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Caracterização da estrutura genética populacional das araras
vermelhas Ara chloropterus e Ara macao (Psittaciformes, Aves)
Adriana Ribeiro de Oliveira-Marques
Caracterização da estrutura genética populacional das araras vermelhas Ara
chloropterus e Ara macao (Psittaciformes, Aves)
Characterization of the population genetic structure of red macaws Ara
chloropterus and Ara macao (Psittaciformes, Aves)
Tese apresentada ao Instituto de Biociências da
Universidade de São Paulo, para a obtenção do Título
de Doutor em Ciências, na área de Biologia/Genética.
Orientadora: Profa. Dra. Cristina Yumi Miyaki
São Paulo
2010
Comissão Julgadora:
______________________________ _____________________________
Prof. (a) Dr. (a) Prof. (a) Dr. (a)
______________________________ _____________________________
Prof. (a) Dr. (a) Prof. (a) Dr. (a)
__________________________________________
Orientadora: Profa. Dra. Cristina Yumi Miyaki
São Paulo
2010
Oliveira-Marques, Adriana Ribeiro
Caracterização da estrutura genética populacional das araras vermelhas Ara
chloropterus e Ara macao (Psittaciformes, Aves).
95 páginas.
Tese de doutorado – Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo.
Departamento de Genética e Biologia Evolutiva.
1.Arara 2. Ara chloropterus 3. Ara macao 4. Genética populacional 5. DNA
mitocondrial 6. Microssatélites I. Universidade de São Paulo. Instituto de Biociências.
Departamento de Genética e Biologia Evolutiva.
Às ARARAS, que deram sangue para este trabalho e por
me proporcionarem o imenso prazer de vê-las voando e de
conhecer um pouco da diversidade do nosso Brasil.
À minha Vózinha, aos meus pais e ao meu marido.
“ Por mais incerto que seja o destino,
por mais infundadas que sejam as razões,
quando se voa de asas dadas,
nunca se está só”
(Almir C Barros, foto modificada de ultrad.com.br)
Agradecimentos
À Cris Miyaki, por me orientar mais uma vez com a mesma dedicação, carinho e simpatia, e
principalmente por estar sempre disposta a ensinar e conversar.
À Profa. Anita Wajntal pelo seu apoio, simpatia e conversas.
Às araras que me proporcionaram momentos inesquecíveis e aprendizados que levarei para
sempre na minha vida.
A toda equipe do Projeto Arara-azul pelo estágio que fiz durante meu mestrado que me
ensinou o que é o trabalho de campo e fez com que eu me apaixonasse ainda mais pelas araras e pela
natureza, este estágio foi primordial para que eu conseguisse realizar as coletas do doutorado. Por
todas as amostras de sangue de Ara chloropterus para o doutorado e pelo carinho e amizade de
sempre, em especial Neiva Guedes, Cézar, Lia, Vanessa, Grace, Joacilei, Sophia e Gabi.
Ao Paulo Antas pelas amostras de Ara chloropterus do SESC Pantanal.
Ao Pedro Scherer Neto pela amostra de Diamante do Norte, PR.
Ao Alexandre Aleixo pelas duas amostras de sangue de A. macao.
Àqueles que me deram muitas dicas de onde eu poderia encontrar araras: Pedro Develey, Ale
Uezo, Gabam, Lama e Luís Fábio.
Às pessoas que me ajudaram na busca de amostras de sangue das araras no Mato Grosso: João
Batista Pinho, Bianca Bernadon, Giuliano Bernadon e Luciana Pinheiro, muito obrigada pelo apoio e
amizade de vocês.
Às pessoas que me ajudaram na coleta do Piauí: Raimundo Nobre, Sara, Jussara, família do
Sr. Maurino de Oliveira (Fazenda Boa Vista) em especial o Junior que nos ajudou na busca dos
ninhos, Lourival e muitos outros que me acolheram tão bem me hospedando em suas casas e me
ajudaram muito.
À Flávia Presti por todo o auxílio no laboratório, nas análises e amizade e ao seu marido
Patrick, pela ajuda imensa nas coletas do Pará.
Ao Frederico Drumond Martins, chefe da Floresta Nacional de Carajás (ICMBio) pelo apoio.
Às pessoas da Vale pelo apoio logístico no Projeto Salobo e toda a área da Vale.
Ao Sr. Luiz Sementeira, pela grande ajuda na procura dos ninhos e seus ensinamentos sobre
as árvores, sementes e mel em Canaã dos Carajás, PA.
À Jequissânia pela comida deliciosa e sua à família por nos receberem muito bem em
Mozartinópolis (Canaã dos Carajás, PA).
Ao Sr. Zé Galdino, que praticamente nos adotou em Mozartinópolis (Canaã dos Carajás, PA),
abriu as portas de sua casa e nos recebeu com muita simpatia, alegria e carinho.
Ao Ricardo de Almeida da Fundação Vitória Amazônica que me passou todos os contatos e
informações do Parque Nacional do Jaú, AM.
À Thayná Mello, do Instituto Chico Mendes (ICMBio) pelo apoio logístico no Parque
Nacional do Jaú.
Ao Roxo por indicar e subir nos prováveis ninhos no Parque Nacional do Jaú e toda a
comunidade do Tambor, em especial D. Maria e seus filhos e filhas que me receberam tão bem e me
ajudaram em tudo. Ao Sr. Valter pelas dicas de ninhos das araras. E um agradecimento muito
especial por vocês me hospedarem em suas casas.
Ao Sr. Antonio Flávio Filho, responsável pelo Parque Nacional de Pacaás Novos, por todo
apoio para que eu pudesse realizar a coleta ao redor do parque e pudesse utilizar a estrutura da sede.
Assim como toda a equipe de brigada de incêndio do parque, o Sr. Manoel Carneiro e o Jonatas
Santos Sangi pela imensa ajuda à subida nos supostos ninhos. Ao Sr. Raimundo Marinho (IBAMA,
AC) pelas dicas e apoio na busca de araras apreendidas pelo IBAMA.
À Andréa Soares Pires, diretora do Parque Estadual Morro do Diabo (SP), pelo apoio
logístico. Assim como o Alemão, que nos auxiliou no campo. E em especial ao Tiago Ribeiro e
Otinho que também me auxiliaram no campo e subiram num suposto ninho, mesmo parecendo
impossível.
Às tantas pessoas que me ajudaram a conseguir as amostras do Acre, me desculpe se eu
esquecer alguém, sou grata a cada pessoa que cruzou o meu caminho. Primeiramente ao Sr. Sebastião
Santos da Silva, chefe da Reserva Extrativista (RESEX) Chico Mendes, pelo apoio e dicas sobre a
RESEX. À Joseline Guimarães do Parque Chico Mendes que me autorizou e ajudou a coletar
amostras de sangue das araras do parque e me fez provar o Tacacá. A todos os responsáveis pelas
Associações dos Moradores e Produtores (AMOPRE) da RESEX Chico Mendes: Sr. Renato da
AMOPREX (Xapuri), Sr. Silva e Carlos da AMOPREB (Brasiléia) e Sra. Odinéia da AMOPREAB
(Assis Brasil). Ao Antonio com o auxílio na busca de uma amostra de sangue de A. chloropterus
dentro da RESEX de moto em Assis Brasil.
Às minhas companheiras de viagem ao Acre, Sofia Silva e Simonne Chinem, que tornaram a
coleta muito mais agradável e me deram oportunidade de conhecer um pouco mais sobre o bicho-
preguiça.
À todos que me autorizaram coletar sangue de suas araras cativas, um muito obrigada muito
especial.
Aos queridos antigos e novos amigos do LGEMA: Ana Cris, André, Camila, Cibele, Danilo,
Erikinha, Erwin, Fábio, Fernando Horta, Fernando Nodari, Flávia, Gustavo, Henrique, Marcos,
Melina, Priscila, Renatão, Ricardo, Taninha e Tiago, pelas dicas, ensinamentos, conversas, cafés,
pizzas, congressos e amizade que fizeram desses últimos anos uma convivência maravilhosa.
Ao Prof. Diogo pela ajuda com o programa Beast.
À Profa. Lurdes e sua equipe por abrir as portas do seu laboratório para que eu fizesse as
extrações de DNA das amostras não invasivas. Em especial a Keila, Raquel, Carol, Carlos, Mari e
Felipe.
À Profa. Marie-Anne por nos autorizar usar os sequenciadores do seu laboratório.
À Silvia pela imensa ajuda com o sequenciamento das amostras no laboratório da Profa.
Marie e pela amizade de sempre.
Ao Márcio e Carmen pelo sequenciamento das amostras no ICB.
Às meninas do Genoma Humano pelas genotipagens: Kátia e Martha.
Aos professores do IB pelos seus ensinamentos e ótimas idéias. Em especial aos professores
da disciplina de genética: Prof. Carlos Vilela, Profa. Lyria Mori, Prof. Luis Neto e Profa. Denise
Selivon pelo estágio do PAE.
À todos os funcionários do IB, em especial: Carminha, Cláudia, Deisy, Genuveva, Helenice,
Sr. João, Linácia, Lucilene, Luzia, Maria e Suzi, pelo apoio e pelos sorrisos nos corredores do IB que
fizeram da rotina do meu dia-a-dia muito mais prazerosa.
Às Professoras Célia e Regina pela imensa ajuda financeira junto a PROAP. E ao Edu da
tesouraria do IB que sempre esteve pronto para ajudar.
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela bolsa de
doutorado.
À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e ao Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelo financiamento da pesquisa.
À Lynx Edicions, pela autorização do uso das figuras das araras do livro Handbook of the
Birds of the World, volume 04.
Ao Coral do IB pelos agradáveis ensaios, em especial ao maestro Leonardo Camargos e
maestrina Angela Salem pela alegria e simpatia contagiantes.
Às minhas amigas e amigos de coral que fizeram dos almoços após os ensaios ainda mais
alegres: Nelsita, Cecília, Heloísa, Simone, D. Christine, Cris, Marisa, Waldir e Fábio.
Aos amigos do Madrigal Canto D’Arte que me ajudam a levar a vida com muita cantoria e
alegria. Realmente, quem canta os males espanta! Em especial ao pessoal da carona: Léo, Marlene,
Rita e Soninha, que fazem nossas viagens sempre alegres e muito agradáveis.
Aos queridos e queridas D. Eurides, S. Oton, Renata, Luciano e Daniela por continuarem me
apoiando e torcendo por mim. E a toda família Micheleto!
À minha amiga e irmã do coração, Patrícia, pela amizade verdadeira, apoio, torcida e aos
agradáveis almoços.
Aos meus irmãos, Anderson e Amanda e meu cunhado Nimai, pela torcida, apoio, carinho,
amor e amizade.
Aos meus pais, Marina e Dirceu, pelo apoio e incentivo mesmo preocupados com as minhas
viagens a campo! Toda dedicação, amor e tudo o que fizeram e ainda fazem por mim, é que me
tornaram o que sou hoje. Amo vocês!
Ao Otinho pelo seu apoio, incentivo e paciência mesmo com as minhas ausências, o deixando
sozinho por até 40 dias! Muito obrigada meu amor! Espero viver mais 15 anos ao seu lado.
A toda a minha família (Ribeiro, Oliveira...), amigos e amigas pelo apoio, torcida e carinho.
Desculpem-me se esqueci de alguém, para que este trabalho pudesse ser realizado muitas
pessoas me ajudaram e sou grata a todas!
Sumário
Resumo................................................................................................................................................ 1
Abstract............................................................................................................................................... 2
Introdução Geral................................................................................................................................ 3
Objetivos............................................................................................................................................. 13
Capítulo 1:
Áreas amostradas, observações de campo e alguns relatos sobre a biologia das espécies
estudadas.............................................................................................................................................. 14
Capítulo 2:
Caracterização da estrutura genética populacional de Ara chloropterus.................................. 29
Capítulo 3:
Caracterização da estrutura genética populacional de Ara macao.............................................57
Capítulo 4:
Análise comparativa entre as duas espécies estudadas: Ara chloropterus e Ara macao..........80
Conclusões Finais................................................................................................................................95
1
Resumo
O objetivo do presente estudo foi caracterizar a estrutura genética populacional de duas
espécies de araras: Ara chloropterus e Ara macao. Foram analisadas amostras de sangue e penas de
diferentes regiões no Brasil, de uma localidade na Bolívia e outra no Peru. Foram realizadas análises
com DNA mitocondrial (região controladora e citocromo oxidase I) e nuclear (microssatélites) das
duas espécies. Para A. chloropterus foram obtidos 2166 pares de base do DNA mitocondrial de 89
amostras e dados de seis locos de microssatélites de 95 amostras. A rede de haplótipos e a árvore de
neighbor-joining construídas com dados mitocondriais e os índices de FST obtidos com os dois
marcadores revelaram fraca estruturação genética. Isso pode ser devido a alto fluxo gênico
apresentado ou retenção de polimorfismo ancestral. Portanto, a espécie parece se organizar em
metapopulações (baixa estruturação genética e alto fluxo gênico). Nesse caso, seria interessante
conservar indivíduos de diversas localidades e seus corredores. Para A. macao foram obtidos 2094
pares de base do DNA mitocondrial de 68 amostras e dados de sete locos de microssatélites de 64
amostras. A rede de haplótipos e a árvore de neighbor-joining construídas com dados mitocondriais e
os índices de FST obtidos com os dois marcadores indicam ausência de diferenciação genética entre as
localidades estudadas. A análise demográfica dessa espécie indica expansão populacional há pouco
mais de 50.000 anos atrás e declínio populacional desde o último período máximo de glaciação. Estes
resultados sugerem que essa espécie é constituída de uma única grande população que poderia ser
considerada como uma única unidade de manejo caso outras diferenças (ex.: adaptações ecológicas
locais) não sejam encontradas. Ambas as espécies estudadas apresentam alta diversidade genética,
possivelmente devido a um intenso fluxo gênico dentro de cada uma.
2
Abstract
The present study aimed to characterize the population genetic structure of two macaw
species: Ara chloropterus and Ara macao. Samples from various localities in Brazil, one in Bolivia
and another in Peru were analyzed. Mitochondrial (control region and cytochrome oxidase I) and
nuclear (microsatellites) DNA were analyzed. For A. chloropterus 89 individuals had 2166 bp of
mitochondrial DNA sequenced and 95 individuals were genotyped for six polymorphic microsatellite
loci. Network and the neighbor-joining tree constructed based on mitochondrial data and FST values
obtained with both molecular markers revealed weak genetic structure. This can be due to high gene
flow or retained ancestral polymorphism. Thus, A. chloropterus seems to be organized in
metapopulations (low genetic structure and high gene flow). Under this scenario, it would be
desirable to preserve individuals from various locations and there corridors. For A. macao we
obtained 2094 bp of mitochondrial DNA for 68 individuals and data on seven microsatellites for 64
individuals. The haplotype network and the neighbor-joining tree constructed based on mitochondrial
data and FST values obtained with both molecular markers revealed no genetic differentiation among
localities. The demographic analysis of this species indicated a population expansion 50,000 years
ago and a population decline since the last glaciation maximum. These results suggest that this
species is organized as a large population that could be considered as a single management unit for
conservation purposes if other differences are not found (eg. local ecological adaptations). Both
species have high genetic diversity, possibly due to extensive gene flow within each one.
3
Introdução Geral
1 - Psitacídeos
Os psitacídeos (ordem Psittaciformes) são representados pelos papagaios, araras, periquitos,
maracanãs e afins. São facilmente reconhecidos pela morfologia de seus bicos curvados e
arredondados, por suas plumagens geralmente bastante coloridas (Forshaw, 1989; Collar, 1997). A
ordem Psittaciformes é uma das mais antigas pertencente à classe Aves (Cooper e Penny, 1997) e
atualmente é organizada em três famílias (Strigopidae, Cacatuidae e Psittacidae; Schweizer e col.,
2010). A Família Psittacidae se subdivide em cinco subfamílias (Arinae, Loriinae, Micropsittinae,
Psittacinae e Platycercinae) (Schweizer e col., 2010; Wright e col. 2008). A subfamília Arinae agrupa
todas as espécies neotropicais (Schweizer e col., 2010; Christidis e Boles, 2008; Tokita e col., 2007;
de Kloet e de Kloet, 2005; Sick, 1997;Forshaw, 1989; Smith, 1975).
2 - Psitacídeos no Brasil
Segundo Sick (1997), o Brasil possui 74 espécies de psitacídeos, algumas têm distribuição
bastante restrita, como é o caso de Anodorhynchus leari na caatinga do estado da Bahia. Outras
apresentam uma ampla distribuição, ocorrendo em grande parte do país, como Ara chloropterus e
Amazona amazonica.
A maioria das espécies é socialmente monogâmica e o casal permanece unido por toda a vida
(Sick, 1997). O período reprodutivo varia de acordo com a espécie e com as condições climáticas,
porém, em geral, ocorre de julho a março. Utilizam principalmente ocos em árvores para construção
do ninho, porém algumas espécies também utilizam cavidades em paredões rochosos, como Ara
chloropterus e Anodorhynchus leari. Myiopsitta monachus é o único psitacídeo que constrói ninhos
com gravetos. O número de ovos varia de um a cinco dependendo da espécie e o período de
incubação pode variar de 30 (espécies maiores) a 18 dias (espécies menores). O casal divide as
tarefas de cuidado com os filhotes, permanecendo no ninho na maior parte do tempo (Collar, 1997;
Forshaw, 1989).
Os psitacídeos têm sofrido com a perda de habitat e com a captura para o comércio ilegal.
Segundo a BirdLife International (2010) 74 espécies de psitacídeos estão ameaçadas de extinção em
diferentes graus. Duas espécies foram extintas depois da chegada dos europeus no Brasil
(Anodorhynchus glaucus e Cyanopsitta spixii), uma encontra-se em perigo de extinção (Pyrrhura
griseipectus), oito estão ameaçadas, cinco são vulneráveis e oito quase ameaçadas (BirdLife
4
International, 2010). As causas desse problema são a destruição de habitats e as capturas ilegais da
natureza para o comércio de animais silvestres. Assim, é necessária a vigilância e a proteção de seus
habitats. Dentre as demais espécies, 53 estão na categoria least concern, mas estão perdendo seus
habitats por perturbações humanas (Forshaw, 1989; Collar, 1997; BirdLife International, 2010).
Nesse caso estão as araras vermelhas, que são alvo do presente trabalho e serão descritas a seguir.
Ara chloropterus (Figura 1A)
Conhecida como arara-vermelha-grande, mede cerca de 90 cm e pesa entre 1250 e 1700
gramas. Habita floresta de baixada úmida, mas também penetra em floresta decídua tropical e mata
de galeria em savanas. Possui ampla distribuição: leste do Panamá, Colômbia, Venezuela, Guianas,
Brasil, Paraguai, leste e oeste do Equador, leste do Peru e noroeste da Bolívia. Sua distribuição se
sobrepõe em vários pontos com a de Ara macao (Collar, 1997; Sick, 1997). Alimenta-se de frutos,
flores e sementes. Seus ninhos são construídos em ocos de árvores (geralmente a espécie de maior
porte da região) ou em cavidades em paredões rochosos (Antas, 2009; Juniper e Parr, 1998; Collar,
1997; Abramson e col, 1995; Forshaw, 1989). Segundo a BirdLife International (2010), essa espécie
tem uma ampla distribuição. O tamanho da população global não é conhecido, mas é considerada
freqüente, apesar da evidência de um declínio populacional devido à perda de habitat e retirada da
natureza para ser utilizada como animal de estimação. Apesar de não ser uma espécie considerada
ameaçada, consta do Apêndice II do Convention for the International Trade of Endangered Species
(CITES) e como least concern na International Union for Conservation of Nature (IUCN).
Ara macao (Figura 1B)
Esta espécie consta como ornamento no primeiro mapa do Brasil, datado de 1502 (Sick,
1997). Ela é conhecida como arara-canga, mede entre 84 e 95 cm, pesa entre 950 e 1150 gramas, é
morfologicamente muito semelhante a Ara chloropterus. Habita a copa de florestas úmidas, florestas
de margens de rios e clareiras com árvores altas. Possui duas sub-espécies: A. m. cyanoptera (do
sudoeste do México à Nicarágua, é a maior das duas sub-espécies e possui as pontas das asas
amarelas e azuis, e não verdes) e A. m. macao (com ampla distribuição: Costa Rica, Panamá, norte e
leste da Colômbia, Venezuela, Guiana, Brasil, sul a leste do Equador, leste do Peru e noroeste da
Bolívia) (Abramson e col., 1995; Collar, 1997; Sick, 1997). Sua dieta e características de nidificação
são semelhantes às de A. chloropterus (Juniper e Parr, 1998; Collar, 1997; Abramson e col., 1995;
Forshaw, 1989). Segundo a BirdiLife International (2010), esta espécie é descrita como comum.
Apesar da perda de habitat e retirada de filhotes da natureza, acredita-se que esta espécie não se
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aproxima da porcentagem mínima de declínio populacional (mais de 30% de declínio em 10 anos ou
três gerações) para ser incluída na lista vermelha da IUCN, sendo considerada como least concern.
Porém como todos os psitacídeos consta do Apêndice II do CITES.
Figura 1: Ara chloropterus (A) e Ara macao (B) e suas distribuições geográficas atuais. Figuras
modificadas de Collar (1997) e Abramson e col. (1995).
No estudo de filogenia molecular de Oliveira-Marques (2006), baseado em 5053 pares de
base (pb) do genoma mitocondrial [região controladora, DNA ribossomal (rDNA) 12S, rDNA 16S,
sub-unidade 2 da NADH desidrogenase e citocromo b] com todas as espécies atuais do gênero Ara,
A. chloropterus e A. macao foram recuperadas como irmãs, com 4% de divergência genética e com
separação há aproximadamente três milhões de anos atrás. Até o momento, a estrutura genética
populacional de ambas as espécies foi pouco estudada, sendo que tanto Faria (2000) como Gebhardt
(2007) não encontraram estruturação genética em nenhuma das espécies. Para confirmar se no Brasil
também não há estruturação genética entre as regiões, seria necessário aumentar o número de
indivíduos e de marcadores, tal informação é importante para auxiliar os planos de manejo e de
conservação das espécies.
3 - Áreas amostradas
As duas espécies estudadas possuem ampla distribuição geográfica, portanto, no presente
estudo, para obter uma boa representatividade dessas espécies, foram realizadas coletas de amostras
em diferentes localidades do Brasil. No caso de Ara macao, foram coletadas amostras na Amazônia
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brasileira, nos estados do Pará, Amazonas, Rondônia e Acre. No caso de Ara chloropterus, foram
amostrados indivíduos dos diferentes biomas onde ocorre: Cerrado no Piauí, Pantanal no Mato
Grosso e Mato Grosso do Sul, Amazônia nas mesmas localidades de Ara macao e Mata Atlântica em
São Paulo.
4 - Estudos de estrutura populacional para conservação de espécies
Quando uma espécie se divide em subpopulações isoladas pode haver perda de
heterozigosidade e também pode resultar em freqüências alélicas diferentes das encontradas na
espécie como um todo devido à fixação de alelos diferentes pela ação da deriva genética. Essa
diminuição pode ser quantificada pelo índice F de Wright (1931), o qual utiliza dados de freqüências
alélicas obtidas de distintas localidades geográficas para quantificar a subdivisão de populações, e em
equilíbrio, permite estimar o fluxo gênico. Este índice mede a diferença entre a média de
heterozigosidade entre as subpopulações e a potencial freqüência de heterozigotos se não existisse a
subdivisão (Hartl e Clark, 1997). A verificação da existência de estruturação genética nas populações
naturais e a estimativa do fluxo gênico entre as subpopulações pode ser realizada a partir da análise
de variância das freqüências gênicas entre as diferentes localidades (FST). No caso de haver
estruturação populacional, as unidades de manejo a serem consideradas devem ser as subpopulações
diferenciadas geneticamente (Solé-Cava, 2001) e no caso de não haver diferenciação genética, deve-
se estudar a melhor maneira de conservar a espécie.
5 - Genética molecular aplicada à conservação
Inicialmente, utilizavam-se enzimas para avaliar a variabilidade genética, atualmente, as
metodologias de biologia molecular permitem recuperar informações diretamente do DNA. Isso é
mais vantajoso, pois é possível detectar uma maior variabilidade, o DNA pode ser recuperado de
tecidos mortos (como pele de museu e fósseis) e de células encontradas em amostras não invasivas
(como pêlos e penas). A genética molecular pode ser usada como instrumento de investigação em
diversas áreas, como por exemplo, para estudar a biologia reprodutiva e as estruturas familiar e
populacional, para estimar níveis de migração e dispersão nas populações e para determinar a origem
de indivíduos sem procedência conhecida, o que é muito importante para a fiscalização de animais
retirados da natureza (Avise, 1994). Dois marcadores moleculares comumente utilizados nessas
abordagens estão brevemente descritos a seguir.
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5.1 - DNA mitocondrial
O genoma mitocondrial (DNAmt) animal é muito utilizado em estudos populacionais devido
à facilidade de manipulação e de purificação em laboratório, à presença de várias cópias, à herança
principalmente materna, à raridade de eventos de recombinação e à taxa de evolução mais rápida que
a do genoma nuclear (Quinn, 1997). O DNAmt animal é uma molécula circular que contém genes
para dois RNAs ribossomais (rRNA), 22 RNAs transportadores (tRNA) e 13 proteínas, além da
Região Controladora (RC) (Houde e col., 1997). Acredita-se que a RC regula a replicação da fita H e
a transcrição de todos os genes do DNAmt (Bensch e Härlid, 2000; Desjardins e Morais, 1990).
Embora o DNAmt seja relativamente bem conservado, sua ordem gênica tem mostrado variação
entre diferentes grupos de aves, inclusive com a presença de RC duplicada (Desjardins e Morais,
1990; Eberhard e col., 2001). A ordem dos genes ao redor da RC foi caracterizada em representantes
da maioria dos gêneros de psitacídeos neotropicais (Tavares, 2005). Os representantes do gênero Ara
possuem apenas uma RC, ou seja, esses táxons apresentam a ordem gênica típica de aves.
A relativamente alta variabilidade encontrada na RC ocorre devido a substituições de
nucleotídeos, à presença de curtas deleções e inserções e a variação no número de repetições em
tandem. A RC pode ser dividida em três domínios: Domínio I – rico em AC, é a região adjacente ao
tRNAGlu
na ordem gênica típica; possui seqüências associadas com o término da replicação da fita H
(TAS) e freqüentemente inclui repetições de número variável (VNTRs); Domínio II – rico em CT, é
o domínio mais conservado e o Domínio III – rico em AT e muito pobre em G, é a região próxima ao
tRNAPhe
na ordem gênica típica. É o domínio freqüentemente mais variável devido à sua alta taxa de
substituições de nucleotídeos, inserções, deleções e unidades repetitivas. Contém seqüências
conservadas de importância funcional (os promotores de transcrição das fitas leve e pesada), origem
de replicação da fita H e curtas seqüências de blocos conservados (Baker e Marshal, 1997).
As seqüências da RC são muito utilizadas em estudos de estrutura populacional. Por exemplo,
um estudo com seqüenciamento da RC do veado dos pampas (Ozotoceros bezoarticus) revelou que
as suas populações estavam estruturadas (Gonzalez e col., 1998). Outro exemplo é o caso da foca
havaiana Monachus schauinslei, cujas cinco populações existentes não apresentam evidência de
expansão populacional. O seqüenciamento da RC e a análise de minissatélites revelaram um
baixíssimo nível de variabilidade dentro de cada população com uma alta diferenciação entre elas
(Kretzmann e col., 1997). E outros trabalhos mais recentes têm utilizado a RC como marcador em
estudos populacionais (Chabot e Allen, 2009; Muñoz-Fuentes e col., 2005; Tomasik e Joseph, 2005;
Brown e col., 2004).
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Três genes (COI, II e III) codificam subunidades da enzima citocromo c oxidase, que é
importante no mecanismo respiratório da mitocôndria, pois faz parte do complexo IV da cadeia
transportadora de elétrons (Ballard e Whirlock, 2004). As sequências desses genes tem sido muito
usadas em estudos de genética populacional, filogenia, evolução, sistemática e de conservação. Um
exemplo é o caso do lagarto da espécie Tympanocryptis pinguicolla, cujo estudo incluindo o COI
mostrou que não era interessante a translocação de indivíduos de um determinado local para outro
por constituírem duas populações isoladas geneticamente (Melville e col., 2007). Há ainda, vários
outros exemplos de estudos (Venarsky e col., 2009; Lapègue e col., 2006; Guryev e col., 2001;
Holland e col. 2004).
5.2 - Microssatélites
Os microssatélites são compostos de sequências (de 2 a 9 pb) repetidas em tandem de número
altamente variável. Em geral, os microssatélites que são selecionados para análises populacionais
possuem de 100 a 250 pb para permitir sua fácil amplificação por PCR. Eles estão distribuídos no
genoma de distintos organismos e são relativamente frequentes. Porém, em aves ocorrem em
freqüência menor em comparação com outros organismos (Hearne e col., 1992; Primmer e col.,
1997; International Chicken Genome Squencing Consortium, 2004).
Em geral, os microssatélites apresentam alto grau de variabilidade intra e interpopulacional,
os primers desenvolvidos para uma espécie podem ser usados em espécies filogeneticamente
próximas, permitem trabalhar com pequena quantidade de DNA por serem amplificados por PCR, os
alelos de um indivíduo heterozigoto são geralmente de fácil visualização e são multialélicos numa
população (Bruford e col., 1992). Os microssatélites têm sido utilizados, entre outros trabalhos, para
estudos de estrutura de populações (Brown e col., 2004; Muñoz-Fuentes e col., 2005) e para estimar
o grau de parentesco (Burland e col., 2001). Há alguns primers de microssatélites desenvolvidos para
psitacídeos, como por exemplo: Psittacus erithacus (Taylor e Parkin, 2007); Amazona guildingii
(Russello e col., 2001 e 2005) e Ara ararauna (Caparroz e col. 2003).
6 - Referências Bibliográficas
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Objetivos
O objetivo geral do presente estudo é caracterizar a estrutura genética populacional de duas
espécies de araras (Ara chloropterus e Ara macao) no Brasil. Para alcançar esse objetivo:
1) Realizamos análises filogeográficas e de genética de populações das duas espécies;
2) Avaliamos a variabilidade genética de indivíduos silvestres das duas espécies;
3) Comparamos o grau de estruturação genética entre elas.
14
Capítulo 1
Áreas amostradas, observações de campo e alguns
relatos sobre a biologia das espécies estudadas
15
1 2
3 4 5
1: Canaã dos Carajás (PA), 2: Gilbués(PI), 3: Parque Estadual Morro do Diabo (SP), 4:
Parque Nacional do Jaú (AM), 5: Parque Nacional de Pacaás Novos (RO). Todas fotos por Adriana
Ribeiro de Oliveira-Marques.
16
O objetivo deste capítulo é apresentar alguns dados sobre as localidades amostradas e a
metodologia de coleta de amostras; descrever como as coletas foram realizadas e apresentar alguns
dados coletados sobre a biologia das duas espécies de araras.
1 - Introdução
O período reprodutivo de todas as espécies conhecidas popularmente como araras é de agosto
a março, dependendo da região e da espécie, e sua postura é de um a três ovos (em média, dois;
Guedes, 1993). Seus ninhos são construídos em ocos de árvores, que são geralmente iniciados por
pica-paus, ou resultantes da quebra de galhos, ou mesmo pela ação de fungos e cupins. Normalmente,
o casal de araras aumenta estes ocos usando seus bicos. No Pantanal, Guedes (2003) verificou que
Ara chloropterus seleciona ninhos mais camuflados na vegetação do que a arara-azul
(Anodorhynchus hyacinthinus), preferindo ninhos no interior da mata (cordilheiras e capões) com
menor cavidade de abertura e maior profundidade da base. Seu comportamento no ninho é
relativamente discreto. Na região nordeste Ara chloropterus e Anodorhynchus hyacinthinus nidificam
preferencialmente em cavidades de paredões (Collar, 1997). Acredita-se que a incubação seja feita
pela fêmea durante 28 a 30 dias. Até a eclosão, a fêmea permanece a maior parte do tempo no ninho,
sendo alimentada pelo macho. Após a eclosão, os filhotes permanecem no ninho aproximadamente
100 dias. Após o vôo, os jovens ainda são dependentes dos pais para alimentação, e a separação
geralmente ocorre após 12 ou 18 meses (Juniper e Parr, 1998; Collar, 1997; Guedes, 1993; Abramson
e col., 1995; Forshaw, 1989). Estudos de longo prazo com outras espécies de psitacídeos neotropicais
têm mostrado que eles são fiéis aos sítios de nidificação, se reproduzindo por anos nos mesmos
ninhos (Guedes e col, 2006; Guedes, 1993).
Alguns estudos com as duas espécies de araras vermelhas indicam que elas possuem
diferenças na biologia reprodutiva. No caso de Ara chloropterus, no Suriname a reprodução se inicia
em dezembro, no Peru de novembro a abril e no Pantanal do Mato Grosso do Sul de março a
setembro (Guedes, 2003). Estudos no leste do Peru indicaram preferência de nidificação em árvores
dos gêneros Dipteryx e Iriarthea e botam de 2 a 3 ovos. Collar (1997) cita que em um estudo, sete de
16 ninhos monitorados produziram um ou mais filhotes; de 25 filhotes, 10 (40%) emplumaram, nove
(36%) morreram aparentemente de desnutrição e seis (24%) foram predados (Collar, 1997; Guedes,
1993; Abramson e col., 1995; Forshaw, 1989). Já no caso de Ara macao, no México e na Guiana
Francesa o período reprodutivo se inicia em março, na Nicarágua em abril, na Costa Rica e no Brasil
Central em outubro e no Peru em novembro, e podem botar de 1 a 4 ovos com incubação de 24 a 28
dias e permanência dos filhotes no ninho de 14 semanas. Collar (1997) cita que em um estudo, nove
de 21 ninhos tiveram sucesso com um ou mais filhotes; de 21 ninhos envolvidos, 10 (48%)
17
emplumaram, quatro (19%) morreram aparentemente de desnutrição e sete (33%) foram predados
(Juniper e Parr, 1998; Collar, 1997; Abramson e col., 1995; Forshaw, 1989). Todos estes estudos
indicaram que as araras vermelhas se alimentam de uma grande diversidade de frutos e sementes.
A distribuição geográfica das araras vermelhas é relativamente ampla (Figura 1). Apesar das
diferentes épocas reprodutivas das araras nos lugares já estudados, podemos observar que a maioria
dessas datas se sobrepõe. No presente estudo, foram realizadas coletas em campo e algumas amostras
foram recebidas de projetos de conservação. Essas expedições foram realizadas no período
reprodutivo. A seguir, vamos descrever brevemente as áreas amostradas no presente trabalho.
Figura 1: Mapa de distribuição original de Ara chloropterus (linha tracejada preta) e Ara macao
(linha tracejada azul). Pontos indicam localidades amostradas (vermelho: locais de nossas coletas e
verde: amostras coletadas por terceiros). A: região do Pantanal, MT e MS; B: Gilbués e São Gonçalo
de Gurguéia, PI; C: Canaã dos Carajás, PA; D: Parque Nacional (PN) do Jaú, AM; E: PN de Pacaás
Novos, RO; F: Parque Estadual (PE) Morro do Diabo, SP; G: Reserva Extrativista (RESEX) Chico
Mendes, AC; H: Redenção, PA; I: Diamante do Norte, PR; J: Madre de Dios, Peru; K: Cobija,
Bolívia. Mapa modificado de I3Geo.
A
A
B
D
C
E
F
G
H
I
J
K
18
1.1 - Áreas amostradas
As amostras de diferentes localidades do Pantanal do Mato Grosso do Sul foram coletadas
pela equipe do Projeto Arara-Azul desde 1991 (Guedes, 2003) e as amostras do Pantanal do Mato
Grosso foram coletadas pela equipe do Dr. Paulo Antas no SESC Pantanal desde 2003 (Figura 1-A).
O Pantanal é a maior planície de inundação contínua do mundo, formada pelo alto rio Paraguai e seus
tributários, localizado na região oeste do Brasil, em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul e com uma
pequena porção na Bolívia e Paraguai. O bioma tem cerca de 150 mil km². Em geral, possui clima
tropical com estação seca no meio do ano e chuvas concentradas no final e início de cada ano. No
entanto, devido ao seu contato com outros biomas como Amazônia e Cerrado, é quente e úmido com
três meses secos ao norte e ao sul e quente e semi-úmido com quatro a cinco meses secos na porção
central e a pluviosidade pode chegar a 2.000 mm ao norte e 1.500 mm ao sul (Antas, 2009).
No Piauí, a expedição foi realizada nos municípios de Gilbués e São Gonçalo de Gurguéia, no
sul do estado (Figura 1-B). Essa região é considerada como núcleo de desertificação (Pereira e
Gonçalves, 2007). O tipo de cobertura vegetacional na área de coleta é de transição entre cerrado e o
semi-árido do nordeste brasileiro (Caatinga), com predominância de fauna e flora do Cerrado. A
região tem temperaturas médias variando entre 23 e 33º C e precipitação pluviométrica anual média
de cerca de 1.100 mm, com duas estações distintas, uma de chuvas (novembro a março) e outra de
seca que se estende de abril a setembro (Carvalho e Almeida-Filho, 2007; Palheta, 2004).
No Pará foram visitadas duas áreas, uma compreende a Serra dos Carajás (Floresta Nacional
[Flona] Carajás e Flona Tapirapé-Aquiri) e a outra a região do município de Canaã dos Carajás
(Figura 1-C). Na Serra dos Carajás predominam dois tipos de cobertura vegetal: as áreas de canga,
com fisionomias de savanas (Secco e Mesquita, 1983) e as áreas de mata amazônica onde a principal
cobertura vegetacional é de floresta ombrófila densa com variações locais, principalmente
relacionadas a variações de relevo (Cavalcanti, 1986). A Serra dos Carajás apresenta um clima
tropical chuvoso com seca de inverno e forte período de estiagem coincidindo com o inverno do
hemisfério sul, e as precipitações flutuam entre 2.000 e 2.400 mm anuais. A temperatura média anual
está em torno de 24º C. O período mais quente do ano é de julho a setembro. Canaã dos Carajás é
basicamente agrícola e sua economia gira em torno da cultura do arroz, milho e feijão, mas a
população de quase 11 mil habitantes também tira da pecuária o seu sustento e, portanto,
praticamente toda a área do município foi desmatada dando lugar a plantações e pastos. O período
mais chuvoso é de novembro a abril (Coelho e col., 2005; Cavalcanti, 1986).
No Amazonas a expedição foi realizada no Parque Nacional do Jaú (PNJ, Figura 1-D)
localizado a 200 km a noroeste de Manaus, abrangendo as bacias hidrográficas dos rios Jaú e Unini,
afluentes da margem direita do rio Negro. Seus limites foram traçados ao longo das margens dos
19
principais rios, ao norte pelo rio Unini e ao sul pelo rio Carabinani, que é afluente do rio Jaú (que se
localiza na região central do parque). O PNJ foi criado em 1980 e é uma das áreas protegidas mais
extensas do Brasil, com 2.272.000 ha (Borges, 2004) e foi declarado em 2000 pela UNESCO como
Patrimônio da Humanidade. A temperatura varia entre 26 e 27º C, o clima é equatorial úmido com
estação seca. A pluviosidade varia entre 2.000 e 2.250 mm, o período chuvoso compreende os meses
de dezembro a abril e menos chuvoso entre julho e setembro (Borges, 2004). Ainda hoje há ocupação
humana dentro do parque, porém, segundo pesquisadores da Fundação Vitória Amazônica, que
mantém estudos dentro do parque desde 1990, está diminuindo.
Em Rondônia o trabalho foi realizado no entorno do PN de Pacaás Novos, no município de
Campo Novo de Rondônia (Figura 1-E), criado em 1979. O clima da região é quente úmido com dois
a três meses secos, do tipo equatorial, com período chuvoso de novembro a março, quando se
concentra 70% da precipitação anual de 2.000 a 2.250 mm (IBAMA, 2005). O inverno de junho a
agosto corresponde à estação seca. Esta região se caracteriza pela transição entre Floresta Amazônica
(nos vales e encostas) e Cerrado (nas partes mais altas; IBAMA, 2005).
No estado de São Paulo a expedição ocorreu no Parque Estadual Morro do Diabo (Figura 1-F)
criado em 1941 como reserva e passando a parque em 1986, abriga a maior área de floresta tropical
estacional semi-decidual do estado (Mata Atlântica de Interior). O parque se encontra no Pontal do
Paranapanema, município de Teodoro Sampaio, na confluência dos rios Paranapanema e Paraná, que
dividem os estados de São Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul. O clima da região é subtropical
úmido, com verões quentes e chuvosos (setembro a março) e inverno seco (junho a agosto). A
temperatura média anual é de 21º C e precipitação média apresenta valroes entre 1.100 mm a 1.300
mm (Fundação Florestal, 2010). Nesta região, Ara chloropterus é considerada criticamente em perigo
(decreto nº 53494 de 02/10/2008).
A última expedição realizada foi no Acre, no entorno da Reserva Extrativista (RESEX) Chico
Mendes (Figura 1-G), que abrange os municípios de Assis Brasil, Brasiléia, Capixaba, Xapuri, Sena
Madureira e Rio Branco. O clima na região é muito úmido com temperatura média anual de 26º C,
com verão entre setembro e novembro, inverno entre junho e agosto e precipitação média anual de
2.200 mm (IBAMA, 2010). A vegetação dominante é a floresta tropical aberta, com subgrupos
diferenciados: floresta tropical aberta com bambu, palmeiras e cipó (IBAMA, 2010).
20
2 - Material e Métodos
2.1 - Localização dos Ninhos
Durante o planejamento das viagens, chefes de Parques Nacionais e Estaduais, Estações
Ecológicas e pesquisadores das áreas a serem visitadas foram contatados por telefone para obter
informações sobre a presença de araras vermelhas e possível conhecimento de existência de ninhos.
Confirmada a presença de ninhos, foram contatados mateiros locais para que confirmassem supostos
ninhos. Com esta confirmação, as viagens foram marcadas em possíveis épocas reprodutivas para
coleta de sangue e de penas de filhotes e adultos. Em cada localidade, foram visitados os supostos
ninhos buscando vestígios de ocupação por araras, como restos de alimento, penas, fezes no chão
e/ou dentro das cavidades, ovos ou filhotes nos ninhos ou marcas de bicadas na borda das cavidades,
assim como a presença de casal próximo das árvores (Guedes e Seixas, 2002; Guedes, 1993).
2.2 - Técnicas de alpinismo para acessar potenciais ninhos
Para chegar até a entrada dos potenciais ninhos em ocos de árvores e paredões rochosos, foi
utilizada a técnica de alpinismo usada por Guedes (1993) com auxílio de estilingue, chumbada, linhas
de nylon, corda fina, cordas de alpinismo, fitas de ancoragem, cadeirinhas, colete, mosquetões, oito e
ascensores. Inicialmente foi atirado um chumbinho com uma linha de nylon acima do oco, no galho
mais próximo, e nela foi amarrada a corda fina que guia a corda de alpinismo. Esta corda foi presa
em uma fita de ancoragem amarrada na própria árvore ou em árvores ao lado. O colete e a cadeirinha
foram presos à corda pelos mosquetões e a subida até a altura da entrada do oco da árvore foi
realizada utilizando os ascensores (Figura 2-A). Para a descida foi utilizada a técnica de descida pelo
oito. Para acessar os potenciais ninhos em paredões (Figura 2-B), a corda de rapel foi presa em uma
árvore firme e foi realizada a descida a partir do topo dos paredões com a técnica de descida pelo
oito, sendo que em alguns ninhos foi necessário colocar uma madeira para servir de ponte até a
entrada do ninho, a subida de volta ao topo do paredão é feita da mesma forma da subida em árvore.
Sempre que possível, foram feitos registros fotográficos de todos os potenciais ninhos encontrados e
suas localizações foram determinadas pelo Sistema de Posição Global (GPS).
21
Figura 2: Acesso aos ninhos. A: Árvore; B: Paredão.
2.3 - Coleta de Material Biológico
Quando havia filhote no ninho, ele foi colocado dentro de um saco de pano com uma corda e
descido até um pesquisador ao pé da árvore ou do paredão. Então, foi tirada uma foto do filhote
(Figura 3-A) e verificada a sua condição de saúde. Em seguida, a cabeça do filhote foi coberta e
realizada assepsia na veia braquial da asa para retirada de aproximadamente 0,1 ml de sangue com
seringa descartável (Figura 3-B), e em seguida o sangue foi estancado com um chumaço de algodão
com álcool. O sangue foi transferido para tubos com 0,5 ml de etanol absoluto e mantido à
temperatura ambiente. Assim que é terminado o procedimento, verifica-se a condição do filhote e o
mesmo é colocado de volta em segurança no seu ninho. Filhotes com mais de 30 dias de vida foram
anilhados (Figura 3-C). Todas as penas encontradas também tiveram sua localização identificada por
GPS e foram armazenadas individualmente em envelopes de papel. Quando autorizado, também
foram coletadas amostras de sangue de indivíduos adultos mantidos por moradores locais com o
mesmo procedimento. Não foram capturados adultos na natureza. Todas as amostras estão estocadas
a –20ºC no Laboratório de Genética e Evolução Molecular de Aves (LGEMA) do Instituto de
Biociências, Universidade de São Paulo. Essa coleção está credenciada como Fiel Depositário junto
ao CGEN.
A B
22
Figura 3: A: Filhote de arara vermelha; B: Retirada de sangue; C: Tarso de filhote com anilha.
2.4 – Identificação de árvores utilizadas como ninho e como fonte de alimento
Para identificar as árvores nas quais os ninhos foram localizados, foi perguntado para
moradores locais o nome comum da árvore e as mesmas foram fotodocumentadas. Com essas
informações foram realizadas pesquisas na literatura para se confirmar a identificação das espécies.
Os frutos encontrados ao pé dos ninhos foram recolhidos e fotografados e realizado o mesmo
procedimento de identificação, assim como áreas de comedouros (locais onde foram vistas muitas
araras se alimentando, figura 4).
A B
C
23
Figura 4: Frutos de macaúba (Acrocomia aculeata) encontrados caídos numa área de comedouro de
Ara chloropterus na borda do PE Morro do Diabo.
3 - Resultados e Discussão
No início do trabalho, havia em nosso laboratório 44 amostras de sangue de Ara chloropterus: 10
de Nhecolândia (MS), 10 de Abobral (MS), sete de Aquidauana (MS), sete de Miranda (MS), oito de
Pantanal Norte (MT) e duas de Madre de Dios (Peru). Além de 18 amostras de Ara macao: 12 de
Redenção (PA) e seis de Madre de Dios (Peru). Para obter amostras de localidades adicionais no
Brasil, foram realizadas seis saídas a campo: Gilbués, Piauí; Canaã dos Carajás, Pará; Parque
Nacional (PN) do Jaú, Amazonas; PN de Pacaás Novos, Rondônia; Parque Estadual (PE) Morro do
Diabo, São Paulo e Reserva Extrativista (RESEX) Chico Mendes, Acre.
Em Gilbués, Piauí, o período de coleta foi de 09 a 30 de outubro de 2007. Foram vistoriados 23
supostos ninhos de Ara chloropterus em paredões rochosos, dos quais nove estavam ativos, destes,
cinco tinham dois filhotes cada, os demais tinham apenas um filhote. Todos os filhotes encontrados
foram anilhados, tendo o mais novo aproximadamente 35 dias de vida e os mais velhos estavam
prontos para voar (aproximadamente 90 dias). Este período de coleta se mostrou uma boa época para
coleta de sangue de filhotes de A. chloropterus nesta região. Porém, seria interessante acompanhar os
mesmos ninhos por várias estações reprodutivas para avaliar: se os ninhos desativados não estavam
sendo mais usados pelas araras; ou se no período de nossa visita os filhotes já haviam deixado os
ninhos, o que é menos provável, já que não foram avistados casais com filhotes voando; ou se
somente nesse ano os ninhos sem filhotes não foram utilizados. Um monitoramento de longo prazo
de A. chloropterus também poderia permitir avaliar se há saída de indivíduos dessa localidade, pois
todos os ninhos visitados possuem histórico de retirada de filhotes para venda ilegal até o final da
24
década de 1990 (Nobre, comunicação pessoal). Também foram coletadas amostras de três indivíduos
cativos de um morador local que informou que essas araras eram da região. Nessa coleta foi difícil
encontrar restos de côcos embaixo dos ninhos, pois o acesso foi muito difícil, mas os poucos restos
de côcos encontrados eram de babaçu (Orbignya phlerata), buriti (Mauritia flexuosa) e pequi
(Caryocar coriaceum), o último parece ser o preferido de A. chloropterus devido à maior quantidade
de restos encontrados. Segundo moradores locais, as araras também se alimentam de frutos de
piaçava (Atalea funifera), mas não nessa época do ano.
Logo em seguida à coleta do Piauí, foi realizada a viagem para o sudeste do Pará no período
de 03 a 20 de novembro de 2007. Na primeira semana, o trabalho foi realizado na FLONA Tapirapé-
Aquiri, onde foram realizados avistamentos de mais de 40 pares de araras vermelhas e encontrados
11 supostos ninhos. Sete desses ninhos eram de Ara macao, dois de Ara chloropterus e para os outros
dois não foi possível identificar as espécies, pois as araras não foram avistadas. De todos os ninhos,
sete eram em castanheiras (Bertholletia excelsea) e quatro em amarelão (Euxylophora paraensis). A
maioria das entradas dos potenciais ninhos se encontrava muito alta, próximo à copa, e a presença de
árvores menores e principalmente de cipós, impossibilitou a montagem do equipamento de rapel, por
isso somente foi possível acessar dois potenciais ninhos. As cavidades dentro deles eram muito
profundas, com mais de 4 m. Em uma das árvores foi possível ouvir o filhote no ninho, mas não foi
possível vê-lo e capturá-lo, e o outro ninho estava vazio. Em seguida, fomos à região de Canaã dos
Carajás, área que se encontra no entorno da FLONA de Carajás e que é composta quase
exclusivamente de pasto. Nesta região foram realizados avistamentos de 30 araras vermelhas e
encontrados sete potenciais ninhos, possivelmente todos de Ara macao, porém em dois deles as
araras não foram vistas. Foi possível subir em três ninhos: em um deles havia três ovos e o casal o
estava defendendo e nos demais não havia filhote nem ovo. Nesta região foi possível coletar sangue
de araras cativas de moradores locais: seis de A. chloropterus e quatro de A. macao. Os moradores
locais informaram que as araras vermelhas nidificam antes do período da visita, portanto, para
trabalhos futuros, outro período de coleta deveria ser planejado, principalmente na Serra dos Carajás,
onde foi avistado maior número de araras. Ainda nesta viagem, foi coletado sangue de animais
apreendidos pelo IBAMA local: oito de A. chloropterus e dez de A. macao. No total, foram coletadas
14 amostras de sangue de cada espécie e coletadas no chão seis penas de A. macao e uma de A.
chloropterus. Nesta coleta não foi encontrado nenhum côco no chão, porém foram vistas araras
vermelhas se alimentando de castanha-do-pará (Bertholletia excelsea). Moradores locais informaram
que elas comem outros tipos de côcos, como inajá (Maximiliana regia), tucum (Astocarym sp), entre
outros. Uma observação interessante dessa viagem foi que ninhos e avistamentos de araras-azuis
(Anodorhynchus hyacinthinus) indicam que elas preferem áreas de vegetação mais aberta que as
araras vermelhas, tal observação já havido sido feita para região do Pantanal (Antas, 2009; Guedes,
25
2003) e ainda também foi observado que as araras vermelhas preferem áreas de matas mais fechadas
e ninhos com cavidades mais profundas que a arara-azul.
No Parque Nacional do Jaú, Amazonas, o período de coleta foi de 05 a 17 de março de 2008.
Para chegar à comunidade do Tambor, local onde foi informado que haveria ninhos, levamos
aproximadamente 8 horas de viagem de barco e o mesmo tempo para a volta. Neste período foram
avistados 52 indivíduos de Ara macao voando e não foi observado nenhum indivíduo de A.
chloropterus. Pesquisadores da região afirmaram que A. chloropterus é rara nessa área e os
moradores locais disseram não conhecer esta espécie quando foi mostrada foto da mesma. Foram
localizados 40 supostos ninhos de Ara macao em arapari (Macrolobium acaciifolium). Destes
supostos ninhos, três tinham filhotes (um ninho com um filhote, outro ninho com um filhote e um
ovo, e outro ninho com dois filhotes), cinco tinham penas (três com uma pena cada, um com duas
penas e dois ovos e um com duas penas e casca de ovo; desses somente uma pena não foi possível ser
coletada), um ninho com dois filhotes de ratos, um com morcegos, um cheio de água, dois com
abelhas e por isso não foram acessados, um com ovo predado e 26 ninhos estavam vazios. Os filhotes
encontrados estavam com poucos dias de vida (menos de 30 dias, Figura 3-A) e sem penas, por isso
não foi possível anilhá-los, mas foram coletadas amostras de sangue. Também foi coletado sangue de
uma A. macao adulta de uma moradora local. A alimentação das araras não pôde ser avaliada, pois a
coleta foi realizada na época de cheia dos rios, assim os restos de alimento que as araras deixam cair
se perdem. Porém, moradores locais relataram que elas comem frutos da periquiteira (Guazuma
ulmifolia) e seringueira (Hevea sp.). Segundo relatos de moradores locais, nesta época do ano, os
filhotes das araras deveriam começar a voar, porém, foram encontrados ninhos com filhotes muito
novos e com ovos, o que indica que a reprodução das araras estava no seu início. Além disso, não
foram avistadas araras voando com filhotes, talvez o atraso das chuvas nesta região resultou no atraso
da reprodução das araras, segundo Guedes (2003) as araras do Pantanal iniciam seu período
reprodutivo junto com o início das chuvas.
Em Campo Novo de Rondônia, Rondônia, o período de coleta foi entre 22 e 30 de outubro
de 2008. Neste período foram visitados dez supostos ninhos de Ara macao, cinco em castanheira
(Bertholletia excelse) e não foi possível identificar as espécies das demais árvores. Dos dez ninhos
visitados, somente em três não havia um par de A. macao defendendo o oco, porém todos estavam
vazios, apenas com indícios de preparo dos ninhos para postura de ovos. O comportamento de defesa
dos casais em relação aos ninhos indica que as araras ainda estavam iniciando as cópulas. Foram
feitos 38 avistamentos de araras: 24 pousadas em árvores e as demais voando. Nesta região foi
observado um par de araras se alimentando de pequi (Caryocar brasiliense). Foram coletadas
amostras de sangue de 11 indivíduos de A. macao e três de A. chloropterus adultas encontradas em
cativeiro junto a moradores locais e sete penas de A. macao encontradas no chão, próximas de alguns
26
ninhos. Nesta região e no período visitado, A. macao ainda estava se preparando para a reprodução, o
que não estava de acordo com informações de moradores locais que foram contatados antes da
viagem, que possivelmente confundiram uma arara adulta sem a cauda com um filhote recém saído
do ninho.
No período de 21 a 28 de fevereiro de 2009 foi realizada a expedição ao Parque Estadual
Morro do Diabo, em Teodoro Sampaio, extremo oeste de São Paulo. Foram feitos 41 avistamentos de
Ara chloropterus: 18 em dois comedouros (palmeiras de macaúba Acrocomia aculeata em dois dias
distintos, 12 araras no primeiro dia e seis no segundo), oito em ninhos e os demais voando ou
pousados em árvores. Nesta região foram encontrados 12 supostos ninhos de A. chloropterus. Sete
desses supostos ninhos eram em guaritá (Astronium graveolens): dois de difícil acesso e que não
puderam ser investigados, um derrubado, três com casais de outras espécies de aves (dois com
Ramphastos toco e um com Ara ararauna) e um ninho vazio defendido por um casal de araras
vermelhas. Quatro supostos ninhos eram em ipê (Tabebuia sp): três vazios com casais de araras
vermelhas defendendo-os e um não foi acessado devido à presença de abelhas. Finalmente, um
suposto ninho foi localizado numa figueira (Ficus sp), porém havia um casal de urubus (Coragyps
atratus) na entrada da cavidade. No total foram coletadas 15 penas de A. chloropterus nos dois
comedouros localizados. A alimentação observada dos indivíduos nesta localidade foi de frutos de
macaúba (Acrocomia aculeata) nos comedouros e de sete-copas (Terminalia catappa) na área
urbana. Nesta região, A. chloropterus está criticamente em perigo, devido à perda do hábitat e
principalmente devido à captura ilegal de animais silvestres, o que foi confirmado pela presença de
escadas de madeira montadas para chegar aos ninhos de mais fácil acesso. O período da expedição
deveria coincidir com o final da época reprodutiva das araras nesta região, assim, possivelmente os
filhotes podem ter sido capturados antes de nossa chegada. É interessante citar que os dois
comedouros identificados se localizam em áreas no entorno do parque, e que as araras foram vistas
voando em direção da mata fechada antes e depois da alimentação, o que mostra a necessidade de um
trabalho maior de observação dessas araras nas bordas e interior do PE Morro do Diabo.
A última coleta realizada foi na Reserva Extrativista (RESEX) Chico Mendes, Acre, no
período de 01 a 12 de junho de 2009. O acesso às áreas com potenciais ninhos foi muito difícil.
Assim, foram coletadas amostras de araras com moradores locais nos municípios de Xapuri, Brasiléia
e Assis Brasil. Foram coletadas 14 amostras de sangue de Ara macao e duas de Ara chloropterus,
sendo uma delas na divisa entre Brasil e Bolívia. Durante esta expedição foi avistada apenas uma A.
macao voando em mata fechada. Conversas com moradores locais indicaram que a região onde
ocorrem as araras é de mata fechada e de difícil acesso, por isso, para trabalhar nesta região, é
necessário muito tempo de observação no campo e uma equipe preparada para entrar nessas matas.
27
4 - Conclusões
No final do trabalho de campo, conseguimos adicionar 58 amostras de Ara chloropterus (42
de sangue e 16 penas) e 68 de Ara macao (48 de sangue e 20 de penas) à amostragem já presente no
nosso laboratório.
Durante as viagens foi possível observar pelo menos oito espécies diferentes de frutos que as
araras vermelhas se alimentam, o que confirma que essas aves são generalistas na sua alimentação,
como descrito em outras localidades (Juniper e Parr, 1998; Collar, 1997; Abramson e col., 1995;
Forshaw, 1989). As araras vermelhas também são bastante generalistas quanto a espécies de árvores
dos ninhos, ao contrário de outras araras como Ara ararauna e Anodorhynchus hyacinthinus. A.
ararauna nidifica no Brasil somente em uma espécie de palmeira, o buriti (Mauritia flexuosa;
Bianchi, 1998) e no Peru em palmeiras de três gêneros diferentes: Mauritia, Oreodoxa e Iriartea
(Forshaw, 1989; Collar, 1997). Já A. hyacinthinus nidifica preferencialmente em duas espécies de
árvores do mesmo gênero, sendo Sterculia pruriens no Pará e S. apetala no Pantanal (Presti e col.,
2009). Estes dados são muito importantes para o correto manejo das espécies em planos de
conservação, pois no caso de espécies especialistas em um tipo de árvore, também é necessária a
conservação dessas árvores.
Comparando as épocas de chuva e seca de cada localidade com as observações de campo e
época das viagens, podemos observar que somente no Cerrado do Piauí a época reprodutiva não
coincide com a época chuvosa. Talvez por esta região ser mais seca que as demais áreas visitadas,
seja interessante que os filhotes estejam grandes na época chuvosa pela maior disponibilidade de
frutos. Apesar de as observações terem sido realizadas em apenas um ano em cada localidade, este
estudo foi importante como primeira avaliação de qual é a época reprodutiva dessas espécies para
estudos futuros nestas regiões.
5 - Referências Bibliográficas
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28
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Secco, R.S., Mesquita, A.L. (1983) Notas sobre a vegetação de canga de serra norte. Botânica 59:
1-13.
29
Capítulo 2
Caracterização da estrutura genética
populacional de Ara chloropterus
Ara chloropterus por Oliveira-Marques
30
1 - Introdução:
Ara chloropterus (G. R. Gray, 1859; Ara: forte, chloro: verde, ptera: asa). Possui plumagem
principalmente vermelha, com cauda e dorso azul e vermelho, possui região perioftámica branca com
fileiras de penas vermelhas, nas asas possui penas verdes e azuis, sua maxila é córnea com base e
ponta pretas e mandíbula preta (Abramson e col., 1995; Forshaw, 1989; Figura 1)
Figura 1: Ara chloropterus e sua distribuição original (linha tracejada preta); pontos vermelhos:
localidades das amostras estudadas; números e letras referentes à tabela 01. Mapa modificado de
I3Geo e figura modificada de Collar (1997).
Habita floresta de baixada úmida, geralmente até 500 m de altitude, mas também penetra em
florestas decíduas tropicais e matas de galeria em savanas e pastagens, até mesmo na vegetação da
caatinga intocada. No Panamá chega a 1500 m de altitude. Ocorre em grande expansão na América
do Sul, leste do Panamá, noroeste e leste da Colômbia, leste do Equador, leste do Peru, Venezuela,
Guiana, Suriname (florestas de interior montanhoso), Guiana Francesa, Brasil, norte e leste da
31
Bolívia, Paraguai e norte da Argentina. Possivelmente extinta na Argentina, em alguns lugares na
Bolívia, rara no Equador e em partes do leste do Peru, ainda presente no leste do Paraguai e ainda
comum na Guiana Francesa. No Brasil se distribui em toda a região Norte, Mato Grosso, Mato
Grosso do Sul, Piauí, Maranhão, Minas Gerais e ainda no Pontal de Paranapanema, extremo oeste de
São Paulo, onde é considerada criticamente ameaçada de extinção. Originalmente era encontrada
também no Sul da Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro e interior do Paraná (Figura 1). A
distribuição de Ara chloropterus se sobrepõe parcialmente à de várias outras espécies de araras,
incluindo A. ararauna, A. macao e Anodorhynchus hyacinthinus (Collar, 1997; Abramson e col.,
1995; Forshaw, 1989). Sua alimentação é bastante variada, com sementes, frutos e nozes. Constrói
ninhos em ocos de árvores ou em cavidades de paredões rochosos.
Segundo a BirdLife International (2010), sua distribuição é estimada em 8.100.00 km2. O
tamanho da população global não é conhecido, mas é considerada como freqüente, apesar da
evidência de um declínio populacional devido à perda de habitat e retirada da natureza para ser
utilizada como animal de estimação. A espécie não é considerada ameaçada, porém como todos os
psitacídeos, consta do Apêndice II do Convention for the International Trade of Endangered Species
(CITES) e como least concern na International Union for Conservation of Nature (IUCN).
Apesar de ser uma espécie conspícua sua biologia é pouco conhecida. No Peru, na Reserva
Tambopata e no Parque Nacional de Manu, há um projeto de conservação desde 1990 que monitora
Ara ararauna, A. chloropterus e A. macao (Abramson e col., 1995). No Brasil, desde 1991 o Projeto
Arara Azul que tem por objetivo principal estudar Anodorhynchus hyacinthinus, também acompanha
o comportamento reprodutivo de A. chloropterus na região do Pantanal no Mato Grosso do Sul. Dois
trabalhos analisaram a estrutura genética populacional da espécie. Faria (2000) estudou 18 indivíduos
de A. chloropterus do Pantanal e oito do Norte (de cativeiro) do Brasil e não foi encontrada
estruturação genética entre esses grupos, porém o número de indivíduos de cada região foi muito
pequeno. Nesse estudo foram usados três locos de minissatélites, um loco de microssatélite e 496
pares de base (pb) da Região Controladora (RC) do DNA mitocondrial. Gebhardt (2007) estudou
indivíduos da Floresta Amazônica do Peru, em três áreas próximas (região do Projeto Tambopata)
com 12 locos de microssatélites e 381 pb da RC e também não encontrou estruturação genética.
Como as amostragens geográficas de Faria (2000) e de Gebhardt (2007) foram limitadas, é
importante ampliar a representatividade geográfica para avaliar se Ara chloropterus possui
estruturação genética. Tal estratégica foi adotada com Anodorhynchus hyacinthinus por Presti (2006)
que encontrou valores de diferenciação genética populacional mais elevados do que Faria (2000). Ou
seja, isso indica que o aumento de amostras e do número de locos na análise populacional foi
importante para aumentar o poder estatístico das análises. Além disso, com estes dados foi possível
32
avaliar a probabilidade de potenciais regiões de origem de aves apreendidas pelo tráfico ilegal de
animais silvestres (Presti, 2006). E isto é muito importante para auxiliar no planejamento de ações de
fiscalização para diminuir a retirada de filhotes da natureza. Por isso, no presente trabalho, foram
realizadas análises com amostras de A. chloropterus de várias localidades da sua distribuição
geográfica com marcadores mitocondriais (região controladora, RC e citocromo oxidase I, COI) e
nucleares (microssatélites).
2 - Justificativa
Estudos de genética populacional são importantes para a conservação de espécies, auxiliando a
tomar decisões de manejo. No caso de haver diferenciação, também se pode ajudar na identificação
da origem de indivíduos apreendidos e auxiliar em planos de ações de vigilância. Como Ara
chloropterus é alvo do tráfico ilegal de aves silvestres o estudo de sua estrutura genética populacional
é importante.
3 - Objetivo
O objetivo geral do presente estudo foi caracterizar a estrutura genética populacional de Ara
chloropterus em várias localidades, com foco no Brasil. Para alcançar esse objetivo realizamos
análises filogeográficas e de genética de populações.
4 - Material e Métodos
4.1 – Amostras obtidas
No total, somando amostras já existentes no laboratório, mais amostras coletadas durante as
viagens descritas no capítulo 1 e amostras recebidas de outros pesquisadores (Projeto arara-azul, MS;
SESC Pantanal, MT; Pedro Scherer Neto, Diamante do Norte, PR), foram obtidas 103 amostras de
sangue e 16 amostras de penas de Ara chloropterus (Tabela 1).
4.2 - Extração de DNA
A extração de DNA das amostras de sangue foi realizada com protocolo padrão de digestão
com proteinase K seguido de purificação com fenol:clorofórmio:álcool isoamílico (25:24:1), segundo
descrito por Bruford e col. (1992). A extração de DNA para amostras de penas foi realizada com o
kit DNeasy Tissue (Qiagen, Inc.).
33
Tabela 1: Amostras de Ara chloropterus, local de coleta, coordenada geográfica e bioma de cada
localidade e número de amostras de cada localidade.
Município ou Reserva Estado Pontos Coordenada geográfica Bioma S P
RESEX Chico Mendes AC 1
2
3
69W 34' 00", 10S 56' 30" FA 1 0
Barão de Melgaço MT 2 55W 58' 02", 16S 11' 41" P 16 0
Nhecolândia MS A 57W 01' 29", 19S 15' 02" P 10 0
Miranda MS B 56W 22' 42" , 20S 14' 27" P 7 0
Aquidauana MS C 55W 47' 14" , 20S 28' 17" P 7 0
Bonito MS D 56W 28' 55", 21S 07' 16" P 2 0
Abobral MS E 56W 49' 59" , 21S 12' 01" P 10 0
Canaã dos Carajás PA 3 49W 52' 42", 6S 29' 49" FA 25 1
Redenção PA 4 50W 01' 52", 8S 01' 44" FA 1 0
Diamante do Norte PR 5 52W 51' 34", 22S 39' 24" MA 1 0
Madre de Dios # 6 70W 13' 20", 70S 50' 22" FA 2 0
Gilbués PI 7 45W 20' 37", 9S 49' 55" Ce/Ca 17 0
PN de Pacaás Novos RO 8 63W 36' 43", 10S 35' 49" FA/Ce 3 0
Cobija ## 9 52W 10' 02", 22S 31' 57" FA 1 0
PE Morro do Diabo SP 10 52W 10' 02" , 22S 31' 57" FA 0 15
TOTAL 103 16
Pontos: Pontos no mapa da Figura 1; #: Peru; ##: Bolívia; FA: Floresta Amazônica; P: Pantanal;
MA: Mata Atlântica; Ce: Cerrado; Ca: Caatinga. S: Amostras de sangue; P: Penas.
4.3 - DNA mitocondrial
4.3.1 - Seqüenciamento da Região Controladora (RC) e do Citocromo Oxidase I (COI)
As reações de amplificação foram realizadas em um volume final de 10 l, sendo 4,9 l de
água Milli-Q, 1,0 l de tampão (10x), 1,0 l de dNTPs (2 mM), 0,5 l de cada primer (10 M), 0,1
l de Taq DNA polimerase (5 U/l, Pharmacia) e 2l de DNA (20 – 50 ng). As condições de
amplificação para a RC foram: desnaturação inicial a 95ºC por 5 min, seguida de 35 ciclos a 95ºC por
30 seg, 52ºC por 30 seg e 72ºC por 40 seg, seguindo de extensão a 72ºC por 7 min. Para o COI
foram: desnaturação inicial a 95ºC por 5 min, seguida de 35 ciclos a 95ºC por 1 min, 55ºC por 1 min
e 72ºC por 1 min e 30 seg, seguindo de extensão a 72ºC por 15 min. Os primers utilizados para a
amplificação da RC com amostras de sangue foram LGlu16737 e CRH1323 (Tabela 2) e para a
amplificação do COI foram LTyr e COIA7988 (Tabela 2). Para as amostras de penas foram
utilizados primers mais internos: para RC foram realizadas duas amplificações LTyr com COIH7557
e COIF7308 com COIA7988 e para a amplificação do COI foram utilizados os primers LGlu16737 e
CRH1028. Para a purificação dos produtos, foi utilizado o protocolo de Paithankar e Prasad (1991):
adição de mesmo volume de polietilenoglicol (PEG 20%) ao produto amplificado, mistura em
agitador de tubos e descanso por 15 min à temperatura ambiente (25ºC). A amostra foi então
34
centrifugada por 15 min a 12000 RPM, em seguida o sobrenadante foi descartado com o auxílio de
micropipeta. O precipitado foi lavado com 80 l de Etanol 80% gelado e novamente centrifugado por
5 min a 12000 RPM. O sobrenadante foi descartado com auxílio de micropipeta e lavado novamente
nas mesmas condições anteriores, em seguida a amostra foi secada em centrífuga a vácuo por 5 min e
o DNA foi diluído em 10 l de água.
Tabela 2: Seqüências dos primers utilizados para a amplificação e sequenciamento da RC e do COI,
assim como suas referências
Primers Seqüências (5’ 3’) Referências
L Glu16737 TTGTTCTCAACTACGGGAAC Eberhard e col., 2001
CR H 1028 AGGTGTAAAACAAAGTGCATCAGGGT Tavares e col., 2004
CR H 1323* CAGATAGTTGAGGCATAAGTGATTAA Tavares e col., 2004
Ltyr TGTAAAAAGGWCTACAGCCTAACGC Haddrath, com. pessoal
COIH 7557 GGCGGATGTGAAGTATGCTCGGG Gonçalves, 2009
COIF 7308 CCTGCAGGAGGAGGAGAYCC Palombi, 1996
COIA 7988* AGTATAAGCGTCTGGGTAGTC Tavares, com. pessoal
L: cadeia leve; H: cadeia pesada; *: primers usados apenas na amplificação, não na reação de
sequenciamento
Para a reação de sequenciamento foi utilizado o BigDye Terminator Cycle Sequencing Kit
(Applied Biosystems). Para cada reação foi feita a mistura: 0,5 l de BigDye, 2,0 l de tampão do
BigDye, 2,0 l de água, 1,0 l de primer (10 M) e 4 l do produto amplificado. As reações foram
colocadas em termociclador nas seguintes condições: desnaturação inicial a 96ºC por 1 min, seguida
de 25 ciclos a 96ºC por 10 seg, 50ºC por 30 seg e 60ºC por 4 min, seguindo de extensão a 72ºC por
10 min. Em seguida, as amostras foram purificadas individualmente por precipitação com 80 l de
Isopropanol 70%, essa solução foi misturada em agitador de tubos e mantida por 15 min à
temperatura ambiente (25ºC). A amostra foi então centrifugada por 30 min a 12000 RPM. Em
seguida, o sobrenadante foi descartado com o auxílio de micropipeta. O precipitado foi lavado com
200l de Etanol 75% e novamente centrifugado por 10 min a 12000 RPM. O sobrenadante foi
descartado com auxílio de micropipeta e a amostra secada em centrífuga à vácuo por 5 min. As duas
cadeias do DNA foram seqüenciadas no sequenciador ABI 3130 (Applied Biosystems), as sequências
foram editadas no programa CodonCode Aligner 3.5.4 (CodonCode Corporation).
35
4.3.2 - Análises dos dados do DNA mitocondrial
Para cada fragmento estudado, foi sequenciada tanto a cadeia leve, quanto a cadeia pesada do
DNA mitocondrial. Ambas sequências foram comparadas com sequências do GenBank
(http://www.ncbi.nlm.nih.gov) para confirmar sua identidade. Esta pesquisa é realizada utilizando-se
de um programa BLASTn. As sequências da cadeia pesada obtidas para cada região de cada
indivíduo foram revertidas e complementadas para que ficassem idênticas às da cadeia leve. Este
procedimento foi realizado no programa CodonCode Aligner 3.5.4 (CodonCode Corporation),
gerando uma sequência consenso de cada gene estudado para cada indivíduo, em seguida, essas
sequências consensos foram alinhadas no programa Clustal X (Thompson e col., 1997) e as
sequências dos genes mitocondriais foram concatenadas.
A partir das sequências concatenadas dos dois genes mitocondriais, foram estimados os níveis
de variabilidade baseados no número de haplótipos (H), número total de sítios variáveis (S),
diversidade haplotípica (h) e diversidade nucleotídica (π) (Nei e Li, 1979). Definindo-se como o
número médio de diferenças nucleotídicas em comparações pareadas das sequências de DNA (Page e
Holmes, 1998), e = ij/(n(n-1)/2), onde ij é a proporção de diferenças nucleotídicas entre as
sequências i e j, e n é o número de sequências, essas análises foram realizadas no programa DnaSP
v5 (Librado e Rozas, 2009).
Para analisar a estrutura filogeográfica de A. chloropterus, os haplótipos encontrados foram
organizados em uma rede haplotípica (Schneider e col., 2000) no programa Network 4.5.1.6 (Bandelt
e col., 1999) e uma árvore de distância genética pelo método de neighbor-joining (Saitou e Nei 1987)
no programa MEGA 4 (Tamura e col., 2007).
Para verificar o nível de estrutura populacional, foi utilizada a proporção da variância
intrapopulacional em relação à variância total da variabilidade genética (índice ST). A distribuição
da variabilidade de haplótipos pode ser analisada dentro e entre grupos de localidades distintas, por
meio do método da variância molecular (AMOVA; Excoffier e col., 1992). No programa Arlequin
3.0 (Excoffier e col., 2005) foram calculados os valores de FST. A significância estatística dos índices
de fixação foi analisada por meio de um teste não paramétrico de permutação (Excoffier e col.,
1992). Para determinar o nível de significância desses valores foi aplicada a correção de Bonferroni
(α/k; onde α = 0,05 e k = número de comparações; Rice, 1989). Para as análises demográficas foram
usadas as frequências haplotípicas para obter a distribuição do número de diferenças nucleotídicas
aos pares de haplótipos (mismatch distribution; Rogers e Harpending, 1992), que pode ajudar a
determinar se as populações estudadas sofreram expansão populacional, gargalo ou se estão em
equilíbrio demográfico. Também foram realizados testes de neutralidade pelos métodos de Tajima
36
(1989; D); Fu e Li (1993; D* e F*); Fu (1997; FS) e Ramos-Onsins e Rozas (2002; R2) no programa
DnaSP v5 (Librado e Rozas, 2009). No Programa SAMOVA1.0 (Dupanloup e col., 2002) foram
identificados grupos de populações que são geograficamente homogêneos e diferenciados
geneticamente uns dos outros. E para verificar se a distância genética está associada à distância
geográfica entre os grupos de localidade, foi realizado o teste de Mantel (Mantel, 1967) no programa
GenAlex 6.4 (Peakall e Smouse, 2006).
A coalescência dos grupos foi estimada por simulações da cadeia de Markov Monte Carlo no
programa MDIV (Nielsen e Wakeley, 2001) através de três parâmetros: θ (4Neµ), que representa a
diversidade das amostras estudadas, M (2Nem) a taxa de migração e T (t/2Ne) a taxa de tempo de
divergência, onde Ne é o tamanho efetivo da população, µ é a taxa de mutação, m é a taxa de
migração e t é o tempo de divergência entre as populações. Os valores máximos de M (Mmax) e T
(Tmax) são informados a priori. Os autores do programa aconselham iniciar as análises testando o
valor de 10 para Mmax e de 5 ou 10 para Tmax. Caso os valores obtidos sejam próximos aos valores
máximos, a análise deve ser refeita com valores máximos maiores. Foram realizadas análises
simultâneas com diferentes random seeds, cada uma com 5.000.000 de ciclos, com burn-in de
500.000, assumindo diferentes valores de Mmax (5, 10 20) e Tmax (5, 10), com o modelo TVM
(transversional model; Rodriguez e col., 1990; considera frequências variáveis de bases [A=0,2432;
C=0,0062; G=0,4658; T=0,2848], frequências iguais de transições e frequências variáveis de
transversões) + I (proporção de sítios invariáveis; 0,8511) + G (distribuição gamma; 0,5223). Este
modelo foi sugerido pelo programa Modeltest 3.7 (Posada e Crandall, 1998) que compara
hierarquicamente a verossimilhança de 56 modelos evolutivos, desde o mais simples ao mais
complexo. A taxa de mutação utilizada no presente trabalho foi de 1,8% de divergência por milhões
de anos (m.a.), esta taxa foi obtida por Oliveira-Marques (2006) através de uma re-calibração da taxa
de 2% de divergência por m.a. (Fleischer e Macintosh, 2001; Shields e Wilson, 1987) do citocromo b
para um conjunto de genes do DNA mitocondrial de espécies do gênero Ara. Esta estratégia de
recalibração também foi utilizada por Ribas (2004).
4.4 - Microssatélites
Foram testados 14 pares de primers de microssatélites heterólogos (Tabela 3). As
amplificações com os primers selecionados foram realizadas em volume final de 12,5 l, sendo 7,2
l de água Milli-Q, 1,2 l de tampão (10x), 1,0 l de dNTPs (2 mM), 0,4 l de MgCl2 (25 mM), 0,3
l do primer Reverse (10 M), 0,2 l do primer M13 (10 M) fluorescente (TET ou HEX ou FAM;
Applied Biosystems) e 0,1 l do primer Forward (10 M) com uma cauda 5’M13 (5’ –
37
CACGACGTTGTAAAACGAC – 3’; Boutin-Ganache e col., 2001), 0,1 l de Taq DNA polimerase
(5 U/l, Pharmacia) e 1,5 l de DNA (20 – 50 ng). As reações foram realizadas em termociclador nas
seguintes condições: desnaturação a 95ºC por 10 min, 35 ciclos de desnaturação a 95ºC por 1 min,
hibridação a 50ºC – 60ºC por 40 seg e extensão a 72ºC por 40 seg, e uma extensão final a 72ºC por
10 min. Depois de amplificados, 1,5 l dos produtos foram analisados em gel de agarose 1% para
verificação da presença e da quantidade de produto.
Tabela 3: Primers de microssatélites heterólogos testados e suas temperaturas de hibridação. Em
negrito estão os locos utilizados nas análises populacionais.
Primers Seqüências (5’ 3’) Temperatura
ºC Ampl. Polimórfico
UnaCT21F*1
UnaCT21R
CTTTCCCATACTTAGCCATA
AGACATTTCAAGACCGTGCC 50 S S
UnaCT41 Int. F*2
UnaCT41 Int. R ACGAACAGCTAACATAAAAATATTGC
CAGAAGCACATGATCTTCATCC 60 S S*
6
UnaCT43F*1
UnaCT43R
TCATCCTATCACCAGAAGGG
CTTGAGGACAGTGCAGAGGG 60 S S
UnaGT55F*1
UnaGT55R
TCTGCCCTCTGTCTTATGCC
ACTTTGGTTTGTCCCTGC 50 S N
UnaCT74F*1
UnaCT74R
CTGGACTGCTGCTCTTAACA
AGCCTGAAGTGAACTGCATG 53 S S*
7
AgGT08F*3
AgGT08R
GTGGCCTAACCTGAGAGTGG
ACATGTGCACACCTGATGG 50 S N
AgGT17F*3
AgGT17R
TGAGTAAGGGCTGTGCAATG
GCCTCAAGTTCTCCATTTCC 57 S S*
6
AgGT19F*4
AgGT19R
CCTTGCCTCCCAAAAAGAACT
ATGTATATCAACATTGACTCCTGG 57 S S*
6
AgGT21F*3
AgGT21R
TCCCAGGCCAACACATTTAC
GCTTAGTGCATATCCCAAGCTA 57 S S
AgGT32F*4
AgGT32R
ACCCAGCTTCAGGTTTGTA
TGCTTTTATTCTTCTGCCCC 57 N -
AgGT42F*4
AgGT42R
CAGCTGAATTGGCAGTCAGA
TTCAGTGGGGTAATGGAAGG 57 S S
AgGT90F*4
AgGT90R
TCCACAATTCTACCGAAGTGG
ACAGACACATCACTCCCCAAC 57 S S*
7
Pee11F*5
Pee11R
AGATGCAAGGAATGTTAAACAC
CTCTGCTGCTAGGATAGTTC 57 S S
Pee16F*5
Pee16R
AGGAGAAAGAAAAGAGATGAC
CGTTTGAAGCCTGTGAGAAG 57 S S
F: Forward; R: Reverse; Int.: Interno; *1: Caparroz e col., 2003; *
2: Gebhardt, 2007; *
3: Russello e
col., 2001; *4: Russello e col., 2005;
*5: Taylor e Parkin, 2007; Ampl.: amplificação; S: Sim; N: Não;
*6: locos com alelos nulos; *
7: loco fora do equilíbrio de Hardy-Weinberg.
38
A análise dos microssatélites foi realizada em dois sequenciadores diferentes. No caso do ABI
377 (Applied Biosystems), 0,5 l do marcador molecular Genescan-500 TAMRA (2 fmol, Applied
Biosystems), 2,0 l de formamida e 0,4 l de blue dextran (50 mg/ml) foram misturados a 1,5 l de
cada um dos produtos amplificados e 3 l dessa mistura foi aplicada em gel de acrilamida 7%. A
identificação do tamanho dos alelos foi realizada com o auxílio do programa Genotyper 2.1 (Perkin
Elmer). Já o preparo da amostra para análise no MegaBaceTM
500 (GE Healthcare) consistiu da
mistura de 0,25 l do marcador molecular Genescan-500 ROX (Applied Biosystems), 7,5 l de
Tween 20 (0,1%) e 2,0 l de produto amplificado (previamente diluído 1:5 em água). A identificação
do tamanho dos alelos foi realizada com o auxílio do programa Genetic Profile (Amersham
Pharmacia Biotech). As genotipagens foram repetidas pelo menos duas vezes com produtos de
amplificação diferentes para confirmação.
4.4.1 - Confirmação da presença de microssatélites e análise de identidade de penas
Como foram utilizados primers heterólogos, foi realizado o sequenciamento de indivíduos
homozigotos para cada loco com o mesmo protocolo de sequenciamento utilizado para o DNA
mitocondrial para confirmar a presença de microssatélites nas amostras de Ara chloropterus.
Para verificar se diferentes penas poderiam pertencer ao mesmo indivíduo, seus genótipos
foram analisados no programa GIMLET (Genetic Identification with Multilocos Tags) 1.3.3 (Valière,
2002). Esse programa busca conjuntos de genótipos idênticos.
4.4.2 - Análises dos dados de microssatélites
Em determinadas condições, uma população pode se encontrar em equilíbrio de Hardy-
Weinberg, ou seja, as freqüências alélicas são constantes, ficando em uma situação de equilíbrio.
Independentemente de um gene ser raro ou freqüente, sua freqüência permanecerá a mesma com
relação aos outros desde que essas condições sejam mantidas. O equilíbrio é importante para que não
haja desvio nas análises, pois os testes de genética populacional partem do princípio de que a
população está em equilíbrio. Para avaliar se locos se encontram em equilíbrio de Hardy-Weinberg é
realizada a comparação entre as freqüências de heterozigotos esperada e observada (Hartl e Clark,
1997). Os locos fora do equilíbrio foram excluídos das análises populacionais. A presença de
equilíbrio de ligação entre locos pode ser avaliada pelo Fischer exact test que cria tabelas de
contingência para todos os pares de locos e calcula a probabilidade para cada tabela usando a cadeia
de Markov. Este teste é importante para saber se os locos estudados são independentes. Tanto o
39
equilíbrio de Hardy-Weinberg quanto o equilíbrio de ligação dos locos foram avaliados no programa
Genepop 4.0.10 (Rousset, 2008). As freqüências de homozigotos esperada e observada foram
comparadas para avaliar se havia alelos nulos e erro de genotipagem no programa Micro-checker
(Brookfield, 1996).
Para avaliar se havia estrutura populacional, foi utilizado o programa Structure 2.3.2
(Pritchard e col., 2000). O grau de diferenciação entre os grupos de indivíduos de distintas
localidades foi avaliado pela estimativa do índice de fixação FST assumindo o modelo de mutação de
alelos infinitos (Kimura e Crow, 1964). Os valores de FST foram estimados pela análise da variância
das freqüências gênicas observadas entre distintos grupos com auxílio do programa Genepop 4.0.10
(Rousset, 2008).
Através de um teste de atribuição populacional (assignment test) foi verificada a porcentagem
de atribuição correta de indivíduos à sua população de origem baseado em seus genótipos . Este teste
estima o valor de verossimilhança de o genótipo de cada indivíduo pertencer a cada população
amostrada atribuindo cada indivíduo à população para a qual o logaritmo da probabilidade de sua
freqüência genotípica esperada for maior (Waser e Strobeck, 1998). O poder deste teste é maior se
houver diferenciação genética moderada ou alta entre as populações (Cornuet e col., 1999). Este teste
foi realizado com o auxílio do programa Arlequin 3.0 (Excoffier e col., 2005).
E ainda no programa SAMOVA 1.0 (Dupanloup e col., 2002) foram identificados grupos de
populações que são geograficamente homogêneos e diferenciados geneticamente uns dos outros
baseado na análise de variância molecular (AMOVA, Excoffier e col., 1992). E para verificar se a
distância genética está associada à distância geográfica entre os grupos de localidade, foi realizado o
teste de Mantel (Mantel, 1967) no programa GenAlex 6.4 (Peakall e Smouse, 2006).
5 - Resultados
5.1 – Amostras
Das 119 amostras obtidas (Tabela 1), três apresentaram DNA muito degradado e outras três
não puderam ter o mesmo segmento da região controladora (RC) sequenciado para as demais
amostras, ou seja, essas sequências eram mais curtas que as das demais amostras (Tabela 4). Das 16
amostras de penas, seis foram sequenciadas para o DNA mitocondrial e nove tiveram seus
microssatélites analisados. No total, somamos 103 amostras sequenciadas e 109 genotipadas, porém,
14 amostras foram retiradas das análises para ambos marcadores por serem amostras de ninhos com
dois filhotes, e ainda nas análises de comparação aos pares de populações, os grupos com menos de
40
quatro indivíduos foram excluídos por ser um número muito baixo de indivíduos para representar a
estrutura de toda a população (Tabela 4).
Tabela 4: Descrição das amostras de Ara chloropterus utilizadas e não utilizadas no presente
trabalho.
Amostras Marcadores
Mitocondrial Microssatélites
Obtidas 119 119
DNA degradado (sangue) 3 (3 MS) 3 (3 MS)
Fragmento curto da RC 3 (1MS, 1RO, 1 AC) -
Não amplificadas (penas) 10 (SP) 7 (SP)
Sequenciamento/Genotipagem 103 109
Mesmo ninho (7 MS, 2 MT, 5 PI) 14 14
Retiradas das comparações aos pares 5 (2 RO, 2 Peru, 1 Bolívia) 3 (RO)
Total para análises populacionais 84 92
5.2 - Análises dos dados do DNA mitocondrial
5.2.1 – Análises filogeográficas
Foram sequenciados 944 pb da região controladora e 1222 pb do citocromo oxidase I,
totalizando 2166 pb de DNA mitocondrial de 103 amostras. Foram observados 148 sítios polimórficos e
61 haplótipos, a diversidade haplotípica foi de 0,978 e a diversidade nucleotídica de 0,01077. Dessas 103
amostras, 28 foram obtidas de 14 ninhos, ou seja, havia 14 pares de supostos irmãos (Tabela 4). Em três desses
14 ninhos os filhotes não compartilham o mesmo haplótipo. Nas análises populacionais foi utilizada somente
uma amostra por ninho, resultando em 89 amostras. Dessa matriz de dados foram observados 148 sítios
polimórficos e 60 haplótipos, a diversidade haplotípica foi de 0,984 e a diversidade nucleotídica de 0,01084.
Na rede de haplótipos (Figura 2) podemos evidenciar alguns agrupamentos: 1) com 15
haplótipos de Canaã dos Carajás (PA) e três de Gilbués (PI); 2) seis haplótipos de Gilbués (PI),
quatro do Pantanal Sul (Abobral, Aquidauana, Miranda, Nhecolândia, Bonito; MS) e um do Pantanal
Norte (Barão de Melgaço, MT); 3) com dois haplótipos do Pantanal Sul (MS), dois de Madre de Dios
(Peru), um de Cobija (Bolívia), um do Pantanal Norte (MT) e dois de Canaã dos Carajás (PA); 4)
com quatro de Canaã dos Carajás (PA), três do Pantanal Sul (MS), dois do PN de Pacaás Novos
(RO), um de Diamante do Norte (PR) e um do PE Morro do Diabo (SP) e 5) com quatro do Pantanal
Sul (MS), cinco do Pantanal Norte (MT), um haplótipo de alta frequência compartilhado entre
indivíduos dessas duas regiões, outro haplótipo compartilhado entre um indivíduo do Pantanal Sul
(MS) e PE do Morro do Diabo (SP) e um haplótipo do PE Morro do Diabo (SP). A árvore de
neighbor-joining (Figura 3) evidencia os mesmos agrupamentos encontrados na rede de haplótipos.
41
Nessa árvore foi incluída uma amostra de Ara macao como grupo externo, já que é a espécie irmã de
A. chloropterus (Oliveira-Marques, 2006).
Figura 2: Rede de haplótipos (median-joining) baseada em 2166 pb da RC e do COI do DNA
mitocondrial com 89 amostras de Ara chloropterus. Cada círculo representa um haplótipo, o tamanho
do círculo é proporcional à frequência do haplótipo. As cores representam as localidades amostradas
[amarelo: Canaã dos Carajás (PA); laranja: Gilbués (PI); azul claro: Pantanal Sul (MS); azul
escuro: Pantanal Norte (MT); verde: PN de Pacaás Novos (RO); preto: Madre de Dios (Peru); rosa:
Diamante do Norte (PR); branco: Cobija (Bolívia) e cinza: PE Morro do Diabo (SP)]. Círculos
tracejados indicam os agrupamentos.
Grupo 2 Grupo 3
Grupo 1 Grupo 5
Grupo 4
42
Figura 3: Árvore de neighbor-joining baseada em 2166 pb da RC e do COI do DNA mitocondrial de
89 amostras de Ara chloropterus e uma amostra de Ara chloropterus como grupo externo. Valores de
bootstrap acima de 50% representados nos nós. Quadrados coloridos indicam as localidades de coleta
(amarelo: Canaã dos Carajás [PA]; azul claro: Pantanal Sul [MS]; azul escuro: Pantanal Norte
[MT]; verde: PN de Pacaás Novos [RO]; preto: Madre de Dios [Peru]; rosa: Diamante do Norte
[PR]; branco: Cobija [Bolívia]; cinza: PE do Moro do Diabo [SP]). Quadrados tracejados indicam os
mesmos agrupamentos obtidos na rede de haplótipos.
Grupo 1
Grupo 2
Grupo 3
Grupo 5
Grupo 4
43
5.2.2- Análises populacionais e demográficas
Os valores obtidos dos testes de neutralidade foram: D = -0,1179; D* = -0,0582; F* = -
0,0907; FS de Fu = -0,370 e R2 = 0,094. Somente o valor de p de FS foi significativo (p < 0,005), os
demais não foram significativos. O teste de mismatch distribution gerou uma curva multimodal
(Figura 4).
Figura 4: Gráfico de mismatch distribution de 89 indivíduos de Ara chloropterus baseado em 2166
pb do DNA mitocondrial. A curva contínua corresponde à distribuição esperada no caso de expansão
populacional (Esp) e a curva pontilhada, a distribuição observada (Obs).
Nas análises de FST e dos testes de neutralidade, as localidades com menos de quatro
indivíduos foram excluídas (Tabela 4) e a amostra de Diamante do Norte (PR) foi incluída no grupo
do PE Morro do Diabo (SP) por serem localidades muito próximas, totalizando 84 amostras (Tabela
4). O número de indivíduos, de haplótipos e de sítios variáveis, as diversidades haplotípicas e
nucleotídicas e os testes de neutralidade de cada localidade se encontram na tabela 5. Os testes de
neutralidade não foram significativos para nenhum grupo, o que confirma a ausência de sinal de
expansão populacional recente desses grupos. Os valores de FST (Tabela 6) somente não foram
significativos entre os dois grupos do Pantanal (entre Pantanal Sul e Pantanal Norte) e entre o grupo
do PE Morro do Diabo com os demais grupos. As demais comparações resultaram em FST
significativo (Tabela 6), indicando alguma estruturação genética entre essas localidades.
Diferenças par-a-par
Fre
quên
cia
Esp
Obs
44
Tabela 5: Números de indivíduos (N), de sítios variáveis (S) e de haplótipos (H), diversidade
haplotípica (h), diversidade nucleotídica (π), D de Tajima (D), D de Fu e Li (D*), F de Fu e Li (F*),
FS de Fu (FS) e R2 de Ara chloropterus.
Localidade N S H h π D D* F* FS R2
Pantanal Sul (MS) 25 69 15 0,953 0,009 0,301 0,421 0,421 -0,113 0,122
Pantanal Norte (MT) 14 43 7 0,802 0,004 -1,554 -1,516 -1,753 0,108 0,146
Canaã dos Carajás (PA) 27 87 23 0,982 0,009 -0,655 -0,265 -0,462 -0,121 0,120
Gilbués (PI) 12 37 8 0,924 0,006 -0,001 0,240 0,201 0,230 0,152
PE Morro do Diabo (SP) 6 48 4 0,866 0,011 1,016 0,929 1,038 1,120 0,196
Tabela 6: Valores de FST para Ara chloropterus obtidos no programa Arlequin. Entre parênteses
estão os números de amostras por localidade. Em negrito estão os valores com p significativo (p <
0,005 após correção de Bonferroni).
Localidades Pantanal Sul Pantanal Norte Canaã dos Carajás Gilbués
Pantanal Sul (25) -
Pantanal Norte (14) 0,070
Canaã dos Carajás (27) 0,031 0,101
Gilbués (12) 0,060 0,138 0,044 -
PE Morro do Diabo (6) 0,076 0,170 0,065 0,101
O SAMOVA apontou três grupos: 1) Canaã dos Carajás (PA) e Gilbués (PI), 2) PE do Morro
do Diabo (SP) e 3) Pantanal Sul (MS) e Pantanal Norte (MT; Tabela 7), porém o valor de p não foi
significativo. Foi realizada a AMOVA para estes três grupos e o valor de p também não foi
significativo.
Tabela 7: AMOVA entre os grupos indicados pelo SAMOVA.
Fonte de Variação G.L. % de Variação ΦST p-Value
Entre grupos 2 1,60 0,016 0,120 Entre localidades dentro de grupos 2 5,73
Dentro de localidades 79 92,67
Total 83
Os resultados obtidos com o teste de Mantel não indicaram correlação entre a distância
genética (FST) e geográfica (pontos de coleta) entre os diferentes grupos (r2 = 0,0374 e p = 0,290). O
45
programa MDIV detectou valores altíssimos de θ (11.094.061 a 34.610.034) indicando alta
diversidade nas amostras estudadas, e por isso não foi possível estimar o número de migrantes e o
tempo de divergência entre os grupos.
5.3 – Análises dos dados de Microssatélites
O sequenciamento confirmou que as bandas polimórficas amplificadas com os primers
heterólogos eram microssatélites. Os microssatélites possuíam as mesmas sequências de repetições
daquelas descritas na espécie para a qual foram desenvolvidos. Foram genotipadas 95 amostras
(Tabela 4) e não foi encontrada evidência de amostra repetida pelo programa GIMLET. Três locos
possuem sinal de alelos nulos (UnaCT41Int., AgGT17 e AgGT19) segundo a análise no programa
Micro-checker. Comparando as freqüências de heterozigotos esperada e observada foi possível
avaliar que os locos UnaCT74 e AgGT90 (Tabela 3) não se encontram em equilíbrio de Hardy-
Weinberg. Os demais locos analisados se encontram em equilíbrio de Hardy-Weinberg, não
apresentam evidências de possuírem alelos nulos nem de erro de genotipagem e se encontram em
equilíbrio de ligação (p > 0,05, o que indica que são marcadores independentes), estes locos foram
usados nas análises. A heterozigosidade esperada e observada de cada loco utilizado nas análises se
encontram na Tabela 8. O número de alelos por loco variou de cinco (Pee11) a 15 (AgGT42) e as
frequências de alelos por loco variou de 0,005 a 0,677 (Figura 5).
Tabela 8: Heterozigosidade observada (Het. Obs.) e heterozigosidade esperada (Het. Esp.) para cada
loco
Loco Het. Obs. Het. Esp p-value
UnaCT21 0,902 0,846 0,350
UnaCT43 0,547 0,522 0,816
AgGT21 0,483 0,504 0,796
Pee11 0,652 0,659 0,859
Pee16 0,847 0,771 0,066
AgGT42 0,879 0,908 0,297
46
Figura 5: Frequência alélica dos seis microssatélites analisados para 95 amostras de Ara
chloropterus. Eixo x: alelos segundo seus tamanhos (pares de base); Eixo y: frequência.
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
34
4
34
8
35
2
35
6
36
0
Pee11
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
21
6
21
8
22
0
22
2
22
4
22
6
UnaCT43
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
31
8
32
8
33
2
33
4
33
6
33
8
34
0
34
2
34
8
35
0
AgGT21
0
0,05
0,1
0,15
0,2
0,25
0,3
0,35
29
1
29
5
29
9
30
3
30
7
31
1
31
5
31
9
32
3
Pee16
0
0,05
0,1
0,15
0,2
0,25
0,3
26
5
26
7
27
9
28
3
28
7
28
9
29
1
29
3
29
5
29
7
30
3
30
5
UnaCT21
0
0,02
0,04
0,06
0,08
0,1
0,12
0,14
0,16
25
7
25
9
26
1
26
3
26
5
26
7
26
9
27
1
27
3
27
5
27
7
27
9
28
1
28
3
28
7
AgGT42
47
5.2.1- Análises populacionais e demográficas
Para estas análises, foram utilizadas 92 amostras de A. chloropterus (Tabela 4). As duas
amostras de Madre de Dios (Peru), mais uma de Cobija (Bolívia) e uma da RESEX Chico Mendes
(AC) foram agrupadas por serem localidades muito próximas geograficamente, sendo chamado de
Oeste. O programa Structure não indicou presença de estrutura populacional (K = 1). Assim, os
locais de coleta foram considerados como unidades na análise de estrutura populacional de A.
chloropterus baseada nos valores de FST (Tabela 9) obtidos no programa Genepop. Os valores de FST
foram significativos entre os mesmos grupos comparados com o DNA mitocondrial, porém esses
valores foram mais baixos, o que já é esperado para dados com microssatélites (Chochet e col., 2003;
Tzeng e col., 2009). O grupo Oeste também mostrou moderada estruturação genética em relação ao
grupo de Pantanal Norte (MT) e Gilbués (PI) (Tabela 9).
Tabela 9: Valores de FST estimados no programa Genepop 3.3. Entre parênteses estão os números de
amostras por localidade. Em negrito valores com p < 0,003 (após correção de Bonferroni).
Localidade Pantanal
Sul (MS)
Pantanal Norte
(MT)
Canaã dos
Carajás (PA)
Gilbués
(PI)
PE Morro do
Diabo (SP)
Pantanal Sul (26) -
Pantanal Norte (15) -0,0005
Canaã dos Carajás (28) 0,0134 0,0193
Gilbués (12) 0,0415 0,0375 0,0379
PE Morro do Diabo (9) -0,0065 -0,0192 0,0118 0,0413
Oeste (4) 0,0224 0,0496 0,0006 0,0819 0,0131
O SAMOVA indicou cinco grupos: 1) Pantanal Norte (MT); 2) Oeste (Peru, Bolívia e Acre);
3) Canaã dos Carajás (PA); 4) Gilbués (PI) e 5) Pantanal Sul (MS), Diamante do Norte (PR) e PE
Morro do Diabo (SP; Tabela 10) com p > 0,05. Foi realizada a AMOVA considerando esses cinco
grupos. Os resultados obtidos com o teste de Mantel não indicaram correlação entre a distância
genética (FST) e geográfica (pontos de coleta) entre os diferentes grupos (r2 = 0,0901 e p = 0,245).
Para o teste de atribuição populacional (assignment test) realizado no programa Arlequin
foram assumidos os mesmos grupos das análises de FST e mais o grupo de PN de Pacaás Novos (RO).
Somente 11 de 95 indivíduos foram atribuídos a um grupo diferente do seu grupo de origem (Tabela
11).
48
Tabela 10: AMOVA entre os grupos indicados pelo SAMOVA.
Fonte de Variação G.L. % de Variação ΦST p-Value
Entre Grupos 4 2,61
Entre localidades dentro de grupos 1 -0,518 0,026 0,07
Dentro de localidades 178 101,85
Total 183
Tabela 11: Indivíduos não atribuídos ao seu grupo de origem pelo teste de atribuição (“Assignment
test”).
Indivíduo Grupo de Origem Grupo Atribuído
805 Pantanal Sul (MS) Pantanal Norte (MT)
1344 Pantanal Sul (MS) Canaã dos Carajás (PA)
5143 Pantanal Sul (MS) Pantanal Norte (MT)
5624 Pantanal Sul (MS) Canaã dos Carajás (PA)
12874 Pantanal Sul (MS) Pantanal Norte (MT)
11459 Canaã dos Carajás (PA) Pantanal Sul (MS)
11619 Canaã dos Carajás (PA) Pantanal Norte (MT)
11622 Canaã dos Carajás (PA) Gilbués (PI)
11745 Diamante do Norte (PR) Pantanal Norte (MT)
12826 PE Morro do Diabo (SP) Pantanal Norte (MT)
12827 PE Morro do Diabo (SP) Pantanal Norte (MT)
6 – Discussão
6.1 - Amostras
As três amostras que não amplificaram para nenhum dos marcadores apresentaram DNA
degradado no gel de quantificação, mesmo após nova extração de DNA, por isso não foi possível
usá-las no presente trabalho. O sequenciamento de outras três amostras com o primer LGlu16737 não
pôde ser realizado (Tabela 2) mesmo após nova extração de DNA. As amostras de penas que não
amplificaram para ambos marcadores estavam com o cálamo (parte da pena que fica no interior da
ave) um pouco cortado, o que possivelmente resultou em degradação, já que não foi possível
observar o DNA em gel de agarose após a extração do mesmo.
49
6.2 - DNA mitocondrial
A diversidade haplotípica (0,984) e a diversidade nucleotídica (0,01084) encontradas no
presente trabalho são similares a valores encontrados em outros trabalhos com araras (Gebhardt,
2007; araras vermelhas do Peru e Caparroz, 2009, com Ara ararauna do Brasil). No entanto, esses
valores são altos se comparados à ausência de variação encontrada em três genes do DNA
mitocondrial (citocromo b, região controladora e ATPase 8) de Anodorhynchus hyacinthinus, (Presti
2009). Como as araras vermelhas (Ara chloropterus e Ara macao) e Ara ararauna não são
consideradas ameaçadas e A. hyacinthinus é vulnerável, é possível que o nível de variabilidade
genética possua alguma associação com o status de ameaça.
A rede de haplótipos (Figura 2) indica que a variabilidade genética não possui associação com
a distribuição geográfica, pois haplótipos de indivíduos de diferentes regiões e de diferentes biomas
se agrupam. A árvore de neighbor-joining (Figura 3) evidencia os mesmos agrupamentos
encontrados na rede de haplótipos. Esses resultados confirmam que não há relação direta entre os
diferentes grupos e a origem geográfica dos indivíduos. Porém essas duas análises revelaram cinco
grupos, ou seja, foram visualizadas linhagens genéticas na espécie.
Os testes de neutralidade D, D*, F* e R2 não foram significativos e somente o teste FS foi
significativo. Valores não significativos podem indicar ausência de expansão populacional recente,
fraca seleção ou seleção neutra (Simonsen e col., 1995). Ou seja, estes resultados sugerem ausência
de expansão populacional para A. chloropterus e/ou presença de seleção. Gebhardt (2007) encontrou
o mesmo resultado para o grupo de A. chloropterus do Peru. O teste de mismatch distribution (Figura
4) confirma a ausência de expansão, pois resultou em uma curva multimodal. Segundo Rogers e
Harpending (1992), quando uma população sofreu recente expansão populacional, a curva se mostra
unimodal. Ou seja, nossos resultados sugerem que Ara chloropterus não sofreu expansão
populacional e pode estar sofrendo fraca seleção ou seleção neutra. Ainda nenhum teste de
neutralidade para as diferentes localidades foi significativo, o que novamente confirma a ausência de
expansão recente.
O valor de FST (Tabela 6), não foi significativo entre o grupo do Pantanal Norte e Sul, Isso é
parcialmente congruente com os resultados das análises de rede de haplótipos que mostra um
haplótipo compartilhado entre indivíduos dessas duas localidades e da árvore de neighbor-joining.
Como essas localidades são relativamente próximas e se encontram no mesmo bioma, este indivíduos
podem pertencer a uma única população. É interessante citar que a arara-azul-grande
(Anodorhynchus hyacinthinus) possui moderada diferenciação populacional entre Pantanal Sul (MS)
e Pantanal Norte (MT; Presti 2006). Esta diferença pode ser devido à diferença no grau de ameaça e
no número populacional dessas araras, enquanto a arara-azul é uma espécie ameaçada e com baixo
número populacional e Ara chloropterus não é considerada ameaçada e possui maior número
50
populacional. Ou ainda talvez por Anodorhynchus hyacinthinus ser mais fiel ao seu local de origem,
não se deslocando para regiões mais distantes. Outros valores não significativos do FST (Tabela 6)
foram entre todas as comparações entre o grupo de PE Morro do Diabo com os demais grupos, este
resultado por ser devido ao baixo número amostral dessa localidade. Os demais valores de FST foram
todos significativos, indicando alguma estruturação genética entre estes grupos. O grupo do Pantanal
Norte (MT) obteve os maiores valores de FST [0,101 com Canaã dos Carajás (PA) e 0,138 com
Gilbués (PI)], este resultado é congruente com a rede de haplótipos (Figura 2) onde somente dois
haplótipos desta localidade não se une ao grupo cinco com outros haplótipos do Pantanal Sul (MS) e
PE Morro do Diabo (MS), um haplótipo é incluído no grupo dois e o outro no grupo três. O mesmo é
encontrado na árvore neighbor-joining (Figura 3), onde somente dois indivíduos do Pantanal Norte
não se agrupam no grupo cinco. Estes resultados sugerem que o grupo do Pantanal Norte parece ser o
mais diferenciado geneticamente dos grupos geograficamente mais distantes, que são do PA e PI. Os
demais valores significativos de FST foram entre o grupo do Pantanal Sul em relação aos grupos de
Canaã dos Carajás (PA) e Gilbués (PI) e entre estes dois últimos grupos.
A AMOVA (Tabela 7) indicou que a maior proporção da variabilidade se encontra dentro das
localidades, o que reforça a fraca estruturação entre as diferentes localidades estudadas. O teste de
Mantel não indicou correlação entre a distância genética e geográfica. Os altos valores estimados
pelo programa MDIV indicam grande diversidade genética entre os grupos estudados. Possivelmente
estes valores são resultado de presença de fluxo gênico dada a fraca estruturação genética encontrada.
6.3 - Microssatélites
O número de alelos dos locos utilizados nas análises variou de 5 a 15 (Figura 5). Quando
comparados com os números de alelos nas espécies para quais os primers foram desenvolvidos,
somente para um microssatélite (UnaCT43) A. chloropterus não apresentou mais alelos. Esses
resultados indicam que A. chloropterus carrega grande variabilidade nesses marcadores. Ao comparar
os número de alelos encontrados nos quatro locos (UnaCT21, UnaCT43, AgGT21 e AgGT42) em
comum com o trabalho de Gebhardt (2007), também encontramos mais alelos; possivelmente devido
à grande proximidade geográfica das amostras de Gebhardt (2007).
O programa Structure não indicou presença de estrutura populacional. Este resultado pode ser
devido ao método de análise adotado por esse programa ser sensível ao baixo número de locos e de
indivíduos (Evanno e col., 2005).
Para as análises de FST com os microssatélites, as amostras do Peru, Bolívia e Acre foran
agrupadas no grupo Oeste. Esse grupo apresentou estruturação genética significativa em relação ao
grupo do Pantanal Norte (MT) e ao grupo de Gilbués (PI) com os maiores valores de FST (0,0496 e
51
0,0819 respectivamente). As comparações do grupo Oeste com as demais localidades apresentaram
valores de FST não significativos, indicando ausência de estruturação genética entre eles. Seria
interessante aumentar o número amostral dessa região para entender melhor a relação entre estes
grupos e incluir este grupo nas análises com o DNA mitocondrial.
Os resultados obtidos com o índice FST entre os indivíduos do Pantanal Sul (MS) e do
Pantanal Norte (MT), também não foram significativos com os microssatélites. Isso confirma a
ausência de estruturação genética entre estes grupos localizados geograficamente muito próximos e
que geneticamente o Pantanal apresenta um grupo de A. chloropterus único. O grupo do PE Morro do
Diabo (SP) novamente não apresentou nenhum valor de FST significativo.
Os demais valores de FST foram todos significativos e concordantes com o DNA mitocondrial
indicando alguma estruturação genética entre estes grupos. Entre eles, Gilbués (PI) obteve os maiores
valores de FST [0,0415 com o Pantanal Sul (MS); 0,0375 com o Pantanal Norte (MT) e 0,0379 com o
grupo de Canaã dos Carajás (PA)], na rede de haplótipos (Figura 2) e na árvore de neighbor-joining
(Figura 3), a maioria dos indivíduos de Gilbués se encontra no grupo dois e somente três indivíduos
(cada um com um haplótipo) se encontram no grupo um, não apresentando nenhum haplótipo de
Gilbués nos outros grupos, o que afirma que este grupo é mesmo diferenciado geneticamente dos
demais grupos. O grupo de Canaã dos Carajás (PA) também apresentou valores de FST significativos
em relação aos dois grupos do Pantanal.
O teste de atribuição populacional (assignment test) atribuiu 11 dos 95 indivíduos a um grupo
diferente ao seu grupo de origem (Tabela 11). Entre estes indivíduos, os três do grupo de origem de
Canaã dos Carajás (PA) são de amostras de aves cativas mantidas por moradores locais que até
poderiam ter sido trazidos de outras localidades. No entanto, os demais indivíduos são de amostras de
ninhos (Pantanal Sul – MS e Diamante do Norte - PR) ou de penas encontradas no chão (PE Morro
do Diabo - SP), ou seja, amostras de origem inquestionável. Segundo Cornuet e col. (1999), o poder
deste teste é maior se houver diferenciação genética moderada ou alta entre as populações. Como
nossos dados indicam fraca estruturação populacional, possivelmente o teste falhou nesses casos.
7 – Conclusões
Os dois marcadores moleculares (DNA mitocondrial e microssatélites) revelaram fraca
estruturação genética em Ara chloropterus. A rede de haplótipos (Figura 2) e a árvore de neighbor-
joining (Figura 3) mostram a mistura de haplótipos das diversas localidades estudadas. Isso pode ser
resultante de fluxo gênico ou de retenção de polimorfismo ancestral. Em termos de conservação,
como existe baixa diferenciação genética seria importante buscar preservar essa estrutura
populacional. Possivelmente essa espécie se organiza em metapopulações (baixa estruturação
52
genética e alto fluxo gênico), seguindo a definição de Avise (2000). Neste caso, é interessante
conservar diferentes localidades e seus corredores para manter sua variabilidade genética.
É interessante destacar que na área do PE do Morro do Diabo (SP) A. chloropterus é
considerada ameaçada de extinção, por isso, seria importante para futuros planos de manejo ampliar a
amostragem de indivíduos dessa região para avaliar melhor se essa população faz parte da mesma
população do Pantanal Sul (MS) ou se pode ser uma população isolada, já que na rede de haplótipos
(Figura 2) e na árvore de neighbor-joining (Figura 3) indivíduos do PE do Morro do Diabo e
indivíduos do Pantanal Sul (MS) compartilham haplótipos enquanto outros se mostram separados. O
aumento de amostragem também permitiria comparar melhor os valores de FST dessa localidade com
as demais.
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African grey parrot, Psittacus erithacus and their conservation across the Psittaciformes. Mol. Ecol.
Notes 7: 163-167.
Tzeng, C.; Chen, C.; Tang, P.; Chiu, T. (2009) Microsatellite and mitochondrial haplotype
differentiation in blue mackerel (Scomber australasicus) from the western North Pacific. ICES J.
Marine Science 66: 816-825.
Valière, N. (2002) GIMLET: a computer program for analyzing genetic individual identification
data. Mol. Ecol. 11: 1-16.
57
Capítulo 3
Caracterização da estrutura genética
populacional de Ara macao
Ara macao por Simonne Chinem
58
1 - Introdução:
Ara macao possui cabeça e a maioria do corpo vermelhos, região perioftálmica branca
desprovida de penas, sua maxila é córnea com base e ponta pretas e mandíbula preta (Figura 1). É
muito parecida com Ara chloropterus, porém sua cor vermelha é mais alaranjada e possui nas asas
penas amarelas, verdes e azuis. São reconhecidas duas subespécies. Ara macao cyanoptera
(Wiedenfeld, 1995) possui distribuição do Sudeste do México à Nicarágua. Ara macao macao
(Linnaeus, 1758) tem maior distribuição geográfica (Figura 1): Costa Rica, Panamá e Norte e Leste
da Colômbia, Venezuela e Guianas para o Brasil Central, Sul e Leste do Equador, Leste do Peru e
Nordeste da Bolívia (Collar, 1997; Abramson e col., 1995; Forshaw, 1989). No Brasil, ocorre por
toda a Amazônia.
Figura 1: Ara macao e mapa com sua distribuição original (linha tracejada preta); pontos vermelhos:
localidades das amostras; números se referem à tabela 01. Mapa modificado de I3Geo e figura
modificada de Collar (1997).
59
Vive principalmente em locais úmidos de floresta verde, terra firme, várzea e matas de galeria
no cerrado, muitas vezes nas proximidades dos rios e clareiras com árvores grandes e, às vezes
entrando em formações mais secas. Sua alimentação é bastante diversificada, Abramson e col. (1995)
cita que Munn em 1988 observou 38 espécies de cocos e frutas consumidas por Ara macao no Peru.
Marineros e Vaughan (1995) descreveram 28 espécies de plantas, incluindo frutos, flores, endocarpos
e folhas na dieta na Costa Rica. Alguns desses alimentos são sazonais e outros disponíveis o ano
todo. O período de nidificação varia entre as regiões de ocorrência de Ara chloropterus (Juniper e
Parr, 1998; Collar, 1997; Abramson e col., 1995; Forshaw, 1989).
Segundo a BirdLife International (2010), a espécie é descrita como comum, com estimativa
de área de ocorrência global de 6.700.00 km2. Apesar da perda de habitat e retirada de filhotes da
natureza, acredita-se que a espécie não se aproxima dos limites (mais de 30% de declínio em 10 anos
ou três gerações) para ser incluída na lista vermelha da The International Union for the Conservation
of Nature and Natural Resources (IUCN), por isso é considerada como least concern.
No Peru e na Costa Rica há projetos de conservação envolvendo esta espécie (Abramson e
col., 1995). Já no Brasil não temos conhecimento de nenhum projeto de monitoramento em campo.
Há um estudo de estrutura populacional de Ara macao, neste trabalho 60 indivíduos de quatro áreas
da Floresta Amazônica do Peru tiveram analisados 11 locos de microssatélites e 381 pb da região
controladora (RC) e não foi encontrada estruturação genética (Gebhardt, 2007). Assim, visando
caracterizar a estrutura genética populacional de Ara macao em uma área mais ampla, no presente
estudo analisamos 67 indivíduos de cinco localidades utilizando marcadores mitocondriais (RC e
citocromo oxidase I, COI) e nucleares (microssatélites).
2 - Justificativa
Estudos de genética populacional são importantes para a conservação de espécies, auxiliando a
tomar decisões de manejo. No caso de haver diferenciação, também se pode ajudar na identificação
da origem de indivíduos apreendidos e auxiliar em planos de ações de vigilância. Como Ara macao é
alvo do tráfico ilegal de aves silvestres, o estudo de sua estrutura genética populacional é importante.
3 - Objetivos
O objetivo geral do presente estudo foi caracterizar a estrutura genética populacional de Ara
macao em várias localidades, com foco no Brasil. Para alcançar esse objetivo realizamos análises
filogeográficas e de genética de populações.
60
4 - Material e Métodos
4.1 – Amostras obtidas
No total, somando amostras já existentes no laboratório, mais amostras coletadas durante as
viagens descritas no capítulo 1 e amostras recebidas de outros pesquisadores (Dr. Alexandre Aleixo
do Museu Paraense Emílio Goeldi, PA), foram obtidas 87 amostras (67 de sangue e 20 de penas) de
Ara macao de nove localidades (Tabela 1).
Tabela 1: Amostras de sangue e de penas de Ara macao, local de coleta, coordenada geográfica,
bioma de cada localidade e número de amostras de cada localidade.
Município ou Reserva Estado Nº Coordenada geográfica Bioma S P
RESEX Chico Mendes AC 1 69W 34' 00" , 10S 56' 30" FA 13 0
Flota Antimary* AC 2 67W 57' 08" , 09S 49' 51" FA 1 0
Redenção PA 3 50W 01' 22" , 08S 02' 35" FA 12 0
Canaã dos Carajás PA 4 49W 52'42" , 06S 29' 49" FA 17 6
Flota do Paru* PA 5 54W 04' 09" , 02S 00' 29" FA 1 0
PN de Pacaás Novos RO 6 63W 36' 43" , 10S 35' 49" FA/Ce 11 7
PN do Jaú AM 7 61W 48' 59" , 01S 57' 01" FA 5 7
Madre de Dios # 8 70W 49' 11" , 11S 44' 56" FA 6 0
Cobija ## 9 61W 48' 59" , 1S 57' 01" FA 1 0
TOTAL 67 20
RESEX: Reserva Extrativista; Flota: Floresta Estadual; PN: Parque Nacional; *: amostras obtidas
por Dr. Alexandre Aleixo; #: Peru; ##: Bolívia; Nº: localidades no mapa da Figura 1; FA: Floresta
Amazônica; CE: Cerrado; S: amostras de sangue; P: penas.
4.2 - Extração de DNA
A extração de DNA das amostras de sangue foi realizada com protocolo padrão de digestão
com proteinase K seguido de purificação com fenol:clorofórmio:álcool isoamílico (25:24:1), segundo
descrito por Bruford e col. (1992). A extração de DNA para as amostras não invasivas foi realizada
com o kit DNeasy Tissue (Qiagen, Inc.).
4.3 - DNA mitocondrial
4.3.1 - Seqüenciamento da região controladora (RC) e do citocromo oxidase I (COI)
As reações de amplificação foram realizadas em um volume final de 10 l, sendo 4,9 l de
água Milli-Q, 1,0 l de tampão (10x), 1,0 l de dNTPs (2 mM), 0,5 l de cada primer (10 M), 0,1
l de Taq DNA polimerase (5 U/l, Pharmacia) e 2l de DNA (20 – 50 ng). As condições de
61
amplificação para a RC foram: desnaturação inicial a 95ºC por 5 min, seguida de 35 ciclos a 95ºC por
30 seg, 52ºC por 30 seg e 72ºC por 40 seg, seguindo de extensão a 72ºC por 7 min. Para o COI
foram: desnaturação inicial a 95ºC por 5 min, seguida de 35 ciclos a 95ºC por 1 min, 55ºC por 1 min
e 72ºC por 1 min e 30 seg, seguindo de extensão a 72ºC por 15 min. Os primers utilizados para a
amplificação da RC com amostras de sangue foram LGlu16737 e CRH1323 (Tabela 2) e para a
amplificação do COI foram LTyr e COIA7988 (Tabela 2). Para as amostras de penas foram
utilizados primers mais próximos entre si: para RC foram realizadas duas amplificações com os
conjuntos de primers LTyr / COIH7557 e COIF7308 / COIA7988 e para a amplificação do COI
foram utilizados os primers LGlu16737 e CRH1028. Para a purificação dos produtos, foi utilizado o
protocolo de Paithankar e Prasad (1991), descrito a seguir. Foi adicionado mesmo volume de
polietilenoglicol (PEG 20%) ao produto amplificado, misturado em agitador de tubos e mantido por
15 min à temperatura ambiente (25ºC). A amostra foi então centrifugada por 15 min a 12000 RPM,
em seguida o sobrenadante foi descartado com o auxílio de micropipeta. O precipitado foi lavado
com 80 l de Etanol 80% gelado e novamente centrifugado por 5 min a 12000 RPM. O sobrenadante
foi descartado com auxílio de micropipeta e lavado novamente nas mesmas condições anteriores, em
seguida a amostra foi secada em centrífuga a vácuo por 5 min e o DNA foi diluído em 10 l de água.
Tabela 2: Sequências dos primers utilizados para a amplificação e sequenciamento da RC e do COI,
assim como suas referências
Primers Seqüências (5’ 3’) Referências
L Glu16737 TTGTTCTCAACTACGGGAAC Eberhard e col.., 2001
CR H 1028 AGGTGTAAAACAAAGTGCATCAGGGT Tavares e col.., 2004
CR H 1323* CAGATAGTTGAGGCATAAGTGATTAA Tavares e col.., 2004
Ltyr TGTAAAAAGGWCTACAGCCTAACGC Haddrath, com. pessoal
COIH 7557 GGCGGATGTGAAGTATGCTCGGG Gonçalves, 2009
COIF 7308 CCTGCAGGAGGAGGAGAYCC Palombi, 1996
COIA 7988* AGTATAAGCGTCTGGGTAGTC Tavares, com. pessoal
L: cadeia leve; H: cadeia pesada; *: primers usados apenas na amplificação, não na reação de
sequenciamento
Para a reação de sequenciamento foi utilizado o BigDye Terminator Cycle Sequencing Kit
(Applied Biosystems). Para cada reação foi feita a mistura: 0,5 l de BigDye, 2,0 l de tampão do
BigDye, 2,0 l de água, 1,0 l de primer (10 M) e 4 l do produto amplificado. As reações foram
colocadas em termociclador nas seguintes condições: desnaturação inicial a 96ºC por 1 min, seguida
62
de 25 ciclos a 96ºC por 10 seg, 50ºC por 30 seg e 60ºC por 4 min, seguindo de extensão a 72ºC por
10 min. Em seguida, as amostras foram purificadas individualmente por precipitação com 80 l de
Isopropanol 70%, essa solução foi misturada em agitador de tubos e mantida por 15 min à
temperatura ambiente (25ºC). A amostra foi então centrifugada por 30 min a 12000 RPM. Em
seguida, o sobrenadante foi descartado com o auxílio de micropipeta. O precipitado foi lavado com
200l de Etanol 75% e novamente centrifugado por 10 min a 12000 RPM. O sobrenadante foi
descartado com auxílio de micropipeta e a amostra secada em centrífuga à vácuo por 5 min. As duas
cadeias do DNA foram sequenciadas no sequenciador ABI 3130 (Applied Biosystems). As
sequências foram editadas e alinhadas no programa CodonCode Aligner 3.5.4 (CodonCode
Corporation).
4.3.2 - Análises dos dados do DNA mitocondrial
Para cada fragmento estudado, foi sequenciada tanto a cadeia leve, quanto a cadeia pesada do
DNA mitocondrial. Ambas sequências foram comparadas com aquelas do GenBank
(HTTP//WWW.ncbi.nlm.nih.gov) para confirmar sua identidade. Esta pesquisa foi realizada
utilizando o programa “BLASTn”. As sequências da cadeia pesada obtidas para cada região de cada
indivíduo foram revertidas e complementadas para que ficassem idênticas às da cadeia leve. Este
procedimento foi realizado no programa CodonCode Aligner 3.5.4 (Codon Code Corporation),
gerando uma sequência consenso de cada gene estudado para cada indivíduo, em seguida, essas
sequências consensos foram alinhadas no programa Clustal X (Thompson e col., 1997) e as
sequências dos genes mitocondriais foram concatenadas.
A partir das sequências concatenadas dos dois genes mitocondriais foram estimados os níveis
de variabilidade genética baseados no número de haplótipos (H), número total de sítios variáveis (S),
diversidade haplotípica (h) e diversidade nucleotídica (π) (Nei e Li, 1979). Definindo-se como o
número médio de diferenças nucleotídicas em comparações pareadas das sequências de DNA (Page e
Holmes, 1998), e = ij/(n(n-1)/2), onde ij é a proporção de diferenças nucleotídicas entre as
sequências i e j, e n é o número de sequências. Essas análises foram realizadas no programa DnaSP
v5 (Librado e Rozas, 2009).
Para analisar a estrutura filogeográfica de Ara chloropterus, os haplótipos encontrados foram
organizados em uma rede haplotípica (Schneider e col., 2000) no programa Network 4.5.1.6 (Bandelt
e col., 1999) e em uma árvore de distância genética pelo método de neighbor-joining (Saitou e Nei
1987) no programa MEGA 4 (Tamura e col., 2007).
63
Para estudar a estrutura populacional, foi calculada a proporção entre a variância
intrapopulacional e a variância total da variabilidade genética (índice ST). A distribuição da
variabilidade de haplótipos foi analisada dentro e entre grupos de localidades distintas, por meio da
análise da variância molecular (AMOVA; Excoffier e col., 1992). No programa Arlequin 3.0
(Excoffier e col., 2005) foram calculados os valores de FST. A significância estatística dos índices de
fixação foi analisada por meio de um teste não paramétrico de permutação (Excoffier e col., 1992).
Para determinar o nível de significância desses valores, foi aplicada a correção de Bonferroni (α/k;
onde α = 0,05 e k = número de comparações; Rice, 1989). Para as análises demográficas, foram
usadas as frequências haplotípicas para obter a distribuição do número de diferenças nucleotídicas
aos pares de haplótipos (mismatch distribution; Rogers e Harpending, 1992), que pode ajudar a
identificar se as populações estudadas sofreram expansão populacional, gargalo ou se estão em
equilíbrio demográfico. Também foram realizados os testes de neutralidade pelos métodos de Tajima,
1989 (D); Fu e Li, 1993 (D* e F*); Fu, 1997 (FS) e Ramos-Onsins e Rozas, 2002 (R2) no programa
DnaSP v5 (Librado e Rozas, 2009). No Programa SAMOVA 1.0 (Dupanloup e col., 2002) foram
identificados grupos de populações que são geograficamente homogêneos e diferenciados
geneticamente uns dos outros.
A estimativa de data da expansão populacional e a relação do tamanho efetivo (Ne) da
população antes e após esta expansão pode ser obtida baseada na teoria da coalescência, um processo
estocástico que descreve o retrospecto da genética da população até um ancestral mais recente. O
Bayesian skyline plot implementado no programa Beast 1.4.6 (Drummond e Rambaut, 2007) pode
testar vários cenários demográficos. Essa modelagem mostrou-se muito útil como ferramenta para
indicar o melhor cenário de demografia histórica para um determinado conjunto de dados (Pybus e
Rambaunt, 2002).
4.4 - Microssatélites
Foram testados 14 pares de primers de microssatélites heterólogos (Tabela 3). As
amplificações com os primers selecionados foram realizadas em volume final de 12,5 l, sendo 7,2
l de água Milli-Q, 1,2 l de tampão (10x), 1,0 l de dNTPs (2 mM), 0,4 l de MgCl2 (25 mM), 0,3
l do primer Reverse (10 M), 0,2 l do primer M13 (10 M) fluorescente (TET ou HEX ou FAM;
Applied Biosystems) e 0,1 l do primer Forward (10 M)com uma cauda 5’M13 (5’ –
CACGACGTTGTAAAACGAC – 3’; Boutin-Ganache e col., 2001), 0,1 l de Taq DNA polimerase
(5 U/l, Pharmacia) e 1,5 l de DNA (20 – 50 ng). As reações foram realizadas em termociclador nas
seguintes condições: desnaturação a 95ºC por 10 min, 35 ciclos de desnaturação a 95ºC por 1 min,
64
hibridação a 50ºC – 60ºC por 40 seg e extensão a 72ºC por 40 seg, e uma extensão final a 72ºC por
10 min. Depois de amplificados, 1,5l dos produtos foram analisados em gel de agarose 1% para
verificação da presença e da quantidade de produto.
Tabela 3: Primers de microssatélites heterólogos testados e suas temperaturas de hibridação. Em
negrito estão os locos utilizados nas análises populacionais.
Primers Seqüências (5’ 3’) Temperatura
ºC Ampl. Polimórfico
UnaCT21F*1
UnaCT21R
CTTTCCCATACTTAGCCATA
AGACATTTCAAGACCGTGCC 50 S S*
6
UnaCT41 Int. F*2
UnaCT41 Int. R ACGAACAGCTAACATAAAAATATTGC
CAGAAGCACATGATCTTCATCC 60 S S*
7
UnaCT43F*1
UnaCT43R
TCATCCTATCACCAGAAGGG
CTTGAGGACAGTGCAGAGGG 60 S S
UnaGT55F*1
UnaGT55R
TCTGCCCTCTGTCTTATGCC
ACTTTGGTTTGTCCCTGC 50 N -
UnaCT74F*1
UnaCT74R
CTGGACTGCTGCTCTTAACA
AGCCTGAAGTGAACTGCATG 53 S S
AgGT08F*3
AgGT08R
GTGGCCTAACCTGAGAGTGG
ACATGTGCACACCTGATGG 50 S N
AgGT17F*3
AgGT17R
TGAGTAAGGGCTGTGCAATG
GCCTCAAGTTCTCCATTTCC 57 S S*
7
AgGT19F*4
AgGT19R
CCTTGCCTCCCAAAAAGAACT
ATGTATATCAACATTGACTCCTGG 57 S S
AgGT21F*3
AgGT21R
TCCCAGGCCAACACATTTAC
GCTTAGTGCATATCCCAAGCTA 57 S S*
7
AgGT32F*4
AgGT32R
ACCCAGCTTCAGGTTTGTA
TGCTTTTATTCTTCTGCCCC 57 S S
AgAGGT42F*4
AgAGGT42R
CAGCTGAATTGGCAGTCAGA
TTCAGTGGGGTAATGGAAGG 57 S S
AgAGGT90F*4
AgAGGT90R
TCCACAATTCTACCGAAGTGG
ACAGACACATCACTCCCCAAC 57 S S
Pee11F*5
Pee11R
AGATGCAAGGAATGTTAAACAC
CTCTGCTGCTAGGATAGTTC 57 S S
Pee16F*5
Pee16R
AGGAGAAAGAAAAGAGATGAC
CGTTTGAAGCCTGTGAGAAG 57 S S*
7
F: Forward; R: Reverse; Int.: Interno; *1: Caparroz e col., 2003; *
2: Gebhardt, 2007; *
3: Russello e
col., 2001; *4: Russello e col., 2005;
*5: Taylor e Parkin, 2007; Ampl.: amplificação; S: Sim; N: Não;
*6: loco fora de Equilíbrio de Hardy-Weinberg; *
7: locos com alelos nulos.
A análise dos microssatélites foi realizada em dois seqüenciadores diferentes. No caso do ABI
377 (Applied Biosystems), 0,5 l do marcador molecular Genescan-500 TAMRA (2 fmol, Applied
65
Biosystems), 2,0 l de formamida e 0,4 l de blue dextran (50 mg/ml) foram misturados a 1,5 l de
cada um dos produtos amplificados e 3 l dessa mistura foi aplicada em gel de acrilamida 7%. A
identificação do tamanho dos alelos foi realizada com o auxílio do programa Genotyper 2.1 (Perkin
Elmer). Já o preparo da amostra para análise no MegaBaceTM
500 (GE Healthcare) consistiu da
mistura de 0,25 l do marcador molecular Genescan-500 ROX (Applied Biosystems), 7,5 l de
Tween 20 (0,1%) e 2,0 l de produto amplificado (previamente diluído 1:5 em água). A identificação
do tamanho dos alelos foi realizada com o auxílio do programa Genetic Profile (Amersham
Pharmacia Biotech). As genotipagens foram repetidas pelo menos duas vezes com produtos de
amplificação diferentes para confirmação.
4.4.1 - Confirmação da presença dos microssatélites e amostras não invasivas repetidas
Como foram utilizados primers heterólogos, foi realizado o sequenciamento de indivíduos
homozigotos para cada loco com o mesmo protocolo de sequenciamento utilizado para o DNA
mitocondrial para confirmar a presença de microssatélites em Ara macao.
Para verificar se diferentes penas poderiam pertencer ao mesmo indivíduo, seus genótipos
foram analisados no programa GIMLET (Genetic Identification with Multilocos Tags) 1.3.3 (Valière,
2002). Esse programa busca conjuntos de genótipos idênticos.
4.4.2 - Análises dos dados de microssatélites
Em determinadas condições, uma população pode se encontrar em equilíbrio de Hardy-
Weinberg, ou seja, as freqüências alélicas são constantes, ficando em uma situação de equilíbrio.
Independentemente de um alelo ser raro ou frequente, sua frequência permanecerá a mesma com
relação aos outros desde que essas condições sejam mantidas. O equilíbrio é importante para que não
haja desvio nas análises, pois os testes de genética populacional partem do princípio de que a
população está em equilíbrio. Para se avaliar se locos se encontram em equilíbrio de Hardy-Weinberg
é realizada a comparação entre as freqüências de heterozigotos esperada e observada (Hartl e Clark,
1997). Os locos fora do equilíbrio foram excluídos das análises populacionais. A presença do
equilíbrio de ligação entre os locos pode ser avaliada por um teste Fischer exact test que cria tabelas
de contingência para todos os pares de locos e calcula a probabilidade para cada tabela usando a
cadeia de Markov. Este teste é importante para saber se os locos estudados são independentes. Tanto
o equilíbrio de Hardy-Weinberg quanto o equilíbrio de ligação dos locos foram avaliados no
programa Genepop 4.0.10 (Rousset, 2008). As freqüências de homozigotos esperada e observada são
66
comparadas para avaliar a evidência de presença de alelos nulos e erro de genotipagem (Brookfield,
1996), estes parâmetros foram analisados com o auxílio do programa Micro-checker (Brookfield,
1996).
Para avaliar se há estrutura populacional, foi utilizado o programa Structure 2.3.2 (Pritchard e
col., 2000). O grau de diferenciação entre os grupos de indivíduos de distintas localidades foi
avaliado pela estimativa do índice de fixação FST assumindo o modelo de mutação de alelos infinitos
(Kimura e Crow, 1964). Os valores de FST foram estimados pela análise da variância das freqüências
gênicas observadas entre distintos grupos com auxílio do programa Genepop 4.0.10 (Rousset, 2008).
Através de um teste de atribuição populacional (assignment test) foi analisado se os genótipos
dos indivíduos podem ser agrupados à sua população de origem. Este teste estima o valor de
verossimilhança de o genótipo de cada indivíduo pertencer a cada população amostrada atribuindo
cada indivíduo à população para a qual o logaritmo da probabilidade de sua freqüência genotípica
esperada for maior (Waser e Strobeck, 1998). O poder deste teste é maior se houver diferenciação
genética moderada ou alta entre as populações (Cornuet e col., 1999). Este teste foi realizado com o
auxílio do programa Arlequin 3.0 (Excoffier e col., 2005).
E ainda no programa SAMOVA 1.0 (Dupanloup e col., 2002) foram identificados grupos de
populações que são geograficamente homogêneos e diferenciados geneticamente uns dos outros pela
análise de variância molecular (AMOVA, Excoffier e col., 1992).
5 - Resultados
5.1 – Análises dos dados do DNA mitocondrial
5.1.1 – Análises filogeográficas
O DNA foi extraído individualmente a partir de 67 amostras de sangue de Ara macao.
Infelizmente, somente duas amostras de penas puderam ser sequenciadas para o DNA mitocondrial
(PN de Pacaás Novos, RO), totalizando 69 amostras de A. macao.
Foram sequenciados 933 pb da região controladora e 1161 pb do citocromo oxidase I,
totalizando 2094 pb de DNA mitocondrial de 69 amostras. Foram observados 191 sítios polimórficos
e 60 haplótipos, a diversidade haplotípica foi de 0,998 e a diversidade nucleotídica de 0,00993.
Dessas amostras, apenas duas foram obtidas no mesmo ninho e são idênticas, por isso, uma dessas
amostras foi retirada das análises populacionais, totalizando 68 amostras.
A rede de haplótipos (Figura 2) e a árvore de neighbor-joining (Figura 3) com os 2094 pb do
DNA mitocondrial não mostraram nenhum agrupamento correlacionado com a distribuição
geográfica, indicando que a espécie não possui estruturação genética populacional .
67
Figura 2: Rede de haplótipos (median-joining) baseada em 2094 pb da RC e do COI do DNA
mitocondrial com 68 amostras de Ara macao. Cada círculo representa um haplótipo, o tamanho do
círculo é proporcional à frequência do haplótipo. As cores representam as localidades amostradas
[Rosa: RESEX Chico Mendes (AC); azul claro: Redenção (PA); azul escuro: Canaã dos Carajás
(PA); laranja: PN do Jaú (AM); verde: PN de Pacaás Novos (RO), preto: Madre de Dios (Peru);
branco: Cobija (Bolívia); amarelo: Flota do Paru (AM)].
68
Figura 3: Árvore de neighbor-joining baseada em 2094 pb da RC e do COI do DNA mitocondrial de
68 amostras de A. macao e uma amostra de A. chloropterus como grupo externo. Valores de
bootstrap acima de 50% apresentados nos nós. Quadrados coloridos indicam as localidades de coleta
[Rosa: RESEX Chico Mendes (AC); azul claro: Redenção (PA); azul escuro: Canaã dos Carajás
(PA); laranja: PN do Jaú (AM); verde: PN de Pacaás Novos (RO), preto: Madre de Dios (Peru);
branco: Cobija (Bolívia); amarelo: Flota do Paru (AM)].
69
5.1.2 - Análises populacionais e demográficas
Os valores obtidos nos testes de neutralidade foram: D = -0,157; D* = -0,135; F* = -0,104 ;
FS de Fu = -0,439 e R2 = 0,099 todos os valores de p foram significativos (p < 0,001 para FS e p <
0,05 para os demais). Estes resultados indicaram que A. macao parece ter sofrido expansão
populacional. Isso foi congruente com os resultados obtidos da análise de Bayesian skyline plot
realizado no programa Beast que também sugerem expansão populacional recente nessa espécie
(Figura 4). O teste de mismatch distribution gerou uma curva multimodal (Figura 5).
Figura 4: Gráfico do Bayesian skyline plot de A. macao. A curva mostra mudança no tamanho
populacional das fêmeas em relação ao tempo (medido por anos). A linha preta indica a estimativa
média e o azul indica os intervalos de confiança (95%).
Tempo
Ne*
tau
(ta
man
ho e
feti
vo d
as
fêm
eas
x
tem
po d
e ger
açã
o e
m a
nos)
70
Figura 5: Gráfico de mismatch distribution de 68 indivíduos de Ara macao baseado em 2094 pb do
DNA mitocondrial. A curva contínua corresponde à distribuição esperada no caso de expansão
populacional (Esp) e a curva pontilhada, a distribuição observada (Obs).
Nas análises de FST e nos testes de neutralidade, a amostra de Cobija (Bolívia) foi agrupada
com as amostras de Madre de Dios (Peru), por serem muito próximas geograficamente. E a amostra
da Flota do Paru (PA) foi retirada dessas análises por ser distante geograficamente de todas as outras
áreas. O número de indivíduos, haplótipos e sítios variáveis, as diversidades haplotípica e
nucleotídica e os testes de neutralidade de cada localidade se encontram na tabela 4. Somente cinco
valores foram significativos: FS e R2 para as populações da RESEX Chico Mendes (AC) e do PN de
Pacaás Novos (RO) e R2 para Madre de Dios (Peru). Todos os valores de FST entre as localidades de
coleta (Tabela 5) não foram significativos, o que indica ausência de estruturação genética entre as
diferentes localidades, confirmando os resultados da rede de haplótipos (Figura 2), da árvore de
neighbor-joining (Figura 3) e dos testes de neutralidade. A AMOVA realizada no programa
SAMOVA, mostrou valores de ΦST negativos ou próximos de zero e p não significativo em todos os
agrupamentos formados, o que indica ausência de estruturação genética entre os grupos estudados.
Diferenças par-a-par
Fre
quên
cia
Esp
Obs
71
Tabela 4: Números de indivíduos (N), de sítios variáveis (S) e de haplótipos (H), diversidade
haplotípica (h), diversidade nucleotídica (π), D de Tajima (D), D de Fu e Li (D*), F de Fu e Li (F*),
FS de Fu (FS) e R2 de Ara macao. Valores de p > 0,05 estão em negrito.
Localidades N S H h π D D* F* FS R2
RESEX Chico Mendes (AC) 14 79 14 1 0,009 -0,09 -0,085 -0,097 0,016 0,14
PN do Jaú (AM) 4 35 4 1 0,009 -0,025 -0,052 -0,057 1,462 0,248
Madre de Dios (Peru) 7 61 6 0,95 0,010 -0,027 -0,033 -0,288 0,88 0,183
Redenção (PA) 12 58 11 0,98 0,009 -0,135 -0,09 -0,08 0,203 0,150
Canaã dos Carajás (PA) 17 100 16 0,98 0,010 -0,11 -0,08 -0,128 0,098 0,132
PN de Pacaás Novos (RO) 13 71 13 1 0,008 -0,041 -0,072 -0,076 0,341 0,147
Tabela 5: Valores de FST para Ara macao obtidos no programa Arlequin. Entre parênteses estão os
números de amostras por localidade. Nenhum valor de p foi significativo (p < 0,003 após correção de
Bonferroni).
Grupos RESEX
Chico
Mendes
(AC)
PN do
Jaú
(AM)
Madre
de
Dios
(Peru)
Redenção
(PA)
Canaã
dos
Carajás
(PA)
PN de
Pacaás
Novos
(RO)
RESEX Chico Mendes (14) -
PN do Jaú (4) 0,000 -
Madre de Dios (7) 0,022 0,026 -
Redenção (12) 0,007 0,009 0,030 -
Canaã dos Carajás (17) 0,006 0,008 0,028 0,014 -
PN de Pacaás Novos (13) 0,000 0,000 0,022 0,007 0,007 -
5.2 – Análises dos dados de microssatélites
Para as análises de microssatélites foram utilizadas todas as amostras de sangue coletadas
(Tabela 1) com exceção de uma do PN do Jaú (AM) por pertencer a um indivíduo possivelmente
aparentado a outro. Foi confirmada a presença de microssatélites para todos os locos polimórficos
(Tabela 3) pelo sequenciamento. Os microssatélites possuíam as mesmas sequências de repetições
daquelas descritas na espécie para a qual foram desenvolvidos. O programa Micro-checker acusou
quatro locos com presença de alelos nulos (UnaCT41Int., AgGT17 e AgGT21 e Pee16; Tabela 3).
Comparando as freqüências de heterozigotos esperada e observada foi possível avaliar que o loco
UnaCT21 (Tabela 3) não se encontra em equilíbrio de Hardy-Weinberg. Os demais locos analisados
se encontram em equilíbrio de Hardy-Weinberg, não apresentam evidências de possuírem alelos
nulos nem de erro de genotipagem e se encontram em equilíbrio de ligação (p > 0,05, o que indica
que são marcadores independentes), estes locos foram usados nas análises. As heterozigosidades
72
esperada e observada de cada loco utilizado nas análises se encontram na Tabela 7. O número de
alelos por loco variou de oito (Pee11) a 15 (AgGT90) e as frequências de alelos por loco variou de
0,008 a 0,621 (Figura 5).
Tabela 7: Heterozigosidade observada (Het. Obs.) e heterozigosidade esperada (Het. Esp.) para cada
loco.
Loco Het. Obs. Het. Esp p-value
UnaCT43 0,833 0,802 0,438
UnaCT74 0,894 0,864 0,65
AgGT19 0,636 0,685 0,395
AgGT32 0,590 0,586 0,133
Pee11 0,803 0,726 0,850
AgGT42 0,863 0,880 0,072
AgGT90 0,848 0,880 0,428
73
Figua 5: Frequência alélica dos sete microssatélites analisados para 68 amostras de Ara macao. Eixo
x: alelos segundo seus tamanhos (pares de base); Eixo y: frequência.
5.2.1- Análises populacionais e demográficas
O programa Structure não indicou presença de estrutura populacional (K=1). Como o método
de análise adotado por esse programa é sensível ao baixo número de locos e de indivíduos (Evanno e
col., 2005), foi também analisada a estrutura populacional baseado nos valores de FST, sendo
considerados como unidades de comparação os locais de coleta (Tabela 8). Os valores de FST foram
obtidos nos programas Genepop. Há somente dois valores de FST significativos, mas que indicam
baixa diferenciação de Canaã dos Carajás (PA) com RESEX Chico Mendes (AC) e com PN de
0
0,1
0,2
0,3
0,4
21
0
22
0
22
2
22
4
22
6
22
8
23
0
23
2
23
4
UnaCT43
0
0,1
0,2
0,3
26
4
26
6
26
8
27
0
27
2
27
4
27
6
27
8
28
0
28
2
28
4
UnaCT74
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
26
02
62
26
62
68
27
02
72
27
42
80
28
22
84
28
6AgGT32
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
20
42
08
21
02
12
21
42
16
21
82
20
22
2
AgGT19
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
34
0
34
4
34
8
35
2
35
6
36
0
36
4
37
2
Pee11
0
0,05
0,1
0,15
0,2
26
52
67
26
92
71
27
32
75
27
72
79
28
12
83
28
52
89
29
3
AgGT42
0
0,05
0,1
0,15
0,2
0,25
0,3
0,35
20
2
20
4
20
8
21
0
21
2
21
4
21
6
21
8
22
0
22
2
22
4
22
6
22
8
23
0
23
2
AgGT90
74
Pacaás Novos (RO). A ausência de estruturação nas demais comparações é congruente com os
resultados do DNA mitocondrial. A AMOVA realizada no programa SAMOVA, mostrou p não
significativo em todos os agrupamentos formados, o que indica ausência de estruturação genética
entre os grupos estudados.
Tabela 8: Valores de FST estimados no programa Genepop. Entre parênteses estão os números de
amostras por localidade. Em negrito valores com p < 0,003 (após correção de Bonferroni).
Grupos RESEX
Chico
Mendes
(AC)
PN do
Jaú
(AM)
Madre de
Dios
(Peru)
Redenção
(PA)
Canaã
dos
Carajás
(PA)
PN de
Pacaás
Novos
(RO)
RESEX Chico Mendes (14) -
PN do Jaú (4) 0,0130 -
Madre de Dios (6) -0,0050 0,0184 -
Redenção (12) 0,0073 0,0315 0,0079 -
Canaã dos Carajás (17) 0,0105 0,0122 -0,0092 0,0003 -
PN de Pacaás Novos (11) 0,0140 0,0288 0,0069 0,0070 0,0238 -
Para o teste de atribuição populacional (assignment test) realizado no programa Arlequin
foram assumidos seis grupos conforme a localidade das amostras, somente um indivíduo de Canaã
dos Carajás e um do PN de Pacaás Novos não foram atribuídos ao seu grupo de origem, ambos foram
atribuídos ao grupo da RESEX Chico Mendes, os demais indivíduos foram atribuídos ao seu grupo
de origem.
6 – Discussão
6.1 - Amostras
Todas as amostras de sangue resultaram em bons produtos de amplificação para os dois
marcadores. Em relação às penas, somente duas amostras do PN de Pacaás Novos (RO) puderam ter
seu DNA mitocondrial sequenciado, mas a maioria dos seus microssatélites não amplificaram e,
portanto, não foram incluídas nas análises. As demais amostras de penas estavam com o cálamo
(parte da pena que fica no interior da ave) um pouco cortado, o que pode ter gerado degradação do
DNA e ausência de produto amplificado.
75
6.2 - DNA mitocondrial
A diversidade haplotípica (0,9998) e a diversidade nucleotídica (0,00993) encontradas para
Ara macao mostram-se similares a outros trabalhos com araras (Gebhardt, 2007; araras vermelhas do
Peru e Caparroz, 2009, com Ara ararauna do Brasil). No entanto, esses valores são altos se
comparados à ausência de variação encontrada em três genes do DNA mitocondrial (citocromo b,
região controladora e ATPase 8) de Anodorhynchus hyacinthinus, (Presti 2009). Como as araras
vermelhas (Ara chloropterus e Ara macao) e Ara ararauna não são consideradas ameaçadas e A.
hyacinthinus é vulnerável, é possível que o nível de variabilidade genética possua alguma associação
com o status de ameaça.
Os resultados com a rede de haplótipos (Figura 2) apresentam indivíduos de diferentes
localidades misturados, o que evidencia ausência de estruturação populacional nessa espécie. A
árvore de neighbor-joining (Figura 3) evidencia a mesma mistura entre os indivíduos de diferentes
localidades. O resultado de Gebhardt (2007), com A. macao, também não evidenciou nenhuma
diferenciação genética entre os dois grupos estudados (uma localidade em Madre de Dios e outra em
Iquitos, ambas no Peru e distantes em 1000 km).
Todos os testes de neutralidade foram significativos, os testes D, D*, F* e FS resultaram em
valores negativos e o R2 positivo. Estes resultados podem indicar expansão populacional (Simonsen e
col., 1995). Nos dois trabalhos com araras do gênero Ara (Gebhardt, 2007 e Caparroz e col., 2009)
também foram obtidos valores negativos para o D (Tajima, 1989), porém não significativos. O teste
de mismatch distribution gerou uma curva multimodal (Figura 4), o que indica ausência de expansão
(Rogers e Harpending, 1992), porém Ramos-Onsins e Rozas (2002) discutem que o mismatch
distribution é muito conservador e não é ideal para estudos com DNA não recombinante, levando a
resultados incorretos, o que parece ter acontecido aqui, já que os demais testes indicam expansão
populacional para A. macao. O gráfico obtido de Bayesian skyline plot (Figura 4) é congruente com
os resultados dos testes de neutralidade. Ele sugere expansão populacional recente há pouco mais de
50 mil anos atrás e declínio populacional contínuo até hoje e iniciado há aproximadamente 20 mil
anos atrás, época que coincide com a última máxima glaciação. Ou seja, a espécie ainda estaria em
declínio populacional. Mesmo assim, comparado com A. chloropterus (diversidade haplotípica (h) =
0,978 e diversidade nucleotídica (π) = 0,01077 no Brasil e h = 0,834 e π = 0,00944 no Peru), A.
macao (h = 0,991 e π = 0,0308 no Peru) e A. ararauna (h = 0,912 e π = 0,01534 no Brasil), a
variabilidade genética é alta, possivelmente por ser ainda uma espécie muito abundante, enquanto a
espécie Anodorhynchus hyacinthinus é mais baixa (h = 0,820 e π = 0,00071), provavelmente por ser
uma espécie de número reduzido de indivíduos e ameaçada de extinção.
Nenhum valor de FST (Tabela 5) foi significativo, o que é congruente com os resultados
obtidos com a rede de haplótipos (Figura 2) e com a árvore de neighbor-joining (Figura 3) que
76
indicam ausência de estruturação genética para a espécie estudada. Nossos resultados corroboram os
dados de Gebhardt (2007), que também obteve valores de FST baixos e não significativos para as duas
localidades de A. macao no Peru.
6.3 - Microssatélites
O número de alelos dos locos utilizados nas análises variou de 8 a 15 (Figura 5). Quando
comparados com os números de alelos nas espécies para quais os locos foram desenvolvidos, Ara
macao apresentou mais alelos (com exceção do loco UnaCT43 com mesmo número de alelos).
Indicando alta variabilidade. O maior número de alelos no presente trabalho (com exceção de apenas
um loco, AgGT42, com número igual) também foi encontrado na comparação com o estudo de Ara
macao de duas localidades no Peru (Gebhardt, 2007).
Somente dois valores de FST foram significativos, entre o grupo de Canaã dos Carajás com os
grupos de RO e AC, porém com o DNA mitocondrial não foi recuperado nenhum valor de FST
significativo. Valores de FST não significativos também indicam falta de estruturação genética entre
os diferentes grupos (Rousset, 2008). A AMOVA também não evidenciou nenhum agrupamento
dentro de A. macao.
O teste de atribuição (assignment test) atribuiu apenas dois indivíduos da RESEX Chico
Mendes a dois diferentes grupos (Canaã dos Carajás e PN de Pacaás Novos) e os demais indivíduos
foram atribuídos ao seu grupo de origem.
7 - Conclusões
Com os dois marcadores estudados (DNA mitocondrial e microssatélites) os valores de FST
não indicaram estruturação genética populacional em Ara macao, o que é congruente com a rede de
haplótipos (Figura 2) e a árvore de neighbor-joining (Figura 3), que apresentam indivíduos de
diferentes localidades misturados. O Bayesian skyline plot indicou expansão populacional de A.
macao há pouco mais de 50 mil anos atrás e um declínio populacional desde o período da última
máxima glaciação. Estes resultados sugerem que Ara macao é constituída de uma única grande
população que poderia ser considerada como uma única unidade de manejo caso outras diferenças
(ex.: adaptações ecológicas locais) não sejam encontradas.
8 - Referências Bibliográficas
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80
Capítulo 4
Análise comparativa entre as duas espécies
estudadas: Ara chloropterus e Ara macao
Casal de A. chloropterus e A. macao por Oliveira-Marques
81
1 - Introdução
A família Psittacidae se subdivide em cinco subfamílias (Arinae, Loriinae, Micropsittinae,
Psittacinae e Platycercinae) (Schweizer e col., 2010; Wright e col. 2008). A subfamília Arinae agrupa
todas as espécies neotropicais (Schweizer e col., 2010; Christidis e Boles, 2008; Tokita e col., 2007;
de Kloet e de Kloet, 2005; Sick, 1997; Forshaw, 1989; Smith, 1975). Dentro dessa subfamília se
encontram as araras. Segundo Collar (1997) os táxons conhecidos popularmente como araras
englobam as espécies dos gêneros Anodorhynchus, Cyanopsitta e Ara. Dentro deste último gênero
são reconhecidas atualmente oito espécies que variam de pequeno a grande porte, com cauda longa e
pontiaguda: Ara ararauna, A. glaucogularis, A. rubrogenys, A. severus, A. militaris, A. ambiguus, A.
chloropterus e A. macao. Estas duas últimas foram estudadas no presente estudo.
Ara chloropterus e A. macao são muito semelhantes morfologicamente (Figura 1 - A e B),
ambas possuem a cor vermelha como principal cor do corpo, as principais diferenças entre elas são
seu tamanho, cor das asas e região perioftálmica (região ao redor dos olhos): A. macao é desprovida
de penas na região perioftálmica enquanto A. chloropterus possui fileiras de penas (Figura 1 – C e
D); A. macao possui as grandes coberteiras também amarelas (Figura 1 – E e F). Ainda A.
chloropterus é um pouco maior que A. macao.
Figura 1: A: Ara chloropterus; B: Ara macao; C: região perioftálmica de A. chloropterus; D: região
perioftálmica de A. macao; E: asa de A. macao; F: asa de A. chloropterus. Figuras A e B modificadas de
Collar (1997) e demais fotos por Oliveira-Marques (E e D aves cativas, E e F peles do Museu de Zoologia da
USP).
82
As araras vermelhas ocorrem na América Central (A. macao cyanoptera) e na América do Sul
(A. macao macao e A. chloropterus, esta última também é encontrada no extremo leste do Panamá).
Ara macao consta como ornamento no primeiro mapa do Brasil, datado de 1502 (Sick, 1997, Figura
2). No Brasil, a Floresta Amazônica é o principal bioma dessas araras, onde ambas ocorrem e A.
chloropterus também ocorre em outros biomas (Figura 3).
Figura 2: Imagem do “Mapa de Cantino”, 1502, o primeiro mapa incluindo o Brasil, em destaque as araras
vermelhas desenhadas no mapa. Este mapa se encontra na Biblioteca Estense Universitaria – Modena (Itália).
A perda do hábitat é um dos principais fatores de ameaça de extinção das espécies, além da
introdução de predadores ou competidores, endocruzamento, retirada da natureza para o comércio
ilegal e para a arte plumária indígena, caça e coleta de ovos e filhotes e destruição das espécies de
árvores para utilização de ninhos (Snyder e col., 2000; Juniper e Parr, 1998). As araras vermelhas
Ara chloropterus e A. macao, alvos do presente estudo, não são consideradas ameaçadas de extinção,
porém sofrem com alguns desses fatores citados acima, como perda de hábitat, comércio ilegal, caça
de ovos e filhotes e arte plumária indígena. No presente estudo realizamos análises para avaliar a
variabilidade genética e para descrever a estrutura genética populacional dessas espécies.
83
Figura 3: Mapa de distribuição de Ara chloropterus (linha tracejada preta) e Ara macao (linha tracejada azul).
Pontos verdes: amostras recebidas por terceiros; pontos vermelhos: amostras coletadas pelos pesquisadores do
presente trabalho. Letras correspondem à tabela 1. Mapa modificado de I3Geo e Figuras das araras
modificadas de Collar (1997).
Na análise filogenética de Oliveira-Marques (2006) com as oitos espécies do gênero Ara e
representantes de outros gêneros de psitacídeos da subfamília Arinae (Primolius, Orthopsittaca,
Diopsittaca, Cyanopsitta e Anodorhynchus), o gênero Ara se apresenta monofilético e A.
chloropterus e A. macao aparecem como espécies irmãs com valores de bootstrap acima de 70%. A
distância genética entre elas é de aproximadamente 3,8% e a divergência entre elas ocorreu há
aproximadamente 2,5 milhões de anos atrás, o que coincide com o final do Plioceno e início do
Pleistoceno, quando iniciaram os períodos glaciais e interglaciais. Como estas duas espécies
dependem de ambientes florestais, talvez durante períodos glaciais, grupos foram isolados em
refúgios florestais (Haffer, 1969, 1990, 1997; Vanzolini e Williams, 1970) e, passado o devido
tempo, possam ter se diferenciado em espécies. Uma vez que as condições climáticas tenham se
tornado favoráveis à expansão de ambientes florestais, as duas espécies também expandiram suas
distribuições e atualmente até ocorrem em simpatria em algumas localidades.
84
2 - Objetivos:
O objetivo desse capítulo é comparar as duas espécies irmãs Ara chloropterus e A. macao
quanto aos resultados obtidos nos capítulos 2 e 3.
3 – Materiais e Métodos:
4.1 – Amostras utilizadas
As amostras de sangue e penas de A. chloropterus e de A. macao que foram utilizadas na
comparação estão descritas na Tabela 1 e suas localizações podem ser visualizadas na Figura 3.
Tabela 1: Amostras de Ara chloropterus e de A. macao, local de coleta, coordenada geográfica,
bioma de cada localidade e número de amostras de cada localidade.
Ac Am
Município ou Reserva E Po Coordenada geográfica Bioma mit mic mit mic
RESEX Chico Mendes AC A 69W 34' 00" , 10S 56'
30"
FA 1 1 13 13
Flota Antimary AC B 67W 57' 08" , 09S 49' 51" FA 0 0 1 1
PN do Jaú AM C 61W 48' 59" , 01S 57' 01" FA 0 0 4 4
Pantanal Norte MT D 55W 58' 02" , 16S 11'
41"
P 14 14 * *
Abobral MS E 56W 49' 59" , 21S 12'
01"
P 7 7 * *
Aquidauana MS F 55W 47' 14" , 20S 28'
17"
P 4 5 * *
Miranda MS G 56W 22' 42" , 20S 14'
27"
P 7 7 * *
Nhecolândia MS H 57W 01' 29" , 19S 15'
02"
P 6 6 * *
Bonito MS I 56W 28' 55" , 21S 07'
16"
P 1 1 * *
Canaã dos Carajás PA J 49W 52' 42" , 6S 29' 49" FA 25 26(1pn) 16(1pn) 17(1pn)
Redenção PA K 50W 01' 52" , 8S 01' 44" FA 1 1 12 12
Flota do Paru PA L 54W 04' 09" , 02S 00' 29" FA 0 0 1 1
Diamante do Norte PR M 52W 51' 34" , 22S 39'
24"
MA 1 1 * *
Gilbués PI N 45W 20' 37" , 9S 49' 55" Ce/Ca 12 12 * *
PN de Pacaás Novos RO O 63W 36' 43" , 10S 35'
49"
FA/Ce 2 3 13(2pn) 13(2pn)
PE Morro do Diabo SP P 52W 10' 02" , 22S 31'
57"
FA 5pn 8pn * *
Cobija ## Q 52W 10' 02" , 22S 31'
57"
FA 1 1 1 1
Madre de Dios # R 70W 13' 20" , 70S 50'
22"
FA 2 2 6 6
TOTAL 89 95 68 69
RESEX: Reserva Extrativista Chico Mendes; Flota: Floresta Estadual; E: Estado; Po: Pontos no
mapa da Figura 3; Ac: Ara chloropterus; Am: Ara macao; mit: amostras usadas com DNA
mitocondrial; mic: amostras usadas com microssatélites; pn: pena; #: Peru; ##: Bolívia; FA: Floresta
Amazônica; P: Pantanal; MA: Mata Atlântica; Ce: Cerrado; Ca: Caatinga. *: ausente nesta
localidade.
85
4.3 - DNA mitocondrial
Todas as seqüências (concatenadas da região controladora e do citocromo oxidase I,
totalizando 2095 pb) de 89 Ara chloropterus e 68 A. macao descritas nos capítulos 2 e 3 foram
utilizadas na construção de uma rede de haplótipos (Schneider e col., 2000) no programa Network
4.5.1.6 (Bandelt e col., 1999) e de uma árvore pelo método de neighbor-joining (Saitou e Nei 1987)
no programa MEGA 4 (Tamura e col., 2007). Foram comparados os números de haplótipos (H), os
números totais de sítios variáveis (S), as diversidades haplotípicas (h), as diversidades nucleotídicas
(π) e os valores de FST e de todos os testes de neutralidade obtidos para cada espécie (Capítulos 2 e
3).
4.4 - Microssatélites
Foram comparados o número de locos polimórficos e os valores de FST de 95 Ara
chloropterus e de 69 A. macao (ver capítulos 2 e 3). Foi também construída uma matriz de dados
com os três locos em comum entre as duas espécies para realizar a análise no Structure 2.3.2
(Pritchard e col., 2000) e o teste de atribuição populacional (assignment test) no programa Arlequin
3.0 (Excoffier e col., 2005).
5 - Resultados
5.1 –DNA Mitocondrial
A rede de haplótipos (Figura 4) mostrou as duas espécies bem separadas, com uma amostra de
A. macao um pouco mais ao centro. Os diferentes agrupamentos de A. chloropterus foram
recuperados, como no capítulo 2 e também a mistura dos haplótipos de A. macao como no capítulo 3.
A árvore de neighbor-joining também mostrou a separação clara entre as duas espécies (Figura 5).
86
Figura 4: Rede de haplótipos (median-joining) baseada em 2095 pb da RC e do COI do DNA
mitocondrial com 89 Ara chloropterus e 68 A. macao. Cada círculo representa um haplótipo, o
tamanho do círculo é proporcional à frequência do haplótipo. Verde: haplótipos de A. chloropterus;
Amarelo: haplótipos de A. macao. Círculos tracejados indicam os agrupamentos de A. chloropterus
descritos no capítulo 2.
Grupo 1
Grupo 2
Grupo 3
Grupo 4
Grupo 5
87
Figura 5: Árvore de neighbor-joining baseada em 2095 pb da RC e do COI do DNA mitocondrial de 157
amostras (89 de A. chloropterus e 68 de A. macao). Valores de bootstrap acima de 50% representados nos nós.
Quadrados coloridos indicam a espécie (verde: A. chloropterus; amarelo: A. macao). Quadrados tracejados
indicam os mesmos agrupamentos obtidos na rede de haplótipos para A. chloropterus (Capítulo 2).
Grupo 5
Grupo 4
Grupo 3
Grupo 2
Grupo 1
88
Os valores da diversidade haplotípica e nucleotídica foram semelhantes para as duas espécies
(Tabela 2). Porém os demais valores de diversidade genética foram maiores para A. macao,
mostrando que essa espécie parece possuir maior variabilidade genética.
Tabela 2: Número de indivíduos (N), número de pares de base (pb), número de sítios variáveis (S) e
número de haplótipos (H), diversidade haplotípica (h), diversidade nucleotídica (π), D de Tajima (D),
D de Fu e Li (D*), F de Fu e Li (F*), FS de Fu (FS) e R2 das duas espécies. Valores com p > 0,05
estão em negrito.
Esps. N pb S H h π D D* F* FS R2
Ac 89 2166 148 60 0,984 0,01084 -0,1179 -0,0582 -0,0907 -0,370 0,094
Am 68 2094 191 60 0,998 0,00993 -1,157 -0,135 -0,104 -0,439 0,099
Esps.: Espécies; Ac: Ara chloropterus; Am: Ara macao.
Os valores de FST encontrados para A. chloropterus com o DNA mitocondrial foram acima de
0,03 e alguns significativos, já para A. macao, os valores de FST foram abaixo de 0,03 e nenhum foi
significativo. Ou seja, A. chloropterus apresenta fraca estruturação genética entre alguns grupos e A.
macao não apresenta nenhuma estruturação genética. Os testes de neutralidade indicaram que A.
macao sofreu recente expansão, estes resultados são congruentes com aqueles obtidos no Bayesian
skyline plot (ver capítulo 3).
5.2 – Microssatélites
Ara chloropterus apresentou maior número de locos não polimórficos e A. macao apresentou
maior número de locos com presença de alelos nulos (Tabela 3). Somente dois locos apresentaram
alelos nulos para as duas espécies, UnaCT41 Int. e AgGT17, os demais foram exclusivos para uma
ou outra espécie. Os intervalos de tamanhos dos alelos foram similares (Tabela 3). Somente três locos
polimórficos, em equilíbrio de Hardy-Weinberg e sem presença de alelos nulos foram comuns para as
duas espécies.
Os valores de FST com os microssatélites foram baixos para as duas espécies (< 0,08 para A.
chloropterus e < 0,03 para A. macao), porém para A. chloropterus, os valores foram significativos
entre alguns grupos e para A. macao somente dois valores de FST foram significtivos (entre de Canaã
dos Carajás, PA e os grupos de RO e AC).
89
Tabela 3: Número e intervalo de tamanho dos alelos e seqüência das unidades de repetição
encontrada em cada loco para cada espécie. Entre parênteses se encontra o número de indivíduos
analisados
Locos Número de Alelos Tamanho dos Alelos
Repetição Ac (95) Am (69) Ac Am
UnaCT21 GT 12 19* 265-305 255-291
UnaCT41 Int. GT 5** 6** 172-180 170-184
UnaCT43 GT 6 9 216-226 210-234
UnaGT55 GT 1 (30) - 203 -
UnaCT74 GT 10* 12 260-282 264-284
AgGT08 GT 1 (15) 1 (15) 343 343
AgGT17 GT 5** 14** 238-246 242-282
AgGT19 CA 15** 9 206-236 204-222
AgGT21 GT 10 16** 318-350 318-352
AgGT32 CA 1 (30) 11 268 260-286
AgGT42 GT 15 13 257-287 265-293
AgGT90 GT 12* 15 200-230 202-232
Pee11 CCAT 7 8 344-360 340-372
Pee16 CCAT 9 11** 291-323 273-315 Ac: Ara chloropterus; Am: A. macao; *: loco fora de equilíbrio de Hardy-Weinberg; **: loco com
presença de alelo nulo.
O programa Structure indicou a presença de dois grupos (K = 2) congruentes com as duas
espécies, porém, alguns indivíduos das duas espécies possuem composição genotípica com mistura
(Figura 6). Esse resultado mostrou que mesmo com o baixo número de locos (apenas três), foi
possível distinguir as duas espécies relativamente bem. O mesmo ocorreu no teste de atribuição
(assignment test) com todos os indivíduos atribuídos à sua espécie.
90
Figura 6: Estimativa de agrupamento populacional pela análise Bayesiana realizado no programa
Structure. As cores indicam as duas espécies (Verde: A. chloropterus; Vermelho: A. macao).
6 - Discussão
Apesar de as duas espécies viverem em simpatria em algumas localidades, principalmente na
região da floresta amazônica, durante as coletas de campo foi possível observar que Ara macao foi
avistada com maior frequência na floresta amazônica. Como alguns trabalhos de campo indicam que
A. macao permanece mais nas bordas das matas, enquanto A. chloropterus permanece mais no
interior das matas, talvez isso torne o avistamento de A. macao mais frequente. Consequentemente,
foi mais fácil encontrar ninhos de A. macao na floresta amazônica. Outra possibilidade é que A.
macao pode ser mais abundante nesta região.
A rede de haplótipos (Figura 4) e a árvore de neighbor-joining (Figura 5) apresentam dois
grupos que correspondem às duas espécies. As porções da rede de haplótipos e da árvore com
indivíduos de A. chloropterus apresentam cinco agrupamentos, mas sem congruência com a
distribuição geográfica (ver capítulo 2). Já as porções da rede e da árvore com indivíduos com A.
macao apresentam mistura de indivíduos de todas as localidades, evidenciando ausência de
estruturação genética nessa espécie. Observações de campo recentes realizados no Peru (Brightsmith,
com. pessoal) indicam que A. chloropterus voa distâncias menores que A. macao, isso poderia
explicar a fraca estruturação encontrada em A. chloropterus e ausência de estrutura em A. macao.
Os dados com DNA mitocondrial apresentam alta variabilidade genética para as duas espécies
o que também foi encontrado em outros trabalhos com araras não ameaçadas (Gebhardt, 2007;
Caparroz e col. 2009). Segundo alguns autores (Solé-Cava, 2001; Nevo, 1978) é comum populações
naturais apresentarem altos níveis de variabilidade genética que pode ser gerada por mutação ou
migração de indivíduos de outra população e pode ser perdida por seleção natural, deriva genética ou
por endocruzamento. No entanto, é comum observar menor variabilidade genética em espécies que
estão ameaçadas de extinção, como Anodorhynchus hyacinthinus (Presti, 2006) e maior variabilidade
em espécies não ameaçadas, caso de nosso estudo. O que pode estar contribuindo para a alta
variabilidade genética nas araras vermelhas é um possível intenso fluxo gênico.
91
Os valores dos testes de neutralidade (Tabela 2) indicaram história demográfica diferente
entre as duas espécies. Para A. chloropterus os valores não foram significativos, indicando ausência
de expansão recente nessa espécie e equilíbrio populacional. Já para A. macao, todos os testes
indicaram expansão populacional recente, o que foi confirmada pela Bayesian skyline plot (Capítulo
3) que indica expansão populacional dessa espécie há pouco mais de 50 mil anos atrás e um declínio
populacional contínuo se iniciando há aproximadamente 20 mil anos atrás.
Os dados de microssatélites também indicam que as duas espécies estudadas apresentaram
alta variabilidade genética, e possuem variabilidade maior do que araras analisadas em outros
trabalhos (Gebhardt, 2007; Caparroz e col. 2009). Em três espécies de araras ameaçadas, a análise de
microssatélites resultou em baixo número de alelos (Cyanopsitta spixii, Anodorhynchus hyacinthinus
e Anodorhynchus leari; Presti, 2006). Ou seja, como esperado, espécies ameaçadas apresentaram
variabilidade genética menor do que espécies não ameaçadas. Para A. chloropterus, os pares de
localidades com valores de FST significativos para os dados de microssatélites são os mesmos
encontrados na análise do DNA mitocondrial. No caso de A. macao, somente dois pares de
localidades possuem valores de FST significativos para os microssatélites e os demais são
concordantes com o DNA mitocondrial.
Segundo Evanno e col. (2005), o método de análise adotado pelo programa Structure 2.3.2
(Pritchard e col., 2000) é sensível ao baixo número de locos e de indivíduos, porém quando testamos
este método na análise com dados de somente três locos polimórficos das duas espécies , foi possível
observar clara separação entre elas. O teste de atribuição populacional foi capaz de atribuir os
indivíduos às suas espécies corretamente.
7 – Conclusões
Nossos resultados sugerem que as duas araras vermelhas possuem alta variabilidade genética,
possivelmente devido a um intenso fluxo gênico dentro de cada espécie. Porém, é interessante
salientar que o Bayesiana skyline plot indica declínio populacional de A. macao desde o último
máximo glacial. Considerando esse resultado, torna-se importante monitorar a espécie a longo prazo.
Tal monitoramento também vale para A. chloropterus.
8 - Referências Bibliográficas
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95
Conclusões Finais
- Nas viagens de campo foi possível confirmar que as araras vermelhas são generalistas na sua
alimentação e na escolha da espécie arbórea para nidificação. Dado importante para qualquer plano
de conservação da espécie.
- Também em nossas viagens, podemos observar que o período de chuva e de reprodução das araras
vermelhas parecem estar relacionados. Isso é importante para estabelecer melhor qual é a época
reprodutiva dessas espécies nas regiões visitadas.
- Os dois marcadores moleculares (DNA mitocondrial e microssatélites) revelaram fraca estruturação
genética em Ara chloropterus, indicando que esta espécie deve estar organizada em metapopulações.
- A região do Parque Estadual Morro do Diabo (SP), onde A. chloropterus é considerada ameaçada
de extinção necessita de mais estudos (observações de campo e moleculares) para entender melhor a
biologia e a genética dos indivíduos dessa localidade.
- Os dois marcadores moleculares (DNA mitocondrial e microssatélites) revelaram ausência de
estruturação genética em Ara macao, indicando que esta espécie pode ser considerada uma única
população.
- Nossos resultados sugerem que as duas espécies estudadas apresentam alta diversidade genética,
possivelmente devido a um intenso fluxo gênico dentro de cada espécie. Porém, há indícios de
declínio populacional em Ara macao.