Canção de Saída Para Um Filme

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  • 7/24/2019 Cano de Sada Para Um Filme

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    Cano Final Para um FilmeVoc acorda e o quarto tem trs paredes. O quarto tem trs

    paredes e voc acorda. Trs paredes. Voc acorda. Uma portavermelha. Uma grande porta vermelha. Merda. Trs paredes. rancas.

    !"#CO. !"#CO. Mor$na. Uma porta. Voc acorda. Voc apaga.Voc acorda. O quarto tem trs paredes. rancas. % uma porta.Uma porta vermelha. Voc acorda. Voc acorda e est& amarrado. Vocacorda e est& amarrado numa cama. Trs paredes. Uma cama."marrado numa cama. % no do 'eito (om. #o) no do 'eito (om.

    Voc acorda e est& amarrado numa cama. "s pernas presas porcorrentes. "s paredes so (rancas. rancas. "s amarras da lateral)cortando os pulsos. *errando+os) lentamente) a cada tentativa demovimento. "ntes eram algemas. "lgemas. "lgemas. "lgemas...Preto.

    ranco. Voc acorda. O teto , (ranco. "s paredes so (rancas.Os len-is so (rancos. Tudo , (ranco. Menos a porta. " porta ,(ranca. #o. " porta , vermelha. Vermelha como a morte. Vermelhacomo o suor sangrento de Cristo. Cristo pregado na cru. !ei dos/omens. Voc amarrado numa cama. !ei do que0 elo contraste.

    Voc acorda. Voc acorda e est& no calado de 1panema. Ostnis de corrida) '& meio gastos) pisam $rmes no cho de pedraportuguesa. O ar entra quente em seus pulm2es) e voc se sentevivo. Vivo. Vivo) vivo) vivo. "s ondas que(rando na praia) as crianasdesconhecidas correndo na (eira do mar) 'ogando areia com os p,snas mulheres de (iqu3ni) deitadas so(re cangas coloridas. Os 4ni(us e

    os carros) com suas (uinas e motores) pertur(ando o som do vento)que agita as 5olhas dos coqueiros e os seus ca(elos. Voc 5echa osolhos) sorri e ergue a ca(ea para o c,u. Mas quando voc os a(re) oc,u , p&lido. 6,lido. !"#CO. Todo (ranco. Merda. O c,u , (ranco. %no meio do c,u) h& uma porta. Uma. 6rande. Porta. Vermelha. *eapro7imando lentamente. Como uma (atida de carro em um $lme de8ac9 *n:der. ;enta. ;enta. % inevit&vel. % ento) ela te engole.

    ". O quarto tem trs paredes. Trs. % voc $ca

    nesse c3rculo por tanto tempo) que o pr-prio signi$cado de tempo seesvai. #o h& dia) ou noite) ou horas) minutos) segundos. *- asparedes. rancas. % as lues ?uorescentes. % a porta. " porta. %ento..

    Voc acorda. Voc acorda e o quarto tem trs paredes. Vocacorda e

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    % pu7a. Pu7a at, seus dedos $carem ro7os) e seus tornoelossangrarem. Pu7a at, que o som das (atidas do seu corao parecequerer romper seus t3mpanos. "t, as lampadas ?uorescentes teolharem com desd,m) e as paredes rirem de voc.

    Voc acorda. "corda. O teto , opaco) dis5orme. "s lues (rilham5ortemente) cegando suas retinas. " cai7a est& a(erta) ao lado de suamo esquerda. Btimo. O cigarro caiu da (oca) e espera no lenol)pouco acima dos seus om(ros. " porta te olha com ansiedade. Vadia.Voc pega o 5-s5oro com a mo) e ele est& mido. mido. Merda. Vocsente a madeira molhada) meio mole) com o polegar e o indicador.Mas a ponta est& seca. *eca. *%C". Voc se move para a 5rente)pegando a cai7a de 5-s5oros com a (oca) e) sua (arriga d-i peloes5oro. "s paredes so (rancas. Os msculos parecendo se rasgar) amedida que sua (oca se apro7ima da mo acorrentada. % ento) voco acende. *enhoras e senhores) eu lhes apresento) o 5ogo. Vocpasma. "s cores. Cores. Primeiro uma e7ploso de vermelho) amareloe laran'a) como em um pequeno sol. % depois) aul. "8U;. O calor da

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    chama aquece a ponta dos seus dedos) espalhando um sentimento devida por todo seu corpo. Todos os seus pelos se arrepiam) e vocsorri. %quili(rando a chama) voc pega o cigarro com a (oca)apro7ima a ponta da chama) e o acende.

    O cheiro de ta(aco (arato inunda o quarto. O gosto amargo

    e recon5ortante envolve sua (oca) e) pela primeira ve em muitotempo) voc se sente em casa. Um arrepio. Um trago. "quele 5amiliar5ormigar na ponta dos dedos. "s paredes esto (ravas. Muito (ravas.% (rancas. *empre (rancas. " porta est& quieta. Auieta demais. Masisso no importa por agora. O que importa , o cheiro. O gosto. "5umaa cinenta) su(indo pelo ar) desvanecendo+se) antes de tocar oteto (ranco. ranco. !"#CO. M%!>". %la acorda. "CO!>". M%!>"." ponta do cigarro , vermelha. Vermelha. Vermelha. Como a porta. "porta que acorda. " porta vermelha. Merda. Merda) merda) M%!>". "porta vermelha te olha e sorri. *orri como um demonio te sorri)quando voc ousa espiar o que h& em(ai7o da cama. *orri e grita.6!1T". Um grito agudo e penetrante. Um (erro) que gelaria at, aalma daqueles que o mar chamou de seus. Um grito que desa$aqualquer sanidade. Um agudo estridente) de pura maldade e terror)como se algu,m houvesse atravessado o corao do >ia(o. Um gritoque parece querer per5urar o seu c,re(ro. % , assim que voc o sente)como um (isturi) cent3metro por cent3metro) deci(el por deci(el)entrando 5undo pelos seus ouvidos) estourando os t3mpanos) erasgando tudo dentro de sua cai7a craniana. O sangue escorrendopelos ouvidos. "s lues piscam) apagando e acendendo sem parar) ea cama treme. O teto se apro7ima lentamente) como se quisesse te

    esmagar e voc perde o ar) enquanto as paredes riem) e as luespiscam) e a porta grita) e as paredes riem) riem) riem e o o7ignio doquarto parece ter ido dar uma volta) e os gritos ecoam) e ecoam) e oteto se apro7ima cada ve mais e as paredes so (rancas) e voc noconsegue respirar. %... Preto.

    Voc acorda. "corda. "corda e o quarto tem trs paredes.rancas. Trs paredes (rancas) e uma porta. Uma. Porta. Vermelha. %o colcho est& em chamas. C/"M"*. Uma grande chama amarela) semovendo lentamente) rumo ao seu corpo. Como uma (atida de carroem um $lme de 8ac9 *n:der. 8ac9 *n:der. Ou ser& que voc '&pensou isso antes0 " chama se apro7ima) se apro7ima) mas voc no

    se move) no luta) apenas vira a ca(ea para o lado dela. " portachora. " grande porta vermelha) chorando como uma garotinha. O5ogo , amarelo) com uma (ase laran'a) e voc se encanta. O calordela) toca gentilmente seu rosto. Calor. Voc 5echa os olhos) e sorri.*orri) com l&grimas escorrendo no canto dos olhos) sendo gentilmentelam(idas pelas chamas.

    Voc a(re os olhos e sorri. *orri e est& no calado de 1panema.Os tnis de corrida) '& meio gastos) pisam $rmes no cho de pedraportuguesa. O ar entra quente em seus pulm2es. Auente. "s ondasque(rando na praia) as crianas desconhecidas correndo na (eira domar) 'ogando areia com os p,s nas mulheres de (iqu3ni) deitadasso(re cangas coloridas) tentando aproveitar o sol. Os 4ni(us e oscarros) com suas (uinas e motores) pertur(ando o som do vento)

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    que agita as 5olhas dos coqueiros e os seus ca(elos. O calor do solqueima sua pele) com o que parece ser o calor de mil maaricos'untos) e voc chora. #o de tristea) ou de dor) mas de alegria. Vocchora sorrindo) e) ainda sorrindo) ergue a ca(ea para o c,u. % noc,u) aul e sem nuvens) no h& porta. #o h& porta. /& apenas o sol)

    essa chama gigantesca e insaci&vel) e que um dia) h& de consumirtodos n-s. Os raios do sol) tocam sua 5ace gentilmente) como umamante toca a 5ace do outro ap-s o coito) com um sorriso nos olhos) ea (oca cheia de sonhos. O calor envolve seu ser) e voc se sente vivo.V1VO. *eu corpo parece derreter) numa in$nidade de segundos) masvoc no luta) no sente dor. "s crianas sorriem e acenam. Os carrosandam em cDmera lenta atr&s de voc) e algu,m vendendo algo emum carrinho passa) com um r&dio gritando a palavra do *enhorG