Características do desmatamento na Amazônia mato-grossense ... · Amazônia brasileira. De agosto...

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01 Mato Grosso registrou em 2019 a maior taxa de desmatamento dos últimos onze anos e continua um dos estados que mais desmata a Amazônia brasileira. De agosto de 2018 a julho de 2019, foram mapeados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) 9.762 km² de áreas desmatadas em todo o bioma. Isso representa um aumento de 30% em comparação com o mesmo período do ano anterior. Mato Grosso foi responsável por 17% dessa destruição, o que representa 1.685 km², área maior que o município de São Paulo. A seguir apresentamos as características do desmatamento em 2019 em Mato Grosso, detectado pelo Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes), conduzido pelo Inpe. O estudo abrange a concentração dessas áreas nos municípios, ocorrências por categoria fundiária, tamanhos dos polígonos, análise da ilegalidade, além de um diagnóstico sobre a fiscalização dos órgãos ambientais competentes. CARACTERÍSTICAS DO DESMATAMENTO NA AMAZÔNIA MATO- GROSSENSE EM 2019 Figura 1 - Taxa de desmatamento (km²) no bioma Amazônia em Mato Grosso, de agosto de 2008 a julho de 2019 (Prodes/Inpe). 757 1139 1075 1601 1489 1561 1490 1685 0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 Desmatamento (km²)

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Mato Grosso registrou em 2019 a maior taxa de desmatamento dos últimos onze anos e continua um dos estados que mais desmata a Amazônia brasileira. De agosto de 2018 a julho de 2019, foram mapeados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) 9.762 km² de áreas desmatadas em todo o bioma. Isso representa um aumento de 30% em comparação com o mesmo período do ano anterior. Mato Grosso foi responsável por 17% dessa destruição, o que representa 1.685 km², área maior que o município de São Paulo.

A seguir apresentamos as características do desmatamento em 2019 em Mato Grosso, detectado pelo Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes), conduzido pelo Inpe. O estudo abrange a concentração dessas áreas nos municípios, ocorrências por categoria fundiária, tamanhos dos polígonos, análise da ilegalidade, além de um diagnóstico sobre a fiscalização dos órgãos ambientais competentes.

CARACTERÍSTICAS DO DESMATAMENTONA AMAZÔNIA MATO- GROSSENSE EM 2019

Figura 1 - Taxa de desmatamento (km²) no bioma Amazônia emMato Grosso, de agosto de 2008 a julho de 2019 (Prodes/Inpe).

757

11391075

16011489

15611490

1685

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

1600

1800

2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019

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(km

²)

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Tamanho dos polígonose categorias fundiáriasForam detectados mais de 4.500 polígonos de áreas de floresta derrubadas. Os polígonos com mais de 50 hectares respondem por 66% de toda a área desmatada (Figura 2). Aqueles maiores de 200 hectares foram 148, mas que representaram 34% do desmatamento detectado. Essa proporção é um pouco menor

do que o ano anterior, que foi de 39%, mas ainda assim é muito alta considerando que áreas desmatadas de grande extensão, são desmatamentos que demandam um alto investimento financeiro para serem realizados, mas que também podem ser facilmente detectados por imagens de satélite e consequentemente autuados.

A análise por categoria fundiária (Figura 3) demonstrou que a maior parte do desmatamento (959 km²) ocorreu em imóveis rurais inscritos no Cadastro Ambiental Rural (CAR), que representou 56% da área total, seguido das áreas não cadastradas (535 km²). Os projetos de assentamentos (PA) da reforma agrária concentraram 11% do total desmatado,

sendo o PA Nova Cotriguaçu e o Japuranomam os que tiveram as maiores áreas abertas em 2019, respondendo por 14% de toda a floresta derrubada nesta categoria. As áreas protegidas, por sua vez, responderam por apenas 1,2% das áreas desmatadas, sendo 1,1% em terras indígenas e 0,1% em unidades de conservação.

298

291

246

233

644

0 100 200 300 400 500 600 700

Até 20 hectares

De 20 a 50 hectares

De 50 a 100 hectares

De 100 a 200 hectares

Acima de 200 hectares

Desmatamento (km²)

Figura 2 - Área desmatada entre agosto de 2018a julho de 2019 por tamanho do polígono

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Figura 3 - Áreas desmatadas (km²) por categoria fundiária.

Figura 4 - Distribuição dodesmatamento mapeadoentre agosto de 2018 ejulho de 2019 portipologia fundiária.

56%

1%

31%

12%

0%

Imóvel rural cadastrado

Assentamento rural

Terra indígena

Unidade de Conservação

Área não cadastrada

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Do desmatamento detectado em imóveis rurais cadastrados, 55% se concentrou em grandes imóveis, com mais de 1.500 hectares, seguidos dos imóveis médios, que possuem entre 400 e 1.500 hectares (28%). Em relação ao tamanho das derrubadas identificadas nos imóveis privados, 82% do total são polígonos superiores a 50 hectares (Tabela 1).

Metade do desmatamento em imóveis cadastrados ocorreu, portanto, em grandes imóveis rurais e em áreas maiores que 50 hectares, ou seja, facilmente detectável pelos sistemas de monitoramento via imagens de satélite.

Separando o desmatamento autorizado, observamos que 74% de todo o desmatamento ilegal que ocorreu no estado se concentrou em apenas 1.065 imóveis rurais, isso representa pouco mais de 1% dos imóveis cadastrados. Ou seja, são poucos os imóveis rurais que descumprem a legislação florestal e colocam em risco a legalidade e sustentabilidade da produção agropecuária no estado.

Desmatamento nos municípiosEm 2019, o município com maior área de floresta desmatada em Mato Grosso foi Colniza (Figura 5), com 196 km² de novas áreas abertas, seguido de Aripuanã, com 156 km². Estes, com outros 6 municípios, responderam por 52% de todo o desmatamento mapeado, que se concentrou principalmente nas regiões Norte e Noroeste (Figura 6).

Tabela 1 - Áreas desmatadas (km²) entre agosto de 2018e julho de 2019 em imóveis rurais privados.

Imóveisaté 400

hectares400 a 1500Imóveis de

hectares

Imóveismaiores que

1500 hectares

Até 20 hectares 50 19 15 84De 20 a 50 hectares 46 25 18 89De 50 a 100 hectares 30 32 18 81De 100 a 200 hectares 23 52 43 118Acima de 200 hectares 18 131 417 566Total Geral 167 260 511 938

Tamanho dos Polígonos de

desmatamento

Desmatamento (km²)

Total Geral

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Figura 5 - Dez municípios com maior área desmatada entre agosto de 2018 e julho de 2019, por categoria fundiária.

0 50 100 150 200

COLNIZA

ARIPUANÃ

NOVABANDEIRANTES

MARCELÂNDIA

APIACÁS

JUARA

CLÁUDIA

UNIÃO DO SUL

PARANAÍTA

PEIXOTO DEAZEVEDO 7 30 16

12 2 42

7 10 59

29 4 52

59 24 40

80 8 168

80 8 1 168

22 163

13 83

12 1 50

Desmatamento (km²)

Área não cadastrada

Assentamento rural

Imóvel rural cadastrado

Terra indígena

Unidade de Conservação

Figura 6 - Concentração dodesmatamento mapeadoentre agosto de 2018 ejulho de 2019 na Amazôniamato-grossense.

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A ilegalidade nodesmatamento na AmazôniaO aumento de 13% em relação à área desmatada no ano anterior sinaliza que o ritmo de destruição da floresta no estado continua alarmante. Soma-se a isso o alto grau de ilegalidade. Do total mapeado em 2019, 85% foi classificado como ilegal, pois não detinha autorização para desmate ou para supressão de vegetação emitidas pelo órgão ambiental¹.

¹ Os dados de autorizações de desmatamento foram obtidos do Portal da Transparência da SEMA-MT (http://transparencia.sema.mt.gov.br/) e atualizados pela Coordenadoria de

Geoinformação e Monitoramento Ambiental (CGMA) até 16/08/2019.

Dos 70 municípios do estado com áreas desmatadas no período analisado, 34 apresentaram 100% de desmatamento ilegal, ou seja, não detinham autorizações válidas emitidas pelo órgão ambiental (Figura 7). Outros 36 municípios apresentaram alguma área com desmatamento legal, mas ainda assim a média de legalidade entre eles foi de apenas 20%. Nova Mutum foi o município com maior área desmatada legalmente (27 km²), seguido por Cláudia (22 km²) e União do Sul (21 km²).

Figura 7 - Municípios com área desmatada legalmente (acima de 5 hectares)e ilegalmente, entre agosto de 2018 e julho de 2019.

5

55678881010121314

18202122

27

1

285

49

29116

845

694

571

3027

4154

3

0 20 40 60 80 100 120

PORTO ALEGRE DO NORTECOTRIGUAÇU

SANTA CRUZ DO XINGUPARANAÍTA

NOVA MARINGÁNOVA BANDEIRANTES

PARANATINGAPEIXOTO DE AZEVEDO

NOVA CANAÃ DO NORTENOVA UBIRATÃ

SANTA CARMEMTABAPORÃ

JUARABRASNORTE

FELIZ NATALUNIÃO DO SUL

CLÁUDIANOVA MUTUM

Legal

Ilegal

Desmatamento (km²)

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FiscalizaçãoOs mais de 4.500 polígonos de áreas desmatadas detectados esse ano na Amazônia mato-grossense demonstram o enorme desafio que é o combate dessa prática ilegal. Ainda que o enfrentamento do problema demande diferentes ações e políticas públicas, a fiscalização é um componente central e deve ser reforçada. Em Mato Grosso, essa atividade é de competência compartilhada entre a agência federal (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA) e a agência estadual (Secretaria de Estado de Meio Ambiente - SEMA).

De 2016 a 2018, o órgão estadual autuou 2.085 km² de desmatamento ilegal (Figura 8). Em agosto deste ano, o governo estadual anunciou² um reforço nas ações de fiscalização que incluem o uso de novos sistemas de monitoramento e a realização de operações para combater desmatamentos e queimadas³. De janeiro até outubro de 2019, a Sema autuou 720 km² por desmatamento ilegal, mas existe a expectativa desse número atingir 1.434 km², quando consideradas as operações de fiscalização que foram realizadas e cujos autos ainda estão sendo lavrados. Isso significa um aumento de 66% da área em relação ao ano anterior.

² http://www.mt.gov.br/-/12410640-nova-ferramenta-da-sema-permite-a-deteccao-imediata-do-desmatamento-ilegal³ http://www.mt.gov.br/-/13302092-mato-grosso-mantem-taxa-de-desmatamento-controlada

Figura 8 - Área autuada por desmatamento ilegal (km²)de janeiro de 2016 a outubro de 2019 pela Sema.

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

1600

866

2016

355

2017

864

2018

1434

2019

Áre

a A

utua

da (k

m²) Autos gerados pela

Operação Amazônia

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Já o número de autos de infração por danos à flora emitidos pelo Ibama manteve a tendência de redução dos últimos 4 anos. Entre janeiro e novembro de 2019, o órgão emitiu 411 autos por crimes contra a flora⁴. Isso significa uma redução de 37% em relação ao mesmo período do ano anterior, quando foram emitidos 651 autos (Figura 9).

Cuiabá-MT, Dezembro de 2019

AutoresAna Paula ValdionesVinicius SilgueiroBruno CardosoPaula BernasconiAlice Thuault

RevisãoRodrigo Vargas

⁴ Os dados sobre autuações ambientais por danos a flora doIbama foram obtidos no site de Consulta Pública do órgão:

https://servicos.ibama.gov.br/ctf/publico/areasembargadas/ConsultaPublicaAreasEmbargadas.php. Acesso em 22/11/2019.

Figura 9 - Autuações danos à flora em Mato Grosso, dejaneiro de 2015 a novembro de 2019 pelo Ibama.

1.0931.002

849

682

411

0

200

400

600

800

1.000

1.200

2015 2016 2017 2018 2019

Aut

os d

e In

fraç

ão (n

º)