Jeffrey Russel - Lúcifer - O Diabo Na Idade Média - A Existência Do Diabo
Capítulo 4 - UM TIRO NA CHUVA - A Filosofia do Diabo
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8/9/2019 Captulo 4 - UM TIRO NA CHUVA - A Filosofia do Diabo
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UM TIRO NA CHUVA
Tito abriu os olhos de supeto! Mirando o
teto, sentiu um arrepio correr pela espinha.
Estava em casa, na segurana uterina de
sua cama quente. Demorou algum tempo
para reorganizar suas idias. Levou a mo
lentamente cabea, esta doa, doa de um
jeito que ele conhecia. Dor de
bebedeira! As imagens da madrugadaento lhe saltaram mente. Aquilo no
poderia ter sido um sonho, no, no...
sabia discernir sonho de realidade. Para ter
certeza passou a mo no pinto e cheirou,
sim, cheiro de boceta! Uma estranha
alegria ento se apossou dele, esteve com
Epaminondas em seu esconderijo, tinha
certeza; mais que isto, fez uma bela festa
com o nego! A cabea doa, mas estava
extasiado de prazer, considerava uma
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distino ter privado da intimidade do
velho diabo, concesso que deveria serdada a bem poucos. Olhou no relgio,
acordara na sua hora de sempre, estava a
tempo de assumir seu papel de sbrio.
Levantou-se e cambaleou at o chuveiro,
onde tomou uma ducha quente e no
contendo seus instintos de alegria,cantarolou. Aps vestir-se, enquanto bebia
um copo cheio de caf e comia uma fatia de
po preto, perdeu seu olhar pela janela da
cozinha enquanto divagava. Afinal quem
era aquele homem? Porque lhe disseratudo aquilo? Por que lhe proporcionara
aquela bela e inesperada trepada? Quem
eram aquelas mulheres, quem era aquele
stiro? Onde esteve afinal? Ento de sbito
lhe ocorreu algo e ele estremeceu; como
entraram em seu apartamento? Atocontnuo, foi at a porta, a nica que dava
acesso ao interior do imvel, abriu-a e
conferiu com calma, passando sua mo
procura de alguma rachadura ou
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machucados na pintura ou afundamentos
na madeira. Nada. Foi janela da sala, eraum apartamento pequeno; quarto, sala,
banheiro e cozinha. Por onde teriam
entrado? Olhou pela janela, morava no
segundo andar, e de sbito deu uma
gargalhada! Hora, como poderiam tira-lo
do imvel por alguma janela? Mas logoficou srio. Entrar inadvertidamente em
sua casa, em sua intimidade, em sua
cidadela. Isto era preocupante. Poderia
dormir tranqilo a partir deste episdio?
Sentiu ento que talvez tenha feito papel deum bobo frente de Epaminondas. Deveria
se impor e cobrar a invaso em sua
intimidade; como pode? Estava dormindo!
Dormindo, caralho! Que perigos podem
rondar algum destitudo de seus sentidos?
Imaginou as coisas mais bizarras e decidiuque em um prximo encontro deveria
cobrar esta invaso de domiclio seguido de
rapto de um inconsciente. Porm, riu
novamente. Pensou ento ser bvio que
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seria somente desta maneira escusa que
haveria a possibilidade do encontro.Epaminondas talvez se irritasse com suas
cobranas e abrisse mo dos contatos; no,
melhor no falar nada. Sentiu-se ento,
brincando em uma gangorra com a Razo,
ora sentia isto, ora sentia aquilo. Era
melhor deixar essas coisas de sbrios delado se quisesse tocar adiante seu projeto.
Divagava nestas coisas, quando seu celular
tocou trazendo-o de volta Terra. Al. Oi
Nina.
- E da, Pequeno Hmem! a voz
brincalhona de Nina, caiu como um
blsamo em seus ouvidos o Santos j
perguntou duas vezes por voc, afinal voc
vem ou no vem? Tito olhou em seu
relgio.
- Puta merda, Nina! Esqueci da vida! Diga
a esse xarope do Santos que estarei a em
vinte minutos. E lhe digo, tenho novidades
que vo deixar voc louca!
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- Novidades? Puxa, estou curiosa, que
novidades poderia ter aquele cara cansadode ontem noite, que s queria ir para casa
dormir, o que teria para me contar hoje
cedo da manh? Tito ento botou
definitivamente os ps no cho.
Epaminondas estava certo em sua
estratgia. J de sada podia ver adificuldade de no passar por mentiroso.
Uma sensao de cansao tomou conta de
sua mente. No iria ser fcil convencer a
colega. Ora, foda-se! Iria dizer a verdade
nada mais, se no quisesse crer o problemaera dela. Bem, lhe conto quando chegar
na delegacia.
- Acho difcil, meu ngo! Acho que o Santos
vai lhe monopolizar por um bom perodo,
mas vem logo que o tempo t passando.
- Fui, tchau! - desligou o telefone, e saiu s
pressas. Desceu as escadas, pegou seu
carro na garagem e ganhou a rua. Neste
nterim comeou a chover, o barulho da
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chuva e o vai e vem de seu limpador de
pra-brisas marcava o compasso de seuspensamentos. As ruas cinzentas daquela
manh chuvosa se prestavam para o pano
de fundo de suas divagaes. Estava
realmente fascinado por Epaminondas,
este tivera o poder supremo de quebrar a
mesmice de seu dia a dia, de trabalho paracasa de casa para o trabalho. E isso que
trabalhava numa delegacia! Porm desde
que comeara, nada alm do crime do
senhorio no qual conhecera o estranho
personagem, acontecera de maisemocionante. Era novo no front, sabia que
tinha muito por vir, mas aqueles dias
realmente valeram pelo fator
Epaminondas. Estava impressionado, e
queria manter aquela estranha relao,
custasse o que custasse. S Nina deveriarevelar suas peripcias com seu novo
amigo. Quando, enfim, um novo crime
ocorresse naquela feio, no qual o negro
fosse chamado, deveria manter-se
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indiferente; ningum deveria desconfiar
daquela amizade, esta deveria continuarna sombra. Lembrou-se da trepada, do
stiro, de Epaminondas fodendo com
sofreguido. O efeito das luzes das velas
naquelas cenas todas, da delicia do incenso
e do maravilhoso champanha.Acho que eu
estava meio travado, imaginou ele. Daprxima, e tomara que tenha uma prxima,
vou estar mais relaxado. Pensava tambm
nas coisas que ouviu. Epaminondas deixara
claro de que no ligava a mnima para a
sociedade dos sbrios, mais que isso, adesprezava. Dera seu instinto assassino a
esta, e isso era tudo. Seus instintos
egostas no interessavam. Tinha lgica
ento, aquele papo de utilitarismo. O fato
de embriagar-se desgostava a sociedade
pelo fato de que de sua embriaguezningum tirava proveito, s ele. Era ento
uma satisfao restrita. Puxa, que
intolerncia! Pensou. Se fizer bem a si
prprio, desterrado. Se fizer mal a
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algum que a sociedade considere um
pria, ela fecha os olhos porque disto tiraproveito. Concluiu que havia muito
cinismo na sobriedade das pessoas de
bem. No era de admirar que o nego
adorasse a distncia dessa gente. Porm,
ele Tito, era pago pelos sbrios para
executar seu papel, e era para este ofcioque agora estacionava o carro no ptio da
delegacia. Chovia muito. Saiu do carro,
levantou a gola do sobretudo, e ainda
raciocinando sobre as reminiscncias da
noite anterior, concluiu enquanto corriapara dentro do prdio: se aquilo a
sombra, quero muito freqenta-la!
- Demorou, hein, rapaz! Edson, saudou-o
com um leve tapa nas costas e seguiu s
pressas para outra sala. Tito percebeu umalvoroo no recinto. Santos apareceu
porta de sua sala e gritou para o rapaz: -
Onde voc andava seu porra! Pegue seu
colete e v para a viatura! Tito correu ao
vestbulo, apanhou em seu armrio o colete
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prova de balas e o vestiu rapidamente.
Edson apareceu de repente entregandomais dois pentes para sua pistola, que
agora havia ido para a cintura. O que t
pegando, Edson? perguntou assustado.
- Deu merda no Morro do Tigre! O pessoal
da terceira est encurralado naquelasporras daquelas vielas, parece que os trafi
esto com um verdadeiro exrcito e esto
sentando o dedo adoidado! Um dos nossos
est morto e tem dois ou trs feridos, a
merda est grande. Davam uma batida
quando desabou uma chuvarada, a viso
ficou prejudicada e os vagabundos
surgiram de cima das lages metendo fogo!
Vem comigo, antes de sairmos quero te dar
uma coisa. ambos ento, foram ao
banheiro da delegacia e Edson abriu aporta do pequeno recinto onde fica o vaso
sanitrio e com um gesto de cabea indicou
que Tito entrasse. Este obedeceu meio
atarantado, e para seu espanto, j havia
outros dois colegas, dois jovens, dentro do
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nfimo local. Um era Caveira, magro e alto,
tinha o pescoo comprido e fino, seu rosto branco e descarnado expunha as mas
salientes. Caveira tinha os olhos redondos
e esbugalhados jazendo em profundas
olheiras, no quadro geral, fazia jus ao
apelido. O outro era Caldas, um sujeito
baixo e atarracado, que nunca mereceu deTito maiores atenes. Caldas tinha uma
cara de buldogue afundada entre os
ombros, que lembrava os tiras de filmes
policiais dos anos trinta. Todos ali j
estavam devidamente paramentados comseus coletes, prontos para a ao. Tito
reparou ento que Caveira tinha em uma
mo uma buchinha de cocana e na outra
segurava um pequeno espelho que servia
de bandeja contendo varias linhas da
droga. Caldas cheirou e passou para Edsonuma nota de dinheiro enrolada na forma de
canudo. Edson pegou o canudinho
improvisado e deu o seu teco em duas
linhas. Ato contnuo estendeu para Tito o
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canudinho Vamos, cara, vamos, tem de
ser rpido, caralho! Tito a princpio iarecusar, nunca havia cheirado, embora
outras vezes j tivesse tido a oportunidade
de consumir a droga. Porm, dentro da
delegacia era novidade para ele. Ia recusar,
mas devido quela situao achou ento
melhor entrar de boa e no gerar qualquertipo de discusso. Pegou o canudo e para
no parecer mais cabao do que merecesse
seu apelido, aspirou com fora uma e
depois a segunda linha. isso Tit!
exclamou Caveira. Agora j podemos meterchumbo naqueles filhadaputa. E saram
em disparada na direo da porta de sada,
em seguida entraram na viatura. Tito
percebeu que Nina entrava em outro carro,
apressada. Em seguida saram todos em
alta velocidade, rumo ao Morro do Tigre.
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***
A viatura voava em direo ao Morro doTigre. O motorista, habilidoso, era um
negro magro de cabelos compridos moda
rastafari e de feies bonitas, metido a
comedor, que usava pequenos fones de
ouvido e cantarolava como se nadaestivesse acontecendo; era conhecido como
Black. O policial de patente superior
naquele carro era Edson, por antiguidade.
Era um alvio para todos que Santos no
estivesse. Tito, aproveitando-se disto e de
que comeava a sentir os efeitos da droga,comeou soltar a lngua; dirigiu-se ento
aos colegas: - Porra, no d para entender
vocs! Cheiram sob o pretexto de criar
coragem para meter fogo nos caras. Nos
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mesmos caras sem os quais vocs no
teriam o p! Pelo lado de l, a mesma cosa;os vagabundos cometem um suicdio
indireto vendendo a coisa para dar
coragem a seus perseguidores. Nosso
mundo confuso mesmo, no e?
- Fodam-se eles! retrucou Caveira amim no me interessa nada disso! Cheiro e
meto chumbo! O que voc ? Um
socilogo? Um filsofo? Quero ver voc
encarar essa porra toda de carinha limpa!
Alis, sua primeira vez; se eu fosse voc,
cheirava mais!
- Agora no hora para este tipo de
conversa, meu velho! emendou Edson,
dirigindo-se a Tito precisamos chegar
com a adrenalina na ponta do dedo. Oscaras no so mole! Esto dez vezes
mais doido que ns, e voc quer voltar
para casa no quer?
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Tito achou melhor deixar assim, se tinha
um momento para no iniciar umadiscusso era aquele. A viatura, de repente,
comeou a dar alguns solavancos; j
estavam subindo o morro e encontravam-
se num trecho barroso e difcil, at mesmo
para Black. Tito comeou a sentir o corao
pulsar na boca. Estavam chegando epreocupava-se tambm com Nina que
vinha logo atrs. A chuva havia piorado e a
manh parecia estar anoitecendo. Agora
todos olhavam atentamente para e frente
Peguem as armas, porra! gritou Edson.Todos ento pegaram os fuzis alcanados
por Caldas que os apanhava atrs do banco
traseiro da caminhonete.Tito divisou
ento, por um momento, seu rosto no
espelho retrovisor, estava plido. Mordia o
lbio inferior insistentemente. No rdio a voz do delegado Fidelis deu uma ordem
qualquer, mas ele estava longe e no
prestou ateno. - Voc ouviu, Black!
esquerda! esquerda! gritava Edson. O
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carro ento entrou em uma pequena viela,
onde j se encontravam duas ambulnciasestacionadas. Tito, ao passarem por elas,
pode ver em meio chuvarada, um corpo
coberto por uma lona sendo colocado pelos
para-mdicos no interior de uma delas.
Dois outros homens eram atendidos
deitados no cho. Outros colegas, daterceira delegacia, faziam sinais frenticos
com as mos apontando para algum lugar
mais acima no morro. agora minha
gente! Destravem estas porras que o bicho
vai pegar! - Ato contnuo, Edson deuordem para parar. Saram da viatura
apressados e esgueiraram-se direita por
uma ruela embarrada. O que se via era uma
praa de guerra. Policiais agachados,
deitados e de p, protegidos atrs de
qualquer coisa, respondiam a um fogopesado e intermitente que vinha da parte
superior do morro. Tito percebeu o piscar
insistente das luzes oriundas das armas
adversrias, era uma chuva de balas.
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Procurou o lugar mais seguro, como se isso
fosse possvel, e aninhou-se junto a umamureta, Caveira em seguida chegou ao seu
lado. Tito segurou firme seu FAL (Fuzil
Automtico Leve) e gritou para Caveira: -
Porra! T difcil de achar alguma coisa para
acertar!
- No esquenta gritou de volta Caveira
atire em qualquer coisa! O negcio sair
vivo daqui... caralho, isto aqui uma
guerra! Tito deu uma espiada rpida por
sobre a mureta, e depois outra e mais
outra. Lembrou-se ento de Epaminondas
e toda a sua valentia. O respeito angariado
entre os colegas, e de tudo o que Santos lhe
contara. Mas principalmente o que o
negro falara sobre matar. Aquilo lhe
impressionara. Agora ali, liberado,autorizado pelo Estado, e aterrorizado
perante a iminncia da morte, julgou ser a
hora certa para decidir. Afinal, era legitima
defesa, pois estava abaixo de tiros de armas
pesadas. E mais, quem poderia saber de
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onde partiu o tiro que eventualmente tenha
vitimado algum? Era o pingue-pongue daviolncia. Estava totalmente liberado para
matar! A adrenalina o convidava para isso,
o efeito da cocana j havia cortado os laos
morais que poderiam prend-lo a algum
comportamento padro. Estava livre!
Espiou por cima da mureta. Sim, j haviadivisado a vtima. Espiou novamente. Ao
seu lado uma seqncia de tiros o deixou
quase surdo, era Caveira metendo bala a
esmo. Levantou a cabea lentamente acima
do muro, podia divisar o vulto de umhomem que se expunha parcialmente para
atirar e rapidamente recolhia-se, fazia isso
insistentemente. Estava a uns cinqenta
metros, teria que ser bom de mira;
recolheu-se e respirou fundo. Estava a um
passo de mudar sua vida. Que efeitospoderiam surgir a partir de ento? O que
mudaria na sua vida, ter matado um
homem? Porra! Era um policial afinal...
porm, policiais matam quando no tem
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escolha, pelo menos foi lhe ensinado assim.
E agora podia decidir se aquele homem viveria ou no. Comeou a sentir ento
uma sensao de poder indescritvel, com
isto j poderia dar-se por satisfeito, aquele
homem viveria a partir de hoje por uma
deciso sua! Era uma sensao
indescritvel. Faria o que Caveiraaconselhara, atiraria, s isso. Pegasse onde
pegasse. - Ora, mas esta uma sada
simplista! Pensou. Aquele homem quer
matar meus colegas, quer matar a mim!
Oh, mas um ser humano, meu filho...mame diria. Pois ... repentinamente
Tito parou e perdeu o olhar no nada; ficou
extremamente srio Eu tambm sou!
de supeto, girou sua arma por cima da
mureta e fez mira. Puxou o gatilho e
recebeu o tranco do fuzil em seu ombro.Recolheu-se e espiou por sobre a mureta o
corpo que despencava da lage. Que tiro,
homem! exclamou Caveira. Sim, a todas
estas se esqueceu do colega a seu lado,
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testemunha ocular da sua deciso. Tito no
sentiu sensao nenhuma alm de umimenso vazio. Se pudesse voltar atrs
alguns segundos talvez no cometesse o
ato. Queria comete-lo s para si, sem
testemunhas. Queria a partir de ento,
rondar seus sentimentos e perceber quais
as conseqncias de sua deciso de vida oumorte. Um corpo agora jazia no barro. No
havia mais nada a fazer; tomara uma
deciso, isto, uma deciso. Pronto, nada
mais. No era o lugar e a ocasio para
divagar; iria ento continuar seu trabalho.Mas quando foi espiar por cima da mureta,
esta explodiu duas, trs vezes na altura do
parapeito. Estava recebendo o troco, sem
dvida. Caveira aninhou-se como pode
J sabem que estamos aqui, o que d ser
bom de mira! gritou. Agora a sensao deTito era do mais puro pnico. Pagaria por
seu ato, pagaria o preo de sua deciso.
Agora os marginais queriam a todo custo o
atirador por detrs da mureta Veja o que
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voc arrumou, porra! gritou Caveira,
companheiro de trincheira que s queriadar tiros a esmo para no se complicar
Sabe quando que vamos sair daqui?
Tito tentava ficar calmo para avaliar a
situao. A troca de tiros estava parelha e
violenta. Tinha de achar uma maneira de
sarem daquele local a qualquer custo, masnaquele momento no dava. Eram agora os
alvos de alguns atiradores, se corressem de
volta para a rua onde a viatura estava em
segurana, seriam presas fceis. O cho era
pura lama, o que dificultaria a agilidadedos movimentos. Sentiu que naquele
momento ningum era de ningum, e
espiar por sobre a mureta era arriscado;
tinha de elaborar uma estratgia rpida.
Enquanto isso, para surpresa sua, Caveira
gritou: - Foda-se! No tenho o dia inteiro!E ainda quero comprar o presente de
aniversrio do meu filho! ato contnuo,
virou-se e comeou a atirar. Tito ento
gritou: - No faa isso, pelo amor de Deus!
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Abaixe-se, porra! segurou o colega pela
ala do colete e comeou a puxar Caveira,que no gostou: - Que agora? Novato de
merda! Tenho que consertar a merda que
voc nos arrumou!
- Voc vai cometer suicdio, seu filho da
puta! Caveira ento caiu por cima deTito. Mas no da maneira que este queria.
O rosto ensangentado e dilacerado
ironicamente foi parar no colo do novato. A
cabea parecia uma pedra lascada na qual
miolos e sangue se misturavam surpresa
ttrica do instante inesperado. Tito soltou
um grito de puro pavor. Agarrado ao
colega, gritava, fazia sinais para os demais.
Quando conseguia falar, apenas gritava -
Homem ferido! - dominado pelo pnico,
esqueceu-se do perigo de morte querondava aquela mureta e saiu arrastando o
policial pelo barro, deixando uma trilha
sinistra de sangue e pedaos de crebro.
Trs ou quatro homens com metralhadoras
detonavam o local de onde partira os tiros,
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enquanto davam guarida para que Tito
socorresse ao colega, Nina se juntou a ele,em parceria com Caldas. Arrastaram
Caveira e dobraram pela esquina, onde
algumas ambulncias estavam de
prontido. Os para-mdicos ento
assumiram a situao, mas em seguida, se
olharam e um meneou a cabea. Nina eTito ficaram abraados, manchados de
sangue sob a chuva, enquanto o rapaz
chorava e dizia insistentemente - A culpa
foi minha!