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[ Imprimir ] Percepção de profissionais de um CAPS sobre as práticas de acolhimento no serviço. Percepção de profissionais de um CAPS sobre as práticas de acolhimento no serviço Perception of professionals of a CAPS on the practices of reception in the service Percepción de profesionales de un CAPS sobre las prácticas de acogida en el servicio Maria Luisa Gazabim Simões Ballarin Doutora em Saúde Mental pela FCM da UNICAMP. Docente da Faculdade de Terapia Ocupacional do Centro de Ciências da vida da PUCCampinas. Email: [email protected] Sabrina Helena Ferigato Doutoranda em Saúde Coletiva pela FCM da UNICAMP. Mestre em Filosofia Social pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Terapeuta Ocupacional – Centro de Atenção Psicossocial. Fábio Bruno de Carvalho Doutor em Saúde Mental pela FCM da UNICAMP. Docente da Faculdade de Terapia Ocupacional do Centro de Ciências da vida da PUCCampinas. Iara Monteiro Smeke de Miranda Graduanda em Terapia Ocupacional. Bolsista PIBIC/CNPq – PUC Campinas. RESUMO A reorientação da assistência psiquiátrica, ao avançar de um modelo hospitalocêntrico para um modelo de atenção extrahospitalar, possibilitou a constituição de serviços alternativos à internação integral e implantação de tecnologias psicossociais interdisciplinares, que implicaram na efetivação de um cuidado diferenciado, singular e mais humanizado. Assim, o presente trabalho teve por objetivo analisar a percepção de profissionais da equipe técnica que atuam em um Centro de Atenção Psicossocial – CAPS, do município de Campinas, São Paulo, acerca do acolhimento e cuidado prestado aos seus usuários. A investigação teve por base uma abordagem de natureza qualitativa e descritiva, sendo que entrevistas semiestruturadas foram realizadas com profissionais da equipe técnica que atuam no referido serviço. A análise do material obtido revelou os diferentes sentidos atribuídos às práticas de acolhimento. Esses se apresentam a partir de perspectivas como: acesso, escuta qualificada, técnica e reorganização dos processos de trabalho. Palavraschave: Saúde Mental. Assistência à Saúde. Acolhimento. ABSTRACT The reorientation of psychiatric assistance from a hospitalcentered model to a model of extrahospital attention made possible the constitution of alternative services to the integral hospital isolation and the implantation of psychosocial technologies that have entailed the concretization of a differentiated, singular and more humanized care. Thus, this work aimed to analyze the perception of professionals of a team working in a Center of PsychoSocial Attention – CAPS, of the municipality of Campinas, Sao Paulo, about the reception and care of its users. The investigation had as a basis a qualitative and descriptive approach: halfstructured interviews have been realized with professionals of the team working in the service. The analysis of

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    PercepodeprofissionaisdeumCAPSsobreasprticasdeacolhimentonoservio.Percepo de profissionais de um CAPS sobre as prticas deacolhimentonoservio

    PerceptionofprofessionalsofaCAPSonthepracticesofreceptionintheservice

    Percepcin de profesionales de un CAPS sobre las prcticas deacogidaenelservicio

    MariaLuisaGazabimSimesBallarinDoutora em Sade Mental pela FCM da UNICAMP. Docente daFaculdadedeTerapiaOcupacionaldoCentrodeCinciasdavidadaPUCCampinas.Email:[email protected]

    SabrinaHelenaFerigatoDoutorandaemSadeColetivapelaFCMdaUNICAMP.MestreemFilosofiaSocial pelaPontifciaUniversidadeCatlicadeCampinas.TerapeutaOcupacionalCentrodeAtenoPsicossocial.

    FbioBrunodeCarvalhoDoutor em Sade Mental pela FCM da UNICAMP. Docente daFaculdadedeTerapiaOcupacionaldoCentrodeCinciasdavidadaPUCCampinas.

    IaraMonteiroSmekedeMirandaGraduanda em Terapia Ocupacional. Bolsista PIBIC/CNPq PUCCampinas.

    RESUMO

    Areorientaodaassistnciapsiquitrica,aoavanardeummodelohospitalocntrico para um modelo de ateno extrahospitalar,possibilitou a constituio de servios alternativos internaointegraleimplantaodetecnologiaspsicossociaisinterdisciplinares,queimplicaramnaefetivaodeumcuidadodiferenciado,singularemais humanizado. Assim, o presente trabalho teve por objetivoanalisarapercepodeprofissionaisdaequipe tcnicaqueatuamem um Centro de Ateno Psicossocial CAPS, do municpio deCampinas,SoPaulo,acercadoacolhimentoecuidadoprestadoaosseus usurios. A investigao teve por base uma abordagem denatureza qualitativa e descritiva, sendo que entrevistassemiestruturadas foram realizadas com profissionais da equipetcnicaqueatuamno referidoservio.Aanlisedomaterialobtidorevelouosdiferentessentidosatribudossprticasdeacolhimento.Essesseapresentamapartirdeperspectivascomo:acesso,escutaqualificada,tcnicaereorganizaodosprocessosdetrabalho.

    Palavraschave:SadeMental.AssistnciaSade.Acolhimento.

    ABSTRACTThe reorientation of psychiatric assistance from a hospitalcenteredmodel to a model of extrahospital attention made possible theconstitutionofalternativeservicestotheintegralhospitalisolationandtheimplantationofpsychosocialtechnologiesthathaveentailedtheconcretizationofadifferentiated,singularandmorehumanizedcare.Thus,thisworkaimedtoanalyzetheperceptionofprofessionalsofateamworking inaCenterofPsychoSocialAttentionCAPS,of themunicipalityofCampinas,SaoPaulo,aboutthereceptionandcareofits users. The investigation had as a basis a qualitative anddescriptive approach: halfstructured interviews have been realizedwithprofessionalsoftheteamworkingintheservice.Theanalysisof

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    the material developed the different senses attributed to servicereceptionpractices.Theyappearfromperspectivessuchas:access,listens to qualified, technical and reorganization of the workprocesses.Keywords:MentalHealth.DeliveryofHealthCare.UseEmbracement.

    RESUMENLa reorientacin de la asistencia psiquitrica, al avanzar de unmodelo hospitalocntrico hasta un modelo de atencinextrahospitalaria ha posibilitado la constitucin de serviciosalternativos al internamiento integral y implantacin de tecnologaspsicosocialesquehanconllevadoalaconcretizacindeuncuidadodiferenciado,singularymshumanizado.As,estetrabajotuvocomoobjetivoanalizar la percepcindeprofesionalesdel equipo tcnicoque actan en un Centro de Atencin Psicosocial CAPS, delmunicipiodeCampinas,SoPaulo,acercadelaacogidaycuidadoprestado a sus usuarios. La investigacin ha tenido por base unabordaje de naturaliza cualitativa y descriptiva: entrevistassemiestructuradashansidorealizadasconprofesionalesdelequipotcnicoqueactanenelmencionadoservicio.Elanlisisdelmaterialobtenidohareveladolosdiferentessentidosatribuidosalasprcticasde acogida. Ellos se presentan desde perspectivas como: acceso,escucha cualificada, tcnica y reorganizacin de los procesos detrabajo.Palabrasllave: Salud Mental. Prestacin de Atencin de Salud.Acogimiento.

    Introduo

    Odeslocamentodaassistnciadeummodelohospitalocntricoparaum modelo de ateno extrahospitalar tem propiciado aimplementao de tecnologias psicossociais interdisciplinares, queimplicam na constituio de novas formas de se pensar, tratar ecuidardepessoasemsofrimentopsquico,evidenciandoosavanosocorridos no campo da ateno sade mental, o que justifica arelevnciadarealizaodeinvestigaesnessecampo.

    nesse contexto que a discusso sobre integralidade, um dosprincpios que norteiam o Sistema nico de Sade SUS e aconstituio de uma rede de servios articu lada, ganha destaque.Tambm,nessadireoqueaPolticaNacionaldeSadeMental,apoiada na lei n. 10.216/02, vem consolidando um modelo deateno comunitrio e aberto que se estrutura a partir daimplementaoearticulaodeservioseequipamentos,taiscomo:Centros de Ateno Psicossocial (CAPS), Servios ResidenciaisTeraputicos(SRT),CentrosdeConvivncia,OficinasdeGeraodeRenda,EnfermariasdeSadeMentalemHospitaisGeraiseLeitosdeAtenoIntegral,entreoutros.

    Considerandoosdiferentesequipamentosexistentesatualmente,nosinteressa,nesteestudo,particularmente,osCAPS,vistoque,almdeestabelecermos um contato sistemtico com esse servio, oentendemoscomodispositivosestratgicosnaarticulaodarededecuidadosdesademental.Almdisso,constatamosumaexpansosignificativa desse tipo de servio em todo o territrio nacional,embora os CAPSIII, com funcionamento 24 horas e com leitos deretaguarda noturna sejam ainda insuficientes. De acordo com osdados atuais do Ministrio da Sade, entre os 1541 CAPSimplementados em todo o territrio nacional, apenas 46 deles seconstituem em CapsIII. Os demais funcionam em uma lgicaintermediria, apenas em funcionamento diurno, constituindo secomotipoIouII2.

    Ressaltamos, no entanto, que mesmo com todos os avanosocorridosnaatenosademental,aprticadeumaassistnciaintegralehumanizadaumaproposioaseratingida,poisaindapossvel constatar, no cotidiano dos servios, intervenesdesarticuladasefragmentadas.Emparte,talfragmentaopodeseratribuda coexistncia de duas lgicas de ateno, que secontrapem, uma relacionada ao modelo mdico procedimento

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    centradoeaoutra,aomodelodocuidadointegralemrede,usuriocentrado. Nesse sentido, h, em um mesmo servio, prticasconcomitantes que expressam, por um lado, o distanciamento e oisolamentoproduzidoentreosinteressesdeusurioseocuidadoaeles oferecido, e, por outro, prticas dirigidas ao fortalecimento eautonomiadosujeito,objetode interveno.Acoexistnciadessesdiferentesmodosdeoperar revelaapresenadedois paradigmasque influenciam diretamente as intervenes dos profissionais,criando obstculos que dificultam a comunicao entre eles, nosomentenoprprioservio,como,tambm,comosdemaisserviosque compem a rede de ateno, comprometendo,consequentemente, a integralidade do cuidado e a atenopsicossocial.

    No que tange integralidade e humanizao do cuidado, trsconjuntosdeconcepesvmsendofrequentementeempregadosnocampodasadeque remetemaoentendimentoda integralidadeapartirde:umanovaatitudeporpartedosprofissionaisdesadeumacrtica dissociao entre prticas de sade pblica e prticasassistenciaisumarecusaemobjetivarefragmentarossujeitossobreosquaisasaesincidem.

    Como parte desse atendimento integral, encontramos o que sedenominaacolhimentonosserviosdesadementalcomomaisumadastecnologiasdeatenointegralaosujeito,umatecnologiaquesepropea legitimara importnciadamaterialidadedoencontro,doqualdependeinteiramenteotrabalhoemsade.

    Basicamente,oquevaidefiniranaturezaeaeficciadesseencontrodependeemgrandepartedaformacomoosusuriossobemoumal acolhidos pelos profissionais a quem eles confiam seuscuidados.Emsademental,aproduodesubjetividadeemergentenessesencontrosaindamaisdeterminante.

    Assim, considerando os aspectos descritos, este trabalho teve porobjetivodiscutirapercepodeprofissionaisdaequipetcnicaqueatuam em umCentro de Ateno Psicossocial CAPS, tipo III, domunicpiodeCampinas,emrelaoaoacolhimento.

    Metodologia

    Opresenteestudocaracterizasecomoumainvestigaodenaturezaqualitativaedescritiva.Paraseudesenvolvimento,almdepesquisabibliogrfica, realizouse pesquisa de campo, que contemplou arealizao de entrevistas semiestruturadas com09 profissionais dediferentes categorias da equipe tcnica de nvel universitrio queatuam em um CAPS, tipo III, do municpio de Campinas. Asentrevistas foram aplicadas individualmente, gravadas e,posteriormente, transcritas,sendoqueacoletadedadosnocampoocorreu entre os meses de agosto de 2008 e maro de 2009. Oestudo foi previamente aprovado por um Comit de tica emPesquisa com seres humanos, e todos os sujeitos assinaram umtermo de consentimento livre e esclarecido, de acordo com asnormativasdaResoluon.196/96.

    O material coletado em campo foi tratado a partir da perspectivaterica referente anlise de contedo, pois essa tcnica permiteacessar conhecimentos e fenmenos sociais captando seu sentidosimblico de estudo. Buscouse refletir sobre os discursos dosentrevistados, de modo a agruplos em categorias temticas,considerando se os referenciais tericos pertinentes fenomenologia e aos objetivos que fundamentam este estudo.Partilhamos das formulaes de MercadoMartnez, Bosi quesalientam que: O setor sade um dos espaos sociais onde aopiniodosespecialistaseprofissionaiscontinuasendodecisivanoplanejamento,organizaoeavaliaodosservios.

    Assim,inicialmente,procedeuseotrabalhodepranlisedomaterialcoletado, com realizao de sucessivas leituras, no privilegiandonenhum dos elementos discursivos. Em seguida, os dados foram

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    selecionados,combasenosconhecimentossubjacentesproduzidosapartirdasmensagensdiscursivas,estabelecendoseaapreensodas estruturas de relevncia, o agrupamento das categoriastemticas e a interpretao dos resultados obtidos. Objetivandoilustrar e facilitar a discusso dos aspectos analisados, algunsfragmentosdosrelatosdossujeitosde investigao foramdescritosao longo do texto.Os resultados e discusses apresentados nestetrabalho referemse somente aos agrupamentos temticospertinentesao:perfildosentrevistados, funcionamentodoservioediferentessentidosatribudosprticadoacolhimento.

    Resultadosediscusso

    EmsetratandodeumserviodesadementalcomooCAPS,fazsenecessrio enfatizar sua complexidade. Assim, como j descritoanteriormente, os resultados que ora se apresentam abordamaspectos relacionados percepo de seus profissionais sobre oacolhimento, explicitando, portanto, um recorte metodolgico queapresentalimites,umavezqueaassistnciaoferecidanoservioampla e envolve, no s o acolhimento, como tambm outrasdiversasprticas.

    Operfildosprofissionaisqueparticiparamdoestudo

    Osresultadosobtidosemrelaoaoperfildosprofissionaisdenveluniversitrioqueparticiparamdoestudopermitiramacriaode04categorias profissionais: psiquiatria, enfermagem, terapiaocupacionalepsicologia,deambosossexos,havendopredomniode profissionais de sexo feminino. Esses dados so similares aosapresentados em estudo que analisa o perfil de trabalhadores desadementaldomunicpiodeSoPaulo.Almdisso,observousequeamaioriadosprofissionaisdaequipecumpriauma jornadadetrabalho equivalente a 30 horas semanais, e somente um dosprofissionaisentrevistadosdiferenciavasedosdemais,poiscumpria20 horas de trabalho semanais. Do mesmo modo, constatousediversidadenoqueserefereaotipodevnculoempregatcio,ouseja,a existncia de contratos de trabalho de dois tipos, terceirizados econcursados, implicando diferenas salariais para uma mesmafuno. Essa realidade no parece ser exclusiva dos profissionaisentrevistados, pois a anlise das condies de trabalho em outrosCAPS tambm revelou a existncia de recursos humanos comvnculosempregatciosterceirizados.

    QuantoaotempodeatuaonoCAPS,constatousevariedade,poisumaparcelapequenadeprofissionaisatuavahaviamaisde15anos,outramenosdetrsanos,eamaioriadosprofissionaistrabalhavanoservioentre3e7anos.

    Considerando os resultados relacionados qualificao dosprofissionais, evidenciouse que todos possuam algum tipo depsformao, caracterizada de modo geral como lato sensu e,portanto, mais direcionada atuao profissional, tais comoespecializaoe/ouaprimoramento,dadosqueseassemelhamaoestudo de Milhomem, Oliveira. J em relao ao nvel da psformao stricto sensu (mestrado e doutorado), somente dois dosprofissionaisentrevistados tinhamconcludoomestradosendoque,dosdois,apenasumhavia ingressadonodoutorado.Aquestodaqualificaodosprofissionaisdesadementaltemsidolargamentedebatida.Nessesentido,algunsestudosenfatizamaimportnciadaeducaopermenteedacapacitao.

    ContextualizandoofuncionamentodoCAPS

    A implantaodeCAPSnomunicpiodeCampinas teve incionosprimeirosanosde1990,entretantofoisomenteapartirde2001quehouveumaumentononmerodessetipodeservionosdiferentesdistritosdesadedacidadeeessespassaramaserdesignadosdeCAPStipoIII.

    OCAPScujosprofissionaisparticiparamdesteestudofuncionah17

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    anoseclassificadoatualmentecomotipo III.Ofereceatendimento24 horas por dia e, at o momento da coleta de dados para odesenvolvimento deste estudo, localizavase em imvel alugado epossua 08 leitos/noite. Seu objetivo tratar de forma intensiva osportadoresde transtornomentalgrave,com idadessuperioresa14anos, junto s suas famlias e comunidade, evitando, assim, ainternao psiquitrica integral e promovendo a reabilitaopsicossocialfuncionando,portanto,emconsonnciacomaspolticasatuaisestabelecidaspeloMinistriodaSade.

    Oserviocontacomumaequipetcnicacompostaporprofissionaisde diferentes especialidades (psiquiatria, enfermagem, psicologia,terapia ocupacional etc.) que se dividem em trs miniequipes. Adiviso da equipe resultado da organizao do trabalho e se dcombasenasreasdeabrangnciapertencentesaoterritrioondecadausurioreside.

    Adinmicadefuncionamentodotrabalhodaequipesedapartirdarealizao da triagem do usurio que chega ao servio. Uma vezinserido,ousuriopassaaserreferenciadoporumaminiequipeeterumtcnicodereferncia(profissionaldenveluniversitrio),quetemporfunoelaborarearticularaconduodeumProjetoTeraputicoSingular(PTS),compatvelcomsuasnecessidadesedesejos.

    DeacordocomacartilhadoProgramaNacionaldeHumanizao15,o PTS um conjunto de propostas de condutas teraputicasarticuladas, para um sujeito individual ou coletivo, resultado dadiscusso coletiva de uma equipe interdisciplinar e praticado emconjunto com o usurio e familiares. Sinteticamente, como etapasdesse projeto, incluemse: o diagnstico, a definio conjunta demetas,adivisoderesponsabilidadeseareavaliao.

    Para os profissionais entrevistados, o PTS implica a insero dousurio em possveis e diferentes modalidades e projetosteraputicos existentes no servio (grupo de psicoterapia, ateli,sade, beleza, culinria, grupo de referncia, entre outros), bemcomo articulaes com outros servios da rede de sade ouintersetoriais,almdeoutrasestratgiasdecuidadoquesefizeremnecessrias,comoacompanhamentoteraputico,porexemplo.

    O nmero de usurios inseridos no CAPS, segundo dados dorelatrio tcnicoadministrativo,atadatadacoletadedados,de307.So atendidos e acompanhados no servio aproximadamente60usuriospordia,sendoqueessenmerovarivelde40a60,deacordocomasatividadesoferecidasemcadaperodo.

    Os usurios inseridos no servio caracterizamse por apresentartranstornosmentaisgravesepersistentes,sendo (53,7%)compostaporhomens,emidadesquevariamde20a49anos,solteirosequeresidem com a famlia. Alm disso, possuem um nvel deescolaridade correspondente ao ensino fundamental incompleto eem sua esmagadora maioria esto fora do mercado de trabalhoformal.

    Ospacientes soencaminhadosaoCAPS,prioritariamentepor umdos 12 Centros de Sade/Unidades Bsicas de Sade (12) queintegramarededeatenoemsadementaldoreferidodistritodesade e por outros servios, como:HospitalGeral, ProntoSocorro,ou,ainda,pordemandaespontnea,conformeseconstatanorelatoquesesegue:

    OCAPSnaverdadeumarticulador.Umdispositivoqueprestaumaateno secundria na rede. Um servio especializado. A gentetrabalha juntocomaatenoprimria.Osusurios,namaioriadasvezes,chegamparansatravsdosencaminhamentosdosCentrosde Sade CS, por demanda espontnea e pelos servios dereferncia,porex:OsProntosSocorros,ouaindaoutrosCAPS,comooCAPSadetc.(E1)

    Aoexercerafunodearticulador,comodescreveoentrevistado

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    (E1),entendemosqueaanlisedeaspectoscomoorigemefontesde encaminhamento, a chegada e a insero dos pacientes noservio so de grande importncia, pois: Entendemos que odispositivodeentradaaoCAPSpodeserumimportanteanalisadordofuncionamentodetodooserviodomodelodeatenoprestadocomodaarticulaocomoutrosservioserecursosnoterritrio.

    Ospossveissentidosdoacolhimento

    Comachegadadapessoaemsofrimentopsquicoaoservioquese estabelecer o primeiro contato. Esse se caracteriza como ummomentofundamentalnoprocessodeacompanhamentoeinseronoservio.ummomento inicialdeacolhimentodousurioeseufamiliar,quandoaequipedesadeseaproximapelaprimeiravezdousurioe iniciaoprocessodevinculaoparaoscasosemqueainseropertinente.

    NocasodoCAPSestudado,noprimeirocontatoqueserealizaatriagem,sendoconduzidacombaseementrevistasemiestruturada,porumtcnicoquetemnveluniversitrio,escalonadoparaoplanto.Geralmente,noomdicoque faza triagem (E3).Oobjetivodatriagemdecidir rapidamente,noatodaentrada,seapessoaqueestsendoentrevistadatempossibilidadedesebeneficiardoqueoferecidonoservio.(E7)

    Hquesedestacarocarterdecisivorelacionadotriagem,jqueoato de triar pressupe separao e escolha. Essa escolha , dealgummodo,determinadaporumidealdecomofazererespondeaalgumobjetivopreviamentedeterminado.

    Ainda na percepo de profissionais do CAPS, a triagem secaracteriza como sendo: Uma porta aberta. o acolhimento dousurio. Acontece praticamente todos os dias. A priori todomundoquecheganoserviopassapor triagem.escutadoeacolhido.Agente discute constantemente com a equipe as demandas quechegameoacolhimentodessesusurios.(E4)

    Osrelatosdescritosnospossibilitamrefletirsobreasdiferentesideiasque se associam ao primeiro contato do possvel usurio com oservio.Assim,napercepodealgunsprofissionaisentrevistados,acesso facilitado, triagemeescutaconstituemdiferentesdimensesdo acolhimento. Tais consideraes reafirmam a ideia de que oacolhimento uma das diretrizes de maior relevncia da PolticaNacional de Humanizao do SUS, pois implica uma atitude deescuta, aproximao e de estar em relao com o outro. Assim, oacolhimentofazpartedasrelaesqueimplicamoacessodousurioaoservioederelaesqueseestabelecem(trabalhadorusurio)maishumanizadas,oquesignificareconhecerossujeitosenvolvidoscomodotadosdeinteresses,desejosedireitos.

    Se, por um lado, foi possvel identificar dimenses diferenciadas eparticulares em relao ao acolhimento, por outro, tambmidentificamosumarelativafaltadeclarezaarespeitodesuafuno.Talaspectopodeserevidenciadonorelatoquesesegue:Todososprofissionais dizemque fazemacolhimento,matriciamentoe clnicaampliada,masefetivamentenohumentendimentodoque,defato,significamesses conceitos.Quais so suas funes, na rede comoum todo. Penso que esses conceitos so utilizados de formasuperficial, ou como cada um entende. (...) preciso ter umentendimento mnimo do que serve, ao que veio, o que qual odestinodissotudo.Agentevemavanandonestasdiscusses.(E1)

    Almdasdimensesdescritasatento,quaisseriamasacepesatribudasprticadoacolhimento,dopontodevistatericoprtico?Talquestionamentovemganhandoimportnciacrescentenocampoda sade, tanto que, na reviso bibliogrfica efetivada para odesenvolvimento deste estudo, foram identificados inmerostrabalhosqueabordamessaquestonocampodasademental.

    Para alguns desses estudiosos, o acolhimento no pode ser

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    confundidocomtriagem,poispressupeumconjuntodeatividadesqueenvolvemaspectosquevodesdeumaescutaqualificadaatareorganizao de processos de trabalho. Podemos dizer que,partindo de uma perspectiva mais ampla, o acolhimento pode serorientado por quatro aspectos que se apresentam como sendo: oacesso(aspectosgeogrficoseorganizacionais)escutaqualificada(atitude dos trabalhadores de sade) tcnica (aspecto operacionaldo trabalho) e reorientao de servios (perspectiva polticainstitucional).

    Enquanto escuta qualificada, o acolhimento implica posturaprofissional que pressupe um ethos, uma atitude da equipe desade que permita receber bem os usurios e escutar de formaadequadaehumanizadaassuasdemandas,inclusivesolidarizandosecomosofrimento,ouseja,expressandoempatia.Nessadireo,devemosentenderoacolhimentocomoumatcnicadeconversa,umdilogoquedeveepodeseroperadoportodososprofissionaisdoservio, em qualquer momento de atendimento e nos diferentesencontros.Essaperspectivaseevidenciaemrelaopercepodeprofissionais do CAPS, conforme se observa: A gente tempreconizadoaqui,tantonosespaosdeconvivncia,comoemoutrosespaos,aideiadeouvirasdemandasdosusurios,porexemplo,atcnicaadministrativafalouontemnareunio:quandoeuvounasaladaequipeevejoalgummepuxandopelobrao,maisansioso,eupergunto se est precisando de ajuda, eu fao uma abordagem.Ento, desde o auxiliar, at o zelador que tambm no tem essaatribuiodiretanaassistncia,comtodosaquiagentetemdiscutidoessaquestodoacolhimento.(E2)

    possvel, a partir de atitudes, construir relaes de confiana evnculosentretrabalhadoreseusurios.Ressaltandoqueovnculouma conquista, no um acontecimento imediato. Quanto maisapropriado for o vnculo,melhor sero resultado,maior a trocadesaberesentretrabalhadoresdasadeecomunidade.

    Tambmfoipossvel identificar,norelatodeprofissionaldaequipe,aspectos do acolhimento que se relacionavam organizao dotrabalho tcnico: Eu acredito que o acolhimento mais que umaatitude,umafunoouumpapelaserexercido.estardisponvelaoencontrodousurioquevemcomsuademanda.repensartodoodiacomoaequipeorganizaotrabalho.(E7)

    De fato, outro aspecto que funciona como condicionante doacolhimento a gesto do processo de trabalho e a perspectivaapontada pela poltica de sade. Nesse sentido, o acolhimentopropeumainversonalgicadeorganizaoefuncionamentodoservio, que deve se deslocar da centralizao no atendimentomdico para a equipe multiprofissional, aumentando assim opotencial de ao. Esse deslocamento permite que o processo detrabalho seja revisto e as prticas sejam orientadas a partir daproduodesadeenomaisparaadoena/cura.

    Dessemodo,odesafioqueseapresentaaosprofissionaisdesade o de construir processos de produo de sade que se firmemcomonovas refernciasparaosusurios, lhesassegurandoqueaateno centrada nas tecnologias leves e relacionais, como, porexemplo,oacolhimento,temapotnciadecuidar.Temos,ainda,quecompreenderqueoacolhimentodepender:Dosatoresemcena,daconstruo do objeto de ao, da forma como este processo serealiza e das possibilidades de negociao. No existe respostasimples para esta situao complexa. No se pode gerir esteprocesso apelando simplesmente para a boa conscincia dosprofissionais (...) O que se deve tentar e se pode garantir aconstruodeespaospblicosparaanegociaodenecessidades,garantindo a disputa dos sentidos do objeto de ao dosprofissionais.

    Consideraesfinais

    Aoanalisar a percepo de profissionais que atuamemumCAPS

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    tipoIII,domunicpiodeCampinasacercadoacolhimento,observousequeasprticasdesenvolvidasno interiordoserviosebaseiamemposturasorientadasnaperspectivadeumaescutaqualificada,noreconhecimento da importncia da identificao das necessidadesdos usurios e nas discusses sistemticas que se efetivam nocotidianodotrabalho.Humapreocupaonodesenvolvimentodeumtrabalhohumanizadoecomprometidoecomumoutromododesecuidarefazeratenoemsademental.Modoessequeimplicaaconstruo de vnculos, a responsabilizao pelo cuidado e ocompromissocontnuodediscutiraorganizaodoprpriotrabalho.

    Esta anlise, embora fique restrita a um nico servio de sademental, procurou compor na escolha de seus entrevistados aheterogeneidade de uma equipe interdisciplinar que pode terressonncia em muitos outros servios de sade mental que seorganizam a partir de arranjos e dispositivos clnicos e de gestosemelhantesquelesaquiapresentados.

    Nessesentido,esteestudopodefuncionarcomoanalisadordaticaedapolticaquenorteiamasprticasemsadementalemrede,quetm no acolhimento uma de suas principais estratgias. Acolher estar com. Estar com a loucura no domesticla, abrirse escuta e ao suporte. Absorver a dimenso do acolhimento comotecnologiadetrabalhoemsademental,incorporaresseinstrumentonadinmicainstitucionalenaatitudedosprofissionaisevidenciaumadiretriz tericoprtica que inclui mais do que classifica, quereconheceooutronasuadiferena,maisdoqueonormatiza,quecoproduz a clnica, mais do que a prescreve, cria protagonismosacompanhadosdademanda.

    Reconhecer que a clnica da sade mental se aprimora pelaqualificao dos encontros entre os sujeitos que cuidam e quenecessitam de cuidados apostar em uma poltica de sade quepodepromovermudanasapartirdosimplesatodeacolher,quandoesse ato parte de uma estratgia de interveno democrtica,comprometida com a criao de sujeitos autnomos e rumo liberdadeparaagestodesuasade.

    Referncias

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