Camille Paglia está preocupada com a decadência cultural

1
4b Correio do Estado Sábado, 21 de maio de 2011 Canal ZAP E-mails para esta coluna: [email protected] | Manoela Reis Agora vale tudo Com tempero A terceira edição do “Super chef” vai ao ar em julho. Desta vez, o reality show do “Mais você” vai colocar donas de casa boas de fogão para competir com “chefs” formados em universidades. A Globo já recebeu mais de 15 mil inscrições para o “reality” gastronômico apresentado por Ana Maria Braga. Nas edições anteriores, em 2008 e 2009, foram 8 mil e 10 mil inscritos, respectivamente. Desespero A dificuldade para compor um elenco de novela está cada vez maior. Que o diga Aguinaldo Silva. O autor de “Fina estampa”, próxima novela das nove, está usando sua página no Twitter para escalar atores. “Procura-se ator de 50 anos para ser personagem importante em ‘Fina estampa’: quem se habilita?”, escreveu. Para Aguinaldo, atores jovens têm de sobra e os poucos maduros já estão ocupados. Segundo ele, as gravações da trama já começam daqui a duas semanas. Quase certo O “Agora é tarde”, da Band, tem nova data de estreia. O programa de Danillo Gentilli está previsto para ir ao ar dia 1º de junho. A emissora, inclusive, já começou a produção do programa do integrante do “CQC”. As gravações seiniciaram na última quarta-feira, nas ruas de São Paulo. Com um cronômetro na mão, o humorista fez uma pesquisa com o público. Além das externas, o programa vai contar com a banda Ultraje a Rigor tocando, ao vivo, no palco e ainda um quadro com o humorista Marcelo Mansfield. Sem surpresas Depois do beijo lésbico protagonizado por Luciana Vendramini e Gisele Tigre em “Amor e revolução”, Tiago Santiago já escreve um beijo entre personagens homens. Desta vez, o autor quer avisar o telespectador antes da cena ir ao ar. Para não assustar, um locutor vai dizer o que acontecerá na cena seguinte entre Chico e Jeová, personagens de Carlos Thiré e Lui Mendes. O segundo beijo “gay” está previsto para ir ao ar em julho. Segundas intenções Longe das novelas desde “Tempos modernos”, Regiane Alves se prepara para voltar ao ar. A atriz está no elenco de “A vida da gente”, próxima novela das seis. Na trama, ela será Cris, uma “personal trainer” que fará de tudo para se dar bem, inclusive, acabar com o casamento de um de seus alunos, interpretado por Paulo Betti. Como a novela estreia em setembro, Regiane já está de dieta e seguindo uma rotina de exercícios que incluem musculação e pilates. PEDRO PAULO FIGUEIREDO/CZN Foi bem Para Osmar Prado, em “Cordel encantado”. As cena do delegado Batoré, seu personagem na trama, garantem momentos hilários. Foi mal Para Alexandre Frota, que está no elenco de “A praça é nossa”. Fantasiado de super-herói, o ator está engessado e não consegue ser engraçado. Rápidas A corrida para ser eleita a mulher mais bonita do Brasil começa nesta sábado. A Band transmite o Miss Minas Gerais, às 22h30min. Adriane Galisteu vai apresentar o concurso. No “Medida certa” deste domingo, Renata Ceribelli vai até Fortaleza acompanhar um grupo de pessoas que estão seguindo as dicas do quadro para entrar em forma. Já Zeca Camargo avalia a qualidade de seu sono. O quadro é exibido no “Fantástico”, a partir das 20h45min, na Globo. Álvaro Garneiro e seu companheiro de viagens José Ramalho embarcam para a Rússia. Lá, eles visitam o túmulo de Lênin e aprendem a pintar as típicas bonecas “mamuskas”. “50 por 1” vai ao ar hoje, às 23h, na Record. Mateus Solano aprecia o Rio de Janeiro do alto. O ator e Angélica fazem um passeio de helicóptero no “Estrelas”, às 13h50min. L ázaro Ramos é fã de Gilberto Braga. E não é só porque está no ar como o “galinha” André de “Insensato coração” escrita por Gilberto e Ricardo Linhares. “É um autor que sempre admirei e acompanhei”, destaca ele, que não chegou a assistir “Vale tudo”, sucesso de Gilberto exibido em 1988. “Quando era criança, existiam regras bem rígidas quanto à televisão. Meu pai fazia um controle e acabei não acompanhando”, lembra. Agora que a trama está sendo reprisada no canal pago “Viva”, o ator não perde um capítulo. CONGRESSO INTERNACIONAL DE JORNALISMO CULTURAL A historiadora e ensaísta desmascarou ícones, disse que a internet empobrece a cultura e vê riscos das gerações futuras perderem a visão crítica do mundo Camille Paglia está preocupada com a decadência cultural Camille Paglia: “Não existem mais filtros. Ninguém procura discutir porque gostou ou não de um filme” DIVULGAÇÃO DROPS Painéis de Portinari Terminados os traba- lhos de restauração feitos no Rio de Janeiro, os pai- néis “Guerra e Paz”, de Can- dido Portinari, que desde fevereiro estavam no Palá- cio Gustavo Capanema, no Centro do Rio, seguem para a capital de São Paulo, que será o ponto de partida pa- ra exposições itinerantes. De lá, os painéis devem seguir para China, Índia, Rússia e Noruega, até que retornem à sede da ONU, em Nova York, em 2013. A ida para São Pau- lo foi sacramentada há uma semana com a assinatura de um contrato de patrocínio entre o Projeto Portinari e a holding Brazilian Finance & Real Estate (BFRE), que vai investir R$ 2,5 milhões. A ex- posição será gratuita e o lo- cal deve ser a Oca do Parque do Ibirapuera. José Mayer em musical O ator de novelas estará em “O violinista no telhado”. Numa superprodução da dupla de diretores Charles Möeller e Cláudio Botelho, José Mayer é o protagonis- ta do musical. Pai de cinco filhas, o rústico Tevye é o leiteiro de um vilarejo judeu encravado na Rússia Czaris- ta. E dos tempos de galã , permanece o vozeirão, ainda mais potente. Durante oito semanas, o elenco do musical ensaiou no Teatro Teresa Raquel, em Copa- cabana, que está fechado para o público. Foi lá que José Mayer foi cada vez mais incorporan- do o camponês russo que viveu na passagem do século XIX pa- ra o século XX. Nova mamãe A atriz francesa Marion Cotillard deu a luz a seu pri- meiro filho, Marcel. Segundo o site da revista “Elle”, o bebê, que nasceu na quinta-feira, se chama Marcel, talvez em homenagem ao campeão de boxe Marcel Cerdan, o grande amor de Edith Piaf, também conhecida como “La Môme”. O também ator francês Guillaume Canet, compa- nheiro da atriz, “está en- cantado” com o nascimento do bebê, explicou a revista. Marion Cotillard (1975) e Guillaume Canet se conhe- ceram em 2003, na filma- gem de “Jeux d’Enfants”. THIAGO ANDRADE Imagine a erudição dos inte- lectuais formados na efervescên- cia cultural da década de 1970, mas com grande apreço pela cultura pop e erudita. Assim é a historiadora da arte, professora e ensaísta Camille Paglia, que participou de conferência no III Congresso Internacional de Jor- nalismo Cultural, em São Paulo, promovido pela Revista Cult em parceria com o Sesc/SP. Beirando a hiperatividade, a pensadora ítalo-americana dis- cutiu com o público sua vida, suas pesquisas e sua visão sobre o mundo contemporâneo, que vive um estágio de decadência cultural que não se sabe aonde levará todos. Desmascarando ícones atu- ais como Lady Gaga, que para Camille não passa de um em- buste que quer se tornar rainha dos excluídos, a ensaísta pon- tuou que na atualidade as novas tecnologias estão produzindo mudanças de paradigmas entre os jovens. “É um movimento natural da cultura, que se repete ciclicamente. Ela passa por está- gios de grande desenvolvimento e de esfacelamento. Mas o velho se destrói para criar algo novo, por isso não sou saudosista e não choro as perdas”, descreve. Filha de pais católicos con- servadores, ela assumiu a ho- mossexualidade no final dos anos 60, tornou-se um dos principais nomes do feminismo, é ateia, mas respeita o cristianis- mo, mesmo que em sua versão pagã. “Eu prefiro entender o mun- do, a realidade, de maneira meta- física, mais espiritualizada. Não aguento a visão pós-estruturalis- ta que quer reduzir o mundo à materialidade da linguagem. Por isso acredito no sexo e na força violenta da natureza. O homem não domesticou o mundo”, cri- tica Camille. Polêmica Desde sua tese de doutora- do, “Personas sexuais: arte e decadência de Nefertiti à Emily Brönte”, seu pensamento sempre se voltou para temas polêmicos como a sexualidade e o sadoma- soquismo. Uma verdadeira pagã romântica, Camille também é apaixonada pelo cinema clássi- co de Hollywood, época em que as películas eram estreladas por atrizes como Elizabeth Taylor e Ava Gardner. Atualmente, ela escreve um trabalho sobre a história das artes visuais, escrito para o público em geral. Camille contou em sua palestra que vê na cantora Daniela Mercury a energia e a força que a levaram a definir Madonna, no início dos anos 90, como o futuro do feminismo. Para a historiadora, o Brasil conserva em si grandes manifestações em louvor à vi- da e à sexualidade. Exemplos: o carnaval e ritmos musicais co- mo o axé. “Mesmo em um mun- do que perde sua cor, pois tudo se banaliza cotidianamente, o País de vocês tem essa energia”, pontuou. Perdas Diante do mundo marcado pela internet, pela informação abundante e pela tecnologia digital, Camille vê riscos das ge- rações futuras perderem a visão crítica do mundo. “Não existem mais filtros. Ninguém procura discutir porque gostou ou não de um filme ou de um livro. As pessoas consomem informação, mas não pensam nela”, conside- ra. Para ela, a esterilidade da ar- te erudita é a prova maior dessa realidade. “Os artistas mais inte- ressantes e mais ligados no mun- do não fazem arte, mas produtos e projetos de design industrial”, aponta a historiadora, que é pro- fessora na Philadelphia College of the Performing Arts. Mas apesar de suas inúmeras críticas, Camille também vê na web possibilidades de democra- tização do consumo e da pro- dução de artes plásticas na con- temporaneidade. Segundo ela, o mais importante nesse meio é que acham formas de procu- rar informações de qualidade. “A Wikipédia se tornou a maior enciclopédia do mundo, mas qualquer pessoa pode alterá-la. Como supor que aquilo pode ser verdade? Não sei, mas a maioria dos meus alunos acha que pode confiar naquilo que leem por lá”, finaliza, após ser avisada que o tempo da coletiva havia se en- cerrado. No que dependesse de Camille, a conversa prosseguiria por horas a fio. Quem tiver interesse em co- nhecer mais sobre o universo de Camille, pode acessar o site www.salon.com. Com textos em inglês, a ensaísta publica seus es- critos todas as quartas-feiras. No espaço ela discute questões sobre diversos aspectos da cultura.

description

Entrevista com a ensaísta norte-americana durante o III Congresso de Jornalismo Cultural.

Transcript of Camille Paglia está preocupada com a decadência cultural

Page 1: Camille Paglia está preocupada com a decadência cultural

4bCorreio do EstadoSábado, 21 de maio de 2011Canal ZAP

E-mails para esta coluna: [email protected] | Manoela Reis

Agora vale tudoCom temperoA terceira edição do “Super chef” vai ao ar em julho. Desta vez, o reality show do “Mais você” vai colocar donas de casa boas de fogão para competir com “chefs” formados em universidades. A Globo já recebeu mais de 15 mil inscrições para o “reality” gastronômico apresentado por Ana Maria Braga. Nas edições anteriores, em 2008 e 2009, foram 8 mil e 10 mil inscritos, respectivamente.

DesesperoA dificuldade para compor um elenco de novela está cada vez maior. Que o diga Aguinaldo Silva. O autor de “Fina estampa”, próxima novela das nove, está usando sua página no Twitter para escalar atores. “Procura-se ator de 50 anos para ser personagem importante em ‘Fina estampa’: quem se habilita?”, escreveu. Para Aguinaldo, atores jovens têm de sobra e os poucos maduros já estão ocupados. Segundo ele, as gravações da trama já começam daqui a duas semanas.

Quase certoO “Agora é tarde”, da Band, tem nova data de estreia. O programa de Danillo Gentilli está previsto para ir ao ar dia 1º de junho. A emissora, inclusive, já começou a produção do programa do integrante do “CQC”. As gravações seiniciaram na última quarta-feira, nas ruas de São Paulo. Com um cronômetro na mão, o humorista fez uma pesquisa com o público. Além das externas, o programa vai contar com a banda Ultraje a Rigor tocando, ao vivo, no palco e ainda um quadro com o humorista Marcelo Mansfield.

Sem surpresasDepois do beijo lésbico protagonizado por Luciana Vendramini e Gisele Tigre em “Amor e revolução”, Tiago Santiago já escreve um beijo entre personagens homens. Desta vez, o autor quer avisar o telespectador antes da cena ir ao ar. Para não assustar, um locutor vai dizer o que acontecerá na cena seguinte entre Chico e Jeová, personagens de Carlos Thiré e Lui Mendes. O segundo beijo “gay” está previsto para ir ao ar em julho.

Segundas intençõesLonge das novelas desde “Tempos modernos”, Regiane Alves se prepara para voltar ao ar. A atriz está no elenco de “A vida da gente”, próxima novela das seis. Na trama, ela será Cris, uma “personal trainer” que fará de tudo para se dar bem, inclusive, acabar com o casamento de um de seus alunos, interpretado por Paulo Betti. Como a novela estreia em setembro, Regiane já está de dieta e seguindo uma rotina de exercícios que incluem musculação e pilates.

PEDRO PAULO FIGUEIREDO/CZN

Foi bem

Para Osmar Prado, em “Cordel

encantado”. As cena do delegado

Batoré, seu personagem na trama,

garantem momentos hilários.

Foi mal

Para Alexandre Frota, que está

no elenco de “A praça é nossa”.

Fantasiado de super-herói, o ator

está engessado e não consegue ser

engraçado.

Rápidas

A corrida para ser eleita a mulher mais

bonita do Brasil começa nesta sábado. A Band

transmite o Miss Minas Gerais, às 22h30min.

Adriane Galisteu vai apresentar o concurso.

No “Medida certa” deste domingo, Renata

Ceribelli vai até Fortaleza acompanhar um

grupo de pessoas que estão seguindo as dicas

do quadro para entrar em forma. Já Zeca

Camargo avalia a qualidade de seu sono. O

quadro é exibido no “Fantástico”, a partir das

20h45min, na Globo.

Álvaro Garneiro e seu companheiro de

viagens José Ramalho embarcam para a

Rússia. Lá, eles visitam o túmulo de Lênin

e aprendem a pintar as típicas bonecas

“mamuskas”. “50 por 1” vai ao ar hoje, às 23h,

na Record.

Mateus Solano aprecia o Rio de Janeiro do

alto. O ator e Angélica fazem um passeio de

helicóptero no “Estrelas”, às 13h50min.

Lázaro Ramos é fã de Gilberto Braga. E não é só porque está no ar como o “galinha” André de “Insensato coração” escrita por Gilberto e Ricardo Linhares. “É um autor que sempre admirei e acompanhei”, destaca ele,

que não chegou a assistir “Vale tudo”, sucesso de Gilberto exibido em 1988. “Quando era criança, existiam regras bem rígidas quanto à televisão. Meu pai fazia um controle e acabei não acompanhando”, lembra. Agora que a trama está sendo reprisada no canal pago “Viva”, o ator não perde um capítulo.

CONGRESSO INTERNACIONAL DE JORNALISMO CULTURAL A historiadora e ensaísta desmascarou ícones, disse que a internet empobrece a cultura e vê riscos das gerações futuras perderem a visão crítica do mundo

Camille Paglia está preocupada com a decadência cultural

Camille Paglia: “Não existem mais filtros. Ninguém procura discutir porque gostou ou não de um filme”

DIVULGAÇÃO

DROPS

Painéis de Portinari Terminados os traba-

lhos de restauração feitos no Rio de Janeiro, os pai-néis “Guerra e Paz”, de Can-dido Portinari, que desde fevereiro estavam no Palá-cio Gustavo Capanema, no Centro do Rio, seguem para a capital de São Paulo, que será o ponto de partida pa-ra exposições itinerantes. De

lá, os painéis devem seguir para China, Índia, Rússia e Noruega, até que retornem à sede da ONU, em Nova York, em 2013. A ida para São Pau-lo foi sacramentada há uma semana com a assinatura de um contrato de patrocínio entre o Projeto Portinari e a holding Brazilian Finance & Real Estate (BFRE), que vai investir R$ 2,5 milhões. A ex-

posição será gratuita e o lo-cal deve ser a Oca do Parque do Ibirapuera.

José Mayer em musicalO ator de novelas estará

em “O violinista no telhado”. Numa superprodução da

dupla de diretores Charles Möeller e Cláudio Botelho, José Mayer é o protagonis-ta do musical. Pai de cinco

filhas, o rústico Tevye é o leiteiro de um vilarejo judeu encravado na Rússia Czaris-ta. E dos tempos de galã , permanece o vozeirão, ainda mais potente.

Durante oito semanas, o elenco do musical ensaiou no Teatro Teresa Raquel, em Copa-cabana, que está fechado para o público. Foi lá que José Mayer foi cada vez mais incorporan-

do o camponês russo que viveu na passagem do século XIX pa-ra o século XX.

Nova mamãeA atriz francesa Marion

Cotillard deu a luz a seu pri-meiro filho, Marcel. Segundo o site da revista “Elle”, o bebê, que nasceu na quinta-feira, se chama Marcel, talvez em homenagem ao campeão de

boxe Marcel Cerdan, o grande amor de Edith Piaf, também conhecida como “La Môme”.

O também ator francês Guillaume Canet, compa-nheiro da atriz, “está en-cantado” com o nascimento do bebê, explicou a revista. Marion Cotillard (1975) e Guillaume Canet se conhe-ceram em 2003, na filma-gem de “Jeux d’Enfants”.

THIAGO ANDRADE

Imagine a erudição dos inte-lectuais formados na efervescên-cia cultural da década de 1970, mas com grande apreço pela cultura pop e erudita. Assim é a historiadora da arte, professora e ensaísta Camille Paglia, que participou de conferência no III Congresso Internacional de Jor-nalismo Cultural, em São Paulo, promovido pela Revista Cult em parceria com o Sesc/SP.

Beirando a hiperatividade, a pensadora ítalo-americana dis-cutiu com o público sua vida, suas pesquisas e sua visão sobre o mundo contemporâneo, que vive um estágio de decadência cultural que não se sabe aonde levará todos.

Desmascarando ícones atu-ais como Lady Gaga, que para Camille não passa de um em-buste que quer se tornar rainha dos excluídos, a ensaísta pon-tuou que na atualidade as novas tecnologias estão produzindo mudanças de paradigmas entre os jovens. “É um movimento natural da cultura, que se repete ciclicamente. Ela passa por está-

gios de grande desenvolvimento e de esfacelamento. Mas o velho se destrói para criar algo novo, por isso não sou saudosista e não choro as perdas”, descreve.

Filha de pais católicos con-servadores, ela assumiu a ho-mossexualidade no final dos anos 60, tornou-se um dos principais nomes do feminismo, é ateia, mas respeita o cristianis-mo, mesmo que em sua versão pagã.

“Eu prefiro entender o mun-

do, a realidade, de maneira meta-física, mais espiritualizada. Não aguento a visão pós-estruturalis-ta que quer reduzir o mundo à materialidade da linguagem. Por isso acredito no sexo e na força violenta da natureza. O homem não domesticou o mundo”, cri-tica Camille.

PolêmicaDesde sua tese de doutora-

do, “Personas sexuais: arte e decadência de Nefertiti à Emily

Brönte”, seu pensamento sempre se voltou para temas polêmicos como a sexualidade e o sadoma-soquismo. Uma verdadeira pagã romântica, Camille também é apaixonada pelo cinema clássi-co de Hollywood, época em que as películas eram estreladas por atrizes como Elizabeth Taylor e Ava Gardner.

Atualmente, ela escreve um trabalho sobre a história das artes visuais, escrito para o público em geral. Camille

contou em sua palestra que vê na cantora Daniela Mercury a energia e a força que a levaram a definir Madonna, no início dos anos 90, como o futuro do feminismo. Para a historiadora, o Brasil conserva em si grandes manifestações em louvor à vi-da e à sexualidade. Exemplos: o carnaval e ritmos musicais co-mo o axé. “Mesmo em um mun-do que perde sua cor, pois tudo se banaliza cotidianamente, o País de vocês tem essa energia”, pontuou.

PerdasDiante do mundo marcado

pela internet, pela informação abundante e pela tecnologia digital, Camille vê riscos das ge-rações futuras perderem a visão crítica do mundo. “Não existem mais filtros. Ninguém procura discutir porque gostou ou não de um filme ou de um livro. As pessoas consomem informação, mas não pensam nela”, conside-ra. Para ela, a esterilidade da ar-te erudita é a prova maior dessa realidade. “Os artistas mais inte-ressantes e mais ligados no mun-do não fazem arte, mas produtos

e projetos de design industrial”, aponta a historiadora, que é pro-fessora na Philadelphia College of the Performing Arts.

Mas apesar de suas inúmeras críticas, Camille também vê na web possibilidades de democra-tização do consumo e da pro-dução de artes plásticas na con-temporaneidade. Segundo ela, o mais importante nesse meio é que acham formas de procu-rar informações de qualidade. “A Wikipédia se tornou a maior enciclopédia do mundo, mas qualquer pessoa pode alterá-la. Como supor que aquilo pode ser verdade? Não sei, mas a maioria dos meus alunos acha que pode confiar naquilo que leem por lá”, finaliza, após ser avisada que o tempo da coletiva havia se en-cerrado. No que dependesse de Camille, a conversa prosseguiria por horas a fio.

Quem tiver interesse em co-nhecer mais sobre o universo de Camille, pode acessar o site www.salon.com. Com textos em inglês, a ensaísta publica seus es-critos todas as quartas-feiras. No espaço ela discute questões sobre diversos aspectos da cultura.