BULLYING NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA · BULLYING. O trabalho envolveu três turmas do nono ano...
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BULLYING NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA:
a visão dos alunos do nono ano do ensino fundamental
Lúcia Helena Rubim1
Jorge Both2
Resumo: O presente estudo teve como objetivo compreender como a disciplina de Educação Física pode contribuir positivamente na prevenção e minimização de comportamentos relacionados ao BULLYING. O trabalho envolveu três turmas do nono ano do Ensino Fundamental, com faixa etária entre 13 a 15 anos, do sexo masculino e feminino. Utilizou-se como instrumento um questionário sobre o tema, aplicado a todos os alunos. A intervenção foi realizada em apenas uma turma, sendo as outras duas, grupo de controle na investigação. As atividades realizadas na intervenção foram: leitura de textos, projeção de filme/debate, apresentação de seminário, aulas expositivas, jogos cooperativos e confecção de mural. A análise dos dados foi qualitativa e quantitativa. Os resultados evidenciaram que o BULLYING ocorre com frequência na escola em que o estudo foi realizado, e que a maioria dos alunos já sofreu e também praticou atos de BULLYING. Constatou-se ainda, que todos os alunos esperam que medidas preventivas e educativas sejam tomadas dentro das unidades escolares como forma para enfrentar e combater o BULLYING. Palavras-Chave: BULLYING. Educação física. Prevenção/minimização.
Introdução
As escolas brasileiras enfrentam, sem dúvida, inúmeros problemas referentes
a vários aspectos, sendo que, atualmente, um dos problemas mais notórios, refere-
se ao aumento significativo da violência dentro das unidades escolares (CALHAU,
2011; SILVA, 2010). Tal fator tem sido motivo de grande preocupação, uma vez que,
muitos dos que atuam nas escolas, possuem pouco (ou quase nenhum)
conhecimento sobre como lidar com o assunto (CALHAU, 2011; LOPES NETO,
2011; SILVA, 2010).
Muitos dos comportamentos relacionados à violência e agressividade, podem
ter sua raiz no fato de que vivemos em uma sociedade contraditória que, ao mesmo
tempo preconiza o valor e respeito à diversidade, supervaloriza aspectos
notoriamente contrários ao respeito às diferenças. Ou seja, os indivíduos que não se
enquadram no padrão de “normalidade” pré-estabelecido por esta mesma
sociedade, são discriminados e/ou excluídos, tornando-se alvos preferidos dos
praticantes de BULLYING (ABRAMOVAY; RUA, 2003; ALBINO; TERÊNCIO, 2013;
1 Professora da Rede Pública de Ensino do Paraná, formada em Educação Física e Pós-Graduada em Educação Especial pela Universidade Estadual de Londrina
2 Professor Doutor do Departamento de Educação Física da Universidade Estadual de Londrina
CALHAU, 2011; CHAVES, 2006; LOPES NETO, 2011; STAINBACK; STAINBACK,
1999).
Para Chaves (2006), a exclusão, atinge diferenças relacionadas ao gênero,
raça, etnia, classe social, religião, idade, habilidades motoras, biotipo, desempenho
esportivo, doenças crônicas, portadores de deficiências, entre outras.
Os comportamentos relacionados à agressividade, violência, exclusão,
discriminação, atualmente são denominados de BULLYING e, de acordo com a
Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência –
ABRAPIA (LOPES NETO, MONTEIRO FILHO; SAAVEDRA, 2003), não existe uma
palavra específica na língua portuguesa que possa abranger todas as situações de
BULLYING.
Lopes Neto, Monteiro Filho e Saavedra (2003) referem que as ações
comumente presentes no BULLYING são: Colocar apelidos, Ofender, Zoar, Gozar,
Encarnar, Sacanear, Humilhar, Fazer sofrer, Discriminar, Excluir, Isolar, Ignorar,
Intimidar, Perseguir, Assediar, Aterrorizar, Amedrontar, Tiranizar, Dominar, Agredir,
Bater, Chutar, Empurrar, Ferir, Roubar, Quebrar pertences.
O BULLYING já pode ser considerado um grave e complexo problema social
(LOPES NETO, 2011; SILVA, 2010), uma vez que suas consequências podem
acarretar danos irreversíveis não só às suas vítimas, mas também, a todos que, de
alguma forma, se encontram envolvidos no evento, sendo fato que todos, sem
exceção, precisarão de orientação e ajuda (ABRAMOVAY; RUA, 2003; ALBINO;
TERÊNCIO, 2013; CALHAU, 2011; LOPES NETO, 2011; SILVA, 2010; TEIXEIRA,
2011).
Considerando-se a seriedade e gravidade de todos os aspectos que o evento
BULLYING pode acarretar, faz-se necessário e urgente, conhecer e compreender
melhor tal fenômeno, suas especificidades e manifestações, para enfrentá-lo e
combatê-lo. Assim, torna-se imprescindível, que as escolas realizem um diagnóstico
de sua realidade, no que concerne ao BULLYING, pois de acordo com a ONG PLAN
(apud CALHAU, 2011) as unidades escolares ainda não encontram-se aptas, ou
seja, não possuem condições/preparo efetivo para evitar que o fenômeno cresça em
seu início, nem tampouco, para esclarecer aos alunos quanto aos limites
necessários e sobre as normas e regras estabelecidas para que todos se respeitem.
Destaca-se que é comum observar na área de Educação Física estudos que
descrevem a necessidade de se realizar um trabalho voltado para a cultura da Paz
(BELTRÃO; MACÁRIO; BARBOSA, 2006; TUBINO; MAYNARD, 2006 apud
BOTELHO; SOUZA, 2007). Porém, quando analisados, os trabalhos desta área
evidenciam que o BULLYING não se constitui como uma preocupação do professor
de Educação Física.
Esse fato é confirmado por Oliveira e Votre (2006), ao apontarem que na área
de Educação Física, poucos são os estudos e pesquisas encontrados sobre o
fenômeno BULLYING. Neste sentido, torna-se necessário, realizar
investigações/estudos sobre a ocorrência de comportamentos relacionados ao
BULLYING nas aulas de Educação Física, assim como, utilizar nas aulas da referida
disciplina, metodologia que incentive a formação de relacionamentos interpessoais
positivos e saudáveis; a socialização e cooperação entre os alunos.
Nesta perspectiva, constata-se a necessidade de investigar o fenômeno
BULLYING dentro das unidades escolares e pelas diferentes disciplinas, uma vez
que, ainda traz em seu bojo, inúmeros problemas e que nos levam a alguns
questionamentos: Quais são os fatores motivadores mais profundos para a
ocorrência do BULLYING? Qual o papel das escolas diante do BULLYING? Existem
casos de BULLYING nas aulas de Educação Física? Eventos relacionados ao
BULLYING ocorrem com maior frequência nas aulas de Educação Física? Como a
disciplina de Educação Física pode contribuir para a prevenção e superação do
BULLYING? Quais estratégias de intervenção para combater o BULLYING podem
ser desenvolvidas pela Educação Física?
Assim, o presente estudo, tem como principal objetivo compreender como a
disciplina de Educação Física pode contribuir positivamente na prevenção e
minimização de comportamentos/eventos relacionados ao BULLYING.
Metodologia
A presente pesquisa teve característica de estudo experimental e exploratório.
O estudo foi desenvolvido com 135 alunos do nono ano do ensino fundamental, com
faixa etária entre 13 a 15 anos, do sexo masculino e feminino, sendo duas turmas do
período matutino e uma do período vespertino.
Utilizou-se como instrumento um questionário baseado no referencial teórico
pesquisado e aplicado aos alunos em dois momentos: no primeiro para investigar o
conhecimento dos alunos antes da intervenção e no último para verificar se houve
mudanças nos conhecimentos.
O instrumento foi aplicado em todas as turmas do nono ano. Entretanto, a
intervenção com a unidade didática sobre o BULLYING foi realizada apenas em uma
das turmas. Assim, as duas turmas que não participaram da intervenção,
constituíram-se como grupo controle da investigação.
A intervenção que fundamentou a característica de estudo experimental
teve como estratégias de ensino para os alunos: a leitura de textos, a projeção de
filme/debate, a apresentação de seminário, aulas expositivas, jogos cooperativos e
confecção de mural. A unidade didática de intervenção realizou-se em dez aulas,
conforme cronograma abaixo (Quadro 1).
Quadro 1 - Cronograma de atividades das aulas
AULAS Tema - Atividade
1ª aula Apresentação Geral do Projeto e Coleta de Dados
2ª aula O BULLYING na escola. Filme: Elephant
3º aula O BULLYING na escola. Filme: Elephant
4ª aula Manifestações dos eventos de BULLYING – Jogos cooperativos – Dinâmica.
5ª aula Conceito Geral e Específico sobre BULLYING – Leitura e análise do texto.
6ª aula Manifestações dos eventos de BULLYING – Jogos cooperativos – Dinâmica.
7ª aula Prevenção e minimização do BULLYING – Confecção de painel/mural.
8ª aula Prevenção e minimização do BULLYING – Confecção de painel/mural.
9ª aula Manifestações dos eventos de BULLYING – Jogos cooperativos – Dinâmica.
10ª aula Coleta final de Dados
Fonte: Autora.
Para a análise dos dados, utilizou-se a estatística descritiva para os dados
quantitativos (porcentagem) e a análise do conteúdo para os dados qualitativos.
Análise dos Dados e Discussão dos Resultados
Dados Quantitativos
O quadro 2 apresenta as questões objetivas do questionário aplicado aos
alunos que receberam a intervenção.
Quadro 2 – Questões Objetivas do Grupo de Intervenção
Questões
Com Intervenção
Pré Pós
Sim Não Sim Não
Você sabe o que é BULLYING? 100% - 100% -
Você já ouviu falar ou leu sobre o BULLYING? 92,6% 7,4% 100% -
Na escola onde você estuda já aconteceu (ou acontece)
casos de BULLYING? 100% - 96% 4%
Os casos de BULLYING ocorrem com frequência na escola
onde você estuda? 100% - 88% 12%
Na sua sala de aula já aconteceu (ou acontece) BULLYING? 96,3% 3,7% 96% 4,0%
Nas aulas de Educação Física já aconteceu (ou acontece)
BULLYING? 88,9% 11,1% 76% 24%
Você já sofreu (ou foi vítima) de BULLYING na escola? 80,8% 19,2% 84% 16%
Você já sofreu (ou foi vítima) de BULLYING nas aulas de
Educação Física? 33,3% 66,7% 40% 60%
Você já presenciou atos de BULLYING na escola? 85,2% 14,8% 88% 12%
Você já praticou BULLYING na escola? 77,8% 22,2% 68% 32%
Você acha que medidas preventivas e educativas devem ser
tomadas para diminuir o BULLYING na escola? 100% - 100% -
Fonte: Autora.
Em relação às questões objetivas que foram respondidas pelo grupo que
sofreu a intervenção da unidade didática (Quadro 1), constatou-se que a maioria dos
alunos responderam “sim” para quase todas as questões tanto no pré-teste, quanto
no pós-teste. Esse fator evidencia que tal fenômeno já se faz presente, de alguma
forma, no contexto da vida da maioria dos alunos (ABRAMOVAY; RUA, 2003;
ALBINO; TERÊNCIO, 2013; CALHAU, 2011; CHAVES, 2006; LOPES NETO, 2011;
STAINBACK; STAINBACK, 1999). Assim, estes resultados reforçam a necessidade
de que o tema BULLYING precisa ser discutido nas unidades escolares,
principalmente, no sentido de oportunizar esclarecimentos, informações e
orientações aos alunos (LOPES NETO, 2011).
Nas perguntas apresentadas acima, merece destaque, em função de ser
bastante preocupante, a questão que investigou se já haviam praticado BULLYING
na escola, pois, um índice muito alto afirmou que “sim” (Pré-teste = 77,8% e Pós-
teste = 68%), o que reafirma a necessidade de que medidas educativas devam ser
tomadas em todas as unidades escolares, uma vez que já se sabe, ser o
BULLYING, um fenômeno mundial, que atinge todas as sociedades, no mundo
inteiro (LOPES NETO, 2011).
Em contrapartida, merece destaque também, o fato de que 100% dos alunos
afirmaram que medidas preventivas e educativas devem ser tomadas para diminuir o
BULLYING na escola (LOPES NETO; MOTEIRO FILHO; SAAVEDRA, 2003) pois,
evidencia preocupação por parte destes em relação ao fenômeno.
Outro dado relevante refere-se ao fato de que antes da intervenção, 33% dos
alunos declararam já ter sido vítima de BULLYING nas aulas de Educação Física,
sendo importante destacar que, após a intervenção, esse índice subiu para 40%,
fator que reforça a possibilidade de que, após a intervenção, os alunos
compreenderam melhor o que é o BULLYING, seus efeitos, suas consequências e
suas características.
Quadro 3 – Questões Objetivas do Grupo Sem Intervenção
Questões
Sem Intervenção
Pré Pós
Sim Não Sim Não
Você sabe o que é BULLYING? 100% - 94,9% 5,1%
Você já ouviu falar ou leu sobre BULLYING? 91,8% 8,2% 92,3% 7,7%
Na escola onde você estuda já aconteceu (ou acontece) casos
de BULLYING? 91,7% 8,3% 94,9% 5,1%
Os casos de BULLYING ocorrem com frequência na escola
onde você estuda? 77,1% 22,9% 81,6% 18,4%
Na sua sala de aula já aconteceu (ou acontece) BULLYING? 81,3% 18,8% 84,6% 15,4%
Nas aulas de Educação Física já aconteceu (ou acontece)
BULLYING? 61,2% 38,8% 67,7% 33,3%
Você já sofreu (ou foi vítima) de BULLYING na escola? 60,4% 39,6% 61,5% 38,5%
Você já sofreu (ou foi vítima) de BULLYING nas aulas de
Educação Física? 29,2% 70,8% 38,5% 61,5%
Você já presenciou atos de BULLYING na escola? 68,8% 31,3% 81,6% 18,4%
Você já praticou BULLYING na escola? 43,8% 56,3% 48,7% 51,3%
Você acha que medidas preventivas e educativas devem ser
tomadas para diminuir o BULLYING na escola? 97,9% 2,1% 97,4% 2,6%
Fonte: Autora.
Quando analisado o grupo sem intervenção (Quadro 3) verificou-se que a
maioria dos alunos respondeu “sim” para a maior parte das questões tanto no pré
quanto no pós-teste, como ocorreu no grupo que recebeu a intervenção, embora
com índices diferentes.
Dado significativo foi obtido na questão que indagava se já haviam sofrido ou
se já tinham sido vítima de BULLYING nas aulas de Educação Física, pois a maioria
respondeu que “não” (Pré-teste = 70,8% e Pós-teste = 61,5%) o que pode sugerir
que os alunos desse grupo não têm a exata concepção de BULLYING.
Outra questão que merece destaque neste grupo é referente se já haviam
praticado BULLYING na escola, pois um número significativo respondeu que “não”
(Pré-teste = 56,3% e Pós-teste = 51,3%).
DADOS QUALITATIVOS
Após as análises das respostas abertas, a análise qualitativa, agrupou-se as
respostas em quatro categorias, explicitadas a seguir:
Apatia: Condição do ser que não se comove; que demonstra indiferença;
insensibilidade. As respostas dadas pelos alunos foram: “Fico quieta”, “Fico
em silêncio”, ”Fico na minha”, “Nada”, “Nenhum”, “Apenas observo”, “Finjo
que não escuto”, “Fico olhando”, “Espero a professora resolver”, “Me
afasto”.
Defesa: Ação ou efeito de defender, de proteger: tomar a defesa do mais
fraco. As respostas dadas pelos alunos foram: “Tento ajudar”, “Eu
defendo”, “Tento me defender”, “Desconto o BULLYING que sofri”, “Eu
retruco”, “Xingo a pessoa”, “Levo na brincadeira”, “Saio de perto”, “Tirava
sarro”, “Tento melhorar a situação”.
Achava graça: Situação em que os alunos achavam divertido, cômico,
muita graça e faziam rir. Respostas dos alunos: “Dava risada”, “É
engraçado”, “Todos riem”, “Damos risada”, “Foi de brincadeira”, “Estava
brincando”.
Incomodado com a situação: Importunado, irritado, molestado.
Respostas dos alunos: “Acho chato”, “Tentava melhorar a situação”, “É
horrível”, “Fiquei constrangido”, “Fiquei magoada”, “Fiquei triste”, “Fico com
muita raiva”, “Fico chateada”, “Me senti envergonhada”, “Fico estressada”,
“Começou a ficar insuportável”, “Fiquei horrorizada”.
Neste sentido, foram apresentados os resultados das questões abertas após
a categorização das informações:
a) Comportamento do aluno frente a atos de BULLYING na sala de aula.
Em relação ao comportamento frente a atos de BULLYING na sala de aula
(Quadro 4), constatou-se que e o incômodo com a situação diminuiu
significativamente na comparação do pré e pós-teste, nos dois grupos. Esses dados
podem sugerir duas possibilidades: ou os alunos em alguns momentos se tornaram
indiferentes diante dos casos de BULLYING ou as ocorrências do fenômeno
diminuíram.
Quadro 4 – Qual o seu comportamento frente a atos de BULLYING na sala de aula?
Categorias Com Intervenção Sem Intervenção
Pré Pós Pré Pós
Apatia 17 (68,0%) 13 (52,0%) 30 (76,9%) 18 (46,2%)
Defesa 7 (28,0%) 10 (40,0%) 8 (20,5%) 10 (25,6%)
Achava graça 3 (12,0%) 2 (8,0%) 7 (17,4%) -
Incomodado com a situação 6 (24,0%) 1 (4,0%) 9 (23,1%) 5 (12,8%)
Fonte: Autora.
Entretanto, nos grupos com e sem intervenção, houve aumento no percentual
referente ao comportamento associado à defesa frente ao BULLYING, indicando que
os alunos não se sentem bem e possivelmente não concordem com
comportamentos/atos de BULLYING.
No grupo que recebeu intervenção houve diminuição do comportamento de
achar graça no pós-teste, sendo este fato muito relevante, pois, evidencia que a
intervenção favoreceu esclarecimentos sobre a seriedade e consequências
envolvidas nos atos de BULLYING.
b) Comportamento do aluno frente a atos de BULLYING na aula de
Educação Física.
Na questão referente ao comportamento frente a atos de BULLYING na aula
de Educação Física, constatou-se que a apatia diminuiu na comparação do pré com
o pós-teste, tanto no grupo com intervenção (Pré-teste = 60,0% e Pós-teste =
36,0%) quanto no grupo sem intervenção (Pré-teste = 61,5% e Pós-teste = 35,9%).
Esses dados evidenciam que os alunos passaram a ter mais preocupação com os
atos de BULLYING ocorridos nas aulas de Educação Física, pois, possivelmente,
começaram a se colocar no lugar dos outros.
Quadro 5 – Qual o seu comportamento frente a atos de BULLYING na aula de Educação Física?
Categorias Com Intervenção Sem Intervenção
Pré Pós Pré Pós
Apatia 15 (60,0%) 9 (36,0%) 24 (61,5%) 14 (35,9%)
Defesa 3 (7,6%) 6 (24,0%) 15 (38,5%) 8 (20,5%)
Incomodado com a situação 2 (8,0%) 2 (8,0%) 1 (2,6%) 2 (5,1%)
Achava graça - 1 (4,0%) 2 (5,1%) 2 (5,1%)
Fonte: Autora.
No que diz respeito ao comportamento de defesa, no grupo com intervenção
os índices aumentaram e no grupo sem intervenção, diminuíram, no pós-teste. Em
relação ao incômodo com a situação, no grupo com intervenção não houve alteração
nas respostas no pós-teste e no grupo sem intervenção os índices aumentaram um
pouco, evidenciando preocupação dos alunos diante dos atos de BULLYING na
Educação Física.
Um número pequeno de alunos achou graça da situação no pós-teste nos
dois grupos, demonstrando que os mesmos compreendem a seriedade do assunto,
mantendo postura adequada diante das situações de BULLYING nas aulas de
Educação Física.
c) Comportamento frente a atos de BULLYING que o aluno sofreu na
escola.
No que diz respeito ao comportamento diante de atos de BULLYING sofridos
na escola (Quadro 6), observou-se que a apatia e comportamentos relacionados à
defesa diminuíram na comparação do pré com o pós-teste, tanto no grupo com
intervenção quanto no grupo sem intervenção, evidenciando uma certa contradição
nas respostas. Pois, ao mesmo tempo que passaram a ter mais atitude frente ao
atos de BULLYING que sofreram, tornaram-se mais apáticos.
Quadro 6 - Qual o seu comportamento frente a atos de BULLYING que você sofreu na
escola?
Categorias Com Intervenção Sem Intervenção
Pré Pós Pré Pós
Apatia 8 (32,0%) 7 (28,0%) 8 (20,5%) 4 (10,2%)
Defesa 5 (20,0%) 4 (16,0%) 18 (46,1%) 12 (30,7%)
Incomodado com a situação 8 (32,0%) 11 (44,0%) 6 (15,3%) 4 (10,2%)
Achava graça 2 (8,0%) 4 (16,0%) 3 (7,7%) 1 (2,6%)
Fonte: Autora.
No grupo com intervenção houve um aumento no índice frente aos
comportamentos associados ao incômodo com a situação, no pós-teste, podendo
significar que os alunos passaram a perceber que o BULLYING é um ato que deve
ser combatido. No entanto, ocorreu também um aumento no índice referente ao
comportamento de achar graça, fator que demonstra contradição em relação à
questão anterior. No grupo que não recebeu intervenção houve diminuição quanto
ao comportamento de achar graça, o que evidencia que estes alunos mesmo sem
terem recebido as informações da intervenção, estão mais atentos quanto aos atos
de BULLYING que sofreram na escola.
d) Comportamento do aluno frente a atos de BULLYING que sofreu na
aula de Educação Física.
Na questão referente ao comportamento frente a ato de BULLYING sofrido na
aula de Educação Física (Quadro 7), constatou-se que a apatia manteve-se a
mesma no grupo com intervenção tanto no pré quanto no pós-teste. Já no grupo que
não recebeu intervenção os comportamentos de apatia diminuíram (Pré-teste =
30,7% e Pós-teste = 23,1%).
Quadro 7 - Qual o seu comportamento frente a atos de BULLYING que você sofreu na aula
de Educação Física? Categorias Com Intervenção Sem Intervenção
Pré Pós Pré Pós
Apatia 5 (20,0%) 5 (20,0%) 12 (30,7%) 9 (23,1%)
Defesa - 4 (16,0%) 13 (33,33%) 6 (15,3%)
Incomodado com a situação 2 (8,0%) 4 (16,0%) 2 (5,1%) -
Achava graça - - 2 (5,1%) -
Fonte: Autora.
Dados relevantes foram obtidos no grupo que participou da intervenção, no
que diz respeito aos comportamentos associados ao incômodo com a situação (Pré-
teste = 8,0% e Pós-teste = 16,0%), o que deixa claro que os alunos que receberam
as informações na intervenção, passaram a compreender melhor seus direitos e
deveres no que concerne à prática do BULLYING. Por outro lado, no grupo sem
intervenção houve diminuição no índice referente aos comportamentos associados à
defesa e ao incômodo com a situação, o que pode sugerir que em certos momentos,
tornaram-se indiferentes à situação.
e) Comportamento frente a atos de BULLYING que você presenciou na
escola.
Em relação ao comportamento apresentado ao observar ato de BULLYING na
escola (Quadro 8), constatou-se que a apatia diante de atos de BULLYING
presenciados na escola diminuíram na comparação do pré com pós teste tanto no
grupo com intervenção quanto no grupo sem intervenção, fator que sugere que os
alunos estão atentos e preocupados com o fenômeno BULLYING dentro das
unidades escolares.
Quadro 8 - Qual o seu comportamento frente a atos de BULLYING que você presenciou na escola?
Categorias Com Intervenção Sem Intervenção
Pré Pós Pré Pós
Apatia 16 (64,0%) 13 (52,0%) 34 (87,1%) 12 (30,7%)
Defesa 6 (24,0%) 9 (36,0%) 5 (12,8%) 10 (25,6%)
Incomodado com a situação 2 (8,0%) 1 (4,0%) 4 (10,2%) 3 (7,7%)
Achava graça - 3 (12,0%) 4 (10,2%) 2 (5,1%)
Fonte: Autora.
Dado relevante refere-se ao comportamento de defesa frente ao ato de
BULLYING presenciado na escola que aumentou na comparação do pré com o pós-
teste, tanto no grupo com intervenção (Pré = 24,0% e Pós = 36,0%) quanto no grupo
sem intervenção (Pré-teste = 12,8% e Pós-teste = 25,6%). Esses dados sugerem
que os alunos têm buscado formas para se proteger de eventos relacionados o
BULLYING na escola.
f) Prática do BULLYING pelo aluno na escola.
Em relação ao questionamento: por que praticou BULLYING na escola
(Quadro 9), constatou-se que o número de alunos que justificaram a prática de tal
ato por acharem graça da situação aumentou no grupo com intervenção (Pré-teste =
44,0% e Pós-teste = 64%), o que pode significar que as informações recebidas na
intervenção foram esclarecedoras e os levaram a entender melhor o que é
considerado atos de BULLYING.
Quadro 9 - Por que praticou BULLYING na escola?
Categorias Com Intervenção Sem Intervenção
Pré Pós Pré Pós
Achava graça 11 (44,0%) 16 (64,0%) 10 (25,6%) 3 (7,7%)
Defesa 4 (16,0%) 4 (16,0%) 17 (43,5%) 11 (28,2%)
Incomodado com a situação 3 (12,0%) 1 (4,0%) - 1 (2,6%)
Fonte: Autora.
No grupo sem intervenção um número significativo de alunos respondeu no
pré-teste que praticavam atos de BULLYING para defender-se de alguma situação,
indicando que estes alunos, justificam a prática de BULLYING como uma forma para
defender-se de atitudes possivelmente discriminatórias, agressivas, ofensivas entre
outras. Tal situação poderia ser amenizada, com a realização de uma
formação/capacitação aos estudantes, a exemplo do que foi realizado no grupo que
recebeu intervenção, ou seja, esses alunos necessitam de informações e
esclarecimentos sobre BULLYING, principalmente sobre suas consequências e
como combatê-lo.
g) Quais medidas preventivas e educativas os alunos acham que dever
ser tomadas para diminuir o BULLYING na escola.
Nesta pergunta, as questões foram categorizadas em cinco dimensões que
estão descritas a seguir:
Punições severas: Castigo aplicado, punição exemplar, pena,
penalidade, sanção. Respostas dadas pelos alunos: “Tomar surra”,
“Pagar indenização bem alta”, “Ficar depois da aula fazendo atividades
sobre o BULLYING”, “Ganhar suspensão”, “Ficar estudando nas férias”,
“Ficar um ano no presídio”, “Expulsão”, “Advertência”, “Limpar privada e
chão”, “Lavar banheiro todos os dias durante um mês”.
Trabalho comunitário: As atividades realizadas por alguém para
alcançar um determinado fim ou propósito. Respostas dos alunos: “Ajudar
na horta”, “Ajudar as zeladoras”.
Chamar/avisar responsáveis: Mandar vir; convocar para reunião ou
encontro; informar, fazer saber, avisar alguém. Respostas dos alunos:
“Aviso a diretora”, “Reclamei com a professora”, “Chamei a secretária”,
“Aviso o responsável”.
Conscientização: Dar consciência do ato do BULLYING. Respostas dos
alunos: “Professores trabalhar mais o BULLYING, “Projetos para praticar
o assunto”, “Mais inspetores no corredor”.
Pedir desculpas: Respostas dos alunos: “Chamar para se justificar”,
“Pedir desculpas na frente de todos da escola”.
No grupo que participou da intervenção, constatou-se um aumento
significativo, ao comparar-se o pré com o pós-teste, no que diz respeito às medidas
educativas referentes a punições severas e trabalho comunitário (Quadro 10), o que
sugere que os próprios alunos que podem ser tanto as vítimas quanto os
agressores, almejam por medidas preventivas e educativas para os atos de
BULLYING. Além disso, destaca-se neste mesmo grupo, o fato de que um número
insignificante de alunos sugeriu chamar e/ou avisar os responsáveis.
Quadro 10 – Quais medidas preventivas e educativas você acha que precisam ser tomadas para diminuir atos de BULLYING na escola?
Categorias Com Intervenção Sem Intervenção
Pré Pós Pré Pós
Punições severas 19 (76%) 29 (116%) 32 (82,1%) 22 (56,4%)
Trabalho comunitário 5 (20,0%) 14 (56,9%) - -
Chamar/avisar os responsáveis 1 (4,0%) - 12 (30,7%) 4 (10,2%)
Conscientização (palestra/conversa) 8 ( 32,0%) 9 (36,0%) 22 (56,4%) 17 (43,5%)
Pedir desculpas na frente de todos - 6 (24,0%) 1 (2,6%) -
Professores mais rígidos - - 1 (2,6%) -
Fonte: Autora.
Já no grupo sem intervenção, houve diminuição nos índices referentes às
medidas educativas relacionadas a punições severas, chamar/avisar os
responsáveis e conscientização/palestra/conversa, na comparação do pré com o
pós-teste. No que diz respeito a pedir desculpas na frente de todos, o índice
aumentou no grupo com intervenção na comparação do pré com o pós teste,
indicando que, possivelmente, os alunos após os conhecimentos adquiridos na
intervenção, passaram a rever sua postura frente a eventos de BULLYING.
Os dados obtidos nesta questão sugerem, de forma geral, que todos os
alunos envolvidos neste estudo (tanto no grupo de intervenção, quanto os do grupo
de controle), esperam que algum tipo de medida seja tomada em relação aos atos
de BULLYING praticados nas escolas.
Conclusão
Os dados obtidos com esta pesquisa permitiram afirmar que aplicação da
intervenção foi de grande relevância para os alunos, uma vez que foi constatado que
muitos deles passaram a compreender melhor o que é BULLYING, assim como suas
características, consequências e formas de prevenção e minimização de
comportamentos vinculados ao fenômeno.
Outro fator que evidencia a eficácia e relevância do processo de intervenção
refere-se ao fato de que, a maioria dos alunos concorda que medidas preventivas e
educativas devem ser tomadas para diminuir o BULLYING na escola, evidenciando
que os mesmos compreenderam a complexidade e gravidade do fenômeno, assim
como a necessidade de intervir quando os eventos já ocorreram e prevenir antes
que ocorram.
Uma das conclusões obtidas com o estudo foi que todos os alunos que
participaram do grupo de intervenção já tinham ouvido falar sobre o BULLYING
confirmando que esse fenômeno ocorre nas escolas.
Concluiu-se, também, que na escola onde o estudo foi desenvolvido ocorrem
casos de BULLYING com frequência, sendo que tais eventos ocorrem com menor
frequência nas aulas de Educação Física que na sala de aula, contrariando a
hipótese levantada no início da pesquisa.
Foi possível concluir, ainda, que a maior parte dos alunos já sofreu ou sofre
BULLYING, mantendo na maioria das vezes comportamento de incômodo ou apatia
com a situação. Em contrapartida, muitos também praticam atos de BULLYING
alegando que o fazem de “brincadeira”.
A análise dos dados demonstrou que a maioria dos alunos já ouviu falar sobre
o fenômeno BULLYING. Porém, ficou evidente que possuem pouca informação
sobre o assunto ou, confundem suas reais características e consequências, uma vez
que muitas das respostas evidenciaram interpretações contraditórias ou mesmo falta
de compreensão sobre o real sentido da questão.
Vale ressaltar que o comportamento dos alunos frente a atos de BULLYING
oscilou bastante, evidenciando a necessidade de que as escolas ofereçam
oportunidades para que os alunos recebam informações sobre o tema, devendo o
assunto ser abordado em todas as disciplinas, pois os dados evidenciaram que atos
de BULLYING ocorrem mais nas salas de aula que nas aulas de Educação Física
(quando fora de sala).
Dentre os dados obtidos merece destaque o fato de que muitos alunos
justificaram praticar BULLYING na escola por acharem graça da situação ou como
forma de defesa, evidenciando mais uma vez a necessidade de que o assunto seja
amplamente discutido nas unidades escolares, devido à complexidade e gravidade
do tema.
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