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HISTÓRICO E ASPECTOS AMBIENTAIS DO DESENVOLVIMENTO DO BALNEÁRIO CASSINO, RS ATÉ O ANO DE 2001 Cláudia Figueiredo Antunes LOUZADA 1 & Luiz Felipe NIENCHESKI 2 1 Acadêmica do Curso de Especialização em Ecologia Aquática Costeira, FURG; 2 Lab. Hidroquímica, Departamento de Química, Fundação Universidade Federal do Rio Grande – FURG; Caixa Postal 474, Rio Grande, RS, 96.201-900 e-mail [email protected] 1 Acadêmica do Curso de Especialização em Ecologia Aquática Costeira, FURG; 2 Lab. Hidroquímica, Departamento de Química, Fundação Universidade Federal do Rio Grande – FURG; Caixa Postal 474, Rio Grande, RS, 96.201-900 e-mail [email protected] RESUMO: O propósito deste trabalho foi analisar o crescimento e o desenvolvimento sócio- econômico do Balneário do Cassino e verificar, através de pesquisa bibliográfica, a qualidade ambiental e equilíbrio ecológico deste ecossistema frente a estas variáveis, dando ênfase às décadas de 80 e 90 e, não deixando também de registrar acontecimentos históricos e fatos recentes deste ambiente. RESUMO: O propósito deste trabalho foi analisar o crescimento e o desenvolvimento sócio- econômico do Balneário do Cassino e verificar, através de pesquisa bibliográfica, a qualidade ambiental e equilíbrio ecológico deste ecossistema frente a estas variáveis, dando ênfase às décadas de 80 e 90 e, não deixando também de registrar acontecimentos históricos e fatos recentes deste ambiente. INTRODUÇÃO INTRODUÇÃO O Balneário do Cassino situa-se na porção leste da Planície Costeira do Rio Grande do Sul, na cidade do Rio Grande, localizado junto ao estuário da Lagoa dos Patos (Villwock & Martins, 1972) (Fig.1). Este ecossistema caracteriza-se por ser uma praia arenosa, com clima subtropical marítimo. A temperatura média de inverno é de 13º C e de verão é de 22º C (FURG: on line www.furg.br). O Balneário do Cassino situa-se na porção leste da Planície Costeira do Rio Grande do Sul, na cidade do Rio Grande, localizado junto ao estuário da Lagoa dos Patos (Villwock & Martins, 1972) (Fig.1). Este ecossistema caracteriza-se por ser uma praia arenosa, com clima subtropical marítimo. A temperatura média de inverno é de 13º C e de verão é de 22º C (FURG: on line www.furg.br). Figura 1 – Localização do município de Rio Grande, RS (fonte: Laboratório de Geologia, FURG) Cadernos de Ecologia Aquática 2 (2):28-42, ago - dez 2007

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HISTÓRICO E ASPECTOS AMBIENTAIS DO DESENVOLVIMENTO DO BALNEÁRIO CASSINO, RS ATÉ O ANO DE 2001 Cláudia Figueiredo Antunes LOUZADA1 & Luiz Felipe NIENCHESKI 2

1 Acadêmica do Curso de Especialização em Ecologia Aquática Costeira, FURG; 2 Lab. Hidroquímica, Departamento de Química, Fundação Universidade Federal do Rio Grande – FURG; Caixa Postal 474, Rio Grande, RS, 96.201-900 e-mail [email protected]

1 Acadêmica do Curso de Especialização em Ecologia Aquática Costeira, FURG;

2 Lab. Hidroquímica, Departamento de Química, Fundação Universidade Federal do Rio Grande – FURG; Caixa Postal 474, Rio Grande, RS, 96.201-900 e-mail [email protected]

RESUMO: O propósito deste trabalho foi analisar o crescimento e o desenvolvimento sócio-econômico do Balneário do Cassino e verificar, através de pesquisa bibliográfica, a qualidade ambiental e equilíbrio ecológico deste ecossistema frente a estas variáveis, dando ênfase às décadas de 80 e 90 e, não deixando também de registrar acontecimentos históricos e fatos recentes deste ambiente.

RESUMO: O propósito deste trabalho foi analisar o crescimento e o desenvolvimento sócio-econômico do Balneário do Cassino e verificar, através de pesquisa bibliográfica, a qualidade ambiental e equilíbrio ecológico deste ecossistema frente a estas variáveis, dando ênfase às décadas de 80 e 90 e, não deixando também de registrar acontecimentos históricos e fatos recentes deste ambiente.

INTRODUÇÃO INTRODUÇÃO

O Balneário do Cassino situa-se na porção leste da Planície Costeira do Rio Grande do Sul, na cidade do Rio Grande, localizado junto ao estuário da Lagoa dos Patos (Villwock & Martins, 1972) (Fig.1). Este ecossistema caracteriza-se por ser uma praia arenosa, com clima subtropical marítimo. A temperatura média de inverno é de 13º C e de verão é de 22º C (FURG: on line www.furg.br).

O Balneário do Cassino situa-se na porção leste da Planície Costeira do Rio Grande do Sul, na cidade do Rio Grande, localizado junto ao estuário da Lagoa dos Patos (Villwock & Martins, 1972) (Fig.1). Este ecossistema caracteriza-se por ser uma praia arenosa, com clima subtropical marítimo. A temperatura média de inverno é de 13º C e de verão é de 22º C (FURG: on line

www.furg.br).

Figura 1 – Localização do município de Rio Grande, RS (fonte: Laboratório

de Geologia, FURG)

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As características morfodinâmicas do Balneário Cassino permitem que uma grande diversidade de espécies utilize este ambiente como local para alimentação, reprodução e descanso para suas rotas migratórias. Nesta praia as espécies de aves convivem pacificamente e repartem entre si as riquezas do ambiente (Vooren & Ilha, 1995).

Como este é um ambiente complexo e dinâmico, que permite o abrigo e o desenvolvimento da vida em todas as suas formas, torna-se necessário mostrar os cuidados a tomar e os progressos já conquistados.

O interesse em estudar as variações ocorridas no Balneário do Cassino deve-se à sua importância ambiental, suas relações ecológicas, seu crescimento e desenvolvimento sócio-econômico.

É indispensável despertar a consciência da preservação deste ecossistema, visto que as transformações ocorridas são, na sua maioria, provocadas pelo homem e acontecem gradativamente. Muitas vezes a recuperação de um ecossistema é lenta, não permitindo que a Natureza retorne ao seu estado inicial, alterando assim, o seu meio e o meio que o cerca, não permitindo que as futuras gerações conheçam e se apropriem da sua origem e história, sem as possíveis alterações.

Este trabalho foi desenvolvido com o objetivo de identificar e analisar as variações ambientais ocorridas no Balneário do Cassino, em decorrência do seu crescimento e desenvolvimento sócio-econômico.

As informações necessárias para o levantamento de dados, investigação, análise e comparação das transformações ocorridas no Balneário Cassino foram obtidas em diversos órgãos governamentais e não-governamentais tais como: Núcleo de Educação e Monitoramento Ambiental (NEMA), Companhia Riograndense de Saneamento (CORSAN), Fundação Estadual de Proteção Ambiental (FEPAM), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente dos Recursos Naturais e Renováveis (IBAMA), Prefeitura Municipal do Rio Grande, Autarquia do Balneário Cassino, Biblioteca Riograndense, Biblioteca Central e Setorial, Museu Oceanográfico e Laboratório de Hidroquímica da Fundação Universidade Federal do Rio Grande. Buscou-se assim, resgatar sua história, mostrando seu potencial e alertando sobre os impactos que já se fazem presentes e os que poderão surgir em decorrência da falta de preservação e conscientização ambiental.

1. Balneário do Cassino: sua origem e história

O Balneário do Cassino surgiu de um projeto de Antônio Cândido Sequeira acompanhado pelo Dr. Soares do Nascimento, Barão João J.F. Moreira, Visconde Antonio Pinto da Rocha, Cel. Augusto César Leivas e outros. Os governadores da província de São Pedro do Rio Grande do Sul, Conselheiro Tritão de Alencar Araripe e seu sucessor Dr. Rodrigo de Azambuja Vilanova, estavam a par do sucesso dos balneários de Dieppe, Deauvile e Biarrits, na França, e concordaram com a intenção destes capitalistas, em criar um balneário na costa oceânica do nosso país. Na época acreditava-se no poder medicinal dos banhos de mar e os médicos recomendavam tal tratamento, além da fama na Europa dos outros balneários já existentes.

Nesta época não existiam estações balneárias em toda a costa oceânica, esta era uma área desabitada e rodeada apenas por um areal ao sabor dos ventos. Houve intenção do poder público de viabilizar um empreendimento para esta área desabitada que foi outorgado à Companhia Carris Urbanos do Rio Grande, em 17 de dezembro de 1885, pela lei número 1551. A concretização desta idéia foi levar a linha férrea até a costa.

No verão de 1890, em 26 de janeiro, a Companhia entregou ao público local e visitantes o Hotel Cassino, com 136 quartos, grandes salões de concertos, bailes, jogos e leituras. Além disso os visitantes poderiam dispor do serviço de bondes puxados a burro que transportavam os banhistas ao logo da Avenida até a praia, onde os banhistas podiam dispor de cabines para a troca de roupas de banho.

Em 1909 a Companhia Carris Urbanos foi a leilão público, sendo seus imóveis, móveis e utensílios, arrematados pelo Cel. Augusto César Leivas. Em 22 de junho de 1926 vem a falecer, Cel. Leivas, deixando sua sobrinha Maria José Leivas Otero, como sua única herdeira. A partir deste momento a família Otero torna-se responsável pela comercialização de lotes e terrenos deste Balneário, conhecido na época como Vila Sequeira, em homenagem a Antônio Cândido Sequeira.

Não tardou muito e o Balneário começou a ser chamado de “Casino”, com grafia italiana, devido aos jogos oferecidos nas dependências dos hotéis.

O atual Hotel Atlântico também serviu como cassino de jogos e estação ferroviária, motivo de grande interesse na criação do balneário. Surgiram então construções ao longo da

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avenida, realizadas por pessoas pertencentes à elite da época. De acordo com Valente (1993) que realizou os registros arquitetônicos do município, estes projetos podem ser vistos e apreciados ao longo da Avenida Rio Grande (Fig. 2).

A valorização dos lotes localizados na avenida, devido à construção da linha ferroviária, justificou o crescimento do balneário em posição perpendicular à linha da praia.

BA

DC

Figura 2- Arquitetura da época, ainda hoje preservada em A, B, C, D

2. Histórico Evolução do crescimento e desenvolvimento do Balneário do Cassino (Fig. 3): 1885 ⇒ Concessão a Companhia Carris Urbano para início da grandiosa obra de planejamento das linhas férreas e urbanização do Balneário. 1889 ⇒ Criação da área central do Cassino. 1890 ⇒ Inauguração da Vila Sequeira . 1914 ⇒ Ampliação da área central do Cassino. 1917 ⇒ Criação de duas praças na área central do Cassino. 1927 ⇒ Construção da rodovia Rio Grande-Vila Sequeira. 1930 ⇒ Instalação das primeiras telefonias. 1941 ⇒ Início da eletrificação. 1949 ⇒ Criação do loteamento Stela Mares, com 804 lotes, neste verificamos o poder econômico como sendo o principal agente nas benfeitorias coletivas, pois se trata de um loteamento onde seus moradores procuram melhorias para sua localidade, muitas delas realizadas com recursos próprios . 1953 ⇒ Surge o loteamento Querência com 2.542 lotes, localizada aproximadamente a 3.850m da Estação Férrea e o loteamento Princesa do Sul. 1957 ⇒ Criação do loteamento denominado, Cidade Balneária, totalizando 11.188 lotes. 1964 ⇒ Balneário Parque Cassino, mais um loteamento entregue a comunidade. 1969 ⇒ O abastecimento de água potável já uma realidade para os moradores da avenida; surge o Praião, uma ocupação na área dos terrenos de Marinha. 1980 ⇒ Criação de uma área denominada de Costa Sul. 1986 ⇒ Surgem os ABCs I,II,III,IV,V,VI,VII,VIII,IX e X.

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Figura 3 – Crescimento e desenvolvimento do Balneário (fonte: Autarquia do Balneário Cassino).

3. Caracterização do Balneário

O Balneário do Cassino – ou Praia do Cassino - está localizado na Planície Costeira do Rio Grande do Sul. Esta área de 620Km de comprimento, caracteriza-se por apresentar um relevo plano e uniforme devido à falta de movimentos tectônicos fortes (Ribeiro 1995).

A Planície Costeira ocupa a porção leste do estado, compreendida entre 29º30’34’’S de latitude e 49º42’41’’W de longitude, na Barra do Rio Mampituba e 33º45’09’’S e 53º23’22’’W, no Arroio Chuí, onde se localiza o maior conjunto de lagoas litorâneas da América do Sul. Estes

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corpos d’água surgiram das várias transgressões e regressões marinhas ocorridas neste ambiente (Vieira 1983).

Do ponto de vista estrutural, a área do município de Rio Grande é definida a partir das grandes acumulações sedimentares de origem marinha e continental, de idade recente (Vieira 1983).

A praia do Cassino em decorrência das regressões e transgressões marinhas ocorridas nos últimos 400.000 anos caracteriza-se por apresentar um solo tipicamente arenoso . Outro fator característico é a presença marcante de três tipos de ventos: o nordeste, originário do anticiclone atlântico, o sueste ou carpinteiro da costa e o vento sul resultante do movimento anticiclone móvel polar (Weztel 1995). A maré é de baixa freqüência durante o ano, variando entre 0,40 a 0,60cm (Vieira 1983).

Podemos verificar, atualmente uma fase de regressão marinha, onde a linha de praia vem se deslocando continuamente a uma velocidade considerada alta e não uniforme para o trecho litorâneo. Este fato deve-se aos efeitos da construção dos molhes, onde o molhe oeste funciona como uma barreira artificial, causando a acumulação de sedimentos, aumentando assim, a largura da praia. Outra característica relevante do Balneário do Cassino é a presença das dunas costeiras que se formaram durante os últimos 5.000 anos pela interação entre o mar, o vento, a areia e a vegetação. As correntes marítimas litorâneas transportam grandes quantidades de areia, e parte destes grãos são depositados na praia pelas marés altas. A areia acumulada é transportada pelos ventos para as áreas mais elevadas da praia, formando as dunas (NEMA: on line, www.octopus.furg.br/NEMA). As dunas possuem a função de impedir o avanço da água do mar e da areia da praia, além de protegerem o lençol de água doce evitando a entrada de água do mar.

A fauna característica das dunas muitas vezes passa desapercebida. Mas com um olhar mais minucioso verifica-se a presença de rastros, montículos de dejetos e pequenos orifícios que identificam a presença de vida. Os insetos são dominantes, mas também ocorrem aranhas, sapos, lagartixas, o caranguejo maria-farinha (Ocypode quadrata) e um curioso vertebrado, o tuco-tuco (Ctenomys flamarioni), roedor que habita túneis escavados nas dunas e se alimenta de caules e sementes da vegetação fixadora e nativa das dunas (Fig.4) .

Verifica-se que as plantas nativas das dunas apresentam adaptações ambientais em relação à salinidade, atrito dos grãos e movimento de areia (Cordazzo & Seeliger 1988).

Figura 4 –Vegetação das dunas do Balneário do Cassino, RS

Há espécies que residem o ano inteiro e espécies migratórias, que utilizam este ambiente

para descanso, alimentação e reprodução. O exemplo mais comum é o das aves, facilmente visualizadas na zona de varrido, onde estão a procura de alimento. Ao todo 33 espécies de aves descansam e se alimentam nesta praia. Destas, 23 são comumentes encontradas, como por exemplo, o ostreiro ou piru-piru (Haematopus palliatus), a gaivota-de-capuz (Larus dominicanus) e a batuíra-de-colar-simples (Charadrius collaris), entre outras (Vooren & Ilha 1995).

As espécies mais encontradas na zona de varrido, no vai-e-vem das ondas, são a tatuíra (Emerita brasiliensis), o marisco (Mesodesma mactroides) e o maçambique (Donax hanleyanus). Na maré-alta os siris e os caranguejos podem atacar as populações da zona de varrido (Gianuca 1998).

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Pode-se observar que este ambiente possui importantes funções onde, num mesmo hábitat, uma grande variedade e quantidade de espécies convivem em harmonia e cada uma desempenha um importante papel neste ambiente.

Trata-se portanto, de um ambiente complexo, que possui estado dinâmico de equilíbrio ecológico porém, sua sobrevivência dependerá significativamente da ação do homem, pois qualquer alteração poderá comprometer suas características e influenciar na qualidade ambiental deste ecossistema (Cordazzo & Seeliger 1988).

4. Desenvolvimento e Crescimento

Passaram-se anos da criação do balneário, atualmente seu crescimento e desenvolvimento devem-se principalmente à sua imensa área de lazer, infra-estrutura e o forte mercado imobiliário que facilita a aquisição de seus lotes.

Os atrativos do Balneário são sem dúvida seus pontos turísticos. 4.1. Monumento à Iemanjá –

Encontra-se no Balneário do Cassino o primeiro monumento erguido à Iemanjá no Brasil (Fig.5). Durante os dias 1º e 2 de fevereiro é realizada uma festa em homenagem a Orixá das águas, a consagrada Iemanjá, contando com a presença de inúmeros fiéis, centros umbandistas e visitantes de várias localidades, que costumam prestar homenagens a Rainha do Mar.

Figura 5 – Estátua de Iemanjá; (fonte Piragine, 1992)

4.2. Navio “Altair” (Fig. 6) - conhecido como navio encalhado, é um forte ponto turístico da praia. Está localizado a 14Km ao sul do Balneário (à direita da estátua de Iemanjá). Este navio encalhou na praia devido a uma forte tempestade ocorrida no ano de 1976 (Piragine, 1992).

Figura 6 – Navio Altair; fonte PIRAGINE (1990)

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4.3. Horto Florestal – Possui uma área de 4 hectares onde são cultivadas diversas mudas de flores e árvores que servem para o reflorestamento e embelezamento do balneário. São cerca de 3.500 espécies, sendo 800 nativas.

4.4. Antiga Viação Férrea (Fig.7) -Localiza-se na entrada do Balneário Cassino, tendo funciondo como ponto central de informações turísticas até 2004. Atualmente abriga um centro cultural.

Figura 7 – Prédio da antiga Viação Férrea no Balneário Cassino, atualmente Centro de Cultura

4.5. Molhes da Barra de Rio Grande - propiciam um magnífico passeio até o farol oeste, um dos pontos mais bonitos e marcantes da praia. Os turistas têm a oportunidade de percorrer 4,5Km mar adentro, através de vagonetas, observando as belezas do local e a fauna que ali habita (Fig. 8).

Figura 8 - Vagonetas dos Molhes da Barra de Rio Grande Pelo fato da barra de acesso ao porto de Rio Grande ser altamente instável, existia uma

necessidade imperiosa de fixá-la. Uma das primeiras plantas que registra a barra é a carta “Plano Del Rio Grande de San Pedro” (Fig.9). Nota-se que a barra era formada por um banco submerso, com convexidade voltada para o mar. A barra apresentava uma tendência de abrir em direção sudoeste com uma profundidade de 4,5m (Asmus, 2001).

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Figura 9 – Planta da Barra de Acesso ao porto de Rio Grande (fonte: Programa Train-Sea-Coast, FURG).

A cidade do Rio Grande desde os primórdios, mesmo antes da criação de quaisquer vias

de comunicação terrestre, gozou do privilégio ímpar de ser duplo ponto terminal, em função de sua situação geográfica. Por um lado a navegação oceânica, através da barra e o profundo canal do norte e, por outro lado, a vasta rede de navegação interior, através do Canal de São Gonçalo, Lagoa Mirim e do Rio Jaguarão.

A barra do Rio Grande foi, incontestavelmente, a primeira preocupação material de José da Silva Paes, incumbido de construir o Forte Jesus, Maria José, no início da povoação do Rio Grande. Assim, em 20 de agosto de 1737 foram levantados na entrada da barra, dois grandes mastros de madeira para os serviços de bandeiras, indicando as condições do canal. Chamada de Cemitério Naus, Cabo das Tormentas da América do Sul no passado. A Barra do Rio Grande, é hoje, o mais seguro ancoradouro da costa do Atlântico Sul (Jornal Agora :1987)

Em 1846, foi criada a “Inspetoria de Praticagem”, o Governo Imperial, então, começou a estudar e providenciar a idéia de abrir um canal profundo, através da barra, tornando-a praticável à navegação de grande calado. Foram consultados vários engenheiros e todos negaram a viabilidade da empreitada.

Mas a Câmara de Comércio, continuou insistindo com o Governo Imperial até ser autorizada a mandar proceder os estudos necessários à organização de um projeto definitivo. O Poder Legislativo votou a verba de 840 contos de réis e nomeou uma comissão, pela portaria de 13 de janeiro de 1883, cujo chefe escolhido foi o engenheiro Honório Bicalho, Diretor das Obras Públicas da Secretaria do Estado.

No entanto, somente em 1887, o governo abriu concorrência pública para a execução do projeto. Na ausência de propostas aceitáveis, foi essa concorrência prorrogada por cinco meses. Em 1888 a Societé Anonime Franco Bresilieéne de Travaux Publiques apresentou uma, que por estar em vários pontos fora das condições do edital, não foi aceita. Em 1894, a Comissão

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Melhoramento da Barra, foi incumbida de executar as obras, por administração direta e de acordo com as verbas que fossem anualmente votadas.

Passaram-se, entretanto, outros anos, outras idéias vieram à tona e, finalmente em 1903, José Carlos de Carvalho, em missão nos Estados Unidos, recebeu do Presidente, Dr. Rodrigues Alves, a incumbência de estudar um meio prático de resolver o problema da abertura. Em 12 de agosto de 1905, o Eng. Corthell apresentou ao Ministro da Aviação e Obras uma proposta submetida ao exame de uma Comissão do Ministério constituída pelos engenheiros Francisco Bicalho, Alfredo Lisboa e Ernesto Otero. Em 12 de setembro foi assinado o contrato.

Porém, o engenheiro Corthell não conseguiu nos Estados Unidos, o capital necessário e teve de recorrer a capitalistas europeus formando-se, em Paris, a Cie. Française do Porto de Rio Grande do Sul. Entretanto, a Companhia Francesa insistia para que as obras fossem de acordo com os planos originais do Engenheiro Honório Bicalho, tendo discordado das modificações apresentadas pelo Eng. Corthell. Veio a dispensa do engenheiro, passando à Cia. Francesa a responsabilidade na direção das obras da Barra e do Porto de Rio Grande. Só então, tomaram impulso os trabalhos preparatórios para a execução da grandiosa obra, a qual foi autorizada a funcionar no Brasil, pelo decreto nº 02 de julho de 1908 (Jornal Agora : 1987).

Para o fornecimento das pedras necessárias à construção dos molhes da barra e das obras do porto, foi adquirido o maciço rochoso na localidade denominada Monte Bonito em Pelotas. Iniciaram-se os trabalhos preparatórios da construção da linha férrea, ligada à gare de Pelotas. Depois foi adquirido o maciço rochoso, nas proximidades da estação do Capão do Leão, construção de alojamentos para o pessoal, abastecimento d’água, etc. Em seguida, foram construídas várias linhas férreas para o transporte de pedras e do material destinado às obras num total de 120Km de estrada de ferro .

Foi construída, também, uma ponte, ligando a 4ª Secção da Barra, passando por cima do Saco da Mangueira, a fim de ser possível transportar as pedras para o Molhe Oeste. A obra praticamente foi concluída em 1915. Em 1º de março de 1915, o Navio Escola Benjamin Constant, da Armada Nacional, com calado de 6,35 metros transpôs a barra e atracou no cais do Porto Novo (Bettanzos 1995)

É inegável a importância desta esplêndida obra, possibilitando a entrada de embarcações de grande porte e servindo também como área de lazer e turismo ambiental (Fig. 11). Nos molhes são observados os tetrápodes utilizados na recuperação dos mesmos na década de 90.

CA B

Figura 11 – Fotos dos Molhes da Barra de Rio Grande; A - acesso das embarcações na entrada dos Molhes; B - local utilizado como área de lazer; C – tetrápode de fixação dos molhes.

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5. Cultura e Religiosidade 5.1. Feira do Livro

Promovida pela Fundação Universidade Federal do Rio Grande, entre os meses de janeiro e fevereiro, conta com uma variedade de livros e revistas, apresentações de dança, teatro, exposições de trabalhos artísticos, shows musicais e sessões de autógrafos, também fazem parte deste magnífico evento. 5.2. Feira do Doce

Espaço de lazer e degustação de doces típicos da cultura sul rio-grandense. Acontece nos meses de janeiro e fevereiro, com participação de doceiras de diversos municípios do sul do estado. 5.3.Festa de Iemanjá

Realização de cultos Afro-brasileiros. Essa é uma das maiores manifestações culturais de nossa região. 5.4. Concerto Ondas de Natal

Realizado em parceria com a Prefeitura de Rio Grande e Igreja Sagrada Família do Cassino, no mês de dezembro. Abrilhanta este espetáculo encenações artísticas de passagens bíblicas e apresentações de corais de vários cantos do Estado. Os fiéis colaboram na ornamentação da avenida Rio Grande e no ato de representação do nascimento do Cristo. Após as belíssimas apresentações dos corais, a noite culmina com um esplêndido “show” pirotécnico.

5.5. Estação Cultura No prédio da antiga Viação Férrea funciona o Centro de Produção e Formação em Arte e Cultura desde 2004. É um ponto de cultura ligado ao Programa Federal Cultura Viva “Art-Estação”, onde são desenvolvidos cursos de costura, serigrafia, desenho, fotografia e vídeo com foco na educação patrimonial 6. Administração do Balneário

O Balneário do Cassino é administrado pela Prefeitura Municipal do Rio Grande. Em 25 de abril de 1978 foi criada a Autarquia do Balneário Cassino de acordo com a Lei nº 3254, mas só entrou em funcionamento no dia 01 de julho de 1978. Com propósito de administrar e manter o balneário em condições de moradia e turismo, a autarquia conta com o auxílio de secretarias do Município, que deslocam funcionários e equipamentos para efetuarem sua manutenção (Fig. 12).

Figura 12: Autarquia do Balneário Cassino

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7. Balneabilidade A balneabilidade refere-se à análise que detecta a quantidade de coliformes presentes

num determinado ponto. Trata-se de uma importante conquista, pois a partir dos resultados podemos verificar as condições ambientais do local.

Com o objetivo de monitorar as condições das águas para banho no Balneário do Cassino, são realizadas análises durante os meses de maior fluxo de visitantes e banhistas (dezembro a março). Estas análises são realizadas pela Fundação Universidade Federal do Rio Grande – FURG, contratada pela Fundação Estadual de Proteção Ambiental – FEPAM (www.fepam.rs.gov.br/balneabilidade).

O Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA 1986) em sua Resolução N. 20 estabelece:

Art. 26 – As águas doces, salobras e salinas destinadas a balneabilidade (recreação de contato primário) serão enquadradas e terão sua condição avaliada nas categorias EXCELENTE, MUITO BOA, SATISFATÓRIA E IMPRÓPRIA

A partir dos resultados das análises os locais podem ser considerados próprios ou

impróprios para o banho. O local próprio para banho significa que a água da praia não apresenta contaminação por esgotos. Um local é impróprio para o banho quando mais de duas análises de uma série de cinco amostras, indicarem contaminação por esgotos, ultrapassando os índices bacteriológicos admitidos, presença de resíduos ou despejos (sólidos ou líquidos), presença de óleos, graxas, pH menor que 5 ou maior que 8,5 e outros fatores que prejudiquem a recreação e possam ser capazes de oferecer riscos à saúde. Os locais de coleta são escolhidos conforme o maior fluxo de veranistas e próximos a lugares suspeitos de contaminação.

Ainda, segundo a resolução do CONAMA (1986): Art. 34 – “... sempre que houver uma afluência ou extravasamento de esgotos capaz de

oferecer sério perigo em praias ou outros balneários, o trecho afetado deverá ser sinalizado, pela entidade responsável, com bandeiras vermelhas constando a palavra POLUÍDA em cor negra.”

No Balneário do Cassino pode-se constatar a presença de placas indicativas de lugares

impróprios para banho que são avaliados semanalmente pela FEPAM/FURG. Ressalta-se a importância desta sinalização para a garantia de uma recreação saudável. Verifica-se a garantia das condições de banho até 100 metros do local da placa.

Na tabela 1 estão os resultados das amostras nos locais de avaliação entre os anos de

1999 e 2001.

Tabela 1 – Balneabilidade do Balneário Cassino no período de 1999/2001; fonte - FEPAM

Pontos Condições Ano 99/2000

Condições Ano 2000

Condições Ano 2001

Locais de avaliação

1 Não houve coleta Própria para banho Imprópria para banho

Ponto 01 – 200m à direita da rua Júlio de Castilhos

2 Não houve coleta Própria para banho Própria para banho Ponto 02 – 300m à esquerda da rua do Riacho

3 Própria para banho Própria para banho Própria para banho Ponto 03 - Aprox. 500m ao Sul dos Molhes

4 Própria para banho Própria para banho Imprópria para banho

Ponto 04 - Em frente à rua Buenos Aires

5 Própria para banho Própria para banho Própria para banho Ponto 05 - Em frente ao Terminal Turístico

6 Própria para banho Própria para banho Própria para banho Ponto 06 - Em frente à EMA (Estação Marinha de Aquacultura) da FURG

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Histórico e aspectos ambientais do desenvolvimento do Balneário do Cassino ... 39

Pode-se constatar a presença de dois pontos de contaminação no Balneário do Cassino (tab.1). Observa-se que nos pontos 1 e 4 são pontos onde há uma grande concentração de banhistas, por estarem localizados na área central da praia. Esse é um dos fatores que evidencia a necessidade de preservação e manutenção deste ecossistema frente a estas variáveis.

Este é um problema ambiental relacionado aos esgotos ainda não instalados na área central do Cassino e pela inadequação das fossas sépticas e as inúmeras valetas que recebem os dejetos que acabam desaguando no mar.

Trata-se de um grave impacto ambiental decorrente do crescimento do balneário e da falta de investimentos em saneamento básico por parte do poder público municipal, sendo a principal causa do aumento da poluição do mar .

O impacto em questão deve ser tratado a partir de uma visão sistêmica do meio ambiente, onde o meio físico, o homem, suas necessidades e aspirações, e a realidade social que o cerca, devem ser considerados de forma integrada.

8. Ocorrência de lama na praia do Balneário Cassino

A primeira ocorrência de lama registrada no Balneário do Cassino foi no dia 20 de janeiro

de 1901 pelo jornal Mercantil de Pelotas. O material é proveniente da deposição de sedimentos trazidos pela Bacia Hidrográfica que se deposita nas adjacências da desembocadura lagunar entre profundidades de 6 a 22m. De acordo com Asmus (2001) este material é depositado na forma de “lama fluída” o qual pode sofrer compactação. Mapas confeccionados através de amostragens por sondas indicam espessuras da ordem de 1m depositada sobre areia fina, ao sul da desembocadura. Em decorrência das ressacas este material é removido pela ação das ondas e depositado na região de pós-praia.

Segundo Vilwock & Martins (1978) a acumulação de lama deve-se a episódios espasmódicos que mobilizam a lama contida nas depressões dos bancos arenosos que ocorrem paralelos à atual linha da costa e se deposita em todo o perfil da praia.

Outros registros da ocorrência da lama, alguns dos quais muitos significativos foram no verão de 1970, na 2ª quinzena de fevereiro de 1978 e mais recentemente no ano de 1999.

Em 1999 de acordo com o Engº. Mauro Lippertt foi removida a quantidade de 72.846 toneladas de lama da praia, correspondendo a uma área de 38.340 m3. Este material foi retirado nos meses de agosto e setembro do correspondente ano, sendo depositado nas pós-dunas.

Observações realizadas mostram que o material lamítico depositado na praia apresenta uma coloração negra e sofre oxidação em contato com o ar passando a cor castanha escura. A granulometria deste material, de tamanho médio, revela uma variação entre silte e argila.

O retorno deste material ao mar é impedido devido ao fato do mesmo perder parte de sua água ao espalhar-se no substrato arenoso. O contínuo movimento das ondas acumula este material, formando os depósitos de lama paralelos à linha da costa, como pode ser observado na figura 13.

Figura 13 - Ocorrência da lama e a presença das fendas de ressecamento; fonte: Programa Train-Sea-Coast, FURG.

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Foram verificados no ano de 1999 alguns problemas ambientais decorrentes deste

fenômeno, que vão desde o impacto ambiental sob os organismos ali presentes (no substrato arenoso), até o prejuízo nas atividades turísticas, que são intensas no período do verão (dezembro a fevereiro) devido ao mau cheiro e ao impacto visual que o material apresenta.

Trata-se, portanto, de um fenômeno cíclico neste ambiente, o qual pode ser catalizado pelas atividades de dragagem do porto do Rio Grande. Estas atividades podem contribuir na remobilização e deposição deste material na Praia do Cassino. Dependendo da interação lagunar-marinha, o aprofundamento de canais pode causar a diminuição do efeito da maré e aumentar assim, a deposição de sedimentos.

9. Impactos Ambientais

Alguns impactos foram detectados como sendo os principais agentes de interferência na conservação e preservação deste ambiente afetando diretamente sua qualidade ambiental:

9.1. contaminação do solo e da água pela inadequação dos esgotos e fossas sépticas - análises realizadas nos meses de verão, pela Fundação Universidade Federal do Rio Grande, têm detectado a presença de coliformes fecais nas vias de escoamento pluvial e também nos seus pontos de deságüe , prejudicando a balneabilidade da praia nestes pontos, conforme já citado. O maior responsável por este problema ambiental é a falta de planejamento no processo de urbanização do balneário. 9.2. mineração de areia – com objetivo de aterrar os lotes do balneário e sanar os problemas relacionados aos alagamentos e fossas, evidenciamos o impacto da exploração indevida de areia das dunas (local de conservação).

A exploração deste recurso mineral tem sido motivo de muita discussão, conflito e impasse. Por um lado estão os grandes empresários interessados na exploração em alta escala e por outro lado temos pessoas que possuem uma baixa renda que procuram nesta atividade aumentá-la. Visto que, cada lote (com 300m2) de terra no Cassino necessita em média 150m³ de aterro/lote. Nesse jogo de interesses, temos envolvido, nesta questão, órgãos não governamentais que pressionam o poder público para que cumpra a legislação em vigor. Entre elas a que ampara a sustentabilidade e manutenção dos cordões litorâneos e dunas, através do Projeto Dunas Costeiras elaborado pelo Núcleo de Educação e Monitoramento Ambiental – NEMA, onde prevê a recuperação e fixação do cordão de dunas e presta a assessoria aos órgãos competentes na preservação do ambiente. Através da Lei Municipal número 5261/98, torna as dunas patrimônio ambiental, cultural e paisagístico, e limita a abertura de ruas aos locais com canais de drenagens naturais, mas a cada veraneio surge a questão das aberturas das ruas e começa novamente o impasse. 9.3. lixo (resíduos sólidos) - de acordo com as informações obtidas na Autarquia do Balneário, um dos problemas crônicos do Cassino não é o lixo urbano pois, este é coletado, mas o lixo deixado pelos banhistas na praia e dunas. Também são encontrados nestes locais restos de construções, utensílios domésticos danificados e sem utilidade. A administração do Balneário tenta amenizar este problema, colocando lixeiras na praia a pequenas distâncias, porém não é raro encontrar fora das lixeiras sacos e copos plásticos, garrafas, latas de cerveja e refrigerante, sabugos de milho, cascas de frutas e outros detritos. Devido a este tipo de contaminação, o ambiente da praia torna-se prejudicado em suas atividades econômicas, expõem seus turistas e moradores a danos diretos em sua saúde. Além de interferir na cadeia alimentar da fauna que habita este local é fácil verificar aves alimentando-se destes contaminantes. 9.4. ocorrência da lama na praia – como se trata de um fenômeno cíclico necessita haver um plano de manejo, prevendo a retirada do material local para a deposição e recuperação do ambiente em todos os aspectos, para que não haja perda na qualidade ambiental do ecossistema.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS O propósito deste trabalho foi caracterizar o ambiente, enfocando aspectos ambientais e

os impactos que atuam e interagem neste ecossistema, proporcionando uma compreensão sistematizada e crítica dos mesmos. Os impactos ambientais observados foram decorrentes da falta de manejo e planejamento ambiental, como por exemplo, esgoto, lama, balneabilidade e exploração indevida das dunas.

Sabe-se da dificuldade em tratar das questões relacionadas ao meio-ambiente e da falta de comprometimento com o mesmo, mas a prática cotidiana de buscar novas abordagens e alternativas sob enfoques interdisciplinar e sistêmico leva a acreditar em possíveis mudanças e ações.

Dados oficiais sobre o crescimento e desenvolvimento do balneário e, conseqüentemente, de sua qualidade ambiental são escassos nos órgãos públicos da cidade. Em decorrência deste fator salienta-se a urgência em elaborar planos de manejo que contemplem estratégias de ações visando o máximo benefício com mínimo impacto e custo pois, trata-se de um importante ecossistema, onde residem aproximadamente 20 mil pessoas. Na época de veraneio essa população flutuante passa para 200 mil habitantes, tornando-se o principal fator de desenvolvimento da região, pois proporciona um aumento na arrecadação do balneário e dos comerciantes do local.

É importante que o balneário se torne um local de lazer o ano inteiro e que a população local e os turistas possam usufruir dos encantos desse ambiente, além do veraneio, através de esportes de inverno, mostras e festivais gastronômicos típicos da cultura da região, passeios ecológicos, incentivo ao comércio, concursos literários, utilizando o resgate de sua história e de sua origem. AGRADECIMENTOS - os autores agradecem às professoras Maria Tereza Albernaz Almeida, Maria da Graça Z. Baumgarten, Anette Kümmel Duarte e Marlise de Azevedo Bemvenuti pela intensa revisão e sugestões ao texto. Agradecem também à Autarquia do Balneário Cassino, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e ao Programa Train-Sea-Coast/FURG pelos dados fornecidos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASMUS, M. 2001.Programa Train-Sea-Coast. Rio Grande: FURG.2001. BETTANZOS, M. 1995. Histórico da Barra do Rio Grande. Secretaria Municipal de Educação e Cultura :SMEC, Rio Grande. CONAMA 1986. Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA - nº 20 de 18 de junho de 1986 – Classificação das águas, doces, salobras e salinas do Território Nacional. Balneabilidade artigos 26 à 34. CORDAZZO, C.V. & SEELIGER, U. 1988. Guia ilustrado da vegetação no extremo sul do Brasil. Ed. Universidade do Rio Grande. GIANUCA, N.M. 1998. Invertebrados bentônicos da praia. In: SEELIGER, U., ODEBRECHT, C., CASTELLO, J.P. Os Ecossistemas Costeiro e Marinho do Extremo Sul do Brasil. Rio Grande: Ecoscientia, p:127-130. Jornal AGORA, 1987. Edição Comemorativa aos 250 anos da Cidade do Rio Grande. 19 de fevereiro de 1987. PIRAGINE, M.L. Cartilha Papareia: Informativo Turístico de A a Z do município de Rio Grande. FURG,1992. RIBEIRO, P.(org.) 1995. Peixuxa: em um passeio pelo litoral. Rio Grande. FURG.

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VALENTE, A. 1993. Desenho das edificações da cidade do Rio Grande. FURG, 74p. VIEIRA, E.F. 1983. Rio Grande física, humana e econômica. Porto Alegre : SAGRA158p. VILLWOCK, J.A. & MARTINS, L.R.S. 1972. Depósitos lamíticos de pós-praia. Porto Alegre, Pesquisas, 1:69-85. VILLWOCK, J.A. & MARTINS, L.R.S. 1978. Ocorrência da lama na praia do Cassino, RS. Anais Hidrográficos, v.35. VOOREN, C.M. & ILHA, H.H. 1995. Guia de aves comuns da costa do Rio Grande do Sul. Rio Grande, 23p. WEZTEL. L. 1995. Contaminação por resíduos sólidos e piche: uma perspectiva da praia do Cassino, município de Rio Grande, RS. Monografia – FURG, 113p.

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