(4) ROTTERDAM Erasmo Elogio da Loucura Martin Claret Satildeo Paulo 2012 Traduccedilatildeo de Paulo Seacutergio Brandatildeo

(5) LACAN J Seminaacuterio 23 O sinhtoma Jorge Zahar Rio de Janeiro p 122 123

(6) DIAS BATISTA M C Loucos de Paixatildeo EBP-SP na Casa das Rosas Texto apresentado na Conversa sobre Loucos de paixatildeo em 19102013

(7) MOTTA C G Las peliacuteculas que Lacan vio y aplicoacute al psicoanaacutelisis Buenos Aires Paidoacutes 2013

(8) LACAN J Seminaacuterio 23 O sinthoma Jorge Zahar Rio de Janeiro p 122 123

(9) DIAS BATISTA M C Loucos de Paixatildeo EBP-SP na Casa das Rosas Texto apresentado na Conversa sobre Loucos de paixatildeo em 19102013

TERRA DE SANTA CRUZ_____________________

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BOLETIM HAUN

Leiam o boletim haun nuacutemero

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ECOS DO MUNDO___________________________

Congresso da AMP ‐ Paris 2014

Boletim de Informaccedilatildeo do IX Congresso da AMP

Todos os Whatrsquos up estatildeo no site do Congresso em 5 idiomas

Franccedilais httpwwwcongresamp2014comfrWhats‐upWhatsUp_006pdf

Espantildeol httpwwwcongresamp2014comesWhats‐upWhatsUp_006pdf

Portugueacutes httpwwwcongresamp2014comptWhats‐upWhatsUp_006pdf

Italiano httpwwwcongresamp2014comitWhats‐upWhatsUp_006pdf

English httpwwwcongresamp2014comenWhats‐upWhatsUp_006pdf

ldquoLacan Cotidianordquo continua a ser veiculado em portuguecircs por nossas miacutedias traduccedilotildees realizadas por psicanalistas brasileiros sob a coordenaccedilatildeo de Maria do Carmo Dias Batista Pode‐se ler em portuguecircs os

artigos publicados acessando wwwebp‐spblogspotcombr

Os mesmos artigos e outros podem ser lidos no original francecircs httpwwwlac anquotidienfrblog

ENSINO DE LACAN__________________________

o psicanalista eacute colocado pelo discurso que o condiciona numa posiccedilatildeo digamos difiacutecil Por pouco que tenha praticado a anaacutelise o psicanalistasabe por experiecircncia proacutepria ter um denominador comum com o que eu digo

JACQUES LACAN O SEMINAacuteRIO - LIVRO 19 ou pior

AGENDA__________________________________

AGENDA- EBP SP

0611 - Seminaacuterio do Conselho - ou pior parte III - O Um Que Ele Natildeo Acesse o Dois cap XIII - Na base da diferenccedila dos sexos Apresentaccedilatildeo PaolaSalinas Coordenaccedilatildeo Luiz Fernando Carrijo da Cunha

08 e 0911 - Jornadas da EBP-SP 2013

Convidado Jorge Forbes - Coordenadora Geral Marizilda Paulino

22102016 wwwebpsporgbrindexphpview=articleamptype=rawampcatid=303Acarta-de-sao-paulo-onlineampid=8763Acarta-de-sao-paulo-online-5-nova-serie-ano-iiiamptmpl=componentampprint=1amplayout=defaultamppage=ampoption=com_contehellip

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1311 - Seminaacuterio do Conselho - ou pior parte III - O Um Que Ele Natildeo Acesse o Dois cap XIV - Teoria das quatro foacutermulas (palestra) ApresentaccedilatildeoMaria Bernadette Pitteri Coordenaccedilatildeo Luiz Fernando Carrijo da Cunha

2011 - Natildeo haveraacute atividade em Satildeo Paulo - Enapol em Buenos Aires

2711 - Natildeo haveraacute atividade em Satildeo Paulo

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SECRETARIA DO PASSE - EBP

INFORMACcedilOtildeES Maria Ceciacutelia Galletti Ferretti

(11) 3675-2921 - (11) 99626-6225

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Editora Bernadette Pitteri Revisora Daniela Affonso

Diretoria da EBPshy SP

Diretora Geral Marizilda PaulinoDiretora Secretmiddotriashy Tesoureira Maria Helena BarbosaDiretora de Intercsbquombio e CartEgraveis Caacutessia Maria Rumenos GuardadoDiretora de Biblioteca Cynthia Nunes de Freitas Farias

EBPshySP

Rua Jobdquoo Moura 627 cj 193CEP 05412shy001 shy Sbdquoo Paulo shy SP

Telefone 11 3081 8947Fax 11 3063 1626eshymail ebpspebpsporgbr wwwebpsporgbrBlog httpwwwebpspwordpresscom

Page 9: CARTA DE SÃO PAULO - ONLINE 5 - NOVA SÉRIE - ANO IIIebp.org.br/sp/wp-content/uploads/2016/11/ano-III-NS-005.pdf · proposto,Loucos de Paixão, a partir do filme “O império dos

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ldquoAssim tambeacutem a mulher eacute sempre mulher isto eacute eacute sempre louca seja qual for a maacutescara sob a qual se apresente Natildeo quero todavia acreditar jamaisque o belo sexo seja tolo ao ponto de se aborrecer comigo pelo que eu lhe disse pois tambeacutem sou mulher e sou a Loucurardquo(2)

ldquoElogio da Loucurardquo Tema do Sarau Chama Poeacutetica eacute um texto de 1506 de Erasmo de Rotterdam cuja narradora eacute a Loucura ou seja umamulher Ela mostra as diversas faces de sua sabedoria suas ideias suas paixotildees seus oacutedios e seus temores O texto apresenta uma visatildeo irocircnica quecondena os abusos mas natildeo as instituiccedilotildees

Encontramos vaacuterias citaccedilotildees deste texto nos Escritos de Lacan Lacan transformou a loucura no fio condutor do seu ensino e fez sua entrada napsicanaacutelise pois para ele o louco seria o uacutenico que poderia ser testemunha do Real ldquoE o ser do homem natildeo somente natildeo pode ser compreendido sem aloucura como natildeo seria o ser do homem se natildeo trouxesse em si a loucura como o limite de sua liberdaderdquo (3)

Comeccedilamos nossa atividade com a intervenccedilatildeo de Marizilda Paulino Diretora Geral da EBP-SP que deu as boas vindas e convidou todos para asJornadas da EBP-SP 2013Lacan PsicanalistaBrasileiroO que fazemos no Brasil com o Ensino de Jacques Lacan

Maria do Carmo Dias Batista dividiu a Conversa Loucos de Paixatildeo com Marco Antonio Guerra professor da ECAUSP especialista em cinemaAmbos falaram sobre o filme ldquoO Impeacuterio dos Sentidosrdquo Marco Antonio animou o debate ao trazer suas impressotildees do Japatildeo paiacutes em que morou poralgum tempo

O Impeacuterio dos Sentidos (Ai no Korīda ou 愛のコリーダ) eacute um filme franco-japonecircs de 1976 do gecircnero drama eroacutetico Ofilme foi proibido na sua primeira exibiccedilatildeo no Festival de Nova York

Marco Antonio discorreu sobre o filme que eacute considerado uma obra-prima do erotismo baseada em um fato real ocorrido em1936 um dos mais famosos escacircndalos do Japatildeo Eacute a histoacuteria da jovem Sada ex-prostituta que se envolveu em um obsessivo

caso de amor com o patratildeo na casa onde trabalhava como domeacutestica A relaccedilatildeo que comeccedilou casual atinge niacuteveis em que a paixatildeo natildeo encontra maislimites

ldquoQuereis prova mais evidente de que soacute a loucura constitui o ascendente das mulheres sobre os homens Os homens tudo concedem agraves mulheres por causada voluacutepia e eacute soacute com a loucura que as mulheres agradam aos homensrdquo(4)

O casal passa os dias a fornicar e a beber no bordel onde se refugiam sem se alimentarem nem saiacuterem do quarto exceto quando Sada vai ganharalgum dinheiro para o sustento Esse jogo amoroso culmina com a morte do amante quando Sada o estrangula para garantir o maacuteximo da ereccedilatildeoDepois da morte do amante ela corta seu pecircnis e passeia pelas ruas da cidade com ele preso em seu corpo ateacute ser presa

Maria do Carmo lembra que falar de cinema e psicanaacutelise eacute falar da psicanaacutelise aplicada a uma das manifestaccedilotildees mais importantes da cultura desdesua invenccedilatildeo no seacuteculo XX Comenta tambeacutem que Lacan no Seminaacuterio 23 o sinthoma (1975-1976) diz que saiu desse filme embasbacado ldquoFiqueiembasbacado porque se trata do erotismo femininordquo(5) Para ele no filme o erotismo feminino foi levado ao extremo e esse extremo eacute a fantasia dematar o homem Mas Lacan diz isso natildeo basta Depois de tecirc-lo matado vai-se mais longe Ela corta o pecircnis de seu parceiro Por que depois PerguntaLacan acrescentando ldquoa japonesa em questatildeo que eacute o caso de dizer eacute uma amante mulherrdquo

Maria do Carmo diz a partir do que disse Marco Antonio ldquoela corta o pecircnis depois porque matar o homem foi um ato falho inesperado uma forccedila umpouco maior no garrote que tinha por objetivo obter mais uma ereccedilatildeo Mais uma ereccedilatildeo aindardquo (6)

Andar pelas ruas de Toacutekio por quatro dias carregando junto ao corpo o pecircnis do amante envolto em um lenccedilo de seda vermelho ateacute ser presa indica oato falho segundo Maria do Carmo Ela cita Carlos Gustavo Motta ao voltar do intenso cliacutemax descobre que seu amante morreu(7)

Lacan ao perguntar por que ela natildeo o cortou antes afirma que no filme vemos claramente que a ldquocastraccedilatildeo natildeo eacute a fantasiardquo e reafirma que a fantasiaextrema do erotismo feminino eacute matar o homem e natildeo castraacute-lo ldquoQuanto ao que fantasia a mulher se eacute como nos foi apresentado pelo filme eacute algumacoisa que de todo modo impede o encontrordquo(8)

Assim Maria do Carmo conclui sua fala ldquoo erotismo feminino mesmo que concebido apenas a partir da funccedilatildeo faacutelica indica um para aleacutem do faloPoreacutem no caso extremo desse erotismo louco e enigmaacutetico dentro da dialeacutetica entre o ter e o ser (o falo) matar o homem pode ser interpretado como afantasia que tornaria possiacutevel agrave mulher ter o falo e isso o filme mostra muito bemrdquo(9) Para concluir trago este recorte sobre o filme que encontrei emMulheres de hoje figuras do feminino no discurso analiacutetico - Boletim de 27 de dezembro de 2012 agraves 1754

ldquoEis o extremo do erotismo feminino ou o lado mortiacutefero do gozo feminino A fantasia pode ser um modo do sujeito se virar com a castraccedilatildeo um modoparadoxal de se virar com a exigecircncia pulsional Mas tambeacutem haacute outros modos de se enlaccedilar gozo e desejo Haacute outros modos de se arranjar com o erotismofemininordquo

Referecircncias

(1)MILLER J-A Todo mundo eacute louco Curso Orientaccedilatildeo lacaniana III 10 XVIII liccedilatildeo do Curso Paris 11 de junho de 2008

(2)ROTTERDAM Erasmo Elogio da Loucura Martin Claret Satildeo Paulo 2012 Traduccedilatildeo de Paulo Seacutergio Brandatildeo

(3)Lacan J Formulaccedilotildees sobre a causalidade psiacutequica Escritos Rio de Janeiro Jorge Zahar

(4) ROTTERDAM Erasmo Elogio da Loucura Martin Claret Satildeo Paulo 2012 Traduccedilatildeo de Paulo Seacutergio Brandatildeo

(5) LACAN J Seminaacuterio 23 O sinhtoma Jorge Zahar Rio de Janeiro p 122 123

(6) DIAS BATISTA M C Loucos de Paixatildeo EBP-SP na Casa das Rosas Texto apresentado na Conversa sobre Loucos de paixatildeo em 19102013

(7) MOTTA C G Las peliacuteculas que Lacan vio y aplicoacute al psicoanaacutelisis Buenos Aires Paidoacutes 2013

(8) LACAN J Seminaacuterio 23 O sinthoma Jorge Zahar Rio de Janeiro p 122 123

(9) DIAS BATISTA M C Loucos de Paixatildeo EBP-SP na Casa das Rosas Texto apresentado na Conversa sobre Loucos de paixatildeo em 19102013

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ldquoLacan Cotidianordquo continua a ser veiculado em portuguecircs por nossas miacutedias traduccedilotildees realizadas por psicanalistas brasileiros sob a coordenaccedilatildeo de Maria do Carmo Dias Batista Pode‐se ler em portuguecircs os

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o psicanalista eacute colocado pelo discurso que o condiciona numa posiccedilatildeo digamos difiacutecil Por pouco que tenha praticado a anaacutelise o psicanalistasabe por experiecircncia proacutepria ter um denominador comum com o que eu digo

JACQUES LACAN O SEMINAacuteRIO - LIVRO 19 ou pior

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0611 - Seminaacuterio do Conselho - ou pior parte III - O Um Que Ele Natildeo Acesse o Dois cap XIII - Na base da diferenccedila dos sexos Apresentaccedilatildeo PaolaSalinas Coordenaccedilatildeo Luiz Fernando Carrijo da Cunha

08 e 0911 - Jornadas da EBP-SP 2013

Convidado Jorge Forbes - Coordenadora Geral Marizilda Paulino

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1311 - Seminaacuterio do Conselho - ou pior parte III - O Um Que Ele Natildeo Acesse o Dois cap XIV - Teoria das quatro foacutermulas (palestra) ApresentaccedilatildeoMaria Bernadette Pitteri Coordenaccedilatildeo Luiz Fernando Carrijo da Cunha

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ldquoLacan Cotidianordquo continua a ser veiculado em portuguecircs por nossas miacutedias traduccedilotildees realizadas por psicanalistas brasileiros sob a coordenaccedilatildeo de Maria do Carmo Dias Batista Pode‐se ler em portuguecircs os

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08 e 0911 - Jornadas da EBP-SP 2013

Convidado Jorge Forbes - Coordenadora Geral Marizilda Paulino

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