Carta da Baronesa

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Rio de Janeiro, 9 de Agosto de 1909. Querida Filha Pelo Francisco, que aqui chegou a 6, tive as mais agradaveis noticias de todos vocês, o que foi confirmado por tua carta de 30 do passado, de que foi elle portador, bem como, dos jornaes, dôces, e encommenda para Isabel. Fazia n’esse dia (6) justamente um mez, da dacta de tua ultima cata, e por isso ainda maior foi a minha satisfação, em saber, que não tinha sido esse demóra devido á doenças em casa. Graças pois sejam dadas ao nosso bom Deus; e que elle baixe sobre ti, e os teus, a Sua santa benção! Os dôces estavam perfeitos e saborosisissimos: foram divididos com Catuca e Oscar, que tambem está n’este Hotel. A encommenda para Isabel, é que é mais difficil remmeter; pois não se póde confiar agora no Correio nem tenho conhecidos, a quem póssa pedir para levar. Elles insistem mtº. para que eu vá, mas... falta o principal , pois por mar, não me animo; e por terra, fica mtº. cara a viagem, alêm de que sentia ir, sem levar mais algum auxilio a Isabel, pois soube que a falta de recursos, é que tem espaçado por tanto tempo o casamento. Enfim, vou ver o melhor meio de mandar tudo com segurança, inclusive o retrato da Zilda, que, pela mesma razão, ainda não foi: Com os meus jornaesinhos, vai a ‘Opinião’ que traz a descripção

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Carta da Baronesa Amélia à sua filha Isabel.

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Rio de Janeiro, 9 de Agosto de 1909.

Querida Filha

Pelo Francisco, que aqui chegou a 6, tive as mais agradaveis noticias de todos

vocês, o que foi confirmado por tua carta de 30 do passado, de que foi elle portador,

bem como, dos jornaes, dôces, e encommenda para Isabel. Fazia n’esse dia (6)

justamente um mez, da dacta de tua ultima cata, e por isso ainda maior foi a minha

satisfação, em saber, que não tinha sido esse demóra devido á doenças em casa. Graças

pois sejam dadas ao nosso bom Deus; e que elle baixe sobre ti, e os teus, a Sua santa

benção! Os dôces estavam perfeitos e saborosisissimos: foram divididos com Catuca e

Oscar, que tambem está n’este Hotel. A encommenda para Isabel, é que é mais difficil

remmeter; pois não se póde confiar agora no Correio nem tenho conhecidos, a quem

póssa pedir para levar. Elles insistem mtº. para que eu vá, mas... falta o principal,

pois por mar, não me animo; e por terra, fica mtº. cara a viagem, alêm de que sentia ir,

sem levar mais algum auxilio a Isabel, pois soube que a falta de recursos, é que tem

espaçado por tanto tempo o casamento. Enfim, vou ver o melhor meio de mandar tudo

com segurança, inclusive o retrato da Zilda, que, pela mesma razão, ainda não foi: Com

os meus jornaesinhos, vai a ‘Opinião’ que traz a descripção do casamento da Nenê, que,

realmente foi um casamento principesco! O meu compradre n’esse dia, não cabia na

pelle, não foi! O que mais apreciei, foi, as amabilidades trocadas entre elle, e o Povoas,

em quem saudava o – primo digno, e querido de sua familia – quebrando a taça, (*). O

que é o Mundo! Quando pensou o Povoas, que era tão apreciado pelo parente; que a

Nenê seja tão feliz, como merece,

É o que sincéramente peço a Deus. O Alfredo recebeu meu telegramma, felicitando os

noivos, passado na mesma noite? O teu vestido foi o preto? Os da Lilóca, e Zizi

Soares, são aqui do Palais, ou Parc Royal. Então a Zilda já figura como ‘senhorita’?

Vou escrever-lhe um postal, cassôando. O Rubens, sim, esse há mtº. que é um –

senhorito – ao menos no tamanho. Resta-me accusar a quantia de .- 1:400f000, que

acompanhava a tua carta, o que me fez muito bom arranjo. Agora, mtºs. e mtºs.

abraços de agradecimento, por tudo o que enviastes. O Francisco, teve péssima

viagem. Esquecia-me dizer-te, que fizeste mtº. bem em botar a pluma de brilhantes, e

pulseira: ao menos as pobres, tomaram ar. O annel que mandastes para Isabel, tambem

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é mtº. bonitinho. Já está melhor, o filho da Olga? Tenho tido tanta pena d’ella!

Francisco me disse que no dia em que embarcou, o menino estava mtº. mal, mas como o

Oscar não teve noticia nenhuma, tenho fé que elle melhoraria. Deus assim o permitta.

Li a carta de Raul, e fiquei penalizada, por vêr que elle não tem recebido nossas cartas, e

postaes; e com razão, o pobresinho se queixa. No entanto, temos escripto mais vezes a

elle tambem, é mais prompto em nos escrever. Tenho mtªs. e mtªs. saudades d’elles: só

Deus o sabe! Infelismente, Tancrêdo veio ao Rio, quando não devia; e agora que tinha

occasião de apparecer, vindo ao Congresso Medico, não o fez. Sempre ás avessas!.

Leonel está um pouco aborrecido com elle, porque escreveu-lhe convidando para tomar

parte no Congrésso, e elle nem ao menos respondeu-lhe! Hontem á noite, fui dar um

passeio de bond, e fui até a porta da Exposição (não me apeei) Fiquei deslumbrada,

com o aspecto da mesma! É como dizia a prima Chiquinha, uma cidade encantada!

Parece q. os edificios, são feitos de luz. Uma verdadeira belleza! No dia da

inauguração, ou antes, da reabertura, o Leonel trouxe-me um convite especial para

assistir á todas as féstas, mas eu andava tão preocupada com a falta de noticias d’ahi,

que não me animei a ir, passando o convite ao Rangel, que por sua vez, tambem não foi;

acabando por ir o Edgard com o Diogo. D’esta vez, o Itaperúna esteve cá (creio que

já foi)) e o Malaquias não me appareceu. Mudou de vapôr como desejava? Ainda

hoje, comi da farinha torrada, e guardei o resto da linguiça, para 5ª feira, por ser o dia

que o Edgard almoça em casa. Domingo foi o nosso almoço. Escrevo á proporção que

me lembro das cousas, por isso vão os assumptos misturados; mas tu no fim dividirás

tudo, como o sujeito do jornal,

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