Brinquedos Cantados Na Psicomotricidade

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE Por: Denise Guerra dos Santos Orientador Prof. Ms. Nilson Guedes de Freitas Rio de Janeiro 2003

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UNIVERSIDADE CAcircNDIDO MENDES

POacuteS-GRADUACcedilAtildeO ldquoLATO SENSUrdquo

PROJETO A VEZ DO MESTRE

BRINQUEDOS CANTADOS

NA

PSICOMOTRICIDADE

Por Denise Guerra dos Santos

Orientador Prof Ms Nilson Guedes de Freitas

Rio de Janeiro 2003

1

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

POacuteS-GRADUACcedilAtildeO ldquoLATO SENSUrdquo

PROJETO A VEZ DO MESTRE

BRINQUEDOS CANTADOS

NA

PSICOMOTRICIDADE

Apresentaccedilatildeo de monografia agrave Universidade

Candido Mendes como condiccedilatildeo preacutevia para

a conclusatildeo do Curso de Poacutes-graduaccedilatildeo

ldquoLato sensurdquo em psicomotricidade

Por Denise Guerra dos Santos

2

ldquoAS BRINCADEIRAS E JOGOS CONSTITUEM AS NOSSAS FUNCcedilOtildeES O NOSSO VIVER OS PAPEacuteIS

QUE REPRESENTAMOS REALIZANDO TAREFAS BEM OU MAL TENDO PARCERIA OU NAtildeO

EM TODO ESSE BRINCAR A NOSSA PARTICIPACcedilAtildeO Eacute COM O CORPO E A ALMArdquo

(Cacilda Gonccedilalves Velasco)

ldquoCANTAR Eacute MOVER O DOM DO FUNDO DE UMA PAIXAtildeO

SEDUZIR AS PEDRAS CATEDRAIS CORACcedilAtildeOrdquo

(Seduzir ndash DJAVAN)

3

DEDICO ESTA PESQUISA

Agraves crianccedilas e adolescentes com os quais trabalho ldquobrincandordquo diariamente na cliacutenica

musicoteraacutepica com votos de que assim se faccedila tambeacutem na cliacutenica psicomotora

4

AGRADECIMENTOS

Agrave Deus por permitir minha existecircncia neste mundo maravilhoso de muacutesicas e brincadeiras

Ao meu pai com muito amor

Aos meus irmatildeos e primos companheiros do brincar

Aos meus mestres em especial Fernando A Penza e Ronaldo Millecco (ambos in memorian) pelo

brilho inspirador do saber que eles deixaram em noacutes

Aos meus companheiros da poacutes-graduaccedilatildeo pelas vivecircncias parcerias e aprendizados

Aacute professora e amiga Cristie Campello pela apaixonante visatildeo da psicomotricidade

Agrave Musicoterapeuta Benita Michaeles por que a chama do nosso caminhar luacutedico continua viva

Agrave minha amiga conceiccedilatildeo costa pelo carinho e pela forccedila que sempre me deu

Ao meu orientador Nilson Guedes de Freitas por sua pedagogia afetuosa e acolhedora

Enfim agrave todos aqueles que participaram direta ou indiretamente deste trabalho

5

SUMAacuteRIO

1Introduccedilatildeo8

2Histoacuteria e classificaccedilatildeo dos brinquedos cantados11

21Brincar12

22Musicar13

23Movimentar15

3O desenvolvimento infantil segundo Piaget17

31Estaacutegio Sensoacuterio-motor20

32Estaacutegio Preacute-operacional24

33Os jogos por Piaget 27

4O brincar e a realidade Winnecotteana32

41Conceitos e contornos33

5Encantando a psicomotricidade37

51Breve histoacuteria da psicomotricidade39

52Educaccedilatildeo Reeducaccedilatildeo e Terapia psicomotora41

53Brinquedos cantados na psicomotricidade43

6Conclusatildeo55

Bibliografia57

Anexos59

6

RESUMO

Aborda-se neste trabalho a importacircncia e a contribuiccedilatildeo dos brinquedos

cantados na psicomotricidade com crianccedilas de 0 agrave 7 anos A presente monografia

desenvolve-se agrave luz da dialeacutetica interdisciplinar tomando-se de empreacutestimo

conceitos do folclore da psicanaacutelise da filosofia da psicologia do

desenvolvimento da ludoterapia e da musicoterapia Segue-se a descriccedilatildeo dos

brinquedos cantados paralelos ao desenvolvimento infantil segundo Piaget

enumerando-se os estaacutegios propostos por este autor e delimitando-se os

acalantos e as brincadeiras-de-roda como objeto de interesse maior da populaccedilatildeo

pesquisada Dar-se-aacute ecircnfase a discussatildeo do suporte agrave cliacutenica psicomotora diante

dos conceitos de Winnicott sobre a vida afetiva e o brincar fazendo-se referecircncia

agraves vivecircncias atraveacutes dos brinquedos cantados no contexto terapecircutico Na

culminacircncia deste estudo propotildee-se a diferenciaccedilatildeo entre educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo

e terapia psicomotora esboccedilando-se a elaboraccedilatildeo das estruturas psicomotoras

comuns agraves trecircs aacutereas citadas interpondo-se os brinquedos cantados como

recursos plausiacuteveis a este trabalho Apresenta-se ainda vinte e dois exemplos de

brinquedos cantados ilustrados por suas letras e pelo desenvolvimento da

brincadeira em questatildeo

Palavras-Chave Brinquedos cantados Psicomotricidade Luacutedico Terapia

Folclore Desenvolvimento infantil

7

1INTRODUCcedilAtildeO

O canto estaacute presente no universo simboacutelico de todas as culturas Vive-

se um processo de massificaccedilatildeo da cultura brasileira onde a muacutesica infantil estaacute

mesclada de sensualidade e cultuaccedilatildeo a um corpo esteacutetico grego Tem-se entatildeo

a incumbecircncia de preservar e formar a crianccedila que nasce ingecircnua sonhadora e

necessita de cuidados afetuosos

Visto que o som tem propriedades fiacutesicas que incidem sobre o corpo

humano de forma objetiva e subjetiva movendo o sujeito a partir da sua emoccedilatildeo

e que as crianccedilas satildeo estimuladas em sua afetividade se apropriando do uso

destes elementos luacutedico-sonoros para investimento pessoal e social supotildee-se que

os brinquedos cantados interferem de forma significativa no desenvolvimento

psicomotor das ditas crianccedilas

Faz-se assim a relevacircncia deste estudo para pesquisar a importacircncia

dos brinquedos cantados para o desenvolvimento psicomotor de crianccedilas de 0 agrave 7

anos de idade e ainda demonstrar a contribuiccedilatildeo destes elementos luacutedicoshy

sonoros na psicomotricidade com a referida populaccedilatildeo

Assume-se a investigaccedilatildeo da importacircncia e contribuiccedilatildeo dos

brinquedos cantados na psicomotricidade passando por quatro capiacutetulos

articulados entre si pelo vieacutes dos brinquedos cantados e dos interesses infantis

conforme o exposto a seguir

8

No primeiro capiacutetulo descreve-se uma breve histoacuteria e classificaccedilatildeo do

brincar a partir de referecircncias do folclore da psicanaacutelise e da filosofia Organiza-se

ideacuteias sobre trecircs possiacuteveis instacircncias que compreenderiam os brinquedos

cantados Musicar Brincar Movimentar Dar-se a ver na dialeacutetica entre a

Musicoterapia e a Psicomotricidade a importacircncia dos brinquedos cantados para

o desenvolvimento global da crianccedila nas idades mencionadas

Prossegue-se no segundo capiacutetulo um estudo sobre o desenvolvimento

infantil de 0 agrave 7 anos conforme a teoria Piagetiana Entre os estaacutegios do

desenvolvimento apontados por este autor para as estruturas cognosciacuteveis

imprescindiacuteveis a cada etapa sugere-se as contribuiccedilotildees de brinquedos cantados

compatiacuteveis com os momentos e as demandas verificadas Por fim mostra-se os

jogos na classificaccedilatildeo de Piaget situando o que cada etapa prioriza e delimitando

dois tipos de brinquedos cantados especiacuteficos para serem trabalhados na

psicomotricidade Os Acalantos e as Brincadeiras-de-roda

Identifica-se no capiacutetulo trecircs os conceitos de Winnicott sobre o objeto

transicional fenocircmeno transicional matildee suficientemente boa aacuterea intermediaacuteria e

o eu (Self) mostrando-se a interaccedilatildeo exposta pelos brinquedos cantados entre as

artes o luacutedico e o afeto supondo-se que esta interaccedilatildeo seja capaz de dar suporte

agrave cliacutenica psicomotora

Na proposta do capiacutetulo quatro buscou-se ldquoEn-Cantarrdquo a

psicomotricidade resumindo em uma breve histoacuteria como se instaurou a

educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo e terapia psicomotora atuais e ainda musicar com os

9

brinquedos cantados a elaboraccedilatildeo das diversas estruturas psicomotoras

assinalando a contribuiccedilatildeo destas para a psicomotricidade com a faixa etaacuteria

pesquisada

Finalizando esta introduccedilatildeo e abrindo os estudos desta monografia

deixa-se agrave contemplaccedilatildeo a muacutesica Redescobrir do compositor Luiz Gonzaga

Juacutenior 1980 interpretado pela cantora Elis Regina no Cd ldquoMuacutesica O melhor de

Elis Reginardquo WEA 2000

ldquoREDESCOBRIRrdquo

Como se fora brincadeira de roda (memoacuteria)

Jogo do trabalho na danccedila das matildeos (macias)

O suor dos corpos na canccedilatildeo da vida (histoacuteria)

O suor da vida e no calor de irmatildeos (magia)

Como um animal que sabe da floresta (memoacuteria)

Redescobrir o sal que estaacute na proacutepria pele (macia)

Redescobrir o doce no lamber das liacutenguas (magia)

Redescobrir o gosto e o sabor da festa (magia)

Vai o bicho homem fruto da semente (memoacuteria)

Renascer da proacutepria forccedila proacutepria luz e feacute (memoacuteria)

Entender que tudo eacute nosso sempre esteve em noacutes (histoacuteria)

Somos a semente ato mente e voz (magia)

Natildeo tenha medo meu menino bobo (memoacuteria)

Tudo principia na proacutepria pessoa (lembranccedila)

Vai como a crianccedila que natildeo teme os tempos (misteacuterio)

Amor se fazer eacute tatildeo prazer que eacute como fosse dor (magia)

10

2HISTOacuteRIA E CLASSIFICACcedilAtildeO DOS BRINQUEDOS CANTADOS

Os brinquedos cantados surgem na espontaneidade da cultura popular

Geralmente satildeo cantigas anocircnimas acompanhadas de movimentos expressivos

saltitantes e ou dramatizados

O brincar eacute uma forma de manifestaccedilatildeo caracteriacutestica da infacircncia entretanto

como afirma Huizinga (1980) a essecircncia do jogo eacute o prazer ele ultrapassa os

limites da realidade fiacutesica e assim se aplica a qualquer fase da vida

Os termos brincar e jogar satildeo referenciados como sinocircnimos por Cascudo

(1988) e Ferreira A (1988) Nos principais idiomas internacionais (Inglecircs Francecircs

Alematildeo e espanhol) brincar e jogar tambeacutem servem para definir atividades

artiacutesticas como a interpretaccedilatildeo teatral ou musical (Santa Roza1993)

Na liacutengua portuguesa o termo brincar vem do latim vinculum e significa

laccedilo uniatildeo No entanto eacute o termo luacutedico da nossa liacutengua tambeacutem proveniente do

latim ludus que melhor abrange e define as atividades artiacutesticas

culturais brincadeiras e jogos(ibid)

Nos divertimentos tradicionais infantis encontra-se os jogos de ronda

cantados declamados ritmados ou natildeo de movimento etc Brinquedo eacute ainda o

objeto material usado para brincar como o carro a boneca Diz-se tambeacutem da

proacutepria accedilatildeo de brincar (de cabra cega de chicotinho queimado e etc)

(Cascudo1988)

11

Dos trecircs povos que inicialmente formaram a cultura brasileira o

portuguecircs trouxe maior influecircncia para os brinquedos cantados os quais sofreram

modificaccedilotildees de acordo com a cultura local (Cascudo1988) Diga-se ainda que os

ritmos e danccedilas africanas juntamente com a alegria e marcaccedilatildeo ritmica-corporal

indiacutegena deu um tempero mais brejeiro ao legado luacutedico brasileiro

21BRINCAR

Como sonhar acordado brincar eacute expor-se de dentro para fora traduccedilatildeo

das impressotildees da crianccedila sobre o mundo que a cerca e os seus sentimentos

O brincar se desenvolve junto com o amadurecimento do sujeito as etapas iniciais

vatildeo perdendo o significado para o acreacutescimo do novo modo de explorar cada vez

mais elaborado

Todos os povos tecircm suas brincadeiras pertinentes agraves necessidades

expressivas de cada cultura O tempo se encarrega de transformar suas estruturas

mas eacute certo que as crianccedilas precisam de tempo espaccedilo e companheiros para

brincar

Sheridam (1990) classifica as brincadeiras em ativas exploratoacuterias

manipulativas imitativas construtivas faz-de-conta jogos com regras recreaccedilotildees

sofisticadas Este trabalho prioriza os brinquedos cantados que na praacutetica

psicomotora revelam valores e costumes culturais pontos de referecircncia para a

comunicaccedilatildeo e o relacionamento com o outro Estas manifestaccedilotildees envolvem a

emoccedilatildeo e o movimento que permeados pela muacutesica burlam as defesas e fazem

12

aflorar a essecircncia do ser

Os brinquedos cantados se inserem nas diversas formas de

classificaccedilatildeo pois em face de sua riqueza dinacircmica satildeo brincadeiras ativas

(exChep Chep) imitativas(ex Samba Lecirc Lecirc) construtivas(exA minha velha tem)

priorizam o faz-de-conta conteacutem regras especiacuteficas e vatildeo desde as mais simples

como ldquoAtirei o pau no gatordquo ateacute as mais elaboradas como ldquoA linda rosa juvenilrdquo1

Lapierre e Aucoutourrier (1986p29) pontuaram que ldquoA expressatildeo sonora

estaacute necessariamente ligada agrave relaccedilatildeo com o outrordquo sabe-se que ainda na barriga

da matildee a funccedilatildeo auditiva se instaura no embriatildeo e ele ouve os batimentos

cardiacuteacos dele e da matildee e todo um mundo de sons atraveacutes do liacutequido amnioacutetico

Eacute a relaccedilatildeo com o outro atraveacutes dos sons que situa a crianccedila no espaccedilo no tempo

e no afeto

22 MUSICAR

Segundo Gainza (1988) ldquoa accedilatildeo musical implica num movimento

seja das cordas vocais e do aparelho fonador naquele que fala ou canta seja do

proacuteprio corpordquo No uacuteltimo caso o corpo aparece como instrumento produtor de

som ou se prolonga atraveacutes de um instrumento musical propriamente ditordquo

Sob a oacutetica musical as teorias apontam para as estruturas fiacutesico-sonoras

Encontra-se nestas a formaccedilatildeo de todo contexto musical que eacute igualmente

1 PAIVA Ione Maria R de BRINQUEDOS CANTADOS 1998 p25416383

13

correspondente para os brinquedos cantados Fala-se entatildeo dos elementos

inevitaacuteveis de qualquer muacutesica Ritmo Melodia Harmonia Eis a definiccedilatildeo de

Costa(1989p61) ldquoNuma definiccedilatildeo muito simples muacutesica eacute a organizaccedilatildeo de

relaccedilotildees entre sonoridades simultacircneas ou natildeo no decorrer do tempo Sons e

silecircncios satildeo combinados e encadeados entre si formando ritmos melodias e

harmoniasrdquo

O ritmo eacute basicamente a ordenaccedilatildeo do movimento formando um elo

entre espaccedilo e tempo A melodia eacute uma sequumlecircncia de sons notas musicais graves

e agudas A harmonia eacute a verticalidade ou a simultaneidade dos sons parte mais

intelectualizada da muacutesica(Costa opcit mesma paacutegina)

As muacutesicas infantis em geral acompanham o desenvolvimento afetivo

motor cognitivo e social da crianccedila Observa-se que existem brinquedos cantados

mais simples contendo siacutelabas repetitivas estrutura musical miacutenima e que satildeo

preferidos pelas crianccedilas entre 2 e 3 anos por ex

CAI CAI BALAtildeO(folclore)2

Cai cai balatildeo cai cai balatildeo aqui na minha matildeo

Natildeo vou laacute natildeo vou laacute natildeo vou laacute tenho medo de apanhar

A muacutesica dos brinquedos cantados altera a sensibilidade o humor faz

aflorar a criatividade a expressividade do corpo e da alma revelando as habilidades

e dificuldades da crianccedila se convertendo entatildeo em instrumento de trabalho na

psicomotricidade

2 MARTINS Armando TOQUE VIOLAtildeO OU GUITARRA(meacutetodo praacutetico) 1980p88

14

23MOVIMENTAR

Do choro aos acalantos (muacutesicas de ninar) dos cantos culturais as

brincadeiras-de-roda haacute uma trajetoacuteria que vincula o som da voz ao movimento

corporal conforme afirma Fregtman(1988p17) isto ocorre ldquoporque a muacutesica eacute

feita dita tocada e cantada como manifestaccedilatildeo corporalrdquo

Toda forma de comunicaccedilatildeo se daacute atraveacutes de coacutedigos estabelecidos

linguagens por assim dizer Fregtman (opcit) conceitua a partir da musicoterapia

que trecircs niacuteveis de manifestaccedilatildeo expressiva simultacircneos podem se dar quando

usamos a muacutesica Satildeo eles

1) Linguagem sonora (sons silecircncios entonaccedilotildees melodias ritmos)

2) Linguagem corporal (gestos posturas trejeitos tipos de movimentos)

3) Linguagem verbal (a fala a letra a poesia)

Apenas para efeitos didaacuteticos se consegue separar estes trecircs niacuteveis de

linguagem A linguagem sonora necessariamente traacutes expressotildees corporais

estimula a emoccedilatildeo que se revela atraveacutes dos gestos posturas movimentos voz e

etc A linguagem corporal responde ao chamado verbal ou musical os quais soam

determinados significados simboacutelicos apreendidos nas relaccedilotildees soacutecio-afetivas E

por fim a linguagem verbal eacute inserida para nomear as accedilotildees sejam elas musicais

ou corporais

15

Os brinquedos cantados satildeo tambeacutem conceituados mediante sua aplicaccedilatildeo

em determinadas funccedilotildees na recreaccedilatildeo Os brinquedos cantados podem ser de

marcha de grupos opostos de palmas de roda de ninar ou alternados

Modificaccedilotildees diversas quanto ao andamento (lento moderado raacutepido) agrave formaccedilatildeo

(rodas simples complexas fileiras) e agrave movimentaccedilatildeo dos brinquedos cantados

(marcha roda dramatizaccedilatildeo) satildeo descritas por Leitatildeo(2001)

Neste trabalho prioriza-se os acalantos e as brincadeiras-de-roda tendo

em vista que a populaccedilatildeo estudada crianccedilas de 0 agrave 7 anos podem ser atendidas

em suas necessidades de acolhimento afetivo comunicaccedilatildeo expressiva e

socializaccedilatildeo atraveacutes destes elementos A Simbologia do movimento de Lapierre amp

Aucoutourrier (1986p41) sustenta o nosso pensamento atraveacutes da seguinte

citaccedilatildeo ldquoA muacutesica pode nos ajudar muito a redescobrir essa dimensatildeo do

movimento desde que natildeo seja restringida aos estereotipos da lsquodanccedilarsquo mesmo a

lsquoexpressivarsquo ldquo

ldquoO JACAREacuterdquo (folclore)3

O jacareacute o jacareacute o jacareacute eacute amigo ele eacute

Oi jacareacute oi jacareacute vem caacute cumpadre que a lagoa natildeo daacute peacute

O jacareacute tem os olhos muito grandes tem o rabo muito grande

Mas as pernas satildeo curtinhas

O jacareacute tem a boca muito grande tem os dentes muito grande

mas as pernas satildeo curtinhas

3 Recolhido atraveacutes da cultura oral

16

3O DESENVOLVIMENTO INFANTIL SEGUNDO PIAGET

Para Piaget (2003) o conhecimento eacute o resultado das accedilotildees e

relacionamentos do sujeito com o ambiente em que vive e vai sendo elaborado

desde o nascimento ateacute suas vivecircncias com os objetos pessoas e situaccedilotildees que

procura conhecer sejam elas do mundo fiacutesico ou cultural

Este autor formulou importantes conceitos que explicam o

desenvolvimento das funccedilotildees cognitivas A interaccedilatildeo entre a assimilaccedilatildeo

(informaccedilotildees do mundo exterior recebidas atraveacutes dos sentidos movimento de fora

para dentro) e a acomodaccedilatildeo (informaccedilatildeo processada respostas dadas ao mundo

exterior movimento de dentro para fora) sobre uma accedilatildeo satildeo validadas pelo

processo de equilibraccedilatildeo (Piagetopcit)

As perturbaccedilotildees exteriores se mostram a crianccedila a partir do que ela natildeo

conhece assim oportunizadas pelo processo de equilibraccedilatildeo e por meio de suas

atividades vai respondendo a estas perturbaccedilotildees vencendo a mais uma etapa

cognosciacutevel A equilibraccedilatildeo eacute dinacircmica e nunca cessa ela norteia a passagem de

um conhecimento ao outro(Piaget2003)

Dois outros conceitos Piagetianos satildeo imprescindiacuteveis ao tenro

desenvolvimento infantil e encontra-se nos brinquedos cantados uma forma

espontacircnea de vivenciaacute-los A Imitaccedilatildeo e a noccedilatildeo de Permanecircncia do Objeto

17

Imitaccedilatildeo Eacute na gecircnese da imitaccedilatildeo que inicia o movimento luacutedico da crianccedila

Imitando o meio e as pessoas ao seu redor a crianccedila apreende e treina suas novas

aquisiccedilotildees Ferreira I(1994 p47) afirma que ldquoA imitaccedilatildeo eacute uma das manifestaccedilotildees

da funccedilatildeo simboacutelica Constitui-se num dos elementos baacutesicos que permitem a

crianccedila uma assimilaccedilatildeo de realidade ao seu proacuteprio ldquoeurdquo bem como Acomodaccedilatildeo

de suas estruturas mentais e de accedilatildeo agraves exigecircncias da realidade fiacutesica e socialrdquo

Para haver o ato imitativo eacute necessaacuterio um modelo Alguns brinquedos

cantados propotildeem accedilotildees simboacutelicas que copiam o mundo adulto sem impor aos

pequenos o fardo da responsabilidade que este teria na realidade Eis um exemplo

interessante onde as crianccedilas imitam os afazeres dos mais velhos

PASSA PASSA GAVIAtildeO(folclore)4

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

As lavadeiras fazem assim

Assim assim assim assim

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

As passadeiras fazem assim

Assim assim assim assim

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

As cozinheiras fazem assim assim assim

Assim assado carne seca com ensopado

4 Recolhido atraveacutes da cultura oral

18

Objeto permanente Nos primeiros dois anos de vida a crianccedila apresenta um

comportamento em constante adaptaccedilatildeo pois estaacute sempre se modificando para

responder aos estiacutemulos do meio A crianccedila inicialmente natildeo tem noccedilatildeo da

permanecircncia dos objetos ela pensa que eles soacute existem enquanto estatildeo ao

alcance dos seus olhos caso sejam escondidos a sua frente acharaacute que estes

acabaram ou se desintegraram Entre os 18 e 24 meses a crianccedila jaacute consegue

elaborar mais este conhecimento e apesar de natildeo vecirc-lo ouvi-lo ou tocaacute-lo ela vai

compreender que os objetos independem da sua vontade e presenccedila para

existirem

Para melhor apreensatildeo da realidade fiacutesica a praacutetica pelo ensaio e erro ou

aparecer desaparecer vatildeo treinar e orientar os pequenos na aquisiccedilatildeo das noccedilotildees

de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo da realidade como

afirma FerreiraI(1994p35) ldquoO esquema do objeto permanente eacute baacutesico para a

construccedilatildeo das noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidaderdquo

Observe que as crianccedilas nesta fase gostam das brincadeiras de

esconde-esconde que amenizam suas anguacutestias sobre a existecircncia ou natildeo dos

objetos reais Seu proacuteprio corpo eacute posto agrave prova escondendo o rosto ou as matildeos

atraacutes de uma almofada por exemplo A muacutesica das palminhas talvez possa auxiliar

nesta etapa

19

PALMINHAS PALMINHAS (folclore)5

Palminhas palminhas nos vamos bater

Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconder

Em cima em cima noacutes vamos bater

Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconde

Assim assim pra traacutes esconder

Em baixo em baixo noacutes vamos bate

Depois as matildeozinhas pra traacutes esconde

Assim assim pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconder

Os conceitos estudados ateacute aqui se realizam dentro dos estaacutegios do

desenvolvimento organizados por Piaget Passar-se-aacute neste momento agrave elucidaccedilatildeo

dos estaacutegios pertinentes agrave faixa etaacuteria da populaccedilatildeo pesquisada nesta monografia

estaacutegios Sensoacuterio-motor e Preacute-operacional

31ESTAacuteGIO SENSOacuteRIO MOTOR (0 agrave 2 anos) Estaacutegio que vai do nascimento

ateacute a aquisiccedilatildeo da linguagem e eacute dividido em 6 sub estaacutegios Esta eacute a fase do

comportamento inteligente antes da aquisiccedilatildeo da linguagem a crianccedila organiza a

informaccedilatildeo obtida atraveacutes dos sentidos e desenvolve respostas aos estiacutemulos

5 Recolhido atraveacutes da cultura oral

20

ambientais com comportamento adaptativo e constante modificaccedilotildees dos

esquemas de accedilatildeo em resposta ao meio A aquisiccedilatildeo mais importante deste

periacuteodo eacute o Objeto Permanente Manifesta-se ainda a imitaccedilatildeo que alcanccedilaraacute o

seu auge no proacuteximo estaacutegio

1ordm Sub Estaacutegio ndash Exerciacutecio dos reflexos (0 a 1 mecircs) Do alto da sua imaturidade

bioloacutegica a crianccedila se relaciona com o meio atraveacutes dos movimentos reflexos

hereditaacuterios que se aprimoram pelo exerciacutecio tornando-se cada vez mais

eficientes Ainda natildeo haacute a distinccedilatildeo entre o eu e o outro

2ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular primaacuteria (1 a 4 meses)Esta eacute a fase das

primeiras acomodaccedilotildees onde os exerciacutecios reflexos se transformam em esquemas

e comeccedilam a coordenar seus movimentos Inicia-se a construccedilatildeo dos primeiros

esquemas vocais A noccedilatildeo de tempo eacute primitiva sua duraccedilatildeo soacute eacute sentida no

decorrer da proacutepria accedilatildeo O final do periacuteodo eacute marcado pela coordenaccedilatildeo entre trecircs

esquemas fundamentais audiccedilatildeo fonaccedilatildeo e visatildeo

3ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular secundaacuteria (4 a 8 meses) O bebecirc apresenta

um maior interesse pelo mundo externo os esquemas se diferenciam surgindo

novos esquemas de coordenaccedilatildeo viso-motora unindo-se as aquisiccedilotildees jaacute

realizadas Os movimentos comeccedilam a ser repetido pelo prazer da repeticcedilatildeo

Observa-se o iniacutecio da noccedilatildeo do Objeto Permanente entretanto ela estaacute

condicionada ao movimento da crianccedila pois as coisas ainda natildeo seguem uma

trajetoacuteria independente

21

4ordm Sub Estaacutegio ndash Coordenaccedilatildeo de esquemas secundaacuterios (8 a 12 meses)

Caracteriza-se pelas primeiras condutas propriamente inteligentes surgindo

adaptaccedilotildees sensoacuterio-motoras intencionais onde o bebecirc combina esquemas

conhecidos a novas situaccedilotildees e ainda diferencia os meios e os fins de uma accedilatildeo

Aparece nesta fase o comportamento antecipatoacuterio caso o bebecirc veja sua matildee se

afastar chora a imitaccedilatildeo de sons e accedilotildees satildeo agora intencionais e

conscientizadas no entanto ainda condicionadas ao esquema visual Revelam-se

os primoacuterdios da memoacuteria e da representaccedilatildeo mental Comeccedila a permanecircncia do

objeto independente do ldquoeurdquo Quanto agrave noccedilatildeo de espaccedilo e tempo a crianccedila

comeccedila a ordenar os proacuteprios deslocamentos em relaccedilatildeo aos objetos

5ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular terciaacuteria (12 a 18 meses) A crianccedila gradua

seus movimentos varia e experimenta novos padrotildees de comportamento

observando os diferentes efeitos da sua accedilatildeo sobre o objeto o qual jaacute eacute dotado de

permanecircncia Pode-se afirmar que o mecanismo da inteligecircncia praacutetica estaacute

definitivamente constituiacutedo A cada estruturaccedilatildeo da inteligecircncia corresponde uma

nova estruturaccedilatildeo do espaccedilo do tempo da causalidade etc Agindo por ldquoensaio e

errordquo os resultados das accedilotildees ainda satildeo por acaso pois as representaccedilotildees

mentais de fatos externos ainda natildeo se incluem ou seja o pensamento ainda natildeo

estaacute formado

22

6ordm Sub Estaacutegio ndash A invenccedilatildeo dos novos meios por combinaccedilatildeo

mental (18 a 24 meses) Esta fase caracteriza o momento de transiccedilatildeo entre a

inteligecircncia praacutetica (sensoacuterio-motora) e a inteligecircncia representativa quando

comeccedila a funccedilatildeo simboacutelica Inicia-se a representaccedilatildeo mental imaginativa e criativa

No jogo simboacutelico a crianccedila usa siacutembolos na linguagem e na brincadeira do faz-deshy

conta recorda-se de fatos passados e os representa depois de algum tempo O

final deste periacuteodo eacute marcado pela primeira noccedilatildeo de conservaccedilatildeo(FerreiraI1994)

Os primeiros anos de vida da crianccedila satildeo marcados pelas inuacutemeras

formaccedilotildees e transformaccedilotildees fiacutesicas mentais e emocionais conforme descritas

acima Os acalantos (muacutesicas de ninar) satildeo cantados por matildees de todo o mundo

numa primeira inserccedilatildeo da crianccedila ao universo musical de sua cultura Eles

exercem um poderoso papel de auxiacutelio agrave maternagem acolhendo-a afetuosamente

condiccedilatildeo baacutesica para que a crianccedila se sinta suficientemente amada para

prosseguir desenvolvendo-se Este tema seraacute melhor explanado nos proacuteximos

capiacutetulos Por hora parece oportuno um exemplo de acalanto

TUTU MARAMBAacute(folclore)6

Tutu marambaacute

Natildeo venha mais caacute

Que o pai do menino

Te manda mata

6 MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute PRECISO CANTAR Musicoterapia cantos e canccedilotildees2001p38

23

32ESTAacuteGIO PREacute-OPERACIONAL (2 agrave 7 anos) A crianccedila vive um tempo em que

usa a intuiccedilatildeo ela passa todos os seus atos para o pensamento sob a forma de

imagens e diante de uma situaccedilatildeo praacutetica suas respostas vatildeo se basear no que

ela vecirc sente mexe ou seja nas aparecircncias dos fatos que observa A crianccedila

possui a capacidade de representar uma coisa por outra e esta representaccedilatildeo

pode se dar por um gesto um desenho uma palavra etc A verbalizaccedilatildeo tem

destaque neste periacuteodo e a linguagem conduz agrave socializaccedilatildeo das accedilotildees Este

estaacutegio compreende duas formas de pensamento a saber O Pensamento

Simboacutelico e o Pensamento Intuitivo

Pensamento simboacutelico (2 agrave 4 anos) Para Piaget a funccedilatildeo simboacutelica consiste na

capacidade da crianccedila representar objetos e fatos conhecidos poreacutem ausentes por

um substituto qualquer seja este concreto ou imaginaacuterio Uma caracteriacutestica

fundamental desta fase eacute a diferenciaccedilatildeo entre significante e significado que eacute

manifestada por vaacuterias condutas sendo elas O jogo simboacutelico ou faz-de-conta a

imitaccedilatildeo o desenho a imagem mental a linguagem a criatividade etc Para

ldquosignificanterdquo leia-se objeto concreto e para ldquosignificadordquo a ideacuteia compreensiva do

que foi percebido (Piaget 2003)

Sobre a funccedilatildeo simboacutelica FerreiraI(1994p43) complementa ldquoA funccedilatildeo

simboacutelica pode ser considerada uma linguagem individual e particular da crianccedila

usada para compreender e representar o mundo O siacutembolo eacute subjetivo e aos

poucos vai sendo substituiacutedo por signos da linguagem socialrdquo

24

O pensamento infantil encontrado entre os 2 e 7 anos de idade eacute

egocentrado A visatildeo da realidade eacute centrada no ponto de vista do proacuteprio sujeito

sendo este incapaz de relacionaacute-lo ou de coordenaacute-lo a pontos de vistas diferentes

do seu

A aquisiccedilatildeo da linguagem tem destaque nesta fase e coincide com a

formaccedilatildeo do jogo simboacutelico que melhor se manifesta no jogo do faz-de-conta

Atraveacutes do que discute Ferreira I (1994p43) ldquoOs siacutembolos podem ser

socializados como os brinquedos coletivos e se tornar um siacutembolo coletivordquo

confirma-se mais uma vez que os estes elementos apresentam extrema valorizaccedilatildeo

soacutecio-afetiva e cultural Com a ludicidade que lhe eacute peculiar os brinquedos

cantados nesta fase encantam ensinam desenvolvem a memoacuteria a auto estima

o esquema corporal a imagem corporal a Coordenaccedilatildeo Motora a socializaccedilatildeo

entre outras funccedilotildees essenciais agrave formaccedilatildeo dos pequenos Eis um bom exemplo

O GIGANTE E O ANAtildeO(autor desconhecido)7

O peacute do gigante eacute grande

Do anatildeo pequenininho

O gigante pisa forte

O anatildeo pisa mansinho

O gigante fala grosso

O anatildeo fala fininho

Porque gigante come muito

E o anatildeo come pouquinho

7 Recolhido atraveacutes da cultura oral

25

Pensamento Intuitivo (4 agrave 7 anos) Subdividido em Intuitivo Simples e Intuitivo

Articulado eacute um estaacutegio marcado pela crescente formaccedilatildeo de conceitos O

pensamento intuitivo eacute uma espeacutecie de accedilatildeo executada em pensamento encaixar

seriar deslocar etc

A crianccedila no intuitivo simples representa mentalmente assimila e entende

o mundo real poreacutem de forma limitada pois soacute consegue coordenar um uacutenico

ponto de vista com base nas aparecircncias do que vecirc Centrado em si mesmo natildeo

admite a reversibilidade falta-lhe ainda a noccedilatildeo de conservaccedilatildeo das substacircncias

Quando se pede agrave crianccedila para desenhar ela desenha o que sabe e natildeo

o que vecirc Este egocentrismo que lhe eacute peculiar deveraacute evoluir para a

descentraccedilatildeo bem como haveraacute progressos nas diversas etapas cognitivas

(classificar seriar etc) Ao final do pensamento intuitivo articulado a crianccedila

comeccedila a levantar duacutevidas e questionamentos percebendo a mobilidade das

situaccedilotildees

ldquoA BARATArdquo(folclore)8

A barata diz que tem 7 saias de filoacute

Eacute mentira da barata ela tem eacute uma soacute

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute

A barata diz que tem um anel de formatura

Eacute mentira da barata ela tem eacute casca dura

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura

8 PAIVA Ione Maria R de OPCITp80

26

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura

A barata diz que dorme numa cama de cetim

Eacute mentira da barata ela dorme eacute no capim

Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim

Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim

Na muacutesica da barata as crianccedilas ironizam a tentativa de mentir deste

inseto A propoacutesito das ldquomentirinhasrdquo contidas nas brincadeiras infantis funcionam

como passaporte para a experimentaccedilatildeo do que eacute verdadeiro e real As palavras

de cascudo(1988p491) discorrem sobre os deslimites da mentira ldquoAs estoacuterias

mentirosas() satildeo muito populares e constituem um gecircnero especial onde a

imaginaccedilatildeo exagerada e livre se liberta dos limites da loacutegicardquo Acredita-se que as

crianccedilas exigem a verdade para terem o domiacutenio do que aprendem

33OS JOGOS POR PIAGET

ldquoPiaget vecirc no jogo um processo de ajuda ao desenvolvimento da crianccedila

acompanha-a sendo ao mesmo tempo uma atividade consequumlente de seu proacuteprio

crescimentordquo(Negrine1994p45) A leitura dos jogos em Piaget acompanha o

desenvolvimento integral do homem a inteligecircncia a afetividade a motricidade e a

sociabilidade satildeo vivenciadas nos jogos sendo a afetividade a funccedilatildeo que constitui

a energia necessaacuteria para a progressatildeo psiacutequica moral intelectual e motora

daquele que joga

Trecircs classificaccedilotildees baacutesicas do jogo satildeo mostradas na teoria

27

psicogeneacutetica de Piaget Jogos de exerciacutecio Jogos simboacutelicos e jogos de regra

Jogos de Exerciacutecio Ou jogos sensoacuterio-motores que aparecem no periacuteodo do

mesmo nome natildeo chegam a constituir sistemas luacutedicos independentes e

construtivos Sua motivaccedilatildeo se daacute pelo prazer funcional ou pelo prazer produzido

pela tomada de consciecircncia de suas novas capacidades

Os jogos motores ou de exerciacutecios satildeo aqueles que envolvem

diretamente a participaccedilatildeo ativa do corpo como um todo inclui-se ainda os jogos

sensoriais que ajudam a desenvolver os oacutergatildeos dos sentidos

A crianccedila nesta fase gosta de brincar com brinquedos que manipula

repetidas vezes explorando toda sua superfiacutecie Brincar de esconder o rosto ou os

objetos atirar e pegar brinquedos eacute prazeroso para a crianccedila ao mesmo tempo

que assimila as noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo

da realidade

Os estiacutemulos sensoriais tambeacutem fazem parte do seu interesse objetos

de diversas cores e texturas brinquedos sonoros muacutesica para ouvir acalentar

danccedilar e brincar desta forma explora o reconhecimento do eu do outro e dos

objetos

O jogo de exerciacutecio eacute o primeiro a aparecer no comportamento da

crianccedila explicitamente do 2ordm ao 5ordm estaacutegio do desenvolvimento sensoacuterio motor por

oposiccedilatildeo ao 6ordm estaacutegio onde se inicia o jogo simboacutelico(Negrine 1994)

28

ATIREI O PAU NO GATO(Folclore)9

Atirei o pau no ga-to-to mas o ga-to-to

Natildeo morreu- rreu- rreu dona chica-ca-ca

Admirou- se se do berro do berro

Do berro que o gato deu Miau

Jogos Simboacutelicos Em princiacutepio do ponto de vista de Piaget a diferenccedila entre os

jogos simboacutelicos e os de exerciacutecio intelectual consiste em que os primeiros se

referem ao pensamento

Os jogos simboacutelicos tem iniacutecio no 6ordm estaacutegio do periacuteodo sensoacuterio-motor

e se continua aproximadamente dos 2 aos 4 anos de idade cronoloacutegica ou do 1ordm

estaacutegio do preacute-operacional(fase simboacutelica) ateacute o iniacutecio do 2ordm estaacutegio do preacuteshy

operacional(fase intuitiva) Piaget apud Negrine(1994p41) deixa claro a

supremacia dos jogos simboacutelicos em detrimento dos anteriores

ldquoO esquema simboacutelico por si mesmo eacute suficiente para

assegurar a superioridade da representaccedilatildeo sobre

uma accedilatildeo pura nesta segundo Piaget o jogo

permite assimilar o mundo exterior ao eu como meio

infinitamente mais poderoso que o de simples exerciacuteciordquo

Como aparecem antes da linguagem verbal propriamente dita os jogos

simboacutelicos satildeo representados nas imagens mentais da crianccedila e vivenciados

atraveacutes dos gestos onomatopeacuteias pelo prazer de brincar com o faz-de-conta

9 MILLLECCO FILHO Luiacutes A e outros OPCIT p43

29

Nesta fase os acalantos vatildeo perdendo sua importacircncia dando lugar agraves

brincadeiras-de-roda os pequenos ao mesmo tempo em que aprendem a falar

aprendem a cantar as brincadeiras-de-roda tem a propriedade de enriquecerem o

repertoacuterio de palavras e movimentos

Jogos de Regras Os jogos de regras natildeo seguem o mesmo itineraacuterio dos

anteriores pois comeccedilam a aparecer na metade do 2ordm estaacutegio do periacuteodo preacuteshy

operacional isto eacute dos 4 aos 7 anos e principalmente no periacuteodo das operaccedilotildees

concretas dos 7 aos 12 anos Pesquisaremos como ocorrem os jogos de regra ateacute

os 7 anos pela delimitaccedilatildeo da populaccedilatildeo que esta monografia abrange

Dos 4 aos 7 anos periacuteodo preacute operacional intuitivo surgem os jogos de

regra que substituiratildeo o siacutembolo e enquadraratildeo o exerciacutecio no momento em que se

constituem de forma incipiente certas relaccedilotildees sociais(Piaget2003)

Com relaccedilatildeo as regras segundo Piaget apud Negrine

(1994p44)distinguem-se dois tipos transmitidas e espontacircneas As regras

transmitidas se referem aos jogos institucionais que se impotildeem por pressatildeo das

geraccedilotildees anteriores As espontacircneas se referem aos jogos de natureza contratual e

momentacircnea isto eacute procedem da socializaccedilatildeo dos jogos de simples exerciacutecios ou

dos simboacutelicos

30

Na cantiga de roda ldquoCiranda cirandinhardquo destaca-se o desenvolvimento

da roda e ao final as regras uma imposta (entrar na roda e dizer um verso) outra

espontacircnea (serve qualquer verso criado na hora ou jaacute existente) Outra versatildeo

desta mesma cantiga para crianccedilas menores pede ldquofaccedila um gesto bem bonito

diga adeus e vaacute se emborardquo A liberdade de criar um gesto verso a importacircncia de

estar no meio da roda como centro das atenccedilotildees e a valorizaccedilatildeo dos

companheiros satildeo o impulso para a espontaneidade e o crescimento da autonomia

do ser

CIRANDA CIRANDINHA(folclore)10

Ciranda cirandinha vamos todos cirandar

Vamos dar a meia volta volta e meia vamos dar

o anel que tu me destes era vidro e se quebrou

o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou

Por isto sinhaacute Maria entre dentro desta roda

Diga um verso bem bonito diga adeus e vaacute se embora

Os conceitos estudados neste capiacutetulo podem orientar sobre o tempo

mental da crianccedila e a possibilidade de oferecer estiacutemulos adequados ao seu

momento Como uma boa buacutessola natildeo conteacutem apenas o norte

10 MARTINS Armando OPCITp105

31

4O BRINCAR E A REALIDADE WINNICOTTEANA

A partir da premissa de que natildeo se pode dividir o ser humano em

classificaccedilotildees bioloacutegicas e psiacutequicas posto que este eacute uma unidade indivisiacutevel

formulou-se apenas para efeitos didaacuteticos no capiacutetulo anteriorum olhar mais

fiacutesico(cognitivo) do desenvolvimento infantil atraveacutes de Piaget Discutir-se-aacute neste

capiacutetulo o ponto de vista Winnicotteano sobre a vida emocional e o brincar

Nos brinquedos cantados a arte de brincar se mistura a arte de cantar e

eacute fazendo ldquoArtesrdquo que a crianccedila dar-se a ver e a crescer A partir deste tema

instigante e universal que eacute o brincar torna-se mais prazeroso ainda falar sobre ele

depois de conhecer os estudos do Drordm Winnicott

D W Winnicott pediatra psicanalista psicoterapeuta inglecircs e defensor

da Ludoterapia nasceu no comeccedilo do seacuteculo 20 produzindo uma vasta obra

cientiacutefica ateacute os anos 70 quando nos deixou Em seu livro ldquoO Brincar e

Realidaderdquo(1975) se preocupou com os primoacuterdios da vida imaginativa da

experiecircncia cultural em todos os sentidos da relaccedilatildeo das artes com o brincar e da

criatividade

Neste momento parece relevante abordar alguns dos conceitos teoacutericos

do DrordmWinnicott atraveacutes da obra mencionada pelo suporte que podem

proporcionar agrave compreensatildeo da vida psiacutequica mediante o brincar e a terapia Em

32

Conceitos e contornos ilustrar-se-aacute o Objeto transicional Fenocircmeno transicional

Matildee suficientemente boa Aacuterea intermediaacuteria e o Eu(Self) circundando a

importacircncia destes conceitos em relaccedilatildeo aos brinquedos cantados e sua aplicaccedilatildeo

na cliacutenica psicomotora

41CONCEITOS E CONTORNOS

Objeto Transicional Eacute o objeto concreto relativo agrave exploraccedilatildeo pulsional (descarga

impulsiva) do sujeito por exemplo uma boneca ou um carrinho

Fenocircmeno Transicional Satildeo as accedilotildees relativas agrave exploraccedilatildeo pulsional ou o uso

que se faz dos objetos transicionais Ex Um carrinho pode ser acalentado como se

fosse um bebecirc

Matildee Suficientemente Boa Pessoa que ocupa o lugar de suporte afetivo no

desenvolvimento global da crianccedila tambeacutem associada por ele a figura do

terapeuta

Em outras palavras o amor da matildee ou do terapeuta

natildeo significaria apenas um atendimento agraves necessidades

da dependecircncia mas vem a significar a concessatildeo

de oportunidades que permita ao bebecirc ou ao paciente

passar da dependecircncia para a autonomia

(Winnicott1975p150)

33

Aacuterea Intermediaacuteria Aacuterea neutra de experimentaccedilatildeo vivencial entre as realidades

internas e externas do sujeito que favorece a dialeacutetica do brincar e das artes O

dito autor parece supor um espaccedilo de refuacutegio para a resoluccedilatildeo dos conflitos

humanos Eis aqui a referecircncia para tal colocaccedilatildeo

Presume-se aqui que a tarefa de aceitaccedilatildeo da realidade

nunca eacute completada que nenhum ser humano estaacute livre

da tensatildeo de relacionar a realidade interna e externa e

que o aliacutevio dessa tensatildeo eacute proporcionado por uma aacuterea

intermediaacuteria de experiecircncia(cf Riviere1936) que natildeo eacute

contestada (artes religiatildeo etc) Essa aacuterea intermediaacuteria

estaacute em continuidade direta com a aacuterea do brincar da

crianccedila pequena que se ldquoperderdquo no brincar

(Winnicottopcitp29)

A princiacutepio eacute difiacutecil falar dos brinquedos cantados como objetos

transicionais (concretos) porque natildeo satildeo exatamente vistos a olhos nus embora

sejam audiacuteveis Todavia qualquer muacutesico pode escrever em uma partitura o

brinquedo cantado (concreto e cantaacutevel) para tornaacute-lo visiacutevel

O ato de cantar uma muacutesica de roda ou um acalanto jaacute eacute a traduccedilatildeo do

fenocircmeno transicional Dar-se-aacute o uso que quiser a este brinquedo cantado no

momento de sua realizaccedilatildeo Se uma muacutesica de ninar for entoada com raiva ou

brutalidade eacute certo que traraacute temores ao bebecirc e natildeo o conforto a que se prestaria

Acalantos com este do ldquobicho papatildeordquo expotildee o perigo e propotildee acolhida pela

proteccedilatildeo materna

34

ldquoBICHO PAPAtildeO(folclore)11

Bicho Papatildeo sai de cima do telhado

Deixe o menino dormir sossegado

O Eu (Self) O Eu (Self) eacute o eu integral descrito por Winnicott(1975) em sua mais

pura essecircncia um eu que nasce na liberdade de expressatildeo na confianccedila baseada

nas experiecircncias vividas no suporte dos sentimentos Para este autor certas

condiccedilotildees se fazem necessaacuterias na busca do Eu (Self) eacute o que se chama de

criatividade A criatividade pode defraglar e sustentar o ser integral

A vida sadia se mostra pelo impulso criativo O brincar eacute um instrumento

da criatividade sediado na ldquoaacuterea intermediaacuteriardquo (entre as artes e o luacutedico)

sustentado em seus primoacuterdios pela ldquomatildee suficientemente boardquo direcionado agrave

busca do ldquoEu (Self) Sobre a importacircncia das cantigas de roda nesta busca

podemos ler as contribuiccedilotildees de Millecco filho e outros (2001p44)

As cantigas de roda datildeo continuidade ao trabalho

de elaboraccedilatildeo de conflitos e agrave estrutura da pessoa

em desenvolvimento iniciado com os acalantos

() A roda aparece como uma representaccedilatildeo da

mandala expressatildeo geomeacutetrica do Self

11 Recolhido atraveacutes da cultura oral

35

A letra da muacutesica infantil ldquoa canoa virourdquo expotildee um problema e supotildee

uma soluccedilatildeo hipoteacutetica

A CANOA VIROU(folclore)12

A canoa virou vou deixar ela virar

Foi por causa da Maria que natildeo soube remar

Ah se eu fosse peixinho e soubesse nadar

Eu tirava a Marialaacute do fundo do mar

A accedilatildeo terapecircutica deve ser um modo de auxiliar uma pessoa a

vir a ser o que ela eacute capaz de ser O psicomotricista atua como facilitador no

desenvolvimento do potencial existente no sujeito Numa maternagem

suficientemente boa como fala Winnicott o psicomotricista relacional torna-se um

companheiro de jornada para as atitudes luacutedicas do seu paciente

As medidas de afeto e limites saudaacuteveis agraves necessidades do outro

devem ser reconhecidas e valorizadas Eacute o que se vecirc nas colocaccedilotildees de Winnicott

(1975p63) ldquoEm outros termos eacute a brincadeira que eacute universal e que eacute proacutepria da

sauacutede o brincar facilita o crescimento e portanto a sauacutede o brincar conduz aos

relacionamentos grupais o brincar pode ser uma forma de comunicaccedilatildeo na

psicoterapia()rdquo

12 MARTINS Armando OPCITp110

36

Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e

estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que

haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila

acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas

Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a

brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre

MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR

VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR

Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o

aprender com a danccedila do outro

ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

13 Recolhido atraveacutes da cultura oral

37

Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons

e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os

brinquedos cantados

5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE

Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma

nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o

corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se

utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia

e da linguumliacutestica

No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua

expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a

existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto

O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que

encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e

motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros

Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando

fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar

gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil

38

ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14

Eacute bom cantar eacute bom ouvir

Eacute bom pensar eacute bom sentir

Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor

Viajar dentro de si pra poder se descobrir

51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE

A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso

meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da

psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu

corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)

O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico

(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes

concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo

ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a

palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas

que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que

quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do

latim Corpusque significa tecido de membros envoltura

da alma embriatildeo do espiacuterito

14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000

39

Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na

Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto

que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo

cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a

motricidade com a inteligecircncia

Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam

em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento

humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o

movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila

De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de

segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio

Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se

no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo

de Guilman

O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num

corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo

toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico

emocional(Levin opcit)

O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor

Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em

movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica

40

psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre

outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da

pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de

Levin(opcit)

Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor

podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor

ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento

Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o

sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem

tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco

podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade

eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)

52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA

A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o

seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins

pedagoacutegicos (Levy2000)

A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se

do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos

transtornos evidenciados (Coste1992)

A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a

41

afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja

o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade

do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting

psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais

uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si

mesmo uma terapiardquo

As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas

psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema

corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade

Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo

estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees

cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito

As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de

algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A

coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar

pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos

dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para

andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes

visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a

existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa

caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc

No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a

42

primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave

vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos

cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas

psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a

expressividade e a emoccedilatildeo

O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas

psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se

confirmar por exemplo para treinar a escrita

As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar

iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da

brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo

dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da

cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas

pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar

Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora

relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de

cada uma delas

43

53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE

Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os

acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte

afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe

o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo

e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do

acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si

mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a

busca do eu (Self)

O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos

cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a

partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes

acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de

interesse da populaccedilatildeo pesquisada

Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil

geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo

continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em

desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza

simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos

conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo

44

As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia

cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o

relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano

infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a

Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda

assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia

oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria

soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo

Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as

com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da

referida estrutura

Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos

integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos

grandes segmentos (Coste1992)

Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro

expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo

corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a

habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa

O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se

movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os

movimentos enquanto observam os amigos

45

BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

Os braccedilos pra cima e pra baixo

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

As pernas pra frente e pra traacutes

Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo

preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo

motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada

diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do

grafismo (Coste1992)

A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas

brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as

palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a

crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos

Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos

fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca

do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes

15 Recolhido atraveacutes da cultura oral

46

das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa

de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas

ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16

123 indiozinhos 456 indiozinhos

789 indiozinhos 10 num pequeno bote

Vinham navegando pelo rio abaixo

Quando o jacareacute se aproximou

E o pequeno bote dos indiozinhos

Quase quase virou quase quase virou

mas natildeo virou

Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo

ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam

internas ou externas (Levin2001)

A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e

apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as

crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do

corpo que deseja mostrar

ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17

Cabeccedila ombro joelho e peacute

Joelho e peacute joelho e peacute

Olhos boca orelha e nariz

Orelha e nariz orelha e nariz

16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral

47

Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O

equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute

relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)

Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de

amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o

personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca

instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma

perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal

traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal

ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca o pandeirotoca como ele soacute

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca violatildeo toca como ele soacute

Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao

tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir

da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do

aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala

dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da

vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza

18 Recolhido atraveacutes da cultura oral

48

Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila

seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um

personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular

correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e

volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem

seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam

ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19

Anda anda anda macaquinho

Anda anda anda sem parar

Pula pula pula macaquinho

Pula pula pula ateacute cansar

Corre corre corre macaquinho

Corre corre corre sem parar

Deita deita deita macaquinho

Deita deita deita dorme ateacute sonhar

Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu

desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e

relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do

mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)

Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira

19 Recolhido atraveacutes da cultura oral

49

traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo

espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a

noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo

vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento

O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e

rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos

de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra

frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente

e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da

roda virem periquitos tambeacutem

Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem

no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras

visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas

ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20

Periquito periquito parece com papa

Periquito periquito parece com papa

Por baixo por cima pra frente e pra traacutes

Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo

ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo

temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a

20 Recolhido atraveacutes da cultura oral

50

estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus

movimentos e se organiza na vida cotidiana

Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo

que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo

humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre

ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos

acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo

A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da

chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo

dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio

ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21

A janelinha fecha quando estaacute chovendo

A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo

Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute

Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute

Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os

centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e

contralaterais (Coste1992)

21 Recolhido atraveacutes da cultura oral

51

A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento

psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e

assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute

organizada e natildeo mudaraacute mais

Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os

peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a

conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo

grupo disposto em roda

ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22

Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora

Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora

Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock

Assim eacute bem melhor

( e assim por diante com as demais partes do corpo)

Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o

modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder

apud Coste(1992)

A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a

organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo

mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do

22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57

52

desejo da matildee

A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan

apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros

tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e

de diferenccedila (ibid)

Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o

ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na

constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo

desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A

psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade

poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A

citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo

O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de

identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria

de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do

lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que

eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim

constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute

poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo

o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)

53

Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia

corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber

possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver

As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a

expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente

Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar

cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de

construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza

pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem

corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter

fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de

cantar danccedilar e brincar

54

ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23

Minha boneca de lata

Bateu com a cabeccedila no chatildeo

Levou mais de uma hora

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui pra ficar boa

Minha boneca de lata

Bateu com o pescoccedilo no chatildeo

Levou mais de duas horas

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui desamassa aqui

Pra ficar boa

Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho

o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do

corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez

horas de arrumaccedilatildeo propostas

23 Recolhido atraveacutes da cultura oral

55

6CONCLUSAtildeO

Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-

se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse

infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar

Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a

relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas

cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo

permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os

estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e

que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo

Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de

winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do

ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos

como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica

Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de

conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos

Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade

que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se

pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos

sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu

ldquoafetordquo

56

Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a

psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir

expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer

Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia

para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a

socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte

aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o

desenvolvimento das estruturas psicomotoras

Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a

essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado

pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando

o prazer de brincar cantar e ser feliz

57

BIBLIOGRAFIA

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volume 1 Porto alegre Editora Prodil1994

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Editora Sprint ltda 1996

WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975

Page 2: Brinquedos Cantados Na Psicomotricidade

1

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

POacuteS-GRADUACcedilAtildeO ldquoLATO SENSUrdquo

PROJETO A VEZ DO MESTRE

BRINQUEDOS CANTADOS

NA

PSICOMOTRICIDADE

Apresentaccedilatildeo de monografia agrave Universidade

Candido Mendes como condiccedilatildeo preacutevia para

a conclusatildeo do Curso de Poacutes-graduaccedilatildeo

ldquoLato sensurdquo em psicomotricidade

Por Denise Guerra dos Santos

2

ldquoAS BRINCADEIRAS E JOGOS CONSTITUEM AS NOSSAS FUNCcedilOtildeES O NOSSO VIVER OS PAPEacuteIS

QUE REPRESENTAMOS REALIZANDO TAREFAS BEM OU MAL TENDO PARCERIA OU NAtildeO

EM TODO ESSE BRINCAR A NOSSA PARTICIPACcedilAtildeO Eacute COM O CORPO E A ALMArdquo

(Cacilda Gonccedilalves Velasco)

ldquoCANTAR Eacute MOVER O DOM DO FUNDO DE UMA PAIXAtildeO

SEDUZIR AS PEDRAS CATEDRAIS CORACcedilAtildeOrdquo

(Seduzir ndash DJAVAN)

3

DEDICO ESTA PESQUISA

Agraves crianccedilas e adolescentes com os quais trabalho ldquobrincandordquo diariamente na cliacutenica

musicoteraacutepica com votos de que assim se faccedila tambeacutem na cliacutenica psicomotora

4

AGRADECIMENTOS

Agrave Deus por permitir minha existecircncia neste mundo maravilhoso de muacutesicas e brincadeiras

Ao meu pai com muito amor

Aos meus irmatildeos e primos companheiros do brincar

Aos meus mestres em especial Fernando A Penza e Ronaldo Millecco (ambos in memorian) pelo

brilho inspirador do saber que eles deixaram em noacutes

Aos meus companheiros da poacutes-graduaccedilatildeo pelas vivecircncias parcerias e aprendizados

Aacute professora e amiga Cristie Campello pela apaixonante visatildeo da psicomotricidade

Agrave Musicoterapeuta Benita Michaeles por que a chama do nosso caminhar luacutedico continua viva

Agrave minha amiga conceiccedilatildeo costa pelo carinho e pela forccedila que sempre me deu

Ao meu orientador Nilson Guedes de Freitas por sua pedagogia afetuosa e acolhedora

Enfim agrave todos aqueles que participaram direta ou indiretamente deste trabalho

5

SUMAacuteRIO

1Introduccedilatildeo8

2Histoacuteria e classificaccedilatildeo dos brinquedos cantados11

21Brincar12

22Musicar13

23Movimentar15

3O desenvolvimento infantil segundo Piaget17

31Estaacutegio Sensoacuterio-motor20

32Estaacutegio Preacute-operacional24

33Os jogos por Piaget 27

4O brincar e a realidade Winnecotteana32

41Conceitos e contornos33

5Encantando a psicomotricidade37

51Breve histoacuteria da psicomotricidade39

52Educaccedilatildeo Reeducaccedilatildeo e Terapia psicomotora41

53Brinquedos cantados na psicomotricidade43

6Conclusatildeo55

Bibliografia57

Anexos59

6

RESUMO

Aborda-se neste trabalho a importacircncia e a contribuiccedilatildeo dos brinquedos

cantados na psicomotricidade com crianccedilas de 0 agrave 7 anos A presente monografia

desenvolve-se agrave luz da dialeacutetica interdisciplinar tomando-se de empreacutestimo

conceitos do folclore da psicanaacutelise da filosofia da psicologia do

desenvolvimento da ludoterapia e da musicoterapia Segue-se a descriccedilatildeo dos

brinquedos cantados paralelos ao desenvolvimento infantil segundo Piaget

enumerando-se os estaacutegios propostos por este autor e delimitando-se os

acalantos e as brincadeiras-de-roda como objeto de interesse maior da populaccedilatildeo

pesquisada Dar-se-aacute ecircnfase a discussatildeo do suporte agrave cliacutenica psicomotora diante

dos conceitos de Winnicott sobre a vida afetiva e o brincar fazendo-se referecircncia

agraves vivecircncias atraveacutes dos brinquedos cantados no contexto terapecircutico Na

culminacircncia deste estudo propotildee-se a diferenciaccedilatildeo entre educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo

e terapia psicomotora esboccedilando-se a elaboraccedilatildeo das estruturas psicomotoras

comuns agraves trecircs aacutereas citadas interpondo-se os brinquedos cantados como

recursos plausiacuteveis a este trabalho Apresenta-se ainda vinte e dois exemplos de

brinquedos cantados ilustrados por suas letras e pelo desenvolvimento da

brincadeira em questatildeo

Palavras-Chave Brinquedos cantados Psicomotricidade Luacutedico Terapia

Folclore Desenvolvimento infantil

7

1INTRODUCcedilAtildeO

O canto estaacute presente no universo simboacutelico de todas as culturas Vive-

se um processo de massificaccedilatildeo da cultura brasileira onde a muacutesica infantil estaacute

mesclada de sensualidade e cultuaccedilatildeo a um corpo esteacutetico grego Tem-se entatildeo

a incumbecircncia de preservar e formar a crianccedila que nasce ingecircnua sonhadora e

necessita de cuidados afetuosos

Visto que o som tem propriedades fiacutesicas que incidem sobre o corpo

humano de forma objetiva e subjetiva movendo o sujeito a partir da sua emoccedilatildeo

e que as crianccedilas satildeo estimuladas em sua afetividade se apropriando do uso

destes elementos luacutedico-sonoros para investimento pessoal e social supotildee-se que

os brinquedos cantados interferem de forma significativa no desenvolvimento

psicomotor das ditas crianccedilas

Faz-se assim a relevacircncia deste estudo para pesquisar a importacircncia

dos brinquedos cantados para o desenvolvimento psicomotor de crianccedilas de 0 agrave 7

anos de idade e ainda demonstrar a contribuiccedilatildeo destes elementos luacutedicoshy

sonoros na psicomotricidade com a referida populaccedilatildeo

Assume-se a investigaccedilatildeo da importacircncia e contribuiccedilatildeo dos

brinquedos cantados na psicomotricidade passando por quatro capiacutetulos

articulados entre si pelo vieacutes dos brinquedos cantados e dos interesses infantis

conforme o exposto a seguir

8

No primeiro capiacutetulo descreve-se uma breve histoacuteria e classificaccedilatildeo do

brincar a partir de referecircncias do folclore da psicanaacutelise e da filosofia Organiza-se

ideacuteias sobre trecircs possiacuteveis instacircncias que compreenderiam os brinquedos

cantados Musicar Brincar Movimentar Dar-se a ver na dialeacutetica entre a

Musicoterapia e a Psicomotricidade a importacircncia dos brinquedos cantados para

o desenvolvimento global da crianccedila nas idades mencionadas

Prossegue-se no segundo capiacutetulo um estudo sobre o desenvolvimento

infantil de 0 agrave 7 anos conforme a teoria Piagetiana Entre os estaacutegios do

desenvolvimento apontados por este autor para as estruturas cognosciacuteveis

imprescindiacuteveis a cada etapa sugere-se as contribuiccedilotildees de brinquedos cantados

compatiacuteveis com os momentos e as demandas verificadas Por fim mostra-se os

jogos na classificaccedilatildeo de Piaget situando o que cada etapa prioriza e delimitando

dois tipos de brinquedos cantados especiacuteficos para serem trabalhados na

psicomotricidade Os Acalantos e as Brincadeiras-de-roda

Identifica-se no capiacutetulo trecircs os conceitos de Winnicott sobre o objeto

transicional fenocircmeno transicional matildee suficientemente boa aacuterea intermediaacuteria e

o eu (Self) mostrando-se a interaccedilatildeo exposta pelos brinquedos cantados entre as

artes o luacutedico e o afeto supondo-se que esta interaccedilatildeo seja capaz de dar suporte

agrave cliacutenica psicomotora

Na proposta do capiacutetulo quatro buscou-se ldquoEn-Cantarrdquo a

psicomotricidade resumindo em uma breve histoacuteria como se instaurou a

educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo e terapia psicomotora atuais e ainda musicar com os

9

brinquedos cantados a elaboraccedilatildeo das diversas estruturas psicomotoras

assinalando a contribuiccedilatildeo destas para a psicomotricidade com a faixa etaacuteria

pesquisada

Finalizando esta introduccedilatildeo e abrindo os estudos desta monografia

deixa-se agrave contemplaccedilatildeo a muacutesica Redescobrir do compositor Luiz Gonzaga

Juacutenior 1980 interpretado pela cantora Elis Regina no Cd ldquoMuacutesica O melhor de

Elis Reginardquo WEA 2000

ldquoREDESCOBRIRrdquo

Como se fora brincadeira de roda (memoacuteria)

Jogo do trabalho na danccedila das matildeos (macias)

O suor dos corpos na canccedilatildeo da vida (histoacuteria)

O suor da vida e no calor de irmatildeos (magia)

Como um animal que sabe da floresta (memoacuteria)

Redescobrir o sal que estaacute na proacutepria pele (macia)

Redescobrir o doce no lamber das liacutenguas (magia)

Redescobrir o gosto e o sabor da festa (magia)

Vai o bicho homem fruto da semente (memoacuteria)

Renascer da proacutepria forccedila proacutepria luz e feacute (memoacuteria)

Entender que tudo eacute nosso sempre esteve em noacutes (histoacuteria)

Somos a semente ato mente e voz (magia)

Natildeo tenha medo meu menino bobo (memoacuteria)

Tudo principia na proacutepria pessoa (lembranccedila)

Vai como a crianccedila que natildeo teme os tempos (misteacuterio)

Amor se fazer eacute tatildeo prazer que eacute como fosse dor (magia)

10

2HISTOacuteRIA E CLASSIFICACcedilAtildeO DOS BRINQUEDOS CANTADOS

Os brinquedos cantados surgem na espontaneidade da cultura popular

Geralmente satildeo cantigas anocircnimas acompanhadas de movimentos expressivos

saltitantes e ou dramatizados

O brincar eacute uma forma de manifestaccedilatildeo caracteriacutestica da infacircncia entretanto

como afirma Huizinga (1980) a essecircncia do jogo eacute o prazer ele ultrapassa os

limites da realidade fiacutesica e assim se aplica a qualquer fase da vida

Os termos brincar e jogar satildeo referenciados como sinocircnimos por Cascudo

(1988) e Ferreira A (1988) Nos principais idiomas internacionais (Inglecircs Francecircs

Alematildeo e espanhol) brincar e jogar tambeacutem servem para definir atividades

artiacutesticas como a interpretaccedilatildeo teatral ou musical (Santa Roza1993)

Na liacutengua portuguesa o termo brincar vem do latim vinculum e significa

laccedilo uniatildeo No entanto eacute o termo luacutedico da nossa liacutengua tambeacutem proveniente do

latim ludus que melhor abrange e define as atividades artiacutesticas

culturais brincadeiras e jogos(ibid)

Nos divertimentos tradicionais infantis encontra-se os jogos de ronda

cantados declamados ritmados ou natildeo de movimento etc Brinquedo eacute ainda o

objeto material usado para brincar como o carro a boneca Diz-se tambeacutem da

proacutepria accedilatildeo de brincar (de cabra cega de chicotinho queimado e etc)

(Cascudo1988)

11

Dos trecircs povos que inicialmente formaram a cultura brasileira o

portuguecircs trouxe maior influecircncia para os brinquedos cantados os quais sofreram

modificaccedilotildees de acordo com a cultura local (Cascudo1988) Diga-se ainda que os

ritmos e danccedilas africanas juntamente com a alegria e marcaccedilatildeo ritmica-corporal

indiacutegena deu um tempero mais brejeiro ao legado luacutedico brasileiro

21BRINCAR

Como sonhar acordado brincar eacute expor-se de dentro para fora traduccedilatildeo

das impressotildees da crianccedila sobre o mundo que a cerca e os seus sentimentos

O brincar se desenvolve junto com o amadurecimento do sujeito as etapas iniciais

vatildeo perdendo o significado para o acreacutescimo do novo modo de explorar cada vez

mais elaborado

Todos os povos tecircm suas brincadeiras pertinentes agraves necessidades

expressivas de cada cultura O tempo se encarrega de transformar suas estruturas

mas eacute certo que as crianccedilas precisam de tempo espaccedilo e companheiros para

brincar

Sheridam (1990) classifica as brincadeiras em ativas exploratoacuterias

manipulativas imitativas construtivas faz-de-conta jogos com regras recreaccedilotildees

sofisticadas Este trabalho prioriza os brinquedos cantados que na praacutetica

psicomotora revelam valores e costumes culturais pontos de referecircncia para a

comunicaccedilatildeo e o relacionamento com o outro Estas manifestaccedilotildees envolvem a

emoccedilatildeo e o movimento que permeados pela muacutesica burlam as defesas e fazem

12

aflorar a essecircncia do ser

Os brinquedos cantados se inserem nas diversas formas de

classificaccedilatildeo pois em face de sua riqueza dinacircmica satildeo brincadeiras ativas

(exChep Chep) imitativas(ex Samba Lecirc Lecirc) construtivas(exA minha velha tem)

priorizam o faz-de-conta conteacutem regras especiacuteficas e vatildeo desde as mais simples

como ldquoAtirei o pau no gatordquo ateacute as mais elaboradas como ldquoA linda rosa juvenilrdquo1

Lapierre e Aucoutourrier (1986p29) pontuaram que ldquoA expressatildeo sonora

estaacute necessariamente ligada agrave relaccedilatildeo com o outrordquo sabe-se que ainda na barriga

da matildee a funccedilatildeo auditiva se instaura no embriatildeo e ele ouve os batimentos

cardiacuteacos dele e da matildee e todo um mundo de sons atraveacutes do liacutequido amnioacutetico

Eacute a relaccedilatildeo com o outro atraveacutes dos sons que situa a crianccedila no espaccedilo no tempo

e no afeto

22 MUSICAR

Segundo Gainza (1988) ldquoa accedilatildeo musical implica num movimento

seja das cordas vocais e do aparelho fonador naquele que fala ou canta seja do

proacuteprio corpordquo No uacuteltimo caso o corpo aparece como instrumento produtor de

som ou se prolonga atraveacutes de um instrumento musical propriamente ditordquo

Sob a oacutetica musical as teorias apontam para as estruturas fiacutesico-sonoras

Encontra-se nestas a formaccedilatildeo de todo contexto musical que eacute igualmente

1 PAIVA Ione Maria R de BRINQUEDOS CANTADOS 1998 p25416383

13

correspondente para os brinquedos cantados Fala-se entatildeo dos elementos

inevitaacuteveis de qualquer muacutesica Ritmo Melodia Harmonia Eis a definiccedilatildeo de

Costa(1989p61) ldquoNuma definiccedilatildeo muito simples muacutesica eacute a organizaccedilatildeo de

relaccedilotildees entre sonoridades simultacircneas ou natildeo no decorrer do tempo Sons e

silecircncios satildeo combinados e encadeados entre si formando ritmos melodias e

harmoniasrdquo

O ritmo eacute basicamente a ordenaccedilatildeo do movimento formando um elo

entre espaccedilo e tempo A melodia eacute uma sequumlecircncia de sons notas musicais graves

e agudas A harmonia eacute a verticalidade ou a simultaneidade dos sons parte mais

intelectualizada da muacutesica(Costa opcit mesma paacutegina)

As muacutesicas infantis em geral acompanham o desenvolvimento afetivo

motor cognitivo e social da crianccedila Observa-se que existem brinquedos cantados

mais simples contendo siacutelabas repetitivas estrutura musical miacutenima e que satildeo

preferidos pelas crianccedilas entre 2 e 3 anos por ex

CAI CAI BALAtildeO(folclore)2

Cai cai balatildeo cai cai balatildeo aqui na minha matildeo

Natildeo vou laacute natildeo vou laacute natildeo vou laacute tenho medo de apanhar

A muacutesica dos brinquedos cantados altera a sensibilidade o humor faz

aflorar a criatividade a expressividade do corpo e da alma revelando as habilidades

e dificuldades da crianccedila se convertendo entatildeo em instrumento de trabalho na

psicomotricidade

2 MARTINS Armando TOQUE VIOLAtildeO OU GUITARRA(meacutetodo praacutetico) 1980p88

14

23MOVIMENTAR

Do choro aos acalantos (muacutesicas de ninar) dos cantos culturais as

brincadeiras-de-roda haacute uma trajetoacuteria que vincula o som da voz ao movimento

corporal conforme afirma Fregtman(1988p17) isto ocorre ldquoporque a muacutesica eacute

feita dita tocada e cantada como manifestaccedilatildeo corporalrdquo

Toda forma de comunicaccedilatildeo se daacute atraveacutes de coacutedigos estabelecidos

linguagens por assim dizer Fregtman (opcit) conceitua a partir da musicoterapia

que trecircs niacuteveis de manifestaccedilatildeo expressiva simultacircneos podem se dar quando

usamos a muacutesica Satildeo eles

1) Linguagem sonora (sons silecircncios entonaccedilotildees melodias ritmos)

2) Linguagem corporal (gestos posturas trejeitos tipos de movimentos)

3) Linguagem verbal (a fala a letra a poesia)

Apenas para efeitos didaacuteticos se consegue separar estes trecircs niacuteveis de

linguagem A linguagem sonora necessariamente traacutes expressotildees corporais

estimula a emoccedilatildeo que se revela atraveacutes dos gestos posturas movimentos voz e

etc A linguagem corporal responde ao chamado verbal ou musical os quais soam

determinados significados simboacutelicos apreendidos nas relaccedilotildees soacutecio-afetivas E

por fim a linguagem verbal eacute inserida para nomear as accedilotildees sejam elas musicais

ou corporais

15

Os brinquedos cantados satildeo tambeacutem conceituados mediante sua aplicaccedilatildeo

em determinadas funccedilotildees na recreaccedilatildeo Os brinquedos cantados podem ser de

marcha de grupos opostos de palmas de roda de ninar ou alternados

Modificaccedilotildees diversas quanto ao andamento (lento moderado raacutepido) agrave formaccedilatildeo

(rodas simples complexas fileiras) e agrave movimentaccedilatildeo dos brinquedos cantados

(marcha roda dramatizaccedilatildeo) satildeo descritas por Leitatildeo(2001)

Neste trabalho prioriza-se os acalantos e as brincadeiras-de-roda tendo

em vista que a populaccedilatildeo estudada crianccedilas de 0 agrave 7 anos podem ser atendidas

em suas necessidades de acolhimento afetivo comunicaccedilatildeo expressiva e

socializaccedilatildeo atraveacutes destes elementos A Simbologia do movimento de Lapierre amp

Aucoutourrier (1986p41) sustenta o nosso pensamento atraveacutes da seguinte

citaccedilatildeo ldquoA muacutesica pode nos ajudar muito a redescobrir essa dimensatildeo do

movimento desde que natildeo seja restringida aos estereotipos da lsquodanccedilarsquo mesmo a

lsquoexpressivarsquo ldquo

ldquoO JACAREacuterdquo (folclore)3

O jacareacute o jacareacute o jacareacute eacute amigo ele eacute

Oi jacareacute oi jacareacute vem caacute cumpadre que a lagoa natildeo daacute peacute

O jacareacute tem os olhos muito grandes tem o rabo muito grande

Mas as pernas satildeo curtinhas

O jacareacute tem a boca muito grande tem os dentes muito grande

mas as pernas satildeo curtinhas

3 Recolhido atraveacutes da cultura oral

16

3O DESENVOLVIMENTO INFANTIL SEGUNDO PIAGET

Para Piaget (2003) o conhecimento eacute o resultado das accedilotildees e

relacionamentos do sujeito com o ambiente em que vive e vai sendo elaborado

desde o nascimento ateacute suas vivecircncias com os objetos pessoas e situaccedilotildees que

procura conhecer sejam elas do mundo fiacutesico ou cultural

Este autor formulou importantes conceitos que explicam o

desenvolvimento das funccedilotildees cognitivas A interaccedilatildeo entre a assimilaccedilatildeo

(informaccedilotildees do mundo exterior recebidas atraveacutes dos sentidos movimento de fora

para dentro) e a acomodaccedilatildeo (informaccedilatildeo processada respostas dadas ao mundo

exterior movimento de dentro para fora) sobre uma accedilatildeo satildeo validadas pelo

processo de equilibraccedilatildeo (Piagetopcit)

As perturbaccedilotildees exteriores se mostram a crianccedila a partir do que ela natildeo

conhece assim oportunizadas pelo processo de equilibraccedilatildeo e por meio de suas

atividades vai respondendo a estas perturbaccedilotildees vencendo a mais uma etapa

cognosciacutevel A equilibraccedilatildeo eacute dinacircmica e nunca cessa ela norteia a passagem de

um conhecimento ao outro(Piaget2003)

Dois outros conceitos Piagetianos satildeo imprescindiacuteveis ao tenro

desenvolvimento infantil e encontra-se nos brinquedos cantados uma forma

espontacircnea de vivenciaacute-los A Imitaccedilatildeo e a noccedilatildeo de Permanecircncia do Objeto

17

Imitaccedilatildeo Eacute na gecircnese da imitaccedilatildeo que inicia o movimento luacutedico da crianccedila

Imitando o meio e as pessoas ao seu redor a crianccedila apreende e treina suas novas

aquisiccedilotildees Ferreira I(1994 p47) afirma que ldquoA imitaccedilatildeo eacute uma das manifestaccedilotildees

da funccedilatildeo simboacutelica Constitui-se num dos elementos baacutesicos que permitem a

crianccedila uma assimilaccedilatildeo de realidade ao seu proacuteprio ldquoeurdquo bem como Acomodaccedilatildeo

de suas estruturas mentais e de accedilatildeo agraves exigecircncias da realidade fiacutesica e socialrdquo

Para haver o ato imitativo eacute necessaacuterio um modelo Alguns brinquedos

cantados propotildeem accedilotildees simboacutelicas que copiam o mundo adulto sem impor aos

pequenos o fardo da responsabilidade que este teria na realidade Eis um exemplo

interessante onde as crianccedilas imitam os afazeres dos mais velhos

PASSA PASSA GAVIAtildeO(folclore)4

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

As lavadeiras fazem assim

Assim assim assim assim

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

As passadeiras fazem assim

Assim assim assim assim

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

As cozinheiras fazem assim assim assim

Assim assado carne seca com ensopado

4 Recolhido atraveacutes da cultura oral

18

Objeto permanente Nos primeiros dois anos de vida a crianccedila apresenta um

comportamento em constante adaptaccedilatildeo pois estaacute sempre se modificando para

responder aos estiacutemulos do meio A crianccedila inicialmente natildeo tem noccedilatildeo da

permanecircncia dos objetos ela pensa que eles soacute existem enquanto estatildeo ao

alcance dos seus olhos caso sejam escondidos a sua frente acharaacute que estes

acabaram ou se desintegraram Entre os 18 e 24 meses a crianccedila jaacute consegue

elaborar mais este conhecimento e apesar de natildeo vecirc-lo ouvi-lo ou tocaacute-lo ela vai

compreender que os objetos independem da sua vontade e presenccedila para

existirem

Para melhor apreensatildeo da realidade fiacutesica a praacutetica pelo ensaio e erro ou

aparecer desaparecer vatildeo treinar e orientar os pequenos na aquisiccedilatildeo das noccedilotildees

de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo da realidade como

afirma FerreiraI(1994p35) ldquoO esquema do objeto permanente eacute baacutesico para a

construccedilatildeo das noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidaderdquo

Observe que as crianccedilas nesta fase gostam das brincadeiras de

esconde-esconde que amenizam suas anguacutestias sobre a existecircncia ou natildeo dos

objetos reais Seu proacuteprio corpo eacute posto agrave prova escondendo o rosto ou as matildeos

atraacutes de uma almofada por exemplo A muacutesica das palminhas talvez possa auxiliar

nesta etapa

19

PALMINHAS PALMINHAS (folclore)5

Palminhas palminhas nos vamos bater

Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconder

Em cima em cima noacutes vamos bater

Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconde

Assim assim pra traacutes esconder

Em baixo em baixo noacutes vamos bate

Depois as matildeozinhas pra traacutes esconde

Assim assim pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconder

Os conceitos estudados ateacute aqui se realizam dentro dos estaacutegios do

desenvolvimento organizados por Piaget Passar-se-aacute neste momento agrave elucidaccedilatildeo

dos estaacutegios pertinentes agrave faixa etaacuteria da populaccedilatildeo pesquisada nesta monografia

estaacutegios Sensoacuterio-motor e Preacute-operacional

31ESTAacuteGIO SENSOacuteRIO MOTOR (0 agrave 2 anos) Estaacutegio que vai do nascimento

ateacute a aquisiccedilatildeo da linguagem e eacute dividido em 6 sub estaacutegios Esta eacute a fase do

comportamento inteligente antes da aquisiccedilatildeo da linguagem a crianccedila organiza a

informaccedilatildeo obtida atraveacutes dos sentidos e desenvolve respostas aos estiacutemulos

5 Recolhido atraveacutes da cultura oral

20

ambientais com comportamento adaptativo e constante modificaccedilotildees dos

esquemas de accedilatildeo em resposta ao meio A aquisiccedilatildeo mais importante deste

periacuteodo eacute o Objeto Permanente Manifesta-se ainda a imitaccedilatildeo que alcanccedilaraacute o

seu auge no proacuteximo estaacutegio

1ordm Sub Estaacutegio ndash Exerciacutecio dos reflexos (0 a 1 mecircs) Do alto da sua imaturidade

bioloacutegica a crianccedila se relaciona com o meio atraveacutes dos movimentos reflexos

hereditaacuterios que se aprimoram pelo exerciacutecio tornando-se cada vez mais

eficientes Ainda natildeo haacute a distinccedilatildeo entre o eu e o outro

2ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular primaacuteria (1 a 4 meses)Esta eacute a fase das

primeiras acomodaccedilotildees onde os exerciacutecios reflexos se transformam em esquemas

e comeccedilam a coordenar seus movimentos Inicia-se a construccedilatildeo dos primeiros

esquemas vocais A noccedilatildeo de tempo eacute primitiva sua duraccedilatildeo soacute eacute sentida no

decorrer da proacutepria accedilatildeo O final do periacuteodo eacute marcado pela coordenaccedilatildeo entre trecircs

esquemas fundamentais audiccedilatildeo fonaccedilatildeo e visatildeo

3ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular secundaacuteria (4 a 8 meses) O bebecirc apresenta

um maior interesse pelo mundo externo os esquemas se diferenciam surgindo

novos esquemas de coordenaccedilatildeo viso-motora unindo-se as aquisiccedilotildees jaacute

realizadas Os movimentos comeccedilam a ser repetido pelo prazer da repeticcedilatildeo

Observa-se o iniacutecio da noccedilatildeo do Objeto Permanente entretanto ela estaacute

condicionada ao movimento da crianccedila pois as coisas ainda natildeo seguem uma

trajetoacuteria independente

21

4ordm Sub Estaacutegio ndash Coordenaccedilatildeo de esquemas secundaacuterios (8 a 12 meses)

Caracteriza-se pelas primeiras condutas propriamente inteligentes surgindo

adaptaccedilotildees sensoacuterio-motoras intencionais onde o bebecirc combina esquemas

conhecidos a novas situaccedilotildees e ainda diferencia os meios e os fins de uma accedilatildeo

Aparece nesta fase o comportamento antecipatoacuterio caso o bebecirc veja sua matildee se

afastar chora a imitaccedilatildeo de sons e accedilotildees satildeo agora intencionais e

conscientizadas no entanto ainda condicionadas ao esquema visual Revelam-se

os primoacuterdios da memoacuteria e da representaccedilatildeo mental Comeccedila a permanecircncia do

objeto independente do ldquoeurdquo Quanto agrave noccedilatildeo de espaccedilo e tempo a crianccedila

comeccedila a ordenar os proacuteprios deslocamentos em relaccedilatildeo aos objetos

5ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular terciaacuteria (12 a 18 meses) A crianccedila gradua

seus movimentos varia e experimenta novos padrotildees de comportamento

observando os diferentes efeitos da sua accedilatildeo sobre o objeto o qual jaacute eacute dotado de

permanecircncia Pode-se afirmar que o mecanismo da inteligecircncia praacutetica estaacute

definitivamente constituiacutedo A cada estruturaccedilatildeo da inteligecircncia corresponde uma

nova estruturaccedilatildeo do espaccedilo do tempo da causalidade etc Agindo por ldquoensaio e

errordquo os resultados das accedilotildees ainda satildeo por acaso pois as representaccedilotildees

mentais de fatos externos ainda natildeo se incluem ou seja o pensamento ainda natildeo

estaacute formado

22

6ordm Sub Estaacutegio ndash A invenccedilatildeo dos novos meios por combinaccedilatildeo

mental (18 a 24 meses) Esta fase caracteriza o momento de transiccedilatildeo entre a

inteligecircncia praacutetica (sensoacuterio-motora) e a inteligecircncia representativa quando

comeccedila a funccedilatildeo simboacutelica Inicia-se a representaccedilatildeo mental imaginativa e criativa

No jogo simboacutelico a crianccedila usa siacutembolos na linguagem e na brincadeira do faz-deshy

conta recorda-se de fatos passados e os representa depois de algum tempo O

final deste periacuteodo eacute marcado pela primeira noccedilatildeo de conservaccedilatildeo(FerreiraI1994)

Os primeiros anos de vida da crianccedila satildeo marcados pelas inuacutemeras

formaccedilotildees e transformaccedilotildees fiacutesicas mentais e emocionais conforme descritas

acima Os acalantos (muacutesicas de ninar) satildeo cantados por matildees de todo o mundo

numa primeira inserccedilatildeo da crianccedila ao universo musical de sua cultura Eles

exercem um poderoso papel de auxiacutelio agrave maternagem acolhendo-a afetuosamente

condiccedilatildeo baacutesica para que a crianccedila se sinta suficientemente amada para

prosseguir desenvolvendo-se Este tema seraacute melhor explanado nos proacuteximos

capiacutetulos Por hora parece oportuno um exemplo de acalanto

TUTU MARAMBAacute(folclore)6

Tutu marambaacute

Natildeo venha mais caacute

Que o pai do menino

Te manda mata

6 MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute PRECISO CANTAR Musicoterapia cantos e canccedilotildees2001p38

23

32ESTAacuteGIO PREacute-OPERACIONAL (2 agrave 7 anos) A crianccedila vive um tempo em que

usa a intuiccedilatildeo ela passa todos os seus atos para o pensamento sob a forma de

imagens e diante de uma situaccedilatildeo praacutetica suas respostas vatildeo se basear no que

ela vecirc sente mexe ou seja nas aparecircncias dos fatos que observa A crianccedila

possui a capacidade de representar uma coisa por outra e esta representaccedilatildeo

pode se dar por um gesto um desenho uma palavra etc A verbalizaccedilatildeo tem

destaque neste periacuteodo e a linguagem conduz agrave socializaccedilatildeo das accedilotildees Este

estaacutegio compreende duas formas de pensamento a saber O Pensamento

Simboacutelico e o Pensamento Intuitivo

Pensamento simboacutelico (2 agrave 4 anos) Para Piaget a funccedilatildeo simboacutelica consiste na

capacidade da crianccedila representar objetos e fatos conhecidos poreacutem ausentes por

um substituto qualquer seja este concreto ou imaginaacuterio Uma caracteriacutestica

fundamental desta fase eacute a diferenciaccedilatildeo entre significante e significado que eacute

manifestada por vaacuterias condutas sendo elas O jogo simboacutelico ou faz-de-conta a

imitaccedilatildeo o desenho a imagem mental a linguagem a criatividade etc Para

ldquosignificanterdquo leia-se objeto concreto e para ldquosignificadordquo a ideacuteia compreensiva do

que foi percebido (Piaget 2003)

Sobre a funccedilatildeo simboacutelica FerreiraI(1994p43) complementa ldquoA funccedilatildeo

simboacutelica pode ser considerada uma linguagem individual e particular da crianccedila

usada para compreender e representar o mundo O siacutembolo eacute subjetivo e aos

poucos vai sendo substituiacutedo por signos da linguagem socialrdquo

24

O pensamento infantil encontrado entre os 2 e 7 anos de idade eacute

egocentrado A visatildeo da realidade eacute centrada no ponto de vista do proacuteprio sujeito

sendo este incapaz de relacionaacute-lo ou de coordenaacute-lo a pontos de vistas diferentes

do seu

A aquisiccedilatildeo da linguagem tem destaque nesta fase e coincide com a

formaccedilatildeo do jogo simboacutelico que melhor se manifesta no jogo do faz-de-conta

Atraveacutes do que discute Ferreira I (1994p43) ldquoOs siacutembolos podem ser

socializados como os brinquedos coletivos e se tornar um siacutembolo coletivordquo

confirma-se mais uma vez que os estes elementos apresentam extrema valorizaccedilatildeo

soacutecio-afetiva e cultural Com a ludicidade que lhe eacute peculiar os brinquedos

cantados nesta fase encantam ensinam desenvolvem a memoacuteria a auto estima

o esquema corporal a imagem corporal a Coordenaccedilatildeo Motora a socializaccedilatildeo

entre outras funccedilotildees essenciais agrave formaccedilatildeo dos pequenos Eis um bom exemplo

O GIGANTE E O ANAtildeO(autor desconhecido)7

O peacute do gigante eacute grande

Do anatildeo pequenininho

O gigante pisa forte

O anatildeo pisa mansinho

O gigante fala grosso

O anatildeo fala fininho

Porque gigante come muito

E o anatildeo come pouquinho

7 Recolhido atraveacutes da cultura oral

25

Pensamento Intuitivo (4 agrave 7 anos) Subdividido em Intuitivo Simples e Intuitivo

Articulado eacute um estaacutegio marcado pela crescente formaccedilatildeo de conceitos O

pensamento intuitivo eacute uma espeacutecie de accedilatildeo executada em pensamento encaixar

seriar deslocar etc

A crianccedila no intuitivo simples representa mentalmente assimila e entende

o mundo real poreacutem de forma limitada pois soacute consegue coordenar um uacutenico

ponto de vista com base nas aparecircncias do que vecirc Centrado em si mesmo natildeo

admite a reversibilidade falta-lhe ainda a noccedilatildeo de conservaccedilatildeo das substacircncias

Quando se pede agrave crianccedila para desenhar ela desenha o que sabe e natildeo

o que vecirc Este egocentrismo que lhe eacute peculiar deveraacute evoluir para a

descentraccedilatildeo bem como haveraacute progressos nas diversas etapas cognitivas

(classificar seriar etc) Ao final do pensamento intuitivo articulado a crianccedila

comeccedila a levantar duacutevidas e questionamentos percebendo a mobilidade das

situaccedilotildees

ldquoA BARATArdquo(folclore)8

A barata diz que tem 7 saias de filoacute

Eacute mentira da barata ela tem eacute uma soacute

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute

A barata diz que tem um anel de formatura

Eacute mentira da barata ela tem eacute casca dura

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura

8 PAIVA Ione Maria R de OPCITp80

26

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura

A barata diz que dorme numa cama de cetim

Eacute mentira da barata ela dorme eacute no capim

Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim

Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim

Na muacutesica da barata as crianccedilas ironizam a tentativa de mentir deste

inseto A propoacutesito das ldquomentirinhasrdquo contidas nas brincadeiras infantis funcionam

como passaporte para a experimentaccedilatildeo do que eacute verdadeiro e real As palavras

de cascudo(1988p491) discorrem sobre os deslimites da mentira ldquoAs estoacuterias

mentirosas() satildeo muito populares e constituem um gecircnero especial onde a

imaginaccedilatildeo exagerada e livre se liberta dos limites da loacutegicardquo Acredita-se que as

crianccedilas exigem a verdade para terem o domiacutenio do que aprendem

33OS JOGOS POR PIAGET

ldquoPiaget vecirc no jogo um processo de ajuda ao desenvolvimento da crianccedila

acompanha-a sendo ao mesmo tempo uma atividade consequumlente de seu proacuteprio

crescimentordquo(Negrine1994p45) A leitura dos jogos em Piaget acompanha o

desenvolvimento integral do homem a inteligecircncia a afetividade a motricidade e a

sociabilidade satildeo vivenciadas nos jogos sendo a afetividade a funccedilatildeo que constitui

a energia necessaacuteria para a progressatildeo psiacutequica moral intelectual e motora

daquele que joga

Trecircs classificaccedilotildees baacutesicas do jogo satildeo mostradas na teoria

27

psicogeneacutetica de Piaget Jogos de exerciacutecio Jogos simboacutelicos e jogos de regra

Jogos de Exerciacutecio Ou jogos sensoacuterio-motores que aparecem no periacuteodo do

mesmo nome natildeo chegam a constituir sistemas luacutedicos independentes e

construtivos Sua motivaccedilatildeo se daacute pelo prazer funcional ou pelo prazer produzido

pela tomada de consciecircncia de suas novas capacidades

Os jogos motores ou de exerciacutecios satildeo aqueles que envolvem

diretamente a participaccedilatildeo ativa do corpo como um todo inclui-se ainda os jogos

sensoriais que ajudam a desenvolver os oacutergatildeos dos sentidos

A crianccedila nesta fase gosta de brincar com brinquedos que manipula

repetidas vezes explorando toda sua superfiacutecie Brincar de esconder o rosto ou os

objetos atirar e pegar brinquedos eacute prazeroso para a crianccedila ao mesmo tempo

que assimila as noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo

da realidade

Os estiacutemulos sensoriais tambeacutem fazem parte do seu interesse objetos

de diversas cores e texturas brinquedos sonoros muacutesica para ouvir acalentar

danccedilar e brincar desta forma explora o reconhecimento do eu do outro e dos

objetos

O jogo de exerciacutecio eacute o primeiro a aparecer no comportamento da

crianccedila explicitamente do 2ordm ao 5ordm estaacutegio do desenvolvimento sensoacuterio motor por

oposiccedilatildeo ao 6ordm estaacutegio onde se inicia o jogo simboacutelico(Negrine 1994)

28

ATIREI O PAU NO GATO(Folclore)9

Atirei o pau no ga-to-to mas o ga-to-to

Natildeo morreu- rreu- rreu dona chica-ca-ca

Admirou- se se do berro do berro

Do berro que o gato deu Miau

Jogos Simboacutelicos Em princiacutepio do ponto de vista de Piaget a diferenccedila entre os

jogos simboacutelicos e os de exerciacutecio intelectual consiste em que os primeiros se

referem ao pensamento

Os jogos simboacutelicos tem iniacutecio no 6ordm estaacutegio do periacuteodo sensoacuterio-motor

e se continua aproximadamente dos 2 aos 4 anos de idade cronoloacutegica ou do 1ordm

estaacutegio do preacute-operacional(fase simboacutelica) ateacute o iniacutecio do 2ordm estaacutegio do preacuteshy

operacional(fase intuitiva) Piaget apud Negrine(1994p41) deixa claro a

supremacia dos jogos simboacutelicos em detrimento dos anteriores

ldquoO esquema simboacutelico por si mesmo eacute suficiente para

assegurar a superioridade da representaccedilatildeo sobre

uma accedilatildeo pura nesta segundo Piaget o jogo

permite assimilar o mundo exterior ao eu como meio

infinitamente mais poderoso que o de simples exerciacuteciordquo

Como aparecem antes da linguagem verbal propriamente dita os jogos

simboacutelicos satildeo representados nas imagens mentais da crianccedila e vivenciados

atraveacutes dos gestos onomatopeacuteias pelo prazer de brincar com o faz-de-conta

9 MILLLECCO FILHO Luiacutes A e outros OPCIT p43

29

Nesta fase os acalantos vatildeo perdendo sua importacircncia dando lugar agraves

brincadeiras-de-roda os pequenos ao mesmo tempo em que aprendem a falar

aprendem a cantar as brincadeiras-de-roda tem a propriedade de enriquecerem o

repertoacuterio de palavras e movimentos

Jogos de Regras Os jogos de regras natildeo seguem o mesmo itineraacuterio dos

anteriores pois comeccedilam a aparecer na metade do 2ordm estaacutegio do periacuteodo preacuteshy

operacional isto eacute dos 4 aos 7 anos e principalmente no periacuteodo das operaccedilotildees

concretas dos 7 aos 12 anos Pesquisaremos como ocorrem os jogos de regra ateacute

os 7 anos pela delimitaccedilatildeo da populaccedilatildeo que esta monografia abrange

Dos 4 aos 7 anos periacuteodo preacute operacional intuitivo surgem os jogos de

regra que substituiratildeo o siacutembolo e enquadraratildeo o exerciacutecio no momento em que se

constituem de forma incipiente certas relaccedilotildees sociais(Piaget2003)

Com relaccedilatildeo as regras segundo Piaget apud Negrine

(1994p44)distinguem-se dois tipos transmitidas e espontacircneas As regras

transmitidas se referem aos jogos institucionais que se impotildeem por pressatildeo das

geraccedilotildees anteriores As espontacircneas se referem aos jogos de natureza contratual e

momentacircnea isto eacute procedem da socializaccedilatildeo dos jogos de simples exerciacutecios ou

dos simboacutelicos

30

Na cantiga de roda ldquoCiranda cirandinhardquo destaca-se o desenvolvimento

da roda e ao final as regras uma imposta (entrar na roda e dizer um verso) outra

espontacircnea (serve qualquer verso criado na hora ou jaacute existente) Outra versatildeo

desta mesma cantiga para crianccedilas menores pede ldquofaccedila um gesto bem bonito

diga adeus e vaacute se emborardquo A liberdade de criar um gesto verso a importacircncia de

estar no meio da roda como centro das atenccedilotildees e a valorizaccedilatildeo dos

companheiros satildeo o impulso para a espontaneidade e o crescimento da autonomia

do ser

CIRANDA CIRANDINHA(folclore)10

Ciranda cirandinha vamos todos cirandar

Vamos dar a meia volta volta e meia vamos dar

o anel que tu me destes era vidro e se quebrou

o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou

Por isto sinhaacute Maria entre dentro desta roda

Diga um verso bem bonito diga adeus e vaacute se embora

Os conceitos estudados neste capiacutetulo podem orientar sobre o tempo

mental da crianccedila e a possibilidade de oferecer estiacutemulos adequados ao seu

momento Como uma boa buacutessola natildeo conteacutem apenas o norte

10 MARTINS Armando OPCITp105

31

4O BRINCAR E A REALIDADE WINNICOTTEANA

A partir da premissa de que natildeo se pode dividir o ser humano em

classificaccedilotildees bioloacutegicas e psiacutequicas posto que este eacute uma unidade indivisiacutevel

formulou-se apenas para efeitos didaacuteticos no capiacutetulo anteriorum olhar mais

fiacutesico(cognitivo) do desenvolvimento infantil atraveacutes de Piaget Discutir-se-aacute neste

capiacutetulo o ponto de vista Winnicotteano sobre a vida emocional e o brincar

Nos brinquedos cantados a arte de brincar se mistura a arte de cantar e

eacute fazendo ldquoArtesrdquo que a crianccedila dar-se a ver e a crescer A partir deste tema

instigante e universal que eacute o brincar torna-se mais prazeroso ainda falar sobre ele

depois de conhecer os estudos do Drordm Winnicott

D W Winnicott pediatra psicanalista psicoterapeuta inglecircs e defensor

da Ludoterapia nasceu no comeccedilo do seacuteculo 20 produzindo uma vasta obra

cientiacutefica ateacute os anos 70 quando nos deixou Em seu livro ldquoO Brincar e

Realidaderdquo(1975) se preocupou com os primoacuterdios da vida imaginativa da

experiecircncia cultural em todos os sentidos da relaccedilatildeo das artes com o brincar e da

criatividade

Neste momento parece relevante abordar alguns dos conceitos teoacutericos

do DrordmWinnicott atraveacutes da obra mencionada pelo suporte que podem

proporcionar agrave compreensatildeo da vida psiacutequica mediante o brincar e a terapia Em

32

Conceitos e contornos ilustrar-se-aacute o Objeto transicional Fenocircmeno transicional

Matildee suficientemente boa Aacuterea intermediaacuteria e o Eu(Self) circundando a

importacircncia destes conceitos em relaccedilatildeo aos brinquedos cantados e sua aplicaccedilatildeo

na cliacutenica psicomotora

41CONCEITOS E CONTORNOS

Objeto Transicional Eacute o objeto concreto relativo agrave exploraccedilatildeo pulsional (descarga

impulsiva) do sujeito por exemplo uma boneca ou um carrinho

Fenocircmeno Transicional Satildeo as accedilotildees relativas agrave exploraccedilatildeo pulsional ou o uso

que se faz dos objetos transicionais Ex Um carrinho pode ser acalentado como se

fosse um bebecirc

Matildee Suficientemente Boa Pessoa que ocupa o lugar de suporte afetivo no

desenvolvimento global da crianccedila tambeacutem associada por ele a figura do

terapeuta

Em outras palavras o amor da matildee ou do terapeuta

natildeo significaria apenas um atendimento agraves necessidades

da dependecircncia mas vem a significar a concessatildeo

de oportunidades que permita ao bebecirc ou ao paciente

passar da dependecircncia para a autonomia

(Winnicott1975p150)

33

Aacuterea Intermediaacuteria Aacuterea neutra de experimentaccedilatildeo vivencial entre as realidades

internas e externas do sujeito que favorece a dialeacutetica do brincar e das artes O

dito autor parece supor um espaccedilo de refuacutegio para a resoluccedilatildeo dos conflitos

humanos Eis aqui a referecircncia para tal colocaccedilatildeo

Presume-se aqui que a tarefa de aceitaccedilatildeo da realidade

nunca eacute completada que nenhum ser humano estaacute livre

da tensatildeo de relacionar a realidade interna e externa e

que o aliacutevio dessa tensatildeo eacute proporcionado por uma aacuterea

intermediaacuteria de experiecircncia(cf Riviere1936) que natildeo eacute

contestada (artes religiatildeo etc) Essa aacuterea intermediaacuteria

estaacute em continuidade direta com a aacuterea do brincar da

crianccedila pequena que se ldquoperderdquo no brincar

(Winnicottopcitp29)

A princiacutepio eacute difiacutecil falar dos brinquedos cantados como objetos

transicionais (concretos) porque natildeo satildeo exatamente vistos a olhos nus embora

sejam audiacuteveis Todavia qualquer muacutesico pode escrever em uma partitura o

brinquedo cantado (concreto e cantaacutevel) para tornaacute-lo visiacutevel

O ato de cantar uma muacutesica de roda ou um acalanto jaacute eacute a traduccedilatildeo do

fenocircmeno transicional Dar-se-aacute o uso que quiser a este brinquedo cantado no

momento de sua realizaccedilatildeo Se uma muacutesica de ninar for entoada com raiva ou

brutalidade eacute certo que traraacute temores ao bebecirc e natildeo o conforto a que se prestaria

Acalantos com este do ldquobicho papatildeordquo expotildee o perigo e propotildee acolhida pela

proteccedilatildeo materna

34

ldquoBICHO PAPAtildeO(folclore)11

Bicho Papatildeo sai de cima do telhado

Deixe o menino dormir sossegado

O Eu (Self) O Eu (Self) eacute o eu integral descrito por Winnicott(1975) em sua mais

pura essecircncia um eu que nasce na liberdade de expressatildeo na confianccedila baseada

nas experiecircncias vividas no suporte dos sentimentos Para este autor certas

condiccedilotildees se fazem necessaacuterias na busca do Eu (Self) eacute o que se chama de

criatividade A criatividade pode defraglar e sustentar o ser integral

A vida sadia se mostra pelo impulso criativo O brincar eacute um instrumento

da criatividade sediado na ldquoaacuterea intermediaacuteriardquo (entre as artes e o luacutedico)

sustentado em seus primoacuterdios pela ldquomatildee suficientemente boardquo direcionado agrave

busca do ldquoEu (Self) Sobre a importacircncia das cantigas de roda nesta busca

podemos ler as contribuiccedilotildees de Millecco filho e outros (2001p44)

As cantigas de roda datildeo continuidade ao trabalho

de elaboraccedilatildeo de conflitos e agrave estrutura da pessoa

em desenvolvimento iniciado com os acalantos

() A roda aparece como uma representaccedilatildeo da

mandala expressatildeo geomeacutetrica do Self

11 Recolhido atraveacutes da cultura oral

35

A letra da muacutesica infantil ldquoa canoa virourdquo expotildee um problema e supotildee

uma soluccedilatildeo hipoteacutetica

A CANOA VIROU(folclore)12

A canoa virou vou deixar ela virar

Foi por causa da Maria que natildeo soube remar

Ah se eu fosse peixinho e soubesse nadar

Eu tirava a Marialaacute do fundo do mar

A accedilatildeo terapecircutica deve ser um modo de auxiliar uma pessoa a

vir a ser o que ela eacute capaz de ser O psicomotricista atua como facilitador no

desenvolvimento do potencial existente no sujeito Numa maternagem

suficientemente boa como fala Winnicott o psicomotricista relacional torna-se um

companheiro de jornada para as atitudes luacutedicas do seu paciente

As medidas de afeto e limites saudaacuteveis agraves necessidades do outro

devem ser reconhecidas e valorizadas Eacute o que se vecirc nas colocaccedilotildees de Winnicott

(1975p63) ldquoEm outros termos eacute a brincadeira que eacute universal e que eacute proacutepria da

sauacutede o brincar facilita o crescimento e portanto a sauacutede o brincar conduz aos

relacionamentos grupais o brincar pode ser uma forma de comunicaccedilatildeo na

psicoterapia()rdquo

12 MARTINS Armando OPCITp110

36

Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e

estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que

haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila

acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas

Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a

brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre

MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR

VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR

Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o

aprender com a danccedila do outro

ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

13 Recolhido atraveacutes da cultura oral

37

Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons

e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os

brinquedos cantados

5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE

Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma

nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o

corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se

utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia

e da linguumliacutestica

No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua

expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a

existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto

O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que

encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e

motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros

Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando

fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar

gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil

38

ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14

Eacute bom cantar eacute bom ouvir

Eacute bom pensar eacute bom sentir

Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor

Viajar dentro de si pra poder se descobrir

51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE

A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso

meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da

psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu

corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)

O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico

(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes

concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo

ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a

palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas

que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que

quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do

latim Corpusque significa tecido de membros envoltura

da alma embriatildeo do espiacuterito

14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000

39

Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na

Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto

que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo

cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a

motricidade com a inteligecircncia

Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam

em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento

humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o

movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila

De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de

segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio

Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se

no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo

de Guilman

O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num

corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo

toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico

emocional(Levin opcit)

O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor

Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em

movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica

40

psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre

outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da

pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de

Levin(opcit)

Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor

podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor

ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento

Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o

sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem

tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco

podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade

eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)

52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA

A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o

seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins

pedagoacutegicos (Levy2000)

A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se

do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos

transtornos evidenciados (Coste1992)

A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a

41

afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja

o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade

do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting

psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais

uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si

mesmo uma terapiardquo

As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas

psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema

corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade

Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo

estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees

cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito

As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de

algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A

coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar

pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos

dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para

andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes

visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a

existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa

caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc

No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a

42

primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave

vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos

cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas

psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a

expressividade e a emoccedilatildeo

O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas

psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se

confirmar por exemplo para treinar a escrita

As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar

iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da

brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo

dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da

cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas

pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar

Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora

relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de

cada uma delas

43

53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE

Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os

acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte

afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe

o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo

e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do

acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si

mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a

busca do eu (Self)

O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos

cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a

partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes

acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de

interesse da populaccedilatildeo pesquisada

Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil

geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo

continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em

desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza

simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos

conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo

44

As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia

cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o

relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano

infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a

Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda

assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia

oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria

soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo

Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as

com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da

referida estrutura

Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos

integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos

grandes segmentos (Coste1992)

Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro

expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo

corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a

habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa

O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se

movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os

movimentos enquanto observam os amigos

45

BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

Os braccedilos pra cima e pra baixo

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

As pernas pra frente e pra traacutes

Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo

preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo

motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada

diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do

grafismo (Coste1992)

A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas

brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as

palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a

crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos

Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos

fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca

do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes

15 Recolhido atraveacutes da cultura oral

46

das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa

de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas

ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16

123 indiozinhos 456 indiozinhos

789 indiozinhos 10 num pequeno bote

Vinham navegando pelo rio abaixo

Quando o jacareacute se aproximou

E o pequeno bote dos indiozinhos

Quase quase virou quase quase virou

mas natildeo virou

Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo

ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam

internas ou externas (Levin2001)

A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e

apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as

crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do

corpo que deseja mostrar

ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17

Cabeccedila ombro joelho e peacute

Joelho e peacute joelho e peacute

Olhos boca orelha e nariz

Orelha e nariz orelha e nariz

16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral

47

Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O

equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute

relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)

Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de

amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o

personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca

instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma

perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal

traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal

ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca o pandeirotoca como ele soacute

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca violatildeo toca como ele soacute

Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao

tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir

da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do

aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala

dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da

vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza

18 Recolhido atraveacutes da cultura oral

48

Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila

seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um

personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular

correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e

volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem

seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam

ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19

Anda anda anda macaquinho

Anda anda anda sem parar

Pula pula pula macaquinho

Pula pula pula ateacute cansar

Corre corre corre macaquinho

Corre corre corre sem parar

Deita deita deita macaquinho

Deita deita deita dorme ateacute sonhar

Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu

desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e

relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do

mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)

Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira

19 Recolhido atraveacutes da cultura oral

49

traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo

espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a

noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo

vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento

O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e

rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos

de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra

frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente

e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da

roda virem periquitos tambeacutem

Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem

no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras

visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas

ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20

Periquito periquito parece com papa

Periquito periquito parece com papa

Por baixo por cima pra frente e pra traacutes

Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo

ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo

temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a

20 Recolhido atraveacutes da cultura oral

50

estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus

movimentos e se organiza na vida cotidiana

Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo

que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo

humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre

ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos

acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo

A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da

chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo

dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio

ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21

A janelinha fecha quando estaacute chovendo

A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo

Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute

Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute

Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os

centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e

contralaterais (Coste1992)

21 Recolhido atraveacutes da cultura oral

51

A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento

psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e

assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute

organizada e natildeo mudaraacute mais

Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os

peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a

conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo

grupo disposto em roda

ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22

Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora

Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora

Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock

Assim eacute bem melhor

( e assim por diante com as demais partes do corpo)

Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o

modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder

apud Coste(1992)

A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a

organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo

mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do

22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57

52

desejo da matildee

A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan

apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros

tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e

de diferenccedila (ibid)

Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o

ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na

constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo

desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A

psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade

poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A

citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo

O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de

identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria

de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do

lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que

eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim

constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute

poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo

o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)

53

Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia

corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber

possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver

As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a

expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente

Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar

cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de

construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza

pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem

corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter

fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de

cantar danccedilar e brincar

54

ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23

Minha boneca de lata

Bateu com a cabeccedila no chatildeo

Levou mais de uma hora

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui pra ficar boa

Minha boneca de lata

Bateu com o pescoccedilo no chatildeo

Levou mais de duas horas

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui desamassa aqui

Pra ficar boa

Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho

o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do

corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez

horas de arrumaccedilatildeo propostas

23 Recolhido atraveacutes da cultura oral

55

6CONCLUSAtildeO

Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-

se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse

infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar

Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a

relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas

cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo

permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os

estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e

que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo

Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de

winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do

ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos

como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica

Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de

conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos

Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade

que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se

pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos

sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu

ldquoafetordquo

56

Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a

psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir

expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer

Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia

para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a

socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte

aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o

desenvolvimento das estruturas psicomotoras

Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a

essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado

pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando

o prazer de brincar cantar e ser feliz

57

BIBLIOGRAFIA

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Editora Sprint ltda 1996

WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975

Page 3: Brinquedos Cantados Na Psicomotricidade

2

ldquoAS BRINCADEIRAS E JOGOS CONSTITUEM AS NOSSAS FUNCcedilOtildeES O NOSSO VIVER OS PAPEacuteIS

QUE REPRESENTAMOS REALIZANDO TAREFAS BEM OU MAL TENDO PARCERIA OU NAtildeO

EM TODO ESSE BRINCAR A NOSSA PARTICIPACcedilAtildeO Eacute COM O CORPO E A ALMArdquo

(Cacilda Gonccedilalves Velasco)

ldquoCANTAR Eacute MOVER O DOM DO FUNDO DE UMA PAIXAtildeO

SEDUZIR AS PEDRAS CATEDRAIS CORACcedilAtildeOrdquo

(Seduzir ndash DJAVAN)

3

DEDICO ESTA PESQUISA

Agraves crianccedilas e adolescentes com os quais trabalho ldquobrincandordquo diariamente na cliacutenica

musicoteraacutepica com votos de que assim se faccedila tambeacutem na cliacutenica psicomotora

4

AGRADECIMENTOS

Agrave Deus por permitir minha existecircncia neste mundo maravilhoso de muacutesicas e brincadeiras

Ao meu pai com muito amor

Aos meus irmatildeos e primos companheiros do brincar

Aos meus mestres em especial Fernando A Penza e Ronaldo Millecco (ambos in memorian) pelo

brilho inspirador do saber que eles deixaram em noacutes

Aos meus companheiros da poacutes-graduaccedilatildeo pelas vivecircncias parcerias e aprendizados

Aacute professora e amiga Cristie Campello pela apaixonante visatildeo da psicomotricidade

Agrave Musicoterapeuta Benita Michaeles por que a chama do nosso caminhar luacutedico continua viva

Agrave minha amiga conceiccedilatildeo costa pelo carinho e pela forccedila que sempre me deu

Ao meu orientador Nilson Guedes de Freitas por sua pedagogia afetuosa e acolhedora

Enfim agrave todos aqueles que participaram direta ou indiretamente deste trabalho

5

SUMAacuteRIO

1Introduccedilatildeo8

2Histoacuteria e classificaccedilatildeo dos brinquedos cantados11

21Brincar12

22Musicar13

23Movimentar15

3O desenvolvimento infantil segundo Piaget17

31Estaacutegio Sensoacuterio-motor20

32Estaacutegio Preacute-operacional24

33Os jogos por Piaget 27

4O brincar e a realidade Winnecotteana32

41Conceitos e contornos33

5Encantando a psicomotricidade37

51Breve histoacuteria da psicomotricidade39

52Educaccedilatildeo Reeducaccedilatildeo e Terapia psicomotora41

53Brinquedos cantados na psicomotricidade43

6Conclusatildeo55

Bibliografia57

Anexos59

6

RESUMO

Aborda-se neste trabalho a importacircncia e a contribuiccedilatildeo dos brinquedos

cantados na psicomotricidade com crianccedilas de 0 agrave 7 anos A presente monografia

desenvolve-se agrave luz da dialeacutetica interdisciplinar tomando-se de empreacutestimo

conceitos do folclore da psicanaacutelise da filosofia da psicologia do

desenvolvimento da ludoterapia e da musicoterapia Segue-se a descriccedilatildeo dos

brinquedos cantados paralelos ao desenvolvimento infantil segundo Piaget

enumerando-se os estaacutegios propostos por este autor e delimitando-se os

acalantos e as brincadeiras-de-roda como objeto de interesse maior da populaccedilatildeo

pesquisada Dar-se-aacute ecircnfase a discussatildeo do suporte agrave cliacutenica psicomotora diante

dos conceitos de Winnicott sobre a vida afetiva e o brincar fazendo-se referecircncia

agraves vivecircncias atraveacutes dos brinquedos cantados no contexto terapecircutico Na

culminacircncia deste estudo propotildee-se a diferenciaccedilatildeo entre educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo

e terapia psicomotora esboccedilando-se a elaboraccedilatildeo das estruturas psicomotoras

comuns agraves trecircs aacutereas citadas interpondo-se os brinquedos cantados como

recursos plausiacuteveis a este trabalho Apresenta-se ainda vinte e dois exemplos de

brinquedos cantados ilustrados por suas letras e pelo desenvolvimento da

brincadeira em questatildeo

Palavras-Chave Brinquedos cantados Psicomotricidade Luacutedico Terapia

Folclore Desenvolvimento infantil

7

1INTRODUCcedilAtildeO

O canto estaacute presente no universo simboacutelico de todas as culturas Vive-

se um processo de massificaccedilatildeo da cultura brasileira onde a muacutesica infantil estaacute

mesclada de sensualidade e cultuaccedilatildeo a um corpo esteacutetico grego Tem-se entatildeo

a incumbecircncia de preservar e formar a crianccedila que nasce ingecircnua sonhadora e

necessita de cuidados afetuosos

Visto que o som tem propriedades fiacutesicas que incidem sobre o corpo

humano de forma objetiva e subjetiva movendo o sujeito a partir da sua emoccedilatildeo

e que as crianccedilas satildeo estimuladas em sua afetividade se apropriando do uso

destes elementos luacutedico-sonoros para investimento pessoal e social supotildee-se que

os brinquedos cantados interferem de forma significativa no desenvolvimento

psicomotor das ditas crianccedilas

Faz-se assim a relevacircncia deste estudo para pesquisar a importacircncia

dos brinquedos cantados para o desenvolvimento psicomotor de crianccedilas de 0 agrave 7

anos de idade e ainda demonstrar a contribuiccedilatildeo destes elementos luacutedicoshy

sonoros na psicomotricidade com a referida populaccedilatildeo

Assume-se a investigaccedilatildeo da importacircncia e contribuiccedilatildeo dos

brinquedos cantados na psicomotricidade passando por quatro capiacutetulos

articulados entre si pelo vieacutes dos brinquedos cantados e dos interesses infantis

conforme o exposto a seguir

8

No primeiro capiacutetulo descreve-se uma breve histoacuteria e classificaccedilatildeo do

brincar a partir de referecircncias do folclore da psicanaacutelise e da filosofia Organiza-se

ideacuteias sobre trecircs possiacuteveis instacircncias que compreenderiam os brinquedos

cantados Musicar Brincar Movimentar Dar-se a ver na dialeacutetica entre a

Musicoterapia e a Psicomotricidade a importacircncia dos brinquedos cantados para

o desenvolvimento global da crianccedila nas idades mencionadas

Prossegue-se no segundo capiacutetulo um estudo sobre o desenvolvimento

infantil de 0 agrave 7 anos conforme a teoria Piagetiana Entre os estaacutegios do

desenvolvimento apontados por este autor para as estruturas cognosciacuteveis

imprescindiacuteveis a cada etapa sugere-se as contribuiccedilotildees de brinquedos cantados

compatiacuteveis com os momentos e as demandas verificadas Por fim mostra-se os

jogos na classificaccedilatildeo de Piaget situando o que cada etapa prioriza e delimitando

dois tipos de brinquedos cantados especiacuteficos para serem trabalhados na

psicomotricidade Os Acalantos e as Brincadeiras-de-roda

Identifica-se no capiacutetulo trecircs os conceitos de Winnicott sobre o objeto

transicional fenocircmeno transicional matildee suficientemente boa aacuterea intermediaacuteria e

o eu (Self) mostrando-se a interaccedilatildeo exposta pelos brinquedos cantados entre as

artes o luacutedico e o afeto supondo-se que esta interaccedilatildeo seja capaz de dar suporte

agrave cliacutenica psicomotora

Na proposta do capiacutetulo quatro buscou-se ldquoEn-Cantarrdquo a

psicomotricidade resumindo em uma breve histoacuteria como se instaurou a

educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo e terapia psicomotora atuais e ainda musicar com os

9

brinquedos cantados a elaboraccedilatildeo das diversas estruturas psicomotoras

assinalando a contribuiccedilatildeo destas para a psicomotricidade com a faixa etaacuteria

pesquisada

Finalizando esta introduccedilatildeo e abrindo os estudos desta monografia

deixa-se agrave contemplaccedilatildeo a muacutesica Redescobrir do compositor Luiz Gonzaga

Juacutenior 1980 interpretado pela cantora Elis Regina no Cd ldquoMuacutesica O melhor de

Elis Reginardquo WEA 2000

ldquoREDESCOBRIRrdquo

Como se fora brincadeira de roda (memoacuteria)

Jogo do trabalho na danccedila das matildeos (macias)

O suor dos corpos na canccedilatildeo da vida (histoacuteria)

O suor da vida e no calor de irmatildeos (magia)

Como um animal que sabe da floresta (memoacuteria)

Redescobrir o sal que estaacute na proacutepria pele (macia)

Redescobrir o doce no lamber das liacutenguas (magia)

Redescobrir o gosto e o sabor da festa (magia)

Vai o bicho homem fruto da semente (memoacuteria)

Renascer da proacutepria forccedila proacutepria luz e feacute (memoacuteria)

Entender que tudo eacute nosso sempre esteve em noacutes (histoacuteria)

Somos a semente ato mente e voz (magia)

Natildeo tenha medo meu menino bobo (memoacuteria)

Tudo principia na proacutepria pessoa (lembranccedila)

Vai como a crianccedila que natildeo teme os tempos (misteacuterio)

Amor se fazer eacute tatildeo prazer que eacute como fosse dor (magia)

10

2HISTOacuteRIA E CLASSIFICACcedilAtildeO DOS BRINQUEDOS CANTADOS

Os brinquedos cantados surgem na espontaneidade da cultura popular

Geralmente satildeo cantigas anocircnimas acompanhadas de movimentos expressivos

saltitantes e ou dramatizados

O brincar eacute uma forma de manifestaccedilatildeo caracteriacutestica da infacircncia entretanto

como afirma Huizinga (1980) a essecircncia do jogo eacute o prazer ele ultrapassa os

limites da realidade fiacutesica e assim se aplica a qualquer fase da vida

Os termos brincar e jogar satildeo referenciados como sinocircnimos por Cascudo

(1988) e Ferreira A (1988) Nos principais idiomas internacionais (Inglecircs Francecircs

Alematildeo e espanhol) brincar e jogar tambeacutem servem para definir atividades

artiacutesticas como a interpretaccedilatildeo teatral ou musical (Santa Roza1993)

Na liacutengua portuguesa o termo brincar vem do latim vinculum e significa

laccedilo uniatildeo No entanto eacute o termo luacutedico da nossa liacutengua tambeacutem proveniente do

latim ludus que melhor abrange e define as atividades artiacutesticas

culturais brincadeiras e jogos(ibid)

Nos divertimentos tradicionais infantis encontra-se os jogos de ronda

cantados declamados ritmados ou natildeo de movimento etc Brinquedo eacute ainda o

objeto material usado para brincar como o carro a boneca Diz-se tambeacutem da

proacutepria accedilatildeo de brincar (de cabra cega de chicotinho queimado e etc)

(Cascudo1988)

11

Dos trecircs povos que inicialmente formaram a cultura brasileira o

portuguecircs trouxe maior influecircncia para os brinquedos cantados os quais sofreram

modificaccedilotildees de acordo com a cultura local (Cascudo1988) Diga-se ainda que os

ritmos e danccedilas africanas juntamente com a alegria e marcaccedilatildeo ritmica-corporal

indiacutegena deu um tempero mais brejeiro ao legado luacutedico brasileiro

21BRINCAR

Como sonhar acordado brincar eacute expor-se de dentro para fora traduccedilatildeo

das impressotildees da crianccedila sobre o mundo que a cerca e os seus sentimentos

O brincar se desenvolve junto com o amadurecimento do sujeito as etapas iniciais

vatildeo perdendo o significado para o acreacutescimo do novo modo de explorar cada vez

mais elaborado

Todos os povos tecircm suas brincadeiras pertinentes agraves necessidades

expressivas de cada cultura O tempo se encarrega de transformar suas estruturas

mas eacute certo que as crianccedilas precisam de tempo espaccedilo e companheiros para

brincar

Sheridam (1990) classifica as brincadeiras em ativas exploratoacuterias

manipulativas imitativas construtivas faz-de-conta jogos com regras recreaccedilotildees

sofisticadas Este trabalho prioriza os brinquedos cantados que na praacutetica

psicomotora revelam valores e costumes culturais pontos de referecircncia para a

comunicaccedilatildeo e o relacionamento com o outro Estas manifestaccedilotildees envolvem a

emoccedilatildeo e o movimento que permeados pela muacutesica burlam as defesas e fazem

12

aflorar a essecircncia do ser

Os brinquedos cantados se inserem nas diversas formas de

classificaccedilatildeo pois em face de sua riqueza dinacircmica satildeo brincadeiras ativas

(exChep Chep) imitativas(ex Samba Lecirc Lecirc) construtivas(exA minha velha tem)

priorizam o faz-de-conta conteacutem regras especiacuteficas e vatildeo desde as mais simples

como ldquoAtirei o pau no gatordquo ateacute as mais elaboradas como ldquoA linda rosa juvenilrdquo1

Lapierre e Aucoutourrier (1986p29) pontuaram que ldquoA expressatildeo sonora

estaacute necessariamente ligada agrave relaccedilatildeo com o outrordquo sabe-se que ainda na barriga

da matildee a funccedilatildeo auditiva se instaura no embriatildeo e ele ouve os batimentos

cardiacuteacos dele e da matildee e todo um mundo de sons atraveacutes do liacutequido amnioacutetico

Eacute a relaccedilatildeo com o outro atraveacutes dos sons que situa a crianccedila no espaccedilo no tempo

e no afeto

22 MUSICAR

Segundo Gainza (1988) ldquoa accedilatildeo musical implica num movimento

seja das cordas vocais e do aparelho fonador naquele que fala ou canta seja do

proacuteprio corpordquo No uacuteltimo caso o corpo aparece como instrumento produtor de

som ou se prolonga atraveacutes de um instrumento musical propriamente ditordquo

Sob a oacutetica musical as teorias apontam para as estruturas fiacutesico-sonoras

Encontra-se nestas a formaccedilatildeo de todo contexto musical que eacute igualmente

1 PAIVA Ione Maria R de BRINQUEDOS CANTADOS 1998 p25416383

13

correspondente para os brinquedos cantados Fala-se entatildeo dos elementos

inevitaacuteveis de qualquer muacutesica Ritmo Melodia Harmonia Eis a definiccedilatildeo de

Costa(1989p61) ldquoNuma definiccedilatildeo muito simples muacutesica eacute a organizaccedilatildeo de

relaccedilotildees entre sonoridades simultacircneas ou natildeo no decorrer do tempo Sons e

silecircncios satildeo combinados e encadeados entre si formando ritmos melodias e

harmoniasrdquo

O ritmo eacute basicamente a ordenaccedilatildeo do movimento formando um elo

entre espaccedilo e tempo A melodia eacute uma sequumlecircncia de sons notas musicais graves

e agudas A harmonia eacute a verticalidade ou a simultaneidade dos sons parte mais

intelectualizada da muacutesica(Costa opcit mesma paacutegina)

As muacutesicas infantis em geral acompanham o desenvolvimento afetivo

motor cognitivo e social da crianccedila Observa-se que existem brinquedos cantados

mais simples contendo siacutelabas repetitivas estrutura musical miacutenima e que satildeo

preferidos pelas crianccedilas entre 2 e 3 anos por ex

CAI CAI BALAtildeO(folclore)2

Cai cai balatildeo cai cai balatildeo aqui na minha matildeo

Natildeo vou laacute natildeo vou laacute natildeo vou laacute tenho medo de apanhar

A muacutesica dos brinquedos cantados altera a sensibilidade o humor faz

aflorar a criatividade a expressividade do corpo e da alma revelando as habilidades

e dificuldades da crianccedila se convertendo entatildeo em instrumento de trabalho na

psicomotricidade

2 MARTINS Armando TOQUE VIOLAtildeO OU GUITARRA(meacutetodo praacutetico) 1980p88

14

23MOVIMENTAR

Do choro aos acalantos (muacutesicas de ninar) dos cantos culturais as

brincadeiras-de-roda haacute uma trajetoacuteria que vincula o som da voz ao movimento

corporal conforme afirma Fregtman(1988p17) isto ocorre ldquoporque a muacutesica eacute

feita dita tocada e cantada como manifestaccedilatildeo corporalrdquo

Toda forma de comunicaccedilatildeo se daacute atraveacutes de coacutedigos estabelecidos

linguagens por assim dizer Fregtman (opcit) conceitua a partir da musicoterapia

que trecircs niacuteveis de manifestaccedilatildeo expressiva simultacircneos podem se dar quando

usamos a muacutesica Satildeo eles

1) Linguagem sonora (sons silecircncios entonaccedilotildees melodias ritmos)

2) Linguagem corporal (gestos posturas trejeitos tipos de movimentos)

3) Linguagem verbal (a fala a letra a poesia)

Apenas para efeitos didaacuteticos se consegue separar estes trecircs niacuteveis de

linguagem A linguagem sonora necessariamente traacutes expressotildees corporais

estimula a emoccedilatildeo que se revela atraveacutes dos gestos posturas movimentos voz e

etc A linguagem corporal responde ao chamado verbal ou musical os quais soam

determinados significados simboacutelicos apreendidos nas relaccedilotildees soacutecio-afetivas E

por fim a linguagem verbal eacute inserida para nomear as accedilotildees sejam elas musicais

ou corporais

15

Os brinquedos cantados satildeo tambeacutem conceituados mediante sua aplicaccedilatildeo

em determinadas funccedilotildees na recreaccedilatildeo Os brinquedos cantados podem ser de

marcha de grupos opostos de palmas de roda de ninar ou alternados

Modificaccedilotildees diversas quanto ao andamento (lento moderado raacutepido) agrave formaccedilatildeo

(rodas simples complexas fileiras) e agrave movimentaccedilatildeo dos brinquedos cantados

(marcha roda dramatizaccedilatildeo) satildeo descritas por Leitatildeo(2001)

Neste trabalho prioriza-se os acalantos e as brincadeiras-de-roda tendo

em vista que a populaccedilatildeo estudada crianccedilas de 0 agrave 7 anos podem ser atendidas

em suas necessidades de acolhimento afetivo comunicaccedilatildeo expressiva e

socializaccedilatildeo atraveacutes destes elementos A Simbologia do movimento de Lapierre amp

Aucoutourrier (1986p41) sustenta o nosso pensamento atraveacutes da seguinte

citaccedilatildeo ldquoA muacutesica pode nos ajudar muito a redescobrir essa dimensatildeo do

movimento desde que natildeo seja restringida aos estereotipos da lsquodanccedilarsquo mesmo a

lsquoexpressivarsquo ldquo

ldquoO JACAREacuterdquo (folclore)3

O jacareacute o jacareacute o jacareacute eacute amigo ele eacute

Oi jacareacute oi jacareacute vem caacute cumpadre que a lagoa natildeo daacute peacute

O jacareacute tem os olhos muito grandes tem o rabo muito grande

Mas as pernas satildeo curtinhas

O jacareacute tem a boca muito grande tem os dentes muito grande

mas as pernas satildeo curtinhas

3 Recolhido atraveacutes da cultura oral

16

3O DESENVOLVIMENTO INFANTIL SEGUNDO PIAGET

Para Piaget (2003) o conhecimento eacute o resultado das accedilotildees e

relacionamentos do sujeito com o ambiente em que vive e vai sendo elaborado

desde o nascimento ateacute suas vivecircncias com os objetos pessoas e situaccedilotildees que

procura conhecer sejam elas do mundo fiacutesico ou cultural

Este autor formulou importantes conceitos que explicam o

desenvolvimento das funccedilotildees cognitivas A interaccedilatildeo entre a assimilaccedilatildeo

(informaccedilotildees do mundo exterior recebidas atraveacutes dos sentidos movimento de fora

para dentro) e a acomodaccedilatildeo (informaccedilatildeo processada respostas dadas ao mundo

exterior movimento de dentro para fora) sobre uma accedilatildeo satildeo validadas pelo

processo de equilibraccedilatildeo (Piagetopcit)

As perturbaccedilotildees exteriores se mostram a crianccedila a partir do que ela natildeo

conhece assim oportunizadas pelo processo de equilibraccedilatildeo e por meio de suas

atividades vai respondendo a estas perturbaccedilotildees vencendo a mais uma etapa

cognosciacutevel A equilibraccedilatildeo eacute dinacircmica e nunca cessa ela norteia a passagem de

um conhecimento ao outro(Piaget2003)

Dois outros conceitos Piagetianos satildeo imprescindiacuteveis ao tenro

desenvolvimento infantil e encontra-se nos brinquedos cantados uma forma

espontacircnea de vivenciaacute-los A Imitaccedilatildeo e a noccedilatildeo de Permanecircncia do Objeto

17

Imitaccedilatildeo Eacute na gecircnese da imitaccedilatildeo que inicia o movimento luacutedico da crianccedila

Imitando o meio e as pessoas ao seu redor a crianccedila apreende e treina suas novas

aquisiccedilotildees Ferreira I(1994 p47) afirma que ldquoA imitaccedilatildeo eacute uma das manifestaccedilotildees

da funccedilatildeo simboacutelica Constitui-se num dos elementos baacutesicos que permitem a

crianccedila uma assimilaccedilatildeo de realidade ao seu proacuteprio ldquoeurdquo bem como Acomodaccedilatildeo

de suas estruturas mentais e de accedilatildeo agraves exigecircncias da realidade fiacutesica e socialrdquo

Para haver o ato imitativo eacute necessaacuterio um modelo Alguns brinquedos

cantados propotildeem accedilotildees simboacutelicas que copiam o mundo adulto sem impor aos

pequenos o fardo da responsabilidade que este teria na realidade Eis um exemplo

interessante onde as crianccedilas imitam os afazeres dos mais velhos

PASSA PASSA GAVIAtildeO(folclore)4

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

As lavadeiras fazem assim

Assim assim assim assim

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

As passadeiras fazem assim

Assim assim assim assim

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

As cozinheiras fazem assim assim assim

Assim assado carne seca com ensopado

4 Recolhido atraveacutes da cultura oral

18

Objeto permanente Nos primeiros dois anos de vida a crianccedila apresenta um

comportamento em constante adaptaccedilatildeo pois estaacute sempre se modificando para

responder aos estiacutemulos do meio A crianccedila inicialmente natildeo tem noccedilatildeo da

permanecircncia dos objetos ela pensa que eles soacute existem enquanto estatildeo ao

alcance dos seus olhos caso sejam escondidos a sua frente acharaacute que estes

acabaram ou se desintegraram Entre os 18 e 24 meses a crianccedila jaacute consegue

elaborar mais este conhecimento e apesar de natildeo vecirc-lo ouvi-lo ou tocaacute-lo ela vai

compreender que os objetos independem da sua vontade e presenccedila para

existirem

Para melhor apreensatildeo da realidade fiacutesica a praacutetica pelo ensaio e erro ou

aparecer desaparecer vatildeo treinar e orientar os pequenos na aquisiccedilatildeo das noccedilotildees

de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo da realidade como

afirma FerreiraI(1994p35) ldquoO esquema do objeto permanente eacute baacutesico para a

construccedilatildeo das noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidaderdquo

Observe que as crianccedilas nesta fase gostam das brincadeiras de

esconde-esconde que amenizam suas anguacutestias sobre a existecircncia ou natildeo dos

objetos reais Seu proacuteprio corpo eacute posto agrave prova escondendo o rosto ou as matildeos

atraacutes de uma almofada por exemplo A muacutesica das palminhas talvez possa auxiliar

nesta etapa

19

PALMINHAS PALMINHAS (folclore)5

Palminhas palminhas nos vamos bater

Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconder

Em cima em cima noacutes vamos bater

Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconde

Assim assim pra traacutes esconder

Em baixo em baixo noacutes vamos bate

Depois as matildeozinhas pra traacutes esconde

Assim assim pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconder

Os conceitos estudados ateacute aqui se realizam dentro dos estaacutegios do

desenvolvimento organizados por Piaget Passar-se-aacute neste momento agrave elucidaccedilatildeo

dos estaacutegios pertinentes agrave faixa etaacuteria da populaccedilatildeo pesquisada nesta monografia

estaacutegios Sensoacuterio-motor e Preacute-operacional

31ESTAacuteGIO SENSOacuteRIO MOTOR (0 agrave 2 anos) Estaacutegio que vai do nascimento

ateacute a aquisiccedilatildeo da linguagem e eacute dividido em 6 sub estaacutegios Esta eacute a fase do

comportamento inteligente antes da aquisiccedilatildeo da linguagem a crianccedila organiza a

informaccedilatildeo obtida atraveacutes dos sentidos e desenvolve respostas aos estiacutemulos

5 Recolhido atraveacutes da cultura oral

20

ambientais com comportamento adaptativo e constante modificaccedilotildees dos

esquemas de accedilatildeo em resposta ao meio A aquisiccedilatildeo mais importante deste

periacuteodo eacute o Objeto Permanente Manifesta-se ainda a imitaccedilatildeo que alcanccedilaraacute o

seu auge no proacuteximo estaacutegio

1ordm Sub Estaacutegio ndash Exerciacutecio dos reflexos (0 a 1 mecircs) Do alto da sua imaturidade

bioloacutegica a crianccedila se relaciona com o meio atraveacutes dos movimentos reflexos

hereditaacuterios que se aprimoram pelo exerciacutecio tornando-se cada vez mais

eficientes Ainda natildeo haacute a distinccedilatildeo entre o eu e o outro

2ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular primaacuteria (1 a 4 meses)Esta eacute a fase das

primeiras acomodaccedilotildees onde os exerciacutecios reflexos se transformam em esquemas

e comeccedilam a coordenar seus movimentos Inicia-se a construccedilatildeo dos primeiros

esquemas vocais A noccedilatildeo de tempo eacute primitiva sua duraccedilatildeo soacute eacute sentida no

decorrer da proacutepria accedilatildeo O final do periacuteodo eacute marcado pela coordenaccedilatildeo entre trecircs

esquemas fundamentais audiccedilatildeo fonaccedilatildeo e visatildeo

3ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular secundaacuteria (4 a 8 meses) O bebecirc apresenta

um maior interesse pelo mundo externo os esquemas se diferenciam surgindo

novos esquemas de coordenaccedilatildeo viso-motora unindo-se as aquisiccedilotildees jaacute

realizadas Os movimentos comeccedilam a ser repetido pelo prazer da repeticcedilatildeo

Observa-se o iniacutecio da noccedilatildeo do Objeto Permanente entretanto ela estaacute

condicionada ao movimento da crianccedila pois as coisas ainda natildeo seguem uma

trajetoacuteria independente

21

4ordm Sub Estaacutegio ndash Coordenaccedilatildeo de esquemas secundaacuterios (8 a 12 meses)

Caracteriza-se pelas primeiras condutas propriamente inteligentes surgindo

adaptaccedilotildees sensoacuterio-motoras intencionais onde o bebecirc combina esquemas

conhecidos a novas situaccedilotildees e ainda diferencia os meios e os fins de uma accedilatildeo

Aparece nesta fase o comportamento antecipatoacuterio caso o bebecirc veja sua matildee se

afastar chora a imitaccedilatildeo de sons e accedilotildees satildeo agora intencionais e

conscientizadas no entanto ainda condicionadas ao esquema visual Revelam-se

os primoacuterdios da memoacuteria e da representaccedilatildeo mental Comeccedila a permanecircncia do

objeto independente do ldquoeurdquo Quanto agrave noccedilatildeo de espaccedilo e tempo a crianccedila

comeccedila a ordenar os proacuteprios deslocamentos em relaccedilatildeo aos objetos

5ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular terciaacuteria (12 a 18 meses) A crianccedila gradua

seus movimentos varia e experimenta novos padrotildees de comportamento

observando os diferentes efeitos da sua accedilatildeo sobre o objeto o qual jaacute eacute dotado de

permanecircncia Pode-se afirmar que o mecanismo da inteligecircncia praacutetica estaacute

definitivamente constituiacutedo A cada estruturaccedilatildeo da inteligecircncia corresponde uma

nova estruturaccedilatildeo do espaccedilo do tempo da causalidade etc Agindo por ldquoensaio e

errordquo os resultados das accedilotildees ainda satildeo por acaso pois as representaccedilotildees

mentais de fatos externos ainda natildeo se incluem ou seja o pensamento ainda natildeo

estaacute formado

22

6ordm Sub Estaacutegio ndash A invenccedilatildeo dos novos meios por combinaccedilatildeo

mental (18 a 24 meses) Esta fase caracteriza o momento de transiccedilatildeo entre a

inteligecircncia praacutetica (sensoacuterio-motora) e a inteligecircncia representativa quando

comeccedila a funccedilatildeo simboacutelica Inicia-se a representaccedilatildeo mental imaginativa e criativa

No jogo simboacutelico a crianccedila usa siacutembolos na linguagem e na brincadeira do faz-deshy

conta recorda-se de fatos passados e os representa depois de algum tempo O

final deste periacuteodo eacute marcado pela primeira noccedilatildeo de conservaccedilatildeo(FerreiraI1994)

Os primeiros anos de vida da crianccedila satildeo marcados pelas inuacutemeras

formaccedilotildees e transformaccedilotildees fiacutesicas mentais e emocionais conforme descritas

acima Os acalantos (muacutesicas de ninar) satildeo cantados por matildees de todo o mundo

numa primeira inserccedilatildeo da crianccedila ao universo musical de sua cultura Eles

exercem um poderoso papel de auxiacutelio agrave maternagem acolhendo-a afetuosamente

condiccedilatildeo baacutesica para que a crianccedila se sinta suficientemente amada para

prosseguir desenvolvendo-se Este tema seraacute melhor explanado nos proacuteximos

capiacutetulos Por hora parece oportuno um exemplo de acalanto

TUTU MARAMBAacute(folclore)6

Tutu marambaacute

Natildeo venha mais caacute

Que o pai do menino

Te manda mata

6 MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute PRECISO CANTAR Musicoterapia cantos e canccedilotildees2001p38

23

32ESTAacuteGIO PREacute-OPERACIONAL (2 agrave 7 anos) A crianccedila vive um tempo em que

usa a intuiccedilatildeo ela passa todos os seus atos para o pensamento sob a forma de

imagens e diante de uma situaccedilatildeo praacutetica suas respostas vatildeo se basear no que

ela vecirc sente mexe ou seja nas aparecircncias dos fatos que observa A crianccedila

possui a capacidade de representar uma coisa por outra e esta representaccedilatildeo

pode se dar por um gesto um desenho uma palavra etc A verbalizaccedilatildeo tem

destaque neste periacuteodo e a linguagem conduz agrave socializaccedilatildeo das accedilotildees Este

estaacutegio compreende duas formas de pensamento a saber O Pensamento

Simboacutelico e o Pensamento Intuitivo

Pensamento simboacutelico (2 agrave 4 anos) Para Piaget a funccedilatildeo simboacutelica consiste na

capacidade da crianccedila representar objetos e fatos conhecidos poreacutem ausentes por

um substituto qualquer seja este concreto ou imaginaacuterio Uma caracteriacutestica

fundamental desta fase eacute a diferenciaccedilatildeo entre significante e significado que eacute

manifestada por vaacuterias condutas sendo elas O jogo simboacutelico ou faz-de-conta a

imitaccedilatildeo o desenho a imagem mental a linguagem a criatividade etc Para

ldquosignificanterdquo leia-se objeto concreto e para ldquosignificadordquo a ideacuteia compreensiva do

que foi percebido (Piaget 2003)

Sobre a funccedilatildeo simboacutelica FerreiraI(1994p43) complementa ldquoA funccedilatildeo

simboacutelica pode ser considerada uma linguagem individual e particular da crianccedila

usada para compreender e representar o mundo O siacutembolo eacute subjetivo e aos

poucos vai sendo substituiacutedo por signos da linguagem socialrdquo

24

O pensamento infantil encontrado entre os 2 e 7 anos de idade eacute

egocentrado A visatildeo da realidade eacute centrada no ponto de vista do proacuteprio sujeito

sendo este incapaz de relacionaacute-lo ou de coordenaacute-lo a pontos de vistas diferentes

do seu

A aquisiccedilatildeo da linguagem tem destaque nesta fase e coincide com a

formaccedilatildeo do jogo simboacutelico que melhor se manifesta no jogo do faz-de-conta

Atraveacutes do que discute Ferreira I (1994p43) ldquoOs siacutembolos podem ser

socializados como os brinquedos coletivos e se tornar um siacutembolo coletivordquo

confirma-se mais uma vez que os estes elementos apresentam extrema valorizaccedilatildeo

soacutecio-afetiva e cultural Com a ludicidade que lhe eacute peculiar os brinquedos

cantados nesta fase encantam ensinam desenvolvem a memoacuteria a auto estima

o esquema corporal a imagem corporal a Coordenaccedilatildeo Motora a socializaccedilatildeo

entre outras funccedilotildees essenciais agrave formaccedilatildeo dos pequenos Eis um bom exemplo

O GIGANTE E O ANAtildeO(autor desconhecido)7

O peacute do gigante eacute grande

Do anatildeo pequenininho

O gigante pisa forte

O anatildeo pisa mansinho

O gigante fala grosso

O anatildeo fala fininho

Porque gigante come muito

E o anatildeo come pouquinho

7 Recolhido atraveacutes da cultura oral

25

Pensamento Intuitivo (4 agrave 7 anos) Subdividido em Intuitivo Simples e Intuitivo

Articulado eacute um estaacutegio marcado pela crescente formaccedilatildeo de conceitos O

pensamento intuitivo eacute uma espeacutecie de accedilatildeo executada em pensamento encaixar

seriar deslocar etc

A crianccedila no intuitivo simples representa mentalmente assimila e entende

o mundo real poreacutem de forma limitada pois soacute consegue coordenar um uacutenico

ponto de vista com base nas aparecircncias do que vecirc Centrado em si mesmo natildeo

admite a reversibilidade falta-lhe ainda a noccedilatildeo de conservaccedilatildeo das substacircncias

Quando se pede agrave crianccedila para desenhar ela desenha o que sabe e natildeo

o que vecirc Este egocentrismo que lhe eacute peculiar deveraacute evoluir para a

descentraccedilatildeo bem como haveraacute progressos nas diversas etapas cognitivas

(classificar seriar etc) Ao final do pensamento intuitivo articulado a crianccedila

comeccedila a levantar duacutevidas e questionamentos percebendo a mobilidade das

situaccedilotildees

ldquoA BARATArdquo(folclore)8

A barata diz que tem 7 saias de filoacute

Eacute mentira da barata ela tem eacute uma soacute

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute

A barata diz que tem um anel de formatura

Eacute mentira da barata ela tem eacute casca dura

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura

8 PAIVA Ione Maria R de OPCITp80

26

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura

A barata diz que dorme numa cama de cetim

Eacute mentira da barata ela dorme eacute no capim

Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim

Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim

Na muacutesica da barata as crianccedilas ironizam a tentativa de mentir deste

inseto A propoacutesito das ldquomentirinhasrdquo contidas nas brincadeiras infantis funcionam

como passaporte para a experimentaccedilatildeo do que eacute verdadeiro e real As palavras

de cascudo(1988p491) discorrem sobre os deslimites da mentira ldquoAs estoacuterias

mentirosas() satildeo muito populares e constituem um gecircnero especial onde a

imaginaccedilatildeo exagerada e livre se liberta dos limites da loacutegicardquo Acredita-se que as

crianccedilas exigem a verdade para terem o domiacutenio do que aprendem

33OS JOGOS POR PIAGET

ldquoPiaget vecirc no jogo um processo de ajuda ao desenvolvimento da crianccedila

acompanha-a sendo ao mesmo tempo uma atividade consequumlente de seu proacuteprio

crescimentordquo(Negrine1994p45) A leitura dos jogos em Piaget acompanha o

desenvolvimento integral do homem a inteligecircncia a afetividade a motricidade e a

sociabilidade satildeo vivenciadas nos jogos sendo a afetividade a funccedilatildeo que constitui

a energia necessaacuteria para a progressatildeo psiacutequica moral intelectual e motora

daquele que joga

Trecircs classificaccedilotildees baacutesicas do jogo satildeo mostradas na teoria

27

psicogeneacutetica de Piaget Jogos de exerciacutecio Jogos simboacutelicos e jogos de regra

Jogos de Exerciacutecio Ou jogos sensoacuterio-motores que aparecem no periacuteodo do

mesmo nome natildeo chegam a constituir sistemas luacutedicos independentes e

construtivos Sua motivaccedilatildeo se daacute pelo prazer funcional ou pelo prazer produzido

pela tomada de consciecircncia de suas novas capacidades

Os jogos motores ou de exerciacutecios satildeo aqueles que envolvem

diretamente a participaccedilatildeo ativa do corpo como um todo inclui-se ainda os jogos

sensoriais que ajudam a desenvolver os oacutergatildeos dos sentidos

A crianccedila nesta fase gosta de brincar com brinquedos que manipula

repetidas vezes explorando toda sua superfiacutecie Brincar de esconder o rosto ou os

objetos atirar e pegar brinquedos eacute prazeroso para a crianccedila ao mesmo tempo

que assimila as noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo

da realidade

Os estiacutemulos sensoriais tambeacutem fazem parte do seu interesse objetos

de diversas cores e texturas brinquedos sonoros muacutesica para ouvir acalentar

danccedilar e brincar desta forma explora o reconhecimento do eu do outro e dos

objetos

O jogo de exerciacutecio eacute o primeiro a aparecer no comportamento da

crianccedila explicitamente do 2ordm ao 5ordm estaacutegio do desenvolvimento sensoacuterio motor por

oposiccedilatildeo ao 6ordm estaacutegio onde se inicia o jogo simboacutelico(Negrine 1994)

28

ATIREI O PAU NO GATO(Folclore)9

Atirei o pau no ga-to-to mas o ga-to-to

Natildeo morreu- rreu- rreu dona chica-ca-ca

Admirou- se se do berro do berro

Do berro que o gato deu Miau

Jogos Simboacutelicos Em princiacutepio do ponto de vista de Piaget a diferenccedila entre os

jogos simboacutelicos e os de exerciacutecio intelectual consiste em que os primeiros se

referem ao pensamento

Os jogos simboacutelicos tem iniacutecio no 6ordm estaacutegio do periacuteodo sensoacuterio-motor

e se continua aproximadamente dos 2 aos 4 anos de idade cronoloacutegica ou do 1ordm

estaacutegio do preacute-operacional(fase simboacutelica) ateacute o iniacutecio do 2ordm estaacutegio do preacuteshy

operacional(fase intuitiva) Piaget apud Negrine(1994p41) deixa claro a

supremacia dos jogos simboacutelicos em detrimento dos anteriores

ldquoO esquema simboacutelico por si mesmo eacute suficiente para

assegurar a superioridade da representaccedilatildeo sobre

uma accedilatildeo pura nesta segundo Piaget o jogo

permite assimilar o mundo exterior ao eu como meio

infinitamente mais poderoso que o de simples exerciacuteciordquo

Como aparecem antes da linguagem verbal propriamente dita os jogos

simboacutelicos satildeo representados nas imagens mentais da crianccedila e vivenciados

atraveacutes dos gestos onomatopeacuteias pelo prazer de brincar com o faz-de-conta

9 MILLLECCO FILHO Luiacutes A e outros OPCIT p43

29

Nesta fase os acalantos vatildeo perdendo sua importacircncia dando lugar agraves

brincadeiras-de-roda os pequenos ao mesmo tempo em que aprendem a falar

aprendem a cantar as brincadeiras-de-roda tem a propriedade de enriquecerem o

repertoacuterio de palavras e movimentos

Jogos de Regras Os jogos de regras natildeo seguem o mesmo itineraacuterio dos

anteriores pois comeccedilam a aparecer na metade do 2ordm estaacutegio do periacuteodo preacuteshy

operacional isto eacute dos 4 aos 7 anos e principalmente no periacuteodo das operaccedilotildees

concretas dos 7 aos 12 anos Pesquisaremos como ocorrem os jogos de regra ateacute

os 7 anos pela delimitaccedilatildeo da populaccedilatildeo que esta monografia abrange

Dos 4 aos 7 anos periacuteodo preacute operacional intuitivo surgem os jogos de

regra que substituiratildeo o siacutembolo e enquadraratildeo o exerciacutecio no momento em que se

constituem de forma incipiente certas relaccedilotildees sociais(Piaget2003)

Com relaccedilatildeo as regras segundo Piaget apud Negrine

(1994p44)distinguem-se dois tipos transmitidas e espontacircneas As regras

transmitidas se referem aos jogos institucionais que se impotildeem por pressatildeo das

geraccedilotildees anteriores As espontacircneas se referem aos jogos de natureza contratual e

momentacircnea isto eacute procedem da socializaccedilatildeo dos jogos de simples exerciacutecios ou

dos simboacutelicos

30

Na cantiga de roda ldquoCiranda cirandinhardquo destaca-se o desenvolvimento

da roda e ao final as regras uma imposta (entrar na roda e dizer um verso) outra

espontacircnea (serve qualquer verso criado na hora ou jaacute existente) Outra versatildeo

desta mesma cantiga para crianccedilas menores pede ldquofaccedila um gesto bem bonito

diga adeus e vaacute se emborardquo A liberdade de criar um gesto verso a importacircncia de

estar no meio da roda como centro das atenccedilotildees e a valorizaccedilatildeo dos

companheiros satildeo o impulso para a espontaneidade e o crescimento da autonomia

do ser

CIRANDA CIRANDINHA(folclore)10

Ciranda cirandinha vamos todos cirandar

Vamos dar a meia volta volta e meia vamos dar

o anel que tu me destes era vidro e se quebrou

o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou

Por isto sinhaacute Maria entre dentro desta roda

Diga um verso bem bonito diga adeus e vaacute se embora

Os conceitos estudados neste capiacutetulo podem orientar sobre o tempo

mental da crianccedila e a possibilidade de oferecer estiacutemulos adequados ao seu

momento Como uma boa buacutessola natildeo conteacutem apenas o norte

10 MARTINS Armando OPCITp105

31

4O BRINCAR E A REALIDADE WINNICOTTEANA

A partir da premissa de que natildeo se pode dividir o ser humano em

classificaccedilotildees bioloacutegicas e psiacutequicas posto que este eacute uma unidade indivisiacutevel

formulou-se apenas para efeitos didaacuteticos no capiacutetulo anteriorum olhar mais

fiacutesico(cognitivo) do desenvolvimento infantil atraveacutes de Piaget Discutir-se-aacute neste

capiacutetulo o ponto de vista Winnicotteano sobre a vida emocional e o brincar

Nos brinquedos cantados a arte de brincar se mistura a arte de cantar e

eacute fazendo ldquoArtesrdquo que a crianccedila dar-se a ver e a crescer A partir deste tema

instigante e universal que eacute o brincar torna-se mais prazeroso ainda falar sobre ele

depois de conhecer os estudos do Drordm Winnicott

D W Winnicott pediatra psicanalista psicoterapeuta inglecircs e defensor

da Ludoterapia nasceu no comeccedilo do seacuteculo 20 produzindo uma vasta obra

cientiacutefica ateacute os anos 70 quando nos deixou Em seu livro ldquoO Brincar e

Realidaderdquo(1975) se preocupou com os primoacuterdios da vida imaginativa da

experiecircncia cultural em todos os sentidos da relaccedilatildeo das artes com o brincar e da

criatividade

Neste momento parece relevante abordar alguns dos conceitos teoacutericos

do DrordmWinnicott atraveacutes da obra mencionada pelo suporte que podem

proporcionar agrave compreensatildeo da vida psiacutequica mediante o brincar e a terapia Em

32

Conceitos e contornos ilustrar-se-aacute o Objeto transicional Fenocircmeno transicional

Matildee suficientemente boa Aacuterea intermediaacuteria e o Eu(Self) circundando a

importacircncia destes conceitos em relaccedilatildeo aos brinquedos cantados e sua aplicaccedilatildeo

na cliacutenica psicomotora

41CONCEITOS E CONTORNOS

Objeto Transicional Eacute o objeto concreto relativo agrave exploraccedilatildeo pulsional (descarga

impulsiva) do sujeito por exemplo uma boneca ou um carrinho

Fenocircmeno Transicional Satildeo as accedilotildees relativas agrave exploraccedilatildeo pulsional ou o uso

que se faz dos objetos transicionais Ex Um carrinho pode ser acalentado como se

fosse um bebecirc

Matildee Suficientemente Boa Pessoa que ocupa o lugar de suporte afetivo no

desenvolvimento global da crianccedila tambeacutem associada por ele a figura do

terapeuta

Em outras palavras o amor da matildee ou do terapeuta

natildeo significaria apenas um atendimento agraves necessidades

da dependecircncia mas vem a significar a concessatildeo

de oportunidades que permita ao bebecirc ou ao paciente

passar da dependecircncia para a autonomia

(Winnicott1975p150)

33

Aacuterea Intermediaacuteria Aacuterea neutra de experimentaccedilatildeo vivencial entre as realidades

internas e externas do sujeito que favorece a dialeacutetica do brincar e das artes O

dito autor parece supor um espaccedilo de refuacutegio para a resoluccedilatildeo dos conflitos

humanos Eis aqui a referecircncia para tal colocaccedilatildeo

Presume-se aqui que a tarefa de aceitaccedilatildeo da realidade

nunca eacute completada que nenhum ser humano estaacute livre

da tensatildeo de relacionar a realidade interna e externa e

que o aliacutevio dessa tensatildeo eacute proporcionado por uma aacuterea

intermediaacuteria de experiecircncia(cf Riviere1936) que natildeo eacute

contestada (artes religiatildeo etc) Essa aacuterea intermediaacuteria

estaacute em continuidade direta com a aacuterea do brincar da

crianccedila pequena que se ldquoperderdquo no brincar

(Winnicottopcitp29)

A princiacutepio eacute difiacutecil falar dos brinquedos cantados como objetos

transicionais (concretos) porque natildeo satildeo exatamente vistos a olhos nus embora

sejam audiacuteveis Todavia qualquer muacutesico pode escrever em uma partitura o

brinquedo cantado (concreto e cantaacutevel) para tornaacute-lo visiacutevel

O ato de cantar uma muacutesica de roda ou um acalanto jaacute eacute a traduccedilatildeo do

fenocircmeno transicional Dar-se-aacute o uso que quiser a este brinquedo cantado no

momento de sua realizaccedilatildeo Se uma muacutesica de ninar for entoada com raiva ou

brutalidade eacute certo que traraacute temores ao bebecirc e natildeo o conforto a que se prestaria

Acalantos com este do ldquobicho papatildeordquo expotildee o perigo e propotildee acolhida pela

proteccedilatildeo materna

34

ldquoBICHO PAPAtildeO(folclore)11

Bicho Papatildeo sai de cima do telhado

Deixe o menino dormir sossegado

O Eu (Self) O Eu (Self) eacute o eu integral descrito por Winnicott(1975) em sua mais

pura essecircncia um eu que nasce na liberdade de expressatildeo na confianccedila baseada

nas experiecircncias vividas no suporte dos sentimentos Para este autor certas

condiccedilotildees se fazem necessaacuterias na busca do Eu (Self) eacute o que se chama de

criatividade A criatividade pode defraglar e sustentar o ser integral

A vida sadia se mostra pelo impulso criativo O brincar eacute um instrumento

da criatividade sediado na ldquoaacuterea intermediaacuteriardquo (entre as artes e o luacutedico)

sustentado em seus primoacuterdios pela ldquomatildee suficientemente boardquo direcionado agrave

busca do ldquoEu (Self) Sobre a importacircncia das cantigas de roda nesta busca

podemos ler as contribuiccedilotildees de Millecco filho e outros (2001p44)

As cantigas de roda datildeo continuidade ao trabalho

de elaboraccedilatildeo de conflitos e agrave estrutura da pessoa

em desenvolvimento iniciado com os acalantos

() A roda aparece como uma representaccedilatildeo da

mandala expressatildeo geomeacutetrica do Self

11 Recolhido atraveacutes da cultura oral

35

A letra da muacutesica infantil ldquoa canoa virourdquo expotildee um problema e supotildee

uma soluccedilatildeo hipoteacutetica

A CANOA VIROU(folclore)12

A canoa virou vou deixar ela virar

Foi por causa da Maria que natildeo soube remar

Ah se eu fosse peixinho e soubesse nadar

Eu tirava a Marialaacute do fundo do mar

A accedilatildeo terapecircutica deve ser um modo de auxiliar uma pessoa a

vir a ser o que ela eacute capaz de ser O psicomotricista atua como facilitador no

desenvolvimento do potencial existente no sujeito Numa maternagem

suficientemente boa como fala Winnicott o psicomotricista relacional torna-se um

companheiro de jornada para as atitudes luacutedicas do seu paciente

As medidas de afeto e limites saudaacuteveis agraves necessidades do outro

devem ser reconhecidas e valorizadas Eacute o que se vecirc nas colocaccedilotildees de Winnicott

(1975p63) ldquoEm outros termos eacute a brincadeira que eacute universal e que eacute proacutepria da

sauacutede o brincar facilita o crescimento e portanto a sauacutede o brincar conduz aos

relacionamentos grupais o brincar pode ser uma forma de comunicaccedilatildeo na

psicoterapia()rdquo

12 MARTINS Armando OPCITp110

36

Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e

estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que

haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila

acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas

Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a

brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre

MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR

VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR

Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o

aprender com a danccedila do outro

ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

13 Recolhido atraveacutes da cultura oral

37

Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons

e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os

brinquedos cantados

5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE

Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma

nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o

corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se

utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia

e da linguumliacutestica

No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua

expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a

existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto

O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que

encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e

motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros

Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando

fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar

gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil

38

ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14

Eacute bom cantar eacute bom ouvir

Eacute bom pensar eacute bom sentir

Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor

Viajar dentro de si pra poder se descobrir

51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE

A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso

meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da

psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu

corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)

O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico

(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes

concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo

ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a

palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas

que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que

quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do

latim Corpusque significa tecido de membros envoltura

da alma embriatildeo do espiacuterito

14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000

39

Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na

Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto

que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo

cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a

motricidade com a inteligecircncia

Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam

em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento

humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o

movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila

De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de

segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio

Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se

no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo

de Guilman

O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num

corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo

toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico

emocional(Levin opcit)

O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor

Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em

movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica

40

psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre

outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da

pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de

Levin(opcit)

Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor

podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor

ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento

Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o

sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem

tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco

podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade

eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)

52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA

A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o

seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins

pedagoacutegicos (Levy2000)

A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se

do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos

transtornos evidenciados (Coste1992)

A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a

41

afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja

o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade

do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting

psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais

uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si

mesmo uma terapiardquo

As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas

psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema

corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade

Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo

estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees

cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito

As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de

algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A

coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar

pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos

dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para

andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes

visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a

existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa

caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc

No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a

42

primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave

vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos

cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas

psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a

expressividade e a emoccedilatildeo

O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas

psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se

confirmar por exemplo para treinar a escrita

As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar

iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da

brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo

dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da

cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas

pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar

Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora

relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de

cada uma delas

43

53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE

Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os

acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte

afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe

o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo

e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do

acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si

mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a

busca do eu (Self)

O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos

cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a

partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes

acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de

interesse da populaccedilatildeo pesquisada

Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil

geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo

continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em

desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza

simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos

conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo

44

As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia

cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o

relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano

infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a

Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda

assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia

oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria

soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo

Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as

com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da

referida estrutura

Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos

integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos

grandes segmentos (Coste1992)

Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro

expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo

corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a

habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa

O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se

movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os

movimentos enquanto observam os amigos

45

BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

Os braccedilos pra cima e pra baixo

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

As pernas pra frente e pra traacutes

Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo

preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo

motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada

diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do

grafismo (Coste1992)

A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas

brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as

palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a

crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos

Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos

fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca

do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes

15 Recolhido atraveacutes da cultura oral

46

das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa

de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas

ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16

123 indiozinhos 456 indiozinhos

789 indiozinhos 10 num pequeno bote

Vinham navegando pelo rio abaixo

Quando o jacareacute se aproximou

E o pequeno bote dos indiozinhos

Quase quase virou quase quase virou

mas natildeo virou

Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo

ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam

internas ou externas (Levin2001)

A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e

apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as

crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do

corpo que deseja mostrar

ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17

Cabeccedila ombro joelho e peacute

Joelho e peacute joelho e peacute

Olhos boca orelha e nariz

Orelha e nariz orelha e nariz

16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral

47

Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O

equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute

relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)

Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de

amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o

personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca

instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma

perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal

traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal

ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca o pandeirotoca como ele soacute

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca violatildeo toca como ele soacute

Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao

tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir

da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do

aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala

dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da

vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza

18 Recolhido atraveacutes da cultura oral

48

Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila

seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um

personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular

correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e

volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem

seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam

ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19

Anda anda anda macaquinho

Anda anda anda sem parar

Pula pula pula macaquinho

Pula pula pula ateacute cansar

Corre corre corre macaquinho

Corre corre corre sem parar

Deita deita deita macaquinho

Deita deita deita dorme ateacute sonhar

Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu

desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e

relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do

mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)

Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira

19 Recolhido atraveacutes da cultura oral

49

traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo

espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a

noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo

vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento

O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e

rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos

de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra

frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente

e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da

roda virem periquitos tambeacutem

Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem

no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras

visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas

ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20

Periquito periquito parece com papa

Periquito periquito parece com papa

Por baixo por cima pra frente e pra traacutes

Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo

ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo

temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a

20 Recolhido atraveacutes da cultura oral

50

estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus

movimentos e se organiza na vida cotidiana

Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo

que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo

humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre

ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos

acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo

A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da

chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo

dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio

ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21

A janelinha fecha quando estaacute chovendo

A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo

Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute

Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute

Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os

centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e

contralaterais (Coste1992)

21 Recolhido atraveacutes da cultura oral

51

A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento

psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e

assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute

organizada e natildeo mudaraacute mais

Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os

peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a

conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo

grupo disposto em roda

ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22

Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora

Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora

Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock

Assim eacute bem melhor

( e assim por diante com as demais partes do corpo)

Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o

modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder

apud Coste(1992)

A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a

organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo

mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do

22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57

52

desejo da matildee

A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan

apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros

tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e

de diferenccedila (ibid)

Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o

ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na

constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo

desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A

psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade

poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A

citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo

O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de

identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria

de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do

lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que

eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim

constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute

poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo

o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)

53

Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia

corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber

possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver

As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a

expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente

Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar

cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de

construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza

pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem

corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter

fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de

cantar danccedilar e brincar

54

ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23

Minha boneca de lata

Bateu com a cabeccedila no chatildeo

Levou mais de uma hora

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui pra ficar boa

Minha boneca de lata

Bateu com o pescoccedilo no chatildeo

Levou mais de duas horas

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui desamassa aqui

Pra ficar boa

Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho

o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do

corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez

horas de arrumaccedilatildeo propostas

23 Recolhido atraveacutes da cultura oral

55

6CONCLUSAtildeO

Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-

se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse

infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar

Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a

relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas

cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo

permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os

estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e

que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo

Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de

winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do

ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos

como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica

Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de

conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos

Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade

que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se

pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos

sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu

ldquoafetordquo

56

Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a

psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir

expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer

Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia

para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a

socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte

aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o

desenvolvimento das estruturas psicomotoras

Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a

essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado

pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando

o prazer de brincar cantar e ser feliz

57

BIBLIOGRAFIA

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Koogan 1992

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Editora Nova fonteira SA1988

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Para a integraccedilatildeo da pessoa portadora de deficiecircncia 1993

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Summus editorial 1988

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LEVIN Esteban A cliacutenica psicomotora O corpo na linguagem 4ordfediccedilatildeo Petroacutepolis

Rio de janeiro Editora Vozes 2001

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Psicomotricidade da educaccedilatildeo infantil agrave gerontologia (teoria e praacutetica)

Satildeo Paulo Editora Lovise 2000

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Ediccedilotildees de ouro 1990

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volume 1 Porto alegre Editora Prodil1994

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ltda1998

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Janeiro Editora forense universitaacuteria ltda 2003

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infacircncia Rio de Janeiro Editora Relume dumaraacute 1993

SHERIDAN Mary D Brincadeiras espontacircneas na primeira infacircncia Do

nascimento aos seis anos Satildeo Paulo Editora Manole 1990

VELASCO Cacilda Gonccedilalves Brincar o despertar psicomotor Rio de Janeiro

Editora Sprint ltda 1996

WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975

Page 4: Brinquedos Cantados Na Psicomotricidade

3

DEDICO ESTA PESQUISA

Agraves crianccedilas e adolescentes com os quais trabalho ldquobrincandordquo diariamente na cliacutenica

musicoteraacutepica com votos de que assim se faccedila tambeacutem na cliacutenica psicomotora

4

AGRADECIMENTOS

Agrave Deus por permitir minha existecircncia neste mundo maravilhoso de muacutesicas e brincadeiras

Ao meu pai com muito amor

Aos meus irmatildeos e primos companheiros do brincar

Aos meus mestres em especial Fernando A Penza e Ronaldo Millecco (ambos in memorian) pelo

brilho inspirador do saber que eles deixaram em noacutes

Aos meus companheiros da poacutes-graduaccedilatildeo pelas vivecircncias parcerias e aprendizados

Aacute professora e amiga Cristie Campello pela apaixonante visatildeo da psicomotricidade

Agrave Musicoterapeuta Benita Michaeles por que a chama do nosso caminhar luacutedico continua viva

Agrave minha amiga conceiccedilatildeo costa pelo carinho e pela forccedila que sempre me deu

Ao meu orientador Nilson Guedes de Freitas por sua pedagogia afetuosa e acolhedora

Enfim agrave todos aqueles que participaram direta ou indiretamente deste trabalho

5

SUMAacuteRIO

1Introduccedilatildeo8

2Histoacuteria e classificaccedilatildeo dos brinquedos cantados11

21Brincar12

22Musicar13

23Movimentar15

3O desenvolvimento infantil segundo Piaget17

31Estaacutegio Sensoacuterio-motor20

32Estaacutegio Preacute-operacional24

33Os jogos por Piaget 27

4O brincar e a realidade Winnecotteana32

41Conceitos e contornos33

5Encantando a psicomotricidade37

51Breve histoacuteria da psicomotricidade39

52Educaccedilatildeo Reeducaccedilatildeo e Terapia psicomotora41

53Brinquedos cantados na psicomotricidade43

6Conclusatildeo55

Bibliografia57

Anexos59

6

RESUMO

Aborda-se neste trabalho a importacircncia e a contribuiccedilatildeo dos brinquedos

cantados na psicomotricidade com crianccedilas de 0 agrave 7 anos A presente monografia

desenvolve-se agrave luz da dialeacutetica interdisciplinar tomando-se de empreacutestimo

conceitos do folclore da psicanaacutelise da filosofia da psicologia do

desenvolvimento da ludoterapia e da musicoterapia Segue-se a descriccedilatildeo dos

brinquedos cantados paralelos ao desenvolvimento infantil segundo Piaget

enumerando-se os estaacutegios propostos por este autor e delimitando-se os

acalantos e as brincadeiras-de-roda como objeto de interesse maior da populaccedilatildeo

pesquisada Dar-se-aacute ecircnfase a discussatildeo do suporte agrave cliacutenica psicomotora diante

dos conceitos de Winnicott sobre a vida afetiva e o brincar fazendo-se referecircncia

agraves vivecircncias atraveacutes dos brinquedos cantados no contexto terapecircutico Na

culminacircncia deste estudo propotildee-se a diferenciaccedilatildeo entre educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo

e terapia psicomotora esboccedilando-se a elaboraccedilatildeo das estruturas psicomotoras

comuns agraves trecircs aacutereas citadas interpondo-se os brinquedos cantados como

recursos plausiacuteveis a este trabalho Apresenta-se ainda vinte e dois exemplos de

brinquedos cantados ilustrados por suas letras e pelo desenvolvimento da

brincadeira em questatildeo

Palavras-Chave Brinquedos cantados Psicomotricidade Luacutedico Terapia

Folclore Desenvolvimento infantil

7

1INTRODUCcedilAtildeO

O canto estaacute presente no universo simboacutelico de todas as culturas Vive-

se um processo de massificaccedilatildeo da cultura brasileira onde a muacutesica infantil estaacute

mesclada de sensualidade e cultuaccedilatildeo a um corpo esteacutetico grego Tem-se entatildeo

a incumbecircncia de preservar e formar a crianccedila que nasce ingecircnua sonhadora e

necessita de cuidados afetuosos

Visto que o som tem propriedades fiacutesicas que incidem sobre o corpo

humano de forma objetiva e subjetiva movendo o sujeito a partir da sua emoccedilatildeo

e que as crianccedilas satildeo estimuladas em sua afetividade se apropriando do uso

destes elementos luacutedico-sonoros para investimento pessoal e social supotildee-se que

os brinquedos cantados interferem de forma significativa no desenvolvimento

psicomotor das ditas crianccedilas

Faz-se assim a relevacircncia deste estudo para pesquisar a importacircncia

dos brinquedos cantados para o desenvolvimento psicomotor de crianccedilas de 0 agrave 7

anos de idade e ainda demonstrar a contribuiccedilatildeo destes elementos luacutedicoshy

sonoros na psicomotricidade com a referida populaccedilatildeo

Assume-se a investigaccedilatildeo da importacircncia e contribuiccedilatildeo dos

brinquedos cantados na psicomotricidade passando por quatro capiacutetulos

articulados entre si pelo vieacutes dos brinquedos cantados e dos interesses infantis

conforme o exposto a seguir

8

No primeiro capiacutetulo descreve-se uma breve histoacuteria e classificaccedilatildeo do

brincar a partir de referecircncias do folclore da psicanaacutelise e da filosofia Organiza-se

ideacuteias sobre trecircs possiacuteveis instacircncias que compreenderiam os brinquedos

cantados Musicar Brincar Movimentar Dar-se a ver na dialeacutetica entre a

Musicoterapia e a Psicomotricidade a importacircncia dos brinquedos cantados para

o desenvolvimento global da crianccedila nas idades mencionadas

Prossegue-se no segundo capiacutetulo um estudo sobre o desenvolvimento

infantil de 0 agrave 7 anos conforme a teoria Piagetiana Entre os estaacutegios do

desenvolvimento apontados por este autor para as estruturas cognosciacuteveis

imprescindiacuteveis a cada etapa sugere-se as contribuiccedilotildees de brinquedos cantados

compatiacuteveis com os momentos e as demandas verificadas Por fim mostra-se os

jogos na classificaccedilatildeo de Piaget situando o que cada etapa prioriza e delimitando

dois tipos de brinquedos cantados especiacuteficos para serem trabalhados na

psicomotricidade Os Acalantos e as Brincadeiras-de-roda

Identifica-se no capiacutetulo trecircs os conceitos de Winnicott sobre o objeto

transicional fenocircmeno transicional matildee suficientemente boa aacuterea intermediaacuteria e

o eu (Self) mostrando-se a interaccedilatildeo exposta pelos brinquedos cantados entre as

artes o luacutedico e o afeto supondo-se que esta interaccedilatildeo seja capaz de dar suporte

agrave cliacutenica psicomotora

Na proposta do capiacutetulo quatro buscou-se ldquoEn-Cantarrdquo a

psicomotricidade resumindo em uma breve histoacuteria como se instaurou a

educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo e terapia psicomotora atuais e ainda musicar com os

9

brinquedos cantados a elaboraccedilatildeo das diversas estruturas psicomotoras

assinalando a contribuiccedilatildeo destas para a psicomotricidade com a faixa etaacuteria

pesquisada

Finalizando esta introduccedilatildeo e abrindo os estudos desta monografia

deixa-se agrave contemplaccedilatildeo a muacutesica Redescobrir do compositor Luiz Gonzaga

Juacutenior 1980 interpretado pela cantora Elis Regina no Cd ldquoMuacutesica O melhor de

Elis Reginardquo WEA 2000

ldquoREDESCOBRIRrdquo

Como se fora brincadeira de roda (memoacuteria)

Jogo do trabalho na danccedila das matildeos (macias)

O suor dos corpos na canccedilatildeo da vida (histoacuteria)

O suor da vida e no calor de irmatildeos (magia)

Como um animal que sabe da floresta (memoacuteria)

Redescobrir o sal que estaacute na proacutepria pele (macia)

Redescobrir o doce no lamber das liacutenguas (magia)

Redescobrir o gosto e o sabor da festa (magia)

Vai o bicho homem fruto da semente (memoacuteria)

Renascer da proacutepria forccedila proacutepria luz e feacute (memoacuteria)

Entender que tudo eacute nosso sempre esteve em noacutes (histoacuteria)

Somos a semente ato mente e voz (magia)

Natildeo tenha medo meu menino bobo (memoacuteria)

Tudo principia na proacutepria pessoa (lembranccedila)

Vai como a crianccedila que natildeo teme os tempos (misteacuterio)

Amor se fazer eacute tatildeo prazer que eacute como fosse dor (magia)

10

2HISTOacuteRIA E CLASSIFICACcedilAtildeO DOS BRINQUEDOS CANTADOS

Os brinquedos cantados surgem na espontaneidade da cultura popular

Geralmente satildeo cantigas anocircnimas acompanhadas de movimentos expressivos

saltitantes e ou dramatizados

O brincar eacute uma forma de manifestaccedilatildeo caracteriacutestica da infacircncia entretanto

como afirma Huizinga (1980) a essecircncia do jogo eacute o prazer ele ultrapassa os

limites da realidade fiacutesica e assim se aplica a qualquer fase da vida

Os termos brincar e jogar satildeo referenciados como sinocircnimos por Cascudo

(1988) e Ferreira A (1988) Nos principais idiomas internacionais (Inglecircs Francecircs

Alematildeo e espanhol) brincar e jogar tambeacutem servem para definir atividades

artiacutesticas como a interpretaccedilatildeo teatral ou musical (Santa Roza1993)

Na liacutengua portuguesa o termo brincar vem do latim vinculum e significa

laccedilo uniatildeo No entanto eacute o termo luacutedico da nossa liacutengua tambeacutem proveniente do

latim ludus que melhor abrange e define as atividades artiacutesticas

culturais brincadeiras e jogos(ibid)

Nos divertimentos tradicionais infantis encontra-se os jogos de ronda

cantados declamados ritmados ou natildeo de movimento etc Brinquedo eacute ainda o

objeto material usado para brincar como o carro a boneca Diz-se tambeacutem da

proacutepria accedilatildeo de brincar (de cabra cega de chicotinho queimado e etc)

(Cascudo1988)

11

Dos trecircs povos que inicialmente formaram a cultura brasileira o

portuguecircs trouxe maior influecircncia para os brinquedos cantados os quais sofreram

modificaccedilotildees de acordo com a cultura local (Cascudo1988) Diga-se ainda que os

ritmos e danccedilas africanas juntamente com a alegria e marcaccedilatildeo ritmica-corporal

indiacutegena deu um tempero mais brejeiro ao legado luacutedico brasileiro

21BRINCAR

Como sonhar acordado brincar eacute expor-se de dentro para fora traduccedilatildeo

das impressotildees da crianccedila sobre o mundo que a cerca e os seus sentimentos

O brincar se desenvolve junto com o amadurecimento do sujeito as etapas iniciais

vatildeo perdendo o significado para o acreacutescimo do novo modo de explorar cada vez

mais elaborado

Todos os povos tecircm suas brincadeiras pertinentes agraves necessidades

expressivas de cada cultura O tempo se encarrega de transformar suas estruturas

mas eacute certo que as crianccedilas precisam de tempo espaccedilo e companheiros para

brincar

Sheridam (1990) classifica as brincadeiras em ativas exploratoacuterias

manipulativas imitativas construtivas faz-de-conta jogos com regras recreaccedilotildees

sofisticadas Este trabalho prioriza os brinquedos cantados que na praacutetica

psicomotora revelam valores e costumes culturais pontos de referecircncia para a

comunicaccedilatildeo e o relacionamento com o outro Estas manifestaccedilotildees envolvem a

emoccedilatildeo e o movimento que permeados pela muacutesica burlam as defesas e fazem

12

aflorar a essecircncia do ser

Os brinquedos cantados se inserem nas diversas formas de

classificaccedilatildeo pois em face de sua riqueza dinacircmica satildeo brincadeiras ativas

(exChep Chep) imitativas(ex Samba Lecirc Lecirc) construtivas(exA minha velha tem)

priorizam o faz-de-conta conteacutem regras especiacuteficas e vatildeo desde as mais simples

como ldquoAtirei o pau no gatordquo ateacute as mais elaboradas como ldquoA linda rosa juvenilrdquo1

Lapierre e Aucoutourrier (1986p29) pontuaram que ldquoA expressatildeo sonora

estaacute necessariamente ligada agrave relaccedilatildeo com o outrordquo sabe-se que ainda na barriga

da matildee a funccedilatildeo auditiva se instaura no embriatildeo e ele ouve os batimentos

cardiacuteacos dele e da matildee e todo um mundo de sons atraveacutes do liacutequido amnioacutetico

Eacute a relaccedilatildeo com o outro atraveacutes dos sons que situa a crianccedila no espaccedilo no tempo

e no afeto

22 MUSICAR

Segundo Gainza (1988) ldquoa accedilatildeo musical implica num movimento

seja das cordas vocais e do aparelho fonador naquele que fala ou canta seja do

proacuteprio corpordquo No uacuteltimo caso o corpo aparece como instrumento produtor de

som ou se prolonga atraveacutes de um instrumento musical propriamente ditordquo

Sob a oacutetica musical as teorias apontam para as estruturas fiacutesico-sonoras

Encontra-se nestas a formaccedilatildeo de todo contexto musical que eacute igualmente

1 PAIVA Ione Maria R de BRINQUEDOS CANTADOS 1998 p25416383

13

correspondente para os brinquedos cantados Fala-se entatildeo dos elementos

inevitaacuteveis de qualquer muacutesica Ritmo Melodia Harmonia Eis a definiccedilatildeo de

Costa(1989p61) ldquoNuma definiccedilatildeo muito simples muacutesica eacute a organizaccedilatildeo de

relaccedilotildees entre sonoridades simultacircneas ou natildeo no decorrer do tempo Sons e

silecircncios satildeo combinados e encadeados entre si formando ritmos melodias e

harmoniasrdquo

O ritmo eacute basicamente a ordenaccedilatildeo do movimento formando um elo

entre espaccedilo e tempo A melodia eacute uma sequumlecircncia de sons notas musicais graves

e agudas A harmonia eacute a verticalidade ou a simultaneidade dos sons parte mais

intelectualizada da muacutesica(Costa opcit mesma paacutegina)

As muacutesicas infantis em geral acompanham o desenvolvimento afetivo

motor cognitivo e social da crianccedila Observa-se que existem brinquedos cantados

mais simples contendo siacutelabas repetitivas estrutura musical miacutenima e que satildeo

preferidos pelas crianccedilas entre 2 e 3 anos por ex

CAI CAI BALAtildeO(folclore)2

Cai cai balatildeo cai cai balatildeo aqui na minha matildeo

Natildeo vou laacute natildeo vou laacute natildeo vou laacute tenho medo de apanhar

A muacutesica dos brinquedos cantados altera a sensibilidade o humor faz

aflorar a criatividade a expressividade do corpo e da alma revelando as habilidades

e dificuldades da crianccedila se convertendo entatildeo em instrumento de trabalho na

psicomotricidade

2 MARTINS Armando TOQUE VIOLAtildeO OU GUITARRA(meacutetodo praacutetico) 1980p88

14

23MOVIMENTAR

Do choro aos acalantos (muacutesicas de ninar) dos cantos culturais as

brincadeiras-de-roda haacute uma trajetoacuteria que vincula o som da voz ao movimento

corporal conforme afirma Fregtman(1988p17) isto ocorre ldquoporque a muacutesica eacute

feita dita tocada e cantada como manifestaccedilatildeo corporalrdquo

Toda forma de comunicaccedilatildeo se daacute atraveacutes de coacutedigos estabelecidos

linguagens por assim dizer Fregtman (opcit) conceitua a partir da musicoterapia

que trecircs niacuteveis de manifestaccedilatildeo expressiva simultacircneos podem se dar quando

usamos a muacutesica Satildeo eles

1) Linguagem sonora (sons silecircncios entonaccedilotildees melodias ritmos)

2) Linguagem corporal (gestos posturas trejeitos tipos de movimentos)

3) Linguagem verbal (a fala a letra a poesia)

Apenas para efeitos didaacuteticos se consegue separar estes trecircs niacuteveis de

linguagem A linguagem sonora necessariamente traacutes expressotildees corporais

estimula a emoccedilatildeo que se revela atraveacutes dos gestos posturas movimentos voz e

etc A linguagem corporal responde ao chamado verbal ou musical os quais soam

determinados significados simboacutelicos apreendidos nas relaccedilotildees soacutecio-afetivas E

por fim a linguagem verbal eacute inserida para nomear as accedilotildees sejam elas musicais

ou corporais

15

Os brinquedos cantados satildeo tambeacutem conceituados mediante sua aplicaccedilatildeo

em determinadas funccedilotildees na recreaccedilatildeo Os brinquedos cantados podem ser de

marcha de grupos opostos de palmas de roda de ninar ou alternados

Modificaccedilotildees diversas quanto ao andamento (lento moderado raacutepido) agrave formaccedilatildeo

(rodas simples complexas fileiras) e agrave movimentaccedilatildeo dos brinquedos cantados

(marcha roda dramatizaccedilatildeo) satildeo descritas por Leitatildeo(2001)

Neste trabalho prioriza-se os acalantos e as brincadeiras-de-roda tendo

em vista que a populaccedilatildeo estudada crianccedilas de 0 agrave 7 anos podem ser atendidas

em suas necessidades de acolhimento afetivo comunicaccedilatildeo expressiva e

socializaccedilatildeo atraveacutes destes elementos A Simbologia do movimento de Lapierre amp

Aucoutourrier (1986p41) sustenta o nosso pensamento atraveacutes da seguinte

citaccedilatildeo ldquoA muacutesica pode nos ajudar muito a redescobrir essa dimensatildeo do

movimento desde que natildeo seja restringida aos estereotipos da lsquodanccedilarsquo mesmo a

lsquoexpressivarsquo ldquo

ldquoO JACAREacuterdquo (folclore)3

O jacareacute o jacareacute o jacareacute eacute amigo ele eacute

Oi jacareacute oi jacareacute vem caacute cumpadre que a lagoa natildeo daacute peacute

O jacareacute tem os olhos muito grandes tem o rabo muito grande

Mas as pernas satildeo curtinhas

O jacareacute tem a boca muito grande tem os dentes muito grande

mas as pernas satildeo curtinhas

3 Recolhido atraveacutes da cultura oral

16

3O DESENVOLVIMENTO INFANTIL SEGUNDO PIAGET

Para Piaget (2003) o conhecimento eacute o resultado das accedilotildees e

relacionamentos do sujeito com o ambiente em que vive e vai sendo elaborado

desde o nascimento ateacute suas vivecircncias com os objetos pessoas e situaccedilotildees que

procura conhecer sejam elas do mundo fiacutesico ou cultural

Este autor formulou importantes conceitos que explicam o

desenvolvimento das funccedilotildees cognitivas A interaccedilatildeo entre a assimilaccedilatildeo

(informaccedilotildees do mundo exterior recebidas atraveacutes dos sentidos movimento de fora

para dentro) e a acomodaccedilatildeo (informaccedilatildeo processada respostas dadas ao mundo

exterior movimento de dentro para fora) sobre uma accedilatildeo satildeo validadas pelo

processo de equilibraccedilatildeo (Piagetopcit)

As perturbaccedilotildees exteriores se mostram a crianccedila a partir do que ela natildeo

conhece assim oportunizadas pelo processo de equilibraccedilatildeo e por meio de suas

atividades vai respondendo a estas perturbaccedilotildees vencendo a mais uma etapa

cognosciacutevel A equilibraccedilatildeo eacute dinacircmica e nunca cessa ela norteia a passagem de

um conhecimento ao outro(Piaget2003)

Dois outros conceitos Piagetianos satildeo imprescindiacuteveis ao tenro

desenvolvimento infantil e encontra-se nos brinquedos cantados uma forma

espontacircnea de vivenciaacute-los A Imitaccedilatildeo e a noccedilatildeo de Permanecircncia do Objeto

17

Imitaccedilatildeo Eacute na gecircnese da imitaccedilatildeo que inicia o movimento luacutedico da crianccedila

Imitando o meio e as pessoas ao seu redor a crianccedila apreende e treina suas novas

aquisiccedilotildees Ferreira I(1994 p47) afirma que ldquoA imitaccedilatildeo eacute uma das manifestaccedilotildees

da funccedilatildeo simboacutelica Constitui-se num dos elementos baacutesicos que permitem a

crianccedila uma assimilaccedilatildeo de realidade ao seu proacuteprio ldquoeurdquo bem como Acomodaccedilatildeo

de suas estruturas mentais e de accedilatildeo agraves exigecircncias da realidade fiacutesica e socialrdquo

Para haver o ato imitativo eacute necessaacuterio um modelo Alguns brinquedos

cantados propotildeem accedilotildees simboacutelicas que copiam o mundo adulto sem impor aos

pequenos o fardo da responsabilidade que este teria na realidade Eis um exemplo

interessante onde as crianccedilas imitam os afazeres dos mais velhos

PASSA PASSA GAVIAtildeO(folclore)4

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

As lavadeiras fazem assim

Assim assim assim assim

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

As passadeiras fazem assim

Assim assim assim assim

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

As cozinheiras fazem assim assim assim

Assim assado carne seca com ensopado

4 Recolhido atraveacutes da cultura oral

18

Objeto permanente Nos primeiros dois anos de vida a crianccedila apresenta um

comportamento em constante adaptaccedilatildeo pois estaacute sempre se modificando para

responder aos estiacutemulos do meio A crianccedila inicialmente natildeo tem noccedilatildeo da

permanecircncia dos objetos ela pensa que eles soacute existem enquanto estatildeo ao

alcance dos seus olhos caso sejam escondidos a sua frente acharaacute que estes

acabaram ou se desintegraram Entre os 18 e 24 meses a crianccedila jaacute consegue

elaborar mais este conhecimento e apesar de natildeo vecirc-lo ouvi-lo ou tocaacute-lo ela vai

compreender que os objetos independem da sua vontade e presenccedila para

existirem

Para melhor apreensatildeo da realidade fiacutesica a praacutetica pelo ensaio e erro ou

aparecer desaparecer vatildeo treinar e orientar os pequenos na aquisiccedilatildeo das noccedilotildees

de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo da realidade como

afirma FerreiraI(1994p35) ldquoO esquema do objeto permanente eacute baacutesico para a

construccedilatildeo das noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidaderdquo

Observe que as crianccedilas nesta fase gostam das brincadeiras de

esconde-esconde que amenizam suas anguacutestias sobre a existecircncia ou natildeo dos

objetos reais Seu proacuteprio corpo eacute posto agrave prova escondendo o rosto ou as matildeos

atraacutes de uma almofada por exemplo A muacutesica das palminhas talvez possa auxiliar

nesta etapa

19

PALMINHAS PALMINHAS (folclore)5

Palminhas palminhas nos vamos bater

Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconder

Em cima em cima noacutes vamos bater

Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconde

Assim assim pra traacutes esconder

Em baixo em baixo noacutes vamos bate

Depois as matildeozinhas pra traacutes esconde

Assim assim pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconder

Os conceitos estudados ateacute aqui se realizam dentro dos estaacutegios do

desenvolvimento organizados por Piaget Passar-se-aacute neste momento agrave elucidaccedilatildeo

dos estaacutegios pertinentes agrave faixa etaacuteria da populaccedilatildeo pesquisada nesta monografia

estaacutegios Sensoacuterio-motor e Preacute-operacional

31ESTAacuteGIO SENSOacuteRIO MOTOR (0 agrave 2 anos) Estaacutegio que vai do nascimento

ateacute a aquisiccedilatildeo da linguagem e eacute dividido em 6 sub estaacutegios Esta eacute a fase do

comportamento inteligente antes da aquisiccedilatildeo da linguagem a crianccedila organiza a

informaccedilatildeo obtida atraveacutes dos sentidos e desenvolve respostas aos estiacutemulos

5 Recolhido atraveacutes da cultura oral

20

ambientais com comportamento adaptativo e constante modificaccedilotildees dos

esquemas de accedilatildeo em resposta ao meio A aquisiccedilatildeo mais importante deste

periacuteodo eacute o Objeto Permanente Manifesta-se ainda a imitaccedilatildeo que alcanccedilaraacute o

seu auge no proacuteximo estaacutegio

1ordm Sub Estaacutegio ndash Exerciacutecio dos reflexos (0 a 1 mecircs) Do alto da sua imaturidade

bioloacutegica a crianccedila se relaciona com o meio atraveacutes dos movimentos reflexos

hereditaacuterios que se aprimoram pelo exerciacutecio tornando-se cada vez mais

eficientes Ainda natildeo haacute a distinccedilatildeo entre o eu e o outro

2ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular primaacuteria (1 a 4 meses)Esta eacute a fase das

primeiras acomodaccedilotildees onde os exerciacutecios reflexos se transformam em esquemas

e comeccedilam a coordenar seus movimentos Inicia-se a construccedilatildeo dos primeiros

esquemas vocais A noccedilatildeo de tempo eacute primitiva sua duraccedilatildeo soacute eacute sentida no

decorrer da proacutepria accedilatildeo O final do periacuteodo eacute marcado pela coordenaccedilatildeo entre trecircs

esquemas fundamentais audiccedilatildeo fonaccedilatildeo e visatildeo

3ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular secundaacuteria (4 a 8 meses) O bebecirc apresenta

um maior interesse pelo mundo externo os esquemas se diferenciam surgindo

novos esquemas de coordenaccedilatildeo viso-motora unindo-se as aquisiccedilotildees jaacute

realizadas Os movimentos comeccedilam a ser repetido pelo prazer da repeticcedilatildeo

Observa-se o iniacutecio da noccedilatildeo do Objeto Permanente entretanto ela estaacute

condicionada ao movimento da crianccedila pois as coisas ainda natildeo seguem uma

trajetoacuteria independente

21

4ordm Sub Estaacutegio ndash Coordenaccedilatildeo de esquemas secundaacuterios (8 a 12 meses)

Caracteriza-se pelas primeiras condutas propriamente inteligentes surgindo

adaptaccedilotildees sensoacuterio-motoras intencionais onde o bebecirc combina esquemas

conhecidos a novas situaccedilotildees e ainda diferencia os meios e os fins de uma accedilatildeo

Aparece nesta fase o comportamento antecipatoacuterio caso o bebecirc veja sua matildee se

afastar chora a imitaccedilatildeo de sons e accedilotildees satildeo agora intencionais e

conscientizadas no entanto ainda condicionadas ao esquema visual Revelam-se

os primoacuterdios da memoacuteria e da representaccedilatildeo mental Comeccedila a permanecircncia do

objeto independente do ldquoeurdquo Quanto agrave noccedilatildeo de espaccedilo e tempo a crianccedila

comeccedila a ordenar os proacuteprios deslocamentos em relaccedilatildeo aos objetos

5ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular terciaacuteria (12 a 18 meses) A crianccedila gradua

seus movimentos varia e experimenta novos padrotildees de comportamento

observando os diferentes efeitos da sua accedilatildeo sobre o objeto o qual jaacute eacute dotado de

permanecircncia Pode-se afirmar que o mecanismo da inteligecircncia praacutetica estaacute

definitivamente constituiacutedo A cada estruturaccedilatildeo da inteligecircncia corresponde uma

nova estruturaccedilatildeo do espaccedilo do tempo da causalidade etc Agindo por ldquoensaio e

errordquo os resultados das accedilotildees ainda satildeo por acaso pois as representaccedilotildees

mentais de fatos externos ainda natildeo se incluem ou seja o pensamento ainda natildeo

estaacute formado

22

6ordm Sub Estaacutegio ndash A invenccedilatildeo dos novos meios por combinaccedilatildeo

mental (18 a 24 meses) Esta fase caracteriza o momento de transiccedilatildeo entre a

inteligecircncia praacutetica (sensoacuterio-motora) e a inteligecircncia representativa quando

comeccedila a funccedilatildeo simboacutelica Inicia-se a representaccedilatildeo mental imaginativa e criativa

No jogo simboacutelico a crianccedila usa siacutembolos na linguagem e na brincadeira do faz-deshy

conta recorda-se de fatos passados e os representa depois de algum tempo O

final deste periacuteodo eacute marcado pela primeira noccedilatildeo de conservaccedilatildeo(FerreiraI1994)

Os primeiros anos de vida da crianccedila satildeo marcados pelas inuacutemeras

formaccedilotildees e transformaccedilotildees fiacutesicas mentais e emocionais conforme descritas

acima Os acalantos (muacutesicas de ninar) satildeo cantados por matildees de todo o mundo

numa primeira inserccedilatildeo da crianccedila ao universo musical de sua cultura Eles

exercem um poderoso papel de auxiacutelio agrave maternagem acolhendo-a afetuosamente

condiccedilatildeo baacutesica para que a crianccedila se sinta suficientemente amada para

prosseguir desenvolvendo-se Este tema seraacute melhor explanado nos proacuteximos

capiacutetulos Por hora parece oportuno um exemplo de acalanto

TUTU MARAMBAacute(folclore)6

Tutu marambaacute

Natildeo venha mais caacute

Que o pai do menino

Te manda mata

6 MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute PRECISO CANTAR Musicoterapia cantos e canccedilotildees2001p38

23

32ESTAacuteGIO PREacute-OPERACIONAL (2 agrave 7 anos) A crianccedila vive um tempo em que

usa a intuiccedilatildeo ela passa todos os seus atos para o pensamento sob a forma de

imagens e diante de uma situaccedilatildeo praacutetica suas respostas vatildeo se basear no que

ela vecirc sente mexe ou seja nas aparecircncias dos fatos que observa A crianccedila

possui a capacidade de representar uma coisa por outra e esta representaccedilatildeo

pode se dar por um gesto um desenho uma palavra etc A verbalizaccedilatildeo tem

destaque neste periacuteodo e a linguagem conduz agrave socializaccedilatildeo das accedilotildees Este

estaacutegio compreende duas formas de pensamento a saber O Pensamento

Simboacutelico e o Pensamento Intuitivo

Pensamento simboacutelico (2 agrave 4 anos) Para Piaget a funccedilatildeo simboacutelica consiste na

capacidade da crianccedila representar objetos e fatos conhecidos poreacutem ausentes por

um substituto qualquer seja este concreto ou imaginaacuterio Uma caracteriacutestica

fundamental desta fase eacute a diferenciaccedilatildeo entre significante e significado que eacute

manifestada por vaacuterias condutas sendo elas O jogo simboacutelico ou faz-de-conta a

imitaccedilatildeo o desenho a imagem mental a linguagem a criatividade etc Para

ldquosignificanterdquo leia-se objeto concreto e para ldquosignificadordquo a ideacuteia compreensiva do

que foi percebido (Piaget 2003)

Sobre a funccedilatildeo simboacutelica FerreiraI(1994p43) complementa ldquoA funccedilatildeo

simboacutelica pode ser considerada uma linguagem individual e particular da crianccedila

usada para compreender e representar o mundo O siacutembolo eacute subjetivo e aos

poucos vai sendo substituiacutedo por signos da linguagem socialrdquo

24

O pensamento infantil encontrado entre os 2 e 7 anos de idade eacute

egocentrado A visatildeo da realidade eacute centrada no ponto de vista do proacuteprio sujeito

sendo este incapaz de relacionaacute-lo ou de coordenaacute-lo a pontos de vistas diferentes

do seu

A aquisiccedilatildeo da linguagem tem destaque nesta fase e coincide com a

formaccedilatildeo do jogo simboacutelico que melhor se manifesta no jogo do faz-de-conta

Atraveacutes do que discute Ferreira I (1994p43) ldquoOs siacutembolos podem ser

socializados como os brinquedos coletivos e se tornar um siacutembolo coletivordquo

confirma-se mais uma vez que os estes elementos apresentam extrema valorizaccedilatildeo

soacutecio-afetiva e cultural Com a ludicidade que lhe eacute peculiar os brinquedos

cantados nesta fase encantam ensinam desenvolvem a memoacuteria a auto estima

o esquema corporal a imagem corporal a Coordenaccedilatildeo Motora a socializaccedilatildeo

entre outras funccedilotildees essenciais agrave formaccedilatildeo dos pequenos Eis um bom exemplo

O GIGANTE E O ANAtildeO(autor desconhecido)7

O peacute do gigante eacute grande

Do anatildeo pequenininho

O gigante pisa forte

O anatildeo pisa mansinho

O gigante fala grosso

O anatildeo fala fininho

Porque gigante come muito

E o anatildeo come pouquinho

7 Recolhido atraveacutes da cultura oral

25

Pensamento Intuitivo (4 agrave 7 anos) Subdividido em Intuitivo Simples e Intuitivo

Articulado eacute um estaacutegio marcado pela crescente formaccedilatildeo de conceitos O

pensamento intuitivo eacute uma espeacutecie de accedilatildeo executada em pensamento encaixar

seriar deslocar etc

A crianccedila no intuitivo simples representa mentalmente assimila e entende

o mundo real poreacutem de forma limitada pois soacute consegue coordenar um uacutenico

ponto de vista com base nas aparecircncias do que vecirc Centrado em si mesmo natildeo

admite a reversibilidade falta-lhe ainda a noccedilatildeo de conservaccedilatildeo das substacircncias

Quando se pede agrave crianccedila para desenhar ela desenha o que sabe e natildeo

o que vecirc Este egocentrismo que lhe eacute peculiar deveraacute evoluir para a

descentraccedilatildeo bem como haveraacute progressos nas diversas etapas cognitivas

(classificar seriar etc) Ao final do pensamento intuitivo articulado a crianccedila

comeccedila a levantar duacutevidas e questionamentos percebendo a mobilidade das

situaccedilotildees

ldquoA BARATArdquo(folclore)8

A barata diz que tem 7 saias de filoacute

Eacute mentira da barata ela tem eacute uma soacute

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute

A barata diz que tem um anel de formatura

Eacute mentira da barata ela tem eacute casca dura

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura

8 PAIVA Ione Maria R de OPCITp80

26

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura

A barata diz que dorme numa cama de cetim

Eacute mentira da barata ela dorme eacute no capim

Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim

Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim

Na muacutesica da barata as crianccedilas ironizam a tentativa de mentir deste

inseto A propoacutesito das ldquomentirinhasrdquo contidas nas brincadeiras infantis funcionam

como passaporte para a experimentaccedilatildeo do que eacute verdadeiro e real As palavras

de cascudo(1988p491) discorrem sobre os deslimites da mentira ldquoAs estoacuterias

mentirosas() satildeo muito populares e constituem um gecircnero especial onde a

imaginaccedilatildeo exagerada e livre se liberta dos limites da loacutegicardquo Acredita-se que as

crianccedilas exigem a verdade para terem o domiacutenio do que aprendem

33OS JOGOS POR PIAGET

ldquoPiaget vecirc no jogo um processo de ajuda ao desenvolvimento da crianccedila

acompanha-a sendo ao mesmo tempo uma atividade consequumlente de seu proacuteprio

crescimentordquo(Negrine1994p45) A leitura dos jogos em Piaget acompanha o

desenvolvimento integral do homem a inteligecircncia a afetividade a motricidade e a

sociabilidade satildeo vivenciadas nos jogos sendo a afetividade a funccedilatildeo que constitui

a energia necessaacuteria para a progressatildeo psiacutequica moral intelectual e motora

daquele que joga

Trecircs classificaccedilotildees baacutesicas do jogo satildeo mostradas na teoria

27

psicogeneacutetica de Piaget Jogos de exerciacutecio Jogos simboacutelicos e jogos de regra

Jogos de Exerciacutecio Ou jogos sensoacuterio-motores que aparecem no periacuteodo do

mesmo nome natildeo chegam a constituir sistemas luacutedicos independentes e

construtivos Sua motivaccedilatildeo se daacute pelo prazer funcional ou pelo prazer produzido

pela tomada de consciecircncia de suas novas capacidades

Os jogos motores ou de exerciacutecios satildeo aqueles que envolvem

diretamente a participaccedilatildeo ativa do corpo como um todo inclui-se ainda os jogos

sensoriais que ajudam a desenvolver os oacutergatildeos dos sentidos

A crianccedila nesta fase gosta de brincar com brinquedos que manipula

repetidas vezes explorando toda sua superfiacutecie Brincar de esconder o rosto ou os

objetos atirar e pegar brinquedos eacute prazeroso para a crianccedila ao mesmo tempo

que assimila as noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo

da realidade

Os estiacutemulos sensoriais tambeacutem fazem parte do seu interesse objetos

de diversas cores e texturas brinquedos sonoros muacutesica para ouvir acalentar

danccedilar e brincar desta forma explora o reconhecimento do eu do outro e dos

objetos

O jogo de exerciacutecio eacute o primeiro a aparecer no comportamento da

crianccedila explicitamente do 2ordm ao 5ordm estaacutegio do desenvolvimento sensoacuterio motor por

oposiccedilatildeo ao 6ordm estaacutegio onde se inicia o jogo simboacutelico(Negrine 1994)

28

ATIREI O PAU NO GATO(Folclore)9

Atirei o pau no ga-to-to mas o ga-to-to

Natildeo morreu- rreu- rreu dona chica-ca-ca

Admirou- se se do berro do berro

Do berro que o gato deu Miau

Jogos Simboacutelicos Em princiacutepio do ponto de vista de Piaget a diferenccedila entre os

jogos simboacutelicos e os de exerciacutecio intelectual consiste em que os primeiros se

referem ao pensamento

Os jogos simboacutelicos tem iniacutecio no 6ordm estaacutegio do periacuteodo sensoacuterio-motor

e se continua aproximadamente dos 2 aos 4 anos de idade cronoloacutegica ou do 1ordm

estaacutegio do preacute-operacional(fase simboacutelica) ateacute o iniacutecio do 2ordm estaacutegio do preacuteshy

operacional(fase intuitiva) Piaget apud Negrine(1994p41) deixa claro a

supremacia dos jogos simboacutelicos em detrimento dos anteriores

ldquoO esquema simboacutelico por si mesmo eacute suficiente para

assegurar a superioridade da representaccedilatildeo sobre

uma accedilatildeo pura nesta segundo Piaget o jogo

permite assimilar o mundo exterior ao eu como meio

infinitamente mais poderoso que o de simples exerciacuteciordquo

Como aparecem antes da linguagem verbal propriamente dita os jogos

simboacutelicos satildeo representados nas imagens mentais da crianccedila e vivenciados

atraveacutes dos gestos onomatopeacuteias pelo prazer de brincar com o faz-de-conta

9 MILLLECCO FILHO Luiacutes A e outros OPCIT p43

29

Nesta fase os acalantos vatildeo perdendo sua importacircncia dando lugar agraves

brincadeiras-de-roda os pequenos ao mesmo tempo em que aprendem a falar

aprendem a cantar as brincadeiras-de-roda tem a propriedade de enriquecerem o

repertoacuterio de palavras e movimentos

Jogos de Regras Os jogos de regras natildeo seguem o mesmo itineraacuterio dos

anteriores pois comeccedilam a aparecer na metade do 2ordm estaacutegio do periacuteodo preacuteshy

operacional isto eacute dos 4 aos 7 anos e principalmente no periacuteodo das operaccedilotildees

concretas dos 7 aos 12 anos Pesquisaremos como ocorrem os jogos de regra ateacute

os 7 anos pela delimitaccedilatildeo da populaccedilatildeo que esta monografia abrange

Dos 4 aos 7 anos periacuteodo preacute operacional intuitivo surgem os jogos de

regra que substituiratildeo o siacutembolo e enquadraratildeo o exerciacutecio no momento em que se

constituem de forma incipiente certas relaccedilotildees sociais(Piaget2003)

Com relaccedilatildeo as regras segundo Piaget apud Negrine

(1994p44)distinguem-se dois tipos transmitidas e espontacircneas As regras

transmitidas se referem aos jogos institucionais que se impotildeem por pressatildeo das

geraccedilotildees anteriores As espontacircneas se referem aos jogos de natureza contratual e

momentacircnea isto eacute procedem da socializaccedilatildeo dos jogos de simples exerciacutecios ou

dos simboacutelicos

30

Na cantiga de roda ldquoCiranda cirandinhardquo destaca-se o desenvolvimento

da roda e ao final as regras uma imposta (entrar na roda e dizer um verso) outra

espontacircnea (serve qualquer verso criado na hora ou jaacute existente) Outra versatildeo

desta mesma cantiga para crianccedilas menores pede ldquofaccedila um gesto bem bonito

diga adeus e vaacute se emborardquo A liberdade de criar um gesto verso a importacircncia de

estar no meio da roda como centro das atenccedilotildees e a valorizaccedilatildeo dos

companheiros satildeo o impulso para a espontaneidade e o crescimento da autonomia

do ser

CIRANDA CIRANDINHA(folclore)10

Ciranda cirandinha vamos todos cirandar

Vamos dar a meia volta volta e meia vamos dar

o anel que tu me destes era vidro e se quebrou

o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou

Por isto sinhaacute Maria entre dentro desta roda

Diga um verso bem bonito diga adeus e vaacute se embora

Os conceitos estudados neste capiacutetulo podem orientar sobre o tempo

mental da crianccedila e a possibilidade de oferecer estiacutemulos adequados ao seu

momento Como uma boa buacutessola natildeo conteacutem apenas o norte

10 MARTINS Armando OPCITp105

31

4O BRINCAR E A REALIDADE WINNICOTTEANA

A partir da premissa de que natildeo se pode dividir o ser humano em

classificaccedilotildees bioloacutegicas e psiacutequicas posto que este eacute uma unidade indivisiacutevel

formulou-se apenas para efeitos didaacuteticos no capiacutetulo anteriorum olhar mais

fiacutesico(cognitivo) do desenvolvimento infantil atraveacutes de Piaget Discutir-se-aacute neste

capiacutetulo o ponto de vista Winnicotteano sobre a vida emocional e o brincar

Nos brinquedos cantados a arte de brincar se mistura a arte de cantar e

eacute fazendo ldquoArtesrdquo que a crianccedila dar-se a ver e a crescer A partir deste tema

instigante e universal que eacute o brincar torna-se mais prazeroso ainda falar sobre ele

depois de conhecer os estudos do Drordm Winnicott

D W Winnicott pediatra psicanalista psicoterapeuta inglecircs e defensor

da Ludoterapia nasceu no comeccedilo do seacuteculo 20 produzindo uma vasta obra

cientiacutefica ateacute os anos 70 quando nos deixou Em seu livro ldquoO Brincar e

Realidaderdquo(1975) se preocupou com os primoacuterdios da vida imaginativa da

experiecircncia cultural em todos os sentidos da relaccedilatildeo das artes com o brincar e da

criatividade

Neste momento parece relevante abordar alguns dos conceitos teoacutericos

do DrordmWinnicott atraveacutes da obra mencionada pelo suporte que podem

proporcionar agrave compreensatildeo da vida psiacutequica mediante o brincar e a terapia Em

32

Conceitos e contornos ilustrar-se-aacute o Objeto transicional Fenocircmeno transicional

Matildee suficientemente boa Aacuterea intermediaacuteria e o Eu(Self) circundando a

importacircncia destes conceitos em relaccedilatildeo aos brinquedos cantados e sua aplicaccedilatildeo

na cliacutenica psicomotora

41CONCEITOS E CONTORNOS

Objeto Transicional Eacute o objeto concreto relativo agrave exploraccedilatildeo pulsional (descarga

impulsiva) do sujeito por exemplo uma boneca ou um carrinho

Fenocircmeno Transicional Satildeo as accedilotildees relativas agrave exploraccedilatildeo pulsional ou o uso

que se faz dos objetos transicionais Ex Um carrinho pode ser acalentado como se

fosse um bebecirc

Matildee Suficientemente Boa Pessoa que ocupa o lugar de suporte afetivo no

desenvolvimento global da crianccedila tambeacutem associada por ele a figura do

terapeuta

Em outras palavras o amor da matildee ou do terapeuta

natildeo significaria apenas um atendimento agraves necessidades

da dependecircncia mas vem a significar a concessatildeo

de oportunidades que permita ao bebecirc ou ao paciente

passar da dependecircncia para a autonomia

(Winnicott1975p150)

33

Aacuterea Intermediaacuteria Aacuterea neutra de experimentaccedilatildeo vivencial entre as realidades

internas e externas do sujeito que favorece a dialeacutetica do brincar e das artes O

dito autor parece supor um espaccedilo de refuacutegio para a resoluccedilatildeo dos conflitos

humanos Eis aqui a referecircncia para tal colocaccedilatildeo

Presume-se aqui que a tarefa de aceitaccedilatildeo da realidade

nunca eacute completada que nenhum ser humano estaacute livre

da tensatildeo de relacionar a realidade interna e externa e

que o aliacutevio dessa tensatildeo eacute proporcionado por uma aacuterea

intermediaacuteria de experiecircncia(cf Riviere1936) que natildeo eacute

contestada (artes religiatildeo etc) Essa aacuterea intermediaacuteria

estaacute em continuidade direta com a aacuterea do brincar da

crianccedila pequena que se ldquoperderdquo no brincar

(Winnicottopcitp29)

A princiacutepio eacute difiacutecil falar dos brinquedos cantados como objetos

transicionais (concretos) porque natildeo satildeo exatamente vistos a olhos nus embora

sejam audiacuteveis Todavia qualquer muacutesico pode escrever em uma partitura o

brinquedo cantado (concreto e cantaacutevel) para tornaacute-lo visiacutevel

O ato de cantar uma muacutesica de roda ou um acalanto jaacute eacute a traduccedilatildeo do

fenocircmeno transicional Dar-se-aacute o uso que quiser a este brinquedo cantado no

momento de sua realizaccedilatildeo Se uma muacutesica de ninar for entoada com raiva ou

brutalidade eacute certo que traraacute temores ao bebecirc e natildeo o conforto a que se prestaria

Acalantos com este do ldquobicho papatildeordquo expotildee o perigo e propotildee acolhida pela

proteccedilatildeo materna

34

ldquoBICHO PAPAtildeO(folclore)11

Bicho Papatildeo sai de cima do telhado

Deixe o menino dormir sossegado

O Eu (Self) O Eu (Self) eacute o eu integral descrito por Winnicott(1975) em sua mais

pura essecircncia um eu que nasce na liberdade de expressatildeo na confianccedila baseada

nas experiecircncias vividas no suporte dos sentimentos Para este autor certas

condiccedilotildees se fazem necessaacuterias na busca do Eu (Self) eacute o que se chama de

criatividade A criatividade pode defraglar e sustentar o ser integral

A vida sadia se mostra pelo impulso criativo O brincar eacute um instrumento

da criatividade sediado na ldquoaacuterea intermediaacuteriardquo (entre as artes e o luacutedico)

sustentado em seus primoacuterdios pela ldquomatildee suficientemente boardquo direcionado agrave

busca do ldquoEu (Self) Sobre a importacircncia das cantigas de roda nesta busca

podemos ler as contribuiccedilotildees de Millecco filho e outros (2001p44)

As cantigas de roda datildeo continuidade ao trabalho

de elaboraccedilatildeo de conflitos e agrave estrutura da pessoa

em desenvolvimento iniciado com os acalantos

() A roda aparece como uma representaccedilatildeo da

mandala expressatildeo geomeacutetrica do Self

11 Recolhido atraveacutes da cultura oral

35

A letra da muacutesica infantil ldquoa canoa virourdquo expotildee um problema e supotildee

uma soluccedilatildeo hipoteacutetica

A CANOA VIROU(folclore)12

A canoa virou vou deixar ela virar

Foi por causa da Maria que natildeo soube remar

Ah se eu fosse peixinho e soubesse nadar

Eu tirava a Marialaacute do fundo do mar

A accedilatildeo terapecircutica deve ser um modo de auxiliar uma pessoa a

vir a ser o que ela eacute capaz de ser O psicomotricista atua como facilitador no

desenvolvimento do potencial existente no sujeito Numa maternagem

suficientemente boa como fala Winnicott o psicomotricista relacional torna-se um

companheiro de jornada para as atitudes luacutedicas do seu paciente

As medidas de afeto e limites saudaacuteveis agraves necessidades do outro

devem ser reconhecidas e valorizadas Eacute o que se vecirc nas colocaccedilotildees de Winnicott

(1975p63) ldquoEm outros termos eacute a brincadeira que eacute universal e que eacute proacutepria da

sauacutede o brincar facilita o crescimento e portanto a sauacutede o brincar conduz aos

relacionamentos grupais o brincar pode ser uma forma de comunicaccedilatildeo na

psicoterapia()rdquo

12 MARTINS Armando OPCITp110

36

Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e

estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que

haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila

acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas

Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a

brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre

MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR

VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR

Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o

aprender com a danccedila do outro

ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

13 Recolhido atraveacutes da cultura oral

37

Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons

e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os

brinquedos cantados

5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE

Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma

nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o

corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se

utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia

e da linguumliacutestica

No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua

expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a

existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto

O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que

encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e

motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros

Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando

fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar

gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil

38

ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14

Eacute bom cantar eacute bom ouvir

Eacute bom pensar eacute bom sentir

Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor

Viajar dentro de si pra poder se descobrir

51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE

A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso

meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da

psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu

corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)

O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico

(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes

concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo

ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a

palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas

que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que

quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do

latim Corpusque significa tecido de membros envoltura

da alma embriatildeo do espiacuterito

14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000

39

Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na

Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto

que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo

cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a

motricidade com a inteligecircncia

Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam

em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento

humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o

movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila

De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de

segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio

Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se

no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo

de Guilman

O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num

corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo

toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico

emocional(Levin opcit)

O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor

Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em

movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica

40

psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre

outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da

pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de

Levin(opcit)

Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor

podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor

ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento

Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o

sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem

tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco

podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade

eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)

52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA

A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o

seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins

pedagoacutegicos (Levy2000)

A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se

do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos

transtornos evidenciados (Coste1992)

A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a

41

afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja

o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade

do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting

psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais

uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si

mesmo uma terapiardquo

As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas

psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema

corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade

Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo

estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees

cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito

As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de

algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A

coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar

pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos

dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para

andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes

visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a

existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa

caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc

No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a

42

primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave

vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos

cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas

psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a

expressividade e a emoccedilatildeo

O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas

psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se

confirmar por exemplo para treinar a escrita

As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar

iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da

brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo

dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da

cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas

pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar

Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora

relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de

cada uma delas

43

53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE

Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os

acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte

afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe

o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo

e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do

acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si

mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a

busca do eu (Self)

O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos

cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a

partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes

acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de

interesse da populaccedilatildeo pesquisada

Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil

geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo

continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em

desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza

simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos

conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo

44

As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia

cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o

relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano

infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a

Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda

assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia

oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria

soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo

Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as

com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da

referida estrutura

Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos

integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos

grandes segmentos (Coste1992)

Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro

expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo

corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a

habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa

O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se

movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os

movimentos enquanto observam os amigos

45

BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

Os braccedilos pra cima e pra baixo

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

As pernas pra frente e pra traacutes

Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo

preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo

motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada

diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do

grafismo (Coste1992)

A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas

brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as

palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a

crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos

Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos

fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca

do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes

15 Recolhido atraveacutes da cultura oral

46

das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa

de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas

ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16

123 indiozinhos 456 indiozinhos

789 indiozinhos 10 num pequeno bote

Vinham navegando pelo rio abaixo

Quando o jacareacute se aproximou

E o pequeno bote dos indiozinhos

Quase quase virou quase quase virou

mas natildeo virou

Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo

ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam

internas ou externas (Levin2001)

A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e

apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as

crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do

corpo que deseja mostrar

ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17

Cabeccedila ombro joelho e peacute

Joelho e peacute joelho e peacute

Olhos boca orelha e nariz

Orelha e nariz orelha e nariz

16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral

47

Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O

equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute

relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)

Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de

amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o

personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca

instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma

perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal

traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal

ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca o pandeirotoca como ele soacute

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca violatildeo toca como ele soacute

Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao

tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir

da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do

aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala

dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da

vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza

18 Recolhido atraveacutes da cultura oral

48

Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila

seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um

personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular

correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e

volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem

seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam

ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19

Anda anda anda macaquinho

Anda anda anda sem parar

Pula pula pula macaquinho

Pula pula pula ateacute cansar

Corre corre corre macaquinho

Corre corre corre sem parar

Deita deita deita macaquinho

Deita deita deita dorme ateacute sonhar

Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu

desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e

relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do

mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)

Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira

19 Recolhido atraveacutes da cultura oral

49

traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo

espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a

noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo

vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento

O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e

rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos

de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra

frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente

e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da

roda virem periquitos tambeacutem

Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem

no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras

visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas

ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20

Periquito periquito parece com papa

Periquito periquito parece com papa

Por baixo por cima pra frente e pra traacutes

Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo

ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo

temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a

20 Recolhido atraveacutes da cultura oral

50

estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus

movimentos e se organiza na vida cotidiana

Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo

que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo

humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre

ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos

acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo

A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da

chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo

dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio

ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21

A janelinha fecha quando estaacute chovendo

A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo

Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute

Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute

Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os

centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e

contralaterais (Coste1992)

21 Recolhido atraveacutes da cultura oral

51

A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento

psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e

assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute

organizada e natildeo mudaraacute mais

Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os

peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a

conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo

grupo disposto em roda

ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22

Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora

Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora

Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock

Assim eacute bem melhor

( e assim por diante com as demais partes do corpo)

Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o

modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder

apud Coste(1992)

A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a

organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo

mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do

22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57

52

desejo da matildee

A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan

apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros

tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e

de diferenccedila (ibid)

Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o

ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na

constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo

desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A

psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade

poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A

citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo

O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de

identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria

de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do

lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que

eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim

constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute

poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo

o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)

53

Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia

corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber

possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver

As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a

expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente

Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar

cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de

construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza

pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem

corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter

fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de

cantar danccedilar e brincar

54

ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23

Minha boneca de lata

Bateu com a cabeccedila no chatildeo

Levou mais de uma hora

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui pra ficar boa

Minha boneca de lata

Bateu com o pescoccedilo no chatildeo

Levou mais de duas horas

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui desamassa aqui

Pra ficar boa

Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho

o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do

corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez

horas de arrumaccedilatildeo propostas

23 Recolhido atraveacutes da cultura oral

55

6CONCLUSAtildeO

Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-

se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse

infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar

Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a

relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas

cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo

permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os

estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e

que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo

Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de

winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do

ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos

como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica

Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de

conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos

Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade

que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se

pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos

sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu

ldquoafetordquo

56

Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a

psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir

expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer

Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia

para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a

socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte

aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o

desenvolvimento das estruturas psicomotoras

Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a

essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado

pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando

o prazer de brincar cantar e ser feliz

57

BIBLIOGRAFIA

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Editora Sprint ltda 1996

WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975

Page 5: Brinquedos Cantados Na Psicomotricidade

4

AGRADECIMENTOS

Agrave Deus por permitir minha existecircncia neste mundo maravilhoso de muacutesicas e brincadeiras

Ao meu pai com muito amor

Aos meus irmatildeos e primos companheiros do brincar

Aos meus mestres em especial Fernando A Penza e Ronaldo Millecco (ambos in memorian) pelo

brilho inspirador do saber que eles deixaram em noacutes

Aos meus companheiros da poacutes-graduaccedilatildeo pelas vivecircncias parcerias e aprendizados

Aacute professora e amiga Cristie Campello pela apaixonante visatildeo da psicomotricidade

Agrave Musicoterapeuta Benita Michaeles por que a chama do nosso caminhar luacutedico continua viva

Agrave minha amiga conceiccedilatildeo costa pelo carinho e pela forccedila que sempre me deu

Ao meu orientador Nilson Guedes de Freitas por sua pedagogia afetuosa e acolhedora

Enfim agrave todos aqueles que participaram direta ou indiretamente deste trabalho

5

SUMAacuteRIO

1Introduccedilatildeo8

2Histoacuteria e classificaccedilatildeo dos brinquedos cantados11

21Brincar12

22Musicar13

23Movimentar15

3O desenvolvimento infantil segundo Piaget17

31Estaacutegio Sensoacuterio-motor20

32Estaacutegio Preacute-operacional24

33Os jogos por Piaget 27

4O brincar e a realidade Winnecotteana32

41Conceitos e contornos33

5Encantando a psicomotricidade37

51Breve histoacuteria da psicomotricidade39

52Educaccedilatildeo Reeducaccedilatildeo e Terapia psicomotora41

53Brinquedos cantados na psicomotricidade43

6Conclusatildeo55

Bibliografia57

Anexos59

6

RESUMO

Aborda-se neste trabalho a importacircncia e a contribuiccedilatildeo dos brinquedos

cantados na psicomotricidade com crianccedilas de 0 agrave 7 anos A presente monografia

desenvolve-se agrave luz da dialeacutetica interdisciplinar tomando-se de empreacutestimo

conceitos do folclore da psicanaacutelise da filosofia da psicologia do

desenvolvimento da ludoterapia e da musicoterapia Segue-se a descriccedilatildeo dos

brinquedos cantados paralelos ao desenvolvimento infantil segundo Piaget

enumerando-se os estaacutegios propostos por este autor e delimitando-se os

acalantos e as brincadeiras-de-roda como objeto de interesse maior da populaccedilatildeo

pesquisada Dar-se-aacute ecircnfase a discussatildeo do suporte agrave cliacutenica psicomotora diante

dos conceitos de Winnicott sobre a vida afetiva e o brincar fazendo-se referecircncia

agraves vivecircncias atraveacutes dos brinquedos cantados no contexto terapecircutico Na

culminacircncia deste estudo propotildee-se a diferenciaccedilatildeo entre educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo

e terapia psicomotora esboccedilando-se a elaboraccedilatildeo das estruturas psicomotoras

comuns agraves trecircs aacutereas citadas interpondo-se os brinquedos cantados como

recursos plausiacuteveis a este trabalho Apresenta-se ainda vinte e dois exemplos de

brinquedos cantados ilustrados por suas letras e pelo desenvolvimento da

brincadeira em questatildeo

Palavras-Chave Brinquedos cantados Psicomotricidade Luacutedico Terapia

Folclore Desenvolvimento infantil

7

1INTRODUCcedilAtildeO

O canto estaacute presente no universo simboacutelico de todas as culturas Vive-

se um processo de massificaccedilatildeo da cultura brasileira onde a muacutesica infantil estaacute

mesclada de sensualidade e cultuaccedilatildeo a um corpo esteacutetico grego Tem-se entatildeo

a incumbecircncia de preservar e formar a crianccedila que nasce ingecircnua sonhadora e

necessita de cuidados afetuosos

Visto que o som tem propriedades fiacutesicas que incidem sobre o corpo

humano de forma objetiva e subjetiva movendo o sujeito a partir da sua emoccedilatildeo

e que as crianccedilas satildeo estimuladas em sua afetividade se apropriando do uso

destes elementos luacutedico-sonoros para investimento pessoal e social supotildee-se que

os brinquedos cantados interferem de forma significativa no desenvolvimento

psicomotor das ditas crianccedilas

Faz-se assim a relevacircncia deste estudo para pesquisar a importacircncia

dos brinquedos cantados para o desenvolvimento psicomotor de crianccedilas de 0 agrave 7

anos de idade e ainda demonstrar a contribuiccedilatildeo destes elementos luacutedicoshy

sonoros na psicomotricidade com a referida populaccedilatildeo

Assume-se a investigaccedilatildeo da importacircncia e contribuiccedilatildeo dos

brinquedos cantados na psicomotricidade passando por quatro capiacutetulos

articulados entre si pelo vieacutes dos brinquedos cantados e dos interesses infantis

conforme o exposto a seguir

8

No primeiro capiacutetulo descreve-se uma breve histoacuteria e classificaccedilatildeo do

brincar a partir de referecircncias do folclore da psicanaacutelise e da filosofia Organiza-se

ideacuteias sobre trecircs possiacuteveis instacircncias que compreenderiam os brinquedos

cantados Musicar Brincar Movimentar Dar-se a ver na dialeacutetica entre a

Musicoterapia e a Psicomotricidade a importacircncia dos brinquedos cantados para

o desenvolvimento global da crianccedila nas idades mencionadas

Prossegue-se no segundo capiacutetulo um estudo sobre o desenvolvimento

infantil de 0 agrave 7 anos conforme a teoria Piagetiana Entre os estaacutegios do

desenvolvimento apontados por este autor para as estruturas cognosciacuteveis

imprescindiacuteveis a cada etapa sugere-se as contribuiccedilotildees de brinquedos cantados

compatiacuteveis com os momentos e as demandas verificadas Por fim mostra-se os

jogos na classificaccedilatildeo de Piaget situando o que cada etapa prioriza e delimitando

dois tipos de brinquedos cantados especiacuteficos para serem trabalhados na

psicomotricidade Os Acalantos e as Brincadeiras-de-roda

Identifica-se no capiacutetulo trecircs os conceitos de Winnicott sobre o objeto

transicional fenocircmeno transicional matildee suficientemente boa aacuterea intermediaacuteria e

o eu (Self) mostrando-se a interaccedilatildeo exposta pelos brinquedos cantados entre as

artes o luacutedico e o afeto supondo-se que esta interaccedilatildeo seja capaz de dar suporte

agrave cliacutenica psicomotora

Na proposta do capiacutetulo quatro buscou-se ldquoEn-Cantarrdquo a

psicomotricidade resumindo em uma breve histoacuteria como se instaurou a

educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo e terapia psicomotora atuais e ainda musicar com os

9

brinquedos cantados a elaboraccedilatildeo das diversas estruturas psicomotoras

assinalando a contribuiccedilatildeo destas para a psicomotricidade com a faixa etaacuteria

pesquisada

Finalizando esta introduccedilatildeo e abrindo os estudos desta monografia

deixa-se agrave contemplaccedilatildeo a muacutesica Redescobrir do compositor Luiz Gonzaga

Juacutenior 1980 interpretado pela cantora Elis Regina no Cd ldquoMuacutesica O melhor de

Elis Reginardquo WEA 2000

ldquoREDESCOBRIRrdquo

Como se fora brincadeira de roda (memoacuteria)

Jogo do trabalho na danccedila das matildeos (macias)

O suor dos corpos na canccedilatildeo da vida (histoacuteria)

O suor da vida e no calor de irmatildeos (magia)

Como um animal que sabe da floresta (memoacuteria)

Redescobrir o sal que estaacute na proacutepria pele (macia)

Redescobrir o doce no lamber das liacutenguas (magia)

Redescobrir o gosto e o sabor da festa (magia)

Vai o bicho homem fruto da semente (memoacuteria)

Renascer da proacutepria forccedila proacutepria luz e feacute (memoacuteria)

Entender que tudo eacute nosso sempre esteve em noacutes (histoacuteria)

Somos a semente ato mente e voz (magia)

Natildeo tenha medo meu menino bobo (memoacuteria)

Tudo principia na proacutepria pessoa (lembranccedila)

Vai como a crianccedila que natildeo teme os tempos (misteacuterio)

Amor se fazer eacute tatildeo prazer que eacute como fosse dor (magia)

10

2HISTOacuteRIA E CLASSIFICACcedilAtildeO DOS BRINQUEDOS CANTADOS

Os brinquedos cantados surgem na espontaneidade da cultura popular

Geralmente satildeo cantigas anocircnimas acompanhadas de movimentos expressivos

saltitantes e ou dramatizados

O brincar eacute uma forma de manifestaccedilatildeo caracteriacutestica da infacircncia entretanto

como afirma Huizinga (1980) a essecircncia do jogo eacute o prazer ele ultrapassa os

limites da realidade fiacutesica e assim se aplica a qualquer fase da vida

Os termos brincar e jogar satildeo referenciados como sinocircnimos por Cascudo

(1988) e Ferreira A (1988) Nos principais idiomas internacionais (Inglecircs Francecircs

Alematildeo e espanhol) brincar e jogar tambeacutem servem para definir atividades

artiacutesticas como a interpretaccedilatildeo teatral ou musical (Santa Roza1993)

Na liacutengua portuguesa o termo brincar vem do latim vinculum e significa

laccedilo uniatildeo No entanto eacute o termo luacutedico da nossa liacutengua tambeacutem proveniente do

latim ludus que melhor abrange e define as atividades artiacutesticas

culturais brincadeiras e jogos(ibid)

Nos divertimentos tradicionais infantis encontra-se os jogos de ronda

cantados declamados ritmados ou natildeo de movimento etc Brinquedo eacute ainda o

objeto material usado para brincar como o carro a boneca Diz-se tambeacutem da

proacutepria accedilatildeo de brincar (de cabra cega de chicotinho queimado e etc)

(Cascudo1988)

11

Dos trecircs povos que inicialmente formaram a cultura brasileira o

portuguecircs trouxe maior influecircncia para os brinquedos cantados os quais sofreram

modificaccedilotildees de acordo com a cultura local (Cascudo1988) Diga-se ainda que os

ritmos e danccedilas africanas juntamente com a alegria e marcaccedilatildeo ritmica-corporal

indiacutegena deu um tempero mais brejeiro ao legado luacutedico brasileiro

21BRINCAR

Como sonhar acordado brincar eacute expor-se de dentro para fora traduccedilatildeo

das impressotildees da crianccedila sobre o mundo que a cerca e os seus sentimentos

O brincar se desenvolve junto com o amadurecimento do sujeito as etapas iniciais

vatildeo perdendo o significado para o acreacutescimo do novo modo de explorar cada vez

mais elaborado

Todos os povos tecircm suas brincadeiras pertinentes agraves necessidades

expressivas de cada cultura O tempo se encarrega de transformar suas estruturas

mas eacute certo que as crianccedilas precisam de tempo espaccedilo e companheiros para

brincar

Sheridam (1990) classifica as brincadeiras em ativas exploratoacuterias

manipulativas imitativas construtivas faz-de-conta jogos com regras recreaccedilotildees

sofisticadas Este trabalho prioriza os brinquedos cantados que na praacutetica

psicomotora revelam valores e costumes culturais pontos de referecircncia para a

comunicaccedilatildeo e o relacionamento com o outro Estas manifestaccedilotildees envolvem a

emoccedilatildeo e o movimento que permeados pela muacutesica burlam as defesas e fazem

12

aflorar a essecircncia do ser

Os brinquedos cantados se inserem nas diversas formas de

classificaccedilatildeo pois em face de sua riqueza dinacircmica satildeo brincadeiras ativas

(exChep Chep) imitativas(ex Samba Lecirc Lecirc) construtivas(exA minha velha tem)

priorizam o faz-de-conta conteacutem regras especiacuteficas e vatildeo desde as mais simples

como ldquoAtirei o pau no gatordquo ateacute as mais elaboradas como ldquoA linda rosa juvenilrdquo1

Lapierre e Aucoutourrier (1986p29) pontuaram que ldquoA expressatildeo sonora

estaacute necessariamente ligada agrave relaccedilatildeo com o outrordquo sabe-se que ainda na barriga

da matildee a funccedilatildeo auditiva se instaura no embriatildeo e ele ouve os batimentos

cardiacuteacos dele e da matildee e todo um mundo de sons atraveacutes do liacutequido amnioacutetico

Eacute a relaccedilatildeo com o outro atraveacutes dos sons que situa a crianccedila no espaccedilo no tempo

e no afeto

22 MUSICAR

Segundo Gainza (1988) ldquoa accedilatildeo musical implica num movimento

seja das cordas vocais e do aparelho fonador naquele que fala ou canta seja do

proacuteprio corpordquo No uacuteltimo caso o corpo aparece como instrumento produtor de

som ou se prolonga atraveacutes de um instrumento musical propriamente ditordquo

Sob a oacutetica musical as teorias apontam para as estruturas fiacutesico-sonoras

Encontra-se nestas a formaccedilatildeo de todo contexto musical que eacute igualmente

1 PAIVA Ione Maria R de BRINQUEDOS CANTADOS 1998 p25416383

13

correspondente para os brinquedos cantados Fala-se entatildeo dos elementos

inevitaacuteveis de qualquer muacutesica Ritmo Melodia Harmonia Eis a definiccedilatildeo de

Costa(1989p61) ldquoNuma definiccedilatildeo muito simples muacutesica eacute a organizaccedilatildeo de

relaccedilotildees entre sonoridades simultacircneas ou natildeo no decorrer do tempo Sons e

silecircncios satildeo combinados e encadeados entre si formando ritmos melodias e

harmoniasrdquo

O ritmo eacute basicamente a ordenaccedilatildeo do movimento formando um elo

entre espaccedilo e tempo A melodia eacute uma sequumlecircncia de sons notas musicais graves

e agudas A harmonia eacute a verticalidade ou a simultaneidade dos sons parte mais

intelectualizada da muacutesica(Costa opcit mesma paacutegina)

As muacutesicas infantis em geral acompanham o desenvolvimento afetivo

motor cognitivo e social da crianccedila Observa-se que existem brinquedos cantados

mais simples contendo siacutelabas repetitivas estrutura musical miacutenima e que satildeo

preferidos pelas crianccedilas entre 2 e 3 anos por ex

CAI CAI BALAtildeO(folclore)2

Cai cai balatildeo cai cai balatildeo aqui na minha matildeo

Natildeo vou laacute natildeo vou laacute natildeo vou laacute tenho medo de apanhar

A muacutesica dos brinquedos cantados altera a sensibilidade o humor faz

aflorar a criatividade a expressividade do corpo e da alma revelando as habilidades

e dificuldades da crianccedila se convertendo entatildeo em instrumento de trabalho na

psicomotricidade

2 MARTINS Armando TOQUE VIOLAtildeO OU GUITARRA(meacutetodo praacutetico) 1980p88

14

23MOVIMENTAR

Do choro aos acalantos (muacutesicas de ninar) dos cantos culturais as

brincadeiras-de-roda haacute uma trajetoacuteria que vincula o som da voz ao movimento

corporal conforme afirma Fregtman(1988p17) isto ocorre ldquoporque a muacutesica eacute

feita dita tocada e cantada como manifestaccedilatildeo corporalrdquo

Toda forma de comunicaccedilatildeo se daacute atraveacutes de coacutedigos estabelecidos

linguagens por assim dizer Fregtman (opcit) conceitua a partir da musicoterapia

que trecircs niacuteveis de manifestaccedilatildeo expressiva simultacircneos podem se dar quando

usamos a muacutesica Satildeo eles

1) Linguagem sonora (sons silecircncios entonaccedilotildees melodias ritmos)

2) Linguagem corporal (gestos posturas trejeitos tipos de movimentos)

3) Linguagem verbal (a fala a letra a poesia)

Apenas para efeitos didaacuteticos se consegue separar estes trecircs niacuteveis de

linguagem A linguagem sonora necessariamente traacutes expressotildees corporais

estimula a emoccedilatildeo que se revela atraveacutes dos gestos posturas movimentos voz e

etc A linguagem corporal responde ao chamado verbal ou musical os quais soam

determinados significados simboacutelicos apreendidos nas relaccedilotildees soacutecio-afetivas E

por fim a linguagem verbal eacute inserida para nomear as accedilotildees sejam elas musicais

ou corporais

15

Os brinquedos cantados satildeo tambeacutem conceituados mediante sua aplicaccedilatildeo

em determinadas funccedilotildees na recreaccedilatildeo Os brinquedos cantados podem ser de

marcha de grupos opostos de palmas de roda de ninar ou alternados

Modificaccedilotildees diversas quanto ao andamento (lento moderado raacutepido) agrave formaccedilatildeo

(rodas simples complexas fileiras) e agrave movimentaccedilatildeo dos brinquedos cantados

(marcha roda dramatizaccedilatildeo) satildeo descritas por Leitatildeo(2001)

Neste trabalho prioriza-se os acalantos e as brincadeiras-de-roda tendo

em vista que a populaccedilatildeo estudada crianccedilas de 0 agrave 7 anos podem ser atendidas

em suas necessidades de acolhimento afetivo comunicaccedilatildeo expressiva e

socializaccedilatildeo atraveacutes destes elementos A Simbologia do movimento de Lapierre amp

Aucoutourrier (1986p41) sustenta o nosso pensamento atraveacutes da seguinte

citaccedilatildeo ldquoA muacutesica pode nos ajudar muito a redescobrir essa dimensatildeo do

movimento desde que natildeo seja restringida aos estereotipos da lsquodanccedilarsquo mesmo a

lsquoexpressivarsquo ldquo

ldquoO JACAREacuterdquo (folclore)3

O jacareacute o jacareacute o jacareacute eacute amigo ele eacute

Oi jacareacute oi jacareacute vem caacute cumpadre que a lagoa natildeo daacute peacute

O jacareacute tem os olhos muito grandes tem o rabo muito grande

Mas as pernas satildeo curtinhas

O jacareacute tem a boca muito grande tem os dentes muito grande

mas as pernas satildeo curtinhas

3 Recolhido atraveacutes da cultura oral

16

3O DESENVOLVIMENTO INFANTIL SEGUNDO PIAGET

Para Piaget (2003) o conhecimento eacute o resultado das accedilotildees e

relacionamentos do sujeito com o ambiente em que vive e vai sendo elaborado

desde o nascimento ateacute suas vivecircncias com os objetos pessoas e situaccedilotildees que

procura conhecer sejam elas do mundo fiacutesico ou cultural

Este autor formulou importantes conceitos que explicam o

desenvolvimento das funccedilotildees cognitivas A interaccedilatildeo entre a assimilaccedilatildeo

(informaccedilotildees do mundo exterior recebidas atraveacutes dos sentidos movimento de fora

para dentro) e a acomodaccedilatildeo (informaccedilatildeo processada respostas dadas ao mundo

exterior movimento de dentro para fora) sobre uma accedilatildeo satildeo validadas pelo

processo de equilibraccedilatildeo (Piagetopcit)

As perturbaccedilotildees exteriores se mostram a crianccedila a partir do que ela natildeo

conhece assim oportunizadas pelo processo de equilibraccedilatildeo e por meio de suas

atividades vai respondendo a estas perturbaccedilotildees vencendo a mais uma etapa

cognosciacutevel A equilibraccedilatildeo eacute dinacircmica e nunca cessa ela norteia a passagem de

um conhecimento ao outro(Piaget2003)

Dois outros conceitos Piagetianos satildeo imprescindiacuteveis ao tenro

desenvolvimento infantil e encontra-se nos brinquedos cantados uma forma

espontacircnea de vivenciaacute-los A Imitaccedilatildeo e a noccedilatildeo de Permanecircncia do Objeto

17

Imitaccedilatildeo Eacute na gecircnese da imitaccedilatildeo que inicia o movimento luacutedico da crianccedila

Imitando o meio e as pessoas ao seu redor a crianccedila apreende e treina suas novas

aquisiccedilotildees Ferreira I(1994 p47) afirma que ldquoA imitaccedilatildeo eacute uma das manifestaccedilotildees

da funccedilatildeo simboacutelica Constitui-se num dos elementos baacutesicos que permitem a

crianccedila uma assimilaccedilatildeo de realidade ao seu proacuteprio ldquoeurdquo bem como Acomodaccedilatildeo

de suas estruturas mentais e de accedilatildeo agraves exigecircncias da realidade fiacutesica e socialrdquo

Para haver o ato imitativo eacute necessaacuterio um modelo Alguns brinquedos

cantados propotildeem accedilotildees simboacutelicas que copiam o mundo adulto sem impor aos

pequenos o fardo da responsabilidade que este teria na realidade Eis um exemplo

interessante onde as crianccedilas imitam os afazeres dos mais velhos

PASSA PASSA GAVIAtildeO(folclore)4

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

As lavadeiras fazem assim

Assim assim assim assim

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

As passadeiras fazem assim

Assim assim assim assim

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

As cozinheiras fazem assim assim assim

Assim assado carne seca com ensopado

4 Recolhido atraveacutes da cultura oral

18

Objeto permanente Nos primeiros dois anos de vida a crianccedila apresenta um

comportamento em constante adaptaccedilatildeo pois estaacute sempre se modificando para

responder aos estiacutemulos do meio A crianccedila inicialmente natildeo tem noccedilatildeo da

permanecircncia dos objetos ela pensa que eles soacute existem enquanto estatildeo ao

alcance dos seus olhos caso sejam escondidos a sua frente acharaacute que estes

acabaram ou se desintegraram Entre os 18 e 24 meses a crianccedila jaacute consegue

elaborar mais este conhecimento e apesar de natildeo vecirc-lo ouvi-lo ou tocaacute-lo ela vai

compreender que os objetos independem da sua vontade e presenccedila para

existirem

Para melhor apreensatildeo da realidade fiacutesica a praacutetica pelo ensaio e erro ou

aparecer desaparecer vatildeo treinar e orientar os pequenos na aquisiccedilatildeo das noccedilotildees

de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo da realidade como

afirma FerreiraI(1994p35) ldquoO esquema do objeto permanente eacute baacutesico para a

construccedilatildeo das noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidaderdquo

Observe que as crianccedilas nesta fase gostam das brincadeiras de

esconde-esconde que amenizam suas anguacutestias sobre a existecircncia ou natildeo dos

objetos reais Seu proacuteprio corpo eacute posto agrave prova escondendo o rosto ou as matildeos

atraacutes de uma almofada por exemplo A muacutesica das palminhas talvez possa auxiliar

nesta etapa

19

PALMINHAS PALMINHAS (folclore)5

Palminhas palminhas nos vamos bater

Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconder

Em cima em cima noacutes vamos bater

Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconde

Assim assim pra traacutes esconder

Em baixo em baixo noacutes vamos bate

Depois as matildeozinhas pra traacutes esconde

Assim assim pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconder

Os conceitos estudados ateacute aqui se realizam dentro dos estaacutegios do

desenvolvimento organizados por Piaget Passar-se-aacute neste momento agrave elucidaccedilatildeo

dos estaacutegios pertinentes agrave faixa etaacuteria da populaccedilatildeo pesquisada nesta monografia

estaacutegios Sensoacuterio-motor e Preacute-operacional

31ESTAacuteGIO SENSOacuteRIO MOTOR (0 agrave 2 anos) Estaacutegio que vai do nascimento

ateacute a aquisiccedilatildeo da linguagem e eacute dividido em 6 sub estaacutegios Esta eacute a fase do

comportamento inteligente antes da aquisiccedilatildeo da linguagem a crianccedila organiza a

informaccedilatildeo obtida atraveacutes dos sentidos e desenvolve respostas aos estiacutemulos

5 Recolhido atraveacutes da cultura oral

20

ambientais com comportamento adaptativo e constante modificaccedilotildees dos

esquemas de accedilatildeo em resposta ao meio A aquisiccedilatildeo mais importante deste

periacuteodo eacute o Objeto Permanente Manifesta-se ainda a imitaccedilatildeo que alcanccedilaraacute o

seu auge no proacuteximo estaacutegio

1ordm Sub Estaacutegio ndash Exerciacutecio dos reflexos (0 a 1 mecircs) Do alto da sua imaturidade

bioloacutegica a crianccedila se relaciona com o meio atraveacutes dos movimentos reflexos

hereditaacuterios que se aprimoram pelo exerciacutecio tornando-se cada vez mais

eficientes Ainda natildeo haacute a distinccedilatildeo entre o eu e o outro

2ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular primaacuteria (1 a 4 meses)Esta eacute a fase das

primeiras acomodaccedilotildees onde os exerciacutecios reflexos se transformam em esquemas

e comeccedilam a coordenar seus movimentos Inicia-se a construccedilatildeo dos primeiros

esquemas vocais A noccedilatildeo de tempo eacute primitiva sua duraccedilatildeo soacute eacute sentida no

decorrer da proacutepria accedilatildeo O final do periacuteodo eacute marcado pela coordenaccedilatildeo entre trecircs

esquemas fundamentais audiccedilatildeo fonaccedilatildeo e visatildeo

3ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular secundaacuteria (4 a 8 meses) O bebecirc apresenta

um maior interesse pelo mundo externo os esquemas se diferenciam surgindo

novos esquemas de coordenaccedilatildeo viso-motora unindo-se as aquisiccedilotildees jaacute

realizadas Os movimentos comeccedilam a ser repetido pelo prazer da repeticcedilatildeo

Observa-se o iniacutecio da noccedilatildeo do Objeto Permanente entretanto ela estaacute

condicionada ao movimento da crianccedila pois as coisas ainda natildeo seguem uma

trajetoacuteria independente

21

4ordm Sub Estaacutegio ndash Coordenaccedilatildeo de esquemas secundaacuterios (8 a 12 meses)

Caracteriza-se pelas primeiras condutas propriamente inteligentes surgindo

adaptaccedilotildees sensoacuterio-motoras intencionais onde o bebecirc combina esquemas

conhecidos a novas situaccedilotildees e ainda diferencia os meios e os fins de uma accedilatildeo

Aparece nesta fase o comportamento antecipatoacuterio caso o bebecirc veja sua matildee se

afastar chora a imitaccedilatildeo de sons e accedilotildees satildeo agora intencionais e

conscientizadas no entanto ainda condicionadas ao esquema visual Revelam-se

os primoacuterdios da memoacuteria e da representaccedilatildeo mental Comeccedila a permanecircncia do

objeto independente do ldquoeurdquo Quanto agrave noccedilatildeo de espaccedilo e tempo a crianccedila

comeccedila a ordenar os proacuteprios deslocamentos em relaccedilatildeo aos objetos

5ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular terciaacuteria (12 a 18 meses) A crianccedila gradua

seus movimentos varia e experimenta novos padrotildees de comportamento

observando os diferentes efeitos da sua accedilatildeo sobre o objeto o qual jaacute eacute dotado de

permanecircncia Pode-se afirmar que o mecanismo da inteligecircncia praacutetica estaacute

definitivamente constituiacutedo A cada estruturaccedilatildeo da inteligecircncia corresponde uma

nova estruturaccedilatildeo do espaccedilo do tempo da causalidade etc Agindo por ldquoensaio e

errordquo os resultados das accedilotildees ainda satildeo por acaso pois as representaccedilotildees

mentais de fatos externos ainda natildeo se incluem ou seja o pensamento ainda natildeo

estaacute formado

22

6ordm Sub Estaacutegio ndash A invenccedilatildeo dos novos meios por combinaccedilatildeo

mental (18 a 24 meses) Esta fase caracteriza o momento de transiccedilatildeo entre a

inteligecircncia praacutetica (sensoacuterio-motora) e a inteligecircncia representativa quando

comeccedila a funccedilatildeo simboacutelica Inicia-se a representaccedilatildeo mental imaginativa e criativa

No jogo simboacutelico a crianccedila usa siacutembolos na linguagem e na brincadeira do faz-deshy

conta recorda-se de fatos passados e os representa depois de algum tempo O

final deste periacuteodo eacute marcado pela primeira noccedilatildeo de conservaccedilatildeo(FerreiraI1994)

Os primeiros anos de vida da crianccedila satildeo marcados pelas inuacutemeras

formaccedilotildees e transformaccedilotildees fiacutesicas mentais e emocionais conforme descritas

acima Os acalantos (muacutesicas de ninar) satildeo cantados por matildees de todo o mundo

numa primeira inserccedilatildeo da crianccedila ao universo musical de sua cultura Eles

exercem um poderoso papel de auxiacutelio agrave maternagem acolhendo-a afetuosamente

condiccedilatildeo baacutesica para que a crianccedila se sinta suficientemente amada para

prosseguir desenvolvendo-se Este tema seraacute melhor explanado nos proacuteximos

capiacutetulos Por hora parece oportuno um exemplo de acalanto

TUTU MARAMBAacute(folclore)6

Tutu marambaacute

Natildeo venha mais caacute

Que o pai do menino

Te manda mata

6 MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute PRECISO CANTAR Musicoterapia cantos e canccedilotildees2001p38

23

32ESTAacuteGIO PREacute-OPERACIONAL (2 agrave 7 anos) A crianccedila vive um tempo em que

usa a intuiccedilatildeo ela passa todos os seus atos para o pensamento sob a forma de

imagens e diante de uma situaccedilatildeo praacutetica suas respostas vatildeo se basear no que

ela vecirc sente mexe ou seja nas aparecircncias dos fatos que observa A crianccedila

possui a capacidade de representar uma coisa por outra e esta representaccedilatildeo

pode se dar por um gesto um desenho uma palavra etc A verbalizaccedilatildeo tem

destaque neste periacuteodo e a linguagem conduz agrave socializaccedilatildeo das accedilotildees Este

estaacutegio compreende duas formas de pensamento a saber O Pensamento

Simboacutelico e o Pensamento Intuitivo

Pensamento simboacutelico (2 agrave 4 anos) Para Piaget a funccedilatildeo simboacutelica consiste na

capacidade da crianccedila representar objetos e fatos conhecidos poreacutem ausentes por

um substituto qualquer seja este concreto ou imaginaacuterio Uma caracteriacutestica

fundamental desta fase eacute a diferenciaccedilatildeo entre significante e significado que eacute

manifestada por vaacuterias condutas sendo elas O jogo simboacutelico ou faz-de-conta a

imitaccedilatildeo o desenho a imagem mental a linguagem a criatividade etc Para

ldquosignificanterdquo leia-se objeto concreto e para ldquosignificadordquo a ideacuteia compreensiva do

que foi percebido (Piaget 2003)

Sobre a funccedilatildeo simboacutelica FerreiraI(1994p43) complementa ldquoA funccedilatildeo

simboacutelica pode ser considerada uma linguagem individual e particular da crianccedila

usada para compreender e representar o mundo O siacutembolo eacute subjetivo e aos

poucos vai sendo substituiacutedo por signos da linguagem socialrdquo

24

O pensamento infantil encontrado entre os 2 e 7 anos de idade eacute

egocentrado A visatildeo da realidade eacute centrada no ponto de vista do proacuteprio sujeito

sendo este incapaz de relacionaacute-lo ou de coordenaacute-lo a pontos de vistas diferentes

do seu

A aquisiccedilatildeo da linguagem tem destaque nesta fase e coincide com a

formaccedilatildeo do jogo simboacutelico que melhor se manifesta no jogo do faz-de-conta

Atraveacutes do que discute Ferreira I (1994p43) ldquoOs siacutembolos podem ser

socializados como os brinquedos coletivos e se tornar um siacutembolo coletivordquo

confirma-se mais uma vez que os estes elementos apresentam extrema valorizaccedilatildeo

soacutecio-afetiva e cultural Com a ludicidade que lhe eacute peculiar os brinquedos

cantados nesta fase encantam ensinam desenvolvem a memoacuteria a auto estima

o esquema corporal a imagem corporal a Coordenaccedilatildeo Motora a socializaccedilatildeo

entre outras funccedilotildees essenciais agrave formaccedilatildeo dos pequenos Eis um bom exemplo

O GIGANTE E O ANAtildeO(autor desconhecido)7

O peacute do gigante eacute grande

Do anatildeo pequenininho

O gigante pisa forte

O anatildeo pisa mansinho

O gigante fala grosso

O anatildeo fala fininho

Porque gigante come muito

E o anatildeo come pouquinho

7 Recolhido atraveacutes da cultura oral

25

Pensamento Intuitivo (4 agrave 7 anos) Subdividido em Intuitivo Simples e Intuitivo

Articulado eacute um estaacutegio marcado pela crescente formaccedilatildeo de conceitos O

pensamento intuitivo eacute uma espeacutecie de accedilatildeo executada em pensamento encaixar

seriar deslocar etc

A crianccedila no intuitivo simples representa mentalmente assimila e entende

o mundo real poreacutem de forma limitada pois soacute consegue coordenar um uacutenico

ponto de vista com base nas aparecircncias do que vecirc Centrado em si mesmo natildeo

admite a reversibilidade falta-lhe ainda a noccedilatildeo de conservaccedilatildeo das substacircncias

Quando se pede agrave crianccedila para desenhar ela desenha o que sabe e natildeo

o que vecirc Este egocentrismo que lhe eacute peculiar deveraacute evoluir para a

descentraccedilatildeo bem como haveraacute progressos nas diversas etapas cognitivas

(classificar seriar etc) Ao final do pensamento intuitivo articulado a crianccedila

comeccedila a levantar duacutevidas e questionamentos percebendo a mobilidade das

situaccedilotildees

ldquoA BARATArdquo(folclore)8

A barata diz que tem 7 saias de filoacute

Eacute mentira da barata ela tem eacute uma soacute

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute

A barata diz que tem um anel de formatura

Eacute mentira da barata ela tem eacute casca dura

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura

8 PAIVA Ione Maria R de OPCITp80

26

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura

A barata diz que dorme numa cama de cetim

Eacute mentira da barata ela dorme eacute no capim

Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim

Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim

Na muacutesica da barata as crianccedilas ironizam a tentativa de mentir deste

inseto A propoacutesito das ldquomentirinhasrdquo contidas nas brincadeiras infantis funcionam

como passaporte para a experimentaccedilatildeo do que eacute verdadeiro e real As palavras

de cascudo(1988p491) discorrem sobre os deslimites da mentira ldquoAs estoacuterias

mentirosas() satildeo muito populares e constituem um gecircnero especial onde a

imaginaccedilatildeo exagerada e livre se liberta dos limites da loacutegicardquo Acredita-se que as

crianccedilas exigem a verdade para terem o domiacutenio do que aprendem

33OS JOGOS POR PIAGET

ldquoPiaget vecirc no jogo um processo de ajuda ao desenvolvimento da crianccedila

acompanha-a sendo ao mesmo tempo uma atividade consequumlente de seu proacuteprio

crescimentordquo(Negrine1994p45) A leitura dos jogos em Piaget acompanha o

desenvolvimento integral do homem a inteligecircncia a afetividade a motricidade e a

sociabilidade satildeo vivenciadas nos jogos sendo a afetividade a funccedilatildeo que constitui

a energia necessaacuteria para a progressatildeo psiacutequica moral intelectual e motora

daquele que joga

Trecircs classificaccedilotildees baacutesicas do jogo satildeo mostradas na teoria

27

psicogeneacutetica de Piaget Jogos de exerciacutecio Jogos simboacutelicos e jogos de regra

Jogos de Exerciacutecio Ou jogos sensoacuterio-motores que aparecem no periacuteodo do

mesmo nome natildeo chegam a constituir sistemas luacutedicos independentes e

construtivos Sua motivaccedilatildeo se daacute pelo prazer funcional ou pelo prazer produzido

pela tomada de consciecircncia de suas novas capacidades

Os jogos motores ou de exerciacutecios satildeo aqueles que envolvem

diretamente a participaccedilatildeo ativa do corpo como um todo inclui-se ainda os jogos

sensoriais que ajudam a desenvolver os oacutergatildeos dos sentidos

A crianccedila nesta fase gosta de brincar com brinquedos que manipula

repetidas vezes explorando toda sua superfiacutecie Brincar de esconder o rosto ou os

objetos atirar e pegar brinquedos eacute prazeroso para a crianccedila ao mesmo tempo

que assimila as noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo

da realidade

Os estiacutemulos sensoriais tambeacutem fazem parte do seu interesse objetos

de diversas cores e texturas brinquedos sonoros muacutesica para ouvir acalentar

danccedilar e brincar desta forma explora o reconhecimento do eu do outro e dos

objetos

O jogo de exerciacutecio eacute o primeiro a aparecer no comportamento da

crianccedila explicitamente do 2ordm ao 5ordm estaacutegio do desenvolvimento sensoacuterio motor por

oposiccedilatildeo ao 6ordm estaacutegio onde se inicia o jogo simboacutelico(Negrine 1994)

28

ATIREI O PAU NO GATO(Folclore)9

Atirei o pau no ga-to-to mas o ga-to-to

Natildeo morreu- rreu- rreu dona chica-ca-ca

Admirou- se se do berro do berro

Do berro que o gato deu Miau

Jogos Simboacutelicos Em princiacutepio do ponto de vista de Piaget a diferenccedila entre os

jogos simboacutelicos e os de exerciacutecio intelectual consiste em que os primeiros se

referem ao pensamento

Os jogos simboacutelicos tem iniacutecio no 6ordm estaacutegio do periacuteodo sensoacuterio-motor

e se continua aproximadamente dos 2 aos 4 anos de idade cronoloacutegica ou do 1ordm

estaacutegio do preacute-operacional(fase simboacutelica) ateacute o iniacutecio do 2ordm estaacutegio do preacuteshy

operacional(fase intuitiva) Piaget apud Negrine(1994p41) deixa claro a

supremacia dos jogos simboacutelicos em detrimento dos anteriores

ldquoO esquema simboacutelico por si mesmo eacute suficiente para

assegurar a superioridade da representaccedilatildeo sobre

uma accedilatildeo pura nesta segundo Piaget o jogo

permite assimilar o mundo exterior ao eu como meio

infinitamente mais poderoso que o de simples exerciacuteciordquo

Como aparecem antes da linguagem verbal propriamente dita os jogos

simboacutelicos satildeo representados nas imagens mentais da crianccedila e vivenciados

atraveacutes dos gestos onomatopeacuteias pelo prazer de brincar com o faz-de-conta

9 MILLLECCO FILHO Luiacutes A e outros OPCIT p43

29

Nesta fase os acalantos vatildeo perdendo sua importacircncia dando lugar agraves

brincadeiras-de-roda os pequenos ao mesmo tempo em que aprendem a falar

aprendem a cantar as brincadeiras-de-roda tem a propriedade de enriquecerem o

repertoacuterio de palavras e movimentos

Jogos de Regras Os jogos de regras natildeo seguem o mesmo itineraacuterio dos

anteriores pois comeccedilam a aparecer na metade do 2ordm estaacutegio do periacuteodo preacuteshy

operacional isto eacute dos 4 aos 7 anos e principalmente no periacuteodo das operaccedilotildees

concretas dos 7 aos 12 anos Pesquisaremos como ocorrem os jogos de regra ateacute

os 7 anos pela delimitaccedilatildeo da populaccedilatildeo que esta monografia abrange

Dos 4 aos 7 anos periacuteodo preacute operacional intuitivo surgem os jogos de

regra que substituiratildeo o siacutembolo e enquadraratildeo o exerciacutecio no momento em que se

constituem de forma incipiente certas relaccedilotildees sociais(Piaget2003)

Com relaccedilatildeo as regras segundo Piaget apud Negrine

(1994p44)distinguem-se dois tipos transmitidas e espontacircneas As regras

transmitidas se referem aos jogos institucionais que se impotildeem por pressatildeo das

geraccedilotildees anteriores As espontacircneas se referem aos jogos de natureza contratual e

momentacircnea isto eacute procedem da socializaccedilatildeo dos jogos de simples exerciacutecios ou

dos simboacutelicos

30

Na cantiga de roda ldquoCiranda cirandinhardquo destaca-se o desenvolvimento

da roda e ao final as regras uma imposta (entrar na roda e dizer um verso) outra

espontacircnea (serve qualquer verso criado na hora ou jaacute existente) Outra versatildeo

desta mesma cantiga para crianccedilas menores pede ldquofaccedila um gesto bem bonito

diga adeus e vaacute se emborardquo A liberdade de criar um gesto verso a importacircncia de

estar no meio da roda como centro das atenccedilotildees e a valorizaccedilatildeo dos

companheiros satildeo o impulso para a espontaneidade e o crescimento da autonomia

do ser

CIRANDA CIRANDINHA(folclore)10

Ciranda cirandinha vamos todos cirandar

Vamos dar a meia volta volta e meia vamos dar

o anel que tu me destes era vidro e se quebrou

o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou

Por isto sinhaacute Maria entre dentro desta roda

Diga um verso bem bonito diga adeus e vaacute se embora

Os conceitos estudados neste capiacutetulo podem orientar sobre o tempo

mental da crianccedila e a possibilidade de oferecer estiacutemulos adequados ao seu

momento Como uma boa buacutessola natildeo conteacutem apenas o norte

10 MARTINS Armando OPCITp105

31

4O BRINCAR E A REALIDADE WINNICOTTEANA

A partir da premissa de que natildeo se pode dividir o ser humano em

classificaccedilotildees bioloacutegicas e psiacutequicas posto que este eacute uma unidade indivisiacutevel

formulou-se apenas para efeitos didaacuteticos no capiacutetulo anteriorum olhar mais

fiacutesico(cognitivo) do desenvolvimento infantil atraveacutes de Piaget Discutir-se-aacute neste

capiacutetulo o ponto de vista Winnicotteano sobre a vida emocional e o brincar

Nos brinquedos cantados a arte de brincar se mistura a arte de cantar e

eacute fazendo ldquoArtesrdquo que a crianccedila dar-se a ver e a crescer A partir deste tema

instigante e universal que eacute o brincar torna-se mais prazeroso ainda falar sobre ele

depois de conhecer os estudos do Drordm Winnicott

D W Winnicott pediatra psicanalista psicoterapeuta inglecircs e defensor

da Ludoterapia nasceu no comeccedilo do seacuteculo 20 produzindo uma vasta obra

cientiacutefica ateacute os anos 70 quando nos deixou Em seu livro ldquoO Brincar e

Realidaderdquo(1975) se preocupou com os primoacuterdios da vida imaginativa da

experiecircncia cultural em todos os sentidos da relaccedilatildeo das artes com o brincar e da

criatividade

Neste momento parece relevante abordar alguns dos conceitos teoacutericos

do DrordmWinnicott atraveacutes da obra mencionada pelo suporte que podem

proporcionar agrave compreensatildeo da vida psiacutequica mediante o brincar e a terapia Em

32

Conceitos e contornos ilustrar-se-aacute o Objeto transicional Fenocircmeno transicional

Matildee suficientemente boa Aacuterea intermediaacuteria e o Eu(Self) circundando a

importacircncia destes conceitos em relaccedilatildeo aos brinquedos cantados e sua aplicaccedilatildeo

na cliacutenica psicomotora

41CONCEITOS E CONTORNOS

Objeto Transicional Eacute o objeto concreto relativo agrave exploraccedilatildeo pulsional (descarga

impulsiva) do sujeito por exemplo uma boneca ou um carrinho

Fenocircmeno Transicional Satildeo as accedilotildees relativas agrave exploraccedilatildeo pulsional ou o uso

que se faz dos objetos transicionais Ex Um carrinho pode ser acalentado como se

fosse um bebecirc

Matildee Suficientemente Boa Pessoa que ocupa o lugar de suporte afetivo no

desenvolvimento global da crianccedila tambeacutem associada por ele a figura do

terapeuta

Em outras palavras o amor da matildee ou do terapeuta

natildeo significaria apenas um atendimento agraves necessidades

da dependecircncia mas vem a significar a concessatildeo

de oportunidades que permita ao bebecirc ou ao paciente

passar da dependecircncia para a autonomia

(Winnicott1975p150)

33

Aacuterea Intermediaacuteria Aacuterea neutra de experimentaccedilatildeo vivencial entre as realidades

internas e externas do sujeito que favorece a dialeacutetica do brincar e das artes O

dito autor parece supor um espaccedilo de refuacutegio para a resoluccedilatildeo dos conflitos

humanos Eis aqui a referecircncia para tal colocaccedilatildeo

Presume-se aqui que a tarefa de aceitaccedilatildeo da realidade

nunca eacute completada que nenhum ser humano estaacute livre

da tensatildeo de relacionar a realidade interna e externa e

que o aliacutevio dessa tensatildeo eacute proporcionado por uma aacuterea

intermediaacuteria de experiecircncia(cf Riviere1936) que natildeo eacute

contestada (artes religiatildeo etc) Essa aacuterea intermediaacuteria

estaacute em continuidade direta com a aacuterea do brincar da

crianccedila pequena que se ldquoperderdquo no brincar

(Winnicottopcitp29)

A princiacutepio eacute difiacutecil falar dos brinquedos cantados como objetos

transicionais (concretos) porque natildeo satildeo exatamente vistos a olhos nus embora

sejam audiacuteveis Todavia qualquer muacutesico pode escrever em uma partitura o

brinquedo cantado (concreto e cantaacutevel) para tornaacute-lo visiacutevel

O ato de cantar uma muacutesica de roda ou um acalanto jaacute eacute a traduccedilatildeo do

fenocircmeno transicional Dar-se-aacute o uso que quiser a este brinquedo cantado no

momento de sua realizaccedilatildeo Se uma muacutesica de ninar for entoada com raiva ou

brutalidade eacute certo que traraacute temores ao bebecirc e natildeo o conforto a que se prestaria

Acalantos com este do ldquobicho papatildeordquo expotildee o perigo e propotildee acolhida pela

proteccedilatildeo materna

34

ldquoBICHO PAPAtildeO(folclore)11

Bicho Papatildeo sai de cima do telhado

Deixe o menino dormir sossegado

O Eu (Self) O Eu (Self) eacute o eu integral descrito por Winnicott(1975) em sua mais

pura essecircncia um eu que nasce na liberdade de expressatildeo na confianccedila baseada

nas experiecircncias vividas no suporte dos sentimentos Para este autor certas

condiccedilotildees se fazem necessaacuterias na busca do Eu (Self) eacute o que se chama de

criatividade A criatividade pode defraglar e sustentar o ser integral

A vida sadia se mostra pelo impulso criativo O brincar eacute um instrumento

da criatividade sediado na ldquoaacuterea intermediaacuteriardquo (entre as artes e o luacutedico)

sustentado em seus primoacuterdios pela ldquomatildee suficientemente boardquo direcionado agrave

busca do ldquoEu (Self) Sobre a importacircncia das cantigas de roda nesta busca

podemos ler as contribuiccedilotildees de Millecco filho e outros (2001p44)

As cantigas de roda datildeo continuidade ao trabalho

de elaboraccedilatildeo de conflitos e agrave estrutura da pessoa

em desenvolvimento iniciado com os acalantos

() A roda aparece como uma representaccedilatildeo da

mandala expressatildeo geomeacutetrica do Self

11 Recolhido atraveacutes da cultura oral

35

A letra da muacutesica infantil ldquoa canoa virourdquo expotildee um problema e supotildee

uma soluccedilatildeo hipoteacutetica

A CANOA VIROU(folclore)12

A canoa virou vou deixar ela virar

Foi por causa da Maria que natildeo soube remar

Ah se eu fosse peixinho e soubesse nadar

Eu tirava a Marialaacute do fundo do mar

A accedilatildeo terapecircutica deve ser um modo de auxiliar uma pessoa a

vir a ser o que ela eacute capaz de ser O psicomotricista atua como facilitador no

desenvolvimento do potencial existente no sujeito Numa maternagem

suficientemente boa como fala Winnicott o psicomotricista relacional torna-se um

companheiro de jornada para as atitudes luacutedicas do seu paciente

As medidas de afeto e limites saudaacuteveis agraves necessidades do outro

devem ser reconhecidas e valorizadas Eacute o que se vecirc nas colocaccedilotildees de Winnicott

(1975p63) ldquoEm outros termos eacute a brincadeira que eacute universal e que eacute proacutepria da

sauacutede o brincar facilita o crescimento e portanto a sauacutede o brincar conduz aos

relacionamentos grupais o brincar pode ser uma forma de comunicaccedilatildeo na

psicoterapia()rdquo

12 MARTINS Armando OPCITp110

36

Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e

estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que

haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila

acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas

Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a

brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre

MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR

VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR

Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o

aprender com a danccedila do outro

ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

13 Recolhido atraveacutes da cultura oral

37

Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons

e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os

brinquedos cantados

5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE

Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma

nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o

corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se

utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia

e da linguumliacutestica

No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua

expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a

existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto

O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que

encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e

motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros

Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando

fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar

gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil

38

ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14

Eacute bom cantar eacute bom ouvir

Eacute bom pensar eacute bom sentir

Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor

Viajar dentro de si pra poder se descobrir

51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE

A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso

meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da

psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu

corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)

O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico

(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes

concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo

ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a

palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas

que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que

quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do

latim Corpusque significa tecido de membros envoltura

da alma embriatildeo do espiacuterito

14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000

39

Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na

Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto

que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo

cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a

motricidade com a inteligecircncia

Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam

em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento

humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o

movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila

De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de

segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio

Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se

no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo

de Guilman

O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num

corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo

toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico

emocional(Levin opcit)

O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor

Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em

movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica

40

psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre

outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da

pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de

Levin(opcit)

Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor

podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor

ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento

Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o

sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem

tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco

podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade

eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)

52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA

A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o

seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins

pedagoacutegicos (Levy2000)

A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se

do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos

transtornos evidenciados (Coste1992)

A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a

41

afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja

o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade

do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting

psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais

uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si

mesmo uma terapiardquo

As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas

psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema

corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade

Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo

estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees

cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito

As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de

algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A

coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar

pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos

dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para

andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes

visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a

existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa

caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc

No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a

42

primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave

vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos

cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas

psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a

expressividade e a emoccedilatildeo

O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas

psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se

confirmar por exemplo para treinar a escrita

As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar

iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da

brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo

dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da

cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas

pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar

Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora

relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de

cada uma delas

43

53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE

Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os

acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte

afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe

o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo

e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do

acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si

mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a

busca do eu (Self)

O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos

cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a

partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes

acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de

interesse da populaccedilatildeo pesquisada

Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil

geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo

continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em

desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza

simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos

conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo

44

As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia

cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o

relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano

infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a

Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda

assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia

oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria

soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo

Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as

com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da

referida estrutura

Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos

integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos

grandes segmentos (Coste1992)

Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro

expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo

corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a

habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa

O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se

movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os

movimentos enquanto observam os amigos

45

BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

Os braccedilos pra cima e pra baixo

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

As pernas pra frente e pra traacutes

Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo

preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo

motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada

diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do

grafismo (Coste1992)

A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas

brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as

palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a

crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos

Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos

fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca

do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes

15 Recolhido atraveacutes da cultura oral

46

das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa

de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas

ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16

123 indiozinhos 456 indiozinhos

789 indiozinhos 10 num pequeno bote

Vinham navegando pelo rio abaixo

Quando o jacareacute se aproximou

E o pequeno bote dos indiozinhos

Quase quase virou quase quase virou

mas natildeo virou

Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo

ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam

internas ou externas (Levin2001)

A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e

apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as

crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do

corpo que deseja mostrar

ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17

Cabeccedila ombro joelho e peacute

Joelho e peacute joelho e peacute

Olhos boca orelha e nariz

Orelha e nariz orelha e nariz

16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral

47

Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O

equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute

relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)

Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de

amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o

personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca

instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma

perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal

traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal

ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca o pandeirotoca como ele soacute

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca violatildeo toca como ele soacute

Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao

tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir

da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do

aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala

dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da

vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza

18 Recolhido atraveacutes da cultura oral

48

Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila

seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um

personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular

correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e

volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem

seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam

ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19

Anda anda anda macaquinho

Anda anda anda sem parar

Pula pula pula macaquinho

Pula pula pula ateacute cansar

Corre corre corre macaquinho

Corre corre corre sem parar

Deita deita deita macaquinho

Deita deita deita dorme ateacute sonhar

Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu

desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e

relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do

mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)

Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira

19 Recolhido atraveacutes da cultura oral

49

traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo

espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a

noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo

vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento

O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e

rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos

de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra

frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente

e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da

roda virem periquitos tambeacutem

Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem

no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras

visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas

ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20

Periquito periquito parece com papa

Periquito periquito parece com papa

Por baixo por cima pra frente e pra traacutes

Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo

ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo

temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a

20 Recolhido atraveacutes da cultura oral

50

estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus

movimentos e se organiza na vida cotidiana

Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo

que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo

humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre

ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos

acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo

A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da

chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo

dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio

ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21

A janelinha fecha quando estaacute chovendo

A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo

Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute

Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute

Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os

centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e

contralaterais (Coste1992)

21 Recolhido atraveacutes da cultura oral

51

A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento

psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e

assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute

organizada e natildeo mudaraacute mais

Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os

peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a

conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo

grupo disposto em roda

ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22

Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora

Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora

Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock

Assim eacute bem melhor

( e assim por diante com as demais partes do corpo)

Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o

modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder

apud Coste(1992)

A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a

organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo

mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do

22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57

52

desejo da matildee

A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan

apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros

tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e

de diferenccedila (ibid)

Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o

ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na

constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo

desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A

psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade

poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A

citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo

O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de

identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria

de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do

lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que

eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim

constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute

poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo

o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)

53

Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia

corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber

possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver

As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a

expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente

Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar

cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de

construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza

pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem

corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter

fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de

cantar danccedilar e brincar

54

ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23

Minha boneca de lata

Bateu com a cabeccedila no chatildeo

Levou mais de uma hora

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui pra ficar boa

Minha boneca de lata

Bateu com o pescoccedilo no chatildeo

Levou mais de duas horas

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui desamassa aqui

Pra ficar boa

Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho

o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do

corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez

horas de arrumaccedilatildeo propostas

23 Recolhido atraveacutes da cultura oral

55

6CONCLUSAtildeO

Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-

se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse

infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar

Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a

relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas

cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo

permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os

estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e

que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo

Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de

winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do

ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos

como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica

Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de

conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos

Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade

que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se

pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos

sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu

ldquoafetordquo

56

Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a

psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir

expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer

Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia

para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a

socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte

aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o

desenvolvimento das estruturas psicomotoras

Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a

essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado

pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando

o prazer de brincar cantar e ser feliz

57

BIBLIOGRAFIA

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Editora Sprint ltda 1996

WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975

Page 6: Brinquedos Cantados Na Psicomotricidade

5

SUMAacuteRIO

1Introduccedilatildeo8

2Histoacuteria e classificaccedilatildeo dos brinquedos cantados11

21Brincar12

22Musicar13

23Movimentar15

3O desenvolvimento infantil segundo Piaget17

31Estaacutegio Sensoacuterio-motor20

32Estaacutegio Preacute-operacional24

33Os jogos por Piaget 27

4O brincar e a realidade Winnecotteana32

41Conceitos e contornos33

5Encantando a psicomotricidade37

51Breve histoacuteria da psicomotricidade39

52Educaccedilatildeo Reeducaccedilatildeo e Terapia psicomotora41

53Brinquedos cantados na psicomotricidade43

6Conclusatildeo55

Bibliografia57

Anexos59

6

RESUMO

Aborda-se neste trabalho a importacircncia e a contribuiccedilatildeo dos brinquedos

cantados na psicomotricidade com crianccedilas de 0 agrave 7 anos A presente monografia

desenvolve-se agrave luz da dialeacutetica interdisciplinar tomando-se de empreacutestimo

conceitos do folclore da psicanaacutelise da filosofia da psicologia do

desenvolvimento da ludoterapia e da musicoterapia Segue-se a descriccedilatildeo dos

brinquedos cantados paralelos ao desenvolvimento infantil segundo Piaget

enumerando-se os estaacutegios propostos por este autor e delimitando-se os

acalantos e as brincadeiras-de-roda como objeto de interesse maior da populaccedilatildeo

pesquisada Dar-se-aacute ecircnfase a discussatildeo do suporte agrave cliacutenica psicomotora diante

dos conceitos de Winnicott sobre a vida afetiva e o brincar fazendo-se referecircncia

agraves vivecircncias atraveacutes dos brinquedos cantados no contexto terapecircutico Na

culminacircncia deste estudo propotildee-se a diferenciaccedilatildeo entre educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo

e terapia psicomotora esboccedilando-se a elaboraccedilatildeo das estruturas psicomotoras

comuns agraves trecircs aacutereas citadas interpondo-se os brinquedos cantados como

recursos plausiacuteveis a este trabalho Apresenta-se ainda vinte e dois exemplos de

brinquedos cantados ilustrados por suas letras e pelo desenvolvimento da

brincadeira em questatildeo

Palavras-Chave Brinquedos cantados Psicomotricidade Luacutedico Terapia

Folclore Desenvolvimento infantil

7

1INTRODUCcedilAtildeO

O canto estaacute presente no universo simboacutelico de todas as culturas Vive-

se um processo de massificaccedilatildeo da cultura brasileira onde a muacutesica infantil estaacute

mesclada de sensualidade e cultuaccedilatildeo a um corpo esteacutetico grego Tem-se entatildeo

a incumbecircncia de preservar e formar a crianccedila que nasce ingecircnua sonhadora e

necessita de cuidados afetuosos

Visto que o som tem propriedades fiacutesicas que incidem sobre o corpo

humano de forma objetiva e subjetiva movendo o sujeito a partir da sua emoccedilatildeo

e que as crianccedilas satildeo estimuladas em sua afetividade se apropriando do uso

destes elementos luacutedico-sonoros para investimento pessoal e social supotildee-se que

os brinquedos cantados interferem de forma significativa no desenvolvimento

psicomotor das ditas crianccedilas

Faz-se assim a relevacircncia deste estudo para pesquisar a importacircncia

dos brinquedos cantados para o desenvolvimento psicomotor de crianccedilas de 0 agrave 7

anos de idade e ainda demonstrar a contribuiccedilatildeo destes elementos luacutedicoshy

sonoros na psicomotricidade com a referida populaccedilatildeo

Assume-se a investigaccedilatildeo da importacircncia e contribuiccedilatildeo dos

brinquedos cantados na psicomotricidade passando por quatro capiacutetulos

articulados entre si pelo vieacutes dos brinquedos cantados e dos interesses infantis

conforme o exposto a seguir

8

No primeiro capiacutetulo descreve-se uma breve histoacuteria e classificaccedilatildeo do

brincar a partir de referecircncias do folclore da psicanaacutelise e da filosofia Organiza-se

ideacuteias sobre trecircs possiacuteveis instacircncias que compreenderiam os brinquedos

cantados Musicar Brincar Movimentar Dar-se a ver na dialeacutetica entre a

Musicoterapia e a Psicomotricidade a importacircncia dos brinquedos cantados para

o desenvolvimento global da crianccedila nas idades mencionadas

Prossegue-se no segundo capiacutetulo um estudo sobre o desenvolvimento

infantil de 0 agrave 7 anos conforme a teoria Piagetiana Entre os estaacutegios do

desenvolvimento apontados por este autor para as estruturas cognosciacuteveis

imprescindiacuteveis a cada etapa sugere-se as contribuiccedilotildees de brinquedos cantados

compatiacuteveis com os momentos e as demandas verificadas Por fim mostra-se os

jogos na classificaccedilatildeo de Piaget situando o que cada etapa prioriza e delimitando

dois tipos de brinquedos cantados especiacuteficos para serem trabalhados na

psicomotricidade Os Acalantos e as Brincadeiras-de-roda

Identifica-se no capiacutetulo trecircs os conceitos de Winnicott sobre o objeto

transicional fenocircmeno transicional matildee suficientemente boa aacuterea intermediaacuteria e

o eu (Self) mostrando-se a interaccedilatildeo exposta pelos brinquedos cantados entre as

artes o luacutedico e o afeto supondo-se que esta interaccedilatildeo seja capaz de dar suporte

agrave cliacutenica psicomotora

Na proposta do capiacutetulo quatro buscou-se ldquoEn-Cantarrdquo a

psicomotricidade resumindo em uma breve histoacuteria como se instaurou a

educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo e terapia psicomotora atuais e ainda musicar com os

9

brinquedos cantados a elaboraccedilatildeo das diversas estruturas psicomotoras

assinalando a contribuiccedilatildeo destas para a psicomotricidade com a faixa etaacuteria

pesquisada

Finalizando esta introduccedilatildeo e abrindo os estudos desta monografia

deixa-se agrave contemplaccedilatildeo a muacutesica Redescobrir do compositor Luiz Gonzaga

Juacutenior 1980 interpretado pela cantora Elis Regina no Cd ldquoMuacutesica O melhor de

Elis Reginardquo WEA 2000

ldquoREDESCOBRIRrdquo

Como se fora brincadeira de roda (memoacuteria)

Jogo do trabalho na danccedila das matildeos (macias)

O suor dos corpos na canccedilatildeo da vida (histoacuteria)

O suor da vida e no calor de irmatildeos (magia)

Como um animal que sabe da floresta (memoacuteria)

Redescobrir o sal que estaacute na proacutepria pele (macia)

Redescobrir o doce no lamber das liacutenguas (magia)

Redescobrir o gosto e o sabor da festa (magia)

Vai o bicho homem fruto da semente (memoacuteria)

Renascer da proacutepria forccedila proacutepria luz e feacute (memoacuteria)

Entender que tudo eacute nosso sempre esteve em noacutes (histoacuteria)

Somos a semente ato mente e voz (magia)

Natildeo tenha medo meu menino bobo (memoacuteria)

Tudo principia na proacutepria pessoa (lembranccedila)

Vai como a crianccedila que natildeo teme os tempos (misteacuterio)

Amor se fazer eacute tatildeo prazer que eacute como fosse dor (magia)

10

2HISTOacuteRIA E CLASSIFICACcedilAtildeO DOS BRINQUEDOS CANTADOS

Os brinquedos cantados surgem na espontaneidade da cultura popular

Geralmente satildeo cantigas anocircnimas acompanhadas de movimentos expressivos

saltitantes e ou dramatizados

O brincar eacute uma forma de manifestaccedilatildeo caracteriacutestica da infacircncia entretanto

como afirma Huizinga (1980) a essecircncia do jogo eacute o prazer ele ultrapassa os

limites da realidade fiacutesica e assim se aplica a qualquer fase da vida

Os termos brincar e jogar satildeo referenciados como sinocircnimos por Cascudo

(1988) e Ferreira A (1988) Nos principais idiomas internacionais (Inglecircs Francecircs

Alematildeo e espanhol) brincar e jogar tambeacutem servem para definir atividades

artiacutesticas como a interpretaccedilatildeo teatral ou musical (Santa Roza1993)

Na liacutengua portuguesa o termo brincar vem do latim vinculum e significa

laccedilo uniatildeo No entanto eacute o termo luacutedico da nossa liacutengua tambeacutem proveniente do

latim ludus que melhor abrange e define as atividades artiacutesticas

culturais brincadeiras e jogos(ibid)

Nos divertimentos tradicionais infantis encontra-se os jogos de ronda

cantados declamados ritmados ou natildeo de movimento etc Brinquedo eacute ainda o

objeto material usado para brincar como o carro a boneca Diz-se tambeacutem da

proacutepria accedilatildeo de brincar (de cabra cega de chicotinho queimado e etc)

(Cascudo1988)

11

Dos trecircs povos que inicialmente formaram a cultura brasileira o

portuguecircs trouxe maior influecircncia para os brinquedos cantados os quais sofreram

modificaccedilotildees de acordo com a cultura local (Cascudo1988) Diga-se ainda que os

ritmos e danccedilas africanas juntamente com a alegria e marcaccedilatildeo ritmica-corporal

indiacutegena deu um tempero mais brejeiro ao legado luacutedico brasileiro

21BRINCAR

Como sonhar acordado brincar eacute expor-se de dentro para fora traduccedilatildeo

das impressotildees da crianccedila sobre o mundo que a cerca e os seus sentimentos

O brincar se desenvolve junto com o amadurecimento do sujeito as etapas iniciais

vatildeo perdendo o significado para o acreacutescimo do novo modo de explorar cada vez

mais elaborado

Todos os povos tecircm suas brincadeiras pertinentes agraves necessidades

expressivas de cada cultura O tempo se encarrega de transformar suas estruturas

mas eacute certo que as crianccedilas precisam de tempo espaccedilo e companheiros para

brincar

Sheridam (1990) classifica as brincadeiras em ativas exploratoacuterias

manipulativas imitativas construtivas faz-de-conta jogos com regras recreaccedilotildees

sofisticadas Este trabalho prioriza os brinquedos cantados que na praacutetica

psicomotora revelam valores e costumes culturais pontos de referecircncia para a

comunicaccedilatildeo e o relacionamento com o outro Estas manifestaccedilotildees envolvem a

emoccedilatildeo e o movimento que permeados pela muacutesica burlam as defesas e fazem

12

aflorar a essecircncia do ser

Os brinquedos cantados se inserem nas diversas formas de

classificaccedilatildeo pois em face de sua riqueza dinacircmica satildeo brincadeiras ativas

(exChep Chep) imitativas(ex Samba Lecirc Lecirc) construtivas(exA minha velha tem)

priorizam o faz-de-conta conteacutem regras especiacuteficas e vatildeo desde as mais simples

como ldquoAtirei o pau no gatordquo ateacute as mais elaboradas como ldquoA linda rosa juvenilrdquo1

Lapierre e Aucoutourrier (1986p29) pontuaram que ldquoA expressatildeo sonora

estaacute necessariamente ligada agrave relaccedilatildeo com o outrordquo sabe-se que ainda na barriga

da matildee a funccedilatildeo auditiva se instaura no embriatildeo e ele ouve os batimentos

cardiacuteacos dele e da matildee e todo um mundo de sons atraveacutes do liacutequido amnioacutetico

Eacute a relaccedilatildeo com o outro atraveacutes dos sons que situa a crianccedila no espaccedilo no tempo

e no afeto

22 MUSICAR

Segundo Gainza (1988) ldquoa accedilatildeo musical implica num movimento

seja das cordas vocais e do aparelho fonador naquele que fala ou canta seja do

proacuteprio corpordquo No uacuteltimo caso o corpo aparece como instrumento produtor de

som ou se prolonga atraveacutes de um instrumento musical propriamente ditordquo

Sob a oacutetica musical as teorias apontam para as estruturas fiacutesico-sonoras

Encontra-se nestas a formaccedilatildeo de todo contexto musical que eacute igualmente

1 PAIVA Ione Maria R de BRINQUEDOS CANTADOS 1998 p25416383

13

correspondente para os brinquedos cantados Fala-se entatildeo dos elementos

inevitaacuteveis de qualquer muacutesica Ritmo Melodia Harmonia Eis a definiccedilatildeo de

Costa(1989p61) ldquoNuma definiccedilatildeo muito simples muacutesica eacute a organizaccedilatildeo de

relaccedilotildees entre sonoridades simultacircneas ou natildeo no decorrer do tempo Sons e

silecircncios satildeo combinados e encadeados entre si formando ritmos melodias e

harmoniasrdquo

O ritmo eacute basicamente a ordenaccedilatildeo do movimento formando um elo

entre espaccedilo e tempo A melodia eacute uma sequumlecircncia de sons notas musicais graves

e agudas A harmonia eacute a verticalidade ou a simultaneidade dos sons parte mais

intelectualizada da muacutesica(Costa opcit mesma paacutegina)

As muacutesicas infantis em geral acompanham o desenvolvimento afetivo

motor cognitivo e social da crianccedila Observa-se que existem brinquedos cantados

mais simples contendo siacutelabas repetitivas estrutura musical miacutenima e que satildeo

preferidos pelas crianccedilas entre 2 e 3 anos por ex

CAI CAI BALAtildeO(folclore)2

Cai cai balatildeo cai cai balatildeo aqui na minha matildeo

Natildeo vou laacute natildeo vou laacute natildeo vou laacute tenho medo de apanhar

A muacutesica dos brinquedos cantados altera a sensibilidade o humor faz

aflorar a criatividade a expressividade do corpo e da alma revelando as habilidades

e dificuldades da crianccedila se convertendo entatildeo em instrumento de trabalho na

psicomotricidade

2 MARTINS Armando TOQUE VIOLAtildeO OU GUITARRA(meacutetodo praacutetico) 1980p88

14

23MOVIMENTAR

Do choro aos acalantos (muacutesicas de ninar) dos cantos culturais as

brincadeiras-de-roda haacute uma trajetoacuteria que vincula o som da voz ao movimento

corporal conforme afirma Fregtman(1988p17) isto ocorre ldquoporque a muacutesica eacute

feita dita tocada e cantada como manifestaccedilatildeo corporalrdquo

Toda forma de comunicaccedilatildeo se daacute atraveacutes de coacutedigos estabelecidos

linguagens por assim dizer Fregtman (opcit) conceitua a partir da musicoterapia

que trecircs niacuteveis de manifestaccedilatildeo expressiva simultacircneos podem se dar quando

usamos a muacutesica Satildeo eles

1) Linguagem sonora (sons silecircncios entonaccedilotildees melodias ritmos)

2) Linguagem corporal (gestos posturas trejeitos tipos de movimentos)

3) Linguagem verbal (a fala a letra a poesia)

Apenas para efeitos didaacuteticos se consegue separar estes trecircs niacuteveis de

linguagem A linguagem sonora necessariamente traacutes expressotildees corporais

estimula a emoccedilatildeo que se revela atraveacutes dos gestos posturas movimentos voz e

etc A linguagem corporal responde ao chamado verbal ou musical os quais soam

determinados significados simboacutelicos apreendidos nas relaccedilotildees soacutecio-afetivas E

por fim a linguagem verbal eacute inserida para nomear as accedilotildees sejam elas musicais

ou corporais

15

Os brinquedos cantados satildeo tambeacutem conceituados mediante sua aplicaccedilatildeo

em determinadas funccedilotildees na recreaccedilatildeo Os brinquedos cantados podem ser de

marcha de grupos opostos de palmas de roda de ninar ou alternados

Modificaccedilotildees diversas quanto ao andamento (lento moderado raacutepido) agrave formaccedilatildeo

(rodas simples complexas fileiras) e agrave movimentaccedilatildeo dos brinquedos cantados

(marcha roda dramatizaccedilatildeo) satildeo descritas por Leitatildeo(2001)

Neste trabalho prioriza-se os acalantos e as brincadeiras-de-roda tendo

em vista que a populaccedilatildeo estudada crianccedilas de 0 agrave 7 anos podem ser atendidas

em suas necessidades de acolhimento afetivo comunicaccedilatildeo expressiva e

socializaccedilatildeo atraveacutes destes elementos A Simbologia do movimento de Lapierre amp

Aucoutourrier (1986p41) sustenta o nosso pensamento atraveacutes da seguinte

citaccedilatildeo ldquoA muacutesica pode nos ajudar muito a redescobrir essa dimensatildeo do

movimento desde que natildeo seja restringida aos estereotipos da lsquodanccedilarsquo mesmo a

lsquoexpressivarsquo ldquo

ldquoO JACAREacuterdquo (folclore)3

O jacareacute o jacareacute o jacareacute eacute amigo ele eacute

Oi jacareacute oi jacareacute vem caacute cumpadre que a lagoa natildeo daacute peacute

O jacareacute tem os olhos muito grandes tem o rabo muito grande

Mas as pernas satildeo curtinhas

O jacareacute tem a boca muito grande tem os dentes muito grande

mas as pernas satildeo curtinhas

3 Recolhido atraveacutes da cultura oral

16

3O DESENVOLVIMENTO INFANTIL SEGUNDO PIAGET

Para Piaget (2003) o conhecimento eacute o resultado das accedilotildees e

relacionamentos do sujeito com o ambiente em que vive e vai sendo elaborado

desde o nascimento ateacute suas vivecircncias com os objetos pessoas e situaccedilotildees que

procura conhecer sejam elas do mundo fiacutesico ou cultural

Este autor formulou importantes conceitos que explicam o

desenvolvimento das funccedilotildees cognitivas A interaccedilatildeo entre a assimilaccedilatildeo

(informaccedilotildees do mundo exterior recebidas atraveacutes dos sentidos movimento de fora

para dentro) e a acomodaccedilatildeo (informaccedilatildeo processada respostas dadas ao mundo

exterior movimento de dentro para fora) sobre uma accedilatildeo satildeo validadas pelo

processo de equilibraccedilatildeo (Piagetopcit)

As perturbaccedilotildees exteriores se mostram a crianccedila a partir do que ela natildeo

conhece assim oportunizadas pelo processo de equilibraccedilatildeo e por meio de suas

atividades vai respondendo a estas perturbaccedilotildees vencendo a mais uma etapa

cognosciacutevel A equilibraccedilatildeo eacute dinacircmica e nunca cessa ela norteia a passagem de

um conhecimento ao outro(Piaget2003)

Dois outros conceitos Piagetianos satildeo imprescindiacuteveis ao tenro

desenvolvimento infantil e encontra-se nos brinquedos cantados uma forma

espontacircnea de vivenciaacute-los A Imitaccedilatildeo e a noccedilatildeo de Permanecircncia do Objeto

17

Imitaccedilatildeo Eacute na gecircnese da imitaccedilatildeo que inicia o movimento luacutedico da crianccedila

Imitando o meio e as pessoas ao seu redor a crianccedila apreende e treina suas novas

aquisiccedilotildees Ferreira I(1994 p47) afirma que ldquoA imitaccedilatildeo eacute uma das manifestaccedilotildees

da funccedilatildeo simboacutelica Constitui-se num dos elementos baacutesicos que permitem a

crianccedila uma assimilaccedilatildeo de realidade ao seu proacuteprio ldquoeurdquo bem como Acomodaccedilatildeo

de suas estruturas mentais e de accedilatildeo agraves exigecircncias da realidade fiacutesica e socialrdquo

Para haver o ato imitativo eacute necessaacuterio um modelo Alguns brinquedos

cantados propotildeem accedilotildees simboacutelicas que copiam o mundo adulto sem impor aos

pequenos o fardo da responsabilidade que este teria na realidade Eis um exemplo

interessante onde as crianccedilas imitam os afazeres dos mais velhos

PASSA PASSA GAVIAtildeO(folclore)4

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

As lavadeiras fazem assim

Assim assim assim assim

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

As passadeiras fazem assim

Assim assim assim assim

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

As cozinheiras fazem assim assim assim

Assim assado carne seca com ensopado

4 Recolhido atraveacutes da cultura oral

18

Objeto permanente Nos primeiros dois anos de vida a crianccedila apresenta um

comportamento em constante adaptaccedilatildeo pois estaacute sempre se modificando para

responder aos estiacutemulos do meio A crianccedila inicialmente natildeo tem noccedilatildeo da

permanecircncia dos objetos ela pensa que eles soacute existem enquanto estatildeo ao

alcance dos seus olhos caso sejam escondidos a sua frente acharaacute que estes

acabaram ou se desintegraram Entre os 18 e 24 meses a crianccedila jaacute consegue

elaborar mais este conhecimento e apesar de natildeo vecirc-lo ouvi-lo ou tocaacute-lo ela vai

compreender que os objetos independem da sua vontade e presenccedila para

existirem

Para melhor apreensatildeo da realidade fiacutesica a praacutetica pelo ensaio e erro ou

aparecer desaparecer vatildeo treinar e orientar os pequenos na aquisiccedilatildeo das noccedilotildees

de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo da realidade como

afirma FerreiraI(1994p35) ldquoO esquema do objeto permanente eacute baacutesico para a

construccedilatildeo das noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidaderdquo

Observe que as crianccedilas nesta fase gostam das brincadeiras de

esconde-esconde que amenizam suas anguacutestias sobre a existecircncia ou natildeo dos

objetos reais Seu proacuteprio corpo eacute posto agrave prova escondendo o rosto ou as matildeos

atraacutes de uma almofada por exemplo A muacutesica das palminhas talvez possa auxiliar

nesta etapa

19

PALMINHAS PALMINHAS (folclore)5

Palminhas palminhas nos vamos bater

Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconder

Em cima em cima noacutes vamos bater

Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconde

Assim assim pra traacutes esconder

Em baixo em baixo noacutes vamos bate

Depois as matildeozinhas pra traacutes esconde

Assim assim pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconder

Os conceitos estudados ateacute aqui se realizam dentro dos estaacutegios do

desenvolvimento organizados por Piaget Passar-se-aacute neste momento agrave elucidaccedilatildeo

dos estaacutegios pertinentes agrave faixa etaacuteria da populaccedilatildeo pesquisada nesta monografia

estaacutegios Sensoacuterio-motor e Preacute-operacional

31ESTAacuteGIO SENSOacuteRIO MOTOR (0 agrave 2 anos) Estaacutegio que vai do nascimento

ateacute a aquisiccedilatildeo da linguagem e eacute dividido em 6 sub estaacutegios Esta eacute a fase do

comportamento inteligente antes da aquisiccedilatildeo da linguagem a crianccedila organiza a

informaccedilatildeo obtida atraveacutes dos sentidos e desenvolve respostas aos estiacutemulos

5 Recolhido atraveacutes da cultura oral

20

ambientais com comportamento adaptativo e constante modificaccedilotildees dos

esquemas de accedilatildeo em resposta ao meio A aquisiccedilatildeo mais importante deste

periacuteodo eacute o Objeto Permanente Manifesta-se ainda a imitaccedilatildeo que alcanccedilaraacute o

seu auge no proacuteximo estaacutegio

1ordm Sub Estaacutegio ndash Exerciacutecio dos reflexos (0 a 1 mecircs) Do alto da sua imaturidade

bioloacutegica a crianccedila se relaciona com o meio atraveacutes dos movimentos reflexos

hereditaacuterios que se aprimoram pelo exerciacutecio tornando-se cada vez mais

eficientes Ainda natildeo haacute a distinccedilatildeo entre o eu e o outro

2ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular primaacuteria (1 a 4 meses)Esta eacute a fase das

primeiras acomodaccedilotildees onde os exerciacutecios reflexos se transformam em esquemas

e comeccedilam a coordenar seus movimentos Inicia-se a construccedilatildeo dos primeiros

esquemas vocais A noccedilatildeo de tempo eacute primitiva sua duraccedilatildeo soacute eacute sentida no

decorrer da proacutepria accedilatildeo O final do periacuteodo eacute marcado pela coordenaccedilatildeo entre trecircs

esquemas fundamentais audiccedilatildeo fonaccedilatildeo e visatildeo

3ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular secundaacuteria (4 a 8 meses) O bebecirc apresenta

um maior interesse pelo mundo externo os esquemas se diferenciam surgindo

novos esquemas de coordenaccedilatildeo viso-motora unindo-se as aquisiccedilotildees jaacute

realizadas Os movimentos comeccedilam a ser repetido pelo prazer da repeticcedilatildeo

Observa-se o iniacutecio da noccedilatildeo do Objeto Permanente entretanto ela estaacute

condicionada ao movimento da crianccedila pois as coisas ainda natildeo seguem uma

trajetoacuteria independente

21

4ordm Sub Estaacutegio ndash Coordenaccedilatildeo de esquemas secundaacuterios (8 a 12 meses)

Caracteriza-se pelas primeiras condutas propriamente inteligentes surgindo

adaptaccedilotildees sensoacuterio-motoras intencionais onde o bebecirc combina esquemas

conhecidos a novas situaccedilotildees e ainda diferencia os meios e os fins de uma accedilatildeo

Aparece nesta fase o comportamento antecipatoacuterio caso o bebecirc veja sua matildee se

afastar chora a imitaccedilatildeo de sons e accedilotildees satildeo agora intencionais e

conscientizadas no entanto ainda condicionadas ao esquema visual Revelam-se

os primoacuterdios da memoacuteria e da representaccedilatildeo mental Comeccedila a permanecircncia do

objeto independente do ldquoeurdquo Quanto agrave noccedilatildeo de espaccedilo e tempo a crianccedila

comeccedila a ordenar os proacuteprios deslocamentos em relaccedilatildeo aos objetos

5ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular terciaacuteria (12 a 18 meses) A crianccedila gradua

seus movimentos varia e experimenta novos padrotildees de comportamento

observando os diferentes efeitos da sua accedilatildeo sobre o objeto o qual jaacute eacute dotado de

permanecircncia Pode-se afirmar que o mecanismo da inteligecircncia praacutetica estaacute

definitivamente constituiacutedo A cada estruturaccedilatildeo da inteligecircncia corresponde uma

nova estruturaccedilatildeo do espaccedilo do tempo da causalidade etc Agindo por ldquoensaio e

errordquo os resultados das accedilotildees ainda satildeo por acaso pois as representaccedilotildees

mentais de fatos externos ainda natildeo se incluem ou seja o pensamento ainda natildeo

estaacute formado

22

6ordm Sub Estaacutegio ndash A invenccedilatildeo dos novos meios por combinaccedilatildeo

mental (18 a 24 meses) Esta fase caracteriza o momento de transiccedilatildeo entre a

inteligecircncia praacutetica (sensoacuterio-motora) e a inteligecircncia representativa quando

comeccedila a funccedilatildeo simboacutelica Inicia-se a representaccedilatildeo mental imaginativa e criativa

No jogo simboacutelico a crianccedila usa siacutembolos na linguagem e na brincadeira do faz-deshy

conta recorda-se de fatos passados e os representa depois de algum tempo O

final deste periacuteodo eacute marcado pela primeira noccedilatildeo de conservaccedilatildeo(FerreiraI1994)

Os primeiros anos de vida da crianccedila satildeo marcados pelas inuacutemeras

formaccedilotildees e transformaccedilotildees fiacutesicas mentais e emocionais conforme descritas

acima Os acalantos (muacutesicas de ninar) satildeo cantados por matildees de todo o mundo

numa primeira inserccedilatildeo da crianccedila ao universo musical de sua cultura Eles

exercem um poderoso papel de auxiacutelio agrave maternagem acolhendo-a afetuosamente

condiccedilatildeo baacutesica para que a crianccedila se sinta suficientemente amada para

prosseguir desenvolvendo-se Este tema seraacute melhor explanado nos proacuteximos

capiacutetulos Por hora parece oportuno um exemplo de acalanto

TUTU MARAMBAacute(folclore)6

Tutu marambaacute

Natildeo venha mais caacute

Que o pai do menino

Te manda mata

6 MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute PRECISO CANTAR Musicoterapia cantos e canccedilotildees2001p38

23

32ESTAacuteGIO PREacute-OPERACIONAL (2 agrave 7 anos) A crianccedila vive um tempo em que

usa a intuiccedilatildeo ela passa todos os seus atos para o pensamento sob a forma de

imagens e diante de uma situaccedilatildeo praacutetica suas respostas vatildeo se basear no que

ela vecirc sente mexe ou seja nas aparecircncias dos fatos que observa A crianccedila

possui a capacidade de representar uma coisa por outra e esta representaccedilatildeo

pode se dar por um gesto um desenho uma palavra etc A verbalizaccedilatildeo tem

destaque neste periacuteodo e a linguagem conduz agrave socializaccedilatildeo das accedilotildees Este

estaacutegio compreende duas formas de pensamento a saber O Pensamento

Simboacutelico e o Pensamento Intuitivo

Pensamento simboacutelico (2 agrave 4 anos) Para Piaget a funccedilatildeo simboacutelica consiste na

capacidade da crianccedila representar objetos e fatos conhecidos poreacutem ausentes por

um substituto qualquer seja este concreto ou imaginaacuterio Uma caracteriacutestica

fundamental desta fase eacute a diferenciaccedilatildeo entre significante e significado que eacute

manifestada por vaacuterias condutas sendo elas O jogo simboacutelico ou faz-de-conta a

imitaccedilatildeo o desenho a imagem mental a linguagem a criatividade etc Para

ldquosignificanterdquo leia-se objeto concreto e para ldquosignificadordquo a ideacuteia compreensiva do

que foi percebido (Piaget 2003)

Sobre a funccedilatildeo simboacutelica FerreiraI(1994p43) complementa ldquoA funccedilatildeo

simboacutelica pode ser considerada uma linguagem individual e particular da crianccedila

usada para compreender e representar o mundo O siacutembolo eacute subjetivo e aos

poucos vai sendo substituiacutedo por signos da linguagem socialrdquo

24

O pensamento infantil encontrado entre os 2 e 7 anos de idade eacute

egocentrado A visatildeo da realidade eacute centrada no ponto de vista do proacuteprio sujeito

sendo este incapaz de relacionaacute-lo ou de coordenaacute-lo a pontos de vistas diferentes

do seu

A aquisiccedilatildeo da linguagem tem destaque nesta fase e coincide com a

formaccedilatildeo do jogo simboacutelico que melhor se manifesta no jogo do faz-de-conta

Atraveacutes do que discute Ferreira I (1994p43) ldquoOs siacutembolos podem ser

socializados como os brinquedos coletivos e se tornar um siacutembolo coletivordquo

confirma-se mais uma vez que os estes elementos apresentam extrema valorizaccedilatildeo

soacutecio-afetiva e cultural Com a ludicidade que lhe eacute peculiar os brinquedos

cantados nesta fase encantam ensinam desenvolvem a memoacuteria a auto estima

o esquema corporal a imagem corporal a Coordenaccedilatildeo Motora a socializaccedilatildeo

entre outras funccedilotildees essenciais agrave formaccedilatildeo dos pequenos Eis um bom exemplo

O GIGANTE E O ANAtildeO(autor desconhecido)7

O peacute do gigante eacute grande

Do anatildeo pequenininho

O gigante pisa forte

O anatildeo pisa mansinho

O gigante fala grosso

O anatildeo fala fininho

Porque gigante come muito

E o anatildeo come pouquinho

7 Recolhido atraveacutes da cultura oral

25

Pensamento Intuitivo (4 agrave 7 anos) Subdividido em Intuitivo Simples e Intuitivo

Articulado eacute um estaacutegio marcado pela crescente formaccedilatildeo de conceitos O

pensamento intuitivo eacute uma espeacutecie de accedilatildeo executada em pensamento encaixar

seriar deslocar etc

A crianccedila no intuitivo simples representa mentalmente assimila e entende

o mundo real poreacutem de forma limitada pois soacute consegue coordenar um uacutenico

ponto de vista com base nas aparecircncias do que vecirc Centrado em si mesmo natildeo

admite a reversibilidade falta-lhe ainda a noccedilatildeo de conservaccedilatildeo das substacircncias

Quando se pede agrave crianccedila para desenhar ela desenha o que sabe e natildeo

o que vecirc Este egocentrismo que lhe eacute peculiar deveraacute evoluir para a

descentraccedilatildeo bem como haveraacute progressos nas diversas etapas cognitivas

(classificar seriar etc) Ao final do pensamento intuitivo articulado a crianccedila

comeccedila a levantar duacutevidas e questionamentos percebendo a mobilidade das

situaccedilotildees

ldquoA BARATArdquo(folclore)8

A barata diz que tem 7 saias de filoacute

Eacute mentira da barata ela tem eacute uma soacute

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute

A barata diz que tem um anel de formatura

Eacute mentira da barata ela tem eacute casca dura

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura

8 PAIVA Ione Maria R de OPCITp80

26

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura

A barata diz que dorme numa cama de cetim

Eacute mentira da barata ela dorme eacute no capim

Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim

Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim

Na muacutesica da barata as crianccedilas ironizam a tentativa de mentir deste

inseto A propoacutesito das ldquomentirinhasrdquo contidas nas brincadeiras infantis funcionam

como passaporte para a experimentaccedilatildeo do que eacute verdadeiro e real As palavras

de cascudo(1988p491) discorrem sobre os deslimites da mentira ldquoAs estoacuterias

mentirosas() satildeo muito populares e constituem um gecircnero especial onde a

imaginaccedilatildeo exagerada e livre se liberta dos limites da loacutegicardquo Acredita-se que as

crianccedilas exigem a verdade para terem o domiacutenio do que aprendem

33OS JOGOS POR PIAGET

ldquoPiaget vecirc no jogo um processo de ajuda ao desenvolvimento da crianccedila

acompanha-a sendo ao mesmo tempo uma atividade consequumlente de seu proacuteprio

crescimentordquo(Negrine1994p45) A leitura dos jogos em Piaget acompanha o

desenvolvimento integral do homem a inteligecircncia a afetividade a motricidade e a

sociabilidade satildeo vivenciadas nos jogos sendo a afetividade a funccedilatildeo que constitui

a energia necessaacuteria para a progressatildeo psiacutequica moral intelectual e motora

daquele que joga

Trecircs classificaccedilotildees baacutesicas do jogo satildeo mostradas na teoria

27

psicogeneacutetica de Piaget Jogos de exerciacutecio Jogos simboacutelicos e jogos de regra

Jogos de Exerciacutecio Ou jogos sensoacuterio-motores que aparecem no periacuteodo do

mesmo nome natildeo chegam a constituir sistemas luacutedicos independentes e

construtivos Sua motivaccedilatildeo se daacute pelo prazer funcional ou pelo prazer produzido

pela tomada de consciecircncia de suas novas capacidades

Os jogos motores ou de exerciacutecios satildeo aqueles que envolvem

diretamente a participaccedilatildeo ativa do corpo como um todo inclui-se ainda os jogos

sensoriais que ajudam a desenvolver os oacutergatildeos dos sentidos

A crianccedila nesta fase gosta de brincar com brinquedos que manipula

repetidas vezes explorando toda sua superfiacutecie Brincar de esconder o rosto ou os

objetos atirar e pegar brinquedos eacute prazeroso para a crianccedila ao mesmo tempo

que assimila as noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo

da realidade

Os estiacutemulos sensoriais tambeacutem fazem parte do seu interesse objetos

de diversas cores e texturas brinquedos sonoros muacutesica para ouvir acalentar

danccedilar e brincar desta forma explora o reconhecimento do eu do outro e dos

objetos

O jogo de exerciacutecio eacute o primeiro a aparecer no comportamento da

crianccedila explicitamente do 2ordm ao 5ordm estaacutegio do desenvolvimento sensoacuterio motor por

oposiccedilatildeo ao 6ordm estaacutegio onde se inicia o jogo simboacutelico(Negrine 1994)

28

ATIREI O PAU NO GATO(Folclore)9

Atirei o pau no ga-to-to mas o ga-to-to

Natildeo morreu- rreu- rreu dona chica-ca-ca

Admirou- se se do berro do berro

Do berro que o gato deu Miau

Jogos Simboacutelicos Em princiacutepio do ponto de vista de Piaget a diferenccedila entre os

jogos simboacutelicos e os de exerciacutecio intelectual consiste em que os primeiros se

referem ao pensamento

Os jogos simboacutelicos tem iniacutecio no 6ordm estaacutegio do periacuteodo sensoacuterio-motor

e se continua aproximadamente dos 2 aos 4 anos de idade cronoloacutegica ou do 1ordm

estaacutegio do preacute-operacional(fase simboacutelica) ateacute o iniacutecio do 2ordm estaacutegio do preacuteshy

operacional(fase intuitiva) Piaget apud Negrine(1994p41) deixa claro a

supremacia dos jogos simboacutelicos em detrimento dos anteriores

ldquoO esquema simboacutelico por si mesmo eacute suficiente para

assegurar a superioridade da representaccedilatildeo sobre

uma accedilatildeo pura nesta segundo Piaget o jogo

permite assimilar o mundo exterior ao eu como meio

infinitamente mais poderoso que o de simples exerciacuteciordquo

Como aparecem antes da linguagem verbal propriamente dita os jogos

simboacutelicos satildeo representados nas imagens mentais da crianccedila e vivenciados

atraveacutes dos gestos onomatopeacuteias pelo prazer de brincar com o faz-de-conta

9 MILLLECCO FILHO Luiacutes A e outros OPCIT p43

29

Nesta fase os acalantos vatildeo perdendo sua importacircncia dando lugar agraves

brincadeiras-de-roda os pequenos ao mesmo tempo em que aprendem a falar

aprendem a cantar as brincadeiras-de-roda tem a propriedade de enriquecerem o

repertoacuterio de palavras e movimentos

Jogos de Regras Os jogos de regras natildeo seguem o mesmo itineraacuterio dos

anteriores pois comeccedilam a aparecer na metade do 2ordm estaacutegio do periacuteodo preacuteshy

operacional isto eacute dos 4 aos 7 anos e principalmente no periacuteodo das operaccedilotildees

concretas dos 7 aos 12 anos Pesquisaremos como ocorrem os jogos de regra ateacute

os 7 anos pela delimitaccedilatildeo da populaccedilatildeo que esta monografia abrange

Dos 4 aos 7 anos periacuteodo preacute operacional intuitivo surgem os jogos de

regra que substituiratildeo o siacutembolo e enquadraratildeo o exerciacutecio no momento em que se

constituem de forma incipiente certas relaccedilotildees sociais(Piaget2003)

Com relaccedilatildeo as regras segundo Piaget apud Negrine

(1994p44)distinguem-se dois tipos transmitidas e espontacircneas As regras

transmitidas se referem aos jogos institucionais que se impotildeem por pressatildeo das

geraccedilotildees anteriores As espontacircneas se referem aos jogos de natureza contratual e

momentacircnea isto eacute procedem da socializaccedilatildeo dos jogos de simples exerciacutecios ou

dos simboacutelicos

30

Na cantiga de roda ldquoCiranda cirandinhardquo destaca-se o desenvolvimento

da roda e ao final as regras uma imposta (entrar na roda e dizer um verso) outra

espontacircnea (serve qualquer verso criado na hora ou jaacute existente) Outra versatildeo

desta mesma cantiga para crianccedilas menores pede ldquofaccedila um gesto bem bonito

diga adeus e vaacute se emborardquo A liberdade de criar um gesto verso a importacircncia de

estar no meio da roda como centro das atenccedilotildees e a valorizaccedilatildeo dos

companheiros satildeo o impulso para a espontaneidade e o crescimento da autonomia

do ser

CIRANDA CIRANDINHA(folclore)10

Ciranda cirandinha vamos todos cirandar

Vamos dar a meia volta volta e meia vamos dar

o anel que tu me destes era vidro e se quebrou

o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou

Por isto sinhaacute Maria entre dentro desta roda

Diga um verso bem bonito diga adeus e vaacute se embora

Os conceitos estudados neste capiacutetulo podem orientar sobre o tempo

mental da crianccedila e a possibilidade de oferecer estiacutemulos adequados ao seu

momento Como uma boa buacutessola natildeo conteacutem apenas o norte

10 MARTINS Armando OPCITp105

31

4O BRINCAR E A REALIDADE WINNICOTTEANA

A partir da premissa de que natildeo se pode dividir o ser humano em

classificaccedilotildees bioloacutegicas e psiacutequicas posto que este eacute uma unidade indivisiacutevel

formulou-se apenas para efeitos didaacuteticos no capiacutetulo anteriorum olhar mais

fiacutesico(cognitivo) do desenvolvimento infantil atraveacutes de Piaget Discutir-se-aacute neste

capiacutetulo o ponto de vista Winnicotteano sobre a vida emocional e o brincar

Nos brinquedos cantados a arte de brincar se mistura a arte de cantar e

eacute fazendo ldquoArtesrdquo que a crianccedila dar-se a ver e a crescer A partir deste tema

instigante e universal que eacute o brincar torna-se mais prazeroso ainda falar sobre ele

depois de conhecer os estudos do Drordm Winnicott

D W Winnicott pediatra psicanalista psicoterapeuta inglecircs e defensor

da Ludoterapia nasceu no comeccedilo do seacuteculo 20 produzindo uma vasta obra

cientiacutefica ateacute os anos 70 quando nos deixou Em seu livro ldquoO Brincar e

Realidaderdquo(1975) se preocupou com os primoacuterdios da vida imaginativa da

experiecircncia cultural em todos os sentidos da relaccedilatildeo das artes com o brincar e da

criatividade

Neste momento parece relevante abordar alguns dos conceitos teoacutericos

do DrordmWinnicott atraveacutes da obra mencionada pelo suporte que podem

proporcionar agrave compreensatildeo da vida psiacutequica mediante o brincar e a terapia Em

32

Conceitos e contornos ilustrar-se-aacute o Objeto transicional Fenocircmeno transicional

Matildee suficientemente boa Aacuterea intermediaacuteria e o Eu(Self) circundando a

importacircncia destes conceitos em relaccedilatildeo aos brinquedos cantados e sua aplicaccedilatildeo

na cliacutenica psicomotora

41CONCEITOS E CONTORNOS

Objeto Transicional Eacute o objeto concreto relativo agrave exploraccedilatildeo pulsional (descarga

impulsiva) do sujeito por exemplo uma boneca ou um carrinho

Fenocircmeno Transicional Satildeo as accedilotildees relativas agrave exploraccedilatildeo pulsional ou o uso

que se faz dos objetos transicionais Ex Um carrinho pode ser acalentado como se

fosse um bebecirc

Matildee Suficientemente Boa Pessoa que ocupa o lugar de suporte afetivo no

desenvolvimento global da crianccedila tambeacutem associada por ele a figura do

terapeuta

Em outras palavras o amor da matildee ou do terapeuta

natildeo significaria apenas um atendimento agraves necessidades

da dependecircncia mas vem a significar a concessatildeo

de oportunidades que permita ao bebecirc ou ao paciente

passar da dependecircncia para a autonomia

(Winnicott1975p150)

33

Aacuterea Intermediaacuteria Aacuterea neutra de experimentaccedilatildeo vivencial entre as realidades

internas e externas do sujeito que favorece a dialeacutetica do brincar e das artes O

dito autor parece supor um espaccedilo de refuacutegio para a resoluccedilatildeo dos conflitos

humanos Eis aqui a referecircncia para tal colocaccedilatildeo

Presume-se aqui que a tarefa de aceitaccedilatildeo da realidade

nunca eacute completada que nenhum ser humano estaacute livre

da tensatildeo de relacionar a realidade interna e externa e

que o aliacutevio dessa tensatildeo eacute proporcionado por uma aacuterea

intermediaacuteria de experiecircncia(cf Riviere1936) que natildeo eacute

contestada (artes religiatildeo etc) Essa aacuterea intermediaacuteria

estaacute em continuidade direta com a aacuterea do brincar da

crianccedila pequena que se ldquoperderdquo no brincar

(Winnicottopcitp29)

A princiacutepio eacute difiacutecil falar dos brinquedos cantados como objetos

transicionais (concretos) porque natildeo satildeo exatamente vistos a olhos nus embora

sejam audiacuteveis Todavia qualquer muacutesico pode escrever em uma partitura o

brinquedo cantado (concreto e cantaacutevel) para tornaacute-lo visiacutevel

O ato de cantar uma muacutesica de roda ou um acalanto jaacute eacute a traduccedilatildeo do

fenocircmeno transicional Dar-se-aacute o uso que quiser a este brinquedo cantado no

momento de sua realizaccedilatildeo Se uma muacutesica de ninar for entoada com raiva ou

brutalidade eacute certo que traraacute temores ao bebecirc e natildeo o conforto a que se prestaria

Acalantos com este do ldquobicho papatildeordquo expotildee o perigo e propotildee acolhida pela

proteccedilatildeo materna

34

ldquoBICHO PAPAtildeO(folclore)11

Bicho Papatildeo sai de cima do telhado

Deixe o menino dormir sossegado

O Eu (Self) O Eu (Self) eacute o eu integral descrito por Winnicott(1975) em sua mais

pura essecircncia um eu que nasce na liberdade de expressatildeo na confianccedila baseada

nas experiecircncias vividas no suporte dos sentimentos Para este autor certas

condiccedilotildees se fazem necessaacuterias na busca do Eu (Self) eacute o que se chama de

criatividade A criatividade pode defraglar e sustentar o ser integral

A vida sadia se mostra pelo impulso criativo O brincar eacute um instrumento

da criatividade sediado na ldquoaacuterea intermediaacuteriardquo (entre as artes e o luacutedico)

sustentado em seus primoacuterdios pela ldquomatildee suficientemente boardquo direcionado agrave

busca do ldquoEu (Self) Sobre a importacircncia das cantigas de roda nesta busca

podemos ler as contribuiccedilotildees de Millecco filho e outros (2001p44)

As cantigas de roda datildeo continuidade ao trabalho

de elaboraccedilatildeo de conflitos e agrave estrutura da pessoa

em desenvolvimento iniciado com os acalantos

() A roda aparece como uma representaccedilatildeo da

mandala expressatildeo geomeacutetrica do Self

11 Recolhido atraveacutes da cultura oral

35

A letra da muacutesica infantil ldquoa canoa virourdquo expotildee um problema e supotildee

uma soluccedilatildeo hipoteacutetica

A CANOA VIROU(folclore)12

A canoa virou vou deixar ela virar

Foi por causa da Maria que natildeo soube remar

Ah se eu fosse peixinho e soubesse nadar

Eu tirava a Marialaacute do fundo do mar

A accedilatildeo terapecircutica deve ser um modo de auxiliar uma pessoa a

vir a ser o que ela eacute capaz de ser O psicomotricista atua como facilitador no

desenvolvimento do potencial existente no sujeito Numa maternagem

suficientemente boa como fala Winnicott o psicomotricista relacional torna-se um

companheiro de jornada para as atitudes luacutedicas do seu paciente

As medidas de afeto e limites saudaacuteveis agraves necessidades do outro

devem ser reconhecidas e valorizadas Eacute o que se vecirc nas colocaccedilotildees de Winnicott

(1975p63) ldquoEm outros termos eacute a brincadeira que eacute universal e que eacute proacutepria da

sauacutede o brincar facilita o crescimento e portanto a sauacutede o brincar conduz aos

relacionamentos grupais o brincar pode ser uma forma de comunicaccedilatildeo na

psicoterapia()rdquo

12 MARTINS Armando OPCITp110

36

Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e

estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que

haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila

acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas

Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a

brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre

MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR

VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR

Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o

aprender com a danccedila do outro

ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

13 Recolhido atraveacutes da cultura oral

37

Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons

e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os

brinquedos cantados

5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE

Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma

nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o

corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se

utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia

e da linguumliacutestica

No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua

expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a

existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto

O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que

encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e

motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros

Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando

fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar

gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil

38

ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14

Eacute bom cantar eacute bom ouvir

Eacute bom pensar eacute bom sentir

Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor

Viajar dentro de si pra poder se descobrir

51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE

A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso

meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da

psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu

corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)

O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico

(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes

concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo

ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a

palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas

que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que

quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do

latim Corpusque significa tecido de membros envoltura

da alma embriatildeo do espiacuterito

14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000

39

Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na

Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto

que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo

cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a

motricidade com a inteligecircncia

Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam

em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento

humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o

movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila

De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de

segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio

Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se

no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo

de Guilman

O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num

corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo

toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico

emocional(Levin opcit)

O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor

Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em

movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica

40

psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre

outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da

pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de

Levin(opcit)

Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor

podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor

ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento

Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o

sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem

tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco

podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade

eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)

52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA

A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o

seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins

pedagoacutegicos (Levy2000)

A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se

do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos

transtornos evidenciados (Coste1992)

A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a

41

afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja

o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade

do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting

psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais

uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si

mesmo uma terapiardquo

As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas

psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema

corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade

Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo

estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees

cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito

As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de

algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A

coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar

pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos

dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para

andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes

visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a

existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa

caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc

No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a

42

primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave

vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos

cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas

psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a

expressividade e a emoccedilatildeo

O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas

psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se

confirmar por exemplo para treinar a escrita

As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar

iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da

brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo

dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da

cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas

pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar

Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora

relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de

cada uma delas

43

53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE

Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os

acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte

afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe

o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo

e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do

acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si

mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a

busca do eu (Self)

O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos

cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a

partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes

acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de

interesse da populaccedilatildeo pesquisada

Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil

geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo

continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em

desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza

simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos

conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo

44

As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia

cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o

relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano

infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a

Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda

assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia

oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria

soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo

Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as

com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da

referida estrutura

Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos

integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos

grandes segmentos (Coste1992)

Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro

expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo

corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a

habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa

O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se

movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os

movimentos enquanto observam os amigos

45

BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

Os braccedilos pra cima e pra baixo

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

As pernas pra frente e pra traacutes

Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo

preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo

motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada

diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do

grafismo (Coste1992)

A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas

brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as

palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a

crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos

Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos

fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca

do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes

15 Recolhido atraveacutes da cultura oral

46

das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa

de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas

ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16

123 indiozinhos 456 indiozinhos

789 indiozinhos 10 num pequeno bote

Vinham navegando pelo rio abaixo

Quando o jacareacute se aproximou

E o pequeno bote dos indiozinhos

Quase quase virou quase quase virou

mas natildeo virou

Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo

ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam

internas ou externas (Levin2001)

A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e

apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as

crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do

corpo que deseja mostrar

ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17

Cabeccedila ombro joelho e peacute

Joelho e peacute joelho e peacute

Olhos boca orelha e nariz

Orelha e nariz orelha e nariz

16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral

47

Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O

equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute

relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)

Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de

amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o

personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca

instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma

perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal

traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal

ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca o pandeirotoca como ele soacute

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca violatildeo toca como ele soacute

Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao

tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir

da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do

aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala

dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da

vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza

18 Recolhido atraveacutes da cultura oral

48

Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila

seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um

personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular

correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e

volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem

seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam

ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19

Anda anda anda macaquinho

Anda anda anda sem parar

Pula pula pula macaquinho

Pula pula pula ateacute cansar

Corre corre corre macaquinho

Corre corre corre sem parar

Deita deita deita macaquinho

Deita deita deita dorme ateacute sonhar

Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu

desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e

relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do

mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)

Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira

19 Recolhido atraveacutes da cultura oral

49

traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo

espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a

noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo

vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento

O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e

rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos

de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra

frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente

e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da

roda virem periquitos tambeacutem

Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem

no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras

visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas

ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20

Periquito periquito parece com papa

Periquito periquito parece com papa

Por baixo por cima pra frente e pra traacutes

Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo

ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo

temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a

20 Recolhido atraveacutes da cultura oral

50

estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus

movimentos e se organiza na vida cotidiana

Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo

que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo

humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre

ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos

acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo

A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da

chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo

dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio

ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21

A janelinha fecha quando estaacute chovendo

A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo

Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute

Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute

Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os

centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e

contralaterais (Coste1992)

21 Recolhido atraveacutes da cultura oral

51

A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento

psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e

assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute

organizada e natildeo mudaraacute mais

Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os

peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a

conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo

grupo disposto em roda

ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22

Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora

Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora

Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock

Assim eacute bem melhor

( e assim por diante com as demais partes do corpo)

Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o

modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder

apud Coste(1992)

A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a

organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo

mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do

22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57

52

desejo da matildee

A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan

apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros

tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e

de diferenccedila (ibid)

Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o

ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na

constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo

desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A

psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade

poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A

citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo

O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de

identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria

de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do

lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que

eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim

constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute

poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo

o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)

53

Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia

corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber

possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver

As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a

expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente

Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar

cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de

construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza

pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem

corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter

fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de

cantar danccedilar e brincar

54

ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23

Minha boneca de lata

Bateu com a cabeccedila no chatildeo

Levou mais de uma hora

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui pra ficar boa

Minha boneca de lata

Bateu com o pescoccedilo no chatildeo

Levou mais de duas horas

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui desamassa aqui

Pra ficar boa

Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho

o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do

corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez

horas de arrumaccedilatildeo propostas

23 Recolhido atraveacutes da cultura oral

55

6CONCLUSAtildeO

Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-

se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse

infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar

Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a

relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas

cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo

permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os

estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e

que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo

Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de

winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do

ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos

como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica

Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de

conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos

Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade

que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se

pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos

sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu

ldquoafetordquo

56

Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a

psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir

expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer

Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia

para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a

socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte

aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o

desenvolvimento das estruturas psicomotoras

Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a

essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado

pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando

o prazer de brincar cantar e ser feliz

57

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Psicomotricidade da educaccedilatildeo infantil agrave gerontologia (teoria e praacutetica)

Satildeo Paulo Editora Lovise 2000

58

MARTINS Armando Toque violatildeo ou guitarra (meacutetodo praacutetico) Rio de Janeiro

Ediccedilotildees de ouro 1990

MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute preciso Cantar Musicoterapia Cantos e

Canccedilotildees Rio de Janeiro Enelivros editora e livraria ltda 2001

NEGRINE Airton Aprendizagem e desenvolvimento infantil Simbolismo e jogo

volume 1 Porto alegre Editora Prodil1994

PAIVA Ione Maria R Brinquedos cantados Rio de Janeiro Editora Sprint

ltda1998

PIAGET Jean Seis estudos de psicologia 24ordfediccedilatildeo 3ordf reimpressatildeo Rio de

Janeiro Editora forense universitaacuteria ltda 2003

SANTA ROZA Eliza Quando brincar eacute dizer A experiecircncia psicanaliacutetica na

infacircncia Rio de Janeiro Editora Relume dumaraacute 1993

SHERIDAN Mary D Brincadeiras espontacircneas na primeira infacircncia Do

nascimento aos seis anos Satildeo Paulo Editora Manole 1990

VELASCO Cacilda Gonccedilalves Brincar o despertar psicomotor Rio de Janeiro

Editora Sprint ltda 1996

WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975

Page 7: Brinquedos Cantados Na Psicomotricidade

6

RESUMO

Aborda-se neste trabalho a importacircncia e a contribuiccedilatildeo dos brinquedos

cantados na psicomotricidade com crianccedilas de 0 agrave 7 anos A presente monografia

desenvolve-se agrave luz da dialeacutetica interdisciplinar tomando-se de empreacutestimo

conceitos do folclore da psicanaacutelise da filosofia da psicologia do

desenvolvimento da ludoterapia e da musicoterapia Segue-se a descriccedilatildeo dos

brinquedos cantados paralelos ao desenvolvimento infantil segundo Piaget

enumerando-se os estaacutegios propostos por este autor e delimitando-se os

acalantos e as brincadeiras-de-roda como objeto de interesse maior da populaccedilatildeo

pesquisada Dar-se-aacute ecircnfase a discussatildeo do suporte agrave cliacutenica psicomotora diante

dos conceitos de Winnicott sobre a vida afetiva e o brincar fazendo-se referecircncia

agraves vivecircncias atraveacutes dos brinquedos cantados no contexto terapecircutico Na

culminacircncia deste estudo propotildee-se a diferenciaccedilatildeo entre educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo

e terapia psicomotora esboccedilando-se a elaboraccedilatildeo das estruturas psicomotoras

comuns agraves trecircs aacutereas citadas interpondo-se os brinquedos cantados como

recursos plausiacuteveis a este trabalho Apresenta-se ainda vinte e dois exemplos de

brinquedos cantados ilustrados por suas letras e pelo desenvolvimento da

brincadeira em questatildeo

Palavras-Chave Brinquedos cantados Psicomotricidade Luacutedico Terapia

Folclore Desenvolvimento infantil

7

1INTRODUCcedilAtildeO

O canto estaacute presente no universo simboacutelico de todas as culturas Vive-

se um processo de massificaccedilatildeo da cultura brasileira onde a muacutesica infantil estaacute

mesclada de sensualidade e cultuaccedilatildeo a um corpo esteacutetico grego Tem-se entatildeo

a incumbecircncia de preservar e formar a crianccedila que nasce ingecircnua sonhadora e

necessita de cuidados afetuosos

Visto que o som tem propriedades fiacutesicas que incidem sobre o corpo

humano de forma objetiva e subjetiva movendo o sujeito a partir da sua emoccedilatildeo

e que as crianccedilas satildeo estimuladas em sua afetividade se apropriando do uso

destes elementos luacutedico-sonoros para investimento pessoal e social supotildee-se que

os brinquedos cantados interferem de forma significativa no desenvolvimento

psicomotor das ditas crianccedilas

Faz-se assim a relevacircncia deste estudo para pesquisar a importacircncia

dos brinquedos cantados para o desenvolvimento psicomotor de crianccedilas de 0 agrave 7

anos de idade e ainda demonstrar a contribuiccedilatildeo destes elementos luacutedicoshy

sonoros na psicomotricidade com a referida populaccedilatildeo

Assume-se a investigaccedilatildeo da importacircncia e contribuiccedilatildeo dos

brinquedos cantados na psicomotricidade passando por quatro capiacutetulos

articulados entre si pelo vieacutes dos brinquedos cantados e dos interesses infantis

conforme o exposto a seguir

8

No primeiro capiacutetulo descreve-se uma breve histoacuteria e classificaccedilatildeo do

brincar a partir de referecircncias do folclore da psicanaacutelise e da filosofia Organiza-se

ideacuteias sobre trecircs possiacuteveis instacircncias que compreenderiam os brinquedos

cantados Musicar Brincar Movimentar Dar-se a ver na dialeacutetica entre a

Musicoterapia e a Psicomotricidade a importacircncia dos brinquedos cantados para

o desenvolvimento global da crianccedila nas idades mencionadas

Prossegue-se no segundo capiacutetulo um estudo sobre o desenvolvimento

infantil de 0 agrave 7 anos conforme a teoria Piagetiana Entre os estaacutegios do

desenvolvimento apontados por este autor para as estruturas cognosciacuteveis

imprescindiacuteveis a cada etapa sugere-se as contribuiccedilotildees de brinquedos cantados

compatiacuteveis com os momentos e as demandas verificadas Por fim mostra-se os

jogos na classificaccedilatildeo de Piaget situando o que cada etapa prioriza e delimitando

dois tipos de brinquedos cantados especiacuteficos para serem trabalhados na

psicomotricidade Os Acalantos e as Brincadeiras-de-roda

Identifica-se no capiacutetulo trecircs os conceitos de Winnicott sobre o objeto

transicional fenocircmeno transicional matildee suficientemente boa aacuterea intermediaacuteria e

o eu (Self) mostrando-se a interaccedilatildeo exposta pelos brinquedos cantados entre as

artes o luacutedico e o afeto supondo-se que esta interaccedilatildeo seja capaz de dar suporte

agrave cliacutenica psicomotora

Na proposta do capiacutetulo quatro buscou-se ldquoEn-Cantarrdquo a

psicomotricidade resumindo em uma breve histoacuteria como se instaurou a

educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo e terapia psicomotora atuais e ainda musicar com os

9

brinquedos cantados a elaboraccedilatildeo das diversas estruturas psicomotoras

assinalando a contribuiccedilatildeo destas para a psicomotricidade com a faixa etaacuteria

pesquisada

Finalizando esta introduccedilatildeo e abrindo os estudos desta monografia

deixa-se agrave contemplaccedilatildeo a muacutesica Redescobrir do compositor Luiz Gonzaga

Juacutenior 1980 interpretado pela cantora Elis Regina no Cd ldquoMuacutesica O melhor de

Elis Reginardquo WEA 2000

ldquoREDESCOBRIRrdquo

Como se fora brincadeira de roda (memoacuteria)

Jogo do trabalho na danccedila das matildeos (macias)

O suor dos corpos na canccedilatildeo da vida (histoacuteria)

O suor da vida e no calor de irmatildeos (magia)

Como um animal que sabe da floresta (memoacuteria)

Redescobrir o sal que estaacute na proacutepria pele (macia)

Redescobrir o doce no lamber das liacutenguas (magia)

Redescobrir o gosto e o sabor da festa (magia)

Vai o bicho homem fruto da semente (memoacuteria)

Renascer da proacutepria forccedila proacutepria luz e feacute (memoacuteria)

Entender que tudo eacute nosso sempre esteve em noacutes (histoacuteria)

Somos a semente ato mente e voz (magia)

Natildeo tenha medo meu menino bobo (memoacuteria)

Tudo principia na proacutepria pessoa (lembranccedila)

Vai como a crianccedila que natildeo teme os tempos (misteacuterio)

Amor se fazer eacute tatildeo prazer que eacute como fosse dor (magia)

10

2HISTOacuteRIA E CLASSIFICACcedilAtildeO DOS BRINQUEDOS CANTADOS

Os brinquedos cantados surgem na espontaneidade da cultura popular

Geralmente satildeo cantigas anocircnimas acompanhadas de movimentos expressivos

saltitantes e ou dramatizados

O brincar eacute uma forma de manifestaccedilatildeo caracteriacutestica da infacircncia entretanto

como afirma Huizinga (1980) a essecircncia do jogo eacute o prazer ele ultrapassa os

limites da realidade fiacutesica e assim se aplica a qualquer fase da vida

Os termos brincar e jogar satildeo referenciados como sinocircnimos por Cascudo

(1988) e Ferreira A (1988) Nos principais idiomas internacionais (Inglecircs Francecircs

Alematildeo e espanhol) brincar e jogar tambeacutem servem para definir atividades

artiacutesticas como a interpretaccedilatildeo teatral ou musical (Santa Roza1993)

Na liacutengua portuguesa o termo brincar vem do latim vinculum e significa

laccedilo uniatildeo No entanto eacute o termo luacutedico da nossa liacutengua tambeacutem proveniente do

latim ludus que melhor abrange e define as atividades artiacutesticas

culturais brincadeiras e jogos(ibid)

Nos divertimentos tradicionais infantis encontra-se os jogos de ronda

cantados declamados ritmados ou natildeo de movimento etc Brinquedo eacute ainda o

objeto material usado para brincar como o carro a boneca Diz-se tambeacutem da

proacutepria accedilatildeo de brincar (de cabra cega de chicotinho queimado e etc)

(Cascudo1988)

11

Dos trecircs povos que inicialmente formaram a cultura brasileira o

portuguecircs trouxe maior influecircncia para os brinquedos cantados os quais sofreram

modificaccedilotildees de acordo com a cultura local (Cascudo1988) Diga-se ainda que os

ritmos e danccedilas africanas juntamente com a alegria e marcaccedilatildeo ritmica-corporal

indiacutegena deu um tempero mais brejeiro ao legado luacutedico brasileiro

21BRINCAR

Como sonhar acordado brincar eacute expor-se de dentro para fora traduccedilatildeo

das impressotildees da crianccedila sobre o mundo que a cerca e os seus sentimentos

O brincar se desenvolve junto com o amadurecimento do sujeito as etapas iniciais

vatildeo perdendo o significado para o acreacutescimo do novo modo de explorar cada vez

mais elaborado

Todos os povos tecircm suas brincadeiras pertinentes agraves necessidades

expressivas de cada cultura O tempo se encarrega de transformar suas estruturas

mas eacute certo que as crianccedilas precisam de tempo espaccedilo e companheiros para

brincar

Sheridam (1990) classifica as brincadeiras em ativas exploratoacuterias

manipulativas imitativas construtivas faz-de-conta jogos com regras recreaccedilotildees

sofisticadas Este trabalho prioriza os brinquedos cantados que na praacutetica

psicomotora revelam valores e costumes culturais pontos de referecircncia para a

comunicaccedilatildeo e o relacionamento com o outro Estas manifestaccedilotildees envolvem a

emoccedilatildeo e o movimento que permeados pela muacutesica burlam as defesas e fazem

12

aflorar a essecircncia do ser

Os brinquedos cantados se inserem nas diversas formas de

classificaccedilatildeo pois em face de sua riqueza dinacircmica satildeo brincadeiras ativas

(exChep Chep) imitativas(ex Samba Lecirc Lecirc) construtivas(exA minha velha tem)

priorizam o faz-de-conta conteacutem regras especiacuteficas e vatildeo desde as mais simples

como ldquoAtirei o pau no gatordquo ateacute as mais elaboradas como ldquoA linda rosa juvenilrdquo1

Lapierre e Aucoutourrier (1986p29) pontuaram que ldquoA expressatildeo sonora

estaacute necessariamente ligada agrave relaccedilatildeo com o outrordquo sabe-se que ainda na barriga

da matildee a funccedilatildeo auditiva se instaura no embriatildeo e ele ouve os batimentos

cardiacuteacos dele e da matildee e todo um mundo de sons atraveacutes do liacutequido amnioacutetico

Eacute a relaccedilatildeo com o outro atraveacutes dos sons que situa a crianccedila no espaccedilo no tempo

e no afeto

22 MUSICAR

Segundo Gainza (1988) ldquoa accedilatildeo musical implica num movimento

seja das cordas vocais e do aparelho fonador naquele que fala ou canta seja do

proacuteprio corpordquo No uacuteltimo caso o corpo aparece como instrumento produtor de

som ou se prolonga atraveacutes de um instrumento musical propriamente ditordquo

Sob a oacutetica musical as teorias apontam para as estruturas fiacutesico-sonoras

Encontra-se nestas a formaccedilatildeo de todo contexto musical que eacute igualmente

1 PAIVA Ione Maria R de BRINQUEDOS CANTADOS 1998 p25416383

13

correspondente para os brinquedos cantados Fala-se entatildeo dos elementos

inevitaacuteveis de qualquer muacutesica Ritmo Melodia Harmonia Eis a definiccedilatildeo de

Costa(1989p61) ldquoNuma definiccedilatildeo muito simples muacutesica eacute a organizaccedilatildeo de

relaccedilotildees entre sonoridades simultacircneas ou natildeo no decorrer do tempo Sons e

silecircncios satildeo combinados e encadeados entre si formando ritmos melodias e

harmoniasrdquo

O ritmo eacute basicamente a ordenaccedilatildeo do movimento formando um elo

entre espaccedilo e tempo A melodia eacute uma sequumlecircncia de sons notas musicais graves

e agudas A harmonia eacute a verticalidade ou a simultaneidade dos sons parte mais

intelectualizada da muacutesica(Costa opcit mesma paacutegina)

As muacutesicas infantis em geral acompanham o desenvolvimento afetivo

motor cognitivo e social da crianccedila Observa-se que existem brinquedos cantados

mais simples contendo siacutelabas repetitivas estrutura musical miacutenima e que satildeo

preferidos pelas crianccedilas entre 2 e 3 anos por ex

CAI CAI BALAtildeO(folclore)2

Cai cai balatildeo cai cai balatildeo aqui na minha matildeo

Natildeo vou laacute natildeo vou laacute natildeo vou laacute tenho medo de apanhar

A muacutesica dos brinquedos cantados altera a sensibilidade o humor faz

aflorar a criatividade a expressividade do corpo e da alma revelando as habilidades

e dificuldades da crianccedila se convertendo entatildeo em instrumento de trabalho na

psicomotricidade

2 MARTINS Armando TOQUE VIOLAtildeO OU GUITARRA(meacutetodo praacutetico) 1980p88

14

23MOVIMENTAR

Do choro aos acalantos (muacutesicas de ninar) dos cantos culturais as

brincadeiras-de-roda haacute uma trajetoacuteria que vincula o som da voz ao movimento

corporal conforme afirma Fregtman(1988p17) isto ocorre ldquoporque a muacutesica eacute

feita dita tocada e cantada como manifestaccedilatildeo corporalrdquo

Toda forma de comunicaccedilatildeo se daacute atraveacutes de coacutedigos estabelecidos

linguagens por assim dizer Fregtman (opcit) conceitua a partir da musicoterapia

que trecircs niacuteveis de manifestaccedilatildeo expressiva simultacircneos podem se dar quando

usamos a muacutesica Satildeo eles

1) Linguagem sonora (sons silecircncios entonaccedilotildees melodias ritmos)

2) Linguagem corporal (gestos posturas trejeitos tipos de movimentos)

3) Linguagem verbal (a fala a letra a poesia)

Apenas para efeitos didaacuteticos se consegue separar estes trecircs niacuteveis de

linguagem A linguagem sonora necessariamente traacutes expressotildees corporais

estimula a emoccedilatildeo que se revela atraveacutes dos gestos posturas movimentos voz e

etc A linguagem corporal responde ao chamado verbal ou musical os quais soam

determinados significados simboacutelicos apreendidos nas relaccedilotildees soacutecio-afetivas E

por fim a linguagem verbal eacute inserida para nomear as accedilotildees sejam elas musicais

ou corporais

15

Os brinquedos cantados satildeo tambeacutem conceituados mediante sua aplicaccedilatildeo

em determinadas funccedilotildees na recreaccedilatildeo Os brinquedos cantados podem ser de

marcha de grupos opostos de palmas de roda de ninar ou alternados

Modificaccedilotildees diversas quanto ao andamento (lento moderado raacutepido) agrave formaccedilatildeo

(rodas simples complexas fileiras) e agrave movimentaccedilatildeo dos brinquedos cantados

(marcha roda dramatizaccedilatildeo) satildeo descritas por Leitatildeo(2001)

Neste trabalho prioriza-se os acalantos e as brincadeiras-de-roda tendo

em vista que a populaccedilatildeo estudada crianccedilas de 0 agrave 7 anos podem ser atendidas

em suas necessidades de acolhimento afetivo comunicaccedilatildeo expressiva e

socializaccedilatildeo atraveacutes destes elementos A Simbologia do movimento de Lapierre amp

Aucoutourrier (1986p41) sustenta o nosso pensamento atraveacutes da seguinte

citaccedilatildeo ldquoA muacutesica pode nos ajudar muito a redescobrir essa dimensatildeo do

movimento desde que natildeo seja restringida aos estereotipos da lsquodanccedilarsquo mesmo a

lsquoexpressivarsquo ldquo

ldquoO JACAREacuterdquo (folclore)3

O jacareacute o jacareacute o jacareacute eacute amigo ele eacute

Oi jacareacute oi jacareacute vem caacute cumpadre que a lagoa natildeo daacute peacute

O jacareacute tem os olhos muito grandes tem o rabo muito grande

Mas as pernas satildeo curtinhas

O jacareacute tem a boca muito grande tem os dentes muito grande

mas as pernas satildeo curtinhas

3 Recolhido atraveacutes da cultura oral

16

3O DESENVOLVIMENTO INFANTIL SEGUNDO PIAGET

Para Piaget (2003) o conhecimento eacute o resultado das accedilotildees e

relacionamentos do sujeito com o ambiente em que vive e vai sendo elaborado

desde o nascimento ateacute suas vivecircncias com os objetos pessoas e situaccedilotildees que

procura conhecer sejam elas do mundo fiacutesico ou cultural

Este autor formulou importantes conceitos que explicam o

desenvolvimento das funccedilotildees cognitivas A interaccedilatildeo entre a assimilaccedilatildeo

(informaccedilotildees do mundo exterior recebidas atraveacutes dos sentidos movimento de fora

para dentro) e a acomodaccedilatildeo (informaccedilatildeo processada respostas dadas ao mundo

exterior movimento de dentro para fora) sobre uma accedilatildeo satildeo validadas pelo

processo de equilibraccedilatildeo (Piagetopcit)

As perturbaccedilotildees exteriores se mostram a crianccedila a partir do que ela natildeo

conhece assim oportunizadas pelo processo de equilibraccedilatildeo e por meio de suas

atividades vai respondendo a estas perturbaccedilotildees vencendo a mais uma etapa

cognosciacutevel A equilibraccedilatildeo eacute dinacircmica e nunca cessa ela norteia a passagem de

um conhecimento ao outro(Piaget2003)

Dois outros conceitos Piagetianos satildeo imprescindiacuteveis ao tenro

desenvolvimento infantil e encontra-se nos brinquedos cantados uma forma

espontacircnea de vivenciaacute-los A Imitaccedilatildeo e a noccedilatildeo de Permanecircncia do Objeto

17

Imitaccedilatildeo Eacute na gecircnese da imitaccedilatildeo que inicia o movimento luacutedico da crianccedila

Imitando o meio e as pessoas ao seu redor a crianccedila apreende e treina suas novas

aquisiccedilotildees Ferreira I(1994 p47) afirma que ldquoA imitaccedilatildeo eacute uma das manifestaccedilotildees

da funccedilatildeo simboacutelica Constitui-se num dos elementos baacutesicos que permitem a

crianccedila uma assimilaccedilatildeo de realidade ao seu proacuteprio ldquoeurdquo bem como Acomodaccedilatildeo

de suas estruturas mentais e de accedilatildeo agraves exigecircncias da realidade fiacutesica e socialrdquo

Para haver o ato imitativo eacute necessaacuterio um modelo Alguns brinquedos

cantados propotildeem accedilotildees simboacutelicas que copiam o mundo adulto sem impor aos

pequenos o fardo da responsabilidade que este teria na realidade Eis um exemplo

interessante onde as crianccedilas imitam os afazeres dos mais velhos

PASSA PASSA GAVIAtildeO(folclore)4

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

As lavadeiras fazem assim

Assim assim assim assim

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

As passadeiras fazem assim

Assim assim assim assim

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

As cozinheiras fazem assim assim assim

Assim assado carne seca com ensopado

4 Recolhido atraveacutes da cultura oral

18

Objeto permanente Nos primeiros dois anos de vida a crianccedila apresenta um

comportamento em constante adaptaccedilatildeo pois estaacute sempre se modificando para

responder aos estiacutemulos do meio A crianccedila inicialmente natildeo tem noccedilatildeo da

permanecircncia dos objetos ela pensa que eles soacute existem enquanto estatildeo ao

alcance dos seus olhos caso sejam escondidos a sua frente acharaacute que estes

acabaram ou se desintegraram Entre os 18 e 24 meses a crianccedila jaacute consegue

elaborar mais este conhecimento e apesar de natildeo vecirc-lo ouvi-lo ou tocaacute-lo ela vai

compreender que os objetos independem da sua vontade e presenccedila para

existirem

Para melhor apreensatildeo da realidade fiacutesica a praacutetica pelo ensaio e erro ou

aparecer desaparecer vatildeo treinar e orientar os pequenos na aquisiccedilatildeo das noccedilotildees

de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo da realidade como

afirma FerreiraI(1994p35) ldquoO esquema do objeto permanente eacute baacutesico para a

construccedilatildeo das noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidaderdquo

Observe que as crianccedilas nesta fase gostam das brincadeiras de

esconde-esconde que amenizam suas anguacutestias sobre a existecircncia ou natildeo dos

objetos reais Seu proacuteprio corpo eacute posto agrave prova escondendo o rosto ou as matildeos

atraacutes de uma almofada por exemplo A muacutesica das palminhas talvez possa auxiliar

nesta etapa

19

PALMINHAS PALMINHAS (folclore)5

Palminhas palminhas nos vamos bater

Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconder

Em cima em cima noacutes vamos bater

Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconde

Assim assim pra traacutes esconder

Em baixo em baixo noacutes vamos bate

Depois as matildeozinhas pra traacutes esconde

Assim assim pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconder

Os conceitos estudados ateacute aqui se realizam dentro dos estaacutegios do

desenvolvimento organizados por Piaget Passar-se-aacute neste momento agrave elucidaccedilatildeo

dos estaacutegios pertinentes agrave faixa etaacuteria da populaccedilatildeo pesquisada nesta monografia

estaacutegios Sensoacuterio-motor e Preacute-operacional

31ESTAacuteGIO SENSOacuteRIO MOTOR (0 agrave 2 anos) Estaacutegio que vai do nascimento

ateacute a aquisiccedilatildeo da linguagem e eacute dividido em 6 sub estaacutegios Esta eacute a fase do

comportamento inteligente antes da aquisiccedilatildeo da linguagem a crianccedila organiza a

informaccedilatildeo obtida atraveacutes dos sentidos e desenvolve respostas aos estiacutemulos

5 Recolhido atraveacutes da cultura oral

20

ambientais com comportamento adaptativo e constante modificaccedilotildees dos

esquemas de accedilatildeo em resposta ao meio A aquisiccedilatildeo mais importante deste

periacuteodo eacute o Objeto Permanente Manifesta-se ainda a imitaccedilatildeo que alcanccedilaraacute o

seu auge no proacuteximo estaacutegio

1ordm Sub Estaacutegio ndash Exerciacutecio dos reflexos (0 a 1 mecircs) Do alto da sua imaturidade

bioloacutegica a crianccedila se relaciona com o meio atraveacutes dos movimentos reflexos

hereditaacuterios que se aprimoram pelo exerciacutecio tornando-se cada vez mais

eficientes Ainda natildeo haacute a distinccedilatildeo entre o eu e o outro

2ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular primaacuteria (1 a 4 meses)Esta eacute a fase das

primeiras acomodaccedilotildees onde os exerciacutecios reflexos se transformam em esquemas

e comeccedilam a coordenar seus movimentos Inicia-se a construccedilatildeo dos primeiros

esquemas vocais A noccedilatildeo de tempo eacute primitiva sua duraccedilatildeo soacute eacute sentida no

decorrer da proacutepria accedilatildeo O final do periacuteodo eacute marcado pela coordenaccedilatildeo entre trecircs

esquemas fundamentais audiccedilatildeo fonaccedilatildeo e visatildeo

3ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular secundaacuteria (4 a 8 meses) O bebecirc apresenta

um maior interesse pelo mundo externo os esquemas se diferenciam surgindo

novos esquemas de coordenaccedilatildeo viso-motora unindo-se as aquisiccedilotildees jaacute

realizadas Os movimentos comeccedilam a ser repetido pelo prazer da repeticcedilatildeo

Observa-se o iniacutecio da noccedilatildeo do Objeto Permanente entretanto ela estaacute

condicionada ao movimento da crianccedila pois as coisas ainda natildeo seguem uma

trajetoacuteria independente

21

4ordm Sub Estaacutegio ndash Coordenaccedilatildeo de esquemas secundaacuterios (8 a 12 meses)

Caracteriza-se pelas primeiras condutas propriamente inteligentes surgindo

adaptaccedilotildees sensoacuterio-motoras intencionais onde o bebecirc combina esquemas

conhecidos a novas situaccedilotildees e ainda diferencia os meios e os fins de uma accedilatildeo

Aparece nesta fase o comportamento antecipatoacuterio caso o bebecirc veja sua matildee se

afastar chora a imitaccedilatildeo de sons e accedilotildees satildeo agora intencionais e

conscientizadas no entanto ainda condicionadas ao esquema visual Revelam-se

os primoacuterdios da memoacuteria e da representaccedilatildeo mental Comeccedila a permanecircncia do

objeto independente do ldquoeurdquo Quanto agrave noccedilatildeo de espaccedilo e tempo a crianccedila

comeccedila a ordenar os proacuteprios deslocamentos em relaccedilatildeo aos objetos

5ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular terciaacuteria (12 a 18 meses) A crianccedila gradua

seus movimentos varia e experimenta novos padrotildees de comportamento

observando os diferentes efeitos da sua accedilatildeo sobre o objeto o qual jaacute eacute dotado de

permanecircncia Pode-se afirmar que o mecanismo da inteligecircncia praacutetica estaacute

definitivamente constituiacutedo A cada estruturaccedilatildeo da inteligecircncia corresponde uma

nova estruturaccedilatildeo do espaccedilo do tempo da causalidade etc Agindo por ldquoensaio e

errordquo os resultados das accedilotildees ainda satildeo por acaso pois as representaccedilotildees

mentais de fatos externos ainda natildeo se incluem ou seja o pensamento ainda natildeo

estaacute formado

22

6ordm Sub Estaacutegio ndash A invenccedilatildeo dos novos meios por combinaccedilatildeo

mental (18 a 24 meses) Esta fase caracteriza o momento de transiccedilatildeo entre a

inteligecircncia praacutetica (sensoacuterio-motora) e a inteligecircncia representativa quando

comeccedila a funccedilatildeo simboacutelica Inicia-se a representaccedilatildeo mental imaginativa e criativa

No jogo simboacutelico a crianccedila usa siacutembolos na linguagem e na brincadeira do faz-deshy

conta recorda-se de fatos passados e os representa depois de algum tempo O

final deste periacuteodo eacute marcado pela primeira noccedilatildeo de conservaccedilatildeo(FerreiraI1994)

Os primeiros anos de vida da crianccedila satildeo marcados pelas inuacutemeras

formaccedilotildees e transformaccedilotildees fiacutesicas mentais e emocionais conforme descritas

acima Os acalantos (muacutesicas de ninar) satildeo cantados por matildees de todo o mundo

numa primeira inserccedilatildeo da crianccedila ao universo musical de sua cultura Eles

exercem um poderoso papel de auxiacutelio agrave maternagem acolhendo-a afetuosamente

condiccedilatildeo baacutesica para que a crianccedila se sinta suficientemente amada para

prosseguir desenvolvendo-se Este tema seraacute melhor explanado nos proacuteximos

capiacutetulos Por hora parece oportuno um exemplo de acalanto

TUTU MARAMBAacute(folclore)6

Tutu marambaacute

Natildeo venha mais caacute

Que o pai do menino

Te manda mata

6 MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute PRECISO CANTAR Musicoterapia cantos e canccedilotildees2001p38

23

32ESTAacuteGIO PREacute-OPERACIONAL (2 agrave 7 anos) A crianccedila vive um tempo em que

usa a intuiccedilatildeo ela passa todos os seus atos para o pensamento sob a forma de

imagens e diante de uma situaccedilatildeo praacutetica suas respostas vatildeo se basear no que

ela vecirc sente mexe ou seja nas aparecircncias dos fatos que observa A crianccedila

possui a capacidade de representar uma coisa por outra e esta representaccedilatildeo

pode se dar por um gesto um desenho uma palavra etc A verbalizaccedilatildeo tem

destaque neste periacuteodo e a linguagem conduz agrave socializaccedilatildeo das accedilotildees Este

estaacutegio compreende duas formas de pensamento a saber O Pensamento

Simboacutelico e o Pensamento Intuitivo

Pensamento simboacutelico (2 agrave 4 anos) Para Piaget a funccedilatildeo simboacutelica consiste na

capacidade da crianccedila representar objetos e fatos conhecidos poreacutem ausentes por

um substituto qualquer seja este concreto ou imaginaacuterio Uma caracteriacutestica

fundamental desta fase eacute a diferenciaccedilatildeo entre significante e significado que eacute

manifestada por vaacuterias condutas sendo elas O jogo simboacutelico ou faz-de-conta a

imitaccedilatildeo o desenho a imagem mental a linguagem a criatividade etc Para

ldquosignificanterdquo leia-se objeto concreto e para ldquosignificadordquo a ideacuteia compreensiva do

que foi percebido (Piaget 2003)

Sobre a funccedilatildeo simboacutelica FerreiraI(1994p43) complementa ldquoA funccedilatildeo

simboacutelica pode ser considerada uma linguagem individual e particular da crianccedila

usada para compreender e representar o mundo O siacutembolo eacute subjetivo e aos

poucos vai sendo substituiacutedo por signos da linguagem socialrdquo

24

O pensamento infantil encontrado entre os 2 e 7 anos de idade eacute

egocentrado A visatildeo da realidade eacute centrada no ponto de vista do proacuteprio sujeito

sendo este incapaz de relacionaacute-lo ou de coordenaacute-lo a pontos de vistas diferentes

do seu

A aquisiccedilatildeo da linguagem tem destaque nesta fase e coincide com a

formaccedilatildeo do jogo simboacutelico que melhor se manifesta no jogo do faz-de-conta

Atraveacutes do que discute Ferreira I (1994p43) ldquoOs siacutembolos podem ser

socializados como os brinquedos coletivos e se tornar um siacutembolo coletivordquo

confirma-se mais uma vez que os estes elementos apresentam extrema valorizaccedilatildeo

soacutecio-afetiva e cultural Com a ludicidade que lhe eacute peculiar os brinquedos

cantados nesta fase encantam ensinam desenvolvem a memoacuteria a auto estima

o esquema corporal a imagem corporal a Coordenaccedilatildeo Motora a socializaccedilatildeo

entre outras funccedilotildees essenciais agrave formaccedilatildeo dos pequenos Eis um bom exemplo

O GIGANTE E O ANAtildeO(autor desconhecido)7

O peacute do gigante eacute grande

Do anatildeo pequenininho

O gigante pisa forte

O anatildeo pisa mansinho

O gigante fala grosso

O anatildeo fala fininho

Porque gigante come muito

E o anatildeo come pouquinho

7 Recolhido atraveacutes da cultura oral

25

Pensamento Intuitivo (4 agrave 7 anos) Subdividido em Intuitivo Simples e Intuitivo

Articulado eacute um estaacutegio marcado pela crescente formaccedilatildeo de conceitos O

pensamento intuitivo eacute uma espeacutecie de accedilatildeo executada em pensamento encaixar

seriar deslocar etc

A crianccedila no intuitivo simples representa mentalmente assimila e entende

o mundo real poreacutem de forma limitada pois soacute consegue coordenar um uacutenico

ponto de vista com base nas aparecircncias do que vecirc Centrado em si mesmo natildeo

admite a reversibilidade falta-lhe ainda a noccedilatildeo de conservaccedilatildeo das substacircncias

Quando se pede agrave crianccedila para desenhar ela desenha o que sabe e natildeo

o que vecirc Este egocentrismo que lhe eacute peculiar deveraacute evoluir para a

descentraccedilatildeo bem como haveraacute progressos nas diversas etapas cognitivas

(classificar seriar etc) Ao final do pensamento intuitivo articulado a crianccedila

comeccedila a levantar duacutevidas e questionamentos percebendo a mobilidade das

situaccedilotildees

ldquoA BARATArdquo(folclore)8

A barata diz que tem 7 saias de filoacute

Eacute mentira da barata ela tem eacute uma soacute

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute

A barata diz que tem um anel de formatura

Eacute mentira da barata ela tem eacute casca dura

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura

8 PAIVA Ione Maria R de OPCITp80

26

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura

A barata diz que dorme numa cama de cetim

Eacute mentira da barata ela dorme eacute no capim

Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim

Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim

Na muacutesica da barata as crianccedilas ironizam a tentativa de mentir deste

inseto A propoacutesito das ldquomentirinhasrdquo contidas nas brincadeiras infantis funcionam

como passaporte para a experimentaccedilatildeo do que eacute verdadeiro e real As palavras

de cascudo(1988p491) discorrem sobre os deslimites da mentira ldquoAs estoacuterias

mentirosas() satildeo muito populares e constituem um gecircnero especial onde a

imaginaccedilatildeo exagerada e livre se liberta dos limites da loacutegicardquo Acredita-se que as

crianccedilas exigem a verdade para terem o domiacutenio do que aprendem

33OS JOGOS POR PIAGET

ldquoPiaget vecirc no jogo um processo de ajuda ao desenvolvimento da crianccedila

acompanha-a sendo ao mesmo tempo uma atividade consequumlente de seu proacuteprio

crescimentordquo(Negrine1994p45) A leitura dos jogos em Piaget acompanha o

desenvolvimento integral do homem a inteligecircncia a afetividade a motricidade e a

sociabilidade satildeo vivenciadas nos jogos sendo a afetividade a funccedilatildeo que constitui

a energia necessaacuteria para a progressatildeo psiacutequica moral intelectual e motora

daquele que joga

Trecircs classificaccedilotildees baacutesicas do jogo satildeo mostradas na teoria

27

psicogeneacutetica de Piaget Jogos de exerciacutecio Jogos simboacutelicos e jogos de regra

Jogos de Exerciacutecio Ou jogos sensoacuterio-motores que aparecem no periacuteodo do

mesmo nome natildeo chegam a constituir sistemas luacutedicos independentes e

construtivos Sua motivaccedilatildeo se daacute pelo prazer funcional ou pelo prazer produzido

pela tomada de consciecircncia de suas novas capacidades

Os jogos motores ou de exerciacutecios satildeo aqueles que envolvem

diretamente a participaccedilatildeo ativa do corpo como um todo inclui-se ainda os jogos

sensoriais que ajudam a desenvolver os oacutergatildeos dos sentidos

A crianccedila nesta fase gosta de brincar com brinquedos que manipula

repetidas vezes explorando toda sua superfiacutecie Brincar de esconder o rosto ou os

objetos atirar e pegar brinquedos eacute prazeroso para a crianccedila ao mesmo tempo

que assimila as noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo

da realidade

Os estiacutemulos sensoriais tambeacutem fazem parte do seu interesse objetos

de diversas cores e texturas brinquedos sonoros muacutesica para ouvir acalentar

danccedilar e brincar desta forma explora o reconhecimento do eu do outro e dos

objetos

O jogo de exerciacutecio eacute o primeiro a aparecer no comportamento da

crianccedila explicitamente do 2ordm ao 5ordm estaacutegio do desenvolvimento sensoacuterio motor por

oposiccedilatildeo ao 6ordm estaacutegio onde se inicia o jogo simboacutelico(Negrine 1994)

28

ATIREI O PAU NO GATO(Folclore)9

Atirei o pau no ga-to-to mas o ga-to-to

Natildeo morreu- rreu- rreu dona chica-ca-ca

Admirou- se se do berro do berro

Do berro que o gato deu Miau

Jogos Simboacutelicos Em princiacutepio do ponto de vista de Piaget a diferenccedila entre os

jogos simboacutelicos e os de exerciacutecio intelectual consiste em que os primeiros se

referem ao pensamento

Os jogos simboacutelicos tem iniacutecio no 6ordm estaacutegio do periacuteodo sensoacuterio-motor

e se continua aproximadamente dos 2 aos 4 anos de idade cronoloacutegica ou do 1ordm

estaacutegio do preacute-operacional(fase simboacutelica) ateacute o iniacutecio do 2ordm estaacutegio do preacuteshy

operacional(fase intuitiva) Piaget apud Negrine(1994p41) deixa claro a

supremacia dos jogos simboacutelicos em detrimento dos anteriores

ldquoO esquema simboacutelico por si mesmo eacute suficiente para

assegurar a superioridade da representaccedilatildeo sobre

uma accedilatildeo pura nesta segundo Piaget o jogo

permite assimilar o mundo exterior ao eu como meio

infinitamente mais poderoso que o de simples exerciacuteciordquo

Como aparecem antes da linguagem verbal propriamente dita os jogos

simboacutelicos satildeo representados nas imagens mentais da crianccedila e vivenciados

atraveacutes dos gestos onomatopeacuteias pelo prazer de brincar com o faz-de-conta

9 MILLLECCO FILHO Luiacutes A e outros OPCIT p43

29

Nesta fase os acalantos vatildeo perdendo sua importacircncia dando lugar agraves

brincadeiras-de-roda os pequenos ao mesmo tempo em que aprendem a falar

aprendem a cantar as brincadeiras-de-roda tem a propriedade de enriquecerem o

repertoacuterio de palavras e movimentos

Jogos de Regras Os jogos de regras natildeo seguem o mesmo itineraacuterio dos

anteriores pois comeccedilam a aparecer na metade do 2ordm estaacutegio do periacuteodo preacuteshy

operacional isto eacute dos 4 aos 7 anos e principalmente no periacuteodo das operaccedilotildees

concretas dos 7 aos 12 anos Pesquisaremos como ocorrem os jogos de regra ateacute

os 7 anos pela delimitaccedilatildeo da populaccedilatildeo que esta monografia abrange

Dos 4 aos 7 anos periacuteodo preacute operacional intuitivo surgem os jogos de

regra que substituiratildeo o siacutembolo e enquadraratildeo o exerciacutecio no momento em que se

constituem de forma incipiente certas relaccedilotildees sociais(Piaget2003)

Com relaccedilatildeo as regras segundo Piaget apud Negrine

(1994p44)distinguem-se dois tipos transmitidas e espontacircneas As regras

transmitidas se referem aos jogos institucionais que se impotildeem por pressatildeo das

geraccedilotildees anteriores As espontacircneas se referem aos jogos de natureza contratual e

momentacircnea isto eacute procedem da socializaccedilatildeo dos jogos de simples exerciacutecios ou

dos simboacutelicos

30

Na cantiga de roda ldquoCiranda cirandinhardquo destaca-se o desenvolvimento

da roda e ao final as regras uma imposta (entrar na roda e dizer um verso) outra

espontacircnea (serve qualquer verso criado na hora ou jaacute existente) Outra versatildeo

desta mesma cantiga para crianccedilas menores pede ldquofaccedila um gesto bem bonito

diga adeus e vaacute se emborardquo A liberdade de criar um gesto verso a importacircncia de

estar no meio da roda como centro das atenccedilotildees e a valorizaccedilatildeo dos

companheiros satildeo o impulso para a espontaneidade e o crescimento da autonomia

do ser

CIRANDA CIRANDINHA(folclore)10

Ciranda cirandinha vamos todos cirandar

Vamos dar a meia volta volta e meia vamos dar

o anel que tu me destes era vidro e se quebrou

o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou

Por isto sinhaacute Maria entre dentro desta roda

Diga um verso bem bonito diga adeus e vaacute se embora

Os conceitos estudados neste capiacutetulo podem orientar sobre o tempo

mental da crianccedila e a possibilidade de oferecer estiacutemulos adequados ao seu

momento Como uma boa buacutessola natildeo conteacutem apenas o norte

10 MARTINS Armando OPCITp105

31

4O BRINCAR E A REALIDADE WINNICOTTEANA

A partir da premissa de que natildeo se pode dividir o ser humano em

classificaccedilotildees bioloacutegicas e psiacutequicas posto que este eacute uma unidade indivisiacutevel

formulou-se apenas para efeitos didaacuteticos no capiacutetulo anteriorum olhar mais

fiacutesico(cognitivo) do desenvolvimento infantil atraveacutes de Piaget Discutir-se-aacute neste

capiacutetulo o ponto de vista Winnicotteano sobre a vida emocional e o brincar

Nos brinquedos cantados a arte de brincar se mistura a arte de cantar e

eacute fazendo ldquoArtesrdquo que a crianccedila dar-se a ver e a crescer A partir deste tema

instigante e universal que eacute o brincar torna-se mais prazeroso ainda falar sobre ele

depois de conhecer os estudos do Drordm Winnicott

D W Winnicott pediatra psicanalista psicoterapeuta inglecircs e defensor

da Ludoterapia nasceu no comeccedilo do seacuteculo 20 produzindo uma vasta obra

cientiacutefica ateacute os anos 70 quando nos deixou Em seu livro ldquoO Brincar e

Realidaderdquo(1975) se preocupou com os primoacuterdios da vida imaginativa da

experiecircncia cultural em todos os sentidos da relaccedilatildeo das artes com o brincar e da

criatividade

Neste momento parece relevante abordar alguns dos conceitos teoacutericos

do DrordmWinnicott atraveacutes da obra mencionada pelo suporte que podem

proporcionar agrave compreensatildeo da vida psiacutequica mediante o brincar e a terapia Em

32

Conceitos e contornos ilustrar-se-aacute o Objeto transicional Fenocircmeno transicional

Matildee suficientemente boa Aacuterea intermediaacuteria e o Eu(Self) circundando a

importacircncia destes conceitos em relaccedilatildeo aos brinquedos cantados e sua aplicaccedilatildeo

na cliacutenica psicomotora

41CONCEITOS E CONTORNOS

Objeto Transicional Eacute o objeto concreto relativo agrave exploraccedilatildeo pulsional (descarga

impulsiva) do sujeito por exemplo uma boneca ou um carrinho

Fenocircmeno Transicional Satildeo as accedilotildees relativas agrave exploraccedilatildeo pulsional ou o uso

que se faz dos objetos transicionais Ex Um carrinho pode ser acalentado como se

fosse um bebecirc

Matildee Suficientemente Boa Pessoa que ocupa o lugar de suporte afetivo no

desenvolvimento global da crianccedila tambeacutem associada por ele a figura do

terapeuta

Em outras palavras o amor da matildee ou do terapeuta

natildeo significaria apenas um atendimento agraves necessidades

da dependecircncia mas vem a significar a concessatildeo

de oportunidades que permita ao bebecirc ou ao paciente

passar da dependecircncia para a autonomia

(Winnicott1975p150)

33

Aacuterea Intermediaacuteria Aacuterea neutra de experimentaccedilatildeo vivencial entre as realidades

internas e externas do sujeito que favorece a dialeacutetica do brincar e das artes O

dito autor parece supor um espaccedilo de refuacutegio para a resoluccedilatildeo dos conflitos

humanos Eis aqui a referecircncia para tal colocaccedilatildeo

Presume-se aqui que a tarefa de aceitaccedilatildeo da realidade

nunca eacute completada que nenhum ser humano estaacute livre

da tensatildeo de relacionar a realidade interna e externa e

que o aliacutevio dessa tensatildeo eacute proporcionado por uma aacuterea

intermediaacuteria de experiecircncia(cf Riviere1936) que natildeo eacute

contestada (artes religiatildeo etc) Essa aacuterea intermediaacuteria

estaacute em continuidade direta com a aacuterea do brincar da

crianccedila pequena que se ldquoperderdquo no brincar

(Winnicottopcitp29)

A princiacutepio eacute difiacutecil falar dos brinquedos cantados como objetos

transicionais (concretos) porque natildeo satildeo exatamente vistos a olhos nus embora

sejam audiacuteveis Todavia qualquer muacutesico pode escrever em uma partitura o

brinquedo cantado (concreto e cantaacutevel) para tornaacute-lo visiacutevel

O ato de cantar uma muacutesica de roda ou um acalanto jaacute eacute a traduccedilatildeo do

fenocircmeno transicional Dar-se-aacute o uso que quiser a este brinquedo cantado no

momento de sua realizaccedilatildeo Se uma muacutesica de ninar for entoada com raiva ou

brutalidade eacute certo que traraacute temores ao bebecirc e natildeo o conforto a que se prestaria

Acalantos com este do ldquobicho papatildeordquo expotildee o perigo e propotildee acolhida pela

proteccedilatildeo materna

34

ldquoBICHO PAPAtildeO(folclore)11

Bicho Papatildeo sai de cima do telhado

Deixe o menino dormir sossegado

O Eu (Self) O Eu (Self) eacute o eu integral descrito por Winnicott(1975) em sua mais

pura essecircncia um eu que nasce na liberdade de expressatildeo na confianccedila baseada

nas experiecircncias vividas no suporte dos sentimentos Para este autor certas

condiccedilotildees se fazem necessaacuterias na busca do Eu (Self) eacute o que se chama de

criatividade A criatividade pode defraglar e sustentar o ser integral

A vida sadia se mostra pelo impulso criativo O brincar eacute um instrumento

da criatividade sediado na ldquoaacuterea intermediaacuteriardquo (entre as artes e o luacutedico)

sustentado em seus primoacuterdios pela ldquomatildee suficientemente boardquo direcionado agrave

busca do ldquoEu (Self) Sobre a importacircncia das cantigas de roda nesta busca

podemos ler as contribuiccedilotildees de Millecco filho e outros (2001p44)

As cantigas de roda datildeo continuidade ao trabalho

de elaboraccedilatildeo de conflitos e agrave estrutura da pessoa

em desenvolvimento iniciado com os acalantos

() A roda aparece como uma representaccedilatildeo da

mandala expressatildeo geomeacutetrica do Self

11 Recolhido atraveacutes da cultura oral

35

A letra da muacutesica infantil ldquoa canoa virourdquo expotildee um problema e supotildee

uma soluccedilatildeo hipoteacutetica

A CANOA VIROU(folclore)12

A canoa virou vou deixar ela virar

Foi por causa da Maria que natildeo soube remar

Ah se eu fosse peixinho e soubesse nadar

Eu tirava a Marialaacute do fundo do mar

A accedilatildeo terapecircutica deve ser um modo de auxiliar uma pessoa a

vir a ser o que ela eacute capaz de ser O psicomotricista atua como facilitador no

desenvolvimento do potencial existente no sujeito Numa maternagem

suficientemente boa como fala Winnicott o psicomotricista relacional torna-se um

companheiro de jornada para as atitudes luacutedicas do seu paciente

As medidas de afeto e limites saudaacuteveis agraves necessidades do outro

devem ser reconhecidas e valorizadas Eacute o que se vecirc nas colocaccedilotildees de Winnicott

(1975p63) ldquoEm outros termos eacute a brincadeira que eacute universal e que eacute proacutepria da

sauacutede o brincar facilita o crescimento e portanto a sauacutede o brincar conduz aos

relacionamentos grupais o brincar pode ser uma forma de comunicaccedilatildeo na

psicoterapia()rdquo

12 MARTINS Armando OPCITp110

36

Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e

estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que

haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila

acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas

Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a

brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre

MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR

VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR

Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o

aprender com a danccedila do outro

ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

13 Recolhido atraveacutes da cultura oral

37

Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons

e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os

brinquedos cantados

5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE

Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma

nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o

corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se

utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia

e da linguumliacutestica

No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua

expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a

existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto

O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que

encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e

motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros

Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando

fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar

gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil

38

ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14

Eacute bom cantar eacute bom ouvir

Eacute bom pensar eacute bom sentir

Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor

Viajar dentro de si pra poder se descobrir

51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE

A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso

meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da

psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu

corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)

O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico

(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes

concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo

ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a

palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas

que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que

quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do

latim Corpusque significa tecido de membros envoltura

da alma embriatildeo do espiacuterito

14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000

39

Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na

Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto

que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo

cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a

motricidade com a inteligecircncia

Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam

em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento

humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o

movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila

De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de

segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio

Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se

no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo

de Guilman

O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num

corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo

toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico

emocional(Levin opcit)

O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor

Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em

movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica

40

psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre

outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da

pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de

Levin(opcit)

Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor

podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor

ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento

Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o

sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem

tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco

podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade

eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)

52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA

A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o

seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins

pedagoacutegicos (Levy2000)

A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se

do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos

transtornos evidenciados (Coste1992)

A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a

41

afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja

o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade

do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting

psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais

uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si

mesmo uma terapiardquo

As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas

psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema

corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade

Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo

estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees

cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito

As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de

algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A

coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar

pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos

dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para

andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes

visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a

existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa

caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc

No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a

42

primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave

vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos

cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas

psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a

expressividade e a emoccedilatildeo

O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas

psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se

confirmar por exemplo para treinar a escrita

As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar

iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da

brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo

dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da

cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas

pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar

Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora

relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de

cada uma delas

43

53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE

Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os

acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte

afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe

o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo

e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do

acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si

mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a

busca do eu (Self)

O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos

cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a

partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes

acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de

interesse da populaccedilatildeo pesquisada

Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil

geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo

continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em

desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza

simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos

conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo

44

As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia

cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o

relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano

infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a

Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda

assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia

oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria

soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo

Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as

com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da

referida estrutura

Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos

integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos

grandes segmentos (Coste1992)

Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro

expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo

corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a

habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa

O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se

movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os

movimentos enquanto observam os amigos

45

BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

Os braccedilos pra cima e pra baixo

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

As pernas pra frente e pra traacutes

Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo

preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo

motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada

diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do

grafismo (Coste1992)

A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas

brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as

palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a

crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos

Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos

fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca

do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes

15 Recolhido atraveacutes da cultura oral

46

das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa

de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas

ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16

123 indiozinhos 456 indiozinhos

789 indiozinhos 10 num pequeno bote

Vinham navegando pelo rio abaixo

Quando o jacareacute se aproximou

E o pequeno bote dos indiozinhos

Quase quase virou quase quase virou

mas natildeo virou

Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo

ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam

internas ou externas (Levin2001)

A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e

apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as

crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do

corpo que deseja mostrar

ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17

Cabeccedila ombro joelho e peacute

Joelho e peacute joelho e peacute

Olhos boca orelha e nariz

Orelha e nariz orelha e nariz

16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral

47

Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O

equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute

relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)

Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de

amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o

personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca

instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma

perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal

traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal

ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca o pandeirotoca como ele soacute

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca violatildeo toca como ele soacute

Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao

tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir

da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do

aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala

dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da

vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza

18 Recolhido atraveacutes da cultura oral

48

Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila

seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um

personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular

correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e

volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem

seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam

ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19

Anda anda anda macaquinho

Anda anda anda sem parar

Pula pula pula macaquinho

Pula pula pula ateacute cansar

Corre corre corre macaquinho

Corre corre corre sem parar

Deita deita deita macaquinho

Deita deita deita dorme ateacute sonhar

Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu

desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e

relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do

mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)

Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira

19 Recolhido atraveacutes da cultura oral

49

traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo

espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a

noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo

vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento

O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e

rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos

de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra

frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente

e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da

roda virem periquitos tambeacutem

Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem

no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras

visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas

ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20

Periquito periquito parece com papa

Periquito periquito parece com papa

Por baixo por cima pra frente e pra traacutes

Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo

ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo

temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a

20 Recolhido atraveacutes da cultura oral

50

estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus

movimentos e se organiza na vida cotidiana

Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo

que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo

humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre

ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos

acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo

A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da

chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo

dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio

ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21

A janelinha fecha quando estaacute chovendo

A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo

Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute

Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute

Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os

centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e

contralaterais (Coste1992)

21 Recolhido atraveacutes da cultura oral

51

A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento

psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e

assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute

organizada e natildeo mudaraacute mais

Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os

peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a

conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo

grupo disposto em roda

ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22

Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora

Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora

Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock

Assim eacute bem melhor

( e assim por diante com as demais partes do corpo)

Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o

modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder

apud Coste(1992)

A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a

organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo

mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do

22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57

52

desejo da matildee

A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan

apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros

tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e

de diferenccedila (ibid)

Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o

ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na

constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo

desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A

psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade

poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A

citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo

O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de

identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria

de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do

lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que

eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim

constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute

poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo

o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)

53

Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia

corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber

possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver

As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a

expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente

Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar

cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de

construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza

pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem

corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter

fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de

cantar danccedilar e brincar

54

ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23

Minha boneca de lata

Bateu com a cabeccedila no chatildeo

Levou mais de uma hora

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui pra ficar boa

Minha boneca de lata

Bateu com o pescoccedilo no chatildeo

Levou mais de duas horas

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui desamassa aqui

Pra ficar boa

Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho

o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do

corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez

horas de arrumaccedilatildeo propostas

23 Recolhido atraveacutes da cultura oral

55

6CONCLUSAtildeO

Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-

se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse

infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar

Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a

relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas

cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo

permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os

estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e

que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo

Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de

winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do

ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos

como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica

Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de

conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos

Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade

que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se

pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos

sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu

ldquoafetordquo

56

Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a

psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir

expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer

Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia

para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a

socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte

aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o

desenvolvimento das estruturas psicomotoras

Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a

essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado

pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando

o prazer de brincar cantar e ser feliz

57

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WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975

Page 8: Brinquedos Cantados Na Psicomotricidade

7

1INTRODUCcedilAtildeO

O canto estaacute presente no universo simboacutelico de todas as culturas Vive-

se um processo de massificaccedilatildeo da cultura brasileira onde a muacutesica infantil estaacute

mesclada de sensualidade e cultuaccedilatildeo a um corpo esteacutetico grego Tem-se entatildeo

a incumbecircncia de preservar e formar a crianccedila que nasce ingecircnua sonhadora e

necessita de cuidados afetuosos

Visto que o som tem propriedades fiacutesicas que incidem sobre o corpo

humano de forma objetiva e subjetiva movendo o sujeito a partir da sua emoccedilatildeo

e que as crianccedilas satildeo estimuladas em sua afetividade se apropriando do uso

destes elementos luacutedico-sonoros para investimento pessoal e social supotildee-se que

os brinquedos cantados interferem de forma significativa no desenvolvimento

psicomotor das ditas crianccedilas

Faz-se assim a relevacircncia deste estudo para pesquisar a importacircncia

dos brinquedos cantados para o desenvolvimento psicomotor de crianccedilas de 0 agrave 7

anos de idade e ainda demonstrar a contribuiccedilatildeo destes elementos luacutedicoshy

sonoros na psicomotricidade com a referida populaccedilatildeo

Assume-se a investigaccedilatildeo da importacircncia e contribuiccedilatildeo dos

brinquedos cantados na psicomotricidade passando por quatro capiacutetulos

articulados entre si pelo vieacutes dos brinquedos cantados e dos interesses infantis

conforme o exposto a seguir

8

No primeiro capiacutetulo descreve-se uma breve histoacuteria e classificaccedilatildeo do

brincar a partir de referecircncias do folclore da psicanaacutelise e da filosofia Organiza-se

ideacuteias sobre trecircs possiacuteveis instacircncias que compreenderiam os brinquedos

cantados Musicar Brincar Movimentar Dar-se a ver na dialeacutetica entre a

Musicoterapia e a Psicomotricidade a importacircncia dos brinquedos cantados para

o desenvolvimento global da crianccedila nas idades mencionadas

Prossegue-se no segundo capiacutetulo um estudo sobre o desenvolvimento

infantil de 0 agrave 7 anos conforme a teoria Piagetiana Entre os estaacutegios do

desenvolvimento apontados por este autor para as estruturas cognosciacuteveis

imprescindiacuteveis a cada etapa sugere-se as contribuiccedilotildees de brinquedos cantados

compatiacuteveis com os momentos e as demandas verificadas Por fim mostra-se os

jogos na classificaccedilatildeo de Piaget situando o que cada etapa prioriza e delimitando

dois tipos de brinquedos cantados especiacuteficos para serem trabalhados na

psicomotricidade Os Acalantos e as Brincadeiras-de-roda

Identifica-se no capiacutetulo trecircs os conceitos de Winnicott sobre o objeto

transicional fenocircmeno transicional matildee suficientemente boa aacuterea intermediaacuteria e

o eu (Self) mostrando-se a interaccedilatildeo exposta pelos brinquedos cantados entre as

artes o luacutedico e o afeto supondo-se que esta interaccedilatildeo seja capaz de dar suporte

agrave cliacutenica psicomotora

Na proposta do capiacutetulo quatro buscou-se ldquoEn-Cantarrdquo a

psicomotricidade resumindo em uma breve histoacuteria como se instaurou a

educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo e terapia psicomotora atuais e ainda musicar com os

9

brinquedos cantados a elaboraccedilatildeo das diversas estruturas psicomotoras

assinalando a contribuiccedilatildeo destas para a psicomotricidade com a faixa etaacuteria

pesquisada

Finalizando esta introduccedilatildeo e abrindo os estudos desta monografia

deixa-se agrave contemplaccedilatildeo a muacutesica Redescobrir do compositor Luiz Gonzaga

Juacutenior 1980 interpretado pela cantora Elis Regina no Cd ldquoMuacutesica O melhor de

Elis Reginardquo WEA 2000

ldquoREDESCOBRIRrdquo

Como se fora brincadeira de roda (memoacuteria)

Jogo do trabalho na danccedila das matildeos (macias)

O suor dos corpos na canccedilatildeo da vida (histoacuteria)

O suor da vida e no calor de irmatildeos (magia)

Como um animal que sabe da floresta (memoacuteria)

Redescobrir o sal que estaacute na proacutepria pele (macia)

Redescobrir o doce no lamber das liacutenguas (magia)

Redescobrir o gosto e o sabor da festa (magia)

Vai o bicho homem fruto da semente (memoacuteria)

Renascer da proacutepria forccedila proacutepria luz e feacute (memoacuteria)

Entender que tudo eacute nosso sempre esteve em noacutes (histoacuteria)

Somos a semente ato mente e voz (magia)

Natildeo tenha medo meu menino bobo (memoacuteria)

Tudo principia na proacutepria pessoa (lembranccedila)

Vai como a crianccedila que natildeo teme os tempos (misteacuterio)

Amor se fazer eacute tatildeo prazer que eacute como fosse dor (magia)

10

2HISTOacuteRIA E CLASSIFICACcedilAtildeO DOS BRINQUEDOS CANTADOS

Os brinquedos cantados surgem na espontaneidade da cultura popular

Geralmente satildeo cantigas anocircnimas acompanhadas de movimentos expressivos

saltitantes e ou dramatizados

O brincar eacute uma forma de manifestaccedilatildeo caracteriacutestica da infacircncia entretanto

como afirma Huizinga (1980) a essecircncia do jogo eacute o prazer ele ultrapassa os

limites da realidade fiacutesica e assim se aplica a qualquer fase da vida

Os termos brincar e jogar satildeo referenciados como sinocircnimos por Cascudo

(1988) e Ferreira A (1988) Nos principais idiomas internacionais (Inglecircs Francecircs

Alematildeo e espanhol) brincar e jogar tambeacutem servem para definir atividades

artiacutesticas como a interpretaccedilatildeo teatral ou musical (Santa Roza1993)

Na liacutengua portuguesa o termo brincar vem do latim vinculum e significa

laccedilo uniatildeo No entanto eacute o termo luacutedico da nossa liacutengua tambeacutem proveniente do

latim ludus que melhor abrange e define as atividades artiacutesticas

culturais brincadeiras e jogos(ibid)

Nos divertimentos tradicionais infantis encontra-se os jogos de ronda

cantados declamados ritmados ou natildeo de movimento etc Brinquedo eacute ainda o

objeto material usado para brincar como o carro a boneca Diz-se tambeacutem da

proacutepria accedilatildeo de brincar (de cabra cega de chicotinho queimado e etc)

(Cascudo1988)

11

Dos trecircs povos que inicialmente formaram a cultura brasileira o

portuguecircs trouxe maior influecircncia para os brinquedos cantados os quais sofreram

modificaccedilotildees de acordo com a cultura local (Cascudo1988) Diga-se ainda que os

ritmos e danccedilas africanas juntamente com a alegria e marcaccedilatildeo ritmica-corporal

indiacutegena deu um tempero mais brejeiro ao legado luacutedico brasileiro

21BRINCAR

Como sonhar acordado brincar eacute expor-se de dentro para fora traduccedilatildeo

das impressotildees da crianccedila sobre o mundo que a cerca e os seus sentimentos

O brincar se desenvolve junto com o amadurecimento do sujeito as etapas iniciais

vatildeo perdendo o significado para o acreacutescimo do novo modo de explorar cada vez

mais elaborado

Todos os povos tecircm suas brincadeiras pertinentes agraves necessidades

expressivas de cada cultura O tempo se encarrega de transformar suas estruturas

mas eacute certo que as crianccedilas precisam de tempo espaccedilo e companheiros para

brincar

Sheridam (1990) classifica as brincadeiras em ativas exploratoacuterias

manipulativas imitativas construtivas faz-de-conta jogos com regras recreaccedilotildees

sofisticadas Este trabalho prioriza os brinquedos cantados que na praacutetica

psicomotora revelam valores e costumes culturais pontos de referecircncia para a

comunicaccedilatildeo e o relacionamento com o outro Estas manifestaccedilotildees envolvem a

emoccedilatildeo e o movimento que permeados pela muacutesica burlam as defesas e fazem

12

aflorar a essecircncia do ser

Os brinquedos cantados se inserem nas diversas formas de

classificaccedilatildeo pois em face de sua riqueza dinacircmica satildeo brincadeiras ativas

(exChep Chep) imitativas(ex Samba Lecirc Lecirc) construtivas(exA minha velha tem)

priorizam o faz-de-conta conteacutem regras especiacuteficas e vatildeo desde as mais simples

como ldquoAtirei o pau no gatordquo ateacute as mais elaboradas como ldquoA linda rosa juvenilrdquo1

Lapierre e Aucoutourrier (1986p29) pontuaram que ldquoA expressatildeo sonora

estaacute necessariamente ligada agrave relaccedilatildeo com o outrordquo sabe-se que ainda na barriga

da matildee a funccedilatildeo auditiva se instaura no embriatildeo e ele ouve os batimentos

cardiacuteacos dele e da matildee e todo um mundo de sons atraveacutes do liacutequido amnioacutetico

Eacute a relaccedilatildeo com o outro atraveacutes dos sons que situa a crianccedila no espaccedilo no tempo

e no afeto

22 MUSICAR

Segundo Gainza (1988) ldquoa accedilatildeo musical implica num movimento

seja das cordas vocais e do aparelho fonador naquele que fala ou canta seja do

proacuteprio corpordquo No uacuteltimo caso o corpo aparece como instrumento produtor de

som ou se prolonga atraveacutes de um instrumento musical propriamente ditordquo

Sob a oacutetica musical as teorias apontam para as estruturas fiacutesico-sonoras

Encontra-se nestas a formaccedilatildeo de todo contexto musical que eacute igualmente

1 PAIVA Ione Maria R de BRINQUEDOS CANTADOS 1998 p25416383

13

correspondente para os brinquedos cantados Fala-se entatildeo dos elementos

inevitaacuteveis de qualquer muacutesica Ritmo Melodia Harmonia Eis a definiccedilatildeo de

Costa(1989p61) ldquoNuma definiccedilatildeo muito simples muacutesica eacute a organizaccedilatildeo de

relaccedilotildees entre sonoridades simultacircneas ou natildeo no decorrer do tempo Sons e

silecircncios satildeo combinados e encadeados entre si formando ritmos melodias e

harmoniasrdquo

O ritmo eacute basicamente a ordenaccedilatildeo do movimento formando um elo

entre espaccedilo e tempo A melodia eacute uma sequumlecircncia de sons notas musicais graves

e agudas A harmonia eacute a verticalidade ou a simultaneidade dos sons parte mais

intelectualizada da muacutesica(Costa opcit mesma paacutegina)

As muacutesicas infantis em geral acompanham o desenvolvimento afetivo

motor cognitivo e social da crianccedila Observa-se que existem brinquedos cantados

mais simples contendo siacutelabas repetitivas estrutura musical miacutenima e que satildeo

preferidos pelas crianccedilas entre 2 e 3 anos por ex

CAI CAI BALAtildeO(folclore)2

Cai cai balatildeo cai cai balatildeo aqui na minha matildeo

Natildeo vou laacute natildeo vou laacute natildeo vou laacute tenho medo de apanhar

A muacutesica dos brinquedos cantados altera a sensibilidade o humor faz

aflorar a criatividade a expressividade do corpo e da alma revelando as habilidades

e dificuldades da crianccedila se convertendo entatildeo em instrumento de trabalho na

psicomotricidade

2 MARTINS Armando TOQUE VIOLAtildeO OU GUITARRA(meacutetodo praacutetico) 1980p88

14

23MOVIMENTAR

Do choro aos acalantos (muacutesicas de ninar) dos cantos culturais as

brincadeiras-de-roda haacute uma trajetoacuteria que vincula o som da voz ao movimento

corporal conforme afirma Fregtman(1988p17) isto ocorre ldquoporque a muacutesica eacute

feita dita tocada e cantada como manifestaccedilatildeo corporalrdquo

Toda forma de comunicaccedilatildeo se daacute atraveacutes de coacutedigos estabelecidos

linguagens por assim dizer Fregtman (opcit) conceitua a partir da musicoterapia

que trecircs niacuteveis de manifestaccedilatildeo expressiva simultacircneos podem se dar quando

usamos a muacutesica Satildeo eles

1) Linguagem sonora (sons silecircncios entonaccedilotildees melodias ritmos)

2) Linguagem corporal (gestos posturas trejeitos tipos de movimentos)

3) Linguagem verbal (a fala a letra a poesia)

Apenas para efeitos didaacuteticos se consegue separar estes trecircs niacuteveis de

linguagem A linguagem sonora necessariamente traacutes expressotildees corporais

estimula a emoccedilatildeo que se revela atraveacutes dos gestos posturas movimentos voz e

etc A linguagem corporal responde ao chamado verbal ou musical os quais soam

determinados significados simboacutelicos apreendidos nas relaccedilotildees soacutecio-afetivas E

por fim a linguagem verbal eacute inserida para nomear as accedilotildees sejam elas musicais

ou corporais

15

Os brinquedos cantados satildeo tambeacutem conceituados mediante sua aplicaccedilatildeo

em determinadas funccedilotildees na recreaccedilatildeo Os brinquedos cantados podem ser de

marcha de grupos opostos de palmas de roda de ninar ou alternados

Modificaccedilotildees diversas quanto ao andamento (lento moderado raacutepido) agrave formaccedilatildeo

(rodas simples complexas fileiras) e agrave movimentaccedilatildeo dos brinquedos cantados

(marcha roda dramatizaccedilatildeo) satildeo descritas por Leitatildeo(2001)

Neste trabalho prioriza-se os acalantos e as brincadeiras-de-roda tendo

em vista que a populaccedilatildeo estudada crianccedilas de 0 agrave 7 anos podem ser atendidas

em suas necessidades de acolhimento afetivo comunicaccedilatildeo expressiva e

socializaccedilatildeo atraveacutes destes elementos A Simbologia do movimento de Lapierre amp

Aucoutourrier (1986p41) sustenta o nosso pensamento atraveacutes da seguinte

citaccedilatildeo ldquoA muacutesica pode nos ajudar muito a redescobrir essa dimensatildeo do

movimento desde que natildeo seja restringida aos estereotipos da lsquodanccedilarsquo mesmo a

lsquoexpressivarsquo ldquo

ldquoO JACAREacuterdquo (folclore)3

O jacareacute o jacareacute o jacareacute eacute amigo ele eacute

Oi jacareacute oi jacareacute vem caacute cumpadre que a lagoa natildeo daacute peacute

O jacareacute tem os olhos muito grandes tem o rabo muito grande

Mas as pernas satildeo curtinhas

O jacareacute tem a boca muito grande tem os dentes muito grande

mas as pernas satildeo curtinhas

3 Recolhido atraveacutes da cultura oral

16

3O DESENVOLVIMENTO INFANTIL SEGUNDO PIAGET

Para Piaget (2003) o conhecimento eacute o resultado das accedilotildees e

relacionamentos do sujeito com o ambiente em que vive e vai sendo elaborado

desde o nascimento ateacute suas vivecircncias com os objetos pessoas e situaccedilotildees que

procura conhecer sejam elas do mundo fiacutesico ou cultural

Este autor formulou importantes conceitos que explicam o

desenvolvimento das funccedilotildees cognitivas A interaccedilatildeo entre a assimilaccedilatildeo

(informaccedilotildees do mundo exterior recebidas atraveacutes dos sentidos movimento de fora

para dentro) e a acomodaccedilatildeo (informaccedilatildeo processada respostas dadas ao mundo

exterior movimento de dentro para fora) sobre uma accedilatildeo satildeo validadas pelo

processo de equilibraccedilatildeo (Piagetopcit)

As perturbaccedilotildees exteriores se mostram a crianccedila a partir do que ela natildeo

conhece assim oportunizadas pelo processo de equilibraccedilatildeo e por meio de suas

atividades vai respondendo a estas perturbaccedilotildees vencendo a mais uma etapa

cognosciacutevel A equilibraccedilatildeo eacute dinacircmica e nunca cessa ela norteia a passagem de

um conhecimento ao outro(Piaget2003)

Dois outros conceitos Piagetianos satildeo imprescindiacuteveis ao tenro

desenvolvimento infantil e encontra-se nos brinquedos cantados uma forma

espontacircnea de vivenciaacute-los A Imitaccedilatildeo e a noccedilatildeo de Permanecircncia do Objeto

17

Imitaccedilatildeo Eacute na gecircnese da imitaccedilatildeo que inicia o movimento luacutedico da crianccedila

Imitando o meio e as pessoas ao seu redor a crianccedila apreende e treina suas novas

aquisiccedilotildees Ferreira I(1994 p47) afirma que ldquoA imitaccedilatildeo eacute uma das manifestaccedilotildees

da funccedilatildeo simboacutelica Constitui-se num dos elementos baacutesicos que permitem a

crianccedila uma assimilaccedilatildeo de realidade ao seu proacuteprio ldquoeurdquo bem como Acomodaccedilatildeo

de suas estruturas mentais e de accedilatildeo agraves exigecircncias da realidade fiacutesica e socialrdquo

Para haver o ato imitativo eacute necessaacuterio um modelo Alguns brinquedos

cantados propotildeem accedilotildees simboacutelicas que copiam o mundo adulto sem impor aos

pequenos o fardo da responsabilidade que este teria na realidade Eis um exemplo

interessante onde as crianccedilas imitam os afazeres dos mais velhos

PASSA PASSA GAVIAtildeO(folclore)4

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

As lavadeiras fazem assim

Assim assim assim assim

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

As passadeiras fazem assim

Assim assim assim assim

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

As cozinheiras fazem assim assim assim

Assim assado carne seca com ensopado

4 Recolhido atraveacutes da cultura oral

18

Objeto permanente Nos primeiros dois anos de vida a crianccedila apresenta um

comportamento em constante adaptaccedilatildeo pois estaacute sempre se modificando para

responder aos estiacutemulos do meio A crianccedila inicialmente natildeo tem noccedilatildeo da

permanecircncia dos objetos ela pensa que eles soacute existem enquanto estatildeo ao

alcance dos seus olhos caso sejam escondidos a sua frente acharaacute que estes

acabaram ou se desintegraram Entre os 18 e 24 meses a crianccedila jaacute consegue

elaborar mais este conhecimento e apesar de natildeo vecirc-lo ouvi-lo ou tocaacute-lo ela vai

compreender que os objetos independem da sua vontade e presenccedila para

existirem

Para melhor apreensatildeo da realidade fiacutesica a praacutetica pelo ensaio e erro ou

aparecer desaparecer vatildeo treinar e orientar os pequenos na aquisiccedilatildeo das noccedilotildees

de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo da realidade como

afirma FerreiraI(1994p35) ldquoO esquema do objeto permanente eacute baacutesico para a

construccedilatildeo das noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidaderdquo

Observe que as crianccedilas nesta fase gostam das brincadeiras de

esconde-esconde que amenizam suas anguacutestias sobre a existecircncia ou natildeo dos

objetos reais Seu proacuteprio corpo eacute posto agrave prova escondendo o rosto ou as matildeos

atraacutes de uma almofada por exemplo A muacutesica das palminhas talvez possa auxiliar

nesta etapa

19

PALMINHAS PALMINHAS (folclore)5

Palminhas palminhas nos vamos bater

Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconder

Em cima em cima noacutes vamos bater

Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconde

Assim assim pra traacutes esconder

Em baixo em baixo noacutes vamos bate

Depois as matildeozinhas pra traacutes esconde

Assim assim pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconder

Os conceitos estudados ateacute aqui se realizam dentro dos estaacutegios do

desenvolvimento organizados por Piaget Passar-se-aacute neste momento agrave elucidaccedilatildeo

dos estaacutegios pertinentes agrave faixa etaacuteria da populaccedilatildeo pesquisada nesta monografia

estaacutegios Sensoacuterio-motor e Preacute-operacional

31ESTAacuteGIO SENSOacuteRIO MOTOR (0 agrave 2 anos) Estaacutegio que vai do nascimento

ateacute a aquisiccedilatildeo da linguagem e eacute dividido em 6 sub estaacutegios Esta eacute a fase do

comportamento inteligente antes da aquisiccedilatildeo da linguagem a crianccedila organiza a

informaccedilatildeo obtida atraveacutes dos sentidos e desenvolve respostas aos estiacutemulos

5 Recolhido atraveacutes da cultura oral

20

ambientais com comportamento adaptativo e constante modificaccedilotildees dos

esquemas de accedilatildeo em resposta ao meio A aquisiccedilatildeo mais importante deste

periacuteodo eacute o Objeto Permanente Manifesta-se ainda a imitaccedilatildeo que alcanccedilaraacute o

seu auge no proacuteximo estaacutegio

1ordm Sub Estaacutegio ndash Exerciacutecio dos reflexos (0 a 1 mecircs) Do alto da sua imaturidade

bioloacutegica a crianccedila se relaciona com o meio atraveacutes dos movimentos reflexos

hereditaacuterios que se aprimoram pelo exerciacutecio tornando-se cada vez mais

eficientes Ainda natildeo haacute a distinccedilatildeo entre o eu e o outro

2ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular primaacuteria (1 a 4 meses)Esta eacute a fase das

primeiras acomodaccedilotildees onde os exerciacutecios reflexos se transformam em esquemas

e comeccedilam a coordenar seus movimentos Inicia-se a construccedilatildeo dos primeiros

esquemas vocais A noccedilatildeo de tempo eacute primitiva sua duraccedilatildeo soacute eacute sentida no

decorrer da proacutepria accedilatildeo O final do periacuteodo eacute marcado pela coordenaccedilatildeo entre trecircs

esquemas fundamentais audiccedilatildeo fonaccedilatildeo e visatildeo

3ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular secundaacuteria (4 a 8 meses) O bebecirc apresenta

um maior interesse pelo mundo externo os esquemas se diferenciam surgindo

novos esquemas de coordenaccedilatildeo viso-motora unindo-se as aquisiccedilotildees jaacute

realizadas Os movimentos comeccedilam a ser repetido pelo prazer da repeticcedilatildeo

Observa-se o iniacutecio da noccedilatildeo do Objeto Permanente entretanto ela estaacute

condicionada ao movimento da crianccedila pois as coisas ainda natildeo seguem uma

trajetoacuteria independente

21

4ordm Sub Estaacutegio ndash Coordenaccedilatildeo de esquemas secundaacuterios (8 a 12 meses)

Caracteriza-se pelas primeiras condutas propriamente inteligentes surgindo

adaptaccedilotildees sensoacuterio-motoras intencionais onde o bebecirc combina esquemas

conhecidos a novas situaccedilotildees e ainda diferencia os meios e os fins de uma accedilatildeo

Aparece nesta fase o comportamento antecipatoacuterio caso o bebecirc veja sua matildee se

afastar chora a imitaccedilatildeo de sons e accedilotildees satildeo agora intencionais e

conscientizadas no entanto ainda condicionadas ao esquema visual Revelam-se

os primoacuterdios da memoacuteria e da representaccedilatildeo mental Comeccedila a permanecircncia do

objeto independente do ldquoeurdquo Quanto agrave noccedilatildeo de espaccedilo e tempo a crianccedila

comeccedila a ordenar os proacuteprios deslocamentos em relaccedilatildeo aos objetos

5ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular terciaacuteria (12 a 18 meses) A crianccedila gradua

seus movimentos varia e experimenta novos padrotildees de comportamento

observando os diferentes efeitos da sua accedilatildeo sobre o objeto o qual jaacute eacute dotado de

permanecircncia Pode-se afirmar que o mecanismo da inteligecircncia praacutetica estaacute

definitivamente constituiacutedo A cada estruturaccedilatildeo da inteligecircncia corresponde uma

nova estruturaccedilatildeo do espaccedilo do tempo da causalidade etc Agindo por ldquoensaio e

errordquo os resultados das accedilotildees ainda satildeo por acaso pois as representaccedilotildees

mentais de fatos externos ainda natildeo se incluem ou seja o pensamento ainda natildeo

estaacute formado

22

6ordm Sub Estaacutegio ndash A invenccedilatildeo dos novos meios por combinaccedilatildeo

mental (18 a 24 meses) Esta fase caracteriza o momento de transiccedilatildeo entre a

inteligecircncia praacutetica (sensoacuterio-motora) e a inteligecircncia representativa quando

comeccedila a funccedilatildeo simboacutelica Inicia-se a representaccedilatildeo mental imaginativa e criativa

No jogo simboacutelico a crianccedila usa siacutembolos na linguagem e na brincadeira do faz-deshy

conta recorda-se de fatos passados e os representa depois de algum tempo O

final deste periacuteodo eacute marcado pela primeira noccedilatildeo de conservaccedilatildeo(FerreiraI1994)

Os primeiros anos de vida da crianccedila satildeo marcados pelas inuacutemeras

formaccedilotildees e transformaccedilotildees fiacutesicas mentais e emocionais conforme descritas

acima Os acalantos (muacutesicas de ninar) satildeo cantados por matildees de todo o mundo

numa primeira inserccedilatildeo da crianccedila ao universo musical de sua cultura Eles

exercem um poderoso papel de auxiacutelio agrave maternagem acolhendo-a afetuosamente

condiccedilatildeo baacutesica para que a crianccedila se sinta suficientemente amada para

prosseguir desenvolvendo-se Este tema seraacute melhor explanado nos proacuteximos

capiacutetulos Por hora parece oportuno um exemplo de acalanto

TUTU MARAMBAacute(folclore)6

Tutu marambaacute

Natildeo venha mais caacute

Que o pai do menino

Te manda mata

6 MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute PRECISO CANTAR Musicoterapia cantos e canccedilotildees2001p38

23

32ESTAacuteGIO PREacute-OPERACIONAL (2 agrave 7 anos) A crianccedila vive um tempo em que

usa a intuiccedilatildeo ela passa todos os seus atos para o pensamento sob a forma de

imagens e diante de uma situaccedilatildeo praacutetica suas respostas vatildeo se basear no que

ela vecirc sente mexe ou seja nas aparecircncias dos fatos que observa A crianccedila

possui a capacidade de representar uma coisa por outra e esta representaccedilatildeo

pode se dar por um gesto um desenho uma palavra etc A verbalizaccedilatildeo tem

destaque neste periacuteodo e a linguagem conduz agrave socializaccedilatildeo das accedilotildees Este

estaacutegio compreende duas formas de pensamento a saber O Pensamento

Simboacutelico e o Pensamento Intuitivo

Pensamento simboacutelico (2 agrave 4 anos) Para Piaget a funccedilatildeo simboacutelica consiste na

capacidade da crianccedila representar objetos e fatos conhecidos poreacutem ausentes por

um substituto qualquer seja este concreto ou imaginaacuterio Uma caracteriacutestica

fundamental desta fase eacute a diferenciaccedilatildeo entre significante e significado que eacute

manifestada por vaacuterias condutas sendo elas O jogo simboacutelico ou faz-de-conta a

imitaccedilatildeo o desenho a imagem mental a linguagem a criatividade etc Para

ldquosignificanterdquo leia-se objeto concreto e para ldquosignificadordquo a ideacuteia compreensiva do

que foi percebido (Piaget 2003)

Sobre a funccedilatildeo simboacutelica FerreiraI(1994p43) complementa ldquoA funccedilatildeo

simboacutelica pode ser considerada uma linguagem individual e particular da crianccedila

usada para compreender e representar o mundo O siacutembolo eacute subjetivo e aos

poucos vai sendo substituiacutedo por signos da linguagem socialrdquo

24

O pensamento infantil encontrado entre os 2 e 7 anos de idade eacute

egocentrado A visatildeo da realidade eacute centrada no ponto de vista do proacuteprio sujeito

sendo este incapaz de relacionaacute-lo ou de coordenaacute-lo a pontos de vistas diferentes

do seu

A aquisiccedilatildeo da linguagem tem destaque nesta fase e coincide com a

formaccedilatildeo do jogo simboacutelico que melhor se manifesta no jogo do faz-de-conta

Atraveacutes do que discute Ferreira I (1994p43) ldquoOs siacutembolos podem ser

socializados como os brinquedos coletivos e se tornar um siacutembolo coletivordquo

confirma-se mais uma vez que os estes elementos apresentam extrema valorizaccedilatildeo

soacutecio-afetiva e cultural Com a ludicidade que lhe eacute peculiar os brinquedos

cantados nesta fase encantam ensinam desenvolvem a memoacuteria a auto estima

o esquema corporal a imagem corporal a Coordenaccedilatildeo Motora a socializaccedilatildeo

entre outras funccedilotildees essenciais agrave formaccedilatildeo dos pequenos Eis um bom exemplo

O GIGANTE E O ANAtildeO(autor desconhecido)7

O peacute do gigante eacute grande

Do anatildeo pequenininho

O gigante pisa forte

O anatildeo pisa mansinho

O gigante fala grosso

O anatildeo fala fininho

Porque gigante come muito

E o anatildeo come pouquinho

7 Recolhido atraveacutes da cultura oral

25

Pensamento Intuitivo (4 agrave 7 anos) Subdividido em Intuitivo Simples e Intuitivo

Articulado eacute um estaacutegio marcado pela crescente formaccedilatildeo de conceitos O

pensamento intuitivo eacute uma espeacutecie de accedilatildeo executada em pensamento encaixar

seriar deslocar etc

A crianccedila no intuitivo simples representa mentalmente assimila e entende

o mundo real poreacutem de forma limitada pois soacute consegue coordenar um uacutenico

ponto de vista com base nas aparecircncias do que vecirc Centrado em si mesmo natildeo

admite a reversibilidade falta-lhe ainda a noccedilatildeo de conservaccedilatildeo das substacircncias

Quando se pede agrave crianccedila para desenhar ela desenha o que sabe e natildeo

o que vecirc Este egocentrismo que lhe eacute peculiar deveraacute evoluir para a

descentraccedilatildeo bem como haveraacute progressos nas diversas etapas cognitivas

(classificar seriar etc) Ao final do pensamento intuitivo articulado a crianccedila

comeccedila a levantar duacutevidas e questionamentos percebendo a mobilidade das

situaccedilotildees

ldquoA BARATArdquo(folclore)8

A barata diz que tem 7 saias de filoacute

Eacute mentira da barata ela tem eacute uma soacute

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute

A barata diz que tem um anel de formatura

Eacute mentira da barata ela tem eacute casca dura

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura

8 PAIVA Ione Maria R de OPCITp80

26

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura

A barata diz que dorme numa cama de cetim

Eacute mentira da barata ela dorme eacute no capim

Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim

Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim

Na muacutesica da barata as crianccedilas ironizam a tentativa de mentir deste

inseto A propoacutesito das ldquomentirinhasrdquo contidas nas brincadeiras infantis funcionam

como passaporte para a experimentaccedilatildeo do que eacute verdadeiro e real As palavras

de cascudo(1988p491) discorrem sobre os deslimites da mentira ldquoAs estoacuterias

mentirosas() satildeo muito populares e constituem um gecircnero especial onde a

imaginaccedilatildeo exagerada e livre se liberta dos limites da loacutegicardquo Acredita-se que as

crianccedilas exigem a verdade para terem o domiacutenio do que aprendem

33OS JOGOS POR PIAGET

ldquoPiaget vecirc no jogo um processo de ajuda ao desenvolvimento da crianccedila

acompanha-a sendo ao mesmo tempo uma atividade consequumlente de seu proacuteprio

crescimentordquo(Negrine1994p45) A leitura dos jogos em Piaget acompanha o

desenvolvimento integral do homem a inteligecircncia a afetividade a motricidade e a

sociabilidade satildeo vivenciadas nos jogos sendo a afetividade a funccedilatildeo que constitui

a energia necessaacuteria para a progressatildeo psiacutequica moral intelectual e motora

daquele que joga

Trecircs classificaccedilotildees baacutesicas do jogo satildeo mostradas na teoria

27

psicogeneacutetica de Piaget Jogos de exerciacutecio Jogos simboacutelicos e jogos de regra

Jogos de Exerciacutecio Ou jogos sensoacuterio-motores que aparecem no periacuteodo do

mesmo nome natildeo chegam a constituir sistemas luacutedicos independentes e

construtivos Sua motivaccedilatildeo se daacute pelo prazer funcional ou pelo prazer produzido

pela tomada de consciecircncia de suas novas capacidades

Os jogos motores ou de exerciacutecios satildeo aqueles que envolvem

diretamente a participaccedilatildeo ativa do corpo como um todo inclui-se ainda os jogos

sensoriais que ajudam a desenvolver os oacutergatildeos dos sentidos

A crianccedila nesta fase gosta de brincar com brinquedos que manipula

repetidas vezes explorando toda sua superfiacutecie Brincar de esconder o rosto ou os

objetos atirar e pegar brinquedos eacute prazeroso para a crianccedila ao mesmo tempo

que assimila as noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo

da realidade

Os estiacutemulos sensoriais tambeacutem fazem parte do seu interesse objetos

de diversas cores e texturas brinquedos sonoros muacutesica para ouvir acalentar

danccedilar e brincar desta forma explora o reconhecimento do eu do outro e dos

objetos

O jogo de exerciacutecio eacute o primeiro a aparecer no comportamento da

crianccedila explicitamente do 2ordm ao 5ordm estaacutegio do desenvolvimento sensoacuterio motor por

oposiccedilatildeo ao 6ordm estaacutegio onde se inicia o jogo simboacutelico(Negrine 1994)

28

ATIREI O PAU NO GATO(Folclore)9

Atirei o pau no ga-to-to mas o ga-to-to

Natildeo morreu- rreu- rreu dona chica-ca-ca

Admirou- se se do berro do berro

Do berro que o gato deu Miau

Jogos Simboacutelicos Em princiacutepio do ponto de vista de Piaget a diferenccedila entre os

jogos simboacutelicos e os de exerciacutecio intelectual consiste em que os primeiros se

referem ao pensamento

Os jogos simboacutelicos tem iniacutecio no 6ordm estaacutegio do periacuteodo sensoacuterio-motor

e se continua aproximadamente dos 2 aos 4 anos de idade cronoloacutegica ou do 1ordm

estaacutegio do preacute-operacional(fase simboacutelica) ateacute o iniacutecio do 2ordm estaacutegio do preacuteshy

operacional(fase intuitiva) Piaget apud Negrine(1994p41) deixa claro a

supremacia dos jogos simboacutelicos em detrimento dos anteriores

ldquoO esquema simboacutelico por si mesmo eacute suficiente para

assegurar a superioridade da representaccedilatildeo sobre

uma accedilatildeo pura nesta segundo Piaget o jogo

permite assimilar o mundo exterior ao eu como meio

infinitamente mais poderoso que o de simples exerciacuteciordquo

Como aparecem antes da linguagem verbal propriamente dita os jogos

simboacutelicos satildeo representados nas imagens mentais da crianccedila e vivenciados

atraveacutes dos gestos onomatopeacuteias pelo prazer de brincar com o faz-de-conta

9 MILLLECCO FILHO Luiacutes A e outros OPCIT p43

29

Nesta fase os acalantos vatildeo perdendo sua importacircncia dando lugar agraves

brincadeiras-de-roda os pequenos ao mesmo tempo em que aprendem a falar

aprendem a cantar as brincadeiras-de-roda tem a propriedade de enriquecerem o

repertoacuterio de palavras e movimentos

Jogos de Regras Os jogos de regras natildeo seguem o mesmo itineraacuterio dos

anteriores pois comeccedilam a aparecer na metade do 2ordm estaacutegio do periacuteodo preacuteshy

operacional isto eacute dos 4 aos 7 anos e principalmente no periacuteodo das operaccedilotildees

concretas dos 7 aos 12 anos Pesquisaremos como ocorrem os jogos de regra ateacute

os 7 anos pela delimitaccedilatildeo da populaccedilatildeo que esta monografia abrange

Dos 4 aos 7 anos periacuteodo preacute operacional intuitivo surgem os jogos de

regra que substituiratildeo o siacutembolo e enquadraratildeo o exerciacutecio no momento em que se

constituem de forma incipiente certas relaccedilotildees sociais(Piaget2003)

Com relaccedilatildeo as regras segundo Piaget apud Negrine

(1994p44)distinguem-se dois tipos transmitidas e espontacircneas As regras

transmitidas se referem aos jogos institucionais que se impotildeem por pressatildeo das

geraccedilotildees anteriores As espontacircneas se referem aos jogos de natureza contratual e

momentacircnea isto eacute procedem da socializaccedilatildeo dos jogos de simples exerciacutecios ou

dos simboacutelicos

30

Na cantiga de roda ldquoCiranda cirandinhardquo destaca-se o desenvolvimento

da roda e ao final as regras uma imposta (entrar na roda e dizer um verso) outra

espontacircnea (serve qualquer verso criado na hora ou jaacute existente) Outra versatildeo

desta mesma cantiga para crianccedilas menores pede ldquofaccedila um gesto bem bonito

diga adeus e vaacute se emborardquo A liberdade de criar um gesto verso a importacircncia de

estar no meio da roda como centro das atenccedilotildees e a valorizaccedilatildeo dos

companheiros satildeo o impulso para a espontaneidade e o crescimento da autonomia

do ser

CIRANDA CIRANDINHA(folclore)10

Ciranda cirandinha vamos todos cirandar

Vamos dar a meia volta volta e meia vamos dar

o anel que tu me destes era vidro e se quebrou

o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou

Por isto sinhaacute Maria entre dentro desta roda

Diga um verso bem bonito diga adeus e vaacute se embora

Os conceitos estudados neste capiacutetulo podem orientar sobre o tempo

mental da crianccedila e a possibilidade de oferecer estiacutemulos adequados ao seu

momento Como uma boa buacutessola natildeo conteacutem apenas o norte

10 MARTINS Armando OPCITp105

31

4O BRINCAR E A REALIDADE WINNICOTTEANA

A partir da premissa de que natildeo se pode dividir o ser humano em

classificaccedilotildees bioloacutegicas e psiacutequicas posto que este eacute uma unidade indivisiacutevel

formulou-se apenas para efeitos didaacuteticos no capiacutetulo anteriorum olhar mais

fiacutesico(cognitivo) do desenvolvimento infantil atraveacutes de Piaget Discutir-se-aacute neste

capiacutetulo o ponto de vista Winnicotteano sobre a vida emocional e o brincar

Nos brinquedos cantados a arte de brincar se mistura a arte de cantar e

eacute fazendo ldquoArtesrdquo que a crianccedila dar-se a ver e a crescer A partir deste tema

instigante e universal que eacute o brincar torna-se mais prazeroso ainda falar sobre ele

depois de conhecer os estudos do Drordm Winnicott

D W Winnicott pediatra psicanalista psicoterapeuta inglecircs e defensor

da Ludoterapia nasceu no comeccedilo do seacuteculo 20 produzindo uma vasta obra

cientiacutefica ateacute os anos 70 quando nos deixou Em seu livro ldquoO Brincar e

Realidaderdquo(1975) se preocupou com os primoacuterdios da vida imaginativa da

experiecircncia cultural em todos os sentidos da relaccedilatildeo das artes com o brincar e da

criatividade

Neste momento parece relevante abordar alguns dos conceitos teoacutericos

do DrordmWinnicott atraveacutes da obra mencionada pelo suporte que podem

proporcionar agrave compreensatildeo da vida psiacutequica mediante o brincar e a terapia Em

32

Conceitos e contornos ilustrar-se-aacute o Objeto transicional Fenocircmeno transicional

Matildee suficientemente boa Aacuterea intermediaacuteria e o Eu(Self) circundando a

importacircncia destes conceitos em relaccedilatildeo aos brinquedos cantados e sua aplicaccedilatildeo

na cliacutenica psicomotora

41CONCEITOS E CONTORNOS

Objeto Transicional Eacute o objeto concreto relativo agrave exploraccedilatildeo pulsional (descarga

impulsiva) do sujeito por exemplo uma boneca ou um carrinho

Fenocircmeno Transicional Satildeo as accedilotildees relativas agrave exploraccedilatildeo pulsional ou o uso

que se faz dos objetos transicionais Ex Um carrinho pode ser acalentado como se

fosse um bebecirc

Matildee Suficientemente Boa Pessoa que ocupa o lugar de suporte afetivo no

desenvolvimento global da crianccedila tambeacutem associada por ele a figura do

terapeuta

Em outras palavras o amor da matildee ou do terapeuta

natildeo significaria apenas um atendimento agraves necessidades

da dependecircncia mas vem a significar a concessatildeo

de oportunidades que permita ao bebecirc ou ao paciente

passar da dependecircncia para a autonomia

(Winnicott1975p150)

33

Aacuterea Intermediaacuteria Aacuterea neutra de experimentaccedilatildeo vivencial entre as realidades

internas e externas do sujeito que favorece a dialeacutetica do brincar e das artes O

dito autor parece supor um espaccedilo de refuacutegio para a resoluccedilatildeo dos conflitos

humanos Eis aqui a referecircncia para tal colocaccedilatildeo

Presume-se aqui que a tarefa de aceitaccedilatildeo da realidade

nunca eacute completada que nenhum ser humano estaacute livre

da tensatildeo de relacionar a realidade interna e externa e

que o aliacutevio dessa tensatildeo eacute proporcionado por uma aacuterea

intermediaacuteria de experiecircncia(cf Riviere1936) que natildeo eacute

contestada (artes religiatildeo etc) Essa aacuterea intermediaacuteria

estaacute em continuidade direta com a aacuterea do brincar da

crianccedila pequena que se ldquoperderdquo no brincar

(Winnicottopcitp29)

A princiacutepio eacute difiacutecil falar dos brinquedos cantados como objetos

transicionais (concretos) porque natildeo satildeo exatamente vistos a olhos nus embora

sejam audiacuteveis Todavia qualquer muacutesico pode escrever em uma partitura o

brinquedo cantado (concreto e cantaacutevel) para tornaacute-lo visiacutevel

O ato de cantar uma muacutesica de roda ou um acalanto jaacute eacute a traduccedilatildeo do

fenocircmeno transicional Dar-se-aacute o uso que quiser a este brinquedo cantado no

momento de sua realizaccedilatildeo Se uma muacutesica de ninar for entoada com raiva ou

brutalidade eacute certo que traraacute temores ao bebecirc e natildeo o conforto a que se prestaria

Acalantos com este do ldquobicho papatildeordquo expotildee o perigo e propotildee acolhida pela

proteccedilatildeo materna

34

ldquoBICHO PAPAtildeO(folclore)11

Bicho Papatildeo sai de cima do telhado

Deixe o menino dormir sossegado

O Eu (Self) O Eu (Self) eacute o eu integral descrito por Winnicott(1975) em sua mais

pura essecircncia um eu que nasce na liberdade de expressatildeo na confianccedila baseada

nas experiecircncias vividas no suporte dos sentimentos Para este autor certas

condiccedilotildees se fazem necessaacuterias na busca do Eu (Self) eacute o que se chama de

criatividade A criatividade pode defraglar e sustentar o ser integral

A vida sadia se mostra pelo impulso criativo O brincar eacute um instrumento

da criatividade sediado na ldquoaacuterea intermediaacuteriardquo (entre as artes e o luacutedico)

sustentado em seus primoacuterdios pela ldquomatildee suficientemente boardquo direcionado agrave

busca do ldquoEu (Self) Sobre a importacircncia das cantigas de roda nesta busca

podemos ler as contribuiccedilotildees de Millecco filho e outros (2001p44)

As cantigas de roda datildeo continuidade ao trabalho

de elaboraccedilatildeo de conflitos e agrave estrutura da pessoa

em desenvolvimento iniciado com os acalantos

() A roda aparece como uma representaccedilatildeo da

mandala expressatildeo geomeacutetrica do Self

11 Recolhido atraveacutes da cultura oral

35

A letra da muacutesica infantil ldquoa canoa virourdquo expotildee um problema e supotildee

uma soluccedilatildeo hipoteacutetica

A CANOA VIROU(folclore)12

A canoa virou vou deixar ela virar

Foi por causa da Maria que natildeo soube remar

Ah se eu fosse peixinho e soubesse nadar

Eu tirava a Marialaacute do fundo do mar

A accedilatildeo terapecircutica deve ser um modo de auxiliar uma pessoa a

vir a ser o que ela eacute capaz de ser O psicomotricista atua como facilitador no

desenvolvimento do potencial existente no sujeito Numa maternagem

suficientemente boa como fala Winnicott o psicomotricista relacional torna-se um

companheiro de jornada para as atitudes luacutedicas do seu paciente

As medidas de afeto e limites saudaacuteveis agraves necessidades do outro

devem ser reconhecidas e valorizadas Eacute o que se vecirc nas colocaccedilotildees de Winnicott

(1975p63) ldquoEm outros termos eacute a brincadeira que eacute universal e que eacute proacutepria da

sauacutede o brincar facilita o crescimento e portanto a sauacutede o brincar conduz aos

relacionamentos grupais o brincar pode ser uma forma de comunicaccedilatildeo na

psicoterapia()rdquo

12 MARTINS Armando OPCITp110

36

Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e

estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que

haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila

acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas

Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a

brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre

MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR

VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR

Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o

aprender com a danccedila do outro

ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

13 Recolhido atraveacutes da cultura oral

37

Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons

e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os

brinquedos cantados

5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE

Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma

nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o

corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se

utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia

e da linguumliacutestica

No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua

expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a

existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto

O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que

encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e

motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros

Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando

fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar

gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil

38

ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14

Eacute bom cantar eacute bom ouvir

Eacute bom pensar eacute bom sentir

Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor

Viajar dentro de si pra poder se descobrir

51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE

A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso

meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da

psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu

corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)

O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico

(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes

concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo

ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a

palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas

que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que

quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do

latim Corpusque significa tecido de membros envoltura

da alma embriatildeo do espiacuterito

14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000

39

Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na

Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto

que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo

cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a

motricidade com a inteligecircncia

Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam

em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento

humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o

movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila

De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de

segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio

Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se

no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo

de Guilman

O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num

corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo

toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico

emocional(Levin opcit)

O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor

Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em

movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica

40

psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre

outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da

pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de

Levin(opcit)

Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor

podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor

ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento

Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o

sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem

tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco

podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade

eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)

52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA

A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o

seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins

pedagoacutegicos (Levy2000)

A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se

do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos

transtornos evidenciados (Coste1992)

A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a

41

afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja

o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade

do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting

psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais

uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si

mesmo uma terapiardquo

As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas

psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema

corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade

Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo

estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees

cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito

As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de

algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A

coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar

pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos

dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para

andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes

visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a

existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa

caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc

No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a

42

primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave

vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos

cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas

psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a

expressividade e a emoccedilatildeo

O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas

psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se

confirmar por exemplo para treinar a escrita

As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar

iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da

brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo

dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da

cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas

pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar

Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora

relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de

cada uma delas

43

53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE

Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os

acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte

afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe

o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo

e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do

acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si

mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a

busca do eu (Self)

O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos

cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a

partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes

acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de

interesse da populaccedilatildeo pesquisada

Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil

geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo

continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em

desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza

simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos

conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo

44

As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia

cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o

relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano

infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a

Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda

assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia

oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria

soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo

Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as

com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da

referida estrutura

Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos

integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos

grandes segmentos (Coste1992)

Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro

expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo

corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a

habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa

O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se

movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os

movimentos enquanto observam os amigos

45

BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

Os braccedilos pra cima e pra baixo

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

As pernas pra frente e pra traacutes

Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo

preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo

motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada

diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do

grafismo (Coste1992)

A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas

brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as

palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a

crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos

Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos

fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca

do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes

15 Recolhido atraveacutes da cultura oral

46

das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa

de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas

ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16

123 indiozinhos 456 indiozinhos

789 indiozinhos 10 num pequeno bote

Vinham navegando pelo rio abaixo

Quando o jacareacute se aproximou

E o pequeno bote dos indiozinhos

Quase quase virou quase quase virou

mas natildeo virou

Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo

ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam

internas ou externas (Levin2001)

A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e

apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as

crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do

corpo que deseja mostrar

ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17

Cabeccedila ombro joelho e peacute

Joelho e peacute joelho e peacute

Olhos boca orelha e nariz

Orelha e nariz orelha e nariz

16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral

47

Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O

equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute

relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)

Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de

amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o

personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca

instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma

perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal

traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal

ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca o pandeirotoca como ele soacute

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca violatildeo toca como ele soacute

Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao

tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir

da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do

aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala

dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da

vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza

18 Recolhido atraveacutes da cultura oral

48

Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila

seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um

personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular

correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e

volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem

seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam

ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19

Anda anda anda macaquinho

Anda anda anda sem parar

Pula pula pula macaquinho

Pula pula pula ateacute cansar

Corre corre corre macaquinho

Corre corre corre sem parar

Deita deita deita macaquinho

Deita deita deita dorme ateacute sonhar

Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu

desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e

relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do

mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)

Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira

19 Recolhido atraveacutes da cultura oral

49

traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo

espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a

noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo

vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento

O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e

rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos

de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra

frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente

e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da

roda virem periquitos tambeacutem

Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem

no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras

visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas

ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20

Periquito periquito parece com papa

Periquito periquito parece com papa

Por baixo por cima pra frente e pra traacutes

Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo

ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo

temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a

20 Recolhido atraveacutes da cultura oral

50

estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus

movimentos e se organiza na vida cotidiana

Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo

que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo

humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre

ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos

acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo

A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da

chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo

dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio

ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21

A janelinha fecha quando estaacute chovendo

A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo

Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute

Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute

Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os

centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e

contralaterais (Coste1992)

21 Recolhido atraveacutes da cultura oral

51

A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento

psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e

assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute

organizada e natildeo mudaraacute mais

Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os

peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a

conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo

grupo disposto em roda

ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22

Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora

Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora

Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock

Assim eacute bem melhor

( e assim por diante com as demais partes do corpo)

Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o

modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder

apud Coste(1992)

A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a

organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo

mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do

22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57

52

desejo da matildee

A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan

apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros

tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e

de diferenccedila (ibid)

Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o

ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na

constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo

desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A

psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade

poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A

citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo

O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de

identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria

de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do

lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que

eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim

constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute

poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo

o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)

53

Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia

corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber

possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver

As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a

expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente

Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar

cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de

construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza

pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem

corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter

fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de

cantar danccedilar e brincar

54

ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23

Minha boneca de lata

Bateu com a cabeccedila no chatildeo

Levou mais de uma hora

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui pra ficar boa

Minha boneca de lata

Bateu com o pescoccedilo no chatildeo

Levou mais de duas horas

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui desamassa aqui

Pra ficar boa

Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho

o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do

corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez

horas de arrumaccedilatildeo propostas

23 Recolhido atraveacutes da cultura oral

55

6CONCLUSAtildeO

Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-

se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse

infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar

Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a

relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas

cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo

permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os

estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e

que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo

Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de

winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do

ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos

como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica

Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de

conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos

Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade

que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se

pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos

sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu

ldquoafetordquo

56

Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a

psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir

expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer

Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia

para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a

socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte

aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o

desenvolvimento das estruturas psicomotoras

Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a

essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado

pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando

o prazer de brincar cantar e ser feliz

57

BIBLIOGRAFIA

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Editora Sprint ltda 1996

WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975

Page 9: Brinquedos Cantados Na Psicomotricidade

8

No primeiro capiacutetulo descreve-se uma breve histoacuteria e classificaccedilatildeo do

brincar a partir de referecircncias do folclore da psicanaacutelise e da filosofia Organiza-se

ideacuteias sobre trecircs possiacuteveis instacircncias que compreenderiam os brinquedos

cantados Musicar Brincar Movimentar Dar-se a ver na dialeacutetica entre a

Musicoterapia e a Psicomotricidade a importacircncia dos brinquedos cantados para

o desenvolvimento global da crianccedila nas idades mencionadas

Prossegue-se no segundo capiacutetulo um estudo sobre o desenvolvimento

infantil de 0 agrave 7 anos conforme a teoria Piagetiana Entre os estaacutegios do

desenvolvimento apontados por este autor para as estruturas cognosciacuteveis

imprescindiacuteveis a cada etapa sugere-se as contribuiccedilotildees de brinquedos cantados

compatiacuteveis com os momentos e as demandas verificadas Por fim mostra-se os

jogos na classificaccedilatildeo de Piaget situando o que cada etapa prioriza e delimitando

dois tipos de brinquedos cantados especiacuteficos para serem trabalhados na

psicomotricidade Os Acalantos e as Brincadeiras-de-roda

Identifica-se no capiacutetulo trecircs os conceitos de Winnicott sobre o objeto

transicional fenocircmeno transicional matildee suficientemente boa aacuterea intermediaacuteria e

o eu (Self) mostrando-se a interaccedilatildeo exposta pelos brinquedos cantados entre as

artes o luacutedico e o afeto supondo-se que esta interaccedilatildeo seja capaz de dar suporte

agrave cliacutenica psicomotora

Na proposta do capiacutetulo quatro buscou-se ldquoEn-Cantarrdquo a

psicomotricidade resumindo em uma breve histoacuteria como se instaurou a

educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo e terapia psicomotora atuais e ainda musicar com os

9

brinquedos cantados a elaboraccedilatildeo das diversas estruturas psicomotoras

assinalando a contribuiccedilatildeo destas para a psicomotricidade com a faixa etaacuteria

pesquisada

Finalizando esta introduccedilatildeo e abrindo os estudos desta monografia

deixa-se agrave contemplaccedilatildeo a muacutesica Redescobrir do compositor Luiz Gonzaga

Juacutenior 1980 interpretado pela cantora Elis Regina no Cd ldquoMuacutesica O melhor de

Elis Reginardquo WEA 2000

ldquoREDESCOBRIRrdquo

Como se fora brincadeira de roda (memoacuteria)

Jogo do trabalho na danccedila das matildeos (macias)

O suor dos corpos na canccedilatildeo da vida (histoacuteria)

O suor da vida e no calor de irmatildeos (magia)

Como um animal que sabe da floresta (memoacuteria)

Redescobrir o sal que estaacute na proacutepria pele (macia)

Redescobrir o doce no lamber das liacutenguas (magia)

Redescobrir o gosto e o sabor da festa (magia)

Vai o bicho homem fruto da semente (memoacuteria)

Renascer da proacutepria forccedila proacutepria luz e feacute (memoacuteria)

Entender que tudo eacute nosso sempre esteve em noacutes (histoacuteria)

Somos a semente ato mente e voz (magia)

Natildeo tenha medo meu menino bobo (memoacuteria)

Tudo principia na proacutepria pessoa (lembranccedila)

Vai como a crianccedila que natildeo teme os tempos (misteacuterio)

Amor se fazer eacute tatildeo prazer que eacute como fosse dor (magia)

10

2HISTOacuteRIA E CLASSIFICACcedilAtildeO DOS BRINQUEDOS CANTADOS

Os brinquedos cantados surgem na espontaneidade da cultura popular

Geralmente satildeo cantigas anocircnimas acompanhadas de movimentos expressivos

saltitantes e ou dramatizados

O brincar eacute uma forma de manifestaccedilatildeo caracteriacutestica da infacircncia entretanto

como afirma Huizinga (1980) a essecircncia do jogo eacute o prazer ele ultrapassa os

limites da realidade fiacutesica e assim se aplica a qualquer fase da vida

Os termos brincar e jogar satildeo referenciados como sinocircnimos por Cascudo

(1988) e Ferreira A (1988) Nos principais idiomas internacionais (Inglecircs Francecircs

Alematildeo e espanhol) brincar e jogar tambeacutem servem para definir atividades

artiacutesticas como a interpretaccedilatildeo teatral ou musical (Santa Roza1993)

Na liacutengua portuguesa o termo brincar vem do latim vinculum e significa

laccedilo uniatildeo No entanto eacute o termo luacutedico da nossa liacutengua tambeacutem proveniente do

latim ludus que melhor abrange e define as atividades artiacutesticas

culturais brincadeiras e jogos(ibid)

Nos divertimentos tradicionais infantis encontra-se os jogos de ronda

cantados declamados ritmados ou natildeo de movimento etc Brinquedo eacute ainda o

objeto material usado para brincar como o carro a boneca Diz-se tambeacutem da

proacutepria accedilatildeo de brincar (de cabra cega de chicotinho queimado e etc)

(Cascudo1988)

11

Dos trecircs povos que inicialmente formaram a cultura brasileira o

portuguecircs trouxe maior influecircncia para os brinquedos cantados os quais sofreram

modificaccedilotildees de acordo com a cultura local (Cascudo1988) Diga-se ainda que os

ritmos e danccedilas africanas juntamente com a alegria e marcaccedilatildeo ritmica-corporal

indiacutegena deu um tempero mais brejeiro ao legado luacutedico brasileiro

21BRINCAR

Como sonhar acordado brincar eacute expor-se de dentro para fora traduccedilatildeo

das impressotildees da crianccedila sobre o mundo que a cerca e os seus sentimentos

O brincar se desenvolve junto com o amadurecimento do sujeito as etapas iniciais

vatildeo perdendo o significado para o acreacutescimo do novo modo de explorar cada vez

mais elaborado

Todos os povos tecircm suas brincadeiras pertinentes agraves necessidades

expressivas de cada cultura O tempo se encarrega de transformar suas estruturas

mas eacute certo que as crianccedilas precisam de tempo espaccedilo e companheiros para

brincar

Sheridam (1990) classifica as brincadeiras em ativas exploratoacuterias

manipulativas imitativas construtivas faz-de-conta jogos com regras recreaccedilotildees

sofisticadas Este trabalho prioriza os brinquedos cantados que na praacutetica

psicomotora revelam valores e costumes culturais pontos de referecircncia para a

comunicaccedilatildeo e o relacionamento com o outro Estas manifestaccedilotildees envolvem a

emoccedilatildeo e o movimento que permeados pela muacutesica burlam as defesas e fazem

12

aflorar a essecircncia do ser

Os brinquedos cantados se inserem nas diversas formas de

classificaccedilatildeo pois em face de sua riqueza dinacircmica satildeo brincadeiras ativas

(exChep Chep) imitativas(ex Samba Lecirc Lecirc) construtivas(exA minha velha tem)

priorizam o faz-de-conta conteacutem regras especiacuteficas e vatildeo desde as mais simples

como ldquoAtirei o pau no gatordquo ateacute as mais elaboradas como ldquoA linda rosa juvenilrdquo1

Lapierre e Aucoutourrier (1986p29) pontuaram que ldquoA expressatildeo sonora

estaacute necessariamente ligada agrave relaccedilatildeo com o outrordquo sabe-se que ainda na barriga

da matildee a funccedilatildeo auditiva se instaura no embriatildeo e ele ouve os batimentos

cardiacuteacos dele e da matildee e todo um mundo de sons atraveacutes do liacutequido amnioacutetico

Eacute a relaccedilatildeo com o outro atraveacutes dos sons que situa a crianccedila no espaccedilo no tempo

e no afeto

22 MUSICAR

Segundo Gainza (1988) ldquoa accedilatildeo musical implica num movimento

seja das cordas vocais e do aparelho fonador naquele que fala ou canta seja do

proacuteprio corpordquo No uacuteltimo caso o corpo aparece como instrumento produtor de

som ou se prolonga atraveacutes de um instrumento musical propriamente ditordquo

Sob a oacutetica musical as teorias apontam para as estruturas fiacutesico-sonoras

Encontra-se nestas a formaccedilatildeo de todo contexto musical que eacute igualmente

1 PAIVA Ione Maria R de BRINQUEDOS CANTADOS 1998 p25416383

13

correspondente para os brinquedos cantados Fala-se entatildeo dos elementos

inevitaacuteveis de qualquer muacutesica Ritmo Melodia Harmonia Eis a definiccedilatildeo de

Costa(1989p61) ldquoNuma definiccedilatildeo muito simples muacutesica eacute a organizaccedilatildeo de

relaccedilotildees entre sonoridades simultacircneas ou natildeo no decorrer do tempo Sons e

silecircncios satildeo combinados e encadeados entre si formando ritmos melodias e

harmoniasrdquo

O ritmo eacute basicamente a ordenaccedilatildeo do movimento formando um elo

entre espaccedilo e tempo A melodia eacute uma sequumlecircncia de sons notas musicais graves

e agudas A harmonia eacute a verticalidade ou a simultaneidade dos sons parte mais

intelectualizada da muacutesica(Costa opcit mesma paacutegina)

As muacutesicas infantis em geral acompanham o desenvolvimento afetivo

motor cognitivo e social da crianccedila Observa-se que existem brinquedos cantados

mais simples contendo siacutelabas repetitivas estrutura musical miacutenima e que satildeo

preferidos pelas crianccedilas entre 2 e 3 anos por ex

CAI CAI BALAtildeO(folclore)2

Cai cai balatildeo cai cai balatildeo aqui na minha matildeo

Natildeo vou laacute natildeo vou laacute natildeo vou laacute tenho medo de apanhar

A muacutesica dos brinquedos cantados altera a sensibilidade o humor faz

aflorar a criatividade a expressividade do corpo e da alma revelando as habilidades

e dificuldades da crianccedila se convertendo entatildeo em instrumento de trabalho na

psicomotricidade

2 MARTINS Armando TOQUE VIOLAtildeO OU GUITARRA(meacutetodo praacutetico) 1980p88

14

23MOVIMENTAR

Do choro aos acalantos (muacutesicas de ninar) dos cantos culturais as

brincadeiras-de-roda haacute uma trajetoacuteria que vincula o som da voz ao movimento

corporal conforme afirma Fregtman(1988p17) isto ocorre ldquoporque a muacutesica eacute

feita dita tocada e cantada como manifestaccedilatildeo corporalrdquo

Toda forma de comunicaccedilatildeo se daacute atraveacutes de coacutedigos estabelecidos

linguagens por assim dizer Fregtman (opcit) conceitua a partir da musicoterapia

que trecircs niacuteveis de manifestaccedilatildeo expressiva simultacircneos podem se dar quando

usamos a muacutesica Satildeo eles

1) Linguagem sonora (sons silecircncios entonaccedilotildees melodias ritmos)

2) Linguagem corporal (gestos posturas trejeitos tipos de movimentos)

3) Linguagem verbal (a fala a letra a poesia)

Apenas para efeitos didaacuteticos se consegue separar estes trecircs niacuteveis de

linguagem A linguagem sonora necessariamente traacutes expressotildees corporais

estimula a emoccedilatildeo que se revela atraveacutes dos gestos posturas movimentos voz e

etc A linguagem corporal responde ao chamado verbal ou musical os quais soam

determinados significados simboacutelicos apreendidos nas relaccedilotildees soacutecio-afetivas E

por fim a linguagem verbal eacute inserida para nomear as accedilotildees sejam elas musicais

ou corporais

15

Os brinquedos cantados satildeo tambeacutem conceituados mediante sua aplicaccedilatildeo

em determinadas funccedilotildees na recreaccedilatildeo Os brinquedos cantados podem ser de

marcha de grupos opostos de palmas de roda de ninar ou alternados

Modificaccedilotildees diversas quanto ao andamento (lento moderado raacutepido) agrave formaccedilatildeo

(rodas simples complexas fileiras) e agrave movimentaccedilatildeo dos brinquedos cantados

(marcha roda dramatizaccedilatildeo) satildeo descritas por Leitatildeo(2001)

Neste trabalho prioriza-se os acalantos e as brincadeiras-de-roda tendo

em vista que a populaccedilatildeo estudada crianccedilas de 0 agrave 7 anos podem ser atendidas

em suas necessidades de acolhimento afetivo comunicaccedilatildeo expressiva e

socializaccedilatildeo atraveacutes destes elementos A Simbologia do movimento de Lapierre amp

Aucoutourrier (1986p41) sustenta o nosso pensamento atraveacutes da seguinte

citaccedilatildeo ldquoA muacutesica pode nos ajudar muito a redescobrir essa dimensatildeo do

movimento desde que natildeo seja restringida aos estereotipos da lsquodanccedilarsquo mesmo a

lsquoexpressivarsquo ldquo

ldquoO JACAREacuterdquo (folclore)3

O jacareacute o jacareacute o jacareacute eacute amigo ele eacute

Oi jacareacute oi jacareacute vem caacute cumpadre que a lagoa natildeo daacute peacute

O jacareacute tem os olhos muito grandes tem o rabo muito grande

Mas as pernas satildeo curtinhas

O jacareacute tem a boca muito grande tem os dentes muito grande

mas as pernas satildeo curtinhas

3 Recolhido atraveacutes da cultura oral

16

3O DESENVOLVIMENTO INFANTIL SEGUNDO PIAGET

Para Piaget (2003) o conhecimento eacute o resultado das accedilotildees e

relacionamentos do sujeito com o ambiente em que vive e vai sendo elaborado

desde o nascimento ateacute suas vivecircncias com os objetos pessoas e situaccedilotildees que

procura conhecer sejam elas do mundo fiacutesico ou cultural

Este autor formulou importantes conceitos que explicam o

desenvolvimento das funccedilotildees cognitivas A interaccedilatildeo entre a assimilaccedilatildeo

(informaccedilotildees do mundo exterior recebidas atraveacutes dos sentidos movimento de fora

para dentro) e a acomodaccedilatildeo (informaccedilatildeo processada respostas dadas ao mundo

exterior movimento de dentro para fora) sobre uma accedilatildeo satildeo validadas pelo

processo de equilibraccedilatildeo (Piagetopcit)

As perturbaccedilotildees exteriores se mostram a crianccedila a partir do que ela natildeo

conhece assim oportunizadas pelo processo de equilibraccedilatildeo e por meio de suas

atividades vai respondendo a estas perturbaccedilotildees vencendo a mais uma etapa

cognosciacutevel A equilibraccedilatildeo eacute dinacircmica e nunca cessa ela norteia a passagem de

um conhecimento ao outro(Piaget2003)

Dois outros conceitos Piagetianos satildeo imprescindiacuteveis ao tenro

desenvolvimento infantil e encontra-se nos brinquedos cantados uma forma

espontacircnea de vivenciaacute-los A Imitaccedilatildeo e a noccedilatildeo de Permanecircncia do Objeto

17

Imitaccedilatildeo Eacute na gecircnese da imitaccedilatildeo que inicia o movimento luacutedico da crianccedila

Imitando o meio e as pessoas ao seu redor a crianccedila apreende e treina suas novas

aquisiccedilotildees Ferreira I(1994 p47) afirma que ldquoA imitaccedilatildeo eacute uma das manifestaccedilotildees

da funccedilatildeo simboacutelica Constitui-se num dos elementos baacutesicos que permitem a

crianccedila uma assimilaccedilatildeo de realidade ao seu proacuteprio ldquoeurdquo bem como Acomodaccedilatildeo

de suas estruturas mentais e de accedilatildeo agraves exigecircncias da realidade fiacutesica e socialrdquo

Para haver o ato imitativo eacute necessaacuterio um modelo Alguns brinquedos

cantados propotildeem accedilotildees simboacutelicas que copiam o mundo adulto sem impor aos

pequenos o fardo da responsabilidade que este teria na realidade Eis um exemplo

interessante onde as crianccedilas imitam os afazeres dos mais velhos

PASSA PASSA GAVIAtildeO(folclore)4

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

As lavadeiras fazem assim

Assim assim assim assim

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

As passadeiras fazem assim

Assim assim assim assim

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

As cozinheiras fazem assim assim assim

Assim assado carne seca com ensopado

4 Recolhido atraveacutes da cultura oral

18

Objeto permanente Nos primeiros dois anos de vida a crianccedila apresenta um

comportamento em constante adaptaccedilatildeo pois estaacute sempre se modificando para

responder aos estiacutemulos do meio A crianccedila inicialmente natildeo tem noccedilatildeo da

permanecircncia dos objetos ela pensa que eles soacute existem enquanto estatildeo ao

alcance dos seus olhos caso sejam escondidos a sua frente acharaacute que estes

acabaram ou se desintegraram Entre os 18 e 24 meses a crianccedila jaacute consegue

elaborar mais este conhecimento e apesar de natildeo vecirc-lo ouvi-lo ou tocaacute-lo ela vai

compreender que os objetos independem da sua vontade e presenccedila para

existirem

Para melhor apreensatildeo da realidade fiacutesica a praacutetica pelo ensaio e erro ou

aparecer desaparecer vatildeo treinar e orientar os pequenos na aquisiccedilatildeo das noccedilotildees

de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo da realidade como

afirma FerreiraI(1994p35) ldquoO esquema do objeto permanente eacute baacutesico para a

construccedilatildeo das noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidaderdquo

Observe que as crianccedilas nesta fase gostam das brincadeiras de

esconde-esconde que amenizam suas anguacutestias sobre a existecircncia ou natildeo dos

objetos reais Seu proacuteprio corpo eacute posto agrave prova escondendo o rosto ou as matildeos

atraacutes de uma almofada por exemplo A muacutesica das palminhas talvez possa auxiliar

nesta etapa

19

PALMINHAS PALMINHAS (folclore)5

Palminhas palminhas nos vamos bater

Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconder

Em cima em cima noacutes vamos bater

Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconde

Assim assim pra traacutes esconder

Em baixo em baixo noacutes vamos bate

Depois as matildeozinhas pra traacutes esconde

Assim assim pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconder

Os conceitos estudados ateacute aqui se realizam dentro dos estaacutegios do

desenvolvimento organizados por Piaget Passar-se-aacute neste momento agrave elucidaccedilatildeo

dos estaacutegios pertinentes agrave faixa etaacuteria da populaccedilatildeo pesquisada nesta monografia

estaacutegios Sensoacuterio-motor e Preacute-operacional

31ESTAacuteGIO SENSOacuteRIO MOTOR (0 agrave 2 anos) Estaacutegio que vai do nascimento

ateacute a aquisiccedilatildeo da linguagem e eacute dividido em 6 sub estaacutegios Esta eacute a fase do

comportamento inteligente antes da aquisiccedilatildeo da linguagem a crianccedila organiza a

informaccedilatildeo obtida atraveacutes dos sentidos e desenvolve respostas aos estiacutemulos

5 Recolhido atraveacutes da cultura oral

20

ambientais com comportamento adaptativo e constante modificaccedilotildees dos

esquemas de accedilatildeo em resposta ao meio A aquisiccedilatildeo mais importante deste

periacuteodo eacute o Objeto Permanente Manifesta-se ainda a imitaccedilatildeo que alcanccedilaraacute o

seu auge no proacuteximo estaacutegio

1ordm Sub Estaacutegio ndash Exerciacutecio dos reflexos (0 a 1 mecircs) Do alto da sua imaturidade

bioloacutegica a crianccedila se relaciona com o meio atraveacutes dos movimentos reflexos

hereditaacuterios que se aprimoram pelo exerciacutecio tornando-se cada vez mais

eficientes Ainda natildeo haacute a distinccedilatildeo entre o eu e o outro

2ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular primaacuteria (1 a 4 meses)Esta eacute a fase das

primeiras acomodaccedilotildees onde os exerciacutecios reflexos se transformam em esquemas

e comeccedilam a coordenar seus movimentos Inicia-se a construccedilatildeo dos primeiros

esquemas vocais A noccedilatildeo de tempo eacute primitiva sua duraccedilatildeo soacute eacute sentida no

decorrer da proacutepria accedilatildeo O final do periacuteodo eacute marcado pela coordenaccedilatildeo entre trecircs

esquemas fundamentais audiccedilatildeo fonaccedilatildeo e visatildeo

3ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular secundaacuteria (4 a 8 meses) O bebecirc apresenta

um maior interesse pelo mundo externo os esquemas se diferenciam surgindo

novos esquemas de coordenaccedilatildeo viso-motora unindo-se as aquisiccedilotildees jaacute

realizadas Os movimentos comeccedilam a ser repetido pelo prazer da repeticcedilatildeo

Observa-se o iniacutecio da noccedilatildeo do Objeto Permanente entretanto ela estaacute

condicionada ao movimento da crianccedila pois as coisas ainda natildeo seguem uma

trajetoacuteria independente

21

4ordm Sub Estaacutegio ndash Coordenaccedilatildeo de esquemas secundaacuterios (8 a 12 meses)

Caracteriza-se pelas primeiras condutas propriamente inteligentes surgindo

adaptaccedilotildees sensoacuterio-motoras intencionais onde o bebecirc combina esquemas

conhecidos a novas situaccedilotildees e ainda diferencia os meios e os fins de uma accedilatildeo

Aparece nesta fase o comportamento antecipatoacuterio caso o bebecirc veja sua matildee se

afastar chora a imitaccedilatildeo de sons e accedilotildees satildeo agora intencionais e

conscientizadas no entanto ainda condicionadas ao esquema visual Revelam-se

os primoacuterdios da memoacuteria e da representaccedilatildeo mental Comeccedila a permanecircncia do

objeto independente do ldquoeurdquo Quanto agrave noccedilatildeo de espaccedilo e tempo a crianccedila

comeccedila a ordenar os proacuteprios deslocamentos em relaccedilatildeo aos objetos

5ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular terciaacuteria (12 a 18 meses) A crianccedila gradua

seus movimentos varia e experimenta novos padrotildees de comportamento

observando os diferentes efeitos da sua accedilatildeo sobre o objeto o qual jaacute eacute dotado de

permanecircncia Pode-se afirmar que o mecanismo da inteligecircncia praacutetica estaacute

definitivamente constituiacutedo A cada estruturaccedilatildeo da inteligecircncia corresponde uma

nova estruturaccedilatildeo do espaccedilo do tempo da causalidade etc Agindo por ldquoensaio e

errordquo os resultados das accedilotildees ainda satildeo por acaso pois as representaccedilotildees

mentais de fatos externos ainda natildeo se incluem ou seja o pensamento ainda natildeo

estaacute formado

22

6ordm Sub Estaacutegio ndash A invenccedilatildeo dos novos meios por combinaccedilatildeo

mental (18 a 24 meses) Esta fase caracteriza o momento de transiccedilatildeo entre a

inteligecircncia praacutetica (sensoacuterio-motora) e a inteligecircncia representativa quando

comeccedila a funccedilatildeo simboacutelica Inicia-se a representaccedilatildeo mental imaginativa e criativa

No jogo simboacutelico a crianccedila usa siacutembolos na linguagem e na brincadeira do faz-deshy

conta recorda-se de fatos passados e os representa depois de algum tempo O

final deste periacuteodo eacute marcado pela primeira noccedilatildeo de conservaccedilatildeo(FerreiraI1994)

Os primeiros anos de vida da crianccedila satildeo marcados pelas inuacutemeras

formaccedilotildees e transformaccedilotildees fiacutesicas mentais e emocionais conforme descritas

acima Os acalantos (muacutesicas de ninar) satildeo cantados por matildees de todo o mundo

numa primeira inserccedilatildeo da crianccedila ao universo musical de sua cultura Eles

exercem um poderoso papel de auxiacutelio agrave maternagem acolhendo-a afetuosamente

condiccedilatildeo baacutesica para que a crianccedila se sinta suficientemente amada para

prosseguir desenvolvendo-se Este tema seraacute melhor explanado nos proacuteximos

capiacutetulos Por hora parece oportuno um exemplo de acalanto

TUTU MARAMBAacute(folclore)6

Tutu marambaacute

Natildeo venha mais caacute

Que o pai do menino

Te manda mata

6 MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute PRECISO CANTAR Musicoterapia cantos e canccedilotildees2001p38

23

32ESTAacuteGIO PREacute-OPERACIONAL (2 agrave 7 anos) A crianccedila vive um tempo em que

usa a intuiccedilatildeo ela passa todos os seus atos para o pensamento sob a forma de

imagens e diante de uma situaccedilatildeo praacutetica suas respostas vatildeo se basear no que

ela vecirc sente mexe ou seja nas aparecircncias dos fatos que observa A crianccedila

possui a capacidade de representar uma coisa por outra e esta representaccedilatildeo

pode se dar por um gesto um desenho uma palavra etc A verbalizaccedilatildeo tem

destaque neste periacuteodo e a linguagem conduz agrave socializaccedilatildeo das accedilotildees Este

estaacutegio compreende duas formas de pensamento a saber O Pensamento

Simboacutelico e o Pensamento Intuitivo

Pensamento simboacutelico (2 agrave 4 anos) Para Piaget a funccedilatildeo simboacutelica consiste na

capacidade da crianccedila representar objetos e fatos conhecidos poreacutem ausentes por

um substituto qualquer seja este concreto ou imaginaacuterio Uma caracteriacutestica

fundamental desta fase eacute a diferenciaccedilatildeo entre significante e significado que eacute

manifestada por vaacuterias condutas sendo elas O jogo simboacutelico ou faz-de-conta a

imitaccedilatildeo o desenho a imagem mental a linguagem a criatividade etc Para

ldquosignificanterdquo leia-se objeto concreto e para ldquosignificadordquo a ideacuteia compreensiva do

que foi percebido (Piaget 2003)

Sobre a funccedilatildeo simboacutelica FerreiraI(1994p43) complementa ldquoA funccedilatildeo

simboacutelica pode ser considerada uma linguagem individual e particular da crianccedila

usada para compreender e representar o mundo O siacutembolo eacute subjetivo e aos

poucos vai sendo substituiacutedo por signos da linguagem socialrdquo

24

O pensamento infantil encontrado entre os 2 e 7 anos de idade eacute

egocentrado A visatildeo da realidade eacute centrada no ponto de vista do proacuteprio sujeito

sendo este incapaz de relacionaacute-lo ou de coordenaacute-lo a pontos de vistas diferentes

do seu

A aquisiccedilatildeo da linguagem tem destaque nesta fase e coincide com a

formaccedilatildeo do jogo simboacutelico que melhor se manifesta no jogo do faz-de-conta

Atraveacutes do que discute Ferreira I (1994p43) ldquoOs siacutembolos podem ser

socializados como os brinquedos coletivos e se tornar um siacutembolo coletivordquo

confirma-se mais uma vez que os estes elementos apresentam extrema valorizaccedilatildeo

soacutecio-afetiva e cultural Com a ludicidade que lhe eacute peculiar os brinquedos

cantados nesta fase encantam ensinam desenvolvem a memoacuteria a auto estima

o esquema corporal a imagem corporal a Coordenaccedilatildeo Motora a socializaccedilatildeo

entre outras funccedilotildees essenciais agrave formaccedilatildeo dos pequenos Eis um bom exemplo

O GIGANTE E O ANAtildeO(autor desconhecido)7

O peacute do gigante eacute grande

Do anatildeo pequenininho

O gigante pisa forte

O anatildeo pisa mansinho

O gigante fala grosso

O anatildeo fala fininho

Porque gigante come muito

E o anatildeo come pouquinho

7 Recolhido atraveacutes da cultura oral

25

Pensamento Intuitivo (4 agrave 7 anos) Subdividido em Intuitivo Simples e Intuitivo

Articulado eacute um estaacutegio marcado pela crescente formaccedilatildeo de conceitos O

pensamento intuitivo eacute uma espeacutecie de accedilatildeo executada em pensamento encaixar

seriar deslocar etc

A crianccedila no intuitivo simples representa mentalmente assimila e entende

o mundo real poreacutem de forma limitada pois soacute consegue coordenar um uacutenico

ponto de vista com base nas aparecircncias do que vecirc Centrado em si mesmo natildeo

admite a reversibilidade falta-lhe ainda a noccedilatildeo de conservaccedilatildeo das substacircncias

Quando se pede agrave crianccedila para desenhar ela desenha o que sabe e natildeo

o que vecirc Este egocentrismo que lhe eacute peculiar deveraacute evoluir para a

descentraccedilatildeo bem como haveraacute progressos nas diversas etapas cognitivas

(classificar seriar etc) Ao final do pensamento intuitivo articulado a crianccedila

comeccedila a levantar duacutevidas e questionamentos percebendo a mobilidade das

situaccedilotildees

ldquoA BARATArdquo(folclore)8

A barata diz que tem 7 saias de filoacute

Eacute mentira da barata ela tem eacute uma soacute

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute

A barata diz que tem um anel de formatura

Eacute mentira da barata ela tem eacute casca dura

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura

8 PAIVA Ione Maria R de OPCITp80

26

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura

A barata diz que dorme numa cama de cetim

Eacute mentira da barata ela dorme eacute no capim

Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim

Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim

Na muacutesica da barata as crianccedilas ironizam a tentativa de mentir deste

inseto A propoacutesito das ldquomentirinhasrdquo contidas nas brincadeiras infantis funcionam

como passaporte para a experimentaccedilatildeo do que eacute verdadeiro e real As palavras

de cascudo(1988p491) discorrem sobre os deslimites da mentira ldquoAs estoacuterias

mentirosas() satildeo muito populares e constituem um gecircnero especial onde a

imaginaccedilatildeo exagerada e livre se liberta dos limites da loacutegicardquo Acredita-se que as

crianccedilas exigem a verdade para terem o domiacutenio do que aprendem

33OS JOGOS POR PIAGET

ldquoPiaget vecirc no jogo um processo de ajuda ao desenvolvimento da crianccedila

acompanha-a sendo ao mesmo tempo uma atividade consequumlente de seu proacuteprio

crescimentordquo(Negrine1994p45) A leitura dos jogos em Piaget acompanha o

desenvolvimento integral do homem a inteligecircncia a afetividade a motricidade e a

sociabilidade satildeo vivenciadas nos jogos sendo a afetividade a funccedilatildeo que constitui

a energia necessaacuteria para a progressatildeo psiacutequica moral intelectual e motora

daquele que joga

Trecircs classificaccedilotildees baacutesicas do jogo satildeo mostradas na teoria

27

psicogeneacutetica de Piaget Jogos de exerciacutecio Jogos simboacutelicos e jogos de regra

Jogos de Exerciacutecio Ou jogos sensoacuterio-motores que aparecem no periacuteodo do

mesmo nome natildeo chegam a constituir sistemas luacutedicos independentes e

construtivos Sua motivaccedilatildeo se daacute pelo prazer funcional ou pelo prazer produzido

pela tomada de consciecircncia de suas novas capacidades

Os jogos motores ou de exerciacutecios satildeo aqueles que envolvem

diretamente a participaccedilatildeo ativa do corpo como um todo inclui-se ainda os jogos

sensoriais que ajudam a desenvolver os oacutergatildeos dos sentidos

A crianccedila nesta fase gosta de brincar com brinquedos que manipula

repetidas vezes explorando toda sua superfiacutecie Brincar de esconder o rosto ou os

objetos atirar e pegar brinquedos eacute prazeroso para a crianccedila ao mesmo tempo

que assimila as noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo

da realidade

Os estiacutemulos sensoriais tambeacutem fazem parte do seu interesse objetos

de diversas cores e texturas brinquedos sonoros muacutesica para ouvir acalentar

danccedilar e brincar desta forma explora o reconhecimento do eu do outro e dos

objetos

O jogo de exerciacutecio eacute o primeiro a aparecer no comportamento da

crianccedila explicitamente do 2ordm ao 5ordm estaacutegio do desenvolvimento sensoacuterio motor por

oposiccedilatildeo ao 6ordm estaacutegio onde se inicia o jogo simboacutelico(Negrine 1994)

28

ATIREI O PAU NO GATO(Folclore)9

Atirei o pau no ga-to-to mas o ga-to-to

Natildeo morreu- rreu- rreu dona chica-ca-ca

Admirou- se se do berro do berro

Do berro que o gato deu Miau

Jogos Simboacutelicos Em princiacutepio do ponto de vista de Piaget a diferenccedila entre os

jogos simboacutelicos e os de exerciacutecio intelectual consiste em que os primeiros se

referem ao pensamento

Os jogos simboacutelicos tem iniacutecio no 6ordm estaacutegio do periacuteodo sensoacuterio-motor

e se continua aproximadamente dos 2 aos 4 anos de idade cronoloacutegica ou do 1ordm

estaacutegio do preacute-operacional(fase simboacutelica) ateacute o iniacutecio do 2ordm estaacutegio do preacuteshy

operacional(fase intuitiva) Piaget apud Negrine(1994p41) deixa claro a

supremacia dos jogos simboacutelicos em detrimento dos anteriores

ldquoO esquema simboacutelico por si mesmo eacute suficiente para

assegurar a superioridade da representaccedilatildeo sobre

uma accedilatildeo pura nesta segundo Piaget o jogo

permite assimilar o mundo exterior ao eu como meio

infinitamente mais poderoso que o de simples exerciacuteciordquo

Como aparecem antes da linguagem verbal propriamente dita os jogos

simboacutelicos satildeo representados nas imagens mentais da crianccedila e vivenciados

atraveacutes dos gestos onomatopeacuteias pelo prazer de brincar com o faz-de-conta

9 MILLLECCO FILHO Luiacutes A e outros OPCIT p43

29

Nesta fase os acalantos vatildeo perdendo sua importacircncia dando lugar agraves

brincadeiras-de-roda os pequenos ao mesmo tempo em que aprendem a falar

aprendem a cantar as brincadeiras-de-roda tem a propriedade de enriquecerem o

repertoacuterio de palavras e movimentos

Jogos de Regras Os jogos de regras natildeo seguem o mesmo itineraacuterio dos

anteriores pois comeccedilam a aparecer na metade do 2ordm estaacutegio do periacuteodo preacuteshy

operacional isto eacute dos 4 aos 7 anos e principalmente no periacuteodo das operaccedilotildees

concretas dos 7 aos 12 anos Pesquisaremos como ocorrem os jogos de regra ateacute

os 7 anos pela delimitaccedilatildeo da populaccedilatildeo que esta monografia abrange

Dos 4 aos 7 anos periacuteodo preacute operacional intuitivo surgem os jogos de

regra que substituiratildeo o siacutembolo e enquadraratildeo o exerciacutecio no momento em que se

constituem de forma incipiente certas relaccedilotildees sociais(Piaget2003)

Com relaccedilatildeo as regras segundo Piaget apud Negrine

(1994p44)distinguem-se dois tipos transmitidas e espontacircneas As regras

transmitidas se referem aos jogos institucionais que se impotildeem por pressatildeo das

geraccedilotildees anteriores As espontacircneas se referem aos jogos de natureza contratual e

momentacircnea isto eacute procedem da socializaccedilatildeo dos jogos de simples exerciacutecios ou

dos simboacutelicos

30

Na cantiga de roda ldquoCiranda cirandinhardquo destaca-se o desenvolvimento

da roda e ao final as regras uma imposta (entrar na roda e dizer um verso) outra

espontacircnea (serve qualquer verso criado na hora ou jaacute existente) Outra versatildeo

desta mesma cantiga para crianccedilas menores pede ldquofaccedila um gesto bem bonito

diga adeus e vaacute se emborardquo A liberdade de criar um gesto verso a importacircncia de

estar no meio da roda como centro das atenccedilotildees e a valorizaccedilatildeo dos

companheiros satildeo o impulso para a espontaneidade e o crescimento da autonomia

do ser

CIRANDA CIRANDINHA(folclore)10

Ciranda cirandinha vamos todos cirandar

Vamos dar a meia volta volta e meia vamos dar

o anel que tu me destes era vidro e se quebrou

o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou

Por isto sinhaacute Maria entre dentro desta roda

Diga um verso bem bonito diga adeus e vaacute se embora

Os conceitos estudados neste capiacutetulo podem orientar sobre o tempo

mental da crianccedila e a possibilidade de oferecer estiacutemulos adequados ao seu

momento Como uma boa buacutessola natildeo conteacutem apenas o norte

10 MARTINS Armando OPCITp105

31

4O BRINCAR E A REALIDADE WINNICOTTEANA

A partir da premissa de que natildeo se pode dividir o ser humano em

classificaccedilotildees bioloacutegicas e psiacutequicas posto que este eacute uma unidade indivisiacutevel

formulou-se apenas para efeitos didaacuteticos no capiacutetulo anteriorum olhar mais

fiacutesico(cognitivo) do desenvolvimento infantil atraveacutes de Piaget Discutir-se-aacute neste

capiacutetulo o ponto de vista Winnicotteano sobre a vida emocional e o brincar

Nos brinquedos cantados a arte de brincar se mistura a arte de cantar e

eacute fazendo ldquoArtesrdquo que a crianccedila dar-se a ver e a crescer A partir deste tema

instigante e universal que eacute o brincar torna-se mais prazeroso ainda falar sobre ele

depois de conhecer os estudos do Drordm Winnicott

D W Winnicott pediatra psicanalista psicoterapeuta inglecircs e defensor

da Ludoterapia nasceu no comeccedilo do seacuteculo 20 produzindo uma vasta obra

cientiacutefica ateacute os anos 70 quando nos deixou Em seu livro ldquoO Brincar e

Realidaderdquo(1975) se preocupou com os primoacuterdios da vida imaginativa da

experiecircncia cultural em todos os sentidos da relaccedilatildeo das artes com o brincar e da

criatividade

Neste momento parece relevante abordar alguns dos conceitos teoacutericos

do DrordmWinnicott atraveacutes da obra mencionada pelo suporte que podem

proporcionar agrave compreensatildeo da vida psiacutequica mediante o brincar e a terapia Em

32

Conceitos e contornos ilustrar-se-aacute o Objeto transicional Fenocircmeno transicional

Matildee suficientemente boa Aacuterea intermediaacuteria e o Eu(Self) circundando a

importacircncia destes conceitos em relaccedilatildeo aos brinquedos cantados e sua aplicaccedilatildeo

na cliacutenica psicomotora

41CONCEITOS E CONTORNOS

Objeto Transicional Eacute o objeto concreto relativo agrave exploraccedilatildeo pulsional (descarga

impulsiva) do sujeito por exemplo uma boneca ou um carrinho

Fenocircmeno Transicional Satildeo as accedilotildees relativas agrave exploraccedilatildeo pulsional ou o uso

que se faz dos objetos transicionais Ex Um carrinho pode ser acalentado como se

fosse um bebecirc

Matildee Suficientemente Boa Pessoa que ocupa o lugar de suporte afetivo no

desenvolvimento global da crianccedila tambeacutem associada por ele a figura do

terapeuta

Em outras palavras o amor da matildee ou do terapeuta

natildeo significaria apenas um atendimento agraves necessidades

da dependecircncia mas vem a significar a concessatildeo

de oportunidades que permita ao bebecirc ou ao paciente

passar da dependecircncia para a autonomia

(Winnicott1975p150)

33

Aacuterea Intermediaacuteria Aacuterea neutra de experimentaccedilatildeo vivencial entre as realidades

internas e externas do sujeito que favorece a dialeacutetica do brincar e das artes O

dito autor parece supor um espaccedilo de refuacutegio para a resoluccedilatildeo dos conflitos

humanos Eis aqui a referecircncia para tal colocaccedilatildeo

Presume-se aqui que a tarefa de aceitaccedilatildeo da realidade

nunca eacute completada que nenhum ser humano estaacute livre

da tensatildeo de relacionar a realidade interna e externa e

que o aliacutevio dessa tensatildeo eacute proporcionado por uma aacuterea

intermediaacuteria de experiecircncia(cf Riviere1936) que natildeo eacute

contestada (artes religiatildeo etc) Essa aacuterea intermediaacuteria

estaacute em continuidade direta com a aacuterea do brincar da

crianccedila pequena que se ldquoperderdquo no brincar

(Winnicottopcitp29)

A princiacutepio eacute difiacutecil falar dos brinquedos cantados como objetos

transicionais (concretos) porque natildeo satildeo exatamente vistos a olhos nus embora

sejam audiacuteveis Todavia qualquer muacutesico pode escrever em uma partitura o

brinquedo cantado (concreto e cantaacutevel) para tornaacute-lo visiacutevel

O ato de cantar uma muacutesica de roda ou um acalanto jaacute eacute a traduccedilatildeo do

fenocircmeno transicional Dar-se-aacute o uso que quiser a este brinquedo cantado no

momento de sua realizaccedilatildeo Se uma muacutesica de ninar for entoada com raiva ou

brutalidade eacute certo que traraacute temores ao bebecirc e natildeo o conforto a que se prestaria

Acalantos com este do ldquobicho papatildeordquo expotildee o perigo e propotildee acolhida pela

proteccedilatildeo materna

34

ldquoBICHO PAPAtildeO(folclore)11

Bicho Papatildeo sai de cima do telhado

Deixe o menino dormir sossegado

O Eu (Self) O Eu (Self) eacute o eu integral descrito por Winnicott(1975) em sua mais

pura essecircncia um eu que nasce na liberdade de expressatildeo na confianccedila baseada

nas experiecircncias vividas no suporte dos sentimentos Para este autor certas

condiccedilotildees se fazem necessaacuterias na busca do Eu (Self) eacute o que se chama de

criatividade A criatividade pode defraglar e sustentar o ser integral

A vida sadia se mostra pelo impulso criativo O brincar eacute um instrumento

da criatividade sediado na ldquoaacuterea intermediaacuteriardquo (entre as artes e o luacutedico)

sustentado em seus primoacuterdios pela ldquomatildee suficientemente boardquo direcionado agrave

busca do ldquoEu (Self) Sobre a importacircncia das cantigas de roda nesta busca

podemos ler as contribuiccedilotildees de Millecco filho e outros (2001p44)

As cantigas de roda datildeo continuidade ao trabalho

de elaboraccedilatildeo de conflitos e agrave estrutura da pessoa

em desenvolvimento iniciado com os acalantos

() A roda aparece como uma representaccedilatildeo da

mandala expressatildeo geomeacutetrica do Self

11 Recolhido atraveacutes da cultura oral

35

A letra da muacutesica infantil ldquoa canoa virourdquo expotildee um problema e supotildee

uma soluccedilatildeo hipoteacutetica

A CANOA VIROU(folclore)12

A canoa virou vou deixar ela virar

Foi por causa da Maria que natildeo soube remar

Ah se eu fosse peixinho e soubesse nadar

Eu tirava a Marialaacute do fundo do mar

A accedilatildeo terapecircutica deve ser um modo de auxiliar uma pessoa a

vir a ser o que ela eacute capaz de ser O psicomotricista atua como facilitador no

desenvolvimento do potencial existente no sujeito Numa maternagem

suficientemente boa como fala Winnicott o psicomotricista relacional torna-se um

companheiro de jornada para as atitudes luacutedicas do seu paciente

As medidas de afeto e limites saudaacuteveis agraves necessidades do outro

devem ser reconhecidas e valorizadas Eacute o que se vecirc nas colocaccedilotildees de Winnicott

(1975p63) ldquoEm outros termos eacute a brincadeira que eacute universal e que eacute proacutepria da

sauacutede o brincar facilita o crescimento e portanto a sauacutede o brincar conduz aos

relacionamentos grupais o brincar pode ser uma forma de comunicaccedilatildeo na

psicoterapia()rdquo

12 MARTINS Armando OPCITp110

36

Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e

estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que

haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila

acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas

Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a

brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre

MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR

VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR

Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o

aprender com a danccedila do outro

ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

13 Recolhido atraveacutes da cultura oral

37

Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons

e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os

brinquedos cantados

5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE

Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma

nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o

corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se

utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia

e da linguumliacutestica

No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua

expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a

existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto

O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que

encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e

motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros

Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando

fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar

gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil

38

ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14

Eacute bom cantar eacute bom ouvir

Eacute bom pensar eacute bom sentir

Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor

Viajar dentro de si pra poder se descobrir

51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE

A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso

meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da

psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu

corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)

O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico

(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes

concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo

ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a

palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas

que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que

quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do

latim Corpusque significa tecido de membros envoltura

da alma embriatildeo do espiacuterito

14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000

39

Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na

Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto

que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo

cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a

motricidade com a inteligecircncia

Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam

em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento

humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o

movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila

De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de

segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio

Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se

no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo

de Guilman

O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num

corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo

toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico

emocional(Levin opcit)

O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor

Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em

movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica

40

psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre

outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da

pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de

Levin(opcit)

Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor

podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor

ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento

Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o

sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem

tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco

podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade

eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)

52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA

A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o

seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins

pedagoacutegicos (Levy2000)

A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se

do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos

transtornos evidenciados (Coste1992)

A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a

41

afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja

o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade

do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting

psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais

uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si

mesmo uma terapiardquo

As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas

psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema

corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade

Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo

estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees

cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito

As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de

algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A

coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar

pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos

dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para

andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes

visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a

existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa

caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc

No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a

42

primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave

vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos

cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas

psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a

expressividade e a emoccedilatildeo

O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas

psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se

confirmar por exemplo para treinar a escrita

As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar

iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da

brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo

dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da

cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas

pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar

Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora

relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de

cada uma delas

43

53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE

Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os

acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte

afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe

o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo

e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do

acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si

mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a

busca do eu (Self)

O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos

cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a

partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes

acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de

interesse da populaccedilatildeo pesquisada

Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil

geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo

continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em

desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza

simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos

conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo

44

As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia

cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o

relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano

infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a

Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda

assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia

oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria

soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo

Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as

com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da

referida estrutura

Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos

integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos

grandes segmentos (Coste1992)

Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro

expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo

corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a

habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa

O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se

movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os

movimentos enquanto observam os amigos

45

BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

Os braccedilos pra cima e pra baixo

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

As pernas pra frente e pra traacutes

Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo

preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo

motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada

diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do

grafismo (Coste1992)

A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas

brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as

palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a

crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos

Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos

fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca

do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes

15 Recolhido atraveacutes da cultura oral

46

das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa

de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas

ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16

123 indiozinhos 456 indiozinhos

789 indiozinhos 10 num pequeno bote

Vinham navegando pelo rio abaixo

Quando o jacareacute se aproximou

E o pequeno bote dos indiozinhos

Quase quase virou quase quase virou

mas natildeo virou

Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo

ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam

internas ou externas (Levin2001)

A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e

apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as

crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do

corpo que deseja mostrar

ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17

Cabeccedila ombro joelho e peacute

Joelho e peacute joelho e peacute

Olhos boca orelha e nariz

Orelha e nariz orelha e nariz

16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral

47

Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O

equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute

relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)

Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de

amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o

personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca

instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma

perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal

traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal

ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca o pandeirotoca como ele soacute

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca violatildeo toca como ele soacute

Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao

tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir

da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do

aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala

dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da

vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza

18 Recolhido atraveacutes da cultura oral

48

Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila

seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um

personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular

correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e

volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem

seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam

ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19

Anda anda anda macaquinho

Anda anda anda sem parar

Pula pula pula macaquinho

Pula pula pula ateacute cansar

Corre corre corre macaquinho

Corre corre corre sem parar

Deita deita deita macaquinho

Deita deita deita dorme ateacute sonhar

Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu

desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e

relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do

mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)

Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira

19 Recolhido atraveacutes da cultura oral

49

traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo

espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a

noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo

vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento

O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e

rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos

de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra

frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente

e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da

roda virem periquitos tambeacutem

Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem

no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras

visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas

ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20

Periquito periquito parece com papa

Periquito periquito parece com papa

Por baixo por cima pra frente e pra traacutes

Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo

ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo

temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a

20 Recolhido atraveacutes da cultura oral

50

estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus

movimentos e se organiza na vida cotidiana

Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo

que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo

humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre

ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos

acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo

A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da

chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo

dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio

ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21

A janelinha fecha quando estaacute chovendo

A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo

Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute

Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute

Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os

centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e

contralaterais (Coste1992)

21 Recolhido atraveacutes da cultura oral

51

A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento

psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e

assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute

organizada e natildeo mudaraacute mais

Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os

peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a

conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo

grupo disposto em roda

ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22

Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora

Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora

Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock

Assim eacute bem melhor

( e assim por diante com as demais partes do corpo)

Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o

modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder

apud Coste(1992)

A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a

organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo

mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do

22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57

52

desejo da matildee

A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan

apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros

tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e

de diferenccedila (ibid)

Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o

ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na

constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo

desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A

psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade

poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A

citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo

O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de

identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria

de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do

lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que

eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim

constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute

poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo

o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)

53

Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia

corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber

possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver

As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a

expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente

Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar

cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de

construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza

pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem

corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter

fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de

cantar danccedilar e brincar

54

ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23

Minha boneca de lata

Bateu com a cabeccedila no chatildeo

Levou mais de uma hora

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui pra ficar boa

Minha boneca de lata

Bateu com o pescoccedilo no chatildeo

Levou mais de duas horas

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui desamassa aqui

Pra ficar boa

Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho

o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do

corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez

horas de arrumaccedilatildeo propostas

23 Recolhido atraveacutes da cultura oral

55

6CONCLUSAtildeO

Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-

se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse

infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar

Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a

relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas

cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo

permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os

estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e

que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo

Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de

winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do

ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos

como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica

Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de

conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos

Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade

que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se

pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos

sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu

ldquoafetordquo

56

Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a

psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir

expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer

Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia

para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a

socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte

aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o

desenvolvimento das estruturas psicomotoras

Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a

essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado

pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando

o prazer de brincar cantar e ser feliz

57

BIBLIOGRAFIA

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Editora Sprint ltda 1996

WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975

Page 10: Brinquedos Cantados Na Psicomotricidade

9

brinquedos cantados a elaboraccedilatildeo das diversas estruturas psicomotoras

assinalando a contribuiccedilatildeo destas para a psicomotricidade com a faixa etaacuteria

pesquisada

Finalizando esta introduccedilatildeo e abrindo os estudos desta monografia

deixa-se agrave contemplaccedilatildeo a muacutesica Redescobrir do compositor Luiz Gonzaga

Juacutenior 1980 interpretado pela cantora Elis Regina no Cd ldquoMuacutesica O melhor de

Elis Reginardquo WEA 2000

ldquoREDESCOBRIRrdquo

Como se fora brincadeira de roda (memoacuteria)

Jogo do trabalho na danccedila das matildeos (macias)

O suor dos corpos na canccedilatildeo da vida (histoacuteria)

O suor da vida e no calor de irmatildeos (magia)

Como um animal que sabe da floresta (memoacuteria)

Redescobrir o sal que estaacute na proacutepria pele (macia)

Redescobrir o doce no lamber das liacutenguas (magia)

Redescobrir o gosto e o sabor da festa (magia)

Vai o bicho homem fruto da semente (memoacuteria)

Renascer da proacutepria forccedila proacutepria luz e feacute (memoacuteria)

Entender que tudo eacute nosso sempre esteve em noacutes (histoacuteria)

Somos a semente ato mente e voz (magia)

Natildeo tenha medo meu menino bobo (memoacuteria)

Tudo principia na proacutepria pessoa (lembranccedila)

Vai como a crianccedila que natildeo teme os tempos (misteacuterio)

Amor se fazer eacute tatildeo prazer que eacute como fosse dor (magia)

10

2HISTOacuteRIA E CLASSIFICACcedilAtildeO DOS BRINQUEDOS CANTADOS

Os brinquedos cantados surgem na espontaneidade da cultura popular

Geralmente satildeo cantigas anocircnimas acompanhadas de movimentos expressivos

saltitantes e ou dramatizados

O brincar eacute uma forma de manifestaccedilatildeo caracteriacutestica da infacircncia entretanto

como afirma Huizinga (1980) a essecircncia do jogo eacute o prazer ele ultrapassa os

limites da realidade fiacutesica e assim se aplica a qualquer fase da vida

Os termos brincar e jogar satildeo referenciados como sinocircnimos por Cascudo

(1988) e Ferreira A (1988) Nos principais idiomas internacionais (Inglecircs Francecircs

Alematildeo e espanhol) brincar e jogar tambeacutem servem para definir atividades

artiacutesticas como a interpretaccedilatildeo teatral ou musical (Santa Roza1993)

Na liacutengua portuguesa o termo brincar vem do latim vinculum e significa

laccedilo uniatildeo No entanto eacute o termo luacutedico da nossa liacutengua tambeacutem proveniente do

latim ludus que melhor abrange e define as atividades artiacutesticas

culturais brincadeiras e jogos(ibid)

Nos divertimentos tradicionais infantis encontra-se os jogos de ronda

cantados declamados ritmados ou natildeo de movimento etc Brinquedo eacute ainda o

objeto material usado para brincar como o carro a boneca Diz-se tambeacutem da

proacutepria accedilatildeo de brincar (de cabra cega de chicotinho queimado e etc)

(Cascudo1988)

11

Dos trecircs povos que inicialmente formaram a cultura brasileira o

portuguecircs trouxe maior influecircncia para os brinquedos cantados os quais sofreram

modificaccedilotildees de acordo com a cultura local (Cascudo1988) Diga-se ainda que os

ritmos e danccedilas africanas juntamente com a alegria e marcaccedilatildeo ritmica-corporal

indiacutegena deu um tempero mais brejeiro ao legado luacutedico brasileiro

21BRINCAR

Como sonhar acordado brincar eacute expor-se de dentro para fora traduccedilatildeo

das impressotildees da crianccedila sobre o mundo que a cerca e os seus sentimentos

O brincar se desenvolve junto com o amadurecimento do sujeito as etapas iniciais

vatildeo perdendo o significado para o acreacutescimo do novo modo de explorar cada vez

mais elaborado

Todos os povos tecircm suas brincadeiras pertinentes agraves necessidades

expressivas de cada cultura O tempo se encarrega de transformar suas estruturas

mas eacute certo que as crianccedilas precisam de tempo espaccedilo e companheiros para

brincar

Sheridam (1990) classifica as brincadeiras em ativas exploratoacuterias

manipulativas imitativas construtivas faz-de-conta jogos com regras recreaccedilotildees

sofisticadas Este trabalho prioriza os brinquedos cantados que na praacutetica

psicomotora revelam valores e costumes culturais pontos de referecircncia para a

comunicaccedilatildeo e o relacionamento com o outro Estas manifestaccedilotildees envolvem a

emoccedilatildeo e o movimento que permeados pela muacutesica burlam as defesas e fazem

12

aflorar a essecircncia do ser

Os brinquedos cantados se inserem nas diversas formas de

classificaccedilatildeo pois em face de sua riqueza dinacircmica satildeo brincadeiras ativas

(exChep Chep) imitativas(ex Samba Lecirc Lecirc) construtivas(exA minha velha tem)

priorizam o faz-de-conta conteacutem regras especiacuteficas e vatildeo desde as mais simples

como ldquoAtirei o pau no gatordquo ateacute as mais elaboradas como ldquoA linda rosa juvenilrdquo1

Lapierre e Aucoutourrier (1986p29) pontuaram que ldquoA expressatildeo sonora

estaacute necessariamente ligada agrave relaccedilatildeo com o outrordquo sabe-se que ainda na barriga

da matildee a funccedilatildeo auditiva se instaura no embriatildeo e ele ouve os batimentos

cardiacuteacos dele e da matildee e todo um mundo de sons atraveacutes do liacutequido amnioacutetico

Eacute a relaccedilatildeo com o outro atraveacutes dos sons que situa a crianccedila no espaccedilo no tempo

e no afeto

22 MUSICAR

Segundo Gainza (1988) ldquoa accedilatildeo musical implica num movimento

seja das cordas vocais e do aparelho fonador naquele que fala ou canta seja do

proacuteprio corpordquo No uacuteltimo caso o corpo aparece como instrumento produtor de

som ou se prolonga atraveacutes de um instrumento musical propriamente ditordquo

Sob a oacutetica musical as teorias apontam para as estruturas fiacutesico-sonoras

Encontra-se nestas a formaccedilatildeo de todo contexto musical que eacute igualmente

1 PAIVA Ione Maria R de BRINQUEDOS CANTADOS 1998 p25416383

13

correspondente para os brinquedos cantados Fala-se entatildeo dos elementos

inevitaacuteveis de qualquer muacutesica Ritmo Melodia Harmonia Eis a definiccedilatildeo de

Costa(1989p61) ldquoNuma definiccedilatildeo muito simples muacutesica eacute a organizaccedilatildeo de

relaccedilotildees entre sonoridades simultacircneas ou natildeo no decorrer do tempo Sons e

silecircncios satildeo combinados e encadeados entre si formando ritmos melodias e

harmoniasrdquo

O ritmo eacute basicamente a ordenaccedilatildeo do movimento formando um elo

entre espaccedilo e tempo A melodia eacute uma sequumlecircncia de sons notas musicais graves

e agudas A harmonia eacute a verticalidade ou a simultaneidade dos sons parte mais

intelectualizada da muacutesica(Costa opcit mesma paacutegina)

As muacutesicas infantis em geral acompanham o desenvolvimento afetivo

motor cognitivo e social da crianccedila Observa-se que existem brinquedos cantados

mais simples contendo siacutelabas repetitivas estrutura musical miacutenima e que satildeo

preferidos pelas crianccedilas entre 2 e 3 anos por ex

CAI CAI BALAtildeO(folclore)2

Cai cai balatildeo cai cai balatildeo aqui na minha matildeo

Natildeo vou laacute natildeo vou laacute natildeo vou laacute tenho medo de apanhar

A muacutesica dos brinquedos cantados altera a sensibilidade o humor faz

aflorar a criatividade a expressividade do corpo e da alma revelando as habilidades

e dificuldades da crianccedila se convertendo entatildeo em instrumento de trabalho na

psicomotricidade

2 MARTINS Armando TOQUE VIOLAtildeO OU GUITARRA(meacutetodo praacutetico) 1980p88

14

23MOVIMENTAR

Do choro aos acalantos (muacutesicas de ninar) dos cantos culturais as

brincadeiras-de-roda haacute uma trajetoacuteria que vincula o som da voz ao movimento

corporal conforme afirma Fregtman(1988p17) isto ocorre ldquoporque a muacutesica eacute

feita dita tocada e cantada como manifestaccedilatildeo corporalrdquo

Toda forma de comunicaccedilatildeo se daacute atraveacutes de coacutedigos estabelecidos

linguagens por assim dizer Fregtman (opcit) conceitua a partir da musicoterapia

que trecircs niacuteveis de manifestaccedilatildeo expressiva simultacircneos podem se dar quando

usamos a muacutesica Satildeo eles

1) Linguagem sonora (sons silecircncios entonaccedilotildees melodias ritmos)

2) Linguagem corporal (gestos posturas trejeitos tipos de movimentos)

3) Linguagem verbal (a fala a letra a poesia)

Apenas para efeitos didaacuteticos se consegue separar estes trecircs niacuteveis de

linguagem A linguagem sonora necessariamente traacutes expressotildees corporais

estimula a emoccedilatildeo que se revela atraveacutes dos gestos posturas movimentos voz e

etc A linguagem corporal responde ao chamado verbal ou musical os quais soam

determinados significados simboacutelicos apreendidos nas relaccedilotildees soacutecio-afetivas E

por fim a linguagem verbal eacute inserida para nomear as accedilotildees sejam elas musicais

ou corporais

15

Os brinquedos cantados satildeo tambeacutem conceituados mediante sua aplicaccedilatildeo

em determinadas funccedilotildees na recreaccedilatildeo Os brinquedos cantados podem ser de

marcha de grupos opostos de palmas de roda de ninar ou alternados

Modificaccedilotildees diversas quanto ao andamento (lento moderado raacutepido) agrave formaccedilatildeo

(rodas simples complexas fileiras) e agrave movimentaccedilatildeo dos brinquedos cantados

(marcha roda dramatizaccedilatildeo) satildeo descritas por Leitatildeo(2001)

Neste trabalho prioriza-se os acalantos e as brincadeiras-de-roda tendo

em vista que a populaccedilatildeo estudada crianccedilas de 0 agrave 7 anos podem ser atendidas

em suas necessidades de acolhimento afetivo comunicaccedilatildeo expressiva e

socializaccedilatildeo atraveacutes destes elementos A Simbologia do movimento de Lapierre amp

Aucoutourrier (1986p41) sustenta o nosso pensamento atraveacutes da seguinte

citaccedilatildeo ldquoA muacutesica pode nos ajudar muito a redescobrir essa dimensatildeo do

movimento desde que natildeo seja restringida aos estereotipos da lsquodanccedilarsquo mesmo a

lsquoexpressivarsquo ldquo

ldquoO JACAREacuterdquo (folclore)3

O jacareacute o jacareacute o jacareacute eacute amigo ele eacute

Oi jacareacute oi jacareacute vem caacute cumpadre que a lagoa natildeo daacute peacute

O jacareacute tem os olhos muito grandes tem o rabo muito grande

Mas as pernas satildeo curtinhas

O jacareacute tem a boca muito grande tem os dentes muito grande

mas as pernas satildeo curtinhas

3 Recolhido atraveacutes da cultura oral

16

3O DESENVOLVIMENTO INFANTIL SEGUNDO PIAGET

Para Piaget (2003) o conhecimento eacute o resultado das accedilotildees e

relacionamentos do sujeito com o ambiente em que vive e vai sendo elaborado

desde o nascimento ateacute suas vivecircncias com os objetos pessoas e situaccedilotildees que

procura conhecer sejam elas do mundo fiacutesico ou cultural

Este autor formulou importantes conceitos que explicam o

desenvolvimento das funccedilotildees cognitivas A interaccedilatildeo entre a assimilaccedilatildeo

(informaccedilotildees do mundo exterior recebidas atraveacutes dos sentidos movimento de fora

para dentro) e a acomodaccedilatildeo (informaccedilatildeo processada respostas dadas ao mundo

exterior movimento de dentro para fora) sobre uma accedilatildeo satildeo validadas pelo

processo de equilibraccedilatildeo (Piagetopcit)

As perturbaccedilotildees exteriores se mostram a crianccedila a partir do que ela natildeo

conhece assim oportunizadas pelo processo de equilibraccedilatildeo e por meio de suas

atividades vai respondendo a estas perturbaccedilotildees vencendo a mais uma etapa

cognosciacutevel A equilibraccedilatildeo eacute dinacircmica e nunca cessa ela norteia a passagem de

um conhecimento ao outro(Piaget2003)

Dois outros conceitos Piagetianos satildeo imprescindiacuteveis ao tenro

desenvolvimento infantil e encontra-se nos brinquedos cantados uma forma

espontacircnea de vivenciaacute-los A Imitaccedilatildeo e a noccedilatildeo de Permanecircncia do Objeto

17

Imitaccedilatildeo Eacute na gecircnese da imitaccedilatildeo que inicia o movimento luacutedico da crianccedila

Imitando o meio e as pessoas ao seu redor a crianccedila apreende e treina suas novas

aquisiccedilotildees Ferreira I(1994 p47) afirma que ldquoA imitaccedilatildeo eacute uma das manifestaccedilotildees

da funccedilatildeo simboacutelica Constitui-se num dos elementos baacutesicos que permitem a

crianccedila uma assimilaccedilatildeo de realidade ao seu proacuteprio ldquoeurdquo bem como Acomodaccedilatildeo

de suas estruturas mentais e de accedilatildeo agraves exigecircncias da realidade fiacutesica e socialrdquo

Para haver o ato imitativo eacute necessaacuterio um modelo Alguns brinquedos

cantados propotildeem accedilotildees simboacutelicas que copiam o mundo adulto sem impor aos

pequenos o fardo da responsabilidade que este teria na realidade Eis um exemplo

interessante onde as crianccedilas imitam os afazeres dos mais velhos

PASSA PASSA GAVIAtildeO(folclore)4

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

As lavadeiras fazem assim

Assim assim assim assim

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

As passadeiras fazem assim

Assim assim assim assim

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

As cozinheiras fazem assim assim assim

Assim assado carne seca com ensopado

4 Recolhido atraveacutes da cultura oral

18

Objeto permanente Nos primeiros dois anos de vida a crianccedila apresenta um

comportamento em constante adaptaccedilatildeo pois estaacute sempre se modificando para

responder aos estiacutemulos do meio A crianccedila inicialmente natildeo tem noccedilatildeo da

permanecircncia dos objetos ela pensa que eles soacute existem enquanto estatildeo ao

alcance dos seus olhos caso sejam escondidos a sua frente acharaacute que estes

acabaram ou se desintegraram Entre os 18 e 24 meses a crianccedila jaacute consegue

elaborar mais este conhecimento e apesar de natildeo vecirc-lo ouvi-lo ou tocaacute-lo ela vai

compreender que os objetos independem da sua vontade e presenccedila para

existirem

Para melhor apreensatildeo da realidade fiacutesica a praacutetica pelo ensaio e erro ou

aparecer desaparecer vatildeo treinar e orientar os pequenos na aquisiccedilatildeo das noccedilotildees

de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo da realidade como

afirma FerreiraI(1994p35) ldquoO esquema do objeto permanente eacute baacutesico para a

construccedilatildeo das noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidaderdquo

Observe que as crianccedilas nesta fase gostam das brincadeiras de

esconde-esconde que amenizam suas anguacutestias sobre a existecircncia ou natildeo dos

objetos reais Seu proacuteprio corpo eacute posto agrave prova escondendo o rosto ou as matildeos

atraacutes de uma almofada por exemplo A muacutesica das palminhas talvez possa auxiliar

nesta etapa

19

PALMINHAS PALMINHAS (folclore)5

Palminhas palminhas nos vamos bater

Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconder

Em cima em cima noacutes vamos bater

Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconde

Assim assim pra traacutes esconder

Em baixo em baixo noacutes vamos bate

Depois as matildeozinhas pra traacutes esconde

Assim assim pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconder

Os conceitos estudados ateacute aqui se realizam dentro dos estaacutegios do

desenvolvimento organizados por Piaget Passar-se-aacute neste momento agrave elucidaccedilatildeo

dos estaacutegios pertinentes agrave faixa etaacuteria da populaccedilatildeo pesquisada nesta monografia

estaacutegios Sensoacuterio-motor e Preacute-operacional

31ESTAacuteGIO SENSOacuteRIO MOTOR (0 agrave 2 anos) Estaacutegio que vai do nascimento

ateacute a aquisiccedilatildeo da linguagem e eacute dividido em 6 sub estaacutegios Esta eacute a fase do

comportamento inteligente antes da aquisiccedilatildeo da linguagem a crianccedila organiza a

informaccedilatildeo obtida atraveacutes dos sentidos e desenvolve respostas aos estiacutemulos

5 Recolhido atraveacutes da cultura oral

20

ambientais com comportamento adaptativo e constante modificaccedilotildees dos

esquemas de accedilatildeo em resposta ao meio A aquisiccedilatildeo mais importante deste

periacuteodo eacute o Objeto Permanente Manifesta-se ainda a imitaccedilatildeo que alcanccedilaraacute o

seu auge no proacuteximo estaacutegio

1ordm Sub Estaacutegio ndash Exerciacutecio dos reflexos (0 a 1 mecircs) Do alto da sua imaturidade

bioloacutegica a crianccedila se relaciona com o meio atraveacutes dos movimentos reflexos

hereditaacuterios que se aprimoram pelo exerciacutecio tornando-se cada vez mais

eficientes Ainda natildeo haacute a distinccedilatildeo entre o eu e o outro

2ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular primaacuteria (1 a 4 meses)Esta eacute a fase das

primeiras acomodaccedilotildees onde os exerciacutecios reflexos se transformam em esquemas

e comeccedilam a coordenar seus movimentos Inicia-se a construccedilatildeo dos primeiros

esquemas vocais A noccedilatildeo de tempo eacute primitiva sua duraccedilatildeo soacute eacute sentida no

decorrer da proacutepria accedilatildeo O final do periacuteodo eacute marcado pela coordenaccedilatildeo entre trecircs

esquemas fundamentais audiccedilatildeo fonaccedilatildeo e visatildeo

3ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular secundaacuteria (4 a 8 meses) O bebecirc apresenta

um maior interesse pelo mundo externo os esquemas se diferenciam surgindo

novos esquemas de coordenaccedilatildeo viso-motora unindo-se as aquisiccedilotildees jaacute

realizadas Os movimentos comeccedilam a ser repetido pelo prazer da repeticcedilatildeo

Observa-se o iniacutecio da noccedilatildeo do Objeto Permanente entretanto ela estaacute

condicionada ao movimento da crianccedila pois as coisas ainda natildeo seguem uma

trajetoacuteria independente

21

4ordm Sub Estaacutegio ndash Coordenaccedilatildeo de esquemas secundaacuterios (8 a 12 meses)

Caracteriza-se pelas primeiras condutas propriamente inteligentes surgindo

adaptaccedilotildees sensoacuterio-motoras intencionais onde o bebecirc combina esquemas

conhecidos a novas situaccedilotildees e ainda diferencia os meios e os fins de uma accedilatildeo

Aparece nesta fase o comportamento antecipatoacuterio caso o bebecirc veja sua matildee se

afastar chora a imitaccedilatildeo de sons e accedilotildees satildeo agora intencionais e

conscientizadas no entanto ainda condicionadas ao esquema visual Revelam-se

os primoacuterdios da memoacuteria e da representaccedilatildeo mental Comeccedila a permanecircncia do

objeto independente do ldquoeurdquo Quanto agrave noccedilatildeo de espaccedilo e tempo a crianccedila

comeccedila a ordenar os proacuteprios deslocamentos em relaccedilatildeo aos objetos

5ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular terciaacuteria (12 a 18 meses) A crianccedila gradua

seus movimentos varia e experimenta novos padrotildees de comportamento

observando os diferentes efeitos da sua accedilatildeo sobre o objeto o qual jaacute eacute dotado de

permanecircncia Pode-se afirmar que o mecanismo da inteligecircncia praacutetica estaacute

definitivamente constituiacutedo A cada estruturaccedilatildeo da inteligecircncia corresponde uma

nova estruturaccedilatildeo do espaccedilo do tempo da causalidade etc Agindo por ldquoensaio e

errordquo os resultados das accedilotildees ainda satildeo por acaso pois as representaccedilotildees

mentais de fatos externos ainda natildeo se incluem ou seja o pensamento ainda natildeo

estaacute formado

22

6ordm Sub Estaacutegio ndash A invenccedilatildeo dos novos meios por combinaccedilatildeo

mental (18 a 24 meses) Esta fase caracteriza o momento de transiccedilatildeo entre a

inteligecircncia praacutetica (sensoacuterio-motora) e a inteligecircncia representativa quando

comeccedila a funccedilatildeo simboacutelica Inicia-se a representaccedilatildeo mental imaginativa e criativa

No jogo simboacutelico a crianccedila usa siacutembolos na linguagem e na brincadeira do faz-deshy

conta recorda-se de fatos passados e os representa depois de algum tempo O

final deste periacuteodo eacute marcado pela primeira noccedilatildeo de conservaccedilatildeo(FerreiraI1994)

Os primeiros anos de vida da crianccedila satildeo marcados pelas inuacutemeras

formaccedilotildees e transformaccedilotildees fiacutesicas mentais e emocionais conforme descritas

acima Os acalantos (muacutesicas de ninar) satildeo cantados por matildees de todo o mundo

numa primeira inserccedilatildeo da crianccedila ao universo musical de sua cultura Eles

exercem um poderoso papel de auxiacutelio agrave maternagem acolhendo-a afetuosamente

condiccedilatildeo baacutesica para que a crianccedila se sinta suficientemente amada para

prosseguir desenvolvendo-se Este tema seraacute melhor explanado nos proacuteximos

capiacutetulos Por hora parece oportuno um exemplo de acalanto

TUTU MARAMBAacute(folclore)6

Tutu marambaacute

Natildeo venha mais caacute

Que o pai do menino

Te manda mata

6 MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute PRECISO CANTAR Musicoterapia cantos e canccedilotildees2001p38

23

32ESTAacuteGIO PREacute-OPERACIONAL (2 agrave 7 anos) A crianccedila vive um tempo em que

usa a intuiccedilatildeo ela passa todos os seus atos para o pensamento sob a forma de

imagens e diante de uma situaccedilatildeo praacutetica suas respostas vatildeo se basear no que

ela vecirc sente mexe ou seja nas aparecircncias dos fatos que observa A crianccedila

possui a capacidade de representar uma coisa por outra e esta representaccedilatildeo

pode se dar por um gesto um desenho uma palavra etc A verbalizaccedilatildeo tem

destaque neste periacuteodo e a linguagem conduz agrave socializaccedilatildeo das accedilotildees Este

estaacutegio compreende duas formas de pensamento a saber O Pensamento

Simboacutelico e o Pensamento Intuitivo

Pensamento simboacutelico (2 agrave 4 anos) Para Piaget a funccedilatildeo simboacutelica consiste na

capacidade da crianccedila representar objetos e fatos conhecidos poreacutem ausentes por

um substituto qualquer seja este concreto ou imaginaacuterio Uma caracteriacutestica

fundamental desta fase eacute a diferenciaccedilatildeo entre significante e significado que eacute

manifestada por vaacuterias condutas sendo elas O jogo simboacutelico ou faz-de-conta a

imitaccedilatildeo o desenho a imagem mental a linguagem a criatividade etc Para

ldquosignificanterdquo leia-se objeto concreto e para ldquosignificadordquo a ideacuteia compreensiva do

que foi percebido (Piaget 2003)

Sobre a funccedilatildeo simboacutelica FerreiraI(1994p43) complementa ldquoA funccedilatildeo

simboacutelica pode ser considerada uma linguagem individual e particular da crianccedila

usada para compreender e representar o mundo O siacutembolo eacute subjetivo e aos

poucos vai sendo substituiacutedo por signos da linguagem socialrdquo

24

O pensamento infantil encontrado entre os 2 e 7 anos de idade eacute

egocentrado A visatildeo da realidade eacute centrada no ponto de vista do proacuteprio sujeito

sendo este incapaz de relacionaacute-lo ou de coordenaacute-lo a pontos de vistas diferentes

do seu

A aquisiccedilatildeo da linguagem tem destaque nesta fase e coincide com a

formaccedilatildeo do jogo simboacutelico que melhor se manifesta no jogo do faz-de-conta

Atraveacutes do que discute Ferreira I (1994p43) ldquoOs siacutembolos podem ser

socializados como os brinquedos coletivos e se tornar um siacutembolo coletivordquo

confirma-se mais uma vez que os estes elementos apresentam extrema valorizaccedilatildeo

soacutecio-afetiva e cultural Com a ludicidade que lhe eacute peculiar os brinquedos

cantados nesta fase encantam ensinam desenvolvem a memoacuteria a auto estima

o esquema corporal a imagem corporal a Coordenaccedilatildeo Motora a socializaccedilatildeo

entre outras funccedilotildees essenciais agrave formaccedilatildeo dos pequenos Eis um bom exemplo

O GIGANTE E O ANAtildeO(autor desconhecido)7

O peacute do gigante eacute grande

Do anatildeo pequenininho

O gigante pisa forte

O anatildeo pisa mansinho

O gigante fala grosso

O anatildeo fala fininho

Porque gigante come muito

E o anatildeo come pouquinho

7 Recolhido atraveacutes da cultura oral

25

Pensamento Intuitivo (4 agrave 7 anos) Subdividido em Intuitivo Simples e Intuitivo

Articulado eacute um estaacutegio marcado pela crescente formaccedilatildeo de conceitos O

pensamento intuitivo eacute uma espeacutecie de accedilatildeo executada em pensamento encaixar

seriar deslocar etc

A crianccedila no intuitivo simples representa mentalmente assimila e entende

o mundo real poreacutem de forma limitada pois soacute consegue coordenar um uacutenico

ponto de vista com base nas aparecircncias do que vecirc Centrado em si mesmo natildeo

admite a reversibilidade falta-lhe ainda a noccedilatildeo de conservaccedilatildeo das substacircncias

Quando se pede agrave crianccedila para desenhar ela desenha o que sabe e natildeo

o que vecirc Este egocentrismo que lhe eacute peculiar deveraacute evoluir para a

descentraccedilatildeo bem como haveraacute progressos nas diversas etapas cognitivas

(classificar seriar etc) Ao final do pensamento intuitivo articulado a crianccedila

comeccedila a levantar duacutevidas e questionamentos percebendo a mobilidade das

situaccedilotildees

ldquoA BARATArdquo(folclore)8

A barata diz que tem 7 saias de filoacute

Eacute mentira da barata ela tem eacute uma soacute

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute

A barata diz que tem um anel de formatura

Eacute mentira da barata ela tem eacute casca dura

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura

8 PAIVA Ione Maria R de OPCITp80

26

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura

A barata diz que dorme numa cama de cetim

Eacute mentira da barata ela dorme eacute no capim

Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim

Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim

Na muacutesica da barata as crianccedilas ironizam a tentativa de mentir deste

inseto A propoacutesito das ldquomentirinhasrdquo contidas nas brincadeiras infantis funcionam

como passaporte para a experimentaccedilatildeo do que eacute verdadeiro e real As palavras

de cascudo(1988p491) discorrem sobre os deslimites da mentira ldquoAs estoacuterias

mentirosas() satildeo muito populares e constituem um gecircnero especial onde a

imaginaccedilatildeo exagerada e livre se liberta dos limites da loacutegicardquo Acredita-se que as

crianccedilas exigem a verdade para terem o domiacutenio do que aprendem

33OS JOGOS POR PIAGET

ldquoPiaget vecirc no jogo um processo de ajuda ao desenvolvimento da crianccedila

acompanha-a sendo ao mesmo tempo uma atividade consequumlente de seu proacuteprio

crescimentordquo(Negrine1994p45) A leitura dos jogos em Piaget acompanha o

desenvolvimento integral do homem a inteligecircncia a afetividade a motricidade e a

sociabilidade satildeo vivenciadas nos jogos sendo a afetividade a funccedilatildeo que constitui

a energia necessaacuteria para a progressatildeo psiacutequica moral intelectual e motora

daquele que joga

Trecircs classificaccedilotildees baacutesicas do jogo satildeo mostradas na teoria

27

psicogeneacutetica de Piaget Jogos de exerciacutecio Jogos simboacutelicos e jogos de regra

Jogos de Exerciacutecio Ou jogos sensoacuterio-motores que aparecem no periacuteodo do

mesmo nome natildeo chegam a constituir sistemas luacutedicos independentes e

construtivos Sua motivaccedilatildeo se daacute pelo prazer funcional ou pelo prazer produzido

pela tomada de consciecircncia de suas novas capacidades

Os jogos motores ou de exerciacutecios satildeo aqueles que envolvem

diretamente a participaccedilatildeo ativa do corpo como um todo inclui-se ainda os jogos

sensoriais que ajudam a desenvolver os oacutergatildeos dos sentidos

A crianccedila nesta fase gosta de brincar com brinquedos que manipula

repetidas vezes explorando toda sua superfiacutecie Brincar de esconder o rosto ou os

objetos atirar e pegar brinquedos eacute prazeroso para a crianccedila ao mesmo tempo

que assimila as noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo

da realidade

Os estiacutemulos sensoriais tambeacutem fazem parte do seu interesse objetos

de diversas cores e texturas brinquedos sonoros muacutesica para ouvir acalentar

danccedilar e brincar desta forma explora o reconhecimento do eu do outro e dos

objetos

O jogo de exerciacutecio eacute o primeiro a aparecer no comportamento da

crianccedila explicitamente do 2ordm ao 5ordm estaacutegio do desenvolvimento sensoacuterio motor por

oposiccedilatildeo ao 6ordm estaacutegio onde se inicia o jogo simboacutelico(Negrine 1994)

28

ATIREI O PAU NO GATO(Folclore)9

Atirei o pau no ga-to-to mas o ga-to-to

Natildeo morreu- rreu- rreu dona chica-ca-ca

Admirou- se se do berro do berro

Do berro que o gato deu Miau

Jogos Simboacutelicos Em princiacutepio do ponto de vista de Piaget a diferenccedila entre os

jogos simboacutelicos e os de exerciacutecio intelectual consiste em que os primeiros se

referem ao pensamento

Os jogos simboacutelicos tem iniacutecio no 6ordm estaacutegio do periacuteodo sensoacuterio-motor

e se continua aproximadamente dos 2 aos 4 anos de idade cronoloacutegica ou do 1ordm

estaacutegio do preacute-operacional(fase simboacutelica) ateacute o iniacutecio do 2ordm estaacutegio do preacuteshy

operacional(fase intuitiva) Piaget apud Negrine(1994p41) deixa claro a

supremacia dos jogos simboacutelicos em detrimento dos anteriores

ldquoO esquema simboacutelico por si mesmo eacute suficiente para

assegurar a superioridade da representaccedilatildeo sobre

uma accedilatildeo pura nesta segundo Piaget o jogo

permite assimilar o mundo exterior ao eu como meio

infinitamente mais poderoso que o de simples exerciacuteciordquo

Como aparecem antes da linguagem verbal propriamente dita os jogos

simboacutelicos satildeo representados nas imagens mentais da crianccedila e vivenciados

atraveacutes dos gestos onomatopeacuteias pelo prazer de brincar com o faz-de-conta

9 MILLLECCO FILHO Luiacutes A e outros OPCIT p43

29

Nesta fase os acalantos vatildeo perdendo sua importacircncia dando lugar agraves

brincadeiras-de-roda os pequenos ao mesmo tempo em que aprendem a falar

aprendem a cantar as brincadeiras-de-roda tem a propriedade de enriquecerem o

repertoacuterio de palavras e movimentos

Jogos de Regras Os jogos de regras natildeo seguem o mesmo itineraacuterio dos

anteriores pois comeccedilam a aparecer na metade do 2ordm estaacutegio do periacuteodo preacuteshy

operacional isto eacute dos 4 aos 7 anos e principalmente no periacuteodo das operaccedilotildees

concretas dos 7 aos 12 anos Pesquisaremos como ocorrem os jogos de regra ateacute

os 7 anos pela delimitaccedilatildeo da populaccedilatildeo que esta monografia abrange

Dos 4 aos 7 anos periacuteodo preacute operacional intuitivo surgem os jogos de

regra que substituiratildeo o siacutembolo e enquadraratildeo o exerciacutecio no momento em que se

constituem de forma incipiente certas relaccedilotildees sociais(Piaget2003)

Com relaccedilatildeo as regras segundo Piaget apud Negrine

(1994p44)distinguem-se dois tipos transmitidas e espontacircneas As regras

transmitidas se referem aos jogos institucionais que se impotildeem por pressatildeo das

geraccedilotildees anteriores As espontacircneas se referem aos jogos de natureza contratual e

momentacircnea isto eacute procedem da socializaccedilatildeo dos jogos de simples exerciacutecios ou

dos simboacutelicos

30

Na cantiga de roda ldquoCiranda cirandinhardquo destaca-se o desenvolvimento

da roda e ao final as regras uma imposta (entrar na roda e dizer um verso) outra

espontacircnea (serve qualquer verso criado na hora ou jaacute existente) Outra versatildeo

desta mesma cantiga para crianccedilas menores pede ldquofaccedila um gesto bem bonito

diga adeus e vaacute se emborardquo A liberdade de criar um gesto verso a importacircncia de

estar no meio da roda como centro das atenccedilotildees e a valorizaccedilatildeo dos

companheiros satildeo o impulso para a espontaneidade e o crescimento da autonomia

do ser

CIRANDA CIRANDINHA(folclore)10

Ciranda cirandinha vamos todos cirandar

Vamos dar a meia volta volta e meia vamos dar

o anel que tu me destes era vidro e se quebrou

o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou

Por isto sinhaacute Maria entre dentro desta roda

Diga um verso bem bonito diga adeus e vaacute se embora

Os conceitos estudados neste capiacutetulo podem orientar sobre o tempo

mental da crianccedila e a possibilidade de oferecer estiacutemulos adequados ao seu

momento Como uma boa buacutessola natildeo conteacutem apenas o norte

10 MARTINS Armando OPCITp105

31

4O BRINCAR E A REALIDADE WINNICOTTEANA

A partir da premissa de que natildeo se pode dividir o ser humano em

classificaccedilotildees bioloacutegicas e psiacutequicas posto que este eacute uma unidade indivisiacutevel

formulou-se apenas para efeitos didaacuteticos no capiacutetulo anteriorum olhar mais

fiacutesico(cognitivo) do desenvolvimento infantil atraveacutes de Piaget Discutir-se-aacute neste

capiacutetulo o ponto de vista Winnicotteano sobre a vida emocional e o brincar

Nos brinquedos cantados a arte de brincar se mistura a arte de cantar e

eacute fazendo ldquoArtesrdquo que a crianccedila dar-se a ver e a crescer A partir deste tema

instigante e universal que eacute o brincar torna-se mais prazeroso ainda falar sobre ele

depois de conhecer os estudos do Drordm Winnicott

D W Winnicott pediatra psicanalista psicoterapeuta inglecircs e defensor

da Ludoterapia nasceu no comeccedilo do seacuteculo 20 produzindo uma vasta obra

cientiacutefica ateacute os anos 70 quando nos deixou Em seu livro ldquoO Brincar e

Realidaderdquo(1975) se preocupou com os primoacuterdios da vida imaginativa da

experiecircncia cultural em todos os sentidos da relaccedilatildeo das artes com o brincar e da

criatividade

Neste momento parece relevante abordar alguns dos conceitos teoacutericos

do DrordmWinnicott atraveacutes da obra mencionada pelo suporte que podem

proporcionar agrave compreensatildeo da vida psiacutequica mediante o brincar e a terapia Em

32

Conceitos e contornos ilustrar-se-aacute o Objeto transicional Fenocircmeno transicional

Matildee suficientemente boa Aacuterea intermediaacuteria e o Eu(Self) circundando a

importacircncia destes conceitos em relaccedilatildeo aos brinquedos cantados e sua aplicaccedilatildeo

na cliacutenica psicomotora

41CONCEITOS E CONTORNOS

Objeto Transicional Eacute o objeto concreto relativo agrave exploraccedilatildeo pulsional (descarga

impulsiva) do sujeito por exemplo uma boneca ou um carrinho

Fenocircmeno Transicional Satildeo as accedilotildees relativas agrave exploraccedilatildeo pulsional ou o uso

que se faz dos objetos transicionais Ex Um carrinho pode ser acalentado como se

fosse um bebecirc

Matildee Suficientemente Boa Pessoa que ocupa o lugar de suporte afetivo no

desenvolvimento global da crianccedila tambeacutem associada por ele a figura do

terapeuta

Em outras palavras o amor da matildee ou do terapeuta

natildeo significaria apenas um atendimento agraves necessidades

da dependecircncia mas vem a significar a concessatildeo

de oportunidades que permita ao bebecirc ou ao paciente

passar da dependecircncia para a autonomia

(Winnicott1975p150)

33

Aacuterea Intermediaacuteria Aacuterea neutra de experimentaccedilatildeo vivencial entre as realidades

internas e externas do sujeito que favorece a dialeacutetica do brincar e das artes O

dito autor parece supor um espaccedilo de refuacutegio para a resoluccedilatildeo dos conflitos

humanos Eis aqui a referecircncia para tal colocaccedilatildeo

Presume-se aqui que a tarefa de aceitaccedilatildeo da realidade

nunca eacute completada que nenhum ser humano estaacute livre

da tensatildeo de relacionar a realidade interna e externa e

que o aliacutevio dessa tensatildeo eacute proporcionado por uma aacuterea

intermediaacuteria de experiecircncia(cf Riviere1936) que natildeo eacute

contestada (artes religiatildeo etc) Essa aacuterea intermediaacuteria

estaacute em continuidade direta com a aacuterea do brincar da

crianccedila pequena que se ldquoperderdquo no brincar

(Winnicottopcitp29)

A princiacutepio eacute difiacutecil falar dos brinquedos cantados como objetos

transicionais (concretos) porque natildeo satildeo exatamente vistos a olhos nus embora

sejam audiacuteveis Todavia qualquer muacutesico pode escrever em uma partitura o

brinquedo cantado (concreto e cantaacutevel) para tornaacute-lo visiacutevel

O ato de cantar uma muacutesica de roda ou um acalanto jaacute eacute a traduccedilatildeo do

fenocircmeno transicional Dar-se-aacute o uso que quiser a este brinquedo cantado no

momento de sua realizaccedilatildeo Se uma muacutesica de ninar for entoada com raiva ou

brutalidade eacute certo que traraacute temores ao bebecirc e natildeo o conforto a que se prestaria

Acalantos com este do ldquobicho papatildeordquo expotildee o perigo e propotildee acolhida pela

proteccedilatildeo materna

34

ldquoBICHO PAPAtildeO(folclore)11

Bicho Papatildeo sai de cima do telhado

Deixe o menino dormir sossegado

O Eu (Self) O Eu (Self) eacute o eu integral descrito por Winnicott(1975) em sua mais

pura essecircncia um eu que nasce na liberdade de expressatildeo na confianccedila baseada

nas experiecircncias vividas no suporte dos sentimentos Para este autor certas

condiccedilotildees se fazem necessaacuterias na busca do Eu (Self) eacute o que se chama de

criatividade A criatividade pode defraglar e sustentar o ser integral

A vida sadia se mostra pelo impulso criativo O brincar eacute um instrumento

da criatividade sediado na ldquoaacuterea intermediaacuteriardquo (entre as artes e o luacutedico)

sustentado em seus primoacuterdios pela ldquomatildee suficientemente boardquo direcionado agrave

busca do ldquoEu (Self) Sobre a importacircncia das cantigas de roda nesta busca

podemos ler as contribuiccedilotildees de Millecco filho e outros (2001p44)

As cantigas de roda datildeo continuidade ao trabalho

de elaboraccedilatildeo de conflitos e agrave estrutura da pessoa

em desenvolvimento iniciado com os acalantos

() A roda aparece como uma representaccedilatildeo da

mandala expressatildeo geomeacutetrica do Self

11 Recolhido atraveacutes da cultura oral

35

A letra da muacutesica infantil ldquoa canoa virourdquo expotildee um problema e supotildee

uma soluccedilatildeo hipoteacutetica

A CANOA VIROU(folclore)12

A canoa virou vou deixar ela virar

Foi por causa da Maria que natildeo soube remar

Ah se eu fosse peixinho e soubesse nadar

Eu tirava a Marialaacute do fundo do mar

A accedilatildeo terapecircutica deve ser um modo de auxiliar uma pessoa a

vir a ser o que ela eacute capaz de ser O psicomotricista atua como facilitador no

desenvolvimento do potencial existente no sujeito Numa maternagem

suficientemente boa como fala Winnicott o psicomotricista relacional torna-se um

companheiro de jornada para as atitudes luacutedicas do seu paciente

As medidas de afeto e limites saudaacuteveis agraves necessidades do outro

devem ser reconhecidas e valorizadas Eacute o que se vecirc nas colocaccedilotildees de Winnicott

(1975p63) ldquoEm outros termos eacute a brincadeira que eacute universal e que eacute proacutepria da

sauacutede o brincar facilita o crescimento e portanto a sauacutede o brincar conduz aos

relacionamentos grupais o brincar pode ser uma forma de comunicaccedilatildeo na

psicoterapia()rdquo

12 MARTINS Armando OPCITp110

36

Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e

estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que

haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila

acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas

Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a

brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre

MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR

VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR

Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o

aprender com a danccedila do outro

ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

13 Recolhido atraveacutes da cultura oral

37

Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons

e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os

brinquedos cantados

5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE

Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma

nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o

corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se

utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia

e da linguumliacutestica

No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua

expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a

existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto

O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que

encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e

motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros

Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando

fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar

gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil

38

ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14

Eacute bom cantar eacute bom ouvir

Eacute bom pensar eacute bom sentir

Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor

Viajar dentro de si pra poder se descobrir

51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE

A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso

meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da

psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu

corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)

O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico

(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes

concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo

ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a

palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas

que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que

quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do

latim Corpusque significa tecido de membros envoltura

da alma embriatildeo do espiacuterito

14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000

39

Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na

Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto

que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo

cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a

motricidade com a inteligecircncia

Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam

em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento

humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o

movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila

De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de

segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio

Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se

no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo

de Guilman

O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num

corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo

toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico

emocional(Levin opcit)

O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor

Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em

movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica

40

psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre

outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da

pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de

Levin(opcit)

Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor

podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor

ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento

Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o

sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem

tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco

podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade

eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)

52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA

A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o

seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins

pedagoacutegicos (Levy2000)

A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se

do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos

transtornos evidenciados (Coste1992)

A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a

41

afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja

o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade

do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting

psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais

uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si

mesmo uma terapiardquo

As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas

psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema

corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade

Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo

estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees

cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito

As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de

algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A

coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar

pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos

dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para

andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes

visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a

existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa

caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc

No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a

42

primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave

vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos

cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas

psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a

expressividade e a emoccedilatildeo

O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas

psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se

confirmar por exemplo para treinar a escrita

As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar

iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da

brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo

dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da

cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas

pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar

Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora

relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de

cada uma delas

43

53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE

Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os

acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte

afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe

o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo

e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do

acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si

mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a

busca do eu (Self)

O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos

cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a

partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes

acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de

interesse da populaccedilatildeo pesquisada

Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil

geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo

continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em

desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza

simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos

conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo

44

As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia

cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o

relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano

infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a

Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda

assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia

oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria

soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo

Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as

com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da

referida estrutura

Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos

integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos

grandes segmentos (Coste1992)

Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro

expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo

corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a

habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa

O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se

movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os

movimentos enquanto observam os amigos

45

BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

Os braccedilos pra cima e pra baixo

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

As pernas pra frente e pra traacutes

Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo

preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo

motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada

diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do

grafismo (Coste1992)

A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas

brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as

palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a

crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos

Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos

fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca

do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes

15 Recolhido atraveacutes da cultura oral

46

das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa

de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas

ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16

123 indiozinhos 456 indiozinhos

789 indiozinhos 10 num pequeno bote

Vinham navegando pelo rio abaixo

Quando o jacareacute se aproximou

E o pequeno bote dos indiozinhos

Quase quase virou quase quase virou

mas natildeo virou

Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo

ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam

internas ou externas (Levin2001)

A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e

apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as

crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do

corpo que deseja mostrar

ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17

Cabeccedila ombro joelho e peacute

Joelho e peacute joelho e peacute

Olhos boca orelha e nariz

Orelha e nariz orelha e nariz

16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral

47

Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O

equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute

relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)

Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de

amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o

personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca

instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma

perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal

traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal

ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca o pandeirotoca como ele soacute

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca violatildeo toca como ele soacute

Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao

tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir

da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do

aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala

dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da

vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza

18 Recolhido atraveacutes da cultura oral

48

Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila

seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um

personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular

correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e

volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem

seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam

ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19

Anda anda anda macaquinho

Anda anda anda sem parar

Pula pula pula macaquinho

Pula pula pula ateacute cansar

Corre corre corre macaquinho

Corre corre corre sem parar

Deita deita deita macaquinho

Deita deita deita dorme ateacute sonhar

Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu

desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e

relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do

mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)

Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira

19 Recolhido atraveacutes da cultura oral

49

traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo

espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a

noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo

vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento

O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e

rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos

de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra

frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente

e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da

roda virem periquitos tambeacutem

Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem

no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras

visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas

ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20

Periquito periquito parece com papa

Periquito periquito parece com papa

Por baixo por cima pra frente e pra traacutes

Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo

ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo

temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a

20 Recolhido atraveacutes da cultura oral

50

estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus

movimentos e se organiza na vida cotidiana

Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo

que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo

humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre

ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos

acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo

A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da

chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo

dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio

ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21

A janelinha fecha quando estaacute chovendo

A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo

Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute

Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute

Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os

centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e

contralaterais (Coste1992)

21 Recolhido atraveacutes da cultura oral

51

A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento

psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e

assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute

organizada e natildeo mudaraacute mais

Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os

peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a

conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo

grupo disposto em roda

ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22

Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora

Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora

Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock

Assim eacute bem melhor

( e assim por diante com as demais partes do corpo)

Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o

modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder

apud Coste(1992)

A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a

organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo

mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do

22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57

52

desejo da matildee

A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan

apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros

tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e

de diferenccedila (ibid)

Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o

ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na

constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo

desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A

psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade

poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A

citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo

O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de

identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria

de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do

lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que

eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim

constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute

poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo

o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)

53

Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia

corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber

possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver

As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a

expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente

Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar

cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de

construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza

pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem

corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter

fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de

cantar danccedilar e brincar

54

ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23

Minha boneca de lata

Bateu com a cabeccedila no chatildeo

Levou mais de uma hora

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui pra ficar boa

Minha boneca de lata

Bateu com o pescoccedilo no chatildeo

Levou mais de duas horas

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui desamassa aqui

Pra ficar boa

Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho

o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do

corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez

horas de arrumaccedilatildeo propostas

23 Recolhido atraveacutes da cultura oral

55

6CONCLUSAtildeO

Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-

se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse

infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar

Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a

relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas

cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo

permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os

estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e

que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo

Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de

winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do

ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos

como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica

Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de

conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos

Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade

que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se

pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos

sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu

ldquoafetordquo

56

Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a

psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir

expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer

Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia

para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a

socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte

aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o

desenvolvimento das estruturas psicomotoras

Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a

essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado

pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando

o prazer de brincar cantar e ser feliz

57

BIBLIOGRAFIA

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Editora Sprint ltda 1996

WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975

Page 11: Brinquedos Cantados Na Psicomotricidade

10

2HISTOacuteRIA E CLASSIFICACcedilAtildeO DOS BRINQUEDOS CANTADOS

Os brinquedos cantados surgem na espontaneidade da cultura popular

Geralmente satildeo cantigas anocircnimas acompanhadas de movimentos expressivos

saltitantes e ou dramatizados

O brincar eacute uma forma de manifestaccedilatildeo caracteriacutestica da infacircncia entretanto

como afirma Huizinga (1980) a essecircncia do jogo eacute o prazer ele ultrapassa os

limites da realidade fiacutesica e assim se aplica a qualquer fase da vida

Os termos brincar e jogar satildeo referenciados como sinocircnimos por Cascudo

(1988) e Ferreira A (1988) Nos principais idiomas internacionais (Inglecircs Francecircs

Alematildeo e espanhol) brincar e jogar tambeacutem servem para definir atividades

artiacutesticas como a interpretaccedilatildeo teatral ou musical (Santa Roza1993)

Na liacutengua portuguesa o termo brincar vem do latim vinculum e significa

laccedilo uniatildeo No entanto eacute o termo luacutedico da nossa liacutengua tambeacutem proveniente do

latim ludus que melhor abrange e define as atividades artiacutesticas

culturais brincadeiras e jogos(ibid)

Nos divertimentos tradicionais infantis encontra-se os jogos de ronda

cantados declamados ritmados ou natildeo de movimento etc Brinquedo eacute ainda o

objeto material usado para brincar como o carro a boneca Diz-se tambeacutem da

proacutepria accedilatildeo de brincar (de cabra cega de chicotinho queimado e etc)

(Cascudo1988)

11

Dos trecircs povos que inicialmente formaram a cultura brasileira o

portuguecircs trouxe maior influecircncia para os brinquedos cantados os quais sofreram

modificaccedilotildees de acordo com a cultura local (Cascudo1988) Diga-se ainda que os

ritmos e danccedilas africanas juntamente com a alegria e marcaccedilatildeo ritmica-corporal

indiacutegena deu um tempero mais brejeiro ao legado luacutedico brasileiro

21BRINCAR

Como sonhar acordado brincar eacute expor-se de dentro para fora traduccedilatildeo

das impressotildees da crianccedila sobre o mundo que a cerca e os seus sentimentos

O brincar se desenvolve junto com o amadurecimento do sujeito as etapas iniciais

vatildeo perdendo o significado para o acreacutescimo do novo modo de explorar cada vez

mais elaborado

Todos os povos tecircm suas brincadeiras pertinentes agraves necessidades

expressivas de cada cultura O tempo se encarrega de transformar suas estruturas

mas eacute certo que as crianccedilas precisam de tempo espaccedilo e companheiros para

brincar

Sheridam (1990) classifica as brincadeiras em ativas exploratoacuterias

manipulativas imitativas construtivas faz-de-conta jogos com regras recreaccedilotildees

sofisticadas Este trabalho prioriza os brinquedos cantados que na praacutetica

psicomotora revelam valores e costumes culturais pontos de referecircncia para a

comunicaccedilatildeo e o relacionamento com o outro Estas manifestaccedilotildees envolvem a

emoccedilatildeo e o movimento que permeados pela muacutesica burlam as defesas e fazem

12

aflorar a essecircncia do ser

Os brinquedos cantados se inserem nas diversas formas de

classificaccedilatildeo pois em face de sua riqueza dinacircmica satildeo brincadeiras ativas

(exChep Chep) imitativas(ex Samba Lecirc Lecirc) construtivas(exA minha velha tem)

priorizam o faz-de-conta conteacutem regras especiacuteficas e vatildeo desde as mais simples

como ldquoAtirei o pau no gatordquo ateacute as mais elaboradas como ldquoA linda rosa juvenilrdquo1

Lapierre e Aucoutourrier (1986p29) pontuaram que ldquoA expressatildeo sonora

estaacute necessariamente ligada agrave relaccedilatildeo com o outrordquo sabe-se que ainda na barriga

da matildee a funccedilatildeo auditiva se instaura no embriatildeo e ele ouve os batimentos

cardiacuteacos dele e da matildee e todo um mundo de sons atraveacutes do liacutequido amnioacutetico

Eacute a relaccedilatildeo com o outro atraveacutes dos sons que situa a crianccedila no espaccedilo no tempo

e no afeto

22 MUSICAR

Segundo Gainza (1988) ldquoa accedilatildeo musical implica num movimento

seja das cordas vocais e do aparelho fonador naquele que fala ou canta seja do

proacuteprio corpordquo No uacuteltimo caso o corpo aparece como instrumento produtor de

som ou se prolonga atraveacutes de um instrumento musical propriamente ditordquo

Sob a oacutetica musical as teorias apontam para as estruturas fiacutesico-sonoras

Encontra-se nestas a formaccedilatildeo de todo contexto musical que eacute igualmente

1 PAIVA Ione Maria R de BRINQUEDOS CANTADOS 1998 p25416383

13

correspondente para os brinquedos cantados Fala-se entatildeo dos elementos

inevitaacuteveis de qualquer muacutesica Ritmo Melodia Harmonia Eis a definiccedilatildeo de

Costa(1989p61) ldquoNuma definiccedilatildeo muito simples muacutesica eacute a organizaccedilatildeo de

relaccedilotildees entre sonoridades simultacircneas ou natildeo no decorrer do tempo Sons e

silecircncios satildeo combinados e encadeados entre si formando ritmos melodias e

harmoniasrdquo

O ritmo eacute basicamente a ordenaccedilatildeo do movimento formando um elo

entre espaccedilo e tempo A melodia eacute uma sequumlecircncia de sons notas musicais graves

e agudas A harmonia eacute a verticalidade ou a simultaneidade dos sons parte mais

intelectualizada da muacutesica(Costa opcit mesma paacutegina)

As muacutesicas infantis em geral acompanham o desenvolvimento afetivo

motor cognitivo e social da crianccedila Observa-se que existem brinquedos cantados

mais simples contendo siacutelabas repetitivas estrutura musical miacutenima e que satildeo

preferidos pelas crianccedilas entre 2 e 3 anos por ex

CAI CAI BALAtildeO(folclore)2

Cai cai balatildeo cai cai balatildeo aqui na minha matildeo

Natildeo vou laacute natildeo vou laacute natildeo vou laacute tenho medo de apanhar

A muacutesica dos brinquedos cantados altera a sensibilidade o humor faz

aflorar a criatividade a expressividade do corpo e da alma revelando as habilidades

e dificuldades da crianccedila se convertendo entatildeo em instrumento de trabalho na

psicomotricidade

2 MARTINS Armando TOQUE VIOLAtildeO OU GUITARRA(meacutetodo praacutetico) 1980p88

14

23MOVIMENTAR

Do choro aos acalantos (muacutesicas de ninar) dos cantos culturais as

brincadeiras-de-roda haacute uma trajetoacuteria que vincula o som da voz ao movimento

corporal conforme afirma Fregtman(1988p17) isto ocorre ldquoporque a muacutesica eacute

feita dita tocada e cantada como manifestaccedilatildeo corporalrdquo

Toda forma de comunicaccedilatildeo se daacute atraveacutes de coacutedigos estabelecidos

linguagens por assim dizer Fregtman (opcit) conceitua a partir da musicoterapia

que trecircs niacuteveis de manifestaccedilatildeo expressiva simultacircneos podem se dar quando

usamos a muacutesica Satildeo eles

1) Linguagem sonora (sons silecircncios entonaccedilotildees melodias ritmos)

2) Linguagem corporal (gestos posturas trejeitos tipos de movimentos)

3) Linguagem verbal (a fala a letra a poesia)

Apenas para efeitos didaacuteticos se consegue separar estes trecircs niacuteveis de

linguagem A linguagem sonora necessariamente traacutes expressotildees corporais

estimula a emoccedilatildeo que se revela atraveacutes dos gestos posturas movimentos voz e

etc A linguagem corporal responde ao chamado verbal ou musical os quais soam

determinados significados simboacutelicos apreendidos nas relaccedilotildees soacutecio-afetivas E

por fim a linguagem verbal eacute inserida para nomear as accedilotildees sejam elas musicais

ou corporais

15

Os brinquedos cantados satildeo tambeacutem conceituados mediante sua aplicaccedilatildeo

em determinadas funccedilotildees na recreaccedilatildeo Os brinquedos cantados podem ser de

marcha de grupos opostos de palmas de roda de ninar ou alternados

Modificaccedilotildees diversas quanto ao andamento (lento moderado raacutepido) agrave formaccedilatildeo

(rodas simples complexas fileiras) e agrave movimentaccedilatildeo dos brinquedos cantados

(marcha roda dramatizaccedilatildeo) satildeo descritas por Leitatildeo(2001)

Neste trabalho prioriza-se os acalantos e as brincadeiras-de-roda tendo

em vista que a populaccedilatildeo estudada crianccedilas de 0 agrave 7 anos podem ser atendidas

em suas necessidades de acolhimento afetivo comunicaccedilatildeo expressiva e

socializaccedilatildeo atraveacutes destes elementos A Simbologia do movimento de Lapierre amp

Aucoutourrier (1986p41) sustenta o nosso pensamento atraveacutes da seguinte

citaccedilatildeo ldquoA muacutesica pode nos ajudar muito a redescobrir essa dimensatildeo do

movimento desde que natildeo seja restringida aos estereotipos da lsquodanccedilarsquo mesmo a

lsquoexpressivarsquo ldquo

ldquoO JACAREacuterdquo (folclore)3

O jacareacute o jacareacute o jacareacute eacute amigo ele eacute

Oi jacareacute oi jacareacute vem caacute cumpadre que a lagoa natildeo daacute peacute

O jacareacute tem os olhos muito grandes tem o rabo muito grande

Mas as pernas satildeo curtinhas

O jacareacute tem a boca muito grande tem os dentes muito grande

mas as pernas satildeo curtinhas

3 Recolhido atraveacutes da cultura oral

16

3O DESENVOLVIMENTO INFANTIL SEGUNDO PIAGET

Para Piaget (2003) o conhecimento eacute o resultado das accedilotildees e

relacionamentos do sujeito com o ambiente em que vive e vai sendo elaborado

desde o nascimento ateacute suas vivecircncias com os objetos pessoas e situaccedilotildees que

procura conhecer sejam elas do mundo fiacutesico ou cultural

Este autor formulou importantes conceitos que explicam o

desenvolvimento das funccedilotildees cognitivas A interaccedilatildeo entre a assimilaccedilatildeo

(informaccedilotildees do mundo exterior recebidas atraveacutes dos sentidos movimento de fora

para dentro) e a acomodaccedilatildeo (informaccedilatildeo processada respostas dadas ao mundo

exterior movimento de dentro para fora) sobre uma accedilatildeo satildeo validadas pelo

processo de equilibraccedilatildeo (Piagetopcit)

As perturbaccedilotildees exteriores se mostram a crianccedila a partir do que ela natildeo

conhece assim oportunizadas pelo processo de equilibraccedilatildeo e por meio de suas

atividades vai respondendo a estas perturbaccedilotildees vencendo a mais uma etapa

cognosciacutevel A equilibraccedilatildeo eacute dinacircmica e nunca cessa ela norteia a passagem de

um conhecimento ao outro(Piaget2003)

Dois outros conceitos Piagetianos satildeo imprescindiacuteveis ao tenro

desenvolvimento infantil e encontra-se nos brinquedos cantados uma forma

espontacircnea de vivenciaacute-los A Imitaccedilatildeo e a noccedilatildeo de Permanecircncia do Objeto

17

Imitaccedilatildeo Eacute na gecircnese da imitaccedilatildeo que inicia o movimento luacutedico da crianccedila

Imitando o meio e as pessoas ao seu redor a crianccedila apreende e treina suas novas

aquisiccedilotildees Ferreira I(1994 p47) afirma que ldquoA imitaccedilatildeo eacute uma das manifestaccedilotildees

da funccedilatildeo simboacutelica Constitui-se num dos elementos baacutesicos que permitem a

crianccedila uma assimilaccedilatildeo de realidade ao seu proacuteprio ldquoeurdquo bem como Acomodaccedilatildeo

de suas estruturas mentais e de accedilatildeo agraves exigecircncias da realidade fiacutesica e socialrdquo

Para haver o ato imitativo eacute necessaacuterio um modelo Alguns brinquedos

cantados propotildeem accedilotildees simboacutelicas que copiam o mundo adulto sem impor aos

pequenos o fardo da responsabilidade que este teria na realidade Eis um exemplo

interessante onde as crianccedilas imitam os afazeres dos mais velhos

PASSA PASSA GAVIAtildeO(folclore)4

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

As lavadeiras fazem assim

Assim assim assim assim

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

As passadeiras fazem assim

Assim assim assim assim

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

As cozinheiras fazem assim assim assim

Assim assado carne seca com ensopado

4 Recolhido atraveacutes da cultura oral

18

Objeto permanente Nos primeiros dois anos de vida a crianccedila apresenta um

comportamento em constante adaptaccedilatildeo pois estaacute sempre se modificando para

responder aos estiacutemulos do meio A crianccedila inicialmente natildeo tem noccedilatildeo da

permanecircncia dos objetos ela pensa que eles soacute existem enquanto estatildeo ao

alcance dos seus olhos caso sejam escondidos a sua frente acharaacute que estes

acabaram ou se desintegraram Entre os 18 e 24 meses a crianccedila jaacute consegue

elaborar mais este conhecimento e apesar de natildeo vecirc-lo ouvi-lo ou tocaacute-lo ela vai

compreender que os objetos independem da sua vontade e presenccedila para

existirem

Para melhor apreensatildeo da realidade fiacutesica a praacutetica pelo ensaio e erro ou

aparecer desaparecer vatildeo treinar e orientar os pequenos na aquisiccedilatildeo das noccedilotildees

de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo da realidade como

afirma FerreiraI(1994p35) ldquoO esquema do objeto permanente eacute baacutesico para a

construccedilatildeo das noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidaderdquo

Observe que as crianccedilas nesta fase gostam das brincadeiras de

esconde-esconde que amenizam suas anguacutestias sobre a existecircncia ou natildeo dos

objetos reais Seu proacuteprio corpo eacute posto agrave prova escondendo o rosto ou as matildeos

atraacutes de uma almofada por exemplo A muacutesica das palminhas talvez possa auxiliar

nesta etapa

19

PALMINHAS PALMINHAS (folclore)5

Palminhas palminhas nos vamos bater

Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconder

Em cima em cima noacutes vamos bater

Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconde

Assim assim pra traacutes esconder

Em baixo em baixo noacutes vamos bate

Depois as matildeozinhas pra traacutes esconde

Assim assim pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconder

Os conceitos estudados ateacute aqui se realizam dentro dos estaacutegios do

desenvolvimento organizados por Piaget Passar-se-aacute neste momento agrave elucidaccedilatildeo

dos estaacutegios pertinentes agrave faixa etaacuteria da populaccedilatildeo pesquisada nesta monografia

estaacutegios Sensoacuterio-motor e Preacute-operacional

31ESTAacuteGIO SENSOacuteRIO MOTOR (0 agrave 2 anos) Estaacutegio que vai do nascimento

ateacute a aquisiccedilatildeo da linguagem e eacute dividido em 6 sub estaacutegios Esta eacute a fase do

comportamento inteligente antes da aquisiccedilatildeo da linguagem a crianccedila organiza a

informaccedilatildeo obtida atraveacutes dos sentidos e desenvolve respostas aos estiacutemulos

5 Recolhido atraveacutes da cultura oral

20

ambientais com comportamento adaptativo e constante modificaccedilotildees dos

esquemas de accedilatildeo em resposta ao meio A aquisiccedilatildeo mais importante deste

periacuteodo eacute o Objeto Permanente Manifesta-se ainda a imitaccedilatildeo que alcanccedilaraacute o

seu auge no proacuteximo estaacutegio

1ordm Sub Estaacutegio ndash Exerciacutecio dos reflexos (0 a 1 mecircs) Do alto da sua imaturidade

bioloacutegica a crianccedila se relaciona com o meio atraveacutes dos movimentos reflexos

hereditaacuterios que se aprimoram pelo exerciacutecio tornando-se cada vez mais

eficientes Ainda natildeo haacute a distinccedilatildeo entre o eu e o outro

2ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular primaacuteria (1 a 4 meses)Esta eacute a fase das

primeiras acomodaccedilotildees onde os exerciacutecios reflexos se transformam em esquemas

e comeccedilam a coordenar seus movimentos Inicia-se a construccedilatildeo dos primeiros

esquemas vocais A noccedilatildeo de tempo eacute primitiva sua duraccedilatildeo soacute eacute sentida no

decorrer da proacutepria accedilatildeo O final do periacuteodo eacute marcado pela coordenaccedilatildeo entre trecircs

esquemas fundamentais audiccedilatildeo fonaccedilatildeo e visatildeo

3ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular secundaacuteria (4 a 8 meses) O bebecirc apresenta

um maior interesse pelo mundo externo os esquemas se diferenciam surgindo

novos esquemas de coordenaccedilatildeo viso-motora unindo-se as aquisiccedilotildees jaacute

realizadas Os movimentos comeccedilam a ser repetido pelo prazer da repeticcedilatildeo

Observa-se o iniacutecio da noccedilatildeo do Objeto Permanente entretanto ela estaacute

condicionada ao movimento da crianccedila pois as coisas ainda natildeo seguem uma

trajetoacuteria independente

21

4ordm Sub Estaacutegio ndash Coordenaccedilatildeo de esquemas secundaacuterios (8 a 12 meses)

Caracteriza-se pelas primeiras condutas propriamente inteligentes surgindo

adaptaccedilotildees sensoacuterio-motoras intencionais onde o bebecirc combina esquemas

conhecidos a novas situaccedilotildees e ainda diferencia os meios e os fins de uma accedilatildeo

Aparece nesta fase o comportamento antecipatoacuterio caso o bebecirc veja sua matildee se

afastar chora a imitaccedilatildeo de sons e accedilotildees satildeo agora intencionais e

conscientizadas no entanto ainda condicionadas ao esquema visual Revelam-se

os primoacuterdios da memoacuteria e da representaccedilatildeo mental Comeccedila a permanecircncia do

objeto independente do ldquoeurdquo Quanto agrave noccedilatildeo de espaccedilo e tempo a crianccedila

comeccedila a ordenar os proacuteprios deslocamentos em relaccedilatildeo aos objetos

5ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular terciaacuteria (12 a 18 meses) A crianccedila gradua

seus movimentos varia e experimenta novos padrotildees de comportamento

observando os diferentes efeitos da sua accedilatildeo sobre o objeto o qual jaacute eacute dotado de

permanecircncia Pode-se afirmar que o mecanismo da inteligecircncia praacutetica estaacute

definitivamente constituiacutedo A cada estruturaccedilatildeo da inteligecircncia corresponde uma

nova estruturaccedilatildeo do espaccedilo do tempo da causalidade etc Agindo por ldquoensaio e

errordquo os resultados das accedilotildees ainda satildeo por acaso pois as representaccedilotildees

mentais de fatos externos ainda natildeo se incluem ou seja o pensamento ainda natildeo

estaacute formado

22

6ordm Sub Estaacutegio ndash A invenccedilatildeo dos novos meios por combinaccedilatildeo

mental (18 a 24 meses) Esta fase caracteriza o momento de transiccedilatildeo entre a

inteligecircncia praacutetica (sensoacuterio-motora) e a inteligecircncia representativa quando

comeccedila a funccedilatildeo simboacutelica Inicia-se a representaccedilatildeo mental imaginativa e criativa

No jogo simboacutelico a crianccedila usa siacutembolos na linguagem e na brincadeira do faz-deshy

conta recorda-se de fatos passados e os representa depois de algum tempo O

final deste periacuteodo eacute marcado pela primeira noccedilatildeo de conservaccedilatildeo(FerreiraI1994)

Os primeiros anos de vida da crianccedila satildeo marcados pelas inuacutemeras

formaccedilotildees e transformaccedilotildees fiacutesicas mentais e emocionais conforme descritas

acima Os acalantos (muacutesicas de ninar) satildeo cantados por matildees de todo o mundo

numa primeira inserccedilatildeo da crianccedila ao universo musical de sua cultura Eles

exercem um poderoso papel de auxiacutelio agrave maternagem acolhendo-a afetuosamente

condiccedilatildeo baacutesica para que a crianccedila se sinta suficientemente amada para

prosseguir desenvolvendo-se Este tema seraacute melhor explanado nos proacuteximos

capiacutetulos Por hora parece oportuno um exemplo de acalanto

TUTU MARAMBAacute(folclore)6

Tutu marambaacute

Natildeo venha mais caacute

Que o pai do menino

Te manda mata

6 MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute PRECISO CANTAR Musicoterapia cantos e canccedilotildees2001p38

23

32ESTAacuteGIO PREacute-OPERACIONAL (2 agrave 7 anos) A crianccedila vive um tempo em que

usa a intuiccedilatildeo ela passa todos os seus atos para o pensamento sob a forma de

imagens e diante de uma situaccedilatildeo praacutetica suas respostas vatildeo se basear no que

ela vecirc sente mexe ou seja nas aparecircncias dos fatos que observa A crianccedila

possui a capacidade de representar uma coisa por outra e esta representaccedilatildeo

pode se dar por um gesto um desenho uma palavra etc A verbalizaccedilatildeo tem

destaque neste periacuteodo e a linguagem conduz agrave socializaccedilatildeo das accedilotildees Este

estaacutegio compreende duas formas de pensamento a saber O Pensamento

Simboacutelico e o Pensamento Intuitivo

Pensamento simboacutelico (2 agrave 4 anos) Para Piaget a funccedilatildeo simboacutelica consiste na

capacidade da crianccedila representar objetos e fatos conhecidos poreacutem ausentes por

um substituto qualquer seja este concreto ou imaginaacuterio Uma caracteriacutestica

fundamental desta fase eacute a diferenciaccedilatildeo entre significante e significado que eacute

manifestada por vaacuterias condutas sendo elas O jogo simboacutelico ou faz-de-conta a

imitaccedilatildeo o desenho a imagem mental a linguagem a criatividade etc Para

ldquosignificanterdquo leia-se objeto concreto e para ldquosignificadordquo a ideacuteia compreensiva do

que foi percebido (Piaget 2003)

Sobre a funccedilatildeo simboacutelica FerreiraI(1994p43) complementa ldquoA funccedilatildeo

simboacutelica pode ser considerada uma linguagem individual e particular da crianccedila

usada para compreender e representar o mundo O siacutembolo eacute subjetivo e aos

poucos vai sendo substituiacutedo por signos da linguagem socialrdquo

24

O pensamento infantil encontrado entre os 2 e 7 anos de idade eacute

egocentrado A visatildeo da realidade eacute centrada no ponto de vista do proacuteprio sujeito

sendo este incapaz de relacionaacute-lo ou de coordenaacute-lo a pontos de vistas diferentes

do seu

A aquisiccedilatildeo da linguagem tem destaque nesta fase e coincide com a

formaccedilatildeo do jogo simboacutelico que melhor se manifesta no jogo do faz-de-conta

Atraveacutes do que discute Ferreira I (1994p43) ldquoOs siacutembolos podem ser

socializados como os brinquedos coletivos e se tornar um siacutembolo coletivordquo

confirma-se mais uma vez que os estes elementos apresentam extrema valorizaccedilatildeo

soacutecio-afetiva e cultural Com a ludicidade que lhe eacute peculiar os brinquedos

cantados nesta fase encantam ensinam desenvolvem a memoacuteria a auto estima

o esquema corporal a imagem corporal a Coordenaccedilatildeo Motora a socializaccedilatildeo

entre outras funccedilotildees essenciais agrave formaccedilatildeo dos pequenos Eis um bom exemplo

O GIGANTE E O ANAtildeO(autor desconhecido)7

O peacute do gigante eacute grande

Do anatildeo pequenininho

O gigante pisa forte

O anatildeo pisa mansinho

O gigante fala grosso

O anatildeo fala fininho

Porque gigante come muito

E o anatildeo come pouquinho

7 Recolhido atraveacutes da cultura oral

25

Pensamento Intuitivo (4 agrave 7 anos) Subdividido em Intuitivo Simples e Intuitivo

Articulado eacute um estaacutegio marcado pela crescente formaccedilatildeo de conceitos O

pensamento intuitivo eacute uma espeacutecie de accedilatildeo executada em pensamento encaixar

seriar deslocar etc

A crianccedila no intuitivo simples representa mentalmente assimila e entende

o mundo real poreacutem de forma limitada pois soacute consegue coordenar um uacutenico

ponto de vista com base nas aparecircncias do que vecirc Centrado em si mesmo natildeo

admite a reversibilidade falta-lhe ainda a noccedilatildeo de conservaccedilatildeo das substacircncias

Quando se pede agrave crianccedila para desenhar ela desenha o que sabe e natildeo

o que vecirc Este egocentrismo que lhe eacute peculiar deveraacute evoluir para a

descentraccedilatildeo bem como haveraacute progressos nas diversas etapas cognitivas

(classificar seriar etc) Ao final do pensamento intuitivo articulado a crianccedila

comeccedila a levantar duacutevidas e questionamentos percebendo a mobilidade das

situaccedilotildees

ldquoA BARATArdquo(folclore)8

A barata diz que tem 7 saias de filoacute

Eacute mentira da barata ela tem eacute uma soacute

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute

A barata diz que tem um anel de formatura

Eacute mentira da barata ela tem eacute casca dura

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura

8 PAIVA Ione Maria R de OPCITp80

26

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura

A barata diz que dorme numa cama de cetim

Eacute mentira da barata ela dorme eacute no capim

Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim

Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim

Na muacutesica da barata as crianccedilas ironizam a tentativa de mentir deste

inseto A propoacutesito das ldquomentirinhasrdquo contidas nas brincadeiras infantis funcionam

como passaporte para a experimentaccedilatildeo do que eacute verdadeiro e real As palavras

de cascudo(1988p491) discorrem sobre os deslimites da mentira ldquoAs estoacuterias

mentirosas() satildeo muito populares e constituem um gecircnero especial onde a

imaginaccedilatildeo exagerada e livre se liberta dos limites da loacutegicardquo Acredita-se que as

crianccedilas exigem a verdade para terem o domiacutenio do que aprendem

33OS JOGOS POR PIAGET

ldquoPiaget vecirc no jogo um processo de ajuda ao desenvolvimento da crianccedila

acompanha-a sendo ao mesmo tempo uma atividade consequumlente de seu proacuteprio

crescimentordquo(Negrine1994p45) A leitura dos jogos em Piaget acompanha o

desenvolvimento integral do homem a inteligecircncia a afetividade a motricidade e a

sociabilidade satildeo vivenciadas nos jogos sendo a afetividade a funccedilatildeo que constitui

a energia necessaacuteria para a progressatildeo psiacutequica moral intelectual e motora

daquele que joga

Trecircs classificaccedilotildees baacutesicas do jogo satildeo mostradas na teoria

27

psicogeneacutetica de Piaget Jogos de exerciacutecio Jogos simboacutelicos e jogos de regra

Jogos de Exerciacutecio Ou jogos sensoacuterio-motores que aparecem no periacuteodo do

mesmo nome natildeo chegam a constituir sistemas luacutedicos independentes e

construtivos Sua motivaccedilatildeo se daacute pelo prazer funcional ou pelo prazer produzido

pela tomada de consciecircncia de suas novas capacidades

Os jogos motores ou de exerciacutecios satildeo aqueles que envolvem

diretamente a participaccedilatildeo ativa do corpo como um todo inclui-se ainda os jogos

sensoriais que ajudam a desenvolver os oacutergatildeos dos sentidos

A crianccedila nesta fase gosta de brincar com brinquedos que manipula

repetidas vezes explorando toda sua superfiacutecie Brincar de esconder o rosto ou os

objetos atirar e pegar brinquedos eacute prazeroso para a crianccedila ao mesmo tempo

que assimila as noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo

da realidade

Os estiacutemulos sensoriais tambeacutem fazem parte do seu interesse objetos

de diversas cores e texturas brinquedos sonoros muacutesica para ouvir acalentar

danccedilar e brincar desta forma explora o reconhecimento do eu do outro e dos

objetos

O jogo de exerciacutecio eacute o primeiro a aparecer no comportamento da

crianccedila explicitamente do 2ordm ao 5ordm estaacutegio do desenvolvimento sensoacuterio motor por

oposiccedilatildeo ao 6ordm estaacutegio onde se inicia o jogo simboacutelico(Negrine 1994)

28

ATIREI O PAU NO GATO(Folclore)9

Atirei o pau no ga-to-to mas o ga-to-to

Natildeo morreu- rreu- rreu dona chica-ca-ca

Admirou- se se do berro do berro

Do berro que o gato deu Miau

Jogos Simboacutelicos Em princiacutepio do ponto de vista de Piaget a diferenccedila entre os

jogos simboacutelicos e os de exerciacutecio intelectual consiste em que os primeiros se

referem ao pensamento

Os jogos simboacutelicos tem iniacutecio no 6ordm estaacutegio do periacuteodo sensoacuterio-motor

e se continua aproximadamente dos 2 aos 4 anos de idade cronoloacutegica ou do 1ordm

estaacutegio do preacute-operacional(fase simboacutelica) ateacute o iniacutecio do 2ordm estaacutegio do preacuteshy

operacional(fase intuitiva) Piaget apud Negrine(1994p41) deixa claro a

supremacia dos jogos simboacutelicos em detrimento dos anteriores

ldquoO esquema simboacutelico por si mesmo eacute suficiente para

assegurar a superioridade da representaccedilatildeo sobre

uma accedilatildeo pura nesta segundo Piaget o jogo

permite assimilar o mundo exterior ao eu como meio

infinitamente mais poderoso que o de simples exerciacuteciordquo

Como aparecem antes da linguagem verbal propriamente dita os jogos

simboacutelicos satildeo representados nas imagens mentais da crianccedila e vivenciados

atraveacutes dos gestos onomatopeacuteias pelo prazer de brincar com o faz-de-conta

9 MILLLECCO FILHO Luiacutes A e outros OPCIT p43

29

Nesta fase os acalantos vatildeo perdendo sua importacircncia dando lugar agraves

brincadeiras-de-roda os pequenos ao mesmo tempo em que aprendem a falar

aprendem a cantar as brincadeiras-de-roda tem a propriedade de enriquecerem o

repertoacuterio de palavras e movimentos

Jogos de Regras Os jogos de regras natildeo seguem o mesmo itineraacuterio dos

anteriores pois comeccedilam a aparecer na metade do 2ordm estaacutegio do periacuteodo preacuteshy

operacional isto eacute dos 4 aos 7 anos e principalmente no periacuteodo das operaccedilotildees

concretas dos 7 aos 12 anos Pesquisaremos como ocorrem os jogos de regra ateacute

os 7 anos pela delimitaccedilatildeo da populaccedilatildeo que esta monografia abrange

Dos 4 aos 7 anos periacuteodo preacute operacional intuitivo surgem os jogos de

regra que substituiratildeo o siacutembolo e enquadraratildeo o exerciacutecio no momento em que se

constituem de forma incipiente certas relaccedilotildees sociais(Piaget2003)

Com relaccedilatildeo as regras segundo Piaget apud Negrine

(1994p44)distinguem-se dois tipos transmitidas e espontacircneas As regras

transmitidas se referem aos jogos institucionais que se impotildeem por pressatildeo das

geraccedilotildees anteriores As espontacircneas se referem aos jogos de natureza contratual e

momentacircnea isto eacute procedem da socializaccedilatildeo dos jogos de simples exerciacutecios ou

dos simboacutelicos

30

Na cantiga de roda ldquoCiranda cirandinhardquo destaca-se o desenvolvimento

da roda e ao final as regras uma imposta (entrar na roda e dizer um verso) outra

espontacircnea (serve qualquer verso criado na hora ou jaacute existente) Outra versatildeo

desta mesma cantiga para crianccedilas menores pede ldquofaccedila um gesto bem bonito

diga adeus e vaacute se emborardquo A liberdade de criar um gesto verso a importacircncia de

estar no meio da roda como centro das atenccedilotildees e a valorizaccedilatildeo dos

companheiros satildeo o impulso para a espontaneidade e o crescimento da autonomia

do ser

CIRANDA CIRANDINHA(folclore)10

Ciranda cirandinha vamos todos cirandar

Vamos dar a meia volta volta e meia vamos dar

o anel que tu me destes era vidro e se quebrou

o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou

Por isto sinhaacute Maria entre dentro desta roda

Diga um verso bem bonito diga adeus e vaacute se embora

Os conceitos estudados neste capiacutetulo podem orientar sobre o tempo

mental da crianccedila e a possibilidade de oferecer estiacutemulos adequados ao seu

momento Como uma boa buacutessola natildeo conteacutem apenas o norte

10 MARTINS Armando OPCITp105

31

4O BRINCAR E A REALIDADE WINNICOTTEANA

A partir da premissa de que natildeo se pode dividir o ser humano em

classificaccedilotildees bioloacutegicas e psiacutequicas posto que este eacute uma unidade indivisiacutevel

formulou-se apenas para efeitos didaacuteticos no capiacutetulo anteriorum olhar mais

fiacutesico(cognitivo) do desenvolvimento infantil atraveacutes de Piaget Discutir-se-aacute neste

capiacutetulo o ponto de vista Winnicotteano sobre a vida emocional e o brincar

Nos brinquedos cantados a arte de brincar se mistura a arte de cantar e

eacute fazendo ldquoArtesrdquo que a crianccedila dar-se a ver e a crescer A partir deste tema

instigante e universal que eacute o brincar torna-se mais prazeroso ainda falar sobre ele

depois de conhecer os estudos do Drordm Winnicott

D W Winnicott pediatra psicanalista psicoterapeuta inglecircs e defensor

da Ludoterapia nasceu no comeccedilo do seacuteculo 20 produzindo uma vasta obra

cientiacutefica ateacute os anos 70 quando nos deixou Em seu livro ldquoO Brincar e

Realidaderdquo(1975) se preocupou com os primoacuterdios da vida imaginativa da

experiecircncia cultural em todos os sentidos da relaccedilatildeo das artes com o brincar e da

criatividade

Neste momento parece relevante abordar alguns dos conceitos teoacutericos

do DrordmWinnicott atraveacutes da obra mencionada pelo suporte que podem

proporcionar agrave compreensatildeo da vida psiacutequica mediante o brincar e a terapia Em

32

Conceitos e contornos ilustrar-se-aacute o Objeto transicional Fenocircmeno transicional

Matildee suficientemente boa Aacuterea intermediaacuteria e o Eu(Self) circundando a

importacircncia destes conceitos em relaccedilatildeo aos brinquedos cantados e sua aplicaccedilatildeo

na cliacutenica psicomotora

41CONCEITOS E CONTORNOS

Objeto Transicional Eacute o objeto concreto relativo agrave exploraccedilatildeo pulsional (descarga

impulsiva) do sujeito por exemplo uma boneca ou um carrinho

Fenocircmeno Transicional Satildeo as accedilotildees relativas agrave exploraccedilatildeo pulsional ou o uso

que se faz dos objetos transicionais Ex Um carrinho pode ser acalentado como se

fosse um bebecirc

Matildee Suficientemente Boa Pessoa que ocupa o lugar de suporte afetivo no

desenvolvimento global da crianccedila tambeacutem associada por ele a figura do

terapeuta

Em outras palavras o amor da matildee ou do terapeuta

natildeo significaria apenas um atendimento agraves necessidades

da dependecircncia mas vem a significar a concessatildeo

de oportunidades que permita ao bebecirc ou ao paciente

passar da dependecircncia para a autonomia

(Winnicott1975p150)

33

Aacuterea Intermediaacuteria Aacuterea neutra de experimentaccedilatildeo vivencial entre as realidades

internas e externas do sujeito que favorece a dialeacutetica do brincar e das artes O

dito autor parece supor um espaccedilo de refuacutegio para a resoluccedilatildeo dos conflitos

humanos Eis aqui a referecircncia para tal colocaccedilatildeo

Presume-se aqui que a tarefa de aceitaccedilatildeo da realidade

nunca eacute completada que nenhum ser humano estaacute livre

da tensatildeo de relacionar a realidade interna e externa e

que o aliacutevio dessa tensatildeo eacute proporcionado por uma aacuterea

intermediaacuteria de experiecircncia(cf Riviere1936) que natildeo eacute

contestada (artes religiatildeo etc) Essa aacuterea intermediaacuteria

estaacute em continuidade direta com a aacuterea do brincar da

crianccedila pequena que se ldquoperderdquo no brincar

(Winnicottopcitp29)

A princiacutepio eacute difiacutecil falar dos brinquedos cantados como objetos

transicionais (concretos) porque natildeo satildeo exatamente vistos a olhos nus embora

sejam audiacuteveis Todavia qualquer muacutesico pode escrever em uma partitura o

brinquedo cantado (concreto e cantaacutevel) para tornaacute-lo visiacutevel

O ato de cantar uma muacutesica de roda ou um acalanto jaacute eacute a traduccedilatildeo do

fenocircmeno transicional Dar-se-aacute o uso que quiser a este brinquedo cantado no

momento de sua realizaccedilatildeo Se uma muacutesica de ninar for entoada com raiva ou

brutalidade eacute certo que traraacute temores ao bebecirc e natildeo o conforto a que se prestaria

Acalantos com este do ldquobicho papatildeordquo expotildee o perigo e propotildee acolhida pela

proteccedilatildeo materna

34

ldquoBICHO PAPAtildeO(folclore)11

Bicho Papatildeo sai de cima do telhado

Deixe o menino dormir sossegado

O Eu (Self) O Eu (Self) eacute o eu integral descrito por Winnicott(1975) em sua mais

pura essecircncia um eu que nasce na liberdade de expressatildeo na confianccedila baseada

nas experiecircncias vividas no suporte dos sentimentos Para este autor certas

condiccedilotildees se fazem necessaacuterias na busca do Eu (Self) eacute o que se chama de

criatividade A criatividade pode defraglar e sustentar o ser integral

A vida sadia se mostra pelo impulso criativo O brincar eacute um instrumento

da criatividade sediado na ldquoaacuterea intermediaacuteriardquo (entre as artes e o luacutedico)

sustentado em seus primoacuterdios pela ldquomatildee suficientemente boardquo direcionado agrave

busca do ldquoEu (Self) Sobre a importacircncia das cantigas de roda nesta busca

podemos ler as contribuiccedilotildees de Millecco filho e outros (2001p44)

As cantigas de roda datildeo continuidade ao trabalho

de elaboraccedilatildeo de conflitos e agrave estrutura da pessoa

em desenvolvimento iniciado com os acalantos

() A roda aparece como uma representaccedilatildeo da

mandala expressatildeo geomeacutetrica do Self

11 Recolhido atraveacutes da cultura oral

35

A letra da muacutesica infantil ldquoa canoa virourdquo expotildee um problema e supotildee

uma soluccedilatildeo hipoteacutetica

A CANOA VIROU(folclore)12

A canoa virou vou deixar ela virar

Foi por causa da Maria que natildeo soube remar

Ah se eu fosse peixinho e soubesse nadar

Eu tirava a Marialaacute do fundo do mar

A accedilatildeo terapecircutica deve ser um modo de auxiliar uma pessoa a

vir a ser o que ela eacute capaz de ser O psicomotricista atua como facilitador no

desenvolvimento do potencial existente no sujeito Numa maternagem

suficientemente boa como fala Winnicott o psicomotricista relacional torna-se um

companheiro de jornada para as atitudes luacutedicas do seu paciente

As medidas de afeto e limites saudaacuteveis agraves necessidades do outro

devem ser reconhecidas e valorizadas Eacute o que se vecirc nas colocaccedilotildees de Winnicott

(1975p63) ldquoEm outros termos eacute a brincadeira que eacute universal e que eacute proacutepria da

sauacutede o brincar facilita o crescimento e portanto a sauacutede o brincar conduz aos

relacionamentos grupais o brincar pode ser uma forma de comunicaccedilatildeo na

psicoterapia()rdquo

12 MARTINS Armando OPCITp110

36

Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e

estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que

haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila

acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas

Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a

brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre

MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR

VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR

Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o

aprender com a danccedila do outro

ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

13 Recolhido atraveacutes da cultura oral

37

Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons

e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os

brinquedos cantados

5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE

Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma

nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o

corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se

utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia

e da linguumliacutestica

No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua

expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a

existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto

O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que

encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e

motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros

Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando

fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar

gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil

38

ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14

Eacute bom cantar eacute bom ouvir

Eacute bom pensar eacute bom sentir

Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor

Viajar dentro de si pra poder se descobrir

51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE

A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso

meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da

psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu

corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)

O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico

(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes

concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo

ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a

palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas

que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que

quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do

latim Corpusque significa tecido de membros envoltura

da alma embriatildeo do espiacuterito

14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000

39

Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na

Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto

que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo

cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a

motricidade com a inteligecircncia

Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam

em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento

humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o

movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila

De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de

segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio

Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se

no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo

de Guilman

O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num

corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo

toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico

emocional(Levin opcit)

O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor

Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em

movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica

40

psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre

outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da

pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de

Levin(opcit)

Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor

podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor

ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento

Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o

sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem

tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco

podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade

eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)

52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA

A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o

seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins

pedagoacutegicos (Levy2000)

A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se

do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos

transtornos evidenciados (Coste1992)

A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a

41

afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja

o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade

do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting

psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais

uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si

mesmo uma terapiardquo

As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas

psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema

corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade

Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo

estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees

cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito

As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de

algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A

coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar

pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos

dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para

andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes

visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a

existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa

caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc

No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a

42

primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave

vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos

cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas

psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a

expressividade e a emoccedilatildeo

O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas

psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se

confirmar por exemplo para treinar a escrita

As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar

iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da

brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo

dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da

cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas

pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar

Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora

relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de

cada uma delas

43

53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE

Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os

acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte

afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe

o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo

e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do

acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si

mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a

busca do eu (Self)

O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos

cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a

partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes

acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de

interesse da populaccedilatildeo pesquisada

Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil

geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo

continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em

desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza

simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos

conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo

44

As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia

cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o

relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano

infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a

Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda

assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia

oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria

soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo

Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as

com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da

referida estrutura

Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos

integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos

grandes segmentos (Coste1992)

Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro

expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo

corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a

habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa

O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se

movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os

movimentos enquanto observam os amigos

45

BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

Os braccedilos pra cima e pra baixo

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

As pernas pra frente e pra traacutes

Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo

preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo

motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada

diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do

grafismo (Coste1992)

A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas

brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as

palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a

crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos

Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos

fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca

do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes

15 Recolhido atraveacutes da cultura oral

46

das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa

de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas

ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16

123 indiozinhos 456 indiozinhos

789 indiozinhos 10 num pequeno bote

Vinham navegando pelo rio abaixo

Quando o jacareacute se aproximou

E o pequeno bote dos indiozinhos

Quase quase virou quase quase virou

mas natildeo virou

Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo

ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam

internas ou externas (Levin2001)

A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e

apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as

crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do

corpo que deseja mostrar

ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17

Cabeccedila ombro joelho e peacute

Joelho e peacute joelho e peacute

Olhos boca orelha e nariz

Orelha e nariz orelha e nariz

16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral

47

Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O

equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute

relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)

Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de

amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o

personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca

instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma

perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal

traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal

ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca o pandeirotoca como ele soacute

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca violatildeo toca como ele soacute

Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao

tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir

da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do

aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala

dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da

vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza

18 Recolhido atraveacutes da cultura oral

48

Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila

seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um

personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular

correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e

volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem

seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam

ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19

Anda anda anda macaquinho

Anda anda anda sem parar

Pula pula pula macaquinho

Pula pula pula ateacute cansar

Corre corre corre macaquinho

Corre corre corre sem parar

Deita deita deita macaquinho

Deita deita deita dorme ateacute sonhar

Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu

desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e

relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do

mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)

Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira

19 Recolhido atraveacutes da cultura oral

49

traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo

espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a

noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo

vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento

O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e

rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos

de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra

frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente

e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da

roda virem periquitos tambeacutem

Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem

no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras

visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas

ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20

Periquito periquito parece com papa

Periquito periquito parece com papa

Por baixo por cima pra frente e pra traacutes

Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo

ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo

temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a

20 Recolhido atraveacutes da cultura oral

50

estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus

movimentos e se organiza na vida cotidiana

Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo

que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo

humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre

ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos

acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo

A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da

chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo

dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio

ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21

A janelinha fecha quando estaacute chovendo

A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo

Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute

Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute

Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os

centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e

contralaterais (Coste1992)

21 Recolhido atraveacutes da cultura oral

51

A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento

psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e

assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute

organizada e natildeo mudaraacute mais

Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os

peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a

conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo

grupo disposto em roda

ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22

Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora

Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora

Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock

Assim eacute bem melhor

( e assim por diante com as demais partes do corpo)

Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o

modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder

apud Coste(1992)

A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a

organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo

mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do

22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57

52

desejo da matildee

A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan

apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros

tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e

de diferenccedila (ibid)

Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o

ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na

constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo

desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A

psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade

poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A

citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo

O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de

identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria

de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do

lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que

eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim

constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute

poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo

o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)

53

Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia

corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber

possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver

As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a

expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente

Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar

cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de

construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza

pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem

corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter

fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de

cantar danccedilar e brincar

54

ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23

Minha boneca de lata

Bateu com a cabeccedila no chatildeo

Levou mais de uma hora

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui pra ficar boa

Minha boneca de lata

Bateu com o pescoccedilo no chatildeo

Levou mais de duas horas

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui desamassa aqui

Pra ficar boa

Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho

o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do

corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez

horas de arrumaccedilatildeo propostas

23 Recolhido atraveacutes da cultura oral

55

6CONCLUSAtildeO

Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-

se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse

infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar

Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a

relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas

cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo

permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os

estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e

que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo

Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de

winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do

ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos

como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica

Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de

conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos

Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade

que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se

pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos

sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu

ldquoafetordquo

56

Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a

psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir

expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer

Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia

para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a

socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte

aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o

desenvolvimento das estruturas psicomotoras

Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a

essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado

pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando

o prazer de brincar cantar e ser feliz

57

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WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975

Page 12: Brinquedos Cantados Na Psicomotricidade

11

Dos trecircs povos que inicialmente formaram a cultura brasileira o

portuguecircs trouxe maior influecircncia para os brinquedos cantados os quais sofreram

modificaccedilotildees de acordo com a cultura local (Cascudo1988) Diga-se ainda que os

ritmos e danccedilas africanas juntamente com a alegria e marcaccedilatildeo ritmica-corporal

indiacutegena deu um tempero mais brejeiro ao legado luacutedico brasileiro

21BRINCAR

Como sonhar acordado brincar eacute expor-se de dentro para fora traduccedilatildeo

das impressotildees da crianccedila sobre o mundo que a cerca e os seus sentimentos

O brincar se desenvolve junto com o amadurecimento do sujeito as etapas iniciais

vatildeo perdendo o significado para o acreacutescimo do novo modo de explorar cada vez

mais elaborado

Todos os povos tecircm suas brincadeiras pertinentes agraves necessidades

expressivas de cada cultura O tempo se encarrega de transformar suas estruturas

mas eacute certo que as crianccedilas precisam de tempo espaccedilo e companheiros para

brincar

Sheridam (1990) classifica as brincadeiras em ativas exploratoacuterias

manipulativas imitativas construtivas faz-de-conta jogos com regras recreaccedilotildees

sofisticadas Este trabalho prioriza os brinquedos cantados que na praacutetica

psicomotora revelam valores e costumes culturais pontos de referecircncia para a

comunicaccedilatildeo e o relacionamento com o outro Estas manifestaccedilotildees envolvem a

emoccedilatildeo e o movimento que permeados pela muacutesica burlam as defesas e fazem

12

aflorar a essecircncia do ser

Os brinquedos cantados se inserem nas diversas formas de

classificaccedilatildeo pois em face de sua riqueza dinacircmica satildeo brincadeiras ativas

(exChep Chep) imitativas(ex Samba Lecirc Lecirc) construtivas(exA minha velha tem)

priorizam o faz-de-conta conteacutem regras especiacuteficas e vatildeo desde as mais simples

como ldquoAtirei o pau no gatordquo ateacute as mais elaboradas como ldquoA linda rosa juvenilrdquo1

Lapierre e Aucoutourrier (1986p29) pontuaram que ldquoA expressatildeo sonora

estaacute necessariamente ligada agrave relaccedilatildeo com o outrordquo sabe-se que ainda na barriga

da matildee a funccedilatildeo auditiva se instaura no embriatildeo e ele ouve os batimentos

cardiacuteacos dele e da matildee e todo um mundo de sons atraveacutes do liacutequido amnioacutetico

Eacute a relaccedilatildeo com o outro atraveacutes dos sons que situa a crianccedila no espaccedilo no tempo

e no afeto

22 MUSICAR

Segundo Gainza (1988) ldquoa accedilatildeo musical implica num movimento

seja das cordas vocais e do aparelho fonador naquele que fala ou canta seja do

proacuteprio corpordquo No uacuteltimo caso o corpo aparece como instrumento produtor de

som ou se prolonga atraveacutes de um instrumento musical propriamente ditordquo

Sob a oacutetica musical as teorias apontam para as estruturas fiacutesico-sonoras

Encontra-se nestas a formaccedilatildeo de todo contexto musical que eacute igualmente

1 PAIVA Ione Maria R de BRINQUEDOS CANTADOS 1998 p25416383

13

correspondente para os brinquedos cantados Fala-se entatildeo dos elementos

inevitaacuteveis de qualquer muacutesica Ritmo Melodia Harmonia Eis a definiccedilatildeo de

Costa(1989p61) ldquoNuma definiccedilatildeo muito simples muacutesica eacute a organizaccedilatildeo de

relaccedilotildees entre sonoridades simultacircneas ou natildeo no decorrer do tempo Sons e

silecircncios satildeo combinados e encadeados entre si formando ritmos melodias e

harmoniasrdquo

O ritmo eacute basicamente a ordenaccedilatildeo do movimento formando um elo

entre espaccedilo e tempo A melodia eacute uma sequumlecircncia de sons notas musicais graves

e agudas A harmonia eacute a verticalidade ou a simultaneidade dos sons parte mais

intelectualizada da muacutesica(Costa opcit mesma paacutegina)

As muacutesicas infantis em geral acompanham o desenvolvimento afetivo

motor cognitivo e social da crianccedila Observa-se que existem brinquedos cantados

mais simples contendo siacutelabas repetitivas estrutura musical miacutenima e que satildeo

preferidos pelas crianccedilas entre 2 e 3 anos por ex

CAI CAI BALAtildeO(folclore)2

Cai cai balatildeo cai cai balatildeo aqui na minha matildeo

Natildeo vou laacute natildeo vou laacute natildeo vou laacute tenho medo de apanhar

A muacutesica dos brinquedos cantados altera a sensibilidade o humor faz

aflorar a criatividade a expressividade do corpo e da alma revelando as habilidades

e dificuldades da crianccedila se convertendo entatildeo em instrumento de trabalho na

psicomotricidade

2 MARTINS Armando TOQUE VIOLAtildeO OU GUITARRA(meacutetodo praacutetico) 1980p88

14

23MOVIMENTAR

Do choro aos acalantos (muacutesicas de ninar) dos cantos culturais as

brincadeiras-de-roda haacute uma trajetoacuteria que vincula o som da voz ao movimento

corporal conforme afirma Fregtman(1988p17) isto ocorre ldquoporque a muacutesica eacute

feita dita tocada e cantada como manifestaccedilatildeo corporalrdquo

Toda forma de comunicaccedilatildeo se daacute atraveacutes de coacutedigos estabelecidos

linguagens por assim dizer Fregtman (opcit) conceitua a partir da musicoterapia

que trecircs niacuteveis de manifestaccedilatildeo expressiva simultacircneos podem se dar quando

usamos a muacutesica Satildeo eles

1) Linguagem sonora (sons silecircncios entonaccedilotildees melodias ritmos)

2) Linguagem corporal (gestos posturas trejeitos tipos de movimentos)

3) Linguagem verbal (a fala a letra a poesia)

Apenas para efeitos didaacuteticos se consegue separar estes trecircs niacuteveis de

linguagem A linguagem sonora necessariamente traacutes expressotildees corporais

estimula a emoccedilatildeo que se revela atraveacutes dos gestos posturas movimentos voz e

etc A linguagem corporal responde ao chamado verbal ou musical os quais soam

determinados significados simboacutelicos apreendidos nas relaccedilotildees soacutecio-afetivas E

por fim a linguagem verbal eacute inserida para nomear as accedilotildees sejam elas musicais

ou corporais

15

Os brinquedos cantados satildeo tambeacutem conceituados mediante sua aplicaccedilatildeo

em determinadas funccedilotildees na recreaccedilatildeo Os brinquedos cantados podem ser de

marcha de grupos opostos de palmas de roda de ninar ou alternados

Modificaccedilotildees diversas quanto ao andamento (lento moderado raacutepido) agrave formaccedilatildeo

(rodas simples complexas fileiras) e agrave movimentaccedilatildeo dos brinquedos cantados

(marcha roda dramatizaccedilatildeo) satildeo descritas por Leitatildeo(2001)

Neste trabalho prioriza-se os acalantos e as brincadeiras-de-roda tendo

em vista que a populaccedilatildeo estudada crianccedilas de 0 agrave 7 anos podem ser atendidas

em suas necessidades de acolhimento afetivo comunicaccedilatildeo expressiva e

socializaccedilatildeo atraveacutes destes elementos A Simbologia do movimento de Lapierre amp

Aucoutourrier (1986p41) sustenta o nosso pensamento atraveacutes da seguinte

citaccedilatildeo ldquoA muacutesica pode nos ajudar muito a redescobrir essa dimensatildeo do

movimento desde que natildeo seja restringida aos estereotipos da lsquodanccedilarsquo mesmo a

lsquoexpressivarsquo ldquo

ldquoO JACAREacuterdquo (folclore)3

O jacareacute o jacareacute o jacareacute eacute amigo ele eacute

Oi jacareacute oi jacareacute vem caacute cumpadre que a lagoa natildeo daacute peacute

O jacareacute tem os olhos muito grandes tem o rabo muito grande

Mas as pernas satildeo curtinhas

O jacareacute tem a boca muito grande tem os dentes muito grande

mas as pernas satildeo curtinhas

3 Recolhido atraveacutes da cultura oral

16

3O DESENVOLVIMENTO INFANTIL SEGUNDO PIAGET

Para Piaget (2003) o conhecimento eacute o resultado das accedilotildees e

relacionamentos do sujeito com o ambiente em que vive e vai sendo elaborado

desde o nascimento ateacute suas vivecircncias com os objetos pessoas e situaccedilotildees que

procura conhecer sejam elas do mundo fiacutesico ou cultural

Este autor formulou importantes conceitos que explicam o

desenvolvimento das funccedilotildees cognitivas A interaccedilatildeo entre a assimilaccedilatildeo

(informaccedilotildees do mundo exterior recebidas atraveacutes dos sentidos movimento de fora

para dentro) e a acomodaccedilatildeo (informaccedilatildeo processada respostas dadas ao mundo

exterior movimento de dentro para fora) sobre uma accedilatildeo satildeo validadas pelo

processo de equilibraccedilatildeo (Piagetopcit)

As perturbaccedilotildees exteriores se mostram a crianccedila a partir do que ela natildeo

conhece assim oportunizadas pelo processo de equilibraccedilatildeo e por meio de suas

atividades vai respondendo a estas perturbaccedilotildees vencendo a mais uma etapa

cognosciacutevel A equilibraccedilatildeo eacute dinacircmica e nunca cessa ela norteia a passagem de

um conhecimento ao outro(Piaget2003)

Dois outros conceitos Piagetianos satildeo imprescindiacuteveis ao tenro

desenvolvimento infantil e encontra-se nos brinquedos cantados uma forma

espontacircnea de vivenciaacute-los A Imitaccedilatildeo e a noccedilatildeo de Permanecircncia do Objeto

17

Imitaccedilatildeo Eacute na gecircnese da imitaccedilatildeo que inicia o movimento luacutedico da crianccedila

Imitando o meio e as pessoas ao seu redor a crianccedila apreende e treina suas novas

aquisiccedilotildees Ferreira I(1994 p47) afirma que ldquoA imitaccedilatildeo eacute uma das manifestaccedilotildees

da funccedilatildeo simboacutelica Constitui-se num dos elementos baacutesicos que permitem a

crianccedila uma assimilaccedilatildeo de realidade ao seu proacuteprio ldquoeurdquo bem como Acomodaccedilatildeo

de suas estruturas mentais e de accedilatildeo agraves exigecircncias da realidade fiacutesica e socialrdquo

Para haver o ato imitativo eacute necessaacuterio um modelo Alguns brinquedos

cantados propotildeem accedilotildees simboacutelicas que copiam o mundo adulto sem impor aos

pequenos o fardo da responsabilidade que este teria na realidade Eis um exemplo

interessante onde as crianccedilas imitam os afazeres dos mais velhos

PASSA PASSA GAVIAtildeO(folclore)4

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

As lavadeiras fazem assim

Assim assim assim assim

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

As passadeiras fazem assim

Assim assim assim assim

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

As cozinheiras fazem assim assim assim

Assim assado carne seca com ensopado

4 Recolhido atraveacutes da cultura oral

18

Objeto permanente Nos primeiros dois anos de vida a crianccedila apresenta um

comportamento em constante adaptaccedilatildeo pois estaacute sempre se modificando para

responder aos estiacutemulos do meio A crianccedila inicialmente natildeo tem noccedilatildeo da

permanecircncia dos objetos ela pensa que eles soacute existem enquanto estatildeo ao

alcance dos seus olhos caso sejam escondidos a sua frente acharaacute que estes

acabaram ou se desintegraram Entre os 18 e 24 meses a crianccedila jaacute consegue

elaborar mais este conhecimento e apesar de natildeo vecirc-lo ouvi-lo ou tocaacute-lo ela vai

compreender que os objetos independem da sua vontade e presenccedila para

existirem

Para melhor apreensatildeo da realidade fiacutesica a praacutetica pelo ensaio e erro ou

aparecer desaparecer vatildeo treinar e orientar os pequenos na aquisiccedilatildeo das noccedilotildees

de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo da realidade como

afirma FerreiraI(1994p35) ldquoO esquema do objeto permanente eacute baacutesico para a

construccedilatildeo das noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidaderdquo

Observe que as crianccedilas nesta fase gostam das brincadeiras de

esconde-esconde que amenizam suas anguacutestias sobre a existecircncia ou natildeo dos

objetos reais Seu proacuteprio corpo eacute posto agrave prova escondendo o rosto ou as matildeos

atraacutes de uma almofada por exemplo A muacutesica das palminhas talvez possa auxiliar

nesta etapa

19

PALMINHAS PALMINHAS (folclore)5

Palminhas palminhas nos vamos bater

Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconder

Em cima em cima noacutes vamos bater

Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconde

Assim assim pra traacutes esconder

Em baixo em baixo noacutes vamos bate

Depois as matildeozinhas pra traacutes esconde

Assim assim pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconder

Os conceitos estudados ateacute aqui se realizam dentro dos estaacutegios do

desenvolvimento organizados por Piaget Passar-se-aacute neste momento agrave elucidaccedilatildeo

dos estaacutegios pertinentes agrave faixa etaacuteria da populaccedilatildeo pesquisada nesta monografia

estaacutegios Sensoacuterio-motor e Preacute-operacional

31ESTAacuteGIO SENSOacuteRIO MOTOR (0 agrave 2 anos) Estaacutegio que vai do nascimento

ateacute a aquisiccedilatildeo da linguagem e eacute dividido em 6 sub estaacutegios Esta eacute a fase do

comportamento inteligente antes da aquisiccedilatildeo da linguagem a crianccedila organiza a

informaccedilatildeo obtida atraveacutes dos sentidos e desenvolve respostas aos estiacutemulos

5 Recolhido atraveacutes da cultura oral

20

ambientais com comportamento adaptativo e constante modificaccedilotildees dos

esquemas de accedilatildeo em resposta ao meio A aquisiccedilatildeo mais importante deste

periacuteodo eacute o Objeto Permanente Manifesta-se ainda a imitaccedilatildeo que alcanccedilaraacute o

seu auge no proacuteximo estaacutegio

1ordm Sub Estaacutegio ndash Exerciacutecio dos reflexos (0 a 1 mecircs) Do alto da sua imaturidade

bioloacutegica a crianccedila se relaciona com o meio atraveacutes dos movimentos reflexos

hereditaacuterios que se aprimoram pelo exerciacutecio tornando-se cada vez mais

eficientes Ainda natildeo haacute a distinccedilatildeo entre o eu e o outro

2ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular primaacuteria (1 a 4 meses)Esta eacute a fase das

primeiras acomodaccedilotildees onde os exerciacutecios reflexos se transformam em esquemas

e comeccedilam a coordenar seus movimentos Inicia-se a construccedilatildeo dos primeiros

esquemas vocais A noccedilatildeo de tempo eacute primitiva sua duraccedilatildeo soacute eacute sentida no

decorrer da proacutepria accedilatildeo O final do periacuteodo eacute marcado pela coordenaccedilatildeo entre trecircs

esquemas fundamentais audiccedilatildeo fonaccedilatildeo e visatildeo

3ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular secundaacuteria (4 a 8 meses) O bebecirc apresenta

um maior interesse pelo mundo externo os esquemas se diferenciam surgindo

novos esquemas de coordenaccedilatildeo viso-motora unindo-se as aquisiccedilotildees jaacute

realizadas Os movimentos comeccedilam a ser repetido pelo prazer da repeticcedilatildeo

Observa-se o iniacutecio da noccedilatildeo do Objeto Permanente entretanto ela estaacute

condicionada ao movimento da crianccedila pois as coisas ainda natildeo seguem uma

trajetoacuteria independente

21

4ordm Sub Estaacutegio ndash Coordenaccedilatildeo de esquemas secundaacuterios (8 a 12 meses)

Caracteriza-se pelas primeiras condutas propriamente inteligentes surgindo

adaptaccedilotildees sensoacuterio-motoras intencionais onde o bebecirc combina esquemas

conhecidos a novas situaccedilotildees e ainda diferencia os meios e os fins de uma accedilatildeo

Aparece nesta fase o comportamento antecipatoacuterio caso o bebecirc veja sua matildee se

afastar chora a imitaccedilatildeo de sons e accedilotildees satildeo agora intencionais e

conscientizadas no entanto ainda condicionadas ao esquema visual Revelam-se

os primoacuterdios da memoacuteria e da representaccedilatildeo mental Comeccedila a permanecircncia do

objeto independente do ldquoeurdquo Quanto agrave noccedilatildeo de espaccedilo e tempo a crianccedila

comeccedila a ordenar os proacuteprios deslocamentos em relaccedilatildeo aos objetos

5ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular terciaacuteria (12 a 18 meses) A crianccedila gradua

seus movimentos varia e experimenta novos padrotildees de comportamento

observando os diferentes efeitos da sua accedilatildeo sobre o objeto o qual jaacute eacute dotado de

permanecircncia Pode-se afirmar que o mecanismo da inteligecircncia praacutetica estaacute

definitivamente constituiacutedo A cada estruturaccedilatildeo da inteligecircncia corresponde uma

nova estruturaccedilatildeo do espaccedilo do tempo da causalidade etc Agindo por ldquoensaio e

errordquo os resultados das accedilotildees ainda satildeo por acaso pois as representaccedilotildees

mentais de fatos externos ainda natildeo se incluem ou seja o pensamento ainda natildeo

estaacute formado

22

6ordm Sub Estaacutegio ndash A invenccedilatildeo dos novos meios por combinaccedilatildeo

mental (18 a 24 meses) Esta fase caracteriza o momento de transiccedilatildeo entre a

inteligecircncia praacutetica (sensoacuterio-motora) e a inteligecircncia representativa quando

comeccedila a funccedilatildeo simboacutelica Inicia-se a representaccedilatildeo mental imaginativa e criativa

No jogo simboacutelico a crianccedila usa siacutembolos na linguagem e na brincadeira do faz-deshy

conta recorda-se de fatos passados e os representa depois de algum tempo O

final deste periacuteodo eacute marcado pela primeira noccedilatildeo de conservaccedilatildeo(FerreiraI1994)

Os primeiros anos de vida da crianccedila satildeo marcados pelas inuacutemeras

formaccedilotildees e transformaccedilotildees fiacutesicas mentais e emocionais conforme descritas

acima Os acalantos (muacutesicas de ninar) satildeo cantados por matildees de todo o mundo

numa primeira inserccedilatildeo da crianccedila ao universo musical de sua cultura Eles

exercem um poderoso papel de auxiacutelio agrave maternagem acolhendo-a afetuosamente

condiccedilatildeo baacutesica para que a crianccedila se sinta suficientemente amada para

prosseguir desenvolvendo-se Este tema seraacute melhor explanado nos proacuteximos

capiacutetulos Por hora parece oportuno um exemplo de acalanto

TUTU MARAMBAacute(folclore)6

Tutu marambaacute

Natildeo venha mais caacute

Que o pai do menino

Te manda mata

6 MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute PRECISO CANTAR Musicoterapia cantos e canccedilotildees2001p38

23

32ESTAacuteGIO PREacute-OPERACIONAL (2 agrave 7 anos) A crianccedila vive um tempo em que

usa a intuiccedilatildeo ela passa todos os seus atos para o pensamento sob a forma de

imagens e diante de uma situaccedilatildeo praacutetica suas respostas vatildeo se basear no que

ela vecirc sente mexe ou seja nas aparecircncias dos fatos que observa A crianccedila

possui a capacidade de representar uma coisa por outra e esta representaccedilatildeo

pode se dar por um gesto um desenho uma palavra etc A verbalizaccedilatildeo tem

destaque neste periacuteodo e a linguagem conduz agrave socializaccedilatildeo das accedilotildees Este

estaacutegio compreende duas formas de pensamento a saber O Pensamento

Simboacutelico e o Pensamento Intuitivo

Pensamento simboacutelico (2 agrave 4 anos) Para Piaget a funccedilatildeo simboacutelica consiste na

capacidade da crianccedila representar objetos e fatos conhecidos poreacutem ausentes por

um substituto qualquer seja este concreto ou imaginaacuterio Uma caracteriacutestica

fundamental desta fase eacute a diferenciaccedilatildeo entre significante e significado que eacute

manifestada por vaacuterias condutas sendo elas O jogo simboacutelico ou faz-de-conta a

imitaccedilatildeo o desenho a imagem mental a linguagem a criatividade etc Para

ldquosignificanterdquo leia-se objeto concreto e para ldquosignificadordquo a ideacuteia compreensiva do

que foi percebido (Piaget 2003)

Sobre a funccedilatildeo simboacutelica FerreiraI(1994p43) complementa ldquoA funccedilatildeo

simboacutelica pode ser considerada uma linguagem individual e particular da crianccedila

usada para compreender e representar o mundo O siacutembolo eacute subjetivo e aos

poucos vai sendo substituiacutedo por signos da linguagem socialrdquo

24

O pensamento infantil encontrado entre os 2 e 7 anos de idade eacute

egocentrado A visatildeo da realidade eacute centrada no ponto de vista do proacuteprio sujeito

sendo este incapaz de relacionaacute-lo ou de coordenaacute-lo a pontos de vistas diferentes

do seu

A aquisiccedilatildeo da linguagem tem destaque nesta fase e coincide com a

formaccedilatildeo do jogo simboacutelico que melhor se manifesta no jogo do faz-de-conta

Atraveacutes do que discute Ferreira I (1994p43) ldquoOs siacutembolos podem ser

socializados como os brinquedos coletivos e se tornar um siacutembolo coletivordquo

confirma-se mais uma vez que os estes elementos apresentam extrema valorizaccedilatildeo

soacutecio-afetiva e cultural Com a ludicidade que lhe eacute peculiar os brinquedos

cantados nesta fase encantam ensinam desenvolvem a memoacuteria a auto estima

o esquema corporal a imagem corporal a Coordenaccedilatildeo Motora a socializaccedilatildeo

entre outras funccedilotildees essenciais agrave formaccedilatildeo dos pequenos Eis um bom exemplo

O GIGANTE E O ANAtildeO(autor desconhecido)7

O peacute do gigante eacute grande

Do anatildeo pequenininho

O gigante pisa forte

O anatildeo pisa mansinho

O gigante fala grosso

O anatildeo fala fininho

Porque gigante come muito

E o anatildeo come pouquinho

7 Recolhido atraveacutes da cultura oral

25

Pensamento Intuitivo (4 agrave 7 anos) Subdividido em Intuitivo Simples e Intuitivo

Articulado eacute um estaacutegio marcado pela crescente formaccedilatildeo de conceitos O

pensamento intuitivo eacute uma espeacutecie de accedilatildeo executada em pensamento encaixar

seriar deslocar etc

A crianccedila no intuitivo simples representa mentalmente assimila e entende

o mundo real poreacutem de forma limitada pois soacute consegue coordenar um uacutenico

ponto de vista com base nas aparecircncias do que vecirc Centrado em si mesmo natildeo

admite a reversibilidade falta-lhe ainda a noccedilatildeo de conservaccedilatildeo das substacircncias

Quando se pede agrave crianccedila para desenhar ela desenha o que sabe e natildeo

o que vecirc Este egocentrismo que lhe eacute peculiar deveraacute evoluir para a

descentraccedilatildeo bem como haveraacute progressos nas diversas etapas cognitivas

(classificar seriar etc) Ao final do pensamento intuitivo articulado a crianccedila

comeccedila a levantar duacutevidas e questionamentos percebendo a mobilidade das

situaccedilotildees

ldquoA BARATArdquo(folclore)8

A barata diz que tem 7 saias de filoacute

Eacute mentira da barata ela tem eacute uma soacute

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute

A barata diz que tem um anel de formatura

Eacute mentira da barata ela tem eacute casca dura

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura

8 PAIVA Ione Maria R de OPCITp80

26

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura

A barata diz que dorme numa cama de cetim

Eacute mentira da barata ela dorme eacute no capim

Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim

Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim

Na muacutesica da barata as crianccedilas ironizam a tentativa de mentir deste

inseto A propoacutesito das ldquomentirinhasrdquo contidas nas brincadeiras infantis funcionam

como passaporte para a experimentaccedilatildeo do que eacute verdadeiro e real As palavras

de cascudo(1988p491) discorrem sobre os deslimites da mentira ldquoAs estoacuterias

mentirosas() satildeo muito populares e constituem um gecircnero especial onde a

imaginaccedilatildeo exagerada e livre se liberta dos limites da loacutegicardquo Acredita-se que as

crianccedilas exigem a verdade para terem o domiacutenio do que aprendem

33OS JOGOS POR PIAGET

ldquoPiaget vecirc no jogo um processo de ajuda ao desenvolvimento da crianccedila

acompanha-a sendo ao mesmo tempo uma atividade consequumlente de seu proacuteprio

crescimentordquo(Negrine1994p45) A leitura dos jogos em Piaget acompanha o

desenvolvimento integral do homem a inteligecircncia a afetividade a motricidade e a

sociabilidade satildeo vivenciadas nos jogos sendo a afetividade a funccedilatildeo que constitui

a energia necessaacuteria para a progressatildeo psiacutequica moral intelectual e motora

daquele que joga

Trecircs classificaccedilotildees baacutesicas do jogo satildeo mostradas na teoria

27

psicogeneacutetica de Piaget Jogos de exerciacutecio Jogos simboacutelicos e jogos de regra

Jogos de Exerciacutecio Ou jogos sensoacuterio-motores que aparecem no periacuteodo do

mesmo nome natildeo chegam a constituir sistemas luacutedicos independentes e

construtivos Sua motivaccedilatildeo se daacute pelo prazer funcional ou pelo prazer produzido

pela tomada de consciecircncia de suas novas capacidades

Os jogos motores ou de exerciacutecios satildeo aqueles que envolvem

diretamente a participaccedilatildeo ativa do corpo como um todo inclui-se ainda os jogos

sensoriais que ajudam a desenvolver os oacutergatildeos dos sentidos

A crianccedila nesta fase gosta de brincar com brinquedos que manipula

repetidas vezes explorando toda sua superfiacutecie Brincar de esconder o rosto ou os

objetos atirar e pegar brinquedos eacute prazeroso para a crianccedila ao mesmo tempo

que assimila as noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo

da realidade

Os estiacutemulos sensoriais tambeacutem fazem parte do seu interesse objetos

de diversas cores e texturas brinquedos sonoros muacutesica para ouvir acalentar

danccedilar e brincar desta forma explora o reconhecimento do eu do outro e dos

objetos

O jogo de exerciacutecio eacute o primeiro a aparecer no comportamento da

crianccedila explicitamente do 2ordm ao 5ordm estaacutegio do desenvolvimento sensoacuterio motor por

oposiccedilatildeo ao 6ordm estaacutegio onde se inicia o jogo simboacutelico(Negrine 1994)

28

ATIREI O PAU NO GATO(Folclore)9

Atirei o pau no ga-to-to mas o ga-to-to

Natildeo morreu- rreu- rreu dona chica-ca-ca

Admirou- se se do berro do berro

Do berro que o gato deu Miau

Jogos Simboacutelicos Em princiacutepio do ponto de vista de Piaget a diferenccedila entre os

jogos simboacutelicos e os de exerciacutecio intelectual consiste em que os primeiros se

referem ao pensamento

Os jogos simboacutelicos tem iniacutecio no 6ordm estaacutegio do periacuteodo sensoacuterio-motor

e se continua aproximadamente dos 2 aos 4 anos de idade cronoloacutegica ou do 1ordm

estaacutegio do preacute-operacional(fase simboacutelica) ateacute o iniacutecio do 2ordm estaacutegio do preacuteshy

operacional(fase intuitiva) Piaget apud Negrine(1994p41) deixa claro a

supremacia dos jogos simboacutelicos em detrimento dos anteriores

ldquoO esquema simboacutelico por si mesmo eacute suficiente para

assegurar a superioridade da representaccedilatildeo sobre

uma accedilatildeo pura nesta segundo Piaget o jogo

permite assimilar o mundo exterior ao eu como meio

infinitamente mais poderoso que o de simples exerciacuteciordquo

Como aparecem antes da linguagem verbal propriamente dita os jogos

simboacutelicos satildeo representados nas imagens mentais da crianccedila e vivenciados

atraveacutes dos gestos onomatopeacuteias pelo prazer de brincar com o faz-de-conta

9 MILLLECCO FILHO Luiacutes A e outros OPCIT p43

29

Nesta fase os acalantos vatildeo perdendo sua importacircncia dando lugar agraves

brincadeiras-de-roda os pequenos ao mesmo tempo em que aprendem a falar

aprendem a cantar as brincadeiras-de-roda tem a propriedade de enriquecerem o

repertoacuterio de palavras e movimentos

Jogos de Regras Os jogos de regras natildeo seguem o mesmo itineraacuterio dos

anteriores pois comeccedilam a aparecer na metade do 2ordm estaacutegio do periacuteodo preacuteshy

operacional isto eacute dos 4 aos 7 anos e principalmente no periacuteodo das operaccedilotildees

concretas dos 7 aos 12 anos Pesquisaremos como ocorrem os jogos de regra ateacute

os 7 anos pela delimitaccedilatildeo da populaccedilatildeo que esta monografia abrange

Dos 4 aos 7 anos periacuteodo preacute operacional intuitivo surgem os jogos de

regra que substituiratildeo o siacutembolo e enquadraratildeo o exerciacutecio no momento em que se

constituem de forma incipiente certas relaccedilotildees sociais(Piaget2003)

Com relaccedilatildeo as regras segundo Piaget apud Negrine

(1994p44)distinguem-se dois tipos transmitidas e espontacircneas As regras

transmitidas se referem aos jogos institucionais que se impotildeem por pressatildeo das

geraccedilotildees anteriores As espontacircneas se referem aos jogos de natureza contratual e

momentacircnea isto eacute procedem da socializaccedilatildeo dos jogos de simples exerciacutecios ou

dos simboacutelicos

30

Na cantiga de roda ldquoCiranda cirandinhardquo destaca-se o desenvolvimento

da roda e ao final as regras uma imposta (entrar na roda e dizer um verso) outra

espontacircnea (serve qualquer verso criado na hora ou jaacute existente) Outra versatildeo

desta mesma cantiga para crianccedilas menores pede ldquofaccedila um gesto bem bonito

diga adeus e vaacute se emborardquo A liberdade de criar um gesto verso a importacircncia de

estar no meio da roda como centro das atenccedilotildees e a valorizaccedilatildeo dos

companheiros satildeo o impulso para a espontaneidade e o crescimento da autonomia

do ser

CIRANDA CIRANDINHA(folclore)10

Ciranda cirandinha vamos todos cirandar

Vamos dar a meia volta volta e meia vamos dar

o anel que tu me destes era vidro e se quebrou

o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou

Por isto sinhaacute Maria entre dentro desta roda

Diga um verso bem bonito diga adeus e vaacute se embora

Os conceitos estudados neste capiacutetulo podem orientar sobre o tempo

mental da crianccedila e a possibilidade de oferecer estiacutemulos adequados ao seu

momento Como uma boa buacutessola natildeo conteacutem apenas o norte

10 MARTINS Armando OPCITp105

31

4O BRINCAR E A REALIDADE WINNICOTTEANA

A partir da premissa de que natildeo se pode dividir o ser humano em

classificaccedilotildees bioloacutegicas e psiacutequicas posto que este eacute uma unidade indivisiacutevel

formulou-se apenas para efeitos didaacuteticos no capiacutetulo anteriorum olhar mais

fiacutesico(cognitivo) do desenvolvimento infantil atraveacutes de Piaget Discutir-se-aacute neste

capiacutetulo o ponto de vista Winnicotteano sobre a vida emocional e o brincar

Nos brinquedos cantados a arte de brincar se mistura a arte de cantar e

eacute fazendo ldquoArtesrdquo que a crianccedila dar-se a ver e a crescer A partir deste tema

instigante e universal que eacute o brincar torna-se mais prazeroso ainda falar sobre ele

depois de conhecer os estudos do Drordm Winnicott

D W Winnicott pediatra psicanalista psicoterapeuta inglecircs e defensor

da Ludoterapia nasceu no comeccedilo do seacuteculo 20 produzindo uma vasta obra

cientiacutefica ateacute os anos 70 quando nos deixou Em seu livro ldquoO Brincar e

Realidaderdquo(1975) se preocupou com os primoacuterdios da vida imaginativa da

experiecircncia cultural em todos os sentidos da relaccedilatildeo das artes com o brincar e da

criatividade

Neste momento parece relevante abordar alguns dos conceitos teoacutericos

do DrordmWinnicott atraveacutes da obra mencionada pelo suporte que podem

proporcionar agrave compreensatildeo da vida psiacutequica mediante o brincar e a terapia Em

32

Conceitos e contornos ilustrar-se-aacute o Objeto transicional Fenocircmeno transicional

Matildee suficientemente boa Aacuterea intermediaacuteria e o Eu(Self) circundando a

importacircncia destes conceitos em relaccedilatildeo aos brinquedos cantados e sua aplicaccedilatildeo

na cliacutenica psicomotora

41CONCEITOS E CONTORNOS

Objeto Transicional Eacute o objeto concreto relativo agrave exploraccedilatildeo pulsional (descarga

impulsiva) do sujeito por exemplo uma boneca ou um carrinho

Fenocircmeno Transicional Satildeo as accedilotildees relativas agrave exploraccedilatildeo pulsional ou o uso

que se faz dos objetos transicionais Ex Um carrinho pode ser acalentado como se

fosse um bebecirc

Matildee Suficientemente Boa Pessoa que ocupa o lugar de suporte afetivo no

desenvolvimento global da crianccedila tambeacutem associada por ele a figura do

terapeuta

Em outras palavras o amor da matildee ou do terapeuta

natildeo significaria apenas um atendimento agraves necessidades

da dependecircncia mas vem a significar a concessatildeo

de oportunidades que permita ao bebecirc ou ao paciente

passar da dependecircncia para a autonomia

(Winnicott1975p150)

33

Aacuterea Intermediaacuteria Aacuterea neutra de experimentaccedilatildeo vivencial entre as realidades

internas e externas do sujeito que favorece a dialeacutetica do brincar e das artes O

dito autor parece supor um espaccedilo de refuacutegio para a resoluccedilatildeo dos conflitos

humanos Eis aqui a referecircncia para tal colocaccedilatildeo

Presume-se aqui que a tarefa de aceitaccedilatildeo da realidade

nunca eacute completada que nenhum ser humano estaacute livre

da tensatildeo de relacionar a realidade interna e externa e

que o aliacutevio dessa tensatildeo eacute proporcionado por uma aacuterea

intermediaacuteria de experiecircncia(cf Riviere1936) que natildeo eacute

contestada (artes religiatildeo etc) Essa aacuterea intermediaacuteria

estaacute em continuidade direta com a aacuterea do brincar da

crianccedila pequena que se ldquoperderdquo no brincar

(Winnicottopcitp29)

A princiacutepio eacute difiacutecil falar dos brinquedos cantados como objetos

transicionais (concretos) porque natildeo satildeo exatamente vistos a olhos nus embora

sejam audiacuteveis Todavia qualquer muacutesico pode escrever em uma partitura o

brinquedo cantado (concreto e cantaacutevel) para tornaacute-lo visiacutevel

O ato de cantar uma muacutesica de roda ou um acalanto jaacute eacute a traduccedilatildeo do

fenocircmeno transicional Dar-se-aacute o uso que quiser a este brinquedo cantado no

momento de sua realizaccedilatildeo Se uma muacutesica de ninar for entoada com raiva ou

brutalidade eacute certo que traraacute temores ao bebecirc e natildeo o conforto a que se prestaria

Acalantos com este do ldquobicho papatildeordquo expotildee o perigo e propotildee acolhida pela

proteccedilatildeo materna

34

ldquoBICHO PAPAtildeO(folclore)11

Bicho Papatildeo sai de cima do telhado

Deixe o menino dormir sossegado

O Eu (Self) O Eu (Self) eacute o eu integral descrito por Winnicott(1975) em sua mais

pura essecircncia um eu que nasce na liberdade de expressatildeo na confianccedila baseada

nas experiecircncias vividas no suporte dos sentimentos Para este autor certas

condiccedilotildees se fazem necessaacuterias na busca do Eu (Self) eacute o que se chama de

criatividade A criatividade pode defraglar e sustentar o ser integral

A vida sadia se mostra pelo impulso criativo O brincar eacute um instrumento

da criatividade sediado na ldquoaacuterea intermediaacuteriardquo (entre as artes e o luacutedico)

sustentado em seus primoacuterdios pela ldquomatildee suficientemente boardquo direcionado agrave

busca do ldquoEu (Self) Sobre a importacircncia das cantigas de roda nesta busca

podemos ler as contribuiccedilotildees de Millecco filho e outros (2001p44)

As cantigas de roda datildeo continuidade ao trabalho

de elaboraccedilatildeo de conflitos e agrave estrutura da pessoa

em desenvolvimento iniciado com os acalantos

() A roda aparece como uma representaccedilatildeo da

mandala expressatildeo geomeacutetrica do Self

11 Recolhido atraveacutes da cultura oral

35

A letra da muacutesica infantil ldquoa canoa virourdquo expotildee um problema e supotildee

uma soluccedilatildeo hipoteacutetica

A CANOA VIROU(folclore)12

A canoa virou vou deixar ela virar

Foi por causa da Maria que natildeo soube remar

Ah se eu fosse peixinho e soubesse nadar

Eu tirava a Marialaacute do fundo do mar

A accedilatildeo terapecircutica deve ser um modo de auxiliar uma pessoa a

vir a ser o que ela eacute capaz de ser O psicomotricista atua como facilitador no

desenvolvimento do potencial existente no sujeito Numa maternagem

suficientemente boa como fala Winnicott o psicomotricista relacional torna-se um

companheiro de jornada para as atitudes luacutedicas do seu paciente

As medidas de afeto e limites saudaacuteveis agraves necessidades do outro

devem ser reconhecidas e valorizadas Eacute o que se vecirc nas colocaccedilotildees de Winnicott

(1975p63) ldquoEm outros termos eacute a brincadeira que eacute universal e que eacute proacutepria da

sauacutede o brincar facilita o crescimento e portanto a sauacutede o brincar conduz aos

relacionamentos grupais o brincar pode ser uma forma de comunicaccedilatildeo na

psicoterapia()rdquo

12 MARTINS Armando OPCITp110

36

Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e

estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que

haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila

acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas

Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a

brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre

MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR

VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR

Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o

aprender com a danccedila do outro

ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

13 Recolhido atraveacutes da cultura oral

37

Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons

e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os

brinquedos cantados

5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE

Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma

nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o

corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se

utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia

e da linguumliacutestica

No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua

expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a

existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto

O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que

encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e

motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros

Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando

fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar

gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil

38

ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14

Eacute bom cantar eacute bom ouvir

Eacute bom pensar eacute bom sentir

Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor

Viajar dentro de si pra poder se descobrir

51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE

A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso

meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da

psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu

corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)

O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico

(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes

concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo

ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a

palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas

que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que

quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do

latim Corpusque significa tecido de membros envoltura

da alma embriatildeo do espiacuterito

14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000

39

Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na

Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto

que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo

cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a

motricidade com a inteligecircncia

Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam

em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento

humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o

movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila

De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de

segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio

Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se

no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo

de Guilman

O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num

corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo

toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico

emocional(Levin opcit)

O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor

Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em

movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica

40

psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre

outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da

pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de

Levin(opcit)

Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor

podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor

ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento

Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o

sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem

tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco

podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade

eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)

52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA

A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o

seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins

pedagoacutegicos (Levy2000)

A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se

do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos

transtornos evidenciados (Coste1992)

A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a

41

afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja

o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade

do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting

psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais

uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si

mesmo uma terapiardquo

As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas

psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema

corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade

Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo

estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees

cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito

As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de

algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A

coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar

pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos

dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para

andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes

visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a

existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa

caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc

No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a

42

primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave

vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos

cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas

psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a

expressividade e a emoccedilatildeo

O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas

psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se

confirmar por exemplo para treinar a escrita

As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar

iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da

brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo

dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da

cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas

pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar

Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora

relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de

cada uma delas

43

53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE

Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os

acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte

afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe

o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo

e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do

acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si

mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a

busca do eu (Self)

O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos

cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a

partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes

acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de

interesse da populaccedilatildeo pesquisada

Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil

geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo

continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em

desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza

simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos

conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo

44

As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia

cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o

relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano

infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a

Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda

assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia

oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria

soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo

Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as

com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da

referida estrutura

Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos

integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos

grandes segmentos (Coste1992)

Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro

expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo

corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a

habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa

O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se

movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os

movimentos enquanto observam os amigos

45

BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

Os braccedilos pra cima e pra baixo

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

As pernas pra frente e pra traacutes

Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo

preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo

motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada

diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do

grafismo (Coste1992)

A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas

brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as

palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a

crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos

Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos

fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca

do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes

15 Recolhido atraveacutes da cultura oral

46

das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa

de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas

ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16

123 indiozinhos 456 indiozinhos

789 indiozinhos 10 num pequeno bote

Vinham navegando pelo rio abaixo

Quando o jacareacute se aproximou

E o pequeno bote dos indiozinhos

Quase quase virou quase quase virou

mas natildeo virou

Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo

ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam

internas ou externas (Levin2001)

A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e

apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as

crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do

corpo que deseja mostrar

ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17

Cabeccedila ombro joelho e peacute

Joelho e peacute joelho e peacute

Olhos boca orelha e nariz

Orelha e nariz orelha e nariz

16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral

47

Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O

equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute

relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)

Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de

amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o

personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca

instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma

perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal

traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal

ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca o pandeirotoca como ele soacute

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca violatildeo toca como ele soacute

Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao

tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir

da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do

aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala

dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da

vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza

18 Recolhido atraveacutes da cultura oral

48

Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila

seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um

personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular

correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e

volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem

seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam

ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19

Anda anda anda macaquinho

Anda anda anda sem parar

Pula pula pula macaquinho

Pula pula pula ateacute cansar

Corre corre corre macaquinho

Corre corre corre sem parar

Deita deita deita macaquinho

Deita deita deita dorme ateacute sonhar

Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu

desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e

relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do

mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)

Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira

19 Recolhido atraveacutes da cultura oral

49

traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo

espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a

noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo

vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento

O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e

rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos

de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra

frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente

e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da

roda virem periquitos tambeacutem

Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem

no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras

visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas

ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20

Periquito periquito parece com papa

Periquito periquito parece com papa

Por baixo por cima pra frente e pra traacutes

Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo

ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo

temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a

20 Recolhido atraveacutes da cultura oral

50

estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus

movimentos e se organiza na vida cotidiana

Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo

que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo

humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre

ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos

acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo

A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da

chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo

dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio

ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21

A janelinha fecha quando estaacute chovendo

A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo

Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute

Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute

Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os

centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e

contralaterais (Coste1992)

21 Recolhido atraveacutes da cultura oral

51

A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento

psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e

assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute

organizada e natildeo mudaraacute mais

Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os

peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a

conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo

grupo disposto em roda

ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22

Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora

Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora

Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock

Assim eacute bem melhor

( e assim por diante com as demais partes do corpo)

Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o

modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder

apud Coste(1992)

A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a

organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo

mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do

22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57

52

desejo da matildee

A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan

apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros

tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e

de diferenccedila (ibid)

Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o

ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na

constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo

desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A

psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade

poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A

citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo

O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de

identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria

de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do

lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que

eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim

constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute

poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo

o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)

53

Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia

corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber

possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver

As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a

expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente

Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar

cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de

construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza

pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem

corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter

fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de

cantar danccedilar e brincar

54

ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23

Minha boneca de lata

Bateu com a cabeccedila no chatildeo

Levou mais de uma hora

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui pra ficar boa

Minha boneca de lata

Bateu com o pescoccedilo no chatildeo

Levou mais de duas horas

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui desamassa aqui

Pra ficar boa

Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho

o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do

corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez

horas de arrumaccedilatildeo propostas

23 Recolhido atraveacutes da cultura oral

55

6CONCLUSAtildeO

Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-

se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse

infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar

Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a

relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas

cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo

permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os

estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e

que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo

Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de

winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do

ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos

como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica

Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de

conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos

Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade

que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se

pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos

sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu

ldquoafetordquo

56

Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a

psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir

expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer

Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia

para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a

socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte

aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o

desenvolvimento das estruturas psicomotoras

Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a

essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado

pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando

o prazer de brincar cantar e ser feliz

57

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WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975

Page 13: Brinquedos Cantados Na Psicomotricidade

12

aflorar a essecircncia do ser

Os brinquedos cantados se inserem nas diversas formas de

classificaccedilatildeo pois em face de sua riqueza dinacircmica satildeo brincadeiras ativas

(exChep Chep) imitativas(ex Samba Lecirc Lecirc) construtivas(exA minha velha tem)

priorizam o faz-de-conta conteacutem regras especiacuteficas e vatildeo desde as mais simples

como ldquoAtirei o pau no gatordquo ateacute as mais elaboradas como ldquoA linda rosa juvenilrdquo1

Lapierre e Aucoutourrier (1986p29) pontuaram que ldquoA expressatildeo sonora

estaacute necessariamente ligada agrave relaccedilatildeo com o outrordquo sabe-se que ainda na barriga

da matildee a funccedilatildeo auditiva se instaura no embriatildeo e ele ouve os batimentos

cardiacuteacos dele e da matildee e todo um mundo de sons atraveacutes do liacutequido amnioacutetico

Eacute a relaccedilatildeo com o outro atraveacutes dos sons que situa a crianccedila no espaccedilo no tempo

e no afeto

22 MUSICAR

Segundo Gainza (1988) ldquoa accedilatildeo musical implica num movimento

seja das cordas vocais e do aparelho fonador naquele que fala ou canta seja do

proacuteprio corpordquo No uacuteltimo caso o corpo aparece como instrumento produtor de

som ou se prolonga atraveacutes de um instrumento musical propriamente ditordquo

Sob a oacutetica musical as teorias apontam para as estruturas fiacutesico-sonoras

Encontra-se nestas a formaccedilatildeo de todo contexto musical que eacute igualmente

1 PAIVA Ione Maria R de BRINQUEDOS CANTADOS 1998 p25416383

13

correspondente para os brinquedos cantados Fala-se entatildeo dos elementos

inevitaacuteveis de qualquer muacutesica Ritmo Melodia Harmonia Eis a definiccedilatildeo de

Costa(1989p61) ldquoNuma definiccedilatildeo muito simples muacutesica eacute a organizaccedilatildeo de

relaccedilotildees entre sonoridades simultacircneas ou natildeo no decorrer do tempo Sons e

silecircncios satildeo combinados e encadeados entre si formando ritmos melodias e

harmoniasrdquo

O ritmo eacute basicamente a ordenaccedilatildeo do movimento formando um elo

entre espaccedilo e tempo A melodia eacute uma sequumlecircncia de sons notas musicais graves

e agudas A harmonia eacute a verticalidade ou a simultaneidade dos sons parte mais

intelectualizada da muacutesica(Costa opcit mesma paacutegina)

As muacutesicas infantis em geral acompanham o desenvolvimento afetivo

motor cognitivo e social da crianccedila Observa-se que existem brinquedos cantados

mais simples contendo siacutelabas repetitivas estrutura musical miacutenima e que satildeo

preferidos pelas crianccedilas entre 2 e 3 anos por ex

CAI CAI BALAtildeO(folclore)2

Cai cai balatildeo cai cai balatildeo aqui na minha matildeo

Natildeo vou laacute natildeo vou laacute natildeo vou laacute tenho medo de apanhar

A muacutesica dos brinquedos cantados altera a sensibilidade o humor faz

aflorar a criatividade a expressividade do corpo e da alma revelando as habilidades

e dificuldades da crianccedila se convertendo entatildeo em instrumento de trabalho na

psicomotricidade

2 MARTINS Armando TOQUE VIOLAtildeO OU GUITARRA(meacutetodo praacutetico) 1980p88

14

23MOVIMENTAR

Do choro aos acalantos (muacutesicas de ninar) dos cantos culturais as

brincadeiras-de-roda haacute uma trajetoacuteria que vincula o som da voz ao movimento

corporal conforme afirma Fregtman(1988p17) isto ocorre ldquoporque a muacutesica eacute

feita dita tocada e cantada como manifestaccedilatildeo corporalrdquo

Toda forma de comunicaccedilatildeo se daacute atraveacutes de coacutedigos estabelecidos

linguagens por assim dizer Fregtman (opcit) conceitua a partir da musicoterapia

que trecircs niacuteveis de manifestaccedilatildeo expressiva simultacircneos podem se dar quando

usamos a muacutesica Satildeo eles

1) Linguagem sonora (sons silecircncios entonaccedilotildees melodias ritmos)

2) Linguagem corporal (gestos posturas trejeitos tipos de movimentos)

3) Linguagem verbal (a fala a letra a poesia)

Apenas para efeitos didaacuteticos se consegue separar estes trecircs niacuteveis de

linguagem A linguagem sonora necessariamente traacutes expressotildees corporais

estimula a emoccedilatildeo que se revela atraveacutes dos gestos posturas movimentos voz e

etc A linguagem corporal responde ao chamado verbal ou musical os quais soam

determinados significados simboacutelicos apreendidos nas relaccedilotildees soacutecio-afetivas E

por fim a linguagem verbal eacute inserida para nomear as accedilotildees sejam elas musicais

ou corporais

15

Os brinquedos cantados satildeo tambeacutem conceituados mediante sua aplicaccedilatildeo

em determinadas funccedilotildees na recreaccedilatildeo Os brinquedos cantados podem ser de

marcha de grupos opostos de palmas de roda de ninar ou alternados

Modificaccedilotildees diversas quanto ao andamento (lento moderado raacutepido) agrave formaccedilatildeo

(rodas simples complexas fileiras) e agrave movimentaccedilatildeo dos brinquedos cantados

(marcha roda dramatizaccedilatildeo) satildeo descritas por Leitatildeo(2001)

Neste trabalho prioriza-se os acalantos e as brincadeiras-de-roda tendo

em vista que a populaccedilatildeo estudada crianccedilas de 0 agrave 7 anos podem ser atendidas

em suas necessidades de acolhimento afetivo comunicaccedilatildeo expressiva e

socializaccedilatildeo atraveacutes destes elementos A Simbologia do movimento de Lapierre amp

Aucoutourrier (1986p41) sustenta o nosso pensamento atraveacutes da seguinte

citaccedilatildeo ldquoA muacutesica pode nos ajudar muito a redescobrir essa dimensatildeo do

movimento desde que natildeo seja restringida aos estereotipos da lsquodanccedilarsquo mesmo a

lsquoexpressivarsquo ldquo

ldquoO JACAREacuterdquo (folclore)3

O jacareacute o jacareacute o jacareacute eacute amigo ele eacute

Oi jacareacute oi jacareacute vem caacute cumpadre que a lagoa natildeo daacute peacute

O jacareacute tem os olhos muito grandes tem o rabo muito grande

Mas as pernas satildeo curtinhas

O jacareacute tem a boca muito grande tem os dentes muito grande

mas as pernas satildeo curtinhas

3 Recolhido atraveacutes da cultura oral

16

3O DESENVOLVIMENTO INFANTIL SEGUNDO PIAGET

Para Piaget (2003) o conhecimento eacute o resultado das accedilotildees e

relacionamentos do sujeito com o ambiente em que vive e vai sendo elaborado

desde o nascimento ateacute suas vivecircncias com os objetos pessoas e situaccedilotildees que

procura conhecer sejam elas do mundo fiacutesico ou cultural

Este autor formulou importantes conceitos que explicam o

desenvolvimento das funccedilotildees cognitivas A interaccedilatildeo entre a assimilaccedilatildeo

(informaccedilotildees do mundo exterior recebidas atraveacutes dos sentidos movimento de fora

para dentro) e a acomodaccedilatildeo (informaccedilatildeo processada respostas dadas ao mundo

exterior movimento de dentro para fora) sobre uma accedilatildeo satildeo validadas pelo

processo de equilibraccedilatildeo (Piagetopcit)

As perturbaccedilotildees exteriores se mostram a crianccedila a partir do que ela natildeo

conhece assim oportunizadas pelo processo de equilibraccedilatildeo e por meio de suas

atividades vai respondendo a estas perturbaccedilotildees vencendo a mais uma etapa

cognosciacutevel A equilibraccedilatildeo eacute dinacircmica e nunca cessa ela norteia a passagem de

um conhecimento ao outro(Piaget2003)

Dois outros conceitos Piagetianos satildeo imprescindiacuteveis ao tenro

desenvolvimento infantil e encontra-se nos brinquedos cantados uma forma

espontacircnea de vivenciaacute-los A Imitaccedilatildeo e a noccedilatildeo de Permanecircncia do Objeto

17

Imitaccedilatildeo Eacute na gecircnese da imitaccedilatildeo que inicia o movimento luacutedico da crianccedila

Imitando o meio e as pessoas ao seu redor a crianccedila apreende e treina suas novas

aquisiccedilotildees Ferreira I(1994 p47) afirma que ldquoA imitaccedilatildeo eacute uma das manifestaccedilotildees

da funccedilatildeo simboacutelica Constitui-se num dos elementos baacutesicos que permitem a

crianccedila uma assimilaccedilatildeo de realidade ao seu proacuteprio ldquoeurdquo bem como Acomodaccedilatildeo

de suas estruturas mentais e de accedilatildeo agraves exigecircncias da realidade fiacutesica e socialrdquo

Para haver o ato imitativo eacute necessaacuterio um modelo Alguns brinquedos

cantados propotildeem accedilotildees simboacutelicas que copiam o mundo adulto sem impor aos

pequenos o fardo da responsabilidade que este teria na realidade Eis um exemplo

interessante onde as crianccedilas imitam os afazeres dos mais velhos

PASSA PASSA GAVIAtildeO(folclore)4

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

As lavadeiras fazem assim

Assim assim assim assim

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

As passadeiras fazem assim

Assim assim assim assim

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

As cozinheiras fazem assim assim assim

Assim assado carne seca com ensopado

4 Recolhido atraveacutes da cultura oral

18

Objeto permanente Nos primeiros dois anos de vida a crianccedila apresenta um

comportamento em constante adaptaccedilatildeo pois estaacute sempre se modificando para

responder aos estiacutemulos do meio A crianccedila inicialmente natildeo tem noccedilatildeo da

permanecircncia dos objetos ela pensa que eles soacute existem enquanto estatildeo ao

alcance dos seus olhos caso sejam escondidos a sua frente acharaacute que estes

acabaram ou se desintegraram Entre os 18 e 24 meses a crianccedila jaacute consegue

elaborar mais este conhecimento e apesar de natildeo vecirc-lo ouvi-lo ou tocaacute-lo ela vai

compreender que os objetos independem da sua vontade e presenccedila para

existirem

Para melhor apreensatildeo da realidade fiacutesica a praacutetica pelo ensaio e erro ou

aparecer desaparecer vatildeo treinar e orientar os pequenos na aquisiccedilatildeo das noccedilotildees

de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo da realidade como

afirma FerreiraI(1994p35) ldquoO esquema do objeto permanente eacute baacutesico para a

construccedilatildeo das noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidaderdquo

Observe que as crianccedilas nesta fase gostam das brincadeiras de

esconde-esconde que amenizam suas anguacutestias sobre a existecircncia ou natildeo dos

objetos reais Seu proacuteprio corpo eacute posto agrave prova escondendo o rosto ou as matildeos

atraacutes de uma almofada por exemplo A muacutesica das palminhas talvez possa auxiliar

nesta etapa

19

PALMINHAS PALMINHAS (folclore)5

Palminhas palminhas nos vamos bater

Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconder

Em cima em cima noacutes vamos bater

Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconde

Assim assim pra traacutes esconder

Em baixo em baixo noacutes vamos bate

Depois as matildeozinhas pra traacutes esconde

Assim assim pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconder

Os conceitos estudados ateacute aqui se realizam dentro dos estaacutegios do

desenvolvimento organizados por Piaget Passar-se-aacute neste momento agrave elucidaccedilatildeo

dos estaacutegios pertinentes agrave faixa etaacuteria da populaccedilatildeo pesquisada nesta monografia

estaacutegios Sensoacuterio-motor e Preacute-operacional

31ESTAacuteGIO SENSOacuteRIO MOTOR (0 agrave 2 anos) Estaacutegio que vai do nascimento

ateacute a aquisiccedilatildeo da linguagem e eacute dividido em 6 sub estaacutegios Esta eacute a fase do

comportamento inteligente antes da aquisiccedilatildeo da linguagem a crianccedila organiza a

informaccedilatildeo obtida atraveacutes dos sentidos e desenvolve respostas aos estiacutemulos

5 Recolhido atraveacutes da cultura oral

20

ambientais com comportamento adaptativo e constante modificaccedilotildees dos

esquemas de accedilatildeo em resposta ao meio A aquisiccedilatildeo mais importante deste

periacuteodo eacute o Objeto Permanente Manifesta-se ainda a imitaccedilatildeo que alcanccedilaraacute o

seu auge no proacuteximo estaacutegio

1ordm Sub Estaacutegio ndash Exerciacutecio dos reflexos (0 a 1 mecircs) Do alto da sua imaturidade

bioloacutegica a crianccedila se relaciona com o meio atraveacutes dos movimentos reflexos

hereditaacuterios que se aprimoram pelo exerciacutecio tornando-se cada vez mais

eficientes Ainda natildeo haacute a distinccedilatildeo entre o eu e o outro

2ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular primaacuteria (1 a 4 meses)Esta eacute a fase das

primeiras acomodaccedilotildees onde os exerciacutecios reflexos se transformam em esquemas

e comeccedilam a coordenar seus movimentos Inicia-se a construccedilatildeo dos primeiros

esquemas vocais A noccedilatildeo de tempo eacute primitiva sua duraccedilatildeo soacute eacute sentida no

decorrer da proacutepria accedilatildeo O final do periacuteodo eacute marcado pela coordenaccedilatildeo entre trecircs

esquemas fundamentais audiccedilatildeo fonaccedilatildeo e visatildeo

3ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular secundaacuteria (4 a 8 meses) O bebecirc apresenta

um maior interesse pelo mundo externo os esquemas se diferenciam surgindo

novos esquemas de coordenaccedilatildeo viso-motora unindo-se as aquisiccedilotildees jaacute

realizadas Os movimentos comeccedilam a ser repetido pelo prazer da repeticcedilatildeo

Observa-se o iniacutecio da noccedilatildeo do Objeto Permanente entretanto ela estaacute

condicionada ao movimento da crianccedila pois as coisas ainda natildeo seguem uma

trajetoacuteria independente

21

4ordm Sub Estaacutegio ndash Coordenaccedilatildeo de esquemas secundaacuterios (8 a 12 meses)

Caracteriza-se pelas primeiras condutas propriamente inteligentes surgindo

adaptaccedilotildees sensoacuterio-motoras intencionais onde o bebecirc combina esquemas

conhecidos a novas situaccedilotildees e ainda diferencia os meios e os fins de uma accedilatildeo

Aparece nesta fase o comportamento antecipatoacuterio caso o bebecirc veja sua matildee se

afastar chora a imitaccedilatildeo de sons e accedilotildees satildeo agora intencionais e

conscientizadas no entanto ainda condicionadas ao esquema visual Revelam-se

os primoacuterdios da memoacuteria e da representaccedilatildeo mental Comeccedila a permanecircncia do

objeto independente do ldquoeurdquo Quanto agrave noccedilatildeo de espaccedilo e tempo a crianccedila

comeccedila a ordenar os proacuteprios deslocamentos em relaccedilatildeo aos objetos

5ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular terciaacuteria (12 a 18 meses) A crianccedila gradua

seus movimentos varia e experimenta novos padrotildees de comportamento

observando os diferentes efeitos da sua accedilatildeo sobre o objeto o qual jaacute eacute dotado de

permanecircncia Pode-se afirmar que o mecanismo da inteligecircncia praacutetica estaacute

definitivamente constituiacutedo A cada estruturaccedilatildeo da inteligecircncia corresponde uma

nova estruturaccedilatildeo do espaccedilo do tempo da causalidade etc Agindo por ldquoensaio e

errordquo os resultados das accedilotildees ainda satildeo por acaso pois as representaccedilotildees

mentais de fatos externos ainda natildeo se incluem ou seja o pensamento ainda natildeo

estaacute formado

22

6ordm Sub Estaacutegio ndash A invenccedilatildeo dos novos meios por combinaccedilatildeo

mental (18 a 24 meses) Esta fase caracteriza o momento de transiccedilatildeo entre a

inteligecircncia praacutetica (sensoacuterio-motora) e a inteligecircncia representativa quando

comeccedila a funccedilatildeo simboacutelica Inicia-se a representaccedilatildeo mental imaginativa e criativa

No jogo simboacutelico a crianccedila usa siacutembolos na linguagem e na brincadeira do faz-deshy

conta recorda-se de fatos passados e os representa depois de algum tempo O

final deste periacuteodo eacute marcado pela primeira noccedilatildeo de conservaccedilatildeo(FerreiraI1994)

Os primeiros anos de vida da crianccedila satildeo marcados pelas inuacutemeras

formaccedilotildees e transformaccedilotildees fiacutesicas mentais e emocionais conforme descritas

acima Os acalantos (muacutesicas de ninar) satildeo cantados por matildees de todo o mundo

numa primeira inserccedilatildeo da crianccedila ao universo musical de sua cultura Eles

exercem um poderoso papel de auxiacutelio agrave maternagem acolhendo-a afetuosamente

condiccedilatildeo baacutesica para que a crianccedila se sinta suficientemente amada para

prosseguir desenvolvendo-se Este tema seraacute melhor explanado nos proacuteximos

capiacutetulos Por hora parece oportuno um exemplo de acalanto

TUTU MARAMBAacute(folclore)6

Tutu marambaacute

Natildeo venha mais caacute

Que o pai do menino

Te manda mata

6 MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute PRECISO CANTAR Musicoterapia cantos e canccedilotildees2001p38

23

32ESTAacuteGIO PREacute-OPERACIONAL (2 agrave 7 anos) A crianccedila vive um tempo em que

usa a intuiccedilatildeo ela passa todos os seus atos para o pensamento sob a forma de

imagens e diante de uma situaccedilatildeo praacutetica suas respostas vatildeo se basear no que

ela vecirc sente mexe ou seja nas aparecircncias dos fatos que observa A crianccedila

possui a capacidade de representar uma coisa por outra e esta representaccedilatildeo

pode se dar por um gesto um desenho uma palavra etc A verbalizaccedilatildeo tem

destaque neste periacuteodo e a linguagem conduz agrave socializaccedilatildeo das accedilotildees Este

estaacutegio compreende duas formas de pensamento a saber O Pensamento

Simboacutelico e o Pensamento Intuitivo

Pensamento simboacutelico (2 agrave 4 anos) Para Piaget a funccedilatildeo simboacutelica consiste na

capacidade da crianccedila representar objetos e fatos conhecidos poreacutem ausentes por

um substituto qualquer seja este concreto ou imaginaacuterio Uma caracteriacutestica

fundamental desta fase eacute a diferenciaccedilatildeo entre significante e significado que eacute

manifestada por vaacuterias condutas sendo elas O jogo simboacutelico ou faz-de-conta a

imitaccedilatildeo o desenho a imagem mental a linguagem a criatividade etc Para

ldquosignificanterdquo leia-se objeto concreto e para ldquosignificadordquo a ideacuteia compreensiva do

que foi percebido (Piaget 2003)

Sobre a funccedilatildeo simboacutelica FerreiraI(1994p43) complementa ldquoA funccedilatildeo

simboacutelica pode ser considerada uma linguagem individual e particular da crianccedila

usada para compreender e representar o mundo O siacutembolo eacute subjetivo e aos

poucos vai sendo substituiacutedo por signos da linguagem socialrdquo

24

O pensamento infantil encontrado entre os 2 e 7 anos de idade eacute

egocentrado A visatildeo da realidade eacute centrada no ponto de vista do proacuteprio sujeito

sendo este incapaz de relacionaacute-lo ou de coordenaacute-lo a pontos de vistas diferentes

do seu

A aquisiccedilatildeo da linguagem tem destaque nesta fase e coincide com a

formaccedilatildeo do jogo simboacutelico que melhor se manifesta no jogo do faz-de-conta

Atraveacutes do que discute Ferreira I (1994p43) ldquoOs siacutembolos podem ser

socializados como os brinquedos coletivos e se tornar um siacutembolo coletivordquo

confirma-se mais uma vez que os estes elementos apresentam extrema valorizaccedilatildeo

soacutecio-afetiva e cultural Com a ludicidade que lhe eacute peculiar os brinquedos

cantados nesta fase encantam ensinam desenvolvem a memoacuteria a auto estima

o esquema corporal a imagem corporal a Coordenaccedilatildeo Motora a socializaccedilatildeo

entre outras funccedilotildees essenciais agrave formaccedilatildeo dos pequenos Eis um bom exemplo

O GIGANTE E O ANAtildeO(autor desconhecido)7

O peacute do gigante eacute grande

Do anatildeo pequenininho

O gigante pisa forte

O anatildeo pisa mansinho

O gigante fala grosso

O anatildeo fala fininho

Porque gigante come muito

E o anatildeo come pouquinho

7 Recolhido atraveacutes da cultura oral

25

Pensamento Intuitivo (4 agrave 7 anos) Subdividido em Intuitivo Simples e Intuitivo

Articulado eacute um estaacutegio marcado pela crescente formaccedilatildeo de conceitos O

pensamento intuitivo eacute uma espeacutecie de accedilatildeo executada em pensamento encaixar

seriar deslocar etc

A crianccedila no intuitivo simples representa mentalmente assimila e entende

o mundo real poreacutem de forma limitada pois soacute consegue coordenar um uacutenico

ponto de vista com base nas aparecircncias do que vecirc Centrado em si mesmo natildeo

admite a reversibilidade falta-lhe ainda a noccedilatildeo de conservaccedilatildeo das substacircncias

Quando se pede agrave crianccedila para desenhar ela desenha o que sabe e natildeo

o que vecirc Este egocentrismo que lhe eacute peculiar deveraacute evoluir para a

descentraccedilatildeo bem como haveraacute progressos nas diversas etapas cognitivas

(classificar seriar etc) Ao final do pensamento intuitivo articulado a crianccedila

comeccedila a levantar duacutevidas e questionamentos percebendo a mobilidade das

situaccedilotildees

ldquoA BARATArdquo(folclore)8

A barata diz que tem 7 saias de filoacute

Eacute mentira da barata ela tem eacute uma soacute

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute

A barata diz que tem um anel de formatura

Eacute mentira da barata ela tem eacute casca dura

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura

8 PAIVA Ione Maria R de OPCITp80

26

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura

A barata diz que dorme numa cama de cetim

Eacute mentira da barata ela dorme eacute no capim

Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim

Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim

Na muacutesica da barata as crianccedilas ironizam a tentativa de mentir deste

inseto A propoacutesito das ldquomentirinhasrdquo contidas nas brincadeiras infantis funcionam

como passaporte para a experimentaccedilatildeo do que eacute verdadeiro e real As palavras

de cascudo(1988p491) discorrem sobre os deslimites da mentira ldquoAs estoacuterias

mentirosas() satildeo muito populares e constituem um gecircnero especial onde a

imaginaccedilatildeo exagerada e livre se liberta dos limites da loacutegicardquo Acredita-se que as

crianccedilas exigem a verdade para terem o domiacutenio do que aprendem

33OS JOGOS POR PIAGET

ldquoPiaget vecirc no jogo um processo de ajuda ao desenvolvimento da crianccedila

acompanha-a sendo ao mesmo tempo uma atividade consequumlente de seu proacuteprio

crescimentordquo(Negrine1994p45) A leitura dos jogos em Piaget acompanha o

desenvolvimento integral do homem a inteligecircncia a afetividade a motricidade e a

sociabilidade satildeo vivenciadas nos jogos sendo a afetividade a funccedilatildeo que constitui

a energia necessaacuteria para a progressatildeo psiacutequica moral intelectual e motora

daquele que joga

Trecircs classificaccedilotildees baacutesicas do jogo satildeo mostradas na teoria

27

psicogeneacutetica de Piaget Jogos de exerciacutecio Jogos simboacutelicos e jogos de regra

Jogos de Exerciacutecio Ou jogos sensoacuterio-motores que aparecem no periacuteodo do

mesmo nome natildeo chegam a constituir sistemas luacutedicos independentes e

construtivos Sua motivaccedilatildeo se daacute pelo prazer funcional ou pelo prazer produzido

pela tomada de consciecircncia de suas novas capacidades

Os jogos motores ou de exerciacutecios satildeo aqueles que envolvem

diretamente a participaccedilatildeo ativa do corpo como um todo inclui-se ainda os jogos

sensoriais que ajudam a desenvolver os oacutergatildeos dos sentidos

A crianccedila nesta fase gosta de brincar com brinquedos que manipula

repetidas vezes explorando toda sua superfiacutecie Brincar de esconder o rosto ou os

objetos atirar e pegar brinquedos eacute prazeroso para a crianccedila ao mesmo tempo

que assimila as noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo

da realidade

Os estiacutemulos sensoriais tambeacutem fazem parte do seu interesse objetos

de diversas cores e texturas brinquedos sonoros muacutesica para ouvir acalentar

danccedilar e brincar desta forma explora o reconhecimento do eu do outro e dos

objetos

O jogo de exerciacutecio eacute o primeiro a aparecer no comportamento da

crianccedila explicitamente do 2ordm ao 5ordm estaacutegio do desenvolvimento sensoacuterio motor por

oposiccedilatildeo ao 6ordm estaacutegio onde se inicia o jogo simboacutelico(Negrine 1994)

28

ATIREI O PAU NO GATO(Folclore)9

Atirei o pau no ga-to-to mas o ga-to-to

Natildeo morreu- rreu- rreu dona chica-ca-ca

Admirou- se se do berro do berro

Do berro que o gato deu Miau

Jogos Simboacutelicos Em princiacutepio do ponto de vista de Piaget a diferenccedila entre os

jogos simboacutelicos e os de exerciacutecio intelectual consiste em que os primeiros se

referem ao pensamento

Os jogos simboacutelicos tem iniacutecio no 6ordm estaacutegio do periacuteodo sensoacuterio-motor

e se continua aproximadamente dos 2 aos 4 anos de idade cronoloacutegica ou do 1ordm

estaacutegio do preacute-operacional(fase simboacutelica) ateacute o iniacutecio do 2ordm estaacutegio do preacuteshy

operacional(fase intuitiva) Piaget apud Negrine(1994p41) deixa claro a

supremacia dos jogos simboacutelicos em detrimento dos anteriores

ldquoO esquema simboacutelico por si mesmo eacute suficiente para

assegurar a superioridade da representaccedilatildeo sobre

uma accedilatildeo pura nesta segundo Piaget o jogo

permite assimilar o mundo exterior ao eu como meio

infinitamente mais poderoso que o de simples exerciacuteciordquo

Como aparecem antes da linguagem verbal propriamente dita os jogos

simboacutelicos satildeo representados nas imagens mentais da crianccedila e vivenciados

atraveacutes dos gestos onomatopeacuteias pelo prazer de brincar com o faz-de-conta

9 MILLLECCO FILHO Luiacutes A e outros OPCIT p43

29

Nesta fase os acalantos vatildeo perdendo sua importacircncia dando lugar agraves

brincadeiras-de-roda os pequenos ao mesmo tempo em que aprendem a falar

aprendem a cantar as brincadeiras-de-roda tem a propriedade de enriquecerem o

repertoacuterio de palavras e movimentos

Jogos de Regras Os jogos de regras natildeo seguem o mesmo itineraacuterio dos

anteriores pois comeccedilam a aparecer na metade do 2ordm estaacutegio do periacuteodo preacuteshy

operacional isto eacute dos 4 aos 7 anos e principalmente no periacuteodo das operaccedilotildees

concretas dos 7 aos 12 anos Pesquisaremos como ocorrem os jogos de regra ateacute

os 7 anos pela delimitaccedilatildeo da populaccedilatildeo que esta monografia abrange

Dos 4 aos 7 anos periacuteodo preacute operacional intuitivo surgem os jogos de

regra que substituiratildeo o siacutembolo e enquadraratildeo o exerciacutecio no momento em que se

constituem de forma incipiente certas relaccedilotildees sociais(Piaget2003)

Com relaccedilatildeo as regras segundo Piaget apud Negrine

(1994p44)distinguem-se dois tipos transmitidas e espontacircneas As regras

transmitidas se referem aos jogos institucionais que se impotildeem por pressatildeo das

geraccedilotildees anteriores As espontacircneas se referem aos jogos de natureza contratual e

momentacircnea isto eacute procedem da socializaccedilatildeo dos jogos de simples exerciacutecios ou

dos simboacutelicos

30

Na cantiga de roda ldquoCiranda cirandinhardquo destaca-se o desenvolvimento

da roda e ao final as regras uma imposta (entrar na roda e dizer um verso) outra

espontacircnea (serve qualquer verso criado na hora ou jaacute existente) Outra versatildeo

desta mesma cantiga para crianccedilas menores pede ldquofaccedila um gesto bem bonito

diga adeus e vaacute se emborardquo A liberdade de criar um gesto verso a importacircncia de

estar no meio da roda como centro das atenccedilotildees e a valorizaccedilatildeo dos

companheiros satildeo o impulso para a espontaneidade e o crescimento da autonomia

do ser

CIRANDA CIRANDINHA(folclore)10

Ciranda cirandinha vamos todos cirandar

Vamos dar a meia volta volta e meia vamos dar

o anel que tu me destes era vidro e se quebrou

o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou

Por isto sinhaacute Maria entre dentro desta roda

Diga um verso bem bonito diga adeus e vaacute se embora

Os conceitos estudados neste capiacutetulo podem orientar sobre o tempo

mental da crianccedila e a possibilidade de oferecer estiacutemulos adequados ao seu

momento Como uma boa buacutessola natildeo conteacutem apenas o norte

10 MARTINS Armando OPCITp105

31

4O BRINCAR E A REALIDADE WINNICOTTEANA

A partir da premissa de que natildeo se pode dividir o ser humano em

classificaccedilotildees bioloacutegicas e psiacutequicas posto que este eacute uma unidade indivisiacutevel

formulou-se apenas para efeitos didaacuteticos no capiacutetulo anteriorum olhar mais

fiacutesico(cognitivo) do desenvolvimento infantil atraveacutes de Piaget Discutir-se-aacute neste

capiacutetulo o ponto de vista Winnicotteano sobre a vida emocional e o brincar

Nos brinquedos cantados a arte de brincar se mistura a arte de cantar e

eacute fazendo ldquoArtesrdquo que a crianccedila dar-se a ver e a crescer A partir deste tema

instigante e universal que eacute o brincar torna-se mais prazeroso ainda falar sobre ele

depois de conhecer os estudos do Drordm Winnicott

D W Winnicott pediatra psicanalista psicoterapeuta inglecircs e defensor

da Ludoterapia nasceu no comeccedilo do seacuteculo 20 produzindo uma vasta obra

cientiacutefica ateacute os anos 70 quando nos deixou Em seu livro ldquoO Brincar e

Realidaderdquo(1975) se preocupou com os primoacuterdios da vida imaginativa da

experiecircncia cultural em todos os sentidos da relaccedilatildeo das artes com o brincar e da

criatividade

Neste momento parece relevante abordar alguns dos conceitos teoacutericos

do DrordmWinnicott atraveacutes da obra mencionada pelo suporte que podem

proporcionar agrave compreensatildeo da vida psiacutequica mediante o brincar e a terapia Em

32

Conceitos e contornos ilustrar-se-aacute o Objeto transicional Fenocircmeno transicional

Matildee suficientemente boa Aacuterea intermediaacuteria e o Eu(Self) circundando a

importacircncia destes conceitos em relaccedilatildeo aos brinquedos cantados e sua aplicaccedilatildeo

na cliacutenica psicomotora

41CONCEITOS E CONTORNOS

Objeto Transicional Eacute o objeto concreto relativo agrave exploraccedilatildeo pulsional (descarga

impulsiva) do sujeito por exemplo uma boneca ou um carrinho

Fenocircmeno Transicional Satildeo as accedilotildees relativas agrave exploraccedilatildeo pulsional ou o uso

que se faz dos objetos transicionais Ex Um carrinho pode ser acalentado como se

fosse um bebecirc

Matildee Suficientemente Boa Pessoa que ocupa o lugar de suporte afetivo no

desenvolvimento global da crianccedila tambeacutem associada por ele a figura do

terapeuta

Em outras palavras o amor da matildee ou do terapeuta

natildeo significaria apenas um atendimento agraves necessidades

da dependecircncia mas vem a significar a concessatildeo

de oportunidades que permita ao bebecirc ou ao paciente

passar da dependecircncia para a autonomia

(Winnicott1975p150)

33

Aacuterea Intermediaacuteria Aacuterea neutra de experimentaccedilatildeo vivencial entre as realidades

internas e externas do sujeito que favorece a dialeacutetica do brincar e das artes O

dito autor parece supor um espaccedilo de refuacutegio para a resoluccedilatildeo dos conflitos

humanos Eis aqui a referecircncia para tal colocaccedilatildeo

Presume-se aqui que a tarefa de aceitaccedilatildeo da realidade

nunca eacute completada que nenhum ser humano estaacute livre

da tensatildeo de relacionar a realidade interna e externa e

que o aliacutevio dessa tensatildeo eacute proporcionado por uma aacuterea

intermediaacuteria de experiecircncia(cf Riviere1936) que natildeo eacute

contestada (artes religiatildeo etc) Essa aacuterea intermediaacuteria

estaacute em continuidade direta com a aacuterea do brincar da

crianccedila pequena que se ldquoperderdquo no brincar

(Winnicottopcitp29)

A princiacutepio eacute difiacutecil falar dos brinquedos cantados como objetos

transicionais (concretos) porque natildeo satildeo exatamente vistos a olhos nus embora

sejam audiacuteveis Todavia qualquer muacutesico pode escrever em uma partitura o

brinquedo cantado (concreto e cantaacutevel) para tornaacute-lo visiacutevel

O ato de cantar uma muacutesica de roda ou um acalanto jaacute eacute a traduccedilatildeo do

fenocircmeno transicional Dar-se-aacute o uso que quiser a este brinquedo cantado no

momento de sua realizaccedilatildeo Se uma muacutesica de ninar for entoada com raiva ou

brutalidade eacute certo que traraacute temores ao bebecirc e natildeo o conforto a que se prestaria

Acalantos com este do ldquobicho papatildeordquo expotildee o perigo e propotildee acolhida pela

proteccedilatildeo materna

34

ldquoBICHO PAPAtildeO(folclore)11

Bicho Papatildeo sai de cima do telhado

Deixe o menino dormir sossegado

O Eu (Self) O Eu (Self) eacute o eu integral descrito por Winnicott(1975) em sua mais

pura essecircncia um eu que nasce na liberdade de expressatildeo na confianccedila baseada

nas experiecircncias vividas no suporte dos sentimentos Para este autor certas

condiccedilotildees se fazem necessaacuterias na busca do Eu (Self) eacute o que se chama de

criatividade A criatividade pode defraglar e sustentar o ser integral

A vida sadia se mostra pelo impulso criativo O brincar eacute um instrumento

da criatividade sediado na ldquoaacuterea intermediaacuteriardquo (entre as artes e o luacutedico)

sustentado em seus primoacuterdios pela ldquomatildee suficientemente boardquo direcionado agrave

busca do ldquoEu (Self) Sobre a importacircncia das cantigas de roda nesta busca

podemos ler as contribuiccedilotildees de Millecco filho e outros (2001p44)

As cantigas de roda datildeo continuidade ao trabalho

de elaboraccedilatildeo de conflitos e agrave estrutura da pessoa

em desenvolvimento iniciado com os acalantos

() A roda aparece como uma representaccedilatildeo da

mandala expressatildeo geomeacutetrica do Self

11 Recolhido atraveacutes da cultura oral

35

A letra da muacutesica infantil ldquoa canoa virourdquo expotildee um problema e supotildee

uma soluccedilatildeo hipoteacutetica

A CANOA VIROU(folclore)12

A canoa virou vou deixar ela virar

Foi por causa da Maria que natildeo soube remar

Ah se eu fosse peixinho e soubesse nadar

Eu tirava a Marialaacute do fundo do mar

A accedilatildeo terapecircutica deve ser um modo de auxiliar uma pessoa a

vir a ser o que ela eacute capaz de ser O psicomotricista atua como facilitador no

desenvolvimento do potencial existente no sujeito Numa maternagem

suficientemente boa como fala Winnicott o psicomotricista relacional torna-se um

companheiro de jornada para as atitudes luacutedicas do seu paciente

As medidas de afeto e limites saudaacuteveis agraves necessidades do outro

devem ser reconhecidas e valorizadas Eacute o que se vecirc nas colocaccedilotildees de Winnicott

(1975p63) ldquoEm outros termos eacute a brincadeira que eacute universal e que eacute proacutepria da

sauacutede o brincar facilita o crescimento e portanto a sauacutede o brincar conduz aos

relacionamentos grupais o brincar pode ser uma forma de comunicaccedilatildeo na

psicoterapia()rdquo

12 MARTINS Armando OPCITp110

36

Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e

estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que

haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila

acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas

Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a

brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre

MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR

VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR

Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o

aprender com a danccedila do outro

ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

13 Recolhido atraveacutes da cultura oral

37

Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons

e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os

brinquedos cantados

5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE

Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma

nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o

corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se

utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia

e da linguumliacutestica

No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua

expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a

existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto

O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que

encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e

motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros

Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando

fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar

gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil

38

ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14

Eacute bom cantar eacute bom ouvir

Eacute bom pensar eacute bom sentir

Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor

Viajar dentro de si pra poder se descobrir

51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE

A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso

meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da

psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu

corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)

O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico

(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes

concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo

ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a

palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas

que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que

quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do

latim Corpusque significa tecido de membros envoltura

da alma embriatildeo do espiacuterito

14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000

39

Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na

Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto

que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo

cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a

motricidade com a inteligecircncia

Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam

em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento

humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o

movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila

De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de

segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio

Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se

no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo

de Guilman

O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num

corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo

toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico

emocional(Levin opcit)

O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor

Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em

movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica

40

psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre

outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da

pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de

Levin(opcit)

Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor

podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor

ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento

Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o

sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem

tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco

podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade

eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)

52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA

A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o

seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins

pedagoacutegicos (Levy2000)

A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se

do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos

transtornos evidenciados (Coste1992)

A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a

41

afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja

o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade

do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting

psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais

uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si

mesmo uma terapiardquo

As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas

psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema

corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade

Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo

estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees

cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito

As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de

algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A

coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar

pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos

dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para

andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes

visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a

existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa

caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc

No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a

42

primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave

vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos

cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas

psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a

expressividade e a emoccedilatildeo

O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas

psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se

confirmar por exemplo para treinar a escrita

As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar

iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da

brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo

dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da

cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas

pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar

Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora

relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de

cada uma delas

43

53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE

Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os

acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte

afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe

o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo

e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do

acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si

mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a

busca do eu (Self)

O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos

cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a

partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes

acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de

interesse da populaccedilatildeo pesquisada

Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil

geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo

continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em

desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza

simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos

conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo

44

As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia

cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o

relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano

infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a

Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda

assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia

oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria

soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo

Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as

com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da

referida estrutura

Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos

integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos

grandes segmentos (Coste1992)

Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro

expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo

corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a

habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa

O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se

movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os

movimentos enquanto observam os amigos

45

BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

Os braccedilos pra cima e pra baixo

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

As pernas pra frente e pra traacutes

Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo

preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo

motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada

diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do

grafismo (Coste1992)

A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas

brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as

palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a

crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos

Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos

fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca

do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes

15 Recolhido atraveacutes da cultura oral

46

das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa

de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas

ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16

123 indiozinhos 456 indiozinhos

789 indiozinhos 10 num pequeno bote

Vinham navegando pelo rio abaixo

Quando o jacareacute se aproximou

E o pequeno bote dos indiozinhos

Quase quase virou quase quase virou

mas natildeo virou

Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo

ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam

internas ou externas (Levin2001)

A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e

apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as

crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do

corpo que deseja mostrar

ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17

Cabeccedila ombro joelho e peacute

Joelho e peacute joelho e peacute

Olhos boca orelha e nariz

Orelha e nariz orelha e nariz

16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral

47

Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O

equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute

relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)

Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de

amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o

personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca

instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma

perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal

traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal

ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca o pandeirotoca como ele soacute

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca violatildeo toca como ele soacute

Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao

tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir

da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do

aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala

dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da

vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza

18 Recolhido atraveacutes da cultura oral

48

Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila

seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um

personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular

correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e

volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem

seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam

ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19

Anda anda anda macaquinho

Anda anda anda sem parar

Pula pula pula macaquinho

Pula pula pula ateacute cansar

Corre corre corre macaquinho

Corre corre corre sem parar

Deita deita deita macaquinho

Deita deita deita dorme ateacute sonhar

Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu

desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e

relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do

mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)

Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira

19 Recolhido atraveacutes da cultura oral

49

traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo

espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a

noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo

vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento

O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e

rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos

de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra

frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente

e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da

roda virem periquitos tambeacutem

Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem

no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras

visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas

ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20

Periquito periquito parece com papa

Periquito periquito parece com papa

Por baixo por cima pra frente e pra traacutes

Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo

ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo

temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a

20 Recolhido atraveacutes da cultura oral

50

estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus

movimentos e se organiza na vida cotidiana

Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo

que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo

humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre

ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos

acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo

A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da

chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo

dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio

ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21

A janelinha fecha quando estaacute chovendo

A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo

Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute

Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute

Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os

centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e

contralaterais (Coste1992)

21 Recolhido atraveacutes da cultura oral

51

A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento

psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e

assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute

organizada e natildeo mudaraacute mais

Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os

peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a

conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo

grupo disposto em roda

ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22

Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora

Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora

Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock

Assim eacute bem melhor

( e assim por diante com as demais partes do corpo)

Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o

modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder

apud Coste(1992)

A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a

organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo

mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do

22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57

52

desejo da matildee

A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan

apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros

tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e

de diferenccedila (ibid)

Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o

ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na

constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo

desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A

psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade

poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A

citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo

O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de

identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria

de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do

lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que

eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim

constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute

poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo

o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)

53

Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia

corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber

possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver

As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a

expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente

Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar

cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de

construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza

pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem

corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter

fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de

cantar danccedilar e brincar

54

ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23

Minha boneca de lata

Bateu com a cabeccedila no chatildeo

Levou mais de uma hora

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui pra ficar boa

Minha boneca de lata

Bateu com o pescoccedilo no chatildeo

Levou mais de duas horas

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui desamassa aqui

Pra ficar boa

Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho

o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do

corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez

horas de arrumaccedilatildeo propostas

23 Recolhido atraveacutes da cultura oral

55

6CONCLUSAtildeO

Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-

se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse

infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar

Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a

relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas

cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo

permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os

estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e

que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo

Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de

winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do

ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos

como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica

Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de

conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos

Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade

que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se

pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos

sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu

ldquoafetordquo

56

Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a

psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir

expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer

Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia

para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a

socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte

aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o

desenvolvimento das estruturas psicomotoras

Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a

essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado

pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando

o prazer de brincar cantar e ser feliz

57

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Page 14: Brinquedos Cantados Na Psicomotricidade

13

correspondente para os brinquedos cantados Fala-se entatildeo dos elementos

inevitaacuteveis de qualquer muacutesica Ritmo Melodia Harmonia Eis a definiccedilatildeo de

Costa(1989p61) ldquoNuma definiccedilatildeo muito simples muacutesica eacute a organizaccedilatildeo de

relaccedilotildees entre sonoridades simultacircneas ou natildeo no decorrer do tempo Sons e

silecircncios satildeo combinados e encadeados entre si formando ritmos melodias e

harmoniasrdquo

O ritmo eacute basicamente a ordenaccedilatildeo do movimento formando um elo

entre espaccedilo e tempo A melodia eacute uma sequumlecircncia de sons notas musicais graves

e agudas A harmonia eacute a verticalidade ou a simultaneidade dos sons parte mais

intelectualizada da muacutesica(Costa opcit mesma paacutegina)

As muacutesicas infantis em geral acompanham o desenvolvimento afetivo

motor cognitivo e social da crianccedila Observa-se que existem brinquedos cantados

mais simples contendo siacutelabas repetitivas estrutura musical miacutenima e que satildeo

preferidos pelas crianccedilas entre 2 e 3 anos por ex

CAI CAI BALAtildeO(folclore)2

Cai cai balatildeo cai cai balatildeo aqui na minha matildeo

Natildeo vou laacute natildeo vou laacute natildeo vou laacute tenho medo de apanhar

A muacutesica dos brinquedos cantados altera a sensibilidade o humor faz

aflorar a criatividade a expressividade do corpo e da alma revelando as habilidades

e dificuldades da crianccedila se convertendo entatildeo em instrumento de trabalho na

psicomotricidade

2 MARTINS Armando TOQUE VIOLAtildeO OU GUITARRA(meacutetodo praacutetico) 1980p88

14

23MOVIMENTAR

Do choro aos acalantos (muacutesicas de ninar) dos cantos culturais as

brincadeiras-de-roda haacute uma trajetoacuteria que vincula o som da voz ao movimento

corporal conforme afirma Fregtman(1988p17) isto ocorre ldquoporque a muacutesica eacute

feita dita tocada e cantada como manifestaccedilatildeo corporalrdquo

Toda forma de comunicaccedilatildeo se daacute atraveacutes de coacutedigos estabelecidos

linguagens por assim dizer Fregtman (opcit) conceitua a partir da musicoterapia

que trecircs niacuteveis de manifestaccedilatildeo expressiva simultacircneos podem se dar quando

usamos a muacutesica Satildeo eles

1) Linguagem sonora (sons silecircncios entonaccedilotildees melodias ritmos)

2) Linguagem corporal (gestos posturas trejeitos tipos de movimentos)

3) Linguagem verbal (a fala a letra a poesia)

Apenas para efeitos didaacuteticos se consegue separar estes trecircs niacuteveis de

linguagem A linguagem sonora necessariamente traacutes expressotildees corporais

estimula a emoccedilatildeo que se revela atraveacutes dos gestos posturas movimentos voz e

etc A linguagem corporal responde ao chamado verbal ou musical os quais soam

determinados significados simboacutelicos apreendidos nas relaccedilotildees soacutecio-afetivas E

por fim a linguagem verbal eacute inserida para nomear as accedilotildees sejam elas musicais

ou corporais

15

Os brinquedos cantados satildeo tambeacutem conceituados mediante sua aplicaccedilatildeo

em determinadas funccedilotildees na recreaccedilatildeo Os brinquedos cantados podem ser de

marcha de grupos opostos de palmas de roda de ninar ou alternados

Modificaccedilotildees diversas quanto ao andamento (lento moderado raacutepido) agrave formaccedilatildeo

(rodas simples complexas fileiras) e agrave movimentaccedilatildeo dos brinquedos cantados

(marcha roda dramatizaccedilatildeo) satildeo descritas por Leitatildeo(2001)

Neste trabalho prioriza-se os acalantos e as brincadeiras-de-roda tendo

em vista que a populaccedilatildeo estudada crianccedilas de 0 agrave 7 anos podem ser atendidas

em suas necessidades de acolhimento afetivo comunicaccedilatildeo expressiva e

socializaccedilatildeo atraveacutes destes elementos A Simbologia do movimento de Lapierre amp

Aucoutourrier (1986p41) sustenta o nosso pensamento atraveacutes da seguinte

citaccedilatildeo ldquoA muacutesica pode nos ajudar muito a redescobrir essa dimensatildeo do

movimento desde que natildeo seja restringida aos estereotipos da lsquodanccedilarsquo mesmo a

lsquoexpressivarsquo ldquo

ldquoO JACAREacuterdquo (folclore)3

O jacareacute o jacareacute o jacareacute eacute amigo ele eacute

Oi jacareacute oi jacareacute vem caacute cumpadre que a lagoa natildeo daacute peacute

O jacareacute tem os olhos muito grandes tem o rabo muito grande

Mas as pernas satildeo curtinhas

O jacareacute tem a boca muito grande tem os dentes muito grande

mas as pernas satildeo curtinhas

3 Recolhido atraveacutes da cultura oral

16

3O DESENVOLVIMENTO INFANTIL SEGUNDO PIAGET

Para Piaget (2003) o conhecimento eacute o resultado das accedilotildees e

relacionamentos do sujeito com o ambiente em que vive e vai sendo elaborado

desde o nascimento ateacute suas vivecircncias com os objetos pessoas e situaccedilotildees que

procura conhecer sejam elas do mundo fiacutesico ou cultural

Este autor formulou importantes conceitos que explicam o

desenvolvimento das funccedilotildees cognitivas A interaccedilatildeo entre a assimilaccedilatildeo

(informaccedilotildees do mundo exterior recebidas atraveacutes dos sentidos movimento de fora

para dentro) e a acomodaccedilatildeo (informaccedilatildeo processada respostas dadas ao mundo

exterior movimento de dentro para fora) sobre uma accedilatildeo satildeo validadas pelo

processo de equilibraccedilatildeo (Piagetopcit)

As perturbaccedilotildees exteriores se mostram a crianccedila a partir do que ela natildeo

conhece assim oportunizadas pelo processo de equilibraccedilatildeo e por meio de suas

atividades vai respondendo a estas perturbaccedilotildees vencendo a mais uma etapa

cognosciacutevel A equilibraccedilatildeo eacute dinacircmica e nunca cessa ela norteia a passagem de

um conhecimento ao outro(Piaget2003)

Dois outros conceitos Piagetianos satildeo imprescindiacuteveis ao tenro

desenvolvimento infantil e encontra-se nos brinquedos cantados uma forma

espontacircnea de vivenciaacute-los A Imitaccedilatildeo e a noccedilatildeo de Permanecircncia do Objeto

17

Imitaccedilatildeo Eacute na gecircnese da imitaccedilatildeo que inicia o movimento luacutedico da crianccedila

Imitando o meio e as pessoas ao seu redor a crianccedila apreende e treina suas novas

aquisiccedilotildees Ferreira I(1994 p47) afirma que ldquoA imitaccedilatildeo eacute uma das manifestaccedilotildees

da funccedilatildeo simboacutelica Constitui-se num dos elementos baacutesicos que permitem a

crianccedila uma assimilaccedilatildeo de realidade ao seu proacuteprio ldquoeurdquo bem como Acomodaccedilatildeo

de suas estruturas mentais e de accedilatildeo agraves exigecircncias da realidade fiacutesica e socialrdquo

Para haver o ato imitativo eacute necessaacuterio um modelo Alguns brinquedos

cantados propotildeem accedilotildees simboacutelicas que copiam o mundo adulto sem impor aos

pequenos o fardo da responsabilidade que este teria na realidade Eis um exemplo

interessante onde as crianccedilas imitam os afazeres dos mais velhos

PASSA PASSA GAVIAtildeO(folclore)4

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

As lavadeiras fazem assim

Assim assim assim assim

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

As passadeiras fazem assim

Assim assim assim assim

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

As cozinheiras fazem assim assim assim

Assim assado carne seca com ensopado

4 Recolhido atraveacutes da cultura oral

18

Objeto permanente Nos primeiros dois anos de vida a crianccedila apresenta um

comportamento em constante adaptaccedilatildeo pois estaacute sempre se modificando para

responder aos estiacutemulos do meio A crianccedila inicialmente natildeo tem noccedilatildeo da

permanecircncia dos objetos ela pensa que eles soacute existem enquanto estatildeo ao

alcance dos seus olhos caso sejam escondidos a sua frente acharaacute que estes

acabaram ou se desintegraram Entre os 18 e 24 meses a crianccedila jaacute consegue

elaborar mais este conhecimento e apesar de natildeo vecirc-lo ouvi-lo ou tocaacute-lo ela vai

compreender que os objetos independem da sua vontade e presenccedila para

existirem

Para melhor apreensatildeo da realidade fiacutesica a praacutetica pelo ensaio e erro ou

aparecer desaparecer vatildeo treinar e orientar os pequenos na aquisiccedilatildeo das noccedilotildees

de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo da realidade como

afirma FerreiraI(1994p35) ldquoO esquema do objeto permanente eacute baacutesico para a

construccedilatildeo das noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidaderdquo

Observe que as crianccedilas nesta fase gostam das brincadeiras de

esconde-esconde que amenizam suas anguacutestias sobre a existecircncia ou natildeo dos

objetos reais Seu proacuteprio corpo eacute posto agrave prova escondendo o rosto ou as matildeos

atraacutes de uma almofada por exemplo A muacutesica das palminhas talvez possa auxiliar

nesta etapa

19

PALMINHAS PALMINHAS (folclore)5

Palminhas palminhas nos vamos bater

Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconder

Em cima em cima noacutes vamos bater

Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconde

Assim assim pra traacutes esconder

Em baixo em baixo noacutes vamos bate

Depois as matildeozinhas pra traacutes esconde

Assim assim pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconder

Os conceitos estudados ateacute aqui se realizam dentro dos estaacutegios do

desenvolvimento organizados por Piaget Passar-se-aacute neste momento agrave elucidaccedilatildeo

dos estaacutegios pertinentes agrave faixa etaacuteria da populaccedilatildeo pesquisada nesta monografia

estaacutegios Sensoacuterio-motor e Preacute-operacional

31ESTAacuteGIO SENSOacuteRIO MOTOR (0 agrave 2 anos) Estaacutegio que vai do nascimento

ateacute a aquisiccedilatildeo da linguagem e eacute dividido em 6 sub estaacutegios Esta eacute a fase do

comportamento inteligente antes da aquisiccedilatildeo da linguagem a crianccedila organiza a

informaccedilatildeo obtida atraveacutes dos sentidos e desenvolve respostas aos estiacutemulos

5 Recolhido atraveacutes da cultura oral

20

ambientais com comportamento adaptativo e constante modificaccedilotildees dos

esquemas de accedilatildeo em resposta ao meio A aquisiccedilatildeo mais importante deste

periacuteodo eacute o Objeto Permanente Manifesta-se ainda a imitaccedilatildeo que alcanccedilaraacute o

seu auge no proacuteximo estaacutegio

1ordm Sub Estaacutegio ndash Exerciacutecio dos reflexos (0 a 1 mecircs) Do alto da sua imaturidade

bioloacutegica a crianccedila se relaciona com o meio atraveacutes dos movimentos reflexos

hereditaacuterios que se aprimoram pelo exerciacutecio tornando-se cada vez mais

eficientes Ainda natildeo haacute a distinccedilatildeo entre o eu e o outro

2ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular primaacuteria (1 a 4 meses)Esta eacute a fase das

primeiras acomodaccedilotildees onde os exerciacutecios reflexos se transformam em esquemas

e comeccedilam a coordenar seus movimentos Inicia-se a construccedilatildeo dos primeiros

esquemas vocais A noccedilatildeo de tempo eacute primitiva sua duraccedilatildeo soacute eacute sentida no

decorrer da proacutepria accedilatildeo O final do periacuteodo eacute marcado pela coordenaccedilatildeo entre trecircs

esquemas fundamentais audiccedilatildeo fonaccedilatildeo e visatildeo

3ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular secundaacuteria (4 a 8 meses) O bebecirc apresenta

um maior interesse pelo mundo externo os esquemas se diferenciam surgindo

novos esquemas de coordenaccedilatildeo viso-motora unindo-se as aquisiccedilotildees jaacute

realizadas Os movimentos comeccedilam a ser repetido pelo prazer da repeticcedilatildeo

Observa-se o iniacutecio da noccedilatildeo do Objeto Permanente entretanto ela estaacute

condicionada ao movimento da crianccedila pois as coisas ainda natildeo seguem uma

trajetoacuteria independente

21

4ordm Sub Estaacutegio ndash Coordenaccedilatildeo de esquemas secundaacuterios (8 a 12 meses)

Caracteriza-se pelas primeiras condutas propriamente inteligentes surgindo

adaptaccedilotildees sensoacuterio-motoras intencionais onde o bebecirc combina esquemas

conhecidos a novas situaccedilotildees e ainda diferencia os meios e os fins de uma accedilatildeo

Aparece nesta fase o comportamento antecipatoacuterio caso o bebecirc veja sua matildee se

afastar chora a imitaccedilatildeo de sons e accedilotildees satildeo agora intencionais e

conscientizadas no entanto ainda condicionadas ao esquema visual Revelam-se

os primoacuterdios da memoacuteria e da representaccedilatildeo mental Comeccedila a permanecircncia do

objeto independente do ldquoeurdquo Quanto agrave noccedilatildeo de espaccedilo e tempo a crianccedila

comeccedila a ordenar os proacuteprios deslocamentos em relaccedilatildeo aos objetos

5ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular terciaacuteria (12 a 18 meses) A crianccedila gradua

seus movimentos varia e experimenta novos padrotildees de comportamento

observando os diferentes efeitos da sua accedilatildeo sobre o objeto o qual jaacute eacute dotado de

permanecircncia Pode-se afirmar que o mecanismo da inteligecircncia praacutetica estaacute

definitivamente constituiacutedo A cada estruturaccedilatildeo da inteligecircncia corresponde uma

nova estruturaccedilatildeo do espaccedilo do tempo da causalidade etc Agindo por ldquoensaio e

errordquo os resultados das accedilotildees ainda satildeo por acaso pois as representaccedilotildees

mentais de fatos externos ainda natildeo se incluem ou seja o pensamento ainda natildeo

estaacute formado

22

6ordm Sub Estaacutegio ndash A invenccedilatildeo dos novos meios por combinaccedilatildeo

mental (18 a 24 meses) Esta fase caracteriza o momento de transiccedilatildeo entre a

inteligecircncia praacutetica (sensoacuterio-motora) e a inteligecircncia representativa quando

comeccedila a funccedilatildeo simboacutelica Inicia-se a representaccedilatildeo mental imaginativa e criativa

No jogo simboacutelico a crianccedila usa siacutembolos na linguagem e na brincadeira do faz-deshy

conta recorda-se de fatos passados e os representa depois de algum tempo O

final deste periacuteodo eacute marcado pela primeira noccedilatildeo de conservaccedilatildeo(FerreiraI1994)

Os primeiros anos de vida da crianccedila satildeo marcados pelas inuacutemeras

formaccedilotildees e transformaccedilotildees fiacutesicas mentais e emocionais conforme descritas

acima Os acalantos (muacutesicas de ninar) satildeo cantados por matildees de todo o mundo

numa primeira inserccedilatildeo da crianccedila ao universo musical de sua cultura Eles

exercem um poderoso papel de auxiacutelio agrave maternagem acolhendo-a afetuosamente

condiccedilatildeo baacutesica para que a crianccedila se sinta suficientemente amada para

prosseguir desenvolvendo-se Este tema seraacute melhor explanado nos proacuteximos

capiacutetulos Por hora parece oportuno um exemplo de acalanto

TUTU MARAMBAacute(folclore)6

Tutu marambaacute

Natildeo venha mais caacute

Que o pai do menino

Te manda mata

6 MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute PRECISO CANTAR Musicoterapia cantos e canccedilotildees2001p38

23

32ESTAacuteGIO PREacute-OPERACIONAL (2 agrave 7 anos) A crianccedila vive um tempo em que

usa a intuiccedilatildeo ela passa todos os seus atos para o pensamento sob a forma de

imagens e diante de uma situaccedilatildeo praacutetica suas respostas vatildeo se basear no que

ela vecirc sente mexe ou seja nas aparecircncias dos fatos que observa A crianccedila

possui a capacidade de representar uma coisa por outra e esta representaccedilatildeo

pode se dar por um gesto um desenho uma palavra etc A verbalizaccedilatildeo tem

destaque neste periacuteodo e a linguagem conduz agrave socializaccedilatildeo das accedilotildees Este

estaacutegio compreende duas formas de pensamento a saber O Pensamento

Simboacutelico e o Pensamento Intuitivo

Pensamento simboacutelico (2 agrave 4 anos) Para Piaget a funccedilatildeo simboacutelica consiste na

capacidade da crianccedila representar objetos e fatos conhecidos poreacutem ausentes por

um substituto qualquer seja este concreto ou imaginaacuterio Uma caracteriacutestica

fundamental desta fase eacute a diferenciaccedilatildeo entre significante e significado que eacute

manifestada por vaacuterias condutas sendo elas O jogo simboacutelico ou faz-de-conta a

imitaccedilatildeo o desenho a imagem mental a linguagem a criatividade etc Para

ldquosignificanterdquo leia-se objeto concreto e para ldquosignificadordquo a ideacuteia compreensiva do

que foi percebido (Piaget 2003)

Sobre a funccedilatildeo simboacutelica FerreiraI(1994p43) complementa ldquoA funccedilatildeo

simboacutelica pode ser considerada uma linguagem individual e particular da crianccedila

usada para compreender e representar o mundo O siacutembolo eacute subjetivo e aos

poucos vai sendo substituiacutedo por signos da linguagem socialrdquo

24

O pensamento infantil encontrado entre os 2 e 7 anos de idade eacute

egocentrado A visatildeo da realidade eacute centrada no ponto de vista do proacuteprio sujeito

sendo este incapaz de relacionaacute-lo ou de coordenaacute-lo a pontos de vistas diferentes

do seu

A aquisiccedilatildeo da linguagem tem destaque nesta fase e coincide com a

formaccedilatildeo do jogo simboacutelico que melhor se manifesta no jogo do faz-de-conta

Atraveacutes do que discute Ferreira I (1994p43) ldquoOs siacutembolos podem ser

socializados como os brinquedos coletivos e se tornar um siacutembolo coletivordquo

confirma-se mais uma vez que os estes elementos apresentam extrema valorizaccedilatildeo

soacutecio-afetiva e cultural Com a ludicidade que lhe eacute peculiar os brinquedos

cantados nesta fase encantam ensinam desenvolvem a memoacuteria a auto estima

o esquema corporal a imagem corporal a Coordenaccedilatildeo Motora a socializaccedilatildeo

entre outras funccedilotildees essenciais agrave formaccedilatildeo dos pequenos Eis um bom exemplo

O GIGANTE E O ANAtildeO(autor desconhecido)7

O peacute do gigante eacute grande

Do anatildeo pequenininho

O gigante pisa forte

O anatildeo pisa mansinho

O gigante fala grosso

O anatildeo fala fininho

Porque gigante come muito

E o anatildeo come pouquinho

7 Recolhido atraveacutes da cultura oral

25

Pensamento Intuitivo (4 agrave 7 anos) Subdividido em Intuitivo Simples e Intuitivo

Articulado eacute um estaacutegio marcado pela crescente formaccedilatildeo de conceitos O

pensamento intuitivo eacute uma espeacutecie de accedilatildeo executada em pensamento encaixar

seriar deslocar etc

A crianccedila no intuitivo simples representa mentalmente assimila e entende

o mundo real poreacutem de forma limitada pois soacute consegue coordenar um uacutenico

ponto de vista com base nas aparecircncias do que vecirc Centrado em si mesmo natildeo

admite a reversibilidade falta-lhe ainda a noccedilatildeo de conservaccedilatildeo das substacircncias

Quando se pede agrave crianccedila para desenhar ela desenha o que sabe e natildeo

o que vecirc Este egocentrismo que lhe eacute peculiar deveraacute evoluir para a

descentraccedilatildeo bem como haveraacute progressos nas diversas etapas cognitivas

(classificar seriar etc) Ao final do pensamento intuitivo articulado a crianccedila

comeccedila a levantar duacutevidas e questionamentos percebendo a mobilidade das

situaccedilotildees

ldquoA BARATArdquo(folclore)8

A barata diz que tem 7 saias de filoacute

Eacute mentira da barata ela tem eacute uma soacute

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute

A barata diz que tem um anel de formatura

Eacute mentira da barata ela tem eacute casca dura

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura

8 PAIVA Ione Maria R de OPCITp80

26

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura

A barata diz que dorme numa cama de cetim

Eacute mentira da barata ela dorme eacute no capim

Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim

Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim

Na muacutesica da barata as crianccedilas ironizam a tentativa de mentir deste

inseto A propoacutesito das ldquomentirinhasrdquo contidas nas brincadeiras infantis funcionam

como passaporte para a experimentaccedilatildeo do que eacute verdadeiro e real As palavras

de cascudo(1988p491) discorrem sobre os deslimites da mentira ldquoAs estoacuterias

mentirosas() satildeo muito populares e constituem um gecircnero especial onde a

imaginaccedilatildeo exagerada e livre se liberta dos limites da loacutegicardquo Acredita-se que as

crianccedilas exigem a verdade para terem o domiacutenio do que aprendem

33OS JOGOS POR PIAGET

ldquoPiaget vecirc no jogo um processo de ajuda ao desenvolvimento da crianccedila

acompanha-a sendo ao mesmo tempo uma atividade consequumlente de seu proacuteprio

crescimentordquo(Negrine1994p45) A leitura dos jogos em Piaget acompanha o

desenvolvimento integral do homem a inteligecircncia a afetividade a motricidade e a

sociabilidade satildeo vivenciadas nos jogos sendo a afetividade a funccedilatildeo que constitui

a energia necessaacuteria para a progressatildeo psiacutequica moral intelectual e motora

daquele que joga

Trecircs classificaccedilotildees baacutesicas do jogo satildeo mostradas na teoria

27

psicogeneacutetica de Piaget Jogos de exerciacutecio Jogos simboacutelicos e jogos de regra

Jogos de Exerciacutecio Ou jogos sensoacuterio-motores que aparecem no periacuteodo do

mesmo nome natildeo chegam a constituir sistemas luacutedicos independentes e

construtivos Sua motivaccedilatildeo se daacute pelo prazer funcional ou pelo prazer produzido

pela tomada de consciecircncia de suas novas capacidades

Os jogos motores ou de exerciacutecios satildeo aqueles que envolvem

diretamente a participaccedilatildeo ativa do corpo como um todo inclui-se ainda os jogos

sensoriais que ajudam a desenvolver os oacutergatildeos dos sentidos

A crianccedila nesta fase gosta de brincar com brinquedos que manipula

repetidas vezes explorando toda sua superfiacutecie Brincar de esconder o rosto ou os

objetos atirar e pegar brinquedos eacute prazeroso para a crianccedila ao mesmo tempo

que assimila as noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo

da realidade

Os estiacutemulos sensoriais tambeacutem fazem parte do seu interesse objetos

de diversas cores e texturas brinquedos sonoros muacutesica para ouvir acalentar

danccedilar e brincar desta forma explora o reconhecimento do eu do outro e dos

objetos

O jogo de exerciacutecio eacute o primeiro a aparecer no comportamento da

crianccedila explicitamente do 2ordm ao 5ordm estaacutegio do desenvolvimento sensoacuterio motor por

oposiccedilatildeo ao 6ordm estaacutegio onde se inicia o jogo simboacutelico(Negrine 1994)

28

ATIREI O PAU NO GATO(Folclore)9

Atirei o pau no ga-to-to mas o ga-to-to

Natildeo morreu- rreu- rreu dona chica-ca-ca

Admirou- se se do berro do berro

Do berro que o gato deu Miau

Jogos Simboacutelicos Em princiacutepio do ponto de vista de Piaget a diferenccedila entre os

jogos simboacutelicos e os de exerciacutecio intelectual consiste em que os primeiros se

referem ao pensamento

Os jogos simboacutelicos tem iniacutecio no 6ordm estaacutegio do periacuteodo sensoacuterio-motor

e se continua aproximadamente dos 2 aos 4 anos de idade cronoloacutegica ou do 1ordm

estaacutegio do preacute-operacional(fase simboacutelica) ateacute o iniacutecio do 2ordm estaacutegio do preacuteshy

operacional(fase intuitiva) Piaget apud Negrine(1994p41) deixa claro a

supremacia dos jogos simboacutelicos em detrimento dos anteriores

ldquoO esquema simboacutelico por si mesmo eacute suficiente para

assegurar a superioridade da representaccedilatildeo sobre

uma accedilatildeo pura nesta segundo Piaget o jogo

permite assimilar o mundo exterior ao eu como meio

infinitamente mais poderoso que o de simples exerciacuteciordquo

Como aparecem antes da linguagem verbal propriamente dita os jogos

simboacutelicos satildeo representados nas imagens mentais da crianccedila e vivenciados

atraveacutes dos gestos onomatopeacuteias pelo prazer de brincar com o faz-de-conta

9 MILLLECCO FILHO Luiacutes A e outros OPCIT p43

29

Nesta fase os acalantos vatildeo perdendo sua importacircncia dando lugar agraves

brincadeiras-de-roda os pequenos ao mesmo tempo em que aprendem a falar

aprendem a cantar as brincadeiras-de-roda tem a propriedade de enriquecerem o

repertoacuterio de palavras e movimentos

Jogos de Regras Os jogos de regras natildeo seguem o mesmo itineraacuterio dos

anteriores pois comeccedilam a aparecer na metade do 2ordm estaacutegio do periacuteodo preacuteshy

operacional isto eacute dos 4 aos 7 anos e principalmente no periacuteodo das operaccedilotildees

concretas dos 7 aos 12 anos Pesquisaremos como ocorrem os jogos de regra ateacute

os 7 anos pela delimitaccedilatildeo da populaccedilatildeo que esta monografia abrange

Dos 4 aos 7 anos periacuteodo preacute operacional intuitivo surgem os jogos de

regra que substituiratildeo o siacutembolo e enquadraratildeo o exerciacutecio no momento em que se

constituem de forma incipiente certas relaccedilotildees sociais(Piaget2003)

Com relaccedilatildeo as regras segundo Piaget apud Negrine

(1994p44)distinguem-se dois tipos transmitidas e espontacircneas As regras

transmitidas se referem aos jogos institucionais que se impotildeem por pressatildeo das

geraccedilotildees anteriores As espontacircneas se referem aos jogos de natureza contratual e

momentacircnea isto eacute procedem da socializaccedilatildeo dos jogos de simples exerciacutecios ou

dos simboacutelicos

30

Na cantiga de roda ldquoCiranda cirandinhardquo destaca-se o desenvolvimento

da roda e ao final as regras uma imposta (entrar na roda e dizer um verso) outra

espontacircnea (serve qualquer verso criado na hora ou jaacute existente) Outra versatildeo

desta mesma cantiga para crianccedilas menores pede ldquofaccedila um gesto bem bonito

diga adeus e vaacute se emborardquo A liberdade de criar um gesto verso a importacircncia de

estar no meio da roda como centro das atenccedilotildees e a valorizaccedilatildeo dos

companheiros satildeo o impulso para a espontaneidade e o crescimento da autonomia

do ser

CIRANDA CIRANDINHA(folclore)10

Ciranda cirandinha vamos todos cirandar

Vamos dar a meia volta volta e meia vamos dar

o anel que tu me destes era vidro e se quebrou

o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou

Por isto sinhaacute Maria entre dentro desta roda

Diga um verso bem bonito diga adeus e vaacute se embora

Os conceitos estudados neste capiacutetulo podem orientar sobre o tempo

mental da crianccedila e a possibilidade de oferecer estiacutemulos adequados ao seu

momento Como uma boa buacutessola natildeo conteacutem apenas o norte

10 MARTINS Armando OPCITp105

31

4O BRINCAR E A REALIDADE WINNICOTTEANA

A partir da premissa de que natildeo se pode dividir o ser humano em

classificaccedilotildees bioloacutegicas e psiacutequicas posto que este eacute uma unidade indivisiacutevel

formulou-se apenas para efeitos didaacuteticos no capiacutetulo anteriorum olhar mais

fiacutesico(cognitivo) do desenvolvimento infantil atraveacutes de Piaget Discutir-se-aacute neste

capiacutetulo o ponto de vista Winnicotteano sobre a vida emocional e o brincar

Nos brinquedos cantados a arte de brincar se mistura a arte de cantar e

eacute fazendo ldquoArtesrdquo que a crianccedila dar-se a ver e a crescer A partir deste tema

instigante e universal que eacute o brincar torna-se mais prazeroso ainda falar sobre ele

depois de conhecer os estudos do Drordm Winnicott

D W Winnicott pediatra psicanalista psicoterapeuta inglecircs e defensor

da Ludoterapia nasceu no comeccedilo do seacuteculo 20 produzindo uma vasta obra

cientiacutefica ateacute os anos 70 quando nos deixou Em seu livro ldquoO Brincar e

Realidaderdquo(1975) se preocupou com os primoacuterdios da vida imaginativa da

experiecircncia cultural em todos os sentidos da relaccedilatildeo das artes com o brincar e da

criatividade

Neste momento parece relevante abordar alguns dos conceitos teoacutericos

do DrordmWinnicott atraveacutes da obra mencionada pelo suporte que podem

proporcionar agrave compreensatildeo da vida psiacutequica mediante o brincar e a terapia Em

32

Conceitos e contornos ilustrar-se-aacute o Objeto transicional Fenocircmeno transicional

Matildee suficientemente boa Aacuterea intermediaacuteria e o Eu(Self) circundando a

importacircncia destes conceitos em relaccedilatildeo aos brinquedos cantados e sua aplicaccedilatildeo

na cliacutenica psicomotora

41CONCEITOS E CONTORNOS

Objeto Transicional Eacute o objeto concreto relativo agrave exploraccedilatildeo pulsional (descarga

impulsiva) do sujeito por exemplo uma boneca ou um carrinho

Fenocircmeno Transicional Satildeo as accedilotildees relativas agrave exploraccedilatildeo pulsional ou o uso

que se faz dos objetos transicionais Ex Um carrinho pode ser acalentado como se

fosse um bebecirc

Matildee Suficientemente Boa Pessoa que ocupa o lugar de suporte afetivo no

desenvolvimento global da crianccedila tambeacutem associada por ele a figura do

terapeuta

Em outras palavras o amor da matildee ou do terapeuta

natildeo significaria apenas um atendimento agraves necessidades

da dependecircncia mas vem a significar a concessatildeo

de oportunidades que permita ao bebecirc ou ao paciente

passar da dependecircncia para a autonomia

(Winnicott1975p150)

33

Aacuterea Intermediaacuteria Aacuterea neutra de experimentaccedilatildeo vivencial entre as realidades

internas e externas do sujeito que favorece a dialeacutetica do brincar e das artes O

dito autor parece supor um espaccedilo de refuacutegio para a resoluccedilatildeo dos conflitos

humanos Eis aqui a referecircncia para tal colocaccedilatildeo

Presume-se aqui que a tarefa de aceitaccedilatildeo da realidade

nunca eacute completada que nenhum ser humano estaacute livre

da tensatildeo de relacionar a realidade interna e externa e

que o aliacutevio dessa tensatildeo eacute proporcionado por uma aacuterea

intermediaacuteria de experiecircncia(cf Riviere1936) que natildeo eacute

contestada (artes religiatildeo etc) Essa aacuterea intermediaacuteria

estaacute em continuidade direta com a aacuterea do brincar da

crianccedila pequena que se ldquoperderdquo no brincar

(Winnicottopcitp29)

A princiacutepio eacute difiacutecil falar dos brinquedos cantados como objetos

transicionais (concretos) porque natildeo satildeo exatamente vistos a olhos nus embora

sejam audiacuteveis Todavia qualquer muacutesico pode escrever em uma partitura o

brinquedo cantado (concreto e cantaacutevel) para tornaacute-lo visiacutevel

O ato de cantar uma muacutesica de roda ou um acalanto jaacute eacute a traduccedilatildeo do

fenocircmeno transicional Dar-se-aacute o uso que quiser a este brinquedo cantado no

momento de sua realizaccedilatildeo Se uma muacutesica de ninar for entoada com raiva ou

brutalidade eacute certo que traraacute temores ao bebecirc e natildeo o conforto a que se prestaria

Acalantos com este do ldquobicho papatildeordquo expotildee o perigo e propotildee acolhida pela

proteccedilatildeo materna

34

ldquoBICHO PAPAtildeO(folclore)11

Bicho Papatildeo sai de cima do telhado

Deixe o menino dormir sossegado

O Eu (Self) O Eu (Self) eacute o eu integral descrito por Winnicott(1975) em sua mais

pura essecircncia um eu que nasce na liberdade de expressatildeo na confianccedila baseada

nas experiecircncias vividas no suporte dos sentimentos Para este autor certas

condiccedilotildees se fazem necessaacuterias na busca do Eu (Self) eacute o que se chama de

criatividade A criatividade pode defraglar e sustentar o ser integral

A vida sadia se mostra pelo impulso criativo O brincar eacute um instrumento

da criatividade sediado na ldquoaacuterea intermediaacuteriardquo (entre as artes e o luacutedico)

sustentado em seus primoacuterdios pela ldquomatildee suficientemente boardquo direcionado agrave

busca do ldquoEu (Self) Sobre a importacircncia das cantigas de roda nesta busca

podemos ler as contribuiccedilotildees de Millecco filho e outros (2001p44)

As cantigas de roda datildeo continuidade ao trabalho

de elaboraccedilatildeo de conflitos e agrave estrutura da pessoa

em desenvolvimento iniciado com os acalantos

() A roda aparece como uma representaccedilatildeo da

mandala expressatildeo geomeacutetrica do Self

11 Recolhido atraveacutes da cultura oral

35

A letra da muacutesica infantil ldquoa canoa virourdquo expotildee um problema e supotildee

uma soluccedilatildeo hipoteacutetica

A CANOA VIROU(folclore)12

A canoa virou vou deixar ela virar

Foi por causa da Maria que natildeo soube remar

Ah se eu fosse peixinho e soubesse nadar

Eu tirava a Marialaacute do fundo do mar

A accedilatildeo terapecircutica deve ser um modo de auxiliar uma pessoa a

vir a ser o que ela eacute capaz de ser O psicomotricista atua como facilitador no

desenvolvimento do potencial existente no sujeito Numa maternagem

suficientemente boa como fala Winnicott o psicomotricista relacional torna-se um

companheiro de jornada para as atitudes luacutedicas do seu paciente

As medidas de afeto e limites saudaacuteveis agraves necessidades do outro

devem ser reconhecidas e valorizadas Eacute o que se vecirc nas colocaccedilotildees de Winnicott

(1975p63) ldquoEm outros termos eacute a brincadeira que eacute universal e que eacute proacutepria da

sauacutede o brincar facilita o crescimento e portanto a sauacutede o brincar conduz aos

relacionamentos grupais o brincar pode ser uma forma de comunicaccedilatildeo na

psicoterapia()rdquo

12 MARTINS Armando OPCITp110

36

Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e

estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que

haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila

acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas

Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a

brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre

MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR

VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR

Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o

aprender com a danccedila do outro

ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

13 Recolhido atraveacutes da cultura oral

37

Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons

e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os

brinquedos cantados

5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE

Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma

nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o

corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se

utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia

e da linguumliacutestica

No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua

expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a

existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto

O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que

encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e

motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros

Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando

fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar

gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil

38

ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14

Eacute bom cantar eacute bom ouvir

Eacute bom pensar eacute bom sentir

Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor

Viajar dentro de si pra poder se descobrir

51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE

A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso

meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da

psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu

corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)

O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico

(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes

concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo

ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a

palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas

que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que

quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do

latim Corpusque significa tecido de membros envoltura

da alma embriatildeo do espiacuterito

14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000

39

Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na

Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto

que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo

cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a

motricidade com a inteligecircncia

Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam

em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento

humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o

movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila

De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de

segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio

Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se

no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo

de Guilman

O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num

corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo

toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico

emocional(Levin opcit)

O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor

Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em

movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica

40

psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre

outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da

pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de

Levin(opcit)

Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor

podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor

ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento

Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o

sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem

tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco

podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade

eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)

52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA

A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o

seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins

pedagoacutegicos (Levy2000)

A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se

do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos

transtornos evidenciados (Coste1992)

A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a

41

afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja

o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade

do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting

psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais

uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si

mesmo uma terapiardquo

As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas

psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema

corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade

Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo

estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees

cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito

As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de

algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A

coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar

pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos

dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para

andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes

visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a

existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa

caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc

No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a

42

primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave

vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos

cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas

psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a

expressividade e a emoccedilatildeo

O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas

psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se

confirmar por exemplo para treinar a escrita

As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar

iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da

brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo

dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da

cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas

pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar

Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora

relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de

cada uma delas

43

53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE

Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os

acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte

afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe

o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo

e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do

acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si

mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a

busca do eu (Self)

O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos

cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a

partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes

acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de

interesse da populaccedilatildeo pesquisada

Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil

geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo

continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em

desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza

simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos

conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo

44

As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia

cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o

relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano

infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a

Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda

assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia

oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria

soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo

Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as

com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da

referida estrutura

Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos

integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos

grandes segmentos (Coste1992)

Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro

expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo

corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a

habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa

O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se

movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os

movimentos enquanto observam os amigos

45

BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

Os braccedilos pra cima e pra baixo

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

As pernas pra frente e pra traacutes

Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo

preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo

motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada

diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do

grafismo (Coste1992)

A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas

brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as

palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a

crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos

Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos

fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca

do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes

15 Recolhido atraveacutes da cultura oral

46

das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa

de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas

ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16

123 indiozinhos 456 indiozinhos

789 indiozinhos 10 num pequeno bote

Vinham navegando pelo rio abaixo

Quando o jacareacute se aproximou

E o pequeno bote dos indiozinhos

Quase quase virou quase quase virou

mas natildeo virou

Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo

ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam

internas ou externas (Levin2001)

A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e

apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as

crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do

corpo que deseja mostrar

ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17

Cabeccedila ombro joelho e peacute

Joelho e peacute joelho e peacute

Olhos boca orelha e nariz

Orelha e nariz orelha e nariz

16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral

47

Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O

equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute

relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)

Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de

amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o

personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca

instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma

perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal

traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal

ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca o pandeirotoca como ele soacute

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca violatildeo toca como ele soacute

Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao

tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir

da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do

aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala

dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da

vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza

18 Recolhido atraveacutes da cultura oral

48

Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila

seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um

personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular

correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e

volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem

seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam

ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19

Anda anda anda macaquinho

Anda anda anda sem parar

Pula pula pula macaquinho

Pula pula pula ateacute cansar

Corre corre corre macaquinho

Corre corre corre sem parar

Deita deita deita macaquinho

Deita deita deita dorme ateacute sonhar

Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu

desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e

relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do

mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)

Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira

19 Recolhido atraveacutes da cultura oral

49

traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo

espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a

noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo

vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento

O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e

rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos

de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra

frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente

e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da

roda virem periquitos tambeacutem

Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem

no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras

visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas

ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20

Periquito periquito parece com papa

Periquito periquito parece com papa

Por baixo por cima pra frente e pra traacutes

Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo

ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo

temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a

20 Recolhido atraveacutes da cultura oral

50

estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus

movimentos e se organiza na vida cotidiana

Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo

que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo

humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre

ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos

acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo

A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da

chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo

dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio

ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21

A janelinha fecha quando estaacute chovendo

A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo

Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute

Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute

Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os

centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e

contralaterais (Coste1992)

21 Recolhido atraveacutes da cultura oral

51

A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento

psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e

assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute

organizada e natildeo mudaraacute mais

Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os

peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a

conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo

grupo disposto em roda

ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22

Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora

Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora

Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock

Assim eacute bem melhor

( e assim por diante com as demais partes do corpo)

Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o

modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder

apud Coste(1992)

A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a

organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo

mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do

22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57

52

desejo da matildee

A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan

apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros

tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e

de diferenccedila (ibid)

Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o

ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na

constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo

desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A

psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade

poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A

citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo

O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de

identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria

de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do

lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que

eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim

constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute

poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo

o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)

53

Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia

corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber

possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver

As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a

expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente

Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar

cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de

construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza

pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem

corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter

fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de

cantar danccedilar e brincar

54

ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23

Minha boneca de lata

Bateu com a cabeccedila no chatildeo

Levou mais de uma hora

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui pra ficar boa

Minha boneca de lata

Bateu com o pescoccedilo no chatildeo

Levou mais de duas horas

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui desamassa aqui

Pra ficar boa

Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho

o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do

corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez

horas de arrumaccedilatildeo propostas

23 Recolhido atraveacutes da cultura oral

55

6CONCLUSAtildeO

Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-

se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse

infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar

Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a

relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas

cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo

permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os

estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e

que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo

Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de

winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do

ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos

como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica

Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de

conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos

Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade

que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se

pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos

sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu

ldquoafetordquo

56

Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a

psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir

expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer

Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia

para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a

socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte

aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o

desenvolvimento das estruturas psicomotoras

Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a

essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado

pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando

o prazer de brincar cantar e ser feliz

57

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WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975

Page 15: Brinquedos Cantados Na Psicomotricidade

14

23MOVIMENTAR

Do choro aos acalantos (muacutesicas de ninar) dos cantos culturais as

brincadeiras-de-roda haacute uma trajetoacuteria que vincula o som da voz ao movimento

corporal conforme afirma Fregtman(1988p17) isto ocorre ldquoporque a muacutesica eacute

feita dita tocada e cantada como manifestaccedilatildeo corporalrdquo

Toda forma de comunicaccedilatildeo se daacute atraveacutes de coacutedigos estabelecidos

linguagens por assim dizer Fregtman (opcit) conceitua a partir da musicoterapia

que trecircs niacuteveis de manifestaccedilatildeo expressiva simultacircneos podem se dar quando

usamos a muacutesica Satildeo eles

1) Linguagem sonora (sons silecircncios entonaccedilotildees melodias ritmos)

2) Linguagem corporal (gestos posturas trejeitos tipos de movimentos)

3) Linguagem verbal (a fala a letra a poesia)

Apenas para efeitos didaacuteticos se consegue separar estes trecircs niacuteveis de

linguagem A linguagem sonora necessariamente traacutes expressotildees corporais

estimula a emoccedilatildeo que se revela atraveacutes dos gestos posturas movimentos voz e

etc A linguagem corporal responde ao chamado verbal ou musical os quais soam

determinados significados simboacutelicos apreendidos nas relaccedilotildees soacutecio-afetivas E

por fim a linguagem verbal eacute inserida para nomear as accedilotildees sejam elas musicais

ou corporais

15

Os brinquedos cantados satildeo tambeacutem conceituados mediante sua aplicaccedilatildeo

em determinadas funccedilotildees na recreaccedilatildeo Os brinquedos cantados podem ser de

marcha de grupos opostos de palmas de roda de ninar ou alternados

Modificaccedilotildees diversas quanto ao andamento (lento moderado raacutepido) agrave formaccedilatildeo

(rodas simples complexas fileiras) e agrave movimentaccedilatildeo dos brinquedos cantados

(marcha roda dramatizaccedilatildeo) satildeo descritas por Leitatildeo(2001)

Neste trabalho prioriza-se os acalantos e as brincadeiras-de-roda tendo

em vista que a populaccedilatildeo estudada crianccedilas de 0 agrave 7 anos podem ser atendidas

em suas necessidades de acolhimento afetivo comunicaccedilatildeo expressiva e

socializaccedilatildeo atraveacutes destes elementos A Simbologia do movimento de Lapierre amp

Aucoutourrier (1986p41) sustenta o nosso pensamento atraveacutes da seguinte

citaccedilatildeo ldquoA muacutesica pode nos ajudar muito a redescobrir essa dimensatildeo do

movimento desde que natildeo seja restringida aos estereotipos da lsquodanccedilarsquo mesmo a

lsquoexpressivarsquo ldquo

ldquoO JACAREacuterdquo (folclore)3

O jacareacute o jacareacute o jacareacute eacute amigo ele eacute

Oi jacareacute oi jacareacute vem caacute cumpadre que a lagoa natildeo daacute peacute

O jacareacute tem os olhos muito grandes tem o rabo muito grande

Mas as pernas satildeo curtinhas

O jacareacute tem a boca muito grande tem os dentes muito grande

mas as pernas satildeo curtinhas

3 Recolhido atraveacutes da cultura oral

16

3O DESENVOLVIMENTO INFANTIL SEGUNDO PIAGET

Para Piaget (2003) o conhecimento eacute o resultado das accedilotildees e

relacionamentos do sujeito com o ambiente em que vive e vai sendo elaborado

desde o nascimento ateacute suas vivecircncias com os objetos pessoas e situaccedilotildees que

procura conhecer sejam elas do mundo fiacutesico ou cultural

Este autor formulou importantes conceitos que explicam o

desenvolvimento das funccedilotildees cognitivas A interaccedilatildeo entre a assimilaccedilatildeo

(informaccedilotildees do mundo exterior recebidas atraveacutes dos sentidos movimento de fora

para dentro) e a acomodaccedilatildeo (informaccedilatildeo processada respostas dadas ao mundo

exterior movimento de dentro para fora) sobre uma accedilatildeo satildeo validadas pelo

processo de equilibraccedilatildeo (Piagetopcit)

As perturbaccedilotildees exteriores se mostram a crianccedila a partir do que ela natildeo

conhece assim oportunizadas pelo processo de equilibraccedilatildeo e por meio de suas

atividades vai respondendo a estas perturbaccedilotildees vencendo a mais uma etapa

cognosciacutevel A equilibraccedilatildeo eacute dinacircmica e nunca cessa ela norteia a passagem de

um conhecimento ao outro(Piaget2003)

Dois outros conceitos Piagetianos satildeo imprescindiacuteveis ao tenro

desenvolvimento infantil e encontra-se nos brinquedos cantados uma forma

espontacircnea de vivenciaacute-los A Imitaccedilatildeo e a noccedilatildeo de Permanecircncia do Objeto

17

Imitaccedilatildeo Eacute na gecircnese da imitaccedilatildeo que inicia o movimento luacutedico da crianccedila

Imitando o meio e as pessoas ao seu redor a crianccedila apreende e treina suas novas

aquisiccedilotildees Ferreira I(1994 p47) afirma que ldquoA imitaccedilatildeo eacute uma das manifestaccedilotildees

da funccedilatildeo simboacutelica Constitui-se num dos elementos baacutesicos que permitem a

crianccedila uma assimilaccedilatildeo de realidade ao seu proacuteprio ldquoeurdquo bem como Acomodaccedilatildeo

de suas estruturas mentais e de accedilatildeo agraves exigecircncias da realidade fiacutesica e socialrdquo

Para haver o ato imitativo eacute necessaacuterio um modelo Alguns brinquedos

cantados propotildeem accedilotildees simboacutelicas que copiam o mundo adulto sem impor aos

pequenos o fardo da responsabilidade que este teria na realidade Eis um exemplo

interessante onde as crianccedilas imitam os afazeres dos mais velhos

PASSA PASSA GAVIAtildeO(folclore)4

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

As lavadeiras fazem assim

Assim assim assim assim

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

As passadeiras fazem assim

Assim assim assim assim

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

As cozinheiras fazem assim assim assim

Assim assado carne seca com ensopado

4 Recolhido atraveacutes da cultura oral

18

Objeto permanente Nos primeiros dois anos de vida a crianccedila apresenta um

comportamento em constante adaptaccedilatildeo pois estaacute sempre se modificando para

responder aos estiacutemulos do meio A crianccedila inicialmente natildeo tem noccedilatildeo da

permanecircncia dos objetos ela pensa que eles soacute existem enquanto estatildeo ao

alcance dos seus olhos caso sejam escondidos a sua frente acharaacute que estes

acabaram ou se desintegraram Entre os 18 e 24 meses a crianccedila jaacute consegue

elaborar mais este conhecimento e apesar de natildeo vecirc-lo ouvi-lo ou tocaacute-lo ela vai

compreender que os objetos independem da sua vontade e presenccedila para

existirem

Para melhor apreensatildeo da realidade fiacutesica a praacutetica pelo ensaio e erro ou

aparecer desaparecer vatildeo treinar e orientar os pequenos na aquisiccedilatildeo das noccedilotildees

de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo da realidade como

afirma FerreiraI(1994p35) ldquoO esquema do objeto permanente eacute baacutesico para a

construccedilatildeo das noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidaderdquo

Observe que as crianccedilas nesta fase gostam das brincadeiras de

esconde-esconde que amenizam suas anguacutestias sobre a existecircncia ou natildeo dos

objetos reais Seu proacuteprio corpo eacute posto agrave prova escondendo o rosto ou as matildeos

atraacutes de uma almofada por exemplo A muacutesica das palminhas talvez possa auxiliar

nesta etapa

19

PALMINHAS PALMINHAS (folclore)5

Palminhas palminhas nos vamos bater

Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconder

Em cima em cima noacutes vamos bater

Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconde

Assim assim pra traacutes esconder

Em baixo em baixo noacutes vamos bate

Depois as matildeozinhas pra traacutes esconde

Assim assim pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconder

Os conceitos estudados ateacute aqui se realizam dentro dos estaacutegios do

desenvolvimento organizados por Piaget Passar-se-aacute neste momento agrave elucidaccedilatildeo

dos estaacutegios pertinentes agrave faixa etaacuteria da populaccedilatildeo pesquisada nesta monografia

estaacutegios Sensoacuterio-motor e Preacute-operacional

31ESTAacuteGIO SENSOacuteRIO MOTOR (0 agrave 2 anos) Estaacutegio que vai do nascimento

ateacute a aquisiccedilatildeo da linguagem e eacute dividido em 6 sub estaacutegios Esta eacute a fase do

comportamento inteligente antes da aquisiccedilatildeo da linguagem a crianccedila organiza a

informaccedilatildeo obtida atraveacutes dos sentidos e desenvolve respostas aos estiacutemulos

5 Recolhido atraveacutes da cultura oral

20

ambientais com comportamento adaptativo e constante modificaccedilotildees dos

esquemas de accedilatildeo em resposta ao meio A aquisiccedilatildeo mais importante deste

periacuteodo eacute o Objeto Permanente Manifesta-se ainda a imitaccedilatildeo que alcanccedilaraacute o

seu auge no proacuteximo estaacutegio

1ordm Sub Estaacutegio ndash Exerciacutecio dos reflexos (0 a 1 mecircs) Do alto da sua imaturidade

bioloacutegica a crianccedila se relaciona com o meio atraveacutes dos movimentos reflexos

hereditaacuterios que se aprimoram pelo exerciacutecio tornando-se cada vez mais

eficientes Ainda natildeo haacute a distinccedilatildeo entre o eu e o outro

2ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular primaacuteria (1 a 4 meses)Esta eacute a fase das

primeiras acomodaccedilotildees onde os exerciacutecios reflexos se transformam em esquemas

e comeccedilam a coordenar seus movimentos Inicia-se a construccedilatildeo dos primeiros

esquemas vocais A noccedilatildeo de tempo eacute primitiva sua duraccedilatildeo soacute eacute sentida no

decorrer da proacutepria accedilatildeo O final do periacuteodo eacute marcado pela coordenaccedilatildeo entre trecircs

esquemas fundamentais audiccedilatildeo fonaccedilatildeo e visatildeo

3ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular secundaacuteria (4 a 8 meses) O bebecirc apresenta

um maior interesse pelo mundo externo os esquemas se diferenciam surgindo

novos esquemas de coordenaccedilatildeo viso-motora unindo-se as aquisiccedilotildees jaacute

realizadas Os movimentos comeccedilam a ser repetido pelo prazer da repeticcedilatildeo

Observa-se o iniacutecio da noccedilatildeo do Objeto Permanente entretanto ela estaacute

condicionada ao movimento da crianccedila pois as coisas ainda natildeo seguem uma

trajetoacuteria independente

21

4ordm Sub Estaacutegio ndash Coordenaccedilatildeo de esquemas secundaacuterios (8 a 12 meses)

Caracteriza-se pelas primeiras condutas propriamente inteligentes surgindo

adaptaccedilotildees sensoacuterio-motoras intencionais onde o bebecirc combina esquemas

conhecidos a novas situaccedilotildees e ainda diferencia os meios e os fins de uma accedilatildeo

Aparece nesta fase o comportamento antecipatoacuterio caso o bebecirc veja sua matildee se

afastar chora a imitaccedilatildeo de sons e accedilotildees satildeo agora intencionais e

conscientizadas no entanto ainda condicionadas ao esquema visual Revelam-se

os primoacuterdios da memoacuteria e da representaccedilatildeo mental Comeccedila a permanecircncia do

objeto independente do ldquoeurdquo Quanto agrave noccedilatildeo de espaccedilo e tempo a crianccedila

comeccedila a ordenar os proacuteprios deslocamentos em relaccedilatildeo aos objetos

5ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular terciaacuteria (12 a 18 meses) A crianccedila gradua

seus movimentos varia e experimenta novos padrotildees de comportamento

observando os diferentes efeitos da sua accedilatildeo sobre o objeto o qual jaacute eacute dotado de

permanecircncia Pode-se afirmar que o mecanismo da inteligecircncia praacutetica estaacute

definitivamente constituiacutedo A cada estruturaccedilatildeo da inteligecircncia corresponde uma

nova estruturaccedilatildeo do espaccedilo do tempo da causalidade etc Agindo por ldquoensaio e

errordquo os resultados das accedilotildees ainda satildeo por acaso pois as representaccedilotildees

mentais de fatos externos ainda natildeo se incluem ou seja o pensamento ainda natildeo

estaacute formado

22

6ordm Sub Estaacutegio ndash A invenccedilatildeo dos novos meios por combinaccedilatildeo

mental (18 a 24 meses) Esta fase caracteriza o momento de transiccedilatildeo entre a

inteligecircncia praacutetica (sensoacuterio-motora) e a inteligecircncia representativa quando

comeccedila a funccedilatildeo simboacutelica Inicia-se a representaccedilatildeo mental imaginativa e criativa

No jogo simboacutelico a crianccedila usa siacutembolos na linguagem e na brincadeira do faz-deshy

conta recorda-se de fatos passados e os representa depois de algum tempo O

final deste periacuteodo eacute marcado pela primeira noccedilatildeo de conservaccedilatildeo(FerreiraI1994)

Os primeiros anos de vida da crianccedila satildeo marcados pelas inuacutemeras

formaccedilotildees e transformaccedilotildees fiacutesicas mentais e emocionais conforme descritas

acima Os acalantos (muacutesicas de ninar) satildeo cantados por matildees de todo o mundo

numa primeira inserccedilatildeo da crianccedila ao universo musical de sua cultura Eles

exercem um poderoso papel de auxiacutelio agrave maternagem acolhendo-a afetuosamente

condiccedilatildeo baacutesica para que a crianccedila se sinta suficientemente amada para

prosseguir desenvolvendo-se Este tema seraacute melhor explanado nos proacuteximos

capiacutetulos Por hora parece oportuno um exemplo de acalanto

TUTU MARAMBAacute(folclore)6

Tutu marambaacute

Natildeo venha mais caacute

Que o pai do menino

Te manda mata

6 MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute PRECISO CANTAR Musicoterapia cantos e canccedilotildees2001p38

23

32ESTAacuteGIO PREacute-OPERACIONAL (2 agrave 7 anos) A crianccedila vive um tempo em que

usa a intuiccedilatildeo ela passa todos os seus atos para o pensamento sob a forma de

imagens e diante de uma situaccedilatildeo praacutetica suas respostas vatildeo se basear no que

ela vecirc sente mexe ou seja nas aparecircncias dos fatos que observa A crianccedila

possui a capacidade de representar uma coisa por outra e esta representaccedilatildeo

pode se dar por um gesto um desenho uma palavra etc A verbalizaccedilatildeo tem

destaque neste periacuteodo e a linguagem conduz agrave socializaccedilatildeo das accedilotildees Este

estaacutegio compreende duas formas de pensamento a saber O Pensamento

Simboacutelico e o Pensamento Intuitivo

Pensamento simboacutelico (2 agrave 4 anos) Para Piaget a funccedilatildeo simboacutelica consiste na

capacidade da crianccedila representar objetos e fatos conhecidos poreacutem ausentes por

um substituto qualquer seja este concreto ou imaginaacuterio Uma caracteriacutestica

fundamental desta fase eacute a diferenciaccedilatildeo entre significante e significado que eacute

manifestada por vaacuterias condutas sendo elas O jogo simboacutelico ou faz-de-conta a

imitaccedilatildeo o desenho a imagem mental a linguagem a criatividade etc Para

ldquosignificanterdquo leia-se objeto concreto e para ldquosignificadordquo a ideacuteia compreensiva do

que foi percebido (Piaget 2003)

Sobre a funccedilatildeo simboacutelica FerreiraI(1994p43) complementa ldquoA funccedilatildeo

simboacutelica pode ser considerada uma linguagem individual e particular da crianccedila

usada para compreender e representar o mundo O siacutembolo eacute subjetivo e aos

poucos vai sendo substituiacutedo por signos da linguagem socialrdquo

24

O pensamento infantil encontrado entre os 2 e 7 anos de idade eacute

egocentrado A visatildeo da realidade eacute centrada no ponto de vista do proacuteprio sujeito

sendo este incapaz de relacionaacute-lo ou de coordenaacute-lo a pontos de vistas diferentes

do seu

A aquisiccedilatildeo da linguagem tem destaque nesta fase e coincide com a

formaccedilatildeo do jogo simboacutelico que melhor se manifesta no jogo do faz-de-conta

Atraveacutes do que discute Ferreira I (1994p43) ldquoOs siacutembolos podem ser

socializados como os brinquedos coletivos e se tornar um siacutembolo coletivordquo

confirma-se mais uma vez que os estes elementos apresentam extrema valorizaccedilatildeo

soacutecio-afetiva e cultural Com a ludicidade que lhe eacute peculiar os brinquedos

cantados nesta fase encantam ensinam desenvolvem a memoacuteria a auto estima

o esquema corporal a imagem corporal a Coordenaccedilatildeo Motora a socializaccedilatildeo

entre outras funccedilotildees essenciais agrave formaccedilatildeo dos pequenos Eis um bom exemplo

O GIGANTE E O ANAtildeO(autor desconhecido)7

O peacute do gigante eacute grande

Do anatildeo pequenininho

O gigante pisa forte

O anatildeo pisa mansinho

O gigante fala grosso

O anatildeo fala fininho

Porque gigante come muito

E o anatildeo come pouquinho

7 Recolhido atraveacutes da cultura oral

25

Pensamento Intuitivo (4 agrave 7 anos) Subdividido em Intuitivo Simples e Intuitivo

Articulado eacute um estaacutegio marcado pela crescente formaccedilatildeo de conceitos O

pensamento intuitivo eacute uma espeacutecie de accedilatildeo executada em pensamento encaixar

seriar deslocar etc

A crianccedila no intuitivo simples representa mentalmente assimila e entende

o mundo real poreacutem de forma limitada pois soacute consegue coordenar um uacutenico

ponto de vista com base nas aparecircncias do que vecirc Centrado em si mesmo natildeo

admite a reversibilidade falta-lhe ainda a noccedilatildeo de conservaccedilatildeo das substacircncias

Quando se pede agrave crianccedila para desenhar ela desenha o que sabe e natildeo

o que vecirc Este egocentrismo que lhe eacute peculiar deveraacute evoluir para a

descentraccedilatildeo bem como haveraacute progressos nas diversas etapas cognitivas

(classificar seriar etc) Ao final do pensamento intuitivo articulado a crianccedila

comeccedila a levantar duacutevidas e questionamentos percebendo a mobilidade das

situaccedilotildees

ldquoA BARATArdquo(folclore)8

A barata diz que tem 7 saias de filoacute

Eacute mentira da barata ela tem eacute uma soacute

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute

A barata diz que tem um anel de formatura

Eacute mentira da barata ela tem eacute casca dura

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura

8 PAIVA Ione Maria R de OPCITp80

26

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura

A barata diz que dorme numa cama de cetim

Eacute mentira da barata ela dorme eacute no capim

Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim

Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim

Na muacutesica da barata as crianccedilas ironizam a tentativa de mentir deste

inseto A propoacutesito das ldquomentirinhasrdquo contidas nas brincadeiras infantis funcionam

como passaporte para a experimentaccedilatildeo do que eacute verdadeiro e real As palavras

de cascudo(1988p491) discorrem sobre os deslimites da mentira ldquoAs estoacuterias

mentirosas() satildeo muito populares e constituem um gecircnero especial onde a

imaginaccedilatildeo exagerada e livre se liberta dos limites da loacutegicardquo Acredita-se que as

crianccedilas exigem a verdade para terem o domiacutenio do que aprendem

33OS JOGOS POR PIAGET

ldquoPiaget vecirc no jogo um processo de ajuda ao desenvolvimento da crianccedila

acompanha-a sendo ao mesmo tempo uma atividade consequumlente de seu proacuteprio

crescimentordquo(Negrine1994p45) A leitura dos jogos em Piaget acompanha o

desenvolvimento integral do homem a inteligecircncia a afetividade a motricidade e a

sociabilidade satildeo vivenciadas nos jogos sendo a afetividade a funccedilatildeo que constitui

a energia necessaacuteria para a progressatildeo psiacutequica moral intelectual e motora

daquele que joga

Trecircs classificaccedilotildees baacutesicas do jogo satildeo mostradas na teoria

27

psicogeneacutetica de Piaget Jogos de exerciacutecio Jogos simboacutelicos e jogos de regra

Jogos de Exerciacutecio Ou jogos sensoacuterio-motores que aparecem no periacuteodo do

mesmo nome natildeo chegam a constituir sistemas luacutedicos independentes e

construtivos Sua motivaccedilatildeo se daacute pelo prazer funcional ou pelo prazer produzido

pela tomada de consciecircncia de suas novas capacidades

Os jogos motores ou de exerciacutecios satildeo aqueles que envolvem

diretamente a participaccedilatildeo ativa do corpo como um todo inclui-se ainda os jogos

sensoriais que ajudam a desenvolver os oacutergatildeos dos sentidos

A crianccedila nesta fase gosta de brincar com brinquedos que manipula

repetidas vezes explorando toda sua superfiacutecie Brincar de esconder o rosto ou os

objetos atirar e pegar brinquedos eacute prazeroso para a crianccedila ao mesmo tempo

que assimila as noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo

da realidade

Os estiacutemulos sensoriais tambeacutem fazem parte do seu interesse objetos

de diversas cores e texturas brinquedos sonoros muacutesica para ouvir acalentar

danccedilar e brincar desta forma explora o reconhecimento do eu do outro e dos

objetos

O jogo de exerciacutecio eacute o primeiro a aparecer no comportamento da

crianccedila explicitamente do 2ordm ao 5ordm estaacutegio do desenvolvimento sensoacuterio motor por

oposiccedilatildeo ao 6ordm estaacutegio onde se inicia o jogo simboacutelico(Negrine 1994)

28

ATIREI O PAU NO GATO(Folclore)9

Atirei o pau no ga-to-to mas o ga-to-to

Natildeo morreu- rreu- rreu dona chica-ca-ca

Admirou- se se do berro do berro

Do berro que o gato deu Miau

Jogos Simboacutelicos Em princiacutepio do ponto de vista de Piaget a diferenccedila entre os

jogos simboacutelicos e os de exerciacutecio intelectual consiste em que os primeiros se

referem ao pensamento

Os jogos simboacutelicos tem iniacutecio no 6ordm estaacutegio do periacuteodo sensoacuterio-motor

e se continua aproximadamente dos 2 aos 4 anos de idade cronoloacutegica ou do 1ordm

estaacutegio do preacute-operacional(fase simboacutelica) ateacute o iniacutecio do 2ordm estaacutegio do preacuteshy

operacional(fase intuitiva) Piaget apud Negrine(1994p41) deixa claro a

supremacia dos jogos simboacutelicos em detrimento dos anteriores

ldquoO esquema simboacutelico por si mesmo eacute suficiente para

assegurar a superioridade da representaccedilatildeo sobre

uma accedilatildeo pura nesta segundo Piaget o jogo

permite assimilar o mundo exterior ao eu como meio

infinitamente mais poderoso que o de simples exerciacuteciordquo

Como aparecem antes da linguagem verbal propriamente dita os jogos

simboacutelicos satildeo representados nas imagens mentais da crianccedila e vivenciados

atraveacutes dos gestos onomatopeacuteias pelo prazer de brincar com o faz-de-conta

9 MILLLECCO FILHO Luiacutes A e outros OPCIT p43

29

Nesta fase os acalantos vatildeo perdendo sua importacircncia dando lugar agraves

brincadeiras-de-roda os pequenos ao mesmo tempo em que aprendem a falar

aprendem a cantar as brincadeiras-de-roda tem a propriedade de enriquecerem o

repertoacuterio de palavras e movimentos

Jogos de Regras Os jogos de regras natildeo seguem o mesmo itineraacuterio dos

anteriores pois comeccedilam a aparecer na metade do 2ordm estaacutegio do periacuteodo preacuteshy

operacional isto eacute dos 4 aos 7 anos e principalmente no periacuteodo das operaccedilotildees

concretas dos 7 aos 12 anos Pesquisaremos como ocorrem os jogos de regra ateacute

os 7 anos pela delimitaccedilatildeo da populaccedilatildeo que esta monografia abrange

Dos 4 aos 7 anos periacuteodo preacute operacional intuitivo surgem os jogos de

regra que substituiratildeo o siacutembolo e enquadraratildeo o exerciacutecio no momento em que se

constituem de forma incipiente certas relaccedilotildees sociais(Piaget2003)

Com relaccedilatildeo as regras segundo Piaget apud Negrine

(1994p44)distinguem-se dois tipos transmitidas e espontacircneas As regras

transmitidas se referem aos jogos institucionais que se impotildeem por pressatildeo das

geraccedilotildees anteriores As espontacircneas se referem aos jogos de natureza contratual e

momentacircnea isto eacute procedem da socializaccedilatildeo dos jogos de simples exerciacutecios ou

dos simboacutelicos

30

Na cantiga de roda ldquoCiranda cirandinhardquo destaca-se o desenvolvimento

da roda e ao final as regras uma imposta (entrar na roda e dizer um verso) outra

espontacircnea (serve qualquer verso criado na hora ou jaacute existente) Outra versatildeo

desta mesma cantiga para crianccedilas menores pede ldquofaccedila um gesto bem bonito

diga adeus e vaacute se emborardquo A liberdade de criar um gesto verso a importacircncia de

estar no meio da roda como centro das atenccedilotildees e a valorizaccedilatildeo dos

companheiros satildeo o impulso para a espontaneidade e o crescimento da autonomia

do ser

CIRANDA CIRANDINHA(folclore)10

Ciranda cirandinha vamos todos cirandar

Vamos dar a meia volta volta e meia vamos dar

o anel que tu me destes era vidro e se quebrou

o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou

Por isto sinhaacute Maria entre dentro desta roda

Diga um verso bem bonito diga adeus e vaacute se embora

Os conceitos estudados neste capiacutetulo podem orientar sobre o tempo

mental da crianccedila e a possibilidade de oferecer estiacutemulos adequados ao seu

momento Como uma boa buacutessola natildeo conteacutem apenas o norte

10 MARTINS Armando OPCITp105

31

4O BRINCAR E A REALIDADE WINNICOTTEANA

A partir da premissa de que natildeo se pode dividir o ser humano em

classificaccedilotildees bioloacutegicas e psiacutequicas posto que este eacute uma unidade indivisiacutevel

formulou-se apenas para efeitos didaacuteticos no capiacutetulo anteriorum olhar mais

fiacutesico(cognitivo) do desenvolvimento infantil atraveacutes de Piaget Discutir-se-aacute neste

capiacutetulo o ponto de vista Winnicotteano sobre a vida emocional e o brincar

Nos brinquedos cantados a arte de brincar se mistura a arte de cantar e

eacute fazendo ldquoArtesrdquo que a crianccedila dar-se a ver e a crescer A partir deste tema

instigante e universal que eacute o brincar torna-se mais prazeroso ainda falar sobre ele

depois de conhecer os estudos do Drordm Winnicott

D W Winnicott pediatra psicanalista psicoterapeuta inglecircs e defensor

da Ludoterapia nasceu no comeccedilo do seacuteculo 20 produzindo uma vasta obra

cientiacutefica ateacute os anos 70 quando nos deixou Em seu livro ldquoO Brincar e

Realidaderdquo(1975) se preocupou com os primoacuterdios da vida imaginativa da

experiecircncia cultural em todos os sentidos da relaccedilatildeo das artes com o brincar e da

criatividade

Neste momento parece relevante abordar alguns dos conceitos teoacutericos

do DrordmWinnicott atraveacutes da obra mencionada pelo suporte que podem

proporcionar agrave compreensatildeo da vida psiacutequica mediante o brincar e a terapia Em

32

Conceitos e contornos ilustrar-se-aacute o Objeto transicional Fenocircmeno transicional

Matildee suficientemente boa Aacuterea intermediaacuteria e o Eu(Self) circundando a

importacircncia destes conceitos em relaccedilatildeo aos brinquedos cantados e sua aplicaccedilatildeo

na cliacutenica psicomotora

41CONCEITOS E CONTORNOS

Objeto Transicional Eacute o objeto concreto relativo agrave exploraccedilatildeo pulsional (descarga

impulsiva) do sujeito por exemplo uma boneca ou um carrinho

Fenocircmeno Transicional Satildeo as accedilotildees relativas agrave exploraccedilatildeo pulsional ou o uso

que se faz dos objetos transicionais Ex Um carrinho pode ser acalentado como se

fosse um bebecirc

Matildee Suficientemente Boa Pessoa que ocupa o lugar de suporte afetivo no

desenvolvimento global da crianccedila tambeacutem associada por ele a figura do

terapeuta

Em outras palavras o amor da matildee ou do terapeuta

natildeo significaria apenas um atendimento agraves necessidades

da dependecircncia mas vem a significar a concessatildeo

de oportunidades que permita ao bebecirc ou ao paciente

passar da dependecircncia para a autonomia

(Winnicott1975p150)

33

Aacuterea Intermediaacuteria Aacuterea neutra de experimentaccedilatildeo vivencial entre as realidades

internas e externas do sujeito que favorece a dialeacutetica do brincar e das artes O

dito autor parece supor um espaccedilo de refuacutegio para a resoluccedilatildeo dos conflitos

humanos Eis aqui a referecircncia para tal colocaccedilatildeo

Presume-se aqui que a tarefa de aceitaccedilatildeo da realidade

nunca eacute completada que nenhum ser humano estaacute livre

da tensatildeo de relacionar a realidade interna e externa e

que o aliacutevio dessa tensatildeo eacute proporcionado por uma aacuterea

intermediaacuteria de experiecircncia(cf Riviere1936) que natildeo eacute

contestada (artes religiatildeo etc) Essa aacuterea intermediaacuteria

estaacute em continuidade direta com a aacuterea do brincar da

crianccedila pequena que se ldquoperderdquo no brincar

(Winnicottopcitp29)

A princiacutepio eacute difiacutecil falar dos brinquedos cantados como objetos

transicionais (concretos) porque natildeo satildeo exatamente vistos a olhos nus embora

sejam audiacuteveis Todavia qualquer muacutesico pode escrever em uma partitura o

brinquedo cantado (concreto e cantaacutevel) para tornaacute-lo visiacutevel

O ato de cantar uma muacutesica de roda ou um acalanto jaacute eacute a traduccedilatildeo do

fenocircmeno transicional Dar-se-aacute o uso que quiser a este brinquedo cantado no

momento de sua realizaccedilatildeo Se uma muacutesica de ninar for entoada com raiva ou

brutalidade eacute certo que traraacute temores ao bebecirc e natildeo o conforto a que se prestaria

Acalantos com este do ldquobicho papatildeordquo expotildee o perigo e propotildee acolhida pela

proteccedilatildeo materna

34

ldquoBICHO PAPAtildeO(folclore)11

Bicho Papatildeo sai de cima do telhado

Deixe o menino dormir sossegado

O Eu (Self) O Eu (Self) eacute o eu integral descrito por Winnicott(1975) em sua mais

pura essecircncia um eu que nasce na liberdade de expressatildeo na confianccedila baseada

nas experiecircncias vividas no suporte dos sentimentos Para este autor certas

condiccedilotildees se fazem necessaacuterias na busca do Eu (Self) eacute o que se chama de

criatividade A criatividade pode defraglar e sustentar o ser integral

A vida sadia se mostra pelo impulso criativo O brincar eacute um instrumento

da criatividade sediado na ldquoaacuterea intermediaacuteriardquo (entre as artes e o luacutedico)

sustentado em seus primoacuterdios pela ldquomatildee suficientemente boardquo direcionado agrave

busca do ldquoEu (Self) Sobre a importacircncia das cantigas de roda nesta busca

podemos ler as contribuiccedilotildees de Millecco filho e outros (2001p44)

As cantigas de roda datildeo continuidade ao trabalho

de elaboraccedilatildeo de conflitos e agrave estrutura da pessoa

em desenvolvimento iniciado com os acalantos

() A roda aparece como uma representaccedilatildeo da

mandala expressatildeo geomeacutetrica do Self

11 Recolhido atraveacutes da cultura oral

35

A letra da muacutesica infantil ldquoa canoa virourdquo expotildee um problema e supotildee

uma soluccedilatildeo hipoteacutetica

A CANOA VIROU(folclore)12

A canoa virou vou deixar ela virar

Foi por causa da Maria que natildeo soube remar

Ah se eu fosse peixinho e soubesse nadar

Eu tirava a Marialaacute do fundo do mar

A accedilatildeo terapecircutica deve ser um modo de auxiliar uma pessoa a

vir a ser o que ela eacute capaz de ser O psicomotricista atua como facilitador no

desenvolvimento do potencial existente no sujeito Numa maternagem

suficientemente boa como fala Winnicott o psicomotricista relacional torna-se um

companheiro de jornada para as atitudes luacutedicas do seu paciente

As medidas de afeto e limites saudaacuteveis agraves necessidades do outro

devem ser reconhecidas e valorizadas Eacute o que se vecirc nas colocaccedilotildees de Winnicott

(1975p63) ldquoEm outros termos eacute a brincadeira que eacute universal e que eacute proacutepria da

sauacutede o brincar facilita o crescimento e portanto a sauacutede o brincar conduz aos

relacionamentos grupais o brincar pode ser uma forma de comunicaccedilatildeo na

psicoterapia()rdquo

12 MARTINS Armando OPCITp110

36

Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e

estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que

haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila

acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas

Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a

brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre

MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR

VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR

Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o

aprender com a danccedila do outro

ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

13 Recolhido atraveacutes da cultura oral

37

Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons

e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os

brinquedos cantados

5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE

Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma

nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o

corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se

utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia

e da linguumliacutestica

No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua

expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a

existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto

O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que

encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e

motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros

Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando

fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar

gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil

38

ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14

Eacute bom cantar eacute bom ouvir

Eacute bom pensar eacute bom sentir

Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor

Viajar dentro de si pra poder se descobrir

51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE

A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso

meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da

psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu

corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)

O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico

(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes

concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo

ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a

palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas

que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que

quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do

latim Corpusque significa tecido de membros envoltura

da alma embriatildeo do espiacuterito

14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000

39

Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na

Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto

que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo

cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a

motricidade com a inteligecircncia

Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam

em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento

humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o

movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila

De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de

segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio

Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se

no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo

de Guilman

O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num

corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo

toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico

emocional(Levin opcit)

O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor

Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em

movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica

40

psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre

outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da

pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de

Levin(opcit)

Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor

podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor

ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento

Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o

sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem

tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco

podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade

eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)

52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA

A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o

seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins

pedagoacutegicos (Levy2000)

A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se

do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos

transtornos evidenciados (Coste1992)

A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a

41

afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja

o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade

do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting

psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais

uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si

mesmo uma terapiardquo

As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas

psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema

corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade

Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo

estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees

cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito

As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de

algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A

coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar

pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos

dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para

andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes

visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a

existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa

caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc

No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a

42

primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave

vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos

cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas

psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a

expressividade e a emoccedilatildeo

O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas

psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se

confirmar por exemplo para treinar a escrita

As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar

iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da

brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo

dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da

cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas

pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar

Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora

relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de

cada uma delas

43

53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE

Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os

acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte

afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe

o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo

e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do

acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si

mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a

busca do eu (Self)

O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos

cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a

partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes

acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de

interesse da populaccedilatildeo pesquisada

Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil

geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo

continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em

desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza

simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos

conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo

44

As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia

cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o

relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano

infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a

Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda

assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia

oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria

soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo

Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as

com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da

referida estrutura

Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos

integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos

grandes segmentos (Coste1992)

Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro

expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo

corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a

habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa

O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se

movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os

movimentos enquanto observam os amigos

45

BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

Os braccedilos pra cima e pra baixo

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

As pernas pra frente e pra traacutes

Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo

preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo

motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada

diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do

grafismo (Coste1992)

A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas

brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as

palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a

crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos

Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos

fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca

do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes

15 Recolhido atraveacutes da cultura oral

46

das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa

de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas

ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16

123 indiozinhos 456 indiozinhos

789 indiozinhos 10 num pequeno bote

Vinham navegando pelo rio abaixo

Quando o jacareacute se aproximou

E o pequeno bote dos indiozinhos

Quase quase virou quase quase virou

mas natildeo virou

Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo

ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam

internas ou externas (Levin2001)

A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e

apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as

crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do

corpo que deseja mostrar

ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17

Cabeccedila ombro joelho e peacute

Joelho e peacute joelho e peacute

Olhos boca orelha e nariz

Orelha e nariz orelha e nariz

16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral

47

Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O

equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute

relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)

Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de

amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o

personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca

instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma

perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal

traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal

ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca o pandeirotoca como ele soacute

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca violatildeo toca como ele soacute

Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao

tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir

da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do

aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala

dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da

vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza

18 Recolhido atraveacutes da cultura oral

48

Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila

seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um

personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular

correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e

volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem

seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam

ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19

Anda anda anda macaquinho

Anda anda anda sem parar

Pula pula pula macaquinho

Pula pula pula ateacute cansar

Corre corre corre macaquinho

Corre corre corre sem parar

Deita deita deita macaquinho

Deita deita deita dorme ateacute sonhar

Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu

desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e

relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do

mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)

Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira

19 Recolhido atraveacutes da cultura oral

49

traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo

espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a

noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo

vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento

O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e

rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos

de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra

frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente

e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da

roda virem periquitos tambeacutem

Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem

no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras

visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas

ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20

Periquito periquito parece com papa

Periquito periquito parece com papa

Por baixo por cima pra frente e pra traacutes

Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo

ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo

temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a

20 Recolhido atraveacutes da cultura oral

50

estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus

movimentos e se organiza na vida cotidiana

Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo

que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo

humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre

ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos

acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo

A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da

chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo

dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio

ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21

A janelinha fecha quando estaacute chovendo

A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo

Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute

Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute

Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os

centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e

contralaterais (Coste1992)

21 Recolhido atraveacutes da cultura oral

51

A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento

psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e

assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute

organizada e natildeo mudaraacute mais

Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os

peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a

conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo

grupo disposto em roda

ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22

Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora

Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora

Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock

Assim eacute bem melhor

( e assim por diante com as demais partes do corpo)

Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o

modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder

apud Coste(1992)

A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a

organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo

mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do

22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57

52

desejo da matildee

A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan

apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros

tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e

de diferenccedila (ibid)

Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o

ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na

constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo

desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A

psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade

poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A

citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo

O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de

identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria

de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do

lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que

eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim

constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute

poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo

o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)

53

Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia

corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber

possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver

As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a

expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente

Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar

cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de

construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza

pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem

corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter

fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de

cantar danccedilar e brincar

54

ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23

Minha boneca de lata

Bateu com a cabeccedila no chatildeo

Levou mais de uma hora

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui pra ficar boa

Minha boneca de lata

Bateu com o pescoccedilo no chatildeo

Levou mais de duas horas

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui desamassa aqui

Pra ficar boa

Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho

o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do

corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez

horas de arrumaccedilatildeo propostas

23 Recolhido atraveacutes da cultura oral

55

6CONCLUSAtildeO

Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-

se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse

infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar

Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a

relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas

cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo

permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os

estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e

que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo

Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de

winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do

ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos

como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica

Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de

conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos

Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade

que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se

pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos

sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu

ldquoafetordquo

56

Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a

psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir

expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer

Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia

para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a

socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte

aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o

desenvolvimento das estruturas psicomotoras

Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a

essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado

pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando

o prazer de brincar cantar e ser feliz

57

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WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975

Page 16: Brinquedos Cantados Na Psicomotricidade

15

Os brinquedos cantados satildeo tambeacutem conceituados mediante sua aplicaccedilatildeo

em determinadas funccedilotildees na recreaccedilatildeo Os brinquedos cantados podem ser de

marcha de grupos opostos de palmas de roda de ninar ou alternados

Modificaccedilotildees diversas quanto ao andamento (lento moderado raacutepido) agrave formaccedilatildeo

(rodas simples complexas fileiras) e agrave movimentaccedilatildeo dos brinquedos cantados

(marcha roda dramatizaccedilatildeo) satildeo descritas por Leitatildeo(2001)

Neste trabalho prioriza-se os acalantos e as brincadeiras-de-roda tendo

em vista que a populaccedilatildeo estudada crianccedilas de 0 agrave 7 anos podem ser atendidas

em suas necessidades de acolhimento afetivo comunicaccedilatildeo expressiva e

socializaccedilatildeo atraveacutes destes elementos A Simbologia do movimento de Lapierre amp

Aucoutourrier (1986p41) sustenta o nosso pensamento atraveacutes da seguinte

citaccedilatildeo ldquoA muacutesica pode nos ajudar muito a redescobrir essa dimensatildeo do

movimento desde que natildeo seja restringida aos estereotipos da lsquodanccedilarsquo mesmo a

lsquoexpressivarsquo ldquo

ldquoO JACAREacuterdquo (folclore)3

O jacareacute o jacareacute o jacareacute eacute amigo ele eacute

Oi jacareacute oi jacareacute vem caacute cumpadre que a lagoa natildeo daacute peacute

O jacareacute tem os olhos muito grandes tem o rabo muito grande

Mas as pernas satildeo curtinhas

O jacareacute tem a boca muito grande tem os dentes muito grande

mas as pernas satildeo curtinhas

3 Recolhido atraveacutes da cultura oral

16

3O DESENVOLVIMENTO INFANTIL SEGUNDO PIAGET

Para Piaget (2003) o conhecimento eacute o resultado das accedilotildees e

relacionamentos do sujeito com o ambiente em que vive e vai sendo elaborado

desde o nascimento ateacute suas vivecircncias com os objetos pessoas e situaccedilotildees que

procura conhecer sejam elas do mundo fiacutesico ou cultural

Este autor formulou importantes conceitos que explicam o

desenvolvimento das funccedilotildees cognitivas A interaccedilatildeo entre a assimilaccedilatildeo

(informaccedilotildees do mundo exterior recebidas atraveacutes dos sentidos movimento de fora

para dentro) e a acomodaccedilatildeo (informaccedilatildeo processada respostas dadas ao mundo

exterior movimento de dentro para fora) sobre uma accedilatildeo satildeo validadas pelo

processo de equilibraccedilatildeo (Piagetopcit)

As perturbaccedilotildees exteriores se mostram a crianccedila a partir do que ela natildeo

conhece assim oportunizadas pelo processo de equilibraccedilatildeo e por meio de suas

atividades vai respondendo a estas perturbaccedilotildees vencendo a mais uma etapa

cognosciacutevel A equilibraccedilatildeo eacute dinacircmica e nunca cessa ela norteia a passagem de

um conhecimento ao outro(Piaget2003)

Dois outros conceitos Piagetianos satildeo imprescindiacuteveis ao tenro

desenvolvimento infantil e encontra-se nos brinquedos cantados uma forma

espontacircnea de vivenciaacute-los A Imitaccedilatildeo e a noccedilatildeo de Permanecircncia do Objeto

17

Imitaccedilatildeo Eacute na gecircnese da imitaccedilatildeo que inicia o movimento luacutedico da crianccedila

Imitando o meio e as pessoas ao seu redor a crianccedila apreende e treina suas novas

aquisiccedilotildees Ferreira I(1994 p47) afirma que ldquoA imitaccedilatildeo eacute uma das manifestaccedilotildees

da funccedilatildeo simboacutelica Constitui-se num dos elementos baacutesicos que permitem a

crianccedila uma assimilaccedilatildeo de realidade ao seu proacuteprio ldquoeurdquo bem como Acomodaccedilatildeo

de suas estruturas mentais e de accedilatildeo agraves exigecircncias da realidade fiacutesica e socialrdquo

Para haver o ato imitativo eacute necessaacuterio um modelo Alguns brinquedos

cantados propotildeem accedilotildees simboacutelicas que copiam o mundo adulto sem impor aos

pequenos o fardo da responsabilidade que este teria na realidade Eis um exemplo

interessante onde as crianccedilas imitam os afazeres dos mais velhos

PASSA PASSA GAVIAtildeO(folclore)4

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

As lavadeiras fazem assim

Assim assim assim assim

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

As passadeiras fazem assim

Assim assim assim assim

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

As cozinheiras fazem assim assim assim

Assim assado carne seca com ensopado

4 Recolhido atraveacutes da cultura oral

18

Objeto permanente Nos primeiros dois anos de vida a crianccedila apresenta um

comportamento em constante adaptaccedilatildeo pois estaacute sempre se modificando para

responder aos estiacutemulos do meio A crianccedila inicialmente natildeo tem noccedilatildeo da

permanecircncia dos objetos ela pensa que eles soacute existem enquanto estatildeo ao

alcance dos seus olhos caso sejam escondidos a sua frente acharaacute que estes

acabaram ou se desintegraram Entre os 18 e 24 meses a crianccedila jaacute consegue

elaborar mais este conhecimento e apesar de natildeo vecirc-lo ouvi-lo ou tocaacute-lo ela vai

compreender que os objetos independem da sua vontade e presenccedila para

existirem

Para melhor apreensatildeo da realidade fiacutesica a praacutetica pelo ensaio e erro ou

aparecer desaparecer vatildeo treinar e orientar os pequenos na aquisiccedilatildeo das noccedilotildees

de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo da realidade como

afirma FerreiraI(1994p35) ldquoO esquema do objeto permanente eacute baacutesico para a

construccedilatildeo das noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidaderdquo

Observe que as crianccedilas nesta fase gostam das brincadeiras de

esconde-esconde que amenizam suas anguacutestias sobre a existecircncia ou natildeo dos

objetos reais Seu proacuteprio corpo eacute posto agrave prova escondendo o rosto ou as matildeos

atraacutes de uma almofada por exemplo A muacutesica das palminhas talvez possa auxiliar

nesta etapa

19

PALMINHAS PALMINHAS (folclore)5

Palminhas palminhas nos vamos bater

Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconder

Em cima em cima noacutes vamos bater

Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconde

Assim assim pra traacutes esconder

Em baixo em baixo noacutes vamos bate

Depois as matildeozinhas pra traacutes esconde

Assim assim pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconder

Os conceitos estudados ateacute aqui se realizam dentro dos estaacutegios do

desenvolvimento organizados por Piaget Passar-se-aacute neste momento agrave elucidaccedilatildeo

dos estaacutegios pertinentes agrave faixa etaacuteria da populaccedilatildeo pesquisada nesta monografia

estaacutegios Sensoacuterio-motor e Preacute-operacional

31ESTAacuteGIO SENSOacuteRIO MOTOR (0 agrave 2 anos) Estaacutegio que vai do nascimento

ateacute a aquisiccedilatildeo da linguagem e eacute dividido em 6 sub estaacutegios Esta eacute a fase do

comportamento inteligente antes da aquisiccedilatildeo da linguagem a crianccedila organiza a

informaccedilatildeo obtida atraveacutes dos sentidos e desenvolve respostas aos estiacutemulos

5 Recolhido atraveacutes da cultura oral

20

ambientais com comportamento adaptativo e constante modificaccedilotildees dos

esquemas de accedilatildeo em resposta ao meio A aquisiccedilatildeo mais importante deste

periacuteodo eacute o Objeto Permanente Manifesta-se ainda a imitaccedilatildeo que alcanccedilaraacute o

seu auge no proacuteximo estaacutegio

1ordm Sub Estaacutegio ndash Exerciacutecio dos reflexos (0 a 1 mecircs) Do alto da sua imaturidade

bioloacutegica a crianccedila se relaciona com o meio atraveacutes dos movimentos reflexos

hereditaacuterios que se aprimoram pelo exerciacutecio tornando-se cada vez mais

eficientes Ainda natildeo haacute a distinccedilatildeo entre o eu e o outro

2ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular primaacuteria (1 a 4 meses)Esta eacute a fase das

primeiras acomodaccedilotildees onde os exerciacutecios reflexos se transformam em esquemas

e comeccedilam a coordenar seus movimentos Inicia-se a construccedilatildeo dos primeiros

esquemas vocais A noccedilatildeo de tempo eacute primitiva sua duraccedilatildeo soacute eacute sentida no

decorrer da proacutepria accedilatildeo O final do periacuteodo eacute marcado pela coordenaccedilatildeo entre trecircs

esquemas fundamentais audiccedilatildeo fonaccedilatildeo e visatildeo

3ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular secundaacuteria (4 a 8 meses) O bebecirc apresenta

um maior interesse pelo mundo externo os esquemas se diferenciam surgindo

novos esquemas de coordenaccedilatildeo viso-motora unindo-se as aquisiccedilotildees jaacute

realizadas Os movimentos comeccedilam a ser repetido pelo prazer da repeticcedilatildeo

Observa-se o iniacutecio da noccedilatildeo do Objeto Permanente entretanto ela estaacute

condicionada ao movimento da crianccedila pois as coisas ainda natildeo seguem uma

trajetoacuteria independente

21

4ordm Sub Estaacutegio ndash Coordenaccedilatildeo de esquemas secundaacuterios (8 a 12 meses)

Caracteriza-se pelas primeiras condutas propriamente inteligentes surgindo

adaptaccedilotildees sensoacuterio-motoras intencionais onde o bebecirc combina esquemas

conhecidos a novas situaccedilotildees e ainda diferencia os meios e os fins de uma accedilatildeo

Aparece nesta fase o comportamento antecipatoacuterio caso o bebecirc veja sua matildee se

afastar chora a imitaccedilatildeo de sons e accedilotildees satildeo agora intencionais e

conscientizadas no entanto ainda condicionadas ao esquema visual Revelam-se

os primoacuterdios da memoacuteria e da representaccedilatildeo mental Comeccedila a permanecircncia do

objeto independente do ldquoeurdquo Quanto agrave noccedilatildeo de espaccedilo e tempo a crianccedila

comeccedila a ordenar os proacuteprios deslocamentos em relaccedilatildeo aos objetos

5ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular terciaacuteria (12 a 18 meses) A crianccedila gradua

seus movimentos varia e experimenta novos padrotildees de comportamento

observando os diferentes efeitos da sua accedilatildeo sobre o objeto o qual jaacute eacute dotado de

permanecircncia Pode-se afirmar que o mecanismo da inteligecircncia praacutetica estaacute

definitivamente constituiacutedo A cada estruturaccedilatildeo da inteligecircncia corresponde uma

nova estruturaccedilatildeo do espaccedilo do tempo da causalidade etc Agindo por ldquoensaio e

errordquo os resultados das accedilotildees ainda satildeo por acaso pois as representaccedilotildees

mentais de fatos externos ainda natildeo se incluem ou seja o pensamento ainda natildeo

estaacute formado

22

6ordm Sub Estaacutegio ndash A invenccedilatildeo dos novos meios por combinaccedilatildeo

mental (18 a 24 meses) Esta fase caracteriza o momento de transiccedilatildeo entre a

inteligecircncia praacutetica (sensoacuterio-motora) e a inteligecircncia representativa quando

comeccedila a funccedilatildeo simboacutelica Inicia-se a representaccedilatildeo mental imaginativa e criativa

No jogo simboacutelico a crianccedila usa siacutembolos na linguagem e na brincadeira do faz-deshy

conta recorda-se de fatos passados e os representa depois de algum tempo O

final deste periacuteodo eacute marcado pela primeira noccedilatildeo de conservaccedilatildeo(FerreiraI1994)

Os primeiros anos de vida da crianccedila satildeo marcados pelas inuacutemeras

formaccedilotildees e transformaccedilotildees fiacutesicas mentais e emocionais conforme descritas

acima Os acalantos (muacutesicas de ninar) satildeo cantados por matildees de todo o mundo

numa primeira inserccedilatildeo da crianccedila ao universo musical de sua cultura Eles

exercem um poderoso papel de auxiacutelio agrave maternagem acolhendo-a afetuosamente

condiccedilatildeo baacutesica para que a crianccedila se sinta suficientemente amada para

prosseguir desenvolvendo-se Este tema seraacute melhor explanado nos proacuteximos

capiacutetulos Por hora parece oportuno um exemplo de acalanto

TUTU MARAMBAacute(folclore)6

Tutu marambaacute

Natildeo venha mais caacute

Que o pai do menino

Te manda mata

6 MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute PRECISO CANTAR Musicoterapia cantos e canccedilotildees2001p38

23

32ESTAacuteGIO PREacute-OPERACIONAL (2 agrave 7 anos) A crianccedila vive um tempo em que

usa a intuiccedilatildeo ela passa todos os seus atos para o pensamento sob a forma de

imagens e diante de uma situaccedilatildeo praacutetica suas respostas vatildeo se basear no que

ela vecirc sente mexe ou seja nas aparecircncias dos fatos que observa A crianccedila

possui a capacidade de representar uma coisa por outra e esta representaccedilatildeo

pode se dar por um gesto um desenho uma palavra etc A verbalizaccedilatildeo tem

destaque neste periacuteodo e a linguagem conduz agrave socializaccedilatildeo das accedilotildees Este

estaacutegio compreende duas formas de pensamento a saber O Pensamento

Simboacutelico e o Pensamento Intuitivo

Pensamento simboacutelico (2 agrave 4 anos) Para Piaget a funccedilatildeo simboacutelica consiste na

capacidade da crianccedila representar objetos e fatos conhecidos poreacutem ausentes por

um substituto qualquer seja este concreto ou imaginaacuterio Uma caracteriacutestica

fundamental desta fase eacute a diferenciaccedilatildeo entre significante e significado que eacute

manifestada por vaacuterias condutas sendo elas O jogo simboacutelico ou faz-de-conta a

imitaccedilatildeo o desenho a imagem mental a linguagem a criatividade etc Para

ldquosignificanterdquo leia-se objeto concreto e para ldquosignificadordquo a ideacuteia compreensiva do

que foi percebido (Piaget 2003)

Sobre a funccedilatildeo simboacutelica FerreiraI(1994p43) complementa ldquoA funccedilatildeo

simboacutelica pode ser considerada uma linguagem individual e particular da crianccedila

usada para compreender e representar o mundo O siacutembolo eacute subjetivo e aos

poucos vai sendo substituiacutedo por signos da linguagem socialrdquo

24

O pensamento infantil encontrado entre os 2 e 7 anos de idade eacute

egocentrado A visatildeo da realidade eacute centrada no ponto de vista do proacuteprio sujeito

sendo este incapaz de relacionaacute-lo ou de coordenaacute-lo a pontos de vistas diferentes

do seu

A aquisiccedilatildeo da linguagem tem destaque nesta fase e coincide com a

formaccedilatildeo do jogo simboacutelico que melhor se manifesta no jogo do faz-de-conta

Atraveacutes do que discute Ferreira I (1994p43) ldquoOs siacutembolos podem ser

socializados como os brinquedos coletivos e se tornar um siacutembolo coletivordquo

confirma-se mais uma vez que os estes elementos apresentam extrema valorizaccedilatildeo

soacutecio-afetiva e cultural Com a ludicidade que lhe eacute peculiar os brinquedos

cantados nesta fase encantam ensinam desenvolvem a memoacuteria a auto estima

o esquema corporal a imagem corporal a Coordenaccedilatildeo Motora a socializaccedilatildeo

entre outras funccedilotildees essenciais agrave formaccedilatildeo dos pequenos Eis um bom exemplo

O GIGANTE E O ANAtildeO(autor desconhecido)7

O peacute do gigante eacute grande

Do anatildeo pequenininho

O gigante pisa forte

O anatildeo pisa mansinho

O gigante fala grosso

O anatildeo fala fininho

Porque gigante come muito

E o anatildeo come pouquinho

7 Recolhido atraveacutes da cultura oral

25

Pensamento Intuitivo (4 agrave 7 anos) Subdividido em Intuitivo Simples e Intuitivo

Articulado eacute um estaacutegio marcado pela crescente formaccedilatildeo de conceitos O

pensamento intuitivo eacute uma espeacutecie de accedilatildeo executada em pensamento encaixar

seriar deslocar etc

A crianccedila no intuitivo simples representa mentalmente assimila e entende

o mundo real poreacutem de forma limitada pois soacute consegue coordenar um uacutenico

ponto de vista com base nas aparecircncias do que vecirc Centrado em si mesmo natildeo

admite a reversibilidade falta-lhe ainda a noccedilatildeo de conservaccedilatildeo das substacircncias

Quando se pede agrave crianccedila para desenhar ela desenha o que sabe e natildeo

o que vecirc Este egocentrismo que lhe eacute peculiar deveraacute evoluir para a

descentraccedilatildeo bem como haveraacute progressos nas diversas etapas cognitivas

(classificar seriar etc) Ao final do pensamento intuitivo articulado a crianccedila

comeccedila a levantar duacutevidas e questionamentos percebendo a mobilidade das

situaccedilotildees

ldquoA BARATArdquo(folclore)8

A barata diz que tem 7 saias de filoacute

Eacute mentira da barata ela tem eacute uma soacute

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute

A barata diz que tem um anel de formatura

Eacute mentira da barata ela tem eacute casca dura

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura

8 PAIVA Ione Maria R de OPCITp80

26

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura

A barata diz que dorme numa cama de cetim

Eacute mentira da barata ela dorme eacute no capim

Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim

Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim

Na muacutesica da barata as crianccedilas ironizam a tentativa de mentir deste

inseto A propoacutesito das ldquomentirinhasrdquo contidas nas brincadeiras infantis funcionam

como passaporte para a experimentaccedilatildeo do que eacute verdadeiro e real As palavras

de cascudo(1988p491) discorrem sobre os deslimites da mentira ldquoAs estoacuterias

mentirosas() satildeo muito populares e constituem um gecircnero especial onde a

imaginaccedilatildeo exagerada e livre se liberta dos limites da loacutegicardquo Acredita-se que as

crianccedilas exigem a verdade para terem o domiacutenio do que aprendem

33OS JOGOS POR PIAGET

ldquoPiaget vecirc no jogo um processo de ajuda ao desenvolvimento da crianccedila

acompanha-a sendo ao mesmo tempo uma atividade consequumlente de seu proacuteprio

crescimentordquo(Negrine1994p45) A leitura dos jogos em Piaget acompanha o

desenvolvimento integral do homem a inteligecircncia a afetividade a motricidade e a

sociabilidade satildeo vivenciadas nos jogos sendo a afetividade a funccedilatildeo que constitui

a energia necessaacuteria para a progressatildeo psiacutequica moral intelectual e motora

daquele que joga

Trecircs classificaccedilotildees baacutesicas do jogo satildeo mostradas na teoria

27

psicogeneacutetica de Piaget Jogos de exerciacutecio Jogos simboacutelicos e jogos de regra

Jogos de Exerciacutecio Ou jogos sensoacuterio-motores que aparecem no periacuteodo do

mesmo nome natildeo chegam a constituir sistemas luacutedicos independentes e

construtivos Sua motivaccedilatildeo se daacute pelo prazer funcional ou pelo prazer produzido

pela tomada de consciecircncia de suas novas capacidades

Os jogos motores ou de exerciacutecios satildeo aqueles que envolvem

diretamente a participaccedilatildeo ativa do corpo como um todo inclui-se ainda os jogos

sensoriais que ajudam a desenvolver os oacutergatildeos dos sentidos

A crianccedila nesta fase gosta de brincar com brinquedos que manipula

repetidas vezes explorando toda sua superfiacutecie Brincar de esconder o rosto ou os

objetos atirar e pegar brinquedos eacute prazeroso para a crianccedila ao mesmo tempo

que assimila as noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo

da realidade

Os estiacutemulos sensoriais tambeacutem fazem parte do seu interesse objetos

de diversas cores e texturas brinquedos sonoros muacutesica para ouvir acalentar

danccedilar e brincar desta forma explora o reconhecimento do eu do outro e dos

objetos

O jogo de exerciacutecio eacute o primeiro a aparecer no comportamento da

crianccedila explicitamente do 2ordm ao 5ordm estaacutegio do desenvolvimento sensoacuterio motor por

oposiccedilatildeo ao 6ordm estaacutegio onde se inicia o jogo simboacutelico(Negrine 1994)

28

ATIREI O PAU NO GATO(Folclore)9

Atirei o pau no ga-to-to mas o ga-to-to

Natildeo morreu- rreu- rreu dona chica-ca-ca

Admirou- se se do berro do berro

Do berro que o gato deu Miau

Jogos Simboacutelicos Em princiacutepio do ponto de vista de Piaget a diferenccedila entre os

jogos simboacutelicos e os de exerciacutecio intelectual consiste em que os primeiros se

referem ao pensamento

Os jogos simboacutelicos tem iniacutecio no 6ordm estaacutegio do periacuteodo sensoacuterio-motor

e se continua aproximadamente dos 2 aos 4 anos de idade cronoloacutegica ou do 1ordm

estaacutegio do preacute-operacional(fase simboacutelica) ateacute o iniacutecio do 2ordm estaacutegio do preacuteshy

operacional(fase intuitiva) Piaget apud Negrine(1994p41) deixa claro a

supremacia dos jogos simboacutelicos em detrimento dos anteriores

ldquoO esquema simboacutelico por si mesmo eacute suficiente para

assegurar a superioridade da representaccedilatildeo sobre

uma accedilatildeo pura nesta segundo Piaget o jogo

permite assimilar o mundo exterior ao eu como meio

infinitamente mais poderoso que o de simples exerciacuteciordquo

Como aparecem antes da linguagem verbal propriamente dita os jogos

simboacutelicos satildeo representados nas imagens mentais da crianccedila e vivenciados

atraveacutes dos gestos onomatopeacuteias pelo prazer de brincar com o faz-de-conta

9 MILLLECCO FILHO Luiacutes A e outros OPCIT p43

29

Nesta fase os acalantos vatildeo perdendo sua importacircncia dando lugar agraves

brincadeiras-de-roda os pequenos ao mesmo tempo em que aprendem a falar

aprendem a cantar as brincadeiras-de-roda tem a propriedade de enriquecerem o

repertoacuterio de palavras e movimentos

Jogos de Regras Os jogos de regras natildeo seguem o mesmo itineraacuterio dos

anteriores pois comeccedilam a aparecer na metade do 2ordm estaacutegio do periacuteodo preacuteshy

operacional isto eacute dos 4 aos 7 anos e principalmente no periacuteodo das operaccedilotildees

concretas dos 7 aos 12 anos Pesquisaremos como ocorrem os jogos de regra ateacute

os 7 anos pela delimitaccedilatildeo da populaccedilatildeo que esta monografia abrange

Dos 4 aos 7 anos periacuteodo preacute operacional intuitivo surgem os jogos de

regra que substituiratildeo o siacutembolo e enquadraratildeo o exerciacutecio no momento em que se

constituem de forma incipiente certas relaccedilotildees sociais(Piaget2003)

Com relaccedilatildeo as regras segundo Piaget apud Negrine

(1994p44)distinguem-se dois tipos transmitidas e espontacircneas As regras

transmitidas se referem aos jogos institucionais que se impotildeem por pressatildeo das

geraccedilotildees anteriores As espontacircneas se referem aos jogos de natureza contratual e

momentacircnea isto eacute procedem da socializaccedilatildeo dos jogos de simples exerciacutecios ou

dos simboacutelicos

30

Na cantiga de roda ldquoCiranda cirandinhardquo destaca-se o desenvolvimento

da roda e ao final as regras uma imposta (entrar na roda e dizer um verso) outra

espontacircnea (serve qualquer verso criado na hora ou jaacute existente) Outra versatildeo

desta mesma cantiga para crianccedilas menores pede ldquofaccedila um gesto bem bonito

diga adeus e vaacute se emborardquo A liberdade de criar um gesto verso a importacircncia de

estar no meio da roda como centro das atenccedilotildees e a valorizaccedilatildeo dos

companheiros satildeo o impulso para a espontaneidade e o crescimento da autonomia

do ser

CIRANDA CIRANDINHA(folclore)10

Ciranda cirandinha vamos todos cirandar

Vamos dar a meia volta volta e meia vamos dar

o anel que tu me destes era vidro e se quebrou

o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou

Por isto sinhaacute Maria entre dentro desta roda

Diga um verso bem bonito diga adeus e vaacute se embora

Os conceitos estudados neste capiacutetulo podem orientar sobre o tempo

mental da crianccedila e a possibilidade de oferecer estiacutemulos adequados ao seu

momento Como uma boa buacutessola natildeo conteacutem apenas o norte

10 MARTINS Armando OPCITp105

31

4O BRINCAR E A REALIDADE WINNICOTTEANA

A partir da premissa de que natildeo se pode dividir o ser humano em

classificaccedilotildees bioloacutegicas e psiacutequicas posto que este eacute uma unidade indivisiacutevel

formulou-se apenas para efeitos didaacuteticos no capiacutetulo anteriorum olhar mais

fiacutesico(cognitivo) do desenvolvimento infantil atraveacutes de Piaget Discutir-se-aacute neste

capiacutetulo o ponto de vista Winnicotteano sobre a vida emocional e o brincar

Nos brinquedos cantados a arte de brincar se mistura a arte de cantar e

eacute fazendo ldquoArtesrdquo que a crianccedila dar-se a ver e a crescer A partir deste tema

instigante e universal que eacute o brincar torna-se mais prazeroso ainda falar sobre ele

depois de conhecer os estudos do Drordm Winnicott

D W Winnicott pediatra psicanalista psicoterapeuta inglecircs e defensor

da Ludoterapia nasceu no comeccedilo do seacuteculo 20 produzindo uma vasta obra

cientiacutefica ateacute os anos 70 quando nos deixou Em seu livro ldquoO Brincar e

Realidaderdquo(1975) se preocupou com os primoacuterdios da vida imaginativa da

experiecircncia cultural em todos os sentidos da relaccedilatildeo das artes com o brincar e da

criatividade

Neste momento parece relevante abordar alguns dos conceitos teoacutericos

do DrordmWinnicott atraveacutes da obra mencionada pelo suporte que podem

proporcionar agrave compreensatildeo da vida psiacutequica mediante o brincar e a terapia Em

32

Conceitos e contornos ilustrar-se-aacute o Objeto transicional Fenocircmeno transicional

Matildee suficientemente boa Aacuterea intermediaacuteria e o Eu(Self) circundando a

importacircncia destes conceitos em relaccedilatildeo aos brinquedos cantados e sua aplicaccedilatildeo

na cliacutenica psicomotora

41CONCEITOS E CONTORNOS

Objeto Transicional Eacute o objeto concreto relativo agrave exploraccedilatildeo pulsional (descarga

impulsiva) do sujeito por exemplo uma boneca ou um carrinho

Fenocircmeno Transicional Satildeo as accedilotildees relativas agrave exploraccedilatildeo pulsional ou o uso

que se faz dos objetos transicionais Ex Um carrinho pode ser acalentado como se

fosse um bebecirc

Matildee Suficientemente Boa Pessoa que ocupa o lugar de suporte afetivo no

desenvolvimento global da crianccedila tambeacutem associada por ele a figura do

terapeuta

Em outras palavras o amor da matildee ou do terapeuta

natildeo significaria apenas um atendimento agraves necessidades

da dependecircncia mas vem a significar a concessatildeo

de oportunidades que permita ao bebecirc ou ao paciente

passar da dependecircncia para a autonomia

(Winnicott1975p150)

33

Aacuterea Intermediaacuteria Aacuterea neutra de experimentaccedilatildeo vivencial entre as realidades

internas e externas do sujeito que favorece a dialeacutetica do brincar e das artes O

dito autor parece supor um espaccedilo de refuacutegio para a resoluccedilatildeo dos conflitos

humanos Eis aqui a referecircncia para tal colocaccedilatildeo

Presume-se aqui que a tarefa de aceitaccedilatildeo da realidade

nunca eacute completada que nenhum ser humano estaacute livre

da tensatildeo de relacionar a realidade interna e externa e

que o aliacutevio dessa tensatildeo eacute proporcionado por uma aacuterea

intermediaacuteria de experiecircncia(cf Riviere1936) que natildeo eacute

contestada (artes religiatildeo etc) Essa aacuterea intermediaacuteria

estaacute em continuidade direta com a aacuterea do brincar da

crianccedila pequena que se ldquoperderdquo no brincar

(Winnicottopcitp29)

A princiacutepio eacute difiacutecil falar dos brinquedos cantados como objetos

transicionais (concretos) porque natildeo satildeo exatamente vistos a olhos nus embora

sejam audiacuteveis Todavia qualquer muacutesico pode escrever em uma partitura o

brinquedo cantado (concreto e cantaacutevel) para tornaacute-lo visiacutevel

O ato de cantar uma muacutesica de roda ou um acalanto jaacute eacute a traduccedilatildeo do

fenocircmeno transicional Dar-se-aacute o uso que quiser a este brinquedo cantado no

momento de sua realizaccedilatildeo Se uma muacutesica de ninar for entoada com raiva ou

brutalidade eacute certo que traraacute temores ao bebecirc e natildeo o conforto a que se prestaria

Acalantos com este do ldquobicho papatildeordquo expotildee o perigo e propotildee acolhida pela

proteccedilatildeo materna

34

ldquoBICHO PAPAtildeO(folclore)11

Bicho Papatildeo sai de cima do telhado

Deixe o menino dormir sossegado

O Eu (Self) O Eu (Self) eacute o eu integral descrito por Winnicott(1975) em sua mais

pura essecircncia um eu que nasce na liberdade de expressatildeo na confianccedila baseada

nas experiecircncias vividas no suporte dos sentimentos Para este autor certas

condiccedilotildees se fazem necessaacuterias na busca do Eu (Self) eacute o que se chama de

criatividade A criatividade pode defraglar e sustentar o ser integral

A vida sadia se mostra pelo impulso criativo O brincar eacute um instrumento

da criatividade sediado na ldquoaacuterea intermediaacuteriardquo (entre as artes e o luacutedico)

sustentado em seus primoacuterdios pela ldquomatildee suficientemente boardquo direcionado agrave

busca do ldquoEu (Self) Sobre a importacircncia das cantigas de roda nesta busca

podemos ler as contribuiccedilotildees de Millecco filho e outros (2001p44)

As cantigas de roda datildeo continuidade ao trabalho

de elaboraccedilatildeo de conflitos e agrave estrutura da pessoa

em desenvolvimento iniciado com os acalantos

() A roda aparece como uma representaccedilatildeo da

mandala expressatildeo geomeacutetrica do Self

11 Recolhido atraveacutes da cultura oral

35

A letra da muacutesica infantil ldquoa canoa virourdquo expotildee um problema e supotildee

uma soluccedilatildeo hipoteacutetica

A CANOA VIROU(folclore)12

A canoa virou vou deixar ela virar

Foi por causa da Maria que natildeo soube remar

Ah se eu fosse peixinho e soubesse nadar

Eu tirava a Marialaacute do fundo do mar

A accedilatildeo terapecircutica deve ser um modo de auxiliar uma pessoa a

vir a ser o que ela eacute capaz de ser O psicomotricista atua como facilitador no

desenvolvimento do potencial existente no sujeito Numa maternagem

suficientemente boa como fala Winnicott o psicomotricista relacional torna-se um

companheiro de jornada para as atitudes luacutedicas do seu paciente

As medidas de afeto e limites saudaacuteveis agraves necessidades do outro

devem ser reconhecidas e valorizadas Eacute o que se vecirc nas colocaccedilotildees de Winnicott

(1975p63) ldquoEm outros termos eacute a brincadeira que eacute universal e que eacute proacutepria da

sauacutede o brincar facilita o crescimento e portanto a sauacutede o brincar conduz aos

relacionamentos grupais o brincar pode ser uma forma de comunicaccedilatildeo na

psicoterapia()rdquo

12 MARTINS Armando OPCITp110

36

Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e

estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que

haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila

acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas

Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a

brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre

MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR

VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR

Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o

aprender com a danccedila do outro

ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

13 Recolhido atraveacutes da cultura oral

37

Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons

e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os

brinquedos cantados

5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE

Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma

nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o

corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se

utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia

e da linguumliacutestica

No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua

expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a

existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto

O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que

encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e

motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros

Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando

fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar

gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil

38

ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14

Eacute bom cantar eacute bom ouvir

Eacute bom pensar eacute bom sentir

Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor

Viajar dentro de si pra poder se descobrir

51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE

A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso

meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da

psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu

corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)

O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico

(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes

concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo

ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a

palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas

que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que

quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do

latim Corpusque significa tecido de membros envoltura

da alma embriatildeo do espiacuterito

14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000

39

Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na

Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto

que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo

cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a

motricidade com a inteligecircncia

Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam

em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento

humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o

movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila

De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de

segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio

Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se

no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo

de Guilman

O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num

corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo

toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico

emocional(Levin opcit)

O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor

Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em

movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica

40

psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre

outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da

pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de

Levin(opcit)

Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor

podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor

ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento

Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o

sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem

tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco

podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade

eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)

52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA

A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o

seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins

pedagoacutegicos (Levy2000)

A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se

do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos

transtornos evidenciados (Coste1992)

A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a

41

afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja

o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade

do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting

psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais

uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si

mesmo uma terapiardquo

As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas

psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema

corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade

Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo

estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees

cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito

As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de

algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A

coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar

pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos

dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para

andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes

visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a

existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa

caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc

No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a

42

primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave

vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos

cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas

psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a

expressividade e a emoccedilatildeo

O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas

psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se

confirmar por exemplo para treinar a escrita

As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar

iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da

brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo

dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da

cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas

pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar

Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora

relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de

cada uma delas

43

53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE

Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os

acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte

afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe

o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo

e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do

acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si

mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a

busca do eu (Self)

O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos

cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a

partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes

acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de

interesse da populaccedilatildeo pesquisada

Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil

geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo

continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em

desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza

simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos

conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo

44

As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia

cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o

relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano

infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a

Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda

assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia

oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria

soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo

Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as

com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da

referida estrutura

Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos

integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos

grandes segmentos (Coste1992)

Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro

expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo

corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a

habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa

O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se

movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os

movimentos enquanto observam os amigos

45

BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

Os braccedilos pra cima e pra baixo

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

As pernas pra frente e pra traacutes

Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo

preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo

motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada

diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do

grafismo (Coste1992)

A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas

brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as

palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a

crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos

Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos

fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca

do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes

15 Recolhido atraveacutes da cultura oral

46

das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa

de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas

ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16

123 indiozinhos 456 indiozinhos

789 indiozinhos 10 num pequeno bote

Vinham navegando pelo rio abaixo

Quando o jacareacute se aproximou

E o pequeno bote dos indiozinhos

Quase quase virou quase quase virou

mas natildeo virou

Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo

ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam

internas ou externas (Levin2001)

A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e

apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as

crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do

corpo que deseja mostrar

ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17

Cabeccedila ombro joelho e peacute

Joelho e peacute joelho e peacute

Olhos boca orelha e nariz

Orelha e nariz orelha e nariz

16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral

47

Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O

equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute

relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)

Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de

amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o

personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca

instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma

perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal

traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal

ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca o pandeirotoca como ele soacute

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca violatildeo toca como ele soacute

Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao

tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir

da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do

aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala

dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da

vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza

18 Recolhido atraveacutes da cultura oral

48

Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila

seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um

personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular

correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e

volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem

seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam

ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19

Anda anda anda macaquinho

Anda anda anda sem parar

Pula pula pula macaquinho

Pula pula pula ateacute cansar

Corre corre corre macaquinho

Corre corre corre sem parar

Deita deita deita macaquinho

Deita deita deita dorme ateacute sonhar

Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu

desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e

relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do

mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)

Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira

19 Recolhido atraveacutes da cultura oral

49

traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo

espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a

noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo

vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento

O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e

rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos

de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra

frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente

e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da

roda virem periquitos tambeacutem

Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem

no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras

visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas

ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20

Periquito periquito parece com papa

Periquito periquito parece com papa

Por baixo por cima pra frente e pra traacutes

Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo

ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo

temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a

20 Recolhido atraveacutes da cultura oral

50

estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus

movimentos e se organiza na vida cotidiana

Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo

que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo

humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre

ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos

acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo

A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da

chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo

dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio

ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21

A janelinha fecha quando estaacute chovendo

A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo

Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute

Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute

Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os

centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e

contralaterais (Coste1992)

21 Recolhido atraveacutes da cultura oral

51

A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento

psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e

assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute

organizada e natildeo mudaraacute mais

Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os

peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a

conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo

grupo disposto em roda

ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22

Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora

Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora

Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock

Assim eacute bem melhor

( e assim por diante com as demais partes do corpo)

Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o

modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder

apud Coste(1992)

A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a

organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo

mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do

22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57

52

desejo da matildee

A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan

apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros

tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e

de diferenccedila (ibid)

Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o

ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na

constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo

desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A

psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade

poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A

citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo

O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de

identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria

de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do

lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que

eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim

constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute

poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo

o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)

53

Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia

corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber

possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver

As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a

expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente

Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar

cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de

construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza

pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem

corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter

fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de

cantar danccedilar e brincar

54

ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23

Minha boneca de lata

Bateu com a cabeccedila no chatildeo

Levou mais de uma hora

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui pra ficar boa

Minha boneca de lata

Bateu com o pescoccedilo no chatildeo

Levou mais de duas horas

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui desamassa aqui

Pra ficar boa

Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho

o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do

corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez

horas de arrumaccedilatildeo propostas

23 Recolhido atraveacutes da cultura oral

55

6CONCLUSAtildeO

Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-

se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse

infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar

Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a

relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas

cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo

permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os

estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e

que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo

Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de

winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do

ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos

como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica

Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de

conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos

Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade

que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se

pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos

sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu

ldquoafetordquo

56

Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a

psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir

expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer

Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia

para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a

socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte

aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o

desenvolvimento das estruturas psicomotoras

Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a

essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado

pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando

o prazer de brincar cantar e ser feliz

57

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Editora Sprint ltda 1996

WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975

Page 17: Brinquedos Cantados Na Psicomotricidade

16

3O DESENVOLVIMENTO INFANTIL SEGUNDO PIAGET

Para Piaget (2003) o conhecimento eacute o resultado das accedilotildees e

relacionamentos do sujeito com o ambiente em que vive e vai sendo elaborado

desde o nascimento ateacute suas vivecircncias com os objetos pessoas e situaccedilotildees que

procura conhecer sejam elas do mundo fiacutesico ou cultural

Este autor formulou importantes conceitos que explicam o

desenvolvimento das funccedilotildees cognitivas A interaccedilatildeo entre a assimilaccedilatildeo

(informaccedilotildees do mundo exterior recebidas atraveacutes dos sentidos movimento de fora

para dentro) e a acomodaccedilatildeo (informaccedilatildeo processada respostas dadas ao mundo

exterior movimento de dentro para fora) sobre uma accedilatildeo satildeo validadas pelo

processo de equilibraccedilatildeo (Piagetopcit)

As perturbaccedilotildees exteriores se mostram a crianccedila a partir do que ela natildeo

conhece assim oportunizadas pelo processo de equilibraccedilatildeo e por meio de suas

atividades vai respondendo a estas perturbaccedilotildees vencendo a mais uma etapa

cognosciacutevel A equilibraccedilatildeo eacute dinacircmica e nunca cessa ela norteia a passagem de

um conhecimento ao outro(Piaget2003)

Dois outros conceitos Piagetianos satildeo imprescindiacuteveis ao tenro

desenvolvimento infantil e encontra-se nos brinquedos cantados uma forma

espontacircnea de vivenciaacute-los A Imitaccedilatildeo e a noccedilatildeo de Permanecircncia do Objeto

17

Imitaccedilatildeo Eacute na gecircnese da imitaccedilatildeo que inicia o movimento luacutedico da crianccedila

Imitando o meio e as pessoas ao seu redor a crianccedila apreende e treina suas novas

aquisiccedilotildees Ferreira I(1994 p47) afirma que ldquoA imitaccedilatildeo eacute uma das manifestaccedilotildees

da funccedilatildeo simboacutelica Constitui-se num dos elementos baacutesicos que permitem a

crianccedila uma assimilaccedilatildeo de realidade ao seu proacuteprio ldquoeurdquo bem como Acomodaccedilatildeo

de suas estruturas mentais e de accedilatildeo agraves exigecircncias da realidade fiacutesica e socialrdquo

Para haver o ato imitativo eacute necessaacuterio um modelo Alguns brinquedos

cantados propotildeem accedilotildees simboacutelicas que copiam o mundo adulto sem impor aos

pequenos o fardo da responsabilidade que este teria na realidade Eis um exemplo

interessante onde as crianccedilas imitam os afazeres dos mais velhos

PASSA PASSA GAVIAtildeO(folclore)4

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

As lavadeiras fazem assim

Assim assim assim assim

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

As passadeiras fazem assim

Assim assim assim assim

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

As cozinheiras fazem assim assim assim

Assim assado carne seca com ensopado

4 Recolhido atraveacutes da cultura oral

18

Objeto permanente Nos primeiros dois anos de vida a crianccedila apresenta um

comportamento em constante adaptaccedilatildeo pois estaacute sempre se modificando para

responder aos estiacutemulos do meio A crianccedila inicialmente natildeo tem noccedilatildeo da

permanecircncia dos objetos ela pensa que eles soacute existem enquanto estatildeo ao

alcance dos seus olhos caso sejam escondidos a sua frente acharaacute que estes

acabaram ou se desintegraram Entre os 18 e 24 meses a crianccedila jaacute consegue

elaborar mais este conhecimento e apesar de natildeo vecirc-lo ouvi-lo ou tocaacute-lo ela vai

compreender que os objetos independem da sua vontade e presenccedila para

existirem

Para melhor apreensatildeo da realidade fiacutesica a praacutetica pelo ensaio e erro ou

aparecer desaparecer vatildeo treinar e orientar os pequenos na aquisiccedilatildeo das noccedilotildees

de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo da realidade como

afirma FerreiraI(1994p35) ldquoO esquema do objeto permanente eacute baacutesico para a

construccedilatildeo das noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidaderdquo

Observe que as crianccedilas nesta fase gostam das brincadeiras de

esconde-esconde que amenizam suas anguacutestias sobre a existecircncia ou natildeo dos

objetos reais Seu proacuteprio corpo eacute posto agrave prova escondendo o rosto ou as matildeos

atraacutes de uma almofada por exemplo A muacutesica das palminhas talvez possa auxiliar

nesta etapa

19

PALMINHAS PALMINHAS (folclore)5

Palminhas palminhas nos vamos bater

Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconder

Em cima em cima noacutes vamos bater

Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconde

Assim assim pra traacutes esconder

Em baixo em baixo noacutes vamos bate

Depois as matildeozinhas pra traacutes esconde

Assim assim pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconder

Os conceitos estudados ateacute aqui se realizam dentro dos estaacutegios do

desenvolvimento organizados por Piaget Passar-se-aacute neste momento agrave elucidaccedilatildeo

dos estaacutegios pertinentes agrave faixa etaacuteria da populaccedilatildeo pesquisada nesta monografia

estaacutegios Sensoacuterio-motor e Preacute-operacional

31ESTAacuteGIO SENSOacuteRIO MOTOR (0 agrave 2 anos) Estaacutegio que vai do nascimento

ateacute a aquisiccedilatildeo da linguagem e eacute dividido em 6 sub estaacutegios Esta eacute a fase do

comportamento inteligente antes da aquisiccedilatildeo da linguagem a crianccedila organiza a

informaccedilatildeo obtida atraveacutes dos sentidos e desenvolve respostas aos estiacutemulos

5 Recolhido atraveacutes da cultura oral

20

ambientais com comportamento adaptativo e constante modificaccedilotildees dos

esquemas de accedilatildeo em resposta ao meio A aquisiccedilatildeo mais importante deste

periacuteodo eacute o Objeto Permanente Manifesta-se ainda a imitaccedilatildeo que alcanccedilaraacute o

seu auge no proacuteximo estaacutegio

1ordm Sub Estaacutegio ndash Exerciacutecio dos reflexos (0 a 1 mecircs) Do alto da sua imaturidade

bioloacutegica a crianccedila se relaciona com o meio atraveacutes dos movimentos reflexos

hereditaacuterios que se aprimoram pelo exerciacutecio tornando-se cada vez mais

eficientes Ainda natildeo haacute a distinccedilatildeo entre o eu e o outro

2ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular primaacuteria (1 a 4 meses)Esta eacute a fase das

primeiras acomodaccedilotildees onde os exerciacutecios reflexos se transformam em esquemas

e comeccedilam a coordenar seus movimentos Inicia-se a construccedilatildeo dos primeiros

esquemas vocais A noccedilatildeo de tempo eacute primitiva sua duraccedilatildeo soacute eacute sentida no

decorrer da proacutepria accedilatildeo O final do periacuteodo eacute marcado pela coordenaccedilatildeo entre trecircs

esquemas fundamentais audiccedilatildeo fonaccedilatildeo e visatildeo

3ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular secundaacuteria (4 a 8 meses) O bebecirc apresenta

um maior interesse pelo mundo externo os esquemas se diferenciam surgindo

novos esquemas de coordenaccedilatildeo viso-motora unindo-se as aquisiccedilotildees jaacute

realizadas Os movimentos comeccedilam a ser repetido pelo prazer da repeticcedilatildeo

Observa-se o iniacutecio da noccedilatildeo do Objeto Permanente entretanto ela estaacute

condicionada ao movimento da crianccedila pois as coisas ainda natildeo seguem uma

trajetoacuteria independente

21

4ordm Sub Estaacutegio ndash Coordenaccedilatildeo de esquemas secundaacuterios (8 a 12 meses)

Caracteriza-se pelas primeiras condutas propriamente inteligentes surgindo

adaptaccedilotildees sensoacuterio-motoras intencionais onde o bebecirc combina esquemas

conhecidos a novas situaccedilotildees e ainda diferencia os meios e os fins de uma accedilatildeo

Aparece nesta fase o comportamento antecipatoacuterio caso o bebecirc veja sua matildee se

afastar chora a imitaccedilatildeo de sons e accedilotildees satildeo agora intencionais e

conscientizadas no entanto ainda condicionadas ao esquema visual Revelam-se

os primoacuterdios da memoacuteria e da representaccedilatildeo mental Comeccedila a permanecircncia do

objeto independente do ldquoeurdquo Quanto agrave noccedilatildeo de espaccedilo e tempo a crianccedila

comeccedila a ordenar os proacuteprios deslocamentos em relaccedilatildeo aos objetos

5ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular terciaacuteria (12 a 18 meses) A crianccedila gradua

seus movimentos varia e experimenta novos padrotildees de comportamento

observando os diferentes efeitos da sua accedilatildeo sobre o objeto o qual jaacute eacute dotado de

permanecircncia Pode-se afirmar que o mecanismo da inteligecircncia praacutetica estaacute

definitivamente constituiacutedo A cada estruturaccedilatildeo da inteligecircncia corresponde uma

nova estruturaccedilatildeo do espaccedilo do tempo da causalidade etc Agindo por ldquoensaio e

errordquo os resultados das accedilotildees ainda satildeo por acaso pois as representaccedilotildees

mentais de fatos externos ainda natildeo se incluem ou seja o pensamento ainda natildeo

estaacute formado

22

6ordm Sub Estaacutegio ndash A invenccedilatildeo dos novos meios por combinaccedilatildeo

mental (18 a 24 meses) Esta fase caracteriza o momento de transiccedilatildeo entre a

inteligecircncia praacutetica (sensoacuterio-motora) e a inteligecircncia representativa quando

comeccedila a funccedilatildeo simboacutelica Inicia-se a representaccedilatildeo mental imaginativa e criativa

No jogo simboacutelico a crianccedila usa siacutembolos na linguagem e na brincadeira do faz-deshy

conta recorda-se de fatos passados e os representa depois de algum tempo O

final deste periacuteodo eacute marcado pela primeira noccedilatildeo de conservaccedilatildeo(FerreiraI1994)

Os primeiros anos de vida da crianccedila satildeo marcados pelas inuacutemeras

formaccedilotildees e transformaccedilotildees fiacutesicas mentais e emocionais conforme descritas

acima Os acalantos (muacutesicas de ninar) satildeo cantados por matildees de todo o mundo

numa primeira inserccedilatildeo da crianccedila ao universo musical de sua cultura Eles

exercem um poderoso papel de auxiacutelio agrave maternagem acolhendo-a afetuosamente

condiccedilatildeo baacutesica para que a crianccedila se sinta suficientemente amada para

prosseguir desenvolvendo-se Este tema seraacute melhor explanado nos proacuteximos

capiacutetulos Por hora parece oportuno um exemplo de acalanto

TUTU MARAMBAacute(folclore)6

Tutu marambaacute

Natildeo venha mais caacute

Que o pai do menino

Te manda mata

6 MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute PRECISO CANTAR Musicoterapia cantos e canccedilotildees2001p38

23

32ESTAacuteGIO PREacute-OPERACIONAL (2 agrave 7 anos) A crianccedila vive um tempo em que

usa a intuiccedilatildeo ela passa todos os seus atos para o pensamento sob a forma de

imagens e diante de uma situaccedilatildeo praacutetica suas respostas vatildeo se basear no que

ela vecirc sente mexe ou seja nas aparecircncias dos fatos que observa A crianccedila

possui a capacidade de representar uma coisa por outra e esta representaccedilatildeo

pode se dar por um gesto um desenho uma palavra etc A verbalizaccedilatildeo tem

destaque neste periacuteodo e a linguagem conduz agrave socializaccedilatildeo das accedilotildees Este

estaacutegio compreende duas formas de pensamento a saber O Pensamento

Simboacutelico e o Pensamento Intuitivo

Pensamento simboacutelico (2 agrave 4 anos) Para Piaget a funccedilatildeo simboacutelica consiste na

capacidade da crianccedila representar objetos e fatos conhecidos poreacutem ausentes por

um substituto qualquer seja este concreto ou imaginaacuterio Uma caracteriacutestica

fundamental desta fase eacute a diferenciaccedilatildeo entre significante e significado que eacute

manifestada por vaacuterias condutas sendo elas O jogo simboacutelico ou faz-de-conta a

imitaccedilatildeo o desenho a imagem mental a linguagem a criatividade etc Para

ldquosignificanterdquo leia-se objeto concreto e para ldquosignificadordquo a ideacuteia compreensiva do

que foi percebido (Piaget 2003)

Sobre a funccedilatildeo simboacutelica FerreiraI(1994p43) complementa ldquoA funccedilatildeo

simboacutelica pode ser considerada uma linguagem individual e particular da crianccedila

usada para compreender e representar o mundo O siacutembolo eacute subjetivo e aos

poucos vai sendo substituiacutedo por signos da linguagem socialrdquo

24

O pensamento infantil encontrado entre os 2 e 7 anos de idade eacute

egocentrado A visatildeo da realidade eacute centrada no ponto de vista do proacuteprio sujeito

sendo este incapaz de relacionaacute-lo ou de coordenaacute-lo a pontos de vistas diferentes

do seu

A aquisiccedilatildeo da linguagem tem destaque nesta fase e coincide com a

formaccedilatildeo do jogo simboacutelico que melhor se manifesta no jogo do faz-de-conta

Atraveacutes do que discute Ferreira I (1994p43) ldquoOs siacutembolos podem ser

socializados como os brinquedos coletivos e se tornar um siacutembolo coletivordquo

confirma-se mais uma vez que os estes elementos apresentam extrema valorizaccedilatildeo

soacutecio-afetiva e cultural Com a ludicidade que lhe eacute peculiar os brinquedos

cantados nesta fase encantam ensinam desenvolvem a memoacuteria a auto estima

o esquema corporal a imagem corporal a Coordenaccedilatildeo Motora a socializaccedilatildeo

entre outras funccedilotildees essenciais agrave formaccedilatildeo dos pequenos Eis um bom exemplo

O GIGANTE E O ANAtildeO(autor desconhecido)7

O peacute do gigante eacute grande

Do anatildeo pequenininho

O gigante pisa forte

O anatildeo pisa mansinho

O gigante fala grosso

O anatildeo fala fininho

Porque gigante come muito

E o anatildeo come pouquinho

7 Recolhido atraveacutes da cultura oral

25

Pensamento Intuitivo (4 agrave 7 anos) Subdividido em Intuitivo Simples e Intuitivo

Articulado eacute um estaacutegio marcado pela crescente formaccedilatildeo de conceitos O

pensamento intuitivo eacute uma espeacutecie de accedilatildeo executada em pensamento encaixar

seriar deslocar etc

A crianccedila no intuitivo simples representa mentalmente assimila e entende

o mundo real poreacutem de forma limitada pois soacute consegue coordenar um uacutenico

ponto de vista com base nas aparecircncias do que vecirc Centrado em si mesmo natildeo

admite a reversibilidade falta-lhe ainda a noccedilatildeo de conservaccedilatildeo das substacircncias

Quando se pede agrave crianccedila para desenhar ela desenha o que sabe e natildeo

o que vecirc Este egocentrismo que lhe eacute peculiar deveraacute evoluir para a

descentraccedilatildeo bem como haveraacute progressos nas diversas etapas cognitivas

(classificar seriar etc) Ao final do pensamento intuitivo articulado a crianccedila

comeccedila a levantar duacutevidas e questionamentos percebendo a mobilidade das

situaccedilotildees

ldquoA BARATArdquo(folclore)8

A barata diz que tem 7 saias de filoacute

Eacute mentira da barata ela tem eacute uma soacute

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute

A barata diz que tem um anel de formatura

Eacute mentira da barata ela tem eacute casca dura

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura

8 PAIVA Ione Maria R de OPCITp80

26

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura

A barata diz que dorme numa cama de cetim

Eacute mentira da barata ela dorme eacute no capim

Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim

Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim

Na muacutesica da barata as crianccedilas ironizam a tentativa de mentir deste

inseto A propoacutesito das ldquomentirinhasrdquo contidas nas brincadeiras infantis funcionam

como passaporte para a experimentaccedilatildeo do que eacute verdadeiro e real As palavras

de cascudo(1988p491) discorrem sobre os deslimites da mentira ldquoAs estoacuterias

mentirosas() satildeo muito populares e constituem um gecircnero especial onde a

imaginaccedilatildeo exagerada e livre se liberta dos limites da loacutegicardquo Acredita-se que as

crianccedilas exigem a verdade para terem o domiacutenio do que aprendem

33OS JOGOS POR PIAGET

ldquoPiaget vecirc no jogo um processo de ajuda ao desenvolvimento da crianccedila

acompanha-a sendo ao mesmo tempo uma atividade consequumlente de seu proacuteprio

crescimentordquo(Negrine1994p45) A leitura dos jogos em Piaget acompanha o

desenvolvimento integral do homem a inteligecircncia a afetividade a motricidade e a

sociabilidade satildeo vivenciadas nos jogos sendo a afetividade a funccedilatildeo que constitui

a energia necessaacuteria para a progressatildeo psiacutequica moral intelectual e motora

daquele que joga

Trecircs classificaccedilotildees baacutesicas do jogo satildeo mostradas na teoria

27

psicogeneacutetica de Piaget Jogos de exerciacutecio Jogos simboacutelicos e jogos de regra

Jogos de Exerciacutecio Ou jogos sensoacuterio-motores que aparecem no periacuteodo do

mesmo nome natildeo chegam a constituir sistemas luacutedicos independentes e

construtivos Sua motivaccedilatildeo se daacute pelo prazer funcional ou pelo prazer produzido

pela tomada de consciecircncia de suas novas capacidades

Os jogos motores ou de exerciacutecios satildeo aqueles que envolvem

diretamente a participaccedilatildeo ativa do corpo como um todo inclui-se ainda os jogos

sensoriais que ajudam a desenvolver os oacutergatildeos dos sentidos

A crianccedila nesta fase gosta de brincar com brinquedos que manipula

repetidas vezes explorando toda sua superfiacutecie Brincar de esconder o rosto ou os

objetos atirar e pegar brinquedos eacute prazeroso para a crianccedila ao mesmo tempo

que assimila as noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo

da realidade

Os estiacutemulos sensoriais tambeacutem fazem parte do seu interesse objetos

de diversas cores e texturas brinquedos sonoros muacutesica para ouvir acalentar

danccedilar e brincar desta forma explora o reconhecimento do eu do outro e dos

objetos

O jogo de exerciacutecio eacute o primeiro a aparecer no comportamento da

crianccedila explicitamente do 2ordm ao 5ordm estaacutegio do desenvolvimento sensoacuterio motor por

oposiccedilatildeo ao 6ordm estaacutegio onde se inicia o jogo simboacutelico(Negrine 1994)

28

ATIREI O PAU NO GATO(Folclore)9

Atirei o pau no ga-to-to mas o ga-to-to

Natildeo morreu- rreu- rreu dona chica-ca-ca

Admirou- se se do berro do berro

Do berro que o gato deu Miau

Jogos Simboacutelicos Em princiacutepio do ponto de vista de Piaget a diferenccedila entre os

jogos simboacutelicos e os de exerciacutecio intelectual consiste em que os primeiros se

referem ao pensamento

Os jogos simboacutelicos tem iniacutecio no 6ordm estaacutegio do periacuteodo sensoacuterio-motor

e se continua aproximadamente dos 2 aos 4 anos de idade cronoloacutegica ou do 1ordm

estaacutegio do preacute-operacional(fase simboacutelica) ateacute o iniacutecio do 2ordm estaacutegio do preacuteshy

operacional(fase intuitiva) Piaget apud Negrine(1994p41) deixa claro a

supremacia dos jogos simboacutelicos em detrimento dos anteriores

ldquoO esquema simboacutelico por si mesmo eacute suficiente para

assegurar a superioridade da representaccedilatildeo sobre

uma accedilatildeo pura nesta segundo Piaget o jogo

permite assimilar o mundo exterior ao eu como meio

infinitamente mais poderoso que o de simples exerciacuteciordquo

Como aparecem antes da linguagem verbal propriamente dita os jogos

simboacutelicos satildeo representados nas imagens mentais da crianccedila e vivenciados

atraveacutes dos gestos onomatopeacuteias pelo prazer de brincar com o faz-de-conta

9 MILLLECCO FILHO Luiacutes A e outros OPCIT p43

29

Nesta fase os acalantos vatildeo perdendo sua importacircncia dando lugar agraves

brincadeiras-de-roda os pequenos ao mesmo tempo em que aprendem a falar

aprendem a cantar as brincadeiras-de-roda tem a propriedade de enriquecerem o

repertoacuterio de palavras e movimentos

Jogos de Regras Os jogos de regras natildeo seguem o mesmo itineraacuterio dos

anteriores pois comeccedilam a aparecer na metade do 2ordm estaacutegio do periacuteodo preacuteshy

operacional isto eacute dos 4 aos 7 anos e principalmente no periacuteodo das operaccedilotildees

concretas dos 7 aos 12 anos Pesquisaremos como ocorrem os jogos de regra ateacute

os 7 anos pela delimitaccedilatildeo da populaccedilatildeo que esta monografia abrange

Dos 4 aos 7 anos periacuteodo preacute operacional intuitivo surgem os jogos de

regra que substituiratildeo o siacutembolo e enquadraratildeo o exerciacutecio no momento em que se

constituem de forma incipiente certas relaccedilotildees sociais(Piaget2003)

Com relaccedilatildeo as regras segundo Piaget apud Negrine

(1994p44)distinguem-se dois tipos transmitidas e espontacircneas As regras

transmitidas se referem aos jogos institucionais que se impotildeem por pressatildeo das

geraccedilotildees anteriores As espontacircneas se referem aos jogos de natureza contratual e

momentacircnea isto eacute procedem da socializaccedilatildeo dos jogos de simples exerciacutecios ou

dos simboacutelicos

30

Na cantiga de roda ldquoCiranda cirandinhardquo destaca-se o desenvolvimento

da roda e ao final as regras uma imposta (entrar na roda e dizer um verso) outra

espontacircnea (serve qualquer verso criado na hora ou jaacute existente) Outra versatildeo

desta mesma cantiga para crianccedilas menores pede ldquofaccedila um gesto bem bonito

diga adeus e vaacute se emborardquo A liberdade de criar um gesto verso a importacircncia de

estar no meio da roda como centro das atenccedilotildees e a valorizaccedilatildeo dos

companheiros satildeo o impulso para a espontaneidade e o crescimento da autonomia

do ser

CIRANDA CIRANDINHA(folclore)10

Ciranda cirandinha vamos todos cirandar

Vamos dar a meia volta volta e meia vamos dar

o anel que tu me destes era vidro e se quebrou

o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou

Por isto sinhaacute Maria entre dentro desta roda

Diga um verso bem bonito diga adeus e vaacute se embora

Os conceitos estudados neste capiacutetulo podem orientar sobre o tempo

mental da crianccedila e a possibilidade de oferecer estiacutemulos adequados ao seu

momento Como uma boa buacutessola natildeo conteacutem apenas o norte

10 MARTINS Armando OPCITp105

31

4O BRINCAR E A REALIDADE WINNICOTTEANA

A partir da premissa de que natildeo se pode dividir o ser humano em

classificaccedilotildees bioloacutegicas e psiacutequicas posto que este eacute uma unidade indivisiacutevel

formulou-se apenas para efeitos didaacuteticos no capiacutetulo anteriorum olhar mais

fiacutesico(cognitivo) do desenvolvimento infantil atraveacutes de Piaget Discutir-se-aacute neste

capiacutetulo o ponto de vista Winnicotteano sobre a vida emocional e o brincar

Nos brinquedos cantados a arte de brincar se mistura a arte de cantar e

eacute fazendo ldquoArtesrdquo que a crianccedila dar-se a ver e a crescer A partir deste tema

instigante e universal que eacute o brincar torna-se mais prazeroso ainda falar sobre ele

depois de conhecer os estudos do Drordm Winnicott

D W Winnicott pediatra psicanalista psicoterapeuta inglecircs e defensor

da Ludoterapia nasceu no comeccedilo do seacuteculo 20 produzindo uma vasta obra

cientiacutefica ateacute os anos 70 quando nos deixou Em seu livro ldquoO Brincar e

Realidaderdquo(1975) se preocupou com os primoacuterdios da vida imaginativa da

experiecircncia cultural em todos os sentidos da relaccedilatildeo das artes com o brincar e da

criatividade

Neste momento parece relevante abordar alguns dos conceitos teoacutericos

do DrordmWinnicott atraveacutes da obra mencionada pelo suporte que podem

proporcionar agrave compreensatildeo da vida psiacutequica mediante o brincar e a terapia Em

32

Conceitos e contornos ilustrar-se-aacute o Objeto transicional Fenocircmeno transicional

Matildee suficientemente boa Aacuterea intermediaacuteria e o Eu(Self) circundando a

importacircncia destes conceitos em relaccedilatildeo aos brinquedos cantados e sua aplicaccedilatildeo

na cliacutenica psicomotora

41CONCEITOS E CONTORNOS

Objeto Transicional Eacute o objeto concreto relativo agrave exploraccedilatildeo pulsional (descarga

impulsiva) do sujeito por exemplo uma boneca ou um carrinho

Fenocircmeno Transicional Satildeo as accedilotildees relativas agrave exploraccedilatildeo pulsional ou o uso

que se faz dos objetos transicionais Ex Um carrinho pode ser acalentado como se

fosse um bebecirc

Matildee Suficientemente Boa Pessoa que ocupa o lugar de suporte afetivo no

desenvolvimento global da crianccedila tambeacutem associada por ele a figura do

terapeuta

Em outras palavras o amor da matildee ou do terapeuta

natildeo significaria apenas um atendimento agraves necessidades

da dependecircncia mas vem a significar a concessatildeo

de oportunidades que permita ao bebecirc ou ao paciente

passar da dependecircncia para a autonomia

(Winnicott1975p150)

33

Aacuterea Intermediaacuteria Aacuterea neutra de experimentaccedilatildeo vivencial entre as realidades

internas e externas do sujeito que favorece a dialeacutetica do brincar e das artes O

dito autor parece supor um espaccedilo de refuacutegio para a resoluccedilatildeo dos conflitos

humanos Eis aqui a referecircncia para tal colocaccedilatildeo

Presume-se aqui que a tarefa de aceitaccedilatildeo da realidade

nunca eacute completada que nenhum ser humano estaacute livre

da tensatildeo de relacionar a realidade interna e externa e

que o aliacutevio dessa tensatildeo eacute proporcionado por uma aacuterea

intermediaacuteria de experiecircncia(cf Riviere1936) que natildeo eacute

contestada (artes religiatildeo etc) Essa aacuterea intermediaacuteria

estaacute em continuidade direta com a aacuterea do brincar da

crianccedila pequena que se ldquoperderdquo no brincar

(Winnicottopcitp29)

A princiacutepio eacute difiacutecil falar dos brinquedos cantados como objetos

transicionais (concretos) porque natildeo satildeo exatamente vistos a olhos nus embora

sejam audiacuteveis Todavia qualquer muacutesico pode escrever em uma partitura o

brinquedo cantado (concreto e cantaacutevel) para tornaacute-lo visiacutevel

O ato de cantar uma muacutesica de roda ou um acalanto jaacute eacute a traduccedilatildeo do

fenocircmeno transicional Dar-se-aacute o uso que quiser a este brinquedo cantado no

momento de sua realizaccedilatildeo Se uma muacutesica de ninar for entoada com raiva ou

brutalidade eacute certo que traraacute temores ao bebecirc e natildeo o conforto a que se prestaria

Acalantos com este do ldquobicho papatildeordquo expotildee o perigo e propotildee acolhida pela

proteccedilatildeo materna

34

ldquoBICHO PAPAtildeO(folclore)11

Bicho Papatildeo sai de cima do telhado

Deixe o menino dormir sossegado

O Eu (Self) O Eu (Self) eacute o eu integral descrito por Winnicott(1975) em sua mais

pura essecircncia um eu que nasce na liberdade de expressatildeo na confianccedila baseada

nas experiecircncias vividas no suporte dos sentimentos Para este autor certas

condiccedilotildees se fazem necessaacuterias na busca do Eu (Self) eacute o que se chama de

criatividade A criatividade pode defraglar e sustentar o ser integral

A vida sadia se mostra pelo impulso criativo O brincar eacute um instrumento

da criatividade sediado na ldquoaacuterea intermediaacuteriardquo (entre as artes e o luacutedico)

sustentado em seus primoacuterdios pela ldquomatildee suficientemente boardquo direcionado agrave

busca do ldquoEu (Self) Sobre a importacircncia das cantigas de roda nesta busca

podemos ler as contribuiccedilotildees de Millecco filho e outros (2001p44)

As cantigas de roda datildeo continuidade ao trabalho

de elaboraccedilatildeo de conflitos e agrave estrutura da pessoa

em desenvolvimento iniciado com os acalantos

() A roda aparece como uma representaccedilatildeo da

mandala expressatildeo geomeacutetrica do Self

11 Recolhido atraveacutes da cultura oral

35

A letra da muacutesica infantil ldquoa canoa virourdquo expotildee um problema e supotildee

uma soluccedilatildeo hipoteacutetica

A CANOA VIROU(folclore)12

A canoa virou vou deixar ela virar

Foi por causa da Maria que natildeo soube remar

Ah se eu fosse peixinho e soubesse nadar

Eu tirava a Marialaacute do fundo do mar

A accedilatildeo terapecircutica deve ser um modo de auxiliar uma pessoa a

vir a ser o que ela eacute capaz de ser O psicomotricista atua como facilitador no

desenvolvimento do potencial existente no sujeito Numa maternagem

suficientemente boa como fala Winnicott o psicomotricista relacional torna-se um

companheiro de jornada para as atitudes luacutedicas do seu paciente

As medidas de afeto e limites saudaacuteveis agraves necessidades do outro

devem ser reconhecidas e valorizadas Eacute o que se vecirc nas colocaccedilotildees de Winnicott

(1975p63) ldquoEm outros termos eacute a brincadeira que eacute universal e que eacute proacutepria da

sauacutede o brincar facilita o crescimento e portanto a sauacutede o brincar conduz aos

relacionamentos grupais o brincar pode ser uma forma de comunicaccedilatildeo na

psicoterapia()rdquo

12 MARTINS Armando OPCITp110

36

Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e

estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que

haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila

acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas

Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a

brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre

MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR

VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR

Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o

aprender com a danccedila do outro

ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

13 Recolhido atraveacutes da cultura oral

37

Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons

e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os

brinquedos cantados

5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE

Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma

nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o

corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se

utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia

e da linguumliacutestica

No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua

expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a

existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto

O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que

encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e

motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros

Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando

fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar

gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil

38

ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14

Eacute bom cantar eacute bom ouvir

Eacute bom pensar eacute bom sentir

Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor

Viajar dentro de si pra poder se descobrir

51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE

A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso

meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da

psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu

corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)

O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico

(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes

concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo

ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a

palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas

que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que

quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do

latim Corpusque significa tecido de membros envoltura

da alma embriatildeo do espiacuterito

14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000

39

Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na

Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto

que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo

cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a

motricidade com a inteligecircncia

Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam

em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento

humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o

movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila

De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de

segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio

Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se

no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo

de Guilman

O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num

corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo

toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico

emocional(Levin opcit)

O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor

Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em

movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica

40

psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre

outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da

pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de

Levin(opcit)

Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor

podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor

ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento

Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o

sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem

tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco

podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade

eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)

52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA

A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o

seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins

pedagoacutegicos (Levy2000)

A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se

do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos

transtornos evidenciados (Coste1992)

A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a

41

afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja

o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade

do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting

psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais

uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si

mesmo uma terapiardquo

As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas

psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema

corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade

Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo

estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees

cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito

As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de

algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A

coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar

pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos

dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para

andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes

visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a

existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa

caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc

No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a

42

primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave

vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos

cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas

psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a

expressividade e a emoccedilatildeo

O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas

psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se

confirmar por exemplo para treinar a escrita

As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar

iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da

brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo

dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da

cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas

pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar

Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora

relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de

cada uma delas

43

53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE

Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os

acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte

afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe

o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo

e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do

acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si

mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a

busca do eu (Self)

O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos

cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a

partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes

acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de

interesse da populaccedilatildeo pesquisada

Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil

geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo

continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em

desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza

simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos

conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo

44

As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia

cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o

relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano

infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a

Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda

assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia

oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria

soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo

Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as

com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da

referida estrutura

Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos

integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos

grandes segmentos (Coste1992)

Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro

expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo

corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a

habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa

O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se

movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os

movimentos enquanto observam os amigos

45

BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

Os braccedilos pra cima e pra baixo

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

As pernas pra frente e pra traacutes

Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo

preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo

motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada

diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do

grafismo (Coste1992)

A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas

brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as

palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a

crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos

Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos

fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca

do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes

15 Recolhido atraveacutes da cultura oral

46

das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa

de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas

ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16

123 indiozinhos 456 indiozinhos

789 indiozinhos 10 num pequeno bote

Vinham navegando pelo rio abaixo

Quando o jacareacute se aproximou

E o pequeno bote dos indiozinhos

Quase quase virou quase quase virou

mas natildeo virou

Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo

ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam

internas ou externas (Levin2001)

A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e

apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as

crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do

corpo que deseja mostrar

ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17

Cabeccedila ombro joelho e peacute

Joelho e peacute joelho e peacute

Olhos boca orelha e nariz

Orelha e nariz orelha e nariz

16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral

47

Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O

equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute

relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)

Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de

amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o

personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca

instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma

perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal

traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal

ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca o pandeirotoca como ele soacute

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca violatildeo toca como ele soacute

Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao

tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir

da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do

aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala

dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da

vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza

18 Recolhido atraveacutes da cultura oral

48

Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila

seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um

personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular

correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e

volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem

seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam

ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19

Anda anda anda macaquinho

Anda anda anda sem parar

Pula pula pula macaquinho

Pula pula pula ateacute cansar

Corre corre corre macaquinho

Corre corre corre sem parar

Deita deita deita macaquinho

Deita deita deita dorme ateacute sonhar

Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu

desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e

relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do

mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)

Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira

19 Recolhido atraveacutes da cultura oral

49

traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo

espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a

noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo

vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento

O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e

rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos

de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra

frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente

e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da

roda virem periquitos tambeacutem

Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem

no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras

visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas

ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20

Periquito periquito parece com papa

Periquito periquito parece com papa

Por baixo por cima pra frente e pra traacutes

Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo

ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo

temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a

20 Recolhido atraveacutes da cultura oral

50

estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus

movimentos e se organiza na vida cotidiana

Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo

que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo

humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre

ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos

acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo

A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da

chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo

dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio

ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21

A janelinha fecha quando estaacute chovendo

A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo

Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute

Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute

Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os

centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e

contralaterais (Coste1992)

21 Recolhido atraveacutes da cultura oral

51

A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento

psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e

assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute

organizada e natildeo mudaraacute mais

Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os

peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a

conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo

grupo disposto em roda

ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22

Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora

Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora

Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock

Assim eacute bem melhor

( e assim por diante com as demais partes do corpo)

Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o

modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder

apud Coste(1992)

A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a

organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo

mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do

22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57

52

desejo da matildee

A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan

apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros

tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e

de diferenccedila (ibid)

Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o

ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na

constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo

desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A

psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade

poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A

citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo

O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de

identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria

de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do

lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que

eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim

constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute

poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo

o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)

53

Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia

corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber

possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver

As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a

expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente

Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar

cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de

construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza

pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem

corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter

fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de

cantar danccedilar e brincar

54

ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23

Minha boneca de lata

Bateu com a cabeccedila no chatildeo

Levou mais de uma hora

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui pra ficar boa

Minha boneca de lata

Bateu com o pescoccedilo no chatildeo

Levou mais de duas horas

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui desamassa aqui

Pra ficar boa

Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho

o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do

corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez

horas de arrumaccedilatildeo propostas

23 Recolhido atraveacutes da cultura oral

55

6CONCLUSAtildeO

Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-

se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse

infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar

Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a

relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas

cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo

permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os

estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e

que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo

Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de

winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do

ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos

como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica

Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de

conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos

Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade

que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se

pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos

sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu

ldquoafetordquo

56

Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a

psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir

expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer

Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia

para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a

socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte

aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o

desenvolvimento das estruturas psicomotoras

Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a

essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado

pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando

o prazer de brincar cantar e ser feliz

57

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WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975

Page 18: Brinquedos Cantados Na Psicomotricidade

17

Imitaccedilatildeo Eacute na gecircnese da imitaccedilatildeo que inicia o movimento luacutedico da crianccedila

Imitando o meio e as pessoas ao seu redor a crianccedila apreende e treina suas novas

aquisiccedilotildees Ferreira I(1994 p47) afirma que ldquoA imitaccedilatildeo eacute uma das manifestaccedilotildees

da funccedilatildeo simboacutelica Constitui-se num dos elementos baacutesicos que permitem a

crianccedila uma assimilaccedilatildeo de realidade ao seu proacuteprio ldquoeurdquo bem como Acomodaccedilatildeo

de suas estruturas mentais e de accedilatildeo agraves exigecircncias da realidade fiacutesica e socialrdquo

Para haver o ato imitativo eacute necessaacuterio um modelo Alguns brinquedos

cantados propotildeem accedilotildees simboacutelicas que copiam o mundo adulto sem impor aos

pequenos o fardo da responsabilidade que este teria na realidade Eis um exemplo

interessante onde as crianccedilas imitam os afazeres dos mais velhos

PASSA PASSA GAVIAtildeO(folclore)4

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

As lavadeiras fazem assim

Assim assim assim assim

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

As passadeiras fazem assim

Assim assim assim assim

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom

As cozinheiras fazem assim assim assim

Assim assado carne seca com ensopado

4 Recolhido atraveacutes da cultura oral

18

Objeto permanente Nos primeiros dois anos de vida a crianccedila apresenta um

comportamento em constante adaptaccedilatildeo pois estaacute sempre se modificando para

responder aos estiacutemulos do meio A crianccedila inicialmente natildeo tem noccedilatildeo da

permanecircncia dos objetos ela pensa que eles soacute existem enquanto estatildeo ao

alcance dos seus olhos caso sejam escondidos a sua frente acharaacute que estes

acabaram ou se desintegraram Entre os 18 e 24 meses a crianccedila jaacute consegue

elaborar mais este conhecimento e apesar de natildeo vecirc-lo ouvi-lo ou tocaacute-lo ela vai

compreender que os objetos independem da sua vontade e presenccedila para

existirem

Para melhor apreensatildeo da realidade fiacutesica a praacutetica pelo ensaio e erro ou

aparecer desaparecer vatildeo treinar e orientar os pequenos na aquisiccedilatildeo das noccedilotildees

de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo da realidade como

afirma FerreiraI(1994p35) ldquoO esquema do objeto permanente eacute baacutesico para a

construccedilatildeo das noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidaderdquo

Observe que as crianccedilas nesta fase gostam das brincadeiras de

esconde-esconde que amenizam suas anguacutestias sobre a existecircncia ou natildeo dos

objetos reais Seu proacuteprio corpo eacute posto agrave prova escondendo o rosto ou as matildeos

atraacutes de uma almofada por exemplo A muacutesica das palminhas talvez possa auxiliar

nesta etapa

19

PALMINHAS PALMINHAS (folclore)5

Palminhas palminhas nos vamos bater

Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconder

Em cima em cima noacutes vamos bater

Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconde

Assim assim pra traacutes esconder

Em baixo em baixo noacutes vamos bate

Depois as matildeozinhas pra traacutes esconde

Assim assim pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconder

Os conceitos estudados ateacute aqui se realizam dentro dos estaacutegios do

desenvolvimento organizados por Piaget Passar-se-aacute neste momento agrave elucidaccedilatildeo

dos estaacutegios pertinentes agrave faixa etaacuteria da populaccedilatildeo pesquisada nesta monografia

estaacutegios Sensoacuterio-motor e Preacute-operacional

31ESTAacuteGIO SENSOacuteRIO MOTOR (0 agrave 2 anos) Estaacutegio que vai do nascimento

ateacute a aquisiccedilatildeo da linguagem e eacute dividido em 6 sub estaacutegios Esta eacute a fase do

comportamento inteligente antes da aquisiccedilatildeo da linguagem a crianccedila organiza a

informaccedilatildeo obtida atraveacutes dos sentidos e desenvolve respostas aos estiacutemulos

5 Recolhido atraveacutes da cultura oral

20

ambientais com comportamento adaptativo e constante modificaccedilotildees dos

esquemas de accedilatildeo em resposta ao meio A aquisiccedilatildeo mais importante deste

periacuteodo eacute o Objeto Permanente Manifesta-se ainda a imitaccedilatildeo que alcanccedilaraacute o

seu auge no proacuteximo estaacutegio

1ordm Sub Estaacutegio ndash Exerciacutecio dos reflexos (0 a 1 mecircs) Do alto da sua imaturidade

bioloacutegica a crianccedila se relaciona com o meio atraveacutes dos movimentos reflexos

hereditaacuterios que se aprimoram pelo exerciacutecio tornando-se cada vez mais

eficientes Ainda natildeo haacute a distinccedilatildeo entre o eu e o outro

2ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular primaacuteria (1 a 4 meses)Esta eacute a fase das

primeiras acomodaccedilotildees onde os exerciacutecios reflexos se transformam em esquemas

e comeccedilam a coordenar seus movimentos Inicia-se a construccedilatildeo dos primeiros

esquemas vocais A noccedilatildeo de tempo eacute primitiva sua duraccedilatildeo soacute eacute sentida no

decorrer da proacutepria accedilatildeo O final do periacuteodo eacute marcado pela coordenaccedilatildeo entre trecircs

esquemas fundamentais audiccedilatildeo fonaccedilatildeo e visatildeo

3ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular secundaacuteria (4 a 8 meses) O bebecirc apresenta

um maior interesse pelo mundo externo os esquemas se diferenciam surgindo

novos esquemas de coordenaccedilatildeo viso-motora unindo-se as aquisiccedilotildees jaacute

realizadas Os movimentos comeccedilam a ser repetido pelo prazer da repeticcedilatildeo

Observa-se o iniacutecio da noccedilatildeo do Objeto Permanente entretanto ela estaacute

condicionada ao movimento da crianccedila pois as coisas ainda natildeo seguem uma

trajetoacuteria independente

21

4ordm Sub Estaacutegio ndash Coordenaccedilatildeo de esquemas secundaacuterios (8 a 12 meses)

Caracteriza-se pelas primeiras condutas propriamente inteligentes surgindo

adaptaccedilotildees sensoacuterio-motoras intencionais onde o bebecirc combina esquemas

conhecidos a novas situaccedilotildees e ainda diferencia os meios e os fins de uma accedilatildeo

Aparece nesta fase o comportamento antecipatoacuterio caso o bebecirc veja sua matildee se

afastar chora a imitaccedilatildeo de sons e accedilotildees satildeo agora intencionais e

conscientizadas no entanto ainda condicionadas ao esquema visual Revelam-se

os primoacuterdios da memoacuteria e da representaccedilatildeo mental Comeccedila a permanecircncia do

objeto independente do ldquoeurdquo Quanto agrave noccedilatildeo de espaccedilo e tempo a crianccedila

comeccedila a ordenar os proacuteprios deslocamentos em relaccedilatildeo aos objetos

5ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular terciaacuteria (12 a 18 meses) A crianccedila gradua

seus movimentos varia e experimenta novos padrotildees de comportamento

observando os diferentes efeitos da sua accedilatildeo sobre o objeto o qual jaacute eacute dotado de

permanecircncia Pode-se afirmar que o mecanismo da inteligecircncia praacutetica estaacute

definitivamente constituiacutedo A cada estruturaccedilatildeo da inteligecircncia corresponde uma

nova estruturaccedilatildeo do espaccedilo do tempo da causalidade etc Agindo por ldquoensaio e

errordquo os resultados das accedilotildees ainda satildeo por acaso pois as representaccedilotildees

mentais de fatos externos ainda natildeo se incluem ou seja o pensamento ainda natildeo

estaacute formado

22

6ordm Sub Estaacutegio ndash A invenccedilatildeo dos novos meios por combinaccedilatildeo

mental (18 a 24 meses) Esta fase caracteriza o momento de transiccedilatildeo entre a

inteligecircncia praacutetica (sensoacuterio-motora) e a inteligecircncia representativa quando

comeccedila a funccedilatildeo simboacutelica Inicia-se a representaccedilatildeo mental imaginativa e criativa

No jogo simboacutelico a crianccedila usa siacutembolos na linguagem e na brincadeira do faz-deshy

conta recorda-se de fatos passados e os representa depois de algum tempo O

final deste periacuteodo eacute marcado pela primeira noccedilatildeo de conservaccedilatildeo(FerreiraI1994)

Os primeiros anos de vida da crianccedila satildeo marcados pelas inuacutemeras

formaccedilotildees e transformaccedilotildees fiacutesicas mentais e emocionais conforme descritas

acima Os acalantos (muacutesicas de ninar) satildeo cantados por matildees de todo o mundo

numa primeira inserccedilatildeo da crianccedila ao universo musical de sua cultura Eles

exercem um poderoso papel de auxiacutelio agrave maternagem acolhendo-a afetuosamente

condiccedilatildeo baacutesica para que a crianccedila se sinta suficientemente amada para

prosseguir desenvolvendo-se Este tema seraacute melhor explanado nos proacuteximos

capiacutetulos Por hora parece oportuno um exemplo de acalanto

TUTU MARAMBAacute(folclore)6

Tutu marambaacute

Natildeo venha mais caacute

Que o pai do menino

Te manda mata

6 MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute PRECISO CANTAR Musicoterapia cantos e canccedilotildees2001p38

23

32ESTAacuteGIO PREacute-OPERACIONAL (2 agrave 7 anos) A crianccedila vive um tempo em que

usa a intuiccedilatildeo ela passa todos os seus atos para o pensamento sob a forma de

imagens e diante de uma situaccedilatildeo praacutetica suas respostas vatildeo se basear no que

ela vecirc sente mexe ou seja nas aparecircncias dos fatos que observa A crianccedila

possui a capacidade de representar uma coisa por outra e esta representaccedilatildeo

pode se dar por um gesto um desenho uma palavra etc A verbalizaccedilatildeo tem

destaque neste periacuteodo e a linguagem conduz agrave socializaccedilatildeo das accedilotildees Este

estaacutegio compreende duas formas de pensamento a saber O Pensamento

Simboacutelico e o Pensamento Intuitivo

Pensamento simboacutelico (2 agrave 4 anos) Para Piaget a funccedilatildeo simboacutelica consiste na

capacidade da crianccedila representar objetos e fatos conhecidos poreacutem ausentes por

um substituto qualquer seja este concreto ou imaginaacuterio Uma caracteriacutestica

fundamental desta fase eacute a diferenciaccedilatildeo entre significante e significado que eacute

manifestada por vaacuterias condutas sendo elas O jogo simboacutelico ou faz-de-conta a

imitaccedilatildeo o desenho a imagem mental a linguagem a criatividade etc Para

ldquosignificanterdquo leia-se objeto concreto e para ldquosignificadordquo a ideacuteia compreensiva do

que foi percebido (Piaget 2003)

Sobre a funccedilatildeo simboacutelica FerreiraI(1994p43) complementa ldquoA funccedilatildeo

simboacutelica pode ser considerada uma linguagem individual e particular da crianccedila

usada para compreender e representar o mundo O siacutembolo eacute subjetivo e aos

poucos vai sendo substituiacutedo por signos da linguagem socialrdquo

24

O pensamento infantil encontrado entre os 2 e 7 anos de idade eacute

egocentrado A visatildeo da realidade eacute centrada no ponto de vista do proacuteprio sujeito

sendo este incapaz de relacionaacute-lo ou de coordenaacute-lo a pontos de vistas diferentes

do seu

A aquisiccedilatildeo da linguagem tem destaque nesta fase e coincide com a

formaccedilatildeo do jogo simboacutelico que melhor se manifesta no jogo do faz-de-conta

Atraveacutes do que discute Ferreira I (1994p43) ldquoOs siacutembolos podem ser

socializados como os brinquedos coletivos e se tornar um siacutembolo coletivordquo

confirma-se mais uma vez que os estes elementos apresentam extrema valorizaccedilatildeo

soacutecio-afetiva e cultural Com a ludicidade que lhe eacute peculiar os brinquedos

cantados nesta fase encantam ensinam desenvolvem a memoacuteria a auto estima

o esquema corporal a imagem corporal a Coordenaccedilatildeo Motora a socializaccedilatildeo

entre outras funccedilotildees essenciais agrave formaccedilatildeo dos pequenos Eis um bom exemplo

O GIGANTE E O ANAtildeO(autor desconhecido)7

O peacute do gigante eacute grande

Do anatildeo pequenininho

O gigante pisa forte

O anatildeo pisa mansinho

O gigante fala grosso

O anatildeo fala fininho

Porque gigante come muito

E o anatildeo come pouquinho

7 Recolhido atraveacutes da cultura oral

25

Pensamento Intuitivo (4 agrave 7 anos) Subdividido em Intuitivo Simples e Intuitivo

Articulado eacute um estaacutegio marcado pela crescente formaccedilatildeo de conceitos O

pensamento intuitivo eacute uma espeacutecie de accedilatildeo executada em pensamento encaixar

seriar deslocar etc

A crianccedila no intuitivo simples representa mentalmente assimila e entende

o mundo real poreacutem de forma limitada pois soacute consegue coordenar um uacutenico

ponto de vista com base nas aparecircncias do que vecirc Centrado em si mesmo natildeo

admite a reversibilidade falta-lhe ainda a noccedilatildeo de conservaccedilatildeo das substacircncias

Quando se pede agrave crianccedila para desenhar ela desenha o que sabe e natildeo

o que vecirc Este egocentrismo que lhe eacute peculiar deveraacute evoluir para a

descentraccedilatildeo bem como haveraacute progressos nas diversas etapas cognitivas

(classificar seriar etc) Ao final do pensamento intuitivo articulado a crianccedila

comeccedila a levantar duacutevidas e questionamentos percebendo a mobilidade das

situaccedilotildees

ldquoA BARATArdquo(folclore)8

A barata diz que tem 7 saias de filoacute

Eacute mentira da barata ela tem eacute uma soacute

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute

A barata diz que tem um anel de formatura

Eacute mentira da barata ela tem eacute casca dura

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura

8 PAIVA Ione Maria R de OPCITp80

26

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura

A barata diz que dorme numa cama de cetim

Eacute mentira da barata ela dorme eacute no capim

Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim

Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim

Na muacutesica da barata as crianccedilas ironizam a tentativa de mentir deste

inseto A propoacutesito das ldquomentirinhasrdquo contidas nas brincadeiras infantis funcionam

como passaporte para a experimentaccedilatildeo do que eacute verdadeiro e real As palavras

de cascudo(1988p491) discorrem sobre os deslimites da mentira ldquoAs estoacuterias

mentirosas() satildeo muito populares e constituem um gecircnero especial onde a

imaginaccedilatildeo exagerada e livre se liberta dos limites da loacutegicardquo Acredita-se que as

crianccedilas exigem a verdade para terem o domiacutenio do que aprendem

33OS JOGOS POR PIAGET

ldquoPiaget vecirc no jogo um processo de ajuda ao desenvolvimento da crianccedila

acompanha-a sendo ao mesmo tempo uma atividade consequumlente de seu proacuteprio

crescimentordquo(Negrine1994p45) A leitura dos jogos em Piaget acompanha o

desenvolvimento integral do homem a inteligecircncia a afetividade a motricidade e a

sociabilidade satildeo vivenciadas nos jogos sendo a afetividade a funccedilatildeo que constitui

a energia necessaacuteria para a progressatildeo psiacutequica moral intelectual e motora

daquele que joga

Trecircs classificaccedilotildees baacutesicas do jogo satildeo mostradas na teoria

27

psicogeneacutetica de Piaget Jogos de exerciacutecio Jogos simboacutelicos e jogos de regra

Jogos de Exerciacutecio Ou jogos sensoacuterio-motores que aparecem no periacuteodo do

mesmo nome natildeo chegam a constituir sistemas luacutedicos independentes e

construtivos Sua motivaccedilatildeo se daacute pelo prazer funcional ou pelo prazer produzido

pela tomada de consciecircncia de suas novas capacidades

Os jogos motores ou de exerciacutecios satildeo aqueles que envolvem

diretamente a participaccedilatildeo ativa do corpo como um todo inclui-se ainda os jogos

sensoriais que ajudam a desenvolver os oacutergatildeos dos sentidos

A crianccedila nesta fase gosta de brincar com brinquedos que manipula

repetidas vezes explorando toda sua superfiacutecie Brincar de esconder o rosto ou os

objetos atirar e pegar brinquedos eacute prazeroso para a crianccedila ao mesmo tempo

que assimila as noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo

da realidade

Os estiacutemulos sensoriais tambeacutem fazem parte do seu interesse objetos

de diversas cores e texturas brinquedos sonoros muacutesica para ouvir acalentar

danccedilar e brincar desta forma explora o reconhecimento do eu do outro e dos

objetos

O jogo de exerciacutecio eacute o primeiro a aparecer no comportamento da

crianccedila explicitamente do 2ordm ao 5ordm estaacutegio do desenvolvimento sensoacuterio motor por

oposiccedilatildeo ao 6ordm estaacutegio onde se inicia o jogo simboacutelico(Negrine 1994)

28

ATIREI O PAU NO GATO(Folclore)9

Atirei o pau no ga-to-to mas o ga-to-to

Natildeo morreu- rreu- rreu dona chica-ca-ca

Admirou- se se do berro do berro

Do berro que o gato deu Miau

Jogos Simboacutelicos Em princiacutepio do ponto de vista de Piaget a diferenccedila entre os

jogos simboacutelicos e os de exerciacutecio intelectual consiste em que os primeiros se

referem ao pensamento

Os jogos simboacutelicos tem iniacutecio no 6ordm estaacutegio do periacuteodo sensoacuterio-motor

e se continua aproximadamente dos 2 aos 4 anos de idade cronoloacutegica ou do 1ordm

estaacutegio do preacute-operacional(fase simboacutelica) ateacute o iniacutecio do 2ordm estaacutegio do preacuteshy

operacional(fase intuitiva) Piaget apud Negrine(1994p41) deixa claro a

supremacia dos jogos simboacutelicos em detrimento dos anteriores

ldquoO esquema simboacutelico por si mesmo eacute suficiente para

assegurar a superioridade da representaccedilatildeo sobre

uma accedilatildeo pura nesta segundo Piaget o jogo

permite assimilar o mundo exterior ao eu como meio

infinitamente mais poderoso que o de simples exerciacuteciordquo

Como aparecem antes da linguagem verbal propriamente dita os jogos

simboacutelicos satildeo representados nas imagens mentais da crianccedila e vivenciados

atraveacutes dos gestos onomatopeacuteias pelo prazer de brincar com o faz-de-conta

9 MILLLECCO FILHO Luiacutes A e outros OPCIT p43

29

Nesta fase os acalantos vatildeo perdendo sua importacircncia dando lugar agraves

brincadeiras-de-roda os pequenos ao mesmo tempo em que aprendem a falar

aprendem a cantar as brincadeiras-de-roda tem a propriedade de enriquecerem o

repertoacuterio de palavras e movimentos

Jogos de Regras Os jogos de regras natildeo seguem o mesmo itineraacuterio dos

anteriores pois comeccedilam a aparecer na metade do 2ordm estaacutegio do periacuteodo preacuteshy

operacional isto eacute dos 4 aos 7 anos e principalmente no periacuteodo das operaccedilotildees

concretas dos 7 aos 12 anos Pesquisaremos como ocorrem os jogos de regra ateacute

os 7 anos pela delimitaccedilatildeo da populaccedilatildeo que esta monografia abrange

Dos 4 aos 7 anos periacuteodo preacute operacional intuitivo surgem os jogos de

regra que substituiratildeo o siacutembolo e enquadraratildeo o exerciacutecio no momento em que se

constituem de forma incipiente certas relaccedilotildees sociais(Piaget2003)

Com relaccedilatildeo as regras segundo Piaget apud Negrine

(1994p44)distinguem-se dois tipos transmitidas e espontacircneas As regras

transmitidas se referem aos jogos institucionais que se impotildeem por pressatildeo das

geraccedilotildees anteriores As espontacircneas se referem aos jogos de natureza contratual e

momentacircnea isto eacute procedem da socializaccedilatildeo dos jogos de simples exerciacutecios ou

dos simboacutelicos

30

Na cantiga de roda ldquoCiranda cirandinhardquo destaca-se o desenvolvimento

da roda e ao final as regras uma imposta (entrar na roda e dizer um verso) outra

espontacircnea (serve qualquer verso criado na hora ou jaacute existente) Outra versatildeo

desta mesma cantiga para crianccedilas menores pede ldquofaccedila um gesto bem bonito

diga adeus e vaacute se emborardquo A liberdade de criar um gesto verso a importacircncia de

estar no meio da roda como centro das atenccedilotildees e a valorizaccedilatildeo dos

companheiros satildeo o impulso para a espontaneidade e o crescimento da autonomia

do ser

CIRANDA CIRANDINHA(folclore)10

Ciranda cirandinha vamos todos cirandar

Vamos dar a meia volta volta e meia vamos dar

o anel que tu me destes era vidro e se quebrou

o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou

Por isto sinhaacute Maria entre dentro desta roda

Diga um verso bem bonito diga adeus e vaacute se embora

Os conceitos estudados neste capiacutetulo podem orientar sobre o tempo

mental da crianccedila e a possibilidade de oferecer estiacutemulos adequados ao seu

momento Como uma boa buacutessola natildeo conteacutem apenas o norte

10 MARTINS Armando OPCITp105

31

4O BRINCAR E A REALIDADE WINNICOTTEANA

A partir da premissa de que natildeo se pode dividir o ser humano em

classificaccedilotildees bioloacutegicas e psiacutequicas posto que este eacute uma unidade indivisiacutevel

formulou-se apenas para efeitos didaacuteticos no capiacutetulo anteriorum olhar mais

fiacutesico(cognitivo) do desenvolvimento infantil atraveacutes de Piaget Discutir-se-aacute neste

capiacutetulo o ponto de vista Winnicotteano sobre a vida emocional e o brincar

Nos brinquedos cantados a arte de brincar se mistura a arte de cantar e

eacute fazendo ldquoArtesrdquo que a crianccedila dar-se a ver e a crescer A partir deste tema

instigante e universal que eacute o brincar torna-se mais prazeroso ainda falar sobre ele

depois de conhecer os estudos do Drordm Winnicott

D W Winnicott pediatra psicanalista psicoterapeuta inglecircs e defensor

da Ludoterapia nasceu no comeccedilo do seacuteculo 20 produzindo uma vasta obra

cientiacutefica ateacute os anos 70 quando nos deixou Em seu livro ldquoO Brincar e

Realidaderdquo(1975) se preocupou com os primoacuterdios da vida imaginativa da

experiecircncia cultural em todos os sentidos da relaccedilatildeo das artes com o brincar e da

criatividade

Neste momento parece relevante abordar alguns dos conceitos teoacutericos

do DrordmWinnicott atraveacutes da obra mencionada pelo suporte que podem

proporcionar agrave compreensatildeo da vida psiacutequica mediante o brincar e a terapia Em

32

Conceitos e contornos ilustrar-se-aacute o Objeto transicional Fenocircmeno transicional

Matildee suficientemente boa Aacuterea intermediaacuteria e o Eu(Self) circundando a

importacircncia destes conceitos em relaccedilatildeo aos brinquedos cantados e sua aplicaccedilatildeo

na cliacutenica psicomotora

41CONCEITOS E CONTORNOS

Objeto Transicional Eacute o objeto concreto relativo agrave exploraccedilatildeo pulsional (descarga

impulsiva) do sujeito por exemplo uma boneca ou um carrinho

Fenocircmeno Transicional Satildeo as accedilotildees relativas agrave exploraccedilatildeo pulsional ou o uso

que se faz dos objetos transicionais Ex Um carrinho pode ser acalentado como se

fosse um bebecirc

Matildee Suficientemente Boa Pessoa que ocupa o lugar de suporte afetivo no

desenvolvimento global da crianccedila tambeacutem associada por ele a figura do

terapeuta

Em outras palavras o amor da matildee ou do terapeuta

natildeo significaria apenas um atendimento agraves necessidades

da dependecircncia mas vem a significar a concessatildeo

de oportunidades que permita ao bebecirc ou ao paciente

passar da dependecircncia para a autonomia

(Winnicott1975p150)

33

Aacuterea Intermediaacuteria Aacuterea neutra de experimentaccedilatildeo vivencial entre as realidades

internas e externas do sujeito que favorece a dialeacutetica do brincar e das artes O

dito autor parece supor um espaccedilo de refuacutegio para a resoluccedilatildeo dos conflitos

humanos Eis aqui a referecircncia para tal colocaccedilatildeo

Presume-se aqui que a tarefa de aceitaccedilatildeo da realidade

nunca eacute completada que nenhum ser humano estaacute livre

da tensatildeo de relacionar a realidade interna e externa e

que o aliacutevio dessa tensatildeo eacute proporcionado por uma aacuterea

intermediaacuteria de experiecircncia(cf Riviere1936) que natildeo eacute

contestada (artes religiatildeo etc) Essa aacuterea intermediaacuteria

estaacute em continuidade direta com a aacuterea do brincar da

crianccedila pequena que se ldquoperderdquo no brincar

(Winnicottopcitp29)

A princiacutepio eacute difiacutecil falar dos brinquedos cantados como objetos

transicionais (concretos) porque natildeo satildeo exatamente vistos a olhos nus embora

sejam audiacuteveis Todavia qualquer muacutesico pode escrever em uma partitura o

brinquedo cantado (concreto e cantaacutevel) para tornaacute-lo visiacutevel

O ato de cantar uma muacutesica de roda ou um acalanto jaacute eacute a traduccedilatildeo do

fenocircmeno transicional Dar-se-aacute o uso que quiser a este brinquedo cantado no

momento de sua realizaccedilatildeo Se uma muacutesica de ninar for entoada com raiva ou

brutalidade eacute certo que traraacute temores ao bebecirc e natildeo o conforto a que se prestaria

Acalantos com este do ldquobicho papatildeordquo expotildee o perigo e propotildee acolhida pela

proteccedilatildeo materna

34

ldquoBICHO PAPAtildeO(folclore)11

Bicho Papatildeo sai de cima do telhado

Deixe o menino dormir sossegado

O Eu (Self) O Eu (Self) eacute o eu integral descrito por Winnicott(1975) em sua mais

pura essecircncia um eu que nasce na liberdade de expressatildeo na confianccedila baseada

nas experiecircncias vividas no suporte dos sentimentos Para este autor certas

condiccedilotildees se fazem necessaacuterias na busca do Eu (Self) eacute o que se chama de

criatividade A criatividade pode defraglar e sustentar o ser integral

A vida sadia se mostra pelo impulso criativo O brincar eacute um instrumento

da criatividade sediado na ldquoaacuterea intermediaacuteriardquo (entre as artes e o luacutedico)

sustentado em seus primoacuterdios pela ldquomatildee suficientemente boardquo direcionado agrave

busca do ldquoEu (Self) Sobre a importacircncia das cantigas de roda nesta busca

podemos ler as contribuiccedilotildees de Millecco filho e outros (2001p44)

As cantigas de roda datildeo continuidade ao trabalho

de elaboraccedilatildeo de conflitos e agrave estrutura da pessoa

em desenvolvimento iniciado com os acalantos

() A roda aparece como uma representaccedilatildeo da

mandala expressatildeo geomeacutetrica do Self

11 Recolhido atraveacutes da cultura oral

35

A letra da muacutesica infantil ldquoa canoa virourdquo expotildee um problema e supotildee

uma soluccedilatildeo hipoteacutetica

A CANOA VIROU(folclore)12

A canoa virou vou deixar ela virar

Foi por causa da Maria que natildeo soube remar

Ah se eu fosse peixinho e soubesse nadar

Eu tirava a Marialaacute do fundo do mar

A accedilatildeo terapecircutica deve ser um modo de auxiliar uma pessoa a

vir a ser o que ela eacute capaz de ser O psicomotricista atua como facilitador no

desenvolvimento do potencial existente no sujeito Numa maternagem

suficientemente boa como fala Winnicott o psicomotricista relacional torna-se um

companheiro de jornada para as atitudes luacutedicas do seu paciente

As medidas de afeto e limites saudaacuteveis agraves necessidades do outro

devem ser reconhecidas e valorizadas Eacute o que se vecirc nas colocaccedilotildees de Winnicott

(1975p63) ldquoEm outros termos eacute a brincadeira que eacute universal e que eacute proacutepria da

sauacutede o brincar facilita o crescimento e portanto a sauacutede o brincar conduz aos

relacionamentos grupais o brincar pode ser uma forma de comunicaccedilatildeo na

psicoterapia()rdquo

12 MARTINS Armando OPCITp110

36

Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e

estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que

haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila

acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas

Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a

brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre

MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR

VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR

Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o

aprender com a danccedila do outro

ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

13 Recolhido atraveacutes da cultura oral

37

Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons

e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os

brinquedos cantados

5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE

Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma

nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o

corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se

utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia

e da linguumliacutestica

No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua

expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a

existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto

O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que

encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e

motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros

Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando

fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar

gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil

38

ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14

Eacute bom cantar eacute bom ouvir

Eacute bom pensar eacute bom sentir

Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor

Viajar dentro de si pra poder se descobrir

51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE

A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso

meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da

psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu

corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)

O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico

(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes

concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo

ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a

palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas

que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que

quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do

latim Corpusque significa tecido de membros envoltura

da alma embriatildeo do espiacuterito

14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000

39

Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na

Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto

que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo

cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a

motricidade com a inteligecircncia

Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam

em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento

humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o

movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila

De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de

segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio

Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se

no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo

de Guilman

O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num

corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo

toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico

emocional(Levin opcit)

O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor

Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em

movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica

40

psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre

outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da

pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de

Levin(opcit)

Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor

podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor

ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento

Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o

sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem

tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco

podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade

eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)

52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA

A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o

seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins

pedagoacutegicos (Levy2000)

A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se

do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos

transtornos evidenciados (Coste1992)

A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a

41

afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja

o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade

do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting

psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais

uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si

mesmo uma terapiardquo

As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas

psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema

corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade

Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo

estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees

cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito

As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de

algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A

coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar

pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos

dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para

andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes

visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a

existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa

caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc

No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a

42

primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave

vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos

cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas

psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a

expressividade e a emoccedilatildeo

O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas

psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se

confirmar por exemplo para treinar a escrita

As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar

iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da

brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo

dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da

cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas

pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar

Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora

relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de

cada uma delas

43

53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE

Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os

acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte

afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe

o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo

e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do

acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si

mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a

busca do eu (Self)

O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos

cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a

partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes

acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de

interesse da populaccedilatildeo pesquisada

Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil

geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo

continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em

desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza

simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos

conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo

44

As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia

cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o

relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano

infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a

Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda

assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia

oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria

soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo

Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as

com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da

referida estrutura

Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos

integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos

grandes segmentos (Coste1992)

Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro

expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo

corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a

habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa

O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se

movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os

movimentos enquanto observam os amigos

45

BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

Os braccedilos pra cima e pra baixo

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

As pernas pra frente e pra traacutes

Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo

preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo

motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada

diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do

grafismo (Coste1992)

A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas

brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as

palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a

crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos

Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos

fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca

do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes

15 Recolhido atraveacutes da cultura oral

46

das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa

de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas

ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16

123 indiozinhos 456 indiozinhos

789 indiozinhos 10 num pequeno bote

Vinham navegando pelo rio abaixo

Quando o jacareacute se aproximou

E o pequeno bote dos indiozinhos

Quase quase virou quase quase virou

mas natildeo virou

Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo

ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam

internas ou externas (Levin2001)

A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e

apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as

crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do

corpo que deseja mostrar

ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17

Cabeccedila ombro joelho e peacute

Joelho e peacute joelho e peacute

Olhos boca orelha e nariz

Orelha e nariz orelha e nariz

16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral

47

Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O

equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute

relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)

Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de

amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o

personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca

instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma

perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal

traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal

ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca o pandeirotoca como ele soacute

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca violatildeo toca como ele soacute

Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao

tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir

da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do

aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala

dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da

vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza

18 Recolhido atraveacutes da cultura oral

48

Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila

seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um

personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular

correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e

volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem

seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam

ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19

Anda anda anda macaquinho

Anda anda anda sem parar

Pula pula pula macaquinho

Pula pula pula ateacute cansar

Corre corre corre macaquinho

Corre corre corre sem parar

Deita deita deita macaquinho

Deita deita deita dorme ateacute sonhar

Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu

desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e

relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do

mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)

Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira

19 Recolhido atraveacutes da cultura oral

49

traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo

espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a

noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo

vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento

O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e

rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos

de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra

frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente

e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da

roda virem periquitos tambeacutem

Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem

no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras

visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas

ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20

Periquito periquito parece com papa

Periquito periquito parece com papa

Por baixo por cima pra frente e pra traacutes

Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo

ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo

temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a

20 Recolhido atraveacutes da cultura oral

50

estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus

movimentos e se organiza na vida cotidiana

Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo

que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo

humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre

ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos

acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo

A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da

chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo

dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio

ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21

A janelinha fecha quando estaacute chovendo

A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo

Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute

Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute

Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os

centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e

contralaterais (Coste1992)

21 Recolhido atraveacutes da cultura oral

51

A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento

psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e

assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute

organizada e natildeo mudaraacute mais

Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os

peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a

conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo

grupo disposto em roda

ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22

Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora

Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora

Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock

Assim eacute bem melhor

( e assim por diante com as demais partes do corpo)

Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o

modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder

apud Coste(1992)

A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a

organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo

mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do

22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57

52

desejo da matildee

A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan

apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros

tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e

de diferenccedila (ibid)

Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o

ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na

constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo

desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A

psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade

poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A

citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo

O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de

identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria

de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do

lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que

eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim

constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute

poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo

o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)

53

Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia

corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber

possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver

As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a

expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente

Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar

cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de

construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza

pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem

corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter

fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de

cantar danccedilar e brincar

54

ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23

Minha boneca de lata

Bateu com a cabeccedila no chatildeo

Levou mais de uma hora

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui pra ficar boa

Minha boneca de lata

Bateu com o pescoccedilo no chatildeo

Levou mais de duas horas

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui desamassa aqui

Pra ficar boa

Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho

o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do

corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez

horas de arrumaccedilatildeo propostas

23 Recolhido atraveacutes da cultura oral

55

6CONCLUSAtildeO

Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-

se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse

infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar

Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a

relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas

cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo

permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os

estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e

que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo

Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de

winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do

ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos

como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica

Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de

conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos

Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade

que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se

pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos

sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu

ldquoafetordquo

56

Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a

psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir

expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer

Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia

para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a

socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte

aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o

desenvolvimento das estruturas psicomotoras

Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a

essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado

pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando

o prazer de brincar cantar e ser feliz

57

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Page 19: Brinquedos Cantados Na Psicomotricidade

18

Objeto permanente Nos primeiros dois anos de vida a crianccedila apresenta um

comportamento em constante adaptaccedilatildeo pois estaacute sempre se modificando para

responder aos estiacutemulos do meio A crianccedila inicialmente natildeo tem noccedilatildeo da

permanecircncia dos objetos ela pensa que eles soacute existem enquanto estatildeo ao

alcance dos seus olhos caso sejam escondidos a sua frente acharaacute que estes

acabaram ou se desintegraram Entre os 18 e 24 meses a crianccedila jaacute consegue

elaborar mais este conhecimento e apesar de natildeo vecirc-lo ouvi-lo ou tocaacute-lo ela vai

compreender que os objetos independem da sua vontade e presenccedila para

existirem

Para melhor apreensatildeo da realidade fiacutesica a praacutetica pelo ensaio e erro ou

aparecer desaparecer vatildeo treinar e orientar os pequenos na aquisiccedilatildeo das noccedilotildees

de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo da realidade como

afirma FerreiraI(1994p35) ldquoO esquema do objeto permanente eacute baacutesico para a

construccedilatildeo das noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidaderdquo

Observe que as crianccedilas nesta fase gostam das brincadeiras de

esconde-esconde que amenizam suas anguacutestias sobre a existecircncia ou natildeo dos

objetos reais Seu proacuteprio corpo eacute posto agrave prova escondendo o rosto ou as matildeos

atraacutes de uma almofada por exemplo A muacutesica das palminhas talvez possa auxiliar

nesta etapa

19

PALMINHAS PALMINHAS (folclore)5

Palminhas palminhas nos vamos bater

Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconder

Em cima em cima noacutes vamos bater

Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconde

Assim assim pra traacutes esconder

Em baixo em baixo noacutes vamos bate

Depois as matildeozinhas pra traacutes esconde

Assim assim pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconder

Os conceitos estudados ateacute aqui se realizam dentro dos estaacutegios do

desenvolvimento organizados por Piaget Passar-se-aacute neste momento agrave elucidaccedilatildeo

dos estaacutegios pertinentes agrave faixa etaacuteria da populaccedilatildeo pesquisada nesta monografia

estaacutegios Sensoacuterio-motor e Preacute-operacional

31ESTAacuteGIO SENSOacuteRIO MOTOR (0 agrave 2 anos) Estaacutegio que vai do nascimento

ateacute a aquisiccedilatildeo da linguagem e eacute dividido em 6 sub estaacutegios Esta eacute a fase do

comportamento inteligente antes da aquisiccedilatildeo da linguagem a crianccedila organiza a

informaccedilatildeo obtida atraveacutes dos sentidos e desenvolve respostas aos estiacutemulos

5 Recolhido atraveacutes da cultura oral

20

ambientais com comportamento adaptativo e constante modificaccedilotildees dos

esquemas de accedilatildeo em resposta ao meio A aquisiccedilatildeo mais importante deste

periacuteodo eacute o Objeto Permanente Manifesta-se ainda a imitaccedilatildeo que alcanccedilaraacute o

seu auge no proacuteximo estaacutegio

1ordm Sub Estaacutegio ndash Exerciacutecio dos reflexos (0 a 1 mecircs) Do alto da sua imaturidade

bioloacutegica a crianccedila se relaciona com o meio atraveacutes dos movimentos reflexos

hereditaacuterios que se aprimoram pelo exerciacutecio tornando-se cada vez mais

eficientes Ainda natildeo haacute a distinccedilatildeo entre o eu e o outro

2ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular primaacuteria (1 a 4 meses)Esta eacute a fase das

primeiras acomodaccedilotildees onde os exerciacutecios reflexos se transformam em esquemas

e comeccedilam a coordenar seus movimentos Inicia-se a construccedilatildeo dos primeiros

esquemas vocais A noccedilatildeo de tempo eacute primitiva sua duraccedilatildeo soacute eacute sentida no

decorrer da proacutepria accedilatildeo O final do periacuteodo eacute marcado pela coordenaccedilatildeo entre trecircs

esquemas fundamentais audiccedilatildeo fonaccedilatildeo e visatildeo

3ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular secundaacuteria (4 a 8 meses) O bebecirc apresenta

um maior interesse pelo mundo externo os esquemas se diferenciam surgindo

novos esquemas de coordenaccedilatildeo viso-motora unindo-se as aquisiccedilotildees jaacute

realizadas Os movimentos comeccedilam a ser repetido pelo prazer da repeticcedilatildeo

Observa-se o iniacutecio da noccedilatildeo do Objeto Permanente entretanto ela estaacute

condicionada ao movimento da crianccedila pois as coisas ainda natildeo seguem uma

trajetoacuteria independente

21

4ordm Sub Estaacutegio ndash Coordenaccedilatildeo de esquemas secundaacuterios (8 a 12 meses)

Caracteriza-se pelas primeiras condutas propriamente inteligentes surgindo

adaptaccedilotildees sensoacuterio-motoras intencionais onde o bebecirc combina esquemas

conhecidos a novas situaccedilotildees e ainda diferencia os meios e os fins de uma accedilatildeo

Aparece nesta fase o comportamento antecipatoacuterio caso o bebecirc veja sua matildee se

afastar chora a imitaccedilatildeo de sons e accedilotildees satildeo agora intencionais e

conscientizadas no entanto ainda condicionadas ao esquema visual Revelam-se

os primoacuterdios da memoacuteria e da representaccedilatildeo mental Comeccedila a permanecircncia do

objeto independente do ldquoeurdquo Quanto agrave noccedilatildeo de espaccedilo e tempo a crianccedila

comeccedila a ordenar os proacuteprios deslocamentos em relaccedilatildeo aos objetos

5ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular terciaacuteria (12 a 18 meses) A crianccedila gradua

seus movimentos varia e experimenta novos padrotildees de comportamento

observando os diferentes efeitos da sua accedilatildeo sobre o objeto o qual jaacute eacute dotado de

permanecircncia Pode-se afirmar que o mecanismo da inteligecircncia praacutetica estaacute

definitivamente constituiacutedo A cada estruturaccedilatildeo da inteligecircncia corresponde uma

nova estruturaccedilatildeo do espaccedilo do tempo da causalidade etc Agindo por ldquoensaio e

errordquo os resultados das accedilotildees ainda satildeo por acaso pois as representaccedilotildees

mentais de fatos externos ainda natildeo se incluem ou seja o pensamento ainda natildeo

estaacute formado

22

6ordm Sub Estaacutegio ndash A invenccedilatildeo dos novos meios por combinaccedilatildeo

mental (18 a 24 meses) Esta fase caracteriza o momento de transiccedilatildeo entre a

inteligecircncia praacutetica (sensoacuterio-motora) e a inteligecircncia representativa quando

comeccedila a funccedilatildeo simboacutelica Inicia-se a representaccedilatildeo mental imaginativa e criativa

No jogo simboacutelico a crianccedila usa siacutembolos na linguagem e na brincadeira do faz-deshy

conta recorda-se de fatos passados e os representa depois de algum tempo O

final deste periacuteodo eacute marcado pela primeira noccedilatildeo de conservaccedilatildeo(FerreiraI1994)

Os primeiros anos de vida da crianccedila satildeo marcados pelas inuacutemeras

formaccedilotildees e transformaccedilotildees fiacutesicas mentais e emocionais conforme descritas

acima Os acalantos (muacutesicas de ninar) satildeo cantados por matildees de todo o mundo

numa primeira inserccedilatildeo da crianccedila ao universo musical de sua cultura Eles

exercem um poderoso papel de auxiacutelio agrave maternagem acolhendo-a afetuosamente

condiccedilatildeo baacutesica para que a crianccedila se sinta suficientemente amada para

prosseguir desenvolvendo-se Este tema seraacute melhor explanado nos proacuteximos

capiacutetulos Por hora parece oportuno um exemplo de acalanto

TUTU MARAMBAacute(folclore)6

Tutu marambaacute

Natildeo venha mais caacute

Que o pai do menino

Te manda mata

6 MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute PRECISO CANTAR Musicoterapia cantos e canccedilotildees2001p38

23

32ESTAacuteGIO PREacute-OPERACIONAL (2 agrave 7 anos) A crianccedila vive um tempo em que

usa a intuiccedilatildeo ela passa todos os seus atos para o pensamento sob a forma de

imagens e diante de uma situaccedilatildeo praacutetica suas respostas vatildeo se basear no que

ela vecirc sente mexe ou seja nas aparecircncias dos fatos que observa A crianccedila

possui a capacidade de representar uma coisa por outra e esta representaccedilatildeo

pode se dar por um gesto um desenho uma palavra etc A verbalizaccedilatildeo tem

destaque neste periacuteodo e a linguagem conduz agrave socializaccedilatildeo das accedilotildees Este

estaacutegio compreende duas formas de pensamento a saber O Pensamento

Simboacutelico e o Pensamento Intuitivo

Pensamento simboacutelico (2 agrave 4 anos) Para Piaget a funccedilatildeo simboacutelica consiste na

capacidade da crianccedila representar objetos e fatos conhecidos poreacutem ausentes por

um substituto qualquer seja este concreto ou imaginaacuterio Uma caracteriacutestica

fundamental desta fase eacute a diferenciaccedilatildeo entre significante e significado que eacute

manifestada por vaacuterias condutas sendo elas O jogo simboacutelico ou faz-de-conta a

imitaccedilatildeo o desenho a imagem mental a linguagem a criatividade etc Para

ldquosignificanterdquo leia-se objeto concreto e para ldquosignificadordquo a ideacuteia compreensiva do

que foi percebido (Piaget 2003)

Sobre a funccedilatildeo simboacutelica FerreiraI(1994p43) complementa ldquoA funccedilatildeo

simboacutelica pode ser considerada uma linguagem individual e particular da crianccedila

usada para compreender e representar o mundo O siacutembolo eacute subjetivo e aos

poucos vai sendo substituiacutedo por signos da linguagem socialrdquo

24

O pensamento infantil encontrado entre os 2 e 7 anos de idade eacute

egocentrado A visatildeo da realidade eacute centrada no ponto de vista do proacuteprio sujeito

sendo este incapaz de relacionaacute-lo ou de coordenaacute-lo a pontos de vistas diferentes

do seu

A aquisiccedilatildeo da linguagem tem destaque nesta fase e coincide com a

formaccedilatildeo do jogo simboacutelico que melhor se manifesta no jogo do faz-de-conta

Atraveacutes do que discute Ferreira I (1994p43) ldquoOs siacutembolos podem ser

socializados como os brinquedos coletivos e se tornar um siacutembolo coletivordquo

confirma-se mais uma vez que os estes elementos apresentam extrema valorizaccedilatildeo

soacutecio-afetiva e cultural Com a ludicidade que lhe eacute peculiar os brinquedos

cantados nesta fase encantam ensinam desenvolvem a memoacuteria a auto estima

o esquema corporal a imagem corporal a Coordenaccedilatildeo Motora a socializaccedilatildeo

entre outras funccedilotildees essenciais agrave formaccedilatildeo dos pequenos Eis um bom exemplo

O GIGANTE E O ANAtildeO(autor desconhecido)7

O peacute do gigante eacute grande

Do anatildeo pequenininho

O gigante pisa forte

O anatildeo pisa mansinho

O gigante fala grosso

O anatildeo fala fininho

Porque gigante come muito

E o anatildeo come pouquinho

7 Recolhido atraveacutes da cultura oral

25

Pensamento Intuitivo (4 agrave 7 anos) Subdividido em Intuitivo Simples e Intuitivo

Articulado eacute um estaacutegio marcado pela crescente formaccedilatildeo de conceitos O

pensamento intuitivo eacute uma espeacutecie de accedilatildeo executada em pensamento encaixar

seriar deslocar etc

A crianccedila no intuitivo simples representa mentalmente assimila e entende

o mundo real poreacutem de forma limitada pois soacute consegue coordenar um uacutenico

ponto de vista com base nas aparecircncias do que vecirc Centrado em si mesmo natildeo

admite a reversibilidade falta-lhe ainda a noccedilatildeo de conservaccedilatildeo das substacircncias

Quando se pede agrave crianccedila para desenhar ela desenha o que sabe e natildeo

o que vecirc Este egocentrismo que lhe eacute peculiar deveraacute evoluir para a

descentraccedilatildeo bem como haveraacute progressos nas diversas etapas cognitivas

(classificar seriar etc) Ao final do pensamento intuitivo articulado a crianccedila

comeccedila a levantar duacutevidas e questionamentos percebendo a mobilidade das

situaccedilotildees

ldquoA BARATArdquo(folclore)8

A barata diz que tem 7 saias de filoacute

Eacute mentira da barata ela tem eacute uma soacute

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute

A barata diz que tem um anel de formatura

Eacute mentira da barata ela tem eacute casca dura

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura

8 PAIVA Ione Maria R de OPCITp80

26

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura

A barata diz que dorme numa cama de cetim

Eacute mentira da barata ela dorme eacute no capim

Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim

Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim

Na muacutesica da barata as crianccedilas ironizam a tentativa de mentir deste

inseto A propoacutesito das ldquomentirinhasrdquo contidas nas brincadeiras infantis funcionam

como passaporte para a experimentaccedilatildeo do que eacute verdadeiro e real As palavras

de cascudo(1988p491) discorrem sobre os deslimites da mentira ldquoAs estoacuterias

mentirosas() satildeo muito populares e constituem um gecircnero especial onde a

imaginaccedilatildeo exagerada e livre se liberta dos limites da loacutegicardquo Acredita-se que as

crianccedilas exigem a verdade para terem o domiacutenio do que aprendem

33OS JOGOS POR PIAGET

ldquoPiaget vecirc no jogo um processo de ajuda ao desenvolvimento da crianccedila

acompanha-a sendo ao mesmo tempo uma atividade consequumlente de seu proacuteprio

crescimentordquo(Negrine1994p45) A leitura dos jogos em Piaget acompanha o

desenvolvimento integral do homem a inteligecircncia a afetividade a motricidade e a

sociabilidade satildeo vivenciadas nos jogos sendo a afetividade a funccedilatildeo que constitui

a energia necessaacuteria para a progressatildeo psiacutequica moral intelectual e motora

daquele que joga

Trecircs classificaccedilotildees baacutesicas do jogo satildeo mostradas na teoria

27

psicogeneacutetica de Piaget Jogos de exerciacutecio Jogos simboacutelicos e jogos de regra

Jogos de Exerciacutecio Ou jogos sensoacuterio-motores que aparecem no periacuteodo do

mesmo nome natildeo chegam a constituir sistemas luacutedicos independentes e

construtivos Sua motivaccedilatildeo se daacute pelo prazer funcional ou pelo prazer produzido

pela tomada de consciecircncia de suas novas capacidades

Os jogos motores ou de exerciacutecios satildeo aqueles que envolvem

diretamente a participaccedilatildeo ativa do corpo como um todo inclui-se ainda os jogos

sensoriais que ajudam a desenvolver os oacutergatildeos dos sentidos

A crianccedila nesta fase gosta de brincar com brinquedos que manipula

repetidas vezes explorando toda sua superfiacutecie Brincar de esconder o rosto ou os

objetos atirar e pegar brinquedos eacute prazeroso para a crianccedila ao mesmo tempo

que assimila as noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo

da realidade

Os estiacutemulos sensoriais tambeacutem fazem parte do seu interesse objetos

de diversas cores e texturas brinquedos sonoros muacutesica para ouvir acalentar

danccedilar e brincar desta forma explora o reconhecimento do eu do outro e dos

objetos

O jogo de exerciacutecio eacute o primeiro a aparecer no comportamento da

crianccedila explicitamente do 2ordm ao 5ordm estaacutegio do desenvolvimento sensoacuterio motor por

oposiccedilatildeo ao 6ordm estaacutegio onde se inicia o jogo simboacutelico(Negrine 1994)

28

ATIREI O PAU NO GATO(Folclore)9

Atirei o pau no ga-to-to mas o ga-to-to

Natildeo morreu- rreu- rreu dona chica-ca-ca

Admirou- se se do berro do berro

Do berro que o gato deu Miau

Jogos Simboacutelicos Em princiacutepio do ponto de vista de Piaget a diferenccedila entre os

jogos simboacutelicos e os de exerciacutecio intelectual consiste em que os primeiros se

referem ao pensamento

Os jogos simboacutelicos tem iniacutecio no 6ordm estaacutegio do periacuteodo sensoacuterio-motor

e se continua aproximadamente dos 2 aos 4 anos de idade cronoloacutegica ou do 1ordm

estaacutegio do preacute-operacional(fase simboacutelica) ateacute o iniacutecio do 2ordm estaacutegio do preacuteshy

operacional(fase intuitiva) Piaget apud Negrine(1994p41) deixa claro a

supremacia dos jogos simboacutelicos em detrimento dos anteriores

ldquoO esquema simboacutelico por si mesmo eacute suficiente para

assegurar a superioridade da representaccedilatildeo sobre

uma accedilatildeo pura nesta segundo Piaget o jogo

permite assimilar o mundo exterior ao eu como meio

infinitamente mais poderoso que o de simples exerciacuteciordquo

Como aparecem antes da linguagem verbal propriamente dita os jogos

simboacutelicos satildeo representados nas imagens mentais da crianccedila e vivenciados

atraveacutes dos gestos onomatopeacuteias pelo prazer de brincar com o faz-de-conta

9 MILLLECCO FILHO Luiacutes A e outros OPCIT p43

29

Nesta fase os acalantos vatildeo perdendo sua importacircncia dando lugar agraves

brincadeiras-de-roda os pequenos ao mesmo tempo em que aprendem a falar

aprendem a cantar as brincadeiras-de-roda tem a propriedade de enriquecerem o

repertoacuterio de palavras e movimentos

Jogos de Regras Os jogos de regras natildeo seguem o mesmo itineraacuterio dos

anteriores pois comeccedilam a aparecer na metade do 2ordm estaacutegio do periacuteodo preacuteshy

operacional isto eacute dos 4 aos 7 anos e principalmente no periacuteodo das operaccedilotildees

concretas dos 7 aos 12 anos Pesquisaremos como ocorrem os jogos de regra ateacute

os 7 anos pela delimitaccedilatildeo da populaccedilatildeo que esta monografia abrange

Dos 4 aos 7 anos periacuteodo preacute operacional intuitivo surgem os jogos de

regra que substituiratildeo o siacutembolo e enquadraratildeo o exerciacutecio no momento em que se

constituem de forma incipiente certas relaccedilotildees sociais(Piaget2003)

Com relaccedilatildeo as regras segundo Piaget apud Negrine

(1994p44)distinguem-se dois tipos transmitidas e espontacircneas As regras

transmitidas se referem aos jogos institucionais que se impotildeem por pressatildeo das

geraccedilotildees anteriores As espontacircneas se referem aos jogos de natureza contratual e

momentacircnea isto eacute procedem da socializaccedilatildeo dos jogos de simples exerciacutecios ou

dos simboacutelicos

30

Na cantiga de roda ldquoCiranda cirandinhardquo destaca-se o desenvolvimento

da roda e ao final as regras uma imposta (entrar na roda e dizer um verso) outra

espontacircnea (serve qualquer verso criado na hora ou jaacute existente) Outra versatildeo

desta mesma cantiga para crianccedilas menores pede ldquofaccedila um gesto bem bonito

diga adeus e vaacute se emborardquo A liberdade de criar um gesto verso a importacircncia de

estar no meio da roda como centro das atenccedilotildees e a valorizaccedilatildeo dos

companheiros satildeo o impulso para a espontaneidade e o crescimento da autonomia

do ser

CIRANDA CIRANDINHA(folclore)10

Ciranda cirandinha vamos todos cirandar

Vamos dar a meia volta volta e meia vamos dar

o anel que tu me destes era vidro e se quebrou

o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou

Por isto sinhaacute Maria entre dentro desta roda

Diga um verso bem bonito diga adeus e vaacute se embora

Os conceitos estudados neste capiacutetulo podem orientar sobre o tempo

mental da crianccedila e a possibilidade de oferecer estiacutemulos adequados ao seu

momento Como uma boa buacutessola natildeo conteacutem apenas o norte

10 MARTINS Armando OPCITp105

31

4O BRINCAR E A REALIDADE WINNICOTTEANA

A partir da premissa de que natildeo se pode dividir o ser humano em

classificaccedilotildees bioloacutegicas e psiacutequicas posto que este eacute uma unidade indivisiacutevel

formulou-se apenas para efeitos didaacuteticos no capiacutetulo anteriorum olhar mais

fiacutesico(cognitivo) do desenvolvimento infantil atraveacutes de Piaget Discutir-se-aacute neste

capiacutetulo o ponto de vista Winnicotteano sobre a vida emocional e o brincar

Nos brinquedos cantados a arte de brincar se mistura a arte de cantar e

eacute fazendo ldquoArtesrdquo que a crianccedila dar-se a ver e a crescer A partir deste tema

instigante e universal que eacute o brincar torna-se mais prazeroso ainda falar sobre ele

depois de conhecer os estudos do Drordm Winnicott

D W Winnicott pediatra psicanalista psicoterapeuta inglecircs e defensor

da Ludoterapia nasceu no comeccedilo do seacuteculo 20 produzindo uma vasta obra

cientiacutefica ateacute os anos 70 quando nos deixou Em seu livro ldquoO Brincar e

Realidaderdquo(1975) se preocupou com os primoacuterdios da vida imaginativa da

experiecircncia cultural em todos os sentidos da relaccedilatildeo das artes com o brincar e da

criatividade

Neste momento parece relevante abordar alguns dos conceitos teoacutericos

do DrordmWinnicott atraveacutes da obra mencionada pelo suporte que podem

proporcionar agrave compreensatildeo da vida psiacutequica mediante o brincar e a terapia Em

32

Conceitos e contornos ilustrar-se-aacute o Objeto transicional Fenocircmeno transicional

Matildee suficientemente boa Aacuterea intermediaacuteria e o Eu(Self) circundando a

importacircncia destes conceitos em relaccedilatildeo aos brinquedos cantados e sua aplicaccedilatildeo

na cliacutenica psicomotora

41CONCEITOS E CONTORNOS

Objeto Transicional Eacute o objeto concreto relativo agrave exploraccedilatildeo pulsional (descarga

impulsiva) do sujeito por exemplo uma boneca ou um carrinho

Fenocircmeno Transicional Satildeo as accedilotildees relativas agrave exploraccedilatildeo pulsional ou o uso

que se faz dos objetos transicionais Ex Um carrinho pode ser acalentado como se

fosse um bebecirc

Matildee Suficientemente Boa Pessoa que ocupa o lugar de suporte afetivo no

desenvolvimento global da crianccedila tambeacutem associada por ele a figura do

terapeuta

Em outras palavras o amor da matildee ou do terapeuta

natildeo significaria apenas um atendimento agraves necessidades

da dependecircncia mas vem a significar a concessatildeo

de oportunidades que permita ao bebecirc ou ao paciente

passar da dependecircncia para a autonomia

(Winnicott1975p150)

33

Aacuterea Intermediaacuteria Aacuterea neutra de experimentaccedilatildeo vivencial entre as realidades

internas e externas do sujeito que favorece a dialeacutetica do brincar e das artes O

dito autor parece supor um espaccedilo de refuacutegio para a resoluccedilatildeo dos conflitos

humanos Eis aqui a referecircncia para tal colocaccedilatildeo

Presume-se aqui que a tarefa de aceitaccedilatildeo da realidade

nunca eacute completada que nenhum ser humano estaacute livre

da tensatildeo de relacionar a realidade interna e externa e

que o aliacutevio dessa tensatildeo eacute proporcionado por uma aacuterea

intermediaacuteria de experiecircncia(cf Riviere1936) que natildeo eacute

contestada (artes religiatildeo etc) Essa aacuterea intermediaacuteria

estaacute em continuidade direta com a aacuterea do brincar da

crianccedila pequena que se ldquoperderdquo no brincar

(Winnicottopcitp29)

A princiacutepio eacute difiacutecil falar dos brinquedos cantados como objetos

transicionais (concretos) porque natildeo satildeo exatamente vistos a olhos nus embora

sejam audiacuteveis Todavia qualquer muacutesico pode escrever em uma partitura o

brinquedo cantado (concreto e cantaacutevel) para tornaacute-lo visiacutevel

O ato de cantar uma muacutesica de roda ou um acalanto jaacute eacute a traduccedilatildeo do

fenocircmeno transicional Dar-se-aacute o uso que quiser a este brinquedo cantado no

momento de sua realizaccedilatildeo Se uma muacutesica de ninar for entoada com raiva ou

brutalidade eacute certo que traraacute temores ao bebecirc e natildeo o conforto a que se prestaria

Acalantos com este do ldquobicho papatildeordquo expotildee o perigo e propotildee acolhida pela

proteccedilatildeo materna

34

ldquoBICHO PAPAtildeO(folclore)11

Bicho Papatildeo sai de cima do telhado

Deixe o menino dormir sossegado

O Eu (Self) O Eu (Self) eacute o eu integral descrito por Winnicott(1975) em sua mais

pura essecircncia um eu que nasce na liberdade de expressatildeo na confianccedila baseada

nas experiecircncias vividas no suporte dos sentimentos Para este autor certas

condiccedilotildees se fazem necessaacuterias na busca do Eu (Self) eacute o que se chama de

criatividade A criatividade pode defraglar e sustentar o ser integral

A vida sadia se mostra pelo impulso criativo O brincar eacute um instrumento

da criatividade sediado na ldquoaacuterea intermediaacuteriardquo (entre as artes e o luacutedico)

sustentado em seus primoacuterdios pela ldquomatildee suficientemente boardquo direcionado agrave

busca do ldquoEu (Self) Sobre a importacircncia das cantigas de roda nesta busca

podemos ler as contribuiccedilotildees de Millecco filho e outros (2001p44)

As cantigas de roda datildeo continuidade ao trabalho

de elaboraccedilatildeo de conflitos e agrave estrutura da pessoa

em desenvolvimento iniciado com os acalantos

() A roda aparece como uma representaccedilatildeo da

mandala expressatildeo geomeacutetrica do Self

11 Recolhido atraveacutes da cultura oral

35

A letra da muacutesica infantil ldquoa canoa virourdquo expotildee um problema e supotildee

uma soluccedilatildeo hipoteacutetica

A CANOA VIROU(folclore)12

A canoa virou vou deixar ela virar

Foi por causa da Maria que natildeo soube remar

Ah se eu fosse peixinho e soubesse nadar

Eu tirava a Marialaacute do fundo do mar

A accedilatildeo terapecircutica deve ser um modo de auxiliar uma pessoa a

vir a ser o que ela eacute capaz de ser O psicomotricista atua como facilitador no

desenvolvimento do potencial existente no sujeito Numa maternagem

suficientemente boa como fala Winnicott o psicomotricista relacional torna-se um

companheiro de jornada para as atitudes luacutedicas do seu paciente

As medidas de afeto e limites saudaacuteveis agraves necessidades do outro

devem ser reconhecidas e valorizadas Eacute o que se vecirc nas colocaccedilotildees de Winnicott

(1975p63) ldquoEm outros termos eacute a brincadeira que eacute universal e que eacute proacutepria da

sauacutede o brincar facilita o crescimento e portanto a sauacutede o brincar conduz aos

relacionamentos grupais o brincar pode ser uma forma de comunicaccedilatildeo na

psicoterapia()rdquo

12 MARTINS Armando OPCITp110

36

Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e

estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que

haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila

acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas

Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a

brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre

MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR

VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR

Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o

aprender com a danccedila do outro

ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

13 Recolhido atraveacutes da cultura oral

37

Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons

e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os

brinquedos cantados

5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE

Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma

nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o

corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se

utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia

e da linguumliacutestica

No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua

expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a

existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto

O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que

encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e

motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros

Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando

fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar

gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil

38

ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14

Eacute bom cantar eacute bom ouvir

Eacute bom pensar eacute bom sentir

Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor

Viajar dentro de si pra poder se descobrir

51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE

A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso

meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da

psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu

corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)

O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico

(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes

concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo

ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a

palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas

que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que

quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do

latim Corpusque significa tecido de membros envoltura

da alma embriatildeo do espiacuterito

14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000

39

Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na

Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto

que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo

cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a

motricidade com a inteligecircncia

Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam

em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento

humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o

movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila

De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de

segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio

Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se

no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo

de Guilman

O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num

corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo

toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico

emocional(Levin opcit)

O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor

Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em

movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica

40

psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre

outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da

pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de

Levin(opcit)

Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor

podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor

ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento

Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o

sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem

tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco

podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade

eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)

52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA

A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o

seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins

pedagoacutegicos (Levy2000)

A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se

do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos

transtornos evidenciados (Coste1992)

A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a

41

afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja

o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade

do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting

psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais

uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si

mesmo uma terapiardquo

As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas

psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema

corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade

Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo

estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees

cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito

As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de

algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A

coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar

pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos

dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para

andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes

visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a

existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa

caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc

No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a

42

primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave

vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos

cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas

psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a

expressividade e a emoccedilatildeo

O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas

psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se

confirmar por exemplo para treinar a escrita

As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar

iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da

brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo

dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da

cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas

pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar

Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora

relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de

cada uma delas

43

53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE

Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os

acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte

afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe

o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo

e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do

acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si

mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a

busca do eu (Self)

O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos

cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a

partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes

acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de

interesse da populaccedilatildeo pesquisada

Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil

geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo

continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em

desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza

simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos

conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo

44

As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia

cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o

relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano

infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a

Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda

assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia

oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria

soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo

Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as

com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da

referida estrutura

Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos

integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos

grandes segmentos (Coste1992)

Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro

expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo

corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a

habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa

O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se

movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os

movimentos enquanto observam os amigos

45

BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

Os braccedilos pra cima e pra baixo

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

As pernas pra frente e pra traacutes

Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo

preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo

motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada

diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do

grafismo (Coste1992)

A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas

brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as

palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a

crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos

Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos

fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca

do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes

15 Recolhido atraveacutes da cultura oral

46

das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa

de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas

ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16

123 indiozinhos 456 indiozinhos

789 indiozinhos 10 num pequeno bote

Vinham navegando pelo rio abaixo

Quando o jacareacute se aproximou

E o pequeno bote dos indiozinhos

Quase quase virou quase quase virou

mas natildeo virou

Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo

ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam

internas ou externas (Levin2001)

A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e

apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as

crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do

corpo que deseja mostrar

ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17

Cabeccedila ombro joelho e peacute

Joelho e peacute joelho e peacute

Olhos boca orelha e nariz

Orelha e nariz orelha e nariz

16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral

47

Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O

equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute

relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)

Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de

amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o

personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca

instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma

perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal

traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal

ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca o pandeirotoca como ele soacute

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca violatildeo toca como ele soacute

Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao

tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir

da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do

aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala

dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da

vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza

18 Recolhido atraveacutes da cultura oral

48

Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila

seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um

personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular

correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e

volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem

seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam

ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19

Anda anda anda macaquinho

Anda anda anda sem parar

Pula pula pula macaquinho

Pula pula pula ateacute cansar

Corre corre corre macaquinho

Corre corre corre sem parar

Deita deita deita macaquinho

Deita deita deita dorme ateacute sonhar

Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu

desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e

relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do

mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)

Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira

19 Recolhido atraveacutes da cultura oral

49

traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo

espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a

noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo

vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento

O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e

rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos

de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra

frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente

e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da

roda virem periquitos tambeacutem

Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem

no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras

visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas

ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20

Periquito periquito parece com papa

Periquito periquito parece com papa

Por baixo por cima pra frente e pra traacutes

Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo

ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo

temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a

20 Recolhido atraveacutes da cultura oral

50

estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus

movimentos e se organiza na vida cotidiana

Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo

que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo

humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre

ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos

acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo

A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da

chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo

dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio

ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21

A janelinha fecha quando estaacute chovendo

A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo

Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute

Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute

Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os

centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e

contralaterais (Coste1992)

21 Recolhido atraveacutes da cultura oral

51

A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento

psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e

assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute

organizada e natildeo mudaraacute mais

Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os

peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a

conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo

grupo disposto em roda

ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22

Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora

Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora

Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock

Assim eacute bem melhor

( e assim por diante com as demais partes do corpo)

Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o

modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder

apud Coste(1992)

A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a

organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo

mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do

22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57

52

desejo da matildee

A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan

apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros

tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e

de diferenccedila (ibid)

Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o

ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na

constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo

desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A

psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade

poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A

citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo

O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de

identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria

de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do

lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que

eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim

constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute

poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo

o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)

53

Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia

corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber

possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver

As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a

expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente

Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar

cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de

construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza

pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem

corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter

fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de

cantar danccedilar e brincar

54

ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23

Minha boneca de lata

Bateu com a cabeccedila no chatildeo

Levou mais de uma hora

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui pra ficar boa

Minha boneca de lata

Bateu com o pescoccedilo no chatildeo

Levou mais de duas horas

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui desamassa aqui

Pra ficar boa

Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho

o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do

corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez

horas de arrumaccedilatildeo propostas

23 Recolhido atraveacutes da cultura oral

55

6CONCLUSAtildeO

Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-

se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse

infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar

Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a

relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas

cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo

permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os

estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e

que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo

Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de

winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do

ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos

como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica

Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de

conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos

Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade

que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se

pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos

sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu

ldquoafetordquo

56

Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a

psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir

expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer

Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia

para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a

socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte

aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o

desenvolvimento das estruturas psicomotoras

Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a

essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado

pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando

o prazer de brincar cantar e ser feliz

57

BIBLIOGRAFIA

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WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975

Page 20: Brinquedos Cantados Na Psicomotricidade

19

PALMINHAS PALMINHAS (folclore)5

Palminhas palminhas nos vamos bater

Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconder

Em cima em cima noacutes vamos bater

Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconde

Assim assim pra traacutes esconder

Em baixo em baixo noacutes vamos bate

Depois as matildeozinhas pra traacutes esconde

Assim assim pra traacutes esconder

Assim assim pra traacutes esconder

Os conceitos estudados ateacute aqui se realizam dentro dos estaacutegios do

desenvolvimento organizados por Piaget Passar-se-aacute neste momento agrave elucidaccedilatildeo

dos estaacutegios pertinentes agrave faixa etaacuteria da populaccedilatildeo pesquisada nesta monografia

estaacutegios Sensoacuterio-motor e Preacute-operacional

31ESTAacuteGIO SENSOacuteRIO MOTOR (0 agrave 2 anos) Estaacutegio que vai do nascimento

ateacute a aquisiccedilatildeo da linguagem e eacute dividido em 6 sub estaacutegios Esta eacute a fase do

comportamento inteligente antes da aquisiccedilatildeo da linguagem a crianccedila organiza a

informaccedilatildeo obtida atraveacutes dos sentidos e desenvolve respostas aos estiacutemulos

5 Recolhido atraveacutes da cultura oral

20

ambientais com comportamento adaptativo e constante modificaccedilotildees dos

esquemas de accedilatildeo em resposta ao meio A aquisiccedilatildeo mais importante deste

periacuteodo eacute o Objeto Permanente Manifesta-se ainda a imitaccedilatildeo que alcanccedilaraacute o

seu auge no proacuteximo estaacutegio

1ordm Sub Estaacutegio ndash Exerciacutecio dos reflexos (0 a 1 mecircs) Do alto da sua imaturidade

bioloacutegica a crianccedila se relaciona com o meio atraveacutes dos movimentos reflexos

hereditaacuterios que se aprimoram pelo exerciacutecio tornando-se cada vez mais

eficientes Ainda natildeo haacute a distinccedilatildeo entre o eu e o outro

2ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular primaacuteria (1 a 4 meses)Esta eacute a fase das

primeiras acomodaccedilotildees onde os exerciacutecios reflexos se transformam em esquemas

e comeccedilam a coordenar seus movimentos Inicia-se a construccedilatildeo dos primeiros

esquemas vocais A noccedilatildeo de tempo eacute primitiva sua duraccedilatildeo soacute eacute sentida no

decorrer da proacutepria accedilatildeo O final do periacuteodo eacute marcado pela coordenaccedilatildeo entre trecircs

esquemas fundamentais audiccedilatildeo fonaccedilatildeo e visatildeo

3ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular secundaacuteria (4 a 8 meses) O bebecirc apresenta

um maior interesse pelo mundo externo os esquemas se diferenciam surgindo

novos esquemas de coordenaccedilatildeo viso-motora unindo-se as aquisiccedilotildees jaacute

realizadas Os movimentos comeccedilam a ser repetido pelo prazer da repeticcedilatildeo

Observa-se o iniacutecio da noccedilatildeo do Objeto Permanente entretanto ela estaacute

condicionada ao movimento da crianccedila pois as coisas ainda natildeo seguem uma

trajetoacuteria independente

21

4ordm Sub Estaacutegio ndash Coordenaccedilatildeo de esquemas secundaacuterios (8 a 12 meses)

Caracteriza-se pelas primeiras condutas propriamente inteligentes surgindo

adaptaccedilotildees sensoacuterio-motoras intencionais onde o bebecirc combina esquemas

conhecidos a novas situaccedilotildees e ainda diferencia os meios e os fins de uma accedilatildeo

Aparece nesta fase o comportamento antecipatoacuterio caso o bebecirc veja sua matildee se

afastar chora a imitaccedilatildeo de sons e accedilotildees satildeo agora intencionais e

conscientizadas no entanto ainda condicionadas ao esquema visual Revelam-se

os primoacuterdios da memoacuteria e da representaccedilatildeo mental Comeccedila a permanecircncia do

objeto independente do ldquoeurdquo Quanto agrave noccedilatildeo de espaccedilo e tempo a crianccedila

comeccedila a ordenar os proacuteprios deslocamentos em relaccedilatildeo aos objetos

5ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular terciaacuteria (12 a 18 meses) A crianccedila gradua

seus movimentos varia e experimenta novos padrotildees de comportamento

observando os diferentes efeitos da sua accedilatildeo sobre o objeto o qual jaacute eacute dotado de

permanecircncia Pode-se afirmar que o mecanismo da inteligecircncia praacutetica estaacute

definitivamente constituiacutedo A cada estruturaccedilatildeo da inteligecircncia corresponde uma

nova estruturaccedilatildeo do espaccedilo do tempo da causalidade etc Agindo por ldquoensaio e

errordquo os resultados das accedilotildees ainda satildeo por acaso pois as representaccedilotildees

mentais de fatos externos ainda natildeo se incluem ou seja o pensamento ainda natildeo

estaacute formado

22

6ordm Sub Estaacutegio ndash A invenccedilatildeo dos novos meios por combinaccedilatildeo

mental (18 a 24 meses) Esta fase caracteriza o momento de transiccedilatildeo entre a

inteligecircncia praacutetica (sensoacuterio-motora) e a inteligecircncia representativa quando

comeccedila a funccedilatildeo simboacutelica Inicia-se a representaccedilatildeo mental imaginativa e criativa

No jogo simboacutelico a crianccedila usa siacutembolos na linguagem e na brincadeira do faz-deshy

conta recorda-se de fatos passados e os representa depois de algum tempo O

final deste periacuteodo eacute marcado pela primeira noccedilatildeo de conservaccedilatildeo(FerreiraI1994)

Os primeiros anos de vida da crianccedila satildeo marcados pelas inuacutemeras

formaccedilotildees e transformaccedilotildees fiacutesicas mentais e emocionais conforme descritas

acima Os acalantos (muacutesicas de ninar) satildeo cantados por matildees de todo o mundo

numa primeira inserccedilatildeo da crianccedila ao universo musical de sua cultura Eles

exercem um poderoso papel de auxiacutelio agrave maternagem acolhendo-a afetuosamente

condiccedilatildeo baacutesica para que a crianccedila se sinta suficientemente amada para

prosseguir desenvolvendo-se Este tema seraacute melhor explanado nos proacuteximos

capiacutetulos Por hora parece oportuno um exemplo de acalanto

TUTU MARAMBAacute(folclore)6

Tutu marambaacute

Natildeo venha mais caacute

Que o pai do menino

Te manda mata

6 MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute PRECISO CANTAR Musicoterapia cantos e canccedilotildees2001p38

23

32ESTAacuteGIO PREacute-OPERACIONAL (2 agrave 7 anos) A crianccedila vive um tempo em que

usa a intuiccedilatildeo ela passa todos os seus atos para o pensamento sob a forma de

imagens e diante de uma situaccedilatildeo praacutetica suas respostas vatildeo se basear no que

ela vecirc sente mexe ou seja nas aparecircncias dos fatos que observa A crianccedila

possui a capacidade de representar uma coisa por outra e esta representaccedilatildeo

pode se dar por um gesto um desenho uma palavra etc A verbalizaccedilatildeo tem

destaque neste periacuteodo e a linguagem conduz agrave socializaccedilatildeo das accedilotildees Este

estaacutegio compreende duas formas de pensamento a saber O Pensamento

Simboacutelico e o Pensamento Intuitivo

Pensamento simboacutelico (2 agrave 4 anos) Para Piaget a funccedilatildeo simboacutelica consiste na

capacidade da crianccedila representar objetos e fatos conhecidos poreacutem ausentes por

um substituto qualquer seja este concreto ou imaginaacuterio Uma caracteriacutestica

fundamental desta fase eacute a diferenciaccedilatildeo entre significante e significado que eacute

manifestada por vaacuterias condutas sendo elas O jogo simboacutelico ou faz-de-conta a

imitaccedilatildeo o desenho a imagem mental a linguagem a criatividade etc Para

ldquosignificanterdquo leia-se objeto concreto e para ldquosignificadordquo a ideacuteia compreensiva do

que foi percebido (Piaget 2003)

Sobre a funccedilatildeo simboacutelica FerreiraI(1994p43) complementa ldquoA funccedilatildeo

simboacutelica pode ser considerada uma linguagem individual e particular da crianccedila

usada para compreender e representar o mundo O siacutembolo eacute subjetivo e aos

poucos vai sendo substituiacutedo por signos da linguagem socialrdquo

24

O pensamento infantil encontrado entre os 2 e 7 anos de idade eacute

egocentrado A visatildeo da realidade eacute centrada no ponto de vista do proacuteprio sujeito

sendo este incapaz de relacionaacute-lo ou de coordenaacute-lo a pontos de vistas diferentes

do seu

A aquisiccedilatildeo da linguagem tem destaque nesta fase e coincide com a

formaccedilatildeo do jogo simboacutelico que melhor se manifesta no jogo do faz-de-conta

Atraveacutes do que discute Ferreira I (1994p43) ldquoOs siacutembolos podem ser

socializados como os brinquedos coletivos e se tornar um siacutembolo coletivordquo

confirma-se mais uma vez que os estes elementos apresentam extrema valorizaccedilatildeo

soacutecio-afetiva e cultural Com a ludicidade que lhe eacute peculiar os brinquedos

cantados nesta fase encantam ensinam desenvolvem a memoacuteria a auto estima

o esquema corporal a imagem corporal a Coordenaccedilatildeo Motora a socializaccedilatildeo

entre outras funccedilotildees essenciais agrave formaccedilatildeo dos pequenos Eis um bom exemplo

O GIGANTE E O ANAtildeO(autor desconhecido)7

O peacute do gigante eacute grande

Do anatildeo pequenininho

O gigante pisa forte

O anatildeo pisa mansinho

O gigante fala grosso

O anatildeo fala fininho

Porque gigante come muito

E o anatildeo come pouquinho

7 Recolhido atraveacutes da cultura oral

25

Pensamento Intuitivo (4 agrave 7 anos) Subdividido em Intuitivo Simples e Intuitivo

Articulado eacute um estaacutegio marcado pela crescente formaccedilatildeo de conceitos O

pensamento intuitivo eacute uma espeacutecie de accedilatildeo executada em pensamento encaixar

seriar deslocar etc

A crianccedila no intuitivo simples representa mentalmente assimila e entende

o mundo real poreacutem de forma limitada pois soacute consegue coordenar um uacutenico

ponto de vista com base nas aparecircncias do que vecirc Centrado em si mesmo natildeo

admite a reversibilidade falta-lhe ainda a noccedilatildeo de conservaccedilatildeo das substacircncias

Quando se pede agrave crianccedila para desenhar ela desenha o que sabe e natildeo

o que vecirc Este egocentrismo que lhe eacute peculiar deveraacute evoluir para a

descentraccedilatildeo bem como haveraacute progressos nas diversas etapas cognitivas

(classificar seriar etc) Ao final do pensamento intuitivo articulado a crianccedila

comeccedila a levantar duacutevidas e questionamentos percebendo a mobilidade das

situaccedilotildees

ldquoA BARATArdquo(folclore)8

A barata diz que tem 7 saias de filoacute

Eacute mentira da barata ela tem eacute uma soacute

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute

A barata diz que tem um anel de formatura

Eacute mentira da barata ela tem eacute casca dura

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura

8 PAIVA Ione Maria R de OPCITp80

26

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura

A barata diz que dorme numa cama de cetim

Eacute mentira da barata ela dorme eacute no capim

Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim

Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim

Na muacutesica da barata as crianccedilas ironizam a tentativa de mentir deste

inseto A propoacutesito das ldquomentirinhasrdquo contidas nas brincadeiras infantis funcionam

como passaporte para a experimentaccedilatildeo do que eacute verdadeiro e real As palavras

de cascudo(1988p491) discorrem sobre os deslimites da mentira ldquoAs estoacuterias

mentirosas() satildeo muito populares e constituem um gecircnero especial onde a

imaginaccedilatildeo exagerada e livre se liberta dos limites da loacutegicardquo Acredita-se que as

crianccedilas exigem a verdade para terem o domiacutenio do que aprendem

33OS JOGOS POR PIAGET

ldquoPiaget vecirc no jogo um processo de ajuda ao desenvolvimento da crianccedila

acompanha-a sendo ao mesmo tempo uma atividade consequumlente de seu proacuteprio

crescimentordquo(Negrine1994p45) A leitura dos jogos em Piaget acompanha o

desenvolvimento integral do homem a inteligecircncia a afetividade a motricidade e a

sociabilidade satildeo vivenciadas nos jogos sendo a afetividade a funccedilatildeo que constitui

a energia necessaacuteria para a progressatildeo psiacutequica moral intelectual e motora

daquele que joga

Trecircs classificaccedilotildees baacutesicas do jogo satildeo mostradas na teoria

27

psicogeneacutetica de Piaget Jogos de exerciacutecio Jogos simboacutelicos e jogos de regra

Jogos de Exerciacutecio Ou jogos sensoacuterio-motores que aparecem no periacuteodo do

mesmo nome natildeo chegam a constituir sistemas luacutedicos independentes e

construtivos Sua motivaccedilatildeo se daacute pelo prazer funcional ou pelo prazer produzido

pela tomada de consciecircncia de suas novas capacidades

Os jogos motores ou de exerciacutecios satildeo aqueles que envolvem

diretamente a participaccedilatildeo ativa do corpo como um todo inclui-se ainda os jogos

sensoriais que ajudam a desenvolver os oacutergatildeos dos sentidos

A crianccedila nesta fase gosta de brincar com brinquedos que manipula

repetidas vezes explorando toda sua superfiacutecie Brincar de esconder o rosto ou os

objetos atirar e pegar brinquedos eacute prazeroso para a crianccedila ao mesmo tempo

que assimila as noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo

da realidade

Os estiacutemulos sensoriais tambeacutem fazem parte do seu interesse objetos

de diversas cores e texturas brinquedos sonoros muacutesica para ouvir acalentar

danccedilar e brincar desta forma explora o reconhecimento do eu do outro e dos

objetos

O jogo de exerciacutecio eacute o primeiro a aparecer no comportamento da

crianccedila explicitamente do 2ordm ao 5ordm estaacutegio do desenvolvimento sensoacuterio motor por

oposiccedilatildeo ao 6ordm estaacutegio onde se inicia o jogo simboacutelico(Negrine 1994)

28

ATIREI O PAU NO GATO(Folclore)9

Atirei o pau no ga-to-to mas o ga-to-to

Natildeo morreu- rreu- rreu dona chica-ca-ca

Admirou- se se do berro do berro

Do berro que o gato deu Miau

Jogos Simboacutelicos Em princiacutepio do ponto de vista de Piaget a diferenccedila entre os

jogos simboacutelicos e os de exerciacutecio intelectual consiste em que os primeiros se

referem ao pensamento

Os jogos simboacutelicos tem iniacutecio no 6ordm estaacutegio do periacuteodo sensoacuterio-motor

e se continua aproximadamente dos 2 aos 4 anos de idade cronoloacutegica ou do 1ordm

estaacutegio do preacute-operacional(fase simboacutelica) ateacute o iniacutecio do 2ordm estaacutegio do preacuteshy

operacional(fase intuitiva) Piaget apud Negrine(1994p41) deixa claro a

supremacia dos jogos simboacutelicos em detrimento dos anteriores

ldquoO esquema simboacutelico por si mesmo eacute suficiente para

assegurar a superioridade da representaccedilatildeo sobre

uma accedilatildeo pura nesta segundo Piaget o jogo

permite assimilar o mundo exterior ao eu como meio

infinitamente mais poderoso que o de simples exerciacuteciordquo

Como aparecem antes da linguagem verbal propriamente dita os jogos

simboacutelicos satildeo representados nas imagens mentais da crianccedila e vivenciados

atraveacutes dos gestos onomatopeacuteias pelo prazer de brincar com o faz-de-conta

9 MILLLECCO FILHO Luiacutes A e outros OPCIT p43

29

Nesta fase os acalantos vatildeo perdendo sua importacircncia dando lugar agraves

brincadeiras-de-roda os pequenos ao mesmo tempo em que aprendem a falar

aprendem a cantar as brincadeiras-de-roda tem a propriedade de enriquecerem o

repertoacuterio de palavras e movimentos

Jogos de Regras Os jogos de regras natildeo seguem o mesmo itineraacuterio dos

anteriores pois comeccedilam a aparecer na metade do 2ordm estaacutegio do periacuteodo preacuteshy

operacional isto eacute dos 4 aos 7 anos e principalmente no periacuteodo das operaccedilotildees

concretas dos 7 aos 12 anos Pesquisaremos como ocorrem os jogos de regra ateacute

os 7 anos pela delimitaccedilatildeo da populaccedilatildeo que esta monografia abrange

Dos 4 aos 7 anos periacuteodo preacute operacional intuitivo surgem os jogos de

regra que substituiratildeo o siacutembolo e enquadraratildeo o exerciacutecio no momento em que se

constituem de forma incipiente certas relaccedilotildees sociais(Piaget2003)

Com relaccedilatildeo as regras segundo Piaget apud Negrine

(1994p44)distinguem-se dois tipos transmitidas e espontacircneas As regras

transmitidas se referem aos jogos institucionais que se impotildeem por pressatildeo das

geraccedilotildees anteriores As espontacircneas se referem aos jogos de natureza contratual e

momentacircnea isto eacute procedem da socializaccedilatildeo dos jogos de simples exerciacutecios ou

dos simboacutelicos

30

Na cantiga de roda ldquoCiranda cirandinhardquo destaca-se o desenvolvimento

da roda e ao final as regras uma imposta (entrar na roda e dizer um verso) outra

espontacircnea (serve qualquer verso criado na hora ou jaacute existente) Outra versatildeo

desta mesma cantiga para crianccedilas menores pede ldquofaccedila um gesto bem bonito

diga adeus e vaacute se emborardquo A liberdade de criar um gesto verso a importacircncia de

estar no meio da roda como centro das atenccedilotildees e a valorizaccedilatildeo dos

companheiros satildeo o impulso para a espontaneidade e o crescimento da autonomia

do ser

CIRANDA CIRANDINHA(folclore)10

Ciranda cirandinha vamos todos cirandar

Vamos dar a meia volta volta e meia vamos dar

o anel que tu me destes era vidro e se quebrou

o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou

Por isto sinhaacute Maria entre dentro desta roda

Diga um verso bem bonito diga adeus e vaacute se embora

Os conceitos estudados neste capiacutetulo podem orientar sobre o tempo

mental da crianccedila e a possibilidade de oferecer estiacutemulos adequados ao seu

momento Como uma boa buacutessola natildeo conteacutem apenas o norte

10 MARTINS Armando OPCITp105

31

4O BRINCAR E A REALIDADE WINNICOTTEANA

A partir da premissa de que natildeo se pode dividir o ser humano em

classificaccedilotildees bioloacutegicas e psiacutequicas posto que este eacute uma unidade indivisiacutevel

formulou-se apenas para efeitos didaacuteticos no capiacutetulo anteriorum olhar mais

fiacutesico(cognitivo) do desenvolvimento infantil atraveacutes de Piaget Discutir-se-aacute neste

capiacutetulo o ponto de vista Winnicotteano sobre a vida emocional e o brincar

Nos brinquedos cantados a arte de brincar se mistura a arte de cantar e

eacute fazendo ldquoArtesrdquo que a crianccedila dar-se a ver e a crescer A partir deste tema

instigante e universal que eacute o brincar torna-se mais prazeroso ainda falar sobre ele

depois de conhecer os estudos do Drordm Winnicott

D W Winnicott pediatra psicanalista psicoterapeuta inglecircs e defensor

da Ludoterapia nasceu no comeccedilo do seacuteculo 20 produzindo uma vasta obra

cientiacutefica ateacute os anos 70 quando nos deixou Em seu livro ldquoO Brincar e

Realidaderdquo(1975) se preocupou com os primoacuterdios da vida imaginativa da

experiecircncia cultural em todos os sentidos da relaccedilatildeo das artes com o brincar e da

criatividade

Neste momento parece relevante abordar alguns dos conceitos teoacutericos

do DrordmWinnicott atraveacutes da obra mencionada pelo suporte que podem

proporcionar agrave compreensatildeo da vida psiacutequica mediante o brincar e a terapia Em

32

Conceitos e contornos ilustrar-se-aacute o Objeto transicional Fenocircmeno transicional

Matildee suficientemente boa Aacuterea intermediaacuteria e o Eu(Self) circundando a

importacircncia destes conceitos em relaccedilatildeo aos brinquedos cantados e sua aplicaccedilatildeo

na cliacutenica psicomotora

41CONCEITOS E CONTORNOS

Objeto Transicional Eacute o objeto concreto relativo agrave exploraccedilatildeo pulsional (descarga

impulsiva) do sujeito por exemplo uma boneca ou um carrinho

Fenocircmeno Transicional Satildeo as accedilotildees relativas agrave exploraccedilatildeo pulsional ou o uso

que se faz dos objetos transicionais Ex Um carrinho pode ser acalentado como se

fosse um bebecirc

Matildee Suficientemente Boa Pessoa que ocupa o lugar de suporte afetivo no

desenvolvimento global da crianccedila tambeacutem associada por ele a figura do

terapeuta

Em outras palavras o amor da matildee ou do terapeuta

natildeo significaria apenas um atendimento agraves necessidades

da dependecircncia mas vem a significar a concessatildeo

de oportunidades que permita ao bebecirc ou ao paciente

passar da dependecircncia para a autonomia

(Winnicott1975p150)

33

Aacuterea Intermediaacuteria Aacuterea neutra de experimentaccedilatildeo vivencial entre as realidades

internas e externas do sujeito que favorece a dialeacutetica do brincar e das artes O

dito autor parece supor um espaccedilo de refuacutegio para a resoluccedilatildeo dos conflitos

humanos Eis aqui a referecircncia para tal colocaccedilatildeo

Presume-se aqui que a tarefa de aceitaccedilatildeo da realidade

nunca eacute completada que nenhum ser humano estaacute livre

da tensatildeo de relacionar a realidade interna e externa e

que o aliacutevio dessa tensatildeo eacute proporcionado por uma aacuterea

intermediaacuteria de experiecircncia(cf Riviere1936) que natildeo eacute

contestada (artes religiatildeo etc) Essa aacuterea intermediaacuteria

estaacute em continuidade direta com a aacuterea do brincar da

crianccedila pequena que se ldquoperderdquo no brincar

(Winnicottopcitp29)

A princiacutepio eacute difiacutecil falar dos brinquedos cantados como objetos

transicionais (concretos) porque natildeo satildeo exatamente vistos a olhos nus embora

sejam audiacuteveis Todavia qualquer muacutesico pode escrever em uma partitura o

brinquedo cantado (concreto e cantaacutevel) para tornaacute-lo visiacutevel

O ato de cantar uma muacutesica de roda ou um acalanto jaacute eacute a traduccedilatildeo do

fenocircmeno transicional Dar-se-aacute o uso que quiser a este brinquedo cantado no

momento de sua realizaccedilatildeo Se uma muacutesica de ninar for entoada com raiva ou

brutalidade eacute certo que traraacute temores ao bebecirc e natildeo o conforto a que se prestaria

Acalantos com este do ldquobicho papatildeordquo expotildee o perigo e propotildee acolhida pela

proteccedilatildeo materna

34

ldquoBICHO PAPAtildeO(folclore)11

Bicho Papatildeo sai de cima do telhado

Deixe o menino dormir sossegado

O Eu (Self) O Eu (Self) eacute o eu integral descrito por Winnicott(1975) em sua mais

pura essecircncia um eu que nasce na liberdade de expressatildeo na confianccedila baseada

nas experiecircncias vividas no suporte dos sentimentos Para este autor certas

condiccedilotildees se fazem necessaacuterias na busca do Eu (Self) eacute o que se chama de

criatividade A criatividade pode defraglar e sustentar o ser integral

A vida sadia se mostra pelo impulso criativo O brincar eacute um instrumento

da criatividade sediado na ldquoaacuterea intermediaacuteriardquo (entre as artes e o luacutedico)

sustentado em seus primoacuterdios pela ldquomatildee suficientemente boardquo direcionado agrave

busca do ldquoEu (Self) Sobre a importacircncia das cantigas de roda nesta busca

podemos ler as contribuiccedilotildees de Millecco filho e outros (2001p44)

As cantigas de roda datildeo continuidade ao trabalho

de elaboraccedilatildeo de conflitos e agrave estrutura da pessoa

em desenvolvimento iniciado com os acalantos

() A roda aparece como uma representaccedilatildeo da

mandala expressatildeo geomeacutetrica do Self

11 Recolhido atraveacutes da cultura oral

35

A letra da muacutesica infantil ldquoa canoa virourdquo expotildee um problema e supotildee

uma soluccedilatildeo hipoteacutetica

A CANOA VIROU(folclore)12

A canoa virou vou deixar ela virar

Foi por causa da Maria que natildeo soube remar

Ah se eu fosse peixinho e soubesse nadar

Eu tirava a Marialaacute do fundo do mar

A accedilatildeo terapecircutica deve ser um modo de auxiliar uma pessoa a

vir a ser o que ela eacute capaz de ser O psicomotricista atua como facilitador no

desenvolvimento do potencial existente no sujeito Numa maternagem

suficientemente boa como fala Winnicott o psicomotricista relacional torna-se um

companheiro de jornada para as atitudes luacutedicas do seu paciente

As medidas de afeto e limites saudaacuteveis agraves necessidades do outro

devem ser reconhecidas e valorizadas Eacute o que se vecirc nas colocaccedilotildees de Winnicott

(1975p63) ldquoEm outros termos eacute a brincadeira que eacute universal e que eacute proacutepria da

sauacutede o brincar facilita o crescimento e portanto a sauacutede o brincar conduz aos

relacionamentos grupais o brincar pode ser uma forma de comunicaccedilatildeo na

psicoterapia()rdquo

12 MARTINS Armando OPCITp110

36

Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e

estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que

haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila

acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas

Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a

brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre

MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR

VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR

Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o

aprender com a danccedila do outro

ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

13 Recolhido atraveacutes da cultura oral

37

Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons

e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os

brinquedos cantados

5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE

Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma

nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o

corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se

utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia

e da linguumliacutestica

No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua

expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a

existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto

O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que

encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e

motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros

Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando

fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar

gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil

38

ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14

Eacute bom cantar eacute bom ouvir

Eacute bom pensar eacute bom sentir

Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor

Viajar dentro de si pra poder se descobrir

51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE

A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso

meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da

psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu

corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)

O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico

(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes

concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo

ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a

palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas

que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que

quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do

latim Corpusque significa tecido de membros envoltura

da alma embriatildeo do espiacuterito

14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000

39

Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na

Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto

que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo

cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a

motricidade com a inteligecircncia

Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam

em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento

humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o

movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila

De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de

segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio

Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se

no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo

de Guilman

O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num

corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo

toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico

emocional(Levin opcit)

O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor

Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em

movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica

40

psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre

outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da

pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de

Levin(opcit)

Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor

podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor

ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento

Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o

sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem

tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco

podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade

eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)

52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA

A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o

seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins

pedagoacutegicos (Levy2000)

A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se

do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos

transtornos evidenciados (Coste1992)

A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a

41

afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja

o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade

do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting

psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais

uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si

mesmo uma terapiardquo

As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas

psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema

corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade

Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo

estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees

cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito

As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de

algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A

coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar

pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos

dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para

andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes

visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a

existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa

caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc

No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a

42

primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave

vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos

cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas

psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a

expressividade e a emoccedilatildeo

O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas

psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se

confirmar por exemplo para treinar a escrita

As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar

iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da

brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo

dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da

cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas

pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar

Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora

relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de

cada uma delas

43

53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE

Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os

acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte

afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe

o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo

e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do

acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si

mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a

busca do eu (Self)

O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos

cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a

partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes

acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de

interesse da populaccedilatildeo pesquisada

Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil

geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo

continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em

desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza

simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos

conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo

44

As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia

cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o

relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano

infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a

Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda

assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia

oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria

soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo

Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as

com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da

referida estrutura

Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos

integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos

grandes segmentos (Coste1992)

Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro

expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo

corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a

habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa

O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se

movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os

movimentos enquanto observam os amigos

45

BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

Os braccedilos pra cima e pra baixo

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

As pernas pra frente e pra traacutes

Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo

preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo

motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada

diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do

grafismo (Coste1992)

A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas

brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as

palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a

crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos

Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos

fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca

do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes

15 Recolhido atraveacutes da cultura oral

46

das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa

de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas

ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16

123 indiozinhos 456 indiozinhos

789 indiozinhos 10 num pequeno bote

Vinham navegando pelo rio abaixo

Quando o jacareacute se aproximou

E o pequeno bote dos indiozinhos

Quase quase virou quase quase virou

mas natildeo virou

Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo

ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam

internas ou externas (Levin2001)

A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e

apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as

crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do

corpo que deseja mostrar

ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17

Cabeccedila ombro joelho e peacute

Joelho e peacute joelho e peacute

Olhos boca orelha e nariz

Orelha e nariz orelha e nariz

16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral

47

Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O

equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute

relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)

Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de

amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o

personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca

instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma

perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal

traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal

ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca o pandeirotoca como ele soacute

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca violatildeo toca como ele soacute

Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao

tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir

da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do

aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala

dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da

vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza

18 Recolhido atraveacutes da cultura oral

48

Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila

seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um

personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular

correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e

volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem

seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam

ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19

Anda anda anda macaquinho

Anda anda anda sem parar

Pula pula pula macaquinho

Pula pula pula ateacute cansar

Corre corre corre macaquinho

Corre corre corre sem parar

Deita deita deita macaquinho

Deita deita deita dorme ateacute sonhar

Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu

desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e

relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do

mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)

Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira

19 Recolhido atraveacutes da cultura oral

49

traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo

espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a

noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo

vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento

O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e

rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos

de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra

frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente

e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da

roda virem periquitos tambeacutem

Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem

no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras

visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas

ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20

Periquito periquito parece com papa

Periquito periquito parece com papa

Por baixo por cima pra frente e pra traacutes

Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo

ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo

temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a

20 Recolhido atraveacutes da cultura oral

50

estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus

movimentos e se organiza na vida cotidiana

Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo

que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo

humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre

ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos

acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo

A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da

chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo

dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio

ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21

A janelinha fecha quando estaacute chovendo

A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo

Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute

Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute

Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os

centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e

contralaterais (Coste1992)

21 Recolhido atraveacutes da cultura oral

51

A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento

psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e

assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute

organizada e natildeo mudaraacute mais

Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os

peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a

conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo

grupo disposto em roda

ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22

Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora

Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora

Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock

Assim eacute bem melhor

( e assim por diante com as demais partes do corpo)

Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o

modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder

apud Coste(1992)

A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a

organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo

mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do

22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57

52

desejo da matildee

A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan

apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros

tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e

de diferenccedila (ibid)

Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o

ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na

constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo

desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A

psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade

poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A

citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo

O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de

identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria

de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do

lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que

eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim

constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute

poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo

o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)

53

Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia

corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber

possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver

As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a

expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente

Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar

cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de

construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza

pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem

corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter

fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de

cantar danccedilar e brincar

54

ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23

Minha boneca de lata

Bateu com a cabeccedila no chatildeo

Levou mais de uma hora

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui pra ficar boa

Minha boneca de lata

Bateu com o pescoccedilo no chatildeo

Levou mais de duas horas

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui desamassa aqui

Pra ficar boa

Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho

o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do

corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez

horas de arrumaccedilatildeo propostas

23 Recolhido atraveacutes da cultura oral

55

6CONCLUSAtildeO

Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-

se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse

infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar

Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a

relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas

cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo

permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os

estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e

que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo

Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de

winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do

ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos

como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica

Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de

conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos

Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade

que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se

pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos

sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu

ldquoafetordquo

56

Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a

psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir

expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer

Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia

para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a

socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte

aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o

desenvolvimento das estruturas psicomotoras

Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a

essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado

pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando

o prazer de brincar cantar e ser feliz

57

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WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975

Page 21: Brinquedos Cantados Na Psicomotricidade

20

ambientais com comportamento adaptativo e constante modificaccedilotildees dos

esquemas de accedilatildeo em resposta ao meio A aquisiccedilatildeo mais importante deste

periacuteodo eacute o Objeto Permanente Manifesta-se ainda a imitaccedilatildeo que alcanccedilaraacute o

seu auge no proacuteximo estaacutegio

1ordm Sub Estaacutegio ndash Exerciacutecio dos reflexos (0 a 1 mecircs) Do alto da sua imaturidade

bioloacutegica a crianccedila se relaciona com o meio atraveacutes dos movimentos reflexos

hereditaacuterios que se aprimoram pelo exerciacutecio tornando-se cada vez mais

eficientes Ainda natildeo haacute a distinccedilatildeo entre o eu e o outro

2ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular primaacuteria (1 a 4 meses)Esta eacute a fase das

primeiras acomodaccedilotildees onde os exerciacutecios reflexos se transformam em esquemas

e comeccedilam a coordenar seus movimentos Inicia-se a construccedilatildeo dos primeiros

esquemas vocais A noccedilatildeo de tempo eacute primitiva sua duraccedilatildeo soacute eacute sentida no

decorrer da proacutepria accedilatildeo O final do periacuteodo eacute marcado pela coordenaccedilatildeo entre trecircs

esquemas fundamentais audiccedilatildeo fonaccedilatildeo e visatildeo

3ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular secundaacuteria (4 a 8 meses) O bebecirc apresenta

um maior interesse pelo mundo externo os esquemas se diferenciam surgindo

novos esquemas de coordenaccedilatildeo viso-motora unindo-se as aquisiccedilotildees jaacute

realizadas Os movimentos comeccedilam a ser repetido pelo prazer da repeticcedilatildeo

Observa-se o iniacutecio da noccedilatildeo do Objeto Permanente entretanto ela estaacute

condicionada ao movimento da crianccedila pois as coisas ainda natildeo seguem uma

trajetoacuteria independente

21

4ordm Sub Estaacutegio ndash Coordenaccedilatildeo de esquemas secundaacuterios (8 a 12 meses)

Caracteriza-se pelas primeiras condutas propriamente inteligentes surgindo

adaptaccedilotildees sensoacuterio-motoras intencionais onde o bebecirc combina esquemas

conhecidos a novas situaccedilotildees e ainda diferencia os meios e os fins de uma accedilatildeo

Aparece nesta fase o comportamento antecipatoacuterio caso o bebecirc veja sua matildee se

afastar chora a imitaccedilatildeo de sons e accedilotildees satildeo agora intencionais e

conscientizadas no entanto ainda condicionadas ao esquema visual Revelam-se

os primoacuterdios da memoacuteria e da representaccedilatildeo mental Comeccedila a permanecircncia do

objeto independente do ldquoeurdquo Quanto agrave noccedilatildeo de espaccedilo e tempo a crianccedila

comeccedila a ordenar os proacuteprios deslocamentos em relaccedilatildeo aos objetos

5ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular terciaacuteria (12 a 18 meses) A crianccedila gradua

seus movimentos varia e experimenta novos padrotildees de comportamento

observando os diferentes efeitos da sua accedilatildeo sobre o objeto o qual jaacute eacute dotado de

permanecircncia Pode-se afirmar que o mecanismo da inteligecircncia praacutetica estaacute

definitivamente constituiacutedo A cada estruturaccedilatildeo da inteligecircncia corresponde uma

nova estruturaccedilatildeo do espaccedilo do tempo da causalidade etc Agindo por ldquoensaio e

errordquo os resultados das accedilotildees ainda satildeo por acaso pois as representaccedilotildees

mentais de fatos externos ainda natildeo se incluem ou seja o pensamento ainda natildeo

estaacute formado

22

6ordm Sub Estaacutegio ndash A invenccedilatildeo dos novos meios por combinaccedilatildeo

mental (18 a 24 meses) Esta fase caracteriza o momento de transiccedilatildeo entre a

inteligecircncia praacutetica (sensoacuterio-motora) e a inteligecircncia representativa quando

comeccedila a funccedilatildeo simboacutelica Inicia-se a representaccedilatildeo mental imaginativa e criativa

No jogo simboacutelico a crianccedila usa siacutembolos na linguagem e na brincadeira do faz-deshy

conta recorda-se de fatos passados e os representa depois de algum tempo O

final deste periacuteodo eacute marcado pela primeira noccedilatildeo de conservaccedilatildeo(FerreiraI1994)

Os primeiros anos de vida da crianccedila satildeo marcados pelas inuacutemeras

formaccedilotildees e transformaccedilotildees fiacutesicas mentais e emocionais conforme descritas

acima Os acalantos (muacutesicas de ninar) satildeo cantados por matildees de todo o mundo

numa primeira inserccedilatildeo da crianccedila ao universo musical de sua cultura Eles

exercem um poderoso papel de auxiacutelio agrave maternagem acolhendo-a afetuosamente

condiccedilatildeo baacutesica para que a crianccedila se sinta suficientemente amada para

prosseguir desenvolvendo-se Este tema seraacute melhor explanado nos proacuteximos

capiacutetulos Por hora parece oportuno um exemplo de acalanto

TUTU MARAMBAacute(folclore)6

Tutu marambaacute

Natildeo venha mais caacute

Que o pai do menino

Te manda mata

6 MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute PRECISO CANTAR Musicoterapia cantos e canccedilotildees2001p38

23

32ESTAacuteGIO PREacute-OPERACIONAL (2 agrave 7 anos) A crianccedila vive um tempo em que

usa a intuiccedilatildeo ela passa todos os seus atos para o pensamento sob a forma de

imagens e diante de uma situaccedilatildeo praacutetica suas respostas vatildeo se basear no que

ela vecirc sente mexe ou seja nas aparecircncias dos fatos que observa A crianccedila

possui a capacidade de representar uma coisa por outra e esta representaccedilatildeo

pode se dar por um gesto um desenho uma palavra etc A verbalizaccedilatildeo tem

destaque neste periacuteodo e a linguagem conduz agrave socializaccedilatildeo das accedilotildees Este

estaacutegio compreende duas formas de pensamento a saber O Pensamento

Simboacutelico e o Pensamento Intuitivo

Pensamento simboacutelico (2 agrave 4 anos) Para Piaget a funccedilatildeo simboacutelica consiste na

capacidade da crianccedila representar objetos e fatos conhecidos poreacutem ausentes por

um substituto qualquer seja este concreto ou imaginaacuterio Uma caracteriacutestica

fundamental desta fase eacute a diferenciaccedilatildeo entre significante e significado que eacute

manifestada por vaacuterias condutas sendo elas O jogo simboacutelico ou faz-de-conta a

imitaccedilatildeo o desenho a imagem mental a linguagem a criatividade etc Para

ldquosignificanterdquo leia-se objeto concreto e para ldquosignificadordquo a ideacuteia compreensiva do

que foi percebido (Piaget 2003)

Sobre a funccedilatildeo simboacutelica FerreiraI(1994p43) complementa ldquoA funccedilatildeo

simboacutelica pode ser considerada uma linguagem individual e particular da crianccedila

usada para compreender e representar o mundo O siacutembolo eacute subjetivo e aos

poucos vai sendo substituiacutedo por signos da linguagem socialrdquo

24

O pensamento infantil encontrado entre os 2 e 7 anos de idade eacute

egocentrado A visatildeo da realidade eacute centrada no ponto de vista do proacuteprio sujeito

sendo este incapaz de relacionaacute-lo ou de coordenaacute-lo a pontos de vistas diferentes

do seu

A aquisiccedilatildeo da linguagem tem destaque nesta fase e coincide com a

formaccedilatildeo do jogo simboacutelico que melhor se manifesta no jogo do faz-de-conta

Atraveacutes do que discute Ferreira I (1994p43) ldquoOs siacutembolos podem ser

socializados como os brinquedos coletivos e se tornar um siacutembolo coletivordquo

confirma-se mais uma vez que os estes elementos apresentam extrema valorizaccedilatildeo

soacutecio-afetiva e cultural Com a ludicidade que lhe eacute peculiar os brinquedos

cantados nesta fase encantam ensinam desenvolvem a memoacuteria a auto estima

o esquema corporal a imagem corporal a Coordenaccedilatildeo Motora a socializaccedilatildeo

entre outras funccedilotildees essenciais agrave formaccedilatildeo dos pequenos Eis um bom exemplo

O GIGANTE E O ANAtildeO(autor desconhecido)7

O peacute do gigante eacute grande

Do anatildeo pequenininho

O gigante pisa forte

O anatildeo pisa mansinho

O gigante fala grosso

O anatildeo fala fininho

Porque gigante come muito

E o anatildeo come pouquinho

7 Recolhido atraveacutes da cultura oral

25

Pensamento Intuitivo (4 agrave 7 anos) Subdividido em Intuitivo Simples e Intuitivo

Articulado eacute um estaacutegio marcado pela crescente formaccedilatildeo de conceitos O

pensamento intuitivo eacute uma espeacutecie de accedilatildeo executada em pensamento encaixar

seriar deslocar etc

A crianccedila no intuitivo simples representa mentalmente assimila e entende

o mundo real poreacutem de forma limitada pois soacute consegue coordenar um uacutenico

ponto de vista com base nas aparecircncias do que vecirc Centrado em si mesmo natildeo

admite a reversibilidade falta-lhe ainda a noccedilatildeo de conservaccedilatildeo das substacircncias

Quando se pede agrave crianccedila para desenhar ela desenha o que sabe e natildeo

o que vecirc Este egocentrismo que lhe eacute peculiar deveraacute evoluir para a

descentraccedilatildeo bem como haveraacute progressos nas diversas etapas cognitivas

(classificar seriar etc) Ao final do pensamento intuitivo articulado a crianccedila

comeccedila a levantar duacutevidas e questionamentos percebendo a mobilidade das

situaccedilotildees

ldquoA BARATArdquo(folclore)8

A barata diz que tem 7 saias de filoacute

Eacute mentira da barata ela tem eacute uma soacute

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute

A barata diz que tem um anel de formatura

Eacute mentira da barata ela tem eacute casca dura

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura

8 PAIVA Ione Maria R de OPCITp80

26

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura

A barata diz que dorme numa cama de cetim

Eacute mentira da barata ela dorme eacute no capim

Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim

Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim

Na muacutesica da barata as crianccedilas ironizam a tentativa de mentir deste

inseto A propoacutesito das ldquomentirinhasrdquo contidas nas brincadeiras infantis funcionam

como passaporte para a experimentaccedilatildeo do que eacute verdadeiro e real As palavras

de cascudo(1988p491) discorrem sobre os deslimites da mentira ldquoAs estoacuterias

mentirosas() satildeo muito populares e constituem um gecircnero especial onde a

imaginaccedilatildeo exagerada e livre se liberta dos limites da loacutegicardquo Acredita-se que as

crianccedilas exigem a verdade para terem o domiacutenio do que aprendem

33OS JOGOS POR PIAGET

ldquoPiaget vecirc no jogo um processo de ajuda ao desenvolvimento da crianccedila

acompanha-a sendo ao mesmo tempo uma atividade consequumlente de seu proacuteprio

crescimentordquo(Negrine1994p45) A leitura dos jogos em Piaget acompanha o

desenvolvimento integral do homem a inteligecircncia a afetividade a motricidade e a

sociabilidade satildeo vivenciadas nos jogos sendo a afetividade a funccedilatildeo que constitui

a energia necessaacuteria para a progressatildeo psiacutequica moral intelectual e motora

daquele que joga

Trecircs classificaccedilotildees baacutesicas do jogo satildeo mostradas na teoria

27

psicogeneacutetica de Piaget Jogos de exerciacutecio Jogos simboacutelicos e jogos de regra

Jogos de Exerciacutecio Ou jogos sensoacuterio-motores que aparecem no periacuteodo do

mesmo nome natildeo chegam a constituir sistemas luacutedicos independentes e

construtivos Sua motivaccedilatildeo se daacute pelo prazer funcional ou pelo prazer produzido

pela tomada de consciecircncia de suas novas capacidades

Os jogos motores ou de exerciacutecios satildeo aqueles que envolvem

diretamente a participaccedilatildeo ativa do corpo como um todo inclui-se ainda os jogos

sensoriais que ajudam a desenvolver os oacutergatildeos dos sentidos

A crianccedila nesta fase gosta de brincar com brinquedos que manipula

repetidas vezes explorando toda sua superfiacutecie Brincar de esconder o rosto ou os

objetos atirar e pegar brinquedos eacute prazeroso para a crianccedila ao mesmo tempo

que assimila as noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo

da realidade

Os estiacutemulos sensoriais tambeacutem fazem parte do seu interesse objetos

de diversas cores e texturas brinquedos sonoros muacutesica para ouvir acalentar

danccedilar e brincar desta forma explora o reconhecimento do eu do outro e dos

objetos

O jogo de exerciacutecio eacute o primeiro a aparecer no comportamento da

crianccedila explicitamente do 2ordm ao 5ordm estaacutegio do desenvolvimento sensoacuterio motor por

oposiccedilatildeo ao 6ordm estaacutegio onde se inicia o jogo simboacutelico(Negrine 1994)

28

ATIREI O PAU NO GATO(Folclore)9

Atirei o pau no ga-to-to mas o ga-to-to

Natildeo morreu- rreu- rreu dona chica-ca-ca

Admirou- se se do berro do berro

Do berro que o gato deu Miau

Jogos Simboacutelicos Em princiacutepio do ponto de vista de Piaget a diferenccedila entre os

jogos simboacutelicos e os de exerciacutecio intelectual consiste em que os primeiros se

referem ao pensamento

Os jogos simboacutelicos tem iniacutecio no 6ordm estaacutegio do periacuteodo sensoacuterio-motor

e se continua aproximadamente dos 2 aos 4 anos de idade cronoloacutegica ou do 1ordm

estaacutegio do preacute-operacional(fase simboacutelica) ateacute o iniacutecio do 2ordm estaacutegio do preacuteshy

operacional(fase intuitiva) Piaget apud Negrine(1994p41) deixa claro a

supremacia dos jogos simboacutelicos em detrimento dos anteriores

ldquoO esquema simboacutelico por si mesmo eacute suficiente para

assegurar a superioridade da representaccedilatildeo sobre

uma accedilatildeo pura nesta segundo Piaget o jogo

permite assimilar o mundo exterior ao eu como meio

infinitamente mais poderoso que o de simples exerciacuteciordquo

Como aparecem antes da linguagem verbal propriamente dita os jogos

simboacutelicos satildeo representados nas imagens mentais da crianccedila e vivenciados

atraveacutes dos gestos onomatopeacuteias pelo prazer de brincar com o faz-de-conta

9 MILLLECCO FILHO Luiacutes A e outros OPCIT p43

29

Nesta fase os acalantos vatildeo perdendo sua importacircncia dando lugar agraves

brincadeiras-de-roda os pequenos ao mesmo tempo em que aprendem a falar

aprendem a cantar as brincadeiras-de-roda tem a propriedade de enriquecerem o

repertoacuterio de palavras e movimentos

Jogos de Regras Os jogos de regras natildeo seguem o mesmo itineraacuterio dos

anteriores pois comeccedilam a aparecer na metade do 2ordm estaacutegio do periacuteodo preacuteshy

operacional isto eacute dos 4 aos 7 anos e principalmente no periacuteodo das operaccedilotildees

concretas dos 7 aos 12 anos Pesquisaremos como ocorrem os jogos de regra ateacute

os 7 anos pela delimitaccedilatildeo da populaccedilatildeo que esta monografia abrange

Dos 4 aos 7 anos periacuteodo preacute operacional intuitivo surgem os jogos de

regra que substituiratildeo o siacutembolo e enquadraratildeo o exerciacutecio no momento em que se

constituem de forma incipiente certas relaccedilotildees sociais(Piaget2003)

Com relaccedilatildeo as regras segundo Piaget apud Negrine

(1994p44)distinguem-se dois tipos transmitidas e espontacircneas As regras

transmitidas se referem aos jogos institucionais que se impotildeem por pressatildeo das

geraccedilotildees anteriores As espontacircneas se referem aos jogos de natureza contratual e

momentacircnea isto eacute procedem da socializaccedilatildeo dos jogos de simples exerciacutecios ou

dos simboacutelicos

30

Na cantiga de roda ldquoCiranda cirandinhardquo destaca-se o desenvolvimento

da roda e ao final as regras uma imposta (entrar na roda e dizer um verso) outra

espontacircnea (serve qualquer verso criado na hora ou jaacute existente) Outra versatildeo

desta mesma cantiga para crianccedilas menores pede ldquofaccedila um gesto bem bonito

diga adeus e vaacute se emborardquo A liberdade de criar um gesto verso a importacircncia de

estar no meio da roda como centro das atenccedilotildees e a valorizaccedilatildeo dos

companheiros satildeo o impulso para a espontaneidade e o crescimento da autonomia

do ser

CIRANDA CIRANDINHA(folclore)10

Ciranda cirandinha vamos todos cirandar

Vamos dar a meia volta volta e meia vamos dar

o anel que tu me destes era vidro e se quebrou

o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou

Por isto sinhaacute Maria entre dentro desta roda

Diga um verso bem bonito diga adeus e vaacute se embora

Os conceitos estudados neste capiacutetulo podem orientar sobre o tempo

mental da crianccedila e a possibilidade de oferecer estiacutemulos adequados ao seu

momento Como uma boa buacutessola natildeo conteacutem apenas o norte

10 MARTINS Armando OPCITp105

31

4O BRINCAR E A REALIDADE WINNICOTTEANA

A partir da premissa de que natildeo se pode dividir o ser humano em

classificaccedilotildees bioloacutegicas e psiacutequicas posto que este eacute uma unidade indivisiacutevel

formulou-se apenas para efeitos didaacuteticos no capiacutetulo anteriorum olhar mais

fiacutesico(cognitivo) do desenvolvimento infantil atraveacutes de Piaget Discutir-se-aacute neste

capiacutetulo o ponto de vista Winnicotteano sobre a vida emocional e o brincar

Nos brinquedos cantados a arte de brincar se mistura a arte de cantar e

eacute fazendo ldquoArtesrdquo que a crianccedila dar-se a ver e a crescer A partir deste tema

instigante e universal que eacute o brincar torna-se mais prazeroso ainda falar sobre ele

depois de conhecer os estudos do Drordm Winnicott

D W Winnicott pediatra psicanalista psicoterapeuta inglecircs e defensor

da Ludoterapia nasceu no comeccedilo do seacuteculo 20 produzindo uma vasta obra

cientiacutefica ateacute os anos 70 quando nos deixou Em seu livro ldquoO Brincar e

Realidaderdquo(1975) se preocupou com os primoacuterdios da vida imaginativa da

experiecircncia cultural em todos os sentidos da relaccedilatildeo das artes com o brincar e da

criatividade

Neste momento parece relevante abordar alguns dos conceitos teoacutericos

do DrordmWinnicott atraveacutes da obra mencionada pelo suporte que podem

proporcionar agrave compreensatildeo da vida psiacutequica mediante o brincar e a terapia Em

32

Conceitos e contornos ilustrar-se-aacute o Objeto transicional Fenocircmeno transicional

Matildee suficientemente boa Aacuterea intermediaacuteria e o Eu(Self) circundando a

importacircncia destes conceitos em relaccedilatildeo aos brinquedos cantados e sua aplicaccedilatildeo

na cliacutenica psicomotora

41CONCEITOS E CONTORNOS

Objeto Transicional Eacute o objeto concreto relativo agrave exploraccedilatildeo pulsional (descarga

impulsiva) do sujeito por exemplo uma boneca ou um carrinho

Fenocircmeno Transicional Satildeo as accedilotildees relativas agrave exploraccedilatildeo pulsional ou o uso

que se faz dos objetos transicionais Ex Um carrinho pode ser acalentado como se

fosse um bebecirc

Matildee Suficientemente Boa Pessoa que ocupa o lugar de suporte afetivo no

desenvolvimento global da crianccedila tambeacutem associada por ele a figura do

terapeuta

Em outras palavras o amor da matildee ou do terapeuta

natildeo significaria apenas um atendimento agraves necessidades

da dependecircncia mas vem a significar a concessatildeo

de oportunidades que permita ao bebecirc ou ao paciente

passar da dependecircncia para a autonomia

(Winnicott1975p150)

33

Aacuterea Intermediaacuteria Aacuterea neutra de experimentaccedilatildeo vivencial entre as realidades

internas e externas do sujeito que favorece a dialeacutetica do brincar e das artes O

dito autor parece supor um espaccedilo de refuacutegio para a resoluccedilatildeo dos conflitos

humanos Eis aqui a referecircncia para tal colocaccedilatildeo

Presume-se aqui que a tarefa de aceitaccedilatildeo da realidade

nunca eacute completada que nenhum ser humano estaacute livre

da tensatildeo de relacionar a realidade interna e externa e

que o aliacutevio dessa tensatildeo eacute proporcionado por uma aacuterea

intermediaacuteria de experiecircncia(cf Riviere1936) que natildeo eacute

contestada (artes religiatildeo etc) Essa aacuterea intermediaacuteria

estaacute em continuidade direta com a aacuterea do brincar da

crianccedila pequena que se ldquoperderdquo no brincar

(Winnicottopcitp29)

A princiacutepio eacute difiacutecil falar dos brinquedos cantados como objetos

transicionais (concretos) porque natildeo satildeo exatamente vistos a olhos nus embora

sejam audiacuteveis Todavia qualquer muacutesico pode escrever em uma partitura o

brinquedo cantado (concreto e cantaacutevel) para tornaacute-lo visiacutevel

O ato de cantar uma muacutesica de roda ou um acalanto jaacute eacute a traduccedilatildeo do

fenocircmeno transicional Dar-se-aacute o uso que quiser a este brinquedo cantado no

momento de sua realizaccedilatildeo Se uma muacutesica de ninar for entoada com raiva ou

brutalidade eacute certo que traraacute temores ao bebecirc e natildeo o conforto a que se prestaria

Acalantos com este do ldquobicho papatildeordquo expotildee o perigo e propotildee acolhida pela

proteccedilatildeo materna

34

ldquoBICHO PAPAtildeO(folclore)11

Bicho Papatildeo sai de cima do telhado

Deixe o menino dormir sossegado

O Eu (Self) O Eu (Self) eacute o eu integral descrito por Winnicott(1975) em sua mais

pura essecircncia um eu que nasce na liberdade de expressatildeo na confianccedila baseada

nas experiecircncias vividas no suporte dos sentimentos Para este autor certas

condiccedilotildees se fazem necessaacuterias na busca do Eu (Self) eacute o que se chama de

criatividade A criatividade pode defraglar e sustentar o ser integral

A vida sadia se mostra pelo impulso criativo O brincar eacute um instrumento

da criatividade sediado na ldquoaacuterea intermediaacuteriardquo (entre as artes e o luacutedico)

sustentado em seus primoacuterdios pela ldquomatildee suficientemente boardquo direcionado agrave

busca do ldquoEu (Self) Sobre a importacircncia das cantigas de roda nesta busca

podemos ler as contribuiccedilotildees de Millecco filho e outros (2001p44)

As cantigas de roda datildeo continuidade ao trabalho

de elaboraccedilatildeo de conflitos e agrave estrutura da pessoa

em desenvolvimento iniciado com os acalantos

() A roda aparece como uma representaccedilatildeo da

mandala expressatildeo geomeacutetrica do Self

11 Recolhido atraveacutes da cultura oral

35

A letra da muacutesica infantil ldquoa canoa virourdquo expotildee um problema e supotildee

uma soluccedilatildeo hipoteacutetica

A CANOA VIROU(folclore)12

A canoa virou vou deixar ela virar

Foi por causa da Maria que natildeo soube remar

Ah se eu fosse peixinho e soubesse nadar

Eu tirava a Marialaacute do fundo do mar

A accedilatildeo terapecircutica deve ser um modo de auxiliar uma pessoa a

vir a ser o que ela eacute capaz de ser O psicomotricista atua como facilitador no

desenvolvimento do potencial existente no sujeito Numa maternagem

suficientemente boa como fala Winnicott o psicomotricista relacional torna-se um

companheiro de jornada para as atitudes luacutedicas do seu paciente

As medidas de afeto e limites saudaacuteveis agraves necessidades do outro

devem ser reconhecidas e valorizadas Eacute o que se vecirc nas colocaccedilotildees de Winnicott

(1975p63) ldquoEm outros termos eacute a brincadeira que eacute universal e que eacute proacutepria da

sauacutede o brincar facilita o crescimento e portanto a sauacutede o brincar conduz aos

relacionamentos grupais o brincar pode ser uma forma de comunicaccedilatildeo na

psicoterapia()rdquo

12 MARTINS Armando OPCITp110

36

Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e

estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que

haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila

acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas

Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a

brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre

MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR

VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR

Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o

aprender com a danccedila do outro

ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

13 Recolhido atraveacutes da cultura oral

37

Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons

e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os

brinquedos cantados

5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE

Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma

nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o

corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se

utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia

e da linguumliacutestica

No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua

expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a

existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto

O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que

encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e

motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros

Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando

fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar

gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil

38

ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14

Eacute bom cantar eacute bom ouvir

Eacute bom pensar eacute bom sentir

Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor

Viajar dentro de si pra poder se descobrir

51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE

A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso

meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da

psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu

corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)

O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico

(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes

concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo

ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a

palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas

que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que

quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do

latim Corpusque significa tecido de membros envoltura

da alma embriatildeo do espiacuterito

14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000

39

Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na

Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto

que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo

cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a

motricidade com a inteligecircncia

Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam

em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento

humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o

movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila

De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de

segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio

Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se

no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo

de Guilman

O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num

corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo

toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico

emocional(Levin opcit)

O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor

Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em

movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica

40

psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre

outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da

pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de

Levin(opcit)

Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor

podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor

ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento

Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o

sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem

tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco

podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade

eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)

52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA

A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o

seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins

pedagoacutegicos (Levy2000)

A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se

do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos

transtornos evidenciados (Coste1992)

A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a

41

afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja

o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade

do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting

psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais

uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si

mesmo uma terapiardquo

As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas

psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema

corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade

Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo

estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees

cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito

As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de

algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A

coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar

pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos

dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para

andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes

visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a

existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa

caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc

No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a

42

primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave

vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos

cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas

psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a

expressividade e a emoccedilatildeo

O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas

psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se

confirmar por exemplo para treinar a escrita

As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar

iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da

brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo

dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da

cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas

pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar

Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora

relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de

cada uma delas

43

53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE

Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os

acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte

afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe

o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo

e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do

acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si

mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a

busca do eu (Self)

O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos

cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a

partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes

acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de

interesse da populaccedilatildeo pesquisada

Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil

geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo

continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em

desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza

simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos

conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo

44

As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia

cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o

relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano

infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a

Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda

assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia

oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria

soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo

Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as

com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da

referida estrutura

Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos

integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos

grandes segmentos (Coste1992)

Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro

expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo

corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a

habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa

O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se

movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os

movimentos enquanto observam os amigos

45

BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

Os braccedilos pra cima e pra baixo

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

As pernas pra frente e pra traacutes

Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo

preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo

motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada

diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do

grafismo (Coste1992)

A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas

brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as

palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a

crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos

Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos

fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca

do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes

15 Recolhido atraveacutes da cultura oral

46

das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa

de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas

ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16

123 indiozinhos 456 indiozinhos

789 indiozinhos 10 num pequeno bote

Vinham navegando pelo rio abaixo

Quando o jacareacute se aproximou

E o pequeno bote dos indiozinhos

Quase quase virou quase quase virou

mas natildeo virou

Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo

ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam

internas ou externas (Levin2001)

A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e

apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as

crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do

corpo que deseja mostrar

ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17

Cabeccedila ombro joelho e peacute

Joelho e peacute joelho e peacute

Olhos boca orelha e nariz

Orelha e nariz orelha e nariz

16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral

47

Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O

equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute

relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)

Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de

amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o

personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca

instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma

perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal

traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal

ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca o pandeirotoca como ele soacute

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca violatildeo toca como ele soacute

Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao

tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir

da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do

aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala

dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da

vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza

18 Recolhido atraveacutes da cultura oral

48

Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila

seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um

personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular

correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e

volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem

seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam

ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19

Anda anda anda macaquinho

Anda anda anda sem parar

Pula pula pula macaquinho

Pula pula pula ateacute cansar

Corre corre corre macaquinho

Corre corre corre sem parar

Deita deita deita macaquinho

Deita deita deita dorme ateacute sonhar

Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu

desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e

relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do

mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)

Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira

19 Recolhido atraveacutes da cultura oral

49

traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo

espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a

noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo

vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento

O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e

rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos

de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra

frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente

e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da

roda virem periquitos tambeacutem

Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem

no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras

visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas

ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20

Periquito periquito parece com papa

Periquito periquito parece com papa

Por baixo por cima pra frente e pra traacutes

Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo

ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo

temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a

20 Recolhido atraveacutes da cultura oral

50

estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus

movimentos e se organiza na vida cotidiana

Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo

que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo

humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre

ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos

acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo

A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da

chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo

dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio

ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21

A janelinha fecha quando estaacute chovendo

A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo

Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute

Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute

Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os

centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e

contralaterais (Coste1992)

21 Recolhido atraveacutes da cultura oral

51

A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento

psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e

assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute

organizada e natildeo mudaraacute mais

Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os

peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a

conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo

grupo disposto em roda

ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22

Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora

Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora

Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock

Assim eacute bem melhor

( e assim por diante com as demais partes do corpo)

Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o

modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder

apud Coste(1992)

A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a

organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo

mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do

22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57

52

desejo da matildee

A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan

apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros

tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e

de diferenccedila (ibid)

Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o

ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na

constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo

desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A

psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade

poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A

citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo

O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de

identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria

de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do

lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que

eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim

constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute

poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo

o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)

53

Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia

corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber

possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver

As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a

expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente

Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar

cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de

construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza

pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem

corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter

fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de

cantar danccedilar e brincar

54

ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23

Minha boneca de lata

Bateu com a cabeccedila no chatildeo

Levou mais de uma hora

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui pra ficar boa

Minha boneca de lata

Bateu com o pescoccedilo no chatildeo

Levou mais de duas horas

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui desamassa aqui

Pra ficar boa

Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho

o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do

corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez

horas de arrumaccedilatildeo propostas

23 Recolhido atraveacutes da cultura oral

55

6CONCLUSAtildeO

Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-

se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse

infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar

Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a

relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas

cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo

permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os

estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e

que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo

Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de

winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do

ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos

como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica

Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de

conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos

Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade

que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se

pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos

sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu

ldquoafetordquo

56

Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a

psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir

expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer

Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia

para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a

socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte

aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o

desenvolvimento das estruturas psicomotoras

Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a

essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado

pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando

o prazer de brincar cantar e ser feliz

57

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Editora Sprint ltda 1996

WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975

Page 22: Brinquedos Cantados Na Psicomotricidade

21

4ordm Sub Estaacutegio ndash Coordenaccedilatildeo de esquemas secundaacuterios (8 a 12 meses)

Caracteriza-se pelas primeiras condutas propriamente inteligentes surgindo

adaptaccedilotildees sensoacuterio-motoras intencionais onde o bebecirc combina esquemas

conhecidos a novas situaccedilotildees e ainda diferencia os meios e os fins de uma accedilatildeo

Aparece nesta fase o comportamento antecipatoacuterio caso o bebecirc veja sua matildee se

afastar chora a imitaccedilatildeo de sons e accedilotildees satildeo agora intencionais e

conscientizadas no entanto ainda condicionadas ao esquema visual Revelam-se

os primoacuterdios da memoacuteria e da representaccedilatildeo mental Comeccedila a permanecircncia do

objeto independente do ldquoeurdquo Quanto agrave noccedilatildeo de espaccedilo e tempo a crianccedila

comeccedila a ordenar os proacuteprios deslocamentos em relaccedilatildeo aos objetos

5ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular terciaacuteria (12 a 18 meses) A crianccedila gradua

seus movimentos varia e experimenta novos padrotildees de comportamento

observando os diferentes efeitos da sua accedilatildeo sobre o objeto o qual jaacute eacute dotado de

permanecircncia Pode-se afirmar que o mecanismo da inteligecircncia praacutetica estaacute

definitivamente constituiacutedo A cada estruturaccedilatildeo da inteligecircncia corresponde uma

nova estruturaccedilatildeo do espaccedilo do tempo da causalidade etc Agindo por ldquoensaio e

errordquo os resultados das accedilotildees ainda satildeo por acaso pois as representaccedilotildees

mentais de fatos externos ainda natildeo se incluem ou seja o pensamento ainda natildeo

estaacute formado

22

6ordm Sub Estaacutegio ndash A invenccedilatildeo dos novos meios por combinaccedilatildeo

mental (18 a 24 meses) Esta fase caracteriza o momento de transiccedilatildeo entre a

inteligecircncia praacutetica (sensoacuterio-motora) e a inteligecircncia representativa quando

comeccedila a funccedilatildeo simboacutelica Inicia-se a representaccedilatildeo mental imaginativa e criativa

No jogo simboacutelico a crianccedila usa siacutembolos na linguagem e na brincadeira do faz-deshy

conta recorda-se de fatos passados e os representa depois de algum tempo O

final deste periacuteodo eacute marcado pela primeira noccedilatildeo de conservaccedilatildeo(FerreiraI1994)

Os primeiros anos de vida da crianccedila satildeo marcados pelas inuacutemeras

formaccedilotildees e transformaccedilotildees fiacutesicas mentais e emocionais conforme descritas

acima Os acalantos (muacutesicas de ninar) satildeo cantados por matildees de todo o mundo

numa primeira inserccedilatildeo da crianccedila ao universo musical de sua cultura Eles

exercem um poderoso papel de auxiacutelio agrave maternagem acolhendo-a afetuosamente

condiccedilatildeo baacutesica para que a crianccedila se sinta suficientemente amada para

prosseguir desenvolvendo-se Este tema seraacute melhor explanado nos proacuteximos

capiacutetulos Por hora parece oportuno um exemplo de acalanto

TUTU MARAMBAacute(folclore)6

Tutu marambaacute

Natildeo venha mais caacute

Que o pai do menino

Te manda mata

6 MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute PRECISO CANTAR Musicoterapia cantos e canccedilotildees2001p38

23

32ESTAacuteGIO PREacute-OPERACIONAL (2 agrave 7 anos) A crianccedila vive um tempo em que

usa a intuiccedilatildeo ela passa todos os seus atos para o pensamento sob a forma de

imagens e diante de uma situaccedilatildeo praacutetica suas respostas vatildeo se basear no que

ela vecirc sente mexe ou seja nas aparecircncias dos fatos que observa A crianccedila

possui a capacidade de representar uma coisa por outra e esta representaccedilatildeo

pode se dar por um gesto um desenho uma palavra etc A verbalizaccedilatildeo tem

destaque neste periacuteodo e a linguagem conduz agrave socializaccedilatildeo das accedilotildees Este

estaacutegio compreende duas formas de pensamento a saber O Pensamento

Simboacutelico e o Pensamento Intuitivo

Pensamento simboacutelico (2 agrave 4 anos) Para Piaget a funccedilatildeo simboacutelica consiste na

capacidade da crianccedila representar objetos e fatos conhecidos poreacutem ausentes por

um substituto qualquer seja este concreto ou imaginaacuterio Uma caracteriacutestica

fundamental desta fase eacute a diferenciaccedilatildeo entre significante e significado que eacute

manifestada por vaacuterias condutas sendo elas O jogo simboacutelico ou faz-de-conta a

imitaccedilatildeo o desenho a imagem mental a linguagem a criatividade etc Para

ldquosignificanterdquo leia-se objeto concreto e para ldquosignificadordquo a ideacuteia compreensiva do

que foi percebido (Piaget 2003)

Sobre a funccedilatildeo simboacutelica FerreiraI(1994p43) complementa ldquoA funccedilatildeo

simboacutelica pode ser considerada uma linguagem individual e particular da crianccedila

usada para compreender e representar o mundo O siacutembolo eacute subjetivo e aos

poucos vai sendo substituiacutedo por signos da linguagem socialrdquo

24

O pensamento infantil encontrado entre os 2 e 7 anos de idade eacute

egocentrado A visatildeo da realidade eacute centrada no ponto de vista do proacuteprio sujeito

sendo este incapaz de relacionaacute-lo ou de coordenaacute-lo a pontos de vistas diferentes

do seu

A aquisiccedilatildeo da linguagem tem destaque nesta fase e coincide com a

formaccedilatildeo do jogo simboacutelico que melhor se manifesta no jogo do faz-de-conta

Atraveacutes do que discute Ferreira I (1994p43) ldquoOs siacutembolos podem ser

socializados como os brinquedos coletivos e se tornar um siacutembolo coletivordquo

confirma-se mais uma vez que os estes elementos apresentam extrema valorizaccedilatildeo

soacutecio-afetiva e cultural Com a ludicidade que lhe eacute peculiar os brinquedos

cantados nesta fase encantam ensinam desenvolvem a memoacuteria a auto estima

o esquema corporal a imagem corporal a Coordenaccedilatildeo Motora a socializaccedilatildeo

entre outras funccedilotildees essenciais agrave formaccedilatildeo dos pequenos Eis um bom exemplo

O GIGANTE E O ANAtildeO(autor desconhecido)7

O peacute do gigante eacute grande

Do anatildeo pequenininho

O gigante pisa forte

O anatildeo pisa mansinho

O gigante fala grosso

O anatildeo fala fininho

Porque gigante come muito

E o anatildeo come pouquinho

7 Recolhido atraveacutes da cultura oral

25

Pensamento Intuitivo (4 agrave 7 anos) Subdividido em Intuitivo Simples e Intuitivo

Articulado eacute um estaacutegio marcado pela crescente formaccedilatildeo de conceitos O

pensamento intuitivo eacute uma espeacutecie de accedilatildeo executada em pensamento encaixar

seriar deslocar etc

A crianccedila no intuitivo simples representa mentalmente assimila e entende

o mundo real poreacutem de forma limitada pois soacute consegue coordenar um uacutenico

ponto de vista com base nas aparecircncias do que vecirc Centrado em si mesmo natildeo

admite a reversibilidade falta-lhe ainda a noccedilatildeo de conservaccedilatildeo das substacircncias

Quando se pede agrave crianccedila para desenhar ela desenha o que sabe e natildeo

o que vecirc Este egocentrismo que lhe eacute peculiar deveraacute evoluir para a

descentraccedilatildeo bem como haveraacute progressos nas diversas etapas cognitivas

(classificar seriar etc) Ao final do pensamento intuitivo articulado a crianccedila

comeccedila a levantar duacutevidas e questionamentos percebendo a mobilidade das

situaccedilotildees

ldquoA BARATArdquo(folclore)8

A barata diz que tem 7 saias de filoacute

Eacute mentira da barata ela tem eacute uma soacute

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute

A barata diz que tem um anel de formatura

Eacute mentira da barata ela tem eacute casca dura

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura

8 PAIVA Ione Maria R de OPCITp80

26

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura

A barata diz que dorme numa cama de cetim

Eacute mentira da barata ela dorme eacute no capim

Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim

Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim

Na muacutesica da barata as crianccedilas ironizam a tentativa de mentir deste

inseto A propoacutesito das ldquomentirinhasrdquo contidas nas brincadeiras infantis funcionam

como passaporte para a experimentaccedilatildeo do que eacute verdadeiro e real As palavras

de cascudo(1988p491) discorrem sobre os deslimites da mentira ldquoAs estoacuterias

mentirosas() satildeo muito populares e constituem um gecircnero especial onde a

imaginaccedilatildeo exagerada e livre se liberta dos limites da loacutegicardquo Acredita-se que as

crianccedilas exigem a verdade para terem o domiacutenio do que aprendem

33OS JOGOS POR PIAGET

ldquoPiaget vecirc no jogo um processo de ajuda ao desenvolvimento da crianccedila

acompanha-a sendo ao mesmo tempo uma atividade consequumlente de seu proacuteprio

crescimentordquo(Negrine1994p45) A leitura dos jogos em Piaget acompanha o

desenvolvimento integral do homem a inteligecircncia a afetividade a motricidade e a

sociabilidade satildeo vivenciadas nos jogos sendo a afetividade a funccedilatildeo que constitui

a energia necessaacuteria para a progressatildeo psiacutequica moral intelectual e motora

daquele que joga

Trecircs classificaccedilotildees baacutesicas do jogo satildeo mostradas na teoria

27

psicogeneacutetica de Piaget Jogos de exerciacutecio Jogos simboacutelicos e jogos de regra

Jogos de Exerciacutecio Ou jogos sensoacuterio-motores que aparecem no periacuteodo do

mesmo nome natildeo chegam a constituir sistemas luacutedicos independentes e

construtivos Sua motivaccedilatildeo se daacute pelo prazer funcional ou pelo prazer produzido

pela tomada de consciecircncia de suas novas capacidades

Os jogos motores ou de exerciacutecios satildeo aqueles que envolvem

diretamente a participaccedilatildeo ativa do corpo como um todo inclui-se ainda os jogos

sensoriais que ajudam a desenvolver os oacutergatildeos dos sentidos

A crianccedila nesta fase gosta de brincar com brinquedos que manipula

repetidas vezes explorando toda sua superfiacutecie Brincar de esconder o rosto ou os

objetos atirar e pegar brinquedos eacute prazeroso para a crianccedila ao mesmo tempo

que assimila as noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo

da realidade

Os estiacutemulos sensoriais tambeacutem fazem parte do seu interesse objetos

de diversas cores e texturas brinquedos sonoros muacutesica para ouvir acalentar

danccedilar e brincar desta forma explora o reconhecimento do eu do outro e dos

objetos

O jogo de exerciacutecio eacute o primeiro a aparecer no comportamento da

crianccedila explicitamente do 2ordm ao 5ordm estaacutegio do desenvolvimento sensoacuterio motor por

oposiccedilatildeo ao 6ordm estaacutegio onde se inicia o jogo simboacutelico(Negrine 1994)

28

ATIREI O PAU NO GATO(Folclore)9

Atirei o pau no ga-to-to mas o ga-to-to

Natildeo morreu- rreu- rreu dona chica-ca-ca

Admirou- se se do berro do berro

Do berro que o gato deu Miau

Jogos Simboacutelicos Em princiacutepio do ponto de vista de Piaget a diferenccedila entre os

jogos simboacutelicos e os de exerciacutecio intelectual consiste em que os primeiros se

referem ao pensamento

Os jogos simboacutelicos tem iniacutecio no 6ordm estaacutegio do periacuteodo sensoacuterio-motor

e se continua aproximadamente dos 2 aos 4 anos de idade cronoloacutegica ou do 1ordm

estaacutegio do preacute-operacional(fase simboacutelica) ateacute o iniacutecio do 2ordm estaacutegio do preacuteshy

operacional(fase intuitiva) Piaget apud Negrine(1994p41) deixa claro a

supremacia dos jogos simboacutelicos em detrimento dos anteriores

ldquoO esquema simboacutelico por si mesmo eacute suficiente para

assegurar a superioridade da representaccedilatildeo sobre

uma accedilatildeo pura nesta segundo Piaget o jogo

permite assimilar o mundo exterior ao eu como meio

infinitamente mais poderoso que o de simples exerciacuteciordquo

Como aparecem antes da linguagem verbal propriamente dita os jogos

simboacutelicos satildeo representados nas imagens mentais da crianccedila e vivenciados

atraveacutes dos gestos onomatopeacuteias pelo prazer de brincar com o faz-de-conta

9 MILLLECCO FILHO Luiacutes A e outros OPCIT p43

29

Nesta fase os acalantos vatildeo perdendo sua importacircncia dando lugar agraves

brincadeiras-de-roda os pequenos ao mesmo tempo em que aprendem a falar

aprendem a cantar as brincadeiras-de-roda tem a propriedade de enriquecerem o

repertoacuterio de palavras e movimentos

Jogos de Regras Os jogos de regras natildeo seguem o mesmo itineraacuterio dos

anteriores pois comeccedilam a aparecer na metade do 2ordm estaacutegio do periacuteodo preacuteshy

operacional isto eacute dos 4 aos 7 anos e principalmente no periacuteodo das operaccedilotildees

concretas dos 7 aos 12 anos Pesquisaremos como ocorrem os jogos de regra ateacute

os 7 anos pela delimitaccedilatildeo da populaccedilatildeo que esta monografia abrange

Dos 4 aos 7 anos periacuteodo preacute operacional intuitivo surgem os jogos de

regra que substituiratildeo o siacutembolo e enquadraratildeo o exerciacutecio no momento em que se

constituem de forma incipiente certas relaccedilotildees sociais(Piaget2003)

Com relaccedilatildeo as regras segundo Piaget apud Negrine

(1994p44)distinguem-se dois tipos transmitidas e espontacircneas As regras

transmitidas se referem aos jogos institucionais que se impotildeem por pressatildeo das

geraccedilotildees anteriores As espontacircneas se referem aos jogos de natureza contratual e

momentacircnea isto eacute procedem da socializaccedilatildeo dos jogos de simples exerciacutecios ou

dos simboacutelicos

30

Na cantiga de roda ldquoCiranda cirandinhardquo destaca-se o desenvolvimento

da roda e ao final as regras uma imposta (entrar na roda e dizer um verso) outra

espontacircnea (serve qualquer verso criado na hora ou jaacute existente) Outra versatildeo

desta mesma cantiga para crianccedilas menores pede ldquofaccedila um gesto bem bonito

diga adeus e vaacute se emborardquo A liberdade de criar um gesto verso a importacircncia de

estar no meio da roda como centro das atenccedilotildees e a valorizaccedilatildeo dos

companheiros satildeo o impulso para a espontaneidade e o crescimento da autonomia

do ser

CIRANDA CIRANDINHA(folclore)10

Ciranda cirandinha vamos todos cirandar

Vamos dar a meia volta volta e meia vamos dar

o anel que tu me destes era vidro e se quebrou

o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou

Por isto sinhaacute Maria entre dentro desta roda

Diga um verso bem bonito diga adeus e vaacute se embora

Os conceitos estudados neste capiacutetulo podem orientar sobre o tempo

mental da crianccedila e a possibilidade de oferecer estiacutemulos adequados ao seu

momento Como uma boa buacutessola natildeo conteacutem apenas o norte

10 MARTINS Armando OPCITp105

31

4O BRINCAR E A REALIDADE WINNICOTTEANA

A partir da premissa de que natildeo se pode dividir o ser humano em

classificaccedilotildees bioloacutegicas e psiacutequicas posto que este eacute uma unidade indivisiacutevel

formulou-se apenas para efeitos didaacuteticos no capiacutetulo anteriorum olhar mais

fiacutesico(cognitivo) do desenvolvimento infantil atraveacutes de Piaget Discutir-se-aacute neste

capiacutetulo o ponto de vista Winnicotteano sobre a vida emocional e o brincar

Nos brinquedos cantados a arte de brincar se mistura a arte de cantar e

eacute fazendo ldquoArtesrdquo que a crianccedila dar-se a ver e a crescer A partir deste tema

instigante e universal que eacute o brincar torna-se mais prazeroso ainda falar sobre ele

depois de conhecer os estudos do Drordm Winnicott

D W Winnicott pediatra psicanalista psicoterapeuta inglecircs e defensor

da Ludoterapia nasceu no comeccedilo do seacuteculo 20 produzindo uma vasta obra

cientiacutefica ateacute os anos 70 quando nos deixou Em seu livro ldquoO Brincar e

Realidaderdquo(1975) se preocupou com os primoacuterdios da vida imaginativa da

experiecircncia cultural em todos os sentidos da relaccedilatildeo das artes com o brincar e da

criatividade

Neste momento parece relevante abordar alguns dos conceitos teoacutericos

do DrordmWinnicott atraveacutes da obra mencionada pelo suporte que podem

proporcionar agrave compreensatildeo da vida psiacutequica mediante o brincar e a terapia Em

32

Conceitos e contornos ilustrar-se-aacute o Objeto transicional Fenocircmeno transicional

Matildee suficientemente boa Aacuterea intermediaacuteria e o Eu(Self) circundando a

importacircncia destes conceitos em relaccedilatildeo aos brinquedos cantados e sua aplicaccedilatildeo

na cliacutenica psicomotora

41CONCEITOS E CONTORNOS

Objeto Transicional Eacute o objeto concreto relativo agrave exploraccedilatildeo pulsional (descarga

impulsiva) do sujeito por exemplo uma boneca ou um carrinho

Fenocircmeno Transicional Satildeo as accedilotildees relativas agrave exploraccedilatildeo pulsional ou o uso

que se faz dos objetos transicionais Ex Um carrinho pode ser acalentado como se

fosse um bebecirc

Matildee Suficientemente Boa Pessoa que ocupa o lugar de suporte afetivo no

desenvolvimento global da crianccedila tambeacutem associada por ele a figura do

terapeuta

Em outras palavras o amor da matildee ou do terapeuta

natildeo significaria apenas um atendimento agraves necessidades

da dependecircncia mas vem a significar a concessatildeo

de oportunidades que permita ao bebecirc ou ao paciente

passar da dependecircncia para a autonomia

(Winnicott1975p150)

33

Aacuterea Intermediaacuteria Aacuterea neutra de experimentaccedilatildeo vivencial entre as realidades

internas e externas do sujeito que favorece a dialeacutetica do brincar e das artes O

dito autor parece supor um espaccedilo de refuacutegio para a resoluccedilatildeo dos conflitos

humanos Eis aqui a referecircncia para tal colocaccedilatildeo

Presume-se aqui que a tarefa de aceitaccedilatildeo da realidade

nunca eacute completada que nenhum ser humano estaacute livre

da tensatildeo de relacionar a realidade interna e externa e

que o aliacutevio dessa tensatildeo eacute proporcionado por uma aacuterea

intermediaacuteria de experiecircncia(cf Riviere1936) que natildeo eacute

contestada (artes religiatildeo etc) Essa aacuterea intermediaacuteria

estaacute em continuidade direta com a aacuterea do brincar da

crianccedila pequena que se ldquoperderdquo no brincar

(Winnicottopcitp29)

A princiacutepio eacute difiacutecil falar dos brinquedos cantados como objetos

transicionais (concretos) porque natildeo satildeo exatamente vistos a olhos nus embora

sejam audiacuteveis Todavia qualquer muacutesico pode escrever em uma partitura o

brinquedo cantado (concreto e cantaacutevel) para tornaacute-lo visiacutevel

O ato de cantar uma muacutesica de roda ou um acalanto jaacute eacute a traduccedilatildeo do

fenocircmeno transicional Dar-se-aacute o uso que quiser a este brinquedo cantado no

momento de sua realizaccedilatildeo Se uma muacutesica de ninar for entoada com raiva ou

brutalidade eacute certo que traraacute temores ao bebecirc e natildeo o conforto a que se prestaria

Acalantos com este do ldquobicho papatildeordquo expotildee o perigo e propotildee acolhida pela

proteccedilatildeo materna

34

ldquoBICHO PAPAtildeO(folclore)11

Bicho Papatildeo sai de cima do telhado

Deixe o menino dormir sossegado

O Eu (Self) O Eu (Self) eacute o eu integral descrito por Winnicott(1975) em sua mais

pura essecircncia um eu que nasce na liberdade de expressatildeo na confianccedila baseada

nas experiecircncias vividas no suporte dos sentimentos Para este autor certas

condiccedilotildees se fazem necessaacuterias na busca do Eu (Self) eacute o que se chama de

criatividade A criatividade pode defraglar e sustentar o ser integral

A vida sadia se mostra pelo impulso criativo O brincar eacute um instrumento

da criatividade sediado na ldquoaacuterea intermediaacuteriardquo (entre as artes e o luacutedico)

sustentado em seus primoacuterdios pela ldquomatildee suficientemente boardquo direcionado agrave

busca do ldquoEu (Self) Sobre a importacircncia das cantigas de roda nesta busca

podemos ler as contribuiccedilotildees de Millecco filho e outros (2001p44)

As cantigas de roda datildeo continuidade ao trabalho

de elaboraccedilatildeo de conflitos e agrave estrutura da pessoa

em desenvolvimento iniciado com os acalantos

() A roda aparece como uma representaccedilatildeo da

mandala expressatildeo geomeacutetrica do Self

11 Recolhido atraveacutes da cultura oral

35

A letra da muacutesica infantil ldquoa canoa virourdquo expotildee um problema e supotildee

uma soluccedilatildeo hipoteacutetica

A CANOA VIROU(folclore)12

A canoa virou vou deixar ela virar

Foi por causa da Maria que natildeo soube remar

Ah se eu fosse peixinho e soubesse nadar

Eu tirava a Marialaacute do fundo do mar

A accedilatildeo terapecircutica deve ser um modo de auxiliar uma pessoa a

vir a ser o que ela eacute capaz de ser O psicomotricista atua como facilitador no

desenvolvimento do potencial existente no sujeito Numa maternagem

suficientemente boa como fala Winnicott o psicomotricista relacional torna-se um

companheiro de jornada para as atitudes luacutedicas do seu paciente

As medidas de afeto e limites saudaacuteveis agraves necessidades do outro

devem ser reconhecidas e valorizadas Eacute o que se vecirc nas colocaccedilotildees de Winnicott

(1975p63) ldquoEm outros termos eacute a brincadeira que eacute universal e que eacute proacutepria da

sauacutede o brincar facilita o crescimento e portanto a sauacutede o brincar conduz aos

relacionamentos grupais o brincar pode ser uma forma de comunicaccedilatildeo na

psicoterapia()rdquo

12 MARTINS Armando OPCITp110

36

Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e

estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que

haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila

acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas

Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a

brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre

MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR

VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR

Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o

aprender com a danccedila do outro

ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

13 Recolhido atraveacutes da cultura oral

37

Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons

e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os

brinquedos cantados

5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE

Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma

nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o

corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se

utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia

e da linguumliacutestica

No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua

expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a

existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto

O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que

encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e

motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros

Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando

fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar

gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil

38

ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14

Eacute bom cantar eacute bom ouvir

Eacute bom pensar eacute bom sentir

Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor

Viajar dentro de si pra poder se descobrir

51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE

A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso

meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da

psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu

corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)

O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico

(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes

concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo

ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a

palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas

que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que

quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do

latim Corpusque significa tecido de membros envoltura

da alma embriatildeo do espiacuterito

14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000

39

Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na

Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto

que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo

cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a

motricidade com a inteligecircncia

Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam

em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento

humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o

movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila

De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de

segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio

Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se

no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo

de Guilman

O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num

corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo

toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico

emocional(Levin opcit)

O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor

Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em

movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica

40

psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre

outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da

pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de

Levin(opcit)

Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor

podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor

ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento

Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o

sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem

tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco

podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade

eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)

52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA

A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o

seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins

pedagoacutegicos (Levy2000)

A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se

do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos

transtornos evidenciados (Coste1992)

A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a

41

afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja

o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade

do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting

psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais

uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si

mesmo uma terapiardquo

As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas

psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema

corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade

Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo

estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees

cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito

As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de

algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A

coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar

pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos

dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para

andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes

visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a

existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa

caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc

No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a

42

primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave

vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos

cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas

psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a

expressividade e a emoccedilatildeo

O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas

psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se

confirmar por exemplo para treinar a escrita

As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar

iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da

brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo

dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da

cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas

pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar

Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora

relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de

cada uma delas

43

53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE

Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os

acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte

afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe

o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo

e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do

acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si

mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a

busca do eu (Self)

O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos

cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a

partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes

acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de

interesse da populaccedilatildeo pesquisada

Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil

geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo

continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em

desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza

simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos

conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo

44

As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia

cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o

relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano

infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a

Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda

assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia

oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria

soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo

Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as

com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da

referida estrutura

Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos

integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos

grandes segmentos (Coste1992)

Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro

expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo

corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a

habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa

O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se

movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os

movimentos enquanto observam os amigos

45

BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

Os braccedilos pra cima e pra baixo

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

As pernas pra frente e pra traacutes

Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo

preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo

motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada

diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do

grafismo (Coste1992)

A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas

brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as

palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a

crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos

Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos

fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca

do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes

15 Recolhido atraveacutes da cultura oral

46

das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa

de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas

ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16

123 indiozinhos 456 indiozinhos

789 indiozinhos 10 num pequeno bote

Vinham navegando pelo rio abaixo

Quando o jacareacute se aproximou

E o pequeno bote dos indiozinhos

Quase quase virou quase quase virou

mas natildeo virou

Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo

ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam

internas ou externas (Levin2001)

A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e

apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as

crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do

corpo que deseja mostrar

ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17

Cabeccedila ombro joelho e peacute

Joelho e peacute joelho e peacute

Olhos boca orelha e nariz

Orelha e nariz orelha e nariz

16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral

47

Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O

equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute

relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)

Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de

amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o

personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca

instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma

perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal

traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal

ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca o pandeirotoca como ele soacute

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca violatildeo toca como ele soacute

Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao

tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir

da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do

aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala

dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da

vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza

18 Recolhido atraveacutes da cultura oral

48

Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila

seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um

personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular

correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e

volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem

seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam

ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19

Anda anda anda macaquinho

Anda anda anda sem parar

Pula pula pula macaquinho

Pula pula pula ateacute cansar

Corre corre corre macaquinho

Corre corre corre sem parar

Deita deita deita macaquinho

Deita deita deita dorme ateacute sonhar

Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu

desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e

relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do

mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)

Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira

19 Recolhido atraveacutes da cultura oral

49

traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo

espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a

noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo

vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento

O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e

rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos

de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra

frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente

e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da

roda virem periquitos tambeacutem

Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem

no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras

visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas

ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20

Periquito periquito parece com papa

Periquito periquito parece com papa

Por baixo por cima pra frente e pra traacutes

Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo

ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo

temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a

20 Recolhido atraveacutes da cultura oral

50

estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus

movimentos e se organiza na vida cotidiana

Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo

que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo

humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre

ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos

acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo

A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da

chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo

dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio

ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21

A janelinha fecha quando estaacute chovendo

A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo

Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute

Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute

Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os

centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e

contralaterais (Coste1992)

21 Recolhido atraveacutes da cultura oral

51

A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento

psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e

assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute

organizada e natildeo mudaraacute mais

Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os

peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a

conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo

grupo disposto em roda

ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22

Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora

Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora

Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock

Assim eacute bem melhor

( e assim por diante com as demais partes do corpo)

Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o

modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder

apud Coste(1992)

A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a

organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo

mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do

22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57

52

desejo da matildee

A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan

apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros

tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e

de diferenccedila (ibid)

Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o

ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na

constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo

desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A

psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade

poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A

citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo

O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de

identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria

de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do

lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que

eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim

constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute

poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo

o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)

53

Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia

corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber

possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver

As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a

expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente

Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar

cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de

construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza

pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem

corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter

fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de

cantar danccedilar e brincar

54

ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23

Minha boneca de lata

Bateu com a cabeccedila no chatildeo

Levou mais de uma hora

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui pra ficar boa

Minha boneca de lata

Bateu com o pescoccedilo no chatildeo

Levou mais de duas horas

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui desamassa aqui

Pra ficar boa

Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho

o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do

corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez

horas de arrumaccedilatildeo propostas

23 Recolhido atraveacutes da cultura oral

55

6CONCLUSAtildeO

Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-

se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse

infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar

Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a

relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas

cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo

permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os

estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e

que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo

Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de

winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do

ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos

como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica

Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de

conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos

Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade

que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se

pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos

sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu

ldquoafetordquo

56

Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a

psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir

expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer

Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia

para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a

socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte

aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o

desenvolvimento das estruturas psicomotoras

Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a

essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado

pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando

o prazer de brincar cantar e ser feliz

57

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Editora Sprint ltda 1996

WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975

Page 23: Brinquedos Cantados Na Psicomotricidade

22

6ordm Sub Estaacutegio ndash A invenccedilatildeo dos novos meios por combinaccedilatildeo

mental (18 a 24 meses) Esta fase caracteriza o momento de transiccedilatildeo entre a

inteligecircncia praacutetica (sensoacuterio-motora) e a inteligecircncia representativa quando

comeccedila a funccedilatildeo simboacutelica Inicia-se a representaccedilatildeo mental imaginativa e criativa

No jogo simboacutelico a crianccedila usa siacutembolos na linguagem e na brincadeira do faz-deshy

conta recorda-se de fatos passados e os representa depois de algum tempo O

final deste periacuteodo eacute marcado pela primeira noccedilatildeo de conservaccedilatildeo(FerreiraI1994)

Os primeiros anos de vida da crianccedila satildeo marcados pelas inuacutemeras

formaccedilotildees e transformaccedilotildees fiacutesicas mentais e emocionais conforme descritas

acima Os acalantos (muacutesicas de ninar) satildeo cantados por matildees de todo o mundo

numa primeira inserccedilatildeo da crianccedila ao universo musical de sua cultura Eles

exercem um poderoso papel de auxiacutelio agrave maternagem acolhendo-a afetuosamente

condiccedilatildeo baacutesica para que a crianccedila se sinta suficientemente amada para

prosseguir desenvolvendo-se Este tema seraacute melhor explanado nos proacuteximos

capiacutetulos Por hora parece oportuno um exemplo de acalanto

TUTU MARAMBAacute(folclore)6

Tutu marambaacute

Natildeo venha mais caacute

Que o pai do menino

Te manda mata

6 MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute PRECISO CANTAR Musicoterapia cantos e canccedilotildees2001p38

23

32ESTAacuteGIO PREacute-OPERACIONAL (2 agrave 7 anos) A crianccedila vive um tempo em que

usa a intuiccedilatildeo ela passa todos os seus atos para o pensamento sob a forma de

imagens e diante de uma situaccedilatildeo praacutetica suas respostas vatildeo se basear no que

ela vecirc sente mexe ou seja nas aparecircncias dos fatos que observa A crianccedila

possui a capacidade de representar uma coisa por outra e esta representaccedilatildeo

pode se dar por um gesto um desenho uma palavra etc A verbalizaccedilatildeo tem

destaque neste periacuteodo e a linguagem conduz agrave socializaccedilatildeo das accedilotildees Este

estaacutegio compreende duas formas de pensamento a saber O Pensamento

Simboacutelico e o Pensamento Intuitivo

Pensamento simboacutelico (2 agrave 4 anos) Para Piaget a funccedilatildeo simboacutelica consiste na

capacidade da crianccedila representar objetos e fatos conhecidos poreacutem ausentes por

um substituto qualquer seja este concreto ou imaginaacuterio Uma caracteriacutestica

fundamental desta fase eacute a diferenciaccedilatildeo entre significante e significado que eacute

manifestada por vaacuterias condutas sendo elas O jogo simboacutelico ou faz-de-conta a

imitaccedilatildeo o desenho a imagem mental a linguagem a criatividade etc Para

ldquosignificanterdquo leia-se objeto concreto e para ldquosignificadordquo a ideacuteia compreensiva do

que foi percebido (Piaget 2003)

Sobre a funccedilatildeo simboacutelica FerreiraI(1994p43) complementa ldquoA funccedilatildeo

simboacutelica pode ser considerada uma linguagem individual e particular da crianccedila

usada para compreender e representar o mundo O siacutembolo eacute subjetivo e aos

poucos vai sendo substituiacutedo por signos da linguagem socialrdquo

24

O pensamento infantil encontrado entre os 2 e 7 anos de idade eacute

egocentrado A visatildeo da realidade eacute centrada no ponto de vista do proacuteprio sujeito

sendo este incapaz de relacionaacute-lo ou de coordenaacute-lo a pontos de vistas diferentes

do seu

A aquisiccedilatildeo da linguagem tem destaque nesta fase e coincide com a

formaccedilatildeo do jogo simboacutelico que melhor se manifesta no jogo do faz-de-conta

Atraveacutes do que discute Ferreira I (1994p43) ldquoOs siacutembolos podem ser

socializados como os brinquedos coletivos e se tornar um siacutembolo coletivordquo

confirma-se mais uma vez que os estes elementos apresentam extrema valorizaccedilatildeo

soacutecio-afetiva e cultural Com a ludicidade que lhe eacute peculiar os brinquedos

cantados nesta fase encantam ensinam desenvolvem a memoacuteria a auto estima

o esquema corporal a imagem corporal a Coordenaccedilatildeo Motora a socializaccedilatildeo

entre outras funccedilotildees essenciais agrave formaccedilatildeo dos pequenos Eis um bom exemplo

O GIGANTE E O ANAtildeO(autor desconhecido)7

O peacute do gigante eacute grande

Do anatildeo pequenininho

O gigante pisa forte

O anatildeo pisa mansinho

O gigante fala grosso

O anatildeo fala fininho

Porque gigante come muito

E o anatildeo come pouquinho

7 Recolhido atraveacutes da cultura oral

25

Pensamento Intuitivo (4 agrave 7 anos) Subdividido em Intuitivo Simples e Intuitivo

Articulado eacute um estaacutegio marcado pela crescente formaccedilatildeo de conceitos O

pensamento intuitivo eacute uma espeacutecie de accedilatildeo executada em pensamento encaixar

seriar deslocar etc

A crianccedila no intuitivo simples representa mentalmente assimila e entende

o mundo real poreacutem de forma limitada pois soacute consegue coordenar um uacutenico

ponto de vista com base nas aparecircncias do que vecirc Centrado em si mesmo natildeo

admite a reversibilidade falta-lhe ainda a noccedilatildeo de conservaccedilatildeo das substacircncias

Quando se pede agrave crianccedila para desenhar ela desenha o que sabe e natildeo

o que vecirc Este egocentrismo que lhe eacute peculiar deveraacute evoluir para a

descentraccedilatildeo bem como haveraacute progressos nas diversas etapas cognitivas

(classificar seriar etc) Ao final do pensamento intuitivo articulado a crianccedila

comeccedila a levantar duacutevidas e questionamentos percebendo a mobilidade das

situaccedilotildees

ldquoA BARATArdquo(folclore)8

A barata diz que tem 7 saias de filoacute

Eacute mentira da barata ela tem eacute uma soacute

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute

A barata diz que tem um anel de formatura

Eacute mentira da barata ela tem eacute casca dura

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura

8 PAIVA Ione Maria R de OPCITp80

26

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura

A barata diz que dorme numa cama de cetim

Eacute mentira da barata ela dorme eacute no capim

Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim

Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim

Na muacutesica da barata as crianccedilas ironizam a tentativa de mentir deste

inseto A propoacutesito das ldquomentirinhasrdquo contidas nas brincadeiras infantis funcionam

como passaporte para a experimentaccedilatildeo do que eacute verdadeiro e real As palavras

de cascudo(1988p491) discorrem sobre os deslimites da mentira ldquoAs estoacuterias

mentirosas() satildeo muito populares e constituem um gecircnero especial onde a

imaginaccedilatildeo exagerada e livre se liberta dos limites da loacutegicardquo Acredita-se que as

crianccedilas exigem a verdade para terem o domiacutenio do que aprendem

33OS JOGOS POR PIAGET

ldquoPiaget vecirc no jogo um processo de ajuda ao desenvolvimento da crianccedila

acompanha-a sendo ao mesmo tempo uma atividade consequumlente de seu proacuteprio

crescimentordquo(Negrine1994p45) A leitura dos jogos em Piaget acompanha o

desenvolvimento integral do homem a inteligecircncia a afetividade a motricidade e a

sociabilidade satildeo vivenciadas nos jogos sendo a afetividade a funccedilatildeo que constitui

a energia necessaacuteria para a progressatildeo psiacutequica moral intelectual e motora

daquele que joga

Trecircs classificaccedilotildees baacutesicas do jogo satildeo mostradas na teoria

27

psicogeneacutetica de Piaget Jogos de exerciacutecio Jogos simboacutelicos e jogos de regra

Jogos de Exerciacutecio Ou jogos sensoacuterio-motores que aparecem no periacuteodo do

mesmo nome natildeo chegam a constituir sistemas luacutedicos independentes e

construtivos Sua motivaccedilatildeo se daacute pelo prazer funcional ou pelo prazer produzido

pela tomada de consciecircncia de suas novas capacidades

Os jogos motores ou de exerciacutecios satildeo aqueles que envolvem

diretamente a participaccedilatildeo ativa do corpo como um todo inclui-se ainda os jogos

sensoriais que ajudam a desenvolver os oacutergatildeos dos sentidos

A crianccedila nesta fase gosta de brincar com brinquedos que manipula

repetidas vezes explorando toda sua superfiacutecie Brincar de esconder o rosto ou os

objetos atirar e pegar brinquedos eacute prazeroso para a crianccedila ao mesmo tempo

que assimila as noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo

da realidade

Os estiacutemulos sensoriais tambeacutem fazem parte do seu interesse objetos

de diversas cores e texturas brinquedos sonoros muacutesica para ouvir acalentar

danccedilar e brincar desta forma explora o reconhecimento do eu do outro e dos

objetos

O jogo de exerciacutecio eacute o primeiro a aparecer no comportamento da

crianccedila explicitamente do 2ordm ao 5ordm estaacutegio do desenvolvimento sensoacuterio motor por

oposiccedilatildeo ao 6ordm estaacutegio onde se inicia o jogo simboacutelico(Negrine 1994)

28

ATIREI O PAU NO GATO(Folclore)9

Atirei o pau no ga-to-to mas o ga-to-to

Natildeo morreu- rreu- rreu dona chica-ca-ca

Admirou- se se do berro do berro

Do berro que o gato deu Miau

Jogos Simboacutelicos Em princiacutepio do ponto de vista de Piaget a diferenccedila entre os

jogos simboacutelicos e os de exerciacutecio intelectual consiste em que os primeiros se

referem ao pensamento

Os jogos simboacutelicos tem iniacutecio no 6ordm estaacutegio do periacuteodo sensoacuterio-motor

e se continua aproximadamente dos 2 aos 4 anos de idade cronoloacutegica ou do 1ordm

estaacutegio do preacute-operacional(fase simboacutelica) ateacute o iniacutecio do 2ordm estaacutegio do preacuteshy

operacional(fase intuitiva) Piaget apud Negrine(1994p41) deixa claro a

supremacia dos jogos simboacutelicos em detrimento dos anteriores

ldquoO esquema simboacutelico por si mesmo eacute suficiente para

assegurar a superioridade da representaccedilatildeo sobre

uma accedilatildeo pura nesta segundo Piaget o jogo

permite assimilar o mundo exterior ao eu como meio

infinitamente mais poderoso que o de simples exerciacuteciordquo

Como aparecem antes da linguagem verbal propriamente dita os jogos

simboacutelicos satildeo representados nas imagens mentais da crianccedila e vivenciados

atraveacutes dos gestos onomatopeacuteias pelo prazer de brincar com o faz-de-conta

9 MILLLECCO FILHO Luiacutes A e outros OPCIT p43

29

Nesta fase os acalantos vatildeo perdendo sua importacircncia dando lugar agraves

brincadeiras-de-roda os pequenos ao mesmo tempo em que aprendem a falar

aprendem a cantar as brincadeiras-de-roda tem a propriedade de enriquecerem o

repertoacuterio de palavras e movimentos

Jogos de Regras Os jogos de regras natildeo seguem o mesmo itineraacuterio dos

anteriores pois comeccedilam a aparecer na metade do 2ordm estaacutegio do periacuteodo preacuteshy

operacional isto eacute dos 4 aos 7 anos e principalmente no periacuteodo das operaccedilotildees

concretas dos 7 aos 12 anos Pesquisaremos como ocorrem os jogos de regra ateacute

os 7 anos pela delimitaccedilatildeo da populaccedilatildeo que esta monografia abrange

Dos 4 aos 7 anos periacuteodo preacute operacional intuitivo surgem os jogos de

regra que substituiratildeo o siacutembolo e enquadraratildeo o exerciacutecio no momento em que se

constituem de forma incipiente certas relaccedilotildees sociais(Piaget2003)

Com relaccedilatildeo as regras segundo Piaget apud Negrine

(1994p44)distinguem-se dois tipos transmitidas e espontacircneas As regras

transmitidas se referem aos jogos institucionais que se impotildeem por pressatildeo das

geraccedilotildees anteriores As espontacircneas se referem aos jogos de natureza contratual e

momentacircnea isto eacute procedem da socializaccedilatildeo dos jogos de simples exerciacutecios ou

dos simboacutelicos

30

Na cantiga de roda ldquoCiranda cirandinhardquo destaca-se o desenvolvimento

da roda e ao final as regras uma imposta (entrar na roda e dizer um verso) outra

espontacircnea (serve qualquer verso criado na hora ou jaacute existente) Outra versatildeo

desta mesma cantiga para crianccedilas menores pede ldquofaccedila um gesto bem bonito

diga adeus e vaacute se emborardquo A liberdade de criar um gesto verso a importacircncia de

estar no meio da roda como centro das atenccedilotildees e a valorizaccedilatildeo dos

companheiros satildeo o impulso para a espontaneidade e o crescimento da autonomia

do ser

CIRANDA CIRANDINHA(folclore)10

Ciranda cirandinha vamos todos cirandar

Vamos dar a meia volta volta e meia vamos dar

o anel que tu me destes era vidro e se quebrou

o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou

Por isto sinhaacute Maria entre dentro desta roda

Diga um verso bem bonito diga adeus e vaacute se embora

Os conceitos estudados neste capiacutetulo podem orientar sobre o tempo

mental da crianccedila e a possibilidade de oferecer estiacutemulos adequados ao seu

momento Como uma boa buacutessola natildeo conteacutem apenas o norte

10 MARTINS Armando OPCITp105

31

4O BRINCAR E A REALIDADE WINNICOTTEANA

A partir da premissa de que natildeo se pode dividir o ser humano em

classificaccedilotildees bioloacutegicas e psiacutequicas posto que este eacute uma unidade indivisiacutevel

formulou-se apenas para efeitos didaacuteticos no capiacutetulo anteriorum olhar mais

fiacutesico(cognitivo) do desenvolvimento infantil atraveacutes de Piaget Discutir-se-aacute neste

capiacutetulo o ponto de vista Winnicotteano sobre a vida emocional e o brincar

Nos brinquedos cantados a arte de brincar se mistura a arte de cantar e

eacute fazendo ldquoArtesrdquo que a crianccedila dar-se a ver e a crescer A partir deste tema

instigante e universal que eacute o brincar torna-se mais prazeroso ainda falar sobre ele

depois de conhecer os estudos do Drordm Winnicott

D W Winnicott pediatra psicanalista psicoterapeuta inglecircs e defensor

da Ludoterapia nasceu no comeccedilo do seacuteculo 20 produzindo uma vasta obra

cientiacutefica ateacute os anos 70 quando nos deixou Em seu livro ldquoO Brincar e

Realidaderdquo(1975) se preocupou com os primoacuterdios da vida imaginativa da

experiecircncia cultural em todos os sentidos da relaccedilatildeo das artes com o brincar e da

criatividade

Neste momento parece relevante abordar alguns dos conceitos teoacutericos

do DrordmWinnicott atraveacutes da obra mencionada pelo suporte que podem

proporcionar agrave compreensatildeo da vida psiacutequica mediante o brincar e a terapia Em

32

Conceitos e contornos ilustrar-se-aacute o Objeto transicional Fenocircmeno transicional

Matildee suficientemente boa Aacuterea intermediaacuteria e o Eu(Self) circundando a

importacircncia destes conceitos em relaccedilatildeo aos brinquedos cantados e sua aplicaccedilatildeo

na cliacutenica psicomotora

41CONCEITOS E CONTORNOS

Objeto Transicional Eacute o objeto concreto relativo agrave exploraccedilatildeo pulsional (descarga

impulsiva) do sujeito por exemplo uma boneca ou um carrinho

Fenocircmeno Transicional Satildeo as accedilotildees relativas agrave exploraccedilatildeo pulsional ou o uso

que se faz dos objetos transicionais Ex Um carrinho pode ser acalentado como se

fosse um bebecirc

Matildee Suficientemente Boa Pessoa que ocupa o lugar de suporte afetivo no

desenvolvimento global da crianccedila tambeacutem associada por ele a figura do

terapeuta

Em outras palavras o amor da matildee ou do terapeuta

natildeo significaria apenas um atendimento agraves necessidades

da dependecircncia mas vem a significar a concessatildeo

de oportunidades que permita ao bebecirc ou ao paciente

passar da dependecircncia para a autonomia

(Winnicott1975p150)

33

Aacuterea Intermediaacuteria Aacuterea neutra de experimentaccedilatildeo vivencial entre as realidades

internas e externas do sujeito que favorece a dialeacutetica do brincar e das artes O

dito autor parece supor um espaccedilo de refuacutegio para a resoluccedilatildeo dos conflitos

humanos Eis aqui a referecircncia para tal colocaccedilatildeo

Presume-se aqui que a tarefa de aceitaccedilatildeo da realidade

nunca eacute completada que nenhum ser humano estaacute livre

da tensatildeo de relacionar a realidade interna e externa e

que o aliacutevio dessa tensatildeo eacute proporcionado por uma aacuterea

intermediaacuteria de experiecircncia(cf Riviere1936) que natildeo eacute

contestada (artes religiatildeo etc) Essa aacuterea intermediaacuteria

estaacute em continuidade direta com a aacuterea do brincar da

crianccedila pequena que se ldquoperderdquo no brincar

(Winnicottopcitp29)

A princiacutepio eacute difiacutecil falar dos brinquedos cantados como objetos

transicionais (concretos) porque natildeo satildeo exatamente vistos a olhos nus embora

sejam audiacuteveis Todavia qualquer muacutesico pode escrever em uma partitura o

brinquedo cantado (concreto e cantaacutevel) para tornaacute-lo visiacutevel

O ato de cantar uma muacutesica de roda ou um acalanto jaacute eacute a traduccedilatildeo do

fenocircmeno transicional Dar-se-aacute o uso que quiser a este brinquedo cantado no

momento de sua realizaccedilatildeo Se uma muacutesica de ninar for entoada com raiva ou

brutalidade eacute certo que traraacute temores ao bebecirc e natildeo o conforto a que se prestaria

Acalantos com este do ldquobicho papatildeordquo expotildee o perigo e propotildee acolhida pela

proteccedilatildeo materna

34

ldquoBICHO PAPAtildeO(folclore)11

Bicho Papatildeo sai de cima do telhado

Deixe o menino dormir sossegado

O Eu (Self) O Eu (Self) eacute o eu integral descrito por Winnicott(1975) em sua mais

pura essecircncia um eu que nasce na liberdade de expressatildeo na confianccedila baseada

nas experiecircncias vividas no suporte dos sentimentos Para este autor certas

condiccedilotildees se fazem necessaacuterias na busca do Eu (Self) eacute o que se chama de

criatividade A criatividade pode defraglar e sustentar o ser integral

A vida sadia se mostra pelo impulso criativo O brincar eacute um instrumento

da criatividade sediado na ldquoaacuterea intermediaacuteriardquo (entre as artes e o luacutedico)

sustentado em seus primoacuterdios pela ldquomatildee suficientemente boardquo direcionado agrave

busca do ldquoEu (Self) Sobre a importacircncia das cantigas de roda nesta busca

podemos ler as contribuiccedilotildees de Millecco filho e outros (2001p44)

As cantigas de roda datildeo continuidade ao trabalho

de elaboraccedilatildeo de conflitos e agrave estrutura da pessoa

em desenvolvimento iniciado com os acalantos

() A roda aparece como uma representaccedilatildeo da

mandala expressatildeo geomeacutetrica do Self

11 Recolhido atraveacutes da cultura oral

35

A letra da muacutesica infantil ldquoa canoa virourdquo expotildee um problema e supotildee

uma soluccedilatildeo hipoteacutetica

A CANOA VIROU(folclore)12

A canoa virou vou deixar ela virar

Foi por causa da Maria que natildeo soube remar

Ah se eu fosse peixinho e soubesse nadar

Eu tirava a Marialaacute do fundo do mar

A accedilatildeo terapecircutica deve ser um modo de auxiliar uma pessoa a

vir a ser o que ela eacute capaz de ser O psicomotricista atua como facilitador no

desenvolvimento do potencial existente no sujeito Numa maternagem

suficientemente boa como fala Winnicott o psicomotricista relacional torna-se um

companheiro de jornada para as atitudes luacutedicas do seu paciente

As medidas de afeto e limites saudaacuteveis agraves necessidades do outro

devem ser reconhecidas e valorizadas Eacute o que se vecirc nas colocaccedilotildees de Winnicott

(1975p63) ldquoEm outros termos eacute a brincadeira que eacute universal e que eacute proacutepria da

sauacutede o brincar facilita o crescimento e portanto a sauacutede o brincar conduz aos

relacionamentos grupais o brincar pode ser uma forma de comunicaccedilatildeo na

psicoterapia()rdquo

12 MARTINS Armando OPCITp110

36

Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e

estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que

haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila

acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas

Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a

brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre

MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR

VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR

Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o

aprender com a danccedila do outro

ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

13 Recolhido atraveacutes da cultura oral

37

Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons

e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os

brinquedos cantados

5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE

Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma

nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o

corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se

utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia

e da linguumliacutestica

No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua

expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a

existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto

O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que

encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e

motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros

Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando

fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar

gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil

38

ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14

Eacute bom cantar eacute bom ouvir

Eacute bom pensar eacute bom sentir

Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor

Viajar dentro de si pra poder se descobrir

51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE

A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso

meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da

psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu

corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)

O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico

(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes

concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo

ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a

palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas

que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que

quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do

latim Corpusque significa tecido de membros envoltura

da alma embriatildeo do espiacuterito

14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000

39

Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na

Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto

que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo

cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a

motricidade com a inteligecircncia

Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam

em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento

humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o

movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila

De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de

segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio

Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se

no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo

de Guilman

O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num

corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo

toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico

emocional(Levin opcit)

O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor

Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em

movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica

40

psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre

outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da

pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de

Levin(opcit)

Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor

podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor

ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento

Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o

sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem

tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco

podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade

eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)

52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA

A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o

seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins

pedagoacutegicos (Levy2000)

A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se

do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos

transtornos evidenciados (Coste1992)

A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a

41

afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja

o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade

do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting

psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais

uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si

mesmo uma terapiardquo

As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas

psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema

corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade

Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo

estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees

cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito

As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de

algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A

coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar

pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos

dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para

andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes

visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a

existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa

caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc

No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a

42

primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave

vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos

cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas

psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a

expressividade e a emoccedilatildeo

O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas

psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se

confirmar por exemplo para treinar a escrita

As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar

iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da

brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo

dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da

cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas

pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar

Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora

relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de

cada uma delas

43

53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE

Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os

acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte

afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe

o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo

e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do

acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si

mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a

busca do eu (Self)

O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos

cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a

partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes

acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de

interesse da populaccedilatildeo pesquisada

Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil

geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo

continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em

desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza

simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos

conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo

44

As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia

cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o

relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano

infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a

Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda

assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia

oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria

soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo

Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as

com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da

referida estrutura

Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos

integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos

grandes segmentos (Coste1992)

Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro

expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo

corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a

habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa

O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se

movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os

movimentos enquanto observam os amigos

45

BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

Os braccedilos pra cima e pra baixo

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

As pernas pra frente e pra traacutes

Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo

preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo

motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada

diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do

grafismo (Coste1992)

A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas

brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as

palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a

crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos

Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos

fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca

do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes

15 Recolhido atraveacutes da cultura oral

46

das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa

de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas

ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16

123 indiozinhos 456 indiozinhos

789 indiozinhos 10 num pequeno bote

Vinham navegando pelo rio abaixo

Quando o jacareacute se aproximou

E o pequeno bote dos indiozinhos

Quase quase virou quase quase virou

mas natildeo virou

Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo

ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam

internas ou externas (Levin2001)

A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e

apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as

crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do

corpo que deseja mostrar

ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17

Cabeccedila ombro joelho e peacute

Joelho e peacute joelho e peacute

Olhos boca orelha e nariz

Orelha e nariz orelha e nariz

16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral

47

Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O

equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute

relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)

Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de

amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o

personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca

instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma

perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal

traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal

ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca o pandeirotoca como ele soacute

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca violatildeo toca como ele soacute

Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao

tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir

da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do

aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala

dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da

vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza

18 Recolhido atraveacutes da cultura oral

48

Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila

seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um

personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular

correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e

volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem

seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam

ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19

Anda anda anda macaquinho

Anda anda anda sem parar

Pula pula pula macaquinho

Pula pula pula ateacute cansar

Corre corre corre macaquinho

Corre corre corre sem parar

Deita deita deita macaquinho

Deita deita deita dorme ateacute sonhar

Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu

desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e

relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do

mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)

Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira

19 Recolhido atraveacutes da cultura oral

49

traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo

espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a

noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo

vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento

O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e

rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos

de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra

frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente

e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da

roda virem periquitos tambeacutem

Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem

no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras

visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas

ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20

Periquito periquito parece com papa

Periquito periquito parece com papa

Por baixo por cima pra frente e pra traacutes

Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo

ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo

temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a

20 Recolhido atraveacutes da cultura oral

50

estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus

movimentos e se organiza na vida cotidiana

Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo

que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo

humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre

ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos

acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo

A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da

chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo

dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio

ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21

A janelinha fecha quando estaacute chovendo

A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo

Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute

Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute

Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os

centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e

contralaterais (Coste1992)

21 Recolhido atraveacutes da cultura oral

51

A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento

psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e

assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute

organizada e natildeo mudaraacute mais

Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os

peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a

conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo

grupo disposto em roda

ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22

Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora

Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora

Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock

Assim eacute bem melhor

( e assim por diante com as demais partes do corpo)

Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o

modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder

apud Coste(1992)

A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a

organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo

mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do

22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57

52

desejo da matildee

A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan

apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros

tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e

de diferenccedila (ibid)

Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o

ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na

constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo

desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A

psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade

poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A

citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo

O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de

identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria

de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do

lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que

eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim

constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute

poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo

o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)

53

Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia

corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber

possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver

As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a

expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente

Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar

cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de

construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza

pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem

corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter

fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de

cantar danccedilar e brincar

54

ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23

Minha boneca de lata

Bateu com a cabeccedila no chatildeo

Levou mais de uma hora

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui pra ficar boa

Minha boneca de lata

Bateu com o pescoccedilo no chatildeo

Levou mais de duas horas

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui desamassa aqui

Pra ficar boa

Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho

o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do

corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez

horas de arrumaccedilatildeo propostas

23 Recolhido atraveacutes da cultura oral

55

6CONCLUSAtildeO

Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-

se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse

infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar

Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a

relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas

cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo

permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os

estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e

que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo

Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de

winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do

ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos

como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica

Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de

conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos

Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade

que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se

pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos

sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu

ldquoafetordquo

56

Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a

psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir

expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer

Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia

para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a

socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte

aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o

desenvolvimento das estruturas psicomotoras

Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a

essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado

pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando

o prazer de brincar cantar e ser feliz

57

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VELASCO Cacilda Gonccedilalves Brincar o despertar psicomotor Rio de Janeiro

Editora Sprint ltda 1996

WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975

Page 24: Brinquedos Cantados Na Psicomotricidade

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32ESTAacuteGIO PREacute-OPERACIONAL (2 agrave 7 anos) A crianccedila vive um tempo em que

usa a intuiccedilatildeo ela passa todos os seus atos para o pensamento sob a forma de

imagens e diante de uma situaccedilatildeo praacutetica suas respostas vatildeo se basear no que

ela vecirc sente mexe ou seja nas aparecircncias dos fatos que observa A crianccedila

possui a capacidade de representar uma coisa por outra e esta representaccedilatildeo

pode se dar por um gesto um desenho uma palavra etc A verbalizaccedilatildeo tem

destaque neste periacuteodo e a linguagem conduz agrave socializaccedilatildeo das accedilotildees Este

estaacutegio compreende duas formas de pensamento a saber O Pensamento

Simboacutelico e o Pensamento Intuitivo

Pensamento simboacutelico (2 agrave 4 anos) Para Piaget a funccedilatildeo simboacutelica consiste na

capacidade da crianccedila representar objetos e fatos conhecidos poreacutem ausentes por

um substituto qualquer seja este concreto ou imaginaacuterio Uma caracteriacutestica

fundamental desta fase eacute a diferenciaccedilatildeo entre significante e significado que eacute

manifestada por vaacuterias condutas sendo elas O jogo simboacutelico ou faz-de-conta a

imitaccedilatildeo o desenho a imagem mental a linguagem a criatividade etc Para

ldquosignificanterdquo leia-se objeto concreto e para ldquosignificadordquo a ideacuteia compreensiva do

que foi percebido (Piaget 2003)

Sobre a funccedilatildeo simboacutelica FerreiraI(1994p43) complementa ldquoA funccedilatildeo

simboacutelica pode ser considerada uma linguagem individual e particular da crianccedila

usada para compreender e representar o mundo O siacutembolo eacute subjetivo e aos

poucos vai sendo substituiacutedo por signos da linguagem socialrdquo

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O pensamento infantil encontrado entre os 2 e 7 anos de idade eacute

egocentrado A visatildeo da realidade eacute centrada no ponto de vista do proacuteprio sujeito

sendo este incapaz de relacionaacute-lo ou de coordenaacute-lo a pontos de vistas diferentes

do seu

A aquisiccedilatildeo da linguagem tem destaque nesta fase e coincide com a

formaccedilatildeo do jogo simboacutelico que melhor se manifesta no jogo do faz-de-conta

Atraveacutes do que discute Ferreira I (1994p43) ldquoOs siacutembolos podem ser

socializados como os brinquedos coletivos e se tornar um siacutembolo coletivordquo

confirma-se mais uma vez que os estes elementos apresentam extrema valorizaccedilatildeo

soacutecio-afetiva e cultural Com a ludicidade que lhe eacute peculiar os brinquedos

cantados nesta fase encantam ensinam desenvolvem a memoacuteria a auto estima

o esquema corporal a imagem corporal a Coordenaccedilatildeo Motora a socializaccedilatildeo

entre outras funccedilotildees essenciais agrave formaccedilatildeo dos pequenos Eis um bom exemplo

O GIGANTE E O ANAtildeO(autor desconhecido)7

O peacute do gigante eacute grande

Do anatildeo pequenininho

O gigante pisa forte

O anatildeo pisa mansinho

O gigante fala grosso

O anatildeo fala fininho

Porque gigante come muito

E o anatildeo come pouquinho

7 Recolhido atraveacutes da cultura oral

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Pensamento Intuitivo (4 agrave 7 anos) Subdividido em Intuitivo Simples e Intuitivo

Articulado eacute um estaacutegio marcado pela crescente formaccedilatildeo de conceitos O

pensamento intuitivo eacute uma espeacutecie de accedilatildeo executada em pensamento encaixar

seriar deslocar etc

A crianccedila no intuitivo simples representa mentalmente assimila e entende

o mundo real poreacutem de forma limitada pois soacute consegue coordenar um uacutenico

ponto de vista com base nas aparecircncias do que vecirc Centrado em si mesmo natildeo

admite a reversibilidade falta-lhe ainda a noccedilatildeo de conservaccedilatildeo das substacircncias

Quando se pede agrave crianccedila para desenhar ela desenha o que sabe e natildeo

o que vecirc Este egocentrismo que lhe eacute peculiar deveraacute evoluir para a

descentraccedilatildeo bem como haveraacute progressos nas diversas etapas cognitivas

(classificar seriar etc) Ao final do pensamento intuitivo articulado a crianccedila

comeccedila a levantar duacutevidas e questionamentos percebendo a mobilidade das

situaccedilotildees

ldquoA BARATArdquo(folclore)8

A barata diz que tem 7 saias de filoacute

Eacute mentira da barata ela tem eacute uma soacute

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute

A barata diz que tem um anel de formatura

Eacute mentira da barata ela tem eacute casca dura

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura

8 PAIVA Ione Maria R de OPCITp80

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Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura

A barata diz que dorme numa cama de cetim

Eacute mentira da barata ela dorme eacute no capim

Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim

Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim

Na muacutesica da barata as crianccedilas ironizam a tentativa de mentir deste

inseto A propoacutesito das ldquomentirinhasrdquo contidas nas brincadeiras infantis funcionam

como passaporte para a experimentaccedilatildeo do que eacute verdadeiro e real As palavras

de cascudo(1988p491) discorrem sobre os deslimites da mentira ldquoAs estoacuterias

mentirosas() satildeo muito populares e constituem um gecircnero especial onde a

imaginaccedilatildeo exagerada e livre se liberta dos limites da loacutegicardquo Acredita-se que as

crianccedilas exigem a verdade para terem o domiacutenio do que aprendem

33OS JOGOS POR PIAGET

ldquoPiaget vecirc no jogo um processo de ajuda ao desenvolvimento da crianccedila

acompanha-a sendo ao mesmo tempo uma atividade consequumlente de seu proacuteprio

crescimentordquo(Negrine1994p45) A leitura dos jogos em Piaget acompanha o

desenvolvimento integral do homem a inteligecircncia a afetividade a motricidade e a

sociabilidade satildeo vivenciadas nos jogos sendo a afetividade a funccedilatildeo que constitui

a energia necessaacuteria para a progressatildeo psiacutequica moral intelectual e motora

daquele que joga

Trecircs classificaccedilotildees baacutesicas do jogo satildeo mostradas na teoria

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psicogeneacutetica de Piaget Jogos de exerciacutecio Jogos simboacutelicos e jogos de regra

Jogos de Exerciacutecio Ou jogos sensoacuterio-motores que aparecem no periacuteodo do

mesmo nome natildeo chegam a constituir sistemas luacutedicos independentes e

construtivos Sua motivaccedilatildeo se daacute pelo prazer funcional ou pelo prazer produzido

pela tomada de consciecircncia de suas novas capacidades

Os jogos motores ou de exerciacutecios satildeo aqueles que envolvem

diretamente a participaccedilatildeo ativa do corpo como um todo inclui-se ainda os jogos

sensoriais que ajudam a desenvolver os oacutergatildeos dos sentidos

A crianccedila nesta fase gosta de brincar com brinquedos que manipula

repetidas vezes explorando toda sua superfiacutecie Brincar de esconder o rosto ou os

objetos atirar e pegar brinquedos eacute prazeroso para a crianccedila ao mesmo tempo

que assimila as noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo

da realidade

Os estiacutemulos sensoriais tambeacutem fazem parte do seu interesse objetos

de diversas cores e texturas brinquedos sonoros muacutesica para ouvir acalentar

danccedilar e brincar desta forma explora o reconhecimento do eu do outro e dos

objetos

O jogo de exerciacutecio eacute o primeiro a aparecer no comportamento da

crianccedila explicitamente do 2ordm ao 5ordm estaacutegio do desenvolvimento sensoacuterio motor por

oposiccedilatildeo ao 6ordm estaacutegio onde se inicia o jogo simboacutelico(Negrine 1994)

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ATIREI O PAU NO GATO(Folclore)9

Atirei o pau no ga-to-to mas o ga-to-to

Natildeo morreu- rreu- rreu dona chica-ca-ca

Admirou- se se do berro do berro

Do berro que o gato deu Miau

Jogos Simboacutelicos Em princiacutepio do ponto de vista de Piaget a diferenccedila entre os

jogos simboacutelicos e os de exerciacutecio intelectual consiste em que os primeiros se

referem ao pensamento

Os jogos simboacutelicos tem iniacutecio no 6ordm estaacutegio do periacuteodo sensoacuterio-motor

e se continua aproximadamente dos 2 aos 4 anos de idade cronoloacutegica ou do 1ordm

estaacutegio do preacute-operacional(fase simboacutelica) ateacute o iniacutecio do 2ordm estaacutegio do preacuteshy

operacional(fase intuitiva) Piaget apud Negrine(1994p41) deixa claro a

supremacia dos jogos simboacutelicos em detrimento dos anteriores

ldquoO esquema simboacutelico por si mesmo eacute suficiente para

assegurar a superioridade da representaccedilatildeo sobre

uma accedilatildeo pura nesta segundo Piaget o jogo

permite assimilar o mundo exterior ao eu como meio

infinitamente mais poderoso que o de simples exerciacuteciordquo

Como aparecem antes da linguagem verbal propriamente dita os jogos

simboacutelicos satildeo representados nas imagens mentais da crianccedila e vivenciados

atraveacutes dos gestos onomatopeacuteias pelo prazer de brincar com o faz-de-conta

9 MILLLECCO FILHO Luiacutes A e outros OPCIT p43

29

Nesta fase os acalantos vatildeo perdendo sua importacircncia dando lugar agraves

brincadeiras-de-roda os pequenos ao mesmo tempo em que aprendem a falar

aprendem a cantar as brincadeiras-de-roda tem a propriedade de enriquecerem o

repertoacuterio de palavras e movimentos

Jogos de Regras Os jogos de regras natildeo seguem o mesmo itineraacuterio dos

anteriores pois comeccedilam a aparecer na metade do 2ordm estaacutegio do periacuteodo preacuteshy

operacional isto eacute dos 4 aos 7 anos e principalmente no periacuteodo das operaccedilotildees

concretas dos 7 aos 12 anos Pesquisaremos como ocorrem os jogos de regra ateacute

os 7 anos pela delimitaccedilatildeo da populaccedilatildeo que esta monografia abrange

Dos 4 aos 7 anos periacuteodo preacute operacional intuitivo surgem os jogos de

regra que substituiratildeo o siacutembolo e enquadraratildeo o exerciacutecio no momento em que se

constituem de forma incipiente certas relaccedilotildees sociais(Piaget2003)

Com relaccedilatildeo as regras segundo Piaget apud Negrine

(1994p44)distinguem-se dois tipos transmitidas e espontacircneas As regras

transmitidas se referem aos jogos institucionais que se impotildeem por pressatildeo das

geraccedilotildees anteriores As espontacircneas se referem aos jogos de natureza contratual e

momentacircnea isto eacute procedem da socializaccedilatildeo dos jogos de simples exerciacutecios ou

dos simboacutelicos

30

Na cantiga de roda ldquoCiranda cirandinhardquo destaca-se o desenvolvimento

da roda e ao final as regras uma imposta (entrar na roda e dizer um verso) outra

espontacircnea (serve qualquer verso criado na hora ou jaacute existente) Outra versatildeo

desta mesma cantiga para crianccedilas menores pede ldquofaccedila um gesto bem bonito

diga adeus e vaacute se emborardquo A liberdade de criar um gesto verso a importacircncia de

estar no meio da roda como centro das atenccedilotildees e a valorizaccedilatildeo dos

companheiros satildeo o impulso para a espontaneidade e o crescimento da autonomia

do ser

CIRANDA CIRANDINHA(folclore)10

Ciranda cirandinha vamos todos cirandar

Vamos dar a meia volta volta e meia vamos dar

o anel que tu me destes era vidro e se quebrou

o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou

Por isto sinhaacute Maria entre dentro desta roda

Diga um verso bem bonito diga adeus e vaacute se embora

Os conceitos estudados neste capiacutetulo podem orientar sobre o tempo

mental da crianccedila e a possibilidade de oferecer estiacutemulos adequados ao seu

momento Como uma boa buacutessola natildeo conteacutem apenas o norte

10 MARTINS Armando OPCITp105

31

4O BRINCAR E A REALIDADE WINNICOTTEANA

A partir da premissa de que natildeo se pode dividir o ser humano em

classificaccedilotildees bioloacutegicas e psiacutequicas posto que este eacute uma unidade indivisiacutevel

formulou-se apenas para efeitos didaacuteticos no capiacutetulo anteriorum olhar mais

fiacutesico(cognitivo) do desenvolvimento infantil atraveacutes de Piaget Discutir-se-aacute neste

capiacutetulo o ponto de vista Winnicotteano sobre a vida emocional e o brincar

Nos brinquedos cantados a arte de brincar se mistura a arte de cantar e

eacute fazendo ldquoArtesrdquo que a crianccedila dar-se a ver e a crescer A partir deste tema

instigante e universal que eacute o brincar torna-se mais prazeroso ainda falar sobre ele

depois de conhecer os estudos do Drordm Winnicott

D W Winnicott pediatra psicanalista psicoterapeuta inglecircs e defensor

da Ludoterapia nasceu no comeccedilo do seacuteculo 20 produzindo uma vasta obra

cientiacutefica ateacute os anos 70 quando nos deixou Em seu livro ldquoO Brincar e

Realidaderdquo(1975) se preocupou com os primoacuterdios da vida imaginativa da

experiecircncia cultural em todos os sentidos da relaccedilatildeo das artes com o brincar e da

criatividade

Neste momento parece relevante abordar alguns dos conceitos teoacutericos

do DrordmWinnicott atraveacutes da obra mencionada pelo suporte que podem

proporcionar agrave compreensatildeo da vida psiacutequica mediante o brincar e a terapia Em

32

Conceitos e contornos ilustrar-se-aacute o Objeto transicional Fenocircmeno transicional

Matildee suficientemente boa Aacuterea intermediaacuteria e o Eu(Self) circundando a

importacircncia destes conceitos em relaccedilatildeo aos brinquedos cantados e sua aplicaccedilatildeo

na cliacutenica psicomotora

41CONCEITOS E CONTORNOS

Objeto Transicional Eacute o objeto concreto relativo agrave exploraccedilatildeo pulsional (descarga

impulsiva) do sujeito por exemplo uma boneca ou um carrinho

Fenocircmeno Transicional Satildeo as accedilotildees relativas agrave exploraccedilatildeo pulsional ou o uso

que se faz dos objetos transicionais Ex Um carrinho pode ser acalentado como se

fosse um bebecirc

Matildee Suficientemente Boa Pessoa que ocupa o lugar de suporte afetivo no

desenvolvimento global da crianccedila tambeacutem associada por ele a figura do

terapeuta

Em outras palavras o amor da matildee ou do terapeuta

natildeo significaria apenas um atendimento agraves necessidades

da dependecircncia mas vem a significar a concessatildeo

de oportunidades que permita ao bebecirc ou ao paciente

passar da dependecircncia para a autonomia

(Winnicott1975p150)

33

Aacuterea Intermediaacuteria Aacuterea neutra de experimentaccedilatildeo vivencial entre as realidades

internas e externas do sujeito que favorece a dialeacutetica do brincar e das artes O

dito autor parece supor um espaccedilo de refuacutegio para a resoluccedilatildeo dos conflitos

humanos Eis aqui a referecircncia para tal colocaccedilatildeo

Presume-se aqui que a tarefa de aceitaccedilatildeo da realidade

nunca eacute completada que nenhum ser humano estaacute livre

da tensatildeo de relacionar a realidade interna e externa e

que o aliacutevio dessa tensatildeo eacute proporcionado por uma aacuterea

intermediaacuteria de experiecircncia(cf Riviere1936) que natildeo eacute

contestada (artes religiatildeo etc) Essa aacuterea intermediaacuteria

estaacute em continuidade direta com a aacuterea do brincar da

crianccedila pequena que se ldquoperderdquo no brincar

(Winnicottopcitp29)

A princiacutepio eacute difiacutecil falar dos brinquedos cantados como objetos

transicionais (concretos) porque natildeo satildeo exatamente vistos a olhos nus embora

sejam audiacuteveis Todavia qualquer muacutesico pode escrever em uma partitura o

brinquedo cantado (concreto e cantaacutevel) para tornaacute-lo visiacutevel

O ato de cantar uma muacutesica de roda ou um acalanto jaacute eacute a traduccedilatildeo do

fenocircmeno transicional Dar-se-aacute o uso que quiser a este brinquedo cantado no

momento de sua realizaccedilatildeo Se uma muacutesica de ninar for entoada com raiva ou

brutalidade eacute certo que traraacute temores ao bebecirc e natildeo o conforto a que se prestaria

Acalantos com este do ldquobicho papatildeordquo expotildee o perigo e propotildee acolhida pela

proteccedilatildeo materna

34

ldquoBICHO PAPAtildeO(folclore)11

Bicho Papatildeo sai de cima do telhado

Deixe o menino dormir sossegado

O Eu (Self) O Eu (Self) eacute o eu integral descrito por Winnicott(1975) em sua mais

pura essecircncia um eu que nasce na liberdade de expressatildeo na confianccedila baseada

nas experiecircncias vividas no suporte dos sentimentos Para este autor certas

condiccedilotildees se fazem necessaacuterias na busca do Eu (Self) eacute o que se chama de

criatividade A criatividade pode defraglar e sustentar o ser integral

A vida sadia se mostra pelo impulso criativo O brincar eacute um instrumento

da criatividade sediado na ldquoaacuterea intermediaacuteriardquo (entre as artes e o luacutedico)

sustentado em seus primoacuterdios pela ldquomatildee suficientemente boardquo direcionado agrave

busca do ldquoEu (Self) Sobre a importacircncia das cantigas de roda nesta busca

podemos ler as contribuiccedilotildees de Millecco filho e outros (2001p44)

As cantigas de roda datildeo continuidade ao trabalho

de elaboraccedilatildeo de conflitos e agrave estrutura da pessoa

em desenvolvimento iniciado com os acalantos

() A roda aparece como uma representaccedilatildeo da

mandala expressatildeo geomeacutetrica do Self

11 Recolhido atraveacutes da cultura oral

35

A letra da muacutesica infantil ldquoa canoa virourdquo expotildee um problema e supotildee

uma soluccedilatildeo hipoteacutetica

A CANOA VIROU(folclore)12

A canoa virou vou deixar ela virar

Foi por causa da Maria que natildeo soube remar

Ah se eu fosse peixinho e soubesse nadar

Eu tirava a Marialaacute do fundo do mar

A accedilatildeo terapecircutica deve ser um modo de auxiliar uma pessoa a

vir a ser o que ela eacute capaz de ser O psicomotricista atua como facilitador no

desenvolvimento do potencial existente no sujeito Numa maternagem

suficientemente boa como fala Winnicott o psicomotricista relacional torna-se um

companheiro de jornada para as atitudes luacutedicas do seu paciente

As medidas de afeto e limites saudaacuteveis agraves necessidades do outro

devem ser reconhecidas e valorizadas Eacute o que se vecirc nas colocaccedilotildees de Winnicott

(1975p63) ldquoEm outros termos eacute a brincadeira que eacute universal e que eacute proacutepria da

sauacutede o brincar facilita o crescimento e portanto a sauacutede o brincar conduz aos

relacionamentos grupais o brincar pode ser uma forma de comunicaccedilatildeo na

psicoterapia()rdquo

12 MARTINS Armando OPCITp110

36

Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e

estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que

haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila

acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas

Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a

brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre

MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR

VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR

Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o

aprender com a danccedila do outro

ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

13 Recolhido atraveacutes da cultura oral

37

Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons

e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os

brinquedos cantados

5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE

Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma

nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o

corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se

utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia

e da linguumliacutestica

No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua

expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a

existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto

O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que

encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e

motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros

Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando

fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar

gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil

38

ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14

Eacute bom cantar eacute bom ouvir

Eacute bom pensar eacute bom sentir

Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor

Viajar dentro de si pra poder se descobrir

51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE

A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso

meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da

psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu

corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)

O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico

(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes

concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo

ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a

palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas

que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que

quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do

latim Corpusque significa tecido de membros envoltura

da alma embriatildeo do espiacuterito

14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000

39

Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na

Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto

que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo

cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a

motricidade com a inteligecircncia

Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam

em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento

humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o

movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila

De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de

segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio

Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se

no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo

de Guilman

O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num

corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo

toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico

emocional(Levin opcit)

O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor

Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em

movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica

40

psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre

outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da

pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de

Levin(opcit)

Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor

podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor

ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento

Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o

sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem

tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco

podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade

eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)

52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA

A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o

seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins

pedagoacutegicos (Levy2000)

A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se

do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos

transtornos evidenciados (Coste1992)

A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a

41

afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja

o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade

do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting

psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais

uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si

mesmo uma terapiardquo

As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas

psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema

corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade

Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo

estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees

cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito

As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de

algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A

coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar

pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos

dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para

andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes

visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a

existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa

caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc

No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a

42

primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave

vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos

cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas

psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a

expressividade e a emoccedilatildeo

O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas

psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se

confirmar por exemplo para treinar a escrita

As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar

iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da

brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo

dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da

cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas

pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar

Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora

relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de

cada uma delas

43

53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE

Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os

acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte

afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe

o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo

e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do

acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si

mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a

busca do eu (Self)

O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos

cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a

partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes

acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de

interesse da populaccedilatildeo pesquisada

Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil

geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo

continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em

desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza

simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos

conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo

44

As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia

cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o

relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano

infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a

Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda

assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia

oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria

soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo

Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as

com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da

referida estrutura

Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos

integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos

grandes segmentos (Coste1992)

Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro

expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo

corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a

habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa

O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se

movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os

movimentos enquanto observam os amigos

45

BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

Os braccedilos pra cima e pra baixo

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

As pernas pra frente e pra traacutes

Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo

preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo

motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada

diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do

grafismo (Coste1992)

A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas

brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as

palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a

crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos

Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos

fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca

do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes

15 Recolhido atraveacutes da cultura oral

46

das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa

de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas

ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16

123 indiozinhos 456 indiozinhos

789 indiozinhos 10 num pequeno bote

Vinham navegando pelo rio abaixo

Quando o jacareacute se aproximou

E o pequeno bote dos indiozinhos

Quase quase virou quase quase virou

mas natildeo virou

Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo

ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam

internas ou externas (Levin2001)

A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e

apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as

crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do

corpo que deseja mostrar

ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17

Cabeccedila ombro joelho e peacute

Joelho e peacute joelho e peacute

Olhos boca orelha e nariz

Orelha e nariz orelha e nariz

16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral

47

Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O

equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute

relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)

Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de

amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o

personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca

instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma

perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal

traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal

ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca o pandeirotoca como ele soacute

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca violatildeo toca como ele soacute

Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao

tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir

da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do

aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala

dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da

vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza

18 Recolhido atraveacutes da cultura oral

48

Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila

seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um

personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular

correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e

volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem

seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam

ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19

Anda anda anda macaquinho

Anda anda anda sem parar

Pula pula pula macaquinho

Pula pula pula ateacute cansar

Corre corre corre macaquinho

Corre corre corre sem parar

Deita deita deita macaquinho

Deita deita deita dorme ateacute sonhar

Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu

desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e

relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do

mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)

Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira

19 Recolhido atraveacutes da cultura oral

49

traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo

espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a

noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo

vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento

O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e

rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos

de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra

frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente

e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da

roda virem periquitos tambeacutem

Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem

no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras

visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas

ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20

Periquito periquito parece com papa

Periquito periquito parece com papa

Por baixo por cima pra frente e pra traacutes

Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo

ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo

temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a

20 Recolhido atraveacutes da cultura oral

50

estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus

movimentos e se organiza na vida cotidiana

Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo

que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo

humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre

ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos

acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo

A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da

chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo

dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio

ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21

A janelinha fecha quando estaacute chovendo

A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo

Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute

Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute

Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os

centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e

contralaterais (Coste1992)

21 Recolhido atraveacutes da cultura oral

51

A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento

psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e

assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute

organizada e natildeo mudaraacute mais

Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os

peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a

conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo

grupo disposto em roda

ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22

Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora

Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora

Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock

Assim eacute bem melhor

( e assim por diante com as demais partes do corpo)

Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o

modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder

apud Coste(1992)

A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a

organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo

mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do

22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57

52

desejo da matildee

A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan

apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros

tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e

de diferenccedila (ibid)

Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o

ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na

constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo

desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A

psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade

poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A

citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo

O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de

identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria

de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do

lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que

eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim

constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute

poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo

o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)

53

Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia

corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber

possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver

As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a

expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente

Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar

cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de

construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza

pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem

corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter

fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de

cantar danccedilar e brincar

54

ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23

Minha boneca de lata

Bateu com a cabeccedila no chatildeo

Levou mais de uma hora

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui pra ficar boa

Minha boneca de lata

Bateu com o pescoccedilo no chatildeo

Levou mais de duas horas

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui desamassa aqui

Pra ficar boa

Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho

o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do

corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez

horas de arrumaccedilatildeo propostas

23 Recolhido atraveacutes da cultura oral

55

6CONCLUSAtildeO

Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-

se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse

infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar

Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a

relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas

cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo

permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os

estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e

que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo

Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de

winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do

ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos

como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica

Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de

conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos

Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade

que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se

pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos

sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu

ldquoafetordquo

56

Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a

psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir

expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer

Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia

para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a

socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte

aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o

desenvolvimento das estruturas psicomotoras

Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a

essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado

pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando

o prazer de brincar cantar e ser feliz

57

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WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975

Page 25: Brinquedos Cantados Na Psicomotricidade

24

O pensamento infantil encontrado entre os 2 e 7 anos de idade eacute

egocentrado A visatildeo da realidade eacute centrada no ponto de vista do proacuteprio sujeito

sendo este incapaz de relacionaacute-lo ou de coordenaacute-lo a pontos de vistas diferentes

do seu

A aquisiccedilatildeo da linguagem tem destaque nesta fase e coincide com a

formaccedilatildeo do jogo simboacutelico que melhor se manifesta no jogo do faz-de-conta

Atraveacutes do que discute Ferreira I (1994p43) ldquoOs siacutembolos podem ser

socializados como os brinquedos coletivos e se tornar um siacutembolo coletivordquo

confirma-se mais uma vez que os estes elementos apresentam extrema valorizaccedilatildeo

soacutecio-afetiva e cultural Com a ludicidade que lhe eacute peculiar os brinquedos

cantados nesta fase encantam ensinam desenvolvem a memoacuteria a auto estima

o esquema corporal a imagem corporal a Coordenaccedilatildeo Motora a socializaccedilatildeo

entre outras funccedilotildees essenciais agrave formaccedilatildeo dos pequenos Eis um bom exemplo

O GIGANTE E O ANAtildeO(autor desconhecido)7

O peacute do gigante eacute grande

Do anatildeo pequenininho

O gigante pisa forte

O anatildeo pisa mansinho

O gigante fala grosso

O anatildeo fala fininho

Porque gigante come muito

E o anatildeo come pouquinho

7 Recolhido atraveacutes da cultura oral

25

Pensamento Intuitivo (4 agrave 7 anos) Subdividido em Intuitivo Simples e Intuitivo

Articulado eacute um estaacutegio marcado pela crescente formaccedilatildeo de conceitos O

pensamento intuitivo eacute uma espeacutecie de accedilatildeo executada em pensamento encaixar

seriar deslocar etc

A crianccedila no intuitivo simples representa mentalmente assimila e entende

o mundo real poreacutem de forma limitada pois soacute consegue coordenar um uacutenico

ponto de vista com base nas aparecircncias do que vecirc Centrado em si mesmo natildeo

admite a reversibilidade falta-lhe ainda a noccedilatildeo de conservaccedilatildeo das substacircncias

Quando se pede agrave crianccedila para desenhar ela desenha o que sabe e natildeo

o que vecirc Este egocentrismo que lhe eacute peculiar deveraacute evoluir para a

descentraccedilatildeo bem como haveraacute progressos nas diversas etapas cognitivas

(classificar seriar etc) Ao final do pensamento intuitivo articulado a crianccedila

comeccedila a levantar duacutevidas e questionamentos percebendo a mobilidade das

situaccedilotildees

ldquoA BARATArdquo(folclore)8

A barata diz que tem 7 saias de filoacute

Eacute mentira da barata ela tem eacute uma soacute

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute

A barata diz que tem um anel de formatura

Eacute mentira da barata ela tem eacute casca dura

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura

8 PAIVA Ione Maria R de OPCITp80

26

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura

A barata diz que dorme numa cama de cetim

Eacute mentira da barata ela dorme eacute no capim

Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim

Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim

Na muacutesica da barata as crianccedilas ironizam a tentativa de mentir deste

inseto A propoacutesito das ldquomentirinhasrdquo contidas nas brincadeiras infantis funcionam

como passaporte para a experimentaccedilatildeo do que eacute verdadeiro e real As palavras

de cascudo(1988p491) discorrem sobre os deslimites da mentira ldquoAs estoacuterias

mentirosas() satildeo muito populares e constituem um gecircnero especial onde a

imaginaccedilatildeo exagerada e livre se liberta dos limites da loacutegicardquo Acredita-se que as

crianccedilas exigem a verdade para terem o domiacutenio do que aprendem

33OS JOGOS POR PIAGET

ldquoPiaget vecirc no jogo um processo de ajuda ao desenvolvimento da crianccedila

acompanha-a sendo ao mesmo tempo uma atividade consequumlente de seu proacuteprio

crescimentordquo(Negrine1994p45) A leitura dos jogos em Piaget acompanha o

desenvolvimento integral do homem a inteligecircncia a afetividade a motricidade e a

sociabilidade satildeo vivenciadas nos jogos sendo a afetividade a funccedilatildeo que constitui

a energia necessaacuteria para a progressatildeo psiacutequica moral intelectual e motora

daquele que joga

Trecircs classificaccedilotildees baacutesicas do jogo satildeo mostradas na teoria

27

psicogeneacutetica de Piaget Jogos de exerciacutecio Jogos simboacutelicos e jogos de regra

Jogos de Exerciacutecio Ou jogos sensoacuterio-motores que aparecem no periacuteodo do

mesmo nome natildeo chegam a constituir sistemas luacutedicos independentes e

construtivos Sua motivaccedilatildeo se daacute pelo prazer funcional ou pelo prazer produzido

pela tomada de consciecircncia de suas novas capacidades

Os jogos motores ou de exerciacutecios satildeo aqueles que envolvem

diretamente a participaccedilatildeo ativa do corpo como um todo inclui-se ainda os jogos

sensoriais que ajudam a desenvolver os oacutergatildeos dos sentidos

A crianccedila nesta fase gosta de brincar com brinquedos que manipula

repetidas vezes explorando toda sua superfiacutecie Brincar de esconder o rosto ou os

objetos atirar e pegar brinquedos eacute prazeroso para a crianccedila ao mesmo tempo

que assimila as noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo

da realidade

Os estiacutemulos sensoriais tambeacutem fazem parte do seu interesse objetos

de diversas cores e texturas brinquedos sonoros muacutesica para ouvir acalentar

danccedilar e brincar desta forma explora o reconhecimento do eu do outro e dos

objetos

O jogo de exerciacutecio eacute o primeiro a aparecer no comportamento da

crianccedila explicitamente do 2ordm ao 5ordm estaacutegio do desenvolvimento sensoacuterio motor por

oposiccedilatildeo ao 6ordm estaacutegio onde se inicia o jogo simboacutelico(Negrine 1994)

28

ATIREI O PAU NO GATO(Folclore)9

Atirei o pau no ga-to-to mas o ga-to-to

Natildeo morreu- rreu- rreu dona chica-ca-ca

Admirou- se se do berro do berro

Do berro que o gato deu Miau

Jogos Simboacutelicos Em princiacutepio do ponto de vista de Piaget a diferenccedila entre os

jogos simboacutelicos e os de exerciacutecio intelectual consiste em que os primeiros se

referem ao pensamento

Os jogos simboacutelicos tem iniacutecio no 6ordm estaacutegio do periacuteodo sensoacuterio-motor

e se continua aproximadamente dos 2 aos 4 anos de idade cronoloacutegica ou do 1ordm

estaacutegio do preacute-operacional(fase simboacutelica) ateacute o iniacutecio do 2ordm estaacutegio do preacuteshy

operacional(fase intuitiva) Piaget apud Negrine(1994p41) deixa claro a

supremacia dos jogos simboacutelicos em detrimento dos anteriores

ldquoO esquema simboacutelico por si mesmo eacute suficiente para

assegurar a superioridade da representaccedilatildeo sobre

uma accedilatildeo pura nesta segundo Piaget o jogo

permite assimilar o mundo exterior ao eu como meio

infinitamente mais poderoso que o de simples exerciacuteciordquo

Como aparecem antes da linguagem verbal propriamente dita os jogos

simboacutelicos satildeo representados nas imagens mentais da crianccedila e vivenciados

atraveacutes dos gestos onomatopeacuteias pelo prazer de brincar com o faz-de-conta

9 MILLLECCO FILHO Luiacutes A e outros OPCIT p43

29

Nesta fase os acalantos vatildeo perdendo sua importacircncia dando lugar agraves

brincadeiras-de-roda os pequenos ao mesmo tempo em que aprendem a falar

aprendem a cantar as brincadeiras-de-roda tem a propriedade de enriquecerem o

repertoacuterio de palavras e movimentos

Jogos de Regras Os jogos de regras natildeo seguem o mesmo itineraacuterio dos

anteriores pois comeccedilam a aparecer na metade do 2ordm estaacutegio do periacuteodo preacuteshy

operacional isto eacute dos 4 aos 7 anos e principalmente no periacuteodo das operaccedilotildees

concretas dos 7 aos 12 anos Pesquisaremos como ocorrem os jogos de regra ateacute

os 7 anos pela delimitaccedilatildeo da populaccedilatildeo que esta monografia abrange

Dos 4 aos 7 anos periacuteodo preacute operacional intuitivo surgem os jogos de

regra que substituiratildeo o siacutembolo e enquadraratildeo o exerciacutecio no momento em que se

constituem de forma incipiente certas relaccedilotildees sociais(Piaget2003)

Com relaccedilatildeo as regras segundo Piaget apud Negrine

(1994p44)distinguem-se dois tipos transmitidas e espontacircneas As regras

transmitidas se referem aos jogos institucionais que se impotildeem por pressatildeo das

geraccedilotildees anteriores As espontacircneas se referem aos jogos de natureza contratual e

momentacircnea isto eacute procedem da socializaccedilatildeo dos jogos de simples exerciacutecios ou

dos simboacutelicos

30

Na cantiga de roda ldquoCiranda cirandinhardquo destaca-se o desenvolvimento

da roda e ao final as regras uma imposta (entrar na roda e dizer um verso) outra

espontacircnea (serve qualquer verso criado na hora ou jaacute existente) Outra versatildeo

desta mesma cantiga para crianccedilas menores pede ldquofaccedila um gesto bem bonito

diga adeus e vaacute se emborardquo A liberdade de criar um gesto verso a importacircncia de

estar no meio da roda como centro das atenccedilotildees e a valorizaccedilatildeo dos

companheiros satildeo o impulso para a espontaneidade e o crescimento da autonomia

do ser

CIRANDA CIRANDINHA(folclore)10

Ciranda cirandinha vamos todos cirandar

Vamos dar a meia volta volta e meia vamos dar

o anel que tu me destes era vidro e se quebrou

o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou

Por isto sinhaacute Maria entre dentro desta roda

Diga um verso bem bonito diga adeus e vaacute se embora

Os conceitos estudados neste capiacutetulo podem orientar sobre o tempo

mental da crianccedila e a possibilidade de oferecer estiacutemulos adequados ao seu

momento Como uma boa buacutessola natildeo conteacutem apenas o norte

10 MARTINS Armando OPCITp105

31

4O BRINCAR E A REALIDADE WINNICOTTEANA

A partir da premissa de que natildeo se pode dividir o ser humano em

classificaccedilotildees bioloacutegicas e psiacutequicas posto que este eacute uma unidade indivisiacutevel

formulou-se apenas para efeitos didaacuteticos no capiacutetulo anteriorum olhar mais

fiacutesico(cognitivo) do desenvolvimento infantil atraveacutes de Piaget Discutir-se-aacute neste

capiacutetulo o ponto de vista Winnicotteano sobre a vida emocional e o brincar

Nos brinquedos cantados a arte de brincar se mistura a arte de cantar e

eacute fazendo ldquoArtesrdquo que a crianccedila dar-se a ver e a crescer A partir deste tema

instigante e universal que eacute o brincar torna-se mais prazeroso ainda falar sobre ele

depois de conhecer os estudos do Drordm Winnicott

D W Winnicott pediatra psicanalista psicoterapeuta inglecircs e defensor

da Ludoterapia nasceu no comeccedilo do seacuteculo 20 produzindo uma vasta obra

cientiacutefica ateacute os anos 70 quando nos deixou Em seu livro ldquoO Brincar e

Realidaderdquo(1975) se preocupou com os primoacuterdios da vida imaginativa da

experiecircncia cultural em todos os sentidos da relaccedilatildeo das artes com o brincar e da

criatividade

Neste momento parece relevante abordar alguns dos conceitos teoacutericos

do DrordmWinnicott atraveacutes da obra mencionada pelo suporte que podem

proporcionar agrave compreensatildeo da vida psiacutequica mediante o brincar e a terapia Em

32

Conceitos e contornos ilustrar-se-aacute o Objeto transicional Fenocircmeno transicional

Matildee suficientemente boa Aacuterea intermediaacuteria e o Eu(Self) circundando a

importacircncia destes conceitos em relaccedilatildeo aos brinquedos cantados e sua aplicaccedilatildeo

na cliacutenica psicomotora

41CONCEITOS E CONTORNOS

Objeto Transicional Eacute o objeto concreto relativo agrave exploraccedilatildeo pulsional (descarga

impulsiva) do sujeito por exemplo uma boneca ou um carrinho

Fenocircmeno Transicional Satildeo as accedilotildees relativas agrave exploraccedilatildeo pulsional ou o uso

que se faz dos objetos transicionais Ex Um carrinho pode ser acalentado como se

fosse um bebecirc

Matildee Suficientemente Boa Pessoa que ocupa o lugar de suporte afetivo no

desenvolvimento global da crianccedila tambeacutem associada por ele a figura do

terapeuta

Em outras palavras o amor da matildee ou do terapeuta

natildeo significaria apenas um atendimento agraves necessidades

da dependecircncia mas vem a significar a concessatildeo

de oportunidades que permita ao bebecirc ou ao paciente

passar da dependecircncia para a autonomia

(Winnicott1975p150)

33

Aacuterea Intermediaacuteria Aacuterea neutra de experimentaccedilatildeo vivencial entre as realidades

internas e externas do sujeito que favorece a dialeacutetica do brincar e das artes O

dito autor parece supor um espaccedilo de refuacutegio para a resoluccedilatildeo dos conflitos

humanos Eis aqui a referecircncia para tal colocaccedilatildeo

Presume-se aqui que a tarefa de aceitaccedilatildeo da realidade

nunca eacute completada que nenhum ser humano estaacute livre

da tensatildeo de relacionar a realidade interna e externa e

que o aliacutevio dessa tensatildeo eacute proporcionado por uma aacuterea

intermediaacuteria de experiecircncia(cf Riviere1936) que natildeo eacute

contestada (artes religiatildeo etc) Essa aacuterea intermediaacuteria

estaacute em continuidade direta com a aacuterea do brincar da

crianccedila pequena que se ldquoperderdquo no brincar

(Winnicottopcitp29)

A princiacutepio eacute difiacutecil falar dos brinquedos cantados como objetos

transicionais (concretos) porque natildeo satildeo exatamente vistos a olhos nus embora

sejam audiacuteveis Todavia qualquer muacutesico pode escrever em uma partitura o

brinquedo cantado (concreto e cantaacutevel) para tornaacute-lo visiacutevel

O ato de cantar uma muacutesica de roda ou um acalanto jaacute eacute a traduccedilatildeo do

fenocircmeno transicional Dar-se-aacute o uso que quiser a este brinquedo cantado no

momento de sua realizaccedilatildeo Se uma muacutesica de ninar for entoada com raiva ou

brutalidade eacute certo que traraacute temores ao bebecirc e natildeo o conforto a que se prestaria

Acalantos com este do ldquobicho papatildeordquo expotildee o perigo e propotildee acolhida pela

proteccedilatildeo materna

34

ldquoBICHO PAPAtildeO(folclore)11

Bicho Papatildeo sai de cima do telhado

Deixe o menino dormir sossegado

O Eu (Self) O Eu (Self) eacute o eu integral descrito por Winnicott(1975) em sua mais

pura essecircncia um eu que nasce na liberdade de expressatildeo na confianccedila baseada

nas experiecircncias vividas no suporte dos sentimentos Para este autor certas

condiccedilotildees se fazem necessaacuterias na busca do Eu (Self) eacute o que se chama de

criatividade A criatividade pode defraglar e sustentar o ser integral

A vida sadia se mostra pelo impulso criativo O brincar eacute um instrumento

da criatividade sediado na ldquoaacuterea intermediaacuteriardquo (entre as artes e o luacutedico)

sustentado em seus primoacuterdios pela ldquomatildee suficientemente boardquo direcionado agrave

busca do ldquoEu (Self) Sobre a importacircncia das cantigas de roda nesta busca

podemos ler as contribuiccedilotildees de Millecco filho e outros (2001p44)

As cantigas de roda datildeo continuidade ao trabalho

de elaboraccedilatildeo de conflitos e agrave estrutura da pessoa

em desenvolvimento iniciado com os acalantos

() A roda aparece como uma representaccedilatildeo da

mandala expressatildeo geomeacutetrica do Self

11 Recolhido atraveacutes da cultura oral

35

A letra da muacutesica infantil ldquoa canoa virourdquo expotildee um problema e supotildee

uma soluccedilatildeo hipoteacutetica

A CANOA VIROU(folclore)12

A canoa virou vou deixar ela virar

Foi por causa da Maria que natildeo soube remar

Ah se eu fosse peixinho e soubesse nadar

Eu tirava a Marialaacute do fundo do mar

A accedilatildeo terapecircutica deve ser um modo de auxiliar uma pessoa a

vir a ser o que ela eacute capaz de ser O psicomotricista atua como facilitador no

desenvolvimento do potencial existente no sujeito Numa maternagem

suficientemente boa como fala Winnicott o psicomotricista relacional torna-se um

companheiro de jornada para as atitudes luacutedicas do seu paciente

As medidas de afeto e limites saudaacuteveis agraves necessidades do outro

devem ser reconhecidas e valorizadas Eacute o que se vecirc nas colocaccedilotildees de Winnicott

(1975p63) ldquoEm outros termos eacute a brincadeira que eacute universal e que eacute proacutepria da

sauacutede o brincar facilita o crescimento e portanto a sauacutede o brincar conduz aos

relacionamentos grupais o brincar pode ser uma forma de comunicaccedilatildeo na

psicoterapia()rdquo

12 MARTINS Armando OPCITp110

36

Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e

estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que

haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila

acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas

Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a

brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre

MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR

VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR

Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o

aprender com a danccedila do outro

ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

13 Recolhido atraveacutes da cultura oral

37

Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons

e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os

brinquedos cantados

5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE

Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma

nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o

corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se

utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia

e da linguumliacutestica

No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua

expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a

existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto

O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que

encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e

motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros

Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando

fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar

gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil

38

ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14

Eacute bom cantar eacute bom ouvir

Eacute bom pensar eacute bom sentir

Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor

Viajar dentro de si pra poder se descobrir

51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE

A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso

meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da

psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu

corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)

O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico

(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes

concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo

ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a

palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas

que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que

quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do

latim Corpusque significa tecido de membros envoltura

da alma embriatildeo do espiacuterito

14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000

39

Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na

Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto

que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo

cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a

motricidade com a inteligecircncia

Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam

em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento

humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o

movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila

De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de

segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio

Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se

no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo

de Guilman

O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num

corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo

toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico

emocional(Levin opcit)

O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor

Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em

movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica

40

psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre

outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da

pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de

Levin(opcit)

Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor

podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor

ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento

Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o

sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem

tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco

podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade

eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)

52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA

A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o

seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins

pedagoacutegicos (Levy2000)

A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se

do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos

transtornos evidenciados (Coste1992)

A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a

41

afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja

o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade

do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting

psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais

uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si

mesmo uma terapiardquo

As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas

psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema

corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade

Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo

estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees

cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito

As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de

algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A

coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar

pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos

dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para

andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes

visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a

existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa

caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc

No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a

42

primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave

vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos

cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas

psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a

expressividade e a emoccedilatildeo

O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas

psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se

confirmar por exemplo para treinar a escrita

As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar

iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da

brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo

dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da

cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas

pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar

Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora

relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de

cada uma delas

43

53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE

Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os

acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte

afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe

o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo

e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do

acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si

mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a

busca do eu (Self)

O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos

cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a

partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes

acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de

interesse da populaccedilatildeo pesquisada

Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil

geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo

continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em

desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza

simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos

conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo

44

As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia

cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o

relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano

infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a

Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda

assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia

oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria

soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo

Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as

com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da

referida estrutura

Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos

integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos

grandes segmentos (Coste1992)

Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro

expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo

corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a

habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa

O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se

movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os

movimentos enquanto observam os amigos

45

BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

Os braccedilos pra cima e pra baixo

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

As pernas pra frente e pra traacutes

Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo

preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo

motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada

diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do

grafismo (Coste1992)

A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas

brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as

palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a

crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos

Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos

fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca

do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes

15 Recolhido atraveacutes da cultura oral

46

das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa

de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas

ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16

123 indiozinhos 456 indiozinhos

789 indiozinhos 10 num pequeno bote

Vinham navegando pelo rio abaixo

Quando o jacareacute se aproximou

E o pequeno bote dos indiozinhos

Quase quase virou quase quase virou

mas natildeo virou

Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo

ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam

internas ou externas (Levin2001)

A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e

apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as

crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do

corpo que deseja mostrar

ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17

Cabeccedila ombro joelho e peacute

Joelho e peacute joelho e peacute

Olhos boca orelha e nariz

Orelha e nariz orelha e nariz

16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral

47

Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O

equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute

relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)

Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de

amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o

personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca

instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma

perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal

traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal

ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca o pandeirotoca como ele soacute

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca violatildeo toca como ele soacute

Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao

tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir

da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do

aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala

dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da

vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza

18 Recolhido atraveacutes da cultura oral

48

Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila

seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um

personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular

correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e

volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem

seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam

ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19

Anda anda anda macaquinho

Anda anda anda sem parar

Pula pula pula macaquinho

Pula pula pula ateacute cansar

Corre corre corre macaquinho

Corre corre corre sem parar

Deita deita deita macaquinho

Deita deita deita dorme ateacute sonhar

Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu

desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e

relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do

mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)

Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira

19 Recolhido atraveacutes da cultura oral

49

traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo

espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a

noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo

vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento

O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e

rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos

de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra

frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente

e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da

roda virem periquitos tambeacutem

Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem

no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras

visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas

ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20

Periquito periquito parece com papa

Periquito periquito parece com papa

Por baixo por cima pra frente e pra traacutes

Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo

ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo

temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a

20 Recolhido atraveacutes da cultura oral

50

estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus

movimentos e se organiza na vida cotidiana

Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo

que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo

humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre

ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos

acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo

A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da

chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo

dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio

ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21

A janelinha fecha quando estaacute chovendo

A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo

Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute

Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute

Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os

centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e

contralaterais (Coste1992)

21 Recolhido atraveacutes da cultura oral

51

A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento

psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e

assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute

organizada e natildeo mudaraacute mais

Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os

peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a

conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo

grupo disposto em roda

ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22

Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora

Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora

Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock

Assim eacute bem melhor

( e assim por diante com as demais partes do corpo)

Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o

modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder

apud Coste(1992)

A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a

organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo

mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do

22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57

52

desejo da matildee

A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan

apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros

tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e

de diferenccedila (ibid)

Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o

ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na

constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo

desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A

psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade

poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A

citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo

O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de

identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria

de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do

lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que

eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim

constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute

poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo

o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)

53

Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia

corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber

possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver

As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a

expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente

Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar

cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de

construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza

pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem

corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter

fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de

cantar danccedilar e brincar

54

ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23

Minha boneca de lata

Bateu com a cabeccedila no chatildeo

Levou mais de uma hora

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui pra ficar boa

Minha boneca de lata

Bateu com o pescoccedilo no chatildeo

Levou mais de duas horas

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui desamassa aqui

Pra ficar boa

Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho

o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do

corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez

horas de arrumaccedilatildeo propostas

23 Recolhido atraveacutes da cultura oral

55

6CONCLUSAtildeO

Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-

se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse

infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar

Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a

relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas

cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo

permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os

estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e

que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo

Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de

winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do

ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos

como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica

Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de

conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos

Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade

que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se

pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos

sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu

ldquoafetordquo

56

Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a

psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir

expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer

Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia

para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a

socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte

aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o

desenvolvimento das estruturas psicomotoras

Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a

essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado

pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando

o prazer de brincar cantar e ser feliz

57

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WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975

Page 26: Brinquedos Cantados Na Psicomotricidade

25

Pensamento Intuitivo (4 agrave 7 anos) Subdividido em Intuitivo Simples e Intuitivo

Articulado eacute um estaacutegio marcado pela crescente formaccedilatildeo de conceitos O

pensamento intuitivo eacute uma espeacutecie de accedilatildeo executada em pensamento encaixar

seriar deslocar etc

A crianccedila no intuitivo simples representa mentalmente assimila e entende

o mundo real poreacutem de forma limitada pois soacute consegue coordenar um uacutenico

ponto de vista com base nas aparecircncias do que vecirc Centrado em si mesmo natildeo

admite a reversibilidade falta-lhe ainda a noccedilatildeo de conservaccedilatildeo das substacircncias

Quando se pede agrave crianccedila para desenhar ela desenha o que sabe e natildeo

o que vecirc Este egocentrismo que lhe eacute peculiar deveraacute evoluir para a

descentraccedilatildeo bem como haveraacute progressos nas diversas etapas cognitivas

(classificar seriar etc) Ao final do pensamento intuitivo articulado a crianccedila

comeccedila a levantar duacutevidas e questionamentos percebendo a mobilidade das

situaccedilotildees

ldquoA BARATArdquo(folclore)8

A barata diz que tem 7 saias de filoacute

Eacute mentira da barata ela tem eacute uma soacute

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute

A barata diz que tem um anel de formatura

Eacute mentira da barata ela tem eacute casca dura

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura

8 PAIVA Ione Maria R de OPCITp80

26

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura

A barata diz que dorme numa cama de cetim

Eacute mentira da barata ela dorme eacute no capim

Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim

Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim

Na muacutesica da barata as crianccedilas ironizam a tentativa de mentir deste

inseto A propoacutesito das ldquomentirinhasrdquo contidas nas brincadeiras infantis funcionam

como passaporte para a experimentaccedilatildeo do que eacute verdadeiro e real As palavras

de cascudo(1988p491) discorrem sobre os deslimites da mentira ldquoAs estoacuterias

mentirosas() satildeo muito populares e constituem um gecircnero especial onde a

imaginaccedilatildeo exagerada e livre se liberta dos limites da loacutegicardquo Acredita-se que as

crianccedilas exigem a verdade para terem o domiacutenio do que aprendem

33OS JOGOS POR PIAGET

ldquoPiaget vecirc no jogo um processo de ajuda ao desenvolvimento da crianccedila

acompanha-a sendo ao mesmo tempo uma atividade consequumlente de seu proacuteprio

crescimentordquo(Negrine1994p45) A leitura dos jogos em Piaget acompanha o

desenvolvimento integral do homem a inteligecircncia a afetividade a motricidade e a

sociabilidade satildeo vivenciadas nos jogos sendo a afetividade a funccedilatildeo que constitui

a energia necessaacuteria para a progressatildeo psiacutequica moral intelectual e motora

daquele que joga

Trecircs classificaccedilotildees baacutesicas do jogo satildeo mostradas na teoria

27

psicogeneacutetica de Piaget Jogos de exerciacutecio Jogos simboacutelicos e jogos de regra

Jogos de Exerciacutecio Ou jogos sensoacuterio-motores que aparecem no periacuteodo do

mesmo nome natildeo chegam a constituir sistemas luacutedicos independentes e

construtivos Sua motivaccedilatildeo se daacute pelo prazer funcional ou pelo prazer produzido

pela tomada de consciecircncia de suas novas capacidades

Os jogos motores ou de exerciacutecios satildeo aqueles que envolvem

diretamente a participaccedilatildeo ativa do corpo como um todo inclui-se ainda os jogos

sensoriais que ajudam a desenvolver os oacutergatildeos dos sentidos

A crianccedila nesta fase gosta de brincar com brinquedos que manipula

repetidas vezes explorando toda sua superfiacutecie Brincar de esconder o rosto ou os

objetos atirar e pegar brinquedos eacute prazeroso para a crianccedila ao mesmo tempo

que assimila as noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo

da realidade

Os estiacutemulos sensoriais tambeacutem fazem parte do seu interesse objetos

de diversas cores e texturas brinquedos sonoros muacutesica para ouvir acalentar

danccedilar e brincar desta forma explora o reconhecimento do eu do outro e dos

objetos

O jogo de exerciacutecio eacute o primeiro a aparecer no comportamento da

crianccedila explicitamente do 2ordm ao 5ordm estaacutegio do desenvolvimento sensoacuterio motor por

oposiccedilatildeo ao 6ordm estaacutegio onde se inicia o jogo simboacutelico(Negrine 1994)

28

ATIREI O PAU NO GATO(Folclore)9

Atirei o pau no ga-to-to mas o ga-to-to

Natildeo morreu- rreu- rreu dona chica-ca-ca

Admirou- se se do berro do berro

Do berro que o gato deu Miau

Jogos Simboacutelicos Em princiacutepio do ponto de vista de Piaget a diferenccedila entre os

jogos simboacutelicos e os de exerciacutecio intelectual consiste em que os primeiros se

referem ao pensamento

Os jogos simboacutelicos tem iniacutecio no 6ordm estaacutegio do periacuteodo sensoacuterio-motor

e se continua aproximadamente dos 2 aos 4 anos de idade cronoloacutegica ou do 1ordm

estaacutegio do preacute-operacional(fase simboacutelica) ateacute o iniacutecio do 2ordm estaacutegio do preacuteshy

operacional(fase intuitiva) Piaget apud Negrine(1994p41) deixa claro a

supremacia dos jogos simboacutelicos em detrimento dos anteriores

ldquoO esquema simboacutelico por si mesmo eacute suficiente para

assegurar a superioridade da representaccedilatildeo sobre

uma accedilatildeo pura nesta segundo Piaget o jogo

permite assimilar o mundo exterior ao eu como meio

infinitamente mais poderoso que o de simples exerciacuteciordquo

Como aparecem antes da linguagem verbal propriamente dita os jogos

simboacutelicos satildeo representados nas imagens mentais da crianccedila e vivenciados

atraveacutes dos gestos onomatopeacuteias pelo prazer de brincar com o faz-de-conta

9 MILLLECCO FILHO Luiacutes A e outros OPCIT p43

29

Nesta fase os acalantos vatildeo perdendo sua importacircncia dando lugar agraves

brincadeiras-de-roda os pequenos ao mesmo tempo em que aprendem a falar

aprendem a cantar as brincadeiras-de-roda tem a propriedade de enriquecerem o

repertoacuterio de palavras e movimentos

Jogos de Regras Os jogos de regras natildeo seguem o mesmo itineraacuterio dos

anteriores pois comeccedilam a aparecer na metade do 2ordm estaacutegio do periacuteodo preacuteshy

operacional isto eacute dos 4 aos 7 anos e principalmente no periacuteodo das operaccedilotildees

concretas dos 7 aos 12 anos Pesquisaremos como ocorrem os jogos de regra ateacute

os 7 anos pela delimitaccedilatildeo da populaccedilatildeo que esta monografia abrange

Dos 4 aos 7 anos periacuteodo preacute operacional intuitivo surgem os jogos de

regra que substituiratildeo o siacutembolo e enquadraratildeo o exerciacutecio no momento em que se

constituem de forma incipiente certas relaccedilotildees sociais(Piaget2003)

Com relaccedilatildeo as regras segundo Piaget apud Negrine

(1994p44)distinguem-se dois tipos transmitidas e espontacircneas As regras

transmitidas se referem aos jogos institucionais que se impotildeem por pressatildeo das

geraccedilotildees anteriores As espontacircneas se referem aos jogos de natureza contratual e

momentacircnea isto eacute procedem da socializaccedilatildeo dos jogos de simples exerciacutecios ou

dos simboacutelicos

30

Na cantiga de roda ldquoCiranda cirandinhardquo destaca-se o desenvolvimento

da roda e ao final as regras uma imposta (entrar na roda e dizer um verso) outra

espontacircnea (serve qualquer verso criado na hora ou jaacute existente) Outra versatildeo

desta mesma cantiga para crianccedilas menores pede ldquofaccedila um gesto bem bonito

diga adeus e vaacute se emborardquo A liberdade de criar um gesto verso a importacircncia de

estar no meio da roda como centro das atenccedilotildees e a valorizaccedilatildeo dos

companheiros satildeo o impulso para a espontaneidade e o crescimento da autonomia

do ser

CIRANDA CIRANDINHA(folclore)10

Ciranda cirandinha vamos todos cirandar

Vamos dar a meia volta volta e meia vamos dar

o anel que tu me destes era vidro e se quebrou

o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou

Por isto sinhaacute Maria entre dentro desta roda

Diga um verso bem bonito diga adeus e vaacute se embora

Os conceitos estudados neste capiacutetulo podem orientar sobre o tempo

mental da crianccedila e a possibilidade de oferecer estiacutemulos adequados ao seu

momento Como uma boa buacutessola natildeo conteacutem apenas o norte

10 MARTINS Armando OPCITp105

31

4O BRINCAR E A REALIDADE WINNICOTTEANA

A partir da premissa de que natildeo se pode dividir o ser humano em

classificaccedilotildees bioloacutegicas e psiacutequicas posto que este eacute uma unidade indivisiacutevel

formulou-se apenas para efeitos didaacuteticos no capiacutetulo anteriorum olhar mais

fiacutesico(cognitivo) do desenvolvimento infantil atraveacutes de Piaget Discutir-se-aacute neste

capiacutetulo o ponto de vista Winnicotteano sobre a vida emocional e o brincar

Nos brinquedos cantados a arte de brincar se mistura a arte de cantar e

eacute fazendo ldquoArtesrdquo que a crianccedila dar-se a ver e a crescer A partir deste tema

instigante e universal que eacute o brincar torna-se mais prazeroso ainda falar sobre ele

depois de conhecer os estudos do Drordm Winnicott

D W Winnicott pediatra psicanalista psicoterapeuta inglecircs e defensor

da Ludoterapia nasceu no comeccedilo do seacuteculo 20 produzindo uma vasta obra

cientiacutefica ateacute os anos 70 quando nos deixou Em seu livro ldquoO Brincar e

Realidaderdquo(1975) se preocupou com os primoacuterdios da vida imaginativa da

experiecircncia cultural em todos os sentidos da relaccedilatildeo das artes com o brincar e da

criatividade

Neste momento parece relevante abordar alguns dos conceitos teoacutericos

do DrordmWinnicott atraveacutes da obra mencionada pelo suporte que podem

proporcionar agrave compreensatildeo da vida psiacutequica mediante o brincar e a terapia Em

32

Conceitos e contornos ilustrar-se-aacute o Objeto transicional Fenocircmeno transicional

Matildee suficientemente boa Aacuterea intermediaacuteria e o Eu(Self) circundando a

importacircncia destes conceitos em relaccedilatildeo aos brinquedos cantados e sua aplicaccedilatildeo

na cliacutenica psicomotora

41CONCEITOS E CONTORNOS

Objeto Transicional Eacute o objeto concreto relativo agrave exploraccedilatildeo pulsional (descarga

impulsiva) do sujeito por exemplo uma boneca ou um carrinho

Fenocircmeno Transicional Satildeo as accedilotildees relativas agrave exploraccedilatildeo pulsional ou o uso

que se faz dos objetos transicionais Ex Um carrinho pode ser acalentado como se

fosse um bebecirc

Matildee Suficientemente Boa Pessoa que ocupa o lugar de suporte afetivo no

desenvolvimento global da crianccedila tambeacutem associada por ele a figura do

terapeuta

Em outras palavras o amor da matildee ou do terapeuta

natildeo significaria apenas um atendimento agraves necessidades

da dependecircncia mas vem a significar a concessatildeo

de oportunidades que permita ao bebecirc ou ao paciente

passar da dependecircncia para a autonomia

(Winnicott1975p150)

33

Aacuterea Intermediaacuteria Aacuterea neutra de experimentaccedilatildeo vivencial entre as realidades

internas e externas do sujeito que favorece a dialeacutetica do brincar e das artes O

dito autor parece supor um espaccedilo de refuacutegio para a resoluccedilatildeo dos conflitos

humanos Eis aqui a referecircncia para tal colocaccedilatildeo

Presume-se aqui que a tarefa de aceitaccedilatildeo da realidade

nunca eacute completada que nenhum ser humano estaacute livre

da tensatildeo de relacionar a realidade interna e externa e

que o aliacutevio dessa tensatildeo eacute proporcionado por uma aacuterea

intermediaacuteria de experiecircncia(cf Riviere1936) que natildeo eacute

contestada (artes religiatildeo etc) Essa aacuterea intermediaacuteria

estaacute em continuidade direta com a aacuterea do brincar da

crianccedila pequena que se ldquoperderdquo no brincar

(Winnicottopcitp29)

A princiacutepio eacute difiacutecil falar dos brinquedos cantados como objetos

transicionais (concretos) porque natildeo satildeo exatamente vistos a olhos nus embora

sejam audiacuteveis Todavia qualquer muacutesico pode escrever em uma partitura o

brinquedo cantado (concreto e cantaacutevel) para tornaacute-lo visiacutevel

O ato de cantar uma muacutesica de roda ou um acalanto jaacute eacute a traduccedilatildeo do

fenocircmeno transicional Dar-se-aacute o uso que quiser a este brinquedo cantado no

momento de sua realizaccedilatildeo Se uma muacutesica de ninar for entoada com raiva ou

brutalidade eacute certo que traraacute temores ao bebecirc e natildeo o conforto a que se prestaria

Acalantos com este do ldquobicho papatildeordquo expotildee o perigo e propotildee acolhida pela

proteccedilatildeo materna

34

ldquoBICHO PAPAtildeO(folclore)11

Bicho Papatildeo sai de cima do telhado

Deixe o menino dormir sossegado

O Eu (Self) O Eu (Self) eacute o eu integral descrito por Winnicott(1975) em sua mais

pura essecircncia um eu que nasce na liberdade de expressatildeo na confianccedila baseada

nas experiecircncias vividas no suporte dos sentimentos Para este autor certas

condiccedilotildees se fazem necessaacuterias na busca do Eu (Self) eacute o que se chama de

criatividade A criatividade pode defraglar e sustentar o ser integral

A vida sadia se mostra pelo impulso criativo O brincar eacute um instrumento

da criatividade sediado na ldquoaacuterea intermediaacuteriardquo (entre as artes e o luacutedico)

sustentado em seus primoacuterdios pela ldquomatildee suficientemente boardquo direcionado agrave

busca do ldquoEu (Self) Sobre a importacircncia das cantigas de roda nesta busca

podemos ler as contribuiccedilotildees de Millecco filho e outros (2001p44)

As cantigas de roda datildeo continuidade ao trabalho

de elaboraccedilatildeo de conflitos e agrave estrutura da pessoa

em desenvolvimento iniciado com os acalantos

() A roda aparece como uma representaccedilatildeo da

mandala expressatildeo geomeacutetrica do Self

11 Recolhido atraveacutes da cultura oral

35

A letra da muacutesica infantil ldquoa canoa virourdquo expotildee um problema e supotildee

uma soluccedilatildeo hipoteacutetica

A CANOA VIROU(folclore)12

A canoa virou vou deixar ela virar

Foi por causa da Maria que natildeo soube remar

Ah se eu fosse peixinho e soubesse nadar

Eu tirava a Marialaacute do fundo do mar

A accedilatildeo terapecircutica deve ser um modo de auxiliar uma pessoa a

vir a ser o que ela eacute capaz de ser O psicomotricista atua como facilitador no

desenvolvimento do potencial existente no sujeito Numa maternagem

suficientemente boa como fala Winnicott o psicomotricista relacional torna-se um

companheiro de jornada para as atitudes luacutedicas do seu paciente

As medidas de afeto e limites saudaacuteveis agraves necessidades do outro

devem ser reconhecidas e valorizadas Eacute o que se vecirc nas colocaccedilotildees de Winnicott

(1975p63) ldquoEm outros termos eacute a brincadeira que eacute universal e que eacute proacutepria da

sauacutede o brincar facilita o crescimento e portanto a sauacutede o brincar conduz aos

relacionamentos grupais o brincar pode ser uma forma de comunicaccedilatildeo na

psicoterapia()rdquo

12 MARTINS Armando OPCITp110

36

Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e

estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que

haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila

acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas

Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a

brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre

MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR

VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR

Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o

aprender com a danccedila do outro

ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

13 Recolhido atraveacutes da cultura oral

37

Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons

e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os

brinquedos cantados

5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE

Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma

nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o

corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se

utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia

e da linguumliacutestica

No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua

expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a

existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto

O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que

encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e

motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros

Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando

fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar

gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil

38

ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14

Eacute bom cantar eacute bom ouvir

Eacute bom pensar eacute bom sentir

Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor

Viajar dentro de si pra poder se descobrir

51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE

A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso

meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da

psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu

corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)

O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico

(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes

concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo

ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a

palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas

que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que

quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do

latim Corpusque significa tecido de membros envoltura

da alma embriatildeo do espiacuterito

14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000

39

Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na

Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto

que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo

cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a

motricidade com a inteligecircncia

Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam

em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento

humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o

movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila

De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de

segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio

Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se

no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo

de Guilman

O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num

corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo

toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico

emocional(Levin opcit)

O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor

Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em

movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica

40

psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre

outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da

pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de

Levin(opcit)

Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor

podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor

ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento

Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o

sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem

tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco

podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade

eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)

52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA

A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o

seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins

pedagoacutegicos (Levy2000)

A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se

do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos

transtornos evidenciados (Coste1992)

A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a

41

afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja

o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade

do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting

psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais

uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si

mesmo uma terapiardquo

As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas

psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema

corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade

Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo

estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees

cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito

As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de

algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A

coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar

pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos

dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para

andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes

visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a

existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa

caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc

No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a

42

primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave

vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos

cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas

psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a

expressividade e a emoccedilatildeo

O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas

psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se

confirmar por exemplo para treinar a escrita

As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar

iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da

brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo

dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da

cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas

pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar

Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora

relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de

cada uma delas

43

53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE

Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os

acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte

afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe

o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo

e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do

acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si

mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a

busca do eu (Self)

O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos

cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a

partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes

acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de

interesse da populaccedilatildeo pesquisada

Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil

geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo

continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em

desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza

simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos

conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo

44

As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia

cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o

relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano

infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a

Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda

assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia

oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria

soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo

Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as

com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da

referida estrutura

Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos

integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos

grandes segmentos (Coste1992)

Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro

expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo

corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a

habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa

O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se

movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os

movimentos enquanto observam os amigos

45

BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

Os braccedilos pra cima e pra baixo

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

As pernas pra frente e pra traacutes

Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo

preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo

motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada

diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do

grafismo (Coste1992)

A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas

brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as

palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a

crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos

Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos

fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca

do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes

15 Recolhido atraveacutes da cultura oral

46

das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa

de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas

ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16

123 indiozinhos 456 indiozinhos

789 indiozinhos 10 num pequeno bote

Vinham navegando pelo rio abaixo

Quando o jacareacute se aproximou

E o pequeno bote dos indiozinhos

Quase quase virou quase quase virou

mas natildeo virou

Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo

ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam

internas ou externas (Levin2001)

A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e

apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as

crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do

corpo que deseja mostrar

ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17

Cabeccedila ombro joelho e peacute

Joelho e peacute joelho e peacute

Olhos boca orelha e nariz

Orelha e nariz orelha e nariz

16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral

47

Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O

equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute

relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)

Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de

amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o

personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca

instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma

perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal

traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal

ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca o pandeirotoca como ele soacute

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca violatildeo toca como ele soacute

Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao

tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir

da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do

aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala

dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da

vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza

18 Recolhido atraveacutes da cultura oral

48

Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila

seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um

personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular

correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e

volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem

seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam

ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19

Anda anda anda macaquinho

Anda anda anda sem parar

Pula pula pula macaquinho

Pula pula pula ateacute cansar

Corre corre corre macaquinho

Corre corre corre sem parar

Deita deita deita macaquinho

Deita deita deita dorme ateacute sonhar

Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu

desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e

relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do

mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)

Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira

19 Recolhido atraveacutes da cultura oral

49

traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo

espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a

noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo

vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento

O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e

rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos

de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra

frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente

e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da

roda virem periquitos tambeacutem

Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem

no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras

visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas

ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20

Periquito periquito parece com papa

Periquito periquito parece com papa

Por baixo por cima pra frente e pra traacutes

Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo

ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo

temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a

20 Recolhido atraveacutes da cultura oral

50

estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus

movimentos e se organiza na vida cotidiana

Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo

que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo

humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre

ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos

acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo

A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da

chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo

dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio

ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21

A janelinha fecha quando estaacute chovendo

A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo

Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute

Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute

Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os

centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e

contralaterais (Coste1992)

21 Recolhido atraveacutes da cultura oral

51

A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento

psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e

assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute

organizada e natildeo mudaraacute mais

Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os

peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a

conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo

grupo disposto em roda

ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22

Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora

Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora

Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock

Assim eacute bem melhor

( e assim por diante com as demais partes do corpo)

Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o

modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder

apud Coste(1992)

A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a

organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo

mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do

22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57

52

desejo da matildee

A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan

apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros

tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e

de diferenccedila (ibid)

Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o

ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na

constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo

desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A

psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade

poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A

citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo

O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de

identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria

de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do

lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que

eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim

constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute

poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo

o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)

53

Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia

corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber

possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver

As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a

expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente

Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar

cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de

construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza

pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem

corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter

fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de

cantar danccedilar e brincar

54

ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23

Minha boneca de lata

Bateu com a cabeccedila no chatildeo

Levou mais de uma hora

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui pra ficar boa

Minha boneca de lata

Bateu com o pescoccedilo no chatildeo

Levou mais de duas horas

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui desamassa aqui

Pra ficar boa

Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho

o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do

corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez

horas de arrumaccedilatildeo propostas

23 Recolhido atraveacutes da cultura oral

55

6CONCLUSAtildeO

Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-

se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse

infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar

Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a

relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas

cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo

permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os

estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e

que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo

Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de

winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do

ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos

como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica

Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de

conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos

Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade

que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se

pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos

sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu

ldquoafetordquo

56

Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a

psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir

expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer

Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia

para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a

socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte

aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o

desenvolvimento das estruturas psicomotoras

Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a

essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado

pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando

o prazer de brincar cantar e ser feliz

57

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Page 27: Brinquedos Cantados Na Psicomotricidade

26

Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura

A barata diz que dorme numa cama de cetim

Eacute mentira da barata ela dorme eacute no capim

Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim

Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim

Na muacutesica da barata as crianccedilas ironizam a tentativa de mentir deste

inseto A propoacutesito das ldquomentirinhasrdquo contidas nas brincadeiras infantis funcionam

como passaporte para a experimentaccedilatildeo do que eacute verdadeiro e real As palavras

de cascudo(1988p491) discorrem sobre os deslimites da mentira ldquoAs estoacuterias

mentirosas() satildeo muito populares e constituem um gecircnero especial onde a

imaginaccedilatildeo exagerada e livre se liberta dos limites da loacutegicardquo Acredita-se que as

crianccedilas exigem a verdade para terem o domiacutenio do que aprendem

33OS JOGOS POR PIAGET

ldquoPiaget vecirc no jogo um processo de ajuda ao desenvolvimento da crianccedila

acompanha-a sendo ao mesmo tempo uma atividade consequumlente de seu proacuteprio

crescimentordquo(Negrine1994p45) A leitura dos jogos em Piaget acompanha o

desenvolvimento integral do homem a inteligecircncia a afetividade a motricidade e a

sociabilidade satildeo vivenciadas nos jogos sendo a afetividade a funccedilatildeo que constitui

a energia necessaacuteria para a progressatildeo psiacutequica moral intelectual e motora

daquele que joga

Trecircs classificaccedilotildees baacutesicas do jogo satildeo mostradas na teoria

27

psicogeneacutetica de Piaget Jogos de exerciacutecio Jogos simboacutelicos e jogos de regra

Jogos de Exerciacutecio Ou jogos sensoacuterio-motores que aparecem no periacuteodo do

mesmo nome natildeo chegam a constituir sistemas luacutedicos independentes e

construtivos Sua motivaccedilatildeo se daacute pelo prazer funcional ou pelo prazer produzido

pela tomada de consciecircncia de suas novas capacidades

Os jogos motores ou de exerciacutecios satildeo aqueles que envolvem

diretamente a participaccedilatildeo ativa do corpo como um todo inclui-se ainda os jogos

sensoriais que ajudam a desenvolver os oacutergatildeos dos sentidos

A crianccedila nesta fase gosta de brincar com brinquedos que manipula

repetidas vezes explorando toda sua superfiacutecie Brincar de esconder o rosto ou os

objetos atirar e pegar brinquedos eacute prazeroso para a crianccedila ao mesmo tempo

que assimila as noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo

da realidade

Os estiacutemulos sensoriais tambeacutem fazem parte do seu interesse objetos

de diversas cores e texturas brinquedos sonoros muacutesica para ouvir acalentar

danccedilar e brincar desta forma explora o reconhecimento do eu do outro e dos

objetos

O jogo de exerciacutecio eacute o primeiro a aparecer no comportamento da

crianccedila explicitamente do 2ordm ao 5ordm estaacutegio do desenvolvimento sensoacuterio motor por

oposiccedilatildeo ao 6ordm estaacutegio onde se inicia o jogo simboacutelico(Negrine 1994)

28

ATIREI O PAU NO GATO(Folclore)9

Atirei o pau no ga-to-to mas o ga-to-to

Natildeo morreu- rreu- rreu dona chica-ca-ca

Admirou- se se do berro do berro

Do berro que o gato deu Miau

Jogos Simboacutelicos Em princiacutepio do ponto de vista de Piaget a diferenccedila entre os

jogos simboacutelicos e os de exerciacutecio intelectual consiste em que os primeiros se

referem ao pensamento

Os jogos simboacutelicos tem iniacutecio no 6ordm estaacutegio do periacuteodo sensoacuterio-motor

e se continua aproximadamente dos 2 aos 4 anos de idade cronoloacutegica ou do 1ordm

estaacutegio do preacute-operacional(fase simboacutelica) ateacute o iniacutecio do 2ordm estaacutegio do preacuteshy

operacional(fase intuitiva) Piaget apud Negrine(1994p41) deixa claro a

supremacia dos jogos simboacutelicos em detrimento dos anteriores

ldquoO esquema simboacutelico por si mesmo eacute suficiente para

assegurar a superioridade da representaccedilatildeo sobre

uma accedilatildeo pura nesta segundo Piaget o jogo

permite assimilar o mundo exterior ao eu como meio

infinitamente mais poderoso que o de simples exerciacuteciordquo

Como aparecem antes da linguagem verbal propriamente dita os jogos

simboacutelicos satildeo representados nas imagens mentais da crianccedila e vivenciados

atraveacutes dos gestos onomatopeacuteias pelo prazer de brincar com o faz-de-conta

9 MILLLECCO FILHO Luiacutes A e outros OPCIT p43

29

Nesta fase os acalantos vatildeo perdendo sua importacircncia dando lugar agraves

brincadeiras-de-roda os pequenos ao mesmo tempo em que aprendem a falar

aprendem a cantar as brincadeiras-de-roda tem a propriedade de enriquecerem o

repertoacuterio de palavras e movimentos

Jogos de Regras Os jogos de regras natildeo seguem o mesmo itineraacuterio dos

anteriores pois comeccedilam a aparecer na metade do 2ordm estaacutegio do periacuteodo preacuteshy

operacional isto eacute dos 4 aos 7 anos e principalmente no periacuteodo das operaccedilotildees

concretas dos 7 aos 12 anos Pesquisaremos como ocorrem os jogos de regra ateacute

os 7 anos pela delimitaccedilatildeo da populaccedilatildeo que esta monografia abrange

Dos 4 aos 7 anos periacuteodo preacute operacional intuitivo surgem os jogos de

regra que substituiratildeo o siacutembolo e enquadraratildeo o exerciacutecio no momento em que se

constituem de forma incipiente certas relaccedilotildees sociais(Piaget2003)

Com relaccedilatildeo as regras segundo Piaget apud Negrine

(1994p44)distinguem-se dois tipos transmitidas e espontacircneas As regras

transmitidas se referem aos jogos institucionais que se impotildeem por pressatildeo das

geraccedilotildees anteriores As espontacircneas se referem aos jogos de natureza contratual e

momentacircnea isto eacute procedem da socializaccedilatildeo dos jogos de simples exerciacutecios ou

dos simboacutelicos

30

Na cantiga de roda ldquoCiranda cirandinhardquo destaca-se o desenvolvimento

da roda e ao final as regras uma imposta (entrar na roda e dizer um verso) outra

espontacircnea (serve qualquer verso criado na hora ou jaacute existente) Outra versatildeo

desta mesma cantiga para crianccedilas menores pede ldquofaccedila um gesto bem bonito

diga adeus e vaacute se emborardquo A liberdade de criar um gesto verso a importacircncia de

estar no meio da roda como centro das atenccedilotildees e a valorizaccedilatildeo dos

companheiros satildeo o impulso para a espontaneidade e o crescimento da autonomia

do ser

CIRANDA CIRANDINHA(folclore)10

Ciranda cirandinha vamos todos cirandar

Vamos dar a meia volta volta e meia vamos dar

o anel que tu me destes era vidro e se quebrou

o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou

Por isto sinhaacute Maria entre dentro desta roda

Diga um verso bem bonito diga adeus e vaacute se embora

Os conceitos estudados neste capiacutetulo podem orientar sobre o tempo

mental da crianccedila e a possibilidade de oferecer estiacutemulos adequados ao seu

momento Como uma boa buacutessola natildeo conteacutem apenas o norte

10 MARTINS Armando OPCITp105

31

4O BRINCAR E A REALIDADE WINNICOTTEANA

A partir da premissa de que natildeo se pode dividir o ser humano em

classificaccedilotildees bioloacutegicas e psiacutequicas posto que este eacute uma unidade indivisiacutevel

formulou-se apenas para efeitos didaacuteticos no capiacutetulo anteriorum olhar mais

fiacutesico(cognitivo) do desenvolvimento infantil atraveacutes de Piaget Discutir-se-aacute neste

capiacutetulo o ponto de vista Winnicotteano sobre a vida emocional e o brincar

Nos brinquedos cantados a arte de brincar se mistura a arte de cantar e

eacute fazendo ldquoArtesrdquo que a crianccedila dar-se a ver e a crescer A partir deste tema

instigante e universal que eacute o brincar torna-se mais prazeroso ainda falar sobre ele

depois de conhecer os estudos do Drordm Winnicott

D W Winnicott pediatra psicanalista psicoterapeuta inglecircs e defensor

da Ludoterapia nasceu no comeccedilo do seacuteculo 20 produzindo uma vasta obra

cientiacutefica ateacute os anos 70 quando nos deixou Em seu livro ldquoO Brincar e

Realidaderdquo(1975) se preocupou com os primoacuterdios da vida imaginativa da

experiecircncia cultural em todos os sentidos da relaccedilatildeo das artes com o brincar e da

criatividade

Neste momento parece relevante abordar alguns dos conceitos teoacutericos

do DrordmWinnicott atraveacutes da obra mencionada pelo suporte que podem

proporcionar agrave compreensatildeo da vida psiacutequica mediante o brincar e a terapia Em

32

Conceitos e contornos ilustrar-se-aacute o Objeto transicional Fenocircmeno transicional

Matildee suficientemente boa Aacuterea intermediaacuteria e o Eu(Self) circundando a

importacircncia destes conceitos em relaccedilatildeo aos brinquedos cantados e sua aplicaccedilatildeo

na cliacutenica psicomotora

41CONCEITOS E CONTORNOS

Objeto Transicional Eacute o objeto concreto relativo agrave exploraccedilatildeo pulsional (descarga

impulsiva) do sujeito por exemplo uma boneca ou um carrinho

Fenocircmeno Transicional Satildeo as accedilotildees relativas agrave exploraccedilatildeo pulsional ou o uso

que se faz dos objetos transicionais Ex Um carrinho pode ser acalentado como se

fosse um bebecirc

Matildee Suficientemente Boa Pessoa que ocupa o lugar de suporte afetivo no

desenvolvimento global da crianccedila tambeacutem associada por ele a figura do

terapeuta

Em outras palavras o amor da matildee ou do terapeuta

natildeo significaria apenas um atendimento agraves necessidades

da dependecircncia mas vem a significar a concessatildeo

de oportunidades que permita ao bebecirc ou ao paciente

passar da dependecircncia para a autonomia

(Winnicott1975p150)

33

Aacuterea Intermediaacuteria Aacuterea neutra de experimentaccedilatildeo vivencial entre as realidades

internas e externas do sujeito que favorece a dialeacutetica do brincar e das artes O

dito autor parece supor um espaccedilo de refuacutegio para a resoluccedilatildeo dos conflitos

humanos Eis aqui a referecircncia para tal colocaccedilatildeo

Presume-se aqui que a tarefa de aceitaccedilatildeo da realidade

nunca eacute completada que nenhum ser humano estaacute livre

da tensatildeo de relacionar a realidade interna e externa e

que o aliacutevio dessa tensatildeo eacute proporcionado por uma aacuterea

intermediaacuteria de experiecircncia(cf Riviere1936) que natildeo eacute

contestada (artes religiatildeo etc) Essa aacuterea intermediaacuteria

estaacute em continuidade direta com a aacuterea do brincar da

crianccedila pequena que se ldquoperderdquo no brincar

(Winnicottopcitp29)

A princiacutepio eacute difiacutecil falar dos brinquedos cantados como objetos

transicionais (concretos) porque natildeo satildeo exatamente vistos a olhos nus embora

sejam audiacuteveis Todavia qualquer muacutesico pode escrever em uma partitura o

brinquedo cantado (concreto e cantaacutevel) para tornaacute-lo visiacutevel

O ato de cantar uma muacutesica de roda ou um acalanto jaacute eacute a traduccedilatildeo do

fenocircmeno transicional Dar-se-aacute o uso que quiser a este brinquedo cantado no

momento de sua realizaccedilatildeo Se uma muacutesica de ninar for entoada com raiva ou

brutalidade eacute certo que traraacute temores ao bebecirc e natildeo o conforto a que se prestaria

Acalantos com este do ldquobicho papatildeordquo expotildee o perigo e propotildee acolhida pela

proteccedilatildeo materna

34

ldquoBICHO PAPAtildeO(folclore)11

Bicho Papatildeo sai de cima do telhado

Deixe o menino dormir sossegado

O Eu (Self) O Eu (Self) eacute o eu integral descrito por Winnicott(1975) em sua mais

pura essecircncia um eu que nasce na liberdade de expressatildeo na confianccedila baseada

nas experiecircncias vividas no suporte dos sentimentos Para este autor certas

condiccedilotildees se fazem necessaacuterias na busca do Eu (Self) eacute o que se chama de

criatividade A criatividade pode defraglar e sustentar o ser integral

A vida sadia se mostra pelo impulso criativo O brincar eacute um instrumento

da criatividade sediado na ldquoaacuterea intermediaacuteriardquo (entre as artes e o luacutedico)

sustentado em seus primoacuterdios pela ldquomatildee suficientemente boardquo direcionado agrave

busca do ldquoEu (Self) Sobre a importacircncia das cantigas de roda nesta busca

podemos ler as contribuiccedilotildees de Millecco filho e outros (2001p44)

As cantigas de roda datildeo continuidade ao trabalho

de elaboraccedilatildeo de conflitos e agrave estrutura da pessoa

em desenvolvimento iniciado com os acalantos

() A roda aparece como uma representaccedilatildeo da

mandala expressatildeo geomeacutetrica do Self

11 Recolhido atraveacutes da cultura oral

35

A letra da muacutesica infantil ldquoa canoa virourdquo expotildee um problema e supotildee

uma soluccedilatildeo hipoteacutetica

A CANOA VIROU(folclore)12

A canoa virou vou deixar ela virar

Foi por causa da Maria que natildeo soube remar

Ah se eu fosse peixinho e soubesse nadar

Eu tirava a Marialaacute do fundo do mar

A accedilatildeo terapecircutica deve ser um modo de auxiliar uma pessoa a

vir a ser o que ela eacute capaz de ser O psicomotricista atua como facilitador no

desenvolvimento do potencial existente no sujeito Numa maternagem

suficientemente boa como fala Winnicott o psicomotricista relacional torna-se um

companheiro de jornada para as atitudes luacutedicas do seu paciente

As medidas de afeto e limites saudaacuteveis agraves necessidades do outro

devem ser reconhecidas e valorizadas Eacute o que se vecirc nas colocaccedilotildees de Winnicott

(1975p63) ldquoEm outros termos eacute a brincadeira que eacute universal e que eacute proacutepria da

sauacutede o brincar facilita o crescimento e portanto a sauacutede o brincar conduz aos

relacionamentos grupais o brincar pode ser uma forma de comunicaccedilatildeo na

psicoterapia()rdquo

12 MARTINS Armando OPCITp110

36

Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e

estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que

haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila

acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas

Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a

brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre

MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR

VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR

Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o

aprender com a danccedila do outro

ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

13 Recolhido atraveacutes da cultura oral

37

Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons

e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os

brinquedos cantados

5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE

Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma

nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o

corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se

utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia

e da linguumliacutestica

No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua

expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a

existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto

O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que

encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e

motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros

Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando

fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar

gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil

38

ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14

Eacute bom cantar eacute bom ouvir

Eacute bom pensar eacute bom sentir

Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor

Viajar dentro de si pra poder se descobrir

51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE

A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso

meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da

psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu

corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)

O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico

(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes

concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo

ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a

palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas

que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que

quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do

latim Corpusque significa tecido de membros envoltura

da alma embriatildeo do espiacuterito

14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000

39

Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na

Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto

que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo

cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a

motricidade com a inteligecircncia

Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam

em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento

humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o

movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila

De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de

segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio

Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se

no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo

de Guilman

O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num

corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo

toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico

emocional(Levin opcit)

O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor

Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em

movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica

40

psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre

outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da

pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de

Levin(opcit)

Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor

podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor

ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento

Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o

sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem

tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco

podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade

eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)

52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA

A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o

seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins

pedagoacutegicos (Levy2000)

A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se

do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos

transtornos evidenciados (Coste1992)

A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a

41

afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja

o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade

do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting

psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais

uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si

mesmo uma terapiardquo

As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas

psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema

corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade

Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo

estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees

cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito

As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de

algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A

coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar

pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos

dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para

andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes

visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a

existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa

caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc

No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a

42

primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave

vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos

cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas

psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a

expressividade e a emoccedilatildeo

O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas

psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se

confirmar por exemplo para treinar a escrita

As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar

iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da

brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo

dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da

cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas

pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar

Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora

relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de

cada uma delas

43

53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE

Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os

acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte

afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe

o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo

e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do

acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si

mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a

busca do eu (Self)

O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos

cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a

partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes

acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de

interesse da populaccedilatildeo pesquisada

Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil

geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo

continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em

desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza

simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos

conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo

44

As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia

cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o

relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano

infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a

Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda

assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia

oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria

soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo

Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as

com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da

referida estrutura

Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos

integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos

grandes segmentos (Coste1992)

Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro

expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo

corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a

habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa

O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se

movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os

movimentos enquanto observam os amigos

45

BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

Os braccedilos pra cima e pra baixo

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

As pernas pra frente e pra traacutes

Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo

preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo

motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada

diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do

grafismo (Coste1992)

A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas

brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as

palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a

crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos

Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos

fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca

do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes

15 Recolhido atraveacutes da cultura oral

46

das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa

de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas

ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16

123 indiozinhos 456 indiozinhos

789 indiozinhos 10 num pequeno bote

Vinham navegando pelo rio abaixo

Quando o jacareacute se aproximou

E o pequeno bote dos indiozinhos

Quase quase virou quase quase virou

mas natildeo virou

Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo

ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam

internas ou externas (Levin2001)

A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e

apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as

crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do

corpo que deseja mostrar

ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17

Cabeccedila ombro joelho e peacute

Joelho e peacute joelho e peacute

Olhos boca orelha e nariz

Orelha e nariz orelha e nariz

16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral

47

Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O

equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute

relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)

Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de

amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o

personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca

instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma

perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal

traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal

ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca o pandeirotoca como ele soacute

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca violatildeo toca como ele soacute

Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao

tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir

da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do

aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala

dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da

vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza

18 Recolhido atraveacutes da cultura oral

48

Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila

seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um

personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular

correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e

volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem

seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam

ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19

Anda anda anda macaquinho

Anda anda anda sem parar

Pula pula pula macaquinho

Pula pula pula ateacute cansar

Corre corre corre macaquinho

Corre corre corre sem parar

Deita deita deita macaquinho

Deita deita deita dorme ateacute sonhar

Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu

desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e

relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do

mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)

Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira

19 Recolhido atraveacutes da cultura oral

49

traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo

espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a

noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo

vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento

O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e

rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos

de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra

frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente

e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da

roda virem periquitos tambeacutem

Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem

no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras

visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas

ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20

Periquito periquito parece com papa

Periquito periquito parece com papa

Por baixo por cima pra frente e pra traacutes

Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo

ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo

temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a

20 Recolhido atraveacutes da cultura oral

50

estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus

movimentos e se organiza na vida cotidiana

Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo

que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo

humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre

ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos

acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo

A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da

chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo

dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio

ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21

A janelinha fecha quando estaacute chovendo

A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo

Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute

Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute

Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os

centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e

contralaterais (Coste1992)

21 Recolhido atraveacutes da cultura oral

51

A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento

psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e

assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute

organizada e natildeo mudaraacute mais

Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os

peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a

conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo

grupo disposto em roda

ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22

Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora

Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora

Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock

Assim eacute bem melhor

( e assim por diante com as demais partes do corpo)

Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o

modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder

apud Coste(1992)

A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a

organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo

mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do

22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57

52

desejo da matildee

A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan

apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros

tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e

de diferenccedila (ibid)

Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o

ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na

constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo

desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A

psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade

poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A

citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo

O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de

identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria

de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do

lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que

eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim

constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute

poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo

o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)

53

Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia

corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber

possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver

As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a

expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente

Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar

cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de

construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza

pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem

corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter

fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de

cantar danccedilar e brincar

54

ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23

Minha boneca de lata

Bateu com a cabeccedila no chatildeo

Levou mais de uma hora

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui pra ficar boa

Minha boneca de lata

Bateu com o pescoccedilo no chatildeo

Levou mais de duas horas

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui desamassa aqui

Pra ficar boa

Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho

o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do

corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez

horas de arrumaccedilatildeo propostas

23 Recolhido atraveacutes da cultura oral

55

6CONCLUSAtildeO

Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-

se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse

infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar

Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a

relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas

cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo

permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os

estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e

que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo

Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de

winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do

ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos

como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica

Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de

conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos

Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade

que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se

pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos

sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu

ldquoafetordquo

56

Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a

psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir

expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer

Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia

para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a

socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte

aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o

desenvolvimento das estruturas psicomotoras

Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a

essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado

pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando

o prazer de brincar cantar e ser feliz

57

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WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975

Page 28: Brinquedos Cantados Na Psicomotricidade

27

psicogeneacutetica de Piaget Jogos de exerciacutecio Jogos simboacutelicos e jogos de regra

Jogos de Exerciacutecio Ou jogos sensoacuterio-motores que aparecem no periacuteodo do

mesmo nome natildeo chegam a constituir sistemas luacutedicos independentes e

construtivos Sua motivaccedilatildeo se daacute pelo prazer funcional ou pelo prazer produzido

pela tomada de consciecircncia de suas novas capacidades

Os jogos motores ou de exerciacutecios satildeo aqueles que envolvem

diretamente a participaccedilatildeo ativa do corpo como um todo inclui-se ainda os jogos

sensoriais que ajudam a desenvolver os oacutergatildeos dos sentidos

A crianccedila nesta fase gosta de brincar com brinquedos que manipula

repetidas vezes explorando toda sua superfiacutecie Brincar de esconder o rosto ou os

objetos atirar e pegar brinquedos eacute prazeroso para a crianccedila ao mesmo tempo

que assimila as noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo

da realidade

Os estiacutemulos sensoriais tambeacutem fazem parte do seu interesse objetos

de diversas cores e texturas brinquedos sonoros muacutesica para ouvir acalentar

danccedilar e brincar desta forma explora o reconhecimento do eu do outro e dos

objetos

O jogo de exerciacutecio eacute o primeiro a aparecer no comportamento da

crianccedila explicitamente do 2ordm ao 5ordm estaacutegio do desenvolvimento sensoacuterio motor por

oposiccedilatildeo ao 6ordm estaacutegio onde se inicia o jogo simboacutelico(Negrine 1994)

28

ATIREI O PAU NO GATO(Folclore)9

Atirei o pau no ga-to-to mas o ga-to-to

Natildeo morreu- rreu- rreu dona chica-ca-ca

Admirou- se se do berro do berro

Do berro que o gato deu Miau

Jogos Simboacutelicos Em princiacutepio do ponto de vista de Piaget a diferenccedila entre os

jogos simboacutelicos e os de exerciacutecio intelectual consiste em que os primeiros se

referem ao pensamento

Os jogos simboacutelicos tem iniacutecio no 6ordm estaacutegio do periacuteodo sensoacuterio-motor

e se continua aproximadamente dos 2 aos 4 anos de idade cronoloacutegica ou do 1ordm

estaacutegio do preacute-operacional(fase simboacutelica) ateacute o iniacutecio do 2ordm estaacutegio do preacuteshy

operacional(fase intuitiva) Piaget apud Negrine(1994p41) deixa claro a

supremacia dos jogos simboacutelicos em detrimento dos anteriores

ldquoO esquema simboacutelico por si mesmo eacute suficiente para

assegurar a superioridade da representaccedilatildeo sobre

uma accedilatildeo pura nesta segundo Piaget o jogo

permite assimilar o mundo exterior ao eu como meio

infinitamente mais poderoso que o de simples exerciacuteciordquo

Como aparecem antes da linguagem verbal propriamente dita os jogos

simboacutelicos satildeo representados nas imagens mentais da crianccedila e vivenciados

atraveacutes dos gestos onomatopeacuteias pelo prazer de brincar com o faz-de-conta

9 MILLLECCO FILHO Luiacutes A e outros OPCIT p43

29

Nesta fase os acalantos vatildeo perdendo sua importacircncia dando lugar agraves

brincadeiras-de-roda os pequenos ao mesmo tempo em que aprendem a falar

aprendem a cantar as brincadeiras-de-roda tem a propriedade de enriquecerem o

repertoacuterio de palavras e movimentos

Jogos de Regras Os jogos de regras natildeo seguem o mesmo itineraacuterio dos

anteriores pois comeccedilam a aparecer na metade do 2ordm estaacutegio do periacuteodo preacuteshy

operacional isto eacute dos 4 aos 7 anos e principalmente no periacuteodo das operaccedilotildees

concretas dos 7 aos 12 anos Pesquisaremos como ocorrem os jogos de regra ateacute

os 7 anos pela delimitaccedilatildeo da populaccedilatildeo que esta monografia abrange

Dos 4 aos 7 anos periacuteodo preacute operacional intuitivo surgem os jogos de

regra que substituiratildeo o siacutembolo e enquadraratildeo o exerciacutecio no momento em que se

constituem de forma incipiente certas relaccedilotildees sociais(Piaget2003)

Com relaccedilatildeo as regras segundo Piaget apud Negrine

(1994p44)distinguem-se dois tipos transmitidas e espontacircneas As regras

transmitidas se referem aos jogos institucionais que se impotildeem por pressatildeo das

geraccedilotildees anteriores As espontacircneas se referem aos jogos de natureza contratual e

momentacircnea isto eacute procedem da socializaccedilatildeo dos jogos de simples exerciacutecios ou

dos simboacutelicos

30

Na cantiga de roda ldquoCiranda cirandinhardquo destaca-se o desenvolvimento

da roda e ao final as regras uma imposta (entrar na roda e dizer um verso) outra

espontacircnea (serve qualquer verso criado na hora ou jaacute existente) Outra versatildeo

desta mesma cantiga para crianccedilas menores pede ldquofaccedila um gesto bem bonito

diga adeus e vaacute se emborardquo A liberdade de criar um gesto verso a importacircncia de

estar no meio da roda como centro das atenccedilotildees e a valorizaccedilatildeo dos

companheiros satildeo o impulso para a espontaneidade e o crescimento da autonomia

do ser

CIRANDA CIRANDINHA(folclore)10

Ciranda cirandinha vamos todos cirandar

Vamos dar a meia volta volta e meia vamos dar

o anel que tu me destes era vidro e se quebrou

o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou

Por isto sinhaacute Maria entre dentro desta roda

Diga um verso bem bonito diga adeus e vaacute se embora

Os conceitos estudados neste capiacutetulo podem orientar sobre o tempo

mental da crianccedila e a possibilidade de oferecer estiacutemulos adequados ao seu

momento Como uma boa buacutessola natildeo conteacutem apenas o norte

10 MARTINS Armando OPCITp105

31

4O BRINCAR E A REALIDADE WINNICOTTEANA

A partir da premissa de que natildeo se pode dividir o ser humano em

classificaccedilotildees bioloacutegicas e psiacutequicas posto que este eacute uma unidade indivisiacutevel

formulou-se apenas para efeitos didaacuteticos no capiacutetulo anteriorum olhar mais

fiacutesico(cognitivo) do desenvolvimento infantil atraveacutes de Piaget Discutir-se-aacute neste

capiacutetulo o ponto de vista Winnicotteano sobre a vida emocional e o brincar

Nos brinquedos cantados a arte de brincar se mistura a arte de cantar e

eacute fazendo ldquoArtesrdquo que a crianccedila dar-se a ver e a crescer A partir deste tema

instigante e universal que eacute o brincar torna-se mais prazeroso ainda falar sobre ele

depois de conhecer os estudos do Drordm Winnicott

D W Winnicott pediatra psicanalista psicoterapeuta inglecircs e defensor

da Ludoterapia nasceu no comeccedilo do seacuteculo 20 produzindo uma vasta obra

cientiacutefica ateacute os anos 70 quando nos deixou Em seu livro ldquoO Brincar e

Realidaderdquo(1975) se preocupou com os primoacuterdios da vida imaginativa da

experiecircncia cultural em todos os sentidos da relaccedilatildeo das artes com o brincar e da

criatividade

Neste momento parece relevante abordar alguns dos conceitos teoacutericos

do DrordmWinnicott atraveacutes da obra mencionada pelo suporte que podem

proporcionar agrave compreensatildeo da vida psiacutequica mediante o brincar e a terapia Em

32

Conceitos e contornos ilustrar-se-aacute o Objeto transicional Fenocircmeno transicional

Matildee suficientemente boa Aacuterea intermediaacuteria e o Eu(Self) circundando a

importacircncia destes conceitos em relaccedilatildeo aos brinquedos cantados e sua aplicaccedilatildeo

na cliacutenica psicomotora

41CONCEITOS E CONTORNOS

Objeto Transicional Eacute o objeto concreto relativo agrave exploraccedilatildeo pulsional (descarga

impulsiva) do sujeito por exemplo uma boneca ou um carrinho

Fenocircmeno Transicional Satildeo as accedilotildees relativas agrave exploraccedilatildeo pulsional ou o uso

que se faz dos objetos transicionais Ex Um carrinho pode ser acalentado como se

fosse um bebecirc

Matildee Suficientemente Boa Pessoa que ocupa o lugar de suporte afetivo no

desenvolvimento global da crianccedila tambeacutem associada por ele a figura do

terapeuta

Em outras palavras o amor da matildee ou do terapeuta

natildeo significaria apenas um atendimento agraves necessidades

da dependecircncia mas vem a significar a concessatildeo

de oportunidades que permita ao bebecirc ou ao paciente

passar da dependecircncia para a autonomia

(Winnicott1975p150)

33

Aacuterea Intermediaacuteria Aacuterea neutra de experimentaccedilatildeo vivencial entre as realidades

internas e externas do sujeito que favorece a dialeacutetica do brincar e das artes O

dito autor parece supor um espaccedilo de refuacutegio para a resoluccedilatildeo dos conflitos

humanos Eis aqui a referecircncia para tal colocaccedilatildeo

Presume-se aqui que a tarefa de aceitaccedilatildeo da realidade

nunca eacute completada que nenhum ser humano estaacute livre

da tensatildeo de relacionar a realidade interna e externa e

que o aliacutevio dessa tensatildeo eacute proporcionado por uma aacuterea

intermediaacuteria de experiecircncia(cf Riviere1936) que natildeo eacute

contestada (artes religiatildeo etc) Essa aacuterea intermediaacuteria

estaacute em continuidade direta com a aacuterea do brincar da

crianccedila pequena que se ldquoperderdquo no brincar

(Winnicottopcitp29)

A princiacutepio eacute difiacutecil falar dos brinquedos cantados como objetos

transicionais (concretos) porque natildeo satildeo exatamente vistos a olhos nus embora

sejam audiacuteveis Todavia qualquer muacutesico pode escrever em uma partitura o

brinquedo cantado (concreto e cantaacutevel) para tornaacute-lo visiacutevel

O ato de cantar uma muacutesica de roda ou um acalanto jaacute eacute a traduccedilatildeo do

fenocircmeno transicional Dar-se-aacute o uso que quiser a este brinquedo cantado no

momento de sua realizaccedilatildeo Se uma muacutesica de ninar for entoada com raiva ou

brutalidade eacute certo que traraacute temores ao bebecirc e natildeo o conforto a que se prestaria

Acalantos com este do ldquobicho papatildeordquo expotildee o perigo e propotildee acolhida pela

proteccedilatildeo materna

34

ldquoBICHO PAPAtildeO(folclore)11

Bicho Papatildeo sai de cima do telhado

Deixe o menino dormir sossegado

O Eu (Self) O Eu (Self) eacute o eu integral descrito por Winnicott(1975) em sua mais

pura essecircncia um eu que nasce na liberdade de expressatildeo na confianccedila baseada

nas experiecircncias vividas no suporte dos sentimentos Para este autor certas

condiccedilotildees se fazem necessaacuterias na busca do Eu (Self) eacute o que se chama de

criatividade A criatividade pode defraglar e sustentar o ser integral

A vida sadia se mostra pelo impulso criativo O brincar eacute um instrumento

da criatividade sediado na ldquoaacuterea intermediaacuteriardquo (entre as artes e o luacutedico)

sustentado em seus primoacuterdios pela ldquomatildee suficientemente boardquo direcionado agrave

busca do ldquoEu (Self) Sobre a importacircncia das cantigas de roda nesta busca

podemos ler as contribuiccedilotildees de Millecco filho e outros (2001p44)

As cantigas de roda datildeo continuidade ao trabalho

de elaboraccedilatildeo de conflitos e agrave estrutura da pessoa

em desenvolvimento iniciado com os acalantos

() A roda aparece como uma representaccedilatildeo da

mandala expressatildeo geomeacutetrica do Self

11 Recolhido atraveacutes da cultura oral

35

A letra da muacutesica infantil ldquoa canoa virourdquo expotildee um problema e supotildee

uma soluccedilatildeo hipoteacutetica

A CANOA VIROU(folclore)12

A canoa virou vou deixar ela virar

Foi por causa da Maria que natildeo soube remar

Ah se eu fosse peixinho e soubesse nadar

Eu tirava a Marialaacute do fundo do mar

A accedilatildeo terapecircutica deve ser um modo de auxiliar uma pessoa a

vir a ser o que ela eacute capaz de ser O psicomotricista atua como facilitador no

desenvolvimento do potencial existente no sujeito Numa maternagem

suficientemente boa como fala Winnicott o psicomotricista relacional torna-se um

companheiro de jornada para as atitudes luacutedicas do seu paciente

As medidas de afeto e limites saudaacuteveis agraves necessidades do outro

devem ser reconhecidas e valorizadas Eacute o que se vecirc nas colocaccedilotildees de Winnicott

(1975p63) ldquoEm outros termos eacute a brincadeira que eacute universal e que eacute proacutepria da

sauacutede o brincar facilita o crescimento e portanto a sauacutede o brincar conduz aos

relacionamentos grupais o brincar pode ser uma forma de comunicaccedilatildeo na

psicoterapia()rdquo

12 MARTINS Armando OPCITp110

36

Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e

estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que

haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila

acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas

Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a

brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre

MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR

VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR

Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o

aprender com a danccedila do outro

ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

13 Recolhido atraveacutes da cultura oral

37

Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons

e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os

brinquedos cantados

5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE

Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma

nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o

corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se

utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia

e da linguumliacutestica

No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua

expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a

existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto

O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que

encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e

motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros

Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando

fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar

gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil

38

ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14

Eacute bom cantar eacute bom ouvir

Eacute bom pensar eacute bom sentir

Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor

Viajar dentro de si pra poder se descobrir

51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE

A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso

meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da

psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu

corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)

O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico

(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes

concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo

ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a

palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas

que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que

quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do

latim Corpusque significa tecido de membros envoltura

da alma embriatildeo do espiacuterito

14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000

39

Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na

Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto

que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo

cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a

motricidade com a inteligecircncia

Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam

em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento

humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o

movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila

De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de

segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio

Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se

no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo

de Guilman

O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num

corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo

toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico

emocional(Levin opcit)

O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor

Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em

movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica

40

psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre

outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da

pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de

Levin(opcit)

Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor

podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor

ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento

Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o

sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem

tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco

podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade

eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)

52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA

A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o

seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins

pedagoacutegicos (Levy2000)

A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se

do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos

transtornos evidenciados (Coste1992)

A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a

41

afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja

o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade

do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting

psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais

uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si

mesmo uma terapiardquo

As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas

psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema

corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade

Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo

estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees

cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito

As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de

algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A

coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar

pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos

dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para

andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes

visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a

existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa

caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc

No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a

42

primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave

vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos

cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas

psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a

expressividade e a emoccedilatildeo

O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas

psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se

confirmar por exemplo para treinar a escrita

As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar

iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da

brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo

dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da

cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas

pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar

Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora

relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de

cada uma delas

43

53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE

Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os

acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte

afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe

o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo

e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do

acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si

mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a

busca do eu (Self)

O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos

cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a

partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes

acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de

interesse da populaccedilatildeo pesquisada

Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil

geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo

continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em

desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza

simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos

conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo

44

As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia

cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o

relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano

infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a

Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda

assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia

oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria

soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo

Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as

com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da

referida estrutura

Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos

integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos

grandes segmentos (Coste1992)

Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro

expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo

corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a

habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa

O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se

movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os

movimentos enquanto observam os amigos

45

BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

Os braccedilos pra cima e pra baixo

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

As pernas pra frente e pra traacutes

Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo

preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo

motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada

diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do

grafismo (Coste1992)

A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas

brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as

palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a

crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos

Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos

fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca

do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes

15 Recolhido atraveacutes da cultura oral

46

das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa

de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas

ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16

123 indiozinhos 456 indiozinhos

789 indiozinhos 10 num pequeno bote

Vinham navegando pelo rio abaixo

Quando o jacareacute se aproximou

E o pequeno bote dos indiozinhos

Quase quase virou quase quase virou

mas natildeo virou

Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo

ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam

internas ou externas (Levin2001)

A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e

apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as

crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do

corpo que deseja mostrar

ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17

Cabeccedila ombro joelho e peacute

Joelho e peacute joelho e peacute

Olhos boca orelha e nariz

Orelha e nariz orelha e nariz

16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral

47

Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O

equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute

relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)

Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de

amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o

personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca

instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma

perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal

traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal

ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca o pandeirotoca como ele soacute

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca violatildeo toca como ele soacute

Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao

tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir

da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do

aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala

dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da

vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza

18 Recolhido atraveacutes da cultura oral

48

Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila

seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um

personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular

correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e

volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem

seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam

ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19

Anda anda anda macaquinho

Anda anda anda sem parar

Pula pula pula macaquinho

Pula pula pula ateacute cansar

Corre corre corre macaquinho

Corre corre corre sem parar

Deita deita deita macaquinho

Deita deita deita dorme ateacute sonhar

Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu

desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e

relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do

mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)

Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira

19 Recolhido atraveacutes da cultura oral

49

traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo

espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a

noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo

vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento

O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e

rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos

de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra

frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente

e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da

roda virem periquitos tambeacutem

Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem

no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras

visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas

ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20

Periquito periquito parece com papa

Periquito periquito parece com papa

Por baixo por cima pra frente e pra traacutes

Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo

ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo

temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a

20 Recolhido atraveacutes da cultura oral

50

estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus

movimentos e se organiza na vida cotidiana

Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo

que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo

humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre

ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos

acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo

A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da

chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo

dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio

ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21

A janelinha fecha quando estaacute chovendo

A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo

Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute

Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute

Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os

centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e

contralaterais (Coste1992)

21 Recolhido atraveacutes da cultura oral

51

A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento

psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e

assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute

organizada e natildeo mudaraacute mais

Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os

peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a

conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo

grupo disposto em roda

ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22

Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora

Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora

Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock

Assim eacute bem melhor

( e assim por diante com as demais partes do corpo)

Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o

modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder

apud Coste(1992)

A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a

organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo

mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do

22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57

52

desejo da matildee

A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan

apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros

tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e

de diferenccedila (ibid)

Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o

ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na

constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo

desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A

psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade

poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A

citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo

O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de

identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria

de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do

lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que

eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim

constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute

poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo

o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)

53

Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia

corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber

possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver

As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a

expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente

Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar

cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de

construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza

pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem

corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter

fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de

cantar danccedilar e brincar

54

ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23

Minha boneca de lata

Bateu com a cabeccedila no chatildeo

Levou mais de uma hora

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui pra ficar boa

Minha boneca de lata

Bateu com o pescoccedilo no chatildeo

Levou mais de duas horas

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui desamassa aqui

Pra ficar boa

Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho

o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do

corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez

horas de arrumaccedilatildeo propostas

23 Recolhido atraveacutes da cultura oral

55

6CONCLUSAtildeO

Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-

se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse

infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar

Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a

relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas

cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo

permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os

estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e

que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo

Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de

winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do

ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos

como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica

Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de

conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos

Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade

que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se

pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos

sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu

ldquoafetordquo

56

Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a

psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir

expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer

Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia

para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a

socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte

aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o

desenvolvimento das estruturas psicomotoras

Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a

essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado

pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando

o prazer de brincar cantar e ser feliz

57

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Page 29: Brinquedos Cantados Na Psicomotricidade

28

ATIREI O PAU NO GATO(Folclore)9

Atirei o pau no ga-to-to mas o ga-to-to

Natildeo morreu- rreu- rreu dona chica-ca-ca

Admirou- se se do berro do berro

Do berro que o gato deu Miau

Jogos Simboacutelicos Em princiacutepio do ponto de vista de Piaget a diferenccedila entre os

jogos simboacutelicos e os de exerciacutecio intelectual consiste em que os primeiros se

referem ao pensamento

Os jogos simboacutelicos tem iniacutecio no 6ordm estaacutegio do periacuteodo sensoacuterio-motor

e se continua aproximadamente dos 2 aos 4 anos de idade cronoloacutegica ou do 1ordm

estaacutegio do preacute-operacional(fase simboacutelica) ateacute o iniacutecio do 2ordm estaacutegio do preacuteshy

operacional(fase intuitiva) Piaget apud Negrine(1994p41) deixa claro a

supremacia dos jogos simboacutelicos em detrimento dos anteriores

ldquoO esquema simboacutelico por si mesmo eacute suficiente para

assegurar a superioridade da representaccedilatildeo sobre

uma accedilatildeo pura nesta segundo Piaget o jogo

permite assimilar o mundo exterior ao eu como meio

infinitamente mais poderoso que o de simples exerciacuteciordquo

Como aparecem antes da linguagem verbal propriamente dita os jogos

simboacutelicos satildeo representados nas imagens mentais da crianccedila e vivenciados

atraveacutes dos gestos onomatopeacuteias pelo prazer de brincar com o faz-de-conta

9 MILLLECCO FILHO Luiacutes A e outros OPCIT p43

29

Nesta fase os acalantos vatildeo perdendo sua importacircncia dando lugar agraves

brincadeiras-de-roda os pequenos ao mesmo tempo em que aprendem a falar

aprendem a cantar as brincadeiras-de-roda tem a propriedade de enriquecerem o

repertoacuterio de palavras e movimentos

Jogos de Regras Os jogos de regras natildeo seguem o mesmo itineraacuterio dos

anteriores pois comeccedilam a aparecer na metade do 2ordm estaacutegio do periacuteodo preacuteshy

operacional isto eacute dos 4 aos 7 anos e principalmente no periacuteodo das operaccedilotildees

concretas dos 7 aos 12 anos Pesquisaremos como ocorrem os jogos de regra ateacute

os 7 anos pela delimitaccedilatildeo da populaccedilatildeo que esta monografia abrange

Dos 4 aos 7 anos periacuteodo preacute operacional intuitivo surgem os jogos de

regra que substituiratildeo o siacutembolo e enquadraratildeo o exerciacutecio no momento em que se

constituem de forma incipiente certas relaccedilotildees sociais(Piaget2003)

Com relaccedilatildeo as regras segundo Piaget apud Negrine

(1994p44)distinguem-se dois tipos transmitidas e espontacircneas As regras

transmitidas se referem aos jogos institucionais que se impotildeem por pressatildeo das

geraccedilotildees anteriores As espontacircneas se referem aos jogos de natureza contratual e

momentacircnea isto eacute procedem da socializaccedilatildeo dos jogos de simples exerciacutecios ou

dos simboacutelicos

30

Na cantiga de roda ldquoCiranda cirandinhardquo destaca-se o desenvolvimento

da roda e ao final as regras uma imposta (entrar na roda e dizer um verso) outra

espontacircnea (serve qualquer verso criado na hora ou jaacute existente) Outra versatildeo

desta mesma cantiga para crianccedilas menores pede ldquofaccedila um gesto bem bonito

diga adeus e vaacute se emborardquo A liberdade de criar um gesto verso a importacircncia de

estar no meio da roda como centro das atenccedilotildees e a valorizaccedilatildeo dos

companheiros satildeo o impulso para a espontaneidade e o crescimento da autonomia

do ser

CIRANDA CIRANDINHA(folclore)10

Ciranda cirandinha vamos todos cirandar

Vamos dar a meia volta volta e meia vamos dar

o anel que tu me destes era vidro e se quebrou

o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou

Por isto sinhaacute Maria entre dentro desta roda

Diga um verso bem bonito diga adeus e vaacute se embora

Os conceitos estudados neste capiacutetulo podem orientar sobre o tempo

mental da crianccedila e a possibilidade de oferecer estiacutemulos adequados ao seu

momento Como uma boa buacutessola natildeo conteacutem apenas o norte

10 MARTINS Armando OPCITp105

31

4O BRINCAR E A REALIDADE WINNICOTTEANA

A partir da premissa de que natildeo se pode dividir o ser humano em

classificaccedilotildees bioloacutegicas e psiacutequicas posto que este eacute uma unidade indivisiacutevel

formulou-se apenas para efeitos didaacuteticos no capiacutetulo anteriorum olhar mais

fiacutesico(cognitivo) do desenvolvimento infantil atraveacutes de Piaget Discutir-se-aacute neste

capiacutetulo o ponto de vista Winnicotteano sobre a vida emocional e o brincar

Nos brinquedos cantados a arte de brincar se mistura a arte de cantar e

eacute fazendo ldquoArtesrdquo que a crianccedila dar-se a ver e a crescer A partir deste tema

instigante e universal que eacute o brincar torna-se mais prazeroso ainda falar sobre ele

depois de conhecer os estudos do Drordm Winnicott

D W Winnicott pediatra psicanalista psicoterapeuta inglecircs e defensor

da Ludoterapia nasceu no comeccedilo do seacuteculo 20 produzindo uma vasta obra

cientiacutefica ateacute os anos 70 quando nos deixou Em seu livro ldquoO Brincar e

Realidaderdquo(1975) se preocupou com os primoacuterdios da vida imaginativa da

experiecircncia cultural em todos os sentidos da relaccedilatildeo das artes com o brincar e da

criatividade

Neste momento parece relevante abordar alguns dos conceitos teoacutericos

do DrordmWinnicott atraveacutes da obra mencionada pelo suporte que podem

proporcionar agrave compreensatildeo da vida psiacutequica mediante o brincar e a terapia Em

32

Conceitos e contornos ilustrar-se-aacute o Objeto transicional Fenocircmeno transicional

Matildee suficientemente boa Aacuterea intermediaacuteria e o Eu(Self) circundando a

importacircncia destes conceitos em relaccedilatildeo aos brinquedos cantados e sua aplicaccedilatildeo

na cliacutenica psicomotora

41CONCEITOS E CONTORNOS

Objeto Transicional Eacute o objeto concreto relativo agrave exploraccedilatildeo pulsional (descarga

impulsiva) do sujeito por exemplo uma boneca ou um carrinho

Fenocircmeno Transicional Satildeo as accedilotildees relativas agrave exploraccedilatildeo pulsional ou o uso

que se faz dos objetos transicionais Ex Um carrinho pode ser acalentado como se

fosse um bebecirc

Matildee Suficientemente Boa Pessoa que ocupa o lugar de suporte afetivo no

desenvolvimento global da crianccedila tambeacutem associada por ele a figura do

terapeuta

Em outras palavras o amor da matildee ou do terapeuta

natildeo significaria apenas um atendimento agraves necessidades

da dependecircncia mas vem a significar a concessatildeo

de oportunidades que permita ao bebecirc ou ao paciente

passar da dependecircncia para a autonomia

(Winnicott1975p150)

33

Aacuterea Intermediaacuteria Aacuterea neutra de experimentaccedilatildeo vivencial entre as realidades

internas e externas do sujeito que favorece a dialeacutetica do brincar e das artes O

dito autor parece supor um espaccedilo de refuacutegio para a resoluccedilatildeo dos conflitos

humanos Eis aqui a referecircncia para tal colocaccedilatildeo

Presume-se aqui que a tarefa de aceitaccedilatildeo da realidade

nunca eacute completada que nenhum ser humano estaacute livre

da tensatildeo de relacionar a realidade interna e externa e

que o aliacutevio dessa tensatildeo eacute proporcionado por uma aacuterea

intermediaacuteria de experiecircncia(cf Riviere1936) que natildeo eacute

contestada (artes religiatildeo etc) Essa aacuterea intermediaacuteria

estaacute em continuidade direta com a aacuterea do brincar da

crianccedila pequena que se ldquoperderdquo no brincar

(Winnicottopcitp29)

A princiacutepio eacute difiacutecil falar dos brinquedos cantados como objetos

transicionais (concretos) porque natildeo satildeo exatamente vistos a olhos nus embora

sejam audiacuteveis Todavia qualquer muacutesico pode escrever em uma partitura o

brinquedo cantado (concreto e cantaacutevel) para tornaacute-lo visiacutevel

O ato de cantar uma muacutesica de roda ou um acalanto jaacute eacute a traduccedilatildeo do

fenocircmeno transicional Dar-se-aacute o uso que quiser a este brinquedo cantado no

momento de sua realizaccedilatildeo Se uma muacutesica de ninar for entoada com raiva ou

brutalidade eacute certo que traraacute temores ao bebecirc e natildeo o conforto a que se prestaria

Acalantos com este do ldquobicho papatildeordquo expotildee o perigo e propotildee acolhida pela

proteccedilatildeo materna

34

ldquoBICHO PAPAtildeO(folclore)11

Bicho Papatildeo sai de cima do telhado

Deixe o menino dormir sossegado

O Eu (Self) O Eu (Self) eacute o eu integral descrito por Winnicott(1975) em sua mais

pura essecircncia um eu que nasce na liberdade de expressatildeo na confianccedila baseada

nas experiecircncias vividas no suporte dos sentimentos Para este autor certas

condiccedilotildees se fazem necessaacuterias na busca do Eu (Self) eacute o que se chama de

criatividade A criatividade pode defraglar e sustentar o ser integral

A vida sadia se mostra pelo impulso criativo O brincar eacute um instrumento

da criatividade sediado na ldquoaacuterea intermediaacuteriardquo (entre as artes e o luacutedico)

sustentado em seus primoacuterdios pela ldquomatildee suficientemente boardquo direcionado agrave

busca do ldquoEu (Self) Sobre a importacircncia das cantigas de roda nesta busca

podemos ler as contribuiccedilotildees de Millecco filho e outros (2001p44)

As cantigas de roda datildeo continuidade ao trabalho

de elaboraccedilatildeo de conflitos e agrave estrutura da pessoa

em desenvolvimento iniciado com os acalantos

() A roda aparece como uma representaccedilatildeo da

mandala expressatildeo geomeacutetrica do Self

11 Recolhido atraveacutes da cultura oral

35

A letra da muacutesica infantil ldquoa canoa virourdquo expotildee um problema e supotildee

uma soluccedilatildeo hipoteacutetica

A CANOA VIROU(folclore)12

A canoa virou vou deixar ela virar

Foi por causa da Maria que natildeo soube remar

Ah se eu fosse peixinho e soubesse nadar

Eu tirava a Marialaacute do fundo do mar

A accedilatildeo terapecircutica deve ser um modo de auxiliar uma pessoa a

vir a ser o que ela eacute capaz de ser O psicomotricista atua como facilitador no

desenvolvimento do potencial existente no sujeito Numa maternagem

suficientemente boa como fala Winnicott o psicomotricista relacional torna-se um

companheiro de jornada para as atitudes luacutedicas do seu paciente

As medidas de afeto e limites saudaacuteveis agraves necessidades do outro

devem ser reconhecidas e valorizadas Eacute o que se vecirc nas colocaccedilotildees de Winnicott

(1975p63) ldquoEm outros termos eacute a brincadeira que eacute universal e que eacute proacutepria da

sauacutede o brincar facilita o crescimento e portanto a sauacutede o brincar conduz aos

relacionamentos grupais o brincar pode ser uma forma de comunicaccedilatildeo na

psicoterapia()rdquo

12 MARTINS Armando OPCITp110

36

Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e

estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que

haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila

acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas

Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a

brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre

MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR

VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR

Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o

aprender com a danccedila do outro

ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

13 Recolhido atraveacutes da cultura oral

37

Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons

e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os

brinquedos cantados

5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE

Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma

nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o

corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se

utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia

e da linguumliacutestica

No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua

expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a

existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto

O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que

encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e

motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros

Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando

fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar

gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil

38

ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14

Eacute bom cantar eacute bom ouvir

Eacute bom pensar eacute bom sentir

Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor

Viajar dentro de si pra poder se descobrir

51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE

A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso

meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da

psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu

corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)

O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico

(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes

concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo

ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a

palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas

que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que

quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do

latim Corpusque significa tecido de membros envoltura

da alma embriatildeo do espiacuterito

14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000

39

Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na

Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto

que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo

cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a

motricidade com a inteligecircncia

Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam

em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento

humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o

movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila

De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de

segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio

Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se

no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo

de Guilman

O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num

corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo

toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico

emocional(Levin opcit)

O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor

Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em

movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica

40

psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre

outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da

pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de

Levin(opcit)

Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor

podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor

ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento

Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o

sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem

tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco

podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade

eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)

52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA

A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o

seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins

pedagoacutegicos (Levy2000)

A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se

do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos

transtornos evidenciados (Coste1992)

A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a

41

afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja

o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade

do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting

psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais

uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si

mesmo uma terapiardquo

As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas

psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema

corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade

Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo

estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees

cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito

As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de

algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A

coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar

pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos

dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para

andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes

visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a

existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa

caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc

No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a

42

primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave

vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos

cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas

psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a

expressividade e a emoccedilatildeo

O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas

psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se

confirmar por exemplo para treinar a escrita

As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar

iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da

brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo

dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da

cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas

pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar

Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora

relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de

cada uma delas

43

53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE

Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os

acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte

afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe

o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo

e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do

acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si

mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a

busca do eu (Self)

O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos

cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a

partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes

acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de

interesse da populaccedilatildeo pesquisada

Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil

geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo

continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em

desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza

simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos

conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo

44

As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia

cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o

relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano

infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a

Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda

assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia

oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria

soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo

Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as

com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da

referida estrutura

Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos

integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos

grandes segmentos (Coste1992)

Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro

expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo

corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a

habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa

O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se

movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os

movimentos enquanto observam os amigos

45

BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

Os braccedilos pra cima e pra baixo

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

As pernas pra frente e pra traacutes

Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo

preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo

motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada

diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do

grafismo (Coste1992)

A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas

brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as

palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a

crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos

Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos

fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca

do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes

15 Recolhido atraveacutes da cultura oral

46

das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa

de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas

ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16

123 indiozinhos 456 indiozinhos

789 indiozinhos 10 num pequeno bote

Vinham navegando pelo rio abaixo

Quando o jacareacute se aproximou

E o pequeno bote dos indiozinhos

Quase quase virou quase quase virou

mas natildeo virou

Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo

ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam

internas ou externas (Levin2001)

A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e

apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as

crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do

corpo que deseja mostrar

ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17

Cabeccedila ombro joelho e peacute

Joelho e peacute joelho e peacute

Olhos boca orelha e nariz

Orelha e nariz orelha e nariz

16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral

47

Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O

equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute

relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)

Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de

amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o

personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca

instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma

perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal

traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal

ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca o pandeirotoca como ele soacute

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca violatildeo toca como ele soacute

Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao

tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir

da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do

aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala

dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da

vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza

18 Recolhido atraveacutes da cultura oral

48

Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila

seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um

personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular

correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e

volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem

seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam

ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19

Anda anda anda macaquinho

Anda anda anda sem parar

Pula pula pula macaquinho

Pula pula pula ateacute cansar

Corre corre corre macaquinho

Corre corre corre sem parar

Deita deita deita macaquinho

Deita deita deita dorme ateacute sonhar

Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu

desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e

relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do

mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)

Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira

19 Recolhido atraveacutes da cultura oral

49

traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo

espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a

noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo

vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento

O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e

rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos

de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra

frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente

e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da

roda virem periquitos tambeacutem

Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem

no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras

visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas

ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20

Periquito periquito parece com papa

Periquito periquito parece com papa

Por baixo por cima pra frente e pra traacutes

Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo

ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo

temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a

20 Recolhido atraveacutes da cultura oral

50

estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus

movimentos e se organiza na vida cotidiana

Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo

que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo

humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre

ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos

acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo

A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da

chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo

dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio

ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21

A janelinha fecha quando estaacute chovendo

A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo

Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute

Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute

Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os

centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e

contralaterais (Coste1992)

21 Recolhido atraveacutes da cultura oral

51

A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento

psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e

assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute

organizada e natildeo mudaraacute mais

Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os

peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a

conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo

grupo disposto em roda

ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22

Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora

Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora

Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock

Assim eacute bem melhor

( e assim por diante com as demais partes do corpo)

Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o

modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder

apud Coste(1992)

A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a

organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo

mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do

22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57

52

desejo da matildee

A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan

apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros

tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e

de diferenccedila (ibid)

Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o

ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na

constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo

desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A

psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade

poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A

citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo

O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de

identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria

de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do

lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que

eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim

constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute

poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo

o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)

53

Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia

corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber

possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver

As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a

expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente

Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar

cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de

construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza

pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem

corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter

fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de

cantar danccedilar e brincar

54

ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23

Minha boneca de lata

Bateu com a cabeccedila no chatildeo

Levou mais de uma hora

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui pra ficar boa

Minha boneca de lata

Bateu com o pescoccedilo no chatildeo

Levou mais de duas horas

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui desamassa aqui

Pra ficar boa

Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho

o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do

corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez

horas de arrumaccedilatildeo propostas

23 Recolhido atraveacutes da cultura oral

55

6CONCLUSAtildeO

Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-

se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse

infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar

Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a

relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas

cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo

permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os

estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e

que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo

Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de

winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do

ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos

como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica

Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de

conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos

Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade

que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se

pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos

sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu

ldquoafetordquo

56

Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a

psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir

expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer

Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia

para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a

socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte

aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o

desenvolvimento das estruturas psicomotoras

Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a

essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado

pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando

o prazer de brincar cantar e ser feliz

57

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WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975

Page 30: Brinquedos Cantados Na Psicomotricidade

29

Nesta fase os acalantos vatildeo perdendo sua importacircncia dando lugar agraves

brincadeiras-de-roda os pequenos ao mesmo tempo em que aprendem a falar

aprendem a cantar as brincadeiras-de-roda tem a propriedade de enriquecerem o

repertoacuterio de palavras e movimentos

Jogos de Regras Os jogos de regras natildeo seguem o mesmo itineraacuterio dos

anteriores pois comeccedilam a aparecer na metade do 2ordm estaacutegio do periacuteodo preacuteshy

operacional isto eacute dos 4 aos 7 anos e principalmente no periacuteodo das operaccedilotildees

concretas dos 7 aos 12 anos Pesquisaremos como ocorrem os jogos de regra ateacute

os 7 anos pela delimitaccedilatildeo da populaccedilatildeo que esta monografia abrange

Dos 4 aos 7 anos periacuteodo preacute operacional intuitivo surgem os jogos de

regra que substituiratildeo o siacutembolo e enquadraratildeo o exerciacutecio no momento em que se

constituem de forma incipiente certas relaccedilotildees sociais(Piaget2003)

Com relaccedilatildeo as regras segundo Piaget apud Negrine

(1994p44)distinguem-se dois tipos transmitidas e espontacircneas As regras

transmitidas se referem aos jogos institucionais que se impotildeem por pressatildeo das

geraccedilotildees anteriores As espontacircneas se referem aos jogos de natureza contratual e

momentacircnea isto eacute procedem da socializaccedilatildeo dos jogos de simples exerciacutecios ou

dos simboacutelicos

30

Na cantiga de roda ldquoCiranda cirandinhardquo destaca-se o desenvolvimento

da roda e ao final as regras uma imposta (entrar na roda e dizer um verso) outra

espontacircnea (serve qualquer verso criado na hora ou jaacute existente) Outra versatildeo

desta mesma cantiga para crianccedilas menores pede ldquofaccedila um gesto bem bonito

diga adeus e vaacute se emborardquo A liberdade de criar um gesto verso a importacircncia de

estar no meio da roda como centro das atenccedilotildees e a valorizaccedilatildeo dos

companheiros satildeo o impulso para a espontaneidade e o crescimento da autonomia

do ser

CIRANDA CIRANDINHA(folclore)10

Ciranda cirandinha vamos todos cirandar

Vamos dar a meia volta volta e meia vamos dar

o anel que tu me destes era vidro e se quebrou

o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou

Por isto sinhaacute Maria entre dentro desta roda

Diga um verso bem bonito diga adeus e vaacute se embora

Os conceitos estudados neste capiacutetulo podem orientar sobre o tempo

mental da crianccedila e a possibilidade de oferecer estiacutemulos adequados ao seu

momento Como uma boa buacutessola natildeo conteacutem apenas o norte

10 MARTINS Armando OPCITp105

31

4O BRINCAR E A REALIDADE WINNICOTTEANA

A partir da premissa de que natildeo se pode dividir o ser humano em

classificaccedilotildees bioloacutegicas e psiacutequicas posto que este eacute uma unidade indivisiacutevel

formulou-se apenas para efeitos didaacuteticos no capiacutetulo anteriorum olhar mais

fiacutesico(cognitivo) do desenvolvimento infantil atraveacutes de Piaget Discutir-se-aacute neste

capiacutetulo o ponto de vista Winnicotteano sobre a vida emocional e o brincar

Nos brinquedos cantados a arte de brincar se mistura a arte de cantar e

eacute fazendo ldquoArtesrdquo que a crianccedila dar-se a ver e a crescer A partir deste tema

instigante e universal que eacute o brincar torna-se mais prazeroso ainda falar sobre ele

depois de conhecer os estudos do Drordm Winnicott

D W Winnicott pediatra psicanalista psicoterapeuta inglecircs e defensor

da Ludoterapia nasceu no comeccedilo do seacuteculo 20 produzindo uma vasta obra

cientiacutefica ateacute os anos 70 quando nos deixou Em seu livro ldquoO Brincar e

Realidaderdquo(1975) se preocupou com os primoacuterdios da vida imaginativa da

experiecircncia cultural em todos os sentidos da relaccedilatildeo das artes com o brincar e da

criatividade

Neste momento parece relevante abordar alguns dos conceitos teoacutericos

do DrordmWinnicott atraveacutes da obra mencionada pelo suporte que podem

proporcionar agrave compreensatildeo da vida psiacutequica mediante o brincar e a terapia Em

32

Conceitos e contornos ilustrar-se-aacute o Objeto transicional Fenocircmeno transicional

Matildee suficientemente boa Aacuterea intermediaacuteria e o Eu(Self) circundando a

importacircncia destes conceitos em relaccedilatildeo aos brinquedos cantados e sua aplicaccedilatildeo

na cliacutenica psicomotora

41CONCEITOS E CONTORNOS

Objeto Transicional Eacute o objeto concreto relativo agrave exploraccedilatildeo pulsional (descarga

impulsiva) do sujeito por exemplo uma boneca ou um carrinho

Fenocircmeno Transicional Satildeo as accedilotildees relativas agrave exploraccedilatildeo pulsional ou o uso

que se faz dos objetos transicionais Ex Um carrinho pode ser acalentado como se

fosse um bebecirc

Matildee Suficientemente Boa Pessoa que ocupa o lugar de suporte afetivo no

desenvolvimento global da crianccedila tambeacutem associada por ele a figura do

terapeuta

Em outras palavras o amor da matildee ou do terapeuta

natildeo significaria apenas um atendimento agraves necessidades

da dependecircncia mas vem a significar a concessatildeo

de oportunidades que permita ao bebecirc ou ao paciente

passar da dependecircncia para a autonomia

(Winnicott1975p150)

33

Aacuterea Intermediaacuteria Aacuterea neutra de experimentaccedilatildeo vivencial entre as realidades

internas e externas do sujeito que favorece a dialeacutetica do brincar e das artes O

dito autor parece supor um espaccedilo de refuacutegio para a resoluccedilatildeo dos conflitos

humanos Eis aqui a referecircncia para tal colocaccedilatildeo

Presume-se aqui que a tarefa de aceitaccedilatildeo da realidade

nunca eacute completada que nenhum ser humano estaacute livre

da tensatildeo de relacionar a realidade interna e externa e

que o aliacutevio dessa tensatildeo eacute proporcionado por uma aacuterea

intermediaacuteria de experiecircncia(cf Riviere1936) que natildeo eacute

contestada (artes religiatildeo etc) Essa aacuterea intermediaacuteria

estaacute em continuidade direta com a aacuterea do brincar da

crianccedila pequena que se ldquoperderdquo no brincar

(Winnicottopcitp29)

A princiacutepio eacute difiacutecil falar dos brinquedos cantados como objetos

transicionais (concretos) porque natildeo satildeo exatamente vistos a olhos nus embora

sejam audiacuteveis Todavia qualquer muacutesico pode escrever em uma partitura o

brinquedo cantado (concreto e cantaacutevel) para tornaacute-lo visiacutevel

O ato de cantar uma muacutesica de roda ou um acalanto jaacute eacute a traduccedilatildeo do

fenocircmeno transicional Dar-se-aacute o uso que quiser a este brinquedo cantado no

momento de sua realizaccedilatildeo Se uma muacutesica de ninar for entoada com raiva ou

brutalidade eacute certo que traraacute temores ao bebecirc e natildeo o conforto a que se prestaria

Acalantos com este do ldquobicho papatildeordquo expotildee o perigo e propotildee acolhida pela

proteccedilatildeo materna

34

ldquoBICHO PAPAtildeO(folclore)11

Bicho Papatildeo sai de cima do telhado

Deixe o menino dormir sossegado

O Eu (Self) O Eu (Self) eacute o eu integral descrito por Winnicott(1975) em sua mais

pura essecircncia um eu que nasce na liberdade de expressatildeo na confianccedila baseada

nas experiecircncias vividas no suporte dos sentimentos Para este autor certas

condiccedilotildees se fazem necessaacuterias na busca do Eu (Self) eacute o que se chama de

criatividade A criatividade pode defraglar e sustentar o ser integral

A vida sadia se mostra pelo impulso criativo O brincar eacute um instrumento

da criatividade sediado na ldquoaacuterea intermediaacuteriardquo (entre as artes e o luacutedico)

sustentado em seus primoacuterdios pela ldquomatildee suficientemente boardquo direcionado agrave

busca do ldquoEu (Self) Sobre a importacircncia das cantigas de roda nesta busca

podemos ler as contribuiccedilotildees de Millecco filho e outros (2001p44)

As cantigas de roda datildeo continuidade ao trabalho

de elaboraccedilatildeo de conflitos e agrave estrutura da pessoa

em desenvolvimento iniciado com os acalantos

() A roda aparece como uma representaccedilatildeo da

mandala expressatildeo geomeacutetrica do Self

11 Recolhido atraveacutes da cultura oral

35

A letra da muacutesica infantil ldquoa canoa virourdquo expotildee um problema e supotildee

uma soluccedilatildeo hipoteacutetica

A CANOA VIROU(folclore)12

A canoa virou vou deixar ela virar

Foi por causa da Maria que natildeo soube remar

Ah se eu fosse peixinho e soubesse nadar

Eu tirava a Marialaacute do fundo do mar

A accedilatildeo terapecircutica deve ser um modo de auxiliar uma pessoa a

vir a ser o que ela eacute capaz de ser O psicomotricista atua como facilitador no

desenvolvimento do potencial existente no sujeito Numa maternagem

suficientemente boa como fala Winnicott o psicomotricista relacional torna-se um

companheiro de jornada para as atitudes luacutedicas do seu paciente

As medidas de afeto e limites saudaacuteveis agraves necessidades do outro

devem ser reconhecidas e valorizadas Eacute o que se vecirc nas colocaccedilotildees de Winnicott

(1975p63) ldquoEm outros termos eacute a brincadeira que eacute universal e que eacute proacutepria da

sauacutede o brincar facilita o crescimento e portanto a sauacutede o brincar conduz aos

relacionamentos grupais o brincar pode ser uma forma de comunicaccedilatildeo na

psicoterapia()rdquo

12 MARTINS Armando OPCITp110

36

Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e

estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que

haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila

acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas

Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a

brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre

MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR

VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR

Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o

aprender com a danccedila do outro

ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

13 Recolhido atraveacutes da cultura oral

37

Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons

e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os

brinquedos cantados

5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE

Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma

nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o

corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se

utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia

e da linguumliacutestica

No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua

expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a

existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto

O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que

encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e

motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros

Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando

fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar

gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil

38

ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14

Eacute bom cantar eacute bom ouvir

Eacute bom pensar eacute bom sentir

Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor

Viajar dentro de si pra poder se descobrir

51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE

A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso

meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da

psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu

corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)

O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico

(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes

concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo

ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a

palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas

que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que

quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do

latim Corpusque significa tecido de membros envoltura

da alma embriatildeo do espiacuterito

14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000

39

Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na

Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto

que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo

cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a

motricidade com a inteligecircncia

Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam

em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento

humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o

movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila

De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de

segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio

Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se

no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo

de Guilman

O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num

corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo

toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico

emocional(Levin opcit)

O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor

Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em

movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica

40

psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre

outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da

pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de

Levin(opcit)

Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor

podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor

ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento

Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o

sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem

tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco

podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade

eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)

52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA

A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o

seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins

pedagoacutegicos (Levy2000)

A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se

do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos

transtornos evidenciados (Coste1992)

A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a

41

afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja

o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade

do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting

psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais

uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si

mesmo uma terapiardquo

As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas

psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema

corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade

Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo

estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees

cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito

As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de

algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A

coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar

pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos

dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para

andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes

visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a

existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa

caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc

No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a

42

primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave

vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos

cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas

psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a

expressividade e a emoccedilatildeo

O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas

psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se

confirmar por exemplo para treinar a escrita

As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar

iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da

brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo

dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da

cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas

pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar

Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora

relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de

cada uma delas

43

53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE

Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os

acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte

afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe

o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo

e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do

acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si

mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a

busca do eu (Self)

O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos

cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a

partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes

acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de

interesse da populaccedilatildeo pesquisada

Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil

geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo

continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em

desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza

simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos

conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo

44

As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia

cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o

relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano

infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a

Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda

assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia

oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria

soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo

Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as

com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da

referida estrutura

Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos

integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos

grandes segmentos (Coste1992)

Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro

expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo

corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a

habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa

O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se

movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os

movimentos enquanto observam os amigos

45

BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

Os braccedilos pra cima e pra baixo

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

As pernas pra frente e pra traacutes

Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo

preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo

motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada

diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do

grafismo (Coste1992)

A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas

brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as

palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a

crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos

Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos

fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca

do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes

15 Recolhido atraveacutes da cultura oral

46

das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa

de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas

ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16

123 indiozinhos 456 indiozinhos

789 indiozinhos 10 num pequeno bote

Vinham navegando pelo rio abaixo

Quando o jacareacute se aproximou

E o pequeno bote dos indiozinhos

Quase quase virou quase quase virou

mas natildeo virou

Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo

ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam

internas ou externas (Levin2001)

A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e

apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as

crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do

corpo que deseja mostrar

ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17

Cabeccedila ombro joelho e peacute

Joelho e peacute joelho e peacute

Olhos boca orelha e nariz

Orelha e nariz orelha e nariz

16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral

47

Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O

equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute

relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)

Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de

amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o

personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca

instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma

perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal

traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal

ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca o pandeirotoca como ele soacute

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca violatildeo toca como ele soacute

Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao

tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir

da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do

aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala

dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da

vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza

18 Recolhido atraveacutes da cultura oral

48

Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila

seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um

personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular

correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e

volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem

seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam

ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19

Anda anda anda macaquinho

Anda anda anda sem parar

Pula pula pula macaquinho

Pula pula pula ateacute cansar

Corre corre corre macaquinho

Corre corre corre sem parar

Deita deita deita macaquinho

Deita deita deita dorme ateacute sonhar

Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu

desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e

relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do

mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)

Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira

19 Recolhido atraveacutes da cultura oral

49

traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo

espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a

noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo

vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento

O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e

rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos

de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra

frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente

e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da

roda virem periquitos tambeacutem

Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem

no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras

visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas

ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20

Periquito periquito parece com papa

Periquito periquito parece com papa

Por baixo por cima pra frente e pra traacutes

Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo

ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo

temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a

20 Recolhido atraveacutes da cultura oral

50

estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus

movimentos e se organiza na vida cotidiana

Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo

que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo

humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre

ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos

acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo

A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da

chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo

dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio

ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21

A janelinha fecha quando estaacute chovendo

A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo

Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute

Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute

Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os

centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e

contralaterais (Coste1992)

21 Recolhido atraveacutes da cultura oral

51

A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento

psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e

assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute

organizada e natildeo mudaraacute mais

Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os

peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a

conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo

grupo disposto em roda

ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22

Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora

Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora

Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock

Assim eacute bem melhor

( e assim por diante com as demais partes do corpo)

Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o

modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder

apud Coste(1992)

A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a

organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo

mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do

22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57

52

desejo da matildee

A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan

apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros

tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e

de diferenccedila (ibid)

Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o

ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na

constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo

desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A

psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade

poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A

citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo

O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de

identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria

de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do

lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que

eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim

constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute

poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo

o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)

53

Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia

corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber

possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver

As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a

expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente

Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar

cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de

construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza

pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem

corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter

fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de

cantar danccedilar e brincar

54

ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23

Minha boneca de lata

Bateu com a cabeccedila no chatildeo

Levou mais de uma hora

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui pra ficar boa

Minha boneca de lata

Bateu com o pescoccedilo no chatildeo

Levou mais de duas horas

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui desamassa aqui

Pra ficar boa

Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho

o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do

corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez

horas de arrumaccedilatildeo propostas

23 Recolhido atraveacutes da cultura oral

55

6CONCLUSAtildeO

Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-

se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse

infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar

Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a

relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas

cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo

permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os

estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e

que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo

Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de

winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do

ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos

como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica

Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de

conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos

Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade

que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se

pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos

sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu

ldquoafetordquo

56

Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a

psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir

expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer

Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia

para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a

socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte

aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o

desenvolvimento das estruturas psicomotoras

Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a

essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado

pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando

o prazer de brincar cantar e ser feliz

57

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WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975

Page 31: Brinquedos Cantados Na Psicomotricidade

30

Na cantiga de roda ldquoCiranda cirandinhardquo destaca-se o desenvolvimento

da roda e ao final as regras uma imposta (entrar na roda e dizer um verso) outra

espontacircnea (serve qualquer verso criado na hora ou jaacute existente) Outra versatildeo

desta mesma cantiga para crianccedilas menores pede ldquofaccedila um gesto bem bonito

diga adeus e vaacute se emborardquo A liberdade de criar um gesto verso a importacircncia de

estar no meio da roda como centro das atenccedilotildees e a valorizaccedilatildeo dos

companheiros satildeo o impulso para a espontaneidade e o crescimento da autonomia

do ser

CIRANDA CIRANDINHA(folclore)10

Ciranda cirandinha vamos todos cirandar

Vamos dar a meia volta volta e meia vamos dar

o anel que tu me destes era vidro e se quebrou

o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou

Por isto sinhaacute Maria entre dentro desta roda

Diga um verso bem bonito diga adeus e vaacute se embora

Os conceitos estudados neste capiacutetulo podem orientar sobre o tempo

mental da crianccedila e a possibilidade de oferecer estiacutemulos adequados ao seu

momento Como uma boa buacutessola natildeo conteacutem apenas o norte

10 MARTINS Armando OPCITp105

31

4O BRINCAR E A REALIDADE WINNICOTTEANA

A partir da premissa de que natildeo se pode dividir o ser humano em

classificaccedilotildees bioloacutegicas e psiacutequicas posto que este eacute uma unidade indivisiacutevel

formulou-se apenas para efeitos didaacuteticos no capiacutetulo anteriorum olhar mais

fiacutesico(cognitivo) do desenvolvimento infantil atraveacutes de Piaget Discutir-se-aacute neste

capiacutetulo o ponto de vista Winnicotteano sobre a vida emocional e o brincar

Nos brinquedos cantados a arte de brincar se mistura a arte de cantar e

eacute fazendo ldquoArtesrdquo que a crianccedila dar-se a ver e a crescer A partir deste tema

instigante e universal que eacute o brincar torna-se mais prazeroso ainda falar sobre ele

depois de conhecer os estudos do Drordm Winnicott

D W Winnicott pediatra psicanalista psicoterapeuta inglecircs e defensor

da Ludoterapia nasceu no comeccedilo do seacuteculo 20 produzindo uma vasta obra

cientiacutefica ateacute os anos 70 quando nos deixou Em seu livro ldquoO Brincar e

Realidaderdquo(1975) se preocupou com os primoacuterdios da vida imaginativa da

experiecircncia cultural em todos os sentidos da relaccedilatildeo das artes com o brincar e da

criatividade

Neste momento parece relevante abordar alguns dos conceitos teoacutericos

do DrordmWinnicott atraveacutes da obra mencionada pelo suporte que podem

proporcionar agrave compreensatildeo da vida psiacutequica mediante o brincar e a terapia Em

32

Conceitos e contornos ilustrar-se-aacute o Objeto transicional Fenocircmeno transicional

Matildee suficientemente boa Aacuterea intermediaacuteria e o Eu(Self) circundando a

importacircncia destes conceitos em relaccedilatildeo aos brinquedos cantados e sua aplicaccedilatildeo

na cliacutenica psicomotora

41CONCEITOS E CONTORNOS

Objeto Transicional Eacute o objeto concreto relativo agrave exploraccedilatildeo pulsional (descarga

impulsiva) do sujeito por exemplo uma boneca ou um carrinho

Fenocircmeno Transicional Satildeo as accedilotildees relativas agrave exploraccedilatildeo pulsional ou o uso

que se faz dos objetos transicionais Ex Um carrinho pode ser acalentado como se

fosse um bebecirc

Matildee Suficientemente Boa Pessoa que ocupa o lugar de suporte afetivo no

desenvolvimento global da crianccedila tambeacutem associada por ele a figura do

terapeuta

Em outras palavras o amor da matildee ou do terapeuta

natildeo significaria apenas um atendimento agraves necessidades

da dependecircncia mas vem a significar a concessatildeo

de oportunidades que permita ao bebecirc ou ao paciente

passar da dependecircncia para a autonomia

(Winnicott1975p150)

33

Aacuterea Intermediaacuteria Aacuterea neutra de experimentaccedilatildeo vivencial entre as realidades

internas e externas do sujeito que favorece a dialeacutetica do brincar e das artes O

dito autor parece supor um espaccedilo de refuacutegio para a resoluccedilatildeo dos conflitos

humanos Eis aqui a referecircncia para tal colocaccedilatildeo

Presume-se aqui que a tarefa de aceitaccedilatildeo da realidade

nunca eacute completada que nenhum ser humano estaacute livre

da tensatildeo de relacionar a realidade interna e externa e

que o aliacutevio dessa tensatildeo eacute proporcionado por uma aacuterea

intermediaacuteria de experiecircncia(cf Riviere1936) que natildeo eacute

contestada (artes religiatildeo etc) Essa aacuterea intermediaacuteria

estaacute em continuidade direta com a aacuterea do brincar da

crianccedila pequena que se ldquoperderdquo no brincar

(Winnicottopcitp29)

A princiacutepio eacute difiacutecil falar dos brinquedos cantados como objetos

transicionais (concretos) porque natildeo satildeo exatamente vistos a olhos nus embora

sejam audiacuteveis Todavia qualquer muacutesico pode escrever em uma partitura o

brinquedo cantado (concreto e cantaacutevel) para tornaacute-lo visiacutevel

O ato de cantar uma muacutesica de roda ou um acalanto jaacute eacute a traduccedilatildeo do

fenocircmeno transicional Dar-se-aacute o uso que quiser a este brinquedo cantado no

momento de sua realizaccedilatildeo Se uma muacutesica de ninar for entoada com raiva ou

brutalidade eacute certo que traraacute temores ao bebecirc e natildeo o conforto a que se prestaria

Acalantos com este do ldquobicho papatildeordquo expotildee o perigo e propotildee acolhida pela

proteccedilatildeo materna

34

ldquoBICHO PAPAtildeO(folclore)11

Bicho Papatildeo sai de cima do telhado

Deixe o menino dormir sossegado

O Eu (Self) O Eu (Self) eacute o eu integral descrito por Winnicott(1975) em sua mais

pura essecircncia um eu que nasce na liberdade de expressatildeo na confianccedila baseada

nas experiecircncias vividas no suporte dos sentimentos Para este autor certas

condiccedilotildees se fazem necessaacuterias na busca do Eu (Self) eacute o que se chama de

criatividade A criatividade pode defraglar e sustentar o ser integral

A vida sadia se mostra pelo impulso criativo O brincar eacute um instrumento

da criatividade sediado na ldquoaacuterea intermediaacuteriardquo (entre as artes e o luacutedico)

sustentado em seus primoacuterdios pela ldquomatildee suficientemente boardquo direcionado agrave

busca do ldquoEu (Self) Sobre a importacircncia das cantigas de roda nesta busca

podemos ler as contribuiccedilotildees de Millecco filho e outros (2001p44)

As cantigas de roda datildeo continuidade ao trabalho

de elaboraccedilatildeo de conflitos e agrave estrutura da pessoa

em desenvolvimento iniciado com os acalantos

() A roda aparece como uma representaccedilatildeo da

mandala expressatildeo geomeacutetrica do Self

11 Recolhido atraveacutes da cultura oral

35

A letra da muacutesica infantil ldquoa canoa virourdquo expotildee um problema e supotildee

uma soluccedilatildeo hipoteacutetica

A CANOA VIROU(folclore)12

A canoa virou vou deixar ela virar

Foi por causa da Maria que natildeo soube remar

Ah se eu fosse peixinho e soubesse nadar

Eu tirava a Marialaacute do fundo do mar

A accedilatildeo terapecircutica deve ser um modo de auxiliar uma pessoa a

vir a ser o que ela eacute capaz de ser O psicomotricista atua como facilitador no

desenvolvimento do potencial existente no sujeito Numa maternagem

suficientemente boa como fala Winnicott o psicomotricista relacional torna-se um

companheiro de jornada para as atitudes luacutedicas do seu paciente

As medidas de afeto e limites saudaacuteveis agraves necessidades do outro

devem ser reconhecidas e valorizadas Eacute o que se vecirc nas colocaccedilotildees de Winnicott

(1975p63) ldquoEm outros termos eacute a brincadeira que eacute universal e que eacute proacutepria da

sauacutede o brincar facilita o crescimento e portanto a sauacutede o brincar conduz aos

relacionamentos grupais o brincar pode ser uma forma de comunicaccedilatildeo na

psicoterapia()rdquo

12 MARTINS Armando OPCITp110

36

Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e

estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que

haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila

acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas

Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a

brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre

MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR

VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR

Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o

aprender com a danccedila do outro

ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

13 Recolhido atraveacutes da cultura oral

37

Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons

e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os

brinquedos cantados

5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE

Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma

nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o

corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se

utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia

e da linguumliacutestica

No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua

expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a

existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto

O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que

encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e

motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros

Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando

fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar

gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil

38

ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14

Eacute bom cantar eacute bom ouvir

Eacute bom pensar eacute bom sentir

Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor

Viajar dentro de si pra poder se descobrir

51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE

A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso

meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da

psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu

corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)

O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico

(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes

concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo

ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a

palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas

que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que

quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do

latim Corpusque significa tecido de membros envoltura

da alma embriatildeo do espiacuterito

14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000

39

Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na

Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto

que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo

cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a

motricidade com a inteligecircncia

Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam

em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento

humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o

movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila

De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de

segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio

Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se

no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo

de Guilman

O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num

corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo

toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico

emocional(Levin opcit)

O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor

Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em

movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica

40

psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre

outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da

pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de

Levin(opcit)

Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor

podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor

ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento

Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o

sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem

tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco

podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade

eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)

52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA

A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o

seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins

pedagoacutegicos (Levy2000)

A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se

do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos

transtornos evidenciados (Coste1992)

A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a

41

afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja

o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade

do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting

psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais

uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si

mesmo uma terapiardquo

As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas

psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema

corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade

Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo

estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees

cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito

As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de

algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A

coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar

pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos

dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para

andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes

visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a

existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa

caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc

No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a

42

primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave

vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos

cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas

psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a

expressividade e a emoccedilatildeo

O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas

psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se

confirmar por exemplo para treinar a escrita

As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar

iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da

brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo

dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da

cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas

pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar

Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora

relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de

cada uma delas

43

53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE

Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os

acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte

afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe

o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo

e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do

acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si

mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a

busca do eu (Self)

O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos

cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a

partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes

acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de

interesse da populaccedilatildeo pesquisada

Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil

geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo

continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em

desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza

simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos

conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo

44

As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia

cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o

relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano

infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a

Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda

assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia

oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria

soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo

Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as

com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da

referida estrutura

Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos

integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos

grandes segmentos (Coste1992)

Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro

expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo

corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a

habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa

O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se

movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os

movimentos enquanto observam os amigos

45

BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

Os braccedilos pra cima e pra baixo

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

As pernas pra frente e pra traacutes

Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo

preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo

motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada

diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do

grafismo (Coste1992)

A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas

brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as

palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a

crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos

Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos

fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca

do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes

15 Recolhido atraveacutes da cultura oral

46

das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa

de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas

ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16

123 indiozinhos 456 indiozinhos

789 indiozinhos 10 num pequeno bote

Vinham navegando pelo rio abaixo

Quando o jacareacute se aproximou

E o pequeno bote dos indiozinhos

Quase quase virou quase quase virou

mas natildeo virou

Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo

ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam

internas ou externas (Levin2001)

A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e

apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as

crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do

corpo que deseja mostrar

ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17

Cabeccedila ombro joelho e peacute

Joelho e peacute joelho e peacute

Olhos boca orelha e nariz

Orelha e nariz orelha e nariz

16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral

47

Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O

equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute

relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)

Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de

amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o

personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca

instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma

perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal

traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal

ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca o pandeirotoca como ele soacute

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca violatildeo toca como ele soacute

Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao

tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir

da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do

aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala

dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da

vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza

18 Recolhido atraveacutes da cultura oral

48

Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila

seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um

personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular

correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e

volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem

seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam

ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19

Anda anda anda macaquinho

Anda anda anda sem parar

Pula pula pula macaquinho

Pula pula pula ateacute cansar

Corre corre corre macaquinho

Corre corre corre sem parar

Deita deita deita macaquinho

Deita deita deita dorme ateacute sonhar

Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu

desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e

relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do

mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)

Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira

19 Recolhido atraveacutes da cultura oral

49

traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo

espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a

noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo

vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento

O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e

rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos

de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra

frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente

e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da

roda virem periquitos tambeacutem

Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem

no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras

visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas

ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20

Periquito periquito parece com papa

Periquito periquito parece com papa

Por baixo por cima pra frente e pra traacutes

Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo

ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo

temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a

20 Recolhido atraveacutes da cultura oral

50

estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus

movimentos e se organiza na vida cotidiana

Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo

que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo

humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre

ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos

acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo

A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da

chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo

dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio

ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21

A janelinha fecha quando estaacute chovendo

A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo

Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute

Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute

Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os

centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e

contralaterais (Coste1992)

21 Recolhido atraveacutes da cultura oral

51

A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento

psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e

assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute

organizada e natildeo mudaraacute mais

Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os

peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a

conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo

grupo disposto em roda

ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22

Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora

Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora

Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock

Assim eacute bem melhor

( e assim por diante com as demais partes do corpo)

Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o

modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder

apud Coste(1992)

A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a

organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo

mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do

22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57

52

desejo da matildee

A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan

apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros

tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e

de diferenccedila (ibid)

Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o

ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na

constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo

desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A

psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade

poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A

citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo

O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de

identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria

de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do

lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que

eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim

constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute

poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo

o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)

53

Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia

corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber

possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver

As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a

expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente

Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar

cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de

construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza

pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem

corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter

fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de

cantar danccedilar e brincar

54

ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23

Minha boneca de lata

Bateu com a cabeccedila no chatildeo

Levou mais de uma hora

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui pra ficar boa

Minha boneca de lata

Bateu com o pescoccedilo no chatildeo

Levou mais de duas horas

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui desamassa aqui

Pra ficar boa

Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho

o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do

corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez

horas de arrumaccedilatildeo propostas

23 Recolhido atraveacutes da cultura oral

55

6CONCLUSAtildeO

Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-

se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse

infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar

Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a

relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas

cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo

permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os

estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e

que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo

Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de

winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do

ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos

como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica

Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de

conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos

Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade

que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se

pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos

sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu

ldquoafetordquo

56

Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a

psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir

expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer

Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia

para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a

socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte

aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o

desenvolvimento das estruturas psicomotoras

Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a

essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado

pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando

o prazer de brincar cantar e ser feliz

57

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Editora Sprint ltda 1996

WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975

Page 32: Brinquedos Cantados Na Psicomotricidade

31

4O BRINCAR E A REALIDADE WINNICOTTEANA

A partir da premissa de que natildeo se pode dividir o ser humano em

classificaccedilotildees bioloacutegicas e psiacutequicas posto que este eacute uma unidade indivisiacutevel

formulou-se apenas para efeitos didaacuteticos no capiacutetulo anteriorum olhar mais

fiacutesico(cognitivo) do desenvolvimento infantil atraveacutes de Piaget Discutir-se-aacute neste

capiacutetulo o ponto de vista Winnicotteano sobre a vida emocional e o brincar

Nos brinquedos cantados a arte de brincar se mistura a arte de cantar e

eacute fazendo ldquoArtesrdquo que a crianccedila dar-se a ver e a crescer A partir deste tema

instigante e universal que eacute o brincar torna-se mais prazeroso ainda falar sobre ele

depois de conhecer os estudos do Drordm Winnicott

D W Winnicott pediatra psicanalista psicoterapeuta inglecircs e defensor

da Ludoterapia nasceu no comeccedilo do seacuteculo 20 produzindo uma vasta obra

cientiacutefica ateacute os anos 70 quando nos deixou Em seu livro ldquoO Brincar e

Realidaderdquo(1975) se preocupou com os primoacuterdios da vida imaginativa da

experiecircncia cultural em todos os sentidos da relaccedilatildeo das artes com o brincar e da

criatividade

Neste momento parece relevante abordar alguns dos conceitos teoacutericos

do DrordmWinnicott atraveacutes da obra mencionada pelo suporte que podem

proporcionar agrave compreensatildeo da vida psiacutequica mediante o brincar e a terapia Em

32

Conceitos e contornos ilustrar-se-aacute o Objeto transicional Fenocircmeno transicional

Matildee suficientemente boa Aacuterea intermediaacuteria e o Eu(Self) circundando a

importacircncia destes conceitos em relaccedilatildeo aos brinquedos cantados e sua aplicaccedilatildeo

na cliacutenica psicomotora

41CONCEITOS E CONTORNOS

Objeto Transicional Eacute o objeto concreto relativo agrave exploraccedilatildeo pulsional (descarga

impulsiva) do sujeito por exemplo uma boneca ou um carrinho

Fenocircmeno Transicional Satildeo as accedilotildees relativas agrave exploraccedilatildeo pulsional ou o uso

que se faz dos objetos transicionais Ex Um carrinho pode ser acalentado como se

fosse um bebecirc

Matildee Suficientemente Boa Pessoa que ocupa o lugar de suporte afetivo no

desenvolvimento global da crianccedila tambeacutem associada por ele a figura do

terapeuta

Em outras palavras o amor da matildee ou do terapeuta

natildeo significaria apenas um atendimento agraves necessidades

da dependecircncia mas vem a significar a concessatildeo

de oportunidades que permita ao bebecirc ou ao paciente

passar da dependecircncia para a autonomia

(Winnicott1975p150)

33

Aacuterea Intermediaacuteria Aacuterea neutra de experimentaccedilatildeo vivencial entre as realidades

internas e externas do sujeito que favorece a dialeacutetica do brincar e das artes O

dito autor parece supor um espaccedilo de refuacutegio para a resoluccedilatildeo dos conflitos

humanos Eis aqui a referecircncia para tal colocaccedilatildeo

Presume-se aqui que a tarefa de aceitaccedilatildeo da realidade

nunca eacute completada que nenhum ser humano estaacute livre

da tensatildeo de relacionar a realidade interna e externa e

que o aliacutevio dessa tensatildeo eacute proporcionado por uma aacuterea

intermediaacuteria de experiecircncia(cf Riviere1936) que natildeo eacute

contestada (artes religiatildeo etc) Essa aacuterea intermediaacuteria

estaacute em continuidade direta com a aacuterea do brincar da

crianccedila pequena que se ldquoperderdquo no brincar

(Winnicottopcitp29)

A princiacutepio eacute difiacutecil falar dos brinquedos cantados como objetos

transicionais (concretos) porque natildeo satildeo exatamente vistos a olhos nus embora

sejam audiacuteveis Todavia qualquer muacutesico pode escrever em uma partitura o

brinquedo cantado (concreto e cantaacutevel) para tornaacute-lo visiacutevel

O ato de cantar uma muacutesica de roda ou um acalanto jaacute eacute a traduccedilatildeo do

fenocircmeno transicional Dar-se-aacute o uso que quiser a este brinquedo cantado no

momento de sua realizaccedilatildeo Se uma muacutesica de ninar for entoada com raiva ou

brutalidade eacute certo que traraacute temores ao bebecirc e natildeo o conforto a que se prestaria

Acalantos com este do ldquobicho papatildeordquo expotildee o perigo e propotildee acolhida pela

proteccedilatildeo materna

34

ldquoBICHO PAPAtildeO(folclore)11

Bicho Papatildeo sai de cima do telhado

Deixe o menino dormir sossegado

O Eu (Self) O Eu (Self) eacute o eu integral descrito por Winnicott(1975) em sua mais

pura essecircncia um eu que nasce na liberdade de expressatildeo na confianccedila baseada

nas experiecircncias vividas no suporte dos sentimentos Para este autor certas

condiccedilotildees se fazem necessaacuterias na busca do Eu (Self) eacute o que se chama de

criatividade A criatividade pode defraglar e sustentar o ser integral

A vida sadia se mostra pelo impulso criativo O brincar eacute um instrumento

da criatividade sediado na ldquoaacuterea intermediaacuteriardquo (entre as artes e o luacutedico)

sustentado em seus primoacuterdios pela ldquomatildee suficientemente boardquo direcionado agrave

busca do ldquoEu (Self) Sobre a importacircncia das cantigas de roda nesta busca

podemos ler as contribuiccedilotildees de Millecco filho e outros (2001p44)

As cantigas de roda datildeo continuidade ao trabalho

de elaboraccedilatildeo de conflitos e agrave estrutura da pessoa

em desenvolvimento iniciado com os acalantos

() A roda aparece como uma representaccedilatildeo da

mandala expressatildeo geomeacutetrica do Self

11 Recolhido atraveacutes da cultura oral

35

A letra da muacutesica infantil ldquoa canoa virourdquo expotildee um problema e supotildee

uma soluccedilatildeo hipoteacutetica

A CANOA VIROU(folclore)12

A canoa virou vou deixar ela virar

Foi por causa da Maria que natildeo soube remar

Ah se eu fosse peixinho e soubesse nadar

Eu tirava a Marialaacute do fundo do mar

A accedilatildeo terapecircutica deve ser um modo de auxiliar uma pessoa a

vir a ser o que ela eacute capaz de ser O psicomotricista atua como facilitador no

desenvolvimento do potencial existente no sujeito Numa maternagem

suficientemente boa como fala Winnicott o psicomotricista relacional torna-se um

companheiro de jornada para as atitudes luacutedicas do seu paciente

As medidas de afeto e limites saudaacuteveis agraves necessidades do outro

devem ser reconhecidas e valorizadas Eacute o que se vecirc nas colocaccedilotildees de Winnicott

(1975p63) ldquoEm outros termos eacute a brincadeira que eacute universal e que eacute proacutepria da

sauacutede o brincar facilita o crescimento e portanto a sauacutede o brincar conduz aos

relacionamentos grupais o brincar pode ser uma forma de comunicaccedilatildeo na

psicoterapia()rdquo

12 MARTINS Armando OPCITp110

36

Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e

estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que

haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila

acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas

Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a

brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre

MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR

VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR

Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o

aprender com a danccedila do outro

ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

13 Recolhido atraveacutes da cultura oral

37

Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons

e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os

brinquedos cantados

5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE

Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma

nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o

corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se

utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia

e da linguumliacutestica

No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua

expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a

existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto

O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que

encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e

motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros

Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando

fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar

gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil

38

ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14

Eacute bom cantar eacute bom ouvir

Eacute bom pensar eacute bom sentir

Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor

Viajar dentro de si pra poder se descobrir

51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE

A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso

meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da

psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu

corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)

O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico

(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes

concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo

ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a

palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas

que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que

quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do

latim Corpusque significa tecido de membros envoltura

da alma embriatildeo do espiacuterito

14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000

39

Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na

Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto

que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo

cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a

motricidade com a inteligecircncia

Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam

em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento

humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o

movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila

De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de

segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio

Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se

no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo

de Guilman

O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num

corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo

toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico

emocional(Levin opcit)

O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor

Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em

movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica

40

psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre

outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da

pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de

Levin(opcit)

Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor

podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor

ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento

Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o

sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem

tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco

podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade

eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)

52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA

A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o

seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins

pedagoacutegicos (Levy2000)

A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se

do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos

transtornos evidenciados (Coste1992)

A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a

41

afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja

o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade

do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting

psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais

uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si

mesmo uma terapiardquo

As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas

psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema

corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade

Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo

estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees

cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito

As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de

algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A

coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar

pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos

dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para

andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes

visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a

existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa

caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc

No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a

42

primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave

vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos

cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas

psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a

expressividade e a emoccedilatildeo

O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas

psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se

confirmar por exemplo para treinar a escrita

As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar

iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da

brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo

dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da

cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas

pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar

Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora

relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de

cada uma delas

43

53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE

Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os

acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte

afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe

o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo

e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do

acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si

mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a

busca do eu (Self)

O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos

cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a

partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes

acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de

interesse da populaccedilatildeo pesquisada

Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil

geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo

continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em

desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza

simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos

conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo

44

As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia

cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o

relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano

infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a

Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda

assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia

oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria

soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo

Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as

com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da

referida estrutura

Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos

integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos

grandes segmentos (Coste1992)

Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro

expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo

corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a

habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa

O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se

movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os

movimentos enquanto observam os amigos

45

BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

Os braccedilos pra cima e pra baixo

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

As pernas pra frente e pra traacutes

Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo

preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo

motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada

diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do

grafismo (Coste1992)

A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas

brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as

palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a

crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos

Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos

fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca

do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes

15 Recolhido atraveacutes da cultura oral

46

das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa

de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas

ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16

123 indiozinhos 456 indiozinhos

789 indiozinhos 10 num pequeno bote

Vinham navegando pelo rio abaixo

Quando o jacareacute se aproximou

E o pequeno bote dos indiozinhos

Quase quase virou quase quase virou

mas natildeo virou

Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo

ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam

internas ou externas (Levin2001)

A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e

apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as

crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do

corpo que deseja mostrar

ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17

Cabeccedila ombro joelho e peacute

Joelho e peacute joelho e peacute

Olhos boca orelha e nariz

Orelha e nariz orelha e nariz

16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral

47

Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O

equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute

relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)

Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de

amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o

personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca

instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma

perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal

traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal

ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca o pandeirotoca como ele soacute

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca violatildeo toca como ele soacute

Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao

tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir

da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do

aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala

dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da

vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza

18 Recolhido atraveacutes da cultura oral

48

Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila

seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um

personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular

correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e

volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem

seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam

ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19

Anda anda anda macaquinho

Anda anda anda sem parar

Pula pula pula macaquinho

Pula pula pula ateacute cansar

Corre corre corre macaquinho

Corre corre corre sem parar

Deita deita deita macaquinho

Deita deita deita dorme ateacute sonhar

Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu

desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e

relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do

mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)

Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira

19 Recolhido atraveacutes da cultura oral

49

traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo

espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a

noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo

vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento

O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e

rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos

de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra

frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente

e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da

roda virem periquitos tambeacutem

Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem

no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras

visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas

ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20

Periquito periquito parece com papa

Periquito periquito parece com papa

Por baixo por cima pra frente e pra traacutes

Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo

ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo

temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a

20 Recolhido atraveacutes da cultura oral

50

estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus

movimentos e se organiza na vida cotidiana

Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo

que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo

humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre

ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos

acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo

A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da

chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo

dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio

ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21

A janelinha fecha quando estaacute chovendo

A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo

Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute

Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute

Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os

centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e

contralaterais (Coste1992)

21 Recolhido atraveacutes da cultura oral

51

A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento

psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e

assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute

organizada e natildeo mudaraacute mais

Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os

peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a

conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo

grupo disposto em roda

ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22

Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora

Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora

Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock

Assim eacute bem melhor

( e assim por diante com as demais partes do corpo)

Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o

modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder

apud Coste(1992)

A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a

organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo

mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do

22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57

52

desejo da matildee

A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan

apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros

tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e

de diferenccedila (ibid)

Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o

ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na

constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo

desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A

psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade

poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A

citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo

O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de

identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria

de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do

lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que

eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim

constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute

poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo

o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)

53

Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia

corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber

possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver

As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a

expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente

Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar

cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de

construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza

pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem

corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter

fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de

cantar danccedilar e brincar

54

ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23

Minha boneca de lata

Bateu com a cabeccedila no chatildeo

Levou mais de uma hora

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui pra ficar boa

Minha boneca de lata

Bateu com o pescoccedilo no chatildeo

Levou mais de duas horas

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui desamassa aqui

Pra ficar boa

Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho

o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do

corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez

horas de arrumaccedilatildeo propostas

23 Recolhido atraveacutes da cultura oral

55

6CONCLUSAtildeO

Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-

se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse

infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar

Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a

relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas

cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo

permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os

estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e

que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo

Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de

winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do

ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos

como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica

Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de

conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos

Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade

que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se

pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos

sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu

ldquoafetordquo

56

Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a

psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir

expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer

Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia

para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a

socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte

aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o

desenvolvimento das estruturas psicomotoras

Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a

essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado

pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando

o prazer de brincar cantar e ser feliz

57

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WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975

Page 33: Brinquedos Cantados Na Psicomotricidade

32

Conceitos e contornos ilustrar-se-aacute o Objeto transicional Fenocircmeno transicional

Matildee suficientemente boa Aacuterea intermediaacuteria e o Eu(Self) circundando a

importacircncia destes conceitos em relaccedilatildeo aos brinquedos cantados e sua aplicaccedilatildeo

na cliacutenica psicomotora

41CONCEITOS E CONTORNOS

Objeto Transicional Eacute o objeto concreto relativo agrave exploraccedilatildeo pulsional (descarga

impulsiva) do sujeito por exemplo uma boneca ou um carrinho

Fenocircmeno Transicional Satildeo as accedilotildees relativas agrave exploraccedilatildeo pulsional ou o uso

que se faz dos objetos transicionais Ex Um carrinho pode ser acalentado como se

fosse um bebecirc

Matildee Suficientemente Boa Pessoa que ocupa o lugar de suporte afetivo no

desenvolvimento global da crianccedila tambeacutem associada por ele a figura do

terapeuta

Em outras palavras o amor da matildee ou do terapeuta

natildeo significaria apenas um atendimento agraves necessidades

da dependecircncia mas vem a significar a concessatildeo

de oportunidades que permita ao bebecirc ou ao paciente

passar da dependecircncia para a autonomia

(Winnicott1975p150)

33

Aacuterea Intermediaacuteria Aacuterea neutra de experimentaccedilatildeo vivencial entre as realidades

internas e externas do sujeito que favorece a dialeacutetica do brincar e das artes O

dito autor parece supor um espaccedilo de refuacutegio para a resoluccedilatildeo dos conflitos

humanos Eis aqui a referecircncia para tal colocaccedilatildeo

Presume-se aqui que a tarefa de aceitaccedilatildeo da realidade

nunca eacute completada que nenhum ser humano estaacute livre

da tensatildeo de relacionar a realidade interna e externa e

que o aliacutevio dessa tensatildeo eacute proporcionado por uma aacuterea

intermediaacuteria de experiecircncia(cf Riviere1936) que natildeo eacute

contestada (artes religiatildeo etc) Essa aacuterea intermediaacuteria

estaacute em continuidade direta com a aacuterea do brincar da

crianccedila pequena que se ldquoperderdquo no brincar

(Winnicottopcitp29)

A princiacutepio eacute difiacutecil falar dos brinquedos cantados como objetos

transicionais (concretos) porque natildeo satildeo exatamente vistos a olhos nus embora

sejam audiacuteveis Todavia qualquer muacutesico pode escrever em uma partitura o

brinquedo cantado (concreto e cantaacutevel) para tornaacute-lo visiacutevel

O ato de cantar uma muacutesica de roda ou um acalanto jaacute eacute a traduccedilatildeo do

fenocircmeno transicional Dar-se-aacute o uso que quiser a este brinquedo cantado no

momento de sua realizaccedilatildeo Se uma muacutesica de ninar for entoada com raiva ou

brutalidade eacute certo que traraacute temores ao bebecirc e natildeo o conforto a que se prestaria

Acalantos com este do ldquobicho papatildeordquo expotildee o perigo e propotildee acolhida pela

proteccedilatildeo materna

34

ldquoBICHO PAPAtildeO(folclore)11

Bicho Papatildeo sai de cima do telhado

Deixe o menino dormir sossegado

O Eu (Self) O Eu (Self) eacute o eu integral descrito por Winnicott(1975) em sua mais

pura essecircncia um eu que nasce na liberdade de expressatildeo na confianccedila baseada

nas experiecircncias vividas no suporte dos sentimentos Para este autor certas

condiccedilotildees se fazem necessaacuterias na busca do Eu (Self) eacute o que se chama de

criatividade A criatividade pode defraglar e sustentar o ser integral

A vida sadia se mostra pelo impulso criativo O brincar eacute um instrumento

da criatividade sediado na ldquoaacuterea intermediaacuteriardquo (entre as artes e o luacutedico)

sustentado em seus primoacuterdios pela ldquomatildee suficientemente boardquo direcionado agrave

busca do ldquoEu (Self) Sobre a importacircncia das cantigas de roda nesta busca

podemos ler as contribuiccedilotildees de Millecco filho e outros (2001p44)

As cantigas de roda datildeo continuidade ao trabalho

de elaboraccedilatildeo de conflitos e agrave estrutura da pessoa

em desenvolvimento iniciado com os acalantos

() A roda aparece como uma representaccedilatildeo da

mandala expressatildeo geomeacutetrica do Self

11 Recolhido atraveacutes da cultura oral

35

A letra da muacutesica infantil ldquoa canoa virourdquo expotildee um problema e supotildee

uma soluccedilatildeo hipoteacutetica

A CANOA VIROU(folclore)12

A canoa virou vou deixar ela virar

Foi por causa da Maria que natildeo soube remar

Ah se eu fosse peixinho e soubesse nadar

Eu tirava a Marialaacute do fundo do mar

A accedilatildeo terapecircutica deve ser um modo de auxiliar uma pessoa a

vir a ser o que ela eacute capaz de ser O psicomotricista atua como facilitador no

desenvolvimento do potencial existente no sujeito Numa maternagem

suficientemente boa como fala Winnicott o psicomotricista relacional torna-se um

companheiro de jornada para as atitudes luacutedicas do seu paciente

As medidas de afeto e limites saudaacuteveis agraves necessidades do outro

devem ser reconhecidas e valorizadas Eacute o que se vecirc nas colocaccedilotildees de Winnicott

(1975p63) ldquoEm outros termos eacute a brincadeira que eacute universal e que eacute proacutepria da

sauacutede o brincar facilita o crescimento e portanto a sauacutede o brincar conduz aos

relacionamentos grupais o brincar pode ser uma forma de comunicaccedilatildeo na

psicoterapia()rdquo

12 MARTINS Armando OPCITp110

36

Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e

estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que

haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila

acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas

Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a

brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre

MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR

VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR

Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o

aprender com a danccedila do outro

ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

13 Recolhido atraveacutes da cultura oral

37

Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons

e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os

brinquedos cantados

5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE

Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma

nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o

corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se

utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia

e da linguumliacutestica

No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua

expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a

existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto

O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que

encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e

motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros

Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando

fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar

gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil

38

ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14

Eacute bom cantar eacute bom ouvir

Eacute bom pensar eacute bom sentir

Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor

Viajar dentro de si pra poder se descobrir

51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE

A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso

meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da

psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu

corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)

O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico

(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes

concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo

ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a

palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas

que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que

quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do

latim Corpusque significa tecido de membros envoltura

da alma embriatildeo do espiacuterito

14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000

39

Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na

Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto

que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo

cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a

motricidade com a inteligecircncia

Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam

em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento

humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o

movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila

De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de

segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio

Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se

no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo

de Guilman

O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num

corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo

toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico

emocional(Levin opcit)

O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor

Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em

movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica

40

psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre

outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da

pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de

Levin(opcit)

Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor

podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor

ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento

Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o

sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem

tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco

podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade

eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)

52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA

A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o

seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins

pedagoacutegicos (Levy2000)

A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se

do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos

transtornos evidenciados (Coste1992)

A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a

41

afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja

o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade

do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting

psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais

uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si

mesmo uma terapiardquo

As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas

psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema

corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade

Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo

estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees

cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito

As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de

algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A

coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar

pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos

dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para

andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes

visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a

existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa

caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc

No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a

42

primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave

vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos

cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas

psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a

expressividade e a emoccedilatildeo

O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas

psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se

confirmar por exemplo para treinar a escrita

As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar

iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da

brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo

dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da

cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas

pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar

Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora

relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de

cada uma delas

43

53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE

Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os

acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte

afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe

o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo

e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do

acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si

mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a

busca do eu (Self)

O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos

cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a

partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes

acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de

interesse da populaccedilatildeo pesquisada

Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil

geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo

continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em

desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza

simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos

conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo

44

As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia

cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o

relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano

infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a

Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda

assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia

oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria

soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo

Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as

com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da

referida estrutura

Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos

integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos

grandes segmentos (Coste1992)

Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro

expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo

corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a

habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa

O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se

movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os

movimentos enquanto observam os amigos

45

BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

Os braccedilos pra cima e pra baixo

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

As pernas pra frente e pra traacutes

Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo

preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo

motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada

diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do

grafismo (Coste1992)

A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas

brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as

palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a

crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos

Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos

fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca

do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes

15 Recolhido atraveacutes da cultura oral

46

das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa

de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas

ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16

123 indiozinhos 456 indiozinhos

789 indiozinhos 10 num pequeno bote

Vinham navegando pelo rio abaixo

Quando o jacareacute se aproximou

E o pequeno bote dos indiozinhos

Quase quase virou quase quase virou

mas natildeo virou

Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo

ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam

internas ou externas (Levin2001)

A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e

apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as

crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do

corpo que deseja mostrar

ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17

Cabeccedila ombro joelho e peacute

Joelho e peacute joelho e peacute

Olhos boca orelha e nariz

Orelha e nariz orelha e nariz

16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral

47

Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O

equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute

relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)

Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de

amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o

personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca

instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma

perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal

traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal

ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca o pandeirotoca como ele soacute

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca violatildeo toca como ele soacute

Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao

tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir

da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do

aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala

dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da

vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza

18 Recolhido atraveacutes da cultura oral

48

Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila

seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um

personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular

correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e

volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem

seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam

ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19

Anda anda anda macaquinho

Anda anda anda sem parar

Pula pula pula macaquinho

Pula pula pula ateacute cansar

Corre corre corre macaquinho

Corre corre corre sem parar

Deita deita deita macaquinho

Deita deita deita dorme ateacute sonhar

Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu

desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e

relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do

mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)

Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira

19 Recolhido atraveacutes da cultura oral

49

traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo

espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a

noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo

vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento

O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e

rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos

de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra

frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente

e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da

roda virem periquitos tambeacutem

Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem

no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras

visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas

ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20

Periquito periquito parece com papa

Periquito periquito parece com papa

Por baixo por cima pra frente e pra traacutes

Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo

ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo

temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a

20 Recolhido atraveacutes da cultura oral

50

estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus

movimentos e se organiza na vida cotidiana

Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo

que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo

humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre

ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos

acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo

A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da

chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo

dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio

ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21

A janelinha fecha quando estaacute chovendo

A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo

Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute

Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute

Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os

centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e

contralaterais (Coste1992)

21 Recolhido atraveacutes da cultura oral

51

A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento

psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e

assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute

organizada e natildeo mudaraacute mais

Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os

peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a

conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo

grupo disposto em roda

ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22

Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora

Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora

Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock

Assim eacute bem melhor

( e assim por diante com as demais partes do corpo)

Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o

modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder

apud Coste(1992)

A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a

organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo

mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do

22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57

52

desejo da matildee

A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan

apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros

tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e

de diferenccedila (ibid)

Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o

ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na

constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo

desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A

psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade

poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A

citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo

O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de

identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria

de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do

lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que

eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim

constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute

poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo

o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)

53

Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia

corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber

possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver

As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a

expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente

Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar

cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de

construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza

pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem

corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter

fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de

cantar danccedilar e brincar

54

ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23

Minha boneca de lata

Bateu com a cabeccedila no chatildeo

Levou mais de uma hora

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui pra ficar boa

Minha boneca de lata

Bateu com o pescoccedilo no chatildeo

Levou mais de duas horas

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui desamassa aqui

Pra ficar boa

Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho

o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do

corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez

horas de arrumaccedilatildeo propostas

23 Recolhido atraveacutes da cultura oral

55

6CONCLUSAtildeO

Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-

se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse

infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar

Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a

relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas

cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo

permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os

estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e

que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo

Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de

winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do

ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos

como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica

Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de

conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos

Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade

que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se

pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos

sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu

ldquoafetordquo

56

Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a

psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir

expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer

Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia

para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a

socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte

aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o

desenvolvimento das estruturas psicomotoras

Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a

essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado

pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando

o prazer de brincar cantar e ser feliz

57

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WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975

Page 34: Brinquedos Cantados Na Psicomotricidade

33

Aacuterea Intermediaacuteria Aacuterea neutra de experimentaccedilatildeo vivencial entre as realidades

internas e externas do sujeito que favorece a dialeacutetica do brincar e das artes O

dito autor parece supor um espaccedilo de refuacutegio para a resoluccedilatildeo dos conflitos

humanos Eis aqui a referecircncia para tal colocaccedilatildeo

Presume-se aqui que a tarefa de aceitaccedilatildeo da realidade

nunca eacute completada que nenhum ser humano estaacute livre

da tensatildeo de relacionar a realidade interna e externa e

que o aliacutevio dessa tensatildeo eacute proporcionado por uma aacuterea

intermediaacuteria de experiecircncia(cf Riviere1936) que natildeo eacute

contestada (artes religiatildeo etc) Essa aacuterea intermediaacuteria

estaacute em continuidade direta com a aacuterea do brincar da

crianccedila pequena que se ldquoperderdquo no brincar

(Winnicottopcitp29)

A princiacutepio eacute difiacutecil falar dos brinquedos cantados como objetos

transicionais (concretos) porque natildeo satildeo exatamente vistos a olhos nus embora

sejam audiacuteveis Todavia qualquer muacutesico pode escrever em uma partitura o

brinquedo cantado (concreto e cantaacutevel) para tornaacute-lo visiacutevel

O ato de cantar uma muacutesica de roda ou um acalanto jaacute eacute a traduccedilatildeo do

fenocircmeno transicional Dar-se-aacute o uso que quiser a este brinquedo cantado no

momento de sua realizaccedilatildeo Se uma muacutesica de ninar for entoada com raiva ou

brutalidade eacute certo que traraacute temores ao bebecirc e natildeo o conforto a que se prestaria

Acalantos com este do ldquobicho papatildeordquo expotildee o perigo e propotildee acolhida pela

proteccedilatildeo materna

34

ldquoBICHO PAPAtildeO(folclore)11

Bicho Papatildeo sai de cima do telhado

Deixe o menino dormir sossegado

O Eu (Self) O Eu (Self) eacute o eu integral descrito por Winnicott(1975) em sua mais

pura essecircncia um eu que nasce na liberdade de expressatildeo na confianccedila baseada

nas experiecircncias vividas no suporte dos sentimentos Para este autor certas

condiccedilotildees se fazem necessaacuterias na busca do Eu (Self) eacute o que se chama de

criatividade A criatividade pode defraglar e sustentar o ser integral

A vida sadia se mostra pelo impulso criativo O brincar eacute um instrumento

da criatividade sediado na ldquoaacuterea intermediaacuteriardquo (entre as artes e o luacutedico)

sustentado em seus primoacuterdios pela ldquomatildee suficientemente boardquo direcionado agrave

busca do ldquoEu (Self) Sobre a importacircncia das cantigas de roda nesta busca

podemos ler as contribuiccedilotildees de Millecco filho e outros (2001p44)

As cantigas de roda datildeo continuidade ao trabalho

de elaboraccedilatildeo de conflitos e agrave estrutura da pessoa

em desenvolvimento iniciado com os acalantos

() A roda aparece como uma representaccedilatildeo da

mandala expressatildeo geomeacutetrica do Self

11 Recolhido atraveacutes da cultura oral

35

A letra da muacutesica infantil ldquoa canoa virourdquo expotildee um problema e supotildee

uma soluccedilatildeo hipoteacutetica

A CANOA VIROU(folclore)12

A canoa virou vou deixar ela virar

Foi por causa da Maria que natildeo soube remar

Ah se eu fosse peixinho e soubesse nadar

Eu tirava a Marialaacute do fundo do mar

A accedilatildeo terapecircutica deve ser um modo de auxiliar uma pessoa a

vir a ser o que ela eacute capaz de ser O psicomotricista atua como facilitador no

desenvolvimento do potencial existente no sujeito Numa maternagem

suficientemente boa como fala Winnicott o psicomotricista relacional torna-se um

companheiro de jornada para as atitudes luacutedicas do seu paciente

As medidas de afeto e limites saudaacuteveis agraves necessidades do outro

devem ser reconhecidas e valorizadas Eacute o que se vecirc nas colocaccedilotildees de Winnicott

(1975p63) ldquoEm outros termos eacute a brincadeira que eacute universal e que eacute proacutepria da

sauacutede o brincar facilita o crescimento e portanto a sauacutede o brincar conduz aos

relacionamentos grupais o brincar pode ser uma forma de comunicaccedilatildeo na

psicoterapia()rdquo

12 MARTINS Armando OPCITp110

36

Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e

estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que

haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila

acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas

Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a

brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre

MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR

VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR

Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o

aprender com a danccedila do outro

ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

13 Recolhido atraveacutes da cultura oral

37

Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons

e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os

brinquedos cantados

5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE

Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma

nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o

corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se

utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia

e da linguumliacutestica

No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua

expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a

existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto

O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que

encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e

motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros

Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando

fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar

gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil

38

ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14

Eacute bom cantar eacute bom ouvir

Eacute bom pensar eacute bom sentir

Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor

Viajar dentro de si pra poder se descobrir

51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE

A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso

meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da

psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu

corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)

O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico

(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes

concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo

ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a

palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas

que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que

quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do

latim Corpusque significa tecido de membros envoltura

da alma embriatildeo do espiacuterito

14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000

39

Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na

Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto

que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo

cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a

motricidade com a inteligecircncia

Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam

em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento

humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o

movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila

De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de

segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio

Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se

no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo

de Guilman

O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num

corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo

toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico

emocional(Levin opcit)

O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor

Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em

movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica

40

psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre

outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da

pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de

Levin(opcit)

Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor

podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor

ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento

Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o

sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem

tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco

podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade

eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)

52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA

A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o

seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins

pedagoacutegicos (Levy2000)

A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se

do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos

transtornos evidenciados (Coste1992)

A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a

41

afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja

o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade

do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting

psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais

uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si

mesmo uma terapiardquo

As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas

psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema

corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade

Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo

estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees

cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito

As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de

algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A

coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar

pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos

dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para

andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes

visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a

existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa

caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc

No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a

42

primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave

vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos

cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas

psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a

expressividade e a emoccedilatildeo

O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas

psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se

confirmar por exemplo para treinar a escrita

As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar

iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da

brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo

dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da

cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas

pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar

Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora

relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de

cada uma delas

43

53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE

Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os

acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte

afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe

o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo

e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do

acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si

mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a

busca do eu (Self)

O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos

cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a

partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes

acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de

interesse da populaccedilatildeo pesquisada

Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil

geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo

continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em

desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza

simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos

conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo

44

As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia

cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o

relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano

infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a

Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda

assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia

oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria

soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo

Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as

com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da

referida estrutura

Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos

integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos

grandes segmentos (Coste1992)

Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro

expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo

corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a

habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa

O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se

movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os

movimentos enquanto observam os amigos

45

BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

Os braccedilos pra cima e pra baixo

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

As pernas pra frente e pra traacutes

Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo

preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo

motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada

diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do

grafismo (Coste1992)

A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas

brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as

palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a

crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos

Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos

fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca

do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes

15 Recolhido atraveacutes da cultura oral

46

das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa

de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas

ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16

123 indiozinhos 456 indiozinhos

789 indiozinhos 10 num pequeno bote

Vinham navegando pelo rio abaixo

Quando o jacareacute se aproximou

E o pequeno bote dos indiozinhos

Quase quase virou quase quase virou

mas natildeo virou

Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo

ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam

internas ou externas (Levin2001)

A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e

apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as

crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do

corpo que deseja mostrar

ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17

Cabeccedila ombro joelho e peacute

Joelho e peacute joelho e peacute

Olhos boca orelha e nariz

Orelha e nariz orelha e nariz

16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral

47

Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O

equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute

relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)

Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de

amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o

personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca

instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma

perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal

traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal

ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca o pandeirotoca como ele soacute

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca violatildeo toca como ele soacute

Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao

tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir

da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do

aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala

dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da

vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza

18 Recolhido atraveacutes da cultura oral

48

Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila

seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um

personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular

correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e

volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem

seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam

ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19

Anda anda anda macaquinho

Anda anda anda sem parar

Pula pula pula macaquinho

Pula pula pula ateacute cansar

Corre corre corre macaquinho

Corre corre corre sem parar

Deita deita deita macaquinho

Deita deita deita dorme ateacute sonhar

Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu

desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e

relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do

mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)

Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira

19 Recolhido atraveacutes da cultura oral

49

traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo

espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a

noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo

vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento

O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e

rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos

de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra

frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente

e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da

roda virem periquitos tambeacutem

Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem

no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras

visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas

ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20

Periquito periquito parece com papa

Periquito periquito parece com papa

Por baixo por cima pra frente e pra traacutes

Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo

ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo

temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a

20 Recolhido atraveacutes da cultura oral

50

estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus

movimentos e se organiza na vida cotidiana

Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo

que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo

humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre

ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos

acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo

A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da

chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo

dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio

ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21

A janelinha fecha quando estaacute chovendo

A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo

Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute

Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute

Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os

centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e

contralaterais (Coste1992)

21 Recolhido atraveacutes da cultura oral

51

A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento

psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e

assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute

organizada e natildeo mudaraacute mais

Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os

peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a

conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo

grupo disposto em roda

ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22

Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora

Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora

Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock

Assim eacute bem melhor

( e assim por diante com as demais partes do corpo)

Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o

modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder

apud Coste(1992)

A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a

organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo

mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do

22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57

52

desejo da matildee

A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan

apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros

tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e

de diferenccedila (ibid)

Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o

ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na

constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo

desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A

psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade

poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A

citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo

O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de

identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria

de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do

lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que

eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim

constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute

poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo

o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)

53

Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia

corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber

possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver

As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a

expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente

Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar

cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de

construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza

pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem

corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter

fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de

cantar danccedilar e brincar

54

ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23

Minha boneca de lata

Bateu com a cabeccedila no chatildeo

Levou mais de uma hora

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui pra ficar boa

Minha boneca de lata

Bateu com o pescoccedilo no chatildeo

Levou mais de duas horas

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui desamassa aqui

Pra ficar boa

Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho

o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do

corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez

horas de arrumaccedilatildeo propostas

23 Recolhido atraveacutes da cultura oral

55

6CONCLUSAtildeO

Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-

se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse

infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar

Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a

relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas

cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo

permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os

estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e

que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo

Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de

winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do

ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos

como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica

Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de

conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos

Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade

que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se

pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos

sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu

ldquoafetordquo

56

Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a

psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir

expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer

Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia

para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a

socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte

aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o

desenvolvimento das estruturas psicomotoras

Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a

essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado

pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando

o prazer de brincar cantar e ser feliz

57

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Page 35: Brinquedos Cantados Na Psicomotricidade

34

ldquoBICHO PAPAtildeO(folclore)11

Bicho Papatildeo sai de cima do telhado

Deixe o menino dormir sossegado

O Eu (Self) O Eu (Self) eacute o eu integral descrito por Winnicott(1975) em sua mais

pura essecircncia um eu que nasce na liberdade de expressatildeo na confianccedila baseada

nas experiecircncias vividas no suporte dos sentimentos Para este autor certas

condiccedilotildees se fazem necessaacuterias na busca do Eu (Self) eacute o que se chama de

criatividade A criatividade pode defraglar e sustentar o ser integral

A vida sadia se mostra pelo impulso criativo O brincar eacute um instrumento

da criatividade sediado na ldquoaacuterea intermediaacuteriardquo (entre as artes e o luacutedico)

sustentado em seus primoacuterdios pela ldquomatildee suficientemente boardquo direcionado agrave

busca do ldquoEu (Self) Sobre a importacircncia das cantigas de roda nesta busca

podemos ler as contribuiccedilotildees de Millecco filho e outros (2001p44)

As cantigas de roda datildeo continuidade ao trabalho

de elaboraccedilatildeo de conflitos e agrave estrutura da pessoa

em desenvolvimento iniciado com os acalantos

() A roda aparece como uma representaccedilatildeo da

mandala expressatildeo geomeacutetrica do Self

11 Recolhido atraveacutes da cultura oral

35

A letra da muacutesica infantil ldquoa canoa virourdquo expotildee um problema e supotildee

uma soluccedilatildeo hipoteacutetica

A CANOA VIROU(folclore)12

A canoa virou vou deixar ela virar

Foi por causa da Maria que natildeo soube remar

Ah se eu fosse peixinho e soubesse nadar

Eu tirava a Marialaacute do fundo do mar

A accedilatildeo terapecircutica deve ser um modo de auxiliar uma pessoa a

vir a ser o que ela eacute capaz de ser O psicomotricista atua como facilitador no

desenvolvimento do potencial existente no sujeito Numa maternagem

suficientemente boa como fala Winnicott o psicomotricista relacional torna-se um

companheiro de jornada para as atitudes luacutedicas do seu paciente

As medidas de afeto e limites saudaacuteveis agraves necessidades do outro

devem ser reconhecidas e valorizadas Eacute o que se vecirc nas colocaccedilotildees de Winnicott

(1975p63) ldquoEm outros termos eacute a brincadeira que eacute universal e que eacute proacutepria da

sauacutede o brincar facilita o crescimento e portanto a sauacutede o brincar conduz aos

relacionamentos grupais o brincar pode ser uma forma de comunicaccedilatildeo na

psicoterapia()rdquo

12 MARTINS Armando OPCITp110

36

Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e

estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que

haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila

acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas

Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a

brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre

MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR

VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR

Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o

aprender com a danccedila do outro

ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

13 Recolhido atraveacutes da cultura oral

37

Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons

e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os

brinquedos cantados

5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE

Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma

nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o

corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se

utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia

e da linguumliacutestica

No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua

expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a

existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto

O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que

encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e

motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros

Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando

fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar

gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil

38

ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14

Eacute bom cantar eacute bom ouvir

Eacute bom pensar eacute bom sentir

Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor

Viajar dentro de si pra poder se descobrir

51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE

A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso

meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da

psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu

corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)

O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico

(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes

concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo

ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a

palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas

que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que

quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do

latim Corpusque significa tecido de membros envoltura

da alma embriatildeo do espiacuterito

14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000

39

Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na

Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto

que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo

cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a

motricidade com a inteligecircncia

Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam

em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento

humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o

movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila

De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de

segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio

Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se

no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo

de Guilman

O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num

corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo

toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico

emocional(Levin opcit)

O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor

Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em

movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica

40

psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre

outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da

pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de

Levin(opcit)

Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor

podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor

ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento

Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o

sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem

tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco

podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade

eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)

52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA

A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o

seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins

pedagoacutegicos (Levy2000)

A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se

do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos

transtornos evidenciados (Coste1992)

A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a

41

afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja

o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade

do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting

psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais

uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si

mesmo uma terapiardquo

As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas

psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema

corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade

Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo

estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees

cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito

As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de

algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A

coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar

pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos

dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para

andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes

visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a

existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa

caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc

No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a

42

primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave

vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos

cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas

psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a

expressividade e a emoccedilatildeo

O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas

psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se

confirmar por exemplo para treinar a escrita

As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar

iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da

brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo

dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da

cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas

pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar

Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora

relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de

cada uma delas

43

53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE

Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os

acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte

afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe

o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo

e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do

acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si

mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a

busca do eu (Self)

O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos

cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a

partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes

acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de

interesse da populaccedilatildeo pesquisada

Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil

geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo

continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em

desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza

simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos

conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo

44

As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia

cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o

relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano

infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a

Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda

assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia

oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria

soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo

Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as

com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da

referida estrutura

Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos

integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos

grandes segmentos (Coste1992)

Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro

expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo

corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a

habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa

O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se

movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os

movimentos enquanto observam os amigos

45

BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

Os braccedilos pra cima e pra baixo

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

As pernas pra frente e pra traacutes

Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo

preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo

motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada

diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do

grafismo (Coste1992)

A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas

brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as

palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a

crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos

Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos

fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca

do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes

15 Recolhido atraveacutes da cultura oral

46

das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa

de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas

ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16

123 indiozinhos 456 indiozinhos

789 indiozinhos 10 num pequeno bote

Vinham navegando pelo rio abaixo

Quando o jacareacute se aproximou

E o pequeno bote dos indiozinhos

Quase quase virou quase quase virou

mas natildeo virou

Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo

ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam

internas ou externas (Levin2001)

A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e

apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as

crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do

corpo que deseja mostrar

ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17

Cabeccedila ombro joelho e peacute

Joelho e peacute joelho e peacute

Olhos boca orelha e nariz

Orelha e nariz orelha e nariz

16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral

47

Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O

equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute

relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)

Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de

amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o

personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca

instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma

perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal

traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal

ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca o pandeirotoca como ele soacute

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca violatildeo toca como ele soacute

Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao

tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir

da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do

aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala

dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da

vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza

18 Recolhido atraveacutes da cultura oral

48

Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila

seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um

personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular

correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e

volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem

seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam

ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19

Anda anda anda macaquinho

Anda anda anda sem parar

Pula pula pula macaquinho

Pula pula pula ateacute cansar

Corre corre corre macaquinho

Corre corre corre sem parar

Deita deita deita macaquinho

Deita deita deita dorme ateacute sonhar

Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu

desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e

relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do

mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)

Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira

19 Recolhido atraveacutes da cultura oral

49

traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo

espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a

noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo

vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento

O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e

rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos

de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra

frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente

e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da

roda virem periquitos tambeacutem

Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem

no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras

visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas

ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20

Periquito periquito parece com papa

Periquito periquito parece com papa

Por baixo por cima pra frente e pra traacutes

Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo

ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo

temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a

20 Recolhido atraveacutes da cultura oral

50

estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus

movimentos e se organiza na vida cotidiana

Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo

que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo

humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre

ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos

acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo

A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da

chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo

dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio

ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21

A janelinha fecha quando estaacute chovendo

A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo

Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute

Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute

Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os

centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e

contralaterais (Coste1992)

21 Recolhido atraveacutes da cultura oral

51

A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento

psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e

assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute

organizada e natildeo mudaraacute mais

Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os

peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a

conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo

grupo disposto em roda

ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22

Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora

Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora

Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock

Assim eacute bem melhor

( e assim por diante com as demais partes do corpo)

Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o

modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder

apud Coste(1992)

A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a

organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo

mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do

22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57

52

desejo da matildee

A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan

apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros

tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e

de diferenccedila (ibid)

Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o

ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na

constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo

desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A

psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade

poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A

citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo

O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de

identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria

de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do

lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que

eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim

constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute

poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo

o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)

53

Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia

corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber

possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver

As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a

expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente

Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar

cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de

construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza

pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem

corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter

fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de

cantar danccedilar e brincar

54

ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23

Minha boneca de lata

Bateu com a cabeccedila no chatildeo

Levou mais de uma hora

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui pra ficar boa

Minha boneca de lata

Bateu com o pescoccedilo no chatildeo

Levou mais de duas horas

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui desamassa aqui

Pra ficar boa

Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho

o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do

corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez

horas de arrumaccedilatildeo propostas

23 Recolhido atraveacutes da cultura oral

55

6CONCLUSAtildeO

Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-

se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse

infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar

Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a

relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas

cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo

permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os

estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e

que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo

Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de

winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do

ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos

como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica

Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de

conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos

Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade

que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se

pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos

sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu

ldquoafetordquo

56

Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a

psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir

expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer

Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia

para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a

socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte

aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o

desenvolvimento das estruturas psicomotoras

Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a

essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado

pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando

o prazer de brincar cantar e ser feliz

57

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NEGRINE Airton Aprendizagem e desenvolvimento infantil Simbolismo e jogo

volume 1 Porto alegre Editora Prodil1994

PAIVA Ione Maria R Brinquedos cantados Rio de Janeiro Editora Sprint

ltda1998

PIAGET Jean Seis estudos de psicologia 24ordfediccedilatildeo 3ordf reimpressatildeo Rio de

Janeiro Editora forense universitaacuteria ltda 2003

SANTA ROZA Eliza Quando brincar eacute dizer A experiecircncia psicanaliacutetica na

infacircncia Rio de Janeiro Editora Relume dumaraacute 1993

SHERIDAN Mary D Brincadeiras espontacircneas na primeira infacircncia Do

nascimento aos seis anos Satildeo Paulo Editora Manole 1990

VELASCO Cacilda Gonccedilalves Brincar o despertar psicomotor Rio de Janeiro

Editora Sprint ltda 1996

WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975

Page 36: Brinquedos Cantados Na Psicomotricidade

35

A letra da muacutesica infantil ldquoa canoa virourdquo expotildee um problema e supotildee

uma soluccedilatildeo hipoteacutetica

A CANOA VIROU(folclore)12

A canoa virou vou deixar ela virar

Foi por causa da Maria que natildeo soube remar

Ah se eu fosse peixinho e soubesse nadar

Eu tirava a Marialaacute do fundo do mar

A accedilatildeo terapecircutica deve ser um modo de auxiliar uma pessoa a

vir a ser o que ela eacute capaz de ser O psicomotricista atua como facilitador no

desenvolvimento do potencial existente no sujeito Numa maternagem

suficientemente boa como fala Winnicott o psicomotricista relacional torna-se um

companheiro de jornada para as atitudes luacutedicas do seu paciente

As medidas de afeto e limites saudaacuteveis agraves necessidades do outro

devem ser reconhecidas e valorizadas Eacute o que se vecirc nas colocaccedilotildees de Winnicott

(1975p63) ldquoEm outros termos eacute a brincadeira que eacute universal e que eacute proacutepria da

sauacutede o brincar facilita o crescimento e portanto a sauacutede o brincar conduz aos

relacionamentos grupais o brincar pode ser uma forma de comunicaccedilatildeo na

psicoterapia()rdquo

12 MARTINS Armando OPCITp110

36

Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e

estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que

haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila

acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas

Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a

brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre

MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR

VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR

Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o

aprender com a danccedila do outro

ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

13 Recolhido atraveacutes da cultura oral

37

Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons

e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os

brinquedos cantados

5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE

Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma

nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o

corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se

utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia

e da linguumliacutestica

No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua

expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a

existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto

O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que

encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e

motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros

Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando

fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar

gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil

38

ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14

Eacute bom cantar eacute bom ouvir

Eacute bom pensar eacute bom sentir

Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor

Viajar dentro de si pra poder se descobrir

51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE

A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso

meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da

psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu

corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)

O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico

(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes

concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo

ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a

palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas

que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que

quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do

latim Corpusque significa tecido de membros envoltura

da alma embriatildeo do espiacuterito

14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000

39

Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na

Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto

que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo

cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a

motricidade com a inteligecircncia

Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam

em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento

humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o

movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila

De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de

segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio

Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se

no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo

de Guilman

O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num

corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo

toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico

emocional(Levin opcit)

O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor

Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em

movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica

40

psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre

outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da

pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de

Levin(opcit)

Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor

podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor

ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento

Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o

sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem

tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco

podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade

eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)

52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA

A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o

seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins

pedagoacutegicos (Levy2000)

A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se

do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos

transtornos evidenciados (Coste1992)

A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a

41

afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja

o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade

do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting

psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais

uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si

mesmo uma terapiardquo

As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas

psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema

corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade

Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo

estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees

cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito

As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de

algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A

coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar

pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos

dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para

andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes

visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a

existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa

caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc

No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a

42

primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave

vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos

cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas

psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a

expressividade e a emoccedilatildeo

O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas

psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se

confirmar por exemplo para treinar a escrita

As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar

iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da

brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo

dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da

cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas

pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar

Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora

relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de

cada uma delas

43

53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE

Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os

acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte

afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe

o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo

e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do

acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si

mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a

busca do eu (Self)

O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos

cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a

partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes

acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de

interesse da populaccedilatildeo pesquisada

Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil

geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo

continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em

desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza

simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos

conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo

44

As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia

cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o

relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano

infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a

Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda

assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia

oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria

soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo

Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as

com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da

referida estrutura

Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos

integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos

grandes segmentos (Coste1992)

Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro

expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo

corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a

habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa

O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se

movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os

movimentos enquanto observam os amigos

45

BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

Os braccedilos pra cima e pra baixo

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

As pernas pra frente e pra traacutes

Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo

preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo

motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada

diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do

grafismo (Coste1992)

A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas

brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as

palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a

crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos

Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos

fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca

do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes

15 Recolhido atraveacutes da cultura oral

46

das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa

de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas

ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16

123 indiozinhos 456 indiozinhos

789 indiozinhos 10 num pequeno bote

Vinham navegando pelo rio abaixo

Quando o jacareacute se aproximou

E o pequeno bote dos indiozinhos

Quase quase virou quase quase virou

mas natildeo virou

Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo

ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam

internas ou externas (Levin2001)

A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e

apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as

crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do

corpo que deseja mostrar

ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17

Cabeccedila ombro joelho e peacute

Joelho e peacute joelho e peacute

Olhos boca orelha e nariz

Orelha e nariz orelha e nariz

16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral

47

Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O

equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute

relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)

Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de

amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o

personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca

instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma

perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal

traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal

ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca o pandeirotoca como ele soacute

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca violatildeo toca como ele soacute

Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao

tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir

da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do

aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala

dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da

vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza

18 Recolhido atraveacutes da cultura oral

48

Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila

seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um

personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular

correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e

volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem

seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam

ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19

Anda anda anda macaquinho

Anda anda anda sem parar

Pula pula pula macaquinho

Pula pula pula ateacute cansar

Corre corre corre macaquinho

Corre corre corre sem parar

Deita deita deita macaquinho

Deita deita deita dorme ateacute sonhar

Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu

desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e

relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do

mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)

Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira

19 Recolhido atraveacutes da cultura oral

49

traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo

espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a

noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo

vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento

O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e

rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos

de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra

frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente

e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da

roda virem periquitos tambeacutem

Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem

no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras

visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas

ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20

Periquito periquito parece com papa

Periquito periquito parece com papa

Por baixo por cima pra frente e pra traacutes

Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo

ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo

temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a

20 Recolhido atraveacutes da cultura oral

50

estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus

movimentos e se organiza na vida cotidiana

Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo

que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo

humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre

ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos

acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo

A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da

chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo

dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio

ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21

A janelinha fecha quando estaacute chovendo

A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo

Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute

Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute

Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os

centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e

contralaterais (Coste1992)

21 Recolhido atraveacutes da cultura oral

51

A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento

psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e

assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute

organizada e natildeo mudaraacute mais

Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os

peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a

conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo

grupo disposto em roda

ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22

Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora

Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora

Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock

Assim eacute bem melhor

( e assim por diante com as demais partes do corpo)

Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o

modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder

apud Coste(1992)

A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a

organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo

mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do

22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57

52

desejo da matildee

A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan

apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros

tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e

de diferenccedila (ibid)

Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o

ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na

constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo

desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A

psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade

poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A

citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo

O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de

identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria

de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do

lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que

eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim

constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute

poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo

o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)

53

Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia

corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber

possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver

As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a

expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente

Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar

cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de

construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza

pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem

corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter

fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de

cantar danccedilar e brincar

54

ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23

Minha boneca de lata

Bateu com a cabeccedila no chatildeo

Levou mais de uma hora

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui pra ficar boa

Minha boneca de lata

Bateu com o pescoccedilo no chatildeo

Levou mais de duas horas

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui desamassa aqui

Pra ficar boa

Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho

o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do

corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez

horas de arrumaccedilatildeo propostas

23 Recolhido atraveacutes da cultura oral

55

6CONCLUSAtildeO

Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-

se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse

infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar

Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a

relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas

cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo

permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os

estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e

que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo

Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de

winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do

ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos

como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica

Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de

conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos

Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade

que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se

pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos

sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu

ldquoafetordquo

56

Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a

psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir

expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer

Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia

para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a

socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte

aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o

desenvolvimento das estruturas psicomotoras

Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a

essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado

pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando

o prazer de brincar cantar e ser feliz

57

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Editora Sprint ltda 1996

WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975

Page 37: Brinquedos Cantados Na Psicomotricidade

36

Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e

estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que

haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila

acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas

Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a

brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre

MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR

VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR

Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o

aprender com a danccedila do outro

ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

Ele pula ele roda ele faz requebradinha

13 Recolhido atraveacutes da cultura oral

37

Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons

e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os

brinquedos cantados

5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE

Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma

nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o

corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se

utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia

e da linguumliacutestica

No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua

expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a

existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto

O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que

encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e

motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros

Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando

fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar

gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil

38

ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14

Eacute bom cantar eacute bom ouvir

Eacute bom pensar eacute bom sentir

Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor

Viajar dentro de si pra poder se descobrir

51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE

A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso

meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da

psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu

corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)

O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico

(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes

concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo

ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a

palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas

que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que

quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do

latim Corpusque significa tecido de membros envoltura

da alma embriatildeo do espiacuterito

14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000

39

Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na

Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto

que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo

cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a

motricidade com a inteligecircncia

Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam

em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento

humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o

movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila

De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de

segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio

Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se

no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo

de Guilman

O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num

corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo

toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico

emocional(Levin opcit)

O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor

Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em

movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica

40

psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre

outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da

pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de

Levin(opcit)

Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor

podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor

ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento

Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o

sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem

tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco

podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade

eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)

52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA

A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o

seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins

pedagoacutegicos (Levy2000)

A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se

do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos

transtornos evidenciados (Coste1992)

A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a

41

afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja

o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade

do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting

psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais

uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si

mesmo uma terapiardquo

As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas

psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema

corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade

Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo

estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees

cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito

As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de

algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A

coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar

pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos

dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para

andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes

visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a

existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa

caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc

No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a

42

primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave

vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos

cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas

psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a

expressividade e a emoccedilatildeo

O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas

psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se

confirmar por exemplo para treinar a escrita

As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar

iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da

brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo

dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da

cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas

pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar

Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora

relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de

cada uma delas

43

53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE

Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os

acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte

afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe

o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo

e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do

acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si

mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a

busca do eu (Self)

O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos

cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a

partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes

acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de

interesse da populaccedilatildeo pesquisada

Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil

geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo

continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em

desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza

simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos

conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo

44

As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia

cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o

relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano

infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a

Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda

assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia

oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria

soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo

Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as

com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da

referida estrutura

Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos

integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos

grandes segmentos (Coste1992)

Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro

expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo

corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a

habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa

O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se

movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os

movimentos enquanto observam os amigos

45

BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

Os braccedilos pra cima e pra baixo

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

As pernas pra frente e pra traacutes

Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo

preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo

motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada

diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do

grafismo (Coste1992)

A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas

brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as

palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a

crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos

Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos

fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca

do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes

15 Recolhido atraveacutes da cultura oral

46

das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa

de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas

ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16

123 indiozinhos 456 indiozinhos

789 indiozinhos 10 num pequeno bote

Vinham navegando pelo rio abaixo

Quando o jacareacute se aproximou

E o pequeno bote dos indiozinhos

Quase quase virou quase quase virou

mas natildeo virou

Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo

ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam

internas ou externas (Levin2001)

A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e

apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as

crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do

corpo que deseja mostrar

ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17

Cabeccedila ombro joelho e peacute

Joelho e peacute joelho e peacute

Olhos boca orelha e nariz

Orelha e nariz orelha e nariz

16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral

47

Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O

equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute

relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)

Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de

amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o

personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca

instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma

perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal

traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal

ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca o pandeirotoca como ele soacute

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca violatildeo toca como ele soacute

Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao

tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir

da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do

aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala

dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da

vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza

18 Recolhido atraveacutes da cultura oral

48

Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila

seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um

personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular

correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e

volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem

seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam

ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19

Anda anda anda macaquinho

Anda anda anda sem parar

Pula pula pula macaquinho

Pula pula pula ateacute cansar

Corre corre corre macaquinho

Corre corre corre sem parar

Deita deita deita macaquinho

Deita deita deita dorme ateacute sonhar

Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu

desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e

relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do

mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)

Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira

19 Recolhido atraveacutes da cultura oral

49

traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo

espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a

noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo

vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento

O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e

rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos

de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra

frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente

e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da

roda virem periquitos tambeacutem

Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem

no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras

visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas

ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20

Periquito periquito parece com papa

Periquito periquito parece com papa

Por baixo por cima pra frente e pra traacutes

Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo

ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo

temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a

20 Recolhido atraveacutes da cultura oral

50

estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus

movimentos e se organiza na vida cotidiana

Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo

que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo

humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre

ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos

acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo

A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da

chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo

dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio

ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21

A janelinha fecha quando estaacute chovendo

A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo

Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute

Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute

Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os

centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e

contralaterais (Coste1992)

21 Recolhido atraveacutes da cultura oral

51

A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento

psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e

assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute

organizada e natildeo mudaraacute mais

Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os

peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a

conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo

grupo disposto em roda

ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22

Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora

Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora

Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock

Assim eacute bem melhor

( e assim por diante com as demais partes do corpo)

Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o

modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder

apud Coste(1992)

A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a

organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo

mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do

22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57

52

desejo da matildee

A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan

apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros

tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e

de diferenccedila (ibid)

Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o

ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na

constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo

desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A

psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade

poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A

citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo

O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de

identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria

de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do

lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que

eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim

constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute

poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo

o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)

53

Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia

corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber

possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver

As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a

expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente

Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar

cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de

construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza

pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem

corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter

fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de

cantar danccedilar e brincar

54

ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23

Minha boneca de lata

Bateu com a cabeccedila no chatildeo

Levou mais de uma hora

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui pra ficar boa

Minha boneca de lata

Bateu com o pescoccedilo no chatildeo

Levou mais de duas horas

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui desamassa aqui

Pra ficar boa

Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho

o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do

corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez

horas de arrumaccedilatildeo propostas

23 Recolhido atraveacutes da cultura oral

55

6CONCLUSAtildeO

Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-

se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse

infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar

Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a

relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas

cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo

permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os

estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e

que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo

Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de

winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do

ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos

como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica

Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de

conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos

Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade

que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se

pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos

sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu

ldquoafetordquo

56

Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a

psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir

expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer

Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia

para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a

socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte

aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o

desenvolvimento das estruturas psicomotoras

Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a

essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado

pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando

o prazer de brincar cantar e ser feliz

57

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Page 38: Brinquedos Cantados Na Psicomotricidade

37

Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons

e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os

brinquedos cantados

5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE

Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma

nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o

corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se

utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia

e da linguumliacutestica

No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua

expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a

existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto

O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que

encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e

motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros

Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando

fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar

gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil

38

ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14

Eacute bom cantar eacute bom ouvir

Eacute bom pensar eacute bom sentir

Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor

Viajar dentro de si pra poder se descobrir

51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE

A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso

meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da

psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu

corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)

O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico

(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes

concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo

ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a

palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas

que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que

quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do

latim Corpusque significa tecido de membros envoltura

da alma embriatildeo do espiacuterito

14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000

39

Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na

Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto

que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo

cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a

motricidade com a inteligecircncia

Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam

em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento

humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o

movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila

De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de

segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio

Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se

no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo

de Guilman

O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num

corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo

toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico

emocional(Levin opcit)

O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor

Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em

movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica

40

psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre

outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da

pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de

Levin(opcit)

Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor

podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor

ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento

Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o

sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem

tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco

podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade

eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)

52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA

A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o

seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins

pedagoacutegicos (Levy2000)

A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se

do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos

transtornos evidenciados (Coste1992)

A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a

41

afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja

o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade

do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting

psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais

uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si

mesmo uma terapiardquo

As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas

psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema

corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade

Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo

estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees

cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito

As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de

algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A

coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar

pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos

dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para

andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes

visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a

existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa

caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc

No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a

42

primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave

vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos

cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas

psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a

expressividade e a emoccedilatildeo

O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas

psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se

confirmar por exemplo para treinar a escrita

As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar

iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da

brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo

dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da

cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas

pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar

Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora

relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de

cada uma delas

43

53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE

Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os

acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte

afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe

o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo

e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do

acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si

mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a

busca do eu (Self)

O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos

cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a

partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes

acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de

interesse da populaccedilatildeo pesquisada

Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil

geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo

continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em

desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza

simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos

conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo

44

As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia

cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o

relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano

infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a

Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda

assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia

oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria

soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo

Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as

com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da

referida estrutura

Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos

integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos

grandes segmentos (Coste1992)

Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro

expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo

corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a

habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa

O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se

movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os

movimentos enquanto observam os amigos

45

BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

Os braccedilos pra cima e pra baixo

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

As pernas pra frente e pra traacutes

Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo

preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo

motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada

diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do

grafismo (Coste1992)

A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas

brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as

palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a

crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos

Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos

fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca

do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes

15 Recolhido atraveacutes da cultura oral

46

das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa

de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas

ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16

123 indiozinhos 456 indiozinhos

789 indiozinhos 10 num pequeno bote

Vinham navegando pelo rio abaixo

Quando o jacareacute se aproximou

E o pequeno bote dos indiozinhos

Quase quase virou quase quase virou

mas natildeo virou

Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo

ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam

internas ou externas (Levin2001)

A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e

apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as

crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do

corpo que deseja mostrar

ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17

Cabeccedila ombro joelho e peacute

Joelho e peacute joelho e peacute

Olhos boca orelha e nariz

Orelha e nariz orelha e nariz

16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral

47

Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O

equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute

relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)

Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de

amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o

personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca

instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma

perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal

traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal

ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca o pandeirotoca como ele soacute

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca violatildeo toca como ele soacute

Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao

tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir

da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do

aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala

dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da

vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza

18 Recolhido atraveacutes da cultura oral

48

Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila

seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um

personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular

correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e

volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem

seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam

ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19

Anda anda anda macaquinho

Anda anda anda sem parar

Pula pula pula macaquinho

Pula pula pula ateacute cansar

Corre corre corre macaquinho

Corre corre corre sem parar

Deita deita deita macaquinho

Deita deita deita dorme ateacute sonhar

Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu

desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e

relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do

mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)

Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira

19 Recolhido atraveacutes da cultura oral

49

traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo

espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a

noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo

vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento

O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e

rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos

de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra

frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente

e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da

roda virem periquitos tambeacutem

Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem

no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras

visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas

ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20

Periquito periquito parece com papa

Periquito periquito parece com papa

Por baixo por cima pra frente e pra traacutes

Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo

ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo

temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a

20 Recolhido atraveacutes da cultura oral

50

estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus

movimentos e se organiza na vida cotidiana

Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo

que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo

humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre

ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos

acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo

A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da

chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo

dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio

ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21

A janelinha fecha quando estaacute chovendo

A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo

Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute

Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute

Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os

centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e

contralaterais (Coste1992)

21 Recolhido atraveacutes da cultura oral

51

A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento

psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e

assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute

organizada e natildeo mudaraacute mais

Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os

peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a

conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo

grupo disposto em roda

ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22

Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora

Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora

Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock

Assim eacute bem melhor

( e assim por diante com as demais partes do corpo)

Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o

modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder

apud Coste(1992)

A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a

organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo

mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do

22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57

52

desejo da matildee

A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan

apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros

tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e

de diferenccedila (ibid)

Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o

ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na

constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo

desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A

psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade

poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A

citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo

O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de

identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria

de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do

lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que

eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim

constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute

poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo

o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)

53

Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia

corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber

possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver

As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a

expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente

Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar

cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de

construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza

pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem

corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter

fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de

cantar danccedilar e brincar

54

ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23

Minha boneca de lata

Bateu com a cabeccedila no chatildeo

Levou mais de uma hora

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui pra ficar boa

Minha boneca de lata

Bateu com o pescoccedilo no chatildeo

Levou mais de duas horas

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui desamassa aqui

Pra ficar boa

Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho

o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do

corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez

horas de arrumaccedilatildeo propostas

23 Recolhido atraveacutes da cultura oral

55

6CONCLUSAtildeO

Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-

se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse

infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar

Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a

relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas

cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo

permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os

estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e

que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo

Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de

winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do

ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos

como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica

Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de

conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos

Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade

que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se

pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos

sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu

ldquoafetordquo

56

Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a

psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir

expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer

Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia

para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a

socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte

aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o

desenvolvimento das estruturas psicomotoras

Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a

essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado

pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando

o prazer de brincar cantar e ser feliz

57

BIBLIOGRAFIA

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Editora Sprint ltda 1996

WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975

Page 39: Brinquedos Cantados Na Psicomotricidade

38

ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14

Eacute bom cantar eacute bom ouvir

Eacute bom pensar eacute bom sentir

Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor

Viajar dentro de si pra poder se descobrir

51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE

A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso

meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da

psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu

corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)

O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico

(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes

concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo

ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a

palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas

que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que

quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do

latim Corpusque significa tecido de membros envoltura

da alma embriatildeo do espiacuterito

14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000

39

Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na

Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto

que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo

cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a

motricidade com a inteligecircncia

Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam

em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento

humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o

movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila

De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de

segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio

Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se

no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo

de Guilman

O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num

corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo

toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico

emocional(Levin opcit)

O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor

Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em

movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica

40

psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre

outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da

pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de

Levin(opcit)

Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor

podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor

ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento

Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o

sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem

tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco

podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade

eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)

52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA

A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o

seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins

pedagoacutegicos (Levy2000)

A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se

do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos

transtornos evidenciados (Coste1992)

A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a

41

afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja

o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade

do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting

psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais

uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si

mesmo uma terapiardquo

As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas

psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema

corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade

Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo

estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees

cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito

As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de

algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A

coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar

pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos

dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para

andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes

visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a

existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa

caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc

No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a

42

primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave

vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos

cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas

psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a

expressividade e a emoccedilatildeo

O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas

psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se

confirmar por exemplo para treinar a escrita

As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar

iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da

brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo

dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da

cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas

pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar

Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora

relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de

cada uma delas

43

53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE

Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os

acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte

afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe

o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo

e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do

acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si

mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a

busca do eu (Self)

O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos

cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a

partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes

acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de

interesse da populaccedilatildeo pesquisada

Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil

geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo

continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em

desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza

simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos

conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo

44

As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia

cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o

relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano

infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a

Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda

assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia

oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria

soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo

Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as

com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da

referida estrutura

Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos

integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos

grandes segmentos (Coste1992)

Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro

expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo

corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a

habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa

O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se

movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os

movimentos enquanto observam os amigos

45

BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

Os braccedilos pra cima e pra baixo

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

As pernas pra frente e pra traacutes

Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo

preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo

motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada

diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do

grafismo (Coste1992)

A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas

brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as

palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a

crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos

Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos

fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca

do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes

15 Recolhido atraveacutes da cultura oral

46

das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa

de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas

ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16

123 indiozinhos 456 indiozinhos

789 indiozinhos 10 num pequeno bote

Vinham navegando pelo rio abaixo

Quando o jacareacute se aproximou

E o pequeno bote dos indiozinhos

Quase quase virou quase quase virou

mas natildeo virou

Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo

ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam

internas ou externas (Levin2001)

A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e

apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as

crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do

corpo que deseja mostrar

ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17

Cabeccedila ombro joelho e peacute

Joelho e peacute joelho e peacute

Olhos boca orelha e nariz

Orelha e nariz orelha e nariz

16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral

47

Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O

equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute

relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)

Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de

amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o

personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca

instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma

perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal

traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal

ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca o pandeirotoca como ele soacute

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca violatildeo toca como ele soacute

Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao

tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir

da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do

aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala

dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da

vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza

18 Recolhido atraveacutes da cultura oral

48

Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila

seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um

personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular

correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e

volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem

seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam

ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19

Anda anda anda macaquinho

Anda anda anda sem parar

Pula pula pula macaquinho

Pula pula pula ateacute cansar

Corre corre corre macaquinho

Corre corre corre sem parar

Deita deita deita macaquinho

Deita deita deita dorme ateacute sonhar

Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu

desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e

relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do

mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)

Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira

19 Recolhido atraveacutes da cultura oral

49

traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo

espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a

noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo

vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento

O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e

rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos

de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra

frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente

e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da

roda virem periquitos tambeacutem

Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem

no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras

visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas

ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20

Periquito periquito parece com papa

Periquito periquito parece com papa

Por baixo por cima pra frente e pra traacutes

Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo

ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo

temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a

20 Recolhido atraveacutes da cultura oral

50

estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus

movimentos e se organiza na vida cotidiana

Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo

que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo

humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre

ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos

acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo

A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da

chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo

dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio

ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21

A janelinha fecha quando estaacute chovendo

A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo

Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute

Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute

Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os

centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e

contralaterais (Coste1992)

21 Recolhido atraveacutes da cultura oral

51

A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento

psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e

assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute

organizada e natildeo mudaraacute mais

Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os

peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a

conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo

grupo disposto em roda

ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22

Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora

Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora

Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock

Assim eacute bem melhor

( e assim por diante com as demais partes do corpo)

Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o

modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder

apud Coste(1992)

A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a

organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo

mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do

22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57

52

desejo da matildee

A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan

apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros

tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e

de diferenccedila (ibid)

Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o

ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na

constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo

desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A

psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade

poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A

citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo

O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de

identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria

de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do

lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que

eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim

constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute

poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo

o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)

53

Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia

corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber

possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver

As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a

expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente

Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar

cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de

construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza

pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem

corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter

fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de

cantar danccedilar e brincar

54

ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23

Minha boneca de lata

Bateu com a cabeccedila no chatildeo

Levou mais de uma hora

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui pra ficar boa

Minha boneca de lata

Bateu com o pescoccedilo no chatildeo

Levou mais de duas horas

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui desamassa aqui

Pra ficar boa

Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho

o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do

corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez

horas de arrumaccedilatildeo propostas

23 Recolhido atraveacutes da cultura oral

55

6CONCLUSAtildeO

Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-

se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse

infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar

Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a

relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas

cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo

permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os

estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e

que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo

Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de

winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do

ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos

como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica

Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de

conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos

Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade

que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se

pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos

sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu

ldquoafetordquo

56

Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a

psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir

expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer

Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia

para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a

socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte

aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o

desenvolvimento das estruturas psicomotoras

Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a

essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado

pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando

o prazer de brincar cantar e ser feliz

57

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WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975

Page 40: Brinquedos Cantados Na Psicomotricidade

39

Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na

Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto

que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo

cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a

motricidade com a inteligecircncia

Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam

em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento

humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o

movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila

De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de

segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio

Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se

no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo

de Guilman

O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num

corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo

toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico

emocional(Levin opcit)

O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor

Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em

movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica

40

psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre

outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da

pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de

Levin(opcit)

Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor

podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor

ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento

Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o

sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem

tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco

podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade

eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)

52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA

A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o

seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins

pedagoacutegicos (Levy2000)

A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se

do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos

transtornos evidenciados (Coste1992)

A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a

41

afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja

o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade

do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting

psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais

uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si

mesmo uma terapiardquo

As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas

psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema

corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade

Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo

estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees

cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito

As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de

algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A

coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar

pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos

dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para

andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes

visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a

existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa

caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc

No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a

42

primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave

vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos

cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas

psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a

expressividade e a emoccedilatildeo

O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas

psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se

confirmar por exemplo para treinar a escrita

As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar

iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da

brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo

dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da

cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas

pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar

Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora

relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de

cada uma delas

43

53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE

Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os

acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte

afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe

o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo

e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do

acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si

mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a

busca do eu (Self)

O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos

cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a

partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes

acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de

interesse da populaccedilatildeo pesquisada

Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil

geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo

continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em

desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza

simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos

conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo

44

As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia

cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o

relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano

infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a

Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda

assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia

oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria

soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo

Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as

com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da

referida estrutura

Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos

integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos

grandes segmentos (Coste1992)

Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro

expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo

corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a

habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa

O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se

movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os

movimentos enquanto observam os amigos

45

BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

Os braccedilos pra cima e pra baixo

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

As pernas pra frente e pra traacutes

Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo

preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo

motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada

diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do

grafismo (Coste1992)

A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas

brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as

palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a

crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos

Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos

fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca

do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes

15 Recolhido atraveacutes da cultura oral

46

das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa

de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas

ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16

123 indiozinhos 456 indiozinhos

789 indiozinhos 10 num pequeno bote

Vinham navegando pelo rio abaixo

Quando o jacareacute se aproximou

E o pequeno bote dos indiozinhos

Quase quase virou quase quase virou

mas natildeo virou

Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo

ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam

internas ou externas (Levin2001)

A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e

apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as

crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do

corpo que deseja mostrar

ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17

Cabeccedila ombro joelho e peacute

Joelho e peacute joelho e peacute

Olhos boca orelha e nariz

Orelha e nariz orelha e nariz

16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral

47

Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O

equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute

relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)

Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de

amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o

personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca

instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma

perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal

traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal

ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca o pandeirotoca como ele soacute

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca violatildeo toca como ele soacute

Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao

tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir

da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do

aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala

dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da

vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza

18 Recolhido atraveacutes da cultura oral

48

Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila

seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um

personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular

correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e

volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem

seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam

ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19

Anda anda anda macaquinho

Anda anda anda sem parar

Pula pula pula macaquinho

Pula pula pula ateacute cansar

Corre corre corre macaquinho

Corre corre corre sem parar

Deita deita deita macaquinho

Deita deita deita dorme ateacute sonhar

Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu

desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e

relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do

mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)

Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira

19 Recolhido atraveacutes da cultura oral

49

traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo

espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a

noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo

vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento

O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e

rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos

de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra

frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente

e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da

roda virem periquitos tambeacutem

Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem

no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras

visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas

ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20

Periquito periquito parece com papa

Periquito periquito parece com papa

Por baixo por cima pra frente e pra traacutes

Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo

ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo

temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a

20 Recolhido atraveacutes da cultura oral

50

estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus

movimentos e se organiza na vida cotidiana

Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo

que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo

humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre

ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos

acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo

A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da

chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo

dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio

ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21

A janelinha fecha quando estaacute chovendo

A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo

Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute

Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute

Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os

centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e

contralaterais (Coste1992)

21 Recolhido atraveacutes da cultura oral

51

A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento

psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e

assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute

organizada e natildeo mudaraacute mais

Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os

peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a

conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo

grupo disposto em roda

ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22

Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora

Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora

Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock

Assim eacute bem melhor

( e assim por diante com as demais partes do corpo)

Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o

modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder

apud Coste(1992)

A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a

organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo

mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do

22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57

52

desejo da matildee

A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan

apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros

tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e

de diferenccedila (ibid)

Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o

ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na

constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo

desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A

psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade

poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A

citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo

O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de

identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria

de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do

lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que

eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim

constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute

poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo

o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)

53

Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia

corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber

possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver

As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a

expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente

Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar

cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de

construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza

pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem

corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter

fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de

cantar danccedilar e brincar

54

ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23

Minha boneca de lata

Bateu com a cabeccedila no chatildeo

Levou mais de uma hora

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui pra ficar boa

Minha boneca de lata

Bateu com o pescoccedilo no chatildeo

Levou mais de duas horas

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui desamassa aqui

Pra ficar boa

Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho

o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do

corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez

horas de arrumaccedilatildeo propostas

23 Recolhido atraveacutes da cultura oral

55

6CONCLUSAtildeO

Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-

se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse

infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar

Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a

relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas

cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo

permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os

estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e

que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo

Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de

winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do

ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos

como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica

Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de

conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos

Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade

que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se

pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos

sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu

ldquoafetordquo

56

Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a

psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir

expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer

Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia

para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a

socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte

aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o

desenvolvimento das estruturas psicomotoras

Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a

essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado

pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando

o prazer de brincar cantar e ser feliz

57

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WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975

Page 41: Brinquedos Cantados Na Psicomotricidade

40

psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre

outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da

pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de

Levin(opcit)

Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor

podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor

ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento

Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o

sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem

tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco

podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade

eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)

52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA

A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o

seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins

pedagoacutegicos (Levy2000)

A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se

do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos

transtornos evidenciados (Coste1992)

A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a

41

afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja

o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade

do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting

psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais

uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si

mesmo uma terapiardquo

As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas

psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema

corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade

Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo

estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees

cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito

As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de

algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A

coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar

pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos

dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para

andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes

visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a

existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa

caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc

No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a

42

primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave

vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos

cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas

psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a

expressividade e a emoccedilatildeo

O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas

psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se

confirmar por exemplo para treinar a escrita

As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar

iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da

brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo

dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da

cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas

pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar

Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora

relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de

cada uma delas

43

53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE

Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os

acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte

afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe

o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo

e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do

acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si

mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a

busca do eu (Self)

O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos

cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a

partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes

acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de

interesse da populaccedilatildeo pesquisada

Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil

geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo

continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em

desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza

simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos

conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo

44

As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia

cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o

relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano

infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a

Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda

assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia

oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria

soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo

Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as

com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da

referida estrutura

Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos

integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos

grandes segmentos (Coste1992)

Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro

expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo

corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a

habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa

O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se

movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os

movimentos enquanto observam os amigos

45

BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

Os braccedilos pra cima e pra baixo

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

As pernas pra frente e pra traacutes

Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo

preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo

motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada

diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do

grafismo (Coste1992)

A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas

brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as

palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a

crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos

Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos

fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca

do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes

15 Recolhido atraveacutes da cultura oral

46

das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa

de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas

ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16

123 indiozinhos 456 indiozinhos

789 indiozinhos 10 num pequeno bote

Vinham navegando pelo rio abaixo

Quando o jacareacute se aproximou

E o pequeno bote dos indiozinhos

Quase quase virou quase quase virou

mas natildeo virou

Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo

ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam

internas ou externas (Levin2001)

A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e

apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as

crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do

corpo que deseja mostrar

ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17

Cabeccedila ombro joelho e peacute

Joelho e peacute joelho e peacute

Olhos boca orelha e nariz

Orelha e nariz orelha e nariz

16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral

47

Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O

equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute

relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)

Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de

amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o

personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca

instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma

perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal

traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal

ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca o pandeirotoca como ele soacute

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca violatildeo toca como ele soacute

Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao

tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir

da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do

aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala

dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da

vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza

18 Recolhido atraveacutes da cultura oral

48

Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila

seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um

personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular

correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e

volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem

seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam

ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19

Anda anda anda macaquinho

Anda anda anda sem parar

Pula pula pula macaquinho

Pula pula pula ateacute cansar

Corre corre corre macaquinho

Corre corre corre sem parar

Deita deita deita macaquinho

Deita deita deita dorme ateacute sonhar

Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu

desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e

relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do

mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)

Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira

19 Recolhido atraveacutes da cultura oral

49

traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo

espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a

noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo

vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento

O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e

rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos

de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra

frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente

e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da

roda virem periquitos tambeacutem

Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem

no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras

visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas

ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20

Periquito periquito parece com papa

Periquito periquito parece com papa

Por baixo por cima pra frente e pra traacutes

Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo

ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo

temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a

20 Recolhido atraveacutes da cultura oral

50

estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus

movimentos e se organiza na vida cotidiana

Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo

que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo

humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre

ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos

acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo

A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da

chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo

dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio

ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21

A janelinha fecha quando estaacute chovendo

A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo

Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute

Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute

Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os

centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e

contralaterais (Coste1992)

21 Recolhido atraveacutes da cultura oral

51

A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento

psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e

assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute

organizada e natildeo mudaraacute mais

Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os

peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a

conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo

grupo disposto em roda

ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22

Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora

Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora

Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock

Assim eacute bem melhor

( e assim por diante com as demais partes do corpo)

Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o

modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder

apud Coste(1992)

A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a

organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo

mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do

22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57

52

desejo da matildee

A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan

apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros

tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e

de diferenccedila (ibid)

Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o

ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na

constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo

desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A

psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade

poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A

citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo

O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de

identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria

de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do

lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que

eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim

constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute

poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo

o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)

53

Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia

corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber

possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver

As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a

expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente

Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar

cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de

construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza

pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem

corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter

fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de

cantar danccedilar e brincar

54

ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23

Minha boneca de lata

Bateu com a cabeccedila no chatildeo

Levou mais de uma hora

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui pra ficar boa

Minha boneca de lata

Bateu com o pescoccedilo no chatildeo

Levou mais de duas horas

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui desamassa aqui

Pra ficar boa

Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho

o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do

corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez

horas de arrumaccedilatildeo propostas

23 Recolhido atraveacutes da cultura oral

55

6CONCLUSAtildeO

Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-

se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse

infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar

Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a

relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas

cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo

permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os

estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e

que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo

Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de

winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do

ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos

como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica

Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de

conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos

Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade

que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se

pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos

sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu

ldquoafetordquo

56

Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a

psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir

expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer

Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia

para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a

socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte

aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o

desenvolvimento das estruturas psicomotoras

Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a

essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado

pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando

o prazer de brincar cantar e ser feliz

57

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psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema

corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade

Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo

estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees

cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito

As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de

algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A

coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar

pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos

dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para

andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes

visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a

existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa

caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc

No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a

42

primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave

vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos

cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas

psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a

expressividade e a emoccedilatildeo

O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas

psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se

confirmar por exemplo para treinar a escrita

As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar

iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da

brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo

dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da

cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas

pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar

Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora

relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de

cada uma delas

43

53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE

Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os

acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte

afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe

o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo

e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do

acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si

mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a

busca do eu (Self)

O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos

cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a

partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes

acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de

interesse da populaccedilatildeo pesquisada

Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil

geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo

continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em

desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza

simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos

conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo

44

As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia

cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o

relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano

infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a

Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda

assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia

oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria

soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo

Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as

com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da

referida estrutura

Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos

integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos

grandes segmentos (Coste1992)

Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro

expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo

corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a

habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa

O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se

movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os

movimentos enquanto observam os amigos

45

BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

Os braccedilos pra cima e pra baixo

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

As pernas pra frente e pra traacutes

Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo

preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo

motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada

diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do

grafismo (Coste1992)

A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas

brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as

palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a

crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos

Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos

fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca

do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes

15 Recolhido atraveacutes da cultura oral

46

das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa

de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas

ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16

123 indiozinhos 456 indiozinhos

789 indiozinhos 10 num pequeno bote

Vinham navegando pelo rio abaixo

Quando o jacareacute se aproximou

E o pequeno bote dos indiozinhos

Quase quase virou quase quase virou

mas natildeo virou

Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo

ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam

internas ou externas (Levin2001)

A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e

apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as

crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do

corpo que deseja mostrar

ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17

Cabeccedila ombro joelho e peacute

Joelho e peacute joelho e peacute

Olhos boca orelha e nariz

Orelha e nariz orelha e nariz

16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral

47

Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O

equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute

relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)

Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de

amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o

personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca

instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma

perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal

traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal

ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca o pandeirotoca como ele soacute

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca violatildeo toca como ele soacute

Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao

tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir

da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do

aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala

dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da

vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza

18 Recolhido atraveacutes da cultura oral

48

Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila

seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um

personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular

correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e

volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem

seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam

ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19

Anda anda anda macaquinho

Anda anda anda sem parar

Pula pula pula macaquinho

Pula pula pula ateacute cansar

Corre corre corre macaquinho

Corre corre corre sem parar

Deita deita deita macaquinho

Deita deita deita dorme ateacute sonhar

Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu

desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e

relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do

mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)

Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira

19 Recolhido atraveacutes da cultura oral

49

traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo

espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a

noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo

vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento

O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e

rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos

de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra

frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente

e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da

roda virem periquitos tambeacutem

Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem

no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras

visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas

ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20

Periquito periquito parece com papa

Periquito periquito parece com papa

Por baixo por cima pra frente e pra traacutes

Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo

ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo

temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a

20 Recolhido atraveacutes da cultura oral

50

estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus

movimentos e se organiza na vida cotidiana

Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo

que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo

humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre

ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos

acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo

A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da

chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo

dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio

ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21

A janelinha fecha quando estaacute chovendo

A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo

Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute

Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute

Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os

centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e

contralaterais (Coste1992)

21 Recolhido atraveacutes da cultura oral

51

A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento

psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e

assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute

organizada e natildeo mudaraacute mais

Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os

peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a

conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo

grupo disposto em roda

ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22

Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora

Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora

Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock

Assim eacute bem melhor

( e assim por diante com as demais partes do corpo)

Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o

modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder

apud Coste(1992)

A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a

organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo

mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do

22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57

52

desejo da matildee

A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan

apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros

tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e

de diferenccedila (ibid)

Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o

ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na

constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo

desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A

psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade

poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A

citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo

O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de

identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria

de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do

lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que

eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim

constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute

poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo

o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)

53

Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia

corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber

possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver

As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a

expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente

Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar

cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de

construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza

pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem

corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter

fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de

cantar danccedilar e brincar

54

ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23

Minha boneca de lata

Bateu com a cabeccedila no chatildeo

Levou mais de uma hora

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui pra ficar boa

Minha boneca de lata

Bateu com o pescoccedilo no chatildeo

Levou mais de duas horas

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui desamassa aqui

Pra ficar boa

Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho

o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do

corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez

horas de arrumaccedilatildeo propostas

23 Recolhido atraveacutes da cultura oral

55

6CONCLUSAtildeO

Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-

se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse

infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar

Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a

relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas

cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo

permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os

estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e

que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo

Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de

winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do

ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos

como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica

Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de

conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos

Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade

que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se

pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos

sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu

ldquoafetordquo

56

Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a

psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir

expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer

Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia

para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a

socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte

aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o

desenvolvimento das estruturas psicomotoras

Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a

essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado

pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando

o prazer de brincar cantar e ser feliz

57

BIBLIOGRAFIA

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Page 43: Brinquedos Cantados Na Psicomotricidade

42

primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave

vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos

cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas

psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a

expressividade e a emoccedilatildeo

O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas

psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se

confirmar por exemplo para treinar a escrita

As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar

iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da

brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo

dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da

cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas

pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar

Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora

relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de

cada uma delas

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53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE

Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os

acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte

afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe

o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo

e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do

acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si

mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a

busca do eu (Self)

O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos

cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a

partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes

acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de

interesse da populaccedilatildeo pesquisada

Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil

geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo

continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em

desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza

simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos

conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo

44

As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia

cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o

relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano

infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a

Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda

assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia

oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria

soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo

Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as

com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da

referida estrutura

Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos

integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos

grandes segmentos (Coste1992)

Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro

expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo

corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a

habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa

O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se

movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os

movimentos enquanto observam os amigos

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BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

Os braccedilos pra cima e pra baixo

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

As pernas pra frente e pra traacutes

Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo

preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo

motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada

diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do

grafismo (Coste1992)

A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas

brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as

palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a

crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos

Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos

fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca

do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes

15 Recolhido atraveacutes da cultura oral

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das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa

de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas

ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16

123 indiozinhos 456 indiozinhos

789 indiozinhos 10 num pequeno bote

Vinham navegando pelo rio abaixo

Quando o jacareacute se aproximou

E o pequeno bote dos indiozinhos

Quase quase virou quase quase virou

mas natildeo virou

Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo

ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam

internas ou externas (Levin2001)

A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e

apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as

crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do

corpo que deseja mostrar

ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17

Cabeccedila ombro joelho e peacute

Joelho e peacute joelho e peacute

Olhos boca orelha e nariz

Orelha e nariz orelha e nariz

16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral

47

Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O

equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute

relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)

Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de

amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o

personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca

instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma

perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal

traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal

ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca o pandeirotoca como ele soacute

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca violatildeo toca como ele soacute

Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao

tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir

da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do

aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala

dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da

vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza

18 Recolhido atraveacutes da cultura oral

48

Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila

seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um

personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular

correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e

volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem

seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam

ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19

Anda anda anda macaquinho

Anda anda anda sem parar

Pula pula pula macaquinho

Pula pula pula ateacute cansar

Corre corre corre macaquinho

Corre corre corre sem parar

Deita deita deita macaquinho

Deita deita deita dorme ateacute sonhar

Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu

desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e

relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do

mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)

Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira

19 Recolhido atraveacutes da cultura oral

49

traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo

espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a

noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo

vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento

O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e

rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos

de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra

frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente

e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da

roda virem periquitos tambeacutem

Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem

no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras

visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas

ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20

Periquito periquito parece com papa

Periquito periquito parece com papa

Por baixo por cima pra frente e pra traacutes

Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo

ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo

temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a

20 Recolhido atraveacutes da cultura oral

50

estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus

movimentos e se organiza na vida cotidiana

Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo

que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo

humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre

ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos

acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo

A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da

chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo

dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio

ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21

A janelinha fecha quando estaacute chovendo

A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo

Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute

Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute

Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os

centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e

contralaterais (Coste1992)

21 Recolhido atraveacutes da cultura oral

51

A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento

psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e

assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute

organizada e natildeo mudaraacute mais

Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os

peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a

conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo

grupo disposto em roda

ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22

Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora

Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora

Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock

Assim eacute bem melhor

( e assim por diante com as demais partes do corpo)

Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o

modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder

apud Coste(1992)

A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a

organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo

mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do

22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57

52

desejo da matildee

A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan

apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros

tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e

de diferenccedila (ibid)

Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o

ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na

constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo

desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A

psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade

poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A

citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo

O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de

identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria

de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do

lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que

eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim

constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute

poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo

o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)

53

Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia

corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber

possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver

As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a

expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente

Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar

cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de

construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza

pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem

corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter

fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de

cantar danccedilar e brincar

54

ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23

Minha boneca de lata

Bateu com a cabeccedila no chatildeo

Levou mais de uma hora

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui pra ficar boa

Minha boneca de lata

Bateu com o pescoccedilo no chatildeo

Levou mais de duas horas

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui desamassa aqui

Pra ficar boa

Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho

o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do

corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez

horas de arrumaccedilatildeo propostas

23 Recolhido atraveacutes da cultura oral

55

6CONCLUSAtildeO

Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-

se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse

infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar

Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a

relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas

cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo

permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os

estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e

que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo

Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de

winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do

ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos

como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica

Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de

conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos

Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade

que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se

pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos

sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu

ldquoafetordquo

56

Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a

psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir

expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer

Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia

para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a

socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte

aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o

desenvolvimento das estruturas psicomotoras

Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a

essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado

pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando

o prazer de brincar cantar e ser feliz

57

BIBLIOGRAFIA

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Belo Horizonte Itatiaia Satildeo Paulo Editora Universo1988

COSTA Clarice Moura O Despertar para o outro Musicoterapia Satildeo Paulo

Summus editorial1989

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Editora Nova fonteira SA1988

FERREIRA Isabel Neves Caminhos do aprender Brasiacutelia Coordenaccedilatildeo Nacional

Para a integraccedilatildeo da pessoa portadora de deficiecircncia 1993

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Ltda 1989

GAINZA Violeta Hemsy de Estudos de psicopedagogia musical Satildeo Paulo

Summus editorial 1988

HUIZINGA J Homo Ludens Satildeo Paulo Editora Perspectiva 1980

LAPIERRE A amp AUCOUTURIER B A simbologia do movimento psicomotricidade

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2001

LEVIN Esteban A cliacutenica psicomotora O corpo na linguagem 4ordfediccedilatildeo Petroacutepolis

Rio de janeiro Editora Vozes 2001

LEVY Denise ldquoPsicomotricidade e Gerontomotricidade na sauacutede puacuteblicardquo IN

Psicomotricidade da educaccedilatildeo infantil agrave gerontologia (teoria e praacutetica)

Satildeo Paulo Editora Lovise 2000

58

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Ediccedilotildees de ouro 1990

MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute preciso Cantar Musicoterapia Cantos e

Canccedilotildees Rio de Janeiro Enelivros editora e livraria ltda 2001

NEGRINE Airton Aprendizagem e desenvolvimento infantil Simbolismo e jogo

volume 1 Porto alegre Editora Prodil1994

PAIVA Ione Maria R Brinquedos cantados Rio de Janeiro Editora Sprint

ltda1998

PIAGET Jean Seis estudos de psicologia 24ordfediccedilatildeo 3ordf reimpressatildeo Rio de

Janeiro Editora forense universitaacuteria ltda 2003

SANTA ROZA Eliza Quando brincar eacute dizer A experiecircncia psicanaliacutetica na

infacircncia Rio de Janeiro Editora Relume dumaraacute 1993

SHERIDAN Mary D Brincadeiras espontacircneas na primeira infacircncia Do

nascimento aos seis anos Satildeo Paulo Editora Manole 1990

VELASCO Cacilda Gonccedilalves Brincar o despertar psicomotor Rio de Janeiro

Editora Sprint ltda 1996

WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975

Page 44: Brinquedos Cantados Na Psicomotricidade

43

53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE

Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os

acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte

afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe

o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo

e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do

acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si

mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a

busca do eu (Self)

O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos

cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a

partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes

acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de

interesse da populaccedilatildeo pesquisada

Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil

geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo

continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em

desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza

simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos

conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo

44

As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia

cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o

relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano

infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a

Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda

assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia

oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria

soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo

Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as

com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da

referida estrutura

Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos

integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos

grandes segmentos (Coste1992)

Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro

expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo

corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a

habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa

O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se

movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os

movimentos enquanto observam os amigos

45

BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

Os braccedilos pra cima e pra baixo

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

As pernas pra frente e pra traacutes

Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo

preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo

motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada

diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do

grafismo (Coste1992)

A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas

brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as

palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a

crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos

Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos

fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca

do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes

15 Recolhido atraveacutes da cultura oral

46

das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa

de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas

ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16

123 indiozinhos 456 indiozinhos

789 indiozinhos 10 num pequeno bote

Vinham navegando pelo rio abaixo

Quando o jacareacute se aproximou

E o pequeno bote dos indiozinhos

Quase quase virou quase quase virou

mas natildeo virou

Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo

ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam

internas ou externas (Levin2001)

A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e

apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as

crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do

corpo que deseja mostrar

ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17

Cabeccedila ombro joelho e peacute

Joelho e peacute joelho e peacute

Olhos boca orelha e nariz

Orelha e nariz orelha e nariz

16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral

47

Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O

equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute

relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)

Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de

amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o

personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca

instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma

perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal

traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal

ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca o pandeirotoca como ele soacute

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca violatildeo toca como ele soacute

Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao

tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir

da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do

aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala

dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da

vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza

18 Recolhido atraveacutes da cultura oral

48

Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila

seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um

personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular

correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e

volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem

seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam

ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19

Anda anda anda macaquinho

Anda anda anda sem parar

Pula pula pula macaquinho

Pula pula pula ateacute cansar

Corre corre corre macaquinho

Corre corre corre sem parar

Deita deita deita macaquinho

Deita deita deita dorme ateacute sonhar

Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu

desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e

relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do

mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)

Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira

19 Recolhido atraveacutes da cultura oral

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traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo

espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a

noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo

vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento

O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e

rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos

de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra

frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente

e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da

roda virem periquitos tambeacutem

Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem

no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras

visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas

ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20

Periquito periquito parece com papa

Periquito periquito parece com papa

Por baixo por cima pra frente e pra traacutes

Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo

ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo

temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a

20 Recolhido atraveacutes da cultura oral

50

estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus

movimentos e se organiza na vida cotidiana

Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo

que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo

humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre

ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos

acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo

A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da

chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo

dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio

ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21

A janelinha fecha quando estaacute chovendo

A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo

Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute

Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute

Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os

centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e

contralaterais (Coste1992)

21 Recolhido atraveacutes da cultura oral

51

A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento

psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e

assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute

organizada e natildeo mudaraacute mais

Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os

peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a

conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo

grupo disposto em roda

ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22

Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora

Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora

Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock

Assim eacute bem melhor

( e assim por diante com as demais partes do corpo)

Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o

modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder

apud Coste(1992)

A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a

organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo

mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do

22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57

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desejo da matildee

A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan

apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros

tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e

de diferenccedila (ibid)

Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o

ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na

constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo

desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A

psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade

poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A

citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo

O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de

identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria

de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do

lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que

eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim

constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute

poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo

o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)

53

Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia

corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber

possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver

As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a

expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente

Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar

cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de

construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza

pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem

corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter

fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de

cantar danccedilar e brincar

54

ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23

Minha boneca de lata

Bateu com a cabeccedila no chatildeo

Levou mais de uma hora

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui pra ficar boa

Minha boneca de lata

Bateu com o pescoccedilo no chatildeo

Levou mais de duas horas

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui desamassa aqui

Pra ficar boa

Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho

o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do

corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez

horas de arrumaccedilatildeo propostas

23 Recolhido atraveacutes da cultura oral

55

6CONCLUSAtildeO

Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-

se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse

infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar

Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a

relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas

cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo

permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os

estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e

que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo

Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de

winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do

ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos

como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica

Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de

conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos

Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade

que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se

pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos

sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu

ldquoafetordquo

56

Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a

psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir

expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer

Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia

para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a

socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte

aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o

desenvolvimento das estruturas psicomotoras

Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a

essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado

pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando

o prazer de brincar cantar e ser feliz

57

BIBLIOGRAFIA

CASCUDO Luiacutes da Cacircmara Dicionaacuterio do folclore Brasileiro 6ordfediccedilatildeo

Belo Horizonte Itatiaia Satildeo Paulo Editora Universo1988

COSTA Clarice Moura O Despertar para o outro Musicoterapia Satildeo Paulo

Summus editorial1989

COSTE Jean Claude A Psicomotricidade 4ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Guanabara

Koogan 1992

FERREIRA Aureacutelio Buarque de Holanda Dicionaacuterio Aureacutelio Baacutesico Rio de Janeiro

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FERREIRA Isabel Neves Caminhos do aprender Brasiacutelia Coordenaccedilatildeo Nacional

Para a integraccedilatildeo da pessoa portadora de deficiecircncia 1993

FREGTMAN Carlos Daniel Corpo Muacutesica e terapia Satildeo Paulo Editora Cultrix

Ltda 1989

GAINZA Violeta Hemsy de Estudos de psicopedagogia musical Satildeo Paulo

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e educaccedilatildeo 2ordfediccedilatildeo Porto alegre Editora Artes meacutedicas 1988

LEITAcircO Luiacutes A Apostila Recreaccedilatildeo na Educaccedilatildeo Fiacutesica Rio de Janeiro UNESA

2001

LEVIN Esteban A cliacutenica psicomotora O corpo na linguagem 4ordfediccedilatildeo Petroacutepolis

Rio de janeiro Editora Vozes 2001

LEVY Denise ldquoPsicomotricidade e Gerontomotricidade na sauacutede puacuteblicardquo IN

Psicomotricidade da educaccedilatildeo infantil agrave gerontologia (teoria e praacutetica)

Satildeo Paulo Editora Lovise 2000

58

MARTINS Armando Toque violatildeo ou guitarra (meacutetodo praacutetico) Rio de Janeiro

Ediccedilotildees de ouro 1990

MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute preciso Cantar Musicoterapia Cantos e

Canccedilotildees Rio de Janeiro Enelivros editora e livraria ltda 2001

NEGRINE Airton Aprendizagem e desenvolvimento infantil Simbolismo e jogo

volume 1 Porto alegre Editora Prodil1994

PAIVA Ione Maria R Brinquedos cantados Rio de Janeiro Editora Sprint

ltda1998

PIAGET Jean Seis estudos de psicologia 24ordfediccedilatildeo 3ordf reimpressatildeo Rio de

Janeiro Editora forense universitaacuteria ltda 2003

SANTA ROZA Eliza Quando brincar eacute dizer A experiecircncia psicanaliacutetica na

infacircncia Rio de Janeiro Editora Relume dumaraacute 1993

SHERIDAN Mary D Brincadeiras espontacircneas na primeira infacircncia Do

nascimento aos seis anos Satildeo Paulo Editora Manole 1990

VELASCO Cacilda Gonccedilalves Brincar o despertar psicomotor Rio de Janeiro

Editora Sprint ltda 1996

WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975

Page 45: Brinquedos Cantados Na Psicomotricidade

44

As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia

cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o

relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano

infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a

Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda

assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia

oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria

soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo

Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as

com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da

referida estrutura

Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos

integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos

grandes segmentos (Coste1992)

Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro

expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo

corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a

habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa

O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se

movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os

movimentos enquanto observam os amigos

45

BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

Os braccedilos pra cima e pra baixo

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

As pernas pra frente e pra traacutes

Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo

preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo

motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada

diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do

grafismo (Coste1992)

A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas

brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as

palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a

crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos

Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos

fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca

do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes

15 Recolhido atraveacutes da cultura oral

46

das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa

de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas

ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16

123 indiozinhos 456 indiozinhos

789 indiozinhos 10 num pequeno bote

Vinham navegando pelo rio abaixo

Quando o jacareacute se aproximou

E o pequeno bote dos indiozinhos

Quase quase virou quase quase virou

mas natildeo virou

Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo

ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam

internas ou externas (Levin2001)

A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e

apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as

crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do

corpo que deseja mostrar

ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17

Cabeccedila ombro joelho e peacute

Joelho e peacute joelho e peacute

Olhos boca orelha e nariz

Orelha e nariz orelha e nariz

16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral

47

Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O

equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute

relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)

Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de

amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o

personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca

instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma

perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal

traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal

ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca o pandeirotoca como ele soacute

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca violatildeo toca como ele soacute

Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao

tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir

da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do

aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala

dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da

vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza

18 Recolhido atraveacutes da cultura oral

48

Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila

seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um

personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular

correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e

volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem

seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam

ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19

Anda anda anda macaquinho

Anda anda anda sem parar

Pula pula pula macaquinho

Pula pula pula ateacute cansar

Corre corre corre macaquinho

Corre corre corre sem parar

Deita deita deita macaquinho

Deita deita deita dorme ateacute sonhar

Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu

desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e

relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do

mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)

Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira

19 Recolhido atraveacutes da cultura oral

49

traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo

espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a

noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo

vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento

O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e

rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos

de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra

frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente

e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da

roda virem periquitos tambeacutem

Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem

no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras

visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas

ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20

Periquito periquito parece com papa

Periquito periquito parece com papa

Por baixo por cima pra frente e pra traacutes

Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo

ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo

temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a

20 Recolhido atraveacutes da cultura oral

50

estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus

movimentos e se organiza na vida cotidiana

Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo

que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo

humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre

ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos

acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo

A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da

chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo

dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio

ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21

A janelinha fecha quando estaacute chovendo

A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo

Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute

Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute

Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os

centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e

contralaterais (Coste1992)

21 Recolhido atraveacutes da cultura oral

51

A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento

psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e

assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute

organizada e natildeo mudaraacute mais

Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os

peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a

conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo

grupo disposto em roda

ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22

Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora

Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora

Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock

Assim eacute bem melhor

( e assim por diante com as demais partes do corpo)

Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o

modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder

apud Coste(1992)

A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a

organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo

mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do

22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57

52

desejo da matildee

A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan

apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros

tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e

de diferenccedila (ibid)

Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o

ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na

constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo

desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A

psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade

poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A

citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo

O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de

identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria

de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do

lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que

eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim

constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute

poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo

o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)

53

Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia

corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber

possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver

As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a

expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente

Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar

cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de

construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza

pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem

corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter

fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de

cantar danccedilar e brincar

54

ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23

Minha boneca de lata

Bateu com a cabeccedila no chatildeo

Levou mais de uma hora

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui pra ficar boa

Minha boneca de lata

Bateu com o pescoccedilo no chatildeo

Levou mais de duas horas

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui desamassa aqui

Pra ficar boa

Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho

o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do

corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez

horas de arrumaccedilatildeo propostas

23 Recolhido atraveacutes da cultura oral

55

6CONCLUSAtildeO

Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-

se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse

infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar

Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a

relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas

cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo

permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os

estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e

que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo

Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de

winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do

ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos

como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica

Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de

conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos

Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade

que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se

pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos

sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu

ldquoafetordquo

56

Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a

psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir

expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer

Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia

para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a

socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte

aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o

desenvolvimento das estruturas psicomotoras

Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a

essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado

pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando

o prazer de brincar cantar e ser feliz

57

BIBLIOGRAFIA

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FERREIRA Isabel Neves Caminhos do aprender Brasiacutelia Coordenaccedilatildeo Nacional

Para a integraccedilatildeo da pessoa portadora de deficiecircncia 1993

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GAINZA Violeta Hemsy de Estudos de psicopedagogia musical Satildeo Paulo

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e educaccedilatildeo 2ordfediccedilatildeo Porto alegre Editora Artes meacutedicas 1988

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LEVY Denise ldquoPsicomotricidade e Gerontomotricidade na sauacutede puacuteblicardquo IN

Psicomotricidade da educaccedilatildeo infantil agrave gerontologia (teoria e praacutetica)

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Canccedilotildees Rio de Janeiro Enelivros editora e livraria ltda 2001

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volume 1 Porto alegre Editora Prodil1994

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ltda1998

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Janeiro Editora forense universitaacuteria ltda 2003

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infacircncia Rio de Janeiro Editora Relume dumaraacute 1993

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nascimento aos seis anos Satildeo Paulo Editora Manole 1990

VELASCO Cacilda Gonccedilalves Brincar o despertar psicomotor Rio de Janeiro

Editora Sprint ltda 1996

WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975

Page 46: Brinquedos Cantados Na Psicomotricidade

45

BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

Os braccedilos pra cima e pra baixo

Vamos pra batalha do aquecimento

Vamos aquecer aqui neste momento

As pernas pra frente e pra traacutes

Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo

preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo

motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada

diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do

grafismo (Coste1992)

A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas

brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as

palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a

crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos

Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos

fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca

do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes

15 Recolhido atraveacutes da cultura oral

46

das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa

de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas

ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16

123 indiozinhos 456 indiozinhos

789 indiozinhos 10 num pequeno bote

Vinham navegando pelo rio abaixo

Quando o jacareacute se aproximou

E o pequeno bote dos indiozinhos

Quase quase virou quase quase virou

mas natildeo virou

Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo

ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam

internas ou externas (Levin2001)

A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e

apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as

crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do

corpo que deseja mostrar

ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17

Cabeccedila ombro joelho e peacute

Joelho e peacute joelho e peacute

Olhos boca orelha e nariz

Orelha e nariz orelha e nariz

16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral

47

Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O

equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute

relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)

Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de

amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o

personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca

instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma

perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal

traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal

ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca o pandeirotoca como ele soacute

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca violatildeo toca como ele soacute

Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao

tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir

da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do

aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala

dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da

vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza

18 Recolhido atraveacutes da cultura oral

48

Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila

seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um

personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular

correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e

volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem

seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam

ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19

Anda anda anda macaquinho

Anda anda anda sem parar

Pula pula pula macaquinho

Pula pula pula ateacute cansar

Corre corre corre macaquinho

Corre corre corre sem parar

Deita deita deita macaquinho

Deita deita deita dorme ateacute sonhar

Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu

desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e

relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do

mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)

Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira

19 Recolhido atraveacutes da cultura oral

49

traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo

espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a

noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo

vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento

O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e

rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos

de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra

frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente

e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da

roda virem periquitos tambeacutem

Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem

no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras

visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas

ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20

Periquito periquito parece com papa

Periquito periquito parece com papa

Por baixo por cima pra frente e pra traacutes

Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo

ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo

temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a

20 Recolhido atraveacutes da cultura oral

50

estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus

movimentos e se organiza na vida cotidiana

Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo

que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo

humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre

ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos

acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo

A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da

chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo

dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio

ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21

A janelinha fecha quando estaacute chovendo

A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo

Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute

Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute

Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os

centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e

contralaterais (Coste1992)

21 Recolhido atraveacutes da cultura oral

51

A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento

psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e

assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute

organizada e natildeo mudaraacute mais

Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os

peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a

conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo

grupo disposto em roda

ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22

Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora

Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora

Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock

Assim eacute bem melhor

( e assim por diante com as demais partes do corpo)

Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o

modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder

apud Coste(1992)

A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a

organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo

mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do

22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57

52

desejo da matildee

A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan

apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros

tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e

de diferenccedila (ibid)

Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o

ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na

constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo

desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A

psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade

poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A

citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo

O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de

identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria

de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do

lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que

eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim

constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute

poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo

o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)

53

Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia

corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber

possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver

As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a

expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente

Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar

cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de

construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza

pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem

corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter

fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de

cantar danccedilar e brincar

54

ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23

Minha boneca de lata

Bateu com a cabeccedila no chatildeo

Levou mais de uma hora

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui pra ficar boa

Minha boneca de lata

Bateu com o pescoccedilo no chatildeo

Levou mais de duas horas

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui desamassa aqui

Pra ficar boa

Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho

o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do

corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez

horas de arrumaccedilatildeo propostas

23 Recolhido atraveacutes da cultura oral

55

6CONCLUSAtildeO

Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-

se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse

infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar

Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a

relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas

cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo

permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os

estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e

que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo

Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de

winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do

ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos

como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica

Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de

conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos

Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade

que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se

pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos

sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu

ldquoafetordquo

56

Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a

psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir

expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer

Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia

para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a

socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte

aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o

desenvolvimento das estruturas psicomotoras

Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a

essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado

pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando

o prazer de brincar cantar e ser feliz

57

BIBLIOGRAFIA

CASCUDO Luiacutes da Cacircmara Dicionaacuterio do folclore Brasileiro 6ordfediccedilatildeo

Belo Horizonte Itatiaia Satildeo Paulo Editora Universo1988

COSTA Clarice Moura O Despertar para o outro Musicoterapia Satildeo Paulo

Summus editorial1989

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Koogan 1992

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Editora Nova fonteira SA1988

FERREIRA Isabel Neves Caminhos do aprender Brasiacutelia Coordenaccedilatildeo Nacional

Para a integraccedilatildeo da pessoa portadora de deficiecircncia 1993

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Ltda 1989

GAINZA Violeta Hemsy de Estudos de psicopedagogia musical Satildeo Paulo

Summus editorial 1988

HUIZINGA J Homo Ludens Satildeo Paulo Editora Perspectiva 1980

LAPIERRE A amp AUCOUTURIER B A simbologia do movimento psicomotricidade

e educaccedilatildeo 2ordfediccedilatildeo Porto alegre Editora Artes meacutedicas 1988

LEITAcircO Luiacutes A Apostila Recreaccedilatildeo na Educaccedilatildeo Fiacutesica Rio de Janeiro UNESA

2001

LEVIN Esteban A cliacutenica psicomotora O corpo na linguagem 4ordfediccedilatildeo Petroacutepolis

Rio de janeiro Editora Vozes 2001

LEVY Denise ldquoPsicomotricidade e Gerontomotricidade na sauacutede puacuteblicardquo IN

Psicomotricidade da educaccedilatildeo infantil agrave gerontologia (teoria e praacutetica)

Satildeo Paulo Editora Lovise 2000

58

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Ediccedilotildees de ouro 1990

MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute preciso Cantar Musicoterapia Cantos e

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volume 1 Porto alegre Editora Prodil1994

PAIVA Ione Maria R Brinquedos cantados Rio de Janeiro Editora Sprint

ltda1998

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Janeiro Editora forense universitaacuteria ltda 2003

SANTA ROZA Eliza Quando brincar eacute dizer A experiecircncia psicanaliacutetica na

infacircncia Rio de Janeiro Editora Relume dumaraacute 1993

SHERIDAN Mary D Brincadeiras espontacircneas na primeira infacircncia Do

nascimento aos seis anos Satildeo Paulo Editora Manole 1990

VELASCO Cacilda Gonccedilalves Brincar o despertar psicomotor Rio de Janeiro

Editora Sprint ltda 1996

WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975

Page 47: Brinquedos Cantados Na Psicomotricidade

46

das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa

de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas

ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16

123 indiozinhos 456 indiozinhos

789 indiozinhos 10 num pequeno bote

Vinham navegando pelo rio abaixo

Quando o jacareacute se aproximou

E o pequeno bote dos indiozinhos

Quase quase virou quase quase virou

mas natildeo virou

Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo

ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam

internas ou externas (Levin2001)

A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e

apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as

crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do

corpo que deseja mostrar

ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17

Cabeccedila ombro joelho e peacute

Joelho e peacute joelho e peacute

Olhos boca orelha e nariz

Orelha e nariz orelha e nariz

16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral

47

Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O

equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute

relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)

Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de

amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o

personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca

instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma

perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal

traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal

ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca o pandeirotoca como ele soacute

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca violatildeo toca como ele soacute

Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao

tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir

da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do

aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala

dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da

vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza

18 Recolhido atraveacutes da cultura oral

48

Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila

seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um

personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular

correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e

volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem

seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam

ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19

Anda anda anda macaquinho

Anda anda anda sem parar

Pula pula pula macaquinho

Pula pula pula ateacute cansar

Corre corre corre macaquinho

Corre corre corre sem parar

Deita deita deita macaquinho

Deita deita deita dorme ateacute sonhar

Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu

desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e

relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do

mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)

Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira

19 Recolhido atraveacutes da cultura oral

49

traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo

espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a

noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo

vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento

O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e

rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos

de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra

frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente

e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da

roda virem periquitos tambeacutem

Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem

no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras

visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas

ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20

Periquito periquito parece com papa

Periquito periquito parece com papa

Por baixo por cima pra frente e pra traacutes

Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo

ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo

temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a

20 Recolhido atraveacutes da cultura oral

50

estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus

movimentos e se organiza na vida cotidiana

Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo

que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo

humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre

ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos

acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo

A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da

chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo

dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio

ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21

A janelinha fecha quando estaacute chovendo

A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo

Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute

Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute

Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os

centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e

contralaterais (Coste1992)

21 Recolhido atraveacutes da cultura oral

51

A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento

psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e

assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute

organizada e natildeo mudaraacute mais

Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os

peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a

conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo

grupo disposto em roda

ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22

Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora

Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora

Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock

Assim eacute bem melhor

( e assim por diante com as demais partes do corpo)

Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o

modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder

apud Coste(1992)

A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a

organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo

mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do

22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57

52

desejo da matildee

A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan

apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros

tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e

de diferenccedila (ibid)

Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o

ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na

constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo

desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A

psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade

poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A

citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo

O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de

identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria

de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do

lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que

eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim

constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute

poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo

o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)

53

Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia

corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber

possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver

As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a

expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente

Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar

cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de

construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza

pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem

corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter

fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de

cantar danccedilar e brincar

54

ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23

Minha boneca de lata

Bateu com a cabeccedila no chatildeo

Levou mais de uma hora

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui pra ficar boa

Minha boneca de lata

Bateu com o pescoccedilo no chatildeo

Levou mais de duas horas

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui desamassa aqui

Pra ficar boa

Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho

o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do

corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez

horas de arrumaccedilatildeo propostas

23 Recolhido atraveacutes da cultura oral

55

6CONCLUSAtildeO

Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-

se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse

infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar

Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a

relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas

cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo

permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os

estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e

que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo

Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de

winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do

ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos

como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica

Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de

conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos

Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade

que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se

pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos

sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu

ldquoafetordquo

56

Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a

psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir

expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer

Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia

para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a

socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte

aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o

desenvolvimento das estruturas psicomotoras

Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a

essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado

pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando

o prazer de brincar cantar e ser feliz

57

BIBLIOGRAFIA

CASCUDO Luiacutes da Cacircmara Dicionaacuterio do folclore Brasileiro 6ordfediccedilatildeo

Belo Horizonte Itatiaia Satildeo Paulo Editora Universo1988

COSTA Clarice Moura O Despertar para o outro Musicoterapia Satildeo Paulo

Summus editorial1989

COSTE Jean Claude A Psicomotricidade 4ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Guanabara

Koogan 1992

FERREIRA Aureacutelio Buarque de Holanda Dicionaacuterio Aureacutelio Baacutesico Rio de Janeiro

Editora Nova fonteira SA1988

FERREIRA Isabel Neves Caminhos do aprender Brasiacutelia Coordenaccedilatildeo Nacional

Para a integraccedilatildeo da pessoa portadora de deficiecircncia 1993

FREGTMAN Carlos Daniel Corpo Muacutesica e terapia Satildeo Paulo Editora Cultrix

Ltda 1989

GAINZA Violeta Hemsy de Estudos de psicopedagogia musical Satildeo Paulo

Summus editorial 1988

HUIZINGA J Homo Ludens Satildeo Paulo Editora Perspectiva 1980

LAPIERRE A amp AUCOUTURIER B A simbologia do movimento psicomotricidade

e educaccedilatildeo 2ordfediccedilatildeo Porto alegre Editora Artes meacutedicas 1988

LEITAcircO Luiacutes A Apostila Recreaccedilatildeo na Educaccedilatildeo Fiacutesica Rio de Janeiro UNESA

2001

LEVIN Esteban A cliacutenica psicomotora O corpo na linguagem 4ordfediccedilatildeo Petroacutepolis

Rio de janeiro Editora Vozes 2001

LEVY Denise ldquoPsicomotricidade e Gerontomotricidade na sauacutede puacuteblicardquo IN

Psicomotricidade da educaccedilatildeo infantil agrave gerontologia (teoria e praacutetica)

Satildeo Paulo Editora Lovise 2000

58

MARTINS Armando Toque violatildeo ou guitarra (meacutetodo praacutetico) Rio de Janeiro

Ediccedilotildees de ouro 1990

MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute preciso Cantar Musicoterapia Cantos e

Canccedilotildees Rio de Janeiro Enelivros editora e livraria ltda 2001

NEGRINE Airton Aprendizagem e desenvolvimento infantil Simbolismo e jogo

volume 1 Porto alegre Editora Prodil1994

PAIVA Ione Maria R Brinquedos cantados Rio de Janeiro Editora Sprint

ltda1998

PIAGET Jean Seis estudos de psicologia 24ordfediccedilatildeo 3ordf reimpressatildeo Rio de

Janeiro Editora forense universitaacuteria ltda 2003

SANTA ROZA Eliza Quando brincar eacute dizer A experiecircncia psicanaliacutetica na

infacircncia Rio de Janeiro Editora Relume dumaraacute 1993

SHERIDAN Mary D Brincadeiras espontacircneas na primeira infacircncia Do

nascimento aos seis anos Satildeo Paulo Editora Manole 1990

VELASCO Cacilda Gonccedilalves Brincar o despertar psicomotor Rio de Janeiro

Editora Sprint ltda 1996

WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975

Page 48: Brinquedos Cantados Na Psicomotricidade

47

Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O

equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute

relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)

Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de

amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o

personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca

instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma

perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal

traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal

ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca o pandeirotoca como ele soacute

O saci pererecirc pula de uma perna soacute

Ele toca violatildeo toca como ele soacute

Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao

tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir

da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do

aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala

dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da

vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza

18 Recolhido atraveacutes da cultura oral

48

Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila

seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um

personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular

correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e

volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem

seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam

ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19

Anda anda anda macaquinho

Anda anda anda sem parar

Pula pula pula macaquinho

Pula pula pula ateacute cansar

Corre corre corre macaquinho

Corre corre corre sem parar

Deita deita deita macaquinho

Deita deita deita dorme ateacute sonhar

Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu

desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e

relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do

mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)

Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira

19 Recolhido atraveacutes da cultura oral

49

traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo

espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a

noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo

vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento

O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e

rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos

de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra

frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente

e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da

roda virem periquitos tambeacutem

Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem

no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras

visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas

ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20

Periquito periquito parece com papa

Periquito periquito parece com papa

Por baixo por cima pra frente e pra traacutes

Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo

ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo

temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a

20 Recolhido atraveacutes da cultura oral

50

estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus

movimentos e se organiza na vida cotidiana

Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo

que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo

humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre

ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos

acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo

A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da

chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo

dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio

ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21

A janelinha fecha quando estaacute chovendo

A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo

Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute

Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute

Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os

centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e

contralaterais (Coste1992)

21 Recolhido atraveacutes da cultura oral

51

A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento

psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e

assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute

organizada e natildeo mudaraacute mais

Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os

peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a

conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo

grupo disposto em roda

ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22

Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora

Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora

Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock

Assim eacute bem melhor

( e assim por diante com as demais partes do corpo)

Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o

modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder

apud Coste(1992)

A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a

organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo

mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do

22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57

52

desejo da matildee

A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan

apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros

tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e

de diferenccedila (ibid)

Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o

ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na

constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo

desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A

psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade

poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A

citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo

O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de

identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria

de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do

lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que

eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim

constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute

poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo

o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)

53

Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia

corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber

possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver

As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a

expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente

Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar

cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de

construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza

pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem

corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter

fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de

cantar danccedilar e brincar

54

ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23

Minha boneca de lata

Bateu com a cabeccedila no chatildeo

Levou mais de uma hora

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui pra ficar boa

Minha boneca de lata

Bateu com o pescoccedilo no chatildeo

Levou mais de duas horas

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui desamassa aqui

Pra ficar boa

Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho

o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do

corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez

horas de arrumaccedilatildeo propostas

23 Recolhido atraveacutes da cultura oral

55

6CONCLUSAtildeO

Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-

se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse

infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar

Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a

relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas

cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo

permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os

estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e

que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo

Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de

winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do

ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos

como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica

Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de

conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos

Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade

que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se

pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos

sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu

ldquoafetordquo

56

Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a

psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir

expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer

Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia

para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a

socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte

aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o

desenvolvimento das estruturas psicomotoras

Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a

essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado

pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando

o prazer de brincar cantar e ser feliz

57

BIBLIOGRAFIA

CASCUDO Luiacutes da Cacircmara Dicionaacuterio do folclore Brasileiro 6ordfediccedilatildeo

Belo Horizonte Itatiaia Satildeo Paulo Editora Universo1988

COSTA Clarice Moura O Despertar para o outro Musicoterapia Satildeo Paulo

Summus editorial1989

COSTE Jean Claude A Psicomotricidade 4ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Guanabara

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FERREIRA Aureacutelio Buarque de Holanda Dicionaacuterio Aureacutelio Baacutesico Rio de Janeiro

Editora Nova fonteira SA1988

FERREIRA Isabel Neves Caminhos do aprender Brasiacutelia Coordenaccedilatildeo Nacional

Para a integraccedilatildeo da pessoa portadora de deficiecircncia 1993

FREGTMAN Carlos Daniel Corpo Muacutesica e terapia Satildeo Paulo Editora Cultrix

Ltda 1989

GAINZA Violeta Hemsy de Estudos de psicopedagogia musical Satildeo Paulo

Summus editorial 1988

HUIZINGA J Homo Ludens Satildeo Paulo Editora Perspectiva 1980

LAPIERRE A amp AUCOUTURIER B A simbologia do movimento psicomotricidade

e educaccedilatildeo 2ordfediccedilatildeo Porto alegre Editora Artes meacutedicas 1988

LEITAcircO Luiacutes A Apostila Recreaccedilatildeo na Educaccedilatildeo Fiacutesica Rio de Janeiro UNESA

2001

LEVIN Esteban A cliacutenica psicomotora O corpo na linguagem 4ordfediccedilatildeo Petroacutepolis

Rio de janeiro Editora Vozes 2001

LEVY Denise ldquoPsicomotricidade e Gerontomotricidade na sauacutede puacuteblicardquo IN

Psicomotricidade da educaccedilatildeo infantil agrave gerontologia (teoria e praacutetica)

Satildeo Paulo Editora Lovise 2000

58

MARTINS Armando Toque violatildeo ou guitarra (meacutetodo praacutetico) Rio de Janeiro

Ediccedilotildees de ouro 1990

MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute preciso Cantar Musicoterapia Cantos e

Canccedilotildees Rio de Janeiro Enelivros editora e livraria ltda 2001

NEGRINE Airton Aprendizagem e desenvolvimento infantil Simbolismo e jogo

volume 1 Porto alegre Editora Prodil1994

PAIVA Ione Maria R Brinquedos cantados Rio de Janeiro Editora Sprint

ltda1998

PIAGET Jean Seis estudos de psicologia 24ordfediccedilatildeo 3ordf reimpressatildeo Rio de

Janeiro Editora forense universitaacuteria ltda 2003

SANTA ROZA Eliza Quando brincar eacute dizer A experiecircncia psicanaliacutetica na

infacircncia Rio de Janeiro Editora Relume dumaraacute 1993

SHERIDAN Mary D Brincadeiras espontacircneas na primeira infacircncia Do

nascimento aos seis anos Satildeo Paulo Editora Manole 1990

VELASCO Cacilda Gonccedilalves Brincar o despertar psicomotor Rio de Janeiro

Editora Sprint ltda 1996

WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975

Page 49: Brinquedos Cantados Na Psicomotricidade

48

Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila

seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um

personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular

correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e

volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem

seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam

ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19

Anda anda anda macaquinho

Anda anda anda sem parar

Pula pula pula macaquinho

Pula pula pula ateacute cansar

Corre corre corre macaquinho

Corre corre corre sem parar

Deita deita deita macaquinho

Deita deita deita dorme ateacute sonhar

Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu

desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e

relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do

mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)

Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira

19 Recolhido atraveacutes da cultura oral

49

traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo

espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a

noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo

vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento

O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e

rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos

de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra

frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente

e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da

roda virem periquitos tambeacutem

Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem

no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras

visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas

ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20

Periquito periquito parece com papa

Periquito periquito parece com papa

Por baixo por cima pra frente e pra traacutes

Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo

ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo

temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a

20 Recolhido atraveacutes da cultura oral

50

estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus

movimentos e se organiza na vida cotidiana

Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo

que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo

humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre

ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos

acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo

A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da

chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo

dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio

ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21

A janelinha fecha quando estaacute chovendo

A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo

Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute

Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute

Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os

centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e

contralaterais (Coste1992)

21 Recolhido atraveacutes da cultura oral

51

A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento

psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e

assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute

organizada e natildeo mudaraacute mais

Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os

peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a

conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo

grupo disposto em roda

ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22

Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora

Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora

Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock

Assim eacute bem melhor

( e assim por diante com as demais partes do corpo)

Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o

modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder

apud Coste(1992)

A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a

organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo

mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do

22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57

52

desejo da matildee

A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan

apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros

tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e

de diferenccedila (ibid)

Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o

ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na

constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo

desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A

psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade

poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A

citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo

O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de

identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria

de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do

lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que

eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim

constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute

poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo

o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)

53

Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia

corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber

possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver

As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a

expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente

Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar

cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de

construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza

pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem

corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter

fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de

cantar danccedilar e brincar

54

ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23

Minha boneca de lata

Bateu com a cabeccedila no chatildeo

Levou mais de uma hora

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui pra ficar boa

Minha boneca de lata

Bateu com o pescoccedilo no chatildeo

Levou mais de duas horas

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui desamassa aqui

Pra ficar boa

Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho

o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do

corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez

horas de arrumaccedilatildeo propostas

23 Recolhido atraveacutes da cultura oral

55

6CONCLUSAtildeO

Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-

se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse

infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar

Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a

relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas

cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo

permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os

estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e

que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo

Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de

winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do

ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos

como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica

Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de

conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos

Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade

que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se

pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos

sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu

ldquoafetordquo

56

Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a

psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir

expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer

Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia

para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a

socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte

aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o

desenvolvimento das estruturas psicomotoras

Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a

essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado

pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando

o prazer de brincar cantar e ser feliz

57

BIBLIOGRAFIA

CASCUDO Luiacutes da Cacircmara Dicionaacuterio do folclore Brasileiro 6ordfediccedilatildeo

Belo Horizonte Itatiaia Satildeo Paulo Editora Universo1988

COSTA Clarice Moura O Despertar para o outro Musicoterapia Satildeo Paulo

Summus editorial1989

COSTE Jean Claude A Psicomotricidade 4ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Guanabara

Koogan 1992

FERREIRA Aureacutelio Buarque de Holanda Dicionaacuterio Aureacutelio Baacutesico Rio de Janeiro

Editora Nova fonteira SA1988

FERREIRA Isabel Neves Caminhos do aprender Brasiacutelia Coordenaccedilatildeo Nacional

Para a integraccedilatildeo da pessoa portadora de deficiecircncia 1993

FREGTMAN Carlos Daniel Corpo Muacutesica e terapia Satildeo Paulo Editora Cultrix

Ltda 1989

GAINZA Violeta Hemsy de Estudos de psicopedagogia musical Satildeo Paulo

Summus editorial 1988

HUIZINGA J Homo Ludens Satildeo Paulo Editora Perspectiva 1980

LAPIERRE A amp AUCOUTURIER B A simbologia do movimento psicomotricidade

e educaccedilatildeo 2ordfediccedilatildeo Porto alegre Editora Artes meacutedicas 1988

LEITAcircO Luiacutes A Apostila Recreaccedilatildeo na Educaccedilatildeo Fiacutesica Rio de Janeiro UNESA

2001

LEVIN Esteban A cliacutenica psicomotora O corpo na linguagem 4ordfediccedilatildeo Petroacutepolis

Rio de janeiro Editora Vozes 2001

LEVY Denise ldquoPsicomotricidade e Gerontomotricidade na sauacutede puacuteblicardquo IN

Psicomotricidade da educaccedilatildeo infantil agrave gerontologia (teoria e praacutetica)

Satildeo Paulo Editora Lovise 2000

58

MARTINS Armando Toque violatildeo ou guitarra (meacutetodo praacutetico) Rio de Janeiro

Ediccedilotildees de ouro 1990

MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute preciso Cantar Musicoterapia Cantos e

Canccedilotildees Rio de Janeiro Enelivros editora e livraria ltda 2001

NEGRINE Airton Aprendizagem e desenvolvimento infantil Simbolismo e jogo

volume 1 Porto alegre Editora Prodil1994

PAIVA Ione Maria R Brinquedos cantados Rio de Janeiro Editora Sprint

ltda1998

PIAGET Jean Seis estudos de psicologia 24ordfediccedilatildeo 3ordf reimpressatildeo Rio de

Janeiro Editora forense universitaacuteria ltda 2003

SANTA ROZA Eliza Quando brincar eacute dizer A experiecircncia psicanaliacutetica na

infacircncia Rio de Janeiro Editora Relume dumaraacute 1993

SHERIDAN Mary D Brincadeiras espontacircneas na primeira infacircncia Do

nascimento aos seis anos Satildeo Paulo Editora Manole 1990

VELASCO Cacilda Gonccedilalves Brincar o despertar psicomotor Rio de Janeiro

Editora Sprint ltda 1996

WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975

Page 50: Brinquedos Cantados Na Psicomotricidade

49

traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo

espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a

noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo

vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento

O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e

rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos

de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra

frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente

e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da

roda virem periquitos tambeacutem

Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem

no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras

visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas

ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20

Periquito periquito parece com papa

Periquito periquito parece com papa

Por baixo por cima pra frente e pra traacutes

Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo

ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo

temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a

20 Recolhido atraveacutes da cultura oral

50

estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus

movimentos e se organiza na vida cotidiana

Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo

que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo

humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre

ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos

acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo

A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da

chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo

dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio

ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21

A janelinha fecha quando estaacute chovendo

A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo

Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute

Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute

Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os

centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e

contralaterais (Coste1992)

21 Recolhido atraveacutes da cultura oral

51

A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento

psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e

assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute

organizada e natildeo mudaraacute mais

Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os

peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a

conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo

grupo disposto em roda

ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22

Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora

Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora

Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock

Assim eacute bem melhor

( e assim por diante com as demais partes do corpo)

Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o

modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder

apud Coste(1992)

A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a

organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo

mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do

22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57

52

desejo da matildee

A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan

apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros

tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e

de diferenccedila (ibid)

Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o

ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na

constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo

desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A

psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade

poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A

citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo

O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de

identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria

de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do

lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que

eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim

constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute

poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo

o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)

53

Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia

corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber

possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver

As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a

expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente

Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar

cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de

construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza

pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem

corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter

fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de

cantar danccedilar e brincar

54

ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23

Minha boneca de lata

Bateu com a cabeccedila no chatildeo

Levou mais de uma hora

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui pra ficar boa

Minha boneca de lata

Bateu com o pescoccedilo no chatildeo

Levou mais de duas horas

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui desamassa aqui

Pra ficar boa

Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho

o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do

corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez

horas de arrumaccedilatildeo propostas

23 Recolhido atraveacutes da cultura oral

55

6CONCLUSAtildeO

Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-

se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse

infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar

Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a

relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas

cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo

permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os

estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e

que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo

Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de

winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do

ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos

como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica

Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de

conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos

Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade

que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se

pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos

sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu

ldquoafetordquo

56

Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a

psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir

expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer

Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia

para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a

socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte

aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o

desenvolvimento das estruturas psicomotoras

Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a

essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado

pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando

o prazer de brincar cantar e ser feliz

57

BIBLIOGRAFIA

CASCUDO Luiacutes da Cacircmara Dicionaacuterio do folclore Brasileiro 6ordfediccedilatildeo

Belo Horizonte Itatiaia Satildeo Paulo Editora Universo1988

COSTA Clarice Moura O Despertar para o outro Musicoterapia Satildeo Paulo

Summus editorial1989

COSTE Jean Claude A Psicomotricidade 4ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Guanabara

Koogan 1992

FERREIRA Aureacutelio Buarque de Holanda Dicionaacuterio Aureacutelio Baacutesico Rio de Janeiro

Editora Nova fonteira SA1988

FERREIRA Isabel Neves Caminhos do aprender Brasiacutelia Coordenaccedilatildeo Nacional

Para a integraccedilatildeo da pessoa portadora de deficiecircncia 1993

FREGTMAN Carlos Daniel Corpo Muacutesica e terapia Satildeo Paulo Editora Cultrix

Ltda 1989

GAINZA Violeta Hemsy de Estudos de psicopedagogia musical Satildeo Paulo

Summus editorial 1988

HUIZINGA J Homo Ludens Satildeo Paulo Editora Perspectiva 1980

LAPIERRE A amp AUCOUTURIER B A simbologia do movimento psicomotricidade

e educaccedilatildeo 2ordfediccedilatildeo Porto alegre Editora Artes meacutedicas 1988

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2001

LEVIN Esteban A cliacutenica psicomotora O corpo na linguagem 4ordfediccedilatildeo Petroacutepolis

Rio de janeiro Editora Vozes 2001

LEVY Denise ldquoPsicomotricidade e Gerontomotricidade na sauacutede puacuteblicardquo IN

Psicomotricidade da educaccedilatildeo infantil agrave gerontologia (teoria e praacutetica)

Satildeo Paulo Editora Lovise 2000

58

MARTINS Armando Toque violatildeo ou guitarra (meacutetodo praacutetico) Rio de Janeiro

Ediccedilotildees de ouro 1990

MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute preciso Cantar Musicoterapia Cantos e

Canccedilotildees Rio de Janeiro Enelivros editora e livraria ltda 2001

NEGRINE Airton Aprendizagem e desenvolvimento infantil Simbolismo e jogo

volume 1 Porto alegre Editora Prodil1994

PAIVA Ione Maria R Brinquedos cantados Rio de Janeiro Editora Sprint

ltda1998

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Janeiro Editora forense universitaacuteria ltda 2003

SANTA ROZA Eliza Quando brincar eacute dizer A experiecircncia psicanaliacutetica na

infacircncia Rio de Janeiro Editora Relume dumaraacute 1993

SHERIDAN Mary D Brincadeiras espontacircneas na primeira infacircncia Do

nascimento aos seis anos Satildeo Paulo Editora Manole 1990

VELASCO Cacilda Gonccedilalves Brincar o despertar psicomotor Rio de Janeiro

Editora Sprint ltda 1996

WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975

Page 51: Brinquedos Cantados Na Psicomotricidade

50

estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus

movimentos e se organiza na vida cotidiana

Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo

que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo

humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre

ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos

acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo

A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da

chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo

dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio

ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21

A janelinha fecha quando estaacute chovendo

A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo

Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute

Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute

Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os

centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e

contralaterais (Coste1992)

21 Recolhido atraveacutes da cultura oral

51

A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento

psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e

assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute

organizada e natildeo mudaraacute mais

Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os

peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a

conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo

grupo disposto em roda

ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22

Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora

Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora

Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock

Assim eacute bem melhor

( e assim por diante com as demais partes do corpo)

Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o

modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder

apud Coste(1992)

A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a

organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo

mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do

22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57

52

desejo da matildee

A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan

apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros

tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e

de diferenccedila (ibid)

Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o

ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na

constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo

desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A

psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade

poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A

citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo

O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de

identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria

de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do

lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que

eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim

constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute

poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo

o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)

53

Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia

corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber

possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver

As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a

expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente

Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar

cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de

construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza

pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem

corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter

fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de

cantar danccedilar e brincar

54

ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23

Minha boneca de lata

Bateu com a cabeccedila no chatildeo

Levou mais de uma hora

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui pra ficar boa

Minha boneca de lata

Bateu com o pescoccedilo no chatildeo

Levou mais de duas horas

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui desamassa aqui

Pra ficar boa

Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho

o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do

corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez

horas de arrumaccedilatildeo propostas

23 Recolhido atraveacutes da cultura oral

55

6CONCLUSAtildeO

Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-

se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse

infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar

Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a

relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas

cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo

permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os

estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e

que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo

Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de

winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do

ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos

como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica

Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de

conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos

Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade

que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se

pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos

sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu

ldquoafetordquo

56

Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a

psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir

expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer

Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia

para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a

socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte

aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o

desenvolvimento das estruturas psicomotoras

Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a

essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado

pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando

o prazer de brincar cantar e ser feliz

57

BIBLIOGRAFIA

CASCUDO Luiacutes da Cacircmara Dicionaacuterio do folclore Brasileiro 6ordfediccedilatildeo

Belo Horizonte Itatiaia Satildeo Paulo Editora Universo1988

COSTA Clarice Moura O Despertar para o outro Musicoterapia Satildeo Paulo

Summus editorial1989

COSTE Jean Claude A Psicomotricidade 4ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Guanabara

Koogan 1992

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Editora Nova fonteira SA1988

FERREIRA Isabel Neves Caminhos do aprender Brasiacutelia Coordenaccedilatildeo Nacional

Para a integraccedilatildeo da pessoa portadora de deficiecircncia 1993

FREGTMAN Carlos Daniel Corpo Muacutesica e terapia Satildeo Paulo Editora Cultrix

Ltda 1989

GAINZA Violeta Hemsy de Estudos de psicopedagogia musical Satildeo Paulo

Summus editorial 1988

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LAPIERRE A amp AUCOUTURIER B A simbologia do movimento psicomotricidade

e educaccedilatildeo 2ordfediccedilatildeo Porto alegre Editora Artes meacutedicas 1988

LEITAcircO Luiacutes A Apostila Recreaccedilatildeo na Educaccedilatildeo Fiacutesica Rio de Janeiro UNESA

2001

LEVIN Esteban A cliacutenica psicomotora O corpo na linguagem 4ordfediccedilatildeo Petroacutepolis

Rio de janeiro Editora Vozes 2001

LEVY Denise ldquoPsicomotricidade e Gerontomotricidade na sauacutede puacuteblicardquo IN

Psicomotricidade da educaccedilatildeo infantil agrave gerontologia (teoria e praacutetica)

Satildeo Paulo Editora Lovise 2000

58

MARTINS Armando Toque violatildeo ou guitarra (meacutetodo praacutetico) Rio de Janeiro

Ediccedilotildees de ouro 1990

MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute preciso Cantar Musicoterapia Cantos e

Canccedilotildees Rio de Janeiro Enelivros editora e livraria ltda 2001

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volume 1 Porto alegre Editora Prodil1994

PAIVA Ione Maria R Brinquedos cantados Rio de Janeiro Editora Sprint

ltda1998

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Janeiro Editora forense universitaacuteria ltda 2003

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infacircncia Rio de Janeiro Editora Relume dumaraacute 1993

SHERIDAN Mary D Brincadeiras espontacircneas na primeira infacircncia Do

nascimento aos seis anos Satildeo Paulo Editora Manole 1990

VELASCO Cacilda Gonccedilalves Brincar o despertar psicomotor Rio de Janeiro

Editora Sprint ltda 1996

WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975

Page 52: Brinquedos Cantados Na Psicomotricidade

51

A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento

psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e

assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute

organizada e natildeo mudaraacute mais

Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os

peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a

conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo

grupo disposto em roda

ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22

Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora

Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora

Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock

Assim eacute bem melhor

( e assim por diante com as demais partes do corpo)

Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o

modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder

apud Coste(1992)

A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a

organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo

mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do

22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57

52

desejo da matildee

A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan

apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros

tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e

de diferenccedila (ibid)

Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o

ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na

constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo

desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A

psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade

poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A

citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo

O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de

identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria

de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do

lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que

eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim

constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute

poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo

o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)

53

Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia

corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber

possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver

As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a

expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente

Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar

cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de

construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza

pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem

corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter

fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de

cantar danccedilar e brincar

54

ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23

Minha boneca de lata

Bateu com a cabeccedila no chatildeo

Levou mais de uma hora

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui pra ficar boa

Minha boneca de lata

Bateu com o pescoccedilo no chatildeo

Levou mais de duas horas

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui desamassa aqui

Pra ficar boa

Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho

o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do

corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez

horas de arrumaccedilatildeo propostas

23 Recolhido atraveacutes da cultura oral

55

6CONCLUSAtildeO

Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-

se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse

infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar

Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a

relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas

cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo

permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os

estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e

que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo

Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de

winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do

ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos

como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica

Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de

conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos

Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade

que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se

pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos

sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu

ldquoafetordquo

56

Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a

psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir

expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer

Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia

para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a

socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte

aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o

desenvolvimento das estruturas psicomotoras

Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a

essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado

pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando

o prazer de brincar cantar e ser feliz

57

BIBLIOGRAFIA

CASCUDO Luiacutes da Cacircmara Dicionaacuterio do folclore Brasileiro 6ordfediccedilatildeo

Belo Horizonte Itatiaia Satildeo Paulo Editora Universo1988

COSTA Clarice Moura O Despertar para o outro Musicoterapia Satildeo Paulo

Summus editorial1989

COSTE Jean Claude A Psicomotricidade 4ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Guanabara

Koogan 1992

FERREIRA Aureacutelio Buarque de Holanda Dicionaacuterio Aureacutelio Baacutesico Rio de Janeiro

Editora Nova fonteira SA1988

FERREIRA Isabel Neves Caminhos do aprender Brasiacutelia Coordenaccedilatildeo Nacional

Para a integraccedilatildeo da pessoa portadora de deficiecircncia 1993

FREGTMAN Carlos Daniel Corpo Muacutesica e terapia Satildeo Paulo Editora Cultrix

Ltda 1989

GAINZA Violeta Hemsy de Estudos de psicopedagogia musical Satildeo Paulo

Summus editorial 1988

HUIZINGA J Homo Ludens Satildeo Paulo Editora Perspectiva 1980

LAPIERRE A amp AUCOUTURIER B A simbologia do movimento psicomotricidade

e educaccedilatildeo 2ordfediccedilatildeo Porto alegre Editora Artes meacutedicas 1988

LEITAcircO Luiacutes A Apostila Recreaccedilatildeo na Educaccedilatildeo Fiacutesica Rio de Janeiro UNESA

2001

LEVIN Esteban A cliacutenica psicomotora O corpo na linguagem 4ordfediccedilatildeo Petroacutepolis

Rio de janeiro Editora Vozes 2001

LEVY Denise ldquoPsicomotricidade e Gerontomotricidade na sauacutede puacuteblicardquo IN

Psicomotricidade da educaccedilatildeo infantil agrave gerontologia (teoria e praacutetica)

Satildeo Paulo Editora Lovise 2000

58

MARTINS Armando Toque violatildeo ou guitarra (meacutetodo praacutetico) Rio de Janeiro

Ediccedilotildees de ouro 1990

MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute preciso Cantar Musicoterapia Cantos e

Canccedilotildees Rio de Janeiro Enelivros editora e livraria ltda 2001

NEGRINE Airton Aprendizagem e desenvolvimento infantil Simbolismo e jogo

volume 1 Porto alegre Editora Prodil1994

PAIVA Ione Maria R Brinquedos cantados Rio de Janeiro Editora Sprint

ltda1998

PIAGET Jean Seis estudos de psicologia 24ordfediccedilatildeo 3ordf reimpressatildeo Rio de

Janeiro Editora forense universitaacuteria ltda 2003

SANTA ROZA Eliza Quando brincar eacute dizer A experiecircncia psicanaliacutetica na

infacircncia Rio de Janeiro Editora Relume dumaraacute 1993

SHERIDAN Mary D Brincadeiras espontacircneas na primeira infacircncia Do

nascimento aos seis anos Satildeo Paulo Editora Manole 1990

VELASCO Cacilda Gonccedilalves Brincar o despertar psicomotor Rio de Janeiro

Editora Sprint ltda 1996

WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975

Page 53: Brinquedos Cantados Na Psicomotricidade

52

desejo da matildee

A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan

apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros

tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e

de diferenccedila (ibid)

Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o

ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na

constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo

desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A

psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade

poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A

citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo

O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de

identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria

de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do

lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que

eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim

constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute

poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo

o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)

53

Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia

corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber

possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver

As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a

expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente

Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar

cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de

construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza

pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem

corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter

fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de

cantar danccedilar e brincar

54

ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23

Minha boneca de lata

Bateu com a cabeccedila no chatildeo

Levou mais de uma hora

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui pra ficar boa

Minha boneca de lata

Bateu com o pescoccedilo no chatildeo

Levou mais de duas horas

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui desamassa aqui

Pra ficar boa

Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho

o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do

corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez

horas de arrumaccedilatildeo propostas

23 Recolhido atraveacutes da cultura oral

55

6CONCLUSAtildeO

Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-

se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse

infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar

Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a

relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas

cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo

permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os

estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e

que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo

Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de

winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do

ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos

como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica

Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de

conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos

Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade

que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se

pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos

sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu

ldquoafetordquo

56

Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a

psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir

expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer

Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia

para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a

socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte

aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o

desenvolvimento das estruturas psicomotoras

Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a

essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado

pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando

o prazer de brincar cantar e ser feliz

57

BIBLIOGRAFIA

CASCUDO Luiacutes da Cacircmara Dicionaacuterio do folclore Brasileiro 6ordfediccedilatildeo

Belo Horizonte Itatiaia Satildeo Paulo Editora Universo1988

COSTA Clarice Moura O Despertar para o outro Musicoterapia Satildeo Paulo

Summus editorial1989

COSTE Jean Claude A Psicomotricidade 4ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Guanabara

Koogan 1992

FERREIRA Aureacutelio Buarque de Holanda Dicionaacuterio Aureacutelio Baacutesico Rio de Janeiro

Editora Nova fonteira SA1988

FERREIRA Isabel Neves Caminhos do aprender Brasiacutelia Coordenaccedilatildeo Nacional

Para a integraccedilatildeo da pessoa portadora de deficiecircncia 1993

FREGTMAN Carlos Daniel Corpo Muacutesica e terapia Satildeo Paulo Editora Cultrix

Ltda 1989

GAINZA Violeta Hemsy de Estudos de psicopedagogia musical Satildeo Paulo

Summus editorial 1988

HUIZINGA J Homo Ludens Satildeo Paulo Editora Perspectiva 1980

LAPIERRE A amp AUCOUTURIER B A simbologia do movimento psicomotricidade

e educaccedilatildeo 2ordfediccedilatildeo Porto alegre Editora Artes meacutedicas 1988

LEITAcircO Luiacutes A Apostila Recreaccedilatildeo na Educaccedilatildeo Fiacutesica Rio de Janeiro UNESA

2001

LEVIN Esteban A cliacutenica psicomotora O corpo na linguagem 4ordfediccedilatildeo Petroacutepolis

Rio de janeiro Editora Vozes 2001

LEVY Denise ldquoPsicomotricidade e Gerontomotricidade na sauacutede puacuteblicardquo IN

Psicomotricidade da educaccedilatildeo infantil agrave gerontologia (teoria e praacutetica)

Satildeo Paulo Editora Lovise 2000

58

MARTINS Armando Toque violatildeo ou guitarra (meacutetodo praacutetico) Rio de Janeiro

Ediccedilotildees de ouro 1990

MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute preciso Cantar Musicoterapia Cantos e

Canccedilotildees Rio de Janeiro Enelivros editora e livraria ltda 2001

NEGRINE Airton Aprendizagem e desenvolvimento infantil Simbolismo e jogo

volume 1 Porto alegre Editora Prodil1994

PAIVA Ione Maria R Brinquedos cantados Rio de Janeiro Editora Sprint

ltda1998

PIAGET Jean Seis estudos de psicologia 24ordfediccedilatildeo 3ordf reimpressatildeo Rio de

Janeiro Editora forense universitaacuteria ltda 2003

SANTA ROZA Eliza Quando brincar eacute dizer A experiecircncia psicanaliacutetica na

infacircncia Rio de Janeiro Editora Relume dumaraacute 1993

SHERIDAN Mary D Brincadeiras espontacircneas na primeira infacircncia Do

nascimento aos seis anos Satildeo Paulo Editora Manole 1990

VELASCO Cacilda Gonccedilalves Brincar o despertar psicomotor Rio de Janeiro

Editora Sprint ltda 1996

WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975

Page 54: Brinquedos Cantados Na Psicomotricidade

53

Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia

corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber

possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver

As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a

expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente

Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar

cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de

construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza

pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem

corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter

fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de

cantar danccedilar e brincar

54

ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23

Minha boneca de lata

Bateu com a cabeccedila no chatildeo

Levou mais de uma hora

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui pra ficar boa

Minha boneca de lata

Bateu com o pescoccedilo no chatildeo

Levou mais de duas horas

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui desamassa aqui

Pra ficar boa

Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho

o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do

corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez

horas de arrumaccedilatildeo propostas

23 Recolhido atraveacutes da cultura oral

55

6CONCLUSAtildeO

Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-

se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse

infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar

Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a

relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas

cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo

permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os

estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e

que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo

Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de

winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do

ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos

como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica

Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de

conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos

Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade

que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se

pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos

sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu

ldquoafetordquo

56

Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a

psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir

expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer

Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia

para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a

socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte

aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o

desenvolvimento das estruturas psicomotoras

Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a

essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado

pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando

o prazer de brincar cantar e ser feliz

57

BIBLIOGRAFIA

CASCUDO Luiacutes da Cacircmara Dicionaacuterio do folclore Brasileiro 6ordfediccedilatildeo

Belo Horizonte Itatiaia Satildeo Paulo Editora Universo1988

COSTA Clarice Moura O Despertar para o outro Musicoterapia Satildeo Paulo

Summus editorial1989

COSTE Jean Claude A Psicomotricidade 4ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Guanabara

Koogan 1992

FERREIRA Aureacutelio Buarque de Holanda Dicionaacuterio Aureacutelio Baacutesico Rio de Janeiro

Editora Nova fonteira SA1988

FERREIRA Isabel Neves Caminhos do aprender Brasiacutelia Coordenaccedilatildeo Nacional

Para a integraccedilatildeo da pessoa portadora de deficiecircncia 1993

FREGTMAN Carlos Daniel Corpo Muacutesica e terapia Satildeo Paulo Editora Cultrix

Ltda 1989

GAINZA Violeta Hemsy de Estudos de psicopedagogia musical Satildeo Paulo

Summus editorial 1988

HUIZINGA J Homo Ludens Satildeo Paulo Editora Perspectiva 1980

LAPIERRE A amp AUCOUTURIER B A simbologia do movimento psicomotricidade

e educaccedilatildeo 2ordfediccedilatildeo Porto alegre Editora Artes meacutedicas 1988

LEITAcircO Luiacutes A Apostila Recreaccedilatildeo na Educaccedilatildeo Fiacutesica Rio de Janeiro UNESA

2001

LEVIN Esteban A cliacutenica psicomotora O corpo na linguagem 4ordfediccedilatildeo Petroacutepolis

Rio de janeiro Editora Vozes 2001

LEVY Denise ldquoPsicomotricidade e Gerontomotricidade na sauacutede puacuteblicardquo IN

Psicomotricidade da educaccedilatildeo infantil agrave gerontologia (teoria e praacutetica)

Satildeo Paulo Editora Lovise 2000

58

MARTINS Armando Toque violatildeo ou guitarra (meacutetodo praacutetico) Rio de Janeiro

Ediccedilotildees de ouro 1990

MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute preciso Cantar Musicoterapia Cantos e

Canccedilotildees Rio de Janeiro Enelivros editora e livraria ltda 2001

NEGRINE Airton Aprendizagem e desenvolvimento infantil Simbolismo e jogo

volume 1 Porto alegre Editora Prodil1994

PAIVA Ione Maria R Brinquedos cantados Rio de Janeiro Editora Sprint

ltda1998

PIAGET Jean Seis estudos de psicologia 24ordfediccedilatildeo 3ordf reimpressatildeo Rio de

Janeiro Editora forense universitaacuteria ltda 2003

SANTA ROZA Eliza Quando brincar eacute dizer A experiecircncia psicanaliacutetica na

infacircncia Rio de Janeiro Editora Relume dumaraacute 1993

SHERIDAN Mary D Brincadeiras espontacircneas na primeira infacircncia Do

nascimento aos seis anos Satildeo Paulo Editora Manole 1990

VELASCO Cacilda Gonccedilalves Brincar o despertar psicomotor Rio de Janeiro

Editora Sprint ltda 1996

WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975

Page 55: Brinquedos Cantados Na Psicomotricidade

54

ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23

Minha boneca de lata

Bateu com a cabeccedila no chatildeo

Levou mais de uma hora

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui pra ficar boa

Minha boneca de lata

Bateu com o pescoccedilo no chatildeo

Levou mais de duas horas

Pra fazer a arrumaccedilatildeo

Desamassa aqui desamassa aqui

Pra ficar boa

Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho

o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do

corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez

horas de arrumaccedilatildeo propostas

23 Recolhido atraveacutes da cultura oral

55

6CONCLUSAtildeO

Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-

se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse

infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar

Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a

relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas

cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo

permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os

estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e

que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo

Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de

winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do

ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos

como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica

Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de

conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos

Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade

que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se

pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos

sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu

ldquoafetordquo

56

Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a

psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir

expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer

Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia

para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a

socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte

aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o

desenvolvimento das estruturas psicomotoras

Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a

essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado

pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando

o prazer de brincar cantar e ser feliz

57

BIBLIOGRAFIA

CASCUDO Luiacutes da Cacircmara Dicionaacuterio do folclore Brasileiro 6ordfediccedilatildeo

Belo Horizonte Itatiaia Satildeo Paulo Editora Universo1988

COSTA Clarice Moura O Despertar para o outro Musicoterapia Satildeo Paulo

Summus editorial1989

COSTE Jean Claude A Psicomotricidade 4ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Guanabara

Koogan 1992

FERREIRA Aureacutelio Buarque de Holanda Dicionaacuterio Aureacutelio Baacutesico Rio de Janeiro

Editora Nova fonteira SA1988

FERREIRA Isabel Neves Caminhos do aprender Brasiacutelia Coordenaccedilatildeo Nacional

Para a integraccedilatildeo da pessoa portadora de deficiecircncia 1993

FREGTMAN Carlos Daniel Corpo Muacutesica e terapia Satildeo Paulo Editora Cultrix

Ltda 1989

GAINZA Violeta Hemsy de Estudos de psicopedagogia musical Satildeo Paulo

Summus editorial 1988

HUIZINGA J Homo Ludens Satildeo Paulo Editora Perspectiva 1980

LAPIERRE A amp AUCOUTURIER B A simbologia do movimento psicomotricidade

e educaccedilatildeo 2ordfediccedilatildeo Porto alegre Editora Artes meacutedicas 1988

LEITAcircO Luiacutes A Apostila Recreaccedilatildeo na Educaccedilatildeo Fiacutesica Rio de Janeiro UNESA

2001

LEVIN Esteban A cliacutenica psicomotora O corpo na linguagem 4ordfediccedilatildeo Petroacutepolis

Rio de janeiro Editora Vozes 2001

LEVY Denise ldquoPsicomotricidade e Gerontomotricidade na sauacutede puacuteblicardquo IN

Psicomotricidade da educaccedilatildeo infantil agrave gerontologia (teoria e praacutetica)

Satildeo Paulo Editora Lovise 2000

58

MARTINS Armando Toque violatildeo ou guitarra (meacutetodo praacutetico) Rio de Janeiro

Ediccedilotildees de ouro 1990

MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute preciso Cantar Musicoterapia Cantos e

Canccedilotildees Rio de Janeiro Enelivros editora e livraria ltda 2001

NEGRINE Airton Aprendizagem e desenvolvimento infantil Simbolismo e jogo

volume 1 Porto alegre Editora Prodil1994

PAIVA Ione Maria R Brinquedos cantados Rio de Janeiro Editora Sprint

ltda1998

PIAGET Jean Seis estudos de psicologia 24ordfediccedilatildeo 3ordf reimpressatildeo Rio de

Janeiro Editora forense universitaacuteria ltda 2003

SANTA ROZA Eliza Quando brincar eacute dizer A experiecircncia psicanaliacutetica na

infacircncia Rio de Janeiro Editora Relume dumaraacute 1993

SHERIDAN Mary D Brincadeiras espontacircneas na primeira infacircncia Do

nascimento aos seis anos Satildeo Paulo Editora Manole 1990

VELASCO Cacilda Gonccedilalves Brincar o despertar psicomotor Rio de Janeiro

Editora Sprint ltda 1996

WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975

Page 56: Brinquedos Cantados Na Psicomotricidade

55

6CONCLUSAtildeO

Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-

se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse

infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar

Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a

relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas

cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo

permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os

estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e

que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo

Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de

winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do

ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos

como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica

Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de

conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos

Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade

que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se

pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos

sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu

ldquoafetordquo

56

Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a

psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir

expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer

Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia

para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a

socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte

aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o

desenvolvimento das estruturas psicomotoras

Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a

essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado

pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando

o prazer de brincar cantar e ser feliz

57

BIBLIOGRAFIA

CASCUDO Luiacutes da Cacircmara Dicionaacuterio do folclore Brasileiro 6ordfediccedilatildeo

Belo Horizonte Itatiaia Satildeo Paulo Editora Universo1988

COSTA Clarice Moura O Despertar para o outro Musicoterapia Satildeo Paulo

Summus editorial1989

COSTE Jean Claude A Psicomotricidade 4ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Guanabara

Koogan 1992

FERREIRA Aureacutelio Buarque de Holanda Dicionaacuterio Aureacutelio Baacutesico Rio de Janeiro

Editora Nova fonteira SA1988

FERREIRA Isabel Neves Caminhos do aprender Brasiacutelia Coordenaccedilatildeo Nacional

Para a integraccedilatildeo da pessoa portadora de deficiecircncia 1993

FREGTMAN Carlos Daniel Corpo Muacutesica e terapia Satildeo Paulo Editora Cultrix

Ltda 1989

GAINZA Violeta Hemsy de Estudos de psicopedagogia musical Satildeo Paulo

Summus editorial 1988

HUIZINGA J Homo Ludens Satildeo Paulo Editora Perspectiva 1980

LAPIERRE A amp AUCOUTURIER B A simbologia do movimento psicomotricidade

e educaccedilatildeo 2ordfediccedilatildeo Porto alegre Editora Artes meacutedicas 1988

LEITAcircO Luiacutes A Apostila Recreaccedilatildeo na Educaccedilatildeo Fiacutesica Rio de Janeiro UNESA

2001

LEVIN Esteban A cliacutenica psicomotora O corpo na linguagem 4ordfediccedilatildeo Petroacutepolis

Rio de janeiro Editora Vozes 2001

LEVY Denise ldquoPsicomotricidade e Gerontomotricidade na sauacutede puacuteblicardquo IN

Psicomotricidade da educaccedilatildeo infantil agrave gerontologia (teoria e praacutetica)

Satildeo Paulo Editora Lovise 2000

58

MARTINS Armando Toque violatildeo ou guitarra (meacutetodo praacutetico) Rio de Janeiro

Ediccedilotildees de ouro 1990

MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute preciso Cantar Musicoterapia Cantos e

Canccedilotildees Rio de Janeiro Enelivros editora e livraria ltda 2001

NEGRINE Airton Aprendizagem e desenvolvimento infantil Simbolismo e jogo

volume 1 Porto alegre Editora Prodil1994

PAIVA Ione Maria R Brinquedos cantados Rio de Janeiro Editora Sprint

ltda1998

PIAGET Jean Seis estudos de psicologia 24ordfediccedilatildeo 3ordf reimpressatildeo Rio de

Janeiro Editora forense universitaacuteria ltda 2003

SANTA ROZA Eliza Quando brincar eacute dizer A experiecircncia psicanaliacutetica na

infacircncia Rio de Janeiro Editora Relume dumaraacute 1993

SHERIDAN Mary D Brincadeiras espontacircneas na primeira infacircncia Do

nascimento aos seis anos Satildeo Paulo Editora Manole 1990

VELASCO Cacilda Gonccedilalves Brincar o despertar psicomotor Rio de Janeiro

Editora Sprint ltda 1996

WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975

Page 57: Brinquedos Cantados Na Psicomotricidade

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Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a

psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir

expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer

Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia

para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a

socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte

aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o

desenvolvimento das estruturas psicomotoras

Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a

essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado

pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando

o prazer de brincar cantar e ser feliz

57

BIBLIOGRAFIA

CASCUDO Luiacutes da Cacircmara Dicionaacuterio do folclore Brasileiro 6ordfediccedilatildeo

Belo Horizonte Itatiaia Satildeo Paulo Editora Universo1988

COSTA Clarice Moura O Despertar para o outro Musicoterapia Satildeo Paulo

Summus editorial1989

COSTE Jean Claude A Psicomotricidade 4ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Guanabara

Koogan 1992

FERREIRA Aureacutelio Buarque de Holanda Dicionaacuterio Aureacutelio Baacutesico Rio de Janeiro

Editora Nova fonteira SA1988

FERREIRA Isabel Neves Caminhos do aprender Brasiacutelia Coordenaccedilatildeo Nacional

Para a integraccedilatildeo da pessoa portadora de deficiecircncia 1993

FREGTMAN Carlos Daniel Corpo Muacutesica e terapia Satildeo Paulo Editora Cultrix

Ltda 1989

GAINZA Violeta Hemsy de Estudos de psicopedagogia musical Satildeo Paulo

Summus editorial 1988

HUIZINGA J Homo Ludens Satildeo Paulo Editora Perspectiva 1980

LAPIERRE A amp AUCOUTURIER B A simbologia do movimento psicomotricidade

e educaccedilatildeo 2ordfediccedilatildeo Porto alegre Editora Artes meacutedicas 1988

LEITAcircO Luiacutes A Apostila Recreaccedilatildeo na Educaccedilatildeo Fiacutesica Rio de Janeiro UNESA

2001

LEVIN Esteban A cliacutenica psicomotora O corpo na linguagem 4ordfediccedilatildeo Petroacutepolis

Rio de janeiro Editora Vozes 2001

LEVY Denise ldquoPsicomotricidade e Gerontomotricidade na sauacutede puacuteblicardquo IN

Psicomotricidade da educaccedilatildeo infantil agrave gerontologia (teoria e praacutetica)

Satildeo Paulo Editora Lovise 2000

58

MARTINS Armando Toque violatildeo ou guitarra (meacutetodo praacutetico) Rio de Janeiro

Ediccedilotildees de ouro 1990

MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute preciso Cantar Musicoterapia Cantos e

Canccedilotildees Rio de Janeiro Enelivros editora e livraria ltda 2001

NEGRINE Airton Aprendizagem e desenvolvimento infantil Simbolismo e jogo

volume 1 Porto alegre Editora Prodil1994

PAIVA Ione Maria R Brinquedos cantados Rio de Janeiro Editora Sprint

ltda1998

PIAGET Jean Seis estudos de psicologia 24ordfediccedilatildeo 3ordf reimpressatildeo Rio de

Janeiro Editora forense universitaacuteria ltda 2003

SANTA ROZA Eliza Quando brincar eacute dizer A experiecircncia psicanaliacutetica na

infacircncia Rio de Janeiro Editora Relume dumaraacute 1993

SHERIDAN Mary D Brincadeiras espontacircneas na primeira infacircncia Do

nascimento aos seis anos Satildeo Paulo Editora Manole 1990

VELASCO Cacilda Gonccedilalves Brincar o despertar psicomotor Rio de Janeiro

Editora Sprint ltda 1996

WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975

Page 58: Brinquedos Cantados Na Psicomotricidade

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BIBLIOGRAFIA

CASCUDO Luiacutes da Cacircmara Dicionaacuterio do folclore Brasileiro 6ordfediccedilatildeo

Belo Horizonte Itatiaia Satildeo Paulo Editora Universo1988

COSTA Clarice Moura O Despertar para o outro Musicoterapia Satildeo Paulo

Summus editorial1989

COSTE Jean Claude A Psicomotricidade 4ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Guanabara

Koogan 1992

FERREIRA Aureacutelio Buarque de Holanda Dicionaacuterio Aureacutelio Baacutesico Rio de Janeiro

Editora Nova fonteira SA1988

FERREIRA Isabel Neves Caminhos do aprender Brasiacutelia Coordenaccedilatildeo Nacional

Para a integraccedilatildeo da pessoa portadora de deficiecircncia 1993

FREGTMAN Carlos Daniel Corpo Muacutesica e terapia Satildeo Paulo Editora Cultrix

Ltda 1989

GAINZA Violeta Hemsy de Estudos de psicopedagogia musical Satildeo Paulo

Summus editorial 1988

HUIZINGA J Homo Ludens Satildeo Paulo Editora Perspectiva 1980

LAPIERRE A amp AUCOUTURIER B A simbologia do movimento psicomotricidade

e educaccedilatildeo 2ordfediccedilatildeo Porto alegre Editora Artes meacutedicas 1988

LEITAcircO Luiacutes A Apostila Recreaccedilatildeo na Educaccedilatildeo Fiacutesica Rio de Janeiro UNESA

2001

LEVIN Esteban A cliacutenica psicomotora O corpo na linguagem 4ordfediccedilatildeo Petroacutepolis

Rio de janeiro Editora Vozes 2001

LEVY Denise ldquoPsicomotricidade e Gerontomotricidade na sauacutede puacuteblicardquo IN

Psicomotricidade da educaccedilatildeo infantil agrave gerontologia (teoria e praacutetica)

Satildeo Paulo Editora Lovise 2000

58

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Ediccedilotildees de ouro 1990

MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute preciso Cantar Musicoterapia Cantos e

Canccedilotildees Rio de Janeiro Enelivros editora e livraria ltda 2001

NEGRINE Airton Aprendizagem e desenvolvimento infantil Simbolismo e jogo

volume 1 Porto alegre Editora Prodil1994

PAIVA Ione Maria R Brinquedos cantados Rio de Janeiro Editora Sprint

ltda1998

PIAGET Jean Seis estudos de psicologia 24ordfediccedilatildeo 3ordf reimpressatildeo Rio de

Janeiro Editora forense universitaacuteria ltda 2003

SANTA ROZA Eliza Quando brincar eacute dizer A experiecircncia psicanaliacutetica na

infacircncia Rio de Janeiro Editora Relume dumaraacute 1993

SHERIDAN Mary D Brincadeiras espontacircneas na primeira infacircncia Do

nascimento aos seis anos Satildeo Paulo Editora Manole 1990

VELASCO Cacilda Gonccedilalves Brincar o despertar psicomotor Rio de Janeiro

Editora Sprint ltda 1996

WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975

Page 59: Brinquedos Cantados Na Psicomotricidade

58

MARTINS Armando Toque violatildeo ou guitarra (meacutetodo praacutetico) Rio de Janeiro

Ediccedilotildees de ouro 1990

MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute preciso Cantar Musicoterapia Cantos e

Canccedilotildees Rio de Janeiro Enelivros editora e livraria ltda 2001

NEGRINE Airton Aprendizagem e desenvolvimento infantil Simbolismo e jogo

volume 1 Porto alegre Editora Prodil1994

PAIVA Ione Maria R Brinquedos cantados Rio de Janeiro Editora Sprint

ltda1998

PIAGET Jean Seis estudos de psicologia 24ordfediccedilatildeo 3ordf reimpressatildeo Rio de

Janeiro Editora forense universitaacuteria ltda 2003

SANTA ROZA Eliza Quando brincar eacute dizer A experiecircncia psicanaliacutetica na

infacircncia Rio de Janeiro Editora Relume dumaraacute 1993

SHERIDAN Mary D Brincadeiras espontacircneas na primeira infacircncia Do

nascimento aos seis anos Satildeo Paulo Editora Manole 1990

VELASCO Cacilda Gonccedilalves Brincar o despertar psicomotor Rio de Janeiro

Editora Sprint ltda 1996

WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975