Caderno de produção e negócios

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NEGÓCIOS PRODUCÃO & ANO 1 - NÚMERO 31 RIO BRANCO, DOMINGO, 12.08.2012 Vencendo desafios Um sábio disse que numa caminhada de mil quilômetros, o passo mais importante é o primeiro. Estimulando o surgimento de pequenos negócios entre as pessoas que recebem bolsa família e outros benefícios sociais, o governo do Estado e seus parceiros impulsionam o desenvolvimento sustentável pela dignidade. Muitos que antes viviam abaixo da linha de pobreza hoje faturam pelo menos um salário mínimo mensal. A maioria está na faixa dos R$ 800 a 1.200 por mês, mas há casos em que a média do faturamento mensal já atinge R$ 4 mil e, no mundo dos negócios, o céu é o limite!

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NEGÓCIOSPRODUCÃO

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ANO 1 - NÚMERO 31RIO BRANCO, DOMINGO, 12.08.2012

Vencendo desafios

Um sábio disse que numa caminhada de mil quilômetros, o passo mais importante é o primeiro. Estimulando o surgimento de pequenos negócios entre as pessoas que recebem bolsa família e outros benefícios sociais, o governo do Estado e seus parceiros impulsionam o desenvolvimento sustentável

pela dignidade. Muitos que antes viviam abaixo da linha de pobreza hoje faturam pelo menos um salário mínimo mensal. A maioria está na faixa dos R$ 800 a 1.200 por mês, mas há casos em que a média do

faturamento mensal já atinge R$ 4 mil e, no mundo dos negócios, o céu é o limite!

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PRODUCÃO&

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NEGÓCIOSPRODUCÃO

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Juracy Xangai

Impulsionar os peque-nos negócios urbanos e rurais tocados em sua maioria por pesso-

as que recebem o bolsa família é o grande desafio que o governo do Estado começa a vencer para consolidar a sustentabilidade do Acre

Um dos maiores clássicos de economia mundial é o livro: “O negócio é ser pequeno” (Small is beautiful),com edição esgota-da neste Brasil tão dado à mega-lomania (mania de gigantismo).

Escrito no início da década de 60 pelo professor e então presidente da câmara de energia da Inglaterra E. F. Schumacher, é considerado o profeta das atuais crises econômicas causa-das sobretudo pela especulação financeira e, mais gravemente pela exploração desenfreada dos recursos naturais, contra o quê, propunha como remédio o apoio às propriedades familiares e aos micro e pequenos negó-cios como um modelo econô-mico mais justo e sustentável.

A criação da Secretaria Es-

tadual dos Pequenos Negócios (Sepn) veio para complementar as políticas sociais do Cadastro Único de Assistência ao Desen-volvimento Social (Cad) que re-úne informações sobre famílias carentes assistidas pelo Estado em Todo o Brasil. Nessa com-plementação, mais que doar o bolsa família para dar seguran-ça alimentar às famílias que es-tão abaixo da linha de pobreza, é preciso criar condições para que essas pessoas alcancem uma condição mínima de sobrevi-vência com dignidade fazendo melhor o que gostam e trans-formando isto num negócio que possa crescer e contribuir para o desenvolvimento social e eco-nômico do Acre.

A multiplicação do desafio

Ao longo de 2012, a equi-pe da Sepn conseguiu aten-der e distribuir equipamentos para 1.287 pequenos negócios familiares, associações e co-operativas que atuam em dez diferentes cadeias produtivas.

Essas cadeias envolve ativida-des como salões de beleza e ateliês de corte e costura, ar-tesanato, alimentação, doces e salgados, pedreiros, eletricistas e encanadores, roçadores, pani-ficadores, extração de óleos ve-getais, produção de sabão, pro-dução de mel de abelhas com e sem ferrão, além de hortas co-bertas e cozinhas comunitárias.

Todos os 1.287 negócios que receberam cursos, treinamen-tos e equipamentos ao longo de 2011 estão agora passando por um processo de incubação, sen-do visitados pelos consultores que a cada três meses vão veri-ficar o uso dos equipamentos e orientar a gestão dos negócios. Nesse processo orientam estes empreendedores a fortalecer seus pontos fortes e ajudam a corrigir falhas e carências para que o negócio tenha maior chance de sucesso.

Mas um novo fator, que não existia no início do ano passado, o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) veio reforçar esse es-tímulo aos pequenos negócios

como geradores de ocupação e renda focado no público do Cad Único.

Com isso o trabalho do go-verno do Estado através da Sepn, que atendeu os 1.287 pe-quenos negócios em 2011, mul-tiplicou sua meta para atingir 10 mil negócios neste ano de 2012, ampliando tanto o número quando o desafio de fazer estes pequenos negócios vingarem nos 22 municípios do Estado.

Foi preciso pedir a ajuda da internet

Para isso foi necessário re-correr à tecnologia dos tablets, através dos quais, os consulto-res irão lançando os dados de cada negócio que estão visitan-do e estas informações vão sen-do enviadas automaticamente por internet à central onde um programa especialmente desen-volvido para isso vai analisar as informações. Dessa análise o programa dispara de volta para o consultor as principais carên-cias do negócio e a necessidade dele dedicar mais um tempo à

orientação dessa iniciativa para que ela dê certo.

Também a cada três meses, esses empreendedores são con-vidados a participar de palestras motivacionais onde são estimu-ladas a acreditar mais nos seus negócios, além de trocar experi-ências que estão dando melho-res resultados. A constatação é de que na grande maioria dos casos os negócios passam pro problemas por causa da baixa auto-estima de alguns empreen-dedores, além de fatores como a falta de conhecimento técnico no ramo em que atua e proble-mas emocionais ou familiares.

Assim, além da realização de palestras, cursos, treinamentos e distribuição de equipamentos e máquinas, uma série de fatores internos e externos, mais as ha-bilidades e o interesse pessoal é que na verdade definem o suces-so ou o fracasso de um pequeno negócio, que do ponto de vista social gera mais de 80% de to-dos os empregos existentes no Brasil e é, sem dúvida alguma, o melhor distribuidor de renda para a população.

Filha de mãe cos-tureira, Kelane de Magalhães Marques, hoje

com 28 anos e quatro filhos passou anos cuidando da casa, do esposo e dos filhos na casinha fincada dentro do buritizal do Belo Jardim, onde conseguia uns trocados, vez ou outra fazendo conser-tos e remendas, às vezes uma encomenda e como ajuda para vencer as dificuldades em que vivia, passou a rece-ber o bolsa família.

A transformação de sua vida aconteceu no momento em que foi se inscrever para concorrer a uma das casas do Conjunto Recanto dos Buritis. Foi lá que durante a reunião com a assistente social, da qual participavam cerca de 20 mulheres em si-tuação semelhante à dela, que souberam da realização de cursos de corte e costu-ra, alimentação e manicure. “Fiquei logo animada para participar do curso de corte e costura porque sempre gostei de costurar, mas sem ter uma máquina fazia os consertos, remendos e até roupas in-teiras na mão mesmo. Das 20 mulheres, umas dez acei-

Já Francisca Bezer-ra, vizinha de Kela-ne no conjunto dos Buritis lembra que

antes de ir para o curso de corte e costura cuidava da casa e fazia faxina quando alguém lhe oferecia serviços e esse era todo o ganho que conseguia.

“Fui pro curso e não sa-bia nem colocar uma linha na agulha, achava muito bom, mas sou muito nervo-sa, por isso não levei jeito

O negócio é ser pequenoEstimulando o surgimento de pequenos negócios o governo do Estado vai trilhando

o caminho da sustentabilidade social e econômica

Corrente do Bem é um exemplo de como as atividades voluntárias podem contribuir para o desenvolvimento do Acre estimulando o surgimento de novos negócios geradores de renda

Aperfeiçoando habilidadespara aprender a fazer roupas, só que eu trabalho bem com a costura reta, por isso decidi que iria fazer toalhas, guar-danapos para vender. Então pequei R$ 15 do bolsa família e comecei minha produção”.

Dias depois comprou mais R$ 30 e, com as vendas, foi aumentando suas compras de tecidos progressivamente. “Minha filha participou do curso de pintura em tecidos e assim eu faço os guardanapos com a máquina Singer que

ganhei da Secretaria de pe-quenos negócios, minha filha pinta e eu faço o acabamen-to em crochê, o trabalho fica bonito, o dinheiro ainda não é muito, mas é importante pra gente que não ganhava nada. O importante mesmo é que a gente está vendendo cada vez mais!”

E afirma taxativamente: “Tenho duas filhas adoles-centes e agora não preciso mais pedir ao marido tudo o que precisamos!”Francisca combina suas habilidades com a da filha para ganhar dinheiro

Um difícil começo

taram participar dos cursos, eu fui durante três meses, lá aprendi a fazer beibidol, calci-nhas, calças, cuecas e camisas, foi muito bom, depois recebi uma máquina de presente, era o meu sonho!”

Instalada numa das casas construídas no conjunto Bu-ritis, Kelane não esconde a saudade do vento fresco que

vinha do buritizal onde vivia, mas agradece pela nova casa. “Lá era muito gostoso, mas a casa estava pra cair e a gente não tinha dinheiro para cons-truir uma nova, aqui a casa é nova e muito boa. Com a má-quina que recebi resolvi fazer calcinhas, cuecas e roupas de dormir, acho que acertei na escolha porque o que mais

vende são as calcinhas, cuecas e beibidois, principalmente pras meninas. Faço as roupas, penduro na varanda, as pesso-as que passam vêem e com-pram, com isso já consigo uma média de R$ 300 a 400 reais por mês, pode não pa-recer muito, mas agora já não tenho de pedir ao meu mari-do tudo que eu e as meninas

precisamos, porque agora, eu tenho meu dinheiro!”

Animada foi vender seus produtos na Expoacre, onde além das vendas diretas, rece-beu várias encomendas. “Eu quero me desenvolver, por isso meu sonho é montar meu ateliê de costura e sei que com meu trabalho vou conseguir!”

Kelane realizou o sonho de aprender a costurar e hoje faz disso o negócio que está mudando a vida de sua família para melhor

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Vanderluzia Fir-mino de Souza, 30 anos, mãe de três filhos

lembra que logo que casou atendia amigos e vizinhos costurando na mão para ga-nhar algum dinheiro. O ma-rido reconheceu seu esforço e apesar das dificuldades con-seguiu comprar uma máqui-na de costura para ela poder fazer o que gostava, que era costurar para fora, com o tempo ela mesma já compra-va uma Singer Zig-zag profis-sional.

Mas apesar dos esforços do casal, a renda ainda era baixa e sendo incluídos no bolsa família, surgiu a opor-tunidade dela fazer um curso de corte e costura. “Quando disseram que eu tinha sido uma das escolhidas para par-ticipar do curso, aproveitei bem mesmo, aprendi a fazer acabamentos, calça, saia e roupas sociais. No começo tinha pouco dinheiro, então comprei uns retalhos e come-cei a fazer cuecas, calcinhas e, principalmente roupas para crianças porque os tecidos eram pequenos. Logo des-cobri que o pessoal compra-va muita calcinha e cuecas, além de roupas de dormir e fui produzindo cada vez mais, preparo uma quantida-de de peças, ponho a sacola na garupa da bicicleta e saio vendendo pras amigas ou ba-tendo de porta em porta nos bairros”.

Orgulhosa de seu trabalho,

Trabalhando como zeladora de uma das escolas do bair-ro Seis de Agosto,

Sirlene Rodrígues de Souza Aya-che dedicava as horas de folga a fazer pés e mãos de suas clientes para acrescentar mais dinheiro ao salário, mas que era ainda in-suficiente para garantir uma vida melhor para seus filhos.

“As coisas não estavam fáceis, então recebia o bolsa família e fiz o primeiro curso de manicure e cabeleireiro na Casa Rosa Mu-lher. A partir daí minhas clien-tes aumentaram e colocava meu filho Diego pra me ajudar e fui ensinando ele!”

Quando soube do curso de cabeleireiro oferecido pela Se-cretaria de Pequenos Negócios Vanderluzia inscreveu o filho de 17 anos para participar do trei-namento. “Eu morria de vergo-nha, meus amigos ficavam me alugando dizendo que tinha vi-rado gay porque estava fazendo o curso de cabeleireiro, então eu fugia das aulas, só ia mesmo se o pai me levasse, mas depois fui tomando gosto pelo aprender e já ia soczinho mesmo”, recorda Diego que complementa: “Agora trabalho tranqüilo, tenho dinhei-ro para sair com meus amigos e namorar à vontade!”

Com cadeiras e equipamen-

tos cedidos pela Secretaria dos Pequenos Negócios, mãe e filho alugaram um ponto e criaram o salão Lua Morena onde ele atende a clientela masculina e ela a feminina. “Aqui a gente faz cortes masculinos e femininos, colorimetria, química, selagem, escova progressiva e definitiva, o que mais os clientes quiserem, além dos cortes, o que mais pe-dem é a selagem. Hoje tenho orgulho do nosso trabalho aqui no salão, com ele a gente vem fa-turando uma média de R$ 4 mil por mês, às vezes mais. Eu estou terminando o terceiro ano e me preparando para fazer o curso de engenharia!”

“Fui ven-der na Expoa-cre e lá

foi a minha vitória!” Afirma ela empolgada com os re-sultados de seu trabalho de artesã que teve início como terapia ocupacional quando estava se tratando de um câncer. A atividade a ajudou a vencer a doença e acabou se transformando no negó-cio de sua vida.

Ela lembra que sua vida foi arrasada pela doença que a obrigou a abandonar a fa-culdade de psicologia, bem como outras duas filhas trancaram suas faculdades para economizar o dinhei-ro necessário ao tratamento feito em Goiânia para onde partiu com apenas R$ 100 no bolso.

“Passei muita dificuldade e não via solução pra lado nenhum. Um dia conver-sando com o pastor da mi-

nha igreja ele me disse que Deus ia me dar inspiração para sair daquela situação. Eu estava pra baixo mesmo, mas no dia seguinte eu pe-guei R$ 50 fui ao comércio e comprei materiais para fa-zer artesanatos que eu acha-va bonito, mas nunca tinha feito. As pessoas gostaram do meu trabalho, hoje faço lembrancinhas para casa-mento, decoro igrejas, ces-tas para bebê, de tudo um pouco e, graças ao apoio que venho recebendo do governo conquistei novos espaços para vender!”

Um desses espaços foi o estande na Expoacre onde vendeu mais de R$ 10 mil e com o dinheiro está refor-mando a casa, melhorando o ateliê e transformando parte da moradia numa igreja. “Tenho de mostrar minha gratidão a Deus pela vitória que estou receben-do!”

Lua Morena

Sirlene e Diego, mãe e filho, parceiros no salão, faturam R$ 4 mil por mês

Apoio é fundamentalAlém de receber treinamentos, os pequenos empreendedores precisam do apoio familiar para trabalhar

ela conta que: “A gente mora-va numa casinha de madeira que já estava muito velha, daí aproveitamos uma parte do di-nheiro das roupas e do salário de meu marido, que trabalha no frigorífico, pra ir compran-

do tijolos, cobrimos a casa, co-locamos piso nela toda, ainda faltam os acabamentos, mas estamos de casa nova!”

Vanderluzia que sempre morou no Areal da Corrente recorda que desde que co-

meçou a costurar gostava de fazer roupas íntimas como calcinhas, cuecas e pijamas. “Vendo tudo o que faço, o pessoal gosta porque é bom e barato, minha mãe que mora em Acrelândia também cos-

tura, então mando parte da minha produção pra ela ven-der e as encomendas estão aumentando cada vez mais, Meu sonho é montar uma confecção para produzir mui-to mesmo!”

Vanderlúzia especializou-se na produção de cuecas e calcinhas que vende de bicicleta e quer crescer para ter uma confecção industrial Artesanatos da HelenaArtesã faturou mais de R$ 10 mil durante a Expoacre e está aplicando o dinheiro na transformação de sua vida

Artesã mostra orgulhosa o carro que conseguiu comprar com dinheiro do artesanato

Helena é duplamente vencedora, graças ao artesanato venceu o câncer e com os seus trabalhos faturou R$ 10 mil na Expoacre

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PRODUCÃO&NEGÓCIOS

PRODUCÃO&

Fundada em nove de junho de 2001 a Cooperativa Mista do Quina-

ri, Coopernari, começou com um grupo de pessoas que pro-duziam doces, salgados, arte-sanatos e outros produtos. Ela foi resultado de um trabalho iniciado há mais de 20 como associação e veio evoluindo até se transformar num ne-gócio alternativo gerador de ocupação e renda.

A formação da cooperati-va foi impulsionada quando foi aplicada a lei que limitava o número de funcionários da prefeitura, cuja folha podia corresponder a, no máximo, 60% de seu orçamento. Isso levou à demissão de mais de 300 funcionários da prefei-tura de Senador Guiomard e o desemprego levou muitos deles a buscar outra forma de garantir o sustento da família.

Lucy Maria Coimbra atu-al presidente da Coopernari lembra que as pessoas sim-plesmente não entendiam o

Há 14 anos a costurei-ra Elizabete dos Santos

da Silva tomou uma decisão radical que foi abandonar a cidade e embrenhar-se num dos lotes do Projeto de As-sentamento Caquetá para fugir da marginalidade urba-na que a assustava.

“Trabalhei costurando e consertando roupas duran-te vários anos sem conse-guir me desenvolver porque naquele tempo as coisas eram bem mais difíceis e os pequenos negócios não tinham apoio. Também por-que queria livrar meus filhos da marginalidade, evitar que fizessem aquelas tatuagens, usar piercing e drogas, deu certo, mas para poder es-tudar três deles hoje mo-ram na cidade, mas gostam mesmo é daqui. Sempre que conversamos um deles está inclinado a criar gado de lei-te, outro quer trabalhar com peixes e só a menina que está aqui comigo gosta mes-mo é da horta!”

A horta coberta doada

Depois de pas-sar anos tra-balhando num dos lotes de

18 hectares do Projeto de As-sentamento Álcool Verde Rai-mundo Valdeci Mota e Maria Eudócia procuraram o Incra com a proposta de abrir mão da colônia de Capixaba para serem reassentados no Projeto de Assentamento Baixa Verde onde os lotes tem apenas três hectares.

“Aqui no baixa verde os lo-tes são muito menores que o da Álcool verde, mas lá a gente produzia as verduras e trazia para vender em Rio Branco, mas quando chegava aqui elas já estavam murchar e pouca gente queria, então decidimos que era melhor ter uma terra menor onde conseguisse apro-veitar melhor a produção”, ex-plica Valdeci.

Já no Baixa Verde foram

beneficiados com a doação de uma horta coberta e completa-mente equipada pela Secretaria dos Pequenos Negócios que nesta ação trabalha em parceria com a Seaprof.

O produtor esclarece que: “Esta horta coberta nos ajudou muito, nela produzimos couve, alface, pimenta ardosa e de cheiro, coentro e cebolinha du-rante o inverno. Aqui também plantamos maxixe, pepino e outras verduras e mudas de fru-tas como laranja e limão. Com parte do dinheiro nós constru-ímos um viveiro para aumentar a produção de mudas de frutas e até das verduras. Agora mes-mo acabei de entregar cinco mil mudas de melancia para o Peteline que com a família de-les são os maiores produtores aqui do projeto. Tenho certeza de que a gente acertou na troca dos lotes porque o resultado a gente sente no bolso!”

A força do trabalho coletivoCooperativa Mista do Quinari reúne homens e mulheres em atividades variadas que geram renda

que era uma cooperativa. “A maioria entendia que a coo-perativa ia dar emprego a elas,

por isso tivemos reuniões em que compareceram mais de 350 pessoas, explicamos que

o cooperado é sócio de uma empresa coletiva que vai ga-nhar de acordo com o traba-

Sócios da Coopernari receneram equipamentos da Sepn para montar sua cozinha coletiva

lho que realizar, restaram 150 para os treinamentos e a fun-dação mesmo aconteceu com 30 pessoas das quais hoje res-tam 22, que vem se dedicando principalmente as atividades da alimentação e artesanato!” Esclarece.

Ainda sem uma sede pró-pria, a Coopernari está basea-da na casa de Lucy que trans-formou a sala principal em loja de produtos e na cozinha estão também o fogão, forno, batedeira industrial além de outros equipamentos e instru-mentos de cozinha recebidos da Secretaria de pequenos ne-gócios.

“Nosso projeto é construir ou alugar um espaço próprio na área central da cidade para vender bolos, doces, biscoitos e outros produtos regionais que as pessoas tanto gostam. Apesar de termos 20 anos de existência e muitas conquistas, o trabalho coletivo exige muita paciência e luta para consolidar um negócio que já está distri-buindo renda para as pessoas!”

Mudança pra melhorHorticultor mudou-se de Capixaba para o Projeto de Assentamento Baixa Verde para ficar mais perto dos consumidores

Vadeci e Eudócia trocaram de lote para produzir mais e vender melhor ainda

Horta dos sonhosCostureira deixou a cidade para melhorar sua qualidade de vida e defender os filhos das drogas e da violência

pela Secretaria de Pequenos negócios foi construída no início deste ano e já fatura uma média de R$ 600 por mês com a venda de sua produção para o Programa de Aquisição de Alimen-tos do governo federal que atende as escolas de Porto Acre,

Quando me ofereceram a horta, eu indiquei três ou-tras pessoas porque naquele momento estava doente, fa-zendo três sessões de hemo-diálise por semana e assim não podia trabalhar, mas o Ezequiel que secretário da agricultura de Porto Acre insistiu que eu recebesse porque ia ficar boa para tra-balhar. Deu certo, hoje es-tou bem, trabalho, produzo e toda segunda-feira o cami-nhão da prefeitura vem bus-car verduras para a merenda escolar!”

Animada com os resulta-dos ela já faz novos planos. “Quero aproveitar o açude para criar peixes, aumentar a horta para produzir outros alimentos como a cebola de cabeça e pimentão”. Elizabete tem na horta a esperança de melhorar as condições de vida de sua família

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A ONG Comu-nidade Cor-rente do Bem conta com 30

voluntários que atuam em comunidades de toda Rio Branco, destacando-se os bairros Tucumã, Joafra, Rui Lino e Mocinha Magalhães onde instalaram-se no Centro Comunitário ensinando 30 costureiras enquanto outras 50 esperam na fila sua vez de aprender.

“Nosso trabalho aqui no mocinha foi iniciado no co-meço de 2012 com o apoio das costureiras voluntárias Maria do Carmo, Cláudia, Alessandra, Ilma e Marinês e o negócio deu tão certo que a gente já realiza uma feirinha aqui em frente ao centro co-munitário todo final de mês que é quando o pessoal rece-be os pagamentos!” Explica Leonardo de Alencar Barbo-sa Fleming.

Com as roupas para adul-tos e crianças, além de sandá-lias, bolsas e outros produtos feitos pelas costureiras que participam do grupo, eles foram vender na Expoacre onde sete mulheres se reve-zavam no atendimento aos clientes que visitavam seu es-tande.

“A gente fez um arraial onde cada uma trouxe uma

Corrente do BemONG criada em 2007 com o objetivo de estimular ações voluntárias de incentivo aos pequenos

negócios já atendeu mais de mil famílias

prenda, tinha comidas, doces, salgados e até roupas para vender e para o leilão, foi um sucesso e com o dinhei-

ro a gente comprou tecidos com que produzimos parte das roupas que vendemos na Expoacre. Digo que era parte das roupas porque na maior parte trabalhamos com reta-lhos e peças de tecido doadas pela Malharia MM e pelos amigos voluntários e assim estamos construindo nosso capital!” Esclarece a vice pre-sidente da Corrente do Bem, Ruth Expedito da Silva.

A iniciativa voluntária e o trabalho comunitário são apoiados pela Secretaria de Pequenos Negócios que ce-deu dez máquinas para que possam trabalhar. Ruth expli-ca que: “A maioria das costu-reiras trabalha aqui no Centro Comunitário e nosso foco é a produção de roupas infantis para aproveitar bem os reta-lhos!”

Com isso, as costureiras já faturam uma média de R$ 300 a 500 reais por mês. Nes-te momento elas trabalham no preparativo da festa do Dia das Crianças que no ano passado atendeu 300 delas e agora quer beneficiar qui-nhentas

Mas com a ampliação dos

serviços junto as comunida-des, a Corrente do Bem pre-cisa de mais voluntários, por isso estará realizando a partir das três horas da tarde do dia oito de setembro no Colé-gio Armando Nogueira um cadastramento para receber novos voluntários, os quais, precisam ter idade mínima de 15 anos e quem participar do cadastramento vai concorrer a um tablet DL Smart T-704.

“Consideramos que nosso trabalho já está consolidado na Capital, por isso queremos expandir para todos os mu-nicípios do Acre no ano que vem!” Afirma Leonardo.

Voluntária do bem

Marinês Feitosa de Almeida é daquelas mulheres ativas que costura, faz artesanato, agora está aprendendo a fazer flores e é uma das costureiras volun-tárias da Corrente do Bem que dedica parte de seu tempo a ensinar as mulheres que traba-lham no Centro Comunitário do Mocinha Magalhães.

“Desde criança eu gos-to mesmo de trabalhar, de manhã costuro em casa, à tarde venho pro Centro Co-munitária e à noite vou pro curso aprender a fazer flo-res ali na rua da Melancia, é muito bom estar ocupada!” Afima ela explicando que: “Quando a gente ensina, a gente também aprende mui-to porque as pessoas fazem perguntas sobre coisas que a gente nunca tinha pensado. Eu vivo mesmo da costura, faço e conserto roupas, faço bolsas e artesanato, com isso ganho u ma média de mil reais por mês, então vale a pena!”

Já Rosilene Soares da Silva que é uma de suas aprendi-zes de costureira explica que: “Estou aqui há dois meses, não tinha a menor idéia de como era costurar, então tive de aprender a colocar como é que a máquina funciona, os cuidados com ela, como colocar a linha corretamen-te e costurar, Agora já faço um monte de coisas, mas sei que tenho muito a aprender, quando fizer isso vou fazer roupas sociais”.Rosilene não sabia nem colocar a linha na agulha e agora costura

Mulheres se reúnem para aprender costura e ganhar dinheiro no Mocinha

Marinês ensina com prazer