Carlos Ernani Rosado Soares - "Amaury" – Recife - 06-05-2013

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AMAURY por Carlos Ernani Rosado Soares Recife 06-05-2013 Ainda não me acostumei com a ideia de que Amaury partiu par a “grande viagem”. 60 anos de convivência nos asseguravam uma tal empatia que a ideia me ficava de que ele se faria presente a qualquer momento, claro que, na maioria das vezes, por telefone. Amaury encarnava a liderança nata que seguíamos com “trombadas”ocasionais dos que discordavam de algumas de suas providências, mas sempre reconhecendo que eram lastreadas em pesquisas sérias e raciocínios acurados. Um diplomata, eu não diria, embora a mim pessoalmente assim me parecesse, mas sua obstinação em perseguir objetivos que julgava corretos, levavam-lhe, por vezes, a enfrentar oposições. Mas tudo era superado no final, com um “cachimbo da paz” entre os presentes. Era, por formação profissional e temperamento, um planejador nato. Meticuloso, cuidadoso, detalhista, pensava até na inclusão do Alka-Seltzer nos kits da nossa reunião dos dez anos de formatura. Sua característica principal: a organização. Na turma, desde o primeiro ano foi se impondo com a liderança consentida, amplamente aceita pelo grupo. Organizou desde o 1 o . Ano médico um pic-nic em Itamaracá, e daí para frente não parou mais. Todos os encontros Recife, Caruarú, Campina Grande, João Pessoa, Natal, Summerville, Porto de Galinhas, reconheciam seus estudos e análises. Ele se realizava com tal. Sucessos foram as reuniões maiores dos 10,20,30,40 e 50 anos. Ele sempre farejava o que seria o melhor local, e daí para os arranjos. Evidentemente que nem todos concordavam, mas acabavam tendo que aceitar. Davam-se conta, inclusive ele próprio, de suas intermináveis discussões com os “advers|rios) costumeiros, cada parte se queixando da intransigência e/ou intolerância do lado oposto! Por vezes, abandonavam as reuniões, jurando que não mais voltariam, mas sempre voltavam ao aprisco... Certa vez, ele jogou a toalha e me mandou um grande volume de material para que eu providenciasse aqui a impressão do Jornal comemorativo dos 50 anos, e outros babados, porque não tinha mais condições de lidar com o “cabeçudos”, como ele chamava, mas tudo dentro do melhor espírito de fraternidade. Entre mortos e feridos escapavam todos... Acredito que sua primeira Bolsa de Estudos em Santurecer-Porto Rico tenha ajudado a despertar sua paixão pela história e cultura pré-colombiana, assunto de sua paixão, da qual dispunha um alentado acervo, e a respeito da qual fez inúmeras, palestras, mantendo em sua casa razoável quantidade de livros e obras de arte. Esportista, era goleiro sem grandes méritos, com o devido respeito à sua lembrança. Gostava muito de se dirigir {s pessoas como “colega fulano”, colega Artur, Colega Marcelo. Técnico dos mais conceituados, ocupou postos de relevância, inclusive a Secretaria de Saúde do Recife, e prestou consultoria em várias unidades da Federação, como aqui no Rio Grande do Norte. Tive conhecimento do seu acidente, e fiquei tomando as informações por telefone, sempre na esperança de que superasse o problema, pois Amaury me dava a ideia de ser indestrutível

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AMAURY – por Carlos Ernani Rosado Soares – Recife 06-05-2013 Ainda não me acostumei com a ideia de que Amaury partiu par a “grande viagem”. 60 anos de convivência nos asseguravam uma tal empatia que a ideia me ficava de que ele se faria presente a qualquer momento, claro que, na maioria das vezes, por telefone. Amaury encarnava a liderança nata que seguíamos com “trombadas”ocasionais dos que discordavam de algumas de suas providências, mas sempre reconhecendo que eram lastreadas em pesquisas sérias e raciocínios acurados. Um diplomata, eu não diria, embora a mim pessoalmente assim me parecesse, mas sua obstinação em perseguir objetivos que julgava corretos, levavam-lhe, por vezes, a enfrentar oposições. Mas tudo era superado no final, com um “cachimbo da paz” entre os presentes. Era, por formação profissional e temperamento, um planejador nato. Meticuloso, cuidadoso, detalhista, pensava até na inclusão do Alka-Seltzer nos kits da nossa reunião dos dez anos de formatura. Sua característica principal: a organização. Na turma, desde o primeiro ano foi se impondo com a liderança consentida, amplamente aceita pelo grupo. Organizou desde o 1o. Ano médico um pic-nic em Itamaracá, e daí para frente não parou mais. Todos os encontros – Recife, Caruarú, Campina Grande, João Pessoa, Natal, Summerville, Porto de Galinhas, reconheciam seus estudos e análises. Ele se realizava com tal. Sucessos foram as reuniões maiores dos 10,20,30,40 e 50 anos. Ele sempre farejava o que seria o melhor local, e daí para os arranjos. Evidentemente que nem todos concordavam, mas acabavam tendo que aceitar. Davam-se conta, inclusive ele próprio, de suas intermináveis discussões com os “advers|rios) costumeiros, cada parte se queixando da intransigência e/ou intolerância do lado oposto! Por vezes, abandonavam as reuniões, jurando que não mais voltariam, mas sempre voltavam ao aprisco... Certa vez, ele jogou a toalha e me mandou um grande volume de material para que eu providenciasse aqui a impressão do Jornal comemorativo dos 50 anos, e outros babados, porque não tinha mais condições de lidar com o “cabeçudos”, como ele chamava, mas tudo dentro do melhor espírito de fraternidade. Entre mortos e feridos escapavam todos... Acredito que sua primeira Bolsa de Estudos em Santurecer-Porto Rico tenha ajudado a despertar sua paixão pela história e cultura pré-colombiana, assunto de sua paixão, da qual dispunha um alentado acervo, e a respeito da qual fez inúmeras, palestras, mantendo em sua casa razoável quantidade de livros e obras de arte. Esportista, era goleiro sem grandes méritos, com o devido respeito à sua lembrança. Gostava muito de se dirigir {s pessoas como “colega fulano”, colega Artur, Colega Marcelo. Técnico dos mais conceituados, ocupou postos de relevância, inclusive a Secretaria de Saúde do Recife, e prestou consultoria em várias unidades da Federação, como aqui no Rio Grande do Norte. Tive conhecimento do seu acidente, e fiquei tomando as informações por telefone, sempre na esperança de que superasse o problema, pois Amaury me dava a ideia de ser indestrutível

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Coube a Helyane Capela Gomes – Mme. Marcelo – me comunicar a triste notícia, e triste estou desde que a recebi. Lembrei-me dos versos de Caymi em “A Jangada voltou só”, quando, na estrofe inicial ele diz que “a jangada saiu com Chico Ferreira e Bento e a jangada voltou só”, e após enaltecer feitos e proezas dos dois valentes jangadeiros, ele sentencia. Agora que não tem Chico Que graça é que pode ter Se Chico foi na jangada E a jangada voltou só Agora, sem Amaury, que graça é que pode ter? Sós estamos, Amaury- Sua família real e a enorme família da turma de 57 que você pastoreou durante 60 anos. Órfãos de sua encantadora presençaa, do seu cavalheirismo, de suas ideias e realizações. Tudo permanece. Fica o pensamento de Edmir Domingues: nós é que estamos mortos, dessa morte maior que é a espera da morte. Descanse em paz. Velho guerreiro! Natal, 06 de abril de 2013.