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  • 7/31/2019 cangao intelectual - contribuio contra o coronelismo intelectual e seu servial - lo pimentel

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    cangao intelectual

    contribuio contra o coronelismo intelectual e seu servial

    lo pimentel amante da heresia

    em 4 de maro de 2012, marcia tiburi nos presenteou, em seu blog, com um interessante tesouro: 9 tesescontra o coronelismo intelectual. poca, retribui tal guerrilheiro gesto generoso, com o seguinte comentrio:

    marcia, genial estas tuas 9 teses. o coronelismo intelectual vem se sofisticando a cada

    momento. principalmente com a situao hoje de que ele foi tornado uma espcie de bem-

    feitor; um guardio da moral e dos bons costumes de cativos e cativas do pensamento.

    s dar uma boa olhada no que se anda produzido (estilo literrio e contedo) para cumprir

    as normas e pontuaes da capes, cnpq, etc. e mais, no mercado editorial brasileiro (que

    j comea suspeito por ser mercado) tudo o que j foi dito milhares de vezes e tudo aquilo

    que no precisa ser dito exatamente o que se publica. o que deve ser dito no tem

    espao (claro, que s vezes escapam algo, como os seus livros e uma publicao aqui eoutra ali publicada pelo bolso de quem escreve). concordo contigo e tomo como inspirao

    primordial, o combate que tu apontas contra esse protagonista perverso que o coronel

    intelectual; o antagonista necessrio dessa relao agonista: o cangao intelectual (sua

    sexta tese) lampies e marias bonitas do pensamento brasileiro, uni-vos! (para no

    perder essa boa frase rs).

    o pensamento seguiu e, em 15 de junho de 2012, marcia nos presenteou novamente. desta vez com o texto

    intitulado coronelismo intelectual. e assim, novamente, quero retribuir-lhe. s que desta vez, desenvolvendo

    mais o que lhe atribui como sendo resultado de sua sexta tese (o coronelismo intelectual odeia a invaso dos

    sem ideias no territrio das ideias prontas. contra ele todo assalto desejvel.) o antagonista necessrio, o

    cangao intelectual.

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    cangao

    o cangaceiro e a cangaceira nada conserva. no entanto, h muitos cuidados. cuidam por no nos revelar a

    verdade interna das suas vidas. mas que nos deixam rastros: seus modos de combate, o que cobiavam, o

    terror que semeavam quando passavam, suas festas, seus jogos e seus lugares preferidos. e so nestes

    rastros que me entregarei a uma verdade do cangao como inimigo altura da verdade do coronelismo

    intelectual: a falta da vaidade em dar sentido a sua prpria morte armados e armadas da cabea aos ps,com a insurgncia vertiginosa sendo sua dimenso original confundida com o seu ser: ser-no-mundo

    enquanto apropriao radical da liberdade transformada em sua prpria fatalidade. eis-me aqui, enquanto

    cangaceiro intelectual, ora como anarquia, ora como socialista selvagem, ora como niilista determinado.

    nenhum coronelismo intelectual pode conter (universitaliz-lo aldeamento da titulao), cortar suas presas e

    unhas (pacificar ocupao permanente do comentrio) ou mesmo se apropriar (martiriza-lo torna-lo heri

    trgico de uma produtividade acadmica) desse tipo especial de ser-no-mundo.

    cangao intelectual

    rastro 1 modos de combate: o cangaceiro e a cangaceira intelectual, ambos so insurgncia luciferina ou

    do apocalipse contra a ordem coletiva de silncio e de debate inexistente; so insurgncia utpica ou da

    liberao territorial contra o feudalismo de especialistas; so insurgncia brutal ou instintiva contra o

    fundamentalismo exegtico; so insurgncia social ou marcha coletiva rumo ao livramento da

    sacrossantificada informao dos discursos verdadeiros.

    rastro 2 o que cobiam: os mitos revolucionrios so purezas celestiais. os mitos de insurgncia

    cangaceira so libertinas; possuem o cru como transcendncia; preservam belos tons negros na alma;

    possuem a pureza do inferno; e lapidam sua perfeio no desespero do ser. desse modo pilham as

    mercadorias da contra-reflexo e as usam, no como descries das coisas, mas como expresses de

    vontades. no se perguntam se uma titulao pode lhe trazer ou no vantagens diretas numa diplomacia

    habilidosa, mas se perguntam o que resultam de sua introduo no pensamento livre e da autocrtica.

    rastro 3 o terror que semeavam quando passavam: inesgotveis sequncias de monstros (mostram o

    quanto se idolatram livros, temas e palavras) e de insensatos (desprezam o lugar que a autoridade ocupa no

    mundo), de quimeras (criaturas perversas do fim dos tempos divididas entre a aceitao e a recusa), de

    drages (singularidades da revolta de dolorosas maturaes cujas ideias tm a violncia de um corisco), de

    grgonas (entregue ao exlio irreversvel j que o regresso proibido) e de licrnios (se trabalham para

    ganhar a vida sem trabalhar). no hereditrio, nem envelhece.

    rastro 4suas festas e seus jogos: festas e jogos de contra-sociedades. exploram a superfcie do universo

    onde o acaso o fez nascer. no planta nem edifica. detestam a sociedade policiada de seu tempo e espao.parodiam professores, professoras, estudantes, sbias, leigos e todo tipo de lacaice intelectual. viram do

    avesso o prprio futuro. impem reproduo do mesmo uma forma grotesca acentuando o ridculo burlesco

    das consequncias do coronelismo intelectual. colocam-se acima das leis do autoritarismo intelectual

    respondendo s ofensas que essas leis lhes fizeram.

    rastro 5 seus lugares preferidos: todos aqueles que servem como espaos de agir sobre o presente.

    lugares libertos dos procedimentos de discusso corriqueiros entre polticos, filsofos, ou pessoas ditas

    autoridades com pretenses cincia prtica. agrestes intelectuais que se definem como liberdade, natureza,

    supra-sociedade, abertura e horizonte. estar vontade nas anomalias. o espao dos sonhos de infncia

    estregue perverso: a vida como um jogo perverso de recusa ao lugar no mundo dos adultos. emancipaode toda tutela (educao, robotizao e plastificao) e de toda maioridade como simples ordenamento e

    proibio.