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Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Faculdade de Psicologia BULLYING: IDENTIFICANDO E ENFRENTANDO O PROBLEMA. Marina Stevens Beeby São Paulo 2007

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Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

Faculdade de Psicologia

BULLYING:

IDENTIFICANDO E ENFRENTANDO O PROBLEMA.

Marina Stevens Beeby

São Paulo

2007

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Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

Faculdade de Psicologia

BULLYING:

IDENTIFICANDO E ENFRENTANDO O PROBLEMA.

Marina Stevens Beeby

Trabalho de conclusão de curso

como exigência parcial para

graduação no curso de Psicologia,

sob orientação da Profa. Dra.

Marilda Pierro de Oliveira Ribeiro

São Paulo

2007

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To Sandy

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Agradecimentos

Existe etapa de maior percepção de encerramento de TCC do que escrever os

agradecimentos? Esta é a etapa em que se para e pensa sobre todo o processo. Desde aquele

primeiro dia que você não sabia o que fazer e nem por onde começar, até agora em que se olha

para o trabalho todo: consegui.

Primeiro começarei com a definição do tema. Gostaria de agradecer meu

supervisor de seminários Sidney e as pessoas da supervisão que despertaram o tema em mim.

Agradeço a Isadora e ao professor Antônio Carlos pelo material encaminhado. Se não fosse por

vocês, não saberia por onde começar a pesquisa.

Gostaria de agradecer também a todas as escolas que participaram do trabalho.

Sem a ajuda de vocês não existiria minha pesquisa. Espero que tenha conseguido demonstrar

o verdadeiro espírito das instituições.

Agora, num âmbito mais pessoal, quero agradecer muito, mas muito mesmo à

minha mãe. Você foi a minha rocha! Simplesmente a pessoa que mais segurou as pontas e me

ajudou nos desafios encontrados no decorrer desse ano. Não tenho palavras para explicar o

que significou pra mim todo o seu apoio e carinho.

Também quero agradecer à minha família. Minha irmã, que embora me deixe

mais estressada do que já estava, sei que quer o meu bem. Minha prima, que sempre me ajuda

a relaxar quando começo a “pirar” demais. Luciana, Lucia, Marcos e Déia, minha família

adotiva. Sempre recebi muito acolhimento de vocês e agradeço muito por isso. Há muitos

outros familiares importantes que deveria citar, porém acho que deixarei para fazer os

agradecimentos pessoalmente. Por favor não se sintam esquecidos porque amo todos vocês.

O que seria da vida sem os amigos? Meus amigos queridos sempre me ouvindo

e querendo me ajudar nas confusões do 5º ano. Obrigada por tudo: BOC, amigos da PUC,

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amigos do basquete, amigos da escola, amigos dos caminhos da vida. Vocês sabem que são e

porque estão sendo lembrados agora.

Agradeço também à Mônica por ter aceitado tão prontamente o pedido de ser

minha parecerista. Adorei a sua reação imediata de topar ler e participar dessa etapa final do

processo. Obrigada.

E agora por último e não menos importante, mas para fechar com chave de

ouro... Marilda. Difícil escrever. Foram tantas coisas durante esse ano. Entre crises, progressos,

indecisões, correrias, uma verdadeira montanha-russa. Agradeço pela paciência, pelo

comprometimento e principalmente pela disponibilidade. Não é que acabei ?!?!

Obrigada a todos.

Atenciosamente.

Marina Stevens Beeby

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Área de conhecimento: Relações interpessoais – 7.07.05.01-1

Bullying: identificando e enfrentando o problema

Marina Stevens Beeby

Orientador: Profa. Dra. Marilda Pierro de Oliveira Ribeiro

Palavras – chave: bullying; relações na escola; educação.

Resumo:

O presente trabalho teve por objetivo verificar como as escolas têm feito para

identificar e lidar com o bullying. De acordo com Lopes Neto (2005, pág 165), “bullying

compreende todas as atitudes agressivas, intencionais e repetidas, que ocorrem sem motivação

evidente, adotadas por um ou mais estudantes contra outro (s), causando dor e angústia, sendo

executadas dentro de uma relação desigual de poder". Para realizar o meu trabalho, comecei

buscando referências sobre o assunto, para assim conhecer melhor o termo e tudo que implica.

Percebi que as definições estavam semelhantes em todas as referências, porém, como

identificar o bullying, me pareceu complexo e difícil. Após a pesquisa, iniciei a etapa de coleta

de dados em instituições variadas de São Paulo. Foram feitas entrevistas com os

coordenadores/orientadores de 5 escolas ao todo, sendo 1 pública e 4 particulares. Os dados

obtidos mostraram que as escolas estavam conscientes da questão e de que de uma maneira,

ou de outra, atuam no sentido de tentar reduzir a incidência do problema. Apesar da

consciência das escolas sobre o bullying, identificá-lo de forma eficiente ainda é difícil. Ao

concluir o trabalho, fica claro que o bullying é um problema sério e que não deve ser ignorado.

As escolas preparadas para lidar com ele e as escolas que agem diariamente na prevenção do

mesmo estão no caminho para melhorar os relacionamentos nas escolas. A educação é um

grande desafio e uma etapa importante da vida de qualquer individuo e o bullying pode tornar

essa experiência negativa para qualquer ser humano. Meu trabalho surge como mais uma

maneira de conscientizar os leitores disso.

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Abstract:

This paper aims at verifying what schools in general have been doing in order to

identify and deal with the bullying issue. According to Lopes Neto (2005, page 165), “Bullying

involves all agressive attitudes, intentional and repeated, which occur without any apparent

reason, adopted by one or several students against another collegue(s), causing pain and

anguish, therefore bein carried out in a relation of unequal power”. To write this paper, I have

started researching references to the topic to better get to know what this is and what it implies. I

have noticed that all definitions found were similar, however, how to identify this phenomenon

appeared to be difficult and complex. After the research, I started collecting data in several

educational institutions in São Paulo where I interviewed coordinators and councillor of a total of

5 schools, 1 public and 4 private. All the information obtained showed that all schools are aware

of the problem in one way or another, and have a policy of trying to reduce its occurence.

Allthough schoolls have this awareness, it is still a challenge to efficiently discover these

agressions. When concluding this work it was clear to me that bullying is a serious problem that

can`t be ignored. Schools that are prepared to deal with this issue and act daily towards its

prevention are on the right path to improoving human relations on the school grounds. Education

is a big challenge and a very important stage in any person’s life, and bullying can transform this

into a negative experience for any human being. My work comes as a new way to make readers

aware of this phenomenon.

Key Words: Bullying, school relations, education.

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Sumário

1- Introdução 10

1.1- Manifestações do bullying 14

1.2- Histórico 15

1.3- Tipos de envolvimento com o bullying 16

1.3.1 - Autores/Agressores 18

1.3.2 - Alvos/Vitimas 19

1.3.3 - Alvos/Autores 20

1.3.4 - Testemunhas/Espectadores 21

1.4- Conseqüências dos bullying 22

1.5- Como lidar com o bullying 23

1.6- O bullying e a Internet 26

2- Objetivo 28

2.1- Metodologia 28

2.2- Características das instituições 29

2.3- Procedimentos das entrevistas 30

3- Resultados 31

3.1- Principais características da instituição na visão dos entrevistados 31

3.2- Preocupações atuais 34

3.3- Concepção de bullying 36

3.4- Identificação de bullying 38

3.5- Casos ocorridos e medidas tomadas 40

3.6- O combate e a prevenção na escola 42

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4- Discussão 46

5- Referências bibliográficas e sites consultados 58

6- Anexos 60

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1- Introdução:

Entre os assuntos importantes que nos aparecem referentes à saúde pública, a

violência tem demandado atenção pelo seu caráter crescente de incidência, com suas

conseqüências significativas, tanto no âmbito individual como também no social,

particularmente para os jovens, que cada vez mais morrem e se matam devido a situações

violentas (Lopes Neto, 2005).

Quando pensamos no surgimento da violência na nossa sociedade, uma das

justificativas que encontrei é de que há no cotidiano diversos estímulos involuntários para

optarmos pelo desrespeito e pela agressão, ao invés da cooperação e da solidariedade. Essa

justificativa é abordado por Taylor e Beaudoin (2006), quando elas trazem os discursos culturais

que afetam às nossas ações. Discursos culturais são aqueles discursos presentes no nosso

dia-a-dia, que nos guiam nas nossas ações. Entre eles temos o patriarcado, o individualismo, o

adultismo, o capitalismo, o racismo, a homofobia, o sexismo, entre outros. Esses discursos nos

afetam porque criam bloqueios culturais. Mas o que seriam esses bloqueios culturais? Taylor e

Beaudoin (2006) acreditam que quando escolhemos a ação a ser tomada para resolver um

problema, essa escolha foi baseada na nossa cultura, na cultura em que o individuo está

inserido. Por exemplo, se um garoto começa a berrar numa sala de aula, alguns professores de

determinados lugares do mundo, vão pensar que ele está querendo atrapalhar a aula, enquanto

outros professores de outros lugares podem acreditar que o garoto foi possuído por um ser

desconhecido. Para você acreditar em uma coisa ou outra, você precisa ter sido apresentado

de alguma forma à solução do problema que lhe aparece. Nesse caso, a sua cultura pode ter

lhe ensinado que o garoto provavelmente foi possuído e se torna inconcebível para você que o

garoto queira atrapalhar, tudo isso porque essa solução nunca lhe foi apresentada, essa

solução não faz parte dos seus discursos culturais. Não criamos uma solução do nada, ela já

lhe foi inserida pela sua cultura. Com a violência e o desrespeito a questão é semelhante.

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Muitas pessoas podem afirmar serem contra a agressão, porém por estarem inseridas em um

contexto violento, passam a se voltar para a violência como uma solução para determinados

problemas, simplesmente porque há bloqueios culturais que o impedem de pensar em outra

alternativa.

Além da influência da nossa cultura nas nossas escolhas por atos violentos,

devemos refletir sobre algumas práticas educativas que também influenciam na violência e no

desrespeito. Exemplo disso é a competição como motivador educacional para tentar melhorar o

desempenho dos alunos. Isso faz com que os alunos se concentrem apenas em si mesmos,

não se importando com a comunidade em que estão inseridos. Para alcançar um objetivo, os

alunos passam por cima dos outros, acreditando que o fim justifica os meios. Toda essa

competitividade faz com que o compartilhar e o cooperar com os outros sejam opções menos

atraentes de aprendizado e dedicação a esse processo, do que uma competição. A descoberta

de um conhecimento novo passa a ser desvalorizado e a nota é o mais importante. Também é

freqüente nesse quadro o aumento de conflitos entre os alunos, além dos comentários

maldosos. Todo esse enfoque na competição faz com que os ganhos tragam status para o

vencedor e a avaliação (feita por outros e por si mesmo) passa a ser fator de grande influência.

Toda essa situação leva a uma falta de vínculos, um estresse excessivo e a uma frustração

inevitável (Taylor e Beaudoin, 2006).

Em sua pesquisa, Martins (2005), define conduta agressiva como aquela que

gera um dano, seja ele físico ou psicológico, a outra pessoa, além de uma possível perda ou

dano de pertences. Também descobre em seu trabalho, que a violência pode ser resultante de

uma ação, ou seja, uma reação a algo que aconteceu, ou então acontece para que o autor

consiga obter algo, como um objeto ou status. Entre as possíveis fontes de indisciplina de um

aluno, afirma que podem ser contra às “regras de produção”(regras da instituição); ou resultante

de um conflito inter-pares; ou devido a conflitos na relação professor-aluno.

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No ambiente escolar não é incomum ouvirmos falar sobre violência. Para

Abramovay e Rua (2002) podemos categorizar a violência em 3 categorias principais. A

primeira categoria engloba a violência contra a pessoa, estando nesta categoria ameaças,

brigas, violência sexual, com uso de armas, e outros (ferimentos graves e morte). A segunda

categoria se refere à violência contra a propriedade e nessa categoria estão roubos, furtos e

assaltos. E a terceira categoria abrange a violência contra um patrimônio. No ambiente escolar,

o tipo de violência mais comum é do tipo físico, onde há um contato. Muitas vezes, a violência

dentro da escola pode ser conseqüência de algo externo à ela, como por exemplo, questões de

classe social. Também é muito comum o ato violento acontecer nos arredores da escola, porém

proveniente de algo que ocorreu em seu espaço.

Uma das subcategorias relacionadas à violência escolar, refere-se ao bullying.

Bullying é uma palavra da língua inglesa que se refere a um “desejo consciente e deliberado de

maltratar uma outra pessoa e colocá-la sob tensão, termo que conceitua os comportamentos

agressivos e anti-sociais, utilizada pela literatura anglo-saxônica nos estudos sobre o problema

de violência escolar” (Fante, 2005, pág 27). Por ser uma palavra com difícil tradução para

outras línguas, tem sido usada como termo oficial do ato. Outras palavras também são

utilizadas para se referir ao bullying, como por exemplo provocação/vitimação e intimidação,

porém, nenhuma das duas consegue abranger tudo a que bullying se refere.

Quando falamos sobre BULLYING, estamos , de acordo com Olweus falando que

“um aluno está a ser provocado/vitimado quando ele ou ela está exposto, repetidamente e ao

longo do tempo, a ações negativas da parte de uma ou mais pessoas” (Olweus, 1991, 1993,

1994, apud Carvalhosa, Lima e Matos 2002, pág 1) . Essa ação negativa pode ser considerada

como qualquer situação em que uma pessoa tente causar danos ou mal-estar a outro, sendo

que este outro não é capaz de se defender, nem de motivar pessoas a ajudá-lo.

De acordo com Lopes Neto (2005, pág 165), “bullying compreende todas as

atitudes agressivas, intencionais e repetidas, que ocorrem sem motivação evidente, adotadas

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por um ou mais estudantes contra outro(s), causando dor e angústia, sendo executadas dentro

de uma relação desigual de poder”. Lopes Neto traz um fator importante que é justamente o

aspecto do bullying que se refere a esses atos como uma forma de afirmação de poder. Ou

seja, para qualquer ato de violência ou de agressão ser considerado bullying deve haver uma

diferença de poder entre o autor e o alvo. Essa diferença pode estar relacionada à diferença de

idade, de tamanho, de desenvolvimento físico, de desenvolvimento emocional, ou simplesmente

por ter um maior apoio dos outros estudantes.

As autoras Carvalhosa, Lima e Matos (2002) trazem em sua pesquisa, três

critérios fundamentais para que a ação seja considerada bullying. Em primeiro lugar, a ação tem

o objetivo de causar mal-estar a alguém e é também para se conseguir controlar esse alguém.

Em segundo lugar, acontece de forma crônica e regular. Em terceiro lugar, os agressores,

consideram suas vitimas como “um alvo fácil”, devido a diferença de poder encontrada nessa

relação. As autoras também acreditam que para uma ação ser considerada bullying deve haver

a diferença de poder na relação.

Martins (2005) completa dizendo que o bullying é praticado porque a partir das

ações agressivas, o autor sempre recebe algum tipo de gratificação, seja ela psicológica, seja

status, ou seja ganhos de objetos e dinheiro.

Fante (2005) afirma que um dos fatores que levam ao bullying é o fato de já ser

comum, em uma sala de aula, haver tensões e conflitos entre os alunos. Essas tensões

facilitam o surgimento de situações agressivas. Também afirma que é inegável a sua presença

nas escolas, sejam elas particulares ou públicas, grandes ou pequenas, de cidades grandes ou

cidades menores, séries iniciais ou finais.

Beaudoin e Taylor (2006) relatam que o bullying e sua freqüência são

conseqüência de uma sociedade que predominantemente emite respostas a estímulos

relacionados a atos violentos. Ou seja, quando uma criança enfrenta um desafio, o seu contexto

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cultural, a sua experiência de vida, a leva a agir de modo violento. A agressão se torna uma

solução para resolver conflitos.

Nenhuma dessas definições deve ser excluída quando pensamos o bullying.

Juntas, elas apresentam tudo a que a definição de bullying implica, como por exemplo a

obtenção de ganhos pelo agressor e o alvo se sentir mal com as ações. É interessante perceber

que a questão do poder é trazida por esses autores como fator fundamental para a violência ser

considerada bullying. Não é considerado bullying quando duas crianças de mesma idade,

mesma altura e mesmo desenvolvimento brigam. Isso porque não envolveria nesse caso a

diferença de poder.

1.1- Manifestações do bullying

Algumas ações podem estar presentes quando falamos de bullying. Entre elas

encontramos: ofender; “zoar”; humilhar; fazer sofrer; discriminar; excluir; isolar; assediar;

dominar; agredir; ferir; roubar; quebrar pertences; entre outras. Todos os autores consultados

trazem uma classificação das ações envolvidas.

Para Martins (2005), o bullying pode ser:

- Direto e físico, incluindo assim o bater, o ameaçar e o roubar.

- Direto e verbal, que diz respeito aos insultos e gozações.

- Indireto, manifestando-se através da exclusão do outro e das fofocas.

Na pesquisa de Carvalhos, Lima e Matos (2002), elas concluem que o bullying

pode ser físico, verbal, psicológico e /ou sexual.

Lopes Neto (2005) e Fante (2005), além de falarem dos tipos de bullying diretos e

indiretos, também mencionam o cyberbullying, em que se usa a tecnologia para causar mal-

estar repetidas vezes em outros sujeitos.

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1.2- Histórico

De acordo com a ABRAPIA (Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção

a Infância e a Adolescência), apenas recentemente começou-se a falar sobre o bullying. As

pesquisas começaram a se destacar apenas a partir de 1990. As pesquisas sobre o assunto

surgiram na Noruega, através dos trabalhos do professor Dan Olweus, na Universidade de

Bergen, entre 1978 a 1993. Depois, em 1993, na Noruega, surgiu a Campanha Nacional Anti-

bullying. Naquela época, acreditava-se que 1 em cada 7 alunos estava envolvido com o

bullying.

Com esse primeiro trabalho de Olweus outros paises da Europa começaram a

investir em conhecimentos relacionados ao bullying. Entre eles podemos afirmar Reino Unido,

Portugal e Espanha. Nas campanhas desenvolvidas na Europa para conhecer e combater o

bullying, alguns objetivos podem se destacados: os países queriam saber o porquê do bullying,

como varia de lugar em lugar; também queriam conhecer as conseqüências a longo prazo;

queriam avaliar as intervenções que vinham sendo feitas; e, por fim, queriam juntar diversos

métodos e programas de prevenção para fazer um programa mais efetivo

(www.bullying.com.br).

Hoje em dia, o bullying é percebido como um problema mundial, que preocupa a

maioria dos países do mundo, alguns mais e outros menos. Porém, é algo que não pode ser

ignorado pela população. De acordo com a Abrapia, o bullying é encontrado em todas escolas,

independentemente do tamanho, das séries, da classe social, e do local em que está inserida,

ou seja, não há um padrão de escola onde o bullying apareça com maior freqüência. Portanto, o

que ocorre, é que quando uma instituição afirma que não tem problemas relacionados ao

bullying, é porque provavelmente não admite que ocorra e se nega a enfrentar, ou porque não

conhece o problema.

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Há alguns casos que já se tornaram de conhecimento mundial, como por

exemplo Columbine, nos Estados Unidos, onde 2 alunos mataram 13 colegas, feriram dezenas

de outros, e depois se mataram. De acordo com a polícia, esses alunos haviam sido vítimas de

bullying. No Brasil também temos casos conhecidos como o de Edemar Freitas, que feriu 7 ex-

colegas e depois se matou. Descobriu-se depois que era chamado de “gordinho” desde a

infância (Veiga, 2004).

1.3- Tipos de envolvimento com o bullying

Há várias maneiras pelas quais uma pessoa pode estar envolvida no bullying.

Antes de apresentar os dados levantados pelos autores pesquisados, acredito que cabe

explicar um pouco sobre como os dados foram obtidos.

Uma das principais pesquisas utilizadas como fonte para o meu trabalho, foi a

realizada pela ABRAPIA (Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção a Infância e a

Adolescência). Esses dados surgiram devido a um programa de combate ao comportamento

agressivo, e seria necessário realizar um diagnóstico da situação. Participaram 11 escolas do

município do Rio de Janeiro e a conscientização do problema era um dos objetivos. Foi aplicado

um questionário com uma pequena explicação do bullying. Responderam crianças de 5ª a 8ª

série, num total de 7757, com idades entre 10 a 20 anos. Os dados foram tabulados pelo

IBOPE e análise foi feita pela coordenação do projeto.

A pesquisa realizada pela ABRAPIA foi fonte de dados de alguns trabalhos

utilizados. O site www.bullying.com.br utilizou os dados da ABRAPIA, assim como Lopes Neto

(2005) que foi um dos pesquisadores da mesma. Esse dado explicita minha visão de que as

pesquisas e os trabalhos sobre os assuntos são todos de fontes semelhantes. Lopes Neto

(2005) ainda completa o seu artigo com dados de pesquisas de outros autores. Martins (2005)

obteve seus dados também de outras pesquisas realizadas, não executando nenhuma

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pesquisa própria. As informações foram colhidas de trabalhos ingleses, americanos, espanhóis,

portugueses, entre outros.

Já os dados utilizados por Carvalhosa, Lima e Matos (2002) são resultado de um

trabalho realizado pelas autoras. Foram aplicados questionários em 191 escolas nacionais,

lembrando que a pesquisa foi realizada em Portugal. Totalizaram 6903 alunos, sendo 53% do

sexo feminino e 47% do sexo masculino. Foram selecionados alunos de 6º, 8º e 10º anos e com

idades médias de 11, 13 e 16 anos.

Os dados de Fante foram levantados a partir de 4 estudos que ela realizou no

interior de São Paulo. O primeiro foi em Barretos, em 2000. Foi aplicado um questionário em

430 alunos de 5ª a 8ª série do ensino fundamental e 1º e 2º ano do ensino médio, de uma

instituição particular. O segundo estudo em 2001 foi realizado em dois municípios do interior,

em 5 escolas públicas e particulares. Nesse trabalho contou com uma amostra de 431 alunos,

de 7 a 16 anos, e o principal objetivo era identificar o fenômeno e quantificar seus índices. Um

terceiro estudo foi realizado em São José do Rio Preto, em 2002, numa escola publica com 450

alunos. Nessa pesquisa utilizou se de questionários que foram aplicados em professores,

funcionários e alunos. O quarto trabalho foi realizado em 2003, numa cidade com cerca de 10

mil habitantes. Participaram da pesquisa 450 alunos de 5ª a 8ª série de uma escola pública.

Agora que já sabem sobre as fontes dos dados irei evidenciá-los. Entre os tipos

de envolvimento com o bullying o aluno pode ser: autor/agressor; alvo/vítima; autora/alvo; e

testemunha. Entre os envolvidos há uma freqüência maior do sexo masculino, sendo que as

vítimas de sexo masculino são geralmente agredidos por pessoas também do sexo masculino,

enquanto vitimas do sexo feminino são agredidas por ambos os sexos. Enquanto as agressões

masculinos são mais físicas, as agressões femininas são mais indiretas (Carvalhos, Lima e

Matos, 2002, Lopes Neto, 2005, http://www.bullying.com.br). Carvalhos, Lima e Matos (2002),

acreditam que a incidência diminui com o passar dos anos, conforme aumenta a idade dos

alunos.

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“O levantamento realizado pela ABRAPIA, em 2002, envolvendo 5875 estudantes

de 5a a 8a séries, de onze escolas localizadas no município do Rio de Janeiro, revelou que

40,5% desses alunos admitiram ter estado diretamente envolvidos em atos de bullying, naquele

ano, sendo 16,9% alvos, 10,9% alvos/autores e 12,7% autores de bullying.”

(http://www.bullying.com.br ). Nessa mesma pesquisa, conclui-se que o bullying ocorre com

maior freqüência entre alunos de 5ª e 6ª série, e que 59,8 % das vezes, ocorre dentro da sala

de aula.

Para Lopes Neto (2005), embora a incidência em sala de aula seja alta, como o

ato não ocorre no campo de visão dos adultos, professores e pais não conseguem perceber a

gravidade do problema, e acabam não lidando com a questão porque os alunos não

manifestam o que estão vivenciando.

1.3.1 - Autores / Agressores:

São aqueles que freqüentemente implicam com os outros, ou que batem, ou que

lhes causam mal-estar, sem uma razão aparente. Acredita-se que há fatores individuais e

fatores de estrutura familiar que interferem para que alguém se torne um autor de bullying

(Carvalhos, Lima e Matos, 2002, Lopes Neto, 2005). A família tende a ser pouco afetiva,

agressiva e ao mesmo tempo permissiva. Quanto a características pessoais, os autores tendem

a não se relacionar bem com a escola e os estudos, aceitam a violência, são hiperativos e tem

tendências a depressão (Carvalhos, Lima e Matos 2002).

Fante (2005) afirma que há fatores familiares que contribuem para condutas

agressivas. São elas: maus-tratos no contexto familiar; métodos educativos inconsistentes;

família desestruturada; e falta de tempo dos pais para estarem com os filhos.

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Todos esses pontos levantados quanto a características pessoais e das famílias

dos autores acabam por tirar a parte que cabe à escola no surgimento do bullying. Seria

importante repensar o papel da escola no surgimento da violência nesses espaços.

Há uma diferença nas definições de agressor entre Lopes Neto (2005) e

Carvalhosa, Lima e Matos (2002). Lopes Neto afirma que o autor é tipicamente popular e

mantêm muitos amigos que são cúmplices e co-autores de bullying, enquanto Carvalhosa, Lima

e Matos afirmam que os autores são isolados, com poucos amigos. É de se questionar se o que

Lopes Neto refere como “tendo muitos amigos”, não seria os alunos se aproximarem do autor

de bullying, justamente para não se tornar a próxima vitima.

Acredita-se que, quanto mais cedo alguém apresenta comportamentos

agressivos, mais difícil será para essa pessoa abandonar essas posturas. Ou seja, se alguém

apresenta comportamentos violentos antes da puberdade, é mais provável que ele se torne um

delinqüente, ou bandido, do que alguém que se envolveu com a violência após a puberdade

(Lopes Neto, 2005).

Martins (2005), também afirma que comportamentos anti-sociais surgidos na

infância tendem a permanecer com mais freqüência na fase adulta, do que aqueles

comportamentos anti-sociais desenvolvidos na adolescência. Acredita que é possível que

esses comportamentos anti-sociais sejam abandonados com a ajuda de um parceiro não-

agressivo. Esses comportamentos surgiriam na vida de uma pessoa de forma diferente em

cada fase de desenvolvimento. Enquanto a criança agiria agressivamente devido a questões

familiares, de auto-controle e problemas neuro-cognitivos, o adolescente adotaria essas

atitudes por influencia de amigos e por seguir valores não convencionais.

1.3.2 - Alvos / Vitimas:

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É aquele aluno exposto com grande freqüência e por um tempo à ações que lhes

causem mal-estar, por parte de outro (s) aluno(s). É um aluno geralmente inseguro, deprimido,

com baixa sociabilidade e que sofre rejeição dos colegas, gerando nele uma aversão à escola

(Carvalhosa, Lima e Matos, 2002). Segundo Lopes Neto, (2005, pág 167) “Sua auto-estima

pode estar tão comprometida que acredita ser merecedor dos maus-tratos sofridos”. É um aluno

com poucos amigos, não conseguindo cessar as ações sozinho, nem pedir auxilio a outros.

Tem tendências a depressão e não gosta da escola. As famílias dos alvos são excessivamente

protetoras, tratam o filho como uma criança e ao mesmo tempo o consideram a ovelha negra da

família.

As vítimas de bullying não costumam manifestar os maus-tratos que vivenciam

por vergonha, por medo de receber punições e também por não acreditar que as pessoas

responsáveis pela turma como a professora, a diretora e outros funcionários do colégio possam

de fato ajudar de alguma maneira. Eles apenas falam quando sentem que serão ajudados e

acolhidos de fato (Lopes Neto, 2005).

A rejeição às diferenças é uma das justificativas aos atos de bullying. O agressor

se utiliza das diferenças entre ele e a vítima para explicar o porque das agressões, porém, não

necessariamente isso é real (Lopes Neto, 2005).

Fante (2005) categoriza as vitimas em três tipos distintos. A vítima típica, que

seria a acima descrita; a vítima provocadora que atrairia reações agressivas dos outros, e não

saberia como se proteger; e, a vítima agressora que será descrita a seguir.

1.3.3 - Alvos/Autores:

De acordo com Lopes Neto (2005), 20% dos alunos autores, também são alvos.

Apresentam baixa auto-estima, comportamentos violentos, insegurança, depressão, e acredita-

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se que praticam o bullying justamente para esconder essas características. Tendem a pensar

em suicídio e com freqüência apresentam distúrbios psiquiátricos.

De acordo com Carvalhos, Lima e Matos (2002), a porcentagem de agressores

que também são alvos é de 3%, uma quantidade significativamente menor que a de Lopes

Neto. Esses alunos são os que não conseguem formar muitas amizades e geralmente não

gostam da escola. Também sofrem violência em casa e rejeição pelos pais. Tendem a ser de

níveis sócio-econômicos mais baixos.

Essa diferença de porcentagem encontrada nas pesquisas pode ser explicada

pela localização, visto que a pesquisa de Lopes Neto foi realizada apenas no município do Rio

de Janeiro, enquanto a pesquisa de Carvalhosa, Lima e Matos foi realizada em escolas

nacionais de 6 distritos. Essa é a única explicação que me ocorre porque o número de alunos

que responderam ao questionário é relativamente próximo e as séries pesquisadas são também

parecidas, conforme mencionei anteriormente.

1.3.4 - Testemunhas / Espectadores:

As testemunhas são todos aqueles alunos que não se enquadram em nenhuma

das três acima e que apesar de não praticarem e nem sofrerem com os atos de bullying,

convivem em um espaço onde isso ocorre, podendo assim atrapalhar o seu progresso na

escola. Esse grupo abrange a maioria dos alunos que não se manifesta por medo de ser o

próximo alvo. Também não se manifestam por não saberem o que fazer, a quem denunciar e

que atitudes podem tomar. Essa não manifestação das testemunhas faz com que os autores se

sintam livres para manterem seus comportamentos. Também gera outra conseqüência que é a

própria testemunha se tornar autor para adquirir uma ascensão social. É provável que com o

início de manifestações das testemunhas contra o bullying e a não aceitação pronunciada dos

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ataques, possa diminuir a freqüência desse fenômeno, porque o autor não sente o apoio

necessário para manter as ações (Lopes Neto 2005, http://www.bullying.com.br ).

1.4 - Conseqüências do bullying

A violência no ambiente escolar pode gerar graves conseqüências. Ela

compromete a identidade da escola como um lugar de socialização positiva e provedor de

conhecimento. Os alunos podem deixar de se concentrar nos estudos devido ao nervosismo

gerado pelos atos violentos, além de possivelmente pararem de freqüentar o colégio. Também

pode fazer com que professores se afastem de determinadas instituições, buscando um lugar

mais seguro para trabalhar (Abramovay e Rua, 2002).

De acordo com Lopes Neto (2005), devido aos atos de bullying, autores, alvos e

vitimas podem enfrentar conseqüências físicas e emocionais, que podem levar a dificuldades

acadêmicas, sociais, emocionais e legais. Alvos, autores e alvos/autores tendem a abusar de

drogas legais e ilegais, álcool e cigarro. Também pode-se enfrentar problemas financeiros e

sociais, pela necessidade de se buscar serviços diversos para auxiliar o aluno, como médicos,

educadores e psicólogos.

Com as vitimas, pode se desencadear depressão e baixa auto-estima (Lopes

Neto, 2005). O agressor pode permanecer com comportamentos anti-sociais ao longo da vida e

perder oportunidades por falta de estabilidade, além de se envolver em condutas criminosas

(Martins, 2005). Em entrevista à revista Época, o psicólogo Marco Antonio de Tomazzo afirma

que: “quem é chamado de baleia ou frangueiro na infância nunca esquece” (Veiga, 2004).

Quanto às conseqüências de bullying para o alvo, Fante (2005, pág 78) afirma

que: “a não-superação do trauma poderá desencadear processos prejudiciais ao seu

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desenvolvimento psíquico, uma vez que a experiência traumatizante orientará

inconscientemente o seu comportamento, mais para evitar novos traumas do que para buscar

sua auto-superação”. É preocupante pensar que algo vivenciado na infância possa afetar a vida

de uma pessoa para sempre.

É importante ressaltar que as atitudes de bullying trazem sérias conseqüências

para o ambiente escolar, porque os alunos deixam de se sentir seguros nos mesmos, sentindo

medo e ansiedade sempre que estiverem na instituição de ensino.

1.5 - Como lidar com o bullying.

De acordo com Lopes Neto (2005), “a prevenção contra futuros incidentes pode

ser obtida com orientações sobre medidas de proteção a serem adotadas: ignorar os apelidos,

fazer amizades com colegas não-agressivos, evitar locais de maior risco e informar ao professor

ou funcionário sobre o bullying sofrido”. Também afirma que os pais devem ser informados da

questão e estimulados a procurar ajuda caso necessitem. Acredito que essa abordagem de

prevenção possa ser efetiva num contexto mais micro, ou seja, de estimular um aluno. Para um

contexto mais macro, como por exemplo uma escola, talvez essas ações não sejam suficientes.

Há diversas maneiras de se começar a intervir contra o bullying de forma mais

voltada para a instituição, mas para isso todos devem se envolver: tanto professores, alunos,

pais e funcionários, lembrando-se que uma intervenção não necessariamente serve para todas

as instituições. Enquanto todos os envolvidos, diretamente e indiretamente com a instituição,

não se comprometerem, os resultados não serão os mais eficientes possíveis.

Fante (2005) apresenta três premissas para que o programa de prevenção e

redução de bullying seja eficiente. Em primeiro lugar, não existem soluções simples, isso

porque o fenômeno é complexo e variável. Em segundo lugar, cada escola deve desenvolver o

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seu próprio programa, focando as suas prioridades. Por último, a cooperação de todos

(professores, funcionários, pais, alunos) é fundamental para que a estratégia funcione.

Para se começar a intervir, primeiro a escola precisa ter um diagnóstico

institucional. Qual é a situação daquele ambiente quando falamos em bullying. Fante (2005) traz

a questão da dificuldade em se identificar o bullying, uma vez que pode ser apenas uma

brincadeira para uns, e violência para outros. A partir disso, pode-se pensar em estratégias e

parcerias. Lopes Neto (2005) afirma que também deve-se pensar as características sociais,

econômicas e culturais dessa população.

“Os professores devem lidar e resolver efetivamente os casos de bullying,

enquanto as escolas devem aperfeiçoas suas técnicas de intervenção e buscar a cooperação

de outras instituições, como os centros de saúde, conselhos tutelares e redes de apoio social”

(Lopes Neto, 2005, pág 170). Nesse trecho, verificamos como é importante o professor se

mostrar aberto às testemunhas e vítimas para que eles se manifestem. Esse é um passo

fundamental para se acabar com o bullying nas escolas. Entre as ações a serem tomadas,

devemos pensar na conscientização dos grupos de que o bullying não é aceitável e de que

deve haver um trabalho preventivo em relação a ele.

Precisamos conseguir reconhecer os sinais das vítimas de bullying. Entre eles

encontramos: não querer ir a aula, começar a tirar notas baixas, apresentar descuido com suas

coisas (perde objetos e chega com a roupa rasgada), apresenta manifestações de baixa auto-

estima e evita falar sobre o que está acontecendo (Veiga, 2004).

Deve-se lembrar que ações punitivas com os autores não são uma boa solução,

porque dessa forma é mantida a violência nos comportamentos destes. Suspensões podem

levar esses alunos a desistirem dos estudos. O professor deve-se manter atento a

comportamentos violentos o tempo todo e também deve ser preparado para conseguir

identificar possíveis autores e alvos, lembrando-se de não fazer julgamentos precipitados. A

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atitude atenta do professor pode levar os autores a perceber que não é permitido cometer tais

atos agressivos e assim criar um ambiente mais adequado para o aprendizado.

Taylor e Beaudoin (2006) afirmam que para o combate ao bullying ser eficiente,

deve considerar a importância do respeito, apreciação e tolerância, entre os aprendizados a

serem passados para os alunos. Questões como o vínculo, a diversidade e a colaboração

devem ser trabalhadas para que o programa seja eficiente. Já Fante (2005) acredita que o

fundamental é que os alunos aprendam sobre tolerância e solidariedade, e que se estimule

comportamentos de diálogo, respeito e cooperação. O foco estaria na cooperação e no

solidarismo.

Os métodos a serem utilizados para se combaterem o bullying devem ser

pensados, criticados e repensados. Deve-se usar estratégias que não excluam os autores do

ambiente escolar, mas que também deixem claro a eles que as ações violentas não serão

permitidas. É difícil pensar em combate a outros tipos de violência se a sociedade não

conseguir erradicar essa subcategoria.

Ao concluírem seu trabalho, Abramovay e Rua (2002), apresentam diversas

sugestões para erradicar a violência do espaço escolar, que considero de grande importância

serem aqui citadas. Começam sugerindo que deve-se dar a atenção necessária à segurança do

espaço escolar, não só dentro da instituição, como também em seu entorno, em sua vizinhança.

Também afirmam que o lazer pode ser praticado no espaço escolar e serve como um

aproximador entre a escola, a família e a comunidade. Essa aproximação deve ser buscada

para se combater a violência, além de uma articulação da escola com secretarias, conselhos e

ministérios. A escola deve fazer atividades de conscientização dos alunos contra a violência e

sensibilizar o professor para o problema. O aluno deve ser incentivado a ter participação ativa

na escola, seja em grêmios estudantis, murais, ou outra alternativa. O clima da escola necessita

de cuidado, além de regras bem claras. Também é importante que para se fazer alguma

intervenção, o apoio especializado precisa ser buscado para que a mesma seja mais efetiva.

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Essas sugestões são de simples aplicação e são utilizados por instituições que já possuem

programas de combate à violência.

1.6 - Bullying e a Internet

Acredito que caiba aqui, colocar um pouco a questão do bullying na era da

internet. Um ponto importante que não pode ser esquecido quando falamos em bullying é a

questão do cyberbullying mencionado anteriormente. O que isso implica? Implica em atos de

bullying sendo cometidos com o uso da internet, ou seja, a agilidade desse meio de

comunicação se torna uma imensa fonte de bullying. Para percebermos isso não é muito difícil,

basta entrarmos no orkut ( www.orkut.com ) e veremos uma quantidade enorme de

comunidades “tirando sarro” de alguém, ou explicitando o ódio sentido pela aquela pessoa. Se

olharmos mais de perto, iremos descobrir blogs, fotologs e muitos sites sendo utilizados com o

mesmo propósito: caçoar de alguém, desrespeitar alguém.

Conversando com pessoas conhecidas, tomei conhecimento de casos graves,

como por exemplo jovens que criaram um site divulgando a “amiga” como garota de programa,

como também casos em que uma garota que usa a senha do MSN (www.msn.com) da amiga

para se passar por ela e assim praticar atos de bullying, fazendo-se passar pela amiga. As

alternativas são inúmeras e as conseqüências podem ser intensificadas porque a difamação da

imagem de alguém ocorre mais rapidamente e pode atingir patamares nacionais e

internacionais, fazendo com que a vítima possa ser reconhecida na rua. Por outro lado, a

internet também gera provas contra o autor, fazendo com que o caso seja levado ao tribunal

mais facilmente.

Também não podemos nos esquecer que a Internet tem as suas vantagens no

combate ao bullying. Acessando ao YouTube (www.youtube.com ) e pesquisando a palavra

bullying, podemos encontrar uma infinidade de vídeos informativos sobre o assunto. Desde

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pessoas contando casos ou reportagens que saíram na mídia, ou mesmo campanhas contra o

bullying, explicando os tipos e as conseqüências. É muita informação importante a um click do

mouse. Se entrarmos em um site de buscas (www.google.com. www.terra.com.br,

www.uol.com.br) e digitarmos bullying, teremos acesso a muitos sites nacionais e internacionais

sobre o assunto. As explicações sobre o problema são feitas de forma clara e fáceis de serem

compreendidas. Há espaço para perguntas e respostas, além de dicas para identificar. Os sites

incentivam os leitores a acabar com o bullying. Entrando no site http://bullying.co.uk/, as

crianças podem montar o seu pôster sobre o assunto. O pôster pode entrar para o mural do site

e ser visto pelos visitantes.

Um ponto importante de toda essa informação é de que a internet influenciou o

bullying de duas maneiras significativas. A primeira foi aumentando a intensidade das

agressões, fazendo com que os pais tenham que prestar uma maior atenção ao que os seus

filhos estão fazendo na internet. A outra maneira é que ela serve como fonte de informação

rápida sobre o assunto, podendo assim ajudar na prevenção e no combate. Portanto, não

podemos desmerecer as vantagens da Internet no caso do bullying, embora tenha trazido sérias

desvantagens. Cabe a nós educadores orientar nossos alunos a usá-la como fonte de

informação ao invés de ferramenta para o bullying.

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2- Objetivo:

Refletindo sobre os estudos e a conclusão encontrada na pesquisa bibliográfica

realizada, me pareceu que a intervenção contra o bullying ainda está em seu começo, tanto

pela falta de estudos realizados relativos ao assunto, assim como pela falta de divulgação da

informação por parte da mídia. Recentemente têm sido mais freqüentes os espaços abertos

para se debater o problema, porém o mesmo está longe de ser resolvido. A impressão que essa

pesquisa me deixou foi a de que a informação contida nos textos pesquisados era a mesma,

apenas o modo de apresentá-las era diferente. Então, será que o assunto está esgotado, ou

simplesmente empacado?

Uma questão que me surgiu durante a minha busca pela informação referente ao

bullying foi o quanto é difícil se identificar um aluno que sofre bullying, ou mesmo um autor de

bullying. Será que a sociedade está preparada para identificar o que é considerado diversão e o

que é considerado agressão? Como as escolas agem para prevenir, combater e erradicar o

bullying de seus espaços? Será que elas percebem e reconhecem as agressões? Esse

problema está em foco nas instituições escolares? Com o meu trabalho, tenho por objetivo

pesquisar como as escolas tem percebido e lidado com o bullying, mas principalmente quais

são os critérios que têm sido utilizados nas escolas para identificar o fenômeno “bullying”.

2.1 - Metodologia:

Para realizar a minha pesquisa, entrei em contato com sete escolas, para

descobrir como elas conceituam o bullying e quais são os critérios utilizados para diagnosticar o

ato no espaço escolar. As escolas foram inicialmente contactadas por telefone, sendo que em

três delas havia pessoas conhecidas trabalhando. Todas as etapas burocráticas de cada

instituição foram seguidas à risca, para que elas se sentissem respeitadas e para mostrar meu

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comprometimento com a pesquisa. Também foi encaminhada a todas elas uma carta de

apresentação (anexo 1). Além desses cuidados, o projeto foi encaminhado ao Comitê de Ética

da PUC-SP para aprovação, o que foi conseguido. Depois da aprovação das instituições e do

Comitê, foram selecionadas cinco dessas escolas contactadas, uma escola pública, para

termos um visão de como o segmento publico lida com a questão, duas escolas com base

curriculares internacionais para percebermos se esse segmento esta mais preparado ou não,

por ter uma base internacional, e duas escolas particulares com bases religiosas distintas,

sendo uma judaica e a outra católica. As datas e horários para as entrevistas foram marcadas

conforme a disponibilidade de cada uma, para assim facilitar a participação das mesmas. É

importante ressaltar que em uma das instituições foram feitas duas entrevistas, com os dois

coordenadores da escola, e nessa instituição, não foi possível gravar a entrevistada.

2.2- Características das instituições:

O número de alunos das instituições variou entre 320 alunos e 1600. Já o

número de funcionários variou entre 50 a 200 funcionários. Incluí em funcionários todos os

envolvidos para o bom andamento da escola, desde os professores, diretores, até os

seguranças, faxineiros e todos os demais. Quanto aos anos de existência das instituições,

variaram entre 70 anos até 4 anos de existência. Quatro das cinco escolas forneciam aulas para

todas as idades, desde o infantil até o colegial, enquanto a quinta escola apenas lecionava do

fundamental dois até o final do colegial. Entre os entrevistados, foram encontrados tanto

homens quanto mulheres, e as idades variaram entre 26 a 50. Já o tempo trabalhando em

educação variou entre 6 a 18 anos, sendo que o tempo na instituição atual variou entre 3 e 7

anos. Quanto à formação desses profissionais, também apareceu uma variação enorme. Entre

elas encontrei: geografia, lingüística, letras, pedagogia, psicologia, pós em educação, ou

também uma segunda faculdade (publicidade).

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2.3 – Procedimentos das entrevistas:

O instrumento escolhido para a pesquisa foi a entrevista semi-dirigida. Com ela,

os entrevistados tinham a liberdade para falar abertamente sobre os temas que iam sendo

abordados sobre a escola, sem ficarem limitados a questões fixas e pré-determinadas. Foram

entrevistados os orientadores ou coordenadores pedagógicos das instituições. Antes da

entrevista com os orientadores/coordenadores das escolas definitivas, foi feito um teste piloto

com uma amiga da área para adaptar o questionário com o objetivo de torná-lo mais eficiente.

As entrevistas foram realizadas dentro das escolas, em horário de aula, portanto pude ver as

escolas em funcionamento habitual. Os entrevistados tinham salas particulares onde as

entrevistas puderam ser feitas. A participação dos sujeitos entrevistados na rotina escolar me

ficou muito clara porque na maioria das escolas, algum funcionário entrava na sala para

perguntar algo. Para realizar as entrevistas nas instituições com base internacional, o roteiro

(apresentado no anexo 2) foi traduzido para o inglês, mas apenas uma pediu para que de fato a

entrevista fosse feita em inglês.

As perguntas foram assim estruturadas e seqüenciadas para que caso o

entrevistado não abordasse os temas relevantes à pesquisa na questão anterior, o tema

pudesse ser trazido à tona. Era fundamental descobrir a concepção de bullying dentro destas

instituições de ensino. A pesquisa contou com um termo de consentimento livre e esclarecido

que foi assinado antes das entrevistas serem iniciadas (anexo 3). Após a coleta de dados, eles

foram tabulados para uma melhor exploração do conteúdo, facilitando assim a análise dos

discursos.

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3 - Resultados:

Para analisar os resultados da pesquisa realizada, optei por uma abordagem

qualitativa, visto que apenas realizei a entrevista em cinco escolas, não obtendo assim dados

suficientes para uma análise quantitativa. A vantagem da análise qualitativa é que fica possível

destrinchar o que os entrevistados falaram e assim poder aproveitar todas as nuances dos seus

discursos, podendo assim analisar mais profundamente o conteúdo. Para proteger a identidade

das escolas, elas serão chamadas de escolas A, B, C, D e E.

Para facilitar o processo de análise, separei as entrevistas em seis pontos que

considero fundamentais de serem explorados. São eles: características da instituição;

preocupações atuais; concepção de bullying; identificação de bullying; casos ocorridos e

medidas tomadas; e combate e prevenção na escola. É importante lembrar que as entrevistas,

por serem semi-dirigidas, deram amplitude para as respostas dos entrevistados, portanto, cada

um respondeu às perguntas à sua maneira, variando bastante a ênfase de cada um ao

responder. Isso será percebido mais adiante na análise. As respostas remetem a como aquele

entrevistado percebe a sua instituição.

3.1 - Principais características da instituição na visão dos entrevistados:

Nessa categoria se encontram o que os entrevistados consideram de importante

sobre as características de sua escola. Ou seja, os educadores responderam de acordo com o

que consideram as características mais importantes da instituição. É uma das categorias de

maior importância por mostrar um pouco como funciona a instituição e por esse motivo detalhei

ao máximo para que esse propósito fosse cumprido.

O entrevistado da escola A, relatou as grandes mudanças que foram ocorrendo

nos últimos anos em sua instituição. Diz que na escola “tem muito pra fazer”. Afirmou também

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que: “Foi melhor organizada e regrada a partir de 2005”. De acordo com ele, antes a escola não

tinha organização nenhuma, resultando em pixações, brigas, drogas e roubos. Conta que as

salas não tinham vidro nas janelas e nem mesmo portas. “Uma instituição não funciona sem

regras”. Disse também que punições devem ser aplicadas a alunos que não cumprem as

regras. Depois da troca da direção, a situação começou a mudar. Hoje em dia, a escola tem

biblioteca, sala de informática, teatro grego, todos em ordem, e as salas de aula agora são bem

cuidadas. A escola conta com um Conselho, que toma decisões definitivas quanto a assuntos

importantes da escola. Acredita que para o desempenho dos alunos melhorar deve haver o

acompanhamento dos pais de forma constante.

O entrevistado da escola B, focou mais em falar sobre quais são as metas da

escola na formação dos alunos, ou seja, qual é o tipo de cidadão que a escola quer formar.

Afirmou que querem que os alunos se tornem pessoas atuantes na sua sociedade e não

apenas cidadãos passivos. “É uma escola que reconhece e valoriza progresso acadêmico

assim como progresso pessoal”. Também é uma escola que busca perceber os potenciais dos

alunos e suas dificuldades de aprendizado, visto que cada aluno tem o seu ritmo. É uma escola

focada em inclusão e que se preocupa com os seus alunos, além de se preocupar com a

sociedade. A escola tem base curricular internacional.

A entrevistada de escola C se preocupou em falar do trabalho em equipe. “Dentro

do possível, a gente tenta fazer um trabalho em equipe cada vez maior.” A coordenadora

considera isso um ponto positivo do estabelecimento pois a escola favorece a autonomia e o

trabalho em equipe, faz com que caso o coordenador tenha que faltar, a escola terá como

continuar funcionando sem problemas. O coordenador não “carrega o mundo nas costas”.

Considera o trabalho leve e gostoso, além de adorar trabalhar com jovens. Diz também que a

escola busca criar um clima de confiança entre alunos, coordenadores, professores e

funcionários.

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Já o entrevistado da escola D, disse que entre as principais características da

escola estão que: “É uma escola comunitária”; “É mantida por uma associação de pais”; “É uma

escola da comunidade judaica”. Por ser uma escola da comunidade judaica, segue assim seus

princípios éticos e morais. A associação de pais cuida da parte administrativa da escola,

enquanto a parte pedagógica possui a sua independência. Embora independente, os valores

judaicos norteiam o trabalho pedagógico. Os educadores se preocupam em relacionar a cultura

judaica com a situação brasileira e querem que os alunos se tornem críticos, responsáveis e

atuantes na sociedade.

A escola E é a escola onde foram feitas duas entrevistas para poder se ter mais

dados da escola, visto que não seria possível gravar a entrevista para retomar os pontos, e

assim não perder o que há de importante para a pesquisa. Os entrevistados disseram que a

instituição é uma escola internacional, cujo programa segue padrões internacionais. É uma

escola pequena que não tem intenção em ter grandes proporções por focar em ensino de alta

qualidade, individualizado. Prepara os alunos para faculdades brasileiras e internacionais. O

corpo docente é composto por brasileiros e estrangeiros. A missão da escola é passada a todos

os funcionários. Essa instituição também busca tornar os alunos pessoas ativas na

comunidade, tendo atitudes humanas e pensando no todo. Há um programa que envolve agir

pensando no bem da sociedade que pode implicar em ações dentro e fora da mesma. A escola

incentiva os alunos a buscarem o conhecimento e se preocupa em torná-los pensantes, sociais,

pesquisadores, comunicativos e que consigam se conhecer e se perceber.

Após apresentar mais detalhadamente as escolas e suas principais

características, podemos começar a perceber melhor a dinâmica de cada uma. Enquanto a

escola A está numa fase de grandes transformações, tentando redefinir suas características,

temos a escola C, onde a coordenadora se preocupou em nos mostrar como a ação de educar

tem seus momentos tranqüilos e prazerosos. Isso é importante porque nos faz pensar que o

aprendizado de uma criança deve ocorrer mais facilmente num espaço bem cuidado e

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harmonioso. As escolas B, D e E, se mostraram preocupadas em ensinar os jovens a se

tornarem participantes da vida em sociedade. Há uma ênfase não só em questões acadêmicas,

mas também em questões pessoais. São escolas preocupadas com a formação de um

individuo crítico, atuante em seu meio e independente.

3.2 - Preocupações atuais

Uma outra maneira de conhecermos as escolas escolhidas é descobrindo quais

são as preocupações que regem o trabalho a ser realizado. O que isso implica? Implica em

saber como as escolas estão percebendo as suas dinâmicas e o que estão enfrentando. Nesse

tópico as informações variaram consideravelmente porque enquanto algumas falaram de

questões realmente problemáticas, outras focaram em o que elas querem desenvolver no

aluno.

A escola A, está se preocupando em tornar os seus alunos letrados. “Ou seja,

desenvolver neles uma capacidade de leitura fluente.” Os alunos conseguem reconhecer as

letras mas não compreendem o significado do texto. O coordenador enfatizou que como as

pessoas não possuem mais o hábito de ler, esta habilidade está sendo deixada de lado e

substituída por tv, vídeo-game, computador e interatividades do celular, “as telinhas que se tem

hoje para olhar”. Quanto mais velho o aluno, mais difícil criar o hábito de leitura. Com tudo isso,

o aluno não desenvolve a sua critica e é facilmente enganado. É fundamental que os

professores se tornem educadores e não apenas passem o conteúdo. Os pais têm a

responsabilidade de educar eticamente os seus filhos.

Na escola B, surgem questões importantes de trabalhar o multiculturalismo que

existe na mesma. Como há muitos alunos com culturas e nacionalidades diferentes, o respeito

pelas diferenças deve ser enfatizado. Outra preocupação diz respeito à relação aluno –

funcionário e em como torná-la saudável. Além disso, a escola quer encorajar o aluno a tomar

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decisões, ajudar os outros e principalmente desenvolvê-los para que se tornem adultos

saudáveis. “Em São Paulo as crianças são roubadas de oportunidades de serem

independentes. Adultos fazem tudo por elas.....queremos dar uma chance, uma oportunidade

para que elas sintam o poder de serem independentes.” Há também uma preocupação com a

segurança do aluno, para que assim ele possa se desenvolver tranqüilamente.

A escola C afirmou se preocupar em melhorar o respeito entre todos da

instituição, desde professores, funcionários e alunos. Outra questão que surgiu foi o respeito ao

material, ou seja, a preservação do espaço escolar. A escola se preocupa em manter o

ambiente agradável para os alunos. Com todos os problemas que surgem, primeiramente,

tenta-se resolver a questão diretamente com o aluno. Se a solução não é encontrada, aí os

pais são chamados. Um dos trabalhos importantes feitos na escola é tentar ajudar o aluno a se

organizar para estudar. “A gente faz um trabalho de orientação de estudos, mas de orientação

mesmo”. A entrevistada afirma que alguns alunos não sabem por onde começar os estudos, e

portanto precisam de auxilio. Outros, no entanto, não vêem sentido no conhecimento, seja por

malandragem, seja por preguiça, e essa é uma preocupação da escola. Como orientar e

incentivar esse aluno.

Como mencionado anteriormente, a escola D se preocupa em preparar os alunos

para se inserirem na sociedade: “como viver num mundo hoje em que se têm questões muito

importantes econômicas, políticas e culturais, que envolvem a vida dessas crianças e que vão

entrar ai, daqui a pouco, no mundo do trabalho”. Trouxe também questões mais voltadas para

os problemas de relações inter-pessoais, e principalmente a importância dessas questões

aparecerem. A escola acredita que os problemas de relacionamento devem aparecer para que

se possa falar sobre eles e assim lidar com eles. Isso faz parte do processo de crescimento,

porque “o que o aluno lida na vida, é importante que apareça”. Entre os problemas que surgem

na escola estão: não gostar; xingar; brigar; zuar; além das questões de preconceito.

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A grande preocupação da escola E se refere a manter o currículo sempre

atualizado e os professores treinados. Além disso, há uma grande preocupação com a

segurança dentro da escola, e no seu entorno. Os coordenadores afirmaram ter poucos

problemas. Os que aparecem são referentes a discussões, disputas esportivas, desrespeito

com professores, intrigas, fofocas, quebra de materiais, e entrar na sala sem pedir licença.

Quando chega um aluno novo, há um cuidado em facilitar a adaptação dele em um novo

espaço, principalmente se for um aluno de uma instituição com um sistema de ensino diferente.

Esse tópico faz com que passemos a perceber um pouco como cada escola lida

com os problemas cotidianos, além de que objetivos e expectativas elas têm em relação aos

seus alunos. A questão do respeito começa a aparecer como algo de extrema importância.

Outra coisa que chama a atenção é que esses educadores estão de fato se mostrando

preocupados com o desenvolvimento de seus alunos e como prepará-los para o seu futuro. Há

um foco genuíno na inserção desse jovem na sociedade de forma que ele se sinta preparado

para tal, seja respeitando os outros, sendo capaz de criticar os acontecimentos ou mesmo como

lidar com situações difíceis no relacionamento diário com as pessoas.

3.3 – Concepção de bullying

Para continuar a análise dos resultados, a partir desse ponto, farei numa

comparação das escolas, ao invés de uma descrição. Dessa maneira será mais fácil perceber

como tem sido a percepção do bullying nas escolas, e as variações que podem ou não ocorrer

nas escolas.

As escolas C e D, começaram afirmando que o bullying é uma questão antiga,

que existe há muito tempo. O coordenador da escola D acredita que a criação do termo fez com

que as pessoas começassem a se preocupar mais com a questão. A coordenadora da escola

C, disse que o bullying acontece em todos os lugares, não somente na escola.

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Quanto à definição de bullying, a escola E disse que é uma ação voluntária e pré-

determinada, de intimidação repetida, para causar sofrimento, “atazanar” outro aluno, sendo

diferente do “sem querer”. Ainda completa dizendo que pode ser uma ação física, psíquica ou

social. A escola B, definiu o bullying como sendo um ato individual ou em grupo, que faz com

que o outro se sinta inseguro, desconfortável, podendo ser um olhar, um gesto físico, verbal, ou

de exclusão. A definição utilizada pela escola D é de que o bullying é uma agressão que

aparece de diferentes formas, a uma outra pessoa, gerando uma situação de desrespeito. A

escola A também concorda com a escola D, no sentido de que o bullying é uma ação de

desrespeito, e para o coordenador dessa escola (A), isso é resultado de uma má criação e de

um preconceito. “O bullying é uma ignorância.....de gente em quem não foi criado uma ética”.

Ele ainda completa que o bullying é cruel, uma covardia, e envolve brigas, ameaças e ofensas.

A escola C, além de afirmar que o bullying é uma agressão feita a uma pessoa colocou a

questão de que o bullying gera conseqüências tanta para o alvo, quanto para o autor. Nesse

aspecto a educadora afirma: “eu me preocupo tanto com um, quanto com o outro”. Essa escola

demonstra se preocupar com os problemas que são vividos pela autor, que o levam a agir

dessa maneira.

Um ponto que foi falado por todas é de que o bullying é uma questão grave, um

assunto de grande importância. Embora duas (B e E) tenham afirmado que não é comum em

suas escolas, todas concordam que é uma questão que deve ser cuidada. A escola C ainda

coloca que é um assunto importante em qualquer lugar e idade: “é importante em qualquer

setor, em qualquer instância, em qualquer idade”. A escola A ainda enfatiza que não só o

bullying é grave, como também não deve ser confundido com brincadeirinhas, assim como a

escola E havia afirmado anteriormente. As escolas E e A concordam que o bullying é um

assunto subestimado. A escola B ainda traz um ponto muito importante que é que o bullying

atrapalha o aprendizado, porque faz com que as crianças não se sintam seguras, e quando

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crianças não se sentem seguras, elas não aprendem. Os potenciais delas só são alcançados

quando elas se sentem seguras fisicamente e emocionalmente.

A escola C, nessa questão, começou a colocar a importância da escola intervir

nos casos de bullying. A coordenadora afirma que a escola tem o papel de observar e intervir,

mas que essa intervenção deve ser feita com cuidado para não expor demais a vitima e assim

complicar ainda mais a situação.

Outro ponto que foi levantado pelas escolas A e E é de que provavelmente o

bullying é mais intenso a partir da 7ª série. Ou seja, para a escola A, a partir da 7ª o bullying fica

pior. A escola E afirmou que a partir da 6ª, 7ª séries, deve ser mais freqüente e a intensidade e

a “qualidade” dos atos deve aumentar. A ação fica mais sofisticada com o tempo. Para o

educador da escola D, é mais fácil trabalhar a questão com os grupos mais novos, do que com

os mais velhos.

Com esse tópico, podemos perceber que não variam muito as definições

utilizadas pelas escolas. Fica nítido que as escolas sabem que o bullying traz conseqüências, e

devem estar preparadas para lidar com ele. Todas concordam que é um assunto grave, e não

pode ser deixado de lado.

3.4 - Identificação de bullying

Esse tópico abrange uma questão delicada que é como fazer a identificação do

bullying para se começar a intervir. É o tópico em que as respostas ficaram mais parecidas.

Ficou explicito que o aluno se manifestar seria a melhor maneira de identificar. A educadora da

escola C afirmou que: “normalmente o aluno é o primeiro que chega lá e fala”. Todas as escolas

concordam que é fundamental que o aluno coloque o que ele está passando, sejam vitimas,

alvos ou autores, porém eles tendem a ter medo de revelar o que está ocorrendo. A escola D

disse tentar mobilizar as vitimas para tal, assim como também as testemunhas. Tanto a escola

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D quanto a B, tem espaços para os alunos se manifestarem sem ter que “falar” diretamente com

alguém, ou seja, as escolas possuem murais ou caixas para que os alunos se manifestem.

Quanto ao incentivo por parte da escola para que o aluno busque ajuda, o entrevistado da

escola D afirma: “não adianta falar sem dar condições para que ele busque ajuda”.

A participação dos pais nessa identificação também surgiu. As escolas A, B, C e

D enfatizaram que os pais também podem auxiliar nessa função percebendo as ações do seu

filho, ou seja suas mudanças de comportamento. A escola B faz reuniões com os pais para que

esses assuntos possam ser trazidos com maior facilidade. A escola A ajuda os pais a tomarem

ações judiciais caso seja necessário.

Um ponto também muito interessante foi a participação dos professores e

coordenadores nessa função de identificação. As escolas C e D disseram que essa é uma fonte

importante de informação sobre o bullying dentro da escola. As escolas B e E vão além. A

escola E disse que os alunos tem tutores, professores que foram escolhidos para tal, que

conseguem ter um contato maior com o aluno, facilitando a percepção de possíveis casos de

bullying, entre outros problemas que o aluno possa estar enfrentando. Também professores que

não sejam seus tutores estão preparados para tentar fazer tal identificação. A escola B afirmou

que um dos fatores principais para que o professor ou funcionário consiga identificar um caso

de bullying é que esse deve se interessar pelo aluno. Quando se tem interesse pelo aluno, você

o conhece, e assim fica mais fácil perceber mudanças resultantes de ações de bullying, como

mudança de atitudes e de desempenho. A comunicação aberta com os alunos também é muito

importante. Esses aspectos de como identificar o bullying ficam bem evidentes quando o

coordenador afirma: “...conhecendo a criança e tendo um espaço onde a criança se sinta

confortável para expressar preocupações, debater preocupações e falar sobre questões...

observando as crianças e vendo o que está acontecendo”.

Além da dificuldade de mobilizar os alunos para se manifestarem, surgiram mais

duas dificuldades de identificação que considero de grande importância. A escola D disse se

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preocupar com a identificação do bullying indireto, ou seja, aquele que é camuflado, que pode

ser um simples olhar, ou uma exclusão. Esse tipo de bullying se manifesta de forma discreta,

por isso é mais difícil de se identificar.

A outra dificuldade foi trazida pela escola A, e é ainda mais grave. O coordenador

disse que tem tido dificuldade em mobilizar os professores para se manifestarem ou agirem,

quando percebem um ato de bullying. De acordo com ele, o problema é que os professores

preferem se preocupar com outros pontos importantes, como por exemplo, um aluno que quase

pôs fogo na escola, ao invés de dois garotos que briguem na aula e saiam se batendo. “Eu

acho inadmissível mas normalmente as pessoas passam a mão na cabeça”. Os professores

não têm levado a sério a questão do bullying, embora esteja no planejamento escolar. O

coordenador acredita que talvez eles não estejam falando tudo o que tem acontecido relativo ao

bullying.

Como pudemos perceber, a identificação do bullying é um dos pontos mais

delicados. É muito difícil de ser feita por vários motivos que serão discutidos mais pra frente.

3.5 - Casos ocorridos e medidas tomadas

Como era esperado, todas as escolas afirmaram que já ocorreram caso de

bullying na instituição. As escolas B e E afirmam que os casos não são freqüentes, que são

poucos, embora já tenham ocorrido. Tanto a escola C, quanto a escola E, assumiram que já

houve casos um pouco mais sérios. A escola E, trouxe um caso que ocorreu envolvendo a

Internet.

Neste momento, as escolas D e E colocaram que é explicitado aos alunos que o

bullying não é aceito na instituição. O assunto não é tratado levianamente. A política de não-

tolerância é de conhecimento dos alunos e eles são familiarizados com as regras da mesma.

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“Você mostrar pra criança que existem limites.....tem que pensar com ela porque está

acontecendo”; levantou o educador da escola D.

Entre as medidas a serem tomadas pela escola para resolver a questão, foi

trazida a importância da conversa com os envolvidos e que a intervenção deve ser feita. A

escola A disse que conversa com os autores, explica o termo e tudo que engloba. A escola C,

busca conversar com a vitima e tentar melhorar a percepção que ele tem de si mesmo, para

que ele perceba o seu lado bom, e assim melhorar sua auto-estima. Às vezes a escola

encaminha o alvo para terapia. A escola E tem uma visão parecida nesse ponto. Essa

instituição se preocupa em preparar os alunos para se não se deixarem tornar vitimas. É

trabalhada essa questão com eles desde pequenos. A escola D busca refletir com todos os

jovens envolvidos (autores e alvos) sobre a questão e porque está acontecendo. “Qual é o

sentido daquilo?” Posteriormente pode se fazer uma intervenção mais incisiva. De acordo com

o coordenador, ás vezes o problema pode ser resolvido entre os alunos que manifestam a

questão; em outras deve ser feito um trabalho com o grupo todo. A escola B segue o mesmo

perfil que a escola D, fazendo conversas com os alunos envolvidos para saber o que está

acontecendo. Essa escola disse que é importante buscar saber mais sobre o autor para saber o

que gerou essa ação. “Geralmente é reflexo de um problema que ele experienciou ou do que

ele está sentindo”.

As escolas A e B levantaram também o ponto de chamar os pais para a escola

para conversar, para que fiquem cientes do ocorrido. Entre as medidas que já foram tomadas

na escola E, encontramos suspensões e detenções. Já a escola A afirmou que quanto às

intervenções feitas: “Existe essa ação com casos pontuais mas nem todos são levados à

resolução. Muitos alunos sofrem com isso.” Outro ponto diferente que foi levantado pela

coordenadora da escola C: é de que, às vezes, a melhor solução para o aluno é mudar de

escola e assim recomeçar a sua história. Ela acredita que isso pode trazer grandes vantagens

para o aluno.

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Como pudemos perceber, a conversa é a principal ferramenta usada para lidar

com os casos de bullying. É um recurso utilizado para se explicitar o problema e se buscar a

melhor solução para todos os envolvidos. As escolas C e E mostraram uma abordagem

interessante ao problema relativo a não deixar o alvo se sentir merecedor do que está

acontecendo. Creio que isto é fundamental para que a vítima consiga lidar melhor com os

ocorridos.

3.6 - Combate e prevenção na escola

Entre todas as escolas entrevistadas, nenhuma afirmou ter um programa

inteiramente voltado para o combate ao bullying. Três escolas (B, D e E), de acordo suas

metas, têm um programa voltado para a promoção de saúde em que o bullying seria inserido

dependendo da demanda dos alunos. A escola E, chegou a promover palestras e depoimentos

específicos para educar os seus alunos sobre o tema. A escola D disse que é fundamental que

o professor consiga perceber a dinâmica de cada sala e assim inserir em seu conteúdo diário as

questões que o grupo demanda. De acordo com o educador: “No dia a dia dos professores, ou

quando a gente manda a grade curricular e as propostas dos professores e dos projetos que a

gente tem aqui na escola, a gente sempre leva em consideração a dinâmica de cada turma e

com isso a gente pensa que a gente dá conta aqui das questões importantes dos alunos,

escutando eles.”

A escola D colocou dois pontos importantes. O primeiro se refere a trabalhar a

questão com metas a longo prazo, trazendo o assunto recorrentemente. O segundo ponto é a

questão de que é fundamental que o professor se torne uma referência diária para o aluno

relativa a como se portar, ou seja, como conviver com os outros.

Esse último ponto me remete a uma questão muito importante trazida por todas

as cinco escolas, que é a questão do respeito. É fundamental que os alunos sejam preparados

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para lidar com as diferenças, conforme afirmaram os entrevistados das escolas B e C. A

entrevistada da escola C ainda vai mais longe, afirmando que é importante que os alunos

aprendam a se colocar no lugar do outro e perceber o que o outro está passando e sentindo.

Tanto as escolas C e E estão envolvidas com projetos sociais, cada uma de forma diferente, o

que é um grande incentivo para que os alunos lidem com pessoas diferentes. As escolas C e D

reforçam que é importante criar um clima de respeito entre todos: alunos, professores,

funcionários e coordenadores.

As escolas B e E inseriram em sua rotina escolar situações de rodas de conversa

entre alunos e professores, que servem como um espaço onde os alunos podem expor suas

duvidas, angústias e preocupações. Essas escolas, assim como a escola D, acreditam que o

trabalho iniciado desde cedo, classes mais novas, facilita a prevenção.

É uma preocupação das escolas B e C que os alunos não fiquem solitários e

sejam inseridos no cotidiano escolar. A escola B tem um programa de mentores, onde os

alunos mais velhos ajudam os mais novos a se inserirem. Eles auxiliam nas dificuldades dos

mais novos. A escola C disse que não somente os alunos tendem a ajudar, assim como os

professores e coordenadores devem tentar fazer isso discretamente, como por exemplo no

momento de escolher grupos de trabalhos, o professor pode intervir escolhendo os grupos

anteriormente. Dessa forma, o aluno não passa pela angustia de talvez não ser escolhido, e já é

inserido num grupo.

As escolas B e C ressaltaram a importância do espaço ser agradável e confiável

para que os alunos possam aprender. Quando os alunos não se sentem seguros, eles não

aprendem por ficaram apreensivos e tensos naquele ambiente. Para o educador da escola B:

“crianças não alcançam seu potencial se não se sentirem fisicamente e emocionalmente

seguras na escola”. Esse ponto evidencia como o bullying pode afetar as testemunhas.

A escola B trouxe mais alguns pontos que considero importante colocar aqui. O

educador dessa escola enfatizou bastante o trabalho com as atitudes dos alunos que é mais

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valorizado do que o desenvolvimento acadêmico. Esse trabalho já funciona como um meio de

prevenir o bullying, porque quando um aluno tem uma atitude positiva ele é reforçado, mas

quando ele tem uma atitude negativa ele deve lidar com as conseqüências de sua ação.

Portanto, isso já é uma forma de mostrar as ações que não devem ser cometidas, e o que se

espera dos alunos, como por exemplo o respeito. O outro ponto importante é que a escola

buscou orientar os pais para prestarem atenção no que os seus filhos fazem na Internet, para

possivelmente identificar casos de bullying e assim intervir. Essa ação é muito importante, visto

que os casos tem aumentado cada vez mais.

Uma preocupação que me surpreendeu foi com os alunos vindos de outras

escolas. Tanto as escolas com “padrões” internacionais, quanto as escolas com base nacional,

revelaram que essa pode ser uma fonte de bullying. Faz parte da prevenção do bullying nas

escolas B, C e E um acompanhamento dos alunos novos, para que eles não tenham problemas

em se adaptar e assim não tornem alvos de bullying.

Agora voltarei minha atenção para a escola A. Nesse tópico, ficou claro que as

ações de prevenção nessa escola estão numa etapa bastante inicial. Como a escola tem

passado por diversas transformações e nos últimos dois, três anos é que a escola passou a ser

mais “incisivo” quanto a regras, fica evidente que ela ainda não teria os recursos para ter um

programa de prevenção contra o bullying. “Existe a preocupação” com o problema, tanto que

faz parte das orientações aos professores para o planejamento de 2007; porém, os professores

ainda precisam perceber a relevância disso e conseguir identificar o fenômeno de forma

eficiente. O coordenador disse que ele se encontra na busca de uma forma de lidar com o

problema, embora acredite que jamais será possível acabar com as ações de bullying. “E vão

continuar enquanto o ser humano for do jeito que é. A crueldade está no ser humano.” Toda

essa informação, me faz pensar o quanto é importante quando a escola reconhece as suas

fraquezas e as encara, buscando uma solução. A educação é uma área muito dinâmica e

enquanto as escolas conseguirem avaliar e reavaliar o que estão fazendo de positivo e

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negativo, tenho esperança de que ainda conseguiremos promover educação de qualidade para

os nossos alunos.

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4 – Discussão

Agora que o leitor já teve contato com um pouco do que já foi escrito sobre o

bullying e uma visão de como algumas escolas da nossa cidade percebem a questão, devo

então buscar elucidar como esses dois lados da moeda se relacionam e se completam. A partir

de agora irei colocar mais sobre como eu percebo a questão do bullying, e as conclusões a que

tenho chegado com o meu trabalho sobre a questão.

Quando pensamos sobre o termo bullying muitas coisas surgem à mente. A

definição que me pareceu mais completa de todas com as quais eu me deparei foi a de Lopes

Neto (2005, pág 165), “bullying compreende todas as atitudes agressivas, intencionais e

repetidas, que ocorrem sem motivação evidente, adotadas por um ou mais estudantes contra

outro (s), causando dor e angústia, sendo executadas dentro de uma relação desigual de

poder" (retomando o capítulo 1). Considerei essa definição a mais completa porque contêm

todos os pontos levantados pelos autores pesquisados: a questão das atitudes que envolvem o

bullying; o fato que elas devem ocorrer de forma repetida; também que não se percebe a razão

de ocorrer; que pode variar o número de autores e alvos; a importância de que para ser

considerado bullying deve prejudicar o alvo; e um ponto que me pareceu esquecido pelas

escolas entrevistadas é a da relação desigual de poder. Entre as escolas entrevistadas,

nenhuma, em momento algum , mencionou isso. Será que esse é um fator relevante então?

É interessante perceber, que os autores pesquisados não evidenciam como o

bullying é mais antigo do que se imagina, e principalmente que ocorre em muitos ambientes

diferentes, como foi levantado por duas escolas. Não sei se porque as minhas fontes teóricas

eram voltadas para a educação, ou porque de fato não se preocuparam em evidenciar esse

ponto, mas isso é uma questão a ser pensada. Não devemos nos esquecer que existe bullying

no trabalho, no clube, e mesmo, me arrisco a afirmar, na família. Embora não seja o foco do

meu trabalho, acredito que seja importante reforçar isso.

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Entras as definições de bullying trazidas pelas escolas, devemos perceber que

elas reconhecem que o bullying acontece de diferentes maneiras e pode ser um gesto muito

discreto. Isso é importante porque é um primeiro passo numa ação eficiente contra o problema

e sua identificação. As escolas conseguiram citar exemplos de ações que se encaixam em

todas as categorias trazidas por Martins (2005). As escolas trouxeram as agressões físicas, as

verbais, e também conseguiram reconhecer que existem agressões mais discretas.

O bullying é trazido como um desrespeito ao próximo e de fato temos que nos

preparar para combater essas ações, que como trouxeram as escolas, geram conseqüências

para todos os envolvidos direta e indiretamente. As escolas se mostraram preocupadas com a

questão do respeito e o lidar com as diferenças. Isso é positivo não somente para o contexto

escolar, como para o resto da vida dos alunos. De acordo com Piaget (1970), a criança é social

desde que nasce e portanto, quando a escola prepara o aluno para lidar com as diferenças e a

respeitar, a escola estará ajudando a criança a se adaptar ao meio social ambiente, que para

Piaget (1970) é o significado de educar.

Nenhuma escola colocou se o bullying acontece com maior freqüência entre os

meninos ou entre as meninas, embora a pesquisa da ABRAPIA tenha afirmado que os alunos

do sexo masculino estão mais envolvidos. Duas escolas expuseram que o problema aparece

mais a partir do ensino fundamental dois, que é justamente a faixa etária que participou da

pesquisa da ABRAPIA, que resultou nos dados alarmantes de que 40% admitiram estar

envolvidos com o bullying.

A identificação do bullying, que é o meu problema central e como deve ter sido

percebido no tópico 3.4 – identificação do bullying - é uma coisa extremamente complexa e

subjetiva, porque para fazê-la corretamente, deve-se considerar todos os fatores envolvidos no

bullying. Ou seja, devemos pensar em como o aluno está se sentindo nessa situação, quais são

as ações feitas, quem e quantos estão envolvidos, é freqüente ou só dessa vez, as coisas

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realmente aconteceram desse jeito, entre muitas outras indagações que devem ser feitas. Todo

cuidado é pouco nesse ponto.

Parece-me que, para a identificação ocorrer, o primeiro passo é mobilizar o aluno

para tal. Isso foi trazido por todas as escolas. Se a vítima não se manifesta, fica difícil saber se

uma “brincadeirinha” é, ou não, sentida como tal. O alvo deve se sentir seguro e acolhido para

comunicar os ocorridos. É muito importante que a escola crie uma relação horizontal nesse

sentido, entre professores, funcionários, coordenadores e alunos, para que os alunos se sintam

estimulados a conversar e se abrir. Não adianta a escola falar que está aberta para tal, se não

demonstra em suas ações. O mural, as rodas de conversa, a caixa de manifestação, são ótimos

exemplos de que a escola está aberta e disposta a ajudar. Essas pequenas atitudes devem ser

percebidas pelo aluno como uma vontade de acolher por parte da escola, tanto que o mural da

escola D tinha recados de alunos quando fiz a entrevista. Com tudo isso, fica claro que a vítima

se manifestar é considerado pelas escolas como a melhor maneira de se identificar o bullying.

Outro ponto, é a participação dos autores na manifestação do bullying. Isso deve

ser bem mais difícil de ocorrer porque ele deve temer as conseqüências de suas ações. Porém,

talvez um trabalho na escola, como o mencionado acima, onde há canais de comunicação entre

escola e aluno, o façam se manifestar sobre seus problemas e seus tormentos, fazendo, quem

sabe, com que ele comece a reduzir as ações de bullying e talvez até mesmo parar.

As testemunhas também são importantes nessa função, porque elas convivem

diariamente com o problema e, como já foi falado, lidam com as suas próprias conseqüências.

Elas também devem ser asseguradas de que se manifestarem o que estão percebendo, isso só

irá gerar aspectos positivos, ao invés dos problemas que talvez temam enfrentar. Isso porque

as medidas necessárias poderão ser tomadas e elas poderão voltar a se sentirem seguras na

escola.

Outra participação importante é a dos pais. Se eles se interessam pelo seu filho,

criam uma relação saudável, comunicativa e buscam acompanhar o desenvolvimento do seu

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filho, essa identificação será feita quase que naturalmente, porque as mudanças de

comportamentos serão percebidas. Mas, também não podemos esperar que todas as pessoas

sejam capazes de identificar qualquer mudança que, às vezes, nem aparecem em casa. Pode

até acontecer dos pais não saberem que existam tais problemas que fazem com que seus filhos

experienciem tais situações.Essa é a etapa onde a escola auxilia. As escolas poderiam seguir o

exemplo da escola B. Encaminhar informativos aos pais é uma ótima maneira de mostrar para

eles quais são os possíveis problemas que seus filhos possam estar passando, e assim ajudá-

los a identificar. Como mencionei anteriormente, há sites na internet que explicam muito bem o

problema e os pais podem e, devem, ser orientados pela escola para explorarem o conteúdo.

Outra opção, é a escola se dispor a fazer reuniões com os pais para que eles tomem

consciência dos problemas do contexto escolar, e assim estejam aptos para ajudar na

identificação.

Agora, pensando na responsabilidade da escola nessa função de identificar, no

seu cotidiano, ações de bullying, ela deve primeiro reconhecer o problema e buscar o

conhecimento sobre o assunto. Isso foi algo com o qual me surpreendi com o meu trabalho. As

escolas demonstraram que de fato reconhecem o problema e sabem tudo a que ele implica.

Esse já é um primeiro passo dado. Depois, deve ser feita uma mobilização dos professores

para que eles entendam a importância disso, e esse é um empecilho enfrentado pela escola A,

onde alguns professores preferem se preocupar com outros problemas, considerando sempre a

questão do “mal menor”. Ou seja, o bullying não é tão grave quanto por fogo na escola, então

será menos focado. Também devem ser orientados todos os funcionários sobre o problema,

para que eles também saibam fazer a identificação corretamente.

Uma vez que todos os envolvidos com o cotidiano escolar foram instruídos sobre

o problema, aí é que começa a parte difícil: o identificar. Eles já estão conscientes da questão,

agora é tentar colocar em prática. Na escola B, surgiu o fator interesse do professor, ou

funcionário, pelo aluno para uma melhor identificação. Concordo plenamente com isso. O

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professor tem papel fundamental no desenvolvimento de uma criança ou adolescente. A relação

professor-aluno, quando ocorre de forma positiva, pode levar o aluno a mudar de pensamentos

e comportamentos (Thomé, 2001), e isso é importante para sensibilizar o aluno de que

comportamentos como o bullying não são aceitáveis. Acho também que se aquela pessoa

(professor), conhece aquele aluno, fica mais fácil perceber quando ele muda de

comportamento, ou rendimento, e uma intervenção pode ser feita com maior facilidade. Porém,

como ficam alunos de instituições com muitos alunos por sala? Ou então instituições com

espaços enormes e muitos alunos no mesmo intervalo? A dificuldade de se conhecer e

perceber todos os alunos aumenta, e fica difícil ter controle sobre o que acontece.

Tudo isso evidencia, que não podemos deixar toda a responsabilidade da

identificação na mão da escola, embora ela tenha papel fundamental nessa etapa. A escola

pode ajudar a resolver o problema com ações de prevenção, com exemplos de comportamento,

uma cultura de ajudar o outro, entre outras ações. A comunicação com os pais é importante que

seja feita constantemente, para que eles saibam o que vem acontecendo na escola, da mesma

maneira que eles devem buscar saber com a escola, os acontecimentos. Os pais devem

reconhecer o seu papel de educadores em conjunto com a escola.

É muito favorável ao combate ao bullying quando as escolas se preparam para

lidar com todos os envolvidos. Por exemplo, temos as escolas C e E, que reforçaram a

importância de um trabalho com a vítima para que se trabalhe a sua auto-estima, e ainda mais

que isso, não permitir que ela se sinta, como afirmou Lopes Neto (2005), merecedora das ações

de bullying. A escola B, buscando tornar seus alunos independentes e ativos, auxilia os alunos

a serem confiantes e, talvez assim, não caírem na armadilha, se é que posso dizer assim, de se

tornarem alvos.

É interessante o ponto trazido por Lopes Netos (2005), que a vítima não sente

abertura para se manifestar e por isso sofre em silêncio. Nessa questão, é muito positivo

quando temos escolas como a B e a E, que disponibilizam espaços da aula (rodas) para que os

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alunos possam se manifestar. Ou mesmo quando as escolas D e B criam meios mais discretos

para os alvos falarem (caixa e mural). Quando a escola C afirma que eles buscam criar uma

relação de confiança entre os alunos e a coordenação, eles estão buscando deixar os alunos à

vontade e seguros para se manifestarem. É uma meta muito favorável à identificação do

bullying.

Também é muito importante pensarmos no que ocorre com o agressor. Duas

escolas enfatizaram essa preocupação. De acordo com a escola C, ele tem tantos problemas

quanto o alvo e deve receber cuidados. A escola B disse também se preocupar em descobrir o

que gerou no autor essas ações. Carvalhosa, Lima e Matos (2002), afirmam que os agressores

assumem este papel devido a fatores individuais e também familiares. Talvez com a

participação da escola no desenvolvimento de competências dos alunos, ela possa ajudá-lo a

lidar melhor com os problemas familiares. O aluno deve ser estimulado a desenvolver as suas

características individuais positivas, ao invés de trazer à tona as características negativas.

Porém, nesse ponto, as escolas acabam assumindo muitas responsabilidades que também

deveriam ser dos pais.

As conseqüências vividas pelas testemunhas constituem um ponto muito

interessante do problema bullying. A escola B enfatizou que quando os alunos se sentem

inseguros, não estão abertos ao aprendizado, porque ficam tensos e preocupados, ao invés de

dispostos e receptivos. Lopes Neto (2005) e www.bullying.com.br trazem que não somente o

bullying atrapalha o aprendizado por fazer os seus alunos se preocuparem por talvez serem a

próxima vítima, outro problema, é a possibilidade dessa testemunha se tornar um agressor para

poder obter ascensão social. Esse é um problema sério, porque a falta de intervenções, e a

sensação de impunidade sobre os autores que fica na instituição, faz com que as testemunhas

se sintam cobiçadas a também agirem de forma agressiva. Então o descuido que o educador

tem com o bullying, pode fazer com que o problema se agrave também nesse aspecto, que é

um aspecto perigoso. Porque acredito isso? Porque são pessoas que não necessariamente tem

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os fatores que teoricamente são identificados nos alvos, como insegurança, baixa sociabilidade,

família excessivamente protetora, e também não possuem os fatores do autor, como família

desestruturada, hiperatividade, aceitação à violência, mas devido à situação em que se

encontram, passam a agir de uma maneira que não é natural a elas, e prejudicial ao ambiente

escolar, para obter os “ganhos” que o bullying traz, e se “salvar” da posição de vítima.

Entre as conseqüências de bullying apontadas pelas escolas, não encontramos

algumas trazidas pelos autores pesquisados. Lopes Neto (2005) trouxe a preocupação com a

tendência dos alvos e autores passarem a se envolver mais com drogas, álcool e cigarro do que

os outros alunos, porém essa é uma afirmação difícil de ser feita. Talvez essa seja uma

pesquisa interessante a ser feita, e ver se isso acontece de fato, e que medidas podemos tomar

para reduzir isso.

Também não houve menção nas escolas, sobre conseqüências à longo prazo,

como as levantadas por Fante (2005). Conforme havia mencionado anteriormente, na página 78

de seu livro, ela afirma que: “a não-superação do trauma poderá desencadear processos

prejudiciais ao seu (vítima) desenvolvimento psíquico, uma vez que a experiência traumatizante

orientará inconscientemente o seu comportamento, mais para evitar novos traumas do que para

buscar sua auto-superação.” As conseqüências futuras das ações para a vítima ainda é um

assunto pouco falado, e talvez seja mais um ponto que deva ser aprofundado em outros

estudos, para podermos assim evidenciar ainda mais o quanto o bullying é grave.

Outro fator fundamental a ser pensado é o que o professor está sentindo na

instituição, quando este se encontra num espaço cheio de atos de bullying, ou mesmo qualquer

ato considerado agressivo. Um espaço que gera essa intensidade de emoções negativas, não

pode ser saudável para o educador. Será que o agressor intimida ao professor também? Por

esses motivos é tão importante que a escola intervenha nessas situações, para que também

não prejudique o desempenho do professor. Se a escola tem as regras bem estabelecidas, e dá

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o suporte necessário para que o professor, preparado para tal, tome as devidas providencias,

talvez este se sinta mais seguro, e mais aberto para oferecer um ensino de qualidade para seus

alunos. É fundamental que a escola apóie o professor em suas atitudes de combate ao bullying,

para que isso se torne mais efetivo.

Quanto à questão do bullying e a Internet, podemos perceber que ela foi

colocada por duas escolas. A escola E remeteu a um caso que ocorreu fora do espaço escolar,

mas que envolvia alunos da instituição, que foi um caso de cyberbullying. Portanto a escola

exerceu o seu importante papel de auxiliar e intervir. Isso nos mostra que, embora os atos de

bullying possam ocorrer fora de espaço escolar como, por exemplo, no seu entorno, e/ou no

cyberbullying, é fundamental que a escola se mostre aberta a ajudar os pais e principalmente os

alunos a lidarem com isso. Nós educadores não podemos nos esquecer que nossa obrigação

não termina quando o aluno sai pela porta, da mesma maneira que a obrigação dos pais não

termina quando os filhos entram pela porta da escola. Essas duas principais influências na vida

de um jovem devem agir em conjunto na educação e portanto devemos valorizar a escola que

auxilia na solução de conflitos externos. A outra situação em que a Internet foi mencionada, foi

na escola B, onde o coordenador mencionou terem encaminhado aos pais um informativo sobre

o cyberbullying. Isso é importante para passar para os pais que esse problema existe e portanto

devem permanecer atentos ao problema. Não implica em pais se tornarem obcecados em ver

tudo o que os filhos acessam na internet, porque como ressaltei antes, a internet tem as suas

vantagens, porém que orientem aos filhos qual a melhor forma de se usar essa tecnologia.

Mais importante do que o combate ao bullying é a questão da prevenção. As

escolas B e E afirmaram que o bullying não é um problema forte em suas instituições, e

percebe-se que isso é reflexo do trabalho diário com os alunos. Percebemos que são duas

instituições voltadas fortemente para o desenvolvimento completo do aluno, ou seja, o

acadêmico e o pessoal, incluindo as relações sociais, e principalmente atitudes. Nós temos

também a escola D que tem um programa parecido com o das escolas B e E, que é o dos

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programas de saúde, que são inseridos no planejamento escolar. Em outras palavras, temos 3

escolas comprometidas com a prevenção e promoção de saúde, de tal maneira que criaram

programas voltados para questões importantes, que podem ser o bullying, como também

anorexia, meio-ambiente, entre outros. Os programas facilitam o aprendizado do aluno, e passa

a fazer sentido para o mesmo, acredito eu, aquilo que está sendo passado. Talvez por isso que

a incidência seja baixa.

Nesse assunto, conforme mencionei na introdução, Fante (2005), apresenta três

premissas para que o programa de prevenção seja eficiente: ela fala que a escola deve estar

preparada para preparar o seu próprio programa, sendo ele um programa que faça sentido para

a instituição; também coloca que como o fenômeno é complexo e muda de lugar para lugar, as

escolas não devem pensar que encontrarão soluções simples; por último é que para que seja

efetivo, todos devem cooperar, professores, funcionários, coordenadores, alunos e até mesmo

os pais. Ou seja, para uma prevenção ser efetiva, ela deve considerar esses três aspectos, e as

três escolas mencionadas (B, D e E) parecem estar cientes disso.

Outro ponto importante que percebemos nas escolas A e C é o reconhecimento

da falta de uma solução fácil e a dificuldade de erradicar o problema. Esse é um ponto

importante que foi colocado por essas duas instituições. Não podemos acreditar que o bullying

será resolvido facilmente. É sim um fenômeno complexo, como foi colocado anteriormente,

existe há muito tempo, e em diferentes espaços. Mas isso não quer dizer que devemos

desanimar e deixar as coisas como estão. Embora a nossa cultura nos ensine que a violência é

uma forma de combater a violência, como afirmam Taylor e Beaudoin (2006), temos que nos

focar em trabalhar questões de respeito, para podermos implantar essa cultura de cooperação,

e quem sabe melhorar a situação da convivência com o outro.

Acredito que um foco importante nas intervenções deve ser o do respeito. Todas

as escolas consideram esse ponto como um fator chave. Fante (2005) afirma que os alunos

devem aprender sobre tolerância e solidariedade, enquanto Taylor e Baudoin (2006) afirmam

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que os alunos devem aprender sobre a importância do respeito, apreciação e tolerância.

Percebemos que isso está muito próximo das metas trazidas pelas escolas, quando a escola B

fala do trabalho com o multiculturalismo, as escolas C e D falam do respeito entre todos os

professores, funcionários, coordenadores e alunos, ou mesmo quando a escola E trabalha com

os alunos questões relativas à cooperação com a sociedade, em seus programas de

intervenção na comunidade. Isso é muito importante para que os alunos aprendam a conviver

com as diferenças e consigam derrubar os bloqueios culturais, como trazido por Taylor e

Beaudoin, adquirindo novas respostas aos problemas que aparecem. Para Piaget (1970), a

cooperação facilita o desenvolvimento de valores como justiça baseada na igualdade e a

solidariedade. Afirma também que a cooperação: “Do ponto de vista moral, ela chega a um

exercício real dos princípios da conduta, e não só a uma submissão exterior” (p. 182). De

acordo com Piaget (1998) a cooperação é fundamental porque leva à autonomia e à liberdade

dos indivíduos.

O bullying é um problema real das escolas e da sociedade, e o seu combate

deve se tornar uma meta da escola. Nesta pesquisa, ficou claro que todas as escolas

reconhecem o problema, o que superou minhas expectativas. Acho que não esperava tantas

respostas positivas como as que obtive, o que tornou muito gratificante fazer esse trabalho.

Ficou nítido que as escolas intervêem sempre que identificam o problema, junto aos alunos

envolvidos, tanto autores, quanto alvos. Seja com conversas, ou ações mais efetivas nas salas

de aula, ou mesmo suspensões, os colégios tentam combater o problema que aparece.

A questão do bullying surge como mais um problema que deve ser enfrentado no

contexto escolar. É sim um ponto importante, subestimado por muitos educadores, alunos, e

outras pessoas não envolvidas com a escola e seus processos. A escola tem um papel

fundamental nesse combate, e deve ser o líder nesta meta. Um cuidado a ser tomado, é não

encarar o aluno como cliente, e assim não intervir da maneira que o bullying demanda. Se a

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escola fica “cheia de dedos” para lidar com isso, só para não perder um “consumidor”, ela

estará perdendo muito mais que isso. Ela perderá o seu papel principal de educar.

A comunicação com os alunos deve ser o ponto de maior atenção da escola, na

minha opinião. É fundamental que o aluno se sinta bem e querido nesse espaço. A escola deve

evidenciar ao aluno que ele é foco daquela instituição. Ele deve ser capaz de perceber que é

um lugar onde tem direitos e deveres, como em qualquer outro lugar que vá freqüentar. O aluno

deve reconhecer que, se ele está em sala de aula, com alguém que prejudica o bem-estar e o

bom andamento da turma, manifestar isso, seja falando com esse alguém, ou falando com um

educador, não estará fofocando, ou prejudicando alguém, e sim lutando por um direito seu e da

classe. E essa atitude é a melhor que ele poderia ter tomado naquela situação. O aluno deve

buscar auxilio dos mais velhos para resolver os problemas enfrentados.

A escola está preparando a criança e o adolescente para a vida adulta, e o seu

crescimento saudável deveria ser a preocupação de todo e qualquer educador. O aluno tem

que saber isso. Para Paulo Freire (2006), a educação deve ser crítica e fazer com que o aluno

lide com os problemas da sociedade. Lidar com o problema do bullying é lidar com questões

sociais da atualidade. Sobre o que a educação deveria fazer pelo aluno, Paulo Freire (2006)

afirma:

“Que o advertisse dos perigos de seu tempo, para que, consciente deles, ganhasse a força e a coragem de lutar, ao invés de ser levado e arrastado à perdição de seu próprio “eu”, submetido às prescrições alheias.” (p. 97)

Talvez nunca possamos nos livrar completamente do problema do bullying, mas

uma coisa que me atinge fortemente depois desse trabalho é que, enquanto encararmos o

bullying como algo natural e de pouca importância, enquanto vivermos numa sociedade que

incentiva competição e agressão, enquanto não agirmos diariamente pensando no bem-estar

das pessoas à nossa volta e da sociedade como um todo, através das pequenas atitudes,

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jamais poderemos erradicar o bullying. É uma questão que deve ser encarada de frente por

toda e qualquer escola.

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2002.

DE CARVALHOSA, Susana Fonseca; LIMA, Luisa; DE MATOS, Margarida Gaspar; Bullying- a

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Portugal, nº 4, 571 – 585, 2002.

FANTE, Cleo. Fenômeno Bullying: como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz.

2ª edição. São Paulo: Editora Versus, 2005.

FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. 29ª edição. Rio de Janeiro: Paz e Terra,

2006

LOPES NETO, A. A. ; Bullying- comportamento agressivo entre estudantes. Jornal Pediátrico.

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MARTINS, Maria José D. ; O problema da violência escolar: uma clarificação e diferenciação de

vários conceitos relacionados. Revista Portuguesa de Educação, Portugal, ano 18, volume 1, 93

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PIAGET, Jean. Psicologia e Pedagogia. 1ªedição. Rio de Janeiro – São Paulo. Editora Forense,

1970.

PIAGET, Jean. Sobre a pedagogia. São Paulo. Casa do Psicólogo, 1998

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TAYLOR, Maureen; BEAUDOIN, Marie-Nathalie. Bullying e Desrespeito: como acabar com essa

cultura na escola. 1ª edição. Porto Alegre: Artmed Editora, 2006.

THOMÉ, Melissa. O que ajuda a aprender? Características da relação professor e aluno

segundo adolescentes. São Paulo, 2001. Dissertação de Mestrado em Psicologia da educação.

PUC-SP

VEIGA, Ainda; Sutil e cruel agressão. Revista Época, edição 315, 2004

Sites consultados:

http://bullying.co.uk/ - visitado em 15/09/2007

www.bullying.com.br – visitado em 10/11/2006

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Anexo 1

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CARTA DE APRESENTAÇÃO

Eu, Marina Stevens Beeby, portadora do RG: 34.427.295-3, aluna do décimo

semestre do curso de Psicologia, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

(PUC-SP), venho por meio desta solicitar a sua participação no projeto de pesquisa por

mim elaborado que busca estudar quais são as principais questões de relacionamento

interpessoal que aparecem no cotidiano escolar, mais especificamente o problema do

bullying, sendo o título do trabalho Bullying: identificando e enfrentando o problema. Esta

pesquisa está sendo orientada pela professora doutora Marilda Pierro de Oliveira

Ribeiro.

A pesquisa será feita através de uma entrevista semi-dirigida com duração de

uma hora (1), a ser gravada a partir da assinatura do termo de consentimento livre e

esclarecido. O entrevistado deverá ser um coordenador ou orientador pedagógico da

instituição. A entrevista deverá ser agendada, de forma que não se torne inconveniente

à instituição participante. O acesso e a análise dos dados coletados se farão apenas

pela pesquisadora e/ou seu(s) orientador(es) / coordenador(es).

As informações oferecidas pela instituição serão submetidas às normas éticas

destinadas à pesquisa envolvendo seres humanos, da Comissão Nacional de Ética em

Pesquisa (CONEP) do Conselho Nacional de Saúde, do Ministério da Saúde, de forma

que não serão divulgados os nomes dos participantes, e nem das instituições.

A instituição e seu representante podem se retirar dessa pesquisa a qualquer

momento, sem prejuízo, e sem sofrer quaisquer sanções ou constrangimentos.

Caso tenhas dúvidas, poderá entrar em contato com a pesquisadora a qualquer

momento.

Agradeço desde já pela cooperação.

São Paulo, de de 2007

Marina Stevens Beeby

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Anexo 2

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Roteiro para entrevista semi-dirigida

Dados de identificação da instituição (Data of the institution):

• Número de funcionários

o How many people work at this school?

• Número de alunos

o How many students do you have in this school?

• Anos de existência

o When did it open?

• Níveis de ensino que oferece

o What levels do you offer?

• Equipe de coordenação (orientadores educacionais e pedagógicos)

o How is the group that coordenates the school organized?

Dados do(a) entrevistado(a) (Data of the interviewee):

• Idade

o Age

• Sexo

o Gender

• Anos na profissão

o How long have you been working in this profession?

• Anos na instituição

o How long have you been in this school?

• Formação

o What did you graduate in?

Entrevista (interview)

• Fale-me das principais características desta escola:

o How would you describe this school?

• Quais são as principais preocupações da escola na atualidade?

o What are the schools main concerns nowadays?

• Quais são os principais problemas de relacionamento entre os alunos?

o Which are the biggest issues in this school concerning relationships between students?

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• Como você compreende o fenômeno bullying? Acha que é uma questão importante da

atualidade ou não?

o What´s your point of view concerning bullying? Do you believe it is an important issue?

• Como se faz para se identificar o bullying na escola?

o How do you believe someone can identify bullying inside a school?

• Já foram identificados casos de bullying nesta instituição? Quais medidas foram

tomadas?

o Do you believe that bullying is an issue in this school? Has it ever been identified? How

did you deal with it?

• Há algum programa de combate à violência e ao bullying nesta escola?

o Has the school ever promoted a campaign against bullying?

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Anexo 3

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TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Eu, ________________________________________________ , R.G:______________, declaro, por meio deste termo, que concordei em ser entrevistado(a) na pesquisa de campo referente ao projeto da pesquisadora Marina Stevens Beeby,desenvolvido na Faculdade de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). Fui informado(a), ainda, de que a pesquisa é orientada pela Profa Marilda Pierro de Oliveira Ribeiro, a quem poderei contatar a qualquer momento que julgar necessário através do telefone n° 3670.8320 ou e-mail [email protected]

Afirmo que aceitei participar por minha própria vontade, sem receber qualquer incentivo financeiro e com a finalidade exclusiva de colaborar para o sucesso da pesquisa. Fui informado(a) dos objetivos estritamente acadêmicos do estudo, que, em linhas gerais é pesquisar entre as escolas quais são as questões de relacionamento interpessoal que aparecem no cotidiano escolar, mais especificamente o problema do bullying.

Fui também esclarecido(a) de que os usos das informações por mim oferecidas estão submetidos às normas éticas destinadas à pesquisa envolvendo seres humanos, da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) do Conselho Nacional de Saúde, do Ministério da Saúde.

Minha colaboração se fará de forma anônima, por meio de entrevista semi-dirigida, a ser gravada a partir da assinatura desta autorização, observação e aferição. O acesso e a análise dos dados coletados se farão apenas pelo(a) pesquisador(a) e/ou seu(s) orientador(es) / coordenador(es).

Estou ciente de que, caso eu tenha dúvida ou me sinta prejudicado(a), poderei contatar o(a) pesquisador(a) responsável [ou seus orientadores], ou ainda o Comitê de Ética em Pesquisa da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (CEP - PUC/SP), situado na Rua Ministro de Godoy, 969 - Térreo, Perdizes, São Paulo (SP), CEP:05015-000, Telefone: 3670.8466.

O(a) pesquisador(a) principal da pesquisa me ofertou uma cópia assinada deste Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, conforme recomendações da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP).

Fui ainda informado(a) de que posso me retirar dessa pesquisa a qualquer momento, sem prejuízo para meu acompanhamento ou sofrer quaisquer sanções ou constrangimentos

São Paulo, _____ de ___________________ de

Assinatura do(a) participante: ______________________________

Assinatura do(a) pesquisador(a): _______________________