Cadernos de Ciência & Saúde - V3, N3, 2013

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v.3, n.3/ 2013 1 Cadernos de Ciência e Saúde VOLUME 3 . NÚMERO 3 . ANO 2013

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Cadernos de Ciência & Saúde das Faculdades Santo Agostinho

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Cadernos deCiência e Saúde

VOLUME 3 . NÚMERO 3 . ANO 2013

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Cadernos deCiência e Saúde

CADERNOS DE CIÊNCIA E SAÚDE

EDITORA CIENTÍFICALudmila Mourão Xavier Gomes

EDITORES ASSOCIADOSCarla Silvana Oliveira e Silva, Faculdades Santo Agostinho – FASA, Montes Claros – MG, BrasilLucinéia de Pinho, Faculdades Santo Agostinho – FASA, Montes Claros – MG, Brasil

CORPO EDITORIALAlba Idaly Muñoz Sánchez, Universidad Nacional de Colombia, ColômbiaAline Oliveira Silveira, Universidade de Brasília - UnB, Brasília-DF, BrasilAna Lúcia Schaefer Ferreira de Mello, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis-SC,Brasil.Angela María Salazar Maya, Universidad de Antioquia, ColômbiaAsunción Ors Montenegro, Universidad de Alicante, EspanhaDulce Aparecida Barbosa, Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP, São Paulo-SP, BrasilDulcinéia Ghizoni Schneider, Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL, BrasilEdinêis de Brito Guirardello, Unicamp-SP, BrasilJoselany Áfio Caetano, Universidade Federal do Ceará –UFC, Fortaleza-CE, BrasilHeloísa de Carvalho Torres, Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, Belo Horizonte, MinasGerais, BrasilKátia Conceição Guimarães Veiga, Universidade Federal da Bahia, Salvador-BA, BrasilMaría Guadalupe Moreno Monsiváis, Universidad Autónoma de Nuevo León, MéxicoMaria Manuela Frederico Ferreira, Escola Superior de Enfermagem, Coimbra, PortugalNelcy Martínez Trujillo , Escuela Nacional de Salud Pública, Ciudad de la Habana, Cuba

REVISÃO LINGUÍSTICANely Rachel Veloso Lauton

DIAGRAMAÇÃOProjeto gráfico: Maria Rodrigues MendesCapa: Débora Torres

Cadernos de Ciência e Saúde / Faculdades Santo Agostinho. – Vol. 1, n. 1, - . -Montes Claros : Faculdades Santo Agostinho , 2011-v. : il. 28 cm.

TrimestralVol. 3, n. 3, 2013.Organizadora: Ludmila Mourão Xavier Gomes.ISSN 2236-9503

1. Saúde. 2. Enfermagem. I. Faculdades Santo Agostinho . II. Título

CDU: 61

Catalogação: Bibliotecário Edmar dos Reis de Deus - CRB 6-2486.

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EDITORIAL

A INICIAÇÃO CIENTÍFICA E A PRÁTICA BASEADA EM EVIDÊNCIAS NAFORMAÇÃO EM CURSOS DA ÁREA DA SAÚDE

ARTIGOS DE PESQUISA

ESTADO NUTRICIONAL DE CRIANÇAS EM UMA CRECHECOMUNITÁRIA: UM SUBSÍDIO PARA A ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO

RELACIONAMENTO COM O SUPERVISOR E SATISFAÇÃO NOTRABALHO: ESTUDO EM PROFISSIONAIS DE SAÚDE

ACESSO DO USUÁRIO HIPERTENSO NA ATENÇÃO BÁSICA E AREPERCUSSÃO DO ATENDIMENTO NA ADESÃO AO TRATAMENTO

A PERCEPÇÃO DOS USUÁRIOS SOBRE A PERMANÊNCIA EM UMACOMUNIDADE TERAPÊUTICA: UM ESTUDO QUALITATIVO

ATUAÇÃO DA EQUIPE DE ENFERMAGEM NA PREVENÇÃO ETRATAMENTO DE ÚLCERAS POR PRESSÃO

DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DE IDOSOS SEGUNDO QUALIDADE DE VIDAE PARTICIPAÇÃO EM ATIVIDADES EDUCATIVAS GRUPAIS

IMAGEM CORPORAL NA FIXAÇÃO EXTERNA POR FRATURA EXPOSTA

ARTIGO DE REVISÃO

INFLUÊNCIA DA ALIMENTAÇÃO NA VIDA DO ADOLESCENTE:REVISÃO INTEGRATIVA DAS PRODUÇÕES EM SAÚDE

QUALIDADE DE VIDA DOS PROFISSIONAIS DA ENFERMAGEM: UMAABORDAGEM SISTÊMICA

ARTIGO DE RELA TO DE EXPERIÊNCIA

ENTREVISTA TELEFÔNICA COMO TÉCNICA DE COLETA DE DADOS

INSTRUÇÕES AOS AUTORES

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A INICIAÇÃO CIENTÍFICA E A PRÁTICA BASEADA EM EVIDÊNCIAS NAFORMAÇÃO EM CURSOS DA ÁREA DA SAÚDE

Ludmila Mourão Xavier Gomes1

A evolução da área do saber das Ciências da Saúde com o crescente quantitativo deartigos e comunicações científicas configuram em dificuldade para atualização constantedo profissional de saúde. Os artigos científicos publicados em periódicos que possuemdivulgação eletrônica se tornam a fonte acessível para aquisição de novos conhecimentospara a prática em saúde. Em contrapartida os livros técnicos são considerados obsoletos(SACKETT et al., 2000; GUEDES; GUEDES, 2012).

Nesse contexto é essencial a inclusão no ensino dos estudantes dos cursos degraduação na área da saúde a prática baseada em evidências (PBE). Espera-se que oprofissional que aprendeu na graduação a PBE saiba criar problemas clínicos de acordocom dúvidas que surgem na prática, faz a busca na literatura e avalia os artigos encontradospossui maiores chances de ser um profissional que articula sua prática em saúde com asnovidades do conhecimento gerado nas publicações. Logo a partir da PBE esse profissionaltomará a melhor decisão clínica para a sua prática.

Para tornar o acadêmico mais próximo da PBE é importante que haja nos cursos degraduação a iniciação científica. Os programas de iniciação científica objetica à formaçãode um investigador crítico e criativo e que possui a capacidade de apreender novosconhecimentos gerados e de construir novos conhecimentos. Além disso estudos temmostrado que acadêmicos que participam de grupos de pesquisas na graduação sesobressaem no mercado de trabalho em relação aos demais que não se envolvem ematividades de pesquisa (JACOBS; CROSS, 1995; MONTE, 2000).

É fato que a iniciação científica é uma ferramenta essencial a ser adotada nagraduação. Nessa discussão cabe ressaltar que as Instituições de Ensino Superior quepossuem cursos da área da saúde devem incentivar a pesquisa por meio da disponibilizaçãode professores para orientar a iniciação científica dos estudantes. Os nossos estudantes efuturos profissionais só tendem a ganhar mesmo que a iniciação à pesquisa seja com bolsavoluntária ou de caráter remunerado.

Editorial

1 Enfermeira. Mestre em Ciências da Saúde. Doutoranda em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de MinasGerais. Líder do Grupo de Pesquisa em Enfermagem FASA das Faculdades Santo Agostinho, Montes Claros, MinasGerais, Brasil. E-mail: [email protected]

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Cadernos deCiência e SaúdeREFERÊNCIAS

GUEDES, H. T. V.; GUEDES, J. C. Avaliação, pelos estudantes, da atividade “Trabalhode Conclusão de Curso” como integralização do eixo curricular de iniciação à pesquisacientífica em um curso de medicina. Revista Brasileira de Educação Médica, v.36,n.2, p.162-171, 2012.

JACOBS, C. D.; CROSS P. C. The value of medical student research: the experience atStanford University School of Medicine. Medical Education, v.29, p.342-346, 1995.

MONTES, G. S. Da implantação de uma disciplina de Iniciação Científica ao currículonuclear na graduação em medicina na USP. Revista Brasileira de Cardiologia, v.2,n.2, p.70-77, 2000.

SACKETT, D. L. et al. Evidence based medicine: how to practice and teach EBM.2ª Ed. New York: Churchill Livingstone, 2000. 261p.

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1 Enfermeira.Doutora em Enfermagem. Professora Adjunta do Departamento de Enfermagem de Saúde Pública daEscola de Enfermagem Anna Nery/ Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de janeiro, RJ, Brasil.Email:[email protected]

2 Discente do 7º. período do curso de Graduação da EEAN/ UFRJ. Rio de janeiro, RJ, Brasil. E-mail:[email protected].

3 Discente do 6º. período do curso de Graduação da EEEAN/UFRJ. Rio de janeiro, RJ, Brasil. E-mail:Fabí[email protected].

4 Enfermeira.Doutora em Enfermagem. Professora Adjunta do Departamento de Enfermagem de Saúde Pública daEEEAN/UFRJ, RJ, Brasil. E-mail:[email protected].

Recebido em: 20-01-2013 . Aceito em: 28-03-2013

Artigo de pesquisa

ESTADO NUTRICIONAL DE CRIANÇAS EM UMA CRECHECOMUNITÁRIA: UM SUBSÍDIO P ARA A ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO

Maria Helena do Nascimento Souza1, Vitória Regina Domingues Sodré2,Fabiola Nogueira Ferreira da Silva3 Liane Gack Ghelman4

RESUMO: Trata-se de um estudo descritivo exploratório que teve como objetivos: avaliar o estadonutricional de crianças que freqüentam uma Creche Comunitária do município do Rio de Janeiro ediscutir as implicações da avaliação da situação nutricional na prática assistencial do enfermeiro. Acoleta de dados foi realizada junto a 183 crianças na faixa etária de 0 a 11 anos. Os resultadosmostraram que o principal distúrbio nutricional identificado foi o sobrepeso ou obesidade, sendoeste problema prevalente em todas as faixas etárias estudadas. O estudo corrobora com estudos queapontam a tendência nacional da mudança do perfil nutricional, caracterizada pelo aumento das taxasde obesidade infantil. E ressalta a importância de enfermeiros que atuam em creches desenvolvemações voltadas para a prática da alimentação saudável e conseqüentemente para a promoção dasaúde e prevenção de agravos na infância e na vida adulta.

PALAVRAS-CHAVES: Estado nutricional; Antropometria; Saúde da criança; Enfermagem.

NUTRITIONAL STATUS OF CHILDREN IN A COMMUNITY DAY CARE:AN ALLOW ANCE FOR THE PERFORMANCE OF THE NURSE

ABSTRACT: This is an exploratory descriptive study that aimed to assess the nutritional status ofchildren who attend a Community day care in the city of Rio de Janeiro and to discuss the implicationsof the assessment of the nutritional situation in the nurses’ healthcare practice. Data collection wasconducted with 183 children aged 0-11 years. The results showed that the major nutritional disordersidentified were overweight and obesity, which are the most prevalent problems in all age groups. Thestudy corroborates studies that link the national trend of changing the nutritional profile, characterizedby increased rates of childhood obesity, and stresses the importance of nurses working in day caresto develop actions that emphasize the practice of healthy eating and therefore promote health anddisease prevention in childhood and adulthood.

KEYWORDS: Nutritional status; Anthropometry; Child health; Nursing.

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INTRODUÇÃO

A avaliação do estado nutricionalinfantil tem se tornado um aspecto cada vezmais importante no que tange aoestabelecimento de situações de risco,identificação dos distúrbios nutricionais,planejamento de ações de promoção à saúdee prevenção de doenças, bem como aoacompanhamento do crescimento edesenvolvimento e à possibilidade demonitorar desigualdades sociais em saúde(SOCIEDADE BRASILEIRA DEPEDIATRIA, 2011; BRASIL, 2012a;BRASIL, 2012b).

O diagnóstico nutricional e amonitoração contínua dos padrões decrescimento e desenvolvimento, constituemum instrumento essencial para que osprofissionais da área da saúde possamconhecer as condições de saúde dapopulação e melhor implementar suas açõesassistenciais.

Cabe ressaltar que a maioria dosproblemas de saúde e nutrição que ocorremdurante a infância está relacionada aoconsumo alimentar inadequado e àsinfecções de repetição. Neste sentido, torna-se cada vez mais necessário a atuação deenfermeiros no ambiente das creches eescolas, onde há uma grande quantidade decrianças que permanecem juntas por umperíodo de tempo prolongado e que podemapresentar maior vulnerabilidade deadquirirem morbidades características dainfância (SANTOS, 2008; ARAÚJO ePEREIRA, 2009; CORTEZ et al., 2012;SOUZA et al., 2013).

Um dos métodos que possibilitam aidentificação das condições nutricionais decrianças é a avaliação antropométrica, queconstitui um dos melhores indicadores desaúde. A antropometria representa umamedida de baixo custo capaz de possibilitaro monitoramento do crescimento edesenvolvimento, a investigação distúrbiosnutricionais e o estabelecimento deintervenções de promoção da saúde junto àclientela atendida (SANTOS, 2008;

MONTEIRO et al., 2010; BRASIL, 2012a).No que tange as ações de promoção

à saúde, o Ministério da Saúde através daPolítica Nacional de Alimentação e Nutrição(PNAN) e da vertente da Promoção daAlimentação Adequada e Saudável (PASS),preconiza um conjunto de estratégias queproporcionam a realização de práticasalimentares apropriadas aos aspectosbiológicos e socioculturais da população emseu contexto (BRASIL, 2012a). Destaforma, espera-se que o profissional de saúdetranscenda os limites das unidades de saúde,inserindo-se na comunidade, nas escolas,creches e outros ambientes, com vistas àredução de agravos como a prevalência dosobrepeso, obesidade e das doençascrônicas associadas ou relacionadas àalimentação e nutrição (SILVANI et al.,2008; MONTEIRO et al., 2010; BRASIL,2012a; SOUZA et al., 2013).

Neste contexto, os objetivos destainvestigação foram: avaliar o estadonutricional de crianças que frequentam umaCreche Comunitária do município do Rio deJaneiro e discutir as implicações da avaliaçãoda situação nutricional na prática assistencialdo enfermeiro.

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo de naturezaquantitativa, de caráter descritivoexploratório, realizado em uma CrecheComunitária situada na zona sul doMunicípio do Rio de Janeiro. Esta Crechepossui o sistema integral para crianças de 0a 4 anos e Reforço Escolar para criançasde 5 a 11 anos, sendo que este último grupoetário permanece na instituição em períodoparcial, alternado ao período que freqüentaa Escola da Rede Pública.

A coleta de dados foi realizada emmarço de 2013, por alunos do curso deGraduação em Enfermagem e Obstetríciada Escola de Enfermagem Anna Nery daUniversidade Federal do Rio de Janeiro,orientados e supervisionados por docente dareferida Instituição de Ensino.

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Os dados foram coletados mediante amensuração das medidas antropométricas(peso e estatura) de 183 crianças na faixaetárias de 0 a 11 anos, que estavamfreqüentando a referida Creche na ocasiãoda coleta de dados. Para a verificação dopeso, as crianças do berçário com idade de0 a 2 anos eram colocadas despidas sobre oprato da balança pediátrica, e logo emseguida deitadas onde se era mensuradocom a régua antropométrica o comprimentodo ponto mais alto da cabeça até o calcanhar.As demais crianças com idade a partir de 3anos eram levadas até a enfermaria dacreche e então era pedido para que seretirasse os calçados e casacos e quesubissem na plataforma da balançaantropométrica digital e que ficassem em

posição ereta com os calcanhares próximos,ombros descontraídos, braços soltoslateralmente e com uma postura alinhadapara mensuração do seu peso. A altura foiaferida com o uso de uma fita métrica fixadaem uma parede reta sem rodapé ou doestadiômetro acoplado na balança.

A avaliação do estado nutricional dascrianças foi elaborada a partir das medidasantropométricas, considerando os valoresde escore z obtidos nos indicadores deestatura para idade (E/I) e do Índice deMassa Corporal (IMC). E foi classificadode acordo com os valores preconizadospela Organização Mundial da Saúde(OMS) (WHO, 2006) e adotados peloMinistério da Saúde (BRASIL, 2008),conforme a figura 1.

Figura 1 - Valores críticos de escore z de acordo com os indicadores de estatura para idade e índicede massa corporal de crianças e adolescentes preconizados pela OMS (WHO, 2006)

Para a elaboração do banco de dadose análise estatística utilizou-se o SoftwareEpi-info versão 3.5.2 e para os cálculos dosindicadores antropométricos foram utilizadosos programas Anthro e AnthroPlus quepossibilitaram a comparação dos dadosobtidos com o padrão de referênciarecomendado pela Organização Mundial daSaúde (WHO, 2011).

A presente pesquisa foi aprovadapelo Comitê de Ética e Pesquisa da Escolade Enfermagem Anna Nery/UniversidadeFederal do Rio de Janeiro sob o protocolo027/2011, atendendo as Resoluções 199/

96 e 466/12 do Conselho Nacional deSaúde (BRASIL, 2013) que trata dasnormas de bioética em trabalhos comseres humanos. O Termo deConsentimento Livre e Esclarecido(TCLE) foi assinado pelos responsáveis,após a leitura e compreensão dos mesmos,sendo garantido o anonimato dosparticipantes.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Tabela 1 apresenta as característicasdas crianças estudadas.

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Verificou-se uma predominância decrianças do sexo feminino (53,6%) e nafaixa etária entre 0 a 4 anos (67,2%).Esse grupo etário foi mais prevalentedevido ao fato da creche possuir umnúmero maior de vagas para crianças de

TABELA 1 - Distribuição das crianças que freqüentam uma creche Comunitária quanto àcaracterização de sexo e idade. Rio de Janeiro, 2013 (n=183)

0 a 4 anos, que permanecem na formade sistema integral.

A Tabela 2 mostra o estado nutricionaldas crianças e adolescentes avaliados, deacordo com a relação de estatura para idade(E/I) e o índice de massa corporal (IMC).

Tabela 2 – Distribuição das crianças que freqeuntam uma Creche Comunitária quanto à idade e aclassificação do estado nutricional, de acordo com os valores de escore z de Estatura/Idade (E/I) e

de Índice de Massa Corporal (IMC). Rio de Janeiro, 2013 (n=183)

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Na avaliação do estado nutricionalobservou-se que a maioria do grupoencontrava-se num padrão normal referenteaos parâmetros de estatura para idade (E/I) e ao índice de massa corporal (IMC).

Quando utilizado o critério da relaçãoE/I, verificou-se que 4,8% das crianças de0 a 4 anos apresentaram baixa estatura e8,1% das crianças de 0 a 4 anos e 3,3% nafaixa etária de 5 a 11 anos foramclassificadas como risco para baixa estatura.A partir do cálculo do IMC o percentual debaixo peso foi de 0,8% e 6,7%, nasrespectivas faixas etárias. Entre os distúrbiosnutricionais, evidenciou-se ainda o sobrepesoe a obesidade em 39% e 23,3% na faixaetária de 0 a 4 anos e de 5 a 11 anos,respectivamente.

Tais resultados corroboram comdiversos estudos que apresentam o impactoda transição nutricional no Brasil, evidenciadapela redução das taxas de desnutrição eacelerado crescimento dos índices desobrepeso e obesidade em todas as faixasetárias (SANTOS, 2008; RECH et al., 2010;LOPES et al., 2010; MARCHI-ALVES etal., 2011; GUIMARÃES et al., 2012;BRASIL, 2012a).

Em pesquisa realizada em uma crechedo município de São Paulo observou-se que10% das crianças menores de 5 anosapresentavam desnutrição e 41% sobrepesoe obesidade (PINTO; OLIVEIRA, 2009).Estudo realizado em um Centro Educacionaldo município do Rio de Janeiro, tambémevidenciou uma maior prevalência desobrepeso e obesidade, 28,8% e 25,6%, emcrianças na faixa etária de 0 a 4 anos e nafaixa de 7 a 12 anos, respectivamente;quando comparada à taxa de baixo peso(2,4% e 4,6%) nas respectivas faixas etárias(SOUZA et al., 2013).

Os dados obtidos no presente estudotambém corroboram com os resultados dainvestigação realizada no Rio Grande do Sulcom 1442 escolares de 7 a 12 anos, onde osautores também encontraram uma

prevalência de sobrepeso/obeso de 27,9%(RECH et al., 2010).

No Brasil, no período de 1989 a 2006,a prevalência de crianças menores de 5 anoscom baixo peso caiu de 7,1% para 1,7% eentre aquelas com baixa altura a taxa caiude 19,6% para 6,7%. Esse declínio foidecorrente do acesso à saúde, à renda,melhoria no grau de escolaridade, bem comoda expansão da cobertura dos serviços desaneamento básico (MONTEIRO et al.,2009; LIMA, 2010).

Já a alta prevalência de crianças comsobrepeso ou obesidade observada nasúltimas décadas no país, está relacionadaprincipalmente ao aumento do consumo dealimentos ultra-processados, alimentos dealta densidade energética e baixaconcentração de nutrientes, ao consumoexcessivo de nutrientes como sódio, gordurase açúcar; além da diminuição do nível deatividade física (BRASIL, 2009;MONTEIRO et al., 2009; RECH, et al.,2010; GUIMARÃES et al., 2012; BRASIL,2012a).

Sabe-se que o crescente aumento daobesidade infanto juvenil pode trazer sériosproblemas na vida adulta, tais como odesencadeamento de doenças crônicas, comocardiovasculares, hepáticas, gastrointestinais,ortopédicas, distúrbios no desenvolvimentomotor, apneia do sono, diabetes, além deproblemas psicossociais, que demandam umaatuação multiprofissional voltada paraminimizar o efeito de tais complicações(LOPEZ, 2010; MARIZ et al., 2012;BRASIL, 2012a).

De acordo com alguns estudos oacompanhamento sistemático de criançasque freqüentam creches, escolas ou centroseducacionais, efetuado por enfermeiros, temuma ação complementar à assistência dasunidades básicas de saúde e pode impactarde forma significativa na melhoria dosindicadores de saúde da população(MONTEIRO et al., 2010; CORTEZ et al.,2012; MORI e OGATA, 2010).

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CONCLUSÃO

O levantamento da situação nutricionalde saúde de crianças que freqüentamcreches ou instituições educacionaisconstitui em um importante subsídio para osprofissionais de saúde que realizam a suaprática assistencial nestes ambientes, umavez que tal avaliação possibilita aidentificação precoce dos agravos e oacompanhamento dos padrões decrescimento e desenvolvimento infantil.

Nesta perspectiva, ressalta-se o papeldo enfermeiro no cenário das creches, quedesenvolvendo ações de promoção emanutenção da saúde, com foco noplanejamento de ações educativas sobrealimentação saudável, cuidados de saúde eprática de atividade física, poderá contribuirpara a redução da prevalência dos principaisproblemas de saúde que acometem ascrianças e conseqüentemente, para aprevenção de agravos que ocorrem nainfância e na vida adulta.

RESPONSABILIDADESINDIVIDUAIS

Os autores trabalharam juntos emtodas as etapas de produção do manuscrito.

REFERÊNCIAS

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Disponível em: <http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/2012/Reso466.pdf> Acesso em: 15 jul. 2013.

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RELACIONAMENT O COM O SUPERVISOR E SATISFAÇÃO NOTRABALHO: ESTUDO EM PROFISSIONAIS DE SAÚDE

Maria Manuela Frederico-Ferreira1

RESUMO: Introdução: As mudanças organizacionais têm-se feito acompanhar de novas formas degestão, novas relações de trabalho e modificações de papel dos profissionais de saúde. O supervisortem uma posição favorável para comunicar com os colaboradores e para poder influenciar as suasatitudes e comportamentos. Objetivos: Analisar a opinião de profissionais de saúde sobre orelacionamento com o supervisor e a influência dessa opinião na satisfação no trabalho. Métodos: Éum estudo com abordagem quantitativa de tipo descritivo-correlacional. O instrumento de medidautilizado foi o questionário.Após procedimentos formais e éticos, o questionário foi distribuído,sendo a participação voluntária e as questões de anonimato e confidencialidade asseguradas.Resultados: Os respondentes são médicos e enfermeiros, maioritariamente enfermeiros. Há umpredomínio do sexo feminino. O grupo etário mais representativo, o de 30-39 anos. Há uma tendênciadecrescente do valor médio do relacionamento com o supervisor à medida que avançamos no grupoetário contudo, a diferença nesses valores revelou não ser estatisticamente significativa. O valormédio global do relacionamento com o supervisor situa-se em 3,86 ±0,77, numa escala de 1 a 5.Quanto à satisfação no trabalho, na mesma escala, o valor médio é de 3,13 ±0,61. O relacionamentocom o supervisor e a satisfação no trabalho associam-se de forma positiva e significativa, o que vaino sentido da hipótese formulada. Conclusões. Demonstrou-se a importância do relacionamentocom o supervisor, enquanto antecedente da satisfação no trabalho.

PALAVRAS-CHAVE: Trabalho; Satisfação no trabalho; Relações interpessoais; Relacionamentocom o supervisor; Profissionais de saúde.

RELATIONS SUPERVISOR AND JOB SATISFACTION: A STUDY INHEAL TH PROFESSIONALS

ABSTRACT: Introduction: Organizational change has been accompanied by new management, newworking relationships and changes in the role of health professionals. The supervisor has a favorableposition to communicate with employees and to influence their attitudes and behaviors. Aims: Analyzethe opinion of health professionals about the relationship with the supervisor and the influence of thison job satisfaction. Methods: This study is quantitative, descriptive,correlational.O measuringinstrument used was the questionnaire. After formal and ethical procedures, the questionnaire wasdistributed, with voluntary participation and issues of anonymity and confidentiality assured. Results:Respondents are doctors and nurses, mostly nurses. There is a predominance of females. The agegroup most representative of the 30-39 years. There is a downward trend in the average value of therelationship with the supervisor as we advance in age group however, showed the difference in thesevalues was not statistically significant. The average overall relationship with the supervisor is locatedat 3.86 ± 0.77 on a scale of 1 to 5. Regarding job satisfaction, on the same scale, the average value is 3.13± 0.61. The relationship with the supervisor and job satisfaction are associated positively andsignificantly, which goes towards the hypothesis. Conclusions:Demonstrated the importance of therelationship with the supervisor as antecedent of job satisfaction.

KEYWORDS: Work; Job satisfaction; Interpersonal relations; Supervisory relationship; Healthprofessionals.

1 Doutorada em Ciências Empresariais. Professora Coordenadora. Presidente do Conselho para a Qualidade eAvaliação. Investigadora da Unidade de Investigação em Ciências da Saúde - domínio de Enfermagem e Coordenadorada linha ‘Sistemas e Organizações de Saúde’. Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, Coimbra, Portugal. E-mail: [email protected]

Recebido em: 20-01-2013 . Aceito em: 28-03-2013

Artigo de pesquisa

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INTRODUÇÃO

A globalização e o aumento daconcorrência têm produzido impactosconsideráveis no tecido organizacional quese traduzem também em mudanças de papelpara os profissionais. Essas mudanças têmquestionado as estruturas verticais rígidas,burocráticas e centralizadas e têm criadoum ambiente mais horizontal de actuação,bem como uma estrutura descentralizada.Estas mudanças organizacionais acarretamtambém novas formas de gestão e novasrelações de trabalho, responsáveis pelasmodificações de papel dos profissionais desaúde.

A investigação tem documentado opapel crucial que o relacionamento e aconfiança no supervisor desempenham narelação de trabalho, no desempenho doscolaboradores e na sustentação da eficáciaorganizacional e da competitividade, bemcomo no aumento de variáveis indicadorasde resultados organizacionais, como seja asatisfação no trabalho (MATHIEU; ZAJAC,1990; DIRKS; FERRIN, 2002). Destasreferências da literatura define-se o objectivodeste estudo: analisar a opinião deprofissionais de saúde sobre o relacionamentocom o supervisor e a influência dessa opiniãona satisfação no trabalho.

REVISÃO DE LITERA TURA

As abordagens da gestão de recursoshumanos têm, na generalidade, o objetivode apresentar evidências demonstrativas deque as práticas e políticas de gestão daspessoas podem ser associadas a elevadosdesempenhos e encorajar a adoção decomportamentos e atitudes enquadrados nacultura da organização. Esta perspectiva temum interesse particular no contexto atual emque o relacionamento empregado -empregador vem-se tornando mais precário,e onde o emprego deixou de ser visto como“emprego para toda a vida”.

Embora se reconheça algumadificuldade em medir os efeitos das práticasde gestão no desempenho organizacional e

que por isso seja reduzido o conhecimentosobre o modo como essas práticas exerceminfluência, Husselid e Becker (referidos porMOURA, 2000) investigaram o impacto dossistemas de trabalho de elevadodesempenho, identificados com as práticasque facilitam o envolvimento dosempregados, no desempenho daorganização. Na opinião dos autores, aestratégia de recursos humanos tem impactoestratégico no desempenho, sendo que

as organizações que utilizam práticas degestão de forma criativa e estratégicaestão melhor colocadas para atrair aspessoas mais talentosas e desse modomelhorar o desempenho organizacional(MOURA, 2000, p. 75).

A abordagem das melhores práticastem por base a premissa de que, emboranão exista um caminho melhor para gerir aspessoas, as organizações que se adaptamcom maior sucesso competitivo ao novocontexto social e econômico tendem a sercaracterizadas por um conjunto de práticase políticas de gestão de recursos humanosbem definido.

A análise do impacto do estilo degestão nas atitudes dos trabalhadoresremonta aos estudos de Hawthorne. Éaceita a noção de que gestores mais abertose participativos, que fornecem um feedbackpositivo (bem como uma crítica construtiva),promovem elevados níveis de satisfação nosseus trabalhadores.

O fato de o líder demonstrar grandeconsideração pelos contributos doselementos do grupo, leva a que estespercepcionem o processo como mais justo,e consequentemente, demonstrem “[…],maior sentimento de pertença, e maiorconfiança no líder” (KORSGAARD,SCHWEIGER e SAPIENZA,1995, p. 76).

Os resultados de práticas de gestãoque colocam ênfase na importância dasatisfação dos colaboradores mostram quemelhoram o bem-estar no trabalho e orendimento, o que possibilitará um reforçoda competitividade organizacional. Assim,algumas organizações adotam iniciativas

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que, consequentemente, com o aumento damotivação dos trabalhadores, aumentam aprodutividade. Apostam na iniciativa e nacriatividade dos trabalhadores, noaproveitamento da sua experiência e do seusaber, numa tentativa de melhorar acomunicação, e numa clara preocupaçãoem desenvolver o sentido de pertença àorganização (CRISTOVAM, 1989).

O supervisor tem, pela proximidadediária, uma posição favorável paracomunicar com os colaboradores e socializá-los e igualmente para poder influenciar assuas atitudes e comportamentos(FERREIRA, 2011).

A preocupação pelo estudo dasatisfação no trabalho evidenciou-se a partirdo momento em que o modelo taylorista daorganização do trabalho, preconizando queo rendimento da empresa dependia,essencialmente, da quantidade de dinheiroganho pelos trabalhadores e da possibilidadede aquisição de determinados bens, foi postoem causa.

Mas é nos estudos de Elton Mayo, nosanos 1930, que a pesquisa sobre a satisfaçãono trabalho começou de forma sistemática.Estes estudos mostraram que os indivíduossão motivados não só pela procura do confortomaterial, mas, também, por necessidades denatureza social e psicológica. Revelou-se,assim, a componente afetiva e emocional danatureza humana na situação de trabalho(FREDERICO, 2006).

A importância e o desenvolvimento dasatisfação no trabalho encontram tambémsuporte na ‘teoria dos dois fatores’,desenvolvida por Frederick Herzberg (1923-2000). Segundo esta teoria existem doisgrupos de fatores que afetam o indivíduo, osfatores motivacionais ou factores intrínsecose os fatores higiênicos ou fatores extrínsecosOs primeiros fazem parte do desempenho docargo, portanto dependem das tarefas que oindivíduo realiza no seu trabalho, no fato deserem, ou não, atividades desafiadoras eestimulantes e levam à satisfação, são:realização, reconhecimento, responsabilidadee progresso no trabalho. Os segundos, osfatores higiênicos estão ligados ao contexto

do trabalho e têm um caráter preventivo,podendo evitar a insatisfação, englobam:segurança, o estatuto, o salário, as condiçõesde trabalho, os benefícios sociais, as relaçõescom os supervisores, os regulamentos, asupervisão e a política geral da organização.

A satisfação no trabalho é hoje umassunto de grande interesse tanto para quemtrabalha nas organizações como para osestudiosos destas matérias,certamente peloimpacto que a satisfação no trabalho ésuposta desempenhar na produtividadeorganizacional. De fato, é uma variávelfrequentemente estudada e central napesquisa e na teoria organizacional (HONG,WHILE, BARRIBALL, 2005; SPECTOR,1997).

Por sua vez, Glisson e Durick (1988),tendo por base o seu estudo empírico comum grupo de enfermeiras, referem que,quando um trabalhador está satisfeito como seu trabalho, permanecerá na organizaçãoque lhe oferece.

Robbins (1998) conclui que existe umasignificativa evidência da importância dasatisfação no trabalho. Uma força detrabalho satisfeita contribui para níveis maiselevados de produtividade em resultado dadiminuição do absenteísmo, da saída de bonsempregados e de incidentes negativosderivados de comportamentos destrutivos.

Devem, então, colocar-se à suadisposição meios necessários à satisfaçãodas suas necessidades como pessoa e comotrabalhador.

A satisfação no trabalho traduz umaresposta emocional e afetiva, gratificante,que resulta da situação de trabalho e é umaresposta estritamente individual (AL-HUSSAMI, 2008; FERREIRA et al., 1996).Traduz uma atitude que reflete, a medidaem que os indivíduos sentem de modopositivo ou negativo o seu trabalho, nas suasdiversas facetas (SCHEMERHORN,HUNT e OSBORN, 1999).

Trata-se de um construto que visa darconta de um estado emocional positivoou de uma atitude positiva face aotrabalho e às experiências em contextode trabalho (VALA et al.,1994, p. 110).

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Uma análise profunda dos aspectos dotrabalho que mais diretamente influenciama satisfação revelou que eram inúmeros osfatores com influência na satisfação e queestes afetavam de forma diferente osindivíduos. É um fenômeno complexo (XIE;JOHNS, 2000) sendo conhecido que asatisfação no trabalho dependetambém defatores subjetivos como: estado psicológico,aspirações e desejos de cada pessoa maspodendo ser entendida como o resultado dainteração e do ajustamento entre as pessoase a organização (CUNHA et al.,, 2003).

Os vários fatores que influenciam asatisfação e afetam de forma diferente osindivíduos foram descritos por váriosautores (LANE et al., 2010; VIDAL,VALLE e ARAGÓN, 2007; XIE e JOHNS,2000).

Os fatores que influenciam asatisfação no trabalho e que sãofrequentemente avaliados são o sentido derealização, o reconhecimento, os desafios,a responsabilidade, a possibilidade deprogressão, a autonomia, a autoridade, oclima organizacional, a natureza do trabalhoe a própria organização (MARRINER-TOMEY, 1996; SPECTOR, 1997).

No sentido de contribuímos paraconhecer essa realidade em profissionais desaúde, definimos a hipótese de que a relaçãocom o supervisor se associa positivamentecom a satisfação no trabalho.

Não ignorando as perspectivasmultidimensionais da satisfação no trabalho,isto é, as abordagens que se concentram emvários componentes do trabalho, como sejamo salário, oportunidades de promoção,benefícios, supervisão, colegas de trabalho,condições de trabalho, natureza do trabalho,comunicação e segurança, e as diferentesvalorizações pessoais que podem ocorrerem cada uma das componentes, nesteestudo optamos pela abordagem global, que,segundo vários autores (SPECTOR, 2010)considera a satisfação no trabalho como umsentido único e global em relação aotrabalho.

METODOLOGIA

É um estudo com utilização deabordagem quantitativa de tipo descritivo-correlacional, que pretende analisar a opiniãode profissionais de saúde sobre orelacionamento com o supervisor e ainfluência dessa opinião na satisfação notrabalho.

O instrumento de medida foi umquestionário constituído por duas partes.Uma apresenta questões relacionadas comas variáveis pessoais. Outra parte éconstituída por 30 itens referentes à variávelrelacionamento com o supervisor esatisfação no trabalho, com respectivamente11 e 19 itens, baseados na escala de Becker,Billings e Evelethe Gilbert (1996) e tambémna escala de Spector (1997).

Os itens apresentam-se em escala deconcordância tipo Likert, de 1 a 5, (em que1 corresponde a...discordo em absoluto...,e 5 corresponde a “...concordo emabsoluto...).

Após os procedimentos formais deapresentação do projeto (mais abrangentedo que a análise apresentada neste artigo)e do questionário à comissão de ética(Parecer 40-09/2011) e autorização peladireção dos hospitais selecionados, oquestionário foi distribuído aos médicos eenfermeiros que se encontravam ao serviçoem maio de 2011.

A participação foi voluntária e asquestões de anonimato e confidencialidadeasseguradas. Consideramos que quempreencheu e devolveu o questionárioconsiderava-se informado e voluntariamenteconsentia participar. O questionário apóspreenchido era depositado pelo próprioparticipante em caixa fechada com ranhurae identificada para esse fim. Essa colocaçãonão requeria qualquer identificação, dondenão se identificou quem participou, ou não,no estudo.

Os dados foram introduzidos eprocessados em computador através doprograma IBM SPSS Statistics 20.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

A amostra é constituída por 96profissionais de saúde, concretamentemédicos e enfermeiros, correspondendo àtaxa global de resposta de 11,62%%. Pordefinição metodológica, não foram incluídosprofissionais que trabalham há menos de 6meses na organização, uma vez que essesrespondentes poderiam não ter osconhecimentos necessários para emitir umaopinião fundamentada.

Para o estudo da fidedignidade,procedeu-se à análise de consistênciainterna - uma medida da sua confiabilidade- através do cálculo do coeficiente alfa deCronbach, por ser considerada uma dasmedidas mais usadas para verificação daconsistência interna em escalas de tipoLikert (PESTANA, GAGEIRO, 2000). Oalfa global é para a relação com o supervisor0,900sendo o menor valor de correlação doitem com a escala de 0,552 e para asatisfação no trabalho de 0,862.

Os respondentes são maioritariamenteenfermeiros (89,6%). Há um predomínio dosexo feminino (65,6%). O grupo etário maisrepresentativo, o de 30-39 anos (53,1%),seguindo-se o de menos de 30 anos (28,1%).Há uma tendência decrescente do valormédio do relacionamento com o supervisorà medida que avançamos no grupo etário(3,96 no grupo com menos de 30 anos e 3,59no grupo com mais de 50 anos), contudo, adiferença nesses valores, analisada comrecurso ao teste Anova One-Way, revelounão ser estatisticamente significativa[F(3,92)=.270, p=.847].

Os diferentes valores médiosencontrados nos diferentes grupos etários éuma questão em que deve usar cautela nainterpretação, pois poderá, inclusive, haversobreposição de outras variáveis, como sejaa categoria profissional (Ferreira & Silva,2013), mas não deixa de possibilitar levantaralgumas interrogações, não possíveis deresponder com os dados que recolhemos.

Quanto ao tempo em que trabalha naorganização, em 64,6% dos casos é inferior

a 5 anos. O valor médio global dorelacionamento com o supervisor situa-seem 3,86 ±0,77, numa escala de 1 a 5. Quantoà satisfação no trabalho, na mesma escala,o valor médio é de 3,13 ±0,61.

A importância atribuída às relaçõesinterpessoais na situação de trabalho ésalientada em diferentes contextos e pordiferentes autores. No presente estudo, ovalor médio encontrado para a relação como supervisor (3,86 ±0,77), sendo um valorque se situa acima do ponto médio,consideramos não ser o desejável, donde sedeixa a sugestão da necessidade de investirneste relacionamento, não obstante existiremoutras variáveis que influenciarão asatisfação no trabalho, e que não foram aquiincluídas.

Pelo cálculo da correlação dePearson, podemos verificar que orelacionamento com o supervisor e asatisfação no trabalho se associam de formapositiva e significativa (r= 0,690; p <0,001),o que vai no sentido da hipótese formulada.

Como os dados permitem verificar, háassociação positiva e significativa entresatisfação no trabalho e o relacionamentocom supervisor, o que significa que médicose enfermeiros com relacionamento maisfavorável com o supervisor estão maissatisfeitos no trabalho, ou seja, oinvestimento nesse relacionamento teráreflexos positivos na satisfação no trabalho.

Estes resultados analisados emprofissionais de saúde vão no sentido dosanteriormente encontrados por Sneed eHerman (1990), também em profissionaisde um hospital, e que verificaram associaçãoestatisticamente significativa entresatisfação no trabalho e bom relacionamentosocial no trabalho (envolvendo chefia ecolegas).

Numa perspectiva mais genéricaquanto aos grupos profissionais, Shore,Barksdale e Shore (1995) consideram, deacordo com o discutido por Feldman (1986),que os atributos do indivíduo estão ligadosao relacionamento de troca que se cria entreo gestor e o empregado.

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McNeese-Smith (1996), no seu estudoexaminando comportamentos de liderançaem gestores hospitalares, encontraramresultados reveladores de essescomportamentos predizerem resultadosindividuais importantes por parte dosempregados.

A partir dos anos 90, tem-se em vistaa otimização da produtividade a partir dacapitalização dos sentimentos e das emoçõesdas pessoas. Esta perspectiva considera queos indivíduos são percebidos como seresportadores de necessidades sociais epsicológicas e que a satisfação denecessidades, através de estilos de gestãomais participativos e descentralizadores,conduz à possibilidade de aumento daprodutividade. Na mesma linha, acredita-seque a satisfação dos colaboradores ébenéfica para a organização e considera-seque, quanto maior for o número decolaboradores satisfeitos, maiores serão aspossibilidades de aumenta a qualidade dotrabalho e a produtividade organizacional,aspectos tão relevantes no setor da saúdenum momento em que os recursos se sentemcomo cada vez mais escassos.

Pela reconhecida complexidade dasorganizações de saúde, pelas característicasespecíficas dos serviços que oferecem, epelo fato de reunir consenso à ideia de queos recursos humanos podem ser o principalfator de vantagem competitiva de qualquerorganização, este estudo tem o intuito desubsidiar os supervisores na adoção demedidas necessárias para melhorar o seurelacionamento com os colaboradores econsequentemente o nível de satisfaçãodestes.

Partilhamos a recomendação deFerreira e Silva (2013), apesar do seu estudoser sobre empenho organizacional e nãosobre satisfação no trabalho, de que éimportante que as chefias estejam atentasà sua relação com os colaboradores.

CONCLUSÃO

Considera-se o estudo oportuno,porque o atual momento vivido pela maior

mundialização dos negócios e atividades,que, em muitos dos seus resultados estãodependentes de um profundo e adequadoconhecimento dos problemas que emergemdo domínio dos valores e pressupostosfundamentais que estruturam a forma depensar e de atuar dos indivíduos e dosgrupos, em geral, e nos serviços de saúdeem particular.

Demonstrou-se num estudo realizadoem 96 profissionais de saúde,concretamente médicos e enfermeiros, aimportância do relacionamento com osupervisor enquanto antecedente dasatisfação no trabalho, em que a associaçãoé positiva e significativa. O valor médioglobal do relacionamento com o supervisorsitua-se em 3,86 ±0,77 e da satisfação notrabalhoem 3,13 ±0,61.

Uma das limitações que se aponta aoestudo é a pequena dimensão da amostra,donde as inferências estão comprometidas.Outra limitação prende-se com o conjuntode variáveis independentes analisadas,reconhecendo-se a necessidade de incluirna análise outras variáveis independentes.

Apesar das limitações considera-sedeixar um contributo para (re)pensar o papeldo supervisor em termos de relacionamentocom os colaboradores.

RESPONSABILIDADE INDIVIDUAL

A autora participou de todas as etapasna elaboração do artigo.

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ACESSO DO USUÁRIO HIPERTENSO NA ATENÇÃO BÁSICA E AREPERCUSSÃO DO ATENDIMENT O NA ADESÃO AO TRATAMENT O

Natasha Marques Frota1, Lívia Moreira Barros2, Thiago Moura de Araújo3, Roberta Grangeiro deOliveira4, Zélia Maria de Sousa Araújo Santos5, Joselany Áfio Caetano6

RESUMO: Este estudo objetivou analisar o acesso do usuário hipertenso na atenção básica comenfoque na adesão ao tratamento. Estudo descritivo com abordagem quantitativa desenvolvido noperíodo de fevereiro a abril de 2011 em seis Unidades Básicas de Saúde (UBS) de Fortaleza-CE. Acoleta dos dados ocorreu por meio de entrevista e a análise estatística foi feita mediante a estatísticadescritiva. A recepção era, na maioria dos casos, atenciosa (86%) e respeitosa (85,5%), sendo resolutivapara 69,8% (279) dos participantes. O relacionamento com a equipe de saúde foi consideradosatisfatório por 322 (80,5%) usuários, havendo o diálogo nas consultas. A análise dos dados reveloua prevalência de uma população feminina e idosa com baixa escolaridade e condição socioeconômica.Concluiu-se que os usuários hipertensos tinham acesso ao atendimento na UBS, fato que repercutiráem sua adesão do mesmo ao tratamento fornecido.

PALAVRAS-CHAVE: Hipertensão; Atenção primária à saúde; Promoção da Saúde.

USER ACCESS HYPERTENSIVE IN PRIMAR Y CARE ANDREPERCUSSION OF THE ACCESSION TO TREATMENT

ABSTRACT: Aimed to analyze user access hypertension in primary care with a focus on treatmentadherence. Descriptive study with a quantitative approach developed in the period from February toApril 2011 in six basic health units (UBS) of Fortaleza. Data collection occurred through interviewsand statistical analysis was performed using the SPSS. The reception was in most cases helpful(86%) and respectful (85.5%) and 69.8% for resolving (279) of the participants. The relationship withthe healthcare team was considered satisfactory by 322 (80.5%) users, with dialogue in consultations.Data analysis revealed the prevalence of female and elderly population with low education andsocioeconomic status. It was concluded that hypertensive patients had access to care at UBS, a factthat will have repercussions on the accession of the same treatment provided.

Artigo de pesquisa

1 Acadêmica do oitavo período do Curso de Enfermagem da Faculdade Assis Gurgacz. Endereço: Rua Rio Grande doSul, 205, Centro. CEP: 85400-000. Guaraniaçu/PR. Fone: (45) 9916-7151.E-mail: [email protected].

2 Acadêmica do oitavoperíodo do Curso de Enfermagem da Faculdade Assis Gurgacz. Endereço:RuaLírio, 1930,Centro. CEP: 85420-000. Corbélia/PR. Fone: (45) 9921-7831. E-mail: [email protected].

3 Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Docente do Curso de Enfermagem da Faculdade Assis Gurgacz. Endereço:Rua Manaus, 2046, aptoA5, Bairro Cancelli. CEP: 85811-030. Cascavel/PR.Fone: (45) 9981-0684. E-mail:[email protected].

4 Enfermeiro,Mestre em Promoção da Saúde, Docente do departamento de Enfermagem da FaculdadeAssis Gurgacz– FAG, Rua Sibipiruna, 161, (45) 9913-1414, [email protected].

Recebido em: 03-01-2013 . Aceito em: 20-02-2013

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INTRODUÇÃO

No Brasil, o acesso aos serviços desaúde é fortemente influenciado pelacondição social das pessoas e pelo local onderesidem. Acesso refere-se à possibilidade deutilizar serviços de saúde quando necessário,o qual é expresso em características da ofertaque facilitam ou dificultam a capacidade daspessoas usarem serviços de saúde quandodeles necessitam. A disponibilidade deserviços e sua distribuição geográfica, adisponibilidade e a qualidade dos recursoshumanos e tecnológicos, os mecanismos definanciamento, o modelo assistencial e ainformação sobre o sistema sãocaracterísticas que dificultam a acessibilidadedos usuários aos serviços de saúde ofertados(TRAVASSOS; OLIVEIRA; VIACAVA,2006).

O compromisso e a vinculaçãoestabelecidos pelos profissionais daEstratégia de Saúde da Família (ESF) comos usuários possibilitam o fortalecimento daconfiança nos serviços. Essa relação positivaentre usuário e profissional é fundamentalpara ampliar a qualidade da assistênciaprestada, o que influencia diretamente naaderência do indivíduo ao tratamento dadoença crônica, fazendo com que ospacientes acreditem nas suas condutas eorientações, tomando assim os cuidadosnecessários no controle da doença(CARREIRA; RODRIGUES, 2010).

No Brasil, as Doenças Cardiovasculares(DCV) que representam a segunda causa demortalidade, estão em elevada incidência,sendo a Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS)um fator de risco potencial para amorbimortalidade por DCV (CRUZ, 2010;PIERIN et al., 2011).

A HAS é uma doença crônica nãotransmissível de alta prevalência. Suaassistência não é de exclusividade daatenção primária à saúde, mas as melhoresoportunidades de atuação acontecem emnível primário. O diagnóstico precoce e ocontrole da HAS são imprescindíveis naprevenção de complicações, comoinsuficiência cardíaca congestiva, doenças

cerebrovasculares, infarto agudo domiocárdio, nefropatia hipertensiva,insuficiência vascular periférica e retinopatiahipertensiva (RABETTI; FREITAS, 2011).

O controle da pressão arterial dependeda implantação de ações adequadas pelosprofissionais de saúde e pelas instituições,bem como a adesão dos pacientes aotratamento e ao acesso aos serviços desaúde. A implantação do Sistema Único deSaúde (SUS), no início da década de 90, foide fundamental importância para a garantiae a ampliação do acesso (HOEPFNER;FRANCO, 2010; CUNHA; VIEIRASILVA, 2010).

O controle ineficaz dos níveispressóricos pode estar relacionado à poucaou nenhuma adesão ao tratamento. Osfatores que influenciam a adesão estãoassociados ao hipertenso (característicasbiopsicossociais, cronicidade da doença,ausência de sintomas e efeitos adversos dosmedicamentos) e à instituição (políticas desaúde, tempo de espera pela consulta,dispensação de medicamentos, dificuldadesde acesso ao serviço de saúde erelacionamento do usuário hipertenso coma equipe de saúde) (PIERIN et al., 2011;LIMA et al., 2010).

O acesso permite o uso oportuno dosserviços com o intuito de alcançar osmelhores resultados possíveis, de forma queo indivíduo passa a utilizar com frequênciao serviço de saúde. O acesso como apossibilidade da consecução do cuidado, deacordo com as necessidades, tem inter-relação com a resolubilidade e extrapola adimensão geográfica, abrangendo aspectosde ordem econômica, cultural e funcionalde oferta de serviços (STARFIELD, 2004).

O acesso e a utilização desse serviçonão são iguais para toda a população. Umsistema de saúde parcial não é eficaz paraa promoção da saúde e prevenção das DCV,com destaque para a HAS (CRUZ, 2010).Ao se refletir sobre a problemática doacesso, questiona-se: será que o acesso àatenção básica influencia na adesão dousuário hipertenso no controle de seuagravo? Com base nesse questionamento,

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este estudo teve como objetivo analisar oacesso do usuário hipertenso à atençãobásica com enfoque na adesão aotratamento.

MÉTODO

Estudo descritivo com abordagemquantitativa desenvolvido em seis UnidadesBásicas de Saúde pertencentes à SecretariaExecutiva Regional VI (SER VI) localizadano município de Fortaleza-CE. A SER VIcobre uma área territorial correspondente a42% do território total de Fortaleza, a qualinclui 29 bairros e uma população estimadaem 600 mil habitantes, contanto com o apoiode 20 Centros de Saúde que atuam naatenção básica (PREFEITURAMUNICIPAL DE FORTALEZA, 2008).

A população foi constituída por 1600usuários hipertensos inscritos nas UnidadeBásica de Saúde (UBS), independentementede cor, escolaridade, renda familiar e estadocivil. A amostra foi calculada com base naprevalência da HAS, que era de 25% na áreaestudada, com fórmula para estudostransversais totalizando um valor aproximadode 400 usuários.

A coleta dos dados ocorreu duranteos meses de maio a agosto de 2011, por meiode entrevista, utilizando-se um formulário,previamente validado, que continha questõesrelativas à caracterização dos sujeitos edados relacionados ao acesso à atençãobásica (linguagem profissional, duração daconsulta, acolhida, relação profissional/usuário, liberdade para verbalização, escutado profissional, fornecimento de orientaçõese aspectos do atendimento em geral). Optou-se pela entrevista devido à dificuldade dossujeitos em responder o formulárioautoexplicativo.

Os dados foram organizados no Excele analisados no Programa StatisticPackage for Social Sciense – SPSS(versão 18.0). As variáveis classificatóriasforam apresentadas descritivamente emtabelas que representavam as frequênciasabsolutas e relativas com posterior análisecom base na literatura selecionada.

Em cumprimento aos princípios éticosde pesquisa envolvendo seres humanos, acoleta de dados foi realizada após aapreciação do projeto pelo Comitê de Éticaem Pesquisa da Universidade de Fortaleza,com emissão de parecer favorável (CEP410/10).

RESULTADOS

Dos 400 hipertensos que participaramdo estudo, 269 (67,2%) eram do sexofeminino (84,5%) e 131 (15,5%) do sexomasculino. Com relação à idade, a maioriatinha idade acima de 40 anos – 390 (97,5%).Observou-se um predomínio do grupo etáriocom idade igual ou superior a 60 anos emque 217 (55,6%) dos usuários correspondiamaos idosos. Entre os entrevistados, a cor dapele parda predominou com uma frequênciade 54,7% (219).

Quanto à naturalidade, 346 (86,5%)dos hipertensos procedem da zona rural doCeará. Na distribuição geográfica,identificamos 251 (62,8%) residentes emFortaleza e região metropolitana e 37,2%(149) encontravam-se na zona urbana deoutros municípios do Estado do Ceará.

No que se refere à religião, ocatolicismo correspondeu à maiorproporção, sendo praticado por 311 (77,7%)participantes. Quanto ao estado civil, 216(54%) eram casados e 294 (73,5%)coabitavam com o cônjugue e filhos ou comoutras pessoas - noras, netos, pais eempregadores.

Em relação ao grau de escolaridade,255 (63,7%) cursaram até o início do ensinofundamental e 79 (19,7%) eram analfabetos.No tocante à situação laboral, 194 (48,5%)eram aposentados e 107 (26,8%) exerciamatividades laborativas relacionadas àconstrução civil, jardinagem, corte-costura,serviços gerais, segurança e panificação.Verificou-se que 341 (85,2%) dosparticipantes recebiam até dois saláriosmínimos e 331(82,5%) possuíam imóvelpróprio.

Um importante dado identificado naTabela 1 refere-se ao respeito da prioridade

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no atendimento, pois apenas 30,3% (121)afirmaram que havia prioridade, tendo emvista que a maioria da população era idosa.Dentre os entrevistados, 98% relataram nãohaver discriminação no atendimento.

A identificação dos funcionários deacordo com o cargo foi relatada por 87%

(348) dos participantes, porém essainformação está limitada aos funcionáriosque trabalham nos setores com maiordemanda, como consultório, marcação deconsulta, Serviço de Arquivo Médico eEstatístico (SAME), farmácia, portaria evigilância (Tabela 1).

Tabela 1 - Caracterização do acesso dos usuários hipertensos à Atenção Básica.Fortaleza-CE, Brasil, 2013 (n=400)

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A recepção destinada aos usuários era,na maioria dos casos, atenciosa (86%) erespeitosa (85,5%), sendo resolutiva para69,8% (279) dos participantes. Orelacionamento com equipe de saúde foiconsiderado satisfatório por 322 (80,5%)usuários. Com relação às características daconsulta, 78% (312) afirmaram que osprofissionais utilizam uma linguagemadequada durante as consultas (Tabela 1).

A troca de informações com o diálogofoi descrita por 73,2% (293) e 26,8% (107)afirmaram não haver diálogo entreprofissional e paciente. A liberdade deexpressão esteve presente em 82,5% (330)das consultas, sendo essa verbalizaçãovalorizada pelo profissional de saúde em75,8% (303) dos casos. Identificamos quecerca de 289 (72,3%) pacientes consideramadequado o tempo destinado à primeiraconsulta e 306 (76,5%) afirmaram que otempo também era adequado nas consultassubsequentes.

Com relação às orientações fornecidasdurante as consultas, observou-se que66,5% (266) foram clarificados a respeitoda sua condição de saúde. O diagnóstico dadoença e a solicitação de examescomplementares foram esclarecidos para312 (78,0%) e 293 (73,2%) pacientes,respectivamente. Quanto às condutasterapêuticas, 342 (85,5%) usuários foramorientados adequadamente. Sobre ascondutas preventivas, 30,2% (121)afirmaram não terem tido conhecimentodurante as consultas.

DISCUSSÃO

A caracterização sociodemográfica éimportante para o conhecimento dos fatoresde risco comportamentais e as atitudesdiante o controle da HAS (LIMA et al.,2010). O baixo controle da pressão arterialestá relacionado à inadequada adesãoterapêutica devido a diversos fatoresinterdependentes, como: idade, sexo, etnia,condições socioeconômicas, hábitos de vida,aspectos culturais, gestão do modeloassistencial e integração entre a equipe

multiprofissional de saúde (DIDIER;GUIMARÃES, 2007).

A predominância do sexo femininotambém foi observada em outros estudos,como o de Pierin et al. (2011) e Lima et al.(2010), os quais identificaram um predomíniode 66% e 56,5% de mulheres,respectivamente. A maior representatividadedas mulheres pode estar relacionada ao maiorinteresse das mulheres com a sua saúde ouà falta de atividade extradomiciliares,permitindo uma maior frequência à UBS(CAXITO; NASCIMENTO; FARIA, 2011).

No Brasil, a HAS representa um sérioproblema de saúde pública devido a suaelevada prevalência, estando presente emmais de 50% dos idosos (LIMA et al.,2010). Sabe-se que o risco para o surgimentode DCV aumenta com a idade e que amortalidade ocasionada pelas DVC estáaumentando devido ao envelhecimento dapopulação (CRUZ, 2010). Em nosso estudo,a maioria da população era constituída poridosos.

Através da lei Orgânica da Saúde (Lei8080), as diretrizes que fundamentam o SUStêm relação estreita com o conceito deterritorialização (CARREIRA;RODRIGUES, 2010). Com relação ànaturalidade, 86,5%, que constituem amaioria dos entrevistados, eram naturais deoutros municípios da zona rural do Ceará,mas residia na Zona Metropolitana deFortaleza.

As equipes multiprofissionais da ESF sãoresponsáveis pelo acompanhamento de umapopulação, localizada em uma área delimitada,na qual irá desenvolver ações de promoção àsaúde, prevenção, recuperação e reabilitaçãode doenças e agravos mais frequentes(CARREIRA; RODRIGUES, 2010). Oacompanhamento de um paciente comdiagnóstico de HAS é realizado pela equipeda ESF atuante na UBS mais próxima a suaresidência, o que favorece a acessibilidade ea otimização do atendimento(FAQUINELLO; CARREIRA; MARCON,2010).

Verificou-se que a população estudadapossui um baixo grau de escolaridade e uma

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renda mensal familiar de até dois saláriosmínimos. A escolaridade é um fatordeterminante na adesão terapêutica, pois oconhecimento sobre a doença e otratamento influencia no controle da HAS econtribui para a adesão. Em contrapartida,o contexto socioeconômico poucofavorecido influencia em uma baixa adesãoao tratamento e menor controle dahipertensão (LIMA et al., 2010).

Constatou-se que a elevada frequênciade aposentados está de acordo com osachados do estudo feito em São Paulo como intuito de caracterizar a prevalência docontrole da hipertensão arterial na atençãoprimária e detectou que a maioria (62%) dapopulação era composta por aposentados(PIERIN et al., 2011).

Na UBS analisada, uma pequenafrequência dos participantes relatou que haviaprioridade no atendimento. Sabe-se que orespeito à prioridade facilita o atendimento dapopulação idosa, a que correspondeu à maiorparte da população do nosso estudo. Afacilidade do acesso na busca de atendimentona UBS pode resultar em umacompanhamento pela ESF com maiorfrequência e participação, bem como maiorvínculo do usuário com a UBS, o que contribuipara a melhora de sua saúde(FAQUINELLO; CARREIRA; MARCON,2010).

Os usuários consideraram a recepçãona UBS atenciosa e respeitosa, o queinfluencia positivamente na sua relação como serviço, pois a relação desfavorável entreprofissional-paciente é uma causa da baixaadesão ao tratamento e está vinculada aodescontentamento ou insatisfações deste(DUARTE et al., 2010).

A busca ao atendimento na UBS foiresolutiva para muitos dos usuárioshipertensos. Vale salientar que o simplesfato de existir um atendimento inadequadopelos profissionais faz perpetuar entre apopulação a ideia de um mau atendimentopela UBS, o que pode favorecer a buscapelo serviço de atenção básica somente emsituações de doenças (FAQUINELLO;CARREIRA; MARCON, 2010).

A satisfação com o atendimento pelaequipe de saúde foi afirmada pelos usuários.A satisfação e a frequência adequada noacompanhamento dos usuários hipertensos sãorelevantes devido à cronicidade da doença, oque permite inferir a existência de umatendimento longo e prolongado(FAQUINELLO; CARREIRA; MARCON,2010).

A ausência de vínculo entre osprofissionais de saúde e o usuário hipertensoindica que a UBS não está sendo uma rede deapoio para estes indivíduos, os quais nãopercebem nela uma referência para a soluçãode seus problemas de saúde(FAQUINELLO; CARREIRA; MARCON,2010). A oportunidade de diálogo entrepaciente e o profissional durante a consultafoi descrita por quase todos os hipertensos.Para conquistar as mudanças ou diminuir asatitudes que comprometem a realizaçãoadequada do tratamento, a equipe de saúdeprecisa conhecer o paciente, estabelecer umdiálogo e fornecer orientações, de acordo comas suas necessidades e seu estilo de vida.

A valorização da verbalização peloprofissional de saúde foi percebida pelospacientes. Sabe-se que a pouca disponibilidadepara trocas de saberes entre o usuário e osprofissionais de saúde não proporcionacondições para o fortalecimento das mudançascomportamentais necessárias e para odesenvolvimento da autonomia do hipertensono seu tratamento (FAQUINELLO;CARREIRA; MARCON, 2010).

A consulta de Enfermagem comqualidade ao portador de HAS requer tempoe qualificação do profissional. Em nossoestudo, o tempo das consultas foiconsiderado adequado para a maioria dapopulação. Durante a consulta, é importantea identificação de fatores determinantes danão adesão do usuário hipertenso aotratamento para a escolha adequada dascondutas terapêuticas e a obten-ção deresultados satisfatórios, pois o conhecimentodestes pode permitir a implementação deestra-tégias eficazes que possibilitem aadesão ao tratamento (LIMA et al., 2010).

As publicações das diretrizes pela

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Sociedade Brasileira de Cardiologiaconstituem uma fonte de qualificação paraos profissionais, pois são baseadas emevidências científicas e visam reduzir ascondutas inadequadas na assistência, sendoa melhor opção para o estabelecimento dodiagnóstico e o norteamento do tratamentoadequado (HOEPFNER; FRANCO, 2010).

O papel da enfermeira nos programasde Hipertensão na UBS é a realização deconsultas mensais com coleta de dadossobre o paciente e exame físico completo,verificação da pressão arterial, manutençãoda medicação para pacientes sob controle,instrução e aconselhamento sobretratamento farmacológico e nãofarmacológico, solicitação de exameslaboratoriais, encaminhamento dos pacientesde difícil controle ou portadores decomplicações para consulta médica mensal,organização de palestras interdisciplinarese coordenação de estratégias que visem àadesão ao tratamento (DIDIER;GUIMARÃES, 2007).

Foi identificado que mais da metadedos hipertensos tinham sido esclarecidossobre sua condição de saúde. A HAS temcomo principal característica a cronicidadee a assintomatologia, gerando um sério riscopara o desenvolvimento de complicações,caso o usuário não esteja aderindoadequadamente ao tratamento (PIERIN etal., 2011; FAQUINELLO; CARREIRA;MARCON, 2010). O acesso facilitado aosmédicos especialistas, o atendimentomultiprofissional e as intervenções de ordemadministrativa são importantes para melhoraro controle da doença (HOEPFNER;FRANCO, 2010).

O profissional pode favorecer a adesãoao tratamento com atitudes simples como:orientar que o paciente leve seus remédiosnas suas viagens, realizar o aprazamentoadequado da tomada dos remédios, estimularque ele busque o serviço de saúde paraprovidenciar os remédios antes que seacabem, incentivar a ida às consultas eestimular o autocuidado e encorajar que eletome os remédios por conta própria(PIERIN et al., 2011).

Há relação entre o tempo dediagnóstico e o controle da pressão.Usuários hipertensos com mais tempo dediagnóstico apresentaram-se menoscontrolados (PIERIN et al., 2011). Oprofissional de saúde deve dar importânciaa esse fator durante as consultas com maiorênfase nas mudanças no estilo de vida e naadesão ao tratamento.

A educação de pessoas com doençascrônicas, como a hipertensão, tem comoobjetivo influenciar o comportamento dohipertenso na obtenção de mudanças emanutenção destas (PIERIN et al., 2011).As estratégias educativas e a maiorvigilância da equipe de saúde em relaçãoao tratamento da hipertensão influenciam nocontrole da pressão arterial pelo usuário, oque demonstra a importância da articulaçãoda assistência prestada pelos profissionaisao hipertenso (DIDIER; GUIMARÃES,2007).

Portanto, vários estudos corroboramcom essa afirmativa mostrando que aeducação em saúde torna-se a principalestratégia para melhorar a adesão dosusuários, como também a participação deprofissionais na Equipe Saúde da Família(CARVALHO et al., 2011).

Nesse sentido, estratégiaseducacionais são importantes, uma vez queuma tecnologia em saúde que podecontribuir para uma concepção maisampliada de saúde é o trabalho em grupo.As oficinas ou grupos de trabalho sãoferramentas que podem complementar asações individuais promovidas pelos serviçosde saúde, possibilitando que os pacientescompartilhem experiências e vivenciemsaberes e práticas que facilitam a escuta, oacolhimento e o vínculo com os profissionaisde saúde (FERNANDES; SILVA;SOARES, 2011).

A obtenção do diagnóstico de HAS édificultada quando o acesso aos serviçosprestados pelas UBS não ocorre de formacorreta ou quando a população não buscaesses serviços. O diagnóstico tardio e otratamento inadequado da HAS tambéminfluencia no elevado percentual de

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comorbidades (HOEPFNER; FRANCO,2010).

Verificou-se que os pacientesafirmaram que tinham conhecimento sobreo diagnóstico da doença. Apesar dodiagnóstico de HAS, alguns usuários,principalmente os idosos, não se consideramdoentes, o que dificulta a compreensão dealguns indivíduos sobre o processo saúde-doença da HAS ser caracterizado pelaausência de sinais e sintomas clínicosevidentes (FAQUINELLO; CARREIRA;MARCON, 2010).

O atendimento nas consultas ofertadasna atenção primária deve envolver açõesque tenham como objetivo a promoção daautonomia dos usuários nos seus hábitos devida adequados ao seu tratamento,promovendo suporte e orientações quefavoreçam as escolhas responsáveis, asquais irão garantir uma maior qualidade devida (FAQUINELLO; CARREIRA;MARCON, 2010).

Constatou-se que as orientações sobreo tratamento farmacológico para HAS estãoentre as condutas terapêuticas durante asconsultas, pois os usuários afirmaram teremsido orientados adequadamente. Otratamento farmacológico disponibilizadogratuitamente pelo SUS é suficiente e eficazpara a obtenção do controle da PA pelosusuários hipertensos (LIMA et al., 2010).Para alcançar o objetivo terapêutico, muitasvezes é necessário a associação gradativados anti-hipertensivos (PIERIN et al., 2011;DIDIER; GUIMARÃES, 2007).

Sobre as condutas preventivas, ospacientes afirmaram não terem tidoconhecimento durante as consultas. Aprevenção é uma estratégia essencial a serconsolidada entre os profissionais de saúde,pois os fatores de risco modificáveis estãoprofundamente enraizados no âmbito sociale cultural da sociedade brasileira (FROTAet al., 2013).

As intervenções acessíveis e eficazessão necessárias para o controle e aprevenção das DCV. A maioria dasintervenções ofertadas às comunidadesvisam à prevenção secundária, na qual o

diagnóstico já está estabelecido e aprioridade é reduzir os sintomascardiovasculares e a morbimortalidade(CRUZ, 2010).

Em um artigo de revisão por Cruz(2010) com o intuito de avaliar as práticasde prevenção de DCV na atenção primária,identificou-se que os profissionais de saúdenão destinam a atenção devida nasmudanças no estilo de vida. A adoção deum estilo de vida saudável está relacionadaà melhora da qualidade de vida e reflete deforma positiva no controle da hipertensãoarterial. Para que o tratamento sejaadequado ao seu estado de saúde, ohipertenso requer estímulo frequente sobreas mudanças de estilo de vida e os ajustesno decorrer do tratamento (PIERIN et al.,2011).

A adoção de práticas saudáveis, comorestrição da ingestão de bebida alcoólica,abstenção do tabagismo, planejamentoalimentar com redução do sal e alimentoshipercalóricos, manejo de situaçõesestressantes, atividade física regular e usoadequado dos medicamentos devem estarentre as orientações prestadas ao hipertensodurante a assistência (PIERIN et al., 2011;LIMA et al., 2010).

Deve haver uma prioridade naprevenção primária dos fatores de riscocardiovasculares, principalmente nos trêsfatores de risco comportamentais comotabagismo, inatividade física e alimentaçãoinadequada, o que irá melhorar a prevençãosecundária dos principais fatores de riscopara DCV, como obesidade, pressão alta,colesterol alto e fumo (CRUZ, 2010).

Frente a esse contexto da adoção depráticas saudáveis e a prevenção de DCV,torna-se relevante o envolvimento usuário/Unidade de Saúde, por meio daacessibilidade deste ao serviço de saúde.Isso faz com que usuários sintam-semotivados a desenvolver atividades paramelhorar a qualidade de vida, aderindo àscondutas terapêuticas não medicamentosase medicamentosas para o controle dadoença (FROTA et al., 2013).

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CONCLUSÕES

A análise dos dados revelou apredominância de uma população femininae idosa com baixa escolaridade e condiçãosocioeconômica. Identificou-se que a maiordificuldade encontrada quanto ao acesso foia falta de prioridade no atendimento. Énecessário que a gestão de cada UBSorganize o atendimento e o acolhimento dapopulação, de modo que o acesso à unidadeseja ampliado e promovido com a eliminaçãodas filas, redução do tempo de espera eorganização do atendimento de acordo comas prioridades.

A avaliação do acesso dos usuárioshipertensos aos programas de controle daHAS na atenção primária possibilita aidentificação dos fatores que prejudicam aparticipação dos usuários na UBS e aelaboração de estratégias que modifiquemessa situação, além de possibilitar a melhorado serviço prestado e melhores taxas decontrole no tratamento da HAS. Umpaciente presente, satisfeito com oatendimento concedido e orientado para oseu cuidado poderá atuar de forma ativa noprocesso de saúde-doença, de modo aprevenir as complicações crônicas advindasda HAS, além de participar das açõesfornecidas pela UBS referentes à promoçãode saúde e sua prevenção de agravos.Portanto, a produção dessa metodologia nãodeve ser vista apenas pela lógica individual,mas num contexto que envolva toda asociedade, a família e o próprio usuário nonúcleo da construção do cuidado.

Desse modo, a relevância dessesresultados destaca-se por servirem comoindicadores para o planejamento de açõesestratégicas. Além disso, as conclusõespodem ser direcionadas para outrosmunicípios do mesmo porte, com perfilsemelhante e consequentemente subsidiarnovas pesquisas com a comunidadeassistida.

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1 Acadêmica do oitavo período do Curso de Enfermagem da Faculdade Assis Gurgacz. Endereço: Rua Rio Grande doSul, 205, Centro. CEP: 85400-000. Guaraniaçu/PR. Fone: (45) 9916-7151. E-mail: [email protected].

2 Acadêmica do oitavo período do Curso de Enfermagem da Faculdade Assis Gurgacz. Endereço: Rua Lírio, 1930,Centro. CEP: 85420-000. Corbélia/PR. Fone: (45) 9921-7831. E-mail: [email protected].

3 Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Docente do Curso de Enfermagem da Faculdade Assis Gurgacz. Endereço:Rua Manaus, 2046, apto A5, Bairro Cancelli. CEP: 85811-030. Cascavel/PR. Fone: (45) 9981-0684. E-mail:[email protected].

4 Enfermeiro, Mestre em Promoção da Saúde, Docente do departamento de Enfermagem da Faculdade Assis Gurgacz– FAG, Rua Sibipiruna, 161, (45) 9913-1414, [email protected].

Recebido em: 03-02-2013 . Aceito em: 30-03-2013

A PERCEPÇÃO DOS USUÁRIOS SOBRE A PERMANÊNCIA EM UMACOMUNIDADE TERAPÊUTICA: UM ESTUDO QUALIT ATIV O

Jéssica Thuane Zanatta De la Torre1, Raquel Trevisol2, Gicelle Galvan Machineski3, Tarcísio VitorAugusto Lordani4

RESUMO: O uso abusivo de substâncias psicoativas tornou-se um problema cada vez mais comume mais complexo, exigindo o tratamento dos usuários, o qual pode ser ofertado por meio da internaçãoem casas de recuperação. Assim, o presente estudo visa a conhecer as dificuldades enfrentadaspelos usuários durante esse processo de reabilitação. Para tanto, foi realizada uma pesquisa descritivae qualitativa, por meio de entrevista semiestruturada com usuários de comunidades terapêuticas. Asinformações foram analisadas segundo a técnica de análise de conteúdo, sendo formuladas asseguintes unidades temáticas: dificuldades vivenciadas pelos usuários durante o tratamento;percepção dos usuários quanto ao tratamento; os usuários relatam que a religiosidade é importantedurante o tratamento; os usuários demonstram que estão cientes da importância do tratamento.Dessa forma, percebemos que é necessário um trabalho conjunto a fim de que o paciente e sua famíliaconfiem na equipe e alcancem êxito no tratamento.

PALAVRAS-CHAVES: Drogas ilícitas. Reabilitação. Comunidade terapêutica. Enfermagem.

USER’S PERCEPTION ON STAYING IN A THERAPEUTIC COMMUNITY :A QUALIT ATIVE STUDY

ABSTRACT: The abuse of psychoactive substances has become an increasingly common andmore complex problem, requiring treatment of users, which can be offered through the hospital inrecovery houses. Thus, this study aims to know the difficulties faced by users during the rehabilitationprocess. Therefore, a descriptive and qualitative research through semi-structured interviews withmembers of therapeutic communities was performed. Data were analyzed using the technique ofcontent analysis, the following thematic units being formulated: difficulties experienced by usersduring treatment; perception of users regarding treatment, and users report that religion is importantduring treatment; show that users are aware of the importance of treatment. Thus, we see that a setso that the patient and his family trust in the team and achieve success in treating work is needed.

KEYWORDS: Street Drugs. Rehabilitation. Therapeutic Community. Nursing.

Artigo de pesquisa

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INTRODUÇÃO

A Reforma Psiquiátrica fora marcadapela crítica ao modelo hospitalocêntrico.Surgiu o movimento italiano dedesinstitucionalização que visava ao fim dosmanicômios e das ações institucionais decontenção, bem como a destruição doambiente manicomial e dos muros queseparavam ambiente interno de externo. Talmovimento, que propunha a constituição decasarões com quartos grandes, sala ecozinha e criação de outros modos decuidados, deu fim à violência na instituiçãopsiquiátrica.

A Reforma Psiquiátrica é um processopolítico e social complexo [...].Compreendida como um conjunto detransformações de práticas, saberes,valores culturais e sociais, é no cotidianoda vida das instituições, dos serviços edas relações interpessoais que o processoda Reforma Psiquiátrica avança, marcadopor impasses, tensões, conflitos edesafios (BRASIL, 2005, p. 06).

Anteriormente à reforma psiquiátricano Brasil, aconteceram muitos outrosmovimentos psiquiátricos, sendo um deles oda comunidade terapêutica, na Inglaterra.

Segundo Oliveira (2002, p. 42) “Otermo comunidade terapêutica surgiu em1946, foi proposto por T. Main, emdecorrência do trabalho que vinha sendodesenvolvido por ele em parceria com Bione Reichman, no Northfield Hospital, emBirmingham”.

As primeiras comunidades terapêuticasforam criadas em 1979 e ofereciam limites,regras, afetos controlados, horários eresponsabilidades para os pacientes.

A reforma psiquiátrica repercutiu deforma positiva para a saúde mental no Brasile hoje em dia as comunidades terapêuticassão muito procuradas.

As comunidades terapêuticasdisponibilizam atendimento a usuários desubstâncias psicoativas. Sendo assim,algumas das drogas mais consumidas porcrianças e adolescentes em situação de rua,

segundo Charlout 2000 (apud Carlini, 2008,p. 9-35), seriam a cocaína, o crack, acannabis sativa, a morfina e a heroína.

Essas drogas são pouco comuns noBrasil e seus casos de dependênciaconhecidos são mínimos se comparadoscom os de outros países (ALMEIDAFILHO,1995). Além disso, o uso abusivo dedrogas pode estar relacionado a transtornosde personalidade.

Embora nenhum padrão de personalidadeisolado esteja associado ao abuso desubstâncias, é muito alta a frequência dostranstornos de personalidade entre osabusadores. Os transtornos dapersonalidade anti-social e borderlineparecem predispor a uso de substâncias.Traços narcisistas têm sido identificadoscomo um possível fator de risco nosabusadores de cocaína. Outrascaracterísticas psicológicas observadasnos abusadores de substâncias incluema hostilidade, baixa tolerância afrustração, inflexibilidade e baixa auto-estima (ANDREASEN; BLACK, 2009, p.276).

Outros transtornos também estãoassociados, como os transtornos deansiedade, a depressão e aqueles causadospelos estimulantes do SNC (como a cocaína):abuso e dependência, intoxicação, delirium,psicose, transtornos do humor e abstinência(ANDREASEN; BLACK, 2009).

O uso contínuo de uma drogapsicoativa produz tolerância, ou seja, ousuário precisará de doses cada vez maiorespara gerar o mesmo efeito. Quando o usuáriopara de consumir tal droga, podeexperimentar os efeitos colaterais daretirada – dor física e anseios intensos –caracterizando dependência física da droga(MYERS, 1999).

A dependência química existe quandoo usuário é dominado por uma vontade quaseincontrolável de consumir a droga à qual estáacostumado, ele sente a falta do prazer quelhe era proporcionado e se torna insatisfeito,ansioso ou frustrado. Caso não haja oconsumo, a ansiedade aumenta e a pessoatem uma forte sensação de mal-estar. A

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dependência psíquica é considerada maisdifícil de tratar, pois envolve aspectospsicológicos que “prendem” o indivíduo afatores que o levam ao consumo da droga.É comum um indivíduo se tratar e, depoisde desintoxicado e livre da dependênciafísica, voltar às drogas devido à dependênciapsíquica (ALMEIDA FILHO,1995).

Em uma pesquisa realizada porMaçaneiro (2008), constataram-se na falados pacientes inúmeros sentimentos quecaracterizam sofrimento psíquico, comoangústia generalizada, medo, insegurança,decepção, insatisfação, saudade, culpa,pensamentos suicidas, sentimento deabandono, necessidade de desabafar, entreoutros.

Para Maçaneiro (apud Hildebrandt, 2004,p. 42):

[...] o objetivo da comunidade terapêuticaé o crescimento das pessoas através deum processo individual e social; e o papelda equipe é ajudar o indivíduo adesenvolver seu potencial. O programaterapêutico-educativo a ser desenvolvidono período de tratamento tem comoobjetivo ajudar o dependente químico ase tornar uma pessoa livre através damudança de seu estilo de vida.

Para evitar a mesmice, a angústia e oestresse que o tratamento pode ocasionarno indivíduo dependente, deve-se pensarsempre em novas fórmulas de inovar otratamento e manter um diálogo com outrasáreas da saúde. A multidisciplinaridade éfundamental para estas pessoas. Não sedevem ter conceitos pré-estabelecidos notratamento de dependentes de drogas(MAÇANEIRO, 2008).

Outra questão importante noatendimento ao dependente é o acolhimentoofertado a ele. A sua chegada a umacomunidade terapêutica é um momento desofrimento e de extrema susceptibilidade e semo apoio familiar as chances de sucesso dotratamento diminuem (MAÇANEIRO, 2008).

Nesse sentido, o objetivo dessapesquisa é conhecer quais as maioresdificuldades enfrentadas na reabilitação.

MÉTODO

Trata-se de uma pesquisa descritiva equalitativa, que segundo Oliveira (2000)possui certa facilidade de descrever acomplexidade de uma determinada hipóteseou problema, compreender e classificarprocessos dinâmicos experimentados porgrupos sociais, interpretar comportamentosou atitudes de indivíduos etc.

Esta pesquisa foi realizada nosmunicípios de Corbélia e Guaraniaçu,localizados no estado do Paraná, por meiode entrevista a usuários de comunidadesterapêuticas, em encontros pré-agendados.Os dados foram coletados, com auxílio deum gravador, pelas acadêmicaspesquisadoras entre os dias 10 e 30 de junhode 2013.

Para a realização da coleta de dados,foram encaminhadas autorizações aosresponsáveis pelas comunidades terapêuticas,com solicitação de campo de pesquisa. Apósa concordância e aprovação do projeto peloComitê de Ética em Pesquisa da FaculdadeAssis Gurgacz, sob parecer no 135/2013

, foi

realizada uma entrevista com os referidosparticipantes, conforme resolução 196/96 doCNS (BRASIL, 2000), medianteapresentação do Termo de ConsentimentoLivre e Esclarecido.

A amostra foi definida pela saturaçãodos resultados encontrados, tendo em vistaque se trata de uma pesquisa qualitativa. Aanálise dos dados foi realizada por meio datécnica de análise de conteúdo de Bardin(2004).

Foram incluídos nesta pesquisa osusuários das comunidades terapêuticas deCorbélia e Guaraniaçu que aceitaramparticipar da pesquisa mediante assinaturado Termo de Consentimento Livre eEsclarecido. Foram excluídos os internos quenão estiveram presentes no local nomomento da entrevista ou que estavamrealizando outras atividades dentro da casade recuperação.

Foi garantido ao sujeito participante osigilo das informações, sendo que seus dadospessoais não serão divulgados e somente os

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resultados da pesquisa poderão serpublicados em meio científico. Sendo assim,cada participante foi identificado pela letra“L” seguida do número de ordem dasentrevistas.

RESULTADOS

A partir da análise das informaçõescoletadas, foi possível identificar quatro eixostemáticos: dificuldades vivenciadas pelosusuários durante o tratamento; a percepçãodos usuários referente ao tratamento; osusuários relatam que a religiosidade éimportante durante o tratamento; os usuáriosdemonstram que estão cientes daimportância do tratamento.

Tais eixos foram formados a partir decategorias de análise como: falta dosfamiliares durante o tratamento, desejo defazer uso de droga, mudança nasconsequências propiciadas pela droga,apreço pelo lugar de reabilitação, sonhos evontade de reconstituir a vida longe dasdrogas, percepção de que Deus está maispróximo, atividades praticadas na instituiçãoe realização do tratamento por espontâneavontade.

1) Dificuldades vivenciadas pelosusuários durante o tratamento

A identificação desse eixo temáticodelineou-se a partir das seguintes unidadestemáticas:

a) Os usuários citam a falta dos familiarescomo uma das dificuldades vivenciadasdurante o tratamento

Ficar longe da família é muito difícil,mas com o passar do tempo vai seacostumando, tem a visita a cada mês.(L1)Sinto saudade da minha família, masacho melhor estar aqui dentro do quelá fora, onde eu estaria usando drogaagora. (L11)

b) Os usuários revelam que durante otratamento sentem ou já sentiram falta de

fazer uso de droga

A maior dificuldade foi ficar sem adroga, porque eu usava bastante. (L7)[...] ficar longe da droga dá muitavontade. (L9)

2) A percepção dos usuários referente aotratamento

A identificação desse eixo temáticodelineou-se a partir das seguintes unidadestemáticas:

a) Os usuários relatam mudança nasconsequências que a droga propiciava, comoa falta de amor e interesse em relação aopróximo

Sentimentos bons, uma coisa que lá foraeu não sentia que é amor por mim e amorpelo próximo, que eu não dava valornenhum lá fora para ninguém, muitomenos para mim. (L4)[...] agora estou querendo reviver todoaquele tempo com amor, com paz, levara luz, ser um ser humano de verdade,coisa que antes [quando ainda fazia usode drogas] era totalmente diferente. (L6)

b) Os usuários percebem como está sendobom o tratamento para eles e revelam gostardo lugar onde estão

Para mim está sendo muito bom aqui[...] eu já passei por clínicaspsiquiátricas e não adiantou nada, masaqui sim, está me ajudando. (L1)Eu passei por seis comunidadesterapêuticas e aqui foi o primeiro lugarque eu encontrei onde há o respeito emtodo momento [...] a casa está meoferecendo uma vida nova, diferentedaquilo que eu vivia lá fora. (L10)

c) Os usuários expõem parte de seus sonhose a vontade de reconstituir suas vidas longedas drogas

[...] aqui eu tenho novas vontades, euvejo que meus sonhos agora podemacontecer, são novos frutos que eu desejover os resultados. (L5)

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Eu tenho sonhos para realizar, voltar aviver intensamente aquele tempo que euperdi quando eu estava usando drogas,o tempo que eu não vivia apenasvegetava sobre a terra. (L6)

3) Os usuários relatam que a religiosidade éimportante durante o tratamento

A identificação desse eixo temáticodelineou-se a partir das seguintes unidadestemáticas:

a) Os usuários percebem que Deus estámais próximo a eles que isso é importantena batalha contra as drogas

[...] são sentimentos tão fortes de Deusque nenhuma palavra que eu conheçoexplicaria, aqui eu encontrei um paique estava sempre do meu lado que eunão enxergava que é Cristo. (L2)Então hoje eu posso sentir oarrependimento por tudo aquilo que fiz,Jesus me ajuda a enxergar melhor. (L10)

b) Os usuários relatam quais as atividadespraticadas na instituição sendo que a oraçãoé a atividade predominante

O lema da casa é trabalho, disciplina eoração, e a atividade que eu gosto defazer é mexer com a horta. (L1)Fazemos nossas orações, atividadespara ocupar nosso tempo e nossamentalidade. (L3)

4) Os usuários demonstram que estãocientes da importância do tratamento

A identificação desse eixo temáticodelineou-se a partir das seguintes unidadestemáticas:

a) A maioria dos usuários afirma que realizao tratamento por espontânea vontade

Sim, estou aqui porque eu quero, chegouum tempo da minha vida que eu procureiajuda junto a minha família. (L5)Sim, eu percebi que já não era apenasum vício, eu vi que já tinha se tornadouma doença mesmo, e grave. (L7)

DISCUSSÃO

A partir da análise acerca dasdificuldades enfrentadas no tratamento,percebemos que a inserção da família notratamento é de extrema importância paraque este ocorra de forma saudável. Énecessário ainda que os familiaresparticipem de terapia para saber como lidarcom os usuários após o tratamento.

Schenker e Minayo (2004) apontamque a organização social da comunidadeterapêutica serve como uma famíliasubstituta para o indivíduo, provendo ummeio terapêutico e de apoio para que eleamadureça e cresça. Porém, citam que hánecessidade de se tratar o sistema familiarpara a transformação da adicção emprodução de saúde.

Assim, para Silva, Pinto e Machineski(2013, p. 478):

Isso evidencia o quanto é significantepara o dependente em recuperação oacompanhamento da família durante operíodo em que se encontra naComunidade Terapêutica. Da mesmamaneira, a partir do momento do retornoà convivência familiar, é essencial aoindivíduo receber os cuidados e o apoio.

Percebemos que, por mais que osusuários saibam que não podem e/ou nãoqueiram mais fazer o uso das drogas,acabam sentindo o desejo, o que é algoinevitável.

Os usuários de crack são os quemenos buscam ajuda entre os que utilizamdrogas ilícitas. Devido a isso, é importanteque haja compromisso mútuo no que dizrespeito às atividades desenvolvidas nodecorrer do tratamento em prol dasmudanças desejadas no comportamento emrelação ao uso da droga (MILLER;FLAHERTY, 2000).

Com o passar do tempo, a intoxicaçãoe a abstinência desenvolvem problemasfisiológicos, emocionais, cognitivos ecomportamentais como consequência do usocontínuo da substância. Esses problemascertamente geram sofrimento para a

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pessoa, para a família e para a comunidade(SMELTZER & BARE 2005).

Quanto à percepção dos usuáriosreferente ao tratamento, é possívelperceber grandes mudanças na vida dosindivíduos que aderiram a esse tipo detratamento, o que evidencia a sua eficácia.

Schenker e Minayo (2004) definem otratamento por meio de ComunidadesTerapêuticas (TC) como um programaresidencial de longa. Seu objetivo é proverum meio seguro, saudável e acolhedor noqual o jovem possa desenvolvercomportamentos, crenças e atitudes pessoaissocialmente mais adaptados.

A comunidade terapêutica é umserviço substitutivo que busca o resgate dacidadania, a reabilitação física e psicológicae a reinserção social, o que traz bonsresultados, agindo em fatores psicossociaisda dependência (SILVA; PINTO;MACHINESKI, 2012).

Os usuários possuem afinidade com ainstituição, relatam o surgimento de bonssentimentos em relação à vida e sobre aprópria instituição e comparam esta comoutras nas quais já passaram portratamentos. Essa postura é importante paraa adesão e conclusão do tratamento comêxito.

Acredita-se que as opiniões dospacientes devem ser levadas em conta nostratamentos oferecidos (ZANATTA;GARGHETT; LUCCA, 2012).

A comunidade procura fugir dotratamento tradicional, suas característicassão: orientação para o trabalho produtivo epara o rápido retorno à sociedade;valorização da comunicação; uso detécnicas educativas; reprodução, da melhorforma possível, da realidade exterior parafacilitar a reinserção.

Além disso, a comunidade possui comoobjetivo transformar estilos de vida eidentidades pessoais. Ela é destinada aajudar os indivíduos a mudar a si mesmos e,por isso, procura manter plena participaçãodo indivíduo, para que possa alcançar asmetas sociais e psicológicas de mudança devida. Com esse intuito, organiza-se a rotina

diária de atividades em grupo, reuniões,trabalho e recreação (FRACASSO, 2011).

Os depoimentos nos mostram que osusuários conseguem enxergar o poderdestruidor da droga na vida de uma pessoa,uma vez que esta acaba se transformandoem alguém completamente diferente do queacostumava ser, com pensamentos ruins,fazendo absurdos para adquirir a droga.

É comum no mundo dos usuários queeles se desfaçam de seus pertences, comotelevisão e rádio, para comprar a droga(FERREIRA FILHO; TURCHI;LARANJEIRA; CASTELO, 2003). Porém,vemos que com o tratamento é possívelmudar esses sentimentos e atitudes. Gomes(2010, p. 12) o prova ao afirmar que:

Quando o regulamento da comunidadeterapêutica para dependentes químicos‘invade’ a esfera íntima do residente,determinando o quê e como conversar,em essência está criando condições, pormeio da mais importante das instituiçõessociais, a linguagem, para que o residentepossa ampliar e ‘reformatar’ o seurepertório de percepções e o seuhorizonte existencial em condições deabstinência consciente.

Em relação à religiosidade, osusuários acreditam que ela ajuda narecuperação, sendo que suas experiênciase mudanças ocorreram por intermédio dela.

Abdala et al. (2010) citam que o fatorreligiosidade/espiritualidade ajuda noabandono ou redução do uso de drogas. Aoenvolver-se com padrões de religiosidade,adere-se a um conjunto de valores, símbolos,comportamentos e práticas sociais.

Indivíduos que possuem maisfrequência religiosa apresentam menosconsumo de drogas. A religião se torna umfator de proteção contra o uso de drogasporque igrejas e/ou associações religiosassão consideradas locais de socialização(FERREIRA; MACHADO, 2013).

A partir de alguns relatos, percebemosque os usuários resolveram aceitar otratamento assim que conseguiram perceberque as drogas estavam prejudicando suas

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vidas de diferentes modos ou, ainda, paraatender aos pedidos da família. Sendo assim,a maioria dos usuários está ciente daimportância do tratamento.

A necessidade de tratamento namaioria das vezes é determinada peloenvolvimento obsessivo com a droga, quepassa a prejudicar vários aspectos da vida.O processo de recuperação começa commedidas que vão trazendo o usuário aosserviços de assistência, sendo que odependente, em geral, procura tratamentofrente a situações de risco que envolvamfamiliares, trabalho, finanças, questões legaise rompimento de relacionamento afetivo(GABATZ; SCHMIDT; TERRA;PADOIN; SILVA; LACCHINI, 2013).

CONCLUSÕES

O desenvolvimento desta pesquisa, queteve por objetivo conhecer quais as maioresdificuldades enfrentadas na reabilitação,entender as experiências pelas quais osjovens usuários passam durante otratamento, analisar como eles secomportam e compreender o que elespensam sobre o tratamento, permitiucompreender a partir da análise dasinformações coletadas, como os indivíduossubmetidos ao tratamento contra as drogasse desenvolvem nos serviços alternativosconstituídos em pequenos municípios.

Podemos perceber que os usuáriosentendem o tratamento como importantepara a qualidade de vida, a reintegração nasociedade e o convívio familiar.

Essa experiência nos possibilitouconhecer a visão dos indivíduos em relaçãoà reabilitação, mostrando que estes estãosusceptíveis a mudanças, o que nos fornecesubsídios para trabalhar junto a eles, deforma a compreendê-los melhor e, assim,possibilitar uma boa interação entre a equipee o cliente.

O estudo poderá trazer como benefíciosuma melhor compreensão das reaisnecessidades dos usuários de comunidadesterapêuticas e, consequentemente, contribuirápara a melhora da assistência de

enfermagem a essa clientela, assim como aosseus familiares.

Além disso, este estudo não esgotaas possibilidades de investigação sobre otema e se coloca como uma introdução anovas perspectivas de análise que visem adesvelar as necessidades e a compreensãoque os usuários de comunidades terapêuticasapresentam.

RESPONSABILIDADESINDIVIDUAIS

Jéssica Thuane Zanatta de la Torre eRaquel Trevisol realizaram a pesquisa, aanálise das informações e a redação doartigo.

Gicelle Galvan Machineski e TarcísioVitor Augusto Lordani realizaramorientações quanto à pesquisa e a revisãodo artigo.

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ATUAÇÃO DA EQUIPE DE ENFERMAGEM NA PREVENÇÃO ETRATAMENT O DE ÚLCERAS POR PRESSÃO

Maria Amaral Alves1, Giovana Fernandes Araújo2

RESUMO: Trata-se de um estudo exploratório-descritivo de abordagem qualitativa, tendo comoobjetivo conhecer atuação da equipe de enfermagem na prevenção e tratamento de úlcera por pressão(UP). A pesquisa foi realizada em um hospital público no interior da Bahia, na unidade de clínicamédica. Participaram da pesquisa 03 enfermeiros e 06 técnicos de enfermagem. Os dados foramcoletados na primeira quinzena de agosto de 2013, por meio de entrevista gravada utilizando-se umroteiro semiestruturado. Os resultados evidenciaram que os participantes realizam cuidados, naprevenção e tratamento de UP, como banho, medicações, curativos, massagem de conforto comhidratantes, uso de placas de hidrocolóides e diversas coberturas. A mudança de decúbito foi ocuidado unanimemente citado como principal ação na prevenção e tratamento das UP, mas admitiramque não a realizam com frequência, delegando este cuidado aos acompanhantes. Como dificuldadesrelataram recursos humanos insuficientes para suprir a demanda, falta de material e a condiçãoclínica do paciente. Quanto à atualização citaram profissionais do chamado “grupo de feridas” comoprincipal fonte de esclarecimentos, principalmente na escolha da cobertura da ferida. Percebe-se quea equipe possui algum conhecimento das medidas preventivas e tratamento das UP, mas possuemdificuldades em realizá-las. Ficou evidente que há mais preocupação em tratar as UP do que preveni-las. Portanto sugere-se adoção de protocolos e ações educativas como subsídios para o fortalecimentoda prática da prevenção das UP.

PALAVRAS-CHAVE: Úlcera por Pressão; Enfermagem; Prevenção; Tratamento.

PRACTICE NURSING TEAM IN THE PREVENTION AND TREATMENTOF PRESSURE ULCERS

ABSTRACT : This is an exploratory and descriptive qualitative study, aiming to meet performance ofthe nursing staff in the prevention and treatment of pressure ulcers (PU).The research was conductedin a public hospital in Bahia, in a medical unit. Participated in the survey 03 nurses and 06 nursingtechnicians. Data were collected in the first half of August 2013, engraved b y using a semi-structuredinterview. The results showed that participants perform care, prevention and treatment of UP, suchas bathing, medications, bandages, massage with moisturizing comfort, use of plates hydrocolloidsand various toppings. The change in position was careful unanimously cited as the main action inthe prevention and treatment of PU, but admitted that they often do not realize it, delegating care tothis escorts. As reported difficulties insufficient human resources to meet demand, lack of materialsand the clinical condition of the patient. How to update professionals cited the so-called “group ofwounds” as the main source of information, especially in choosing the wound cover. It is noticedthat the staff has some knowledge of preventive measures and treatment of PU, but have difficultiesin realizing them. It was evident that there is more concern in treating the UP than prevent them.Therefore it is suggested adoption of protocols and educational activities as grants to strengthenthe practice of prevention of UP.

KEYWORDS : Pressure Ulcer; Nursing; Prevention; Treatment.

1 Graduanda em Enfermagem pela Faculdade Independente do Nordeste, Vitória da Conquista/BA. E-mail:[email protected].

2 Enfermeira: Especialista em Saúde do Trabalhador pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG); Mestre em Meio Ambiente e Sustentabilidade pelo Centro Universitário de Caratinga – MG. Professora daFaculdade Independente do Nordeste. Vitória da Conquista/BA. E-mail: [email protected].

Recebido em: 07-02-2013 . Aceito em: 28-04-2013

Artigo de pesquisa

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INTRODUÇÃO

As úlceras por pressão (UP) sãolesões localizadas de pele decorrentes dahipoxia celular, que podem atingir os tecidoscutâneo e subcutâneo, comprometendo porvezes tecido musculares e até mesmoósseos e articulações. A destruição destasestruturas pode ser parcial ou totalacometendo indivíduos idosos e acamadossem movimento ou com restrição demobilidade por um longo período (SILVA,et al, 2011 ).

Vale resaltar que no atual contextocom o aumento dos acidentes por causasexternas esse fenômeno tem sido observadoentre os jovens e adultos em idade produtiva.O que configura um sério problema de saúdepública com elevada incidência eprevalência. As UP são consideradasiatrogenia multifatorial de difícil controle queacomete pacientes nos diversos cenários docuidar, levando as instituições hospitalares,em especial, a refletirem quanto àimportância da implantação de medidaspreventivas (MEDEIROS; LOPES;JORGE, 2009). O paciente hospitalizadoapresenta um grande risco de desenvolverúlceras por pressão, algumas decorrentesde fatores inerentes à própria patologia ouem razão das condições clínicas associadaà terapêutica complexa. Nas unidadesclínicas os indivíduos estão mais susceptíveis,por apresentarem maior número dedeterminantes críticos, tais como fatoresextrínsecos e intrínsecos que contribuempara o aparecimento de UP (PINI, 2012).Fatores externos estão relacionados com apressão, cisalhamento, e fricção, a pressãoé considerada de maior importância. Acompressão dessas áreas reduz o fluxosanguíneo local e consequentemente facilitao aparecimento de lesões por isquemia enecrose tecidual. Os internos estãorelacionados às condições clínicas dopaciente tais como, idade avançada, nívelde consciência, restrição a mobilidade ouausente ( SILVA, et al, 2011).

Uma vez que o paciente hospitalizado

desenvolve essas lesões a sua reabilitaçãotorna-se mais difícil, aumenta o tempo depermanência na instituição e os custosrelativos ao tratamento com materiais alémde exigir um tempo maior de trabalho daequipe de enfermagem nos cuidados. Enfim,a qualidade de vida e financeira do pacientee seus familiares ficam comprometidas(SILVA, et al, 2011).

A Organização Mundial da Saúde(OMS) utiliza a incidência e a prevalênciadas úlceras de pressão como um dosindicadores para determinar a qualidade doscuidados prestados nos serviços de saúde,principalmente dos profissionais deenfermagem (SOARES, et al, 2011).

Segundo Hangel e Caliri (2009), osprofissionais de enfermagem conhecemdiretrizes na prevenção e tratamento deúlceras por pressão, só que normalmenteapresentam condutas inconsistentes com asevidências científicas. Neste contextopercebe-se a importância do conhecimentodo profissional de enfermagem não apenasda anatomia da pele e a fisiologia, mastambém da avaliação sistemática dos fatoresde risco, do processo de prevenção etratamento das lesões, justificando anecessidade da busca por um melhorpreparo técnico-científico condizente comas novas tendências e perspectivas(FERREIRA; BOGAMIL; TORMENA,2008; CARNEIRO; SOUSA; GAMA,2010).

O profissional de enfermagem tem umpapel fundamental no cuidar integral aocliente, por estar mais tempo em contato,conhecendo melhor suas necessidades erespostas, possui maior habilidade na técnicado cuidar, estabelecendo assim umplanejamento adequado, implementando umplano de cuidado na realização do curativoe avaliando o processo de cicatrização daferida diariamente (PINI, 2012).

Nesta perspectiva, o presente estudotem por objetivo de conhecer atuação daequipe de enfermagem na prevenção etratamento de úlcera por pressão em umhospital público no interior da Bahia.

Atuação da equipe de enfermagem na prevenção e tratamento de úlceras por pressão

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METODOLOGIA

Trata-se de um estudo exploratório-descritivo de abordagem qualitativa realizadoem um hospital público de médio porte daregião do interior da Bahia que atende acidade sede, região sudoeste da Bahia enorte de Minas Gerais.

O universo foi representado por 04enfermeiros e 10 técnicos de enfermagem.A amostra foi composta por 09 participantesque atenderam aos seguintes critérios deinclusão: serem enfermeiros e técnicos emenfermagem da clínica médica do referidohospital; atuarem de segunda a sexta-feiranos períodos matutino e vespertino; estarpresente no local da coleta de dados; terdisponibilidade; aceitar participar do estudoe assinar o Termo de Consentimento LivreEsclarecido-TCLE.

Para a realização do estudo, foramobservadas todas as normas da Resoluçãonº 466/12 do Conselho Nacional de Saúde.O projeto foi apreciado e aprovado peloComitê de Ética em Pesquisa da FaculdadeIndependente do Nordeste, sob o parecernº 330.385.

A pesquisa foi realizada na primeiraquinzena de agosto de 2013 utilizando-se atécnica de entrevista por meio de roteirosemiestruturado, elaborado e aplicado pelapesquisadora, contendo questõesnorteadoras sobre a atuação da equipe naprevenção e tratamento de Úlcera porPressão. As entrevistas foram gravadasutilizando-se um gravador digital (Ipod4). Osdados foram coletados individualmentenuma sala reservada no local de trabalhodos participantes em horário pré-determinado. Os mesmos foram orientadosquanto o objetivo da pesquisa e o pesquisadorse colocou à disposição para esclarecerqualquer dúvida.

Após as entrevistas as respostasforam transcritas na íntegra para o programaWord 2010. As mesmas foram analisadasvisando à identificação das categorias eunidades temáticas a partir da utilização doreferencial de Bardin.

As análises foram operacionalizadasda seguinte maneira: primeiramente foirealizada a leitura flutuante e aprofunda dosdados, grifando os relatos significativos,semelhantes e diferentes; recortes defragmentos grifados; na busca de categoriasa partir das temáticas mencionadas noobjetivo; elaboração de uma lista de fala dosentrevistados por categorias; escolha dasfalas que possuem maior poder de síntese eabrangência, informações dentre osconteúdos das entrevistas exemplificando ascategorias emergentes.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Caracterização dos sujeitos

Participaram do estudo 09profissionais, sendo 7 (77,7%) do sexofeminino. Quanto a categoria profissional 6(66,6 %) são técnicos em enfermagem e 3(33,3%) são enfermeiros, sendo que 1(11%)possui pós-graduação lato sensu em SaúdeColetiva. As idades variaram entre 25 a 43anos. Quanto ao tempo de atuação dosprofissionais na unidade clínica médica 8(89,%) atuam no setor entre cinco meses atrês anos e 1(11%) atua no setor apenas 20dias, desses funcionários 5 (55,5%)trabalham no período vespertino e 4 (45,5%)no matutino.

Ações realizadas e dificuldadesencontradas na prevenção de UPP

Nas falas dos participantesevidenciaram-se como medidas deprevenção da (UP) realizam cuidados geraisconforme observado nos seguintes recortes:

[...] quando dar a gente faz a mudançade decúbito que isso é muito bom eimportante fazer por que vai evitar aúlcera e ajudar na cicatrização, e osdemais procedimentos, medicação,curativos, banhos, trocas de fraldas,punção venosa e às vezes a correriatambém atrapalha um pouco fazer umbom trabalho por ter menos funcionáriono setor [...]. (Téc VI)

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[...] faz as medicações dos pacientes...Os cuidados, banho, curativo, troca defraldas, às vezes mudanças de decúbito,aferição de pressão. Tudo relacionadoao paciente é o que a gente faz aqui naclínica todo cuidada é nosso do começoaté a entrega no caso do plantão. (TécI)

As falas demonstram consonânciacom autores que afirmam que a higienizaçãodo paciente é uma medida essencial tantopara evitar o aparecimento das lesões quantopara o bem-estar e evolução positiva de seuestado clínico. A troca de fraldas é uma açãomuito importante na prevenção das úlceraspor pressão, pois a umidade tanto pela aincontinência urinária como a fecal sãofatores contribuintes para o desenvolvimentode lesões de pele. Quando não é controladacausa maceração, com essa agressão dotecido da epiderme há uma redução da suafunção, tornando-se fácil a compressão, africção e o cisalhamento, posteriormenteformam se erosões deixando um ambientepropício para desenvolvimento de infecção(POT, 2012). Os cuidados gerais com a pele,a higiene e limpeza nas trocas de fralda,devem ser feitos regulamente para evitar airritação da pele pelo excesso de umidade.São consideradas medidas importantíssimaspara o controle da agressão à peleocasionada pela umidade, (VIVACQUA,2011).

Durante a entrevista pôde-se perceberque os profissionais técnicos possuemconhecimento sobre a importância damudança de decúbito na prevenção etratamento de UPP, mas fica evidente quenão a realizam adequadamente ou não arealizam de forma alguma delegando estaação ao acompanhante do paciente,conforme a narrativa a seguir:

[...] na prevenção da úlcera, o certoseria a mudar de posição de duas emduas horas, só que aqui a gente não temfuncionário o suficiente para isso, ai éonde a gente explica para a família aimportância de fazer e a família às vezeschama a gente, às vezes eles mesmosfazem sozinhos essa mudança de

decúbito [...].(Téc V)[...] A dificuldade é quando o pacientenão tem acompanhante para poder táfazendo as mudanças de decúbito noshorários certos só o funcionário não darconta devido o número de pacientes. (Téc III)

Segundo Silva, et al (2011), a mudançade decúbito deve ser realizada de duas emduas horas, pois serve para alívio das áreasde pressão nos tecidos e melhora dacirculação local, reduzindo a força decisalhamento e a pressão. Martins e Soares(2008), também recomendam a mudança dedecúbito pelo menos a cada duas horas senão houver contraindicação relacionada àscondições gerais do paciente. Evitando acompressão por longo período econsequentemente a redução da irrigaçãosanguínea local.

Em consonância com a literatura,utilização do ácidos graxos essenciais e placade hidrocolóides como medida de prevençãofoi citada por dois entrevistados conformeas falas a baixo.

[...] a gente sabe que são pacientesacamados, então logo de imediato agente faz e orienta uso dos ácidosgraxos essências, alguns curativos dehidrocolóides já colocam no paciente.(Enfª III)[...] a gente usa dentre as possibilidadesa placa de hidrocolóide quando... aregião sacra está hiperemiada antes deabrir para prevenir mesmo...ébasicamente isso mesmo. [... ](Enfª II)

Segundo Pot (2012) o uso dehidrocolóides é recomendado tanto paraprevenção como para tratamento de feridasnão infectadas. Os ácidos graxos essências,aplicado em pele íntegra tem grandeabsorção, forma uma película protetora napele, previne escoriações devido à altacapacidade de hidratação e proporcionanutrição celular local. São medidasimportantíssimas para o controle da agressãoà pele, pois forma uma barreira física nainterface entre pele e superfícies(FRANCO e CONÇALVES, 2008).

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Apenas um participante relatou aimportância da alimentação tanto naprevenção como no tratamento conforme otrecho abaixo:

[...] A questão é de orientar quanto àalimentação, por que a gente sabe quea questão da nutrição também estáenvolvida. [...] ( Enfª II)

A má nutrição pode contribuir para odesenvolvimento da UP. As deficiências deproteínas e vitaminas A, C e E diminui otransporte de oxigênio para os fibroblastose, com isso, reduz a formação de colágenoaumenta o risco de desenvolver estas eoutros tipos de lesões (MARTINS eSOARES, 2008). De acordo com Pini (2012) o paciente com distúrbios nutricionaisestá mais propenso o aparecimento de UP,as vitaminas e proteínas, além decontribuírem para a formação da síntese decolágeno, são elementos essenciais noprocesso de cicatrização e na defesa doorganismo.

Observou-se que todos os profissionaisentrevistados relataram dificuldades narealização de ações de enfermagem quevisam prevenir as (UP), relacionando comoprincipal questão o número insuficiente deprofissionais conforme o trecho a seguir:

[...] dificuldade... é pelo o fato dacorreria a demanda muito grande paraum técnico só e as vezes impossibilita agente está fazendo esse cuidadomaior,..a gente sempre cobra maisfuncionários para melhorar o trabalho,mais nem sempre é possível [...].( TécVI)[...] a sobrecarga por falta defuncionários, acaba a gente não tendotempo melhor para cuidar dos pacientes,para mudar de decúbito, às vezes a gentepede até os acompanhantes para fazeressa mudança [...].(Téc II)

As principais medidas para reduzir ouaté mesmo evitar o surgimento de úlceraspor pressão, demandam um tempo maior daassistência direta ao paciente. Asdificuldades encontradas retratam uma

realidade encontrada em muitas instituiçõespúblicas, segundo alguns autores, o que tornaum empecilho na realização de uma boaassistência de enfermagem (COSTA, et al,2012 e PINI, 2012 ) apontam que esse fatoé um grande obstáculo para que osprofissionais possam cumprir com suasatribuições, porém creditam não ser motivosuficiente para que os profissionais atuemtão pouco nessa aérea do cuidar.

Ações realizadas e dificuldadesencontradas no tratamento de UPP.

“O tratamento de feridas vem sendoinovado com o desenvolvimento de novosprodutos no mercado, exigindo dosenfermeiros atualização técnico-científicapara avaliar as feridas e indicar o produtoadequado às características de cada ferida”(MOREIRA, et al, 2009).

Nessa categoria, os entrevistadosinformaram que utilizam diversasabordagens para o tratamento de feridas. Adepender do tipo de cada lesão, realizam oscurativos com coberturas especiais comohidrogel, colagenase, hidridrocolóide gel;hidrofibras com e sem prata e carvãoativado. Os mesmos procuram utilizar essascoberturas de acordo a indicação dasferidas, conforme pode-se observar nosseguintes depoimentos:

[...] Dependendo do estado da ferida,nós temos diversos tipos de abordagempara o tratamento, quando algumafibrina, quanto algum sinal decicatrização andamento a gente procedecom o uso de pomadas especificas, senão há necrose, ou nem um tecidonecrosando na úlcera a gente usa umapomada saf-gel, inclusive de um custobem caro fornecida pelo hospital, temosalguns materiais importantes, carvãoativado, aquacel prata, comum,hidrocolóides [...].(Enfº I)[...] A gente tá fazendo esse tratamentoassim, com as pomadas, hidrogel, saf-gel, colagenase, também tem outrosmateriais que o grupo de feridas fornecepara gente [...]. (Téc V)

O “grupo de feridas”, referido pelosparticipantes do estudo, é formado por uma

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equipe composta por duas enfermeiras, trêstécnicas em enfermagem e uma médicainfectologista que assumem e realizamcurativos de pacientes com feridas maiscomplexas e extensas, além de orientaremos enfermeiros das unidades de internaçãosobre os curativos daqueles que não sãoacompanhados pelo grupo. O referido grupoutiliza curativos especiais no tratamento deferidas.

Segundo Rangel e Caliri (2009), oshidrocolóides são coberturas eficientes pormanter o meio úmido e facilitar o processode cicatrização, em feridas altamenteexsudativas essa barreira pode ser rompida.O curativo úmido protege as terminaçõesnervosas superficiais, reduzindo a dor, acelerao processo cicatricial, previne a desidrataçãotecidual e a morte celular. A colagenase atuana degradação do colágeno nativo, facilitandoa lise dos tecidos necróticos e induzindo agranulação e cicatrização das lesões, ohidrogel é indicado para remover crostas,fibrinas, tecidos desvitalizados e necróticos(FRANCO e CONÇALVES, 2008). Ocarvão ativado é recomendado como primeiropasso terapêutico no tratamento de feridascrônicas, reduz o número de trocas decurativos, o odor a infecção e permite aformação de tecido de granulação(VIVACQUA, 2011).

Os entrevistados tambémmencionaram a mudança de decúbito comooutra ação para o tratamento das UPevidenciando que os mesmos entendem queesta ação é tão importante na prevençãocomo no tratamento das (UP). Emcontrapartida reafirmam dificuldade emrealizá-la. A literatura refere que aimobilidade reduz o processo de cicatrizaçãoda ferida, por diminuir o aporte sanguíneo econsequentemente aumenta o risco deisquemia tecidual. A realização da mudançade decúbito a cada 2 horas em qualquer fasedo tratamento da UP deve ser rigorosamentemantida para redução da pressão, fricção ecisalhamento (RANGEL e CALIRI, 2009).

Ainda foram apontadas pelosparticipantes, como dificuldades em realizaro tratamento das (UP), as condições clínicas

do paciente, a falta recursos humanos erecursos materiais, justificando que muitasvezes precisam aguardar por licitação comopode observar-se nas falas abaixo:

[...] A gente recebe o paciente já com aferida necrosada, por que o paciente daclínica médica geralmente vem da UTI,às vezes não tem como fazer essamudança na UTI, é um trauma, ai essepaciente chega aqui para gentegeralmente com uma úlcera na sacra, jávem com uma úlcera grande [...].( Téc.V )Algumas dificuldades encontramos,quando falta esses materiais que vai terque entrar em licitação, ai os pacientessofrem com a falta desses materiais [...].(Enfº I)

Segundo Moreira, et al.(2009), ospacientes de UTI apresentam instabilidadehemodinâmica, ou seja, condições clínicasdesfavoráveis com mudanças bruscas donível de consciência, deficiênciasimunológicas, restrição à mobilidade, uso dedrogas vasoativas e serem portadores decondições mórbidas crôni-cas, tornando-seesses fatores favoráveis ao desenvolvimentode (UP). O cliente portador de UP aumentao período de internação dificultando a suareabilitação, o retorno ao convívio familiar,e a maior probabilidade de infecção,elevando o risco de morte (SILVA, et al,2011).

Atualização na prevenção e tratamentodas UPP

Quanto à atualização do conhecimento,todos os participantes referiram comoprincipal meio de informação os profissionaisque fazem parte do “grupo feridas” queatuam na instituição por serem profissionaisde referência no tratamento de feridas.Também foram mencionados a internet eos colegas de profissão quando surgemdúvidas conforme evidenciado nos relatosa seguir:

[...] quando tem atualização, eu jáparticipei esse ano mesmo já teve uma,

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foi uma manhã, não foi nenhum curso,uma palestra não, como se fosse umtreinamento... sobre os principaiscurativos. E assim procuro também meorientar com o grupo de feridas, maisinfelizmente não tenho parado para ler,estudar mais detalhadamente [...]. ( EnfªII)Eu procuro me informar mesmo só dentrodo hospital com os enfermeiros e só,quando eu tenho alguma curiosidadeeu vou à internet vejo alguma coisa,mais sempre mesmo é na hora do curativocom os enfermeiros [...]. ( Téc I)

O conhecimento do profissional deenfermagem na prevenção e tratamento daslesões é de grande relevância. Atualmenteé uma especialidade que exige a cada diamais atualização e estudo por parte dosprofissionais da equipe multiprofissional, poiso aperfeiçoamento melhora a qualidade daassistência ao cliente já que proporcionamelhor compreensão das necessidades domesmo. Dessa forma o pensamento criticafornece subsídio para melhorestabelecimento da terapêutica, comavaliação diária da pele e acompanhamentoda evolução do processo de cicatrização daferida (CARNEIRO; SOUSA; GAMA,2010; SILVA, et al, 20011).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com os resultados desseestudo, todos os entrevistados mostraramalgum conhecimento sobre as medidas deprevenção e tratamento das úlceras porpressão. Relataram que realizam algunscuidados sendo que o citado, unanimemente,como principal ação foi a mudança dedecúbito, mas admitiram que não a realizamcom frequência, delegando este cuidado aosacompanhantes. Os mesmos deixaram decitar algumas medidas preventivas simplescomo: inspeção diária da pele, limpeza doleito, manter os lençóis esticados, uso decolchão caixa de ovos, proteção desaliências ósseas. Ficando evidente que hámais preocupação em tratar as UP do queem preveni-las.

Ao final da pesquisa verificou-se anecessidade de maior socialização doconhecimento na prevenção e tratamentode UP, através de políticas institucionais quepossibilitem a implantação de protocolos erealização de educação permanente daequipe de enfermagem. Portanto, para queestas ações sejam possíveis, seria necessárioavaliar se há a necessidade de mudançasnas condições de trabalho e na organizaçãodo serviço, a fim de assegurar umaassistência de qualidade diminuindo o tempode permanência do paciente na instituição eo risco de infecções.

RESPONSABILIDADESINDIVIDUAIS

Autora Maria Amaral Alvesresponsabilizou-se pela elaboração escrita,análise resultados, discussão dos dados dotrabalho e considerações finais. AutoraGiovana Fernandes Araújo responsabilizou-se por orientar a acadêmica na formulaçãodo trabalho, elaboração, análise, discussão,considerações finais e correçõesnecessárias.

REFERÊNCIAIS

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1 Doutora em Enfermagem. Professora Associado do Departamento de Enfermagem em Educação e Saúde Comunitáriado Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM). Uberaba-MG,Brasil. E-mail: [email protected].

2 Enfermeira. Doutoranda do Programa de Pós Graduação stricto sensu em Atenção à Saúde/ UFTM. Uberaba-MG,Brasil. E-mail: [email protected].

* Trabalho extraído da dissertação de mestrado intitulada “Qualidade de vida de idosos e participação em atividadeseducativas grupais” apresentada no Programa de Pós Graduação stricto sensu em Atenção à Saúde/ UFTM.

Recebido em: 10-01-2013 . Aceito em: 05-03-2013

DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DE IDOSOS SEGUNDO QUALIDADE DE VIDAE PARTICIP AÇÃO EM ATIVIDADES EDUCA TIVAS GRUPAIS*

Darlene Mara dos Santos Tavares1, Flavia Aparecida Dias2

RESUMO: Introdução: A literatura científica sobre o uso do geoprocessamento em estudos realizadoscom idosos que considerem sua qualidade de vida e participação em grupos é escassa. Objetivo:Identificar clusters de menores escores de qualidade de vida relacionados à participação ou não deidosos em atividades educativas grupais. Métodos: Trata-se de um estudo tipo inquérito domiciliartransversal realizado com 2.142 idosos. Utilizaram-se os instrumentos World Health OrganizationQuality of Life – BREF (WHOQOL-BREF) e World Health Organization Quality of Life Assessmentfor Older Adults (WHOQOL-OLD). Os dados foram analisados por meio dos softwares “StatiscalPackage for Social Sciences” (SPSS) versão 17.0, MapInfo Professional versão 9.5 e Terraviewversão 3.3.1. Foi utilizada análise descritiva por meio de frequências absolutas e percentuais e oKernel estimation. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos daUFTM sob parecer Nº 897. Resultados: A maioria dos idosos não participava de atividades educativasgrupais. Observou-se que em ambos os grupos, participativos e não participativos, a maioria era dosexo feminino, 60“%70 anos, casados, residiam com filhos e tinham renda mensal de um saláriomínimo. Os participativos apresentaram predominantemente 1“%4 anos de estudo e os nãoparticipativos, 4“%8. A qualidade de vida apresentou, para ambos os grupos, menores escores nodomínio físico e faceta autonomia. A distribuição espacial evidenciou menores escores de qualidadede vida aglomerados nas regiões periféricas do município. Conclusão: A identificação destes clusterspode contribuir para a melhor racionalização das ações em saúde.

PALAVRAS-CHAVES: Idoso, Qualidade de vida, Educação em saúde, Distribuição espacial dapopulação.

SPATIAL DISTRIBUTION OF ELDERLY SECOND QUALITY OF LIFE ANDPARTICIP ATION IN ACTIVITIES EDUCA TIONAL GROUP

ABSTRACT: Introduction: The scientific literature on the use of GIS in studies of elderly peoplewho consider their quality of life and participation in groups is scarce. Objective: To identify clustersof lower scores of quality of life related to participation or non- elderly group educational activities.Methods: This was a cross-sectional household survey type study conducted with 2,142 older.Used the instruments World Health Organization Quality of Life - BREF (WHOQOL-BREF) andWorld Health Organization Quality of Life Assessment for Older Adults (WHOQOL-OLD). Data wereanalyzed using the software “Statiscal Package for Social Sciences” (SPSS) version 17.0, MapInfoProfessional version 9.5 and version 3.3.1 Terraview. Descriptive analysis using absolute frequenciesand percentages and Kernel estimation was used. The project was approved by the Ethics Committeeon Human Research of UFTM under Opinion No. 897. Results: Most seniors did not participate ingroup educational activities. It was observed that in both groups, participatory and non-participatory,most were female, 60“%70, married, lived with children and had a monthly income of a minimum wage.Participatory showed predominantly 1“%4 years of study and not participatory, 4“%8. The qualityof life showed, for both groups, lower scores in the physical domain and facet autonomy. The spatialdistribution showed lower scores of quality of life settlements in peripheral areas of the city.Conclusion: The identification of these clusters may contribute to the better use of health actions.

KEYWORDS : Aged, Quality of life, Health education, Residense characteristics.

Artigo de pesquisa

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INTRODUÇÃO

O geoprocessamento apresenta umenorme potencial, permitindo a visualizaçãoespacial de idosos segundo suascaracterísticas de saúde podendo contribuirpara o planejamento em saúde. Oreconhecimento de áreas que necessitam demaior atenção pode nortear a atençãodirecionada ao idoso (NASCIMENTO etal., 2013).

Deste modo, considerando oenvelhecimento populacional ogeoprocessamento pode ser utilizado comotécnica para orientar o planejamento deadministrações municipais priorizando asáreas que apresentem piores índicessocioeconômicos (CAMPOS et al., 2009)e de saúde.

Esta temática se faz importante diantedas estimativas brasileiras evidenciando queo número de idosos no Brasil passou de trêsmilhões em 1960 para 20 milhões em 2008,o que significa um aumento de quase 700%em menos de 50 anos (VERAS, 2009).Porém, a literatura científica acerca daanálise espacial e envelhecimentopopulacional é escassa.

Inquérito evidenciou que os idosos commelhor nível socioeconômico residem nossetores censitários de estratos sociais maisaltos, o que foi estatisticamente comprovadopela utilização de técnicas de análise espacialpara renda e escolaridade (CAMPOS et al.,2009).

Considerando que o envelhecimentodeve estabelecer uma relação intrínseca comboas condições de saúde, com a manutençãoda inserção social e com a qualidade de vida,o aumento da expectativa de vida deve estaracompanhado de qualidade nos anos vividos,através do incentivo para manutenção daautonomia e independência, junto à famíliae à comunidade.

Neste sentido, investigaçõesdirecionadas à ampliação do conhecimentoacerca da qualidade de vida de idosos como uso do sistema de informação geográfica(SIG) podem proporcionar subsídios paraatenção direcionada de acordo com as

necessidades e especificidades dapopulação. Porém, não foram encontradosna literatura estudos que utilizaram o SIGpara verificar a distribuição de qualidade devida de idosos, mensurada por meio deinstrumento específico.

A qualidade de vida pode proporcionarao idoso um envelhecer saudável, contribuirpara a manutenção da autonomia eindependência e fortalecer as redes sociais.Acredita-se que estes aspectos podem serestimulados pelas atividades educativasgrupais devendo-se incentivar os idosos àparticipação em atividades da comunidadede modo a promover melhoria da suaqualidade de vida.

O conceito adotado para o constructoqualidade de vida nesta pesquisa foi oelaborado pelo WHOQOL Group (1995,p.1405) que define: “a qualidade de vida serefere à percepção do indivíduo de suaposição na vida, no contexto de sua culturae no sistema de valores em que vive e emrelação a suas expectativas, seus padrões epreocupações”. Este conceito considera amultidimensionalidade, a subjetividade e asdimensões positivas e negativas, aspectosestes essenciais para a compreensão daqualidade de vida (WHOQOL GROUP,1995).

Sendo assim surgem algumasquestões: qual o padrão de distribuiçãoespacial da qualidade de vida de idosos? Asáreas de menores escores de qualidade devida são coincidentes com regiões departicipação ou não em atividadeseducativas?

No presente estudo utilizou-se o termoatividades educativas grupais dadas àscaracterísticas das ações em gruporealizadas nos serviços de saúde sendo esterecurso utilizado para acompanhar os idosos,na maioria denominados de grupos dediabéticos, de hipertensos ou de idosos.Deste modo, o objetivo deste estudo foiidentificar clusters de menores escores dequalidade de vida relacionados àparticipação ou não de idosos em atividadeseducativas grupais.

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MÉTODOS

Trata-se de um estudo tipo inquéritodomiciliar transversal, observacional ecomparativo, desenvolvido na zona urbanado município de Uberaba-MG. O referidomunicípio está dividido em três DistritosSanitários, dos quais se subdividem em 18áreas de abrangências. A estimativa dapopulação total de idosos residentes nomunicípio para o ano de 2009 era de 35.808habitantes (BRASIL, 2009).

Esta pesquisa é parte integrante de umestudo de maior abrangência, que investigoua qualidade de vida de idosos residentes nomunicípio de Uberaba-MG. O cálculo daamostragem populacional foi realizado pelosmembros do Núcleo de Pesquisa em SaúdeColetiva da Universidade Federal doTriângulo Mineiro (UFTM), em pesquisaanterior. Tal cálculo integra 3.034 idosos,considerado 95% de confiança, 80% depoder do teste, margem de erro de 4,0%para as estimativas intervalares e umaproporção estimada de p=0,5 para asproporções de interesse. Para a seleção dosidosos utilizou-se a técnica de amostragemestratificada proporcional na qual os diversosbairros foram considerados como estratos.

A amostra foi constituída pelos idososque atenderam aos critérios de inclusão: ter60 anos ou mais de idade; ter obtidopontuação mínima de 13 pontos na avaliaçãocognitiva* realizada no estudo anterior; sexomasculino ou feminino, morar na zonaurbana no município de Uberaba-MG econcordar em participar da pesquisa. Aamostra populacional foi de 2.142 idosos.

Foi utilizado para a coleta de dados uminstrumento estruturado construído pelospróprios pesquisadores, contendo os dadossociodemográficos e participação ematividades educativas grupais. Este foipreviamente testado através de um estudopiloto para verificação da adequação aosobjetivos deste estudo. Para a avaliação da

qualidade de vida utilizaram-se osinstrumentos World Health OrganizationQuality of Life – BREF (WHOQOL-BREF) (FLECK et al., 2000) e WorldHealth Organization Quality of LifeAssessment for Older Adults (WHOQOL-OLD) (FLECK; CHACHAMOVICH;TRENTINI, 2006).

As variáveis desta pesquisa foram:sexo; faixa etária; estado conjugal;escolaridade; renda individual, em saláriosmínimos; qualidade de vida mensurada peloWHOQOL-BREF: domínios físico,psicológico, relações sociais e meio ambiente;e WHOQOL-OLD: facetas funcionamentodos sentidos, autonomia, atividades passadas,presentes e futuras, participação social, mortee morrer e intimidade.

Realizou-se entrevista direta respectivasresidências dos idosos em razão de umapossível dificuldade de leitura ou compreensãodos itens descritos no questionário e problemasvisuais apresentados pelos idosos. Asatividades de campo foram realizadas noperíodo de agosto a dezembro de 2008.

Foi construída uma planilha eletrônicano programa Excel®. Os dados coletadosforam digitados por duas pessoas, com duplaentrada, para posterior verificação daexistência de inconsistência e validação.Quando houve diferenças, buscou-se aentrevista original para as devidascorreções.

Os dados armazenados na planilha doExcel® foram transportados para oprograma estatístico “Statiscal Packagefor Social Sciences” (SPSS) versão 17.0.Para a análise dos dados de qualidade devida foi utilizado o software SPSS e para ogeoprocessamento os programas MapInfoProfessional versão 9.5 e Terraview versão3.3.1.

Os instrumentos WHOQOL-BREF edo WHOQOL-OLD foram analisados deacordo com suas respectivas sintaxes. Osmaiores escores corresponderam a maior

* A avaliação cognitiva, composta por seis questões, visa identificar a preservação da memória recente. O somatóriodas questões variam de zero a 19 pontos, tendo o número treze como ponto de corte. Desta forma, o idoso temcondições de responder as questões propostas pela WHOQOL-OLD.

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qualidade de vida.Foi utilizada análise descritiva por meio

de frequências absolutas e percentuais epara estimar a intensidade dos eventos(número de eventos por unidade de área)utilizou-se o Kernel estimation com raioadaptativo da função quártica. As áreas comtaxas mais elevadas foram representadaspor tons mais escuros. Cada célula equivalea 250 m.

Foi obtido um mapa com a divisão dosbairros junto à Prefeitura Municipal deUberaba. Para o mapeamento da qualidadede vida foram utilizadas coordenadasUniversal Transversa Mercator (UTM),modelo da Terra (SAD-69), coletadas peloprograma Google Earth. Os endereços quenão foram encontrados neste programaforam coletados através de um equipamentoapropriado do tipo Sistema de PosicionamentoGlobal (GPS).

As coordenadas planas (HemisférioSul) foram: X1: 184.780,48 m, X2: 196.450,74m, Y1: 7.808.333,18 m, Y2: 7.814.259,92 m.

Os menores escores de qualidade devida em cada domínio e faceta foramidentificados através do percentil 10 queforneceu os 10% menores valores.

O projeto maior, que decorre esteestudo, referido anteriormente, foi submetidoao Comitê de Ética em Pesquisa com sereshumanos da UFTM e está aprovado,protocolo Nº 897.

Os idosos foram contatados em seusrespectivos domicílios e informados sobreos objetivos desta pesquisa. Somente apósa assinatura do Termo de ConsentimentoLivre e Esclarecido, foi realizada aentrevista.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Dentre os idosos 11,7% participavamde atividades educativas grupais compredomínio de grupos relacionados ahipertensão arterial (44,5%), ao idoso(31,6%) e ao diabetes mellitus (18,4%). Esteresultado converge com estudo realizadoentre idosos participantes de um grupo noRio Grande do Sul, no qual 45% referiram

hipertensão (BOTH et al., 2011).Concernente ao sexo a maioria eram

mulheres, sendo o percentual maior entreos idosos que participavam de atividadeseducativas grupais (67,7%) do que para osnão participativos (61,8%). Resultadodivergente foi obtido entre idosos emFlorianópolis-SC no qual dentre osparticipantes prevaleceram as mulheres(90,8%) e não participantes, os homens,53,3% (BENEDETTI; MAZO; BORGES,2012).

O percentual de idosos com 60“%70anos entre os participativos (51,4%) foisuperior aos não participativos (45,7%).Dentre os idosos frequentadores de gruposde convivência em Florianópolis-SCprevaleceu a faixa etária de 70“%79 anos(47,1%) (BENEDETTI; MAZO;BORGES, 2012), divergente deste estudo.Este fato pode estar relacionado à proporçãosuperior de mulheres dentre os participantes,considerando a maior longevidade feminina.

Quanto ao estado conjugal,prevaleceram os idosos casados ou quemoravam com companheiro sendo 53,4%para os que participavam de atividades e48,2% para os não participantes. Resultadodiferente desta pesquisa foi obtido entre osidosos em Santa Catarina no qual 64,8% dosparticipantes não tinham companheiroenquanto a maioria dos não participantestinha (63,2%) (BENEDETTI; MAZO;BORGES, 2012).

Referente à escolaridade, osparticipativos de atividades educativasgrupais apresentaram maiores percentuaispara 1“%4 anos de estudo (40,6%) e paraos não participativos, 4“%8 anos (33,5%).Resultado semelhante ao obtido eminvestigação na em Florianópolis-SC na qualos idosos que não participavam de gruposapresentavam maior escolaridade(BENEDETTI; MAZO; BORGES, 2012).

A renda individual mensal foi de umsalário mínimo, sendo 55% entre os idososparticipativos e 55,1%, não participativos.Estes dados corroboram com os dados doInstituto Brasileiro de Geografia Estatística(IBGE), no qual 38,6% referiram renda

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entre meio e um salário mínimo (IBGE,2012).

Concernente à qualidade de vida, noWHOQOL-BREF, evidenciou-se queambos os grupos obtiveram maior escoreno domínio relações sociais sendo a média67,4 para os idosos participativos e 69,2 paraaqueles não participativos. Resultadodivergente de outro estudo com idosos queencontrou maior escore no domínio físico(70,2) (TOKUDA et al., 2008). Este fatopode estar relacionado à diversidadecultural, social, econômica e de saúde entreos diferentes países do estudo.

O menor escore para ambos os gruposfoi no domínio físico sendo 58,8 e 60,2 paraparticipativos e não participativos,respectivamente. Resultado divergente deinquérito realizado com idosos nacomunidade que apresentaram menorescore no domínio psicológico (55,9)(TOKUDA et al., 2008).

A qualidade de vida mensurada peloWHOQOL-OLD evidenciou maior escore

de qualidade de vida na facetafuncionamento dos sentidos sendo 77,3 paraos participativos e 81,0, não participativos.Resultado diferente do obtido em pesquisaque evidenciou maior escore na facetaintimidade (FIGUEIRA et al., 2009).

O menor escore de qualidade de vidafoi encontrado na faceta autonomia emambos os grupos; 56,9 para aquelesparticipativos e 61,3, não participativos.Porém, resultado divergente foi encontradoentre idosos cadastrados em uma EstratégiaSaúde da Família (ESF) que obtiverammenor escore para morte e morrer(FIGUEIRA et al., 2009).

Estes dados evidenciam que nopresente inquérito os idosos de ambos osgrupos encontram-se cerceados quanto atomar suas próprias decisões podendo aindaencontrar dificuldades para obter espaçosadequados às suas necessidades.

Referente à análise espacial, a Figura1, a seguir demonstra os aglomeradossegundo menores escores de qualidade devida WHOQOL-BREF.

Figura 1 – Mapas da distribuição da densidade de idosos segundo menores escores nos domíniosdo WHOQOL-BREF sobrepostos pelos bairros: (a) físico, (b) psicológico, (c) relações sociais, (d)meio ambiente, e; (e) idosos participativos e (f) não participativos. Uberaba, 2010.

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A Figura 1a evidencia que os menoresescores de qualidade de vida no domíniofísico encontraram-se nas regiões da VilaSão Vicente, Vila Santo Antônio e VilaIndustrial, coincidindo com regiões deaglomerados de idosos não participativos,Figura 1f.

Em menor densidade observou-seaglomerados de menores escores no domíniofísico no Parque das Américas, Figura 1a,coincidindo com áreas de idosos nãoparticipativos de atividades educativasgrupais, Figura 1f; e no Jardim Elza Amuí (Ie III), Figura 1a, coincidente comaglomerados de participativos, Figuras 1e.

Este domínio, dentre outros fatores,apresenta relação com a dependência paratratamentos de saúde (FLECK et al., 2000).Alguns fatores podem estar gerando omenor escore de qualidade de vida entre osidosos que não participam das atividadeseducativas grupais. Dentre elas, destaca-sea não oferta da atividade educativa grupalpela Unidade de Saúde na Atenção Primáriaou a oferta em horário que dificulta aparticipação entre os idosos que trabalham.Este aspecto dificulta o conhecimento, acompreensão e a sensibilização sobre ocuidado e autocuidado em saúde. Ademais,a baixa renda pode dificultar a aquisição deoutros medicamentos que não aquelesoferecidos pelos serviços de saúde.

Ressalta-se ainda que as Vilas SantoAntônio, São Vicente e Industrialcorrespondem às regiões nas quais 31,1%das famílias apresentam médio risco e naslocalidades do Elza Amuí aproximadamente8%. Esta classificação de risco familiarconsidera a ausência de escolaridade dochefe de família, a baixa renda, oabastecimento de água inadequado além decondições ou doenças específicasconsideradas prioritárias como: idososdependentes para a realização das atividadesde vida diária, com incapacidade cognitiva,dentre outros (PREFEITURAMUNICIPAL DE UBERABA, 2010).Estes fatores podem estar impactandonegativamente na qualidade de vidarelacionada ao aspecto físico.

Por outro lado, deve-se considerar adificuldade de acesso ao serviço de saúdeque pode estar relacionada a longa distânciada moradia do idoso ou a dificuldade de seratendido. Desta forma, alguns idosos fazemconvênio com a medicina de grupo. Verificouum baixo percentual de sujeitos com planosde saúde nestas localidades, que pode estarcontribuindo para a ocorrência deaglomeração de menores escores dequalidade de vida. Na região da Vila SãoVicente 8,7% dos sujeitos encontram-secobertos pelos planos de saúde, no JardimElza Amuí 18,2%, nas Vila Santo Antônio eIndustrial 26,1% e, no Parque das Américas27,7% (PREFEITURA MUNICIPAL DEUBERABA, 2008).

Evidencia-se aglomerado com menorescore de qualidade de vida no domíniopsicológico nas regiões dos bairrosperiféricos Cidade Jardim e Jardim Pinheirose sudeste do Leblon, Figura 1b, aglomeradosde idosos não participativos, Figura 1f.

Em menor densidade encontram-seaglomerados no Parque São Geraldo,Parque das Américas e Vila São Marcos,Figura 1b, coincidente com aglomerados demenor densidade de idosos nãoparticipativos, Figura 1f.

O domínio psicológico refere-se àaprendizagem, concentração, autoestima eespiritualidade (FLECK et al., 2000),evidenciando que estes aspectosencontram-se dificultados nas referidasregiões.

Nos bairros Cidade Jardim, JardimPinheiros e Vila São Marcos este fato podeestar relacionado à não cobertura pela ESFdo município (PREFEITURAMUNICIPAL DE UBERABA, 2010),podendo justificar a não participação ematividades educativas grupais.

Nas localidades do Parque SãoGeraldo (23,9%) e Leblon (25,8%) um dosfatores que podem estar impactando nodomínio psicológico é o predomínio defamílias com classificação de risco alta emédia, respectivamente (PREFEITURAMUNICIPAL DE UBERABA, 2010)contribuindo para o advento de sentimentos

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negativos diante das possíveis dificuldadesenfrentadas no cotidiano relacionadas aosfatores socioeconômicos e morbidades.

As regiões do Jardim Elza Amuí (I, II,III, IV), Residencial Mangueiras e CidadeNova, Figura 1c, apresentaram aglomeradosde menores escores de qualidade de vidano domínio relações sociais coincidentescom áreas de idosos participativos deatividades educativas grupais, Figura 1e.

Este domínio avalia as relaçõespessoais e suporte social (FLECK et al.,2000). Embora estes aspectos possam estarrelacionados à família e comunidade há dese considerar que, nestas regiões, a ESFacompanha, aproximadamente, 40,4% dasfamílias devido número reduzido de agentescomunitários de saúde, podendo associar-se à menor percepção de apoio ao idoso(PREFEITURA MUNICIPAL DEUBERABA, 2010).

Os bairros Cidade Jardim, Vila SãoMarcos e oeste do Jardim Pinheirosapresentam aglomerados de menoresescores no domínio relações sociais, commenor densidade, sendo áreas de idosos nãoparticipativos, Figura 1f. Estas regiões nãopossuem cobertura da ESF (PREFEITURAMUNICIPAL DE UBERABA, 2010).

Na Figura 1d, observa-se que asregiões dos bairros Leblon, Parque SãoGeraldo, Jardim América, Vila São Franciscoe oeste do Parque das Gameleiras e sudestedo Abadia, áreas de idosos nãoparticipativos, Figura 1f, apresentamaglomerados de menores escores dequalidade de vida no domínio meio ambiente.

Em levantamento realizado pela ESFforam identificados problemas relacionadosaos aspectos mensurados neste domíniocomo a segurança física, proteção, ambienteno lar, recursos financeiros, cuidados desaúde e sociais, participação e oportunidadede lazer e ambiente físico (FLECK et al.,2000); fatores que podem estar contribuindopara aglomerados de menores escoresnestas regiões (PREFEITURAMUNICIPAL DE UBERABA, 2010).

Os bairros Leblon e Parque São

Geraldo possuem praças públicas, porémestas se encontram em mal estado deconservação. Os moradores tambémreferem problemas relacionados aotransporte público, como a falta de abrigosnos pontos e áreas sem itinerário(PREFEITURA MUNICIPAL DEUBERABA, 2010).

No bairro Abadia foram referidos:ausência de posto policial; falta de segurançapública, principalmente próximo às escolas;uso de drogas ilícitas em vias públicas;desarborização da praça pública. Alémdisso, a região possui problemas dedrenagem pluvial na estação chuvosa(PREFEITURA MUNICIPAL DEUBERABA, 2010). Estes fatores podem terimpacto sobre a segurança física e proteçãodos sujeitos, avaliados neste domínio(FLECK et al., 2000).

Nas localidades da Vila São Franciscoe Parque das Gameleiras foram referidasáreas de risco ambiental (frigorífico), bemcomo no Jardim América (ferro velho efrigorífico) (PREFEITURA MUNICIPALDE UBERABA, 2010). Além dos fatoresrelacionados ao ambiente físico, estedomínio avalia os recursos financeiros(FLECK et al., 2000) que podem estarcontribuindo para aglomerados de menoresescores, considerando que nas localidadesdo Jardim América aproximadamente 8,9%dos chefes de família não possuemescolaridade e a renda mensal familiar de3,9% era menor do que R$60,00(PREFEITURA MUNICIPAL DEUBERABA, 2010).

As regiões de idosos participativos,Figura 1e, o Jardim Elza Amuí (I, II, III, IV)e Cidade Nova apresentaram aglomeradosde menores escores, Figura 1d. Estasregiões são áreas em desenvolvimento,constando com construções inacabadas,gerando acúmulo de poeira nas residências.Aproximadamente 20% dos terrenos sãolotes vagos utilizados como depósito deentulhos, colaborando para a presença deanimais peçonhentos e roedores. Além disso,considerando que a maioria da população é

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usuária de transporte público (51,9%), oadvento de áreas sem itinerário exige que oindivíduo percorra grandes distâncias. Todosestes fatores podem impactar negativamentena qualidade de vida relacionada ao meio

ambiente desta população (PREFEITURAMUNICIPAL DE UBERABA, 2010).

A Figura 2, a seguir evidencia osaglomerados dos menores escores dequalidade de vida WHOQOL-OLD.

Figura 2 – Mapas da distribuição da densidade de idosos segundo menores escores nas facetas doWHOQOL-OLD sobrepostos pelos bairros: (a) funcionamento dos sentidos, (b) autonomia, (c)atividades passadas, presentes e futuras, (d) participação social, (e) morte e morrer, (f) intimidade, e;(g) idosos participativos e (h) não participativos. Uberaba, 2010.

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Na faceta funcionamento dos sentidos,os maiores aglomerados de menoresescores foram encontrados nos bairrosperiféricos Cidade Jardim, Jardim Pinheiros,sul do Leblon e no Parque São Geraldo e,sul da Abadia e Vila São Vicente, Figura 2a,que coincidem com regiões de idosos nãoparticipativos, Figura 2h.

Nas localidades do Jardim Elza Amuí(I, II, III), correspondente a aglomerado deidosos participativos de atividadeseducativas grupais, Figura 2g, Vila InêsHelena e Parque das Américas, áreas denão participativos, Figura 2h, observaram-se aglomerados menos intensos de menoresescores nessa faceta, Figura 2a.

Os menores escores nestaslocalidades remete à necessidade de atençãoà saúde desta população, uma vez que osgrupos podem se constituir em espaços paraidentificação dos problemas relacionados aofuncionamento sensorial. Soma-se ainda apossibilidade de troca de informaçõesacerca desta temática. Considerando queas unidades ou centros de saúde são oslocais mais procurados pela população deuma maneira geral (56,8%) (BRASIL,2010), faz-se necessário realizar ações emsaúde destinadas ao rastreio destassituações.

Os menores escores de qualidade devida na faceta autonomia apresentaramfortes aglomerados nos bairros periféricosVila Raquel, Vila Inês Helena e norte doParque das Américas e sul do Abadia, Figura2b; aglomerados de menor densidade de nãoparticipativos, Figura 2h.

O Jardim Elza Amuí (I, II, III), regiãode idosos participativos, Figura 2g, tambémapresentou aglomerados de menoresescores de qualidade de vida nesta faceta,Figura 2b.

Estes dados remetem a necessidadede atenção, considerando que independenteda participação ou não em grupos, houveclusters em diversas regiões. A literaturacientífica em evidenciado que a autonomiae a liberdade do idoso dentro da família éimpactada pela idade. Este dado pode estarrelacionado aos cuidados desnecessários ou

inadequados dos familiares (INOUYE etal., 2010) que cerceiam sua capacidade dedecisão.

A Figura 2c evidencia que as regiõesdos bairros Cidade Jardim, norte do JardimPinheiros e do Leblon e sul do Abadiaapresentaram menores escores de qualidadede vida na faceta atividades passadas,presentes e futuras, coincidindo comaglomerados de idosos não participativos,Figura 2h.

O Jardim Elza Amuí (I, II, III, IV) eResidencial Mangueiras tambémapresentaram aglomerados de idosos commenores escores nesta faceta, Figura 2c,correspondendo à regiões de idososparticipativos de atividades educativasgrupais, Figura 2g.

Os bairros Vila Inês Helena, Vila SilvaCampos e Parque das Américas, regiões deidosos não participativos, Figura 2h,apresentaram aglomerados de menoresescores em menor intensidade, Figura 2c.

A satisfação sobre as conquistas eesperanças futuras, aspectos avaliados nestafaceta (FLECK; CHACHAMOVICH;TRENTINI, 2006) evidencia a possibilidadede que estes aspectos sejam discutidos nasatividades grupais, considerandoaglomerados de menores escores nestaslocalidades. Concernente às regiões deidosos não participativos, estas nãoencontram-se cobertas pelas ESFsevidenciando a necessidade de serviços emsaúde que possam oferecer suporte ao idoso.

A Figura 2d evidencia forteaglomerado na região do Jardim Elza Amuí(I, II, III, IV) e Residencial Mangueiras,referente aos menores escores de qualidadede vida na faceta participação social, quecoincidem com regiões de idososparticipativos, Figura 2g. Observou-seaglomerado de menor intensidade nos bairrosJosa Bernardino I e II, Figura 2d, áreas demenor densidade de idosos participativos,Figura 2g.

Evidencia-se a necessidade dereflexão sobre a concentração de menoresescores de qualidade de vida nesta faceta,nas áreas correspondentes à regiões de

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idosos que participavam de atividadeseducativas grupais, visto que é avaliada aparticipação em atividades cotidianas,especialmente na comunidade (FLECK;CHACHAMOVICH; TRENTINI, 2006).

Nas localidades do Jardim Elza Amuí(I, II, III, IV) e Residencial Mangueiras estefato pode estar relacionado àscaracterísticas ambientais, sendo a origemdos bairros relativamente recente, datandode 1994. A localidade não possui espaçosde lazer e opções culturais, eaproximadamente 70% da comunidade nãoparticipa de nenhum tipo de atividade devidoescassez de opções (PREFEITURAMUNICIPAL DE UBERABA, 2010).

A Figura 2e identifica os menoresescores de qualidade de vida na faceta mortee morrer, em aglomerados nas regiões daVila Santa Maria, leste do Abadia e Vila SãoVicente, Cidade Jardim, Vila São Marcos eJardim Pinheiros. Estas regiõescorrespondem a aglomerados de idosos nãoparticipativos, Figura 2h, sendo a Vila SantaMaria, Cidade Jardim, Vila São Marcos eJardim Pinheiros em menor densidade,Figura 2e.

Esta faceta avalia as preocupações etemores relacionados à morte (FLECK;CHACHAMOVICH; TRENTINI, 2006).Destaca-se que estas regiões não estãocobertas pela ESF (PREFEITURAMUNICIPAL DE UBERABA, 2010),podendo este fato ser um dificultador paraque o idoso tenha um local no qual possadiscutir estas questões e vivenciar esta etapada vida de modo mais tranquilo.

O aglomerado mais forte referente aosmenores escores de qualidade de vida nafaceta intimidade, Figura 2f, foi observadoentre os idosos residentes nos bairrosperiféricos Parque das Américas e VilaRaquel. Nas regiões dos bairros CidadeJardim e Jardim Tropical observaram-seaglomerados de menor escore nesta faceta,porém em menor intensidade, Figura 2f.Estas regiões coincidem com aglomeradosde menor densidade de idosos nãoparticipativos, Figura 2h.

Deste modo, os dados obtidos nessa

pesquisa evidenciam que existem diferençasregionais neste município indicando que aqualidade de vida pode ser influenciada poraspectos territoriais, ambientais e sociais.Observou-se que cada região possuipeculiaridades devendo receber atençãodirecionada às suas necessidades. Portanto,devem ser implementadas ações quecontribuam para a resolução dos problemasenfrentados pela comunidade e que afetama qualidade de vida do idoso.

O método de Kernel permitiu detectarpontos de concentração de eventosevidenciando a presença de aglomeraçãoespacial dos casos. A estratificação domunicípio em áreas de risco, através doconhecimento da distribuição espacial dosescores de qualidade de vida, possibilita adefinição de prioridades para o planejamentode ações mais adequadas voltadas paraáreas de menores escores.

Nesse sentido, conhecer a distribuiçãoda qualidade de vida entre idosos érelevante, pois se levanta a hipótese de quediferenças sociais, econômicas e culturaisse associam às suas percepçõesapresentando um padrão de distribuiçãoespacial. Assim, é possível contribuir para oplanejamento de políticas públicas para osidosos, considerando a distribuição demenores escores de qualidade de vida emdiversos aspectos, podendo contribuir paraa sua melhoria.

CONCLUSÃO

A maioria dos idosos não participavade atividades educativas grupais. Os idososparticipativos frequentavam predominan-temente atividades direcionadas àhipertensão arterial.

Observou-se que em ambos os gruposa maioria era do sexo feminino, 60“%70anos, casados ou que moravam comcompanheiro e tinham renda individualmensal de um salário mínimo. Referente àescolaridade, os participativos apresentarampredominantemente 1“%4 anos de estudo eos não participativos, 4“%8.

A qualidade de vida, WHOQOL-

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BREF, apresentou para ambos os gruposmaior escore no domínio das relações sociaise menor no físico. No WHOQOL-OLDambos os grupos obtiveram maior escorena faceta funcionamento dos sentidos emenor na autonomia.

A distribuição espacial evidencioumenores escores de qualidade de vidaaglomerados nas regiões periféricas domunicípio.

Os idosos que participavam deatividades educativas grupais seconcentraram nas localidades do Jardim ElzaAmuí. A região sul da Abadia e junçãoOrlando Costa Teles com Bairro de Lourdesapresentaram concentração de idosos nãoparticipantes.

Referente à localização dos menoresescores de qualidade de vida, nas regiõescom aglomerado de idosos participativosobteve-se: nos domínios físico, psicológico,relações sociais e meio ambiente; e facetasfuncionamento dos sentidos, autonomia,atividades passadas, presentes e futuras eparticipação social.

Nas localidades dos idosos nãoparticipativos obtiveram aglomerados demenores escores: nos domínios físico,psicológico, relações sociais e meioambiente; e facetas funcionamento dossentidos, autonomia, atividades passadas,presentes e futuras, morte e morrer eintimidade.

Deste modo, é relevante que sejamidentificados os fatores que podem estarcontribuindo para os menores escores emdeterminadas regiões deste município.Acredita-se que os fatores ambientais,econômicos, sociais e culturais apresentamrelação com a qualidade de vida. O espaçodos grupos envolve diversos condicionantes,e a evidência de desigualdades indica quedevem ser definidas prioridades para oplanejamento de ações mais adequadas acada uma. A identificação destessubconjuntos e dos fatores quepossivelmente determinam menor qualidadede vida ao idoso permitirá a melhorracionalização das ações que poderãocontribuir para proporcionar a vivência desta

etapa da vida com mais qualidade.As atividades educativas grupais

também podem contribuir para aidentificação dos fatores impactantes naqualidade de vida do idoso. Ela possibilitaráextrair do próprio idoso o que temproporcionado menor qualidade de vida, alémde buscar junto ao grupo soluções conjuntaspara minimização deste impacto.

Devem ser buscados o apoio e suportejunto aos diversos setores da comunidade egestão municipal. As ações desenvolvidasdevem estar pautadas no diagnósticoefetuado e nas reflexões realizadas junto àsatividades educativas grupais. Deste modo,os serviços de saúde poderão contribuir paraatenção direcionada às necessidades doidoso, proporcionando melhoria da suaqualidade de vida.

RESPONSABILIDADESINDIVIDUAIS

Os autores trabalharam juntos emtodas as etapas de produção do manuscrito.

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IMAGEM CORPORAL NA FIXAÇÃO EXTERNA POR FRATURA EXPOSTA

Catia Cristina Gomes Lopez1 Maria Clara Cassuli Matheus2

Mônica Antar Gamba3 João Fernando Marcolan4

RESUMO: a fixação externa como recurso terapêutico, para a estabilização das fraturas expostas detíbia em adultos é capaz de promover mudança significativa na imagem corporal. O objetivo destarevisão integrativa foi identificar na literatura, as reações e sentimentos das pessoas com fraturasexpostas que utilizam fixação externa. Foram consultadas a Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e asbases PUBMED e Science Direct. A busca envolveu publicações em português, espanhol e inglês,no período de 1975 a 2009. Os termos para busca foram: enfermagem, imagem corporal, fixaçãoexterna. Identificamos doze artigos e uma dissertação, nas quais os aspectos psicossociaisrelacionaram o medo da visão do dispositivo no membro, imagem corporal e autoimagemcomprometidas. Motivar a compreensão da forma como se encontra o corpo implica em estima,solidariedade e disponibilidade para aceitar a diferença.

PALAVRAS-CHAVES: Enfermagem Ortopédica, Fraturas Expostas, Fixadores Externos, ImagemCorporal, Autoimagem.

BODY IMAGE CONCERNING OPEN FRACTURE EXTERNAL FIXA TION ABSTRACT : The external fixation as a therapeutic use, to treat tibia open fractures in adults, is ableto change meaningfully the body image. The aim of this comprehensive review of the literature wasto identify in literature reaction and feelings of people who have open fractures and use externalfixation. Virtual Health Library (BVS), PUBMED databases and Science Direct were queried. Theresearch was done with articles in Portuguese, Spanish and English, between 1975 and 2009. Thekeywords used were: nursing, body image and external fixation. We identified twelve articles and adissertation, in which psychosocial aspects itemized fear to see the device in your limb, body imageand self image endangered. To motivate the understanding of how is your body will bring on selfesteem, solidarity and availability to accept the difference. KEYWORDS: Orthopedic Nursing, Open Fractures, External Fixator, Body Image, Self-image.

1 Especialista em Administração Hospitalar, Enfermagem em Dermatologia, Pós-graduada em Enfermagem emEstomaterapia, Mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de São Paulo, Brasil, [email protected]

2 Doutora em Enfermagem pela Universidade de São Paulo, Professor Adjunto da Universidade Federal de São Paulo,Brasil

3 Doutora em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo, Professor Adjunto II da Universidade Federal de SãoPaulo, Brasil

4 Doutor em Enfermagem pela Universidade de São Paulo, Professor Adjunto III da Universidade Federal de SãoPaulo.

Recebido em: 03-02-2013 . Aceito em: 30-03-2013

Artigo de pesquisa

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INTRODUÇÃO

Entre os adultos, o segmento ósseomais acometido nas fraturas expostas é atíbia. Para o tratamento dos quadros maiscomplexos deste trauma, os ortopedistasbrasileiros indicam como terapia, a fixaçãoexterna (BALBACHEVSKY et al., 2005).

A fixação externa é um recursoterapêutico capaz de promover mudançasignificante na imagem corporal. Aassociação desta modalidade de tratamentoaos variados níveis de complexidade daslesões geradas por estas fraturasdeterminam modificações no contexto devida das pessoas, na forma do seu corpo epodendo alterar a relação da pessoa comseu próprio corpo, inclusive a percepção desua imagem corporal, influenciando aautoestima.

A busca da compreensão da vidahumana se faz no entrelaçamento do corpocom o mundo. O corpo é o espaçoexpressivo, conjunto de significações vividas,ser de desejos, de necessidades e prazer,núcleo irradiante, principal e único(LABRONICI; POLAK, 2000).

A imagem é um fenômeno social, poishá uma interação contínua entre nossaprópria imagem e a imagem corporal dosoutros. O conceito de imagem corporal ésubjetivo e refere-se às percepções, aospensamentos e aos sentimentos sobre ocorpo e suas experiências. As mudançaspodem ocorrer em muitas dimensões, poisa construção de nossa percepção corporalnão é somente cognitiva. As experiênciasque a envolvem dependem dos sentimentosque temos sobre nós mesmos, e de comopercebemos e vivenciamos nossos corpos.Além disso, continuamente, a influênciasocial interfere na construção de nossapercepção corporal, alterando o modo comopercebemos o mundo, nosso comportamentoe, particularmente, as relações interpessoais(BARROS, 2005).

A autoestima tem sido consideradacomo indicador de saúde mental; pode serdefinida como confiança em nossacapacidade para pensar e enfrentar os

desafios da vida, em nosso direito de sermosfelizes, à sensação de sermos merecedores,dignos, qualificados para expressar nossasnecessidades e desejos, desfrutar osresultados dos nossos esforços(BRANDEN, 1995).

Neste conceito inclui-se a avaliaçãosubjetiva que uma pessoa faz de si mesma,como sendo positiva ou negativa em algumgrau, entrelaçando-se crenças e emoçõesautosignificantes associadas cuja expressãoocorre no comportamento. Dependendo dasituação pode ser construída como umacaracterística permanente de personalidade(traço) ou uma condição psicológicatemporária (estado) (SEDIKIDES; GREGG,2003).

Desta forma, com o objetivo deidentificar as reações e sentimentos daspessoas com fraturas expostas que utilizamfixação externa buscou-se as indicações quea literatura científica da área da saúdeapresenta sobre o assunto, com a intençãode obter subsídios que promovam umaabordagem diferenciada a pessoa que temsua imagem corporal alterada.

PROCEDIMENTOMETODOLÓGICO

A revisão integrativa tem a finalidadede reunir e sintetizar resultados de pesquisassobre um delimitado tema ou questão, demaneira sistemática e ordenada,contribuindo para o aprofundamento doconhecimento sobre o tema investigado. Suautilização pode estar direcionada para adefinição de conceitos, a revisão de teoriasou a análise metodológica dos estudosincluídos de um tópico particular (MENDES;SILVEIRA; GALVÃO, 2008).

A questão norteadora foi: Quais ossentimentos apresentados por pessoas quetem sua imagem corporal afetada pelaterapêutica da fixação externa?

Na seleção dos artigos foram utilizadasa Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e asbases de dados: PUBMED e ScienceDirect. Os dados foram coletados entre osmeses de fevereiro e abril de 2010. Os

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critérios para inclusão dos artigos foram:publicações em português, espanhol e inglês,com resumos disponíveis, no período de 1975a 2009 e seu título e conteúdo focassem asreações e sentimentos produzidos pelaexperiência na mudança da imagemcorporal, o tratamento ortopédico ouacontecimentos marcantes, queexplorassem o tema. Os critérios paraexclusão dos artigos foram: publicações quenão fossem em português, espanhol e inglês,a ausência de resumos disponíveis,publicados fora do período que incluiu 1975-2009 e que não abordassem a temáticaescolhida. Os descritores foram:enfermagem ortopédica, fraturas expostas,fixadores externos, imagem corporal,autoimagem.

Resultados

A amostra inicial foi constituída de 18artigos, uma dissertação de mestrado e duasteses de doutorado. Dos 18 artigos, 15 foramescritos por enfermeiros, dois por médicose um por educadora física; quatro artigoseram nacionais e 14 internacionais. Durantea coleta de dados foi promovida a leiturados resumos. Após a seleção dos artigos,uma leitura criteriosa das investigações foirealizada, com a consecução de traduçõesnecessárias. Houve a exclusão de oitotrabalhos que não responderam à propostainvestigativa, sendo analisados 12 artigos euma dissertação de mestrado.

O resultado de uma pesquisa realizadacom ortopedistas brasileiros no 36ºCongresso Brasileiro de Ortopedia eTraumatologia demonstrou que a fixaçãoexterna é o método de estabilização maisindicado nas fraturas expostas da tíbia dotipo II, IIIA, IIIB e IIIC(BALBACHEVSKY et al., 2005).

Nos estudos realizados sobre o uso dafixação externa, a descrição por parte daspessoas, envolveu percepções definidoraspara mutilação e anormalidade, aparato demetal que pode parecer grotesco e doloroso,terrível e uma forma amigável de tortura.As principais problemáticas psicossociais

estavam relacionadas ao medo da visão dodispositivo no membro, imagem corporal eautoimagem comprometidas (LIMB, 2003).A fixação externa envolve consideráveldesfiguramento ao corpo humano e conduza um grau de invalidez. Um inevitável insultoa imagem corporal acontece e causainterferência no relacionamento pessoal esocial, podendo conduzir a retração nagregária e depressão (SANTY, 2000).

O corpo é o veículo do ser no mundo,no qual são armazenadas todas assignificações vividas e por meio do qualvemos, interagimos, percebemos e somospercebidos (LABRONICI; POLAK, 2000).

A maneira como sentimos e pensamosnosso corpo influencia o modo comopercebemos o mundo. A imagem corporal éa nossa totalidade como seres humanos. Éa transcendência em olhar interna eexternamente e perceber que somos frutode nossas atitudes (físicas, mentais eemocionais), (BARROS, 2005).

Nas pessoas submetidas aprocedimentos de reconstrução física, emuma variedade de lesões e condiçõesortopédicas, problemas envolvendo série dequestões relacionadas ao autoconceito, emespecial ao corpo e a percepção dasmudanças, foram evidenciados. Estasmudanças podem influenciar alteraçõescomportamentais, identificadas como arejeição do quadro, tédio, frustração,isolamento social e abandono. Existemrelações significativas entre a satisfação doindivíduo com o corpo, os seus níveis deautoestima e sua percepção decomportamento. Indivíduos com maior nívelde satisfação com seu corpo tem umatendência a níveis mais elevados deautoestima, com melhor percepção do seucomportamento (LIMB, 2004a).

A percepção dos enfermeiros quantoao atendimento de pessoas com problemasfísicos interferindo na autoimagem tambémfoi abordada revelando que a equipe deenfermagem precisa estar bem preparadae orientada para esta assistência; osprofissionais devem receber apoio e ajudapara que saibam como lidar com os

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sentimentos que surgirão desta relação.Pessoas com problemas em sua autoimagemgeram ansiedade nos profissionais ecuidadores, um ambiente de estresse epreocupação, pois a equipe compartilha osofrimento da pessoa e da família,desenvolvendo a empatia. O trabalho édesgastante para a equipe de enfermagempela maior complexidade assistencialhavendo a necessidade de mais recursoshumanos para a assistência humanizada eotimizada (PINTO; SPIRI, 2008).

A crise na autoimagem pode serindicada pelos sintomas depressivos, com oaparecimento de quietude, queixas,hostilidade, temor, negativismo, ansiedade,dor, anorexia, insônia entre outros. Docontato entre as pessoas com algumadeficiência e as não portadoras (indivíduo,família, profissionais), poderá decorrer o“sofrimento psicológico”, que envolveemoções como o medo, a cólera, odesgosto, a atração e a repugnância,acompanhados do processo intrapsíquico denegação por meio de pensamentos, palavrase atos. O apoio da família, religião,profissionais especializados, e o tempo sãofatores importantes na recuperação,superação, habilidade em lidar com osproblemas por aliviar a dor e o sofrimento,diminuindo a ansiedade e a depressão,trazendo estabilidade emocional. Os maisjovens e do sexo feminino apresentam maiorresistência a aceitar sua limitação (PINTO;SPIRI, 2008).

Na pesquisa que utilizou a escala deautoconceito Tennessee em um grupo depessoas submetidas a procedimentos dereconstrução do membro, questõesinerentes ao autoconceito mostraram-secomo potencialmente problemáticas. Osindivíduos sentiam-se ansiosos, deprimidose infelizes e exibiam pouca autoconfiança,eram muito reativos a estímulos externossobre si mesmos e evitavam situações emque poderiam experimentar falha ourejeição. Quando o domínio físico foiavaliado este se revelou com a menorpontuação média, indicando que a aparênciado corpo representa um problema para este

grupo. O autoconceito relacionado aoaspecto comportamental ainda, podeevidenciar ressentimento, frustração e tédio.As pessoas podem agir de forma impulsivae isso pode ser considerado um sinal deresposta ao tratamento. A presença dafixação externa aliada à relação dedependência produz alterações variáveis noautoconceito envolvendo os campos físico,pessoal, familiar, social, trabalho, escola ecomportamento (LIMB, 2004b).

Em adolescentes tratados com fixaçãoexterna, os aspectos psicológico, social,funcional e fisiológico foram afetadosevidenciando alterações como: ansiedade,sintomas depressivos como ideias suicidas,culpa, anorexia, medo, preocupação com aimagem corporal, isolamento social; déficitde mobilidade, dor e infecção ao redor dospinos. Em uma fase onde se vivencia afantasia, o idealismo, a onipotência, assumirriscos e ser impulsivo, estes jovens e suasfamílias precisavam do aprendizado conjuntocom a equipe multidisciplinar para gerir eenfrentar melhor este momento(PATTERSON, 2006).

Ansiedade e depressão sãosignificativamente presentes nas pessoasque sofrem lesões graves e lidam com aexperiência traumatizante do risco da perdado membro ou sua ocorrência. Nas fraturasexpostas IIIB e IIIC, além desta dimensão,a dor, as atividades habituais, o autocuidadoe a mobilidade também foram afetadas.Estes eram elementos constantes napesquisa que utilizou a ferramenta EuroQolpara avaliar a qualidade de vida a longoprazo de pessoas com lesão tibial(GIANNOUDIS et al., 2009).

O fixador externo é visível, volumosoe incomum. Uma alta dose de adaptação éexigida para garantir esta convivência.Algumas pessoas conseguem lidarsatisfatoriamente com a situação e, outrassão afligidas por ela, tendo sua imagemcorporal afetada e evitando o convívio social.Depressão e ansiedade são comuns(SANTY; VINCENT; DUFFIELD, 2009).

Alguns dos maiores geradores deansiedade das pessoas portadoras de fixador

Imagem corporal na fixação externa por fratura exposta

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externo tipo Ilizarov foram: os medos dodesconhecido, da destruição da imagemcorporal e da impossibilidade de desenvolveras mesmas atividades de antes. Estaansiedade quando relacionada ao tratamentocirúrgico torna-se maior, principalmentequando é instalado um equipamentoagregado ao seu corpo, visível a todos, quealtera sua noção de equilíbrio e de espaço(BRANDÃO, 2000).

A não relação da imagem corporal coma percepção do efeito da fixação externana aparência, mas com a identificação daautoestima menor em pessoas quepercebiam a aparência alterada pelo fixadore naquelas que não queriam ser vistas como dispositivo foram achados do estudo queindicou a imagem corporal como menoscomprometida que a autoestima nas pessoassubmetidas à terapêutica com fixadorexterno Ilizarov (BUYUKYILMAZ;SENDIR; SALMOND, 2009).

DISCUSSÃO

O corpo é o ponto de partida para todoe qualquer discurso referente ao homem. Aimagem corporal abrange os processosfisiológicos, psicológicos e sociais, numintercâmbio contínuo entre eles e aocorrência de mudanças em um dessesníveis pode ocasionar consequências naexperiência do corpo (LABRONICI;POLAK, 2000; BARROS, 2005).

A fixação externa promove mudançana experiência do corpo, na maneira comopercebemos o mundo, como nosrelacionamos interpessoalmente e noscomportamos (SANTY, 2000). A maneiracomo nos vemos e acreditamos que somosvistos é modificada pela presença de umdispositivo que causa medo, estranheza ecuriosidade.

O corpo está envolvido nas emoçõesque produz, é o receptor e o emissor de tudo.No âmbito psicológico, representa nossapresença e nossa morada no mundo,concretiza nossa existência, torna possívela percepção de uma identidade, históriaúnica do indivíduo (BRÊTAS; LIMA;

YAMAGUTI, 2006).Quando agregada a um objeto

incomum, que altera o rumo de sua vida, aafeta emocional e fisicamente e desconstituia imagem que possui, esta pessoa percebeo quanto sua realidade foi transformada poresta situação e a intensidade com que vaiconviver com as reações e sentimentosprovocados por esta experiência.

A depressão, ansiedade, afastamentodo convívio social, frustração, medo,comprometimento das atividades da vidadiária, dor, mobilidade prejudicada,preocupações com a imagem do corpo sãorepercussões evidenciadas nas pessoas queutilizam fixação externa como modalidadeterapêutica e integram a quase totalidadedos trabalhos desta revisão.

Simbolicamente, cada ser humanopossui dois corpos, um individual (físico epsicológico) adquirido ao nascer; e um social,necessário para se viver em determinadasociedade e grupo cultural. O corpo socialé a essência da imagem corporal, pois acada pessoa instrumentaliza para percebere interpretar experiências físicas epsicológicas. É a forma pela qual ofuncionamento físico dos indivíduos éinfluenciado pela sociedade na qual vivem(BRÊTAS; LIMA; YAMAGUTI, 2006).

Ter associado ao seu corpo um fixadorexterno, o torna diferente do seu grupo, alvode uma atenção indesejada, influenciadopelas opiniões, constrangido pelosquestionamentos e vulnerável ao preconceitoda sociedade.

A imagem corporal é a figura mentaldo próprio corpo (PINTO; SPIRI, 2008), quequando alterada pode produzir inúmerosprocessos de inadequação, constrangimentoe sofrimento. Apresentar-se vulnerável noseu autoconceito e na sua autoestima poderáconduzir esta pessoa a momentos demelancolia, insegurança e falta de estímuloao convívio social, ocasionando afastamentode suas atividades e das suas relações dereal significância (LIMB, 2004b; 2004a).Contudo, a mudança na imagem do corpopoderia ser conduzida de maneira a seressaltar seu caráter temporário (LIMB,

Imagem corporal na fixação externa por fratura exposta

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2004a), o que na experiência de utilizar umfixador externo poderia indicar a exploraçãode meios disponíveis de adaptação, ediscussão de seu caráter não definitivo, oque não indicará uma resolução completada situação vigente, mas propiciará umasensação de alívio e conforto.

Em um dos trabalhos apresentados aimagem corporal não foi relacionada com apercepção do efeito da fixação externa naaparência, mas a autoestima mostrou-semenor nas pessoas que percebiam estarelação e naquelas que não queriam servistas com o dispositivo(BUYUKYILMAZ; SENDIR;SALMOND, 2009). A mudança na imagemcorporal pode caracterizar sofrimentopessoal, portanto o corpo como veículo doser no mundo, onde são armazenadas todasas significações vividas (LABRONICI;POLAK, 2000), anseia em ser reconstruídoe buscar o merecimento da felicidade nosdesafios que a vida impõe. A satisfação como corpo aumenta a autoestima e melhora apercepção de comportamento (LIMB,2004a). Devemos considerar que nem todasas pessoas que utilizarem a fixação externa,obrigatoriamente terão distúrbios na imagemcorporal ou terão sua autoestima ameaçadacomo mencionado no estudo, mas a literaturadestaca a perturbação da imagem corporale sua interligação com a autoestima.

A enfermagem que tem comoessência o cuidar, por meio de suas açõesestabelece uma relação de contato físicointenso que é permeado por váriassensações e sentimentos (BRÊTAS; LIMA;YAMAGUTI, 2006), conhecedora dasinformações aqui apresentadas, tem papelfundamental na assistência às pessoas queutilizam a fixação externa.

Na dimensão ontológica, para cuidaré fundamental ter zelo e afetividade e nadimensão política, engajamento para garantiro direito à assistência à saúde comoperspectiva de promover o bem estar e amelhoria da qualidade da população(GAMBA, 2009). Nossa população quandovítima de fratura exposta, em uso de fixadorexterno e com uma imagem corporal

afetada, precisa perceber na enfermagemo cuidado atencioso, solidário,compromissado com os reais valores daciência e da arte do cuidar.

A pele é nosso envoltório, é a nossaindividualidade (GAMBA, 2009), e étambém por ela, que a fixação externa seestabelece, uma terapia necessária, mas quetraz consigo além dos cuidados técnicosespecializados com a pele, as perturbaçõespsicossociais que precisam sercompreendidas e incorporadas aos cuidadosde enfermagem, como forma de humanizare tornar mais eficaz esta assistência.

Os profissionais da saúde, em especialos da enfermagem, devem ter preparo equalificação para perceber as alteraçõespsíquicas que de pronto vão emergir nessaspessoas, denotando toda a problemáticapsicossocial existente, e realizarintervenções adequadas. Verificamos emestudo as limitações e inadequações queacercam estas situações e as dificuldadestécnicas dos profissionais em assim proceder(BALESTRA; MARCOLAN, 2011).

A singularidade do ser exposta na suasubjetividade encontra neste corpotransgredido o ambiente propício para ainstabilidade emocional, ocasionando amanifestação de sentimentos dedesesperança, frustração e contrariedade,revelada pela idealização corporal e arealidade vivida. Esta transição culmina naexperiência concretizada de conviver comum dispositivo estranho a sua estrutura etransformador do seu mundo. Estar fazendoparte deste movimento demanda atos deresgate do próprio ser, de atitudes generosasdo outro, mas nitidamente, de umaverdadeira vontade de semear este caminhocom a abertura de novos horizontes capazesde garantir ao seu final, a essência do viverem plenitude e de vir-a-ser o que aconsciência traduzir em poder ser.

O exercício de compreensão desteuniverso contribuirá para a busca da própriaexistência, construindo e desconstruindo aimagem corporal, procurando ideais deimagem e corpo, permeando emoções,estando junto a outros corpos e se

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caracterizando como sujeito e construtor dasua história.

IMPLICAÇÕES P ARA A PRÁTICA

Os estudos apresentados evidenciamque na prática clínica os profissionais dasaúde que lidam com pessoas queapresentam alterações na autoimagem,precisam obter conhecimentos e estaremsensibilizados a respeito desta temática esuas dimensões. Para isso, devem utilizarcomo estratégias na humanização eotimização da assistência: o diálogo, aorientação, a equidade de tratamento, oempoderamento; considerar o ser humanode modo holístico; estarem cientes que asatisfação com o corpo pode estarrelacionada com os níveis globais deautoestima e sentimentos de merecimento.Desta vivência, os profissionais poderãoconstruir bases que os permitam identificarpessoas que não se adaptam bem àsmudanças, intervindo no processo deadaptação da nova, mas temporária,aparência; promover o entendimento de queem todo processo de tratamento poderáhaver mudanças no corpo-imagem,autoestima e percepção de comportamento;avaliar o uso de material ilustrativo, parainformar e preparar a pessoa sobre seuaspecto após a cirurgia; estimular atitudespositivas; realizar atividades psicoeducativasem grupos ou individualmente; incentivar ouso de técnicas de camuflagem; atuar emum contexto transdisciplinar, utilizando aescuta terapêutica e praticando o processode relacionamento interpessoal terapêutico.

Novas investigações acerca destetema devem ser conduzidas identificando opossível impacto sobre os resultados destasquestões.

CONCLUSÃO

O paciente ortopédico tem alteraçõesfísicas, na autoimagem, nos valores, nasatitudes e atividades, devendo seracentuadas suas habilidades e não suasincapacidades (BRANDÃO, 2000).

O despertar de sentimentosvivenciados, no decorrer de uma trajetóriaque anseia pela oportunidade de recuperare reconstruir uma etapa de vulnerabilidade,se consolida na interpretação compartilhadadas experiências dos sujeitos. Estasexperiências serão determinadas pelasdiferentes formas de enfrentamento dascondições adversas e na maneira como cadaser disponibilizará sua força para superarseus próprios limites.

A fragilidade gerada pela insatisfaçãocom o próprio corpo resulta em uma projeçãode desequilíbrio interno, marcada por todasas sensações iminentes que advém doquestionamento do factível, do tolerável edo suportável. Conseguir se perceber comosujeito desta ação, vivenciando apossibilidade de reajustar valores, aprofundarrelações, experimentar sentimentos deestima, solidariedade, disponibilidade podemotivar um estado de compreensão daforma atual do corpo. Assim, produzindoperspectivas baseadas na melhor maneirade acessar subsídios capazes de direcionare intensificar a busca de adequações a estanova forma de existir no mundo.

RESPONSABILIDADESINDIVIDUAIS

“Os autores trabalharam juntos emtodas as etapas de produção do manuscrito.”

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Cadernos deCiência e Saúde Artigo de revisão

1 Enfermeira residente em Saúde Coletiva do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Riode Janeiro (IESC/UFRJ). Email: [email protected].

2 Enfermeira do Programa Saúde na Escola (PSE) no Município de Duque de Caxias/RJ.Recebido em: 13-02-2013 . Aceito em: 29-03-2013

INFLUÊNCIA DA ALIMENT AÇÃO NA VIDA DO ADOLESCENTE:REVISÃO INTEGRA TIVA DAS PRODUÇÕES EM SAÚDE

Sheila de Almeida Souza Santos1; Renata Alves Barbosa2

RESUMO: As modificações na composição do organismo têm uma grande importância com relaçãoàs recomendações nutricionais e com os padrões alimentares que favorecem a saúde dos adolescentes.Objetivos: identificar as produções científicas que retratam os problemas levantados sobre aalimentação dos adolescentes e analisar criticamente as produções científicas pertinentes delineandoos temas abordados com suas aplicabilidades. Metodologia: pesquisa exploratória descritiva, deabordagem qualitativa. O levantamento bibliográfico foi realizado através Biblioteca Virtual de Saúde(BVS), nas bases BDENF, SciELO e LILACS. Os descritores utilizados foram: adolescência;alimentação; enfermagem. Resultados: Diante da leitura dos artigos emergiram três categorias:hábitos alimentares dos adolescentes; alimentação: sentidos atribuídos por adolescentes; aenfermagem x alimentação dos adolescentes. Conclusão: avaliar o hábito alimentar, estado nutricionale imagem corporal dos adolescentes, pode contribuir para condutas terapêuticas visando prevençãode distúrbios nutricionais. Nesse contexto, o enfermeiro, com a realização de práticas educativas,tem a oportunidade de reforçar seu papel de educador para a saúde, atuando na melhoria da qualidadede vida dos adolescentes.

PALAVRAS-CHAVE: Adolescência; Alimentação; Enfermagem.

INFLUENCE OF FOOD IN LIFE TEEN:REVIEW OF INTEGRA TIVE HEAL TH PRODUCTIONS

ABSTRACT: The modifications in body composition are of great importance with respect to nutritionalrecommendations and dietary patterns that promote adolescent health. Objectives: To identify thescientific productions that portray the issues raised about the power of teenagers and criticallyanalyze relevant scientific publications outlining the topics covered in their applicability. Methodology:descriptive exploratory, qualitative approach. The literature survey was conducted via Virtual HealthLibrary (VHL), the bases BDENF, SciELO and LILACS. The keywords used were: adolescence, feed,nursing. Results: Before reading the articles revealed three categories: eating habits of adolescents;supply: meanings attributed by adolescents; nursing x feed of teens. Conclusion: evaluate foodhabits, nutritional status and body image of adolescents may contribute to therapeutic approachesaimed at prevention of nutritional disorders. In this context, the nurse, with the implementation ofeducational practices, has the opportunity to strengthen its role as a health educator, working onimproving the quality of life of adolescents.

KEYWORDS: Adolescence, Nutrition, Nursing.

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INTRODUÇÃO

A adolescência é definida pelaOrganização Mundial da Saúde (OMS)como o intervalo correspondente a faixaetária que vai, cronologicamente, dos 10 aos19 anos. Apesar dessa definição os eventospuberais podem ocorrer em indivíduosnormais do mesmo sexo, em idadesdiferentes, caracterizando melhor umadolescente que a idade cronológica. Namaioria das vezes, torna-se difícil adeterminação de uma única causa paraessas variações, as quais podem acontecerem função de diferenças genéticas, raciais,nutricionais, ambientais; entre outras(VALENÇA; GERMANO, 2009).

A adolescência é um dos períodos maisdesafiadores no desenvolvimento humano. Ocrescimento relativamente uniforme dainfância é subitamente alterado por um rápidoaumento na sua velocidade de crescimento.Estas mudanças súbitas criam necessidadesnutricionais especiais. Os adolescentes sãoconsiderados especialmente vulneráveis emtermos nutricionais, por várias razões: suademanda de nutrientes é maior emdecorrência de dramático aumento nocrescimento e desenvolvimento físicos; asmudanças no estilo de vida e hábitosalimentares dos adolescentes afetam aingestão e as necessidades de nutrientes; osadolescentes têm necessidades especiais denutrientes associados à participação emesportes, gravidez, desenvolvimento de umdistúrbio de alimentação, realização excessivade dietas, uso de álcool e drogas ou outrassituações comuns aos adolescentes(MACHADO, 2009).

Durante a adolescência, a alimentaçãobalanceada é tão importante quanto naprimeira infância, pois além de satisfazer aselevadas necessidades de nutrientes duranteesta fase, ela serve também para criar emanter bons hábitos alimentares para o restoda vida. Neste período podem aparecernovos hábitos de consumo explicáveis pormotivos psicológicos, sociais e socio-econômicos, pela influência de amigos,rebeldia contra os controles exercidos pela

família, busca de autonomia e identidade,aumento do poder de compra, hábito depreparar rotineiramente seu próprio alimento,a urbanização e o costume de comer forade casa. Estes novos padrões alimentarespodem repercutir, a longo prazo, na saúdefutura do indivíduo maduro e na escolhaposterior dos alimentos (Ibid).

Crianças e adolescentes permanecempor longos períodos na escola, o que a tornaum ambiente favorável para a aprendizageme a socialização. A partir desseentendimento, em 2009, o Ministério daSaúde implanta o Programa Saúde na Escola(PSE) e no texto base expressa a finalidadede contribuir para formação integral dosestudantes da rede pública de ensino pormeio de ações de prevenção, promoção eatenção à saúde em parcerias entre osMinistérios da Saúde e Educação,destacando o entendimento de escola comoespaço de saber integrado à saúde(BRASIL, 2009).

A saúde escolar inserida na novaproposta de ações em saúde passa a rompercom o modelo curativo calcado em açõespontuais assistencialistas, repensando ospadrões de atendimento às necessidades emsaúde da comunidade escolar. Nestaproposta adota-se o modelo de parceriasentre os serviços de educação e saúde, deforma a construir planejamentos maissólidos e que retratem o contexto de cadarealidade escolar, única e particular(RASCHE, 2012).

Educação e saúde são espaços deprodução e aplicação de saberes destinadosao desenvolvimento humano e os indivíduosque os compõem encontram-se num ciclopermanente de ensinar e aprender. Assim,interações entre estes espaços e seussaberes constituem processos paraconstrução de qualidade de vida. O ambienteescolar, nessa perspectiva, através deinterações entre seus profissionais, passa aser concebido como espaço de convivênciae socialização, apresentando-se, portantocomo um terreno fértil para implementaçãode estratégias e ações que desenvolvam apromoção de saúde (PEREIRA, 2003).

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Nesse sentido, o enfermeiro quetrabalha na atenção básica em saúde, atualmodelo de saúde, encontra-se inserido noprograma Estratégia de Saúde da Família(ESF) e tem papel fundamental na saúdeescolar, na medida em que pode atuar emcomponentes assistenciais e educativos,realizando vários tipos de ações, tais como:promover atenção à saúde individual,comunitária e as ações de educação para asaúde no desenvolvimento deconhecimentos e habilidades que contribuampara a adoção de estilos de vida saudáveis(RASCHE, 2012).

Tornar-se necessário trazer para adiscussão, os profissionais da educação eda saúde, com ênfase para a enfermagem,a importância do trabalho a ser desenvolvidocom os adolescentes no espaço escolar notocante aos hábitos alimentares, pois aatenção à saúde a essa população é defundamental importância para oestabelecimento de padrões de crescimentoe desenvolvimento satisfatório econsequentemente para a melhoria daqualidade de vida.

Desta forma, traçamos como objetivopara esse estudo: identificar as produçõescientíficas que retratam os problemaslevantados sobre a alimentação dosadolescentes e analisar criticamente asproduções científicas pertinentes delineandoos temas abordados com suasaplicabilidades.

METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa exploratóriadescritiva, de abordagem qualitativa. Aspesquisas que empregam a abordagemqualitativa utilizam diversas fontes de dados,a observação direta como fator do cotidianolevando a um contexto de descobrimentoocupando-se do significado dos fatos,traduzindo-os em conceitos, descrições, algoalém do de números e estatísticas (TOBAR;YALOUR, 202).

A pesquisa exploratória objetivaconhecer a variável de estudo tal como se

apresenta, seu significado e o contexto ondeela se insere, assim como associar asvantagens de se obter os aspectosqualitativos das informações à possibilidadede quantificá-los posteriormente (Ibid).

Foi utilizado o levantamentobibliográfico, ou pesquisa bibliográfica, vistoque esta abrange toda produção científicaelaborada a cerca do tema em estudo atéos dias atuais. Ressalta-se que foi realizadauma revisão sistemática da produçãocientífica.

A revisão integrativa, finalmente, é ométodo de pesquisa utilizado na PráticaBaseada em Evidências que permite aincorporação das evidências na práticaclínica. Esse método tem a finalidade dereunir e sintetizar resultados de pesquisassobre um delimitado tema ou questão, demaneira sistemática e ordenada,contribuindo para o aprofundamento doconhecimento do tema investigado. Hárelatos na literatura do uso da revisãointegrativa como método de pesquisa desde1980 (ROMAN, FRIEDLANDRE; 1998).

Realizou-se o levantamentobibliográfico dos artigos publicados nosúltimos 10 anos nas bases de dados:Biblioteca Virtual de Saúde - BVS, ScientificEletronic Library Online-SciELO, LiteraturaLatino-americana e do Caribe em Ciênciasda Saúde-LILACS e Base de dados deEnfermagem - BDENF.

Os critérios de inclusão estabelecidospara a seleção dos artigos foram: artigospublicados em português; artigos na íntegraque retratassem a temática re-ferente àrevisão integrativa e artigos publicados eindexa-dos nos referidos bancos de dadosnos últimos 10 anos.

A busca foi realizada através dosdescritores: adolescência; alimentação;enfermagem. Na base SciELO a busca foifeita por palavra, mas utilizando osdescritores como palavra, vale ressaltar quefoi realizado o refinamento pelo critério derelevância. Em seguida, os dados coletadosforam analisados através da análise temáticade conteúdo.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

Primeiramente investigaram-se cada

descritor individualmente, conforme quadroum (01).

Quadro 1 – Apresentação da bibliografia localizada por descritor

Mediante o grande número depublicações encontradas e com o objetivode aproximar o levantamento bibliográficocom os objetivos da pesquisa, realizou-se umrefino na pesquisa, associando os descritoresem duplas.

Concluída a busca com os descritoresassociados, foi realizada a leitura dosresumos para verificar o conteúdo dasobras, para tanto se realizou uma novaseleção. Executou-se a pré-leitura, com ointuito da seleção de material para realizaçãode sua leitura, a pré-leitura é compreendidacomo uma leitura rápida do materialbibliográfico, com o intuito de verificar emque medida a obra consultada interessa a

pesquisa (MARCONI, LAKATOS; 2002).Através da leitura seletiva, foi possível

identificar as informações de interesse. Aleitura seletiva permitiu determinar qualmaterial bibliográfico realmente era deinteresse para esta pesquisa.

Sendo assim, após a seleção eexclusão de produções que não estavamdisponíveis na íntegra, eram repetidas, nãoestavam na língua portuguesa e, artigos quenão estavam indexa-dos nos referidosbancos de dados, selecionaram-se dez (10)produções científicas da base de dados daLilacs, Scielo e da BDENF, que seconsiderou como bibliografia potencial desteestudo, vide quadro dois (2), abaixo:

Quadro 2 - Bibliografia potencial deste estudo

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A seguir cada artigo foi impresso e lidona íntegra. Assim, realizou-se uma leiturainterpretativa, que é entendida como omomento da identificação das idéiasprincipais, estabelecimento da importânciade cada uma no contexto das idéias(MORAES, 1999).

Por fim, realizou-se a análise temáticade conteúdo, que é entendida como umametodologia de pesquisa utilizada paradescrever e interpretar o conteúdo de todaclasse de documentos e textos (MORAES,

1999). Emergindo as seguintes categorias:hábitos alimentares dos adolescentes;alimentação: sentidos atribuídos poradolescentes; a enfermagem x alimentaçãodos adolescentes.

HÁBIT OS ALIMENT ARES DOSADOLESCENTES

Nesta categoria estão inseridas quatro(04) produções científicas, vide quadro 3(três).

Quadro 3 – Distribuição das Categorias potenciais da bibliografia“hábitos alimentares dos adolescentes”

Na pesquisa realizada por Albano;Souza (2003), do tipo transversal,desenvolvido numa escola pública de ensinofundamental, no município de São Paulo,objetivou avaliar o consumo médio alimentarde energia, de proteína, de cálcio, de ferro,e de vitaminas A e C de adolescentes.

O estudo apresentou como resultado,que o consumo energético ultrapassou olimite dos valores recomendados para ambosos sexos, e que o consumo de cálcio ficouaquém dos valores recomendados paraambos o sexos. Ainda infere que hánecessidade, portanto, considerando essesachados, que sejam feitos estudos, em nívelnacional, com os adolescentes brasileiroscom o objetivo de verificar a dimensão doproblema e propor estratégias de prevençãoe de controle.

Na pesquisa subseqüente,Gambardella; Frutuoso; Franch (2005),visando conhecer a prática alimentar deadolescentes, realizaram um inquéritoalimentar, utilizando questionário auto-aplicado, com um grupo de 153 adolescentes,voluntários, de 11 a 18 anos de idade, deambos os sexos, estudantes do primeiro grau,do período diurno, de seis escolas da redeestadual, pertencentes a mesma região deSanto André, SP.

A investigação evidenciou que 45%dos adolescentes apresentaram desjejumsegundo o padrão estabelecido, sendo 44%meninos e 56% meninas, garantindo aingestão de fontes de cálcio e de energia,consideradas importantes nessa refeição. Oalmoço, estabelecido como padrão foiencontrado em 76% dos adolescentes, sendo

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36% meninos e 64% meninas. O jantarpadrão foi consumido por 53% dosestudantes, sendo 40% e 60% do sexomasculino e feminino, respectivamente.

Foi possível também identificar que aprática alimentar dos adolescentesestudados é inadequada já que há baixoconsumo de hortaliças e frutas,principalmente no jantar, além de inadequadoconsumo de cálcio. Há, também, menorconsumo de alimentos fonte de energia eproteína no jantar, em relação ao almoço. Oalmoço constituiu-se na refeição que a maiorparte dos adolescentes ingeriram emconformidade com o padrão estabelecido,ao contrário do desjejum que foi a maisnegligenciada, seguida pelo jantar.

Em estudo descritivo de cortetransversal, Bertin et al. (2008), buscoucaracterizar o estado nutricional e consumoalimentar de adolescentes da rede públicade ensino de São Mateus do Sul, Paraná,Brasil. De acordo com a pesquisa, apopulação estudada encontra-semajoritariamente com o estado nutricionaldentro dos padrões de normalidade. A dietados adolescentes é caracterizada por aporteenergético adequado, com distribuição demacronutrientes de acordo com asrecomendações. O consumo de vitamina Ce ferro está adequado, porém há consumoinsuficiente de cálcio. Há também excessode ingestão de ácidos graxos saturados.

Enfatiza ainda, a necessidade darealização de novos estudos para omonitoramento do consumo alimentar deadolescentes, tendo em vista a importânciada implantação de ações de educaçãonutricional focando a qualidade da dieta,promovendo assim uma atitude deprevenção a ser assumida por toda a vida.

No quarto estudo, do tipo transversal,Silva et al. (2009), objetivou conhecer os

hábitos alimentares de adolescentes deescolas públicas de Fortaleza-CE. Paratanto, Entrevistou-se 720 alunos entre 14 a19 anos, de doze estabelecimentos de ensino,por meio de um formulário estruturado. Dosalimentos consumidos, habitualmente,destacaram-se, os energéticos, arroz e pão,consumidos por 95,8% e 85,2% dosadolescentes, respectivamente. Dentre osalimentos construtores as carnes e o feijãosão ingeridos por 60,6% e 75,0%,respectivamente. Os alimentos reguladorescomo frutas e hortaliças/folhosos não têmconsumo habitual entre os adolescentes, jáque apenas (34,3%) e (47,6%),respectivamente, os consomem. Constatou-se um desequilíbrio na ingestão dosnutrientes adequados para a adolescência,favorecendo o sobrepeso e,conseqüentemente, as doenças crônicascomo o diabetes mellitus.

A alimentação e a nutrição adequadasconstituem requisitos essenciais àconfirmação do completo potencial decrescimento e desenvolvimento comqualidade de vida, bem como à prevençãode doenças carenciais à obesidade ecomorbidades associadas. Mas, os estudosdemonstraram que as práticas alimentaresestão cada vez mais inadequadas entre osadolescentes, ou seja, predomina umaalimentação caracterizada pelo consumoexcessivo de refrigerantes, açúcares ecomidas de preparação rápida e reduzidaingestão de hortaliças e frutas.

ALIMENT AÇÃO: SENTIDOSATRIBUÍDOS PORADOLESCENTES

Nesta categoria estão inseridas quatro(04) produções científicas, vide quadro 4(quatro).

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No primeiro estudo, do tipoexploratório, de natureza quanti-qualitativa,realizado por Braga; Molina; Cadê (2007),objetivou-se identificar o perfil nutricional eas expectativas dos adolescentes emrelação a mudanças no perfil nutricional. Apesquisa evidenciou que os adolescentesestudados, apresentam percepção de seupeso não condizente com os resultados deIMC encontrados, baixa auto-estima erelatam descontrole na ingestão dealimentos.

O estudo ressalta a necessidade deconhecer e entender as peculiaridades daadolescência, pois é fundamental para oplanejamento de ações efetivas.Intervenções nessa fase poderão prevenirproblemas futuros, já que é nesse períodoque a grande transformação corporal ocorre,podendo ser um período de vulnerabilidadee risco, necessitando de atenção e cuidado.

Na segunda pesquisa, de naturezaqualitativa, utilizando-se do método depesquisa convergente-assistencia, realizadapor Silva; Teixeira; Ferreira (2012) buscou-se identificar o saber de adolescentes sobreuma alimentação saudável, analisar osalimentos que compõem suas refeições,discutir este consumo à luz de umaalimentação saudável e programar ações deeducação em saúde sobre o tema.

Foi possível identificar que ao seexplorar os saberes dos adolescentes sobreo que seja uma alimentação saudável,evidenciou-se os alimentos mais e menosconsumidos e a relação do consumo com ogosto por eles, o que leva a concluir quequando não se desenvolve ainda na infânciao paladar para determinados sabores econsistências, torna-se difícil, mais adiante,incorporar certos tipos de alimentos nocardápio diário. Apesar de os adolescentesterem a informação sobre o que seriamhábitos saudáveis de alimentação, a maioriadeclarou não os seguir, o que mostra que ainformação não é a única dimensão de umaprática, mas apenas par te de uma grandeengrenagem influenciada pelo contextosociocultural de formação de identidades.

O estudo subsequente, desenvolvidopor Santos et al. (2012) consiste em umapesquisa bibliográfica integrativa, comabordagem qualitativa, sendo a buscarealizada nas bases eletrônicas de dadosLILACS e ADOLEC em março de 2012.Evidenciou que alguns estudos trazem odilema vivenciado pelos adolescentes entreconsumir alimentos que os identificam comoalguém moderno, descontraído,correspondente aos padrões da mídia e damaioria dos outros adolescentes ou adotarhábitos saudáveis de vida que tragam

Quadro 4 – Distribuição das Categorias potenciais da bibliografia“alimentação: sentidos atribuídos por adolescentes”

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benefício à saúde. No caso dos maus hábitos,vale ressaltar, a saúde dos adolescentespode estar sendo comprometida, como, porexemplo, pelo excesso de peso.

Outra relevância nesse estudo é queo comportamento alimentar não deve servisto apenas como o conjunto de práticasobservadas empiricamente (o quê e oquanto se come), mas inserido nas suasdimensões socioculturais e psicológicas. Osadolescentes vivem uma pressão socialpela estética, em função da mídia que trazo conceito do magro ser belo. Ressalta-seque não foram encontrados estudosnacionais publicados em forma de artigoque retratassem isso numa perspectivacultural.

A quarta investigação, desenhoprospectivo e transversal, realizada porCaram; Lomazi (2012) objetivou identificaro hábito alimentar, o estado nutricional e apercepção da imagem corporal deadolescentes. O hábito alimentar dessesadolescentes foi composto por arroz, feijão,pão francês, frutas, sucos, leite integral eachocolatados, porém também foramidentificadas as guloseimas doces, balas e

refrigerantes. A maioria teve consumo diáriode desjejum, almoço e jantar, porém osresultados do desjejum foram preocupantesem 15% dos alunos que relataram não fazê-lo. O local mais frequente para a refeiçãofoi a própria casa. O estado nutricional foieutrófico para maioria, e mais da metadeconsiderava seu peso adequado. A imagemcorporal não teve concordância em relaçãoa obesidade e sobrepeso.

A partir dos estudos descritos acima,foi possível identificar que a prática alimentardos adolescentes é inadequada já que há baixoconsumo de hortaliças e frutas, além deinadequado consumo de cálcio. Desse modo,ressalta-se a importância da promoção deeducação nutricional entre os adolescentes,com ênfase para a escolha apropriada dosalimentos, principalmente aqueles contidosnas refeições intermediárias.

ENFERMAGEM X ALIMENT AÇÃODOS ADOLESCENTES

Nesta categoria estão inseridas duas(02) produções científicas, vide quadro 5(cinco).

Quadro 5 - Distribuição das Categorias potenciais da bibliografia“a enfermagem x a alimentação dos adolescentes”

A primeira pesquisa, transversal, foirealizada em 12 estabelecimentos de ensinoda rede provada da cidade de Fortaleza.Araújo et al. (2010) constatou que naadolescência, devido a seu caráter detransição e consolidação decomportamentos, os adolescentes possuemum risco para desenvolver maus hábitosalimentares. Além disso, a maioria dosjovens dificilmente tem acesso aprofissionais de nutrição na atenção primária.

Portanto, os enfermeiros devem aproveitartodas as oportunidades para fornecerorientação para hábitos alimentaressaudáveis, e cada contato com esses jovensdeve ser usado para explorar este assuntoa fim de minimizar conseqüências adversasno futuro.

O estudo infere que orientação decomportamentos que promovam umaalimentação mais saudável é algo acessívelà prática de enfermagem e subsidiada por

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protocolos na atenção básica, diagnósticose intervenções de enfermagem. Portanto, oenfermeiro, que já vem ocupando o ambienteescolar para educar em questões comoprevenção de acidentes, infecçõessexualmente transmissíveis, hipertensãoarterial, Diabetes Mellitus tipo 2, síndromemetabólica, entre outros, pode também nãoindicar dietas, mas sim orientar naincorporação e/ou diminuição da ingestão dedeterminados alimentos pelos jovens, fatoque em conjunto com outras informaçõessobre um estilo de vida saudável atenua aproblemática dos hábitos alimentares naadolescência.

Na pesquisa subsequente, de naturezaquantitativa, de caráter descritivoexploratório, realizado num CentroEducacional Comunitário situado na zona suldo Município do Rio de Janeiro, Souza et al(2012) objetivou identificar os principaisproblemas de saúde destas e analisar aassociação entre a ocorrência de problemasde saúde e o estado nutricional.

Considera-se oportuno referir que umalimitação do presente estudo pode terocorrido devido ao fato dos resultados obtidosexpressarem a realidade específica de umCentro Educacional. Assim, destaca-se anecessidade do desenvolvimento depesquisas mais abrangentes que permitama generalização dos resultados.

O estudo ressalta a importância daatuação de profissionais de saúde, emespecial de enfermeiros, em CentrosEducacionais, onde estes têm a possibilidadede realizar diversas ações, de formacontínua e permanente junto às crianças,adolescentes, pais ou responsáveis efuncionários da instituição, voltadas para adetecção de problemas de saúde, ações depromoção da saúde e prevenção de agravosou complicações. Através do conhecimentodos aspectos sociais, epidemiológicos eambientais, que influenciam as condições desaúde deste grupo populacional, taisprofissionais poderão transformar o espaçoeducacional em um ambiente mais saudávele seguro.

Com o que foi descrito nos estudos,foi possível identificar que não basta apenaster as informações sobre os hábitosalimentares dos jovens. São tambémnecessárias ações de intervenção paracombater os casos de dieta inadequada comdesequilíbrio de nutrientes, assim como,ações de prevenção, uma vez que uma máalimentação, sobretudo, aliada aosedentarismo é um dos principais preditoresda qualidade de vida e de saúde na faseadulta.

Nesse sentido, o enfermeiro podecolaborar tanto na viabilização de políticaspúblicas de saúde direcionadas ao combateda ascensão do sobrepeso/obesidade, comono planejamento e desenvolvimento deações que visem à uma alimentação maissaudável.

CONCLUSÃO

As modificações na composição doorganismo têm uma grande importância comrelação às recomendações nutricionais ecom os padrões alimentares que favorecema saúde dos adolescentes. A adolescênciaé um período de elevada demandanutricional, e, por este motivo, a nutriçãodesempenha um papel importante nodesenvolvimento do adolescente(ALBANO; SOUZA, 2003).

Todavia, na maioria das categorias dosartigos analisados nesse estudo, foi possívelidentificar que a tendência apresentadapelos adolescentes foi a irregularidade naalimentação, ou seja, muitas vezes deixamde fazer o café da manhã, não realizamalgumas refeições, as substituindo porlanches, além de consumirem alimentosindustrializados.

Como certos hábitos alimentaresestabelecidos na infância e adolescênciapodem resultar em maior risco dedesenvolvimento de doenças crônicas,incluindo doença coronária, osteoporose ealguns tipos de câncer na vida adulta, osesforços para conscientização daimportância de uma dieta preventiva devem

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começar logo no início desta fase.Nesse sentido, avaliar o hábito

alimentar, estado nutricional e imagemcorporal dos adolescentes, pode contribuirpara condutas terapêuticas visandoprevenção de distúrbios nutricionais.

O enfermeiro, nesse contexto, com arealização de práticas educativas, tem aoportunidade de reforçar seu papel deeducador para a saúde, atuando na melhoriada qualidade de vida dos adolescentes, dessaforma, promovendo a saúde.

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Cadernos deCiência e Saúde Artigo de revisão

1 Extraído do Trabalho de Conclusão de Curso da Pós em Gerenciamento dos Serviços de Enfermagem da UniversidadeFederal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

2 Profa Dra Adjunta da Universidade Federal do Pampa (Unipampa). Mestre em Enfermagem Psiquiátrica e CiênciasHumanas pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EERP-USP). Uruguaiana. Rio Grande do Sul.Brasil. [email protected]

3 Profa Adjunta da UFRGS. Doutoranda em Enfermagem pela UFRGS. Porto Alegre. Rio Grande do Sul. [email protected]

Recebido em: 23-01-2013 . Aceito em: 29-03-2013

QUALIDADE DE VIDA DOS PROFISSIONAIS DA ENFERMAGEM:UMA ABORDAGEM SISTÊMICA 1

Maria de Lourdes Custódio Duarte2, Dagmar Elaine Kaiser3

RESUMO: A Qualidade de Vida no trabalho é fundamental em qualquer atividade laboral, sendo foco deatenção em saúde do Enfermeiro. O presente estudo trata-se de uma revisão sistêmica sobre publicaçõesem Qualidade de Vida dos profissionais de enfermagem no período de 2000 a 2009. A coleta de dados deu-se por meio de busca on line nas bases de dados científicas da BIREME: Literatura Latino-Americana e doCaribe em Ciências da Saúde; Literatura Internacional em Ciências da Saúde; da Biblioteca Cochrane e doSCIELO: Scientific Electronic Library Online, utilizando-se como descritores a Qualidade de Vida, Equipede Enfermagem e Saúde Mental. Dezessete artigos atendiam ao estudo proposto, sendo a análise dedados realizada utilizando-se os passos sugeridos por Cochrane. Os resultados evidenciaram que élimitada a inserção do enfermeiro e de alunos da graduação em enfermagem em publicações de estudossobre Qualidade de Vida no contexto laboral dos profissionais de enfermagem. Dos cenários alvos deestudo, o enfoque hospitalar foi o mais divulgado. Os profissionais de enfermagem estão expostos a umadiversidade de cargas biológicas, físicas, químicas, mecânicas, fisiológicas e psíquicas que intervém emsua Qualidade de Vida e no cuidado que realizam. Recomenda-se que periodicamente ocorram estudoscomo este para a avaliação do que está sendo publicado sobre Qualidade de Vida desses profissionais eque enfermeiros e alunos de enfermagem invistam mais na publicação de seus achados sobre Qualidadede Vida dos profissionais de enfermagem, divulgando suas produções em periódicos científicos indexados,fortalecendo-se enquanto pesquisadores em Qualidade de Vida.

PALAVRAS- CHAVE: Qualidade de Vida; Equipe de Enfermagem; Saúde Mental

QUALITY OF LIFE OF PROFESSIONAL NURSING: A SYSTEMICAPPROACH

ABSTRACT: Quality of Life at work is crucial in any work activity, the focus of attention in healthNurse. This study is a systemic review of publications on quality of life of nursing professionals inthe period 2000 to 2009. The collection of data was done by searching online data bases of scientificBIREME: Latin American and Caribbean Health Sciences, International Literature in Health Sciencesof the Cochrane Library and Scielo: Scientific Electronic Library Online, using as descriptors theQuality of Life, Nursing Team and Mental Health. Seventeen articles met the proposed study, anddata analysis performed using the steps suggested by Cochrane. The results showed that insertionis limited to nurses and students of undergraduate nursing study was to analyze in publications onQuality of Life in the work context of nursing professionals. From set targets for study, the focus wasthe hospital disclosed. Nursing professionals are exposed to a variety of loads biological, physical,chemical, mechanical, physiological and psychological intervening in their Quality of Life and thecare they do. It is recommended that occur periodically studies like this for the assessment of whatis being published on quality of life of these professionals and that nurses and nursing students toinvest more in publishing their findings on quality of life of nursing professionals, disseminatingtheir productions scientific journals, strengthening while researchers in Quality of Life.

KEYWORDS : Quality of life; Team of Nursing; Mental Health.

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INTRODUÇÃO

Este estudo surgiu como requisito paraa obtenção do título de enfermeiroespecialista em gerenciamento de serviçosde enfermagem do Curso de Especializaçãoem Gerenciamento de Serviços deEnfermagem da Escola de Enfermagem daUniversidade Federal do Rio Grande do Sul(UFRGS), a partir de inquietudes equestionamentos acerca da Qualidade deVida (QV) dos profissionais deenfermagem. Sua relevância dá-se porconsiderar as transformações globais naenfermagem e suas conseqüências na QVdos profissionais de enfermagem. Assim,foram reunidos elementos teóricos paraconhecer os trabalhos existentes sobre QVdos profissionais de enfermagem, atravésde uma abordagem sistêmica.

Qualidade de Vida trata-se de umconceito amplo, complexo e muito pessoal,cada pessoa tem a sua definição. Embora aorigem exata da idéia de QV sejadesconhecida, o assunto começou a serdiscutido após a segunda Guerra Mundial,uma vez que esse evento aumentou o padrãode vida de muitas sociedades ocidentais(SOUZA; COUTINHO, 2006).

Nas últimas três décadas o assuntotornou-se tema de estudo dos pesquisadores,representando os ideais da medicinamoderna. A Organização Mundial da Saúde(OMS) definiu QV como a percepção doindivíduo a respeito de uma posição na vida,dentro do contexto, da cultura e do sistemade valores no qual ele vive, e em relaçãoaos seus objetivos, expectativas, padrões epreocupações (CONCEIÇÃO, et al., 2012).A percepção subjetiva do nível de felicidadee de satisfação quanto aos diferentesaspectos de vida é o principal determinanteno julgamento positivo e negativo da QV.

O termo QV depende da relaçãoexistente entre vários fatores de naturezabiológica, psicológica e sociocultural, taiscomo: saúde física, saúde mental,longevidade, satisfação o trabalho, relaçõesfamiliares, disposição, produtividade,dignidade e até mesmo a espiritualidade

(SOUZA, et al., 2012). No entanto, a QVnão depende somente de fatores que estãorelacionados à saúde, mas envolve outrosaspectos como, trabalho, família, amigos eoutros fatores.

Dentre as relações no que tange oconceito de QV, cremos que o trabalho estárelacionado com um melhor bem- estar esatisfação pessoal e profissional. Sendoassim, a maneira pela qual o trabalhadorpercebe e atribui um significado ao trabalho,o modo que está inserido no processo detrabalho e envolvido por ele, terá implicaçõesem sua maneira de viver e ser saudável.Isto significa dizer que dependendo do tipode relação do homem com o trabalho, estetem significações diferentes, refletindo emuma melhor ou pior QV.

O trabalho passou a ocupar um lugarcentral na vida do homem e dependendo daforma como está sendo executado eorganizado, podem ser geradores de fatoresdesgastantes e potencializadores dosprocessos saúde-doença, levando otrabalhador ao adoecimento (SOUZA, et al.,2012).

Na enfermagem, tem-se observadoque esses profissionais têm suportado cargasde trabalho cada vez maiores levando asobrecarga de trabalho. Muitos profissionaistrabalham em dois ou três lugares, levandoao desgaste físico e psicológico, prejudicandosua QV e até mesmo suas relações sociais.

A primeira fase de estudos sobre QVno trabalho iniciou-se na década de 60 eestendeu-se até 1974, marcados pelacrescente preocupação de cientistas, líderessindicais, empresários e governantes comas experiências do trabalhador numdeterminado emprego (CONCEIÇÃO, etal, 2012).

Nos anos 90 foram difundidos osconhecimentos sobre QV dos trabalhadores,sendo que países como França, Alemanha,Dinamarca, Suécia, Noruega, Holanda eItália adotaram métodos e modelos detrabalho visando a satisfação dos clientesinternos e externos. No Brasil, alguns gruposde estudos sobre QV no trabalhocomeçaram a surgir em diversos Estados,

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aumentando a possibilidade de difusão dessatemática (CARANDINA, 2003).

Os primeiros instrumentos destinadosa medir QV apareceram na literatura nadécada de 1970. A medida de QV trata-sede um instrumento recente, vindo de umatradição estrangeira, anglo-saxônica,empirista e utilitária (VIDO; FERNANDES,2007).

A relação entre saúde e QV pareceóbvia, pois o próprio senso comumestabelece uma relação, como sendo umpré-requisito da outra. Porém, essaafirmação nem sempre está de acordo coma realidade, pois tanto a definição de saúdequanto a QV propõem diversas discussõese interpretações.

Nesse contexto, o trabalho adquireuma importante função na manutenção epromoção da saúde física e mental daspessoas, à medida que se torna um fonte deenergia para poder criar, inventar, produzirações que contribuam para umdesenvolvimento positivo de desempenhopessoal e profissional (SCHMIDT, et al.,2013).

O trabalho representa uma identidadepessoal, onde fatores de auto-estima, auto-reconhecimento, auto-valorização comorgulho de si próprio, estão implícitos nessecontexto de aprimoramento depotencialidades individuais e no cotidiano,com reconhecimento na sociedade atual.

O ambiente de trabalho poderá seruma das fontes de satisfação que geramestímulos adequados em qualidade equantidade suficientes para a realização,satisfação e felicidade do ser humano,integrado a outros estímulos provenientes dolazer, relacionamento familiar, conjugal, entreoutros (SCHMIDT, et al., 2013).

O indivíduo influencia e é influenciadopelo meio em que vive, e a conjugação dasua história de vida biopsicossocial com otrabalho, implicará que este permita adescarga de vivências, experiências eemoções, assumindo um papel equilibrantena vida psíquica do homem (VIDO;FERNANDES, 2007).

Assim, a relação trabalho e saúdeestão diretamente relacionadas àorganização das condições de trabalho. Paraa manutenção da saúde física e mental dosprofissionais há que se considerar asadaptações necessárias relacionadas àpessoa que irá exercer determinado tipo deatividade e a forma que irá exercitá-la(CARVALHO; MAGALHÃES, 2013).

Dentre os estudos sobre QV notrabalho, poucos têm discutido a saúde dotrabalhador em seu contexto geral, ou seja,a saúde sendo afetada pelos fatoresambientais, comportamentais eorganizacionais (ALVES, 2013).

O estresse no trabalho, outro fator aser considerado no aspecto patológico daSaúde Mental, provoca conseqüências,principalmente sob a forma de problemasna saúde física e mental na satisfação notrabalho e com os colegas de trabalho,desencadeando as cobranças institucionais(CARVALHO; MAGALHÃES, 2013).

A QV, além de ser ímpar, também étemporal, pois a vivência de umadeterminada situação pode ou nãoproporcionar uma QV momentânea ou porum período mais longo. A relação entre oambiente familiar e a sociedade pode causartransformações importantes na vida doprofissional de enfermagem (CARVALHO;MAGALHÃES, 2013).

METODOLOGIA

O estudo realizado consistiu em umapesquisa bibliográfica do tipo sistêmico. Arevisão sistemática é um método de pesquisaque permite agrupar estudos primários,extraindo deles a melhor evidência científica(COCHRANE, 2007).

Inicialmente, buscou-se estudosvinculados à QV de profissionais quereunissem elementos teóricos de artigoscientíficos sobre o tema, constituídoprincipalmente busca on line nas bases dedados BIREME, em LILACS - LiteraturaLatino-Americana e do Caribe em Ciênciasda Saúde , MEDLINE - Literatura

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Internacional em Ciências da Saúde ,Biblioteca Cochrane e SciELO - ScientificElectronic Library Online, utilizando comodescritores: Qualidade de Vida, Equipe deEnfermagem e Saúde Mental.

A avaliação crítica dos estudos e a pré-seleção dos artigos deu-se com a leitura dosresumos na própria base de dados on-line,seguida pela seleção dos artigos e a sualeitura na íntegra.

Em relação aos aspectos éticos, houveo cuidado em citar os autores consultados eas respectivas bases de dados on-line quedisponibilizam os estudos.

ANÁLISE DOS DADOS

Os resultados dessa pesquisaidentificaram inicialmente 31 (trinta e uma)publicações em QV, e destas, onze atendiamao descritor Qualidade de Vida, sete aodescritor Equipe de Enfermagem, três aodescritor Educação em Enfermagem, SaúdeOcupacional e Saúde Mental, e duas, aosdescritores Sofrimento Psíquico e Satisfaçãono Emprego, no período compreendido entre2000 e 2009 e disponibilizados na línguaportuguesa.

Quadro 1 - Descritores informados nos artigos

Dessa busca on-line, dezesseteartigos atendiam ao propósito do estudo,considerando o roteiro de coleta de dadosespecialmente criado para tal.

Dos artigos selecionados, seisconcentram-se no ano de 2006, seguido detrês artigos nos anos de 2003 e 2005, doisem 2004, e um artigo nos anos de 2000, 2007e 2008.

Quadro 2 - Ano de publicação dos artigos

Constatou-se, após a seleção dosartigos, que cinco foram publicados naRevista Latino Americana, ou seja, periódicocientífico onde houve a maior concentraçãode publicações sobre QV de profissionaisde enfermagem. No entanto, os outros onzeartigos foram publicados em distintos locaisde publicação, a saber: Revista Gaúcha deEnfermagem; Revista Reme; Revista dePsicanálise; Revista Ciência Psicologia;Saúde Pública; Revista da Escola deEnfermagem da USP, Revista de

Enfermagem da UERJ, Revista Texto eContexto, Revista Ciência Saúde e Cuidado;e, On-line brazilian jounal of nursing.Um artigo foi publicado em decorrência desua apresentação em Congresso, na RevistaBrasileira de Psiquiatria.

Em relação a formação dos autoresdos artigos estudados, onze artigos forampublicados por enfermeiros, um porpsicólogo, um por estudante de enfermageme quatro não trouxeram informações acercada formação dos autores.

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Quadro 3 – Formação dos autores

Nesse contexto, verifica-se que são osenfermeiros que mais publicaram a produçãocientífica sobre QV no período estudado, oque nos faz refletir sobre a importância queassume a QV para esse profissional nasequipes.

A formação dos autores, quando se fazuma revisão bibliográfica, é uma informaçãode suma importância, visto que permite umaavaliação do pesquisador relativo ao temainvestigado sob a ótica da formaçãoprofissional do autor. Deveria compor comocritério de submissão de artigos parapublicação a sua informação: um prérequisito para publicações.

Apenas um estudante teveparticipação em autoria nas publicações

disponibilizadas nas bases de dados, umnúmero reduzido considerando-se agraduação o espaço de ensino, pesquisa eextensão universitária. Os estudantes devemser estimulados à produção científicadurante a sua graduação, publicando artigos,pois somente assim estarão inseridos nosespaços formativos e no mundo do trabalhoposteriormente.

Em relação à titulação dos autores,verificou-se que seis possuem doutorado,quatro são mestres, um é especialista, um éestudante e cinco artigos não dispõem dessainformação, evidenciando que a produçãocientifica na área da QV deu-se nosdiferentes níveis formativos.

Quadro 4 - Titulação dos Autores

Em relação ao tipo de estudo, dosdezessete artigos encontrados, doisutilizaram a revisão sistêmica em bancode dados, oito artigos trataram-se de

estudos qualitativos, sete estudos eram dotipo quantitativo e não houve publicaçãodo tipo estudo de caso ou relato deexperiência.

Quadro 5 - Tipo de estudo

Os artigos estudados originaram-se dediferentes tipos de produção científica. Umestudo é resultante de um trabalho deconclusão de curso da graduação, dois tem

sua origem em dissertação de mestrado,quatro divulgam teses de doutorado e, dezartigos não referem o estudo que originou asua publicação.

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Quadro 6 - Tipo de estudo que gerou o do artigo

Nesse contexto, foram ospesquisadores doutores que maissocializaram seus achados, compartilhandoas informações no meio científico por meiode artigos abordando QV.

Em relação ao seu contexto,evidenciou-se que a maior parte dos dadosdiscutidos metodologicamente tinha ohospital como cenário, compondo nove

artigos. A comunidade foi o espaço estudadoe publicado em um único artigo, quatro foramrealizados em universidades e dois em bancode dados on-line. Não foram encontradospublicações com foco em atuação dosprofissionais de enfermagem em empresas.

Nosso estudo permite verificar que ohospital foi o cenário que mais originouartigos publicados sobre QV, seguidos pelaUniversidade.

Quadro 7 - Local do estudo

O maior bem de um hospital são seustrabalhadores, sua saúde e segurança. Porisso, é fundamental se discutir asdificuldades, as exigências impostas pelarealidade hospitalar, com a finalidade degarantir relações mais solidárias entre ostrabalhadores de saúde, seus pacientes efamiliares (OLIVEIRA; MOREIRA, 2006).

A universidade é tida como um espaçoque propicia vivências promotoras e nãopromotoras de QV aos alunos. Há anecessidade de encontros sistematizados,

nos quais alunos e professores discutam aconstrução individual e coletiva deestratégias de enfrentamento para a suapromoção (OLIVEIRA; CIAMPONE,2008).

A equipe de enfermagem foi objeto deestudo em sete artigos, os alunos em quatro,os enfermeiros em dois e em um artigo, aequipe de saúde foi estudada, como mostrao quadro a seguir. Entretanto, não houvereferência de estudos que envolviamfamiliares em sua contextualização.

Quadro 8 - Sujeitos do Estudo

Relativo à QV em ambienteacadêmico, estudo evidenciou que 64% dosestudantes de enfermagem referemsatisfação com a sua QV, porém, 36%

apresentam problemas significativos desaúde e que demandam necessidadesespecíficas que justificariam a implantaçãode programas de apoio e suporte para o

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enfrentamento das situações de sofrimentono contexto formativo (SAUPE et al.,2004).

Seriam situações promotoras de QV naformação de alunos de enfermagem, asexperiências extracurriculares, relaçãoprofessor aluno e o relacionamento entrealunos. A falta de acolhimento por parte dosprofessores e enfermeiros de campo, a faltade integração com as equipes, a carga horáriaexcessiva para o aluno trabalhador são tidoscomo não promotores de QV. Evidencia-se

o importante papel da educação comoestratégia de medidas eficazes na busca daqualidade do cuidado dos profissionais(OLIVEIRA; CIAMPONE, 2008).

Em relação à área dos artigosanalisados, onze artigos concentraram-se notema Mundo do trabalho, quatro artigos sobreensino, um artigo na área assistencial, umsobre pesquisa e nenhum sobre gestão.

Evidenciou-se que o tema de maiorinteresse foi o relacionado ao mundo dotrabalho da enfermagem.

Quadro 9 - Área do artigo

Conhecer fatores de QV quepropiciam saúde mental, prazer, sofrimentono trabalho, abre possibilidades demudanças para o exercício da enfermagem,contribuindo para a luta por questões detrabalho mais humanas e justas (COIMBRAet al., 2005). A qualidade da assistênciaprestada está diretamente ligada a saúde dequem a realiza, um alerta feito aosprofissionais de enfermagem: repensaremsuas maneiras de lidar com o trabalhoconsiderando as dificuldades impostas pelasua profissão.

Intensificar ações de QV facilitaria amudança de paradigmas quanto à práticaassistencial do processo saúde doença,resultando na superação de modeloseminentemente biomédicos, que descartam,na maioria das vezes, aspectossocioeconômicos, psicológicos e culturaisimportantes nas ações de promoção,prevenção, tratamento e reabilitação emsaúde (CARVALHO; MAGALHÃES,2013).

Faz-se relevante a adoção de medidasde intervenção na estrutura organizacional,de modo a elevar o controle sobre o trabalhoe redimensionar os níveis de demandapsicológica. Nesse sentido, asmanifestações psicoemocionais como

ansiedade, fadiga, crises de choro tambémrevelam premissas de opressão mental, asquais alteram o equilíbrio emocional doindivíduo e conseqüentemente a QV. Asmanifestações psicossomáticas que afetamo profissional de enfermagem são avulnerabilidade cardíaca, respiratória,muscular e gastrointestinais (ROCHA;FELLI, 2004).

São as cargas de trabalho os elementosque interagem entre si e o corpo dotrabalhador gerando processos deadaptação e também de desgaste (ROCHA;FELLI, 2004). Os problemas de saúdeapresentados pelos profissionais deenfermagem em uma instituição de saúdesão gerados pela exposição dessestrabalhadores a uma diversidade de cargas,ou seja, biológicas, físicas, químicas,mecânicas, fisiológicas e psíquicas.

Na enfermagem, os turnos de trabalhodiurno e noturno também são elementos quepodem influenciar a QV dessesprofissionais. O trabalho noturno poderia porsi só ser considerado um fator de mudançapara pior na QV dos funcionários, quandocomparado com os trabalhadores diurnos.A atuação no horário noturno possibilita ummelhor ganho financeiro, fazendo com queos trabalhadores enfrentem as dificuldades

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de forma mais otimista, podendo assim,avaliar sua QV da mesma forma que ostrabalhadores diurnos (JUNIOR;SIQUEIRA; GONÇALVES, 2006).

Estar saudável associa-se à satisfaçãodas necessidades humanas básicas e otrabalho é considerado um elementofundamental para a saúde das pessoas.Desde que realizado em condiçõessaudáveis, promove sensação de bem estar,refletindo na melhoria das condições detrabalho e na assistência de enfermagemprestada e, conseqüentemente, na QV deseus trabalhadores (OLER, et al., 2005).

Os achados reforçam a relevância daadoção de medidas de intervenção naestrutura organizacional das instituições demodo a elevar o controle sobre o trabalho eredimensionar os níveis de demandapsicológica de seus recursos humanos,traduzindo-se em QV (SOUZA, et al , 2012).Os trabalhadores que mais estão satisfeitoscom as atividades que desempenham sãoos que apresentam os níveis mais altos debem estar físico e psicológico (RABELO;TORRES, 2005).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Realizar esse estudo sistêmico mostrouo quanto o acesso e a disponibilização doconhecimento científico está facilitado pelasbases de dados on-line, permitindo umacesso seguro e de fácil localização depublicações, visto o rigor científico presentenos critérios para a publicação de estudosem periódicos científicos indexados. Quandoum artigo é disponibilizado em uma base dedados on-line? Após haver sido submetidoa um periódico, já tendo sofrido uma análisemetodológica e ética, e haver se adequadoàs normas de publicação com avaliação deexperts na área do estudo.

Identificar produções científicasacerca da QV dos profissionais deenfermagem, proporcionando discussões ereflexões sobre esses sujeitos, favoreceu oaprofundamento dos trabalhos selecionados,possibilitando um repensar crítico de comoo enfermeiro vem se inserindo em

pesquisas. Sua autoria em trabalhospublicados ainda é muito limitada tendo emvista a variedade de temáticas que aindapoderiam ser exploradas no contexto laboral.

Recomenda-se que os estudosrealizados pelo enfermeiro sejam maispublicados, a fim de compartilhar oconhecimento produzido nos cenários deprática sobre QV dos profissionais deenfermagem, tornando seus achadospúblicos e permitindo uma QV instruídacientificamente, tendo como autor oenfermeiro.

Qualidade de Vida dos profissionais deenfermagem no âmbito hospitalar foi ocenário de eleição da maioria dos autores.Sugere-se um investimento em publicaçõesem práticas profissionais como na atençãobásica, na escola infantil, no serviço deatendimento móvel de urgência, nasinstituições de longa permanência, nascomunidades, e que podem contribuir comnovos resultados em QV na enfermagem.

É de extrema importância que oenfermeiro observe, analise, proporcione epromova a QV em sua equipe, resultandoem um cuidado mais humanizado por umaequipe menos doente. Estudos dessanatureza não foram encontrados nas basesde dados on-line. Sugere-se que oenfermeiro publique mais os estudos de queparticipa, pois a sua atuação gerencialengloba a QV dos profissionais deenfermagem, cujos achados não estãopublicados.

Outro fato que se destaca é de queapenas um dos artigos estudados contou coma participação de um aluno de graduaçãoem enfermagem em sua autoria. Repete-seaí a mesma situação caracterizada peloenfermeiro: mesmo com inserçãoacadêmico-institucional e envolvimento empesquisas, ainda é pequeno. Asuniversidades devem proporcionar eestimular no graduando de enfermagem ocontato com pesquisas, tornando-a umaconstante em sua vida acadêmica e comofuturo profissional, despertando nele o hábitode publicar os seus achados científicos.

A QV dos profissionais de

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enfermagem tem sido afetada pelasobrecarga de trabalho, em decorrência dejornadas duplas e triplas de trabalho, levandoao desgaste físico e psicológico, prejudicandoas relações sociais e até mesmo aassistência prestada.

Os profissionais de enfermagem quemais estão satisfeitos com as atividades quedesempenham melhor realizam suasatividades. Nesse sentido, faz-se relevantea adoção de medidas de intervenção naestrutura organizacional, de modo a elevaro controle sobre o trabalho e redimensionaros níveis de demanda psicológica.

A figura do enfermeiro, como líder daequipe, é de extrema importância, pois esteprofissional pode proporcionar espaços deescuta e de acolhimento aos integrantes desua equipe, incentivando-os a aprender acuidar de si e, conseqüentemente, dosoutros.

Os estudos sobre QV devem criarespaços para discussões coletivas notrabalho, propiciando o comprometimentodos profissionais de enfermagem com amelhoria da saúde ocupacional e daorganização do trabalho, subsidiando novosestudos e publicações.

Recomenda-se que, periodicamente,ocorram estudos como este para avaliaçãodo que está sendo produzido sobre QV eque os periódicos em enfermagem sejamuma fonte de consulta e divulgação depublicações para os enfermeiros e outrosprofissionais.

RESPONSABILIDADESINDIVIDUAIS

Os autores trabalharam juntos emtodas as etapas de produção do artigo.

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1 Relato de experiência proveniente do Trabalho de Conclusão do Curso de Enfermagem da Universidade Federal deSanta Maria (UFSM), Santa Maria/ Rio Grande do Sul (RS), Brasil.

2 Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora Adjunta na UFSM. Líder do GP PEFAS. Coordenadora doPrograma de Pós-Graduação em Enfermagem – PPGENF UFSM, Santa Maria/RS, Brasil. E-mail:[email protected]

3 Enfermeira Obstétrica. Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade do Estado doRio de Janeiro (UERJ), Rio de Janeiro/RJ. Membro do Grupo de Pesquisa Cuidado à Saúde das Pessoas, Família eSociedade – GP PEFAS da UFSM/ RS, Brasil. E-mail: [email protected]

4 Enfermeira. Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal do Ceará (UFC), Fortaleza/ CE.Membro do GP PEFAS da UFSM/RS, Brasil. E-mail: [email protected]

5 Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora Adjunta na UFSM, Santa Maria/RS, Brasil. Líder do GP PEFAS.E-mail: [email protected]

6 Enfermeira da Unidade de Terapia Intensiva Neonatal do Hospital Universitário de Santa Maria. Mestranda emEnfermagem pelo PPGENF UFSM. Membro do GP PEFAS, Santa Maria/RS, Brasil. E-mail:[email protected]

7 Graduada em Nutrição pelo Centro Universitário Franciscano – UNIFRA. Graduação em andamento em Tecnologiasde Alimentos na UFSM. Membro do Grupo de Pesquisa Cuidado à Saúde das Pessoas, Família e Sociedade – GPPEFAS da UFSM/ RS, Brasil. E-mail: [email protected]

ENTREVISTA TELEFÔNICA COMO TÉCNICA DE COLETA DE DADOS1

Stela Maris de Mello Padoin2, Elaine Lutz Martins3, Andressa Peripolli Rodrigues4, CristianeCardoso de Paula5, Tatiane Correa Trojahn6, Marília Alessandra Bick7

RESUMO: A entrevista é apontada como uma ferramenta adequada para a coleta de dados quandoo pesquisador busca apreender aspectos da subjetividade dos sujeitos do estudo. Destaca-se quea entrevista para a coleta dos dados pode ser mediada pelo telefone, pois combina baixo custo efacilidade na administração das questões com altas taxas de respostas. No entanto, assim como asoutras, a entrevista por telefone requer preparo prévio dos investigadores, tanto para a construçãodas questões como para o momento da entrevista. Diante disso, este artigo tem o objetivo de relatara experiência da entrevista telefônica como técnica de coleta de dados na pesquisa em enfermagem.Trata-se de um relato de experiência da utilização da entrevista mediada pelo telefone com o objetivode caracterizar o tipo de alimentação de recém-nascidos de baixo peso (RNBP) egressos de umaUnidade de Terapia Intensiva Neonatal. Os resultados apresentaram algumas vantagens e limitaçõespresente no processo de coleta de dados, bem como estratégias fundamentais utilizadas pelospesquisadores, além de contribuições da utilização da entrevista telefônica para futuras pesquisasno campo da saúde. Dessa forma, percebe-se a necessidade de ampliação e divulgação de novastécnicas de coletas de dados, proporcionando amparo aos pesquisadores em busca de dados precisose fidedignos.

DESCRITORES: Enfermagem; Pesquisa em enfermagem; Coleta de dados; Educação em enfermagem.

TELEPHONE INTER VIEW AS TECHNICAL DATA COLLECTION INNURSING: AN EXPERIENCE REPORT

ABSTRACT

KEYWORDS: Nursing; Nursing research; Data collection; Education, Nursing.

Artigo de relato de experiência

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INTRODUÇÃO

Devido ao crescente interesse nodesenvolvimento de pesquisas no campo dasaúde, tem-se buscado um rigormetodológico cada vez mais apurado e bemdelineado. Para tal, é necessário atentar paraas características das investigações nosentido de manter a coerência e aconsistência dos estudos, principalmente,para a construção do objeto de estudo equestão de pesquisa, o estabelecimento deestratégias para a etapa de campo e aescolha da técnica de coleta e análise dosdados (GÜNTHER, 2006).

Nesse sentido, a entrevista é apontadacomo uma ferramenta adequada para acoleta de dados quando o pesquisador buscaapreender aspectos da subjetividade dossujeitos do estudo. Esta pode sercaracterizada desde uma conversa informal,com uma finalidade, até um roteiropadronizado, e que podem ser denominadascomo: estruturadas, semiestruturadas e nãoestruturadas (SILVA et al., 2006).

Além disso, ela pode ser desenvolvidaface a face ou mediada. Na entrevista facea face, entrevistador e entrevistado seencontram diante um do outro e podemsofrer influências verbais e não verbais. Nasegunda, a comunicação pode acontecer pormeio do telefone, de um ambiente virtual,de um questionário, entre outros (SILVA etal., 2006; VIEIRA; DIAS, 1994).

Dentre estes, destaca-se a entrevistamediada pelo telefone como técnica decoleta de dados que combina baixo custo efacilidade na aplicação das questões comtaxas altas de respostas. A expansão datelefonia fixa e móvel é expressiva nosúltimos anos, podendo ser alternativa decontato e acompanhamento de estudos,especialmente nas áreas urbanas. Noentanto, apesar de tratar-se de uma técnicaem que os resultados são obtidos comrapidez, a entrevista por telefone requerpreparo prévio dos investigadores, tanto paraa construção das questões como para omomento da entrevista (CASSIANI;ZANETTI; PELÁ, 1992).

Diante disso, o presente estudoobjetivou relatar a experiência da entrevistatelefônica utilizada como coleta de dadospara caracterizar o tipo de alimentação derecém-nascidos de baixo peso (RNPB)egressos de uma Unidade de TerapiaIntensiva Neonatal (UTIN).

METODOLOGIA

Trata-se de um relato de experiênciada utilização da entrevista mediada pelotelefone em uma pesquisa de conclusão decurso de graduação em Enfermagem daUniversidade Federal de Santa Maria. Estafoi realizada no Hospital Universitário deSanta Maria, com RNBP que internaram naUTIN entre 01 de agosto de 2009 à 31 deagosto de 2010. Esse corte temporal foiestabelecido para que os RNBP tivessemidade igual ou superior a um ano de vida noperíodo de coleta dos dados, que foirealizada entre agosto e outubro de 2011.

Para a busca dos recém-nascidos(RN), foi realizado um levantamento inicialem registros da UTIN, obtendo-se umapopulação de 163 RNBP. Após, iniciou-se aanálise dos prontuários dos RNBP, em que,considerando os critérios de exclusão,obteve-se um total de 153 RNBP, no qualforam selecionados para a entrevistatelefônica.

Destes RNBP, 58 (37,90%) osnúmeros telefônicos não estavam disponíveisdurante as tentativas, três responsáveis peloRNBP (1,96%) recusaram-se em participarda pesquisa e 17 RNBP (11,11%) foramexcluídos, pois quem atendeu o telefonemanão conhecia o RN. Ainda, que se tenhasofrido perdas, a população contemplou umtotal de 44,17%, ou seja, 72 RNBP analisadosno estudo.

Para a coleta de dados foi elaboradoum formulário contendo dados referentes àinternação do RN (data de nascimento, datade internação e alta da UTIN, hospital emque nasceu, período de internação, sexo,peso ao nascer, apgar, motivo da internação,tipo de alimentação durante internação e nomomento da alta, além de dados maternos

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como idade gestacional, idade materna nomomento de parto, tipo de parto); dadossociodemográficos da mãe, quando era estaa entrevistada (número de filhos, realizaçãode pré-natal na gestação dessa criança e onúmero de consultas, se a puérpera trabalhouno primeiro ano de vida do seu filho, se tevelicença maternidade, sua escolaridade,estado civil e renda familiar); e o tipo dealimentação do RNBP, desde a altahospitalar até um ano de vida.

Além disso, foi realizada a capacitaçãoprévia dos investigadores para coleta dedados, bem como encontros semanais paraesclarecimento de dúvidas e troca deinformações e experiências a respeito doandamento da coleta de dados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Percebe-se que o uso da técnica delevantamento de dados por telefone tem sidoum dos métodos mais utilizados, o que podeocorrer devido à expansão de telefonesdomésticos e de celulares (GRAY, 2012).Em 2008, mais da metade (53,8%) dapopulação de dez anos ou mais, ou seja,cerca de 86 milhões de pessoas, tinhamtelefone celular, o que representava umpercentual de 36,6% em 2005,correspondendo a 56 milhões de pessoas.De 2005 para 2008, enquanto a populaçãode dez anos ou mais de idade cresceu 5,4%,o contingente com celular teve aumento de54,9%. Das pessoas com celular de usopessoal, 44,7% (38,6 milhões) não tinhamtelefone convencional, percentualdecrescente, de acordo com o aumento dorendimento mensal domiciliar per capita(IBGE, 2009).

Diante desta expansão dos telefonescelulares, o contato telefônico tornou-se umadas formas mais comum de comunicação,sendo utilizada para diversas finalidades. Nocampo da pesquisa, esta realidade tambémestá presente por meio da entrevistamediada pelo telefone, porém ao utilizar estemétodo, assim como os outros, algumasvantagens e desvatagens podem surgir,devendo ser levada em consideração no

momento de escolher por esta técnica.Diante disso, no presente estudo, realizadopara identificar o tipo de alimentação deRNBP, optou-se pela entrevista telefônicapara coleta de dados, devido à maiorabrangência que este método disponibiliza,além do fácil acesso aos entrevistadosconforme interesse e disponibilidade dehorário.

Destaca-se que a principal vantagemda entrevista por telefone é a necessidadede o pesquisador obter dados em curtoespaço de tempo, sendo esta, muitas vezes,a razão de sua escolha (CASSIANI;ZANETTI; PELÁ, 1992). Nesse sentido, arapidez e o baixo custo proporcionam, paraeste tipo de coleta de dados, uma grandevantagem de utilização da técnica, poislevantamentos extensos, que tomam porbase listas telefônicas, podem ser realizadosem poucos dias, ou até poucas horas(DORNELLES, 2000).

As entrevistas telefônicas são umaforma relativamente barata de coletar dadosde pesquisa, além de o entrevistador poderconduzi-las em um lugar de sua escolha,evitando assim problemas de segurança,como por exemplo, ter que se deslocar atéum bairro perigoso. Além disso, osentrevistados podem ser menos influenciadospelo entrevistador ao se utilizar o telefonedo que por um entrevistador que a façapessoalmente (PIEPER, 2011).

Para utilização deste método algunsfatores devem ser levados em consideraçãocomo: a persistência do entrevistador nastentativas de contato telefônico,prevalecendo à disponibilidade de horário doentrevistado; a formulação do questionáriodeve apresentar perguntas de fácilcompreensão e não muito extensas; a buscade estratégias que minimizem asdesvantagens do processo, fazendo com queo tipo de técnica não interfira negativamentena coleta de dados.

Dessa forma, no presente estudo, ocontato inicial com os familiares do RNBPfoi realizado para apresentar o convite departicipação na pesquisa, bem como, aleitura do termo de consentimento livre e

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esclarecido, enfatizando os objetivos dapesquisa, detalhes da participação, preceitoséticos e os direitos dos sujeitos envolvidosna entrevista. Além disso, se os participantesdesejassem era agendado um novo horáriopara realização da entrevista. Neste aspecto,percebeu-se uma adesão para aparticipação na pesquisa quando a mesmafoi realizada em horários flexíveis para osparticipantes.

No contato telefônico é necessário queos entrevistadores se identifiquem eapresentem as instituições afiliadas aoestudo, além do consentimento verbal quedeve ser obtido antes de iniciar a pesquisa.Ainda, a entrevista pelo telefone podeproporcionar um valioso ponto de contatocom as pessoas e permite que o entrevistadorencaminhe para o atendimento maisadequado, quando indicado (PIEPER, 2011).

Neste sentido, os entrevistadoresdevem receber capacitação para realizar aentrevista telefônica, buscando minimizarsituações que possam surgir e que venhamprejudicar o bom andamento da coleta dedados. Ainda, os mesmos devem apresentarempatia, transmitir as informações dapesquisa e seus objetivos adequadamente,clareza na realização das perguntas,capacidade de escuta, atentar para possíveisalterações na entonação da voz, direcionaras dúvidas dos entrevistados para o final dacoleta de dados, sem perder a confiança domesmo e esclarecendo todas asinquietações. Nesta perspectiva, realizaram-se encontros semanais para discussões doandamento da entrevista telefônica,buscando uma padronização dasinformações e troca de experiência dautilização desta técnica de coleta de dados.

Sabe-se que a entrevista mediada pelotelefone depende inteiramente dacomunicação verbal do que da visual, porisso, palavras mal pronunciadas e dificuldadena audição ou dicção podem resultar emprejuízos, uma vez que as pessoasrespondem ao que ouviram. Ressalta-seque, às vezes, as pessoas são chamadas aotelefone no meio de suas atividades e podemcontinuar a exercê-las, como por exemplo,

assistindo televisão ou preparando refeições,o que resulta em uma atenção parcial àentrevista (CASSIANI; ZANETTI; PELÁ,1992).

Outro fator importante que deve serlevado em consideração na entrevistatelefônica é a formulação das perguntas doquestionário que será utilizado para coletade dados. Neste estudo, optou-se porperguntas de fácil compreensão e comrespostas objetivas, facilitando oentrevistador no preenchimento doquestionário. Dessa forma, as entrevistasforam conduzidas de forma dialogada e,quando a pergunta não era respondida pelorelato inicial, eram refeitas as perguntas debase para direcionar o foco do estudo.

Ressalta-se que essa estratégiapossibilitou maior disponibilidade deinformações e liberdade dos entrevistados,devido ao espaço aberto para relatar arespeito do tipo alimentação dos RNBP apósalta hospitalar. Dessa forma, percebe-se quea estrutura do questionário é muitoimportante, tanto para o entrevistadorquando para o entrevistado.

Este aspecto relevante deve serconsiderado no momento do planejamentodo estudo, uma vez que o questionário nãodeve ser extenso, sendo elaborado com umpequeno número de perguntas, pois muitaspessoas se incomodam quandointerrompidas em suas atividades, com umagrande quantidade de questões(DORNELLES, 2000). Assim, torna-senecessário considerar que as perguntassejam curtas e simples, com opções deresposta pouco numerosas e curtas, no limitede 20 palavras ou menos, e linguagem maissimples possível (GRAY, 2012).

Em relação às desvantagens destatécnica de coleta de dados, considera-se quea entrevista telefônica pode causar perdassignificativas de sujeitos, muitas vezes,ocasionadas pelo número telefônico ter sidotrocado de operadora ou pelaindisponibilidade do contato telefônico dofamiliar do RNBP. No presente estudo, amaioria dos sujeitos possuíam aparelhocelular e os que não possuíam,

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apresentavam contato telefônico de umvizinho ou conhecido anexado ao prontuáriomédico. Com relação a este último aspecto,pode-se considerar uma limitação, poisdurante contato telefônico com o vizinho, omesmo relatava não conhecer o RNBP oufamiliar do mesmo.

Outras limitações também sãorelatadas como a dificuldade em detectarrespostas incorretas, a limitação na coletade informações detalhadas, a dificuldade emobter os telefones das pessoas e por atingirsomente os indivíduos que possuem esterecurso (CASSIANI; ZANETTI; PELÁ,1992). Além disso, o ruído ao fundo daligação (por exemplo, televisores altos ououtras conversas) podem interferir nesseprocesso, o que dificulta para o entrevistadorouvir as respostas. Em tais casos, oentrevistador deve perguntar se a pessoaque está sendo entrevistada não poderia irpara um local mais silencioso enquantoestiver respondendo as questões (PIEPER,2011).

No entanto, mesmo diante dasdificuldades apresentadas, o uso do telefonepara coletar dados pode se tornar umaexperiência rica e interessante. Assim, aentrevista por telefone pode ser um meioútil de gerar dados, possibilitando respostasrápidas às questões (CASSIANI;ZANETTI; PELÁ, 1992).

Além disso, diversos pesquisadorestêm conseguido eficácia em seus estudospor meio deste tipo de coleta de dados(COSTA et al., 2009; BARROS et al.,2009). No que tange a enfermagem,pesquisadores também têm utilizado talrecurso em seus estudos (DENNIS, 2002;DENNIS, 2003), até mesmo fazendo usodo telefone como estratégia de intervenção(BECKER, 2010). Ainda, a utilização dotelefone como estratégia para coleta dedados em pesquisas na áera da saúdematerno-infantil já vem sendo empregadahá algum tempo, principalmente, para aavaliação de intervenções educativas emenfermagem (SHEEHAN, 1999; LIN et al.,2008).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A entrevista telefônica pode serconsiderada uma técnica eficiente de coletade dados, e seu uso deve ser expandido paraas pesquisas em enfermagem. Destacam-se algumas vantagens em sua utilização,como a maior abrangência de sujeitos emum curto espaço de tempo, custo baixo,adesão dos entrevistados conformedisponibilidade de horários flexíveis e de suaescolha, influência reduzida do entrevistador,entre outras. Como limitações, observou-sea necessidade de utilizar questões curtas eem pequeno número e, ainda, a perdasignificativa de sujeitos devido ao fato deocorrer mudanças do número de telefone.

Ressalta-se que a escolha por essemétodo deve ser realizada conforme perfildo estudo, necessitando de capacitação daequipe de coleta de dados e encontrossemanais para esclarecimentos, com vistasa diminuir as possíveis desvantagens que estatécnica apresenta, sem prejudicar osachados. Com isso, é necessária a ampliaçãoe divulgação de novas técnicas de coletasde dados, proporcionando visibilidade parao campo da pesquisa em enfermagem e, aomesmo tempo, a busca por dados precisose fidedignos.

RESPONSABILIDADESINDIVIDUAIS

Os autores trabalharam juntos emtodas as etapas de produção do manuscrito.

REFERÊNCIAS

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Entrevista telefônica como técnica de coleta de dados

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Cadernos deCiência e Saúde Instruções aos autores

Revista Cadernos de Ciência e Saúde

APRESENTAÇÃO E POLÍTICAEDITORIAL

A revista Cadernos de Ciência e

Saúde é uma publicação multidisciplinar naárea da saúde de periodicidade trimestral.

Publica artigos originais e inéditos,resenhas críticas e notas de pesquisa (textosinéditos); edita debates e entrevistas; eveicula resumos de dissertações e teses enotas sobre eventos e assuntos de interesse,inclusive revisão crítica sobre temaespecífico, que contribuam para oconhecimento e desenvolvimento dasCiências da Saúde.

Os editores reservam-se o direito deefetuar alterações e/ou cortes nos originaisrecebidos para adequá-los às normas darevista, mantendo estilo e conteúdo.

MISSÃO DA REVISTA

Divulgar resultados de pesquisas naárea das ciências da saúde que contribuampara a prática profissional e para o avançodo conhecimento científico.

PROCESSO DE JULGAMENTO DOSARTIGOS

A revista adota o sistema de avaliaçãopor pares (Double blind peer review), deforma sigilosa, com omissão dos nomes derevisores e autores. Os pareceres/avaliaçõesemitidos pelos revisores são apreciados peloseditores em relação ao conteúdo epertinência. Os artigos podem ser aceitos,reformulados ou recusados.

Os artigos submetidos, que atendem às“instruções aos autores” e que se enquadremcom a sua política editorial, são encaminhadosao Editor para primeira avaliação queconsiderará o mérito científico dacontribuição. Após a aprovação nesta primeiraetapa, os artigos serão encaminhados aos

consultores Ad hoc previamenteselecionados pelo Editor. Todos os artigos sãoenviados a dois consultores de reconhecidaexperiência na temática abordada. Osconsultores têm o prazo de, no máximo, 28dias para entrega dos pareceres, quando foraceita a realização da avaliação pelosavaliadores. Caso contrário, será enviadopara outros consultores. Em persistindo a nãoaceitação, dois membros do ConselhoEditorial avaliarão o artigo. Em caso dedesacordo entre os avaliadores, o artigo seráencaminhado para uma segunda avaliação.No caso da identificação de conflito deinteresse por parte dos consultores, seráencaminhado para outro consultor.Posteriormente serão encaminhados ospareceres de aceitação de publicação,necessidade de reformulação ou de recusajustificada aos autores.

Os pareceres dos avaliadores serãodisponibilizados para a correspondênciaeletrônica do autor responsável pelasubmissão que terá o prazo de 10 (dez) diaspara atender as solicitações. É garantido oanonimato durante todo o processo dejulgamento. A decisão sobre aceitação étomada pelo Conselho Editorial.

Os artigos aceitos sob condição serãodevolvidos aos autores para modificações/alterações necessárias e normalizações deacordo com o estilo da revista.

Caso o número de trabalhos aprovadosultrapasse o número máximo de artigos parauma edição, os artigos excedentes serãopublicados na edição posterior.

REGISTRO DE ENSAIOS CLÍNICOS

Os Cadernos de Ciência e Saúdeapoiam as políticas para registro de ensaiosclínicos da Organização Mundial da Saúde– OMS - e do International Committee ofMedical Journal Editors – ICMJE. Ressalta-se a importância dessas iniciativas para oregistro e divulgação internacional deinformação sobre estudos clínicos, em

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Cadernos deCiência e Saúde

acesso aberto. Nessa perspectiva somenteserão aceitos para publicação os artigosreferentes a pesquisas clínicas queapresentem o protocolo de identificação emum dos registros de Ensaios Clínicos,validados pelos critérios estabelecidos pelaOMS e ICMJE, cujos endereços estãodisponíveis na url: http://www.icmje.org. Onúmero de identificação deverá ser inseridono final do resumo do artigo.

FORMA E PREPARAÇÃO DOSARTIGOS

CATEGORIAS DE ARTIGOS

1. Os Cadernos de Ciência eSaúde aceitam trabalhos para as seguintesseções:

1.1 Revisão - revisão crítica daliteratura sobre temas pertinentes à saúdepública (até 20laudas e 5 ilustrações);

1.2 Ar tigos de pesquisa- resultadode pesquisa de natureza empírica,experimental ou conceitual (até 18 páginase 5 ilustrações);

1.3 Notas - nota prévia, relatandoresultados parciais ou preliminares depesquisa (até 5 páginas e 3 ilustrações);

1.4 Resenhas - resenha crítica delivro relacionada à temática Ciências daSaúde, publicado nos últimos dois anos(máximo de 3 páginas);

1.5 Cartas - crítica a artigo publicadoem fascículo anterior dos Cadernos deCiência e Saúde (até 3 páginas e 1ilustração);

1.6 Relato de Experiência (até 15páginas e 3 ilustrações);

1.7 Reflexão teórica (até 18 páginase 3 ilustrações);

1.8 Atualização (até 20 páginas);

2. Os Cadernos de Ciência e Saúdeaceitam colaborações em português.

3. Os Cadernos de Ciência e Saúdeaceitam somente artigos inéditos e originais,e que não estejam em avaliação em nenhum

outro periódico simultaneamente. Os autoresdevem declarar essas condições no processode submissão. Caso seja identificada apublicação ou submissão simultânea emoutro periódico o artigo será desconsiderado.A submissão simultânea de um artigocientífico a mais de um periódico constituigrave falta de ética do autor.

4. O artigo que envolva pesquisa ourelato de experiência com seres humanosdeverá apresentar em anexo uma cópia dodocumento de aprovação por um comitê deética de pesquisa (de acordo com aResolução n.º 466 / 2012, do ConselhoNacional de Saúde).

5. Os originais devem ser digitados emWord respeitando o número máximo delaudas definido por seção da revista.

6. Da folha de rosto devem constartítulo em português que deve sercentralizado, em caixa alta, Times NewRoman, tamanho 12, espaçamento 1,5.

Abaixo do título: Nomes dos autores(centralizado; não deve estar em caixa alta;inicia-se pelo primeiro nome, seguido donome do meio e por último o sobrenome)com as informações, em nota de rodapé,referentes a cada autor na seguinte ordem:Titulação, vínculo institucional -Departamento, Unidade, Universidade(apenas um, por extenso), Cidade, Estado(abreviação), País e e-mail.

Observação: não havendo vínculoinstitucional, informar a titulação, a atividadeprofissional, a cidade, o estado e o país.

A indicação dos nomes dos autoreslogo abaixo do título é limitada a sete. Acimadeste número serão listados nosAgradecimentos.

7. Ainda na folha de rosto o (s) autor(es) deve (m) explicitar se o trabalho foifinanciado, se é resultado de monografia,dissertação de mestrado ou tese de

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Cadernos deCiência e Saúde

doutorado (nesse caso o orientador deveráser incluído como autor), em notas de rodapécuja numeração será no título.

8. Resumos e descritores – devemser apresentados, na folha de rosto, doisresumos, sendo um em português e outroem inglês (abstract), incluindo descritores ekeywords.

Artigos de pesquisa – para os depesquisa, o resumo deve conter entre 160 até250 (duzentas e cinquenta) palavras,estabelecendo a introdução, os objetivosdo estudo ou investigação, os métodosempregados, os principais resultados e asprincipais conclusões. Os resumos devemestar com letra tamanho 11, e espaçamentosimples. Abaixo do resumo, em português,deve ser fornecido de 3 (três) a 6 (seis)palavras-chave extraídas do vocabulário“Descritores em Ciências da Saúde”(LILACS - disponível nas bibliotecas médicasou na Internet http://www.decs.bvs.br).

As palavras-chaves devem iniciar coma primeira letra em maiúscula e devem serseparadas por ponto e vírgula (;). Observarna quebra de linha que alguns descritoresusam barra (/) e esta deve estar agregadaao descritor;

Alguns descritores são compostos pordois ou mais termos, separados por vírgulae isso tem que ser respeitado.

Após o resumo em português vem otítulo do trabalho em inglês (centralizado, emcaixa alta, Times New Roman, tamanho 12,espaçamento 1,5) seguido do abstract(Times New Roman, tamanho 11, eespaçamento simples). As keywords devemseguir o Medical Subject Headings (Mesh– disponível em http://www.nlm.nih.gov/mesh/meshhome.html) quandoacompanharem os resumos em inglês.

As expressões “PALA VRAS-CHAVE:” e “KEYWORDS:” devem estarem maiúsculo e em negrito.

Demais categorias – para as demaiscategorias, o formato do resumo deve ser

narrativo, entre 200 até 250 (duzentas ecinquenta) palavras, destacando o objetivo,os métodos usados para levantamento dasfontes de dados, os critérios de seleção dostrabalhos incluídos, os aspectos maisimportantes discutidos e as conclusões maisimportantes e suas aplicações. (Somente nãonecessitam de resumo, as Cartas e asResenhas).

9. O texto deve ser redigido em TimesNew Roman, tamanho 12 com espaço entrelinhas 1,5, digitado com paragrafação de2cm, formato A4, (21cm x 29,7cm). Asfolhas devem apresentar margem esquerdae superior de 3 (três) centímetros e direita einferior de 2 (dois) centímetros.

10. Em texto com dois autores ou maisdevem ser especificadas, antes dasreferências, as responsabilidades individuais(com a seção: RESPONSABILIDADESINDIVIDUAIS , em caixa alta e negrito)de todos os autores na preparação domesmo, de acordo com um dos modelos aseguir:

Modelo 1: “Os autores trabalharamjuntos em todas as etapas de produção doartigo.”

Modelo 2: “Autor X responsabilizou-se por…; Autor Y responsabilizou-se por…;

Autor Z responsabilizou-se por…,etc.”

11. Tabelas e gráficos podem serproduzidos em Word ou Excel. Todas asilustrações devem estar dentro do texto comrespectivas legendas e numeração emalgarismos arábicos.

12. As citações diretas curtas (de atétrês linhas) são insertas no texto entre aspas.As citações diretas longas (mais de trêslinhas) devem constituir um parágrafoindependente, recuado (4cm da margemesquerda) em fonte tamanho 11 (onze) eespaçamento 1 (um) entre linhas, dispensandoaspas. Ressalta-se que deve-se evitarcitações diretas no artigo.

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Cadernos deCiência e Saúde

13. As citações obedecem àrecomendação das normas da AssociaçãoBrasileira de Normas Técnicas (ABNT), emespecial a NBR 10.520 ou a que a substituir.

No corpo do texto as citações commais de três autores devem ser elaboradasutilizando-se o primeiro autor seguido daexpressão “et al.” que deve estar em itálico.Exemplo: (SANTOS et al., 2011) ou Santoset al. (2011).

Quando o artigo for de pesquisaqualitativa e conter falas dos sujeitos depesquisa deve-se obedecer à seguintenorma: as falas devem estar dispostas notexto sem recuo de 4cm da margem e emitálico. Não deve-se usar aspas.

14. As referências devem seguir aNBR 6023, da ABNT. No corpo do texto,citar apenas o sobrenome do autor e o anode publicação, seguidos da página no casode citações diretas.

Todas as referências citadas no textodeverão constar nas referências, ao final doartigo, em ordem alfabética, alinhadas àesquerda, conforme exemplos abaixo. Osautores são

responsáveis pela exatidão dasreferências, assim como por sua corretacitação no texto.

Os nomes dos autores devem estar emformato abreviado em todas as referências.As referências de artigos de periódicosdevem conter o nome do periódico escritopor extenso. Abreviaturas não devem serutilizadas nos nomes dos periódicos. A cidadedo periódico deve ser omitida na elaboraçãoda referência. Deve-se incluir sem cortes apágina inicial e a final do artigo.

Para destaque de nomes dosperiódicos, títulos de livros e outrosdestaques necessários nas referências devese usar a fonte em negrito.

Os autores devem utilizarpreferencialmente referências atuais dos

últimos 5 anos. As referências antigas podemser utilizadas se forem imprescindíveis paraa escrita do trabalho e deve se limitar amenos que 30% do total de referências doartigo.

15. Agradecimentos – devem serbreves e objetivos, somente a pessoas ouinstituições que contribuíramsignificativamente para o estudo, mas quenão tenham preenchido os critérios deautoria, desde que haja permissão expressados nomeados. Podem constaragradecimentos a instituições pelo apoioeconômico, material e outros.

16. Declaração de Conflito deinter esses, Transferência de direitosautorais,

Responsabilidade - Os autoresdevem informar, em declaração, qualquerpotencial conflito de interesse, atransferência de direitos autorais e aresponsabilidade dos autores em uma únicadeclaração (seguir modelo abaixo).

DECLARAÇÃO

Declaro/Declaramos, para os devidosfins que não qualquer potencial de conflitode interesses.

Certifico/Certificamos que participei/participamos suficientemente do trabalho“TÍTULO DO ARTIGO” para tornarpública a minha/nossa responsabilidade peloconteúdo.

Certifico/Certificamos que o artigorepresenta um trabalho original e que nemeste manuscrito, em parte ou na íntegra, nemoutro trabalho com conteúdosubstancialmente similar, de minha/nossaautoria, foi publicado ou está sendoconsiderado para publicação em outroperiódico, quer seja no formato impresso ouno eletrônico. Declaramos que em caso deaceitação do artigo, concordo/concordamosque os direitos autorais a ele referentes setornarão propriedade exclusiva da revistaCadernos de Ciência e Saúde, vedadaqualquer reprodução, total ou parcial, em

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Cadernos deCiência e Saúde

qualquer outra parte ou meio de divulgação,impressa ou eletrônica, sem que a prévia enecessária autorização seja solicitada e, seobtida, farei constar o competenteagradecimento à revista Cadernos deCiência e Saúde.

Cidade, e data.

Nome e assinatura de cada um dosautores.

17. Submissões - As submissõesdevem ser realizadas via e-mail comoarquivo anexo para o seguinte endereço:[email protected]

PADRÕES PARA REFERÊNCIAS:

Artigos de periódicos:

MARTINS, A. Novos paradigmas e saúde.Physis, v.9, n.1, p.83-112, 1999.

SILVA, A. A. M. et al. Cobertura vacinal efatores de risco associados à nãovacinação em localidade Urbana donordeste brasileiro. Revista de SaúdePública, v. 33, n. 2, p. 147-156, 1999.

Artigos de periódicos em meioeletrônico:

XAVIER-GOMES, L. M.; ANDRADE-BARBOSA, T. L.; CALDEIRA, A. P.Mortalidade por causas externas em idososem Minas Gerais, Brasil. Escola AnaNery Revista de Enfermagem, v.14, n.4,p.779-786, 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1414-81452010000400018&script=sci_arttext>.Acesso em: 10 dez. 2012.

PEREIRA, B.F.B. et al. Motivos quelevaram as gestantes a não se vacinaremcontra H1N1. Ciência & Saúde Coletiva,v.18, n.6, p.1745-1752, 2013. Disponível em:<http://www.scielosp.org/scielo.php?pid=S1413-81232013001400025&script=sci_arttext>.Acesso em: 12 jan. 2013.

XAVIER-GOMES, L.M. et al. Knowledgeof family health program practitioners inBrazil about sickle cell disease: adescriptive, cross-sectional study. BMCFamily Practice, v.12, p.89-95, 2011.Disponível em: <http://www.biomedcentral.com/content/pdf/1471-2296-12-89.pdf>. Acesso em: 20 Jan. 2013.

Livros:

SHULTZ, J. Ciência e saúde. Rio deJaneiro: Zahar, 2006. 308p.

Capítulos de livros:

PEREIRA, N. T. A mortalidade perinatalno Brasil. In: GUSMÃO, B. (Org.).Epidemiologia e a saúde coletiva noBrasil: dos anos 80 aos dias atuais. Rio deJaneiro: Scipcione, 2001. p. 140-173.

Trabalhos apresentados em congressos,seminários etc.

CONGRESSO BRASILEIRO DEEPIDEMIOLOGIA, 1., 1990, São Paulo.Anais... São Paulo: UNICAMP, 1990.431p.

GOMES, L. P. Epidemiologia dos acidentesofídicos no Brasil. In: CONGRESSOBRASILEIRO DE EPIDEMIOLOGIA,2., 1994, Belo Horizonte. Anais... BeloHorizonte: ABRASCO, 1994. p. 80-89.

Dissertações e teses:

GOMES, L. M. X. Avaliação da qualidadeda assistência prestada à criança comdoença falciforme na Atenção Primáriano Norte de Minas Gerais. 2010. 114 p.Dissertação (Mestrado em Ciências daSaúde) – Universidade Estadual de MontesClaros - Unimontes, Montes Claros, 2010.

CAMARGO JUNIOR, K. R. Aconstrução da Aids. Racionalidademédica e estruturação das doenças. 1993.

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Cadernos deCiência e Saúde

229 p. Tese (Doutorado em SaúdeColetiva) – Instituto de Medicina Social,Universidade do Estado do Rio de Janeiro,Rio de Janeiro, 1993.

Jornais:

SÁ, F. Praias resistem ao esgoto: correntesdispersam sujeiras, mas campanha deinformação a turistas começa domingo.Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 15. abr.1999. Primeiro caderno, Cidade, p.25.

Referência legislativa:

BRASIL. Lei nº. 8.926, de 9 de agosto de1994.Torna obrigatória a inclusão, nasbulas de medicamentos, de advertência erecomendações sobre o uso por pessoasde mais de 65 anos.

Diário Oficial [da] RepúblicaFederativa do Brasil, Brasília, DF, v.132, n. 152, p. 12037, ago. 1994. Seção 1,pt.1.

SÃO PAULO (Estado). Decreto nº.42.822, de 20 de janeiro de 1998. Dispõesobre a desativação de unidadesadministrativas de órgãos da

administração direta e das autarquias doEstado e dá providências correlatas. Lex-Coletânea de Legislação eJurisprudência, São Paulo, v. 62, n. 3, p.217-20, 1998.

Documentos eletrônicos:

REVENGE, S. J. The internetdictionary. Avon: Future, 1996. 98p.

Referência obtida via base de dadosBiblio: CELEPAR, 1996. Disponível em:<http://www.celepar.br/celepar/celepar/biblio.biblio.html>. Acesso em: 20 jan.2000.

ALEIJADINHO. In: ALMANAQUEabril: sua fonte de pesquisa. São Paulo:Abril, 1996. 1 CD-ROM.

MOURA, G. A. C. Citações ereferências a documentos eletrônicos.Disponível em: < http://www.elogica.com.br/users/gmoura/refet>.Acesso em: 9 de dez. 1996.

COSTA, M. Publicação eletrônica[mensagem pessoal]. Mensagem obtidapor <[email protected]> em 10 ago. 2001.

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