Caracterização Urbana do Bairro da Fonte Nova - Setúbal

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CARACTERIZAÇÃO URBANA DO BAIRRO DA FONTE NOVA – SETÚBAL António Rosa da Silva, Arquitecto SINOPSE 1 – Objectivo e estrutura do trabalho. 1.1 – Objectivo. Este trabalho tem como objectivo o estudo, do ponto de vista morfológico e da cidade, de uma zona de tecido urbano consolidado. Neste caso especifico, o Bairro da Fonte Nova em Setúbal. A análise morfológica do ponto de vista da alteração do edificado, parte de uma estrutura urbana antiga e consolidada, e a sua adaptação aos estilos de vida e de habitar contemporâneos. O que está aqui em causa é uma leitura do edificado, que incide sobre o sistema de suporte físico, o edifício, a fachada, os usos e as transformações operadas. A introdução do termo transformação pressupõe a existência de acção humana sobre o edifício, que pode ser negativa ou positiva. Propõe-se, para finalizar, uma abordagem ao tema: - transformação em uma unidade, como proposta de adaptação positiva de um edifício antigo aos padrões modernos de cidade. 1.2 – Estrutura. O trabalho divide-se em duas partes: - uma análise sumária dos tipos de edifício, - uma análise do tipo de transformações operadas, - uma avaliação critica dos resultados obtidos com as transformações efectuadas. 1.3 – Limite da área de estudo. 2 – Tipos e famílias de edifícios. 2.1 – Dimensão: 2.1.1 – Edifícios com um piso. 2.1.2 – Edifícios de dois pisos. 2.1.3 – Edifícios de três ou mais pisos. 2.1.4 – Edifícios cuja área de implantação ultrapassa os 100m2. 2.2 – Estado de conservação: 2.2.1 – Edifícios em ruínas. 2.2.2 – Edifício novo. Edifícios construídos após 1940 e que visivelmente, no seu conjunto, não correspondem á estrutura de edifícios dominantes. São edifícios construídos, provavelmente, em lotes correspondentes a edifícios antigos em que não foi respeitada a linha de fachada do edifício pré- existente.

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Sinopse de um estudo de caracterização urbana de um dos bairros da Cidade de Setúbal

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CARACTERIZAÇÃO URBANA DO BAIRRO DA FONTE NOVA – SETÚBAL

António Rosa da Silva, Arquitecto

SINOPSE 1 – Objectivo e estrutura do trabalho. 1.1 – Objectivo. Este trabalho tem como objectivo o estudo, do ponto de vista morfológico e da cidade, de uma zona de tecido urbano consolidado. Neste caso especifico, o Bairro da Fonte Nova em Setúbal. A análise morfológica do ponto de vista da alteração do edificado, parte de uma estrutura urbana antiga e consolidada, e a sua adaptação aos estilos de vida e de habitar contemporâneos. O que está aqui em causa é uma leitura do edificado, que incide sobre o sistema de suporte físico, o edifício, a fachada, os usos e as transformações operadas. A introdução do termo transformação pressupõe a existência de acção humana sobre o edifício, que pode ser negativa ou positiva. Propõe-se, para finalizar, uma abordagem ao tema: - transformação em uma unidade, como proposta de adaptação positiva de um edifício antigo aos padrões modernos de cidade. 1.2 – Estrutura. O trabalho divide-se em duas partes: - uma análise sumária dos tipos de edifício, - uma análise do tipo de transformações operadas, - uma avaliação critica dos resultados obtidos com as transformações efectuadas. 1.3 – Limite da área de estudo. 2 – Tipos e famílias de edifícios. 2.1 – Dimensão: 2.1.1 – Edifícios com um piso. 2.1.2 – Edifícios de dois pisos. 2.1.3 – Edifícios de três ou mais pisos. 2.1.4 – Edifícios cuja área de implantação ultrapassa os 100m2. 2.2 – Estado de conservação: 2.2.1 – Edifícios em ruínas. 2.2.2 – Edifício novo. Edifícios construídos após 1940 e que visivelmente, no seu conjunto, não correspondem á estrutura de edifícios dominantes. São edifícios construídos, provavelmente, em lotes correspondentes a edifícios antigos em que não foi respeitada a linha de fachada do edifício pré-existente.

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2.2.3 – Edifícios antigos renovados. Edifícios com fachadas renovadas, que mantiveram o desenho de fachada pré-existente e o sistema estrutural subjacente.

2.3 – Usos. Todos os edifícios são de habitação, embora alguns compreendam comércio de baixa densidade no rés-do-chão. 2.3.1 – Edifícios de utilização mista (habitação e comércio).

Fig. 1 – Edifício do casco antigo renovado. Rua das Oliveiras.

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3 – Tipos de transformação nos edifícios.

3.1 – Forma. De uma forma geral todos os edifícios mantêm a forma original, são paralelepípedos implantados em lotes de forma alongada (rectangulares) salvo os lotes de gaveto, geralmente resultantes da união de duas perpendiculares ás ruas que o compõem. Em termos formais e volumétricos os edifícios de gaveto assumem uma importância maior.

3.2 - Cobertura. Neste tipo de bairro as coberturas assumem um nível de importância operada a dois níveis: - ao nível do tecido urbano, formando um coroamento homogêneo de todo o bairro, ligando de forma coerente todos os edifícios

que compõem a unidade em estudo;

- ao nível da rua, na forma como se unem ao edifício e no tipo de remate que compõe essa união. Neste caso especifico, o bairro apresenta dois tipos de remate cobertura/parede, em beiral simples, ás vezes com uma fiada dupla de telha, ou com um pequeno prolongamento sobre uma janela ou varanda, e em beiral recolhido em platibanda decorada com frisos e eventualmente com um pequeno brasão. Em termos de alterações operadas a este nível, de uma forma geral, os habitantes mantiveram o mesmo tipo de remate existente, embora em alguns casos, em que houve alteração do tipo de remate ou do tipo de cobertura, verifica-se uma alteração clara da leitura do edificado.

Fig. 2 – Rua do Bairro da Fonte Nova

Fig. 3 – Dois tipos de telha usados nas coberturas (marselha e canudo).

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3.3 – Revestimento exterior. O revestimento exterior dos edifícios, neste caso especifico, é em reboco pintado, com alguns edifícios (principalmente os de gaveto) a apresentarem cunhais em pedra. As alterações a este nível não foram significativas, no universo dos 122 edifícios que compõe a área em estudo apenas dois apresentavam alterações na generalidade do revestimento exterior, um revestido a azulejo e outro a reboco projectado á base de granulados de mármore. Uma alteração freqüente ao revestimento exterior é a inclusão de um lambrim de pedra calcária na junção do edifício com o terreno. 3.4 – vãos. Os vãos representam a ligação do exterior com o interior da casa e protegem-na de uma forma directa dos elementos atmosféricos, e jogam um papel importante ao nível social, mantendo a casa como uma espécie de reduto apenas acessível pelo proprietário. Talvez tenha sido por essa razão que as maiores alterações visíveis tenham sido operadas a este nível. De um modo geral as pessoas respeitaram o dimensionamento do vão (difícil de alterar), mas alteraram radicalmente o desenho e material das caixilharias, substituindo as antigas de madeira por novas de alumínio.

Sintoma emergente dos tempos modernos são os novos vãos abertos pelos moradores, pela dimensão e pela forma podemos aferir que se trata de ventilação de casas de banho ou de outras reestruturações efectuadas no interior dos edifícios. Outros pormenores de alteração freqüente são as guardas de ferro forjado que protegem as pequenas varandas de pedra calcária em balanço, motivada certamente pela falta de mão de obra especializada para as executar. 3.5 – Fachada nova. Alguns edifícios apresentam fachadas totalmente renovadas, havendo casos em que o desenho de base dos edifícios bairro foi totalmente desrespeitado. 3.6 – Outras alterações. Estas alterações incluem todos os elementos introduzidos pelos proprietários e estranhos á construção original, como pequenos degraus de betão, ou uma guarda de janela, claramente distante do principio original do edifício, existem casos pontuais em que um beiral foi substituído por uma platibanda.

Fig. 4 – Revestimento de azulejo em edifício.

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4 – Avaliação critica de resultados. A construção dos edifícios, que compõem o Bairro da Fonte Nova, obedecem a uma lógica baseada em tradições ancestrais. A tradição é a cadeia ininterrupta das inovações assimiladas por um grupo ou comunidade. Se considerarmos as alterações como inovações, estamos a assistir á introdução de materiais e técnicas não tradicionais num bairro de características tradicionais. O caso mais gritante é o uso massivo de caixilharias de alumínio, para substituir as de madeira. Mas se olharmos para trás, será que este tipo de intervenção (do habitante), já aconteceu ou estamos a assistir a um fenômeno novo, provocado por uma sociedade contemporânea em permanente mudança?.

De qualquer modo, o que fica é um vazio, das pessoas que desconhecem a tradição do emprego de certo tipo de materiais e técnicas e um sentimento de inacção do poder municipal e estatal, que não regulando, permite que de uma forma mais ou menos descontrolada se vão fazendo alterações ao edificado.

5 – Conclusão. Tratando-se de uma área antiga de características predominantemente habitacionais, o bairro da Fonte Nova mantêm hoje os aspectos primitivos do seu traçado original , a ortogonalidade, o adensamento a vida social intensa, vivida ao nível da rua. Apesar das intervenções feitas neste século ao nível do edificado, nomeadamente a substituição de edifícios e sistemas construtivos de traça antiga por edifícios “modernos”, a rigidez do traçado assegura a manutenção das características básicas do bairro. Será este factor integrador do traçado de base que vai manter a unidade física do bairro no futuro.

Fig. 1 – Novo edifício, no gaveto da Rua das Oliveiras, com a Rua de Jacob Queimado.