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    CORO: ESPAO DINMICO DE RELAES A PARTIR DA PSICOLOGIA

    SOCIAL DA MSICA

    Regina Maria Bilha Balan [email protected]

    Orientadora: Profa. Dra. Monica [email protected]

    ResumoEste artigo surgiu como trabalho final da disciplina de Seminrios de Educao, doPrograma de Ps-Graduao em Msica nvel de mestrado da Universidade Federaldo Rio de Janeiro - UNIRIO e um recorte da dissertao que se encontra emandamento. Informa sobre pesquisas atuais relativas a coro. Trata sobre canto coral a

    partir do campo da psicologia social da msica, analisa o coro como representao

    social e como cantores e regentes interagem com as funes da msica, alm de refletirse o coro pode ou no ampliar o universo musical de seus cantores. A fundamentaoterica est baseada em Donald Hargreaves e Allam Merrian, alm de Moscovici e seusdiscpulos Jodelet, Alves-Mazzotti, Jovchelovitch e Madeira.Palavras chave: coro, msica, psicologia social da msica, representao social.

    AbstractThis article has emerged as final work of education seminars for discipline of post-graduate programme in music master's level of the Universidade Federal do Rio deJaneiro-UNIRIO and is a snip sample that is in progress. It is informs about currentsearches for chorus. This is about coral corner from the field of social psychology of

    music, examines the chorus as social representation and as singers and Regents interactwith the functions of music, as well as reflect whether the chorus may or may notexpand their musical universe singers. The theoretical is based on Donald Hargreavesand Allam Merrian, Moscovici and her disciples Jodelet, alves-Mazzotti, Jovchelovitchand Madeira.Key-words: chorus, music, social psychology of music, social representation.

    Canto Coral

    Atualmente, muitas pessoas gostam e querem cantar, sejam sozinhas, em karaoks ou

    em coros. O canto coral dia a dia vem conquistando e se instituindo em novos espaos e

    ou organizaes. Muitos grupos surgiram no somente em igrejas, como era

    tradicionalmente desde a antiguidade, mas tambm em escolas, universidades, ONGs,

    associaes de bairros, empresas, hospitais, clubes e ou ainda h os que realizam o

    trabalho como grupo independente. O repertrio diversificado. H coros que se

    dedicam msica popular, os que cantam somente msica erudita, os que cantam

    msica sacra e tambm os que desenvolvem repertrio ecltico. H grupos infantis,

    juvenis, adultos e ainda especificamente os de terceira idade. Os cantores dos coros, na

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    sua maioria, no so profissionais da msica, mas pessoas que emprestam sua voz e

    tempo e com dedicao e prazer realizam a atividade coral.

    Nestes anos todos, atuando junto a coros, seja como regente ou cantora, percebo que

    o resultado musical se altera conforme a interao e ou integrao entre as pessoas ouentre as mesmas e o trabalho proposto.

    Por que as pessoas procuram coros para cantar? Como o coro cria sua identidade e

    estabelece-se? O coro pode ampliar o universo musical de seus cantores e regentes? A

    primeira questo ser discutida a partir das funes da msica. A segunda, a partir da

    teoria das Representaes Sociais e a ltima ser analisada na concluso.

    Pesquisas

    Aplicando um olhar com maior profundidade em algumas pesquisas, elas

    resumidamente apresentaram os seguintes resultados, segundo seus pesquisadores.

    Lima1 pesquisou como o canto coral pode colaborar para a transformao scio-cultural

    de crianas carentes. Criou o Coral Meninos de Luz na comunidade Cantagalo e

    Pavo-Pavozinho, na cidade do Rio de Janeiro, exatamente porque as crianas no

    tinham esta atividade como parte de sua rotina e props que a mesma fosse realizada

    como atividade de lazer. Realizou entrevistas com as crianas participantes e elas

    reconheceram que o coro tinha lhes proporcionado experincias tais como: entrar em

    contato com um novo universo sonoro, lugares, grupos sociais, alm de vivenciar a

    experincia de palco. Sentiram que seu comportamento havia mudado, pois estavam

    mais seguras, com maior concentrao, criatividade e autoconfiana.

    Pereira e Vasconcelos2 partiram da hiptese que o canto coral implica no

    desenvolvimento humano enquanto agente socializador. Realizaram entrevistas com

    regentes de coros institucionais de Goinia (GO). Estas revelaram a conscincia destes

    profissionais sobre o potencial de socializao e sociabilizao deste processo.

    Embasaram a pesquisa na sociologia, na psicologia educacional e na pedagogia musical.

    1Lima, Maria Jose Chevitarese de Souza. O canto coral como agente de transformao sociocultural nascomunidades do Cantagalo e Pavo-Pavozinho. Educao para a liberdade e autonomia. 2007. Tese.Instituto de Psicologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro.

    2 Pereira, liton & Vasconcelos, Miri. O processo de socializao no canto coral: um estudo sobre asdimenses pessoal, interpessoal e comunitria. 2007. Musica Hodie.Vol.7 n 7 p. 99-120, 2007.

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    Amato3 afirma que o coro um espao que gera aprendizagem musical,

    desenvolvimento vocal, integrao e incluso social. Segundo ela o regente necessita de

    vrias habilidades e competncias, alm das musicais para gerir e conduzir um grupo de

    pessoas que buscam motivao, aprendizagem e convivncia em um grupo social. A

    autora objetivou com a pesquisa fornecer subsdios e fundamentao a outros trabalhos

    e indicar solues para problemas cotidianos que se apresentam nos grupamentos corais.

    Pretendeu tambm estabelecer reflexes sobre o canto coral como ferramenta de

    motivao, integrao, incluso social e desenvolvimento de habilidades e competncias

    tanto para o regente como tambm para o cantor. Fez ainda uma anlise das concepes

    de Villa Lobos sobre o canto em conjunto, alm de discutir a formao do profissional

    do regente e de educadores.

    Teixeira4 pesquisou sobre a formao e atuao de regentes corais para coros de

    empresa. A partir de dois estudos de caso, observou e comparou como a dinmica

    regente/empresa/cantores ocorre e analisou como a formao em nvel superior dos

    regentes possibilita ou no suporte para os trabalhos prticos e rotineiros numa empresa.

    Andrade5 investigou os critrios utilizados pelos regentes corais para avaliar a

    execuo musical de coros escolares, tambm buscou estabelecer a finalidade do ensino

    de canto coral nas escolas e qual era a formao dos regentes que ali atuavam.Figueiredo6 abordou no decorrer de seu trabalho questes da atividade coral como:

    observao do ensaio coral como momento de ensino e aprendizagem e a construo do

    conhecimento musical durante os ensaios. Para tal estudo realizou quatro observaes

    de cada um dos cinco coros eleitos para a pesquisa. Discutiu sobre a complexidade da

    funo/formao do regente e concluiu que existe pouca profundidade na formao

    musical do regente; que os coros apresentam grande heterogeneidade de cantores sendo

    que a maioria no possui conhecimento formal de msica e so de diferentes faixas

    3 Amato, Rita Fucci. O Canto Coral Como Prtica Scio-Educativa e Educativo-Musical.Opus - Revista da Associao Nacional de Pesquisa e Ps-Graduao em Msica, Rio deJaneiro, v.13, n. I jan. jun 2007.4Teixeira, Lcia Helena Pereira. Coros de empresa: desafios do contexto para a formao e a atuao deregentes corais. 2005. Dissertao de Mestrado, Porto Alegre. Disponvel emhttp://hdl.handle.net/10183/5439.5Andrade, Margaret Amaral de. Avaliao em Execuo Musical: estudo sobre critrios utilizados porregentes de grupos corais escolares. 2001. Dissertao de Mestrado, Curitiba.

    6Figueiredo, Srgio Luiz de. O ensaio coral como momento de aprendizagem. A prtica coral numa

    perspectiva de educao musical. 1990. Dissertao de mestrado. Instituo de Artes, Universidade Federaldo Rio Grande do Sul.

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    scio-culturais. Constatou que a individualidade dos regentes se sobrepe

    constantemente ao conhecimento dificultando a continuidade dos trabalhos numa

    eventual substituio do mesmo por outro. Isto, segundo o pesquisador leva os coros a

    caminhos muitas vezes tortuosos. Props que cabe ao regente abordar a transmisso do

    conhecimento musical, a qualidade da expresso vocal e a postura perante a obra de

    arte. Defende que por isto o ensaio um momento decisivo para a construo do

    conhecimento musical e que no ensaio que o regente orienta, repara, corrige e

    aperfeioa.

    As pesquisas apresentadas anteriormente objetivaram compreender como o coro

    pode auxiliar na formao musical das pessoas, se ele pode promover melhora na auto-

    estima de crianas e adolescentes, se pode atuar com finalidade teraputica auxiliandopessoas, enfim o canto coral tem exercido, por conseqncia, outras funes que no s

    a musical. Observar como as pessoas se relacionam com a msica na vida diria, sejam

    sozinhas ou com outras pessoas e identificar quais seriam as funes que a msica

    exerce para elas. Percebe-se que o coro visto como elemento promotor de diversas

    relaes, no entanto as pesquisas no tm apresentado um embasamento terico a partir

    da psicologia social. Segundo os resultados apresentados, os cantores quando se

    interessam pelo coro muitas vezes esperam mais que o aprendizado musical. Pretende-

    se ento estudar o coro a partir do campo da psicologia social da msica, luz da Teoria

    das Representaes Sociais, de Serge Moscovici sendo a mesma analisada e discutida

    por seus discpulos Jodelet, Alves Mazotti e Madeira, e das Funes da Msica, de

    Allam Merrian por David Hargreaves.

    Funes da Msica

    O que leva as pessoas a buscarem uma atividade musical e neste caso especfico a

    cantar em coro ou ainda como a msica comporta-se na vida das pessoas?

    Hargreaves7 analisa a msica na vida diria das pessoas e afirma que se podem

    reduzir as funes psicolgicas da msica em trs domnios: cognitivo, emocional e

    social. Segundo este autor a funo social tem sido negligenciada em pesquisas e a

    cognitivo e emocional tem tido mais nfase. Prope que se deva dar maior ateno a

    isto, pois diz que muitas das funes da msica so primariamente sociais. Enumera trs

    questes para pensar: 1. O advento tecnolgico possibilitou computadores pessoais de

    7 Hargreaves, David J. & North, Adrian C. The functions of music en everyday life: redefining the socialin music psychology in Psychology of Music. 1999, 27, p.71-83.

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    fcil acesso. Com isto a internet, onde h bancos de msica de todos os tempos, passou

    a ser um instrumento de acesso fcil msica; 2. A msica passou a ter portabilidade e

    mobilidade sendo levada pelo rdio e TV, CDs, celulares, chips, minidiscs para vrios

    espaos da casa como salas, cozinha, banheiro, e assim a msica exerce uma funo de

    acompanhante onde quer que se v promovendo uma experincia individualizada

    musical; 3. O desenvolvimento de tecnologia MIDI de gravao fez com que a

    linguagem musical de instrumentos pudesse ser gravada, manipulada e transferida para

    outros computadores e ou aparelhos por compositores, arranjadores enfim pela indstria

    principalmente de msica popular. Isto gerou um grande mercado. Ainda afirma que

    possivelmente hoje quando as crianas entram na escola j tenham ouvido mais msica

    que seus pais e avs ouviram a vida toda. H de se procurar entender o papel da msica

    ento nesta sociedade atual. Estamos imersos num mundo cada vez mais sonoro. O

    autor explica que h trs caminhos que justificam a importncia da msica para os

    indivduos. So eles: o de auto-identificao, o relacionamento interpessoal e o humor.

    Pois bem, o cantor de coro busca nesta atividade musical, muitas vezes, o

    relacionamento com outras pessoas, o de se reconhecer e auto firmar como indivduo

    competente e que tambm busca alegria, prazer enfim uma condio diria de

    extravasar suas dores e ou angstias.

    Hargreaves8 observa que Allam Merrian, antroplogo, em 1964, elegeu dez

    categorias para a msica na vida cotidiana. So elas:

    1. Funo emocional. Esta no pode ser expressa de outra forma, uma liberao de

    sentimentos, manifesta-se inclusive por alteraes corporais como arrepios, batimentos

    cardacos alterados e est a expressar sentimentos e emoes.

    2. e 3. Funo de entretenimento e de prazer esttico que esto interligadas e ocorrem

    tanto em nvel do criador como do contemplador. Caracterizam-se por ligar as pessoas a

    seus contextos como festas, concertos e ou a objetos de contemplao.

    4. Funo de comunicao. Comunica algo a quem ou a aquela cultura que conhece

    um cdigo, ou seja, no entender a msica num sentido de msica universal;

    5. Funo de representao simblica que a construo social de um significado

    musical em contextos particulares culturais, ou seja, como smbolo de representao de

    outras coisas.

    8 Ibidem.

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    6. Funo de reao fsica, a msica tem o poder de excitar comportamentos de

    grupos, como exemplo tem-se a msica como incentivo para guerreiros ou caadores

    enfrentarem seus objetivos.

    7. Funo de impor conformidade s normas sociais citando como exemplo ascanes de protestos.

    8. Funo de validao de instituies sociais e rituais religiosos.

    9. Funo de contribuio para a continuidade e estabilidade da cultura, pois a

    mesma encerra as funes anteriores como prazer esttico, comunicao, validao da

    sociedade, enfim colabora para a manuteno da cultura.

    10. Funo de integrao da sociedade, pois promove a reunio de um grupo a partir

    de msica e com isto propicia a integrao da mesma.

    Roda de cantor relatos informais

    Em conversas informais com cantores de coros, muitos relataram que descobriram

    um novo universo musical a partir de quando iniciaram a atividade coral. As afirmaes

    sempre trazem consigo uma ou mais das funes da msica descritas e entrelaadas. Os

    cantores dos coros relatam que houve uma ampliao de conhecimento de repertrio e

    que tambm se motivaram para conhecer mais sobre msica e arte de forma geral a

    partir da participao em um coro.

    Dizem que se sentiram capazes de aprender um novo instrumento e isto promoveu a

    elevao da auto-estima.

    O fazer msica em grupo tambm figura como motivo de prazer, pois no soexpostos individualmente, mas se sentem promotores do prazer esttico, alm de

    poderem juntos a outros elaborar um pensamento expressivo musical.

    O coro, segundo relatos dos integrantes, tambm propicia novas relaes de amizade

    e congrega pessoas em torno de um elo comum: a msica e especificamente o repertrio

    que realizam.

    O canto coletivo tambm proporciona qualidade de vida e sade, pois o grupo supre

    muitas vezes a solido e ou frieza do mundo moderno atual.

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    Com estes relatos percebemos que o coro tem se mostrado mais que um espao

    musical. Tem propiciado relaes de amizade, de crescimento, de motivao e de

    concretude de metas e objetivos pessoais e grupais Aps um concerto que exige muito

    do coro em qualidade tcnica, quando as pessoas envolvidas se satisfazem com o

    resultado, elas se sentem integradas e co-participantes do que no imaginavam ser capaz

    de produzir.

    A satisfao do trabalho coletivo e ou apresentaes motivam cada vez mais ensaios,

    muitos destes desgastantes, em dias e horas no to confortveis, como feriados e em

    horrios noturnos ou de almoo. Isto se deve, principalmente, ao fato de que os

    integrantes, da maioria dos coros do Brasil, no so profissionais da msica, ou seja,

    possuem empregos em outras reas.Outro fator relevante que o resultado coral impressiona pelo volume sonoro

    atingido, mesmo quando h cantores iniciantes. Isto ocorre, muitas vezes, por estarem

    misturados a vozes mais experientes, que cantam em coros h mais tempo ou que

    realizam estudo vocal formal individual. Esta somatria pode apresentar num resultado

    satisfatrio, se bem conduzida.

    Os cantores sentem-se capazes, mesmo tendo pouca experincia, quando juntos a

    outros percebem que possvel fazer msica e com isso permitir que todos possamfruir desta arte tambm. A funo de comunicao e esttica da msica assim apresenta-

    se.

    Talvez estes resultados mostrem exatamente a necessidade de se promover mais

    pesquisas da psicologia com nfase no social e no s no cognitivo e emocional.

    Observa-se que no coro h um entrelaamento das funes da msica. Os coros

    refletem em seus trabalhos objetivos e funes no s musicais. Por exemplo, um coro

    de empresa, embora esteja promovendo o desenvolvimento musical de seus integrantes

    tambm pode ter por meta propor um melhor relacionamento entre seus membros no

    ambiente de trabalho, pode tambm querer validar e integrar a instituio a que o

    mesmo pertence. Um coro de igreja tambm tem por funo a validao do ritual

    religioso. Um coro de crianas carentes pode querer construir socialmente uma

    oportunidade de elevao de auto-estima e de conhecimento daquelas crianas

    colocando-as como capazes de realizar e entender sobre msica.

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    Possivelmente, por tudo isto tantas pessoas tm buscado cantar e integrar coros. As

    necessidades das mesmas ultrapassam o aprender msica. Necessitam de conhecimento,

    mas tambm de sentirem-se promotoras e envolvidas umas com as outras vivenciando

    as funes da msica.

    Pois bem, o coro mantm-se como espao que propicia tais funes.

    Analisaremos este espao ou organismo tendo como suporte a Teoria das

    Representaes Sociais.

    Coro: espao dinmico de relaes. Estabelecendo identidade a partir da Teoria

    das Representaes Sociais.

    A Teoria das Representaes Sociais foi apresentada por Serge Moscovici,

    psiclogo francs, em 1961. Citaremos neste trabalho alguns dos discpulos de

    Moscovici que explicam e compartilham de suas idias e de sua teoria. A teoria das

    Representaes Sociais explica que o objeto resultado da construo do sujeito num

    contexto de relacionamento deste individualmente e com a sociedade. Esta teoria busca

    combater a fragmentao e o reducionismo das disciplinas que ainda hoje deixaram

    resqucios, pois enxergavam o homem como um ser vazio e distante de seus afetos,

    emoes e necessidades de sua cultura. Madeira9 diz que as representaes sociais

    caracterizam-se como espaos de trocas, ao mesmo tempo em que as viabilizam.

    O coro se entendido como representao social apresenta-se como este espao

    que propicia trocas entre cantores e cantores/regentes sendo que destas trocas que

    acontece a construo e reconstruo do cantor e coro. Jodelet10 enfatiza que as

    representaes sociais acontecem como as dimenses relacionais e articuladorasintrnsecas e que as mesmas so um saber organizado e dinmico. um saber de ordem

    prtica que orienta a comunicao e conduta das relaes. Os objetos socialmente

    construdos apresentam tanto a pluralidade quanto a diversidade nas relaes pessoais

    que vo se construindo ao logo do tempo.

    9 Madeira, Margot Campos. Representaes Sociais e educao: importncia terico-metodolgica deuma relao In: Moreira, Antnia Silva Paredes (org.). Representaes Sociais Teoria e Prtica. Joo

    Pessoa: Ed. Universitria, 2001, p. 123-143.10 Jodelet, Denise (org). Traduo: Lilian Ulup. As Representaes Sociais. Rio de Janeiro: EDUERJ,2001.

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    Os sujeitos de dado objeto deixam suas influncias e levam as do grupo. Este

    um processo que mostra a singularidade e pluralidade das relaes sociais. O coro

    parece poder se encaixar perfeitamente na descrio de tal teoria. Tem-se este espao

    onde as pessoas, cantores e regentes, interagem na dinmica de ensaios. Ali constroem

    socialmente significados, normas, leis que regem o grupo e que muitas vezes nem so

    explcitas, mas que todos reconhecem e aceitam ser regidos pelas mesmas.

    Os regentes, que ao logo de seus trabalhos estiveram em contato com um coro,

    contriburam para formar e transformar cada qual, ao seu modo, o grupo. Este coro

    resultado daqueles cantores que ali estabeleceram um relacionamento dinmico, entre si

    e tambm com os regentes, como num jogo. Este jogo de relaes, entre individual e

    social, chama-se de campo de representaes sociais.O sujeito no seu viver vai estabelecendo dia-a-dia a articulao do objeto sua

    histria de vida. A representao social estrutura-se no enraizamento de atribuio de

    sentido ao objeto. Esta atribuio no algo definitivo, mas processual, pois

    constantemente est se integrando com novas informaes e experincias. Isto leva a

    articulao da cultura ao universo de cada um e com isto vai se concretizando a

    realidade. H trs ordens subjacentes: o real s existe para o homem a partir do

    significado e assim torna-se concreto; o real no abstrato, mas sim se reconhece ereformula-se numa prtica relao com os outros e no de forma isolada; e o vivido no

    se divide em social e psquico, ou seja, o homem sujeito da cultura e da relao.

    O sujeito vive ento um interagir e agir e as representaes sociais regem o viver e

    organizam as comunicaes e as condutas no e com o mundo. Quando se fala em vivido

    refere-se experincia, como prtica e como movimento de construo de modo no

    isolado de sentidos que configura o espao social e simblico. O concreto se constri e

    encontra expresso. Tanto o sujeito como as representaes sociais expressam-se e seconstroem. Tanto o afetivo, emocional, subjetivo e individual como o efetivo, o

    racional, o objetivo e o social vinculam-se no espao simblico e assim acontecem

    snteses e dinmicas possveis. Segundo Madeira11 o homem se faz e se expressa em

    relao com o outro. A racionalidade se estabelece a partir da articulao do sujeito no

    concreto e das relaes que acontecem, o sujeito completo na relao do concreto em

    construo. Articula o psquico, o social e o histrico entre o sujeito e o concreto, as

    11 Madeira, Margot Campos, op. cit., p. 123-143.

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    partes numa totalidade, num tempo e espao. A racionalidade explica-se como um

    saber-do-viver. As representaes sociais estruturam-se como um saber prtico,

    pois as mesmas esto imbudas de um constante formular e reformular das relaes

    entre sujeito e objeto, entre subjetivo e objetivo. Assim afirma-se a potencial

    transformao da representao social de um objeto vinculando o dinamismo de uma

    cultura e de uma histria. As representaes sociais aproximam ou distanciam

    indivduos e grupos.

    As representaes sociais propem-se a explicar os mecanismos psicolgicos e

    sociais que atuam na construo do conhecimento. So teorias coletivas do real,

    abarcando ascondutas e baseadas em valores constitudos pelas pessoas de um grupo

    social orgnico.O coro pode vir a ser uma representao social se os seus integrantes compartilharem

    de objetivos, normas, regras de condutas estabelecidas pelos mesmos, ainda que sejam

    informais. Esta cumplicidade acontece nas relaes dirias entre os seus membros,

    cantores e ou regente. Cada qual se reconhece na ao do outro e se reconstri, a partir

    desta dinmica. A representao social coro se estrutura desta forma, a partir do

    entrelaamento de relaes de seus sujeitos. A msica coral o que os une. O contexto

    todo com suas funes e contedos que circulam servem de interao entre o sujeitocom o mundo e com os outros. Alves-Mazzotti12 considera que a representao social

    um conhecimento elaborado e partilhado.

    Concluindo

    na dinmica do entre sujeito-sujeito-objeto, que acontece o saber. O aprendizado

    ocorre a cada momento em que o sujeito amplia seus esquemas cognitivos.

    Um coro pode vir aser objeto de representao social, pois possui uma intricada rede

    de relaes dinmicas entre seus sujeitos, organizados para uma meta comum: cantar

    em grupo. A dinmica do trabalho coral acontece a partir deste relacionamento social

    que envolve os sujeitos: cantores e regentes. A comunicao interna ocorre no espao

    entre os sujeitos e o que se constri, neste nterim, rege e reconstri os prprios sujeitos.

    uma relao social dinmica que constantemente est sendo refeita. Os sujeitos

    trazem consigo suas histrias de vida, seus sonhos, seu capital cultural nico que se

    12

    Alves Mazotti, Alda Judith. Representaes Sociais: desenvolvimentos atuais e aplicaes educao.In Candau, Vera Maria (org.). Linguagens, espaos e tempos no ensinar e aprender. Encontro Nacionalde Didtica e Prtica de Ensino (ENDIPE). Rio de Janeiro; DPEA, 2000, p.57-73.

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    imbrica neste colocar a dispor e no refazer a partir do outro tambm. uma construo

    contnua. Observamos que uma dada representao social apresenta caractersticas

    prprias, pois uma construo a partir de uma polivalncia. nesta dinmica do

    entre sujeito-sujeito-objeto, que acontece o saber. O aprendizado ocorre a cada

    momento em que o sujeito amplia seus esquemas cognitivos.

    Assim pode-se dizer que a atividade coral pode promover a ampliao do universo

    musical de seus integrantes se houver a dinmica proposta da representao social coro.

    Reger um coro requer muitas vezes, alm da capacidade de liderar, o prazer em

    ensinar e ensaiar, a tolerncia em aguardar o amadurecimento vocal/musical da pea,

    ouvir como a msica se passa e poder constru-la naquele momento daquela forma,

    exercitar a pacincia para com variveis incontrolveis diante do trabalho comocantores doentes de ltima hora, falta de sensibilidade das chefias de seus trabalhos

    profissionais outros, que no a msica, em liberar o cantor para apresentaes, falta de

    espao fsico adequado, oramento pequeno e outros. Talvez saber lidar com tais

    situaes que exigem flexibilidade por parte do regente e calma para no despender

    desnecessariamente sua energia de trabalho permita-lhe atingir seus objetivos. Nesta

    dinmica relao entre cantores, regente e meio a representao coro pode ser entendida

    como processo psicossocial.O coro enquanto representao constitui-se como um meio de relaes dinmicas.

    Seus cantores e regentes, ao longo do tempo, constroem a representao coro. Os

    cantores comportam-se diferentemente com cada maestro e com cada membro que

    adentra o grupo. O resultado coral parece refletir-se de forma mais coesa e uniforme

    quanto mais participativo e interativo se faz o grupo.

    As abordagens apresentadas tiveram o intuito de refletir e compreender os sistemas

    simblicos grupais e pensar no coro e seus integrantes a partir da psicologia social da

    msica. Jovchelovitch13 diz que a psicologia social a cincia do entre, pois ali

    residem as categorias da identidade, do eu, do discurso, da representao e da ao.

    Para entender o porqu das pessoas atualmente buscarem cantar em coro se utilizou o

    embasamento no campo da psicologia social da msica bem como nas funes da

    msica e como tais funes ocorrem na vida diria das pessoas. Entendemos que deva

    13 Jovchelovitch, Sandra. Psicologia Social, saber, comunidade e cultura. Psicologia & Sociedade, 16(2)p. 20-31, maio-ago 2004.

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    ser explorado mais a dimenso social da msica e no somente a cognitivo e a

    emocional. Podemos concluir que o coro alm de ser um elemento motivador para que

    muitos busquem o conhecimento musical, tambm um meio que promove a vivncia

    em grupo. Para tanto se utilizou a Teoria das Representaes Sociais como

    fundamentao terica.

    O coro um meio rico de relaes sociais. A msica com suas funes interligam-se

    suprindo e criando o dinamismo que caracterstico de uma representao social. Os

    cantores se sentem coro e pertencentes a um grupo que resultado de seus anseios e

    desejos. O coro ento rege, com suas normas e conhecimentos partilhados, o cantor, no

    entanto, tambm regido, pelos desejos e caractersticas, pelo cantor. Conclui-se que

    havendo o estabelecimento de coro como representao social e de seus integrantespermeados pelas funes da msica pode-se ampliar o universo musical dos prprios

    cantores e regentes.