CAPITU, 100 ANOS: AS FACES DE SUA...
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CRISTIAN MARY HILGEMBERG BUENO
CAPITU, 100 ANOS: AS FACES DE SUA MQDERNIDADE
Monografia apresentada adisciplina de r4etodologia dePesquisa para obten<;ao de graude Especialista no curso deEspecializa~ao em LinguaPortuguesa da UniversidadeTuiuti do Parana.Orientadora: Dra. Denize Araujo
CURITIBA
2000
SUMARIO
1 INTRODU<;:AO 2
2 A CAPITU
2.1 A ESSENCIA DA PSICOLOGIA FEMININA
2.2 AS MASCARAS E OS ANSEIOS
.3 A QUESTAO DO ADULTERIO .
3 A CONTEMPORANEIDADE DE CAPITU .
3. AS CAPITUS CONTEMPORANEAS .
4 CONSrDERA~6ES FINAlS .
REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS 29
13
17
21
24
28
1 INTRODU<;:AO
Urna das mais importantes obras da literatura
brasileira, Dam Casmurro, de Machado de ]l.~ssis, e, cern
anos depois de sua primeira publica<;';o, analisada e
discutida par profissionais e estudantes dos mais
variados niveis. A questao fundamental da obra depara-
se com 0 passivel adulterio cometido pela personagem
Capitu, do qual resultam estudos pomposos.
Mas obra que fascina gerac;6es muitas vezes e
menosprezada por seus admiradores quando esses
priorizam 0 passivel enigma existente no texto e
esquecem as dimensoes narrativas
especialmente o verdadeiro papel
do
da
romance e
personagem
principal,
nos 50S dias.
qual inspira muitos dos escritores dos
Esta personagem tao presente na literatua foi
arquitetada pelos olhos ciumentos e amargurados de
Bento, narrador do texto, que a descreve envolvente,
misteriosa, com nuances de comportarnento inusitados. E
tais s~o as artimanhas deste senhor que, ao
percebermos, enquanto leitores, somos prisioneiros de
sua teia.
Urn trecho do texto que introduz uma das edicoes de
Dom Casmurro escrito por Vicente Ataide diz:
o narrador insiste nos termos da verda dee da justic;:a e no cooptar para fazer corocom seus pontos de vista (ele chega a dizerque 0 livr~ e feito de verdade pura - apenasnao diz que as verdades colocadas s6 saoaquelas de segunda ordem). Como se ele fosseo detentor do saber (na verdade e 0 detentordo poder). A menorizac;:ao de Capitu atravesde marcas externas Undumentaria, habitac;:ao)nao corresponde a sua presenc;:a intelectual eintelig&ncia: Capitu e mais capaz queBentinho. Esta qualidade, porem, emenosprezada pelo rico, pois tao 56 0 bernamealhado estabelece as formas do existir.(p. 30)
E mesmo com a "menoriza<;ao de Capitu", quem esta
sempre sende alvo de estudos e discussao e ninguem
menos que a pr6pria Capitu.
Entao, sera 0 misterio dessa personagem em
primeiro momento 0 adulterio - 0 unico motivo para que
estudiosos e tambem grandes escritores resgatem-na urn
seculo depois e a co!oquem diante dos nossos problemas
e de nossas dificuldades?
Ou sera a sua for<;a em lutar por melhores
condic;5es de vida, considerando sua epoca, na qual a
mulher nao possuia direito algum, demonstrando sua
inteligencia ao usufruir dos unices recurs os que
dispunha tentando mudar a situa<;ao?
Em estudo introdutivo escrito por Afranio Coutinho
para outra edi~ao de Dam Casmurra e dito 0 seguinte:
Capitu e urn arquetipo bern brasileiro dasmeninas pabres que procuram ascender declasse custa do casamento arquitetadamaliciosamente e por mer~ interesse emmuitos casos. Capitu naa mediu esforcos eartimanhas para veneer todos os obstaculos auniao com Bentinho, desafiando superstic6es,convenc6es e desigualdades financeiras. Seuobjetivo era claramente subir de situacao,entrando para 0 nivel superior em que 5e
encontrava financeiramente a familia deBentinho. (p. 23-24)
Capitu rnostra-se decidida, forte, opinativa. Pois
e ela que estuda uma forma de fazer com que D. Gl6ria
desista da promessa feita. Ela arma urn plano com Jose
Dias e ainda indica como Bento deve agir. Conhecendo a
personalidade de Jose Dias, Capitu sabe como persuadi-
10. Sabendo das inseguranyas de Bento, sabe como
orienta-Io e, na medida em que os acontecimentos se
concretizam, sabe quais providencias tamar
posteriormente. Somente ela guia Bento para quais
decisoes este deve tomar. Obstinada, manipula todas as
outras personagens para conseguir 0 que quer. Capitu
domina todos porque domina Bento. Suas caracteristicas
nao obedecem a modelo de epoca alguma e, por isso,
escritores contemporaneos como Dalton Trevisan,
Fernando Sabino, Domicio Proenc;a Filho, Jose Endoenc;a
Martins, dentre outros, utilizam, conscientes aU nao, 0
molde Capitu para confeccionar novas personagens.
Impulsionada pelas hipoteses da forte persona gem
feminina e da personagem adultera, esta pesquisa
pretende analisar as faces de Capitu, primeiramente no
seu texto de origem, posteriormente nos textos que
dialogam com a mesmo, ressaltando a personagem feminina
em Dinora, Amor a Capitu, Capitu - Mem6rias P65tumas e
Enquanto 1550 Em Dam Casmurro, dos respectivos auto res
citados acima. Procurando interpretar 0 "enigma de
Capitu" I sera observado seu comportamento deslocado de
seu espac;o e tempo.
2 A CAPITU
Capitu,
criatura de 14 anos, alta, forte echeia, apertada em urn vestido de chita, meiodesbotado. Os cabelos grossos, feitos emduas trancas, com as pontas atadas uma itoutra, it moda do tempo, morena, olhosclaros e grandest nar~z reto e comprido,tinha a boca fina e 0 queixo largocalc;ava sapatos de duraque, rasos e velhos,a que ela mesma dera alguns pontos. (p. 21).
Personagem que tern 0 poder de surpreender: "Fiquei
aturdido. Capitu gostava tanto de minha mae, e minha
mae dela, que eu nao podia entender tamanha explosao".
(p. 29). Segundo Jose Dias, Capitu possuia "olhos de
cigana obliqua dissimulada" (p. 35) , mas para
Bentinho os olhos pareciam "olhos de ressaca" (p.S4).
"Traziam nao sei que fluido misterioso e energetico,
uma forca que arrastava para dentro, com a vaga que se
retira da praia, nos dias de ressaca". (p. 54 - este e
os demais trechos extraidos da obra Dom Casmurro).
Bentinho, tambem protagonista, que ocupa uma
postura de anti-heroi, nao pretendia ser padre como
determinara sua mae, mas tencionava casar-se com
Capitu, sua amiga de inf,3ncia. Urn fa to interessante e
que os planos, para nao entrar no seminario, eram
sempre elaborados por Capitu.
As "armadilhas" preparadas ao lei tor de Dam
Casmurro fazem com que a personagem Capitu permanec;:a
oculta e rnisteriosa, desafiando e enredando varias
gerac;:6es de leitores.
Em outro trecho do texto de Cavalcanti Proenc;:a e
dito que Dam Casmurro e:
Livra que exige repetidas leituras.Quanto mais 0 lemos, mais nos enleamos nasarmadilhas que Machado de Assis vai deixandopelo caminho. Fazemos os mais diferentesjuizos a respeito de Capitu. Ora a favor,ora contra. Ela nos desconcerta e nos poe desobreaviso, com seus olhas fundos deressaca, que amea9am engolir tudo e todos.Ninguem se aproxima impunemente. (p. 9)
Urn texto com tantas antlteses, com poder de
evidenciar e negar, relatar e diluir, e caracteristico
de Machado de Assis. Toda a situac;:ao articulada tern
realmente 0 tom intencional, 0 qual podemos concluir
quando descohrimos que, diante da primeira leitura
desta obra, Machado e questionado sobre 0 que realmente
houve com 0 matrimonio de Sr. Bento Gonc;:alves e Dona
Capitolina. Em uma carta escrita por Grac;:a Aranha este
afirma: "teve por amante 0 maior amigo do marido, nao
nega, mas tamhem nao afirrna, deixando duvidas no ar".
(Trecho parafraseado por Dalton Trevisan em Dinora,
p. 25)
A dicotomia existente no texto e tal que 0
narrador da historia e 0 maior of endido, relatando sua
triste e casmurra vida. E, logicamente, sua aten<;ao
sera dispensada para sua companheira,
justificar suas ideias.
fim de
o texto de muitas antiteses a obscuridade da
personalidade da personagem cria em toda a leitura urn
jogo no qual 0 lei tor passa a ser cumplice e a viver a
vida do casal. Primeira leitura, "imagine, traiC;ao so
na cabec;a desse Bento"; Segunda leitura, "acho que ela
o traiu"; terceira, "realmente nao sei"; e a duvida
permanece. A verdade e que esta duvida indiretamente
encontra-se inserida no proprio texto. A ambigOidade e
a interferencia desse casmurro narrador so nos permite
duvidar, sem espac;os para afirma<;oes au nega<;oes.
Todas estas questoes, duvidas e perguntas giram em
torno de urn tema que e objeto central em todo 0
romance: 0 casamento. Esta intriga, heranc;a que 0
lei tor ganha da obra, e tambem 0 mote do narrador. E 0
casamento que define os persona gens e determina as
ac;oes da trama, pais 0 narrador nao onisciente,
estando este em urn isolamento relativamente limitado
que nao lhe possibilita colocar-se em planas alheios.
Esta unilateralidade narrativa que cria
ernpecilhos para a cornpreensao do que se passa entre os
personagens, e em especial Capitu. Seria ela a (mica
capaz de rebater acusac;6es, por abaixo juizos
mesquinhos de urn homem cego de citimes, revelar~se com
palavras proprias, desvendar faces de uma personalidade
acobertada. Mas, a narrativa nao Ihe pertence. Eis 0
que a faz renascer.
2.1 A ESSENCIA DA PSICOLOGIA FEMININA
Para entender Capitu preciso entender alguns
principios que norteiam 0 mundo feminino como urn todo.
Urna tare fa urn pouco dificil se se partir apenas da
Capitu, a comec;ar por sua quase coadjuvancia no
tambem pelas descric;oes deficientes deromance,
Bentinho. E necessaria imaginar a rnulher urbana daquela
epoca.
Se a menina a se casar nao possuia urn born dote,
necessitava-se de urn varao que dispusesse de uma
estrutura respeitavel. Arranjado isto, bastava que a
moc;a alvejasse 0 enlace. Capitu enquadrava-se nesta
10
situac;ao. Ela era ambiciosa, e sabia das artimanhas
para engedrar situac;oes que a conduzisse ao alva:
saciar as desejos de uma femea altiva.
No despertar da infancia para adolescencia,
Capitu torna~se mac;a bonita e Bento logo percebe,
alias, ambos percebem uma amizade de vizinhanc;a
evoluindo para uma hist6ria de aroor, a primeira, talvez
tiniea. Mas a inteligencia da menina infanto-
adolescente comec;a dar indicios da mulher que se
tornaria. No primeiro risco que 0 amor de ambos corria
- risco de ser descoberto - Capitu e quem manipula a
situac;ao, irnpossibilitando 0 desmascararnento.
Sao pequenas atitudes, como desfigurar-se de raiva
da mae de Bento e desatar a of en de-l a com palavras
diante do pr6prio filho e tao instantaneamente refazer-
se, pois urn plano era preciso. 0 mesmo fez quando sua
mae estava prestes a descobrir 0 que tinha acontecido
(capitulo XXXIII, 0 penteado) e rapidamente distrai-lhe
aten~ao. E comeya pensar a questionar para
conseguir livrar Bentinho de ir para 0 seminario. E ela
quem se preocupa com as planas e as detalhes. Como as
coisas num primeiro momento nao foram faceis, a jovem-
mOya continua a lutar, quieta e ate mesmo desiludindo 0
pr6prio namorado: "Olhe, prometo outra caisa; prometo
que ha de batizar 0 meu primeiro filho" (p. 67). Mas,
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fizeram logo as pazes e a necessidade de novas ideias
urgla. Com Bento no seminario, Capitu tarna-se grande
affilga e companheira de sua mae, numa aproximayao
necessaria, fazendo parte de seus pIanos.
A esperte za mostra caracteristica da
personagem que manipula a todos, conseguindo fiear ao
lade do seu objetivo-amor. Enquanto Bento esperava, os
outros resolveram suas questoes.
A partir do enlace matrimonial podemos observar, e
na~ negar, a presenya de urn sentimento forte entre
ambos. Alern do romantismo "passavamos as noites ~ nossa
janela da Gloria, mirando 0 mar e 0 ceu, a sombra das
montanhas e das navios, ou gente que passava na praia"
(p.122J f uma cumplicidade invejavel. E se a intenyao de
Capitu era ascender socialmente atraves do casamento,
conseguiu. Mas nao fez 0 papel da emergente social,
tentando impressionar sociedade, pOlS chegava
revoltar-se com que Bento fazia quando comprava algumas
j6ias para ela. "Embora gostasse de j6ias, como as
outras mo<;as, nao queria que eu the comprasse muitas,
nem caras". (p.l08)
Cavalcanti Proenc;a ainda escreve:
Capitu nao se deixa abalar e sua formade agir e sempre velada, atraves dos outros,sub-repticiamente. No transcorrer da obra eela quem estuda urn meio de dissuadir D.
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Gloria da promessa feita: ela agi1iza urnplano atraves de Jose Dias e e ainda eia queindica a Bento como agir. Conhecendo apersonalidade de urn, Capitu sa be a ponto quedeve ser tocado; conhecendo as inseguram;asde Bento sabe ate onde dirigi-lo e, a cadaato, quais sao as providencias devidas. Ela,e somente e1a, empurra Bento para as tomadasde decisao. Dona de uma vontade ferrea,atraves de Bento vai manipulando outraspersonagens para conseguir 0 que quer.Capi tv domina todas porque domina Bento. (p.10)
Isto tudo nao possibilita dizer quem e Capitu.
Ainda que 5e consiga esmiu<;:ar e descrever suas formas
de pensar, tudo e em vaa, pais a "vontade ferrea" sofre
muta<;ao e, em poucas linhds depois, torna-5e urn desejo
fraco volatil. Ora ela ataca, ora regride. Quando
parece disposta, esta reclusa. Aquilo que para os
outros parece doen~a, sao tra~as de rejuvenescimento.
Porem, e justa dizer que Capitu e 0 supra-sumo da
psicologia feminina. Uma criatura que encerra em si
tadas os estagios de uma evoluCao - "uma estava dentro
da Dutra, como a fruta dentro da casca." (p.243)
13
Capi tu precisava mascarar-se. teria
2.2 AS MAsCARAS E OS ANSEIOS
sim, para todo 0 resto de sua existencia, "olhos de
ressaca", olhos de "cigana obliqua e dissimulada". Usou
de uma boa amizade, que era verdadeira, como ponte de
transposic;:ao para niveis superiores QU, pelo menDs, que
a pusessem urn passo a frente, OU, ainda, na pior das
hipoteses, recuada, porem estrategicamente bern colocada
para urna jogada posterior.
E em se tratando de jogo, era em urn jogo que
Capitu vivia. Sua adrenal ina estava sempre em alta
porque era necessaria atenc;ao, suspeita, reclusa,
tatica. Havia urn objetivo, 0 qual obedecia aos seus
anseios. Nao interessava a familia. Bastava obedecer
momentaneamente as conveniencias da moral tradicional,
e depois que todos estavarn convictos de que ela era uma
mulher de confiabilidade plena, a mesma mostrava-se
contraria.
Cavalcanti Proenya questiona:
Fazia-o por arnor, ou por calculo?Procurou aformar-se contra uma sociedade, deque fazia parte a familia Santiago, queavaliava as pessoas pelas suas maneiras,confundindo essas maneiras com urn c6digomoral? A mulher brasileira no s~culo XIX nao
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tinha saida para afirmar-se como pes SOdindependente e para tornar-se um individuQvi venda por si e de deardo com suaindividualidade. 56 0 casamento Ihepropiciaria e5sa chance na sociedade. Elanao podia fazer 0 que Ihe aprouvesse, eraobrigada adaptar-se ao c6digo socialvigente e fazer parte daquela sociedade,vivendo conforme as seus valores. Pode-sedizer que ainda hoje esse sistema vigora,dai falar acima em arqu~tipo. Ambiciosd,Capitu procurava entrar para a sociedade,aprendendo a usar as regras do logO. Paraisto, recorreu a todos as artificios daastucia e da malicia. Acima de tudo ela eramuito 'amiga de s1' f diz Bentinho. (p. 7)
Capitu DaD se importava com sociedade. Nao
queria ferir, e conseguiu nao faze-Io. Extraiu dela
todos os prazeres que possuiu, apoiando-se em ornhros de
pequenos, po rem erguendo-se alto. Os c6digos sociais
aos quais se subrneteu serviram de carapu~a para a
efetiva~ao do ataque que tinha em pIanos. Nao burlou
absolutamente nada. Nao foi vulgar. Nao fosse seu
requinte, se equipararia as meretrizes de modos
franceses e de rnaquiagem barata.
Alfredo Bosi, analisando as falsas mascaras de
Capitu, relata:
o narrador lernbra-se de que, ernboracornovido pela emoeJo da cena vivida urn
minuto antes, notara palidez no rosto damulher. Mas 0 tempo passou e 0 controle quea escr i ca presen te tern sobre a rnem6r ia queexige certa cautela cognitiva; por iS50 e
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com atenuar;oes de duvida que Bento descrevea rea9do de Capi tv: 'nao sel se eram meusolhos', 'pareceu-me livida'. Dai em diante,o juiz irnplacavel, para quem Capitu teriasido apenas mais urn exemplar do tipofeminino que subiu na vida seduzindo eenganando, convi vera com 0 homern que aindaama e cujo olhar se detem perplexo naquelaque sera sernpre diferente de todas asmulheres, unica, enigma indecifrado.
Livida embora, e lan9ando no amago dacrise, 'Capitu recompos-se'. a verba conotaautodominio, lembra compustura social,atributo que convern a imagem da mulher capazde mascarar seus sentimentos. (p. 34).
Sentimentos estes que nao se poderiam dizer
sinceros. Ambi~ao talvez fosse 0 termo correto. As
recaidas eram meros artificios que necessitavam de uma
recomposi<;ao para retomar 0 semblante meigo, mas
maligno.
E deveras estranho, porem, que nem as personagens,
tampouco 0 narrador Bentinho, e muito menos 0 lei tor se
convencem deste lado obscuro que envolve Capitu. E
crivel, por vezes, que isto seja conseqUencia de uma
narrativa em apenas urn foco, mas este argumento e fraco
se se pensar que nao e privilegio de Capitu ser
descrita e vista como mulher submissa, mas sacrilegio
de toda mulher daquela epoca ser vista dessa forma.
Mas Capitu possuia urna personalidade
sobressalente. Roberto Schwarz, em rela<;ao a isto,
escreve:
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Capitu, pelo contrario, satisfaz asquesitos da individualizac;:ao. A menina sabea diferenC;:d entre compensdc;:6es imagin~rias erealidade, e naD tern apreco pelas primeiras.Em pais tao sentimental, ainda ma~s em setratando de mocinhas, deve-se assinalar 0incornum dessa iniciativa machadiana deestudar a belezd, a aventura e a tensaopr6prias ao uso da razao. Assim, quandosanta mae de Bentinho resolve cumprir umapromessa e mandaI 0 filho para 0 seminario,pondo em risco as pianos conjugais davizinha pobre, estd explode num raroespetaculo de independencia de espirito eintelig@ncia. t Bento quem primeiro the tr~sas novas, que deixam livida, as olhosvagos, olhando para dentro, 'uma figura depau', 0 tempo de se dar conta da situacao;depois ela rompe no inesperado Beata!Carola! Papa-missas!'. Capitu nao so terndesignios proprios, os quais consulta, comotern opiniao formada e critica a respeito deseus protetores, e ate da religiao deles. Emseguida ela reflete, aperta os olhos, guersaber circunstancias, respostas, gestos,palavras, 0 som destas, presta atenl,:"dO naslAgrimas de dona Gloria, 'nao acaba deentende-las'. Era minuciosa e atenta; anarra9ao e 0 diAlogo, tudo parecia remoerconsigo. Tarnbem se pode dizer que conferia,rotulava pregava na memoria a minhaexposicdO. (po 24).
Apesar de todas as qualidades que conferiarn a
Capitu uma ~mpressao de mulher casta, hav-ia urn
diferencial. Fica claro que Capitu possuia varios
anseios. Mas 0 mai~r deles era 0 casamento. E 0
primeiro casamento, questiona-se, era uma mascara? A
mascara do adulterio?
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2.3 A QUESTAo DO ADULTERIO
Bern e verdade que ainda nao se decifrou este
enigma que o cerne de Dam Casmurro. H~ opiniOes
apenas. Os pr6prios autores aqui citados deixam
transparecer isto. Argumentos varios, mas todos com
fundamenta~5es duvidosas.
Antonio Houssais apresenta a critica:
Le mal este livro quem nao Ihe valfunda, quem nao leva em conta que numprocesso, 0 processo da verdade, houveapenas uma das partes - e iS$o nao basta. amachista au a machista (que as ha, caraleitora) que nao indaga se houve mesmoadulterio, que nao indaga 5e Bentao tinha 0direito de suspeita-lo, que nao indaga 5e
aquele quase fri vola sensual comedido parapoder ser mais sensual, que naD indaga seraquele beneficiario de tudor de uma senhoramae que 56 e devo~ao a ele, de umaadolescente que e tudo isso (ainda que, comisso, queira 0 paraiso, isto e, ' seu' homem,o 'seu' bem-estar material, 0 'seu estadaosocial - afinal, 'seu mundo' poderia faze-ladesejar, bem, algo mais que isso?), de todoum mundinho de achegados e sempredependentes - le mal 0 livro se the aceitatodas as delicadas e maneirosas insinua~oes,convincentissimas e par issosuspeitabilissimas como acaso diria,dentro do romance, 0 inefavel Jose Dias ...(p. 214).
18
HOllssais, neste trecho, questiona a leitura que se
deixa convencer com 0 que apenas 0 8entinho relata. 5e
Capitu, dentro do pr6prio romance, travasse urn duelo
narrativo, 0 "processo da verdade" aproximaria-se de urn
veredicto. Faltaria, talvez, urn juiz que promulgasse a
sentenya. Em primeira instancia este papel poderia
ficar com 0 lei tor, mas, caso est a fosse a situacao, 0
adulterio dificilmente seria esclarecido, pois ainda
assirn haveria opinioes divergentes entre 5i, e 0
problema voltaria pergunta inicial: houve au nao
houve? E 0 romance nao teria razao de ser, caso alguem
dentro dele mesma respondesse a esta pergunta. Seria
uma novela comum, e provavelmente esquecida.
No entanto, 0 misterio prevalece. Ainda que Capitu
haja traido Bentinho, e condizente acreditar que ela
nao tenha culpa pelo que fez. A presen~a de espirito de
Bento talvez nao fosse das melhores, e, Capitu,
querendo livrar-se do martirio, optou por abandona-lo,
amparando-se em bra~os alheios.
Por outro lado, ha a possibilidade de Bento
possuir poder de rea~ao diante do impasse. E este,
venda que seu genio nao era miscivel com 0 de Capitu,
deixou-a escapar par entre os dedos sem sequer indagar,
aceitando pura
suas magoas.
simplesmente, apresentando depois,
19
Miguel Sanches Neto aponta 0 seguinte:
Ora, a mesma situdl,;aO de 'a1am exterior'encontra-se em Dam Casmurro, quando Capitu,'em plena lUd-de-mel, mastra-5e impaciente equer descer da Tijuca para a cidade'. Acausa da impaciencia, comenta 0 narrador,'eram as sinais exteriores do novo estado.Nao the bastava ser casada entre quatroparedes e algumas aIvores; precisavd doresta do mundo tambem'. Epis6dio corroboradopor muitos Dutros, sem excluir a natureza dediversas figuras femininas, como Sofia e aGuiomar de A mAo e a luva, novel a em que 5eencontra a embriao de Dam Casmurro, alem da'teoria matrimonial' do dutor: temperamentosafirmativos (Luis Alves e Guiomar) fazem ascasamentos felizes, 0 que nao ocorre entreurn temperarnento afirrnativo (Capitu) e urn
passiv~ (Bentinho). Dai 0 corolario doadulterio: Capitu e Escobar viram-seatraidos urn pelo outr~, pelo tropismoirresistivel das almas g~meas. 0 pr6prioBentinho se encarregou de esclarec@-lo: 'elaera rnais rnulher do que ele mesmo era homem'.(p. 7).
Que dizer de urn homem que vive uma situar;ao que
nao se sabe se e real, podendo ela ser fruto de sua
propria mente corroida pelo cancer do ciume, ou de uma
verdade que nao e bern vinda?
Quando Bento declara que Capitu era "mais mulher
do que ele mesma era homem" passivel interpretar a
passagem de duas formas: ou ele quer dizer que ela era
muito mais humana do que sua propria concepr;aa de
humano, e desta forma ele se caloca em urn plano
inferior, como urn rnarginalizado mendigando louvares a
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uma deusa profana, OUt urn quadro comp!etamente inverso,
no qual ele, Bento, caloca-se em urn plano humane mesmo,
por~m, com urn certo requinte filos6fico capaz de ditar
a realidade, ainda que dura.
Capi tu, enfim, conseguiu enclausurar Bentinho. E
junto com ele 0 juizo final. Fato que 56 ela, mulher
que nao obedeceu as regras do tempo, conseguiria fazer.
3 A CONTEMPORANEIDADE DE CAPITU
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Ja foi dito anteriormente que Capitu, como urn
todo, seja na sua forma de pensar e agir, bern como sua
forma de conceber e ordenar as principios mundanos, nao
pertencia a epoca em que viveu. Ate mesmo seus vestidos
de chita a traduziam simplesmente mulher.
Capi tu era isso: mulher. Naa the eram necessarias
joias caras, muito menas em demasia. Nem par isso Ihe
faltava vaidade. Pelo contrario, ao menos que fosse a
capricho imediatamente seu semblante toava-lhe
feminino. E isso bastava-lhe.
"Cheguei a dizer-lhe que estava feia; mas nemesta razao a moveu." (p.51)
Mantinha segredos cravados em seus olhos que
precaria defini<;ao machadiana nao podia sequer
compreende-los em parte, e muito menos no todo. Seus
olhos disparavam flashes capazes de cegar e distorcer a
compreensao de quem os olhava.
Seus pensamentos compenetractos dificilrnente
afloravam. Quando se julgava estar distraida com a
paisagem, usava-a como pano de fundo para imaginar as
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possiveis rea~oes de seus entes queridos, mediante algo
que falasse ou fizesse em circunstancias que desejasse
faze-lao
"Capitu refletia." (p.3!)
Mas 0 que refletia era questao. E afirmac6es
desta natureza sao sempre envoltas de uma duvida de
quem as f a1 a, que naD se consegue faze-las
convincentes.
Seja 8entinho, Jose Dias, Dona G16ria muito
arniga de Capitu - au mesma 0 filho desta, Ezequiel, naD
conseguem estes compreende-!a. Conviviam junto dela,
amavam-na, porem nunea ques~ionaram, pois sabiam,
conscientes au nao, que as respostas que obteriam nao
seriam compreensiveis e muito menos aceitaveis a ordem
moral da epoea.
Nem mesma Bentinho podia descreve-la. Hesitava
sempre ao tentar faze-Io. E por i5S0 ha trechos como 0
abaixo que contrastam com 0 anterior citado.
"Capitu n~o parecia crer nem descrer, n~oparecia sequer ouvir; era uma figura de pau." (p.30)
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Mal sabiam todos que Capitu resguardava-se. De
nada Ihe serviria declarar-se verdadeira. Se isto
fizesse, escapariam-lhe todos par entre as dedas, e em
especial 8entinho. Ela apenas Sorrateira,
misteriosa, poreID imperceptivel.
"Essa criatura que brincara comigo, que pulara,dancara, creio ate que dorrnira comigo, deixava-meagora COin os bracos atados e medrosos. II (p.30)
Mas como poderia ela, na total pluralidade de
gestos meigos, de atitudes juvenis, fazer-se passar par
uma "ninfa" sedenta de afetos, carinhos e amores, sendo
que seu retrato justa era 0 de uma senhora decidida e
capaz de ludibriar 0 que nao Ihe agradava? Julgos
infantis, portanto, eram meramente mesquinhos, e nao
Ihe cabiam.
Tern andado alegre, como sempre; ~ umatontinha." (p.Sll
Em suma, Capi tu sobrepunha-se ao fecho do seculo
XIX. Mas tambem nao pertencia ao inicio do seguinte. Era
como urn soneto: possuia uma estrutura, uma metrica. Mas
o nuance das palavras quem Ihe atribuia era 0 poeta.
Pais nao importava sua epoca. Seja em uma composi~ao do
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seeulo XIV, em classico portugues de Camoes, au na
ultima atualizayao de urn site qualquer que publique
poesias diversas, Capitu continuaria e continuara senda
como 0 velho soneto: mudam-se apenas as palavras.
3.1 AS CAPITUS CONTEMPORANEAS
Se hoje e passivel incorporar a atual percep~ao do
social 0 olhar machadiano de urn seeulo atras, e porque
este olhar toi penetrado de valores e ideais cujo
dinamismo nao se esgotava no quadro espayo-temporal em
que se exerceu. Capitu foi a incorporac;:ao de Machado,
que, usanda as lentes de urn olhar feminino fotografou
em paginas de urn romance quase tragico - nao fasse a
passividade de Bentinho - a argia da classe burguesa,
suas podridoes, defeitos, e atitudes obscuras
disfarc;:adas dentre panos das cortinas do palco da vida.
Esta mesma Capitu sobreviveu. E vingou ainda mais
difamante. Nao mudou sequer 0 nome. Este, alias, lhe e
peculiar.
ressoante.
Sua carga energetica o traduz forte,
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Agora, por~m, h§ Capitus que falam. E tarnb~m agem,
como era peculiar a Capitu-mae ha urn seeulo. Os desejos
e vontades agora sao expressos descaradamente, sem
vergonha ou medo, pais o meio permite sem
represalias.
"Por dentro, eu vibrava intensa e suavemente"(Capitu, Mem6rias P6stumas, p. 102)
Estas Capitus trazem agora sentimentos que Qutrora
naD poderiarn ser confessados, mas que eram vividos. A
duvida, porem, maltrata urn POliCD facilidade de
expressao. E dificil, par vezes, descrever situa<;6es
antes vividas precariamente ou de forma confusa.
"Nao sei explicar a sensac;::ao que estavavivendo. Talvez uma estranha mistura deressentimento e frustrac;ao" (Capitu, Mem6riasP6stumas, p. 102)
A mesma vaidade que com mui to esmero era
cultivada, ainda e uma constante destas Capitus que
convivem no meio atual. Fala-se em moda, sim, mas
simplicidade continua sendo a arma para derrubar tabus.
"0 cui dado de Capi tu foi vestir a moda dosanos 90" (Enquanto isso em Dom Casmurro, p.12)
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o magnetisrno das olhos passados a marca que
ainda chama a atenc;ao. Amadureceram e tornaram--se ainda
mais fortes, porque agora sao vistas e respeitados como
"Os olhos de Capitu, quandoeram de ressaca: eram direi tos, claros,(Amor de Capitu, p. 88)
fortes.
Estes textos exemplificam nitidamente a influencia
de Capitu geraC;6es A sua frente. t crivel que lsta haja
decorrido devido A complexidade de sua personagem. Esta
caracteristica pode acabar tornando rotina de
trabalho do escritor urn martirio au uma soluc;ao. Urn
martirio se ele quiser se desvencilhar de uma figura
feminina como Capitu, procurando crlar uma Dutra que
fuja a sua regra. Ou uma solut;ao 5e usa~la como molde
pronto para ser preenchido. Alguns autores, como Dalton
como Jose Endoenca Martins, a exploram a fundo,
extraindo ainda mais mis'Cerios e multiplicando os ja
existentes.
~ interessante perceber que em momenta algum
nenhum dos autores demonstram preocupac&o em livrar-se
dos misterios. Parece prazeroso a eles relembra-los
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para instigar a curios ida de do leitor, deixando-o ainda
mais com duvidas de quem foi e de quem e a Capitu da
qual tanto se escreve. Nao seria interessante acabar de
uma vez por todas corn esta persona gem quase lendaria.
Seria 0 mesma que por urn fim a urn jogo !u.dico de
gera<;oes ou entao revelar 0 segredo que esta por tras
dcs truques com cartas. Urn fim seria urn erro, mesma
porque 0 dinamismo de Capitu oferece margem a infinitas
versoes.
Enfim, ainda resta a pergunta: quantas na
sociedade contemporanea sao Capitus? A resposta parece
objetiva: muitas mulheres, senao todas. Parece verdade,
porem, que havera em todas urn rastro daquela que foi
como uma definic;ao exata da natureza feminina. Bern e
verdade que se trata de uma defini<;ao dificil de se
entender muitas vezes ate mesmo aparentemente sem
nexo. Mas Capitu cabe na intimidade feminina como urn
espelho no qual se pode ver uma imagem inedita, porem
pre-definida.
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4 CONSIDERA~6ES FINAlS
Envolvente, misteriosa, capaz, forte, inteligente,
maliciosa, decidida, opinativa, dominativa, oculta,
poderosa, dlfamante,
obscura, ambiciosa,
intensa,
altiva,
suave, surpreendente,
esperta, requintada,
independente, critica, minuciosa, atenta, casta,
sorrateira, imperceptivel. Estes sao alguns dos
adjetivos com os quais se tenta definir e situar Capitu
em algum principia psiquico e temporal. Parecem vaos.
5e Dam Casmurro fasse escrito neste momento, ano 2000,
Capitu seria uma personagem intocavel, que nao
necessitaria de acrescimo au subtrac;ao de valores. A
me sma que em 1900 abalou 0 sistema seria apenas
transposta, continuando a abalar 0 sistema.
Nao par menos ela e resgatada. It a figura exata
para qualquer critica. Tudo nela se encaixa. o
contexto, seja qual for, completa-se havendo heran~as
de sua personalidade.
Suas virtudes e defeitos - e certo que ha ambos -
nao podem ser estudados brevemente como neste trabalho
foi fei to. Aqui esboyou-se apenas perfil bastante
superficial desta persona gem que e capaz de gerar
meadas para muitas linhas. Leia-se por linhas os
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diversos estilos literarios. Muitos deles a exploraram,
mas muitos ainda sequer pensaram am aborda-la. E, se
quaisquer destas linhas ainda nao 0 fizeram, certamente
havera espa~o para imagina-la dos angulos mais diversos
e ineditos.
Capitu contemporanea. E ha muitas Capitus
emergentes, desde 0 meia rural, passando pelo urbano e
chegando senao ultrapassando o meia virtual. E
Muitos sonetos ainda serao criados, proclamados e
cantados sob 0 titulo Capitu.
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REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS
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Cavalcanti Proen~a; estudo introdutivo e notas de
Afranio Coutinho; introduc;ao de Ivan Cavalcanti
Proenc;a. Rio de Janeiro: Editouro, 1997.
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Vicente Ataide. Curitiba: HD Livros, 1998.
BOSI, Alfredo. Machado de Assis - 0 enigma do olhar.
Sao Paulo: Atica, 1999.
PROENC;A FILHO, Domicio. Capitu - Mem6rias P6stumas.
Rio de Janeiro: Artium, 1998.
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Florian6polis: Paralelo 27, 1993.
MONTELLO, Josue. Os inimigos de Machado de Assis. Rio
de Janeiro: Nova Fronteira, 1998.
SANCHES NErO, Miguel. Leituras Machadianas. In:
Caderno G. Curitiba: Gazeta do Povo, 1999.