Carater de Família e Religião de Família

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  • 7/31/2019 Carater de Famlia e Religio de Famlia

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    CARTER de FAMLIA e RELIGIO de FAMLIA

    J.G.Bellet, "Family Character and Family Region"

    Carter de Famlia

    Gnesis 11:28

    Como sabemos, houve o dia da visitao casa de Ter. A famlia de Sem havia secorrompido bastante e nos dias de Ter, o sexto ou stimo depois de Sem, eles estavamservindo a falsos deuses. Mas o poder do Esprito e a chamada do Deus da glria visitouos ouvidos e o corao de Abro, filho de Ter, e o separou daquela corrupo.

    Sabemos tambm que uma influncia piedosa decorrente disso se estendeu famlia, eTer, o pai, Sara, a esposa e L, o sobrinho, uniram-se a Abro neste sentido, e todoseles deixaram juntos a terra da Mesopotmia. Todavia, Naor, outro dos filhos de Ter,no foi influenciado. Ele estava confortavelmente estabelecido com sua esposa em suacasa, e permaneceram em casa quando Ter, Abro, Sara e L partiram da terra de seuspais (Gn 11).

    Isso algo para ser bem observado, pois todos os dias podemos testemunhar umasemelhana disso. Algum em uma famlia toma-se o primeiro alcanado pelo divinopoder, e ento a religio de famlia, ou o conhecimento do Senhor Jesus no lar, seespalha; mas alguns continuam sem ser influenciados.

    Evidentemente sabemos que cada alma que vivificada deve ser igualmente objeto doeficaz e velado envio e ensino do Pai (Jo 6:44-45). Mas refiro-me aqui histria ou ao

    carter evidenciado nesta cena. E, como vimos na histria daquele lar, Naor permaneceindiferente quele dia da visitao. Ele e sua esposa continuam na Mesopotmia e aliprosperam. Eles tm filhos; suas propriedades e bens aumentam. Contam com uma

    jornada fcil e respeitvel por este mundo; mas no crescem no conhecimento de Deus,e nem do qualquer testemunho, ou se o fazem, no mnimo um pequeno e indistintotestemunho ao Seu Nome.

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    Assim foi formado o carter da famlia de Naor. Eles no viviam em uma total escurido,como o povo de Cana, descendentes de Co, entre os quais Abro agora passava aperegrinar. Eles tinham alguma medida de luz derivada de sua ligao com Ter e Abro,e por serem descendentes de Sem; mas tudo isso estava tristemente obscurecido peloscobiados princpios do mundo, do qual eles no quiseram se separar. E assim todo um

    status e carter de famlia iam sendo formados.Este um assunto srio - e todo esse princpio algo que acontece diariamente entrens, e um objeto de constante aplicao nossa conscincia.

    Vamos perder esta famlia de vista por alguns momentos, pois evidentemente eles noso o objeto da ateno direta do Esprito Santo, mas por estarem ligados a Abropodero, naturalmente, voltar cena. Eventualmente, de seu distante lugar deperegrinao, Abro acaba recebendo notcias deles (Gn 22).

    Betuel filho de Naor- um de seus muitos filhos e aquele que aparece com mais detalhes.Ele havia prosperado no mundo e, apesar de ser talvez um homem de pouca energia ou

    carter, teve um filho chamado Labo que, considerando tudo o que possua,evidentemente sabia muito bem como cuidar de seus negcios e como progredir de umamaneira bem vantajosa nesta vida. Parece, como j dissemos, que ele conhecia bem ovalor do dinheiro; pois o simples vislumbre do ouro era capaz de faz-lo abrir a boca comcalorosas e religiosas manifestaes de boas vindas, at mesmo a um estranho (Gn 24).

    Aqui, porm, chegamos a um perodo na histria dessa famlia que deve ser atentamenteconsiderado.

    Uma nova energia do Esprito estava a ponto de visit-la. Como j observei, podemospresumir que aquela famlia no se encontrava na completa escurido dos cananitas, enem na simples condio idlatra da casa de Ter, quando o Deus da glria chamou

    Abro (Js 24). Eles haviam sido colocados sob uma certa medida de luz, e introduzidossem uma certa posio professa, conforme se pode deduzir pelas palavras e pela atitudede Abro (Gn 24:4). Mas sendo assim, sendo um lar professo de um certo modoseparado da condio de trevas dos homens deste mundo, passa a ser um assunto sriorepararmos na natureza da visitao do Esprito quela famlia, pois veremos tratar-se deuma visitao ou poder separador. Da mesma maneira como o chamado do Deus daglria j havia transtornado o andamento das coisas na casa de Ter, agora tambm amisso de Elizer transtornava o cotidiano da casa de Betuel. Um dia Abro foraseparado de sua casa e de seus parentes, e o mesmo iria acontecer agora com Rebeca;tudo isso deixando a forte impresso de que tanto uma respeitvel famlia professa, comouma famlia mais mundana ou idlatra, podem precisar ser visitadas pela mesma energia

    do Esprito.

    Trata-se de um pensamento bem srio. um poder perturbador ou separador que agoraentra nessa famlia, e no simplesmente um poder edificador ou confortador. H umsignificado nisto, creio eu. O ministrio de Elizer, servo de Deus tanto quanto de Abro,era chegar casa de Betuel para tirar Rebeca de l, e para gui-la naquela feliz jornadana qual o chamado do Deus da glria havia conduzido Abro duas geraes antes. Creiomesmo haver nisto uma lio que deve ser objeto de muita meditao. preciso que uma

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    decente famlia professa seja afetada, e um novo ato de separao seja produzido emseu meio.

    Mas h ainda uma outra lio nessa histria. Rebeca sai, conforme sabemos, atendendoa esse chamado. Mas seu carter j havia sido formado, como mais ou menos acontececom todos ns antes de nos convertermos. Chega a hora do avivamento. Chega ochamado separador. O chamado do Senhor, com seu poder separador, atendido. Masesse chamado nos encontra j com um certo carter formado, com determinados modose com uma determinada formao do intelecto. Nos encontra, talvez, cretenses (Tt 1:12),ou irmos ou irms de Labo, ou coisa semelhante, e "os cretenses so semprementirosos". O carter e intelecto derivados da natureza, da educao, ou dos hbitosfamiliares, so coisas que carregamos conosco depois de termos nascido do Esprito, eas carregamos atravs do deserto, da Mesopotmia at chegarmos casa de Abro.

    Isto tambm um assunto srio. algo srio, como j observei, que uma respeitvelfamlia professa seja visitada por uma energia do Esprito, no meramente edificadora,mas separadora. E, algo srio, como tenho estado a descrever, que mesmo com o

    poder do Esprito que vivifica ou converte, a natureza, ou a fora dos antigos hbitos eeducao, ou de um carter de famlia, permanecer arraigada. E so estas asimportantes lies que a histria de Rebeca nos ensina.

    No preciso mais que brevemente falar de como foi o seu caminho nas etapas futuras desua vida. Trata-se de uma histria bem conhecida entre ns, que revela de forma tristeaquilo que podemos chamar de carter de famlia. Labo, seu irmo, com quem elacresceu e que era evidentemente a influncia mais ativa na casa de seu pai, era umhomem mundano, esperto e perspicaz. E a nica grande ao na qual Rebeca foichamada a tomar parte d ocasio a ela para exercitar os mesmos princpios. Ao buscara bno para seu filho Jac, vemos esse fermento, moda de Labo, trabalhando

    poderosamente. O carter de famlia revela-se, ento, de forma triste. A prontido danatureza em agir e tomar seu prprio caminho se mostra bastante ativa. Rebeca tinha umintelecto muito pouco habituado a descansar na suficincia de Deus, e por demais viciadoa calcular e confiar em suas prprias maquinaes.

    Nada temos a fazer seno vigiar contra a tendncia e o hbito peculiar de nosso prpriointelecto - a repreender a natureza com rigor, a fim de nos mantermos sos oumoralmente sadios na f (Tt 1:13); no para justificarmos nosso intelecto, alegando quese trata da natureza, mas para suspeitarmos mais ainda dele, e mortific-lo para honradAquele que nos deu uma outra natureza.

    Aprendemos trs lies da histria dessa famosa mulher. O Esprito no nos revela muitacoisa mais de sua vida. Ser que Ele foi entristecido e deixou de fazer meno dela? Dasemente que ela semeou, nada colheu alm de desapontamentos. Nenhum benefcioresulta de suas maquinaes e de seus planos, mas acontece justamente o contrrio. Elaperde o seu favorito, Jac, e nunca mais o v aps o longo exlio a que os prpriosplanos e maquinaes dela acabaram por envi-lo.

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    H ainda isto a ser dito: Jac teve seu intelecto formado pela mesma antiga influncia.Por toda a sua vida ele foi um homem calculista e sem muita afeio. Seu plano, primeiropara obter a primogenitura, e depois a bno; sua confiana em seu prprio plano, aoinvs de confiar na promessa do Senhor, por ocasio do reencontro com Esa; seuapego a Siqum, e sua permanncia ali ao invs de viver uma vida de peregrino pela

    terra como fizeram seus pais - tudo isso revela a natureza e influncia do velho carter defamlia.

    Quanta necessidade temos de vigiar essa antiga semente que foi semeada no corao -sim, e vigiar a primeira ou a ltima semente que estamos ajudando a semear no coraode outros! Isto porque os detalhes mais completos dessa histria nos advertem aindamais acerca dessas coisas.

    O nascimento de Esa e Jac nos mostrado no final do capitulo 25; e, medida quecrescem e se tornam rapazes, surge a oportunidade de olharmos para dentro do dia a diada famlia. Mas, conforme veremos, trata-se de algo verdadeiramente humilhante.

    Aquela era uma das famlias de Deus sobre a Terra. Ou melhor, era de longe a famliamais eminente, na qual estavam postas as esperanas de toda bno para toda a Terra,e sobre a qual o Senhor, eminentemente acima de tudo, registrou o Seu Nome.

    Mas o que vemos? Isaque, o pai, havia cado na corrente dos desejos humanos; eleamava seu filho Esa por haver comido o guisado que este preparava! Precisamos pararpara considerar Esa por um momento. Apesar de ser filho, ele era responsvel pelocuidado e proteo da casa - o que est mais do que evidente - coisas que Isaque eRebeca deveriam ter dado a ele, junto com cuidado e amor paternal; mas para Isaquechegar a ponto de fazer de Esa seu favorito por haver comido de seu guisado, era algoverdadeiramente triste e ruim. E porventura no vemos, at nisso, alguma ilustrao

    adicional ao nosso assunto? Isaque havia recebido uma educao suave. Nunca haviasado do lado de sua me, por ser filho de sua velhice. Mas talvez sua educao otivesse tomado por demais relaxado, e ele surge diante de nossos olhos como umhomem de modos delicados e indulgente para consigo mesmo.

    Mas, oh, que triste perda, que doloroso fracasso nos mostrado aqui em toda esta cenafamiliar! Ser que estamos exagerando pelo fato de um pai estar ajudando a confortar umfilho enquanto a me ajudava o outro? Sem dvida podemos encontrar tal coisa aqui, eainda um terreno frtil para terrveis temores. O amor de Isaque pelo guisado pode terencorajado Esa na caada, do mesmo modo como a habilidade de Rebeca, recebida etrazida da casa de seu irmo em Par, parece haver formado o intelecto de seu favorito

    Jac.Oh, que tristeza e causa de humilhao encontramos aqui! isto um lar de f? istouma famlia temente a Deus? Sim. Estes so filhos da promessa e herdeiros do Seureino: Isaque, Rebeca e Jac. Quando vistos em outras situaes eles nos deleitam eedificam. Veja Isaque na maior parte do captulo 26; sua conduta maravilhosa - toda eladigna de um estrangeiro celestial andando no mundo: ao sofrer, ele no ameaa, masentrega-se quele que julga com justia. Ele sofre, e recebe o sofrimento com pacincia;

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    e seu altar e sua tenda testemunham de seu carter santo e desapegado do mundo.Assim tambm vemos Rebeca no capitulo 24. Por f ela consente em atravessar odeserto sozinha com um estranho, porque seu corao estava posto no herdeiro daspromessas; deixando seu lar e sua parentela, esquecendo-se de seu pai e da casa deseu pai. Mas quando vistos aqui (no captulo 27), que vergonha enche a cena toda, e

    quo atnitos e confusos ficamos ao ver o modo como herdeiros da promessa e filhos deDeus se comportam!

    Mas ser que devemos continuar expondo isso ainda mais? Sinto que devo faz-lo; poiso corao no s vil e corrupto, mas tambm to atrevido a ponto de levar suainconseqncia para dentro do santurio, como nos mostra o final desta histria.

    A palavra dada a Aaro, muito tempo depois disso, foi: "No bebereis vinho nem bebidaforte, nem to nem teus filhos contigo, quando entrardes na tenda da congregao" (Lv10:9). Isso porque no era para a natureza ser estimulada a fim de atuar no servio deDeus; para o cumprimento dos deveres do santurio a natureza no deveria serestimulada, ou posta em ao, por meio daquilo que a alimenta. A bebida forte podia

    alegrar e incitar o vigor fsico, mas no eram estas as qualificaes de um sacerdote.

    Mas foi mesmo por uma banalidade assim que Isaque foi desmascarado. "Toma" - disseele a Esa - "as tuas armas, a tua aljava e o teu arco, e sai ao campo, e apanha para mimalguma caa. E faze-me um guisado saboroso, como eu gosto, e traze-mo, para que eucoma; para que minha alma te abenoe antes que eu morra" (Gn 27:3-4). Ele estavaprestes a executar a ltima ao religiosa de um sacerdote patriarcal e perde o pede por"vinho" e "bebida forte", pela comida da mera natureza, para anim-lo e satisfaz-lo parao servio do templo! Terrvel abominao! "Cujo deus o ventre" (Fp 3:19), quase oque pode ser dito nessa questo do guisado. Podemos todos estar cientes do quantoexiste de natureza poluindo nossas coisas santas; quanto de entusiasmo carnal pode ser

    erroneamente tomado como a suave e poderosa corrente do Esprito. Podemos estarcientes de coisas assim nos lugares de comunho, mas isto para tristeza nossa;confessamos isto como mal e fraqueza, e devemos vigiar contra tais coisas; mas nosprepararmos para tal, misturando, assim, cuidadosamente o "vinho" e "bebida forte",conscientemente adotando no corao um tal desgnio - certamente uma tristeabominao!

    Todos ns conhecemos muito bem a fraude que Rebeca e Jac praticaram nesta cena.No preciso repeti-la. Trata-se de uma histria bem conhecida. Mas a santidade doSenhor consome cada partcula de tudo isso. A santidade do Senhor transforma tudo emcinzas. Isaque perde o seu Esa, Rebeca nunca mais volta a ver Jac, pois os poucos

    dias prometidos se transformam em vinte anos, e o suplantador calculista acaba ficandoocupado em meio s labutas, e distante da casa de seu pai por esse longo e sombrioperodo. Nada resulta de tudo isso, quer olhemos para os planos da carne de um lado oupara o favoritismo carnal do outro: tudo desapontamento e tudo repreendido pelasantidade do Senhor.

    Algo srio, mas uma lio das mais preciosas! Certamente precioso vermos o Senhorressentindo-Se assim da impureza at mesmo de Seus mais queridos servos escolhidos.

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    Mas a ns resta contemplar a graa assumindo seu papel e seu alto e triunfante lugar.Sua santidade fica assim decididamente estabelecida pelo Senhor, pondo de lado todasas vantagens que o pecado havia prometido, e ento a graa reina.

    No grande mistrio da redeno, a graa toma seu lugar triunfante na promessa de que aSemente da mulher esmagar a cabea da serpente; mas h tambm a plena execuode todas as determinaes da santidade contra o pecado - pois a morte entrou conformehavia sido avisado, e as penalidades caram sobre o homem, e sobre a mulher, e umamaldio e caiu sobre a serpente. Assim acontece aqui: Isaque perde o que planejavapara Esa; Rebeca tem que despedir Jac; e o prprio Jac, apesar de conseguir, suamaneira, a primogenitura e a bno, tem que sair do lugar de sua herana e do cenriode todos os gozos que lhe estavam prometidos, e ir embora para o exlio sem umcentavo. Porque o nico salrio do pecado a morte. Mas a a graa toma o seu maiselevado lugar de destaque. aberto caminho para ela

    ascender, por santidade incandescente, ao seu trono, e ali brilhar, deleitando-se noesplendor de sua prpria glria (Gn 28).

    E glorioso. At mesmo a misria a que o pecado de Jac havia reduzido, o objeto detoda essa graa s evidencia ainda mais sua glria. Mesmo quando o servo da casa sarano passado como um errante (Gn 24), ele ainda tinha seus camelos e ajudantes, e todo onecessrio para tomar a jornada atravs desse mesmo deserto algo honorvel eagradvel. Mas agora o filho e herdeiro, o prprio noivo prometido, para quem a honrada casa e as alegrias do matrimnio estavam preparadas, tinha que se deitar sozinho,sem amigos, sem cuidados, sem abrigo; as pedras do lugar formavam seu nicotravesseiro. Mas a graa, que transforma a sombra de morte em manh, est preparandoum descanso glorioso para ele; ele escuta a voz do maravilhoso amor e a ele somostrados mundos de luz nesse lugar de solido e trevas. Ele sonha, e v os altos cus

    ligados com aquele mesmo lugar escuro e estril sobre o qual ele estava deitado, e comos ps descalos o povo celestial mantendo uma feliz comunicao; e ele escuta oprprio Senhor do cu, no cimo daquela cena mstica, dirigindo-Se a ele em palavras depromessa, e de promessa somente. Ele v a si prprio, embora to errante, to pobre, eto vil, assim associado com a glria que a tudo penetra, e herdeiro de todasuasmisericrdias a consolaes presentes,

    at que toda essa glria estivesse pronta para se manifestar. A santidade da graa aindao deixa como algum que vagueia; mas as riquezas da graa lhe falam do consolopresente e da certeza das glrias futuras. E realmente assim. Todavia isso tudo melevou um pouco alm de meu assunto imediato.

    Existe, portanto, algo como um carter de famlia; e a lembrana disso, e o tratarmosconosco, deve nos tornar vigilantes e zelosos acerca de todos os nossos hbitos etendncias peculiares. E, quando estivermos tratando com outros, deve nos encher deconsiderao e nos conceder um esprito de intercesso, preparando-nos parareconhecer que existe um carter de famlia, ou uma fora de antigos hbitos ou deeducao recebida, que opera em maior ou menor medida em todos ns.

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    A lembrana disto pode ser de ajuda em nossos dias. Mas no posso me esquecer deacrescentar que, se por um lado somos propensos a herdar um certo carter de famlia,ou os hbitos que j recebemos por nascimento ou carter, por outro devemos exibiraquele carter ao qual nosso nascimento e educao na famlia celestial nos ligou desdeento.

    Neste sentido, em Joo 8 o Senhor argumenta que nossa filiao ou nascimento, ouligaes familiares, devem ser evidenciados por nosso carter ou nossos feitos. "Sefsseis filhos de Abrao, fareis as obras de Abrao" (Jo 8:39). Ele disse outras coisassemelhantes. Vemos assim a necessidade de levarmos o carter de famlia.

    Mas somos exortados tambm a fazer o mesmo - a procedermos como nosso Pai, porassim dizer. No cultivo de todas as caridades e desapegos, da bondade dada em troco, oSenhor diz, "Sede vs pois perfeitos" (Mt 5:48); e o apstolo assume o mesmopensamento ao insistir na necessidade do amor e perdo, "Sede, pois, imitadores deDeus, como filhos amados" (Ef 5:1).

    Oh, que possamos estar empenhados no cultivo do carter de famlia! Deixar que o velhohomem em ns seja rebaixado, e que o novo homem se eleve e assuma seu lugar emns! Deixar que o carter, seja ele qual for, que recebemos de nossos vnculos naturaisou dos hbitos de nossa natureza, seja vigiado; e que o carter de nosso nascimentocelestial seja acalentado e expressado para o Seu louvor, para o louvor dAquele que nosfez nascer de novo como vivos para e com Ele, tirados da morte.

    Religio de Famlia (Gn 11)

    Esta uma histria que, creio eu, ir proporcionar muita oportunidade de se perscrutar ocorao. Peo por graa para poder exp-la de modo sbio e proveitoso.

    Sem, um dos filhos de No, foi o ramo sagrado. A religio estava mais associada a ele doque a seus irmos, e dele veio o povo separado. Todavia, aps poucas geraes essafamlia religiosa tornou-se corrompida; pois em menos de trezentos anos, e no sabemosquanto tempo antes, ns os encontramos servindo a outros deuses (Js 24:2). Trata-se deuma histria comum, mesmo para nossos dias. Famlias, bem como igrejas, so vistasem uma condio tristemente degenerada e corrompida, apesar de um dia terem sido

    conhecidas por seu zelo e servio.Todavia, o Esprito de Deus, em graa soberana, visita um filho de Ter, oito geraesdepois de Sem. O chamado do Deus da glria foi feito a Abro e o separou daquelascorrupes, e do pas, parentela, e da casa de seus pais a fim de mold-lo como umanova obra para o Senhor (At 7:2).

    Abro, ao que parece, tornou seu chamado conhecido de sua famlia, e como comumacontecer ainda hoje entre ns, essa comunicao teve uma certa influncia entre eles.

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    Da brota a religio de famlia. O poder do evangelho conhecido primeiro por ummembro da famlia, e a partir dele se espalha. E o Senhor queria que fosse assim. Trata-se de um pssimo sintoma, como veremos aqui, quando isso no acontece.

    Assim foi aqui. Ter, o pai, se apronta. Naor, um de seus filhos, pelo que podemospresumir da narrativa toda, no foi muito atingido por sua influncia, pois ele, sua esposae filhos, todos permanecem onde estavam. Mas Abro, sua esposa e L, filho do falecidoHar, filho de Ter, saem para a jornada divinamente indicada. E Ter, o pai,aparentemente quem toma a liderana.

    Mas antes que eu v mais longe com esta narrativa, devo perguntar se tudo aquilo estavacerto da parte de Abro. O chamado havia sido para ele. Sobre ele tinha vindo a energiado Esprito. Certamente que a famlia pde ter sido trazida para dentro do raio de alcancedaquela energia ou influncia: mas mesmo assim, porventura no caberia a Abro ocuparo lugar que aquela energia lhe havia claramente designado? Acaso no estaria sendo umpouco de concesso carne e ao sangue, da parte de Abro, que a Ter fosseconcedido tomar a liderana nesse grande movimento sob o Esprito de Deus? Pode ser.

    E prefiro julgar que assim tenha sido, e que isso tenha a ver com a permanncia em Hare a morte de Ter naquele lugar, e com a investidura de uma segunda energia vinda doSenhor ao chamar Abro quando estava em Har (Gn 11:31-12:1).

    Tudo isso nos serve de admoestao. A religio de famlia algo belo, mas a ordemfamiliar ou as reivindicaes humanas no podem arrogar os direitos que pertencem aoEsprito. maravilhoso vermos Cornlio, ou qualquer outro em circunstnciassemelhantes, trazendo seus amigos e parentes para dentro daquela influncia que estavavisitando a sua casa. Mas se a carne e o sangue, ou se as relaes humanas,atrapalharem o progresso soberano do Esprito, podemos esperar que haver umaparada em Har ou na metade do caminho outra vez, e ser necessrio um segundo

    chamado (segundo em certo sentido) para colocar a alma novamente no caminho deDeus.

    Podemos observar e discernir estas coisas para nosso proveito e admoestao. Todavia,sob aquela renovada energia do Esprito, Abro recomea sua jornada, e Sara, suaesposa, e L, seu sobrinho rfo, o acompanham. Esta ainda uma cena da religio defamlia. Em L vemos algum que estava na borda daquela influncia geral ou de famlia.Nada lemos de algum chamado distinto dirigido a ele, ou de qualquer sacrifcio que tenhaoferecido. No que ele represente um mero professo, ou algum que se liga ao povo deDeus por interesse. No, ele era um homem justo, e tinha uma alma vivificada que podiaser afligida pela impiedade do mpio (2 Pd 2:7-8).

    Mas sua entrada na famlia de f no expressa nenhuma energia. Foi produzida de ummodo familiar, como tenho observado - como mil outros casos que vemos acontecer emnossos dias. E bom que coisas assim aconteam. Que alegria quando a esposa Sara,ou o pai Ter, ou o sobrinho L de nossos dias acompanham os Abros de hoje. Isto noaconteceria, ns bem sabemos, sem o envio e o ensino do Pai (Jo 6:44-45). E L era,com certeza, um eleito, tanto quanto Abro, mas a energia do chamado de Deus no semanifesta nele como em Abro - diferenas que no podemos deixar de continuamente

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    observar. Com Abro tratava-se de algo caracteristicamente pessoal; com L tratava-sede algo de carter familiar. E em conformidade com tudo isso, bem na primeira cena emque L chamado a agir de modo independente j vemos sua fraqueza.

    Abro lhe d a escolha da terra. E ele escolhe. Ora, no apenas por ter escolhido omelhor que nossos coraes o condenam, mas simplesmente por ter escolhido. Em todosos aspectos era Abro quem tinha o direito primeira escolha, como costumamos dizer.Ele era o mais velho, tanto em idade como no grau de parentesco. Ele era o principal emtoda aquela ao que os havia levado quela terra distante, e L nada mais era do queum que foi junto. Abro foi nobre e generoso em ceder seu direito a um parente mais

    jovem. Mas L era insensvel a tudo isso, e acaba fazendo a escolha, e ento (como nopoderia deixar de acontecer com um comeo assim), ele escolhe com base em umprincpio inteiramente mundano. Ele toma as campinas bem regadas para seu gado eseus rebanhos, embora aquilo o levasse para perto daquela corrupta cidade (Gn 12).

    Assim, a primeira prova de L se torna um doloroso testemunho contra ele. Demonstra afraqueza com que a f ou o reino de Deus haviam se introduzido em sua alma. A maneira

    de agir de Abro era bem diferente, pois a voz do Deus da glria tinha sidopoderosamente ouvida por ele, arrancando-o do mundo ao qual L ainda estavaapegado. Tudo isso tem uma mensagem para nossos ouvidos.

    Logo fica patente o mundo desalentador que L estava escolhendo. As campinas bemregadas cedo se transformam em campo de batalha; e, seno fosse por Abro, ou peloDeus de Abro, L teria perdido ali a sua liberdade, bem como todos os seus bens.

    Mas ainda mais triste ter que dizer que aquele primeiro desapontamento no libertouseu corao de suas mpias amarras. Ele volta a Sodoma pela segunda vez at serforado a se mudar, pela mo do prprio Deus. Se quando a campina bem regada se

    transformou em um campo de matana L se recusou a aprender a lio e no saiu de l,acaba tendo que aprender quando ela se transforma em um monturo fumegante no diado Senhor.

    Que melanclica catstrofe! Um vergonhoso fim para um crente mundano! O quanto issonos fala! Acontecia ali uma salvao como que por fogo, uma fuga da casa em chamas,uma inglria partida deste mundo! Podemos receber essa admoestao em nossoscoraes, e vigiar contra a primeira olhada s campinas bem regadas de Sodoma (Gn 14-15).

    Disso tudo certamente aprendemos grandes lies, tanto de conforto como de

    advertncia. Nos mostram que a religio de famlia algo maravilhoso, e que averdadeira piedade pode comear dessa maneira, como foi com a casa de Abro. Masnos admoestam que cada um envolvido deve tomar muito cuidado em cultivar o poder dapiedade de um modo bem pessoal, ou nossa religio ir revelar a fraqueza de uma merainfluncia geral ou familiar, e no demorar muito at se desvanecer completamente.

    Como observei, sob Abro a religio de famlia se disseminou, mas o mesmo noaconteceu sob L; pois sua esposa continuou levando o pensamento de Sodoma, e setransformou em um farol que at hoje alerta os viajantes desse perigo.

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    Suas duas filhas se corrompem tornando-se mes de duas descendncias corrompidasque so rejeitadas sob expressa proibio de acesso a qualquer parte da casa de Deus(Dt 23:2). E seus genros, quando L lhes falou do juzo, desrespeitosamente o trataramcomo um louco ou zombador.

    Aqui certamente encontramos um assunto srio para nossas almas se ocuparem! Senossa religio ou profisso de Cristo brotou sob a influncia de uma atmosfera familiar,avisamos aqui que se deve vigiar e cultivar um poder de piedade profundo e pessoal, emum santo temor e suspeita da fraqueza da raiz de uma tal planta.

    E mais, se nossa profisso de Cristo no espalhou, em maior ou menor medida, comoaconteceu com Abro, uma influncia na famlia, temos um grande motivo para noshumilhar e temer que isso porque ns, pessoalmente, no exibimos a f em todo o seupoder vitorioso e separador.

    Deste modo muitas lies de grande e sagrada importncia. no assunto da religio defamlia, nos so transmitidas por esta breve histria. Nos ensinam, como j mencionei,

    que devemos ser o meio de disseminao; mas, se tivermos sido ns que fomos sujeitosa essa influncia, devemos vigiar de um modo especial, como aqueles que tm um bommotivo para desconfiar de sua prpria fraqueza. Pois igualmente falado pelo mesmoEsprito, perfeito e que no erra, "Prove cada um a sua prpria obra, e ter glria s em simesmo, e no noutro" (Gl 6:4). E mais uma vez, "E vs, pais, no provoqueis ira avossos filhos, mas criai-os na doutrina e admoestao do Senhor" (Ef 6:4). A religio defamlia , deste modo, honrada pelo Senhor, mas a consistncia e o poder pessoal delaso tambm levados em conta. Os pais devem levar os filhos a conhecer a verdade (Is38:19), mas cada pessoa deve nascer de novo ou no ver o reino de Deus.

    maravilhoso vermos a "f no fingida" (1 Tm 1:5; 2 Tm 1:5) habitando em uma gerao

    aps outra em uma mesma famlia, como foi com a av Lide, a me Eunice, e o filhoTimteo. Mas maravilhoso vermos tambm na terceira gerao desta famlia aslgrimas e afeies que revelam a plena convico de que a religio deles no erameramente uma questo de educao ou imitao, ou a simples influncia familiar, mas ainvestidura do precioso poder de um reino que o prprio Deus estabeleceu na alma.

    "Os quais temos ouvido e sabido, e nossos pais no-los tm contado. No osencobriremos aos seus filhos, mostrando gerao futura os louvores do Senhor, assimcomo a Sua fora e as maravilhas que fez" (Sl 78:3-4).

    J.G.Bellet, "Family Character and Family Region"