Camila Refineti
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Universidade Presbiteriana Mackenzie
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MANIPULAÇÕES TOPOLÓGICAS NAS ARQUITETURAS DE PETER EISENMAN E REM KOOLHAAS
Camila Refinetti Schiesari (IC) e Igor Guatelli (Orientador)
Apoio: PIBIC Mackenzie/MackPesquisa
Resumo
Na década de 90 com a maior acessibilidade de interfaces digitais de projeto, uma parcela significativa da investigação arquitetural contemporânea passou a explorar as novas possibilidades gráficas, geométricas e de cálculo, orientados pelo avanço computacional, e propôs traduções formais/ espaciais de termos e conceitos advindos topologia. Esta traz para o campo da Arquitetura uma quarta dimensão, que antes era desprezada, esta dimensão é o tempo. O artigo irá relacionar os dois arquitetos, Eisenman e Koolhaas, através de suas obras, analisando como cada arquiteto enfrentou as questões vinculadas à relações de espaço- tempo em Arquitetura.
Palavras-chave: topologia, processo de projeto, tempo
Abstract
In the 90's with the increased accessibility of digital interface design, a significant portion of contemporary architectural research began to explore the new possibilities graphic, geometric and calculation, guided by computational progress, and proposed translations formal / spatial terms and concepts from topology. This brings to the field of architecture a fourth dimension, which was previously neglected, this dimension is time. The article relates the two architects, Eisenman and Koolhaas, through his works, examining how each architect faced the issues of space-time.
Key-words: topology, design process, time
VII Jornada de Iniciação Científica - 2011
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INTRODUÇÃO
ARQUITETURA DA COMPLEXIDADE
A dissolução de fronteiras físicas a partir do mundo virtual deslocou muitos paradigmas do
mundo real. A globalização1, por se tornar um rompimento que estimule a formação e
construção de redes globais, tende a por um fim na identidade única, buscando referencias
em uma pluralidade cultural, que se inter-relacionam e se reinventam constantemente. A
identidade única estaria então, confirmada para sua extinção, tornando-se mais diversificada
devido à possibilidade de ter contato com essas redes formadas em diferentes escolas. A
troca de referências externas facilitado pela tecnologia modificou nossos hábitos, criando
uma identidade hibrida, cuja suas varias partes criam novas identidades que se transformam
constantemente em uma velocidade muito maior. Portanto a relação de espaço – tempo
também se altera, este avanço possibilitou que fronteiras físicas fossem cruzadas num
instante.
Numa época de grande volatilidade e transição a sociedade tende estar mais atenta a
percepção da complexidade, que passou a fazer parte do nosso cotidiano e também a
demandar do campo da Arquitetura, o que implica em um rompimento de fronteiras e
tradições devido aos “abusos” da diversidade. Aventurar-se no desconhecido tende nos
força a pensar; a explorar possibilidades e a criar. É nessa volatilidade, incertezas e
aparente caos que teorias Desconstrutivistas emergem e se apóiam, alimentando-se e não
ignorando o conflito e pluralidade de posições. E a partir dai que novas idéias aparecem.
“Desconstrução é primeiramente essa desestabilização em movimento nas, se pudéssemos
falar assim, coisas em si mesmas, mas ela não é negativa. A desestabilização é também
requerida para o progresso.” (WOLFREYS, 2009: 68)
O termo “desconstrução” articulado por Derrida vem da palavra contrue em inglês, que quer
dizer interpretar. O que está em questão aqui é o debate interior; a possibilidade de remover
uma marca de seu contexto e colocá-la em outro; e o que permanece para ser pensado e
refletido.
Antes das teorias desconstrucionistas, o movimento moderno, através de uma revolução
lingüística; estética; e projetual, também tentou romper com a tradição. Foram contra tudo
que já existia e tentaram recomeçaram do zero um mundo idealizado, que perdeu sua
estranheza para a perfeição, tentando abolir a contradição e os paradoxos. Os “heróis”
modernistas eternizaram suas Arquiteturas como sendo verdades existentes. O 1 O termo globalização neste contexto quer, especificamente, referir-se a indústria da produção cultural, cujo trabalho da crítica já está implícito. A indústria do entretenimento e divertimento, que muitas vezes pode ser associada ao termo da globalização, não nos interessa para esta discussão, por não possuir um poder de crítica e a possibilidade de mudar a estrutura, a instituição, o discurso e o hábito.
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funcionalismo passou a determinar a já limitada forma, porém engajado em um discurso de
busca da perfeição e pureza.
Em uma época que os meios de comunicação são diversos e a cada vez mais acessíveis, é
importante que o conhecimento não seja mais controlado ou reduzido a verdades. A
verdade já não tem mais um ponto de vista. O Desconstrucionismo rompe com esses
paradigmas e com o pragmatismo da “caixa bruta” moderna, a Arquitetura deixa de ser
associada a uma sociedade ideal e eterna e passa a aceitar a imperfeição, a instabilidade, o
efêmero, o imprevisto e a incerteza, defendendo a idéia da evolução – de Darwin- de que
não é a espécie mais forte ou inteligente que sobrevive, e sim a que é mais adaptável a
mudanças.
Essas transformações, nas maneiras de pensar e viver, provocaram um deslocamento do
homem do centro do seu mundo; desconstruíram valores e tentaram encarar tudo com
outros pontos de vista. Não cometeram o mesmo erro do Moderno de abolir tudo o que já
existia, pelo contrario, na complexidade tudo passa a ser considerado, todo ponto de vista
tem seu valor. “Enriquecer para mim não é dar um novo valor, mas descobrir o que foi
reprimido por valores antigos” (EISENMAN, 2006.)
Contudo, Desconstrutivismo não nega a função ou a forma, só não tornam estes conceitos
fatores determinantes para a resolução de um projeto, que é cada vez mais complexa.
Agora, a Arquitetura passa a ser admitida como portadora de significados, elementos que
sempre se referem a coisas externas ao edifício e que podem e têm conseqüências para
interferir na forma dele.
Desconstrutivismo não é um estilo ou método, e nem tem esta pretensão – É justamente
contra estas rotulações que esse pensamento se sustenta. Não pode existir um método que
proceda da mesma maneira em cada ocasião, porque estas se diferem. Não existe uma
metodologia porque cada caso exemplifica a si próprio. Cada caso prova sua singularidade,
transformando a liberdade de estilos em uma estratégia estilística.
Este mesmo conceito está também na Topologia, as trocas de relações – que é o “objetivo”
das manifestações topológicas- não possuem uma lógica, uma memória, em que cada
relação feita pudesse ser desfeita rapidamente e voltar ao que era antes. Não funciona
desta maneira, não se dá passo para trás, cada relação é única, mesmo que queira voltar, a
volta nunca será a exatamente como antes. A superfície está sujeita a infinitas
transformações e cada acontecimento é único.
Reiser e Umemoto, no livro “Atlas of a novel tectonics” (REISER, UMEMOTO, 2006) nos
trazem o tema da problemática da geometria euclidiana e as exclusões que esta provoca
limitando e regulando os materiais através de medidas e proporções. Apresentam-nos um
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novo modelo, que deve ser entendido como um intermediário entre as diferenças intensivas
e extensivas – Se referem aos fatores intensivos como sendo os indivisíveis; elasticidade;
pressão; densidade; cor; etc. E como fatores extensivos os divisíveis; medidas; massa;
modulação; tempo; volume; etc. Estes fatores trabalham juntos, a fim de propiciar a
materialidade de outras formas, além do “Belo”, que represente a diversidade, instabilidade,
a evolução, o percurso, prevendo uma alternativa à geometria dominada, regrada,
antropomórfica euclidiana.
A reavaliação da geometria expõe uma suposta crise do objeto e uma nova concepção
universal do espaço, explorando as possibilidades da geometria a partir de outros pontos de
vista, que a tratam como uma superfície sem espessura ou dimensão, escala, ou qualquer
tipo de hierarquia, liberando-a de qualquer forma ou função pré-determinada.
“Uns vêem a geometria como um gerador de ferramentas, outros vêem a geometria como
um meio de domesticar a matéria dentro de um espaço métrico.” (REISER, UMEMOTO,
2006)
A geometria ortogonal e fechada esteve associada à forma arquitetônica por muito tempo, e
só nas ultimas décadas, com o tema da complexidade e da produção tridimensional cada
vez mais presente, alguns arquitetos ousaram desobedecê-la. O deslocamento da maneira
de pensar, que explora as múltiplas possibilidades e referencias; a criatividade e a reflexão,
acarretada pelo avanço tecnológico, tanto dos meios de produção - através de novas
tecnologias que investigam e tentam desregrar a geometria - como dos materiais de
construção, proporcionam um “modelo” abstrato de materialidade, o que implica tanto
conceitualmente como efetivamente na abertura da geometria.
Para os Desconstrutivistas o seu objeto de estudo é visto como um sistema inter-
relacionado com suas partes e é o estudo do conjunto e de seus elementos estruturante
entre si que vão permitir o entendimento do todo, tornando o todo mais do que as soma de
suas partes, mas um todo único, no qual qualquer acontecimento, mudança de relação que
ocorra em uma das suas partes, o afetará. A fluidez entre as partes e o todo buscada neste
“sistema” esta em permanente transformação que precisa ser entendido quais são as leis
que regem a sua transformação e quais as possibilidades de variação permitida dentro
deste sistema. Nesta pratica alguns arquitetos se auxiliam da topologia para a modelagem
de superfícies. Sob esta condição as questões de variação da geometria e
conseqüentemente de “liberação” da pratica arquitetônica são exploradas ao máximo devido
às relações que se dão por qualidades ontológicas. Em topologia o percurso é primordial, as
distancias são medidas por tempo, proximidade e conectividade, não mais por proporções e
medidas métricas em um plano cartesiano limitado.
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O que é topologia?
Na contemporaneidade, a Arquitetura deixa de ser vista como um “campo” sólido e
individualizado, e passa a se inter-relacionar com outras disciplinas, transformando-a em
conhecimento. A multiplicidade em que nos deparamos nos dias de hoje tornou, a
Arquitetura mais complexa, passando a ser vista como uma Arquitetura líquida, mutável,
deformável, de fácil adaptação e transformação. A Arquitetura passa a incorporar e
demandar a complexidade, pela combinação de novas teorias, interfaces de projetos e
novas tecnologias de produção. Em face desse contexto, alguns arquitetos têm procurado
se apropriar da topologia para o manuseamento do espaço, enfatizando o contínuo, seja
entre projeto e produção, seja entre produção e prática do espaço. Esse aporte topológico
contribui para mudanças do paradigma arquitetônico quanto à construção e vivencia do
espaço.
Topologia= topo (lugar)- logos (estudo)
Efetivamente falando, Topologia é o estudo das propriedades geométricas invariantes, ou
seja, não afetadas por mudanças de forma, fora do plano euclidiano. Em topologia se
analisa as relações estabelecidas entre pontos e linhas de uma superfície, se uma superfície
for esticada ou encolhida, certas propriedades não se alteram, pois o interesse não está na
medida, e sim no percurso. Com efeito, não interessa à topologia a forma, que estaria
vinculada à topografia, mas as relações existentes entre os pontos desta forma - sempre
medida ou quantidade.
Tradução de uma planta em grafo (PELLEGRINO, Pierre, CORAY, Daniel apud SPERLING, 2008. Arquitetura e
Informática. Barcelona: Gustavo Gili, 1999)
Uma propriedade topológica fundamental é aquela que é preservada por transformações
contínuas, também conhecidas como homeomorfismo. Por homeomorfismo, entende-se que
todo objeto arquitetônico resultante de uma ação intuitiva de manipulação de superfícies
delgadas através de recortes, dobras e deformações, preserva todas suas características
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topológicas, sendo estas as relações espaciais criadas, sem se importar com a mudança da
forma.
MONEO. Diagrama casa IV de Peter Eisenman, 2004: 162
Uma transformação topológica é a transformação de uma figura (forma) numa outra de tal
maneira que dois quaisquer pontos que se encontram juntos na figura original permanecem
juntos na figura transformada- a forma se altera e as relações permanecem.
Define-se a topologia de uma superfície como sendo o conjunto de aspectos geométricos
dessa superfície relacionados entre si e com a própria superfície, que não dependem da
forma para serem alterados, ou seja, a variação da forma não orienta nenhuma mudança
topológica. Então, se esticarmos, alargarmos, encolhermos ou entortarmos a superfície,
certas propriedades topológicas não se alterarão.
Com efeito, topologia vem a ser o estudo das relações, isto é, topologicamente o que conta
é a condição relacional, a articulação ou inflexão, a proximidade ou distanciamento, enfim, o
modo como os espaços se conectam. Para estudo de tais relações, a topologia prevê os
conceitos de conectividade, continuidade e proximidade, que se aplicam à pontos ou regiões
de qualquer objeto geométrico, como uma superfície ou parte dela. Surge uma questão:
Poderíamos, então, entender a Dobra na Arquitetura de Koolhaas como algo associado as
“esses valores” topológicos incorporados à Arquitetura contemporânea?
O espaço topológico se entende como um espaço de fluidez, de comunicação entre regiões,
em que a deformação da superfície não fragmente os espaços gerados e, principalmente,
não rompa com as relações estabelecidas entre esses espaços/regiões. Estas propriedades
se dão pelo tema central da continuidade, que estuda uma nova interligação entre o todo e
as partes, o objeto e seu conjunto, a pessoa e o ambiente, não num espaço métrico, mas
num espaço de experiência, vivencia.
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Outros paradigmas de qualificação espacial para Arquitetura
Depois de conhecidos alguns termos e regras da topologia, passamos agora,
especificamente, para o campo da Arquitetura, averiguando o que a topologia abre para a
este “campo” e quais são as novas possibilidades de relação entre construção e produção
dos espaços.
O ponto de vista topológico implica, para Arquitetura, na descrição do modo de como os
espaços de uma edificação se articulam e se relacionam o que por sua vez evidencia o
modo como a edificação é vivenciada, tanto pelo usuário regular quanto pelo usuário
ocasional. Na Arquitetura Desconstrutivista o tema da continuidade- descontinuidade das
estruturas torna-se central, passando a considerar um conjunto topológico de varias regiões
que se aproximam, se distanciam e se sobrepõem simultaneamente. Através da modelagem
de superfícies o tema da continuidade e conectividade tem seus desdobramentos nas mais
diversas formalizações, tanto em seu aspecto formal quanto no aspecto espacial,
promovendo a unidade formal/ material. Forma e arranjo espacial se apresentam de maneira
fortemente associada- para não dizer única- e em uma relação não hierarquizada –
diferentemente do movimento moderno. Ao mesmo tempo em que a forma é delineada os
espaços de vivencia também são construídos, são produtos de uma negociação entre si,
cuja forma e arranjo espacial estão conectados, e qualquer mudança que aconteça na forma
afetara conseqüentemente as relações espaciais, porém as relações espaciais não partem
da forma (do objeto), estas relações são estruturadas por outros elementos (externos), que
conformam uma forma, que ao mesmo tempo é importante, pois ela exprime sensação, mas
não há de fato uma preocupação plástica ou puramente estética com a forma.
Para a topologia, a superfície pode não ser plana nem ter uma linha reta. São superfícies
que estão sempre em tensão, com alta capacidade para deformação, que fazem parte de
um processo evolutivo, sendo a “concretização” dessa forma em um projeto arquitetônico
apenas mais uma etapa desse processo de deformação de superfícies. Para topologia as
relações quantitativas – as dimensões- não interessam, o que a topologia sempre busca são
a s relações qualitativas dos espaços, alcançadas em um plano tridimensional. Portanto, a
qualidade das superfícies procura a ligação de espaços contínuos, ligando os espaços
exteriores aos interiores. A linha topológica mostra a configuração de uma continuidade em
Arquitetura, que em topologia esta diretamente vinculada ao conceito de conectividade por
caminhos, unindo quaisquer dois pontos de uma superfície ou região, fundindo um espaço
com outro. Essa linha tem como exemplo a fita de Mobius, que se molda permanentemente
em tensão e é constituída por um só traço.
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SPERLING,D. fita de Mobius, 2008
Então, podemos dizer que a comunicabilidade é a verdadeira estrutura dos espaços
topológicos e determina a unidade do sistema interior ou exterior. O espaço topológico é um
espaço liquido e, portanto, fluido, resultante do agrupamento de pequenos espaços com as
suas subdivisões e suas propriedades, que estão sujeitos a tensão devido à variável que
força a deformação da forma. O objetivo deste tipo de espaço é encontrar uma configuração
em que haja um relacionamento de regiões, uma ligação entre diversos compartimentos
num ou mais níveis. Essa comunicação ou locomoção consiste em atravessar fronteiras por
meio da fluidez dos espaços.
A comunicabilidade entre duas regiões não é mais do que a expressão da força atrativa de
uma região sobre a outra. Somos conduzidos por um movimento de atração de uma região
para outra, simplesmente pelo ondulamento e pela configuração do espaço. O sistema
curvilíneo da superfície aproxima o exterior para nossa vivencia ambiental, não o deixando
isolado, o interior quase desaparece e o exterior penetra, ficando os espaços numa continua
fluidez, o que torna o espaço num jogo de curvas.
EISENMAN, P. maquete virtual da cidade da cultura, 2005 : 143
Antes de chegar a esta etapa curvilínea topológica, a concepção estrutural limitava-se ao
sistema de viga, laje e pilar, que são estruturas passivas, correspondente a paredes que
descarregam suas forças no solo. Passou-se da estrutura plana para uma nova com caráter
tridimensional, cuja estrutura- de pilar, viga e laje- não se distingue mais, tornando-se tudo
parte de único conjunto. É nesta distinção que iremos apreciar as formas topológicas e suas
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estruturas de estabilidade, com os conflitos intuitivos do manuseamento das superfícies e as
sensibilidades das curvas.
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EISENMAN, P. maquete de apresentação Max Reinhardt Haus, 2005 : 134
JPEG. 450 x 600. 103KB. Formato JPEG. Disponível em: http://construirereformar.com.br. Acesso em: 14 dez.
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Topologia assume o papel de instrumento para o manejo do espaço, pensando sempre em
características que pode qualificar a vivencia no espaço. No espaço topológico não se
reconhece as relações métricas, as harmonias se dão pelas conexões da sua configuração,
que é obtida através do resultado de um desenho unificado. “Topologia é constituída por
uma Arquitetura e uma Arquitetura é estruturada por uma topologia.” (MIMRAM, 1983 apud
SPERLING, 2003)
O equilíbrio topológico faz parte de um conjunto de tensões e forças, cujas formas se
apresentam curvilíneas ou continuas. Ou seja, os esforços provocados nas superfícies
produzem um movimento no objeto dado por impulsos ou tensões que deformam a
superfície. Portanto, a variável que diz respeito as tensões foca especificamente a
transformação da superfície, que sob ação do conceito físico de força, seria dotada de
movimento e inflexão.
“Pela co-presença de movimento e força no momento da concepção formal, força é uma
condição inicial, a causa de ambos, movimento e as inflexões particulares de uma forma.”
(LYNN apud SPERLING, 2003:169)
Em suma, o espaço topológico não é mais um espaço sólido, imutável, este agora está
submetido às leis da tensão e do movimento que delineiam a forma, num campo cujos
elementos dominantes são a linha de comunicação e a fluidez. Assim dizendo: A força
causa um movimento, este deforma a superfície, e esta deformação está relacionada com
as propriedades topológicas de continuidade e conectividade espacial. Portanto, topologia
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traz para o campo da Arquitetura uma quarta dimensão, que antes era desprezada, esta
dimensão é o tempo, que está implícito ao movimento. Entende-se movimento como
deslocamento, percurso, que para esta etapa da Arquitetura é primordial, e mais importante
que a distancia.
A incorporação do tempo e da conectividade por caminhos em topologia pode ser
representada através de diagramas. Estes são linhas de relações que demandam as
conexões espaciais entre ambientes; as conexões visuais entre interior e exterior; os
percursos que se estabelecem entre o interior e o exterior. Ou seja, conformam a
continuidade através de um processo evolutivo de transformação do espaço. – E esse
processo conforma o tempo.
Deleuze ao analisar as obras Bacon, no livro “A lógica da Sensação” (DELEUZE, 2007)
explica o processo diagramático que Bacon utiliza ao pintar suas telas, onde muitos dos
princípios Desconstrutivistas também se encontram.
O diagrama é, portanto, o conjunto operatório das linhas e zonas, dos traços e manchas assignificantes e não representativos. E a operação do diagrama, sua função, diz Bacon, é “sugerir”. Ou mais rigorosamente, introduzir “possibilidades de fato”quanto mais os traços e marcas rompem com a figuração, mais estão destinados a nos dar a figura. É por isso que elas não se bastam, que devem ser utilizadas: elas traçam possibilidades de fato, mas ainda não constituem o fato. (DELEUZE, 2007:104)
FreshH2O eXPO. Nox-Lars Spuybroek. Interior. Revista Quaderns d'Arquitectura i Urbanisme., Spirals/Espirales,
n.222. Barcelona: Font i Prat,1999 apud SPERLING, 2008
Se topologia é um instrumento para a Arquitetura, os diagramas são outros instrumentos
para essa topologização da Arquitetura. Estes softwears não são apenas mais um programa
de representação de Arquitetura digitalizada em um plano euclidiano. Estes são generativos,
interativos e de múltiplas soluções, dependem da relação máquina/arquiteto e da intuição de
cada arquiteto que o manuseia. São dotados de inúmeras funções que o arquiteto reflete
sobre elas e as adapta- o que lhe interessa- ao seu projeto. “O diagrama é a possibilidade
do fato, não é o fato ele mesmo.” (DELEUZE, 2007)
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O que se espera deste estudo é comparar a relação que Peter Eisenman e Rem Koolhaas
estabelecem entre Arquitetura, topologia e diagramas, explorando o que se abre para o
campo da Arquitetura, para cada arquiteto, com a utilização destes conhecimentos.
Peter Eisenman
Começaremos o estudo comparativo por Eisenman. Entre os anos 70 no primeiro “grupo”
(de onze casas) de projetos eisenmanianos, o arquiteto buscava explorar questões
plásticas, se preocupando mais com a deformação da forma e a evolução desta. O
diagrama, nesta época, para Eisenman era um instrumento para resolver problemas
formais/ visuais. E depois, nos anos 80, veremos com o projeto da cidade da cultura em
Galícia, Eisenman deixa de pensar de dentro para fora, e passa a considerar os fatores
externos como ponto de partida do processo projetual.
Com efeito, Eisenman tende a abstração total do contexto externo nesta primeira etapa. O
foco é no objeto e o manuseamento dele, a representação do processo evolutivo. O que
está intrinsico na Arquitetura de Eisenman nesta década é a materialização da
representação do processo de deformação. Na qual o resultado final não passa de mais um
etapa do processo, nos induzindo a ver o projeto como um conjunto de elementos em
evolução, e não apenas considera-lo por suas partes, como se tivessem soltas e aleatórias.
No fim dos anos 70, o momento que se vive é muito diferente, Eisenman é consciente de
que a exploração da pura forma não o sucinta mais tanto interesse e procura uma mudança
de foco, que se transforma agora em propostas ideológica capazes acrescentar conteúdo a
obra. Dirá agora que a humanidade se encontra diante uma nova etapa histórica, diante de
um novo modo de entender o mundo. Sente que nesta nova situação em que se encontra a
humanidade, capaz de destruir a si mesma, requer uma mudança profunda e substancial em
todas as atividades humanas. Eisenman se recicla mediante um novo discurso que implica
uma reflexão em volta do que vai ser o futuro da humanidade, e a Arquitetura refletirá a
instabilidade da história.
Esta capacidade de sugerir um fim no presente quebrou a tríade clássica de tempo passado, presente e futuro, e assim sua capacidade de progresso e continuidade. Antes o presente se via como um momento entre o passado e o futuro. Agora o presente contém dois pólos sem relação entre eles: uma memória deste tempo anterior no qual cabia o futuro e uma imanência, a presença do fim, o fim do futuro, é uma nova classe de tempo.(MONEO, 2004: 170)
Daí em diante Eisenman pretenderá justificar seus projetos com textos que fazem explícitos
estes novos interesses, considerando que a Arquitetura seja capaz de refleti-los: a
Arquitetura deixa, portanto, de ser autônoma. Eisenman começa a utilizar não mais
conceitos estruturalistas puramente visuais e formalistas, e sim pensadores como Foucault,
Lacan, Deleuze, Derrida, etc., quem se converteram em suas novas fontes de inspiração.
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A experiência adquirida na manipulação sintáticas das linguagens faz com que os novos
projetos mantenham a complexidade plástica que tinha suas obras antes, mas o que
realmente parece interessar a Eisenman é o que as obras dizem o que contam a
capacidade de expressar mediante metáforas o conteúdo ideológico da Arquitetura. Então,
se antes na idade media a ideologia que reinava era o Teocentrismo, e no renascimento o
Antropocentrismo, agora, nesta nova atualidade, o que passa a prevalecer são os
fenômenos, teorias do caos, abrindo assim sua Arquitetura ao lugar e a metáfora, a historia
e ao sentimento, admitindo-se fatores externos ao próprio objeto.
CIDADE DA CULTURA DE GALICIA
Arquiteto: Peter Eisenman
Localização: Santiago de Compostela, Galícia, Espanha
Ano do projeto: 1999 O centro cultural com mais de 265 000 m² está situado no Monte Gaias, uma pequena
montanha ao leste de Santiago de Compostela na Espanha. Este ambicioso projeto de Peter
Eisenman foi ganhador de um concurso internacional em 1999, e traz com ele referencias
externa, nas quais o arquiteto quis fazer uma replica das cinco ruas mais emblemáticas do
centro da cidade que conduzem até a catedral de Santiago, simbolizando a peregrinação.
EISENMAN, P. Movimento de terra da area do projeto da cidade da cultura em construção, 2005 : 143
O desenho deste complexo projeto emerge da sobreposição de “capas” de informação,
como: O mapa urbano da cidade medieval sobre o mapa topográfico do monte Gaias e a
figura de uma concha, que é o símbolo da cidade, tudo isso sobreposto sob uma grelha
cartesiana. A partir destes dados, uma malha tridimensional gerada por softwears de
modelagem distorcem as geometrias planas, configurando uma nova superfície topológica e
curva, que reposiciona o antigo e o novo simultaneamente sob a colina. Neste novo manto
fundo e figura, cheios e vazios, se fundem em uma composição paradoxal, conectando dois
extremos: a espontaneidade da cidade medieval e o racionalismo absoluto do computador,
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que juntos criam uma forma espontânea. O passado medieval de Santiago aparece neste
contexto não de maneira nostálgica, mas como uma nova presença, ainda que de algum
modo familiar, em uma nova forma.
Nosso novo códice para Santiago é um jogo com as palavras índice e código. Ele assinala um movimento de um índice, o qual é uma escrita interna de uma ação, transformação, ou mutação, para um código, que é uma reescrita, isto é, a reorganização de uma fonte externa por uma organização interna sem necessariamente deixar um traço de atividade. (EISENMAN, 2004)
Ao analisarmos o projeto, percebe-se que Eisenman ainda trata a plasticidade, só que ele
acresce metáfora aos seus elementos de ponto de partida de deformação da forma,
buscando-os em elementos externos. Então se antes, na sua fase dita como formalista
Eisenman utilizava elementos internos para iniciar o processo, agora os “diagramas de
exterioridade” buscam referencias em elementos externos ao do “objeto”, como no caso da
Cidade da Cultura, onde os mapas urbano, topográfico e um simbólico são sobrepostos uns
aos outros e tomados como ponto de partida do processo de troca e relação das
informações. E quando levados ao softwears e transformado tridimensionalmente surge uma
nova ordem geométrica, da Euclidiana para a Topológica, fazendo com que os vetores
reescrevam a lógica organizacional da forma inerente nos planos bidimensional. Assim, toda
a nova superfície formada está em relação com todas suas partes e qualquer alteração em
um dos elementos transformará as relações do todo com suas partes, e um novo passo do
processo de evolução é avançado. Nas palavras de Peter Eisenman: “Essa reescrita tem a
característica de um código mais do que um índice. Enquanto o índice era um registro de
um tempo indeterminado, o código reescreve o tempo como uma serie de forças”
(EISENMAN, 2004). Ou seja, cada mapa, cada capa de informação, cada uma de seu
tempo, quando sobreposta a outras capas emerge uma nova realidade, muito mais híbrida,
criando uma nova relação entre o todo e suas partes.
EISENMAN, P. série de diagrama de desenvolvimento do local e série de diagrama de deformação, 2005 : 144-
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Percebe-se nesta nova fase de Eisenman a mudança de olhar e comportamento para com o
espaço, como agora a fluidez deste é acentuada. A presença do fim acabou com a idéia de
um tempo linear de passado, presente e futuro, como o arquiteto afirma: “Agora o presente
contém dois pólos sem relação entre eles”. Daí surge a ideologia de conexão e relação do
espaço e tempo, tidos antes como estáticos, com o auxilio da topologia, onde o entre, o
percurso tornam-se o foco de interesse. A continuidade é destacada tanto esteticamente
como nas ligações dos ambientes internos, afirmando as palavras de Victor Consiglieri: “É
nestes princípios topológicos que a estrutura do edifício se relaciona com a forma interna,
visual, construtiva e plástica, não sendo apenas uma pura ou simples técnica. A estrutura
torna-se a própria forma.” (CONSIGLIERI, 1994) Ao mesmo tempo em que a forma é
delineada os espaços de vivencia também são construídos, são produtos de uma
negociação entre si, cuja forma e arranjo espacial estão conectados, e qualquer mudança
que aconteça na forma afetara conseqüentemente as relações espaciais.
EISENMAN, P. foto da maquete, 2005 : 147
Rem Koolhaas
A pesquisa continua a discutir o tema da topologia e seu processo diagramático a partir de
agora de outro ponto de vista de estratégia projetual. Analisaremos outras questões e
conceitos, que estão por de trás das relações espaciais criadas nos projetos de Rem
Koolhaas.
Se Eisenman operava pela indiferença do contexto ao redor, Koolhaas projetará através da
superação deste. Ele está preocupado em explicar a forma urbana, uma visão da
Arquitetura em que prevalece a ação e tecnologia, com um deliberado esquecimento da
forma. Sua Arquitetura se da pela realidade que toma como modelo. Assim o modelo para
Koolhaas é a cidade espontânea, a cidade fruto de um desenvolvimento não controlado.
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“A tarefa que Koolhaas se impõe e de mostra-nos quais são os resultados formais quando
se perde o respeito pelas linguagens e normas convencionais e se atende somente as
autenticas forças que modelam o mundo moderno: Tecnologia e economia.” (MONEO,
2004: 310)
Para Koolhaas a Arquitetura esta muito ligada à ação, ao programa. O programa é toda uma
categoria que propicia a construção de edifícios abertos e imprecisos. Os objetos são tidos
como continentes formas rígidas, que contém algo volátil e inesperado, e não existe uma
seqüência ou uma serie a priori a ser seguida. Com efeito, o que o arquiteto tenta buscar
com estas teorias é uma aproximação da cidade ao edifício, onde possam coexistir
elementos completamente diferentes, dando abertura à desorganização; ao imprevisto; a
multiplicidade de direções e caminhos; à espaços suplementares e residuais.
Ao projetar Koolhaas acredita muito no espaço vazio e na sua potencialidade de ser
contendedor de múltiplos programas que a vida moderna pede. Como o próprio arquiteto
diz: “Onde não há nada tudo é possível” (KOOLHAAS, R. S, M, L, XL, 1995 apud MONEO,
2004). E sua estratégia projetual está dedicada a relacionar estes vazios. Existe uma
preocupação muito forte na experiência corporal de cada individuo dentro do espaço, e essa
experiência é obtida através do corpo em movimento. Por isso Koolhaas se preocupa tanto
com o percurso, dedicando-se em tornar as experiências mais interessantes. A problemática
está na conexão de programas, para onde e como este percurso está te levando. Que
relações espaciais querem ser criadas, que sensações querem ser transmitidas através das
situações internas construídas por Koolhaas.
KUNSTHAL
Arquiteto: Rem Koolhaas / OMA
Localização: Rotterdam, Holanda
Ano do projeto: 1987- 1992
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CRIQUIS, EL. Periódicos, n° 79. Vista aérea do Kunsthal, 1996 : 68
Assim como em Topologia Koolhaas enxerga a cidade e a área de intervenção do projeto
como uma superfície única, relacionando sempre o edifício com o entorno. O Kunsthal não
foge a regra. O edifício foi concebido como um quadrado atravessado por dois caminhos
distintos que são extensões do entorno: um tem direção leste-oeste, paralelo a via de
intenso fluxo de automóvel; e o outro é uma rampa que supõe uma continuidade do eixo
norte-sul, conectando a via expressa e o parque localizado atrás do museu, que funciona
como uma ponte que conecta estes dois pontos em níveis diferentes. Neste contexto, tendo
em conta que o cruzamento destes dois caminhos dividiu o quadrado em quatro partes
autônomas, o êxito do projeto foi conseguir propiciar uma seqüência de experiências
diversas que formam um único circuito de rampas em espiral, acrescendo uma qualidade
relevante ao projeto, que é a capacidade de fazer com que as atividades se desenvolvam
singularmente ou coletivamente, conectando o todo com suas partes.
CRIQUIS, EL. Periódicos, n° 79. Planta nível de acesso inferior e superior, 1996: 76- 78
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Já sabemos que topologia é o estudo das relações, o que importa é como se dão as
conexões espaciais através da articulação; inflexão; proximidade e distanciamento,
prevendo os conceitos de conectividade, continuidade e proximidade. O que se busca é um
sistema continuo e fluido que conecte e relacione os espaços. O Kunsthal exemplifica bem
esses conceitos advindos da topologia. A preocupação está no percurso- já que o projeto é
um circuito de fato – em como relacionar os quatro volumes isolados a priori e transformá-
los em um único sistema coeso e fluido, sempre considerando o entorno, comunicando os
espaços externos com os internos.
CRIQUIS, EL. Periódicos, n° 79. Diagrama de circulação, 1996: 69
A primeira parte do circuito começa por uma rampa que conecta os dois níveis, o do parque
e o da avenida. Esta rampa é de acesso livre, e propicia uma relação direta do pedestre com
as galerias internas, separadas apenas por vidros. No meio da rampa, onde outra rampa
paralela a esta, só que de inclinação inversa que cria o auditório e a cafeteria embaixo, se
cruzam, é a entrada principal. Desde ai você pode subir para o deque ou descer para o
parque. Finalmente, uma terceira rampa, situada quase sobre a primeira, e com a mesma
inclinação, comunica o nível do deque com o do terraço situado na cobertura do edifício.
CRIQUIS, EL. Periódicos, n° 79. Fachada sul vista desde a avenida, 1996: 71
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CRIQUIS, EL. Periódicos, n° 79. Fachada norte vista desde o parque, 1996: 81
CRIQUIS, EL. Periódicos, n° 79. vista para as galerias internas desde a rampa de acesso,1996: 70
CRIQUIS, EL. Periódicos, n° 79. vista da galeria internas para a rampa de acesso,1996: 83
CRIQUIS, EL. Periódicos, n° 79. Auditório e entrada principal,1996: 95
CRIQUIS, EL. Periódicos, n° 79. Vista do Auditório e rampa de acesso para o terraço jardim,1996: 91
CRIQUIS, EL. Periódicos, n° 79. Vista do Auditório e restaurante,1996: 92
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CRIQUIS, EL. Periódicos, n° 79. Vistas do interior do Kunsthal,1996: 83
Pelas imagens podemos perceber que a grande preocupação de Koolhaas é o
gerenciamento de espaços, a tentativa de comunicá-los da maneira mais interessante
possível. Não é apenas uma sobreposição de lajes em série sem relação alguma entre elas.
Koolhaas pensa nos vazios e nas suas articulações através do corte, o que cria uma
condição relacional entre os espaços muito mais forte do que se pensarmos em planta, que
está mais direcionada a manipulação da forma do que dos espaços.
O circuito é criado pelo espaço intersticial, que nos leva a diferentes experiências de cada
espaço. Cada momento de intercambio transude de um espaço a outro como um sistema
fluido. E o que o torna mais significante é a capacidade deste sistema se transformar, já que
os vazios não determinam um programa especifico, possibilitando o museu mostrar, a
qualquer momento, todo tipo de exposição.
CONCLUSÃO
Uma discussão sobre espaço e tempo
Novas relações espaciais advindas de uma reconceituação da Topologia na Arquitetura traz
uma complexidade na relação Espaço e Tempo. Os arquitetos Peter Eisenman e Rem
Koolhaas encaram os conceitos da topologia de maneiras distintas, o que afeta diretamente
na manipulação do espaço criado por cada um deles.
A topologia incorporou o tempo a Arquitetura, e devido à história e ideais de cada arquiteto,
o conceito de tempo foi explorado de maneiras distintas. Por vezes o tempo está associado
ao percurso, ao deslocamento, por vezes está no processo evolutivo da forma.
Eisenman sempre esteve ligado às questões da forma, da plasticidade e da linguagem. Sua
preocupação sempre foi rever a linguagem que estava antes imposta a Arquitetura
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utilizando-se das novas discussões tipológicas por tanto. Ao ler a Arquitetura através destes
conceitos, Eisenman traz automaticamente o tempo para este campo. Como ele está tão
preso a plasticidade, o tempo é incorporado através do processo evolutivo da forma. Vimos
na Cidade da Cultura de Galícia como os elementos estruturantes – os mapas sobrepostos
que funcionam como capas- são manipulados de maneira que marcam e destacam cada
etapa do processo. Eisenman faz questão de evidenciar e fazer perceber o processo
evolutivo nas suas Arquiteturas, transformando sua obra em mais uma etapa do processo.
Por outro lado, Koolhaas perde, literalmente, o respeito pela linguagem. Quando ele opera
através do seu conceito de corte livre, ele esquece a forma para dar lugar ao espaço e
programa. Para Koolhaas, a Arquitetura está muito mais ligada à ação. E é ai que o conceito
de tempo entra, o tempo é manipulado por Koolhaas através do movimento, seu objetivo é
tornar o edifício mais fluido – vide Kunsthal que conecta os espaços e programas através de
um circuito de rampas, transformando o projeto em um sistema fluido e continuo.
Koolhaas está muito interessado nos conceitos topológicos de continuidade, conectividade,
proximidade e distanciamento. O que o faz pensar no pensar no percurso, transformando as
experiências espaciais dos usuários através do movimento, o que torna possível alterar o
ritmo de passagem e conseqüentemente o tempo de travessia e intensidades.
Sobre o conceito de linguagem: “Argumenta Eisenman: Durante quatrocentos anos, os
valores da Arquitetura surgiram da mesma fonte humanista. Hoje isto deve mudar devido às
novas percepções fundamentais alcançadas graças à filosofia. Koolhaas responde: Hoje em
dia, tudo isso mudou de maneira fundamental, graças ao elevador.” (CROQUIS, 1996: 79)
REFERENCIAS
CROQUIS, El. Periódicos, n° 79, março 1996
CROQUIS, El. Periódicos, n° 53, março 1992
CROQUIS, El. Periódicos, n° 83, jul. 1996
DELEUZE, Gilles; ORLANDI, Luiz B. L. A dobra: Leibniz e o Barroco, 1991
DELEUZE, Gilles. Francis Bacon Lógica da Sensação, 2007
EISENMAN, Peter. Barefoot on White-hot walls, 2004
EISENMAN, Peter. A Arquitetura e o problema da figura retórica, 1987, em Uma Nova Agenda para Arquitetura: antologia teórica. Nesbitt, Kate, 2006
MONEO, Rafael; CODDOU, Flavio. Inquietação teórica e estratégia projetual: Na obra de oito arquitetos contemporâneo, 2008
REISER; UMAMOTO. Atlas of Novel Tectonics, 2006
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SPERLING, David. Arquiteturas Contínuas e Topologia: similaridades em processo. Dissertação. Doutor em Arquitetura e Professor do Departamento de Arquitetura e Urbanismo, Escola de Engenharia de São Carlos: Universidade de São Paulo, 2003
SPERLING, David. Entre conceitos, metáforas e operações: convergências da topologia na arquitetura contemporânea. Dissertação. Doutor em Arquitetura e Professor do Departamento de Arquitetura e Urbanismo, Escola de Engenharia de São Carlos: Universidade de São Paulo, 2008
VICTOR, Consiglieri. Morfologia da Arquitetura: 1920- 1970, 1994
VYZOVITI, Sophia. Folding Architecture: spatial, structural and organizational diagrams, 2007
WOLFREYS, Julian. Compreender Derrida, 2007
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