Brilhante Mas Acelerado, Lembra?

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Brilhante mas Acelerado Lembra? Adamski & Majerkowski

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Tradução do livro de Adamski e Majerkowski.

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Brilhante mas AceleradoLembra?

Adamski & Majerkowski

SISTEMA DA LIBERDADE SA

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Adamski, Rodrigo, 1973 - & Majerkowski,

Regina, 1988 - (ou ao contrário.)

AM1984bmal Brilhante mas acelerado,

lembra? / (já tá escrito lá em cima);

tradução deles mesmos (11-23/02/2007).

– Alvorada: Sistema da Liberdade SA,

19/03/2006 – 19/12/2006 (9 meses,

percebe?).

1. Romance élfico e alienígena,

parte 1

I. Título (não sabemos pra que

serve, e, pra dizer a verdade, não

estamos ligando muito pra isso)

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Índice

...…………………….……… 03

Capítulo Três ………………………………… 20

Próximo Capítulo …………………...….……. 37

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Bom, olha só, passava da meia noite e eu tava com o meu violão quando um baita barulho me parou. Eu tava tocando minha música favorita, daí não chorei quando me virei pra olhar pro lugar de onde o barulho estranho tinha vindo e vi, por um enorme buraco na parede muito perto de mim, um homem matando um árabe.

Eu nunca tinha visto nada parecido. Dois minutos depois, o homem entrou numa floresta ali perto. O idiota deixou a arma pra trás, provavelmente por causa de um anel brilhante que tinha caído do seu bolso, então eu pude me esgueirar pelas ruas sem medo pra tentar descobrir o que tinha causado a ruína da minha parede.

Tremi como uma criança quando minha amiga Charlotte bateu no meu ombro e me perguntou:

– Ouviu uma explosão?– Ouvi, eu disse – ela destruiu minha casa! Convidei-a pra voltar comigo pra ver tudo, mas

quando chegamos o homem morto e o buraco tinham desaparecido!

Daí seguimos o suposto assassino por entre as árvores e todas as janelas e andares de duas torres que nós nem sabíamos que existia até que o encon-tramos.

Ele disse: – Vocês estão aí! Eu estava esperando por

vocês! Por favor, não falem! Vocês têm seguido as tendências por tempo demais; agora é hora de pensarem por si próprios!

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Quando ele disse aquelas palavras sem abrir a boca, caí no sono e sonhei que tava sonhando com um sonho que tinha um elefante e ele me disse (a voz dele lembrava a do Little Boss, meu camundongo):

– Vá para Moscou e encontre a canção perdida, uma canção de amor.

Tentei dizer que eu era americano, mas daí percebi que tava acordado. Eu tava numa sala, numa sala com uma lâmpada, mas essa lâmpada tinha estado emanando uma luz negra. Era uma sala sem paredes. Vi um homem que, na verdade, era uma mulher, e ela me disse:

– Aqui as paredes têm ouvidos. Sou Love e uma boa mulher, uma nazista e uma crente. Quem é você? Por que veio a Fangorn?

E eu disse: – Fangorn?! E-eu sou Igo-o, so-ou um c-cara

bobo, um cigano-o… e um judeu e um gago e…Logo em seguida ela (ou ele) gritou: – Seu ?*#%@! Vá $º@+%*!!!– Onde tá Cha-Charlotte?? – eu perguntei. – Hu hua hua ha ha (risada demoníaca)!!! Ela tá

numa aula de inglês, Hu hua hua ha ha (de novo), com Hate. Tenho pena dela.

Não entendi aquilo, mas Love, também, era uma professora. Depois disso, entrou um árabe que me pegou e me jogou num anel. E ele gritou:

– Entre!!! Sauriossaurius Rex!!!O maior homem que eu vi na minha vida pulou

no anel. Esse homem me bateu; pensei que tinha morrido. Daí apareceu Little Boss gritando com uma voz bem parecida com a de um elefante:

– Corte o dedo dele!!!Peguei meu canivete e cortei sua mão (sempre

quis fazer isso).

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Ele parou e disse: – Às vezes, as pessoas querem parecer mais do

que realmente são.E morreu.Naquele exato momento, lembrei das palavras

que uma namorada minha tinha dito uma vez, mas ela também tinha morrido (não sei – eu nunca disse essas palavras, embora eu ache que um dia vou pronunciá-las). Quando olhei pra trás, Love e o árabe estavam lutando.

Era uma luta entre os azuis que uma vez você conheceu. Ela estava dizendo algo como: “Coma toda a grama que você quiser!”, enquanto ele ficava repetindo: “eu sei!!!, eu sei!!!”, ou eu pensei que ele tava dizendo isso. Ficou muito claro que minha chance de escapar tinha aparecido, daí eu a aproveitei de uma vez!

Enquanto eu tava no meu caminho de volta pra casa, encontrei um gato siamês que nunca tinha visto antes em nenhum outro lugar além do pátio da frente da casa de Jennifer Gentle. Ele tava bem no meio da calçada, então tive que desviar. Atravessei a rua e pude ouvir perfeitamente o bombardeio de todos os lares do outro lado da cidade. Isso me fez correr desesperado porque todos sabem que a casa de Hate fica lá.

Quando finalmente cheguei, fiquei assombrado! Era espantosamente incrível!

– Ficar aturdido e confuso por tanto tempo não é verdade – eu pensei.

Nada tinha acontecido. Nadinha!! Entretanto, no meio da rua, encontrei um velho

gravador com uma fita dentro, e era como se tivesse dois anéis ao invés daquelas engrenagenzinhas de

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plástico nela. Cheguei ainda mais perto e pude ouvir uma voz sussurrante que dizia: Havia um rei que go-vernava a terra; sua majestade estava no comando...”

Daí tremi como uma criança de novo com Charlotte batendo no meu ombro outra vez.

– Como você conseguiu fugir? – eu perguntei. – Do que você tá falando? São seis da manhã e

eu to indo pro trabalho! – Como é que pode?! – eu disse. Você não

lembra de nada? Eu tava com Love, você tava com Hate!

– Tá maluco? Anda tomando seu remédio?Daí contei a ela sobre tudo que tinha acontecido

nas últimas seis horas mas tudo que ela dizia era: “Que violão? Que buraco? Que árabe?”

Ela pegou um ônibus que veio do meio do nada e eu pude ler esta palavra escrita na parte de trás: BARBARAS. Ele também atropelou o gravador. De repente, ouvi uma voz sibilante que dizia: “Você não pode me ver mas eu posso ver você”, e minha cabeça começou a doer um monte!

Decidi ir direto pra casa, não importando o que acontecesse até lá. Claro que meu violão também tinha desaparecido, mas eu ainda tinha alguns discos e os toquei porque a música parece ajudar a dor. Infelizmente, não ajudou, porque tava um pouquinho mais alta do que o nível aceitável.

Senti como se meu rosto fosse meu coração e me deu uma vontade enorme de olhar pra ele. Não tinha nenhum espelho onde eu morava – não tinha quase nada, na verdade – então fui ao shopping pra tentar encontrar um refletor de imagem. Lembrei que tinha visto um uma vez no Salão de Espelhos. Tive de invadir pela porta de trás porque ainda tava fechado.

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Quando pensei que ia finalmente olhar meu rosto, um gnomo chamado Grimble Gromble se materializou. Ele usava uma túnica escarlate e um capuz azul e verde. Ele disse: “Uuh meu, uuh meu…”, pegou minha mão e me levou a outra dimensão cheia de espelhos.

Num deles, eu pude ver a América com sua desgraça cansada, pobre e vingativa; em outro, havia uma cena de Moscou – o Parque Gorki e um show de rock em andamento; a banda se chamava Bakunin e tava tocando uma música inglesa com um sotaque soviético muito forte.

Grimble Gromble me disse pra ler de novo o Chapter1 24 se eu quisesse cumprir minha missão. Daí ele me guiou pelo interior da minha mente e eu vi meus pensamentos correndo tão rapidamente como uma luz negra, pensamentos que eu nem sabia que tavam lá – “ela tem medo que eu a leve pra longe de lá alguém me chute pra fora da minha mente você é o tipo de garota que combina com meu mundo sua cabeça não produz nenhum pensamento…’

Todas essas lembranças emergentes foram tão cansativas que eu caí no chão e dormi até meio-dia.

Essas coisas aconteceram por seis dias, então eu percebi que não tava sonhando. Mas daí isso parou e meu contentamento foi embora, também porque conheci muitas pessoas lá – Grimble, o gnomo; Damo-dara, a motorista para Neverland; Yup, Gib e Tilly, os esquilos perdidos; a família Shinaware com sua dupla personalidade; e todos os outros que me levaram às maiores aventuras com que eu apenas sonhei.

– Mas agora tudo é uma velha recordação, e eu quero... Não entendo, as coisas não precisam fazer sentido, nada faz sentido – eu pensei.

1 Capítulo. NT.

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Eu, Igo, encontrei um livro no sétimo dia; esse livro me levou a um mundo sem mágica – talvez haja mágica nesse mundo, mas é ruim. E ninguém sabia que eu tive uma chance de viver ou sonhar que estava vivendo. Eu tava vivo então.

Eu soube que alguém já tinha sonhado comigo antes de eu viver. Ela tinha vivido esse sonho e depois disso, morreu.

– Ela não parecia mais do que realmente era... – eu pensei.

Ela me disse alguma coisa quando acordei… Depois ela dormiu.

Talvez toda a loucura daqueles dias tenha me mostrado que eu sempre quis algo que eu já tinha. Talvez todos os malucos sejam pessoas que viveram no mundo dos sonhos, porque este mundo não vale à pena. Então eu tive uma idéia – procurar pelo Chapter 24, mas onde? Eu não tinha mais nenhum sonho.

Fui ver uma cartomante. Contei minha história e, quando terminei, ela morreu. Mas eu vi seu espírito, daí ela disse: “Você é especial e não deve contar sua história para ninguém; ninguém pode saber, eles não têm permissão.” Ela sabia pra onde ir depois da morte. “E agora?”, eu pensei. “Pra onde eu vou?!! Ah, que merda, eu sei!!”

Então fui comprar uma lâmpada de desejos. Cheguei à casa de Ted Bacterium; ele vendia aquelas coisas.

Ele me disse:– O que você quer? E eu respondi:– Uma lâmpada de dois desejos.– Não sei, você quer uma lâmpada sagrada; tem

dinheiro?Eu disse:

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– Sim, mas primeiro quero vê-la.Ele me olhou e…– Tá!!! Peguei a lâmpada e a esfreguei rapidamente e

fiz um desejo:– Quero essa lâmpada de graça!!!Ele me deu a lâmpada de desejos.– Agora eu tenho um desejo. O que deveria

pedir?Eu realmente gostaria de saber o que tinha na-

quele maldito Chapter 24, então esfreguei a lâmpada de novo e comecei a pronunciar os primeiros sons de meu desejo quando ninguém menos que o árabe a roubou de mim!

Corri atrás dele e gritei:– Devolva essa lâmpada!Num instante, ele parou, voltou e me deu ela de

volta com um sorriso triunfante no rosto.– Maldição!!!! – eu disse quase pegando fogo!Daí percebi que o árabe poderia ser alguém

como eu, quero dizer, um sonho verdadeiro ou o que quer que eu fosse, e embora ele não estivesse do meu lado, talvez eu pudesse esclarecer algumas coisas.

De repente, começou a chover, e choveu muito enquanto ficamos parados no meio de uma encruzi-lhada por muito, muito tempo – eu tava decidindo o que fazer e ele... Eu o tinha escravizado! Aquele homem horrível não poderia ir embora se eu não pusesse minhas mãos na lâmpada! Então, pela primeira vez, abri um sorriso vitorioso no meu rosto (nunca tinha me sentido assim, nem quando derrotei Sauriossaurius), propondo um acordo: a liberdade dele pela minha (pois eu tava me sentindo meio enjaulado e sufocado e confinado e perdido e deslocado e desorientado vivendo outra vez – não exatamente

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outra vez – naquele mundo cheio de limites e regras e tradições e princípios e definições e rótulos e con-ceitos...). Disse a ele que preferia o mundo imprevisível que tive a chance de experimentar uma vez porque lá eu tinha minha vontade e eu não me importava se as coisas estivessem fora de meu con-trole mesmo assim.

– Quero voltar pra minha segunda existência e continuar lutando por coisas bem melhores que dinheiro e poder. Vai me ajudar?

– Tudo que eu posso dizer é que só tem nove de nós agora, e apenas um pode chegar ao final.

– Como sabe disso? – perguntei a ele.– Estou nessa jornada muito antes de você – ele

respondeu – e eu sei que ninguém morre de verdade. Os seres vivos apenas vão pra lugares diferentes, mas só você e eu, Love e Hate, Charlotte e Jennifer, a cartomante, a motorista e o comerciante são perspi-cazes o suficiente pra viajar assim livremente por todos os mundos.

– Por que isso é assim? – eu perguntei de novo.– Porque somos os únicos que leram o Chapter 24.– E o que ou onde é o final?Ele disse que não sabia e pareceu ser sincero. – Você não vai me dizer que bosta tem neste

Chapter 24, vai? Então, por favor, vamos chegar ao final juntos, todos nós! Vamos quebrar esta estúpida previsão! – eu implorei.

Percebi naquela hora que o árabe – ele não era nada além de uma marionete controlada pelo coelho branco, que tinha então me assustado. Quando o animal percebeu que eu o tinha visto, atirou o pobre corpo do árabe e começou a voar em direção ao balão com nove outras pessoas. Acho que tava escrito isso nele:

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(para o sonho sonhado)

Tentei em meu último esforço pular dentro dele, mas ao invés de ir pra cima, ele começou a descer em um túnel em direção ao centro da terra. Tava escuro demais. Eu não conseguia ver nada dentro dele. Decidi pular pra fora, mas quando comecei a contar, percebi que não sabia! Fiquei com medo, pois o tempo parecia correr muito rápido. Quando abri meus olhos, eu já tava no lugar, e pensei: “Aqui parece lá em cima. Também tem um corpo e outro buraco. É que nem lá em cima!!!”

Naquele momento, pensei que já tava no mundo dos sonhos outra vez e uma garota apareceu.

– Qual o problema?Quando comecei a responder, o árabe surgiu e

disse: “Eu devo estar sonhando! Agora entendo nosso verdadeiro sentido. Ah!!!”

Ele correu pra cidade. Por um instante, vi a garota, ouvimos um grande barulho e observei fogo na cidade.

Senti uma coisa estranha. Ela sussurrou: “Sou a senhorita Sometimes Q. E qual o seu nome?

Eu não sabia o que dizer e disse: “Minha mãe não quer que eu fale com estranhos.”

Ela me olhou com surpresa.– Bom… anh… bom, antes eu acho, este…

bom… era meu nome, agora meu nome é Igo. – eu respondi então. – Sabe, era comprido demais.

– Legal!!! – ela disse. Por que tem uma tampa preta no chão? – ela perguntou.

Não entendi aquilo, mas de repente um tremor começou a sacudir tudo, e helicópteros apareceram gritando pra nós: “Saiam daí, pode acontecer outra experiência milit... , quer dizer, tsunami!

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Eu pensei: “Mas não tem tsunamis na América”, e perguntei isso ao piloto. Afinal, poderia ser um seqüestro e se eu entrasse no helicóptero por livre e espontânea vontade, pensei que não poderia chamar a polícia. Ele me disse que os vulcões eram chamados Tsunamis naquela parte da América, e, bem, “vulcões são malvados”, eu pensei, e decidi entrar no helicóp-tero. No entanto, a senhorita Sometimes Q não tava lá, então deduzi que ela tinha caído no buraco.

Os helicópteros sumiram e eu fiquei sozinho, Eu tava caminhando pelas ruas com o feno. Lá embaixo as coisas eram idênticas às lá de cima mas não tinha ninguém. Foi então que de repente...

…tudo à minha volta mudou! Todo o feno e os buracos e os furacões ou o que quer que fosse desapareceram!

O ambiente se metamorfoseou em céus azul-claros, grama verde-clara, flores por toda parte, passarinhos e abelhas, e também pude ver um homem nu se pendurando pela floresta.

Bem na minha frente tinha uma cachoeira divi-dida em duas direções opostas – a água que ia pra esquerda era vermelha e a água que ia pra direita era azul.

– A liberdade é azul – eu disse pra mim mesmo – mas a fraternidade é vermelha.

Observei as quedas com muito cuidado até que pude vislumbrar uma espécie de porta quase escondida atrás delas! Decidi ir até lá, mas como?

– Não ouso fazer isso! – pensei comigo mesmo. E se eu não olhar? É isso! Vou de costas!

Então coloquei meu pé esquerdo no lado direito e meu pé direito no lado esquerdo e tudo se misturou e toda a água ficou roxa! Cheguei à porta mais

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facilmente do que esperava mas percebi que só poderia atravessá-la se digitasse um código.

Como eu tava carregando o livro que tinha achado uma vez, decidi tirá-lo das minhas botas. Não era um livro convencional – na verdade, era uma versão impressa em formato A-4, Arial 14, exatamente 14 entre as linhas, então eu tinha 64 páginas na minha bota direita e outras 64 na esquerda. Elas estavam um pouco borradas por causa da minha travessia, mas eu ainda conseguia lê-las. Levei 24 horas, pois tudo que eu podia ler era meu nome – quero dizer, meu codinome. Eu tava morrendo de fome quando finalmente cheguei ao final da história, que era no... Chapter 24! “Mas espera”, eu pensei, “nunca li isso antes. O árabe me disse… Mas talvez ele tenha mentido sobre isso. Sei lá!”

Ele tinha sido publicado em 1984 – senti como se meu estômago estivesse tão vazio como meus bolsos – e lembrei que uma vez tinha visto um filme com esse nome. Nenhuma dessas coisas tinha nada a ver com canções de amor ou o que quer que eu tivesse que encontrar, mas resolvi digitar tudo que pudesse ser um código.

Bom, tudo que eu posso dizer é que nada funcionou. Pra piorar as coisas, eu tava tão faminto que não podia nem ficar de pé, daí caí no sono e consegui sonhar. Ouvi de novo uma voz sibilante e uma voz sussurrante que me disseram: “Love e Hate são a mesma. Isso não é o fim. Moscou é uma metáfora. Gibson é um nome que conecta coisas.”

Na realidade (embora eu não ache que essa seja uma palavra adequada), elas lembraram minha própria voz, a que eu tinha nos meus pensamentos, pois a minha verdadeira (eu não deveria usar essa palavra) era um pouquinho gaga, realmente (opa!).

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E prestei atenção ao que elas diziam, mas elas não diziam nada, quero dizer, não tinha certeza se aquelas palavras eram de alguma forma úteis. Talvez se eu tivesse estudado mais depois que me formei na pré-escola... “Pra quê?, eu pensei na época, “Se nós já podemos ouvir os livros!”

Daí vi o coelho branco correndo em direção a um pequeno buraco na parede de pedra perto da porta e soube que tinha de segui-lo! Sorte minha que eu era magro o suficiente pra passar pelo buraco!

Quando finalmente cheguei lá dentro, me deparei com as imagens mais lindas que já vi na minha curta vida inteira! Mulheres feitas de fogo suave condensado e água límpida perfumada cujo cabelo era parecido com longas folhas frescas por toda parte caminhando por um chão pintado com borboletas e corujas e golfinhos e baleias e cavalos e girafas, tudo reunido tão harmoniosa e delicadamente que não me fez sentir confuso, ao contrário, meio que me fez pensar mais claramente sobre muitas coisas, como se eu tivesse por fim entendido a relação de todos os seres com todas as coisas que eu podia distinguir nas paredes, como planetas e vulcões e diversos tipos de luz, ou melhor dizendo, raios de luz da lua, luz do sol, luz de lâmpada, luz de vela, como se fossem pessoas.

O teto era tão escuro como a mais escura das noites de todos os tempos, e isso me levou a pensar no nada ou imaginação ou escolhas ou preconceito.

Parecia que ninguém tinha me notado, nem mesmo os homens que eram feitos de algum tipo de metal flexível quente e papel líquido colorido. Seu cabelo era exatamente o mesmo das mulheres.

Aos poucos, fui me acostumando àquele miracu-loso, extraordinário, surpreendente lugar e comecei a distinguir outros buracos e corpos de alguma forma

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escondidos perto deles – um deles era Damodara, tenho bastante certeza, mas daí lembro que me bateram bem forte na cabeça e quando acordei, tava em casa de novo.

– Maldição!Eu sabia que tava no meu quarto porque o disco

que eu tava ouvindo antes de ir ao shopping na mesma manhã depois que toda a minha confusão começou ainda tava tocando. Era o primeiro disco de uma banda que eu não gostava, mas Hate tinha me emprestado nos seus esforços de me levar pro lado dela.

Eu também sabia que tava lá por causa da grande quantidade de ursinhos de pelúcia que eu podia tocar na minha cama e o cheiro de meias sujas embaixo dela.

– Maldição! – eu repeti num tom de voz bem alto. Ninguém respondeu – quem responderia? Eu morava sozinho. Sozinho numa casa de um quarto um milhão de quilômetros longe do paraíso que eu recém tinha tido o contentamento de encontrar! Um que eu provavelmente não veria outra vez porque tava cego!

Eu me senti tão terrivelmente pobre, desen-corajado e deprimido que quis morrer! E teria alcançado isso se uma mão não tivesse segurando a minha, me enchendo de conforto e alívio. A fome foi embora pra qualquer lugar.

– Nunca mais vou te deixar sozinho, prometo. Não tenho mais medo.

Era uma voz parecida com uma que eu já tinha ouvido, mas também como uma outra, ou uma mistura delas. Tudo que eu sabia é que era de uma garota.

Todo o seu corpo também segurou o meu, me levando pra fora daquele lugar insuportável dali em diante. Ela me levou por ruas que eu nunca tinha

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estado antes e finalmente chegamos ao outro lado da cidade (ou eu chegava lá pelo lado leste pra ver o cemitério ou pelo oeste pra ver as garotas entrando e saindo da escola, mas nunca pelo meio só por causa da lomba).

Eu conseguia enxergar pelos olhos dela, o que era completamente impensável já que eu podia ver a mim! Eu também podia pensar como se eu fosse ela e eu ao mesmo tempo, então pedi a ela pra se olhar num espelho, mas ela me disse que eles eram saídas que nós tínhamos que usar muito cuidadosamente quando estivéssemos prontos.

– Só tem quatro de nós agora – ela disse.– Quem? – eu perguntei.– Você e eu, Damodara e Ted Bacterium.– Eu sei que já fiz essa pergunta pra alguém

antes, mas como você sabe disso? Ou seria melhor se eu perguntasse por que eu nunca sei nada... E quem é você?

Ela não me respondeu com palavras, mas com seus pensamentos. A história inteira entrou no meu cérebro como algum tipo de sentimento ou experiência que eu não conseguia transformar em linguagem; apesar disso, fiquei extremamente agradecido, ainda mais porque soube que ela era livre e fraternal em uma única alma desde que eu tinha misturado o rio! Embora houvesse algo meio obscuro na minha mente.

– Não teve uma luta entre os vermelhos?– Claro que teve. O que você acha que foi a luta

entre você e Sauriossaurius?– Mas eu o matei! E você tá viva! E o árabe

também tava! E eu não tenho duas almas! Essa é a única parte que eu não entendo!

– Eu também não. Quem sabe as coisas não são completamente iguais, embora sejam.

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– Sim, digo, somos roxos agora, mas eu ainda não consigo ver as coisas sozinho...

– E eu não posso ser vista.– Que nome você usa agora? – perguntei.Eu renasci como Neel, mas como não posso

existir sem você, vou me chamar Nolegie2.

CAPÍTULO TRÊS

E o lado da montanha nebulosa

2 “Nolegie” tem o som quase igual ao de “knowledge”, em inglês, que significa conhecimento. NT (e NAs também, claro)

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A manhã ia avançada.As ruas por onde tínhamos passado nos ligaram

à colina. Eu pensei e depois perguntei a Nolegie:– Quem entre nós vai voltar para os Sonhos?Ela respondeu:– Não sei, mas Gibson vai nos contar!!!– Talvez – eu disse. Você conhece Syd Barret? – Não, quem é ele?– Não me pergunte como eu sei disso, mas ele é

um cara envolvido com o “Chapter 24”. Acho que podemos ir lá falar com ele; ele mora numa cabana e agora tá se sentindo pra baixo.

– Tá!Nós, ela e eu, estávamos em uma floresta

coberta de neve e gelo e seu solo era feito de terra, cheia de lobos. Começaram a soar umas flautas e eu percebi um homem cantando:

“La, la, laO silêncio é ruim para aqueles que não querem

aprender a pensar eeh…rrreeh…prrreeehhh…ah não… traaaaaah, sim, agora está bom.

La, la, laQuem são vocês? Vocês aí!!! Saiam daí!”Eu vi um garoto com uma grande barba azul; ele

também tinha uma voz muito forte e sua pele parecia marfim, eu pensei!!!

– Bem, bem, bem… O que você está fazendo aqui, homenzinho?

– Estou procurando por Syd, el Syd Barret, você o conhece???

– Siiiim, ou não, não lembro, não fale comigo de novo. Espere! Agora eu lembro, Syd el chifladito, sim, e eu estou indo para sua casa. Venha comigo!!!

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De repente, ele começou a rir, e seus olhos me assustaram pois eles pareciam dar voltas em torno de seu rosto malicioso, saindo dele e depois voltando a seu local original.

Era uma risada mágica, a risada de um mago. Eu não sentia meus pés, mas quis chutar a cabeça dele. “Bom, olha, se eu concordar em aceitar seu convite, não vou poder chamar a polícia, pois não existe seqüestro voluntário”, eu pensei.

– Volte para seu túmulo... seu demônio de contos de fada!!!

Uma garota, uma garota invisível, disse isso e finalmente mostrou o rosto. “URGA TUGA!!! TRORRAWS TOYRION!!!! YAH!!!!!! Ah, não, ele não é um demônio de contos de fada!” E voltou ao nada de onde tinha vindo.

– Eu já sabia disso!!!!Mas ele era um velho mascarado de garoto.– Vamos lá, eu vou a uma festa à fantasia na

casa de Barret – ele disse isso quando seus olhos voltaram ao lugar.

Naquele exato momento, Nolegie pensou por mim: “Se ele não é nem um demônio de contos de fada, nem um goblin, nem um pássaro com penas de fogo, não tenho medo dele! Vamos encontrar Syd Barret!!!

Nós fomos. Foi uma caminhada de quatro horas dali até sua cabana. Ele finalmente nos disse que seu nome era Wedne Bacterium e sobre seu irmão Ted. Soubemos que ele tava morto – ele disse isso muito tristemente.

Durante o caminho ele nos contou algumas histórias que ele tinha vivido, como quando ele encontrou Ricardo Coração de Leão e como eles venderam Jerusalém... Tivemos que continuar ouvindo

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o que ele dizia sobre ter salvado a chapeuzinho vermelho mas quando colocou os olhos na avó dela, viu que ela não valia um centavo e decidiu trocá-la por um porco com o lobo mau. Ele também tinha trabalhado como paparazzi tirando fotos de pessoas muito, muito famosas, como Lucilia Godoy Alcaiaga, Jean Baptiste Poquelin, Peter Selers e De la Croix, antes de conhecer Salvador Dali e ser a causa de seu suicídio (sim, ele se suicidou!). Porque ele queria ser como Wedne. Quando estávamos chegando à cabana de Syd, ele nos revelou que seus vários casos de amor tinham sido a fonte de inspiração dos quatro garotos de Liverpool.

Entramos na casa pela janela da frente porque não tinha nenhuma porta, quero dizer, nem mesmo uma estrutura para uma porta, e as janelas eram apenas – buracos redondos nas paredes!

Tinha escadas que deveriam nos ajudar a entrar, mas na verdade elas meio que tornaram nossa en-trada pior. A primeira coisa na qual coloquei meus (seus) olhos depois de cair numa espécie de labirinto de móveis foi outro livro sobre o qual eu mesmo não sabia nada, mas como eu tinha Nolegie ali, assumi que o filme que eu tava procurando era baseado nele! Não pude evitar colocar minhas mãos nele enquanto Wedne desaparecia atrás de estantes e roupeiros e armários e até pilhas de caixas bem coloridas em formato de coração. Abri o livro e fiquei um pouco desapontado, já que ele era impresso em inglês – mas então fiquei aliviado por causa do fato de que eu (ela) sabia em que língua estava, e se eu sabia disso, bom – talvez eu também pudesse entender suas palavras!

Virei uma página, e outra, e eu (ela) vi que era o volume 24 da quarta série de uma coleção literária na Inglaterra. Também era a vigésima quarta edição. Virei

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outra página e – senhor! Tinha sido impresso em 1984!

Eu (ela) comecei a ler as primeiras linhas, que eram mais ou menos assim: “Era um dia frio e ensolarado de abril, e os relógios estavam batendo uma hora.”

Daí quase morri de susto pois talvez um milhão de relógios cuco começaram a soar! Eu pensei que não seria capaz de ler mais nada – só imagine se eu leio que alguém tava vindo para me forçar a viver num mundo fictício!

Bom, deixei o livro onde o havia encontrado e segurei a mão de Nolegie pra prosseguirmos – se eu não estivesse bem perto dela, não via nada!

Foi excessivamente fácil pra nós seguir Wedne porque aquele lugar tava tão terrivelmente empoei-rado que podíamos ver suas pegadas no chão.

Embora não houvesse nenhum tipo de fonte de luz, o lugar tava tão claro como uma tarde de verão ensolarada na praia.

Caminhamos por alguns minutos – não os contei. Prefiro que vocês adivinhem quantos.

Finalmente encontramos Syd el chifladito num tipo de sala que também era um palco e uma lavanderia com arames cheios. Cada prendedor era de uma cor diferente. Também parecia minha casa.

– Que bom que vocês dois vieram aqui – ele disse.

Bacterium não tava ali. – Você consegue ver... ela? – eu perguntei.– Sim, claro. Você achava que era o único que

tinha conhecimento3?– É, mais ou menos...– Escute: você conhecia Hate, certo?

3 “Knowledge”, no original, o que remete a Nolegie. NT/A

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– Correto – eu respondi.– E eu conhecia Love.– Você é – você é – você é...?– Você é gago outra vez?– Não – eu respondi. Só to chocado. Você é

meu...– Duplo? É essa a palavra que você procura?– É, eu acho, anh, ela acha...Eu tava um pouquinho confuso. Por que Nolegie

tinha vindo a mim e não a ele? Ela também não sabia.– Nós dois tocamos violão, nós dois somos

sozinhos, não conseguimos diferenciar a cabeça dos pés, nunca mostramos nossos sentimentos mais profundos... – Syd nos disse. Mas tem uma grande diferença – e isso é o que nos torna opostos: eu não li o Chapter 24, quero dizer, não foi esse o meu primeiro contato com ele. Mas eu quero contar uma história sobre um homenzinho, se puder. Vocês têm tempo pra ouvir meu lamento?

– Certamente que temos. Desde que a gente possa sentar...

– Claro. E vocês também podem comer. Atrás de vocês tem uma caixa cheia de chocolate, bananas e leite. E se vocês ficarem por mais de uns instantes, vão jantar comigo – vamos ter espinafre com pimentas vermelhas quentes e ardentes.

– Parece bom – eu disse.– Então tá. A história começa assim...O homem tinha 40 anos. Ele estava morando há

5 anos numa casa muito, muito confortável com sua esposa de 50 anos e uma enteada, que tinha 19. Ela tinha um meio-irmão que morava sozinho nas vizinhanças e trabalhava como entregador de leite. Ele estava em condicional. Um dia, ele a trouxe para casa depois do psiquiatra, que, como todo os outros,

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achava que o padrasto dela tinha casado só por causa do dinheiro da esposa – ele era bonito e doce, nenhum centavo no bolso, enquanto ela era – bem, exatamente o contrário.

O homem recebeu a enteada e eles conver-saram sobre o que havia acontecido durante o dia. Durante todo o tempo, ela ficou olhando para as portas e as janelas para ter certeza de que havia um pequeno espaço aberto. Então, de repente, ela começou a im-plorar que ele não batesse nela quando ela lhe contasse sobre uma coisa errada que ela tinha feito, e ela insistiu em pedir perdão, mas na verdade era seu verdadeiro pai que batia nela com tudo que pudesse antes de abandoná-la completamente, deixando seu enteado ser preso em seu lugar e sua esposa obesa com depressão – ela conseguiu se recuperar mas tinha recaídas constantes.

A garota começou a beijar sua mão ainda pedindo misericórdia, o que fez com que ele ficasse totalmente vulnerável, sua carência explodindo em ações que ele não conseguia controlar – beijos que sua enteada aceitava e devolvia, chorando e ainda pedindo perdão.

Então a empregada os chamou para jantar. Sua esposa desceu e eles foram à sala de jantar. Eles continuaram conversando, embora distantes, e a garota contou a ele bem na frente da mãe que ela tinha tido um homem uma semana antes, um homem que ela nem sabia quem era ou o que poderia acontecer como conseqüência, nada; sua mãe não mostrou outra reação além de um suspiro e uma expressão melancólica.

A garota pediu perdão mais uma vez, implorando que ele não batesse nela.

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Tudo que ele disse foi para que ela terminasse o jantar em silêncio e fosse direto para a cama.

Mais tarde, sua esposa foi ao centro espírita e a empregada foi para casa.

Ele subiu e deitou, esperando. Não levou muito tempo para a garota aparecer de camisola, ainda chorando e pedindo que ele não ficasse furioso com ela, chamando-o de pai todo o tempo.

De repente, ela começou a chamá-lo por seu primeiro nome, fazendo tudo que podia para que ele a amasse.

No dia seguinte, ele pediu desesperadamente que ela se lembrasse do que tinha acontecido; ele fez o mesmo nas outras semanas, mas isso nunca acontecia.

Por seis meses ele foi capaz de suportar aquilo, mas um dia ele se encheu de viver tanta loucura e algo fez com que ele pensasse que se ela encontrasse o pai outra vez, isso poderia ajudá-la a sair daquela fixação.

Então ele gastou um monte de dinheiro tentando encontrar o homem, e finalmente encontrou alguém que o fez acreditar ser um sósia quando na verdade era o próprio.

Ele arrumou um encontro, e quando ela olhou para os dois, pôde perfeitamente lembrar de todas as surras que seu pai lhe dava e todas as noites com o padrasto.

Houve uma espécie de explosão em seu cérebro – ela vomitou e desmaiou.

Quando acordou, olhou para ambos outra vez e perguntou a seu padrasto se ele poderia jurar não deixar nada de ruim acontecer com ela, nem naquele momento, nem depois dele. “Preciso realmente jurar?”, ele perguntou a ela.

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Ela foi para cima do pai, chamando-o de bastardo e coisas do tipo, e bateu e o socou bastante.

Seu padrasto o segurou para que ele não pudesse lhe golpear de volta. Seu pai lhe disse que ela realmente tinha merecido todas as surras, chamando-a de vadia e coisas do tipo.

Ela chorou e disse que não precisava mais deixar nada aberto porque não queria que ele voltasse.

Quando ele foi embora, ela conversou com o padrasto, dizendo que nada do que ela tinha feito tinha sido em nome do amor. Ela explicou que tudo tinha sido loucura e que ela pensava que ele tinha sido mau para sua mãe. Ele deveria ter contado a ela desde a primeira vez e tentado evitar que acontecesse de novo, mas como ele tinha sido tão, tão, tão legal para ela, ajudando-a a recuperar sua saúde mental, estava tudo bem.

Ele ficou muito triste porque entendeu que tudo entre eles estava acabado. A loucura tinha terminado. A dela, não a dele. A dele estava recém começando, porque ele sabia que realmente sentiria falta dela.

Ela lhe disse que ia morar com o meio-irmão por um tempo ou para sempre, porque tudo que ela podia sentir por ele era o tipo de amor que há entre amigos. Tudo que ele pôde dizer foi que ela tinha sorte por ele não ser mais um adolescente, do contrário ela se sentiria culpada de seu suicídio pelo resto da vida. Mas ele perguntou o nome do psiquiatra dela.

Sete anos mais tarde, ele a encontrou novamente, depois de muitos relacionamentos terrivelmente conduzidos, o quarto casamento da mãe, cansada do meio-irmão, que estava ficando cada vez mais e mais chato...

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Eles estavam fazendo o mesmo trabalho voluntário com crianças de famílias problemáticas. Ela não era mais gordinha e desajeitada; ele não era mais bonito, machucado pelos anos.

Eles trocaram um olhar de arrependimento. Puderam ver um nos olhos do outro que talvez devessem ter fugido juntos naquele dia – ou não. Seu sorriso os levou a um beijo, e não importava para eles quanto tempo duraria, mas quantas crianças eles ajudariam como uma única alma.

– É uma história realmente boa. Só não sei se ela tem alguma coisa a ver com nossa missão, mas... Posso perguntar uma coisa?

– Claro.– Você sabe os nomes deles? Digo, os nomes

reais dos personagens?– Certamente, mas não vou dizer porque poderia

ser qualquer um.– Ah, tá.Daí notei uma árvore bem ao lado dele, e ela

disse num tom de voz bem alto:– Onde estão seus convites? Uh! Uh! Uh!– Ô, Wedne, mostre pra eles! Wedne, ô, onde

você se enfiou?Mas ele tinha realmente desaparecido!Daí a mesma garota da floresta apareceu e

disse: “URGA TUGA!!! TRORRAWS TOYRION!!!! YAH!!!!!!!!! Volte para o mundo das árvores falantes!!”

Mas nada aconteceu!– Não era um demônio de contos de fada – ela

disse outra vez.– Eu sei – eu disse... de novo.Ela desapareceu.

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– É, e também não sou árvore. Vai ter uma festa à fantasia e estou vestido de pé de melancia. Ô, como estou?

– Bem! Mas melancias crescem em uma planta rasteira!

– O quê? Não anteriormente.– E eu não sou um assento de verdade – disse

uma voz irritada vindo de um lugar embaixo de nós. Só coloquei uma fantasia de urso que parece uma poltrona!

Levantamos num segundo e pela primeira vez ficamos aborrecidos com todos aqueles personagens que não rimavam! Tinha também um homem recortado de papelão, ou seria melhor dizer um homem vestindo uma fantasia parecida com isso, e pudemos ler uma mensagem escrita nele: “e o epílogo parece uma canção triste.”

Syd reclamou que ninguém tinha vindo à sua festa – na verdade aqueles três caras moravam lá, embora se vissem só de vez em quando.

– Não dá pra imaginar que nossa casa é tão grande olhando de fora. Você tem que...

– Abrir a porta por si mesmo? São essas as palavras que você procura? – perguntei.

– Igo, ou Nolegie, ou ambos, suponho que vocês também sabem porque não há nenhuma porta.

– É óbvio: por causa dos ladrões e das crianças.– Aham. Tenho que contar outra história...Ficou claro que Syd não queria dizer mais nada

sobre o Chapter 24. Estávamos nos perguntando por que Wedne Bacterium tinha desaparecido quando nós chegamos lá e nós mesmos respondemos nossas dúvidas antes do começo de outra história do chifladito – era alguma coisa como: “Por quê? Por quê? Por quê? Talvez ele pudesse ser uma raposa ou uma

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carpa”, como se alguém estivesse sussurrando aquelas palavras em nossos ouvidos.

Syd nos fez sentar em cadeiras de verdade (opa de novo!) e nos contou não só mais uma história, mas várias delas. Jantamos e ele continuou contando-as. Dormimos e ele persistiu em contá-las. Acordamos no dia seguinte e ele ainda tava dizendo algumas palavras mágicas que alguém tinha pronunciado em uma de suas histórias.

Esquecemos completamente o que estávamos fazendo lá.

Eu estava muito confuso e cansado, então nós, eu e Nolegie, ficamos lá por outros quatro dias. Syd era um bom cozinheiro. Ele fazia comidas idênticas à da minha vó, que eu nunca conheci. Entre elas, posso mencionar o delicioso bife de bagre e o cogumelo doce – esse me fez sentir tão bem! Continuamente, todas as manhãs, como uma oração, nós cantamos uma música para Syd Barret. Era mais ou menos assim:

(Ei, senhor Barret, fale sobre o Chapter 24...)

Claro, eu já tinha lembrado nossa missão. Mas ele não nos disse nada, e no último dia, Syd me deu um pergaminho. Estava escrito nele:

“Está em toda parteMas você nunca o vê nem toca nele

Ele faz as coisasNão acontecerem na mesma hora

Se ele não existirNós não vivemos.”

Não entendi, mas Syd Barret nos disse que a mensagem seria útil no futuro.

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– Temos que resolver a charada e no Lado da Montanha Nebulosa vamos abrir o portão, o Portão de Gibson.

Deixamos a cabana e então, pela floresta, chegamos à Cidade Polonesa. Comemos muitos cogumelos doces e eu vi um navio voador ou era um avião, eu não sei. Estava escrito naquele objeto: “Les Paul Transporter”.

Estava chovendo muito quando observei a fantástica fábrica de chocolate e na chuva eu pude ver Nolegie pois ela era só invisível, mas não intocável. Acho que era por volta de 10 de dezembro.

Nolegie me disse: “Vamos até lá! Eu amo chocolate!” E eu respondi: “Uh... Tá, mas não esqueça que as paredes não são feitas de chocolate.”

Não obstante, tinha um vigilante que parecia o Sauriossaurius. Como eu já disse, aquela cidade, a Cidade Polonesa, era tecnologicamente muito avançada. Vi muitos homens com corpos metálicos e outra quantidade pobre demais. Um homem cambaleando gritou: “Voltem!!! Cuidado... Os selvagens estão vindo!!!”

Daí uma gangue de um homem só apareceu; ele tinha grandes braços robóticos que jogavam bolinhas de gude e uma boca no estômago, mas o que chamou mais minha atenção foi seu corpo coberto de espaguete.

– Você... Venha aqui... Rápido! Senão, vai morrer – o guarda me disse enquanto abria o portão. Entrei, ele pegou uma arma, olhou pra mim e disse: “Continue... Talvez eu não volte se isso acontecer. Por favor, leve minhas coisas para minha família.”

Ele me deu dois chicletes, um prego e cinco centavos.

– Como é que pode??? Que sorte! – eu pensei.

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Do lado de fora da grade, a gangue de um selvagem sozinho tava matando todos os homens. Acho que ele tinha que comer o espaguete assim como nós precisamos respirar oxigênio.

Estávamos lá, dentro da fábrica de chocolate, e Nolegie pensou para mim: ”Estou ouvindo algo, algo como passos.”

Então apareceu um cachorro sujo, um cachorro sujo e furioso; seus dentes enormes foram atraídos pelo meu cheiro. Levaria alguns segundos pra chegar em mim e em Nolegie. Naquele momento, lembrei das palavras de Syd Barret pra ela: “Pegue estes cogumelos pois quando você estiver com medo eles vão ajudar; eles são uma receita do Tempo do Pink Floyd”. Eu disse pra ela jogá-los para o cachorro, e ela fez isso. Ele os comeu depois de cheirá-los.

– Legal.

Parecia ser um cachorro amigável, feio e sem rabo, daí.

Ele olhou pra mim, daí Nolegie olhou pra ele, então eu também tava olhando pra ele, embora na verdade meus olhos não estivessem conectados aos dele, mas de qualquer maneira nós meio que compartilhamos algo e eu sabia que era capaz de entender o cachorro como se palavras pudessem ser o resultado do que eu via nele – portanto, minha mente começou a reproduzir muitos pensamentos que nem eu nem o animal tínhamos desenvolvido.

– Meu nome é Juan – eu disse pra mim mesmo. Gostaria de cantar algumas músicas enquanto nos aproximamos do portão, mas primeiro eu tenho que lembrar quais podem ser traduzidas em linguagem humana, pois você sabe que as pessoas lutam entre si

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por muitas razões mas a principal é porque algumas coisas são impossíveis de traduzir...

Conforme chegávamos mais perto do portão de Gibson, através do lado da montanha, toquei algumas lindas baladas no violão que Syd tinha me dado porque disse a ele que tinha perdido o meu de um modo que nem tenho certeza se realmente tinha tido um algum dia, embora eu pudesse improvisar.

Uma delas falava sobre a vida de Gibson, e eu fiquei sabendo do fato de que uma vez ele tinha participado de um filme sobre algum escândalo governamental e como ele tinha descoberto que tudo era mesmo verdade, baseado em um roteiro perdido escrito muitos anos antes, ele largou as filmagens e decidiu ir viver lá em cima no pico.

Finalmente chegamos ao topo da montanha e eu tava cantando uma música que era mais ou menos assim:

Todas as pessoas estãoCantando o mesmo hinoMas ninguém consegue

Compreender

Todas as pessoas estãoIndo ao mesmo lugarSó porque ninguém

Pode se prender

Todos os hinos cantamA mesma idéia

Todos os lugares sãoPara se perder

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Daí chegamos ao portão e pudemos ver um tipo bem diferente de fechadura – era um microfone! Perto dela tinha umas palavras escritas em runas, mas como Nolegie uma vez tinha lido uns livros cheios desse tipo de alfabeto, eu pude decifrar algo assim: “Estou sonhando com as montanhas do meu lar, com as montanhas onde na infância eu vagava; morei abaixo dos céus do sul, onde o verão nunca morre, mas meu coração está nas montanhas do meu lar. Posso ver a pequena propriedade na colina, posso ouvir a música mágica do riacho; não há nada comparável com o amor que havia lá uma vez, naquela pequena propriedade na colina. Posso ver o silencioso adro lá embaixo, onde as brisas da montanha vagam para cima e para baixo; e quando Deus minha alma guardar, é lá que eu quero dormir, com aquela velha gente querida que me amou há tanto tempo.”

Algo me fez tirar do bolso o pedaço de papel que Syd também tinha me dado e li novamente aquela charada, mas nenhum de nós conseguia resolvê-la. Tentamos muitas palavras, e todas elas, e algumas outras – mas novamente, pela segunda vez na minha vida, não consegui abrir nada! A única coisa que eu sabia era que eu não deveria dormir.

Nolegie tinha enchido os bolsos com chocolate, então decidimos sentar, esperar e comer; talvez alguém abrisse o portão de alguma forma, ou por dentro ou por fora e, além de ficar por ali, nós certamente não sabíamos mais o que fazer. De mais a mais, nós morávamos perto dali, na Cidade Polonesa – ou isso era o que nos parecia.

Não havia nenhum som nem cheiro vindo do outro lado da porta; não havia vida. Era o que parecia.

As sombras começaram a diminuir.

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A porta de entrada tinha cerca de quatro metros e, talvez, vinte e três ou vinte e cinco centímetros dentro da montanha. Eu não vi camas ali. Acho que não tinha nenhuma. Cavernas normalmente não as têm.*

Uma brisa nos trouxe fome, frio e sono, tudo junto; o chocolate terminaria logo e não éramos ostras para comer pedras. Apesar desta preocupação, eu dormi, Nolegie dormiu e Juan estava dormindo.

Eu acordei, Nolegie acordou e Juan estava acordando pois eu pude ouvir um som parecido com uma voz – ela dizia “tempo”.

Daí alguém veio do outro lado da porta e disse algo como: ”ah, minha nossa, passaram sete dias de novo!” Tava muito escuro e ele não nos observou. Nós tínhamos sono demais e voltamos a dormir.

Acordei porque senti que estava molhado e tinha alguém em cima de mim, e também tinha um balde. Socos e chutes e mordidas e um homem dizendo: ”Sai daí! Esse cachorro tá comendo meu balde!”

Mas daí lembrei de ter ouvido passos depois dos sons de um corpo caindo no chão quando aquele homem interrompeu nosso descanso; eu tinha acendido a luz do meu relógio digital mas não tinha visto nada. Nolegie não tava lá.

– Socorro! – ela tinha dito.O som era profundo. Acho que caminhei

cuidadosamente em direção à voz dela pois tinha um penhasco na frente da caverna. Então eu vi, eu vi tudo: a cidade, a lua, Nolegie... Eu tava pisando na mão dela! Quando fui levantá-la, o homem me empurrou e nós caímos no penhasco.

O rosto dele foi a última coisa que eu vi, e o som de um temporal explodindo foi minha última memória auditiva – lembrei de Mad Max.

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Enquanto eu tava caindo, pensei: “Nada é válido quando sua esperança tenta matar você”.

Adeus admirável mundo novo.

PRÓXIMO CAPÍTULO

“Tão inglês como eu não sou.”

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Os pés dele tavam num rio calmo procurando abrigo do ar que vinha de lugares ruins onde nós, pessoas estúpidas, vivíamos.

Ele tava só pescando e nunca tinha ouvido histórias sobre homens-sereia até que pescou um. Na verdade, era eu. Eu tinha sobrevivido4. Mas me senti mal, incrivelmente mal, pois eu não tomava banho há muito tempo; me sentia totalmente mal. Era como se eu não tivesse cheiro.

Ele me ajudou.– Como você está, garoto?Era a primeira vez que alguém me perguntava

aquilo. Eu podia vê-lo então. Pensei que Nolegie estivesse ali, comigo, mas não.

– Parece que eu sou uma esponja, que foi ao oceano, e depois alguém colocou alguns pregos na água e isso me fez sentir pior. Eles me tiraram com grandes ímãs, me sinto mal.

Ele me colocou no chão e me deu uma maçã.– Come! Essa maçã veio de Júpiter; fruta é bom.

Uma vez eu disse isso às pessoas; eu falei que a casca é a melhor parte, mais energética.

– É, eu também acho.Uma garota tinha aparecido lá quatro horas

antes e muitas outras pessoas tinham surgido do rio. O pescador me disse que a garota falou algo assim: “Você está me vendo?”

OU:

4 Claro que a maioria do livro está escrita na primeira pessoa e isso não é um diário. NA (sério!)

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(Não tenho muita certeza como ele era mas acho que é um desse aí de cima… Sabe?)

Daí um mosquito sugou um pouco do meu sangue e eu desmaiei. Meu corpo ficou de pé mas meu espírito ou algo assim tava lá em cima vendo as pessoas vindo pra tentar ajudar o homem-pescador a me resgatar. Daí ouvi algo que me assustou.

Todos estavam se chamando de “Igo”, exceto o homem que me deu a maçã, cujo nome era Lloyd (agora eu sei que isso foi porque seus pais informaram mal a primeira letra).

Lá em cima encontrei Syd de novo, mas ele parecia mais jovem, incrivelmente mais jovem, mais jovem do que eu até!

– Você também tá cansado de viver lá embaixo? – ele perguntou.

– To. Gostaria de ficar no mundo dos sonhos…– Não acho que eu vá ficar aqui muito tempo,

mas tenho certeza de que vou aproveitar o máximo que eu puder. Aconselho que você faça o mesmo. A propósito, ainda tem aquele violão com você?

– Nem! Perdi em algum lugar entre a montanha nebulosa e o rio... Desculpe – eu disse a ele.

– Não faz mal. Mas quando voltar lá embaixo, não esqueça nada sobre ele. Você DEVE fazer as coisas funcionarem juntas, senão não vai conseguir chegar ao lugar e estado e dentro de você...

– Então tá. Mas me diga: viu Nolegie?– Ela tá procurando por você. Bem, não

procurando POR VOCÊ, sabe? Ela vai estar lá embaixo a qualquer minuto.

– Obrigado. Sabe o que eu posso fazer pra retornar?

– Não, mas posso pedir para o mosquito sugá-la também.

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– Então tá. Acho que isso vai servir5 – eu disse.– Na verdade, isso não vai servir, mas eu não sei

se muitas pessoas entendem isso.– Eu certamente não entendo, mas tá tudo certo!

To acostumado com essa sensação... Talvez porque sou roxo e não rosa... Bom, eu tava acostumado antes de entrar em contato com Nolegie, e posso continuar.

– Espero que não. Ah, lá tá ela! Lá vai ela de novo! Depressa, Jim, ou você vai perdê-la!

– Com quem você tá falando? – perguntei.– Você não viu? É o mosquito, cara!Expressei uma resposta só com uma careta.Poucos segundos depois ela tava bem na nossa

frente e ela não conseguiu evitar nos dar um abraço. Ao nosso lado havia uma presença sombria e instantaneamente soubemos que ela não gostava daquele tipo de demonstração pública, não porque éramos telepáticos, mas porque ela nos disse. Não era nem uma entidade feminina nem masculina e também não havia nenhuma explicação razoável para sua repentina aparição, nem devido ao fato de que nada pode ser explicado e nem todo veludo é azul, mas devido ao fato de que nossas mentes ainda são incapazes de racionalizar como o mundo foi criado.

Ela só nos disse que Juan era um andróide governamental moscovita e partiu para nenhum lugar.

Foi o fim do mundo como nós o conhecíamos, mas nos sentimos bem, nos sentimos até mais vivos do que antes, como se tudo à nossa volta estivesse vivo*; estava mesmo – tempo, dinheiro, respiração, céu, cores, cérebro, eclipses, conversas, corridas, nós e eles – exceto o gravador (onde já se viu um gravador vivo? Absurdo!)

5 “that will do”, no original. NTsAs

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AlmasEspíritos

Fantasmas TúmulosPrisõesVícios

DiamantesAnéis de ouro

Tesouros

A presença sombria mesmo ausente nos fez pensar apenas naquelas coisas – éramos aquelas, naquelas, por causa daquelas. Não mudaríamos facilmente. A mudança era um castelo em uma colina escura, nevoenta...

… tão profunda, e era assim que víamos o mundo, mas não o vejo mais assim.

Diamantes podiam ser a solução para todas as pessoas, mas não eram pra mim. Eu tava deitado na grama e senti o toque de Nolegie quando sua mão pegou a minha. Naquele momento percebi que a sombra tinha se tornado a luz da lua e a voz confortável do senhor Syd Barret.

O pescador tava dizendo a si mesmo algo como: ”magia negra, venha a mim, traga-me refri de plástico para me libertar”.

Então lembrei apenas de cogumelos e flautas e dragões e estávamos tão felizes como nunca antes.

No dia seguinte, uma segunda, eu acho, o pescador me ensinou a pescar.

Peguei muitos barcos no rio. Entretanto, o que mais me chamou a atenção (talvez tivesse sido alucinação) foi quando pesquei uma luva de ouro.

De repente, eu parei, pois tinha percebido que tinha três homens vestindo blazers pretos lá. Não sei

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por que, mas o pescador jogou os cogumelos no rio antes que eles os vissem.

– Ah, homem, escute! Olhe para mim! Você não viu um óvni!!! E olhe esse objeto!

Naquele exato momento em que ele mostrou uma varinha com uma luz no topo, nosso grande Barret jogou uma bolsa cheia de lagartas e gritou: “pra baixo!”

Eu não sei, caí no chão e só ouvi um barulho, daí decidimos abrir os olhos.

O pescador de maçãs tava parado. Os três homens tavam parados. O tempo tava parado – o tempo, sim, o tempo.

Lloyd tava dizendo “uhuh” e “ahah” e por último “eheh”. Não, ele não tava dizendo o alfabeto.

Nolegie perguntou a ele: ”Como você está?”, e ele respondeu: “Bem, valeu. Falando nisso, quer comprar um chapéu?”

– Um chapéu? Por quê?Então o sr. Pescador abriu seus braços e gritou

para o céu: “Deus, não estou grogue! Por favor, só quero ser saudável!” E correu em direção ao nada.

Nunca mais vi o pescador de maçãs de Júpiter.– Ah, merda! Ele era um cara legal! O que

aconteceu?– Esta máquina foi feita com o poder dos

grandes magos; ela pode apagar sua mente! – Syd disse.

– O que vamos fazer com os homens? – Nolegie perguntou, pegando um bastão de beisebol.

Mas nós não esperamos; começamos a ser elevados e observei que estávamos dentro de uma nave espacial, estava numa sala sem gravidade. À minha volta tinha nove criaturas. Achei que eles não tomavam banho e sua pele era verde. Talvez eles não

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gostassem de mim. Um deles me olhou de relance e eu pensei que era Nolegie que tava se comunicando dentro da minha cabeça, mas ela não tava.

Senti meu corpo latejando como se um milhão de alienígenas estivessem falando numa língua estranha.

– Vonnegut, é você?– Não, acho que não – eu gaguejei. Bom, o

tempo todo meus amigos me chamam de Igo. Acho que esse não é meu nome. Isso é algo pra se pensar.

Entretanto, o ET me ameaçou: “Hihihi! Então vou fazer você beber um monte de água até morrer!

Outra criatura chegou com um balde de água. Percebi o perigo.

– Tá, tá. Eu sou Vonnegut!– O quê? Eu sabia... Agora vamos morrer se…- Não se eu puder ajustar os controles para o

coração do sol! – eu disse a eles.– Então você também tem o conhecimento de

que o amor é o conhecimento da sombra, não tem?– Bom, – Nolegie disse – aprendi isso em

Mildenhall.– Você nos viu lá?– Vi sim! Vi sua poderosa nave descendo numa

ponta de chama! Eu tava subindo na minha macieira favorita, tentando pegar o sol, mas bem aí meu irmãozinho apareceu com seu rifle de brinquedo e atirou em mim e eu caí da árvore e não pude ver mais nada! Ele tinha me cegado com aquelas balas de madeira desenvolvidas nas quais ele tinha passado horas trabalhando – ele preferia revolução à evolução... Mas ficou terrivelmente sentido daquele dia em diante e me ajudava a vender minhas flores de plástico nas manhãs de domingo e sentava ao meu lado num galho no rio nas manhãs de segunda antes

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de ir pro colégio ao invés de se preocupar com armas e munição. Ele descrevia pra mim tudo que via, desde os menores besouros às pedras mais estranhas de todas. Aqueles foram dias cheios de amor e sombras, sim. Daí um dia uma água vermelha caiu do céu e recuperei a visão. A primeira coisa que vi foi meu precioso arrependido irmãozinho todo cortado, sangrando mortalmente. Ele tinha feito vários cortes por todo seu corpinho com uma tesoura negra que nossa mãe usava para costurar a semana toda pra conseguir nossa subsistência toda sexta no mercado. Nunca mais o vi.

– Sinto imensamente que você tenha perdido seu tempo nos contando essa história, mas só estamos preocupados em sobreviver, então não podemos ser tocados por suas preciosas palavras...

– Não entendo. Vocês pareciam interessados em amor e sombra…

– Amor é como chamamos o sol, e sombra é como chamamos a lua... Na verdade, estamos atraídos pela habilidade de seu amigo em usar a lua pra controlar o sol. Isso é realmente possível, Vonnegut? Quero dizer, pra sempre?

– Em 1944, um homem fez isso, mas ele nunca mais foi o mesmo – eu respondi.

– Não entendo aonde você quer chegar. – Não faz mal. O que eu realmente quero dizer é

que eu nunca soube que a lua pudesse ser tão azul!– Agora nem tenho certeza se você está falando

minha língua! – O ET me mostrou a língua. Ela era laranja. – Escuta, não me importo se o sol não brilhar mais! Tudo que sabemos é que nosso rei vai nos matar se não buscarmos sombra pra nosso planeta! Por favor, apenas faça isso se souber!

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– Eu certamente sei, aliás, acho que é a única coisa que sei fazer além de tocar qualquer objeto que tenha cordas...

– Sabe tocar isso? – e ele me mostrou o violão de Syd.

- Sei!– Por que não nos disse antes? Perdemos muito

mais tempo do que tínhamos conversando sobre... Ô, como você sabia que estávamos procurando sombra?

– Talvez estejamos todos conectados…– Então tá. Agora por favor venha a Clegg

conosco e toque este instrumento musical lá! Tem uma profecia sobre um jovem ET que evitaria a destruição de nosso mundo tocando isso! Você não é Vonnegut, é?

– Nem! Eu só sabia que sendo ele eu não morreria.

– Tá, vamos lá.Chegamos em Clegg dentro de segundos,

porque nós não tínhamos que voar, apenas nos tele-transportamos, embora eu ache que na Terra mais de cinco dias tenham passado.

Clegg era um planeta maravilhoso! Eu não conseguia entender por que eles tavam tão ansiosos pra mudá-lo! Tudo brilhando, rios cintilando, pessoas resplandecendo, casas reluzindo, claridade por todo lado!

Eles nos levaram ao seu rei e ele explicou que as coisas tinham que ser diferentes porque eles não tinham mais nada pra ensinar nas escolas e as crianças tavam sempre se matando porque não conseguiam sentir o valor da luz; suas vidas também eram vazias por causa da falta de necessidade...

– Como a natureza é estranha – eu pensei. Mas talvez a arte mostre a eles que podem chegar aos

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corações uns dos outros de uma forma tão significativa que nunca vão censurar a perfeição...

Então eles me devolveram o violão de Syd e me levaram ao rio. Pediram-me pra tocar qualquer coisa e esperaram por um milagre. Mas eu cometi um sério erro: olhei pra cima e vi o céu revestido de fogo; então minha alma ficou fria e senti uma dor nas minhas mãos que nenhum ser vivo poderia descrever e deixei o violão cair na grama!

Pra aumentar meu assombro, toda a população enlouqueceu! Eles tavam ainda mais assustados do que eu porque sabiam que aquele era o último sinal do final dos tempos! Pelo menos em Clegg.

Os que tinham me levado até lá começaram a gritar pra que eu tocasse de uma vez, mas eu não conseguia! Minhas mãos estavam paralisadas! Eu nem conseguia pegar o violão de volta! Minhas pernas tavam meio enraizadas no chão, então eu não podia fugir!

Pensei que era realmente o fim, pelo menos pra mim, mas quando alguns dos Ets tavam vindo me matar com seus dentes afiados, Nolegie segurou o violão.

Todos à nossa volta pararam pra olhar pra ela!– Você também sabe tocar?! – um deles

perguntou, de um jeito bem surpreso.– Hum, bom, anh… Eu só sei executar 14 notas

de uma música...– Então vai lá, rápido! Talvez você possa nos

salvar!Daí ela começou a tocar muitas vezes a única

coisa que sabia! Ela tocou uma vez, e duas, e três vezes, e quando ela tava tocando a quarta, o céu começou a congelar, e, à medida que ela tocava, ele foi ficando cada vez menos vermelho...

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Daí ela esqueceu uma nota, pois não tinha praticado o suficiente, e ouvimos uma explosão! As pessoas estavam regozijando-se, gritando de alegria, mas aí seus gritos eram assustados outra vez!

Nolegie teve que começar tudo de novo! Ela teve que tocar até que seus dedos sangraram! Cada vez que ela errava o som, parecia que algum lugar em Clegg explodia!

Ela finalmente tocou o suficiente pra me libertar da minha paralisia e eu a substituí até que todo o lugar estava seguro o suficiente pra deixar as crianças brincarem na rua. Por sorte, eu tinha aprendido a tocar aquela música, embora não soubesse disso, só de olhar pra ela!

Bom, resumindo, os Cleggianos nos tele-transportaram de volta pra Terra depois de terem construído um monumento para ter certeza de que ninguém naquele planeta esqueceria o dia em que dois (não apenas um) terráqueos ensinaram que a música podia melhorar as coisas!

Era um livro gigante mostrando fotos nossas tocando nas suas páginas como se fosse um vídeo. Eles escreveram na sua base: Cleggianos Valorizam Entes Queridos.

Nós não teríamos voltado se não estivéssemos tão tristes de vê-los tão alegres enquanto sabíamos que deveríamos tentar melhorar as coisas no nosso planeta também...

Então notei que não estávamos no mesmo lugar que tínhamos deixado pra trás – tinha um cavalo e um vaqueiro que comia grama.

Ele disse : “Oi” e “Tchau”.Eu disse: “Olá” e depois “Até”.– Quer uma carona? Uma carona para

Minnessota Gleam…

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Nolegie tava cansada, então nós fomos. No caminho eu contei a ele sobre o lugar onde morava e perguntei se ele sabia por que não tinha vaqueiros lá e também por que uma garota tinha me chamado de vaqueiro.

Em Minnessota Gleam, o cavalo dele ficou ruim pois nós, eu, ela e ele, estávamos nele.

Encontrei uma taverna, então liberamos o vaqueiro (ele era um cara legal, hehe!).

– Ô, cara, quero leite!!! E um banheiro.Mas o homem começou a rir: “Ha hau hua…

Leite, você… Você é uma criança, um homem ou uma galinha??

Bom, é verdade que eu tava em dúvida em relação àquilo, mas sem dúvida eu não era um homem.

– Vá pro inferno… - eu respondi e cuspi. Um limão gigante, não tá vendo?

Mas não tinha leitea lá, só cerveja.Outro homem pegou Nolegie, ela bateu nele com

uma mão de ferreiro e começou uma briga. Muitos copos e mesas foram quebrados e aquele lugar ficou perigoso.

Mas eu também queria brigar.De repente, o xerife chegou e separou todo

mundo. Ele pagou uma cerveja pra todos. Eles pararam, beberam e o chefe da cerveja gritou: “Agora vamos fechar”.

Os homens colocaram travesseiros nas mesas e dormiram.

Era um lugar feliz, então; parecia que havia ternura e eu amei aquele mundo interiorano. Eu poderia ficar bem. Daí dormi.

Ao cantar do galo, todos acordaram. Pediram cerveja e voltaram a beber.

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Não sabíamos pra onde ir, mas estávamos caminhando, e eu me deparei com um homem mascarado e três músicos tocando “hey, ho, let’s go” em seus bandolins. Um deles segurou meu braço e eu segurei Nolegie.

– Pra trás! Pra trás! – ele disse com uma arma nos ameaçando. O xerife e os soldados se demitiram.

Mas nós conseguimos pular num vagão e fugimos!!!

Nós escapamos – com o ladrão – e deixamos Minnessota Gleam. Nolegie descobriu que o ladrão era o pescador e ele nos levou de volta à caverna de Gibson.

No meio do caminho, minha mente estava ruim, mas eu sabia que ficaria bem outra vez. Eu só queria um vaqueiro.

Mas tudo que encontramos foi o vigilante que tinha me dado chiclete, moedas e essas coisas pra que eu enviasse à sua família. Ele me pediu tudo de volta e, muito tristemente, devolvi as coisas pra ele. Quando fiz isso, desapareci. Quero dizer, não completamente. Só entrei na mente de Nolegie e fiquei apenas lá. Mas no começo eu não sabia que tava lá, então pensei que tinha morrido, e fiquei tão infeliz pois não poderia encontrar a canção perdida nem o maldito chapter 24 que ia me ajudar a chegar ao final. A última coisa que eu disse foi: “Às vezes as pessoas querem parecer mais do que realmente são”.

Vi Nolegie envelhecendo, tão mais velha do que naquele dia, até que ela começou a trabalhar como repórter numa terra devastada. Seu trabalho era procurar imagens que pudessem mostrar às pessoas como seu mundo era antes de se tornar desértico e quase sem vida.

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Ela foi ao meio de um curso d’água usando botas de metal para que seus pés e suas pernas não se queimassem nem se machucassem de nenhum modo pois a água muitos anos à frente era como ácido sulfúrico.

Ela usava algum tipo de computador de tecnologia muito avançada pra transformar aquele lugar numa paisagem verde, amarela e azul com água límpida enquanto continuava falando sobre como aquele lugar era um dia e o que os homens tinham feito pra torná-lo como estava, algo que eu pensava que tava muito bem entendido por todos no meu tempo, mas daí percebi que não tava.

Quando Nolegie tava tentando gravar tudo que tava fazendo, ela viu um homem nu correndo realmente rápido pelas ruas perto do curso d’água e ela decidiu segui-lo pra descobrir o que tava acontecendo, e esse foi seu maior erro, pois Juan tava correndo atrás dele e tava extremamente furioso; parecia completamente louco – o cachorro mais louco que ela já tinha visto!

Ele a viu e esqueceu o homem – tudo que ele podia ver daquele momento em diante era a estranha senhora que uma vez tinha jogado alguns cogumelos podres pra ele!!!

Ela nem teve tempo de gritar; Juan tava terrivelmente perto dela e ela não conseguia correr tanto quanto queria por causa de seu calçado pesado.

Foi mesmo uma sorte quando encontrou um portão aberto numa casa ali perto! Ela entrou no pátio e fechou o portão tão rápida e firmemente quanto era capaz e invadiu a casa, fechando cada pequeno espaço aberto! Ninguém lá dentro parecia tê-la notado – era como se ela não estivesse chorando como uma lunática pedindo ajuda!

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De repente, ela percebeu que todos os seus esforços pra certificar-se de que tudo tava fechado tinham sido em vão, pois Juan conseguiu entrar na casa por um buraco na parede! Ela gritou ainda mais alto mas novamente ninguém prestou atenção – quem tava na casa continuou a fazer tudo que tava fazendo antes daquele momento tão escabroso e praticamente insolúvel pra ela!

Juan a atacou, mordendo suas botas. Seus dentes ficaram presos no metal sem machucá-la. Ela tava completamente histérica, chamando qualquer um que pudesse ajudá-la a sair daquela situação, mas outra vez ninguém fez nada!

Um garotinho pressionou o botão “play” de um mpx player e uma música do Pink Floyd começou a preencher o ambiente. Nolegie parou de chorar pois reconheceu a música. Perguntou ao garoto sobre ela pra ter certeza de que era o que ela pensava, mas, pela quarta vez, não houve resposta.

Foi quando ela se olhou no espelho! Como foi estranha a sensação de ver Igo lá! Ela gritou pra uma garota que tava passando na sua frente se ela também podia vê-lo, mas aparentemente ela não a ouviu.

Então ela fechou os olhos e conseguiu voltar no tempo até os dias de Hate, quando ela ouvia aquela música todo dia, e uma vez ela tinha lido sua letra!

Sim, ela leu o Chapter 24, a nona faixa de The Piper at the Gates of Dawn! Ela tinha lido um dia quando Igo tava com ela, e ela fez com que ele também a lesse! Ela lembrou que ele tinha levado meia hora pra ler...

Todo movimento é completado em seis estágiosE o sétimo traz retorno

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O sete é o número da luz jovemEle se forma quando a escuridão é aumentada em um

Mudança devolve sucessoIndo e vindo sem um olhar

Ação traz boa sortePoente

O tempo está com o mês do solstício de invernoQuando a mudança deve acontecer

O trovão na outra classe do céuAs coisas não podem ser destruídas de uma vez por todas

Mudança devolve sucessoIndo e vindo sem um olhar

Ação traz boa sortePoente, nascente

Ela falava sobre amor? Ela não tinha certeza. Era a canção perdida? Era o final ou o começo? Ela não sabia. Mas enquanto ela pensava naquelas coisas, viu um violão pendurado na parede. Pediu a um homem para lhe alcançar, mas ele não prestou atenção nela.

Então ela fez um esforço enorme e conseguiu pegá-lo e usá-lo pra bater em Juan na cabeça, uma, duas, três, quatro, cinco, seis, sete vezes. Novamente, ninguém dentro daquela casa viu nada, embora o barulho de cada batida tenha sido bem alto, tão alto como uma bomba explodindo há um certo número de quadras de distância.

Nolegie tinha matado aquele agente do governo, Imediatamente, o tempo retrocedeu a uma era onde tudo ainda podia ser mais planejado.

Daí ela retornou à cidade Polonesa instantaneamente, voltando ao seu corpo como Hate,

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uma professora fazendo um aluno ler o chapter 24… Passava da meia-noite.

FIM?

*É tudo uma questão do que se quer acreditar.

“Essa narrativa foi escrita por vocês, mas às vezes suas vidas passam tão rapidamente que vocês não percebem. Obrigada(o) por tê-la feito por nós!”

Agora as pessoas me chamam de Rodrigo Adamski Parodes, mas não foi sempre assim, eu sei. Antes de nascer, devia ter tido outro e também quando durmo. Sempre que Rodrigo Adamski Parodes está acordado e consciente, ele gosta de música e analisar as pessoas... Tudo no mundo, até os conceitos ruins rolando por aí. Às vezes me pergunto o que vou fazer, mas a tristeza de verão não tem cura. E.C.

Agora as pessoas me chamam de professora, tia, mãe, Regina, e um monte de outros apelidos que

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eu prefiro não revelar, e tem sido assim desde que me tornei professora, tia, mãe, eu mesma e todas as outras coisas (não posso definir um tempo específico, porque o tempo está do meu lado; sim, ele está!). Uma vez eu estava num lugar muito especial onde pensei que estava indo realmente bem, mas então tinha alguém que não pensava assim, então tive de ir embora; sim, eu tive! Ah, e eu realmente amo mostrar às pessoas que elas podem fazer escolhas. Pensa nisso. “A insinceridade fria das máquinas de aço consumiu nossa euforia.” SOAD

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