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1 CARACTERÍSTICAS DA OFERTA E DA DEMANDA DE PRODUTOS DE BASE FLORESTAL NO PERÍODO RECENTE EM SANTA CATARINA MATEUS RIGO NORILER ARLEI LUIZ FACHINELLO Universidade Federal de Santa Catarina UFSC E-mail: [email protected] Área Temática: Desenvolvimento econômico e meio ambiente Resumo: Em face dos atuais desafios ambientais, as florestas plantadas se apresentam como importantes alternativas ao extrativismo no fornecimento de insumos para a construção civil e para a produção de móveis, papel e celulose. A madeira de silvicultura também tem ganhado crescente relevância como fonte de energia limpa sob a forma de lenha e de carvão vegetal, motivo pelo qual se cunhou o termo “florestas energéticas”. No entanto, o descompasso entre a demanda por produtos de base florestal a sua respectiva oferta por parte do setor de florestas plantadas pode exercer grande pressão sobre os remanescentes de florestas nativas. Nesse contexto, o presente artigo buscou caracterizar e dimensionar a oferta de e a demanda por produtos de base florestal no estado de Santa Catarina entre os anos 2000 e 2010. Palavras-chave: Produtos de Base Florestal; Oferta e Demanda; Santa Catarina. 1.INTRODUÇÃO E PROBLEMÁTICA Ao longo da história, tão importantes à sobrevivência humana quanto a água, o fogo e o ar, as florestas foram empregadas com múltiplas finalidades. Segundo a FAO, elas cobrem aproximadamente 30% das terras mundiais (FAO, 2012, p. 01). A exploração de áreas verdes, porém, jamais se limitou à extração de lenha para aquecer-se e para preparar alimentos. A madeira, de modo geral, mostrou-se indispensável também na construção de todo tipo de edificações e na produção de artefatos bélicos e de móveis, por exemplo.

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CARACTERÍSTICAS DA OFERTA E DA DEMANDA DE PRODUTOS DE BASE

FLORESTAL NO PERÍODO RECENTE EM SANTA CATARINA

MATEUS RIGO NORILER

ARLEI LUIZ FACHINELLO

Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC

E-mail: [email protected]

Área Temática: Desenvolvimento econômico e meio ambiente

Resumo:

Em face dos atuais desafios ambientais, as florestas plantadas se apresentam como

importantes alternativas ao extrativismo no fornecimento de insumos para a construção civil e

para a produção de móveis, papel e celulose. A madeira de silvicultura também tem ganhado

crescente relevância como fonte de energia limpa sob a forma de lenha e de carvão vegetal,

motivo pelo qual se cunhou o termo “florestas energéticas”. No entanto, o descompasso entre

a demanda por produtos de base florestal a sua respectiva oferta por parte do setor de florestas

plantadas pode exercer grande pressão sobre os remanescentes de florestas nativas. Nesse

contexto, o presente artigo buscou caracterizar e dimensionar a oferta de e a demanda por

produtos de base florestal no estado de Santa Catarina entre os anos 2000 e 2010.

Palavras-chave: Produtos de Base Florestal; Oferta e Demanda; Santa Catarina.

1.INTRODUÇÃO E PROBLEMÁTICA

Ao longo da história, tão importantes à sobrevivência humana quanto a água, o fogo e o

ar, as florestas foram empregadas com múltiplas finalidades. Segundo a FAO, elas cobrem

aproximadamente 30% das terras mundiais (FAO, 2012, p. 01). A exploração de áreas verdes,

porém, jamais se limitou à extração de lenha para aquecer-se e para preparar alimentos. A

madeira, de modo geral, mostrou-se indispensável também na construção de todo tipo de

edificações e na produção de artefatos bélicos e de móveis, por exemplo.

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Do ponto de vista socioeconômico, as florestas se apresentam como importantes fontes

de renda e emprego. Delas brotam extensas cadeias produtivas, nas quais são produzidos

vários produtos primários, como lenha, carvão vegetal e madeira em tora, bem como produtos

industrializados, como papel, celulose e móveis. Para muitos países, as florestas são, ainda,

fontes de importantes itens em suas pautas de exportação, possibilitando melhoras nos saldos

de suas balanças comerciais.

Na última década, porém, foram as preocupações ambientais que mais lançaram luz à

importância das florestas. Por realizarem fotossíntese, as plantas capturam e retêm gás

carbônico da atmosfera, contribuindo para a mitigação do efeito estufa e do aquecimento

global antrópico. Nesse sentido, esforços pela preservação de florestas nativas têm se

intensificado, em diferentes graus, em todo o mundo. Consequentemente, a silvicultura,

outrora entendida como um destruidor de biomas, cada vez mais passa a ser vista como um

aliado na preservação ambiental. Além de fornecerem madeira em tora para os mais diversos

fins sem que matas nativas sejam derrubadas, as florestas plantadas também oferecem

importantes alternativas energéticas aos combustíveis fósseis: o carvão vegetal e a lenha.

Não obstante, para que se observe uma contribuição positivade facto ao meio-ambiente,

deve existir um compasso entre a demanda por produtos de base florestal e a capacidade de

resposta do setor a essa demanda, sobretudo por parte da silvicultura. O presente artigo

pretende, portanto, caracterizar e dimensionar a oferta de e a demanda por produtos de base

florestal em Santa Catarina entre os anos 2000 e 2010. Especificamente, as questões que se

buscam esclarecer são se o setor de produtos da madeira tem ganhado importância na

economia estadual ou não e, sobretudo, se a evolução do setor florestal catarinense tem

acompanhado as demandas mercadológicas e ambientais.A pesquisa, em sua abordagem e

apresentação de dados, é de caráter descritivo e faz uso, dentre outros, de relatórios

estatísticos produzidos pelo setor florestal e de publicações do Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística – IBGE.

2. SETOR FLORESTAL BRASILEIRO

De acordo com o Serviço Florestal Brasileiro, em 2009 o Brasil possuía

aproximadamente 516 milhões de hectares de área florestal total (SFB, 2010, p. 07). Isso

representa 60,7% do território nacional e coloca o Brasil em segundo lugar no mundo no

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ranking de cobertura florestal absoluta, atrás apenas da Rússia. Do total, 509.803.545 ha

referem-se a florestas naturais e 6.782.500 ha a florestas plantadas (SBF, 2010, p. 23). A

silvicultura, portanto, representa apenas 1,3% da área florestal total Brasileira e por 0,8% do

território nacional (SBF, 2010, p. 23).

A Amazônia é, de longe, o bioma com maior área florestal no país: 354.626.516 ha. Em

segundo e em terceiro lugares vêm, respectivamente, o Cerrado e a Caatinga (SBF, 2010, p.

24). Estima-se que o volume de madeira total existente na Amazônia seja 106.388 milhões de

m³, o que representa 84% do total dos biomas brasileiros (SBF, 2010, p. 31). Apesar de

menores em área florestal, o Pantanal e a Mata Atlântica aparecem em segundo e terceiro

lugares em volume de madeira total, com 8.329 e 7.768 milhões de m³, respectivamente. Para

o Brasil, esse volume é estimado em 126.607 milhões de m³ (SBF, 2010, p. 31).

Com relação à silvicultura, duas espécies predominam: Eucalyptus e Pinus. Juntas, as

duas culturas responderam por 6.510.693 ha de florestas plantadas em 2010 (ABRAF, 2012,

p. 28). O gráfico abaixo ilustra a evolução da área plantada com Pinus e Eucalyptus no Brasil:

Figura 1: Plantios Florestais no Brasil (mil ha) (2005-2010).

Fonte: ABRAF, 2012.

De 2005 a 2010, a área plantada com Pinus diminuiu 4%, enquanto que a área plantada

com Eucalyptus cresceu 37%. No total, a área ocupada pelas duas culturas no Brasil cresceu

23% no mesmo período.O que também se torna evidente, a partir do gráfico acima, é a

predominância do Eucalyptus. Em 2010, a área plantada com Eucalyptus representou 73% da

área total destinada às duas culturas no país. Em 2005, essa participação era de 65%.

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Os estados que mais contribuíram para o total nacional de área plantada com as duas

culturas em 2010 foram Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Bahia e Santa Catarina, como pode

ser visualizado no gráfico abaixo:

Figura 2: Área Plantada com Pinus e Eucalyptus (Brasil – 2010).

Fonte: ABRAF, 2012.

Como se observou, essas florestas ocupam largas extensões de terra. Não

surpreendentemente, elas possuem grande relevância econômica para o país. Em 2007, o setor

florestal respondeu por aproximadamente 3,4% do PIB brasileiro, o que equivale a mais de 44

bilhões de dólares, 5,6% das exportações nacionais e 18,5% do superávit da balança

comercial, tendo gerado mais de 8 milhões de empregos diretos, indiretos (SBS, 2008).

Considerando-se a silvicultura como um todo (madeira em tora, madeira para energia e

outros produtos), a produção oriunda de florestas plantadas no Brasil atingiu o valor de R$

10,7 bilhões em 2010 (IBGE, 2013). Enquanto isso, a extração vegetal, que inclui desde

madeira em tora e para energia até itens alimentícios, produziu um montante de R$ 4,2

bilhões no mesmo ano (IBGE, 2013). Portanto, a produção conjunta de silvicultura e

extrativismo atingiu R$ 14,9 bilhões em 2010.

Grande parte dessa produção é destinada à indústria, sobretudo sob a forma de madeira

em tora. Aproximadamente 60% do total de madeira em tora produzido pela silvicultura

brasileira em 2010 teve como finalidade a produção de celulose e papel (IBGE, 2013).

Segundo a ABRAF, a produção brasileira de celulose em 2010 totalizou 14,1 milhões de

toneladas, colocando o Brasil em 4° lugar no ranking mundial dos produtores (2011, p. 54).

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No que tange ao comércio exterior, o Brasil exportou 8,8 milhões de toneladas de celulose em

2010, o que correspondeu a US$ 4,8 bilhões (ABRAF, 2011, p. 54). Com relação ao papel,

segundo a Bracelpa, a produção brasileira atingiu 9,8 milhões de toneladas em 2010 e as

exportações totalizaram, no mesmo ano, 2,07 milhões de toneladas, ou US$ 2 bilhões (citado

por ABRAF, 2011, p. 54). Além disso, a madeira também é direcionada para a produção de

painéis industrializados, utilizados na fabricação de móveis, e para a produção de

compensados, serrados, lâminas, etc., que constituem o segmento de madeira mecanicamente

processada. De acordo com a ABRAF, em 2010, a produção de painéis de madeira

industrializada no Brasil atingiu 6,4 milhões de toneladas (2011, p. 56).

Além disso, uma parte também muito expressiva da produção de madeira no Brasil

destina-se à geração de energia. As florestas energéticas tem ganhado cada vez mais

importância devido às crescentes preocupações ambientes e à necessidade de substituição de

combustíveis fósseis por fontes de energia limpa. O Brasil foi o terceiro maior produtor

mundial de madeira para fins energéticos entre 1989 e 2009, com produção de 2,75 bilhões de

m³ (FAO, 2011). A quantidade de energia produzida a partir de biomassa florestal apresentou

tendência de alta na última década, contribuindo com 114 bilhões de Mtep em 2009

(BRASIL, 2011); e a produção brasileira de lenha e carvão vegetal em 2010 totalizou R$ 4,6

milhões em 2010 (IBGE, 2013).

3. OFERTA E DEMANDA DE PRODUTOS DE BASE FLORESTAL EM SANTA

CATARINA

3.1 ÁREA FLORESTAL

A base florestal catarinense é ampla e atende a diversas cadeias produtivas. Segundo

resultados preliminares do Inventário Florístico e Florestal de Santa Catarina, a cobertura

florestal remanescente no estado é de 29% (IFFSC, 2012). Isso significa que

aproximadamente 27.753,5 km², ou 2,8 milhões de hectares, são cobertos por florestas nativas

adultas. No entanto, devido às crescentes preocupações ambientais, é a silvicultura que tem

ganhado importância social e econômica perante as atividades relacionadas ao setor

madeireiro. De acordo com a Associação Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas, em

2010, a área plantada com Pinus e Eucalyptus em Santa Catarina foi de 647.991 ha (ABRAF,

2012). Em 2005, esse número era de 588.245 ha, o que representa um aumento de 10,16% na

área destinada a estas duas culturas.O gráfico abaixo mostra essa evolução:

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Figura 3: Área Plantada em SC (mil ha) (2005-2010).

Fonte: ABRAF, 2012.

Apesar de a área destinada ao plantio de Eucalyptus ter crescido mais no período,

67,41%, pode-se observar que a cultura de Pinus predomina no estado. Em 2010, a área

plantada com Pinus respondeu por 84,20% da área total destinada às duas culturas. Proporção

semelhante é observada apenas no Paraná, o que diferencia os dois estados do restante do

país.

De fato, Santa Catarina desempenha um papel importante na silvicultura nacional.

Como observado no gráfico 2, em 2010, o estado respondeu por aproximadamente 10% da

área plantada com Pinus e Eucalyptus no Brasil. Especificamente, essa participação foi 2,15%

para Eucalyptus e de 31,06% para Pinuse se manteve mais ou menos constante ao longo da

década (ABRAF, 2011).

3.2 PRODUTOS PRIMÁRIOS

3.2.1 Madeira em Tora

A produção de madeira em Santa Catarina totalizou 18,7 milhões de m³ em 2010

(IBGE, 2013). Isso representa um aumento de 40,3% em relação ao ano 2000. Tal

crescimento se deu paralelamente a uma importante mudança no padrão produtivo do estado.

Em 2000, 42% do total de madeira produzido destinava-se à fabricação de papel e celulose.

Em 2010, essa participação havia aumentado para 52% (IBGE, 2013).

De fato, de 2000 a 2010, a produção de madeira em tora para papel e celulose cresceu

72% em Santa Catarina. A de madeira em tora para outras finalidades, por sua vez, cresceu

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apenas 18% no mesmo período (IBGE, 2013). Como há de se observar na próxima seção, isso

é reflexo de uma expansão do setor de papel e celulose maior do que a do setor de produtos de

madeira, no qual as toras são beneficiadas antes de serem direcionadas a outros usos. O

gráfico abaixo ilustra essa transformação:

Figura 4: Destino da Madeira em Tora em SC (2000 e 2010).

Fonte: IBGE, 2013.

Em termos regionais, a produção se concentra na serra, no norte e no oeste do estado,

como se observa no gráfico abaixo:

Figura 5: Produção de Madeira em Tora em SC (mil m³).

Fonte: IBGE, 2013.

É interessante notar que, com apenas 10% da área nacional dedicada à cultura de Pinus

e de Eucalyptus, Santa Catarina chegou a produzir, no início da década de 2000, 16,21% do

Destino da Madeira em Tora em SC (2000 e 2010)

2000 2010

Outras Finalidades

Papel e Celulose

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total nacional de madeira em tora. Em 2010, essa participação era de14,56% (IBGE,

2013).Nesse período, a produção brasileira cresceu 37%; a catarinense, 40%. Porém, quando

se analisam silvicultura e extração vegetal separadamente, observa-se que, ao passo que esta

se retrai, aquela cresce tanto em termos relativos quanto absolutos.Enquanto que a produção

de madeira em tora oriunda da silvicultura cresceu 41% de 2000 a 2010, a de extração vegetal

diminuiu 47% no estado no mesmo período. Evolução semelhante é observada também na

produção nacional. Nesta, porém, o extrativismo ainda tem participação muito maior.

No âmbito da extração vegetal, Santa Catarina se apresenta, ainda, como grande

produtor de araucária, ou pinheiro brasileiro. Com 21% da produção nacional em 2010, a

produção de madeira em tora a partir dessa espécie no estadocaiu 17%, de 23.000 m³ em 2000

para 19.000 m³ em 2010. Todavia, isso representa uma redução menor do que a da produção

nacional que, no mesmo período, caiu 70%, passando de 296.000 m³ em 2000 para 88.000 m³

em 2010 (IBGE, 2013). Destarte, pode-se dizer que o estado do Paraná, maior produtor

nacional de madeira em tora a partir de araucária e responsável pela quase totalidade dessa

redução, tenha sido mais bem-sucedido em suas políticas de proteção à espécie.

3.2.2 Lenha, Carvão Vegetal e Outros Produtos

A lenha é considerada uma forma primária de energia. Ela pode ser destinada aos

setores residencial (para cocção de alimentos), industrial (para aquecimento de caldeiras),

agropecuário (para secagem de grãos e aquecimento de animais), comercial (para fornos e

fogões de restaurantes e hotéis) ou para centros de transformação, como carvoarias e usinas

termoelétricas (FONTES, 2005, p. 01).

Em 2010, a produção de lenha em Santa Catarina atingiu um valor de R$ 287 milhões.

A produção total do estado passou de 6,2 milhões de m³ em 2000 para 8,7 milhões em 2010

(IBGE, 2013). Isso significa um aumento de 39% e difere em muito da evolução da produção

nacional, que diminuiu 5%. Como se pode observar no gráfico abaixo, o oeste catarinense é a

mesorregião que mais contribui para produção estadual:

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Figura 6: Produção Regional de Lenha em SC (mil m³).

Fonte: IBGE, 2013.

Deve-se notar que a produção de lenha a partir da silvicultura em Santa Catarina cresceu

85% ao longo da década de 2000, enquanto a lenha de extrativismo viu sua produção reduzida

em 36% no mesmo período. De fato, a participação da extração vegetal sobre o total de lenha

produzido no estado passou de 38% em 2000 para 18% em 2010. Além disso, tem aumentado

o peso do estado na produção nacional. Em 2000, Santa Catarina respondia por menos de 7%

de toda a lenha produzida no país. Em 2010, essa participação foi maior do que 10% (IBGE,

2013).

Figura 7: Produção de Lenha em SC (mil m³).

Fonte: IBGE, 2013.

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O carvão vegetal, por sua vez, é um subproduto da lenha in natura e é obtido através de

um processo conhecido como “pirólise”, ou “carbonização”. No mercado interno, ele pode ser

destinado aos consumidores finais, sob a forma de “carvão para churrasco”, através de

supermercados, restaurantes e churrascarias. Entretanto, segundo FONTES, “o principal

mercado para o carvão são as siderúrgicas, que o utilizam como termorredutor do minério de

ferro.” (FONTES, 2005, p. 33).

No estado de Santa Catarina, em 2010, foram produzidas quase 8.000 toneladas de

carvão vegetal de silvicultura (IBGE, 2013). Isso representa apenas 0,2% da produção

nacional e, desde 2000, essa produção estadual cresceu apenas 5%, enquanto a nacional

aumentou 45%.Considerando-se também o extrativismo, foram produzidas, em Santa

Catarina em 2010, aproximadamente 11.500 t de carvão vegetal, das quais 3.700 t (32%) eram

oriundas da extração vegetal. Apesar de essa proporção ainda ser elevada, e acima da nacional

em 2010 (30%), a produção de carvão vegetal a partir do extrativismo diminuiu em 71% no

estado ao longo da década de 2000, enquanto que a nacional aumentou 5% no mesmo período

(IBGE, 2013).

Figura 8: Produção de Carvão Vegetal em SC (toneladas).

Fonte: IBGE, 2013.

Em termos regionais, a mesorregião que mais contribui para a produção estadual em

2010 foi o Sul, seguido do Vale do Itajaí. No início da década, no entanto, os maiores

produtores eram o Oeste e o Norte, ambos com predomínio do extrativismo. O gráfico abaixo

mostra a participação de cada mesorregião:

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Figura 9: Produção Regional de Carvão Vegetal em SC (toneladas).

Fonte: IBGE, 2013.

Ainda que seja louvável que o extrativismo esteja perdendo importância na produção

estadual, permanece o fato de que a produção total diminuiu em 44% de 2000 a 2010.

Existem diferentes possíveis explicações para isso, mas, como há de se analisar a seguir, é

improvável que essa queda se deva a uma redução na demanda. É possível que esta esteja

sendo suprida por carvão vegetal produzido em outras unidades da federação. No entanto,

essa drástica mudança na produção do oeste e do norte parece ser reflexo da intensificação da

fiscalização ambiental, podendo, inclusive, não constituir uma redução real, mas tão somente

uma não declaração da produção oriunda do extrativismo.

Santa Catarina não elabora um balanço energético estadual. Isso torna difícil a

mensuração da demanda total por lenha e carvão vegetal no estado, sobretudo com relação aos

setores industrial e de serviços. Sabe-se que o setor agropecuário é um importante consumidor

desses dois produtos. Segundo o Censo Agropecuário de 2006, os estabelecimentos

agropecuários do estado consumiram 622.300 m³ de lenha e 166 toneladas de carvão vegetal

(IBGE, 2012). Isso representa 8,7% do total de lenha e 1,0% do total de carvão vegetal

produzidos no estado no mesmo ano. As macrorregiões que mais demandaram lenha para

atividades agropecuárias no estado foram o sul catarinense e o Vale do Itajaí, com 45,7% e

17,5% do total do consumo do setor em 2006, respectivamente (IBGE, 2012). No caso do

carvão vegetal, o destaque ficou para o oeste do estado, com 87% do total.

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Esses dois produtos também são importantes fontes de energia para as famílias. Para o

estado de Santa Catarina, as únicas informações disponíveis a respeito do consumo pelo setor

residencial são os dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares, do IBGE. Segundo dados da

POF, as famílias catarinenses tiveram um dispêndio de quase R$ 760 mil com lenha e de

quase R$ 5,5 milhões com carvão vegetal em 2008 (IBGE, 2012). Isso representa apenas

0,44% dos gastos nacionais com lenha por parte das famílias e 9,53% dos gastos nacionais

com carvão vegetal no mesmo ano. O fato de as famílias gastarem muito mais com carvão

vegetal pode estar intimamente ligado à cultura do churrasco. Por outro lado, isso levanta uma

questão importante: é possível que o dispêndio das famílias com lenha, calculado pelo IBGE,

não reflita o real consumo desse energético pelo setor residencial. Como salienta UHLIG, “a

lenha é frequentemente catada/coletada ao longo das rodovias e de árvores isoladas, mais do

que em florestas.” (UHLIG, 2008, p. 38). O autor chama atenção, ainda, para um estudo de

Arnold et alii., de 2003, que indica que “mais de dois terços da lenha utilizada para cocção no

mundo têm origem não florestal, provêm de áreas de agricultura e ao longo de rodovias ou

ainda de resíduos de serrarias ou restos de construções.” (2003, citado por UHLIG, 2008, p.

39). De fato, é razoável supor que, em áreas rurais, o consumo de lenha esteja baseado em

coleta ou comércio informal. De todo modo, o consumo nacional de lenha por parte das

famílias tem decrescido. Isso provavelmente se deve ao aumento do poder aquisitivo e ao

maior acesso a fogões a gás, visto que o gás de cozinha (GLP) é um bem substituto da lenha

(FONTES, 2005, p. 91). Logo, espera-se que essa redução também seja observada para o caso

de Santa Catarina.

Apesar da importância como fonte de energia para as famílias, é o setor industrial o que

mais contribui para o consumo de lenha e carvão vegetal. No Brasil, em 2010, as indústrias

responderam por 42% do consumo final de lenha no país e por 87% do de carvão vegetal

(BRASIL - MME, 2012). No caso da lenha, três atividades se destacam: “alimentos e

bebidas”, “cerâmica” e “papel e celulose”. Para o carvão vegetal, o consumo se concentra

praticamente todo no setor de “ferro-gusa e aço”. No entanto, segundo o IBGE, não existem

empresas produtoras de ferro-gusa e ferroligas em Santa Catarina (IBGE, 2013). Isso

provavelmente explica o fato de a produção de carvão vegetal no estado representar apenas

0,23% da produção nacional. É razoável supor, portanto, que o consumo catarinense desse

energético concentre-se nos setores residencial e de serviços. Por outro lado, em

2010,existiam 2.950 unidades locais de empresas relacionadas a alimentos, bebidas, cerâmica,

papel e celulose em Santa Catarina, as quais empregavam quase 150.000 pessoas (IBGE,

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2013). O gráfico abaixo mostra a evolução do índice de produção física industrial dos setores

nos quais essas atividades estão inseridas:

Figura 10: Índice de Produção Física Industrial em SC (2000-2010).

(*) Dados indisponíveis para “Bebidas”; (**) “Cerâmica” pertence a esta categoria;

Fonte: IBGE, 2013.

Considerando-se o crescimento na produção física dessas atividades, é natural que

também tenha aumentado a demanda industrial por lenha em Santa Catarina. No entanto, há

razões para se esperar que tal aumento tenha sido menos que proporcional.

Em primeiro lugar, tem havido melhorias e inovações nos processos industriais com

relação à eficiência energética. No caso da produção de celulose, por exemplo, é crescente a

utilização de subprodutos da própria madeira para geração de energia. UHLIG chama a

atenção para o licor negro, que se origina durante o processo de digestão das toras e que supre

até 85% da demanda por energia nesse setor (ARACRUZ, citado por UHLIG, 2008, p. 48).

Ademais, nem todas as atividades dentro do setor de cerâmica utilizam lenha para queima de

seus produtos. Segundo informações fornecidas pelo Sindicato das Indústrias de Cerâmica

(SINDICERAM), de Criciúma - SC, a lenha é utilizada para a produção de cerâmica

vermelha. Por outro lado, as indústrias produtoras de revestimentos cerâmicos utilizam gás

natural (SINDICERAM, mensagem pessoal recebida em 16/10/12).

No estado, o comércio exterior de madeira em bruto, lenha e carvão vegetal é

inconstante e pouco representativo. Juntas, as exportações dos três produtos do longo da

década totalizaram 2,6 milhões de US$ FOB (BRASIL - MDIC/SECEX, 2013). Verifica-se

uma tendência de aumento nas exportações de lenha e de madeira em bruto a partir de 2005,

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mas pouco se pode inferir a respeito da possibilidade de continuidade dessas vendas ao

exterior.

Com relação a outros produtos de origem florestal, a produção de Santa Catarina é

bastante tímida. Em meados da década de 2000, chegou-se a produzir 7 toneladas de resina e

2.700 toneladas de folhas de Eucalyptus, mas, em 2010, essa produção era praticamente nula.

Da mesma forma, a produção de palmito passou de 241 toneladas em 2000 para zero em

2010. Apenas na produção de pinhão e de erva-mate o estado possui representatividade. No

entanto, ambas estão em queda.Em 2000, foram produzidas 2.150 t de pinhão; em 2010, 1.799

t, o que representa uma queda de 16%. A produção de erva-mate se viu reduzida em 9%,

passando de 39.967 t para 36.274 t no mesmo período. Todavia, assim como no caso do

carvão vegetal, essas reduções devem ser analisadas com cuidado. Por se tratarem de produtos

do extrativismo, é possível que parte dessas quedas se deva a não declaração devido ao rigor

da fiscalização ambiental.

3.3 PRODUTOS INDUSTRIAIS

Considerando-se as atividades de fabricação de móveis, de celulose e papel e de outros

produtos de madeira, Santa Catarina abrigava, em 2010, um total de 2.946 unidades locais de

empresas (IBGE, 2013). Elas empregavam, em dezembro desse mesmo ano, 84.584 pessoas,

de modo que o dispêndio com salários e outras remunerações totalizasse R$ 1,2 bilhão (IBGE,

2013).

No entanto, essas três atividades evoluíram no estado de maneiras bastante distintas ao

longo da década de 2000. Enquanto a fabricação de produtos de madeira cresceu em ritmo

lento, as demais cresceram a taxas iguais ou maiores do que as observadas para o Brasil. O

gráfico abaixo mostra a evolução do número de unidades locais para as três atividades

industriais relacionadas à madeira:

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Figura 11: Número de Unidades Locais em SC (2000-2010).

Fonte: IBGE, 2013.

Como se pode observar, o número de unidades locais dedicadas à fabricação de

produtos de madeira cresceu muito pouco ao longo da década: 1,80%. Por outro lado, para

celulose, papel e produtos de papel e para fabricação de móveis, esse crescimento foi de

60,12% e 47,09%, respectivamente, muito acima do observado para o Brasil. Quando se

considera o pessoal ocupado por essas unidades fabris, também se observa um crescimento

muito tímido para a atividade de fabricação de produtos de madeira, ao passo que as demais

apresentam crescimento bastante acentuado ao longo da década. O gráfico abaixo mostra essa

evolução:

Figura 12: Pessoal Ocupado em SC (pessoas) (2000-2010).

Fonte: IBGE, 2013.

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Enquanto que a fabricação de produtos de madeira experimentou um crescimento de

apenas 5,56% no número de pessoas ocupadas, a fabricação de celulose, papel e produtos de

papel e a fabricação de móveis apresentaram, no mesmo período, crescimentos de 37,76% e

32,50%, respectivamente. De fato, o baixo crescimento do emprego na fabricação de produtos

de madeira se reflete na produção física dessa atividade. O gráfico abaixo mostra que,

enquanto a produção física de celulose, papel e produtos de papel cresceu quase 20% ao longo

da década, a de produtos de madeira diminuiu na mesma proporção:

Figura 13: Índice de Produção Física em SC (2000 = 100).

(*) Índice do Valor da Transformação Industrial (deflacionado pelo IPCA)

Fonte: IBGE, 2013.

Não obstante, a fabricação de móveis tem se expandido no estado. Deve-se notar

quegrande parte dos seus insumos advém da atividade de fabricação de produtos de madeira.

Ademais, sabe-se que a indústria moveleira utiliza, em parcela de sua produção, madeira

oriunda do extrativismo, cuja produção também apresentou acentuado declínio no período

observado. Isso pode significar que a demanda por madeira por parte da indústria moveleira

de Santa Catarina está sendo suprida por produção localizada em outras unidades da

federação.

No que tange ao comércio internacional, é notório que a fabricação de produtos de base

florestal em Santa Catarina sempre esteve intimamente relacionada ao comércio internacional.

No início da década de 2000, o estado ocupou a primeira posição nas exportações nacionais

de móveis (BRDE, 2003, p. 33). De forma geral, Santa Catarina liderava as exportações de

produtos de base florestal no país, os quais representaram aproximadamente 25% do valor

total das exportações do estado em 2002 (BRDE, 2003, p. 32). Portanto, a referida expansão

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das atividades de fabricação de móveis e de papel e celulose poderia ter como fator

explicativo um aumento da demanda internacional por esses produtos. No entanto, a evolução

recente do comércio exterior nesses setores mostra que isso não se aplica ao caso da indústria

de móveis, como pode ser observado no gráfico abaixo:

Figura 14: Exportações de Produtos de Base Florestal (SC) (2000-2010).

Fonte: MDIC/SECEX, 2013.

Enquanto que as exportações de produtos de madeira caíram tanto em valor quanto em

quantidade ao longo da década (27% e 37%, respectivamente), as de celulose, papel e

produtos de papel aumentaram sob as duas óticas: 77% em valor e 19% em quantidade. Por

outro lado, as de móveis de madeira cresceram pouco em valor (9%) e se retraíram bastante

em quantidade (17%).

É interessante notar que as exportações de celulose, papel e produtos de papel e as de

móveis de madeira apresentaram declínio em quantidade a partir da metade da década de

2000. No entanto, também a partir da metade da década esses dois setores apresentaram

crescimento em suas atividades, como observado no gráfico 13. Isso sugere que o mercado

interno brasileiro tenha ganhado importância como destino dos bens produzidos por esses

setores.

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4. CONCLUSÃO

Este estudo buscou analisar e dimensionar a oferta e a demanda de produtos de base

florestal em Santa Catarina ao longo da década de 2000. O objetivo consistiu em compreender

se existe um compasso entre a oferta e a demanda desses produtos no estado e se o setor de

produtos de base florestal respondeu às demandas mercadológicas e ambientais que se lhe

apresentaram.

Como se observou, Santa Catarina acomoda importantes polos florestais, madeireiros,

moveleiros e de papel e celulose. Isso significa que os produtos florestais são apenas o início

de uma grande cadeia produtiva regional. No âmbito da madeira em tora, verificou-se que o

estado responde por quase 15% da produção nacional e que permanece o tradicional

predomínio da cultura de Pinus, apesar de a área destinada ao Eucalyptus ter crescido mais.

As maiores regiões produtoras são a serra e o norte catarinense, onde se concentram as

indústrias de celulose e papel e de móveis, respectivamente. De forma geral, a produção

estadual de madeira em tora cresceu 40% nos dez anos observados.

No entanto, ao se desagregar tal taxa, o que se observou foi uma importante mudança

no padrão produtivo do estado: a produção de madeira para papel e celulose cresceu mais do

que a de madeira para outras finalidades. Consequentemente, a participação da madeira para

papel e celulose sobre o total produzido passou de 42% em 2000 para 52% em 2010. Não

surpreendentemente, verificou-se que na indústria de papel e celulose um aumento no índice

de produção física de 20% ao longo da década, bem como um crescimento de quase 38% no

número de pessoas empregadas. Tal expansão, no entanto, não parece ter sido puxada pelo

comércio internacional, e sim pelo mercado interno. Concomitantemente ao crescimento do

setor, observou-se uma redução no volume de suas exportações a partir de 2006. Da mesma

forma, a atividade de fabricação de móveis também se expandiu no período observado

paralelamente a uma redução no volume de suas exportações. Além de sugerir que o mercado

interno tenha sido o motor desse crescimento, isso chama atenção para outro fato.Visto que a

produção física industrial de produtos de madeira diminuiu no estado, o crescimento da

demanda por madeira do setor moveleiro foi suprido por outras regiões.

O presente estudo buscou, também, analisar a evolução recente da oferta de madeira

para fins energéticos em Santa Catarina vis-à-vis as demandas mercadológicas e ambientais.

Verificou-se que, a produção estadual de lenha cresceu 39% na década analisada, totalizando

quase 9 milhões de m³ em 2010. Por outro lado, a de carvão vegetal fechou em 11.500 t em

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2010, o que representa uma queda de 44% em dez anos. No entanto, tal queda não parece

encontrar explicações em mudanças nas estruturas de demanda por esse energético no estado,

e sim na intensificação da fiscalização ambiental sobre o extrativismo. Com relação à lenha,

espera-se que a sua demanda tenha aumentado no setor industrial, dado o crescimento da

produção física nas atividades demandantes de lenha, e diminuído no residencial devido ao

maior acesso das famílias ao gás de cozinha (GLP). Sugeriu-se, porém, que o aumento da

demanda industrial tenha sido menor do que o aumento da produção de lenha. Isso se deve a

ganhos de eficiência energética na indústria e à utilização de fontes alternativas de energia,

como é o caso do licor negro no setor de celulose.

No que concerne ao meio-ambiente, é notório o declínio do extrativismo tanto em

termos relativos quanto absolutos para todos os produtos primários considerados. O setor

florestal se mostrou capaz de atender às demandas de mercado ao mesmo tempo em que se

ajustou às exigências ambientais. Isso se deve tanto a exigências impostas diretamente às

atividades primárias quanto àquelas impostas à indústria consumidora de insumos de base

florestal. De forma geral, a indústria catarinense parece estar engajada em tornar sua atuação

mais sustentável. De acordo com uma pesquisa realizada pela Federação das Indústrias do

Estado de Santa Catarina, 35,23% das empresas participantes do estudo declararam possuir

políticas de gestão ambiental integradas com as demais políticas da organização (FIESC (A),

2009, p. 05). Dentre as empresas de grande porte, que caracterizam o crescente setor de papel

e celulose no estado, esse número era de 45%. Ademais, 57,5% das empresas de grande porte

declararam possuir áreas de reflorestamento e de preservação e 47,5% declararam adotar

práticas de eficiência energética (FIESC (A), 2009, p. 08). De fato, é notável o caso da

empresa Irani Celulose. “Com o projeto de uma usina de cogeração de energia à base de

biomassa, localizada em Vargem Bonita, a Irani Celulose alcançou índices impressionantes:

100% de energia limpa e 81% de consumo próprio.” (FIESC (B), p. 08).

Por fim, é mister salientar que muitas questões, fundamentais para a compreensão da

dinâmica economia-florestas, foram apenas superficialmente abordadas ao longo deste

estudo.O estado de Santa Catarina, por não possuir um balanço energético próprio, carece de

uma detalhada análise da demanda por lenha e carvão vegetal referente a cada setor de sua

economia, especialmente ao industrial e ao residencial. Faz-se necessário, sobretudo,

investigar as inter-relações setoriais e os seus impactos sobre a oferta e a demanda dos

produtos de base florestal no estado. Tais tarefas, no entanto, extrapolam o escopo do presente

e permanecem, portanto, como sugestões para futuras investigações.

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