CANDIDO_literatura e Sociedade_critica e Sociologia

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CANDIDO, ANTONIO. Literatura e sociedade. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2006. CRÍTICA E SOCIOLOGIA (tentativa de esclarecimento) Sobre o trabalho do crítico o Seria o caso de dizer, com ar de paradoxo, que estamos avaliando melhor o vínculo entre a obra e o ambiente, após termos chegado à conclusão de que a análise estética precede considerações de outra ordem (p. 12). o Nem a análise ancorada apenas na realidade, nem a análise apenas das “operações formais” do texto são suficientes para explicar seu valor estético. o “Hoje sabemos que a integridade da obra não permite adotar nenhuma dessas visões dissociadas; e que só a podemos entender fundindo texto e contexto numa interpretação dialeticamente íntegra” (p. 12) o “Sabemos, ainda, que o externo (no caso, o social) importa, não como causa, nem como significado, mas como elemento que desempenha um certo papel na constituição da estrutura, tornando-se, portanto, interno” (P. 13). Sociologia da literatura o “Tratamento externo dos fatores externos” (p. 13) o Não se trata de “valor da obra” o “cunho científico” o “Cabe-lhe, por exemplo, pesquisar a voga de um livro, a preferência estatística por um gênero, o gosto das classes, a origem social dos autores, a relação entre

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CANDIDO, ANTONIO. Literatura e sociedade. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2006.

CRTICA E SOCIOLOGIA (tentativa de esclarecimento)

Sobre o trabalho do crtico Seria o caso de dizer, com ar de paradoxo, que estamos avaliando melhor o vnculo entre a obra e o ambiente, aps termos chegado concluso de que a anlise esttica precede consideraes de outra ordem (p. 12). Nem a anlise ancorada apenas na realidade, nem a anlise apenas das operaes formais do texto so suficientes para explicar seu valor esttico. Hoje sabemos que a integridade da obra no permite adotar nenhuma dessas vises dissociadas; e que s a podemos entender fundindo texto e contexto numa interpretao dialeticamente ntegra (p. 12) Sabemos, ainda, que o externo (no caso, o social) importa, no como causa, nem como significado, mas como elemento que desempenha um certo papel na constituio da estrutura, tornando-se, portanto, interno (P. 13). Sociologia da literatura Tratamento externo dos fatores externos (p. 13) No se trata de valor da obra cunho cientfico Cabe-lhe, por exemplo, pesquisar a voga de um livro, a preferncia estatstica por um gnero, o gosto das classes, a origem social dos autores, a relao entre as obras e as idias, a influncia da organizao social, econmica e poltica etc (p. 13). A crtica literria Problema apontado por Lukcs: o elemento sociolgico na obra de arte seria apenas a possibilidade de realizao do valor esttico ou seria tambm determinante para a constituio desse valor? (p. 13) analisar a intimidade das obras organizao interna, de maneira a construir uma estrutura peculiar (p. 13) Fator social veculo para conduzir a corrente criadora? (p. 14) Ou parte do que h de essencial na obra enquanto obra de arte? (p. 14) Exemplo: Senhora, de Jos de Alencar expresso de um conceito de vida burgus e patriarcal (p. 14) Mas no suficiente para definir o carter sociolgico de um estudo (p. 14) Assunto da obra: compra de um marido representao e desmascaramento de costumes vigentes na poca, como casamento por dinheiro (p. 14) ainda no estamos nas camadas mais fundas da anlise (p. 16) A questo social sendo aspecto estruturante da obra Estabelece-se uma espcie de duelo entre as duas personagens as relaes humanas se deterioram por causa dos motivos econmicos (p. 16) A personagem feminina torna-se agente duma operao de esmagamento do outro por meio do capital (p. 16) o duelo representa a transposio, no plano da estrutura do livro, do mecanismo da compra e venda (p. 16). No afirmado pelo romanciscta Quando fazemos uma anlise deste tipo, podemos dizer que levamos em conta o elemento social, no exteriormente, como referncia que permite identificar, na matria do livro, a expresso de uma certa poca ou de uma sociedade determinada; nem como enquadramento, que permite situ-lo historicamente; mas como fator da prpria construo artstica, estudado no nvel explicativo e no ilustrativo (p. 14) Neste caso, samos dos aspectos perifricos da sociologia, ou da histria sociologicamente orientada, para chegar a uma interpretao esttica que assimilou a dimenso social como fator de arte (p. 16) Externo se torna interno e acrtica deixa de ser sociolgica, para ser apenas crtica (p. 16) Uma crtica que se queira integral deixar de ser unilateralmente sociolgica, psicolgica ou lingustica, para utilizar livremente os elementos capazes de conduzirem a uma interpretao coerente. Mas nada impede que cada crtico ressalte o elemento da sua preferncia, desde que o utilize como componente da estruturao da obra. E ns verificamos que o que a crtica moderna superou no foi a orientao sociolgica, sempre possvel e legtima, mas o sociologismo crtico, a tendncia devoradora de tudo explicar por meio dos fatores sociais (p. 16) Modalidades mais comuns de estudos sociolgicos da literatura Oscilam entre sociologia, histria e a crtica de contedo (p. 17) 1 - mtodo tradicional Relaciona o conjunto de uma literatura, um perodo, um gnero, com as condies sociais (p. 18) traa um panorama das pocas (p. 18) dificuldade de mostrar efetivamente, nesta escala, a ligao entre as condies sociais e as obras (p. 18) virtude discernir uma ordem geral, um arranjo, que facilita o entendimento das sequncias histricas (p. 18) Comum encontrar a um nexo causal de tipo determinista (p. 18) Obras servem de pretexto para discutir questes sociolgicas 2 - obra como espelho da sociedade Qual a relao entre os aspectos reais e os que aparecem no livro? (p. 18) tende mais sociologia elementar do que crtica literria (p. 19) 3 - estuda a relao entre a obra e o pblico Quando o autor aborda o problema histrico da aceitao pblica atravs do tempo, surge uma variante geralmente menos sociolgica e mais baseada nos levantamentos tradicionais da erudio (p. 19) 4 estuda a posio e a funo social do escritor Qual a posio do escritor com a natureza da sua produo e ambas com a organizao da sociedade? (p. 19) 5 funo poltica das obras e dos autores Desdobramento do 4 desdobramento ideolgico marcado (p. 19) 6 investigao hipottica das origens Em todas essas modalidades, nota-se o deslocamento de interesse da obra para os elementos que formam a sua matria, para as circunstncias do meio que influram na sua elaborao, ou para a sua funo na sociedade (p. 20) Mas preciso que tudo isso contribua para a economia interna da obra no se trata de afirmar ou negar uma dimenso evidente do fato literrio; e sim, de averiguar, do ngulo especfico da crtica, se ela decisiva ou apenas aproveitvel para entender as obras particulares (p. 20) Obra literria Relao arbitrria e deformante com a realidade Esta liberdade, mesmo dentro da orientao documentria, o quinho da fantasia, que s vezes precisa modificar a ordem do mundo justamente para torn-la mais expressiva; de tal maneira que o sentimento da verdade se constitui no leitor graas a esta traio metdica. Tal paradoxo est no cerne do trabalho literrio e garante a sua eficcia como representao do mundo. Achar, pois, que basta aferir a obra com a realidade exterior para entend-la correr o risco de uma perigosa simplificao causal (p. 21). Os fatores sociais, assim como os psquicos, so decisivos para a anlise literria (p. 21) dimenso histrica indispensvel para o pensamento contemporneo enfrentar, de maneira adequada, os problemas que o preocupam (p. 24).