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1 VIDA E OBRAS Muito do que sabemos sobre o início da vida de Descartes vem de uma biografia em dois volumes, La Vie de Monsieur Descartes, * escrita por Adrien Baillet em 1691. NASCIMENTO a) 31 de março de 1596, perto de Tours. ** b) Em uma família prestes a se tornar nobre. De fato, apesar de apa- rentemente não querer ser tratado assim, Descartes é com fre- quência chamado de Seigneur de Perron. c) Em uma família abastada: ele contará com recursos independen- tes, sem precisar buscar um patrono. ESCOLA a) Ingressa no Collège de La Flèche, em 1606 ou 1607, e aí permanece por oito anos. * N. de T. Até o momento, sem tradução disponível para o português. ** N. de T. Cidade situada na região centro-oeste do território francês.

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  • 1VIDA E OBRAS

    Muito do que sabemos sobre o incio da vida de Descartes vem deuma biografia em dois volumes, La Vie de Monsieur Descartes,* escrita porAdrien Baillet em 1691.

    NASCIMENTO

    a) 31 de maro de 1596, perto de Tours.**

    b) Em uma famlia prestes a se tornar nobre. De fato, apesar de apa-rentemente no querer ser tratado assim, Descartes com fre-quncia chamado de Seigneur de Perron.

    c) Em uma famlia abastada: ele contar com recursos independen-tes, sem precisar buscar um patrono.

    ESCOLA

    a) Ingressa no Collge de La Flche, em 1606 ou 1607, e a permanecepor oito anos.

    * N. de T. At o momento, sem traduo disponvel para o portugus.** N. de T. Cidade situada na regio centro-oeste do territrio francs.

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    b) Esta era uma escola jesuta fundada em 1604; sabemos muito so-bre seus currculos de estudo graas ao Ratio studiorum* umtratado pedaggico elaborado pelos jesutas nas dcadas de 1580e 1590 e seguido de maneira estrita em todas as suas instituiesdurante os dois sculos seguintes. Assim, por exemplo, apesar deterem nascidos em geraes distintas, Descartes, Molire e Voltairetiveram exatamente a mesma educao escolar, a saber.

    c) Cinco anos de humanidades clssicas, latim e grego, seguidos, paraaqueles que permaneciam, de trs anos de filosofia o que signi-fica um ano de lgica (aristotlica), mais um ano de matemtica efsica aristotlica e, finalmente, um ano de tica (a includa acasustica**) e metafsica (basicamente aristotlica).

    d) Uma outra questo importante deve ser dita acerca do ensino je-suta: os jesutas foram os primeiros, na Europa, a sistematica-mente avaliar o trabalho dos alunos, classificando-os de bom aruim, do melhor ao pior. Eles o faziam atribuindo letras ou nmerose consideravam no apenas o trabalho dos estudantes, mas tam-bm as atitudes mentais e aptides que o trabalho evidenciava como esforo, assiduidade, inteligncia, interesse, etc. E no ape-nas isso, mas os professores tambm classificavam os estudantesem rankings de acordo com as notas que obtinham. Isso ocorriaem cada disciplina e em cada turma. De fato, os professores iamainda mais longe: instituram signos de honra e de desonra con-forme as notas que os alunos alcanavam. Atribuam lugares nasala de aula de acordo com o ranking e, ao final do ano, haviacelebraes nas quais as escolas homenageavam publicamente osmais bem-posicionados nesse ranking os dias de premiao,como eram chamados. Ao final do ano, havia tambm exames paradecidir quais alunos seriam promovidos para a classe mais avan-ada: os mais atrasados*** deveriam repetir de ano.

    * N. de T. Expresso em latim no original, que poderia ser traduzida por plano deestudos e que designa o documento que define as bases do sistema educativo jesuta apartir de 1598. Seu ttulo completo Ratio atque Institutio Studiorum Societatis Iesu(Plano Oficial de Estudos da Sociedade de Jesus), tendo sido obra de um grupo deacadmicos reunidos no Colgio Romano (colgio jesuta em Roma). A referncia auma edio moderna deste texto encontra-se ao final deste livro.** N. de T. Este termo designa o tratamento de questes ticas a partir da anlise de casos.*** N. de T. No original: dunces. Este termo designava os seguidores do telogo e filsofoescocs do sculo XIII, John Duns Scotus. Os homens de Duns (dunce men ou dunces)foram ridicularizados pelos humanistas e reformadores do sculo XVII, o que fez comque o termo adquirisse a conotao negativa que mantm at hoje em lngua inglesa.

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    UNIVERSIDADE: 1615-1616

    Descartes estudou Direito em Poitiers.* O resumo da dissertao (so-bre a redao de testamentos) que apresentou para obter o ttulo, junta-mente com uma dedicatria a seu padrinho, foram encontradas e publicadash 12 anos. Ele nunca chegou a praticar essa profisso.

    VIAGENS: 1616-1629

    Sabe-se muito pouco com detalhe ou certeza desse longo perodo davida de Descartes. Eis, porm, alguns eventos mais ou menos certos:

    1618. Incio da Guerra dos trinta anos.** Descartes parte para a Holandaa fim de juntar-se ao exrcito de Maurcio de Nassau (protestante).

    1618-1619. Passa o inverno em Breda, no sul da Holanda, onde travaamizade com um jovem holands, Isaac Beeckman,*** com quem dis-cute questes cientficas. Descartes presenteia Beeckman com um tra-tado que ele acabar de escrever, o Compendium Musicae;**** alis,Descartes um dos poucos grandes filsofos alguns outros so Plato,Nietzsche, Wittgenstein a ter se interessado entusiasticamente pormsica. Como veremos, a msica tambm est presente na ltimaobra que ele escreveu, poucas semanas antes de morrer.

    1619-1620. Deixa a Holanda e segue para o sul da Alemanha, a fimde juntar-se ao exrcito de Maximiliano da Bavria (catlico), ondetalvez tenha permanecido at o fim de 1620. Talvez tenha participa-do do cerco de Praga e da retirada de Frederico do trono da Bomia.

    * N. de T. Cidade situada na regio centro-oeste do territrio francs.** N. de T. A Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) designa uma srie de conflitos religiosose polticos ocorridos, em sua maioria, no territrio hoje conhecido como Alemanha,nos quais tanto as rivalidades entre catlicos e protestantes quanto os assuntos consti-tucionais germnicos foram gradualmente transformados em uma luta europeia. Em-bora os conflitos religiosos tenham sido a causa direta da guerra, ela envolveu umgrande esforo poltico da Sucia e da Frana para procurar diminuir a fora da dinas-tia dos Habsburgos, que governavam a ustria. A guerra causou srios problemas eco-nmicos e demogrficos na Europa Central.*** N. de T. Matemtico, fsico, mdico e filsofo holands. Foi um dos primeiros adefender a aplicao da matemtica na fsica.**** N. de T. Em latim, no original. Este texto no foi traduzido para a lngua portuguesa.

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    10 de novembro de 1619. Nesse dia a vspera de So Martinho* ,Descartes descobre os fundamentos de uma maravilhosa cincia e,na noite seguinte, tem trs sonhos vvidos, que descreve em detalhes:ele os considera pressgios de sua vida futura? Dispomos dessa des-crio graas a Baillet que, posteriormente, porm, quase a expur-gou da edio seguinte de La vie,** sem dvida para diminuir a im-presso de que o nascimento da filosofia racionalista assentava-se sobreuma experincia onrica.

    1620-1625. Sabemos muito pouco sobre esses anos. Descartes viajabastante, retornando apenas ocasionalmente Frana. Em uma des-sas oportunidades, torna-se amigo de Marin Mersenne.*** Viaja It-lia, em particular em peregrinao a Loreto para cumprir um votoque fizera na noite dos sonhos. Talvez tenha encontrado ClaudioMonteverdi**** em Veneza no ano de 1624.

    1625-1627. Descartes reside em Paris seu mais longo perodo nacidade. Encontra-se com todo o mundo intelectual na casa de Mersennee em outros lugares: matemticos (Hardy, Morin, Debeaune), escrito-res (Guez de Balzac), telogos em sua maioria oratorianosrigoristas***** (Brulle, Gibieuf). Talvez dois eventos sejam dignos de

    * N. de T. Bispo francs que morreu em 397 e considerado o santo padroeiro daFrana.** N. de T. Em francs, no original. Trata-se do ttulo da biografia de Descartes escritapor Adrian Baillet, citada no incio deste captulo.*** N. de T. Marin Mersenne (1588-1648) ou Padre Mersenne, religioso francs perten-cente Ordem dos Mnimos, foi telogo, matemtico e terico da msica. Grandeamigo de Descartes e admirador de sua obra, foi um de seus correspondentes maisassduos e responsvel pela divulgao de seus escritos em muitos crculos intelectuaisimportantes da poca.**** N. de T. Claudio Monteverdi (1567-1643) foi um compositor italiano, responsvelpela composio das primeiras peras. Sua obra marca a transio da tradio polifnicado sculo XVI para a msica barroca do sculo XVII, nascimento da pera do sculo XVI.***** N. de T. Os oratorianos so clrigos seculares, membros de comunidades que se-guem as regras de So Filipe Nri. As Congregaes do Oratrio, como foram chama-das, so sociedades de vida comum independentes, que no exigem votos de pobrezae obedincia, dedicando-se educao crist da juventude e do povo e a obras decaridade. Os oratorianos rigoristas ou radicais foram influenciados pelo jansenismo.Esse movimento reformista do catolicismo romano inspirou-se no escritos de CorneliusJansen (1585-1638), que foi influenciado pelas obras de Santo Agostinho. Sua posiomais polmica foi ter adotado a tese agostiniana da predestinao e da necessidade dagraa divina, visto que essa concepo era considerada demasiado prxima ao protes-tantismo calvinista segundo os telogos de Roma.

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    ateno (Baillet situa-os em novembro de 1628, mas eles provavel-mente ocorreram quase um ano antes):

    a) A leitura de Chandoux. Diante de uma audincia de mentes bri-lhantes no palcio do Nncio Papal, um parisiense chamadoChandoux fez uma conferncia na qual atacava a filosofiaaristotlica; todos aplaudiram, exceto de Descartes. Instado a ex-plicar-se, Descartes imediatamente mostrou o quo inofensivo ha-via sido o ataque: com tais inimigos, por que Aristteles precisariade amigos?

    b) O encontro com Brulle,* alguns dias depois do episdio comChandoux. Brulle, que estava presente, convoca Descartes parauma entrevista, na qual lhe diz que Descartes deve a Deus dar aomundo uma nova filosofia. Descartes deixa Paris pouco depois.

    HOLANDA: 1629-1649

    Na primavera de 1629, Descartes vai para a Holanda, onde permane-ce pelos 20 anos seguintes, excluindo algumas poucas breves viagens aoexterior, entre as quais trs retornos Frana, em 1644, 1647 e 1648.Sabemos muito mais sobre esse perodo da sua vida. Em primeiro lugar,como ele se tornou famoso, outros relatos comearam a aparecer. Em se-gundo lugar, e o mais importante, preservou-se uma ampla correspondn-cia-cartas enviadas para e por ele. Naturalmente, versam em sua maiorparte sobre filosofia ou cincia, mas no inteiramente. Elas revelam, vezou outra, um pouco sobre Descartes ou sobre seu correspondente.

    Eis algumas datas (minha diviso em perodos bastante arbitrria):

    1629-1637. Os interesses de Descartes so, na maior parte, cientfi-cos: ele menciona, em 1629, que deu incio a um pequeno tratado demetafsica, mas, aparentemente, no deu sequncia ao projeto. Trocacorrespondncias sobre astronomia, tica, as leis do movimento, acirculao do sangue, geometria e lgebra. No publica nada at 1637.

    Outono de 1629. Primeira carta a Mersenne o comeo de umalonga correspondncia. Mersenne principalmente lembrado hojeem dia por sua correspondncia com Descartes e como seu promotor

    * N. de T. Pierre de Brulle (1575-1629), cardeal francs, fundador da CongregaoFrancesa do Oratrio.

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    intelectual; em seu tempo, porm, ele era conhecido por seus pr-prios mritos como filsofo, cientista, terico da msica, fecundo autorde vastos volumes e talvez o mais importante como um interme-dirio intelectual. Ele escreveu milhares de cartas, tendo se corres-pondido com muitos pensadores e cientistas, como Galileu, Grotius,Fermat, Torricelli e Pascal. Promoveu, assim, trocas e discusses. Co-nhecemos mais de 300 cartas entre Descartes e Mersenne, das quaismetade ainda subsiste quase todas de autoria de Descartes: esteparece no ter considerado que valia a pena guardar as cartas deMersenne.

    Primavera de 1632. Encontra Constantijn Huygens, que era secret-rio de Maurcio de Nassau um cargo difcil e influente , mas queera tambm um homem da Renascena, profundamente interessadoem cincia e nas artes. Ele e Descartes encontravam-se com bastantefrequncia e trocaram muitas cartas, embora poucas sobre assuntosfilosficos: depois de Mersenne, Huygens o correspondente maisassduo de Descartes.

    Novembro de 1633. Audincia da condenao de Galileu pelaInquisio. Descartes decide no publicar na verdade, no terminar a obra Le Monde, na qual tambm defende uma verso do co-pernicanismo.* Deixa igualmente inacabado a obra LHomme, umtratado destinado a acompanhar o Le Monde.

    Junho de 1635. Nascimento de Francine, filha de Descartes e HelenaJans, sua governanta.

    Junho de 1637. Publicao, em Leiden** e sem o nome de Descartes,do Discours de la Mthode, seguido de trs ensaios apresentados comoilustraes desse mtodo: La Dioptrique, Les Mtores e La Gomtrie.

    1637-1642. Estes so anos fundamentais para a elaborao da me-tafsica de Descartes.

    * N. de T. Verso da teoria heliocntrica proposta por Nicolas Coprnico em 1543 nolivro De Revolutionibus. Uma verso do heliocentrismo foi primeiramente propostapelo filsofo grego Aristarco de Samos (310-230 a.C), divergindo, pois, da teoriageocntrica defendida Aristteles (384-322 a.C), que passou a ser a teoria mais aceitaaps a defesa de Ptolomeu (83-161 d.C).** N. de T. Cidade holandesa, importante centro intelectual dos sculos XVI e XVII.Cidade natal de Rembrandt van Rijn e Jan van Goyen.

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    1637. O cartesianismo tem sua primeira difuso na academia: as dou-trinas de Descartes so ensinadas na Universidade de Utrecht porReneri e por Regius.*

    Setembro de 1640. Francine morre. Descartes faz aluso sua mor-te em uma carta de janeiro de 1641 ao escrever que ele no daque-les que pensam que as lgrimas e a tristeza pertencem apenas s mu-lheres.

    1641 (Paris) e 1642 (Amsterd). Publicao das Meditationes deprima philosophia, seguidas de seis (Paris) e sete (Amsterd) conjun-tos de Objectiones et Responsiones.

    1642-1649. Novos inimigos, novos amigos.

    1642. Incio das dificuldades de Descartes com as universidades ho-landesas. Em Utrecht, ele acusado pelo reitor Voetius de diversospecados religiosos ou teolgicos: atesmo, pelagianismo (a concep-o de que os seres humanos podem evitar o pecado sem a graa deDeus) e outras heresias. Acusaes e contra-ataques sucedem-se aolongo dos anos. Em algum momento do ano de 1643, temendo serpreso, Descartes chega a apelar ao embaixador francs, pedindo pro-teo.

    1642 ou 1643. Descartes encontra a Princesa Elisabeth da Bomia,a filha mais velha de Frederico, que Descartes (talvez) ajudou adepor de seu trono em Praga no ano de 1620. A famlia viveu noexlio em Haia desde ento. Elizabeth e Descartes tornam-se ami-gos. Eles se encontram, trocam cartas h quase 60 cartas aindaexistentes, muitas escritas durante um perodo de intenso intercm-bio intelectual entre 1644 e 1646. As concepes e os interesses deElisabeth, quase certamente, motivaram Descartes a refletir sobresentimentos e emoes, levando-o provavelmente a redigir a obraPassions de Lme.

    Junho de 1644. Primeira viagem de Descartes de volta Frana em15 anos; l ele encontra e faz amizade com Hector-Pierre Chanut,

    * N. de T. Henricus Reneri, amigo de Descartes e um de seus primeiros admiradores, eHenricus Regius, descrito por Descartes como um de seus estudantes mais talentosos.Contudo, como se ver, o cartesianismo ensinado por Regius ser publicamentedesautorizado por Descartes.

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    aluno da escola jesuta, um pouco mais jovem e prestes a tornar-seadido da Frana na Sucia (este era um cargo importante: lembre-se,a Frana e a Sucia eram as duas principais potncias aliadas envolvi-das na Guerra dos Trinta Anos).

    Vero de 1644. Publicao em Amsterd dos Principia Philosophiae:o livro dedicado a Elisabeth.

    Novembro de 1644. Descartes volta Holanda.

    Primavera de 1646. Descartes d a Elisabeth um manuscrito a res-peito dos sentimentos humanos; ele o chama um trait des passions.

    Agosto de 1646. Elisabeth tem que deixar a Holanda devido a umescndalo familiar. Ela vai para a Alemanha, levando consigo o ma-nuscrito de Descartes. Elisabeth esperava que seu exlio fosse durarapenas meio ano, mas ela nunca retornou e jamais viu Descartes no-vamente.

    Inverno de 1646-1647. Comeam as dificuldades na Universidadede Leiden: Descartes acusado pelos telogos novamente de ates-mo, novamente de heresia.

    Janeiro de 1647. Descartes recebe uma carta de Chanut, contendoperguntas da Rainha Cristina sobre o amor. Ele responde em 1 defevereiro; e a perguntas adicionais da rainha acerca desse assunto,responde em uma carta posterior datada de 6 de junho, na qual eleconfessa ter se apaixonado, quando criana, por uma jovem garotaestrbica e ter por isso sentido atrao por mulheres estrbicas du-rante muitos anos depois.

    Vero de 1647. Descartes vai para a Frana novamente, chegando apensar em a permanecer devido aos problemas com Utrecht e Leiden.Contudo, ele volta Holanda em novembro. Durante sua estada naFrana, encontra o jovem Blaise Pascal e o encoraja a fazer experin-cias acerca da presso atmosfrica.

    Novembro de 1647. Descartes envia para Cristina, por intermdiode Chanut, uma cpia do rascunho do trait des passions, alm decpias de algumas de suas cartas para Elisabeth sobre as paixes esobre a boa vida.

    1648. Os tratados de Westphalia so assinados, encerrando a Guerrados Trinta Anos: Frana e Sucia so as vitoriosas.

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    SUCIA: 1649-1650

    Maro de 1649. Descartes recebe um convite de Cristina para ir Sucia. Com alguma relutncia ele aceita; partir da Holanda no finalde agosto e chegar em Estocolmo no incio de outubro.

    Outono-inverno de 1649. A visita de Descartes no exatamenteum sucesso: a rainha tem muitos outros interesses alm de filosofia.

    Novembro de 1649. Publicao em Paris e em Amsterd de Passionsde lme uma verso ampliada do tratado que Descartes havia man-dado para Elisabeth em 1646.

    Dezembro de 1649. Descartes escreve (talvez?) os versos para umbal chamado La Naissance de la paix em celebrao ao aniversrio de23 anos de Cristina e ao advento da paz aps uma guerra longa esangrenta.

    11 de fevereiro de 1650. Descartes morre de pneumonia em Esto-colmo.

    Se o destino dos filsofos ser exilados em sua prpria terra, entoDescartes pode certamente ser considerado a quintessncia do filsofo,exceto que seu exlio no foi simblico, mas real; no foi forado, maslivremente escolhido; no foi temporrio, mas permanente. Desde os 22anos, quase no permaneceu na Frana. Por qu? A resposta mais simplese mais provvel que ele ansiava por afastamento e anonimato; muitoseventos em sua vida testemunham isso. Por exemplo, incitando um amigofrancs a vir morar em Amsterd, ele escreve: nesta grande cidade, todos,exceto eu prprio, esto envolvidos no comrcio e, assim, to preocupadoscom seu prprio lucro, que eu poderia viver aqui toda a minha vida sem servisto por uma alma sequer. Isso um elogio. Alguns anos mais tarde, eleconta a Mersenne ter ido assistir a um renomado pregador calvinista, mascom tal atitude que, qualquer pessoa que me visse, saberia que eu noestava l como crente. Pois eu apareci apenas quando o sermo comeou,fiquei porta e, no momento em que foi encerrado, sa sem ficar para osrituais. Prazer em no ser visto, chegar tarde, ficar porta, sair cedo:esses so traos da personalidade de Descartes. Contudo, isso no querdizer que ele no tivesse amigos prximos Constantin Huygens, Elisabeth,Pierre Chanut so provas do contrrio. Ainda assim, eis o lema que, emoutubro de 1646, ele contou a Chanut ter adotado de Sneca:

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    Uma morte triste espera por aqueleQue, muito conhecido de todos,Morre desconhecido de si mesmo.

    OBRAS

    Obras publicadas em vida

    Como vimos, h quatro trabalhos principais dois em latim e dois emfrancs:

    I. 1637. Discours de la mthode, seguido de trs Essais: La Dioptrique,Les Mtores e La Gomtrie.

    II. 1641-1642. Meditationes de prima philosophia, seguido deObjectiones cum responsionibus authoris.

    III. 1644. Principia Philosophiae.IV. 1649. Passions de lme.

    I Discours e Essais

    A seo que mais tem interessado aos filsofos , naturalmente, aintroduo aos Essais, denominada de Discours de la mthode (em portugu-s, Discurso do mtodo). Um clssico nos dias de hoje parcialmente devi-do ao seu estilo urbano, fluente e absolutamente no-tcnico.

    O Discurso uma breve autobiografia intelectual, dividida em seispartes sem ttulos. Inicialmente, conta ao leitor o perodo escolar de Des-cartes; em seguida (Parte 2), relata os pensamentos que teve a respeito domtodo correto de encontrar a verdade na cincia sempre buscar a certe-za. Depois (Parte 3), apresenta as regras que ele houve por bem adotar naconduta diria, na qual a certeza impossvel: Descartes as chama demoral provisria (morale par provision). A Parte 4 detalha seus pensa-mentos sobre metafsica: aqui que o dito je pense, donc je suis aparecepela primeira vez. A Parte 5 descreve, entre outras coisas, como Descartesfoi levado a pensar que os animais eram mquinas simples ou automata.*

    (A propsito, este praticamente o nico texto publicado no qual Descar-tes afirma e argumenta em favor dessa concepo, tendo se tornado, ime-

    * N. de T. Termo em latim no original, que significa autmatos.

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    diatamente, uma de suas doutrinas mais conhecidas e controversas.) AParte 6 est mais amplamente relacionada a memrias de seu engajamentono trabalho cientfico: uma lio que Descartes diz ter aprendido que melhor confiar em subalternos remunerados do que trabalhar com colegasde sua classe jamais podemos confiar que faro o que prometeram.

    Os trs ensaios, hoje, tm um interesse sobretudo histrico. LaDioptrique (Diptrica ou, por vezes, tica) trata da natureza da luz, daslentes e da viso. Les Mtores tratam do tempo: o vento, as nuvens, achuva, a neve, os raios, o arco-ris. La Gomtrie lida com a relao entrecurvas geomtricas e frmulas algbricas este um dos trabalhos pionei-ros de geometria analtica.

    Uma traduo latina do Discurso e dos dois primeiros Ensaios, apro-vada e revista por Descartes, foi publicada em 1644 sob o ttulo SpeciminaPhilosophi.*

    II Meditationes de prima philosophia e Objectiones cumresponsionibus authoris (Meditaes de Filosofia Primeiraacompanhadas de Objees e Respostas do autor)

    As Meditaes so, basicamente, um aperfeioamento da Parte 4 doDiscurso. Em 1640, e com a aprovao de Descartes, Mersenne enviou opequeno manuscrito (cerca de 85 pginas) a vrios filsofos e telogos,pedindo comentrios. Desse modo, quando as Meditaes foram publicadasem Paris no ano seguinte, o volume tambm inclua seis sries de Objees,cada srie seguida das Respostas de Descartes 450 pginas ao todo. Emduas ocasies, os objetores no so nomeados (a Segunda e a Sexta sries):supe-se, em geral, que se trate do prprio Mersenne e talvez de amigosdele. Quanto ao restante, so eles (em ordem): Caterus, um clrigo holan-ds; Hobbes, o filsofo ingls que, na poca, vivia no exlio em Paris;Arnauld, um jovem telogo francs que logo se tornou amigo de Pascal, eo filsofo francs Gassendi.

    A edio de 1642 de Amsterd contm dois textos adicionais: umStimo conjunto de Objees, do padre jesuta Bourdin, seguido, como sem-pre, pelas Respostas de Descartes; e, em seguida, a assim chamada Carta aDinet. Descartes supondo que Bourdin tivesse sido encarregado pelos

    * N. de T. Amsterd: Elzevier, 1644. Para uma edio moderna, ver Specimina philosophi,reimpresso da edio de 1644, editada por J.-R. Armogathe e G. Belgioioso. Lecce:Conte Editore, 1998.

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    jesutas de expressar sua a reao oficial contra as Meditaes escrevepublicamente para Dinet, o lder da seo francesa da Ordem, para protes-tar contra a escolha do porta-voz: ele considera Bourdin em grande partemal-intencionado e obtuso. A propsito, a Carta contm o que , provavel-mente, a crtica anti-aristotlica mais ousada feita por Descartes: no huma nica resposta dada de acordo com os princpios da filosofiaperipattica que eu no possa demonstrar ser invlida ou falsa. Em geral,ele mais ponderado.

    Uma traduo francesa das Meditaes e das Objees e Respostas foipublicada em 1647, com a aprovao de Descartes at certo ponto. Con-forme seus desejos, as Objees de Bourdin foram retiradas da traduo.Porm, contra seus desejos, as Objees de Gassendi foram mantidas, em-bora seu contedo tenha sido reduzido a uma curta carta que Descartesanexou sua Resposta, na qual ele responde muito condescendentemen-te a perguntas resumidas da Disquisitio Metaphysica, um longo volumeque Gassendi comps em resposta s Respostas de Descartes s suas pr-prias Objees.

    III- Principia Philosophiae (Princpios da Filosofia)

    Em certo sentido, esta a magem um opus* de Descartes. Ela consisteem cerca de 500 artigos numerados, agrupados em quatro partes. A ParteI metafsica um resumo das Meditaes; as Partes 2, 3 e 4 apresentam aconcepo de Descartes do universo material e incluem doutrinas que elehavia evitado publicar 10 anos antes, quando soube da condenao deGalileu. Elas tratam do espao, da matria, das leis do movimento, dagravidade, dos slidos e lquidos, do fogo, do magnetismo, das estrelas edo sistema solar, etc. Chegando ao final da Parte 4 (art. 188), Descartesrevela ao leitor que ele tinha planejado escrever mais duas partes, umadelas sobre animais e plantas, a outra sobre seres humanos, mas que lhefaltou tempo para levar a cabo os experimentos que eram necessrios.

    Uma traduo francesa foi publicada em 1647, aprovada e revistapor Descartes. Ela incluiu um novo prefcio, com a famosa imagem com-parando o conhecimento a uma rvore cujas razes so a metafsica, otronco a fsica e os galhos que saem do tronco, todas as outras cincias,

    * N. de T. Expresso em latim no original, que significa a grande obra ou a maiorobra.

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    que se reduzem a trs principais, a saber, a medicina, a mecnica e amoral.*

    Descartes esperava que os Principia fossem adotados como livro textonas instituies jesutas. No foram. Na verdade, todo o trabalho de Des-cartes foi colocado no Index** da Igreja Catlica logo aps sua morte.

    IV. Passions de lme (Paixes da Alma)

    Este livro pareceu no outono de 1649, aps a partida de Descartespara a Sucia, e no certo que ele tenha chegado a ver o livro publicado.Tal como os Princpios, foi escrito em pargrafos numerados mais de 200.Descartes declara, no prefcio, que pretende explicar as paixes somenteen physicien (na qualidade de fsico), mas ele, na verdade, as discute apartir do ponto de vista moral, especialmente na terceira parte e na partefinal.

    Trs outros trabalhos de Descartes publicados durante a sua vida:

    1643. Epistola ad G. Voetium [Carta a G. Voetius].

    1645. Lettre apologtique [Carta apologtica].

    1647. Not in programma quoddam [Comentrios acerca de um certoprograma].

    Todas so obras polmicas, relacionadas aos problemas de Descartescom Utrecht. O primeiro uma resposta ao seu inimigo Voetius; o segun-do, uma queixa ao Conselho da Cidade de Utrecht sobre como ele tinhasido tratado; no terceiro, Descartes distancia-se de seu ex-discpulo deUtrecht, ento renegado, Regius.

    * N. de T. AT 9b, 14; CP, 21 (ver mais adiante, no texto, o esclarecimento de tais abrevi-aes).** N. de T. Ttulo em latim no original, que a abreviao de Index librorum prohibitorum[ndice dos livros proibidos]. Trata-se de uma lista de livros considerados perniciosos f ou moral catlica, compilada pelos censores oficiais da Igreja Catlica Romana.Essa lista, acompanhada das regras que orientam sua composio, no pretendia serexaustiva, tendo por objetivo servir de parmetro para os censores em suas decisesacerca de que manuscritos receberiam autorizao da Igreja para publicao(imprimatur). Embora a preocupao da Igreja Catlica para com os livros fosse muitamais antiga, a lista foi primeiramente publicada em 1559 e encerrada em 1966.

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    Obras publicadas aps a morte de Descartes

    Cinco das obras so longos volumes inacabados:

    LHomme (O homem) e Le Monde (O mundo). Estes so os tratadoscuja redao Descartes decidiu abandonar quando ouviu falar da con-denao de Galileu.

    Regul ad directionem ingenii (Regras para a direo do esprito). Estaobra algo de misterioso, nunca mencionado por Descartes, mas en-contrado em um ba de manuscritos que ele havia levado para a Su-cia. As Regul so consideradas um trabalho inicial, talvez escritonos anos de 1620, sobre como raciocinar apropriadamente.

    La Recherche de la vrit par la lumire naturelle (A busca da verdadepela luz natural). Mais uma obra a que Descartes nunca se refere,tambm encontrada no mesmo ba. Este um dilogo inacabadosobre assuntos muito semelhantes aos das primeiras Meditaes; as-sim, presume-se que ambos tenham sido escritos aproximadamenteno mesmo perodo, ou seja, no incio dos anos de 1640.

    La Description du corps humain (A descrio do corpo humano), algu-mas vezes chamada De la formation du foetus (Sobre a formao dofeto). Este texto foi escrito ao final dos anos de 1640, talvez paracompletar aquela Parte 6 dos Princpios sobre os seres humanos arespeito da qual Descartes afirmou, em 1644, na Parte 4 do livro, noter tido tempo de compor. A Description est inacabada.

    Outros fragmentos chegaram at ns, sobre matemtica, embriologia,anatomia e at mesmo sobre metafsica tambm encontrados no ba emEstocolmo. Eles variam desde um caderno datado de uma poca anterior da primeira viagem de Descartes Holanda e Alemanha (o assim chama-do Cogitationes Privat [Reflexes privadas] a textos muito posteriores, comoo De Generatione animalium (Sobre a gerao dos animais).

    A esta lista, deveramos acrescentar trs ttulos dois dos quais comuma observao:

    1. O Compendium Music: como vimos, o primeiro livro de Descar-tes um presente a seu amigo Beeckman de 1619, mas que sfoi publicado aps sua morte.

    2. La Naissance de la paix(?): como vimos, o ltimo trabalho deDescartes (se de fato, escrito por ele) versos para um bal apre-sentado no aniversrio da Rainha Cristina em dezembro de 1649;publicado em 1920.

  • Descartes 29

    3. O assim chamado Conversation avec Burman (?): em abril de1648, Descartes foi entrevistado durante o almoo por um jo-vem holands, Frans Burman, e questionado sobre sua filosofia.No dia seguinte, Burman transcreveu as respostas. Agora temoso texto, mas quase certo que o prprio Descartes jamais o viu:se uma declarao autorizada de seus pensamentos, isso de-pende da acuidade da transcrio.

    CORRESPONDNCIA

    Atualmente, h cerca de 530 cartas conservadas, das quais cerca de400 so do punho de Descartes e 130 de seus correspondentes. Deve sermencionado que esse clculo , em certo sentido, arbitrrio, pois, algumasvezes, uma questo de deciso editorial definir o que contar como cartasseparadas, assim com o tambm os meios de determinar uma data ou umcorrespondente. Alm disso, outras 60 cartas so mencionadas ou descri-tas por Baillet, mas seu texto no chegou at ns.

    Este , portanto, um grande corpus de fato, mais longo do que todasas outras obras cartesianas computadas em conjunto. A tabela a seguirmostra alguns nmeros (as cartas de Descartes esto esquerda do hfen;cartas para ele, direita).1

    Beeckman (1619-1634) 8Mersenne (1629-1648) 130-50Huygens e seu cunhado Wilhem (1632-1649) 90-40Regius (1640-1645) 18-3Elisabeth e sua irm Sophie (1643-1649) 36-26Chanut e Cristina (1646-1649) 14-4Jesutas (1637-1646) 27-6Filsofos ingleses (Hobbes, Morus) (1641-1649) 5-6

    Como veremos, algumas das doutrinas mais notveis de Descartesesto mais bem-expostos a do que no trabalho publicado.

    EDIES ATUAIS DE DESCARTES

    A mais completa Oeuvres de Descartes, ed. Charles Adam and PaulTannery (edio revista Paris: Vrin/CNRS, 1964-1976).

  • 30 Andr Gombay

    Contm 11 volumes, dois dos quais (8 e 9) ainda esto divididos emsubvolumes a e b. Est agora a edio de referncia e deve permanecercomo tal por muito tempo. Na verdade, volumes do trabalho de Descartespublicados recentemente em qualquer lngua quase que invariavelmentecarregam na margem nmeros de pginas e volumes correspondentes aotexto de Adam e Tannery, assim como as referncias a Descartes em obras aseu respeito. As linhas que citei acima, sobre no ter sido visto por uma almaem Amsterd, seriam assim referidas: Carta a Balzac, 5 de Maio, 1631 (AT 1,203); e a passagem sobre a rvore do conhecimento seria assim: Princpios,Prefcio edio francesa (AT 9b, 14). Eu seguirei esse sistema.

    A edio inglesa mais extensa The Philosophical Writings of Descar-tes, traduzido por John Cottingham, Robert Stoothoff e Dugald Murdoch(Cambridge: Cambridge University Press, 1985-1991).

    Esta tem trs volumes, dos quais o terceiro dedicado correspon-dncia e envolve um tradutor posterior, Anthony Kenny. A literatura atualem lngua inglesa a respeito de Descartes frequentemente tambm situa ostextos com referncia a essa edio. Assim, a Carta a Balzac traria a indica-o CSMK, 31; e a passagem da rvore do conhecimento, CSM 1, 186. Eutambm seguirei esse sistema, mesmo quando minha traduo divergir daCSM ou CSMK2.*

    H tambm uma edio em CD-ROM: Oeuvres compltes de Ren Des-cartes (Connaught Project-University of Toronto, Charlottesville, Intelex,2001).

    * N. de T. Indicaremos, quando possvel, as referncias das passagens citadas em tradu-es para o portugus conforme as seguintes abreviaes: OE: Obra Escolhida. Introdu-o: Gilles-Gaston Granger. Prefcio e Notas: Gerard Lebrun. Traduo: J. Guinsburg eBento Prado Junior, 3. ed. Rio de Janeiro: Bertrand do Brasil, 1994 (que contm atraduo das seguintes obras: o Discurso do Mtodo, a verso francesa das MeditaesMetafsicas, acompanhada das Segundas e Quintas Objees e Respostas, as Paixes daAlma e algumas poucas cartas); PP: Princpios da Filosofia. Parte I, edio bilngelatim/portugus. Traduo e Notas: Guido Antonio de Almeida e demais membros doSeminrio Filosofia da Linguagem (UFRJ). Coleo Philosophia/Analytica. Rio de Ja-neiro: Ed. UFRJ, 2002; as passagens das Meditaes Metafsicas citadas pelo autor apartir da verso original latina sero traduzidas segundo traduo de J. Guinsburg eBento Prado Junior, muito embora esta ltima tenha, diferentemente do autor, tomadopor base a traduo francesa de 1647. Ainda que se trate de uma importante diferena,que pode dar lugar a divergncias significativas quanto aos textos citados, optamos poressa traduo devido sua qualidade e decidimos indicar em nota as diferenas rele-vantes, quando for o caso. Cabe ainda indicar que recorremos traduo da carta queserve de prefcio edio francesa dos Princpios feita por Homero Santiago da ediode Denis Moreau: Carta-Prefcio dos Princpios da Filosofia. So Paulo: Martins Fontes,2003 (abreviada por CP).

  • Descartes 31

    NOTAS

    1 Devo esta classificao a Jean-Robert Armogathe, que est preparando uma novaedio da correspondncia. [N. de T. O autor aqui se refere nova edio das obrascompletas de Descartes a ser publicada na Coleo Bibliotque de la Pliade, da Edi-tora Gallimard. No entanto, foi publicada recentemente uma edio completa dacorrespondncia de Descartes, por Giulia Belgioioso com a colaborao, entre ou-tros, de Jean-Robert Armogathe: Ren Descartes. Tutte le lettere 1616-1650, ed. biln-gue (francs, latim e holands, conforme o caso), Ed. Bompiani, 2005.]

    2 Eis, ento, as referncias de algumas das passagens citadas neste captulo:(i) sobre lgrimas e mulheres: Carta a Pollot, janeiro de 1641 (AT 3, 278; CSMK,

    167);(ii) sobre ouvir um pregador calvinista: Carta a Mersenne, 13 de novembro de

    1639 (AT 3, 620; ausente da edio CSMK);(iii) sobre seu lema pessoal: Carta a Chanut, 1 de novembro de 1646 (AT 4, 537;

    CSMK, 300); tambm escrita como autgrafo para Cornelius de Glarges, 10 denovembro de 1640 (AT 4, 726);

    (iv) sobre a filosofia peripattica: Carta a Dinet (AT 7, 580; CSM 2, 391).