Carta às cegas

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  • 8/18/2019 Carta às cegas

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    Sem viajar no “morrantismo”, minha cara palhaça, mas eu não seria eumesma se não costurasse algumas linhas por você.

    Sim. É coisa de gente boboca “morrantizar” as relações, o mundo, a vida.

    Mas, como a senhorita bem sabe, sou boboca de classe e carteirinha.Começarei pela cor da sua voz: erva-doce. Sabe? Passei a gostar mais dacor depois que te conheci. É a cor que dou para as quintas-feiras chuvosasque terminam com sol. Cor suave. Cor notável. Cor agradável.

     Já me peguei, em número ímpar de vezes, pensando qual a ginga do seucaminhar. Sim. Pessoas andam com ginga. Imaginei passos ligeiramentedebochados que se seguem, inconscientemente, ao som de Cyndi Lauper.

    Certamente, no embalo de “Girls just wanna have fun”.  Já disse que meu sentido mais apurado é o olfato? Pois é. Te sinto doce,mas sem exageros. Não me esqueci que é alérgica às essências compradas.É um doce seu, bonita. Doce próprio de mulher.

    Confesso, também pintei inúmeras caras, bocas, bicos e sorrisos paravocê. Todos para cada dia da semana. Todos para cada estado de humor.

    Fantasiei a temperatura e a pressão do seu abraço, a umidade do seubeijo. Tracei e contei as possíveis pintinhas que tem pelo corpo. Desenheium alfabeto de desejos na palma da sua mão com caneta hidrocor . Visualizeisuas manias e as covinhas que as fotos escondem. Supus de que ladodorme e como dorme. Vibrei com sua cara safa indiscreta e indisfarçável.Sonhei com você inteira e te trouxe para perto...

    Você está certa. Estamos longe fisicamente, a quilômetros e Estados dedistância, mas estamos tão íntima e estranhamente próximas.

    Enfim. Esse não foi um relato de amor –  por enquanto. São só elucidaçõesacerca do que observei (ou não) daqui.

    Luana Moreira.