Caderno Formativo - Grupo Marista...Este segundo Caderno quer ser continuidade do processo formativo...

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Movimento Champagnat da Família Marista omeço 2017 um novo c maristas RUMO AO BICENTENÁRIO Caderno Formativo do Movimento Champagnat da Família Marista Volume 2

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  • Movimento ChampagnatdaFamília Marista

    Movimento ChampagnatdaFamília Marista

    Movimento ChampagnatdaFamília Marista

    Movimento ChampagnatdaFamília Marista

    2016|2017La Valla

    2015|2016Fourvière

    2014|2015Montagne

    omeço2017

    um novo cmaristas

    RUMO AO BICENTENÁRIO

    omeço2017

    um novo cmaristas

    RUMO AO BICENTENÁRIO

    Caderno Formativo do Movimento Champagnat da Família Marista

    Volume 2

  • 2016|2017La Valla

    2015|2016Fourvière

    2014|2015Montagne

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    um novo cmaristas

    RUMO AO BICENTENÁRIO

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    um novo cmaristas

    RUMO AO BICENTENÁRIO

    Movimento ChampagnatdaFamília Marista

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    um novo cmaristas

    RUMO AO BICENTENÁRIO

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    um novo cmaristas

    RUMO AO BICENTENÁRIO

    Caderno Formativo do Movimento Champagnat da Família Marista

    Volume 2

    2016|2017La Valla

    2015|2016Fourvière

    2014|2015Montagne

  • PROVÍNCIA MARISTA DO BRASIL CENTRO-SUL/GRUPO MARISTA

    Provincial Ir. Joaquim Sperandio

    Vice-Provincial Ir. Benê Oliveira

    Coordenador Provincial do MChFM Dércio Angelo Berti

    SETOR DE VIDA CONSAGRADA E LAICATO

    Diretor Ir. Benê Oliveira

    Caderno Formativo 2 Movimento Champagnat da Família Marista

    Edição 1/2016

    Coordenação

    Dércio Angelo Berti

    Supervisão João Luis Fedel Gonçalves

    Copidesque Ana Tereza Naspolini e Marcia dos Santos.

    Colaboração Carina Silva Vieira, Josmari Pauzer, Mário Antônio Sanches, Ir. Carlos Wielganczuk,

    Rosana da Silva Alves, Ernesto Sienna, João Luis Fedel Gonçalves, Ir. Franki Kleberson Kucher e Ir. Lauro Daros

    Produção Diretoria de Marketing e Comunicação

    Projeto gráfico e diagramação

    Esúdio Sem Dublê

    Revisão Solange Cohen

    Sumário

    Sonho sonhado junto ...............................................................................6

    apresentação ..............................................................................................8

    introdução ................................................................................................ 10

    orientações ................................................................................................14

    encontro 1 ..................................................................................................20

    encontro 2 .................................................................................................28

    encontro 3 .................................................................................................34

    encontro 4 .................................................................................................40

    encontro 5 .................................................................................................46

    encontro 6 .................................................................................................52

    encontro 7 ..................................................................................................58

    encontro 8 .................................................................................................64

    encontro 9 ................................................................................................. 70

    encontro 10................................................................................................ 76

    referências ................................................................................................82

  • Em 2016, o Instituto Marista fará memória dos 200 anos da “Promessa de Fourvière”. Trata-se de um especial compromisso feito por um grupo de jovens sonhadores recém-ordenados padres. Um comum desejo os unia: criar uma Sociedade que fosse consagrada a Maria. Sociedade de Maria, um sonho sonhado junto. Em 1816, esses padres peregrinaram até Lyon, com destino a um local de nome “Capela Antiga de Fourvière”. Lá, ofereceram-se a Maria e confiaram a ela um ousado projeto:

    (...) Nós, querendo trabalhar para a maior glória de Deus e de Maria, afirmamos que temos a sincera intenção e a firme vontade de nos consagrar à Instituição da piedosíssima con-gregação dos Maristas. (...) Dedicamo-nos irrevogavelmente, nós e tudo o que temos, à sociedade da Bem-Aventurada Vir-gem Maria (...).1

    Assim, no dia 23 de julho de 1816 e sob os pés da Virgem Negra de Four-vière, nascia uma “árvore com muitos ramos”2, denominada Sociedade de Maria3. Desse grupo fez parte também São Marcelino Champagnat que, junto aos demais, insistia fortemente na necessidade de incluir ir-mãos religiosos no projeto original: “Precisamos de Irmãos que ensinem o catecismo e eduquem as crianças”4. Dessa maneira, foi-lhe confiado o ramo dos Irmãozinhos de Maria5, hoje chamados de Irmãos Maristas.

    Ao longo desses quase 200 anos Maristas, o Instituto passou a con-tar cada vez mais com a presença de pessoas que decidiram viver sua espiritualidade e missão cristãs do jeito de Maria, seguindo a proposta legada por São Marcelino Champagnat6. Atualmente, o Instituto Marista

    1 FURET, Jean-Baptiste. Vida de Marcelino José Bento Champagnat. 1999, p. 32.2 MUÑOZ, Alejandro. Família Marista: presença e missão no mundo. 2013, p. 11. 3 FURET, Jean-Baptiste. Vida de Marcelino José Bento Champagnat. 1999, p. 27.4 Ibid., p. 28.5 Ibid., p. 374.6 INSTITUTO DOS IRMÃOS MARISTAS. Em torno da mesma mesa: a vocação dos leigos maristas de Champagnat. 2010,

    p. 18.

    possui um grande número de pessoas que, além dos Irmãos, comungam de seus ideais, envolvidas nos mais variados espaços do Instituto, como: Movimento Champagnat da Família Marista, Pastoral Juvenil Marista, Núcleos de Animação Vocacional, Grupo de Leigos e Leigas, Afiliados e demais espaços de vinculação e de diálogo.

    As Fraternidades do Movimento Champagnat da Família Marista po-derão, a partir de cada realidade, reavivar o ardor daquela promessa fei-ta no Santuário de Lyon, sonhar junto o sonho de Champagnat para os dias atuais, contribuir para a vivência de novas e criativas relações entre Irmãos e Leigos e buscar maior vitalidade do carisma marista. Que seja-mos Maristas novos para um novo começo.

    As Constituições dos Irmãos Maristas dizem: “Tornamo-nos partici-pantes do carisma de Marcelino Champagnat quando orientamos todas as nossas energias para a meta: seguir a Cristo do jeito de Maria, em sua vida de amor ao Pai e aos homens.”7 Essa dimensão deve impregnar nos-sas Fraternidades e compromisso com o projeto de Marcelino, do jeito de Maria. Almejamos que a memória espiritual de Fourvière possa re-animar nossa participação, a fim de que ocorra a vitalidade de nossas Fraternidades e que sejamos cada vez mais presença significativa entre as crianças e jovens, essência da missão Marista.

    7 Idem. Constituições e Estatutos dos Irmãos Maristas. 1997, C3.

    6 CADERNO FORMATIVO DO MCHFM | V.2 CADERNO FORMATIVO DO MCHFM | V.2 7

    SONHO SONHADO JUNTO

  • “Nisso todos conhecerão que sois meus discípulos se vos

    amardes uns aos outros”. (Jo 13,34)

    A participação numa Fraternidade do “Movimento Champagnat da

    Família Marista”, organizado pela Província Marista do Brasil Centro-

    -Sul (Grupo Marista), possibilita a seus participantes unir os corações

    entre si, vivenciar o carisma marista e o mandamento maior do Evange-

    lho, síntese do cristianismo: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao pró-

    ximo como a si mesmo”. Dessa forma, transformados em Cristo, colabo-

    ram na construção de uma sociedade justa, solidária, fraterna e mariana,

    prenúncio do Reino de Deus, anunciado por Jesus Cristo.

    Alegro-me pelo crescimento humano e espiritual que tantos homens e

    mulheres, significativamente chamados “fraternos/as”, alcançam em seu

    processo formativo, estimulados pela reflexão sobre os conteúdos dos

    “Cadernos”. Afinal de contas, Maristas atualizados respondem melhor

    aos novos apelos do Instituo Marista. Como os pioneiros da Sociedade de

    Maria, que sonharam juntos um jeito novo de ser Igreja, vocês, fraternos/

    as, sonhem juntos um novo jeito de ser marista, no qual a vida familiar

    e a experiência comunitária sejam o motor carismático que conduz cada

    um/a à vocação de Leigo Marista.

    Fraternos/as, coragem! Continuem alegres na esperança, pacientes

    nas dificuldades, perseverantes na oração e criativos na missão. (cf. Rm

    12,12). Só assim, serão “Champagnat hoje”, “maristas novos para um

    mundo novo”, levando a esse mundo conturbado a mensagem da espe-

    rança e da alegria que nos pede o Papa Francisco. Que a leitura, a refle-

    xão, a meditação e a oração dos conteúdos deste Caderno possam esti-

    mular cada fraterno/a e cada fraternidade a vencer os desafios que se nos

    apresentam: crescer pessoalmente em santidade e no serviço a Deus e

    aos outros, do jeito de Maria.

    Bom proveito!

    Ir. Joaquim Sperandio

    Superior Provincial

    8 CADERNO FORMATIVO DO MCHFM | V.2 CADERNO FORMATIVO DO MCHFM | V.2 9

    apresentação

  • Este segundo Caderno quer ser continuidade do processo formativo dos Leigos Fraternos e dos Irmãos Assessores de acordo com os objetivos do Plano Nacional de Formação do MChFM.

    As três dimensões (humana, cristã e marista) e a Matriz de conteúdos nucleares estão sendo contemplados por um conjunto de “textos para es-tudos”, escrito por diversos autores. Os encontros seguem a mesma pro-posta do Caderno 1.

    COMUNICAÇÕES

    • Comunicar sempre que necessário ao Coordenador Provincial e à secretaria do SVCL: a nova pessoa que entra na Fraternidade; quando houver troca de endereço ou e-mail; quando a pessoa sai da Fraternidade.

    • Enviar mensalmente a ata para o SVCL e o Coordenador Provincial.

    • Enviar no mês de dezembro de cada ano o planejamento do ano se-guinte.

    • Antes do encontro: o(a) animador(a) deverá orientar previamente os fraternos e fraternas para que venham com a leitura do texto de estudo já realizada.

    • Coordenação do encontro: pode ser feita pelo anfitrião, isto é, a fa-mília que acolhe o grupo para o encontro, sob a orientação do(a) animador(a) e do Irmão assessor.

    • Ata: o(a) ateiro(a) registra as ideias e sugestões apresentadas pelos participantes do grupo durante a reunião e envia a ata ao SVCL e à Coordenação do Provincial, de preferência uma semana após a rea-lização do encontro. Sugere-se que, a cada seis meses, outra pessoa assuma o papel de ateiro. Ao final do exercício, o ateiro pergunta para os fraternos “como foi seu desempenho”.

    • Duração da reunião: é preferível que o encontro dure em torno de uma hora e vinte minutos, e que tenha mais 40 minutos de convi-vência (partilha do lanche).

    • Avaliação: o(a) animador(a), caso tenha tempo, poderá pedir alguns pareceres avaliativos do encontro e do conteúdo que estudaram e fazer constar na ata. Como exercício de crescimento e desenvolvi-mento pessoal, é interessante que, ao final de cada coordenação, o animador solicite aos demais integrantes da Fraternidade um re-torno de como foi seu período de coordenação e que o coordenador também dê um retorno para o grupo do que percebeu durante o pe-ríodo que coordenou. O mesmo procedimento poderá ser feito com quem escreve a ata.

    • Anotações no final do Caderno: cada fraterno anota no seu Caderno as datas, consensos, ideias, frases, etc.

    PROPOMOS OS SEGUINTES PASSOS PARA A REALIZAÇÃO DOS ENCONTROS FORMATIVOS:

    Abertura (com duração de 30 minutos).

    • Silêncio e Meditação. No início da reunião, antes de interagir com os outros, fazer cinco minutos de silêncio e meditação para a escuta interior. A meditação é uma poderosa ferramenta científica desen-volvida há milhares de anos. O silêncio é ponte de comunicação en-tre o Divino e o divino no humano. Um simples tempo de silêncio e meditação, de cinco minutos, praticado diariamente, transforma e sereniza o coração.

    • Leitura do calendário religioso (apenas ler).

    • Leitura da ata anterior.

    10 CADERNO FORMATIVO DO MCHFM | V.2 CADERNO FORMATIVO DO MCHFM | V.2 11

    introdução

  • • Exercício da leitura orante da Bíblia. Três perguntas orientam a leitura: 1. O que o texto diz? (leitura e compreensão do texto bí-blico) 2. O que o texto me diz? (os fraternos fazem um comentário interpretando o texto bíblico, sempre tendo como “pano de fundo” a Palavra) 3. Como o texto me faz agir? (propõe-se um compromisso para o mês a partir da Lectio realizada).

    • Provocação que vem da vida (5 min.): um texto do Patrimônio Espiritual Marista relacionado com o tema.

    • Estudo do texto (45 min.): reflexão partilhada entre os fraternos sobre o tema do encontro, com base nas perguntas que estão no fi-nal do texto.

    • Convivência (40 min.): após uma hora e vinte minutos de reunião, segue a comensalidade, com a partilha do lanche e conversa informal.

    • Despedida: o grupo precisa estar atento para não extrapolar no tempo, tendo em conta as necessidades das famílias, e ter marcado o local e tema do próximo encontro.

    12 CADERNO FORMATIVO DO MCHFM | V.2

    introdução

  • ORIENTAÇÕES AOS IRMÃOS ASSESSORES E ANIMADORES(AS) DAS FRATERNIDADES

    Seguem algumas orientações aos Irmãos Assessores e Fraternos(as) Animadores(as), para que possam conduzir com eficiência e tranquilida-de o processo formativo junto às suas fraternidades.

    FRATERNIDADE

    É composta por um grupo de Leigos e Leigas, que se reúnem para par-tilhar vida, espiritualidade e missão Maristas. O grupo se torna uma Fra-ternidade quando preenche os seguintes requisitos:

    • conhecimento e prática do projeto de Vida;

    • frequência de seus membros às reuniões;

    • participação em eventos regionais e provinciais promovidos pela Coordenação ou pelas Fraternidades do MChFM;

    • reconhecimento, depois de alguns anos de caminhada, pelo Conse-lho Provincial, por meio de um ato formal, mediante solicitação ao Coordenador Provincial do MChFM;

    • definição do orçamento das despesas necessárias à manutenção de suas atividades (viagens, encontros de estudo, retiros, etc.), deven-do criar meios próprios para autossustentação.

    IRMÃO ASSESSOR DA FRATERNIDADE

    A indicação do Irmão Assessor será realizada em comum acordo com o Irmão Provincial, o Coordenador Provincial e a comunidade local.

    Compete ao Irmão Assessor da Fraternidade:

    • participar das reuniões da fraternidade;

    • ser presença discreta do Instituto e do carisma marista junto aos membros da Fraternidade;

    • aproximar a Fraternidade da comunidade religiosa local;

    • subsidiar o animador no processo formativo e na caminhada espiri-tual dos membros da Fraternidade;

    • favorecer o protagonismo e a autonomia dos membros da Fraterni-dade.

    ANIMADOR(A)

    A Fraternidade escolhe um de seus membros para ser o(a) animador(a) por três anos, de acordo com o mandato do Superior Provincial. No caso de seu impedimento, a Fraternidade deverá escolher outro animador para completar o mandato corrente.

    A escolha do novo animador ocorre no início do segundo semestre do último ano do triênio e suas atividades terão início a partir de janeiro do ano seguinte. Um animador pode ser reeleito uma única vez, chegando a um período de coordenação ininterrupta de no máximo seis anos.

    Para que possa ser eleito novamente pela Fraternidade, é necessário que haja, no mínimo, o intervalo de um triênio entre o último período de animação e o novo.

    Compete ao animador da Fraternidade:

    • cuidar do cumprimento da pauta e do horário de início e término da reunião;

    • preparar previamente a reunião, levando o material necessário para o bom desempenho desta;

    • ajudar o grupo a manter o foco nas atividades propostas e no cum-

    14 CADERNO FORMATIVO DO MCHFM | V.2 CADERNO FORMATIVO DO MCHFM | V.2 15

    orientações

  • primento dos horários definidos para cada atividade;

    • conciliar e promover reflexões agregadoras;

    • convidar quem não se manifesta a dar sua opinião;

    • pontuar a prolixidade quando esta acontecer;

    • organizar a sequência de quem vai falar e fazer cumprir;

    • seguir a pauta e manter as decisões do grupo em funcionamento;

    • promover oportunidade para que todos participem ativamente da reunião;

    • ajudar quem faz as atas a cumprir a sequência;

    • favorecer o processo formativo dos membros da Fraternidade e a vivência do carisma marista.

    FRATERNO(A)

    O Leigo ou a Leiga que deseja se tornar membro de uma Fraternidade deve seguir os procedimentos estabelecidos pela instância responsável pelo MChFM na Província, de acordo com o documento Projeto de Vida do MChFM. Espera-se de cada um:

    • ser pontual. Caso não seja possível, enviar recado para que não se fique esperando em vão;

    • justificar a ausência ao coordenador do grupo;

    • ajudar o(a) animador(a) a desenvolver as habilidades necessárias para um bom desempenho sem cobranças;

    • dar opinião na realização dos consensos;

    • fazer anotações do desenvolvimento das reuniões no final do Ca-derno formativo;

    • realizar suas tarefas de casa e, caso não os faça, justificar ao grupo.

    PRINCÍPIOS

    Os princípios que fundamentam todo o processo formativo estão de-senhados no Plano Nacional de Formação do MChFM8 e em sintonia com as reflexões desenvolvidas pelo Instituto a respeito dos Leigos e Leigas Maristas:

    • O carisma de Champagnat é dom do Espírito Santo para Irmãos, Leigas e Leigos9

    • Protagonismo e autonomia do Leigo10

    • Espírito de Família na vivência comunitária11

    • Formação nas dimensões humana, cristã e marista12

    • Respeito aos diferentes contextos provinciais e à caminhada das Fraternidades

    DOCUMENTOS DE REFERÊNCIA PARA A FORMAÇÃO DOS FRATERNOS

    No processo de formação, orientado pelo Plano Nacional de Formação do MChFM, alguns documentos são considerados fundamentais e podem ser encontrados no Portal Marista do Instituto: www.champagnat.org. Entrando nessa página, acesse, no menu superior, o link “E-maristas” e

    8 Plano Nacional de Formação do MChFM, Umbrasil, 2013. p. 12.9 INSTITUTO DOS IRMÃOS MARISTAS. Em torno da mesma mesa: a vocação dos leigos maristas de Champagnat,

    UMBRASIL, n. 45. 73-77. 79.10 Ibid., n. 12, 44; Documento de Aparecida, n. 174, 214, 202.11 Ibid., n. 70; Água da rocha: espiritualidade Marista, n. 96 e 107.12 Projeto Educativo do Brasil Marista, p. 56; Documento de Aparecida, n. 212.

    16 CADERNO FORMATIVO DO MCHFM | V.2 CADERNO FORMATIVO DO MCHFM | V.2 17

    orientações

  • clique em “documentos maristas”. Lá você encontrará os documentos in-dicados a seguir:

    A) PROJETO DE VIDA DAS FRATERNIDADES

    É um caminho fecundo para desenvolver a vida comunitária e fonte de inspiração para que o Movimento enfrente os desafios que estes novos tempos apresentam: crescer com autonomia e responsabilidade na pró-pria vocação laical; conectar-se com as novas gerações; transmitir a pai-xão pela vocação marista, tanto do irmão quanto do leigo; envolver-se em novas formas de missão; e articular-se de modo mais efetivo com outras realidades do mundo marista.”13 É o primeiro documento a ser oferecido para os que ingressam no Movimento. Nele está dito que o Movimento é essencialmente caracterizado pela espiritualidade, vivência e partilha e que essas características devem ser respeitadas e cultivadas na metodo-logia do processo formativo:

    • Oração – fazemos uso da leitura orante da Bíblia.

    • Reflexão (estudo) – aprofundamos temas que nos ajudam na cami-nhada à luz da fé cristã.

    • Convivência: vivemos como fraternos e fraternas, e isso inclui o lazer, a confraternização, a amizade, a presença, enfim, valores que fortalecem a partilha em comunidade.

    • Apostolado: nosso compromisso pessoal e coletivo se expressa na vida em família, na profissão, na comunidade eclesial e em outros espaços.

    B) EM TORNO DA MESMA MESA – A VOCAÇÃO DOS LEIGOS

    13 INSTITUTO DOS IRMÃOS MARISTAS. Em torno da mesma mesa: a vocação dos leigos maristas de Champagnat, UMBRASIL, 2010, n. 88.

    MARISTAS DE CHAMPAGNAT

    C) ÁGUA DA ROCHA – ESPIRITUALIDADE MARISTA

    D) CIRCULAR DO IRMÃO EMILI TURÚ – DEU-NOS O NOME DE MARIA

    E) MISSÃO EDUCATIVA MARISTA – UM PROJETO PARA O NOS-SO TEMPO

    F) NAIRÓBI 2014

    G) USO EVANGÉLICO DOS BENS

    O (A) animador(a) estimula a leitura conforme a disponibilidade de cada um. Sabemos que essas leituras tomam tempo e que os nossos com-promissos nem sempre proporcionam condições para tanto. Aconselha-mos fazerem as leituras sem a determinação de prazos.

    18 CADERNO FORMATIVO DO MCHFM | V.2 CADERNO FORMATIVO DO MCHFM | V.2 19

    orientações

  • TEMA: PARADIGMA Abertura (30 min.)• Meditação e Silêncio • Leitura do calendário religioso• Leitura da ata• Leitura orante da Bíblia (Jo 4. 3 – 30). O que o texto diz? O que o texto me diz? Como o texto me faz agir?

    > PROVOCAÇÃO QUE VEM DA VIDAO processo de ensinar está vinculado à concepção de criança, apren-

    dizagem, conhecimento e outros constructos derivados da filosofia, psi-cologia, antropologia e demais ciências. Não se pode estudar Champag-nat sem acolher essas realidades, muitas vezes plurais e coexistentes, e sem acatar o seu contexto sócio-político-religioso-filosófico. Tais consi-derações têm como intencionalidade compreender o santo fundador em suas circunstâncias – mais do que tecer análises de suas ações e dizeres. Conhecendo-se Champagnat, tendo-o em seu contexto e considerando as prioridades do seu projeto, não é de se estranhar que não tenha cria-do nenhum método novo de ensino ou não tenha escrito nenhum trata-do sobre a educação, salvo algumas normas ou sentenças. Ele seguia o que vigorava na época. Outros, como os Irmãos Lassalistas, já tinham manual próprio para seguir. Champagnat não hesitou em convidá-los para ensinar os jovens Irmãos Maristas a serem educadores, sobretudo para aprenderem o Método Simultâneo14. E, como era costume na época,

    14 O Método Simultâneo consistia em reunir os alunos por capacidade, em seções ou grupos. Enquanto o professor atendia uma seção, os alunos das outras seções estudavam ou escreviam (Apostila do Módulo 2, do Curso Patrimônio e Espiritualidade Marista (PEM)), p. 137.

    adotou o Conduite des Écoles Chrétiennes15. Contudo, Champagnat, sempre atento às necessidades de seu tempo, ousou inovar em algumas práticas pedagógicas, rompendo convicções vigentes, por exemplo: 1) a proibição dos castigos físicos, quando eram tidos como recurso normal; 2) o en-sino da música e do canto, prática ausente na região; 3) introdução do método fônico para o ensino da leitura, quando a norma era utilizar o método silábico; 4) opção pelo método de ensino Mútuo/Simultâneo16; 5) importância à experiência, além do indispensável ensino teórico; 6) en-riquecimento da teoria pedagógica baseado em livros sobre educação e formação de professores17.

    Essas inovações, que representaram verdadeiros desafios a Cham-pagnat, são mais valorizadas quando consideradas em relação à visão de criança e de ensino que prevalecia à época. Tem-se a impressão de que o fundador/educador realizou tais mudanças mais por intuição – guiado pelo inabalável amor que dedicava às crianças – do que por estudos cien-tíficos.

    > Texto para estudoQUEBRA DE PARADIGMAS E ENCANTAMENTO PELA EXISTÊNCIA

    O termo “paradigma” tem sido muito utilizado na atualidade. Etimo-logicamente, esse termo vem do grego paradeigma, que significa mode-lo, exemplo, padrão de orientação. É um modo “fixo” de ver e analisar o mundo, os fatos, as situações, as pessoas. No dia a dia, em geral, vemos o mundo por meio dos nossos paradigmas.

    15 Conduite des Écoles Chrétiennes é uma obra essencial para o projeto de educação humana e cristã de João Batista de La Salle e de seus primeiros irmãos, os Lassalistas.

    16 O Método Mútuo/Simultâneo consistia em o professor atender cada seção individualmente, enquanto as demais seções eram atendidas por um aluno monitor que aprofundava os conhecimentos ensinados antes pelo professor. Era um método mais interativo (Idem, p. 138).

    17 Apostila do Módulo 2, do Curso Patrimônio e Espiritualidade Marista (PEM), p. 158.

    20 CADERNO FORMATIVO DO MCHFM | V.2 CADERNO FORMATIVO DO MCHFM | V.2 21

    encontro 1

  • Os valores e as crenças que constituem um paradigma moldam os comportamentos individuais e grupais e determinam o modo de encami-nhar as ações, as soluções, as próprias dúvidas.

    Nossos paradigmas influenciam tanto nossas percepções quanto nos-sas ações, pois nos fazem acreditar que o jeito como fazemos as coisas é o “certo” ou “a única forma de fazer”.

    Assim, somos muitas vezes “impedidos” por esses paradigmas de acei-tar ideias novas, tornando-nos pouco flexíveis e resistentes a mudanças.

    A “paralisia de paradigma” pode, portanto, impedir-nos de ver opor-tunidades positivas que se encontram à nossa volta; para percebê-las, precisamos estar conscientes e dispostos a acolher o que está além dos nossos hábitos, saindo da “zona de conforto” e assumindo uma postura mais flexível diante da vida.

    Como se interioriza um paradigma? Respondendo de forma sucinta, pode-se dizer que há teóricos que afirmam que o que é aprendido, num certo momento, está fora do sujeito aprendente. Está na família, na es-cola, na igreja, na sociedade, nos livros, na televisão, na web. À medida que a pessoa convive com outras, vai internalizando aquelas verdades. Dizem, então, tais teóricos que o conhecimento é socialmente construído.

    Uma vez assimilados, paradigmas, preconceitos e outros condiciona-mentos tornam-se de certa forma inconscientes. Isso faz com que qual-quer processo de mudança seja muito difícil. Como questionar a própria postura de vida se temos a certeza de que ela está correta, se já se perdeu a origem de nossos paradigmas? Quando não se pergunta os “porquês” das coisas é muito difícil realizar transformações.

    Albert Einsten já dizia: “É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito.”

    Vejamos uma parábola para quebra de paradigmas.

    Segundo o escritor Rubem Alves, “A pipoca é um milho mirrado, sub-desenvolvido”. Mas só ele tem em si a potencialidade de se transformar em lindas florzinhas brancas e macias. Colocados os grãos no calor do fogo, eles estouram e fazem a festa da criançada e... também da gente grande.

    A PIPOCA18

    (...) É muito divertido ver o estouro das pipocas! (...)

    (...) É que a transformação do milho duro em pipoca macia é símbolo da grande transformação por que devem passar os homens para que eles venham a ser o que devem ser. O milho da pipoca não é o que deve ser. Ele deve ser aquilo que acontece depois do estouro. O milho da pipoca somos nós: duros, quebra--dentes, impróprios para comer (...).

    Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca, para sempre. Assim acontece com a gente. As grandes transformações acon-tecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e dureza assombrosas. Só que elas não percebem. Acham que o seu jeito de ser é o melhor jeito de ser.Mas, de repente, vem o fogo. O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nun-ca imaginamos. Dor. Pode ser fogo de fora: perder um amor, perder um filho, ficar doente, perder um emprego, ficar pobre. Pode ser fogo de dentro. Pânico, medo, ansiedade, depressão – sofrimentos cujas causas ignoramos. Há sempre o recurso aos remédios. Apagar o fogo. Sem fogo o sofrimento diminui. E com isso a possibilidade da grande transformação.

    Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro ficando cada vez mais quente, pense que sua hora chegou: vai morrer. De dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar destino diferente.

    18 ALVES, Rubem. O amor que acende a lua. Papirus, 2003.

    22 CADERNO FORMATIVO DO MCHFM | V.2 CADERNO FORMATIVO DO MCHFM | V.2 23

    encontro 1

  • Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada. A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz. Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo, a grande transformação acontece: pum! – e ela aparece como uma outra coisa, completamente diferente, que ela mesma nunca havia sonhado. (...)

    Piruá é o milho de pipoca que se recusa a estourar. (...)

    (...) Piruás são aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recu-sam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem. (...)

    (...) A sua presunção e o seu medo são a dura casca do milho que não estou-ra. O destino delas é triste. Vão ficar duras a vida inteira. Não vão se trans-formar na flor branca macia. Não vão dar alegria para ninguém. Terminado o estouro alegre da pipoca, no fundo da panela ficam os piruás que não servem para nada. Seu destino é o lixo.

    (...)

    (Rubem Alves)

    Realizam a transformação de paradigmas as pessoas com profundo desenvolvimento humano e espiritual. Essa mudança requer análises, autoavaliação, aceitação de críticas externas, busca de outros valores. Implica se libertar das respostas usuais e fazer novas escolhas; readqui-rir o encantamento pela vida.

    Jesus também quebrou paradigmas! Ele trouxe ao cotidiano das pes-soas novos horizontes para uma vida de consciência, respeito, diálogo e simplicidade entre os semelhantes e em seu relacionamento com Deus.

    Assim agindo, Jesus aproximou-se de samaritanos, de cobradores de impostos, de prostitutas e os acolheu e lhes proporcionou nova vida.

    PERGUNTAS PARA APROFUNDAMENTO

    1. Como você reage diante de um diálogo que o desafia a encarar anti-gos conceitos, práticas e crenças e o leva a analisar e aderir a novos parâmetros?

    2. Quais os paradigmas que precisam ser quebrados em sua vida? Você já ousou modificar algum modo de ser ou agir fazendo novas esco-lhas para experimentar algo completamente novo? Isso marcou sua vida? Como?

    3. Por que é difícil “mudar”?

    Vídeo: Como nascem os paradigmas – https://www.youtube.com/watch?v=g5G0qE7Lf0A.

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  • 26 CADERNO FORMATIVO DO MCHFM | V.2 CADERNO FORMATIVO DO MCHFM | V.2 27

    ANOTAÇÕES/COMENTÁRIOS/OBSERVAÇÕES

  • TEMA: NOSSO SONHO: A COMUNHÃOAbertura (30 min.)• Meditação e Silêncio • Leitura do calendário religioso• Leitura da ata• Leitura orante da Bíblia (1 Jo 3, 16-24). O que o texto diz? O que o texto me diz? Como o texto me faz agir?

    > PROVOCAÇÃO QUE VEM DA VIDASabemos que Marcelino tinha especial consideração pela vida comu-

    nitária. A esse respeito encontramos o seguinte pedido em seu Testa-mento Espiritual: “Prezadíssimos Irmãos, eu lhes peço com todo o afeto de minha alma e por todo o afeto que vocês têm por mim: esforcem-se para que se mantenha sempre entre vocês a santa caridade”. Portanto, a virtude da caridade constitui o fundamento para qualquer comunidade que se diga inspirada no espírito do Fundador.

    Qual seria a melhor definição de comunidade para o nosso Instituto hoje? Talvez a definição mais simples seja identificá-la como “um caso de amor”. Antes e acima de tudo, viver com nossos Irmãos nos desafia, você e eu, a criar e cultivar um coração amoroso. Sem isso, podemos até sobreviver, mas jamais floresceremos como comunidade. (...)

    “Em anos mais recentes, abençoado pela oportunidade de conhecer Irmãos de todas as partes do mundo e de conversar com eles, descobri que muitos tiveram a experiência, como eu, de conviver com muitas pes-

    soas dedicadas, espiritualizadas e competentes, especialmente Irmãos. Partilhando comigo sua experiência de vida em comunidade, por exem-plo, um coirmão espontaneamente me disse: “Seán, Deus me abençoou com maravilhosos companheiros na minha trajetória de vida”. Entendi muito bem o que ele quis dizer com isso.”19

    > Texto para estudoNOSSO SONHO: QUE SEJAMOS RECONHECIDOS COMO PESSOAS QUE VIVEM A COMUNHÃO

    Alguns fatos nos incentivam a viver um sonho: a comunhão

    Fato 1: II AIMM (Nairóbi, setembro de 2014).20. A II Assembleia In-ternacional da Missão Marista reuniu representantes do mundo todo e testemunhou o “UBUNTU” – uma comunhão de espírito, alma e missão. Ao final da Assembleia, os participantes redigiram uma mensagem cha-mada “Vozes do Fogo”.

    O fogo foi um dos símbolos utilizados na Assembleia que representa com fidelidade a cultura local africana e a dimensão da comunhão. Em torno da fogueira, os povos africanos se reúnem para conviver, decidir e celebrar.

    Em torno da fogueira africana, Maristas de Champagnat aqueceram seus corações e testemunharam mais uma vez que o carisma vive a partir da missão presente em mais de 80 países. A mensagem “Vozes do Fogo” trouxe um grande sonho.

    Maristas de Champagnat, sejamos reconhecidos como homens e mu-lheres que vivem a comunhão porque:

    19 SEÁN, D. Sammon, FMS, Superior Geral. Maravilhosos companheiros: a vida comunitária dos irmãozinhos de Maria, 25 de março de 2005, p. 11-13.

    20 II AIMM, Vozes do Fogo, Carta Mensagem da II AIMM, 2014.

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  • • respondemos à chamada de Jesus Cristo para viver o Evangelho do jeito de Maria.

    • constituímos uma família carismática formada por novas e diver-sas expressões comunitárias.

    • desenvolvemos processos e estruturas de acompanhamento das vocações que geram novas maneiras de vinculação e pertença den-tro do carisma marista.

    • criamos novas estruturas que promovem de maneira efetiva a par-ticipação, a corresponsabilidade e a tomada de decisão.

    • existem redes internacionais, interculturais e intercongregacionais de comunidades com destacado caráter itinerante e missionário.

    Fato 2: Bicentenário (2017). Prestes a celebrar o bicentenário do Instituto, somos convidados a, juntos, construirmos um novo relato da história em que a profecia, a mística e a comunhão sejam as características pelas quais nós nos reconheçamos e sejamos reconhecidos como Maris-tas de Champagnat.

    Fato 3: XXI Capítulo Geral (Roma, 2009). O XXI Capítulo Geral já nos encorajava a viver uma nova comunhão de Irmãos, Leigas e Lei-gos (UBUNTU). O apelo fundamental desse Capítulo “Com Maria, ide depressa para uma nova terra!”, já incluía a instauração de “uma nova relação entre Irmãos e Leigos/as, baseada na comunhão, buscando jun-tos uma crescente vitalidade do carisma marista, no mundo de hoje.”21 É possível ver, então, o nosso futuro como comunhão de pessoas vivendo o carisma de Champagnat, no qual se enriquecem mutuamente as nossas vocações específicas.

    21 Documento do XXI Capítulo Geral, p. 27.)

    Fato 4: I Assembleia Internacional da Missão Marista – AIMM (Mendes/RJ, 2007). Seguindo o apelo da I AIMM, “Um coração, uma mis-são”, homens e mulheres, procuramos viver a comunhão, revitalizando nossas vidas e nossa missão.

    Fato 5: Espírito de Família. Um dos valores maristas é o espírito de família. Muitos afirmam que o “marista” é sua segunda casa. Com cer-teza, o espírito de família ou de comunhão que experimentamos nos faz sentir assim: em casa! É no ambiente familiar que crescemos, nos edu-camos, nos enriquecemos espiritualmente, enfrentamos desafios, chora-mos as mágoas, celebramos as vitórias. Como é bom chegar em casa e encontrar a mesa posta com um pão quentinho nos esperando para ser partilhado. Como é bom ter como companheiros de caminhada pessoas com os mesmos ideais! Nossa família se amplia e se dignifica! Como es-tamos pondo nossa mesa para os nossos companheiros de caminhada? O aroma do pão fresquinho exala em nossos ambientes, em nossos encon-tros fraternais?

    Fato 6: A mesa de La Valla. A família marista é a extensão da família para muitos seguidores de Marcelino. A comunhão nascida em La Valla é muito bem representada na memorável mesa de La Valla e nos convi-da, Irmãos, Leigas e Leigos, a sentarmos ao seu redor para partilharmos vida, missão e espiritualidade.

    Fato 7: Vede como se amam. A comunhão que queremos viver e testemunhar nada mais é que a extensão de uma comunhão de todos os discípulos de Jesus Cristo. No Evangelho de São João, Jesus afirma ca-tegoricamente: “Nisto todos conhecerão que sois os meus discípulos: se vos amardes uns aos outros” (Jo 13, 35). A comunhão é querida por Deus, pois é reflexo do próprio Deus. A nossa comunhão é a resposta da vivên-cia pedida por Jesus e é o caminho que a Mãe Igreja tenta trilhar.

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  • Fato 8: A Eucaristia. A Eucaristia é o sacramento que contém em si o significado de comunhão. É ponto culminante da celebração. É banquete no qual o próprio Cristo se dá em alimento a todos. Diz-se, então, que to-dos comungam do mesmo pão partilhado. Todos comungam da mesma fé. Ela só é comunhão em nossa vida quando vivenciamos a comunhão com os demais com os quais vivemos. Por isso, somos convidados a exer-citar em nós e destacar aquilo que nos leva à comunhão, e não ao que nos separa e divide. O diferente não deve ser causa de divisão, mas de com-plementaridade.

    Eis o grande desafio e, ao mesmo tempo, o grande sonho para todos nós, cristãos e fraternos: viver a comunhão!!

    PERGUNTAS PARA AROFUNDAMENTO

    1. Somos conhecidos como fraternos. Nossa realidade atual é de fra-ternidade? Como estamos pondo nossa mesa para os nossos compa-nheiros de caminhada? O aroma do pão fresquinho exala em nossos ambientes, em nossos encontros fraternais?

    2. Como fraternos, como se dá nossa comunhão com Cristo e seu Cor-po – que é a Igreja?

    3. A comunhão com os fraternos me ajuda a viver a comunhão fami-liar?

    Vídeo: A força da união e comunhão – https://www.youtube.com/watch?v=L8Lf5GlW32s.

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  • TEMA: AUTOCONHECIMENTO E ALTERIDADEAbertura (30 min.)• Meditação e Silêncio • Leitura do calendário religioso• Leitura da ata• Leitura orante da Bíblia (Romanos 15, 1-7). O que o texto diz? O que o texto me diz? Como o texto me faz agir?

    > PROVOCAÇÃO QUE VEM DA VIDASão inúmeros os depoimentos sobre São Marcelino Champagnat. To-

    davia, vamos registrar algumas descrições para nos situar no tema pro-posto.

    DESCRIÇÃO DE LAVEILLE:

    “O Pe. Champagnat era de estatura alta, de porte reto e um pouco rijo. Seu rosto com traços acentuados, emoldurado de abundantes cabelos pretos; seu olhar era límpido e franco, severo, à primeira vista, que chegava a inspirar uma certa timidez, mas após os primeiros contatos, tudo mudava. Seu bom sorriso aclarava uma fisionomia que se tornava imediatamente agradável e graciosa. Afabilidade de suas maneiras juntamente com a jovialidade de suas reflexões, tudo se ajustava”. (Mgr. Laveille – Marcellin Champagnat, Prêtre Mariste, fondateur de l’Institut des Petits-Frères de Marie, 1921, p. 334).

    DEPOIMENTO DO IR. JOÃO BAPTISTA FURET:

    “...Tinha espírito de retidão, discernimento seguro e profundo, coração bom e sensível, sentimentos nobres e elevados. Era de caráter alegre, expansivo, franco, firme, corajoso, ardoroso, constante e equânime. Tais dotes preciosos e

    magníficos atributos, aperfeiçoados pela graça e realçados por uma humildade e caridade profundas, tornavam-no extremamente amável a seus Irmãos e a todos quantos se relacionavam com ele.

    As maneiras simples e afáveis, os sinais de bondade que lhe transpareciam no semblante, atraíam os corações e dispunham os ânimos a aceitar, sem res-sentimentos, e mesmo com alegria, seus conselhos, diretivas e repreensões.

    O mais admirável no caráter do Pe. Champagnat era a uniformidade. Con-tradições, provações, cansaços, preocupações da administração de uma co-munidade numerosa, com frequência carente de muitas coisas, enfermidades, nada lhe alterava a paz espiritual, nem a serenidade do rosto. Nunca se quei-xava; jamais viram-no triste ou desanimado”. (Vida, ed. Bicentenário/89, p. 25l -252).

    > Texto para estudoAUTOCONHECIMENTO E ALTERIDADE22, UMA FELIZ RELAÇÃO DE COMUNHÃO

    Conhece-te a ti mesmo. O grande filósofo Sócrates nos instiga a re-fletir sobre o autoconhecimento, sem o qual seguimos influenciados pela sociedade, que, especialmente nos dias atuais, graças à tecnologia, leva--nos a olhar a vida dos outros, o que possuem, o que gostam, o que fazem, sua aparência, o papel que desempenham na sociedade, enquanto a per-cepção mais consciente de si mesmo torna-se quase nula.

    Descobrir o que de fato somos exige esforço, um mergulho profun-do em nós mesmos para desenvolver aspectos relevantes de vida, como: quais são os meus valores, qual a minha missão, quais são minhas cren-ças, em que acredito, quais as minhas qualidades, minhas capacidades, meus defeitos, meus medos, minhas limitações, enfim o que rege minhas

    22 Este texto foi interpretado e transcrito em parte, tendo como base o site https://porumavidamelhor.wordpress.com/2010/04/06/.

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  • ações, meu comportamento. Tal processo pode se acelerar e ser de grande auxílio pela prática da “alteridade”, que tem o prefixo alter cujo significa-do é o de alguém colocar-se no lugar do outro, numa relação interpessoal, com consideração, valorização, identificação e disposição para dialogar, aproximar, fazer acontecer.

    Isso é alteridade: o estabelecimento de uma relação de paz com os diferentes, a capacidade de conviver bem com a diferença da qual o “ou-tro”, e nós, somos portadores. A ética da alteridade consiste basicamente em saber lidar com o “outro”, entendido não apenas como o próximo ou outra pessoa, mas, além disso, como o oposto, o distinto, o incomum ao mundo dos nossos sentidos pessoais, o desigual, que na sua realidade deve ser respeitado como é e como está, sem indiferença ou descaso, re-pulsa ou exclusão, em razão de suas particularidades.

    Harmonia das diferenças. Você já pensou que o nosso grande pro-blema, nas relações pessoais, é que desejamos que os outros sejam iguais a nós? Em se falando de amigos, desejamos que eles gostem exatamen-te do que gostamos, que apreciem o mesmo gênero de filmes e música que nos dão prazer. No âmbito familiar, prezaríamos que todos os com-ponentes da família fossem ordeiros, organizados e disciplinados como nós. No ambiente de trabalho, reclamamos dos que deixam a cadeira fora do lugar, papel espalhado sobre a mesa e que derramam café quando se servem.

    A sabedoria divina colocou as pessoas no mundo, com tendências e gostos diversos. Tudo para nos ensinar que o grande segredo do progres-so está exatamente em aprendermos uns com os outros, a trocar experi-ências e valorizar as diferenças. Somos diferentes numa família. Somos diferentes numa região. Somos diferentes numa nação. A diferença é ine-rente, portanto, à natureza humana. Que bom que assim seja.23

    23 https://porumavidamelhor.wordpress.com/2010/04/06.

    Fraternidade e alteridade. A experiência nos diz que ninguém pode crescer sozinho. Desde a gestação e nascimento, o ser humano necessita do outro. Para viver mais plenamente e se desenvolver na fé, necessita de uma comunidade. O próprio Cristo, quando quis que o Reino de Deus tivesse vez e espaço na sociedade, não enviou singularmente os seus discípulos para evangelizar, enviou-os de dois em dois para que se au-xiliassem mutuamente, para que partilhassem o ministério, para que se enchessem de paciência um com o outro e por muitas outras vantagens, sobretudo pelo testemunho de vida para a comunidade. Viver em frater-nidade supõe viver no amor. Cada um de nós é depositário de todo o amor de Deus. Somos inundados por um amor infinito que precisa extravasar. Nesse processo, o outro é destinatário de todo o nosso amor. Não somen-te como indivíduos, mas como pessoas de relação. Jesus redime pessoas e também as relações sociais entre elas.24

    Uma feliz relação de comunhão. O cuidado em relação a nós mes-mos, a busca constante do autoconhecimento, o zelo perseverante para com o outro, o aprimoramento de nossas inter-relações, a certeza de que vivendo em comunhão seremos mais fortes nos preparam para a vivên-cia em fraternidades ou pequenas comunidades. Viver em fraternidade é oferecer ao mundo um sinal de esperança, uma forma de proclamar que é possível conviver em clima de cooperação e confiança mútua. Viver em fraternidade, onde imperam relacionamentos saudáveis e espírito de família, onde todos se preocupam com todos, onde a acolhida e a escuta são atitudes habituais, é um jeito de tornar visível a relação de comunhão entre pessoas, sonhada por Deus. É pensar que “o outro é uma dádiva de Deus e que, juntos, num esforço incessantemente renovado de recon-ciliação e de comunhão, tornamo-nos sinal de unidade para os que nos veem viver”.25 Nossa fraternidade marista, que é uma oportunidade de

    24 Pont. Conselho “Justiça e Paz”, Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 52.25 SEÁN, D. Sammon, FMS, Superior Geral. Maravilhosos companheiros: a vida comunitária dos irmãozinhos de Maria,

    p. 78-80.

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  • partilhar nossa jornada com “maravilhosos companheiros”, tornar-se-á irradiante, na medida em que nos amarmos de verdade; na medida em que nosso amor se espraiar para as realidades que nos rodeiam, sobretu-do para as pessoas necessitadas. Solidamente alicerçada em Jesus Cristo como centro, partilhado e interiorizado em nossos encontros mensais, onde a Palavra de Deus encontra um espaço privilegiado, a fraternidade poderá ser a consolidação da unidade.

    PERGUNTAS PARA APROFUNDAMENTO

    1. Diante do amor infinito de Deus por nós, posso (podemos) afirmar que cuido de mim, que me cultivo para ser dom de Deus para as pes-soas?

    2. Que apelos sinto quanto à minha relação com Deus em Jesus Cristo e com as pessoas com as quais convivo no dia a dia?

    3. Que podemos dizer de nossa fraternidade? Somos sinal de unidade? Somos sinal de solidariedade?

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  • TEMA: ÉTICA E O SENTIDO DA VIDA Abertura (30 min.)• Meditação e Silêncio • Leitura do calendário religioso• Leitura da ata• Leitura orante da Bíblia (Ef 5, 8-14). O que o texto diz? O que o texto me diz? Como o texto me faz agir?

    > PROVOCAÇÃO QUE VEM DA VIDAMarcelino Champagnat escreve de Paris uma carta à Marie Clermon-

    don, viúva do seu mano Jean Barthélemy Champagnat, que era o segun-do filho do casal Champagnat-Chirat e Marcelino o último filho, com uma diferença de 12 anos. É carta de pêsames. No entanto, observamos nela o sentido da vida que Padre Marcelino expressa.

    Paris, 16 de março de 1838. Querida cunhada. Com muito pesar, não pude es-tar junto ao meu pranteado irmão, durante sua doença. Não pensava que fosse mortal. Tinham-me dito que estava indo melhor. Faz apenas alguns dias que em Paris me deram a notícia (...) Como é curta esta vida! Como é pouca coisa e de quantas tribulações anda cercada! (...) Meu Deus, como é infeliz o homem que não vive segundo vossa lei! Como é cego aquele que se apega a um bem que larga para nunca mais ver! Sigamos o que nos diz São Paulo: “Usemos o que Deus nos deu, segundo a vontade do mesmo Deus sem nos apegar.” Coitados dos ricos!... O que é que eles têm a mais que nós? Mais tristeza ao deixar esta vida.

    Minha querida cunhada, aquele que você chora e que choro também eu, se não lhe deixou muitos bens, deixou a você e a seus filhos o exemplo de uma vida muito cristã. É por isso que gosto de me lembrar que ele era meu irmão.

    Não subo nenhuma vez ao altar sem me lembrar dele. Será que vamos ter que esperar muito para segui-lo no túmulo? O momento já está marcado, você não sabe qual é, nem eu tampouco, e pouco importa que saibamos. Preparemo--lo por uma vida toda para Deus e conforme Deus quer. Que nossas enfermida-des, nossos sofrimentos sejam para nós outras tantas ocasiões de nos tornarmos mais agradáveis a Deus!

    (Carta de Marcelino Champagnat à cunhada, Sra. Marie Clermondon Champagnat, viúva de seu irmão Jean Barthélemy Champagnat)

    Vídeo: Reflexão! O sentido da vida – https://www.youtube.com/watch?v=nAIikSsBcDg.

    > Texto para estudoÉTICA E O SENTIDO DA EXISTÊNCIA

    Na busca de metáforas que nos possibilitem falar de ética, encontra-mos que a ética pode ser mais bem compreendida como uma corda que une dois extremos do que como uma flecha que indica o caminho. Desse modo, quem ensina ética é parecido com um pai que ensina o filho a sol-tar pipa: o aprendizado só estará completo quando de um lado da linha houver uma pipa flutuando no ar e do outro uma mão firme segurando. A linha é o vínculo entre o menino e a pipa. Esta, ao se deixar conduzir pelo cérebro que dita os movimentos às mãos, braços e pernas do menino que maneja a linha, flutua. Vínculo é, portanto, o que une, liga ou ata algu-ma coisa a outra. Quando o vínculo ocorre entre pessoas, dá-se a relação vital. Muitas outras figuras poderiam ser evocadas para expressar que a ação – a pipa – precisa estar vinculada, bem segura, àquilo que podemos chamar de “nossa visão de mundo” ou sentido de nossa existência.

    Assim, a ética é autenticidade, a falta dela é incoerência. A ética exige de nós uma relação coerente entre a nossa prática cotidiana e o sentido de nossa vida e isso é desafiante, pois a realidade nos mostra que: a) diferen-

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  • tes pessoas atribuem diferentes sentidos para suas vidas. Isso nos leva à análise da diversidade cultural, moral, religiosa, científica, entre outras; b) a ação humana é difícil de ser compreendida. Pipa não é apenas pipa; é também relação, competição, problema de segurança, vínculo.

    A reflexão ética nasce dos nossos valores morais, brota da fidelidade àquilo que estabelecemos como o sentido de nossa vida.

    Portanto, a verdadeira orientação ética é interna e deve brotar do senti-do maior que atribuímos à nossa própria existência. Desse modo ela será necessariamente pluralista, pois não há um sentido único para a existên-cia. Por outro lado, e igualmente importante, é necessário reconhecer que o sentido da vida humana tem uma exigência de transcendência. Assim, a ética exige abertura, exige que a ação seja orientada pela complexidade da vida humana.

    O sentido da existência é dinâmico, pode mudar, pois a vida é uma busca, mas jamais poderá ser negação de si próprio. Passa de uma eta-pa a outra, sempre crescendo, adaptando-se, vislumbrando uma outra dimensão, mas nunca se tornando infiel, nunca traindo o sentido trans-cendente da própria vida. A falta de ética é a prática dos atos que con-tradizem esse sentido último da existência, pressionados por questões circunstanciais e temporárias. A ética se impõe pela existência do outro e dos outros. A ação humana precisa ter sentido, não apenas para o indiví-duo, grupo ou instituição que a realiza, mas também para os envolvidos ou atingidos por ela. A ação se torna ética não apenas quando ela se justi-fica pela subjetividade autônoma do indivíduo que a realiza, mas quando também é justificada pela intersubjetividade dos envolvidos e pelo fim último da existência humana. A autonomia subjetiva tem de se colocar frente à alteridade intersubjetiva, e o sentido imediato tem de ser colo-cado frente ao sentido último da existência, para que uma ação possa ser verdadeiramente ética.

    Essa compreensão de ética é extremamente necessária nos nossos dias e nos leva a uma percepção e valorização da di-versidade, tão ameaçada na sociedade atual. Valorizar tal di-versidade é uma postura ética fundamental: eu tenho direito a ter a minha visão de mundo e a estabelecer minhas ações em coerência com esta visão. Uma postura ética mínima de supe-ração do individualismo precisa reconhecer que os outros têm os mesmos direitos. Assim as diversidades que encontramos na sociedade – diversidade religiosa, cultural, de gênero... – são construtoras e resultados de visões de mundo diferentes.

    Afirmar o próprio sentido da vida é reconhecer que ele se dá num contexto de vida significativa para todos. A ética é uma disciplina voltada para a construção do bem comum. É a superação do individualismo e o sonho de construir parâmetros de ação para que os indivíduos respeitem e valorizem a dignidade de si próprios como a de todos os outros. Não há espaço para imposição dos nossos valores sobre os outros, como não há espaço para uma submissão passiva às visões de mundo que são incoe-rentes com o sentido de minha vida. Nessa tensão podemos apresentar como proposta de reflexão a metáfora da luz: ocupa espaços livres, mas não derruba muros, nem paredes. Quem sabe nós, cristãos, possamos assumir esta posição: não deixar que apaguem nossa chama – resistir ao vento – mas, ao brilhar, ser luz e não vendaval que destrói barreiras e co-loniza espaços à força. Certa vez, ao ser interrogado sobre a definição de luz, Albert Einstein responde: “A luz... é a sombra de Deus...”

    PERGUNTAS PARA APROFUNDAMENTO

    1. Que percepção nós temos dos “outros”, dos “diferentes” que nos ro-deiam?

    2. O que significa submissão passiva aos valores dos outros?

    3. Como devemos agir frente à diversidade moral, à diversidade de valores?

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    ANOTAÇÕES/COMENTÁRIOS/OBSERVAÇÕES

  • TEMA: AS FRATERNIDADES E A COMUNHÃO COM O PLANETA

    Abertura (30 min.)• Meditação e Silêncio • Leitura do calendário religioso• Leitura da ata• Leitura orante da Bíblia (Gn 2, 4b-15). O que o texto diz? O que o texto me diz? Como o texto me faz agir?

    > PROVOCAÇÃO QUE VEM DA VIDA“ Laudato si’, mi’ Signore – Louvado sejas, meu Senhor”, cantava São

    Francisco de Assis. Nesse gracioso cântico, recordava-nos que a nossa casa comum se pode comparar ora a uma irmã, com quem partilhamos a existência, ora a uma boa mãe que nos acolhe nos seus braços: “Lou-vado sejas, meu Senhor, pela nossa irmã, a mãe terra, que nos sustenta e governa e produz variados frutos com flores coloridas e verduras”. 26 Essa irmã clama contra o mal que lhe provocamos por causa do uso irresponsável e do abuso dos bens que Deus nela colocou. Crescemos a pensar que éramos seus proprietários e dominadores, autorizados a saqueá-la. A violência, que está no coração humano ferido pelo pecado, vislumbra-se nos sintomas de doença que notamos no solo, na água, no ar e nos seres vivos. Por isso, entre os pobres mais abandonados e maltratados, conta-se a nossa terra oprimida e devastada, que “geme e sofre as dores do parto” (Rm 8,22). Esquecemo-nos de que nós mesmos somos terra (c. Gn 2,7). O nosso corpo é constituído pelos elementos

    26 Il Cantico delle creature: Fonti Francescane, 263.

    do planeta; o seu ar permite-nos respirar, e a sua água vivifica-nos e restaura-nos. 27

    > Texto para estudoAS FRATERNIDADES E A CARTA ENCÍCLICA “LAUDATO SI’ – SOBRE O CUIDADO DA CASA COMUM”

    Nas Fraternidades somos um conjunto de pessoas atraídas pela espiri-tualidade de Marcelino Champagnat, compartilhamos projetos de vida, a mesma fé e vivemos unidos por um conjunto de ideias e ideais comuns.

    Somos cristãos e, animados pela nossa fé, somos pessoas de boa von-tade, que pensamos no bem comum e, com coragem, podemos aprender cada vez mais como viver em nosso ambiente, de maneira livre e respon-sável, melhorando e transformando o contexto em que vivemos.

    A Carta da Terra, Unesco – 2000, diz:

    “Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa épo-ca em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos re-conhecer que, no meio de uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações ”.

    O Papa Francisco, em sua Carta Encíclica LAUDATO SI’ – Sobre o cui-dado da casa comum, aborda o tema da ecologia integral de forma com-

    27 Carta Encíclica do Papa Francisco – Laudato Si´ – Sobre o cuidado da casa comum.

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  • pleta. Diz que a situação atual é grave, séria e desafiadora, porém sempre encontra razões para a esperança e para a confiança de que o ser humano pode encontrar soluções viáveis para mudanças. Faz um apelo para que tomemos consciência de que não somos os únicos a habitar este planeta. Devemos reconhecer em todo ser vivo um ser semelhante e diferente de nós.

    É por amor ao mundo que precisamos cuidar da nossa casa comum, da água, das fontes de energia que ainda temos. Assumir essa tarefa nas Fraternidades e buscar soluções conjuntas reforça nosso sentido de gru-po, nosso espírito de família. Assim criamos laços e construímos comu-nidade.

    A Bíblia nos apresenta várias passagens nas quais encontramos Deus se reportando ao cuidado com a natureza. Em Gênesis 2, 15: “Deus tomou o homem e o colocou no Jardim de Éden para o cultivar e o guardar.” Guardar no sentido de cuidado, de zelo e, nesse contexto, o papa Francis-co conta conosco: a responsabilidade é nossa! Não podemos subestimar a importância de uma educação ambiental capaz de incidir sobre gestos e hábitos cotidianos, da redução do consumo de água à diferenciação do lixo, a apagar as lâmpadas desnecessárias. “Uma ecologia integral é fei-ta também de simples gestos diários, pelos quais quebramos a lógica da violência, da exploração e do egoísmo”. Tudo isso será possível a partir de um olhar contemplativo que vem da fé.

    A esperança de recuperação e sobrevivência do planeta depende da decisão de cada um de nós de mudar a própria relação com a natureza e se fazer agente transformador, porque tudo começa dentro de cada um de nós.

    Por onde podemos começar a transformação de nossos pensamentos, sentimentos e ações?

    Que tal começarmos com a leitura e reflexão da carta de 1854 do Caci-que Seattle em resposta ao presidente dos Estados Unidos da América, que teria manifestado o desejo de comprar as terras habitadas pelos ín-dios Duwamish?28

    Conhecida como um dos mais bonitos pronunciamentos de respeito ao meio ambiente, a carta do Cacique Seattle tem inspirado gerações de ambientalistas e encantado a todos que a leem em todo o mundo pela li-ção de amor à natureza e à vida.

    Sugerimos uma leitura na íntegra dessa carta (previamente ao encon-tro ou depois dele). É plena de considerações profundas e encanta-doras sobre a nossa mãe comum: a terra.29 Todavia, a título de moti-vação para a leitura, serão transcritos, a seguir, alguns extratos.

    “Mas, como pode comprar ou vender o céu e o calor da terra? Tal ideia é estranha para nós. Se não somos os proprietários da pureza do ar ou do res-plendor da água, como podes comprá-los a nós?”

    “A seiva que corre nas árvores transporta consigo as recordações do homem de pele vermelha”.

    “As flores perfumadas são nossas irmãs; o veado, o cavalo, a grande águia – são nossos irmãos. As cristas rochosas, as seivas das pradarias, o calor que ema-na do corpo de um pônei e o próprio homem, todos pertencem à mesma família.”

    “A água cintilante dos rios e dos regatos não é apenas água, é o sangue dos nossos antepassados Se vendermos a nossa terra, terás de te lembrar e ensinar aos teus filhos que os rios são nossos e vossos irmãos, e terás de dispensar-lhes a bondade que darias a um irmão”.

    28 Os índios Duwamish habitavam na zona norte do atual estado de Washington, cuja capital Seattle tem o nome do chefe índio que proferiu o discurso conhecido como a Carta do Chefe Índio, que é considerada um dos mais belos manifestos ecológicos. Após a cedência das terras, os índios Duwamish migraram para a reserva Port Madison, onde está sepultado o Chefe Seattle.

    29 Cf. https://caminhosdaconsciencia.wordpress.com/tag/carta-do-chefe-indio-seattle/.

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  • “Nós sabemos que o homem branco (...) considera a terra, sua mãe, e o céu, seu irmão, como objetos que podem ser comprados, saqueados ou vendidos como ovelhas ou miçangas cintilantes. Na sua voracidade arruinará a terra e deixará atrás de si apenas um deserto”.

    “Se vendermos as nossas terras, deverás conservá-la como um lugar reser-vado e sagrado, onde o próprio homem branco possa saborear o vento perfuma-do pelas flores da pradaria”.

    “O que seria do homem sem os animais? Se todos os animais desapareces-sem, o homem morreria de uma grande solidão de espírito. Porque tudo quanto acontece aos animais não tarda a acontecer ao homem. Todas as coisas estão relacionadas entre si”.

    “Uma coisa sabemos: a terra não pertence ao homem, é o homem que per-tence à terra. Disto temos certeza. Todas as coisas estão interligadas, como o sangue que une uma família. Tudo está relacionado entre si”. 

    “Assim, se vendermos as nossas terras amai-as como as temos amado e cui-dai delas como nós cuidamos. E com toda a vossa força e o vosso poder conser-vem-na para os teus filhos e amem-na como Deus nos ama a todos.”

    PERGUNTAS PARA APROFUNDAMENTO

    1. Que relação concreta podemos fazer entre as afirmações: “Somos se-res espirituais conscientes.” e “A sobrevivência do planeta depende da decisão de cada um de nós”?

    2. Como e o que ensinar aos que convivem conosco, seja na escola, no tra-balho; seja na família, na igreja ou na sociedade para que possam fazer deste lugar, o planeta Terra, sua habitação e nossa habitação comum?

    3. O que podemos aprender com o Cacique Seattle, como fraternidade marista, sobre a maneira de nos relacionamos com o planeta para aprofundar nossa espiritualidade ecológica?

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  • TEMA: CHAMPAGNAT E A NATUREZAAbertura (30 min.)• Meditação e Silêncio • Leitura do calendário religioso• Leitura da ata• Leitura orante da Bíblia (Ez 37, 1-14). O que o texto diz? O que o texto me diz? Como o texto me faz agir?

    > PROVOCAÇÃO QUE VEM DA VIDAConstrução da casa de I’Hermitage: “Nas suas viagens a Saint-Chamond,

    o Pe. Champagnat contemplara, muitas vezes, o vale onde hoje está l’Hermitage e sempre dizia de si para si: como ficaria bem uma casa de noviciado nesta soli-dão! Lugar tranquilo e muito adequado para os estudos; se Deus nos abençoar, um dia viremos nos estabelecer aqui. Entretanto, antes de optar por este local, percorreu as regiões circunvizinhas em companhia de dois Irmãos de maior liderança, à procura de algo melhor. Terminada a pesquisa nenhum local lhe pareceu mais conveniente para uma casa religiosa. O vale de l’Hermitage, di-vidido e banhado pelas águas cristalinas do Gier, limitado a leste e oeste por montanhas dispostas em anfiteatro, revestidas, quase até o cimo, de vegetação ou bosques de carvalhos e árvores frutíferas, constitui, de fato, um sítio encan-tador e dos mais agradáveis, mormente na primavera.”30

    30 Vida, capítulo 12, SP, 1999.

    > Texto para estudoCHAMPAGNAT E A HARMONIA COM A NATUREZA

    A Semana Champagnat é tempo favorável de aproximarmo-nos de São Marcelino Champagnat com mais carinho. Um valor importante do Fundador que vale a pena considerar, e quase nada examinado na histó-ria do Instituto, é a harmonia com a natureza. Ele selecionou um lugar encantador para iniciar o Sonho marista. L’Hermitage, na França, era (e continua sendo) cenário adequado para a formação integral – a dimensão intelectual, afetiva, social, espiritual, ética, estética. Tal característica do Fundador contribuiu para que os Irmãos se tornassem excelentes edu-cadores, muito solicitados na França e no mundo. Ele soube combinar ambiente natural e ambiente cultural para formar os Irmãos. Em tempos de reflexão sobre biodiversidade, faz sentido refletir sobre esse valor de São Marcelino.

    No Calendário Marista, uma das intenções é “amor à ecologia, o cui-dado com a natureza”. É significativo o Dia Mundial do Meio Ambiente estar ao lado do Dia de São Marcelino Champagnat. Nesse contexto de crise social e ambiental, em nível local e planetário, é justo que a vitali-dade do carisma marista abranja o cuidado com a natureza. O amor aos mais necessitados estende-se à biodiversidade. Alarga-se, assim, a tenda: cuidar da vida do ser humano implica também cuidar de todas as formas de vida, por questão lógica, sem romantismo, sem pieguismo, com sabe-doria, ciência, tecnologia.

    Falamos, com orgulho – e com justiça –, que Champagnat foi um ho-mem à frente do seu tempo. O que o diferenciava era o Sonho, um ser humano contextualizado, com olhar no horizonte. A intimidade com o Criador o enchia de amor pela criação. A intimidade com a Boa Mãe o enchia de ternura pela vida. Amor e ternura não apenas no plano me-

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  • tafísico, mas aterrissados no cotidiano para dar respostas concretas à realidade. Que a exemplo do Fundador, Irmãos e Leigos/as, juntos, em torno da mesma mesa, percebamos que a missão marista não tem fim em si mesma, mas está a serviço de um Sonho: tornar a vida e o planeta imagem e semelhança de Deus.

    Sabemos que os espaços são educativos. A natureza – como cenário de estética e de diversidade – é altamente educativa para o corpo, para a mente, para o coração, para o espírito. Os centros de retiro espiritual, por exemplo, estão geralmente integrados à natureza, embora seja possível – e deva-se – cultivar a espiritualidade em qualquer ambiente e em qual-quer momento. Do mesmo modo, a educação, seja na escola, seja no lar, seja em outros contextos, realiza-se com mais qualidade em ambientes culturais e naturais bem cuidados e prazerosos.

    A civilização necessita da beleza do ambiente natural tanto quanto da beleza do ambiente cultural. Em l’Hermitage, foi assim. O Fundador fez o que precisava para consolidar o Instituto, mas preservou o ambiente na-tural. Precisou talhar a rocha para construir a casa. Precisou certamen-te cortar árvores para adequar espaços ao estudo, ao trabalho e ao lazer dos Irmãos e formandos, porém não provocou desequilíbrio natural nem comprometeu a estética. Pode-se dizer que, naquele nicho, antecipou-se o que se chama hoje de desenvolvimento sustentável: garantir o bem-es-tar, o sustento e o progresso sem danificar o ambiente natural.

    Interessante observar que, além da filosofia e da espiritualidade, os Irmãos transmitiram à história e ao mundo o bom gosto de Champagnat pela estética natural e cultural. Nossas residências e casas de formação, nossos Centros Educacionais e Colégios, nossos centros de estudo e Uni-versidades primam pela beleza e conservação. Amplos e diversificados espaços verdes conferem harmonia aos ambientes culturais, favorecen-do a convivência agradável e a educação para os bons valores.

    Considerando que a crise socioambiental é incontestável, em abran-gência, em intensidade, ameaçando a vida humana e a do planeta, é tempo favorável para que nossas propostas pedagógicas, pastorais e culturais, nos Colégios, nos Centros Educacionais e nas Universidades, embora ex-celentes, passem por análise cuidadosa para que possam dar respostas urgentes à crise local e planetária.

    O Rio Gier pode nos embeber na metáfora da vida. Líquido vital, a água desperta cenários propícios em qualquer espaço da Terra. Irmãos e Leigos/Leigas, encharquemo-nos na fonte espiritual de Champagnat e na fonte das águas do Gier, pois, no curso da história e no curso do rio, vida plena enriquece a nossa missão educativa e o nosso planeta.

    São Marcelino Champagnat transmitiu aos Irmãos e Leigos/as o te-souro da espiritualidade e da filosofia – herança que torna visível o Ins-tituto Marista no mundo. Mas, na fonte, encontramos mais que isso: há também alimento para sonhar. Porque, mais que tudo, o Fundador dei-xou-nos o legado do Sonho.

    PERGUNTAS PARA APROFUNDAMENTO

    1. A educação integral para formar o bom cidadão, que herdamos do Fundador, contempla a dimensão racional, afetiva, social, espiritual, ética e estética. Para formar o bom cidadão planetário, nesta reali-dade de crise socioambiental, precisaríamos acrescentar a dimensão ecológica nos nossos projetos pedagógicos, pastorais e culturais. Como você analisa essa possibilidade?

    2. Há pessoas que se sentem parte da biodiversidade e há também as que ainda alimentam a visão dualista ser humano x natureza. Com qual das duas realidades você se identifica?

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  • 56 CADERNO FORMATIVO DO MCHFM | V.2 CADERNO FORMATIVO DO MCHFM | V.2 57

    ANOTAÇÕES/COMENTÁRIOS/OBSERVAÇÕES

  • TEMA: CRIANÇAS, ADOLESCENTES E JOVENS, PREDILETOS DE CHAMPAGNAT

    Abertura (30 min.)• Meditação e Silêncio • Leitura do calendário religioso• Leitura da ata• Leitura orante da Bíblia (Tg 2, 1-9). O que o texto diz? O que o texto me diz? Como o texto me faz agir?

    > PROVOCAÇÃO QUE VEM DA VIDA Consta da biografia de Champagnat escrita por Jean-Baptiste Furet a

    ideia de “permanecer na presença de Deus em todas as ações e ter consciência permanente da presença de Deus”. Viver, nessa perspectiva, significa pra-ticar o amor que d’Ele vem e que passa necessariamente pelo amor ao próximo, incluindo, radicalmente, as crianças e os jovens pobres. Com certeza essa noção tomou conta do coração de Champagnat e dos Primei-ros Irmãos, que faziam tudo para a maior Glória de Deus e Honra de Ma-ria, especialmente quando se referiam às crianças. Era grande o número de aluninhos que os Irmãos tinham na sala de aula, sobretudo na classe dos principiantes. Durante um retiro, assim se expressou São Marcelino Champagnat aos Irmãos:

    “Suponhamos que tenham cinquenta, sessenta, oitenta e, muitas vezes, cem crianças na classe. Se não estivessem com vocês, a maioria delas andaria pelas ruas em más companhias, onde aprenderiam a dizer palavrão, blasfemar e a

    cometer outros atos não menos detestáveis. Garanto que, mesmo sem ensinar nada a esses meninos, só pelo fato de retirá-los da rua e ficar com eles, fariam um bem imenso. Se continuassem soltos na rua, não haveria nenhum desses meninos que não cometesse muitas faltas todos os dias. Tudo isso vocês impe-dem, conservando-os na aula. São João Francisco Régis assim se expressa: ’Se puder fazer evitar um só pecado, considerar-me-ei bem recompensado por to-dos os meus trabalhos‘. Quanto, pois, devem estimar sua vocação, vocês que têm a facilidade de impedir centenas de pecados cada dia! Façam a conta dos dias que passaram dando aula às crianças, instruindo-as e acompanhando-as. Verão o bem que realizaram e o bem que ainda podem fazer no futuro.”31

    > Texto para estudoCRIANÇAS, ADOLESCENTES E JOVENS, PREDILETOS DE CHAMPAGNAT

    Champagnat, homem adiantado no seu tempo, constatou a situação complexa na qual viviam os jovens de sua época quanto à educação. Ele mesmo havia experienciado dificuldades pela falta de bons professores. Preocupado com os municípios rurais, que não tinham condições ou competência para ofertar uma educação de qualidade capaz de ministrar uma formação nas ciências e nas virtudes necessárias aos bons cidadãos, decidiu criar uma associação de professores, sob o nome de Irmãozinhos de Maria, atualmente denominada Irmãos Maristas das Escolas, capaci-tando-os a poder educar os jovens, sensibilizando-lhes o coração e levan-do-os à prática das virtudes.

    Marcelino Champagnat colocou no centro da sua missão as crianças, adolescentes e jovens. Viveu entre eles com profundo amor e a eles dedi-cou suas energias. Homem de fé e com especial devoção à Virgem Maria, a qual chamava carinhosamente de Boa Mãe, empreendeu um instituto

    31 FURET, Jean-Baptiste. Vida de Marcelino José Bento Champagnat. 1999, p. 460.

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  • dedicado à educação de crianças, adolescentes e jovens, especialmente aos mais vulneráveis ou excluídos da sociedade.

    Tendo clareza dos seus objetivos, Champagnat congregou um grupo de Irmãos e, juntos, ainda hoje buscam tornar Jesus conhecido e amado por meio da educação. Dizia muitas vezes: “Não posso ver uma crian-ça, sem sentir o desejo de ensinar-lhe o catecismo, sem desejar fazer-lhe compreender quanto Jesus Cristo a ama”. Além de Irmãos, o Instituto Marista amplia sua atuação contando com colaboradores Leigos e Lei-gas, herdeiros do carisma marista, e dispostos a contribuir na formação integral dos educandos.

    Inspirados em Champagnat, também nós experimentamos uma ale-gria muito particular ao nos aproximar da vida de crianças e jovens com ardor e criatividade apostólica, buscando nos envolver nas suas vidas e acolhê-los nas nossas. Os prediletos de Champagnat são os nossos pre-diletos hoje. Que a eles possamos devotar nossa especial atenção para possibilitar uma educação que gere autonomia e consciência social.

    Para Champagnat, ser educador é mais que uma profissão, é ser vo-cacionado para prestar serviço ao outro que depende do nosso apoio e compaixão. Nossa vocação de educadores possibilita um relacionamento baseado no amor, que favorece a aprendizagem, a formação dos valores e o desenvolvimento do ser humano. Por isso, os seguidores de Cham-pagnat e continuadores do seu legado procuram estar perto das crianças, adolescentes e jovens, buscando estabelecer uma sólida relação de con-fiança marcada por uma presença atenta e acolhedora.

    Os escritos do fundador demonstram que estar com as crianças, ado-lescentes e jovens é uma oportunidade que transforma e gera vida. Dizia Champagnat:

    “Toda a vida deles será o eco do que lhes ensinar. Aplique-se ao máximo, não poupe esforços em formar os seus corações juvenis à virtude; faça-os per-ceber que somente Deus pode torná-los felizes, que só para Deus foram criados. Quanto bem você pode fazer, meu querido amigo!”32

    Para gerar condições de aprendizagens aos jovens, oferecendo-lhes atenção contínua às suas necessidades e fraquezas, é preciso demons-trar-lhes amor. Quando amamos, fazemos muito mais e melhor e somos mais assertivos na formação de cidadãos éticos e conscientes. Um educa-dor que ama e ama a todos com a mesma intensidade coloca-se na atitu-de de cuidador capaz de corrigir, apoiar e estimular. As aprendizagens, nesse clima, alimentam sonhos e realizam o educando em todas as suas dimensões.

    Os maristas de hoje, fieis à Igreja, sintetizam sua atenção aos mais ne-cessitados praticando a solidariedade. Exercem essa virtude seguindo as palavras de João Paulo II, que define solidariedade cristã em dois senti-dos:

    “(...) como princípio social e como virtude moral. Como princípio social, a solidariedade transforma preferentemente a organização da vida social: suas relações, suas instituições e suas estruturas. Como virtude, a solidariedade im-plica a ação perene de todos em favor do bem comum, isto é, o empenho de todos para que cada um concretize sua dignidade”.

    Nesse sentido, a espiritualidade cristã é encarnada e tal encarnação nos aproxima do Pai. A fé em Cristo nasce também da solidariedade como atitude permanente de encontro, irmandade e serviço. Ela há de se manifestar em op-ções e gestos visíveis, principalmente na defesa da vida e dos direitos dos mais vulneráveis e excluídos, e no permanente acompanhamento em seus esforços por serem sujeitos de mudança e de transformação de sua situação. Não se tra-ta de impor a mudança e a transformação pessoal e coletiva, mas de realizá-la

    32 Vida, p. 463-464; Avis, p. 427-428; Cartas, 19.

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  • com base em seus contextos, interesses, lutas, subjetividades, realidades, terri-tórios, compreensões de mundo, cultura, crenças, religiões e interelações.33

    PERGUNTAS PARA APROFUNDAMENTO

    1. Ao longo da história do Instituto Marista, que avanços conseguimos identificar no atendimento de crianças e jovens?

    2. Que atividades podemos realizar como fraternidade marista para cultivar e desenvolver o espírito de solidariedade e serviço em favor dos prediletos de Champagnat?

    3. É possível estabelecer uma relação do texto bíblico com o Carisma de São Marcelino?

    33 Diretrizes e direcionamento para a Rede Marista de Solidariedade, p. 19.

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  • TEMA: IRMÃOS, LEIGAS E LEIGOSAbertura (30 min.)• Meditação e Silêncio • Leitura do calendário religioso• Leitura da ata• Leitura orante da Bíblia (1Cor 3,4-10). O que o texto diz? O que o texto me diz? Como o texto me faz agir?

    > PROVOCAÇÃO QUE VEM DA VIDANa apresentação do livro Água da rocha – espiritualidade Marista fluin-

    do na tradição de Marcelino Champagnat –, em 2007, o Irmão Seán D. Sam-mon, FMS, Superior geral, escrevia:

    “Os Irmãos que participaram do Capítulo de 2001 pediram ao novo Conse-lho Geral a elaboração de um manual que tornasse a espiritualidade apostólica marista de Marcelino Champagnat acessível a uma audiência mais ampla. Os capitulares estavam conscientes de que, desde o começo do Instituto, essa es-piritualidade fora um atrativo não apenas para os Irmãos de Marcelino, mas também para o laicato marista.”

    Vejamos algumas reflexões apresentadas nesse documento, que estão no centro do tema que estamos aprofundando.

    “As famílias e as comunidades cristãs estão unidas em Cristo. Nele encon-tramos a união entre nós e com a criação. A unidade com os outros fortalece nossa unidade com Cristo.

    Quando estamos juntos, conectamos nossas histórias pessoais com as de nossa caminhada comum. Partilhamos projetos, lutas, realizações e desapon-

    tamentos. Tudo deve contribuir para fortalecer os vínculos de nossa fraterni-dade. Temos grande consideração e respeito pelas experiências e histórias das diferentes gerações.

    As pessoas que partilham a espiritualidade de Marcelino são práticas, com os pés no chão. Todas têm consciência de que viver em família ou em comuni-dade, nem sempre, é um mar de rosas. Vez por outra, demonstramos nossas fragilidades, limitações e diferenças; ficamos ressentidos e aborrecidos. Pode-mos mesmo nos zangar, conosco e com os outros, ou ficamos amargurados e nos isolamos.

    Para garantir uma vida em fraternidade é preciso viver um processo perma-nente de reconciliação. Esse processo permite que retornemos sempre ao centro da comunidade – Jesus. Podemos assim sentir-nos sempre amados e capazes de superar as dificuldades. Na misericórdia e na compaixão de Deus, encontra-mos a força e a graça necessárias para buscarmos a reconciliação”.34

    > Texto para estudoIRMÃOS, LEIGAS E LEIGOS: O DESAFIO E BELEZA DA NOVA RELAÇÃO

    Em 1854, quando o Instituto celebrava o II Capítulo Geral, passou por l´Hermitage a Condessa de Granville, benfeitora dos Irmãos Maristas, sobretudo na região norte da França. Irmão Francisco convidou-a a to-mar parte de uma das reuniões capitulares. Com interesse, a condessa acompanhou os trabalhos e ficou a par dos progressos da missão Maris-ta.

    Esse fato insólito foi um prenúncio do que iria acontecer mais de cem anos depois. Em 1993, a convite do Conselho Geral, um grupo de Leigas e Leigos participou do XIX Capítulo Geral. Desde então essa presença au-mentou e, mais que isso, o tema da relação entre Irmãos e Leigos entrou

    34 INSTITUTO DOS IRMÃOS MARISTAS. Água da rocha: espiritualidade Marista – n. 94, 111, 115 e 116.

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  • na pauta do Instituto, certamente para não mais sair.

    Esse movimento não veio de cima para baixo. Em muitas províncias, desde o Concílio Vaticano II, Leigos e Leigas começaram a partilhar a missão com os Irmãos, sobretudo no espaço educativo. O documento Missão Educativa Marista reconheceu esse fato novo:

    “(...) sejamos Irmãos, educadores leigos, lideranças juvenis, ou aqueles que contribuem, de alguma forma, com a Missão Marista: pais de alunos, sacerdo-tes, colaboradores, membros do Movimento Champagnat da Família Marista e de grupos similares. Cada um de nós pode reivindicar para si o sonho de Mar-celino Champagnat. Temos a mesma Missão.” 35

    E se a tenda ficar pequena?

    Vamos aumentá-la! Essa foi a primeira reação em face do número sempre crescente de Leigos e Leigas que foram sendo tocados de modo único pelo espírito de Marcelino Champagnat e começaram a se pergun-tar: não será possível partilhar esse carisma com os Irmãos? O que pode-mos fazer juntos?

    O Instituto, no XX Capítulo Geral, afirmou essa realidade explicita-mente:

    “Descobrimos como é enriquecedora a partilha entre Irmãos e Leigos, ao caminhar juntos. Experimentamos a riqueza do apoio mútuo e a força do ca-risma marista encarnado em nossas diferentes vocações na Igreja. Por isso: Sentimo-nos chamados a aprofundar nossa identidade específica de Irmãos e Leigos, na partilha de vida: espiritualidade, missão, formação.”36

    35 Missão Educativa Marista: um projeto para o nosso tempo, n. 33.36 XX Capítulo Geral, n. 26.

    Isso significa concretamente pensar em itinerários de formação, em espaços de tomadas de decisão, em comunidades abertas aos Leigos, em missões compartilhadas, no fomento de grupos de partilha. Aqui também se encontra o MChFM, que tem uma caminhada consistente há anos!

    Uma nova tenda

    Em 2009, o Instituto lançou um documento muito especial: “Em torno da mesma mesa: a vocação dos leigos maristas de Champagnat”. A co-missão que o elaborou era formada por Leigos e Irmãos. Entremeados às reflexões conclusivas estão testemunhos de pessoas de diferentes partes do mundo que comungaram do carisma marista.

    Ao falar desse espaço comum entre Irmãos e Leigos, o documento dá um passo além: “A realidade parece indicar que precisamos não apenas alar-gar a tenda do Instituto, mas juntos construir uma tenda nova na qual todos, leigos e irmãos, encontremos nosso lugar.”37

    O que significa construir uma nova tenda? Para os Irmãos, significa romper estruturas, o que não é feito sem dor, pois requer esforço, abertu-ra, estar disposto a perder certos espaços reservados. Significa acreditar na complementaridade, partilhar o carisma, a espiritualidade, a missão. Considerar os Leigos como corresponsáveis na missão. Significa, ainda, discernir sobre estruturas, modos de fazer, modos de ser. Continuam sig-nificativos? Respondem a desafios de caminhos que precisam ser feitos em colaboração com os Leigos? E outros aspectos mais!

    Para Leigas e Leigos, significa ter consciência da própria vocação cris-tã, vivida segundo o jeito de Champagnat, vivida em comunhão com os Irmãos e, consequentemente, com mais autonomia. Afinal, essa tenda precisa ser construída em mutirão!

    37 XX Capítulo Geral, n. 145.

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  • Concretamente, o que isso quer dizer?

    Começa pelo mútuo reconhecimento das identidades específicas e dos elementos comuns. Temos a mesma vocação cristã que nasce do batismo e que é vivida em comunhão com toda a Igreja. Não é tarefa fácil, porque, por muito tempo, Leigas e Leigos não se sentiam plenamente sujeitos eclesiais, nem sujeitos do carisma. Eram dependentes, precisando quase sempre da opinião ou da decisão de um Irmão Marista.

    Buscamos crescer juntos na fé, aproveitando os tempos de oração, de retiros, de formação em conjunto. Alimentamos a espiritualidade Maris-ta, sobretudo nosso jeito marial. Sem dúvida, os Irmãos podem ajudar Leigas e Leigos a descobrir a riqueza espiritual de nosso fundador.

    Dividimos a responsabilidade de revelar o carisma de Champagnat como dom de Deus à Igreja, a serviço, principalmente, das crianças e jovens pobres. Leigas e Leigos não são apenas colaboradores, mas par-ceiros. Em vários lugares, inclusive, existem obras sem a presença de Ir-mãos e que mantêm a identidade Marista.

    Tudo isso não é um exercício teórico, mas fruto da convivência, da partilha de vida, das experiências de missão e de espiritualidade em co-mum. No fundo, é preciso abrir espaços na agenda e no coração para esse “novo” sempre provocador.

    PERGUNTAS PARA APROFUNDAMENTO

    1. Sinto-me plenamente Leiga ou Leigo marista, responsável junto com os Irmãos pelo carisma de Champagnat?

    2. O que é necessário mudar em mim para que nasça a nova relação entre Irmãos, Leiga