Cacto Gesso
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UNIVERSIDADE DE BRASLIA - UnB
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO - FAU
PROGRAMA DE PS-GRADUAO PPG/FAU
MESTRADO EM ARQUITETURA E URBANISMO
ESTUDO DE FIBRAS VEGETAIS, MUCILAGEM DE CACTO E
GESSO EM COMPONENTES CONSTRUTIVOS
ANA CRISTINA TINCO VEROSA DE MAGALHES
_____________________________________________________________________________ Braslia/DF
Maio de 2009
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UNIVERSIDADE DE BRASLIA - UnB
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO - FAU
PROGRAMA DE PS-GRADUAO PPG/FAU
MESTRADO EM ARQUITETURA E URBANISMO
ESTUDO DE FIBRAS VEGETAIS, MUCILAGEM DE CACTO E
GESSO EM COMPONENTES CONSTRUTIVOS
ANA CRISTINA TINCO VEROSA DE MAGALHES
ORIENTADOR: PROF. DR. JAIME GONALVES DE ALMEIDA
DISSERTAO DE MESTRADO EM ARQUITETURA E URBANISMO, REA DE TECNOLOGIA
_____________________________________________________________________________
Braslia/DF Maio de 2009
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ii
UNIVERSIDADE DE BRASLIA
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO - FAU
PROGRAMA DE PS-GRADUAO PPG/FAU
MESTRADO EM ARQUITETURA E URBANISMO
ESTUDO DE FIBRAS VEGETAIS, MUCILAGEM DE CACTO E
GESSO EM COMPONENTES CONSTRUTIVOS
ANA CRISTINA TINCO VEROSA DE MAGALHES
Dissertao de Mestrado submetida ao Programa de Ps Graduao/Curso de Mestrado da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Braslia, como parte integrante dos requisitos necessrios obteno do Grau de Mestre em Arquitetura e Urbanismo, rea de concentrao em Tecnologia.
Banca Examinadora:
_______________________________________ Prof. Dr. Jaime Gonalves de Almeida
Presidente da Banca (FAU / UnB)
_______________________________________
Prof. Dr. Notrio Saber Jos Dafico Alves Membro Externo (EEC UEG / UCG)
_______________________________________
Dr. Divino Eterno Teixeira Membro Externo (SFB / MMA)
Braslia - DF, 21 de maio de 2009.
-
FICHA CATALOGRFICA
M188 Magalhes, Ana Cristina Tinco Verosa de
Estudo de fibras vegetais, mucilagem de cacto e gesso em componentes construtivos / Ana Cristina Tinco Verosa de Magalhes. Braslia: UnB / Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, 2009.
xvii, 123f. : il.
Orientador: Professor Doutor Jaime Gonalves de Almeida
Dissertao (mestrado) Universidade de Braslia. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Programa de Ps-Graduao em Arquitetura e Urbanismo, 2009.
1. Bambu. 2. Coco. 3. Compsito. 4. Pasta. 5. Sisal. 6. Material de Construo Alternativo Tese. I. Universidade de Braslia. II. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. III. Programa de Ps-Graduao em Arquitetura e Urbanismo. IV. Almeida, Jaime Gonalves de. V. Ttulo.
CDU: 691
-
iii
DEDICATRIA
Dedico esta Dissertao aos meus pais
Albino e Hlman e ao meu filho Rodrigo
que sempre me apoiaram e ajudaram na
realizao deste projeto. Obrigada!
-
iv
AGRADECIMENTOS
Agradeo a Deus pela vida, pelas oportunidades e pela famlia que tenho.
Agradeo aos meus pais Albino Verosa de Magalhes e Hlman Maria Tinco
Verosa de Magalhes pela vida, pela sade e pelo amor. Agradeo a veia
pesquisadora que recebi de ambos. Agradeo ao meu filho Rodrigo Tinco
Magalhes Cavalcante o apoio, o estmulo e a ajuda neste projeto e a
compreenso no tempo dedicado a esta pesquisa.
Agradeo ao Professor Jaime Gonalves de Almeida pela dedicao e zelo na
orientao deste trabalho. Obrigada pelo apoio, incentivo e por acreditar na
pesquisa de uma planta to inusitada. Agradeo as aulas recebidas e os
ensinamentos de uma filosofia de vida mais simples e de bom senso.
Agradeo a ajuda recebida do Professor Jos Dafico Alves nas sugestes,
dvidas esclarecidas, apoio nos ensaios realizados, incentivo e aos e-mails to
prontamente respondidos. Agradeo os esclarecimentos do Professor Andrs
Torres-Acosta quanto utilizao do cacto em argamassas e concretos.
Agradeo o apoio de meus irmos Srgio e Ricardo e de suas famlias e o
apoio recebido dos Tios Getlio, Paulo, Celina, ngela e Marlene.
Agradeo Professora Suely Gonzales pelos ensinamentos de arquitetura,
planejamento urbano e de vida, ao longo dos anos, e Professora Amlia
Cavalcante por ensinar a enxergar a beleza da vida nas pequenas atitudes.
Agradeo aos meus antigos chefes de Fiscalizao Antnio de Pdua e Paula
Cristina que apoiaram desde o princpio a realizao deste mestrado, ao atual
chefe Pettinate pelo apoio e compreenso e a Edson Anunciao (Gerente de
Recursos Humanos do GDF), que providenciou minha licena para esta
capacitao. Agradeo tambm aos colegas da fiscalizao que me apoiaram.
Agradeo Universidade Catlica de Gois e a Sr. Jos Alves de Freitas,
Diretor do Departamento de Engenharia Civil, pela autorizao para os ensaios
de flexo e, tambm, a Divino Gabriel Lima Pinheiro, Tcnico do Laboratrio,
pelos ensaios e pela preciosa ajuda.
-
v
Agradeo aos Professores Jlio Eustquio e Mrio Rabello e ao tcnico Joo
Evangelista Anacleto do Laboratrio de Produtos Florestais LPF pela
autorizao, disponibilidade e auxlio nos ensaios de absoro.
Agradeo a Sr. Antnio Salgado, da ITAPAG, e a Sr. Geraldo Margella e Sr.
Fbio Vidal, da CEPASA, pela ateno e envio das fibras de bambu.
Agradeo Janete, Luiz, Patrcia Grooscors, Benson Gunyanyi e amiga
teacher Clarissa Sivestre Pedro do Instituto Latino Americano de Lnguas ILAL.
Agradeo a D. Leonor, amante dos cactos, que me ensinou muito sobre as
cactceas e inclusive a admirar estas plantas to extraordinrias.
Agradeo, ainda, a Sr. Francisco Catunda e Sra. Conceio Cruz de Souza
que gentilmente doaram os cactos utilizados nesta pesquisa.
Agradeo o apoio e incentivo recebido dos amigos, ao longo desta jornada, de
Simone vila, Juliane Berber, Prado Catunda, Alda Carvalho, Dominique
Cortz, Serli Nbrega, Jana Ferrantino, Ana Cludia Dormann, Vera
Meneguzzo, Juan Guilln Salas, Candice e Ferdnando Cavalcanti, Vitria,
Talita da Silva S, Lauro Silva e Luis Zeferino.
Agradeo a Marlcia, Eleudo, Denise e Luciana, do Centro de Pesquisa e
Aplicao de Bambu e Fibras Naturais CPAB, pela ajuda nas horas mais
urgentes e aos professores de Extenso Luciano, Joo e Adoniran pelas aulas,
ensinamentos e incentivo. Nas anlises estatsticas agradeo Maria Inez
Machado T. Walter e Cora Maria B. de Santana, ambas do DATA-UnB.
Agradeo Professora de Qumica Maria Jos pelos esclarecimentos.
Agradeo a Rafael Taveira Oliveira (estudante de qumica bacharelado), a
Carlos Henrique Silveiro (qumico responsvel pela FEsQ) e a Teles Moozer
(graduando em qumica licenciatura). Agradeo a Andr Luis Cavalcante
Tcnico responsvel da Agncia Nacional do Petrleo ANP.
Agradeo aos funcionrios da secretaria da Ps-Graduao da FAU Joo
Borges, Raquel Xavier, Francisco Jnior e Anderson Luis e, tambm, a dson
Carlos, funcionrio da Diretoria de Assuntos Acadmicos DAA/FAU.
E por fim, agradeo a oportunidade de estudar na Universidade de Braslia,
uma Universidade Pblica, Gratuita e de Qualidade.
-
vi
SUMRIO
LISTA DE FIGURAS viii
LISTA DE TABELAS xi
LISTA DE ABREVIATURAS xiv
RESUMO xvii
ABSTRACT xvii
INTRODUO 01
1 REVISO DE LITERATURA 07
1.1 FIBRAS VEGETAIS 07
1.1.1 Fibra de Bambu 13
1.1.2 Fibra de Sisal 17
1.1.3 Fibra de Coco 22
1.2 CACTO 25
1.2.1 Cactceas 26
1.2.2 Usos da Opuntia 28
1.2.3 Uso do Cacto na Construo 30
1.3 GESSO 37
1.3.1 Aspectos Gerais 38
1.3.2 Gesso Acartonado 44
1.3.3 Reciclagem do Gesso 47
2 MATERIAIS E MTODOS 51
2.1 CACTOS OPUNTIA E NOPALEA 51
2.1.1 Cacto em P (OP, NP e NPN) 53
2.1.2 Cacto em gua Natural (OAN e NAN) 54
-
vii
2.1.3 Cacto em gua Quente (OAQ e NAQ) 55
2.1.4 Cacto em P em gua Natural (OPAN, NPAN e NPNAN) 56
2.2 GESSO 56
2.3 FIBRAS DE BAMBU, DE SISAL E DE COCO 57
2.4 PREPARAO DAS PASTAS E DOS COMPSITOS DE GESSO 59
2.5 PREPARAO DOS CORPOS-DE-PROVA 61
2.6 ENSAIO DE ABSORO 62
2.7 ENSAIO DE FLEXO 63
2.8 TESTES ESTATSTICOS 64
3 RESULTADOS 65
3.1 PASTAS DE GESSO 65
3.1.1 Testes Estatsticos do Ensaio de Absoro das Pastas 73
3.1.2 Testes Estatsticos do Ensaio de Flexo das Pastas 75
3.2 COMPSITOS DE GESSO 76
3.2.1 Testes Estatsticos do Ensaio de Absoro dos compsitos 83
3.2.2 Testes Estatsticos do Ensaio de Flexo dos compsitos 86
4 ANLISE DOS RESULTADOS 89
4.1 - MUCILAGEM E ABSORO DE GUA DAS PASTAS 89
4.2 RESISTNCIA FLEXO DAS PASTAS 94
4.3 - ABSORO DE GUA DOS COMPSITOS 97
4.4 - RESISTNCIA FLEXO DOS COMPSITOS 100
5 CONCLUSES 102
6 RECOMENDAES 105
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS 106
ANEXOS 114
-
viii
LISTA DE FIGURAS
Figura 01: Clula individual da fibra vegetal 09
Figura 02: Fibra: aglomerado de clulas 10
Figuras 03, 04 e 05: Colmos de Dendrocalamus asper 13
Figura 06: Resultados do ensaio de compresso simples do compsito bambu-
cimento 15
Figura 07: Agave sisalana 18
Figura 08: Resistncia Compresso em corpos-de-prova sem fibras e com fibras
de sisal com diferentes tratamentos 21
Figura 09: Cocos nucifera L. 22
Figura 10: Braso de armas do Mxico 25
Figura 11: Desenho de Tecnochtitln. Pintura mural localizada no Museu Nacional
de Antropologia, Mxico, 1930 25
Figura 12: Claddio com frutos e espinhos do gnero Opuntia, espcie no
identificada 26
Figura 13: Claddio com flores e gloqudios - Nopalea cochenillifera 26
Figura 14: Variaes dos nveis de acares e de cido mlico em folhas isoladas
de Sedum, um tpico vegetal suculento 28
Figura 15: Figo da ndia 29
Figura 16: Claddio com cochonilha (Dactylopius coccus), cochonilha seca e
moda (no prato) 29
Figura 17: Vista de Chan-Chan, Peru 30
Figura 18: Detalhe das runas de Chan-Chan 30
Figura 19: Viscosidade do extrato de cacto 35
Figura 20: Minerador extraindo gipsita da bacia do serto do Araripe, Pernambuco
39
Figura 21: Curva de hidratao de uma pasta de gesso 42
Figura 22: Consumo anual de placas de gesso acartonado no Brasil 45
-
ix
Figura 23: Plantao de Cacto Opuntia fcus-indica, em Joo Pessoa, para
alimentao do gado 51
Figura 24: Cacto Nopalea cochenillifera encontrado na UnB 51
Figura 25: Raquetes de Opuntia fcus-indica, com dimenses mdias de 30 cm de
largura por 40 cm de comprimento 53
Figura 26: Raquetes de Nopalea cochenillifera verdes, com dimenses mdias de
15 cm de largura por 25 cm de comprimento 53
Figura 27: Raquete de Nopalea cochenillifera naturalmente seca, com dimenses
de 8 cm de largura por 15 cm de comprimento 53
Figura 28: Cactos verdes colocados em estufa 54
Figura 29: Cactos secos antes de serem retirados da estufa 54
Figura 30: Recipiente contendo gua natural com pedaos de cacto aps dois dias
de repouso 55
Figura 31: Mucilagem extrada em gua natural sendo peneirada 55
Figura 32: Cacto colocado em panela com gua e levado ao fogo 55
Figura 33: Mucilagem extrada aps 30 minutos de fervura dos cactos 55
Figura 34: Polpa de bambu 58
Figura 35: Fibra de sisal inteira, em fardo 58
Figura 36: Fibra de coco limpa e cortada com 2 cm de comprimento,
aproximadamente 58
Figura 37: Mistura homognea da pasta com mucilagem em gel 60
Figura 38: Molde para a confeco dos corpos-de-prova: compensado, plstico e
madeira envernizada 61
Figura 39: Prateleiras revestidas por plstico onde foram colocados os corpos-de-
prova e diariamente virados para uma cura homognea 61
Figura 40: Corpos-de-prova colocados em tanque com gua, logo aps a imerso
62
Figura 41: Corpos-de-prova em tanque aps alguns minutos 62
Figura 42: NAN 50 S e fator am/g 0,60 78
Figura 43: NAN 50 S e fator am/g 0,55 78
-
x
Figura 44: NAN 50 C e fator am/g 0,60 78
Figura 45: NAN 50 C e fator am/g 0,65 78
Figura 46: Compsito de gesso e fibras de coco, fator a/g de 0,85 80
Figura 47: Compsito de gesso, superplastificante Glenium 51 e fibras de sisal,
fator a/g de 0,40, mistura homognea 80
Figura 48: Cacto Opuntia cortado transversalmente 89
Figura 49: Cacto Nopalea cortado em pequenos fragmentos 89
Figura 50: Corpo-de-prova com 100% de Nopalea em gua Natural, 1 extrao
90
Figura 51: Corpo-de-prova com 50% de Nopalea em gua Natural, 2 extrao
90
Figura 52: Ensaio de flexo em corpo-de-prova do gesso acartonado e sua
deformao 96
Figura 53: Linha de fratura na parte posterior do corpo-de-prova do gesso
acartonado 96
Figuras 54 e 55: Corpo-de-prova da pasta OAQ 50 antes e aps ensaio de flexo
96
Figuras 56, 57 e 58: Compsitos de gesso com fibras de bambu e trao de 1:0,50,
trao de 1:0,60 e trao adequado de 1:0,70 98
Figura 59: Fissura em corpo-de-prova de compsito com fibras de bambu, aps
ensaio 101
Figura 60: Corpo-de-prova de compsito com fibras de bambu quebrado por fora
manual 101
Figura 61: Corpo-de-prova de compsito com fibras de sisal, aumento da trinca por
fora manual, aps ensaio 101
Figura 62: Corpo-de-prova de compsito com fibra de coco, aps ensaio de flexo,
a fissura foi aumentada por fora manual 101
Figura 63: Corpo-de-prova de compsito com fibras de sisal, quebrada em duas
partes, por fora manual 101
-
xi
LISTA DE TABELAS
Tabela 01: Caractersticas fsicas e mecnicas de fibras vegetais, amianto e
polipropileno 09
Tabela 02: Propriedades da estrutura de fibras vegetais 10
Tabela 03: Resistncia compresso em corpos-de-prova cilndricos, resistncia
flexo em vigas de fibro-cimento e absoro de gua em compsitos
com 5% de volume de fibras e fator a/c de 0,43 19
Tabela 04: Ensaio de flexo em telhas de argamassa, argamassa com arame e
argamassa com sisal ou coco 23
Tabela 05: Consistncia, massa unitria da pasta e resistncia
flexo/compresso em amostras com 0% de extrato de cacto (R),
amostras com 50% de extrato de cacto (R50) e amostras com 100% de
extrato de cacto (R100) 31
Tabela 06: Teste de congelamento e descongelamento de amostras com 0% de
extrato de cacto (R), amostras com 50% de extrato de cacto (R50) e
amostras com 100% de extrato de cacto (R100) colocadas em soluo
saturada de Cloreto de Sdio 32
Tabela 07: Resistncia compresso simples em corpos-de-prova cbicos de 50 x
50 x 50 mm 33
Tabela 08: Mdia da massa unitria do gesso, a partir de trs medies, NBR
12127/91 65
Tabela 09: Massa resultante dos cactos Opuntia e Nopalea coados aps 30
minutos em gua quente e aps dois dias de repouso em gua natural
65
Tabela 10: Peso inicial e final dos cactos colocados em estufa, durante 36 horas
100C 65 Tabela 11: Quantidade de material utilizado nas pastas contendo mucilagem em
gel 67
Tabela 12: Quantidade de material utilizado nas pastas contendo cacto em p
67
-
xii
Tabela 13: Quantidade de material utilizado nas pastas controle e com
impermeabilizante 67
Tabela 14: Massa unitria de cada tipo de pasta misturada 68
Tabela 15: Mdia da Absoro de gua dos corpos-de-prova com 14 dias de
moldagem 69
Tabela 16: Quantidade de material utilizado nas pastas de gesso com 50% de
impermeabilizante, gesso com superplastificante e gesso com
mucilagem em gel (2 extrao) 70
Tabela 17: Massa unitria das pastas de gesso com impermeabilizante,
superplastificante e mucilagem em gel (2 extrao) 71
Tabela 18: Mdia da Absoro de gua dos corpos-de-prova das pastas de gesso
contendo 50% de impermeabilizante, superplastificante e mucilagem em
gel (2 extrao) 71
Tabela 19: Mdia da Resistncia Flexo dos corpos-de-prova das pastas de
gesso 72
Tabela 20: Resultado estatstico da Absoro de gua (%) dos corpos-de-prova
moldados com pastas de gesso, utilizando o teste SNK 74
Tabela 21: Resultado estatstico da Resistncia Flexo (MPa) dos corpos-de-
prova moldados com pastas de gesso, utilizando o teste SNK 75
Tabela 22: Massa do cacto Nopalea coado aps dois dias de repouso em gua
natural 76
Tabela 23: Peso inicial e final do cacto colocado em estufa, durante 36 horas
100C 77 Tabela 24: Quantidade de material utilizado nos compsitos contendo mucilagem
em gel 77
Tabela 25: Quantidade de material utilizado nos compsitos contendo cacto em p
(estufa) 79
Tabela 26: Quantidade de material utilizado no compsito controle e no compsito
com adio de superplastificante Glenium 51 79
Tabela 27: Massa unitria das pasta preparadas para os compsitos 80
Tabela 28: Mdia da Absoro de gua dos corpos-de-prova dos compsitos
81
-
xiii
Tabela 29: Mdia da Resistncia Flexo dos corpos-de-prova dos compsitos
82
Tabela 30: Resultado estatstico da Absoro de gua (%) dos corpos-de-prova
dos compsitos, utilizando o teste SNK 84
Tabela 31: Resultado estatstico da Absoro de gua (%) dos corpos-de-prova
dos compsitos com fibras de bambu, utilizando o teste SNK 84
Tabela 32: Resultado estatstico da Absoro de gua (%) dos corpos-de-prova
dos compsitos com fibras de sisal, utilizando o teste SNK 85
Tabela 33: Resultado estatstico da Absoro de gua (%) dos corpos-de-prova
dos compsitos com fibras de coco, utilizando o teste SNK 85
Tabela 34: Resultado estatstico da Resistncia Flexo (MPa) dos corpos-de-
prova dos compsitos, utilizando o teste SNK 87
Tabela 35: Resultado estatstico da Resistncia Flexo (MPa) dos corpos-de-
prova dos compsitos com fibras de bambu, utilizando o teste SNK
87
Tabela 36: Resultado estatstico da Resistncia Flexo (MPa) dos corpos-de-
prova dos compsitos com fibras de sisal, utilizando o teste SNK
88
Tabela 37: Resultado estatstico da Resistncia Flexo (MPa) dos corpos-de-
prova dos compsitos com fibras de coco, utilizando o teste SNK
88
-
xiv
LISTA DE ABREVIATURAS
a.C. antes de Cristo
a/g quantidade de gua sobre o peso do gesso
am/g quantidade de gua e mucilagem sobre o peso do gesso
ANOVA Anlise de Varincia
B Fibra de Bambu
BID Banco Interamericano de Desenvolvimento
C Fibra de Coco
CAF Concreto Armado com Fibras
CAM Crassulacean Acid Metabolism
CEPASA Celulose e Papel Pernambuco
CEPED Centro de Pesquisas e Desenvolvimento
cm - centmetro
CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente
CPs Corpos-de-Prova
CP II E 32 Cimento Portland Composto com Escria de Alto Forno
CP II F 32 Cimento Portland com adio de Filler Calcrio
CP V ARI Cimento Portland de Alta Resistncia Inicial
dm - decmetro cbico
G - Gesso
GB Gesso e fibra de bambu
GC Gesso controle
GCc Gesso e fibra de coco
g/cm - grama por centmetro cbico
g/dm - grama por decmetro cbico
GI 10 - Gesso com 10% da gua de amassamento de impermeabilizante.
GI 50 Gesso com 50% da gua de amassamento de impermeabilizante
-
xv
GP Gesso superplastificante
GPa Giga Pascal
GPB Gesso, superplastificante e bambu
GPC Gesso, superplastificante e coco
GPS Gesso, superplastificante e sisal
GS Gesso e fibra de sisal
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
INMET Instituto Nacional de Meteorologia
IPT Instituto de Pesquisas Tecnolgicas do Estado de So Paulo
kg/dm - Quilograma por decmetro cbico
kgf/cm - Quilogramas-fora por centmetro quadrado
kg/m - Quilograma por metro cbico
LPF Laboratrio de Produtos Florestais
mL - mililitro
mm - milmetro
MMA Ministrio do Meio Ambiente
MPa Mega Pascal
N Newton
NAN Nopalea em gua Natural
NAN 2 - Nopalea em gua Natural, segunda extrao
NAQ Nopalea em gua Quente
NBR Norma Brasileira
NP Nopalea em P (estufa)
NPN Nopalea em P Natural
NPNAN Nopalea em P Natural em gua Natural
N/mm - Newton por milmetro quadrado
OAN - Opuntia em gua Natural
OAQ Opuntia em gua Quente
-
xvi
ONU Organizao das Naes Unidas
OP Opuntia em P (estufa)
pH Potencial Hidrogeninico
PNAD Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios
PNSB Pesquisa Nacional de Saneamento Bsico
PNUD Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento
RU Placa de gesso acartonado Resistente Umidade
S Fibra de Sisal
SFB Servio Florestal Brasileiro
SNK Student Newman Keuls
t - tonelada
UnB Universidade de Braslia
Unicamp Universidade Estadual de Campinas
USP Universidade de So Paulo
m - Micrmetro
- Teta
-
xvii
RESUMO
Neste trabalho, foram estudados trs diferentes materiais: fibras
vegetais (fibras de bambu, de sisal e de coco), gesso e mucilagem dos cactos
Opuntia ficus-indica e Nopalea cochenillifera. A mucilagem do cacto Nopalea
possui propriedades aditivas tal como o cacto Opuntia. A mucilagem
adicionada s pastas de gesso possibilitou a reduo do trao e aumento do
tempo de pega, permitindo a elaborao de uma pasta consistente e, nos
corpos-de-prova elaborados com estas misturas, os melhores resultados nos
ensaios de absoro e flexo. Nos compsitos de gesso com fibras vegetais,
os melhores resultados nos citados ensaios foram obtidos nos compsitos com
adio de superplastificante, em todas as fibras pesquisadas. Nos resultados
encontrados foram aplicados os testes estatsticos ANOVA e SNK.
Palavras-Chave: Bambu, Coco, Compsito, Material de Construo
Alternativo, Pasta e Sisal.
ABSTRACT
In this work, three distinct materials were analyzed: vegetal fibers
(bamboo, sisal and coconut fibers), plaster and cactuses mucilage of Opuntia
fcus-indica and Nopalea cochenillifera. The mucilage of the Nopalea cactus
has additive properties as well as the Opuntias cactus mucilage. When added
to plaster, mucilage provided trace reduction and improvement in hardening
time, allowing the elaboration of a consistent paste and, in the test samples
produced with this mixtures, the best results in the absorption and flexibility
tests. As for the plaster with vegetal fibers compounds, the optimal results
during the mentioned essays were obtained in the compounds with super-
plastifier added, in all fibers that were studied. Statistical tests ANOVA and SNK
were applied on the results.
Keywords: Bamboo, Coconut, Composite, Alternative Building Material, Paste
and Sisal.
-
1
INTRODUO
O ser humano utiliza os recursos que a natureza disponibiliza,
transformando-os segundo as suas necessidades. Entretanto, o homem tem
explorado esses recursos de forma predatria e provocado alteraes na
natureza. A poluio do ar e da gua, o aquecimento global, diminuio de
florestas, extino da flora e da fauna, dentre outros nos tm indicado que o
modo de vida do homem precisa ser revisto. A reao da natureza ao desgaste
ambiental provocado pelo homem mostra uma urgente reviso de suas atitudes
e a conscientizao dos danos que ainda so reversveis ao planeta.
Segundo a ONU Organizao das Naes Unidas (2007), a partir
de 2008, metade da populao mundial ser urbana. No Brasil, segundo o
censo realizado pelo IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
(2000), 81,20% da populao vivem em rea urbana e 18,80% em rea rural.
Tal adensamento populacional demanda maior nmero de habitaes e mais
infra-estrutura nas cidades. O estudo realizado pela Fundao Joo Pinheiro
(2006), baseado nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios -
PNAD 2005, em parceria com o Ministrio das Cidades, o Banco
Interamericano de Desenvolvimento - BID e o Programa das Naes Unidas
para o Desenvolvimento PNUD - estimou o dficit habitacional brasileiro em
7,9 milhes de domiclios. E deste dficit, 90,3% referem-se populao com
renda mdia familiar mensal de at trs salrios mnimos.
A grande concentrao de pessoas nas cidades tambm demanda
mais oportunidades de emprego, e a construo civil uma atividade que
possibilita o desenvolvimento econmico e social, porm consumidora de
matria-prima e geradora de resduos, ocasionando impactos ambientais. O
volume de entulho gerado pela construo civil de difcil mensurao, porm
baseado no trabalho de Pinto (2005), o municpio de So Paulo gerou em torno
de 55% dos resduos slidos urbanos. Segundo a Pesquisa Nacional de
Saneamento Bsico - PNSB (2000), realizado pelo IBGE, o Brasil produzia
228.413 toneladas de lixo diariamente. Desses resduos, 36,18% foram
-
2
depositados em aterros sanitrios, 37% em aterros no adequados e 21,15%
em lixes, gerando grandes problemas ao meio ambiente.
A quantidade de entulho gerada pela construo civil tem
impulsionado diversas pesquisas para o seu reaproveitamento e o
desenvolvimento de materiais alternativos, como a utilizao de fibras vegetais
indica que os profissionais relacionados a este setor esto cada vez mais
preocupados com o problema ambiental.
As fibras vegetais so um material sustentvel e proveniente de
plantas nativas de diferentes zonas climticas, que, quando adicionadas em
componentes construtivos, favorecem a leveza do material, permitem baixo
custo em sua produo, alm de melhorar as propriedades mecnicas destes
componentes, principalmente a resistncia ao impacto. O estudo destas fibras
constitui, tambm, uma alternativa substituio das fibras de amianto (fibra
mineral), que devido aos problemas de sade causados pela sua extrao e
manuseio (asbestose), teve sua proibio decretada em alguns pases.
Dentre as fibras vegetais pesquisadas, destacam-se as fibras de
bambu, de sisal e de coco, incorporadas em pastas e argamassas de cimento,
gesso ou cal, formando compsitos. Os compsitos so elaborados por dois
tipos de materiais: a matriz, que confere estrutura, e o reforo, que aumenta
suas propriedades mecnicas. O objetivo principal em ser produzido um
compsito o de combinar diferentes materiais para produzir um componente
com propriedades superiores aos dos materiais isolados.
Nos compsitos base de cimento e com fibras vegetais, foi
verificada, por pesquisadores, a decomposio dessas fibras devido ao meio
alcalino provocado pela pasta de cimento, diminuindo a resistncia do material
com o tempo. Neste trabalho, proposta a utilizao do gesso, que possui pH
neutro.
O gesso produzido atravs da calcinao e desidratao do
mineral gipsita, em temperaturas relativamente baixas (140C - 150C),
liberando gua na atmosfera. Com estas caractersticas, o gesso um
aglomerante menos agressivo ao meio ambiente, se comparado fabricao
do cimento, que alm de exigir altas temperaturas para sua produo (1.400C
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3
a 2.000C), libera grande quantidade de gs carbnico na atmosfera devido
combusto necessria para sua calcinao e descarbonatao da sua
matria-prima. Alm disso, o gesso apresenta excelente resistncia ao fogo,
devido sua decomposio a baixas temperaturas e contribui para o equilbrio
da umidade relativa do ar em ambientes fechados, devido facilidade de sua
absoro de gua.
No Brasil, a maior utilizao do gesso em forros, revestimentos e
em paredes divisrias (placas), chamadas de gesso acartonado. O consumo
das placas de gesso acartonado tem aumentado devido facilidade e rapidez
em sua instalao, e so constitudas por um ncleo de gesso recoberto nos
dois lados por papel do tipo Kraft, que propicia estabilidade aos painis.
A principal desvantagem do gesso sua dissoluo em gua,
devendo ser evitado seu contato, ou adicionado ele aditivos,
impermeabilizantes ou hidrofugantes como o caso do gesso acartonado
resistente umidade. Desta forma, neste trabalho, proposta a adio de um
impermeabilizante natural, encontrado no cacto Opuntia ficus-indica.
O cacto Opuntia ficus-indica possui internamente um gel, uma
substncia viscosa, chamada de mucilagem. Essa mucilagem permite planta
reter internamente gua, aumentando sua resistncia s altas temperaturas. O
cultivo do cacto pouco exigente quanto ao tipo de solo e quantidade de
gua disponvel, como as regies ridas ou semi-ridas. No nordeste brasileiro,
o plantio de Opuntia ou palma forrageira serve como alimento de animais
bovinos e caprinos.
A mucilagem pode ser adicionada em pastas e argamassas de
gesso, cal ou cimento, melhorando a resistncia desses materiais em funo
de suas propriedades aditivas (impermeabilidade e aumento da resistncia
mecnica). A mucilagem tambm aumenta sua trabalhabilidade, permitindo a
diminuio da quantidade de gua na mistura, o que poderia favorecer os
compsitos com fibras vegetais, visto que as fibras so higroscpicas
(absorvem gua) e o aumento desta gua resulta em componentes mais
frgeis. Outro aspecto favorvel est no fato da mucilagem ser uma substncia
orgnica, natural e de baixo custo.
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4
Em Braslia, regio desta pesquisa, facilmente encontrado outro
tipo de cacto, Nopalea cochenillifera, que apresenta internamente um gel
semelhante mucilagem encontrada no cacto Opuntia, e, por esta razo, foi
realizada comparao entre ambos os cactos quanto s suas propriedades.
Nesta dissertao, foram identificadas duas formas diferentes de
adio da mucilagem de cacto nas pastas de gesso: em forma de gel e em p.
Diante disto, inicialmente foram elaboradas pastas de gesso com estas
mucilagens, e posteriormente, foram elaborados compsitos de gesso com
mucilagens e fibras vegetais (fibras de bambu, de sisal e de coco). Tambm
foram elaboradas pastas e compsitos de gesso controle, com apenas gua, e
com adio de impermeabilizante ou superplastificante. Em todas as misturas
foram moldados corpos-de-prova, que foram submetidos aos ensaios de
absoro e flexo.
O objetivo principal deste trabalho contribuir para o
desenvolvimento de tecnologias construtivas utilizando matria-prima de
reduzido impacto ambiental: elaborado com materiais naturais (fibras vegetais
e mucilagem de cacto) e adicionados a um aglomerante comercial (gesso),
visando favorecer construes mais econmicas e populares. Em funo das
propriedades aditivas da mucilagem e dos aspectos higroscpicos (absoro
de gua) das fibras vegetais, esta pesquisa estudou o comportamento de
ambas, no gesso, quanto sua estanqueidade e resistncia mecnica, com
base nas Normas Brasileiras referentes ao gesso e ao gesso acartonado.
Dentre as fibras vegetais utilizadas em componentes construtivos,
foram selecionadas trs fibras mais acessveis pesquisa em questo: as
fibras de bambu, de sisal e de coco. A utilizao das fibras do sisal e do coco
justifica-se em funo dos resduos existentes na produo do sisal, no baixo
aproveitamento das fibras de coco e o baixo custo de ambas. A utilizao das
fibras do bambu justifica-se pelas suas qualidades e propriedades de fibras
longas e resistentes, utilizadas na fabricao de papel tipo Kraft.
Os objetivos especficos podem ser resumidos nos seguintes itens:
a) Revisar literatura acerca das fibras vegetais (em destaque s
fibras de bambu, de sisal e de coco), da mucilagem do cacto e do gesso;
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b) Ensaiar mtodos de extrao da mucilagem do cacto;
c) Realizar anlise comparativa dos cactos Opuntia ficus-indica e
Nopalea cochenillifera;
d) Comparar resultados de absoro e de flexo dos corpos-de-
prova das pastas de gesso com mucilagem, pasta de gesso controle (gesso e
gua) e pastas de gesso com impermeabilizante ou superplastificante;
e) Comparar resultados de absoro e de flexo dos corpos-de-
prova dos compsitos de gesso, fibras vegetais e mucilagem, do compsito de
gesso controle (gesso, fibras vegetais e gua) e do compsito de gesso, fibras
vegetais e superplastificante;
f) Analisar se a mucilagem de cacto adicionada em pastas e
compsitos diminui a absoro de gua e aumenta a resistncia mecnica nos
corpos-de-prova;
g) Comparar as fibras utilizadas (bambu, sisal e coco), analisando os
resultados dos ensaios de absoro e de flexo dos corpos-de-prova;
h) Comparar a quantidade de gua necessria (trao) nas pastas
preparadas, e nos compsitos, considerando nestes, o tipo de fibra.
Esta dissertao est estruturada em seis captulos, a saber:
No Primeiro Captulo apresentada a reviso bibliogrfica, sendo
este captulo subdividido em trs partes. A primeira parte contm uma reviso
geral da utilizao das fibras vegetais em componentes construtivos e em
seguida, mais especificamente, as fibras de bambu, de sisal e de coco. A
segunda parte apresenta aspectos gerais das cactceas e, em seguida, sua
utilizao na construo. E, na terceira parte, apresenta o gesso e sua principal
aplicao, o gesso acartonado.
Os materiais e mtodos utilizados nesta pesquisa so apresentados
no Segundo Captulo. Os dois tipos de cactos utilizados so descritos e as
diferentes formas de extrao de sua mucilagem e incorporao nas misturas.
So tambm apresentados o gesso e as fibras vegetais (bambu, sisal e coco),
suas caractersticas e quantidade (peso ou volume) a ser incorporada nos
compsitos. Em seguida, so apresentadas a forma como foram misturadas as
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pastas e os compsitos e as dimenses dos corpos-de-prova. Encontra-se,
neste captulo, a descrio dos ensaios de absoro e de flexo e dos testes
estatsticos utilizados.
No Terceiro Captulo so apresentados os resultados das medies
da massa unitria do gesso utilizado e das pastas misturadas. So
apresentados a quantidade de material utilizado e os traos necessrios para
os objetivos propostos das pastas de gesso e dos compsitos de gesso. So
apresentados, tambm, os resultados dos ensaios de absoro e flexo dos
corpos-de-prova, moldados com diferentes misturas de pastas e compsitos. E,
por fim, os resultados encontrados so interpretados segundo dois diferentes
testes estatsticos.
No Quarto Captulo apresentada a discusso a respeito dos
resultados encontrados e observaes acerca do trabalho desenvolvido, no
Quinto Captulo, as concluses, e no Sexto Captulo as recomendaes para
trabalhos futuros.
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1 - REVISO DE LITERATURA
1.1 FIBRAS VEGETAIS
A utilizao de materiais fibrosos para componentes construtivos
antiga, porm seu emprego em escala industrial ocorreu no incio do sculo
XX, com o amianto, uma fibra mineral. O cimento-amianto foi patenteado, em
1900, por Ludwig Hatscheck que utilizou o mesmo processo de fabricao do
papelo e produziu placas para coberturas, tornando-se em poucas dcadas,
um material de construo muito empregado. Para Petrucci (1982), a larga
utilizao do amianto se deve sua baixa massa especfica, alta resistncia
trao, elevada resistncia a agentes agressivos, alm de ser um bom isolante
trmico.
Para Agopyan (1988, p.37), a finalidade do reforo de um material
com fibras (compsitos) melhorar as resistncias trao e flexo de uma
matriz frgil e aumentar sua resistncia ao impacto e:
a maior utilidade das fibras de reforo em matrizes frgeis, como
pastas de gesso ou cimento, argamassas e concretos, o
comportamento do compsito depois da fratura ter-se iniciado. A
ductilidade ps-fratura que as fibras conferem ao material o fator
que destaca o comportamento deste material compsito em relao
aos outros. (AGOPYAN, idem, p. 37).
A matriz frgil e as fibras deformam-se elasticamente at a fissura
da matriz, sob ao de esforos mecnicos. Aps essa fissura, toda a carga
transmitida s fibras que mantm o material em uso devido ao comprimento de
ancoragem. O colapso do compsito ocorre com o rompimento das fibras ou
seu escorregamento da matriz.
Atualmente, muitas pesquisas com fibras buscam uma alternativa ao
cimento-amianto, devido aos problemas de sade causados na extrao e no
uso do amianto. As fibras vegetais aparecem como uma alternativa para sua
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8
substituio e para o desenvolvimento de componentes alternativos fibrosos,
destinados s construes rurais e de interesse social, pelo baixo custo.
Segundo Cook (apud SAVASTANO JNIOR, 1986), as fibras
vegetais podem ser subdivididas em quatro grupos: fibras provenientes da
folha (fibra de sisal), do talo (juta e rami), do lenho (bambu e cana-de-acar) e
fibras superficiais (camada protetora de caules, folhas, frutos e sementes,
como as fibras do coco e do algodo, principais fibras de semente, e as fibras
de piaava, protetora das folhas).
As caractersticas dessas fibras e o comportamento nos compsitos
so fatores importantes para a melhoria do desempenho desses componentes.
As principais caractersticas macroscpicas das fibras vegetais, (Tabela 01, p.
09), relacionadas no comportamento de compsitos, segundo Griffin (apud
SAVASTANO JNIOR et al., 1997a), so:
a) Dimenses a relao entre comprimento e dimetro das fibras
influencia na transferncia de esforos para a matriz, chamado de ndice de
enfeltramento. Quanto maior esse ndice, maior a aderncia entre fibra e
matriz. Este ndice tambm indica que as fibras de coco so fibras curtas,
enquanto as fibras de sisal e bambu so fibras longas. E, a seo irregular das
fibras e seu aspecto fibrilado influenciam na ancoragem junto a matrizes;
b) Volume de vazios e absoro de gua interferem negativamente
na relao gua/aglomerante da matriz, pois ocorre grande absoro de gua
nos primeiros instantes, entumecimento, e posterior retrao. O volume de
vazios, porm, contribui para menor peso, maior absoro acstica e menor
condutibilidade trmica dos componentes;
c) Resistncia trao semelhante, em mdia, das fibras de
polipropileno;
d) Mdulo de elasticidade as fibras vegetais possuem baixo
mdulo de elasticidade, o que contribui para trabalharem no estgio ps-
fissurado com grande absoro de energia e resistncia a esforos dinmicos.
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Tabela 01 Caractersticas fsicas e mecnicas de fibras vegetais, amianto e polipropileno.
Propriedades
Massa espec. real (kg/m)
Absoro Max. (%)
Alongam. na ruptura
(%)
Resistncia trao (MPa)
Md. de elast. (GPa)
ndice Enfeltra- mento
Coco (Cocos nucifera) 1.177 93,8 23,9 a 51,4 95 a 118 2,8 35,0 Sisal (Agave sisalana) 1.370 110,0 4,9 a 5,4 347 a 378 15,2 152,6 Celulose papel (Pinus
elliottii princ.) 1.200 a 1.500 400 Nd 300 a 500 10 a 40 Nd
Bambu (Bambusa vulgaris)
1.158 145 3,2 73 a 505 5,1 a 24,6 170,5
Piaava (Attalea funifera)
1.054 34,4 a 108 6 143 5,6 Nd
Amianto crisotila 2.200 a 2.600 ---- 2 560 a 750 164 Nd Polipropileno comum 913 ---- 22,3 a 26,0 250 2,0 Nd
Nd No disponvel. Fontes: Agopyan e Savastano Jnior, Toledo Filho (apud FREIRE e
BERALDO, 2003) e CEPED (1982).
Segundo Savastano Jnior e Agopyan (apud SAVASTANO JNIOR
et al., 1997a), as fibras so feixes de clulas individuais que so compostas por
microfibrilas, ricas em celulose. Para Coutts (apud SAVASTANO JNIOR et al.,
1997a), as clulas so compostas por quatro camadas de microfibrilas, sendo
que a camada S2 possui microfibrilas orientadas de acordo com um
determinado ngulo , alm de ser a camada mais espessa e que possui maior teor de celulose (Figura 01). As clulas que compem a fibra so aglomeradas
pela lamela intercelular, composta de hemicelulose, pectina e lignina (70% em
mdia). A regio central lacuna a responsvel pela absoro, (Figura 02,
p. 10).
Figura 01 Clula individual da fibra vegetal. Fonte: Savastano Jnior et al. (1997a).
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10
Figura 02 Fibra: aglomerado de clulas. Fonte: Savastano Jnior et al. (1997a).
Segundo os autores a resistncia trao e o mdulo de
elasticidade variam diretamente com o teor de celulose e inversamente com o
ngulo das microfibrilas, enquanto que o alongamento mximo de ruptura aumenta com o ngulo , visto ser maior o trabalho de fratura necessrio para o estiramento das microfibrilas (Tabela 02).
Tabela 02 Propriedades da estrutura de fibras vegetais.
Fibra Celulose (% massa)
Lignina (% massa)
ngulo das microfibrilas (graus)
Malva 76,0 10,0 8 Sisal 78,6 9,9 10 22 Coco 53,0 40,8 30 - 49
Fonte: Savastano Jnior et al. (1997a).
Um aspecto importante que merece ateno no uso de fibras
vegetais em compsitos o retardamento da pega do cimento. Segundo
Savastano Jnior et al. (1997a) e Beraldo et al. (1998), so os extrativos
(resinas, polifenis, leos e graxas) e os acares que, liberados pelas fibras
quando em contato em soluo aquosa, que retardam a pega do cimento,
detectvel pela curva de hidratao.
Para Morrison et al. (apud SAVASTANO JNIOR et al., 1997a, p.
117) em compsitos base de cimento, a melhor aderncia fibra-matriz
conseguida por meio do melhor desempenho da zona de transio, o que
implica reduo de porosidade e na menor concentrao de portlandita.
Savastano Jnior e Agopyan (1993a e 1993b) analisaram a zona de
transio fibra-matriz de compsitos com fibras vegetais. Segundo Mindess et
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al. (apud SAVASTANO JNIOR e AGOPYAN, 1993a), a zona ou aurola de
transio a regio da pasta de cimento prxima fibra, com espessura de at
100 micrmetros e que apresenta propriedades diferenciadas do restante da
matriz.
As anlises das zonas de transio dos compsitos com fibras
vegetais apresentaram espessura de 50 a 100 micrmetros, elevada
porosidade, formao de grandes cristais de portlandita e deslocamento das
fibras. Nos compsitos com fibras de amianto a espessura mdia foi de 5
micrmetros e nos compsitos com polipropileno espessura de no mximo 20
micrmetros. Para os Autores, a formao de grandes cristais de portlandita
pode induzir a decomposio das fibras vegetais, em especial a lignina, e
conseqente perda com o tempo da capacidade de reforo das fibras.
A elevada absoro pelas fibras da gua de amassamento do
compsito induz um fluxo de gua em direo fibra acarretando um aumento
da relao gua/cimento, da porosidade e da concentrao de portlandita na
zona de transio, colaborando para um pior desempenho micro-estrutural. O
deslocamento das fibras e as micro-fissuras ocorrem devido a sua variao
dimensional, quando perde a gua que foi absorvida durante a mistura do
compsito.
O desempenho mecnico dos compsitos com fibras foram
analisados por Savastano Jnior e Agopyan (1993a) e Savastano Jnior et al.
(1997a). Os resultados indicam uma diminuio da resistncia dos compsitos
de fibras vegetais com o tempo, em decorrncia da degradao das fibras que
em meio altamente alcalino dissolve a lignina (JOHN et al., 1997) e a
hemicelulose (RAMASWAMY apud SAVASTANO JNIOR et al., 1997a).
Diante das caractersticas identificadas das fibras vegetais e diante
da necessidade de durabilidade de um componente construtivo pode-se
resumir entre as principais dificuldades na utilizao dessas fibras o
retardamento da pega da matriz, a decomposio das fibras pela alcalinidade
da matriz e o seu aspecto higroscpico, facilidade na absoro de gua, o que
favorece grande fluxo da gua de amassamento do cimento e aumento da
relao gua/cimento e grande variao dimensional das fibras, com a perda
de gua posteriormente.
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Para diminuir os efeitos negativos, diversas alternativas so
propostas e estudadas. Verifica-se que alguns tratamentos so mais eficazes
em determinados tipos de fibras, e em alguns casos, em combinao com
outros tratamentos. A moldagem sob presso visa remover o excesso de gua
e melhorar a aderncia entre fibras vegetais e matriz e aumentar a resistncia
do compsito. A adio de cinzas de casca de arroz, cinzas pesadas ou
volantes de termeltricas ou a utilizao de aglomerantes menos alcalinos,
como o gesso, visam diminuir a alcalinidade da matriz e evitar sua
decomposio. A estocagem das fibras e/ou lavagem em gua quente ou fria
visa diminuir os extrativos e aucares existentes, o que prejudica a pega,
endurecimento, do cimento, ou o uso de aceleradores, como o sulfato de
alumnio e o cloreto de clcio (aditivo no recomendado). O tratamento qumico
das fibras, mineralizao, atravs de imerso em silicato de sdio, sulfato de
alumnio ou cloreto de clcio, visa a sua impermeabilizao e diminuio da
absoro de gua e aumento da resistncia mecnica dos compsitos.
No Brasil, a publicao mais antiga, utilizando fibras vegetais
encontrada por esta dissertao, foi realizada por Alves (1976), com fibras de
piaava. Neste trabalho, o Autor revia os estudos de concreto armado com
fibras (CAF), e propunha a mineralizao das fibras vegetais para evitar os
efeitos da absoro e alertava sobre a segregao e empelotamento das fibras,
visto que o excesso de mistura tende a provoc-lo.
Outras fibras vegetais foram estudadas em compsitos, dentre elas,
as fibras de cana-de-acar e de suas cinzas, e a adio da casca de arroz e
de suas cinzas. A incorporao de resduos da produo da madeira, da
fabricao de papel ou o reaproveitamento de papel jornal. E, tambm, o
estudo das fibras de bambu, de sisal e de coco, que sero abordadas a seguir.
Nos estudos de fibras vegetais, se destacam alguns pesquisadores
que atuam no pas, como por exemplo: Vahan Agopyan, Holmer Savastano
Jnior, Vanderley Moacir John, Antonio Ludovico Beraldo, Maria Alba
Ciancotto, Clia Martins Neves e Khosrow Ghavami; e, entre as instituies:
CEPED Centro de Pesquisa e Desenvolvimento (localizado na Bahia), IPT
Instituto de Pesquisas Tecnolgicas do Estado de So Paulo, Unicamp
Universidade Estadual de Campinas e USP Universidade de So Paulo.
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1.1.1 Fibra de Bambu
Segundo Alves (2006), bambu utilizado pelo homem desde tempos
pr-histricos como alimento, em vestes, em instrumentos musicais e em
armas, na construo, no transporte de materiais e na fabricao de papel, em
mveis e em objetos domsticos.
Segundo Martins et al. (2004), os bambus so plantas gramneas,
herbceas gigantes e lenhosas, que se desenvolvem rapidamente. So
classificadas na famlia Bambusoideae. O ciclo de vida, de algumas espcies,
est estimado entre 100 a 120 anos. constitudo por uma parte area (colmo)
e outra subterrnea (rizoma e raiz). Segundo Lopes et al. (apud MARTINS et
al., 2004), sua resistncia varia de acordo com a espcie, sendo a parte mais
resistente prxima aos ns e quanto mais espessa a parede do bambu maior
sua resistncia. So conhecidos 60 a 90 gneros e 1.100 a 1.500 espcies de
bambu. As espcies mais usadas na construo civil so, por exemplo,
Dendrocalamus giganteus, D. strictus, D. asper (Figuras 03, 04 e 05), Bambusa
tulda, e B. tuldoides.
Figuras 03, 04 e 05 Colmos de Dendrocalamus asper. Fotografia: Rafael Vasconcellos.
Fonte: www.bambubrasileiro.com, acessado em 13/05/2008.
Costa Rica, Colmbia e Equador utilizam o bambu para a produo
de unidades habitacionais. Segundo Cortez e Ino (1998), Costa Rica produzia
em mdia de 1.500 casas de bambu por ano, cujos requisitos atendiam aos
exigidos pela ONU para construes de unidades habitacionais, sendo um dos
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14
pases mais desenvolvidos na produo de habitaes de interesse social com
bambu. Segundo Nascimento e Souza (2004) e Martins et al. (2004), o uso do
bambu na construo pode reduzir em at 40% o custo total da edificao.
Existem diversas maneiras de utilizar o bambu na construo. Por
exemplo, o bambu rolio, pode ser utilizado em tesouras, pilares, vigas e
painis. Em forma de meio colmo, o bambu pode ser utilizado em calhas e
frmas permanentes na fabricao de lajes, ou em painis de vedao
aparentes ou no. Em taliscas, o bambu pode ser utilizado no reforo do
concreto, substituindo o ao em determinadas situaes. Das ripas do bambu,
podem ser fabricados laminados e compensados e utilizados na montagem de
estruturas e forrao de interiores. O bambu planificado, em forma de esteiras
(esterilhas), pode ser utilizado como esqueleto em painis, revestidas por outro
material. Em fibras, o bambu pode ser combinado com outros materiais
convencionais como solo-cimento, argamassa armada, concreto e gesso,
substituindo total ou parcialmente os agregados minerais, sendo estas fibras
objeto de estudo deste trabalho.
Segundo Beraldo (1997), os compsitos de fibras do bambu
apresentam boas caractersticas fsico-mecnicas, produzem um produto leve,
resistente a impactos, com bom isolamento trmico, alm de ser uma matria-
prima disponvel e renovvel. As fibras de bambu incorporadas em compsitos
alcalinos necessitam de um tratamento prvio devido a sua constituio
qumica rica em acares e amido, (Beraldo e Azzini, 1998), principal
componente dos extrativos.
Beraldo (1997) incorporou fibras de Bambusa tuldoides (peneira 2,4
mm) nos cimentos CP II E 32 (Cimento Portland Composto com Escria de Alto
Forno) e CP V ARI (Cimento Portland de Alta Resistncia Inicial), com trao
1:0,375 e relao gua/cimento 0,750 em massa. Foram comparados
diferentes tipos de tratamento do bambu: controle (sem tratamento), lavagem
(80C por 2 horas), com adio de acelerador (Cloreto de clcio CaCl2 a 3%
da massa do cimento) e mineralizao (imerso em silicato de sdio - Na2SiO3
a 5% e depois em sulfato de alumnio Al2(SO4)3 30%).
Os resultados encontrados no artigo indicam que o cimento CP V
ARI obteve os melhores resultados comparado com o cimento CP II E 32 e a
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15
mineralizao das fibras o melhor tratamento (Figura 06). Para o Autor, o
bambu uma excelente fonte de matria-prima para a fabricao de
compsitos base de cimento.
Figura 06 Resultados do ensaio de compresso simples do compsito bambu-cimento. Fonte:
Beraldo, (1997).
Beraldo e Azzini (1998) estudaram as reaes das partculas de
Bambusa tuldoides ao natural e lavada (80C por 2 horas) nos cimentos CP II E
32 e CP V ARI e com a adio dos aceleradores cloreto de clcio e sulfato de
alumnio (ambos a 3% da massa de cimento).
Os resultados indicaram que o tipo de cimento e acelerador
utilizados e o estado das fibras influenciam o comportamento do compsito,
sendo que a lavagem das fibras aumentou a resistncia dos compsitos,
independente do tipo de cimento e acelerador utilizado.
Anjos et al. (2003a) pesquisaram a adio de polpa de bambu
refinada e sem refino em compsitos de matriz cimentcia (cimento CP II E 32),
variando de 0 a 16% o teor de fibras em massa de cimento, visando a
fabricao de painis de cobertura. Foi utilizado o processo de produo
Hatschek, em escala laboratorial, atravs da moldagem e suco da gua
excedente e posterior prensagem (3,2 MPa).
____________
Nota 01: No processo Hatschek, em escala laboratorial, uma pasta fluida colocada em uma
cmara de moldagem e submetida uma sub-presso, com bomba vcuo na face inferior, e
prensagem, com prensa hidrulica, ambos os procedimentos para extrair o excesso de gua.
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16
Foi observado que o compsito com fibras refinadas apresentou
menor absoro de gua, menor porosidade, maior densidade, maiores
resistncia flexo e capacidade de absorver energia. O teor timo de fibras
refinadas foi de 8%, acima desses valores a resistncia diminui.
Segundo Anjos et al. (2003a), a maior resistncia apresentada pelas
fibras refinadas pode ser devido ao processo de polpao, que segundo Smook
(apud Anjos et al., 2003a), remove impurezas no celulsicas, como a lignina e
a hemicelulose, diminuindo assim a decomposio das fibras no meio alcalino.
Em outro trabalho, Anjos et al. (2003b) pesquisaram um compsito
reforado com polpa de bambu refinado (8%) e a substituio de 20, 30 e 40%
do cimento (CP II E 32) com resduo de blocos cermicos, com o objetivo de
diminuir o ataque alcalino s fibras. Nesta pesquisa foi utilizado o processo de
produo Hatschek, em escala laboratorial.
Foi observado que a adio do resduo diminuiu a densidade do
compsito, aumentando sua porosidade, provavelmente devido ao processo
mais lento de reao deste material pozolnico. Segundo os Autores, o
compsito com 20% de resduo cermico apresentou, praticamente, as
mesmas propriedades mecnicas que o compsito sem substituio,
favorecendo uma economia no produto final.
Silva et al. (2003) estudaram o comportamento ao impacto em
compsitos de cimento (CP II F 32 Cimento Portland com adio de filler
calcrio) adicionados com 8 e 14% de polpa de bambu, em relao ao peso do
cimento, utilizando o processo Hatschek.
Os Autores observaram, aps suco da gua, uma maior
concentrao de fibras na face oposta suco, devido menor densidade
das fibras em relao ao cimento e que esta variao aumentava em 9% a
resistncia quando o impacto do martelo ocorria na face com menor
concentrao de fibras, e o lado oposto sofria trao, com maior concentrao
de fibras. Os Autores verificaram o aumento de resistncia em todos os
compsitos com fibras.
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17
A retrao plstica em compsitos cimentcios, com diferentes
teores de polpa refinada de bambu, foi estudada por Sales e Ghavami (2004) e
a retrao livre por Sales et al. (2004).
A adio de fibras em compsitos cimentcios resulta em menor
retrao plstica. Nas primeiras horas, o material ainda em estado plstico,
beneficiado pela adio de fibras, devido elevada capacidade de absoro
dessas, contribuindo para maior reteno do lquido e, menor retrao plstica.
Quanto maior o teor de fibras, menor a retrao plstica. Posteriormente, com
o material endurecido, a adio de fibras favorece a sada de gua do interior
do compsito, contribuindo para o aumento da retrao livre e maior perda de
massa. Quanto maior o teor de fibras, maior a retrao livre. Foi observado que
a adio de 8% de polpa de bambu apresentou melhor resultado no ensaio de
retrao livre em comparao ao compsito sem polpa.
Percebe-se que, pela reviso bibliogrfica apresentada, existem dois
tipos de fibras de bambu utilizadas em compsitos: as partculas provenientes
do colmo do bambu e as fibras provenientes da polpa de bambu. Nos
compsitos com partculas foram estudados diferentes tratamentos das fibras
e/ou a incorporao de aditivos. Nos compsitos com polpa no foram
realizados tratamentos nas fibras e a melhor porcentagem adicionada ao
cimento foi de 8%, em massa, utilizando o processo de produo hatschek.
1.1.2 Fibra de Sisal
Segundo Medina (1954), algumas plantas caractersticas das
regies desrticas se tornaram conhecidas pelos europeus com o
descobrimento da Amrica e especialmente com a conquista do Mxico. O
gnero Agave foi classificado por Linneu em 1748. Os Maias, Astecas e outros
povos confeccionavam com as fibras, extradas destas plantas, diversos artigos
domsticos, alm de fabricarem sabo com suas razes, e de produzirem
alimentos e sucos, como o mezcal adorado pelos Astecas.
-
18
As espcies cultivadas para a obteno das fibras so Agave
sisalana (sisal) e Agave fourcroydes (henequm), principalmente no Mxico.
Essa espcie provavelmente nativa da Pennsula de Yucatn, no Mxico.
Seu nome provm do antigo Porto de Sisal, onde foram feitas as primeiras
exportaes. No Brasil, segundo o CEPED (1982), o maior produtor de sisal o
estado da Bahia, e sua produo realizada por pequenos e mdios
produtores.
O sisal pertence famlia Amaryllidaceae, gnero Agave e espcie
sisalana. Segundo Ballester Olmos (1995), Agaves so plantas suculentas tais
como os cactos e possuem tecidos carnosos e ricos em gua para suportarem
os longos perodos de seca. uma planta originria dos trpicos, possui folhas
lisas com cerca de 10 cm de largura e 150 cm de comprimento. Normalmente
no frutifica, apenas floresce entre 5 e 8 anos, morrendo em seguida (Figura
07).
Figura 07 Agave sisalana. Fonte: photos.wildmadagascar.org/images/sisal_fields..., acessado
em 02/03/2009.
Para a obteno das fibras, segundo Medina (idem), as folhas
precisam ser golpeadas e lavadas repetidas vezes para a retirada da polpa e
mucilagens ou atravs de raspadeiras ou desfibradeiras, em seguida, as fibras
so centrifugadas para a retirada do excesso de gua ou colocadas para secar
ao sol, que possui ao branqueadora. Aps secas, as fibras so escovadas,
classificadas e enfardadas.
-
19
Segundo Savastano Jnior et al. (1997b), a produo do sisal gera
diversos produtos e resduos: fibra verde para comercializao, bucha verde
(fibra verde de menor comprimento sem valor comercial), bucha branca e fibras
curtas (resultante do beneficiamento e da produo de fios e cordas), baler
twine (principal produto do sisal, fio agrcola para exportao) e bucha de baler
twine e fibras curtas (inferior 1 cm, impregnadas com leo mineral).
CEPED (1982) e Guimares (1982) observaram que dentre as fibras
pesquisadas o sisal apresentou melhor resultado, sendo o volume ideal de
fibras entre 3% e 7% e que a resistncia flexo aumentava com o
comprimento da fibra, sendo o melhor resultado, obtido nos ensaios, com fibras
de 3 cm, incorporadas de forma aleatria no compsito. Segundo Ryder (apud
CEPED, 1982) fibras maiores que 40 mm, devem ter um considervel grau de
orientao, quando incorporadas no fibro-cimento.
Nos referidos trabalhos, os compsitos com as fibras de sisal e
bambu apresentaram maiores ndices de absoro, tendo as fibras de piaava
e coco obtidos os menores resultados nestes ensaios, (Tabela 03). Segundo os
Autores, a incorporao de fibras de amianto, sem prensagem, obteve o pior
desempenho nos ensaios de resistncia compresso e flexo, sugerindo que
a utilizao de prensagem e do vcuo, para a reduo do fator gua/cimento,
poder proporcionar um melhor desempenho nos compsitos de fibro-cimento.
Tabela 03 Resistncia compresso em corpos-de-prova cilndricos, resistncia flexo em
vigas de fibro-cimento e absoro de gua em compsitos com 5% de volume de fibras e fator
gua/cimento de 0,43.
Tipo
Resistncia compresso (MPa)
Mdulo de Ruptura em vigas (MPa)
Absoro (%)
Coco 0,5cm 30,94 5,86 9,95 Coco 3,0cm 27,66 6,05 nd Coco 6,0cm 29,09 5,97 10,99 Sisal 0,5cm 22,72 5,56 11,05 Sisal 3,0cm 24,33 6,69 nd Sisal 6,0cm 18,20 5,83 nd
Bambu 0,5cm 19,19 5,59 12,11 Bambu 6,0cm 7,18 3,71 nd Piaava 0,5cm 27,34 4,25 9,70 Piaava 6,0cm 28,39 4,68 nd
Amianto
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20
Outra pesquisa realizada pelo CEPED (1984) verificou que o
aumento do teor de fibras aumenta a relao gua/cimento (a/c), diminuindo a
resistncia do compsito. Foram verificados diferentes mtodos de fabricao:
prensagem, compactao e vibrao. A prensagem dos compsitos com fibras
de sisal com 22 kgf/cm obteve o melhor desempenho, maior resistncia e
menores ndices de absoro e porosidade.
Na referida pesquisa, foram elaboradas placas e telhas, sendo as
fibras colocadas entre duas camadas de argamassa de cimento. A fibra de
sisal obteve melhor desempenho nas placas, enquanto que a fibra do coco
obteve melhor desempenho nas telhas, sendo incorporado maior volume de
fibras.
Carvalho Filho e Agopyan (1993) pesquisaram argamassas (trao
1:2, cimento:areia) reforadas com fibras de sisal com diferentes comprimentos
de fibra (1,80, 3,70 e 5,60 cm), diferentes volumes de fibras (0,00%; 1,12%;
1,70%; 2,20% e 2,7%) e em diferentes condies (fibras secas e saturadas).
Os resultados da resistncia flexo, dos compsitos com fibras de
1,80 cm e 3,70 cm de comprimento, foram satisfatrios, sendo prximos da
resistncia do compsito sem fibras. As quantidades de fibras de 1,12% e
1,70% em volume obtiveram os melhores desempenhos e a adio de fibras
previamente saturadas acarretou perda de resistncia e maior dificuldade na
homogeneizao do compsito.
Fujiyama et al. (1999), compararam o desempenho compresso de
compsitos com fibras de sisal (25 e 45 mm de comprimento) e argamassa
sem fibras. Observaram que a argamassa sem reforo sofre uma fratura brusca
enquanto que a argamassa com fibras ocorre um amortecimento. A adio de
fibras e o aumento do comprimento resultaram em diminuio da resistncia,
porm a integridade do corpo-de-prova mantida por um intervalo maior de
deformao.
Savastano Jnior e Pimentel (2000) pesquisaram diferentes tipos de
fibras vegetais em argamassa de cimento (1:1,5 de cimento CP F 32 e areia),
com 2% em volume de fibras e relao gua/cimento de 0,4 para argamassas
sem fibras e 0,5 para argamassas com fibras. Os Autores observaram que as
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21
telhas produzidas com fibras de bucha de baler twine, malva tipo 4 e de resduo
do coco obtiveram melhores resultados nos ensaios de empenamento,
permeabilidade, absoro, ensaio de flexo e energia absorvida.
Beraldo e Vieira (2003) analisaram adies de fibras de sisal (1,80%,
3,60% e 10,8% em relao massa de cimento e 1,5 cm de comprimento) em
argamassas de cimento e areia (1:1,5) e relao gua cimento de 0,4 (1,80% e
3,60% de fibras) e 0,48 (10,80% de fibras). As fibras foram tratadas com
lavagem em gua fria, lavagem em gua quente, imerso em 5% de cal e em
5% de soda custica, sendo posteriormente secas ao sol.
Nos ensaios compresso simples, os melhores resultados foram
obtidos com 1,80% de fibras tratadas com cal, porm os autores sugerem o
tratamento com gua fria o mais adequado, visto ser o mais econmico e no
demandaria tratamento para a neutralizao dos resduos (cal e soda custica).
Nos teores com 1,80% e 3,60% de fibras no foram observados diferenas
expressivas nos diferentes tratamentos, porm com 10,80% de fibras houve
uma grande diminuio da resistncia compresso simples, (Figura 08).
Figura 08 Resistncia Compresso em corpos-de-prova sem fibras e com fibras de sisal
com diferentes tratamentos. Legenda: N = natural; AF = gua fria; AQ = gua quente; Cal =
Soluo de 5% de cal; Soda = Soluo de 5% de soda custica; T = Testemunha sem fibras.
Fonte: Beraldo e Vieira, (2003).
Nos estudos apresentados, a bucha de baler twine, resduo da
produo de sisal, apresentou melhores caractersticas para incorporao em
compsitos. J as fibras cortadas, o comprimento que obteve melhores
resultados foi entre 1,5 cm e 4 cm e a quantidade de fibras incorporadas entre
1% e 5% do volume.
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22
1.1.3 Fibra de Coco
Segundo CEPED (1982) e Lorenzi (2000), no h consenso sobre a
naturalidade do coqueiro. Ele existe em toda faixa tropical do globo, porm,
segundo Lorenzi (idem), pode ser tambm nativo da costa atlntica do Brasil,
do Par at So Paulo e principalmente do Rio Grande do Norte at Bahia.
O coqueiro, Cocos nucifera L. uma palmeira do gnero Cocos.
Segundo CEPED (1982) a produo do coqueiro de 300 a 600 frutos por p e
por ano. O coqueiro cresce nas areias salgadas onde nenhuma outra cultura
vivel, exige grande intensidade solar e necessita de bastante clcio e fsforo
(Figura 09).
Figura 09 Cocos nucifera L. Fotografia de Carlos Daniel, disponibilizado no site
www.baixaki.com.br, acessado em 02/03/2009.
O coco, fruto do coqueiro, constitudo pelo exocarpo, parte externa
e lisa, pelo mesocarpo, parte fibrosa e espessa, pelo endocarpo, casca
durssima e lenhosa e pela amndoa, parte almejada no cultivo. Segundo
CEPED (1982) as fibras so resistentes s guas salgadas e, devido a isso,
prprias para a cordoaria naval. De acordo com o mesmo autor, no sculo XIII
e XIV, os rabes usavam essas fibras para cordas e ensinavam aos
navegantes ingleses o seu aproveitamento.
A obteno da fibra do coco, segundo o CEPED (1982) e Savastano
Jnior (1986) inicia-se com o desfibramento das cascas, in natura ou aps
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23
curtimento em gua, para facilitar o desfibramento. As cascas so inseridas em
um cilindro com martelos. Nesta etapa injetada gua para lavar as fibras e
retirar os resduos para fora do cilindro. Neste processo 25% das fibras so
aproveitveis e 75%, sem comercializao, so denominadas de resduo.
Depois do coco desfibrado, as fibras so secas e em seguida realizado o
penteamento e seleo das mesmas. As fibras com comprimentos inferiores a
8 cm so denominadas de bucha e so vendidas para indstrias de
estofamento. E, por ltimo, o enfardamento destas.
CEPED (1982) e Guimares (1982) pesquisaram argamassas
cimentcias com diferentes tipos de fibras adicionadas. Conforme Tabela 03, p.
19, desta dissertao, verifica-se o bom desempenho dos compsitos com
fibras de coco. Os Autores sugerem sua utilizao em painis de argamassa,
com maior resistncia ao impacto e maior isolamento trmico e acstico.
Guimares (idem) e CEPED (1984) realizaram ensaios de flexo em
telhas confeccionadas em argamassas com sisal e coco (2% em volume). As
fibras midas (4 cm de comprimento) foram colocadas entre duas camadas de
argamassa (1:3 em volume de cimento e areia e a/c 0,70). O resultado da
argamassa com coco apresentou maior resistncia flexo, de quase 30% a
mais que a argamassa sem fibra, o que segundo os Autores devido
excelente aderncia entre fibra e matriz (Tabela 04).
Tabela 04 Ensaio de flexo em telhas de argamassa, argamassa com arame e argamassa
com sisal ou coco.
Tipo Massa (kg) Carga de Ruptura (N) Argamassa 14,65 954
Argamassa com tela de arame 15,50 1.119 Argamassa com sisal 14,08 998 Argamassa com coco 14,55 1.232
Fontes: Guimares (1982) e CEPED (1984).
Ramaswamy (apud SAVASTANO JNIOR, 1986) pesquisou os
efeitos que a alcalinidade pode causar sobre a durabilidade da fibra de coco,
observando que a perda de resistncia e ductilidade dessas fibras em meios
alcalinos pequena. Savastano Jnior (1986) conclui que no necessrio
qualquer tratamento das fibras de coco ou diminuio da alcalinidade da matriz,
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24
devido ao pequeno enfraquecimento desta fibra com o tempo e destaca
tambm o bom isolamento trmico e acstico, resistncia abraso e baixo
peso dos componentes com a adio dessas fibras.
O trabalho de John et al. (1997) compara o envelhecimento natural,
acelerado (por carbonatao e por ciclos de molhagem e secagem) e em uso,
de painis com funo estrutural, fabricados com argamassa de cimento de
escria de alto forno reforadas com fibras de coco. Foram preparados
compsitos com 88% de escria granulada de alto forno, 2% de cal hidratada e
10% de gipsita. O trao foi 1:1,5:0,504 de compsito, areia e gua, e
adicionados 2% de fibras de coco.
Os resultados, de oito anos, do envelhecimento em uso revelam
que, do ponto de vista da durabilidade, o material potencialmente um
sucesso. Os resultados de envelhecimento natural apresentaram maiores
danos que os ensaios de envelhecimento acelerado e em uso, sendo os
resultados dos ensaios de perda de resistncia dos envelhecimentos por
carbonatao ou por molhagem-secagem, similares.
A fibra de coco pode ser utilizada para componentes de absoro
acstica (SILVA e SLAMA, 1997), sendo um interessante substituto nos
compostos que utilizam fibras sintticas e de madeira e obtendo resultados
satisfatrios quando comparados com os desempenhos do Climatex (placas
cimentcias de madeira mineralizada). Ou pode ser utilizada como uma manta
alternativa, usada como isolante trmico em coberturas, (OLIVEIRA et al.,
2003).
Pode-se perceber que a adio de 2% a 5 % de volume de fibras de
coco, com comprimento entre 3 cm a 6 cm, obteve os melhores resultados na
bibliografia consultada. Percebe-se tambm que o tipo de processo de
fabricao e a relao gua/aglomerante influem nos resultados apresentados.
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25
1.2 CACTO
Segundo Senz (2006), o interesse do ser humano pela Opuntia
data de mais de mil anos e sua origem e histria esto relacionadas com as
antigas civilizaes mesoamericanas, em particular com a Cultura Asteca.
Segundo Pimienta (apud SENZ, idem) existem indcios arqueolgicos que
indicam que populaes indgenas em zonas semi-ridas em Mesoamrica
cultivavam Opuntia de modo formal e segundo Flores-Valdez (apud SENZ,
ibidem) foram encontradas sementes, cascas da fruta e fibras de pencas de
Opuntia fossilizadas datando sete mil anos atrs, nas escavaes de
Tamaulipas e Tehuacn.
Os Astecas so descendentes da civilizao Tolteca (sculos X a
XII) e foram derrotados pelos conquistadores espanhis no incio do sculo
XVI. Os Astecas assumiram o controle do Vale do Mxico e assentaram-se na
maior ilha do Lago Texcoco, por volta do sculo XIII. Seguindo indicaes dos
Deuses eles deveriam se fixar onde encontrasse uma guia sobre um cacto,
devorando uma cobra. Segundo Senz (ibidem) o escudo da bandeira do
Mxico um hieroglifo da Grande Tecnochtitln e significa sitio del nopal que
cresce sobre la piedra, (Figura 10). Tecnochtitln era a capital da
confederao Asteca e possua cerca de 250 mil habitantes, (Figura 11).
Figura 10 Braso de armas do Mxico. Figura 11 - Desenho de Tecnochtitln. Pintura mural
localizada no Museu Nacional de Antropologia, Mxico, 1930. Fonte: www.wikipedia.org
acessado em 20/09/07.
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26
1.2.1 Cactceas
As cactceas so encontradas em vrias condies climticas em
formas silvestres ou cultivadas. Atualmente, as cactceas j foram difundidas
para a frica, sia, Europa e Oceania. Segundo Ballester Olmos (idem) e
Rizzini (1987) as cactceas silvestres se encontram em todo o continente
americano, entre os paralelos 53 ao norte e 50 ao sul, desde o Estado de
Alberta, no Canad at a patagnia, extremo sul da Argentina.
Segundo Bellester Olmos (ibidem) as plantas suculentas so plantas
carnudas e ricas em gua, para suportar grandes perodos de seca. Todas as
cactceas so suculentas, porm nem todas suculentas so cactceas.
Existem dentro das suculentas, alm das cactceas, outras 49 famlias, dentre
estas destacamos as mesembriantemceas, agavceas, lilceas,
asclepiadceas, crassulceas e as euforbiceas.
Segundo Rizzini (idem) existem aproximadamente 239 gneros e
3300 espcies de cactos. Cerca da metade dos gneros ocorre no Mxico. Os
espinhos esto sempre presentes nas cactceas, exceto nas espcies
silvestres, em que estes so rudimentares. O que distingue estas plantas de
outros vegetais so suas arolas: pontos cheios de espinhos e plos onde
emergem as flores, novos claddios (raquetes) ou razes areas. As arolas
apresentam dois tipos de espinhos: alguns grandes, classificados pelos
botnicos como folhas modificadas, e outros pequenos, os gloqudios, e
agrupados em grande nmero (Figuras 12 e 13).
Figura 12 Claddio (raquete) com frutos e espinhos do gnero Opuntia, espcie no
identificada. Figura 13 - Claddio com flores e gloqudios - Nopalea cochenillifera.
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27
Para Rizzini (ibidem), a adaptabilidade a ambientes extremos fez
com que os cactos realizassem uma srie de modificaes morfolgicas e
fisiolgicas. Cutculas espessas com revestimento de cera e cobertura de plos
e pouca quantidade de estmatos ajudam a diminuir sua transpirao. A
epiderme nas cactceas espessa e, nos caules de grandes dimenses ou
anosos, pode apresentar na epiderme uma camada de suberina, substncia
formada de carbono, hidrognio e oxignio. Internamente encontra-se a
mucilagem (hidrocolides) - substncia viscosa formada por pentosanas
(polissacardeo composto de molculas de pentose) - que funciona como meio
adequado para reter a gua na planta. Alm disso, possuem razes superficiais
que ajudam na absoro de gua em poca de chuva e absoro de gua
atmosfrica pelos seus espinhos e estmatos.
Para Rizzini (ibidem) a mais notvel adaptao a respirao
dessas plantas. Os estmatos fecham-se durante o dia para evitar a
evaporao e abrem-se noite para absorver a umidade atmosfrica e o gs
carbnico. O gs carbnico absorvido do ar noite juntamente com o gs
carbnico produzido pela sua respirao, formaro os cidos orgnicos,
principalmente o cido mlico, devido carboxilao catalisada pela enzima
fosfoenolpiruvato-carboxilase. O cido mlico conservado durante a noite nos
vacolos celulares e a absoro do gs carbnico realizada no escuro. Ao
clarear o dia, o cido mlico retirado dos vacolos que, em presena da luz,
transforma-se novamente em gs carbnico, ocorrendo a fotossntese normal,
com os estmatos j fechados.
Esse processo de assimilao do gs carbnico torna tais plantas
aptas a sobreviver em meios to crticos sendo ele chamado de metabolismo
crassulceo (CAM), devido ao fato de ter sido identificado na famlia das
crassulceas. Este metabolismo explica a lenta desidratao que a planta sofre
em perodos prolongados de seca.
A composio qumica dos claddios (raquetes) varia de acordo com
a idade. Segundo Flores et al. e Pimienta (apud SENZ, ibidem) a quantidade
de protena maior nos claddios mais novos, enquanto a fibra aumenta nos
claddios mais antigos. Segundo Rodrigues-Flix e Cantwell (apud SENZ,
ibidem) a composio qumica dos nopalitos frescos (claddios novos) 91%
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28
de gua, 1,5% protena, 0,2% lipdios, 4,5% hidratos de carbono totais, 1,3%
cinzas, da qual 90% clcio, 11 mg/100g de vitamina C e 30g/100g de
carotenides e 1,1% de fibra. Segundo Senz (ibidem) so tambm ricos em
clcio (93mg/100g) e potssio (166mg/100g).
Segundo Senz (ibidem), deve-se levar em conta o momento da
colheita devido a variao da acidez nos claddios, em virtude do metabolismo
crassulceo, (Figura 14).
Figura 14 Variaes dos nveis de acares (linha vermelha) e de cido mlico (linha verde
tracejada) em folhas isoladas de Sedum, um tpico vegetal suculento. Fonte: T. Bennet-Clark,
New Phytol. 32:128, 1933, apud Rizzini (ibidem).
1.2.2 Usos da Opuntia
Os potenciais de uso das Opuntias so variados. Segundo Senz
(ibidem), a fruta consumida naturalmente - fruta fresca - sua forma mais
tradicional e antiga, no Brasil ela conhecida pelo nome de Figo da ndia
(Figura 15, p. 29). A fruta pode ser utilizada tambm na fabricao de
marmeladas, sucos e nctares, como em produtos desidratados, passas,
polpas concentradas para sucos ou sorvetes, gomas, gelias, caramelos
comestveis, xaropes ou caldas. Podem ser extrados corantes das frutas ou
produzir o colonche, uma bebida fermentada de baixa graduao alcolica,
alm de vinho, aguardente e licores de variadas cores, devido s diversas
cores dos frutos. Das sementes pode-se fazer azeite comestvel.
Os nopalitos (claddios jovens) so muito utilizados na alimentao
como verdura, em conserva, escabeche, molhos ou saladas, principalmente no
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29
sul dos Estados Unidos e no Mxico ou na produo de marmeladas, doces de
nopalitos, nopalitos cristalizados, caramelos, gelias, gomas e confeitados, ou
na produo de sucos (gua de nopal). Na indstria cosmtica, a Opuntia
tambm utilizada em cremes, loes, gis e xampus, como um dos
ingredientes de sua fabricao. Outra utilizao possvel a produo de
cestos, artesanatos e outros objetos a partir da sua penca lignificada ou como
lenha. Os claddios tambm podem ser utilizados para a produo de biogs e
fertilizantes ou para a alimentao do gado.
A mucilagem dos nopalitos pode ser utilizada para melhorar a
consistncia de marmeladas de diversas frutas ou como estabilizante de
espumas e emulses.
A partir dos claddios (variadas idades) tambm produzida a
farinha de nopal, utilizada como suplemento alimentcio rico em fibra, em
cosmticos ou para fins medicinais (ainda em fase de estudos cientficos), ou
na produo de pes, biscoitos, cereais, pastas, tortas, cremes ou sobremesas.
E, no cacto, hospedeiro da cochonilha (Dactylopius coccus), pode-se
cultiv-la e produz o carmim, corante natural, utilizado nas indstrias de
alimentos, cosmticos, farmacuticos, tintas para laboratrios, papis e tecidos
(Figura 16). O Peru o maior produtor mundial de cochonilha seca.
Figura 15 Figo da ndia. Fonte: http://frutasraras.sites.uol.com.br/opuntiaficus.htm.
Figura 16 Claddio com cochonilha (Dactylopius coccus), cochonilha seca e moda (no prato).
Fonte: www.geocities.com/granacochinilla/pencarmin.jpg. Acessados em 20/03/2009.
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30
1.2.3 Uso do Cacto na Construo
Dentre as diversas utilizaes da Opuntia destacamos seu uso
dentro da construo civil. Segundo Hoyle (apud OLIVEIRA et al, 2005), a
seiva da Opuntia fcus-indica foi utilizada como material colante nas runas de
Chan-Chan, no Peru, consideradas como Patrimnio da Humanidade (Figuras
17 e 18). Lengen (2004) acrescenta a informao da utilizao da mucilagem
pelos povos indgenas do Mxico, em seus templos, e que a adio desta
mucilagem com outros materiais de construo proporciona melhoria em suas
propriedades. No Brasil, o uso da mucilagem em argamassas de cal tem como
finalidade a restaurao e, tambm, como fixador da cal ao substrato,
conhecido como caiao.
Figura 17 Vista de Chan-Chan, Peru. Fonte: http://www.panoramio.com/user/995497. Figura
18 - Detalhe das runas de Chan-Chan. Fonte: www.condortravel.com/slideshow/peru/gal02.jpg.
Acessados em 02/03/2009.
Segundo Chandra et al. (1998), a cal foi usada como aglomerante
em tempos antigos, sendo sua resistncia baixa e pequena a sua durabilidade,
porm, ela aumentada com o uso de materiais orgnicos, chamados de
polmeros naturais. Segundo Ernesto et al. (apud CHANDRA, idem), a
resistncia umidade em paredes de adobe foi melhorada significativamente
com o uso da mucilagem de cacto.
A mucilagem est contida em clulas localizadas debaixo da
superfcie externa do cacto e, segundo Chandra et al. (ibidem), essas clulas
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31
contm mono ou di-sacardeos, formando os polissacardeos, sendo maior sua
produo na estao quente e seca. Master (1958) identificou no cacto
Nopalea cochenillifera, classificado como Opuntia, polissacardeos de
pentoses, como arabinose e xilose, e de hexoses, como glucose e galactose, e
aucares livres, como frutose, glucose, sucrose, maltose e traos de rafinose.
Chandra et al. (ibidem) identificaram a presena de protenas e polissacardeos
no extrato de cacto e sugerem que outras Opuntias possam apresentar
semelhante gel.
Chandra et al. (ibidem) pesquisaram a adio de extrato de cacto, na
forma de gel, em argamassas de cimento Portland (trao 1:3:0,5 de cimento,
areia e gua) e seu processo de hidratao. A extrao da mucilagem foi
obtida depois das folhas de cacto serem cortadas e colocadas em gua, na
proporo de 1:3 (cacto:gua), durante dois dias. Foram produzidas amostras
sem extrato de cacto (R), amostras com 50% de quantidade de gua e 50 % de
quantidade de extrato de cacto (C50) e amostras com 100% de quantidade de
extrato de cacto (C100).
Segundo estes Autores, a presena de polissacardeos aumentou a
trabalhabilidade da argamassa devido s caractersticas de reteno de gua,
alm de um lento endurecimento, diminuindo a formao de rachaduras e
consequentemente aumentando a resistncia da argamassa com o tempo,
(Tabela 05). Segundo os mesmos, o hidrxido de clcio produzido pela
hidratao do cimento Portland interage com os componentes do extrato de
cacto, polissacardeos ou protenas, e formas complexas, afetando o processo
de cristalizao, no permitindo a formao de grandes cristais de portlandita.
Tabela 05 Consistncia, massa unitria da pasta e resistncia flexo/compresso em
amostras com 0% de extrato de cacto (R), amostras com 50% de extrato de cacto (R50) e
amostras com 100% de extrato de cacto (R100).
N
Extrato de cacto
(%)
Consistncia flow table
(mm)
Massa unitria da pasta (kg/m)
Resistncia Flexo/compresso (MPa) ______________________________________ 1 dia 7 dias 28 dias 90 dias
R 0 124 2230 5,2/16,8 7,5/35,9 9,8/48,0 10,7/51,2 C50 50 128 2190 4,2/15,7 6,8/26,0 10,1/48,5 11,5/54,3 C100 100 132 2160 3,8/14,9 5,9/22,3 10,0/43,5 11,8/57,4
Fonte: Chandra et al. (1998).
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Os resultados de absoro de gua por capilaridade mostraram que
a amostra com extrato de cacto absorve menor quantidade de gua, segundo
os Autores, devido ao filme formado pelo extrato de cacto e pelos poros
fechados, produzindo uma estrutura mais densa.
O ensaio de absoro por capilaridade comparou cubos
mergulhados em 100% de extrato de cacto e outros no. O cubo mergulhado
no extrato de cacto apresentou uma menor taxa de absoro. Segundo os
Autores, uma possvel explicao que a gua do extrato absorvida pelo
concreto e o grupo de hidroxilas dos polissacardeos e aqueles formados
durante a quebra das protenas produzindo complexos, cristaliza na superfcie,
tornando-o mais impermevel.
Outro ensaio realizado refere-se resistncia ao congelamento-
descongelamento (freeze-thaw resistance). As amostras foram colocadas em
uma soluo saturada de Cloreto de Sdio a -20C, durante 16 horas, perodo de congelamento, e depois em gua em temperatura ambiente por 8 horas,
perodo de descongelamento. As amostras foram pesadas em diferentes
intervalos, (Tabela 06). As amostras sem extrato perderam peso no 7 ciclo, enquanto que as amostras com extrato de cacto perderam peso no 26 ciclo.
Tabela 06 Teste de congelamento e descongelamento de amostras com 0% de extrato de
cacto (R), amostras com 50% de extrato de cacto (R50) e amostras com 100% de extrato de
cacto (R100) colocadas em soluo saturada de Cloreto de Sdio. Ganho ou perda de massa
em kg/m.
3 7 10 13 16 26 35 N ciclos ciclos ciclos ciclos ciclos ciclos ciclos R +0,643 -0,801 -3,900 -6,600 quebra ------ ------ C50 +0,058 +0,06 +0,065 +0,042 +0,031 -0,076 -1,45 C100 +0,040 +0,042 +0,041 +0,041 +0,038 -0,059 -0,58 Fonte: Chandra et al. (1998).
Crdenas et al. (1998), pesquisaram os efeitos da incorporao da
mucilagem de cacto, em pastas de hidrxido de clcio, Ca(OH)2, e de cal
comercial, nas propriedades mecnicas, baseados no teste de penetrao e
ruptura (penetration-breaking test).
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A mucilagem, nesse trabalho, foi obtida atravs da coco, a vapor,
dos claddios de Opuntia spp., sendo o cacto picado em pedaos para melhor
extrao da mucilagem, e em seguida, o gel obtido foi liofilizado. Foram
adicionadas diferentes concentraes de mucilagem liofilizada (0,65%, 1,0% e
1,95% em relao massa de cal). Os resultados obtidos nos ensaios
indicaram que a adio de mucilagem argamassa de cal resultou numa
formao de estruturas mais fracas.
Hernandez Zaragoza (2000) estudou a adio da mucilagem de
Opuntia streptacantha, na forma liofilizada, em argamassas de cal, gesso e
cimento Portland, com o objetivo de melhorar suas propriedades mecnicas.
Inicialmente, foi preparada argamassa de cimento e adicionada
diferentes quantidade de mucilagem liofilizada (0,25%, 0,5%, 0,75% e 1,0% em
relao massa de cimento), e o melhor resultado obtido no ensaio de
compresso foi com a adio de 0,25% de mucilagem. Em seguida, foram
preparadas argamassas de cal, gesso e cimento e adicionadas 0,25% de
mucilagem. Os melhores resultados foram obtidos nas argamassas com
mucilagem, em todos os materiais estudados, e em todos os dias em que
ocorreram os ensaios (Tabela 07).
Tabela 07 Resistncia compresso simples em corpos-de-prova cbicos de 50 x 50 x 50
mm.
Mistura
Resistncia compresso (MPa) 3 dias 7 dias 28 dias
Cal e areia 1,494 1,616 2,206 Cal, areia e mucilagem liofilizada 1,591 2,255 2,703 Gesso e areia 2,551 3