Calagem e adubação para hortaliças sob cultivo protegido*

34
1 Calagem e adubação para hortaliças sob cultivo protegido* Paulo Espíndola Trani ( 1 ) ( 1 ) Pesquisador Científico, Centro de Horticultura, Instituto Agronômico, IAC. [email protected]; [email protected] * Campinas (SP), outubro de 2012 Vem crescendo a procura por informações sobre a tecnologia da produção de hortaliças cultivadas sob estufa agrícola. O passo inicial consiste na utilização de sementes e mudas de qualidade. As mudas podem ser produzidas na própria propriedade agrícola ou de preferência, encomendadas de viveiristas profissionais. A figura 1 mostra duas bandejas de alface lado a lado, a primeira com plantas em início de crescimento ao lado de outra bandeja com plantas em fase de transplante. É importante saber que plantas de famílias botânicas distintas tem necessidades nutricionais diferentes. Por exemplo, mudas de tomate e pimentão (Solanáceas) são mais exigentes em nutrientes do que mudas de alface e almeirão (Cichoriáceas). Existem no comércio substratos de diversas composições e fertilizantes com diferentes teores de nutrientes o que possibilita atender as mais variadas exigências nutricionais das hortaliças já a partir da fase de formação de mudas. Figura 1. Mudas de alface bem formadas com a utilização de substrato e fertirrigação corretos. Foto: Paulo E. Trani, Campinas, 2008.

Transcript of Calagem e adubação para hortaliças sob cultivo protegido*

Page 1: Calagem e adubação para hortaliças sob cultivo protegido*

1

Calagem e adubação para hortaliças sob cultivo protegido*

Paulo Espíndola Trani (1)

(1) Pesquisador Científico, Centro de Horticultura, Instituto Agronômico, IAC. [email protected];

[email protected]

* Campinas (SP), outubro de 2012

Vem crescendo a procura por informações sobre a tecnologia da produção de hortaliças cultivadas sob

estufa agrícola. O passo inicial consiste na utilização de sementes e mudas de qualidade. As mudas podem ser

produzidas na própria propriedade agrícola ou de preferência, encomendadas de viveiristas profissionais. A figura 1

mostra duas bandejas de alface lado a lado, a primeira com plantas em início de crescimento ao lado de outra bandeja

com plantas em fase de transplante. É importante saber que plantas de famílias botânicas distintas tem necessidades

nutricionais diferentes. Por exemplo, mudas de tomate e pimentão (Solanáceas) são mais exigentes em nutrientes do

que mudas de alface e almeirão (Cichoriáceas). Existem no comércio substratos de diversas composições e

fertilizantes com diferentes teores de nutrientes o que possibilita atender as mais variadas exigências nutricionais das

hortaliças já a partir da fase de formação de mudas.

Figura 1. Mudas de alface bem formadas com a utilização de substrato e fertirrigação corretos. Foto:

Paulo E. Trani, Campinas, 2008.

Page 2: Calagem e adubação para hortaliças sob cultivo protegido*

2

Exemplos de boas produções de hortaliças sob estufa agrícola no Estado de São Paulo

As figuras 2; 3 e 4 mostram boas produções e qualidade comercial de hortaliças cultivadas

sob estufa agrícola em diferentes regiões do Estado de São Paulo.

Figura 2. Produção de pimentão amarelo sob estufa agrícola. Foto: Oliveiro Bassetto Jr. - Santa Cruz do Rio

Pardo - SP, 2012.

Page 3: Calagem e adubação para hortaliças sob cultivo protegido*

3

Figura 3. Produção de pepino enxertado sob estufa agrícola. Foto: Oliveiro Bassetto Jr. – Santa Cruz do Rio

Pardo - SP, 2012.

Page 4: Calagem e adubação para hortaliças sob cultivo protegido*

4

Figura 4. Produção de híbridos de tomate sob estufa agrícola. Fotos: Edson Akira Kariya e Oliveiro Bassetto

Jr. – Itapetininga e Santa Cruz do Rio Pardo – SP, respectivamente (2010 e 2012).

Page 5: Calagem e adubação para hortaliças sob cultivo protegido*

5

As produtividades de hortaliças sob cultivo protegido, como pimentão, pepino e tomate, são duas até quatro

vezes superiores às produtividades obtidas no campo, a céu aberto. As produtividades destas espécies de hortaliças

variam bastante (ver quadro a seguir) conforme a região de plantio com clima mais frio ou mais ameno, a estação do

ano com diferentes temperaturas médias e o período (durabilidade) de colheita da hortaliça, entre outros fatores.

Produtividade, espaçamento e período de colheita de três espécies de hortaliças

cultivadas sob estufa agrícola.

Hortaliça

Produtividade

(kg / m2)

Período de

colheita

Espaçamento

(varia conforme sistema de

condução, híbrido, tipo de

solo, época do ano, etc.)

Pepino1 15 a 25 3 a 4

meses

1,1 a 1,6 m X

0,45 a 0,60 m

Pimentão2 18 a 25 6 a 12

meses

1,1 a 1,6 m X

0,35 a 0,50 m

Tomate3 18 a 25 4 a 6

meses

1,1 a 1,6 X

0,35 a 0,50 m

1 no campo, 40 a 80 t/ha

2 no campo, 40 a 80 t/ha

3 no campo, 60 a 110 t/ha

Problemas do sistema de cultivo protegido em pré - colheita

Os principais problemas que surgiram a partir das décadas de 1980 e 1990 no sistema de cultivo protegido

com hortaliças no Estado de São Paulo foram a salinização do solo (figura 5) e os nematóides nas raízes das

plantas (figura 6). Outros problemas que também ocorrem, desde o plantio até a colheita são: fungos e bactérias de

solo, compactação, utilização de híbridos não apropriados para condições locais e uso inadequado de agrotóxicos.

Page 6: Calagem e adubação para hortaliças sob cultivo protegido*

6

Figura 5. Muda de pimentão e plantas de pepino em solos salinizados.

Page 7: Calagem e adubação para hortaliças sob cultivo protegido*

7

Figura 6. Nematóides do Gênero Meloydogine, um sério problema no cultivo protegido com

hortaliças. Acima, raízes de pimentão com galhas (pipocas). Foto: Oliveiro Bassetto Júnior, 2012.

Page 8: Calagem e adubação para hortaliças sob cultivo protegido*

8

Problemas na qualidade comercial de hortaliças verificados na pós-colheita

No período entre 1990 e 2005 surgiram problemas de qualidade em hortaliças produzidas sob cultivo

protegido, além do campo, verificados na pós-colheita. Boa parte desses problemas são causados pelo manejo

inadequado durante o desenvolvimento da cultura. A seguir são citados alguns fatos verificados na CEAGESP -

Entreposto Terminal de São Paulo (Levantamento realizado por Anita S.D. Gutierrez e Paulo Ferrari, 2005)

Pepino Japonês

Principais defeitos: torto, barrigudo e ponta fina

Causas prováveis: época de plantio inadequada, desequilíbrio nutricional e híbrido de pepino

sensível à variações térmicas.

Page 9: Calagem e adubação para hortaliças sob cultivo protegido*

9

Preço no atacado por caixa

Pepino reto Pepino torto

R$ 20,00 a 25,00 R$ 8,00 a 15,00

CEAGESP – 2005

Pimentões coloridos

Principais defeitos: torto e estrias

Estrias Torto

Causas prováveis: falhas na irrigação, desequilíbrio nutricional, variações bruscas de

temperatura e uso de híbridos mais sensíveis às variações térmicas.

Page 10: Calagem e adubação para hortaliças sob cultivo protegido*

10

Preço no atacado por caixa

Pimentão reto Pimentão torto

R$ 18,00 a 20,00 R$ 8,00 a 12,00

CEAGESP – 2005

Defeitos em tomate produzido no campo

Frutos de tomate mostrando manchas esverdeadas. Causas prováveis: híbrido de tomate não adaptado ao excesso

de chuvas e aos dias nublados que ocorreram durante o crescimento dos frutos (diagnóstico: P. T. Della Vecchia).

Soluções: desenvolvimento de híbridos tolerantes à adversidades climáticas, plantio na época adequada e utilização

do cultivo protegido. Foto: Geraldo Fernandes Santos (dezembro 2009 – Ribeirão Preto – SP).

Page 11: Calagem e adubação para hortaliças sob cultivo protegido*

11

Uma das soluções para os problemas acima relatados consiste na adoção de práticas corretas de manejo

destacando-se a calagem e a adubação com base na análise química do solo e no diagnóstico nutricional da cultura.

O presente trabalho apresenta informações e recomendações sobre o manejo de corretivos e fertilizantes para

o sistema de produção de hortaliças sob cultivo protegido.

Interpretação da análise de solo

Pesquisas realizadas no Instituto Agronômico de Campinas (IAC) com adubação de hortaliças baseiam-se

no conceito da produção relativa, ou seja, leva-se em conta os teores de nutrientes no solo e a resposta das culturas a

tais nutrientes aplicados através da adubação. Isso está exemplificado no Gráfico 1 para os teores de P e K no solo.

Page 12: Calagem e adubação para hortaliças sob cultivo protegido*

12

A Tabela I apresenta a interpretação da análise do solo visando o cálculo correto da calagem e a adubação

de hortaliças em geral (campo e cultivo protegido).

Recomenda-se, isso válido para cultivo protegido e campo, a procura do equilíbrio entre os nutrientes de

maneira a mante-los na faixa de teores médios a altos no solo e conferindo com a análise foliar. Quando um nutriente

atinge no solo um valor classificado como muito alto poderão ocorrer duas consequências: acarretar um efeito tóxico

na planta ou causar um desequilíbrio no solo com outro nutriente, por efeito de competividade ou antagonismo. Por

exemplo, o excesso de potássio, além do efeito tóxico e salino (conforme a fonte utilizada) em si, também pode

acarretar a deficiência de magnésio e também de cálcio na planta.

Quando os teores de nutrientes no solo são excessivos uma recomendação para amenizar o problema

consiste no revolvimento do solo em maior profundidade e a seguir irriga-lo para lixiviar os nutrientes mais solúveis.

Tabela I. Interpretação de P, K, Ca, Mg, S e V% nos solos.

Teor

K+trocável P(resina) Ca++

trocável Mg++trocável S – SO4

-- V

mmolc/dm3 mg/dm3 mmolc/dm3 mmolc/dm3 mg/dm3 %

Muito

Baixo 0,0 – 0,7 0 – 10 0 – 4 0 – 2 0 – 2 0 – 25

Baixo 0,8 – 1,5 11 – 25 5 – 10 3 – 5 3 – 5 26 – 50

Médio 1,6 – 3,0 26 – 60 11 – 20 6 – 10 6 – 10 51 – 70

Alto 3,1 – 6,0 61– 120 21 – 40 11 – 15 11 – 15 71 – 90

Muito Alto > 6,0 > 120 > 40 > 15 > 15 > 90

Fonte: Raij et al. (1997) - São Paulo e Ribeiro et al. (1999) - Minas Gerais.

A interpretação para os níveis de cálcio na tabela acima deve ser adotada com cautela levando-se em conta a

textura do solo. Assim é que 15 mmolc de Ca++

/dm3 de solo pode ser considerado como teor médio a alto em solo

arenoso e teor médio a baixo em solo argiloso.

Page 13: Calagem e adubação para hortaliças sob cultivo protegido*

13

Com relação aos micronutrientes presentes no solo, a interpretação visando a adubação de hortaliças é

apresentada na Tabela II.

As fontes de micronutrientes são as mais diversas existindo no comércio fertilizantes que podem ser

aplicados via solo, separados ou juntos com os macronutrientes e via foliar. No caso da aplicação via foliar deve-se

evitar sua aplicação conjunta com agrotóxicos para que não percam sua eficácia.

Tabela II. Interpretação dos teores de micronutrientes em solos1.

Teor

B Cu Fe Mn Zn

mg/dm3

mg/dm3

mg/dm3

mg/dm3

mg/dm3

Baixo 0 – 0,30 0 – 0,2 0 – 4 0 – 1,2 0 – 0,5

Médio 0,31 – 0,60 0,3 – 0,8 5 – 12 1,3 – 5,0 0,6 – 1,2

Alto > 0,60 > 0,8 > 12 > 5,0 > 1,2 1

Boro extraído por água quente; Cu, Fe, Mn e Zn extraídos pelo DTPA. Fonte: Raij et al. (1997).

NITROGÊNIO NO SOLO: um indicativo do teor de nitrogênio presente no solo é a quantidade de matéria

orgânica do mesmo. Cerca de 5% da matéria orgânica do solo é constituída por nitrogênio total. Este nutriente nem

sempre está em forma disponível às plantas. As formas de N no solo, disponíveis às plantas, como a nítrica (NO3-) e

a amoniacal (NH4+) ou mesmo as não disponíveis, são sujeitas à rápidas mudanças, devido as ações dos micro-

organismos na mineralização da matéria orgânica, às lixiviações provocadas pelas águas da chuva ou irrigação, etc.

Isso dificulta a interpretação do teor do N quando fornecido pela análise de solo. Os teores de matéria orgânica do

solo indicam também de maneira indireta, a textura (granulometria) do solo. Considera-se solo arenoso aquele que

contém matéria orgânica até 15 g/dm3; solo de textura média aquele com matéria orgânica entre 16 e 30 g/dm

3 e solo

argiloso aquele com matéria orgânica entre 31 a 60 g/dm3. Sempre que possível realizar a análise granulométrica

(textura) do solo para se conhecer as reais quantidades de areia, silte e argila do mesmo.

Page 14: Calagem e adubação para hortaliças sob cultivo protegido*

14

Calagem

A necessidade da calagem é determinada pela porcentagem de saturação por bases do solo e a tolerância

da espécie de hortaliça ao menor ou maior grau de acidez do solo. A equação para cálculo da calagem é dada por:

NC = CTC (V2 – V1)

10 PRNT

NC = Necessidade de calagem, em t/ha;

CTC (ou T) = Capacidade de troca de cátions expressa em mmolc/dm3 de solo.

V1 = Saturação por bases dada pela análise do solo.

V2 = Saturação por bases que se pretende atingir (em geral entre 70 e 80%).

A distribuição do calcário deve ser uniforme (figura 7) e sua incorporação até 20 a 30 cm de profundidade,

pois diversas hortaliças tem o sistema radicular tão profundo como culturas extensivas.

Dentre as hortaliças de sistema radicular profundo cultivadas em estufa agrícola pode-se citar o tomate.

Com o sistema radicular moderadamente profundo citam-se pepino, pimentão, berinjela, melão, salsa. Entre

aquelas de sistema radicular pouco profundo citam-se alface, almeirão, chicória e cebolinha. .

A aplicação do calcário deve ser feita com pelo menos 30 a 40 dias de antecedência ao plantio utilizando-se

de preferência o calcário finamente moído (“filler”) com PRNT de 80 a 90% ou parcialmente calcinado (PRNT de 90 a

100%).

Caso seja encontrado apenas o calcário comum (PRNT de 60 a 70%) este deve ser incorporado ao menos 60

dias antes do plantio das hortaliças.

Deve-se preferir os calcários que contenham boa quantidade de magnésio em sua composição, como os

dolomíticos (acima de 12% de MgO).

Page 15: Calagem e adubação para hortaliças sob cultivo protegido*

15

Figura 7. A aplicação do calcário sólido deve ser uniforme sobre a área total dos canteiros. Após isso,

incorporá-lo até 20 a 30 cm de profundidade. Foto: Paulo E. Trani, Campinas, 2007.

Page 16: Calagem e adubação para hortaliças sob cultivo protegido*

16

Recomendações de adubação orgânica para hortaliças

(cultivo protegido e campo)

A adubação orgânica para hortaliças proporciona os seguintes benefícios:

a) Melhora as condições físicas do solo, diminuindo, por exemplo, os problemas de compactação.

b) Diminui a incidência de nematóides visto que os adubos orgânicos em geral possibilitam o

desenvolvimento nos solos de microorganismos úteis que tem ação antagônica aos nematóides.

c) Fornece parcialmente nutrientes às plantas de maneira gradual e contínua.

Por outro lado a adubação orgânica apresenta algumas limitações:

a) A incorporação dos fertilizantes orgânicos ao solo deve ser realizada pelo menos 30 a 40 dias antes do

plantio, tempo necessário para que ocorra o processo de cura ou decomposição sem o que poderá haver “queima”

das sementes ou mudas de hortaliças.

b) Alguns fertilizantes orgânicos mal decompostos podem introduzir sementes de mato no local e fungos de

solo (ex: Verticillium).

c) Estercos animais principalmente de aves confinadas, podem carregar resíduos de sal e outros produtos

presentes nas rações , acarretando problemas como salinização do solo.

Dentre os fertilizantes orgânicos destacam-se o composto orgânico (Fig. 8), o húmus de minhoca (Fig. 9), o

bokashi, o esterco de galinha (Figs. 10; 11; 12) e a torta de mamona pré-fermentada.

Page 17: Calagem e adubação para hortaliças sob cultivo protegido*

17

Figura 8. Sistema de compostagem a céu aberto. Foto: J. Hanasiro, Piracicaba-SP.

Figura 9. Húmus de minhoca: um dos melhores adubos orgânicos para produção de hortaliças.

Page 18: Calagem e adubação para hortaliças sob cultivo protegido*

18

Figura 10. Alface crespa em canteiro testemunha (sem adubo orgânico). Foto: Paulo E. Trani,

Campinas, 2000.

Figura 11. Alface em canteiro que recebeu 1 kg de bokashi por m2 (similar neste experimento

a 0,5 kg de esterco de galinha). Foto: Paulo E. Trani, Campinas, 2000.

Page 19: Calagem e adubação para hortaliças sob cultivo protegido*

19

Bokashi(1) Esterco de curral Esterco de galinha

Umidade (%) 7.29 52.33 26.13

pH 8.1 7.03 8.05

M.O. (%) 30.33 31.20 51.00

N (%) 1.06 1.21 2.20

P2O5 (%) 1.17 1.87 4.25

K2O (%) 3.58 1.47 3.50

Ca (%) 2.16 2.12 8.41

Mg (%) 1.23 0.62 1.18

S (%) 1.17 2.15 ----

Na (ppm) 2200 ---- ----

Fe (ppm) 12325 12300 3100

Mn (ppm) 200 500 800

Cu (ppm) 37.5 300 300

Zn (ppm) 90 400 700

C/N 17/1 14/1 13/1

Figura 12. Analise química dos adubos orgânicos usados para produção de alface sob estufa

agrícola no IAC – Campinas (1999/2000). (1)Composição do bokashi: 500 kg de esterco de galinha +

500 kg de terra de barranco + 80 kg de farelo de arroz + 1,5 kg de “Bym-Food” e 1,0 kg de Nitrex

(micronutrientes silicatados).

As quantidades dos fertilizantes orgânicos a serem aplicadas dependem também de sua disponibilidade

local e do custo do transporte e aplicação.

Page 20: Calagem e adubação para hortaliças sob cultivo protegido*

20

A Tabela III mostra as recomendações de adubação orgânica para diferentes grupos de hortaliças, válido tanto

para o cultivo protegido, como no campo, a céu aberto.

Tabela III. Recomendações de adubação orgânica* para hortaliças.

Grupo de hortaliças

Esterco bovino

bem curtido e

Composto

Esterco de galinha/

frango, suínos, ovinos

e húmus de minhoca

Torta de mamona

(pré-fermentada)

kg/m2 de canteiro

Folhosas

(alface, rúcula, etc.)

2 – 4 0,5 – 1 0,1 – 0,2

Frutos

(tomate, pimentão, etc.)

2 – 4 0,5 – 1 0,1 - 0,2

Bulbos e Raízes

(cebola, cenoura, etc.)

1 – 2 0,25 - 0,50 0,02 - 0,05

*Maiores doses de fertilizantes para solos de fertilidade baixa. Aplicar cerca de 30 dias antes

do plantio. Incorporar a 20 a 30 cm de profundidade, em todo o canteiro.

Page 21: Calagem e adubação para hortaliças sob cultivo protegido*

21

Recomendações de adubação mineral para hortaliças sob cultivo protegido conforme

análise do solo

A seguir são descritas as recomendações de adubação para hortaliças baseadas nos teores de nutrientes no

solo e também na extração de nutrientes pelas plantas.

As doses de nutrientes foram determinadas com base em experimentação realizada nas condições de solo e

clima do Estado de São Paulo, devendo ser adotadas com cautela para outras regiões.

A adubação no solo em pré-plantio deve ser realizada em toda área do canteiro ou no sulco de plantio.

Recomenda-se a aplicação dos fertilizantes desde a superfície até 20 a 25 cm de profundidade para

proporcionar melhor crescimento e distribuição do sistema radicular das plantas.

O parcelamento dos fertilizantes a serem aplicados em cobertura deve levar em conta a marcha de absorção

de nutrientes da cultura.

Para as hortaliças recomenda-se a aplicação de 10% a 15% dos nutrientes no primeiro quarto do ciclo da

cultura (início de crescimento); 20% dos nutrientes na segunda fase de desenvolvimento; 40% dos nutrientes na

terceira fase do ciclo (período de maior formação de massa fresca de folhas e frutos) e 25 a 30% na quarta fase do

ciclo da cultura.

Dependendo da espécie e do grupo de hortaliças, nutrientes como o potássio tem a sua aplicação

concentrada na etapa da máxima produção de frutos.

Page 22: Calagem e adubação para hortaliças sob cultivo protegido*

22

Importante o conhecimento dos fertilizantes e fórmulas que serão utilizadas para as

hortaliças.

Novos fertilizantes em períodos recentes (2000 a 2012):

a) Fontes de Silício (Si): silicatos de Ca; Mg e K; resíduos de siderurgia; zeólitas. O F.T.E. e os

termofosfatos, fontes tradicionais de micronutrientes, também fornecem Si. (obs: o pepino é hortaliça

acumuladora de Si).

b) Fosfitos de alta solubilidade para pulverização e fertirrigação (destaca-se o fosfito de potássio

- KH2PO3).

c) Calcário líquido (produto em suspensão com nano-partículas, cerca de 900 vezes menores

que as partículas do calcário comum).

Page 23: Calagem e adubação para hortaliças sob cultivo protegido*

23

Diagnóstico sobre estes novos produtos:

a e b) Necessidade de avaliação econômica local e regional dos silicatos e dos fosfitos, em relação aos

fertilizantes tradicionais que contém silício e fósforo, respectivamente.

c) Necessidade de avaliação agronômica e econômica regional dos calcários líquidos para aplicação em

hortaliças e outras culturas.

As Tabelas IV; V; VI e VII mostram as quantidades de nutrientes necessários para

hortaliças diversas que podem ser produzidas sob cultivo protegido.

Tabela IV. Recomendações de adubação para plantio de alface, almeirão,

chicória, rúcula, couve de folhas1, salsa1 e cebolinha1, sob cultivo

protegido, conforme teores de nutrientes no solo.

Nitrogênio

P (resina), mg/dm3 K+ trocável, mmolc/dm3

0-25 26-60 >60 0-1,5 1,6-3,0 >3,0

N, kg/ha P2O5, kg/ha K2O, kg/ha

40 360 180 90 120 60 30

1Aplicar para couve de folhas, salsa e cebolinha , 2/3 dos nutrientes indicados.

Misturar os fertilizantes ao solo, pelo menos 10 dias antes da semeadura ou transplante das mudas.

Acrescentar à adubação mineral de plantio 1 kg de B/ha e 3 kg de Zn/ha para todas as hortaliças acima

citadas. Novas aplicações de micronutrientes somente serão efetuadas após análise química do solo.

Page 24: Calagem e adubação para hortaliças sob cultivo protegido*

24

Adubação mineral de cobertura:

Alface – 60 a 120 kg/ha de N; 20 a 40 kg/ha de P2O5 e 30 a 60 kg/ha de K2O, parcelando as aplicações

através da fertirrigação. A alface do tipo americana deve receber doses de potássio 20 a 40% superiores em relação

às alfaces lisa e crespa.

Almeirão e Chicória – 60 a 120 kg/ha de N, parcelando as doses através da fertirrigação.

Couve de folhas – 60 a 120 kg/ha de N e 20 a 40 kg/ha de K2O, parcelando as doses através da

fertirrigação. A cada 30 dias pulverizar as plantas com 0,5 g de molibdato de amônio e 1 g de ácido bórico por litro de

água.

Cebolinha – 60 a 90 kg/ha de N e 20 a 40 kg/ha de K2O, parcelando através da fertirrigação.

Rúcula – 90 a 150 kg/ha de N e 20 a 40 kg/ha de K2O parcelando as doses através da fertirrigação.

Salsa – 30 a 90 kg/ha de N e 20 a 40 kg/ha de K2O, parcelando através da fertirrigação.

Page 25: Calagem e adubação para hortaliças sob cultivo protegido*

25

Tabela V. Recomendações de adubação para plantio de pepino e

abobrinha1 sob cultivo protegido, conforme teores de nutrientes no solo.

Nitrogênio

P (resina), mg/dm3 K

+ trocável, mmolc/dm

3

0 - 25 26 - 60 >60 0 - 1,5 1,6 - 3,0 >3,0

N, kg/ha P2O5, kg/ha K2O, kg/ha

40 320 160 80 160 80 40

B, mg/dm3 Cu, mg/dm

3 Zn, mg/dm

3

0 - 0,30 >0,30 0 - 0,2 0,3 - 1,0 >1,0 0 - 0,5 >0,5

B, kg/ha Cu, kg/ha Zn, kg/ha

1 0 4 2 0 3 0

1Aplicar para a abobrinha 2/3 dos macronutrientes recomendados para o pepino.

Adubação mineral de cobertura: Aplicar 60 a 120 kg/ha de N; 40 a 80 kg/ha de P2O5 e 60 a 120 kg/ha de K2O,

parcelando através da fertirrigação.

Page 26: Calagem e adubação para hortaliças sob cultivo protegido*

26

Tabela VI. Recomendações de adubação para plantio de pimentão, pimenta-hortícola,

berinjela e jiló*, sob cultivo protegido, conforme teores de nutrientes no solo.

Nitrogênio

P (resina), mg/dm3 K

+ trocável, mmolc/dm

3 Zn, mg/dm

3

0 - 25 26 - 60 >60 0 - 1,5 1,6 - 3,0 >3,0 0 - 0,5 >0,5

N, kg/ha P2O5, kg/ha K2O, kg/ha Zn, kg/ha

40 480 240 120 160 80 40 3 0

*Aplicar para berinjela e jiló, 2/3 das doses dos macronutrientes recomendados para o pimentão e a

pimenta. Acrescentar à adubação de plantio 1 kg/ha de B e de 20 a 30 kg/ha de S.

Adubação mineral de cobertura: Aplicar de 80 a 160 kg/ha de N; 60 a 100 kg/ha de P2O5 e 80 a 160 kg/ha

de K2O, parcelando através da fertirrigação.

Page 27: Calagem e adubação para hortaliças sob cultivo protegido*

27

Tabela VII. Recomendação de adubação para plantio de tomate sob cultivo

protegido, conforme teores de nutrientes no solo.

Nitrogênio

P (resina), mg/dm3 K

+ trocável, mmolc/dm

3

0 - 25 26 - 60 >60 0 - 1,5 1,6 - 3,0 >3,0

N, kg/ha P2O5, kg/ha K2O, kg/ha

60 720 360 180 240 120 60

B, mg/dm3 Zn, mg/dm

3

0 - 0,30 0,31 - 0,60 > 0,60 0 - 0,5 0,6 - 1,2 > 1,2

B, kg/ha Zn, kg/ha

2,5 1 0 5 3 0

Acrescentar à adubação de plantio 20 a 40 kg/ha de S.

Adubação mineral de cobertura: Aplicar de 200 a 300 kg/ha de N; 60 a 120 kg/ha de P2O5 e 150 a 300

kg/ha de K2O, parcelando as doses através da fertirrigação.

Page 28: Calagem e adubação para hortaliças sob cultivo protegido*

28

Sistemas de fertirrigação em cultivo protegido

O principal sistema de fertirrigação é aquele que utiliza mangueiras em forma de fitas ou “tripas”, ou

“espaguetes” na superfície ou sub-superfície do solo. Essas mangueiras contém micro-orifícios, na forma de poros. As

mangueiras de irrigação podem ou não ser cobertas com plásticos colocados ao longo das linhas plantadas com

hortaliças (Figuras 13 e 14).

Figura 13: Gotejadores do tipo “fita” ou “espaguete” sobre a superfície do solo plantado com

pimentão. Foto: Edson Akira Kariya, Itapetininga-SP.

Page 29: Calagem e adubação para hortaliças sob cultivo protegido*

29

Figura 14. Mudas de tomate plantadas sobre “mulching” de plástico com gotejadores na sub-

superfície do solo. Foto: Edson Akira Kariya, Itapetininga-SP

Page 30: Calagem e adubação para hortaliças sob cultivo protegido*

30

Outro sistema de fertirrigação é realizado por tubo-gotejadores que são dispostos ao longo das linhas de

irrigação e gotejam água com fertilizantes sobre vasos de plástico contendo substratos de diferentes composições

(Figuras 15 e 16).

Os substratos devem ser previamente esterilizados contra patógenos, e adubados conforme análise química

que identifique seus teores de nutrientes.

Figuras 15 e 16: Irrigação e fertirrigação em tomate através de tubos-gotejadores. Fotos: Mário L.

Cavallaro Jr., Elias Fausto-SP.

Em estufas denominadas tipo túnel alto nas formas de arco e de capela (Fig. 17) quando são plantadas

hortaliças folhosas, é também utilizado o sistema de mini-aspersão com barras contendo os aspersores na altura de

50 a 60 cm.

Deve-se aplicar água limpa sobre as hortaliças após a aplicação dos fertilizantes via água de irrigação.

Page 31: Calagem e adubação para hortaliças sob cultivo protegido*

31

Figura 17: Sistema de mini-aspersão utilizado no cultivo de hortaliças folhosas, como o espinafre da Nova Zelândia, sob estufa do tipo capela. Foto: Paulo E. Trani, Campinas-SP.

Na produção de mudas de hortaliças a fertirrigação pode ser realizada no sistema de nebulização.

Deve-se irrigar com água limpa após a aplicação dos fertilizantes altamente solúveis, para que não ocorra

“queima” das folhas por possíveis resíduos. (Figura 18).

Figura 18: Fertirrigação por nebulização em mudas de alface. Aplicar água limpa após a utilização dos fertilizantes. Foto: Oliveiro Bassetto Jr., Santa Cruz do Rio Pardo-SP.

Page 32: Calagem e adubação para hortaliças sob cultivo protegido*

32

Outro sistema, menos utilizado, consiste na aplicação dos fertilizantes na água de inundação onde as mudas

de hortaliças, dentro de copinhos perfurados, são colocadas sobre “piscinas”, onde ocorre a absorção de água e

nutrientes pelas plantas (Figura 19).

Figura 19: Mudas de pepino em copinhos de plástico, no sistema de inundação. Foto: Oliveiro Bassetto Jr., Santa Cruz do Rio Pardo-SP.

Page 33: Calagem e adubação para hortaliças sob cultivo protegido*

33

Recomendações finais

É sempre fundamental a utilização da análise de solo e da análise foliar como

ferramentas para o cálculo correto da calagem e adubação em hortaliças.

É importante também a prática de rotação entre espécies e famílias de hortaliças

sob estufa agrícola como no campo, a céu aberto. Isso impede ou diminui a incidência de

nematóides e fungos de solo.

Devemos fornecer água de irrigação em doses monitoradas por equipamentos

apropriados. Utilizar termômetros de máxima e mínima para verificação das variações de

temperatura que ocorrem no interior das estufas com hortaliças e outras culturas.

Recomenda-se finalmente, o acompanhamento do cultivo de hortaliças e outras

culturas pelo Engenheiro Agrônomo e Técnico Agrícola local e regional.

Page 34: Calagem e adubação para hortaliças sob cultivo protegido*

34

Referências bibliográficas

LORENZ, O. A.; MAYNARD, D.N. Handbook for Vegetable Growers (3 ed.) New York (J. Wiley &Sons), 1988, 455 p. OLIVEIRA, C.R.; BARRETO, E.A; FIGUEIREDO,G.J.B.; NEVES, J.P.S.; ANDRADE, L.A.;MAKIMOTO, P.; DIAS, W.T. Cultivo em Ambiente Protegido. Campinas, Coordenadoria de Assistência Técnica Integral, 1997. 31 p. (Boletim Técnico, 232). RAIJ, B. van; CANTARELLA, H.; QUAGGIO, J. A.; FURLANI, A. M. C. Recomendações de Adubação e Calagem para o Estado de São Paulo, 2.ed. rev. ampl. Campinas, Instituto Agronômico & Fundação IAC, 1997. 285 p. (Boletim Técnico, 100) RIBEIRO, A.C.; GUIMARÃES, P.T.G.; ALVAREZ V.,V.H.(eds.). Recomendações para o uso de corretivos e fertilizantes em Minas Gerais – 5ª aproximação.Viçosa - Comissão de Fertilidade do Solo do Estado de Minas Gerais, 1999. 359 p. TRANI, P.E.; TIVELLI, S.W.; CARRIJO, O. A. Fertirrigação em Hortaliças. Campinas, Instituto Agronômico, 2011. 51 p. (Boletim Técnico IAC, 196 – 2a. Ed. Rev. Atual.). Disponível em http://www.iac.sp.gov.br/publicacoes/publicacoes_online/pdf/BT_196_FINAL.pdf. Consultado em 20 de março de 2012.

Agradecimentos

O autor agradece pela contribuição técnica e fotos, a Anita de Souza Dias Gutierrez, Edson Akira Kariya,

Francisco A. Passos, Geraldo Fernandes Santos, Gilberto Job Figueiredo, Jairo Hanasiro, Mário L. Cavallaro Júnior,

Mônica Sartori de Camargo, Oliveiro B. Bassetto Júnior, Paulo Ferrari, Paulo T. Della Vecchia e Sérgio Hanai.

Agradecimentos também a André Luis Trani, pela revisão e composição final deste trabalho.