Capistrano de Abreu, Por Evandro Brasil

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  • 8/16/2019 Capistrano de Abreu, Por Evandro Brasil

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    SEMINÁRIO 

    História do Brasil IJacqueline Lima

    Capistrano de AbreuCapítulos de Historia Colonial

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    Seminário

    Capistrano de Abreu, Capitulos de História Colonial

    Objetivo do Trabalho: 

    Apresentar a complexidade do Brasil colônia na visão do autor Capistrano de Abreu.

    Introdução: 

    Este trabalho vem sendo confeccionado e esta sendo apresentado por uma equipeformada pelos alunos aqui disposto em ordem alfabética:

    Nome Matricula

    Ana Maria B. Sant’Ana 2500878Andre Ulisses da Silva Peres 2500838Elisabete Cabral da Cunha Vianna 2500881Marcio dos Santos Bezerra 2500654Marcos Evandro Teixeira Pinto 2500640

    Destacamos as grandes surpresas que encontramos ao realizar esse trabalho, poisa capacidade do autor em transmitir com uma linguagem objetiva e também a qualidadedas informações contidas nos diversos capítulos deste exemplar. É um eficaz caminho

     para se entender o descobrimento e a ocupação do nosso território, desde a crise dofeudalismo até a vinda da família real portuguesa para o Brasil. Cabe a nós afirmar queesta é uma leitura que se faz necessário a todos nós. Podemos citar que o livro Capítulosde História Colonial é uma parada obrigatória a todos aqueles que pensam em fazer dahistória um ofício ou hobby.

    Agradecemos à professora Jacqueline Lima, a oportunidade que nos permitiurealizar o trabalho que apresentamos neste momento, e, esperamos que cada um dosnossos colegas de turma aproveite ao máximo o conteúdo que aqui registramos. Emtempo, agradecemos aos nossos colaboradores, familiares e demais professores que vemnos motivando a seguir com os nossos estudos, nesta estrada longa, difícil e gratificante.

    Muito obrigado

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    Capistrano de AbreuConhecendo o autor

    O historiador João Capistrano Honório de Abreu nasceu na cidadede Maranguape, Ceará, em 23 de outubro de 1853. Fez seus primeiros estudos em rápidas passagens por várias escolas. Em 1869, viajou para Recife, onde cursou humanidades,

    retornando ao Ceará  dois anos depois. Em Fortaleza, foi um dos fundadores da AcademiaFrancesa, órgão de cultura e debates, progressista e anticlerical, que durou de 1872 a 1875. Foiinfluenciado por Tobias Barreto e Sílvio Romero. Fixou-se no Rio de Janeiro a partir de 1875,lecionou no Colégio Aquino, foi colaborador do Jornal O Globo, redator da Gazeta de Noticiase participou da vida literária da corte.

    Selo comemorativo aos 100 anos de nascimento de Capistranode Abreu editado pelos Correios em 1953 

    Selo comemorativo aos 150 anos de nascimento de Capistranode Abreu editado pelos Correios em 2003 

     Nomeado oficial da Biblioteca Nacional, aí permaneceu de 1879 a 1883. Nesse anodefendeu a tese O descobrimento do Brasil e o seu desenvolvimento no século XVI, emconcurso para o Colégio Pedro Segundo, onde conquistou o primeiro lugar.

    Foi professor de corografia1  e história do Brasil até 1899, quando foi posto emdisponibilidade, por extinção da cadeira. Em 1887 foi eleito membro do Instituto Histórico e

    Geográfico Brasileiro.

    Capistrano de Abreu renovou os métodos de investigação e interpretação historiográficano Brasil. De início baseou-se nos princípios de Comte, Taine, Buckle, Spencer , e afirmou-seadepto do determinismo sociológico, pretendendo com seus estudos descobrir "as leis fatais queregem a sociedade brasileira".

    Eleito para a Academia Brasileira de Letras, recusou-se a tomar posse. Dedicou-se aoestudo da história colonial brasileira, elaborando uma teoria da literatura nacional, tendo por base os conceitos de clima, terra e raça, que reproduzia os clichês típicos do colonialismoeuropeu acerca dos trópicos, invertendo, todavia, o mito pré-romântico do “bom selvagem”.Morreu no Rio de Janeiro, aos 74 anos, em 13 de agosto de 1927. É patrono da cadeira 15 daAcademia Cearense de Letras e da cadeira 23 da Academia Brasileira de Literatura de Cordel.

    Realismo histórico Mais tarde, com o trabalho na Biblioteca Nacional e com a leitura de pensadores

    alemães como Ranke, Bücher, Eduard Meyer, Sombart e Wundt, evoluiu do positivismo para orealismo histórico, e a pesquisa cuidadosa e imparcial das fontes conferiu às suas interpretaçõesum caráter objetivo.

    1 Estudo geográfico de uma região.

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    Sua análise da civilização brasileira parte do estudo do ambiente, dos fatoresgeográficos, raciais, econômicos e psicológicos. De acordo com o pensamento de Buckle,ressalta a influência das massas e do homem comum na evolução histórica e diminui aimportância atribuída aos chefes ou heróis.

    Capistrano exerceu grande influência sobre os historiadores de sua geração, sobretudoRodolfo Garcia, Pandiá Calógeras, Afonso Taunay e Paulo Prado. Seu estilo reflete a economia

    e a objetividade de sua orientação técnica.

    Sua obra mais importante é Capítulos de história colonial, 1500-1580, de grande poderde síntese e que lhe confirmou a superioridade como historiador aos recenseadores de fatos,nome e datas.

    Dentre suas obras destacamos: Estudo sobre Raimundo da Rocha Lima (1878); José de Alencar  (1878); A língua dos Bacaeris (1897);Capítulos de História Colonial  (1907);[1] Dois documentos sobre Caxinauás (1911-1912);Os Caminhos Antigos e o Povoamento do Brasil  (1930);O Descobrimento do Brasil  (1883); Ensaios e Estudos (1931-33, póstumos);Correspondência (1954, póstuma).

    Capistrano foi entusiasta do movimento denominado porSilvio Romero, como o “Surto de Idéias Novas”, este movimentoconsistia em aproximar-se do positivismo, do darwinismo e deoutras correntes criticas ao espiritualismo.

    Capítulos de História ColonialPara Capistrano de Abreu, Varnhagen havia deixado muitas lacunas a serem

     preenchidas, especialmente sobre o século XVII. Como José Honório Rodrigues nos demonstra

    em seu prefácio, Capistrano direcionou o foco de sua pesquisa justamente para este período, pois para ele: “tirando o que diz respeito às guerras espanholas e holandesas, quase nada há para representar este século. Preencher estas colunas é, portanto, meu interesse principal.” (RODRIGUES, 1988, p. 14). Além disso, o outro ponto de fundamental importância para Capistrano era responder como se deu o povoamento da zona entre o São Francisco e oParnaíba, tida por ele como a questão mais importante da história pátria.

    Contudo, os Capítulos de História Colonial só começaram a ser escritos efetivamenteem 1903. Por esta época, Capistrano fora chamado a prefaciar, anotar e corrigir justamente aobra  História Geral do Brasil , de Adolfo Varnhagen. Pretendia fazer de seu livro umaintrodução de aproximadamente cem páginas para cada um dos três volumes da obra deVarnhagen, fazendo uma síntese de cada período correspondente. “Se levar isto ao cabo, fica pronto o livro a que reduzi minhas ambições da História do Brasil, um volume do formato de

    um romance francês”.(RODRIGUES, 1988, p. 16). Porém, suas intenções quanto a obra deVarnhagen foram reduzidas pelo contratante a um único volume e suas introduções reduzidas anotas, comentários e identificações de fontes.

    Em 1905, Mário Behring, funcionário da Biblioteca Nacional e proprietário darevista Kosmos, lhe chama para escrever artigos sobre história do Brasil para sua revista.Capistrano vê a oportunidade de lançar seu livro através de capítulos nesta revista e assimcomeça a escrever, sob o título de  História Pátria, um capítulo a cada mês. Segundo JoséHonório Rodrigues, o texto publicado na revista Kosmos  diferia daquele que seria publicado

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    nos Capítulos de História Colonial  em 1907. Alguns artigos eram capítulos bem resumidos doque seria o livro, como é o caso do Capítulo II e, outros artigos, nem chegaram a figurar nolivro, como foi o caso dos artigos de Maio e Julho. No fim, dos seis artigos escritos para arevista Kosmos, quatro seriam aproveitados nos Capítulos de História Colonial . (RODRIGUES,1988, p. 19).

    Em 1906, Capistrano aceita participar da obra O Brasil, suas riquezas naturais, suas

    indústrias, que seria lançado por iniciativa do Centro Industrial do Brasil em setembro daqueleano. Sua obra faria parte do primeiro volume, na parte introdutória, e seria intitulada  BrevesTraços da História do Brasil  ou Noções de História do Brasil até 1800, como acabou sendoreferenciada no índice da obra do Centro Industrial. Capistrano começou a trabalhar no seutexto em janeiro de 1906, trabalhando à toda força em um esboço histórico e geográfico doBrasil. “Marcaram-me o limite de 120 páginas (…) e tenho cinco meses para fazer tudo”. Emnovembro de 1906, faltava apenas o seu esboço para que a obra fosse publicada. Em janeiro de1907, concluiu o livro contendo trezentas páginas e chegando até o período anterior a D. JoãoVI. Levara praticamente um ano para escrevê-la, de 2 de janeiro de 1906 à 7 de janeiro de 1907.A encomenda feita pelo Centro Industrial não se limitava ao período colonial, mas estendia-seaté a República. Capistrano acreditava que poderia “em dois ou três meses escrever a históriacontemporânea”, mas nunca chegou a escrevê-la, sendo este trabalho o entregue para a publicação (RODRIGUES, 1988, p. 20-23).

    Devido ao atraso de Capistrano em entregar seu trabalho, a revisão foi feita às pressas enão houve tempo hábil para a colocação de trechos transcritos e para citar as fontes.Ironicamente, faltava em seu trabalho aquilo que ele acidamente criticava no trabalho de outros,como o próprio Varnhagen, as fontes. Por essa e por outras razões mais psicológicas, assim queentregou seu texto para a publicação, já não gostava mais dele. Tinha a intenção de reeditá-lorapidamente e corrigi-lo, incluindo as notas e referências bibliográficas que faltaram na primeiraedição. Chegou até mesmo a propor a reimpressão do livro no fim daquele mesmo ano, para quefosse distribuído aos assinantes do Jornal do Comércio, mas nunca fez a revisão ou a correçãode sua obra. Esta só seria realizada postumamente pela Sociedade Capistrano de Abreu,sociedade fundada por amigos e admiradores para manter a sua memória.

    Assim, Capítulos de História Colonial, é um livro produzido às pressas, sobre a pressãode ser publicado rapidamente, em função do cronograma de projeto do livro onde ele estariainserido. Apesar disso, em nada esta obra fica a dever aos outros clássicos da História do Brasil,tendo ela mesma já nascida um clássico, tal como afirma Francisco Iglesias:

    “Capítulos de História Colonial foi um dos grandes livros da historiografiabrasileira. Foi o primeiro grande sobre a colônia, só sendo superado como omaior em 1942 com o lançamento de Formação do Brasil Contemporâneo, porCaio Prado Júnior”. (IGLESIAS, 2000, p. 117-125).

    Já Fernando Novais, ao fazer o prefácio da edição estadunidense do livro de Capistrano,editado pela Oxford University Press em 1997, dizia sobre Capistrano de Abreu e sua obra:

    “Capistrano de Abreu built a bridge between the first (IHGB) and third(university) phases of brazilian historiography (…) a comprehensive history,with its integrating dialogue with the social sciences, is the distinguishing traitof modern Brazilian historiography, which began in the 1930 with the work of a particular generation: Gilberto Freyre, Caio Prado Jr. and Sérgio Buarque de Holanda – as well as with the founding of universities”. (NOVAIS, 1997, p. XIV).”

    Tradução:“Capistrano de Abreu construiu uma ponte entre a primeiros ( IHGB ) e aterceira (universidade) fases da historiografia brasileira ( ... ) uma história

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    abrangente , com seu diálogo integração com as ciências sociais , é o traçodistintivo da moderna historiografia brasileira , que começou no 1930, com otrabalho de uma geração específica: Gilberto Freyre , Caio Prado Jr. e Sérgio Buarque de Holanda - bem como com a fundação de universidades”

    Antecedentes IndígenasA obra Capítulos de Historia Colonial é dividida em onze minuciosos capítulos. No

     primeiro capitulo, de nome Antecedentes Indígenas ele inicia descrevendo detalhadamente alocalização e os limites da nossa terra, utiliza-se de referencia como a linha do Equador, Trópicode Capricórnio, os limites fronteiriços, os domínios das terras limítrofes, dentre tantos outrosdetalhes como a vegetação característica de cada uma das regiões, os volumes de águas nos riose mares.

    Capistrano ainda neste capitulo descreve a nossa fauna, explica ainda a característicados animais predominantes em nossa terra, pavimentando a gramática quem vem a enaltecer oíndio nativo, suas características, seus costumes, a organização social, e também a linguagem peculiar a cada etnia, etc.

    “Falavam línguas diversas, quanto ao léxico2 , mas obedecendo ao mesmo tipo:o nome substantivo tinha passado e futuro como o verbo; o verbo intransitivo fazia de verdadeiro substantivo; o verbo transitivo pedia dois pronomes, umagente e outro paciente: a primeira pessoa do plural apresentava às vezes uma flexão inclusiva e outra exclusiva; no falar comum a parataxe3  dominava. Aabundância e flexibilidade dos supinos facilitaram a tradução de certas idéiaseuropéias. Fundada no exame lingüístico a etnografia moderna conseguiuagregar em grupos certas tribos mais ou menos estreitamente conexas entre si. No primeiro entram os que falavam a língua geral, assim chamada por suaárea de distribuição. Predominavam próximo de beira-mar, vindos do sertão, e formavam três migrações diversas: a dos Carijós ou Guaranis, desde Cananéiae Paranapanema para o Sul e Oeste; os Tupiniquins, no Tietê, no Jequitinhonha, na costa e sertão da Bahia, na serra da Ibiapaba; osTupinambás no Rio de Janeiro, a um e outro lado baixo S. Francisco até o RioGrande do Norte, e do Maranhão até o Pará. O centro de irradiação das trêsmigrações deve procurar-se entre o rio Paraná e o Paraguai. (pag. 20)

     Nos outros grupos falavam-se as línguas travadas: os Gés, representados pelos Aimorés ou Botocudos próximo do mar, e ainda hoje numerosos no interior; oscariris disseminados do Paraguaçu até Itapecuru e talvez Mearim, em geral pelo sertão, conquanto os Tremembés habitassem as praias do Ceará; osCaraíbas, cujos representantes mais orientais são os Pimenteiras, no Piauí,ainda hoje encontrados no chapadão e na bacia do Amazonas; os Maipure ou Nu-Aruaque, que desde a Guiana penetraram até o rio Paraguai e aindaaparecem nas cercanias de sua antiga pátria, e até no alto Purus; os Panos, osGuaicurus, etc., etc. Se abstrairmos do Amazonas, onde havia muitos Maipure e

    não poucos Caraíbas, só os Tupis e os Cariris foram incorporados em grande proporção à atual população do Brasil. (pag. 21)

    Os Cariris, pelo menos na Bahia e na antiga capitania de Pernambuco, jáocupavam a beira-mar quando chegaram os portadores da língua geral. Repelidos por estes para o interior, resistiram bravamente à invasão dos

    2 Dicionário de línguas clássicas antigas; ou um acervo de palavras utilizadas nas linguagens antigas. 3 Em Gramática, parataxe, em oposição a hipotaxe, significa uma sequência de frases justapostas, semconjunção coordenativa. 

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    colonos europeus, mas os missionários conseguiram aldear muitos e a criaçãode gado ajudou a conciliar outros. Talvez provenha dos Cariris a cabeça chata,comum nos sertanejos de certas zonas.” (pag. 21)

     Neste recorte do Capitulo I, destacamos onze etnias identificadas por Capistrano:Carijós ou Guaranis; TupiniquinsTupinambás; Aimorés ou Botocudos; Cariris; Tremembés;Caraíbas; Maipure ou Nu-Aruaque; Panos; Guaicurus; Tupis

    Fatores Exóticos Neste capitulo Capistrano inicia trazendo a lembrança da Europa no século XVI, a

    transição da Idade Média para a Idade Moderna, influenciada pela crise do feudalismo, reformareligiosa motivada pelo protestanismo de Martinho Lutero e o mercantilismo. Ele afirma que acoroa portuguesa se submetia a autoridade e ao conservadorismo da Igreja Catolica.

    “O Estado reconhecia e acatava as leis da Igreja, executava as sentenças de seus tribunais, declarava-se incompetente em quaisquer litígios debatidos entreclérigos, só punia um eclesiástico se, depois de degradado, era-lhe entregue por seus superiores ordinários, respeitava o direito de asilo nos templos emosteiros para os criminosos cujas penas eram de sangue, abstinha-se de

    cobrar impostos do clero. A Igreja dominava soberana pelo batismo, tão necessário à vida civil como à salvação da alma; pelo casamento, que podia permitir, sustar ou anular comimpedimentos dirimentes; pelos sacramentos, distribuídos através da existênciainteira; pela excomunhão, que incapacitava para todos eles; pelo interdito, que separava comunidades inteiras da comunicação dos santos; pela morte, permitindo ou negando sufrágios, deixando que o cadáver descansasse emlugar sagrado junto aos irmãos ou apodrecesse nos monturos em companhiados bichos; dominava pelo ensino, limitando e definindo as crenças,extremando o que se podia do que não era lícito aprender ou ensinar.” (pag.23, 24)

    O autor justifica que o Estado repartia o seu poder, por meio de “mixti fori”4:

    “(...) prestava o braço secular para executar, até com morte violenta, oscondenados pelo juízo eclesiástico, duramente castigava certos atos só porquea Igreja os considerava pecaminosos; (...)” (pag. 24)

     Nesta organização tinha-se o Papa como o cabeça da sociedade religiosa e o rei nocontrole do poder jurídico da sociedade civil, concentrando o Poder Absoluto, mas, em algunsmomentos essa relação resultava em constantes atritos, normalmente em função da Igreja nãoabrir mão de suas atribuições antigas, e o Estado em função de descobrir e criar novasatribuições.

    Capistrano ainda define claramente o papel do Estado, o direito real e como tal poderinfluenciava a vida da sociedade que estava a ele submetida. Destacando que sobre o Rei

    concentrava todas as faculdades legislativas. Já abaixo do Rei estava a nobreza, que já tevegrande poder, porem, nesta ocasião estava concentrada com o monopólio dos cargos públicos ouno aconselhamento da coroa e de certa forma ainda detinha muitos privilégios. A nobreza nãoera uma casta exclusiva, era comum os homens letrados fazerem parte da nobreza.

    “(...) a nobreza, numerosa em famílias como nas distinções que separavamumas de outras, compreendendo desde os senhores donatários, com honras,

    4 Esta palavra tem sua origem no latim e tem como significado foro mixto.

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    coutos e jurisdição, e os grão-mestres das ordens militares, cujo mestrado o reihouve por bem afinal assumir, até simples cavaleiros e escudeiros.” (pag 25)

    Abaixo da nobreza estava o povo, este, sem direitos pessoais era formado porlavradores, mecânicos, mercadores, etc. e, os de melhores qualidades eram chamados “homens bons”. Os homens bons, relata o autor, se reuniam em câmaras municipais, órgão deadministração local que discutiam sobre problemas de pequena monta. As pessoas de

    reconhecidos valores morais podiam se filiar a corporações limitadas como as de moedeiro e bombardeiros ou ainda coletividades maiores como por exemplo a do Porto. Os homensmembros destas corporações tinham algum prestigio e o autor descreve alguns privilégiosdesignados por dom João II aos cidadãos do Porto:

    “A estes felizes cidadãos do Porto concedeu dom João II: que não fossemmetidos a tormentos por nenhuns malefícios que tivessem feito, cometido ecometessem e fizessem daí por diante, salvos nos feitos e daquelas qualidades enos modos em que o devem ser e são os fidalgos do reino e senhores; que não pudessem ser presos por nenhum crime, somente sobre suas menagens e assimcomo o são e devem ser os fidalgos; que pudessem trazer e trouxessem portodos os seu reinos e senhorios quais e quantas armas lhes aprouvesse de noitee de dia, assim ofensivas como defensivas; que não pousassem com eles nemlhes tomassem suas casas de moradas, adegas, nem cavalariças, nem suasbestas de sela, nem outra nenhuma coisa de seu contra suas vontades e lhescatassem e guardassem muito inteiramente suas casas, e houvessem com elas e fora delas todas as liberdades que antigamente haviam os infanções e ricoshomens; que os serviçais agrícolas só fossem à guerra com os patrões.” (pag.25)

    Abaixo do povo havia ainda os servos, escravos, dentre outros, cujo direitoúnico poderiam, dadas circunstâncias favoráveis, passar à classe imediatamente superior. As trêsclasses: do clero, da nobreza e do povo, eram convocados nas ocasiões solenes ou porarbitragem do rei e constituíam as Cortes. No Brasil a ultima Corte reuniram-se em 1697.

    “(...) quando o ouro das Gerais começava a deslumbrar o mundo, e sóreviveram com a revolução francesa, as guerras napoleônicas e aindependência real do Brasil, depois de trasladada para aqui a sede damonarquia portuguesa.” (pag. 26)

    Ainda neste capitulo o autor da a conta de que em 1527 a soma total dos fogos 5 em todoo Reino andava por 280.528, dando a cada um destes números de quatro indivíduos, ototalizando cerca de 1.122.112 pessoas.

    “Damião Góis, explicando em 1541 à opinião letrada da Europa a razão dos seus atrasos em Portugal e Espanha, afirma ser a fertilidade espontânea do solo tamanha que a maior parte do ano os escravos e os homens pobres se podem sustentar lautamente de frutos silvestres, mel e ervas, o que os faz pouco

     propensos ao trabalho agrícola.” (pag. 26)

    Capistrano cita que o livro de Costa Lobo6  que mostrará o caráter dominante do povo ao começar a era dos descobrimentos.

    5 O número de famílias era contabilizado pelos “fogos” que ardiam na cozinha de suas casas.6 Costa Lobo, historiador, membro da Câmara dos Pares, ocupando o espaço que pertencera a seu pai.Em 1864 assumiu a pasta dos Negócios Estrangeiros e pertenceu ao Conselho de D. Manuel II dePortugal, tendo honras de ministro de Estado honorário. Projetou uma trilogia dramática que resumisse

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    O português do século XV era fragueiro7, abstêmio8, de imaginação ardente, propensoao misticismo, personalidade forte, autentico, e de coração rijo, impiedoso, condenava com amorte pequenos delitos. Naqueles tempos a segurança das famílias dependia de grande força eenergia individual. A violência e a dor parecia algo normal em determinado período, e a forçamuscular era tida em grande apreço.

    “Ao português estranho ao continente cumpre juntar o negro, igualmentealienígena. A importação começou desde o estabelecimento das capitanias eavultou nos séculos seguintes, primeiro por causa da cultura da cana, maistarde por causa do fumo, das minas, do algodão e do café. Depois da supressãodo tráfico em 1850, o café provocou deslocações consideráveis na distribuiçãointerna; o mesmo efeito produziu a abolição”. (pag. 27)

    Segundo o autor, os primeiros escravos trazidos para o Brasil vieram da costa ocidental,descendentes do grupo banto9, depois vieram de Moçambique. Esses negros tinham bom portefísico, grande resistência ao trabalho, ao contrário do índio brasileiro. Os negros acabaram por penetrar na vida doméstica dos seus senhores por meio da “ama de leite” e pela mucamba,acabaram a partir de então em se tornar indispensável pela sua índole carinhosa.

    “A mestiçagem com o elemento africano, ao contrário da mestiçagem com oamericano, era vista com certa aversão, e inabilitava para certos postos. Osmulatos não podiam receber as ordens sacras, por exemplo (...). Com o tempoos mulatos souberam melhorar de posição e por fim impor-se à sociedade.Quando reuniam a audácia ao talento e à fortuna alcançaram altas posições. Onegro trouxe uma nota alegre ao lado do português taciturno e do índio sorumbático. As suas danças lascivas, toleradas a princípio, tornaram-seinstituição nacional; suas feitiçarias e crenças propagaram-se fora das senzalas. As mulatas encontraram apreciadores de seus desgarres e foramverdadeiras rainhas.” (pag. 28)

    Este capítulo o autor conclui com o resumo do benemérito Antonil 10 (1711): O Brasil é

    inferno dos negros, purgatório dos brancos, paraíso dos mulatos.

    Os DescobridoresA posição geográfica de Portugal aliada as heranças do povo árabe e da antiga Roma, já

    designava a vocação náutica deste reino. Mais tarde, a partir da restauração cristã Portugal produziu a marinha nacional, bem treinada por catalães e italianos. E conta Capistrano quePortugal lançava-se bravamente com suas embarcações na tentativa de encontrar o caminhomais curto para a Índia.

    “(...) em 1487 Bartolomeu Dias tornou com a notícia de ter alcançado o fim docontinente africano. Já de volta, no extremo Sul, quase perdera-se junto a um

    a história de Portugal. A sua obra foi marcada por idéias krausistas e também foi um estudioso dosebastianismo.7 Que, ou aquele que tem vida trabalhosa; aquele que anda por serras e fragas quebrando pedras, ouabatendo árvores.8 Que ou o que não ingere ou ingere muito pouco bebidas alcoólicas; moderado, sóbrio.9 Grupo étnico africano que habitam a região da África ao Sul do Deserto do Saara.10  Giovanni ou João Antonio Andreoni, mais conhecido por Antonil, ou André João Antonil, seupseudônimo literário, era um religioso jesuíta, autor do mais importante testemunho sobre a economiacolonial brasileira, na época da transição entre o ciclo do açúcar e o da mineração: Cultura e opulênciado Brasil .

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    cabo e por isso chamou-o das Tormentas. Das Tormentas, não! protestou o reide Portugal; da Boa Esperança” (pag. 31)

    O autor, faz uma clara definição sobre a aventura portuguesa e também dos espanhóis,mas prefere ignorar a esperança de Vasco da Gama e se atém a resultado alcançado por PedroAlvares Cabral.

    “Interessa-nos apenas Pedr’Álvares. Comandando uma armada de treze navios partiu de Belém segunda-feira, 9 de março de 1500. O domingo passara-se em festas populares. O rei tivera a seu lado na tribuna o capitão-mor, pusera-lhena cabeça um barrete bento mandado pelo papa, entregara-lhe uma bandeiracom as armas reais e a cruz da Ordem de Cristo, a Ordem de d. Henrique, odescobridor. Sentia-se bem a importância desta frota, a maior saída até então para terras alongadas. Mil e quinhentos soldados, negociantes aventurosos,aventureiros mercadorias variadas, dinheiro amoedado, revelavam o duplocaráter da expedição: pacífica, se na Índia preferissem a lisura e o comérciohonesto, belicosa, se quisessem recorrer às armas. Alguns franciscanos, tendo por guardião frei Henrique de Coimbra, comunicavam ao conjunto a sagraçãoreligiosa.” (pag. 32)

    E segundo Capistrano as cartas indicavam o ultimo ponto conhecido como Cananor,com vista a Serra do Mar, o que ele acredita ser a região de Cananeia, São Paulo, os relatosdiferem de Caminha ao fazer a afirmativa de que os nativos selvagens, rancorosos, sanguináriose antropófagos11, ali encontrado seria material mais próprio para escravatura do que para aconversão. E ele neste capitulo ainda descreve detalhada e cuidadosamente as relações dos primeiros exploradores com a coroa de Portugal, as buscas pelas riquezas, a exploração do pau- brasil, e, também na relação com o povo indígena.

    Primeiros ConflitosE chegamos ao quinto capitulo de seu livro, como o tema “Primeiros Conflitos”, aqui

    ele relata a tensa relação dos portugueses com os franceses. Portugal prevalecia-se do acordo papal que dava a ele o direito as terras.

    “Ainda por cima havia a questão de princípio: Portugal não admitia que os filhos de outra nação pusessem o pé em terras suas no além-mar.” (pag. 39)

    Os produtos aqui explorados, os portugueses tinham que levar a Lisboa e pagar a parteque cabia a coroa, o que tornava o preço final dos produtos menos competitivos que os dosfranceses, que não passavam em Lisboa e não pagavam impostos.

    Os nativos Tupiniquins e os Tupinambás eram inimigos mortais, e assim chamavam unsaos outros e na lógica da guerra não poderia ser diferente.

    “Porque os Tupinambás se aliaram constantemente aos franceses e os portugueses tiveram a seu favor os Tupiniquins, não consta da história, mas o

     fato é incontestável e foi importante; durante anos ficou indeciso se o Brasil ficaria pertencendo aos Peró (portugueses) ou aos Maïr (franceses)”. (pag. 40)

    Os portugueses protestavam ao rei de Portugal contra a presença dos franceses noBrasil, até que no ano de 1527 o Rei dom João III designa uma armada de guarda-costas sob ocomando de Cristovão Jacques que inicia uma caça ao entrelopos12. Este por sua vez não se

    11 Que se alimenta de seres humanos. Pratica o canibalismo.12 Os navios que praticavam o contrabando dos produtos brasileiros

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    contentava em tirar as vidas, mas praticava torturas e entregava os prisioneiros aosantropófagos. E como solução para impedir a ação de estrangeiros estava no povoamento dasterras. O que foi feito.

    Capitanias Hereditárias 

    O rei de Portugal dom João IIIno ano de 1532 escreve a Martin Afonsode Souza a resolução que autoriza ademarcação da costa de Pernambuco aoRio da Prata e doá-las em capitanias de50 léguas. Os documentos mais antigosde doação das capitanias datam do anode 1534.

    Os donatários saíram em geralda pequena nobreza, muitos nuncahaviam vindo ao Brasil antes.

    “O rei cedeu às pessoas a quem dooucapitanias alguns dos direitos reais,levado pelo desejo de dar vigor aoregime agora organizado.” (pag 45)

    Esses donatários passaram a seros senhores de suas terras, com jurisdição civil e criminal, podendofundar vilas, insígnias etc. Poderiamnomear ouvidores, tabeliões públicos ou judicial, poderiam também doar terras, exceto a própriamulher e filho herdeiro. Em contra partida recolhiam a coroa os dízimos, as vintenas, os quintosetc.

    “As capitanias foram doze, embora divididas em maior número de lotes.

    Começavam todas à beira-mar, e prosseguiram com a mesma largura inicial para o ocidente, até a linha divisória das possessões portuguesas e espanholasacordada em Tordesilhas, linha não demarcada então, nem demarcável com osconhecimentos do tempo. Tàcitamente fixou-se o limite na costa de SantaCatarina ao Sul, e na costa do Maranhão ao Norte. A testada litorânea agoradividida estendia-se assim por 735 léguas.” (pag 47)

    Capitanias da Coroa No capitulo VI de seu livro, intitulado “Capitanias da Coroa”, inicia o autor com

    noticias de que algumas Capitanias sofriam vez ou outra com ataques dos franceses que buscavam sempre um caminho para chegar ao litoral e a com a resistência dos índios, mas como passar do tempo e com a promoção da mestiçagem a população ia se renovando e

    desenvolvendo a caminho da normalidade. Não bastasse a investida dos índios e dos franceses,ainda houve a má administração das capitanias, que obrigaram ao Rei a retomar algumas terras para reordenar e garantir o desenvolvimento e a governabilidade. No ano de 1549 sem abolirtodo o sistema feudal antes implantado, o rei da inicio a um novo regime.

    Foi instituído um capitão-mor, incumbido da administração civil e militar, de um provedor-mor, encarregado dos negócios da fazenda, de um ouvidor-mor, chefe da justiça.Inicialmente foram enviados junto a Tomé de Souza seis jesuítas.

    Figura 1 - Mapa Capitania Hereditárias. Fonte: site café história 

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    Esta ação resulta no enfrentamento aos nativos e também aos franceses, e foi primordial para que fossem fundadas algumas capitais como por exemplo São Sebastião do Rio de Janeiroem 1º de março do ano de 1565.

    “Ensinam-lhes os padres todos os dias pela manhã a doutrina, esta geral, elhes dizem missa, para os que a quiserem ouvir antes de irem para suas roças;depois disso ficam os meninos na escola, onde aprendem a ler e escrever,

    contar e outros bons costumes, pertencentes à polícia cristã; à tarde tem outradoutrina particular a gente que toma a Santíssimo Sacramento. Cada dia vãoos padres visitar os enfermos com alguns índios deputados para isso; e se têmalgumas necessidades particulares lhes acodem a elas; sempre lhe ministramos sacramentos necessários... O castigo que os índios têm é dado por seusmeirinhos feitos pelos governadores e não há mais que quando fazem algunsdelitos, o meirinho os manda meter em um tronco um dia ou dois, como elequer; não tem correntes nem outros ferros da justiça... Os padres incitam sempre aos índios que façam sempre suas roças e mais mantimentos, para que, se for necessário, ajudem com eles aos portugueses por seu resgate, como éverdade que muitos portugueses comem das aldeias, por onde se pode dizer queos padres da Companhia são pais dos índios, assim das almas como doscorpos”. (pag. 58)

    Com a organização das Capitanias, os índios naturalmente migraram para o interior, e pela necessidade de obter mão-de-obra para a produção e também na procura aos metais preciosos, ocorriam constantes expedições e os índios em sua ingenuidade era enganado pelohomem branco que oferecia liberdade e convivência pacifica, mas ao chegar ao dispor os índiosde seus paramentos os aprisionavam e vendiam como escravos.

    Franceses e Espanhóis Capistrano relata que a partir de 1580, com a unificação do reino de Portugal com o da

    Espanha, veio a ampliar os limites das nossas terras. O Amazonas e o Rio da Prata que eram dedomínio dos Espanhóis acabou por ser incorporado ao nosso território. E ele descreve comclareza:

    “Vindo do sul, encontrava-se a Cananéia habitada por gente ida da capitaniade São Vicente, que também procurava recôncavo de Angra dos Reis, e já secomunicava com a cidade de São Sebastião, pela baixada de Santa Cruz, ondeos jesuítas começavam uma fazenda famosa. Nas terras do Cabo Frio os franceses continuavam a freqüentar, (...) com menor proveito. Por fim,Constantino Menelau, depois de vencê-los, obstruiu o porto (...). Flagelados pelas bexigas13 , os Guaitacás aproximaram-se dos brancos que os poderiam socorrer. Para a conciliação muito contribuiu o jesuíta Domingos Rodrigues. Este mesmo Domingos Rodrigues, mais tarde (...), em Ilhéus, Álvaro Rodrigues Adôrno, na Cachoeira, levaram a bom termo a pacificação dos Aimorés. (...) do Rio até a cidade do Salvador cessaram temporariamente suas devastações ostão temidos Tapuias do litoral (...). Ao Norte da Bahia apresenta-se como mais

    notável o fato da conquista de Sergipe. (...) Com os dois jesuítas mandados aeste fim partiram os soldados e mamalucos, ávidos de escravos, que plantarama sizania14 entre os Tupinambás, e alienaram sua confiança.” (pag. 63)

    13 Infecção provocada por vírus, protozoário etc14 Desordem, falta de harmonia, desavenças

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    Muitos conflitos ainda estavam por vir, tanto com as diversas etnias dos nativos e comos franceses que insistiam em ocupar território. Por volta de 1618 os territórios dominados sereorganizavam e surge revela-se a figura dos senhores de engenho.

    “A camada ínfima da população era formada por escravos, filhos da terra,africanos ou seus descendentes. (...). Acima deste (...), seguiram-se os portugueses de nascimento ou de origem, sem terra, porém livres: feitores,

    mestres de açúcar, oficiais mecânicos, vivendo do seus salários ou do feitio deobras encomendadas; (...) Entre os proprietários rurais ocupavam lugarmodesto os lavradores de mantimento e os criadores de gado (...). Coroava estahierarquia o senhor de engenho. Havia engenhos movidos por água e por bois; servidos por carros ou por barcos; situados à beira-mar ou maisapartados, (...). O engenho real devia possuir grandes canaviais, lenhaabundante, boiada capaz ou barcos e barqueiros suficientes, escravatura, (...)alguns possuiam igreja, capelão melhor remunerado que os vigários,(...). O senhor de engenho opulento remetia a safra diretamente para o Reino, erecebia o pagamento do além-mar em fazendas finas, vinhos, farinha de trigo,em suma, coisas de gozo ou de luxo.” (pag. 75)

    Os espanhóis expulsaram os franceses e avançaram na demarcação e integração doAmazonas ao território brasileiro.

    Guerras Flamengas Neste capitulo Capistrano se dedica a nos transmitir um importante conflito ocorrido a

     partir da unificação do reino de Portugal e Espanha em função das relações econômicas dePortugal com Flandres15.

    O Rei da Espanha e os países baixos já viviam em grande crise, ao contrário daEspanha, Portugal bem se relacionava com os flamengos. Estes mantinham relações comerciais, pois Portugal lhes fornecia produtos diversos, a partir de Lisboa. Já os flamengos distribuíam os produtos advindo de Lisboa ao Norte e Ocidente da Europa.

    “Modificou-se esta situação vantajosa para ambas as partes quando amonarquia espanhola abarcou a península inteira e os inimigos de Castela passaram a ser os de Portugal. Em 1585, Filipe II mandou confiscar os navios flamengos ancorados em seus portos, aprisionando-lhes as tripulações. Omesmo se fez em 1590, 1595, 1599.” (pag. 80)

    Diante do fechamento dos portos portugueses se fazia necessário encontrar ao norte daÁsia outro caminho marítimo para a China e Índia, transferir a atividade comercial para omediterrâneo e apossar-se do estreito de Magalhães16.

     No ano de 1602 é criada a Companhia das Índias Orientais17, o sucesso empreendido por esta experiência inspirou, em 1621 na criação da Companhia das Índias Ocidentais. Esta

    15 A Flandres é a região norte da Bélgica, ao passo que a região sul do país é designada por Valónia. NaFlandres fala-se o neerlandês, embora popularmente esta língua seja conhecida como flamengo e osseus falantes designados como "flamengos". Considera-se que o flamengo e o neerlandês são uma e amesma língua, embora com algumas variações regionais ao nível da terminologia. A população flamengaé de origem predominantemente neerlandesa e a sua gênese remonta ao período em que esta regiãofazia ainda parte dos Países Baixos. No entanto, a população da Flandres é também composta porinúmeros descendentes de imigrantes de diferentes continentes, ou pelos próprios imigrantes quebuscam hoje nesta região uma vida melhor.16 O estreito de Magalhães é uma passagem navegável de aproximadamente 600 km imediatamente aosul da América do Sul continental. Este estreito é a maior e mais importante passagem natural entreos oceanos Atlântico e Pacífico.

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    reunia capital de investidores de diversas regiões, e a região a que pretendia explorar era África,do Trópico de Câncer ao Cabo da Boa Esperança, e ao Ocidente, desde Terra-Nova18, noAtlântico, até o estreito de Aniã19 no Pacífico. Embora esta nova companhia tenha deixado a suamarca nos EUA, nas Antilhas e no Chile, o autor se dedica apenas as suas incursões no Brasil.

    Em 8 de maio de 1623 eles desembarcam pela primeira vez no Brasil, na baía de Todosos Santos, já em 1624 conseguem o monopólio na exportação do sal brasileiro. Ainda em 9 de

    maio de 1623 a tripulação dos países baixos desembarcam sob ameaça de fogo na Bahia.

    “À noite, bispo, eclesiásticos, os moradores que puderam abandonaram acidade. Ao amanhecer, além de escravos e gente baixa sem nada a perder,encontravam-se apenas o governador e alguns fiéis na cidade deserta. Com facilidade os invasores prenderam-nos e mais tarde mandaram-nos para a Holanda. Os fugitivos acomodaram-se como puderam em engenhos próximos,aldeias de índios, debaixo de árvores, ao céu aberto (...).” (pag. 83)

    Rapidamente um novo governador foi nomeado para a Salvador, Matias deAlbuquerque Coelho, estava em Pernambuco, e lá mesmo nomeou dois capitães-mor, umdesembargador, mas de fato, por razões não explicitas quem acabou governando de fato foi o bispo Dom Marcos Teixeira.

    A armada da coroa cercou a cidade, e por não estarem providos de pólvora, enfrentaramos invasores com armas brancas, e por meio de tocaias e emboscadas. O espírito patriótico foielevado a partir do momento que havia-se êxito contra os invasores. No porto alguns navios portugueses se posicionavam de forma a avisar aos outros que navios que se aproximassem denão aportar para não serem aprisionados pelos invasores. Johannes Van Dorth que liderava asoperações holandesa foi morto em uma emboscada, seu sucessor Albert Schout, vivia meio asfestividades e por uma enfermidade, veio a falecer, e seu irmão Willem Schout, não assumiu aliderança da investida. Ao mesmo tempo o Rei e o primeiro ministro da Espanha enviam para onovo continente uma armada de mais de 12 mil homens em navios fretados.

    “A armada chegou à Bahia sábado de aleluia, 29 de março de 1625, no mesmo

    dia que aí aportara Tomé de Sousa, o fundador da cidade, setenta e seis anosantes. Formou em meia-lua, da ponta de Santo Antônio à de Itapagipe, fechando a saída aos navios holandeses ancorados. A tropa desembarcou emSanto Antônio e tomou logo posição em São Bento, Palmeiras, Carmo e outrosmorros. A 2 de abril travou-se o primeiro combate, seguido de outros. O cercoapertou-se por terra e por mar. Os sitiados foram obrigados a render-se. A 30

    17  A companhia neerlandesa foi criada em 1602 sob a proteção do príncipe Maurício de Nassau paracoordenar as atividades das companhias que concorriam no comércio nas Índias Orientais e para agircomo um braço do Estado holandês em sua luta contra a Espanha. Em 1799, foi liquidada e seus débitos,posses e responsabilidades foram assumidos pelo governo holandês. Seu monopólio se estendia desdeo cabo da Boa Esperança até o Estreito de Magalhães. A influência e a atividade holandesa seexpandiram por todo o arquipélago malaio, China, Japão, Índia, Pérsia e pelo cabo da Boa Esperança.18  A ilha da Terra Nova encontra-se no noroeste do Oceano Atlântico. É uma das duas regiões quecompõem a província canadense da Terra Nova e Labrador. Foi descoberta pelos navegadoresportugueses João Vaz Corte-Real e Álvaro Martins Homem, por volta de 1472. Mais tarde será JoãoÁlvares Fagundes, outro marinheiro e explorador português, nessa mesma época, a quem se deve oreconhecimento da sua costa.19 Hoje conhecido como o estreito de Juan de Fuca, é a principal saída para o estreito de Geórgia e oPuget Sound, conectando ambos com o Oceano Pacífico. Forma parte da Fronteira Canadá-EUA.Recebeu o nome em 1788 de Juan de Fuca pelo capitão inglês John Meares do navio Felice. Juan de Fucaera um marinheiro grego que alegava haver ido em uma viagem com exploradores espanhóis em1592 para procurar o lendário estreito de Anián.

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    de abril assinava-se a capitulação. A 1º de maio abriram-se as portas e entrouo exército vencedor. A 26 apareceu na barra o socorro holandês, trinta equatro naus, comandadas por Boudewyn Hendrikszoon. Ambas as armadasevitaram porém travar novos combates e os holandeses foram piratear emoutras regiões mais indefesas.” (pag. 85)

     Nos anos seguinte os holandeses continuaram a investir na costa brasileira, e obteve

    grande êxito no litoral de Cuba, quando aprisionaram uma frota espanhola obtendo um lucro demais de 14 milhões somente nessa investida. Este investida foi liderada por Pierre Heyn no anode 1628. Em14 de fevereiro de 1630 os holandeses com uma poderosa armada atacaram aCapitania de Pernambuco, desembarcando em Olinda. Não havendo outra alternativa, ogovernador de Pernambuco mandou atear fogo nas embarcações e nos armazéns para que osholandeses não se apropriassem das riquezas e das embarcações.

    “A população abandonou a vila e procurou abrigo nos matos e nosengenhos. A soldadesca invasora entregou-se ao saque e à embriaguez.(...)”(pag. 85)

    Recife estava em ruínas, comoreação Matias e Albuquerque seguindo deencontro ao interior de Pernambuco cria oArraial de Bom Jesus, mais precisamente a20 léguas de Recife e Olinda e junto aoRiacho Parnamirim. Logo outrosaventureiros, gente da terra, índios,senhores de engenho e seus escravos foramse chegando com a ancia de lutar e comtotal desprezo pela morte. Capistranoafirma o pensamento de Matias deAlbuquerque: “de fato os Holandesesdominaram Pernambuco, mas nunca foraum fato consumado”. Com a chegada de

    Antonio Camarão muitas investidas foramfeitas contra os holandeses, que sucumbiamcom pequenas baixas. A fome, a nudez, afalta de médicos, dentre outras dificuldades passavam despercebidas aos seguidores de Matias e Camarão.

     Nesse período os holandeses fundaram a Ilha de Itamaracá20  e o Forte de Orange.Depois de cinco anos os Holandeses já dominavam do Rio Grande ao Recife.

    Em 7 de setembro partiu de Cabo Verde para Pernambuco uma armada formada denavios espanhóis e portugueses, e, enquanto os holandeses retiravam 5 embarcações carregadasde açúcar, pau-brasil, tabaco, algodão e gengibre, os representantes da coroa desembarcavamem Olinda.

    Em janeiro de 1637, João Mauricio, conde de Nassau-Siegen, membro da família realholandesa, desembarca em Pernambuco com a designação de Governador-Geral, para cumprirum período de 5 anos de governança. Os portugueses se concentravam na Bahia, então capitaldo Brasil enquanto os holandeses exploravam, queimavam aldeias, aprisionavam e eliminavam

    20 A Ilha de Itamaracá é uma ilha no litoral norte do estado de Pernambuco, no Brasil. Constitui-setambém em um município, integrante da Região Metropolitana do Recife. A ilha é ligada ao continentepela ponte Presidente Getúlio Vargas. O canal de Santa Cruz separa a ilha do continente. O Forte Orangeesta localizado na Ilha.

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    aqueles que se opusessem as suas investidas, se apropriavam dos gados e colheitas. Já estavasob domínio holandês a região de Pernambuco, Paraíba e Sergipe.

    Em 16 de Março de 1638 Mauricio de Nassau, com 3.800 soldados europeus e 1.000índios, investiu contra a baía de Todos os Santos, sem lograr êxito. Deis de muita carnificina,em 26 de Maio ele retorna a Pernambuco.

    “A 1º de dezembro de 1640, Portugal declarou-se independente da Espanha,

    aclamou rei o duque de Bragança, tratou pactos de amizade com os adversáriosda monarquia espanhola. A 12 de junho de 1641 concluiu com a Holanda umtratado de aliança ofensiva e defensiva na Europa, e nas colônias uma trégua dedez anos, que devia vigorar para os domínios da Companhia das ÍndiasOrientais um ano depois da ratificação do tratado, e nos da Companhia das Índias Ocidentais apenas (...). Esta cláusula pouco lisa deve ter sido lembrada pelos portugueses, na esperança de melhorarem a situação durante ointerstício21; de outro modo não se explica terem demorado a ratificação até 18de novembro. Em fevereiro de 1642 os Estados Gerais22  ordenaram às duascompanhias cumprissem fielmente o pactuado.” (pag. 95)

    Em 26 de Janeiro de 1754, os holandeses concentrados na guerra com a Inglaterra,deixando Pernambuco desguarnecido, tornou propenso aos portugueses retomar as regiões antesem domínio da Companhia das Índias Ocidentais. Vale esclarecer que os portugueses aquicitados, são na verdade, filhos e netos de portugueses e nasceram na região de Pernambuco, e por guardarem o sentimento de verdadeiros donos da terra se armaram, se organizaram elutaram para expulsar os flamengos.

    O SertãoEste capítulo compreende as páginas 103 a 177, é o mais extenso deles, e neste o autor

    inicia fazendo uma breve analogia entre a Capitania São Vicente á de São Paulo, fala de suascaracterísticas regionais, e em dado momento afirma que em São Vicente, o solo fértil garantia areprodução de quase todos os produtos consumidos no comercio europeu, e que São Paulo avocação dos bandeirantes em desbravar as terras e capturar indígenas falou mais alto.Capistrano enriquece o texto ao afirmar que talvez o termo bandeirante, segundo Anchieta,

    tenha sua origem no costume tupiniquim em erguer uma bandeira em sinal de guerra. E,também o quanto era importante a presença de um capelão, frade, ou outro religioso nasincursões dos desbravadores. Pois cabia a eles tomar a confissão daqueles que fossem vitimasde algo que viesse a tirar-lhes a vida.

    Há escassez de livros que contem as historias dos bandeirantes, os que Capistranoconheceu diziam sempre a mesma história:

    “(...) homens munidos de armas de fogo atacam selvagens que se defendem comarco e flecha; à primeira investida morrem muitos dos assaltados e logodesmaia-lhes a coragem; os restantes, amarrados, são conduzidos ao povoado edistribuídos (...).” (pag. 105)

    Ele descreve os territórios desbravados pelos bandeirantes, que chegavam as fronteirascom o Paraguai e Uruguai, além de chegar a comunicar-se a boca do Amazonas acima do MatoGrosso. Esses eram formados predominantemente pelo mamelucos.

    21 Pequeno intervalo, espaço ou fenda em tecido, estrutura ou entre células.22 Também chamado tratado da Haia de 1641 foi uma trégua de dez anos firmada entre o Reino dePortugal e a República Neerlandesa. Trata-se também de um Tratado de Aliança Defensiva e Ofensivaentre ambas as partes.

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    “Os jesuítas chamam à gente de São Paulo mamalucos, isto é, filhos de cunhasíndias, denominação evidentemente exata, pois mulheres brancas nãochegavam para aquelas brenhas.” (pag. 105)

    Os jesuítas por sua vez cumpriam a missão da catequese grandiosa, que não consistiasomente em verter orações e o evangelho para a língua geral, mas no âmbito religioso, fazê-losrepetir pela multidão enquanto eram observados durante as missas.

    Para revidar ao ataque de nativos no interior da Bahia e ao norte do Rio São Francisco,foram chamados os paulistas mamelucos. Eram tribos ousadas e valentes que se reuniram emtorno do Paraguaçu. Em 4 de Março de 1669, o governador da Bahia declarou guerra aosnativos, e os bandeirantes advindos de São Paulo foram designados a esta guerra que duroumuitos anos.

    “Das expedições feitas pelo interior conhecemos as de Domingos Jorge Velho, Matias Cardoso de Almeida, Morais Navarro, todos empregados em combateros paiacus, janduís, icós, nas ribeiras do Açu e do Jaguaribe. Domingos Jorgeauxiliou a debelação dos Palmares, mocambo de negros localizado nos sertõesde Pernambuco e Alagoas, que já existia antes da invasão flamenga e zombarade numerosas e repetidas tropas contra ele mandadas. Ficou assim livre todo oterritório entre as matas do cabo de Santo Agostinho e Porto Calvo.” (pag.110)

    A maior parte dos bandeiras não retornaram a sua terra, preferiram a vida de grandes proprietários nas terras conquistadas, sendo visto a partir de então de povoadores da região deSão Paulo a conquistadores, erguendo suas residências fixas as margens do Rio São Francisco edo Rio das Velhas. Mas os paulistas foram além, muitos investiram em pesquisa mineral à buscade riquezas, e conseqüentemente criaram algumas vilas ao longo dos leitos dos rios.

    Os paulistas são reconhecidos pelas conquistas do sertão, e os Palmares de Pernambucofoi o grande marco para a conquista do Ceará, Rio Grande do Norte, sertão da Paraíba e doPernambuco em si. O governo investiu na construção de grandes engenhos na região e para otrabalho usava-se a ajuda de índios e no trabalho pesado a mão de obra de escravos africanos. No Maranhão foi criado um Estado independente, devido a dificuldade de comunicação

    marítima com a região. Isto data de 1621, e seu território iria do Ceará ao Pará.Por volta do ano de 1641 os holandeses desembarcam no Maranhão, dominando a

    região, amparados pelo tratado assinado com rei D. João IV. O ambiente era hostil e os índiostrucidaram os holandês, que mais tarde retornaram a ali permaneceram até 1654.

    “ No ano de 1693 foram determinados os territórios em que cada uma dasordens poderia estabelecer missões: aos jesuítas concedeu-se a margemmeridional do Amazonas; aos franciscanos as terras de cabo do Norte até o rioUrubu; aos carmelitas coube o rio Negro.” (pag. 122)

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    Capistrano reserva nesse capitulo algumas linhas para apresentar-nos o padre AntonioVieira, este cumpria na Europa a sua missão religiosa, mas motivado pelas historias contadas deFernão Cardim sobre as experiências do Padre Anchieta, Vieira guardava em ti a aspiração emtambém missionar no Brasil. Antonio Vieira chega ao Brasil em 16 de janeiro de 1653 nacompanhia de três outros jesuítas, e como protetor dos indígenas tinha grandes desafios aenfrentar.

    “Com os índios só havia duas políticas racionais: ou deixá-los aprisionar àvontade como então se fazia, ou proibir expressamente toda e qualquerescravidão. Nenhuma das duas observaram quer o governo, quer os próprios jesuítas”. (pag. 120)

    Texto do Padre Antonio Vieira, que o autor descreve como sendo a vivida descrição daeconomia naturista.

    "Os alicerces assentaram sobre sangue, com sangue se foi amassando e ligandoo edifício e as pedras se desfazem, separam e arruínam. As terras seesterilizam; as plantações de mandioca não bastam para garantir o sustento;tem-se de buscar longe as madeiras e as terras de tabaco; minguaram a caça ea pesca; as povoações são muito distantes umas das outras e o trabalho deremar consome as forças da indiada. Não há açougue, nem ribeira, nem horta,nem tenda para vender as cousas usuais para o comer ordinário, nem aindauma arrátel de açúcar, com se fazer na terra. No Pará, onde todos os caminhos são por água, não há uma canoa de aluguel. Para um homem ter o pão da terrahá de ter roça, e para comer carne há de ter caçador, e para comer peixe, pescador, e para vestir roupa lavada, lavadeira, e para ir à missa ou aqualquer parte, canoas e remeiros: os moradores de mais cabedal têm a maisde tudo isto costureiras, fiandeiras, rendeiras, teares e outros instrumentos eofícios de mais fábrica, com que cada família vem a ser uma república.

    Os povoadores primeiros foram gente pobre: soldados idos de Pernambuco,mal pagos a ponto de raros poderem calçar sapatos e meias; ilhéus nobres,

    mas gente necessitada, impelida à emigração pela procura de meios nãoexistentes no arquipélago; soldados rotos e despedidos tomados na guerra eabandonados nas costas pelos holandeses; finalmente degradados.

     Não guarda proporção com a população o número de frades: o Pará, comoitenta moradores, tem quatro conventos e sai dos moradores a paga de missas,ofícios e enterros, servem grande número de confrarias com grandes einvoluntários gastos nas suas festas, porque, sem serem perguntados, se ouvemapregoar dos púlpitos e não basta o que granjeiam num ano para satisfazer osempenhos desta forçada devoção. Apenas a Companhia de Jesus não pesa sobre a gente, porque a renda concedida pela fazenda real a põe a coberto dasnecessidades.

     As drogas do estado baixaram de preço, e mal bastam para pagar os fretes; emcompensação os gêneros vindos da Europa vendem-se por preços excessivos. Dominam a ociosidade, a preguiça e o luxo; grassa o alcoolismo; só na cidadedo Pará gastam anualmente quinze mil cruzados em aguardente da terra, sem falar na que vai do Reino. Os governadores e oficiais de fazenda pagam-se em primeiro lugar, pouco deixando para os vigários e soldados; confiam osmelhores ofícios aos criados; prendem, processam, recrutam, atravessam os gêneros.

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     Finalmente os índios, por sua natural fraqueza e pelo ócio, descanso eliberdade em que se criam, não são capazes de aturar por muito tempo otrabalho em que os portugueses os fazem servir, principalmente das canas,engenhos e tabacos, sendo muitos os que por esta causa continuamente estãomorrendo; e como nas suas vidas consiste toda a riqueza e remédio dosmoradores, é mui ordinário virem a cair em pouco tempo em grande pobreza osque se tinham por mais ricos e afazendados, porque a fazenda não consiste nas

    terras que são comuns senão nos frutos da indústria com que cada um os fabrica e de que são os únicos instrumentos os braços dos índios." (pag.121,122)

     No processo de ocupação e povoamento da região do Amazonas, muitos nativos foramdizimados, em 1693 os territórios das ordens foram estabelecidos: Jesuitas à margem meridionaldo Rio Amazonas; Franciscanos as terras de Cabo Norte até o Rio Urubu; e Carmelitas no Rio Negro.

    Em algum momento os jesuítas espanhóis que com o apoio ou omissão do vice-rei doPeru avançavam em terras de domínio português, em 1689 essa invasão causou um certodesconforto, mas por volta de 1695, Inácio Correa de Oliveira expulsou os jesuítas de castelhaque se encontravam no Solimões.

    A região aos poucos recebia melhorias, em 1692 na Ilha de Marajó foi criado um pesqueiro real e nos anos seguinte na região, houve grande desenvolvimento na criação de gado. Na Pascoa do ano de 1723 começou a funcionar um açougue em Belém. La Condamine registraque em 1743 a moeda corrente da região era grãos de cacau, mas em 1749 já se via moedas deouro, prata e cobre.

    “Em 1751, o Pará, a que agora estava subordinado o Maranhão, contava nove freguesias e seis ermidas paroquiais, sete fortalezas, vinte e quatro engenhos deaçúcar, quarenta e duas engenhocas de aguardente, sessenta e três aldeias deíndios missionados. Muitas medidas concertou o governo para desenvolver aagricultura, mas só o conseguiu nas cercanias de Belém. O café, levado de

    Caiena por Francisco de Melo Palheta, pareceu despertar o torpor da população. Pouco tempo durou a experiência; preferiu-se a apanha de produtos florestais, cravo, canela, cacau, salsa, mais rendosos e criados à leida natureza.” (pag.124)

    “Os anos seguintes à partida de Antônio Vieira para a Europa em 1661assinalam-se pela legislação caótica a respeito de aldeias, jurisdição espirituale temporal, descimentos, salários e escravidão dos índios. Em 1680 uma lei proibiu que os índios fossem escravizados, única solução lógica e justa, sehouvesse gente bastante honesta e bastante enérgica para fazê-la respeitada. Para mitigar as queixas dos colonos criou-se uma companhia de comércio como privilégio de vender certos gêneros de primeira necessidade, que comprariatoda a produção do estado e forneceria escravos africanos, mais fortes e mais

     próprios para a pesada labuta agrícola.” (pag. 124)

     No Pará essa medida não teve grandes resistências, mas, no Maranhão algunsmanifestos provocaram a expulsão dos jesuítas e a revolta contra o capitão-mor. Com aderrubada do capitão-mor, Manuel Bequimão líder do movimento assumiu a governança eesperava da coroa o perdão régio. Gomes Freire de Andrada foi mandado para o Maranhãodestinado a assumir o cargo de Governador, e, não havendo perdão régio, instaurou processoque acabou por condenar a morte Bequimão, Jorge Sampaio e Deiró.

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    Vital Maciel Parente, define resumidamente o sertão como as regiões ao longo dos riosSão Francisco, Parnaíba ou Paraguaçu. A Bahia representava o objetivo e o Parnaíba o rumo aseguir. Capistrano indica que a melhor definição do sertão brasileiro esta no livro No Reino 23,de João Velho do Vale.

    “Depois de dar em larga relação notícia exata dos sertões que penetrou, rios, enações várias que os habitam, sinalando pelos graus as alturas do pólo, mais

     gasto do trabalho, que dos anos, veio a acabar [João Velho do Vale] embenefício da pátria, com serviços maiores que a gratidão. Descansam suascinzas em jazigo humilde na cidade de São Salvador, onde veio consumar comúltimo termo seus trabalhos com mais honra que interesse." (pag.125,126)

    Ainda estavam a buscar meios de comunicação eficaz por estradas e rios quefacilitassem o acesso ao Maranhão, Pernambuco, Pará... Mas, já se observava fazendas de gadoas margens do Rio São Francisco, e estes eram negociados com os mercados na Bahia. Osengenhos do Maranhão já estava em decadência desde o final do século XVII, pelo abandono daagricultura. Os engenhos perdiam espaços para os produtos da floresta, a exemplo do Pará: ocravo, a canela, o cacau e a castanha.

    Com o fracasso da agricultura na região do sertão, iniciou-se a cultura da pecuária, acriação de gado vacum. Este dispensava a proximidade da praia, dava-se bem em terrenosinadequados ao plantio da cana de açúcar, fornecia alimento constante. Esta culturadesenvolveu-se primeiramente em Salvador, na Bahia; estendeu-se por Sergipe as margensdireita do Rio São Francisco; menos freqüente a atividade também desenvolveu-se emPernambuco.

    Em função da expansão da atividade as margens do São Francisco novos conflitossurgiram com os índios de habitavam a região, eram numerosas tribos cariri, pimenteiras(caraíbas), tupis (amoipiras). Esses nativos não aceitavam abrir mão de suas terras e outros preferiam desfrutar dos gados que afloravam na região. Acabaram por abandonar a área, serefugiarem juntos aos jesuítas ou se aproximarem de homens poderosos. Teodosio de OliveiraToledo e Manuel de Araujo de Carvalho por ordem de Dom João de Lacastro atacou os índios

     pacificando a região.“Os primeiros ocupadores do sertão passaram vida bem apertada; não eram osdonos das sesmarias, mas escravos ou prepostos. Carne e leite havia emabundância, mas isto apenas. A farinha, único alimento em que o povo temconfiança, faltou-lhes a princípio por julgarem imprópria a terra à plantaçãoda mandioca, não por defeito do solo, pela falta de chuva durante a maior parte do ano. O milho, a não ser verde, afugentava pelo penoso do preparonaqueles distritos estranhos ao uso do monjolo. As frutas mais silvestres, asqualidades de mel menos saborosas eram devoradas com avidez. Pode-seapanhar muitos fatos da vida daqueles sertanejos dizendo que atravessaram aépoca do couro. De couro era a porta das cabanas, o rude leito aplicado aochão duro, e mais tarde a cama para os partos; de couro todas as cordas, a

    borracha para carregar água, o mocó ou alforje para levar comida, a maca para guardar roupa, a mochila para milhar cavalo, a peia para prendê-lo emviagem, as bainhas de faca, as bruacas e surrões, a roupa de entrar no mato, osbangüês para curtume ou para apurar sal; para os açudes, o material de aterroera levado em couros puxados por juntas de bois que calcavam a terra com seu peso; em couro pisava-se tabaco para o nariz.” (pag 130, 131)

    23 Este livro foi entregue a Gomes Freire, mas parece ter sido extraviado e encontrava-se desaparecido.

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    Vale registra que no século XVIII, as sesmarias eram demarcadas em até três léguas,limitada a uma área devoluta. Muita gente da Bahia, Pernambuco e Ceará, desse tempo, buscavao titulo honorífico de vaqueiro, pois este era a possibilidade de no futuro ser agraciado com umasesmarias e algumas matrizes bovinas para iniciar a sua própria criação. Quanto aos quecondiziam as boiadas para a Bahia, Antonil descreve:

    "Constam as boiadas que ordinariamente vêm para a Bahia, de 100, 150, 200 e

    300 cabeças de gado; e destas quase cada semana chegam algumas aCapoame24 , lugar distante da cidade oito léguas, aonde tem pasto e aonde osmarchantes as compram: e em alguns tempos do ano há semanas em que cadadia chegam boiadas. Os que as trazem são brancos, mulatos e pretos, e tambémíndios que com este trabalho procuram ter algum lucro. Guiam-se indo unsadiante cantando, para serem desta sorte seguidos do gado; e outros vêm atrásdas reses tangendo-as e tendo cuidado que não saiam do caminho e seamontem. As jornadas são de 4, 5 e 6 léguas, conforme a comodidade dos pastos aonde hão de parar. Porém, aonde há falta de água, seguem o caminhode 15 e 20 léguas, marchando de dia e de noite, com pouco descanso, até queachem paragem aonde possam parar. Nas passagens de alguns rios, um dosque guiam a boiada, pondo uma armação de boi na cabeça e nadando, mostraàs reses ou vau por onde hão de passar.” (pag.132)

    O trajeto do gado proporcionou o desenvolvimento de uma região, onde os residentesnegociavam os animais cansados e fracos com os vaqueiros, e cultivavam pequenas lavouras eofereciam aos viajantes, facilitaram os caminhos das estradas, fizeram açudes, plantaram cana ecriaram a rapadura. Nas proximidades do rio São Francisco descobriram jazidas de sal de ótimaqualidade.

    Antonil faz referencia de que haviam cerca de meio milhão de cabeças de gado na Bahiae mais de 800 mil na região de Pernambuco, e que na extensão de todo o sertão haviaminúmeros currais. Depois da instalação do arcebispo da Bahia, foram criadas freguesias noSertão e com elas os dízimos. Um imposto meio civil, meio eclesiástico: era recolhido os bezerros dizimados, inicialmente um, depois 3 ou 4, conforme convencionado.

    O gado foi importante para impulsionar a descoberta de ouro nas região de Minas. Ogado era utilizado para alimentar os mineiros. Alguma esmeralda fora encontrada após a serrado Espinhaço, e também algum ouro fora encontrado em Porto Seguro, mas a grande riquezaainda não se revelara. O ouro ainda mal explorado aparecia em pequenas montas principalmentena Capitania de São Vicente25. Antonil descreve:

    “(...) que de um outeiro alto distante três léguas da vila de São Paulo, a quechamam Jaraguá, se tirou quantidade de ouro que passava de oitavas a libras. Em Parnaíba, também junto da mesma vila no serro Ibituruna, se achou ouro etirou-se por oitavas. Muito mais e por muitos anos se continuou a tirar em Parnaguá e Curitiba, primeiro por oitavas, depois por libras, que chegaram aalguma arroba posto que com muito trabalho para o ajuntar, sendo o

    rendimento no catar limitado.” “(...) um mulato de Curitiba encontrou noriacho chamado Tripuí uns granitos cor de aço, que vendeu em Taubaté a Miguel de Sousa por meia pataca a oitava; levados ao Rio reconheceu-se nelesouro finíssimo. Foi este o primeiro descoberto.” (pag. 139, 140, 141)

    24  Feira de gado realizada na Bahia setecentista, ou seja no período do século XVIII. La reunia muitosescravos africanos.25 Originalmente a capitania consistia em duas seções: a seção sul (a São Vicente propriamente dita quese destacou efemeramente), de Bertioga (SP) a Cananéia/Ilha do Mel (PR) e a seção ao norte,de Macaé (RJ) a Caraguatatuba (SP), interrompidas pela Capitania de Santo Amaro.

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     Na região de Ouro Preto e Mariana, na parte da bacia do alto do Rio Doce ocorrera as primeiras escavações onde primeira designou-se as Minas Gerais. O autor também destaca o riodas Mortes, próximo a São João e São José Del Rei; o rio das Velhas no caminho da Bahia eCaeté; e mais freqüente no alto do rio Doce e na Cordilheira do Espinhaço. Novas minhastambém foram descobertas em Pitangui, Paracatu e Alhures.

    Dom Pedro II foi o grande motivador a busca do ouro em nossas terras, ele enviaracartas principalmente para gente de São Paulo, dizendo que se houvesse ouro nestas terras elesnão mais deveriam ficar encobertos. Com a descoberta do ouro, muitos mantimentos comogarapas, fumo, comestíveis etc eram enviados para as freguesias das minas, e por não haveroutra moeda circulando no local esses eram pagos em ouro, com suas oitavas. Os negros e osíndios aproveitavam os dias santos, que os homens não trabalhavam nas minas e retiravam ouroe guardavam para si, esse ouro era gasto por eles em comidas e bebidas, o que dava grande lucroaos comerciantes.

    “Sem serem procuradas apareceram as minas de Cuiabá. Pascoal Moreira Cabral e seus companheiros andavam à cata de índios quandoencontraram os primeiros grãos de ouro em 1719, em tamanha abundância queextraía-se com as mãos e paus pontudos; tirava-se ouro da terra como nata deleite, na expressão pitoresca de Eschwege. Os bandeirantes viraram mineiros sem pensar e sem querer. A experiência das desordens das Minas Gerais foiaproveitada, e não houve aqui as terríveis desordens que fizeram tristementecélebre o rio das Mortes.” (pag. 142)

     Na busca ao ouro, muitos homens morreram, alguns e naufrágios, outros foram atacados por feras, a grande maioria por má alimentação e flagelo sofreram com enfermidades que lhestiraram a vida. Por volta de 1736 a mineração cresceu pelo Cuiabá até o Paraguai, ao longo daságuas do Guaporé, e nas aldeias de jesuítas espanhóis estes aventureiros encontravam apoio eeram proibidos de negociar com os portugueses. Relata ainda que os paiaguais e os guaicurus,talvez motivados pelos espanhóis que ocupavam o Paraguai, cercavam e furtavam aqueles queseguiam pela barra de São Lourenço a Cuiabá pela região pantanal.

    Os governadores buscavam formas eficazes em taxar o ouro aqui explorado, pois eraeste um direito real, tais taxas, ora de quinto, ora em taxa única anual de 25 ou 30 arrobas, atéque criou-se as casas de fundição, e estas já lhe subtraia o quinto ainda em pó. Em 1725 asmunicipalidades propõem pagar 37 arrobas. Para ter controle sobre a exploração mineral,inúmeras medidas foram impostas, por exemplo a taxação sobre a quantidade de escravo notrabalho, cobrança de pedágios nos rios e estradas, até que fora proibido transportar ouro em pó,e realizar trabalhos com ouro, como os ourives por exemplo.

    “Desenganada de ouro, a população procurou outros meios de subsistência: acriação de gado, a agricultura de cereais, a plantação de cana, de fumo, dealgodão; com o tempo avultou a produção ao ponto de criar-se uma indústriaespecial de transportes, confiada aos históricos e honrados tropeiros.” (pag.

    150)

    Concluindo, neste capitulo Capistrano nos define claramente como foi a ocupação dosertão brasileiro, a economia local, a produção, a riqueza, a característica, e ainda nos da umcaminho para entender a corrida do ouro no Brasil, e também os caminhos para o escoamentodas riquezas do Brasil para a Europa.

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    Formação dos LimitesInicia este capitulo, o autor a descrever a distribuição das terras fruto das conquistas ou

    descobrimentos exercido inicialmente por Portugal, no tempo do infante Dom Henrique. Estadistribuição fora resultante da vontade dos papas Nicolau V, Calixto III e Xisto IV. No ato pontifico as terras descobertas, em meados do século XV pertenceriam unicamente a Portugal.Já em 1493, após a viagem de Cristovão Colombo, o papa Alexandre VI atribui a Castela, todas

    as terras a 100 léguas26

     oeste da ilha de Açores e do Cabo Verde.

    Tal ato de Alexandre leva Dom João II, então rei de Portugal a protestar, pois via osdireitos lusitanos subtraídos. Depois de algumas negociações, chegaram ao acordo deTordesilhas. Este tratado assinado em 7 de junho de 1494.

    “(...) manteve o princípio enunciado pelo papa: a divisão do mundo em doishemisférios, pertencentes um a Portugal, outro à Espanha; modificou, porém, onúmero de léguas, elevando-as de cem a trezentas e setenta, e o ponto de partida para a contagem, que seria uma ilha, não especificada então nemdepois, do arquipélago do Cabo Verde. O arreglo27   foi meramente formal eteórico: ninguém sabia o que dava ou recebia, e se ganhava ou perderia comele no ajuste das contas”. (pag.178)

    Capistrano relata que chegada de Padro Alvares Cabral ao Brasil fora precedida pelaexpedição de Vicente Yañes28, porém os espanhóis buscavam terras ao norte, por entender queesta terra, a que eles chamavam de terra dos papagaios, segundo o tratado pertenceria aPortugal. Mesmo aparente definido os domínios do Portugal e Espanha, ainda levantou-se umadiscussão, agora sobre o posicionamento da linha divisória do mediterrâneo, pois a alteraçãotraria alguns benefícios ao povo de Castela. Deste reclame, em abril de 1529 houve a

    26 Légua era a denominação de várias unidades de medidas de itinerários (de comprimentos longos)utilizadas em Portugal, Brasil e em outros países até à introdução do sistema métrico. A légua imperial éa maior unidade do sistema imperial de medidas. Esta é a única légua que tem uma definição eequivalência exatas, pois equivale cabalmente a 4,828032quilômetros. Em Portugal, durante o períodode transição das antigas unidades de medida para o sistema métrico, por Decreto de 2 de Maio de 1855,foi estabelecida a "légua métrica", equivalente a 5 000 metros.27 Substantivo espanhol que significa “a liquidação”, arranjo, arrumação. Da mesma forma foiintroduzida na língua portuguesa.28 Vicente Yáñez Pinzón (1462 — 1514) foi um navegador e explorador espanhol, primo do tambémnavegador Diego de Lepe. Foi co-descobridor da América em 1492 como capitão da caravela La Niña, naprimeira expedição de Cristóvão Colombo.

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    capitulação de Saragoça, este admitia que as Molucas29  pertenciam a coroa espanhola e não a Portugal que asreclamava.

    Portugal e Espanha disputavam cada espaço de terrasda concessão papal, Dom João III chegou a cogitar a deduçãoda Capitania do Pernambuco e Rio da Prata30. Na foto ao lado

     pode-se observar a localização do Rio da Prata logo abaixodo Uruguai.

    Além da reclamação espanhola sobre domínios edemarcação de terras, as observações astronômicas de MartinAfonso deram razão ao direito de Portugual. A unificação doreinado de Castela e Portugal e a atenção concentrou-se naAmazônia. A região sofria constantes invasões por parte deingleses e flamengos.

    Portugal havia estabelecido ainda duas capitanias em território claramente definidocomo espanhol.

    “(...) a de Cametá, concedida a Feliciano Coelho de Carvalho, limitada a oeste pelo Xingu na margem direita, a do cabo do Norte na margem esquerda do Amazonas, concedida a Bento Maciel Parente, limitada a oeste pelo Peru. Em1639, Pedro Teixeira, voltando de Quito, tomou posse em nome del-rei de Portugal das terras situadas entre o rio Aguarico, afluente do Napo, e o mar; faltava-lhe autoridade para tanto; mas este ato foi mais tarde e muitas vezesinvocado e aceito como título de posse.” (pag.180)

    Já a ocupação territorial e suas delimitações, ao sul das Américas ocorreu maislentamente por parte de Portugal, acompanhando o litoral do Paraná e Santa Catarina, e,inclusive insurge a preocupação em definir os verdadeiros limites e alcances da linha deTordesilhas. Os jesuítas espanhóis reergueram as missões no território do Uruguai, gravitando

    com Buenos Aires, Assunção, seguindo para os Andes e o Pacífico.

    29 Ilhas Molucas são um arquipélago da Insulíndia que faz parte daIndonésia, localizado entreCelebes (Sulawesi) e a Nova Guiné. É limitado a sul pelo Mar de Arafura, a oeste pelos mares de Banda edas Molucas e a norte pelo Mar das Filipinas e a noroeste pelo Mar de Celebes. Nos séculos XVI e XVII,as ilhas correspondentes à atual província das Molucas do Norte eram chamadas "Ilhas das Especiarias".A região era a única fornecedora mundial de noz-moscada e cravo-da-índia, especiarias extremamentevalorizadas nos mercados europeus, vendidas por mercadores árabes à República de Veneza a preçosaltos, com os negociantes a nunca divulgarem a localização exata da origem, pelo que nenhum europeuconseguia deduzir a sua origem. Em 1511-1512, os portugueses foram os primeiros europeus a chegaràs Molucas, em procura das afamadas especiarias. Os Holandeses, os espanhóis e reinos locais, comoTernate e Tidore, disputaram o controle do lucrativo comércio de especiarias. As árvores de noz-moscada e cravo-da-Índia foram posteriormente transplantadas no mundo inteiro, o que reduziu aimportância internacional da região.30  O nome refere-se à lendária Sierra de Plata  (Serra de Prata), que foi procurada por Aleixo Garcia,Sebastião Caboto e outros que subiram os rios da Prata, Paraná, Paraguai e Uruguai e que realizaramexpedições terrestres até o Chaco e Chiquitos. É possível que a tal Sierra de Plata  tenha sido umaevocação remota ao Cerro Rico de Potosí que os indígenas transmitiam boca a boca, ou que talinformação seja uma referência ao império dos Incas no Peru. Em 1525, Sebastião Caboto encontroualguns índios que acompanhavam Aleixo Garcia: eles carregavam prata que obtiveram em suaexpedição. Caboto, então, inferiu que, naquela zona, havia muita prata; desde então, organizaram-seexpedições ao "Rio da Prata". O rio, ou estuário, acabou por denominar a atual Argentina, a partir donome latino da prata: argentum.

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    Capistrano descreve ainda a disputa de Portugal e Espanha pelo território da Colônia deSacramento31 que havia sido criada pelo Rei de Portugal, em 1680 nas proximidades do Rio daPrata e a 10 léguas e Buenos Aires. A diante, Portugal põem em pratica o povoamento do RioGrande do Sul, á época, chamado de rio de São Pedro. Em 1737 Jose da Silva Pais32,desembarcou na região da Lagoa dos Patos33 e a Mirim34, onde iniciou o processo de ocupação.

    Finalmente no ano de 1750 com a assinatura do tratado de Madri, encerra-se entre

    Portugal e Espanha a briga por demarcações, ocupações e territórios. Ambas as nações haviamdeclarado ter desrespeitado a linha de Tordesilhas, e partir de então cada nação teria domíniosobre as áreas já ocupadas e as referencias seriam os monumentos naturais já conhecidos.Tropas de comissionados e engenheiros se espalharam e seguiam em diversas direções entre ascapitanias promovendo as demarcações das terras, agora pacificadas, porém, sofrendo algumasresistências por parte dos nativos. As missões jesuítas tiveram importante papel também nestemomento, pois, buscavam o entendimento com os nativos buscando a paz.

    O Rei Carlos III ascende ao trono da Espanha em função da morte do rei Fernando VI, euma de suas primeiras medidas foi anular o tratado de Madri. A contar de 12 de fevereiro de1761, volta a prevalecer o tratado de Tordesilhas. Por volta de 1762 por não dar apoio ao pactode família, dirigido pelos Bourbons contra a Inglaterra, colocava em risco seus domíniosterritoriais na America do Sul. E as colônias a começar por Sacramento são atacadas.

    Esse tempo foi marcado por conflitos e tratados entre Portugal e Espanha quecolocavam sempre em questão algumas regiões do território na America do Sul. Capistranoaponta o natural ódio de nossos vizinhos ao Brasil de hoje, a forma como as demarcações dasterras foram realizadas por volta do século XVIII, assim como fora o processo confuso deocupação promovido pelas monarquias de Portugal e Espanha.

    “E em nome destes seres heterônomos ainda hoje nossos vizinhos propagam eherdam o ódio ao Brasil desde os bancos escolares! Felizmente no Brasil jánão somos prisioneiros destas paixões inferiores de colonos fossilizados.” (pag.191)

    Já os conflitos com os franceses as margens do Oiapoque

    35

      esgotou-se a partir dotratado de paz conhecido por tratado de Utrecht, e em seu artigo 8º torna-se claro e indiscutível

    31  Esta cidade foi fundada em 1680 pelas tropas portuguesas lideradas por Manuel Lobo, que seassentaram sobre as costas do Río de la Plata. Neste momento os reinados de Portugal e da Espanha seencontravam em grandes conflitos bélicos, gerados pela intenção de ambos os países de estender seupoderio sem respeitar acordos bilaterais. Esta é a cidade mais antiga do Uruguai e é um dos Patrimôniosda Humanidade (Unesco).32  José da Silva Pais (1679 —1760) foi um militar, engenheiro e administrador colonial português.Notabilizou-se por ser um grande estrategista que não apenas idealizou, mas também participoudiretamente da administração pública que estruturou a concepção do Brasil Meridional lusitano.Mandou construir fortificações e participou da construção de diretrizes geopolíticas para garantir apresença portuguesa no Prata, no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina.33 O nome pode estar ligado a duas possíveis origens, a primeira pelo fato de nas proximidades da lagoahabitarem a época tribos indígenas conhecidos de patos. A outra possível origem seria alguns patos quefugiram das naus portugueses e por ali encontraram ambiente ideal para reprodução.34 É uma lagoa localizada na fronteira entre o estado do Rio Grande do Sul, no extremo sul do Brasil, eo Uruguai. É a segunda maior lagoa do Brasil (menor apenas que a Lagoa dos Patos), e a primeira doUruguai.35 O rio Oiapoque é um curso d'água que delimita a fronteira entre o estado brasileiro do Amapá e odepartamento de ultramar francês da Guiana. O Oiapoque nasce na serra Tumucumaque e em seutrajeto é também chamado de Oyapock, Iapoco, Iapoc.  Deságua no oceano Atlântico após percorrercerca de 350 km. Entre os séculos XVI e XVIII, foi chamado ainda de “rio de Vicente Pinzón”, emhomenagem ao explorador espanhol Vicente Yañez Pinzón, que teria descoberto a sua foz em 1500.

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    que a coroa portuguesa não reclamaria as terras acima do amazonas. Em 1807, com a assinaturado tratado de Fontainebleau36  colocava em risco o trono de Portugal, e obrigara a família aseguir rumo ao Brasil.

    Três séculos depois  Neste capitulo o autor inicia com a afirmativa que nos anos de 1800, a população aqui

    no território brasileiro era de milhões de pessoas, o que representava cerca de 2 ou 3km²/individuo.

    “A população ocupava a marinha desde Marajó até o Xuí, e uma e outramargem do Amazonas desde a foz a Tabatinga e ao Javari. Nos tributáriosdesta bacia os povoados, de preferência estabelecidos nos caudais de água preta, paravam a pouca distância da barra, exceto no rio Negro, onde preocupações de limites tinham requintado a expansão natural, no Madeira,Tapajós e Tocantins, ligados a Mato Grosso e Goiás. Desde Piauí à linha singela do litoral correspondiam uma ou mais linhas interiores de povoamentonas beiras dos rios e os chapadões do Parnaíba, do São Francisco,do Paraná e regiões intermédias. Estas linhas, interrompidas a cada instante,melhor se diriam pontos indicando um traçado a realizar”. (pag. 193)

    A população em si era formada em sua grande maioria pela mestiçagem, esta variava decomposição em conformidade com a região ou localidade. Na Amazônia prevalecia o indígena,acompanhado de mamelucos e mulatos. Na zona pastoril, onde predominava a pecuária existiam poucos negros, sendo assimilados com a maior presença de indígenas. Os negros encontravamem maior concentração no litoral e nas regiões de exploração mineral. Ao sul, a presença do branco era infinitamente superior as demais raças. Todos conviviam em contingências forçadas,sendo o africano a que maior numero de representantes puros possuía, e, certamente emconseqüências das ações do trafico dos negreiros.

    E, nestas linhas, Capistrano fala sobre as casas grandes, essas eram literalmente amoradia daqueles mais privilegiados. Nos fala ainda que no sertão brasileiro o solo sempre pareceu infértil, mas em algumas épocas do ano podia-se produzir, algodão, milho, a mandioca,o feijão e até a cana. A carne bovina era pouco ou moderadamente consumida, o consumo destaera mais comum na região de Minas, Goias e Mato Grosso. As cabras e ovelhas foramintroduzidas demoradamente e seu consumo era mais comum no sertão pela escassez denutrientes gerados pela calamidade das secas. O homem do sertão também consumia a garapa, arapadura, o mel de engenho, a farinhada, etc.

    De forma geral os donos das casas grandes usavam vestimentas simples e adornosreligiosos, esses em ocasiões solene vestiam-se de quimão, timão ou chambre.

    "(...) Quando um brasileiro põe-se a usar um desses hábitos talarescomeça a se considerar personagem importante (gentleman) e com título portanto a muita consideração."(pag 198)

    As mulheres usavam camisa e saia. Moças solteiras dormiam juntas um uma camarinha,estas não apareciam aos estranhos. Era comum encontrar os noivos pela primeira vez no dia de

    36  O Tratado de Fontainebleau foi um diploma assinado em secreto por França e Espanha, em 27 deoutubro de 1807. Em 1806, após ter fracassado na tentativa de invasão à Inglaterra, NapoleãoBonaparte decretou o Bloqueio Continental. Portugal, tradicional aliado da Inglaterra, negou-se a acatá-lo. Após intensa pressão diplomática, sem que obtivesse um claro rompimento das relações luso-britânicas, Napoleão decidiu invadir o território de Portugal.