CAMPEÃS DA INOVAÇÃO TERRENO DE INSPIRAÇES · nos Estados Unidos, como lavadoras, fornos e...

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66 / AMANHÃ Uma marca, uma estratégia “Na Consul, os consumidores nos dizem o que querem. Na Brastemp, o desafio é antever as necessidades dos clientes”, explica Renato Firmiano, diretor de marketing da Whirlpool CAMPEÃS DA INOVAÇÃO | 66 |

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Uma marca, uma estratégia“Na Consul, os consumidores nos dizem o que querem. Na Brastemp, o desafio é antever as necessidades dos clientes”, explica Renato Firmiano, diretor de marketing da Whirlpool

terreno de inspirações

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E studiosos e gestores das áreas de inovação precisam inves-tigar se há algo de especial

na água que os catarinenses bebem. Isso porque, na 14ª edição do projeto Campeãs de Inovação – a primeira em parceria com o IXL Center, de Cambridge, Massachussets –, mais uma vez a líder veio de Santa Ca-tarina. E mais que isso: o pódio da inovação é totalmente formado por empresas do Estado.

Whirlpool, Embraco e BRF, se-guidas pela Tigre, despontam como as quatro primeiras na pesquisa que avalia o tratamento dado às novas ideias entre as empresas do Sul. A gaúcha Tramontina é a única “intru-sa” no Top 5 da Inovação. E não é sur-presa para quem tem a memória das edições anteriores: tanto a Whirlpool Eletrodomésticos quanto a Embraco pertencem à Whirlpool Corpora-tion e trazem no seu DNA a busca pelo novo. Ambas as companhias já figuraram na ponta do Campeãs de Inovação. Juntas, nada menos que oito vezes – quatro para cada uma.

Não foi por acaso que a multi-nacional Whirlpool manteve a lide-rança alcançada no ranking de 2015. A cultura de inovação demora a ser construída em uma empresa, mas os

méritos são ainda maiores quando os processos conseguem ser mantidos. “A Whirpool se destacou em todas as cinco dimensões avaliadas, somadas à disciplina e a um trabalho consis-tente de inovação ao longo de anos”, sintetiza Fernando Onosaki, diretor do IXL-Center no Brasil.

Entre as dimensões que com-põem a pesquisa e dão forma ao ranking estão a capacidade de trans-formar ideias em resultados, os processos para conscientização dos funcionários, a organização do fluxo de sugestões, o alinhamento entre a inovação e a estratégia de negócios e o total de recursos voltados para a inovação. Nesta edição da pesquisa, Whirlpool e Embraco figuraram entre as cinco primeiras companhias em quatro das cinco dimensões.

“Em qualquer cenário, o inves-timento em inovação está garantido. Destinamos de 3% a 4% do nosso faturamento anual para pesquisa e desenvolvimento”, explica Guilherme de Lima, diretor de comunicação e relações institucionais da Whilpool. Para manter o ambiente focado em produzir novidades, a companhia fo-menta parcerias com universidades e mantém um time com mais de mil funcionários dedicados a pesquisa

{Antenor Savoldi Jr.}

Catarinenses Whirlpool, embraCo, brF e tigre lideram o ranking das empresas que melhor transFormam ideias em resultados na região sul

e desenvolvimento. Isso coloca a Whirlpool como líder em número de registro de patentes no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi). Desde 1962, são mais de 680 registros e, apenas nos últimos dois anos, foram mais uma centena deles.

A Embraco apresenta um ce-nário parecido. Além de manter os 3% a 4% de sua receita líquida para investimentos fixos em inovação, também conta com parcerias de universidades, Institutos de Ciência e Tecnologia (ICTs), consultorias e startups. “Inovação não significa apenas aplicar tecnologia em pro-dutos, mas também em negócios, serviços e processos. É uma vertente que permeia todas as operações e sustenta a capacidade de produzir cada vez mais e melhor”, salienta Eduardo Andrade, vice-presidente de pesquisa e desenvolvimento e novos negócios da Embraco.

Entre os muitos processos in-ternos, o Círculo de Controle de Qualidade (CCQ) mantém funcio-nários envolvidos em times para im-pulsionar inovações e incrementar processos, e o Programa de Inovação Interna incentiva colaboradores de diferentes áreas a pensar em solu-ções para os desafios da empresa.

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Outra ferramenta utilizada é o Scrum, que melhora a gestão de pro-jetos e chega a reduzir pela metade o tempo de lançamento de um novo produto. A metodologia propõe pro-cessos integrados, reuniões rápidas, resolução de problemas, gestão vi-sual das atividades em andamento e redução de riscos. O apetite por no-vidades faz com que 59% da receita da Embraco, nos últimos cinco anos, seja resultado de produtos lançados no mesmo período. Multinacional com foco em soluções inovadoras para refrigeração com atuação glo-bal e capacidade anual de produção de 40 milhões de compressores, a companhia se orgulha de uma marca impressionante: é responsável por refrigerar um quinto dos alimentos no mundo.

irmãs pensando via designAp esar da s s imi lar idades ,

Whirlpool e Embraco apostam em abordagens próprias para manter sua cultura organizacional e chegar

aos resultados almejados. Porém, o Design Thinking parece ganhar cada vez mais espaço entre as líderes em inovação. O conceito, gestado na Arquitetura, revisto e embalado em Stanford, busca abordar problemas de forma multidisciplinar, com cen-tro na produção de novas alternati-vas baseadas na observação direta das necessidades do usuário, levando em conta seu contexto e cultura.

A Whirlpool utiliza um pro-cesso próprio, baseado em Design Thinking, seguindo o mantra de colocar seu consumidor como foco primordial para desenvolvimento de produtos. “No processo, temos a oportunidade de entrar na jornada dos consumidores, identificar as suas necessidades, cruzar com tendências tecnológicas e de mercado, testar conceitos e desenvolver tecnologias com maiores níveis de risco”, explica Lima. Quando a demanda do consu-midor encontra viabilidade técnica e mercadológica, o item passa do projeto para a execução.

A Embraco também criou seu ferramental próprio, utilizando a abordagem do Design Thinking. “Como os princípios podem ser aplicados em todas as situações, a metodologia se torna bastante flexí-vel, tanto para melhoria de processos e agilidade dos projetos quanto para geração de novas ideias e validação de conceitos”, explica Andrade, da Embraco. Segundo ele, um “efeito colateral” positivo desse processo é a capacidade de engajamento e mo-bilização das pessoas e o aumento da interdisciplinaridade entre equipes. “O futuro da empresa dependerá da capacidade de integrar ideias intui-tivas e analíticas, trazendo empatia, criatividade e colaboração como chaves para impulsionar a inovação. O Design Thinking fomenta a colisão de ideias e a colaboração como for-ma de enriquecer processos”, celebra Andrade.

A Embraco mantém cerca de 600 profissionais dedicados exclusiva-mente ao departamento de pesquisa e desenvolvimento. Desses, aproxima-damente 120 são parceiros de univer-sidades referências em engenharia. Só com a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), por exemplo, são 35 anos de parceria. A companhia possui ainda 47 laboratórios de pesquisa em quatro continentes e 1,7 mil patentes vigentes depositadas.

Não é só o volume de produtos lançados que chama a atenção nas Campeãs de Inovação. Responsável, no Brasil, pelas marcas Brastemp, Consul e KitchenAid, a Whirlpool define uma estratégia de atributos que é conectada aos propósitos de cada uma. “Quando falamos de Consul, mergulhamos nas situações cotidianas dos consumidores para entender suas necessidades e então apresentar a praticidade esperada

“Em qualquer cenário, a inovação está garantida. Destinamos de 3% a 4% do nosso faturamento anual para pesquisa”

Guilherme de Lima, diretor de comunicação da Whilpool

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dos nossos produtos”, explica Rena-to Firmiano, diretor de marketing da Whirlpool América Latina. “Já a Brastemp é reconhecida por sua qualidade e capacidade de inovar sempre. O desafio é antever as ne-cessidades dos consumidores para que eles se sintam atendidos. Mais do que a usabilidade, é preciso en-cantar e surpreender com produtos que proporcionem essa experiência diferenciada”, explica o gestor.

Nos últimos anos, a Consul – que tem equipamentos presentes em mais de metade dos lares brasileiros – fez uma grande renovação de portfólio. A intenção foi reforçar seu novo posicionamento – “Bem Pensado“ – apresentando uma linha de produtos completa, moderna e com soluções inteligentes que descomplicam o dia a dia. No caso da Brastemp, o desafio tem sido reforçar o legado de superioridade da marca com foco em performance e design superior. Isso é refletido na nova assinatura da marca:

compressor, seu produto-símbolo, para atender a outras necessidades da cadeia de refrigeração. Um exem-plo é o Nat Genius, uma unidade de negócios responsável pela recicla-gem da Embraco. Criada em 2013, é responsável pela logística reversa na empresa. Só entre 2015 e 2016, o Nat Genius reciclou mais de 10,6 mil toneladas de materiais. No mesmo período, além dos compressores e da linha branca, a unidade passou a reciclar produtos das linhas verde, marrom, azul e a oferecer o serviço de gestão de resíduos. O acerto levou o Nat Genius a virar referência em economia circular pela Fundação Ellen Macarthur.

Outras iniciativas da Embraco envolvem até a aquisição de uma startup : a UpPoints, focada no gerenciamento do negócio das fabricantes de bens de consumo e de toda a cadeia de abastecimento. A startup desenvolveu um sistema inovador de reconhecimento de

“Sem dúvida, Brastemp”.O sucesso do momento para a

Embraco é o Fullmotion Inverter – a tecnologia de compressores de ve-locidade variável, já conhecida entre os consumidores na hora de escolher um split. Entre os benef ícios, está a redução de até 40% no consumo de energia elétrica, a diminuição no ruído e uma melhor conservação dos alimentos, quando usado em grandes refrigeradores. “Em um mercado cada vez mais focado em consumo de energia e novas regulamentações energéticas, o Fullmotion vem ga-nhando grande espaço e satisfazendo as necessidades dos consumidores”, salienta Andrade, da Embraco.

Da diversificação à indústria 4.0

Além de lançar novos pro-dutos em sua área tradicional, o departamento de Novos Negócios da Embraco busca diversificar as atividades da empresa para além do

Efeito colateral positivoPara Andrade, vice-presidente de P&D da Embraco, o Design Thinking fomenta a colaboração e enriquece processos de inovação

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imagem e análise da performance de vendas de produtos no ponto de venda, bem como o comportamento do consumidor. Atenta ao futuro da manufatura, a Embraco também faz parte da Associação Brasileira de Internet Industrial (Abii) que busca compartilhar experiências, promo-ver sinergias e criar novas soluções dentro do universo da Indústria 4.0 – o novo estágio da produção, que coloca as tecnologias mais modernas de cloud computing e Internet das Coisas a serviço da manufatura e, eventualmente, do consumidor final.

A Whirlpool possui uma frente global para o desenvolvimento da Manufatura 4.0, que engloba tecno-logias inovadoras para automação e troca de dados durante a produção. “O objetivo é criar ‘fábricas inteligen-tes’ com sistemas que se comunicam e cooperam entre si, ganhando em

eficiência e reduzindo o impacto ambiental do processo produtivo. O projeto ainda está na fase piloto e deve começar a ser implantado nas subsidiárias, nos próximos anos”, explica Guilherme Lima, da Whirl-pool. A empresa lançou os primeiros eletrodomésticos conectados do mer-cado brasileiro e os novos produtos do portfólio da empresa lançados nos Estados Unidos, como lavadoras, fornos e refrigeradores, que já podem ser controlados por dispositivos ha-bilitados para o funcionamento de assistentes virtuais com comando de voz. A chegada ao mercado brasileiro é questão de tempo.

Cliente, centro das atenções

Boa parte desses alimentos armazenados em produtos da Whirl-pool e da Embraco tem como origem

outra gigante de Santa Catarina: a BRF. Uma catarinense que também se tornou global – o que faz todos os avanços em inovação tomarem uma escala muito maior. “A inovação é um dos seis pilares de sustentação do nosso arco de prioridades, fun-damental para a perpetuação do negócio. ‘Inovar’ não é apenas reno-var o portfólio, mas orientar todas as nossas práticas ao consumidor final, pondo-o no centro das deci-sões e revitalizando nossas marcas ao mesmo tempo em que buscamos eficiência nas operações. O objetivo é gerar equilíbrio e evitar distorções ao longo de nossa cadeia de valor”, explica Pethra Ferraz, diretora de inovação da BRF. Só no ano passado, a BRF investiu R$ 2,5 bilhões em inovação, eficiência e manutenção dos negócios.

A BRF mantém a alocação de

Mil e uma oportunidades Pesquisas na BRF antecipam tendências de consumo e fortalecem a presença das marcas da companhia

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recursos para pesquisa e desenvolvi-mento, sobretudo em produtos e em estudos agropecuários. No primeiro caso, a ideia é antecipar e direcionar tendências de consumo, aumentar o market share em categorias estraté-gicas e fortalecer a presença de suas marcas. Os estudos agropecuários são responsáveis por aprimorar a genética dos plantéis da empresa –parte importante de seu ativo –, melhorar a conversão alimentar (relação entre ganho de peso e ração consumida) e aumentar o bem-estar animal. “O leque de categorias em que atuamos, onde o consumo e os consumidores são amplos, nos dá a possibilidade de explorar novas oportunidades na hora de inovar”, ressalta Pethra.

O clube das cinco mais ino-vadoras do Sul é completado por companhias que também têm relação próxima com a rotina doméstica dos consumidores: Tigre e Tramontina. A catarinense Tigre, em comum com suas conterrâneas, mantém-se próxima do ambiente acadêmico, com pesquisas em parceria com a Universidade Federal de Santa Cata-rina (UFSC), Universidade Federal do Paraná (UFPR), Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) e Universidade de São Paulo (USP). A inovação é fomentada via Open Innovation, mantendo canais de co-municação permanente com startups e acelerando o desenvolvimento de produtos e serviços que tenham siner-gia com a cadeia de negócios.

Alguns produtos lançados pela Tigre, entre eles a caixa de gordura, as linhas de calhas e de infraestru-tura, tiveram a participação desses centros de pesquisa. A empresa investe cerca de 1% do faturamento – que, no ano passado, alcançou a cifra de R$ 2,4 bilhões – em pesquisa

e desenvolvimento. A companhia possui mais de 15 mil itens em seu portfólio atual e lança mais de 500 produtos por ano.

A gaúcha Tramontina também aposta constantemente em equipa-mentos e novos produtos. Todas as fábricas contam com centros de ino-vação, pesquisa e desenvolvimento,

O novo estágio da produçãoModernas tecnologias estão a serviço da manufatura e do consumidor final

conhecidos como CIPeD. “Temos estruturas 100% dedicadas à missão de inovar, atuando na elaboração de tecnologias que garantem o padrão de qualidade”, assegura Clovis Tra-montina, presidente do Conselho de Administração da companhia. A capacitação das equipes, com treinamentos e formações de cola-boradores, também contribui para a inovação. Além disso, todas as unidades da Tramontina incenti-vam os funcionários a dar sugestões referentes aos processos, com o ob-jetivo de melhorar a segurança dos ambientes de trabalho e aprimorar a qualidade dos produtos. Melhorias de layout, redução de desperdício de embalagens, aprimoramento do processo de recebimento e armaze-namento de materiais, automação na linha de produção, estudos para redução de regulagem de máquinas e aumento da produtividade nas etapas de montagem estão entre os resultados tangíveis mais recentes que saíram do filtro de inovação da Tramontina.

Todas as unidades da Tramontina

incentivam os funcionários a aprimorar a qualidade

dos diversos produtos