CAPÍTULO 3 - o DEPARTAMENTO DE RECURSOS HUMANOSbortolami.altervista.org/documents/cap3.pdf · Há...
Transcript of CAPÍTULO 3 - o DEPARTAMENTO DE RECURSOS HUMANOSbortolami.altervista.org/documents/cap3.pdf · Há...
CAPÍTULO 3
- o DEPARTAMENTO DE RECURSOS HUMANOS
3.1. O Departamento de Gestão de Recursos Humanos - partilha e serviços e externalização
Departamentos de recursos humanos, tal como actuam em muitas organizações, continuando na mesma rota, melhor seria extingui-los. Os departamentos de recursos humanos devem ser avaliados, não com base no que fazem, mas com base no serviço que prestam, nos resultados que alimentam e enriquecem a cadeia de valor relativamente ao cliente, ao accionista e aos trabalhadores.
Para Dave Ulrich67, existem boas razões para a fraca reputação desta área, pois é normalmente dispendiosa, demonstrando pouca eficácia.
Antes de mais, que deve a direcção de recursos humanos fazer? Primeiramente, há que ter presente que a gestão de recursos humanos já não é função apenas da direcção de recursos humanos. Todos os gestores terão forçosamente de considerar a gestão dos seus colaboradores como uma prioridade, em vez de a encararem como assunto da competência de um departamento específico da empresa.
67 Dave Ulrich - New Mandate for Human Resources. Harvard Business Review.
Todavia, fica a pergunta: se todos os gestores forem forçados a ganhar competência em recursos humanos, que papel terão os responsáveis por esta área? Do debate actualmente existente fica a ideia que terá de ser um papel radicalmente diferente.
Tudo indica que o gestor de recursos humanos estará menos orientado para as funções tradicionais do seu departamento recrutamento, gestão de carreiras, análise de desempenho, sistemas de compensação. Estas tenderão a ser desempenhadas pelos gestores das áreas de negócios ou entregues fora, em regime de extemalização (outsourcing).
Os gestores de recursos humanos evoluirão para o papel de consultores internos da administração e dos gestores de linha. Caber-Ihes-á o papel de zelar pelo capital intelectual da organização, de serem os facilitadores dos processos de mudança e os responsáveis pelos programas de motivação e empenhamento de todos na estratégia organizacional.
Isto obrigará os gestores de recursos humanos a ganharem competência noutras áreas, como a estratégia, o marketing e as finanças.
Em suma, o gestor de recursos humanos tem de:
Primeiro Ser parceiro (sem estar acima nem abaixo) de todos os gestores, ajudando-os na implementação da estratégia e no enfoque no mercado.
Segundo Tomar-se perito na organização do trabalho.
Terceiro ISer campeão no atendimento e resolução dos problemas dos trabalhadores, de forma a aumentar a sua participação. I
Quarto I Ser agente de mudança organizacional e da cultura da empresa.
Por que razão são os recursos humanos tão importantes? As pessoas são o activo mais valioso das empresas e estas enfrentam na sociedade da informação, cinco grandes desafios, os quais são pontos críticos de sucesso, exigindo novos perfis profissionais e novas capacidades por parte de toda a comunidade empresarial.
Tais desafios são:
Globalização - O imperativo estratégico de Porter, "think globally and act locally", obriga a que seja necessário fazer circular pessoas, ideias, pro-
R? l
dutos e informação em todo o mundo, para ir ao encontro das necessidades locais dos clientes. Os trabalhadores têm, neste mercado global, necessidade de dominar, em maior grau, a capacidade de compreender os clientes, o comércio e a concorrência, agora em novos e menos familiares contextos culturais. A globalização obriga a empresa a aumentar a sua capacidade, para aprender a gerir a diversidade, a complexidade e a ambiguidade.
Lucro através do crescimento - A grande preocupação dos anos 80 e 90 do século XX tem sido aumentar os lucros através do esmagamento dos custos. Para tanto, foram introduzidos diversos métodos de gestão que encheram as páginas dos jornais e revistas da especialidade. Lançaram-se buzzwords tais como: downsizing; rightsizing; reengineering. Os resulta-, dos dessas intervenções chegaram, em geral, a bom termo, e agora a preocupação parece ser a do crescimento.
As empresas, que procuram atrair novos clientes e oferecer novos produtos, devem ser criativas, inovadoras e encorajar fluxos de comunicação livre, partilhando o conhecimento e a aprendizagem entre os trabalhadores. Precisam de estar mais focalizadas no mercado, mais em contacto com a rapidez da mudança e a diversidade das necessidades dos seus clientes.
Tecnologia - A tecnologia tomou o nosso mundo mais pequeno e mais rápido. As lojas localizadas na internet, todo o comércio electrónico e o entretenimento expressam vivamente esta característica actual. Ideias e informação estão em constante moviment068 •
Ora, nem todas as tecnologias acrescentam valor à cadeia. Os trabalhadores têm de estar formados para perceber isso e aproveitar o que a tecnologia oferece, dado que ela afecta a forma e o local de trabalho.
Capital intelectual- A gestão do saber tomou-se uma vantagem competitiva para certas empresas, nomeadamente as de consultoria, mas também para as empresas em geral. As organizações de sucesso são aquelas que se apresentam mais aptas para atrair, desenvolver e formar as pessoas indispensáveis e críticas para o seu negócio. Assim, o desafio para as empresas consiste em serem capazes de descobrir, assimilar, desenvolver, compensar e reter esses indivíduos talentosos.
68 Jean Paul Basquíat Internet et les Administrations: La Grande Mutation. Paris: Berger-Levrault, 1999.
Mudança e mais mudança - As empresas devem ser capazes de aprender rápida e continuamente, inovar sem cessar, e assumir novos imperativos estratégicos de uma fonna mais rápida e confortável.
A mudança constante significa que a empresa deve criar um desconforto saudável relativamente ao seu quotidiano, uma capacidade para detectar, mais rapidamente, as tendências emergentes do que os seus competidores e uma capacidade rápida de decisão e agilidade para descobrir novas maneiras de fazer negócio.
Neste contexto de gestão estratégica de recursos humanos (GERH), fará ainda algum sentido manter o departamento de GRH, ao lado do financeiro, operações, marketing entre outros?
Longe vão os tempos dos grandes departamentos de pessoal ou mesmo de recursos humanos. Assiste-se a uma tendência, que, aliás, é comum a todas as funções organizacionais, para entregar a terceiros, as funções e actividades que não constituam o essencial, a razão de ser dessa entidade.
Até agora tem-se verificado que o organograma da direcção de recursos humanos é função da dimensão do efectivo da organização. Uma média empresa terá, por exemplo, um director de recursos humanos e quatro a cinco chefias, respectivamente, de recrutamento e selecção, gestão administrativa, fonnação e desenvolvimento, avaliação e promoção e de serviços de apoio social. Uma grande empresa poderá ter três vezes mais chefias e um efectivo dedicado à GRH da ordem dos duzentos empregados.
Na Administração Pública, quer nos serviços de administração directa, quer indirecta do Estado, os recursos humanos encontram-se, em cada direcção-geral, integrados numa direcção de serviços com divisões de formação, administrativa, recrutamento e selecção, estudos e planeamento etc. Num serviço pequeno da Administração ou numa mini empresa, pode não haver nenhum departamento específico de recursos humanos e a função encontrar-se integrada numa secretaria geraL
Nos nossos dias, as organizações tendem a externalizar (entregar a terceiros) ou criar centros de serviços partilhados para tudo quanto não constitua a parte dura ou essencial do seu negócio/actividade. Se, ao encarar urna organização pública ou privada, estabelecennos uma separação entre actividades de apoio/suporte e actividades operacionais, a GRH emerge, nonnalmente como actividade de apoio/suporte e, nessa medida, constitui
84
uma área de actividade propícia para ser susceptível de ser externalizada ou ser organizada em termos de centro de serviços partilhados.
Algumas das vantagens mais referidas na literatura a favor da externalização (outsourcing) da gestão de recursos humanos passam por uma redução global de custos, por uma maior concentração nas actividades nucleares, fundacionais (core) que só o Estado ou a empresa pode realizar pela melhoria da qualidade de serviço prestado.
Acresce que outra forma de pensar no departamento de recurso humanos é encará-lo na perspectiva dos centros de serviços partilhados (CSP). A partilha de serviços comuns é um conceito com alguma provas já dadas e que está crescentemente a ser experimentado e consequentemente tes- . tado. Alguns indicadores de benchmarking referem que, quando utilizado, as organizações públicas ou privadas poderão obter reduções médias de custos na ordem dos 25% a 55%. A partilha de serviços de recursos humanos permite a eliminação das múltiplas repetições estruturais.
Mas, será possível e desejável entregar ao exterior (outsourcing) toda a função de recursos humanos? Parece-nos que a parte estratégica da GRH tem de ficar sempre na organização. Todavia, a permanência do resto dependerá da análise de custo beneficio. Assim, há quem entregue ao exterior ou constitua centros de serviços partilhados para tratar do processamento de vencimentos. Aliás, há muito tempo (pelos menos em Portugal desde os anos oitenta do século passado) que as empresas procedem à terceirização da selecção (testes psicológicos). Fará sentido um organização dispor de um gabinete jurídico para a representar em Tribunal?
Certas funções técnicas como a selecção, a consultoria jurídica, entre outras, tenderão a sair da organização pública ou privada, assim como certas actividades de cariz mais rotineiro, como, por exemplo, o processamento de vencimentos. Mas, por outro lado, tendem a integrar a DRH novas competências tais como as ligadas à comunicação interna.
Neste sentido, regista-se actualmente uma forte tendência para recorrer à terceirização, como o outplacement quando se trata de reduzir empregados. A profissão de consultor em reinserção profissional nasceu nos anos 60 do século passado, nos EUA. Em França, surgiu uma dezena de anos mais tarde. O seu papel principal é ajudar os quadros, obrigados a deixar a organização, a encontrar uma nova situação, fornecendo-lhes, durante a procura, os meios necessários para valorizar a sua personalidade e a sua experiência profissional.
Há vantagens e desvantagens neste tipo de decisão. Entregar ao exterior significa de algum modo perder em parte o controlo. Por isso, recomendase que, pelo menos, o controlo do fornecimento externo de serviço nunca seja entregue ao exterior. Há que controlar a terceirização da actividade de GRH e nunca terceirizar o controlo. Isto significa que o DRH terá de dispor de competências específicas, não propriamente para executar, mas para saber comprar e controlar, em suma para gerir os novos tipos de contrato.
3.2. Sistema de Informação e Balanced Scorecard
A informação e documentação utilizada no departamento de recursos humanos, quando está elaborada, depurada, contida e acessível através de meios electrónicos costuma denominar-se base de dados de recursos humanos e, mais propriamente, sistema de informação de recursos humanos (SIRH).
Os sistemas de informação vieram alterar profundamente a gestão de recursos humanos e, em especial, a capacidade de planeamento e controlo. A contribuição dos sistemas de informação reflecte-se a diversos níveis: aumento da produtividade, medida por cada trabalhador do departamento de GRH; melhoria do serviço prestado; melhoria da qualidade da decisão; maior capacidade de antecipação aos problemas e de gestão previsional.
O sistema de informação é um conjunto de instrumentos que permite: registar na origem todas as informações úteis; guardar as informações (actuais e que constituem o histórico); submetê-las aos diversos processos de tratamento; fornecer as informações estatísticas aos interessados, no momento oportuno, no formato acordado69 O sistema de informação deve •
permitir analisar o passado, conhecer o presente e planear/criar o futuro.
O sistema de informação de recursos humanos integra normalmente cinco dimensões: Informação relativa à organização; informação relativa aos postos de trabalho; informação relativa à estrutura organizacional; informação genérica sobre a organização; informação de natureza social. O esquema da Figura 3.2-1 descreve essas dimensões7o•
O sistema de informação de recursos humanos (SIRH) é definido como o subsistema de informação da organização que tem por objecto dispor do conjunto de dados estatísticos e informações, tanto gerais como específicas
l 69 Carlos Reis Planeamento Estratégico de Sistemas de Informação. Lisboa: Presença,
1987. 7. Carlos Zorrinho - Gestão da Informação. Lisboa: Presença, 1991.
86
Figura 3.2-1
da área dos recursos humanos, que servem, entre outras aplicações, para estabelecer previsões acertadas dentro do campo dos recursos humanos.
Este sistema é tão importante como as bases de dados dos clientes, de gestão financeira, patrimonial ou outra qualquer. Lembramos que só o que é medido é gerido e só o que é gerido é susceptível de vir a ser concretizado.
A aplicação do balanced scorecard 71 constitui a ferramenta mais poderosa que actualmente existe para obtenção de dados. Nasceu na década de noventa do século xx, especificamente em 1992, pela mão de Robert Kaplan e David Norton, dois conceituados académicos. É o resultado de um trabalho levado a cabo em 12 empresas distintas "medindo a performance da organização no futuro". O scorecard aplicado aos recursos humanos é um instrumento de planeamento estratégico de planeamento, avaliação e medida do desempenho dos trabalhadores.
O balanced scorecard está estruturado em redor de quatro perspectivas distintas: a perspectiva financeira; a perspectiva orientada para o cliente; a
71 Robert Kaplan; David Norton The Balanced Scorecard: Translating strategy into action. Boston: HBSP, 1996.
perspectiva virada para os processos internos e, por fim, a perspectiva dos processos de inovação e aprendizagem da empresa.
o seu próprio nome (marcador equilibrado) reflecte o equilíbrio entre objectivos de curto e longo prazo, entre indicadores financeiros e não financeiros e entre perspectivas de performance externas e internas. O marcador (scorecard) dos recursos humanos permite estabelecer o alinhamento entre a medida do desempenho e a estratégia da organização; definir os indicadores-chave do desempenho, isto é, key performance indicators (KPI); efectuar a integração dos recursos humanos na medida do desempenho da organização.
Este instrumento de gestão e controlo permite comunicar e clarificar a estratégia da empresa, apresentando indicadores mensuráveis, que possibilitarão quantificar e gerir os diversos desempenhos organizacionais. Se, no início, este instrumento surgiu como um sistema de avaliação do comportamento, do desempenho, cedo se tomou em algo mais, num instrumento de gestão estratégica, pois, ao delinear indicadores passíveis de quantificar realidades distintas, converteu a estratégia em objectivos operacionais, melhorando claramente a gestão empresarial.
Embora muitas organizações disponham de medidas de desempenho dos recursos humanos e medidas do desempenho da função recursos humanos, o valor acrescentado que este sistema oferece é o estabelecimento de uma relação causal destas medidas com as medidas de desempenho da organização, clarificando muito bem o que é medido e o que é importante para a estratégia. Os indicadores a seleccionar não podem ser os que se encontram disponíveis no momento, mas aqueles que realmente possuem impacto na estratégia.
Cedo, os gestores de topo viram neste instrumento uma estrutura central onde se organizam os processos de gestão mais importantes, tais como: a definição de objectivos individuais e de equipa, as formas de compensação, a atribuição de recursos, bem como a aprendizagem estratégica, uma temática a ser valorizada pela GRH.
A construção de um balanced scorecard deve encorajar as unidades organizacionais a ligar os seus objectivos financeiros à estratégia da empresa. É vital para a organização definir quem é o seu cliente, em que segmento de mercado se insere, como deve a empresa direccionar os seus esforços no sentido de melhorar a prestação de um serviço ou a produção de um bem. Com os processos internos, transforma-se a estratégia empresarial em objectivos operacionais. A inovação e aprendizagem formula
l 88
objectivos e elementos de controlo para a valorização, satisfação, retenção e produtividade dos trabalhadores.
o balanced scorecard (Figura 3.2-2) centra-se em: • Clarificar e traduzir a visão e a estratégia para toda a organização; • Planeamento e estabelecimento de metas estratégicas, que alinhem a
actuação de toda a organização; • Conversão da estratégia em objectivos estratégicos operacionais; • Comunicar estes objectivos a todos os trabalhadores, o que conduzirá
ao seu compromisso na obtenção daqueles.
Figura 3.2-2
o balanced scorecard revela potencialidades eleva~as como instrumento de gestão da organização, no seu todo, e de um departamento específico e, em particular, pensa-se que é de importância decisiva para a GERH, na sua dimensão externa (relação com os restantes departamentos da organização) e interna (no interior do departamento de gestão de recursos humanos).
Salienta-se que um sistema de medida deve cobrir duas dimensões distintas e complementares: o controlo de custos (reduzindo custos na função recursos humanos e contribuindo para os reduzir em toda a organização e a criação de valor (assegurando a intersecção adequada da arquitectura de recursos humanos com o processo de implementação da estratégia.
Um sistema de medida adequado permite: • Melhorar o processo de tomada de decisão, ajudando os gestores a
focalizar a sua atenção e acção nos aspectos da organização que criam realmente valor;
• Proporcionar informação adequada, válida e sistemática para decisões de afectação de recursos. Permite avaliar os resultados da afectação de recursos a áreas e projectos relacionados com os recursos humanos, ligando-os de uma forma causal e clara aos resultados da organização. Habilita a encarar a área de recursos humanos como recursos estratégico e não apenas como um centro de custos sobre o qual há que actuar numa mera perspectiva de redução de custos.
Um bom sistema de medida não se restringe a medir atributos tais como o grau de satisfação dos empregados. Mede também a relação entre o atributo e o resultado estratégico é indutor de desempenho. Em suma, os indicadores deverão entre outras dimensões concentrar-se em: para quem é que se cria valor? Em que e com que é que se cria valor? Como é que se cria valor na organização, no departamento e ao nível individual?
3.3. Plano e Orçamento
Numa perspectiva estratégica de gestão de recursos humanos, a função planeamento necessita de adoptar uma interpretação integrada da relação entre os diversos níveis de GRH. O plano tem de ajudar a identificar e escolher as pessoas que melhor conduzirão a organização no curto e longo prazo e necessita de contemplar um largo conjunto de programas e actividades destinadas a encontrar tais indivíduos. O desafio é o desenvolvimento de uma perspectiva de longo prazo na planificação das actividades.
As decisões que actualmente são tomadas a partir de um determinado plano de actividades afectarão o sucesso futuro. Se a organização precisa de ter as melhores pessoas e as mais actualizadas competências e qualificações para fazer face aos desafios da envolvente terá de ter todas as suas
actividades de gestão de recursos humanos voltadas para este objectivo estratégico e o mesmo terá de estar reflectido no plano de actividades de curto, médio e longo prazo.
o planeamento de recursos humanos lida com um conjunto de termos que importa clarificar logo de início, tais como:
o efectivo - noção de efectivo, estrutura de efectivo, quadros.
Estrutura do efectivo pirâmide de idades; repartição por sexos; pirâmide de antiguidades; estrutura da qualificação.
Diferenciação de estatutos: os quadros; trabalho a tempo parcial; trabalho no domicílio; tele-trabalho; inserção dos jovens; subcontratação.
Evolução do efectivo movimentos.
Uma vez definida a estratégia de negócio e os objectivos organizacionais, deverão ser analisados os seus impactos sobre os recursos humanos. Assim, deve-se fazer:
• Previsões de necessidade de recursos humanos (competências) requeridas pelo negócio;
• Análise da envolvente e do mercado de trabalho; • Análise da capacidade instalada em relação com as metas estratégi
cas.
N o que toca à análise da capacidade instalada, há que ter em conta o seguinte:
• Distribuição das competências na organização; • Distribuição dos empregados por tempo de casa; • Distribuição dos empregados por tempó de funções; • Distribuição dos empregados por pirâmide de idades e por escolari
dade; • Saídas para o exterior (abandonos da organização); • Quadro geral sobre remunerações; • Resultados da avaliação de desempenho; • Identificação do potencial de trabalho; • Avaliação das competências/formação; • Identificação das competências chave, actuais e futuras; • Planos de sucessão.
As decisões estratégicas para os recursos humanos geram planos, projectos, programas e actividades que serão executados a curto/médio/longo prazo.
Assim, as organizações dispõem normalmente de um plano quantitativo, operacional/anual de GRH, onde toda a movimentação de entradas, saídas e promoções automáticas e facultativas se encontram previstas, por categoria profissional, departamento etc. Possuem também um plano a médio/longo prazo ou plano de desenvolvimento mais qualitativo do que o operacional, onde transparece a relação entre a estratégia da organização e a estratégia de GRHn.
o plano previsional de recursos humanos liga-se à mudança da envolvente, nomeadamente à evolução dos mercados e às alterações que se verificam nos empregos. A inovação tecnológica encarrega-se de tornar obsoletos, muitos empregos, a um ritmo muito acelerado nos nossos dias. O plano previsional de recursos humanos deve estar atento à evolução ocorrida e a ter lugar na envolvente externa, nomeadamente, do impacto tecnológico, de forma a antecipar as consequências evitando as ameaças e potenciando as oportunidades. Um plano previsional de recursos humanos deve ter quatro etapas: definição de objectivos estratégicos; aprofundamento de tais objectivos por direcção; medição dos desvios; tratamento das consequências73
•
A missão do planeamento de recursos humanos é dimensionar e planear as necessidades de recursos humanos, a longo/médio/curto prazo, para responder às exigências do negócio e aos objectivos estratégicos e tácticos da organização.
As suas responsabilidades são: • Assessoria organizacional para o planeamento estratégico da activi
dade e para os recursos humanos; • Estudo sobre os impactos das decisões estratégicas da actividade
(negócio), das mudanças organizacionais e da envolvente, sobre os recursos humanos;
n Francisco Barranco - Planificación Estratégica de Recursos Humanos. Madrid: Pirámide, 1993.
73 Óscar Soares Barata - O Factor Humano na Gestão das Organizações. Estudos Políticos e Sociais. Lisboa: ISCSP. VoI. 9, n.o 3-4, (1988), p. 21-47.
92
• Análise dos recursos humanos, quantitativa e qualitativamente, gerando informações e conclusões para a formulação das decisões estratégicas para os recursos humanos;
• Formulação das políticas de recursos humanos; • Acompanhamento da execução orçamental de recursos humanos; • Coordenação dos sistemas de informação para a GRH74.
o orçamento de GRH deve ser encarado como a tradução financeira do plano. O controlo orçamental de recursos humanos pode encontrar-se na direcção de recursos humanos, na direcção financeira e na direcção de planeamento e controlo, quando existe. A preocupação macro a ter com o plano e orçamento de recursos humanos é que este se enquadre nos provei-o tos previstos para o ano em apreço, isto é, que se ajuste à evolução da actividade da organização, nomeadamente, aos proveitos registados ou ao desenvolvimento previsto da actividade. No sector público, é preciso também ter atenção à conformidade dos actos com a legalidade.
Esta preocupação com o plano e o controlo dos recursos humanos deve constituir um eixo fundamental da gestão de qualquer gestor de recursos humanos. Esta preocupação terá de ser tanto maior quanto a organização seja de trabalho intensivo, em que, por exemplo, a esmagadora fatia dos custos (mais de 50%) é com recursos humanos. É que os resultados operacionais da organização serão imediatamente afectados e até comprometidos por um pequeno deslize no plano, na gestão, ou no controlo
As grandes e médias empresas, para além do balanço social e da auditoria social, possuem indicadores periódicos, normalmente mensais, sobre a execução do plano e orçamento de GRH. São estes indicadores detalhados por departamento e constituem uma das bases para o controlo do plano da organização.
3.4. Técnicas de Previsão de Recursos Humanos
O objectivo último da planificação de recursos humanos é a previsão das necessidades de pessoas (qualificações e competências), para que no curto,
74 Maria Diva Lucena - Planejamento de Recursos Humanos. São Paulo: Atlas, 1990.
médio e longo prazo a organização atinja os seus objectivos. Partindo do princípio de que a planificação tem por fim concretizar quantitativa e qualitativamente o número de trabalhadores que a organização vai precisar, temos de reconhecer que há um conjunto de factores (envolvente interna e externa) que afectam profimdamente o futuro da organização e que, por serem incertos, mutáveis e complexos, são de dificil quantificação.
Fazer previsões é fimdamental para a tomada de decisões nas organizações e, em particular, na gestão de recursos humanos. Há quem recorra à previsão subjectiva baseada na experiência, na intuição, em conjecturas e até numa boa dose de crenças. Outros, lançam mão da extrapolação "feita com uma régua" em que as tendências passadas são simplesmente projectadas para o futuro.
E há ainda quem recorra ao modelo causal (causa e efeito) usando relações conhecidas para predizer as necessidades de recursos humanos com base no volume previsto de vendas ou então no número de unidades necessárias produzir. O plano operacional para estes casos pode ser construído a partir de um simples exercício de aritmética.
Um exemplo elementar seria o seguinte: Uma organização produz 300.000 unidades por ano e podem-se fabricar seis unidades por hora. O tempo necessário para cumprir o plano de fabricação será então de 50.000 horas por ano (300.000/6=50.000). Sabendo que cada trabalhador labora por ano 1.900 horas, serão necessários 26 trabalhadores (50.00011.900=26).
Importa ter presente que as unidades produtivas têm tempos mortos, inoperantes, derivados da própria dinâmica do trabalho e de circunstâncias alheias ao mesmo - como o absentismo facto que se deve ter em conta numa planificação realista de recursos humanos. Um factor usual para o cálculo desta inactividade costuma ser a consideração de um acréscimo de 10% sobre o tempo total de trabalho. No cálculo anterior, há assim que adicionar 5.000 horas (50.000*0,10=5.000) às 50.000 horas já calculadas, passando as necessidades de trabalhadores de 26 para quase 30 (55.000/1.900 = 28,84).
Quando o objectivo é a previsão de recursos humanos a médio e longo prazo, são usualmente utilizados os seguintes métodos: Extra-
l 94
polação de tendências; análise de regressão; análise de correlação e Delpbi.
Quanto à extrapolação de tendências podem ser utilizadas diversas técnicas estatísticas onde se destacam o método das médias móveis e o alisamento exponenciaL No entanto, a técnica mais utilizada é o ajustamento obtido através do método dos mínimos quadrados. Neste caso, as previsões são efectuadas através da função matemática que melhor se ajusta à série temporal de dados de recursos humanos.
Análise de regressão: O seu objectivo é o desenvolvimento de um modelo estatístico que possa ser usado para prever os valores de uma . variável (dependente ou explicada) - normalmente o número de efectivos ou colaboradores necessários numa organização num determinado período - com base nos valores de uma outra variável (independente ou explicativa) normalmente os diferentes anos considerados.
A regressão linear, baseada no método dos mínimos quadrados, é a metodologia mais usada com o propósito desta previsão. Os modelos de regressão podem considerar diversas variáveis independentes, contudo, iremos aqui limitar a nossa análise a um modelo de regressão simples, usando apenas uma variável independente para prever os valores de uma outra variável.
Outro aspecto da análise bidimensional (duas variáveis a serem estudadas em simultâneo) é o estudo da correlação a qual é usada para medir a força da associação existente entre duas variáveis numéricas.
Análise da correlacão: O seu objectivo, em contraste com a análise da regressão, não é utilizar uma variável para prever a outra, mas sim, medir a força da associação (covariação) que existe entre as duas variáveis numérIcas.
Análise de Regressão
O caso mais simples da regressão é quando as necessidades de recursos humanos se ajustam a uma linha recta do tipo: y = a + b x .
- y é a variável dependente, neste caso a necessidade de trabalhadores para um determinado ano;
- x é variável independente, neste caso os diferentes anos considerados;
- a e b são, respectivamente, a ordenada na origem (valor de y para x = O) e o declive da recta de regressão. Estes dois coeficientes são obtidos através da resolução das duas seguintes equações sendo D é o números de anos com informação disponível
(1) Ly=na+bLx (2) L xy = a L x + b L x2
Exemplo D.o 1:
Tabela 3.5.1
Ano
-
1997
Número de Trabalhadores
(Quadro de Pessoal)
764 I
1998 798
1999 -
2000
2001
2002
812
829
872
980
-
--
2003 -
2004
1039
1006 ,
2005 1140
Supondo inalteradas as condições internas e externas à organização, se desejarmos conhecer os efectivos necessários para os anos de 2006, 2007, 2008 e 2016, o primeiro passo a dar deverá ser, conforme consta no Diagrama 3.5-1, representar graficamente a evolução do quadro de pessoal através da recta que melhor se ajusta à nuvem de pontos representativa dos dados.
96
Diagrama 3.5-1
1200
1150 • 1100
1050
1000
950
900
850
800
750
700 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Para calcular a recta de regressão (a linha de ajustamento) que nos permita prever os trabalhadores necessários para aqueles quatro anos (2006, 2007,2008 e 2016) vamos calcular os coeficientes a e b dessa recta, utilizando como simplificação, o ano central de 2001 a que damos o valor O - como origem das coordenadas. Os anos anteriores a 200 I terão valores negativos e os posteriores, valores positivos.
Tabela 3.5.2
x2xypessoal (y)
2001 O
2002
2003 2
2004 3
2005 4
Totais O
764
798
812
829
872
980
-3056 16
-2394 9
-1624 4
-829
O O
4
4560
9 ------~~~
16
2733 60
Substituindo os valores desta tabela nas duas equações anterionnente indicadas temos:
8.240 9 a (L y n a + b L x) 2.733 60 b (L xy = a L x + b L x2 )
a 8.240/9 915,56 b = 2.733/60 = 45,55
Em consequência, a recta de regressão que nos irá permitir prever o quadro de pessoal desta empresa será: y =915,56 + 45,55x.
As necessidades de trabalhadores previstas para aqueles quatro anos senam:
Para 2006 (x = 5): Y 915,56 + 45,55*5 = 1.143,31 ~ 1.143 trabalhadores Para 2007 ( x = 6) : Y 915,56 + 45,55*6 = 1.188,86 ~ 1.189 trabalhadores Para 2008 ( x 7): Y 915,56 + 45,55*7 = 1.234,41 ~ 1.234 trabalhadores Para 2016 (x = 15) : Y 915,56 + 45,55*15 = 1.598,81 ~ 1.599 trabalhadores
Exemplo D.o 2
Um caso um pouco mais complexo é quando a evolução do quadro de pessoal se ajusta melhor, não a uma recta, mas sim a uma curva do segundo grau (parábola) passando a ser a seguinte a equação a utilizar: y =a + b x + C x2
Estes três coeficientes (a, b e c) são obtidos através da resolução de três equações, onde n continua a ser o números de anos com informação disponível.
(1) Ly=na+bLx+cLX2
(2) L x y = a L x + b L x2 + c L x3
(3) L x2 y = a L x2 + b L x3 + c L x4
98
Tabela 3.5.3
1994 1995 1996 1997 1998 1999
() de trabalhadores
24 ~~-
31 40 49
~~~--~-
60 ~~~~
75 90
~~~
104 122 130 150
Se desejarmos conhecer os efectivos necessários para os anos de 2008, 2013 e 2018, supondo que permanecerão constantes as condições internas e externas à organização, o primeiro passo deverá continuar a ser (conforme consta no Diagrama 3.5-2) efectuar a representação gráfica da evolução do quadro de pessoal através da linha neste caso uma parábolaque melhor se ajusta à nuvem de pontos representativa dos dados do problema.
Diagrama 3.5-2
180
160
140
120
100
80
60
40
20
o 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004
Para calcular a equação da parábola, linha de ajustamento aos valores desta distribuição bidimensional, vamos calcular os coeficientes a,b e c tornando 1998 como ano centraL
Tabela 3.5.4
ADO (x) Quadro de
x2 x3 x4 x2 ypessoal(y)
xy
1993 -5 24 25 -125 625 -120 600 ----
31 16 -64 256 -124 496 40 9 -27 81 -120 360
1996 -2 49 4 -8 16 -98 196 1997 -1 60 1 -1 1 1998 O 75 O O O O O
90 1 1 1 90 90 104 4 8 16 208 416 122 9 27 81 366 1098 130 16 64 256 520 2080 150 25 125 625 750 3750 875 110 O 1958 1412 9146
Substituindo os valores resultantes desta tabela nas três equações anteriormente indicadas ternos:
875 11 a + 110 c (L y =n a + b L x + c L x2)
1.412 110 b (L x y = a L x + b L x2 + C L x3 )
9.146 110a+ 1.958c(Lx2 y=aLx2 +bLX3 +CLX4)
Resolvendo este sistema de três equações a três incógnitas (a, b e c) obtemos:
a = 74,95 b = 12,84 c 0,46
Substituindo estes coeficientes na equação da parábola (y a + bx + cx2)
resultará a função mais ajustada à evolução do quadro de pessoal da empresa (y) em função dos anos (x): y = 74,95 + 12,84 x + 0,46 x2
Para efectuar as previsões solicitadas no problema, substitui-se (x) pelos valores que, na série dos anos, correspondem a 2008,2013 e 2018.
100
Para 2008 (x = 10): Y = 74,95 + 12,84* 10+ 0,46* 102 = 249,35 ~ 250 trabalhadores
Para 2013 (x = 15) : Y 74,95 + 12,84*15 + 0,46*152 371,05 ~ 371 trabalhadores
Para 2018 (x = 20) : Y = 74,95 + 12,84*20 + 0,46*202 = 515,75 ~ 516 trabalhadores
Análise de Correlação
Até aqui, nesta análise bidimensional (duas variáveis), recorremos· apenas à análise de regressão, ou seja, à previsão da variável y (variável dependente) com base no nosso conhecimento da variável x (variável independente). Por exemplo, no exercício anterior, calculámos o quadro de pessoal (y) com base no conhecimento dos diversos anos (x).
A regressão e a correlação são duas técnicas separadas, com a regressão preocupada com a previsão e a correlação preocupada com a associação entre variáveis. E, em muitas situações, estamos apenas preocupados em conhecer e medir a associação existente entre variáveis e não em usar uma delas para prever a outra.
o grau de associação ou:E (x - x )( y- y) relacionamento entre duas variáveis é r = -:;::===-==========
-\} :E (x - X)2 :E (y - y) 2 usualmente medido através do coeficiente de correlação (r).
Os valores de r variam desde -1 para correlações perfeitas negativas (à medida que x cresce, y decresce de forma perfeitamente previsível) até +1, para correlações perfeitas positivas (à medida que x cresce, y cresce também de forma perfeitamente previsível). Quando r = Oé inexistente a correlação ou associação entre ambas as variáveis, ou seja, à medida que x cresce ou decresce não se verifica qualquer variação na variável y.
No âmbito do estudo que temos vindo a fazer neste capítulo, é fundamental que se conheça e se explicite sempre qual é o coeficiente de determinação (r2) entre as duas variáveis que se estão a associar porque, para
valores de r2 muito baixos, não é lícito, no modelo de regressão, utilizar uma das variáveis para prever a outra.
o coeficiente de determinação (r2) , também denominado grau de explicação, traduz a proporção da variabilidade de (y) que é explicada pela variabilidade de (x).
Em conclusão:
As previsões das necessidades de recursos humanos, baseados nos métodos da correlação e regressão estatísticas, partem do princípio de que existe uma determinada relação entre uma ou mais variáveis quantitativas no quadro de pessoal ou na envolvente e que tal relação se irá manter no futuro. Se tal relação não existir, no presente e no futuro, não se deverá utilizar este método. É um dos melhores métodos de previsão a médio ou a longo prazo. O problema é identificar a variável ou variáveis relacionadas.
Usando as técnicas estatísticas atrás descritas, os passos a seguir deverão então ser os seguintes:
• Determinar o conjunto das variáveis que poderão estar relacionadas directamente com as necessidades de recursos humanos: o volume de vendas; a quantidade de produtos produzidos ou de serviços prestados, etc.
• Calcular a correlação existente entre a variável ou as variáveis que se querem relacionar com o quadro de pessoal;
• Avaliar se o grau de explicação entre as variáveis traduz uma covariabilidade que permita avançar para a análise de regressão (utilizar uma das variáveis para prever a outra).
Exemplo n. o 3:
Como exemplo final para utilização das análises de correlação e de regressão, vamos imaginar uma situação em que se pretende calcular o número de trabalhadores necessários no ano de 2009 sabendo que, para esse ano, a previsão de fabricação de um determinado produto é de 140 toneladas.
102
Tabela 3.5.5
Quadro de pessoal (y)Produção (x) Ano
85951997 91901998 981061999
-
1001062000 -
1002001 100 !-~
106 1102002 c-
1162003 111 f --~c---
700Totais 714
Começamos por calcular o grau da relação existente entre as duas variáveis, o coeficiente de correlação (r), explicitando-se de seguida qual é a percentagem da variabilidade dos efectivos que é explicada pela variabilidade verificada na produção, o coeficiente de determinação ou grau de explicação (r2). Os valores médios correspondentes a cada uma das variáveis são: x= 102 e y = 100
Tabela 3.5-6
.--Quadro I
(y-y)2Ano Produção (x) pessoa] (y)
x-I y-y ! (X-i)2 (x-x)(y-Y)
1997 95 I 85 -7 -15 49 225 105 -~ - - - - - -~---
1998 90 91 -12 -9 144 81 108 - -
1999 106 98 4 -2 16 4 -8 ---~
2000 106 100 4 O 16 O I O ~-
2001 100 100 -2 O 4 O O
2002 106 110 4 10 I 16 100 40 ! -
2003 111 116 9 1H-! 1 256 144
c--~ '-- !otais_ 714 700 ! O O 326 666 389
- -
r = L (x - x)( y - y) = 389 = 0,84
\l L (x - X)2 L (Y - y) 2 " 326*666
O elevado valor de r = 0,84 indica-nos que existe uma forte relação positiva (directa) entre o número de trabalhadores e o volume de produção
em cada ano e que, sendo o ajustamento rectilíneo, 71 % (r2 = 0,842 0,7056) da variabilidade verificada no quadro de pessoal (y) é explicada pela variabilidade verificada nos níveis de produção da empresa (x). Ou seja, apenas 29% da variabilidade verificada no quadro de pessoal não é explicada pela variabilidade da variável independente (níveis de produção) o que é perfeitamente aceitável para se seguir com a análise da regressão.
Assim, para se prever o número de efectivos (y) necessários no ano de 2009 há que recorrer à recta de regressão y = a + bx e calcular os coeficientes a (ordenada na origem) e b (declive) dessa equação.
b Covariância = L:(x-x)(y-y) = 389 =119 Variância de x L: (x - X)2 326'
Como a recta de ajustamento passa obrigatoriamente pelo ponto ex = 102, Y = 100) temos:
100=a+ 1,19*102(Y=a+bx) a = -21,38
E a recta de regressão será então y -21,38 + 1,19 x
Se em 2009 a produção for de 140 toneladas (x = 140), o número de trabalhadores (y) necessários nesse ano resultam da concretização da anterior equação para este valor:
y = - 21,38 + 1,19* 140 = 145,22 ::::; 145 trabalhadores
Delpbi
Existe um processo de previsão bem fundamentado conhecido como método Delphi. O método Delphi é um processo de previsão qualitativo que combina as opiniões individuais num certo consenso. Cada membro de um grupo de inquiridos preenche um questionário, esboçando as suas expectativas para o futuro. Os resultados são tabulados e devolvidos aos inquiridos com um segundo questionário, baseado nos resultados do primeiro inquérito.
104
Este processo pode ser repetido várias vezes, até que os inquiridos, colectivamente, gerem uma visão consistente do futuro. Só então a previsão é entregue aos responsáveis pela tomada de decisão. O processo procura evitar a influência da personalidade e da categoria, mas está sujeito a manipulações por pessoas que mantenham ideias extremas.
3.5. Balanço Social
A Lei n.o 141/85, de 14 de Novembro, conjugada com o Decreto-lei n.o 9/92, de 22 de Janeiro, instituíram a obrigatoriedade de elaboração do balanço social para todas as empresas com pelo menos 100 pessoas ao. serviço, qualquer que seja o seu regime contratual.
O balanço social privilegia a informação em valores absolutos, em desfavor da informação em valores relativos, indicadores ou rácios. A informação encontra-se organizada à volta de cinco grandes capítulos, nomeadamente, emprego e formação.
Os órgãos de gestão das empresas que, no termo de cada ano civil, tenham um mínimo de 100 trabalhadores ao seu serviço, qualquer que seja o seu regime contratual, são responsáveis pela elaboração, até 31 de Março do ano seguinte, do respectivo balanço social.
A informação a incluir no balanço social é a prevista em formulários próprios. O balanço social será remetido, até 15 de Maio, ao Departamento de Estatística do Ministério do Emprego e da Segurança Social.
Na mesma data, serão enviadas cópias do balanço social à associação ou associações em que esteja filiada a entidade patronal e ao sindicato ou sindicatos em que estejam filiados os trabalhadores.
O Departamento de Estatística do Ministério do Emprego e da Segurança Social enviará cópia do balanço social à Inspecção-Geral do Trabalho.
3.6. Auditoria Social
A auditoria social é um instrumento de controlo do departamento de recursos humanos, semelhante à auditoria financeira, tendente a avaliar a
capacidade de uma organização para lidar com os problemas de recursos humanos que lhe são apresentados pela envolvente interna e externa, nomeadamente, com a capacidade da organização deter os trabalhadores necessários ao cumprimento das sua metas e objectivos.
Pierre Candou75 define a auditoria social como um processo independente e indutivo de observação, análise, avaliação e recomendação, assente numa metodologia que, recorrendo a padrões explícitos, lhe permite identificar, numa primeira etapa, os pontos fortes e os problemas resultantes do emprego pessoal e os condicionalismos, sob a forma de custos e de riscos. Isto leva a diagnosticar as causas dos problemas identificados, avaliar a sua importância e, por fim, chegar à formulação de recomendações ou propostas de acção, que não cabe ao auditor implementar.
A auditoria social distingue-se de outras auditorias, nomeadamente, a financeira e contabilística em virtude do domínio a que se aplica: a gestão de recursos humanos. Por outro lado, este domínio da gestão é mais qualitativo do que o fmanceiro e, consequentemente, as técnicas a que a auditoria social lança mão são menos quantitativas. Para chegar ao diagnóstico ou para ultrapassar a falta de informação quantitativa, o auditor usa métodos e técnicas qualitativas, como a entrevista.
Antes de proceder a uma auditoria, o auditor deve fixar os eixos e objectivos da sua missão; os limites do controlo, os métodos e os meios de recolha de informação. A organização da sua missão passa por: pesquisas preliminares; elaboração de um programa de trabalho; recolha de informação; redacção do relatório fmal.
De entre os trabalhos mais frequentes a realizar pelos auditores estão os seguintes: análise por diagramas; questionários de auditoria; análise dos documentos obrigatórios; exame de manuais de procedimentos e descrição; entrevista aos trabalhadores; tratamento de informação escrita; análise dos incidentes críticos.
As missões da auditoria social podem agrupar-se em três níveis, a saber:
15 Pierre Candou - Audlt Social. Paris: Vuibertm 1 ~86.
106
a) A auditoria de confonnidade - aprecia a confonnidade das práticas às regras aplicáveis na organização e fonnula juízos sobre a qualidade da infonnação.
b) A auditoria de eficácia responde às duas questões seguintes: estão os resultados confonnes aos objectivos? Foram tais resultados conseguidos ao menor custo?
c) A auditoria estratégica responde à dupla preocupação: estão as políticas de recursos humanos confonnes aos objectivos estratégicos? Encontram-se em sintonia com a estratégia global da organização? Cada aspecto da política social é fonnulada e adaptado às especifi-' cidades da organização e à evolução da sua envolvente? O auditor deve também verificar a coerência entre os princípios directores das políticas de GRH e os valores fixados pela empresa e pelo seu projecto?
3.7. Rácios de Gestão de Recursos Humanos
Não há gestão sem mediação. A natureza da gestão quer na perspectiva da eficiência (relação meios/objectivos), quer na vertente da eficácia (resultados alcançados e seu impacto a médio e longo prazo), quer pelo lado da economia (ciências dos recursos escassos) exige que o profissional da gestão tenha, entre os seus instrumentos essenciais de trabalho, os rácios.
O que é um rácio? Um rácio é uma relação entre dois elementos económicos que têm uma relação de coerência ou de correlação. É composto por um numerador e um denominador que não evoluem sempre no mesmo sentido e quase nunca proporcionalmente. Pode ser expresso em percentagem ou em relatividade.
Os rácios servem para ilustrar uma infonnação. É um olhar de síntese que pennite visualizar instantaneamente a evolução de um detenninada situação. Pennitem efectuar comparações, preparar decisões, levantar questões e preparar diagnósticos.
Os rácios mais significativos para a gestão de recursos humanos são:
a) Volume de negócios/efectivo. Responde à pergunta: quantas unidades, em média, cada trabalhador executam num determinado período? Permite comparar com a média do sector económico. Neste rácio pode ou não estar integrado todo o efectivo, mesmo aquela parte que não está directamente ligada à produção, nomeadamente, a secretária do director.
b) Custos sociais/efectiv076• Responde à pergunta: a empresa gasta quanto por trabalhador em benefícios sociais?
c) Custos sociais X 100/volume de negócios. Responde à pergunta: qual a percentagem dos custos sociais relativamente ao volume de negócios?
d) Custos sociais X 100/massa salarial. Qual a percentagem dos custos sociais relativamente à massa salarial?
e) Horas de absentismo X 100/horas totais pagas ou trabalhadas. Responde à pergunta: qual a percentagem do absentismo sobre as horas pagas? Há sectores onde pode atingir 10% e outros onde poderá atingir 3%.
f) Acidentes de trabalho/efectivo. Quantos acidentes por total dos trabalhadores?
g) Remuneração bruta/por efectivo de uma dada categoria profissional. Procura informar sobre o equilíbrio entre as diversas categorias profissionais.
h) Efectivo saído X 100/efectivo total. Qual a percentagem de saídas para o exterior relativamente ao total dos trabalhadores?
i) Custo de formação X 100/ custo da produção. Qual a percentagem do custo da formação em relação ao custo total da produção?
j) Custo da formação X 100/volume de vendas. Qual a percentagem do investimento em formação relativamente às vendas? As boas organizações costumam investir em formação (custo total) 1 % do volume de vendas.
k) Custo da formação X 100/efectivo. Quanto gastou a empresa em formação num determinado período, por exemplo, um ano, por trabalhador?
1) Dias de greve X 100/ número de dias de trabalho. Qual a percentagem de dias de greve?
76 Podem considerar-se os custos sociais totais, os custos sociais obrigatórios, os custos sociais facultativos, os custos sociais patronais ou os custos sociais salariais. A definição e o conteúdo da expressão "custos sociais" devem ser explicitados.
li~
m) Horas de greve X tOOlhoras totais teóricas. Percentagem das horas de greve pelo total de trabalho.
n) Número de litígios transmitidos à Inspecção do trabalho /efectivo. Procura saber quantos litígios por trabalhador.
o) Número de litígios transmitidos ao Tribunal de trabalho /efectivo. É igual ao anterior, mas em relação ao Tribunal.
p) Número de trabalhadores aposentados ou reformados X tOO/total dos trabalhadores. Permite identificar as necessidades de recrutamento e selecção para o ano seguinte.