CadernoPOEMAS Final

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Poetas da escola O poeta se aproxima da criança, que vê o mundo com olhos virgens e que, por quase nada saber, está aberta ao mistério das coisas. Para a criança — como para o poeta — viver é uma incessante descoberta da vida. Ferreira Gullar

Transcript of CadernoPOEMAS Final

  • Poetas da escola

    O poeta se aproxima da criana,

    que v o mundo com olhos virgens e que,

    por quase nada saber, est aberta ao mistrio

    das coisas. Para a criana como para o

    poeta viver uma incessante descoberta da vida.

    Ferreira Gullar

  • Iniciativa

    Copyright 2010 by Cenpec e Fundao Ita Social

    Coordenao tcnica

    Centro de Estudos e Pesquisas em Educao, Cultura e Ao Comunitria Cenpec

    Crditos da publicao

    CoordenaoSonia Madi

    Equipe de produoAnna Helena AltenfelderMaria Alice Armelin

    Consultoria especializada Frederico BarbosaNorma Seltzer GoldsteinTatiana Fraga

    Leitura crtica Zoraide Faustinoni Silva

    ColaboraoEgon de Oliveira Rangel

    OrganizaoBeatriz Pedro Cortese

    Projeto grfico e capaCriss de Paulo e Walter Mazzuchelli

    IlustraesCriss de Paulo

    Editorao e revisoagwm editora e produes editoriais

    Contato

    CenpecRua Minas Gerais, 22801244-010 So Paulo SPTelefone: 0800-7719310e-mail: [email protected]

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)(Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    Poetas da escola : caderno do professor : orientao para produo de textos / [equipe de produo Anna Helena Altenfelder, Maria Alice Armelin]. So Paulo : Cenpec. (Coleo da Olmpiada)

    Vrios colaboradores Bibliografia.

    ISBN 978-85-85786-88-5

    1. Olimpada de Lngua Portuguesa 2. Poemas 3. Poesias escolares brasileiras 4. Textos 5. Versos escolares I. Altenfelder, Anna Helena. II. Armelin, Maria Alice. III. Srie.

    09-13445 CDD-371.0079

    ndices para catlogo sistemtico:

    1. Olimpada de Lngua Portuguesa : Escolas : Educao 371.0079

    Ministrio daEducao

  • Caro Professor, Bem-vindo Olimpada de Lngua Portuguesa Escrevendo o Futuro, iniciativa

    do Ministrio da Educao (MEC) e da Fundao Ita Social (FIS), com a coorde-nao tcnica do Centro de Estudos e Pesquisas em Educao, Cultura e Ao Comunitria (Cenpec). A unio de esforos do poder pblico, da iniciativa privada e da sociedade civil visa um objetivo comum: proporcionar ensino de qualidade para todos.

    O MEC encontrou no Programa Escrevendo o Futuro a metodologia adequada para realizar a Olimpada uma das aes do Plano de Desenvolvimento da Edu-cao, idealizado para fortalecer a educao no pas.

    A Olimpada um programa de carter bienal e contnuo. Constitui uma estra-tgia de mobilizao que proporciona, aos professores da rede pblica, opor-tunidades de formao. Em anos mpares, atende diversos agentes educacionais: tcnicos de secretarias de educao que atuam como formadores, diretores, pro-fessores. Em anos pares, promove um concurso de produo de texto para alunos do 5- ano do Ensino Fundamental ao 3- ano do Ensino Mdio.

    Este Caderno do Professor traz uma sequncia didtica desenvolvida para esti-mular a vivncia de uma metodologia de ensino de lngua que trabalha com gneros textuais. As atividades aqui sugeridas propiciam o desenvolvimento de habilidades de leitura e de escrita previstas nos currculos escolares e devem fazer parte do seu dia a dia como professor. Ao realiz-las, voc estar trabalhando com contedos de lngua portuguesa que precisam ser ensinados durante o ano letivo.

    O tema do concurso O lugar onde vivo e escrever sobre isso requer leituras, pesquisas e estudos, que incitam um novo olhar acerca da realidade e abrem perspectivas de transformao. Para que os alunos dos vrios cantos do Brasil pro- duzam textos de qualidade fundamental a participao e o envolvimento dos professores, contando com o apoio da direo da escola, dos pais e da comunidade.

    Nesta Olimpada, os alunos concorrero em quatro categorias, cada uma delas envolve dois anos escolares:

    Poema 5- e 6- anos do Ensino Fundamental. Memrias literrias 7- e 8- anos do Ensino Fundamental. Crnica 9- ano do Ensino Fundamental e 1- ano do Ensino Mdio. Artigo de opinio 2- e 3- anos do Ensino Mdio.

    A Olimpada no est em busca de talentos, mas tem o firme propsito de contribuir para a melhoria da escrita de todos. O importante que os seus alunos cheguem ao final da sequncia didtica tendo aprendido a se comunicar com com-petncia no gnero estudado. Isso contribuir para que se tornem cidados mais bem preparados. E voc, professor, quem pode proporcionar essa conquista.

    Desejamos a voc e seus alunos um timo trabalho!

  • As escolas pblicas brasileiras que atendem um ou mais anos escolares entre o 5- ano do Ensino Fundamental e o 3- ano do Ensino Mdio recebero uma coleo da Olimpada de Lngua Portuguesa Escrevendo o Futuro com quatro pastas. Em cada uma delas h material que visa colaborar com o professor no ensino da leitura e da escrita em um gnero textual: 1 Caderno do Professor, 10 exemplares idnticos da Coletnea de textos e 1 CD-ROM.

    Caderno do Professor Orientao para produo de textosAqui voc encontra uma sequncia didtica, organizada em oficinas, para o ensino da escrita de um gnero textual. As atividades propostas esto voltadas para o desenvolvimento da competncia comunicativa, envolvendo leitura e anlise de textos j publicados, linguagem oral, conceitos gramaticais, pesquisas, produo, aprimoramento de texto dos alunos etc. Consiste em material de apoio para planejamento e realizao das aulas.

    Coleo da Olimpada

    Poema 5- e 6- anos do Ensino Fundamental.

    Crnica9- ano do Ensino Fundamental e 1- ano do Ensino Mdio.

    Memrias literrias 7- e 8- anos do En-sino Fundamental.

    Artigo de opinio 2- e 3- anos do Ensino Mdio.

    Coletnea de textosPara que os alunos possam ter contato com os textos trabalhados nas oficinas, a Coletnea de textos os traz sem comentrios ou anlises. Uma publicao complementar ao Caderno do Professor, que por ser de uso coletivo ter maior durabilidade se manuseada com cuidado, evitando anotaes.

  • CD-ROM Esta mdia traz os mesmos textos da Coletnea e outros complementares, em duas

    modalidades:

    Professor, inscreva-se!Sua escola recebeu esta Coleo que poder ser permanentemente utilizada, no apenas na preparao para a Olimpada. Para seus alunos participarem do concurso imprescindvel que voc faa sua inscrio. Ao se inscrever, passar a integrar a rede Escrevendo o Futuro e a receber gratuitamente a revista Na Ponta do Lpis uma publicao peridica com artigos, entrevistas, anlise de textos e relatos de prtica docente.

    Outra oportunidade de formao a distncia oferecida pela Olimpada a Comunidade Virtual Escrevendo o Futuro, voltada para o ensino de lngua um espao para que integrantes de todo o Brasil possam trocar informaes e experincias e participar de cursos on-line.

    Faa sua inscrio na Olimpada de Lngua Portuguesa Escrevendo o Futuro pelo site .

    Sonora: nas primeiras faixas, h alguns textos lidos em voz alta e sonorizados. Para ouvi-los necessrio um aparelho de som ou um computador compatvel. Ouvir a leitura desses textos uma forma de aproximar os alunos de obras literrias ou artigos publicados.

    Grfica: os textos podero ser projetados, com o auxlio de um aparelho do tipo datashow. Inclui um aplicativo especial que permite o uso de grifos coloridos para destacar palavras ou trechos, com a finalidade de chamar a ateno dos alunos.

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    Introduo ao gnero

    Apresentao8

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    Coleta de poemas com a comunidade

    Versos, estrofes, ritmos, rimas, repeties

    A primeira produo

    Poemas consagrados ditos pelos alunos

    Diferentes combinaes de rimas

    Conceito de denotao e de conotao

    Figuras de linguagem

    Som e sentido, expressividade das repeties

    ...................................................

    ...................................................

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    ...................................................

    Primeiro ensaio

    Dizer poemas

    Toda rima combina?

    Sentido prprio e figurado

    Comparao, metfora, personificao

    Sonoridade na poesia

    Sumrio

    Memria de versos e mural de poemas

    O que faz um poema...................................................

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    O lugar onde vivo

    Um novo olhar

    Nosso poema

    Virando poeta

    Retoque final

    Exposio ao pblico

    Rima e ritmo em poema popular

    Poemas de diferentes autores sobre a terra natal

    Um olhar original sobre o lugar onde os alunos vivem

    Produo de poema coletivo

    Produo individual

    Aprimoramento do poema

    Organizao do sarau

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    140Critrios de avaliao para o gnero poema

    Referncias

    Poetas do povo

  • poetas da escola8

    Apresentao

    Ler e escrever: um desafio para todosNeste Caderno falamos diretamente com voc, que est na sala de aula

    com a mo na massa. Contudo, para preparar este material conversamos

    com pessoas que pesquisam, discutem ou discutiram a escrita e seu ensino.

    Entre alguns pesquisadores e tericos de diferentes campos do conheci-

    mento que tm se dedicado a elaborar propostas didticas para o ensino de

    lngua destacamos o Prof. Dr. Joaquim Dolz, do qual apresentamos, a seguir,

    uma pequena biodata e um texto, de sua autoria, uma espcie de prefcio,

    em que esse ilustre professor tece comentrios sobre o projeto Olimpada

    de Lngua Portuguesa Escrevendo o Futuro.

    Juntamente com Jean-Paul Bronckart, Bernard Schneuwly e

    outros pesquisadores, Joaquim Dolz pertence a uma escola

    de pensamento genebrina que tem influenciado muitas pes-

    quisas, propostas de interveno e de polticas pblicas de

    educao em vrios pases. No Brasil, a ao do trabalho

    desses pesquisadores se faz sentir at mesmo nos Parmetros

    Curriculares Nacionais (PCN).

    Dolz nasceu em 1957, em Morella, na provncia de Castelln,

    Espanha. Atualmente, professor da unidade de didtica de

    lnguas da Faculdade de Psicologia e das Cincias da Educao

    da Universidade de Genebra (Sua). Em sua trajetria de

    docncia, pesquisa e interveno, tem se dedicado sobretudo

    didtica de lnguas e formao de professores.

    Desde o incio dos anos 1990 colaborador do Departamen-

    to de Instruo Pblica de Genebra, atuando notadamente na

    elaborao de planos de ensino, ferramentas didticas e forma-

    o de professores.

  • poetas da escola9

    Os antigos jogos olmpicos eram uma festa cultural, uma competio em

    que se prestava homenagem aos deuses gregos. Os cidados treinavam du-

    rante anos para poderem dela participar. Quando o baro de Coubertin, na

    segunda metade do sculo XIX, quis restaurar os jogos olmpicos, ele o fez

    com esses mesmos ideais, mas tambm com o de igualdade social e demo-

    cratizao da atividade desportiva.

    Os organizadores da Olimpada de Lngua Portuguesa Escrevendo o Futuro,

    imbudos desses mesmos ideais desportivos, elaboraram um programa

    para o enfrentamento do fracasso escolar decorrente das dificuldades do

    ensino de leitura e de escrita no Brasil. Ao fazer isso, no imaginaram que,

    alguns anos depois, a cidade do Rio de Janeiro seria eleita sede das Olim-

    pa das de 2016. Enquanto se espera que os jogos olmpicos impulsionem a

    prtica dos esportes, a Olimpada de Lngua Portuguesa tambm tem obje-

    tivos ambiciosos.

    Quais so esses objetivos? Primeiro, busca-se uma democratizao

    dos usos da lngua portuguesa, perseguindo reduzir o iletrismo e o fra-

    casso escolar. Segundo, procura-se contribuir para melhorar o ensino da

    leitura e da escrita, fornecendo aos professores material e ferramentas,

    como a sequncia didtica proposta nos Cadernos , que tenho o prazer

    de apresentar. Terceiro, deseja-se contribuir direta e indiretamente para

    a formao docente. Esses so os trs grandes objetivos para melhorar o

    ensino da escrita, em um projeto coletivo, cuja importncia buscaremos

    mostrar a seguir.

    A Olimpada de Lngua Portuguesa Escrevendo o Futuro: uma contribuio para

    o desenvolvimento da aprendizagem da escritaJoaquim Dolz

    Faculdade de Psicologia e das Cincias da Educao, Universidade de Genebra (Sua)

    [Traduo e adaptao de Anna Rachel Machado]

  • 10

    Ler e escrever: prioridades da escola Ler e escrever so duas aprendizagens essenciais de todo o siste-

    ma da instruo pblica. Um cidado que no tenha essas duas ha-

    bilidades est condenado ao fracasso escolar e excluso social.

    Por isso, o desenvolvimento da leitura e da escrita a preocupao

    maior dos professores. Alguns pensam, ingenuamente, que o traba-

    lho escolar limita-se a facilitar o acesso ao cdigo alfabtico; entre-

    tanto, a tarefa do professor muito mais abrangente. Compreender

    e produzir textos so atividades humanas que implicam dimenses

    sociais, culturais e psicolgicas e mobilizam todos os tipos de capa-

    cidade de linguagem.

    Aprender a ler lendo todos os tipos de texto Trata-se de incentivar a leitura de todos os tipos de texto. Do ponto

    de vista social, o domnio da leitura indispensvel para democratizar

    o acesso ao saber e cultura letrada. Do ponto de vista psicolgico,

    a apropriao de estratgias de leitura diversificadas um passo

    enorme para a autonomia do aluno. Essa autonomia importante

    para vrios tipos de desenvolvimento, como o cognitivo, que permite

    estudar e aprender sozinho; o afetivo, pois a leitura est ligada tam-

    bm ao sistema emocional do leitor; finalmente, permite desenvolver

    a capacidade verbal, melhorando o conhecimento da lngua e do

    vocabulrio e possibilitando observar como os textos se adaptam s

    situaes de comunicao, como eles se organizam e quais as formas

    de expresso que os caracterizam.

    Dessa forma, o professor deve preparar o aluno para que, ao ler,

    aprenda a fazer registros pessoais, melhore suas estratgias de com-

    preenso e desenvolva uma relao mais slida com o saber e com a

    cultura. No suficiente que o aluno seja capaz de decifrar palavras,

    identificar informaes presentes no texto ou l-lo em voz alta

    necessrio verificar seu nvel de compreenso e, para tanto, tem de

    aprender a relacionar, hierarquizar e articular essas informaes com

    a situao de comunicao e com o conhecimento que ele possui, a

    ler nas entrelinhas o que o texto pressupe, sem o dizer explicitamente,

    poetas da escola

  • poetas da escola11

    e a organizar todas as informaes para dar-lhes um sentido geral. Ele

    precisa aprender a tomar certo distanciamento dos textos para in-

    terpret-los criticamente e ser capaz de identificar suas caractersti-

    cas e finalidades. Se queremos que descubra as regularidades de um

    gnero textual qualquer (uma carta, um conto etc.), temos de fornecer-

    -lhe ferramentas para que possa analisar os textos pertencentes a esse

    gnero e conscientizar-se de sua situao de produo e das diferentes

    marcas lingustico-discursivas que lhe so prprias.

    Aprender a escrever escrevendoEntretanto, o que se pretende sobretudo incentivar a escrita. Por

    isso, essa Olimpada acertadamente afirma que estamos em uma ba-

    talha e para ganh-la precisamos de armas adequadas, de desenho

    de estratgias, de objetivos claros e de uma boa formao dos atores

    envolvidos. No suficiente aprender o cdigo e a leitura para apren-

    der a escrever. Escrever se aprende pondo-se em prtica a escrita,

    escrevendo-se em todas as situaes possveis: correspondncia es-

    colar, construo de livro de contos, de relatos de aventuras ou de

    intriga, convite para uma festa, troca de receitas, concurso de poesia,

    jogos de correspondncia administrativa, textos jornalsticos (notcias,

    editorial, carta ao diretor de um jornal) etc.

    Do ponto de vista social, a escrita permite o acesso s formas de

    socializao mais complexas da vida cidad. Mesmo que os alunos

    no almejem ou no se tornem, no futuro, jornalistas, polticos, advo-

    gados, professores ou publicitrios, muito importante que saibam

    escrever diferentes gneros textuais, adaptando-se s exigncias de

    cada esfera de trabalho. O indivduo que no sabe escrever ser um

    cidado que vai sempre depender dos outros e ter muitas limitaes

    em sua vida profissional. O ensino da escrita continua sendo um espa-

    o fundamental para trabalharmos os usos e as normas dela, bem

    como sua adaptao s situaes de comunicao. Assim, considera-

    mos que ela uma ferramenta de comunicao e de guia para os

    alunos compreenderem melhor seu funcionamento todas as vezes que

    levam em conta as convenes, os usos formais e as exigncias das

    instituies em relao s atividades de linguagem nelas praticadas.

  • poetas da escola12

    Do ponto de vista psicolgico, a escrita mobiliza o pensamento e a

    memria. Sem contedos nem ideias, o texto ser vazio e sem consis-

    tncia. Preparar-se para escrever pressupe ler, fazer registros pessoais,

    selecionar informaes atividades cognitivas, todas elas. Mas escre-

    ver tambm um auxlio para a reflexo, um suporte externo para

    memorizar e uma forma de regular comportamentos humanos. Assim,

    quando anotamos uma receita, as notas nos ajudam a realizar passo

    a passo o prato desejado, sem nos esquecermos dos ingredientes

    nem das etapas a serem seguidas. Do mesmo modo, quando escreve-

    mos um relato de uma experincia vivida, a escrita nos ajuda a estru-

    turar nossas lembranas.

    Do ponto de vista do desenvolvimento da linguagem, escrever im-

    plica ser capaz de atuar de modo eficaz, levando em considerao a

    situao de produo do texto, isto , quem escreve, qual seu papel

    social (jornalista, professor, pai); para quem escreve, qual o papel so-

    cial de quem vai ler, em que instituio social o texto vai ser produzido

    e vai circular (na escola, em esferas jornalsticas, cientficas, outras );

    qual o efeito que o autor do texto quer produzir sobre seu destina-

    trio (convenc-lo de alguma coisa, faz-lo ter conhecimento de algum

    fato atual ou de algum acontecimento passado, diverti-lo, esclarec-lo

    sobre algum tema considerado difcil); algum outro objetivo que no

    especificamos. Deve-se tambm, para o desenvolvimento da lingua-

    gem, planificar a organizao do texto e utilizar os mecanismos lingus-

    ticos que asseguram a arquitetura textual: a conexo e a segmentao

    entre suas partes, a coeso das unidades lingusticas que contribuem

    para que haja uma unidade coerente em funo da situao de comu-

    nicao. Esses aspectos de textualizao dependem, em grande parte,

    do gnero de texto. As operaes que realizamos quando escrevemos

    uma receita ou uma carta comercial ou um conto no so as mesmas.

    Mas, independentemente do texto que escrevemos, o domnio da escrita

    tambm implica: escolher um vocabulrio adequado, respeitar as es-

    truturas sintticas e morfolgicas da lngua e fazer a correo ortogr-

    fica. Alm disso, se tomarmos a produo escrita como um processo

    e no s como o produto final, temos de levar em considerao as

    atividades de reviso, de releitura e de reescrita, que so necessrias

    para chegarmos ao resultado final desejado.

  • poetas da escola13

    Escrever: um desafio para todosEssa Olimpada lanou um desafio para todos os alunos brasilei-

    ros: melhorar as prticas de escrita. Incentivar a participar de um con-

    curso de escrita uma forma de motiv-los coletivamente. Para que

    todos possam faz-lo em igualdade de condies, os materiais dispo-

    nibilizados pela Olimpada propem uma srie de situaes de comu-

    nicao e de temas de redao que antecipam e esclarecem o objetivo

    a ser alcanado. O papel do professor indispensvel nesse projeto.

    A apresentao da situao de comunicao, a formulao clara das

    instrues para a produo e a explicitao das tarefas escolares que

    tero de ser realizadas, antes de se redigir o texto para a Olimpada,

    so condies essenciais para seu xito. Entretanto, mais impor-

    tante ainda o trabalho de preparao para a produo durante a

    sequncia didtica. Por meio da realizao de uma srie de oficinas e

    de atividades escolares, pretende-se que todos os alunos, ao parti ci par

    delas, aperfeioem o seu aprendizado, colocando em prtica o que

    aprendero e mostrando suas melhores habilidades como autores.

    S o fato de participar desse projeto j importante para se tomar

    conscincia do desafio que a escrita. Entretanto, o real desafio do

    ensino da produo escrita bem maior. Assim, o que se pretende

    com a Olimpada iniciar uma dinmica que v muito alm da atividade

    pontual proposta neste material. Espera-se que, a partir das atividades

    da sequncia didtica, os professores possam comear a desenvolver

    um processo de ensino de leitura e de escrita muito mais amplo. Sabe-

    mos que a escrita um instrumento indispensvel para todas as

    aprendizagens e, desse ponto de vista, as situaes de produo e os

    temas tratados nas sequncias didticas so apenas uma primeira

    aproximao aos gneros enfocados em cada uma delas, que pode

    ampliar-se aos poucos, pois escrever textos uma atividade complexa,

    que envolve uma longa aprendizagem. Seria ingnuo pensar que os

    alunos resolvero todas as suas dificuldades com a realizao de uma

    s sequncia.

  • poetas da escola14

    A sequncia didtica como eixo do ensino da escrita

    A sequncia didtica a principal ferramenta proposta pela Olim-

    pada de Lngua Portuguesa Escrevendo o Futuro para se ensinar a

    escrever. Estando envolvido h muitos anos na elaborao e na expe-

    rimentao desse tipo de dispositivo, iniciado coletivamente pela

    equipe de didtica das lnguas da Universidade de Genebra, um

    prazer ver como se adapta complexa realidade das escolas brasilei-

    ras. Uma sequncia didtica um conjunto de oficinas e de atividades

    escolares sobre um gnero textual, organizada de modo a facilitar a

    progresso na aprendizagem da escrita.

    Cinco conselhos me parecem importantes para os professores que

    utilizam esse dispositivo como modelo e desenvolvem com seus alu-

    nos as atividades aqui propostas:

    1) Fazer os alunos escreverem um primeiro texto e avaliar suas capacidades iniciais. Observar o que eles j sabem e assinalar as lacunas e os erros me parece fundamental para escolher as atividades

    e para orientar as intervenes do professor. Uma discusso com

    os alunos com base na primeira verso do texto de grande eficcia:

    o aluno descobre as dimenses que vale a pena melhorar, as novas

    metas para superar, enquanto o professor compreende melhor as

    necessidades dos alunos e a origem de alguns dos erros deles.

    2) Escolher e adaptar as atividades de acordo com a situao es-colar e com as necessidades dos alunos, pois a sequncia didtica

    apresenta uma base de materiais que podem ser completados e

    transformados em funo dessa situao e dessas necessidades.

    3) Trabalhar com outros textos do mesmo gnero, produzidos por adultos ou por outros alunos. Diversificar as referncias e apre-

    sentar um conjunto variado de textos pertencentes a um mesmo

    gnero, propondo sua leitura e comparao, sempre uma base

    importante para a realizao de outras atividades.

    4) Trabalhar sistematicamente as dimenses verbais e as formas de expresso em lngua portuguesa. No se conformar apenas com o entusiasmo que a redao de um texto para participar de

  • uma competio provoca e sempre buscar estratgias para desen-

    volver a linguagem escrita.

    5) Estimular progressivamente a autonomia e a escrita criativa dos alunos. Os auxlios externos, os suportes para regular as pri-meiras etapas da escrita so muito importantes, mas, pouco a

    pouco, os alunos devem aprender a reler, a revisar e a melhorar os

    prprios textos, introduzindo, no que for possvel, um toque pessoal

    de criatividade.

    Uma chama olmpica contra o iletrismoPouco me resta a dizer. Primeiro, parabenizar os autores das sequn-

    cias didticas. Segundo, expressar toda a minha admirao pela orga-

    nizao da Olimpada de Lngua Portuguesa Escrevendo o Futuro, que

    envolve a parceria entre uma entidade governamental, o Ministrio da

    Educao, e uma fundao empresarial, a Fundao Ita Social, com a

    coordenao tcnica do Cenpec. Terceiro, incentivar professores e alu-

    nos a participar desse projeto singular. Que a chama olmpica contra o

    iletrismo percorra esse vasto e magnfico pas que o Brasil. Ensinar

    a escrever uma tarefa nobre e complexa que merece o maior dos re-

    conhecimentos sociais.

    Nos antigos jogos olmpicos, a chama olmpica se mantinha acesa

    diante do altar do deus Zeus durante toda a competio. Que a cha-

    ma da esperana do acesso leitura e escrita no se apague. Essa

    competio todos ns podemos e devemos ganhar!

    15poetas da escola

  • Introduo ao gnero

  • poetas da escola17

    Sobre poemas e poetas Convite

    Poesia

    brincar com palavras

    como se brinca

    com bola, papagaio, pio.

    S que

    bola, papagaio, pio

    de tanto brincar

    se gastam.

    As palavras no:

    quanto mais se brinca

    com elas

    mais novas ficam.

    Como a gua do rio

    que gua sempre nova.

    Como cada dia

    que sempre um novo dia.

    Vamos brincar de poesia?Jos Paulo Paes. Poemas para brincar.

    2- ed. So Paulo: tica, 1991.

  • poetas da escola18

    Seus alunos certamente j leram ou ouviram poemas: parlendas, cantigas de roda e trava-lnguas que fazem parte das brincadeiras; msicas que ouvem e cantam, repentes, quadrinhas e cordel todas so formas poticas.

    Um poema pode, ou no, apresentar rimas; pode, ou no, ter ritmo uniforme; pode ser regular ou irregular. Ele pode ainda falar sobre qualquer assunto: pessoas, ideias, sentimentos, lugares ou acontecimentos comuns, por exemplo, uma pedra no meio do caminho, como fez Carlos Drummond de Andrade em seu poema No meio do caminho. No entanto, h um aspecto que diferencia o poema de um texto informativo ou de outro texto literrio, como o romance ou o conto o modo pelo qual o poeta escreve seu texto.

    O poema criado como se fosse um jogo de palavras. Ele mo-tiva o leitor a descobrir no apenas a leitura corrente, mas tam-bm a buscar outras leituras possveis. E como o poeta faz isso? Ora... com as palavras e com tudo o que se pode fazer com elas.

    O poeta busca mostrar o mundo de um jeito novo, com a inteno de sensibilizar, convencer, fazer pensar ou divertir os leitores . Ele sugere associaes entre palavras, seja pela posio que ocupam no poema, seja pela sonoridade, seja por meio de outros recursos.

    Observe o incio do poema Convite, de Jos Paulo Paes:

    Poesia

    brincar com palavras

    como se brinca

    com bola,

    papagaio, pio.

  • poetas da escola19

    O verbo brincar repetido, como uma pista para deduzir que tudo aquilo com que se brinca poderia ser aproximado: poesia, bola, papagaio, pio. Convite sugere que a leitura de poemas pode ser uma atividade divertida.

    Outro trecho:

    [...]

    quanto mais se brincacom elas [as palavras]mais novas ficam.

    Como a gua do rioque gua sempre nova.

    Como cada diaque sempre um novo dia.

    Nessa passagem, a repetio do comparativo como leva o leitor a associar os termos palavras, gua do rio e cada dia.

    Qual o sentido do termo novo nesse caso? No contexto do poema, ele sinnimo de renovado, em permanente movimento.

    Sugere-se assim o carter original e inovador da palavra potica. Quanto mais o poeta usa as palavras, mais ele se torna capaz de criar sentidos novos para elas, num processo de renovao permanente, como o movimento do rio e a sucesso dos dias.

    No final do poema, vem o convite, em forma de pergunta:

    Vamos brincar de poesia?

    Ao estabelecer esse dilogo, o poeta motiva o leitor a se interessar pela leitura de outros poemas, outros jogos de pala-vra marcados pelo ritmo das repeties e pela originalidade.

  • poetas da escola20

    O poeta o artista que usa as palavras para fazer uma obra de arte o poema. Ele sabe como combinar as palavras, como dar ritmo a essa combinao, como fazer com que elas conquis-tem e surpreendam o leitor.

    As atividades propostas neste Caderno visam apropriao, por parte de crianas e jovens, da linguagem e das palavras como meios de comunicao e de expresso da criatividade. So brin-cadeiras srias, na medida em que exigem treino de leitura e percepo; e tambm divertidas, porque a poesia permite que se brinque com as palavras. Ler e produzir poemas pode ser uma atividade ldica, criativa e original.

    Brincar de poesia exerccio para uma vida quanto mais se sabe, mais se quer descobrir e aprender. um exerccio de perceber o que se diz, como se diz ou se escreve e, ainda, como se busca levar o leitor a interpretar o sentido. Jos Paulo Paes, alm de poemas, escreveu ensaios. Num deles, ele afirma:

    [...] a lucidez da tcnica e da experincia do poeta tcni-ca e experincia cuja aquisio exige anos de leitura e de aplicao quase diria ao ofcio de escrever que ir desenvolver as sugestes onricas em poemas acabados e compreensveis. Enquanto o sonho pessoal e s comove ou impressiona quem o sonhou, o poema tem de comover e impressionar, se no todas as pessoas que o leem, pelo menos aquelas cuja sensibilidade foi aprimorada pela leitura regular de poesia.

    Jos Paulo Paes. Quem, eu? Um poeta como outro qualquer. 5- ed. So Paulo: Atual, 1996.

    Nas oficinas, voc encontrar atividades que ajudaro a cons-truir brincadeiras com as palavras, a brincar de poesia.

    Marisa Lajolo, no livro Palavras de encantamento, da Coleo Literatura em Minha Casa, nos fala de poetas, poemas e poesia:

  • poetas da escola21

    [...] poeta brinca com as palavras [...] parece que o poeta

    diz o que a gente nunca tinha pensado em dizer [...]

    [...] um poema um jogo com a linguagem. Compe-se de palavras: palavras soltas, palavras empilhadas, pala-vras em fila, palavras desenhadas, palavras em ritmo diferente da fala do dia a dia. Alm de diferentes pela sonoridade e pela disposio na pgina, os poemas representam uma maneira original de ver o mundo, de dizer coisas [...]

    [...] poeta , assim, quem descobre e faz poesia a respeito de tudo: de gente, de bicho, de planta, de coisas do dia a dia da vida da gente, de um brinquedo, de pessoas que parecem com pessoas que conhecemos, de epis-dios que nunca imaginamos que poderiam acontecer e at a prpria poesia! [...]

    Marisa Lajolo. Palavras de encantamento: antologia de poetas brasileiros. v. 1. So Paulo: Moderna, 2001.

  • poetas da escola22

    Poema ou poesia? Qual a diferena entre poema e poesia? O poema um texto marcado por recursos sonoros e

    rtmicos. Geralmente o poema permite outras leituras, alm da linear, pois sua organizao sugere ao leitor a associao de palavras ou expresses posicionadas estrategicamente no texto.

    A poesia est presente no poema, assim como em outras obras de arte, que, como o poema, convidam o leitor/espectador/ouvinte a retornar obra mais de uma vez, desvendando as pistas que ela apresenta para a interpretao de seus sentidos.

    Norma Goldstein. Versos, sons, ritmos. 14a ed. So Paulo: tica, 2006.

    Ento, essa a diferena. Quando falamos em poema, esta-mos tratando da obra, do prprio texto. E, quando falamos em poesia, tratamos da arte, da habilidade de tornar algo potico. Uma pintura, uma msica, uma cena de filme, um espetculo de dana, uma obra de arquitetura tambm podem ser poticos. Apesar da distino, h pessoas que afirmam ler poesias, como se o termo fosse sinnimo de poemas.

  • poetas da escola23

    O tempo das oficinas Cada oficina foi organizada para tratar de um tema, um

    assunto. Algumas podero ser realizadas em uma ou duas au-las; outras levaro trs ou quatro. Por isso, essencial que voc, professor, leia todas as atividades antecipadamente. Antes de comear a trabalhar com os alunos, preciso ter uma viso do conjunto, de cada etapa e do que se espera que eles produzam ao final.

    Aproprie-se dos objetivos e estratgias de ensino, providen-cie o material e estime o tempo necessrio para que sua turma faa o que foi proposto.

    Enfim, preciso planejar cada passo, pois s voc, que conhece seus alunos, conseguir determinar qual a forma mais eficiente de trabalhar com eles. Comece o quanto antes; as-sim, voc ter mais tempo para desenvolver as propostas e acompanhar melhor o Cronograma de atividades, cartaz que dever ser afixado na sala dos professores e consultado regularmente.

  • Oficina. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

    Memria de versos e mural de poemas

  • Objetivos

    Prepare-se! Na ltima etapa desta oficina seus alunos escrevero o primeiro artigo de opinio deles. Voc precisar ajud-los a definir questes polmicas. Procure identificar o que polmico em sua comunidade. Seus alunos faro um debate. Ajude-os a traar uma preparao e um comportamento apropriado para essa situao.

    Identificar questes polmicas.

    Reconhecer bons argumentos.

    Escolher ou formular uma questo polmica.

    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

    Prepare-se! Voc sabe que boas aulas no se do por acaso: preciso investir tempo e definir o que se quer e o que se pretende alcanar ao final de cada dia, alm de refletir sobre as propostas de atividades. Nesta oficina, propomos que voc e seus alunos montem um mural de poemas. Organize os materiais com antecedncia.

    Resgatar e valorizar a cultura da comunidade.

    Avaliar e ampliar o repertrio de poemas conhecidos pelos alunos.

    Reconhecer os poemas em suas diversas formas.

  • poetas da escola26

    Ativ

    idad

    esMaterial Folhas de papel kraft ou de cartolina Canetas hidrogrficas coloridas e fita crepe Mural ou varal para fixar ou pendurar cartazes e textos Caderno (ser seu Dirio da Olimpada) CD-ROM de poemas Aparelho de som

    1 - etapaMemria de versos dos alunos

    O objetivo descobrir o que seus alunos e as pessoas da comunidade j conhecem sobre poemas para lev-los a ampliar o repertrio deles. Se a maioria conhece poemas infantis, vamos apresentar alguns clssicos. Se conhecerem os grandes poetas, vamos lhes propor poemas populares. O levantamento do repertrio serve, portanto, para que cada professor saiba quais pontos do trabalho devem ser mais enfatizados, de modo que os alunos possam compreender e apreciar mais e melhor os poemas.

    Inicialmente, converse com os alunos sobre poesia, procurando saber se conhecem alguns poemas, se gostam ou no de poesia e por qu. Esse pode ser um ponto de partida para a compreen-so das caractersticas do gnero. Uma sugesto ouvir o udio com versos gravados por alguns alunos semifinalistas durante o encontro regional, da Olimpada de Lngua Portuguesa Escre-vendo o Futuro, realizado na cidade de Fortaleza em 2010.

    Se verificar que j conhecem alguns poemas ou apenas trechos deles, pea que os registrem no papel para afix-los no mural.

  • poetas da escola27

    Ativ

    idad

    esProponha-lhes que leiam em voz alta os poemas. Pergunte como sabem que se trata de poemas. Deixe que expressem as ideias deles, procurando observar quais elementos desse gnero j so percebidos por eles. Nesse momento, no importa tanto a quali-dade do que vo dizer nem se est certo ou errado. O importante que falem, manifestem livremente as impresses que tm acerca do que leram ou escreveram.

    Pode ser que faam referncia ao ritmo, s rimas, forma, a uma ou a outra figura por enquanto sem nomear nenhum desses recursos, limitando-se a identific-los. Faa voc tam-bm observaes sobre os poemas que apresentarem, procure lev-los a perceber repeties, rimas e outros efeitos sonoros.

    2 - etapaMemria de versos da comunidade

    Em seguida, sugira aos alunos que coletem os poemas que a comunidade conhece. Planeje com eles como faro essa coleta. Podem sair pelas ruas do bairro ou entrevistar os moradores. Fazer a pesquisa na prpria escola, com professores, funcion-rios e colegas mais velhos. E, como tarefa de casa, conversar com pais, avs, vizinhos e parentes.

    A ideia entrevistar pessoas, perguntando se conhecem poemas, se gostam de poemas, se sabem o nome de algum poe ta. Em caso afirmativo, o aluno vai pedir pessoa que escreva esse poema ou o dite para que ele o anote.

  • poetas da escola28

    Ativ

    idad

    esSe na cidade morar algum poeta, interessante convid-lo a visitar a escola, durante essa fase inicial, para conversar com os alunos, ou, ainda, pedir-lhe que envie um de seus poemas para a turma.

    Voc, professor, tambm faz parte da comunidade, por isso pode contribuir, trazendo dois ou trs poemas para ampliar a coleta. O ideal seria escolher criaes de poetas consagrados, de diferentes pocas, sem esquecer os modernistas, como Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Ceclia Meireles; nem os contempo-rneos, como Ferreira Gullar, Paulo Leminski e outros. Lembre-se de incluir poemas regionais, ou seja, do lugar onde vocs vivem.

    Finalizada a coleta, os alunos vo selecionar os poemas mais inte-ressantes entre os recolhidos na comunidade e os que resgataram de memria. Ajude-os a revis-los, para depois afix-los no mural.

    3 - etapaUm mural caprichado

    Voc no acha que seria interessante um registro de tudo o que seus alunos vo aprender? Para isso, sugerimos que organize um mu ral na sala. Nele sero afixados, ao longo deste trabalho, os poemas estudados e as produes da turma. No final, os alunos tero uma coletnea dos poemas j conhecidos, dos descobertos durante o processo, dos preferidos e dos que eles prprios produziram.

    Construa com eles o mural. Pode ser bem simples, por exemplo, delimitando um espao na parede e recobrindo-o com folhas de papel kraft ou de cartolina. Ele pode ser ilustrado e ter um visual bem chamativo. Mas o mais importante que ele facilite a leitura dos poemas. Afinal, eles so a alma do projeto, a razo de ser do mural.

  • poetas da escola29

    Converse com os alunos para planejar a organizao.

    Onde o mural vai ser colocado?

    Como deix-lo bem organizado e com boa apresentao?

    Para inaugurar o mural, coloque os poemas escolhidos pelos alunos.

    H palavras que o vento no leva O registro muito importante para voc aperfeioar o seu

    trabalho. Ele nos ajuda a fazer questionamentos e descobrir solu-es que nos fazem crescer. Sabemos que mais uma tarefa. Mesmo assim, precisamos desenvolver essa prtica e vencer a falta de tempo.

    Anote, no seu Dirio da Olimpada, as atividades desenvolvidas, suas impresses e dificuldades e as reaes do grupo. Como diz a educadora Madalena Freire (1996): O registrar de sua reflexo cotidiana significa abrir-se para seu processo de aprendizagem.

    O professor de aluno semifinalista da Olimpada dever, com base em seus registros, apresentar por escrito o relato de expe-rincia e do percurso vivido em sala de aula.

  • Oficina

    O que faz um poema

    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

  • Objetivo

    Identificar questes polmicas.

    Reconhecer bons argumentos.

    Escolher ou formular uma questo polmica.

    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

    Prepare-se! Seus alunos iro analisar os poemas do mural. Para isso, importante que voc leia todos os que esto afixados e faa comentrios sobre eles, antes de propor-lhes a atividade. Lembre-se de que os alunos precisaro de informaes que sero dadas por voc.

    Conhecer e sistematizar informaes sobre as caractersticas de um poema: versos, estrofes, ritmos, rimas, repeties.

  • poetas da escola32

    Ativ

    idad

    esMaterial Mural de poemas (feito por voc e pelos alunos na oficina anterior) Coletnea de poemas CD-ROM de poemas Aparelho de som Datashow (reserve com antecedncia na secretaria da escola) Cartolina ou papel kraft, canetas hidrogrficas e fita crepe

    1 - etapaLeitura do mural

    Agora vamos ampliar um pouco mais a discusso sobre aspectos importantes que caracterizam um poema. Instigue os alunos a pensar, trocar ideias, tirar concluses, buscar informaes. Seu papel coordenar e aquecer o debate.

    Para iniciar, fale dos poemas que esto no mural. Algumas ques-tes podem animar a conversa.

    Do que tratam os poemas?

    Por que escolheram esses poemas?

    Como sabem que so poemas?

    Por que so diferentes de uma notcia de jornal, de uma receita de bolo, de uma lista de supermercado, de um verbete de dicionrio? Ou de um conto?

    Como eles se organizam no papel?

    Eles preenchem todo o espao das linhas, da margem esquerda direita?

  • poetas da escola33

    Ativ

    idad

    es

    Ateno

    H linhas em branco entre os versos?

    H sons que se repetem? E construes?

    H palavras ou expresses que, mesmo distanciadas dentro do texto, podem ser associadas, por terem semelhana sonora ou figurarem em construes iguais?

    Relacione as observaes que fizerem com aquela conversa da 1- etapa da oficina anterior. Ser que perceberam as caracters-ticas que constituem um poema? Avalie o progresso e, se pre-ciso, motive-os com questes para que isso ocorra e se amplie.

    2 - etapaSistematizao das observaes

    Divida a classe em grupos, entregue para cada um deles uma Coletnea e pea-lhes que abram na pgina do poema Tem tudo a ver, de Elias Jos. Voc poder l-lo em voz alta ou colocar o CD para que eles ouam.

    A Coletnea de uso coletivo da escola; por isso, as anotaes, os destaques, os registros comuns de estudo devero ser rea-lizados sempre no caderno do aluno.

  • poetas da escola34

    Poem

    a Tem tudo a verA poesia

    tem tudo a ver

    com tua dor e alegrias,

    com as cores, as formas, os cheiros,

    os sabores e a msica

    do mundo.

    A poesia

    tem tudo a ver

    com o sorriso da criana,

    o dilogo dos namorados,

    as lgrimas diante da morte,

    os olhos pedindo po.

    A poesia

    tem tudo a ver

    com a plumagem, o voo,

    e o canto dos pssaros,

    a veloz acrobacia dos peixes,

    as cores todas do arco-ris,

    o ritmo dos rios e cachoeiras,

    o brilho da lua, do sol e das estrelas,

    a exploso em verde, em flores e frutos.

    A poesia

    s abrir os olhos e ver

    tem tudo a ver

    com tudo.Elias Jos, in: Segredinhos de amor.

    2- ed. So Paulo, Moderna, 2002.

  • poetas da escola35

    Ativ

    idad

    es Depois da leitura ou da audio, converse com os alunos so-bre o que entenderam do poema. Leve-os a observar o modo como o poema ocupa a pgina, com margens tanto direita quanto esquerda do texto, como se formasse um desenho no papel, uma espcie de coluna no meio da pgina. Em seguida , proponha-lhes que verifiquem as linhas ou versos do texto e o modo como se agrupam em estrofes. Este poema tem 25 versos distribudos em 4 estrofes. Para fazer isso, voc pode projetar o poema na parede e fazer grifos coloridos, pro-jetando o CD por meio do datashow.

    Pea aos alunos que observem as palavras iniciais de cada es-trofe: A poesia. Questione-os se saberiam dizer por qual razo todas elas comeam assim. Oriente-os a verificar se apenas essas palavras so repetidas ou se ocorre a repetio de versos que compreendem uma frase inteira. muito provvel que apon-tem a reiterao de a poesia tem tudo a ver com....

    Os alunos possivelmente relacionaro os termos com que a poesia tem a ver, do incio ao final: dor, alegrias, cores, formas , cheiros, sabores e msica, na primeira estrofe; sorriso, dilogo , lgrimas diante da morte, olhos pedindo po, na segunda ; pssaros, peixes e elementos da natureza, na terceira. A quarta estrofe faz a sntese, indicando que a poesia tem tudo a ver com tudo.

    Procure mostrar-lhes que, para o autor, a poesia viva, dinmica , e pode falar de pessoas, de animais, de objetos, de acontecimen-tos de tudo. Algumas pessoas acham que a funo da poesia cantar amores ou mgoas. Mas, na verdade, a poesia pode falar de qualquer assunto. Como diz Elias Jos, a poesia tem tudo a ver com tudo. Comprove essa afirmao mostrando aos alunos a diversidade de temas presentes nos poemas afixados no mural.

  • poetas da escola36

    Lembre-se de que as atividades deste Caderno foram plane-jadas para abordar alguns dos contedos de ensino de lngua portuguesa. Todos os alunos devem participar das oficinas, pois podero alcanar uma escrita mais aprimorada, ainda que no tenham seus textos selecionados para as prximas etapas.

    A importncia de participar

    Finalmente, organize e sistematize as observaes do grupo em relao ao conjunto de poemas lidos. Possivelmente, surgiro as seguintes constataes:

    as palavras rimam quando terminam com sons idnticos ou parecidos;

    nem todos os poemas apresentam rimas;

    os versos so as linhas do poema e podem ter extenso variada;

    estrofes so conjuntos de versos separados por um espao (linha em branco);

    um poema pode ter uma ou mais estrofes e cada estrofe pode ter nmero variado de versos;

    os poemas costumam apresentar repeties de letras, de pa-lavras ou expresses, de versos;

    eles tambm podem ter repetio da mesma construo sinttica;

    as palavras que apresentam semelhanas de sonoridade, de posio dentro do poema (incio, meio ou final do verso), de funo sinttica podem ser associadas para apoiar a inter-pretao do sentido do poema.

    Oriente os alunos a copiar essas concluses no caderno. Um aluno poder fazer um cartaz com essas informaes para ser afixado no mural.

  • poetas da escola37

    Paralelismo sintticoA sintaxe de uma lngua remete ao modo como as palavras se

    combinam para formar expresses ou frases. Nos poemas, costuma

    ser empregado o PARALELISMO SINTTICO: uma mesma construo

    se repete ao longo do texto. Por exemplo, observe abaixo, na estrofe

    do poema Convite, que um tipo de construo se repete nos versos

    assinalados com grifo simples e outro tipo retomado nos versos mar-

    cados com grifo pontilhado:

    Como a gua do rio

    que gua sempre nova.

    Como cada dia

    que sempre um novo dia.

    Note mais um exemplo de paralelismo em Tudo a ver:

    A poesia

    tem tudo a ver [...]

    com as cores, as formas, os cheiros , [...]

    com a plumagem, o voo, [...]

  • Oficina

    Questes polmicasPrimeiro ensaio

    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

  • Objetivos

    Prepare-se! Na ltima etapa desta oficina seus alunos escrevero o primeiro artigo de opinio deles. Voc precisar ajud-los a definir questes polmicas. Procure identificar o que polmico em sua comunidade. Seus alunos faro um debate. Ajude-os a traar uma preparao e um comportamento apropriado para essa situao.

    Identificar questes polmicas.

    Reconhecer bons argumentos.

    Escolher ou formular uma questo polmica.

    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

    Prepare-se! Seus alunos iro escrever os primeiros poemas deles. Leia todas as produes e faa anotaes para saber o que cada um precisar melhorar. Procure identificar as informaes que os alunos j tm sobre poemas e as que precisam apreender.

    Apresentar a situao de produo.

    Escrever um primeiro poema para avaliar o conhecimento dos alunos.

  • poetas da escola40

    Ativ

    idad

    esPrimeiro poema

    A primeira produo propicia um diagnstico dos conhecimentos e das dificuldades de cada aluno. Esses dados daro pistas para que voc possa planejar as intervenes necessrias no desenvolvimento de cada etapa do trabalho.

    Diga aos alunos que cada gnero textual tem caractersticas prprias, e a situao de produo tambm varia, ou seja, preciso levar em conta alguns dados:

    Quem escreve?

    Para quem?

    Com qual finalidade?

    Onde o texto ser publicado? Jornal, livro, revista, internet, mural da escola?

    Explique ao alunos que os poemas deles sero conhecidos por muitas pessoas. Mesmo que apenas um texto seja escolhido para representar a escola na Olimpada de Lngua Portuguesa Escrevendo o Futuro, os outros no devem ficar na gaveta, podem ser reunidos em um livro, feito pelo grupo, e entregue para os pais, para a biblioteca da escola ou da cidade. Podem ser apresentados em cordis, em grandes murais ou em saraus, se houver condies locais para isso.

  • poetas da escola41

    Primeira escrita

    Ateno

    Esse primeiro texto importante para que os alunos avaliem a pr-

    pria escrita. Com sua ajuda, eles podem perceber o que preciso

    melhorar e podero comprometer-se com as oficinas, tendo mais

    chances de melhorar a escrita. Alm disso, ser possvel comparar essa

    produo com o texto final e reconhecer os avanos, constituindo um

    processo de avaliao continuada.

    Caso seu aluno seja semifinalista da Olimpada, voc preci-sar levar a primeira produo para o encontro regional.

    Distribua uma folha de papel para cada aluno e pea-lhes que escrevam um primeiro poema. O tema O lugar onde vivo.

    Explique-lhes que podem fazer rascunhos do poema no caderno e refaz-lo, se acharem necessrio. Quando chegarem forma final, vo passar a limpo na folha que voc entregou a eles.

  • Oficina

    Dizer poemas

    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

  • Objetivos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

    Prepare-se! Os alunos iro se organizar para dizer poemas em voz alta. Voc, professor, um importante modelo de leitura para eles. Por isso, selecione os poemas com antecedncia e prepare a sua leitura!

    Conhecer alguns poetas e poemas consagrados da literatura brasileira.

    Descobrir a importncia de ouvir e de dizer poemas.

  • poetas da escola44

    Ativ

    idad

    esMaterial Coletnea de poemas CD-ROM de poemas Aparelho de som Cpias de poemas diversos (selecionados por voc e pelos alunos) Folhas coloridas, papel crepom (material para decorar a sala de aula)

    Faa uma seleo entre seus poemas preferidos e os dos alunos . Providencie cpias dessa seleo para que leiam em grupos.

    Solicite-lhes que ouam as duas leituras, gravadas no CD, de O buraco do tatu que ser trabalhado na Oficina 9. Converse com eles sobre as impresses que tiveram de cada uma das audies.

    Pergunte-lhes se h diferena entre as leituras e se os efeitos sonoros marca registrada dos poemas so facilmente perce-bidos. Sugira-lhes que sempre leiam os poemas em voz alta, pelo menos uma vez, para treinar a audio dos recursos sonoros e do ritmo do texto.

    Divida a classe em grupos de trs ou quatro alunos e distribua para cada um deles uma Coletnea e uma cpia da seleo que voc organizou. Diga-lhes que devero apresentar para a classe um dos poemas que receberam. Para isso, devem se preparar lendo vrias vezes o poema e ensaiando as vrias formas de in-terpretar o texto para os colegas.

    Podero utilizar gestos, movimentos, efeitos sonoros, fundo mu-sical etc. Devero diz-lo em voz alta, de modo claro, seja em forma de jogral ou de coro falado, seja individualmente, sempre atentando para o ritmo, as pausas e a entonao da voz.

    D ateno a cada grupo, ajudando na leitura. Para isso, veja orientaes no quadro Buscando sentido, na pgina 47.

  • poetas da escola45

    Combine com eles a data da apresentao e um prazo para que se preparem adequadamente.

    No dia combinado, organize o ambiente com a ajuda dos alunos . Disponha as carteiras em semicrculo ou escolha um outro espao da escola. O local escolhido pode ser decorado, caso haja condies, eventualmente com apoio do pro fessor de arte.

    Depois, pea aos alunos que escolham alguns dos poemas apre-sentados para afixar no mural.

    Orientaes para o trabalho com leitura de poemasRelacionamos algumas orientaes para que voc trabalhe

    a leitura de poemas. Essas mesmas sugestes podem, e devem, ser usadas em todas as oficinas.

    Leia poemas em voz alta para os alunos. Para apreciarmos devidamente um poema preciso escut-lo com ateno. O seu exemplo um bom incentivo para eles.

    Poemas evocam sensaes, impresses, sentimentos, ideias, imagens, reflexes. Ajude os alunos a descobrir o que o poema desperta em cada um deles. Voc pode fazer per-guntas como:

    O que perceberam ao ouvir/ler o poema?

    O que ele despertou em vocs?

    Fechando os olhos, vocs conseguem imaginar o que o poema sugere?

    Relendo o poema, vocs compreendem melhor o seu sentido?

  • poetas da escola46

    Poetas exprimem um olhar nico, pessoal, sobre os mais diversos assuntos: um acontecimento, o ser humano, a vida, os relacionamentos, os problemas do mundo, a realidade, o sonho, os fatos corriqueiros. Ajude seus alunos a relacionar os poemas lidos com as experincias e a sensibilidade deles, perguntando, por exemplo:

    Voc v o assunto do poema da mesma forma que o poeta? J aconteceu algo parecido com voc?

    Voc se lembra de um lugar (pessoa, fato, situao, sonho etc.) que lhe causou a mesma impresso que o autor deste poema descreve?

    Uma forma de penetrar no texto observar os recursos expres-sivos que ele apresenta: organizao, ritmo, repeties, cons-trues. Um exerccio valioso consiste em relacionar os termos que se assemelham: por apresentarem rima ou repetio de letra ou por se repetirem eles prprios; por estarem ambos na mesma posio, em versos diferentes: incio, meio ou final; por exercerem a mesma funo sinttica: so sujeitos, predicativos do sujeito, objeto etc.; por pertencerem mesma classe grama-tical: adjetivos, substantivos etc. Para aprofundar e ampliar a interpretao do texto, voc pode perguntar aos alunos por que o poeta teria usado tais recursos nos versos dele.

    Para dizer em voz alta, preciso que os alunos leiam e com-preendam o poema a ser apresentado, absorvendo e respei-tando o ritmo proposto, sem, no entanto, deixar de respeitar tambm a pontuao e a sequncia lgica do texto.

  • poetas da escola47Lembrete

    Buscando sentido

    Atividades nas quais os alunos so convidados a dizer ou ler poemas favorecem o trabalho com a leitura. Para apresentar oralmente um poema necessrio compreender o seu sentido em profundidade e apreender o que o autor quis exprimir. Se possvel, oua com os alunos outros CDs de poemas apresentados por seus autores ou por artistas famosos. Por exemplo: Coleo Poesia Falada, da editora Nossa Cultura; Ou Isto ou Aquilo, da gravadora Luz da Cidade (poemas de Ceclia Meireles lidos por Paulo Autran).

    Enfim, importante preparar a apresentao com cuidado, e isso vale tambm para voc, professor.

    Para ler um texto, no basta identificar letras, slabas e palavras; pre ciso buscar o sentido, compreender, interpretar, relacionar e reter o que for mais relevante.

    Quando lemos algo, temos sempre um objetivo: buscar informao, ampliar o conhecimento, meditar, entreter-nos. O objetivo da leitura que vai mobilizar as estratgias que o leitor utilizar. Sendo assim, ler um artigo de jornal diferente de ler um romance, uma histria em quadri-nhos ou um poema.

    Ler textos traz desafios para os alunos. Para venc-los fundamen-tal a mediao de um professor que deve ajud-los a compreender, gradativamente, diferentes gneros textuais por meio da leitura indivi-dual e autnoma. Algumas estratgias podem facilitar essa conquista, uma delas a leitura cativante, emocionada, enftica feita pelo pro-fessor; outra a escuta do CD-ROM que faz parte do material de apoio desta Olimpada.

    Contudo, ouvir textos lidos em voz alta no pode substituir a leitura dos alunos, pois so jeitos diferentes de conhecer um mesmo texto. Alm disso, papel da escola desenvolver habilidades de leitura.

  • Oficina. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

    Toda rima combina?

  • Objetivos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

    Prepare-se! A oficina est dividida em quatro etapas. Leia as atividades propostas e planeje quantas aulas sero necessrias.

    Reconhecer rimas em poemas.

    Conhecer as diferentes combinaes de rimas.

    Produzir poemas com rimas.

  • poetas da escola50

    Ativ

    idad

    esMaterial Coletnea de poemas CD-ROM de poemas Aparelho de som Datashow Papel kraft ou cartolina, canetas hidrogrficas e fita crepe Dicionrio de lngua portuguesa

    1 - etapaRimas e quadras

    Compor rimas um exerccio divertido, mas d trabalho! Muitas vezes, preciso recorrer memria e ao dicionrio para en-contrar palavras que normalmente no usamos. Com as rimas os poemas podem ganhar sonoridade.

    Num primeiro momento, importante levar os alunos a reco-nhecer rimas, comeando por poemas que tm uma forma simples e popular, como as quadrinhas.

    Pergunte aos alunos se sabem o que quadrinha. Explique-lhes que se trata de um poema de apenas quatro versos. uma forma potica antiga, comum na cultura popular e bastante conhecida pelas crianas, principalmente por meio das cantigas de roda. Quem no se lembra?

    O cravo brigou com a rosa,

    Debaixo de uma sacada.

    O cravo saiu ferido,

    E a rosa despedaada.

  • poetas da escola51

    Escreva na lousa a quadra:

    L no fundo do quintal

    Tem um tacho de melado

    Quem no sabe cantar verso

    melhor ficar ____________Ricardo Azevedo. Armazm do folclore.

    So Paulo: tica, 2000.

    Pergunte quais palavras rimam com melado que poderiam completar o ltimo verso. A palavra que o autor usou calado, mas seus alunos podem dar outras sugestes, como: chocado, irritado, preocupado, aliviado. O importante construir a rima de forma que o verso no perca o ritmo nem o sentido. Desse modo, os alunos devero compreender que a palavra tem de completar o ritmo do verso e tambm o sentido da quadra. Entre as vrias sugestes, o termo calado o que preenche plenamente essas condies. Eles tambm percebero que a sonoridade fundamental no poema, mas no um elemento isolado. Ela combina com o sentido, com o ritmo e com todos os outros recursos, pois o conjunto de todos esses elementos que sustenta o sentido do poema. Muitas vezes os alunos ficam to preocupados em encontrar palavras que rimam que se esque-cem de verificar se o verso construdo combina com o sentido do texto. Voc pode, e deve, conversar com eles a esse respeito.

    Com o auxlio do datashow, projete o poema Cano do exlio , de Gonalves Dias. Leia e analise o poema junto com eles, mostre como os poetas, ao usarem o recurso da rima, so cuidadosos na escolha das palavras. Os versos e as estrofes no so construdos apenas com palavras que rimam entre si, mas de modo que esses elementos se articulem com o conjunto para produzir um sentido.

  • poetas da escola52

    Ativ

    idad

    eRima e Versos

    2 - etapaOnde esto as rimas?

    Escreva na lousa as quadras da pgina ao lado ou pea aos alunos divididos em grupos que os leiam na Coletnea e per-gunte-lhes quais palavras rimam e em quais versos elas esto. Veja se a turma consegue descobrir diferenas entre a forma como as rimas se apresentam nos dois poemas.

    Rima a semelhana sonora entre duas palavras ou a identidade de sons no final das palavras, a partir das vogais tnicas, aquelas que

    esto na slaba tnica, ou seja, na slaba da palavra que pronunciada

    com mais intensidade.

    Versos regulares so os que apresentam ritmo regular e rimas.Quando um poema tem versos de ritmo regular que no apresentam

    rimas, dizemos que ele se compe de versos brancos. Um verso que no rima com os demais do poema recebe o nome

    de verso solto.

  • poetas da escola53

    Fique rima com pique

    No sei se v ou se fiqueNo sei se fique ou se vFicando aqui no vou lE ainda perco o meu pique.

    Slvio Romero. Contos populares do Brasil. Rio de Janeiro: Jos Olympio, 1954.

    seu moo inteligente

    Faa o favor de dizerEm cima daquele morro

    Quanto capim pode ter?Ricardo Azevedo. Armazm do folclore.

    So Paulo: tica, 2000.

    Os versos podem rimar de diferentes formas. Na primeira quadra,

    recolhida por Slvio Romero, o primeiro verso rima com o quarto (fique e pique) e o segundo verso rima com o terceiro (v e l).

    J Ricardo Azevedo rima o segundo verso com o quarto (dizer e ter).

  • poetas da escola54

    Ativ

    idad

    es3 - etapaMais quadras

    Embora seja uma forma potica popular, a quadrinha tambm est presente em obras consideradas cultas. Grandes poetas compuseram quadrinhas, entre os quais Fernando Pessoa, um dos mais consagrados poetas da lngua portuguesa.

    Os estudiosos de sua obra registraram mais de quatro centas quadras, algumas sem data. Acredita-se que ele tivesse a inten-o de compor um livro com elas, mas isso nunca ocorreu.

    Antes de iniciar os exerccios, explique aos alunos que muitos poetas usam pseudnimo: um nome inventado para assinar alguns poemas ou at mesmo livros. O estilo da produo com nome verdadeiro e aquele com pseudnimo se asse melham. J com o heternimo isso no ocorre. Nesse caso, o poeta assume outra personalidade, outro modo de compor , outro estilo. A obra do heternimo no se parece com aquela assi-nada pelo prprio poeta.

    Inicie a atividade apresentando Fernando Pessoa aos alunos. Fale da importncia dele e leia a frase que ele escreveu sobre as quadras: A quadra um vaso de flores que o Povo pe janela da sua alma.

  • poetas da escola55

    Fernando Pessoa, Lisboa (Portugal), 1888-1935. considerado um dos maiores poetas da lngua portuguesa de todos os tempos. Em sua obra, ele usou vrios heternimos, que formavam personalidades completas. Tinham biografia, estilos literrios prprios, maneiras diversas de ver o mundo. Era como se Fernando Pessoa encarnasse outras pessoas imagi nadas por ele. Em alguns poemas, Pessoa assinava o prprio nome. Em outros, assinava Alberto Caeiro, um poeta que buscava a simplicidade da natureza e preferia linguagem e vocabulrio simples. Em outros ainda, assinava Ricardo Reis, que tinha uma forma humanstica de ver o mundo e procurava um equilbrio similar ao dos clssicos. Outro heternimo era lvaro de Campos, um poeta moderno, um homem identificado com o gosto e os costumes de seu tempo.

    Divida os alunos em grupos e entregue a Coletnea a eles. Coloque o CD e ouam a leitura das quadras abaixo:

    Quadras ao gosto popular

    Eu tenho um colar de prolas

    Enfiado para te dar:

    As per las so os meus beijos,

    O fio o meu penar.Quadra 2 (27/8/1907)

    A caixa que no tem tampa

    Fica sempre destapada.

    D-me um sorriso dos teus

    Porque no quero mais nada.Quadra 9 (11/7/1934)

    No baile em que danam todos

    Algum fica sem danar.

    Melhor no ir ao baile

    Do que estar l sem l estar.Quadra 17 (4/8/1934)

    Vale a pena ser discreto?

    No sei bem se vale a pena.

    O melhor estar quieto

    E ter a cara serena. Quadra 18 (18/8/1934 data provvel)

    No digas mal de ningum,

    Que de ti que dizes mal.

    Quando dizes mal de algum

    Tudo no mundo igual.Quadra 62 (11/9/1934)

    Fernando Pessoa. Obra potica VI. Porto Alegre: L&PM, 2008.

  • poetas da escola56

    As quadrinhas tm quatro versos, geralmente com sete slabas poticas, ritmo tpico da poesia popular. Veja:

    No / di / gas / mal / de / nin / gum,/.

    1 2 3 4 5 6 7

    Esse verso tambm chamado de redondilha maior. O ritmo aliado s rimas d s quadras cadncia e sonoridade peculiares.

    Pea aos alunos que leiam novamente as quadrinhas. Pergun-te-lhes que palavras rimam em cada quadra. Observe com eles que nas trs primeiras quadras o segundo verso sempre rima com o quarto: dar/penar; destapada/nada; danar/estar. Nas duas ltimas, o primeiro verso rima com o terceiro: discreto/quieto; ningum algum.

    A seguir, pea para cada grupo criar uma quadra. Se verificar que eles tm dificuldade para iniciar, sugira um primeiro verso. Veja alguns exemplos:

    Essa noite tive um sonho... Voc diz que sabe tudo...

    Menina dos olhos tristes... Atirei um cravo ngua...

    Voc vive reclamando... Que passeio divertido...

    Um jardim cheio de flores... Uma mquina moderna...

    Meu medo de tempestade... Na curva daquele rio...

    Assim que terminarem, pea-lhes que leiam as quadras para a turma. Depois de revisadas, elas devero ser passadas a limpo e afixadas no mural.

  • poetas da escola57

    Ativ

    idad

    es4 - etapaQual o papel das rimas?

    Nessa atividade, a turma vai compor um texto coletivo. No se trata de uma simples colagem de frases. O texto deve fazer sentido e ser harmonioso.

    Para iniciar, diga aos alunos que eles iro ler trechos de dois poemas: Duas dzias de coisinhas toa que deixam a gente feliz, de Otvio Roth; e Doze coisinhas toa que nos fazem felizes ( moda de Otvio Roth), de Ruth Rocha. Leve-os a observar que a poetisa homenageia o poeta, anunciando reto-mar seu estilo. Coloque na lousa os dois ttulos, e, antes de ler os versos, pea-lhes que falem de coisinhas toa que os deixam felizes. Talvez alguns mencionem coisas grandes e im-portantes, como ganhar na Loteria Federal, viajar, a paz no mundo. Comente que os ttulos remetem simplicidade do dia a dia e insista em que pensem tambm em coisas simples, alm das essenciais.

    Os dois tipos de coisa esto presentes em nossa vida. Divida a lousa ao meio: de um lado, escreva as coisas simples sugeridas pelos alunos; do outro, as grandes e importantes.

    Solicite aos alunos que acompanhem a leitura dos versos trans-critos na prxima pgina.

  • poetas da escola58

    Poemas

    Rimas externas e internasRimas externas Aquelas das palavras posicionadas no final dos versos:

    No digas mal de ningum,Que de ti que dizes mal.Quando dizes mal de algumTudo no mundo igual.

    Rimas internas As das palavras que se localizam no interior dos versos:

    Passarinho na janela, pijama de flanela, brigadeiro na panela.Almoo de domingo, revoada de flamingo, heri que fuma cachimbo.

    Duas dzias de coisinhas toa que deixam a gente felizPassarinho na janela, pijama de flanela, brigadeiro na panela.

    [...]

    Almoo de domingo, revoada de flamingo, heri que fuma cachimbo.

    [...]Otvio Roth. Duas dzias de coisinhas toa que deixam a gente feliz. So Paulo: tica, 1994.

    Doze coisinhas toa que nos fazem felizes ( moda de Otvio Roth)[...]

    Ver gelatina tremendo no prato

    Nadar depressa usando p de pato

    Mostrar a lngua pra tirar retratoRuth Rocha, in: Toda criana do mundo mora no meu corao. So Paulo: Salamandra, 2007, p. 43.

  • poetas da escola59

    Converse com os alunos sobre os versos lidos. Eles devem per-ceber que apresentada uma espcie de lista potica, marcada por rimas externas e tambm internas.

    Observe nos versos do quadro sobre rimas, as rimas em -ela e em -ingo tanto no interior quanto no final dos versos: as inter-nas e as externas so semelhantes.

    Nos versos de Ruth Rocha, tambm h rimas externas e inter-nas, mas elas no so semelhantes: internas em -ar e externas em -ato:

    Ver gelatina tremendo no prato Nadar depressa usando p de pato Mostrar a lngua pra tirar retrato

    Voc pode escrever os versos na lousa e grifar as rimas junto com eles. Instigue-os com perguntas:

    Por qual razo os poetas teriam feito essa escolha?

    Esse recurso poderia favorecer a unidade do verso, da estrofe, do poema?

    Em seguida, pea aos alunos para observar a pontuao de cada grupo de versos. Otvio Roth emprega um ponto-final, no fim de cada verso. Dentro deles, so enumeradas trs coisi-nhas, separadas uma da outra por vrgulas.

    Ruth Rocha enumera uma coisinha por verso e no emprega sinais de pontuao. Comente a diferena de ritmo: alongado e lento, nos versos de Otvio Roth; gil e curto nos de Ruth Rocha.

    Ativ

    idad

    es

  • poetas da escola60

    Ativ

    idad

    es Comente o dilogo entre os dois poemas, isto , a intertextua-lidade, que pode ocorrer de duas maneiras: a parfrase, que retoma um texto com o mesmo ponto de vista do original; e a pardia, que o faz, deslocando o seu sentido, em tom bem-hu-morado, brincalho ou crtico. Pergunte aos alunos se os versos de Ruth Rocha parafraseiam ou parodiam os de Otvio Roth. Leve-os a notar o verso final mostrar a lngua pra tirar retrato. Mesclam-se a homenagem, a brincadeira, o bom humor.

    Proponha-lhes transcrever as coisinhas na lousa, novamente dividida ao meio: de um lado, coisas simples e cotidianas; de outro, as mais abrangentes. A atividade semelhante realizada anteriormente, agora retomando os versos que acabaram de ler.

    Essa organizao pode suscitar discusses, e a interveno do professor deve nortear os alunos. As expresses dos versos de Otvio Roth que devem figurar entre as ABRANGENTES, por envolver o grupo social, so as seguintes: almoo de domingo [reunies familiares] e heri que fuma cachimbo. J em Ruth Rocha, prevalecem as coisas simples, do dia a dia, uma delas marcada pela irreverncia (mostrar a lngua pra tirar retrato). O termo pra da linguagem informal combina com as coisas do cotidiano.

  • poetas da escola61

    Sobre a organizao dos dois blocos de versos

    Sintaticamente, os dois versos de Otvio Roth se organizam pela

    enumerao de expresses nominais diversas:

    a) substantivo seguido de adjetivo ou locuo adjetiva: pijama de flanela; almoo de domingo; revoada de flamingo;

    b) substantivo seguido de adjunto adverbial: passarinho na janela; brigadeiro na panela;

    c) substantivo seguido de orao adjetiva: heri que fuma cachimbo;

    As expresses nominais substantivos, adjetivos e palavras que

    exercem essa funo nomeiam os elementos da realidade de forma

    esttica, enquanto os verbos nomeiam os elementos da realidade de

    forma dinmica. Levando isso em conta, podemos dizer que os versos

    de Otvio Roth tendem para o esttico, pelo predomnio de expres-

    ses com valor nominal; j nos versos de Ruth Rocha, empregam-se

    tanto substantivos quanto formas verbais no infinitivo: Ver gelatina tremendo no prato / Nadar depressa usando p de pato / Mostrar a lngua pra tirar retrato. Este recurso sugere dinamismo.

    Ativ

    idad

    es Os alunos vo observar as duas listas de coisinhas importantes para a felicidade dos poetas e, talvez, de outras pessoas. Tanto as banais quanto as essenciais so importantes, todas preen-chem nossa vida.

    Procure levar a classe a observar que tanto a sonoridade as rimas quanto a combinao de palavras organizao sint-tica contribuem para o sentido do texto e garantem sua uni-dade, sua composio coerente. No poema, todos os aspectos so importantes para a significao do texto.

  • poetas da escola62

    Em seguida, os alunos vo compor, em grupos, um poema com recursos parecidos. Devero, pois, criar um texto com as se-guintes caractersticas:

    semelhante a uma lista de meia dzia, de uma dzia, duas ou trs dzias de coisas que sejam importantes para eles;

    composto de cinco ou mais versos que apresentem rimas internas e, se possvel, externas.

    Os alunos podem optar por uma parfrase ou por uma pardia dos versos lidos.

    Pea a cada aluno que pense numa coisinha e a anote no ca-derno. A palavra selecionada deve combinar com outras para compor uma expresso. A seguir, cada aluno vai procurar dois colegas cuja expresso rime com a dele. Incentive os alunos a buscar palavras e encontrar rimas para elas. Sugira-lhes que faam listas e procurem termos no dicionrio. Devem evitar o uso de aumentativo e diminutivo, porque esta seria uma solu-o fcil e por vezes empobrecedora. D ateno a todos os grupos para ajudar com sugestes, quando for preciso.

    Se os alunos no conseguirem outras expresses com a mesma rima, devero mudar as palavras, buscar sinnimos ou trocar as escolhas, at juntar trs com as mesmas rimas. Formam-se assim grupos de trs alunos, sendo importante que cada trio obtenha trs coisinhas includas em trs expresses que rimem.

  • poetas da escola63

    Em seguida, caso optem por criar como Otvio Roth, o trio vai compor um verso, comparando as escolhas de cada um de seus membros, para decidir em que ordem elas vo aparecer: qual a primeira, a segunda, a terceira. Cada trio apresentar, ento, o que comps. O conjunto talvez resulte num longo poema. Para comp-lo, copie os versos na lousa ou numa folha grande de papel. A classe, em conjunto, vai decidir em qual ordem eles devem figurar no poema. Voc pode orientar essa organizao, por exemplo, do particular para o geral ou o inverso tudo depender do que vai ser proposto pelos alunos.

    Caso prefiram uma coisinha por verso, como fez Ruth Rocha, devem decidir em que ordem colocar as trs selecionadas, para compor um poema, como o da poetisa. O processo seguinte ser o mesmo apontado acima: copiar os versos na lousa ou numa folha grande, para que a classe em conjunto selecione a ordem dos versos na estrofe de trs versos e, depois, organize os tercetos criados para compor o poema.

    Ao comporem os versos, os alunos podem optar pelo uso exclu-sivo de nomes, sugerindo estaticidade; ou usar tambm verbos, que indiquem dinamismo.

    Chega ento a vez do ttulo. Conte quantas coisinhas toa dei-xam a classe feliz e pea aos alunos que sugiram um ttulo para os poemas.

  • Oficina

    Sentido prprio e figurado

    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

  • Objetivos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

    Prepare-se! Voc sabe encontrar sentidos conotativos e denotativos nos versos dos poemas? Antes de comear a fazer as atividades com seus alunos, procure analisar poemas para identificar esses sentidos.

    Apresentar os conceitos de denotao e conotao.

    Delimitar o texto potico.

  • poetas da escola66

    Ativ

    idad

    esMaterial Coletnea de poemas CD-ROM de poemas Aparelho de som Dicionrio de lngua portuguesa

    1 - etapaSentido prprio, ou denotao, e sentido figurado, ou conotao

    A proposta de atividades desta oficina incentivar os alunos a perceber a expressividade do poema com sua linguagem sugestiva, aberta a mltiplas interpretaes.

    O texto potico se vale de recursos que supreendem, provocam e inquietam o leitor. Isso o diferencia dos textos informativos, como as notcias, ou dos textos expositivos didticos, que cos-tumam apresentar um nico sentido. Ele est mais prximo dos textos literrios em prosa, como contos e romances, mas tam-bm difere deles por ter caractersticas especficas prprias.

    O convvio e o trabalho com textos poticos ajudam a desen-volver nos alunos a capacidade para perceber esses recursos expressivos . Tambm os leva a descobrir que o poema, quando lido com ateno, sugere mltiplos sentidos, todos decorrentes dos recursos selecionados pelo poeta para compor seu texto.

    Divida os alunos em grupos e pea-lhes que abram a Coletnea no poema Livros e flores, que tambm est gravado no CD.

  • poetas da escola67

    Poem

    a

    Teus olhos so meus livros.

    Que livro h a melhor,

    Em que melhor se leia

    A pgina do amor?

    Flores me so teus lbios.

    Onde h mais bela flor,

    Em que melhor se beba

    O blsamo do amor?

    Machado de Assis. Obra completa III. Rio de Janeiro: Aguilar, 1962.

    Comente que Machado de Assis, um de nossos maiores roman-cistas, tambm escreveu poemas. Leve-os a observar a compo-sio do poema Livros e flores: dois quartetos, com rimas nos versos pares (2/4 e 6/8), e mesma organizao sinttica: o verso inicial uma afirmao; os trs versos seguintes, sintaticamente ligados, terminam com uma interrogao.

    Verifique se o texto foi compreendido. possvel que o termo blsamo seja desconhecido dos alunos. Pea-lhes que pesqui-sem no dicionrio, onde provavelmente encontraro: lquido perfumado que escorre de plantas; medicamento que alivia a dor, que tem efeito balsmico.

  • poetas da escola68

    Alguns sentidos

    Retome verso por verso, a partir do primeiro: Teus olhos so meus livros. Questione se uma afirmao absurda, conside-rada isolada do texto, no sentido prprio, isto , no sentido que usualmente empregamos. E, no sentido figurado, fre-quente em textos elaborados, particularmente os literrios? Como se pode compreender esse verso? Diante das sugestes, leve os alunos a perceber que se trata de leitura num sentido especial, que s se pode compreender levando em conta o texto , explicada pelos trs versos seguintes:

    Que livro h a melhor,

    Em que melhor se leia

    A pgina do amor?

    Trata-se de interpretar os olhos da amada para descobrir se eles revelam o que ela sente.

    Ao ler e interpretar textos, falamos de dois tipos de sentido:

    sentido prprio, que as palavras costumam ter nos textos infor-mativos, tambm chamado denotao;

    sentido figurado, decorrente no s do contexto em que a pala-vra empregada como tambm do leitor que interpreta o texto,

    apoiado em sua prpria experincia de vida e em seu repertrio

    de leituras, chamado tambm conotao.

    Observe que o sentido conotativo, ou conotao, se sobrepe ao sentido denotativo, ou denotao; um no substitui o outro, mas somam-se. Desse modo, o sentido do poema se amplia, abrindo-se a

    mais de uma interpretao.

  • poetas da escola69

    O termo pgina, no verso 4, prope duas reflexes: a pgi-na, em sentido prprio, ou denotativo, faz parte do livro; dentro dos olhos das pessoas, no h pginas; portanto, trata-se de conotao, ou sentido figurado. Qual? A tendncia que respondam que o poeta ama a pessoa a quem dedica os versos e quer saber se correspondido. A pgina, denotativamente, pode ser lida e se revela a todos os leitores; a pgina, conotati-vamente no contexto do poema , s pode ser lida por quem conhece bem os olhos nos quais ela se esconde. Um sentido no descarta o outro, ambos se complementam.

    A segunda estrofe talvez cause estranhamento por causa da cons-truo em que me equivale a para mim: Flores me so teus lbios. Os alunos tampouco esto habituados inverso sint-tica. Convm, ento, apresent-la como um recurso que favorece o ritmo, frequente na nossa poesia at o incio do sculo XX. Vale recuperar a ordem direta, para efeito didtico de compreenso do verso, que equivale a: Teus lbios so flores para mim.

    Segue-se a pergunta dos trs versos finais:

    Onde h mais bela flor,

    Em que melhor se beba

    O blsamo do amor?

    Nesse trecho, so aproximados lbios e flor. O mesmo racio-cnio sobre sentido prprio, ou denotao, e sobre sentido figu-rado, ou conotao, pode se aplicar aqui. Por que seria possvel beber nos lbios da pessoa amada o blsamo do amor? Mais uma vez h um jogo de superposio de sentidos. Beber, no sentido denotativo, soma-se a beber no sentido conotativo, indicando absorver, recolher. O termo lbios remete a pala-vras e a beijos. De ambos viria o blsamo, o remdio para a dor de amor do poeta.

  • poetas da escola70

    Ativ

    idad

    e

    As palavras no:quanto mais se brincacom elasmais novas ficam.

    2 - etapaQual o sentido?

    Coloque os versos abaixo na lousa e pea aos alunos que indi-quem qual o sentido denotativo e qual o sentido conotativo dos termos sublinhados no trecho em que se encontram.

    a) S que bola, papagaio, pio de tanto brincar se gastam.

    O termo novas, denotativamente, indica nunca usado; no contexto, sobrepe-se o sentido conotativo: renovadas, usa-das de forma nunca vista antes, mesmo que sejam as mesmas palavras de sempre.

    b) A poesia tem tudo a ver / com [...] a veloz acrobacia dos peixes.

    A acrobacia denotativamente atribuda a artistas remete movimentao dos peixes, num emprego conotativo.

    c) A poesia tem tudo a ver / com [...] a exploso em verde, em flores e frutos.

    Exploso denotativamente aplicado a um mecanismo que detona; aqui remete conotativamente pujana da vegetao.

    d) Eu tenho um colar de prolas Enfiado para te dar:

    As per las so os meus beijos,

    O fio o meu penar.

    Conserva-se o sentido denotativo original de pedra preciosa, no caso de prola, e de cordo, no caso de fio; acrescentam-se os sentidos conotativos, associados aos beijos e mgoa do poeta.

  • poetas da escola71

    Ativ

    idad

    es3 - etapa Definies poticas

    Dada a possibilidade de jogar com o sentido das palavras, h es-critores que criam definies poticas para algumas palavras de modo criativo e bem humorado. Apresente trs delas aos alunos:

    Prosa: A prosa como trem, vai sempre em frente.

    Poesia: A poesia como o pndulo dos relgios de antigamente, que ficava balanando de um lado para outro.

    Jos Paulo Paes. Vejam como eu sei escrever. So Paulo: tica, 2001.

    Reticncias: As reticncias so os trs primeiros passos dopensamento que continua por conta prpria o seu caminho...

    Mario Quintana. Sapo amarelo. So Paulo: Global, 2006. by Elena Quintana.

    Divida a classe em grupos, pea-lhes que abram a Coletnea em Definies poticas e debatam os possveis significados. Depois do tempo estabelecido, sorteie uma das definies para ser apre-sentada pelos grupos. Um aluno de cada grupo expe para os demais as concluses a que chegaram, com direito a complemen-taes pelo professor. Leve-os a perceber o porqu da metfora presente na definio: a prosa como trem e a poesia como pn-dulo referem-se ao modo como cada uma delas ocupa a pgina; o pensamento que continua por conta prpria o seu caminho remete ao carter sugestivo que as reticncias podem assumir.

    Proponha-lhes a seguir que, individualmente ou em duplas, pro-duzam suas prprias definies poticas. Podem escolher um objeto, um animal, uma pessoa, um sentimento, um lugar etc., e criar, para defini-lo, uma frase potica, buscando trabalhar o sentido denotativo, bem como o conotativo.

  • Oficina. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

    Comparao, metfora, personificao

  • Objetivo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

    Prepare-se! Os poemas analisados nesta oficina no esto gravados no CD-ROM de poemas. Portanto, professor, voc quem tem de diz-los em voz alta para os alunos. Lembre-se de treinar para essa leitura. Afinal, a sua leitura o principal modelo para eles.

    Identificar e usar as figuras de linguagem.

  • poetas da escola74

    Ativ

    idad

    es

    Tua goela uma fornalha

    Teu salto, uma labareda

    Tua garra, uma navalha

    Cortando a presa na queda.

    [...]

    Vinicius de Moraes. A arca de No: poemas infantis. So Paulo: Companhia das Letras, 1991.

    AutORIzAdO PELA VM EMPREENdIMENtOS ARtStICOS E CuLtuRAIS LtdA. VM

    Material Coletnea de poemas Dicionrio de lngua portuguesa

    1 - etapaRecursos que aproximam dois termos

    Uma das mais marcantes caractersticas da linguagem potica a utilizao da linguagem figurada. Vamos agora tratar de trs das mais importantes figuras de lingua gem: comparao, met-fora e personificao. Nesta ofi cina , os alunos vo identificar, aprender e empregar esses recursos.

    Diga-lhes que vo trabalhar, primeiramente, com um trecho da letra de uma cano infantil feita por um poeta famoso, Vinicius de Moraes. Divida os alunos em grupos, entregue-lhes a Colet-nea e pea que abram na pgina de O leo.

    O leoLeo! Leo! Leo!

    Rugindo como o trovo

    Deu um pulo, e era uma vez

    Um cabritinho monts.

    Leo! Leo! Leo!

    s o rei da criao!

  • poetas da escola75

    Pergunte por que no verso rugindo como o trovo o poeta aproxima o rugido do leo do trovo. provvel que os alunos falem do barulho do rugido, similar ao trovo. Amplie o comen-trio e converse sobre fora, poder, capacidade de assustar e causar medo. Questione se a comparao tambm poderia ser estendida a esses aspectos.

    Pea-lhes que grifem a palavra como e explique-lhes que se trata de um termo de comparao. Isso ocorre tambm quan-do usamos as expresses pequeno como uma formiga, suas unhas so to afiadas como as de um gato. A comparao uma relao de semelhana entre elementos por meio de ter-mos comparativos, entre os quais: como, qual, feito, que nem, parece etc. Os poetas costumam utilizar comparaes, insti-tuindo relaes de sentido, ora previsveis, ora inesperadas, entre as palavras.

    H casos em que o escritor elimina o termo comparativo. Por exemplo, em vez de dizer o leo rugiu como um trovo, ele prefere: O leo um trovo rugindo. Quando isso ocorre, te-mos outra figura, a metfora, como nos trs primeiros versos da estrofe seguinte:

    Tua goela uma fornalhaTeu salto, uma labaredaTua garra, uma navalhaCortando a presa na queda.

  • poetas da escola76

    Ativ

    idad

    esConverse com o grupo sobre os possveis sentidos desses trs versos. Mostre que aqui se sugere uma semelhana; no entanto, o poeta no utilizou nenhum termo de comparao (como, qual, feito etc.). A transio rpida de goela para fornalha traz v-rias sugestes: a viso da boca enorme do leo; o efeito ttil da fornalha, assim como o rudo imaginrio de seu crepitar. O mes-mo se aplica