Carta de princípios - LIGA

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1 APRESENTAÇÃO A Liga Anarquista surge a partir dos levantes populares de Junho de 2013, de conversas, análises e discussões entre alguns indivíduos anarquistas não associados às organizações atuantes na cidade do Rio de Janeiro até então. Os diálogos avançaram e logo foi percebida a necessidade de um coletivo que aglutinasse os indivíduos militantes anarquistas para fins de autodefesa, apoio mútuo, solidariedade, ação direta, autogestão e federalismo, preservando as características de cada um dos seus integrantes, além de promover o diálogo entre as organizações já existentes no Rio de Janeiro e em todos os lugares a fim de fortalecer e organizar o movimento anarquista para a construção de uma sociedade livre. Quanto aos princípios e métodos anarquistas, nos associamos às ideias federativas de síntese. Com isso compreendemos a Liga como um coletivo que promove a síntese entre diferentes proposições anarquistas. A Liga defende: a pluralidade de concepções teóricas fruto do acúmulo histórico dos anarquistas ao longo da sua trajetória; o reconhecimento das diversas formas de ação baseada na compreensão da heterogeneidade dos sujeitos da luta, explorados e oprimidos. Dessa forma, a Liga Anarquista se apresenta para o diálogo com todas as organizações anarquistas, libertárias e autonomistas populares para o trabalho e construção do mundo livre. Entendemos que todas as organizações têm seu papel na luta e que todas possuem inimigos comuns. Essas organizações são complementares e na atual conjuntura não detêm protagonismo algum nas lutas do nosso tempo. Dessa maneira, pretendemos manter os diálogos e construir acordos para seguir nas lutas tendo a liberdade como meio, princípio e fim. A Liga Anarquista trabalhará junto ao movimento anarquista para construir uma federação de síntese respeitando a diversidade das organizações presentes e atuantes neste nosso momento. A Liga Anarquista se norteia por cinco princípios: Antiautoritarismo, Autogestão, Ação Direta, Federalismo e Apoio Mútuo. Todos aquelas e aqueles que concordarem com esses princípios estão convidados a conhecer e participar das atividades da Liga. Abaixo segue a carta dos princípios norteadores da Liga Anarquista através dos quais nos orientamos e pretendemos seguir na caminhada libertadora.

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Carta de Princípios da LIGA - Liga Anarquista do Rio de Janeiro

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APRESENTAÇÃO

A Liga Anarquista surge a partir dos levantes populares de Junho de 2013, de conversas, análises e discussões entre alguns indivíduos anarquistas não associados às organizações atuantes na cidade do Rio de Janeiro até então. Os diálogos avançaram e logo foi percebida a necessidade de um coletivo que aglutinasse os indivíduos militantes anarquistas para fins de autodefesa, apoio mútuo, solidariedade, ação direta, autogestão e federalismo, preservando as características de cada um dos seus integrantes, além de promover o diálogo entre as organizações já existentes no Rio de Janeiro e em todos os lugares a fim de fortalecer e organizar o movimento anarquista para a construção de uma sociedade livre.

Quanto aos princípios e métodos anarquistas, nos associamos às ideias federativas de síntese. Com isso compreendemos a Liga como um coletivo que promove a síntese entre diferentes proposições anarquistas. A Liga defende: a pluralidade de concepções teóricas fruto do acúmulo histórico dos anarquistas ao longo da sua trajetória; o reconhecimento das diversas formas de ação baseada na compreensão da heterogeneidade dos sujeitos da luta, explorados e oprimidos. Dessa forma, a Liga Anarquista se apresenta para o diálogo com todas as organizações anarquistas, libertárias e autonomistas populares para o trabalho e construção do mundo livre.

Entendemos que todas as organizações têm seu papel na luta e que todas possuem inimigos comuns. Essas organizações são complementares e na atual conjuntura não detêm protagonismo algum nas lutas do nosso tempo. Dessa maneira, pretendemos manter os diálogos e construir acordos para seguir nas lutas tendo a liberdade como meio, princípio e fim.

A Liga Anarquista trabalhará junto ao movimento anarquista para construir uma federação de síntese respeitando a diversidade das organizações presentes e atuantes neste nosso momento.

A Liga Anarquista se norteia por cinco princípios: Antiautoritarismo, Autogestão, Ação Direta, Federalismo e Apoio Mútuo. Todos aquelas e aqueles que concordarem com esses princípios estão convidados a conhecer e participar das atividades da Liga.

Abaixo segue a carta dos princípios norteadores da Liga Anarquista através dos quais nos orientamos e pretendemos seguir na caminhada libertadora.

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CARTA DE PRINCÍPIOS

A Liga Anarquista tem como principio organizativo a formação de uma organização sintetista que tenha como característica a autonomia dos indivíduos, horizontalidade e descentralização dos processos internos, o respeito à diversidade de ação, táticas e análise teórica para cada um(a) de suas e seus integrantes.

A Liga surge com perspectiva pró-federativa para médio e longo prazo, mantendo diálogo com todas as vertentes anarquistas atuantes em nossa região.

A relação entre todos os(as) integrantes da liga deve ser baseada no respeito, na solidariedade, na confiança e no companheirismo da luta a fim de que se fortaleçam os laços que nos unem em torno de um coletivo que se quer sintético.

ANTIAUTORITARISMO

O autoritarismo consiste na coerção das relações entre indivíduos e no cerceamento das liberdades, seja através do Estado em seu sistema jurídico e na forma de execução desse mesmo sistema jurídico ou através da reprodução de valores culturais absorvidos por diferentes agrupamentos humanos em suas mais variadas vertentes. O autoritarismo e a coerção se apresentam a serviço de diferentes linhas de pensamento que levam a uma sociedade opressora, esteja o autoritarismo manifesto através do Estado, do Capital, da religião, do gênero, da raça, da etnia ou da sexualidade; seremos contrários a todas as formas através das quais a opressão se manifesta.

Defendemos o fim do Estado e de todo tipo de coação, punição e encarceramento promovido pela ação do mesmo. O fim de todo cerceamento do direito ao corpo, locomoção, propagandeamento de ideias e de toda tendência que pretenda a manutenção de uma sociedade patriarcal e hierárquica (seja no âmbito econômico ou estritamente cultural).

Lutamos por uma mudança radical nos mecanismos socioeducativos a fim de que o sistema educacional pretenda a libertação e autonomia dos indivíduos e não o controle sobre sua liberdade ou o direcionamento educacional com fins na manutenção da ideologia autoritária vigente.

APOIO MÚTUO

O apoio mútuo se constitui a partir de afinidades entre indivíduos e/ou coletivos seja pelo afeto, necessidades, lutas, desejos ou interesses comuns. O apoio mútuo, seja natural ou cultural, é uma forma de organização amorosa, social e econômica que afirma a liberdade de indivíduos e coletivos para o compartilhamento de recursos e serviços para o benefício mútuo.

Entre aquelas e aqueles que lutam, o apoio mútuo baseado na afinidade é a ponte pela qual unimos indivíduos e coletivos companheiros que constroem hoje o mundo livre; unimos esforços e recursos para as lutas no âmbito da batalha e da

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autodefesa. Nesse sentido é imprescindível a autogestão e a ação direta para realizar o apoio mútuo através de sua própria consciência e atitude.

AUTOGESTÃO

A LIGA tem como princípio a autogestão, entendida como a livre e espontânea iniciativa dos indivíduos aderentes praticada de forma horizontal, não hierárquica, participativa e colaborativa na realização das tarefas internas e externas de caráter administrativo e organizativo dos projetos políticos, econômicos, culturais e demais atividades a serem desenvolvidas. A autogestão também é o princípio que norteia a administração econômica e financeira da LIGA, pensada a partir do esforço e do desenvolvimento das capacidades individuais e coletivas de todos(as) os(as) aderentes em gerar recursos materiais e/ou humanos para a manutenção dos espaços físicos, virtuais e de todas as atividades que venham a ser realizadas. Com base nessa postura defendemos a autogestão como princípio organizativo e administrativo para todas as associações, grupos e demais coletivos que tenham como meta o anarquismo como modo de vida social.

Autogestão é a associação libertária entre indivíduos e entre grupos para que estes administrem suas próprias vidas, seu trabalho, a justiça, a política, a economia, enfim, a sociedade nos seus mais diversos aspectos e dimensões. É a extinção da divisão entre teoria e prática onde existem senhores e servos, cabendo a todas as atividades, para todos(as) e de forma rotativa. A liberdade é o inicio, o meio e o fim para a felicidade humana sem distinções de fronteiras, de raças, credos, etnias, gêneros, sexualidades, crenças e com a abolição das classes sociais, econômicas e morais. É a afirmação da associação por afinidade de indivíduos/grupos livremente organizados nas federações da sociedade livre. Assim a autogestão é a ação direta em apoio mútuo do sujeito sem representantes.

A autogestão é vital para a compreensão e construção da sociedade livre que desejamos e trabalhamos como modelo de organismo econômico alternativo à lógica capitalista e, portanto, de caráter revolucionário para a formação de um modo de produção liberto de injustiça, baseado na livre associação, na livre produção e na autonomia dos meios produtivos, geridos pelos próprios produtores.

AÇÃO DIRETA

Em acordo com nossos princípios de antiautoritarismo, apoio mútuo e autogestão, acreditamos na ação direta como principal ferramenta de mudança. Ação direta é ao mesmo tempo princípio, método e tática dos anarquistas. Por princípio, todos os indivíduos e coletivos são livres e movidos por suas forças, desejos e necessidades. O método da ação direta compreende a livre criação, o livre trabalho baseado na autogestão onde não há uma relação entre exploradores/explorados, onde não há divisão entre ideias e práticas, onde todos(as) fazem e pensam.

Praticantes da ação direta não procuram pressionar o governo para instituir reformas, ou requisitar mudanças das autoridades e das instituições existentes. As táticas da ação direta são aquelas que não aceitam representantes nem intermediários.

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A tática é um aspecto político e social onde os indivíduos e os coletivos anarquistas fazem por si mesmos as ações antiautoritárias e de construção da justiça social e da liberdade e/ou destruição das injustiças sociais e das desigualdades geradas pela ordem capitalista vigente. A ação direta aliada à autogestão e ao federalismo, praticada e realizada de forma integrada, são os germes da nova sociedade livre no seio da velha sociedade capitalista.

FEDERALISMO

Somos um coletivo de indivíduos agrupados por afinidade em torno do modelo federalista anarquista de síntese. Organizamo-nos baseados no princípio da pluralidade teórica anarquista e na diversidade tática nas lutas reconhecendo a heterogeneidade dos sujeitos em luta, explorados e oprimidos. Constituímo-nos internamente de forma horizontal e preservamos as individualidades existentes dentro do coletivo. A descentralização das ações e dos trabalhos é o fundamento desta organização que buscará a produção do consenso como método decisório garantindo-se a autonomia dos indivíduos. Temos como prática o apoio mútuo fundado na afinidade pessoal e coletiva. Desta maneira o coletivo também trabalhará no sentido da construção da autonomia econômica de forma descentralizada e federada, na ação política junto aos indivíduos explorados e oprimidos.

Constituímo-nos desde já como Coletivo Pró-Federação Anarquista em que trabalharemos com o objetivo de constituir uma federação de coletivos e indivíduos que trabalharão para a sociedade livre. O federalismo anarquista é o instrumento das lutas sociais, populares e de classe. Orienta-nos a ação direta na luta contra todos os modos de opressão, repressão, injustiça e desigualdades. As lutas sociais de gênero, sexualidade, crenças, étnicas, raciais, ambientais e liberdade animal são estruturais na luta para a libertação individual e social, pois somadas todas as lutas caminharemos ombro-a-ombro para a sociedade livre.

A LIGA se apresenta ao conjunto das lutas populares e dos trabalhadores, nunca se colocando como vanguarda ou buscando protagonismo, mas somando e construindo lado a lado em um horizonte revolucionário e de resistência ao controle do Estado e à opressão do capital, do patriarcado e de toda forma de opressão. Trabalharemos hoje e sempre em prol da Anarquia que entendemos ser a forma de organização social da humanidade livre. O conjunto dos princípios descritos acima compõem o federalismo anarquista de síntese que entendemos e pelos quais a Liga se constitui.

Saudações Anarquistas

Liga Anarquista - Rio de Janeiro