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CARACTERIZAÇÃO DE UMA TOPOSSEQÜÊNCIA NA ESTAÇÃO EXPERIMENTAL DE FRUTICULTURA TROPICAL EM CONCEIÇÃO DO ALMEIDA – BA Sérgio Roberto L. de Carvalho Andréa Jaqueira da S. Borges Kalianne Marques RESUMO: O presente trabalho teve como objetivo caracterizar, física e quimicamente, solos desenvolvidos de sedimentos pertencentes ao Grupo Barreiras, no Recôncavo Baiano. A caracterização física constou da determinação + da textura. As análises químicas consistiram da determinação do pH , Ca ², (H2O) + + + + Mg ², K , Na , Al ³, H + Al, P e C-orgânico. De maneira geral, os solos dos tabuleiros são muito pobres quimicamente por se tratar de solos formados de material de origem previamente pedogenisado, com baixa soma de bases, ácidos e com pouca reserva de nutrientes. Nos horizontes superficiais, o cálcio e o magnésio predominam como os principais componentes da soma de bases (SB). O solo da primeira trincheira foi classificado como Latossolo Amarelo Coeso argissólico; a segunda e a terceira trincheira tiveram seus solos classificados como Latossolo Vermelho Amarelo Distrófico típico, enquanto que a última trincheira, localizada no final do percurso estudado, teve seu solo classificado como Argissolo Amarelo Distrófico planossólico. PALAVRAS – CHAVE: Latossolo amarelo; grupo Barreiras; horizonte coeso. ABSTRACT: Characterization of a toposequence in the Experimental Station of Tropical Fruit in Conceição do Almeida of Bahia State, Brazil. The present work aimed to characterize physical and chemical soils properties developed on Barreiras sediments Group, in the Recôncavo Bahiano. The physical characterization consisted of the determination of the texture. Chemical analyses + + + + + + consisted of the determination of pH , Ca ², Mg ², K , Na , Al ³, H Al, P and (H2O) organic-C. Generally, the soils are very poor chemically for if dealing with formed soils of material of origin previously whethered, with low base saturation, acidic and low nutrients contents. In surface horizon, calcium and magnesium predominate as the main components of base saturation (SB). The soils of the first trench were classified as Yellow Latosol; the soils on second and third trench were classified as Red-Yellow *Profº de Química e de Pedologia da Faculdade Maria Milza-FAMAM. **Profª de Metodologia da Pesquisa da Faculdade Maria Milza-FAMAM. ***Licencianda em Geografia da Faculdade Maria Milza-FAMAM. Textura, Cruz das Almas-BA, ano 2, n.º 1, p. 91-102, Jan./Jul., 2007.

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CARACTERIZAÇÃO DE UMA TOPOSSEQÜÊNCIA NA ESTAÇÃO EXPERIMENTAL DE FRUTICULTURA TROPICAL

EM CONCEIÇÃO DO ALMEIDA – BA

Sérgio Roberto L. de Carvalho

Andréa Jaqueira da S. Borges

Kalianne Marques

RESUMO: O presente trabalho teve como objetivo caracterizar, física e quimicamente, solos desenvolvidos de sedimentos pertencentes ao Grupo Barreiras, no Recôncavo Baiano. A caracterização física constou da determinação

+da textura. As análises químicas consistiram da determinação do pH , Ca ², (H2O)

+ + + +Mg ², K , Na , Al ³, H + Al, P e C-orgânico. De maneira geral, os solos dos tabuleiros são muito pobres quimicamente por se tratar de solos formados de material de origem previamente pedogenisado, com baixa soma de bases, ácidos e com pouca reserva de nutrientes. Nos horizontes superficiais, o cálcio e o magnésio predominam como os principais componentes da soma de bases (SB). O solo da primeira trincheira foi classificado como Latossolo Amarelo Coeso argissólico; a segunda e a terceira trincheira tiveram seus solos classificados como Latossolo Vermelho Amarelo Distrófico típico, enquanto que a última trincheira, localizada no final do percurso estudado, teve seu solo classificado como Argissolo Amarelo Distrófico planossólico.

PALAVRAS – CHAVE: Latossolo amarelo; grupo Barreiras; horizonte coeso.

ABSTRACT: Characterization of a toposequence in the Experimental Station of Tropical Fruit in Conceição do Almeida of Bahia State, Brazil. The present work aimed to characterize physical and chemical soils properties developed on Barreiras sediments Group, in the Recôncavo Bahiano. The physical characterization consisted of the determination of the texture. Chemical analyses

+ + + + + +consisted of the determination of pH , Ca ², Mg ², K , Na , Al ³, H Al, P and (H2O)

organic-C. Generally, the soils are very poor chemically for if dealing with formed soils of material of origin previously whethered, with low base saturation, acidic and low nutrients

contents. In surface horizon, calcium and magnesium predominate as the main components of base saturation (SB). The soils of the first trench were classified as Yellow Latosol; the soils on second and third trench were classified as Red-Yellow

*Profº de Química e de Pedologia da Faculdade Maria Milza-FAMAM.**Profª de Metodologia da Pesquisa da Faculdade Maria Milza-FAMAM.***Licencianda em Geografia da Faculdade Maria Milza-FAMAM.

Textura, Cruz das Almas-BA, ano 2, n.º 1, p. 91-102, Jan./Jul., 2007.

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Latosol, while the soils from the last trench, located at the end studied section, were classified as Yellow Argisol.

KEY – WORDS: Yellow latossol; Barreiras group; cohesive horizon.

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INTRODUÇÃO

O declínio da produtividade das culturas, em conseqüência da acelerada degradação e empobrecimento dos solos, causado pelo uso e manejo inadequados é a realidade presente e característica do modelo de exploração agropecuária no ecossistema tropical, Haynes (1970).

A complexidade do solo é devida à variedade da natureza dos seus componentes sólidos, minerais e orgânicos, e a distribuição e organização destes componentes. Estando continuamente submetido a um sistema de forças externas e influência de agentes naturais, o solo apresenta variação em suas características e propriedades conforme a direção considerada. Para um mesmo solo esta variação é, relativamente, mais evidente na direção vertical, Marcos (1973).

Segundo Marcos (1973), característica de um solo corresponde aos seus atributos próprios, intrínsecos e que fazem parte de sua definição, enquanto que propriedade de um solo corresponde ao comportamento do solo resultante da interação entre uma característica e um fator externo.

Os solos agrícolas estão sujeitos a modificações em suas características físicas, devido ao uso e ao sistema de manejo a que estão submetidos. Para Nuernberg et al. (1986), fatores físicos dos solos, como sucção total, temperatura, aeração e resistência à penetração interferem no desenvolvimento das culturas e, consequentemente, no seu rendimento. Esses fatores, por sua vez, são afetados por características como teor de matéria orgânica, tipo de mineral de argila, estrutura, textura, distribuição do tamanho dos poros e de agregados estáveis em água.

O maior e melhor conhecimento dos recursos de solos trazem valiosos subsídios à pesquisa na identificação de solos mais representativos e na criação ou adaptação de variedades que possam conviver, de uma maneira menos dispendiosa, com os fatores limitantes dos diversos solos, sobretudo quanto à deficiência de fertilidade natural e de água.

Os solos dos Tabuleiros Costeiros apresentam similaridades em suas características pedogenéticas, predominando Latossolos e Argissolos. Para Moreau et al. (2006), isto se deve à natureza essencialmente caulinítica e quartzosa dos sedimentos que, por serem bastante estáveis, não sofreram modificações de vulto com a pedogênese posterior.

A fração grosseira dos solos desenvolvidos de sedimentos do Grupo Barreiras é constituída basicamente de quartzo, com algumas concreções ferruginosas. Na fração argila, predomina caulinita, sendo a presença de óxidos de Fe limitada pelos baixos teores de Fe no material de origem, Embrapa (1996).

Os aspectos morfológicos destas superfícies de acumulação (tabuleiros) estão relacionados com os processos de nivelamento que ocorreram no final da era cenozóica, que consistiram, em parte, na redução das rochas cristalinas, pela ação das intempéries e erosão e, também, pela acumulação de produtos clásticos

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de erosão, ambos ao mesmo nível topográfico, Quintas (1970).

Estes solos apresentam as seguintes características: profundos, álicos, baixa capacidade de troca catiônica, baixa saturação de bases, pouca diferença morfológica entre os horizontes, pouca agregação, alta percentagem de argila dispersa em água e a presença freqüente de camadas coesas, decorrente dos adensamento natural, que tem origem em processos genéticos de formação do solo, Jacomine (1996) & Rezende (1997).

A presença desses horizontes duros no perfil do solo afeta as relações entre drenagem, teor de água disponível, aeração, temperatura, penetração radicular e absorção de nutrientes, com reflexos negativos na produção agrícola, Rezende (1997). Por outro lado, além desses problemas associados à coesão, a acidez hidrolítica e trocável dos solos coesos dos tabuleiros aumentam ao longo do perfil (o pH varia de moderadamente ácido na superfície, a fortemente ácido na subsuperfície), constituindo também um inibidor químico do desenvolvimento radicular e da atividade microbiana.

Para Haynes (1970) & Rezende (1997), as espécies anuais e perenes cultivadas nos Tabuleiros Costeiros apresentam baixo vigor vegetativo e a produtividade é fortemente influenciada pela baixa disponibilidade de nutrientes, acidez elevada e pela “estrutura predominante dos horizontes coesos que lhe diminui a permeabilidade para o ar, água e raízes das plantas”, sendo esta última a maior limitação ao uso destes solos e a principal causa das baixas produtividades dos sistemas agrícolas nos tabuleiros. Além de apresentar outras limitações tais como baixa fertilidade natural, aumento da acidez em profundidade, baixa CTC, baixa saturação de bases, caráter álico e baixa retenção de água, para Souza (1997, p. 843).

“O adensamento que ocorre nos solos dos tabuleiros leva a busca de sistemas de manejo diferentes dos usualmente empregados em outras regiões, a fim de propiciar condições para melhorar o crescimento e a produtividade das culturas neles instaladas”. (Souza, 1997)

Considera ainda que qualquer proposição de uso e manejo adequados para os solos dos tabuleiros costeiros passa necessariamente pela melhoria das condições para o crescimento do sistema radicular das plantas em profundidade com a superação das limitações físicas e químicas ao crescimento das raízes que tais solos apresentam.

Para Ribeiro et al. (1995), os solos do Recôncavo Baiano são predominantemente representados pelo Latossolo Amarelo, de ocorrência na borda e no topo dos tabuleiros correspondentes à Formação, Capim Grosso e demonstram ação antrópica bastante intensa, sendo utilizado pelos agricultores no cultivo de pastagens, cana-de-açúcar, fumo, citricultura e outras. Em algumas áreas dos tabuleiros, podem ser encontrados Podzóis e solos assemelhados, ou Latossolo intermediário para Podzólico.

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Para Alves & Ribeiro (1995), as toposseqüências têm sido bastante utilizadas para o entendimento da pedogênese e de comportamento dos solos, sobretudo por permitir o estabelecimento de correlações entre atributos dos solos e das superfícies.

De acordo com Baruqui (1983), certas diferenciações entre perfis de solo podem ocorrer dentro de uma distância de poucos metros, dependendo de fatores locais, como por exemplo, a espessura de um horizonte A pode decrescer à medida que o declive do terreno aumenta, ou apresentar hidromorfismo quando algum fator local condiciona lençol freático elevado. Outras diferenças, atribuídas principalmente às condições climáticas, podem ser observadas em geral entre perfis muito distantes entre si, como acontece com os solos profundos e intemperizados de regiões quentes e úmidas em contraste com solos rasos de regiões áridas, ambos desenvolvidos a partir de relevo e materiais de origem similares.

Souza et al. (2002), estudando uma toposseqüência no Recôncavo baiano, concluíram que nos períodos mais chuvosos, a presença dos horizontes coesos subsuperficiais nos solos de tabuleiro localizados nas partes mais altas do declive restringe o fluxo vertical da água, ocorrendo a formação de lençol freático suspenso acima dos horizontes coesos e favorecendo o interfluxo no sentido do declive, em direção dos solos localizados nas partes mais baixas do relevo.

Para Alves & Ribeiro (1995), os maiores teores de argila em subsuperfície nos Argissolos parecem ter como causa principal o processo de lessivagem, como causa secundária, a remoção preferencial da argila por escoamento superficial ou lateral e/ou destruição superficial preferencial de argilas devido ao intemperismo intenso, indicando forte dominância das características pedogenéticas sobre as herdadas dos materiais de origem.

Todas as informações ecofisiográficas diferenciando a superfície terrestre como em um mosaico estão, na realidade, identificando diferentes ambientes. O padrão de uso agrícola ou não, feito pelo homem, é bastante relacionado com essa trama de ambientes. Assim, a compartimentação da paisagem em superfícies geomórficas e a identificação da geologia, topografia e hidrologia são muito úteis para o entendimento da variação e distribuição dos solos que compõem uma paisagem geográfica, com especial interesse nas áreas que compõem o ecossistema ocupado pelos tabuleiros, devido às suas peculiaridades de coesividade nos horizontes subsuperficiais.

O objetivo principal deste trabalho foi identificar e estudar os diferentes tipos de solos existentes na área da Estação Experimental da EBDA, compreendendo a distribuição geográfica paralelamente com a investigação das características morfológicas, químicas e físicas, visando à classificação dos perfis. Além disso, serviu como treinamento para os alunos da disciplina Pedagogia da FAMAM como uma forma de evidenciar os conhecimentos teóricos desenvolvidos em sala de aula, a partir de um roteiro pré-estabelecido.

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MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho foi realizado em um transecto longitudinal à área do Campo Experimental da Estação Experimental de Fruticultura Tropical, em Conceição do Almeida, BA (BR), a 285 km de Salvador, município que faz parte da Microregião Homogênea nº 151 do FIBGE, zona fisiográfica do Recôncavo Baiano, situado a 12º 47' 43” de latitude sul, 39º 09'31” de longitude oeste e 220 metros de altitude. O município apresenta pluviosidade média anual de 1244 mm, com maior incidência de chuva entre os meses de maio e junho, umidade relativa do ar em torno 80% e temperatura média anual de 24,5ºC.

A geologia local corresponde a sedimentos areno-argilosos do Grupo Barreiras sobre as rochas pré-cambrianas do Complexo Granulítico que afloram nos Tabuleiros Costeiros, Ribeiro (1991) e Moreau et al.(2006). O relevo apresenta-se como um tabuleiro em fase de dissecação dentro do domínio morfoestrutural dos Planaltos Inumados. As encostas dos vales são bastante ravinadas e, normalmente, a transição entre a parte superior e a inferior faz-se com ruptura de declive, correspondendo, aproximadamente, ao contato litoestratigráfico da formação Barreiras sobre o Complexo Granulítico, sendo as variações de litologia e relevo, juntamente com o clima regional, os principais responsáveis pelos tipos de perfis na toposseqüência, Ribeiro et al. (1995).

Quanto às características da vegetação, havia, outrora, uma floresta estacional semidecidual ecologicamente adaptada ao clima com duas estações mais ou menos demarcadas (uma chuvosa e outra seca); essa vegetação nativa foi praticamente devastada, dando lugar às pastagens, culturas agrícolas de subsistência e pequenos pomares. As áreas abandonadas são ocupadas, rápida e espontaneamente, por espécies arbustivas características da caatinga, Ribeiro (1991), Ribeiro (1993) e Ribeiro et al. (1995).

A toposseqüência a ser estudada (Figura 1) apresenta um comprimento de -1700 metros ao longo das linhas de drenagem e declividade média de 0,123 m.m ,

onde foram selecionados, descritos e amostrados perfis representativos do transecto em função das variações topográficas.

Figura 1. Perfil vertical esquemático da topossequência.

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O trabalho de prospecção pedológica foi realizado com base na abertura de quatro trincheiras (Figura 2) nas quais foram realizadas as coletas de materiais e a interpretação dos atributos do solo “in loco” pela equipe responsável, composta por membros do IGEO-UFBA, EBDA e FAMAM (professores e estagiários).

Figura 3. Detalhe da primeira trincheira analisada.

As descrições morfológicas dos perfis foram feitas conforme as normas e definições contidas no Manual de Descrição e Coleta de Solos no Campo, Lemos & Santos (1996), adotando-se a nomenclatura sobre definição e notação de horizontes e camadas do solo, EMBRAPA (1999).

Determinações

Em cada perfil foram coletadas amostras compostas para análises físicas e químicas em todos os horizontes pedogenéticos.

Amostras dos horizontes foram destorroadas, secas ao ar e passadas em peneiras de 2mm de diâmetro de malha. Em seguida, as amostras foram caracterizadas física e quimicamente.

+2 +2As determinações do teor de pH carbono orgânico (C ), P, K, Ca , Mg , org(H2O),

+3 + +3 +Al , Na , pH e acidez potencial (Al +H ), os cálculos da soma de bases (S), capacidade de troca de cátions (T a pH 7,0) e a análise granulométrica (determinação dos teores de areia, silte e argila) foram realizadas segundo proposto pela EMBRAPA (1997) .

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

Levantamento dos solos

A apreciação morfológica e as análises físicas e químicas referentes aos perfis representativos permitem identificar duas classes de solo encontradas: Latossolos e Argissolos, descritos a seguir:

Latossolo Amarelo – 1ª trincheira

Esta classe foi identificada como Latossolo Amarelo Coeso argissólico, A moderado textura argilosa, fase floresta estacional semidecidual relevo plano. Ocorre com maior significância no tabuleiro e no terço superior da vertente.

Os Latossolos Amarelos, localizados no plano e no terço superior, apresentam sua gênese relacionada com processos de translocação de argila e, ou, erosão seletiva lateral, Ucha et al. (2001) & Moreau et al. (2006), resultando em maior gradiente textural (Quadro 1) e manifestação do caráter coeso, atingindo maior profundidade e expressividade.

Apresenta seqüência de horizontes A, B e C, com matiz 10YR, valor entre 4 e 5, e croma entre 3 e 5. O perfil apresenta-se muito profundo, textura argilosa; baixa saturação por bases e alta acidez, com valores de pH variando de 4,6 a 5,0 nos horizontes A e B. Apresenta um estádio avançado de evolução, com predomínio na mineralogia da fração argila de caulinita, possuindo, assim, uma

-1CTC baixa, variando de 5,1 a 6,1 cmol.kg de solo. Os teores de silte e, conseqüentemente, da relação silte/argila (< 0,37) no horizonte B são baixos, uma vez que esses solos são produtos da alteração de sedimentos pré-intemperizados.

Quanto à saturação por alumínio, apresenta um valor em torno de 50% em subsuperfície, tendendo a diminuir em profundidade. Vale considerar o alto valor deste atributo no horizonte adensado BA, em torno de 50%, caracterizando um significativo impedimento químico para o crescimento das raízes. Por outro lado, a baixa saturação em superfície deve refletir o manejo do solo, provavelmente através da técnica de correção por calcário, de acordo com os maiores teores

++ ++apresentados para Ca e Mg e o baixo teor de alumínio trocável (Quadro 1).

A estrutura é tipicamente em blocos, apresentando uma forte coesão em todo perfil, mas, em particular, na parte superior do horizonte B. Desta forma, a permeabilidade é muito menor do que a dos outros latossolos, e a erosão laminar é sobremaneira acentuada.

O Latossolo apresenta grande profundidade de perfil, que se apresenta bastante homogêneo em relação a todos os horizontes, assim, a transição apresenta-se bem gradual. Apresenta horizontes transicionais AB e BA.

Esse é o menos permeável dos latossolos e possui caracteristicamente um

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adensamento muito acentuado. Apesar da pobreza química desses solos, a topografia plana e a baixa permeabilidade têm, em alguns lugares, propiciado a manutenção de pastagens de gramíneas em bom estado de conservação.

Latossolo Vermelho-Amarelo – 2ª e 3ª trincheiras

Os latossolos vermelho-amarelos, localizados no terço superior e médio, são solos profundos, caracterizando-se por uma estrutura moderada com blocos ao longo de quase todo perfil, com partes maciças no horizonte Bw , onde pode 1

ocorrer cimentação característica da camada coesa. A consistência é friável, ligeiramente plástico a plástico.

O horizonte superficial A tem espessura variando de 30 a 50 cm, com transição gradual para um Bw, de coloração bruno forte a bruno amarelado, na matiz 10YR. Este horizonte superficial apresenta textura média aumentando o teor de argila em profundidade até o horizonte Bw . Por se tratar de um solo de 1

mata natural, percebe-se a influência da matéria orgânica nas propriedades físicas no horizonte A, diferenciando-o dos demais.

O caráter coeso, tal qual no perfil anterior, foi bastante pronunciado a partir de 20 cm de profundidade, com estrutura fraca/moderada em blocos subangulares.

Quanto às características químicas, apresentam saturação por alumínio maior que 50%, e valores baixos de saturação por bases (distrófico), com pH acentuadamente baixo, indicando condições fortemente ácidas. Apresenta ainda de baixa a média capacidade de troca de cátions, o que reflete a pouca quantidade de carga elétrica superficial, decorrente da quase ausência de mineral do tipo 2:1 na fração argila. Assim, os valores de CTC variaram em função do teor de alumínio e hidrogênio trocáveis, uma vez que a soma de bases mostrou-se baixa e praticamente constante ao longo do perfil.

Os teores de matéria orgânica são baixos: decrescem em profundidade, porém apresentando certa acumulação no topo do horizonte Bw1. Na mineralogia da fração argila predomina a caulinita e a goethita.

Vale salientar que o latossolo caulinítico apresenta uma maior quantidade de alumínio trocável que o gibbsítico devido a vários fatores, destacando-se o seu maior nível de intemperismo, a sua maior quantidade de cargas negativas para a adsorção não-específica do alumínio e ainda em função do caráter eletronegativo do cátion (potencial químico – relação carga/raio) presente no mineral (silício, na caulinita). Portanto, a presença do alumínio trocável dá estabilidade ao equilíbrio químico entre o alumínio presente na estrutura cristalina do mineral e suas formas polimerizadas adsorvidas e presentes na camada difusa.

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Argissolo Amarelo – 4ª trincheira

O argissolo amarelo está situado no terço inferior do transecto estudado. Apresenta perfil modal com uma seqüência de horizontes A e Bt com matiz 10 YR de valor. Esta classe foi caracterizada como Argissolo Amarelo distrófico planossólico Tb, A moderado textura argilosa fase floresta estacional semidecidual declive moderado.

Quanto às características químicas, o cálcio e o magnésio têm participação significativa na CTC, apresentando uma saturação por bases superior aos perfis anteriores, ainda que o caráter distrófico esteja presente por todo perfil. A saturação por alumínio é acentuadamente inferior àquela encontrada nos perfis referentes aos latossolos vermelho – amarelos.

Os valores da matéria orgânica apresentam-se estáveis por todo perfil amostrado, ao passo que nos latossolos decrescem abruptamente na transição do horizonte Ap para o horizonte transicional AB.

Os solos apresentam estrutura com agregados fortes a moderado, pequena, grumosa no horizonte Ap e média a pequena, blocos angulares e subangulares nos demais horizontes. Apesar do alto gradiente textural, o incremento de argila em profundidade permitiu apenas o registro de cerosidade fraca e pouca.

A relação silte/argila, acentuadamente maior no horizonte A do Argissolo, indica iluviação de argila do A para o B e/ou destruição preferencial de argila na superfície devido ao intemperismo mais intenso nesse horizonte, e /ou ainda remoção preferencial de argila por escoamento superficial ou lateral nos casos de topografia mais acidentada, fato este também constatado por Duarte et al. (1993) e Alves & Ribeiro (1995).

Os maiores teores de silte no horizonte A, a pobreza química acentuada e o fato do relevo ser bastante acentuado tornam este sistema muito instável. Apresentam coloração amarelada ou alaranjada e teores médios de óxido de ferro, mas com baixos teores de gibbsita.

Ocorreu a presença marcante de mosqueados, pontos e/ou manchas de cor ou tonalidade diferentes entremeadas com a cor dominante da matriz dos horizontes, em função das zonas de flutuação do lençol freático (drenagem imperfeita); infere-se ainda que esta coloração manchada é conseqüente à ocorrência do processo de redução (redução heterogênea de ferro no perfil) com posterior re-oxidação.

Os Argissolos são comuns em áreas originadas de rochas graníticas e gnáissicas leucocráticas, associadas com os latossolos de cor amarela e baixo teor de ferro. Este parece ser um fato bastante comum em solos intemperizados e profundos do Barreiras: a presença de Latossolos e Argissolos Amarelos, onde a diferença básica entre eles é o gradiente textural.

As principais limitações ao uso agrícola são: a declividade acentuada, a baixa permeabilidade e a deficiência de drenagem.

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CONCLUSÕES

Os solos de tabuleiros estudados apresentam uma relação solo-relevo bastante determinada: A parte plana é caracterizada pela presença do Latossolo Amarelo. No terço superior e médio, ocorre uma transição entre classes de solos com uma predominância do Latossolo Vermelho-Amarelo, enquanto no terço final da área estudada, a classe predominante é o Argissolo Amarelo, com a presença do gradiente textural, apresentando em determinada extensão do perfil, características hidromórficas, em função da proximidade do lençol d´água.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao professor André Rodrigues Netto (IGEO-UFBA) pela colaboração na descrição dos perfis amostrados e à EBDA pela disponibilização da área localizada na Estação Experimental de Fruticultura Tropical para a realização do trabalho.

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REGISTRO DE MEGISTOPS TAUROPS BLAKE

(COLEOPTERA: CHRYSOMELIDAE) NO BRASIL

Oton Meira Marques*

Carlos Daniel Seifert Schmidt**

Hélcio R. Gil-Santana***

Marcel Javan Santos Santana****

Maurício Lopes Coutinho****

RESUMO: O besouro Megistops taurops Blake (Coleoptera: Chrysomelidae) é registrado, pela primeira vez, no Brasil. O inseto foi encontrado na Região do Recôncavo, Estado da Bahia, alimentando-se de folhas de Tabebuia chrysotricha (Mart. Ex DC.) Standl.

PALAVRAS-CHAVE: Insecta; besouro; tabebuia; bignoniaceae.

ABSTRACT: The flea beetle Megistops taurops Blake (Coleoptera: Chrysomelidae) is registered, for the first time, in Brazil. The insect was found in the Região do Recôncavo, State of Bahia, feeding of leaves of Tabebuia chrysotricha (Mart. Ex DC.) Standl.

KEY WORDS: Insecta; flea beetle; tabebuia; bignoniaceae.

*Bolsista de Produtividade de Pesquisa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB); e-mail: [email protected]

**Danco Comércio e Indústria de Fumos Ltda, Cruz das Almas - BA; e-mail: [email protected]

***Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro - RJ; e-mail: [email protected]**** Acadêmico de Engenharia Agronômica, Centro de Ciências Agrárias, Ambientais, Biológicas,

UFRB, Cruz das Almas - BA, Brasil

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INTRODUÇÃO

A família Chrysomelidae inclui mais de 12.000 espécies na região Neotropical, algumas das quais se tornam sérias pragas da agricultura, Hogue (1993). Todos os representantes dessa família são fitófagos e alimentam-se numa grande variedade de vegetais, Lawrence & Britton, (1991).

Tabebuia chrysotricha (Mart. Ex DC.) Standl. é um vegetal da família Bignoniaceae, conhecido popularmente como "ipê amarelo", "ipê tabaco", "ipê do morro" ou "ipê amarelo cascudo", ocorre na floresta fluvial atlântica, sendo muito utilizado em arborização urbana, postes, peças para pontes, tábuas para assoalhos, rodapés e molduras, Rizzini (1971) e Lorenzi (2002).

As espécies da família Bignoniaceae são hospedeiras de uma espécies de inseto que causa danos em folhas de mudas e plantas adultas. Assim, o objetivo deste trabalho foi a identificação de uma espécie de inseto nocivo à Tabebuia chysotricha no Estado da Bahia, Brasil.

MATERIAL E MÉTODOS

Exemplares adultos de uma espécie de inseto foram observados em maio de 2006, alimentando-se e causando severos danos em folhas de mudas e plantas adultas de T. chrysotricha localizadas em uma área de reflorestamento (12° 35' 27" S; 39° 01' 00" W), com 8 hectares, no município de Governador Mangabeira, Região do Recôncavo do Estado da Bahia, Brasil.

Os insetos foram capturados com sacos plásticos transparentes e transportados para o Laboratório de Entomologia do Centro de Ciências Agrárias, Ambientais e Biológicas da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, onde foram mortos por exposição ao frio (40 horas a -5°C). Posteriormente, as características morfológicas externas dos insetos foram examinadas sob microscópio estereoscópico, com aumento variável de 6,3 a 40 vezes.

A identificação taxonômica dos insetos foi realizada com o uso das chaves, descrições e figuras disponíveis em Blake (1952), Borror & DeLong (1969) e Savini (1993).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os insetos foram identificados como Megistops taurops Blake (Figura 1), pertencente à ordem Coleoptera e família Chrysomelidae.

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Figura 1 - Vista dorsal do adulto de Megistops taurops Blake.

Blake (1952), descreveu M. taurops com base em uma única fêmea de procedência desconhecida; contudo, apresentou a hipótese de que o exemplar foi provavelmente capturado na América do Sul (no Brasil ou mais ao sul), por ter sido obtido por Burchell, que realizou coletas nesta região.

M. taurops é uma das espécies de Coleoptera que possuem os femures metatóracicos bastante dilatados devido a presença de um orgão endoesqueletal que permite ao inseto saltar; esta caracteristíca, aliada ao pequeno tamanho do corpo, originou o nome popular "pulgas" ou "besouros pulgas" aplicado a estes insetos, durante longo tempo incluídos em uma família distinta (Halticidae ou Alticidae). Mais recentemente, este grupo de coleópteros tem sido tratado como uma subfamília (Alticinae) de Chrysomelidae (e.g., Seeno & Wilcox, 1982) ou uma tribo (Alticini) de Galerucinae (e.g., Reid, 1995; Lingafelter & Konstantinov, 1999). Duckett et al. (2003) sugeriram que Megistops seja considerado em Galerucinae como "incertae sedis" ou "problemático". Contudo, Kim et al. (2003), após análise de dados moleculares e morfológicos de vários gêneros de "besouros pulgas", concluiram que os mesmos não devem ser classificados nem como uma tribo (Alticini) de Galerucinae, nem como uma subfamília separada (Alticinae) e sugerem que são necessários mais estudos para resolver a questão do posicionamento taxonômicos destes besouros.

Poucas são as informações sobre plantas hospedeiras do gênero Megistops na literatura: em Porto Rico, Megistops tabebuiae Blake e Megistops bryanti Blake alimentam-se em espécies de Tabebuia, Blake (1952); na Venezuela, Megistops pretiosa Baly foi encontrada sobre Tabebuia pentaphylla (L.) Hemsl, Savini1(993) e, na Costa Rica, Megistops nr. costaricensis Blake foi observada alimentando-se de Tabebuia ochracea (Cham.) Standl., Flowers & Janzen (1997).

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As espécies da família Bignoniaceae estabelecidas na área de reflorestamento, com os respectivos nomes científicos e populares e a quantidade de plantas, encontram-se listadas na Tabela 1.

Tabela 1 - Espécies da família Bignoniaceae em uma área de reflorestamento. Governador Mangabeira, Bahia, Brasil.

N = número de plantas.

Nome científico Nome popular N

Jacaranda cuspidifolia Mart. "Jacarandá-de-Minas" 11

Tabebuia avellanedae Lor. ex Griseb. "Ipê roxo" 87

Tabebuia chrysotricha (Mart. ex DC.) Standl. "Ipê amarelo" 234

Tabebuia heptaphyl la (Vell.) Tol. "Ipê roxo" 44

Tabebuia roseo-alba (Ridl.) Sand. "Ipê branco" 4

Tabebuia serratifolia (Vahl) Nich. "Ipê amarelo" 62

Zeyheria tuberculosa (Vell.) Bur. "Ipê felpudo" 6

Total 448

Nenhum indivíduo de M. taurops foi encontrado nas outras espécies vegetais na área de reflorestamento, um indicativo que esta espécie pode ser monófaga, alimentando-se exclusivamente de T. chrysotricha, ou oligófaga, nutrindo-se também de outras espécies da família Bignoniaceae não existentes na área avaliada, em concordância com a informação existente em Jolivet (1988), que a maior parte das espécies de Alticini são monófagas ou oligófagas e, em um gênero, são mais ou menos especializadas.

CONCLUSÕES

a) Este é o primeiro registro comprovado de Megistops taurops no Brasil.

b) É documentada, pela primeira vez, uma planta hospedeira de Megistops taurops.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a empresa Danco Comércio e Indústria de Fumos Ltda, pelo financiamento parcial deste estudo.

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