Carta de bom jesus da lapa pdf

12
Carta de Bom Jesus da Lapa/BA 1 Comitê Bahia - Pennsylvania CARTA DE BOM JESUS DA LAPA O IV Worshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento, com o tema “Ocupação Territorial do Vale Sanfranciscano – problemas socioambientais”, evento de natureza científica de âmbito regional foi realizado na cidade de Bom Jesus da Lapa/Ba, nos dias 12 e 13 de Julho de 2012, deu continuidade à série de encontros realizados para divulgação de pesquisas acadêmicas, promovendo o diálogo com os setores público e privado, visando dar maior visibilidade a estes estudos, pesquisas e ações decorrentes. A discussão em torno do vale do São Francisco procura aumentar o conhecimento sobre a região, chamando a atenção para a sua problemática socioambiental, sua riqueza cultural, enfim, todo o processo de mudanças e permanências que se verifica neste espaço geográfico, buscando maior conhecimento sobre a região através da análise de suas potencialidades e desafios. Durante a realização do IV Workshop ocorreu uma convergência de olhares sobre o Vale Sanfranciscano, desde aqueles transmitidos pelos viajantes e cientistas dos séculos XVIII e XIX, e também daqueles que nos dias atuais pesquisam, estudam e o analisam com um desejo muito grande, em última instância de contribuir com reflexões sobre as condições de vida da população ribeirinha. Sendo o Vale Sanfranciscano no estado da Bahia constituído por 27 municípios de dimensões médias e grandes, neste documento será focalizado somente alguns municípios que compõem o trecho do Médio São Francisco, a saber: Ibotirama, Paratinga, Bom Jesus da Lapa, Carinhanha, Serra do Ramalho e Sítio do Mato. Essa área apresenta coesão e faz parte na divisão territorial da Bahia, proposta pela Secretaria de Planejamento em 2006, como Território de Identidade Velho Chico 1 . Sob o aspecto histórico, o processo de ocupação do Vale do São Francisco foi, ao longo dos séculos, muito traumático e violento. As lutas pela posse da terra, desde os primeiros tempos da colonização, levaram ao processo de dizimação de muitos povos indígenas. Os negros, resistentes ao regime de escravidão, a duras penas, têm sobrevivido às agressões desse processo de colonização. 1 Barra, Bom Jesus da Lapa, Brotas de Macaúbas, Carinhanha, Feira da Mata, Ibotirama, Igaporã, Malhada, Matina, Morpará, Muquém do São Francisco, Oliveira dos Brejinhos, Paratinga, Riacho de Santana, Serra do Ramalho e Sítio do Mato são os municípios que constituem esse Território.

Transcript of Carta de bom jesus da lapa pdf

Page 1: Carta de bom jesus da lapa pdf

Carta de Bom Jesus da Lapa/BA

1

Comitê Bahia - Pennsylvania

CARTA DE BOM JESUS DA LAPA

O IV Worshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento, com o

tema “Ocupação Territorial do Vale Sanfranciscano – problemas socioambientais”,

evento de natureza científica de âmbito regional foi realizado na cidade de Bom Jesus da

Lapa/Ba, nos dias 12 e 13 de Julho de 2012, deu continuidade à série de encontros

realizados para divulgação de pesquisas acadêmicas, promovendo o diálogo com os

setores público e privado, visando dar maior visibilidade a estes estudos, pesquisas e

ações decorrentes.

A discussão em torno do vale do São Francisco procura aumentar o conhecimento sobre

a região, chamando a atenção para a sua problemática socioambiental, sua riqueza

cultural, enfim, todo o processo de mudanças e permanências que se verifica neste

espaço geográfico, buscando maior conhecimento sobre a região através da análise de

suas potencialidades e desafios.

Durante a realização do IV Workshop ocorreu uma convergência de olhares sobre o Vale

Sanfranciscano, desde aqueles transmitidos pelos viajantes e cientistas dos séculos XVIII

e XIX, e também daqueles que nos dias atuais pesquisam, estudam e o analisam com um

desejo muito grande, em última instância de contribuir com reflexões sobre as condições

de vida da população ribeirinha.

Sendo o Vale Sanfranciscano no estado da Bahia constituído por 27 municípios de

dimensões médias e grandes, neste documento será focalizado somente alguns

municípios que compõem o trecho do Médio São Francisco, a saber: Ibotirama, Paratinga,

Bom Jesus da Lapa, Carinhanha, Serra do Ramalho e Sítio do Mato. Essa área apresenta

coesão e faz parte na divisão territorial da Bahia, proposta pela Secretaria de

Planejamento em 2006, como Território de Identidade Velho Chico1.

Sob o aspecto histórico, o processo de ocupação do Vale do São Francisco foi, ao longo

dos séculos, muito traumático e violento. As lutas pela posse da terra, desde os primeiros

tempos da colonização, levaram ao processo de dizimação de muitos povos indígenas.

Os negros, resistentes ao regime de escravidão, a duras penas, têm sobrevivido às

agressões desse processo de colonização.

1 Barra, Bom Jesus da Lapa, Brotas de Macaúbas, Carinhanha, Feira da Mata, Ibotirama, Igaporã, Malhada, Matina,

Morpará, Muquém do São Francisco, Oliveira dos Brejinhos, Paratinga, Riacho de Santana, Serra do Ramalho e Sítio do Mato são os municípios que constituem esse Território.

Page 2: Carta de bom jesus da lapa pdf

Carta de Bom Jesus da Lapa/BA

2

Comitê Bahia - Pennsylvania

Ressalta-se o número expressivo de Quilombos ou agrupamentos de antigos escravos

que se organizaram nesta região. É o caso de Bom Jesus da Lapa, Carinhanha,

Paratinga, Sítio do Mato, o distrito de Gameleira, dentre outros. Esta região tem um forte

laço identitário que se manifesta na música, nas danças, na religiosidade, no artesanato

local, conforme abordado na Mesa Redonda “Diversos Olhares sobre o Vale do São

Francisco” com as importantes contribuições das professoras Elizabeth Kiddy do

Albright College, através de um retrospecto histórico de relatos de viajantes ao longo

dos séculos XVIII e XIX e Cynara Sento-Sé Alves da UNEB, com a análise psicanalítica

da construção identitária dos ribeirinhos e população do entorno do Rio São Francisco a

partir dos mitos e lendas locais.

As diversas comunidades instaladas no Vale do São Francisco se ajustaram às condições

ambientais, à dinâmica do rio e a todo tipo de possibilidades que encontraram, gerando

assim um aspecto fortemente marcado pela religiosidade e devoção aos santos católicos

durante séculos.

Note-se também que, ao lado dessa ocupação antiga, mais do que centenária (Lapa,

Carinhanha, Paratinga), existem espaços de ocupação recente, como Serra do Ramalho,

para onde foram encaminhados os desalojados das barragens de Sobradinho, e depois a

de Itaparica, numa alternativa imposta pelo Regime Militar nos anos 1970 e início dos

anos 1980.

Os conflitos pela posse da terra e problemas com o uso da água, reafirmamos, são muito

antigos na região, criando inclusive desterretorialização das populações que tiveram seus

territórios alagados pela construção de barragens, projetos de irrigação com a priorização

de médios e grandes produtores em detrimento da capacitação e repasse dos recursos ao

pequeno produtor.

A implantação do Projeto Especial de Colonização Serra do Ramalho (PEC), onde se

preparou uma área dividida em lotes ou agrovilas para serem trabalhados pelos colonos,

foi baseado no modelo dos “Kibutz” de Israel. Esses colonos, sem motivação e com muita

revolta por terem sidos desalojados de suas terras e raízes, inviabilizaram o PEC Serra do

Ramalho. Muitos desistiram e se dispersaram.

Page 3: Carta de bom jesus da lapa pdf

Carta de Bom Jesus da Lapa/BA

3

Comitê Bahia - Pennsylvania

Todavia, os colonos que permaneceram se estruturaram com um forte nível de

politização, num período de 16 anos transformaram essas agrovilas em um município –

Serra do Ramalho.

Por outro lado, os projetos de irrigação implantados nesta região também atraíram mão

de obra de outras áreas do estado da Bahia e de outros estados como o Rio Grande do

Norte, Pernambuco ou o Ceará, sobretudo em períodos de secas prolongadas.

A inserção da mulher no mercado de trabalho, e a questão de desvalorização profissional

dessa força de trabalho em atividades remuneradas em áreas de irrigação, foram tratadas

na Mesa redonda “Ocupação Territorial do Vale Sanfranciscano: Problemas

Socioambientais”, com as respectivas contribuições dos professores Marco Antônio

Tomazoni da UFBA, Alcides Caldas da UFBA/ UNIFACS, sendo fortemente realçado

pela professora Lúcia Marisy Oliveira da UNIVASF.

O professor Marco Tomazoni apresentou um estudo de caso sobre o município de

Barreiras, abordando a questão da sustentabilidade na agricultura irrigada. Já o professor

Alcides Caldas abordou o papel do Estado na implementação da agricultura irrigada no

eixo Juazeiro – Petrolina, destacando os principais agentes sociais: a grande e a pequena

produção, os trabalhadores das empresas de frutas e os trabalhadores sem terra.

Durante o debate, foi exemplificada a inclusão da produção de legumes e frutas da ilha de

Canabrava, em Bom Jesus da Lapa para o abastecimento das feiras da cidade,

ressaltando a necessidade de melhor organização, planejamento e articulação social dos

produtores da Ilha com o poder público. Para que isso seja efetivado faz-se necessário

fortalecer os processos educativos formais como base para o desenvolvimento a médio e

longo prazos.

Sensibilizar e politizar a população é mais do que necessário, bem como uma maior

mobilização social, tendo como consequência a inserção da população em processos

econômicos formais.

Foi levantada, por uma moradora local, a situação de dois afluentes do Rio São Francisco

no município, cujos cursos estão secando em função de alterações verificadas em sua

mata ciliar e em áreas alagadiças.

Page 4: Carta de bom jesus da lapa pdf

Carta de Bom Jesus da Lapa/BA

4

Comitê Bahia - Pennsylvania

Na mesa redonda “Turismo de Base Comunitária no Vale do São Francisco:

possibilidades e desafios” a professora Carmélia Amaral da FACTUR explicitou que o

turismo de base comunitária não é um segmento do turismo e sim um modelo de

desenvolvimento, constituindo-se uma alternativa econômica que fortalece os processos

identitários da comunidade, com a valorização do que é seu.

A professora Carolina Spínola da UNIFACS ressaltou que o turismo de base comunitária

traz como desafio o capital social da comunidade, ou seja, a capacidade de querer e de

empreender, além da necessidade de estabelecer redes. Afinal, conforme ressaltado,

iniciativas locais irão resolver questões locais – não as instâncias superiores, ainda que

seja imprescindível a ação governamental e o diálogo entre a sociedade e o Estado.

Foram apresentados exemplos bem sucedidos de Turismo de Base Comunitária no Brasil

e na Bahia e os presentes foram convidados a pensar sobre a possibilidade de adotar

esse modelo de turismo como uma forma de beneficiar as comunidades ribeirinhas dessa

região.

Fernanda Castro, doutoranda da UNIFACS e professora da Universidade Federal de

Sergipe, ressaltou a importância da Universidade na formação de “formadores de

opiniões”, dos protagonistas sociais – agentes de transformação da sociedade em seus

contextos locais e exemplificou que essa parceria vem acontecendo através de projetos

desenvolvidos pela Universidade Federal de Sergipe – onde ela é docente e pesquisadora

– na foz do Rio São Francisco.

Na Mesa redonda “Questões Ambientais – Experiências Locais Vivenciadas”,

tivemos as contribuições do Pe. Vilmar Correia, Membro da Equipe do Santuário de

Bom Jesus da Lapa, Demétrios Pascoal Rocha, Chefe da Assessoria de

Comunicação da Regional da Codevasf em Bom Jesus da Lapa, e da Professora

Maria Célia Santana A. Ribeiro da UNEB. O padre Vilmar Correira fez referências à

questão histórica da poluição ambiental do Santuário e algumas questões culturais que

dificultam a conscientização ambiental na sede do município. Destacou iniciativas do

Santuário nesse sentido.

Foi apresentada pelo representante da CODEVASF a dificuldade de aplicação de projetos

de revitalização do Rio São Francisco. Inicialmente cinco eixos de revitalização foram

apresentados, a saber: combate aos processos erosivos, saneamento básico,

Page 5: Carta de bom jesus da lapa pdf

Carta de Bom Jesus da Lapa/BA

5

Comitê Bahia - Pennsylvania

recomposição de nascentes, Hidrovia São Francisco e programa de arranjos produtivos

locais articulados ao meio ambiente.

No entanto, a maior parte dos recursos foi destinada a obras de saneamento básico. Além

disso, foi colocada a necessidade de maior articulação com a Universidade, pois o

conhecimento técnico insuficiente sobre os outros eixos vem dificultando/inviabilizando a

consecução dos mesmos.

Ressaltou-se que o desmatamento generalizado das áreas ribeirinhas da Bacia ao longo

dos séculos de ocupação deu início ao processo de erosão e assoreamento do rio, cujos

reflexos afetam a pesca artesanal e a navegação fluvial de forma regular, bancos de areia

que se multiplicam e se apresentam móveis e perigosos.

Em entrevistas com pescadores, mestres de navegação e ribeirinhos, vários relatos sobre

a dificuldade de navegação devido ao assoreamento, a diminuição e “sumiço” de várias

espécies foram recorrentes, reforçando a necessidade de ações urgentes e concretas na

contenção, diminuição e erradicação dos problemas constatados.

Exortou-se que a Universidade precisa produzir trabalhos científicos (através de parcerias

e convênios para a necessária captação de recursos) a fim de que a CODEVASF, como

órgão executor das políticas públicas possa aplicar corretamente técnicas e tecnologias

na revitalização do rio e, além disso, a sociedade civil também precisa cobrar ações

efetivas. Assim, na percepção do expositor, o trabalho de revitalização se dará de modo

mais científico e menos utópico.

A professora Maria Célia Ribeiro da UNEB apresentou os resultados de um projeto de

educação ambiental aplicado em Bom Jesus da Lapa, mas que devido a sua

descontinuidade e falta de recursos financeiros não vingou. Hoje um problema seríssimo

que aflige a sede do município é a questão da geração/coleta e destinação final de

resíduos sólidos.

Relacionou a questão do lixo urbano lembrando que dissociado de práticas de gestão

integrada e de programas de conscientização ambiental geram problemas ambientais

seríssimos. Em Bom Jesus da Lapa, por exemplo, o lixo gerado pelas Romarias tem

intensificado os impactos ambientais negativos na área urbana do município.

Page 6: Carta de bom jesus da lapa pdf

Carta de Bom Jesus da Lapa/BA

6

Comitê Bahia - Pennsylvania

Os plásticos, latas de alumínio, papel, papelão, restos de comida, dejetos humanos e de

animais com disposição final inadequada geram a proliferação de insetos, pernilongos,

ratos e baratas, grandes vetores de doenças. Efluentes líquidos provocam a

contaminação da água do rio São Francisco, que se presume esteja bastante poluído no

entorno da cidade, embora o rio seja fonte de abastecimento humano, de alimentação e

de atividades recreativas. Tais problemáticas ambientais já constatadas por todos os

habitantes de Bom Jesus da Lapa tendem a se agravar, se medidas integradas não forem

tomadas.

Durante o debate, os participantes ressaltaram que a Universidade tem o conhecimento

técnico, a população a vontade e o poder público os recursos financeiros, devendo de

modo integrado realizar a gestão dos resíduos sólidos no município, que em momentos

pontuais – nas Romarias (cerca de 700 mil pessoas/ano) – gera, literalmente, montanhas

de lixo.

Foi relatado, inclusive, que nas inúmeras reuniões que antecedem as romarias, sempre é

colocado pelo poder público não haver recursos para as necessárias ações pontuais,

entre elas, a coleta intensiva do lixo gerado, a colocação de banheiros químicos em

pontos estratégicos da cidade, básica, na área de acampamento dos romeiros, entre

outras ações.

É necessário e urgente que o poder público e a sociedade saiam da inércia e atuem na

resolução do problema, afinal, no luxo e no lixo a fé dos romeiros permanece inabalável e

presença maciça nas romarias, que se iniciaram há mais de 300 anos.

O representante da CODEVASF assumiu a dificuldade de ação integrada com

universidade e prefeitura, a UNEB informou que trabalhos de conclusão de curso na área

de educação ambiental vêm sendo realizados, porém a discussão com o poder público

ainda é insipiente. No entanto, professores recém-titulados estão retornando à

Universidade no Campus XVII, fortalecendo a visão crítica da instituição, melhorando o

relacionamento com outras instituições e poder público, através da articulação entre

ensino, pesquisa e extensão.

Deve ser ressaltada a contribuição dos estudantes de graduação do Curso Superior de

Tecnologia em Gestão Ambiental da UNIFACS com uma cartilha de educação ambiental

Page 7: Carta de bom jesus da lapa pdf

Carta de Bom Jesus da Lapa/BA

7

Comitê Bahia - Pennsylvania

voltada para a questão do lixo e centrada no conceito de pegada ecológica, sendo

distribuída entre os presentes.

Importantes atividades culturais foram realizadas ao longo do evento, tais como

apresentação de vídeos, exposição fotográfica sobre Bom Jesus da Lapa, do fotógrafo

Edmundo Brandão, apresentação musical do artista Sócrates Rocha e do Projeto

Música, Arte e Cultura na Escola, da Secretaria Municipal de Educação coordenado

pela pedagoga Silvia Letícia Figueiredo e constituído por artistas locais.

No dia 13 de julho, os trabalhos foram iniciados com a Mesa redonda “Problemática da

Água: monitoramento da qualidade da água”, com a participação do professor Bryce

Brylawski, do Albright College (EUA), com tradução simultânea de Luan Cardoso,

estudante do curso de Administração da UNEB, Campus XVII. O biólogo Wander

Nascimento, da EMBASA – Escritório de Barreiras também apresentou um excelente

trabalho sobre o tema.

O professor Bryce Brylawski explanou sobre a ação humana e a consequente alteração

dos ecossistemas lacustres e fluviais, com a histórica poluição antrópica, diminuição da

qualidade ambiental e perda da biodiversidade. Apresentou os critérios de classificação

da água bem como os parâmetros e tecnologias utilizados para monitoramento da

qualidade da água, apresentando alguns aparelhos de medição utilizados para tal fim.

Com aplicação de tais conhecimentos, os Estados Unidos conseguiram uma melhoria de

40% na qualidade das águas nas bacias hidrográficas.

Wander Nascimento falou sobre as políticas públicas, relacionadas à questão da água,

aplicadas pela EMBASA na bacia do São Francisco no Estado da Bahia. Apresentou

também sobre o monitoramento da qualidade das águas, captação e tratamento nas

Estações de Tratamento de Água (ETA) e Estação de Tratamento de Esgoto (ETE),

distribuição de água tratada para as populações dos municípios, além de obras e

investimentos nos municípios beneficiados pela bacia do São Francisco.

A seguir foram apresentadas em uma mesa redonda informes das pesquisas em

andamento dos estudantes do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento

Regional e Urbano em nível de Mestrado e também dos estudantes de graduação em

Engenharia Ambiental e Sanitária da UNIFACS, Bolsistas de Iniciação Científica,

Page 8: Carta de bom jesus da lapa pdf

Carta de Bom Jesus da Lapa/BA

8

Comitê Bahia - Pennsylvania

vinculados ao Grupo de Pesquisa em Turismo e Meio Ambiente – GPTURIS da

UNIFACS, coordenado pela professora Regina Souza.

A mestranda em Desenvolvimento Regional e Urbano e bolsista CAPES, Analice

Gramacho, apresentou as idéias preliminares de sua pesquisa que será desenvolvida em

São Desidério/Ba sobre o aproveitamento das águas do Rio das Fêmeas e sua relação

com o desenvolvimento do referido município, ponderando sobre a qualidade das suas

águas, o acesso aos diversos usuários, e a percepção social em relação à sua gestão e

importância.

A mestranda em Desenvolvimento Regional e Urbano e bolsista FAPESB, Josemary

Santana, apresentou a pesquisa intitulada “O desenvolvimento do turismo religioso e os

impactos socioambientais: o caso de Bom Jesus da Lapa-Ba”, cujo objetivo geral é

compreender a dimensão do turismo religioso enquanto vetor de desenvolvimento local

nesse município, analisando os impactos socioambientais. A pesquisa ainda se encontra

em estágio inicial.

A bolsista IC Daniele Balbino do CNPq/UNIFACS apresentou o projeto de pesquisa em

estágio inicial orientado pela professora Marion Cunha sobre a avaliação da qualidade da

água do Rio São Francisco – trecho Bom Jesus da Lapa e as principais atividades

antrópicas impactantes.

Maíra Torres bolsista IC FAPESB/UNIFACS apresentou sumariamente o projeto

“Impactos Socioambientais no Rio São Francisco resultantes da ação antrópica”, sob a

orientação da professora Regina Souza, ressaltando o desmatamento das matas ciliares,

das nascentes, os processos de erosão e assoreamento decorrentes.

Patrick Passinho, bolsista IC FAPESB/UNIFACS apresentou projeto intitulado “A

Educação Ambiental como forma de minimizar os impactos ambientais causados ao Rio

São Francisco pela Romaria de Bom Jesus da Lapa”, sob orientação da professora

Regina Souza, pretendendo estudar como as atividades educativas podem se tornar

eficientes em casos como o da referida cidade.

A bolsista IC FAPESB/UNIFACS Raissa da Matta apresentou trabalho em fase de

conclusão sobre as medidas de conservação ambiental adotadas pelos meios de

hospedagem e sob a orientação das professoras Regina Souza e Maria Cândida

Mousinho.

Page 9: Carta de bom jesus da lapa pdf

Carta de Bom Jesus da Lapa/BA

9

Comitê Bahia - Pennsylvania

Outra mesa de informes apresentou o Projeto Canta Vale, com 18 anos de existência,

com o Sr. Carlos Humberto Souza (Carlão), coordenador do mesmo, discorrendo sobre

a atuação em vários municípios do médio São Francisco no estado da Bahia com

campanhas, eventos e programas que visam a preservação ambiental e sociocultural

através das manifestações populares, artísticas e culturais. Em Bom Jesus da Lapa o

Projeto atua em três vertentes, a saber: Festival de Teatro, Feira de Artesanato e Rock in

Rio São Francisco Festival.

O Sr. Crisjeorge Soares Barbosa apresentou o Movimento Morro a Vista, referenciado

sobre o fato da cidade estar de “costas para o rio”, com a sua orla na sede municipal

abandonada com muito lixo, violência, etc. O movimento tem oito anos de existência,

ainda sem personalidade jurídica e seu objetivo é impedir o avanço das construções

verticalizadas na cidade e discutir tombamento do morro enquanto patrimônio natural e

cultural/religioso. Um dos resultados do movimento foi a aprovação de lei municipal em

2009 para tombamento do Centro Histórico de Bom Jesus da Lapa (entorno do morro) e

impedimento das construções verticalizadas. Atualmente discute-se o tombamento do

morro da Lapa. Foi colocada a omissão do poder público municipal, embora exista a lei.

Exortou a necessidade de envolvimento da população para os problemas socioambientais

vigentes.

Por fim, a professora Maria da Conceição Rocha, apresentou o Projeto Mãe Natureza

pede Passagem, que desde 1993 atua no município de Bom Jesus da Lapa, com a

criação de viveiros de árvores e replantio na cidade e nas margens do rio além de outras

ações de educação ambiental, tais como hortas escolares e caseiras, substituição de

sacolas plásticas por outras ecologicamente corretas.

No final da manhã, a mestranda em Desenvolvimento Regional e Urbano da UNIFACS,

Ilana Cairo, apresentou a palestra intitulada Gestão Integrada de Resíduos Sólidos,

sobre a coleta, tratamento e destino dos resíduos sólidos, numa visão de gestão integrada

dos resíduos sólidos.

Pela tarde algumas oficinas temáticas foram ministradas na UNEB, como “Gestão

Sustentável: Desafio do Milênio”, pela Profa. Celeste Aparecida Pimentel, da UNEB –

Campus VI. O objetivo foi demonstrar a importância da Educação Ambiental para a vida,

identificar as principais consequências das ações antrópicas para o meio ambiente,

Page 10: Carta de bom jesus da lapa pdf

Carta de Bom Jesus da Lapa/BA

10

Comitê Bahia - Pennsylvania

aprimorar os conhecimentos sobre os problemas ambientais e propor ações diárias que

contribuam para amenizar os problemas socioambientais.

Para tanto, durante a oficina, as atividades pedagógicas desenvolvidas priorizam a

produção de painel, árvore dos sonhos, mural criativo, trilha ecológica e pacto de amor,

atividades essas desenvolvidas em uma perspectiva de ensino aprendizagem de maneira

lúdica, possibilitando reconhecimento da beleza, da diversidade biológica existentes no

planeta, despertando o desejo de preservar.

A oficina “Monitoramento da qualidade da água” foi ministrada pelo Prof. Bryce

Brylawski, do Albright College (EUA).

As oficinas “A dimensão cultural para o desenvolvimento sustentável: o Rio São

Francisco em questão”, “A dimensão espacial do desenvolvimento sustentável:

ocupação do solo na área de preservação permanente do Rio São Francisco e

impactos ambientais” e “Potencialidades do uso educativo do conceito de bacia

hidrográfica em projetos de educação ambiental: um recorte no contexto do São

Francisco” foram orientadas pela Profa. Maria Célia Santana Aguiar Ribeiro, do

Campus XVII e monitoradas por discentes da UNEB de Bom Jesus da Lapa.

A peça teatral O Homem da Vaca e o Poder da Fortuna de Ariano Suassuna foi

encenada no final da tarde pelo Grupo Teatral Retórica Desnuda (UNEB).

Com participação ativa da comunidade nas oficinas e debates sobre situações cruciais da

região acredita-se ter sido possível a construção coletiva de conhecimento e

aprofundamento do debate buscando atingir os objetivos propostos.

Como recomendado por vários participantes durante o evento, é necessário realizar

práticas efetivas, envolvendo de modo integrado universidade, sociedade e Estado, cada

qual no seu âmbito de atuação. Assim, como não poderia deixar de ser, apresentamos as

intenções de todos os participantes com o objetivo de gerar uma pauta de planejamento e

ação efetiva por parte dos órgãos responsáveis, do poder público municipal e da

sociedade civil organizada. Assim sendo:

Queremos a elaboração do mapeamento das comunidades existentes no Território de

Identidade Velho Chico e a partir daí, identificar as vocações para que, através de

convênios com Universidades e órgãos de desenvolvimento regional possa ser iniciado

Page 11: Carta de bom jesus da lapa pdf

Carta de Bom Jesus da Lapa/BA

11

Comitê Bahia - Pennsylvania

um processo de capacitações para melhorar o desempenho das populações e prepará-

las para a geração de trabalho e renda, a exemplo do estímulo a criação de

cooperativas de atividades produtivas tradicionais, reforço às associações e

desenvolvimento de turismo religioso e de base comunitária.

Queremos o processo formativo da Universidade através do tripé ensino-pesquisa e

extensão, com ações envolvendo a comunidade em pesquisas/capacitações com

possibilidade efetiva de aplicação dos resultados nos contextos locais.

Queremos o fortalecimento dos protagonistas sociais – agentes de transformação da

sociedade em seus contextos locais, com articulação em rede.

Queremos que a população local seja mais participativa e que execute ações em

parceria com o poder público para a melhoria da sua qualidade de vida.

Queremos a articulação entre a Universidade, o Sebrae e a CDL no sentido de

implementar um plano de qualificação do turismo religioso de Bom Jesus da Lapa.

Queremos que a Prefeitura Municipal proceda aos trâmites administrativos

necessários para o tombamento do Morro do Santuário da Lapa como patrimônio

natural e cultural do município.

Queremos uma integração entre a Prefeitura Municipal, a Reitoria do Santuário e

Diocese de Bom Jesus da Lapa além dos outros órgãos competentes na criação de

infra-estrutura como sanitários, sanitários químicos, estacionamentos para os veículos,

disciplinamento das barracas de artesanato e criação de estrutura para acampamentos

de romeiros.

Queremos que a Prefeitura Municipal de Bom Jesus da Lapa envolva as diversas

secretarias pertinentes e alguns órgãos da administração estadual em uma gestão

integrada dos resíduos sólidos, com ações permanentes e campanhas pontuais nos

períodos de romaria, tal como apresentado pela professora Maria Celia Aguiar na

Campanha de Educação Ambiental da UNEB com instituições parceiras.

Queremos que as escolas estaduais e municipais de Bom Jesus da Lapa desenvolvam

com seus alunos projetos de educação ambiental, direcionados principalmente para a

questão do lixo.

Page 12: Carta de bom jesus da lapa pdf

Carta de Bom Jesus da Lapa/BA

12

Comitê Bahia - Pennsylvania

Queremos que a Prefeitura Municipal em parceria com a UNEB implementem a

Agenda 21 local de Bom Jesus da Lapa.

Desejamos discernimento, iniciativa e realizações.

Bom Jesus da Lapa, 13 de julho de 2012.

Parceiros: UNIFACS – Universidade Salvador/ Laureate – International Universities,

UNEB – Campus XVII Bom Jesus da Lapa, Albright College (EUA) e Companheiros das

Américas – Comitê Bahia/Pennsylvania.