Capítulo 1 – Panorama do sistema financeiro 2 · 2017. O sistema continua resiliente, mantendo...

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Outubro 2017 | Relatório de Estabilidade Financeira | 10 1 Capítulo 1 – Panorama do sistema financeiro 2 1.1 Liquidez 2 O risco de liquidez do sistema bancário permanece em níveis baixos, cenário que tende a perdurar ao longo de 2017. O sistema continua resiliente, mantendo adequado nível de liquidez mesmo em um ambiente de elevada inadimplência e de grandes oscilações nos preços de mercado 3 . Os estoques de ativos líquidos permanecem altos, apresentando tranquilidade para honrar saídas abruptas de recursos em eventuais cenários de estresse. O risco de liquidez no longo prazo reduziu-se no primeiro semestre, reflexo principalmente do alongamento dos vencimentos de captações, e permanece em nível adequado. Assim, a atual estrutura de captação e aplicação dos balanços minimiza a suscetibilidade dos bancos a futuros problemas de liquidez, e, portanto, sob diversas perspectivas, o risco de liquidez do sistema não representa preocupação relevante. O volume de funding doméstico, que representa 84,6% das captações totais das instituições, permanece estável em doze meses, com leve declínio no primeiro semestre. Tal movimento reflete tanto as condições de demanda por crédito quanto o comportamento dos investidores perante o novo patamar de juros da economia. A evolução 2/ Destaque-se que, para efeito das seções 1.3 Rentabilidade, 1.4 Solvência e 1.5 Testes de estresse de capital, o escopo das análises é o conglomerado prudencial definido na Resolução nº 4.280, de 31 de outubro de 2013, ao qual são aplicados, desde 1º de janeiro de 2015, os requerimentos mínimos de capital, conforme a Resolução n° 4.193, de 1º de março de 2013. Na seção 1.1 Liquidez, o escopo das análises é o sistema bancário, aqui constituído pelas instituições Banco Comercial, Banco Múltiplo (BM), Caixa Econômica, Banco de Câmbio e Banco de Investimento (BI) e pelos conglomerados financeiros compostos por ao menos uma dessas modalidades de instituições. Em 1.2 Crédito, o escopo das análises é o Sistema Financeiro Nacional (SFN). 3/ Conforme seção 2.1.

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Outubro 2017 | Relatório de Estabilidade Financeira | 10

1Capítulo 1 – Panorama do sistema financeiro2

1.1 Liquidez2

O risco de liquidez do sistema bancário permanece em níveis baixos, cenário que tende a perdurar ao longo de 2017. O sistema continua resiliente, mantendo adequado nível de liquidez mesmo em um ambiente de elevada inadimplência e de grandes oscilações nos preços de mercado3. Os estoques de ativos líquidos permanecem altos, apresentando tranquilidade para honrar saídas abruptas de recursos em eventuais cenários de estresse. O risco de liquidez no longo prazo reduziu-se no primeiro semestre, reflexo principalmente do alongamento dos vencimentos de captações, e permanece em nível adequado. Assim, a atual estrutura de captação e aplicação dos balanços minimiza a suscetibilidade dos bancos a futuros problemas de liquidez, e, portanto, sob diversas perspectivas, o risco de liquidez do sistema não representa preocupação relevante.

O volume de funding doméstico, que representa 84,6% das captações totais das instituições, permanece estável em doze meses, com leve declínio no primeiro semestre. Tal movimento reflete tanto as condições de demanda por crédito quanto o comportamento dos investidores perante o novo patamar de juros da economia. A evolução

2/ Destaque-se que, para efeito das seções 1.3 Rentabilidade, 1.4 Solvência e 1.5 Testes de estresse de capital, o escopo das análises é o conglomerado prudencial definido na Resolução nº 4.280, de 31 de outubro de 2013, ao qual são aplicados, desde 1º de janeiro de 2015, os requerimentos mínimos de capital, conforme a Resolução n° 4.193, de 1º de março de 2013. Na seção 1.1 Liquidez, o escopo das análises é o sistema bancário, aqui constituído pelas instituições Banco Comercial, Banco Múltiplo (BM), Caixa Econômica, Banco de Câmbio e Banco de Investimento (BI) e pelos conglomerados financeiros compostos por ao menos uma dessas modalidades de instituições. Em 1.2 Crédito, o escopo das análises é o Sistema Financeiro Nacional (SFN).

3/ Conforme seção 2.1.

Outubro 2017 | Relatório de Estabilidade Financeira | 11

do perfil de captação4 (Gráfico 1.1.1) mostra o aumento das captações de depósitos a prazo, acomodando parte do movimento de redução do estoque das operações compromissadas com lastro em títulos ou aceite de instituições ligadas ao conglomerado prudencial (decorrente da edição da Resolução n° 4.527, de 29 de setembro de 2016) e de LCAs e LCIs. Verifica-se ainda, nos últimos meses, a recuperação no estoque das cadernetas de poupança. Merecem destaque também as captações líquidas positivas dos fundos de investimento, que indicam a existência de recursos disponíveis para o sistema, a depender das taxas de juros oferecidas aos investidores pelos diversos agentes.

O ritmo das captações do sistema deverá acompanhar de forma sincronizada o ritmo que o sistema bancário imprimirá às suas operações de crédito, que, por seu turno, dependerá da confirmação do processo de recuperação da economia brasileira.

A representatividade do funding externo em relação às captações totais manteve-se baixa e estável. Em linha com os demais indicadores econômicos, houve desaceleração na redução do volume das captações externas, redução de 3,3% no primeiro semestre de 2017, USD6,4 bi, ante redução de 11,9% no semestre anterior, USD26,2 bi. O percentual das captações externas em relação às captações totais em junho de 2017 era de 15,4%, patamar semelhante ao segundo semestre de 2016, dada também a redução nas captações domésticas (Gráficos 1.1.2 e 1.1.3).

A estrutura de vencimentos das captações domésticas no primeiro semestre de 2017 mantém a tendência de alongamento dos prazos, com menor participação dos instrumentos com liquidez imediata e depósitos à vista (29%) em junho de 2017 (Gráfico 1.1.4) e maior contribuição das captações com vencimento superior a trinta dias (37%). A boa disponibilidade de recursos de varejo, refletida inclusive pela recuperação da poupança, também contribui com a perspectiva de maior estabilidade do funding, na medida em que esses clientes

4/ Depósitos a prazo: certificados de depósito bancário, recibos de depósitos bancários, depósitos a prazo com garantia especial do Fundo Garantidor de Créditos (FGC). Dívida subordinada: certificados de depósito bancário com cláusula de subordinação, letras financeiras com cláusula de subordinação e instrumentos elegíveis à composição de capital. Outros instrumentos: COE, letras de câmbio, letras financeiras, letras hipotecárias, operações de box. Compromissadas: referem-se tão somente às operações compromissadas com títulos privados. Por se tratarem de operações por meio das quais se permutam ativos de alta liquidez, as operações compromissadas com títulos públicos federais não estão sendo consideradas no conceito de captação no presente relatório.

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Captações externas mantidas no exterior versus captações totaisCaptações externas que ingressam (vinculadas) versus captações totaisCaptações externas que ingressam (livres) versus captações totais

Gráfico 1.1.2 – Perfil das captações externasComo percentual das captações totais

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US$ bilhões

Captações externas mantidas no exterior

Captações externas que ingressam (vinculadas)

Captações externas que ingressam (livres)

Gráfico 1.1.3 – Perfil das captações externasValores absolutos em dólares

594 658 652 661 671

576 534 535 603 710

320 370 397 356 248411

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R$ biGráfico 1.1.1 – Perfil de captaçãoSistema bancário

Poupança Depósitos a prazoCompromissadas com títulos privados Empréstimos e RepassesCaptações externas Outros instrumentosDepósitos judiciais LCIDívida subordinada LCADepósitos à vista DI

Anexo estatístico

Anexo estatístico

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Outubro 2017 | Relatório de Estabilidade Financeira | 12

costumam ter relacionamento mais estável com os bancos e são menos sujeitos a grandes volumes de resgates em situações de crise.

As instituições bancárias vêm mantendo colchões de liquidez suficientes para suportar cenários de estresse. Por um lado, a leve redução das captações no semestre, anteriormente mencionada, contribuiu para pequena redução no estoque nominal de ativos líquidos. Por outro, os desembolsos projetados de caixa em cenário de estresse sofreram leve aumento nas estimativas de saídas de depósitos, ainda ligadas à migração de uma parcela do estoque de compromissadas com títulos de emissão própria para fundos e outros possíveis ativos fora do sistema bancário. Dessa forma, o Índice de Liquidez (IL)5 agregado dos bancos encerrou o primeiro semestre de 2017 em 2,19, 0,17 p.p. abaixo do fechamento de 2016 (Gráfico 1.1.5).

Individualmente, as instituições mantiveram sua liquidez de curto prazo em patamar confortável (Gráfico 1.1.6), com destaque para as de grande porte. Em junho de 2017, 98,1% dos ativos do sistema bancário estavam em balanços de bancos com suficiência de ativos líquidos necessários para suportar uma crise de liquidez (IL ≥ 1). Na comparação com o semestre anterior, o número de instituições com IL menor do que 1 manteve-se em 18, com baixa representatividade em termos de ativos totais.

Além do IL, métrica desenvolvida e calculada pelo BC desde 2002 para todos os bancos em operação no Brasil, o risco de liquidez de curto prazo passou a ser acompanhado também por meio do indicador Liquidez de Curto Prazo (Liquidity Coverage Ratio – LCR)6, em linha com as recomendações do BCBS. Trata-se de um requerimento regulamentar, obrigatório para bancos com ativos totais acima de R$100 bilhões, abrangendo oito

5/ O IL mensura se os bancos possuem ativos líquidos suficientes para cobrir suas necessidades de caixa de curto prazo (mês subsequente) em cenário de estresse hipotético, definido e calibrado pelo BC. Essas saídas de recursos advêm da possibilidade de resgates de captações vincendas ou com liquidez imediata, exposições a risco de mercado, como chamadas de margens e pagamentos de ajustes de derivativos e, ainda, outros fluxos contratuais programados para os próximos trinta dias. Instituições com IL superior a 1 possuem ativos líquidos suficientes para esse cenário. Para detalhes da definição da métrica, ver anexo Conceitos e metodologias, item a.

6/ O LCR é um índice cujo cumprimento requer que as instituições financeiras mantenham ativos de alta liquidez para suportar saídas de caixa nos próximos trinta dias, em um cenário de estresse definido pelo documento do BCBS (www.bis.org/publ/bcbs238.htm). Atualmente, o requerimento mínimo é de 80% e chegará em 100% em janeiro de 2019. Regulamentação doméstica pela Resolução BC nº 4.401, de 27 de fevereiro de 2015, e Circular BC n° 3.749, de 5 de março de 2015.

Jun2013

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Gráfico 1.1.4 – Perfil das captações internas

Depósitos judiciaisCaptações com vencimento superior a 1 anoCaptações com vencimento de 30 dias a 1 anoCaptações com vencimento de 1 a 30 diasDepósitos poupançaDepósitos à vista + outras captações com liquidez imediata

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R$ bilhões

Gráfico 1.1.5 – Índice de Liquidez

Ativos líquidos

Fluxo de caixa estressado

Índice de Liquidez

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<0,8 0,8-1,0 1,0-1,2 1,2-1,6 1,6-2,0 ≥2,0

Gráfico 1.1.6 – Distribuição de frequência para o Índice de Liquidez1/

Dezembro 2016 Junho 2017

Índice de Liquidez

1/ Os valores sobre as barras referem-se ao número de instituições financeiras com Índice de Liquidez pertencente ao intervalo correspondente.

% dos ativos do sistema

Anexo estatístico

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Outubro 2017 | Relatório de Estabilidade Financeira | 13

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Out2015

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Jun Set Dez Mar2017

Jun

Gráfico 1.1.7 – Dispersão do LCRMáximo, mínimo e agregado

LCR agregado (8 IFs)IL

Limite regulamentar

conglomerados que representam cerca de 85% do total de ativos do sistema bancário.

Desde o início da sua vigência, não foram observados descumprimentos ao mínimo regulamentar do LCR, iniciado em 60% em 2015 e, atualmente, em 80%. As instituições já vêm apresentando indicador acima de 100% desde o final de 2015 (Gráfico 1.1.7), inclusive na apuração diária iniciada em abril de 2017.7 No semestre, o LCR agregado dos bancos sujeitos ao seu cumprimento atingiu 209%, 0,12 p.p. abaixo do período anterior.

O LCR calculado pelas maiores instituições, assim como o IL médio do sistema bancário, indica a tendência de um nível de risco de liquidez de curto prazo confortável para o próximo semestre.

Em julho de 2017, em decorrência da avaliação da implementação do LCR no Brasil pelo BCBS8, foram concluídos aprimoramentos normativos9 no arcabouço brasileiro do LCR, cujos efeitos serão refletidos a partir de agosto de 2017 e de janeiro de 2018. Os estudos de impacto realizados demonstram que todos os oito conglomerados sujeitos ao cálculo do LCR permanecerão com seus respectivos índices acima do mínimo regulamentar após a implementação dos aprimoramentos.

Para a avaliação do risco de liquidez num horizonte mais estendido, o BC monitora desde 2015 o Índice de Liquidez Estrutural (ILE)10, métrica baseada na metodologia do Net Stable Funding Ratio (NSFR). Mesmo com a leve redução no volume de captações observado no primeiro semestre, o alongamento interno da estrutura de vencimentos indica uma tendência de melhoria no nível do risco de liquidez também para um horizonte acima

7/ Até a data-base de março de 2017, o LCR era apurado mensalmente. A partir da data-base de abril de 2017, a apuração passou a ser diária, conforme Circular BC n° 3.826, de 26 janeiro de 2017, e Carta-Circular BC n° 3.812, de 31 de março de 2017.

8/ Regulatory Consistency Assessment Programme – RCAP: processo de avaliação da implementação das recomendações do BCBS nos países membros.

9/ A Circular BC n° 3.841, de 27 de julho de 2017, incluiu, entre outros refinamentos, limite para títulos públicos federais em moeda estrangeira; inclusão da necessidade de que o cliente da instituição financeira (pessoa natural ou pessoa jurídica de direito privado de pequeno porte) seja usuário de pelo menos outro produto ou serviço da instituição, além de conta-corrente ou conta de poupança, para que seu depósito na instituição financeira seja considerado estável; e ajuste do tratamento dos recebimentos referentes a instrumentos de pagamento pós-pagos e das linhas de crédito rotativo utilizadas por meio desses instrumentos.

10/ O ILE tem como objetivo mensurar se os bancos possuem fontes suficientemente estáveis de recursos para financiar suas atividades de longo prazo. Assim, instituições com ILE igual ou superior a 1 são menos suscetíveis a futuros problemas de liquidez. Para detalhes da definição da métrica, ver anexo Conceitos e metodologias, item b.

Anexo estatístico

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de trinta dias. Por outro lado, analisando-se os ativos, o movimento foi de continuidade do cenário de condições mais restritivas do crédito e de encurtamento do prazo residual dos estoques de crédito. Esses dois movimentos concomitantes fizeram com que o ILE aumentasse para 1,11 em junho de 2017, 0,04 p.p. acima do fechamento de 2016 (Gráfico 1.1.8).

Em análise individual, os bancos mais representativos em termos de ativos (83,7% dos ativos totais do sistema em junho de 2017) mantiveram níveis de liquidez suficientes para suportar o risco de liquidez no longo prazo (ILE > 1,00). As instituições de maior porte elevaram seus indicadores, enquanto as demais apresentaram índices mais dispersos. Em comparação com o semestre anterior, o número de bancos com ILE menor que 1 reduziu-se de 32 para 27. Desses 27, apenas nove também apresentam liquidez insuficiente para suportar um estresse no curto prazo (IL < 1), representando 1,3% dos ativos totais do sistema (Gráfico 1.1.9).

Em suma, o sistema bancário deve continuar atravessando momentos de pouca preocupação com o risco de liquidez. Além da estrutura atual de funding das instituições financeiras, que contribui para minimizar cenários que possam afetar a estabilidade financeira, os colchões de liquidez atuais constituem uma confortável fonte de proteção contra diferentes eventos de estresse, além de permitir o direcionamento de recursos para ativos de menor liquidez, dando suporte à eventual retomada do crédito. Ademais, os requerimentos prudenciais de liquidez criados após a crise financeira internacional, LCR e NSFR, esse último em fase final de regulação, serão fatores limitantes para a tomada excessiva de risco de liquidez.

1.2 Crédito

Se, por um lado, as condições mais restritivas nas concessões sinalizam uma melhora prospectiva na qualidade da carteira de crédito, por outro, a materialização de riscos ainda ocorre, principalmente entre as pessoas jurídicas e nos bancos públicos. A melhora no ambiente adverso da economia real pouco se refletiu nos indicadores agregados de crédito no primeiro semestre de 2017. Todavia, na margem, observa-se alguma retomada no apetite das instituições financeiras, especialmente no que concerne às operações com garantias. Em relação ao movimento de retomada do crédito às empresas, entende-se que é condição necessária a melhoria na capacidade de pagamento das mesmas.

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R$ bilhões

Gráfico 1.1.8 – Índice de Liquidez Estrutural

Recursos estáveis disponíveis

Recursos estáveis necessários

Índice de liquidez estrutural

un.

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< 0,8 0,8-0,9 0,9-1,0 1,0-1,1 1,1-1,2 1,2-1,3 ≥ 1,3

Gráfico 1.1.9 – Distribuição de frequência para o Índice de Liquidez Estrutural1/

Dezembro 2016 Junho 2017

Índice de Liquidez Estrutural

1/ Os valores sobre as barras referem-se ao número de instituições financeiras com Índice de Liquidez Estrutural pertencente ao intervalo correspondente.

% dos ativos do sistema

Anexo estatístico

Anexo estatístico

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Crédito amplo e sua tendência de longo prazo

O BCBS e a literatura internacional11 consideram o monitoramento da medida hiato de crédito amplo12 como proporção do PIB uma boa proxy para avaliar se o crescimento da carteira de crédito em um país é considerado saudável ou se está acima de sua tendência de longo prazo. Esse hiato sinalizaria um acúmulo de risco, resultando em correções abruptas, agravadas pela desalavancagem repentina de agentes econômicos. De fato, o BCBS sugere que países com gap de crédito amplo/PIB acima de 2,0 p.p. devem acionar o colchão adicional de capital contracíclico.13 Há jurisdições que já acionaram o adicional de capital contracíclico, entre as quais se destacam Hong Kong, Noruega e República Checa14. Conforme explicado no Box relativo ao Adicional Contracíclico de Capital Principal no Relatório de Estabilidade Financeira de abril de 2016, o ACCPBrasil não é definido com base em único indicador ou mesmo um conjunto de indicadores pré-estabelecidos. Nesse contexto, o crescimento do crédito abaixo da tendência de longo prazo, com ou sem variação cambial (Gráfico 1.2.1), e a dinâmica do estoque de crédito (Gráfico 1.2.3) não sugerem a necessidade do acionamento do ACCPBrasil. Segundo levantamento feito pelo BIS com 43 países (Gráfico 1.2.2), o Brasil está entre os 26 países com gap de crédito amplo/PIB abaixo de 2,0 p.p.

Crédito bancário doméstico

O crédito bancário doméstico demonstra reversão na tendência recente de queda do estoque, tanto em termos nominais (Gráfico 1.2.3) como em termos reais (Gráfico 1.2.4): tal efeito é mais destacado entre os bancos privados, nos quais há inclusive incremento nominal no estoque.15

11/ Drehmann, M., Borio, C., and K. Tsatsaronis (2011): “Anchoring countercyclical capital buffers: the role of credit aggregates”, BIS Working Papers, no 355. Drehmann, M., and Juselius, M. (2011): “Evaluating early warning indicators of banking crises: Satisfying policy requirements”, BIS Working Papers, no 421.

12/ O crédito amplo considera o crédito gerado no setor bancário, o crédito tomado por famílias e empresas não financeiras no exterior e o financiamento das empresas via mercado de capitais.

13/ Equivalente ao Adicional Contracíclico de Capital Principal. Para mais informações, ver REF de abril de 2016.

14/ As medidas tomadas pelos países em questão foram: Hong Kong com 1,25% de aumento de capital e previsão de 1,875% em janeiro de 2018; Noruega com 1,5% de aumento de capital e previsão de 2% em dezembro de 2017; e República Checa com 0,5% de aumento de capital.

15/ Nesse mesmo sentido, a concessão de crédito bancário corrobora a visão de que o crédito está sendo retomado no primeiro semestre de 2017 (Gráfico 1.2.5).

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Com variação cambial Sem variação cambial

Gráfico 1.2.1 – Gap Crédito/PIB p.p.

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Gráfico 1.2.2 – GAP crédito/PIB Comparação internacionaldez/2016 % do PIB

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Privado Público comercial SFN Público de desenvolvimento

%Gráfico 1.2.3 – Crescimento anual do crédito – Por controle

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Outubro 2017 | Relatório de Estabilidade Financeira | 16

Mantida a melhora na percepção de riscos dos agentes16, tal processo deve se intensificar nos próximos meses.

Riscos e mitigadores

A evolução nos indicadores de riscos continua a não apresentar uma tendência clara de melhora. Se, por um lado, indicadores tradicionais de atraso (inadimplência, pré-inadimplência) estão em ritmo de estabilização ou baixa, por outro, a qualidade do portfólio ainda demonstra evidências negativas (aumento de reestruturações, carteira de ativos problemáticos em nível elevado). Diante das incertezas do período corrente, nota-se uma postura conservadora por parte das instituições financeiras, aumentando liquidamente as provisões e concedendo crédito em patamar aquém àquele vigente antes da crise (Gráfico 1.2.5).

Nesse contexto, a inadimplência17 das operações de crédito dos bancos privados continuou seu ritmo de queda, processo este iniciado em meados de 2016 (Gráfico 1.2.6). O movimento de melhora observado no mês de junho de 2017 foi novamente influenciado principalmente pelo aumento dos montantes de reestruturações e renegociações18 (Gráficos 1.2.7 e 1.2.8, respectivamente) bem como pelo aumento de baixas a prejuízo (Gráfico 1.2.9).

O atraso das operações entre 15 e 90 dias, indicador antecedente da inadimplência, registrou estabilidade no primeiro semestre de 2017, ao contrário do observado no mesmo período em anos anteriores (Gráfico 1.2.10).

16/ O Índice de Confiança do Consumidor (ICC) dessazonalizado da FGV aumentou 9,2 p.p. no primeiro semestre de 2017, com aumento de 11,9 p.p. do componente relativo às expectativas e de 4,9 p.p. do componente que avalia a situação atual. O Indicador de Confiança de Serviços (ICS) dessazonalizado da FGV aumentou 5,6 p.p. no primeiro semestre de 2017.

17/ Crédito com mais de noventa dias de atraso.18/ Conforme conceito apresentado em REFs anteriores, para fins de

monitoramento do mercado de crédito as renegociações, em sentido amplo, ocorrem tanto seguindo parâmetros normais de mercado em relação a prazos, taxas e demais condições de pagamento quanto seguindo parâmetros que as instituições financeiras não admitiriam usualmente, mas os aceitam para solucionar eventual redução na capacidade de pagamento do tomador. Considera-se reestruturação qualquer renegociação que implique a concessão de vantagens à contraparte em decorrência da deterioração da sua qualidade creditícia ou da qualidade creditícia do interveniente ou do instrumento mitigador, sejam essas vantagens formalizadas nos instrumentos financeiros originais ou em novos instrumentos utilizados para liquidação ou refinanciamento daqueles. As renegociações são informadas pelas instituições financeiras no Sistema de Informações de Crédito (SCR), e as reestruturações são estimadas por meio de algoritmo interno do BC, que identifica as operações vencidas e convertidas em operações a vencer, sem pagamento integral dos valores em atraso (capitalização dos saldos em atraso).

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R$bilhões

Gráfico 1.2.5 – Evolução das concessões de crédito Deflacionada e dessazonalizada

Privado Público comercial Público de desenvolvimento

Anexo estatístico

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Dez Jun2017

%

Gráfico 1.2.4 – Crescimento anual deflacionado do crédito – Por controle

Privado Público comercial SFN Público de desenvolvimento

0,0

1,2

2,4

3,6

4,8

6,0

Dez Jun2013

Dez Jun2014

Dez Jun2015

Dez Jun2016

Dez Jun2017

Privado Público comercial

SFN Público de desenvolvimento

%

Gráfico 1.2.6 – Inadimplência por controle

Outubro 2017 | Relatório de Estabilidade Financeira | 17

Esse movimento, aliado à já mencionada intensificação nos processos de reestruturação de créditos, bem como a safras de créditos concedidas sob parâmetros mais restritivos, aponta, ao menos no curto prazo, para um menor estoque de operações inadimplentes.

Conforme enfatizado no último REF,19 nota-se, no período recente, uma mudança estrutural no portfólio de crédito das instituições financeiras: as carteiras com pior avaliação cresceram de forma significativa, movimento este que não foi acompanhado por uma piora proporcional nos indicadores tradicionais, por exemplo, inadimplência e pré-inadimplência. Nesse sentido, entende-se que a avaliação da qualidade creditícia é mais assertiva ao se analisar uma categorização mais abrangente do risco de crédito, qual seja, ativo problemático.20

Para fins de monitoramento da estabilidade financeira, serão aqui consideradas como ativos problemáticos21 as operações de crédito em atraso há mais de noventa dias e as operações nas quais existem indícios de que respectiva obrigação não será integralmente honrada. Entende-se que há indicativos de que a obrigação poderá não ser integralmente honrada, entre outros eventos,22 quando a operação for objeto de reestruturação23 e a instituição financeira reconhecer contabilmente deterioração

19/ Ver REF de abril de 2017, seção 1.2 – “Crédito”, Gráfico 1.2.9 – “Inadimplência X Operações de crédito classificadas em E-H”.

20/ No Brasil, a definição de ativo problemático foi incorporada à estrutura regulatória por meio da Resolução nº 4.557, de 23 de fevereiro de 2017, que dispõe sobre a estrutura de gerenciamento de riscos e a estrutura de gerenciamento de capital. Esse conceito está em linha com o aprovado pelo Comitê de Basileia para Supervisão Bancária dos principais conceitos relacionados à categorização de ativos problemáticos (Principle 18, Core Principles for Effective Banking Supervision – BIS 2012), especialmente os termos nonperforming exposures – exposições de crédito em situação de não performance – e, forbearance -reestruturação de crédito (Prudential treatment of problem assets – Definitions of non-performing exposures and forbearance, aprovada em 1º de março de 2017).

21/ Ao longo do presente texto, “ativos problemáticos” serão aqui mensurados pela proxy de monitoramento em destaque. Isto não elimina a necessidade de as instituições financeiras mensurarem e monitorarem internamente a qualidade de seu portfólio e, sobre este, destacarem exposições em atraso superior a noventa dias ou que não serão integralmente honradas sem que seja necessário recurso a garantias ou colaterais (Art. 24 da Resolução 4.557, definição de Ativo Problemático). Nesse sentido, a Carta-Circular BC nº 3.819, de 4 de maio de 2017, alterou o leiaute do CADOC 3040, em vistas à recepção da informação sobre ativos problemáticos – com marcação pela própria instituição financeira – a partir de dezembro de 2017.

22/ Outros indicativos de que a obrigação não será integralmente honrada são: a instituição considera que a contraparte não tem mais capacidade financeira para honrar a obrigação nas condições pactuadas, a instituição pede a falência ou toma providência similar em relação à contraparte, e a contraparte solicita ou sofre qualquer tipo de medida judicial que limite, atrase ou impeça o cumprimento de suas obrigações nas condições pactuadas.

23/ Após doze meses de adimplência (sem que haja outra reestruturação), as operações são consideradas “curadas”, isto é, a reestruturação teria sido bem-sucedida, e as operações deixam de ser consideradas ativos problemáticos.

0

1

2

3

4

5

Dez2015

Jun2016

Dez2016

Jun2017

Público comercial SFN Privado Público de desenvolvimento

%Gráfico 1.2.7 – Reestruturação por controle

0

3

6

9

12

15

Jun2015

Dez2015

Jun2016

Dez2016

Jun2017

Privado Público comercial SFN Público de desenvolvimento

%Gráfico 1.2.8 – Renegociação por controle

3,8%3,7%

3,9%

3,1%2,7%

3,2%

3,8%

0

30

60

90

120

150

0%

1%

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3%

4%

5%

Jun2011

Jun2012

Jun2013

Jun2014

Jun2015

Jun2016

Jun2017

Gráfico 1.2.9 – Baixas a prejuízo SFN

Baixas a Prejuízo (eixo da esquerda)

% das operações de crédito (eixo da direita)

R$ biR$ biR$ biR$ bi

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Outubro 2017 | Relatório de Estabilidade Financeira | 18

significativa da qualidade do crédito do tomador, classificando-o entre os níveis de risco E e H. 24

Em 2017, observa-se estabilidade do nível da carteira de ativos problemáticos dos bancos privados. Por outro lado, os ativos problemáticos dos bancos públicos de desenvolvimento mantêm tendência de crescimento desde dezembro de 2015 (Gráfico 1.2.11).

Analisando-se individualmente os componentes da carteira de ativos problemáticos, nota-se que: i) no semestre, a inadimplência pressionou o indicador até maio de 2017 e foi a grande contribuição para a queda em junho de 2017; ii) a carteira adimplente classificada com risco entre E e H manteve-se praticamente estável (Gráfico 1.2.12); iii) a parcela referente às reestruturações continua responsável por parte significativa do incremento em ativos problemáticos, principalmente na carteira de bancos público comercial (Gráfico 1.2.13).25

O nível de provisões,26 quando comparado com a carteira de ativos problemáticos, subiu de 83% para 85% no primeiro semestre de 2017 (Gráfico 1.2.14). Destaca-se que, diante da crise recente pela qual passou o país, tanto o nível atual quanto a constituição líquida de provisões27 recente coadunam para a percepção de que os mitigadores de riscos têm adequado tratamento pelo sistema financeiro. O nível de provisões inferior à carteira de ativos problemáticos é esperado, pois nem todas as operações assim classificadas serão baixadas para prejuízo28 (Gráfico 1.2.15).

24/ Classificações segundo a Resolução nº 2.682, de 21 de dezembro de 1999.25/ O volume (fluxo) de reestruturações aqui demonstrado é considerado

“bruto” porque se refere tão somente à entrada de operações reestruturadas. As saídas, por exemplo, por meio de pagamento, liquidação da operação ou ainda baixa a prejuízo, não são aqui consideradas. O pico de reestruturações nos bancos públicos de desenvolvimento refere-se a um conjunto de operações de um único grupo econômico do setor petroquímico que foram objeto de reestruturação em abril de 2015.

26/ Relação entre a provisão contábil e a totalidade da carteira de crédito, inclusive as operações classificadas entre AA e D. O valor da provisão constituída deve ser suficiente para cobrir a perda esperada de todas as exposições a risco de crédito, o que inclui tanto os ativos problemáticos como as operações em curso normal, já que estas últimas podem apresentar problemas no futuro.

27/ Constituição líquida de provisões refere-se ao total de provisões constituídas após a subtração das baixas a prejuízo, bem como as reversões de provisões anteriormente efetuadas. Trata-se, portanto, de uma variável de fluxo. No primeiro semestre de 2017, o estoque de provisões (valor nominal desta rubrica) se elevou: comparando-se com o semestre exatamente anterior, o incremento no estoque foi inferior, pois as despesas com provisões caíram, o volume de baixas a prejuízo se elevou, mas o último ainda é inferior ao primeiro.

28/ Nem todas as operações assim classificadas serão baixadas para prejuízo por quatro razões: i) parte das operações ainda será renegociada; ii) é possível que os ativos retornem à condição de normalidade; iii) algumas operações possuem garantias que cobrem parte das perdas; e iv) mesmo para a parte não coberta existe algum nível de recuperação.

0

1

2

3

4

5

6

7

Dez Jun2013

Dez Jun2014

Dez Jun2015

Dez Jun2016

Dez Jun2017

%

Gráfico 1.2.10 – Atraso das operações entre 15 e 90 dias

Público Comercial SFN Privado Público de desenvolvimento

0,0

2,5

5,0

7,5

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Dez Jun2013

Dez Jun2014

Dez Jun2015

Dez Jun2016

Dez Jun2017

Privado SFN Público Comercial Público de desenvolvimento

%

Gráfico 1.2.11 – Carteira de ativos problemáticosPor controle

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Anexo estatístico

0,0

2,0

4,0

6,0

8,0

10,0

Dez2012

Jun2013

Dez Jun2014

Dez Jun2015

Dez Jun2016

Dez Jun2017

%

Gráfico 1.2.12 – Carteira de Ativos ProblemáticosSFN

Operações inadimplentes ou reestruturadas ou classificadas em "E-H"Operações inadimplentes ou reestruturadasOperações inadimplentes

Outubro 2017 | Relatório de Estabilidade Financeira | 19

Pessoa jurídica

Embora ainda não se observe uma retomada efetiva da economia, o cenário negativo que marcou as empresas não financeiras em 2016 parece iniciar sua reversão. O volume de recuperações judiciais, apesar de elevado, encontra-se em patamar inferior ao do ano anterior (Gráfico 1.2.16). A geração operacional de caixa (EBITDA) das companhias abertas registrou leve aumento no primeiro semestre de 2017, e a capacidade de pagamento das empresas manteve-se estável (Gráfico 1.2.17).

O estoque de crédito às pessoas jurídicas não apresentou aumento; não obstante, a taxa de crescimento anual da carteira registrou tendência de melhora no primeiro semestre de 2017, em função da recuperação gradual da economia, da queda na taxa de juros29 e da melhora nos índices de confiança. A taxa de crescimento permanece negativa tanto na carteira de Pequenas e Médias Empresas (PMEs) quanto na referente às empresas de grande porte, mas ambas reduziram o ritmo de queda observado nos períodos anteriores e se estabilizaram em 2017 (Gráfico 1.2.18). Para os próximos meses, a tendência é de manutenção desse cenário, com taxas de crescimento ainda negativas, porém sem aprofundamento da trajetória de queda, e expectativa de uma recuperação mais consistente a partir de 2018.

A inadimplência da pessoa jurídica permaneceu em trajetória de alta, atingindo 3,99% em maio de 2017. Em junho, houve queda relevante (-0,44 p.p.): nas grandes empresas (Gráfico 1.2.19), essa retração pontual foi influenciada pela baixa para prejuízo de uma operação em um banco privado (Gráfico 1.2.20) e pela reestruturação de operações de uma empresa em recuperação extrajudicial nos bancos públicos; nas PMEs, a queda do indicador ocorreu devido a uma menor taxa de passagem dos créditos em atraso para a inadimplência.

O reflexo do ambiente adverso da economia fica mais evidente quando analisamos o ativo problemático dos diversos setores da economia. No primeiro semestre de 2017, não só a inadimplência como também o volume de reestruturações se elevaram no período (Gráfico 1.2.21), sendo os setores de “Transportes”, “Construção, Madeira

29/ Conforme mencionado no REF de dezembro de 2016, seção 2.1 Panorama do setor privado não financeiro, a queda nas taxas de juros do país deve beneficiar, ao menos no curto prazo, as empresas mais expostas a passivos financeiros pós-fixados. Nesse sentido, os setores mais impactados positivamente diante da queda recente da estrutura a termo das taxas de juros seriam o setor de energia e petroquímico.

0,0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

Dez2013

Jun Dez2014

Jun Dez2015

Jun Dez2016

Jun

Gráfico 1.2.13 – Fluxo de reestruturação

Público Comercial SFN Privado Público de desenvolvimento

% da carteira ativa

0,5

1,0

1,5

2,0

Dez Jun2013

Dez Jun2014

Dez Jun2015

Dez Jun2016

Dez Jun2017

Gráfico 1.2.14 – Índice de cobertura (IC)

IC Inadimplência IC Carteira Ativos Problemáticosa p

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Anexo estatístico

1,2

2,6

4,1

5,5

7,0

8,4

Dez2012

Jun2013

Dez Jun2014

Dez Jun2015

Dez Jun2016

Dez Jun2017

%

Gráfico 1.2.15 – Inadimplência, provisões, baixas para prejuízo e carteira de Ativos Problemáticos

Carteira de Ativos ProblemáticosOperações classificadas em "E-H" ou inadimplentesProvisõesOperações inadimplentesBaixa para prejuízo 12-m seguintes

pa

Outubro 2017 | Relatório de Estabilidade Financeira | 20

e Móveis” e “Varejo” os que registraram os maiores aumentos (Tabela 1.2.1).30

Conforme enfatizado no REF de abril de 2017, mais uma vez a piora no risco fica mais perceptível entre as empresas de grande porte. Nesse segmento, o percentual de ativos problemáticos subiu de 4,9% em dezembro de 2016 para 6,0% em junho de 2017 (Gráfico 1.2.22). Essa deterioração ocorreu em função do crescimento de todos os componentes do ativo problemático – inadimplência, reestruturação e operações classificadas entre E e H – no período, e de forma generalizada entre as instituições financeiras, não estando concentrada em nenhum tipo de controle. Nas PMEs, apesar da queda no volume de ativos problemáticos, a queda na carteira ativa ocorreu na mesma proporção, de forma que o indicador permaneceu estável, embora em patamar elevado.

A estabilização dos ativos problemáticos e a queda da pré-inadimplência (Gráfico 1.2.23) indicam que o período de materialização de risco nas empresas de pequeno porte estaria chegando ao fim, especialmente devido à diminuição do estoque de operações nesse segmento.31 Para as empresas de grande porte, acredita-se que ainda há potencial de alta tanto para a pré-inadimplência como para os ativos problemáticos.

Pessoas físicas

O crédito a pessoas físicas começou a mostrar sinais de recuperação em 2017. A variação anual do estoque da carteira reverteu a trajetória de desaceleração que vinha ocorrendo desde 2014 e passou a mostrar uma leve tendência de aceleração. Essa reversão ocorreu devido, principalmente, ao leve aumento nas concessões das modalidades de crédito consignado, crédito não consignado e financiamento de veículos.32

A melhora nas condições do mercado de trabalho, que apresentou queda na taxa de desemprego33 nos últimos três meses, e a recuperação da renda34 das

30/ As empresas foram agrupadas em 25 setores econômicos com base no Código Nacional de Atividade Econômica (CNAE), utilizando um conceito interno de cadeia produtiva.

31/ Entende-se que o aumento da inadimplência nesse segmento pode ainda ocorrer, mas devido ao efeito carteira, ou seja, se a queda no estoque de crédito for maior que a de créditos vencidos, o impacto final no indicador de inadimplência será de alta.

32/ Séries temporais BC nº 20.671, nº 20.666 e nº 20.673, respectivamente.33/ Série temporal nº 24.380 – População desocupada – PNADC.34/ Série temporal nº 24.382 – Rendimento médio real habitual das pessoas

ocupadas – PNADC.

Tabela 1.2.1 – Ativos problemáticos por setor econômico

%

dez/14 dez/15 dez/16 jun/17

Adm Pública e ONGS 0,25 0,25 1,30 1,80Agricultura 3,77 5,92 6,01 4,97Alimentos 5,60 5,85 7,52 8,51Atividades Financeiras 0,97 0,65 1,05 1,15Automotivo 4,41 6,63 7,56 6,63Bebidas e Fumo 5,71 5,75 6,98 7,68Construção, Madeira e Móveis 6,39 9,62 16,50 18,02Criação de Animais 3,96 4,07 5,11 5,12Eletroeletrônico 6,86 8,14 11,71 11,95Energia 1,89 1,60 2,59 3,10Máquinas e Equipamentos 6,84 9,17 14,44 15,53Mídia e Lazer 8,70 12,31 16,54 16,02Outros 4,83 12,35 17,63 14,81Papel e Celulose 0,83 1,19 1,80 2,04Petroquímico 1,73 1,94 3,21 4,53Químico, Farmacêutico e Higiene 5,90 8,72 8,48 8,09Saúde, Saneamento e Educação 3,92 4,69 6,39 6,85Serviços 6,95 8,21 11,76 11,93Siderurgia e Metalurgia 2,22 2,92 6,27 7,03Sucroalcooleiro 6,69 8,58 16,46 17,19Telecomunicações 0,29 0,50 34,95 35,37Têxtil e Couros 9,17 12,56 15,82 14,81Transportes 5,04 7,53 9,46 12,03Varejo 5,90 7,31 8,70 10,22

0

400

800

1.200

1.600

2.000

Mar Jun Set Dez

Gráfico 1.2.16 – Empresas em recuperação judicialRequerimentos acumulados por ano

2012 2013 2014 2015 2016 2017

Fonte: Serasa Experian

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Outubro 2017 | Relatório de Estabilidade Financeira | 21

famílias, que vem mostrando aumento nos últimos seis meses, contribuíram para a reversão da trajetória de desaceleração da carteira de pessoas físicas. A nova realidade do mercado de trabalho também contribuiu para a reversão da trajetória dos últimos anos de aumento do risco de crédito, permanecendo estável, no semestre, a qualidade da carteira de pessoas físicas (Gráfico 1.2.27). Apesar de ainda incipientes, esses fatores tendem a continuar contribuindo para a retomada no crédito a pessoas físicas no próximo semestre, favorecida também pela redução das taxas de juros e pelo menor nível de endividamento das famílias.35

Apesar de a participação dos ativos problemáticos ter se mantido praticamente constante no semestre, as instituições financeiras continuam recorrendo às reestruturações para readequar as condições de pagamento das operações à capacidade financeira atual dos tomadores. (Gráfico 1.2.28). Esse movimento – que usualmente ocorre de forma mais intensa nos meses de encerramento de semestre – levou à queda da inadimplência no mês de junho. Nesse sentido, vale destacar que o volume de reestruturações ocorridas em junho de 2017 foi o maior de toda a série iniciada em 2012.

A principal modalidade cujas operações vêm sendo objeto de reestruturação é o imobiliário, uma vez que essa carteira continua apresentando piora nos níveis de risco, principalmente entre os bancos públicos. Vale destacar que, embora a inadimplência tenha reduzido, o percentual de ativos problemáticos sobre o total da carteira de financiamento imobiliário apresentou aumento relevante no primeiro semestre de 2017 (Gráfico 1.2.29).

Uma das consequências da piora do nível de risco da carteira é a intensificação no processo de baixas a prejuízo (Gráfico 1.2.30) e de retomada de imóveis dos tomadores inadimplentes. O maior volume de imóveis retomados e as condições ainda adversas do mercado imobiliário levaram ao aumento do saldo contabilizado pelos bancos em bens não de uso próprio,36 ainda em níveis pouco relevantes ante a carteira de crédito imobiliário total (Gráfico 1.2.31). Apesar disso, espera-se que a trajetória de aumento do risco da carteira de financiamento habitacional perca força no próximo semestre, devido à melhora nas condições de trabalho e renda e ao menor nível de endividamento das famílias.

35/ Série temporal nº 19.882 – Endividamento das famílias com o SFN em relação à renda acumulada dos últimos doze meses.

36/ Esse saldo se refere aos imóveis habitacionais retomados de pessoas físicas e pessoas jurídicas.

0

3

6

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12

15

0,0

0,7

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Dez2005

Dez2006

Dez2007

Dez2008

Dez2009

Dez2010

Dez2011

Dez2012

Dez2013

Dez2014

Dez2015

Dez2016

Jun2017

Gráfico 1.2.17 – Índice de cobertura de juros (medianas)Denominador e numerador (deflac.): Dez/2005 = 1

EBITDA Resultado Financeiro ICJ (eixo à direita)

-20

-10

0

10

20

30

Jun2014

Dez Jun2015

Dez Jun2016

Dez Jun2017

Gráfico 1.2.18 – Crescimento anual da carteira

Pessoa jurídicaEmpresas de pequeno e médio porteEmpresas de grande porteEmpresas de grande porte - Sem efeito da variação cambial

%

0

2

4

6

8

Jun2014

Dez Jun2015

Dez Jun2016

Dez Jun2017

Gráfico 1.2.19 – InadimplênciaPessoa jurídica

Pessoa jurídicaEmpresas de pequeno e médio porteEmpresas de grande porte

%

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Outubro 2017 | Relatório de Estabilidade Financeira | 22

Por fim, entende-se que o risco de perdas prospectivas com a carteira de crédito não aumentou no primeiro semestre de 2017. O provisionamento líquido positivo (ou seja, despesas com provisões superiores às baixas para prejuízo) e o fraco ritmo nas concessões de novos créditos indicam que a postura conservadora por parte das instituições financeiras ainda perdura.

Consonante com o divulgado no REF de abril de 2017, é esperado que a retomada no aumento do portfólio de crédito, quando ocorrer, seja liderada pelos bancos privados, e entre as pessoas físicas. O estoque de empréstimos do setor bancário voltado às empresas ainda deve passar por um relevante período de baixo crescimento, especialmente no que concerne às PMEs: nestas, a materialização de riscos durante a crise recente deve limitar, ao menos no curto prazo, qualquer incremento no apetite a risco por parte das instituições financeiras. Nesse contexto, o risco sistêmico decorrente do risco de crédito tem sido reduzido.

1.3 Rentabilidade

O resultado do sistema bancário confirmou as perspectivas de recuperação para 2017, com o Retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROE) ajustado alcançando 12,5% em junho, aumento de 0,9 p.p. em relação a dezembro de 2016 (Gráfico 1.3.137). Apesar de a rentabilidade ainda sofrer reflexos do ambiente econômico instável, o semestre foi caracterizado por fatores positivos para a margem líquida de crédito, com destaque para redução do custo de captação e das despesas de provisão para créditos de difícil liquidação. Esses efeitos, acrescidos da materialização gradual da redução de despesas decorrentes das reorganizações administrativas, devem se estender para o próximo período, mantendo o movimento de recuperação até o final de 2017.

No que diz respeito aos efeitos positivos para margem de crédito, a queda da taxa Selic tende a impactar de forma mais intensa e contemporânea o custo de captação e gradualmente a rentabilidade bruta do crédito. Essa diferença de reação tem origem nas características das remunerações das captações, que são essencialmente pós-fixadas, e dos estoques de crédito, mais influenciadas pelo componente pré-fixado. Contribuiu também no

37/ Ajustes metodológicos: em decorrência do histórico de aquisições realizadas pelos grandes bancos e da relevância dos ágios decorrentes, foi incluído o valor das despesas de amortização de ágio líquido de tributos no ajuste de resultados não recorrentes.

0

2

4

6

8

Jun2011

Jun2012

Jun2013

Jun2014

Jun2015

Jun2016

Jun2017

Gráfico 1.2.20 – Baixas a prejuízo – PJ % do total das respectivas operações

Empresas de grande porteEmpresas de pequeno e médio portePessoa jurídica

0

2

4

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Jun2014

Dez Jun2015

Dez Jun2016

Dez Jun2017

Gráfico 1.2.21 – Carteira de ativos problemáticos PJ

Operações InadimplentesOperações Inadimplentes ou ReestruturadasOperações Inadimplentes ou Reestruturadas ou Classificadas entre E e H

%

– PJ

0

3

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Jun2014

Dez Jun2015

Dez Jun2016

Dez Jun2017

Gráfico 1.2.22 – Carteira de ativos problemáticos

Empresas de pequeno e médio porte Empresas de grande porte

%

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Outubro 2017 | Relatório de Estabilidade Financeira | 23

semestre o arrefecimento no ritmo de constituição de novas provisões (Gráfico 1.3.2), em linha com o processo de estabilização do risco de crédito.

A tendência de manutenção da redução da taxa básica de juros deve continuar beneficiando a margem de crédito. Porém gradualmente a remuneração dos estoques de crédito deve refletir essa redução, aumentando a importância da retomada do crescimento do crédito para manutenção da melhora do resultado de intermediação financeira dos bancos, sobretudo em cenários de redução de spread.

As receitas com serviços mantiveram crescimento proveniente do aumento das rendas de tarifas bancárias e de administração de fundos, refletindo a tendência dos bancos de buscarem fontes alternativas de resultados e o aumento da carteira dos fundos administrados, respectivamente. Em relação às despesas operacionais, os planos de reorganização de infraestrutura e de pessoal de alguns bancos de maior porte, com significativa redução de agências e funcionários, e o aproveitamento de sinergias em processos de aquisições aumentaram o potencial de contenção de custos, sendo que os efeitos dessas iniciativas ainda devem consolidar seus reflexos no futuro. Com isso, mesmo com despesas que já crescem em ritmo inferior às rendas de serviços, as perspectivas são de ganhos ainda maiores de eficiência para os bancos nos próximos períodos (Gráfico 1.3.3).

A distribuição de frequência do ROE evidencia redução da quantidade e da representatividade de instituições com rentabilidade abaixo da proxy para taxa livre de risco, confirmando a tendência de recuperação dos resultados dos bancos e reduzindo o risco para a estabilidade do sistema. No entanto, o número de instituições com rentabilidade abaixo desse parâmetro ainda permanece elevado. A superação desse cenário depende da retomada do crescimento do crédito e/ou da revisão dos modelos de negócio dos bancos pequenos e médios de crédito e que possuem capacidade mais restrita de diversificação de receitas (Gráfico 1.3.4).

Mesmo em cenário de não retomada no crescimento da carteira de crédito, a margem de crédito deve manter sua recuperação ao longo de 2017 diante dos efeitos da redução da Selic sobre os custos de captação. Esse aspecto, somado à consolidação dos efeitos das reorganizações de infraestrutura e de pessoal, corrobora a perspectiva de manutenção do movimento de recuperação da rentabilidade para o próximo período.

-20

-10

0

10

20

30

40

Dez2012

Jun Dez2013

Jun Dez2014

Jun Dez2015

Jun Dez2016

Jun

Gráfico 1.2.24 – Carteira de crédito a pessoas físicas Crescimento anual

Imobiliário Consignado Cartão de créditoNão consignado Veículos Pessoas físicas

%

0

3

6

9

12

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Dez2013

Jun Dez2014

Jun Dez2015

Jun Dez2016

Jun

Gráfico 1.2.25 – Pessoas desocupadas na força de trabalhoPNADC do IBGE

Pessoas desocupadas na força de trabalho

%

0,0

1,5

3,0

4,5

6,0

7,5

Jun2014

Dez Jun2015

Dez Jun2016

Dez Jun2017

Gráfico 1.2.23 – Pré-inadimplência

Pessoa jurídicaEmpresas de pequeno e médio porteEmpresas de grande porte

%

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Outubro 2017 | Relatório de Estabilidade Financeira | 24

1.4 Solvência

O sistema bancário permanece bem capitalizado, e a solvência não configura risco para a estabilidade financeira. Os índices de capitalização e alavancagem mantiveram consistência ao longo do semestre, mesmo com o avanço do cronograma de ajustes prudenciais de Basileia III.

Os índices de capitalização permanecem bastante superiores aos requerimentos regulatórios38 (Gráfico 1.4.1), com destaque para os bancos privados, que possuem maior folga de capital que os públicos. A Razão de Alavancagem (RA) reportou a mesma dinâmica, com os bancos públicos e privados apresentando indicadores muito superiores ao requerimento mínimo em discussão internacionalmente39 (3,0%), a vigorar a partir de janeiro de 2018.

A geração e a incorporação de resultados, refletindo a recuperação da rentabilidade no semestre, foram os fatores que mais contribuíram para a dinâmica dos níveis de capitalização, contrabalanceados pelo aumento dos ajustes prudenciais oriundos do cronograma de Basileia III.40 Duas emissões relevantes de instrumentos elegíveis a Capital Nível II permitiram leve crescimento da participação desses no PR. Os ativos ponderados pelo risco (RWA) apresentaram ligeiro recuo (-0,9%) no período, reflexo em especial da contração do RWA de crédito41 (-3,0%)42, em linha com a redução da carteira de crédito.

38/ 5,75% de capital principal, 7,25% de capital nível I e 10,5% de capital total, os três incluindo o Adicional de Capital Principal Conservação – ACPConservação – referente ao ano de 2017, de 1,25% (percentuais sobre RWA). A partir de 1° de janeiro de 2017, passou a ser requerido capital principal no montante de 0,25% do RWA (Adicional de Capital Principal Sistêmico – ACPSistêmico) para as instituições sistemicamente relevantes regionalmente (D-SIBs), conforme a Circular BC n° 3.768, de 29 de outubro de 2015. Para detalhes adicionais, ver anexo Conceitos e metodologias.

39/ Para mais informações, ver <http://www.bis.org/publ/bcbs270.pdf>. 40/ De acordo com o art. 11 da Resolução BC nº 4.192, de 1º de março de

2013, o fator aplicado a determinados ajustes prudenciais passou de 60% para 80% a partir de 1º de janeiro de 2017. Além disso, conforme o art. 28, o limite de reconhecimento dos saldos de instrumentos autorizados a compor o Patrimônio de Referência (PR) antes da entrada em vigor da referida Resolução caiu de 60% para 50%.

41/ A entrada em vigor em janeiro de 2017 da Circular n° 3.809, de 25 de agosto de 2016, alterando especificações de instrumentos mitigadores no cálculo do RWA não gerou impacto material no cálculo do RWA. Acredita-se que a materialidade tenda a crescer no médio/longo prazo à medida que novas operações forem originadas.

42/ O RWA para risco de mercado e operacional apresentou crescimento influenciado especialmente pelo cronograma prudencial, conforme art. 4º da Resolução nº 4.193.

-

2

4

6

8

10

Dez2012

Jun Dez2013

Jun Dez2014

Jun Dez2015

Jun Dez2016

Jun

Gráfico 1.2.27 – Carteira de ativos problemáticosPessoas físicas

Operações inadimplentesOperações inadimplentes ou reestruturadasOperações inadimplentes, reestruturadas ou classificadas entre "E" e "H"

%

-6

-4

-2

0

2

4

6

Dez2013

Jun Dez2014

Jun Dez2015

Jun Dez2016

Jun

Gráfico 1.2.26 – Rendimento médio real habitual das pessoas ocupadas – Variação em doze mesesPNADC do IBGE

Rendimento médio real habitual das pessoas ocupadas

%

0,0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

Dez2013

Jun Dez2014

Jun Dez2015

Jun Dez2016

Jun

Gráfico 1.2.28 – Fluxo de reestruturaçãoPessoas físicas

Pessoa física Imobiliário Demais modalidades

% da carteira ativa

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Outubro 2017 | Relatório de Estabilidade Financeira | 25

A necessidade projetada de capital, considerando a plena implementação de Basileia III em 2019, reduziu 50,5%, de R$20,5 para R$10,1 bilhões em junho de 2017 (Gráfico 1.4.2), equivalente a 1,7% do PR projetado, com destaque para a redução dos bancos privados (77,5%).

Em linha com a melhora das margens de capital, a projeção do Índice de Basileia, considerando a plena implementação de Basileia III, apresentou crescimento de 1,3 p.p. em relação a dezembro de 2016, atingindo 15,5% (Gráfico 1.4.3). A distribuição de frequência para a projeção do Índice de Capital Principal (ICP) manteve-se estável, com instituições responsáveis por 99,5% dos ativos do sistema reportando ICP projetado acima de 7,0%, futuro mínimo regulatório a vigorar em 2019 (Gráfico 1.4.4). Da mesma forma, a Razão de Alavancagem projetada cresceu 0,3 p.p., atingindo 7,0%, influenciada pela elevação da capitalização (Gráfico 1.4.5).

A consistente geração de resultados e a dinâmica estável do mercado de crédito indicam que o sistema financeiro deve se manter sólido e bem capitalizado nos próximos períodos. Mesmo diante de condições mais restritivas advindas da implementação do arcabouço regulatório de Basileia III, a confortável folga de capital ante os requerimentos mínimos sugere que a solvência não constitui restrição para uma eventual retomada do mercado de crédito.

1.5 Testes de estresse de capital

Os testes de estresse de capital têm por objetivo avaliar a resistência do sistema bancário com base em sua capacidade de absorção de perdas, causadas por eventual materialização dos principais riscos a que se encontra exposto. Para tanto, choques extremos e adversos nas relevantes variáveis econômicas e financeiras foram simulados, e seus efeitos, mensurados.

Os testes de estresse envolvem aplicação de cenários macroeconômicos bastante adversos e simulações dos efeitos sobre o capital do sistema bancário. Complementam essa simulação análises de sensibilidade aos principais fatores de risco, tomados individualmente, e avaliação do contágio entre as instituições financeiras43.

43/ O escopo no exercício do contágio alcança todas as instituições autorizadas a funcionar pelo BC, exceto consórcios e cooperativas. Já o teste de estresse abrange apenas o sistema bancário.

-

3

6

9

12

15

18

Dez Jun2013

Dez Jun2014

Dez Jun2015

Dez Jun2016

Dez Jun2017

Gráfico 1.2.29 – Carteira de ativos problemáticosPrincipais modalidades de pessoas físicas

Imobiliário Consignado Cartão de CréditoVeiculos Não Consignado

%

0,0%

0,2%

0,4%

0,6%

0,8%

1,0%

1,2%

Jun2014

Dez Jun2015

Dez Jun2016

Dez Jun2017

% da carteira ativa

Gráfico 1.2.31 – Bens não de uso próprioImóveis habitacionais

0

2

4

6

8

10

Jun2011

Jun2012

Jun2013

Jun2014

Jun2015

Jun2016

Jun2017

Gráfico 1.2.30 – Baixas a prejuízo – PF % do total das respectivas operações

Imobiliário Veículos Consignado Outras modalidades PF

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Outubro 2017 | Relatório de Estabilidade Financeira | 26

Em junho de 2017, o BC adotou nova metodologia para avaliar os efeitos dos testes de estresse. Duas alterações foram introduzidas: a incorporação das demais linhas de resultado e a estimativa da despesa de provisão com base no conceito de ativos problemáticos, e não mais considerando apenas a inadimplência. Anteriormente, apenas os resultados com perdas de crédito e o resultado do estresse de risco de mercado eram considerados44. Isso tornava os resultados muito conservadores, pois receitas relevantes na formação no resultado final estavam fora da simulação. Já a alteração para ativos problemáticos visa a incorporar a evolução conceitual descrita no último REF (abril de 2017), quanto ao entendimento do risco da carteira de crédito.

Tanto na metodologia anterior como na nova, os resultados indicam que o sistema bancário mantém sua capacidade de absorver todos os choques simulados, consequência do confortável nível de capitalização que atualmente apresenta, sem a ocorrência de desenquadramentos ou insolvência em montante relevante para o sistema.

A análise de sensibilidade segue apontando o baixo impacto de choques abruptos de taxa de juros e de câmbio nos resultados das instituições. Quanto ao risco de crédito, verifica-se redução da necessidade de capital em comparação com o teste de dezembro de 2016. A sensibilidade ao risco de crédito imobiliário residencial também apresentou redução da necessidade de capital no último trimestre da projeção, em relação a dezembro de 2016.

1.5.1 Análise de cenário – Testes de estresse nas condições macroeconômicas

A Tabela 1.5.1.1 apresenta as variáveis que compõem os cenários analisados: Cenário Base, Vetor Autorregressivo (VAR) estressado, Quebra estrutural e Pior histórico. Os cenários apresentam diferentes valores estressados em cada um dos seis trimestres que compõem o horizonte do teste, sendo que a Tabela 1.5.1.1 apresenta apenas os valores para o último trimestre. No Gráfico 1.5.1.1 é apresentada a proporção da carteira de ativos problemáticos em relação ao total da carteira para todos os cenários.

44/ Para detalhes sobre o conceito de Testes de Estresse e a metodologia relacionada aos testes e cenários, ver anexo Conceitos e metodologias – Estresse de capital.

0

30

60

90

120

150

2

4

6

8

10

12

Jun2011

Dez Jun2012

Dez Jun2013

Dez Jun2014

Dez Jun2015

Dez Jun2016

Dez Jun2017

Bilh

ões

Despesas de provisão líquidas (eixo esq.)Margem bruta de créditoMargem líquida de crédito

%

Gráfico 1.3.2 – Margem de crédito e despesas de provisãoAcumulado nos últimos doze meses

R$ bi

34

105

36

112

39

116

40

119

42

12159

95

63

97

64

101

65

101

63

99

21 23 25 25 2611 12 13 13 14

63,1 64,0 64,8 65,4 65,7

20

30

40

50

60

70

0

50

100

150

200

250

Jun2015

Dez Jun2016

Dez Jun2017

%R$ bi

Demais despesas administrativas Despesas com pessoalReceitas: serv. cobrança e garantias Receitas: adm. fundos e merc. capitaisReceitas: cartões e outros Receitas: tarifas bancáriasÍndice de cobertura (eixo da direita)

Gráfico 1.3.3 – Índice de cobertura de despesas administrativas por receita de serviçosAcumulado nos últimos doze meses

0

20

40

60

80

100

Jun2011

dez Jun2012

dez Jun2013

dez Jun2014

dez Jun2015

dez Jun2016

dez Jun2017

0

4

8

12

16

20

Lucro Líquido Ajustado (eixo da esquerda)ROE anual ajustado do SB 1/ROE anual ajustado do SB (-) proxy para taxa livre de risco 2/

1/ Desconsidera resultados não recorrentes.2/ Para efeito de comparação com o ROE, utilizou-se como proxy para taxa livre de risco amédia anual da Selic acumulada nos últimos 36 meses, multiplicada por 0,85 paradescontar efeitos tributários. O prazo de 36 meses foi definido com base no prazo médioda carteira de crédito, principal fonte de receita do sistema bancário.

R$ bi. %

Gráfico 1.3.1 – Retorno sobre o patrimônio líquido (ROE)1/ 2/

Acumulado nos últimos doze meses

Dez Dez Dez Dez Dez Dez

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Outubro 2017 | Relatório de Estabilidade Financeira | 27

Tomando o resultado do teste de estresse e tendo por base a metodologia antiga, observa-se redução da necessidade de capital do SFN no último trimestre de projeção para a data-base de junho de 2017 em comparação aos resultados dos dois semestres anteriores (Gráfico 1.5.1.2). A necessidade45 estimada de capitalização do sistema para evitar tanto desenquadramento46 quanto limitações à distribuição de lucros seria de 2,5% do PR atual.

Quando o teste de estresse é executado sob a metodologia nova, a necessidade de capital ao final do período de projeção (0,94% do PR) é significativamente inferior àquela obtida com a metodologia antiga (Gráfico 1.5.1.3). Isso já era esperado uma vez que agora passam a integrar o resultado também linhas de receitas relevantes, como receitas de crédito e de TVM. Anteriormente, apenas as perdas com crédito e o estresse de risco de mercado eram computados.

Também sob a metodologia nova, a análise da dispersão dos IBs evidencia que a maioria das instituições continuaria apresentando índices de capitalização acima do mínimo regulamentar (10,5%). Esse grupo representa cerca de 98% do ativo total do sistema (Gráfico 1.5.1.4).

1.5.2 Análise de sensibilidade

A análise de sensibilidade avalia o efeito sobre o capital do sistema bancário de variações incrementais nas taxas de juros, de câmbio, de ativos problemáticos e no preço de imóveis residenciais, todos de forma independente. Para os ativos problemáticos, são aplicados apenas incrementos. No caso de riscos de mercado (juros e câmbio), variações tanto positivas quanto negativas. Por fim, para o preço de imóveis residenciais, aplicam-se apenas variações negativas.

O teste de sensibilidade de juros e câmbio revela que os impactos seriam irrelevantes, o que é condizente com a pouca exposição líquida a esse risco e com o uso disseminado de instrumentos de hedge. Os resultados dos testes de sensibilidade a choques incrementais do risco de crédito, sumarizados no Gráfico 1.5.2.1, indicam que, caso o percentual de ativos problemáticos atinja 8,2%, próximo do maior nível já observado no sistema bancário

45/ O conceito de necessidade de capital engloba valores para evitar tanto desenquadramentos quanto limitações de distribuição de lucros impostas pela Resolução CMN nº 4.193, de 2013, na qual instituições financeiras consideradas sistemicamente importantes estão sujeitas ao Adicional de Capital Principal Sistêmico – ACPSistêmico.

46/ Uma instituição é considerada desenquadrada se não atender a, pelo menos, um dos três índices de exigência de capital: Índice de Basileia (IB), Índice de Capital de nível I (IPR1) e Índice de Capital Principal (ICP).

29

60

41

30

51 50

0

20

40

60

80

100

ROE < 0 0 < ROE < 0,85 * Selic ROE > 0,85 * Selic

Dezembro 2016 Junho 2017

1/ Os valores sobre as barras referem-se ao número de IFs com RSPL anual pertencente ao intervalo correspondente.

% dos ativos do sistema

Gráfico 1.3.4 – Distribuição de frequência do ROE anual1/

12,7 12,7

13,7 13,7

17,2 17,4

0

4

8

12

16

20

Jun2015

Dez Jun2016

Dez Jun2017

%

Índice de Capital Principal Índice de PR Nível I Índice de Basileia

Gráfico 1.4.1 – Índices de capitalização eexigência regulatória1/

• 1/ As setas representam os requerimentos regulatórios para os diferentes níveis de capital, incluindo o ACPConserv ação (5,75% de capital principal, 7,25% de capital nível I e 10,5% de capital total).

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Anexo estatístico

0,6 0,82,0

2,7

2,00,4 0,3

5,8

5,84,7

1,9

0,7

1,5

0

3

6

9

12

15

Simul. em dez/16 Simul. em jun/17 Simul. em dez/16 Simul. em jun/17

Público Comercial Privado

R$ bi

Gráfico 1.4.2 – Simulação da Necessidade de Capital 2019

CP CC N2 ACPConservação ACPSistêmico

10,5

7,9

2,2

9,9

Outubro 2017 | Relatório de Estabilidade Financeira | 28

brasileiro desde dezembro de 200047, a necessidade de capital seria de 0,1% do PR do sistema, e as instituições com necessidade de aporte de capital representariam 0,2% do total de ativos do sistema bancário. Em situação extrema da proporção de ativos problemáticos, de 22,0%, haveria necessidade de capital equivalente a 7,9% do PR do sistema, e as instituições com necessidade de aporte representariam 60,6% dos ativos do sistema. Outro marco importante seria se a proporção de ativos problemáticos chegasse a 15%, quando teríamos o acionamento de mecanismos de conversão de dívida em capital.48

A simulação de reduções sequenciais nos preços de imóveis demonstrou que não há desenquadramentos e/ou restrição à distribuição de lucros para quedas nominais de até aproximadamente 30%. Apenas uma queda de 50% ou mais nos preços provocaria situação de insolvência, caracterizada por capital principal negativo. O Gráfico 1.5.2.2 detalha os resultados.

Em junho de 2017, o estoque da carteira de crédito imobiliário residencial apresentou loan-to-value (LTV) médio de 62,5%, considerando tanto a atualização do valor das garantias pelo Índice de Valores de Garantias de Imóveis Residenciais (IVG-R)49 quanto a do saldo devedor por juros e amortizações. Critérios de concessão com baixos LTVs e utilização do Sistema de Amortização Constante (SAC) melhoram rapidamente o LTV da operação e contribuem para a capacidade do sistema de absorver choques de preços em cenários extremos.

Ante o exposto, as análises de sensibilidade confirmam que o sistema bancário brasileiro apresenta elevada capacidade de absorção de perdas, uma vez que necessidades relevantes de capital somente ocorreriam em situações extremamente adversas.

Os resultados dos testes de estresse realizados sugerem que o colchão de capital do sistema financeiro encontra-se em patamar que permite assimilar choques bastante severos, resultantes da piora dos indicadores econômicos. Além disso, a melhora do ambiente econômico, com redução das taxas de juros, convergência da inflação para o centro da meta e recuperação da atividade econômica, deve contribuir para manutenção de níveis adequados de capital pelas instituições financeiras.

47/ Anteriormente a janeiro de 2012, considera-se para efeito comparativo a proporção da carteira E-H em relação ao total da carteira de crédito.

48/ Conforme estabelecido pela Resolução nº 4.192, de 1º de março de 2013.49/ O IVG-R é calculado e divulgado pelo BC tendo por base os valores de

garantias de imóveis em financiamentos habitacionais. Para mais detalhes, ver item 2.6.

6,7 7,0

7,8 8,1

5,1 5,2

0

2

4

6

8

10

Dez2015

Jun Dez2016

Jun

%

Total Sistema Privados Públicos

Gráfico 1.4.5 – Projeção adoção plena – Basileia IIIRazão de Alavancagem

3 0 1

16

110

3 0 0

16

112

0

12

24

36

48

60

0 - 4.5 4.5 - 5.125 5.125 - 7 7 - 10.5 >10.5

Simul. em Dezembro 2016 Simul. em Junho 2017

% de ativos do sistema

Gráfico 1.4.4 – Projeção Índice de Capital Principal –Adoção plena Basileia IIIDistribuição de frequência ponderada por ativos¹

1/ Os valores dentro das barras referem-se ao número de IFs com ICP projetado pertencente àquele intervalo.

Anexo estatístico

Anexo estatístico

10,811,6

11,812,6

14,215,5

0

4

8

12

16

20

Jun2015

Dez Jun2016

Dez Jun2017

%

Índice de Capital Principal Índice de PR Nível I Índice de Basileia

Gráfico 1.4.3 – Projeção adoção plena – Basileia IIIÍndices de Capitalização

Anexo estatístico

Outubro 2017 | Relatório de Estabilidade Financeira | 29

1.5.3 Simulação de contágio direto interfinanceiro

Em adição aos testes de estresse macroeconômico e de sensibilidade, foram conduzidas simulações de contágio direto interfinanceiro, compreendendo as instituições autorizadas a funcionar pelo BC, exceto consórcios e cooperativas. Nesse exercício não são considerados efeitos secundários eventualmente decorrentes de exposições diretas, tais como efeitos de hedge.

Na avaliação do contágio direto interfinanceiro, simula-se a quebra individual das instituições financeiras, uma por vez, e o impacto que cada uma promove nas demais. Caso a quebra simulada de uma instituição provoque a quebra de outra instituição, realizam-se novas rodadas até que o sistema entre em equilíbrio (efeito dominó). O impacto decorre de exposições por diferentes instrumentos, tais como Depósitos Interfinanceiros (DI), garantias prestadas, operações com derivativos negociados em balcão ou quaisquer outras que tragam risco de crédito, cujas únicas garantias sejam da contraparte – e não de terceiros. Com a simulação de quebra, as exposições identificadas provocam perdas aos credores, e o efeito é avaliado sob a perspectiva da necessidade de capital para que o sistema evite a propagação do contágio.

0,0

2,4

4,8

7,2

9,6

12,0

Jun2017

Set Dez Mar2018

Jun Set Dez2018

Cenário baseVAR estressado (α = 5%)Quebra estruturalPior históricoProvisões constituídas (junho 2017)

Gráfico 1.5.1.1 – Estresse macroeconômico Carteira de ativos problemáticos projetada (% da carteira total)

%

Tabela 1.5.1.1 – Cenários de estresse macroeconômico (dezembro de 2018) Cenários

VariáveisJun 2017 Cenário base1/ Cenários Adversos3/

VAR estressado (α = 5%) Quebra estrutural Pior histórico

Atividade econômica (IBC-Br) -1,9% 1,8% -6,9% -6,9% 1,8%

Juros(Selic) 11,0% 7,5% 20,6% 24,0% 7,1%

Câmbio(R$/US$) 3,21 3,39 5,81 6,95 3,91

Inflação(IPCA) 3,0% 4,1% 5,6% 8,6% 1,3%

Desemprego(PNAD-C IBGE) 13,0% 13,0% 23,3% 23,3% 13,1%

Prêmio de risco(EMBI+ Br)2/ 279 279 279 279 232

Juros americanos(Treasury 10 anos) 2,3% 2,7% 3,3% 3,3% 1,9%

1/ As variáveis obtidas da pesquisa Focus, coletadas em 15 de agosto de 2017, são a previsão para o PIB, a Selic, o câmbio e a inflação para dezembro de 2018. Os juros americanos seguem trajetória utilizada pelo Federal Reserve no Dodd-Frank Act Stress Testing (DFAST) 2017, para o cenário baseline. As demais variáveis são consideradas constantes por todo o período de projeção.2/ Para os cenários VAR estressado e quebra estrutural, o prêmio de risco Brasil (EMBI+Br) máximo, igual a 557, é atingido em setembro de 2017, retornando gradativamente ao valor inicial em setembro de 2018.3/ Os critérios de construção de cada cenário são descritos no anexo Conceitos e metodologias – Estresse de capital.

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Outubro 2017 | Relatório de Estabilidade Financeira | 30

Nesses exercícios, os resultados apontam para baixa necessidade de recursos para recapitalização do sistema em decorrência de eventual contágio de cada uma das IFs individualmente. No pior caso, a necessidade de capital decorrente do contágio seria de cerca de 1,1% do PR do Sistema. Esse baixo impacto é explicado, além do limite de exposição por cliente de 25% do PR (Resolução BC nº 2.844, de 29 de junho de 2001), pelo fato de a imensa maioria das transações interfinanceiras ser cursada por meio de operações compromissadas lastreadas em títulos públicos federais não sujeitas ao contágio. O restante das operações tem baixo volume no agregado do sistema financeiro, mas relevante em alguns casos particulares, o que explica a necessidade de capital identificada.

1.6 Pesquisa de Estabilidade Financeira

Introdução

Esta seção apresenta os resultados recentes da Pesquisa de Estabilidade Financeira (PEF). A PEF é realizada trimestralmente com instituições financeiras selecionadas, com o objetivo de identificar e acompanhar riscos à estabilidade financeira, de acordo com a percepção das entidades reguladas.

O questionário da pesquisa passou por ampla revisão, implementada nas pesquisas conduzidas em maio e agosto deste ano, com o objetivo de incorporar novos aspectos dos riscos sistêmicos.

A amostra da PEF é formada por 54 instituições financeiras, que representam 95% do sistema financeiro em termos de ativos, incluindo-se bancos públicos, bancos de desenvolvimento, bancos privados nacionais, bancos estrangeiros e bancos privados nacionais com participação estrangeira.

Nesse novo formato, as pesquisas foram realizadas nos períodos de 4 a 19 de maio de 2017 e de 14 a 29 de agosto de 2017, com taxas de resposta de 96% e 98%, respectivamente.

Riscos à estabilidade financeira

Os respondentes indicaram a sua percepção sobre os principais riscos50 à estabilidade financeira nos próximos

50/ Pergunta: “Nos próximos três anos, quais riscos à estabilidade financeira sua instituição considera mais relevantes, considerando probabilidade e impacto no SFN?”. Descreva os três riscos em ordem de importância (o mais importante primeiro, considerando a combinação de probabilidade de ocorrência do evento e magnitude do impacto em termos de perdas relativamente ao volume de ativos do SFN).

12

14

16

18

20

22

0

1

2

3

4

5

Jun2017

Set Dez Mar2018

Jun Set Dez2018

Capital principal (dir.) Complementar (dir.)

Nível 2 (dir.) Índice de Basileia

Gráfico 1.5.1.3 – Necessidades de capital VAR estressado – Metodologia nova

% do PRÍndice de Basileia (%)

0,0

1,0

2,0

3,0

4,0

5,0

0 1 2 3 4 5 6Trimestres

Data-base junho 2016 Data-base dezembro 2016Data-base junho 2017

% do PR

Gráfico 1.5.1.2 – Necessidades de capitalVAR estressado – Evolução (metodologia antiga)

1 1 3

9

16

91

13 4 2

18

3

97

0

20

40

60

80

100

≤ 8.5 8.5 - 10.5 10.5 - 12.5 12.5 - 14.5 14.5 - 16.5 ≥ 16.5

Junho 2017 (dados observados) Dezembro 2018 (cenário VAR estressado)

Gráfico 1.5.1.4 – Estresse macroeconômico Distribuição de frequência dos ativos por faixa de IBs –VAR estressado1/

% de ativos do sistema

1/ Os valores acima das barras referem-se ao número de IFs em cada intervalo.

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Outubro 2017 | Relatório de Estabilidade Financeira | 31

três anos, considerando probabilidade e impacto no SFN. Os bancos também avaliaram a intensidade dos efeitos que esses eventos produziriam no sistema financeiro e os prováveis canais de transmissão de choques.

A Tabela 1.6.1 apresenta as principais fontes de risco ao sistema financeiro, espontaneamente relatados pelas instituições financeiras, comparando-se as pesquisas de maio e agosto. As respostas são classificadas em diferentes grupos, sendo que cada instituição pode elencar até três riscos. Os fatores relacionados com “Inadimplência e Recessão”, embora continuem como os mais citados pelas instituições financeiras, apresentaram importante redução na frequência com que são citados. A frequência passou de 90% em maio para 72% em agosto. Essa percepção é consistente com a melhora nos indicadores recentes de atividade, como o crescimento do PIB por dois trimestres consecutivos e a queda na taxa de desemprego.

Por sua vez, a percepção de riscos fiscais e políticos apresentou crescimento entre as duas últimas pesquisas. A frequência de citação de riscos fiscais passou de 50% para 60% e de riscos políticos aumentou de 44% para 51%. Destaca-se ainda a melhora na percepção de risco advindo do cenário internacional (citados por 28% dos respondentes em agosto de 2017, ante 44% em maio de 2017).

As instituições financeiras classificaram51 riscos políticos e fiscais como mais prováveis e com maior impacto no sistema financeiro, embora menos citados que os de inadimplência e recessão, conforme apresentado no Gráfico 1.6.1.

Os canais de transmissão52 de eventos mais relevantes apontados foram aumento da incerteza, fuga de capitais e downgrade de crédito, conforme apresentado na Tabela 1.6.2.

51/ Pergunta: “Para cada um dos três riscos apontados, indique a probabilidade e o impacto, considerando as seguintes classes: i) probabilidade: baixa (<1%); médio-baixa (1%-10%); médio-alta (10%-30%); alta (>30%); ii) impacto (volume de ativos do SFN): muito baixo (<0,1%); baixo (0,1%-1%); médio (1%-5%); alto (5%-10%); muito alto (>10%)”.

52/ Pergunta: “No caso de ocorrência do evento de alto impacto mais relevante, qual a probabilidade do referido choque ser transmitido pelos seguintes canais”. Os números apresentados representam a mediana das respostas. A última coluna mostra a distribuição das respostas do último levantamento da pesquisa.

Tabela 1.6.1 – Frequência de riscos mais citados

Risco Maio 2017 Agosto 2017

Inadimplência e recessão 90 72

Riscos Fiscais 50 60

Riscos Políticos 44 51

Cenário Internacional 44 28

Risco de Liquidez 17 23

Risco de Mercado 23 21

Mudanças Regulatórias 12 9

Fonte: BCNota – Pergunta: "Nos próximos três anos, quais riscos à estabilidade financeira sua instituição considera mais relevantes, considerando probabilidade e impacto?".

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Anexo estatístico

1,5 2,1

4,3

0,0

1,0

16,711,4

0,119,3

37,551,1 60,6

-

2 .0

4 .0

6 .0

8 .0

1 0 .0

1 2 .0

1 4 .0

1 6 .0

1 8 .0

2 0 .0

0

4

8

1 2

1 6

2 0

2 4

2 8

3 2

3 6

4 0

4 4

4 8

5 2

5 6

6 0

6 4

6 8

7 2

7 6

8 0

8 4

8 8

9 2

9 6

1 00

1 04

1 08

1 12

1 16

1 20

1 24

1 28

1 32

1 36

1 40

1 44

1 48

1 52

1 56

1 60

1 64

1 68

1 72

1 76

1 80

1 84

1 88

1 92

1 96

2 00

7 9 10 12 13 15 16 18 19 20 22

Gráfico 1.5.2.1 – Análise de sensibilidadeRisco de crédito

Ativos problemáticos (%)

Bancos em insolvência (% do ativo total)

Bancos desenquadrados (% do ativo total)

IB estressado (%)

Necessidade de capital (% do capital total):

PrincipalComplementarNível II

Maior proporção observada de ativos

problemáticos (desde Dez/2000)

22,9 1,1 2,0

0,0

18,2

15,87,1

0,0

18,2 19,4

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90Queda no preço dos imóveis (%)

Queda (%) acumulada do S&P Case-Shiller 10 (EUA) durante a crise do subprime

(abr./2006 a mai./2009)

Gráfico 1.5.2.2 – Análise de sensibilidadeRisco de crédito imobiliário residencial

Necessidade de capital (% do capital total):

Principal

Complementar

Nível II

Bancos em insolvência (% do ativo total)

Bancos desenquadrados (% do ativo total)

IB estressado (%)

Outubro 2017 | Relatório de Estabilidade Financeira | 32

Ciclos econômico e financeiro

Os Gráficos 1.6.2 e 1.6.3 apresentam a percepção das instituições financeiras sobre os ciclos econômico e financeiro. Há uma melhora na percepção sobre a atividade econômica. Em agosto de 2017, 89% dos respondentes acreditavam que a economia se encontrava em fase de recuperação, ante 79% em maio de 2017. Esse resultado está consistente com a queda na percepção sobre o risco relacionado à inadimplência e recessão.

Por outro lado, de acordo com a pesquisa, a disposição das instituições financeiras para tomar risco continua baixa (92% das respostas classifica essa disposição como “Baixa e estável” ou “Baixa com tendência de queda”). As respostas com relação ao hiato do crédito em relação ao PIB também estão no mesmo sentido: 74% dos respondentes afirmaram que o ciclo estava em uma das três fases de baixa.

A maioria dos respondentes acredita que o acesso a funding e a meios de liquidez se encontra na fase “elevado e estável”. A dispersão nas respostas não permite identificar fase dominante no ciclo financeiro de preço de ativos em relação aos fundamentos da economia. Sobre o grau de alavancagem de empresas e famílias, embora a grande maioria considere que o grau de alavancagem esteja elevado (92%), houve um aumento substancial dos que acreditam que essa alavancagem está em tendência de queda (77%) em vez de estar estável (15%).

Expectativas para o Adicional Contracíclico de Capital Principal

Em linha com a implementação das recomendações do Comitê de Basileia para Supervisão Bancária conhecidas por Basileia III, o Comitê de Estabilidade Financeira (Comef) é o órgão responsável pela definição e comunicação do valor do adicional contracíclico relativo ao Brasil.

Assim, foram incluídas no questionário da PEF perguntas sobre expectativa e sugestão das instituições financeiras para o valor do ACCPBrasil na reunião seguinte do Comef. Os resultados apresentados no Gráfico 1.6.4 mostram que a grande maioria das instituições espera e recomenda a manutenção do atual valor do ACCPBrasil em zero por cento.

Inadimplência e recessão

Riscos Fiscais

Riscos Políticos

Cenário Internacional

Risco de LiquidezRisco de Mercado

Mudanças Regulatórias

0,0

2,0

4,0

6,0

8,0

10,0

0 4 8 12 16 20

Impa

cto

(per

da/a

tivo

SFN

)

Probabilidade

Gráfico 1.6.1 – Riscos elencados na PEF (ago/2017): probabilidade, impacto e frequência

Fonte: BCNota: o tamanho do círculo representa a frequência com que o risco é citado. A ordenada representa a média das classes de probabilidade e impacto, respectivamente, apontadas na pesquisa.

Tabela 1.6.2 – Canais de transmissão de choque no SFN

Canal de Transmissão Mai 2017 (mediana)

Ago 2017 (mediana)

Distribuição (última posição)

Contágio entre mercados e instituições domésticas 3 3

Congelamento de liquidez, incluindo mercado interbancário e linhas de crédito do exterior

2 2

Queda expressiva de preços de ativos financeiros domesticos, inclusive garantias

4 3

Aumento da aversão ao risco e de incerteza, afetando decisões correntes de consumo e investimento

4 4

Queda de confiança dos depositantes, incluindo movimentos caracterizados com "flight-to-safety".

3 3

Fuga de capitais e/ou depreciação cambial relevante

4 4

Downgrade de rating de crédito, incluindo rating soberano, de forma ampla e disseminada

3 4

1 2 3 4 5 6

1 2 3 4 5 6

1 2 3 4 5 6

1 2 3 4 5 6

1 2 3 4 5 6

1 2 3 4 5 6

1 2 3 4 5 6

ProbabilidadeMuito baixa 1 2 3 4 5 6 Muito altaFonte: BC

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Outubro 2017 | Relatório de Estabilidade Financeira | 33

Resiliência do sistema financeiro

A capacidade de o sistema financeiro reagir a evento de alto impacto, segundo avaliação das instituições financeiras, é descrita na Tabela 1.6.3. A percepção sobre as condições de resiliência do SFN não se alterou nos últimos levantamentos da pesquisa. Os resultados mostram elevado grau de concordância entre as instituições sobre a adequação e suficiência dos instrumentos disponíveis para enfrentar cenário de grave crise financeira, em caso de sua materialização.

Confiança na estabilidade do sistema financeiro

O índice agregado de confiança53 na estabilidade financeira tem se mantido positivo, com pequenas oscilações desde o segundo semestre de 2016 (Gráfico 1.6.5). É importante ressaltar que não têm sido registradas avaliações negativas (classes: “sem confiança” e “pouca confiança”) desde o primeiro trimestre de 2016.

Portanto, mesmo depois da severa recessão de 2016-2017 e dos momentos de maior incerteza, as instituições financeiras acreditam que o sistema financeiro teria satisfatória capacidade para absorver choques.

Considerações finais

O fator de risco “Inadimplência e Recessão”, embora ainda seja o mais citado pelas instituições financeiras, apresentou importante redução na frequência com que foi citado. Essa queda na percepção sobre esse risco está consistente com a melhora na percepção sobre a atividade econômica na margem, com o aumento das instituições que acreditam que a economia se encontra em fase de recuperação. Por outro lado, as instituições financeiras manifestaram preocupação com riscos fiscais e políticos como fontes de risco à estabilidade financeira.

Os resultados da pesquisa indicam que, na visão das instituições financeiras, a economia está em recuperação, mas a percepção sobre o ciclo de crédito é menos positiva. A capacidade de resposta do sistema financeiro a eventos relevantes é considerada satisfatória, e a confiança na

53/ No questionário, pergunta-se “Qual o grau de confiança na estabilidade do sistema financeiro nos próximos três anos?”. O índice de confiança é calculado ponderando as respostas de acordo com os seguintes pesos (multiplicados por 100): confiança completa (1); muita confiança (0,75); razoável confiança (0,5); pouca confiança (0,25); e sem confiança (0).

0

20

40

60

80

100

Expansão Boom (pico) Contração Recessão Depressão(vale)

Recuperação

% Ciclo Econômico

Ago 2017 Maio 2017

0

20

40

60

80

100

Elevado comtendência de

alta

Elevado eestável

Elevado comtendência de

queda

Baixo comtendência de

queda

Baixo eestável

Baixo comtendência de

alta

% Hiato Crédito/PIB

Ago 2017 Mai 2017

0

20

40

60

80

100

Elevado comtendência de

alta

Elevado eestável

Elevado comtendência de

queda

Baixo comtendência de

queda

Baixo eestável

Baixo comtendência de

alta

% Disposição das IFs para tomar riscos

Ago 2017 Mai 2017

Gráfico 1.6.2 – Ciclos econômico e financeiro

Nota: os losangos e as barras referem-se às pesquisas realizadas em maio e agosto de 2017, respectivamente.

Anexo estatístico

Outubro 2017 | Relatório de Estabilidade Financeira | 34

Gráfico 1.6.3 – Ciclo financeiro

Nota: os losangos e as barras referem-se às pesquisas realizadas em maio e agosto de 2017, respectivamente.

estabilidade financeira mantém-se elevada. A maioria espera e recomenda que o valor do ACCPBrasil seja mantido, o que sugere alinhamento das expectativas relativamente à capitalização do sistema financeiro, considerando fatores de acumulação de risco e grau de alavancagem da economia.

1.7 Infraestruturas do mercado financeiro sistemicamente importantes

No primeiro semestre de 2017, observou-se o funcionamento eficiente e seguro das infraestruturas do mercado financeiro (IMF) sistemicamente importantes. No Sistema de Transferência de Reservas (STR), único sistema de transferência de fundos sistemicamente importante, a liquidez intradia agregada disponível permaneceu acima das necessidades das instituições financeiras participantes, garantindo que as liquidações ocorressem com tranquilidade. Ao longo do semestre, em média, a necessidade efetiva de liquidez intradia do sistema ficou em 1,3% da liquidez intradia disponível, sendo de 3,2% o percentual máximo observado no período.

Os títulos públicos livres mantidos nas carteiras das IFs e os recolhimentos compulsórios mantidos no BC contribuem para um ambiente de elevada liquidez no sistema (Gráfico 1.7.1). Consequentemente, espera-se que, no curto prazo, não haja perturbações na liquidação de pagamentos no decorrer de um dia, devendo a necessidade efetiva de liquidez permanecer em patamares baixos, relativamente ao potencial de liquidez. Nesse sentido, o cenário de distribuição de liquidez intradia, inclusive considerando a distribuição individual pelas IFs, deve permanecer confortável e garantir adequada fluidez dos pagamentos.

As análises de backtesting, periodicamente realizadas para os sistemas de compensação e de liquidação de transações com títulos, valores mobiliários, derivativos e moeda estrangeira, nos quais há uma entidade atuando como contraparte central (CPC), apresentaram resultados satisfatórios ao longo do semestre54. O risco de crédito

54/ A análise de backtesting tem o propósito de avaliar contínua e diariamente se a constituição de garantias e salvaguardas adicionais em uma CPC está adequada para a cobertura da exposição dos participantes. Nesse sentido, esse tipo de análise constitui ferramenta importante para informar sobre a evolução histórica dos riscos assumidos em uma CPC, bem como para sinalizar futuras tendências, subsidiando melhor a tomada de decisão.

0

20

40

60

80

100

Elevado comtendência de

alta

Elevado eestável

Elevado comtendência de

queda

Baixo comtendência de

queda

Baixo eestável

Baixo comtendência de

alta

% Grau de alavancagem de empresas e famílias

Ago 2017 Mai 2017

0

20

40

60

80

100

Elevado comtendência de

alta

Elevado eestável

Elevado comtendência de

queda

Baixo comtendência de

queda

Baixo eestável

Baixo comtendência de

alta

% Acesso a fundings e meios de liquidez

Ago 2017 Mai 2017

0

20

40

60

80

100

Elevado comtendência de

alta

Elevado eestável

Elevado comtendência de

queda

Baixo comtendência de

queda

Baixo eestável

Baixo comtendência de

alta

% Preço de ativos em relação aosfundamentos da economia

Ago 2017 Mai 2017

Anexo estatístico

Outubro 2017 | Relatório de Estabilidade Financeira | 35

medido nesses sistemas não superou o valor das garantias que compõem suas salvaguardas.

Na análise de backtesting da Câmara de Ações da B3 (B3 – Ações), o valor máximo do Risco Financeiro Líquido (RFL)55 para os dois participantes mais críticos correspondeu a 3,1% das salvaguardas adicionais disponíveis, como fundos mutualizados, por exemplo (Gráfico 1.7.2)56.

Para a Câmara BM&FBovespa da B3, que liquida derivativos financeiros e de commodities, o RFL para os dois participantes mais críticos correspondeu a 8,4% das salvaguardas adicionais disponíveis no dia em que atingiu seu valor máximo (Gráfico 1.7.3).

Com relação ao risco de liquidez em reais gerenciado no âmbito da Câmara de Câmbio da B3 (B3 – Câmbio), ao longo do semestre observaram-se oito dias em que as linhas de liquidez contratadas não seriam suficientes para converter, de forma tempestiva, os dólares entregues pelos participantes adimplentes em reais, e cobrir a inadimplência simultânea dos dois maiores devedores (Gráfico 1.7.4). No entanto, cabe destacar que as linhas de liquidez contratadas seriam suficientes para garantir a liquidação da maior posição devedora, conforme estabelece o inciso V do artigo 3º da Resolução n° 2.882, de 30 de agosto de 2001. Além disso, o montante das garantias depositadas suportaria o risco de crédito dos dois maiores participantes.

No primeiro semestre de 2017, as variações acumuladas de dois dias nos principais Fatores Primitivos de Risco (FPR)57 utilizados pela Câmara BM&FBovespa da B3 para cálculo de garantias mantiveram-se dentro dos limites estabelecidos em seus cenários de estresse (Tabela 1.7.1).

55/ O RFL representa o custo em que a câmara iria incorrer para encerrar a carteira de um determinado participante, caso se tornasse inadimplente, subtraído do total de garantias por ele constituídas, com base nas variações reais dos preços dos ativos. Representa, pois, a parcela de exposição ao risco que não é coberta pelas garantias individuais do participante. Para cada dia, são considerados os dois participantes aos quais a câmara esteja mais exposta, isto é, os dois participantes que apresentarem maior valor de RFL.

56/ Cada câmara dispõe de um fundo de liquidação composto por contribuições dos participantes e da própria câmara, cuja regra de utilização consta dos regulamentos e manuais de cada sistema.

57/ O FPR associado a um contrato derivativo é a denominação dada à variável financeira relevante à formação do valor, ou preço, do contrato. Ao se determinar o valor de um contrato derivativo por meio de uma relação matemática bem definida envolvendo um conjunto de variáveis econômicas, como a que resulta da assunção do Princípio de Não Arbitragem, define-se que tais variáveis representam os fatores primitivos de risco do contrato.

88%

2%2% 8%

Sugestão para o valor do Adicional Contracíclico de Capital Principal

Manter Elevar 0,05 p.p. Elevar 0,25 p.p. Elevar 1 p.p.

94%

2% 4%

Expectativa para valor do Adicional Contracíclico de Capital Principal

Manter Elevar 0,05 p.p. Elevar 1 p.p.

Gráfico 1.6.4 – Expectativas para o valor do Adicional Contracíclico de Capital Principal

Tabela 1.6.3 – Capacidade de reação do sistema financeiro a eventos de alto impacto

Aspectos para lidar com crise financeira Mai 2017 Ago 2017 Distribuição

(última posição)

Adequação de capital do sistema financeiro 2 2

Adequação de liquidez do sistema financeiro 2 2

Grau de atenção e monitoramento das instituições financeiras

2 2

Grau de atenção e monitoramento do governo e reguladores

2 2

Disponibilidade de instrumentos para prevenção e mitigação de risco pelo Banco Central

2 2

Aspectos para lidar com crise financeiraSatisfatório 1 2 3 4 5 6 Insatisfatório

1 2 3 4 5 6

1 2 3 4 5 6

1 2 3 4 5 6

1 2 3 4 5 6

1 2 3 4 5 6

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Outubro 2017 | Relatório de Estabilidade Financeira | 36

Por fim, o Gráfico 1.7.5 apresenta a evolução da acurácia58 do modelo de risco utilizado pela Câmara BM&FBovespa da B3 na determinação dos níveis de garantias individuais dos seus participantes. Nota-se que, a partir do dia 18 de maio, o valor da acurácia, embora elevado, encontra-se abaixo do objetivo de 99% recomendado pelos Princípios para Infraestruturas do Mercado Financeiro59. Como será analisado no Capítulo 2, o dia 18 de maio foi marcado por forte volatilidade nos mercados, o que gerou um aumento de erros na estimativa do modelo de gerenciamento de riscos neste dia e, consequentemente, a queda da acurácia do modelo de risco.

Embora o modelo tenha subestimado o risco para 1.565 carteiras nessa data, a soma do risco financeiro líquido de todas essas carteiras foi igual a, aproximadamente, R$8 milhões. Essas carteiras estavam sob a responsabilidade de 33 membros de compensação diferentes e, em nenhum dos casos, o RFL superou as garantias depositadas para o fundo mutualizado pelo respectivo membro de compensação, o que demonstra o atendimento do parâmetro regulamentar segundo o qual as câmaras devem assegurar a liquidação da maior posição compensada devedora60. Dessa forma, ainda que os comitentes responsáveis por essas carteiras se tornassem inadimplentes, não haveria risco financeiro remanescente para a CPC.

O valor da acurácia permanece abaixo dos 99% após o dia 18 de maio, uma vez que a metodologia que apura a acurácia do modelo utiliza uma janela móvel dos últimos três meses, e a queda da acurácia em um dia impactará as estimativas até o final da primeira quinzena de agosto, a partir de quando o indicador deve retomar o patamar anterior.

58/ O nível de acurácia é definido como a proporção de acertos de um modelo de gerenciamento de riscos em um determinado período de tempo. No caso de câmara de compensação e de liquidação atuando como contraparte central, o nível de acurácia é dado, simplificadamente, pelo número de vezes em que as garantias requeridas dos participantes foram superiores ao risco de fato incorrido pela CPC, dividido pelo número total de participantes que tiveram sua exposição ao risco verificada, em um determinado período de tempo.

59/ Os Princípios para Infraestruturas do Mercado Financeiro (Principles for Financial Market Infrastructures – PFMI) foram publicados em abril de 2012 pelo Comitê de Sistemas de Liquidação e Pagamentos do Banco de Compensações Internacionais (CPSS/BIS) e pelo Comitê Técnico da Organização Internacional de Comissões de Valores (TC/IOSCO). O propósito dos PFMI é reforçar a segurança e a eficiência das IMFs.

60/ Art. 3º, inciso V, da Resolução nº 2.882, de 2001.

Gráfico 1.6.5 - Confiança no sistema financeiro

0

20

40

60

80

100

Dez2012

Dez2013

Dez2014

Dez2015

Dez2016

Ago2017

%

0

20

40

60

80

100

SemConfiança

PoucaConfiança

RazoávelConfiança

MuitaConfiança

CompletaConfiança

% Distribuição Relativa das Percepções de Confiança (agosto 2017)

Ago 2017 Mai 2017

0

300

600

900

1.200

1.500

Jul2016

Ago Set Out Nov Dez Jan2017

Fev Mar Abr Mai Jun

R$ bilhões

Títulos livres Compulsórios

Reservas início de dia Necessidade efetiva de liquidez

Gráfico 1.7.1 – Necessidade de liquidez intradia

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Outubro 2017 | Relatório de Estabilidade Financeira | 37

98,0

98,4

98,8

99,2

99,6

100,0

Jan2017

Fev Mar Abr Mai Jun

%

Gráfico 1.7.5 – Câmara BM&FBovespaRisco de crédito1/

1/ Estimativas de acurácia do modelo de cálculo de garantias individuais, realizadas com janela móvel dos últimos três meses (63 dias).

0

80

160

240

320

400

Jan2017

Fev Mar Abr Mai Jun

Falha de um membro da câmara Falha de dois membros da câmara

Gráfico 1.7.4 – B3 – CâmbioDeficit de liquidez

R$ milhões

0

10

20

30

40

50

Jan2017

Fev Mar Abr Mai Jun

Gráfico 1.7.3 – Câmara BM&FBovespaRisco financeiro líquido

R$ milhões

Fontes: B3 e BCB

0

5

10

15

20

25

Jan2017

Fev Mar Abr Mai Jun

Gráfico 1.7.2 – B3 – AçõesRisco financeiro líquido

R$ milhões

Fontes: B3 e BCB

Tabela 1.7.1 – Câmara BM&FBovespaFatores Primitivos de Risco – Variaçãopercentual com relação aos cenários

Discriminação Mín1/ Máx1/

Ibovespa à vista 65% 20%Dólar à vista 20% 67%Pré 42 26% 54%Pré 126 35% 85%Pré 252 26% 86%Pré 756 36% 84%DDI2/ 180 7% 7%DDI 360 5% 8%DDI 1080 9% 6%

Fontes: B3 e BC

1/ Percentual de variação acumulada em 2 dias em relação aos cenários de baixa e alta no 1º semestre de 2017.2/ Cupom cambial.

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Anexo estatístico