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Cap 1 Introdução à Astronomia Clayton Dantas de Sá Versão de fevereiro de 2020 Breve história da Astronomia A Astronomia é a ciência que estuda o universo, sua origem, constituição, fenomenologia e seus possíveis destinos. A palavra Astronomia significa “Lei dos Astros” e seu estudo começou quando o homem pré histórico olhou pela primeira vez para o céu e se questionou sobre o que seriam estes fascinantes objetos que o povoam. Sem o conhecimento científico atual, o homem procurou explicações misticas para estes fenômenos, atribuindo aos objetos do céu características divinas. O Sol, o mais evidentes destes objetos, foi cultuado com um deus por diversas civilizações: era Apolo para os gregos, Rá para os egípcios, Amaterasu no xintoísmo japonês e Shamash para os sumérios. A Lua também já foi considerada uma deusa (em alguns casos relacionada com o Sol). No mito grego, Lua era um dos nomes da deusa Selene, irmão do Sol. A Lua tem uma característica interessante, ela apresenta aspectos distintos, que se repetem em um ciclo de aproximadamente 29 dias. Na linguagem comum dizemos que são quatro fases: cheia, quarto minguante, nova e quarto crescente. As fases da lua são elementos influentes no folclore de várias culturas, mostrando que o misticismo a respeito do céu ainda está presente nos dias de hoje. Ao olhar as estrelas estes mesmos povos enxergavam certos padrões que representavam elementos de sua cultura. Estes padrões, formados por estrelas próximas (próximas do ponto de vista de um observador na Terra), foram chamados de constelações e receberam destes povos nomes que representavam seus heróis (Hércules, Perseu, Andrômeda), seu dia a dia (animais, instrumentos, ferramentas) e de sua sociedade (guerreiros, caçadores, pastores). As estrelas destes grupos mantêm posições relativas fixas entre si, pelo menos para os padrões de tempo da vida humana, mas uma observação mais atenta do céu mostrou que umas poucas estrelas o percorriam de maneira estranha, não acompanhando as demais. Estas estrelas foram chamadas originalmente de estrelas errantes (planetas) e, devido a este estranho comportamento, foram considerados deuses. Os planetas conhecidos na antiguidade eram: Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno (a Terra não era considerado um planeta). www.plantaofisica.blogspot.com.br Página 3

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Cap 1Introdução à Astronomia

Clayton Dantas de SáVersão de fevereiro de 2020

Breve história da Astronomia

A Astronomia é a ciência que estuda o universo, sua origem, constituição, fenomenologia e seus

possíveis destinos. A palavra Astronomia significa “Lei dos Astros” e seu estudo começou quando o

homem pré histórico olhou pela primeira vez para o céu e se questionou sobre o que seriam estes

fascinantes objetos que o povoam.

Sem o conhecimento científico atual, o homem procurou explicações misticas para estes

fenômenos, atribuindo aos objetos do céu características divinas. O Sol, o mais evidentes destes

objetos, foi cultuado com um deus por diversas civilizações: era Apolo para os gregos, Rá para os

egípcios, Amaterasu no xintoísmo japonês e Shamash para os sumérios.

A Lua também já foi considerada uma deusa (em alguns casos relacionada com o Sol). No mito

grego, Lua era um dos nomes da deusa Selene, irmão do Sol. A Lua tem uma característica interessante,

ela apresenta aspectos distintos, que se repetem em um ciclo de aproximadamente 29 dias. Na

linguagem comum dizemos que são quatro fases: cheia, quarto minguante, nova e quarto crescente. As

fases da lua são elementos influentes no folclore de várias culturas, mostrando que o misticismo a

respeito do céu ainda está presente nos dias de hoje.

Ao olhar as estrelas estes mesmos povos enxergavam certos padrões que representavam

elementos de sua cultura. Estes padrões, formados por estrelas próximas (próximas do ponto de vista

de um observador na Terra), foram chamados de constelações e receberam destes povos nomes que

representavam seus heróis (Hércules, Perseu, Andrômeda), seu dia a dia (animais, instrumentos,

ferramentas) e de sua sociedade (guerreiros, caçadores, pastores).

As estrelas destes grupos mantêm posições relativas fixas entre si, pelo menos para os padrões

de tempo da vida humana, mas uma observação mais atenta do céu mostrou que umas poucas estrelas

o percorriam de maneira estranha, não acompanhando as demais. Estas estrelas foram chamadas

originalmente de estrelas errantes (planetas) e, devido a este estranho comportamento, foram

considerados deuses. Os planetas conhecidos na antiguidade eram: Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e

Saturno (a Terra não era considerado um planeta).

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Muitos outros fenômenos podiam ser observados a olho nu pelos antigos. Podiam ver “estrelas

cadentes” (que de estrelas só possuem o nome), cometas e estrelas novas. Todas estes fenômenos foram

relacionados à “maus presságios” vindos do céu, supostas revelações dos deuses que lá viviam.

Para além do misticismo havia um interesse prático na observação das posições dos astros no

céu. Percebeu-se que a posição das estrelas no céu, ou a posição do nascer do Sol, mudavam durante o

tempo, mas eram cíclicas, se repetiam após um certo período de tempo. Esta periodicidade permitiu às

antigas civilizações a construir os primeiros calendários baseados nas posições dos astros, haviam tanto

calendários lunares (com base nas fases da lua) como solares (com base no movimento do Sol)

Este interesse místico e prático pelo céu fez com que a humanidade começasse a realizar

observações cada vez mais precisas sobre os fenômenos celestes, e estas observações permitiram as

primeiras tentativas de explicar tais fenômenos sem recorrer ao sobrenatural. Estas primeiras

explicações naturais são as mais antigas formas de explicação científicas criadas, tornando a Astronomia

a mais antiga das ciências.

A Astronomia permaneceu como uma ciência independente da Física até meados do século

XVII, quando o físico Sir Isaac Newton desenvolveu suas leis do movimento e a Lei da Gravitação

Universal e mostrou que as duas áreas estavam intimamente ligadas, desde então o conhecimento físico

(suas leis, teorias, experimentos) fornecem as explicações fundamentais sobre o funcionamento do

cosmos.

Calendários

A necessidade do controle e registro do tempo pelo homem primitivo tinha diversos motivos

práticos, saber a época de plantar e de colher, prever as estações do ano, as épocas de enchentes e secas

e feriados religiosos.

As primeiras divisões de tempo ocorreram para períodos longos (anos e meses). Ao observar

continuamente o nascer do Sol as antigas sociedades repararam que o ele não nasce todos os dias no

mesmo lugar e o tempo que ele permanece no céu varia dia a dia, porém esta mudança era periódica,

após um certo número de dias o Sol voltava a nascer no mesmo lugar e o dia teria novamente a mesma

duração. Esta ciclo é chamado de ano solar ou trópico, e dura 365,2422 dias (365 dias, 5 horas, 48

minutos e 46,08 segundos).

Já a observação da Lua mostrou que ela repetia seu aspecto (fase) a casa 29,53059 dias, sendo o

tempo entre duas fases iguais consecutivas chamada de lunação ou período sinódico. Enquanto o

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movimento da Lua deu origem ao conceito de mês o movimento do Sol deu origem ao conceito de

ano.

Como um ano solar não tem um número inteiro de dias, tampouco um número inteiro de

lunações, criar um calendário que estivesse de acordo com o movimento dos astros foi uma tarefa

difícil, ainda mais quando era influenciado por superstições e crenças religiosas.

O calendário atual, chamado de calendário Gregoriano, só foi desenvolvido em 1582, sob ordem

do papa Gregório XIII (1512-1586), para entender como a contagem dos anos funciona podemos

expressar a duração do ano solar como uma soma de frações:

365,2422≃365+14−

1100

+1

400−

13600

dias

Ou seja:

◦ A cada quatro anos devemos acrescentar 1 dia.

◦ A cada 100 anos devemos retirar 1 dia.

◦ A cada 400 anos devemos acrescentar 1 dia.

◦ A cada 3300 anos devemos retirar um dia

Ou ainda:

Se o ano não for divisível por 4 ele é um ano normal (365 dias). Os anos divisíveis por 4, exceto

os terminados em 00 (divisíveis por 100) são bissextos (366 dias), a menos que seja múltiplo de 400.

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Cap 2Planeta Terra

O planeta Terra é o planeta habitado por nós, seres vivos. Conhecido também

como planeta água, é o maior dentre os quatro planetas rochosos que fazem

parte do Sistema Solar.

O Planeta Terra é um dos planetas que fazem parte do Sistema Solar e é o terceiro planeta mais

próximo do Sol. A sua formação ocorreu há bilhões de anos, assim como a existência de vida aqui.

Algumas teorias explicam sua origem, como a teoria da nebulosa solar.

A Terra é considerada um planeta telúrico e possui sua estrutura interna dividida em: crosta

terrestre, manto e núcleo. Além da estrutura interna, há também a externa, que corresponde à litosfera,

hidrosfera, biosfera e atmosfera, que são o que oferece as condições favoráveis para a existência de vida

aqui.

Características do Planeta Terra e sua formação

O Planeta Terra tem cerca de 70% da sua superfície coberta por água. A existência dessa

substância em seu estado líquido, juntamente à presença do oxigênio e a capacidade de reciclar gás

carbônico fazem da Terra um planeta com características únicas.

Apesar das grandes descobertas astronômicas, não há ainda como afirmar que exista um planeta

com características tão peculiares capaz de propiciar a existência dos seres vivos. E a Terra não é “viva”

apenas sob a ótica biológica, mas também sob a ótica atmosférica, geológica e física, uma vez que tudo

isso está em constante transformação.

Quanto à sua formação, estima-se ocorreu há aproximadamente 4,56 bilhões de anos. A teoria

mais aceita atualmente sobre a origem do Sistema Solar, e consequentemente do nosso planeta, é a

teoria da nebulosa solar, proposta em 1644 por René Descartes, reformulada em 1775 por Immanuel

Kant, aprimorada em 1796 por Pierre-Simon de Laplace, e atualmente testada com simulações de

computador e observações de estrelas com nuvens protoplanetárias.

Essa teoria afirma que os planetas do Sistema Solar. formaram-se a partir do colapso de uma

nuvem que estava rotacionando em alta velocidade e contraiu-se devido à ação da força da gravidade.

Ainda segundo esta teoria o Sol foi formado a partir da concentração central da nuvem, e os planetas a

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partir das partículas remanescentes. Algumas hipóteses dizem que a vida surgiu na Terra um bilhão de

anos após a sua formação.

Além de apresentar condições favoráveis à existência de vida, a Terra também possui recursos

naturais (renováveis e não renováveis) que propiciam sua manutenção. Em meio à história evolutiva, o

homem adaptou-se às condições apresentadas pela Terra e aprimorou suas habilidades, retirando dela

aquilo que era necessário à sua sobrevivência de forma cada vez mais precisa.

Quanto ao seu formato, corresponde a um esferoide, tendo seus polos um tanto achatados.

Dados gerais do planeta Terra

Diâmetro Aproximadamente 12.756,2 km

Área da superfície Aproximadamente 510.072.000 km2

Massa 5,9736 x 1024 kg

Distância do Sol Cerca de 149.600.000 km

Satélite natural 1 (Lua)

Período de rotação 23 horas 56 minutos e 4 segundos

Período de translação 365 dias 5 horas e 48 minutos

Temperatura média 14ºC

População terrestreAproximadamente 7.722.522.000

habitantes

Como o planeta Terra é dividido?

O planeta Terra é um dos quatro planetas do Sistema Solar de composição rochosa, conhecidos

também como telúricos ou terrestres. Esses planetas rochosos possuem uma estrutura interna

semelhante dividida em crosta, manto e núcleo.

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Camadas internas da Terra

Crosta terrestre

A crosta é também conhecida como litosfera e corresponde à camada mais externa da Terra,

formada por rochas e minerais, como silício, magnésio, ferro e alumínio. Possui em média 10

quilômetros sob os oceanos e entre 25 e 100 quilômetros sob os continentes.

Nela, são encontrados os continentes, as ilhas e o fundo oceânico. Além disso, observa-se que

ela não é uma camada inteiriça, pois há divisões que formam grandes blocos rochosos conhecidos

como placas tectônicas, que se movimentam e podem provocar tremores na superfície terrestre.

Manto

O manto localiza-se entre a crosta terrestre e o núcleo. É conhecido como camada

intermediária, que se divide em manto superior e manto inferior. Ele pode apresentar profundidade de

cerca de 30 a 2900 km abaixo da crosta e, ao contrário dela, o manto não é sólido.

Com temperatura média de até 2.000°C, essa camada é composta por material magmático (em

estado pastoso) composto principalmente por ferro, magnésio e silício. A movimentação do magma,

conhecida como correntes de convecção, provoca a movimentação dos blocos rochosos que compõem

a crosta terrestre.

Núcleo

O núcleo é a camada mais interna da Terra e divide-se em núcleo externo e núcleo interno. É

também a camada que apresenta a maior temperatura, que pode alcançar 6.000°C.

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Ele é formado por ferro, silício, níquel e, apesar de as altas temperaturas que deveriam manter

esses compostos no estado líquido, o núcleo apresenta elevada pressão, que acaba por agrupar essas

substâncias, mantendo-as sólidas.

Estrutura externa da Terra

O que diz respeito à parte externa do planeta Terra, há também uma classificação de sua

estrutura.

Atmosfera

A atmosfera terrestre é uma camada de gases que envolve a Terra e é retida pela força da

gravidade. A atmosfera terrestre protege a vida na Terra absorvendo a radiação ultravioleta solar,

aquecendo a superfície por meio da retenção de calor (efeito estufa), e reduzindo os extremos de

temperatura entre o dia e a noite. Visto do espaço, o planeta Terra aparece como uma esfera de

coloração azul brilhante. Esse efeito cromático é produzido pela dispersão da luz solar sobre a

atmosfera, e que existe também em outros planetas do sistema solar dotados de atmosfera.

O ar seco contém, em volume, cerca de 78,09% de nitrogênio, 20,95% de oxigênio, 0,93% de

argônio, 0,039% de gás carbônico e pequenas quantidades de outros gases. O ar contém uma

quantidade variável de vapor de água, em média 1%.

A atmosfera tem uma massa de aproximadamente 5,1 x 1018 kg, sendo que três quartos dessa

massa estão situados nos primeiros 11 km desde a superfície. A atmosfera terrestre se torna cada vez

mais tênue conforme se aumenta a altitude, e não há um limite definido entre a atmosfera terrestre e o

espaço exterior. Apenas em altitudes inferiores a 120 km a atmosfera terrestre passa a ser bem

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percebida durante a reentrada atmosférica de um ônibus espacial, por exemplo. A linha Kármán, a

100 km de altitude, é considerada frequentemente como o limite entre atmosfera e o espaço exterior.

Hidrosfera

Corresponde à camada que compreende os corpos hídricos do Planeta Terra. Abrange não só

os oceanos, mas também os mares, os rios, os lagos, águas glaciais, lençóis de gelo, vapor de água e as

águas subterrâneas.

Biosfera

Corresponde ao conjunto de ecossistemas que compreendem a Terra. Basicamente, diz respeito

aos grupos de seres vivos que a habitam. Esses ecossistemas se encontram desde os pontos mais

elevados do planeta até as partes do fundo oceânico.

Planeta Terra no Universo

A Terra é um dos oito planetas que compõem o Sistema Solar, localizado na Via Láctea. É

considerado o maior em diâmetro e densidade dentre os planetas rochosos (Mercúrio, Vênus, Terra e

Marte).

Esse planeta não é estático, realiza diversos movimentos, sendo os principais: o movimento de

rotação, que consiste no movimento ao redor do seu próprio eixo, originando o dia e a noite, e o

movimento de translação, realizado ao redor do Sol, dando origem ao ano civil e às estações do ano.

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A Terra tem um único satélite natural do Sistema Solar, a Lua, que influência fortemente nas

marés, em virtude da força gravitacional que existe entre esses astros. Por conta do movimento desse

satélite em relação ao nosso planeta e ao Sol, é possível observar as quatro fases lunares (nova, cheia,

minguante e crescente).

Texto adaptado de:

SOUSA, Rafaela. "Planeta Terra"; Brasil Escola. Disponível em:

https://brasilescola.uol.com.br/geografia/o-planeta-terra.htm. Acesso em 04 de fevereiro de 2020.

Complementado por:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Atmosfera_da_Terra

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Cap 3Sistemas Astronômicos

Clayton Dantas de SáVersão de fevereiro de 2020

Introdução

As antigas sociedades humanas tinham uma real necessidade de entender o movimento dos

astros e dos planetas, essa necessidade podia estar ligada à elaboração de melhores calendários para

prever a época de plantio, da colheita, das chuvas e outras atividades cíclicas da natureza, ou podia estar

ligada às suas demandas espirituais, com a comemoração de datas festivas ou a elaboração de

horóscopos, esta necessidade levou o homem a elaborar modelos de funcionamento do universo ao seu

redor, tentando entender e prever as posições do Sol, da Lua, das estrelas e dos planetas.

Mas o que era o universo para estes povos? Algo muito menor e mais simples do que

conhecemos hoje. O universo se limitada ao que era observado a olho nu, não se conheciam os

planetas Urano e Netuno, nem os asteroides entre Marte e Júpiter. As distâncias entre os corpos

celestes eram desconhecidas e a própria natureza dos planetas e das estrelas eram ignoradas.

Desta forma, descrever o “universo” (assim, entre aspas) era descrever o movimento das

estrelas, do Sol, da Lua e dos planetas, e isto já foi um trabalho complexo o suficiente para ocupar

algumas das maiores mentes produzidas pela humanidade por vários de séculos. A história completa

destas descobertas daria todo um livro, que trataria não só das descobertas em si, mas da matemática,

religião, filosofia e tradições culturais de diversos povos espalhados pelo mundo.

Neste texto vamos nos focar apenas na tradição cultural ocidental e apresentar os dois modelos

de mundo cujo desenvolvimento forneceu a base do surgimento da ciência moderna: o modelo

geocêntrico e o modelo heliocêntrico.

O modelo geocêntrico

O termo geocêntrico pode ser traduzido como “A Terra no centro” (geo=Terra; centrico=no

centro). Este modelo, em suas inúmeras variações, considerava que a Terra seria o centro do universo e

que as estrelas, os planetas, a Lua e o Sol girariam em torno de nosso planeta, que permaneceria estático

no céu (por isso o modelo também seria geostático).

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Este modelo foi desenvolvido ao longo de vários anos, começando alguns séculos antes da era

cristã e progredindo até a idade média. Suas principais ideias foram compiladas e ampliadas pelo

astrônomo e matemático grego Cláudio Ptolomeu (100-168), que por volta do ano 150 d.C., escreveu

uma obra que mais tarde foi chamada de Almagesto (um termo árabe que significa “A obra maior”).

Neste trabalho Ptolomeu imaginou que os planetas estariam ligados a um intrincado sistema de círculos

ligados a outros círculos que, ao se moverem, conseguiam explicar o movimento dos planetas.

Como vemos na Figura 1, o deferente não girava exatamente em torno da Terra (talvez o termo

geocêntrico seja um pouco exagerado) mas em torno de um ponto próximo, marcado como “centro do

excêntrico” na figura. Todos estes círculos eram necessários porque

Ptolomeu (Figura 2) estava preso a uma ideia vinda de Aristóteles (384

a.C.-322 a.C.) segundo a qual todos os movimentos celestes tinham que

ser movimentos perfeitos, isto é, movimentos circulares com velocidades

constantes. A criação do equante foi neste sentido: era necessário que a

velocidade do epiciclo fosse constante em relação a algum referencial, a

solução foi inventar este ponto imaginário para manter todo o sistema

coerente.

Apesar de parecer bastante artificial para os dias de hoje, o

sistema ptolomaico era eficiente em sua função: podia prever com

bastante precisão os fenômenos astronômicos. Aliado à sua eficiência o

sistema foi posteriormente adotado pela Igreja Católica, por concordar

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Figura 1: Na figura podemos ver oplaneta ligado a um circulo menor(epiciclo) que por sua vez está ligado aum circulo maior (deferente). Odeferente não gira em torno da Terra,mas em torno de um ponto próximo.

Figura 2: Cláudio Ptolomeu em uma gravura do século XVI

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com a interpretação teológica da época, e tornou-se, até meados do século XVI, o sistema hegemônico

do mundo ocidental.

Mas, com o passar dos anos, as medidas astronômicas cada vez mais precisas forçaram os

astrônomos a realizar constantes correções no modelo (como a adoção de mais círculos ligados aos

epiciclos), estas constantes correções começaram a minar lentamente o sistema geocêntrico. Por fim o

lento enfraquecimento do poder da Igreja permitiu que um outro modelo do “universo” começasse a

surgir.

Modelo Heliocêntrico

Hélio é o nome do deus Sol da mitologia grega, identificado mais tarde como Apolo, e irmão da

deusa Selene (a Lua), também é o nome do segundo elemento da tabela periódica, um gás nobre que foi

identificado primeiramente no Sol, e só depois descoberto pelos químicos da Terra.

O modelo heliocêntrico é o modelo de “universo” que afirma que o centro dos movimentos

celestes seria o Sol, com os planetas girando em sua órbita e a Lua, e apenas ela, girando em torno da

Terra, estas ideias são tão antigas quanto as ideias geocêntricas, sendo seu principal partidário no

mundo antigo o astrônomo grego Aristarco de Samos (320 a .C. - 250 a. C). Porém o sistema proposto

por Aristarco apresentava problemas complexos demais para o conhecimento da época, por exemplo:

1-Se a Terra se move, por que não sentimos este movimento?

2-Por que não percebemos uma mudança na posição aparente das estrelas devido ao

movimento da Terra (fenômeno conhecido como paralaxe).

A resposta à primeira pergunta foi dada quase 18 séculos depois pelo matemático e físico inglês

Isaac Newton (1643-1727) ao formular suas leis sobre o movimento. A segunda pergunta foi

respondida pelo astrônomo Friedrich Wilhelm Bessel (1784-1846) que mediu a paralaxe da estrela 61

Cygni na constelação de Cisne, mas sem estas preciosas respostas o modelo heliocêntrico foi

abandonado por séculos, e Aristarco foi acusado de perturbar o repouso dos deuses com suas ideias.

O ressurgimento do heliocentrismo se deve principalmente ao astrônomo polonês Nicolau

Copérnico (1473-1543) que publicou duas obras sobre o tema. A primeira obra criticava certos aspectos

filosóficos da obra de Ptolomeu (como o equante) e a segunda obra (póstuma) apresentava seu sistema

heliocêntrico.

Este modelo copernicano tem muitas diferenças em relação ao modelo atual. Por ainda estar

preso aos movimentos circulares perfeitos de Aristóteles, Copérnico (Figura 3) continuou a fazer uso

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de epiciclos para explicar o movimento dos planetas, sendo o resultado final quase tão complexo

quanto do de Ptolomeu, porém o sistema apresentava algumas das ideias que foram fundamentais para

o desenvolvimento do sistema:

1-O centro do “universo” era perto do Sol.

2-A Lua girava em torno da Terra.

3-É a Terra que gira em torno do seu eixo a cada 24 h, e não as

estrelas que giram em torno do planeta.

4-A distância entre o Sol e as estrelas é muito maior que a

distância entre a Terra e o Sol.

O modelo de Copérnico permitia explicar o movimento dos

planetas, a variação de sua luminosidade e colocar os planetas na

ordem correta (Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter e

Saturno), porém mudar séculos de história não é simples. O

sistema não foi imediatamente aceito pelos acadêmicos da

época, ou pela igreja.

Um dos grandes opositores deste sistema foi o dinamarquês Tycho Brahe (1546-1601), um

astrônomo que coletou por mais de uma década os mais precisos dados astronômicos de sua época,

tendo como um dos objetivos de seu trabalho o de demostrar o erro de Copérnico. O próprio Brahe

propôs um sistema híbrido, com os demais planetas girando em torno do Sol e este girando em torno

da Terra. Acontece que Brahe não possuía o talento matemático para transformar seus dados em um

modelo de mundo, e assim convidou o matemático e astrônomo

alemão Johannes Kepler (1571-1630) para ajudar nesta tarefa.

Após a morte prematura de Brahe, Kepler utilizou seus dados para explicar o movimento real

dos planetas em torno do Sol, abandonando o ideal Aristotélico de movimento circular e adotando

órbitas elípticas para os planetas. As famosas Leis de Kepler, que veremos futuramente, fortaleceram o

modelo de Copérnico, explicando com notável simplicidade o movimento aparente dos planetas.

Porém uma das descobertas mais importantes para o estabelecimento do sistema heliocêntrico é

a descoberta das luas de Júpiter por Galileu Galilei (1564-1642). Em 1609 Galileu soube de uma

invenção holandesa capaz de aumentar o tamanho aparente de um objeto, e sem nunca ter visto tal

invenção construiu sua própria versão do aparelho, chamada mais tarde de telescópio (ou luneta nos

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Figura 3: Nicolau Copérnico

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dias atuais) e o usou para olhar para as estrelas. Entre as muitas descobertas realizadas através do

telescópio Galileu percebeu que Júpiter possuía quatro “pequenas estrelas” que o orbitavam, e

interpretou corretamente estas “estrelas” como satélites naturais de Júpiter. Estas luas (Ganimedes,

Europa, Io e Calisto) mostravam que nem tudo precisava girar em torno da Terra, e que o sistema

geocêntrico falhava em uma de suas premissas básicas: nem todos os corpos celestes giravam em torno

da Terra.

A partir deste momento a evolução do sistema heliocêntrico, e sua aceitação pela comunidade

científica não pode ser impedida. Os trabalhos de Newton deram uma explicação física do motivo das a

Leis de Kepler funcionarem, sua Lei da Gravitação Universal forneceu a primeira explicação científica

sobre o funcionamento do sistema solar e do movimento dos corpos celestes. O próprio trabalho de

Newton foi ampliado e aperfeiçoado nos séculos seguintes por diversos cientistas, o aperfeiçoamento

dos telescópios e demais instrumentos de medida tornaram as observações astronômicas cadas vez

mais precisas, fornecendo dados que refinaram cada vez mais o modelo original.

A descoberta que o Sol é apenas mais uma estrela em um universo imenso mudou a ideia de que

ele era o centro do mundo, e passou a ser apenas o objeto dominante do nosso sistema solar.

Recentemente a descoberta de exoplanetas (planetas orbitando outras estrelas) ampliaram ainda mais

nossa compreensão sobre o funcionamento do universo, ampliando não só os horizontes da ciência

mas também os da consciência humana.

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Biografia básica.

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