Caderno de campo para a disciplina - geografia.fflch.usp.br · Onde a cobertura florestal foi...

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA Caderno de campo para a disciplina FLG 0252 - Geomorfologia II. Professoras responsáveis: Bianca Carvalho Vieira e Cleide Rodrigues. Trabalho de campo com destino à cidade de São Paulo e à Serra do Mar, a ser realizado no dia: 2/12/07. Saída: 07h30m

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULOFACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS

DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA

Caderno de campo para a disciplinaFLG 0252 - Geomorfologia II.

Professoras responsáveis:Bianca Carvalho Vieira e Cleide Rodrigues.

Trabalho de campo com destino à cidade de São Paulo e à Serra do Mar, a ser realizado no dia: 2/12/07.

Saída: 07h30m

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Grande São Paulo – Morfologia Original

Exemplo das planícies fluviais meândricas.

Sintese da Estrututa Geologica

Morros de embasamento cristalino com padrão urbano residencial de classe pobre. Estagio de implantação ou perturbação ativa. Local: Guarapiranga. Foto: CARMO, W. (1997

Morros e morrotes de embasamento cristalino com padrão residencial de classe pobre e estagio consolidado. Local: Billings. Foto: Garcia, A.

Expansão Urbana e Unidades Geomorfólogicas

Grande São Paulo Morfologia Antropogênica

Região de Mananciais-Guarapiranga – Morfologia Original

ACOMPANHANDO AS MUDANÇAS POR INTERMÉDIO DA GEOMORFOLOGIA

Bacia Hidrografia do Ribeirão Guavirutuba

Este ponto e representativo do contexto de transgressão legal das áreas Protegidas pela Lei de Proteção aos mananciais de 1976 e para a compreensão de um processo de apropriação urbana recorrente nos morros e morrotes de embasamento cristalino Pré-Cambriano das décadas de 1970, 1980 e 1990. E significativo não só pela possibilidade de compreensão dos efeitos geomorfológicos que esse processo de apropriação urbana inaugura, como também pela qualidade de vida a ele relacionada, com profundas dificuldades para solucionar, dentre outros problemas, a questão da moradia e do saneamento básico.

A bacia do Ribeirão Guavirutuba e uma Bacia de 3ª ordem, localizada na margem esquerda da bacia de Guarapiranga, represa essa atualmente responsável pelo abastecimento de 3,7 milhões de pessoas o que representa 20% da população da Grande São Paulo. As características morfológicas e geológicas podem ser visualizadas nas FIGURAS 6 e 7. Predominam terrenos como micaxistos e migmatitos Pré-Cambrianos nos quais foram dissecadas vertentes em geral declivosas, apresentando topos plano-convexos, vertentes poli-côncavas e policonvexas e planície aluvial ao longo do canal principal.

Bacia hidrográfica de Guavirutuba. Geologia

Fonte: LIMA, C.R. (1990)

Bacia Hidrográfica de Guavirutuba. Morfologia Original

Fonte: LIMA, C.R. (1990)

Região de Mananciais - Guarapiranga – Morfologia Antropogênica

Em vertentes com tais características e principalmente a partir da década de 1970, generalizou-se o processo de ocupação irregular nos piores terrenos por loteamentos de classe pobre ou por favelas em fundo de vale. Essa combinação de fatos, em que a população pobre tenta solucionar sua grande demanda por moradia e na medida de seus recursos financeiros e culturais, promove, no que se refere ao meio físico, uma das mais complexas e ativas combinações morfodinâmicas. LIMA, C.R. (1990) apontou em seu mapeamento e SILVA (2005) confirmou a maior atividade morfodinâmica das vertentes e sistemas fluviais submetidos a esse padrão de intervenção urbana em um de seus estágios específicos. Por meio de cartografia geomorfológica retrospectiva SILVA (2005) relacionou o crescimento das áreas de urbanização com as áreas de assoreamento (colmatagem) nos remansos de duas bacias hidrográficas com diferentes formas de intervenção, chegando a taxas representativas da intervenção urbana.

Correlação da área urbanizada e crescimento do assoreamento (colmatagem) no remanso da bacia hidrográfica de Guavirutuba

Fig.9: Correlação da área urbanizada e crescimento do assoreamento (colmatagem) no remanso da bacia hidrográfica de do Ribeirão

Jaceguay

GeologiaO embasamento rochoso é constituído por rochas

metamórficas de idade pré-cambriana, rochas graníticas e rochas cataclásticas, além de rochas intrusivas mesozóicas. Na baixada, ocorrem depósitos inconsolidados da formação Cananéia, e aluviões subatuais. O substrato rochoso metamórfico esta subdividido em duas grandes unidades, representadas pelo grupo Açungui (ProterozóicoSuperior), e constituído pelos complexos Embu e Pilar do Sul, e pelo complexo Costeiro (Arqueano). Essa duas unidades distribuem-se em dois blocos justapostos e delimitados pela zona de falhamentotranscorrente de Cubatão, de direção NE-SW. As baixadas litorâneas foram originadas essencialmente pela acumulação de sedimentos marinhos e mistos resultantes das oscilações quaternárias do nível do mar, e sedimentos continentais, provenientes da própria erosão das escarpas serranas. As formas correspondentes são terraços fluviais e marinhos, praias, planícies aluviais e planície de maré.

Rede de drenagemAs principais bacias hidrográficas são as dos rios

Itanhaém, Cubatão, Moji, Quilombo, Jurubatuba e Boturora, das quais as três primeiras se desenvolvem nos três grandes compartimentos do relevo: planalto, escarpas serranas e baixada costeira. As demais drenam apenas os dois últimos compartimentos. Destaca-se o profundo entalhe do rio Itanhaém, devido à menor resistência dos migmatitos estromatíticos de paleossoma xistoso que aí ocorrem. A bacia do rio Cubatão apresenta alta densidade, com padrões angular e em treliça, ainda que o embasamento formado por migmatitos estromatíticos, com paleossoma gnáissico e oftalmíticos da borda do planalto restrinja a ação da morfogênese. O vale é assimétrico, com afluentes maiores pela margem esquerda, que drenam a escarpa da serra.

A Serra do Mar

Modelo representando a Serra do Mar e a planicielitoranea na regiao de Cubatao (SP). Destacada com uma linha tracejada esta a zona de falhamento transcorrente onde estao encaixados os rios Cubatao e Mogi.

Origem e evolução da escarpaDevem ser considerados os fatores tectônicos e climáticos. Os primeiros relacionam-se à tectônica de

rifts, já mencionada, que produziu um conjunto de falhas escalonadas desde a Bacia de Santos até as bacias continentais (ALMEIDA, 1976; HASUI et al., 1978, in Jorge, 1986). Nesse contexto a Serra do Mar é uma escarpa de linha de falha (ALMEIDA 1953, 1964; AB’SÁBER, 1954, in JORGE, 1986), recuada das estruturas que lhe deram origem através de sucessivas fases de morfogênese, com predomínio dos processos de pedogênese, com ação generalizada do escoamento superficial e rastejo nas partes elevadas das vertentes.

Na faixa do Planalto (800-830m) predomina a ação generalizada do escoamento não concentrado e nas partes mais íngremes, o rastejamento. Nas áreas onde ocorre ocupação (terraplanagem, aterros, etc.) háconcentração do escoamento e desenvolvimento de ravinas. Entre 750-770m ocorrem escorregamentos freqüentes associados a episódios de pluviosidade elevada, como permitem observar as fotografias aéreas e imagens de satélite. Os escorregamentos são de dois tipos: planares ou translacionais, onde a espessura do solo é menor, e rotacionais, que se desenvolvem nas maiores espessuras das alterações e do solo. Estes são, porém, mais raros. O entalhe fluvial é processo importante, demonstrado pelo perfil em V dos vales, e por sua profundidade. Note-se que as restritas planícies sedimentares estão também entalhadas pelos cursos d’água.

Nas vertentes da escarpa o remanejamento dos materiais acontece por causa do rastejamento, escorregamentos e quedas de blocos, uma vez que a ação do escoamento é dificultada pela cobertura vegetal. O rastejo é o movimento lento e superficial do horizonte superior do solo, e está associado à variação de volume dos materiais sob efeito das mudanças de umidade e da temperatura, da gravidade, e do próprio peso da vegetação que o solo suporta. Este processo é generalizado, e evidências de sua ação são encontradas tanto nas vertentes retilíneas quanto nos topos e altas vertentes convexas com diferentes declividades.

Mosaico de fotografias aereas da Fachada Atlantica da escarpa da Serra do Mar em Cubatao (SP). Fonte: INPE (1985)

Os escorregamentos também ocorrem de forma generalizada; sua intensidade e freqüência são condicionados pela pluviosidade. Os mais freqüentes resultam basicamente da retirada da cobertura vegetal e dos horizontes superficiais do solo e, mais esporadicamente, dos horizontes profundos da rocha alterada. Na maioria dos casos, portanto, são movimentos superficiais, de tipo planar, de até 1.0-2.0m de profundidade e afetando áreas de poucos metros quadrados. Desenvolvem-se a partir do topo dos interflúvios e nas cabeceiras de drenagem, na borda do planalto. A partir dos pontos do topo dos interflúvios e nas cabeceiras de drenagem, na borda do planalto. A partir dos pontos de ruptura, os escorregamentos ampliam-se e mobilizam o material das unidades retilíneas e convexas das vertentes de alta declividade. O material transportado fica acumulado em parte nas saliências da vertente, enquanto as maiores quantidades acumulam-se nas concavidades e fundos de vales. Onde a cobertura florestal foi retirada, o escoamento superficial generalizado, e inclusive o concentrado, modela a superfície, enquanto o material depositado nos vales é remobilizado pelas torrentes. Onde a espessura dos materiais é maior, podem ocorrer movimentos rotacionais de ruptura profunda, envolvendo grande quantidade de material; contudo, são restritos e localizados no sopé das vertentes com recobrimento importante de materiais inconsolidados.

Além dos processos de rastejo e escorregamento, é comum a ocorrência de quedas de blocos, limitada a áreas - bastante restritas – de vertentes retilíneas rochosas. Nelas, a conjugação dos sistemas de juntas de fraturamentocom xistosidades da rocha favorece o desprendimento dos blocos, que se acumulam no sopé das vertentes formando caos de blocos ou campos de matacões. É também importante a ação das águas pluviais, que concentram-se rapidamente devido à forte declividade das vertentes. Esse escoamento concentrado adquire caráter torrencial com grande competência morfogenética, demonstrada pela profundidade dos entalhes, onde, com freqüência, aflora o embasamento. Esses canais apresentam forte controle estrutural, condicionados pelo sistema de juntas dominantes. A carga que eles transportam - de seixos atématacões – testemunha também esta ação importante; outro efeito freqüente é o solapamento do sopé das vertentes,que pode ocasionar tanto escorregamentos como quedas de blocos. De modo geral, o efeito do transporte das torrentes serranas é freado no limite escarpa/planície costeira, devido à brusca queda de gradiente. Depositando-se aí a maior parte dos sedimentos grosseiros. A intensa morfogênese provocada pelas torrentes é responsável pelo entalhe e recuo da borda do Planalto.

Exemplo de escorregamentos generalizados. Cubatao, 1985.

Foto:Arquivo IPT.

Os processos morfodinâmicos na Baixada Litorânea são deposicionais, sendo que a erosão ocorre apenas ao longo dos canais principais. Nos morros isolados ocorrem sulcos, rastejo e escorregamentos, cujos mecanismos são semelhantes aos assinalados anteriormente.

Principais Referencias

AB`SABER, A. N. (1957) Geomorfologia do sitio urbano de São Paulo. Tese (Doutorado). Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. Universidade de São Paulo. São Paulo.

ABGE Associação Brasileira de Geologia de Engenharia (1980) Aspectos geológicos e geotecnicos da Bacia Sedimentar de São Paulo. Publicação Especial. São Paulo ABGE.

ALMEIDA, F.F.M. de (1964) Fundamentos do relevo paulista. Bol. Inst. Geogr. Geol., 41. pp.169-263.

_________________(1976) The system of continental rifts bordering the Santos Basin. In: INTERNACIONAL SYMPOSIUM ON CONTINENTAL MARGINS OF ATLANTIC TYPE, São Paulo, 1975. An. Acad. Bras. Ci., São Paulo, 46 (supl), pp.15-26.

HASUI, Y.;GIMENEZ, A.F. & MELO, M.S. (1978) Sobre as bacias trafogênicas continentais do Sudeste Brasileiro. In: Congresso Brasileiro de Geologia, 30. Recife, 1978. Anais...Recife, SBG.v1, pp.382-392.

JORGE, F.N. de (coord) (1986) Programa Serra do Mar – Levantamentos básicos nas folhas de Santos e Riacho Grande, Estado de São Paulo. IPT, Relatório 23.394, v1, 42p.

LIMA, C.R. (1990) Urbanização e intervenções no meio físico na borda da Bacia Sedimentar de São Paulo: Uma abordagem geomorfológica. Dissertação (Mestrado) Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas,Universidade de São Paulo, São Paulo.

RODRIGUES,C.;COLTRINARI,L. (2004) Geoindicators of urbanization effects in humid tropical environment: São Paulo (Brazil) Metropolitan Área. Florença: 32 International Geological Congress.

SILVA, J. de P. (2005) Expansão urbana e evolução geomorfológica em remansos de reservatórios: Análise comparativa de duas bacias hidrográficas em Guarapiranga. Dissertação (Mestrado) Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo.