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Período Colonial Mato Grosso de História de Dicionário Nauk Maria de Jesus (org.)

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Período ColonialMato Grosso

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Nauk Maria de Jesus (org.)

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(nome fantasia da Editora TantaTinta Ltda.)Rua Nossa Senhora de Santana, 139 – sl. 03 – Goiabeira78.020-610 – Cuiabá-MT – (65) 3023-5714www.tantatinta.com.br/carliniecaniato

EditoresElaine CaniatoRamon Carlini

CapaElaine Caniato

Revisão TextualCássia Motta

© Nauk Maria de Jesus, 2011

Todos os direitos reservados.Proibida a reprodução de partes ou do todo desta obra sem autorização expressa da organizadora e dos autores (art. 184 do Código Penal e Lei 9.610, de 19 de fevereiro de 1998).

Todos os verbetes deste dicionário são de responsabilidade, respectivamente, de seus autores.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Dicionário de História de Mato Grosso : período colonial / Nauk Maria de Jesus, org. – Cuiabá, MT : Carlini & Caniato, 2011.

Bibligrafi a ISBN 978-85-8009-021-5

1. Mato Grosso – História – Período colonial I. Nauk Maria de Jesus.

11-01806 CDD-981.72021

Índices para catálogo sistemático:

1. Mato Grosso : Período colonial : História 981.72021

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Prospecto das canoas em que navegaram os empregados naViagem Filosófi ca pelos rios Cuiabá, São Lourenço, Paraguai e Jauru (1789-1792). Fonte: Museu Bocage. In: AMADO, Janaina e ANZAI, Leny Caselli. Anais de Vila Bela.Cuiabá: Carlini & Caniato; EdUFMT, 2006, p. 296.

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Sobre os autores

Danilo Monlevade (D.M.): Graduado em História pela Universidade Fe-deral de Mato Grosso. Especialista.

Divino Marcos de Sena (D.M.S.): Mestre em História pela Universidade Federal da Grande Dourados. Graduado em História pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (Campus Corumbá). Professor do Curso de Graduação em História da UFMS (Campus Corumbá).

Elmar Figueiredo Arruda (E.F.A.): Mestre em História pela PUC/SP. Pro-fessor substituto na Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT). Autor da obra Formação do Mercado Interno em Mato Grosso- século XVIII. Senado Federal, 1991.

Gilian Evaristo França da Silva (G.E.F.S.): Doutorando em História pela Universidade Federal do Paraná. Mestre em História pela Universidade Fe-deral de Mato Grosso. Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso (IFMT) em Cuiabá.

Hilário Noriyuki Teruya Júnior (H.N.T.J.): Graduado em História pela Universidade Federal de Mato Grosso. Historiador no Arquivo Público de Mato Grosso. Participou do projeto de organização dos manuscritos avul-sos do período colonial guardados no Arquivo Público de Mato Grosso.

Leilla Borges de Lacerda (L.B.L.): Mestre em História pela Universidade Fe-deral de Mato Grosso. Professora da Rede Estadual de Ensino. Autora de di-versas obras, dentre elas A Igreja de Nossa Senhora do Rosário e a Capela de São Benedito: Um diálogo entre a história e a Arquitetura. Cuiabá: Entrelinhas, 2008; Catedral do Senhor Bom Jesus de Cuiabá: um olhar sobre sua demolição. Cuiabá: KCM Editora, 2005; Patrimônio Cultural de Cuiabá. Preservação e História. Cuiabá: Aguapé, 2004; “O Senhor Bom Jesus de Cuiabá. Tradição Inventada, Igreja Edifi cada”. UNICIÊNCIAS (Revista da UNIC). Vol. 4, Cuia-bá: UNIC, 2000; “Edifi cação, transformações e demolição da Catedral do Se-nhor Bom Jesus do Cuiabá”. In: ROSA, Carlos Alberto e JESUS, Nauk Maria de (orgs.). A Terra da Conquista. História de Mato Grosso Colonial. Cuiabá: Editora Adriana, 2003; Patrimônio Histórico-Cultural de Mato Grosso: Bens edifi cados tombados pelo Estado e União. Cuiabá: Entrelinhas 2008.

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Leny Caselli Anzai (L.C.A.): Doutora em História pela Universidade de Brasília. Professora no Curso de Graduação e Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Mato Grosso. Autora de artigos e organizadora de livros como os Anais de Vila Bela da Santíssima Trindade. (1734-1789). Cuiabá: EdUFMT e Carlini & Caniato, 2006, com Janaina Amado, e His-tórias coloniais em áreas de fronteiras: índios, jesuítas e colonos. Ed. São Leopoldo - RS/Cuiabá-MT: EdUFMT; Unisinos; Oikos, 2008, com Maria Cristina Bohn.

Luis Claudio Pereira Symanski (L.C.P.S.): Doutor em Antropologia pela Universidade da Flórida. Mestre em História. Arqueólogo. Professor no Curso de Graduação e Mestrado em Antropologia da Universidade Fe-deral do Paraná. Estudioso da história da escravidão e da diáspora afri-cana, com ênfase nos engenhos de Chapada dos Guimarães. Autor de diversos artigos e capítulos de livros, dentre eles “Slave Communities and Pottery Variability in Western Brazil: The Plantations of Chapada dos Guimarães. International Journal of Historical Archaeology”, 2009, com Marcos André Souza, e “Arqueologia Histórica no Brasil: uma revisão dos últimos 20 anos.” In: Walter Fagundes Morales; Flavia Prado Moi. (Org.). Cenários Regionais em Arqueologia Brasileira. 1 ed. São Paulo: An-nablume, 2009.

Nauk Maria de Jesus (N.M.J.): Doutora em História pela Universida-de Federal Fluminense. Mestre em História pela Universidade Federal de Mato Grosso. Professora do Curso de Graduação e Pós-Graduação em História da Universidade Federal da Grande Dourados. Estudiosa do período colonial mato-grossense. Autora de artigos e livros, dentre eles, A Igreja de Nossa Senhora do Rosário e a Capela de São Benedito. Um diálogo entre a história e a Arquitetura. Cuiabá: Entrelinhas, 2008, com Leilla Borges de Lacerda, e o Governo local na fronteira oeste: a rivalidade entre Cuiabá e Vila Bela no século XVIII. Dourados: EdUFGD, 2011. Realizou consultoria ao Arquivo Público de Mato Grosso entre os anos de 2007 e 2008 no projeto de organização dos manuscritos avulsos do período colonial.

Paulo Roberto Cimó Queiroz (P.R.C.Q.): Doutor em História pela Uni-versidade de São Paulo. Professor do Curso de Graduação e Pós-Gradua-ção em História da Universidade Federal da Grande Dourados. Autor de artigos e livros, como Uma ferrovia entre dois mundos: a E. F. Noroeste do Brasil na 1ª metade do século XX. 1ª ed. Bauru: EDUSC, 2004 e As curvas do trem e os meandros do poder: o nascimento da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil (1904-1908). 1. ed. Campo Grande: UFMS, 1997. Responsável pelo Centro de Documentação Regional.

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Suelme Evangelista Fernandes (S.E.F.): Mestre em História pela Universi-dade Federal de Mato Grosso. Professor da Rede Estadual de Ensino, atu-almente atuando na Secretaria de Educação do Estado de Mato Grosso. Publicou artigos e capítulos, dentre eles “O Imaginário da Fronteira do Guaporé Lusitano no Século XVIII”. Série Ensaios Antropológicos, v. 006, p. 41-66, 2002. e Você fi nge que avalia e eu colo! Tirando as máscaras da avaliação. In: Secretaria de Estado de Educação. (Org.). Ensino e Currículo. Cuiabá: Carlini & Caniato, 2005.

Thereza Martha Borges Presotti (T.M.B.P.): Doutora em História pela Universidade de Brasília. Professora do Curso de Graduação em História da Universidade Federal de Mato Grosso. Estudiosa do período colonial, com ênfase na presença indígena em Mato Grosso. Autora de artigos e do livro Na Trilha das Águas: índios e natureza no centro da América do Sul (séc. XVIII). Cuiabá: Carlini & Caniato/EdUFMT, 2011.

Vanda da Silva (V.S.): Doutoranda em História pela Universidade Federal da Grande Dourados. Mestre em História pela Universidade Federal de Mato Grosso. Historiadora do Arquivo Público de Mato Grosso e profes-sora da rede estadual de ensino. Participou do projeto de organização dos manuscritos avulsos do período colonial guardados no Arquivo Público de Mato Grosso.

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Apresentação

A ideia de publicação do Dicionário de História de Mato Grosso – Período colonial surgiu por volta de 2005, mas somente a partir de 2008 ela tomou forma. Das palavras selecionadas tivemos, neste momento, como critério as pesquisas desenvolvidas até o presente, seja nas instituições de ensino e pesquisa de Mato Grosso ou fora delas. Muitas palavras que gostaríamos que fossem contempladas não foram consideradas, justamente pelo fato de não termos, ainda, estudos específi cos sobre elas no âmbito do período colonial mato-grossense. Neste ponto, com esta obra, esperamos atrair novos interessados na História de Mato Grosso, no período colonial, já que um conjunto de temas ainda está por ser investigado.

Ao nos referirmos a Mato Grosso colonial estamos considerando os anos de 1719 e 1822. Entre os anos de 1719 e 1722, veios aurífe-ros foram descobertos por paulistas na fronteira oeste da América portuguesa, dentre eles, em 1722, as margens do córrego da Prainha as minas do Cuiabá, transformada em arraial do Senhor Bom Jesus do Cuiabá. Em 1727, ele foi elevado à Vila Real do Senhor Bom Jesus do Cuiabá por Rodrigo César de Menezes, governador da Capitania de São Paulo, que ali esteve e deu início a implantação da administração metropolitana no local. Localizada em área de mineração aurífera e com a exploração de diamantes proibida pela Coroa portuguesa, durante todo o século XVIII, era vizinha dos domínios hispânicos e habitada por inúmeras sociedades indíge-nas. Até 1748, ano de criação da Capitania de Mato Grosso, a vila pertenceu à jurisdição da Capitania de São Paulo.

Com a criação da Capitania, Vila Bela da Santíssima Trindade foi fundada nas raias da fronteira, na região do Guaporé, e erguida

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para ser a capital da Capitania, o que provocou intensas discor-dâncias e rivalidade com os moradores da vila mais antiga que se sentiram preteridos pela Coroa portuguesa ao não terem sua localidade escolhida para ser cabeça de governo1.

A Capitania de Mato Grosso era constituída por uma vasta extensão territorial, uma diversidade de populações indígenas, tinha a mineração como atividade importante e estava localizada em área de fronteira litigiosa. No contexto imperial português, Mato Grosso era uma Capitania fronteira-mineira, constituída por apenas duas vilas e povoados esparsos. Somente no fi ndar do período colonial, em 1820, uma nova vila foi fundada, Vila de Diamantino. Portanto, é para esse espaço que os pesquisadores aqui envolvidos lançaram seus olhares - um ou outro avançando no período imperial, devido a amplitude de suas pesquisas -, procu-rando na medida do possível, articular aspectos de uma chamada história regional a um contexto mais amplo.

1 JESUS, Nauk Maria de. “Boatos e sugestões revoltosas: a rivalidade política entre Vila Real do Senhor Bom Jesus do Cuiabá e Vila Bela – Capitania de Mato Grosso (segunda metade do século XVIII)”. In: COSTA, Wilma Peres e OLIVEIRA, Cecília H. de Salles. De um império a outro. Formação do Brasil, séculos XVIII e XIX. São Paulo: Editora Hucitec/FAPESP2007.

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O Dicionário de História de Mato Grosso – Período colonial é destinado ao público em geral, aos pesquisadores, professores, estudantes dos ensinos superior, médio e fundamental. A obra, portanto, tem um caráter didático e esperamos que ela possa contribuir para o conhecimento de aspectos regionais, que, muitas vezes, não é de domínio público, demorando, inclusive, para alcan-çar o universo das salas de aula dos ensinos fundamental e médio. Sobre esse aspecto, por exemplo, trazemos informações sobre os índios, os africanos e os afro-descendentes que viveram na região nos séculos XVIII e parte do XIX, acatando as determinações das Leis que tornam obrigatórias a História Indígena e dos Africanos e Afro-descendentes na Educação Básica e Superior, respectiva-mente. Da mesma maneira, o livro aborda aspectos da sociedade, da política, da cultura e da economia mato-grossense.

Na esteira e com base nos dicionários históricos publicados no Brasil nos últimos anos2, este também está organizado em verbetes, em ordem alfabética, com temas diversos baseados em

2 Dentre eles: ROMEIRO, Adriana e BOTELHO, Ângela Vianna (Orgs.). Dicionário Histórico de Minas Gerais – período colonial. Belo Horizonte: Autêntica, 2004; VAINFAS, Ronaldo (org.). Dicionário do Brasil colonial (1500-1800). Rio de Janeiro: Objetiva, 2000.

Vila Real do Senhor Bom Jesus do Cuiabá, ca. 1790.Fonte: Prospecto da Vila Real do Senhor Bom Jesus do Cuiabá, ca. 1790. (original Museu de Bocage). In: REIS,

Nestor Goulart. Imagens de vilas e cidades do Brasil colonial. São Paulo: USP/Imprensa Ofi cial, 2001, p.278.

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pesquisas teóricas, bibliográfi cas e documentais. Ao fi nal de cada verbete foi indicada a referência bibliográfi ca, as fontes impressas e manuscritas. Colaboraram doze profi ssionais (especialistas, mes-tres e doutores) que atuam em instituições de ensino e pesquisa do Estado de Mato Grosso e fora dele. Meus agradecimentos a todos por terem abraçado o projeto de elaboração do Dicionário e que com dedicação e esmero apresentaram o maior número de informação possível nos verbetes que escreveram. Ao fi nal de cada verbete consta as iniciais do nome do autor responsável pela sua elaboração.

A Organizadora

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ABASTECIMENTO: Sempre foi uma preocupação dos habitantes das regiões mineiras o fornecimento dos gêneros “de boca” e pelo Brasil afora em todas as localidades onde a prática da mineração se desenvolveu, foi com grande difi culdade que os mantimentos de primeira necessidade tiveram certa regularidade no início das explorações auríferas. O abastecimento externo foi importante para as regiões mineiras no suprimento, primeiro de alimentos, depois ferramentas, artigos de casa, chegando até mão de obra qualifi cada. Nos primeiros tempos das minas cuiabanas, os mineiros nem bem chegavam a desembarcar e já se entregavam a busca do metal. Assim nos conta José Barbosa de Sá que “comprou Joaquim Pinto um jaú no porto geral por huma quarta de ouro fello em postas foy vendellas pelas lavras e fez meya libra de ouro...” Nos primeiros anos o abaste-cimento das minas de Cuiabá foi precário. No entanto, quando os mineiros chegavam ao local escolhido para a lavagem das terras, as datas minerais eram divididas e em seguida era montado um ar-raial e iniciada a plantação de roças para suprir os mantimentos de primeira necessidade. E assim foi feito, as roças se espalharam nas redondezas do arraial do Bom Jesus de Cuiabá (1722), sendo o mi-lho, feijão e mandioca os gêneros plantados ao longo do rio. A carne passou a fazer parte do cardápio com a chegada de pequenos lotes de gado, vindos pelo caminho das monções que partiam do interior paulista. Sobre os comerciantes que atuavam no roteiro monçoeiro, Silvana Godoy menciona o coronel João de Melo Rego, que remetia bestas para vender em Vila Real do Senhor Bom Jesus do Cuiabá:

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Parece que além de remediar sua necessidade prosperou com o negocio de animais. O gado também vinha do sul, pelos campos da Vacaria. Posteriormente, as tropas chegaram por via terrestre pelo caminho de Goiás-Cuiabá (1736). A partir deste caminho o provimento de gado vacum e cavalar fi cou corrente e já em meados do século XVIII é possível perceber estruturadas fazendas que viviam da criação de gado, por vezes conjuntamente com agricultura. As monções do sul levavam produtos secos e molhados, sendo que desde as primeiras expedições os produtos secos chegaram às minas com maior volume e diversidade. Dos molhados apenas aqueles que requeriam algum tipo de “indústria”, como a aguardente, no princípio, quando ainda não se tinha fabricação própria nas fazendas da região. Vale observar, no entanto, que em pouco tempo as roças pontilharam todo o percurso das monções, sendo plantadas na ida para serem colhidas na volta. Logo depois elas passavam a ter donos, fazendeiros que se dedicavam a esta atividade para abastecer os viajantes, tanto que o governador da Capitania de São Paulo Rodrigo Cezar de Menezes encontrou e pagou pelos gêneros básicos em vários pontos do percurso. Os gê-neros de “boca” mais encontrados na cozinha paulista e monçoeira eram a farinha (milho ou mandioca), o feijão e na parte das carnes o toucinho. Todos estes ingredientes encontramos cultivados em roças que margeavam o rio Cuiabá próximo à Vila Real do Senhor Bom Jesus do Cuiabá ou pouco distantes dos novos arraiais. Com relação à farinha há muita discussão sobre qual delas era a mais usada nas comidas, milho ou mandioca e quando se encontra as listas de gêne-ros alimentícios nos documentos quase sempre vem escrito somente a palavra farinha, de qualquer forma, segundo Sérgio Buarque, ela era fundamental para se fazer o “virado à paulista”, prato típico dos viajantes e que faz parte do cardápio semanal do paulista. (E.F.A.)

Referências bibliográfi cas e fontes documentais: ARRUDA, Elmar Figueiredo. Formação do Mercado Interno em Mato Grosso - século XVIII, Senado Federal, 1991; HOLANDA, Sérgio Buarque de. Mon-ções. São Paulo: Brasiliense, 1990; GODOY, Silvana Alves de, Itu e Araritaguaba nas rotas das monções (1718/1838). Dissertação de Mestrado em História, Unicamp, Campinas SP, 2002.

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ALFORRIA: Ou manumissão, consistia no processo de libertação voluntária dos escravos, concedida em uma ação judicial em que, de acordo com Schwartz “...os direitos de propriedade eram cedidos e na qual o ex-escravo assumia nova personalidade e responsabilidades jurídicas”. Era obtida mediante a emissão de um documento, a carta de alforria, registrada em cartório e endossada por duas testemunhas. Em seu estudo sobre a escravidão em Minas Gerais, Paiva observa que a alforria não era vista da mesma maneira pelo Estado e pro-prietários e pelos escravos. Para os primeiros, ela era um mecanismo inibidor dos confl itos propícios de ser gerado por esse sistema de exploração, enquanto que para os escravos era a alternativa legal de sair do cativeiro.Embora a alforria pudesse ser espontaneamente concedida pelo pro-prietário ao escravo, por motivos tais como laços de afeição, amor, parentesco por afi nidade ou consanguíneo, ou gratidão pelos serviços prestados, a compra da liberdade, na grande maioria das vezes pelo próprio escravo, era a alternativa mais usual para a concessão da carta de alforria. Havia duas formas de pagamento: a coartação, em que o escravo pagava pela sua liberdade um valor parcelado previamente estipulado, e a aquisição, por parte do escravo ou de um terceiro, de um escravo substituto. Este foi o caso do africano forro Antônio José de Souza, da nação Hausa, o qual declarou, em seu testamento, datado de 1852, que havia comprado sua liberdade durante o período em que trabalhou na Santa Casa de Misericórdia de Cuiabá, pagando com um escravo substituto. Com relação às alforrias espontanea-mente concedidas pelos proprietários, a prática mais comum era a concessão da liberdade por ocasião da morte do senhor, sendo sua vontade expressa em testamento. Na grande maioria dos casos, os senhores escolhiam apenas um ou alguns dos escravos que conside-ravam “merecedores” desta recompensa. Um caso excepcional foi o de Antônia Pereira da Silva, viúva do capitão José Gomes Monteiro, proprietária do Engenho Água Fria, em Chapada dos Guimarães. Em seu testamento, datado de 1870, Antônia, que não tinha fi lhos nem sobrinhos, libertou todos os seus escravos. Estudos realizados em Minas Gerais, Bahia e Rio de Janeiro indicam que a alforria era mais frequentemente concedida às mulheres do que aos homens. Esta também parece ter sido a tendência em Mato Grosso,

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Negro Haussá de Diamantino com marcas étnicas no corpo (1828).Hercules Florence. Acervo da Academia de Ciências de São Petesburgo, Rússia.

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onde, segundo Mattos, as mais frequentes benefi ciárias foram as escra-vas urbanas que “viviam sobre si”, isto é, que eram responsáveis pela venda de sua força de trabalho, atuando como cozinheiras, lavadeiras, passadeiras, ama secas, vendedoras ambulantes e nas tabernas. Muitas dessas alforrias eram decorrentes de relações concubinárias, com o parceiro pagando pela liberdade da sua companheira. (L.C.P.S.)

Referências bibliográfi cas e fontes documentais: JESUS, Nauk M. e SYMANSKI, Luís C. P. Olhares e refl exões sobre africanos e afro-descendentes em Mato Grosso – séculos XVIII e XIX. In: JESUS, M. N., CERZER, O. M. e RIBEIRO, R. R. (orgs.) Ensino de história. Trajetórias em movimento. Cáceres: Unemat, 2007, pp. 57-70. KA-RASCH, Mary. A Vida dos Escravos no Rio de Janeiro. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. MATTOS, Eliane. Mulheres escravas e forras na Capitania de Mato Grosso. In ROSA, C. A. e JESUS, N. M. (orgs.). A terra da conquista: História de Mato Grosso colonial. Cuia-bá: Adriana, pp.79-86, 2003. PAIVA, Eduardo. Escravos e Libertos nas Minas Gerais do século XVIII: estratégias de resistência através dos testamentos. São Paulo: Annablume, 1995. SCHWARTZ, Stuart. Escravos, roceiros e rebeldes. Bauru: Edusc, 2001. SYMANSKI, Luís C. P. Slaves and planters in Western Brazil: material culture, identity and power. Tese de doutorado, Gainesville: University of Florida, 2006. Inventário de Antônio José de Souza, Pasta 73, n. 71p, ano: 1852, ACBM-IPDAC, IHGMT. Inventário de Antônia Pereira da Silva, Cartório do 6º Ofício, Caixa 02, ano: 1870 APMT.

ALIMENTAÇÃO: O cenário mato-grossense foi marcado por paisa-gens rurais com áreas voltadas para a produção de alimentos. Essas espacialidades foram signifi cativas para a instalação e permanência de grupos sociais na região, mesclando produção local e exploração dos recursos naturais disponíveis com a vinda de produtos alimen-tícios de outras Capitanias da América Portuguesa e do Reino, por meio das monções do norte e do sul. Mesmo tendo como destaque a mineração, a Capitania de Mato Grosso contou com a produção de alimentos para o abastecimento de seus povoados, arraiais e vilas. Nas roças eram cultivados gêneros como arroz, feijão, milho, mandioca, cana-de-açúcar, batata, carás, dentre outros. Em engenhos d’água se

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fabricava a farinha de mandioca e também o açúcar. Nos sítios e fa-zendas próximos às vilas desenvolviam-se atividades criatórias como a de galinhas, bois, porcos, patos, cavalos utilizados para transporte de cargas, e até cães, utilizados em caçadas. Vale ressaltar que na Capitania de Mato Grosso também entravam animais como gado, muares e até jumentos, vindos das missões espanholas de Moxos e Chiquitos. Nas hortas plantavam-se cebolas, couve, repolho, quiabo, abóbora, favas, dentre outros. Nos quintais e pomares encontravam-se frutas como limões, laranjas, melancias, mangabas, bananas; algumas uvas, melões e fi gos, além de frutas naturais da terra como o cacau, o ananás e a baunilha. A mata fornecia a caça, como cervos, perdizes, antas, patos, entre outros e uma infi nidade de aves. Porém, nas ocasiões de baixa produtividade agrícola e de difi culdades com o deslocamento dessa produção acontecia o aumento dos preços desses gêneros alimentícios. Alguns deles, como milho, feijão, toucinho, galinha, aguardente de cana, sal, carne de vaca e de porco fi caram muito caros diante dessas condições, o que fez com que muitos moradores da Capitania de Mato Grosso tivessem difi culdades em adquiri-los. Outro problema de abastecimento alimentar era o sal, importante na salga de carnes e peixes, e até mesmo na dieta aplicada aos doentes. O sal chegava com as monções e por ser um produto escasso era vendido sempre com valor muito alto, o que acabava por restringir seu consumo a pequenas porções, mesmo sendo gênero de primeira necessidade.Pelas monções do norte e do sul chegavam à Capitania produtos enviados da Corte, tais como farinha de trigo, manteiga, queijo da Holanda, sardinha, azeitonas, presuntos, bacalhau, chocolate, paios e salsichões. Vinham também bebidas como licores, vinhos e aguarden-te, além de vinagre, azeite, mostarda, sal, chá, pimenta-da-índia, canela e o café, este último vindo de outras regiões da América Portuguesa. Contudo, vale frisar que a maioria dos produtos que eram enviados do Reino era consumida apenas pelas camadas sociais mais abastadas da Capitania, enquanto que na dieta alimentar dos mais pobres os alimentos básicos eram farinha, feijão e toucinho, complementados com recursos oriundos da mata e dos rios, advindos de atividades como a caça, a pesca e a coleta de frutos da terra.Todo esse cenário produtivo mato-grossense demonstra as variadas alternativas para o suprimento das necessidades alimentares, desde a

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