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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO JANNETH BEATRIZ TERÁN LOPEZ TROELSEN BRASÕES DA UFBA: ESTUDO DA INFORMAÇÃO EM UMA ABORDAGEM SEMIÓTICA Salvador Bahia 2009

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

    INSTITUTO DE CINCIA DA INFORMAO

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIA DA INFORMAO

    JANNETH BEATRIZ TERN LOPEZ TROELSEN

    BRASES DA UFBA: ESTUDO DA INFORMAO

    EM UMA ABORDAGEM SEMITICA

    Salvador Bahia

    2009

  • 1

    JANNETH BEATRIZ TERN LOPEZ TROELSEN

    BRASES DA UFBA: ESTUDO DA INFORMAO

    EM UMA ABORDAGEM SEMITICA

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-graduao

    em Cincia da Informao do Instituto de Cincia e

    Informao da Universidade Federal da Bahia, como

    requisito parcial para obteno do Grau de Mestre em

    Cincia da Informao.

    Orientadora: Prof . Dr. Lidia Maria Batista Brando Toutain

    Salvador - Bahia

    2009

  • 2

    CATALOG

    T843a Troelsen, Janneth Beatriz Tern Lopez.

    Brases da UFBA: estudo da informao em uma abordagem

    semitica. / Janneth Beatriz Tern Lopez Troelsen.

    Salvador: UFBA, 2009. 207p.

    f.: il.

    Dissertao (mestrado) - Universidade Federal da Bahia, Instituto

    de Cincia da Informao.

    Orientadora: Prof. Dra Lidia Maria Batista Brando Toutain.

    1. Cincia da Informao. 2 Semitica. 3. Herldica Universitria.

    I. Ttulo.

    CDU 8122:02

  • 3

    JANNETH BEATRIZ TERN LOPEZ TROELSEN

    Brases da UFBA: estudo da informao em uma abordagem semitica. Dissertao

    apresentada ao Programa de Ps-graduao em Cincia da Informao do Instituto de Cincia

    e Informao da Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para obteno do

    Grau de Mestre em Cincia da Informao, defendida, e aprovada em 28 de agosto de

    2009, pela banca examinadora constituda pelos professores:

    Prof . Dr. Lidia Maria Batista Brando Toutain ICI/UFBA

    Prof . Dr. Jaime Robredo CID/UNB

    Prof . Dr Aida Varela Varela ICI/UFBA

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    Dedicatria

    Aos meus pais Zoila Luz e Ernesto (in memoriam) que

    foram meus maiores estimuladores rumo ao conhecimento

    e, que sempre acreditaram e apoiaram as minhas escolhas.

    Ao meu marido Peder que, ao longo da nossa histria,

    sempre foi o meu grande incentivador e tambm por toda

    sua pacincia, carinho e generosa fidelidade com que

    permaneceu ao meu lado, durante essa longa e estimulante

    jornada. Aos meus filhos, pela sua compreenso por ter

    convivido com a ausncia materna durante este perodo.

    A Deus, por ter me dado a vida e estar sempre me

    ajudando na escolha de meus caminhos.

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    AGRADECIMENTOS

    Espero que eu consiga com palavras, o que neste momento, no possa ser feito com gesto ou imagens. No que as letras no sejam capazes desta representao, mas que as imagens visuais fazem parte, assim como essas pessoas especiais, de minhas paixes. Pois contriburam para que este trabalho de investigao fosse concludo com xito. Assim, tenho tantas razes para agradecer, abaixo de Deus.

    Tendo em vista a vida complexa e diante desse encadeamento nos envolvemos em mltiplas tarefas, a de me, mulher, amiga, filha, irm, profissional... . Porem, no satisfeitas estamos sempre almejando novas experincias; buscamos a pesquisa, o retorno ao estudo. Assim, me inseri nesse contexto. A princpio parecia ser um sonho longnquo, distante, desafiante, instigador e se chegasse a ser uma realidade seria no s a glria e, sim a sensao do desafio vencido, das limitaes ultrapassadas e muito mais, do sonho realizado. Impossvel mencionar a todas aquelas pessoas que com seu apoio, incentivo, dedicao e critica me prestaram inestimvel contribuio nessa minha trajetria tardia, mas nunca tarde para acontecer, que tambm riram e me fizeram rir, seguraram minha mo, ouviram, leram, opinaram, normalizaram, revisaram, formataram, corrigiram, imprimiram... . A todos vocs que compartilharam... o meu carinho, o meu sorriso, a minha eterna gratido.

    Aos meus pais, Zoila e Ernesto (in memoriam), pela grande dedicao e amor com que conduziram minha formao e educao e por acreditarem sempre na minha capacidade.

    A minha orientadora e amiga, Prof. Dra. Lidia Maria Brando Toutain, meu agradecimento especial, por me orientar nesta caminhada aos estudos da semitica, por suas observaes, empenho, pacincia e dedicao com a sua orientanda.

    Em particular, gostaria de ressaltar meus agradecimentos ao eminente Professor Pesquisador, Mestre e Doutor, Jaime Robredo, reconhecido por seus inegveis, incontveis e inigualveis prstimos a Cincia da Informao, por suas brilhantes sugestes, valiosas idias, criticas e ateno que foram fundamentais realizao desta dissertao de mestrado.

    A minha fiel parceira e amiga Valeria Bari pelas colaboraes essncias para a concluso deste trabalho.

    A todos os professores do Programa de Ps-Graduao em Cincia da Informao da UFBA pela motivao com que nos contagiaram no decorrer dessa jornada e que com pacincia compartilharam conosco os seus conhecimentos. E Aos funcionrios do Instituto de Cincia da Informao (ICI) pela acolhida e contribuio.

    Impossvel no ressaltar a importncia que teve a convivncia com meus amigos e profissionais da rea, pelo convvio harmonioso, pela troca de conhecimentos e experincias. Aos colegas do curso de mestrado, pela amizade, convivncia, profissionalismo e oportunidade de dividir ansiedades e alegrias. E a todos que, direta ou indiretamente contriburam para a realizao deste trabalho e, que se citados nominalmente com certeza cometeria a injustia de omitir algum.

    Ao meu marido Peder, companheiro e incentivador, pelo seu carinho, pacincia e respeito, nesse momento to enriquecedor. Aos meus filhos Peter Christian, William e Erik e noras, pelo carinho e compreenso.

    A CAPES por ter concedido a bolsa que possibilitou a realizao deste estudo.

    A certeza maior: a presena Dele em todos os momentos para confortar, consolar, dar foras, sustentar e retribuir. Foi Deus que colocou outras portas em minha vida que foram abertas para novas descobertas e novos caminhos a serem seguidos, nesse eterno ir e vir, numa transformao contnua que sempre me torna um novo algum. A Ele o meu maior agradecimento.

  • 6

    Um pensamento

    A forma, em suas representaes, aquilo que ela

    em ns: apenas um artifcio para comunicar idias,

    sensaes, uma vasta poesia. Toda imagem um

    mundo, um retrato cujo modelo apareceu em uma

    viso sublime, banhada de luz, facultada por uma voz

    interior, posta a nu por um dedo celestial que aponta

    no passado de uma vida inteira, para as prprias

    fontes da expresso.

    Honor de Balzac (apud MANGUEL 2001, pg. 29).

  • 7

    TROELSEN, Janneth Beatriz Tern L. Brases da UFBA: estudo da informao em uma

    abordagem semitica. 207 pg. il, 2009. Dissertao (Mestrado) Instituto de Cincia da

    Informao. Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2009.

    RESUMO

    Por meio do referencial terico da Cincia da Informao, da Semitica e Herldica, com

    subsdios da teoria da Representao examina o universo imagtico - constitudo do braso de

    armas da Universidade Federal da Bahia, das suas unidades de ensino, do Hospital Edgar

    Santos e Museu de Arte Sacra e rgos suplementares da UFBA. O objetivo geral deste

    estudo analisar, numa viso semitica, os brases da UFBA para desvelar os elementos de

    significao, tendo em vista, a representao do resgate da memria, criando um aporte

    imagem institucional. A metodologia da pesquisa foi anlise de contedo, dos brases e seus

    documentos administrativos relacionados. Concluiu-se que os Brases da UFBA tm um

    significado informacional para a representao da memria desta instituio e a consolidao

    de uma identidade acadmica.

    Palavras Chaves: Cincia da Informao, Semitica, Herldica Universitria.

  • 8

    TROELSEN, Janneth Beatriz Tern L. The UFBAs coat of arms: information study in a

    semiotic approach (BAHIA, Brasil). 207 pag. il, 2009. Master Dissertation Institute of

    Science Information. Federal University of Bahia, Salvador, 2009.

    ABSTRACT

    Through the theoretical referential of Information Science, Semiotics and Heraldry, with

    subsidy from Representation theory, this paper examines the image universe composed of the

    coats of arms of the Federal University of Bahia (UFBA), its educational units, the Edgar

    Santos Hospital and the Sacred Art Museum and subordinate entities of UFBA. The general

    objective of this study is to analyze, in a semiotic vision, UFBAs coats of arms to reveal the

    elements of significance, bearing in mind the representation of memory recovery, creating a

    contribution to the institutional image. The applied methodology consisted of content analysis

    of the blazons and their related administrative documents. It was concluded that UFBAs

    coats of arms carry informational meaning for the representation of that institutions memory

    and the consolidation of academic identity.

    Key Words: Information Science, Semiotics and University Heraldry.

  • 9

    LISTA DE ILUSTRAES

    FIGURA 1: ORGANOGRAMA DA UFBA NO ANO DE 1960 ................................................................................................................................ 32

    FIGURA 2: ORGANOGRAMA ATUAL DA UFBA (UNIVERSIDADE, 2008, PG. 08) .......................................................................................................................... 33

    FIGURA 3: BRASO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA, ORNADO COM A DATA DE 1808 LOGO ABAIXO DO TIMBRE .............................................................................. 35

    FIGURA 4: BANDEIRA DO BRASIL ............................................................................................................................................................................................ 66

    FIGURA 5: BRASES DA UFBA QUE OSTENTAM O SIGNO DA CRUZ ................................................................................................................................................. 70

    FIGURA 6: CRUZES HERLDICAS TRADICIONAIS ........................................................................................................................................................................... 71

    FIGURA 7: ESCUDO FRANCS (COM PONTA) E PORTUGUS (BOLEADO) ........................................................................................................................................... 72

    FIGURA 8: BRASO DA ESCOLA DE TEATRO DA UFBA ................................................................................................................................................................. 76

    FIGURA 9: BRASO DA FAMLIA ANNES, REGISTRADO NO INSTITUTO GENEALGICO DA BAHIA ............................................................................................................. 77

    FIGURA 10: OS METAIS ........................................................................................................................................................................................................ 78

    FIGURA 11: BRASO DA ESCOLA DE MSICA DA UFBA ............................................................................................................................................................... 79

    FIGURA 12: OS ESMALTES E AS CORES ..................................................................................................................................................................................... 79

    FIGURA 13: PARTIES DE ESCUDO ......................................................................................................................................................................................... 82

    FIGURA 14: BRASO DE UNIDADE DA UFBA, TIPICAMENTE ESQUARTELADO. .................................................................................................................................... 83

    FIGURA 15: BRASES DA UFBA QUE UTILIZAM SIGNOS ANIMALESCOS ........................................................................................................................................... 86

    FIGURA 16: BRASES DA UFBA COM ELEMENTOS NATURAIS ........................................................................................................................................................ 88

    FIGURA 17: BANDEIRA DOS ESTADOS UNIDOS DA AMRICA ......................................................................................................................................................... 89

    FIGURA 18:BRASO DE ARMAS DO ESTADO DA BAHIA ................................................................................................................................................................. 90

    FIGURA 19:ANTIGO BRASO DA CAPITANIA DA BAHIA .................................................................................................................................................................. 91

    FIGURA 20: BANDEIRA DA BAHIA, HASTEADA AO LADO DA BANDEIRA BRASILEIRA E DA BANDEIRA DO MUNICIPIO DE JACOBINA, EM FOTO DE

    TIAGO MAYAH .................................................................................................................................................................................................................92

    FIGURA 21: BANDEIRA DA UFBA ......................................................................................................................................................................................93

    FIGURA 22: ARTE LPIS-PASTEL DO BRASO DA UFBA ...................................................................................................................................................94

    FIGURA 23: SELO COMEMORATIVO DA IMPLANTAO DO REUNI NA UFBA, EM 2009 .................................................................................................95

    FIGURA 24: BRASO DA UFBA .........................................................................................................................................................................................97

    FIGURA 25: BANDEIRA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ....................................................................................................................................101

    FIGURA 26: BANDEIRA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ....................................................................................................................................102

    FIGURA 27: INSGNIA DO REITOR DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ....................................................................................................................103

    FIGURA 28: PENDO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ....................................................................................................................................................... 104

    FIGURA 29 BRASO DA FAC. DE ARQUITETURA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ..................................................................................................................... 106

    FIGURA 30: BRASO INSTITUTO DE FSICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ............................................. ......................................................................... .....107

    FIGURA 31: BRASO DO INSTITUTO DE GEOCINCIAS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ........................................... ................................................................ ..108

    FIGURA 32: BRASO DO INSTITUTO DE MATEMTICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA .......... ............................................................................................... ...109

    FIGURA 33: BRASO DO INSTITUTO DE QUMICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ......... ................................................................................................. ........110

    FIGURA 34: BRASO DA ESCOLA POLITCNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ...................................................................................................................... 111

    FIGURA 35: BRASO DA ESCOLA DE AGRONOMIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ................................................................................................................. 113

    FIGURA 36: BRASO DO INSTITUTO DE BIOLOGIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA .................................................................................................................. 114

    FIGURA 37: BRASO DA ESCOLA DE ENFERMAGEM DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ................................................................................................................ 115

    FIGURA 38: BRASO DA ESCOLA DE FARMCIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ..................................................................................................................... 116

    FIGURA 39: BRASO DO INSTITUTO DE CINCIAS DA SADE DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA..................................................................................................... 117

    FIGURA 40: BRASO DA FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ............................................................................................................... 118

    FIGURA 41: BRASO DA FACULDADE DE NUTRIO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ............................................................................................................... 119

    FIGURA 42: BRASO DA FACULDADE DE ODONTOLOGIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ......................................................................................................... 120

    FIGURA 43: BRASO DO INSTITUTO DE SADE COLETIVA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ........................................................................................................ 121

    FIGURA 44: BRASO DA ESCOLA DE MEDICINA VETERINRIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ................................................................................................... 122

    FIGURA 45: BRASO DA ESCOLA DE ADMINISTRAO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ............................................................................................................ 124

    FIGURA 46: BRASO DA ESCOLA DE BIBLIOTECONOMIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA. ......................................................................................................... 125

  • 10

    FIGURA 47: BRASO DA FAC. DE CINCIAS ECONMICAS UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ............................................................................................................ 126

    FIGURA 48: BRASO DA FACULDADE DE COMUNICAO UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ............................................................................................................. 127

    FIGURA 49: BRASO DA FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA .................................................................................................................. 128

    FIGURA 50: BRASO DA FACULDADE DE EDUCAO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA .............................................................................................................. 129

    FIGURA 51: BRASO DA FACULDADE DE FILOSOFIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ................................................................................................................ 130

    FIGURA 52: BRASO DO INSTITUTO DE LETRAS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ..................................................................................................................... 132

    FIGURA 53: BRASO DA ESCOLA DE BELAS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ........................................................................................................................... 134

    FIGURA 54: BRASO DA ESCOLA DE DANA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ......................................................................................................................... 135

    FIGURA 55: BRASO DA ESCOLA DE MUSICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ....................................................................................................................... 136

    FIGURA 56: BRASO DA ESCOLA DE TEATRO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ....................................................................................................................... 137

    FIGURA 57: BRASO DO HOSPITAL UNIV. PROF. EDGAR SANTOS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA.............................................................................................. 139

    FIGURA 58: BRASO DO MUSEU DE ARTE SACRA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ...........................................................................................140

  • 11

    SUMRIO

    AGRADECIMENTOS ............................................................................................................... 5

    RESUMO ................................................................................................................................... 7

    ABSTRACT ............................................................................................................................... 8

    LISTA DE ILUSTRAES.......................................................................................................9

    1 INTRODUO.................................................................................................................... 12

    1.1 Objetivos ......................................................................................................................... 18

    1.2 Justificativa ..................................................................................................................... 19

    1.3 Metodologia .................................................................................................................... 21

    2 A UFBA E SEUS SIMBOLOS ........................................................................................... 27

    2.1 Estrutura Institucional da UFBA .................................................................................. 28

    3 SEMIOTICA DA IMAGEM................................................................................................36

    4 A HERLDICA E OS BRASES DA UFBA....................................................................68

    4.1 A cor e sua Significao.................................................................................................73

    4.2 Regras da Herldica .......................................................................................................81

    5 ANALISE DOS BRASES .................................................................................................89

    5.1 A Identidade da UFBA Representada pelos Brases .....................................................95

    5.2 Fichas Interpretativas dos Brases.. ............................................................................. 100

    5.3 Analise dos Brases ....................................................................................................141

    6 CONSIDERAES FINAIS E RECOMENDAES .................................................148

    REFERNCIAS ..................................................................................................................... 153

    APNDICES .......................................................................................................................... 160

    ANEXOS.....................................................................................................................................203

  • 12

    1 INTRODUO

    [...] alm da vida do homem moderno ser totalmente regida por signos, os meios de

    comunicao empenham-se numa luta contra a estereotipao da linguagem, quanto

    mais previsvel for uma mensagem, tanto menor ser a informao dessa mensagem.

    (BROSSO; VALENTE, 1999, pg. 23).

    A imagem tem sido meio de expresso da cultura humana, desde as pinturas pr-

    histricas das cavernas, milnios antes do aparecimento do registro da palavra pela escrita.

    Todavia, enquanto a propagao da palavra humana comeou a adquirir grandes propores j

    no sculo XV de Gutenberg, o crescimento imagtico teve que esperar at o sculo XX para

    se desenvolver. Hoje, nossa vida cotidiana esta permeada de mensagens visuais.

    As investigaes das imagens se distribuem por varias disciplinas de pesquisa, tais

    como historia da arte, sociolgicas, estudo das mdias, semitica visual, design, teorias da

    cognio, dentre outros. O estudo da imagem assim um empreendimento interdisciplinar.

    O mundo das imagens se divide em dois domnios. O primeiro o domnio das

    imagens como representaes visuais: pinturas, gravuras, desenhos, cones, fotografias e as

    imagens cinematogrficas, televisivas, holo e infogrficas pertencem a esse domnio.

    Imagens, nesse sentido so objetos materiais, signos que representam o nosso meio ambiente

    visual. O segundo o domnio imaterial das imagens na nossa mente. Neste domnio, as

    imagens aparecem como vises, fantasias, imaginaes, esquemas, modelos ou, em geral,

    como representaes mentais. Ambos os domnios da imagem no existem separados, pois

    esto embricados, ou seja, ligados desde a sua gnese. O conceito desses dois domnios da

    imagem so os de signos e representao.

    No h imagens como representaes visuais que no tenham surgido de imagens na

    mente daqueles que as produziram, do mesmo modo que no h imagens mentais que no

    tenham alguma origem no mundo secreto dos objetos visuais.

    [...] o uso da imagem mental que representa um objeto traz como conseqncia, que

    o conjunto de representaes, com todas suas inter-relaes que, em soma,

  • 13

    constituem o imaginrio do nosso conhecimento subjetivo. (ROBREDO, 2007,

    pg.53).

    O universo das imagens semitico e o homem interage com os sinais, lendo os que o

    antecedem e formulando novos sinais em suprimento das necessidades emergentes, ou seja,

    unifica todas as cincias com a semitica, tudo pode ser convertido a signo, de modo que todo

    elemento passvel de significaes, como afirmava Peirce (1995, pg.83).

    A representao tem sido um conceito-chave da semitica, desde a escolstica

    medieval, sendo definido de maneira geral como o processo de apresentao de algo por meio

    de: signos, smbolos, imagens e as vrias formas de substituio. A representao pode ser

    feita de vrias formas. Por exemplo: por tipo de uma imagem, por tipo de um vestgio, por

    meio de um espelho e por meio de um livro.

    Esse processo de representar, captar e interpretar a informao simultneo,

    permanente, contnuo; pressupe um sistema de significao. As imagens fazem parte do

    sistema semitico, que permite observar que as imagens, contrariamente, no podem servir

    como meios referenciais de reflexo sobre as prprias imagens.

    A anlise das caractersticas relativas s imagens em comparao com as dos

    documentos textuais permitem entender de forma mais clara o modo como essas imagens

    podem ser trabalhadas, a fim de oferecer ao usurio informaes relevantes de acordo com

    suas necessidades. A importncia do tratamento do contedo informacional dos documentos

    torna-se explcita, ao considerarmos os processos que envolvem sua adequada comunicao e

    recuperao.

    Conhecendo tais caractersticas e a maneira como a Cincia da Informao as concebe,

    possvel inferir que o tratamento informacional de imagens presta-se, de modo peculiar, a

    transformar o mundo contemplativo do usurio num universo repleto de conhecimentos.

    Torna-se, hoje, imprescindvel para a consolidao de ambos os campos tericos, uma

    aproximao da Cincia da Informao e da Semitica, enfatizando os sistemas de

    comunicao humanos, segundo Robredo (2003, passim).

  • 14

    A constituio de novos paradigmas cientficos impe outra dinmica de

    conhecimento e de epistemologia, qualquer que seja o campo de saber em que nos situemos,

    mas em especial na Cincia da Informao. De modo geral, as transformaes sucessivas por

    que tm passado as cincias demonstram irregularidades e rupturas, em vez de um movimento

    contnuo e retilneo. Sobretudo no que tange s cincias humanas e sociais, o que se d no

    a mera substituio de um caminho enganoso por caminhos promissores de novas verdades.

    Desde os primrdios da sistematizao do conhecimento e dos trabalhos

    epistemolgicos, foram desenvolvidos os rudimentos do corpo de instrumentos analticos da

    palavra escrita e falada, mais tarde sistematizados como o mtodo de investigao da analise

    de contedo. Muito embora a prpria dinmica da construo do conhecimento tenha sido

    alterada por um novo paradigma e pelo advento das novas tecnologias, seu discurso ainda se

    apia na mesma estrutura lingstica. Assim, a anlise de contedo preserva sua validade

    metodolgica, at que sejam superadas as formataes convencionais da construo do

    conhecimento.

    De acordo com Bardin (1977), a clebre definio de anlise de contedo surge no

    final dos anos 40-50, com Berelson, auxiliado por Lazarsfeld afirmando que a anlise de

    contedo uma tcnica de investigao que tem por finalidade a descrio objetiva,

    sistemtica e qualitativa do contedo manifesto da comunicao.

    Sendo assim a anlise de contedo segundo Bardin pode ser entendida como

    [...] um conjunto de tcnicas de anlise das comunicaes visando obter, por

    procedimentos, sistemticos e objetivos de descrio do contedo das mensagens,

    indicadores (quantitativos ou no). A inteno da analise de contedo a inferncia

    de conhecimentos relativos s condies de produo/recepo [...] inferncia esta

    que recorre a indicadores quantitativos ou no. (BARDIN, 1977, pg. 20).

    A anlise de contedo como um trabalho de um arquelogo: ele trabalha sobre os

    traos dos documentos que ele pode encontrar ou suscitar, traos estes que so a manifestao

    de estados, dados, caractersticas ou fenmenos. Existe alguma coisa a descobrir sobre eles, e

    o analista pode manipular esses dados por inferncia de conhecimentos sobre o emissor da

    mensagem ou pelo conhecimento do assunto estudado de forma a obter resultados

  • 15

    significativos a partir dos dados. Ele trabalha explorando os dados, como um detetive

    (BARDIN, 1977, pg. 32).

    A anlise de contedo uma tcnica de pesquisa para tornar replicveis e validar

    inferncias de dados de um contexto, que envolve procedimentos. Todo profissional da

    informao deve desenvolver habilidades e dominar sistemas, tcnicas e mtodos inerentes

    necessidade por construo de conhecimento a partir de dados disponveis de uma ou outra

    forma dentro do seu contexto de atuao. Mostra-se que vivel, com o auxlio de

    instrumental terico adequado, explorar dados quanti-qualitativos e produzir informaes

    consistentes que possam trazer respostas geis a muitos questionamentos que surgem no dia-

    a-dia no trabalho do profissional de pesquisa.

    Para atingir os objetivos da anlise de contedo, necessrio contar com recursos

    cognitivos pessoais prvios, numa tcnica refinada, delicada, o que requer erudio,

    conhecimento e muita dedicao, pacincia e tempo para satisfazer a curiosidade do analista,

    como investigador cientfico. Para efetivar uma analise dessa natureza necessria intuio,

    imaginao e observao do que importante, alm de criatividade para escolha das

    categorias relevantes. Ao mesmo tempo, o analista deve ter disciplina na hora da observao

    dos dados e analise dos documentos. A anlise busca o conhecimento das palavras e do que

    est oculto por trs das palavras e imagens, na busca de significados profundos e camadas de

    informaes nas mensagens e discursos.

    Assim sendo, a Anlise de Contedo uma metodologia adequada para todos os tipos

    de pesquisa que possam ser documentadas por meio de textos escritos (documentos oficiais,

    livros, jornais, documentos pessoais, fotografias, etc.), em gravaes de voz ou imagem, mas

    no acessvel para todos os que desejam utilizar-se dela, pelas exigncias de formao,

    habilidades e competncias pessoais do analista. A narrativa imagtica nos permite operar

    com outras metodologias e teorias alm da anlise de contedo. Assim, a partir do momento

    em que houve o confronto entre as informaes advindas de diferentes espcies de fontes a

    pesquisa, foi gerada uma quantidade significativa de informaes, que so passiveis de

    sistematizao por diferentes campos e teorias do conhecimento, como a herldica, a

    iconografia, a gestalt, a psicologia, entre outras, gerando assim os aspectos qualitativos da

    pesquisa.

  • 16

    O estudo da iconografia tambm se relaciona ao realismo imagtico, pois diversos

    estudiosos e pessoas que trabalham com imagens, procuram na iconografia, subsdios para

    analisar essas imagens. Segundos os iconografistas as imagens no so feitas simplesmente

    para serem observadas, mas tambm para serem lida. A idia de leitura de imagens remonta a

    um longo tempo, desde os primrdios da civilizao at os dias de hoje. Para tal, importante

    buscar a superao da viso indutiva da imagem, por meio da aplicao do instrumental

    terico presente na semiologia, assim como importante estudar a gramtica visual, em que

    parcialmente estamos nos baseando, com referncia principal nos estudos sobre iconografia

    de Panofsky (1995, pg. 47).

    A interpretao e estudo de mensagens visuais so conhecidos, aproximadamente

    desde os anos 1930 e 1940, como iconografia ou iconologia, que vem se aprofundando cada

    vez mais no que se diz respeito aos estudos das imagens por pesquisadores e, que nos servem

    como subsdios para podermos analisar as imagens. Dessa forma podemos afirmar que as

    imagens so produzidas para se comunicar.

    A contextualizao de imagens nos remete a smbolos, cones, reforando a

    importncia da iconografia nos diversos estudos que tm como objeto de estudo as imagens.

    A palavra iconografia se refere a escrita da imagem. Tem origem grega - eikon (imagem) e

    graphia (escrever, gravar, desenhar), mas que pode ter mais de um sentido, dependendo de

    seu uso:

    Pode se referir ao desenho (interpretao e anlise);

    A uma publicao de vrias imagens, coleo ou classificao de retratos.

    O crtico e historiador alemo Erwin Panofsky (1892-1968), supracitado, um dos

    principais estudiosos da iconografia do sculo passado, conceitua os termos Iconografia e

    Iconologia como o primeiro sendo o estudo de um tema ou assunto e, o segundo, estudo do

    significado do objeto. De forma especifica, o termo iconologia estuda os cones ou os

    simbolismos em forma de representao visual nas artes, ou seja, seria a interpretao de um

    tema, por meio de um constante estudo cultural e histrico do objeto a ser estudado onde, o

    contexto histrico da obra e/ou imagem, assume fundamental importncia para tentarmos

    interpret-lo.

  • 17

    O estudo das imagens, como bem ensinou Panofsky no seu mtodo iconolgico, impe

    o estudo da historicidade das imagens e a preservao da memria, muitas vezes perdidas no

    passado. O objetivo deste trabalho, embora sem seguir uma linha iconolgica, foi refletir

    sobre a dimenso histrica da imagem dos brases, recompondo a sua memria e as

    possibilidades efetivas de utiliz-la na composio de certo conhecimento sobre o passado.

    A Histria pode devolver as geraes do presente a perspectiva da experincia,

    [...], na mesma proporo que recupera memrias que, no raro, desconhecidas para

    os indivduos, lhes devolve dimenses outras de identidade e de pertencimento. Por

    outro lado, a memria tambm pode funcionar como um elemento ruptor, fazendo

    aflorar aspectos at ento desconhecidos [...]. A memria manifesta, assim, um

    carter de inovao e no apenas de preservao. (PASSAVENTO, 2003, pg. 47).

    Neste trabalho monogrfico foram empregados como fontes de representaes

    imagticas, os brases presentes na Universidade Federal da Bahia - UFBA. Erwin Panofsky,

    no seu livro Significado nas Artes Visuais, prope que a anlise de um objeto visual seja

    feita seguindo alguns passos, como:

    Anlise pr-iconogrfica - apresenta o significado natural ou primrio, e consiste na

    identificao das formas puras como representaes de objetos naturais e a percepo

    dos motivos artsticos, vital para que se compreenda a anlise iconogrfica, sendo

    parte integrante do estudo;

    Anlise iconogrfica - apresenta o significado convencional ou secundrio, e consiste

    na associao dos motivos artsticos a assuntos e conceitos, possibilitando a estes o

    estatuto de imagens, estrias e alegorias;

    Interpretao iconolgica - apresenta o significado intrnseco ou contedo, segundo

    Panofsky o mais relevante, e que consiste na determinao daqueles princpios

    subjacentes que revelam a atitude bsica de uma nao, um perodo, uma classe, uma

    crena religiosa ou filosfica.

    Em suma, este autor prope, para a anlise de um objeto visual, primeiramente sua

    descrio; depois, seu correlacionamento com outros elementos formadores da cultura da qual

    faz parte; e, finalmente, neste correlacionamento, o surgimento da possibilidade de descobrir

    seu significado intrnseco e sua funo naquela sociedade, transformando-o em registro de

  • 18

    uma poca. (PANOFSKY, 1995, pg. 62). Com a realizao destas etapas chega-se ao ponto

    em que o objeto visual, descrito, identificado e decodificado, passa a explicar, em conjunto

    com outros documentos ou solitariamente, no caso de ser ele o nico registro restante, a

    conjuntura em que ele foi concebido, suas finalidades e, seus objetivos.

    Ao desenvolver um estudo especificamente voltado para o contedo informacional de

    um conjunto imagtico, que so os Brases da Universidade Federal da Bahia UFBA surge

    o problema a ser pesquisado: O contedo informacional dos Brases da UFBA resgata a

    memria, representatividade e significado perante esta instituio de ensino? Diante desta

    questo, pressupes-se ento a seguinte hiptese: Os Brases da UFBA tm um significado

    informacional, para a representao da sua memria e consolidam sua identidade

    acadmica.

    1.1 Objetivos

    O objetivo geral deste estudo analisar, numa viso semitica, os brases da UFBA para

    desvelar os elementos de significao, tendo em vista, a representao do resgate da memria,

    criando um aporte imagem institucional.

    Os objetivos especficos desse estudo so:

    Mapear os Brases existentes da UFBA para a decodificao e leitura da

    Informao visual.

    Analisar o contedo informacional dos Brases da UFBA, segundo pressuposto

    semitico do significado e significante dos mesmos na viso da Cincia da

    Informao.

    Demonstrar o que o Braso representa como contedo para a memria e a historia

    da instituio.

  • 19

    1.2 Justificativa

    Na atualidade, o universo imagtico vem ocupando lugar de destaque na sociedade

    contempornea, justamente por ser, reconhecidamente, um dos principais recursos cognitivos.

    Com a instaurao de um novo paradigma do conhecimento, a imagem passa a ser tratada

    como um significativo repositrio de informaes que antes passava despercebida. A partir

    dessa realidade, as vrias formas como nos percebemos a informao, no decorrer da histria,

    necessidades especficas de seu tratamento, ordenao e documentao, sempre em instncias

    especializadas de armazenamento do conhecimento (bibliotecas, arquivos, museus, etc.).

    O conjunto dessas informaes que esto contidas nos documentos visuais,

    audiovisuais, textuais, etc. carregam em si o sentido da memria. Memria essa ligada a toda

    uma corrente de pensamento - e suas vrias possibilidades de guardar o passado que passa a

    ser um saber constitudo de vrios povos.

    Como afirma Santaella (2007) informao no , pois uma entidade fsica, um objeto

    tangvel, visvel, audvel. O que se toca se v ou se ouve o documento escrito, gravado,

    contendo conhecimento registrado, em geral mediante um cdigo de representao. A

    informao um dos objetos mais representativos da teoria semitica, ela a representao

    produzida pela mente criadora dos homens a qual os auxilia na sua relao expressiva com o

    mundo. Como todo signo, tem carter gil e provisrio. A informao um signo que se

    atualiza na interface com o sujeito.

    As afirmaes sobre esse mundo imagtico, imaginrio, colorido e fascinante,

    levaram-me a pesquisar os Brases e imaginar sua essncia, sua simbologia, que informaes

    estaro contidas em cada um de seus cones, sua historia e representatividade, que

    contriburam para perpetuar a memria da Universidade Federal da Bahia.

    Os smbolos herldicos referentes a essa instituio, foram utilizados como referencial

    emblemtico de representao da memria e afirmao da identidade da UFBA. Traos

    significativos do imaginrio alusivo foram incorporados simbologia dos seus referidos

    brases.

  • 20

    Por meio da analise e da interpretao dos atributos herldicos que figuram nos

    Brases da UFBA, detentoras de denominao histrica, pode-se observar que houve uma

    proposta dessa instituio em buscar elementos da historia, em sua composio. Esses

    elementos histricos, selecionados como relevantes, contriburam na construo de uma

    memria que valorizasse a identidade nacional e/ ou institucional da universidade, conectando

    o presente ao passado, construindo a idia de pertencimento.

    A valorizao dos atributos herldicos e representaes simblicas, sobretudo as que

    aludem s atividades desempenhadas por essa Universidade, foi compreendida por esse

    estudo como referencial emblemtico da memria e afirmao da identidade dessa instituio,

    a exemplo do que ocorre internacionalmente, principalmente nas universidades mais antigas

    do velho continente.

    conhecido de todos o uso e difuso de brases como o da Universidade de Oxford,

    Cambridge, Sorbonne, Salamanca, entre outras. A imagem dos brases torna-se um

    referencial para as comunidades acadmicas, mas igualmente comercializado como souvenir

    para toda a juventude, verificando-se que, inclusive, os turistas adultos e de terceira-idade

    adquirem camisetas, moletons e outros produtos estampados com os referidos brases para

    presentear jovens. A atrao juvenil pelos brases vinculada a uma relao de identificao

    com a comunidade acadmica que o jovem gostaria de integrar e idealiza. Assim a Herldica

    Universitria tem uma grande representatividade nas universidades mais conceituadas, e,

    como um efeito transversal, tambm auxilia na consolidao da imagem pblica de

    universidades mais novas.

    Dessa forma, a pesquisa aqui apresentada tambm busca auxiliar a construo de uma

    imagem pblica atrativa aos jovens, futuros universitrios, assim como fortalecer as relaes

    de pertencimento e afetividade dos universitrios, docentes e a equipe administrativa que j

    atuam nos ambientes universitrios da UFBA.

  • 21

    1.3 Metodologia

    A organizao prtica das fases de elaborao do trabalho de pesquisa obedeceu

    estrutura de tpicos, proposta por meio dos objetivos especficos, segundo os critrios

    propostos por Laurence Bardin. Assim, o mapeamento dos brases existentes da UFBA foi

    feito por meio de pesquisa de campo clssica (segue padres pr-definidos e grupos

    estratificados), de carter quantitativo. A anlise do contedo informacional foi elaborada ao

    longo do perodo de pesquisa acadmica, por meio dos estudos norteados pela Cincia da

    Informao, Semitica e Herldica, de carter qualitativo. A demonstrao da representao

    do braso como contedo para a memria e a histria da instituio, um objetivo certamente

    inesgotvel, foi buscado por meio de anlises descritivas, atribuies categoriais de carter

    qualitativo e quantitativo e snteses analticas da prpria pesquisadora e tambm em alguns

    princpios iconogrficos propostos por Panofsky (conforme pg. 17 desta dissertao).

    Para cada um dos objetivos especficos, foram aplicados determinados mtodos:

    Mapeamento dos Brases existentes, da UFBA, sendo utilizada a pesquisa de

    campo.

    Analise do contedo informacional dos Brases da UFBA, segundo

    pressuposto semitico do significado e significante dos mesmos na viso da

    Cincia da Informao. Para desenvolver esta etapa foi utilizada a anlise de

    contedo, sob os princpios da Semitica, da Herldica e os princpios

    iconogrficos.

    Para demonstrar o que o Braso representa como contedo para a memria e a

    historia da instituio, foi elaborada a pesquisa de carter histrico, assim

    como a relao entre os smbolos herldicos projetados e a cultura baiana, com

    nfase na atividade universitria e acadmica.

    Como fatores de limitao da pesquisa, existiram as dificuldades em localizar o

    material imagtico a ser pesquisado. Foram visitadas vrias unidades de ensino da UFBA, o

    setor de memria da Biblioteca Central da UFBA, a Reitoria onde foi localizado o material da

    pesquisa, no gabinete do Reitor sob a guarda da administrao central. Para verificar a

    existncia de algum estudo referente aos brases da UFBA, foi feita uma pesquisa no Arquivo

  • 22

    Publico do Estado da Bahia, no Instituto Geogrfico Histrico da Bahia. Essa limitao indica

    a necessidade de preservao e difuso dos materiais cuja arte e originalidade apiam

    categorias informacionais, relevantes instituio e ao estado da Bahia.

    O presente estudo adotou a metodologia de Anlise de Contedo, pois esta,

    particularmente, utilizada no estudo do material qualitativo, para o qual a pesquisa foi

    direcionada, representando a tentativa de uma compreenso detalhada dos significados e

    caractersticas situacionais apresentadas pelos componentes do universo pesquisado, alm de

    ser adequada para uma investigao em nvel de mestrado. Por essa razo, este estudo

    dispensa o uso de mtodos estatsticos j que seu processo composto pela prospeco de

    informaes, interpretao dos fenmenos e a atribuio de significados, seguindo critrios

    analticos qualitativos.

    A aplicao do mtodo da Analise de Contedo est de acordo com os objetivos da

    pesquisa, que pode ser considerada descritiva, pois visa dissertar sobre as caractersticas de

    determinado universo e envolve o uso de tcnicas padronizadas de coleta de dados, a exemplo

    da observao sistemtica e da analise histrica. Segundo Richardson, (1999) Anlise de

    Contedo

    [...] um conjunto de ferramentas metodolgicas compreendendo uma natureza

    cientfica, devendo ser eficaz, rigorosa e precisa, com o intuito de entendimento de

    um discurso, aprofundando e evidenciando suas caractersticas e momentos

    importantes. (RICHARDSON, 1999, pg. 124)

    Tais ferramentas so aperfeioadas conforme a situao em que ocorreu a coleta de

    dados, de modo que a anlise dos dados ser feita por meio dos pontos caractersticos,

    baseado na coerncia dos dados, ou seja, a leitura transcreve o contedo dos documentos,

    alicerado em conceitos psicolgicos, sociolgicos, histricos e nos princpios propostos

    Panofsky.

    O universo pesquisado foi de trinta e quatro exemplares dos brases representativo das

    unidades de ensino e da instituio UFBA, sendo estes desenhados em diferentes anos. A

    produo dos brases se iniciou no ano de 1951, quando o criador da UFBA o professor

    Edgar Santos, tornou-se o primeiro Reitor. Quarenta anos se passaram e, no ano de 1991, no

  • 23

    momento em que o Reitor era o professor Jos Rogrio Vargas, alguns outros foram

    desenhados. No ano seguinte, 1992, quando a Reitora Eliane Azevedo mandou seguir com a

    produo de mais outros exemplares foram acrescentados ao conjunto. Os ltimos brases do

    universo imagtico estudado foram confeccionados no ano de 1995, quando o Reitor era o

    professor Felipe Serpa. Para esse estudo mapeou-se os brases por rea do conhecimento:

    rea I, rea II, rea III, rea IV, rea V, alm do braso institucional geral da UFBA temos

    tambm os rgos Suplementares. (UNIVERSIDADE, 1966, pag.36).

    A partir da fundamentao terica e da coleta dos brases, foram utilizados os

    referenciais da Semitica e da Herldica como elementos analticos. As imagens dos brases

    desenhadas foram digitalizadas e anexadas a sua descrio textual, baseada em princpios

    herldicos, com auxilio do dicionrio de smbolos (CHEVALIER, 2008). Alguns desses

    brases foram desenhados pelo senhor Victor Hugo C. Lopes um especialista em Herldica

    que reside em Salvador Bahia, enquanto outros exemplares foram criados pelo monge

    beneditino Irmo Paulo Lachenmayer, alemo naturalizado brasileiro. Nascido no ano de

    1903, Lachenmayer faleceu aos 87 anos de idade, no ano de 1990, nesta cidade. Como um dos

    maiores especialistas em Herldica, reconhecido em toda a America Latina, confeccionou

    brases para inmeros prelados e dioceses do Brasil. Todos os seus desenhos so

    identificados por uma marca que usava ao lado esquerdo do desenho.

    A coleta ocorreu entre os meses de janeiro e fevereiro de 2008. Em primeiro lugar, foi

    feita uma observao sistemtica de cada um dos elementos do universo pesquisado, isto , os

    brases. Concomitantemente, a historia da instituio de ensino superior foi levantada, para

    que ficasse clarificada a relao entre os fatos histricos e a criao Herldica dos diferentes

    brases. As representaes simblicas profissionais, que tambm compe um conjunto de

    signos herldicos, foram igualmente pesquisadas e incorporadas s anlises.

    Foi verificada a preocupao em enfatizar a categoria profissional e o contexto histrico,

    na criao de cada braso, s vezes de modo concorrente. Para a realizao da analise de

    contedo obedeceu-se a descrio feita pelos heraldistas Lachenmayer e Vitor Hugo, nos

    princpios da gestalt, da herldica e da iconografia. A ficha Interpretativa dos Brases

    contedo indito desta pesquisa e foi elaborada com base nos procedimentos bsicos

    propostos por Bardin. (1977, pg. 121).

  • 24

    a) A Pr Analise: Nesta face se deu a localizao e a organizao do material a ser

    pesquisado, braso, insgnias, enfim todo material imagtico referencial da

    UFBA, assim como outros materiais relativos pesquisa.

    b) A Descrio Analtica: Nesta fase, foi realizado um estudo mais aprofundado de

    todo o material reunido que constitui o corpus da pesquisa. Orientado em

    princpio do referencial terico e, no cumprimento das decises tomadas, durante

    a pesquisa.

    c) A Interpretao Referencial do Material: De posse da anlise deste material, fez-

    se a interpretao das informaes contidas nos brases, que foram codificadas,

    categorizadas e quantificadas para, em seguida chegar etapa da concluso. Nos

    resultados, inferncia e interpretao, conclui-se que por meio da descrio

    analtica e interpretao das imagens, atendemos aos critrios propostos por a

    informao e a comunicao.

    Assim, a Ficha Interpretativa dos Brases constar dos seguintes campos,

    derivativos do procedimento de Descrio Analtica de Bardin como um todo, que agregaro

    o seguinte contedo:

    a) Identificao: Ttulo dado pelo heraldista pea herldica, que

    corresponde a sua procedncia e funo segundo os procedimentos de

    Pr-Anlise propostos por Bardin (1977, pg. 11);

    b) Figura: Imagem da arte da pea herldica, para referenciar toda a leitura

    dos demais campos da ficha, que trata exatamente da anlise de contedo

    imagtico, segundo os procedimentos de Pr-Anlise propostos por

    Bardin (1977, pg. 11);

    c) Localizao: Determina onde est arquivada a arte utilizada, que tambm

    fonte da imagem digitalizada constante na ficha, segundo os

    procedimentos de Pr-Anlise propostos por Bardin (1977, pg. 11);

    d) Tipologia: Descrio da arte utilizada como fonte na elaborao da ficha,

    os suportes materiais e a tcnica de sua composio, segundo os

    procedimentos de Pr-Anlise propostos por Bardin (1977, pg. 11);

    e) poca de Construo: Identificao da data de elaborao do projeto final

    do braso, que o momento mais importante para a interpretao histrica

  • 25

    do mesmo, e no de uma arte ou digitalizao especfica, segundo os

    procedimentos de Pr-Anlise propostos por Bardin (1977, pg. 11). Essa

    data normalmente figura nos documentos descritivos elaborados pelos

    heraldistas, cujo contedo foi literalmente transcrito.

    f) Contextualizao da imagem: Verificada pela pesquisadora, por meio de

    pesquisa de campo, segundo os procedimentos de Pr-Anlise propostos

    por Bardin (1977, pg. 11), cita o status da imagem no contexto

    institucional pesquisado;

    g) Anlise formal: Utilizando os princpios da Gestalt, Herldica e

    Iconografia (esses ltimos propostos por Erwin Panofsky), sob os

    procedimentos de Interpretao Referencial do Material propostos por

    Bardin (1977, pg. 11). A pesquisadora elabora a anlise formal de cada

    braso, interpretando o conjunto e suas partes, apoiada em informaes

    dadas pelos prprios criadores da pea herldica, informaes histricas

    da UFBA, da cidade de Salvador, do Estado da Bahia e do Brasil, a

    histria e simbologia da imagem pblica das profisses.

    Um dos contedos resultantes dessa pesquisa, sob a utilizao da metodologia

    apresentada, a segurana no fato de que podemos perfeitamente utilizar imagens como

    fontes histricas. Esse pressuposto feito com base no resultado das anlises da pesquisa

    entre outras, de forma que a histria da criao da UFBA est registrada e at mesmo

    preservada nos seus Brases.

    Estrutura Monogrfica

    Captulo 1 INTRODUO

    Neste capitulo foi explicado o referencial terico, o mtodo a ser utilizado na analise

    dos brases e uma abordagem sobre iconografia.

    Capitulo 2 A UFBA E SEUS BRASES

    Contou com a reviso, pesquisa bibliogrfica e documental sobre os seguintes pontos

  • 26

    dados sobre caractersticas institucionais da Universidade Federal da Bahia,

    recomendaes legais para a estruturao dos seus brases.

    Capitulo 3 SEMITICA DA IMAGEM

    Foram abordados os aspectos semiticos da imagem visual, da Herldica, da Cincia

    da Informao relacionada Semitica, ou seja, estudo sobre a teoria dos signos,

    representao, linguagem verbal e no verbal, concretizando a fundamentao terica

    da dissertao.

    Capitulo 4 A HERLDICA E OS BRASES DA UFBA

    Por meio do uso dos princpios e leis da Herldica e sua exposio, para melhor

    compreenso por parte de toda a natureza de leitores da pesquisa, foi explicado o

    processo de concepo dos smbolos herldicos em geral e, especificamente, dos

    smbolos herldicos da UFBA.

    Captulo 5 ANLISE DOS BRASES

    Realizou-se a analise dos brases usando o mtodo proposto por Bardin, ou seja, de

    procedimentos sistemticos e objetivos de descrio de contedo das mensagens

    indicadores que permitem a inferncia de conhecimento relativo s condies de

    produo, recepo das mensagens, utilizando-se a analise categorial.

    Captulo 6 CONSIDERAES FINAIS E RECOMENDAES

    Apresenta as consideraes finais do estudo, as principais concluses e as proposta de

    uso do conhecimento sintetizado e as futuras abordagens sobre o tema.

  • 27

    2 A UFBA E SEUS SIMBOLOS

    O conceito de universidade surgiu na Itlia, Frana e Inglaterra na Idade Mdia e se

    disseminou pelos continentes no inicio da era moderna. Est definida como uma comunidade

    acadmica, dedicada ao desenvolvimento do ensino e da pesquisa em nveis especializados

    com a produo de conhecimentos relevantes ao progresso da sociedade. Seu papel tem sido

    este no decorrer dos vrios sculos, mediante a superao de mudanas decorrentes da

    geopoltica, da revoluo econmica, das tendncias scio- culturais ou mesmo

    mercadolgicas.

    A Universidade da atualidade tem um papel preponderante no cenrio histrico de um

    pas, por ser uma instituio que rene a capacidade de fazer a sntese histrica da sociedade e

    de provocar os homens para que criem vontades ou energias para a organizao social, por

    meio da educao formal e da produo de conhecimento. Dessa forma, o ensino

    universitrio, mais do que fazer acumular habilidades e competncias, aprimorar a

    conscincia, e preparar as pessoas para responderem sobre seu destino e sobre o sentido de

    sua vida. Neste sentido, preciso entender melhor os contextos scio-econmicos e polticos

    que permearam a trajetria da Universidade, com o intuito de contribuir para o entendimento

    da formao oferecida pela educao superior nos seus momentos histricos.

    A anlise retrospectiva do Brasil nos remete ao ano de 1549, quando o primeiro

    governador chegou Bahia e com eles os primeiros padres jesutas, a educao adquiriu

    apenas um relativo significado na preocupao colonizadora, por intermdio da catequese. E

    s ento a primeira escola elementar foi aberta no Brasil, onde se ensinava a ler, a escrever e a

    contar.

    Em 1551 criado o Colgio do Terreiro de Jesus. Foi indiscutivelmente, o primeiro

    centro a praticar o ensino universitrio, em toda Amrica Portuguesa. O ensino universitrio,

    moda da poca, rigidamente enquadrado nas regras da Ratio Studiorum, ou seja, ordenar

    as instituies de ensino de uma nica maneira, permitindo uma formao uniforme a todos os

    que freqentassem os colgios da Ordem Jesutica em qualquer lugar do mundo. E,

    naturalmente, limitado pelas solicitaes da sociedade colonial, ainda em formao. No

    ocidente, a igreja Catlica a responsvel pela unificao do ensino superior em um s rgo,

  • 28

    a universidade. Isto ocorre como resultado de todo um esforo da igreja no sentido de

    fundamentar as suas aes polticas e religiosas, por meio da unicidade de pensamento e o

    controle da difuso de conhecimento em nvel superior.

    O ensino universitrio colonial de certo modo, desde quando a Metrpole seja em

    Lisboa ou Roma, jamais permitiu a criao de uma universidade em sua colnia americana.

    Por muito tempo, o Real Colgio da Bahia, mais conhecido como o Colgio do Terreiro de

    Jesus, distribuiu em cerimnias imponentes, insgnias e diplomas acadmicos, seguindo a

    risca o protocolo da Universidade de vora, sediada em Portugal. Essas solenidades de

    graduao incluam a entrega do anel simblico, o livro de juramento e capelo azul. A

    biblioteca do colgio, por muito tempo a maior do Brasil, possua em 1649 cerca de 3.000 mil

    livros de todo o gnero de escritores que se pode desejar, sob a guarda de zelosos e hbeis

    livreiros dentre eles o Pe. Antonio Vieira. Os jesutas desejavam e requeriam que o Colgio

    do Terreiro de Jesus se transformasse em universidade. Essa pretenso manteve-se, desde

    1583 at a expulso desses religiosos do Brasil, em 1759, pelo Marques de Pombal. Mesmo

    aps esse lamentvel acontecimento, a Cmara Municipal ao lado dos Inacianos (ordem dos

    jesutas fundada por Santo Incio de Loyola) nunca deixaram morrer seu intento, pois

    continuaram a mandar ofcios, representaes e requisies para a criao e oficializao de

    uma universidade na Bahia.

    2.1 Estrutura Institucional da UFBA

    A situao comeou a mudar com a chegada da Famlia Real ao Brasil, quando Dom

    Joo VI defronta-se com a necessidade de imediato estabelecimento de condies culturais e

    tecnolgicas de que, at ento, o Brasil no pudera ou fra forado a no dispor. Com a

    instalao da Corte Portuguesa no Brasil, dirigiu-se legalmente o processo augusta

    presena do Prncipe Regente, solicitando a criao de uma universidade literria na capital

    baiana. Mais uma vez a petio, datada de 10 de outubro de 1809 no foi atendida.

    (UNIVERSIDADE, 1967, pg. 11).

    Em 18 de fevereiro de 1808, foi criada pelo Prncipe Regente a Escola de Cirurgia da

    Bahia por sugesto do Dr. Jos Garcia Picano, Baro de Goiana, que idealizou o ensino

  • 29

    mdicocirrgico, na cidade do Salvador, origem da atual Faculdade de Medicina, a mais

    antiga escola oficial de estudos superiores no Brasil. Foram incorporados ao Colgio Mdico-

    Cirrgico os cursos anexos de Farmcia, criado em 1832 e de Odontologia em 1864, pode ser

    considerado o ncleo formador da Universidade na Bahia. No somente porque dela saram,

    diretamente, mais de duas escolas que integram o sistema universitrio baiano, mas tambm,

    pelos reflexos na vida cultural do estado e do pas, j que desta faculdade saram, no apenas

    profissionais de alto nvel que se espalham por todo o Brasil, mas tambm mdicos

    humanistas que se afirmaram, igualmente, em outros domnios do saber. Na ausncia de

    outras escolas de ensino superior, a Faculdade de Medicina foi, na verdade, mais que um

    centro de cincias mdicas, um foco de convergncia de interesses generalizados no vasto

    campo da cultura. Em 1859 criou-se o curso de Agronomia, mas s foi incorporado a

    Universidade Federal da Bahia em 1967.

    Mais de meio sculo aps a fundao da Faculdade de Medicina surge segunda

    escola de ensino superior, na Bahia, a Escola de Belas Artes, fundada em 1877, com o nome

    de Academia de Belas Artes da Bahia, que anos mais tarde inclua o curso de Arquitetura.

    Este s reconhecido em 1950, no mesmo ano em que a escola foi federalizada. Em fins do

    sculo passado, em 1891, surge a Faculdade de Direito, mantida como escola particular, at

    1957. A Faculdade de Direito, rapidamente, se transformou num dos principais centros de

    cultura jurdica brasileira. Seis anos depois, em 1897, surge o Instituto Politcnico da Bahia,

    que mais tarde se transformou na Escola Politcnica, que em 1938 passou a pertencer ao

    Estado da Bahia. Retornou ao domnio da unio em 1946, sendo logo incorporada

    universidade.

    Em 1905, criou-se a Escola Comercial da Bahia, mantida por uma fundao, a partir

    de 1931, iniciou seu curso superior de Administrao e Finanas e em 1934 a antiga Escola

    Comercial passou a denominar-se Faculdade de Cincias Econmicas. Surgem em 1941 e

    1934, a Faculdade de Filosofia e Cincias e Letras, respectivamente, fundada pela liga de

    Educao Cvica, cuja federalizao ocorreu em 1950, mas desde 1946 j tinha sido

    incorporada Universidade da Bahia.

    Nos 41 anos que compreenderam a chamada Republica Velha ( a denominao

    convencional para a histria republicana que vai da Proclamao da Republica, em 1889 at a

  • 30

    ascenso de Getlio Vargas em 1930), muitos eventos ajudaram a fortalecer o ensino superior

    na Bahia, a fim de que, um dia houvesse condies capazes de impor, para a sua prpria

    poltica de benefcios, o nascimento da sua primeira universidade.

    Finalmente em 08 de Abril de 1946 o ento Presidente da Republica Eurico Gaspar

    Dutra juntamente com o Ministro da Educao Ernesto Sousa Campos, assinaram o Decreto-

    Lei n 9.155, que criava a Universidade da Bahia, cujo texto do artigo 1 reza que:

    criada a Universidade da Bahia, instituio de ensino superior, como pessoa

    jurdica, dotada de autonomia administrativa, financeira, didtica e disciplinar, nos

    termos da legislao federal sobre o ensino superior e de seu estatuto. (BRASIL,

    1946, Art.1 do cap. I). (UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA, 1971, pg. 9)

    Naquele momento, ainda no se implantava uma verdadeira universidade. Fazia-se

    necessrio um amplo esforo para agrupar as escolas tradicionais, no s no espao fsico,

    mas tambm num efetivo sistema universitrio. Necessitava-se, ainda, da criao de novas

    unidades e rgos complementares para o atendimento das necessidades culturais da

    sociedade baiana. Foi a esta tarefa de relevncia que se lanou o Reitor Edgar Santos, nos

    quinze anos em que esteve frente do destino da Universidade da Bahia.

    Apesar de instituda oficialmente como Universidade da Bahia, em 08 de abril de

    1946, sua constituio englobou a articulao de unidades isoladas de ensino superior

    preexistentes, pblicas ou privadas. Fazendo parte todas essas escolas: Medicina, Belas Artes,

    Direito, Escola Politcnica, Cincias Econmicas, e a Faculdade de Filosofia, Cincia e Letras

    passaram a integrar a Universidade. Essas unidades de ensino superior constituram o ncleo

    inicial da Universidade Federal da Bahia

    Dentro desse esforo de ampliao do espectro de cursos a serem oferecidos, registra-

    se a implantao da Escola de Enfermagem em 1946, a qual s incorporada Universidade

    da Bahia, no ano de 1947 e, do Hospital das Clnicas, em 1949. A partir da Lei n 4.226 de

    23 de Maio de 1963 passa o mesmo a denominar-se Hospital Universitrio Professor Edgard

    Santos, porm s em 1969 que esse hospital foi incorporado a Faculdade de Medicina,

    tornando-se um importante centro de referncia para o ensino mdico e para o atendimento

    sade da populao baiana. Nos anos seguintes se d a criao da Escola de medicina

  • 31

    Veterinria (1951), Instalao dos Seminrios Livres de Msica, origem da atual Escola de

    Msica (1955), Instalao das Escolas de Teatro e de Dana (1956).

  • 32

    Figura 1: Organograma da UFBA no ano de 1960

  • 33

    Figura 2: Organograma atual da UFBA (UNIVERSIDADE, 2008, pg. 08)

  • 34

    A Reforma Universitria, instituda pela Lei Federal 5.540/68, promoveu uma

    profunda reestruturao e modernizao acadmica e administrativa das universidades

    brasileiras. Nessa poca, a denominao e qualificao das Universidades e Escolas Tcnicas

    Federais, por meio da Lei n 4.759, de 20 de agosto de 1965, a Universidade da Bahia passa a

    ter a denominao e qualificao de Universidade Federal da Bahia. Nela foram criados

    diversos rgos centrais de gesto e implantados os novos Institutos de Matemtica, Fsica,

    Qumica, Biologia, Geocincias e Cincias da Sade, as Escolas de Biblioteconomia e

    Comunicao e de Nutrio e a Faculdade de Educao, baseados na consagrao da nova

    estrutura da UFBA, por meio do Decreto Federal n 62.241 de 08 de fevereiro de 1968. O

    aumento da oferta de cursos de graduao, nessa poca, exigiu uma significativa expanso da

    infra-estrutura fsica da UFBA, com a implantao dos campi do Canela e de Federao -

    Ondina.

    A partir do incio da dcada de 1970, foram implantados os primeiros cursos de ps-

    graduao inicialmente em nvel de Mestrado dentro de uma poltica nacional de

    qualificao de docentes universitrios, preparao de quadros profissionais avanados e

    incremento s atividades de pesquisa pura e aplicada. Ao longo dos seus 60 anos de

    existncia, a UFBA conquistou reconhecimento social como a mais importante instituio de

    ensino superior do Estado da Bahia, desempenhado papel fundamental na prpria expanso

    desse nvel de ensino, considerando-se que a grande maioria dos profissionais que atuam nas

    IES pblicas e privadas no Estado egressa dos seus cursos de graduao e de ps-graduao.

    tambm a universidade baiana que se diferencia das demais, pelo nvel de consolidao das

    funes de pesquisa e de extenso

  • 35

    Figura 3: Braso da Universidade Federal da Bahia, ornado com a data de 1808

    logo abaixo do timbre

    Numa demonstrao de reconhecimento a importncia da representao, foi criada pelo

    Conselho Universitrio CONSUNI, na atual gesto do Reitor Naomar Monteiro de Almeida

    Filho uma Resoluo n 01/08 que determina no exerccio de sua autonomia acadmica e

    institucional, a introduo da legenda 1808, data de criao da antiga Escola de Cirurgia, atual

    Faculdade de Medicina da UFBA, no braso da Universidade Federal da Bahia, em todos os seus

    documentos oficiais, timbres, medalhas e titulo honorficos. Esta resoluo entra em vigor na data

    de sua aprovao 25 de fevereiro de 20081.

    1 Como apndice dessa pesquisa, encontra-se a Resoluo nmero 01/2008, referente a introduo da legenda no Braso da UFBA.

  • 36

    3 SEMITICA DA IMAGEM

    A Semitica estabelece uma base cientfica para o estudo dos sistemas cognitivos

    biolgicos, humanos e no-humanos. No caso dos sistemas cognitivos humanos, abrange a

    percepo e as representaes feitas a partir da apropriao das caractersticas dos objetos ou

    idias subjetivas percebidas. Assim, a Semitica tambm est preocupada com os aspectos

    psicolgicos. A Semitica da imagem se caracteriza como o estudo das expresses no-

    verbais, segundo Toutain (2003, pg. 45), sendo que a imagem abarca o sentido figurativo,

    icnico, abstrato e o concreto da mensagem, estabelecendo uma mediao entre emissor e

    destinatrio.

    Segundo Pericot (apud TOUTAIN, 2003, pg. 48), o estudo da Semitica marca duas

    linhas de investigao, a dos que consideram a imagem visual como um signo convencional e

    a dos que partem experimentalmente da imagem, como uma representao do objeto e no

    como um substituto convencional ao mesmo. No trabalho aqui desenvolvido, a linha de

    investigao pretendida para a anlise dos brases da UFBA considerar os mesmos como

    representaes, passveis de julgamentos e interpretaes subjetivas e individualizadas, a

    partir de uma cultura coletivamente compartilhada.

    Segundo Toutain (2003, pg. 115), importante considerar que cada interpretao est

    submetida a uma leitura determinada, e essa leitura se faz individualmente, em um ambiente

    propcio, no momento de produzir a semiose. Para Pedrosa (2007, pg. 44), a afirmao de

    Toutain coloca o sujeito, o intrprete, como fator central da Semiose, pois o interpretante s

    ir ser produzido na sua mente, caso j exista um repertrio pessoal de signos que ajudem o

    intrprete a compreender o surgimento de um novo signo. Nesse sentido, Pedrosa considera

    que a cultura constituda de diversos signos comuns aos seus integrantes, que devem se

    valer desses signos j conhecidos para estabelecer os julgamentos perceptivos de novos

    signos. Ao enumerar os elementos constitutivos da Semitica, Campanhole explica que:

    O julgamento perceptivo o primeiro, pois sem ele no haveria como iniciar um

    processo de reao ao estmulo externo, portanto est dividido em dados icnicos,

    indiciais e simblicos. O objeto, sempre coexistindo o imediato e o dinmico, so

    para o presente o dado mais importante e complexo para um tratamento semitico da

    percepo. O objeto imediato cabe ao papel do percipuum e, segundo Santaella

  • 37

    (1998), toda semiose percorre trs etapas: qualidade de sentimento, relao fsica,

    generalizao de um objeto que certamente correspondem ao qualisigno, sinsigno e

    legisigno. Percorridas estas etapas, pensando didaticamente, a apreenso perceptiva

    evolui para o objeto dinmico, o objeto apresentando ndices de regularidades, que

    cabe ao percepto. O percepto, num nvel de sutileza muito grande, limtrofe com a

    condio do signo atingir uma mente atravs de sua potencialidade de interpretante

    (rema, discente e argumento). (CAMPANHOLE, 2006, pg. 56)

    O objeto imediato aqui estudado, o braso, fruto de um trabalho artstico de

    comunicao visual, propositalmente voltado para a transmisso de conhecimento

    socialmente relevante, apresentado com um ndice de regularidades determinado por regras

    internacionalizadas, codificadas por meio da Herldica. O objeto dinmico, resultante da

    aplicao dos princpios do objeto imediato em uma cultura local ou institucional, o

    universo pesquisado dos trinta e quatro brases da UFBA.

    A abordagem semitica no estudo dos brases da UFBA se insere diretamente na

    Cincia da Informao, pois, considerando a intencionalidade da criao e uso dos mesmos no

    contexto universitrio, se configura como um fenmeno da Comunicao Social, passvel de

    coleta e anlise de indicadores. O fato de tratar e transmitir conhecimento coloca na Cincia

    da Informao e, s nela, a responsabilidade de aprofundamento no campo das Cincias

    Humanas e, portanto, das Cincias Sociais Aplicadas, das quais participa a Comunicao

    Social. Contudo, esse processo no se far sem uma abordagem da linguagem visual, pois a

    informao hoje adquiriu carter estratgico, tornando-se um elemento de influncia e poder

    mais relevante na esfera do conhecimento e economia.

    O mundo tem passado por transformaes sociais, culturais, polticas e tcnicas numa

    velocidade nunca antes imaginada, que nos dificulta a formao da prpria identidade, uma

    vez perdidas as referencias sociais e lingsticas que no resistem a essas transformaes. O

    surgimento das redes mundiais de informao adicionou sofisticao e agilidade aos meios de

    produo e disseminao da informao. Nesse contexto, a compreenso dos processos de

    significao tornou-se um dos principais desafios da Cincia da Informao (CI). O curso das

    ltimas mudanas envolvendo a informao evidenciou a necessidade de articulaes tericas

    mais amplas, na medida em que a preocupao com o fenmeno informacional no

    exclusividade de uma dada rea de conhecimento.

  • 38

    A Cincia da Informao notadamente uma cincia voltada para a compreenso dos

    fenmenos informacionais e se constitui pela aproximao de disciplinas distintas. As

    disciplinas tradicionais, originalmente preocupadas com a informao em seu suporte fsico,

    so: a Biblioteconomia, a Museologia, a Documentao, a Arquivologia e o Jornalismo. A

    convergncia das mdias para os suportes digitais fez com que as necessidades de

    comunicao, conhecimento e fruio esttica se dem em nvel informacional,

    progressivamente utilizando interfaces tecnolgicas, o que agrega novas disciplinas Cincia

    da Informao como Linguagem Visual e no Visual, a Sociologia, a Matemtica e suas

    aplicaes tecnolgicas.

    A origem da Cincia da Informao est relacionada tambm com a exploso da

    informao e do conhecimento sistematizado.

    A Cincia da Informao teve seu aparecimento e expanso no aps-guerra,

    principalmente a partir de 1950, quando pesquisas e documentos mantidos fora do

    fluxo normal de informao foram liberados para o conhecimento coletivo.

    (BARRETO apud ALMEIDA, 2002, pg. 101).

    Tambm para Le Coadic (1996), o fato do crescimento do volume de informao foi

    primordial para o surgimento e o desenvolvimento da Cincia da Informao. Recebeu a

    incumbncia de lidar com o tratamento e transmisso do conhecimento produzido, com a

    responsabilidade ainda de zelar pelo papel social da informao. Sua principal funo

    produzir conhecimentos que contribuam para a soluo de problemas relacionados

    organizao de sistemas de informao especializados na incorporao, sistematizao,

    disseminao e recuperao da informao.

    O novo contexto informacional tem tornado cada vez mais comum o desenvolvimento

    de pesquisa cujo arcabouo terico fronteirio. Embora as reas busquem o fenmeno em

    sua especificidade, compartilham, em determinados momentos, de interesses comuns em

    termos do campo de investigao. Esse compartilhamento pode ser compreendido como um

    esforo interdisciplinar. Em 1995, Saracevic abordou o problema da interdisciplinaridade da

    Cincia da Informao, lembrando que a origem e antecedentes sociais evoluram para a

    recuperao da informao, que constitui segundo o autor a atividade principal da Cincia da

    Informao (1996 pg. 48-49). A interdisciplinaridade, terica ou prtica, confirma o resgate

  • 39

    de conhecimentos de outras cincias condensadoras e revisoras, para que sirvam de aplicao

    Cincia da Informao.

    A Cincia da Informao se consolidou, por meio da aproximao e interao de

    distintos campos de conhecimento. A tentativa de estabelecer interfaces entre informao e

    semitica efetiva-se como um desafio hoje necessrio. De nossa perspectiva a centralidade do

    desafio reside na urgncia do estabelecimento de uma convergncia semitica na orientao

    dos estudos referentes aos processos informacionais.

    Nesse cenrio, temos a informao como um dos objetos de estudos mais

    emblemticos da teoria semitica. A informao compreendida, no escopo deste trabalho,

    como as representaes produzidas pela mente criadora dos homens a qual os auxilia na sua

    relao expressiva com o mundo. Capurro dizia que:

    [...] a informao no produto final de um processo de representao, ou algo que

    esta sendo transportado de uma mente para a outra, ou, finalmente algo separado de

    uma subjetividade encapsulada, mas sim uma dimenso existencial do nosso estar-

    no-mundo-com- os outros. (CAPURRO, 2003, pg. 56)

    Na perspectiva peirciana a informao envolve um processo de aquisio de

    conhecimento. O conhecimento tem uma dimenso informacional e outra verbal. A dimenso

    informacional requer experincias mais amplas e vo alm daquelas que se depreendem da

    compreenso dos smbolos e a verbal vincula-se a uma perspectiva simblica (JOHANSEN

    apud MOURA, 1993, pag. 18).

    A semitica, conforme formulada por Pierce descreve a representao como um

    processo envolvendo um objeto, alguma coisa que o representa e o efeito da representao, na

    ausncia do objeto, na mente de um usurio. Representao desta maneira, um processo

    ocorrendo na mente de algum, produzindo nesta mente algo distinto do objeto a que se

    refere. A representao ento relaciona o objeto que ela representa com a mente que o

    percebe.

  • 40

    A representao parte de um complexo processo cognitivo. Pierce afirma que a

    lgica a cincia das leis necessrias gerais dos signos, especialmente dos smbolos

    (PIERCE, 1995, pg.45) e, ainda, que "todo o pensamento, portanto, deve necessariamente,

    estar nos signos" (PIERCE, 1995, pg.46). Este processo cognitivo, em seu primeiro estgio,

    envolve um confronto com a realidade, aprendizado a partir desta experincia,

    conceitualizao e abstrao. A vida real uma realidade demasiadamente vasta e bastante

    complexa para ser captada em sua totalidade pela mente humana. Aspectos desta realidade,

    para serem armazenados na mente de algum para uso futuro, devem ser filtrados,

    sintetizados.

    Peirce compreendia a semitica como uma filosofia dos signos, o que significa dizer

    que a mesma estuda a essncia genuna do signo, o seu modo de ser e a sua estrutura bsica. A

    tese central da Semitica peirciana informa que todo o pensamento se d em signos. Sendo

    assim, os gestos, as idias, as cognies e at a prpria humanidade so consideradas

    entidades semiticas.

    Pierce conceitua como "um signo ou representmen, aquilo que, sob certo aspecto ou

    modo, representa algo para algum (1995, pag.167); representar seria "estar no lugar de,

    isto , estar numa tal relao com outro que, para certos propsitos, considerado por

    alguma mente como se fosse este outro" (1995, pag.168). Na representao de um documento

    por meio de uma referncia bibliogrfica, o objeto seria o documento original, o signo seria a

    referncia bibliogrfica e o interpretante seria a idia do documento criada pela referncia na

    mente de um usurio. Este signo seria, mais especificamente, um cone. Um cone um tipo

    de signo que pode representar um objeto, porque seus atributos tm relaes anlogas com os

    atributos do objeto sendo representado.

    A revoluo industrial impulsionou a proliferao e a difuso de informaes e

    mensagens criando as condies para a apario futuras das super-vias digitais. Criou no

    ambiente social do sec.XVIII os elementos necessrios ao surgimento de uma conscincia

    semitica. Essa conscincia intensificou a necessidade de constituio de um campo cientfico

    que fosse capaz de criar dispositivos de indagao e instrumentos metodolgicos prprios

    para analisar os fenmenos sgnicos.

  • 41

    A semitica contempornea nasce no final do sculo XIX inicio do sculo XX. Na

    ocasio em que Peirce apresenta a idia do estudo sobre os efeitos dos signos na sociedade

    utilizando o termo Semitica. Com relao ao uso do termo semitica, Nth (1995) explica

    que este termo foi empregado pela primeira vez na medicina. Posteriormente, Saussure se

    refere teoria geral dos signos utilizando o termo Semiologia. Assim, Semiologia e Semitica

    podem em sentido geral ser definidas como cincia dos significados de praticas significantes

    ou especificar-se em campos particulares, como semiologia da imagem, semitica visual,

    entre outros. (FRAENKEL apud TOUTAIN, 2003, pg.142).

    A Semitica refere-se a um ponto de vista, a partir do qual possvel conduzir uma

    investigao. Acredita-se que pensar na informao do ponto de vista semitico pode

    enriquecer a nossa compreenso desse fenmeno e contribuir para o aprimoramento das aes

    desenvolvidas pelos profissionais da informao que, h muito se tornaram elemento

    indispensvel na mediao entre usurio e informao. O ponto de vista semitico pode

    contribuir para o alargamento da noo de informao compartilhada atualmente no mbito da

    Cincia da Informao.

    As interseces entre Cincia da Informao e Semitica esto concentradas na rea

    de organizao da informao. A maioria dos trabalhos que versam sobre o tema Semitica na

    Cincia da Informao destaca a relao existente entre informao e signo. A informao

    entendida como signo, pois qualquer processo de comunicao de um contedo mediado por

    signos. Nessa perspectiva, quase que substituem o termo informao pelo de signo, mas este

    ltimo composto de atributos que demonstram vantagem explicativa, em relao ao conceito

    de informao.

    A Semitica permite ainda ampliar a compreenso do sentido de termos e,

    conseqentemente dos fenmenos comumente implicados na anlise documental:

    representao, interpretao, traduo, leitura, descrio, linguagem documentria e

    linguagem natural.

    A semitica tem por objetivo identificar e definir a natureza de um signo, a relao

    que mantm com o objeto representado, a atuao possvel de um interpretante na pratica

    relacional que estabelece entre o modo de representao de um signo e seu objeto, parcial ou

  • 42

    totalmente representado, constitui condio imprescindvel para que se estabeleam os

    padres caractersticos de uma linguagem. Portanto, inerente a constituio do signo o seu

    carter de representao, de fazer presente, de estar em lugar de algo, de no ser o prprio

    algo. O signo tem o papel de mediador entre algo ausente e um interprete presente. Os signos

    se organizam em cdigos, constituindo sistemas de linguagem. A principal utilidade da

    semitica possibilitar a descrio e a analise da dimenso representativa (estruturao

    sgnica) de objetos, processos ou fenmenos em varias reas do conhecimento humano.

    Nesse sentido,

    Todas as palavras, sentenas, livros e outros signos convencionais so smbolos.

    Falamos de escrever ou pronunciar a palavra homem, mas isso apenas uma

    rplica ou materializao da palavra que pronunciada ou escrita. A palavra, em si

    mesma, no tem existncia, embora tenha ser real, consistindo em que os existentes

    devero se conformar a ela. um tipo geral de sucesso de sons, ou representamens

    de sons, que s se torna um signo pela circunstncia de que um hbito ou lei

    adquirida levam as rplicas, a que essa sucesso d lugar, a serem interpretadas

    como significando homem. Tanto palavras quanto signos so regras gerais, mas a

    palavra isolada determina as qualidades de suas prprias rplicas. (PEIRCE apud

    SANTAELLA, 2004, pg. 135-136).

    Como todo signo, a palavra tem carter gil e provisrio. Na sua articulao, leva em

    considerao os dados fornecidos pela realidade e obedece s determinaes da capacidade

    cognitiva do sujeito, dada, sobretudo por sua experincia colateral. Capacidade est

    potencializada nos processos de formao. A informao um signo que se atualiza na

    interface com o sujeito. Para Santaella,

    A semitica [...] a cincia dos signos que investiga e busca o entendimento de

    toda e qualquer linguagem (verbal ou no-verbal). A semitica uma cincia

    formal e abstrata, num nvel de generalidade mpar. (SANTAELLA, 2005, pg.

    16)

    A noo peirceana de signo consiste na relao tridica signo-objeto-interpretante,

    onde o primeiro elemento da trade o signo comparece como mediador entre o segundo

    o objeto e o terceiro o interpretante. importante observar que a trade semitica envolve

  • 43

    dois tipos de relaes: determinao e representao, sendo que as relaes de representao

    esto submetidas s relaes de determinao. Isso significa que a representao somente

    ocorre em funo da determinao e, em vista disso, a representao constitui uma face de

    algo maior, que a mediao. Mas se, como afirma Santaella, o signo ao determinar o

    interpretante transfere para ele tarefa de representar o objeto, ns podemos tambm afirmar

    que, ao determinar o signo, o objeto transfere para o signo a tarefa de represent-lo. Ento, o

    signo representa o objeto porque sofre uma relao de determinao por parte deste objeto.

    Acredita-se, que a interseco entre Cincia da Informao e Semitica est concentrada na

    rea de organizao da informao.

    Segundo Toutain (2007) o termo representao, relacionado com o mundo cognitivo,

    pode ser analisado e interpretado de diferentes maneiras; consiste em perceber, descrever,

    gravar e interpretar uma informao. A representao um processo em que envolve dois

    mecanismos: um verbal, e outro mental. O mtodo de captar, representar e interpretar a

    informao simultneo, permanente, continuo; pressupe um sistema de significao. A

    comunicao humana caracteriza-se pela capacidade de criar, adquirir, aprender a usar

    cdigos constitudos por signos, que so o resultado provisional de regras de codificao, as

    quais estabelecem correlao transitria, passiveis de interpretao.

    As disciplinas acadmicas so estruturadas perante o desenvolvimento da humanidade,

    mas nem todas tm uma implicao to forte, to dependente desse processo quanto a

    Linguagem, podendo-se dizer que interfere em vrios campos tericos, como os da

    Antropologia, da Sociologia, da Filosofia ou da Economia, pelo simples fato de ter como

    objeto de estudo a linguagem oral, escrita e representada, como um elo de fundamental

    importncia nesse desenvolvimento.

    [...] quando dizemos linguagem, queremos nos referir a uma ga