Cantiga

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Cantiga Hun tal home sei eu, ai ben talhada que por vos ten a sa morte chegada; vede quem e' e seed'en nenbrada; eu, mia dona. Hun tal home sei eu que preto sente de si morte chegada certamente; vedes quem e' e venha-vos en mente; eu, mia dona. Hun tal home sei eu, aquest'oide: que por vos morr' e vo-lo en partide, vede quem e' e non xe vos obride; eu, mia dona. J. J. Nunes (Traducao) Conheco certo homem, ai formosa, que por vossa causa ve chegada a sua morte; vede quem e' e lembrai-vos disso; eu, minha senhora. Conheco certo homem que perto sente de si a morte chegada certamente; vede quem e' e tende-o em mente; eu, minha senhora. Conheco certo homem, escutai isto: que por vos morre e vos desejais que ele parta; vede quem e' e nao vos esquecais dele; eu, minha senhora. Cantiga de amor Senhora minha, desde que vos vi, lutei para ocultar essa paixão que me tomou inteiro o coração; mas não o posso mais e decidi que saibam todos o meu grande amor, a tristeza que tenho, a imensa dor que sofro desde o dia em que vos vi.

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Cantiga  Hun tal home sei eu, ai ben talhadaque por vos ten a sa morte chegada;vede quem e' e seed'en nenbrada;eu, mia dona.  Hun tal home sei eu que preto sentede si morte chegada certamente;vedes quem e' e venha-vos en mente;eu, mia dona.  Hun tal home sei eu, aquest'oide:que por vos morr' e vo-lo en partide,vede quem e' e non xe vos obride;eu, mia dona. 

J. J. Nunes

      (Traducao)  Conheco certo homem, ai formosa,que por vossa causa ve chegada a sua morte;vede quem e' e lembrai-vos disso;eu, minha senhora.  Conheco certo homem que perto sentede si a morte chegada certamente;vede quem e' e tende-o em mente;eu, minha senhora.  Conheco certo homem, escutai isto:que por vos morre e vos desejais que ele parta;vede quem e' e nao vos esquecais dele;eu, minha senhora.

Cantiga de amor

Senhora minha, desde que vos vi,lutei para ocultar essa paixãoque me tomou inteiro o coração;mas não o posso mais e decidique saibam todos o meu grande amor,a tristeza que tenho, a imensa dorque sofro desde o dia em que vos vi.

Quando souberem que por vós sofritamanha pena, pesa-me, senhora,que diga alguém, vendo-me triste agora,que por vossa crueza padeci,eu, que sempre vos quis mais que ninguém,e nunca me quiseste fazer bem,nem ao menos saber o que eu sofri.

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E quando eu vir, senhora, que o pesarque me causais me vai levar à morte,direi, chorando minha triste sorte.“ Senhor, por que me vão assim matar?”E, vendo -me tão triste e sem prazer,todos, senhora, irão compreenderque só de vós me vem este pesar.

Já que assim é, eu venho-vos rogarque queirais pelo menos consentirque passe a minha vida a vos servir,e que possa dizer em meu cantarque esta mulher, que em seu poder me temsois vós, senhora minha, vós meu bem;graça maior não ousarei rogar.Afonso Fernandes apud C. Berardinelli.Cantigas de trovadores medievais em português moderno

Nessa 1ª estrofe o trovador expressa o que sente mais de uma maneira que expressa súplica, a mulher que ele conheceu está sendo idealizada em que ele se declara a ela, ele expõe os argumentos que justificam sua desgraça. 

As cantigas de amigo

Essa cantiga tem sua origem popular, são marcadas pela literatura oral, ou seja, paralelismo, refrão, reiterações e estribilho, onde isso são recursospróprios do texto que servem para serem cantados e que propiciam facilitação de memorização. Nas cantidas populares, ainda são usasos esses recursos. 

Essa cantiga teve origem na Península Ibérica, ela apresenta um eu-lírico feminino, pore´m com um autor masculino, ele canta seu amor pelo seu amigo, em um ambiente mais natural, em grande parte, faz um diálogo com a suas amigas ou com a sua mãe. Na cantiga de amigo, a figura feminina é de uma jovem que começa a amar, lembrando as vezes da ausencia do amado, ou cantando a sua alegria por um encontro com ele. Essa cantiga pode mostrar também a tristeza da mulher, pelo fato do seu amado ter ido para a guerra. Essa cantiga é de amigo, e mostra que a mulher espera ansiosamente pelo amigo, visa bastante às ondas do mar de Vigo e sobre o regresso de seu amado. 

Vejamos um exemplo de uma cantiga de amigo: 

Cantiga de amigo de Martim Codax (paralelística)

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Paráfrase 

Ondas do mar de Vigo Se vires meu namorado! Por Deus, (digam) se virá cedo! 

Ondas do mar revolto, Se vires o meu namorado! Por Deus, (digam) se virá cedo! 

Se vires meu namorado, Aquele por quem eu suspiro! Por Deus, (digam) se virá cedo! 

Se vires meu namorado Por quem tenho grande temor! Por Deus, (digam) se virá cedo! 

Essa cantiga é de amigo, e mostra que a mulher espera ansiosamente pelo amigo, visa bastante às ondas do mar de Vigo e sobre o regresso de seu amado (Apesar do eu lírico ser feminino, o autor da cantiga é um homem.)

Estêvão da Guarda

Esta cantiga foi feita a um escudeiro que havia nome Martim Gil e era home mui feo.

Martim Gil, um homem vil se quer de vós querelar:que o mandastes atar cruamente a um esteo,5dando-lh'açoutes bem mil; e aquesto, Martim Gil, parece a todos mui feo.     Nõn'o posso end'eu partir, pero que o já roguei,10que se nom queix'end'a 'l-rei:   ca se sente tam maltreito   que nom cuida en guarir;e, Martim Gil, quen'o vir,

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parece mui lai, de feito.  15Tam cruamente e tam maldiz que foi ferido entom   que teedes i cajom,   [se] s'el desto nom guarece; é aquesto feito tal, 20Martim Gil, tam desigual, ca já mui peior parece.

A rubrica que acompanha este composição explica o seu equívoco central: um homem feio/ um comportamento feio. Ao leitor, a tarefa de fazer as pausas adequadas aos dois sentidos. Como sempre neste tipo de cantigas, a pontuação proposta acautela a leitura "inocente".

Cantigas de Amor

Amor do trovador pela mulher amada. Mulher idealizada. Contemplação platônica. Uso de "meu senhor”. Sofrimento por amor. Vassalagem amorosa. Amor cortês. Estribrilho ou refrão.

Cantigas de Escárnio

Referências indiretas Ironia Ambigüidade (vocabulário de duplo sentido) Não se revela o nome da pessoa satirizada

Cantigas de Maldizer

Sátira direta. Maledicência. Uso de palavras obscenas ou de conteúdo erótico. Citação nominal da pessoa satirizada.