CADERNO DE RESUMOS - files.cercomp.ufg.br

59
1 I SEMINÁRIO - LABORATÓRIO DE ESTUDOS FOUCAULTIANOS DE GOIÁS CARTOGRAFIAS DO CONTEMPORÂNEO: VONTADES DE VERDADE E PROCESSOS DE SUBJETIVAÇÃO A PARTIR DE MICHEL FOUCAULT. CADERNO DE RESUMOS Organizadores: Antônio Fernandes Junior Bruno Franceschini Sarah Carime Braga Santana

Transcript of CADERNO DE RESUMOS - files.cercomp.ufg.br

Page 1: CADERNO DE RESUMOS - files.cercomp.ufg.br

1

I SEMINÁRIO - LABORATÓRIO DE ESTUDOS

FOUCAULTIANOS DE GOIÁS

CARTOGRAFIAS DO CONTEMPORÂNEO: VONTADES DE VERDADE E PROCESSOS DE

SUBJETIVAÇÃO A PARTIR DE MICHEL FOUCAULT.

CADERNO DE RESUMOS

Organizadores:

Antônio Fernandes Junior

Bruno Franceschini

Sarah Carime Braga Santana

Page 2: CADERNO DE RESUMOS - files.cercomp.ufg.br

2

Page 3: CADERNO DE RESUMOS - files.cercomp.ufg.br

3

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS - REGIONAL CATALÃO

REITORIA Professor Orlando Afonso Valle do Amaral

VICE-REITORIA

Manoel Rodrigues Chaves

DIREÇÃO DA REGIONAL CATALÃO

Thiago Jabur Bittar

VICE-DIREÇÃO DA REGIONAL CATALÃO Denis Rezende de Jesus

COORDENAÇÃO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

COORDENADORA

Maria Helena de Paula

UNIDADE ACADÊMICA ESPECIAL DE LETRAS E LINGUÍSTICA

CHEFIA

Alexander Meireles da Silva

SUBCHEFIA Sheila de Carvalho Pereira Gonçalves

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DA LINGUAGEM

COORDENADORA Luciana Borges

SUBCOORDENADOR Antônio Fernandes Júnior

Page 4: CADERNO DE RESUMOS - files.cercomp.ufg.br

4

COORDENAÇÃO GERAL

Antônio Fernandes Júnior

Bruno Franceschini

COMISSÃO ORGANIZADORA

Antônio Fernandes Júnior

Bruno Franceschini

Gabriella Cristina Vaz Camargo

Giovanna Diniz dos Santos

Jheny Iordany Felipe de Lima

Júlio César Albuquerque da Rocha

Léa Evangelista Persicano

Maurício Divino Nascimento Lima

Sarah Carime Braga Santana

Tainá Camila

COMISSÃO CIENTÍFICA

Léa Evangelista Persicano

Maurício Divino Nascimento Lima

Sarah Carime Braga Santana

Bruno Franceschini

COMISSÃO EDITORIAL

Léa Evangelista Persicano

Maurício Divino Nascimento Lima

Sarah Carime Braga Santana

Bruno Franceschini

COMISSÃO DE APOIO

Alana Caroline Monteiro da Silva

Amanda Soares Mantovani

Ana Vitória Gomes Moreira

Bruna Carolina Ribeiro da Silva

Carolina Bernardes Alves Costa

Carolina Rodrigues Guimarães

Francisco Alderivan Santos Ferreira

Giovana Ribeiro Viveiros

Jéssica Soares Lacerda

Page 5: CADERNO DE RESUMOS - files.cercomp.ufg.br

5

Jorcelino Júnior de Araújo

Léa Evangelista Persicano

Maurício Divino Nascimento Lima

Martha Tereza Santos Silva

Milena Beatriz Vicente Valentim

Milene Alves de Amorim

Rafaela Rodrigues Fernandes

Raquel Costa Guimarães Nascimento

Rayssa Dayanne de Souza da Costa

Sarah Carime Braga Santana

Vitória Pacheco Fernandes

REALIZAÇÃO

APOIO

Page 6: CADERNO DE RESUMOS - files.cercomp.ufg.br

6

Sumário

Programação ............................................................................................................................. 14

SESSÕES DE COMUNICAÇÃO ............................................................................................ 16

Resumos ................................................................................................................................... 20

O DISCURSO DE ÓDIO SOB O VIÉS PECHEUTIANO: INTERDISCURSIVIDADE E EFEITOS

DE SENTIDO

Maximiano Antônio Pereira 20

ADULTIZAÇÃO E EROTIZAÇÃO DA CRIANÇA: UMA ANÁLISE DISCURSIVA DE

COMENTÁRIOS NAS MÍDIAS SOCIAIS

Amanda Soares Mantovani e Delcides Silvério Neto 20

A IMAGEM ADULTIZADA E SEXUALIZADA DA CANTORA MELODY NA REDE SOCIAL

FACEBOOK: DOS EFEITOS DE SENTIDO EM COMENTÁRIOS DE LEITORES

Ana Vitória Nascimento 21

DISCURSO DE LIBERDADE DE EXPRESSÃO COMO VONTADE DE VERDADE: ANÁLISE

DE MATERIALIDADES DO FACEBOOK

Hulda Gomides Oliveira 22

O ETHOS DISCURSIVO NOS MEMES DO SUJEITO PROFESSOR

Wânia Gomes Mariano Vieira 22

OS DISCURSOS POSSÍVEIS EM ENUNCIADOS DAS REVISTAS ÉPOCA (2011) E ISTO É

(2010) SOBRE DILMA ROUSSEFF

Gabriella Cristina Vaz Camargo 23

DISPOSITIVOS DE CONTROLE POLÍTICO: UM ENSAIO SOBRE A DEPOSIÇÃO DE DILMA

Karol Natasha Lourenço Castanheira e Vinícius Fernandes Ormelesi 23

DITOS E NÃO DITOS SOBRE A BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR

Daniel José Rocha Fonseca 24

DISCURSO E ENSINO: UMA ANÁLISE ACERCA DO DISCURSO GOVERNAMENTAL EM

RELAÇÃO ÀS REFORMAS DO ENSINO MÉDIO

Rafaela Rodrigues Fernandes 25

CONCEITOS “TABUS” NA ESCOLA E SEUS LIMITES

Sirlene Cíntia Alferes Lopes 25

O DISCURSO POLÍTICO ELEITORAL NA CAMPANHA DE 2014: A DISPUTA DOS

SENTIDOS DE FRANQUEZA, AGRESSIVIDADE E VERDADE NO FACEBOOK

Geovana Chiari 26

A CULTURA DO ESTUPRO COMO CAMPO DE PROBLEMATIZAÇÃO DA MANEIRA DE

SER E CONDUZIR-SE NA SEXUALIDADE

Juliane de Araújo Gonzaga 27

Page 7: CADERNO DE RESUMOS - files.cercomp.ufg.br

7

DA FORMAÇÃO DO ENUNCIADO CRIMINOLÓGICO À PRODUÇÃO DOS CORPOS

INFAMES NA VIA DO JORNALISMO POLICIAL: RESSONÂNCIAS NA ESFERA SÓCIO-

JURÍDICA

Renata Celeste 27

DISCURSO E ARGUMENTAÇÃO: UM OLHAR SOBRE A REPRESENTATIVIDADE DO

SUJEITO “JULIANO VP” EM ABUSADO DE CACO BARCELLOS

Martha Tereza Santos Silva 28

TELEJORNALISMO POLICIAL E JULGAMENTO VIRTUAL: A PRODUÇÃO TELEVISIVA

DA DELINQUÊNCIA

Marco Antônio Arantes 29

MÍDIA RACISTA? EFEITOS DE SENTIDO EM TÍTULOS DE MATÉRIAS JORNALÍSTICAS

SOBRE O TRÁFICO DE DROGAS

Amanda Pereira de Sousa Franco 29

O DISCURSO POLÍTICO BRASILEIRO EM DEBATE: UMA ANÁLISE DOS DEBATES

ELEITORAIS PRESIDENCIAIS NO BRASIL

Livia Maria Falconi Pires 30

ENTRE O MARGINAL E O SOCIAL: A EXCLUSÃO QUE RONDA PIVETE

Maria Irenilce Rodrigues Barros 31

CORPOS HETEROTÓPICOS OU O LUGAR DAS PERSONAGENS EM VAN HELSING: O

CAÇADOR DE MONSTROS

Alisson Cardoso da Silva 31

JOGOS DE PODERES NO MUNDO DA TERRA-MÉDIA A PARTIR DO “UM ANEL” E SEUS

PORTADORES

Francisco de Assis Ferreira Melo 32

“DANÇARINO DO DESERTO” E A RESISTÊNCIA ATRAVÉS DO CORPO

Giovanna Diniz dos Santos 33

O CORPO EM ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA DE JOSÉ SARAMAGO: ENTRE A VIGILÂNCIA

E A SEGREGAÇÃO

Karina Luiza de Freitas Assunção 33

O CORPO DO ASSASSINO EM SÉRIE EM EVIDÊNCIA: DISCURSO DO FASCÍNIO E

PRÁTICAS NA MÍDIA BRASILEIRA

Glaucia Mirian Silva Vaz 34

O CORPO COMO UM ASPECTO DO DISPOSITIVO DE SEGURANÇA

Jaquelinne Alves Fernandes 35

O PAPEL DA RELAÇÃO PROFESSOR/OBJETO E SABER/MÉTODO NO PROCESSO DE

TOMADA DA PALAVRA EM LÍNGUA INGLESA

Mariá Prado Walmiro 35

Page 8: CADERNO DE RESUMOS - files.cercomp.ufg.br

8

REPRESENTAÇÕES DISCURSIVAS DOS PROFESSORES FORMADORES EM UM CURSO

DE LETRAS INGLÊS

Marcela Henrique de Freitas 36

EXISTE PELEUMONIA: UMA ANÁLISE DE DISCURSOS RELATIVOS À LÍNGUA

PORTUGUESA NAS MÍDIAS SOCIAIS

Raquel Costa Guimarães Nascimento 37

MOVIMENTOS DO PROFESSOR SUPERVISOR DO PIBID NA ESCOLA: UMA

CARTOGRAFIA

Jaila Penaforte 37

O CORPO FEMININO NO LIVRO DIDÁTICO DE 9º ANO DE LÍNGUA PORTUGUESA

Vânia Gomes Cardoso 38

PENSAR A EDUCAÇÃO A PARTIR DE MICHEL FOUCAULT: A INSTITUIÇÃO

DISCIPLINAR E O CUIDADO DE SI

André de Barros Borges 38

CARTOGRAFIAS DE DISCURSOS CONTRA A CORRUPÇÃO NO BRASIL: IMAGENS,

CONFLITOS E CONTROVÉRSIAS

Maiara Raquel Campos Leal 39

UM DIÁLOGO COM FREIRE E FOUCAULT SOBRE PODER E SABER

Rosângela Labre de Oliveira 40

CONTORNOS CONTEMPORÂNEOS DA BIOÉTICA: UMA ANÁLISE DA ADI 3510 SOB O

PRISMA TEÓRICO DO DISCURSO DE PODER DE MICHAEL FOUCAULT

Filipe Melo Carneiro Leão Loreto 40

O DISCURSO DE MERITOCRACIA E AS RELAÇÕES DE PODER EM 3%

Tainá Camila dos Santos 41

REFLEXÃO CRÍTICA SOBRE OS DISCURSOS ATUAIS DE VIOLÊNCIA COMO

MANTENEDORES DA ORDEM

Cecília Rodrigues Ribeiro e Camila Dias 42

O NOVO ENSINO MÉDIO: ANÁLISE DO DISCURSO DA LEI Nº 13.415/17 A PARTIR DE

MICHEL FOUCAULT

Amarildo Inácio dos Santos 42

IGUALDADE DE GÊNEROS E OS DISPOSITIVOS DE EMPODERAMENTO FEMININO NO

INÍCIO DO SÉCULO XXI

Cássia Núbia de Carvalho 43

SUBJETIVAÇÃO E O CUIDADO DE SI: UMA ANÁLISE DA REPRESENTAÇÃO DA

MULHER NA SOCIEDADE

Sarah Carime Braga Santana 44

A VONTADE DE VERDADE DO SEXO NOS DISCURSOS DE IDENTIDADE DE GÊNERO

DA ATUALIDADE

Page 9: CADERNO DE RESUMOS - files.cercomp.ufg.br

9

Guilherme de Freitas Leal 44

DIA INTERNACIONAL DA MULHER EM CAMPANHA PUBLICITÁRIA DA SKOL (2017):

SOB UM OLHAR DIALÓGICO

Gabriella Cristina Vaz Camargo 45

O DISPOSITIVO DE SEXUALIDADE NA LITERATURA: UMA ANÁLISE DE DISCURSO

SOBRE O FEMININO NAS OBRAS DE JOSÉ DE ALENCAR E SUA PERPETUAÇÃO NO

CONTEMPORÂNEO

Beatriz Izabelli Zumba Elihimas e Amanda Salgado Rocha 46

O FEMININO QUE GRITA NO ANTIFEMINISMO

Pâmela Tavares de Carvalho e Luciana Carmona Garcia Manzano 47

REPRESENTAÇÕES DO VALE DE JAVÉ (NORDESTE) E DO NORDESTINO PELA NOÇÃO

DE ENUNCIADO REITOR

Léa Evangelista Persicano 48

RELAÇÕES DISCURSIVAS: O PAPEL ENUNCIATIVO DA PALAVRA FERRAMENTA NOS

POEMAS DE BRAZ JOSÉ COELHO

Júlio César Albuquerque da Rocha e Antônio Fernandes Junior 48

PERCEPÇÕES DISCURSIVAS SOBRE A LEITURA DE CLÁSSICOS EM QUADRINHOS

Camila Santin Calçada Silva 49

CONSTITUIÇÃO DE SUBJETIVIDADE EM “O PAPEL DE PAREDE AMARELO”, DE

CHARLOTTE PERKINS GILMAN

Nilce Meire Alves Rodovalho 50

AUTORIA E ESCRITA NAS MEMÓRIAS DE ROSA AMBRÓSIO: UMA ANÁLISE DO

EFEITO-SUJEITO EM “AS HORAS NUAS” DE LYGIA FAGUNDES TELLES

Ismael Ferreira Rosa 50

A ENUNCIAÇÃO NA HISTÓRIA PARA A CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO DISCURSIVO

ORLANDO SABINO

Fernanda Gomes da S. Nakamura 51

OS DISCURSOS DE DISCRIMINAÇÃO NA OBRA DOIS GAROTOS SE BEIJANDO:

CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO, EFEITOS DE SENTIDO E FORMAÇÃO DISCURSIVA

Yuri Pereira de Amorim 52

VIDA ARTISTA E VIDA ARTÍSTICA: ENCONTROS E DESENCONTROS NA ARTE DE

VIVER

Marco Antônio Arantes 52

UM OLHAR SOBRE O RAP DE CRIOLO ENQUANTO PRODUTOR DE EFEITOS DE

SENTIDOS E SUBJETIVIDADES

Jheny Iordany Felipe de Lima 53

“VOCÊ ME DEIXA DOIDÃO!!!”: UMA ANÁLISE SOBRE OS REGIMES DE PRODUÇÃO DE

VERDADE EM TRÊS COMPOSIÇÕES DA BANDA MAMONAS ASSASSINAS

Page 10: CADERNO DE RESUMOS - files.cercomp.ufg.br

10

Maurício Divino Nascimento Lima 54

PRÁTICAS DE SUBJETIVAÇÃO EM O CENTAURO NO JARDIM DE SCLIAR: DISCURSOS E

SUJEITO

Neuza de Fátima Vaz de Melo 54

ONCE UPON A TIME... RELAÇÕES DIALÓGICAS NA ENUNCIAÇÃO

VERBOVOCOVISUAL SERIADA

Thainá Pereira Gonçalves 55

PERSPECTIVA ENTRE “O BALCÃO” DE MANET E MAGRITTE

Paulo Ferreira de Carvalho Neto 56

‘EU SOU LADRÃO E VACILÃO’: CAPTURA DE SI E DO OUTRO EM TEMPOS DE REDES

SOCIAIS DIGITAIS

Aldenor da Silva Pimentel 56

O DESEJO DE VERDADE E A SUBJETIVAÇÃO SOBRE O SUICÍDIO A PARTIR DA

CAMPANHA SETEMBRO AMARELO

Anísio Batista Pereira 57

O DISCURSO SUBJACENTE À NORMA DE DECISÃO JURÍDICA

Juliana Andrade e Renata Celeste 57

UM ESTUDO HERMENÊUTICO DA TEMPORALIZAÇÃO NA ÉTICA DO CUIDADO DE SI

Cristina Batista de Araújo 58

OS SIGNOS DA LOUCURA – CULTURA E FOUCAULT

Cleiton da Silva Rodrigues 59

Page 11: CADERNO DE RESUMOS - files.cercomp.ufg.br

11

Apresentação

As contribuições de Michel Foucault para o campo de estudos da Análise do Discurso

(doravante AD) vêm conquistando cada vez mais pesquisadores, o que demonstra a

proficuidade do pensamento foucaultiano aos estudos discursivos, oriundos dos postulados da

AD francesa. Ao acionar os conceitos propostos pelo filósofo, os pesquisadores criam um

campo específico de análise de diferentes objetos, textuais e/ou imagéticos, nos quais se

percebe a emergência de dados discursos, sua inscrição na história, sua articulação com os

jogos poder/saber e o modo como atuam na produção de subjetividades. Nessas

pesquisas, busca-se entender o funcionamento do discurso, que não é inteiramente linguístico

e nem simplesmente gramatical, e tomam o conceito de enunciado no exercício de sua função

enunciativa como matriz metodológica de análise das discursividades, seja em uma dimensão

arqueológica, genealógica ou de uma ética/estética da existência. Essa divisão não se faz de

forma estanque; pois, em um mesmo estudo, conceitos dessas chamadas “fases do

pensamento foucaultiano” podem atuar simultaneamente, dependendo do enfoque adotado ou

da natureza do objeto de análise que solicita, do pesquisador, “uma conversão do olhar” frente

às materialidades em estudo. Há um conjunto de conceitos e/ou noções operatórias que, em

tese, se preocupam com a análise das discursividades (sua emergência, campo associativo,

relações de poder, dispositivos e produção de subjetividade) nos domínios da linguagem e

articulados ao estudo daquilo que foi efetivamente produzido, correlacionado ao que se dizia e

se fazia em determinada singularidade histórica.

O Laboratório de Estudos Discursivos Foucaultianos de Catalão (LEF-GO) realizará o

I Seminário “Cartografias do contemporâneo: vontades de verdade e processos de

subjetivação a partir de Michel Foucault”, no período de 27 a 29 de novembro, com o objetivo

de problematizar discursos e/ou temas contemporâneos a partir do pensamento de Michel

Foucault. Os estudos desse filósofo oferecem aos leitores e pesquisadores perspectivas

promissoras para se refletir sobre questões contemporâneas, uma vez que suas pesquisas não

ficaram datadas no tempo e nem fixadas apenas nos objetos sobre os quais Foucault se

debruçou. Outro aspecto a ser destacado são os cursos ministrados pelo filósofo no Collège de

France, cujas publicações e traduções ainda estão em curso. Nesses trabalhos, sobretudo nas

partes introdutórias e em outros textos de sua vasta obra, o referido autor esclarece que seu

principal interesse de pesquisa ou caminho de investigação recaiu sobre a análise do que ele

designou como “focos de experiência”, expressão indicativa de três

linhas de observação dos discursos, a saber: a) “as formas de um saber possível”, b) “as

Page 12: CADERNO DE RESUMOS - files.cercomp.ufg.br

12

matrizes normativas de comportamento para os indivíduos” e, por fim, c) “os modos de

existências virtuais para sujeitos possíveis” (FOUCAULT, 2010, p. 04-05).

Para a proposição deste colóquio, contaremos com pesquisadores de diferentes de

grupos de estudos de Análise do Discurso (AD) do Brasil, cujos diálogos com a obra de

Michel Foucault têm sido intensos. Nosso objetivo gira em torno do eixo temático no qual se

inscreve os objetivos desse evento, a saber: quais contribuições dos postulados foucaultianos

para análise e problematização de temas e/ou discursividades contemporâneas?

Aproveitando a via aberta pelo italiano Giorgio Agamben (2009), entendemos que ser

contemporâneo de seu próprio tempo é adotar um ponto de vista que não se fixa ou se prende

na sua própria época, mas dela toma distância. Teríamos um processo de adesão e

distanciamento: ter a dimensão do seu tempo e dele se distanciar para que possa apreendê-lo.

Em outros termos, contemporâneo é todo aquele que “consegue ver não somente as luzes do

seu tempo, mas o escuro, o obscuro sob o excesso de luz”. Nessa linha de observação

proposta por Agamben, podemos inferir que para a análise do contemporâneo, no qual

distintas temporalidades históricas se cruzam, ser contemporâneo é não se deixar cegar pelas

evidências (luzes) de seu tempo, mas ser capaz de “olhar de fora” para apreender as

temporalidades que atravessam essa mesma historicidade. Trata-se de um modo de pesquisa

desenvolvido por Foucault, o qual é citado pelo italiano, quando se refere à forma como o

teórico analisou e pesquisou arquivos de diferentes registros históricos do passado (loucura,

medicina, prisão, sexualidade etc.) com o objetivo de entender o presente ou aquilo que nos

faz ser o que somos.

Acreditamos que esse modo de observação das discursividades contemporâneas deve-

se vincular ao duplo processo indicado por Agamben, quando menciona a necessidade de

manter o olhar fixo no seu tempo e dele se distanciar, não para enxergar as luzes, mas o

obscuro que se mistura ao excesso de luz. Nesse movimento requerido, esse olhar de fora,

distanciado, possibilita que se apreenda as diferentes temporalidades que se inscrevem nos

discursos da atualidade. Tal procedimento dialoga com o que Foucault designou como

“conversão do olhar”, quando, em “Arqueologia do Saber”, explicitou os caminhos de análise

do enunciado e da função enunciativa. Essa problematização analítica requer do pesquisador

“uma conversão do olhar”, pois os discursos se enredam em enunciados que não estão ocultos

e nem totalmente visíveis, ou, às vezes, já estão tão entranhados no social que não o

identificamos. Essa conversão do olhar recai justamente sobre a necessidade de apreender os

discursos e analisá-los em sua singularidade. Essa postura interpretativa implica que a

emergência de um dado objeto, independente da materialidade que o constitui, não se separa

Page 13: CADERNO DE RESUMOS - files.cercomp.ufg.br

13

das molduras formais (discursos, enunciados, práticas discursivas, leis, domínios de memória

etc.) que chegam até nós cingindo-nos. Tal gesto analítico implica que, para apreender as

discursividades contemporâneas, necessitamos de um olhar atento aos discursos efetivamente

produzidos no seu tempo e deles tomar distância, observando as camadas de passado que os

constituem e as evidências que os fazem passar por verdadeiros. Esse modo de analisar os

discursos, sob o prisma foucaultiano, nos mostra que as verdades são historicamente

produzidas e são gestadas por vontades de verdades coletivas e sociais, localizadas no tempo

e no espaço, que se materializam em discursos e constituem os sujeitos, fazendo com que

esses tenham a ilusão de falarem a partir de suas próprias convicções.

Page 14: CADERNO DE RESUMOS - files.cercomp.ufg.br

14

Programação

27/11/2017 – SEGUNDA-FEIRA

18h00 – 19h30 – Credenciamento e Inscrições para Ouvintes

19h00 – Solenidade de Abertura – Auditório Paulo de Bastos

19h30 – Conferência de Abertura

Identidade, normalização e diferença.

Prof. Dr. Kleber Prado Filho (UNIARP)

Auditório Paulo de Bastos

21h00 – Coquetel

Restaurante “O Pratão”

28/11/2017 – TERÇA-FEIRA

9h30 – Mesa-Redonda 1

Cartografias do discurso político contemporâneo:

intolerância e discursos de ódio.

Prof.ª Dr.ª Vanice Sargentini (UFSCAR);

Prof.ª Dr.ª Kátia Menezes de Sousa (UFG/RG);

Auditório Paulo de Bastos

Mediador

Prof. Dr. Cleudemar Alves Fernandes (UFU)

14h00 – Sessões de Comunicação – Bloco Didático 1

Sessões de 1 a 6

16h30 – Mesa-Redonda 2

Cartografias do Contemporâneo: produção discursiva de verdades.

Prof.ª Dr.ª Karina Luiza de Freitas Assunção (UEMG/Prata-MG) - (PPGEL)

Prof. Dr. Israel de Sá (UFU)

Page 15: CADERNO DE RESUMOS - files.cercomp.ufg.br

15

Auditório Paulo de Bastos

18h00 – Lançamento de livros

Coffee Break

Saguão do Auditório Paulo de Bastos

19h30 – Mesa-Redonda 3

Cartografia, identidade e marginalização.

Prof. Dr. João Paulo Ayub (PNPD-CAPES/PPGEL/UFG/RC)

Prof. Dr. Vinícius Dorne (FACED/UFU)

Prof. Dr. Antônio Fernandes Júnior (UAELL/UFG/RC)

Auditório Paulo de Bastos

29/11 – Quarta-feira

9h30 – Encerramento – Mesa-Redonda 4

Cartografias da violência: gênero, sexualidade e subjetividade.

Prof. Dr. Bruno Franceschini (PPGEL/UAELL/UFG/RC)

Prof.ª Dr.ª Grenissa Bonvino Stafuzza (PPGEL/UAELL/UFG/RC)

Prof. Dr. Pedro Navarro (UEM)

Auditório Paulo de Bastos

14h00 – Sessões de Comunicação – Bloco Didático 1

Sessões de 7 a 10

Page 16: CADERNO DE RESUMOS - files.cercomp.ufg.br

16

SESSÕES DE COMUNICAÇÃO

Sessão 1

28/11 – Sala 301

Título da Comunicação Autores

O DISCURSO DE ÓDIO SOB O VIÉS PECHEUTIANO:

INTERDISCURSIVIDADE E EFEITOS DE SENTIDO Maximiano Antônio Pereira

ADULTIZAÇÃO E EROTIZAÇÃO DA CRIANÇA: UMA

ANÁLISE DISCURSIVA DE COMENTÁRIOS NAS MÍDIAS

SOCIAIS

Amanda Soares Mantovani e

Delcides Silvério Neto

A IMAGEM ADULTIZADA E SEXUALIZADA DA CANTORA

MELODY NA REDE SOCIAL FACEBOOK: DOS EFEITOS DE

SENTIDO EM COMENTÁRIOS DE LEITORES

Ana Vitória Nascimento

DISCURSO DE LIBERDADE DE EXPRESSÃO COMO

VONTADE DE VERDADE: ANÁLISE DE MATERIALIDADES

DO FACEBOOK

Hulda Gomides Oliveira

O ETHOS DISCURSIVO NOS MEMES DO SUJEITO

PROFESSOR Wânia Gomes Mariano Vieira

OS DISCURSOS POSSÍVEIS EM ENUNCIADOS DAS

REVISTAS ÉPOCA (2011) E ISTOÉ (2010) SOBRE DILMA

ROUSSEFF

Gabriella Cristina Vaz

Camargo

Sessão 2

28/11 – Sala 304

Título da Comunicação Autores

DISPOSITIVOS DE CONTROLE POLÍTICO: UM ENSAIO

SOBRE A DEPOSIÇÃO DE DILMA

Karol Natasha Lourenço

Castanheira e Vinícius

Fernandes Ormelesi

DITOS E NÃO DITOS SOBRE A BASE NACIONAL COMUM

CURRICULAR Daniel José Rocha Fonseca

DISCURSO E ENSINO: UMA ANÁLISE ACERCA DO

DISCURSO GOVERNAMENTAL EM RELAÇÃO ÀS

REFORMAS DO ENSINO MÉDIO

Rafaela Rodrigues Fernandes

CONCEITOS “TABUS” NA ESCOLA E SEUS LIMITES Sirlene Cíntia Alferes Lopes

O DISCURSO POLÍTICO ELEITORAL NA CAMPANHA DE

2014: A DISPUTA DOS SENTIDOS DE FRANQUEZA,

AGRESSIVIDADE E VERDADE NO FACEBOOK

Geovana Chiari

A CULTURA DO ESTUPRO COMO CAMPO DE

PROBLEMATIZAÇÃO DA MANEIRA DE SER E CONDUZIR-

SE NA SEXUALIDADE

Juliane de Araujo Gonzaga

Sessão 3

28/11 – Sala 308

Título da Comunicação Autores

DA FORMAÇÃO DO ENUNCIADO CRIMINOLÓGICO À

PRODUÇÃO DOS CORPOS INFAMES NA VIA DO

JORNALISMO POLICIAL: RESSONÂNCIAS NA ESFERA

SÓCIO-JURÍDICA

Renata Celeste

Page 17: CADERNO DE RESUMOS - files.cercomp.ufg.br

17

DISCURSO E ARGUMENTAÇÃO: UM OLHAR SOBRE A

REPRESENTATIVIDADE DO SUJEITO “JULIANO VP” EM

ABUSADO DE CACO BARCELLOS

Martha Tereza Santos Silva

TELEJORNALISMO POLICIAL E JULGAMENTO VIRTUAL:

A PRODUÇÃO TELEVISIVA DA DELINQUÊNCIA Marco Antônio Arantes

MÍDIA RACISTA? EFEITOS DE SENTIDO EM TÍTULOS DE

MATÉRIAS JORNALÍSTICAS SOBRE O TRÁFICO DE

DROGAS

Amanda Pereira de Sousa

Franco e Yure Viana da Silva

O DISCURSO POLÍTICO BRASILEIRO EM DEBATE: UMA

ANÁLISE DOS DEBATES ELEITORAIS PRESIDENCIAIS NO

BRASIL

Livia Maria Falconi Pires

ENTRE O MARGINAL E O SOCIAL: A EXCLUSÃO QUE

RONDA PIVETE

Maria Irenilce Rodrigues

Barros

Sessão 4

28/11 – Sala 310

Título da Comunicação Autores

CORPOS HETEROTÓPICOS OU O LUGAR DAS

PERSONAGENS EM VAN HELSING: O CAÇADOR DE

MONSTROS

Alisson Cardoso da Silva

JOGOS DE PODERES NO MUNDO DA TERRA-MÉDIA A

PARTIR DO “UM ANEL” E SEUS PORTADORES

Francisco de Assis Ferreira

Melo

“DANÇARINO DO DESERTO” E A RESISTÊNCIA ATRAVÉS

DO CORPO Giovanna Diniz dos Santos

O CORPO EM ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA DE JOSÉ

SARAMAGO: ENTRE A VIGILÂNCIA E A SEGREGAÇÃO

Karina Luiza de Freitas

Assunção

O CORPO DO ASSASSINO EM SÉRIE EM EVIDÊNCIA:

DISCURSO DO FASCÍNIO E PRÁTICAS NA MÍDIA

BRASILEIRA

Glaucia Mirian Silva Vaz

O CORPO COMO UM ASPECTO DO DISPOSITIVO DE

SEGURANÇA Jaquelinne Alves Fernandes

Sessão 5

28/11 – Sala 311

Título da Comunicação Autores

O PAPEL DA RELAÇÃO PROFESSOR/OBJETO DE

SABER/MÉTODO NO PROCESSO DE TOMADA DA PALAVRA

EM LÍNGUA INGLESA

Mariá Prado Walmiro

REPRESENTAÇÕES DISCURSIVAS DOS PROFESSORES

FORMADORES EM UM CURSO DE LETRAS INGLÊS Marcela Henrique de Freitas

EXISTE PELEUMONIA: UMA ANÁLISE DE DISCURSOS

RELATIVOS À LÍNGUA PORTUGUESA NAS MÍDIAS SOCIAIS

Raquel Costa Guimarães

Nascimento

MOVIMENTOS DO PROFESSOR SUPERVISOR DO PIBID NA

ESCOLA: UMA CARTOGRAFIA Jaila Penaforte

O CORPO FEMININO NO LIVRO DIDÁTICO DE 9º ANO DE

LÍNGUA PORTUGUESA Vânia Gomes Cardoso

Page 18: CADERNO DE RESUMOS - files.cercomp.ufg.br

18

PENSAR A EDUCAÇÃO A PARTIR DE MICHEL FOUCAULT:

A INSTITUIÇÃO DISCIPLINAR E O CUIDADO DE SI André de Barros Borges

Sessão 6

29/11 – Sala 301

Título da Comunicação Autores

CARTOGRAFIAS DE DISCURSOS CONTRA A CORRUPÇÃO

NO BRASIL: IMAGENS, CONFLITOS E CONTROVÉRSIAS Maiara Raquel Campos Leal

UM DIÁLOGO COM FREIRE E FOUCAULT SOBRE PODER E

SABER Rosângela Labre de Oliveira

CONTORNOS CONTEMPORÂNEOS DA BIOÉTICA: UMA

ANÁLISE DA ADI 3510 SOB O PRISMA TEÓRICO DO

DISCURSO DE PODER DE MICHEL FOUCAULT.

Filipe Melo Carneiro Leão

Loreto

O DISCURSO DE MERITOCRACIA E AS RELAÇÕES DE

PODER EM 3% Tainá Camila dos Santos

REFLEXÃO CRÍTICA SOBRE OS DISCURSOS ATUAIS DE

VIOLÊNCIA COMO MANTENEDORES DA ORDEM

Cecília Rodrigues Ribeiro e

Camila Dias

O NOVO ENSINO MÉDIO: ANÁLISE DO DISCURSO DA LEI

Nº 13.415/17 A PARTIR DE MICHEL FOUCAULT Amarildo Inácio dos Santos

Sessão 7

29/11 – Sala 302

Título da Comunicação Autores

IGUALDADE DE GÊNEROS E OS DISPOSITIVOS DE

EMPODERAMENTO FEMININO NO INÍCIO DO SÉCULO XXI Cássia Núbia de Carvalho

SUBJETIVAÇÃO E O CUIDADO DE SI: UMA ANÁLISE DA

REPRESENTAÇÃO DA MULHER NA SOCIEDADE Sarah Carime Braga Santana

A VONTADE DE VERDADE DO SEXO NOS DISCURSOS DE

IDENTIDADE DE GÊNERO DA ATUALIDADE Guilherme de Freitas Leal

DIA INTERNACIONAL DA MULHER EM CAMPANHA

PUBLICITÁRIA DA SKOL (2017): SOB UM OLHAR

DIALÓGICO

Gabriella Cristina Vaz

Camargo

SUBJETIVIDADE SOCIAL FEMININA, EDUCAÇÃO NÃO

FORMAL E CUIDADO DE SI Sidcléia da Silva Santos

O DISPOSITIVO DE SEXUALIDADE NA LITERATURA: UMA

ANÁLISE DE DISCURSO SOBRE O FEMININO NAS OBRAS

DE JOSÉ DE ALENCAR E SUA PERPETUAÇÃO NO

CONTEMPORÂNEO

Beatriz Izabelli Zumba

Elihimas e Amanda Salgado

Rocha

O FEMININO QUE GRITA NO ANTIFEMINISMO Pâmela Tavares de Carvalho

Sessão 8

29/11 – Sala 303

Título da Comunicação Autores

REPRESENTAÇÕES DO VALE DE JAVÉ (NORDESTE) E DO

NORDESTINO PELA NOÇÃO DE ENUNCIADO REITOR Léa Evangelista Persicano

Page 19: CADERNO DE RESUMOS - files.cercomp.ufg.br

19

RELAÇÕES DISCURSIVAS: O PAPEL ENUNCIATIVO DA

PALAVRA FERRAMENTA NOS POEMAS DE BRAZ JOSÉ

COELHO

Júlio César Albuquerque da

Rocha

PERCEPÇÕES DISCURSIVAS SOBRE A LEITURA DE

CLÁSSICOS EM QUADRINHOS Camila Santin Calçada e Silva

CONSTITUIÇÃO DE SUBJETIVIDADES EM “O PAPEL DE

PAREDE AMARELO”, DE CHARLOTTE PERKINS GILMAN Nilce Meire Alves Rodovalho

AUTORIA E ESCRITA NAS MEMÓRIAS DE ROSA

AMBRÓSIO: UMA ANÁLISE DO EFEITO-SUJEITO EM “AS

HORAS NUAS” DE LYGIA FAGUNDES TELLES

Ismael Ferreira Rosa

A ENUNCIAÇÃO NA HISTÓRIA PARA A CONSTITUIÇÃO DO

SUJEITO DISCURSIVO ORLANDO SABINO

Fernanda Gomes da S.

Nakamura

Sessão 9

29/11 – Sala 304

Título da Comunicação Autores

OS DISCURSOS DE DISCRIMINAÇÃO NA OBRA DOIS

GAROTOS SE BEIJANDO: CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO,

EFEITOS DE SENTIDO E FORMAÇÃO DISCURSIVA

Yuri Pereira de Amorim

VIDA ARTISTA E VIDA ARTÍSTICA: ENCONTROS E

DESENCONTROS NA ARTE DE VIVER Marco Antônio Arantes

UM OLHAR SOBRE O RAP DE CRIOLO ENQUANTO

PRODUTOR DE EFEITOS DE SENTIDOS E SUBJETIVIDADES Jheny Iordany Felipe de Lima

“VOCÊ ME DEIXA DOIDÃO!!!”: UMA ANÁLISE SOBRE OS

REGIMES DE PRODUÇÃO DE VERDADE EM TRÊS

COMPOSIÇÕES DA BANDA MAMONAS ASSASSINAS

Maurício Divino Nascimento

Lima

PRÁTICAS DE SUBJETIVAÇÃO EM O CENTAURO NO

JARDIM DE SCLIAR: DISCURSOS E SUJEITO Neuza de Fátima Vaz de Melo

ONCE UPON A TIME... RELAÇÕES DIALÓGICAS NA

ENUNCIAÇÃO VERBOVOCOVISUAL SERIADA Thainá Pereira Gonçalves

Sessão 10

29/11 – Sala 310

Título da Comunicação Autores

PERSPECTIVA; ENTRE “O BALCÃO” DE MANET E

MAGRITTE

Paulo Ferreira de Carvalho

Neto

‘EU SOU LADRÃO E VACILÃO’: CAPTURA DE SI E DO

OUTRO EM TEMPOS DE REDES SOCIAIS DIGITAIS Aldenor da Silva Pimentel

O DESEJO DE VERDADE E A SUBJETIVAÇÃO SOBRE O

SUICÍDIO A PARTIR DA CAMPANHA SETEMBRO AMARELO Anísio Batista Pereira

O DISCURSO SUBJACENTE À NORMA DE DECISÃO

JURÍDICA

Juliana Andrade e Renata

Celeste

UM ESTUDO HERMENÊUTICO DA TEMPORALIZAÇÃO NA

ÉTICA DO CUIDADO DE SI Cristina Batista de Araújo

OS SIGNOS DA LOUCURA – CULTURA E FOUCAULT Cleiton da Silva Rodrigues

Page 20: CADERNO DE RESUMOS - files.cercomp.ufg.br

20

Resumos

Sessão 1

O DISCURSO DE ÓDIO SOB O VIÉS PECHEUTIANO: INTERDISCURSIVIDADE E

EFEITOS DE SENTIDO

Maximiano Antônio Pereira

PROLICEN/PIBIC – UAELL/RC/UFG

Prof.ª Dr.ª Erislane Rodrigues Ribeiro (Orientadora – UAELL/RC/UFG)

Na obra Raízes do Brasil, o historiador Sérgio Buarque apresentou o texto intitulado O

homem cordial, cujo tema tratava da recorrência do discurso que preconiza a hospitalidade

dos brasileiros. Muitas vezes, são transferidos tratamentos da esfera familiar para a privada,

ocasionando a impressão de civilidade incomum a outros povos. Como resposta do autor às

muitas críticas sobre seu posicionamento, ele reafirmou que não houve defesa ao referido

discurso, e sim ênfase ao prevalecimento da pessoalidade nas relações privadas. Em censo

levantado pela Agência Nova/SB entre os meses de abril e junho de 2016, percebeu-se que

84% das referências nas redes sociais sobre temas como racismo, política e homofobia são

preconceituosas e, geralmente, o ódio nas redes sociais é promovido por jovens em idade

escolar. Por isso, é importante que sejam realizadas pesquisas sobre o tema. Assim, objetiva-

se, a partir de corpus levantado com as pesquisas Mulher, negra e famosa: uma análise do

discurso racista em posts publicados no Facebook (PIVIC) e Sexo, sexualidade e gênero na

nova escola/Nova Escola: dos discursos e efeitos de sentido produzidos em comentários de

leitores (PROLICEN – PIBIC), analisar o discurso de ódio nas redes sociais, identificando os

interdiscursos que o constituem e os efeitos de sentido produzidos sob a perspectiva da

Análise do Discurso de linha francesa (AD), com o fim de promover, sobre a temática,

oficinas voltadas a alunos de escolas públicas catalanas. As sequências discursivas a serem

analisadas serão selecionadas pelo critério da recorrência. Quanto à fundamentação teórica, é

obtida pela leitura dos autores franceses: Pêcheux (1997), (2009), (2011a), (2011b) e

Maingueneau (2015) bem como dos pesquisadores brasileiros: Possenti (2004), Orlandi

(2006) e Mussalim (2003). As conclusões preliminares da pesquisa indicam que há relação

dos discursos racistas, machistas e conservadores com o discurso de ódio.

Palavras-chave: Discurso de ódio. Mídias sociais. Preconceito.

ADULTIZAÇÃO E EROTIZAÇÃO DA CRIANÇA: UMA ANÁLISE DISCURSIVA

DE COMENTÁRIOS NAS MÍDIAS SOCIAIS

Amanda Soares Mantovani

Delcides Silvério Neto

UAELL/RC/UFG

Prof.ª Dr.ª Erislane Rodrigues Ribeiro (Orientadora – UAELL/RC/UFG)

Por meio da Análise do Discurso de linha francesa, esta pesquisa objetiva analisar os

comentários publicados no Facebook, no ano de 2017, a respeito da atriz e apresentadora teen

Maísa Silva, além de refletir acerca dos fatores cotidianos e midiáticos que proporcionam o

aparecimento de comentários com viés erótico e de caráter sensual sobre crianças nas mídias

sociais. Os comentários que constituem o corpus deste estudo foram selecionados a partir de

Page 21: CADERNO DE RESUMOS - files.cercomp.ufg.br

21

uma resposta da atriz aos ataques sofridos por um colega de trabalho no dia 18 de junho no

programa Sílvio Santos da rede SBT e que, através dos critérios de regularidade e efeitos de

sentido presentes nos comentários, foi feita a seleção do macro e, posteriormente, do micro

corpus. As análises incidem tanto sobre comentários contrários à posição de Maísa, quanto de

repúdio à atitude do rapaz em questão e são fundamentados, principalmente, em textos de

Pechêux (1990), Orlandi (2012), Mussalim (2004) e Possenti (2004) e é de cunho analítico-

interpretativista, com foco nos conceitos de sujeito, efeitos de sentido e condições de

produção, próprios da Análise do Discurso pecheuteana e relacionados à repercussão do caso

nas mídias sociais. Um dos resultados que pode ser identificado foi que o discurso machista

está constantemente relacionado ao discurso sexual e de teor erótico ao tratar-se da figura

feminina e de seu amadurecimento biológico, uma vez que suas características físicas são

vistas como insinuação por parte da mulher, além de a maioria dos comentários contrários à

posição da atriz serem proferidos, também, pelas próprias mulheres.

Palavras-chave: Discursos. Adultização. Mídias sociais.

A IMAGEM ADULTIZADA E SEXUALIZADA DA CANTORA MELODY NA REDE

SOCIAL FACEBOOK: DOS EFEITOS DE SENTIDO EM

COMENTÁRIOS DE LEITORES

Ana Vitória Nascimento

UAELL/RC/UFG

Prof.ª Dr.ª Erislane Rodrigues Ribeiro (Orientadora – UAELL/RC/UFG)

Vivem-se tempos em que intérpretes do Funk têm conquistado muito sucesso e nesse cenário

todo é crescente o número de representantes mirins deste estilo no mundo artístico da música.

Entre estas crianças, Gabriella Abreu Severino, popularmente conhecida como Melody, vem

causando muitas polêmicas. Em virtude de cantar e dançar músicas consideradas por parte da

sociedade inadequadas para a sua idade, enfrenta inúmeros preconceitos. A rede social

Facebook da cantora é transbordada de comentários tanto favoráveis, quanto desfavoráveis a

respeito de sua imagem prematuramente adultizada e sexualizada, e há inúmeros ataques

depreciativos nos comentários de leitores em suas fotos e vídeos. Tendo como corpus seis

(06) comentários de leitores selecionados do perfil oficial da cantora Melody, pretende-se

trabalhar os efeitos de sentidos nestes discursos proferidos virtualmente. Atentando-se ao

interdiscurso relacionado a possíveis posições sociais, ideológicas e morais, foi analisado

como estes sujeitos leem negativamente ou positivamente a imagem de Gabriella relacionada

ao Funk. O presente trabalho não tem por finalidade desprestigiá-la ou como também de

prestigiá-la, pelo contrário, busca-se levantar questões analíticas que se possam levar a

possíveis conclusões a respeito de problemáticas presentes nos enunciados em questão. Para

maior consistência das discussões, parte-se da Análise do Discurso de linha francesa (AD),

com embasamento nos conceitos teóricos desenvolvidos por: Possenti (2001) e Orlandi

(2006). Levando em consideração os sujeitos participantes do discurso, suas memórias

discursivas e a exterioridade, chegou-se ao caráter problemático de que a imagem da cantora,

de apenas dez anos de idade, tem sido lida pelos mesmos de uma maneira muito negativa. E

que, nos comentários, são revelados sentidos predominantes de uma sociedade ainda ligada a

um forte discurso moral relacionado à religiosidade.

Palavras-chave: Efeitos de sentido. Facebook. Funk.

Page 22: CADERNO DE RESUMOS - files.cercomp.ufg.br

22

DISCURSO DE LIBERDADE DE EXPRESSÃO COMO VONTADE DE VERDADE:

ANÁLISE DE MATERIALIDADES DO FACEBOOK

Hulda Gomides Oliveira

Universidade Federal de São Carlos – CAPES

Vanice Maria de Oliveira Sargentini

Uma série de enunciados sobre o livre expressar-se em democracias tem constituído

historicamente, se vistos como um conjunto, um discurso de liberdade de expressão. Como

discursividade contemporânea, ressaltamos a especificidade de que contamos com a

existência de redes sociais. Por outro lado, como regularidade, vemos que, mesmo em

sistemas governamentais bastante abertos politicamente, desde a ágora até agora, existem

determinações das mais diversas formas e em diferentes espaços que condicionam a “livre

expressão”. Assim, partindo das reflexões de Michel Foucault, consideramos como esse

discurso de liberdade de expressão corresponde a uma vontade de verdade que faz com que os

sujeitos se vejam como livres para falar, ao apresentar-se sob a forma de um saber fortemente

inscrito na ordem das leis, oferecendo matrizes de comportamento para os indivíduos,

possibilitando, por fim, modos de existências para os sujeitos na atualidade. Analisamos,

então, como esse processo de subjetivação atravessa e acaba por objetivar e subjetivar os

sujeitos que se expressam nas redes sociais. Nosso recorte são as mídias virtuais brasileiras e

levamos em conta que para compreender esse sujeito brasileiro que se expressa em uma

democracia ocidental, sustentada por direitos e deveres, é preciso recuperar diferentes

temporalidades que nos ajudam a entender nossa historicidade. Propomos na tese o seguinte

trajeto: na Grécia antiga, com o acontecimento da pólis, as tragédias e os filósofos produziam

dizeres em torno de um “cidadão que podia falar”; na França, com o acontecimento da

Revolução Francesa, a declaração dos direitos dos homens e dos cidadãos, com pretensão

manifestamente universal, legislava que “povo podia falar”; a contemporaneidade, por sua

vez, experimenta o acontecimento da criação das redes socais e, em alguma medida, propaga-

se a ideia de que agora “qualquer um pode falar”. Para este texto, recuperamos alguns desses

pressupostos e trazemos como recorte a análise de materialidades do Facebook.

Palavras-chave: Liberdade de expressão. Discurso. Sujeito.

O ETHOS DISCURSIVO NOS MEMES DO SUJEITO PROFESSOR

Wânia Gomes Mariano Vieira

PMEL – RC

Pretendemos neste trabalho analisar o discurso referente à construção da imagem de si

representada nos memes que têm como tema a profissão docente. O presente estudo é um

recorte de um capítulo da dissertação de mestrado que se encontra em construção. Nesse

trabalho pretendemos desenvolver a noção de ethos efetivo, bem como sua relação com o

ethos pré-discursivo e ethos discursivo para compreendermos o processo de enunciação do

sujeito professor. Por meio do aparato teórico-metodológico da Análise do Discurso de linha

francesa, com ênfase nas reflexões que Maingueneau (2008) desenvolve sobre a noção de

ethos. Para tanto, selecionamos, descrevemos e analisamos um meme do sujeito professor que

norteia a questão do ethos efetivo. É pertinente pensar a questão do ethos como a imagem que

o enunciador projeta de si para convencer seu público-alvo no processo de enunciação, no

Page 23: CADERNO DE RESUMOS - files.cercomp.ufg.br

23

qual se apoia em estereótipos cristalizados no meio social, para efetivar seu discurso e ter uma

eficácia discursiva que capta os co-enunciadores no processo de interação. Os memes

propagados nas redes sociais oportunizam relações dialógicas entre os sujeitos que estão

imersos no contexto tecnológico permitindo uma interação que afeta o sujeito social. Este

trabalho destaca como o ethos nos ajuda a compreender o embate dialógico produzido pelos

memes sobre a identidade do sujeito professor. Traçamos como objetivos analisar o enunciado

verbo-visual de memes sobre o sujeito professor, que se mostra a partir de uma cenografia na

qual as nuances discursivas que o fiador apresenta, quando enuncia, legitima sua maneira de

dizer na compreensão de sua identidade.

Palavras-chave: Identidade. Sujeito professor. Ethos.

OS DISCURSOS POSSÍVEIS EM ENUNCIADOS DAS REVISTAS ÉPOCA (2011) E

ISTO É (2010) SOBRE DILMA ROUSSEFF

Gabriella Cristina Vaz Camargo

PPGEL – Universidade Federal de Goiás/Regional Catalão

A revista Isto é, em maio de 2010, publicou a capa “Dilma por Dilma”, em que abordou

questões relacionadas à vida pessoal da, então, candidata à presidência da república Dilma

Rousseff. E, em maio de 2011, a revista Época publicou a capa “A saúde de Dilma”, se

referindo a problemas de saúde enfrentados por Dilma, que naquele momento exercia o cargo

de Presidenta. Diante disso e a partir da perspectiva teórica proposta do Michel Foucault,

buscamos identificar alguns discursos que emergem a essas capas, como o machista e o

patriarcal, em que Dilma, na primeira capa, é romantizada e possui aparência delicada e

sensível; bem como teorizar acerca da noção de enunciado, de modo a compreender essas

duas capas enquanto enunciados, pois possuem função enunciativa e são enunciados por um

sujeito de um lugar ordenado por regras sócio-históricas. Assim, este trabalho justifica-se por

discutir os discursos possíveis apresentados através dos enunciados em questão e, para o

desenvolvimento das análises, contamos com as contribuições teóricas de Fernandes (2005),

Brandão (2012), Orlandi (2015) e, claro, Foucault (2012). Procuramos por meio deste estudo

trazer contribuições, à luz da teoria foucaultiana, sobre enunciado e também sobre discurso, e

com isso analisar e desconstruir uma imagem atribuída à Dilma desde o início de sua

campanha, que implica em discursos odiosos, machistas e também misóginos. Além de nos

preocuparmos em discutir acerca da falta de neutralidade em ambas as capas das revistas, da

não credibilidade de suas informações e o descompromisso jornalístico que evidencia os

discursos e os posicionamentos políticos ao qual pertencem.

Palavras-chave: Discurso. Enunciado. Capas de revista.

Sessão 2

DISPOSITIVOS DE CONTROLE POLÍTICO: UM ENSAIO SOBRE

A DEPOSIÇÃO DE DILMA

Karol Natasha Lourenço Castanheira

Vinícius Fernandes Ormelesi

Page 24: CADERNO DE RESUMOS - files.cercomp.ufg.br

24

Historicamente, a condição de sujeito político foi sendo alterada a partir de dispositivos de

controle capazes de definir quem poderia ser ou atuar como político. A partir desta

prerrogativa, busca-se refletir acerca dos dispositivos de controle que contribuíram para a

deposição da ex-presidente Dilma Rousseff. Nesse sentido, o trabalho se apropria da obra

Genealogia do Poder, de Foucault, como um respaldo teórico-metodológico de análise capaz

de contribuir para a interpretação da operacionalização das condições em que se dá o sujeito

político no seu contexto histórico. O judiciário, a mídia, os partidos políticos e o sistema

empresarial se constituem, nessa análise, como mecanismos disciplinadores e até mesmo

punitivos que visam à manutenção do poder, porém a título desse artigo serão analisados

apenas o judiciário e a mídia. O corpus da análise discursiva se baseia no ativismo judicial

midiático com o vazamento das conversas entre Lula e Dilma e nas midiatizações misóginas

no espaço público. No que compete ao protagonismo do judiciário, conclui-se que a ideia da

inércia da jurisdição é fruto de uma ideologia liberal que se instala no século XIX na

concepção do Judiciário enquanto órgão estatal. Hoje, tal perspectiva tem sido mitigada com

as crescentes demandas de acesso à Justiça pela sociedade que leva à judicialização das

políticas públicas. Por outro lado, o Judiciário se despe de sua antiga neutralidade política e

assume definitivamente seu posto nas dinâmicas das relações de poder. O discurso da mídia,

por sua vez, enquanto dispositivo de poder contribui para a ressignificação da realidade

imputando a Dilma após a eleição de 2014 a desqualificação do sujeito político, que perpassa

pela condição do sujeito mulher. Portanto, os dispositivos de controle buscam em um

primeiro momento disciplinar a ex-presidente deposta e, a partir da inviabilidade de

mudanças, castra de forma punitiva a sua condição de sujeito político.

Palavras-chave: Dispositivos de controle. Impeachment. Dilma Rousseff.

DITOS E NÃO DITOS SOBRE A BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR

Daniel José Rocha Fonseca

Universidade Federal de Goiás – Regional Jataí

Orientadora: Maria de Lourdes Faria dos Santos Paniago

Este trabalho tem como objetivo específico cotejar diversos ditos e não ditos acerca da Base

Nacional Comum Curricular (BNCC). A metodologia foi baseada no levantamento e na coleta

de dados bibliográficos e documentais, com pesquisa em livros, artigos de periódicos, teses e

dissertações, e usando como abordagem teórico-metodológica particularmente construtos

teóricos propostos por Michel Foucault. Interessada em analisar diversas práticas discursivas

e não discursivas que culminaram no surgimento, na defesa e na elaboração da BNCC, a

pesquisa faz uma contextualização sobre a história da educação brasileira envolvendo os

percalços da formação e transformação do objeto infância enquanto discurso produzido no

Brasil. Entendendo que o lugar da infância no Brasil nem sempre foi o mesmo, o estudo se

atenta aos trajetos de significações incutidos no campo da escolarização nacional. O Estado

brasileiro, em especial no início do Brasil República, impulsionado para garantir e promover

direitos, deveres e status para a criança na sociedade, apostou seu poder numa governança

infantil fundamentada por dispositivos científicos. Esse procedimento político não somente

legitimou uma nova forma de se fazer pedagogia no país, mas, também, condensou práticas

constituintes de saberes que até então não tinham espaço para transitar no ambiente escolar

brasileiro. A educação, receptiva a essa possibilidade, em fronteira e contato com outros

conhecimentos, como a medicina, a psicologia, a biologia e o direito, passou a

instrumentalizar ações disciplinadoras e normativas nas escolas. E o Estado brasileiro, na

Page 25: CADERNO DE RESUMOS - files.cercomp.ufg.br

25

tentativa de produzir uma pedagogia moderna no início do século XX, efetivou uma

intervenção higienista no corpo populacional infantil. Isto posto, em consonância com os

desdobramentos dessa formação discursiva que ainda se reivindica no saber e poder da

atualidade, a pesquisa questiona até que ponto a BNCC não encerra em seus ditos e não ditos

práticas higienizadoras de escolarização.

Palavras-chave: Discurso. Infância. Governamento.

DISCURSO E ENSINO: UMA ANÁLISE ACERCA DO DISCURSO

GOVERNAMENTAL EM RELAÇÃO ÀS REFORMAS DO ENSINO MÉDIO

Rafaela Rodrigues Fernandes

UFG / Regional Catalão

Prof.a Dr.a Erislane Rodrigues Ribeiro (Orientadora)

Este presente trabalho tem como objetivo fazer a análise de uma propaganda desenvolvida

pelo Ministério da Educação do Governo Federal com base nos pressupostos teóricos da

Análise do Discurso de linha francesa apresentados pelo autor Michel Pêcheux. Segundo o

MEC, a propaganda tem o intuito de informar a população acerca do novo ensino médio

aprovado em fevereiro de 2017 e suas principais implicações. A propaganda vem sendo

exibida em todos os veículos midiáticos, sobretudo nas emissoras de televisão. Após a escolha

do corpus, realizou-se uma análise baseando-se nos conceitos de sujeito, condições de

produção, interdiscurso e memórias discursivas, formulados pelo autor para realizar a análise

do discurso presente no vídeo. Deste modo, este estudo se concretizou através de uma

pesquisa bibliográfica, abarcando discussões relativas aos conceitos abordados pela AD, bem

como da realização de análise do corpus selecionado. Para a pesquisa bibliográfica, lançou-se

mão de referenciais teóricos, tais como Pêcheux (1995), Magalhães (2004), Orlandi (2006),

entre outros, para dar notada atenção aos conceitos supracitados e também para compreender

como se constrói um discurso publicitário. A partir da análise realizada foi possível observar

certos efeitos de sentido produzidos que possibilitam compreender a forma como o governo

vê a educação atualmente. Por meio desta pesquisa pudemos também chegar à conclusão de

que a Análise do Discurso de linha francesa tem uma enorme contribuição nas análises de

corpus que diariamente circulam nas mídias. É a partir dela que podemos considerar de forma

efetiva a historicidade dos fatos que circulam diariamente, observando os discursos presentes

em cada um.

Palavras-chave: Discurso. Ensino. Análise do Discurso.

CONCEITOS “TABUS” NA ESCOLA E SEUS LIMITES

Sirlene Cíntia Alferes Lopes

IFG – Câmpus Jataí/LEDIF – UFU

A relevância de problematizações tangenciáveis a conceitos “tabus” na sociedade (sempre)

surge em contexto(s) de sala de aula, ora por demanda própria, por meio de solicitação direta

do(s) discente(s), ora por uma necessidade analisada pelo docente, principalmente quando se

leciona língua portuguesa para adolescentes e se pretende fazer um trabalho reflexivo sobre o

corpo social. Na oportunidade, levando-se em consideração a noção de enunciado postulada

Page 26: CADERNO DE RESUMOS - files.cercomp.ufg.br

26

por Foucault em A arqueologia do saber, compreendido como “a unidade elementar do

discurso” (FOUCAULT, [1969] 2004, p. 90), visa-se analisar recortes de produções textuais

de alunos do primeiro ano do ensino médio técnico. Salienta-se que foram propostos debates

sobre “A sexualidade na escola” no início do primeiro semestre letivo, com duração de cerca

de um mês, e posterior produção textual sobre “a necessidade ou a não necessidade de se

implementar a orientação sexual como tema na escola”, ponto de discussão levantado no

artigo “Sexualidade e escola: um espaço de intervenção” (BERALDO, 2003). Por

coincidência, devido à conjuntura recente sobre a performance do artista Wagner Schwartz no

Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM), abriu-se espaço para a problematização “O nu

na arte e os limites sociais” neste semestre. Foram destinadas aulas para exposição do

problema, apresentação de artigos publicados em jornais e revistas eletrônicos, organização

das ideias para a produção e primeira versão do texto. Após, os alunos reescreverão a redação.

Além de analisar discursos e limites sociais que emergem a partir dos enunciados recortados,

pretende-se problematizar o(s) sujeito(s) que das produções emergem, uma vez que o sujeito

não fala pelo discurso, posto que não tem controle sobre o que diz, mas é falado pelo discurso,

pois é a partir do discurso que é possível tecer considerações sobre aspectos sociais, históricos

e culturais, os quais determinam o sujeito e estão em constante transformação.

Palavras-chave: Sexualidade. Arte. Escola.

O DISCURSO POLÍTICO ELEITORAL NA CAMPANHA DE 2014: A

DISPUTA DOS SENTIDOS DE FRANQUEZA, AGRESSIVIDADE E

VERDADE NO FACEBOOK

Geovana Chiari

UFSCar

Prof.a Dr.a Vanice Maria Oliveira Sargentini

Neste trabalho, trataremos da produção dos efeitos de agressividade na campanha eleitoral de

2014, buscando compreender suas condições de emergência nas redes sociais, de modo a

evidenciar os elementos que propiciariam determinados níveis e formas do dizer agressivo,

analisando, assim, as condições de produção que nos permitem observar uma mudança do que

se compreendeu como insulto, agressão na referida campanha. Para tanto, apresentaremos

algumas considerações da dissertação de mestrado intitulada “Entre insultos e falsas

harmonias: a construção dos efeitos de agressividade no discurso político eleitoral na

campanha de 2014”, trabalho que desenvolvemos no período de 2015 a 2016. Tal estudo

constatou que a distribuição do discurso político agressivo relaciona-se de forma direta com

as formas e a intensidade da agressividade. Procuraremos pensar o dito agressivo sob uma

perspectiva discursiva, amparando-nos na teoria da Análise do Discurso, particularmente nos

estudos de Michel Foucault, o qual nos oferecerá ferramentas que nos auxiliarão na

compreensão da constituição dos discursos, bem como das suas emergências, tendo em vista

os rituais e coerções envolvidos na produção de seus efeitos. No trabalho de dissertação

supracitado, constatamos que a agressividade produzida nesses meios é extremamente maior e

mais intensa se comparada aos discursos construídos em outros médiuns, como os debates e

os sites oficiais de campanha. Por que então uma “agressividade descontrolada” parece ocupar

com maior expressividade as redes sociais? Quais são os mecanismos que permitem a

produção dos efeitos de agressividade sem limites e intolerante? Na tentativa de responder a

tais indagações, apresentaremos algumas análises acerca do funcionamento da rede social

“Facebook” em relação às campanhas eleitorais, apoiando-nos nos estudos foucaultianos,

Page 27: CADERNO DE RESUMOS - files.cercomp.ufg.br

27

sobretudo aqueles que se vinculam às noções de verdade, da confissão, da parresia, das

práticas de objetivação e subjetivação.

Palavras-chave: Agressividade. Redes sociais. Campanha eleitoral.

A CULTURA DO ESTUPRO COMO CAMPO DE PROBLEMATIZAÇÃO DA

MANEIRA DE SER E CONDUZIR-SE NA SEXUALIDADE

Juliane de Araújo Gonzaga

UNESP/FCLAr – Araraquara – SP

Orientadora: Prof.a Dr.a Maria do Rosário Gregolin

No presente, o acontecimento da volta do feminismo nas mídias digitais apresenta

singularidades em relação aos feminismos anteriores. Uma delas refere-se ao modo como a

sexualidade é tomada como campo de problematizações da maneira de ser e conduzir-se das

mulheres. Nesse sentido, voltamo-nos para o conceito de cultura do estupro, que retorna nas

redes sociais e é definido pelas feministas como um conjunto de valores que condicionam a

sociedade a interpretar a violência sexual como norma. Em História do Estupro, Vigarello

(1998) aponta que o que se diz sobre estupro está relacionado à existência histórica de

avaliações morais e classificações dos sujeitos segundo suas ações e condutas no domínio da

sexualidade. Exemplos são: [a mulher é culpada pelo estupro] vs. [a mulher é vítima do

estupro]. A partir disso, esta comunicação objetiva problematizar a emergência do conceito de

cultura do estupro nas mídias digitais para: i) compreender como é atualizado pelos discursos

sobre feminismo e ii) verificar se exerce função estratégica na produção de subjetividades.

Para tanto, selecionamos como objeto de análise enunciados produzidos por páginas

feministas – Feminismo Sem Demagogia, Feminismo na Rede, Blogueiras Feministas – que

falam de cultura do estupro e se posicionam em relação ao conceito. A postura de análise

adotada refere-se aos pressupostos da Genealogia da Ética de Michel Foucault (2005; 2006),

desenvolvidos nos volumes II e III da História da Sexualidade. Assim, mobilizamos os

conceitos de ética, moral e cuidado de si para diagnosticarmos como os sujeitos estabelecem

relações consigo diante dos códigos morais e das condições históricas do presente. Nossa

hipótese é a de que o fato de feministas enunciarem o conceito de cultura do estupro, hoje,

exerce função estratégica porque é uma maneira de problematizar valores e códigos de

conduta na sexualidade, produzindo resistências e novas regras para elaboração e governo de

si.

Palavras-chave: Cultura do estupro. Ética. Moral.

Sessão 3

DA FORMAÇÃO DO ENUNCIADO CRIMINOLÓGICO À PRODUÇÃO DOS

CORPOS INFAMES NA VIA DO JORNALISMO POLICIAL:

RESSONÂNCIAS NA ESFERA SÓCIO-JURÍDICA

Renata Celeste

Doutora – UFPE / Professora da Faculdade Damas

Page 28: CADERNO DE RESUMOS - files.cercomp.ufg.br

28

A pesquisa teve como ponto de partida uma análise do circuito criminal à luz da filosofia

foucaultiana. A trajetória do texto buscou identificar a produção de “corpos infames” nas

estruturas de saber-poder criminológicos. Nessa ordem, o problema enfrentado no trabalho

consiste na observação do processo de formação do “enunciado de poder criminológico” a

partir das narrativas do jornalismo policial. O par “enunciado-enunciações” reflete um aspecto

relevante na circularidade dos poderes, sendo um campo vasto de observação do

contemporâneo, pois a ampliação da inserção da mídia e o aparato das redes sociais

favorecem o dinamismo de formação e deformação dos enunciados. Por sua vez, o dispositivo

jurídico que funciona a partir da transmissão de enunciados legais é igualmente atingido pelos

enunciados midiáticos, essa equação posta no ambiente criminal pode ser responsável pela

produção do padrão de estigma dos “corpos infames” e modelos de verdades, este último com

aptidão de fazer circular uma máquina de condenações. Assim, pretendeu-se responder ao

seguinte: a. O modo e o como da veiculação das notícias nos jornais policiais formam um

enunciado de saber-poder criminológico? b. As enunciações de saber-poder criminológico do

jornalismo policial produzem “corpos infames” e refletem no dispositivo jurídico? Em termos

metodológicos, o trabalho pertence ao gênero teórico com objetivo descritivo. Os resultados

foram obtidos através de pesquisa bibliográfica e observação de jornais policiais privilegiando

o cruzamento de saberes sócio-jurídicos. A abordagem escolhida foi qualitativa com

utilização multi-método, pois os conceitos teóricos foram trabalhados a partir de observação,

descrição e a análise foucaultiana do discurso contido nos programas policiais, como “Bronca

Pesada”, “Brasil Urgente”, “Cidade Alerta”. Preliminarmente, é possível verificar a formação

do enunciado e proliferação das enunciações criminológicas no jornalismo policial, assim

como identificar um conjunto de elementos direcionados à produção das subjetividades

infames e na sequência problematizar os reflexos no discurso jurídico.

Palavras-chave: Enunciado. Jornalismo policial. Corpos infames.

DISCURSO E ARGUMENTAÇÃO: UM OLHAR SOBRE A

REPRESENTATIVIDADE DO SUJEITO “JULIANO VP”

EM ABUSADO DE CACO BARCELLOS

Martha Tereza Santos Silva

UFG / Regional Catalão

As relações sociais constituem a sociedade e nela as relações de poder integram os sujeitos.

Estas relações podem ser da ordem da luta, pelo poder e pelo próprio discurso, uma vez que as

estratégias presentes no discurso político, regido por estratégias discursivas e argumentativas,

por exemplo, podem controlar os sujeitos em suas ações e dizeres. Essa pesquisa terá

fundamentação teórica na Análise do Discurso de linha francesa, à luz da teoria de Michel

Foucault, que traz considerações importantes para a essa discussão. Buscando algumas

reflexões sobre as estratégias de argumentação no discurso de Juliano e a produção de

subjetividade, essa pesquisa partirá do livro-reportagem Abusado: O dono do Morro Dona

Marta (2004), do jornalista Caco Barcellos. Abusado (2004) narra a trajetória do traficante de

drogas Juliano VP, codinome de Marcinho VP. Além de todos os confrontos, mortes e

prisões, o autor explicita, também, o cotidiano e as necessidades dos moradores da favela

Santa Marta. Objetivamos analisar o discurso, de certa forma político, do personagem Juliano

sobre o seu grupo e observar as relações de poder que constituem esses sujeitos. O corpus

desse trabalho é constituído por enunciados de uma entrevista dada por Juliano a alguns

jornalistas e do seu discurso no processo de gravação de um videoclipe do cantor Michael

Page 29: CADERNO DE RESUMOS - files.cercomp.ufg.br

29

Jackson no morro. Durante a análise, pudemos observar que esses acontecimentos revelam

um posicionamento diferenciado do chefe do morro, desconstruindo o estereótipo do bandido

perigoso e indiferente. A princípio, Juliano desvela uma consciência social e política que rege

o seu comando sobre a organização e o faz pensar na sua prática social, evidenciando a sua

representatividade.

Palavras-chave: Discurso. Sujeito. Subjetividade.

TELEJORNALISMO POLICIAL E JULGAMENTO VIRTUAL: A PRODUÇÃO

TELEVISIVA DA DELINQUÊNCIA

Marco Antônio Arantes

Universidade Estadual do Oeste do Paraná/UNIOESTE/Campus de Toledo

Este artigo analisa o telejornalismo policial, a partir dos programas Balanço Geral (Rede

Record), Brasil Urgente (TV Bandeirantes) e Cidade Alerta (Rede Record), ancorado na

perspectiva foucaultiana sobre a construção da delinquência e o discurso normativo de

abordagem punitiva propagado por esses programas. Esses programas de TV exemplificam o

esforço da imprensa no Brasil em se constituir como Quarto Poder, fiscalizando e se

colocando como mediadora de conflitos entre poderes, e até se arrogando da capacidade de

definir pendências sociais, provocando conflitos entre a imprensa e o judiciário. Entretanto, os

programas incidem numa lógica de vigilantismo e numa regulação normativa dos atos e

condutas, hierarquizando-os em termos de valor e capacidade dos indivíduos. Eles aceleram e

intensificam a segregação punitiva e o uso político da delinquência, tendo como contrapartida

a exposição e a exploração dos sentimentos da vítima em circuitos políticos e midiáticos. O

Telejornalismo Policial estimula estereótipos criminais, a seletividade social e a disseminação

de discursos sobre a criminalidade, produzidos sem análises técnicas, sem concessão do

direito de defesa e sem, ao menos, admitir a hipótese de dúvida razoável nos julgamentos

virtuais que pressionam o Judiciário. Afinal, é possível verificar o uso político do delinquente,

ao promover forte adjetivação e julgamento prévio dos suspeitos, ao concentrar a cobertura

em determinadas regiões das cidades, estigmatizando grupos como classes perigosas e

propondo saídas simplistas para combater a violência. Na maioria dos casos, a punição dos

criminosos é vista como uma emergência do Estado, com um enfoque explícito nas

consequências do crime e não nas causas que conduzem à criminalidade.

Palavras-chave: Delinquência. Violência. Telejornalismo policial.

MÍDIA RACISTA? EFEITOS DE SENTIDO EM TÍTULOS DE MATÉRIAS

JORNALÍSTICAS SOBRE O TRÁFICO DE DROGAS

Amanda Pereira de Sousa Franco

Yure Viana da Silva

UAELL/RC/UFG

Prof.ª Dr.ª Erislane Rodrigues Ribeiro (Orientadora)

Nos últimos anos, especialmente no ano de 2015, foi bastante recorrente o discurso segundo o

qual a mídia seria racista, no que se refere a como ela noticia os crimes cometidos por pessoas

Page 30: CADERNO DE RESUMOS - files.cercomp.ufg.br

30

negras em contraste a crimes cometidos por pessoas brancas no Brasil. Para legitimar este

discurso, certos sujeitos colocaram em pauta a negligência que teria sido cometido pela

mesma, como instrumento de denúncia social, no caso de Rafael Braga, um jovem negro que

foi condenado a 11 anos de prisão por portar 0,6 gramas de maconha. Em comparação ao

caso, foi considerada estapafúrdia a omissão da mídia por ter noticiado poucas vezes o caso

de Breno Fernando Solo Borges, filho de uma desembargadora, branco, que foi detido por

portar 130 quilos de maconha e centenas de munições de fuzil, além de uma pistola nove

milímetros, e que permaneceu por pouco mais de três meses em detenção em uma

penitenciária em Três Lagoas (MG). Deste modo, o objetivo deste trabalho é analisar os

efeitos de sentido produzidos por títulos de matérias jornalísticas publicadas no Brasil no que

se refere a crimes de tráfico de drogas cometidos por pessoas negras, em contraste com

aqueles cometidos por pessoas brancas. A pesquisa fundamenta-se na Análise de Discurso de

Linha Francesa (AD), uma disciplina que visa à interpretação do texto, e opera com conceitos

como: discurso, sujeito, efeito de sentido, ideologia, condições de produção, dentre outros.

Com as análises dos títulos, fica evidente que há uma diferença no modo como a mídia refere-

se aos negros e aos brancos envolvidos em crimes relacionados ao tráfico de drogas, ao dirigir

um olhar quase sempre implacável sobre os primeiros e, em geral, bastante condescendente

sobre os segundos.

Palavras-chave: Sentidos. Mídia. Racismo.

O DISCURSO POLÍTICO BRASILEIRO EM DEBATE: UMA ANÁLISE DOS

DEBATES ELEITORAIS PRESIDENCIAIS NO BRASIL

Livia Maria Falconi Pires

Centro Universitário Central Paulista – UNICEP

Na esteira dos estudos atuais sobre as mutações sofridas no modo de produção e circulação do

discurso político e considerando que os locais de pronunciamento, como a ágora clássica e a

tribuna medieval, interferiram na constituição da fala pública e a modificaram, voltamos

nosso olhar para as disposições dos debates político-eleitorais de segundo turno para a

Presidência da República do Brasil, os quais podem nos demonstrar a constituição do discurso

político presidencial eleitoral. Apesar de sua cuidadosa construção, fortemente evidenciada na

arquitetura dessa mise-en-scène eleitoral, é no debate televisivo que os candidatos se expõem

e falam de maneira mais direta aos eleitores. Devido ao aparato audiovisual, não podemos

mais dissociar o verbo do corpo que, na atualidade, é essencial para a política, principalmente

no momento de campanha eleitoral; assim sendo, o debate eleitoral presidencial é aparato

fortalecedor do entrelaçamento de verbo e imagem. Nesse caminho, debruçamo-nos nas

análises da constituição do sujeito político eleitoral, juntamente com as mutações do gênero

debate televisivo, voltando-nos aos debates de segundo turno de pleitos presidenciais a partir

da redemocratização (1989) até a atualidade (2014), focalizando categorias como “a

arquitetura do debate”, “o rosto”, “a silhueta” e “o verbo”. Para tanto, pautamo-nos em

reflexões sobre os estudos da Análise do Discurso de matriz francesa, os quais levam em

conta o enunciado sincrético em sua densidade histórica, bem como os estudos da fala

pública. Amparando-nos nas contribuições de Jean-Jacques Courtine e no pensamento de

Michel Foucault, buscando compreender a importância de se estudar os discursos em sua

articulação com a história, a partir de suas descontinuidades.

Palavras-chave: Discurso político. Debate televisivo. Dispositivo.

Page 31: CADERNO DE RESUMOS - files.cercomp.ufg.br

31

ENTRE O MARGINAL E O SOCIAL: A EXCLUSÃO QUE RONDA PIVETE

Maria Irenilce Rodrigues Barros

Universidade Federal do Tocantins

Inscrevendo-se no lugar da Análise do Discurso francesa, para tanto, adotando o viés teórico-

metodológico orientado por essa disciplina e à lente de Michel Foucault, este estudo propõe

fazer análise da canção Pivete, composta por Chico Buarque e Francis Hime. Essa

materialidade mostra a saga de um menino de/da rua que não só vendia chicletes para

sobreviver, como também limpava os para-brisas dos carros nos semáforos, deflagrando os

infortúnios vividos por ele na batalha de seu cotidiano. Os espaços por onde ele transita

tornam-se determinantes para a constituição de sua identidade, visto que, além deles

demarcarem a sua condição social, ainda o associam à marginalidade. Isso mostra a categoria

de miséria em que o menino é colocado e esta subjuga-o a uma fixidez socioeconômica

imposta, determinada e definida pela sociedade juntamente com o Estado, ambos

encurralando-o em uma relação de poder a qual o suprime. Sob essa perspectiva, pode-se

avaliar que “[...] o poder disciplinar não destrói o indivíduo; ao contrário, o fabrica. O

indivíduo não é o outro do poder, realidade exterior, por ele anulado; é um de seus mais

importantes efeitos” (FOUCAULT, 2014, p. 23). Como o sujeito se encontra preso às relações

de produção e de significação, certamente está intrincado nas relações de poder (FONSECA,

2011). Assim, observa-se que Pivete está preso ao espaço onde circula, a rua, tornando-se

ambos intrínsecos, além de apontarem para a exterioridade. Já que a sociedade só lhe deu uma

opção, que foi o excluir do acesso aos seus direitos, o garoto transa chiclete, descola uma

bereta, pois, na verdade, ele se chama Pivete e zanza na sarjeta. É nesse campo de batalha

que a constituição desse sujeito, transvestido de tantos outros, se integra à luta contra o poder

que o oprime, para, assim, resistir ao sistema que o exclui e renega.

Palavras-chave: Exclusão social. Sujeito discursivo. Heterotopia.

Sessão 4

CORPOS HETEROTÓPICOS OU O LUGAR DAS PERSONAGENS EM

VAN HELSING: O CAÇADOR DE MONSTROS

Alisson Cardoso da Silva

O presente trabalho tem por objetivo analisar o comportamento dos corpos-espaços das

personagens no filme Van Helsing: o caçador de monstros, bem como os efeitos por eles

produzidos. O filme pode ser classificado como pertencente ao gênero fantástico puro,

segundo a conceituação feita por Todorov e, através das transformações dos corpos das

personagens (lobisomens e vampiros), podemos vislumbrar o posicionamento ocupado por

cada uma na narrativa. Personagens humanas ou mais ou menos humanas inserem-se no

mundo do sobrenatural de maneira agonizante, dolorosa, nada tranquila em todo o caso; sua

transição do mundo natural ao metafísico é perpassada por uma desconfiguração corporal

marcada pela dor, fato que não se observa em personagens não pertencentes ao mundo

empírico, como os vampiros que deixaram o plano real no momento de sua morte. Além das

Page 32: CADERNO DE RESUMOS - files.cercomp.ufg.br

32

noções de fantástico, nosso estudo pauta-se no conceito de heterotopia e utopia apontadas por

Michel Foucault. Segundo o autor, há diferentes espaços de que se formam a sociedade;

regiões distintas, variadas e, dentre todos estes espaços, há outros absolutamente distintos,

espaços que se opõem aos demais, espécie de contraespaços, destinados a inverter, apagar,

neutralizar ou purificar os demais. São estes espaços de dois grandes modos: as utopias e as

heterotopias. As utopias, segundo o filósofo, são os espaços irreais que apresentam a

sociedade de uma forma aperfeiçoada e por apresentarem-se lineares, confortáveis, nos

acomodam. As utopias são, por exemplo, os espaços das fábulas. Já as heterotopias, de acordo

com Foucault (2009), são os espaços que incomodam, inquietam por serem pluriformes; por

se justaporem e ocuparem vários posicionamentos, em si, incompatíveis. São sítios, estes, que

estão fora de todos os lugares ainda que, efetivamente, sejam localizados. Espaços

absolutamente, definitivamente, outros. Assim sendo, os corpos-espaços na narrativa

apresentam-se heterotópicos em razão de suas movências, sua descentralização.

Palavras-chave: Van Helsin. Fantástico. Corpo-espaço.

JOGOS DE PODERES NO MUNDO DA TERRA-MÉDIA

A PARTIR DO “UM ANEL” E SEUS PORTADORES

Me. Francisco de Assis Ferreira Melo UFG – RC

Prof. Dr. Alexander Meireles da Silva

Na obra O Senhor dos Anéis (2001), de J. R. R. Tolkien, pensaremos a literatura fantástica

que traz em si contornos do Gótico, observando jogos de poder que circulam entre os

personagens, buscando pelo texto, sua época de produção, suas falas, memórias, discursos

ditos e interditos emergindo de sua operacionalidade. Por meio de uma metodologia

comparativa, analisaremos alguns aspectos das relações de poderes que ocorrem entre os

personagens Gollum, Bilbo e Frodo em relação ao “Um Anel” de maneira simbiótica,

cindindo esses sujeitos em mais de uma representação. Identificaremos os processos de

imbricamentos de relações de poder numa rede em que um tenta manter o controle

determinando as ações do outro, além de provocar o apagamento desse outro, enquanto

sujeito. A posse do “Um Anel” por parte de Frodo veio de um ato de desligamento iniciado

por Bilbo, seu tio, ao deixar o Condado, para seguir outro caminho. Anteriormente detinha o

poder em si e agora é o sujeito subjugado pela vontade e poder emergido do “Um Anel”, a

exemplo da subjetivação apontada por Foucault (2013). Esse poder coloca as relações entre

indivíduos e grupos sociais em jogo, gerando conflitos movidos pelo medo quanto às leis, às

instituições e aos discursos que formam os sujeitos envolvidos. É a partir desses jogos de

poderes que os discursos exprimem uma memória coletiva na qual os sujeitos estão inscritos,

refletindo o desconforto das memórias individuais e sociais que os perpassam e os seguem.

Como embasamento teórico justificando o Fantástico, o Gótico, o medo e as relações de

poder, respectivamente, usaremos Todorov (2008), Vax (1972), Roas (2014) e Foucault

(2013).

Palavras-chave: Poder. Fantástico. Subjetivação.

Page 33: CADERNO DE RESUMOS - files.cercomp.ufg.br

33

“DANÇARINO DO DESERTO” E A RESISTÊNCIA ATRAVÉS DO CORPO

Giovanna Diniz dos Santos

PPGEL/UFG

Prof.ª Dr.ª Grenissa Bonvino Stafuzza

Este artigo busca analisar o filme “Dançarino do Deserto”, de 2014, à luz do pensamento de

Michel Foucault, em especial, as categorias de dizer-verdadeiro, ou parresía, e discurso

estudadas por ele. O filme, que conta a história real do dançarino iraniano Afshin Ghaffarian,

mostra a censura imposta pelo governo de Mahmoud Ahmadinejad, que proíbe os iranianos

de dançarem em público e regula outras liberdades individuais no país. A trajetória de Afshin

durante o filme mostra sua resistência ao governo e às práticas impostas por ele, através da

criação de um grupo de dança clandestino. A análise do filme buscou compreender como a

coreografia do protagonista – bem como as outras práticas mostradas durante o filme, que

completam sua posição em relação ao regime iraniano – podem ser entendidas como atos de

discurso, práticas do dizer-verdadeiro. Foucault analisa os diferentes discursos de verdade que

se instauram pela história e seus efeitos éticos e políticos, estudando o conceito de parresía

como uma possibilidade de crítica às instituições e modos de ser vigentes na Modernidade.

Neste artigo a dança foi analisada como prática discursiva que desafia o regime de censura,

como uma forma de mostrar a liberdade e coragem do sujeito em face de outros discursos e

práticas que determinam o contrário, como é o caso do governo de Ahmadinejad. O sujeito

dessa prática se impõe, assume riscos, na estrutura rígida de controle de corpos e discursos

desse governo, ele desafia o imposto para formar novas formas de resistência que irão gerar

impacto na vida do seu grupo e além, que irão trazer esperança para os que ficam.

Palavras-chave: Resistência. Parresía. Discurso.

O CORPO EM ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA DE JOSÉ SARAMAGO: ENTRE A

VIGILÂNCIA E A SEGREGAÇÃO

Karina Luiza de Freitas Assunção

UEMG/Frutal – PPGEL/UFG

Em nossa análise, tomamos emprestados alguns fragmentos da obra Ensaio sobre a cegueira

(2008), que trazem à tona algumas situações de vigilância e controle dos corpos que são

relevantes para refletirmos sobre o momento histórico que vivenciamos. Atualmente

observamos que o corpo é constantemente vigiado, isso ocorre tanto em espaços públicos

como também em privados. Essa vigilância é constituída por intermédio de relações de poder

que sempre estiveram presentes, entretanto, nem sempre damos a devida atenção para essa

problemática. A partir das análises efetuadas, podemos concluir que o poder disciplinar do

panóptico descrito por Foucault (2007) faz parte de nossas vidas, pois percebemos que

passamos por situações que têm como objetivo adestrar e aumentar a utilidade dos sujeitos

através de técnicas sutis instituídas constituídas por intermédio da vigilância constante de seus

corpos. Os fragmentos analisados apresentam algumas situações ainda não vivenciadas que

perpassam a vigilância constante e a segregação dos corpos, entretanto, elas ajudam a

vislumbrar e problematizar outras que, em muitos momentos, não são consideradas relações

de poder, mas que, ao atentarmos para alguns detalhes, perceberemos que são permeadas por

elas. Muitos dos dispositivos de poder adotados na proteção, ou mesmo em momentos de

descontração, já foram e ainda são usados em outras situações com sentidos díspares aos

Page 34: CADERNO DE RESUMOS - files.cercomp.ufg.br

34

encontrados nas primeiras. Dessa forma, notamos que na contemporaneidade não há uma

mudança na constituição das relações de poder, o que temos é a transposição de algumas

técnicas, como observamos na análise, que antes e ainda são utilizadas com o objetivo de

vigiar quem tivesse cometido um crime, para a vigilância do sujeito comum nas diversas

situações vivenciadas no seu cotidiano e, concomitante a essa observação, temos também a

inserção de novos mecanismos, no caso as novas tecnologias, que também são utilizadas na

constituição de sujeitos dóceis, ou seja, corpos dóceis.

Palavras-chave: Poder. Sujeito. Corpo.

O CORPO DO ASSASSINO EM SÉRIE EM EVIDÊNCIA: DISCURSO DO FASCÍNIO

E PRÁTICAS NA MÍDIA BRASILEIRA

Prof.ª Dnda. Glaucia Mirian Silva Vaz

Seduce-GO/Unesp/CNPq

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria do Rosário Gregolin

Assassinos em série, objeto especialmente das ciências forenses, são populares no

entretenimento de massa e na imprensa. De romances, capas de revistas, filmes,

documentários a séries televisivas, esse sujeito é acompanhado, de forma recorrente, de uma

esfera de fascínio. A comunicação de pesquisa a que se refere este resumo trata de uma das

análises que compõem a tese de doutoramento intitulada Microdiagrama do fascínio por

assassinos em série, cujo objetivo geral é interpretar, em termos de discurso, tal fascínio por

assassinos em série na contemporaneidade, isto é, traçar um mapa das relações de força que

definem práticas e formam sistematicamente um regime de enunciados que constituem

historicamente o fascínio como discurso. As análises partem do delineamento de um arquivo

(na concepção arqueológica foucaultiana) para compreender o funcionamento discursivo do

fascínio. Considerando a heterogeneidade e a sistematicidade do arquivo, o procedimento

basilar que sustenta as análises está na busca da regularidade em que se apoiam os enunciados

que formam o discurso do fascínio e que emergem de campos discursivos distintos, como a

ciência forense, a mídia jornalística e as franquias culturais. O discurso, nesse sentido, é

compreendido como prática que integra determinados dispositivos e aciona a subjetivação dos

sujeitos. Esta abordagem se pauta na Análise de Discurso francesa com a perspectiva

arqueogenealógica de Michel Foucault. Pontualmente, na comunicação proposta, abordarei o

modo como o sujeito-leitor se posiciona em sujeito-admirador do assassino em série

espetacularizado em determinados meios de comunicação a partir da exposição do corpo do

criminoso no caso Serial Killer de Goiânia, de 2014. Dentre elementos semiológicos como

enquadramentos e materialidades verbais, evidenciarei como o fascínio por assassinos em

série se constitui em práticas como a cobertura fotográfica jornalística, elaborando o

criminoso que não apenas deveria ser capturado, mas também observado e estudado

detalhadamente, enfim, colocado como objeto de interesse.

Palavras-chave: Assassinos em série. Discurso. Mídia.

Page 35: CADERNO DE RESUMOS - files.cercomp.ufg.br

35

O CORPO COMO UM ASPECTO DO DISPOSITIVO DE SEGURANÇA

Jaquelinne Alves Fernandes

Professora UEG – Campus de Pires do Rio; doutoranda no Programa de Pós-Graduação em

Letras e Linguística – Faculdade de Letras – Universidade Federal de Goiás (UFG)

Orientadora: Maria de Lourdes Faria dos Santos Paniago

Nesse estudo, ocupar-nos-emos da observação do corpo – emergindo de imagens em

movimento recortadas dos corpora – como suporte discursivo, que atua para o exercício de

poder, resistência e liberdade; portanto, como acontecimento e memória, inseridos em uma

rede discursiva que faz emergir a história. Nesse sentido, pensar o corpo pressupõe uma

arqueologia dos discursos e uma genealogia dos poderes e saberes que deles emergem, o que

propicia o estudo do funcionamento do dispositivo de segurança, utilizando-o como

instrumento de análise. O corpo é, nessa perspectiva, materialidade discursiva produzida,

modificada e reconfigurada por práticas subjetivas, portanto está no centro das relações entre

sujeito, discurso e instituições, constituindo a história, a partir das posições que ocupa. O

corpo é, indiscutivelmente, social e histórico. Pensando nisso, trataremos dos embates e

duelos de um corpo com outros corpos, para compreender e explicitar os mecanismos

históricos de continuidades e rupturas vivenciados por esse corpo em sua constituição

enquanto suporte discursivo, dentro da materialidade cinematográfica. Tomaremos o corpo

como uma superfície para o exercício de relações de poder, “caminho” para a subjetivação,

uma vez que as relações sociais e culturais são impressas no corpo. Ao tratar o corpo como

caminho para a subjetivação, levamos em conta que as práticas de subjetivação, conforme

Foucault (1995, p. 236), “transformaram os seres humanos em sujeito”, pois é a partir desses

processos que “o sujeito estabelece relações sobre as coisas, sobre a ação dos outros e sobre

si” (GREGOLIN, 2007, p. 9). Para tal, ocupar-nos-emos em observar o corpo como suporte

discursivo, constituído por uma rede de poderes e saberes e atuando como um aspecto

fundamental para o funcionamento do dispositivo de segurança.

Palavras-chave: Corpo. Dispositivo. Poderes/Saberes.

Sessão 5

O PAPEL DA RELAÇÃO PROFESSOR/OBJETO E SABER/MÉTODO NO

PROCESSO DE TOMADA DA PALAVRA EM LÍNGUA INGLESA

Mariá Prado Walmiro

PPGEL – UFU/CAPES

Prof.ª Dr.ª Carla Nunes Vieira Tavares

Esta pesquisa de mestrado, que se encontra em fase inicial, pretende analisar em que medida a

relação do professor com o objeto de saber e o método podem redundar no ensejo da tomada

da palavra em língua inglesa, a partir dos manejos do professor empreendidos em sala de aula

durante atividades ditas comunicativas de uma escola de idiomas da cidade de Uberlândia.

Pretendo problematizar em que medida a relação do professor com o objeto de saber e seu

investimento subjetivo interferem nos efeitos das atividades propostas pelo método de uma

escola de idiomas na qual a pesquisa será realizada, e qual a incidência do método nessa

relação. Acredito que aprender uma língua estrangeira está para além de ter domínio em

quatro habilidades específicas, mas demanda inscrever-se nas discursividades do Outro,

Page 36: CADERNO DE RESUMOS - files.cercomp.ufg.br

36

conhecer a cultura do Outro, falar de si mesmo através da língua do Outro. Minha grande

indagação para essa pesquisa é: até que ponto a relação entre o professor e o objeto de saber,

nesse caso a língua inglesa, se deixa atravessar pela imposição de um método de ensino de

língua estrangeira e quais os efeitos dessa relação para tomada da palavra subjetiva do aluno?

Acredito que será necessário um aprofundamento nos princípios teóricos no campo dos

estudos discursivos atravessados pela psicanálise sobre as contribuições da relação professor e

aluno a partir da imagem que o sujeito coloca de si por meio da materialização de seu dizer

em língua estrangeira, e também a constituição da subjetividade desse aluno no processo de

desenvolvimento da produção oral em língua inglesa. Também pretendo deslocar essa

discussão para a relação do sujeito-língua, com base na Linguística Aplicada atravessada pela

perspectiva discursiva sobre o ensino-aprendizagem de línguas.

Palavras-chave: Subjetividade. Tomada da palavra. Ensino de língua estrangeira.

REPRESENTAÇÕES DISCURSIVAS DOS PROFESSORES FORMADORES EM UM

CURSO DE LETRAS INGLÊS

Marcela Henrique de Freitas

Universidade Federal de Uberlândia – UFU – FAPEMIG

Profa. Dra. Cristiane Carvalho de Paula Brito

Este trabalho objetiva analisar representações discursivas dos professores formadores de

inglês quando enunciam sobre o processo de formar professores e, especificamente: 1)

Delinear representações discursivas dos sujeitos sobre o que é formar um professor de Língua

Inglesa, 2) Analisar e interpretar a interdiscursividade – eixo de sustentação dessas

representações, 3) Confrontar as inscrições discursivas dos sujeitos participantes da pesquisa,

buscando suas regularidades e divergências enunciativas e, finalmente: 4) Problematizar como

essa discursividade pode incidir na prática do professor formador e no processo de formar um

professor de inglês. Parte-se da hipótese de que o(s) professor(es) formador(es), ao

enunciar(em) sobre os processos de formação de professores de Língua Inglesa, tece(m) seus

dizeres a partir da tensão entre a necessidade de ensinar, ao professor em formação, a

materialidade linguística em si e a de ensiná-lo a se constituir um ‘sujeito professor de

língua’. Ancoramo-nos em estudos da área da Linguística Aplicada (LA) em interface com a

Análise do Discurso de Linha Francesa (ADF) e com a Análise Dialógica do Discurso

(ADD). O corpus é composto pelos depoimentos de 06 formadores do curso de Letras de uma

Universidade Federal com base em um roteiro que continha 23 proposições relacionadas à

temática da formação de professores de Língua Inglesa. A coleta e a constituição do corpus

seguiam a proposta AREDA (Análise de Ressonâncias Discursivas em Depoimentos

Abertos). As análises iniciais apontam para dois eixos listados a seguir: Eixo 1 – o formador e

a relação com a Língua Inglesa e Eixo 2 – O formador e a relação com o processo de

formação. Almeja-se, com este trabalho, que a questão da formação de professores de Língua

Inglesa seja (re)problematizada e (re)pensada.

Palavras-chave: Análise do Discurso. Linguística Aplicada. Formação de professores.

Page 37: CADERNO DE RESUMOS - files.cercomp.ufg.br

37

EXISTE PELEUMONIA: UMA ANÁLISE DE DISCURSOS RELATIVOS À LÍNGUA

PORTUGUESA NAS MÍDIAS SOCIAIS

Raquel Costa Guimarães Nascimento

PIBIC – UAELL/RC/UFG

Prof.ª Dr.ª Erislane Rodrigues Ribeiro (Orientadora – UAELL/RC/UFG)

Esta pesquisa, vinculada ao projeto “Da margem ao centro: discurso sobre as minorias nas

mídias sociais”, está em fase inicial, e pretende observar postagens e comentários nas redes

sociais acerca da língua portuguesa falada no Brasil. Parte-se, inicialmente, como corpus a ser

analisado neste estudo, da polêmica ocorrida em 2016, quando um médico do estado de São

Paulo fez uma postagem criticando o uso da variante peleumonia por um paciente e dizendo

que esta palavra não existe; posteriormente, outra médica, em resposta, publicou um texto em

que afirmava que peleumonia existia sim. O objetivo da pesquisa é observar quais discursos

sobre a língua circulam nas mídias sociais, quais as concepções de língua que estão presentes

nestes discursos e quais efeitos de sentido são produzidos a partir desses comentários e

postagens. Essa reflexão se apoiará nos princípios teóricos da Análise do Discurso de linha

francesa (AD), a qual contribui com conceitos referentes ao discurso, sujeito, interdiscurso,

ideologia, entre outros, e possibilita ao pesquisador ir além da análise puramente linguística.

Para isso serão utilizados os estudos realizados por Pêcheux (2011), Maingueneau (2015),

Mussalim (2003), Orlandi (2006) e Possenti (2004), além dos estudos referentes às

concepções de língua na sociedade, bem como os processos sociais e históricos que permeiam

a aquisição do conhecimento linguístico, apontados por Faraco (2002), Britto (1997) e Soares

(2002). A metodologia adotada consistirá na leitura e seleção de postagens que possuam

conteúdo que revele o posicionamento dos sujeitos sobre a língua portuguesa, possibilitando a

análise desses discursos à luz da AD, buscando, com isso, compreender o que os brasileiros

que utilizam as redes sociais pensam sobre a língua portuguesa e, assim, trazer contribuições

para os pesquisadores dos discursos midiáticos sobre a língua.

Palavras-chave: Discursos. Concepção de língua. Redes sociais

MOVIMENTOS DO PROFESSOR SUPERVISOR DO PIBID NA ESCOLA:

UMA CARTOGRAFIA

Jaila Penaforte

Universidade Regional de Blumenau

Esta produção está relacionada à pesquisa intitulada “Movimentos do professor supervisor do

Pibid na escola: uma cartografia” em desenvolvimento no Programa de Pós-graduação em

Educação da Universidade Regional de Blumenau (PPGE-FURB), pertencente à Linha de

Pesquisa: Educação, Cultura e Dinâmicas Sociais, integrada ao grupo de pesquisa Políticas de

Educação na Contemporaneidade, que busca problematizar a produção de subjetividades

docentes no cotidiano escolar. O método para a produção de dados é a cartografia, cujo

instrumento é o diário de campo, composto por registros manuscritos e fotografias. Discutir a

escola é importante para refletir sobre este lugar e quais subjetividades docentes ele produz

atualmente. Considera-se a concepção de escola de Varela e Alvarez-Úria (1992) como uma

maquinaria, um local que tem como função estabelecer a nova ordem social e mental,

instrumentalizando dispositivos que se configuraram a partir da modernidade. Diante disso,

ao olhar o docente na sua relação com esta instituição, emergem questionamentos sobre a

Page 38: CADERNO DE RESUMOS - files.cercomp.ufg.br

38

constituição destes sujeitos no cotidiano escolar: Que professores têm na escola? Ao

problematizar a subjetividade, em Michel Foucault, quando uma verdade é prescrita e

seguida, o indivíduo é sujeitado. O sujeito moderno ocidental é visto como um produto que

resulta das técnicas de dominação e práticas discursivas. A partir dos escritos de Foucault

(2013) podemos problematizar a instituição escolar como um lócus de produção de

subjetividades e de produção de professores. Diferentes professores se movimentam nas

escolas, práticas distintas dentre elas: de conformismo, mas, também de resistências ativas e

reativas. É sobre essas práticas encontradas que esse trabalho lida.

Palavras-chave: Escola. Processos de subjetivação. Professor.

O CORPO FEMININO NO LIVRO DIDÁTICO DE 9º ANO DE LÍNGUA

PORTUGUESA

Vânia Gomes Cardoso

Universidade Federal de Goiás – UFG - Regional Jataí

Maria de Lourdes Faria dos Santos Paniago

Com embasamento teórico da Análise do Discurso que pode ser depreendida da obra de

Michel Foucault, o presente trabalho, recorte da pesquisa que está sendo desenvolvida no

Mestrado em Educação da UFG/Jataí, ainda em andamento, busca analisar discursos sobre o

corpo feminino presentes no livro didático de Língua Portuguesa do 9º ano do ensino

fundamental “Português e Linguagens”, de Cereja e Magalhães (2012). Busca-se

principalmente compreender os mecanismos de controle do discurso e de fabricação de

verdades relacionadas à produção de identidades e, para isso, serão analisados tanto textos

verbais como imagéticos. Sobre o livro didático de português compreendemos que olhar para

o contexto do processo ensino-aprendizagem de Língua Portuguesa supõe abrir espaço para a

análise de uma materialidade que resiste à significação. Para Foucault, não se pode dizer

qualquer coisa em qualquer lugar, porque há mecanismos internos e externos ao discurso, os

quais o controlam. E a verdade, para esse filósofo francês, é produzida na complexa relação

que se estabelece entre poder e saber; por isso há, para ele, espaços considerados privilegiados

para a produção de verdades. A ciência e a mídia são bons exemplos desses lugares em que os

discursos são considerados verdadeiros e, por isso, são pouco questionados. Sobre o livro

didático também paira a imagem de que tudo o que ali se encontra é verdadeiro. Daí a

importância de, com o embasamento teórico proposto por Foucault e também com as

reflexões teóricas propostas por Coracini e Gregoletto, analisar os discursos sobre o corpo

feminino presentes no livro didático tomado como corpus deste trabalho, para compreender

de que forma tentam fabricar um determinado tipo de mulher.

Palavras-chave: Discurso. Foucault. Livro didático.

PENSAR A EDUCAÇÃO A PARTIR DE MICHEL FOUCAULT: A INSTITUIÇÃO

DISCIPLINAR E O CUIDADO DE SI

André de Barros Borges

Universidade Federal do Rio de Janeiro

Page 39: CADERNO DE RESUMOS - files.cercomp.ufg.br

39

O presente trabalho pretende mostrar dois modos possíveis de conectar o pensamento de

Michel Foucault com as questões educacionais a partir das obras Vigiar e Punir e História da

Sexualidade. O primeiro modo consiste em compreender a “genealogia do poder”

desenvolvida por Michel Foucault em Vigiar e Punir. Neste livro, Foucault mostra a escola

como uma das tecnologias de poder utilizadas pelo Estado disciplinar e questiona sua

neutralidade. É mostrado de que forma o Estado, a partir do final do século XVII,

proporcionou a modificação da instituição escolar, conferindo a esta um ambiente bem mais

rigoroso do que em épocas anteriores. A escola se torna um instrumento importante para a

produção do “corpo dócil”. Neste sentido vimos uma visão institucional sobre a escola, onde

esta não é mais um campo neutro, como imaginou a modernidade. O segundo modo se refere

à abordagem desenvolvida sobre o cuidado de si, no terceiro volume do livro História da

Sexualidade. Foucault retoma dos gregos antigos o “conhecimento de si mesmo”, que, no

ambiente institucional da educação moderna, foi deixado de lado para priorizar a formatação

do corpo dócil. Foucault resgata o sentido educacional grego, contido na ideia de paideia,

demonstrando assim uma outra perspectiva educacional: a perspectiva do cuidado de si.

Como exemplo, nos mostra que enquanto na era pré-cristã se desenvolveram técnicas de

conhecimento de si baseados na temperança e no autocontrole, no cristianismo há um

afastamento desta problemática. Ao romper com as tradicionais definições de sujeito, a crítica

foucaultiana prepara um novo tipo de relação possível entre a filosofia e a educação, onde a

escola não é um campo neutro e a educação não se afasta da vida.

Palavras-chave: Educação. Poder. Cuidado de si.

Sessão 6

CARTOGRAFIAS DE DISCURSOS CONTRA A CORRUPÇÃO NO BRASIL:

IMAGENS, CONFLITOS E CONTROVÉRSIAS

Maiara Raquel Campos Leal

Mestranda em Sociologia – UFG

Dr.ª Heloisa Dias Bezerra

O objetivo dessa comunicação é apresentar cartografias de discursos contra a corrupção no

Brasil, proliferados por alguns coletivos e indivíduos que se autodeterminam com a bandeira

anticorrupção no país. Exploraremos algumas imagens e enunciados que foram utilizados

durante as mobilizações nas ruas entre 2015 e 2016 ou expressas nas redes sociotécnicas

(online), no intuito de criar e reforçar discursos de verdade, colocando em prática relações de

poder entre os grupos e indivíduos, tendo como pano de fundo o tema do combate à corrupção

no país. O discurso é uma construção social que só pode ser analisado se levarmos em

consideração o seu contexto histórico e social. De acordo com Alfredo Veiga-Neto (2016, p.

89-90), para Michel Foucault, “o discurso não é simplesmente aquilo que traduz as lutas ou

sistemas de dominação, mas aquilo por que, pelo que se luta, o poder do qual queremos

apoderar”. Demonstraremos como esse ativismo é permeado de controvérsias e situações

conflituosas, criando uma tensão permanente entre os grupos, como os que foram contra ou a

favor do impeachment de Dilma Rousseff (PT). A ideia de cartografia que exploraremos vem

dos estudos de Gilles Deleuze e Félix Guattari (1995), sempre em debate com Foucault,

considerado um cartógrafo pelos autores. A metodologia que sugerimos parte das análises

desses autores sobre o rizoma e a ideia de cartografia, que é reformulado por Bruno Latour

(2012), que propõe a cartografia de controvérsias como um método que ajuda compreender

Page 40: CADERNO DE RESUMOS - files.cercomp.ufg.br

40

fenômenos que envolvem a coletividade, tendo efeito de propagação rizomático, pautado em

incertezas e conflitos, como foi o caso das manifestações contra a corrupção no Brasil e os

efeitos que ela gerou na política brasileira no período analisado.

Palavras-chave: Cartografia. Discursos. Controvérsias.

UM DIÁLOGO COM FREIRE E FOUCAULT SOBRE PODER E SABER

Rosângela Labre de Oliveira

Pontifícia Universidade Católica de Goiás – PUC/GO

Dr. Eduardo Sugizaki

Dr.ª Tatiana Carilly O. Andrade

Este trabalho tem como objeto de sua pesquisa o saber e o poder sob os enfoques de: Michel

Foucault e Paulo Freire. Neste processo reflexivo, a proposta é relacionar as perspectivas

teóricas dos autores, com o objetivo de pensá-las de forma individualizada dentro de um

contexto estrutural de educação. Sob a perspectiva teórica de Foucault, são abordadas

questões como a constituição da sociedade e do sujeito nas relações de poder disciplinar. Sob

a perspectiva de Freire, questões como a analítica de educação libertária. Problematizam-se as

relações sociais e as práticas educacionais da instituição escola, seguindo o pensamento dos

dois autores. Dentro desta perspectiva, são apresentados os processos de sujeição e de

resistência presentes nas relações de poder. Este trabalho buscou pensar filosoficamente a

educação, exprimindo algumas questões sobre as práticas educacionais formativas da

sociedade e do sujeito. O diálogo entre Freire e Foucault sobre poder e saber propõe a

denúncia e luta para a desocultação das verdades. É necessário desvelar, desmistificar, romper

com o pensamento pedagógico oficial de educação e propor um pensamento novo, ousado,

crítico e radical. Pensar com Freire e Foucault o saber/poder é compreender historicamente a

estrutura social, as teorias da educação e refletir, questionar e rever a própria prática

pedagógica para não cair no ciclo vicioso de reprodução e sujeição. Sendo assim, percebe-se a

necessidade de problematizar a contradição discursiva, o conflito e o não conflito, o conservar

e o revolucionar das práticas reprodutoras do sistema educacional. A metodologia utilizada é

um estudo bibliográfico, feito a partir de pesquisas em livros clássicos dos dois autores.

Palavras-chave: Saber. Poder. Resistência.

CONTORNOS CONTEMPORÂNEOS DA BIOÉTICA: UMA ANÁLISE DA ADI 3510

SOB O PRISMA TEÓRICO DO DISCURSO DE PODER DE MICHAEL FOUCAULT

Filipe Melo Carneiro Leão Loreto

Faculdade Damas da Instrução Cristã (FADIC).

Prof.ª Dr.ª Renata Celeste

O presente trabalho avalia se a decisão sede da ADI 3510, a qual permitiu estudos com célula

tronco de embriões inviáveis, seja capaz de ampliar os limites da vida. Na trilha da evolução

médica ocidental, por mais uma vez, os limites da objetificação do corpo humano foram

alargados na busca da melhoria da espécie. Contudo, os argumentos encontrados nos votos

vencedores parecem apontar para estratégias biopolíticas de valorização do corpo do homo

economicus, sendo esse o único grupo da sociedade capaz de usufruir de tal avanço

Page 41: CADERNO DE RESUMOS - files.cercomp.ufg.br

41

tecnológico. Tem-se, portanto, como objetivo geral deste trabalho a busca da existência de

padrões argumentativos utilizados que apontem o uso de estratégia biopolítica que seja capaz

de ampliar os limites da vida através de uma pesquisa descritiva e bibliográfica. Este trabalho

faz uso de método hipotético-dedutivo; análise dos votos vencedores da ADI 3510; análise da

lei N° 11.105, de 24 de março de 2005; e o suporte teórico do filósofo Michel Foucault, mais

especificamente o uso da análise arqueológica e genealógica, na busca de apontar faceta

pouco explorada no que concerne a decisões jurídicas: controle de corpos. Em um primeiro

momento, aponta-se o que é a vida sob uma perspectiva médico-filosófica. Em seguida, por

meio da análise arqueológica e genealógica, averiguar o uso de discursos como forma de

propagação de poder, que supostamente beneficiará grupo específico de pessoas. Por

derradeiro, analisar se há existência de padrão argumentativo que traga ao mundo jurídico o

fazer viver e deixar morrer resultante da força do biopoder aplicado a toda sociedade:

biopolítica. Por fim, entende-se ser possível que a finalidade do julgamento no STF tenha sido

beneficiar apenas aqueles que terão condições econômicas de fazer uso do avanço tecnológico

oriundo dos novos contornos dados ao corpo embrionário e suas potencialidades.

Palavras-chave: ADIN 3510. Biopolítica. Bioética.

O DISCURSO DE MERITOCRACIA E AS RELAÇÕES DE PODER EM 3%

Tainá Camila dos Santos

Universidade Federal de Goiás – Regional Catalão

Prof. Dr. Bruno Franceschini

3%, de autoria de Pedro Aguilera e produzida pela Netflix Brasil, é uma série nacional que

retrata uma sociedade dividida em dois lados, isto é, o “lado de lá” (dito igualitário e

abundante) e o “lado de cá” (o lado miserável, dito dos que não possuem nada). A primeira

temporada, objeto desta pesquisa, apresenta, na trama, a disputa entre jovens para fazerem

parte dos 3% selecionados pelo Processo, a fim de viverem abundantemente no “lado de lá”.

Pensando na trama e nos elementos sociais apresentados na série, o objetivo deste trabalho,

ainda em andamento, é analisar e identificar os discursos de meritocracia presentes nas falas

das personagens, bem como as práticas de confissão dos sujeitos configurados nos episódios

da primeira temporada. Para tanto, este estudo fundamenta-se na teoria foucaultiana sobre

relações de poder (que segundo o teórico apresentam níveis moleculares de macro e micro

exercício), além dos próprios conceitos do autor acerca das práticas de confissão, discurso e

resistência. Segundo Foucault (1998), a análise do exercício de poder não pode se restringir

“ao centro para a periferia” (análise descendente), pois se deve considerar as relações de

poder exercidas em micro esferas (como entre pessoas do mesmo grupo social). Tal fato pode

ser visto na série, respectivamente nas relações entre as personagens (em muitos casos, de

mesmo grupo social). A metodologia consiste no levantamento bibliográfico necessário para

uma análise contundente e na elaboração de séries enunciativas através das relações de poder

existentes no corpus. Pretende-se, ao desenvolver esta pesquisa, alcançar resultados que

contribuam aos estudos discursivos e aos estudos dos dispositivos de confissão e da

resistência em sujeitos socialmente excluídos. Além disso, procura-se, com este estudo, dar

visibilidade às produções cinematográficas brasileiras, especialmente no que diz sobre

pesquisas que tenham como objeto séries nacionais.

Palavras-chave: Análise do Discurso. Relações de poder. Meritocracia.

Page 42: CADERNO DE RESUMOS - files.cercomp.ufg.br

42

REFLEXÃO CRÍTICA SOBRE OS DISCURSOS ATUAIS DE VIOLÊNCIA COMO

MANTENEDORES DA ORDEM

Cecília Rodrigues Ribeiro

École de Hautes Études en Sciences Sociales

& Universités Sorbonne Paris Cité, Université Paris – Diderot

Camila Dias

SDF Arquitetura e Engenharia/PUC

O que se discute atualmente no mundo e, em especial, no Brasil, é uma dualidade entre um

conservadorismo extremo de um lado e uma repúdia ao neoliberalismo econômico de outro.

Ambos extremistas e vulgarizados pela banalização mediática e das redes sociais. Mas como

entender esses movimentos para além das preferências a partidos políticos? Como aprofundar

as discussões sobre, por exemplo, a recente demanda da volta da patologia da

homossexualidade? O que ocorre hoje nos meios de comunicação é uma generalização de

termos e de conceitos que abrem as portas para que movimentos extremistas ligados ao

fascismo tenham a possibilidade de emergir. De fato, estes movimentos atuais poderiam ser

perspectivados diferentemente se buscarmos na história das ciências humanas e sociais os

conceitos de poder e os instrumentos de manutenção do mesmo na obra de Michel Foucault.

Evidenciar os limites da filosofia política, das teorias do direito, do marxismo e da psicanálise

tão citados nos primeiros cursos do Collège de France (aliás, onde o debate sobre a guerra e a

repressão são fortemente presentes). Durante essa história alguns instrumentos de exclusão

são inventados: as prisões, as regras de convivência/tolerância/disciplina social e os sujeitos

mantenedores deste sistema. Pode-se destacar a marginalização, o papel do criminoso e do

louco na sociedade e, principalmente, a função da prisão e do hospital psiquiátrico e seus

benefícios morais de mantenedores da ordem. Nesse mesmo contexto, o discurso poderá se

transformar em instrumento de sujeição e de manutenção do poder (o discurso do médico, por

exemplo, que perpetua o poder do conhecimento sobre o indivíduo). Assim, refletiremos

sobre os discursos atuais de ordenamento da sociedade para além do paradigma político, mas

no sentido de entender a governamentalidade e a manutenção do poder e de uma determinada

ordem.

Palavras-chave: Discurso. Governo. Poder.

O NOVO ENSINO MÉDIO: ANÁLISE DO DISCURSO DA LEI Nº 13.415/17 A

PARTIR DE MICHEL FOUCAULT

Amarildo Inácio dos Santos

PPGE – Universidade Regional de Blumenau – FURB

Gicele Maria Cervi

Este artigo apresenta uma análise da Lei nº 13.415/2017 que altera o Ensino Médio. A análise

é feita a partir do método de análise do discurso do filósofo francês Michel Foucault. A

aludida lei tem sua gênese na Medida Provisória 746 de 2016, que implementa o Novo Ensino

Médio. A opção pela análise da lei se deu devido ao fato de que ela visa empreender uma

ampla reforma no Ensino Médio alterando consideravelmente a carga horária, o currículo e os

investimentos em formação de professores. O objetivo do trabalho é problematizar as

condições históricas que possibilitaram o surgimento dos discursos que subjazem os artigos

do texto legal relacionando-as à produção de subjetividades na escola. Espera-se, com isso,

Page 43: CADERNO DE RESUMOS - files.cercomp.ufg.br

43

refletir sobre as mudanças implementadas no Ensino Médio. Para o presente trabalho, adota-

se a compreensão de escola pensada por autores como Julia Varela, Fernando Alvarez-Uria e

Gicele Maria Cervi, que compreendem a instituição escolar como uma maquinaria de

produção de subjetividades alinhadas ao seu tempo. A metodologia utilizada é a análise do

discurso, conforme pensada por Foucault. Tal metodologia permite compreender os processos

de subjetivação, atualmente em curso na escola, à medida que permite esquadrinhar as

condições do contexto histórico atual que tornaram possível a irrupção dos discursos

expressos na referida lei e os significantes que eles transportam. A partir da análise percebe-se

que o alinhamento dos interesses nacionais aos interesses internacionais de mercado

neoliberal configura a principal condição histórica que favorece a irrupção de discursos que

privilegiam uma educação profissional e tecnicista que deve ser priorizada na escola deste

tempo.

Palavras-chave: Análise do discurso. Currículo. Novo Ensino Médio.

Sessão 7

IGUALDADE DE GÊNEROS E OS DISPOSITIVOS DE EMPODERAMENTO

FEMININO NO INÍCIO DO SÉCULO XXI

Cássia Núbia de Carvalho

A luta pela igualdade de gêneros não é recente e recebeu status de relevância com o intuito de

promover justiça social desde o final da Segunda Guerra Mundial com a criação da ONU, em

especial a ONU MULHERES. Desde então, constituiu-se de diferentes enunciados amparados

pelos contextos sócio-histórico-ideológicos que construíram e definiram os conceitos que

envolveram as produções do discurso neste longo percurso. Através da Análise do Discurso

foucaultiana é possível verificar a formação discursiva, a subjetividade do sujeito e a

construção do objeto, abordando o ardiloso jogo de poder e saber que atravessou as várias

etapas da prática discursiva sobre o mesmo tema. Neste percurso, as transformações históricas

e sociais acrescentaram nuances diferentes ao enunciado, claramente reconhecidas no sujeito

discursivo e na enunciação. A evolução desta formação discursiva permite identificar a

materialidade de suas construções representadas pelas oposições de classes e seus conflitos.

Neste ponto, a presente pesquisa se concentrará em avaliar as condições de produção do

discurso envolvendo o enunciado e o enunciador; compreender as circunstâncias específicas

das relações de produção de sentidos e da formação discursiva que surgiram no Brasil neste

início do século XXI. Identificar os processos de produção dos discursos ou práticas

discursivas desses enunciados: os desejos e aflições da comunidade para edificar os

fundamentos necessários ao diálogo, à inclusão e ao comprometimento difundidos no discurso

de empoderamento da mulher. As transformações do discurso e sua dispersão, o “dito” e o

“não-dito” manifestados no tempo e local historicamente constituídos, o descentramento do

sujeito, onde o “eu” implica em outros “eus” e no outro, a não fixação desta identidade que se

encontra em constante processo de mutação, manifestados pela apropriação da linguagem.

Palavras-chave: Empoderamento feminino. Dispositivos. Materialidade discursiva.

Page 44: CADERNO DE RESUMOS - files.cercomp.ufg.br

44

SUBJETIVAÇÃO E O CUIDADO DE SI: UMA ANÁLISE DA REPRESENTAÇÃO

DA MULHER NA SOCIEDADE

Sarah Carime Braga Santana

PPGEL – UFG/RC – CAPES

Prof.ª Dr.ª Karina Luiza de Freitas Assunção

Desde os primórdios, o homem e a mulher têm um papel demarcado na sociedade, o primeiro,

como o provedor da casa e da família, e a mulher é colocada como “sexo frágil”; para

Beauvoir (1970), esse status da mulher é amplamente justificado pela biologia, dado que esta

mulher já nasceria com as aptidões necessárias para cuidar da casa e dos filhos. Dessa forma,

este trabalho tem como premissa analisar dois enunciados: o primeiro trata-se de um artigo da

revista Housekeeping Monthly, intitulado The Good Wife’s Guide – O guia da boa esposa –

publicado em maio de 1955, o texto enumera dezoito atitudes da mulher para que essa seja

uma boa mãe e esposa. Em contrapartida, o segundo enunciado, que constitui uma das

matérias do blog Papo de homem, é intitulado Este guia de 2016 dá 18 dicas para mulheres

serem “boas esposas” e traz uma resposta ao primeiro enunciado que aqui será analisado. O

guia de 2016 revela uma nova roupagem quanto ao estereótipo de “boa esposa” a ser seguido,

revelando também uma nova configuração social em que as mulheres são mais livres e donas

de si. Para apoiarmos as discussões propostas serão utilizados textos de Foucault, Arqueologia

do saber (2016) e Ditos e Escritos V (2004) para tratar da subjetivação do sujeito mulher e do

cuidado de si, que estão representados nos enunciados a serem analisados, além de Beauvoir

(1970) e Saffioti (2015) para adentrarmos nas questões sociais que tratam dos gêneros e como

os discursos que perpassam esses enunciados se inserem na história e na cultura de uma

sociedade. Esperamos com este trabalho observar as relações entre os dois enunciados e

como, apesar da repetição dos mesmos, seus sentidos podem ser diferentes a partir das

condições de produção que permitiram a emergência de cada um deles.

Palavras-chave: História. Sujeito. Subjetividade.

A VONTADE DE VERDADE DO SEXO NOS DISCURSOS DE IDENTIDADE DE

GÊNERO DA ATUALIDADE

Guilherme de Freitas Leal

Doutorando Faculdade de Filosofia – UFG

Prof.ª Dr.ª Adriana Delbó

O objetivo desta comunicação é expor a atualidade da vontade de discursos de verdade

responsáveis pela incessante busca por compreender nós mesmos e os outros a partir das

práticas e desejos sexuais que temos e exercemos. Abordando, para tanto, a análise

foucaultiana acerca da era vitoriana, presente em História da Sexualidade I, especificamente

no que tange aos mecanismos, dispositivos, técnicas e práticas confessionais acerca do sexo.

Discursos analíticos e não proibitivos em que se constrói a verdade sobre o sexo, onde as

práticas e desejos sexuais são objetos de vontade de saber. Em contraposição a essa ciência

sexual, Foucault apresenta a arte erótica em que o prazer sexual não é associado à construção

de saber sobre si e, por conseguinte, não é referida à identidade da pessoa, mas apreendida

como experiência não transformável em discurso. Foucault destaca o desdobramento na

atualidade em vários domínios como na psicologia, psiquiatria, pedagogia, medicina, relações

interpessoais, na família, etc., de procedimento de extorsão da verdade sexual. A partir desse

Page 45: CADERNO DE RESUMOS - files.cercomp.ufg.br

45

contexto teórico, busca-se aglomerar discussões nevrálgicas que se desdobram na discussão

de gênero. Destaca-se estudiosos da atualidade sobre a temática bem como a etimologia do

termo ‘gênero’, apontando para o quanto a vontade de saber sobre o sexo pode funcionar

como uma ardilosa captura para a normalização e a regulação próprias da biopolítica. As

principais conclusões apontam o quanto o gênero pode vir a funcionar como um

enquadramento da conduta do indivíduo a partir da verdade definida de seu sexo, impedindo-

o, por conseguinte, de realizar experiências sexuais outras. A definição de quem somos, a

partir das práticas sexuais, essa vontade de saber sobre nós a partir do que fazemos com o

nosso sexo, tal como observado por Foucault, acaba por se aprofundar no complexo campo da

definição de gêneros em nossa atualidade.

Palavras-chave: Foucault. Sexualidade. Gênero

DIA INTERNACIONAL DA MULHER EM CAMPANHA PUBLICITÁRIA

DA SKOL (2017): SOB UM OLHAR DIALÓGICO

Gabriella Cristina Vaz Camargo

PPGEL – Universidade Federal de Goiás/Regional Catalão

Em março de 2017, a Skol publicou em sua página no Facebook e em seu canal no Youtube, o

vídeo da campanha “Reposter Skol”, em que homenageava as mulheres pelo Dia

Internacional da Mulher. Para isso, a empresa convidou oito artistas, todas mulheres, para

recriarem pôsteres antigos em que apareciam mulheres loiras, magras e de biquíni ou roupas

que deixavam o corpo à mostra, servindo a cerveja Skol, em ambientes como a praia, por

exemplo. A proposta foi de, justamente, redimensionar esse lugar feminino, de trazer a

mulher para o centro da propaganda de modo a não objetificar o seu corpo. Diante disso, este

trabalho pretende mostrar, através da filosofia da linguagem proposta pelo Círculo de

Bakhtin, discursos que emergem à propaganda, bem como compreendê-la como um

enunciado verbovocovisual, em que os extratos verbais (palavras), vocais (voz/som) e visuais

(imagem) compõem a arquitetônica do enunciado em estudo. Com o andamento da pesquisa,

pudemos identificar alguns discursos que surgem através dos pôsteres (re)criados pelas

artistas, como o machista, o erótico e o capitalista. O método de pesquisa adotado trata-se do

dialógico, proposto pelo Círculo, em que descrevemos, analisamos e interpretamos o corpus,

de modo a compreender a vida através da linguagem. Desta feita, através deste trabalho,

procuramos tecer algumas reflexões acerca da noção bakhtiniana de enunciado; além de

discutir sobre os discursos que permeiam o enunciado “Reposter Skol”, de modo a mostrar as

relações dialógicas que são estabelecidas entre os pôsteres antigos e os novos e, sobretudo, de

compreender a linguagem em seu funcionamento dialógico.

Palavras-chave: Enunciado verbovocovisual. Discursos. Reposter Skol.

SUBJETIVIDADE SOCIAL FEMININA, EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

E CUIDADO DE SI

Sidcléia da Silva Santos

Universidade Federal de Pernambuco – UFPE

Page 46: CADERNO DE RESUMOS - files.cercomp.ufg.br

46

A pesquisa versa sobre uma educação não formal voltada para o cuidado de si e

ressignificação da subjetividade social feminina, como forma de resistência aos paradigmas

hegemônicos e biopolíticos. Inserido dentro desta nova estratégia de poder, o sujeito feminino

se torna um dos alvos das novas técnicas de normalização no final do século XVIII e início do

XIX, em que se aumenta a preocupação com seu corpo e saúde, ao mesmo tempo em que se

constrói socialmente a figura da mulher, tomada não a partir de suas características biológicas,

mas de um discurso que ressalta sua condição de gênero culturalmente construída. Porém, este

estudo parece apontar para a criação de novas estratégias formativas voltadas à subjetivação

de sujeitos autênticos. Logo, a criação de novas imagens e modelos educacionais,

representando um espaço de cuidado, resistência política e desterritorialização. Deste modo,

sendo capaz de gerar e dar nascimento a formas livres de vida e comunidade, por meio de

relações intersubjetivas cheias de afeto e intensidade. Nesse sentido, o objetivo principal da

pesquisa consiste em investigar as implicações da (in)visibilidade e a (des)construção da

subjetividade social feminina, no âmbito da educação não formal. Com isso, gerando clareza e

reconfiguração dos modelos educacionais, históricos e culturais por experiências, encontros e

desencontros que reverberam nas representações subjetivas femininas e materialização de

novos sentidos. Como objetivo específico temos a pretensão de analisar o envolvimento de

duas mulheres que atuam nas atividades formativas do Núcleo Educacional Irmãos Menores

de Francisco de Assis – NEIMFA, identificando os aspectos positivos e as limitações dos

modelos educacionais vigentes quanto à questão do gênero. Para tanto, adotamos o paradigma

epistemológico Arqueogenealogia como fundamento teórico-metodológico proveniente das

perspectivas contemporâneas: arqueologia e genealogia. A modalidade de pesquisa é

qualitativa e privilegia a obtenção dos dados por meio da pesquisa narrativa.

Palavras-chave: Subjetividade social feminina. Educação não formal. Cuidado de si.

O DISPOSITIVO DE SEXUALIDADE NA LITERATURA: UMA ANÁLISE DE

DISCURSO SOBRE O FEMININO NAS OBRAS DE JOSÉ DE ALENCAR E SUA

PERPETUAÇÃO NO CONTEMPORÂNEO

Beatriz Izabelli Zumba Elihimas

Amanda Salgado Rocha

Faculdade Damas da Instrução Cristã

Orientadora: Prof.ª Dr.a Renata Celeste

As categorizações de gênero e os padrões pré-estabelecidos às identidades do homem e da

mulher são construídos a partir das interações socioculturais entre os sujeitos e as relações de

poder. Assim, as expectativas de gênero são representações formadas também por uma

construção histórica e que, por serem fruto do pensamento social, acabam se expressando em

espaços como o literário. A partir disso, utilizando as obras “Lucíola” e “Cinco Minutos” de

José de Alencar, pretende-se analisar como os perfis de mulheres forjados pelo autor,

condizentes com um modelo de gênero do passado, ainda refletem na construção de modelos

de subjetivação do feminino no contemporâneo. Os romances revelam-se como instrumento

capaz de apresentar a construção histórica da expectativa de gênero, tendo em vista as

descrições do autor sobre o feminino e os destinos de vida e morte das personagens. Tal

demarcação reflete no contemporâneo, retroalimentando modelos de gênero, como observado

na marca “bela, recatada e do lar” ou na culpabilização de gênero em casos de violência.

Ademais, é fundamental analisar como essa naturalização de expectativas corrobora para a

produção de corpos sujeitados, em um processo de subjetivação do feminino, tendo em vista

Page 47: CADERNO DE RESUMOS - files.cercomp.ufg.br

47

que perfis de mulheres que fogem a um padrão submisso são colocados de forma menos

valorativa. Em meio a esses discursos permeados por uma expectativa, há a formação e

atuação do dispositivo de sexualidade que normaliza os sujeitos e mantém as relações de

poder. Para tanto, será utilizada a literatura como ferramenta, através da análise dos discursos

contidos nas obras supracitadas, em cotejo com observação crítica à luz da “História da

Sexualidade” de Michel Foucault. Desse modo, com a observação paralela do campo literário

e social, é possível vislumbrar o modus operandi do dispositivo de sexualidade, fazendo

imperar com força similar as concepções do período pretérito em relação ao gênero.

Palavras-chave: Expectativas de gênero. Mulheres de José de Alencar. Dispositivo de

sexualidade.

O FEMININO QUE GRITA NO ANTIFEMINISMO

Pâmela Tavares de Carvalho

Universidade de Franca – UNIFRAN

Luciana Carmona Garcia Manzano

Universidade de Franca – UNIFRAN

A discussão política, social e cultural sobre as mulheres – o feminismo – e a discussão sobre o

próprio caráter de mulher, a feminilidade, têm recebido determinada atenção nos espaços

digitais. Nesse próspero território, o antifeminismo, nas suas diferentes vertentes, insere-se

em um jogo de verdades que, filiado aos estereótipos e às tradições enraizadas sobre a

imperfeita e a inferioridade da natureza feminina, desqualifica o movimento feminista por

constituir uma ameaça ao sistema patriarcal, nos seus mais variados graus e pertencimentos

culturais. Sob a perspectiva da Análise do Discurso de orientação francesa e de conceitos

engendrados no interior dos estudos discursivos foucaultianos, como Biopolítica e

Dispositivo, vislumbra-se, com tal discussão, compreender o discurso que se constrói por

sujeitos que se autointitulam antifeministas, assim como levantar o véu que encobre os

paradigmas e as representações sociais e moralmente convencionadas às mulheres ao longo da

história. Por meio do recorte dos enunciados do vídeo alcunhado “A verdade sobre o

feminismo”, veiculado pela Youtuber Cris Bernart na plataforma youtube.com e

compartilhado na página do Facebook @crisbernart1, examina-se o espaço de tensão no qual

se constroem enunciados que dão forma de existência aos discursos que, ao deslegitimar o

feminismo, evidenciam um modo de feminino. Diante da discussão, o feminino que clama, foi

delineado dentro de um dispositivo de controle, dentro do qual se difundem e validam dizeres,

cristalizam-se saberes e preconceitos. O discurso, então, resultante de uma dialética entre

repetição e regularização, contribui para a manutenção de sentidos que fazem parte do modelo

de sociedade patriarcal e que se sedimentaram a partir do que se concebeu como tradição, por

meio de práticas discursivas e sociais, obedecendo a uma ordem do discurso que traz à tona

um feminino que afirma um lugar histórico, construído para a mulher em busca da

manutenção de uma ordem social.

Palavras-chave: Análise do Discurso. Feminismo. Poder.

Page 48: CADERNO DE RESUMOS - files.cercomp.ufg.br

48

Sessão 8

REPRESENTAÇÕES DO VALE DE JAVÉ (NORDESTE) E DO NORDESTINO PELA

NOÇÃO DE ENUNCIADO REITOR

Me. Léa Evangelista Persicano

UFG – RC/FAPEG

Prof. Dr. Antônio Fernandes Júnior

No filme brasileiro Narradores de Javé (2003), materialidade linguístico-histórica estudada

no curso de Mestrado em Estudos de Linguagem, analisamos alguns enunciados e discursos

proferidos pelas personagens-narradoras da trama fílmica, os quais se articulam em torno de

um núcleo comum, as histórias de valor dos guerreiros fundadores do povoado, durante a

produção do livro-dossiê para salvar a região e seus moradores das águas. Segundo os

narradores, a fundação do Vale de Javé se deu por meio de Indalécio (e Mariadina) e sua(s)

comitiva(s), que tiveram que sair de suas terras pela exploração do ouro por parte de Portugal

e se instalar onde hoje é Javé. Esse núcleo comum funciona como uma referência para outros

enunciados, estando vinculado basicamente à formação discursiva de que o Nordeste é uma

região atrasada, mas tem narrativas orais (práticas culturais populares) de valor. Há em jogo

um campo associativo, que nos leva à compreensão também de que os nordestinos são tidos

como indivíduos de pouca grandeza, se comparados, por exemplo, aos sulistas. Percebemos,

baseados tanto em Foucault (2005) quanto em Voss e Navarro (2013), que esses enunciados –

denominados de enunciados reitores – possibilitam e determinam a produção de saberes e

objetos, em dado feixe de relações, servindo como ponto de referência para outros

enunciados, regendo o funcionamento de uma árvore de derivação enunciativa e

desempenhando as regras de dada formação discursiva. Por meio de uma metodologia

descritivo-interpretativa, voltamos nossa atenção para o enunciado reitor “Se Javé tem algo de

bom, são as histórias do começo”, esquematizando uma árvore desse tipo para o caso em

análise do Vale de Javé, o que nos leva a concluir que as riquezas do Nordeste são

subestimadas e que, dificilmente, essa região assim como seu povo (javelinos) serão

considerados possuidores de vários bens culturais, sociais, simbólicos.

Palavras-chave: Enunciados. Discursos. Representações.

RELAÇÕES DISCURSIVAS: O PAPEL ENUNCIATIVO DA PALAVRA

FERRAMENTA NOS POEMAS DE BRAZ JOSÉ COELHO

Júlio César Albuquerque da Rocha Universidade Federal de Goiás – Regional Catalão

Prof. Dr. Antônio Fernandes Júnior

Partindo-se do pressuposto foucaultiano, o qual diz que todo enunciado possui suas margens

povoadas por outros enunciados, surgiu o interesse em analisar as funções enunciativas da

palavra ferramenta, na obra literária de Braz José Coelho A obrigação da inquietude. O

literata goiano apresenta em seu livro 11 poemas consecutivos que exibem esse enunciado,

trazendo o conceito de materialidade repetida. Entretanto, tal concepção não garante a mesma

identidade a eles, justamente por diversificarem, em suas condições de utilização, produzindo

efeitos de sentidos diferentes entre si. Para tal investigação, houve a necessidade de

reconhecer demais enunciados, individuais em cada poema, possibilitando restringir o

Page 49: CADERNO DE RESUMOS - files.cercomp.ufg.br

49

contexto de ferramenta a um campo associado. Posteriormente, com o decorrer da análise,

identificou-se ligações e distinções enunciativas. O escopo deste estudo é, através das análises

dos poemas de Braz José Coelho, apresentar correlações entre a temática, a construção e a

estruturação deste acerca dos enunciados presentes na produção do discurso e sentidos.

Acerca do método, utilizou-se neste trabalho a pesquisa básica estratégica, de caráter

explicativo e cunho qualitativo quanto à análise de dados secundários, obtidos através de

literatura relacionada ao tema. O referencial teórico é embasado na análise do discurso

propriamente dita, sob a teoria enunciativa em Foucault (1969), aprofundando-se,

primordialmente, na análise discursiva da materialidade repetida dos enunciados.

Posteriormente, agregando conjuntos enunciativos de cada poema, nota-se, no último, um

desencadeamento em relação aos enunciados anteriores, quando o sentido do enunciado

ferramenta perpassa completude, podendo produzir redes de cruzamentos na produção

discursiva do poeta. Espera-se, através deste trabalho, levantar discussões sobre o profícuo

pensamento foucaultiano, utilizando da obra de Braz José Coelho, gerando compreensão

sobre o tema exposto e interesse nestes dois autores.

Palavras-chave: Foucault. A arqueologia do saber. Enunciados.

PERCEPÇÕES DISCURSIVAS SOBRE A LEITURA DE CLÁSSICOS EM

QUADRINHOS

Camila Santin Calçada Silva

Programa de Mestrado em Estudos da Linguagem/UFG – RC

O presente trabalho tem como objetivo apresentar um recorte da pesquisa em

desenvolvimento no Programa de Mestrado em Estudos da Linguagem, na área da Literatura e

visa discutir a produção de obras literárias ditas clássicas transpostas para o formato dos

quadrinhos. O gênero em questão tem seu início ainda no século XIX, com o advento do

jornal. Já no século XX os quadrinhos passaram a sofrer perseguição por parte de pais,

educadores e até mesmo congressistas, em especial nos Estados Unidos. Assim, mediante aos

discursos de repúdio ao gênero quadrinístico, surge na década de 40 a Classics Illustrated,

revista que trazia a adaptação de clássicos da literatura para os quadrinhos, como forma de

atrelar relevância ao gênero. No Brasil a revista americana foi editada por Adolfo Aizen com

o nome de Edição Maravilhosa. Interessa-nos compreender de que formas o texto é

compreendido pelo leitor, buscando analisar como a adaptação reorienta os regimes de

expectativa sobre a nova obra frente à predecessora e do como os mesmos são

redimensionados com a mudança do gênero narrativo para os quadrinhos. Do mesmo modo,

analisaremos discursos acerca dessas adaptações e como essas obras em quadrinhos impactam

na subjetividade do sujeito-leitor, enquanto sua formação literária. Embasaremos nossa

discussão em Cursino (2012), Possenti (2001), Chartier (2001), Eisner (2005), Ramos (2014),

Vergueiro (2017). Compreendemos que, longe de ser uma facilitação de leitura, as

quadrinizações de clássicos são um reflexo da cultura moderna cada vez mais ligada aos

códigos icônico-verbais que percebem neste gênero uma leitura de fruição.

Palavras-chave: Quadrinhos. Análise do Discurso. Leitura.

Page 50: CADERNO DE RESUMOS - files.cercomp.ufg.br

50

CONSTITUIÇÃO DE SUBJETIVIDADE EM “O PAPEL DE PAREDE AMARELO”,

DE CHARLOTTE PERKINS GILMAN

Nilce Meire Alves Rodovalho

Mestranda PMEL

Prof. Dr. Antônio Fernandes Júnior

O presente trabalho objetiva analisar o corpus “O Papel de Parede Amarelo”, de Charlotte

Gilman, sob o viés da Análise do Discurso de linha francesa e dos postulados foucaultianos a

respeito dos dispositivos de poder e da forma que estes incidem sobre as práticas discursivas

do objeto a ser analisado. Com este intuito busca-se compreender a construção do discurso e a

constituição da subjetividade da narradora/protagonista. O conto em questão retrata uma

história vivida no século XIX por uma mulher (narradora-personagem) reclusa em uma

mansão colonial por Jonh, seu marido e médico. Observa-se a ocorrência de práticas de

controle imperadas nas relações saber/poder. Em nome da medicina psiquiátrica, John decide

afastar a narradora/protagonista da sociedade, em função de realizar um tratamento para a

doença dos “nervos” de sua esposa, que sofre de uma suposta histeria. Foucault denominou

subjetivação como o “processo pelo qual se obtém a constituição de um sujeito, ou, mais

exatamente, de uma subjetividade” (REVEL, 2005, p. 82). A análise dos processos de

subjetivação pode ser realizada de duas formas: em que os seres humanos são transformados

em sujeito a partir de práticas de objetivação e outra por meio da relação consigo mesmo e/ou

de técnicas de cuidado de si, que atuam na constituição da própria existência do sujeito. Prado

Filho (2005) indica que a subjetividade em Foucault se subsidia na metodologia do eixo saber

x poder x subjetividade. Assim é necessário analisar a relação entre tais componentes, “onde

saber e poder são sempre da ordem da produção, são maquinarias sociais, são políticos, são

relações, e a subjetividade é sempre da ordem dos efeitos, é o ponto de chegada e não de

partida” (PRADO FILHO, 2005, p. 42).

Palavras-chave: Subjetividade. Relações saber/poder. Discurso.

AUTORIA E ESCRITA NAS MEMÓRIAS DE ROSA AMBRÓSIO: UMA ANÁLISE

DO EFEITO-SUJEITO EM “AS HORAS NUAS” DE LYGIA FAGUNDES TELLES

Ismael Ferreira Rosa

UFG – RC / CESUC

Foucault (2001), remontando Blanchot, assevera que o ato de escrever é uma forma de

eternização, pois é uma prática discursiva em estado de movência, avançando nas instâncias

temporais e espaciais, eternizando-se e deslocando sempre. Rompendo o limite da morte, pela

palavra estabelece-se um espaço infinito, encontrado fora de si mesma, construindo um

movimento incessante de produção de sentidos e produção de sujeitos. Assim, a escrita,

enquanto exterioridade, constrói sujeitos, fazendo emergir de si efeitos-sujeito, pois a

linguagem revela palavras que matam, ou fazem morrer, para se viver fora e muito além do

texto, na exterioridade e espaço infinito do ato de escrever. E implicando a escrita uma obra

de linguagem, é-lhe imprescindível um sujeito-autor, alguém que se diz responsável pela

escritura, uma vez que todo sujeito é constitutivamente colocado como autor e responsável

por seus atos em cada prática em que se inscreve. Contudo, não se trata do sujeito empírico

que pronunciou ou escreveu um texto, mas um princípio de agrupamento do discurso,

instaurado enquanto unidade e origem de suas significações, como foco de sua coerência.

Page 51: CADERNO DE RESUMOS - files.cercomp.ufg.br

51

Com efeito, trata-se de uma função-sujeito que realiza o trabalho de escrita, organizando, em

uma dada disposição, vozes sócio-históricas e ideológicas. Pretendemos, no crivo dos

conceitos foucaultianos de escrita, autoria e espaço exterior, analisar como se instaura o

processo do ato de escrever e a construção do autor, enquanto efeito-sujeito, no

funcionamento discursivo de “As horas nuas”. Alvitramos construir uma percepção

interpretativa em torno do efeito-sujeito instituído em Rosa Ambrósio, um dos sujeitos

discursivos que se diz autora de suas próprias memórias. Sendo assim, intentamos analisar

não o nome de autor Lygia Fagundes Telles, assinado na obra, mas a autoria instaurada

discursivamente no interior do texto, delineando o processo de construção da função-autor no

nível dos sujeitos e sentidos produzidos em um espaço literário.

Palavras-chave: Autoria. Escrita. Efeito-sujeito.

A ENUNCIAÇÃO NA HISTÓRIA PARA A CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO

DISCURSIVO ORLANDO SABINO

Fernanda Gomes da S. Nakamura

Programa de Pós-graduação em Estudos da Linguagem/Regional Catalão

Prof. Dr. Antônio Fernandes Júnior

O presente trabalho faz parte da pesquisa para a dissertação do mestrado que ainda está em

desenvolvimento, o qual abordará uma série de assassinatos ocorridos no início do ano de

1972 no Pontal do Triângulo Mineiro. Orlando Sabino foi preso, acusado de ser o responsável

por vários crimes. O presente artigo pretende retomar a história com o objetivo de explicitar o

cenário histórico do período em que se deu a trajetória de crimes atribuídos ao indivíduo,

entre os anos de 1970 a 1973. O caso Orlando Sabino surge, na conjuntura, como um

analisador da mídia e da história dos anos 1970, apontando os não-ditos, os exageros e as

mitificações que até hoje persistem na organização e na estruturação social da região de

Minas Gerais. Em nosso trabalho, utilizaremos o conceito de História Geral e de História

Nova para discutir o modo como o contexto histórico e político da época construiu e

colaborou para a formação do Sujeito Discursivo e também debater como as emergências dos

enunciados apontados nas reportagens possibilitaram tal acontecimento. Para tanto,

analisaremos estes fatores a partir do pressuposto teórico da Análise do Discurso de Michel

Foucault, preconizada por Michel Pêcheux, a fim de evidenciar como os elementos midiáticos

da história constroem enunciação, em que o referencial do enunciado forma lugar, a condição,

o campo de emergência, a instância de diferenciação dos indivíduos ou dos objetos, dos

estados das coisas e das relações que são postas em jogo pelo próprio enunciado, com isso

permite a possibilidade de aparecimento e de delimitação do que é dito.

Palavras-chave: História. Enunciado. Orlando Sabino.

Page 52: CADERNO DE RESUMOS - files.cercomp.ufg.br

52

Sessão 9

OS DISCURSOS DE DISCRIMINAÇÃO NA OBRA DOIS GAROTOS SE BEIJANDO:

CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO, EFEITOS DE SENTIDO

E FORMAÇÃO DISCURSIVA

Yuri Pereira de Amorim

Universidade Federal de Goiás – Regional Catalão

Prof.a Dr.a Erislane Rodrigues Ribeiro

Nos dias atuais muito tem-se discutido sobre sexualidade, seja através da mídia, de jornais,

meio acadêmico e/ou por meio de obras literárias. Contudo, ainda que a luta contra a

discriminação LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais) venha sendo travada

constantemente, o preconceito continua sendo recorrente. Assim, o presente artigo tem como

objetivo analisar os discursos de intolerância na obra Dois garotos se beijando (cujo título

original é Two boys kissing) do autor norte-americano David Levithan. Publicado em 2015

pela editora Galera Record, o romance aborda a vida de quatro personagens homossexuais.

Será analisada apenas a história de dois personagens (Craig e Harry) e os discursos presentes

para melhor aprofundamento dos enunciados com juízos de valor, apontando assim os

posicionamentos contrários e/ou favoráveis. Para essa investigação, estão sendo utilizados

como aporte teórico os autores Orlandi (2006), que discorre acerca das condições de produção

e efeitos de sentido e Michel Foucault (2012), que disserta a respeito da formação discursiva.

A metodologia utilizada refere-se a pesquisas bibliográficas, na qual foram selecionados e

revisados materiais teóricos e análise da obra Dois garotos se beijando. A justificativa por

esse tema se dá por dois fatores: o primeiro pelo fato de que, ainda nos dias atuais, a opressão

contra a comunidade LGBT é recorrente, não podendo ser desconsiderada, e o segundo para

apresentar como o meio literário retrata a questão da opressão. Assim, os resultados obtidos

com essa pesquisa foram: visibilidade à temática de discursos intolerantes, ainda presente em

nossos cotidianos; e contribuição e fortalecimento aos estudos relacionados à obra Dois

garotos se beijando.

Palavras-chave: Análise do discurso. Discurso de intolerância. Dois garotos se beijando.

VIDA ARTISTA E VIDA ARTÍSTICA: ENCONTROS E DESENCONTROS NA

ARTE DE VIVER

Marco Antônio Arantes

Universidade Estadual do Oeste do Paraná/UNIOESTE

A proposta se detém sobre a noção de estética da existência, que diz respeito à arte de si, ao

indivíduo livre vinculado a um conjunto de regras e valores, e que remete ao tema anticristão

de voltar a si mesmo e retornar a si. No caso específico deste artigo, o interesse é explorar os

processos de subjetivação e a elaboração ética de si, ou seja, a estética como uma forma de

vida, uma ética como um estilo de si e não como um dever moral, tendo como referência um

conto e um longa-metragem. Duas obras são entabuladas para clarear o conceito: uma obra

literária e uma cinematográfica. A primeira refere-se ao conto Roads of Destiny (1909) –

“Caminhos do Destino” –, do escritor norte-americano O. Henry (1862-1910); a segunda

resgata um longa-metragem intitulado Akiresu to kame (2008) – “Aquiles e a Tartaruga” –, do

diretor e comediante japonês Takeshi Kitano. A análise parte da tese de que a produção

Page 53: CADERNO DE RESUMOS - files.cercomp.ufg.br

53

artística do personagem criado por Henry é auferida por um senso estético e por estilos

artísticos padronizados e massificados, enquanto que o protagonista do longa de Kitano parte

de uma dimensão artesanal, ética/estética da existência, orientada para uma vida artista bela;

artífice da própria vida e vinculada a si mesmo por uma imanência que se estabelece de si

para consigo. Uma das chaves explicativas das obras são as considerações de Foucault sobre o

texto de Epicuro em que discute a oposição clássica da paidéia, ou saber da cultura, cuja

finalidade é o reconhecimento da massa e a necessidade de reputação, glória e ostentação. Em

oposição ao saber da jactância da paidéia está a physiología, cujo saber conduz a uma

afirmação de si.

Palavras-chave: Estética da existência. Subjetividade. Invenção de si.

UM OLHAR SOBRE O RAP DE CRIOLO ENQUANTO PRODUTOR DE EFEITOS

DE SENTIDOS E SUBJETIVIDADES

Jheny Iordany Felipe de Lima Universidade Federal de Goiás/Regional Catalão – UFG/RC

Antônio Fernandes Júnior

Em seus estudos arqueológicos, Michel Foucault toma textos literários como objeto para

análises de produção e efeitos de sentidos, construção de subjetividades, pensando os

discursos enquanto acontecimentos inscritos no tempo e espaço de uma história, e que se

repetem e se digladiam através das memórias discursivas que temos sobre determinados

objetos. Pensando nisso, e fazendo um primeiro recorte, para efeito de análise, escolhemos a

letra de música do rapper Criolo, Casa de papelão, para demostrar quais efeitos de sentido

são produzidos e quais subjetividades surgem deste discurso. Criolo é conhecido no cenário

da música contemporânea brasileira como artista de contracultura e suas letras de resistência

englobam questões como hipocrisia citadina, relacionadas à falta de moradia e aos indivíduos

em situação de rua, consumo desenfreado de drogas e álcool, legalização da maconha,

monetarização da vida quotidiana, mercantilização da cultura, ativismo político e social, e

diversas outras propostas. Pensando a letra e os efeitos de sentido que surgem dos enunciados

que a compõem, traçamos um percurso histórico do seu momento de produção e veiculação,

para entender os acontecimentos discursivos como textos que surgem como acontecimentos a

serem lidos. Já pela perspectiva genealógica também proposta por Michel Foucault,

analisamos os aspectos relacionados à biopolítica e à disciplinação dos corpos na sociedade

como primeiro tipo de biopoder que visa docilizá-los e torná-los economicamente úteis para

os centros urbanos através do controle e vigilância, que também são abordadoa na letra de

música em questão. Os resultados esperados ligam-se ao papel do rap enquanto produtor de

efeitos de sentidos na contemporaneidade e enquanto forma de resistência e contracultura,

bem como para demonstrar quais modos de subjetivação surgem destes enunciados, com base

nos estudos arqueológicos e genealógicos de Michel Foucault e seus estudiosos.

Palavras-chave: Sujeito. Sentido. Subjetividade.

Page 54: CADERNO DE RESUMOS - files.cercomp.ufg.br

54

“VOCÊ ME DEIXA DOIDÃO!!!”: UMA ANÁLISE SOBRE OS REGIMES DE

PRODUÇÃO DE VERDADE EM TRÊS COMPOSIÇÕES

DA BANDA MAMONAS ASSASSINAS

Maurício Divino Nascimento Lima

LEF – GO/PPGEL – UFG/RC/FAPEG

Prof. Dr. Antônio Fernandes Júnior

Os Mamonas Assassinas não eram um conjunto musical com estilo bem definido. Bem avesso

a isso, sua performance transitava pelo forró, neo-sertanejo, pagode e pop rock, no entanto, o

que era regular em todas as suas composições era o humor, fazendo deboche a todos esses

gêneros, materializando novos enunciados. A composição mais popular do grupo é “Pelados

em Santos”, que narra as tentativas mal sucedidas de um homem em cortejar uma mulher,

todas as suas investidas frustradas baseiam-se em um ideário de que as relações afetivas

devem ser pautadas em trocas materiais. Nesta mesma perspectiva, a letra de “Lá vem o

alemão” também descreve as desventuras de um homem que perde sua companheira para um

rival com um carro mais novo, e não somente isso, são atribuídas a esse antagonista

características físicas que lhe inscrevem em um padrão incapaz de ser alcançado pelo

primeiro. Por sua vez, “Uma Arlinda mulher” traz uma composição quase desprovida de

sentido, em que o que se pode depreender com maior clareza é que o homem deve conduzir a

relação como dominante. Os Mamonas Assassinas não inventaram essas concepções de

relacionamento, eles apenas debocham desses dispositivos, haja vista que essas visões são

produtos de um regime de produção de verdades, que ilustram uma ideia moderna a respeito

das relações afetivas. Nesse sentido, a partir da proposição arqueológica de Michel Foucault,

este trabalho visa analisar e descrever discursos que abordam essas novas verdades sobre as

relações afetivas nas três composições supracitadas em moldes da Análise do Discurso

francesa. Espera-se problematizar quais saberes colaboraram para a produção de subjetividade

dos sujeitos inscritos nesses discursos, uma vez que as práticas satirizadas pelas músicas da

banda em um dado momento são aceitas como verdade.

Palavras-chave: Discurso. Humor. Relacionamento.

PRÁTICAS DE SUBJETIVAÇÃO EM O CENTAURO NO JARDIM DE SCLIAR:

DISCURSOS E SUJEITO

Neuza de Fátima Vaz de Melo

UAELL/Regional Catalão/UFG

Nossa proposta nesta comunicação é mobilizar conceitos da Análise do Discurso (AD)

francesa, a partir das contribuições dadas por Michel Foucault, para refletir sobre a produção

da subjetividade, que consiste no processo constitutivo dos sujeitos possibilitando a

objetivação dos mesmos, além de mostrar os procedimentos mobilizados tanto para a prática

da subjetividade como para os sujeitos. A partir de então, temos por objetivo abordar os

discursos construídos, que se dão pela situação do personagem narrador, Guedali – de sua

infância à maturidade, no romance O Centauro no Jardim, do escritor e médico Moacyr

Scliar, publicado em 1990, havendo um denominador comum entre o mito e a realidade, com

o entrecruzamento de subjetividade, que atravessam o pensamento da tradição judaica. O

romance é narrado pelo próprio Guedali a partir da comemoração de seu aniversário de 38

anos em São Paulo. Assim, com o transcorrer da leitura surge a necessidade de investigar as

Page 55: CADERNO DE RESUMOS - files.cercomp.ufg.br

55

relações e estabilidades por esse sujeito excluído da sociedade, uma vez que as relações de

poder perpassam esse contexto. Para tanto, pretendemos mostrar, conforme a trajetória dos

apontamentos de Foucault (1997), a existência das múltiplas maneiras de se subjetivar, as

quais são diferentes no decorrer da história, onde o sujeito que é historicamente constituído

sobre determinações que lhe são exteriores, pode fixar, manter ou transformar sua identidade.

Nesse sentido, as discussões logradas, neste artigo, evidenciaram que é interessante observar

que não se trata de uma relação do sujeito consigo mesmo da ótica da interioridade, pois ele

se constitui sob determinadas condições de produções (contexto histórico-social que envolve

a produção do discurso, situação, interlocutores). Assim, esperamos poder, com o auxilio do

referido aporte teórico, delinear mais de perto os discursos e o sujeito perante aos mecanismos

de subjetivação presentes na atualidade.

Palavras-chave: Discurso. Subjetividade. O Centauro no Jardim.

ONCE UPON A TIME... RELAÇÕES DIALÓGICAS NA ENUNCIAÇÃO

VERBOVOCOVISUAL SERIADA

Thainá Pereira Gonçalves

UFG – Campus Catalão

Grenissa Bonvino Stafuzza

Trata-se de uma pesquisa descritiva, interpretativa e analítica das relações dialógicas que se

instauram por meio da interação entre os sujeitos personagens na enunciação Once Upon a

Time. Ao fundamentar o presente estudo na perspectiva dialógica da linguagem do Círculo de

Bakhtin, investigaremos de que modo às relações dialógicas são construídas na série e como

refletem e refratam a construção do sujeito personagem na enunciação, observando o modo

como acontece a relação bem e mal, uma vez que, na enunciação em estudo, não basta

analisar os sujeitos com base nos estereótipos dos contos de fada aos quais a série possui

referência (mocinhos, princesas, heróis, vilões). Ao entendermos que um outro discurso é

produzido a partir da referencialidade dos contos maravilhosos na série em estudo, pontuamos

a demanda da contemporaneidade nos atentando sobre a complexidade das personagens. Sob

essa perspectiva, examinaremos três instâncias de diálogo: i) o herói/vilão que dialoga com

seu outro vilão/herói, em uma relação dialógica do eu-para-mim; ii) o herói/vilão que dialoga

com outros sujeitos heróis/vilões, em uma relação dialógica do eu-para-o-outro; iii) o

herói/vilão que dialoga com outros sujeitos heróis/vilões, em uma relação dialógica do outro-

para-mim. Utilizaremos o cotejamento de enunciados (microcorpus) a partir de cenas das

temporadas da série em estudo, devidamente transcritas, para investigar a produção dialógica

na enunciação considerando a relação de diálogo entre os sujeitos em estudo, para o estudo

dos elementos que constituem a enunciação da série. Acreditamos poder contribuir teórico-

analiticamente para os estudos de discursos de corrente bakhtiniana, especialmente no que diz

respeito à abordagem discursiva da verbovocovisualidade, que é um tema que tem se

mostrado emergente na área de análise de discursos.

Palavras-chave: Verbovocovisualidade. Relações dialógicas. Círculo de Bakhtin.

Page 56: CADERNO DE RESUMOS - files.cercomp.ufg.br

56

Sessão 10

PERSPECTIVA ENTRE “O BALCÃO” DE MANET E MAGRITTE

Paulo Ferreira de Carvalho Neto

Universidade Federal de Uberlândia

O presente texto coloca, em uma forma ensaística, em análise duas obras que se intercalam e

juntas tendem a fornecer uma nova perspectiva quanto aos vários significados que uma obra

de arte possa ter. Essas obras são "O balcão" de Manet, no entremeio de mais de oito décadas,

e "Perspectiva II – O balcão de Manet" de Magritte. Faz-se, aqui, uma possibilidade de

discurso pela arte, entre um ícone intuitivo do Impressinismo fundido à moda devaneate do

Surrealismo. O texto fora produzido como um ensaio, até mesmo de um teor poético, em uma

breve descrição da cena retratada. Apesar de incomum, a representação de um retrato de

grupo – como no óleo de Manet – onde o observador da cena se encontra deslocado do

ambiente retratado, a cena torna-se perturbadora quando nos deparamos com a representação

que Magritte dela expressou. A roupagem, que na cena impressionista encanta pela beleza e

fluidez dos tecidos e da postura dos corpos, se reformula na medida em que aproximamos do

quadro surrealista. Como se a vestimenta dos sujeitos retratados confirmasse a inevitável

perspectiva de suas perpétuas vestimentas (a morte e os ataúdes). O trabalho de Flávio de

Carvalho, em “Dialética da moda”, colabora ao dissertar sobre o uso dos trajes e suas

representações. E, em se tratando de moda, Giorgio Agamben brevemente compreende sua

singularidade e seu fim. Embora a matriz do trabalho seja uma breve descrição entre obras

que se assemelham, Michel Foucault remata a descrição da perspectiva à analogia do Corpo

Utópico. Afinal, no observar das obras, o corpo das personagens são expostos e revestidos do

que vestem, e do que possa vir a representar.

Palavras-chave: Arte. Impressionismo. Surrealismo.

‘EU SOU LADRÃO E VACILÃO’: CAPTURA DE SI E DO OUTRO EM TEMPOS DE

REDES SOCIAIS DIGITAIS

Aldenor da Silva Pimentel

Doutorando em Comunicação da Unisinos

Orientador: Ronaldo Henn

Este trabalho tem por objetivo analisar o caso em que um adolescente, acusado de furtar uma

bicicleta, em São Bernardo do Campo (SP), em junho de 2017, teve, como forma de punição

extralegal, a própria testa tatuada com o enunciado ‘Eu sou ladrão e vacilão’ e a respectiva

sessão de tortura gravada em vídeo e compartilhada nas redes sociais digitais. A

fundamentação teórico-metodológica da pesquisa é a Análise de Discurso, de linha francesa. São analisados os dois vídeos caseiros, produzidos pelos acusados da tortura, que registram o

processo de tatuamento. Para a referida análise, recorre-se aos conceitos de sujeito,

identidade, vontade de verdade e panóptico, a partir de autores como Michel Foucault e

Kathryn Woodward. Como resultado preliminar, este trabalho evidencia como a identidade se

constrói a partir da relação com o outro (WOODWARD, 2003). Na amostra, vê-se o tatuador,

aquele que trabalha com produção de tatuagens, se construir como sujeito trabalhador, não

criminoso, a partir de um outro, aquele que rouba e não trabalha. As práticas divisoras

Page 57: CADERNO DE RESUMOS - files.cercomp.ufg.br

57

bandido – mocinho, criminoso – cidadão de bem, em convergência com a vontade de verdade,

são modos de objetivação que transformam os seres humanos em sujeitos (FOUCAULT,

1999). Para empreender com sucesso o processo de inquérito/pena aqui analisado, o sujeito da

punição demonstrou domínio de diferentes linguagens, como a audiovisual, a escrita e a

tatuagem. Ao acionar o panóptico (FOUCAULT, 2004) para capturar o criminoso, o sujeito

da punição acabou igualmente capturado pelo dispositivo (FOUCAULT, 1979), apontado

como transgressor da lei, da mesma forma como aquele de quem procurava se mostrar

diferente.

Palavras-chave: Discurso. Sujeito. Identidade.

O DESEJO DE VERDADE E A SUBJETIVAÇÃO SOBRE O SUICÍDIO A PARTIR

DA CAMPANHA SETEMBRO AMARELO

Anísio Batista Pereira

Universidade Federal de Uberlândia – UFU

A vontade de verdade se constitui em um aspecto relevante no que tange à linguagem, pelas

práticas discursivas dos sujeitos, uma vez que os processos de subjetivação se vinculam aos

regimes de verdade de uma determinada época. Nessa direção, este trabalho se propõe a

analisar alguns discursos materializados na campanha sobre a prevenção ao suicídio, a

denominada Setembro Amarelo, com o objetivo de investigar como a vontade de verdade se

manifesta nos discursos utilizados pelos sujeitos propagadores dessa ideia. Esse movimento

teve início no ano 2015, sempre no mês de setembro, cuja cor amarela é tomada como

símbolo da prevenção ao suicídio e amplamente divulgado, sobretudo nas redes sociais. Trata-

se, portanto, de uma campanha recorrente, em que um mês do ano é dedicado à causa, com o

objetivo de se evitar que pessoas tirem suas próprias vidas. Como recorte do corpus, serão

selecionadas imagens panfletárias disponíveis na internet, em diferentes endereços

eletrônicos, aquelas que atendam aos objetivos aqui propostos de forma mais precisa. Para

tanto, será adotado o suporte teórico-metodológico baseado na Análise do Discurso de

vertente francesa, mais precisamente acerca das formulações foucaultianas sobre discurso,

sujeito, verdade e subjetivação. Assim, esse arcabouço metodológico possibilita a leitura do

objeto a partir da relação entre verdade e subjetividade, que se ligam ao sujeito no âmbito da

história. Pelas análises, os discursos dessa referida campanha apresentam estratégias de

prevenção ao suicídio como verdades, com o objetivo de provocar um efeito de

convencimento no público em geral, principalmente naqueles sujeitos mais vulneráveis à

prática do suicídio. E essas verdades instauradas nos discursos panfletários, uma vez

convencendo esse público amplo, provoca um efeito de subjetivação desses sujeitos sobre a

prevenção ao suicídio.

Palavras-chave: Discurso. Verdade. Subjetivação.

O DISCURSO SUBJACENTE À NORMA DE DECISÃO JURÍDICA

Juliana Andrade

Renata Celeste

Universidade Federal de Pernambuco/FADIC

Page 58: CADERNO DE RESUMOS - files.cercomp.ufg.br

58

O Mapa da Violência de 2015 colocou o Brasil como o 5º país mais violento do mundo

quanto ao homicídio feminino e mostrou a mulher brasileira como vítima da “cultura do

estupro”, uma expressão nova para uma antiga prática do machismo, cuja ultima ratio é o

feminicídio. Essa cultura é disseminada por meio de discursos materializados em textos, cuja

recorrência cria uma ordem discursiva portadora de valores absolutos e não questionados.

Desse modo, as leis que visam proteger as mulheres, como a “Lei Maria da Penha” e a “Lei

do Feminicídio”, frequentemente não conseguem enquadrar os casos concretos, uma vez que

os operadores jurídicos estão mergulhados nessa ordem discursiva que naturaliza a violência

contra a mulher. A partir desse contexto, esta investigação pretende identificar essa ordem

discursiva que estabelece o machismo como valor a partir da análise de uma sentença

prolatada em setembro de 2017, em que a conduta do pai de uma menina de 13 anos,

espancada por ele por ter perdido a virgindade, foi avaliada como “corretiva”. A metodologia

orienta-se na análise crítica dos metaprincípios da CF/88 e dos postulados da “Lei Maria da

Penha”, e incide, por meio de um estudo de caso, na materialidade textual como reveladora

das práticas discursivas machistas, aplicando o conceito tridimensional do discurso

desenvolvido por Fairclough e os discursos de interdição de matriz foucaultiana. Da análise

crítica empreendida foi verificado que o ethos de dominação masculina do juiz “atropelou” os

comandos normativos, de reconhecida validade jurídica e não passíveis de múltiplas

interpretações, fazendo valer o discurso machista que suaviza a conduta do agressor,

encarando-a como uma forma de proteção à mulher e à adolescente vítima. Essa reflexão

levou, também, à percepção de que a violência de gênero não alcança uma resposta

sociojurídica eficaz apenas com a racionalização da lei.

Palavras-chave: Discurso machista. Michel Foucault. Decisão Jurídica.

UM ESTUDO HERMENÊUTICO DA TEMPORALIZAÇÃO NA ÉTICA DO

CUIDADO DE SI

Cristina Batista de Araújo

UFMT/CUA/LIMIAR-CNPq – UFU/ PNPD-CAPES

Uma relação ética do sujeito consigo mesmo e com outros é aquela que cria um

distanciamento capaz de produzir a percepção não coincidente entre si próprio em relação ao

“outro lugar” (FOUCAULT, 1998, 2006). Essa localização do sujeito é única e tal exercício

de distanciamento se inscreve em uma singularidade. Por considerar que não se pode partir de

uma universalidade homogênea e sistêmica, a noção de tempo, tomada como categoria

histórica, parece uma baliza inquestionável, pois, apesar de todas as semelhanças entre um

antes e um agora, a temporalização que inscreve o sujeito é irremediavelmente diferente e

irreversível, e cada distanciamento colocará em questão uma nova relação entre o tempo e o

sujeito (quer por sua variação, duração ou singularidade). Portanto, como estabilizar a ideia de

temporalização nos escritos de Foucault sobre o distanciamento necessário ao exercício

estético de existência? Sabe-se que a temporalização histórica associa-se, em certa medida, ao

que se discute sobre os aspectos relativos àquilo que possibilitou a prática discursiva, quer em

termos de enunciação quanto de condições de produção e de ordem do discurso. Supõe-se que

as ações humanas associadas à esfera sócio-histórica governam e organizam aquilo que se

pode chamar, em sentido amplo, de formas de existência (relativas, por exemplo, ao dever e à

moral), e que se manifestam tanto em espaços públicos formalizados quanto em espaços

privados experienciais. Desse modo, ao realizar, na estética da existência de Michel Foucault,

um estudo hermenêutico sobre a temporalização como uma operação historiográfica

Page 59: CADERNO DE RESUMOS - files.cercomp.ufg.br

59

(KOSELLECK, 2006), pretende-se contribuir para indagar como esse exercício ético pode

ocorrer diante das mais contemporâneas experiências que se apresentam como demandas de

nossa época.

Palavras-chave: Cuidado de si. Ética. Temporalização.

OS SIGNOS DA LOUCURA – CULTURA E FOUCAULT

Cleiton da Silva Rodrigues

Universidade Federal de Goiás – Regional Catalão

Prof.ª Dr.ª Luciana Borges

O presente artigo visa identificar e indagar os significantes que estiveram, durante toda a

historicidade humana, ligadas ao que em cada tempo específico e de modo atrelado à

perspectiva cultural que se tinha em dada época era interpretado como sendo loucura. Michel

Foucault trata a questão discorrendo sobre as diversas visões pelo qual a figura do louco

esteve ligada e relacionando-a ao modo como cada meio cultural a atribuía como algo

destoante ou inconcebível em sua cultura. Para tanto, a relação que se é estabelecida sobre o

entendimento que se há sobre loucura nos remete à assertiva frase de Raul Seixas: “A arte de

ser louco, é jamais cometer a loucura de ser um sujeito normal.” Sendo assim, é perceptível o

que afinal foi e ainda é interpretado como loucura, algo que apenas foge da normatividade

estabelecida em cada cultura em específico. A fala de razão, como tentativa de se estabelecer

uma possível explicação para o que seria uma identificação do louco, foi posteriormente

mostrada falha, pois como mesmo disse Foucault: “A loucura da loucura está em ser

secretamente razão.” (FOUCAULT, 1961). Entre tantas outras hipóteses que também

falharam em seu modo de buscar explicações para se compreender a loucura, aquela que se

refere à relação cultural ente a forma de o sujeito vivenciar e experimentar sua existência e as

virtudes culturais que estereotipam o indivíduo, se mostra como sendo a mais adequada, pelo

que se é observado e para aquilo que será mostrado no decorrer deste artigo. Foi utilizado

como suporte teórico o livro História da Loucura (1961) de Michael Foucault e Holocausto

Brasileiro (2013) de Daniela Arbex.

Palavras-chave: Loucura. Cultura. Foucault.