Caminho Da Fé: Reflexões Sobre Lazer e Ambiência

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    IntroduçãoAs inquietações geradas pelas culturas demassa e tecnológica, associadas ao estresseambiental deste século, são capazes de motivar,no ser humano contemporâneo, uma busca pornovas possibilidades de usufruto do seu tempodisponível.

    Ofertadas em atividades do âmbito do lazer,muitas opções visam a resgatar, não só assensações e as percepções construídas a partirde uma corporeidade urbana, mas também,permitem auto-reflexão e questionamentoprofundos sobre as formas com que o serhumano se relaciona com o meio a que estáexposto e interage sistematicamente.

    No Brasil, a partir da década de 1990, houveuma intensificação da demanda por opções nocontexto do lazer que possibilitassem aintensificação de vivências emocionalmente maissignificativas. Dessa forma, surgiu o interessepelas atividades físicas de aventura na natureza(AFAN), em especial as caminhadas.

    Proporcionalmente a esse aumento, cresceutambém a preocupação com a saturação doslocais de prática, as condições estruturais e de

    sustentabilidade para manutenção dessasatividades, como também, a necessidade daconscientização de preservação dessesambientes e sistemas.

    Motriz, Rio Claro, v.16 n.3 p.559-570, jul./set. 2010

    Artigo Original

    “ Caminho da fé” : reflexões sobre lazer e ambiência

    Jaqueline Costa Castilho Moreira 1,2 Gisele Maria Schwartz1

    1 Instituto de Biociências. UNESP - Univ Estadual Paulista, Campus de Rio Claro,Departamento de Educação Física, LEL, Rio Claro, SP, Brasil

    2 Faculdade de Ciências e Letras. UNESP - Univ Estadual Paulista, Campus de Araraquara, Departamento de Ciências da Educação, Araraquara, SP, Brasil

    Resumo: Este estudo, de natureza qualitativa, objetivou investigar atitudes capazes de fomentarcomportamentos pró-ambientais, durante uma caminhada. Escolheu-se o “Caminho da Fé”, com 425 kmentre Tambaú e Aparecida/SP, o qual atrai turistas, esportistas e fiéis. Após revisão bibliográfica sobre atemática, foi feita uma pesquisa exploratória, com uma amostra aleatória, de sete adultos, de ambos ossexos, utilizando um questionário misto e a Escala de Thompson e Barton de ecocentrismo eantropocentrismo, aplicado nos locais de parada, por três vezes: no início, no meio e ao final do trajeto. Aanálise qualitativa foi feita por meio da técnica de “Análise de Conteúdo Temático”, com os dadosapresentados percentualmente, para ilustrar. Concluiu-se que, embora os estímulos tenham cessado; suaintensidade, quantidade e qualidade desencadearam processos de reflexão, que associados às variaçõesambientais, físicas e sociais; a pré-disposição ao diálogo e a identificação simbólica, colaboraram para queos participantes percebessem transições de valores e novas possibilidades de condução e sentidos parasuas vidas.Palavras-chave: Lazer. Caminhada. Comportamento. Ambiente.

    “Caminho da fé”: reflections on leisure and environment

    Abst ract: This study, of qualitative nature, it aimed to investigate attitudes capable to foment pro-environmental behaviour, during one walked. The "Caminho da Fé" was chosen, with 425 km-itinerary trailbetween Tambaú and Aparecida/SP, which attracts tourists, physical activities performers and religiouspersons. After a literature review on the thematic one, was made an exploratory research, with a randomsample, of seven adults, of both sexes, using a mixed questionnaire and “Thompson e Barton’s Scale ofEcocentrism and Anthropocentrism", applied in the stop places, or three times: at the beginning, in themiddle of the way and at the end of the itinerary. The qualitative analysis was made by the use of “ThematicContent Analysis”, with results also presented in a percentile way, to illustrate. As conclusion, it is inferredthat, even the stimulation has ceased with the ending of the hike, the intensity, amount and quality of theexperience had stimulated reflection processes, associated to variations on physical and socialenvironmental conditions, the predispose to the dialogue and the symbolic identification, at which, hadcollaborated so that the participants had been able to perceive possibilities of conduction and transitions ofvalues and new senses for their lives.Key Words: Leisure. Hike. Behavior. Environment.

    doi: http://dx.doi.org/10.5016/1980-6574.2010v16n3p559

    http://dx.doi.org/10.5016/1980-6574.2010v16n3p559http://dx.doi.org/10.5016/1980-6574.2010v16n3p559http://dx.doi.org/10.5016/1980-6574.2010v16n3p559http://dx.doi.org/10.5016/1980-6574.2010v16n3p559

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    Essa conscientização se refletiu na produçãoacadêmica de estudiosos preocupados nadisseminação de atitudes e condutaspreservacionistas, nas mais diversas áreas doconhecimento, cada qual contribuindo de suamaneira, para incentivar a sustentabilidade nousufruto do ambiente natural. Nesse sentido,

    também a área do lazer tem prestado suacontribuição, promovendo reflexões acerca damaneira como suas variadas dimensõescolaboram para a demanda crescente devivências de experiências corporais, queaproximam o ser humano aos ambientes naturais.

    Potencializadas tanto pelas possibilidadeshedônicas que representam, como pelaoportunidade de criação de laços afetivos e dedesenvolvimento de relacionamentos sociais eculturais menos fugazes; essas práticas sãocapazes de estimular a apreensão de valores eressignificações. Mas, em que medida estaspráticas permitem um repensar sobre as atitudes,comportamentos e representações adotados paracom o ambiente, em seus níveis físico e social?Essas e outras inquietações perpassaram ointeresse deste estudo, de natureza qualitativa, oqual teve por objetivo investigar as atitudescapazes de fomentar comportamentos pró-ambientais, durante uma atividade física

    extenuante, representada por uma caminhadalonga.

    Caminhadas e caminhosO termo “caminhada” vem passando por uma

    evolução conceitual, deixando de ser apenas umamera forma de locomoção humana (BETRÁN, 2003). Acompanhada de novas simbologias eoutros conflitos, tornou-se, também, umaatividade física com grande número de adeptos,tanto no âmbito esportivo, como no âmbito dolazer. Suas principais vertentes são: o trekking(caminhada rústica) e o pedestrianismo (jogging).

    O trekking é um dos esportes de convivênciacom a natureza dos mais acessíveis e que abarcagrande parte dos pacotes de ecoturismo(BITTENCOURT e AMORIN, 2005), por nãoexigir preparo específico e poder ser praticadopor qualquer pessoa de diferentes faixas etárias,não oferecendo grandes riscos.

    Betrán (2003) classificou o trekking como umaatividade física de aventura na natureza (AFAN),de modalidade suave, por não provocar impactosambientais importantes. O autor tambémevidencia seu caráter ativo e passivo, pois o

    participante contempla, discute, frui e observa anatureza.

    O trekking é caracterizado por um certo graude incerteza, por depender dos fenômenosmetereológicos e das condições de relevo;envolvendo as dimensões emocionais (suascondutas ascéticas e as sensações, que variamentre prazer e descanso, com perspectiva deeliminação de riscos, por meio do uso dosrecursos biotecnológicos). As AFAN permitemgrande variedade de práticas com valorizaçãoambiental, que vão desde a preocupação quantoao impacto ecológico, intensidade, duração daatividade, estação do ano, momento do dia,vulnerabilidade das espécies animais e vegetais,assim como o comportamento ambiental dosparticipantes; além de proporcionar dinâmicas emambientes sociais variados, de individuais àcolaboração e acompanhamento de equipes.

    Colabora para o crescimento dessasmodalidades, a diversidade geográfica e climáticabrasileiras, e que, segundo Bittencourt e Amorin (2005, p. 455), “embora sem registros oficiais”,remetem a uma ordem de 7.000 praticantesregulares.

    As caminhadas em trilhas, de carátereducativo, têm curta extensão, mas sãoplanejadas para que, em um curto espaço detempo, seja possível o conhecimento da fauna,flora, geologia, geografia, dos processosbiológicos, das relações ecológicas, do meioambiente e sua proteção, de forma bastanteintensa. A caminhada em trilha interpretativa éplanejada para que os recursos naturais alidispostos sejam traduzidos para os visitantes,com o propósito de que suas percepções sejamestimuladas e que, com isso, questionem,experimentem, sintam e descubram os vários

    sentidos e significados ao tema exposto(GHILLAUMON, 1977).

    Já o pedestrianismo tem-se feito presente aolongo da História, sendo seus registros maisantigos, as caminhadas bucólicas inglesas doséculo XVIII(TEIXEIRA et al, 2006). Na França,como em outros países da Europa, também foium hábito bastante apreciado desde o séculoXIX. Essa modalidade consiste em realizargrandes marchas a pé (da caminhada à corrida),acima de dois quilômetros, de modo livre eassistemático, em caminhos e terrenos abertos,

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    urbanos, que podem ser desde praças,logradouros públicos, estradas a rodovias.

    Os passeios pedestres situam-se no limiarentre o desporto e o turismo, sendo que suaprática, ao mesmo tempo em que tem um caráterativo, representado pelo caminho a percorrer,possui, também, um caráter passivo, no qual opraticante desfruta da natureza que o rodeia(contemplando, descansando, sem pressa dechegar ao fim). Na maior parte dos casos, ascaminhadas não exigem grande aprendizagemnem técnicas especiais. Podem ser praticadaspor pessoas em todas as faixas etárias. Nãorequerem equipamento sofisticado, materialtécnico, conhecimentos prévios de cartografia ouorientação. No entanto, para determinados tiposde percursos, torna-se importante a presença deum guia mais experiente e conhecedor do trajeto.

    A distinção entre o pedestrianismo e outrasatividades similares é que essa modalidade seutiliza de marcas e códigos internacionalmenteconhecidos e aceitos. Os percursos pedestrespodem ser de grande rota (GR), com extensãosuperior a 30 km e dois dias de jornada ou mais,sinalizados a branco e vermelho e de pequenarota (PR), com até um dia de jornada e não maisde 30 km, sinalizados a amarelo e vermelho. Opedestrianismo ganhou impulso na década desetenta, com as pesquisas do médico norte-americano Kenneth Cooper e a difusão do "Testede Cooper", massificando-se amplamente(WEBRUN, 2006).

    No Brasil, embora existam registros dopedestrianismo desde 1910 (SANTOS, 2005),sabe-se que aqui, ele é praticado desde datasbastante anteriores à assinalada. Para esseautor, as caminhadas religiosas são exemplosbem peculiares de pedestrianismo no âmbito do

    lazer.Também conhecidas como peregrinações,

    reúnem pessoas de todas as idades e classessociais que percorrendo antigos traçados,motivados por espírito cristão, misticismo, buscainterior, respostas rumo ao sagrado ou aventurarealizam romarias a lugares santos como formade devoção, algumas até milenares (FERREIRA, 1986).

    Apesar da afirmação de Tabanez et al (1997,

    p. 89) acerca das “oportunidades de reflexãosobre valores, indispensáveis a mudançascomportamentais que estejam em equilíbrio com

    a conservação dos recursos naturais”, presentes,tanto no trekking, quando no pedestrianismo, as“caminhadas religiosas” evocam outros objetivos,até mesmo, arquivos afetivos, nem um poucorelacionados com os descritos anteriormente.

    Para Beni (1997), os peregrinos são turistaspotenciais, os quais, ao se deslocarem a centrosreligiosos motivados pela fé em distintas crenças,utilizam-se de equipamentos e serviços comestrutura de gastos semelhantes a outros turistas.O autor ressalta que a variável permanência estáintimamente ligada ao tempo de duração dascerimônias, ritos, celebrações religiosas e, atémesmo, romarias, denominando-o como turismoreligioso.

    Richena (2005) e Nabo Filho (2005) admitemque são necessários: preparo físico anterior,

    equipamentos e check-up geral, antes de umaperegrinação religiosa com duração de váriosdias, comparando as distâncias percorridas àsestabelecidas em ultramaratonas.

    No Brasil, o maior exemplo de peregrinaçãoestá relacionado ao deslocamento realizado porfiéis em direção ao santuário localizado na cidadede Aparecida (SP). Denominadas por Santos (2005) como “Caminhadas à Aparecida”, elasexistem desde o século XVI, sendo esse roteiro o

    mais difundido e antigo. Durante vários anos,homens e mulheres, muitas vezes sempreparação física adequada, sem equipamentos,alimentação ou água de boa qualidade e, atémesmo, sem trilhas traçadas, percorreramdistâncias acima de 45 km por dia, quer comclaridade ou com escuridão, para cumprir suaspromessas, fazer pedidos e agradecer por graçasrecebidas.

    Apesar de esses percursos serem realizadosa pé desde o final do século XVI, asperegrinações a Aparecida/SP só foramreconhecidas como “caminhadas” recentemente,sendo incluídas no Atlas do Esporte (SANTOS, 2005). São apontados como motivos para essaconvalidação: a evolução do conceito de“caminhada”, seu reconhecimento como umaatividade física, não só do âmbito esportivoregular, mas, agora também, do contexto dolazer, aos processos de “turistificação” pelosquais passam atualmente algumas trilhasbrasileiras e ao grande envolvimento daspopulações do entorno do santuário.

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    O trajeto mais bem estruturado paraAparecida é o “Caminho da Fé”; um percursomisto de trekking e pedestrianismo recreativo (osespanhóis chamam de senderismo ). Para suaconcretização, o projeto “Caminho da Fé” contoucom a adesão de prefeituras, igreja católica,fundações, sindicatos, empresas, rede hoteleira e

    organizações não governamentais, com intuito deorganizar e oferecer uma infra-estruturareceptiva, montada nos principais pontos deparada credenciados para acomodação econfirmação da passagem pelo local, assim comopontos de apoio e orientação nas estradasvicinais de terra, trilhas por bosques, pastagens easfalto, até a chegada ao pólo receptor.

    São atraídos para este tipo de atividade doâmbito do lazer um público variado, desdeperegrinos e turistas, até praticantes de AFAN,que percorrem os 425 km do “Caminho da Fé”, apé, a cavalo ou de bicicleta. Considerado umpercurso de pedestrianismo, os participantescaminham de 20 a 30 km diários, o que leva,iniciando em Tambaú, entre 14 a 21 dias para sechegar a Aparecida. O percurso é caracterizadocomo uma caminhada longa, de nível regular amédio, com possibilidades de contemplação dealgumas porções do bioma formado pela fauna eflora da Floresta Ombrófila da Mantiqueira, além

    de sua estreita relação com a devoção nacionalde Nossa Sra. Aparecida.

    O “Caminho da Fé”, realizado neste estudo,iniciou-se em Tambaú, passando por CasaBranca, Vargem Grande do Sul, São Roque daFartura, Águas da Prata, Andradas,Inconfidentes, Borda da Mata, Tocos do Mogi,Estiva, Consolação, Paraisópolis, São Bento doSapucaí, Sapucaí Mirim, Santo Antônio do Pinhal,Pindamonhangaba, Roseira até Aparecida. Comoo “Caminho da Fé” não é uma rota estática epretende tornar-se um percurso em termos dedistância, análogo ao caminho espanhol(Santiago de Compostella); após 2006 (data dapesquisa), foram incorporados novosprolongamentos à rota, assim como, substituídosalguns trechos.

    Essas atividades tendem a focalizar atitudes ecomportamentos importantes, envolvidos, tantona decisão de início, quanto em todo oplanejamento e execução do trajeto, os quais,

    ainda não foram devidamente explorados nosestudos que já focalizaram essa temática.

    At itudesCoelho, Gouveia, Maja e Milfont (2006)

    relataram que muitas pesquisas têm sido feitas,especialmente na área da Psicologia Ambiental,na tentativa de buscar explicações para asrelações entre as atitudes e os comportamentosfavoráveis ao ambiente. Entretanto, muito, ainda,

    há para se compreender sobre estas relações,especialmente quando o foco recai sobre esseselementos bastante complexos.

    Na literatura específica, sugere-se comoatitude, “a prontidão da psique para agir ou reagirnuma certa direção” (JUNG, citado emCAMPBELL, 1986, p. 60). Ter certa atitudesignifica estar direcionado a priori, e em prontidãopara algo ou alguma situação definida, presenteou não na consciência. Campbell (1986)complementa que têm sido realizadas váriastentativas para mensurar as atitudes, no entanto,elas recebem muitas críticas, por medirem mais aopinião do que a atitude.

    Do ponto de vista da temática ambiental, osestudos que abarcavam as atitudes ambientaisevidenciavam o uso, sem distinção aparente, devárias denominações, as quais, às vezes,interligavam-se e, outras vezes, eram usadascomo sinônimo. Schultz et al (2004) apontaramcomo exemplos dessas denominações os

    conceitos de “consciência ambiental” (pessoasque possuem convicções afetivas/empáticasacerca dos problemas ambientais), de “atitudeambiental” (pessoas que possuem suas própriasconvicções afetivas ou empáticas, seus própriosvalores, que têm intenções comportamentais eque são firmes com relação às temáticas e àsatividades ambientais) e de “ecological worldview ”(aqui traduzido como visão ecológica de mundo,sendo aquelas que acreditam na relaçãoharmônica entre as pessoas e a natureza).

    Atualmente, as “atitudes ambientais” sãosugeridas como “as percepções ou convicçõesrelativas ao ambiente físico, inclusive fatores queafetam sua qualidade” (AMERICANPSYCHOLOGICAL ASSOCIATION, 2001, p. 89),e adjetivadas como favoráveis ou desfavoráveisem relação ao ambiente em si ou a um de seusproblemas.

    Para Coelho, Gouvêa, Maja e Milfont (2006)as atitudes ambientais podem estar relacionadasa experiências subjetivas e aprendidas. Estas, no

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    olhar dos autores representam um repertório decrenças relacionadas ao ambiente.

    Este estudo optou por utilizar asnomenclaturas e conceitos de atitude ambientalcunhados por Thompson e Barton (1994): “atitudeecocêntrica” e “atitude antropocêntrica”. Ambassão expressões positivas de atitudes a favor doambiente, com o interesse de preservar osrecursos, no entanto, a principal diferença entreelas é a razão que leva as pessoas a manteressas atitudes ambientalistas. “Osantropocentristas” têm uma visão utilitarista,defendem a preservação dos recursos naturais eda saúde do ecossistema, mas mantêm a atitudeconservacionista e a suportam em função doconforto, do acúmulo de riqueza, da qualidade devida e da sua saúde.

    Já “os ecocentristas” vêem a naturezaimportante por si só, independente da economiaou do estilo de vida. Estes possuem umadimensão espiritual e valores intrínsecos, querefletem suas experiências na natureza e seussentimentos sobre a composição harmônica dosecossistemas. Eles concordam com osantropocentristas sobre a preservação ambientaldirecionada à saúde e à qualidade de vida, masdiscordam nas razões para se manter as atitudespró-ambientais.

    Os ecocentristas não percebem o pró-ambientalismo como um valor, mas como umadimensão que transcende habilidade, capacidadede gerenciar os recursos naturais e seus própriosdesejos psicológicos. Seus conceitosfundamentam-se na colaboração e namanutenção das atitudes preservacionistas,mesmo que envolvam algum desconforto,inconveniência ou gastos que possam reduzir suaqualidade de vida material (THOMPSON e

    BARTON, 1994). Reforçam essa conceituaçãoPinheiro et al (2005, p.01), ao afirmarem que:“enquanto o primeiro valoriza a natureza por seuvalor intrínseco, o segundo leva em conta osbenefícios materiais e vantagens, proporcionadospelo cuidado ambiental para os seres humanos”.

    A distinção entre antropocentrismo eecocentrismo não é nova. Essas duas atitudessão análogas aos pontos de vista filosóficosdiscutidos em Stokols (1990). Para este autor, osinstrumentalistas se assemelham aosantropocentristas, já que o ambiente é uma formade se atingir metas. Já os espiritualistas, se

    assemelham aos ecocentristas, por julgarem queo ambiente deve ser um contexto dedesenvolvimento espiritual humano, com valoresindependentes de sua contribuição para se atingirmetas humanas.

    Thompson e Barton (1994) colocam namesma categoria os ecocentristas e osespiritualistas, porque ambos julgam o ambiente,também, como um contexto moral e deenriquecimento espiritual. Mas, todos essesaspectos da atitude estão intrinsecamente ligadosà forma de expressão e das intervenções geradasem relação ao ambiente. Mas, de que maneiraessas atitudes efetivamente representamelementos que podem assessorar ocomportamento pró-ambiental? Esta inquietaçãomobilizou o desenvolvimento da pesquisaexploratória descrita a seguir.

    MétodoO estudo teve uma natureza qualitativa, por

    entender que este método se adequa ao estudodas variáveis envolvidas, tendo sido elaborado apartir da união entre pesquisa bibliográfica epesquisa exploratória.

    ParticipantesA pesquisa exploratória foi realizada no início

    do ano de 2006, com a amostra pesquisada in

    loco nos momentos das vivências na trilha.Podendo-se, com isso, captar as atitudescapazes de fomentar comportamentos pró-ambientais, durante uma caminhada.

    Como acontece com as AFAN, pequenosgrupos de praticantes, que não têm elos comunsde amizade, são formados na hora da prática.Essa possibilidade é ampliada por tratar-se,também, de uma espécie de ritual de passagemou de romaria, que desperta empatia e certacamaradagem, tanto nas pessoas da trilha, comodas comunidades presentes no caminho. Apossibilidade de formar pequenos grupamentos égrande, além de ser recomendada pelosadministradores do “Caminho da Fé”, em seusfolhetos, na internet, pelo Departamento deTurismo em Tambaú e nas pousadas.

    Esses grupamentos, formados nos pontosonde se pode obter a credencial e o “mapinha” dotrajeto (Tambáu, Águas da Prata, Andradas eOuro Fino) e outros, previamente constituídos por

    amigos e familiares, ou, ainda, as equipesgeradas por afinidades durante as conversas nasparadas, compuseram os elementos da amostra,

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    com os quais foram desenvolvidas asinvestigações.

    Com essa compreensão, foram selecionados,aleatoriamente, como participantes desse estudo,sete pessoas adultas (com faixa etária acima de18 anos), de ambos os sexos, de perfilsocioeconômico-cultural aleatório, adeptos àsexperiências vivenciadas em ambiente natural,quer seja como praticantes de AFAN (bikers ,trekkers e off-roads ), ou como turistas ouromeiros, e que, no momento dessa investigação,deslocavam-se a pé de um dos pontos onde podeser obtida a credencial à Aparecida e que sedispuseram, voluntariamente, a participar destaetapa da pesquisa.

    Os indivíduos foram contatados no momentoem que se informavam ou pegavam a credencial

    no quiosque do Departamento de Turismo emTambaú, solicitando-se a anuência dos mesmospara a participação na pesquisa; bem como, foiapresentando o termo de consentimento livre eesclarecido, e prestadas elucidações sobre ostermos de divulgação dos resultados em reuniõescientíficas e artigos.

    A amostra foi caracterizada por cinco homense duas mulheres, de origem urbana, provenientesde cidades paulistas de médio e grande portes.

    Com relação à faixa etária, dois participantestinham entre “17 e 22”, dois tinham entre “45 e50”, um tinha “37”, o outro “40” e o último “55”anos. Na amostra não havia participantes comfaixa etária entre “23 e 32” ou “acima de 56” anos.

    A pesquisa seguiu rigorosamente osprocedimentos éticos para estudos com sereshumanos, tendo sido previamente aprovada pelocomitê de ética em pesquisa, do Instituto deBiociências, da UNESP- Campus de Rio Claro.

    O Questionário Misto Trifásico (QMT)Richardson (1989) aponta que osquestionários utilizados como formas deinvestigação conseguem descreveradequadamente as características, beneficiandoa análise a ser feita e medir determinadasvariáveis de um grupo, permitindo observar aspeculiaridades individuais e sociais.

    O questionário misto usado nestainvestigação, conforme suas características,combinou perguntas abertas e fechadas. Oinstrumento foi denominado “trifásico”, porquesua aplicação se realizou em três fases dacaminhada, durante a permanência dos

    participantes em locais de parada. Explicitam-secomo razões para aplicação do questionáriodessa forma (investigação inicial, durante e aofinal da prática), as necessárias adaptaçõesfisiológicas e psicológicas dos participantes, queacompanham as atividades dessa natureza.

    Este estudo não aborda investigações sobre

    as adaptações metabólicas, fisiológicas epsicológicas dos participantes, em função daaleatoriedade da amostra e da despreocupaçãoda pesquisa em evidenciar quais sujeitos sãotreinados fisicamente para a caminhada e quais aestão realizando simplesmente pela fé.Entretanto, houve necessidade de se levar emconsideração, de forma molar, que essasadaptações tivessem colaborado nodesenvolvimento de um processo de estresse ede capacidade de resposta do sujeito. Esta

    afirmação é decorrente do fato de que o cansaçoe a inadequação biofísica e psicológica podemafetar o rendimento em quaisquer atividadesfísicas (WEINBERG, GOULD, 2001).

    No caso da Caminhada da Fé, osparticipantes estavam expostos a uma variaçãode altitude entre 1.550 metros (Serra do Pico doGavião, região do ponto mais alto da Serra daMantiqueira) e 542 metros (Aparecida/SP), o queenvolve caminhar por aclives e declives. Durantetodo o percurso (como acontece no trecho Tocosdo Mogi a Bom Repouso, que tem uma variaçãode 1.050 metros de altitude, para 1.410 metros,numa distância de apenas 16 km), as alteraçõesdos ritmos circadianos ficam por conta dasmudanças de hábitos alimentares (horários ecardápios), hábitos excretores e hábitos quanto àvigília e o repouso, ou, ainda, à prática de umaatividade física, mesmo que num nível bastantemoderado, mas num tempo prolongado.

    Foram acompanhadas essas três fases

    sugeridas por Costa (1983): “fase de euforia,reorganização e aclimatação” e o tempo deadaptação ao exercício, indicados por Willmore eCostill (1994), que previu a aplicação doquestionário no primeiro dia, entre o quarto e osétimo e no último dia.

    Análi sePara examinar os dados obtidos com o

    questionário, optou-se pela “Análise de ConteúdoTemático”, a qual, Bardin (1977, p. 38) definecomo “um conjunto de técnicas de análise das

    comunicações, que utiliza procedimentossistemáticos e objetivos de descrição deconteúdos das mensagens”. Esse autor ainda

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    destaca a importância da articulação entre asimples interpretação da mensagem dos sujeitoscom os fatores que determinaram essasrespostas deduzidas logicamente, procurando seestabelecer uma correspondência entre asestruturas semânticas e as estruturaspsicológicas ou sociológicas.

    Nessa perspectiva, as categorias usadasdevem se apresentar claras e explicitamentedefinidas.

    Com base na freqüência das respostasobtidas foi feita uma categorização em duasetapas: a primeira, por meio de um inventário e asegunda, por meio de uma classificação. A partirdo tratamento dos resultados dessa classificação,foram realizadas inferências e interpretações, queforam apresentados de maneira percentual comoilustração, por meio da “Tabela 1”.

    Tabela 1. Afirmações sobre a preservação ambiental em resposta a: “ A caminhada (pode ajudar, estáajudando, ajudou) os participantes a pensarem na preservação ambiental ”.

    PERCEPÇÕES NA CAMINHADA QUANTO Á ANTES (%) DURANTE (%) DEPOIS (%)

    TEMAS AMBIENTAIS

    Desmatamento 7,70 29,16 16,67

    Beleza cênica 15,37 16,67 8,33

    Degradação 15,37 12,50 12,50

    Lixo 0 25 0

    Água 7,70 0 12,50

    Saúde e ambiente 7,70 8,33 8,33

    Consciência 0 0 12,50

    Extração de areia 0 4,17 0

    QUESTÕESAMBIENTAIS

    Dilema ecológico: tempo, produção ecultura

    15,37 4,17 12,50

    Questão socioambiental 7,70 0 12,50

    PERCEPÇÃO DEPROCESSOS

    Alterações do meio ambiente 23,09 0 4,17

    TOTAL 100 100 100

    Resultados e DiscussãoA pergunta: “ Esta caminhada pode ajudar,

    está ajudando, ou ajudou os participantes a pensarem na preservação do ambiente?” ,repetida em três fases, foi destinada aoentendimento de como a caminhada colaborounas reflexões sobre a preservação ambiental. Ossujeitos deveriam assinalar com um “X” seconcordavam ou não com a afirmação, para,posteriormente, explicarem de forma aberta, suasrazões.

    Vale ressaltar que o termo “preservação” foiutilizado de forma coloquial; embora existamdiferenças e contradições entre os conceitosrelacionados em dicionários da língua portuguesae nos dicionários específicos de ecologia e meioambiente.

    Verificou-se que, em todas as fases daaplicação do QMT (Questionário Misto Trifásico),os sujeitos que não se preocupavam com asdistinções entre o vocabulário em sua definição

    geral ou específica da área ambiental, foramunânimes na concordância de que a caminhadacolaborou para reflexões sobre a preservaçãoambiental.

    Na segunda parte da pergunta, oscaminhantes utilizaram verbos para explicar suasconvicções sobre esse tema, dentre eles:

    Observar; contatar diretamente;refletir/meditar/pensar; estar cercado/estar dentro;perceber; criticar; opinar; cuidar; conscientizar;ver; sentir; valorizar/dar importância;preservar/cuidar; relatar; entender; conhecermelhor; “auto-melhorar” (neologismo criado porum dos sujeitos).

    É necessário observar a diferenciação entre “ oajudar a pensar ” disposto na pergunta, com aquantidade de verbos utilizados nas respostaspelos sujeitos, já que verbos são palavras quesugerem ação (FERREIRA, 1986) e, até mesmo,o desejo de intervenção, na medida do possível.

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    Retornado a Thompson e Barton (1994), osquais alertam para a grande dificuldade de semanter regras conservacionistas, já que aspessoas não agem ou não se comportam deacordo com suas atitudes; essa diferenciaçãoentre o “ajudar a pensar ” e os verbos devolvidoscomo resposta indicam uma intenção, umatendência, mas que não necessariamente setraduzirá numa ação, em um comportamento.Este aspecto corrobora a teoria da dissonânciacognitiva apontada por Festinger (1975) epermeada nas reflexões de Schwartz (1997).

    A tabulação geral de todas as fases dasrespostas permitiu uma divisão das opiniões emtrês grandes grupos: temas ambientais, questõesambientais e percepção de processos. Os “temasambientais” são os assuntos normalmenteencontrados na literatura (desmatamento,degradação, lixo, etc).

    As “questões ambientais” foram divididas emdilema ecológico e questão socioambiental. Odilema ecológico foi denominado como umconjunto de situações de temática ambiental, comresoluções difíceis e/ou penosas, em que se optapelo desenvolvimento com seus benefícios emalefícios, ou pelo retrocesso/retorno ao estadoprimitivo com suas conseqüências favoráveis edesfavoráveis.

    Esse tema pode ser pensado em termosindividuais dentro dos microssistemas, ou, deforma mais abrangente, envolvendo osmacrossistemas (econômicos e as culturas). Aafirmação de Schultz et al (2004), ao assinalaremque a tendência de rejeição tem aumentado emrelação ao estilo de vida consumista, nos paísesricos, estando relacionados a comportamentosindividuais mais positivos associados aoambiente, pode ser um exemplo disto. A questãosocioambiental está relacionada à reflexão sobreas desigualdades sociais ocultas no discursoecológico.

    A “percepção de processos” pressupõe que

    um conteúdo é algo construído numa sucessãode estados e mudanças, num seguimento, numamarcha (FERREIRA, 1986). Sendo assim, em76,6% apareceram os grandes “temasambientais”, dentre eles, o desmatamento, o qualapareceu em 26,09%; a beleza cênica e adegradação, em 17,39% cada; lixo, em 13,04%;água e saúde ambiental, em 8,70% cada;consciência dos peregrinos, em 6,52% e extraçãode areia, em 2,17%.

    Com 16,67% dos votos, foram citadas as“questões ecológicas’. Nesse item, os dilemasecológicos representaram 60% das respostas e aquestão socioambiental 40% das mesmas. Com6,67%, foram evidenciados “aspectos da

    alteração ambiental, ocorrendo no próprio‘Caminho da Fé’”, percebidos principalmenteantes do início da caminhada.

    Antes de começar a caminhada , o maiorpercentual relacionava-se com as alterações domeio, percebidas em 23,09% das respostas.Como todos os participantes eram urbanos e

    haviam chegado ao destino inicial (local deobtenção da credencial) por meio de ônibus, aviagem até o local de credencial já haviaproporcionado a visão de uma transição entre osambientes degradados das grandes cidades e oambiente rural da trilha, o que foi ilustrado pelasfalas de dois sujeitos: “...quero observar asalterações do meio ambiente e relatar passo a passo o percurso ” ou ainda, “...mesmo antes deiniciar a caminhada é possível passar porambiente urbanos degradados e ambientes ruraispreservados”.

    O segundo maior percentual foi para o dilemaecológico, a beleza cênica e a degradação, com15,37% cada um e, empatados com 7,70%, ostemas relacionados ao desmatamento, à água, àsaúde e ambiente e às questões socioambientais.

    Com relação ao dilema ecológico, osresultados puderam ser reforçados por intermédiode alguns dos discursos dos participantes sobre oassunto, com aparência de discurso romântico(RODRIGUES, 1979), no qual as palavras tempo,produção e cultura estão articuladas de formacontraposta, como, por exemplo, nessaafirmação: “...longe da população e da sociedadeé que se dá importância para a natureza”; ouainda: “A observação e o contato de perto e “devagar” com a natureza permite observá-lamelhor – da janela do carro é distante... éfugaz”, em um discurso de tom maiscontemporâneo.

    Nos comentários que seguem é possívelobservar a disposição de reflexão dos sujeitos,encadeando noções de tempo e espaço: “Aobservação e a reflexão seguem a velocidade da

    caminhada. Há tempo suficiente para pensar eobservar”, ou ainda, em afirmação proferida poroutro caminhante: “O contato direto, navelocidade dos passos, contribui para aobservação mais acurada e com tempo parareflexão sobre a preservação”.

    A relevância de se pinçar esses trechos dediálogos está em mostrar que, ao longo docaminho, os sujeitos tinham questionamentos,conflitos, dilemas, interiorizavam e refletiam sobreisso. Desse modo, as alterações que estavamacontecendo com eles não eram somente doâmbito dos estados de ânimo, mas do “corpo”como um todo.

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    A beleza cênica colocada com o mesmopercentual da degradação, ambas incluídas nogrande grupo dos temas ambientais, tambémrefletia o dilema dos participantes: “A trilhacolabora para a percepção do grau dedegradação... Mesmo com tanto verde, adegradação é perceptível”. Esse resultado étambém apontado por Loureiro (2000), o qualafirma que a noção de crise e de ameaça àsobrevivência, aliada ao distanciamento entreteoria social e questão ambiental, facilitou apassagem de um ambientalismo “românticoingênuo”, que sacralizava a natureza, para aconsolidação de uma nova versão, maispragmática e utilitarista.

    Durante a caminhada , o desmatamento foi oprincipal aspecto das reflexões ambientais,aparecendo em 29,16% das respostas; o lixoocupou o segundo lugar, em 25%; em 16,67%, os

    participantes destacaram a beleza cênica; em12,50% a degradação; em 8,33% a saúde e oambiente e, em 4,17% cada, a extração de areia, juntamente com o dilema ecológico: tempo,produção e natureza. Interessante ilustrar comoos participantes percebiam o desmatamento: “...muito verde... mas muitas áreas devastadasforam transformadas em pastos. Falta mataciliar... Tem corte irregular de madeira. Roça nasmatas... Falta mata nos morros”.

    As observações dos participantes têm sentidoporque o intenso uso da terra, ocorrido após oséculo XIX principalmente pela monoculturacafeeira, provocou, por um lado, o contínuodesmatamento e, por outro, o desenvolvimentoeconômico do Estado e do País, como afirmamWanderley et al (2007).

    O tema “Lixo” aparece sob três ângulosdiferenciados. Um deles é gerado pelo própriomunicípio que faz parte do caminho. O segundo,de pouca expressividade, é ocasionado peloscaminhantes que realizam a trilha e, em últimoângulo, o “lixo” de grande volume, com

    conseqüências bastante graves e que apenas égerado nos locais de romaria, ou seja, nomunicípio onde se inicia o percurso (Tambaú/SP)e ao final (Aparecida/SP), proveniente dodeslocamento de massas turísticas, denominadasaqui como trânsito de romeiros.

    O lixo gerado pelas cidades é o resultado dasdiretrizes adotadas pela política pública,específica de cada comunidade. Entretanto, osmunicípios que fazem parte do trajeto, deveriamtornar efetiva a expectativa de umdesenvolvimento sustentável local por meio doturismo, pois da mesma forma que o recursonatural, o entorno e os serviços básicos deabastecimento merecem manutenção,

    restauração e melhoria para a própria população,esta também é uma condição básica para o fluxoturístico(PEARCE,1981; KRIPPENDORF,1989).

    Tanto essa afirmação é verdadeira que, SãoBento do Sapucaí e Sapucaí Mirim, foramexcluídas do trajeto do “Caminho da Fé”, ao finalde 2006, em função da degradação ambiental.Não é só lixo que é gerado pelas AFAN. Váriasde suas práticas, principalmente as que utilizammotores, no caso do “Caminho da Fé”, osveículos off-roads (4 x 4; motos e gaiolas),produzem alto impacto ecológico, como adestruição da vegetação, agressão à faunasilvestre, incêndios, lixo, erosão, colocando emrisco ecossistemas frágeis.

    A ausência de indicadores de capacidade decarga que um atrativo turístico natural como umatrilha pode suportar sem sofrer alterações deixoude ser uma preocupação somente para os

    receptores, mas passou a ser uma outracondição para o fluxo de turistas, além docuidado da comunidade com seu própriomunicípio. No “Caminho da Fé”, existe umapressão social por parte dos próprioscaminhantes na preservação ambiental. Issopode ser ilustrado por meio da seguinte citaçãode um dos participantes: “A degradação danatureza é mal vista pelos moradores da região epelos peregrinos”.

    Corral-Verdugo e Pinheiro (1999) acrescentamque, independentemente do perfil do público,algumas ações das variáveis situacionais podeminterferir no comportamento pró-ambiental. Sãocitadas: a pressão social para cuidar doambiente, os arranjos planejados para que aconservação seja mais conveniente para ossujeitos e o efeito dos lembretes (prompts ou“bilhetinhos”) no comportamento de cuidado dosrecursos naturais. Em relação ao caminho, osperegrinos, não raro, guardavam seusguardanapos e plásticos de barra de cereal namochila; havia certo monitoramento silencioso

    entre os participantes.O deslocamento de massas turísticas provocaum impacto negativo no ambiente e entorno, emfunção da inadequação da capacidade de suportedo local receptivo. Em relação ao “Caminho daFé”, isso foi notado em dois momentos, durante aestada em Tambaú e na chegada a Aparecida.Em Tambaú, neste estudo tomado como marcoinicial do percurso, tem-se a figura do PadreDonizette, cuja fama de milagres difundiu-seatraindo romarias de pessoas à cidade,procurando restabelecimento e esperança(AZEVEDO, 2003).

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    No ano de 1955, o lixo dos romeiros eraqueimado em frente à Igreja Matriz e a PrefeituraMunicipal da época dispunha apenas de dozevarredores de rua. Essa situação foi modificada e,atualmente, as romarias em finais de semanacontinuam acontecendo, mas houve umaadequação da infra-estrutura da cidade pararecebê-las.

    Em Aparecida/SP, ponto final do “Caminho daFé”, durante o ano todo, a cidade receberomarias de até 1.500 pessoas, utilizando váriosmeios de transporte (ônibus fretados, cavalos,motos), além do fluxo de sete milhões de veículosao ano, provenientes de todas as regiões doBrasil, o que ocasiona um inchaço urbano(SANTUÁRIO, 2005).

    Essa população flutuante convive com apopulação efetiva da cidade de aproximadamente35 mil habitantes em uma área de 121 km²

    (APARECIDA, 2005), sendo que, no dia 12 deoutubro, durante a Festa de Nossa Senhora daAparecida, são reunidos mais de 100 mil fiéis noSantuário (MARQUES SILVA, 2005).

    Sendo assim, há a preocupação pública eprivada em absorver, não só o comportamento deconsumo e gastos desse público, mas, também, oimpacto estrutural que essas demandas sazonaisexigem, no que tange à disponibilidade deinstalações, hospedagens, saneamento e limpezapública, tráfego (desde o fechamento de ruas quecircundam as festas ao controle do trânsito decarros, motos, ônibus de excursão e de linha,cavalos), ao oferecimento de equipamentos eserviços, tanto de saúde (ambulâncias e plantãode funcionários para o atendimento de eventuaisocorrências), como turísticos (patrocinando,promovendo e divulgando os shows ). Porém,ocorreram alterações ambientais importantes nacidade e em seu entorno, afetando as condiçõesde vida humana, dentre elas, contaminação derios por esgoto doméstico, deslizamento deencostas, doenças endêmicas, presença devetores e esgoto a céu aberto (

    BRASIL, 2002).Embora o desenvolvimento permitido pela

    tecnologia potencialize grandes avanços epossibilite construir mecanismos que tornem maisfáceis os deslocamentos e a vida da maioria daspessoas, para a resolução da equaçãodesenvolvimento e sustentabilidade, o serhumano não pode ser eximido de suaresponsabilidade, pois suas ações, mesmo queaparentemente irrelevantes, são capazes decausar danos consideráveis ao ambiente.

    Portanto, fica evidente a relevância daconscientização, para que se venha interferir emmenor escala no meio, sem interromper os ciclos

    naturais, não só em momentos de prática deatividades na natureza, mas também, em todosos seus contatos e experiências com o meio,agindo com ele e não contra ele, alerta Marinho (2001).

    Ao final da caminhada o “desmatamento”permaneceu com percentual mais alto (16,67%).

    Posteriormente, apareceram todos empatadoscom 12,50%: a “água”, a “preservação docaminho”, a “conscientização dos peregrinos, o“dilema ecológico” e a “questão socioambiental”.Depois vieram “beleza cênica”, “saúde eambiente”, com 8,33% cada uma delas, e,encerrando, a “extração de areia” e o “dilemaecológico”, com 4,17%.

    Todos os outros itens já foram discutidosanteriormente, por esse motivo será dadaatenção especial nesse momento à água potável,a qual, durante o “Caminho da Fé”, setransformou também em uma questãosocioambiental, a partir do momento em quedeveria ser um recurso disponível básico e dequalidade, em qualquer lugar, para todas aspessoas.

    No caso do “Caminho da Fé”, a água tem aconotação de sobrevivência e está diretamenterelacionada às questões ambientais urbanas. Oscomentários dos participantes sobre a águarefletem essa preocupação. Um dos sujeitossalientou a “...falta tratamento de água e esgoto”;enquanto outro participante comentou: “ ...Vocêpercebe que não é nada sem um simples copo d’água. NAAAADAHH! ”, ou ainda na fala de umterceiro participante: “...a gente começa a darvalor as coisas mínimas, como um copo deágua”. As três declarações se referiam àdificuldade de água potável em alguns trechos do caminho e no receio de beber a água das bicas,que poderiam estar contaminadas, considerandoa virose de que alguns dos participantes foram acometidos durante o trajeto por esse motivo.

    Acreditando ilustrar como a caminhadacolaborou com a reflexão sobre a preservaçãoambiental, será relatada uma curiosidadeacontecida no final do percurso. Três sujeitos quepercorreram o caminho em dias alternadoscriticaram seriamente o mesmo lixão a céu abertocom um matadouro irregular próximo, na periferiade Sapucaí-Mirim/MG. Um desses sujeitos,penalizado pelas crianças recolhendo o lixo, fez oseguinte depoimento sobre o quê aprendeu como “Caminho da Fé”: “...conhecer melhor asnecessidades das comunidades dependentes danatureza”.

    Colabora com as reflexões, o enunciado deLoureiro (2000, p. 32):

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    a simples percepção e sensibilização para aproblemática ambiental não expressa aumentode consciência, o que faz com que se retome oargumento sobre cidadania: a consciênciaecológica, para ser ecológica, precisa ser crítica .

    O incômodo causado pela situaçãosocioambiental das crianças que vivem do lixãogerou imagens e críticas, não só desses

    participantes, mas de tantos outros querealizaram o caminho. No entanto, isso não lhesmelhorou a vida, apenas a cidade foi retirada dotrajeto, o que não garante mudanças.

    Considerações FinaisCom base nas respostas a mesma pergunta,

    realizada em três momentos diferentes dacaminhada, conseguiu-se perceber que osestados emocionais estiveram presentes durantea atividade, sendo indiretamente responsáveispor reflexões importantes. Houve internalização

    de alguns valores e o desenvolvimento deatitudes mais positivas em relação ao meioambiente.

    Infere-se, com isso, a possibilidade de atitudeselaboradas a partir da presença e participaçãoem atividades de aventura no contexto do lazerna natureza serem catalisadoras docomportamento pró-ambiental. Estes resultadosevidenciam a premência de novos estudos,levando em consideração as subjetividadesenvolvendo a participação humana na natureza.

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    Esse artigo foi apresentado em Sessão Temáticano VI Congresso Internacional de EducaçãoFísica e Motricidade Humana e XII SimpósioPaulista de Educação Física, realizado peloDepartamento de Educação Física do IB/UNESPRio Claro, SP de 30/4 a 03/5 de 2009.

    Endereço:Jaqueline Costa Castilho MoreiraR. Comendador Alfaya Rodrigues, 437- ap. 12Santos SP Brasil11025-153

    Tel/fax: (13) 3301-9162 e-mail: [email protected]

    Recebido em: 10 de fevereiro de 2009. Aceito em: 03 de abril de 2009.

    Motriz. Revista de Educação Física. UNESP, Rio Claro,SP, Brasil - eISSN: 1980-6574 - está licenciada sob

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