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453 A cultura da banana CAPÍTULO XV COLHEITA E MANEJO PÓS-COLHEITA Élio José Alves Valdique Martins Medina Manoel de Almeida Oliveira INTRODUÇÃO No Brasil, os critérios para colheita do cacho são geralmente empíricos, especialmente quando o produto se destina ao mercado local, já que não se observam os cuidados necessários para evitar danos aos frutos. Nas cultivares Maçã e Prata um dos principais indicadores do completo desenvolvimento fisiológico dos frutos é o desaparecimento das quinas ou angulosidades da superfície dos mesmos, podendo-se, então, colher o cacho. Este indicador não pode ser usado nas cultivares Terra, D’Angola, Figo Cinza, Figo Vermelho ou Marmelo, porque nestas cultivares, mesmo quando os frutos estão maduros, as angulosidades permanecem salientes. Efetua-se, então, a colheita quando os frutos contidos no meio do cacho apresentam desenvolvimento máximo do seu diâmetro (Bleinroth, 1984). Nas cultivares Cavendish, que se destinam principalmente ao mercado internacional, fez-se necessário desenvolver tecnologias que permitissem quantificar o grau de corte, reduzindo-se as perdas na colheita por corte antecipado ou retardado. Muitas pesquisas foram conduzidas até que, em 1956,

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Colheita e manejo pós-colheita

CAPÍTULO XV

COLHEITA E MANEJO PÓS-COLHEITA

Élio José AlvesValdique Martins MedinaManoel de Almeida Oliveira

INTRODUÇÃO

No Brasil, os critérios para colheita do cacho são geralmente empíricos,especialmente quando o produto se destina ao mercado local, já que não seobservam os cuidados necessários para evitar danos aos frutos.

Nas cultivares Maçã e Prata um dos principais indicadores do completodesenvolvimento fisiológico dos frutos é o desaparecimento das quinas ouangulosidades da superfície dos mesmos, podendo-se, então, colher o cacho.Este indicador não pode ser usado nas cultivares Terra, D’Angola, Figo Cinza,Figo Vermelho ou Marmelo, porque nestas cultivares, mesmo quando os frutosestão maduros, as angulosidades permanecem salientes. Efetua-se, então, acolheita quando os frutos contidos no meio do cacho apresentamdesenvolvimento máximo do seu diâmetro (Bleinroth, 1984).

Nas cultivares Cavendish, que se destinam principalmente ao mercadointernacional, fez-se necessário desenvolver tecnologias que permitissemquantificar o grau de corte, reduzindo-se as perdas na colheita por corteantecipado ou retardado. Muitas pesquisas foram conduzidas até que, em 1956,

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Colheita e manejo pós-colheita

encontrou-se uma correlação linear entre o diâmetro do fruto do dedo centralda segunda mão e o grau de corte. Posteriormente, determinou-se o diâmetrodo fruto por idade (Soto Ballestero, 1992).

Devido à sua perecibilidade, uma vez colhida, beneficiada e embalada, abanana é armazenada em câmaras frigoríficas com ou sem atmosferamodificada, visando a diminuir a atividade metabólica e, conseqüentemente,retardar a maturação. A temperatura mínima tolerada pela banana é em funçãoda cultivar, das condições climáticas de cultivo e da umidade na câmara (Mattei,1978; Marriot, 1980). A faixa ótima de temperatura situa-se entre 13 e 15oCe a umidade relativa mínima é de 85%. Nesta condição, os frutos sãoconservados por um período de uma a três semanas, podendo ser aumentadocom o uso de atmosfera modificada (Marriot, 1980; Salunkhe & Desai, 1984).

Após a colheita ou remoção das câmaras de conservação, as bananas sãoinduzidas a amadurecer com o uso de etileno, etefon ou carbureto. O tempopara completar a maturação é função da temperatura, cuja faixa recomendadapara obtenção de produto com excelente qualidade organoléptica é de14 a 18oC.

Lamentavelmente, no Brasil, as recomendações para frigoconservação ematuração controlada são seguidas com rigor apenas quando as bananas sedestinam ao mercado externo.

COLHEITA

Quando colher

Sabe-se que a partir de um determinado período de sua emissão, o cachopode ser colhido em diversos estádios de desenvolvimento dos frutos, segundoa distância do mercado consumidor ou a finalidade a que se destina o produto.

Para a banana e o “plátano”, que são produtos que requerem bastantecuidado na colheita, é mister que sejam conhecidos e considerados algunsaspectos morfológicos e fisiológicos do desenvolvimento dos frutos,denominados de grau de corte.

Segundo Soto Ballestero (1992), os sistemas de medição do grau de corteou determinação do ponto ideal para a colheita têm variado através do tempo,como conseqüência dos sistemas de cultivo, colheita, embalagem, transportee comercialização, tendo-se buscado formas de medição seguras que maximizemo rendimento do fruto sem os riscos de uma maturação antecipada. Estessistemas se baseiam em: 1) grau fisiológico de maturidade; 2) diâmetro dofruto; e 3) diâmetro do fruto por idade.

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No método do grau fisiológico, a colheita do fruto baseia-se em suaaparência morfológica ou padrão visual. Este método tem sido utilizado paramercados locais, apresentando o inconveniente de não se poder quantificar ograu de engrossamento do fruto e, com isto, cometer graves erros de apreciação,com perdas importantes na colheita por corte antecipado ou retardado docacho. Segundo Champion (1975), não se deve recomendar esta tecnologia,por basear-se em conceitos empíricos.

Precisava-se, então, encontrar um método que permitisse medir e quantificaro grau de corte sem o risco da maturação antecipada. Muitas pesquisas foramconduzidas até que, em 1956, encontrou-se uma correlação linear entre odiâmetro do fruto do dedo central da segunda mão e o grau de corte.Denominou-se de grau a medida que representa, em um calibrador de diâmetro,a fração 1/32 polegada, equivalente no sistema métrico decimal a 0,79375milímetro. A sua determinação é feita através de um calibrador (Figura 1),que dá a distância entre as duas faces laterais do fruto, em milímetros (Cereda,1984; Soto Ballestero, 1992).

Na busca de maior eficiência, procurou-se determinar o diâmetro do frutopor idade. O método considera o momento em que o cacho emite a últimapenca e está estreitamente relacionado com o conhecimento detalhado dafenologia da bananeira na região produtora (Soto Ballestro, 1992).

Segundo a United Brands Company (1975), a colheita do fruto sem o usode uma metodologia para controlar a idade do cacho resulta numa mescla defrutos de várias idades na mesma caixa, e essas diferenças de idade podemalcançar até 50 dias. Conclui, também, que a idade de corte do cacho para seumelhor aproveitamento nem sempre é a mesma, mudando de acordo comdiversos fatores. Considera que o calibre ótimo é aquele em que o frutodescartado por maturação e engrossamento esteja entre 1 e 2%.

No Brasil, de modo geral, as bananas e os “plátanos” são colhidos tantomais antecipados em seu grau de desenvolvimento quanto maior é o temponecessário para serem transportados do local de cultivo ao mercado consumidore quanto mais quente é a estação do ano.

Como colher

No momento da colheita, nem sempre são observados e/ou executados oscuidados mínimos capazes de evitar danos aos frutos.

Nas cultivares de porte médio-alto (Nanicão) a alto (Prata, Pacovan, Terra),a colheita deve ser efetuada por dois operários. Um que corta parcialmente opseudocaule a meia altura entre o solo e o cacho e o outro que evita que ocacho atinja o solo, segurando-o pela ráquis masculina ou aparando-o sobre oombro (Figura 2).

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Figura 1. Calibração da fruta antes da colheita.

Fonte: Soto Ballestero (1992).

O primeiro operário corta então o engaço, a fim de que o cacho sejatransportado até o carreador ou cabo aéreo sobre travesseiro de espuma(Figura 3), colocado no ombro do segundo operário. Nas cultivares de portebaixo a médio (Figo Anão, Nanica, Prata Anã, D’Angola), a colheita é de maisfácil execução (Figura 4) e, às vezes, um único operário pode executá-la (D’Avila1983; Alves et al., 1986; Soto Ballestero, 1992).

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Figura 2. Colheita correta do cacho.Fonte: Soto Ballestero (1992).

MANEJO PÓS-COLHEITA

Transporte do cacho

O manejo do cacho no interior do bananal está correlacionado com aorganização do cultivo, com a mão-de-obra disponível, com o meio detransporte existente, bem como com o destino do produto.

Em cultivos tradicionais, onde não existe galpão de embalagem, o cachodeve ser levado, inicialmente, a local adequado para ser despencado. Nestelocal, que deve ser, no mínimo, uma palhoça com chão forrado de folhas debananeira, os cachos não devem ser amontoados, a fim de evitar o atrito e apressão entre frutos.

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Figura 3. Transporte do cacho aos cabos áeros. Fonte: Soto Ballestro (1992).

Em cultivos tecnificados, os cachos são transportados para o galpão oulocal de despencamento e embalagem a partir dos carreadores, em cujas margenssão colocados sobre folhas de banana, as quais dão uma certa proteção contrainjúrias, ou são colocados diretamente em caminhão, “pick-up” ou carreta detrator, cujas carrocerias são forradas com folhas de bananeira ou com capim.Às vezes, são despencados nas próprias margens dos carreadores (Bleinroth,1984; Moreira 1987; ITAL, 1990). Em cultivos para exportação o cacho étransportado até o galpão de despencamento e embalagem através de cabosaéreos (Figura 5), que são eficazes (Soto Ballestero, 1992). Em pequenaspropriedades, cuja produção se destina ao mercado externo, os cachos sãotransportados diretamente do bananal para o galpão de embalagem em “cuna”(Figura 6), ou são envoltos em colchões de espuma de 1,5 centímetro deespessura e colocados sobre carreta acoplada a trator (Alves, 1982; Alves,1984; United Brands Company, 1979).

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Figura 4. Realização de colheita em bananeira de porte baixo a médio-baixo, compeso do cacho inferior a 20 kg.

Fonte: Alves et al. (1986).

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Figura 5. Transporte do cacho em cabos aéreos para o galpãode embalagem.

Figura 6. “Cuna” ou berçário para transporte do cacho para o galpão de embalagem.Fonte: United Brands Company (1979).

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Um sistema simplificado de cabos para pequenas propriedades, que apenastangencia o cultivo e pode ser usado tanto em topografias planas quanto emtopografias acidentadas, seria interessante para diversas regiões produtoras debanana e “plátano” no Brasil. Este sistema conduz os cachos até o galpão dedespencamento, lavagem e embalagem, sem provocar atrito entre eles (Alves,1984).

Despencamento, lavagem e embalagem

Nos galpões de embalagem, os cachos são dispostos um ao lado do outro,suspensos em ganchos móveis, embutidos em trilhos (Figura 7). Em seguidaé feito o despencamento, com aparelhos simples (Figuras 8 e 9). As pencassão colocadas no primeiro tanque de lavagem, onde se eliminam restos florais,dedos defeituosos devido ao excesso de curvatura, bem como aqueles que nãoatingiram o comprimento exigido (Figura 10). No(s) tanque(s) posterior(es),as pencas são submetidas a jatos de água na superfície, através de canosperfurados. Aqui, as pencas são divididas em subpencas ou buquês, com nomínimo três frutos e no máximo onze (Figuras 11 e 12). Frutos com danosmecânicos ou físicos devido ao ataque de pragas ou ao transporte inadequadosão eliminados da subpenca e, às vezes, comprometem toda a subpenca, queé, conseqüentemente, eliminada. Das subpencas ou buquês perfeitos, elimina-se o excesso de almofada, a fim de que sejam mais bem acondicionados nascaixas de papelão sem causar danos aos frutos das outras subpencas. Nostanques de lavagem, geralmente, há produtos químicos destinados a protegera fruta contra doenças pós-colheita. Em seguida, as subpencas são colocadasem bandejas de plástico com capacidade para 43 libras ou 18,14 kg (Figura13), as quais passam por uma câmara de pulverização com produtos destinadosa proteger a fruta. Nestas bandejas, cada subpenca recebe de dois a cinco selos(Figura 14), segundo o número de dedos, relativos à marca comercial da bananaa ser exportada. Seqüenciando, as subpencas são colocadas em caixas de papelão,com capacidade para 43 libras ou 18,14 kg (Figura 15), as quais são revestidasinternamente com plástico, a fim de proteger a fruta (Alves, 1982; Alves,1984; Pinto & Genú, citados por Alves et al., 1986; Stover & Simmonds,1987; Soto Ballestero, 1992).

A maioria dos produtores e/ou comerciantes brasileiros não considerainteressante a lavagem das pencas de banana e “plátano”, mas esta práticaapresenta vantagens. As frutas lavadas têm melhor aparência, pois sãoeliminados os restos florais que persistem após o desenvolvimento do cacho,bem como o leite ou seiva que escorre nos frutos após o despencamento. Alavagem ainda tem outro fator conveniente que é o pré-resfriamento da fruta.Tem-se constatado que devido à combustão respiratória (metabolismo), atemperatura interna da fruta pode ser 5% a 9% maior que a temperaturaambiente. Ao mergulhar a fruta em água renovada, pode-se reduzir estatemperatura, evitando-se, assim, que haja um aquecimento excessivo na câmarade maturação após o carregamento (Bleinroth, 1984).

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Figura 7. Disposição dos cachos no galpão de embalagem.

Figura 8. Faca curva e espátula para despencamento do cacho. Fonte: Soto Ballestero (1992).

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Figura 9. Despencador de mãos de banana.Fonte: Pinto & Genú, citados por Alves et al. (1986).

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Figura 10. Frutos descartados.

Figura 11. Tanques para lavagem das subpencas ou buquês.

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Figura 12. Subpencas ou buquês preparados para pesagem.

Figura 13. Acondicionamento das subpencas de bananas, em bandeja,para pesagem.

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Figura 14. Etiquetagem das subpencas ou buquês.

Figura 15. Embalagem das subpencas em caixas de papelão.

Fonte: Soto Ballestero (1992).

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As principais regiões produtoras de banana para exportação embalam afruta em caixas de papelão, geralmente do tipo telescópica, cujas dimensõesexternas são 52,00 x 39,00 x 24,50 cm (Figura 16). Nestas caixas são colocados18,14 kg de banana, sendo as subpencas envolvidas ou protegidas por umafolha de polietileno com espessura de 10 micra. Algumas companhiasexportadoras possuem um tipo de caixa de papelão que é específico de suamarca comercial e cujo tamanho varia apenas em alguns milímetros numa dasdimensões antes mencionadas, dependendo do sistema de manuseio etransporte das caixas e do seu empilhamento nos porões de navios ou naspróprias câmaras de maturação (Alves, 1982; Alves, 1984; Bleinroth, 1984;Alves, 1988).

A embalagem em caixas de madeira (Figura 17) tem sido utilizada nasregiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste do Brasil, onde os cultivos de banana e“plátano” são mais evoluídos. Nas regiões Norte e Nordeste não se usamembalagens propriamente ditas, sendo os cachos ou pencas transportados agranel em carrocerias de caminhões, “pick-up”, carretas.

Figura 16. Tamanho e desenho de uma caixa de papelão para embalagem de18,14 kg de banana. A- posição dos grampos na tampa. B- orifíciospara ventilação. C- pegadeira da caixa.

Fonte: Soto Ballestero (1992).

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a)

Figura 17. Bananas embaladas: a) em caixas de papelão; b)em caixas de madeira (torito).

b)

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Segundo Bleinroth (1984), as caixas devem ser de madeira leve e comseção retangular, usando-se, em geral, o pinho. Estas caixas oferecem umasérie de vantagens, tais como: 1) resistência e facilidade de manuseio; 2)possibilidade de várias utilizações; 3) razoável proteção do produto; e 4) custorelativamente baixo, em relação ao seu uso. Devem apresentar frestas ouperfurações nas laterais e no fundo, a fim de permitir perfeita circulação de arno seu interior quando cheia. Recomendam-se caixas com as seguintesdimensões: 60 x 33 x 25 cm, sendo suas laterais e fundo constituídos portábuas de 12 cm de largura. Como suporte, usam-se quatro cantoneiras de4,5 x 4,5 x 6,3 cm, cuja forma triangular impede que as frutas sejam esmagadasnos cantos. Sua capacidade é de 17 kg de frutas. Também podem ser usadascaixas feitas de aglomerado de madeira, com as dimensões externas de 60 x 35x 25 cm e cuja capacidade é, também, de 17 kg de frutas.

Classificação

Um aspecto importante do manejo pós-colheita é a classificação, que consisteem fixar a qualidade do produto com base em normas e padrões pré-estabelecidos.

O estabelecimento e a manutenção do padrão de qualidade são condiçõessine quibus non para assegurar sua efetiva demanda, cotação, comercialização econcorrência. Segundo Bleinroth (1984), faz-se necessário segui-la à risca,visando a satisfazer o comprador, zelar pelo bom nome da empresa e conquistarnovos mercados.

Nas principais regiões produtoras de banana para exportação, a classificaçãodos frutos baseia-se, principalmente, no comprimento e na espessura, existindoduas normas:

1) Americana - aplicada na América Central, Equador e Colômbia, em que ocomprimento do fruto é determinado através de sua curvatura externa,abrangendo apenas a parte correspondente à polpa. A medida é expressaem polegada e, na maioria das organizações produtoras, o limite mínimoé de 8” e 7” para os tipos extra e de primeira, respectivamente. A espessuraé determinada na parte média dos frutos da segunda penca, através docalibre, que dá a distância entre as duas faces laterais do fruto. A calibragemé feita tendo como módulo a fração 1/32”, existindo dois tipos de leitura(Tabela 1). Os países exportadores são quem determinam os limites,geralmente entre 40 e 48, ou seja, 31,8 a 38,2 milímetros, enquanto parao mercado japonês os limites estão compreendidos entre 37 e 46, ou seja,29,4 a 36,6 milímetros, em função da distância que a fruta terá de percorrer.

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Tabela1. Calibragem dos frutos da bananeira no Equador e na AméricaCentral, e respectiva correspondência entre ambas.

Equador América Central Correspondência

37/32” 5 (índice) 29,4 mm

38 6 30,2 mm

39 7 31,0 mm

40 8 31,8 mm

41 9 32,6 mm

42 10 33,4 mm

43 11 34,2 mm

44 12 35,0 mm

45 13 35,8 mm

46 14 36,6 mm

47 15 37,4 mm

48 16 38,2 mm

Fonte: Cereda (1984).

2) Francesa - aplicada nas Antilhas Francesas (Guadalupe e Martinica) e emalguns países africanos, como Costa do Marfim, Camarões e Madagascar.Nestes países e regiões, o comprimento é determinado na face côncava ouinterna do fruto, a partir da base do pecíolo até a extremidade do fruto,estabelecendo-se três classes de frutos: a) extra, com 17 centímetros oumais; b) primeira, entre 15 e 17 centímetros; e c) segunda, entre 13 e 15centímetros. Quanto à espessura do fruto, esta é determinada por calibres,fazendo-se a leitura diretamente em milímetros. Os limites vão de 30 a 38milímetros (Alves, 1982; Alves, 1984; Cereda, 1984; Soto Ballestero,1992).

Segundo Jaramillo (1987), em virtude das atuais características do mercadobananeiro mundial, com crescimento bastante acelerado no que concerne àoferta, é possível prever uma ação mais drástica por parte das comercializadoras,na aplicação de normas de qualidade, como um dos mecanismos já conhecidospara diminuir a superprodução.

No Brasil, o principal critério utilizado na colheita e classificação dos frutosé o seu grau de engrossamento, podendo-se, para efeito de ordem prática,relacionar o tipo de cacho com o estádio de desenvolvimento do fruto (Tabela 2).

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Tabela 2. Relação do tipo de cacho com o estádio de desenvolvimento dofruto.

Tipo de cacho Estádio dedesenvolvimento

Diâmetro do fruto(mm)

I 3/4 magro 32

II 3/4 normal 34

III 3/4 gordo 36

IV gordo 38

Fonte: Cereda (1984).

Este critério ou padrão de qualidade é aplicável nas bananas do subgrupoCavendish e corresponde ao atual padrão internacional (Cereda, 1984; Moreira,1987).

Com base nas normas e padrões para classificação e comercialização debanana no Brasil, em relação a diferentes cultivares (Brasil, 1981), a banana eo “plátano” para consumo in natura são classificados em grupos e tipos. Ogrupo I é representado pelas Cavendish e o grupo II, pelas demais bananas ou“plátanos”. Os tipos são definidos para cada uma das seguintes formas deapresentação do produto: cachos e pencas e/ou buquês.

Soto Ballestero (1992) resumiu o padrão de qualidade da banana nosmercados da América do Norte e Hamburgo, conforme Tabela 3.

Outro aspecto importante observado nas normas de padrão de qualidade éo nível de resíduo, na polpa, dos produtos utilizados no controle de pragas edoenças que atacam a bananeira. Na banana para exportação existe um controlerigoroso desses níveis, estabelecido pelos próprios países importadores. Estaprecaução deve-se à elevada quantidade de produtos sistêmicos que é utilizadanos cultivos para exportação, em face do ataque de doenças e pragas de díficilcontrole. Se o produto não seguir à risca a recomendação do fabricante quantoao período de carência desses defensivos, o nível de seu resíduo no fruto podeatingir índices indesejáveis e altamente prejudiciais aos consumidores.

CONSERVAÇÃO PÓS-COLHEITA

Refrigeração

A banana é classificada como um fruto muito perecível, cuja longevidade, sobrefrigeração, não vai além de três semanas, tanto para frutos maduros comoverde-maduros (de vez). Esta alta perecibilidade está associada às altas taxasrespiratórias da banana, em comparação com outros frutos, podendo atingiraté 200 ml de CO2.kg-1.h a 15oC (Wills et al., 1981).

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Tabela 3. Tolerância para qualidades superiores e inferiores nos mercadosda América do Norte e de Hamburgo.

Tipo Defeito Qualidade superior Qualidade inferior

A Calibração mínima 37 a 40 37 a 38A Calibração máxima Segundo ordem Segundo ordemA Comprimento do dedo 20, 3 cm 16,5 a 17,8 cmB Pyricularia grisae Não Não 5B Lesões negras (fungos) Não Não 5B Dedos mutilados Não Não 4B Ponta de cigarro Não Não 4B1 Pedicelo danificado Não Não 4B Mancha negra do sol Não Não 4B Mancha amarela do sol Não Leve 4B Outros fungos Não Não 4C Mancha de maturação Leve Moderada 2C Mancha vermelha Leve Moderada 2C Fumagina Leve Moderada 2C Dano por insetos Leve Moderado 2C Queima química Não Não 3C Resíduos químicos Leve Moderado 2C Corte de facas Não Não 6C Látex Leve Moderado 2C Poeira Leve Moderada 2C Dedos falsos Não Não 7C Dedos deformados Não Sim 7C Dedos gêmeos Não Sim 7C Dedos com graxa Não Não 4C Dedos com pistilo Não Não 8C Resíduos orgânicos Leve Moderado 4C Dedos maduros Não Não 6D Maltrato de campo Leve Moderado 1D Dano na ponta do dedo Leve Moderado 1D Cicatriz de lesão velha Leve Moderada 1D Lesão por larvas de lepidópteros Leve Moderada 1D Dano devido à folha Leve Moderado 1D Dano devido ao escoramento Leve Moderado 1D Casca rajada Leve Não 6

1. Dedos com maltrato severo que serão saneados.2. No caso em que o dano seja severo, este será saneado na seleção.3. Quando tem a casca afetada até a metade do dedo com intensidade moderada.4. No caso em que o dano ou defeito nos dedos seja severo, estes serão saneados na seleção,

aproveitando-se o restante do cacho.5. No caso da presença destes defeitos, descartar-se-à a penca afetada, porém se processa o resto do cacho.6. Ocorrendo lesão no dedo e mão no cacho, este será saneado na seleção e se aproveitará o resto da penca.7. Quando se apresenta em uma penca e pode ser aplicado, as subpencas são aproveitadas como

fruta de qualidade superior; caso contrário serão classificados como de qualidade inferior.8. Eliminar-se-à o defeito e o dedo pode ser aproveitado em qualquer uma das qualidades..

Fonte: Soto Ballestero (1992).

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Colheita e manejo pós-colheita

As bananas podem ser armazenadas sob refrigeração pelo período de umaa três semanas (Broughton & Wu, 1979; Salunkhe & Desai, 1984), findo oqual devem ser removidas para câmaras de maturação, onde são tratadas cometileno. A temperatura mínima de armazenagem depende da sensibilidade dabanana a danos pelo frio, sensibilidade esta que é afetada pela cultivar, condiçõesde cultivo e tempo de exposição a uma dada temperatura e umidade relativado ar (Marriot, 1980). Na Tabela 4 encontra-se o efeito do tempo de exposiçãoà temperatura abaixo de 14oC em frutos de duas cultivares de banana, na qualse nota que o tempo para indução de danos diminui nas temperaturas maisbaixas e que a cultivar Cocos é menos sensível do que a Valery. De modogeral, os frutos produzidos em climas de temperatura amena são menossensíveis do que aqueles de climas quentes (Marriot, 1980), já que sedesenvolvem em temperatura próximas daquelas usadas para conservação. Comrelação à umidade durante a armazenagem, tem-se observado que, para umamesma temperatura, o aumento da umidade retarda o aparecimento de danos,os quais foram totalmente suprimidos a 12oC e 100% de umidade relativa doar (Mattei,1978).

Os fatores acima discutidos talvez expliquem as controvérsias sobre atemperatura ideal para a frigoconservação de bananas. Salunkhe & Desai(1984) a consideraram como sendo de 13oC, com ocorrência de danos abaixode 11oC; Marriot (1980) afirmou que abaixo de 14oC ocorreram danos eBroughton & Wu (1979) encontraram a temperatura de 15oC como a mínimatolerável pela banana, e que a 10oC os danos foram tão severos que os frutosnão amadureceram após remoção da câmara frigorífica.

Atmosfera modificada

A maturação de banana pode ser retardada por várias semanas sob atmosferamodificada. Frutos mantidos a 20oC em atmosfera modificada, contendo 5%de CO

2 e 3% de O

2, foram conservados por 182 dias e, após remoção desta

condição, amadureceram normalmente (Marriot, 1980). Segundo este autor,as concentrações ótimas de CO

2 e O

2 são, respectivamente, 7 a 10% e 1,5 a

2,5% para a armazenagem de bananas a 20oC, condição em que a extensão doperíodo pré-climatérico é cerca de seis vezes maior do que em atmosfera semmodificação. Essa faixa ótima de concentração de O

2 foi comprovada por

Wills et al. (1982), os quais observaram, após remoção dos frutos para aatmosfera ambiente, uma relação linear inversa entre o tempo paraamadurecimento e a concentração de O

2 durante a armazenagem dos frutos

por três dias, em atmosfera modificada.

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Colheita e manejo pós-colheita

Tabela 4. Relação entre o tempo de exposição a baixas temperaturas eindução de danos pelo frio, em duas cultivares de banana.

Cultivar Temperatura (oC) Horas de exposição para indução do dano1

indicado

Leve Médio Severo

13,3 100 350-370 65012,8 10-20 70 70

Valery 12,2 5-10 24-26 56-5911,7 1 3-5 25-2711,1 1 1 18-20

11,1 3-6 20-22 46-48Cocos 10,6 1 1 33-35

10,0 1 1 11 Leve = 0 a 10 lesões/cm2; Médio = 10 a 25 lesões/cm2; Severo = 25 ou mais lesões/cm2

Fonte: Marriot (1980).

A longevidade de frutos de banana pode ser aumentada significativamentequando selados em sacos de polietileno. A inclusão de permanganato depotássio, um absorvente do etileno, estende ainda mais o período dearmazenagem (Marriot, 1980; Salunkhe & Desai, 1984). A Tabela 5 e Figura 18ilustram o efeito benéfico desses tratamentos sobre a longevidade de bananas.Apesar da variabilidade nas concentrações de gás carbônico no interior dossacos, os níveis detectados são toleráveis pelos frutos, situando-se abaixo de10% de O

2 e raramente acima de 10% de CO

2 (Marriot, 1980).

Uma vantagem adicional dos sacos de polietileno é que o seu uso é efetivoem uma larga faixa de temperatura, desde 13 até 37oC. Além dos sacos depolietileno, os filmes poliméricos, com baixa permeabilidade a gases, tambémsão efetivos no aumento da longevidade de bananas, tendo-se obtido frutosde excelente qualidade, trinta dias após armazenagem a 15oC, neste filmes,com atmosfera contendo 3% de O

2 3% de CO

2(Marriot, 1980).

O uso de emulsão de cera de polietileno e produtos à base de éster desacarose, permitiram estender o período pré-climatérico de bananas, por umaa duas semanas, e reduzir a perda de água e a ocorrência de escurecimento dacasca (Marriot, 1980; Hussein et al., 1985). Na Figura 19 encontra-se o efeitodo revestimento de bananas na redução da perda de peso por transpiração eretardo da maturação. Observa-se que os frutos sem revestimento completarama maturação aos nove dias, enquanto os com revestimento, aos 12 dias, aindase encontravam no estádio de cor 4, ou seja, entre amarelo e verde.

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Colheita e manejo pós-colheita

Tabela 5. Longevidade de bananas mantidas a 20oC em atmosfera modificadapela embalagem em saco de polietileno e inclusão de permanganatode potássio (KMnO4).

Figura 18. Efeito da embalagem de saco plástico com e sempermanganato de potássio (KMnO

4) sobre a longividade

de bananas no estágio de cor 1 (totalmente verde).

Fonte: Adaptado de Salunkhe & Desai (1984).

Tratamento Longevidade (dias)

Controle (ar) Até 7

Saco de polietileno 14

Saco de polietileno + KMnO4 21

Fonte: Wills et al. (1981).

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Colheita e manejo pós-colheita

Figura 19. Efeito de revestimento com éster de sacarose sobre a perda de peso ea maturação de bananas.Fonte: Adaptado de Hussein et al. (1985). Veja a Figura 20.

O enceramento causa modificações na atmosfera interna do fruto,aumentando a concentração de CO

2 e reduzindo a de O

2 (Marriot, 1980), daí

o prolongamento do período pré-climatérico, como ocorre em câmaras comatmosfera modificada e nas embalagens plásticas. Apesar dos efeitos benéficosda cera, não só de polietileno, como também de carnaúba, o seu uso é poucodifundido no Brasil, notadamente na bananicultura.

Maturação controlada

Dentre os frutos climatéricos, a banana é um caso raro no que se refere à largafaixa de maturidade fisiológica em que pode ser colhida e induzida a amadurecercom excelente qualidade. Este fato permitiu que a maturação comercial debananas se tornasse uma operação de rotina, possibilitando obter-se bananasem estádio de cor específico (Tabela 6), de acordo com esquema pré-determinado (Wills et al., 1981). O estádio de cor 6 corresponde à bananacom excelente qualidade de cor e de consumo (Figura 20).

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Colheita e manejo pós-colheita

Tabela 6. Estádios de cor de banana Cavendish e respectivos teores de amidoe açúcar durante a maturação.

Figura 20. Estádios de maturação debanana Cavendish relacio-nados com a cor da casca ealteração nos teores deamido e açúcares.

Estádio Cor da casca Valoresaproximados(%)

Amido Açúcar

1 Verde 20,0 0,52 Verde com traço amarelo 18,0 2,53 Mais verde do que amarela 16,0 4,54 Mais amarela do que verde 13,0 7,55 Amarela com ponta verde 7,0 13,56 Totalmente amarela 2,5 18,07 Amarela levemente mosqueada de marrom 1,5 19,08 Amarela com grandes áreas marrons 1,0 19,0

Fonte: Wills et al. (1981).

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Colheita e manejo pós-colheita

As condições para maturação controlada de bananas são selecionadasvisando ao desenvolvimento da cor amarela da casca, além de um efeitoadicional sobre a longevidade após remoção dos frutos da câmara de maturação.A faixa ótima de temperatura para a maturação controlada é de 13,9 a 23,9oC,na qual não ocorrem alterações na qualidade dos frutos (Peacock, 1980). Atemperatura afeta a taxa de maturação, permitindo a obtenção de frutos emvariados graus de maturação dentro de um esquema pré-estabelecido. Oaumento da temperatura reduz o tempo para atingir-se um determinado estádiode cor da casca (Tabela 7), bem como para qualidade ótima de cor e de consumo(Figura 21). Na mesma figura, observa-se que o aumento da temperaturatambém reduz a longevidade das bananas no que se refere à qualidade de core de consumo. Isto pode ser explicado pelo fato de que a atividade enzimáticade frutos diminui a temperaturas acima de 30oC e, a partir de 40oC, muitasenzimas são inativadas (Wills et al., 1981). Estes autores citaram que a exposiçãoprolongada de banana Cavendish, cultivares Valery e Williams, a 30oC, impediuo amarelecimento da casca, apesar do aparente amadurecimento normal dapolpa. Do exposto, fica evidente que deve ser evitada a exposição contínua debananas a temperaturas elevadas.

Estudos do efeito da temperatura na maturação permitiram estabelecerrecomendações para o amadurecimento controlado de bananas. Na Tabela 8encontram-se prescrições da International Organization for Standardization,para bananas colhidas em grau de maturidade adequado, que não tenhamsofrido estresses devidos a condições adversas, tais como, longo período entrea colheita e o embarque, temperatura extremamente alta ou baixa durante otransporte e excessiva perda de peso por transpiração (Castro, 1988). Para ostrês tipos de amadurecimento (rápido, normal e lento), além das recomendaçõesda Tabela 8, adiciona-se à câmara de maturação 1.000 ppm de etileno ou20.000 ppm da mistura nitrogênio (95%) mais etileno (5%) no primeiro dia,ao final do qual se procede à troca de ar durante 20 a 30 minutos.

Tabela 7. Tempo (dias) requerido para atingir vários estádios de cor da cascade banana em função da temperatura de armazenagem.

Temperatura Estádio de cor1

(oC) 2 3 4 5 6 7 8

13,9 8,9 9,9 11,2 13,0 15,3 19,4 28,9

15,6 6,0 6,6 7,5 8,6 10,1 12,7 18,8

18,3 3,6 4,2 5,0 6,1 7,6 10,1 16,0

21,1 3,1 3,5 4,1 4,8 5,7 7,4 11,3

26,7 2,4 2,8 3,2 3,9 4,6 6,0 9,31 Veja Figura 21. Fonte: Peacock (1980).

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Colheita e manejo pós-colheita

Figura 21. Efeito da temperatura de maturação sobre a qualidade e longevidade debananas.Fonte: Adaptado de Peacock (1980).

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Colheita e manejo pós-colheita

Tab

ela

8. R

equ

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ento

s p

ara

amad

ure

cim

ento

ráp

ido

, n

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len

to d

e b

anan

as a

con

dic

ion

adas

em

cai

xa d

ep

apel

ão.

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Colheita e manejo pós-colheita

É possível, também, a obtenção de bananas em determinado estádio decor, num período pré-estabelecido, através do controle da temperatura da polpa(Tabela 9). No entanto, é importante salientar que a taxa de maturação variaconsideravelmente em função das condições de cultivo, maturidade na colheitae duração do embarque e transporte (Marriot, 1980), de modo que os esquemasdas Tabelas 8 e 9 servem apenas como guia para as alterações no grau dematuração, decorrentes da manipulação das condições na câmara de maturação.

Conquanto se recomende o amadurecimento de bananas com etileno, ou amistura etileno mais nitrogênio, às vezes não se dispõe das instalações eequipamentos para aplicação desses gases. Nesta situação, pode-se optar pelouso de carbureto ou do ácido 2-cloroetil-fosfônico (etefon). O primeiro é umproduto sólido que gera o acetileno (Marriot, 1980) e o segundo uma soluçãoque, ao ser absorvida pelo fruto, libera o etileno (Wills et al., 1981).

Para indução da maturação pelo carbureto as bananas são armazenadas emlocal com ventilação restrita, onde se distribui o produto químico. No caso doetefon o tratamento de indução é feito submergindo-se as pencas na soluçãodo composto. Awad et al. (1975), ao tratarem bananas com solução contendo500 ppm de etefon e 2.500 ppm de espalhante adesivo, por submersão durantedois minutos, anteciparam em cinco dias o pico climatérico de banana ‘Nanica’,em relação ao controle, que atingiu o pico aos nove dias.

Tabela 9. Temperatura da polpa de banana durante a maturação para atingiro estágio de cor 3 a 4.1

Períodorequerido(dias)

Temperatura (oC) nos dias sucessivos para atingira maturação no período requerido

1o 2o 3o 4o 5o 6o 7o

4 10 18 17 16

5 17 17 17 17 16

6 17 17 16 16 16 15

7 16 16 16 16 16 15 15

1 Veja Tabela 6 e Figura 21.Obs.: etileno aplicado a 1.000 ppm no primeiro dia.Fonte: Marriot (1980).

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Colheita e manejo pós-colheita

Figura 22. Efeito da concentração de etefon na maturação de bananasarmazenadas a 21-24oC. Fonte: Adaptado de Abou Aziz & ElTanahy (1975), citados por Castro (1988).

Abou-Aziz & El-Tanahy (1975), citados por Castro (1988), pulverizarambananas com soluções contendo zero a 2.000 ppm de etefon e armazenaramos frutos à temperatura de 21 a 24oC. Os frutos tratados com 1.000 e 2.000ppm alcançaram o estádio de cor 6, aos seis dias após o tratamento; com 500ppm esse estádio foi atingido aos nove dias; e com zero ppm, aos dezoito diasos frutos ainda se encontravam no estádio 5 (Figura 22). Hussein et al. (1985)submergiram bananas de duas cultivares em 1.000 ppm de etefon por cincominutos e armazenaram os frutos em condições ambientais de laboratório,simulando o período de comercialização. Aos seis e oito dias as cultivaresParadica e Hindi atingiram o estádio de cor 6, respectivamente. Na Figura 23encontram-se as alterações ocorridas nas bananas após o tratamento.

Os resultados acima, a julgar pelo estádio de cor, indicam que a concentraçãode 1.000 ppm de etefon pode ser usada para indução da maturação de bananas.

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Colheita e manejo pós-colheita

Figura 23. Alteração em bananas tratadas com 1.000 ppm de etefon e armazenadasem condições de laboratório, simulando o período de comercialização.

Fonte: Adaptado de Hussein et al. (1985).

Profilaxia de equipamentos e instalações

Ao final de cada estação de produção, os galpões de beneficiamento, câmarasfrigoríficas e de maturação, tanques de tratamento, caixas de colheita, carretase outros, devem ser rigorosamente lavados e, se necessário, esterilizados,visando a reduzir o risco de perdas por deterioração microbiana na safraseguinte. Cuidado especial deve ser tomado com as câmaras frigoríficas e dematuração, as quais são fumigadas com gás formaldeído após a lavagem(Medina, 1992).

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Colheita e manejo pós-colheita

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