Carlos Reis

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    4. Realismo e Naturalismo

    4. 1. Ta corioacontece com o Romantismo, o Realismoconstituiurn movirnentoilerriocuja caracterizao dificutada,antes de rnais, pelosriscos de urna certa imprecisogeneralizanteque pode afectar o terrroque o designa; aguns exernplospermi-tiro detectar esses riscos. Assim,no nado captulo IIIdasViogensno minh teTlo, o narrador-viajante que reivindicaumadescrio da estalagern da Azarnbujaconcordante com a verdadedos factos e dos objectos ("Nada, nada, verdade e rnais verdade"),aparenta fazer urna apologia da representao realista;e oheternirnopessoano seduzidopelos dias "de luz perfeita eexacta,./Emque as coisas tm toda a realidade que podem ter",parece tarnbrn, desse rnodo, manifestar urna certa prediecopela representao realista: essa Inesrna que lhe permite conhe-cer e arnar "ls coisas que sirnplesmenteexistem"(n').

    De nenhum destes textos e autores deve, contudo, dizer-seque so reaistas no sentido que neste contextopriviegiarernoseque o que [errque ver com os princpiosdoutrinriose com asestratgias de urn determinado rnovimentoliterrio:aquee que,tendo aparecido na segunda rnetade do sculo XIX,incluiesclitores como, entre outros, Flaubrert, Maupassant, Ea deQueirs,Dickens,Carn,BenitoPrez Gados, um certo Camiloeagurn Machado de Assis. O que daqui desde j se inferee que,numa acepo rigorosa-menteperiodolgica - que, repete-se, aque neste rnomentoes[ em cat-lsa -, no basta que o escritor (ouo artistaern geral) se interesse pea reaidade fisicaou social,paraque possa falar-se na constitlliodo Realisrnoliterrio.De certaforma, desde sernpre que a literatura,de modo mais ou menosimpressivo,se interessou pela realidade: textos to distantes noespao e rro ternpo conoo Sotyricon de Petrnio,o lozorillodeTormes, a ?eregrinodode Ferno MendesPintoou Les LioisonsDonereuses de Choderlos de Laclosso disso resrnourna evi-

    (n') Cf.rspecti\zarrente:A.Gelatrr,Tiogensncmioterro,ed cit.,p.99;Poernas de Ar-esn-ro Cnrtno, Lisboa.,rica,1978, pp.49-50

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    O CONHECIMENTODALITIRATURA

    dncia, j que neles reconhecemos a capacidade de delinearemepisdios e figurasdotados de certa representatividade,no ue acstumes e mentalid.ades diz respeito' (+3)

    4.2. Enquanto conceito periodolgico, o Realismotern umaorigem francesa relativamentebem deterrninada e conexiona-se

    de formas diversas com o Romantismoe com o Naturaismo:com

    o Romantismo,essa reao de confrontoe de superao, tanto

    A mencionada origem francesa do Reaiismo atesta-se naactivid.ade doutrinriade Durantye Champfleury,o primeiroaoeditar uma revistaprecisamente intituladaRalisme (1856-1857),o segundo ao publicarum conjuntode ensaios tambm com otrul [e Rolisme (1ss7) (nn). Desde ento, vo-se clarificandoasorientaesfqndamen[aisdo movimentoreaista, orientaesquepodem estabelecer-se em termos muitogerais que trataremos deaprofundar: o Realismovalorizaa observao cooinstrumen[ode conhecimento, conduzindo anlise minuciosados costumes;ao mesmo tempo,essa anlise dos costumes constittlio suPoltemetodolgicode uma crticasocial de intuitoreformista,numquadro ideolgico anti-idealistae anti-romntico(o5)'

    (n.) De uma formacorrelata,determinadas anIises da representaoliterriada realidadeconfirmamo que ca dito; cite-se aqui' como exempocannico, a obra de lr.rclrAunns/,cn-Mimsis.Lo reprrfoentotionde 1o rclitdans lc

    ittrotureoccidentole,Paris, Galimard,i 973 (1"ed.: 1946)(n') Uma recoha de textos de Charnpfleury(sobretudo consagrados crticade artes plsticas) encontra-se em Le Roism;textes choisiset Plsentspar GrNr , Hermann, 1973'

    (*t io ao conjuntode romances que intinlouComie exPressamente possibilidadede' comorornancista, historiaros costumes: "Estabelecendo o inventriodos vciose dasvirtudes,reunindoos principais factos das paixoes, pintando os caracteres'

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    INTRODUAOAOS ESTUDOS LITTRARIOS

    Justarnente o quadro ideolgicoern que se desenvolve oRealismoiterriomerece desde i alguma ateno. Colocando-se,corno se disse, nos antpodasdo ideaismoromntico,o Realismopri-vilegiaurna viso materialistadas coisas e dos fenmenos:desse pontode vista, confere-se proeminncia realidade materiale empiricamentevericve,como eementoque deve coherprimordiale constante ateno de urn observadorque se pretendeneutro, desapaixonado e tanto quanto possvel objectivo.Numplano de actuao social,o Realisrnoconexiona-secom corentesde pensarnento de ndole reformistae rnesrno, nalguns casos, dendole sociaista:se a socledade burguesa do scuo XIXapresentacetas disfunes que afectarn a colectividade(disfunescuturais, econmicas, polticas, etc.), ento torna-se necessrioagir sobre essa sociedade nos termos crticos que so usuais naliteratura realista. uma carta de Ea de Queirs a Rodrgues deFreitas (carta de 3O de Marode 1878, a respeito d'O PrimoBozilio),proclannava justamente queo Reaismoestava "destinadoa ter ra sociedade e nos cost.rresulna influnciaprofunda"'E pergunta "O que queremos ns com oRealisrno?",respondia Ea:

    Fazer o quadro do mundo moderno, nas feies em que ee mau, porpersrstlr em se educar segundo o passodo; queremos fazera fotograa,laIuase a dizer a caricaturado velho mundo burgus,sentimenta,devoto,catlico, exporador, aristocrtico,etc E apontando-o ao escrnio, gargalhada, ao desprezo do rnundornoderno e dernocrtico- Preparar asua runa. Uma arte que tem este m- no uma arte Feuilletou Sandeau- E um auxiliarDoderoso da cinciarevoluconria(*")

    escolhendo os eventos principaisda Sociedade, compondo tipos pela reuniodos traos de vrioscaracteres homogneos, tavez eu pudesse chegar a escrever.

    a historiaesquecida por tantos historiadores, a histriados costumes" (cpudCoLE-rrEBrcxrn,lire le Rolismeet le Naturoisme,Paris, Dunod,1992, p. 145;nesta obra encontra-se urna recolha de importantestextos doutrinrosrealistase naturaistasUrna recolha muitomais aargada de textos douCrinrios a deGsoncs J Becrun(ed.), Documents of ModernLiteroryReoism,Princeton,PrincetonUniv.Press, 1 963

    (n6)E lr Quunos, Correspondncia;eitura, coordenao, prefcio e notasde Gunnrnvrlr C,tsrrrno; Lisboa, Irnp.Naciona-Casa da Moeda, 1983' p 142'

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    CONHECIMENTODALITERTUM

    E preciso dizer que estas palawas de Ea se ressentemde algurna imaturidade,que o escritor tratariade compensarem romances e depoimentossubsequentes; essa imaturidadedenuncia-se naquele propsitode representao fotogrficadarealidade e tambm na nfase revolucionriaque encerra o passoranscrto.

    Mas, ao mesmo tempo, o tornprogramtico desta carta muitoclaro, bemcorno as suas conotaes ideolgicas:elas suge-rern que o escritor h-de adoptar uma atirudepedaggica, viradapara questes de alcance colectivoe colhidas no quotidianodoseitoresque se tratava de reeducar. O que desde logo implicaumcomportanentoselectivoque Maupassant, ern termos mais preci-sos do que Ea, tratotde sublinhar, em 1885:

    O realista, se um artista, no procurarmostrar a fotografiabanada vida, mas dar-nos dea a viso mais completa, maissurpreendente,mais evidentedo que a prpriarealidade.

    Seria impossvecontar tudo, porque ento seria necessrio pelomenos um volumepor dia, para enumerar as multidesde incidentesinsignicantesque preenchema nossa existncia.Impe,se, pois, umaescolha - o que constituium primeiroprejuzo teoria de toda a verdade

    A vida, alm disso, composta pelas coisas mais diferentes,maisimprevistas, mais contrrias, mais dspares; a vida brutal, semsequncia, sem encadeamento, pena de cats[ofes inexpicvers,ilgicase contraditriasque devem ser cassicadas no captulodos foitdiyers n')

    O passo longo, rnas merece reflexo,sobretudo por apontarnurn sentidoque aqui interessa realar: o da selectividade que o

    A reerncia depreciativa a Octave Feuiete Jues Sandeau muitosigni-ficatlva:trata-se de escritores que cultivamo chamado romance virtuoso,"dirigidos classes abastadas e principalmentes muheres Colhe as suaspersonagens sempre nos meios da aristocraciae da ata burguesia", carac_terizando-seainda - e o que Ea impicitamentecitica- por "esconder oreal" (cf. Corrrrr Btccn,lire e Rolismeet le Noturcisme,ed cit, p 135).

    (*t)G. os MeupassnNr, "Leroman",prefcioa piene et Jem, parrs,Fammarion,1926, pp. 14-15

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    INTRODUAO AOSESTUDOS L1TERAROS

    Reaismocultiva,demonstrao insofismvel dadificuldadeque oescritorexperimertaquando se prope olhar (e descrever) arealidade de forma efectivamenteobiectiva.A seectividadequeideologicamentese lhe irnpereflecte-se antesde mais na escolhade certos temas dominantese dos universos queos abarcan. Avidafamiliarcorn os seus episdios domsticose as suas cenas ntimas,a vidasociacorn os seus rituaise os seus actos pblicos,a dacultura comas suas convenes e as suas modas so aguns dessesuniversos;nees conflueme explanan-se temascorno a educao,o adultrio,a arnbio, a corupo,a usua, o arriyismo,oculto das aparncias ou a degradao do sentimentoarnoroso.

    De novo Ea de Queirs testemunha de formamuitoexpressiva a relevncia deque se revestia a escolha dos temas paa oescritolrealista. Quando, em 3 de Novernbrode 1877, propeaoseu editoro projectode um conjunto de volumes, provisoriamentedesignado como "Cenas da Vida Real"(projecto depoisnoconcretizado),Ea aruncia"urna espcie de galeriade Portuga noscuo XIX"e explicita,corn os ttulosdos romances, os tem;rs queees deveriam ilustrar;assim, "agunspintaro costumes gerais danossa sociedade: O Prdion' 16, ser o jogo; Lindougusto,aprostituio;O Bachcrel Sormento,a educao e as escolas, etc. Outros,sero o estudo de agurna paixo ou dama excepciona:assimA Genovwo o incesto; Sror Morgorido,a monomania reigiosa;teremos ainda O MilogredoVole do Reriz,para mostrar o fanatismodasaldeias; O BomSoomo dar-nos- a agiotagem, etc." (n8)

    (n8) Carta citada por Jos Mariad'Ea de Queirs,na inrroduo("Os Itimosinditos de Ea de Queirs")ao romance A Copitol,9.' ed , Porto,Lello &Irmo Editore s, 197 l, pp. I 4- I 5 . Numa car[a corn a mesa data, masendereada a Rarnalro Ortigo,Ea sublinha aimportnciada observao dareaidade vivae palpvel, queaprecia como concretizao superior do projectorealista: referindo-seaos volumesd'ls Forpos (que foram para o rornancistauma espcie de instncia experimentalda co reaista) Ea decara que as queRamaho assina "sero sempre o veldadeiroromacereaista";e interroga,apropsito de urna figura leveadanum dos textos do amigo: "De que valemtodas as minras invenes aop

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    ]ONHECMENTODA LTERATURA

    As exigncias de uma representao realista,incidindosobretemas como os referidos,favoreceram a adopo de certasestratgias literriase estabeleceram urn leque de posslbilidadesqese pode dizer ser at relativamentefechado.No que a gnerositerriosdiz respeito, o rom;rce consabidamente o grandegnero iterriodo Reaismo, ta como, de forma tambmexpressivamas ainda assim menos destacada, acontece com oconto (nt). A condio modado romance e do conto propiciaaactivaode signos e movimentosnarrativos exactamenteajustados aos princpios doutrinrios es preferncias temticasdo Realismo:a descrio constituium crucialprocesso de repre-sentao do espao e das personagens; o primeiroilustra,nassuas diversas metamorfoses (espao fisico,espao social, espaocultural,mais remotamente espao psicolgico),r- mundo emcrise que o Realismotrata justamente de criticar.

    Exemplificando:os espaos interiores da casa Grandet ou dapenso Vauquer, respectivamenteem Eugnie Grandet e em Le pre

    Goriotde Balzac, o mundoprovincianoda cidade de Saumur ou avida de Paris (tambmnaqueles dois romances), o quotidianocericale aristocrticoda Espanha da Restaurao, ta cornoaparece descritoern Lc Regento de Clarn, decorremde um minu-dente trabalho de descrio,ern que o conhecimento directoqueo escritor possui doslugares descritos intervmde forma insis-tente. Poroutro lado, as personagens conguradasno romarce eno conto realistas assumem, de novo sobretudo graas spotenciaidades da descrio, a feio de figurascom carcterprprio:a criada Flicit(do conto "lJnceur simple"deFlaubert), o Vautrin de Le Pre Goriot,o CalistoEIida Quedc dum,4njode Camioou o poeta Alencard'Os Moias de Ea aparecer, nacena da fico,dotados de contornos fisicos,sociais e morais

    (oe) A reao entre a maturaoliterria doromance e a activao deprocessos de representao realistafoiestudada numa obraconhecida deI. W.qrr, The Rise of the Nove.Studis in Defoe, Richordson andFieding,London,Chatto and Wndus, 1952(o primeirocaptulodesta obra foi inserido novolumeorgarizado por T Tooonov, litercturoe reolia.e. Que o Reosmo?,Lisboa, Pub.DomQuixote, 984, pp.13-50).

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    INTRODUAOAOS ESTUDOSIITERARIOS

    precisos e muitosugestivos,a ponto de, por vezes, tais persona-gens poderem at ser identificadascom pessoas reais (to).

    A capacidade representativada personagem reaistaespecia-liza-sena constituiode tipos sociais. O tipo social, tal como oRealismoo cultivou.dene-se como urna sntese de caracte-rsticas, articulandoo coectivocom o individual(s') : cer[asdominantes profissionais,econmicas ouculturais,que se encon-ram ern muitos membros de uma profisso,de urna classe ou deuma mentalidade,fixam-senuma personagem que ganha adimenso de figuraemblemtica.Acontece assim com tiposcomoo avaro CharlesGrandet, corno formalconselheiroAccio, corno"brasileiro"Joaquim Soares (d'O BrosieiroSocres de Lus deMagalhes) , etc., personagens redutveis a essa propriedade oucondio que tipificam:a avareza, o formalismo,o emigranteregressado, etc.(tt)

    1s0) Conformeateriormente notmos,aconteceu assim justamente com

    a pesonagem Aencar:reuato satrico do poeta utra-romntico,Alencarfoidentificadocom a personaidade de Bulho Pato,em quem eram visveisaguns dos tiques que Ea atribuiu sua personagem (cf.supro, cap VI, nota 9)Algo desemelhante (masem mais arga escaa) passou se com i,o Regento deClarn, romanceem que a sociedade de Oviedo da segunda metade do scuoXIXse reviu com nitidez- o que chegou a provocar uma iradacarta pastorado bispo da diocese.

    (tt) Como escreveu Lukcs (que problemtica dostipos consagroudiversos estudos),"e type, selon le caractre et a situation,est une synthseoriginalerunissant organiquement 'universelet le particuier Letype nedevient pas un tlpe grce son caractre moyen, mais son seul caractrelndividue- quee qu'en soit la profondeur- n'y suftpas non plus; il ledevient au contraireparce qu'en lui convergent et se rencontrent touslesments dterminants,humainementet sociaement essentiels, d'une priodehistorique [.. ]" (Bczccet le rcisme fronais,Paris, F. Maspero, 1973,p.9)A variedade de tipos ue, ao longoda Histriada iteratura(e, por conseguinte,no s durante o Realismo e o Naturalismo), tmsido eaborados encontra-serepresentada na obra deC Azrze,C. Orrvrru eR. Scrzucx, DictionnoiredestyVes etdes corcctres littroires,Paris, F. Narhan, 1978.

    (s'z) A representatividadesocial dos tipos (e designadamente dosbalzaquianos)foianalisada por J,tv O. Frscsrn, "Epoque romcntique" et rolisme.Probmes mthodoogiques, Praha, UniverztaKarova,1977, pp. 132 ss.

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    O que fica expostoperrnitecompreender algumas das razesque expicamo afastamento dos escritoresrealistas reativamentea gneros dramticos(e, como bvio,tambm relativamentesua activao em espectculo teatral) e, de forma ainda maissignificatlva,em relao a gneros lricos.No que aos prirneirosdiz respeito, parece dificicompatibilizarum projectoderepresentao social (que o que o romarcenormalmente con-templa de forma minuciosa)corn as lirnitaesfisicas de urn pacoe corn as constries temporais que em princpiobalizam umaaco dramtica(s3). No caso da lrica,as incompatibiidadessomais flagrantes:a tendncia para a interiorizao, apropensosubjectivae a concentrao expressivaprprias dostextos lri-cos (s') praticamente inviabilizamprticas discursivas que, de umponto de vista realista,se orientam para a reaidadeexterior, emfuno de uma atitude eminentemente analtica. E mesmo quandoo poeta se fixaem elementos humanos e sociais que convidamacontaminaes narrativas,o esforo de representao realista pa-rece contrariado pelas dominantes modais e tcnico-estilsticasdapoesia rica.No contexto da poesia portuguesa do sculo XIX(esintomaticamente j em tempo de eroso do Realismoliterrio),Cesrio Verde surge como um caso muitoelucidativodas dificu-dades mencionadas. Na poesia de Cesrio, mesmo qualdo osujeito poticomanifestamente debrua a sua ateno sobre oespao que o rodeia - por exemplo,no longopoema "Ns"ou na

    (") Ar tentativas de adaptao de romances reaistas ao teatro fiequen-lemente confirmamo que afirmamos.Por exemplo: quandoJos BrunoCarreiro procedeu adaptao teatra d'Os Moios,viu-se foradoa prescild

    de muitosepisdiose personagens que excediamas fronteirasdo espaoteatra; de formaailda majs sintomtica,o prprioEa viu frustrada umatentativaa que procedeu para levara cabo ee prprio a adaptao do romance.Sobre esta questo paticular,cf. o nosso estudo "Ea de Queirs: procura doteatro perdido";posfcioa J. BRUNoCearcrno,Os Moios.doptoooteotrodooriginoe Ea d,e Queirs,Lisboa,Imprensa Naciona-Casa da Moeda, 1984,pp.203-240

    ('*)Cf.supro, pp. 314 ss..

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    TNTRoDUoAos EsruDos rrrrnaros

    srie "O Sentimento dum Ocidental"-, um tal impulsov-selimitadopor uma espcie de disfirlomodal: que um discursointrinsecamente lricoparece insusceptvelde cumprirumprojectode anIise que se desloca, afinal, de uma representaorealista para uma representao impressionistae mesmo,nalguns momentos, de recorte expressionista.Vae a pena evocaras palawas

    do poeta, que exactamente formulamaincapacidade

    de apreender um rea de contornos difusos e fugidios:

    E eu que medito umlivroque exacerbe,Quisera que o real e a anlise mo dessem;Casas de confeces e modas resplandecem;Peas vitrinesolha um ratoneiro imberbe.

    Longas descidas No poderpintarCom versos magistrais,saubres e sinceros,A esguia difuso dos vossos reverberos,E a vossa palidezromntica e lunar (ss)

    4.4. O que neste aspecto fica observadopode estender-se aoNaturalisrno,acrescentando-se obviamente as particularizaesque a doutrinaliterrianaturalista requer.O rornanceconsti[uino s o fundamentalgnero literrioa que a representaonaturalista recorre, mas at, de certo modo,o nicognero quea tal se adequa de forrnacoerente: afirmam-noos irmosGoncourt, quandodeclaram que o romance "comea a ser agrande formasria, apaixonada, vivado estudo literrioe dolnquritosocial";por sua vez ZoIa escreve que o Naturalismo"parece ter adoptado o romance para demonstrar o poder do

    (ss) O Livro eCesno Vere, 6.^ ed., Lisboa, LiwosFlorizonte,1992,p. 153. Note-se queo que ficadj.to sobrea impossibilidadeda representaorealista em Cesrio no obedece aqui a um propsito crticode sina negativo.Pelo contrrio:o taento de Cesrio condu-lo precisamente superao deprocedimentos artsticos (de natureza reaista)que tendiam exausto; sobreeste essrnto veia-seo ensaio de J C. SEABRAPERIIRA,"Cesrio Verde, umRealismo insatisfeto".in Reyisto do Universidode e Aveiro/Letros.n" 4-5. 1987--1988, pp.245-284.

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    CONHECIMENTODALITERATURA

    mtodo, o brilho doverdadeiro,a novidadeinesgotvedosdocumentos humanos" t6).

    Trata-se, ento, atravs do romance, de configurarurn mun_do muitoamploe profundo,povoado por personagens que seconexionarnentre si, pela aco de aos famiiares,sociais, profis_sonals, etc.; ao mesrno tempo, o romance naturalista,por forade imposies ideolgicas que a seguir referiremos, privilegiauma elaborao temporade ndole retrospectiva:procura_se,desse modo, expicaras causas remotas de certos fenmenos ecomportamentos,atravs de movimentos evocativosque, recor_rendo a analepses de grande alcance, mergulham no passado daspersonagens; uma tal vocao explicativaapoia-se, para mais, emperspectivaesmuitasvezes omniscientes.os narradores insti-tudos no romancenaturalistaadoptam, ento, o ponto de vista docientista,com todas as consequncias metodolgicas que dadecorrem, designadamenre a possibilidadede demonstraremteses('7). O que tem que ver tambm com o intuito,frequentesvezes manifestado,de construiruniversosorgnicos e tensamente

    articulados,universos que transcendemat a dimenso do_ (s6) Respecrivamenre: prefciode Germinielccerteux,opud CorrrrrBECKTR,lire e Roisme et le Noturoisme,ed. cit., p. I 36; ',. Zort,,';Lenaruralisme au

    thtre", in le romon exp,imentol,paris, Garnier-Fammarion,1971, p. 145;noutro passo deste texto, zola escreve: "o romance [...]nvadiu e desapossouos outros gneros. Ta como a cincia,ee dono do mundo.Ee aborda todosos assuntos, escreve a Histria,trata de fisiologiae de psicoogia,sobe at poesia mais ata, estuda as questes mais diversas, a potica,a economia socia,a religio,os costumes. O seu domnio a natureza inteia"(p. f 50). O vrgordo romance envovetambm uma dimenso sociocutural:trata-se de umgnero que, exactamente na poca do Naturalismo,atinge a difuso massificadaatestada peos 50 mil exemplares de Nono (do mesmo ZoIa),na primetraedio. Em Portuga,estes nmeros tiveram, naturamente, uma dimensomuitomais reduzida; ainda assim, muitosignicativoque a primeiraedio(3 milexempares)d'o PrimoBoziliose tenha esgotado em apenas rrs meses.

    (s7) A anaogia com a cincia foiobservada por GilialBeer, num estudoem que anaisou a dinmica da aco em romances de George Eliote ThomasHardy(cf-"Potand the AnalogywithScience in Later Nineteenth-centuryNovehsts",in E. SHAFFER (ed.), ComporotiveCriticism,Cambridge, CambridgeUniv. Press, 1980, pp. 13t-149).

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    INTRoDUoAos ESTUDos rrrrnrlos

    romance e atingem a do ciclo romaesco:por exemplo, LesRougon-Mocqurt(como subttuloHistoirenotureeet socie d'unefcmilesous le second empire) de Zola, pctoogicsocial de AbelBorelho,cenos do vidccontempornea de JioLourenopinro,comdio burguescde Teixeirade Queirs,etc.

    De novo se compreende que a poesia lrica- por naturezacolocada nos antpodas dos propsitoscientficose de expanaosocial que ficarammencionados- seja inconcilivelcom o progra-ma naturaista; e mais uma vez se entendem tambm as dificu-dades de composioe de representao sentidas pelo escritornaturalistaque tenta inscreverno teatro as preocupaesdoutrinriasdo Naturalismo.Zora procurou desbravar essasdificuldades,num rexto j aqui citado, rextopublicado em 1g79e precisamente consagrado apologia de u'n teato naturalista,no sentido estrito da expresso; nesse texto, Zolacomenta aproduo dramtica de autores do seu rempo (victoriensardou,AexandreDumas Filho,mieAugier)e reala nea o quetentativamentevai apontando para uma adequao do teatro aoprojectonaturalista, ento j consumado no romance: sintomati-camente, o teatro naturalista,enquanto realizaoplena, surge aZolacomo uma possibiiidade futura,mais do que como umarealidade efectiva, reconhecidas, como so, as dificudadesdeconcretizao cnica de uma dinmicade representao natu-raista (tt).Entre ns, JioLoureno pinto,aceitando a lio deZola e fazendo a apologia de encenaes e de declamaes que"procuramguardar quanto possvelexacta fidelidadeaos modelosda realidade", no deixa de observar que "a rmuanaturalista,no rlgorcom que se ajusta ao romance, tern de sofrer as modifi_caes que so impostas pela natureza especial do teatro. Assimsucede que o descritivoindispensvel no romance Dara fixaras

    (tt) Cf.. Zort, "Le naruraisme au thtre,,, loc. cit.,especialmentepp. 162 ss e 168 ss. muitosignificativoo factode terem sido normalmenrevotadas ao fracasso tanto as criaes propriarnentedramticas d.os escrtoresnaturalistas (e particuarmentedos que integravamo chamado "grupodeMdan"),como as tentativas de adaptao dos seus romances ao teao.

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    O CONI{ECIMENTODAUTERATURA

    condies de meio, para determinaras influnciasde qualquerordem que actuam nos personagens, no tem cabimentonoteatro"; e acrescenta: "Odescritivo supre-se pelo cenrio, peovesturio, pela caracterizao, e nestes meios,por mais que seprocure cingi-los verdade natural,h-de existirsempre mais oumenos um fundo inaienvelde fico"(st).

    Aquiloa que Loureno Pinto chama"rmua

    naturaista"remete directamente para um conjunto de directrizesideolgicasque preenchem, por assim dizer, o "ncleo duro"do Naturalismo.

    Esse "ncleo duro" dene-se, em primeira instncia, a partirde concordnciasgenricas com o Reaismo,depois aprofundadasno plano ideolgico;por ortraspaavras: o Naturalismoacrescenta ao Realismo certas exignciasde ordem ideolgica,epistemolgicae metodolgicaque lhe transmitema pecuia-ridade periodogicaque importaaqui reter. O que explicatambm a dificuldade (se que no impossibilidade)que nalgunscasos se sente de separar o que num escritor ou numa obra reaista do que naturaista.

    Assim,a base realista do Naturalismo verifica-senaorientao anti-romnticae anti-idealistaque o movimentonatu-ralista cultiva;no seu propsitocrticoe reformista; na preocu-pao em adoptar, em relao ao real observado,uma atitudedesapaixonada e mesmo objectiva.No por acaso, Zola sublinhouvrias vezes a importnciadaquioa que chamou "o carcterimpessoaldo mtodo".E em [ermos mais explcitos:"Se se quiserter a minhaopinio bem clara, direique hoje em dia se d umapreponderncia exagerada forma.[.. ] N"fundo,considero queo mtodo atinge a prpria forma,que urna linguagemno senourna lgica,uma corstruonatural e cientficat...1 O grandeestilo feitode lgicae de careza" (uo).

    (tt)J. LounrNoPINro,Estticd naturoista, apud M.Aparrcne RBErRo,Histrio Crticodo LiteroturoPortugueso: Reoismoe Noturalismo,Lisboa,Verbo,1994, pp.374-375.

    (;1 cf. . zort', "Leroman exprimenta",il le romon exprimentol,ed'cit., pp. 89 e 92-93).Ea de Queirs representou n'Os Maios os excessos dearmaes como estas: Carlos da Maia, numa clara auso a r4ssommoir,

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    r'JTRoDUoAos ESTUDoSrrrrnaros

    A partirdaqui, o Naturalismo refinaas bases ideolgicasqueo sustentam: coocando-sesob a gide do positivisrno,o Natura-lismocolhe deleo princpioda valorizao dosfactos observadose a crena no desenvolvimentode leis naturais que explicamodevir das sociedades e as transformaesa que os homens estosujeitos;essencialmente materiaista,anti-metafisicoe experimen-talista,o Naturalismoafirma-se tambm confiante na Cincia.nassuas conquistas e nas suas certezas. Para Zo\a, personalidade quemarcou decisivamenteo movimento nos como romancista,mas tambm como doutrinador(u'), obras como o Troitdel'hr-dit naturele do Dr. Lucas ou a Introduction 'tude e lo mdecineexprimentolede Claude Bernard constituemreferncias insubsti-tuveis: esta segunda que o autor de Thrse Roquin mencionaexpressamente na abertura do texto "Leroman exprimental",declarando ento quese imitara fazer a adaptao sua doutrinaIiterriadas bases metodolgicas da fisiologiaexperirnental."Oromancista", diz Zola, " feitode um observador e de umexperimentador";e acrescenta: "NeIe,o observador facultaosdados tal como os observou, fixao ponto de partida, estabelece oterreno sidosobre o qual vo movimentar-seas personagens e

    denulciaas presunes cientcasque levavam "irivocaode ClaudeBernard, do experimentalismo,do positismo, de Stuart Mile de Darwin,apropsitode uma lavadeiraque dorme com urn carpinteiro";a isto respondeJoo da Ega: "Aforma purada arte natura.listadevia ser a monografia, oestudoseco de um tipo,de um vcio,de urna paixo, tal quacomo se se tratasse deum caso pacolgico,sem pitoresco e sern estilo..."(Os Moios, Lisboa, LiwosdoBrasi, s/d., p. l6+). Diferentementede Zoa (e desteloo da Ega), drnonddeGoncourt defendia uma"escritade artista" quecontemPava o refinamento e apessoalidade estistica

    (ut)Zda reuniu emvrios volumes ostextos (iniciamenteaparecidosem jornais e revistas) da sua febriactividadede doutrinador,crticoepoemista: Le romonexprmentd (1880), le Noturolismeou thtre (1881), lesromcnciers noturoistes(1881),etc. A formao do Naruraismode Zola,no quetoca s suas relaes com o Reaismo de matriz balzaquialae com a obra decien[istas e pensadores do seu tempo (AComte, Darwin,Claude Bernard,etc.),foianalisada por Ar-errs oE Larrnr,Le rolismeseon Zola. hchologied'une inteligence,Paris, P.U.F., 1975.

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    O CONHECIMENTODALITERATURA

    desenvolver-se os fenmenos.Depois,o experimentador aparece einstituia experincia,quero dtzet, faz rnover as personagens numahistriap"iri.rrl"r,para mostrar que a sucesso dos factos.or."rponder exignciado determinismodos fenmenossubmetidos a estudo" (u').

    o deterrninismoconstituj.uma outla lefernca importante

    Dara o Naturalismo.Fundadono pensamento de Tinee no

    estabelecirnentode factoresde determinao - a raa' o rneio e omomento histrico(u.)- de onde decorrem os comportamentoshumanos, o determinismoconduz o naturalista valorizao decondicionamentoscomo a hereditariedade ou a influnciadosambientes e da educao: assim, a homossexualidade do barodeLavos(noromancehomnimodeAbelBotelho)explica_seporviahereditria, o adultrlo de Luiza(n'OPrimoBczilio)provmemgrande parte d,a educao e das leituras que povoamo imaginrioda personagem, e em fr4ssommoiro alcooismoorigina-senanefasta aco exercida por meios social e culturamentedegra-d,ados. Por esta via fundamentalmente causalista,o Naturaismodeterministagera um fata-Lismoque , desde logo'o que se reveaquando ZoIa anuncia, no prefcio da segunda edlo de ThrseItaquin, "EscolhiPersonagens soberanamente dom'nadas pelos,",.t,I.rrro,e pelo seu sangue' desprovidas de livrearbtrio'arras-tadas a cada acto d.a sua .r.d"p.a, fataidadesda sua carne" (6o).

    () '.. zott', "Le roman exprimental",in le romon exp&imental'ed' cit 'pp. 63_64; tambm Ea, no texio.,Idealisrrroe Realismo"(v infra"Textosrrtri.rrior")fez a veemente apologia da observao e do exempocientcod,e Claude Bernard. A emulao centcaperseguida pelo Naturalismotraduziu-seem comportamentoscomo os dos irmos Goncourt que' paraescreverem o seu rorraceSceur Philomne, frequentaramregularmenteumhospita, tal como ZoIaprocurouconhecer de perto a vida dos mineiros'quando escreveu Germinol.

    (tt) Cf.H. T,qrNn,Histoirede lo littrature ongloise,9'ed'' Paris' Hachette'1895, pp. XXIIIss.

    i1 t Zouo',ThseRoquin,Paris, Garnier-Flammarion'1970' pp 59-60'Sintomaticamente, Zoaadoptara, como ema da primeira edio do seuromance, uma frase de Taine: "O vcioe a virtudeso produtos como o acare o vitrolo".

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    NTRODUCOAOS ESTUDOSTTTTNNTOS

    Orientaes ideolgicas como as descritas aiudam acompreender a eleio de certos temas dominantes por partedaqueles escritores que, entre meados dos anos 60 (GerminieLocerteux dos irmos Goncourtapareceu em 1865; hrse RoquindeZola em 1867)e o nal dosculo, mais ortodoxarrreteacolhe-ram, praticarame difundirama lio do Naturalismo:dmond eJules e Goncourt, miteZola, diversas vezes citado i, Alphonse

    Daudet,Paul Alxis,Grryde Maupassant, HenriCard, LonHennique, J.-K.Huysmans(6t),ern Frana; urn certo Ea (espe-cialmenteo d'O Primo Bozilioe o d'O Crimedo Padre lmaro),AbelBotelho,JlioLoureno Pinto, Teixeirade Queirs,FialhodeAlmeida(de formaalgo irregular)e Carlos MalheiroDias, emPortugal; Clarn, EmiliaPardo Bazn e BenitoPrez Galds, ernEspanha; AlosioAzevedo,no Brasil,etc', etc.

    O que nos seus textos encontramos so personagens muitasvezes degradadas, fisicae moralmente(GerminieLacerteux,Gervaise Copeau, Nana, Juliana, Prspero Fortuna,o baro deLavos,etc.), movimentando-se em cenrios urbanos no raro

    sobrepovoados, promscuos e poludos.Inscrevem-se nessescenrios temas conexionados com situaes e temperamentosperturbados por afeces de ndoe psico-patolgica:oalcoolismo,a neYTose, a hornossexualidade, a histeria, o adul-trio. o roubo, o fanatismo religioso,a prostituio,a h:xria,a corrupo, a arnbio desmedida, etc., etc'

    Entetando,do tratamento destes temas Yai-se deduzindocada vez mais um certo cornprazimertodo naturaistana exibiod.e chagas que chegam a repugnar pelo excesso descritivoque as

    cit, pp. 98-176'

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    O CONHTCiMENTODALITERATURA

    ilustra;um passo da caracterizaodo baro de Lavos revela deforma eloquente esse excesso:

    Asuafirrssimapele'queoratoalva,anugentaemacia'perderatoda a rnimosa frescura da a

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    O CONI]ECMENTO DA LTERATURA

    tambm movimentosartsticos quetendem a superar o Reaismoe o Naturalismo,embora, nalguns casos, confinandocom eles: oImpressionisrno,o Parnasianismo, o Decadentismoe o Sirnbo-lismo.O que comum a alguns desses movimentos- porexemplo:ao Parnasianismoe ao Simboismo- uma concepoanti-burguesa daliteratura, no isenta de reminiscnciasromn-ticas, concepo que remete tambm para a tendncia radical-mente esteticista da criao literria."Desvalorizar-se-,ento,consequentemente,a ob;ectividade,a natureza, a vida espontnea,em favorda arte", afirmaCarlos Bousofrocomentandoesseesteticismo finissecular-"E comoa vidae a natureza no inte-ressam, mas sim a arte, esta tem valore aquelas valem relati-varente menos. Ora se a arte se encontra acima da natureza e daespontaneidade vital,ela no tem porque estar ao serviodestasltimas realidadesem nenhum sentido: nernno sentido de urnaobrigao mimticacom respeito a ela (arte como imitaodanatureza), remno sentido de ter constries morais (arte moralou, pelo menos, no imoral)ou constries intelectuais(artecomo verdade), pois tudo isso so apenas formas docompromissovitalista"(68).

    5. Modernismoe Futurismo

    5.1. A definio e caracterizao periodolgica do Moder-nisrnoapresenta dificudadess comparveiss que encontrmos

    (68) C. BousoNo,pocos literariosy evolucin. Edod Medio,Romonticismo,pocoContemportneo,Madrid, EditorialGredos, i 981, como II,pp. 48l-488.A reaode proximidadeentre o Naturalismoe o Decadentismopassa pela chamada(e i aqui mencionada)"escrita de artista":"Tudo se passa cono se a almadecadente, impotente para inventar um estilo indito,tivesse adaptado asalomaiasmais marcadas da escrita de artista, desviando-as da sua finaidadeinicia,que era anaisar sempre mais exactemente a sensao, para sobre easfazer as receitas de uma ilguagemde iniciados,uma espcie de cdigo em quese revem os estetas desencaltados e dietantes"(H Mrrrlnaxo,le regard et lesrgne, Paris, P U F., 1987, pp. 283-28a)

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