CAPS_entre a casa e o equipamento público

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CAPS_Entre a casa e o equipamento público Gabriela Miglino _ TGI2_ 2011

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Trabalho de Graduação Integrado (TGI2), IAU. CAPS_entre a casa e o equipamento público Gabriela miglino

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CAPS_Entre a casa e o equipamento público

Gabriela Miglino _ TGI2_ 2011

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Me prendam que estou me transformandoem rei em verso em cantoQue venham as virgens em cardumesQue venham moinhos e gigantesPor onde passo as coisashesitam por seus nomestal a minha fúriaVestem-me de loucomas sou apenasum arquiteto de retalhos

Enquanto outros acendemlampiões estradas pontesacendo reinos dulcinéias cartasBordo delírios em panosDe tudo que acho perdidoteço um manto e um sonhoChamam-me de loucoQue venham as virgens em cardumesSou apenasum arquiteto de miragens

(Arthur Bispo do Rosário, Iracema Macedo)

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3 Introdução

arte, loucura, arquitetura

Reforma psiquiátricaPolítica nacional de saúde mental e suas instituições

Agradecimentos

Bibliografia

CAPS - Programa e Atividades diretrizes do Ministério da saúde às Unidades

Objeto de estudo 01 - CAPS X Sanatório A arquitetura da loucura e a arquitetura da saúde mental

CAPS - Paradigma e realidade Entre a casa o equipamento público

São Carlos - Aproximações leituras e área de projeto

e outras paisagens Referências projetuais

Projeto CAPS Mental _ São Carlos Proposta e aplicação conceitual

Projeto CAPS Mental _ São Carlos Diretrizes e processo

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Introdução Arte, loucura, arquitetura

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Este trabalho partiu, inicialmente, de um in-

teresse pessoal pelas disciplinas que compõem

universo da psicologia em sua incansável in-

vestigação acerca da significação e formação

do sujeito. Atraída por esse universo, vim

a tomar contato com a obra de dois internos

da Colônia Juliano Moreira, histórico sana-

tório do início do século XX, na cidade do

Rio de Janeiro, que me impressionaram muito

pela qualidade estética de seus trabalhos.

Arthur Bispo do Rosário produziu incontáveis

obras com grande requinte plástico, chegando ao

reconhecimento internacional de seu trabalho. E

Stela do Patrocínio, que teve seu talento com as

palavras registrado em gravações recentemente

publicadas em um livro, teve seu nome destacado

como referência para grandes poetas nacionais.

OS ANJOS VÃO ARRIANDO A FORMOSA FINA PLUMA

ESPUMA ESPONJAPOR ONDE SAI O VERBO

ESTRONDO

A.B.Rosário

Manto da ApresentaçãoA.B.Rosário

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Stela do Patrocínio

A realidade das instituições por onde ambos

passaram por ocasião de seus transtornos mar-

caram sua produção, e nos falam da difícil ro-

tina dos sanatórios que eles, e outros tantos,

tiveram de experimentar. Neste sentido, decidi

usar este espaço de investigação e reflexão a

que se propõe o TGI, para entender de que ma-

neira, hoje, a arquitetura poderia contribuir

e se alimentar desse universo.

Ao iniciar minha pesquisa, deparei-me com a

agenda colocada pela reforma psiquiátrica e a

luta anti-manicomial, onde os sanatórios dei-

xavam de estruturar as bases da saúde mental

dando lugar à outro tipo de dispositivo, os

Centros de Atendimento Psicossocial(CAPS).

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Reforma psiquiátrica A Política nacional de Saúde Mental e suas instituições

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A reforma psiquiátrica ganhou força como movi-

mento social nos países ocidentais, a partir da

segunda guerra mundial, firmando então o com-

bate ao modelo manicomial que na época chegou

a ser comparado aos campos nazistas de concen-

tração. O movimento visava uma revisão no sis-

tema psiquiátrico tradicional, tanto em suas

práticas agressivas - tais como a lobotomia, a

prisão e o eletro choque; como em seus métodos

que incluíam o isolamento e a exclusão social.

O movimento anti-manicomial, no Brasil, passa

a atuar de maneira expressiva apenas à par-

tir do final da década de 70, fortemente in-

fluenciado pelo movimento reformista Italiano.

Uma série de grupos de diversas partes do país

passam a integrar o movimento questionando toda a

estrutura que conformava a política nacional de

atendimento à saúde mental - o modelo de segre-

gação e isolamento, seus efeitos cronificantes;

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a relação de dependência dos internos com os

profissionais; a violação dos direitos hu-

manos, por maus tratos ao paciente, práti-

cas de encarceramento ceramento, lobotomia

e eletrochoques; e ainda toda a indústria

da loucura que se fortalecia como merca-

do e alimentava a política de hospitalização

e medicalização ininterrupta dos pacientes.

À partir do debate colocado pela Refor-

ma Psiquiátrica, uma série de alternati-

vas passam a ser pensadas no sentido de hu-

manizar o tratamento a saúde mental.

Neste contexto surgem as primeira unidades dos

chamados Centros de Atendimento Psicosocial

(CAPS). Essas unidades deveriam oferecer trata-

mento individualizado, e romper com o doloroso

paradigma fixado até então pelas antigas insti-

tuições, sua arquitetura hospitalar-presidial,

suas agressivas práticas de tratamento, e o

preconceito histórico firmado em torno delas.

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Rede de saúde mental em SP

Sanatórios Unidades de CAPS

dados coletados: Ministério da Saúde, 2003 _autoria prórpia

Para tanto era importante descentralizar o

atendimento antes concentrado nestas grandes

instituições e estabelecer uma rede de suporte

a nível local, de modo que fosse possível man-

ter o indivíduo em seu meio social, próximo à

família e a comunidade.

Neste contexto surgem as primeira unidades dos

chamados Centros de Atendimento Psicosocial

(CAPS). Essas unidades deveriam oferecer tra-

tamento individualizado, e romper com o dolo-

roso paradigma fixado até então pelas antigas

instituições, sua arquitetura hospitalar-pre-

sidial, suas agressivas práticas de tratamen-

to, e o preconceito histórico firmado em torno

delas. Para tanto era importante descentra-

lizar o atendimento antes concentrado nestas

grandes instituições e estabelecer uma rede de

suporte a nível local, de modo que fosse pos-

sível manter o indivíduo em seu meio social,

próximo à família e a comunidade.

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11____ CAPS _ Natureza jurídica

Fonte Ministério da Saúde, 2004

À partir de então, para o Ministério da Saúde, a Política nacional de saúde mental passou integrar a atenção básica de Saúde da Família, base do Sistema Único de Saúde (SUS), atuando no sentido da pre-venção e não do modelo tradicional medicalizante. O objetivo dos CAPS é resgatar a singularidade de cada usuário estimulando seu comprometimento com o tratamento. Segundo as definições do Ministério, essa é uma aposta no protagonismo do indivíduo frente à seu tratamento, buscando romper com a ló-gica de que a doença é sua identidade, e a medicação

a ‘única’ responsável pela melhora.

Preceitos de proteção e direitos dos por-

tadores de transtornos mentais, Lei fede-

ral n. 10.216, 06/04/2001:

-assegurar os direitos destas pessoas,

sem qualquer discriminação;

-garantir o esclarecimento a seus respon-

sáveis acerca de suas condições;

-responsabilizar o estado pelo desenvol-

vimento de política de assistência à saú-

de mental;

-limitar a internação aos casos em que

foram esgotados todos os recursos extra-

-hospitalares;

-promover a reabilitação social planejada

dos doentes internados há longo tempo;

-impedir internações involuntárias arbi-

trárias.

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CAPS - programa e atividades

diretrizes do Ministério da Saúde

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Fonte Ministério da Saúde, 2004.

Distribuição por tipo de CAPS

Categorias de tipo de CAPS:

CAPS mental

_CAPS I, de 20.000 a 70.000 habitantes, atendi-

mento diário em dois turnos.

_CAPS II, de 70.000 a 200.000 habitantes, atendi-

mento diário em dois turnos.

_CAPS III, acima de 200.000 habitantes, atendi-

mento 24horas, devem contar com até 7 leitos de

observação e repouso.

CAPS Infantil

CAPSi, acima de 200.000 habitantes, atendimento

a crianças e adolescentes, regime de dois turnos

diários.

CAPS Álcool e drogas

O CAPSad II, acima de 70.000 habitantes, atendi-

mento a pacientes com transtornos decorrentes de

substancias psicoativas, até 4 leitos para desin-

toxicação e repouso, regime diário de dois turno.

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Este documento afirma que a proposta des-

ses centros é “oferecer e gerenciar proje-

tos terapêuticos e cuidado clínico perso-

nalizado e eficiente, organizar a rede de

serviços de saúde mental de seu territó-

rio, e promover a inserção social desen-

volvendo atividades terapêuticas, estimu-

lando a formação de grupos de convivência,

e oferecendo ações inter-setoriais de edu-

cação, trabalho, esporte cultura e lazer”.

A estruturação desse programa, segundo o

documento citado, deve ser pensada de ma-

neira que possibilite a criação de um “am-

biente aberto, acolhedor, e inserido na

cidade, e no bairro, devendo contar com um

espaço físico adequado à demanda especí-

fica local”.

A atuação do CAPS engloba desde serviços ambulatoriais de atenção diária, se esten-dendo até pacientes com transtornos mentais graves, que quando em crise, deverão ser encaminhados para unidades de tratamento in-tensivo. Atualmente, os CAPS se configuram em instalação física própria, independente de estrutura hospitalar, podendo situar-se dentro dos limites de área de um hospital geral, ou de instituições universitárias de saúde, desde que tenham equipe própria e acesso privativo.

A publicação Saúde Mental no SUS – Ministé-

rio da Saúde 2003, ao estabelecer diretri-

zes de serviços e programas de atividades

oferecidos pelos CAPS, tangencia questões

relativas às especificidades da organização

espacial do ambiente construído.

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Como programa de atividades, o CAPS conta

com as seguintes modalidades de tratamen-

to:

- Atendimento individual: prescrição medi-

camentosa, psicoterapia e orientação;

- Atendimento em grupo: oficinas terapêu-

ticas, expressivas, alfabetizadoras, ge-

radoras de renda e culturais, grupos te-

rapêuticos, grupos de leitura e debate,

atividades esportivas e de suporte social;

- Atendimento à família: núcleos e grupos

familiares, atendimento individualizado a

familiares, visitas domiciliares, ativida-

des de ensino e lazer com familiares;

- Atividades comunitárias: voltadas à in-

tegração com a comunidade, poderão ser re-

alizadas atividades de cultura lazer es-

porte, e festividades locais.

Cabe destacar a política de incentivo que

o CAPS promove frente à participação efe-

tiva dos familiares dos pacientes psi-

quiátricos no tratamento terapêutico. O

envolvimento da família nesse processo é

tratado como atividade essencial, visto

que a parceria CAPS - FAMÍLIA incentiva

o usuário a se envolver no projeto tera-

pêutico, e promove a participação dos

familiares junto às atividades oferecidas

pelo equipamento, tanto internas como nos

projetos de trabalho e ações comunitárias

de integração social. Por tanto, um pro-

jeto arquitetônico a ser pensado para o

CAPS, deve ser capaz de acolher não apenas

a demanda de tratamento voltado aos usu-

ários, como também criar espaços para a

possibilidade de atividades de inserção e

participação das pessoas diretamente li-

gadas à eles nas atividades desenvolvidas

pela unidade.

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Para receber estas atividades, a estrutura do edifício deve reunir recursos físicos como:

- consultório de atividades individuais- salas atividades em grupos- espaço de convivência- espaço de oficinas- refeitório- sanitários- área externa atividades de recreação

Para a equipe técnica mínima atuante nos CAPS II, estimando-se o atendimento para 30 pacien-tes/turno, e tendo como limite máximo 45 pa-cientes/dia em regime intensivo, devendo con-siderar-se:

-01 médico psiquiatra -01 enfermeiro de saúde mental-05 profissionais de nível superior-06 profissionais de nível médio-Equipe de limpeza e cozinha

_cidade

_sociedade

_indivíduos

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OBJETO DE ESTUDO 01 - sanatório X CAPS A ARQUITETURA DA LOUCURA E A ARQUITETURA DA SAÚDE MENTAL

_caps

_sanatório

_cidade

_indivíduo

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Ao me deparar com as questões colocadas pela

Política nacional de saúde mental pós reforma

psiquiátrica e, por conseguinte, a revisão do

modelo manicomial em contraposição com a pro-

posta de uma nova organização de assistência

e tratamento, procurei sistematizar no Objeto

de estudo 01 as diferenças essenciais entre a

lógica que orienta a conformação de um o Sana-

tório e a lógica de um CAPS.

Podemos começar a pontuar as diferenças entre

a estrutura de um sanatório e um CAPS pela es-

cala de cada um deles. O modelo de atendimen-

to centralizador e massificado de um sanatório

exigia de suas edificações uma escala no mínimo

hospitalar. A grande quantidade de pessoas que

deveria ser capaz de receber e tratar, aca-

bava por estabelecer uma relação tutelar en-

tre funcionários e pacientes, que por sua vez,

marginalizados da vida em sociedade, perdiam

completamente sua parca autonomia enquanto in-

divíduos e acabavam tendo seus quadros clínicos

cronificados.

_isolamento

_cronificação

_marginalização

_encarceramento

_periférico

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_inclusão

_autonomia

_liberdade

_interação social

_central

_urbano

Outro ponto importante era a localização dos sa-

natórios que sempre se encontravam muito afas-

tados dos centros urbanos, fosse pela lógica de

medicalização, e de higienização social, fosse

pela crença de que um ambiente mais ruralizado

seria melhor no tratamento dos internos.

O CAPS por sua vez, tem como princípio a inserção

no meio urbano, e a interação com a comunidade.

Defende um atendimento local e individualizado,

restringindo sua escala, portanto, à demanda da

localidade. Ao contrário de um sanatório, seu

funcionamento diário oferece tratamento e apoio

individualizado, mas não trabalha com leitos de

internação. A internação em um CAPS é possível

apenas em unidades do tipo III, em circuns-

tancias emergenciais, e por no máximo 7 dias.

Sua proposta é garantir o direito de ir e vir

dos pacientes enquanto sujeitos de sua própria

existência, oferecendo suporte diariamente e

auxiliando-os no projeto do próprio tratamento

e no fortalecimento de sua autonomia, de seus

laços sociais e familiares.

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Eduardo de Almeida

Referências projetuais

V. Artigas

Márcio Kogan

e outras paisagens

A. Bispo do Rosário

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Segundo as definições colocadas pelo Ministério

das Cidades, a casa se afirma, como principal pa-

radigma espacial para as unidades do CAPS. Tanto

em função de sua escala de atendimento, quanto em

função da intenção de proporcionar ao usuário o

acolhimento de uma casa.

Tendo em vista a relação que se estabelece entre o

CAPS e a casa, como símbolo de oposição à lógica

espacial de um sanatório, a obra das residências

de Artigas apontam caminhos interessantes para se

pensar o que poderiam ser estas espacialidades.

Em sua tese de que a casa é uma pequena cidade,

e a cidade uma grande casa, Artigas defende a

qualidade do ambiente doméstico como formador do

sujeito para a vida em sociedade, como mimese em

pequena escala das questões que compõe a proble-

mática da vida em sociedade. Para ele o espaço da

casa deveria ser pensado como uma continuidade do

espaço urbano e não como sua ruptura. Portanto, se

pudessemos imaginar o CAPS segundo a lógica de uma

casa, com certeza sua natureza deveria ser esta.

Artigas: da casa à cidade Jung: da sociedade ao indivíduo

“A partir da habitação, teria o homem pri-mitivo transposto sua não menos primitiva ‘soleira’ para apropriar-se do espaço em escala mais ampla. A outra margem de um rio passa a fazer parte do espaço da habitação através de uma ponte. Daí, por caminhos não tão simples como os desse resumo, podermos concluir que a ponte, a estação, o aeropor-to, não são habitações, mas complementos, objetos complementares à habitação através dos quais o espaço da habitação se univer-saliza.”

V. artigas, em Construir, Habitar, Pensar

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Leituras: Casas de V. Artigas

áreas de uso coletivo

áreas de uso mais restrito

vetor de distribuição

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áreas de uso coletivo

áreas de uso mais restrito

vetor de distribuição

A cidade é uma grande casa. A casa é uma pequena cidade.

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Comparando as duas plantas, nota-se que na

casa de Martirani, Artigas avança na inte-

gração e na flexibilidade dessas áreas de

uso comum, rompendo com a segmentação des-

ses espaços, que em muitos outros projetos

reaparecerão cercados por rampas com ampla

continuidade visual dos ambientes, para-

digma de integração e socialização na vida

pública em escala doméstica.

É interessante traçar um paralelo entre o

pensamento de Artigas e Jung, cujo o enten-

dimento da formação da psique do indivíduo

partiria antes de mais nada de sua natureza

social, e neste sentido, reforça-se a im-

portancia das unidades de CAPS em seu papel

de fortalecer o vinculo dos pacientes com a

cultura e a sociedade em geral.

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“As camadas mais profundas do inconsciente

dever-se-iam ter estruturado simultânea e

inextrincavelmente com as experiências so-

ciais primárias comuns a todos os homens,

daí a denominação de inconsciente coleti-

vo que Jung dá a esses estratos básicos da

psique.

Enquanto geralmente a psicologia começa com

a noção de indivíduo para depois chagar à

sociedade, Jung inverte este enfoque, afir-

ma Ira Progroff. - O homem é social por sua

natureza intrínseca, ele (Jung) diz. A psi-

que humana não pode funcionar sem a cultura

e o indivíduo não é possível sem a socie-

dade.”

Nise da Silvera, em Imagens do Incosciente, 1981

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Arthur Bispo do Rosário

Como já mencionado na introdução do presente texto, os traba-lhos de Arthur Bispo do Rosário tiveram grande influencia sobre o desejo de iniciar este trabalho. Sua obra portanto, não po-deria deixar de integrar as referencias projetuais, ainda que indiretamente. Bispo do Rosário nasceu no Sergipe, cercado da cultura das tra-dições e festividades católicas de sua região, dos Reisados, das bordadeiras, etc. Suas obras, todas confeccionadas à par-tir de sucatas que Bispo recolhia ou ganhava dos funcionário durante sua estadia na colônia, possuem forte apelo popular em função da origem desse material. Bispo do Rosário, reunia semelhanças, organizava materialidades, e as reapresenta em composição de painéis, objetos e assemblages, criando textu-ras, afirmando padrões, com grande requinte e força de conjun-to. Outro exercício de grande expressão em seus trabalho eram seus estandartes e mantos bordados, mesclando a referencia das tradicionais bordadeiras de Sergipe ao universo da Marinha de Guerra, Bispo por vezes tecia batalhas inteiras com desenhos e palavras, às vezes feitos à partir do próprio uniforme desfiado.

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CAPS - Paradigma e realidade

Entre a casa o equipamento público

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Segundo as definições colocadas pela atual Política Nacional de Saúde Mental, a casa se firma,

naturalmente, como principal paradigma espacial para as unidades do CAPS, tanto em função de sua

escala, quanto em função da escala de atendimento que estas unidades propõe.

No sentido de diluir o atendimento de saúde mental em unidades locais, e garantir atendimento in-

dividualizado e próximo da realidade do usuário, é essencial que os centros de atendimento sejam

capazes de estabelecer uma atmosfera acolhedora que dê suporte à fragilidade emocional e psíqui-

ca de seus pacientes, encorajando-os a se engajarem no próprio processo de tratamento de maneira

ativa.

A implementação à nível nacional dos preceitos colocados pela Reforma Psiquiátrica, com o desmonte

do sistema manicomial, e a revisão do modelo que orientou a espacialidade destas instituições, é

tão recente quanto é recente a valorização da arquitetura em seu potêncial ativo no tratamento da

saúde mental.

No material disponibilizado pelo Ministério da Sáude, nota-se uma grande carência de diretrizes

específicas no que diz respeito à arquitetura dessas unidades. As definições em relação às edifi-

cações restringem-se a pontuar a necessidade de estarem situadas no perímetro urbano, em bairros

de caráter predominantemente residencial, ou a adjetivos genéricos como acolhedor, facilitador,

terapêutico, e etc.Além disso, os recursos federais disponíveis para a implementação dessas uni-

dades são escassos, o que faz com que a maior parte delas se estabeleçam em casas alugadas pela

prefeitura, ficando à cargo da disposição financeira e interesse da municipalidade, se engajar ou

não na construção destas.

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Nas visitas de realizadas às unidades do CAPS durante o projeto, pude perceber que a adequação das

casas locadas para o atendimento à população acabam sendo marcadas pela dualidade equipamento pú-

blico x casa. Tendo em vista a escassez de recursos federais disponíveis para a implementação des-

sas unidades, a maior parte delas têm se estabelecido em casas alugadas pela prefeitura, ficando a

cargo e interesse da municipalidade se engajar ou não na construção de uma cede.

Assim, os CAPS nem se adéquam à estrutura de uma casa, e nem se afirmam enquanto equipamento público

na tentativa de se adaptar à ela.

A adaptação do programa das unidades à rigidez de uma planta pré-determinada, resultava em espaços

intruncados e pouco funcionais, além da deficiência com relação ao conforto ambiental e à qualidade

perceptiva e sensorial, que acabam pondo por terra as recomendações da Política Nacional de Saúde

Mental.

Há uma grande carência de diretrizes no que diz respeito à arquitetura dessas unidades, restritas

à pontuar a necessidade de estarem situadas no perímetro urbano, em bairros de caráter predomi-

nantemente residencial, ou a adjetivos genéricos como acolhedor, facilitador, terapêutico, e etc.

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CAPS Mental II Ribeirão Preto

Em Ribeirão Preto, o CAPS II, fun-ciona numa casa alugada em um bair-ro residencial/comercial, no centro da cidade. Com aproximadamente 400 m², o volume central da casa articula-se em torno de um pequeno corredor que dis-tribui o fluxo aos demais cômodos. No fundo do lote uma edícula conectada pela área livre cimentada, recebe par-te do programa. Apesar de organizadas pelo corredor, a distribuição das aco-modações do CAPS é bastante truncada em função do pouco espaço para uma grande quantidade de cômodos, e dife-rentes funções. Os ambientes internos são bastante escuros e pequenos, ficam facilmente sobrecarregados e confusos em dias de movimento, e acentuado pela presença de grades nas janelas, passam uma certa sensação de enclausuramento. O piso frio dos comodos da unidade é outro ponto desfavorável, deixando um aspecto hospitalar e muita reverbera-ção acústica em todo ambiente.

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* não foi possível fotografar os espaços internos da unidade.

Fachada CAPS II _ Ribeirão Preto

Em São Carlos, o CAPS II, encontra-se na região

do bairro Jardim Paulistano, próximo ao Centro,

mas com uma certa dificuldade de acesso em fun-

ção de sua proximidade com a estação ferrovi-

ária. O terreno da casa locada pela unidade é

bastante extenso, com aproximadamente 1.600 m²,

e atravessa a quadra toda gerando dois acessos,

onde, no entanto, apenas o norte é utilizado.

A área livre relativa à fachada Sul possui uma

vasta área de vegetação, que a pesar de utiliza-

da para algumas atividades terapêuticas especí-

ficas, encontra-se bastante sub-ultilizada. Há

também, na parte posterior da casa, uma piscina,

atualmente tamponada.

Fachada CAPS II _ São Carlos Em comparação com a disposição dos espaços no

CAPS II de Ribeirão Preto, nota-se que a distri-

buição de atividades no CAPS II de São Carlos

apresenta-se mais setorizada, configurando uma

grande área de atividades de expansão (coleti-

vas), adaptadas na parte da frente da casa e

organizadas em torno da área livre, enquanto to-

das as atividades de atendimento (individuais),

concentram-se no interior da edificação.

A edificação possui aproximadamente 500 m², no

entanto, em dias de movimento mais intenso, a

circulação entre os cômodos, que já é deficiente,

fica ainda mais sobrecarregada. A extensa área

livre que antecede a chegada à casa, funciona

como válvula de escape nos dias de movimento e

é bastante utilizada pelos usuários da unidade.

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Linha Férrea _ Fundo de lote testada sul CAPS II - São Carlos

CAPS Mental II São Carlos

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CAPS II _ São Carlos

e Linha ferroviária

A testada sul faz fundo de lote com

a linha ferroviária que atualmente é

bastante utilizada para o transporte

de carga pesada, o que tem trazido di-

versos transtornos à fundação das casas

vizinhas e à qualidade de vida da po-

pulação do bairro, que convive diaria-

mente com o tremor e o barulho por ela

gerados.

Apesar da extensão do terreno e o po-

tencial de sua área verde livre, o fato

de encontrar-se tão próximo ao trilho

do trem, com o desconforto e o isola-

mento que essa proximidade traz à Uni-

dade, no desenvolvimento de TGI 1 optei

por relocar a unidade para uma área

central e de fácil acesso na cidade.

Page 34: CAPS_entre a casa e o equipamento público

SÃO CARLOS - APROXIMAÇÕES leituras e área de projeto

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35____

Vila Nery

Bairro Vila Nery _ São Carlos - SP _autoria prórpia

A partir da decisão de realocar o CAPS, o bair-

ro Vila Nery foi o escolhido para receber a

nova unidade, tanto por ser um bairro mais

próximo ao centro da cidade, e que apesar de

seu caráter predominantemente residencial é

bem servido de transporte público e pontos de

comercio e serviços, quanto pela possibilidade

de proximidade ao atual CAPS Álcool e Drogas

(AD) – na Rua Major José Inácio. Favorecer a

ação em conjunto dessas unidades é de suma im-

portância uma vez que muitos pacientes do CAPS

Mental fazem ou fizeram uso de drogas, e muitos

pacientes do CAPS AD apresentam algum tipo de

transtorno mental.

A região é bem abastecida de redes de serviço

em geral, destacando-se sua proximidade á Casa

de Saúde, ao Estádio Rui Barbosa, e às diversas

praças da cidade, pontos de ônibus, Cinema, e

etc., dando espaço à possibilidade de uma forte

integração social.

Page 36: CAPS_entre a casa e o equipamento público

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_autoria prórpia Rede de saúde em São Carlos

São Carlos - Hierarquia viária _ Plano Diretor municipal

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37____ Àrea de Projeto Bairro Vila Nery _auttoria própria + google earth

Page 38: CAPS_entre a casa e o equipamento público

38____

O terreno escolhido, localiza-se

duas ruas acima do CAPS AD, na Rua

Marechal Deodoro, uma das vias ra-

diais mais importantes da cidade,

servida por diversas vias secundá-

rias e pela Avenida São Carlos, via

estrutural que conecta a cidade à

Rodovia Washington Luís, possibili-

tando a inserção da Unidade à um ní-

vel extra municipal.

O terreno, com aproximadamente 1.600

m² de área, por fazer esquina com a

Rua Dr. Rafael de Abreu Sampaio Vi-

dal, empresta à unidade a importân-

cia de um equipamento público como

tantos outros edifícios institucio-

nais da cidade com a mesma implanta-

ção – Escola Álvaro Guião, Prefeitu-

ra Municipal, Biblioteca Municipal,

Teatro Municipal, etc..

Habitação

comércio/serviços

Istitucional

Área de projeto

Àrea de Projeto: Mapa de uso do solo _autoria prórpia + google earth

Page 39: CAPS_entre a casa e o equipamento público

39____

Área de projeto - quadras adjacentes _ autoria própria

Page 40: CAPS_entre a casa e o equipamento público

40____

Área de projeto - quadras adjacentes _ autoria própria

Page 41: CAPS_entre a casa e o equipamento público

Projeto CAPS Mental _ São Carlos Diretrizes e processo

Page 42: CAPS_entre a casa e o equipamento público

42____

O Objeto de estudo 02 foi concebido no

sentido de auxiliar a conformação do

programa de espaços físicos e atividades

do CAPS de uma maneira mais orgânica e

perceptiva. À partir dos preceitos colo-

cados pelo Ministério da Saúde, a deman-

da local de atendimento, e ainda, segun-

do uma proposta projetual interessante,

busquei pensar através desse Objeto de

Estudo quais poderiam ser as qualidades

desses espaços e quais relações entre

eles poderiam ser tecidas.

Para tanto, à partir das diretrizes co-

locadas pelo Ministério da saúde, e das

entrevistas realizadas com a equipe do

atual CAPS mental, procurei concentrar o

programa em torno da natureza dos espa-

ços que seriam pensados no projeto (ver

Objeto de Estudos pg. 43).

CAPS II _ quipe de funcionários:

01 médico psiquiatra

01 enfermeiro formado em saúde mental

05 profissionais de nível superior

06 profissionais de nível médio

05 Equipe de limpeza e cozinha

Segundo a lógica apresentada no Objeto de

estudo 02, os espaços de Expressão e Cria-

ção seriam o primeiro contato entre o CAPS

e a cidade, no sentido de fortalecer o vín-

culo entre ambos com atividades menos es-

pecíficas ao atendimento psicoterapêutico

e valorizar a produção e prática de ati-

vidades de cunho artístico e cultural na

unidade.

Page 43: CAPS_entre a casa e o equipamento público

43____

Na seqüência, os espaços de Interação e Convívio dariam continuidade à essa intenção, e o Adminis-

trativo, colocado de maneira estratégica entre as demais espacialidades, seria o responsável por

articular o acesso às áreas mais específicas de atendimento aos usuários.

A proposta de atendimento do CAPS é se oferecer ao cidadão de maneira tão acolhedora e acessível

quanto sua própria casa, de modo que quaisquer cuidados com relação ao acesso de suas partes, de-

vem sempre ser pensados da maneira mais sutil possível.

Neste sentido, procurei pautar o projeto na idéia de um gradiente de permeabilidade, pensando

maneiras de articular essas diferenças de público e atividades sem ser restritiva. (ver Programa

Programa + Espacialização percptiva pg. 44).

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44____

EXPRESSÃO/CRIAÇÃO INTERAÇÃO/CONVÍVIO

ADMINISTRATIVO

ATENDIMENTO TERAPEUTICO

EDUCATIVO/TERAPEUTICO

Espaço expositivo aberto a comunidade, para a participação e realização de ofici-nas ou apresentações artísticas do CAPS.

Espaços destinados à livre convivencia entre pacientes e comunidade, CAPS e cidade.

Espaços destinados à

praticas educativas de

fundo terapeutico para

os pacientes da unida-

de (oficinas, reforço,

etc.).Atendimento individual (medicamentoso, psicoterápi-co, etc.) e atendimento em grupos (psicoterapia, gru-po operativo, atividades de suporte social, etc.).

Espaços voltados à demanda da equipe técnica do CAPS. (Intermédio entre as áreas de atendimento e de convívio.)

Objeto de estudo 02 _ Espacialização perceptiva

Page 45: CAPS_entre a casa e o equipamento público

45____

EXPRESSÃO/CRIAÇÃO

INTERAÇÃO/CONVÍVIO

ADMINISTRATIVO

ATENDIMENTO TERAPEUTICO

EDUCATIVO/TERAPEUTICO

.01 espaço expositivo

.02 ateliêrs integráveis

.01 comedoria

.01 área verde livre

.01 sala de reuniões

.01 copa funcionários

.01 coordenação CAPS

.01 coordenação de atividades

.01 sala acolhimento imediato

.01 sala estar/discanso

.03 salas atendimento individual

.01 sala atendimento em grupos

.02 salas atendimento psicoterapeutico

.01 sala multiuso

.01 horta terapeutica

.01 sala de estudo/acervo CAPS

Gradiente de permeabilidade

Programa + Espacialização percptiva

Page 46: CAPS_entre a casa e o equipamento público

46____Proposta CAPS: corte + adaptação Espacialização Perceptiva

Após definida a espacialização perceptiva e tendo em vista as caracterís-ticas da área de projeto, o programa da Unidade foi organizado em dois volumes criando uma área verde livre entre eles aberta visualmente para a rua Dr. Rafael de A. S. Vidal. O CAPS se organiza em torno desta área verde que se volta-se à rua, convidando o olhar do transeunte a se aproximar, a conhecê-lo, a reconhecer sua legitimidade e importância. Considerando o potencial de sua arquitetura como veículo dos preceitos colocados pela reforma psiquiátrica – de romper com o paradigma de segregação e medica-lização dos pacientes, e atuar no sentido do fortalecimento de seu vín-culo familiar e social, a implantação do projeto foi um ponto de partida importante. Garantindo o acesso visual da comunidade ao CAPS, torna-se possível desmistificar o preconceito em torno do tratamento à saúde mental e privilegiar a manutenção do espaço público como suporte para a troca, o encontro, a negociação das diversidades.

Page 47: CAPS_entre a casa e o equipamento público

Projeto CAPS Mental _ São Carlos Proposta e aplicação conceitual

Page 48: CAPS_entre a casa e o equipamento público

48____

escala 1:250

_ projeto: PLANTA TÉRREA

RUA MARECHAL DEODORO

RUA DR. RAFAEL. DE ABREU SAMPAIO VIDAL

Page 49: CAPS_entre a casa e o equipamento público

49____

escala 1:250

_ projeto: PLANTA MEZANINO

RUA MARECHAL DEODORO

RUA DR. RAFAEL. DE ABREU SAMPAIO VIDAL

Page 50: CAPS_entre a casa e o equipamento público

50____

_elevação Norte

_elevação sul _elevação leste

_elevação oeste

Page 51: CAPS_entre a casa e o equipamento público

51____

O acesso à unidade se dá pelo espaço expositivo revestido por uma pele de muxarabi que acompanha

as fachadas norte e oeste, adotada na intenção de conter a radiação solar intensa e garantir ain-

da o intermédio necessário entre o CAPS e cidade, revelando-o e ao mesmo tempo resguardando-o.

Na parte inferior desta pele, painéis de correr com o mesmo muxarabi, fazem às vezes do fechamen-

to do CAPS quando encerradas as atividades. Assim, quando aberto, esses painéis são recolhidos

deixando livre o acesso ao CAPS e a passarela que conecta o espaço expositivo à comedoria.

Page 52: CAPS_entre a casa e o equipamento público

52____

Logo à diante no espaço expositivo encontram-se os ateliers integráveis, podendo ser

utilizados em atividades abertas, junto ao salão de exposição, ou individualmente.

No sentido de fortalecer a relação entre a comedoria, a área verde interna e o espaço de

exposição, foi mantida a mesma cota entre eles. Já com relação aos espaços voltados ao aten-

dimento e as atividades terapêuticas há diferença de cotas, vencidas por rampas e escadas.

Page 53: CAPS_entre a casa e o equipamento público

53____

Passando os ateliers integráveis, pouco à frente do acesso à escada e as rampas que le-

vam ao administrativo e ao atendimento terapêutico, encontra-se a recepção, e uma sala

de apoio à ela. Seguindo a direita estão os banheiros e uma sala de estoque de matérias,

cadeiras etc.. À esquerda da recepção temos o acesso à horta terapêutica, as rampas de

acesso à ala de atendimento e a ala de atividades educacionais e a área verde livre.

Page 54: CAPS_entre a casa e o equipamento público

54____

Em vista da importância de se

reunir qualidades que passassem

a idéia de aconchego à unidade,

a materialidade foi o ponto de

partida para esta intenção. A ma-

deira, por ser um material suave,

que respira, e cria um ambiente

envolvente, e tranqüilizante. Sua

maleabilidade instiga os senti-

dos, remete ao trabalho humano,

ao talhar, ao esculpir, ao inter-

vir em sua natureza transforman-

do-a. Tendo em vista o enfoque às

atividades de expressão e cria-

ção dado à Unidade em proposi-

ção, a madeira é afirmação desta

aposta em sua própria natureza.

A modulação estrutural do projeto

é feita de madeira em uma malha

ortogonal de 5mx5m. _isométrica encaixes grelha de laje de piso e cobertura

Page 55: CAPS_entre a casa e o equipamento público

55____

Partindo de um raciocínio ar-

tesanal, o encaixe estrutural

foi todo concebido à partir

de entalhes entre as peças

de madeira, que constituem

a estrutura de todo o edifí-

cio independente da vedação.

Os pilares, são feitos de pe-

ças roliças de Eucalipto de

reflorestamento, já os demais

elementos - vigas, pranchas,

vigotas etc.- são de peças

aparelhadas de garapeira, ma-

deira compatível com o euca-

lipto em aspecto, resistência

e valor de mercado. _isométrica encaixes grelha/pilares madeira roliça

_Detalhe espera pilar/leje de psio

Page 56: CAPS_entre a casa e o equipamento público

56____

Pensando no trabalho de Ar-

thur Bispo do Rosário, essa

estrutura independente da ve-

dação criada pela modulação se

oferece como uma trama a ser

tecida pelo projeto. À partir

dessa estrutura, a vedação do

tramado se dá como uma de suas

assemblages, hora feita por

painéis dobráveis de madeira

maciça, hora por muxarabis,

vidros, ou planos de pedra ou

alvenaria. O critério de di-

ferenciação entre estas pos-

sibilidades se deu em favor

das questões específicas à

cada espacialidade, da neces-

sidade de isolamento ou in-

tegração física, e visual dos

ambientes, e de suas necessi-

dades térmicas e acústicas.

Page 57: CAPS_entre a casa e o equipamento público

57____

O uso da cor nas parede, par-

tiu do desejo de abandonar o

paradigma do branco puríssi-

mo, hospitalar, como primei-

ra e única alternativa para

um centro de tratamento de

qualquer natureza. Foi tam-

bém uma decisão importan-

te no sentido de incorporar

a estética de Bispo do Rosá-

rio como linguagem ao proje-

to, tendo sido usada a pale-

ta de cores de seus trabalhos

como referencia para a defi-

nição das cores adotadas no

projeto: o branco, o ver-

melho, o amarelo queimado, o

azul petróleo e azul claro._estudo de cores e de desenho de caixilharia inpiradas em A. B. Rosário

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_Visual Ateliêrs integráveis + espaço expositivo

Page 59: CAPS_entre a casa e o equipamento público

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_Visual estar/espera + atendimento psicoterapêutico

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Agradecimentos

As armas ensaia,

Penetra na vida:

Pesada ou querida,

Viver é lutar.

(Gonçalves Dias)

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O fim de uma graduação não deixa de ser o fechamento de um ciclo. Não poderia concluir este capitulo tão importante da minha vida sem agradecer as pessoas que partilharam comigo este período de formação, como arquiteta e como ser humano.

Em primeiro lugar quero agradecer à meus pais, por todo amor, esforço e cuidado dedicados à nós. Vocês são a principal razão pela qual sigo sempre em frente na vida. À Guta, Sil e Duda. As mulheres da minha vida, meus amores, minhas melhores amigas. Ao Lê, grande mestre e amigo.Agradeço à oportunidade de ter estudado nesta Escola, podendo vivenciar a riqueza acadêmica e estudantil de uma Universidade pública. Agradeço à arquitetura por sua eterna dança entre razão e sensibilidade, forma e conteúdo. Este foi um grande aprendizado que levarei sempre comigo (- você tinha razão, pai).Aos professores Paulo Castral, Miguel Buzzar e Joubert Lancha, pela paciência, dedicação e atendimentos decisivos aos encaminhamentos deste projeto.À todos meus colegas de sala, veteranos e bixos, por toda a troca e aprendizado compartilhado.À Tids, pelas ladainhas, angustias e gargalhadas divididas durante todos estes anos, minha parceira querida, do começo ao fim dessa jornada. À Fer, pelo apoio incondicional, pelo carinho e amizade que florescem à cada dia, e seguirão nos flo-rindo pela vida.Ao ROSA de samba, meus companheiros de samba, de choro e de estrada, pelo apoio e pelo carinho.À Pedro, pela paciência, por toda a ajuda, pelo açúcar e pelo afeto.À Kena, pela beleza do encontro, pelo apoio, e por dividir comigo sua infinita sabedoria. À Cris, por me trazer ao mundo pela segunda vez. Pelo que não encontro palavras, pelo que não se explica.

À vida. Na imensidão de sua sabedoria.

Obrigada.

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Bibliografia

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63____

- Imagens do Incosciente, Nise da Silvera.

- Arthur Bispo do Rosário _ o senhor do labirinto, Luciana Hidalgo

- Manual de projeto e construção de estrutura com peças roliças de madeira de refloresta-

mento, Carlito Calil Jr. e Leandro dussarrat Brito

- CONSTRUIRE EM BOIS 2, JULIUS NATTERER; THOMAS HERZOG; MICHÄEL VOLZ

- João Batista Vilanova Artigas: Elementos para a Compreensão de um Caminho da Arquitetura

Brasileira, Miguel Antonio Buzzar

- Nise da Silveira _ Senhora das imagens, Bernardo Carneiro horta

- SAÚDE MENTAL NO SUS: OS CENTROS DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL, Brasília DF, 2004

- IMAGENS DA ARQUITETURA DA SAÚDE MENTAL: Um Estudo sobre a Requalificação dos Espaços da

Casa do Sol,

Instituto Municipal de Assistência à Saúde Nise da Silveira, Maria Paula Zambrano Fontes

Sites visitados:

- http://www.vitruvius.com.br/revistas

- http://www.arcoweb.com.br/

- http://www.museuimagensdoinconsciente.org.br/

- http://portal.saude.gov.br/saude/

- http://www.proa.org/exhibiciones/pasadas/inconsciente/exhibicion_fr2.html