Capitulo 4 Anti-Hemostaticos da Saliva e Intestino de Animais Hematofagos - Estrutura e Funcao.pdf

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    Tpicos Avanados em Entomologia MolecularInstituto Nacional de Cincia e Tecnologia em Entomologia Molecular

    INCT EM 2012.

    CAPTULO 4

    Anti-Hemostticos da Saliva e Intestino deAnimais Hematfagos: Estrutura e Funo. ______________________________________

    Aparecida S. Tanaka 1, Carlos Termignoni 2 e Mrio Alberto C. Silva-Neto3.1 Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de So Paulo, Rua 3 deMaio 100, Vila Clementino, So Paulo, SP, CEP 04044-020.2 Departamento de Bioqumica e Centro de Biotecnologia, Universidade Federaldo Rio Grande do Sul.3 Instituto de Bioqumica Mdica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Av.Carlos Chagas Filho 373, Cidade Universitria, Ilha do Fundo, Rio de Janeiro,RJ, CEP 21941-902.

    Copyright: 2012 [Aparecida S. Tanaka, Carlos Termignoni e Mrio Alberto C.Silva-Neto]. This is an open-access article distributed under the terms of theCreative Commons Attribution License, which permits unrestricted use,distribution, and reproduction in any medium, provided the original author andsource are credited.

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    Consideraes Iniciais.

    Os artrpodos respondem por cerca de 80% de todas as espcies de

    animais metazorios o que corresponde a cerca de um milho de espcies.Estimativas conservadoras apontam para um nmero total ainda desconhecido,em torno de 8 milhes de espcies diferentes. De acordo com a hiptesefilogentica atual a hematofagia evoluiu independentemente cerca de 20 vezesem diferentes grupos taxonmicos dentro dos artrpodos. Somente na OrdemDiptera a hematofagia evoluiu cerca de nove vezes. Na famlia Muscidae emespecial provvel que a hematofagia tenha evoludo independemente cerca dequatro vezes pelo menos (Wheeler e cols., 2001; Black IV e Kondrantieff, 2005).

    Uma vez que um artrpodo hematfago pousa ou escala at um pontoonde possvel efetuar a perfurao da pele do hospedeiro, vrios estmulos

    locais so usados para identificar a posio adequada onde ser feita a refeio.Quimioreceptores localizados na extremidade das partes bucais ou nas antenasinspecionam a pele na busca de sabores adequados. Mecano receptores, porsua vez, presentes nas extremidades das partes bucais indicam qual a melhorposio para a penetrao da pele. Os hematfagos tm necessidade vital emdriblar os mecanismos hemostticos, inflamatrios e imunolgicos dos seushospedeiros e obter com sucesso o seu repasto sanguneo. Uma vez que apenetrao da pele ocorra, ser despejada no stio de alimentao uma srie demolculas que iro modificar localmente a fisiologia do hospedeiro vertebrado.Tais modificaes favorecem o artrpodo hematfago na medida em queaumentam as chances de aquisio de sangue cujas propriedades hemostticasesto alteradas. Para isto, a saliva de animais artrpodes sugadores de sanguee eventualmente o intestino so verdadeiros arsenais de molculas com funesanti-hemostticas. Adicionalmente, a saliva da maioria dos animaishematfagos, tambm apresenta molculas que interferem no controle daresposta imune e inflamatrio do seu hospedeiro (Ribeiro e Francischetti, 2003).Nesse captulo iremos revisar principalmente os aspectos funcionais dasglndulas salivares do hemptero hematfago Rhodnius prolixus . Um enfoqueespecial ser dado queles aspectos que esto sendo objeto de pesquisa porparte do grupo. Existem ao menos 500 gneros e aproximadamente 19.000espcies conhecidas de artrpodes hematfagos, no entanto apenas algumaspoucas espcies foram estudadas at o momento. Mas, o que foi confirmadonestes estudos que estas espcies apresentam pelo menos umaanticoagulante, um vasodilator e um inibidor de agregao plaquetria. Aaquisio de sangue pelos animais hematfagos pode ser diretamente do vasosanguneo ou de poas de sangue resultado da hemorragia provocada pelorompimento de vnulas e arterolas. Animais como, borrachudos ou black fly,mosquito palha ou sand fly e carrapatos utilizam seus aparelhos bucais paradilacerarem alguns capilares, vnulas e arterolas, alimentando-se da poa desangue hemorrgica. Outros animais como os mosquitos e os barbeiros, utilizamo aparelho bucal para penetrar na pele e localizar os vasos sangneos por meioda extremidade de suas maxilas, geralmente flexveis em busca de vasossanguneos, processo conhecido como probing. Em essencial esse processoocorre pela movimentao das extremidades dessas maxilas dentro da pele dohospedeiro (Lavoipierre e cols., 1959; Ribeiro, 1995) Os mtodos de aquisio

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    do sangue, portanto, podem dividem-se em: sug-lo diretamente do vaso(capillary feeder) ou lesionar alguns vasos sangneos e se alimentar dosangue extravasad o (pool feeder).

    Substncias Anti-Hemostticas: Uma viso geral.

    Os animais hematfagos desenvolveram ao longo do processo evolutivo,mecanismos diferentes para se opor a hemostasia do hospedeiro durante arefeio sangunea como: a inibio de agregao plaquetria, a utilizao devasodilatadores, a inibio da coagulao sangnea e a ativao do processofibrinoltico (Ribeiro e cols., 1987; Ribeiro, 1989, 1995ab). As estratgias anti-hemostticas utilizadas pelos animais hematfagos so muito variadas, sendobaseadas em inmeras substncias que interferem em diferentes pontos dahemostasia. Diversas substncias provenientes de animais hematfagos tmsido descritas, sendo grande parte delas provenientes da saliva desses animais. interessante notar que a saliva dos hematfagos possui substncias queatuam sobre vrios alvos no sistema hemosttico do hospedeiro e, em algumasespcies, a saliva possui mais de uma substncia que inibi uma mesma enzima

    envolvida na hemostasia. Esta redundncia faz com que os animaishematfagos sejam extremamente eficientes. Mesmo no caso de espcies queso evolutivamente distantes algumas molculas com estruturas diferentesatuam sobre um mesmo alvo na hemostasia dos seus hospedeiros (Mans ecols., 1998; Mans e Neitz, 2004).

    Inibidores da Coagulao Sangnea.

    Frequentemente inibidores de serinoproteases so encontrados emanimais hematfagos, pois a coagulao sangnea constituda por umacascata de reaes catalisadas por tais enzimas. Duas delas so enzimaschaves, o fator Xa e a trombina, que participam da via comum da coagulao(Davie e cols., 1991) (Figura 1). Alguns animais apresentam estratgias distintaspara controlar a coagulao sangunea, como o carrapato Ixodes ricinus que, aoinvs de inibir as enzimas, utiliza uma protease que cliva e inativa alguns fatoresda coagulao sangunea (Hoffmann e cols., 1991). Na tabela 1 esto resumidosalguns inibidores de fatores da cascata de coagulao. A hematofagia,curiosamente, apresenta-se distribuda entre animais invertebrados (Annelidae, Arachnidae e Insecta), mas no exclui os animais vertebrados, exemplo deste o morcego vampiro (Schleuning e cols., 1992). Esses animais desenvolveram a

    capacidade de produzir uma variedade de compostos que bloqueiam a respostahemosttica de seus hospedeiros vertebrados (Ribeiro, 1987; Law e cols., 1992).

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    Figura 1. Esquema da Cascata da Coagulao Sangunea . Geralmente, acoagulao inicia-se pela ativao do fator VII pela associao com o fatortecidual. O fVIIa, uma serinoprotease ativa que cliva o zimognio fIX, que ativado fIXa e que responsvel pela ativao do fX fXa. A atividadecataltica do IXa sobre o fator X depende da associao com o fVIIIa (um doscomponentes no enzimticos da cascata da coagulao) e com fosfolipdios demembrana. Esta associao ocorre via intermediao com ons Ca2+ e ocomplexo formado denominado de complexo Xase intrnseco. A atividadeproteoltica do fator Xa sobre a protrombina depende da sua associao com ofator Va, protena sem atividade cataltica, e fosfolipdios de membrana por meiode ons Ca+2, formando o chamado complexo protrombinase. A trombina cliva ofibrinognio liberando molculas de fibrina, que se polimerizao formando ocogulo mole. A trombina tambm ativa o fator XIII, a qual catalisa a formaode ligaes cruzadas entre os polmeros de fibrina, formando, assim, o coguloduro. A trombina tambm ativa os fatores V e VIII, retroalimentando a cascata. Alternativamente, a coagulao pode ser iniciada pela associao entre pr-calicrena, fator XII e cininognio de alto peso molecular. A pequena ativaoinicial reforada porque tanto pela calicrena que ativa o fXII fXIIa, que porsua vez pode ativar a pr-calicrena calicrena. E seguida, o fXIIa ativa o XIque, por sua vez, ativa o fXI a XIa. A notao "a" indica a forma ativa dasprotenas da cascata. Paralelamente a ativao da cascata ocorre o controle damesma, via ativao de protena C em associao com trombomodulina, queatua na inativao dos fV e fVIII. Outro ponto de controle a inibio datrombina pela anti-trombina III, uma serpina, a qual e pontencializada napresena de heparina. E por fim, aps a formao do cogulo, o mesmo podeser dissolvido pela enzima plasmina proveniente da ativao de plasminognio.

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    Tabela 1 . Substncias anticoagulantes presentes na saliva/glndula salivar e intestino* deanimais hematfagos.Espcie Substncia Enzima inibida Referncia

    Haementeria ghilianii Tridegina Fator XIIIa (Finney e cols.,

    1997)Haementeria ghilianii Ghilantina Fator Xa

    Condra e cols.,1989; Blankenshipe cols., 1990)

    Haementeria officinalis Antistasina Fator Xa(Tuszynski e cols.,1987; Nutt e cols.,1988)

    Hirudo medicinalis Hirustasina Calicrena (Sollner e cols.,1994)Ixodes scapularis Ixolaris Fator tecidual (Francischetti ecols., 2002)

    Ixodes scapularis Pentalaris Ativao do fator Xinduzida por fator

    VIIa/fator tecidual

    (Francischeti ecols., 2004)

    Amblyomma americanum Americanina Trombina (Zhu e cols., 1997)

    Amblyomma variegatum no caracterizada Trombina (Kazimirov ecols., 2002) Amblyomma hebraeum Amblina Trombina (Lai e cols, 2004)

    Rhipicephalus appendiculatus 65 kDa Fator Xa (Limo e cols,1991)Ornithodoros moubata Ornitodorina Trombina (van de Locht ecols., 1996)

    Ornithodoros moubata TAP Fator Xa(Waxman e cols.,1990; Vlasuk ecols, 1991)

    Ornithodoros savignyi Savignina Trombina Nienaber e cols.,1999)Hyalomma truncatum 17 kDa Fator Xa (Joubert e cols.,1995)

    RAS 1 a 4Rhipicephalus (Boophilus)microplus BmAP Trombina

    (Horn e cols.,2000)

    Rhipicephalus (Boophilus)microplus Microfilina Trombina

    (Ciprandi e cols.,2006)

    Rhipicephalus (Boophilus)microplus Boophilina* Trombina

    (Macedo-Ribeiro ecols., 2008)

    Rhodnius prolixus Nitroforina 2 Trombina (Zhang e cols.,1998)

    Rhodnius prolixus Rodinina* Trombina(Friedrich e cols.,1993; van deLocht e cols.,1995)

    Hirudo medicinalis Hirudina Trombina (Markwardt, 1970)

    Hematobia i. irritans Trombostasina Trombina (Zhang e cols.,2002) Ancylostoma caninum NAPc2 FVIIa/TF (Lee e Vlasuk,2003) Anopheles albimanus Anofelina Trombina (Francischetti ecols., 1999)

    Anopheles stephensi Hamadarina Fator XIIa/Calicrena(Isawa e cols.,2002)

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    Simulium vittatum 18 kDa Fator Xa (Jacobs e cols,1990)Glossina m. morsitans TTI Trombina (Cappello e cols.,1996)Simulium vittatum no caracterizada Trombina e Fator Va (Abebe e cols.,1996)

    Aedes aegypti AFXa Fator Xa (Stark e James.,1995) Aedes aegypti AaTI Trombina (Watanabe e cols.,2010; 2011) Anopheles albimanus 6,4 kDa Trombina (Valenzuela ecols., 1999)Triatoma pallidipennis Triabina Trombina (Noeske-Jungblute cols., 1995)Triatoma infestans Infestina* Trombina (Campos e cols.,2002)Triatoma infestans Infestina 4* Fator XIIa (Campos e cols.,2004)

    TAP - Tick anticoagulant peptide; TTI Tsetse thrombin inhibitor; AFXa anticoagulant -factor Xa. * - Molculas presentes no intestino de hematfagos.

    Inibidores de Fator Xa.

    Os animais sugadores de sangue, incluindo os mosquitos, carrapatos esanguessugas fazem uso de inibidores de fator Xa como anticoagulantes(Waxman e cols., 1990; Sollner e cols., 1994; Stark e James, 1995; Cappello ecols., 1998) para se contrapor a hemostasia dos seus hospedeiros (Tabela 1).Essas substncias apresentam estruturas diferentes, no entanto tem em comuma alta especificidade para o fator Xa.

    Inibidores de Trombina.

    A trombina uma enzima chave da coagulao sangunea, pertence famlia das serinoproteases apresenta uma massa molecular de 38 kDa e constituda de duas cadeias polipeptdicas ligadas por quatro pontes dissulfeto.Paralelamente ao papel da trombina na coagulao sangunea, esta enzimatambm desempenha importante funo em outros processos fisiolgicos comoinflamao e proliferao celular (Goldsack e cols., 1998). A especificidade datrombina frente a diferentes substratos se d pela presena de dois stios deinterao (exostios) alm do stio ativo da mesma, denominados de: stio deligao de fibrinognio e stio de ligao de heparina (Bode e Huber, 2000). Osanimais hematfagos desenvolveram ao longo do tempo, inibidores quebloqueiam a atividade pr-coagulante da trombina por ligao aos exostiospresentes na superfcie da molcula. Por exemplo, a sanguessuga H.medicinalis produz um inibidor de trombina, a hirudina (Markwardt, 1970), que ainibe especificamente atravs da ligao ao exostio 1 (de fibrinognio)bloqueando indiretamente o stio ativo da enzima (Grutter e cols., 1990). Estemecanismo de inibio tambm foi observado para outros inibidores tais como: aornitodorina purificada de carrapato O. moubata (van de Locht e cols., 1996) e arodinina presente no inseto R. prolixus (Friedrich e cols., 1993). A triabina(Noeske-Jungblut e cols., 1995) e a microfilina (Ciprandi e cols., 2006), por outrolado, inibem a atividade da trombina por juno ao stio de ligao inica no

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    inibindo, portanto, a atividade desta enzima sobre substratos sintticos detamanho pequeno. Recentemente, um inibidor de trombina denominado de AaTIfoi descrito em mosquito Aedes aegypti , este inibidor no interage com o stioativo da trombina, os resultados obtidos sugerem que esta molcula atua viaexostio 2 (de heparina) (Watanabe e cols., 2011). Alm destes j foram

    descritas molculas que utilizam mecanismos de inibio diferentes exemplodeste tem se a anofelina de Anopheles albimanus (Valenzuela e cols., 1999).Entre os triatomneos, grupo de organismos onde esto includos os vetores dadoena de Chagas foi caracterizado os seguintes inibidores de trombina: arodinina (Friedrich e cols., 1993) e a dipetalogastina (Mende e cols., 1999),ambos serinoproteases da famlia denominada tipo Kazal caracterizada porapresentar dominos com massas moleculares de aproximadamente 6 kDa e 3pontes dissulfeto. A rodinina tem como caracterstica ser um inibidor double -headed, o que lhe confere maior especificidade trombina, visto que o segundodomnio interage com o exostio 1 (de fibrinognio) da molcula de trombina (vande Locht e cols., 1995). Estudos cinticos utilizando o primeiro domnio darodinina recombinante mostraram constantes de inibio (Ki) para a trombinacom diferenas de mais de quatro ordens de grandeza quando comparado ao Kida rodinina dois domnios. Dados semelhantes foram obtidos analisando-se osdomnios que compem a dipetalogastina (Icke e cols., 2002).

    Infestinas.

    Um dos vetores da doena de Chagas, o inseto T. infestans tambmproduz um potente inibidor de trombina no estmago denominado de infestinaque apresentou uma constante de inibio de 43 pM e e tambm capaz de inibira tripsina (Ki = 2 nM). Baseado na seqncia de aminocidos da poro N-terminal da infestina, parte do gene foi clonado e sequenciado. A anlise dasequncia de nucleotdeos revelou que o mesmo codificava para uma protenahipottica de 24,3 kDa composta por 222 aminocidos divididos em 4 domniosdo tipo Kazal. Curiosamente, a protena purificada a partir do estmago dobarbeiro era composta pelos dois primeiros domnios do gene que foirenomeada de infestina 1-2. A protena composta pelos quatro domnios foichamada de infestina 1-4, e a protena correspondente aos dois ltimosdomnios, embora no detectada poca, foi denominada de infestina 3-4(Campos e cols., 2002). A r-infestina 1-4 foi capaz de inibir no apenas a

    trombina (0,8 nM) e tripsina (5,2 nM), mas tambm a plasmina (1,1 nM), fatorXa (60,0 nM) e fator XIIa (78,0 pM). A r-infestina 3-4 inibiu a plasmina (0,4 nM), ofator Xa (18,0 nM), o fator XIIa (67,0 pM) e a tripsina (3,3 nM) (Campos e cols.,2002). Recentemente, o gene completo da infestina que codifica uma protenacontendo sete domnios do tipo Kazal (Lovato e cols., 2006) foi clonado esequenciado. Os trs novos domnios foram chamados de 1R, 2R e 3R eencontram-se na regio upstream do gene em relao ao domnio 1 (Figura 2). A infestina 2R-3R apresenta 77% de identidade e 85% de similaridade com ainfestina 1-2 indicando que o mesmo possa ser um inibidor de trombina. A r-infestina 1R, quando expressa apresentou-se como um potente inibidor deelastase de neutrfilos humano, de quimotripsina e tambm de subtilisina A. Aausncia da protena infestina 1-7 no estmago do barbeiro indica que essesinibidores so codificados pelo gene como uma nica protena composta por

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    sete domnios do tipo Kazal, a qual processada posteriormente em um ou doisdomnios do tipo Kazal, os quais apresentam atividades inibitrias diferentes. Assim, o T. infestans utiliza-se das infestinas 2R-3R, 1-2 e 3-4 para bloquear acoagulao sangnea em seu estmago durante o armazenamento do sangueat o final do processo digestivo. Estas molculas so produzidas

    simultaneamente e so capazes de atuar em diversos pontos da cascata dacoagulao sangnea, o que mostra o grau de adaptao desse vetor frente aum hospedeiro vertebrado. A funo fisiolgica da infestina 1R, ainda no clara, no entanto recentemente mostrou-se que este inibidor foi capaz de inibir ainvaso de clulas em cultura por Trypanosoma cruzi (Lovato e cols., 2011).

    Figura 2. Gene da infestina completa. Esquema da estrutura do gene dainfestina. Os padres idnticos indicam identidade maior que 75% na estruturaprimria entre os domnios Kazal. Em vermelho encontra-se indicado o peptdeosinal predito e a regio contendo o cdon de terminao.

    Inibidores da Agregao Plaquetria.

    Para garantirem o bloqueio eficiente das defesas hemostticas doshospedeiros, alm de inibirem a coagulao sangunea, alguns artrpodoshematfagos tambm possuem molculas capazes de inibirem a agregaoplaquetria. Um dos mecanismos utilizados envolve o uso de enzimas, como asapirases que hidrolisam tanto ATP como ADP transformando-os em AMP. O ADP um importante agonista da agregao plaquetria, sendo tambmliberado por plaquetas j ativadas para agregarem, fazendo assim umfeedback positivo. A rpida destruio do ADP formado no local da picada porao de apirases salivares impede a ativao da agregao plaquetria (Ribeiroe Garcia, 1981; Champagne e cols., 1995; Mans e cols., 1998; Valenzuela ecols., 1998; Valenzuela e cols., 2001). Algumas espcies fazem a inativao do ADP por desaminao da adenosina atravs de adenosina-deaminasessalivares (Charlab e cols., 2000; Ribeiro e Modi, 2001). Alguns hematfagos socapazes de inibir a agregao plaquetria por ligao com a glicoprotena IIb-IIIada superfcie das plaquetas (Seymour e cols., 1990; Wang e cols., 1996). Outraestratgia de inibio da agregao plaquetria utilizada por estes animais o

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    uso de prostaglandina E 2 e prostaciclinas que estimulam a formao de AMP eGMP cclicos, ambos inibidores da agregao plaquetria (Ribeiro e cols., 1985;Ribeiro, e cols., 1988). H tambm substncias que interferem na interao dasplaquetas com o colgeno, bloqueando assim a agregao plaquetria induzidapor este agonista (Munro e cols., 1991). Os inibidores salivares da trombina

    (Tabela 1), alm de inibirem a coagulao sangunea tambm bloqueiam aatividade dessa enzima sobre os seus receptores presentes na superfcie dasplaquetas, impedindo assim a ativao plaquetria induzida pela trombina. Natabela 2 esto mostradas algumas substncias provenientes de animaishematfagos capazes de interferir na agregao plaquetria de seushospedeiros.

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    Tabela 2 . Substncias inibidoras de agregao plaquetria presentes na saliva/glndula salivarde animais hematfagos.

    Espcie Substncia Mecanismo Referncia

    Aedes aegypti Apirase-like Hidrlise de ADP (Champgne ecols., 1995)Chrysops spp. Crisoptina Inibe ligao com fibrinognio (Reddy e cols.,

    2000)

    Culex quinquefasciatus Fosfolipase Hidrolisa platelet-activating factor (PAF)(Ribeiro eFrancischetti,2001)

    Dermacentor variabilis Variabilina Antagonista de GPIIb/IIIa (Wang e cols.,1996)

    Glossina morsitans Apirase-like Inib. AP induz. ADP, colgeno (Mant eParker, 1981)

    Haementeria officinalis LAPP Inib. AP induz. colgeno

    (Connolly e

    cols., 1992;Keller e cols.,1992)

    Hirudo medicinalis Calina Inib. Interao vW/colgeno (Munro e cols.,1991; Harsfalvie cols., 1995)

    Ixodes dammini PGE2 Induo de cAMP e cGMP (Ribeiro ecols., 1985)Lutzomyia longipalpis Adenosina deaminase desamina ADP (Charlab e

    cols., 2000)Macrobdella decora Decorsina Antagonista de GPIIb/IIIa (Seymour e

    cols., 1990)Ornithotodoros moubata TAI (15 kDa) Inib. AP induz. ADP, colageno, e

    trombina(Karczewski ecols., 1995)

    Ornithodoros moubata Moubatina Inib. AP induz. colgeno(Waxman eConnolly,1993; Keller ecols., 1993)

    Ornithodoros savignyi Apirase hidrlise de ADP (Mans e cols.,1998)

    Phlebotomus papatasi Adenosina e 5'-AMP Desloca ADP (Ribeiro ecols., 1999)

    Phlebotomus papatasi Apirase hidrlise de ADP (Valenzuela ecols., 2001)

    Rhodnius prolixus Apirase-like Hidrlise de ADP (Ribeiro e

    Garcia, 1981);Rhodnius prolixus RPAI-1 Sequestra ADP (Francischettie cols., 2002a)

    Triatoma pallidipennis Palidipina Inib. AP induz. colgeno//inib.liberao de ADP

    (Haendler ecols., 1995:Noeske-Jungblut ecols., 1994)

    Triatoma pallidipennis Triabina Inib. AP induz. trombina (Noeske-Jugblut e cols.,1995)

    Triatoma infestans Apirase-like Hidrlise de ADP (Faudry ecols., 2004)

    Inib. - Inibio de; AP - Agregao plaquetria; Induz. - Induzido; vW - Fator de von Willebrand;LAPP Leech antiplatelet protein ; TAI Tick adhesion inhibitor.

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    Vasodilatadores.

    O volume de sangue do hospedeiro vertebrado ocupa cerca de 5% dovolume da pele (Ryan, 1976), tornando difcil a localizao imediata de vasossanguneos pelo animal hematfago durante a picada. Para facilitar alocalizao dos vasos sanguneos, os hematfagos utilizam substnciascapazes de dilat-los facilitando a localizao dos mesmos, econsequentemente diminuindo o tempo de busca para uma alimentao rpida(por exemplo) o que resulta em um tempo menor de interao com ohospedeiro, aumentando assim a chance de sobrevivncia do ectoparasita.Outra vantagem da utilizao de vasodilatadores o aumento do aporte

    sanguneo. Dentre as estratgias vasodilatadoras j descritas encontram-se: autilizao de xido ntrico (NO), um potente vasodilatador, mas como o NO instvel, os insetos (barbeiros) injetam-no associado a uma protena carreadoracomo a nitroforina (Andersen e cols., 1997; Andersen e cols., 2000; Ribeiro ecols., 1993); enzimas produtoras de H2O2 que podem ser utilizadas nadegradao de serotonina e catecolaminas, ambas as substnciasvasoconstritoras (Ribeiro e Nussenzveig, 1993); por fim em carrapatos foidetectada a presena de prostaglandinas E 2, F2 e I2 (Lerner e cols., 1991; Lernere Shoemaker, 1992; Ribeiro e cols., 1985), potentes vasodilatadores. Na Tabela3 encontra-se um sumrio de algumas substncias vasodilatadoras j descritasem animais hematfagos.

    Tabela 3 . Substncias vasodilatadoras presentes na saliva/glndula salivar de animaishematfagos.

    Espcie Mecanismo Referncia

    Aedes aegyptiTaquicinina (Champagne e Ribeiro,

    1994) Amblyomma americanum PGF2 e PGE2 (Ribeiro e cols., 1992)

    Anopheles albimanus Peroxidase (Ribeiro e Nussenzveig,1993b)

    Rhipicephalus (Boophilus)microplus PGE2 (Dickison e cols., 1976)

    Ixodes dammini PGE2 e PGI2 (Ribeiro e cols., 1985)Lutzomyia longipalpis Maxidilan (Lerner e cols., 1991;Lerner e Shoemaker, 1992)

    Rhodnius prolixus NO (Ribeiro e cols., 1990;Ribeiro e Nussenzveig,1993a)

    Rhodnius prolixus Lisofosfatidilcolinavia NO (Golodne e cols., 2003)

    Simulium vittatum Maridilan (Cupp e cols., 1994, 1998)

    PGE2 - Prostaglandina E2; PGF2 - Prostaglandina F2; PGI2 - Prostaglandina I2; NO - xido ntrico.

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    O NO um gs produto da transformao cataltica da L-arginina emcitrulina pela enzima xido ntrico sintase (NOSs) na presena de calmodulina evrios cofatores como: protoporfirina IX heme, FMN, FAD, BH4 e NADPH.Existem basicamente trs tipos diferentes de NOSs (Nussenzeveig e cols., 1995;Liu e Huang, 2008; Rafikov e cols., 2011). As NOS podem ser genericamentedividias em: uma NOS neuronal que encontrada em crebro e sistema nervosoperifrico; uma NOS induzida por citocina que insensvel a clcio e contmcalmodulina fortemente ligada a sua estrutura e um importante gerador de NOque atua como antimicrobiante ou antitumorignico; e finalmente, uma NOSendotelial que predominantemente encontrada na membrana celular e quepossue papel importante na transduo de sinal da corrente sangunea para acamada de msculo liso associada ao vaso induzindo, assim, o relaxamentovascular.

    Ribeiro e cols., 1990 demonstraram que os homogenatos de glndulassalivares de Rhodnius possuem um vasodilatador com as caractersticas geraisdo NO. Uma vez que o NO possui uma meia vida extremamente curta ele naverdade injetado pelo inseto na corrente sangunea, ligado a um conjuntoespecfico de protenas denominadas nitroforinas (NPs) (Ribeiro e cols., 1993;Champagne e cols., 1995). Uma vez diludo em pH neutro, as NPs descarregamo NO que, ao interagir com a musculatura lisa do vaso, promove a vasodilataoem funo da ativao de uma guanilato ciclase solvel. A produo de GMPcclico por tal enzima leva a ativao de uma protena quinase dependente denucleotdeo que fosforila protenas envolvidas no relaxamento do msculo lisosubjacente ao vaso.

    O NO na verdade bombeado para o interior da luz da glndula salivaraonde ele se liga a protenas chamadas nitroforinas (NPs) que sero discutidasadiante. Originalmente de forma curiosa a produo de NO foi justamentedemonstrada atravs de relaxamento de anel de aorta de coelho previamentecontrada; por converso de arginina em citrulina e tambm pela atividadediaforsica (Ribeiro e Nussenzveig, 1993a). Alm disso, foi demonstrado emseguida, que a sntese de NO ocorre no interior das clulas epiteliais dasglndulas salivares, enquanto as NPs so estocadas no lmen desse rgo(Nussenzveig e cols., 1995). A dinmica do carregamento das nitroforinas comNO foi tambm descrita (Nussenzveig e cols., 1995). Esse processo pode ser

    brevemente resumido da seguinte forma. Aps uma alimentao com sangue,as ninfas de quarto estgio de R. prolixus perdem cerca da metade do contedode protenas de suas glndulas salivares. Elas so gradualmente resintetizadaspelo perodo de cerca de quatro semanas. Durante esse perodo as NPs soestocadas no lmen como holoprotenas e o contedo total de NO decaigradativamente at atingir um mnimo prximo ao presente no perodo de muda. Aps a muda o contedo de NO aumenta rapidamente em funo da ativaoda NOS. As NPs so ento carregadas continuamente at o perodo da prximaalimentao. A atividade NO sintase nesse sistema estimada via NADPHdiaforsica foi acompanhada durante esse ciclo. Ela se encontra em um nvelbasal logo aps a alimentao, dobra em cerca de quatro dias aps a muda e

    ento retorna novamente ao nvel basal. Esse perfil semelhante aocarregamento das NPs com NO o que sugere que a atividade da NOS est sob

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    regulao de forma a prover NO de uma forma sincronizada at o prximo ciclode alimentao. Em nosso laboratrio demonstramos que o nvel da NOS antesda muda, medido por immunoblotting, rigorosamente a metade daconcentrao inicial (Gazos-Lopes e cols., Submetido). Tal perfil severamenteafetado pela infeco das glndulas salivares por Trypanosoma rangel i

    (Mesquita, 2005). Nesse caso, existe uma supresso da produo de NO emfuno de uma diminuio nos nveis do RNA mensageiro para tal enzima(Mesquita, 2005). O cDNA da NO sintase de R. prolixus foi clonado por Yuda ecols, 1996. Esses autores demonstraram que as sequncias primrias das NOSde mamferos, tais como os stios de reconhecimento de heme, tetrabiopterina,calmodulina, FMN, FAD e NADPH esto todos conservados no gene da NOS dobarbeiro. No entanto, diferenas na extenso do N-terminal e do stio demiristoilao foram encontradas. Esses autores confirmaram, ainda, osresultados cinticos de Ribeiro e Nussenzveig (1993a), acerca da dependnciade clcio e calmodulina da NOS de R. prolixus . Em conjunto esses dadosapontam para uma enzima de 130 kDa de peso molecular e que pode serincluda no grupo das NOS constitutivas descritas em mamferos. Tal enzimapossui altos nveis de expresso nas glndulas salivares de Rhodnius , noentanto, os mecanismos moleculares de sua regulao durante o ciclo alimentarpermanecem desconhecidos.

    A regulao da sntese de NO foi um tema extremamente investigado eevidncias de um grande nmero de modelos mostram que ela ocorrebasicamente ao nvel da atividade enzimtica, da sntese e estabilidade de RNAmensageiro da disponibilidade de cofatores, e da presena de agonistasmobilizadores de clcio e do processamento ps traducional como, por exemplo,via miristoilao e principalmente por fosforilao reversvel em resduos deserina, treonina ou tirosina. As NOS so, ainda, substratos diretos paradiferentes classes de protenas quinases investigadas at o momento, a saber:clcio-calmodulina quinase II, protena quinase C, protena quinase A, protenaquinase G e tirosina quinase. Essas enzimas esto associadas com diferentesrotas intracelulares de transduo de sinal e reconhecem diferentes sequnciasconsenso em seus substratos. Os seus efeitos na atividade das NOS, em geral,so controversos. Tais resultados podem refletir as diferentes rotas demodulao das NOS e sua relao com o tipo celular em que se encontram. Foimostrado ainda que, alm da fosforilao direta in vitro das NOS, uma regulaoindireta pode tambm ocorrer simplesmente atravs de rotas de transduo desinal induzidas por diferentes agonistas (Searles, 2006). Glicosilfosfatidilinositis(GPIs) induzem a expresso da NOS de macrfago em uma via bloquevel portirfostina e genistena, inibidores de tirosinas quinase, e tambm por calfostinaC, inibidor de protena quinase C (Tachado e cols., 1996). Mais recentemente,em insetos foi mostrado que a expresso da NOS ocorre durante a infeco de

    Anopheles e induzida por GPIs de superfcie do parasito, ativando uma via desinalizao que semelhante a da insulina envolvendo as protenas quinases AKT e MAPKK e ERK (Lim e cols., 2005). A obteno dos GPIs deT. rangeli irpermitir o mapeamento da via de sinalizao capaz de suprimir a expresso daNOS de R . prolixus . A NOS, em concluso, das glndulas salivares de R.prolixus um modelo para a compreenso de aspectos especficos da biologiado NO. At onde se sabe o nico sistema onde o NO produzido e ao invsde ser imediatamente utilizado encontra-se associado a protenas

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    Figura 3. Mecanismo de liberao de NO a partir das nitroforinas. Aexistncia de uma diferena de pH entre a luz da glndula salivar (pH acido) e osangue do hospedeiro (pH em torno de 7,0) garante uma mudana brusca de pHdurante a injeo da saliva contendo as NPs. Assim o NO liberado na poa dealimentao ira atravessar a clula endotelial e promover a ativao deguanilato-ciclases solveis presentes no msculo liso o que ir aumentar a

    concentrao intracelular de GMPc e promover o relaxamento muscular e avasodilatao.

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    transportadoras. Ademais, essa produo de NO ocorre de forma sincronizadacom a expresso das NPs em um ponto bem definido do ciclo de alimentao.

    Ativadores da Fibrinlise e Agentes Fibrinolticos.

    O processo de formao do trombo redundante, isto , as vrias viasque levam formao do mesmo se interligam em diversos pontos a fim demanter a hemostasia. Devido redundncia do sistema hemosttico, impediruma via trombognica pode no ser suficiente em todas as situaes, com isso,algumas espcies de animais hematfagos desenvolveram mecanismos queatuam na destruio do trombo. Para tal, j foi descrito que os hematfagos

    podem utilizar: enzimas que desestabilizam o cogulo, clivando as ligaesentre os monmeros de fibrina (Baskova e Nikonov, 1991); enzimas quedegradam os polmeros de fibrina e molculas de fibrinognio (Malinconico ecols., 1984; Swadesh e cols., 1990; Budzynski, 1991); e enzimas que ativam oplasminognio a plasmina (Gardell e cols., 1989). Na tabela 4 visualizam-sealgumas substncias de hematfagos que participam da degradao do trombode fibrina.

    Tabela 4 . Substncias pr-fibrinolticas e fibrinolticas presentes na saliva/glndula salivar deanimais hematfagos

    Espcie Substncia Mecanismo Referncia

    Desmodus rotundus Bat-PA Ativador de plasminognio (Gardell e cols.,1989)

    Haementeria depressa Hementerina Fibrinoltico(Kelen e Rosenfeld,1975; Chudzinski-

    Tavassi e cols.,1998)

    Haementeria ghilianii Hementina Fibrino(geno)ltico

    (Malinconico ecols., 1984;

    Swadesh e cols.,1990; Budzynski,

    1991)Hirudo medicinalis Destabilase Desestabilizador de fibrina (Baskova e

    Nikonov, 1991)Rhodnius prolixus Roquinase Uroquinase-like (Hawkins eHellmann, 1966)

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    Nitroforinas (NPs).

    Durante o processo de evoluo dos componentes anti-hemostticos dasaliva de R. prolixus houve a expanso de uma famlia de protenasdenominadas lipocalinas (Montfort e cols., 2000). As lipocalinas so protenascaracteristicamente de baixa massa molecular, extracelulares e com capacidadede ligao de molculas hidrofbicas pequenas (Flower, 2000). Existem trsgrupos principais de lipocalinas na saliva de R. prolixus . No primeiro esto asnitroforinas (NPs), hemeprotenas ligadoras de xido ntrico (NO) e histamina e aprotena ligadora de aminas biognicas (ABP). NPs e ABP esto relacionadaspela similaridade de sequncias de aminocidos que apesar de baixa, resultamem estruturas tercirias com alta similaridade. No segundo est presente umaprotena ligadora de ADP capaz de inibir a agregao plaquetria que denominada Rhodnius prolixus Aggregation Inhibitor" (RPAI-1) (Francischetti ecols., 2002). Finalmente o ltimo grupo constitudo por lipocalinas ainda poucocaracterizadas e que est relacionado ao inibidor de trombina de Triatomapallidipennis chamado triabina (Fuentes-Prior e cols., 1997). Curiosamente aindano foi identificada a inibio da atividade da trombina pela saliva deR. prolixus que sugerisse a presena de uma protena do tipo triabina.

    As NPs so hemeprotenas ligadoras de NO com peso molecular emtorno de 20 kDa. Elas foram inicialmente isoladas por fracionamento dasglndulas salivares de R. prolixus e nomeadas de NP1 a NP4 segundo suaabundncia nas glndulas salivares do inseto (Champagne e cols., 1995a;Ribeiro e cols., 1995). De uma forma geral as NPs podem exibir at trsatividades anti-hemostticas: vasodilatadora (atribuda ao NO que transportam,conforme j mencionado acima), anticoagulante e so ainda capazes de ligarhistamina. A ligao a NO e histamina feita atravs de Fe (III) presente nogrupo heme.

    A clonagem, expresso e cristalizao das NPs permitiram revelardetalhes sobre a sua estrutura. No caso da NP1 tal resultado representou aobteno da primeira estrutura de uma protena transportadora de um gs

    depois da hemoglobina (Weischel e cols., 1998). Cada NP liga apenas umamolcula de heme na cavidade central de uma barril Beta. O heme est ligado aprotena atravs de um tomo de ferro em coordenao com um resduo dehistidina na segunda fita beta do barril. Na glndula salivar, o NO sintetizado noepitlio se difunde at a luz da glndula e se liga ao tomo de ferro na porodistal do heme. A ligao e a liberao do NO podem ser observadas pelamudana do pico de absoro ou banda de Soret em um espectro cujo mximoser em torno de 420 nm quando o NO estiver ligado a NP e em torno de 404nm na NP livre de NO (Ribeiro e cols., 1993). Tal complexo mais estvel nafaixa de pH de 5 do que no pH fisiolgico do sangue em torno de 7,4. Essadiferena assegura a migrao do NO a partir da NP para o vaso durante ainjeo da saliva na pele do hospedeiro, o que ocorre com um aumento de cercade cinco a dez vezes na velocidade de dissociao do NO (Andersen e cols.,

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    2000). Um grupo particular de experimentos demonstrou que a velocidade deliberao de NO seria maior quando ele se encontra estocado nas NPs 1 e 4(2,2-2,6 s-1) em pH 8,0 do que nas NPs 2 e 3 (0,08-0,12 s -1). Um sistema similarde estocagem de NO existe descrito para outro hemptero o Cimex lectularius(Valenzuela e cols., 1995; Valenzuela e Ribeiro, 1998).

    As NPs tambm so capazes de ligar uma molcula de histamina. Essaligao no concomitante com o de NO, mas se coordena com o ferro no ladodistal do grupo heme. A histamina liberada pelas plaquetas pela degranulaodos mastcitos em hospedeiros previamente sensibilizados em resposta asleses causadas pelas partes bucais do inseto so absorvidas pelas NPsbloqueando sua ao pr-inflamatria (Ribeiro e Walker, 1994). Essencialmentea histamina liberada ir causar vermelhido, dor e coceira no local da leso oque pode dificultar a alimentao do inseto. Curiosamente a histamina consegueremover o NO ligado ao grupo heme das NPs. Esse efeito ocorre no stio deligao de NO e a histamina acelera a liberao de NO em condies

    fisiolgicas. Ou seja, durante a dissociao induzida por pH o NO liberado nacirculao e simultaneamente a histamina ocupa o stio de ligao no grupoheme.

    A NP2 a responsvel pela capacidade anticoagulante da saliva de R. prolixu s. Ela foi descrita inicialmente por Hellmann and Hawkins em 1965 echamou-se prolixina-S para distingui-la de outro anticoagulante a proxilina-G degut (Hellman e Hawkins, 1964). Posteriormente descobriu-se que a proxilina-Sera a NP2. Contrariamente, as NPs 1 e 4 no possuem qualquer atividadeanticoagulante. O extrato bruto das glndulas salivares de R. prolixus capaz deprolongar o tempo de coagulao da mistura caolina-cefalina sem afetar o tempo

    de protrombina, sugerindo que a NP2 um inibidor da via intrnseca dacoagulao sangunea. Essa protena capaz de inibir a formao do complexoXase intrnseco na superfcie aninica promovida pelos fosfolipdios demembranas de plaquetas ativadas (Zhang e cols., 1998). A NP2 liga-sediretamente ao fator IXa, que possui a atividade enzimtica do complexo, masno parece ser capaz de inibi-la (Isawa e cols., 2000). Dessa forma a NP2parece interferir na interao do fator IXa com o fator VIIIa ou mesmo com osfosfolipdios de membrana. Apesar de NP2 possuir uma identidade de cerca de80 % (143 de 180 resduos de aminocidos) com a NP3 essa ltima protenapossui uma atividade anticoagulante cerca de 300 vezes menor.

    Moreira e cols. (2003) conduziram uma investigao na qual o perfil deexpresso das NPs foi avaliado ao longo das vrias mudas de R. prolixus . Elesnotaram que o perfil de expresso no adulto e nas ninfas de quinto estgio, ondetodas as NPs esto presentes, na verdade o ponto culminante de um processogradual de expresso cumulativa de NPs. Ou seja, na saliva de primeiro estgiosomente est presente a NP 2; a NP 4 surge no segundo ; a NP 1 no terceiro, ea NP 3 somente no quinto. Esses mesmos autores reportaram, ainda, apresena de duas novas NPs, NP5 e NP6 que surgem no primeiro estgio ninfal.Tais protenas possuem alta homologia com as NPs descritas por Champagne ecols., 1995, ligam NO,mas tm uma banda de Soret dita no usual na faixa de412 nm.

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    A obteno de uma biblioteca de cDNAs de glndulas salivares de R. prolixus permitiu o conhecimento das seqncias de um nmero grande deprotenas secretadas na luz das glndulas. Tal estratgia foi denominadasialoma e tem sido empregada para analise de um grande nmero de salivas deorganismos hematfagos (Ribeiro e cols., 2004). Vrias dessas sequncias

    foram traduzidas in silico e apresentam vrios trechos contendo aminocidosbsicos ou que possuem cargas positivas. Entre essas protenas bsicas estum novo membro da famlia das NPs a NP7. Essa protena possui uma srie detrechos positivamente carregados, capazes de interagir com vesculas contendofosfatidilserina (PS) ou uma mistura de PS com fosfatidilcolina (PC), mas nocom aquelas contendo apenas PC (Andersen e cols., 2004). Esses resultadosindicam que a NP7 provavelmente atua como anti-hemosttico ao se associar aplaquetas ativadas, onde existem fosfolipdios aninicos ocupando a poroexterna da clula. Nesse local tambm so formados os complexos Xase eprotrombinase. A NP7 parece ento bloquear a formao de complexoprotrombinase e consequentemente inibir a coagulao sangunea in vivo .

    Lipdios Bioativos.

    A maior parte dos componentes salivares com atividades anti-hemostticas descritos at hoje so de natureza protica. Tais molculas so denatureza diversa e conforme descrito podem incluir peptdios como astaquicininas (Champagne e Ribeiro, 1994) e o maxadilan (Lerner e cols., 1991),protenas ligadoras de NO como as NPs descritas anteriormente (Champagne ecols., 1995), e lipdios e seus derivados como as prostaglandinas (Ribeiro ecols., 1992). Mais especificamente a presena de lipdios nas glndulassalivares de um artrpodo hematfago tem sido examinada no carrapato

    Amblyomma americanum pelo grupo do Dr. Sauer da Universidade do Estado deOklahoma, USA (Shipley e cols., 1993).

    Presume-se, que alm da saliva mecanismos redundantes de sinalizaodevam operar de forma a evitar a vasoconstrico no local da picada, uma vezque a alimentao ocorre em questo de minutos. Estes mecanismos estariambaseados na existncia de molculas mensageiras na saliva, alm dos anti-hemostticos que impediriam a reao do hospedeiro numa escala muito rpidade eventos. A primeira dessas molculas a ser identificada um lisofosfolipdioa lisofosfatidilcolina (LPC). Essa molcula foi originalmente descrita por nossogrupo na saliva de R. prolixu s (Golodne e cols., 2003). Nele ns demonstramosque nveis micromolares de LPC so acumulados na luz da glndula durante seucrescimento. Uma vez injetada na pele do hospedeiro, os nveis de LPC sosuficientes para bloquear a agregao plaquetria induzida por colgeno etrombina e induzir a expresso de uma NOS em clulas endoteliais de aorta deporco em cultura. Posteriormente demonstramos que a LPC salivar age comoum modulador de varias rotas de sinalizao celular de macrfagos. Talmolecula mostrou-se capaz de suprimir a produo de NO em tais clulas eaumentar a infeco por T. cruzi (Mesquita e cols., 2008). O mecanismo pareceenvolver a ativao de receptores como o G2A ao mesmo tempo em que

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    bloqueia a ativao de MAPK induzidas pela estimulao de receptores do tipoToll-Like como esquematizado na Figura 4.

    Saliva: uma fonte de Imunomoduladores da Infeco por Patgenos.

    Quando os insetos agem como vetores h um aumento na transmissode patgenos que est diretamente relacionado ao tempo de procuraintradrmica pelo vaso. Isso ocorre em virtude da interrelao entre hemostasia,inflamao e resposta imune. Muitas das propriedades que facilitam e/oucontribuem para o sucesso da refeio sangunea tambm aumentam atransmisso de patgenos. Na maior parte dos casos os insetos so infectadosdurante a alimentao e os patgenos so capazes de interagir com asglndulas salivares do vetor no prximo ciclo alimentar (Ribeiro, 1987). Assimduas estratgias principais so encontradas: (1) os componentes da salivasecretados no local da picada aumentam a eficincia da infeco; (2) ospatgenos aumentam a probabilidade de sua transmisso modificando asatividades farmacolgicas da saliva.

    Em relao primeira hiptese podemos dizer que os alvos daimunomodulao em geral as clulas do hospedeiro envolvidas na imunidadeinata sero atingidas. Esse o caso das salivas de que contm moduladores demacrfagos, clulas T e B como descrito em sandflies, blackflies e mosquitos(revisto em Gillespie e cols., 2006). Os carrapatos possuem um verdadeirocoquetel de molculas que agem como moduladores de citocinas, inibidores dosistema complemento, inativadores de anafilatoxina e protenas ligadoras deimunoglobulinas. Em conjunto, tais molculas atingem alm das clulas dohospedeiro acima mencionadas as clulas natural killer e os neutrfilos.

    No caso da leishmaniose para atingir uma infeco experimental em geralso injetados milhes de parasitas na pele de camundongos. No entanto, se talinjeo for acompanhada saliva do vetor Lutzomyia longipalpis apenas umacentena de parasitas e suficiente para se obter uma boa infeco experimental.Titus e Ribeiro (1988) demonstraram que a presena da saliva do vetoraumenta a infectividade de L. major . Alem de aumentar a natureza da leso onumero de parasitas na leso pode ser cerca de 5000 vezes maior do que asleses obtidas em camundongos infectados na ausncia da saliva. Resultadossimilares foram obtidos para outros modelos de infeco a saber: L. longipalpis xL. brasiliensis ; L. longipalpis x Leishmania ; Phlebotomus papatasi x L. major ;

    Aedes x vrus da estomatite vesicular; Aedes e Culex x vrus Cache Valley ecarrapatos do gnero Dermacentor x vrus da encefalite viral entre outros(revisto por Valenzuela, 2002). A identificao dos fatores envolvidos naexarcebacao da transmisso desse patgenos tarefa longa e exaustiva e estsendo conduzida em muitos laboratrios ao redor do mundo.

    Em relao segunda hiptese podemos afirmar que no caso dosesporozotos da malria ocorre a infeco dos lobos distais e mediais daglndula salivar de mosquitos (Rossignol e cols., 1984). Tal invaso leva a umareduo da atividade apirsica o que eleva o tempo de alimentao do inseto eaumenta a transmisso de parasitas. Garcia e cols. (1994) demonstraram que

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    os componentes anti-hemostticos da saliva de R. prolixus diminuem com ainfeco por T. rangeli . Homogenatos de glndulas salivares de 30 dias aps ainfeco possuem uma quantidade menor de protena por par de glndulas,assim como uma atividade apirsica menor e grupos nitrognio reativos (Garciae cols., 1994). No entanto, os mecanismos moleculares utilizados pelo parasita

    para modificar tais atividades e seus efeitos, ainda no foram investigados.Resultados recentes de nosso laboratrio demonstraram que a produo de NOem glndulas infectadas com T. rangeli ocorre em funo da supresso daexpresso da NOS pelo parasita (Gazos-Lopes e cols., Submetido 2012). Omecanismo foi demonstrado via western blotting usando -se anticorpos anti-NOS e via imunocitoqumica alm de RT-PCR e aponta para um envolvimentodos glicofosfatidilinositois de superfcie do parasita como um controlador dasvias intracelulares de sinalizao celular em especial moduladas por protenasfosfatases.

    Figura 4. Mecanismo de ao da LPC. A LPC salivar ou plasmtica possuivrios receptores em clulas do sistema imune. Entre eles destaca-se maisclassicamente o receptor G2A e o receptor GPR4. Em virtude de relatos acercade sua ao inflamatria e possvel que a LPC possa interagir com TLRstradicionais como o TLR-4.

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    Consideraes Finais

    A complexidade dos sistemas que os animais hematfagosdesenvolveram pode ser mais bem compreendida pela observao de queenquanto os vertebrados desenvolveram a hemostasia cerca de 400 milhes deanos atrs (Doolittle e Feng, 1987), a hematofagia surgiu vrias vezes demaneira independente na evoluo, em um perodo entre 145 e 65 milhes deanos atrs (Balashov Yu, 1984). Supe-se que a evoluo para mltiplosmecanismos anti-hemostticos, inclusive com grande redundncia nos alvos eusando molculas completamente diferentes, decorra de uma presso seletivacontnua (Mans e cols., 2002; 2003). claro que as molculas anti-hemostticasdos hematfagos evoluram juntamente com o desenvolvimento das molculasdo sistema hemosttico dos vertebrados de modo que razovel supor que esteseja a principal razo da alta eficincia dos hematfagos em seu modo de vida.Esta alta especificidade para bloquear as defesas do hospedeiro e aredundncia dos sistemas justifica as dificuldades em se desenvolver mtodoseficientes de controle desses ectoparasitas.

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